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Anais Do Seminário Internacional Cidade e Alteridade

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Possui uma coletânea de resumos de vários artigos apresentados nos seminário cidade e alteridade, relacionados à urbanização.

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  • 2

    ISBN: 978-85-423-0096-3

    Coordenao geral

    Profa. Dra. Miracy Barbosa Gustin

    Coordenao do Seminrio

    Fernanda de Lazari Cardoso Mundim

    Juliano Napoleo Barros

    Estagirio responsvel:

    Daniel Geraldo Oliveira Santos

    Organizao dos anais

    Alissa Cristina Campos

  • 3

    Equipe de seleo e avaliao dos trabalhos

    Prof. Dr. Marcelo Cattoni (UFMG)

    Profa. Dra. Maria Fernanda Salcedo Repols (UFMG)

    Profa. Dra. Mnica Sette Lopes (UFMG)

    Profa. Dra. Adriana Goulart de Sena Orsini (UFMG)

    Prof. Dr. Rennan Lanna Mafra (UFV)

    Profa. Dra. Maria Tereza Fonseca Dias (UFMG)

    Profa. Dra. Miracy Barbosa de Sousa Gustin (UFMG)

    Ms. Juliano Napoleo Barros (UFMG)

    Ms. Fernanda de Lazari Cardoso Mundim (UFMG)

    Prof. Dr. Eloy Lemos Pereira Jnior (Universidade de Itana)

  • 4

    Equipe Coordenadora dos Grupos de Trabalho (GT)

    GT 1: Identidades coletivas nos meios urbanos e rurubanos

    Profa. Dra. Ana Beatriz Vianna Mendes

    Ludmilla Zago

    Profa. Dra. Ana Flvia Santos

    Prof. Dr. Aderval Costa Filho

    GT 2: Polticas pblicas no meio urbano e rururbano

    Profa. Dra. Adriana Goulart de Sena

    Raquel Portugal

    Prof. Dr. Marcelo Cattoni

    Prof. Dr. Eloy Lemos Pereira Jnior

    Prof. Dr. Rennan Lanna Mafra

    Carla Beatriz Marques Rocha e Mucci

    Profa. Dra. Fabiana Menezes

    Mila Batista Leite Corra da Costa

    GT 3: Mobilizao e organizao social

    Profa. Dra. Maria Tereza Fonseca Dias

    Luana Pinto Xavier

    Prof. Dr. Andr Luiz Freitas Dias

    Mariana Gontijo

  • 5

    Aline Barbosa Pereira

    Profa. Dra. Marcela Furtado Magalhes Gomes

    GT 4: Experincias de acesso s condies de trabalho e de

    justia

    Gabriela Freitas Figueiredo Rocha

    Henrique Napoleo

    Profa. Dra. Rosana Ribeiro

  • 6

    Sumrio

    GRUPO DE TRABALHO 1 Identidades coletivas nos meios urbanos e rurubanos

    18

    GRUPO DE TRABALHO 2 Polticas pblicas no meio urbano e rururbano

    63

    GRUPO DE TRABALHO 3 Mobilizao e organizao social

    157

    GRUPO DE TRABALHO 4 Experincias de acesso s condies de trabalho e de justia urbana

    205

  • 7

    Apresentao

    O I Seminrio Internacional pretende divulgar e problematizar os resultados

    parciais da pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa de mesmo nome,

    iniciativa interdisciplinar da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro

    de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em parceria com a

    Universidade Federal de Viosa, a Universidade de Itana, o Ministrio Pblico

    de Minas Gerais e o Programa Plos de Cidadania. O projeto financiado pelo

    CNPq / FCT, pela Capes e pela Fapemig e conta com a coordenao geral da

    Professora Doutora Miracy Barbosa de Sousa Gustin e do Professor Doutor

    Boaventura de Sousa Santos.

    A realizao de um Seminrio Internacional se prope investigao e

    divulgao do direito s cidades a partir de um enfoque plural que se mostre

    apto a intensificar o dilogo entre os pesquisadores de diferentes reas do

    conhecimento que investigam o espao urbano e as pessoas que nele vivem.

    Princpios como a funo social da propriedade e a gesto democrtica e

    multicultural da cidade reforam um novo paradigma de reforma, planejamento

    e gesto urbana. O contexto atual exige criatividade, capacidade poltica,

    mobilizao social e empenho crtico-cientfico para colocar em prtica esses

    preceitos, sobretudo ao se constatar que as cidades vo muito alm do que os

    seus planos preveem, integrando diversos agentes, grupos, com suas formas

    variadas de pensar, agir, sentir e de se relacionar.

    Para a realizao de seus objetivos, a pesquisa ora proposta atua atravs de

    dois eixos temticos, respectivamente: Eixo I: Convivncia multicultural e

    polticas pblicas de incluso/integrao no espao urbano e Eixo II: Regulao

    e efetivao de experincias de justia urbana.

    O Eixo I se ocupa dos desafios construo de uma cidadania mais inclusiva.

    Parte do pressuposto de que, no territrio urbano, existe uma diversidade

    social, cultural e tnica de comunidades, que so marginalizadas nos espaos

    da cidade, silenciadas por presses econmicas, fundirias e por outros

    processos discriminatrios. Neste eixo, pretende-se dar visibilidade a diversos

  • 8

    grupos culturalmente diferenciados e avaliar o acesso desses grupos a

    polticas pblicas universais e especficas, que assegurem a reproduo social

    da diferena.

    Acredita-se que o reconhecimento intersubjetivo da legitimidade existencial e

    de livre participao poltica do outro condio para a efetiva

    incluso/integrao no espao urbano, sob os moldes do Estado Democrtico

    de Direito. Mas o simples reconhecimento das diferenas ou essencializao

    das identidades no suficiente para capturar a complexidade e dinmica das

    situaes sociais envolvidas. Os processos de intolerncia cultural e

    socioreligiosa, discriminao e marginalizao associados a condies

    socioeconmicas, polticas e tnicas influenciam o acesso a polticas pblicas e

    o exerccio do direito cidade. Assim, entendemos que a descrio dos

    problemas de intolerncia e no-reconhecimento intercultural pertinente, mas

    no esgota o diagnstico dos entraves emancipao dos indivduos e grupos

    sociais no espao urbano, nem os aspectos epistemolgicos da excluso.

    J no Eixo II a pesquisa se concentra na investigao das possibilidades de

    promoo da sustentabilidade no espao urbano e no alcance de polticas

    pblicas direcionadas efetivao do direito cidade em relao a seus

    diversos elementos: ao prprio homem e s relaes que ele estabelece no

    ambiente urbano; realizao da justia ambiental; ao implemento de

    condies para a efetivao de seus direitos sociais, individuais, coletivos e

    difusos; dentre outros.

    Por conseguinte, a anlise dos processos polticos, sociais, culturais e jurdicos

    ser feita considerando o debate sobre a democracia participativa a partir da

    anlise das diferentes formas de acesso deciso poltica sobre o territrio,

    sobre questes de cidadania e de implementao do direito cidade e s suas

    variadas culturas. Dessa maneira, sero investigados, alm dos modos de

    mobilizao social, modos extrajudiciais de resoluo de conflito, analisando,

    assim, experincias que possibilitem o empoderamento de camadas de

    pessoas e comunidades marginalizadas por vias que excedem a regulao.

    A pesquisa, bem como a realizao de um Seminrio Internacional, destina-se

    investigao e divulgao do direito cidade, oferecendo subsdios a uma

    compreenso mais ampla sobre a convivncia multicultural e a justia urbana.

    Desse modo, prope-se superar a reproduo de modelos homogeneizantes

  • 9

    de compreenso da cidade, oferecendo substratos a intervenes polticas

    mais justas e relacionadas s necessidades e demandas plurais de seus

    habitantes.

  • 10

    Programao 25 de setembro, tera-feira

    18h - Credenciamento

    19h - Abertura

    Antonio Augusto Junho Anastasia

    Governador do Estado de Minas Gerais

    Glaucius Oliva

    Presidente CNPQ

    Mario Neto Borges

    Presidente FAPEMIG

    Prof. Dr. Cllio Campolina Diniz

    Reitor da UFMG

    Prof. Faial David Freire Chequer

    Reitor da Universidade de Itana

    Profa. Dra. Nilda de Ftima Ferreira Soares

    Reitora da UFV

    Prof. Dr. Gregrio Assagra de Almeida

    Coordenador do Curso de Mestrado em Direito da Universidade de Itana

    Doutor Alceu Jos Torres Marques

    Procurador-Geral de Justia do Ministrio Pblico do Estado de Minas Gerais

    Prof. Dr. Giordano Bruno Soares Roberto

    Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Direito da UFMG

    Profa. Dra. Ana Louise de Carvalho Fiza

    Coordenadora de Ps-Graduao em Extenso Rural da UFV

    Profa. Dra. Amanda Flvio de Oliveira

  • 11

    Diretora da Faculdade de Direito da UFMG

    Prof. Dr. Boaventura de Sousa Santos

    Profa. Dra. Miracy Barbosa de Sousa Gustin

    Coordenadores Gerais do Projeto Cidade e Alteridade - CNPq/FCT

    Apresentao da pea teatral A Mala

    Trupe A Torto e a Direito do Programa Plos da Faculdade de Direito da UFMG

    20h - Intervalo

    20h30 - Conferncia de abertura

    As controvrsias e vicissitudes das cidades: alteridade e possibilidades de incluso

    Presidente da Mesa:

    Prof. Dr. Giordano Bruno Soares Roberto

    Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Direito da UFMG

    Conferencista:

    Prof. Dr. Edsio Fernandes

    Professor universitrio em diversos pases: Inglaterra, Holanda, Estados Unidos, Brasil

    Coordenador do IRGLUS - International Research Group on Law and Urban Space

    26 de setembro, quarta-feira

    8h30 - Mesa redonda

    Identidade e alteridade no espao urbano

    Presidente da Mesa: Profa. Dra. Ana Beatriz Vianna Mendes

    Professora Adjunta da UFMG

    Subtema: Identidade e Violncia

    Tiago Monge

    Coletivo Famlia de Rua

    Membro Organizador do Duelo de Mcs - Belo Horizonte

    Subtema: Incorporao da alteridade no espao urbano

    Henry Acselrad

    Professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ

    Subtema: Movimentos sociais e cultura

    Prof. Dra. Heloisa Buarque de Hollanda

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    UFRJ - Professora e escritora

