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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba Centro de Convenções da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Av. Alberto Lamego n°2000, Anfiteatro 4 Parque Califórnia, Campos dos Goytacazes 26 e 27 de março de 2013

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de GuaxindibaCentro de Convenções da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy RibeiroAv. Alberto Lamego n°2000, Anfiteatro 4Parque Califórnia, Campos dos Goytacazes

26 e 27 de março de 2013

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governo do estado do rio de janeiroSérgio Cabral | GovernadorLuiz Fernando Pezão | Vice-Governador

secretaria de estado do ambiente – seaCarlos Minc | Secretário de Estado do Ambiente

instituto estadual do ambiente – ineaMarilene Ramos | PresidenteDenise Marçal Rambaldi | Vice-PresidenteAndré Ilha | Diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas – dibapPatricia Figueiredo de Castro | Gerente de Unidades de Conservação de Proteção Integral – gepro

estação ecológica estadual de guaxindiba – eeeg

organizadoresAmanda Carneiro de OliveiraCristiana P. A. MendesFabiana BandeiraFabiana BarrosVânia Maria Coelho da Silva GomesWanderson Clayton da Silva Lima

colaboradoresAdrianna MenezesAline SchneiderCaroline TudescoFrancisco Reginaldo AraujoHeitor PrazeresHerick BarretoMárcia RolembergPatrícia LopesRalph da SilvaRenato Alvarenga

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Por não contar a antiga “Mata do Carvão” com atrativos na-turais excepcionais para a visitação pública, e por já ser, à época da criação da unidade de conservação, campo fértil para a pesquisa científica, optou-se pela categoria estação ecológica, decisão que o tempo provou ter sido acertada. Sua efetiva implantação foi, no início, lenta, mas a partir da edi-ção de seu plano de manejo ganhou impulso e, agora, com os recentes avanços, mesmo a extração seletiva de essên-cias florestais nobres, como a peroba-de-campos, cessou. A mata pode enfim repousar.

Dentre tais avanços destaca-se o complexo de sua sede, hoje em fase final de construção, e que inclui a sede admi-nistrativa propriamente dita; alojamento para guarda-par-ques; alojamento para pesquisadores; centro de visitantes; casa do chefe; e torre de observação da mata, para fins de educação ambiental. Além disso, um pequeno, mas bem equipado contingente de guarda-parques, garante que não teremos mais retrocessos na defesa deste tesouro bio-lógico encravado num monótono oceano de pastagens e canaviais. E o próximo e definitivo passo para a sua prote-ção é a implantação de uma Unidade de Polícia Ambiental (UPAm), que atuará não apenas na estação ecológica e em

sua zona de amortecimento, mas, ainda, em toda a região próxima, coibindo outros delitos ambientais que, infeliz-mente, ainda ocorrem.

É, portanto, em momento muito propício que se dá este I En-contro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, pois os conhecimentos que serão expostos pelos pesquisado-res que ali atuam ou atuaram serão de vital importância para a recuperação das áreas ainda degradadas em seu interior, bem como para o manejo futuro da unidade.

andré ilha diretor de biodiversidade e áreas protegidas (inea)

ApresentaçãoDentre os diversos ecossistemas associados à mata atlântica no estado do Rio de Janeiro, a mata estacional semidecidual é aquele que, em termos percentuais, mais sofreu devido aos sucessivos ciclos econômicos, com o ferro e o fogo do títu-lo do livro do historiador norte-americano Warren Dean, que relata de forma contundente a redução de uma dos biomas mais ricos em biodiversidade de todo o planeta a apenas 7% de sua área original, segundo os dados mais aceitos.

Último remanescente expressivo do norte fluminense de mata estacional, ou mata de tabuleiro, o fragmento florestal que em 2002 foi convertido em uma estação ecológica estadual por decreto da então governadora Benedita da Silva, ostentava o deprimente apelido de “Mata do Carvão”, devido à implacá-vel ação das madeireiras e carvoarias locais, que abasteciam, dentre outras, as inúmeras olarias da região. O ato legal pro-tetor tardou a chegar, mas enfim veio, abrangendo não apenas a floresta que sobrou, mas, também, quase mil hectares adi-cionais de áreas degradadas circunvizinhas, com o propósito explícito de recuperá-las com as espécies arbóreas típicas daquele ecossistema, aumentando assim a possibilidade de que volte a abrigar populações viáveis de mamíferos e outros animais hoje desaparecidos.

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Programação

1° D

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08h00Credenciamento e café da manhã

09h00 - 09h30Mesa de abertura Silvério de Paiva Freitas – Reitor da UENFAndré Ilha – Diretor de Biodiversidade de Áreas Protegidas do INEAVânia Coelho – Chefe da EEEG

09h30 - 10h00 Palestra 1“A Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba: status de implantação e desafios de gestão” Palestrante: Vânia Coelho – Chefe da EEEG

10h10 - 10h40Palestra 2“São Francisco de Itabapoana – RJ: ecossistemas nativos, problemas ambientais e perspectivas futuras” Palestrante: Aristides Soffiati – UFF

10h50 - 11h20Palestra 3“A Metodologia de Microbacias Hidrográficas como Alternativa para o Desenvolvimento Rural Sustentável”Palestrante: Marcelo Costa – Secretaria de Agricultura

11h30 - 12h00 Palestra 4 “Geoparque Costões e Lagunas do RJ: uma iniciativa para o desenvolvimento e conservação do patrimônio natural e cultural dos litorais leste e norte fluminenses”Palestrante: Kátia Mansur – UFRJ

12h10 - 13h30Almoço

13h30 - 14h00Palestra 5 “A flora arbórea da EEE de Guaxindiba: conservação e manejo”Palestrante: Karla Maria Pedra Abreu Archanjo – UENF

14h10 - 14h40Palestra 6 “Estratégias de aclimatação às clareiras antrópicas em diferentes espécies da sucessão ecológica na EEEG”Palestrante: Guilherme R. Rabelo – UENF

14h50 - 15h20Palestra 7 “Monitoramento do estoque de carbono nas áreas de Intervenção do Projeto Rio-Rural”Palestrante: Joyce M. Monteiro – Embrapa Solos

15h30 - 16h00Coffe break

16h00 - 17h00Visita ao Espaço da CiênciaProf. Novelli

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Programação

2° D

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08h30 - 09h20Café da manhã

09h30 - 10h00Palestra 1 “Diversidade da fauna de peixes nas bacias dos rios Imbé e Guaxindiba e elaboração de estratégias para a conservação”Palestrante: Guilherme Souza – UENF

09h10 - 10h40 Palestra 2“Polinizadores na EEE de Guaxindiba: diversidade e conservação”Palestrante: Profª Maria Cristina Gaglianone – UENF

10h50 - 11h20Palestra 3“Estudo sobre ameaças, disponibilidade de ninhos e recursos alimentares para Amazona rhodocorytha na Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, São Francisco de Itabapoana – RJ”Palestrante: Matheus da Silva Asth – UENF

11h30 - 12h00Palestra 4Programa estadual para conservação da fauna ameaçada de extinçãoPalestrante: Alba Simon – Secretaria de Estado do Ambiente (SEA)

12h00 - 13h30 Almoço

13h30 - 14h30Apresentação dos Painéis

14h40 - 15h10Mostra de Vídeos Ambientais 2D/3D Prof. Novelli

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SumárioPalestras

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clique no para ir diretamente ao resumo | clique no para voltar ao sumário

Estratégias de aclimatação às clareiras antrópicas em diferentes espécies da sucessão ecológica na EEEG – as pesquisas do setor de biologia vegetal sobre os processos estruturais e fisiológicos da recomposição vegetal guilherme r. rabelo et al.

A flora arbórea da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba e de seu entorno: conservação e manejo abreu k.m.p. et al.

Geoparque costões e lagunas do RJ: iniciativas para o desenvolvimento e conservação do patrimônio natural e cultural dos litorais leste e norte fluminenses kátia leite mansur et al.

A metodologia de microbacias uma alternativa para o desenvolvimento rural sustentável costa, marcelo monteiro da et al.

Polinizadores na Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba: diversidade e conservação gaglianone, m.c. et al.

São Francisco de Itabapoana – RJ: ecossistemas Nativos, problemas ambientais e perspectivas futuras arthur soffiati

Ameaças, disponibilidade de ninhos e recursos alimentares para Amazona rhodocorytha na Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba – RJ asth, m. s. et al.

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Abelhas de orquídeas (Hymenoptera, Apidae, Euglossina) da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba e fragmentos adjacentes willian moura de aguiar et al.

Herbivoria foliar em comunidades arbóreas de remanescentes florestais de diferentes tamanhos na região norte do estado do Rio de Janeiro, Brasil aline a. do nascimento et al.

Percepção ambiental dos moradores do entorno da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba caroline c. tudesco et al.

Coléteres estipulares em Alseis pickelii Pilger et Shmale (rubiaceae): estrutura, função e senescência cristiane f. tullii et al.

Ecologia reprodutiva e conservação da tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) no norte fluminense daphne w. goldberg et al.

Biologia floral de Sparattosperma leucanthum (bignoniaceae) e interação com visitantes em floresta estacional semidecidual sobre tabuleiro no norte fluminense giselle braga menezes et al.

Abrace essas dez! Defenda todas as Espécies em Extinção alba simon et al.

Isolamento e atividade antifúngica de peptídeos antimicrobianos de macrófitas aquáticas da região norte do Rio de Janeiro estado afonso, i. p. et al.

Painéis

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Biologia da nidificação de abelhas e vespas em ninhos-armadilha em fragmentos de mata estacional semidecidual de tabuleiro, São Francisco do Itabapoana, RJ marcelita f. marques et al.

Conhecimento etnobiológico sobre abelhas e incentivo à conservação ambiental no entorno da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, RJ marcelita f. marques et al.

Investimento parental de vespas nidificantes em ninhos-armadilha em remanescentes de mata estacional semidecidual de tabuleiro do norte fluminense marcelita f. marques et al.

A xiloteca do norte fluminense do estado do Rio de Janeiro: uma visão integrada do trinômio ensino-pesquisa-extensão marcio chaves meira rocha et al.

Coleção de plantas do município de São Francisco de Itabapoana, noroeste fluminense depositada no Herbário UENF mariana alves faitanin et al.

Monitoramento do estabelecimento de espécies lenhosas plantadas em áreas de recuperação de mata ciliar na microbacia hidrográfica de Guaxindiba no estado do Rio de Janeiro, Brasil souza, t.p. et al.

As verdades e os mitos sobre a praia da curva do pecado em porto de manguinhos túlio mello teixeira

Anatomia ecológica do lenho de Alseis Pickelii Pilger et Shmale em um remanescente de tabuleiro da mata atlântica silva, g.c et al.

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Palestras

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São Francisco de Itabapoana – RJ: Ecossistemas Nativos, Problemas Ambientais e Perspectivas FuturasArthur Soffiati1

1 – Doutor em História Social com concentração em História Ambiental e pesquisador do Núcleo de Estudos Socioambientais (NESA) da Universidade Federal Fluminense/ Campos dos Goytacazes (RJ).

ResumoPela ótica da ecohistória (ou história ambiental), este artigo pretende empreender um exame dos ecossistemas nativos originalmente existentes no território hoje abrangido pelo Mu-nicípio de São Francisco de Itabapoana, assim como das pro-fundas transformações pelas quais passaram em sua relação com as atividades econômicas implantadas pela economia de mercado proveniente da Europa. Por fim, propõe ao Poder Pú-blico em todas as esferas federadas, às forças econômicas e à sociedade ações que podem restaurar e revitalizar parcial-mente os ecossistemas nativos como também melhorar as condições ecológicas dos ecossistemas antrópicos.

Palavras-chave. Ecohistória, Município de São Francisco de Itabapoana, ecos-

sistemas nativos,rurais e urbanos, Unidades de Conservação.

IntroduçãoDesmembrado do Município de São João da Barra, o Municí-pio de São Francisco de Itabapoana foi criado lei estadual nº. 2.379, de 18 de janeiro de 1995. É limitado, ao norte, pelo Rio Itabapoana, usado para separá-lo do Município de Presidente Kennedy, já no Estado do Espírito Santo. Ao sul, pelo Rio Paraí-ba do Sul, que o separa do Município de São João da Barra. A oeste, faz fronteira com o Município de Campos dos Goytaca-zes. A leste, é banhado pelo Oceano Atlântico.

Figuras 1 e 2: Limites do Município de São Francisco de Itabapoana com sua

situação no Estado do Rio de Janeiro.

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Caracterização ecológica geralconstituição geológicaOs recortes nacionais, estaduais e municipais são, via de re-gra, artificiais, pois não seguem rigorosamente acidentes na-turais. Assim, dentro dos limites do Município de São Fran-cisco de Itabapoana, encontramos duas grandes unidades geológicas distintas predominantes e com idades bastante distantes. A mais antiga delas é a Formação Barreiras, popu-larmente conhecida como tabuleiro. Ela se formou há cerca de 60 milhões de anos com material carreado da zona serrana para dentro do mar e supostamente com material transpor-tado também por movimentos oceânicos. Aliás, todo o trecho costeiro compreendido entre os Rios Itapemirim e Macaé, no Período Paleogeno (antigo Terciário), era constituído pela For-mação Barreiras. Há cerca de 123 mil anos, no Pleistoceno, formou-se a restinga que abriga hoje o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba1.

No Holoceno Antigo (de 10 a 6 mil anos antes do presente), o nível do mar começou a subir pela elevação das temperaturas globais – não associadas à liberação de gases do efeito estu-fa, como agora – mas por forças naturais. Em torno de 5.100 anos antes do presente, esta elevação atingiu seu máximo e rompeu a grande unidade de tabuleiro em duas subunidades: a primeira, entre os Municípios de Quissamã e Macaé; a se-gunda, entre a margem esquerda do Rio Paraíba do Sul e a margem direita do Rio Itabapoana. Dentro do grande território

que o autor denomina de Ecorregião de São Tomé, encontra-se ainda uma terceira unidade de tabuleiro, que se estende do Córrego de Marobá ao Rio Itapemirim. Uma grande laguna semifechada abriu-se na área que atualmente corresponde aos Municípios de Campos dos Goytacazes e de São João da Barra. Ela foi colmatada progressivamente pelo avanço do Rio Paraíba do Sul, formando incontáveis lagoas numa vasta pla-nície aluvial. Ao sul dela e arrematando suas bordas, consoli-dou-se a maior restinga do Estado do Rio de Janeiro. Também entre o Rio Itabapoana e o Córrego de Marobá, a reentrân-cia costeira foi preenchida por uma restinga batizada com o nome de Marobá ou das Neves.

1MARTIN, Louis; SUGUIO, Kenitiro; DOMINGUEZ, José M. L.; e FLEXOR, Jean-

Marie. Geologia do Quaternário Costeiro do Litoral Norte do Rio de Janeiro e

do Espírito Santo. Belo Horizonte: CPRM, 1997.

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rio itapemirim

rio paraíba do sul

rio macaé

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Figura 3 ECORREGIÃO DE SÃO TOMÉ 1- Zona Serrana; 2- Colinas e maciços costeiros; 3- Tabuleiro norte; 4- Tabuleiro

centro; 5- tabuleiro sul; 6- Planície aluvial do Rio Paraíba do Sul; 7- Planície aluvial do Rio Itabapoana; 8- Planície alu-

vial do Rio Macaé; 9- Restinga de Carapebus; 10- Restinga de Paraíba do Sul; 11- Restinga de Marobá. Fonte: Projeto

RadamBrasil, vol. 32: Rio de Janeiro/Vitória, 1983.

Figura 4: Falésia com pináculo – Ponta do Retiro – Praia da Lagoa Doce – São Francisco de Itabapoana. Por ação do

mar, o pináculo ruiu. Foto do autor.

A partir do Córrego de Manguinhos, o mar toca no tabuleiro formando falésias. A mesma con-figuração geológica ocorre entre o Córrego de Marobá e o Rio Itapemirim. Já, entre a margem esquerda do Rio Paraíba do Sul e o Rio Guaxindiba, estende-se a parte setentrional da maior restinga do Estado do Rio de Janeiro.

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Figura 5: Restinga de Paraíba do Sul, margem esquerda do rio de mesmo

nome em foto de 1992 tomada por Dina Lerner. Na margem direita, a restinga

se apresenta urbanizada pela cidade de São João da Barra.

os ecossistemas aquáticos continentaisOs Rios Itabapoana, Guaxindiba e Paraíba do Sul nascem na zona serrana e descem até o mar cruzando tabuleiros, planí-cies aluviais e restingas. Um antigo dicionário explica que as cabeceiras do Rio Itabapoana situam-se na serra do Capa-raó, com o nome de Rio Preto, recebendo o topônimo de Ita-bapoana depois de coletar as águas do Rio Verde. Com curso de 264 quilômetros, dos quais 66 navegáveis entre a foz e a vila de seu nome, corta solos cuja fertilidade é a melhor do Estado depois da capital. Acidentado, em seu curso assi-nalam-se as cachoeiras de Santo Antônio, Inferno, Limeira

e Fumaça, esta última com 100 metros de altura. Observa ainda que sua largura média oscila em torno de 65 metros, com profundidade mínima de 1,80 m. Margeado por terras excelentes para o cultivo de café e de cana, assim como para a pecuária, todo o vale é relativamente bem cultivado e mo-vimentado. Conta como afluentes, pela margem direita, com os Rios do Ouro, da Onça e Santo Eduardo. Pela margem es-querda, são seus tributários principais os Rios dos Veados, do Jardim, São Pedro e Muqui2. Em sua parte baixa, perto da foz, formou-se uma extensa várzea batizada com o nome de Lagoa Feia do Itabapoana3. Ao que tudo indica, sua foz com-preendia três braços, dando-lhe o aspecto de delta. Todo seu percurso foi usado como limite entre os Estados do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e de Minas Gerais.

O Projeto RadamBrasil mostra que o curso superior do Ita-bapoana está embutido na zona cristalina. O curso baixo construiu uma considerável planície ladeada por formações cristalinas, pelos tabuleiros central e setentrional da Ecor-região de São Tomé e ainda pela restinga de Marobá. Esta planície apresenta nuances. Na parte mais interior, assume a fisionomia de um terraço fluvial em plano levemente inclina-do. Na parte central, o rio corre numa planície fluvial resul-tante da acumulação de sedimentos e sujeita a inundações. No trecho final, as influências fluviomarinhas criaram uma área plana resultante de processos de acumulação produzi-dos pelo rio e pelo mar4.

2 ROCHA, João Clímaco da. Dicionário Potamográfico Brasileiro. Rio de Janei-

ro: s/e, 1958.3 Sobre a Lagoa Feia do Itabapoana, ver SOFFIATI, Arthur. Lagoa Feia Itabapoa-

na e seus conflitos sociais. ACSELRAD, Henri (org.). Conflito Social e Meio Am-

biente. Relume Dumará/FASE: 2004.4 PROJETO RADAMBRASIL. Levantamento de Recursos Naturais vol. 32: Rio de

Janeiro/Vitória. Rio de Janeiro: Ministério das Minas e Energia, 1983; FIBGE.

Carta do Brasil-Esc 1:50000: Folha SF-24-H-I-1: Itapemirim. Rio de Janeiro:

Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1967; PROJETO RA-

DAMBRASIL. Folhas SF.23/24: Rio de Janeiro/Vitória - mapa geomorfológico.

Rio de Janeiro: Ministério das Minas e Energia, 19835 MENEZES, Camilo de. Descrição Hidrográfica da Baixada dos Goitacases.

Campos: abril de 1940, datil.

O Rio Guaxindiba tem pequena extensão e é quase desconhe-cido. Nasce nas imediações de Morro do Côco, em Campos, corta o tabuleiro encerrado no Município de São Francisco de Itabapoana, atravessa uma pequena faixa de restinga e de-semboca no Oceano Atlântico, na praia que recebeu seu nome. A seu respeito, Camilo de Menezes, em minucioso relatório, diz que “O Rio Guaxindiba é o único afluente do oceano entre a foz do Paraíba e a ponta de Manguinhos. Sua barra, ao contrário das situadas ao sul de Atafona, é muito estável e só se fecha quando cessa totalmente a descarga do rio; logo às primeiras chuvas pode-se abri-la facilmente.”5 A bacia é constituída de muitos pequenos afluentes que lhe conferem a fisionomia de uma árvore com grande copa “penteada” pelo vento.

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O Rio Paraíba do Sul é o maior do norte fluminense e do Es-tado do Rio de Janeiro e também um dos mais expressivos, do ponto de vista econômico, para a Região Sudeste. Nasce na Serra da Bocaina, descreve uma curva de 180 graus e se-gue rumo a leste. Grande parte de seu trajeto foi usada como fronteira entre os Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Seu curso, com cerca de 1.150 quilômetros, corre quase total-mente na zona cristalina. Só em seu trecho final, a partir de Itereré, ele atravessa uma planície aluvial e uma restinga, que ajudou a construir, para desembocar no mar.

Entre os Rios Itabapoana e Guaxindiba, existem córregos que desciam do tabuleiro até o mar. Suas desembocaduras esta-vam permanente ou periodicamente abertas. Talvez algumas tenham sido naturalmente barradas pelo mar. Contudo, as in-tervenções antrópicas foram decisivas para conferir a estes limnossistemas lóticos a condição de lênticos. De norte para sul, podemos nomear os Córregos de Lagoa Salgada, Lagoa Doce, Guriri, Tatagiba Guaçu, Tatagiba Mirim, Buena, Ilha ou Bar-rinha e Manguinhos. Na restinga, situam-se as Lagoas da Praia, do Meio, da Taboa e do Comércio, todas elas paralelas à linha de costa, atestando sua formação por avanço e recuo do mar.

Ao sul, dirigindo-se ao Município de Campos dos Goytacazes, a grande restinga de Paraíba do Sul tamponou naturalmente cur-sos d’água que desembocavam no mar, dando origem a lagoas alongadas, perpendiculares à costa e com forma de espinha de

Figura 6: limnossistemas de São Francisco de Itabapoana entre os Rios Ita-

bapoana e Paraíba do Sul. Legenda: 1- Rio Itabapoana, 2- Lagoa Salgada. 3- La-

goa Doce; 4- Ribeirão de Guriri; 5- Ribeirão Tatagiba Açu, 6- Lagoa Tatagiba Mi-

rim, 7- Ribeirão de Buena, 8- Córrego de Barrinha, 9- Córrego de Manguinhos,

10- Rio Guaxindiba, 11- Rio Paraíba do Sul. Fonte: Google Earth, março de 2012.

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peixe. As mais expressivas são as Lagoas de Dentro, da Roça, de Macabu (formando um só complexo com a Lagoa Salgada), da Sesmaria (que se pode entender como associada à Lagoa de Macabu), de Imburi e da Saudade, esta última com os nomes de Saco, Mutuca, Cunha, Demanda e Cauaia para seus mais cons-pícuos afluentes ou ramificações. Há outras com a mesma con-figuração em território de Campos dos Goytacazes.