    Coordenadora do Programa Avanado de Cultura Contempornea

    Curadora do Portal Literal

    Subtema: Pixao e o Direito Cidade

    Prof. Sergio Miguel Franco

    Mestre pela USP

    Docente na Casa do Saber

    10h30 - Intervalo

    10h50 - Conferncia

    Criminalizao de espaos urbanos envolvendo a populao de rua

    Presidente da Mesa: Prof. Dr. Renato Lima Santos

    Pr-reitor de pesquisa da UFMG

    Conferencista: Profa. Dra. Marie-Eve Sylvestre

    Doutora em Direito pela Universidade de Harvard

    Professora na Universidade de Ottawa - EUA

    14h00 - Dilogo interno entre as equipes brasileira e portuguesa

    19h00 - Mesa redonda

    Megaeventos, polticas pblicas e ameaas ao direito cidade

    Presidente da Mesa: Profa. Dra. Andra Luisa Moukhaiber Zhouri

    Professora da UFMG

    Subtema: Megaeventos e polticas pblicas

    Prof. Dr. Carlos Vainer

    Professor Titular do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - IPPUR/UFRJ

    Diretor da Rede de Observatrio de Conflitos Urbanos

    Subtema: Ameaas ao direito cidade

    Prof. Leandro Franklin Gorsdorf

    Professor da UFPR

    Relator Nacional do Direito Cidade

    Subtema: O caso dos barraqueiros do Mineiro

    Ernani Francisco Pereira

    Presidente da Associao dos Barraqueiros da rea Externa do Mineiro (ABAEM)

    20h30 - Intervalo

    20h50 - Conferncia

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    A cincia do direito e a heterogeneidade da sociedade contempornea

    Presidente da Mesa: Profa. Dra. Ana Flvia Moreira Santos

    Professora Adjunta da UFMG

    Conferencista: Profa. Dra. Josefa Dolores Ruiz-Resa

    Universidade de Granada - Espanha

    27 de setembro, quinta-feira

    08h30 - Mesa redonda

    Flexibilizao trabalhista, ameaas e violaes aos direitos do trabalhador urbano

    Presidente da Mesa: Prof. Dr. Mrcio Tlio Viana

    Professor Associado da UFMG - Professor Adjunto III da PUC/MG

    Subtema: Mitigao de Princpios Constitucionais: A flexibilizao das relaes de trabalho no

    espao urbano

    Profa. Dra. Gabriela Neves Delgado

    Professora Adjunta e Coordenadora do Curso de Direito da UNB

    Lder do grupo de pesquisa "Trabalho, Constituio e Cidadania"

    Subtema: Violaes aos direitos do trabalhador

    Helder Amorim

    Procurador Chefe do Ministrio Pblico do Trabalho

    Subtema: O trabalho na cidade e a concreo do direito

    Profa. Dra. Mnica Sette Lopes

    Desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 3a regio de Belo Horizonte

    Professora Associada da UFMG

    Subtema: Flexibilizao trabalhista e conciliao

    Profa. Dra. Adriana Goulart de Sena Orsini

    Juza Federal do Trabalho - Titular da 35 VT de Belo Horizonte

    Coordenadora de Mediao do Programa Plos de Cidadania

    Juza Auxiliar da Comisso de Acesso Justia do Conselho Nacional de Justia

    Professora Adjunta da UFMG

    10h30 - Intervalo

    10h50 - Conferncia

    O status de proteo da diversidade social e os direitos tnicos por parte do Estado, na

    Amrica Latina e no Caribe

    Presidente da Mesa: Prof. Dr. Aderval Costa Filho

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    Professor Adjunto da UFMG

    Membro da Coordenao-Geral de Apoio a Segmentos e Comunidades Especficas, Comisso

    Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais

    Conferencista: Diego Iturralde

    Advogado e Antroplogo - especialista en Antropologia Jurdica e Direitos dos Povos

    Indgenas.

    Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropologa Social (CIESAS)

    14h00 - Grupos de trabalhos

    I - Identidades Coletivas nos meios urbano e rururbano

    II - Polticas Pblicas no meio urbano e rururbano

    III - Mobilizao e organizao social

    IV - Experincias de acesso s condies de justia urbana

    19h00 - Mesa redonda

    Participao popular nas cidades

    Presidente da Mesa: Dr. Paulo Csar Vicente de Lima

    Promotor de Justia MPMG

    Coordenador da CIMOS Coordenadoria de Incluso e Mobilizao Social MPMG

    Subtema: Populao em situao de rua nas cidades

    Profa. Dra. Maria Ceclia Loschiavo dos Santos

    Professora Titular em Design USP

    Vice-coordenadora do Comit de tica em Pesquisa da FSPUSP

    Presidente da Comisso de Cultura e Extenso - USP

    Subtema: Medidas socioeducativas e a ameaa de higienizao urbana

    Profa. Dra. Camila Niccio

    Coordenadora da Subsecretaria de Atendimento s Medidas Socioeducativas (SUASE) -

    SEDS-MG

    Subtema: Movimentos populares e participao nas cidades

    Maria da Conceio Menezes (Sozinha)

    Educadora Popular - RECID Minas Gerais

    Subtema: A situao dos moradores de rua de Belo Horizonte

    Maria Cristina Bove Roletti (a confirmar)

    Coordenadora da Pastoral de Rua

    20h30 - Intervalo

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    20h50 - Conferncia

    Novos dilogos e desafios das prticas de participao popular na gesto das cidades

    Presidente da Mesa: Prof. Dr. Rennan Lanna Martins Mafra

    Professor Adjunto I da UFV

    Conferencista: Prof. Dr. Giovanni Allegretti

    Doutorado em Planejamento Urbano, Territorial e Ambiental - Universidade de Florena - Itlia

    Professor- pesquisador do CES/Coimbra - Portugal

    28 de setembro, sexta-feira

    08h30 - Mesa redonda

    A efetivao de direitos no espao rururbano

    Presidente da Mesa: Profa. Dra. Ana Flvia Moreira Santos

    Professora Adjunta da UFMG

    Subtema: Pesquisa em espaos de excluso

    Profa. Dra. Dorien DeTombe

    Presidente da Sociedade Internacional de Pesquisa em Metodologia de Complexidade das

    Sociedades

    Utrecht University e Delft University Technology - Holanda

    Subtema: Direito de Povos e Comunidades Tradicionais

    Prof. Dr. Aderval Costa Filho

    Professor Adjunto da UFMG

    Membro da Coordenao-Geral de Apoio a Segmentos e Comunidades Especficas, Comisso

    Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais

    Subtema: A relao cidade e campo

    Prof. Dr. Rennan Lanna Martins Mafra

    Professor Adjunto I do Departamento de Economia Rural e do Programa de Ps-Graduao

    em Extenso Rural da UFV

    Subtema: A efetivao de direitos coletivos

    Prof. Dr. Gregrio Assagra de Almeida

    Coord. do Curso de Mestrado em Proteo dos Direitos Fundamentais da Universidade de

    Itana

    Promotor de Justia do Ministrio Pblico do Estado de Minas Gerais

    Consultor Institucional do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais

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    10h30 - Intervalo

    10h50 - Conferncia

    Assentamentos e reassentamentos: problemas urbanos ou das polticas urbanas?

    Presidente da Mesa: Profa. Dra. Mrcia Helena Batista Crrea da Costa

    Professora Auxiliar da UEMG - Divinpolis/MG

    Conferencista: Dr. Jacques Tvora Alfonsin

    Procurador do Estado aposentado

    Advogado e Assessor Jurdico de Movimentos Populares

    14h00 - Visitas das equipes brasileira e portuguesa aos locais de pesquisa do projeto cidade e

    alteridade

    19h00 - Mesa redonda

    A luta pelo direito moradia e o direito cidade

    Presidente da Mesa: Profa. Miracy Barbosa de Sousa Gustin

    Professora Associada UFMG

    Coordenadora da Pesquisa Cidade e Alteridade - CNPq/FCT

    Professora do Mestrado em Direito da Universidade de Itana

    Subtema: A luta por direitos no campo e na cidade

    Frei Gilvander Lus Moreira

    Mestre em Cincias Bblicas pelo Pontifcio Instituto Bblico de Roma, Itlia

    Assessor da Comisso Pastoral da Terra - CPT

    Militante na luta pelos Direitos Humanos na cidade e no campo

    Subtema: O direito moradia

    Dra. Marta Alves Larcher

    Promotora de Justia MPMG

    Coordenadora da Coordenadoria Estadual das Promotorias Estaduais de Habitao e

    Urbanismo

    Subtema: A regularizao fundiria e o direito cidade

    Dra. Liana Portilho

    Procuradora do Estado de Minas Gerais

    Membro do International Research on Law and Urban Space / IRGLUS

    Autora e organizadora de diversos livros em Direito Urbanstico

    20h30 - Intervalo

    20h50 - Conferncia de encerramento

    Seguridade Social, um elemento essencial da democracia

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    Presidente da Mesa: Dr. Jos Eduardo de Resende Chaves Jnior

    Desembargador Federal do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais

    Juiz Auxiliar da Presidncia do Conselho Nacional de Justia - CNJ

    Conferencista: Joaquin Aparcio Tovar

    Catedrtico de Direito do Trabalho e Seguridade Social

    Universidade de Castilla - La Mancha

  • 18

    GRUPO DE TRABALHOS 1

    Identidades coletivas nos

    meios urbanos e rurubanos

  • 19

    Coordenadores

    Profa. Dra. Ana Beatriz Vianna Mendes

    Ludmilla Zago

    Profa. Dra. Ana Flvia Santos

    Prof. Dr. Aderval Costa Filho

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    MIGRAO SAZONAL E MIGRAO DEFINITIVA:

    A DISPORA GURUTUBANA

    Aderval Costa Filho1

    Pedro de Aguiar Marques2

    Este trabalho visa analisar o processo migratrio do povo Gurutubano,

    comunidade quilombola do centro norte mineiro, que vive s margens do Rio

    Gurutuba desde o sculo XVIII. Sabe-se que esta comunidade foi vitimada por

    um cruel processo de expropriao de suas terras ao longo sculo XX,

    intensificado pela chegada da Superintendncia de Desenvolvimento do

    Nordeste SUDENE, a partir da dcada de 70. A partir de trabalho de campo

    realizado no territrio Gurutubano, busca-se demonstrar como, mesmo

    convivendo com a constante perda das condies de ordem ambiental e scio

    econmica, esta comunidade resiste no intuito de reproduzir suas formas

    sociais e sua identidade. Porm, apesar da resistncia e constante luta para

    que lhes sejam assegurados direitos, esta comunidade convive com um

    contundente fluxo migratrio de vrios de seus membros procura de uma vida

    melhor. Compreender-se-, portanto, como, apesar da forte migrao, esto

    sendo mantidos os laos de pertencimento de seus membros, a partir das

    constantes visitas entre parentes, acolhimento para tratamento de sade no

    contexto urbano e estratgias visando assegurar renda familiar. Procura-se

    demonstrar como a diminuio da presso sobre a terra escassa conjuga-se

    com necessidades conjunturais relacionadas com a escolarizao, ao acesso a

    servios de sade, dentre outros direitos.

    1 Doutor em Antropologia Social pela UnB; Professor Adjunto do Departamento de Sociologia e

    Antropologia da UFMG. 2 Bacharelando em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos e Bolsista sob orientao

    do Professor Aderval Costa Filho no Projeto Cidade e Alteridade.

  • 21

    RELAO CAMPO CIDADE:

    UMA SIMBIOSE POSSVEL E INEVITVEL

    Adriana nogueira Vieira Lima1

    Paulo Rosa Torres2

    O presente artigo pretende refletir sobre as relaes campo-cidade na

    perspectiva de demonstrar a convivncia entre ambos, em oposio a uma

    tendncia exposta por alguns autores da existncia de uma dicotomia, uma

    oposio entre estes dois territrios, ou mesmo, como afirmam alguns, o fim do

    mundo rural. Pretende, ainda que sucintamente, demonstrar que tal

    convivncia j acontece numa seqncia de relaes produtivas, comerciais,

    familiares, tursticas, etc. o que supera possveis antagonismos e oposies,

    permitindo, ao contrrio, uma convivncia permanente e harmnica. Tendo

    como ponto de partida do texto de Raymond Williams sobre O campo e a

    cidade na histria e na literatura e de sua afirmativa que Campo e cidade

    so palavras muito poderosas, e isso no de se estranhar, se aquilatarmos o

    quanto elas representam na vivncia das comunidades humanas (Williams,

    1990, p. 11), tenta evidenciar que as populaes rurais criaram mecanismos de

    sobrevivncia com a introduo de vrias outras atividades, ampliando sua

    vivncia com o espao rural e estabelecendo novas relaes com o meio

    urbano, fazendo emergir um momento histrico novo e novas realidades. Para

    evidenciar tais fatos, discute o processo de excluso da terra e dos direitos,

    onde aborda a contnua expulso dos camponeses, sua luta pela permanncia

    ou volta ao campo az partir do engajamento dos movimentos sociais e as

    novas relaes campo-cidade onde se identifica uma simbiose - palavra aqui

    tomada no de cooperao mtua entre pessoas ou grupos em uma sociedade

    (Michaellis, 1998) - em oposio dicotomia apregoada por alguns autores.

    1 Mestra e Doutoranda em Urbanismo Universidade Federal da Bahia. Professora de Direito

    da Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS. Advogada. [email protected] 2 Mestre em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social - Universidade Catlica do

    Salvador. Professor de Direito da Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS. Consultor em regularizao fundiria rural e urbana. Advogado. [email protected]

  • 22

    A POLTICA DE UM RISCO POTICO

    Ana Carolina Estrela da Costa1

    A poltica - no o exerccio ou a luta pelo poder, mas a configurao de um

    espao especfico, partilha de esferas particulares de experincia - teria, para

    Jacques Rancire, uma esttica em seu fundamento, entendida no sentido

    kantiano sobretudo como experincia da determinabilidade de ns mesmos

    no mundo. A arte no seria poltica por transmitir mensagens e sentimentos

    que representam estruturas, conflitos ou identidades sociais, mas por tomar

    distncia dessas funes, recortando esse tempo e povoando esse espao.

    No Brasil, a pixao tem-se desenvolvido expressivamente, desde os anos 70,

    como uma arte poltica e marginal. Essencialmente contestador, incmodo, o

    pixo no s destroi: essa escrita inaugura a visibilidade dos cidados que a

    fazem, recompondo uma paisagem urbana. Se pixadores so hoje punidos

    como vndalos, formadores de quadrilha, e se a Lei e demais medidas

    alimentam a discriminao em torno deles (distinguindo a pixao do graffite,

    por exemplo, tratando uma como vandalismo e outra como arte Lei n

    12.408/11), examinamos seu modo refinado de conhecer e percorrer o territrio

    da cidade, e suas formas de organizao, que nada tem de quadrilhas

    criminosas, aproximando-se mais de reunies artsticas. A partir da experincia

    etnogrfica compartilhada com pixadores em Belo Horizonte e demais capitais,

    traamos referncias histricas, registramos estilos caligrficos e tipos de

    mensagens. Sobretudo, verifica-se a elaborao sofisticada de um discurso

    que protesta atravs do risco - contra o prprio Estado, levando s ltimas

    consequncias o questionamento do poder de polcia, da circulao da

    informao, do direito de ir-e-vir e da propriedade privada.

    1 Ana Carolina Estrela da Costa formada em Direito pela UFMG e cursa o ltimo semestre de

    Msica na UFMG, com Formao complementar em Antropologia. Em 2012 co-produziu e dirigiu o documentrio independente Mestres do Viaduto, sobre MCs de Belo Horizonte. Atualmente, trabalha na elaborao e edio audiovisual com os ndios Maxakali, no projeto "Por uma Escrita Audiovisual Indgena", pelo INCT de Incluso no Ensino Superior e na Pesquisa, com apoio do Museu do ndio e do CNPq.

  • 23

    BASES DE CONSTRUO DE UMA CULTURA CIDAD

    PARA O PLANO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

    Ana Lucia Pardo1

    Este artigo prope refletir sobre o processo de trabalho de construo do

    Plano Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Um plano decenal, cujo principal

    desafio ser ultrapassar as aes pontuais propondo uma poltica de Estado.

    Porm, a formulao do plano, pressupe, necessariamente passar por um

    amplo dilogo com a populao dessa cidade. preciso, antes, reconhecer o

    acmulo cultural dos que nela residem, os seus diferentes atores, apostar

    numa construo coletiva e reafirmar as identidades locais como nico

    instrumento vlido para a emancipao humana dentro de uma cidadania

    democrtica e plural.Toda a construo desta poltica de cultura deve espelhar

    a diversidade cultural da cidade, as suas potencialidades artsticas, o seu poder

    de inveno e criao, propondo polticas transversais da cultura com as reas

    de educao, comunicao, turismo, meio ambiente, cincia e tecnologia,

    habitao, sade. Em respeito ao significado da cidade do Rio, daquilo que

    representa e daquilo que ainda pode ser, daquilo que anseia e almeja ser,

    como fazer um plano que espelhe as carncias e potncias dessa cidade?

    Como garantir o pleno exerccio dos direitos culturais dos atores desse

    processo? Como corrigir desigualdades e concentraes? Como democratizar

    o acesso e a participao? Essas questes devem estar nas bases de

    implantao de uma poltica cultural que d condies e fomento para deixar

    florescer a cidade e seus cidados, em tudo o que so e o que ainda podem

    ser, dentro de um conceito de cultura cidad, desde o qual construir cidade

    construir cidadania para a cidade.

    1 Mestre em Polticas Pblicas e Formao Humana na UERJ; atriz, jornalista, pesquisadora e gestora cultural. Curadora e Coordenadora do Ciclo A Teatralidade do Humano e do Ciclo Inter-Agir; Foi Ouvidora e Chefe de Diviso de Polticas Culturais do Ministrio da Cultura; Assessora da Comisso de Cultura da Assemblia Legislativa do Rio de Janeiro; Consultora do Ministrio da Cultura, da Universidade da Bahia e da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro no Plano Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.

  • 24

    A AUTONOMIA COMO NECESSIDADE PRIMORDIAL NO CONTEXTO DAS

    SOCIEDADES MINORITRIAS NO OCIDENTE:

    uma compreenso do multiculturalismo canadense e a prtica da

    clitorectomia

    Ana Paula Santos Diniz1

    O presente artigo pretende compreender o multiculturalismo canadense e a

    prtica da clitorectomia; refletir sobre a autonomia do indivduo como

    necessidade primordial no contexto das sociedades minoritrias no ocidente,

    principalmente sobre a cultura islmica presente no Canad; ressaltar que os

    grupos no podem suprimir as liberdades individuais de seus membros;

    abordar questes como alteridade, preservao da cultura, autonomia coletiva

    e individual e multiculturalismo emancipatrio. Objetiva-se, tambm, analisar se

    a cultura islmica confronta ou apenas aparenta confrontar com os direitos

    humanos internacionais e demonstrar que o inter dilogo cultural ou dilogo

    transconstitucional a via mais adequada para o entendimento entre as

    culturas, baseando-se na noo de que a diversidade um bem humano em si.

    Palavraschave: Multiculturalismo. Autonomia. Direitos humanos.

    1 Advogada, especialista, mestranda em Direito pela Universidade de Itana, MG e professora

    na Faculdade de Par de Minas FAPAM.

  • 25

    O ESPAO DO RURAL: REPRESENTAES SOCIOESPACIAIS DO

    SUJEITO MIGRANTE NO NORTE DE MINAS GERAIS-BRASIL

    Andra Maria Narciso Rocha de Paula1

    Quem migra do rural, perde a identidade camponesa? Fica sem razes e sem

    identidade sociocultural? Ou quem migra continua campons e incorpora novos

    valores e promove a identidade rural nos lugares de destino? A experincia de

    migrar modifica em qu as praticas espaciais na unidade familiar? Indagaes

    que fazem do processo migratrio uma importante abordagem de interpretao

    das questes complexas e ao mesmo tempo singulares constitutivas do mundo

    rural. Neste trabalho procuramos estudar as ruralidades dos sujeitos

    migrantes na sua realidade socioespacial. Assim, devemos centrar nossas

    leituras nos modos de vida e do trabalho, como a apreenso do real, construdo

    com a memria, com os valores, com as tradies e nas interpretaes que o

    migrante faz do mundo em que habita. Nossa anlise tem como pressuposto

    metodolgico as trajetrias individuais das migraes campo cidade no e

    para o Norte de Minas. Procurando estabelecer uma interface entre as teorias

    das cincias da Geografia, da Antropologia e da Sociologia. Desta forma,

    construindo um arcabouo terico descritivo das ruralidades e das

    representaes socioespaciais. Entre idas e vindas nos espaos naturais e

    sociais, as famlias geram e consolidam nos lugares de origem e / ou de

    destino, as redes de reciprocidade e de sociabilidade (relaes de ajuda mutua,

    manifestaes culturais, costumes religiosos, festejos, culinria, convivncia e

    participao), tpicas das sociedades camponesas.

    Palavras-Chaves: Processo migratrio, rural / urbano, representao

    socioespacial, ruralidade.

    1 Doutora em Geografia na Universidade Federal de Uberlndia. Professora Efetiva do

    Departamento de Poltica e Cincias Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros. Pesquisadora e bolsista da FAPEMIG. [email protected]

  • 26

    POVOS RIBEIRINHOS AFETADOS POR PROJETOS INDUSTRIAIS:

    O CASO DA EMPRESA ALBRAS/ALUNORTE EM BARCARENA-PAR

    Bruce Leal do Nascimento1

    Evelin Lopes Feitosa2

    O presente trabalho busca visualizar como os povos tradicionais

    ribeirinhos so afetados sob diversas dimenses com a vinda de grandes

    projetos na Amaznia, mais especificamente dos projetos industriais liderados

    por grandes empresas como a ALBRAS/ALUNORTE voltados para a produo

    de mineral em Barcarena, no porto de Vila do Conde, estado do Par, a partir

    das jazidas do rio Trombetas. Tais projetos terminam alterando sobremaneira o

    modus vivendi de uma srie de populaes que esto em seu contexto. Nessa

    regio h abundncia hidrogrfica, existindo diversos rios, igaraps e baias,

    onde muito comum a presena de comunidades ribeirinhas vivendo a partir

    dessa conjuntura, tirando seu sustento das guas e das matas.