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Figura 7: Limnossistemas de São Francisco de Itabapoana entre as Lagoas de

Dentro e da Saudade. Legenda: 1- Lagoa de Dentro, 2- Lagoa da Roça, 3- Lagoa

Salgada, 4- Lagoa de Macabu, 5- Lagoa de Sesmaria, 6- Lagoa de Imburi, 7-

Lagoa da Saudade. Fonte: Google Earth, março de 2012. Informações colhidas

em LAMEGO, Alberto Ribeiro. Carta Geológica do Brasil – Campos/São Tomé

– 11:100.000. Rio de Janeiro: Ministério de Agricultura/Divisão de Geologia e

Mineralogia, 1954.

ecossistemas vegetais nativosO município de São Francisco de Itabapoana não conta com montanhas elevadas. O solo e o clima permitiram a entrada da Mata Atlântica no tabuleiro. No entanto, em função dos ventos, do déficit hídrico e da topografia baixa, a vegetação arbórea que aí se desenvolveu foi a floresta atlântica estacional. Há dois tipos de floresta estacional: a decidual, com mais de 50% das árvores perdendo suas folhas na estação seca, e a semi-decidual, com perda das folhas entre 20% e 50%. O tipo que se desenvolveu no tabuleiro de São Francisco de Itabapoana é a semidecidual. Segundo Veloso, Rangel Filho e Lima,

O conceito ecológico deste tipo de vegetação está condicionado

pela dupla estacionalidade climática. Uma tropical com época

de intensas chuvas de verão seguida por estiagens acentuadas

e outra subtropical sem período seco, mas com seca fisiológica

provocada pelo intenso frio do inverno, com temperaturas mé-

dias inferiores a 15ºC.6

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6 VELOSO, Henrique Pimenta; RANGEL FILHO, Antonio Lourenço Rosa; LIMA,

Jorge Carlos Alves. Classificação da Vegetação Brasileira, Adaptada a um Sis-

tema Universal. Rio de Janeiro: Fundação Brasileira de Geografia e Estatística

– IBGE, 1991. Ver também IBGE/IBDF. Mapa de Vegetação do Brasil, escala

1: 5.000.000. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e

Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, 1988.7 Id, ibid., p. 76.8 WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia;

São Paulo: Edusp, 1989.9 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do

Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1974.10 TSCHUDI, J.J. Viagem às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo. Belo Ho-

rizonte: Itatiaia, São Paulo: Edusp, 1980.

Também a floresta estacional semidecidual conta com subti-pos. No município em questão, encontramos a floresta esta-cional semidecidual atlântica em sua forma aluvial, junto aos córregos de tabuleiro e ao Rio Guaxindiba, e em sua forma de terras baixas. Esta última, segundo os autores mencionados,

É uma formação encontrada frequentemente revestindo tabu-

leiros do Pliopleistoceno do Grupo Barreiras, desde o sul da

cidade de Natal até o norte do Estado do Rio de Janeiro, nas

cercanias de Campos, bem como até as proximidades de Cabo

Frio, aí então já em terreno quaternário (...) É um tipo florestal

caracterizado pelo gênero Caesalpinia, de origem africana, des-

tacando-se pelo inegável valor histórico a espécie C. echinata,

o pau-brasil, e outros gêneros brasileiros como: Lecythis que

domina o baixo vale do rio Doce, acompanhado por outros gêne-

ros da mesma família Lecythidaceae (afroamazônico) que bem

caracterizam esta floresta semidecidual, tais como: Cariniana

(jequitibá) e Eschweilera (gonçalo-alves). Para terminar a ca-

racterização desta formação, pode-se citar o táxon Paratecoma

peroba (peroba-de-campos) da família Bignoniácea, de disper-

são pantropical, mas com ecótipos exclusivos dos Estados do

Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. 7

Este tipo de floresta se estendia do Rio Guaxindiba ao Rio Itabapoana. Passando para a margem esquerda deste, já na Capitania, Província e Estado do Espírito Santo, dependen-do do período histórico, ela se alastrava pelo tabuleiro até a

margem direita do Rio Itapemirim. Viajantes naturalistas eu-ropeus, tais como Maximiliano de Wied-Neuwied8, Auguste de Saint-Hilaire9 e Jacob Tschudi10, cruzaram-na de ponta a pon-ta, elogiando sua exuberância no Sertão das Cacimbas, nome que o território compreendido entre os Rios Paraíba do Sul e Itabapoana recebia no século XVII, XVIII e XIX.

Figura 8: Fragmento de floresta estacional semidecidual de terras baixas que

recebeu o nome de Mata do Carvão. Hoje, ela está protegida pela Estação Eco-

lógica Estadual de Guaxindiba. Foto de Dina Lerner, 1992.

O segundo tipo de vegetação nativa encontrada no município alastra-se pela restinga. Veloso, Rangel Filho e Lima classifi-cam-na como formação pioneira com influência marinha:

As comunidades vegetais que recebem influência direta das

águas do mar apresentam como gêneros característicos das

praias: Remirea e Salicornia. Seguem-se, em áreas mais al-

tas afetadas pelas marés equinociais, as conhecidas Ipomoea

pes-caprea e Canavalia rosae, além dos gêneros Paspalum e

Hidrocotyle. As duas primeiras são plantas escandentes e es-

toloníferas que atingem as dunas, contribuindo para fixá-las.

Outros gêneros associados ao plano mais alto das praias con-

tribuem para caracterizar esta comunidade pioneira: Acicar-

pha, Achryrocline, Polygala, Spartina, Vignia e outros de me-

nor importância caracterizadora. Uma espécie de Palmae que

ocorre nas restingas desde o estado do Amapá até o Paraná

é a Allagoptera marítima [...] Nas dunas propriamente ditas, a

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 17

comunidade vegetal apresenta-se dominada por nanofanerófi-

tos, onde o Schinus terebinthifolius e a Lythrae brasiliensis im-

primem a mesma um caráter lenhoso. Destacam-se também

os gêneros: Erythroxylon, Myrcia, Eugenia e outros de menor

importância associativa.11

A porção de restinga do território de São Francisco de Ita-bapoana se apresenta sob forma de arco cuja ponta norte situa-se na Praia de Guaxindiba; a barriga, na altura do Rio Paraíba do Sul e a ponta meridional no Cabo de São Tomé.

Finalmente, nas desembocaduras dos rios, arraiga-se a for-mação pioneira com influência fluviomarinha, conhecida como manguezal. Os três autores que estamos acompanhan-do explicam que

O manguezal é a comunidade microfanerofítica de ambiente

salobro, situada na desembocadura de rios e regatos no mar,

onde, nos solos limosos (manguitos), cresce uma vegetação es-

pecializada, adaptada à salinidade das águas, com a seguinte

sequência: Rhizophora mangle, Avicennia, cujas espécies variam

conforme a latitude norte e sul, e a Laguncularia racemosa, que

cresce nos locais mais altos, só atingidos, pela preamar. Nesta

comunidade pode faltar um ou mesmo dois desses elementos.12

Dos seis municípios costeiros do norte fluminense, São Fran-cisco de Itabapoana é o que conta com os mais numerosos e

11 VELOSO, Henrique Pimenta; RANGEL FILHO, Antonio Lourenço Rosa; LIMA,

Jorge Carlos Alves. Op. cit., p. 100.12 Id. ibid., p. 100.13 TSCHUDI, J.J. Op. cit.14 Cf. Operação destroi fornos clandestinos. Folha da Manhã. Campos dos Goy-

tacazes: 18 de janeiro de 2013.

maiores. Nos Rios Itabapoana e Paraíba do Sul, localizam-se os mais extensos. O Rio Guaxindiba tem um manguezal ex-pressivo, que se ampliou com a abertura do Canal Engenhei-ro Antonio Resende, pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento. Nos Córregos de Guriri, Buena e Manguinhos, há pequenos manguezais que devem ter sido maiores no passa-do. Na Lagoa Doce, ainda há poucos exemplares de plantas exclusivas de manguezal. No Córrego de Barrinha, um tronco morto de mangue branco testemunha a presença de mangue-zal em outros tempos. Da mesma forma, devem ter existido manguezais no Córrego de Tatagiba Açu e na Lagoa Salgada.

Figura 9: Visão aérea do manguezal do Rio Paraíba do Sul. Foto de Dina

Lerner, 1992.

Diagnóstico dos problemas ambientaisextrativismoPara instalar lavouras e pastos, bem como para efetuar opera-ções de lavra, a grande floresta atlântica estacional semideci-dual aluvial e de terras baixas foi, a pouco e pouco, suprimida na unidade de tabuleiro encerrada nos limites atuais de São Fran-cisco de Itabapoana. Trata-se de um processo secular que re-duziu este tipo de formação vegetal nativa a pífios fragmentos dispersos em todo o território. As árvores cortadas continham valor econômico na forma de madeira nobre e de combustível. Mas, grande parte foi simplesmente queimada, como registra o diplomata e naturalista suíço Jacob Tschudi, em sua passagem pela região no século XIX13. O maior fragmento restante ficou conhecido pelo nome de Mata do Carvão, indicando o uso que dela era feito. Até época bem recente, havia, em seu entorno, fornos para a fabricação de carvão. Apesar de agora protegida pela Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, desmatadores ainda retiram dela árvores com valor comercial pela nobreza da madeira, notadamente a peroba de Campos (Paratecoma pero-ba). Da mesma forma, a carvoaria não foi de todo eliminada14.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 18

Figura 10: Queimada registrada por J.J. Tschudi no Sertão das Cacimbas

quando vinha da Província do Espírito Santo para a Província do Rio de Ja-

neiro (Op. cit.)

Figura 13: Área de operação da Usina da Praia (INB), mostrando acúmulo de

terra e tanques d’água. Foto do autor em sobrevôo de helicóptero do Núcleo

de Operações Ambientais do IBAMA/ESREG Campos, 2007.

Sede da Fazenda São Pedro, dentro da qual se encontrava a Mata do Carvão.

Figura 11: visão de conjunto, vendo-se, à esquerda, fornos para a fabricação

de carvão destruídos. Figura 12: prédio da sede da fazenda, hoje não mais

existente. Fotos de Dina Lerner, 1992.

Também o revestimento vegetal nativo da restinga e grande parte dos manguezais foram removidos. Em seu lugar, a partir de 1951, começou a lavra de terras raras pelo governo federal. Na localidade de Buena, instalou-se uma unidade da Nuclemon, hoje integrante das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), para efetuar a separação física de terras raras, sobretudo monazita, recorrendo à água e a processos gravimétricos. Esta atividade de lavra revolveu e continua revolvendo a área de tabuleiro e de restinga. É o empreendimento mais impactante do município do ponto de vista ambiental. Elevações no tabuleiro foram rebaixa-das; a falésia foi cortada em vários pontos; áreas de restinga e de praias foram escavadas, dando lugar a enormes crateras; as cristas praiais (cômoros) foram elevadas; leitos de córregos fo-ram bloqueados ou aterrados; o Córrego de Buena teve sua foz barrada para acumular água doce a fim de atender às necessi-dades da Usina da Praia (UPRA); material radiativo foi embalado em tambores, enterrados na Praia de Buena e retirados por de-terminação do Ministério Público Estadual, na década de 1980.

O exemplo mais ilustrativo está na Praia da Lagoa Doce, onde a falésia recuou por corte da empresa estatal federal, que tam-bém alterou profundamente a praia, seja elevando a sua cris-

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ta, seja abrindo grande cavidade que se encheu de água, seja ainda aterrando o trecho final do leito da Lagoa Salgada e in-terrompendo o curso da Lagoa Doce. A foz original do Ribeirão de Tatagiba Açu foi bloqueada, acreditando-se que o mesmo tenha acontecido ao Córrego de Tatagiba Mirim. Em terras par-ticulares, a INB recompõe o solo lavrado. Em terras públicas, os danos não são reparados. A empresa gera poucos empregos e causa muitos estragos ao meio ambiente. Em troca, não contri-bui sequer com royalties, como acontece com a Petrobras.

Figuras 14 e 15: Praia da Lagoa Doce. A cima, foto mostrando falésia cortada

pela INB (direita) e lagoa criada por lavra (centro). Abaixo, a partir do mar para o

interior: praia, crista da praia elevada e praia criada por lavra da INB, antigo tra-

çado da RJ-196 e falésia cortada pela INB. Fotos do autor em sobrevôo de he-

licóptero do Núcleo de Operações Ambientais do IBAMA/ESREG Campos, 2007.

Figura 16: Corte na falésia de Praia da Lagoa Doce pelas atividades de lavra da

INB. Foto do autor.

ecossistemas ruraisA formação de ecossistemas rurais (antrópicos) no território que hoje corresponde ao Município de São Francisco de Ita-bapoana também contribuiu para o desmatamento e para o empobrecimento da biodiversidade vegetal e animal nativa. A área de tabuleiro foi a mais cobiçada por seus solos ar-gilosos, posto que gastos pelas intempéries ao longo de 60 milhões de anos. A floresta garantia fertilidade e umidade. Para aproveitar-se destas duas vantagens, lavouras e pastos substituíram mais de 90% das áreas florestadas, como se fer-tilidade e umidade se mantivessem sem matas. Empurrado progressivamente da planície aluvial pela cana-de-açúcar, o gado bovino ganhou as terras de tabuleiro. No entanto, a cana acompanhou-o quanto pôde.

Além destas duas atividades rurais, a mandioca teve um pa-pel relevante. Por conta dela, instalou-se, no Sertão das Ca-cimbas, a fábrica de farinha Tipity, a maior do mundo, tendo como proprietário um empresário alemão. Com o declínio da mandioca, a fábrica faliu. No entanto, ainda persiste a prática de moer mandioca com engenhos domésticos deno-minados bolandeiras.

Outra atividade agrícola de São Francisco de Itabapoana é a abacaxicultura, que se reveza com a cana e com a mandioca na ocupação do solo. A escassez de água, num território que foi tão abundante neste bem, vem levando os agropecuaristas a

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erguer barragens nos pequenos rios para represá-la e formar lagos que permitam a irrigação e a dessedentação de animais, além de produzir energia elétrica por grandes represas, como acontece nos Rios Paraíba do Sul e Itabapoana. Desvios tam-bém têm sido feitos nos córregos e seus afluentes, transfigu-rando completamente a ecofisionomia original.

O desmatamento e a caça contribuíram também para redu-zir drasticamente a biodiversidade faunística do território municipal, a julgar-se pelos relatos de Maximiliano de Wied-Neuwied15 e de Auguste de Saint-Hilaire16. Este processo se deu quer pela retirada dos animais de sua casa quer pela re-tirada da casa dos animais.

Figura 17: Ruínas da fábrica de farinha Tipity. Foto do autor.

Em resumo, a agropecuária vem concorrendo, desde o século XVIII, para a erosão, para o assoreamento dos limnossistemas (ecossistemas aquáticos continentais) e para a redução de vazão nos rios e córregos. Assim, ficam afetados os mangue-zais, pois as desembocaduras tendem a se fechar pela ener-gia oceânica.

rodoviasAs rodovias estaduais e municipais (não existem federais no município) regem-se consoante normas de uma engenharia que ignora os ecossistemas. Tem-se a impressão de que seus construtores supõem-nas passando sem tocar o solo. Para estendê-las, cursos d’água e lagoas são total ou parcialmente barrados; formações vegetais nativas são removidas; a fauna nativa é ignorada. As três rodovias estaduais em São Francis-co de Itabapoana são a RJ-224, que liga Campos dos Goyta-cazes a Barra do Itabapoana pelo interior, e a RJ-196, que liga as vilas de Gargaú e Barra do Itabapoana, e a RJ-194, que liga Campos a Gargaú. Estas estradas formam verdadeiras bar-reiras ao fluxo normal das águas em tempos de cheia ou de estiagem. Alguns limnossistemas lóticos (rios e canais) foram totalmente interrompidos por elas. A maioria conta com dis-positivos de circulação hídrica, mas todos subdimensionados. Dispositivos para a passagem de gado sob estradas são mais importantes do que para a passagem da água e da fauna sil-vestre. Assim, os cursos d’água perdem vazão e competência para enfrentar o mar em suas desembocaduras, que acabam

15 WIED-NEUWIED, Maximiliano de. Op. cit..16 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Op. cit.

tamponadas. Com isto, os manguezais são duramente afeta-dos. No caso particular do Rio Guaxindiba, uma manilha de apenas 90 cm dificulta o fluxo de água no sentido montan-te-jusante (nascente-foz) e impede que as marés alcancem a parte do manguezal que ficou enclausurada acima da estrada RJ-196. Esta rodovia está dividida em três segmentos. O pri-meiro, entre Conceição de Macabu e Barra do Furado (Quis-samã), já está asfaltado. O segundo, apenas planejado, esten-der-seá de Quissamã a São Francisco de Itabapoana, onde, após atravessar o Rio Paraíba do Sul por uma nova ponte, vai se ligar ao terceiro segmento, já asfaltado, entre São Francis-co de Itabapoana e Barra do Itabapoana. Há a perspectiva de que ela se ligue à rodovia capixaba ES-060 (conhecida como Rodovia do Sol) e seja federalizada. Esta nova condição suge-re uma via de escoamento em direção ao Espírito Santo para o Complexo Logístico Industrial Portuário do Açu.

Às estradas municipais, a mesma concepção é aplicada. Elas fragmentam mais ainda os ecossistemas aquáticos continen-tais, represando-os ou reduzindo sua fluidez. Na estação das chuvas, quando o volume hídrico aumenta, as águas trans-bordam, passando por cima das estradas, ou forçam as rodo-vias, que se rompem. As reformas, após as chuvas, repetem os mesmos erros.

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Figura 18: Traçado completo da estrada RJ-196, assinalado em verde, entre a cidade de Conceição de Macabu e a vila de

Barra do Itabapoana, bastante próxima da divisa entre Rio de Janeiro e Espírito Santo. Fonte: Departamento de Estradas

de Rodagens do Rio

Figura 19: Rodovias RJ-224 e RJ-196, as duas principais do município de São Francisco de Itabapoana. Fonte: Guia Quatro

Rodas Praias, 2002.

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instalações portuáriasCabe salientar o projeto de instalação de um porto, já em anda-mento, na Restinga de Marobá, em Presidente Kennedy, sul do Es-pírito Santo. Embora em outro Estado, este porto contém amplo potencial de impactos socioambientais também no Município de

Figura 20: planta simplificada do complexo portuário da Ferrous. Fonte: Estudo

de Impacto Ambiental do empreendimento, 2010.

Figura 21: Redragagem do Canal de Gargaú (foz do Rio Paraíba do Sul) pelo

Instituto Estadual do Ambiente. Foto: Neusa Regina Barros Bastos da Silva.

17 FERROUS LOGÍSTICA S.A. e CEPEMAR SERVIÇOS DE CONSULTORIA EM MEIO

AMBIENTE LTDA. Estudo de Impacto Ambiental da Planta de Filtragem e Ter-

minal Portuário Privativo para Embarque de Minério de Ferro Presidente Ken-

nedy/ES. S/l: maio de 2010.

São Francisco de Itabapoana, pois o canal de acesso ao porto des-tinado ao escoamento de minério de ferro transportado de Minas Gerais por um mineroduto bem como a área de descarte de mate-rial retirado para a abertura do canal situam-se no mar, defronte ao território municipal em estudo, como mostra a figura abaixo.17

ecossistemas urbanosSão Francisco de Itabapoana tem cinco núcleos urbanos expressi-vos (ecossistemas antrópicos): São Francisco (sede do município), Praça João Pessoa, Gargaú, Barra do Itabapoana e a conurbação, em franca expansão, das praias de Guaxindiba, Sossego e Santa Clara. Todos eles foram erguidos com grandes sacrifícios dos ecos-sistemas nativos. São Francisco de Itabapoana foi construído sobre córregos, lagoas e brejos, o mesmo podendo se dizer de Praça João Pessoa. Cerca de 70% de Barra do Itabapoana situam-se sobre o manguezal do Rio Itabapoana. Gargaú avançou sobre o mangue-zal do Rio Paraíba do Sul e continua seu processo de crescimento desordenado em direção a Buraco Fundo, margem esquerda do Canal de Gargaú, um dos braços do Delta do Paraíba do Sul.

Recentemente, o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) redragou o Canal de Gargaú, junto à vila de mesmo nome, para aprofundá-lo e facilitar a navegação de barcos de médio calado. Uma grande dra-gagem anterior fora feita pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), que acumulou o material retirado numa das margens do canal. A parede formada dificultou e mesmo impediu a necessária entrada e saída das marés no manguezal. Com a nova

dragagem efetuada pelo INEA, o mesmo erro foi cometido. O ma-terial acumulado na margem esquerda do canal vem facilitando a expansão de Gargaú sobre o manguezal.

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Figuras 22, 23, 24, 25 e 26: Núcleos urbanos de São Francisco de Itabapoana.

Acima e à esquerda, a sede do município; abaixo, Praça João Pessoa; no cen-

tro, acima, conurbação de núcleos urbanos das Praias de Guaxindiba, Sossego e

Santa Clara. Notar que todos eles ergueram-se sobre limnossistemas, bloquean-

do-os. Em São Francisco de Itabapoana, sobre a Lagoa Salgada, parte da Lagoa

de Macabu. Em Praça João Pessoa, sobre a bacia de Tatagiba. Na conurbação

Guaxindiba-Santa Clara, sobre vários limnossistemas. Fonte: Google Earth.

Sobre o manguezal do Rio Guaxindiba e do Canal Engenheiro Antonio Resende, as construções também se alastram rapi-damente. Os resultados são erosão, assoreamento e poluição por resíduos da atividade pesqueira (óleo, produtos químicos e matéria orgânica) e por esgoto doméstico.

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Perspectivas para o futurosoloOs grandes responsáveis pelo desgaste do solo, com erosão, perda de fertilidade, escavação, revolvimento, redisposição etc foi o brutal desmatamento e têm sido a agropecuária e a lavra. Além das atividades da INB, devemos observar também que São Francisco de Itabapoana tornou-se um município ex-portador de argila (extraída do tabuleiro) e de areia (extraída da restinga). Para impedir ou reduzir os impactos sobre o solo

1. Nenhuma extração de argila e areia deve ser feita sem o devido processo de licenciamento pelos órgãos governamen-tais competentes, exigindo do empreendedor forneçam infor-mações sobre todas as jazidas exploradas pelo poder público, por empresas particulares e estatais (como é o caso da INB) e por pessoas físicas. Porém, não bastam as informações. Cabe também saber se os órgãos licenciadores estão respeitando a legislação pertinente ao conceder licenças de exploração.

2. O Ministério Público deve recorrer, em caso de omis-são ou de ação ilegal do Poder Executivo, a medidas extraju-diciais ou judiciais para exigir da INB a reparação de danos ao solo em áreas públicas e de Preservação Permanente, como na praia da Lagoa Doce, por exemplo. Para tanto, re-queira-se que a empresa forneça informações sobre todas as áreas lavradas18.

3. Além do mais, os danos causados pela lavra devem ser reparados pelos que a praticam, seja em propriedade particu-lar, seja em áreas públicas.

18Neste sentido, o Ministério Público Federal instaurou o Inquérito Civil Pú-

blico nº. 1.30.002.000019/2009-98, requerendo explicações acerca de danos

causados por atividades de lavra da INB. A empresa contratou a consultoria

Geodatum, que, em relatório de junho de 2009, praticamente reconheceu o

passivo ambiental da empresa. Ver também SOFFIATI, Arthur. Considerações

acerca do relatório da empresa de consultoria ambiental Geodatum contrata-

da pelas Indústrias Nucleares do Brasil para avaliar possíveis danos ao am-

biente pela atividade de lavra no Município de São Francisco de Itabapoana.

Apensado aos Autos do Inquérito Civil Público nº 1.30.002.000019/2009-98.

Campos dos Goytacazes: 08 de abril de 2011.

ecossistemas aquáticos continentais (limnossistemas)O conceito de limnossistema (limné=lago+sistema) correspon-de ao de ecossistema aquático continental. Este pode ser lóti-co (de água fluente) e lêntico (de água em depósito). Numero-sos são os limnossistemas lóticos existentes no território hoje correspondente ao município de São Francisco de Itabapoana. Quase todos desembocavam no mar. No entanto, uma série de intervenções antrópicas deu-lhe o comportamento de ecos-sistemas lênticos. De norte para sul, são os seguintes:

1. Rio ItabapoanaSeu curso se encontra interrompido por barragens destina-das à geração de energia elétrica. A julgar por estudos feitos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro para explicar a erosão que ocorre na foz do Rio Paraíba do Sul19, podem-se transferir seus resultados para o Rio Itabapoana: barra-mentos e transposições de bacia levaram-no a perder vazão líquida e sólida. Assim, sua foz está se desviando cada vez mais para o sul, visto que a corrente predominante, do Rio Itapemirim à Praia de Gruçaí, em São João da Barra, orien-ta-se no sentido norte-sul20. Ademais, a drenagem de uma grande área de várzea denominada Lagoa Feia do Itabapoa-na, pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento, juntamente com a retilinização de trechos do seu baixo cur-so, desregulou o regime hídrico do rio. Sejam registradas ainda a atividade agropecuária e o processo de urbanização em sua bacia.

Figura 27: Foz do Rio Itabapoana. Notar desvio para o sul. Na margem direita,

ainda há uma grande mancha de manguezal; acima dela, expansão da vila. Foto

do autor em sobrevôo de helicóptero do Núcleo de Operações Ambientais do

IBAMA/ESREG Campos, 2007.

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2. Lagoas Salgada, Doce, Guriri, Tatagiba Açu, Tatagiba Mi-rim, Buena, Ilha ou Barrinha e ManguinhosTodos eles apresentam feição de cursos d’água barrados na foz permanente ou temporariamente por ação natural ou antrópi-ca. Outros barramentos foram erguidos em seus leitos com o fim de represar água para a agropecuária. Todos eles sofreram e sofrem impactos da atividade de lavra da INB e foram corta-dos incorretamente por rodovias, principalmente pelo traçado da antiga e nova RJ-19621. Os de maior extensão, como Guriri e Tatagiba Açu, foram também cortados pela RJ-224.

19Cf. COSTA, Georgiane e NEVES, Claudio Freitas. O estuário do rio Paraíba

do Sul. Anais do X Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos. Gramado (RS):

Associação Brasileira de Recursos Hídricos: 10-14/11/1993.20 Cf. MUEHE, Dieter e VALENTINI, Enise. O Litoral do Estado do Rio de Janeiro:

uma Caracterização Físico-Ambiental. Rio de Janeiro: Fundação de Estudos

do Mar, 1998.21 Ver, a propósito, CASTELLO BRANCO, Rosa Maria Wekid Cordeiro e ANUNCIA-

ÇÃO, Maria de Lourdes Coelho. Parecer Técnico nº. 28. Campos dos Goytaca-

zes: IBAMA, 18 de junho de 2001; MACIEL, Norma Crud. Parecer Técnico sobre

inspeção na RJ-196. Rio de Janeiro: Fundação Estadual de Engenharia do Meio

Ambiente, 28 de janeiro de 2001. SUZUKI, Marina Satika e OVALLE, Álvaro Ra-

mon Coelho. Relatório – Vitória Técnica – Pavimentação da RJ 196. Campos

dos Goytacazes: Universidade Estadual do Norte Fluminense, 29 de outubro

de 2003; MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Informação

Técnica. Rio de Janeiro: Grupo de Apoio Técnico Especializado, 29 de novembro

de 2007; SOFFIATI, Arthur. Relatório sobre a rodovia RJ-196 com vistas a ins-

truir o Inquérito Civil Público n°. 253/01, da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela

Coletiva/Núcleo Campos. Campos dos Goytacazes. Campos dos Goytacazes:

26 de fevereiro de 2007; e – Proposta de termo de ajustamento de conduta

entre o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e o Departamento de

Estradas de Rodagem do Estado do Rio de Janeiro com relação a obras execu-

tadas pelo segundo na rodovia RJ-196. Campos dos Goytacazes: novembro de

2007. Todos os documentos fazem parte dos Autos do Inquérito Civil Público

nº. 254/01, instaurado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.22 SOFFIATI, Arthur. Em torno da Vila da Rainha. Revista do Instituto Histórico e

Geográfico do Rio de Janeiro nº. 18, ano 18. Rio de Janeiro: IHGRJ, 2011.

Figura 28: Lagoa Salgada. Legenda: 1- Foz soterrada pelos trabalhos de lavra

da INB, 2- Barramento pelo antigo traçado da RJ-196, 3- Barramento pelo

novo traçado da RR-196. Notar o intenso uso do solo pela agropecuária no

entorno da lagoa, originando erosão, assoreamento e eutrofização da mesma.

Fonte: Google Earth, junho de 2011.

A Lagoa Salgada é um pequeno limnossistema situado imediatamente ao sul do Rio Itabapoana, em cujas ime-diações foi erguido o primeiro núcleo urbano de origem européia, na futura região norte-noroeste fluminense, pelo donatário da Capitania de São Tomé Pero de Góis, em 1539 – a Vila da Rainha22. Seu nome pode indicar uma ligação com o mar no passado e até mesmo um abrigo para bar-cos de porte médio. Hoje, no entanto, suas águas apresen-tam baixa salinidade.

Quanto à Lagoa Doce, a barragem do seu curso original pelo antigo e novo traçados da RJ-196, levou suas águas, na es-tação chuvosa, a buscar outra saída para o mar por um leito sulcado junto à falésia da Ponta do Retiro. No caso de Guriri, a INB acumulou areia em sua margem direita, junto ao estirão final, aterrando-o em grande parte. O aterro permitiu o avanço de vegetação rala de restinga sujeita a incêndios que atingem o manguezal já bastante estropiado. A tentativa de um pro-prietário em atrair turistas para a foz do córrego, levou-o a aterrar um pequeno afluente do sistema.

No que concerne ao Tatagiba Açu, nota-se que ele é o maior limnossistema entre os rios Itabapoana e Guaxindiba. Os tra-balhos de lavra tamponaram sua foz original, substituída por uma estreita vala que permite um insuficiente escoamento de suas águas para o mar. O Tatagiba Mirim foi privado totalmen-te de sua foz, assumindo claramente o aspecto de lagoa.

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Figuras 29 e 30: Lagoa Doce. Legenda: 1- Foz semi-bar-

rada por operações de lavra da INB, 2- Foz alternativa

natural da lagoa em tempos de cheia, 3- Barramento

parcial pelo antigo traçado da RJ-196, 4- Barramento

parcial pelo novo traçado da RJ-196. Ribeirão de Guriri.

Legenda: 1- Foz alterada por trabalhos de lavra da INB,

2- Barramento quase completo pelo traçado da RJ-196.

Observar o alto uso do solo pela agropecuária. Fonte:

Google Earth: julho de 2011.

Figuras 31 e 32: Ribeirão de Tatagiba Açu. Legenda: 1- Cor-

po principal do ribeirão, 2- foz totalmente barrada pelos

trabalhos da lavra da INB, 3- vala antrópica aberta para

o escoamento de água, 4- novo traçado da RJ-196. Lagoa

de Tatagiba Mirim. Legenda: 1- Foz totalmente suprimida,

2- barramento representado pelo novo traçado da RJ-196.

No entrono, marcas profundas causadas por lavra e pela

agropecuária. Fonte: Google Earth: junho de 2011.

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A bacia de Buena é a segunda em dimensão entre os Rios Itabapoana e Guaxindiba. A Usina da INB estrangulou o curso principal em seu trecho final. Na foz, para obter água doce, ela construiu uma barragem com entulho e areia. Sem comuni-cação com o mar, o córrego deixou de receber água salgada das marés, causando conseqüências desastrosas ao pequeno manguezal nela existente. A barragem foi removida por de-terminação do Instituto Estadual de Florestas, mas de forma incorreta. Para operar na fase úmida de separação de terras raras, a INB necessita de muita água. Afirma a empresa que

a água usada não provém do córrego porque é reciclada sem perdas. Este processo é impossível, pois nenhuma reciclagem recupera 100% do material usado.

O Córrego da Ilha ou de Barrinha é o menor limnossistema situado entre os Rios Itabapoana e Guaxindiba. Sua foz foi se-parada do curso por um aterro. No trecho final, suas águas foram desviadas para um açude. No âmbito de sua bacia, localiza-se uma comunidade de descendentes de quilombo-las23. Também o Córrego de Manguinhos é uma pequena bacia bastante mutilada por várias intervenções antrópicas.

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Figura 33: Ribeirão de Buena. Legenda: 1- Corpo principal do limnossistema,

2- afluentes, 3- foz estreitada pela INB, 4- Dependências da Usina da Praia, da

INB, 5- RJ-196. Fonte: Google Earth: junho de 2011.

Figuras 34 e 35: Córrego de Ilha ou Barrinha. Legenda: 1- Foz separada do

córrego por ação antrópica, 2- Traçado da RJ-196, 3- Tanques de aquicultu-

ra, 4- Comunidade quilombola de Barrinha. Córrego de Manguinhos. Legenda:

1- Corpo principal do limnossistema, 2- Único afluente do córrego, 3- Foz do

córrego, 4- Curso da RJ-196. Fonte: Google Earth: julho de 2001.

23SIQUEIRA, João. Relatório antropológico da comunidade Barrinha, São Fran-

cisco de Itabapoana/RJ. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária, 2009.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 28

3. Complexo bacia do Rio Guaxindiba-Canal Engenheiro An-tonio Resende-Canal de GuaxindibaA bacia do Rio Guaxindiba sofreu e vem sofrendo uma série de agressões. A maior parte das florestas protetoras de nascen-tes e margens foi removida para lavra, para agricultura e para pastagens. Todos os cursos d’água que a formam foram barra-dos por proprietários rurais. Em vários casos, os leitos foram desviados e até eliminados. O DNOS construiu um canal – o Engenheiro Antonio Resende –, ligando a Lagoa do Campelo ao mar. Esta obra aproveitou a foz do Rio Guaxindiba, que passou a desembocar no canal. Para drenar várzeas do seu leito mé-dio, o mesmo órgão retilinizou seu curso até um determinado ponto, a partir do qual se afastou do leito original, e secionou um afluente da margem direita do rio. Este canal recebeu o nome de Guaxindiba e desemboca no Canal Engenheiro Anto-nio Resende. A rodovia RJ-196 instalou apenas uma manilha de 90 cm para a passagem de água do que restou do rio. Como a boca de jusante está acima do nível maior das marés, o man-guezal à montante da estrada ficou enclausurado. No período das chuvas, a manilha não dá vazão às águas, que passam por cima da estrada e a erodem pouco a pouco. Para completar, o trecho final vem enfrentando uma ocupação urbana desorde-nada que avança sobre os remanescentes de vegetação nativa e contribui para poluir as águas com resíduos líquidos e sóli-dos. Também os barcos de pesca que se abrigam junto à foz descartam óleo no sistema. Enfim, a bacia foi demasiadamen-te desfigurada por todas estas intervenções antrópicas.

4. Rio Paraíba do SulEste é o maior rio do Estado e, consequentemente, do municí-pio, considerado também um dos mais importantes da Região Sudeste. Ao longo de toda sua bacia, instalaram-se núcleos urbanos que vão de povoados a metrópoles. Suas águas são usadas para abastecimento de mais de 15 milhões de pessoas, para irrigação de lavouras, para pastos, para indústrias e para geração de energia. Conquistada, a bacia se tornou também receptáculo de esgoto doméstico e de efluentes industriais, de

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Figura 36: Complexo do Rio Guaxindiba. Legenda: 1- Rio Guaxindiba original, 2-

Afluente secionado do Rio Guaxindiba, 3- Canal Engenheiro Antonio Resende,

4- Canal de Guaxindiba Fonte: Google Earth: setembro de 2007.

Figura 37: Bacia do Rio Paraíba do Sul. Fonte: BIZERRIL e PRIMO, 2001.

resíduos sólidos e de insumos químicos agropecuários. Quase toda a malha hídrica da bacia foi aproveitada para a geração de energia por hidrelétricas. Estudos feitos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro mostram que o rio principal perdeu cerca de 45% de vazão líquida e sólida em sua foz, que vem passando por intenso processo erosivo há 50 anos24. O Paraí-ba do Sul foi tomado como divisa entre os municípios de São João da Barra e de São Francisco de Itabapoana. Este ficou com a maior parte dele, pois um de seus braços defluentes – o canal de Gargaú – corre no território municipal.

24COSTA, Georgiane e NEVES, Claudio Freitas, Op. cit.

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5. Lagoas de Tabuleiro formadas pela Restinga de Paraíba do SulEnquadram-se nesta condição as Lagoas de Dentro, da Roça, Macabu e Salgada (ambas associadas), de Sesmaria (que devia se ligar ao complexo anterior), de Imburi, e da Sau-dade, ganhando seus afluentes ou ramificações os nomes de Saco, Mutuca, Cunha, Demanda e Cauaia, afora as não identificadas, como mostra o mapa abaixo. Isto só para men-cionar os antigos cursos d’água de tabuleiro no território de São Francisco de Itabapoana, pois existem vários outros no Município de Campos dos Goytacazes com as mesmas ca-racterísticas. O que aconteceu com estes limnossistemas lóticos é que a faixa de areia da praia engordou a ponto de se tornar a maior restinga do atual Estado do Rio de Janeiro. Esta barragem natural e larga não pôde ser rompida pelos rios que desciam do tabuleiro, salvo pelo Rio Paraíba do Sul, que descia da serra com vazão possante para atravessar a restinga que ele mesmo ajudou a construir. Assim, os pe-quenos córregos transformaram-se em lagoas perpendicu-lares à costa, com forma dendrítica. Isto não significa que sejam de somenos importância ecológica, econômica e so-cial. No entanto, as intervenções antrópicas praticadas nelas foram de tal monta que as desfiguraram. Atualmente, fica muito difícil identificar as transformações deletérias pelas quais passaram. Supressão de florestas, barragens, estra-das, desvios, aterros, assoreamento modificaram profunda-mente sua ecofisionomia.

Figura 38: Formações geológicas em São Francisco de Itabapoana. Legenda

1- Formação Barreiras, 2- Planície aluvial do Rio Paraíba do Sul, 3- Restinga de

Paraíba do Sul. Base Cartográfica: LAMEGO, Alberto Ribeiro, 1954.

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6. Lagoas de restingaA Restinga de Paraíba do Sul, por força da corrente marinha norte-sul e sul-norte, apresenta configuração paralela à cos-ta. Para formá-la, o Rio Paraíba do Sul desempenhou papel de vital importância como espigão hídrico que reteve areia trans-portada em suspensão pela margem direita e acumulava seu excedente na margem esquerda. Formou-se, assim, a maior restinga do Estado do Rio de Janeiro. O processo de avanço e recuo do mar (transgressão-regressão), a partir de 5.100 anos antes do presente, definiu a feição destas lagoas parale-lamente à costa, diferentemente das lagoas de tabuleiro, que incidem transversalmente na linha costeira.

Do interior para o litoral, sucedem-se a Lagoa do Campelo, os Brejos dos Cocos, dos Farias e do Mangue Seco, as Lagoas do Comércio, da Taboa, do Meio e da Praia. Note-se também o grande Canal de Cacimbas, aberto no século XIX e ligando o Paraíba do Sul à Lagoa de Macabu, para fins de navegação e de escoamento da produção do Sertão das Cacimbas. Estas lagoas padecem também de agressões antrópicas. A do Cam-pelo foi envolvida numa rede de canais construída pelo DNOS para reduzir sua salinidade, estabilizar seu nível de modo a abastecer de água doce a localidade de Guaxindiba e fornecer água doce para a agropecuária. O Canal de Cacimbas drenou várias lagoas e brejos. Hoje, está ligado ao Canal Engenheiro Antonio Resende. Os Brejos dos Cocos, dos Farias e do Mangue Seco têm sido drenados em proveito da agropecuária. Por fim,

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 30

as lagoas do Comércio, da Taboa, do Meio e da Praia têm sido invadidas pela expansão urbana da Vila de Gargaú. Uma das ruas da vila se prolonga até a Área de Preservação Permanente jun-to ao mar e às lagoas do Meio e da Taboa, com vários quiosques de alvenaria em suas margens.

Figura 39: Lagoas de Restinga de São Francisco de Itabapoana. Legenda: 1- Lagoa do Campelo, 2- Brejo de Cacimbas, 3-

Brejo dos Cocos, 4- Brejo dos Farias, 5- Brejo do Mangue Seco, 6- Lagoa do Comércio, 7- Lagoa Meio, 8- Lagoa da Taboa,

9- Lagoa da Praia. Fonte: Google Earth, junho de 2010.

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7. Medidas a serem tomadas para a restauração e a revitalização dos limnossistemasPara a restauração e a revitalização dos limnossistemas lóticos e lênticos, propõem-se as se-guintes providências, a serem tomadas pelo poder público, pela sociedade e por empresas:

a. Demarcação de margens e orlas bem como das faixas marginais de proteção de limnos-sistemas que cruzam o Município de São Francisco de Itabapoana, estendendo-se esta medida para as partes de tais ecossistemas que se localizam fora do município.

b. Remoção de todos os barramentos construídos nos limnossistemas para represar água com fins agropecuários, inclusive na foz.

c. Implantação de programas ambientais para represas com fins hidrelétricos de modo a promover compensações pelos danos ambientais.

d. Construção, depois de estudo rigoroso, de sistemas de acumulação de água nas margens dos limnossistemas, seja para reduzir o impacto de enchentes, seja para a reservação hídrica em época de estiagem.

e. Reconstituição das matas nativas em áreas de preservação permanente em nascentes e margens, bem como de manguezais, onde eles existiram ou existem.

f. Promoção de programas e campanhas para a remoção de espécies exóticas introduzidas nos limnossistemas e para a reintrodução de espécies nativas.

g. Exigência de reparação dos danos ambientais causados pela atividade de lavra no âmbito das bacias hídricas.

h. Construção de vias usando dispositivos de fluxo hídrico de acordo com a vazão de cheia dos limnossistemas e sempre fora do seu leito maior.

i. Planejamento e contenção da expansão urbana sobre Áreas de Preservação Permanente e Faixas Marginais de Proteção.

j. Implantação de redes de esgoto com sistemas de tratamento terciário para suprimir a poluição física, química e biológica.

k. Formulação de programas de coleta de resíduos sólidos, do domicílio à disposição final, bem como sua implementação.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 31

l. Cessação do lançamento de óleo por embarcações em águas de rios.

m. Regulamentação da captação de água nos limnossiste-mas visando fins agropecuários.

n. No que se refere aos Rios Itabapoana e Paraíba do Sul, deve o Poder Público proceder a um levantamento de toda a bacia a fim de avaliar seu potencial para geração de energia elétrica, ao mesmo tempo levantando o potencial de energia eólica, solar e marinha com o objetivo de substituir a energia hídrica gerada por barragens por novas fontes de energias.

o. Examinar detalhadamente a necessidade do Canal de Guaxindiba, tendo em vista o seu aterramento e a revitaliza-ção do Rio Guaxindiba.

p. Distribuir a areia resultante da abertura do Canal Enge-nheiro Antonio e acumulada em sua margem direita, de ma-neira a ampliar a área de expansão do manguezal.

ecossistemas vegetais nativos (epinossistemas) fauna nativa1. Floresta estacional semidecidualDa grande floresta estacional semidecidual atlântica de terras baixas, restaram apenas insignificantes fragmentos, sendo o maior de todos, como já se falou, a Mata do Carvão, hoje pro-tegida pela Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba.

2. Vegetação de restingaO único ponto de São Francisco de Itabapoana em que resta-ram fragmentos de vegetação de restinga situa-se entre a Vila

de Gargaú e a Lagoa do Campelo, mesmo assim com grandes reduções de áreas verdes.

3. ManguezaisNo Município de São Francisco de Itabapoana, encontra-se o maior número e os mais dilatados manguezais da Ecorregião de São Tomé. A área de manguezal do Rio Paraíba do Sul, se não é a primeira do Estado do Rio de Janeiro, sem dúvida ocu-pa o segundo lugar. A Vila de São Sebastião do Itabapoana, hoje Barra do Itabapoana, ergueu-se sacrificando entre 70 a 80% do manguezal do Rio Itabapoana. Apesar de tudo, restou ainda uma considerável mancha de manguezal, com três das quatro espécies de mangue da Região Sudeste, envolvida pelo núcleo urbano. Acima da vila, também há um bom fragmento a ser protegido25.

Afora os dois grandes rios, existem manguezais diminutos nas Lagoas Doce, Guriri e Buena, bem como no Rio Guaxin-diba. Suspeita-se que a Lagoa Salgada sustentasse um pe-

25O mais recente estudo sobre o manguezal do Rio Itabapoana é de autoria de

BERNINI, Elaine e REZENDE, Carlos Eduardo. Variação estrutural em flores-

tas de mangue do estuário do rio Itabapoana, ES-RJ. Revista Biotemas 23 (1)

(http://periodicos.ufsc.br/index.php/biotemas). Florianópolis: Editora da Uni-

versidade Federal de Santa Catarina, março de 2010. Sobre o manguezal do

Rio Paraíba do Sul, os estudos se multiplicaram nos últimos anos. Entre eles,

destacamos BERNINI, Elaine; FERREIRA, Renata; SILVA, Fernando Luiz de Car-

valho e; MAZUREC, Alex Pury; NASCIMENTO, Marcelo Trindade e REZENDE,

Carlos Eduardo. Alterações na cobertura vegetal do manguezal do estuário

do rio Paraíba do Sul no período de 1976 a 2001. Revista da Gestão Costeira

Integrada, Número Especial 2, Manguezais do Brasil, 2010; BERNINI, Elaine.