    A partir da construo da ALBRAS/ALUNORTE essas comunidades

    passam a ter seu ecossistema alterado e a sofrer com a alterao social de

    onde vivem e com possibilidades de suas remoes/expulses. Moradores que

    vivem da pesca e antes tinham um rendimento bom, terminam por t-lo

    drasticamente reduzido, assim como a interferncia na atividade extrativista,

    fora os problemas com a poluio do ar e das prprias bacias hidrogrficas,

    acarretando uma mudana de seus hbitos e diminuio de suas qualidades de

    vida.

    Assim, propomos uma forma de incluso desses povos a esse novo

    contexto local, conservando-se suas prticas culturais e estilo de vida, evitando

    suas expulses, seu esfacelamento sociocultural e a degradao ambiental

    que esses projetos acarretam por meio da utilizao de instrumentos jurdicos e

    polticos do direito Urbanstico, positivados em Legislaes como o Estatuto da

    Cidade (Lei 10.257/01) e o Plano Diretor.

    1 Graduando em Direito pela Universidade Federal do Par, estagirio da Defensoria Pblica do

    Estado do Par Ncleo Criminal (NACRI) e Bolsista do Projeto de Extenso Programa de Regularizao Fundiria no Bairro da Terra FirmeBelm/PA. 2 Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Par, estagirio da Defensoria Pblica

    do Estado do Par Ncleo Criminal (NACRI) e Bolsista do Projeto de Extenso Programa de Regularizao Fundiria no Bairro da Terra FirmeBelm/PA.

  • 27

    SONORIDADES URBANAS: UMA CIDADE, UM VIR A SER.

    Cleber de Oliveira Santana1

    Os estudos contemporneos identificam a cidade como um espao frtil para

    reflexes em torno das produes materiais de cultura, relaes de

    sociabilidades ou suas produes de memria. E um dos aspectos que sempre

    est em pauta de discusso a questo das sonoridades e a coletividade. A

    convivncia com sons na cidade no um elemento novo, sempre esteve

    como uma questo de ordem pblica ou privada, nas legislaes ou nos

    cdigos disciplinadores. Porm, as cidades ultrapassam os pensamentos dos

    planejadores, pois nela esto inseridos diversos segmentos sociais com formas

    variadas de pensamento, ao, sentimento, e acima de tudo sociabilidades. O

    encontro da razo tcnica enrijecida, da cidade fria dos cdigos e dos modelos,

    com os organismos vivos que transitam pela cidade quente, que pulsa,

    promove um choque de realidade. O artigo tem como objetivo evidenciar a

    relao entre cidade e sonoridades urbanas e uma sinfonia (dis)sonante, a

    partir das percepes das mltiplas experincias sociais de uma cidade

    nordestina, Aracaju, entre os sculo XIX e XX.

    1 Doutorando em Histria Social/Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Este trabalho teve a orientao da Profa. Dra. Yvone Dias Avelino/PUC-SP. [email protected]

  • 28

    ESPAO PBLICO E TRABALHO INFORMAL EM GOINIA:

    O CASO DO MERCADO ABERTO (SETOR CENTRAL)

    Derli Almeida Fernandes Junior1

    Marcela Ruggeri Meneses2

    Pedro Henrique Mximo Pereira3

    Na cidade contempornea a relao existente entre trabalho informal e o

    espao pblico ganha notoriedade, no somente pela presena de seus

    agentes no espao, mas pela dinamizao de trocas e comrcio que eles

    exercem onde trabalham. Apesar disso, fica em xeque questes como a

    contribuio tributria dos mesmos, a procedncia dos produtos

    comercializados, e acima de tudo, a privatizao do espao pblico, que por

    muitas vezes se ocupam das caladas, praas e ruas. Mas at que ponto a

    presena destes trabalhadores interfere na qualidade da apropriao do

    espao pblico e da relao do habitante com a cidade?

    O caso do Mercado Aberto de Goinia um exemplo significativo e ponto de

    imbricao de tais questes. Localizado no Setor Central em ponto estratgico,

    o Mercado Aberto adquire escala metropolitana. No cruzamento das Avenidas

    Gois (uma das mais importantes da cidade) e Paranaba, e fruto de

    remanejamento da administrao pblica dos trabalhadores que outrora se

    concentravam ao longo das Avenidas Gois e Anhanguera, o Mercado Aberto

    configurado por diversos grupos que territorializam o espao em funo de

    dias e horrios para alm do horrio de trabalho, como os skatistas, os

    motociclistas e os profissionais do sexo por exemplo.

    1 Possui graduao em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual de Gois (2009) e atualmente cursa mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Braslia. 2 Possui graduao em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Catlica de Gois (2004), mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Gois (2009) e especializao em Auditoria, Gesto e Percia Ambiental (2012). Atualmente Tcnica em Edificaes/Arquitetura no Ministrio Pblico do Estado de Gois e Professora Adjunta, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Paulista em Goinia. 3 Possui graduao em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual de Gois (2012), atualmente cursa mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Braslia e cursa Artes Visuais pela Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Gois. docente de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Estadual de Gois.

  • 29

    Para avaliar as formas de utilizao deste importante espao pblico central

    sob a problemtica acima explicitada, utilizar-se- a etnografia qualitativa como

    metodologia, que possibilita investigar os sujeitos e agentes sociais usurios da

    rea e sua interao com o espao.

  • 30

    HISTRIAS DO NORDESTE DE BH: TECENDO UMA REDE DE MEMRIA

    DOS AGENTES CULTURAIS COMUNITRIOS

    Eduardo Barbosa de Andrade

    Rafaela Pereira Lima

    Sheila Castro Queiroz

    Vera Lcia Monteiro Lisboa1

    O artigo apresenta a metodologia de atuao, resultados preliminares,

    aprendizados e reflexes acerca de um projeto, iniciado em 2011, de registro,

    compartilhamento e difuso de histrias de vida de agentes culturais

    comunitrios que atuam no extremo nordeste de Belo Horizonte (MG). A regio

    tem um amplo leque de iniciativas culturais populares e nela se localiza um

    quilombo.

    O projeto envolve a sistematizao de um banco de dados sobre os sujeitos

    que mobilizam a cultura local e inmeras atividades de sensibilizao, registro

    e difuso da memria individual e coletiva, dentre as quais destacamos:

    Encontros de Diagnstico Participativo: mais de 100 agentes culturais foram

    identificados. Eles participam de encontros em que se d a construo de um

    mapa cultural e um livro artesanal sobre cada bairro. Alm disso, so

    elaboradas linhas do tempo individuais e coletivas, com vistas a traar a

    histria da cultura local a partir dos cruzamentos das histrias de vida.

    Crculos de Histrias de Vida: com base numa metodologia desenvolvida pelo

    Museu da Pessoa, so realizadas rodas nas quais cada um escolhe um

    acontecimento expressivo de sua histria e relata ao grupo. Os participantes

    trocam impresses sobre as narrativas e, em seguida, cada um reconta a sua

    histria. As histrias so registradas em udio e, em alguns casos, em vdeo.

    1 Rafaela Lima jornalista, mestre em Cincia da Informao e gestora da AIC Associao

    Imagem Comunitria. Eduardo Barbosa filsofo, especialista em educao ambiental e coordenador de projetos culturais da Associao dos Amigos das Bibliotecas Comunitrias da RMBH Sabic BH. Sheila Castro Queiroz uma agente cultural do bairro Ribeiro de Abreu, no qual realiza inmeras atividades em educomunicao, vdeo e dana. educadora do programa Escola Aberta na Escola Municipal Secretrio Humberto Almeida (Ribeiro de Abreu). Vera Lcia Monteiro Lisboa liderana comunitria e agente cultural do bairro Paulo VI. fundadora do movimento comunitrio Equipe Linha de Frente, criou e coordena uma creche comunitria e integra o conselho gestor da Sabic-BH. Os quatro autores esto frente do projeto cultural Histrias do Nordeste de BH: rede de memria dos agentes culturais comunitrios, realizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte.

  • 31

    Elaborao e veiculao de produtos para difuso da memria local: esto

    sendo criadas uma coletnea dos registros no formato de livro e uma srie de

    plulas radiofnicas com histrias de vida, que sero veiculadas pela Rdio

    UFMG Educativa.

  • 32

    (TRANS)FORMAO DA IDENTIDADE CULTURAL NA

    MICRORREGIO ALTO RIO PARDO

    Fabiana Oliveira Arajo1

    O trabalho abordar a (trans)formao da identidade cultural na Microrregio

    Alto Rio Pardo, Norte de Minas Gerais. So fatores que contriburam para isso:

    o Rio Pardo, elemento estruturador da paisagem e do territrio, e o isolamento

    virio existente at a dcada de 1980.

    Em um territrio com economia baseada na agropecuria, com longos perodos

    de estiagem, o Rio Pardo tm ditado, historicamente, o ritmo da economia e do

    cotidiano rural e urbano, configurando-se como importante contribuidor para a

    cultura e identidade locais.

    O isolamento virio foi determinante para as relaes sociais, econmicas e de

    consumo, por exemplo. A acessibilidade precria dificultava a importao de

    produtos, inclusive alimentcios, e contribuiu para o predomnio da atividade

    agropecuria voltada tambm para o abastecimento local e regional. Com isso,

    uma caracterstica forte que se desenvolveu, e que permanece at hoje, apesar

    das transformaes que tm passado aps a melhoria da acessibilidade, so

    os mercados e as feiras, locais de festa e de concentrao do excedente, que

    contribuem para a formao de uma identidade baseada na relao de troca e

    complementaridade entre rural e urbano, ajudando a manter alguns costumes e

    modos de vida at os dias de hoje.

    Juntando esses fatores, pode-se dizer que o que melhor caracteriza e identifica

    o territrio e a paisagem da microrregio o rural, e no o urbano. Esse ltimo

    se apresenta, grosso modo, como ponto de conexo e mediao entre o

    mundo local e regional e tambm como o elemento de contato com o resto do

    mundo.

    1 Graduada em arquitetura e urbanismo. Mestranda do Ncleo de Ps-Graduao em

    Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais. Bolsista Capes. Orientanda do Prof. Dr. Roberto Luis de Melo Monte-Mr. Previso da defesa de dissertao para maro de 2013.

  • 33

    POR UMA POSSVEL BELEZA DA MARGEM:

    Artesos de Rua Desafios e perspectivas da vida nas grandes

    metrpoles: um estudo do caso de Belo Horizonte

    Flvia Marcelle Torres Ferreira de Morais1

    Gustavo Pessali Marques2

    O presente estudo se prope a fazer uma anlise interdisciplinar e

    multifacetada da situao dos Artesos de Rua ou Malucos da Estrada que

    convivem e coexistem com/no meio urbano hodierno, problematizando os

    desafios de sua efetiva incluso na sociedade a partir da garantia de respeito a

    sua cultura e modo de vida. Observar-se- as diferentes protees legais

    inscritas no s em mbitos jurdicos da Repblica, mas tambm a nvel

    internacional regional e universal -, dadas s minorias culturais,

    problematizando, tambm, o papel do direito e do Poder Pblico em contextos

    urbanos multiculturais onde conflitam interesses bastante antagnicos.