Estrutura da Vegetação e Concentração de Nutrientes das Folhas do Sedi-

mento das Espécies em Florestas de Mangue do Estuário do Rio Paraíba do

Sul – Estado do Rio de Janeiro – Brasil. Campos dos Goytacazes (RJ): Univer-

sidade Estadual do Norte Fluminense, 2003 (Dissertação de Mestrado). BER-

NINI, E. e REZENDE, C. E. Estrutura da vegetação em florestas de mangue do

estuário do rio Paraíba do Sul, Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Acta Botanica

Brasilica 18 (3): 2004. BERNINI, E. Estrutura da cobertura vegetal e produção

de serrapilheira da floresta de mangue do estuário do Rio Paraíba do Sul,

Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Campos dos Goytacazes: Universidade Esta-

dual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, 2008 (Tese de Doutorado). BERNINI,

Elaine e REZENDE, Carlos Eduardo. Concentração de Nutrientes em Folhas e

Sedimentos em um Manguezal do Norte do Estado do Rio de Janeiro. Revis-

ta da Gestão Costeira Integrada. Número Especial 2, Manguezais do Brasil,

2010. BERNINI, Elaine e REZENDE, Carlos Eduardo. Litterfall in a mangrove in

Southeast Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences 5(4), 2010. BER-

NINI, Elaine e REZENDE, Carlos Eduardo. Vegetation structure in a mangrove

forest in Southeastern Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences, 6(3):

2011. MATOSI, Taísa Barroso, BERNINI, Elaine e REZENDE, Carlos Eduardo.

Decomposition of mangrove leaves in the estuary of Paraíba do Sul River Rio

de Janeiro, Brazil. Latin American Journal of Aquatic Research 40 (2), 2012;

BERNINI, Elaine e REZENDE, Carlos Eduardo. Estrutura da vegetação em flo-

restas de mangue do estuário do rio Paraíba do Sul, Estado do Rio de Janeiro,

Brasil. Acta Botanica Brasilica 18 (3): 2004.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 32

queno manguezal erradicado por intervenções antrópicas da INB. O mesmo se pode afirmar quanto ao limnossistema de Tatagiba Açu, que teve sua barra bloqueada com um grande aterro. Provavelmente, o manguezal ocorria no limnossiste-ma de Tatagiba Mirim.

No antigo Córrego da Ilha ou Barrinha, sem dúvida havia um manguezal relativamente vigoroso, a julgar-se pelo tronco de mangue branco encontrado em seu estuário. Também no Córrego de Manguinhos, alguns exemplares estressados de mangue branco assinalam condições favoráveis ao desenvol-vimento de um manguezal.

No caso da Bacia do Guaxindiba, o manguezal se distribuía até onde alcançavam as marés. Contudo, a construção da RJ-196 isolou uma parcela dele, hoje não mais beneficiada com água salobra, o ambiente ideal para os manguezais. O Canal Engenheiro Antonio Resende permitiu que as marés atinjam seis quilômetros acima de sua foz, ampliando área para a co-lonização do manguezal. Esta área poderia se maior se o ma-terial resultante de sua abertura fosse espalhado. No Canal de Guaxindiba, só o trecho à jusante da RJ-196 recebe influência direta das marés26.

4. Medidas a serem tomadas para a restauração e a revitali-zação dos epinossistemas

a. No geral, as três instâncias do Estado devem promover

um levantamento de todos os fragmentos remanescentes flo-restais para fins de proteção e para a restauração e revitaliza-ção de Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais.

b. Estímulo ao ecoturismo e a ecoeducação como instru-mentos auxiliares na recomposição e na proteção da mata.

c. Com relação à floresta estacional semidecidual, os frag-mentos devem ser protegidos e, sempre que possível, reli-gados para formar corredores de vegetação para permitir, primeiramente, a circulação da fauna terrestre; depois, para tentar restaurar e revitalizar pelo menos 20% da cobertura vegetal deste tipo de floresta em território do município.

d. No que concerne à vegetação nativa de restinga, que seja cumprida a lei sempre que possível. Em se tratando de terrenos de restinga, está definido que a faixa de 300 metros a contar da preamar máxima é Área de Preserva-ção Permanente (APP). Na maioria das praias, esta faixa não está livre para proteção, pois que ocupada por rodovias e construções. Sendo assim, deve-se proteger o máximo pos-sível, sempre havendo o empenho de ampliar a APP. O poder público municipal deve barrar a entrada de veículos motori-zados na faixa arenosa protegida com uma barreira de esta-cas baixas, afixando também placas educativas. Quiosques devem ser proibidos na APP, sendo retirados os que já fo-ram construídos. Sempre que possível, o poder público deve construir passarelas elevadas de madeira para facilitar a chegada de banhistas junto ao mar e para evitar o pisoteio da vegetação nativa.

e. Com referência aos manguezais, propõe-se promover um levantamento científico de todas as áreas de manguezal em que existem amostras significativas e fragmentos remanes-centes deste ecossistema. Devem ser incluídas até mesmo as áreas onde existiram; recolher estudos já efetuados sobre man-guezais nos limites do município e estimular novas pesquisas a fim de melhor conhecer este ecossistema; instalar, sempre que necessário, cercas de tela em torno da área de mangue-zal, ou seja, na área que se presume ter sido ocupado por um manguezal outrora até que ele se regenere; contribuir, se for o caso, para recuperar o manguezal; transferir progressivamente imóveis construídos em área de manguezal ou no seu entorno, tomando o habitat do guaiamum como limite do ecossistema, espécie esta que deve ser protegida; impedir o lançamento de esgoto sem tratamento terciário, de resíduos sólidos e de óleo nos sistemas hídricos em que se desenvolveram ou podem se desenvolver manguezais; respeitar rigorosamente os períodos de defeso; remover aterros feitos em áreas de manguezal; só

26Sobre o Rio Guaxindiba, o mais recente estudo é de CHAGAS, Gabriele Paiva.

Estrutura e Distribuição das Espécies no Manguezal do Complexo Rio Guaxin-

diba/Canal Engenheiro Antonio Rezende, São Francisco de Itabapoana, RJ.

Campos dos Goytacazes: Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

Ribeiro, 2011 (monografia de graduação). Para uma visão de conjunto, ver

SOFFIATI, Arthur. Os manguezais do sul do Espírito Santo e do norte do Rio de

Janeiro com alguns apontamentos sobre o norte do sul e o sul do norte. Cam-

pos dos Goytacazes, RJ: Essentia, 2009.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 33

executar obras de dragagem em canais de manguezal median-te estudos de impacto ambiental com o devido licenciamento e fiscalização do órgão governamental competente; particular-mente no manguezal do Rio Guaxindiba, o material proveniente da abertura do Canal Engenheiro Antonio Resende e deposita-do em sua margem direita deve ser espalhado para ampliar a área de manguezal; da mesma forma, deve-se examinar cui-dadosamente a possibilidade de aterrar o Canal de Guaxindiba.

estradasComo vimos, existem três rodovias principais no Município de São Francisco de Itabapoana, todas estaduais: a RJ-194, a RJ-196 e a RJ-224. Os problemas causados pela primeira já foram identificados e sua solução já equacionada por es-tudiosos junto ao Ministério Público Estadual. Os problemas da segunda, que liga Campos dos Goytacazes a Barra do Ita-bapoana, passando por vários núcleos de São Francisco de Itabapoana, ainda estão em aberto. Ela corta muito mais lim-nossistemas que a RJ-196, e a única iniciativa para reparar os danos causados pela mesma se refere ao trecho entre Tra-vessão de Campos e a sede de São Francisco de Itabapoana. Entre as propostas para as rodovias que cortam o Município de São Francisco de Itabapoana, relacionamos:

a. Levantamento do todos os pontos de obstrução de lim-nossistemas com o objetivo de removê-los e de substituí-los por dispositivos devidamente dimensionados para o fluxo hídri-co nos dois sentidos.

b. Evitar, sempre que possível, traçados viários que impli-quem na remoção de formações vegetais nativas; caso não seja possível, compensar a supressão por revegetação nas mar-gens das estradas ou em outros pontos do território municipal.

c. Para a segura circulação da fauna aquática e terrestre, devem ser instalados sistemas de trânsito faunístico sob e sobre as rodovias27.

d. Fechar definitivamente o antigo traçado da RJ-196 para o tráfego de veículos, como estipulou a Comissão Estadual de Con-trole Ambiental (CECA), ao expedir licença de instalação ao DER-RJ para asfaltar a RJ-196 entre Guaxindiba e Barra do Itabapoana.

núcleos urbanosJá se destacou neste artigo que os núcleos urbanos mais expressivos do Município de São Francisco de Itabapoana são a sede municipal, Praça João Pessoa, Barra do Itabapoa-na, a conurbação Guaxindiba-Sossego-Santa Clara e Gargaú. Em grande parte, tais áreas urbanas cresceram sobre lim-nossistemas e ecossistemas vegetais nativos sem a mínima preocupação de poupá-los. Nem sequer existe a iniciativa do poder público em arborizar vias e em criar áreas verdes.

As propostas destinadas a estabelecer uma relação de equilí-brio entre ecossistemas urbanos, ecossistemas nativos e ha-bitantes consistem em:

a. Remover todos os obstáculos criados pelo meio urbano à livre circulação de limnossistemas.

27Sobre impactos ambientais causados por rodovias, ver COSTA, Sérgio;

ALONSO, Angela e TOMIOKA, Sérgio. Negociando riscos: expansão viária e

conflitos ambientais no Brasil. Novos Estudos Cebrap nº. 55. São Paulo: no-

vembro de 1999; DER-PR. Manual de Instruções Ambientais para Obras Ro-

doviárias. Curitiba: SETR/DER e UFPR/FUPEF, 2000; BAGER, Alex. Ecologia de

Estradas. Lavras: Universidade Federal de Lavras, 2012.

b. Restaurar e revitalizar a totalidade ou parte de ecossis-temas nativos destruídos por áreas urbanas.

c. Promover a arborização urbana, de preferência com es-pécies vegetais nativas dos ecossistemas existentes no terri-tório municipal.

d. Promover a criação de áreas verdes, de preferência com espécies nativas dos ecossistemas municipais em todos os núcleos urbanos.

e. Remover, de maneira máxima, as espécies vegetais exó-ticas do meio urbano.

f. Combater a poluição do ar.g. Combater a poluição sonora.h. Investir na quantidade e na qualidade do transporte coletivo.i. Implantar rede de coleta esgoto com estações de trata-

mento terciário.j. Implantar e executar política pública relativa a resíduos

sólidos desde o domicílio até a disposição final, com aterros sanitários e unidades de separação e de reciclagem.

k. Instalar rede de coleta de águas pluviais, reduzindo o risco de enchentes.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 34

Unidades de ConservaçãoEmbora ainda contendo remanescentes significativos de ecossis-temas nativos, o território de São Francisco de Itabapoana só conta com uma unidade de conservação sob responsabilidade do Estado.

estação ecológica estadual de guaxindibaEsta Unidade de Conservação foi criada pelo Decreto Estadual nº. 32.576, de 30 de dezembro de 2002, para proteger o maior fragmento de mata atlântica estacional semidecidual de terras baixas da Ecorregião de São Tomé, conhecido como Mata do Carvão. Sua implementação encontrou resistências por parte do governo municipal e continua enfrentando a discordância de proprietários rurais, mas sua implantação parece irreversível.

área de proteção ambiental do sertão das cacimbasA Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba é pequena, prote-gendo um fragmento de mata e dois afluentes do Rio Guaxin-diba. No seu entorno, existem vários outros fragmentos do mesmo tipo de floresta, de córregos e de manguezais. Por isto, entendemos a necessidade de proteger a EEEG por uma Área de Proteção Ambiental que seria batizada com o nome Sertão de Cacimbas, em homenagem aos outrora pujantes ecossistemas

Figura 40: Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba. Legenda: - Limite da

EEEG, 1- Zona intangível, 2- Zona de recuperação, 3 – Zona de uso conflitante-

4- Zona de interferência experimental, 5- Zona de amortecimento. Fonte: Plano

de Manejo da EEEG.

Figura 41: A APA do Sertão de Cacimbas seria demarcada pelas rodovias RJ-

224 e RJ-196, que formam uma figura circular em torno da EEEG, com duas

aberturas até a costa: uma, na altura da Praia da Lagoa Doce, e outra, em

Guaxindiba. Ela permitiria a criação de corredores florestais entre a Mata do

Carvão e outros fragmentos florestais sobreviventes; protegeria as Lagoas

Salgada e Doce em sua totalidade, com os remanescentes do primeiro sítio

europeu na região; a maior parte dos Córregos de Guriri, Tatagiba, Buena, Bar-

rinha, Manguinhos e do rio Guaxindiba juntamente com manguezais de suas

desembocaduras. Proposta do autor. Fonte: Guia Quatro Rodas Praias, 2002.

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que existiam neste local. A proposta de demarcação já está es-boçada, conforme mapa abaixo. Esta unidade deveria também pertencer ao Estado, pois complementa a Estação Ecológica.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 35

reserva de desenvolvimento sustentável de itabapoana – lagoa feiaA grande extensão de várzeas que recebeu o nome de La-goa Feia do Itabapoana e que foi drenada pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento volta a existir parcialmen-te – mas mesmo assim em grande extensão – no período de chuvas volumosas. A comunidade pesqueira local vive um conflito latente com os proprietários rurais beneficiados pela dragagem. Em certos momentos, este conflito adquire visibili-dade. Os pescadores têm uma proposta para a grande várzea, que seria englobada numa unidade de conservação federal, já que a área se situa entre os Estados do Rio de Janeiro e do Es-

Figura 42: Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Itabapoana. Proposta

tentativa do autor. Fonte: Google Earth, julho de 2011. Figura 43: Área tombada pelo Inepac no delta do Rio Paraíba do Sul. Fonte: Inepac.

pírito Santo. A figura mais apropriada para ela parece ser a de uma reserva de desenvolvimento sustentável, porém só estu-dos mais detalhados vão indicar o melhor uso para a área28.

reserva extrativista de gargaúA área de manguezal e adjacências do Rio Paraíba do Sul foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural por edital publicado em 9 de dezembro de 1985, mas o tomba-mento não é uma forma de Unidade de Conservação. Iniciou-se uma discussão para a proteção do manguezal na figura de Reserva Extrativista, que parece a mais apropriada. Es-clareçase que o extrativismo só pode ser animal, pois toda a vegetação de manguezal é considerada Área de Preservação

28BORGES, Eponine Wagner Barros. Lagoa Feia do Itabapoana: Identificação

das Alternativas de Intervenção em um Trecho do Baixo Curso do Rio Ita-

bapoana (RJ e ES) e Análise do seu Potencial Conflitivo. Campos dos Goitaca-

ses: CEFET, 2008 (dissertação de mestrado).

Permanente, afora o apicum, área sem vegetação, em conso-nância com o novo Código Florestal, ainda em discussão.

área de proteção ambiental da restinga de paraíba o sulA maior restinga do Estado do Rio de Janeiro foi formada em parte e cortada pelo Rio Paraíba do Sul. A seção meridional foi por de-mais devastada com a instalação do Complexo Logístico Industrial Portuário do Açu. A porção do norte ainda não é devidamente co-nhecida, mas conta com amostras de lagoas embrejadas que se formaram nas depressões entre cordões arenosos e de vegetação nativa de restinga. A ocupação humana caminha a passos largos nesta área, que, ao menos, poderia ser protegida por uma APA.

reserva de desenvolvimento sustentável da cataiaAbrangeria a Lagoa do Campelo e Banhado da Cataia, ambos situados à margem esquerda do Rio Paraíba do Sul e com ele mantendo contato. Esta ligação foi mais intensa no passado, constituindo um privilegiado campo de pesca. Mas também neles atuou o Departamento Nacional de Obras e Saneamento a favor dos ruralistas. A pesca perdeu vigor. A figura que pare-ce mais adequada para este grande criadouro é a da Reserva de Desenvolvimento Sustentável.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 36

Figura 44: Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Cataia. Proposta ten-

tativa do autor. Fonte: Google Earth,

Figura 45: Área de Proteção Ambiental de Paraíba do Sul. Proposta

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 39

A metodologia de microbacias uma alternativa para o desenvolvimento rural sustentávelCosta, Marcelo Monteiro da1 & Costa, Rita De Cassia Almeida da2

1 – Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária

2 – Superintendência de Desenvolvimento Rural Sustentável

[email protected]

O Rio Rural O Programa Rio Rural desenvolvido pela Secretaria de Estado de Agricultura do Rio de Janeiro através da Superintendência de Desenvolvimento Sustentável, tem como grande desafio a melhoria da qualidade de vida no campo, conciliando o au-mento da renda do produtor rural com a conservação dos re-cursos naturais. Para atingir este objetivo, desenvolveu uma estratégia de ação que se utiliza da microbacia hidrográfica como unidade de planejamento, intervenção e monitoramen-to, envolvendo diretamente as comunidades residentes neste espaço geográfico. Executado pela Secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado do Rio de Janeiro (SEAPEC) através da Su-perintendência de Desenvolvimento Sustentável (SDS), com financiamento do Banco Mundial/BIRD, o Rio Rural incentiva à adoção de práticas sustentáveis e técnicas produtivas mais eficientes e ambientalmente adequadas. Deste modo, contri-bui para a diminuição das ameaças à biodiversidade, para o aumento dos estoques de carbono na paisagem agrícola e para a inversão do processo de degradação das terras em ecossistemas de importância global da Mata Atlântica. O Rio Rural vê o homem do campo como protagonista no processo de desenvolvimento. Por isso, promove a participação comu-nitária nas políticas públicas e gestão de recursos naturais, buscando a conscientização e adesão do produtor às práticas sustentáveis. Por outro lado, defende que o agricultor familiar seja compensado pela limitação do uso dos recursos naturais impostas pelas políticas de conservação. A participação dos

produtores e moradores nas microbacias contribui para a boa governança, para o desenvolvimento participativo, acumula-ção de capital social, a fim de proporcionar o fortalecimento da comunidade local. O envolvimento é a condição básica para a consolidação da identidade, entendida como sentimento de pertencimento e condição fundamental para que se alcance a cidadania desejada.

A metodologia de monitoramento participativo do rio ruralO processo de monitoramento prevê três linhas de ação ten-do em vista os objetos de observação e os objetivos a serem alcançados, sempre estabelecidos e fundamentados nas se-guintes perguntas: onde estamos?, onde queremos ir?, como chegamos lá? e o que acontece enquanto conseguimos?

Para criar um processo rotineiro de acúmulo de informações do projeto, em todos os seus aspectos, que abrigue os ques-tionamentos mencionados anteriormente e os responda com mais proximidade à realidade, duas formas de análise serão adotadas. A qualitativa individual será aferida por meio dos depoimentos dos técnicos envolvidos, escritos após os traba-lhos em grupo - “cartas de Freinet”, como técnica para aferir entendimento e desenvolver posicionamento coletivo e indivi-dual. Dos produtores, esse processo acontecerá pelas infor-mações contidas nos cadernos de apontamentos dos painéis. Eles trarão a luz as vivências no campo e o sentimento parti-

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cular dessas mudanças. A lógica coletiva se estabelecerá no acompanhamento dos Cogens das microbacias participantes definindo e acompanhando a mudança das paisagens cultu-rais mais emblemáticas para a localidade. Ainda perseguindo a qualidade do que está sendo empreendido, seis kits medição de qualidade e volume de água serão disponibilizados para cada microbacia, sendo previsto para elas, também, a mesma quantidade de pluviômetro.

Na análise quantitativa as amostragens retiradas do universo da representação progressiva de 20% dos produtores parti-cipantes, ao longo dos anos de implantação e em todos os municípios atendidos pelo Projeto, são consolidadas trimes-tralmente. O retorno ao campo acontece 40 dias após o rece-bimento dos dados. Nesta ferramenta (fig.1) 20% das ques-tões são de ordem central, 60% regionais e 20 locais. Cabe esclarecer, que todas as propostas de aquisição de resulta-dos, tem por base os PEMs - Plano Executivo da Microbacia. E sua sistematização e manutenção do propósito inicial se dá através de visitas de retroalimentação, estabelecidas bimes-tralmente, para os responsáveis da área, dentro da Coordena-ção central e, mensalmente, pelas equipes destacadas para o monitoramento, lotadas nas Regionais da Emater.

O foco do conteúdo das questões prevê atender: 1. o sujeito visão individual identidadereconhecimento das potencialidades e fraquezas particulares e locais, em relação ao mundo

2. o técnico visão ética comprometimento saída de si mesmo, para encontrar razões em outros modos de ver e ser

3. o processo visão compartilhada função social do cidadãoativação de posições, de responsabilidade e realização de dese-jos comuns de mudanças nas paisagens construídas

Os Eixos de observação serão o Econômico, o Ambiental, o Social e o Cultural. Para não gerar conflito, já que o termo cul-tura é amplo demais, optou-se por utilizar “Qualidade de Vida”. Nesta dimensão a metodologia sai do tripé da sustentabilida-de e, em acordo com a Declaração de São Paulo – abril/2012, firmada entre os países do Mercosul, além da Bolívia, Chile, Equador e Peru, se utiliza do quarto pilar: “A cultura também é essencial para a sustentabilidade.”

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Geoparque costões e lagunas do RJ: iniciativas para o desenvolvimento e conservação do patrimônio natural e cultural dos litorais leste e norte fluminensesKátia Leite Mansur1; Gisele Ferolla Vasconcelos2; Maria da Gloria Alves3; Alvaro Pessanha4; Leonardo Frederico Pressi5; Vitor Nascimento6; Eliane Guedes7, Renato Cabral Rodriguez Ramos7; Marcelo Soares de Almeida8

1 – [email protected] - Universidade Federal do Rio de Janeiro – Departamento de Geologia - Avenida Athos da Silveira Ramos, 274, sala G-60, Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, 21.941-916

2 – [email protected] – ETH Zürich – Geologisches Institut NOF 55.2 - Sonneggstrasse 5 – 8092 Zürich - Suiça

3 – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – Av. Alberto Lamego, 2000, Campos dos Goytacazes, RJ, 28013-600

4 – [email protected] - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico – SEDEIS – Avenida Rio Branco, 110, 21 andar, Rio de Janeiro, RJ, 20040-001

5 – [email protected] - Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro – DRM-RJ – Rua Marechal Deodoro, 351, Centro, Niterói, 24030-060

6 – [email protected] - Universidade Federal Fluminense – UFF - INF / PEB - Av. João Jasbick s/nº - Aeroporto, Santo Antônio de Pádua, - RJ, 28.470-000

7 – [email protected] e [email protected] - Universidade Federal do Rio de Janeiro – Museu Nacional - Quinta da Boa Vista, s/nº, São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ, 20940-040

8 – [email protected] – Petrobras/UO-BC/EXP/SE

ResumoDesde 2010 discute-se a criação de um Geoparque na re-gião litorânea norte e leste do RJ. Um geoparque é um ter-ritório auspiciado pela UNESCO, que possui um patrimônio geológico de valor internacional, além de atributos culturais e ambientais que devem levar ao desenvolvimento de ativi-dades econômicas de base local, associadas ao geoturismo e à educação. A proposta do Geoparque Costões e Lagunas do RJ aponta na direção da conservação de uma área com beleza e conteúdo geocientífico singular, perfazendo 2 bilhões de anos da história da Terra e patrimônio natural e cultural, material e imaterial de grande valor. Possui intensa atividade de pesca e esportes náuticos, bem como gastronomia típica e um sistema hoteleiro diversificado. Envolve porções lito-râneas de 16 municípios desde Maricá até São Francisco de Itabapoana. Para divulgar a proposta foram realizadas quase duas dezenas de reuniões abertas com a participação de re-presentantes dos municípios, de órgãos públicos de nível es-tadual e federal, de ONGs, empresários e população em geral. Já foram implantados 37 painéis interpretativos dos projetos Caminhos Geológicos e Caminhos de Darwin. A região ainda possui ampla rede estabelecida de Educação Ambiental, mas para o Geoparque foram desenvolvidas mascotes específicas: os Super Feras. Ainda é possível encontrar na região núcleos preservados de vegetação de restinga e de Mata Atlântica, razão pela qual foram criadas diversas UCs, como a Estação Ecológica de Guaxindiba.