    Paralelamente e a ttulo complementar, ser feita anlise da situao do

    municpio de Belo Horizonte, caso paradigmtico onde evidenciam-se posturas

    de diversos agentes que compem o grande coletivo urbano Artesos de

    Rua, Defensoria Pblica, Ministrio Pblico, Movimentos Sociais, Governo,

    sociedade civil, dentre outros. A partir desta concatenao de ideias, apontar-

    se- consequncias e projees deste tipo de conflito urbano e algumas

    possibilidades de atuao pela proteo e garantia dos Direitos Humanos.

    1 Bacharel em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Defensora Pblica do Estado

    de Minas Gerais Ncleo de Direitos Humanos Coletivos e Scio-Ambientais. 2 Bacharelando em direito com formao complemetar em Cincias do Estado pela

    Universidade Federal de Minas Gerais. Membro do Comit Popular dos Atingidos pela Copa BH.

  • 34

    O INVISVEL NA HISTRIA:

    DAS ANTIGAS FAVELAS PARA AS VILAS PROLETRIAS.

    A cultura afro-brasileira na Villa Concrdia

    Flvia Regina de Oliveira Chaves1

    O presente trabalho aborda algumas questes relacionadas criao da

    primeira vila proletria de Belo Horizonte, a Vila Concrdia, a partir do Decreto

    n 31 de 6 de setembro de 1928 organizada na antiga Fazenda do Retiro

    Sagrado Corao de Jesus, pertencente a Jos Cndido da Silveira. As

    instalaes operrias que haviam se estabelecido na regio central, como no

    caso da favela da Barroca e do Barro Preto, seriam ento desapropriadas e

    novas reas seriam abertas especificamente para servir de moradia para os

    trabalhadores. O presente trabalho analisa ento a transposio desses

    operrios, em sua maioria afro-descendentes, para a referida vila,

    ressignificando o espao e perpetuando tradies como as guardas de

    Congado, os terreiros de candombl e umbanda, entre outros espaos de

    recriao da cultura afro-brasileira, transformando-se no lugar de

    manifestaes da fora comunitria. A Vila representou assim a reproduo de

    um micro-cosmo nuclear da cultura afro-brasileira em Belo Horizonte.

    Palavras-Chave: Belo Horizonte, Vila Concrdia, operrios, tradies, afro-

    brasileiras.

    1 Graduada em Histria pela Universidade Federal de Minas Gerais, ps-graduada em Histria

    e Cultura Afro-brasileira pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais programa de Ps-graduao Lato sensu.Atualmente leciona Histria na rede particular de Belo Horizonte.

  • 35

    SIMMEL E RACIONAIS APRESENTAM: NA CIDADE GRANDE ASSIM...

    1Frederico Alves Lopes

    O presente artigo uma anlise da vida metropolitana a partir de duas

    narrativas: uma artstica e outra sociolgica. Na arte Racionais MCs, grupo de

    rap brasileiro mais famoso atualmente, e na sociologia Georg Simmel, um dos

    fundadores da disciplina e considerados por muitos um clssico nas cincias

    sociais; ambos apresentam a metrpole e suas relaes cotidianas como

    centrais em suas obras. Objetiva-se neste trabalho apreender peculiaridades

    interpretativas acerca da urbanidade moderna, realizando um paralelo entre as

    teorias do autor alemo com as letras dos rappers paulistanos. Nota-se nas

    cidades metropolitanas um alto contingente populacional sendo atrado para os

    seus centros, entretanto, a capacidade receptiva das grandes cidades no

    abarca todos cidados que nelas povoam. Deste modo, surgem as periferias,

    espaos muitas vezes marginalizados, onde seus habitantes acabam por

    desenvolver interaes singulares com a cidade. Dessas interaes

    caractersticas acaba por aflorar o movimento conhecido como Hip Hop.

    Percebe-se nas msicas dos Racionais uma cidade conflituosa e desigual.

    Descrio corroborada tambm por Simmel, que interpreta o conflito como

    incessante e contnuo. As narrativas de ambos demonstram que na metrpole

    a vida intensa e dinmica, devendo ser encarada, como nas palavras de

    Mano Brown, como um desafio.

    Palavras Chave: Cidade; Simmel; Metrpole; Rap; Racionais Mcs

    1 Gestor Pblico pela UEMG, graduando em Cincias Sociais pela UFMG e bolsista de

    Iniciao Cientfica pela Fundao de Amparo Pesquisa.

  • 36

    APLICABILIDADE DO DIREITO URBANSTICO NO CONTEXTO DOS

    MOVIMENTOS CULTURAIS

    Gabriela Cristina Mota Ribeiro1

    Layon Duarte Costa2

    Resumo: O presente artigo prope-se a analisar as interferncias sociais e

    polticas provocadas pelos movimentos culturais, mediante o olhar do Direito

    Urbanstico. Procuraremos relacionar a importncia desses movimentos dentro

    do atual arranjo constitucional do Estado brasileiro e, a partir dessa anlise,

    estabelecer um parmetro comparativo de como o uso da cidade, mais

    propriamente, como o uso do espao pblico, se deu ao longo da histria

    mundial. Pretendemos, ainda, questionarmos a legitimidade do Estado,

    partindo da premissa de que ele resultado da vontade social e, mesmo assim,

    age com o intuito de dificultar e at mesmo impedir as manifestaes artstico-

    culturais. Para tanto, visaremos estabelecer as bases histricas mais

    elementares partindo da realidade histrica grega, passando pela idade mdia,

    at os dias atuais. Num segundo momento, trataremos dos efeitos da

    represso a esses movimentos e suas conseqncias para o desenvolvimento

    da sociedade. Nesse ponto, tentaremos demosntrar como as manifestaes

    artstico-culturais contribuem, significativamente, para a edificao de uma

    sociedade mais complexa e melhor estruturada. A posteriori, tentaremos

    mostrar o vnculo jurdico das interferncias realizadas pelo poder estatal numa

    tentativa de regulamentao e otimizao da utilizao do espao pblico. Por

    fim, nortearemos nosso trabalho por meio de respostas seguinte pergunta:

    At onde o poder de polcia (poder de estado) deve agir e quando tal poder

    comea ferir a liberdade individual e/ou coletiva?

    1 Graduanda do 5 Perodo do Curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, e-

    mail de contato: [email protected] 2 Graduando do 5 Perodo do Curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, e-

    mail de contato: [email protected]

  • 37

    O RECONHECIMENTO E A CONQUISTA DE DIREITOS DE UM QUILOMBO

    NA CIDADE

    Gabriela de Freitas Figueiredo Rocha1

    O artigo trata dos problemas enfrentados por uma comunidade

    remanescente de quilombo na conquista de seus direitos tnico-territoriais no

    contexto urbano, o quilombo de Mangueiras, em Belo Horizonte/MG. O auto-

    reconhecimento do grupo foi a primeira etapa de um processo complexo e

    contnuo de reconhecimento social, envolvendo desde sua insero como

    sujeito tnico destinatrio de polticas especficas, at novas formas de

    territorializao e de relacionar-se com seu entorno. Primeiramente, coloca-se

    a questo de como as instituies lidam com o problema do quilombo, e como

    o Poder Pblico revela a aparente desarticulao entre polticas sociais e

    polticas urbanas, na medida em que os quilombolas passam a ser unicamente

    tratados como um pblico a ser especialmente tutelado. desarticulao de

    polticas em nveis federal, estadual e municipal, soma-se o desafio de um

    processo de territorializao especfico, protagonizado por uma instituio

    tradicionalmente ligada realidade rural o INCRA dentro de um contexto

    regido por suas prprias regras de produo espacial: a cidade. Por fim, a partir

    da percepo de que o quilombo pertence a uma parcela da cidade e

    estabelece com ela relaes de dependncia, trocas, conflitos, torna-se

    necessrio compreender como a auto-identificao tnica (re)constri essas

    relaes e, assim, condiciona o exerccio da autonomia do grupo, que no deve

    ser tratado como uma populao a ser isolada ou protegida do restante da

    cidade.

    1 Bacharel em Direito e mestre em Antropologia, ambos pela UFMG. Participou do Programa

    Plos de Cidadania e atualmente orientadora de campo no grupo de pesquisa Cidade e Alteridade.

  • 38

    A REAL DA RUA, O ACESSO DO PIXO AO DIREITO:

    DA TOLERNCIA ZERO PALAVRA COMO PRIMEIRO PASSO

    Guilherme Del Debbio

    Joanna Ladeira

    Ludmilla Zago1

    A teoria da tolerncia zero usada para sustentar a poltica urbana do

    Movimento Respeito por BH (fundamentado tambm pela Teoria das Janelas

    Quebradas). Propomos apresentar duas experincias de mobilizao,

    organizao popular e acesso aos direitos que subvertem tal tentativa de

    ordenamento do modo de vida urbano pela excluso das diferenas.

    A primeira delas, a Real da Rua, se originou da parceria entre a ONG

    Pacto Desenvolvimento Social e Pesquisa e a Famlia de Rua a partir de

    demandas referentes ao espao, ao Duelo de MCs, ao pblico e se constitui

    como aposta em um modo de organizao social baseado no dilogo entre

    vrios e no encaminhamento de aes que tenham inscritas marcas, palavras e

    demandas reais, de quem vivencia o duelo a cada semana, e de quem o

    respeita.

    A outra experincia surge a partir da pesquisa Cidade e Alteridade, no

    subeixo da cultura de rua. Realizou-se, como tentativa de aproximar a pesquisa

    de demandas referentes ao direito e ao ordenamento e execuo jurdicos de

    assuntos relacionados pixao, o encontro entre pixadores, pesquisadores,

    parceiros e advogados.

    Apostamos que as duas experincias apontam para uma subverso no

    modo de abarcar a convivncia na cidade, mais consonante com o que a Carta

    Mundial do Direito as Cidades prope.

    1 Psiclogo, Psicanalista, Tcnico Social do Servio de Medidas Socioeducativas da Prefeitura

    de Belo Horizonte, pesquisador-extensionista do Projeto de Pesquisa Cidade e Alteridade: convivncia multicultural e justia urbana e membro da Pacto Desenvolvimento Social e Pesquisa.

  • 39

    OS POVOS TRADICIONAIS E A CIDADE

    Helena Dolabela1

    Carlos Eduardo Marques2

    Alexandre Sampaio3

    O paper pretende apresentar a situao de alguns povos tradicionais que

    vivem na cidade de Belo Horizonte e que encontram dificuldades para

    manterem suas territorialidades, conforme seus modos de ser, saberes e

    fazeres prprios. As anlises mostram que os obstculos decorrem,

    principalmente, da ausncia de reconhecimento do Poder Pblico Municipal

    quanto diversidade destes povos e suas respectivas singularidades.