Palavras chave: Geopark, Geoparque Costões e Lagunas; Geoconservação

IntroduçãoGeoparque (em inglês Geopark) é uma chancela atribuída pela GGN - Global Geopark Network, sob os auspícios da UNESCO, a um território onde existe um patrimônio geológico de impor-tância internacional. O conceito envolve, ainda, a proteção, a educação e o desenvolvimento econômico de áreas que, além de geossítios, possuam relevantes aspectos arqueológicos, ecológicos, históricos ou culturais. A gestão destas áreas deve promover e fortalecer atividades econômicas, principalmente por meio do geoturismo. Não é uma categoria de área protegi-da, mas pode conter Unidades de Conservação no seu interior.

Um Geoparque deve, então, promover: (a) a geoconservação (proteção do patrimônio geológico para as futuras gerações), a educação sobre as ciências da terra; e (c) o desenvolvimento lo-cal por meio do geoturismo, com o consequente estímulo à im-plantação de atividades socioeconômicas a ele associadas com geração de trabalho e renda para as populações residentes.

O Brasil e a América Latina possuem um único geoparque auspiciado pela UNESCO, o Geoparque Araripe (http://geo-parkararipe.org.br/), no Ceará, aprovado em 2006. No entanto, existem muitas propostas nacionais, sendo que várias delas, inclusive a dos Costões e Lagunas do Rio de Janeiro (MANSUR et al., 2012), constam do livro “Geoparque do Brasil: Propostas”,

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publicado pela CPRM – Serviço Geológico do Brasil (Schobbe-nhaus & Silva, 2012), disponível em http://www.cprm.gov.br/publique/media/GEOPARQUESdoBRASIL_propostas.pdf.

Este livro é parte do Projeto Geoparques da CPRM cujo ob-jetivo é a identificação, levantamento, descrição, inventário, diagnóstico e ampla divulgação de áreas com potencial para futuros geoparques no território nacional (www.cprm.gov.br).

Em 2009, numa proposta inicial que envolveu a Petrobras, o ETH Zürich e o Projeto Caminhos Geológicos do DRM-RJ – Ser-viço Geológico do Estado do Rio de Janeiro, foram iniciadas as discussões que culminaram em 2010 com o lançamento da ideia de se criar um geoparque no estado do Rio de Janeiro. A proposta foi baseada na existência de um patrimônio geo-lógico de valor internacional: (a) nas lagunas hipersalinas do sistema lagunar de Araruama e na Lagoa Salgada na forma de colônias de cianobactérias e suas bioconstruções (estro-matólitos); e (b) nos costões que permitem a observação da história geológica da amalgamação final do paleocontinente Gondwana no cambro-ordoviciano.

O projeto do Geoparque Costões e Lagunas do Rio de Janeiro envolve 16 municípios: Maricá, Saquarema, Araruama, Arraial do Cabo, Iguaba grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Ar-mação dos Búzios, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Macaé, Carapebus, Quissamã, Campos dos Goytacazes, São João da

Barra e São Francisco do Itabapoana (ver Fig. 1). Compreende uma área de cerca de 11mil km2 e uma população residente de aproximadamente 1,5 milhão de pessoas (Censo IBGE de 2010).

O Geoparque Costões e Lagunas do Estado do Rio de Janeiro compreende área com evolução geológica singular, envolven-do mais de 2 bilhões de anos de história geológica. Na região, podem ser observados outros geossítios que exibem rochas de

Figura 1 – Mapa de localização do Geoparque Costões e Lagunas do Rio de

Janeiro e de sua divisão municipal (Fonte: MANSUR et al., 2012).

natureza ígnea, sedimentar e metamórfica, campos de dunas, restingas, falésias, cordões litorâneos, deltas e manguezais.

Nos costões predominam litotipos metamórficos, para e ortoderivados, que registram a evolução tectônica desde o Paleoproterozoico até a Orogenia Búzios, no Cambriano, e granitos ordovicianos. Envolve a área continental adjacente às bacias sedimentares de Campos e de Santos, inclusive o alto estrutural de Cabo Frio, que as separa, e estruturas geológicas como grabens e falhas. Ocorrem diques toleíti-cos mesozoicos e corpos alcalinos plutônicos a subvulcâ-nicos paleocênicos.

Unindo os costões, os sedimentos são de idades, origens e composições diversas, desde continentais do Mio-Plioce-no, fluviais, marinhos, lagunares e eólicos do Pleistoceno ao Holoceno.

Foram descritos dezenas de sítios arqueológicos. A região possui sítios históricos relacionados às primeiras povoações brasileiras, que nos remetem ao descobrimento do país, à ex-ploração do pau-brasil, à invasão francesa em Cabo Frio, às capitanias hereditárias (São Tomé e São Vicente) e ao caminho dos Jesuítas. Museus apresentam aspectos históricos, cultu-rais e científicos. Ainda, na região, foi registrada a passagem de naturalistas como Charles Darwin, príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e Saint-Hilaire.

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Destacam-se ainda as salinas como patrimônio geomineiro e cuja operação permanece quase a mesma desde o século 19. Notáveis são os faróis, as histórias dos naufrágios, as cons-truções tombadas, em especial as fazendas e igrejas, e lendas e mitos contadas pela população caiçara.

A região ainda possui rede estabelecida de Educação Ambien-tal envolvendo comitê de bacia, prefeituras, escolas e ONGs.São encontrados núcleos preservados de vegetação de restin-ga, um dos biomas mais ameaçados do país. A fauna e flora da região são reconhecidas por sua raridade e endemismo, por este motivo, foram criadas Unidades de Conservação - UCs de Proteção Integral e Desenvolvimento Sustentável. Este é o caso da Estação Ecológica de Guaxindiba (Fig. 2), cujo conhe-cimento sobre a importância da água subterrânea para a ma-nutenção do ecossistema precisa ainda ser melhor estudado.

Materiais e MétodosVárias etapas estão sendo cumpridas para formalização do Geoparque. Algumas delas são descritas a seguir.

a. Reuniões abertas ao público dos municípios para divul-gação do conceito de Geoparque;

b. Discussões sobre gestão do geoparque;c. Palestras em eventos e fóruns de meio ambiente, turis-

mo, patrimônio e geologia sobre a proposta;d. Obtenção de cartas de adesão ao projeto por parte das

municipalidades, ONGs, entidades públicas e provadas e uni-versidades;

e. Realização do inventário do patrimônio natural e cultu-ral realizado em conjunto entre municipalidades e cientistas;

Figura 2 – Imagem Google Earth mostrando a vasta área úmida adjacente à

Estação Ecológica de Guaxindiba.

f. Identificação daqueles sítios que não possuem proteção legal ou que estejam ameaçados ou carentes de estudo geo-lógico específico;

g. Criação das mascotes do geoparque, os Super Feras (VASCONCELOS & MANSUR, 2011), na forma de livros e desen-volvimento dos protótipos para se transformarem em bonecos;

h. Contatos com geoparques existentes ou em formação para estabelecimento de acordo de cooperação com vistas à futura participação na GGN;

i. Elaboração do dossiê para submissão à UNESCO;j. Montagem de projetos para obtenção de recursos finan-

ceiros para o início do projeto.

Resultados e DiscussõesSegundo a sequência da listagem de etapas do item Materiais e Métodos, serão apresentadas a seguir os principais resulta-dos já obtidos com o projeto:

a. Quase duas dezenas de reuniões abertas realizadas nos municípios;

b. Organização do Comitê Provisório do Geoparque, com-posto por UFRJ – Casa da Ciência, IGEO e Museu Nacional; PETROBRAS, ETH Zürich; CILSJ; UFF; UENF; SEDEIS; DRM-RJ; CPRM, 4 representantes das regiões (escolhidos entre os mu-nicípios), além de IPHAN , INEPAC, INEA, ICMBio e Comitê de Bacia do Baixo Paraíba, a serem convidados. Posteriormente, a Turisrio – Cia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro foi incorporada ao grupo.

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c. Criação da logomarca e das instruções para uso pelos parceiros (Fig. 3);

Figura 3 – Logomarca do Geoparque elaborada pela empresa Crama Design

Estratégico, a pedido da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômi-

co, onde inseriu elementos que destacam a existência de rochas formadas no

contexto da amalgamação e quebra do Gondwana e das lagunas, incluindo a

presença humana na região do Geoparque.

Figura 4 – Organograma do sistema de gestão proposto para o Geoparque.

d. Sugestão de um sistema de gestão para o geoparque (Fig. 4);e. Recebimento de cartas de adesão de quase todos os

municípios e de dezenas de instituições;

f. Montagem de um inventário com mais de 300 sítios (geossítios e sítios culturais) em um banco de dados geore-ferenciado;

g. Elaboração de trabalhos científicos para determinar a importância de geossítios, como no caso dos beachrocks de Darwin em Maricá / Saquarema e do Mangue de Pedra em Armação dos Búzios;

h. Desenvolvimento dos arquivos 3D e início da prototipa-gem dos Super Feras;

i. Elaboração do dossiê e contatos com o Geoparque Arari-pe para cooperação, além dos geoparques portugueses (Arou-ca, Naturtejo e a proposta de Açores);

j. Outros.

Conclusões O projeto tem recebido uma excelente aceitação nos diversos fóruns onde tem sido apresentado, mostrando que existe uma receptividade bastante grande para projetos de integração de desenvolvimento com preservação do patrimônio.

A Reserva Ecológica de Guaxindiba é uma das áreas que ne-cessita ser melhor estudada. Está em preparação uma pro-posta para realizar um estudo hidrogeológico da área, a partir de uma solicitação do INEA.

Referências BibliográficasMANSUR, K. L.; GUEDES, E. ; Alves, M.G. ; NASCIMENTO, V. ; PRESSI, L. F. ; COSTA JUNIOR, N. ; PESSANHA, A. ; NASCIMEN-TO, L. H. ; VASCONCELOS, G.F. . Costões e Lagunas do Estado do Rio de Janeiro (RJ). In: Carlos Schobbenhaus; Cassio Roberto da Silva. (Org.). Geoparques do Brasil: Propostas. 1ed.Rio de Ja-neiro: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2012, v. I, p. 687-745.

VASCONCELOS, Gisele Ferolla; MANSUR, Kátia Leite. Projeto Superferas: Livros Infantis. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HIS-TÓRIA E ENSINO DE CIÊNCIAS DA TERRA, ENSINOGEO, 5., 2011. Anais...Nova Friburgo [s.n.] 2011.

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A flora arbórea da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba e de seu entorno: conservação e manejoAbreu K.M.P.1, Nascimento, M.T.2; Braga, J.M.A.3

1 – Programa de Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais/ Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro [email protected]

2 – Laboratório de Ciências Ambientais/ Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro [email protected]

3 – Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro [email protected]

ResumoA destruição de habitat levou as Florestas de Tabuleiro a so-frerem intensa fragmentação principalmente no Norte Flu-minense. Neste trabalho objetivou-se estudar o componente arbóreo de remanescentes de Florestas de Tabuleiro locali-zados em São Francisco do Itabapoana, visando avaliar sua riqueza, diversidade e gerar informações para a adoção de estratégias para conservação dos mesmos. Como maior re-manescente destaca-se o fragmento Mata do Carvão locali-zado na EEE de Guaxindiba. Empregou-se o método de par-cela fixa (20 m x 20 m), totalizando uma área amostral de 1,4 ha. Todos os indivíduos com DAP ≥5 cm foram amostrados, sendo registradas 194 espécies e 42 famílias. Os valores de riqueza e diversidade variaram de 59 a 89 espécies e 2,59 a 3,79. Os fragmentos apresentaram ocorrência de espécies ra-ras e ameaçadas, e embora tenha sido observada uma perda de espécies e baixa diversidade por fragmento, no conjunto estes representam uma importante memória da flora deste tipo florestal, fato que justifica a necessidade de conservação e a adoção de estratégias para a recuperação dos mesmos.

Palavras-chave: Floresta de Tabuleiro, diversidade, conservação.

IntroduçãoAo longo da Costa leste do Brasil, no domínio Atlântico, ocorre um tipo de Floresta Estacional Semidecidual denominada Mata de Tabuleiros, as quais distinguem-se por ocuparem uma exten-

sa área de tabuleiro costeiro, pela pouca vegetação rasteira, bai-xa ocorrência de epífitas e esclerofilia (RIZZINI, 1979). Com o pro-cesso de desmatamento, as matas de tabuleiro sofreram intensa fragmentação (GIULIETTI & FORERO, 1990), restando apenas al-guns remanescentes distribuídos na região costeira do nordeste até o estado do Rio de Janeiro (SILVA & NASCIMENTO, 2001).

Segundo GRISE et al.(2009) as unidades de conservação ten-dem a uma inevitável simplificação biológica, cuja minimiza-ção pode ser alcançada com seu manejo eficiente. Estudos sobre as comunidades arbóreas podem servir como base para a definição de estratégias de manejo, conservação e restauração de remanescentes florestais (PINTO et al., 2007). Sendo assim, este trabalho objetivou estudar o componente arbóreo de remanescentes de Florestas de Tabuleiro locali-zados na EEE de Guaxindiba e de seu entorno, visando avaliar sua riqueza, diversidade e gerar informações para a adoção de estratégias para conservação dos mesmos.

Materiais e MétodosOs fragmentos estudados localizados em São Francisco do Itabapoana são classificados como Floresta Estacional Semi-decidual de Terras Baixas (VELOSO et al., 1991). O clima na região é do tipo Cwa (KÖPPEN, 1948), com pluviosidade média de 912 mm (1996 a 2007) e temperatura media anual varian-do de 21 a 29ºC. O solo da região é classificado como Argisso-los amarelos distrocoesos (EMBRAPA, 2006).

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Seis fragmentos foram selecionados, sendo um deles a Mata do Carvão (1.189,81 ha), maior remanescente do Norte Flumi-nense, inserido na Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba (CV1 – setor com índicos de corte seletivo desde 1990, CV2 – setor sem índicos de corte seletivo) e os demais localiza-dos nos seus arredores: Fazenda Imburi (FI/13 ha), Fazenda Santana (FS/35 ha), Fazenda Palmeiras (FP/49 ha), Fazenda Santo Antônio (FSA/55 ha), Mata do Funil (MF/130 ha) (Fig.1).

Em cada área amostral foram alocadas 5 parcelas de área fixa (20X20m), totalizando 1,4 ha, sendo amostradas todas as árvores com diâmetro à altura do peito ≥ 5 cm. Foi utilizado o sistema de classificação da APG III (2009) para circunscrição das espécies e as mesmas foram classificadas nas categorias sucessionais propostas por GANDOLFI et al. (1995) e síndromes de dispersão de VAN DER PIJL (1982). Foram calculados os parâmetros fitos-sociológicos e o índice de diversidade de Shannon (H’).

Resultados e DiscussõesForam amostrados 2252 indivíduos arbóreos, distribuídos em 194 espécies e 42 famílias. As famílias mais ricas foram Fa-baceae (31), Sapotaceae (19) e Myrtaceae (14), corroborando com os resultados encontrados por OLIVEIRA-FILHO & FON-TES (2000). Os fragmentos apresentam composição florística semelhante à de outros remanescentes de Floresta Estacio-nal Semidecidual do Norte Fluminense (SILVA & NASCIMEN-TO, 2001; CARVALHO et al., 2006). A espécie Metrodorea nigra ocorreu como a de maior representatividade em todos os fragmentos. As espécies Astronium sp., Paratecoma peroba, Actinostemon verticillatus, Pachystroma longifolium, Pseudopip-tadenia contorta, Alseis pickelli, Almeidea rubra, Talisia coriacea e Trigoniodendron spiritusanctense que ocorrem na Mata do Carvão, foram comuns a todos os fragmentos, demonstran-do que apesar dos impactos causados pela fragmentação, os fragmentos remanescentes são importantes por apresenta-rem diversidade residual (TABARELLI et al., 1999).

Figura 1 – Mapa indicando os fragmentos florestais estudados no município

de São Francisco do Itabapoana-RJ.

Ressalta-se a ocorrência de espécies de extrema importân-cia conservacionista, citadas como ameaçadas pelo Ministé-rio do Meio Ambiente (Instrução Normativa nº 6 de 23/09/08): Couratari asterotricha, Grazielodendron rio-docensis, Marlierea sucrei, Melanopsidium nigrum, Melanoxylon brauna, Protium heptaphyllum, Terminalia kuhlmannii e Trigoniodendron spiritu-sanctense. Dentre as espécies madeiráveis, destacam-se: pe-roba rosa (Aspidosperma ilustre), peroba amarela (Paratecoma peroba), ipês (Handroanthus chrysotrichus, H. serratifolius, Ta-bebuia roseoalba), braúna (Melanoxylon brauna), óleo vermelho (Myrocarpus frondosus), jequiitibá (Cariniana legalis), roxinho (Peltogyne discolor). As espécies A. ilustre e P. peroba, outrora abundantes (RIZZINI 1979), atualmente são consideradas ra-ras pelos sucessivos cortes seletivos (SILVA & NASCIMENTO, 2001; VILLELA et al., 2006).

Os fragmentos demonstraram equilíbrio entre secundárias tardias e categorias de início de sucessão (pioneiras + secun-dárias iniciais) considerando a riqueza de espécies (Fig. 2A) e predomínio de tardias quando avaliada a abundância de indi-víduos, especialmente em função da espécie mais abundante (M. nigra) nas áreas estudadas ser tardia (Fig. 2B). A represen-tatividade pouco expressiva de espécies tardias nos fragmen-tos pode ser explicada pelo histórico de uso, pois os recursos madeireiros de todos os fragmentos foram intensamente ex-plorados no passado.

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Foi observado predomínio da síndrome de dispersão por zoo-coria (Figura 2C) em todos os fragmentos, mas quando consi-derado o número de indivíduos, observou-se um decréscimo nessa representatividade (Figura 2D), que pode ser um indica-tivo de pouca atividade da fauna dispersora, o que pode com-prometer o recrutamento de novos indivíduos nas populações (GUSSON et al., 2009).

Figura 2 - A) Espécies por categoria sucessional. B) Indivíduos por catego-

ria sucessional. C) Espécies por síndromes de dispersão. D) Indivíduos por

síndrome de dispersão. ST= Secundária Tardia, SI= Secundária Inicial, Pi=

Pioneira; ane= anemocoria, zoo= zoocoria, aut= autocoria; NC= Não Caracteri-

zação por carência de informações.

Tabela 1 – Número de espécies (Nsp), número de espécies exclusivas (Nex),

índice de diversidade de Shannon (H’).

Fragmento

Total

FI (0,2ha)

FS (0,2ha)

FP (0,2ha)

FSA (0,2ha)

MF (0,2ha)

CV1 (0,2ha)

CV2 (0,2ha)

84

88

72

56

75

72

71

18

12

06

08

15

12

08

3,52

3,79

3,43

2,59

3,74

3,26

3,21

Nsp

194

Nex

79

H’

3,90

O padrão fitossociológico da comunidade de São Francisco de Itabapoana seguiu a tendência de outras florestas perturba-das do Norte Fluminense, nas quais uma ou duas espécies se destacam (CARVALHO et al., 2006), sendo neste caso M. nigra e P. contorta (Tab. 2).

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Conclusões Os resultados sugerem a necessidade de plantios de enriquecimento de espécies secundá-rias tardias, principalmente de madeira de lei, como braúna, jequitibá, peroba e de indivíduos zoocóricos em todas as áreas estudadas. Apesar dos fragmentos terem sido alterados por perturbações antrópicas, os mesmos possuem potencial regenerativo estando em estádio mé-dio de sucessão, com ocorrência de espécies de importância ecológica e conservacionista, evidenciando a necessidade da sua conservação para manutenção da biodiversidade local. As

Tabela 2 - Parâmetros fitossociológicos, em ordem de valor de importância, analisados para a comunidade arbórea de

São Francisco do Itabapoana, RJ. N – Número de indivíduos, BA – área basal, RD – Densidade relativa, RF – Frequência

relativa, DoR – Dominância relativa, VC – valor de cobertura, VI – valor de importância.

informações sobre sua composição florística e comportamento ecológico das espécies podem ser úteis para nortear ações de manejo e recomposição florestal da região estudada.

Referências BibliográficasAPG III. 2009. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Journal of the Linnean Society 161(2): 105-121.

CARVALHO, F.A.; Braga, J.M.A.; Gomes, J.M.L.; Souza, J.S.; Nascimento, M.T.N. 2006. Comunidade arbórea de uma floresta de baixada aluvial no município de Campos dos Goytacazes, RJ. Cerne 12(2): 157-166.

EMBRAPA. 1999. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Rio de Janeiro, Embrapa Solos.Gandolfi, S.; Leitão Filho, H.F.; Bezerra, C.L.F. 1995. Levantamento florístico e caráter sucessio-nal das espécies arbustivo-arbóreas de uma Floresta Semidecídua no município de Guarulhos, SP. Revista Brasileira de Biologia 55(4): 753-767.

GRISE, M.M.; BIONDI, D.; LINGNAU, C.; ARAKI, H. 2009. A estrutura da paisagem do mosaico formado pelas unidades de conservação presentes no litoral norte do Paraná. Floresta 39(4): 723-742.

GUSSON, A.E.; Lopes, S.F.; Dias Neto, O.C.; Vale., V.S.; Oliveira, A.P.; Schiavini, I. 2009. Caracte-rísticas químicas do solo e estrutura de um fragmento de floresta estacional semidecidual em Ipiaçu, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 60(2): 403-414.

KÖPPEN, W. 1948. Climatologia: con un estudio de los climas de la tierra. Ciudad de México, Fondo de Cultura Econômica.

Espécies

Total (10 sp.)

Outras (184 sp.)

Total (1,4 ha)

Metrodorea nigra

Pseudopiptadenia contorta

Astronium concinnum

Trigoniodendron spiritusanctense

Senefeldera verticillata

Parapiptadenia pterosperma

Astronium sp,

Alseis pickelli

Copaifera lucens

Talisia coriacea

539

109

51

44

86

49

64

44

49

56

1091

1161

2252

16,79

15,00

31,79

48,44

51,56

100

24,52

75,48

100

52,86

47,14

100

101,31

98,69

200

125,82

174,18

300

6,88

2,8

1,55

1,27

0,53

1,11

0,73

0,76

0,69

0,47

23,93

4,84

2,26

1,95

3,82

2,18

2,84

1,95

2,18

2,49

3,17

3,17

2,11

2,43

2,11

1,8

2,22

2,64

2,33

2,54

21,65

8,8

4,89

3,99

1,68

3,5

2,29

2,4

2,17

1,49

45,59

13,64

7,16

5,94

5,5

5,68

5,13

4,35

4,35

3,97

48,76

16,81

9,27

8,37

7,61

7,48

7,35

6,99

6,67

6,51

N AB DR FR DoR VC VI

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 49

OLIVEIRA-FILHO, A.T.; Fontes. M.A.L. 2000. Patterns of floristic differentiation among Atlantic forests in southeastern Brazil, and the influence of climate. Biotropica 32(4b): 793-810.

RIZZINI, C.T. 1979. Tratado de fitogeografia do Brasil. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo.

SILVA, G.; NASCIMENTO, M.T. 2001. Fitossociologia de um re-manescente de mata sobre tabuleiros no norte do Estado do Rio de Janeiro (Mata do Carvão). Revista Brasileira de Botâni-ca 24(1): 51-62.

TABARELLI, M.; MANTOVANI, W.; PERES, C. A. 1999. Efects of habitat fragmentation on plant guild structure in the montane Atlantic forest of southeastern Brazil. Biological Conservation 91: 119-127.

VAN DER PIJL, L. 1982. Principles of dispersal in higher plants. Berlin, Springer-Verlag.

VELOSO, H.P.; RANGEL-FILHO, A.L.R. LIMA, J.C.A. 1991. Classifi-cação da vegetação brasileira adaptada a um sistema univer-sal. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

VILLELA, D.M.; Nascimento, M.T.; Aragão, L.E.O.C.; Gama, D.M. 2006. Effect of selective logging on forest structure and nutri-ent cycling in a seasonally dry Brazilian Atlantic forest. Jour-nal of Biogeography 33(3): 506-516.

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Estratégias de aclimatação às clareiras antrópicas em diferentes espécies da sucessão ecológica na EEEG – as pesquisas do setor de biologia vegetal sobre os processos estruturais e fisiológicos da recomposição vegetalGuilherme R. Rabelo1; Maura Da Cunha1

1 – Setor de Biologia Vegetal / Centro de Biociências e Biotecnologia / Universidade Estadual do Norte Fluminense – Av. Alberto Lamego, nº 2000 - sala 25 Anexo, Horto, Campos dos Goytacazes, RJ, CEP 28013-602 [email protected]

O Setor de Biologia Vegetal (SBV) começou suas pesquisas no Norte-Noroeste Fluminense em 2005. Com um perfil científico voltado aos processos estruturais do desenvolvimento vege-tal, o SBV inicialmente investiga as alterações foliares em uma secundária tardia, Alseis pickelii (Rubiaceae), promovidas pela menor conectividade do dossel, e consequente maior irradiân-cia, ocasionadas pela extração ilegal de madeira em áreas da EEEG. Na época do trabalho havia uma maior intensidade de práticas ilegais, como o corte seletivo de madeiras nobres, nas proximidades da estrada da cobiça, em comparação às áreas próximas a fazenda São Pedro. O resultado gerou uma disser-tação, onde foi observado menor capacidade de aclimatação desta espécie nas áreas mais degradadas, nas quais suas fo-lhas não expressavam características adequadas aos novos regimes de luminosidade a que eram submetidos. Potencial-mente indicando perigo à conservação deste táxon.

Com respeito a A. pickelli ainda foram realizados estudos so-bre seu lenho. Os resultados são frutos de uma monografia que evidenciou modificações quantitativas em sua estrutura anatômica devido às variações nas condições ambientais en-tre os locais coletados. Também foi observado a formação de anéis de crescimento em resposta à sazonalidade, possibili-tando interpretações sobre a fenologia desta espécie, e pos-sivelmente, a construção de uma cronologia a partir destes anéis. Adicionalmente, também foi realizado um estudo sobre características secretoras de células do ápice desta espécie,

chamados coléteres estipulares, com potencial de caracteri-zação dos produtos da secreção e suas funções ecológicas.Especial atenção também merecem os estudos sobre o de-senvolvimento foliar de Paratecoma peroba (Bignoniaceae), espécie de madeira nobre da região, muito afetada pelos dife-rentes períodos de intensificação do corte ilegal de madeiras. Seus resultados, monografia em curso, indicam a função de proteção dos tricomas durante a morfogênese foliar, eviden-ciado pela drástica redução na densidade destes tricomas ao longo do desenvolvimento, estando praticamente ausentes na folha completamente expandida.

Ao longo destes trabalhos foi se tornando evidente que o en-foque de pesquisa deveria centrar nas clareiras florestais, direcionando assim as pesquisas do SBV a uma questão re-lacionada à maior abundância de Pachystroma longifolium (Eu-phorbiaceae) nas clareiras. Uma tese de doutorado, a partir de um projeto piloto, atribuiu a abundância desta espécie nestas áreas como conseqüência da resistência aos herbívoros (fo-lhas impalatáveis pela extraordinária quantidade de Oxalato de Cálcio e uma mistura de proteínas de defesa em seus lati-cíferos), e à dessecação durante os períodos de seca (extensa camada lipídica na parede periclinal externa da epiderme e retenção de água epiderme bisseriada).

Buscando uma compreensão da comunidade, pesquisas mais recentes do SBV enfocam na resposta estrutural e fisiológi-

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ca de diferentes grupos da sucessão ecológica nos proces-sos da restauração da vegetação nas clareiras. Os resultados produzidos, frutos de uma tese de doutorado, demonstram que a secundária inicial, Actinostemon verticillatus, apresenta maior plasticidade investindo na eficiência fotossintética nos primeiros momentos da formação da clareira, um comporta-mento oportunístico aproveitando de um momento de maior radiação para poder completar seu ciclo de desenvolvimen-to. Enquanto a secundária tardia, Metrodora brevifolia, ajusta seu processo fotossintético compensando os custos de suas folhas e menor plasticidade através de alterações na ultraes-trutura dos cloroplastos.

Trabalhos de divulgação do conhecimento acadêmico volta-dos a comunidade somam-se às pesquisas do SBV. Estes tra-balhos de extensão universitária, realizados através da Xilote-ca-UENF, contam com diversos espécimes de lenho da EEEG e doações de discos de madeira, gentilmente realizadas pelo INEA-EEEG, são utilizados em exposições sobre conhecimen-tos de anatomia de madeira, diversidade da Mata Atlântica e conservação ambiental, perfazendo assim a essencialidade da Universidade baseados no tripé ensino-pesquisa-extensão.

Referências BibliográficasTULLII, Cristiane Ferrate. Anatomia e ultraestrutura de cole-teres no gênero Alseis (Rubiaceae). 2011. Iniciação Científica. (Graduando em Ciencias Biologicas – Bacharelado) – Universi-dade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

DA SILVA, Glaziele Campbell. Anatomia do lenho de Alseis pi-ckelli Pilger et Shamle em um remanescente de tabuleiro da Mata Atlântica: aspectos ecológicos e indicação para aprovei-tamento. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Ciencias Biologicas – Bacharelado) – Universidade Esta-dual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

RABELO, G.R. et al., 2011. Leaf structure, microanalysis and characterization of the latex protein profile of Pachystroma longifolium (Nees) I.M. Jonhst. (Euphorbiaceae) in a seasonally dry Atlantic Forest. Acta Bot. Bras. 25(1): 150-159.

RABELO, G.R. et al., 2012. Does selective logging affect the leaf structure of a late successional species? Rodriguésia 63(2) 419-427.

RABELO, G.R. et al., 2013. Structural and ecophysiological adaptations to forest gaps. Trees 27(1) 259-272.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 52

Polinizadores na Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba: diversidade e conservaçãoGaglianone, M.C.1; Menezes, G.B.1; Aguiar, W.M.2; Marques, M.1; Benevides, C.R.3; Bernardino, A.S.4

1 – Laboratório de Ciências Ambientais, Universidade Estadual do Norte Fluminense [email protected]; [email protected]; [email protected]);

2 – Laboratório de Estudos Ambientais, Universidade Estadual de Feira de Santana ([email protected]);

3 – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro ([email protected]);

4 – [email protected]

ResumoA polinização é fundamental para a manutenção das popula-ções vegetais nas florestas e para assegurar a produtividade nas áreas cultivadas. A partir de amostragens das espécies ve-getais em florescimento, dados de literatura e captura dos vi-sitantes florais, 65% da comunidade vegetal analisada na EEE de Guaxindiba é primariamente polinizada por abelhas. Estes insetos apresentam importante riqueza de espécies na área (n=80), com grande abundância dos grupos Centridini e Euglos-sina, cujas espécies são polinizadores de Lecythidaceae, Passi-floraceae e Bignoniaceae, entre outras. Mamangavas do gêne-ro Xylocopa são potencialmente importantes para o manejo em áreas nativas e cultivadas. Dados das comunidades de abelhas neste fragmento, comparativamente a outros fragmentos florestais de mesmo tipo vegetacional, apontam para a neces-sidade de preservação e ampliação da área de floresta estacio-nal semidecidual sobre tabuleiros na região.

Palavras chave: Abelhas; Polinização; Serviço ambiental.

IntroduçãoA polinização é um processo ecológico que envolve interações entre plantas e animais, os vetores bióticos de pólen. O estu-do desta interação, a partir da análise dos polinizadores e do seu papel na reprodução das plantas com flores é essencial para o entendimento da estrutura das populações vegetais e da sua manutenção em longo prazo nos fragmentos flores-

tais (KEARNS et al., 1998). Além da importância na conserva-ção, interações de polinizadores com plantas promovem um serviço ambiental fundamental para a alimentação humana (IMPERATRIZ-FONSECA et al 2012) e neste sentido os frag-mentos florestais são fonte destes agentes. Os estudos sobre polinizadores na EEE de Guaxindiba, realizados nos últimos oito anos, tiveram os objetivos de: analisar a importância dos diferentes grupos de polinizadores para a comunidade vegetal; caracterizar a estrutura da comunidade de abelhas, principais polinizadores nas florestas tropicais; analisar gui-ldas de polinizadores em plantas focais de maior relevância; estudar o comportamento de táxons de grande importância ecológica; analisar a estrutura genética de populações com-parativamente às de outros fragmentos florestais na região.

Materiais e MétodosA partir da listagem de espécies arbóreas amostradas na EEE de Guaxindiba (SILVA & NASCIMENTO, 2001), de exsicatas de-positadas no Herbário UENF e da amostragem de espécimes vegetais em florescimento, foram analisadas as seguintes ca-racterísticas florais: dimensões (tamanho e profundidade) e coloração da corola, número e disposição das estruturas re-produtivas, recursos florais (néctar, pólen, resinas ou óleos), disposição das flores e tipo de inflorescência. A partir destas características analisadas, e de estudos publicados na litera-tura, as espécies foram classificadas segundo as síndromes florais (FAEGRI & VAN DER PIJL 1979). As comunidades de

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abelhas foram analisadas através de amostragens periódicas mensais, utilizando-se a metodologia de atração com iscas aromáticas, para a captura de machos de Euglossina (AGUIAR & GAGLIANONE, 2008a), atração de fêmeas nidificantes em ninhos-armadilha (SILVA 2009), e coleta direta de visitantes sobre flores, com rede entomológica, conforme metodologia de SAKAGAMI et al.(1967). Os estudos de comportamento fo-ram realizados durante o período de florescimento mais in-tenso, ao longo do dia. Para o estudo de genética populacional, machos de Eulaema cingulata (Euglossina) foram amostrados com iscas aromáticas e conservados em álcool absoluto até a extração do DNA. Amostras foram analisadas por meio de marcadores moleculares de microssatélites para analisar o fluxo gênico e perda de diversidade genética em função da fragmentação florestal. As comunidades de abelhas da EEE Guaxindiba foram comparadas com outros fragmentos de mesmo tipo vegetacional e diferentes tamanhos na região norte fluminense.

Resultados e DiscussãoOs resultados obtidos indicaram que 65% da comunidade ve-getal analisada (n=145 espécies arbóreas e arbustivas) é poli-nizada primariamente por abelhas. Além das abelhas, outros insetos como borboletas, compõem o grupo de maior relevân-cia; os vertebrados (aves e morcegos) polinizam cerca de 6% das espécies analisadas (Fig.1).

Dentre as abelhas amostradas (80 espécies), Centridini (cole-toras de óleos) e Euglossina (abelhas de orquídeas), Apidae, são as de maior riqueza de espécies (Fig.2, Tab.1). As primeiras (n=27 espécies) são importantes polinizadores de plantas na-tivas, como o maracujá-doce (Passiflora alata, GAGLIANONE et al. 2010) e outras Passifloraceae (BENEVIDES, 2006), o murici (Byrsonima sericea, MENEZES, 2011) e a cinco-folhas (Sparattos-perma leucanthum, MENEZES, 2007), e cultivadas, como a ace-rola (Malpighia glabra). Treze espécies de abelhas de orquídeas foram identificadas na área; este grupo é altamente sensível à fragmentação florestal e várias espécies que seriam esperadas ocorrer na área não foram encontradas, o que indica a relevância da conservação e recuperação da floresta em áreas adjacentes (AGUIAR, 2011). Abelhas Euglossina também foram identifica-das como importantes polinizadores de espécies de Lecythida-ceae (AGUIAR & GAGLIANONE, 2008b) na EEE de Guaxindiba.

Figura 1. Porcentagem de espécies vegetais (n=145) classificadas nas síndromes de

polinização por pequenos insetos (PI), abelhas (MEL), borboletas (PSI), esfingídeos

(ESF), besouros (CAN), moscas (MII), aves (ORN), morcegos (QUI) e pelo vento (ANE).

Figura 2. Exemplos de abelhas amostradas na EEE de Guaxindiba (escala = 5 mm).

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Tabela 1. Espécies de abelhas Centridini e Euglossina com ocorrência na EEE de Guaxindiba, São Francisco do Itabapoana, RJ.

Centridini (Apidae, Hymenoptera) Euglossina (Apidae, Hymenoptera)Centris (Centris) aenea Lep.

Centris (Centris) decolorata Lep.

Centris (Centris) flavifrons (Fab.)

Centris (Centris) nitens Lep.

Centris (Centris) spilopoda Moure

Centris (Centris) varia (Erichson)

Centris (Centris) sp.

Centris (Hemisiella) tarsata Sm.

Centris (Hemisiella) vittata Lep.

Centris (Heterocentris) analis (Fab.)

Centris (Heterocentris) sp.

Centris (Melacentris) obsoleta Lep.

Centris (Ptilotopus) decipiens Moure &Seabra

Centris (Trachina) longimana Fab.

Centris (Xanthemisia) bicolor Lep.

Centris (Xanthemisia) ferrugínea Lep.

Centris (Xanthemisia) lutea Friese

Epicharis (Anepicharis) dejeanii Lep.

Epicharis (Epicharana) flava Friese

Epicharis (Epicharana) pygialis (Friese)

Epicharis (Epicharis) nigrita Friese

Epicharis (Epicharitides) cockerelli Friese

Epicharis (Epicharitides) obscura Friese

Epicharis (Epicharoides) sp

Epicharis (Hoplepicharis) affinis Sm.

Epicharis (Hoplepicharis) fasciata Lep.&Serv.

Epicharis (Triepicharis) analis Lep.

Eufriesea surinamensis (Linnaeus)

Euglossa (Euglossa) cordata (Linnaeus)

Euglossa (Euglossa) despecta Moure

Euglossa (Euglossa) fimbriata Moure

Euglossa (Euglossa) leucotricha Rebêlo& Moure

Euglossa (Euglossa) pleosticta Dressler

Euglossa (Euglossa) securigera Dressler

Euglossa (Euglossa) truncata Rebêlo& Moure

Eulaema (Eulaema) atleticana Nemésio

Eulaema (Eulaema) bombiformes Packard

Eulaema (Apeulaema) cingulata (Fabricius)

Eulaema (Apeulaema) nigrita Lepeletier

Exaerete smaragdina (Guérin-Méneville)

Abelhas do gênero Xylocopa (Apidae), as mamangavas-de-toco, também têm importante papel ecológico na EEE de Guaxindiba. São abelhas de grande porte, que constroem seus ninhos es-cavando madeira seca (BERNARDINO & GAGLIANONE, 2008). Cinco espécies deste gênero são potenciais polinizadores de 22 espécies vegetais nesta área (MENEZES & GAGLIANONE, 2006), como Lecythis lurida (AGUIAR & GAGLIANONE, 2008b) e espécies de Passifloraceae (BENEVI-DES, 2006). Estas abelhas são generalistas e têm atividade por longo período no ano (BERNAR-DINO & GAGLIANONE, 2008), características que possibilitam o manejo dos seus ninhos para fins de polinização dirigida (BERNARDINO & GAGLIANONE, 2013).

A dispersão de abelhas do fragmento florestal para as áreas do entorno incrementa o serviço de polinização nas áreas de plantios. Isso foi verificado para o maracujá, cujos plantios mais próximos de fragmentos florestais na região foram visitados por maior número de abelhas (BENEVIDES et al, 2009).

Outras abelhas nativas na EEE de Guaxindiba incluem espécies das famílias Halictidae e Me-gachilidae. Desta última, seis espécies, incluindo as abelhas cortadoras de folhas do gênero Megachile, constroem seus ninhos em cavidades nesta floresta (SILVA, 2009; TEIXEIRA, 2011), utilizando substratos diversos (MARQUES, 2008; SCHWARTZ, 2009).

O estudo da estrutura genética populacional de Eulaema cingulata (Fabricius), espécie comum nos fragmentos florestais no estado do Rio de Janeiro e muito frequente na EEE de Guaxindi-ba, revelou que apesar desta espécie ser aparentemente persistente em ambientes alterados, suas populações estão sendo negativamente afetadas pelo processo de fragmentação. Este resultado é um alerta para o isolamento em que se encontra o fragmento florestal da EEE de Guaxindiba. Medidas de manejo, como o aumento da área florestal e conexão com outros frag-mentos florestais na região, são necessárias para assegurar a manutenção das populações de importantes polinizadores na EEE de Guaxindiba.

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ConclusõesAs abelhas constituem um grupo de grande relevância na polinização na EEE de Guaxindiba. A riqueza de espé-cies é considerada importante, embora espécies raras já tenham sofrido perdas nas suas populações, provavelmente decorrente do processo de perda de área florestal na região e do isolamento em que se encontra o fragmento florestal. Efei-tos negativos foram observados também em populações de uma espécie comum, o que reforça a necessidade de cuidado com este fragmento florestal. A diversidade de grupos ecoló-gicos distintos, como abelhas coletoras de óleos, abelhas de orquídeas e abelhas cortadoras de folhas, é relevante no con-texto da manutenção dos serviços de polinização na área, pois estes grupos de abelhas estão associados a grupos distintos de espécies vegetais, assegurando esta interação na floresta e nas áreas de plantio nos seus arredores.

Referências BibliográficasAGUIAR, W.M.; Gaglianone, M.C. 2008a. Comunidades de abe-lhas Euglossina (Hymenoptera: Apidae) em remanescentes de mata estacional semidecidual sobre tabuleiro no estado do Rio de Janeiro. Neotropical Entomology 37(2): 118-125.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 56

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 57

Ameaças, disponibilidade de ninhos e recursos alimentares para Amazona rhodocorytha na Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba – RJAsth¹, M. S.; Kristosch¹, G. C.; Ruiz-Miranda¹, C. R.

1 – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – Setor de Etologia, Reintrodução e Conservação de Animais Silvestres (SERCAS). [email protected]; [email protected]; [email protected]

ResumoOs psitacídeos são aves muito diversas, mas também muito ameaçadas. A ordem Psittaciformes é a que mais possui es-pécies de aves ameaçadas de extinção no mundo. E por isso é de suma importância que sejam tomadas medidas para a conservação de toda a ordem. O papagaio chauá, endêmico da Mata Atlântica, encontra-se em situação de perigo e para que essa classificação seja revertida ações imediatas, porém embasadas, devem ser realizadas. O estudo propõe a análi-se da Estação Ecológica de Guaxindiba em relação a alguns parâmetros que auxiliem em uma possível reintrodução do chauá. Para isso, foram analisadas as ameaças, o potencial de alimentação e de nidificação da unidade. As principais amea-ças são predadores (gaviões, cobras), competidores (outros psitacídeos), retirada de madeira e caça animais silvestres. O potencial de alimentação foi considerado bom, uma vez que a maioria das espécies e indivíduos (76% e 89%, respectiva-mente) possui algum potencial. A nidificação também obte-ve bons resultados, 65% das espécies e 76% dos indivíduos apresentam potencial. Para que a reintrodução seja realiza-da, o controle às principais ameaças deve ser aumentado e estudos referentes à fenologia e abundância de cada espécie devem ser feitos.

Palavras-chave: Amazona rhodocorytha, reintrodução, adequabilidade de habitat

IntroduçãoNo Brasil, os Psittaciformes, são representados por dezesse-te gêneros e setenta e duas espécies (SICK, 1997). É o país que detém o maior numero de espécies desta ordem no mun-do, seguido pela Austrália (52), Colômbia (51), Venezuela (49), Nova Guiné (46) e África (35) (SICK, 1997). O Brasil é histo-ricamente conhecido como local de riqueza abundante des-tes animais. Os primeiros mapas produzidos em 1500 para representar nossa terra intitulavam o país como “Terra dos Papagaios” (Brasilia sive terra papagallorum) (SICK, 1997).Foi estabelecido como espécie-alvo deste estudo o papagaio chauá (Amazona rhodocorytha) por se tratar de uma espécie em perigo de extinção, situar-se em um habitat degradado, como é o caso das Matas de Tabuleiro do bioma Mata Atlân-tica, e por representar um objeto de desejo do comércio ile-gal de animais silvestres. É um psitacídeo endêmico da Mata Atlântica que ocorre de Alagoas ao sul do Rio de Janeiro e les-te de Minas Gerais. Alimenta-se de frutos, sementes e brotos, a época preferencial de reprodução é a primavera (FORSHAW, 1989; COLLAR, 1997) e os ninhos são feitos em cavidades de árvores. Os dois principais riscos ao chauá são a perda e deterioração do habitat e o comércio ilegal, mas também es-tão inclusos fatores intrínsecos como predação e competição. Para auxiliar na conservação da espécie duas alternativas de-vem ser consideradas, a preservação do seu habitat e a rein-trodução em ambientes de qualidade adequada.

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Material e MétodosA avaliação das condições da Estação Eco-lógica Estadual de Guaxindiba (EEEG) para a possível reintrodução do Amazona rhodocory-tha foi feita a partir dos seguintes parâmetros: principais ameaças dentro da Estação, poten-cial de alimentação, potencial de nidificação.

As ameaças foram divididas em duas ca-tegorias e em ambas foram criadas listas com as principais ameaças ao chauá na EEEG. As categorias foram: Ameaças Na-turais e Ameaças Antrópicas.

Para determinar o potencial de alimentação foi utilizada a lista de espécies vegetais conti-da no Plano de Manejo da EEEG e a estas es-pécies foram atribuídos valores de potencial a partir dos critérios relacionados nas tabs 1 e 2.

Tipos de frutos e síndrome de dispersão considerados

para possíveis itens alimentares

Classificação do potencial de

alimentação das espécies vegetais

Fruto Valor

0

1

2

3

DI*

Dispersão Critério

Folículo

Legume

Pixídio

Aquênio

Cariopse

Cápsula

Sâmara

Esquizocarpo

Drupa

Baga

Infrutescência

Sicônio

Figo

Figo

Manga

Mamão

Angico-rajado

Feijão

Sapucaia

Girassol

Milho

Fumo

Jacarandá-cipó

Mamona

Quando a espécie não tem potencial

de alimentação

Quando a espécie tem potencial de

alimentação para animais, tipo de

dispersão abiótica, mas não tem registro de

alimentação para o gênero Amazona

da Mata Atlântica

Quando a espécie tem potencial de

alimentação para animais, tipo de dispersão

biótica e tem registro de alimentação para o

gênero Amazona da Mata Atlântica

Quando a espécie tem potencial de

alimentação para animais, tipo de dispersão

biótica, tem registro de alimentação para o

gênero Amazona da Mata Atlântica e o nº de

indivíduos é ≥ 10

A insuficiência dos dados está ligada a

ausência do tipo fruto e/ou síndrome

de dispersão

* Dados Insuficientes

** Quando a espécie recebe o valor zero ela não tem potencial de

alimentação por não apresentar o tipo de fruto relacionado na Tabela 1

*** Ter potencial de alimentação para animais significa que a

espécie vegetal atende ao critério da Tabela 1

Tipo TipoSubdivisão Exemplo

Seco

Biótica Zoocórica

Anemocórica e AutocóricaAbióticaCarnoso

Pseudofruto

Tabela 1: Relação dos tipos de frutos e dispersão considerados como possíveis itens alimentares da dieta de Amazona

rhodocorytha. Tipo, subdivisão e exemplos de frutos extraídos de: Organografia: Quadros Sinóticos Ilustrados de Fa-

nerógamos. 4ª Edição. (2005).