    Um dos grupos a serem apresentados uma comunidade cigana Caln,

    habitante de uma rea pblica da extinta rede ferroviria. O grupo mora na

    regio do bairro So Gabriel, regio nordeste, h mais de vinte anos. Os outros

    casos envolvem as dificuldades e conflitos em torno da regularizao territorial

    dos grupos remanescentes de quilombo,: Mangueiras, comunidade impactada

    pela execuo da Operao do Isidoro, na regio Norte; Luzes na regio

    Oeste; e Manzo Ngunzo Kaingo, na regio Leste, que alm de ser quilombola,

    tambm reconhecido como um povo tradicional de terreiro.

    O objetivo da apresentao demonstrar a diversidade de sujeitos, coletivos,

    que demandam o reconhecimento e o direito a permanecerem habitando

    territorialidades construdas ao longo de dcadas e que vem sendo posta em

    risco pela presso econmica, notadamente imobiliria, e pela sua

    invisibilizao, principalmente no mbito da poltica urbana. Se por um lado o

    poder pblico municipal acompanha alguns destes grupos no sentido de

    promover, ainda que precariamente, algumas polticas sociais, a poltica

    urbana no percebe tais grupos como singulares e, portanto, detentores de

    uma forma prpria de apropriao e uso do espao urbano, principalmente de

    sua territorialidade.

    1 Helena Dolabela, jurista, especialista em Direito Urbanstico e Mestre em Cincia

    Poltica/UFMG. 2 Carlos Eduardo Marques, antroplogo e doutorando em antropologia/ UNICAMPINAS.

    3 Alexandre Sampaio, economista e Mestre em Cincias Sociais/UFMG

  • 40

    A CIDADE DANDARA:

    DA QUESTO DA MORADIA AOS DIREITOS AOS LUGARES E S RAZES

    Isabella Gonalves Miranda

    Juliana Luiz

    A comunicao a ser apresentada parte de algumas reflexes sobre o

    espao de moradia concebido como um articulador de diferentes sentidos e

    funes sociais, polticas e ecolgicas assumidas no mbito de uma

    ocupao realizada na rea metropolitana de Belo Horizonte. O lugar

    conhecido como Comunidade Dandara introduziu uma proposta de ocupao

    rururbana, que orienta-se para a construo de um espao habitacional

    articulado ao espao de vivencia comunitrio e de produo, atravs de

    prticas de agriculturas urbanas tanto hortas nos quintais das residncias,

    como o cultivo de diferentes alimentos em reas de uso e acesso comunitrio.

    Dandara ainda se encontra em processo de disputa judicial para que os

    e as moradoras possam concluir o projeto proposto. Alm da luta pela

    permanncia, a disputa em torno do conceito de ocupao que orientou o

    projeto inicial tambm tem estado na agenda poltica da comunidade.

    Considerando este contexto, prope-se recuperar alguns elementos da

    memria da ocupao Dandara, retomando s razes, as argumentaes e as

    utopias do projeto inicial com o objetivo de destacar e analisar as contribuies

    desse processo para os debates tericos e polticos sobre trs eixos temticos

    que se articulam entre si: espao de moradia, agriculturas urbanas e direito aos

    lugares.

  • 41

    O CORPO E O CRCERE: A TRANSGRESSO DOS ESPAOS

    NORMATIVOS EM LIMITE BRANCO (1970), DE CAIO FERNANDO ABREU

    Juan Filipe Stacul1

    Gracia Regina Gonalves2

    No presente trabalho, pretendemos realizar uma leitura crtica do romance

    Limite branco (1970), de Caio Fernando Abreu, que articule a construo da

    subjetividade com a representao dos espaos. Interessa-nos a forma como

    Abreu se apropria dos ambientes da esfera domstica enquanto delineadores

    do processo de aprendizagem do protagonista do romance, o adolescente

    Maurcio. Acreditamos que este elemento espacial se apresenta enquanto um

    operador na evoluo da personagem, o qual analisa o universo ao seu redor,

    incapaz de definir uma identidade plena, posto que esta se v recalcada fsica

    e psicologicamente. Para tal anlise, utilizaremos as teorizaes de Bachelard,

    Harvey e Stanley, sobre as interlocues entre espao e construo da

    identidade na contemporaneidade.

    Palavras-chave: Literatura brasileira; Caio Fernando Abreu; Subjetividade;

    Gnero; Espao.

    1Mestre em Estudos Literrios (UFV) e Professor Substituto da Universidade Federal de Viosa.

    E-mail: [email protected]. 2Doutora em Estudos Literrios (UFMG) e Professora Associada da Universidade Federal de

    Viosa. E-mail: [email protected].

  • 42

    ARTESOS NMADES E A PRAA SETE:

    UMA LUTA PELO RECONHECIMENTO DE IDENTIDADE NO ESPAO

    URBANO

    Kenaty Mayara M. Guasti1

    Sofa A. Ramos Daz2

    O presente artigo busca correlacionar o conflito jurdico entre os artesos

    nmades e a Prefeitura de Belo Horizonte com a luta pelo reconhecimento da

    identidade coletiva de tal grupo nos meios urbanos. O conflito se configura

    medida que os artesanatos expostos na Praa Sete so apreendidos

    constantemente pela Polcia Militar com a justificativa de que tal atividade fere

    o Cdigo de Posturas, que no permite a comercializao livre sem

    licenciamento em espao pblico. A prefeitura, em contrapartida, props que os

    artesos participassem em feiras.

    Porm, os artesos nmades no querem ver seu trabalho enquadrado

    como uma atividade comercial. Diante disso, h formas de regulamentao

    alternativas que j so utilizadas em outros estados do Brasil.

    Visto que a identidade coletiva est implicada pelas prticas sociais que

    o grupo desenvolve, a luta por um lugar no espao pblico transforma-se numa

    luta pelo prprio reconhecimento. Identidade essa que apropriao de um

    lugar no mundo social, que garante uma continuidade da experincia do ns e

    1 Graduanda em Psicologia, UFMG [email protected]

    2 Graduanda em Cincias Sociais, Sciences Po Paris [email protected]

    Co-autores: Marcos Bernardes Rosa. Graduando em Direito, UFMG [email protected]

    Amanda Marina Lima Batista. Graduanda em Direito, PUC [email protected]

    Deborah Stephane de Oliveira Henrique. Graduanda em Psicologia, UFMG [email protected]

    Flvio Alvarenga Sampaio. Graduando em Direito, UFMG [email protected]

    Joviano Gabriel Maia Mayer. Graduado em Direito, UFMG [email protected]

    Julia Dinardi Alves Pinto. Graduanda em Direito, UFMG [email protected]

    Mariana Ribeiro dos Santos Lima. Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UFMG [email protected]

    Sarah de Matos Pereira. Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, UFMG [email protected]

  • 43

    diz algo sobre a sua pertena a determinado grupo, compartilhando uma

    dimenso sentimental. Quando um sentimento tal como a indignao

    compartilhado pelo grupo, este pode facilmente se politizar. o que est

    acontecendo neste momento com os artesos nmades da Praa Sete.

    A anlise do conflito ser feita com base nos argumentos de ambas as

    partes: do poder pblico e dos artesos nmades. O objetivo analisar o

    desenvolvimento, defesa e politizao de uma identidade coletiva nos meios

    urbanos.

  • 44

    VOC SUJA MINHA CIDADE, EU SUJO SUA CARA:

    protesto e humor contra a propaganda poltica.

    Laura Guimares Corra1

    Desde o ano de 2010, observa-se o surgimento de perfis nas redes sociais

    criados por pessoas que protestam contra a propaganda poltica nas ruas das

    cidades. Dois exemplos desse fenmeno so as pginas "Voc suja minha

    cidade, eu sujo sua cara"2, e "Quem suja agora, vai sujar depois"3, ambas no

    Facebook.

    O trabalho proposto trata inscries praticadas pelos sujeitos comuns sobre a

    propaganda poltica nas cidades, ou seja: sobre placas, cavaletes, cartazes,

    "santinhos", bandeiras que anunciam candidaturas a cargos pblicos poca

    das eleies. As interferncias reconfiguram sentidos por meio da adio ou

    supresso de signos.

    Esse fenmeno ser objeto de anlise sobre dilogos no espao urbano. As

    interaes revelam disputas simblicas, estticas e polticas em que o humor

    utilizado para esconder e criticar o/a candidato/a e ao mesmo tempo para expor

    o abuso na apropriao do espao pblico como lugar da promoo das

    candidaturas.

    Observa-se a ressignificao dos discursos na propaganda poltica. O

    material publicitrio de candidatos/as est exposto ao das pessoas

    comuns, que dialogam por meio de intervenes imagticas e lingusticas

    com a fotografia, o nome, o nmero e o slogan de quem se prope a ocupar o

    cargo pblico.

    1 Professora adjunta no curso de Comunicao Social da UFMG. Doutora em Comunicao

    pela UFMG. Integrante do Gris- UFMG, coordenadora do GrisPub - Grupo de pesquisa em publicidade, mdia e consumo. 2 http://www.facebook.com/sujosuacara

    3 http://www.facebook.com/quemsujaagora

  • 45

    INFLUNCIAS DO INDIVIDUALISMO E DO MATERIALISMO

    CONTEMPORNEO NA RECONFIGURAO DO ESPAO URBANO

    Leonardo Meirelles1

    O presente artigo aborda a configurao do espao urbano e suas

    modificaes a partir da compreenso do recrudescimento do individualismo e

    do materialismo como corrente filosfica que tem sua alta expresso na

    contemporaneidade. Busca-se em um primeiro momento delimitar o escopo

    das duas correntes para em seguida estudar sua relao direta com a

    reconfigurao do espao urbano contemporneo. Buscamos responder de

    que maneira as grandes regies metropolitanas brasileiras so mais afetadas

    por tais influncias, e de maneira o que "anda" na cabea do homem

    contemporneo corresponde ao que "anda" no espao urbano - andar no duplo

    sentido de acontecer e de caminhar no espao, redesenhando-o. Relacionar

    pensamento contemporneo e espao urbano a linha mestra que guia o

    argumento deste trabalho.

    Palavras-chave: inividualismo; materialismo; espao urbano; reconfigurao.

    1 Graduado em Direito pela UFMG, Graduado em Histria pela PUC-Minas, Mestre em filosofia

    pela Universit Paris X-Nanterre, doutorando em Filosofia pela UFMG, tema da tese de doutorado: alteridade em Emmanuel Lvinas.