Tabela 2: Classificação do Potencial de Alimentação das

espécies vegetais da EEEG.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 59

O potencial de nidificação das espécies vegetais da EEEG foi analisado a partir de valores atribuídos às espécies de acordo com a altura e diâmetro à altura do peito (DAP) das árvores, como segue na tab. abaixo.

Resultados e DiscussõesAs principais ameaças naturais ao Amazona rhodocorytha são os gaviões, falcões, corujas, pequenos mamíferos e as cobras. Estes animais oferecem risco ao chauá por se tratarem predadores naturais dos psitacídeos e/ou por predarem ovos e ninhegos de aves em geral. Os competidores mais importantes do chauá são os outros psitacídeos da Estação, são eles: Ama-zona aestiva, Aratinga leucophthalmus, Pionus menstruus, Pio-nus maximiliani, Amazona rhodocorytha e competem principal-mente por alimento e locais de nidificação. Entre competidores e predadores somam-se 26 espécies. As ameaças antrópicas mais significativas na EEEG são a retirada de madeira que é histórica em toda a área da Unidade de Conservação (UC) e a caça ilegal de animais silvestres. As principais árvores retira-das da Estação são de alto valor comercial, grande porte e que, por consequência, apresentam potencial de nidificação para diversas aves, incluindo os psitacídeos. A caça mais relatada é de capivaras e lagartos, no entanto, não é descartada a retirada de aves para o comércio ilegal, uma vez que existem indícios desta prática dentro da UC (apreensão de gaiolas). Os trabalhos de fiscalização e combate os desmatadores e caçadores estão surtindo efeito e o número de ocorrências tem diminuído. As listas com as principais ameaças naturais e as principais ocor-rências de danos antrópicos são disponibilizadas em anexo.

As famílias com melhor desempenho para potencial de ali-mentação foram Anacardiaceae, Fabaceae e Myrtaceae. As

Classificação do potencial de

nidificação das espécies vegetais

Valor

0

1

2

3

DI*

Critério

Quando a espécie não tem potencial para nidificação**

Quando a espécie tem potencial para nidificação, mas está

fora da faixa ideal de DAP

Quando a espécie tem potencial de nidificação e o DAP e

altura mínima estão está dentro da faixa ideal***

Quando a espécie tem potencial de nidificação, o DAP e altura

mínima estão está dentro da faixa ideal e o nº de indivíduos é ≥ 10

A insuficiência dos dados está ligada a falta de informação

quanto a altura e/ou DAP

* Dados Insuficientes

** Estão fora do potencial de nidificação aquelas espécies cujo DAP é inferior a 25cm

e/ou a altura inferior a 12m.

*** A faixa de DAP ideal compreende de 40-80 cm

Tabela 3 - Classificação do potencial de nidificação das espécies vegetais da EEEG.

duas espécies com os valores de potencial ótimo (Syzygium jambos e Spondias mombim) pertencem a duas destas famílias. Estas duas espécies foram as únicas a receber o valor máximo de potencial, e apesar não possuírem o mínimo de indivíduos para entrar nesta categoria receberam esta classificação por terem sido registradas na dieta do chauá. Com relação ao nú-mero de indivíduos com potencial de alimentação, 89% deles (795) possuem algum potencial e 11% (99) não contém dados suficientes para análise. Do total dos que possuem algum po-tencial, a maioria (72%) apresenta potencial razoável (poten-cial = um), 17% possuem bom potencial de alimentação (po-tencial = 2), 11% não reúnem dados suficientes para análise, os níveis de potencial mínimo (zero) e máximo (três) não contém dados sobre número de indivíduos (a insuficiência de dados está relacionada ao tipo de fruto, síndrome de dispersão). No que se refere às espécies, os resultados são semelhantes aos de número de indivíduos. A maioria das espécies (76%) tem potencial para servir de recurso alimentar ao chauá e 29% não têm dados suficientes. O número de espécies com potencial razoável e com bom potencial é muito semelhante (39% e 35%, respectivamente). Ou seja, o numero de espécies com maiores valores de potencial de alimentação é alto (40 espécies), no entanto, este valor elevado não é traduzido em número de in-divíduos, que é dominado pelos que possuem potencial razoá-vel. Este fato pode ser explicado pelo número de indivíduos da espécie Metrodorea nigra (316), que possui potencial razoável e sozinha representa 35% de todos os indivíduos do estudo.

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Para o potencial de nidificação, as famílias com melhor desem-penho são Bignoniaceae, Bombacaceae, Caricaceae, Fabaceae e Sterculiaceae, com destaque para Fabaceae que foi superior nos dois quesitos (número de espécies e indivíduos) em com-paração com as outras de melhor classificação. A família Ruta-ceae é a única que possui mais indivíduos, do que a Fabaceae, com algum potencial de nidificação. Explicado mais uma vez pela presença na espécie Metrodorea nigra. No entanto, a fa-mília Fabaceae volta a ter o melhor desempenho quando são considerados somente os indivíduos com os melhores poten-cias. As espécies com os melhores potenciais de nidificação são: Pterigota brasiliensis, Pseudopiptadenia contorta, Parateco-ma peroba, Pachystroma longifolium, Acacia polyphylla, Parapip-tadenia pterosperma, Jacaratia heptaphylla, Myrocarpus frondo-sus, Amburana cearensis, Melanoxylon brauna, Pseudobombax grandiflorum e juntas representam 30% do total de indivíduos. A porcentagem de espécies e número de indivíduos com algum potencial de nidificação é de 65% e 76%, respectivamente. O maior número de espécies ficou concentrado no nível de clas-sificação com bom potencial, contudo, a quantidade de espé-cies com sem potencial ou em insuficiência de dados também é considerável, juntas somam 45% de todas as espécies. Mais uma vez o maior número de espécies no nível de potencial igual a dois (bom potencial) não é traduzido para o número de indivíduos, que são maioria no potencial um (potencial razoá-vel). O número de indivíduos com o melhor potencial de nidifi-cação merece destaque, são 265 representando 30% do total.

ConclusõesAs ameaças antrópicas e naturais interferem no processo de sobrevivência e sucesso reprodutivo do chauá, por isso me-didas mais rigorosas de controle a caça, retirada de madeira e invasão de espécies exóticas devem ser tomadas pelos ór-gãos responsáveis.

A área da Unidade preserva bom número de espécies e indiví-duos com potencial de alimentação e nidificação.

Estudos de abundância, fenologia, capacidade suporte da área, hábitos específicos de itens alimentares e preferências por cavidades devem ser feitos a fim de aumentar a certeza sobre a adequabilidade da EEEG para uma possível reintrodu-ção da espécie.

Referências BibliográficasCOLLAR, N. 1997. Family Psitacidae. 4:280-477. In Del Hoyo, J., A. Elliott, & J. Sargatal. Handboock of the birds of the world. Sandgrouse to cuckoos. Lynx Edicions.

FORSHAW, J. M. 1989. Parrots of the world. (3ed). Landsdowne Editions, Melbourne, Australia.

SICK, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 862p.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 61

Abrace essas dez! Defenda todas as Espécies em Extinção Alba Simon1 & Ana Karina Gomes1

1 – Secretaria de Estado do Ambiente – SEA [email protected]

A Campanha Defenda as Espécies Ameaçadas – Abrace essas Dez, lançada em setembro de 2011, pela Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) através da Superintendência de Biodiver-sidade e Florestas (SBF), tem como objetivo sensibilizar e mo-bilizar a sociedade a participar dos esforços pela conservação de espécies ameaçadas da fauna fluminense bem como con-tribuir com politicas públicas que visem a mudança de status de conservação das dez mais.

As dez espécies da campanha são nativas da Mata Atlântica e se encontram em um grau elevado de risco de extinção. São elas: preguiça-de-coleira; formigueiro-do-litoral; lagarto-bran-co-da-areia; muriqui; jacutinga; cágado-do-paraíba; boto-cin-za; tatu-canastra; mico-leão-dourado; surubim-do-paraíba. A campanha está vinculada a um programa de conservação das espécies ameaçadas de extinção da Superintendência de Biodiversidade e Florestas da SEA que tem como foco apoiar o Plano Nacional de Ação das espécies (PAN), sobretudo no que tange as obrigações do governo do estado. Nesse senti-do, o programa apoia as seguintes iniciativas: Projeto de con-servação do Boto Cinza na Baia de Sepetiba do Laboratório de Mamíferos Marinhos da UERJ; Projeto Muriqui da ONG Eco atlântica em parceria com o Instituto Estadual do Ambiente (INEA); Prefeituras na criação de Unidades de Conservação (UC) municipais estratégicas para conservação do habitat des-sas espécies.

Além de apoiar diversos projetos e iniciativas, a SBF desenvol-veu atividades de educação ambiental, com foco nas espécies em extinção, em escolas das redes municipal e estadual da região Serrana e da Baixada Fluminense através do Programa Elos de Cidadania; desenvolveu campanhas de mídias veicu-ladas na TV, Rádio, outdoor, e rede sociais; promoveu a expo-sição didático-lúdica Rio Mar de Golfinhos, no espaço do INEA: Encontro das Aguas e futuramente, em parceira com o Insti-tuto Biomas, avançará no mapa de ocorrência das espécies, criação de novas UCs, banco de dados atualizados e outras ações estratégicas que contribuirão para a mudança do status de conservação dessas dez espécies.

Mais informações: (21) 2334-5908

Acesse: www.facebook.com/AbraceEssasDez

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Painéis

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 63

Abelhas de orquídeas (Hymenoptera, Apidae, Euglossina) da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba e fragmentos adjacentesWillian Moura de Aguiar1; Maria Cristina Gaglianone2

1 – Laboratório de Ciências Ambientais, Universidade Estadual do Norte Fluminense ([email protected]);

2 – Laboratório de Estudos Ambientais, Universidade Estadual de Feira de Santana ([email protected]);

Abelhas de orquídeas são polinizadores-chave em florestas tropicais e têm grande sensibilidade à fragmentação e per-da de habitat. No presente trabalho, as comunidades destas abelhas foram estudadas no fragmento da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba e fragmentos adjacentes para avaliar mudanças na sua estrutura em função do tamanho da área florestal. Os machos de abelhas de orquídeas foram amos-trados com eucaliptol, cinamato de metila, vanilina, acetato de benzila e salicilato de metila, em armadilhas na Mata do Carvão e outros seis fragmentos adjacentes: Frag7 (5ha), SIG (12ha), ALF(35ha), SAN (30ha), SNT (55ha) e Mico (150ha). A amostragem foi conduzida trimestralmente de 8 às 15 h, de junho/2007 a julho/2009. Foram amostrados 2262 indivíduos de 12 espécies e quatro gêneros. A abundância e riqueza fo-ram significativamente correlacionadas com o tamanho dos fragmentos (r= 0,87, p=0,010; r= 0,77, p= 0,03, respectivamen-te). Eulaema nigrita, E. cingulata, Euglossa cordata e E. securige-ra foram comuns e as mais abundantes; já Euglossa despecta ocorreu exclusivamente na Mata do Carvão. Eufriesea surina-mensis e Eulaema atleticana só foram registradas na Mata do Carvão e no fragmento SIG enquanto que Euglossa fimbriata apenas na Mata do Carvão e no Fragmento SAN. As demais, apesar de presentes em três ou quatro fragmentos, apresen-taram abundância muito inferior à encontrada na Mata do Carvão. Estes dados indicam que a comunidade de Euglossina tem sua composição e riqueza de espécies afetadas pela frag-mentação florestal. Embora algumas espécies ainda resistam

às pressões antrópicas, já estão sofrendo efeitos negativos. Estes resultados indicam que, se ações visando à conexão estrutural ou funcional dos fragmentos florestais adjacentes não forem realizadas, várias espécies desse grupo podem ser extintas localmente. Estas ações possibilitariam maior cone-xão da Mata do Carvão, hoje isolada, com outros fragmentos florestais, evitando a alta susceptibilidade às pressões antró-picas em que se encontra atualmente.

Apoio: LCA/UENF; CAPES/PROCAD; RIO RURAL/SEAPPA; FAPERJ; INEA-RJ

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 64

Herbivoria foliar em comunidades arbóreas de remanescentes florestais de diferentes tamanhos na região norte do estado do Rio de Janeiro, BrasilAline A. do Nascimento1; Dora M. Villela1; Ana Paula da Silva2; Marcelo T. Nascimento1

1 – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Av. Alberto Lamego, 2000- Horto - Campos dos Goytacazes, RJ, 28013-600.

2 – Universidade do Grande Rio – UNIGRANRIO - Av. Nossa Senhora da Glória, 845 - Praia Campista – Macaé, RJ, 27920-390.

[email protected]

O trabalho buscou avaliar a herbivoria foliar por insetos mas-tigadores em espécies arbóreas de Floresta Atlântica Estacio-nal Semidecidual em diferentes remanescentes florestais na região norte fluminense e verificar as relações entre herbivo-ria, nutrientes foliares e o tamanho do fragmento. O estudo foi realizado em 5 fragmentos  florestais que variam de tamanho (13 a 1200 ha). As espécies selecionadas para o estudo fo-ram: Alseis pickelli, Astronium sp., Copaifera lucens, Metrodorea nigra, Paratecoma peroba, Senefeldera multiflora, Talisia corea-cea e Trigoniodendron spiritusanctense. Foram coletadas folhas maduras (n=10) nas estações chuvosa (março de 2009) e seca (setembro de 2009), sendo de três a quatro árvores por espécie e por fragmento. As folhas foram fotografadas e a herbivoria calculada através do software Image J. As determinações de C e N foram feitas em auto-analisador de CHNS/O e a dos demais nutrientes em ICP/AES. Os resultados mostraram uma varia-ção nas porcentagens média de herbivoria entre as espécies (0,04 a 23,1%). A. pickelli foi significativamente mais atacada na estação seca (p = 0,004), enquanto M. nigra foi mais ata-cada na estação chuvosa (p = 0,037). T. spiritusanctense foi a espécie que apresentou os menores valores de herbivoria. Os valores de herbivoria foram positivamente correlacionados com a concentração de Mg para Astronium sp. e negativamente correlacionados para P. peroba e T. Coreacea. A razão C/N cor-relacionou-se positivamente com a herbivoria para Astronium sp, C. lucens, e Talisia coreacea e negativamente para M. nigra. A concentração de N foi correlacionada negativamente para

C. lucens e positivamente para M. nigra, enquanto que as con-centrações de C foram positivamente correlacionadas para Astronium sp. As porcentagens média de herbivoria nos frag-mentos não diferiram significativamente entre si em ambas as estações, indicando não haver relação entre herbivoria e as estações (UENF, CNPq, FAPERJ).

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 65

Percepção ambiental dos moradores do entorno da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba Caroline C. Tudesco1, 2 Patrícia L. Moreira1, 2

1 – ITPA – Instituto Terra de Preservação Ambiental – Av. Rio Branco 251, salas 1505/1506, Centro, Rio de Janeiro - Cep: 20040-009

2 – Instituto Estadual do Ambiente / Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas / Gerência de Unidades de Conservação de Proteção Integral - Avenida Venezuela, 110, sala 315, Saúde, Rio de Janeiro, RJ, CEP 20.081-312.

[email protected]

A Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba - EEEG represen-ta o maior remanescente contínuo de Mata Estacional Semi-decidual de todo o estado do Rio de Janeiro. A denominação “Mata do Carvão” é devido à extração de madeira que ocorria na mata para a produção de carvão, e muitos moradores ain-da só a conhece por esse nome, o que reforça a importância de um plano emergencial de Uso Público (UP) para a popu-lação localizada próxima a Unidade de Conservação - UC. No presente trabalho foram aplicados questionários de percep-ção ambiental sobre a EEEG nos dias 18 e 22 de novembro de 2012 e nos dias 7 e 9 de fevereiro de 2013, nas seguintes comunidades: Fazenda São Pedro de Alcântara, Coréia, Barri-nha (Comunidade Quilombola), Carrapato (Nova Bélem), Vilão e Guaxindiba. A aplicação dos questionários teve como objeti-vo caracterizar o entendimento da população sobre a impor-tância em preservar os recursos naturais do local e reforçar a necessidade do UP e da Educação Ambiental. Foram aplica-dos questionários fechados compostos por doze perguntas, e em seguida os dados foram tratados. Dos entrevistados 56 % eram mulheres e 44% homens, a maioria possui o Ensino Fun-damental Incompleto. Ao serem perguntados sobre a “Mata do Carvão” todos responderam que conheciam a área, porém apenas 75% deles conhecem a EEEG. Ficou caracterizado que muitos dos entrevistados já utilizaram a área da EEEG para alguma atividade predatória e é fato que ainda ocorrem ati-vidades ilegais dentro da EEEG assim como em seu entorno, como caça, extração de mata nativa e queima ilegal de carvão.

Portanto, se faz necessário através de trabalhos de UP abor-dar questões ambientais do local, auxiliando no entendimento da população sobre a importância em preservar este bioma, pois ainda existe uma cultura extrativista nas comunidades, no qual torna-se necessário um trabalho extensivo de educa-ção ambiental que vise à diminuição dos crimes ambientais neste importante ecossistema regional.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 66

Coléteres estipulares em Alseis pickelii Pilger et Shmale (rubiaceae): estrutura, função e senescênciaCristiane F. Tullii1; Emílio C. Miguel2; Nathália B. Lima1; Kátia V. S. Fernandes1, Valdirene M. Gomes1; Maura da Cunha1

1 – Universidade Estadual do Norte Fluminense, CBB, Campos dos Goytacazes, Brasil.

2 – Universidade Federal do Espírito Santo, CCS, Vitória, Brasil.

[email protected]

Coléteres são estruturas secretoras presentes em aproxima-damente 60 famílias de Angiospermae, com presença mar-cante na superfície adaxial das estípulas de Rubiaceae. São constituídos por um eixo central parenquimático e epiderme secretora em paliçada. Estas estruturas se destacam por pro-duzirem uma secreção que protege os meristemas e órgãos em desenvolvimento contra o dessecamento. O objetivo deste trabalho foi caracterizar a ultraestrutura e a senescência dos coléteres de A. pickelii. Ápices caulinares foram coletados na Estação Ecológica de Guaxindiba (RJ) fixados e processados de acordo com as técnicas usuais para microscopia eletrôni-ca de transmissão. Outros ápices foram processados para a realização do ensaio TUNEL de acordo com indicações do fa-bricante. Coléteres também foram dissecados de ápices fres-cos e processados para a realização do ensaio de detecção de morte celular por ELISA de acordo com indicações do fabri-cante. Os coléteres em estudo puderam ser divididos em três fases: estágio inicial, intermediário e tardio, caracterizados pelas células secretoras que alteram sua ultraestrutura ao longo do desenvolvimento. Coléteres em estágio inicial pos-suem células secretoras com citoplasma denso, núcleo cons-pícuo e complexo de Golgi, retículo endoplasmático liso e ru-goso bem desenvolvidos, organelas que caracterizam grande atividade metabólica. No estágio intermediário nota-se retí-culo endoplasmático liso e rugoso e complexo de Golgi hiper-tróficos. Porém neste estágio algumas organelas, inclusive o núcleo, se apresentam desorganizadas. No estágio tardio, o

citoplasma se encontra retraído e as organelas degradadas, caracterizando a senescência da estrutura. A fragmentação de DNA, um sintoma característico de células em processo de morte celular programada, pôde ser observada pelos ensaios TUNEL e ELISA em coléteres dos três estágios, mostrando que os coléteres de Alseis pickelii estão sofrendo o processo de morte celular programada enquanto ainda estão em ativi-dade. (CNPq, FAPERJ, CAPES).

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 67

Ecologia reprodutiva e conservação da tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) no norte fluminenseDaphne W. Goldberg1,2 ; Flávio Brito3; Frederico Tognin4 ; Nilamon Oliveira Junior5; Gustave Gilles Lopez4; Rodrigo R. B. A. Silva3; Daniella T. Almeida3

1 – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Departamento de Bioquímica, Av. 28 de setembro 87 Fds 4o. andar – Vila Isabel, Rio de Janeiro, RJ, 20551-030 [email protected]

2 – Fundação Pró-Tamar, Rua Professor Ademir Francisco s/n – Barra da Lagoa, Florianópolis, SC, 88061-160.

3 – Fundação Pró-Tamar, Caixa Postal 114.262, Campos dos Goytacazes, RJ, 28010-972 [email protected]

4 – Fundação Pró-Tamar, Caixa Postal 2219 Rio Vermelho, Salvador, 41950-970 [email protected]

5 – TAMAR-ICMBio, Av. Paulino Muller 1111, Jucutuquara, Vitória, ES, 29040-715 [email protected]

Na região norte fluminense, os primeiros trabalhos com tar-tarugas marinhas foram iniciados em 1992, com a criação da Base Bacia de Campos do Projeto TAMAR-ICMBio. Entre 1992 e 2001, as atividades concentraram-se apenas no período de desova. Atualmente são realizadas durante todo ano. São mo-nitorados 105 km de praia entre os municípios de Campos dos Goytacazes, São João da Barra e São Francisco de Itabapoa-na. O litoral norte do Rio de Janeiro é considerado uma área de extrema importância biológica por ser a área mais meri-dional da costa brasileira a apresentar um número significa-tivo de desovas de tartaruga marinha. A determinação sexual destes quelônios depende da temperatura na qual os ovos são incubados – temperaturas mais altas produzem fêmeas e mais baixas, machos. Estudos indicam que áreas de desova localizadas na região nordeste produzem uma grande quan-tidade de fêmeas, ao passo que, praias localizadas na região sudeste, mais especificamente no Estado do Espírito Santo, produzem maior quantidade de machos, pois estão sujeitas a temperaturas mais baixas. Apesar destes estudos não terem sido realizados no Rio de Janeiro, é provável que os ninhos de-positados na região gerem uma maior quantidade de machos. A cada temporada reprodutiva (setembro a março) são prote-gidas cerca de 1.000 desovas e liberados ao mar uma média de 76.000 filhotes. Desde a implantação da Base, até a tempo-rada de 2010-2011 foram registrados 11.086 ninhos no litoral norte do Rio de Janeiro. Entre os 8.216 ninhos com espécie identificada, 8.205 (99,8%) eram de Caretta caretta (Cabeçu-

da), três eram de Lepidochelys olivacea (oliva), três de Eretmo-chelys imbricata (pente), três de Dermochelys coriacea (couro) e dois de Chelonia mydas (verde). Aproximadamente 833.000 filhotes foram liberados entre as temporadas de 1992-1993 e 2010-2011, sendo a maior parte da espécie cabeçuda. Entre as temporadas 2004-2005 e 2008-2009, 217 fêmeas de tar-taruga cabeçuda em atividade reprodutiva foram marcadas. O objetivo da marcação foi identificar os animais e estudar seus hábitos comportamentais, padrões de deslocamento, além das taxas de crescimento e de sobrevivência. O comprimento curvilíneo de carapaça (CCC) médio observado foi de 100,5 cm ± 5,7 (86,5-114,5 cm) e a largura curvilínea de carapaça (LCC) média foi de 91,8 cm ± 4,7 (80,5-105,0 cm). Ao longo dos 20 anos de atuação do TAMAR nesta região, tem se registrado um aumento gradual do número de ninhos e, consequentemente, de filhotes liberados ao mar.