  • 46

    VALORIZAO PROFISSIONAL DE TRAVESTIS: DAS ESTRATGIAS

    PESSOAIS S POLTICAS DE INCLUSO

    Lincoln de Oliveira Rondas1

    Luclia Regina de Souza Machado2

    Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada para fins de

    concluso de um mestrado e motivada pela observao de que h um nmero

    muito pequeno de travestis inseridas no mercado de trabalho, especialmente o

    formal. Buscou-se dar visibilidade s experincias e dificuldades vividas por tal

    grupo sociocultural para obter a aceitao de sua identidade e diversidade pela

    sociedade e, consequentemente, sua insero no mercado de trabalho e a

    valorizao dos seus anseios e projetos profissionais. Alm dos resultados

    desta pesquisa, o artigo apresenta recomendaes de interesse para o

    planejamento e execuo de polticas inclusivas de educao e de qualificao

    profissional e de promoo da insero e permanncia de travestis no mercado

    de trabalho. A realizao do estudo contou com a participao de doze

    travestis belorizontinas e de cidades prximas, que ofereceram com seus

    depoimentos dados sobre condies socioeconmicas; perfil educacional;

    situao de trabalho; experincias e dificuldades para a insero no mercado

    de trabalho formal e nele permanecer; objetivos, aes e meios de obter

    valorizao profissional e engajamento pessoal em aes afirmativas de

    carter coletivo como estratgia de afirmao pessoal e profissional. Por

    estratgia de valorizao profissional foram consideradas as decises, aes e

    seus resultados, que tenham a perspectiva de tornar mais valorizados

    socialmente o exerccio de profisses e aqueles que as exercem.

    1 Graduao em Letras (UFMG) e mestrado em Gesto Social, Educao e Desenvolvimento

    Local (UNA). 2 Graduao em Cincias Sociais (UFMG), Mestrado em Educao (UFMG) e Doutorado em

    Educao (PUC de So Paulo).

  • 47

    AS NOVAS PRTICAS URBANO-AMBIENTAIS EM BELO HORIZONTE E O

    ATUAL PROCESSO DE OCUPAO DA REGIO DE ISIDORO.

    Matheus Soares Cherem1

    O artigo trata sobre a trajetria da poltica pblica urbano-ambiental em Belo

    Horizonte desde sua fundao at os dias atuais, tendo como foco as

    transformaes a partir da dcada de 1990. Pretende-se examinar as

    diferentes formas de atuao dos governos municipais frente dinmica

    urbana e suas peculiaridades, como por exemplo, a especulao imobiliria. As

    mudanas de posturas dos governos Patrus Ananias, Clio de Castro,

    Fernando Pimentel e Marcio Lacerda sero analisadas tendo como base de

    comparao e pice o processo de ocupao da Regio do Isidoro. rea esta

    que recebe o nome do ribeiro que a corta, mas tambm conhecida como

    Granja Werneck devido a famlia do primeiro proprietrio do terreno. A regio

    uma das poucas grandes reas verdes e pouco urbanizadas remanescentes

    de Belo Horizonte e tem sua ocupao prevista desde as discusses e os

    debates da poca de elaborao do Plano Diretor Municipal e da Lei de

    Parcelamento, Uso e Ocupao do Solo, em meados de 1990.

    1 Bacharel em Cincias Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais com nfase em

    Cincia Poltica (Polticas Pblicas) e especializao por Formao Complementar em Teorias Urbanas (Urbanismo).

  • 48

    DUELO DE MCS:

    conflito, identidade e espetacularidade

    Maurilio Andrade Rocha1

    Este trabalho relata o estudo etnogrfico sobre o Duelo de MCs, realizado nas

    noites de sexta feira, desde 2007, sob o viaduto de Santa Tereza, na cidade de

    Belo Horizonte. O evento rene a cada semana um pblico de cerca de 500

    pessoas em torno de manifestaes da cultura Hip Hop. Na atrao principal

    da noite, quatro duplas de MC's duelam em rounds de um minuto. O pblico

    presente, formado principalmente por jovens de diversas camadas sociais,

    escolhe os vencedores atravs de gritos e palmas. Fora do palco, o

    evento marcado por conflitos entre os organizadores e o poder pblico, mas a

    plateia se diverte calorosa e pacificamente. No palco, os duelos so marcados

    por Raps improvisados, recheados de expresses de violncia. Ao final de

    cada duelo os MCs se cumprimentam, deixando claro que ali a violncia se

    circunscreve apenas ao jogo de palavras. O Duelo de MCs uma prtica

    espetacular onde a convivncia humana se faz rica em diversidade, conflitos e

    contradies. Onde a msica e a performance dos duelistas nos permitem

    interpretar o cotidiano da cidade, marcado pela desigualdade social e pela

    busca de afirmao de identidades atravs de manifestaes culturais.

    1 Professor Associado da Escola da Belas Artes da UFMG. Coordenador do Programa de Ps

    Graduao em Artes da UFMG. Integra o Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa, Portugal.

  • 49

    COMUNIDADES TRADICIONAIS: O QUILOMBO URBANO DOS LUZES E O

    DESAFIO NO ENFRENTAMENTO DO EFMERO NA

    CONTEMPORANEIDADE.

    Miriam Aprigio Pereira1

    O presente artigo tem como objetivo analisar a emergncia de assegurar

    visibilidade s comunidades Tradicionais, de modo especifico um Quilombo

    Urbano, que dialoga com a dinmica e a rotatividade cultural de uma grande

    cidade. Ser apresentado um histrico de evoluo e transformao do

    espao, do qual o Quilombo faz parte, e que mesmo diante dos desafios

    estabelecidos pelos novos rumos e valores contemporneos, guardam em seu

    territrio costumes, crenas, memria e tradio. Atravs da oralidade, a

    Comunidade Negra dos Luzes, na condio de um agrupamento tnico,

    estabelecido em Belo Horizonte desde fins do sculo XIX, apresenta a

    sociedade da capital mineira, um modo de vida suy generis que advm de uma

    estreita ligao entre o legado deixado por seus ancestrais, e a prtica

    cotidiana da vida moderna. Portanto, o presente artigo pretende traar um

    panorama da situao vivenciada pelos quilombolas no presente, que

    procuram driblar os desafios do mundo globalizado; o descaso da gesto

    pblica frente s questes associadas noo de preservao dos grupos que

    remetem ao mito fundador da noo de identidade nacional, alm do conflito

    advindo da especulao imobiliria, que reduz o territrio e as possibilidades

    de perpetuao de sua histria.

    1 Miriam Aprigio Pereira Bacharel e Licenciada em Histria PUC MINAS

    Cursando Especializao em Histria e Cultura Poltica UFMG Professora de Rede Estadual de Ensino de MG Diretora de Educao da Federao Quilombola de MG Aluna do programa Aes Afirmativas Consrcio UFMG - UEMG com recursos da Fundao Ford

  • 50

    NOSSA SENHORA DO ROSRIO NA ESTRADA REAL: AS FESTIVIDADES

    DO CONGADO EM CIDADES DA ROTA DOS DIAMENTES

    Profa. Dra. Vnia Noronha1

    Paula Miranda Alves Pimenta2

    Minas Gerais um dos estados brasileiros onde a devoo ao

    catolicismo bastante evidente. Aqui encontramos como forte tradio a festa

    do congado, ou Reinado, manifestao catlica reinventada pelos negros, em

    homenagem a Nossa Senhora do Rosrio e aos santos pretos, So Benedito e

    Santa Efignia. Ao longo de todo trajeto da Estrada Real a festa do congado

    fez e ainda se faz presente em vrios municpios e distritos, momento em que

    os devotos modificam a estrutura dessas localidades, ocupando de forma

    diferenciada seus espaos, com procisses e missas, sempre seguidas de

    cantos, danas e o som dos tambores. Assim, o estudo teve como objetivo

    identificar e analisar os grupos de congado na Rota dos Diamantes da Estrada

    Real - de Diamantina a Ouro Preto em seus aspectos histricos, sociolgicos,

    culturais, religiosos e tursticos, a partir de registros das hi(e)strias e memrias

    dos representantes de suas Guardas, aprofundando o debate sobre o legado

    das heranas afro-brasileiras e a constituio do nosso Estado, bem como a

    importncia das festas do Reinado como fenmeno turstico nas localidades

    investigadas. Foram contempladas nove cidades nas quais a manifestao

    vivenciada e aonde foram encontrados grupos de congado. Para tanto a

    histria oral foi adotada como estratgia metodolgica uma vez que

    reconhecida como uma importante fonte histrica, sendo utilizada para

    obteno de novos registros. A tradio passada de gerao em gerao

    pela oralidade e continua modificando o cotidiano desses lugares manifestando

    a ampla e ntima relao entre festa, religio e a cidade.

    1 Professora do Curso de Educao Fsica da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais.

    Belo Horizonte, MG. Rua So Clemente, 1175, Aparecida, 31230-460. Belo Horizonte / MG. (031)3422-5285 / (031)98851121. [email protected] 2 Licenciada em Educao Fsica pela PUC Minas, Belo Horizonte, MG. Rua Expedicionrio

    Sinval Melo, 93, Caiara. 30770-310. Belo Horizonte / MG. (031) 8624-9294. [email protected]

  • 51

    O ESTADO DE EXCEO E A MULTIDO NA CIDADE

    Rafael de Oliveira Alves1

    A cidade pode ser compreendida como obra coletiva, a ser construda e

    apropriada coletivamente. Nesse campo de lutas, o capital e o Estado so os

    agentes hegemnicos que moldam as subjetividades e regulam as

    possibilidades de uso e de troca no espao da cidade. Contudo, no mesmo

    espao, h uma multido que resiste, que se insurge e que constitui uma outra

    ordem, um outro direito cidade.

    Essa narrativa pode ser recontada [1] pelo Estado de direito, ora objeto, ora

    sujeito nos processos histricos; ou [2] pela sua contraface de Estado de

    exceo, que suspende o direito e deixa a vida nua margem. Aqui, so teis

    as falas de Marx, Poulantzas, Schmitt, Benjamin, e Agamben. Sobre esse

    quadro geral, [3] Harvey, Vainer, Lefebvre, Holston, Boaventura, Negri e Hardt

    ajudam a perceber a mudana empreendida pela multido que ocupa e produz

    a cidade.

    Nessa trilha, o regime biopoltico do Estado de exceo contraposto ao

    projeto comum emancipatrio do direito cidade. Em uma toada, a cidade

    sitiada pelo capital e pela violncia estatal; em outra, a vida reocupa a cidade

    em oposio propriedade privada, ao Estado e ao direito moderno.

    Nesse sentido, o texto proposto deseja enunciar alguns suportes tericos sobre

    o Estado de exceo presente na cidade e, assim, contribuir para o avano da

    prxis social rumo ao projeto do comum.

    1 Mestre em Direito Urbanstico, Doutorando em Geografia, e Professor da UFOP.

  • 52

    DIREITO S RUAS DA CIDADE:

    UM CONTRAPONTO AO FASCISMO SOCIAL

    Raphaella Gonalves Oliveira Alves1

    Eduarda Miranda Figueiredo 2

    Cintia de Freitas Melo3

    Emanuelle Brenda Lopes Perptuo4

    Gabriela Fantine Antunes Soares5

    A populao de rua um segmento social extremamente fragilizado e

    vulnervel que est sujeita a uma situao permanente de violncia que se

    apresenta sob diversas formas. Essa violncia pode partir do Estado ou da

    prpria sociedade, materializando-se nas agresses e apreenso dos objetos

    pessoais dos moradores de rua, estendendo-se negao da cidadania e do

    acesso a direitos.

    H uma relao indissocivel deste quadro com um projeto de cidade que vem

    sendo implementado. So constantes as denncias do contemporneo

    processo higienista que levado a cabo nas grandes metrpoles brasileiras,

    tendo como um dos grupos atingidos, a populao de rua, tornada indesejvel

    nas cidades estreis, voltadas para a realizao dos interesses exclusivamente

    mercadolgicos.

    Este trabalho pretende demonstrar que a violncia sofrida pela populao de

    rua se d no mbito de um projeto de cidade feita para poucos. Para tanto,

    utilizaremos dados obtidos em noticias sobre a violncia cometida contra a

    populao de rua. A analise desses dados ser feita em consonncia com a

    literatura sobre o tema. Como marco terico, pretendemos usar o conceito de

    1 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora-

    extensionista do Ncleo de Populao de Rua do Programa Plos de Cidadania. 2 Graduanda em Cincias do Estado pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora-extensionista do Ncleo de Populao de Rua do Programa Plos de Cidadania. 3 Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora-extensionista do Ncleo de Populao de Rua do Programa Plos de Cidadania. 4 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora-extensionista do Ncleo de Populao de Rua do Programa Plos de Cidadania. 5 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora-extensionista do Ncleo de Populao de Rua do Programa Plos de Cidadania.

  • 53

    fascismo social, desenvolvido por Boaventura de Sousa Santos, no texto

    Poder o direito ser emancipatrio?.

    Por meio da promoo dos eixos estruturantes do Programa Plos de

    Cidadania autonomia, subjetividade e cidadania - almejamos a realizao de

    um contraponto a este quadro de violncia e, consequentemente, a garantia do

    direito cidade e o acesso aos direitos fundamentais e aos direitos humanos.

    Palavras-chave: populao de rua; violncia; direito cidade; fascismo social;

    direitos humanos.

  • 54

    PAISAGENS QUE MENTEM E REVELAM: A AUTOCONSTRUO NAS

    PERIFERIAS COMO ESTRATGIA DE POTENCIALIZAO ESPACIAL

    Regiane Valentim Leite1

    O presente trabalho teve como intuito desmascarar os esteretipos existentes

    sobre a paisagem perifrica urbana de Viosa-MG, a partir da reflexo sobre a

    constante autoconstruo ou, como conhecida popularmente: os famosos

    puxadinhos, que surgem nas periferias enquanto estratgia econmica da

    populao de baixa renda nativa ou proveniente da zona rural, em uma

    tentativa de ajustar-se ao crescimento desordenado da cidade, aps a

    federalizao da UFV na dcada de 70. Para a realizao deste estudo, foram

    abordados os conceitos de paisagem, espao, autoconstruo e territrio, alm

    de serem utilizados dados estatsticos e literatura interdisciplinar, que

    demonstraram que os puxadinhos revelam a criatividade brasileira de

    potencializar o espao e se adequar s constantes mudanas ocorridas no

    meio geogrfico, permitindo-nos apont-los como aspecto concreto da

    identidade coletiva da populao segregada. Conclui-se que as caractersticas

    incompletas da urbanizao brasileira resultam em padres perifricos de

    crescimento urbano constitudos por espaos de precariedade das condies

    de reproduo social e agravam a heterogeneidade entre as paisagens e os

    espaos citadinos. Contudo, fazem aflorar na periferia outras centralidades,

    foras e poderes, que tambm reivindicam o espao da cidade, seus servios e

    benefcios, principalmente os ligados moradia. Sugere-se, ento, repensar as

    polticas pblicas voltadas ao planejamento e gesto urbanos, bem como fazer

    ganhar fora a gesto democrtico-participativa a fim de que haja a ruptura da

    imagem enegrecida atribuda aos arredores urbanos e a melhoria das relaes

    entre periferia/periferia e periferia/centro.

    1 Licenciada em Geografia Universidade Federal de Viosa - MG (2012), Graduanda em

    Bacharelado em Geografia - Universidade Federal de Viosa - MG.

  • 55

    A BUSCA POR UM LUGAR MENOS LOTADO: A ARTE DA PERIFERIA

    Renata Patrcia da Silva1

    Este artigo se prope a discutir o acesso a bens culturais na cidade de Belo

    Horizonte e as iniciativas de coletivos artsticos e da comunidade em romper

    com a separao centro/periferia. Assim, discorreremos acerca das

    delimitaes geogrficas da cidade de Belo Horizonte e, consequentemente,

    seus reflexos sociais, que implicam em uma desigualdade de acesso a bens

    artsticos e culturais entre o centro da metrpole e a periferia. Diante disso, a

    iniciativa de artistas e comunidade na criao de espaos artsticos e culturais,

    fora do eixo central, reflete o desejo de democratizao do acesso a estes

    bens, bem como a criao de uma identidade artstica perifrica. Logo, frente a

    este propsito, toma-se como referncia o trabalho da Cia Zona de Arte da

    Periferia ZAP 18, que sai do centro da cidade de Belo Horizonte e estabelece

    sua sede no bairro Serrano, regio Noroeste da capital, mudana que interfere

    nas aes desenvolvidas pelo coletivo neste novo espao, em que as

    interferncias geradas pelo entorno, de certa forma, determinam uma outra

    forma de trabalho e , por conseguinte, a construo de uma identidade do

    grupo que, ao se estabelecer na periferia da cidade, adota a expresso Zona

    de Arte da Periferia, que identifica o coletivo e seu espao no tecido urbano.

    1 Mestranda em Artes na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais.

    Teatro-Educadora e pesquisadora em Pedagogia do Teatro.

  • 56

    A VILA ACABA MUNDO E A CONSTRUO DE MUNDOS POSSVEIS:

    REFLEXES SOBRE UMA EXPERINCIA DE LUTA PELA MORADIA

    Renata Versiani Scott Varella1

    O artigo objetiva discutir os conflitos sociais no espao urbano e os processos

    de organizao e interao entre as coletividades nas cidades, tomando, como

    ponto de partida, a histria da Vila Acaba Mundo, localizada em Belo Horizonte,

    cujos moradores tm se organizado e reivindicado os direitos moradia e

    cidade por algumas dcadas. Analisa-se a mobilizao dos moradores da

    referida vila, com ateno aos eventos ocorridos em 2008 e 2009, a fim de

    perquirir acerca das identidades coletivas formadas, bem como compreender e

    problematizar a constituio dinmica de prticas e significados que

    conformam a comunidade e suas interaes complexas, contraditrias e em

    constante mudana com outras coletividades, com o Estado e com a cidade.

    Na tentativa de valorizar a dimenso da prtica social, os cdigos culturais

    produzidos pelas populaes organizadas e a articulao entre teoria e prtica,

    adota-se uma metodologia qualitativa de pesquisa, notadamente de pesquisa

    ao, bem como a combinao de diversas tcnicas de investigao: aplicao

    de entrevistas, realizao de grupo focal e acompanhamento cotidiano da

    comunidade. No primeiro captulo, traado um breve histrico da Vila Acaba

    Mundo, com base principalmente nos relatos dos moradores. Na segunda

    parte, analisa-se a formao da identidade coletiva dos moradores da Vila e as

    prticas e os significados produzidos nas mobilizaes. O terceiro captulo trata

    das conformaes e das interaes do Estado e das coletividades envolvidas

    na apropriao da cidade. No terceiro captulo, busca-se apontar caminhos

    para a compreenso do espao urbano de uma forma ampla e das distintas

    sociabilidades existentes.

    1 Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Sociologia do Instituto de Estudos Sociais e

    Polticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP-UERJ). Mestre em Sociologia pelo mesmo Instituto e Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ex-integrante do Programa Plos de Cidadania da UFMG. Endereo para acessar o currculo lattes: http://lattes.cnpq.br/6268205112018842.

  • 57

    ATRS DAQUELE MATO TEM:

    HISTRIAS, MEMRIAS E NARRATIVAS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA

    DE MARINHOS

    Rosalba Lopes1

    Ricardo Ferreira2

    Juliana Oliveira3

    Descrio e anlise da identidade coletiva da comunidade quilombola de

    Marinhos, localizada no municpio de Brumadinho/MG, revelada por meio de

    fragmentos de memria de moradores e ex-moradores da localidade. Os

    fragmentos de memria foram apresentados oralmente, em atividade intitulada

    O Resgate da Histria Oral, ocorrida em 25 de maro de 2012 e organizada por

    lideranas locais. Destaca-se a considerao do peso e do significado das

    relaes sociais que se estabeleceram no passado entre os atores que, no

    presente, rememoram suas vivncias naquele local. Assim, em uma

    comunidade que busca reafirmar sua identidade quilombola e registrar a

    memria do lugar, sobressaem narrativas de ex-moradores, sobretudo,

    daqueles que ocuparam posies sociais que implicavam algum nvel de poder.

    Reveladoras do mesmo elemento so as palavras da liderana comunitria que

    mais se destaca, tendo inclusive organizado a atividade em questo, ao narrar

    as demandas da comunidade como pedidos e no reivindicaes. Observa-se

    ainda a desproporo entre brancos e negros que participam da atividade e

    fazem uso da palavra, destacando-se a predominncia de brancos.

    PALAVRAS-CHAVE: Memria, identidade, comunidade quilombola.

    1 Doutora em Histria Social pela Universidade Federal Fluminense/UFF. Coordenadora do

    Centro Inhotim de Memria e Patrimnio CIMP, integrante da Diretoria de Incluso e Cidadania; Presidente da Comisso de tica em Pesquisa do Instituto Inhotim - COEPI; Presidente da Comisso de Bolsas do Instituto Inhotim. Professora da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais/PUC-MG. 2 Graduado em Histria pela Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP. Mestrando em

    Ambiente Construdo e Patrimnio Sustentvel - MACPS/UFMG. Integrante do Centro Inhotim de Memria e Patrimnio CIMP; analista de Incluso e Cidadania do Instituto Inhotim. 3 Graduada em Turismo pela FUMEC. Mestranda em Ambiente Construdo e Patrimnio

    Sustentvel- MACPS/UFMG. Coordenadora do Projeto Desenvolvimento Territorial da Diretoria de Incluso e Cidadania do Instituto Inhotim; analista de Incluso e Cidadania.

  • 58

    PICHAO: DEMARCAO TERRITORIAL DO HIPERCENTRO DE

    BELO HORIZONTE

    Rodrigo Guedes Braz Ferreira1

    Srgio Alves Alcntara2

    Alexandre Magno Alves Diniz3

    Existem diversas formas dos atores sociais se fazerem presentes na

    cidade. Uma dessas formas a prtica da pichao. Intensas lutas por

    dema