Palavras-chave: Reprodução, tartaruga marinha, Rio de Janeiro.

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Biologia floral de Sparattosperma leucanthum (bignoniaceae) e interação com visitantes em floresta estacional semidecidual sobre tabuleiro no norte fluminenseGiselle Braga Menezes1; Maria Cristina Gaglianone1

1 – Universidade Estadual do Norte Fluminense/Laboratório de Ciências Ambientais [email protected]

Sparattosperma leucanthum é uma espécie arbórea, pioneira, típica da mata atlântica, que apresenta rápido crescimento e produção de muitas sementes, podendo ser empregada em plantios mistos para restauração da vegetação em áreas de-gradadas. Suas flores são hermafroditas e o sistema de poli-nização observado é a melitofilia. Neste estudo, investigou-se a biologia floral e as abelhas visitantes de S. leucanthum na mata do Funil, São Francisco de Itabapoana,RJ.O florescimen-to foi acompanhado mensalmente em 27 indivíduos entre abril/2006 e maio/2007 e analisado pelo índice de Fournier. A biologia floral foi investigada ensacando flores em pré-antese para verificação do horário de abertura e quantificação do vo-lume e concentração de açúcares no néctar. Os visitantes flo-rais foram capturados em cinco dias de coleta no pico da flo-ração, entre 5 e 17h. Foram observadas as visitas realizadas às flores, registrando-se o comportamento do visitante. S. leu-canthum apresentou pico de floração entre dezembro/2006 e janeiro/2007. A antese floral ocorreu entre 6 e 9h, coincidente com o volume máximo de néctar nas flores observado ao lon-go do dia (6,4μl ± 1,3μl). Houve diferença significativa entre os volumes aferidos ao longo do dia (p < 0,05), porém a concen-tração de açúcares não foi significativamente diferente. Den-tre os visitantes, registraram-se 22 espécies de abelhas per-tencentes às famílias Andrenidae, Apidae e Halictidae, assim como borboletas das famílias Hesperidae e Pieridae e aves da família Trochilidae. A atividade de forrageio iniciou por volta das 5h em visitas a flores em pré-antese. Oxaea flavescense e

Xylocopa frontalis foram as abelhas mais freqüentes nas flo-res e o comportamento observado foi de furto de néctar pela parte externa da flor, não atuando como polinizadores. Dentre os polinizadores, espécies de Centris, Epicharis, Euglossa, Eu-friesea e Eulaema foram as mais frequentes. Estas abelhas possuem tamanho corporal adequado à polinização, conta-tando anteras e estigmas durante o forrageio contribuindo, dessa forma, para a polinização cruzada de S. leucanthum.

Apoio: LCA/UENF; PROBIO/MMA; CNPq; RIO RURAL/SEAPPA.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 69

Isolamento e atividade antifúngica de peptídeos antimicrobianos de macrófitas aquáticas da região norte do Rio de Janeiro estadoAfonso, I. P.1, Mello, E. O.1, Carvalho, A. O.1, Suzuki, M.2, Gomes, V. M.1

1 – lfbm

2 – lca /cbb /uenf, Campos dos Goytacazes, RJ, Brazil

IntroduçãoPeptídeos antimicrobianos são importantes componentes da imunidade inata dos organismos vivos constituindo um antigo mecanismo de defesa imune encontrado em uma grande va-riedade de organismos eucarióticos. O objetivo deste projeto é isolar e caracterizar peptídeos antimicrobianos de macrófitas aquáticas e estudar os seus efeitos em células de fungos, ava-liando o seu potencial uso como novas drogas para o controle de infecções causadas por esses microrganismos.

Material e MétodosA extração de peptídeos da macrófita Egeria densa foi feita segundo Ergorov et al., 2005. Posteriormente os peptídeos fo-ram purificados por cromatografia de troca iônica em coluna DEAE-Sepharose, de acordo com Games et al., 2008. Em se-guida foi feito um ensaio de inibição do crescimento utilizando as leveduras Sacharomyces cerevisiae, Candida albicans e C. tropicalis e o fungo filamentoso Fusarium oxysporum segundo método descrito por Broekaert et al., 1990 e um ensaio de per-meabilização de membrana, segundo Thevissen et al., 1999.Resultados: Vimos que na presença de 100 μg.ml-1 do D1, a levedura S. cerevisiae teve seu crescimento completamente inibido, visto que nenhuma célula pode ser observada, en-quanto que, utilizando a mesma concentração do pico D2, ob-servamos uma inibição considerável no crescimento destas células. Já com as células da levedura C. albicans, na presença de 100 μg.ml-1 do D1, observamos que houve uma acentuada

inibição do seu crescimento, uma vez que pouquíssimas cé-lulas foram visualizadas na placa no final do ensaio e pouca inibição em relação a D2. Realizamos também ensaio com a levedura C. tropicalis e vimos que houve pouca inibição para D1 e para D2, porém para D2 uma inibição mais significativa que D1. Em relação ao fungo filamentoso F. oxysporum, não foi observada nenhuma alteração morfológica quando tratado com D2, enquanto que na presença de D1 foram observadas algumas alterações, apresentando um crescimento diferen-ciado das células em relação ao controle.

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Biologia da nidificação de abelhas e vespas em ninhos-armadilha em fragmentos de mata estacional semidecidual de tabuleiro, São Francisco do Itabapoana, RJMarcelita F. Marques1; Leandro da C. Silva1; Maria Cristina Gaglianone1

1 – Universidade Estadual do Norte Fluminense / Centro de Biociências e Biotecnologia / Laboratório de Ciências Ambientais - Avenida Alberto Lamego, 2000, sala 207, Parque Califórnia, Campos dos Goytacazes, RJ, CEP 28.013-612 [email protected]

Abelhas e vespas atuam em importantes processos ecoló-gicos como polinização, predação e parasitismo, e algumas espécies constroem ninhos em cavidades preexistentes; esse tipo de comportamento possibilita seu estudo através da utili-zação de ninhos-armadilha. Os objetivos desse estudo foram descrever a estrutura da guilda de abelhas e vespas que nidi-ficam em ninhos-armadilha e comparar a composição, rique-za, abundância e diversidade de espécies em dois fragmentos de mata de tabuleiro, com diferentes tamanhos (Estação Eco-lógica Estadual de Guaxindiba – Mata do Carvão com 1053 ha e Mata do Funil com 135 ha), em São Francisco do Itabapoana, RJ. Entre janeiro/2005 e janeiro/2007, foram amostrados 407 ninhos, de onde emergiram 647 indivíduos. A maior atividade de nidificação ocorreu principalmente na estação chuvosa. As espécies amostradas nas duas áreas pertencem às famílias Apidae, Megachilidae, Crabronidae, Pompilidae e Vespidae. Vespas e abelhas ocuparam ninhos-armadilha de 6,8 e 27,0 cm de comprimento e 0,5 a 3,0 cm de diâmetro. Os materiais utilizados para a construção dos ninhos foram resina, óleo, areia, argila, fragmentos de folhas e de madeira. A Mata do Funil foi o fragmento que apresentou maior abundância e ri-queza de espécies. Entretanto, muitas delas são associadas a ambientes abertos ou em regeneração. Já a Mata do Carvão, foi a única área em que foi amostrada espécie da tribo Eu-glossina e espécies desse grupo tem sido apontadas como potenciais bioindicadores da qualidade do habitat.

Apoio: LCA/UENF; PROBIO/MMA; INEA.

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Conhecimento etnobiológico sobre abelhas e incentivo à conservação ambiental no entorno da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, RJMarcelita F. Marques1; Vívian F. Manhães1; Maria Cristina Gaglianone1

1 – Universidade Estadual do Norte Fluminense / Centro de Biociências e Biotecnologia / Laboratório de Ciências Ambientais - Avenida Alberto Lamego, 2000, sala 207, Parque Califórnia, Campos dos Goytacazes, RJ, CEP 28013-612. [email protected]

Com a intensa fragmentação de habitats e remoção da ve-getação, os polinizadores tem sofrido diminuição em suas populações e extinção local. Estima-se que em ecossistemas tropicais, as abelhas polinizam até 80% das espécies vege-tais nativas e apresentam alta relevância para as Unidades de Conservação. O objetivo deste trabalho é proporcionar informação à comunidade sobre a importância ecológica e econômica dos polinizadores, promovendo sua conservação e uso sustentável. Foram entrevistados 18 produtores rurais (30 a 68 anos) em 03/abril e 22/junho de 2012, no entorno da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba-EEEG, em São Francisco do Itabapoana. Foram citadas 10 etnoespécies de abelhas: “cachorra” (Trigona spinipes), “mitinga” (Plebeia sp), “mandaçaia” (Melipona quadrifasciata), “mosquito” (Plebeia sp), “mombuca” (Cephalotrigona capitata), “mamangava” (Xylocopa sp), “uruçu” (Melipona sp), “pé-de-pau” (Partamona sp) e Euro-pa ou Africana (Apis mellifera). As espécies de abelhas mais conhecidas pelos entrevistados foram “mamangava” (77,7%), “europa” (77,7%) e “cachorra” (72,2%). Os motivos menciona-dos que causaram a diminuição da frequencia de abelhas fo-ram desmatamento, expansão agrícola e uso de agrotóxicos. Tendo em vista o baixo conhecimento sobre a importância das abelhas, detectado neste trabalho, a carência em livros didáticos do Ensino Fundamental de conteúdos referentes às abelhas e sua ação na polinização e a necessidade de mate-rial para aulas práticas no Ensino Fundamental, foi confeccio-nado material de divulgação e uma caixa entomológica com

abelhas nativas. A aplicação deste material em atividades que visem à disseminação do conhecimento sobre a importância ecológica das abelhas pode funcionar como estratégia efetiva de conservação da biodiversidade das abelhas e dos rema-nescentes florestais, a fim de ampliar a consciência ambien-tal da comunidade sobre a conservação dos recursos naturais e a recuperação de áreas degradadas.

Apoio: LCA-UENF; RIO RURAL/SEAPPA; CNPq.

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Investimento parental de vespas nidificantes em ninhos-armadilha em remanescentes de mata estacional semidecidual de tabuleiro do norte fluminenseMarcelita F. Marques1; Maria Cristina Gaglianone1

1 – Universidade Estadual do Norte Fluminense / Centro de Biociências e Biotecnologia / Laboratório de Ciências Ambientais - Avenida Alberto Lamego, 2000, sala 207, Parque Califórnia, Campos dos Goytacazes, RJ, CEP 28.013-612. [email protected]

Muitos estudos têm relatado a possibilidade de se utilizar ves-pas que nidificam em cavidades preexistentes, como bioin-dicadores da qualidade e diversidade do ambiente, em pro-gramas de conservação ambiental. Variações na razão sexual e no tamanho corporal dos indivíduos são consideradas re-sultado de diferenças de investimento parental no aprovisio-namento e de consumo larval, o que pode refletir condições ambientais distintas entre áreas de nidificação. Duas áreas de estudo de diferentes tamanhos foram comparadas, a Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba – Mata do Carvão com 1053 ha e a Mata do Funil com 135 ha, localizadas no município de São Francisco do Itabapoana, RJ. Foram amostrados entre ja-neiro/2005 e janeiro/2007, 71 ninhos de Trypoxylon lactitarse (Sphecidae) e 67 ninhos de Pachodynerus grandis (Vespidae). A maior atividade de nidificação ocorreu principalmente na estação chuvosa. T. lactitarse e P. grandis construíram ninhos com comprimento variando de 5,9 a 22,8 e de 2,4 a 20,7 cm, respectivamente. Os emergentes de T. lactitarse apresenta-ram o tamanho médio corporal de ♂3,6 (±0,1) e ♀3,9 (±0,1) na Mata do Carvão, e ♂2,6 (±0,1) e ♀3,4 mm (±0,1) na Mata do Funil. Indivíduos de P. grandis apresentaram ♂3,6 (±0,1) e ♀4,0 (±0,1) cm de comprimento na Mata do Carvão e ♂3,5 (±0,1) e ♀3,7 mm (±0,2) na Mata do Funil. Ninhos provenientes da Mata do Carvão e da Mata do Funil apresentaram número médio de 7 e 5 células para T. lactitarse e de 6 e 5 células para P. grandis, respectivamente. Assim, a Mata do Carvão apresen-tou fêmeas e machos maiores e ninhos com maior número

de células construídas, o que pode ter sido influenciado pela melhor qualidade ou quantidade de recursos naturais nessa área, demonstrando sua importância para a conservação da biodiversidade.

Apoio: LCA-UENF; PROBIO/MMA; INEA.

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A xiloteca do norte fluminense do estado do Rio de Janeiro: uma visão integrada do trinômio Ensino-Pesquisa-ExtensãoMarcio Chaves Meira Rocha1; Tatiane Pereira de Souza; João Victor de S. Castelar; Jonas de Brito Campolina Marques; Saulo Pireda Fernandes; Guilherme Rodrigues Rabelo & Maura Da Cunha

1 – Universidade Estadual do Norte Fluminense/ Bolsista de Extensão do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual/ Aluno do Curso de Agronomia [email protected]

A madeira é uma das mais importantes fontes do extrativismo vegetal e sua forma de extração, vem recebendo atenção es-pecial de instituições de pesquisas e organizações não gover-namentais, pois, por um longo período foi considerada uma atividade que causa impacto ambiental um jeito de se preser-var foi colocar em um acervo denominada Xiloteca (Fonseca et al. 2005).

A xiloteca tem um valor científico para o estudo do lenho e de propriedades físicas e mecânicas, de durabilidade e de con-servação de madeiras de importância econômica, ecológica e também auxiliar estudos taxonômicos das áreas mais repre-sentativas para conservação. As coleções botânicas devem gerar subsídios para responder questões como quantas e quais são as espécies de plantas presentes em uma localida-de. Entretanto, além desta importância, deve ser ressaltado o interesse crescente no conhecimento da biodiversidade, que está gerando importantes dados a programas de biotecnolo-gia e desenvolvimento de fármacos relacionados às plantas. Este trabalho visa enriquecer o acervo científico da xiloteca da UENF, através de coletas de exemplares provenientes de trabalho de campo; para estudo da anatomia do lenho destas espécies selecionadas com o índice de importância para as áreas de estudos; e atualizar os professores do ensino médio e fundamental através de capacitação e formação de recursos humanos nesta área da Botânica. Neste último ano foram fei-tos 8 trabalhos de campo com um número de 55 amostras co-

letadas pela extração de material botânico por métodos não destrutivos com o trado em indivíduos adultos a 1,30m aci-ma do solo. O material foi tratado e catalogado na Xiloteca da UENF. Também estão sendo incorporadas lâminas permanen-tes de 10 amostras. Assim, esta se organizando oficinas que incentivam a preservação de espécies ameaçadas de extinção para alunos do CEDERJ e para disponibilização dos dados re-lativos à biodiversidade do norte fluminense e outras áreas do estado que permitirá que se viabilize o trinômio Ensino-Pes-quisa-Extensão, promovendo o contato da comunidade cientí-fica. Porém, o mais importante no momento é a formação de recursos humanos para o desenvolvimento deste projeto.

Palavras - chave: coleções botânicas; formação de recursos humanos; lenho.

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I Encontro Científico da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba | 74

Coleção de plantas do município de São Francisco de Itabapoana, noroeste fluminense depositada no Herbário UENFMariana Alves Faitanin1; Laísa de Oliveira Gonçalves2; Isabela Oliveira Rangel Areias3; Camila Terra Ribeiro4; Tatiane Pereira de Souza5; Marcelo Trindade Nascimento6

1 e 2 – Graduando em Ciências Biológicas – UENF / Bolsista de extensão do Herbário UENF;

3 e 4 – Universidade Salgado de Oliveira / Bolsista de Universidade Aberta – UENF;

5 – Universidade Estadual do Norte Fluminense- Bolsista de Universidade Aberta – UENF;

6 – Professor do LCA, CBB e Curador do Herbário UENF

[email protected]

O Herbário UENF é composto por coleções científicas prove-niente de várias regiões do Norte Noroeste Fluminense dentre elas o município de São Francisco de Itabapoana (SFI) que nos últimos anos tem sido alvo de estudo de diversos pesquisa-dores seja na flora ou na fauna. Em se tratando da flora, boa parte da coleta botânica realizada em fragmentos florestais da região é depositada no Herbário UENF, que por ser o único, atua como referencia da flora regional com mais de 8700 exsica-tas registras, sendo 1942 provenientes do município de SFI e 1151 da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba. Das espé-cies depositadas no Herbário UENF referentes à região, podem ser citadas pela importância econômica e/ou conservacionista: Couratari asterotricha Prance, Grazielodendron riodocensis H.C. Lima, Melanopsidium nigrum Colla, Ocotea odorífera (Vell.), Me-lanoxylon brauna Schott.  Paratecoma peroba  (Record.) Kuhlm. Terminalia acuminata  (Fr. Allem.) Trigoniodendron spiritusanc-tense E.F.Guimaraes & J.R.Miguel. Além disso, em estudos rea-lizados na E.E.E de Guaxindiba, também tem sido feito registro de espécies novas como Casearia sp. e Ephedantrus sp. e novas ocorrências para o estado do Rio de Janeiro como a do Psi-dium oligospermum DC. Consulta online das principais espécies arbóreas ocorrentes na região podem ser acessadas pelo site http://biodiversidade.uenf.br/index.php.

Apoio: FAPERJ, CAPES, ProEx-UENF, Rio Rural GEF.

Palavras-chave: Coleções botânicas, Biodiversidade, Conservação.

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Monitoramento do estabelecimento de espécies lenhosas plantadas em áreas de recuperação de mata ciliar na microbacia hidrográfica de Guaxindiba no estado do Rio de Janeiro, BrasilSouza, T.P.1; Nascimento, A. A.2; Nascimento, M.T3

1 – Herbário UENF;

2 – Consultora Rio Rural/ Doutoranda do Programa de Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro;

3 – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro – Brasil

[email protected]

Geralmente práticas rurais causam mudanças no ambiente que afetam de forma direta ou indireta os recursos hídricos. Estratégias de mitigação que revertam este quadro tem sido tema de diversas discussões e programas como o Rio Rural / GEF tem implementado ações para a recuperação dos corpos d’água, investindo na restauração da mata ciliar nas comuni-dades rurais, visando a sustentabilidade. O objetivo deste es-tudo foi avaliar o estabelecimento das mudas plantadas após 36 meses de plantio em quatro áreas de reabilitação em ter-ras privadas no Brejo da Cobiça micro-bacia hidrográfica. As áreas selecionadas tinham 30 m x 100 m e c. 674 mudas fo-ram plantadas em espaçamento de 3,0 m x 1,5 m, com altura das mudas variando de 30 a 100 cm. Espécies secundárias tardias foram plantadas seis meses após o plantio das pio-neiras. Após 36 meses do primeiro plantio, as mudas tiveram sua altura total e diâmetro basal medido. O número de mudas vivas por plantio variou de 41 a 424, indicando uma elevada mortalidade (36-95%). A Altura média das mudas nos plantios variou de 0,47 ±0,14 a 3,4 ± 1,6m. Foram registradas de 6 a 49 espécies, dentre estas destacam-se o uso de espécies exóti-cas, tais como, Gliricidia sepium e Tamarindus indica e algumas reconhecidas na literatura como invasoras (e.g Acacia man-gium, Azadirachta indica). Desta forma, consideramos espécies exóticas/invasoras não devem ser utilizadas nestas áreas e recomendamos a retirada das mesmas. Os altos valores de mortalidade encontradas em alguns plantios parecem estar relacionados à falta de isolamento permanente das áreas

para impedir pastejo por bovinos e pelo manejo inapropriado da limpeza da área. Os resultados reforçam a necessidade de assistência técnica e incentivos de apoio para o produtor rural que promove o uso de práticas de gestão ambiental.

Apoio: Rio Rural GEF; Emater

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As verdades e os mitos sobre a praia da curva do pecado em porto de manguinhosTúlio Mello Teixeira1

1 – Universidade Americana [email protected]

O tema central desta pesquisa é a importância histórica do patrimônio cultural e natural da praia Curva do Pecado, loca-lizada em Guaxindiba, para compreendermos o processo de formação da Região Norte Fluminense. Nossa colonização foi marcada pelo trabalho escravo originário do tráfico de pessoas do continente africano para o Brasil e como muitos não agüen-tavam a viagem, nos portos de abastecimento, os corpos eram jogados nas proximidades formando cemitérios escravos. Sa-bemos que havia um ponto de desembarque não reconhecido na comunidade de Manguinhos fato comprovado por fotos de ossadas humanas enterradas sob pedras neste local, os relatos mitológicos contados nos quilombolas próximos e os vestígios das instalações do período passado que se mantém intactos. Na atualidade os problemas provocados pela falta de fiscalização e preservação ambiental do lugar põem os recur-sos sociais e naturais da praia da Curva do Pecado em risco pelo processo de invasão do espaço público devido a lotea-mentos clandestinos em área de tombamento do IPHAN.

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Anatomia ecológica do lenho de Alseis Pickelii Pilger et Shmale em um remanescente de tabuleiro da mata atlânticaSilva1, G.C.; Rabelo2,3, G.R.; da Cunha2,4, M.

1 – Universidade Estadual de Santa Cruz, [email protected]

2 –Universidade Estadual do Norte Fluminense,

3 – [email protected]

4 – [email protected]

ResumoO estudo objetivou-se em analisar a anatomia do lenho de A. pickelii em dois setores da Mata do Carvão e de forma com-parativa avaliar características de estratégia de sobrevivência e adaptação em diferentes condições climáticas. Foi possível observar que o lenho dessa espécie varia em algumas carac-terísticas quantitativas de acordo com o ambiente, mostrando importância ecológica de seu estudo.

Palavras chave: Anatomia do lenho, aclimatação, Mata do Carvão.

IntroduçãoO lenho das árvores propicia maiores vantagens competitivas e a capacidade de adaptação em ambientes seletivos. (DICKI-SON, 2000). A anatomia do lenho possibilita verificar variações nos elementos celulares, e é de grande importância para a identificação de espécies; conhecimento dos tipos celulares, além de distinguir estratégias de sobrevivência. Desenvolver o conhecimento a respeito das espécies existentes é funda-mental para auxiliar na conservação do ambiente, em espe-cial os que sofrem degradação (MARQUES, 2010) como a Mata Atlântica. Bioma rico em biodiversidade, entre os 5 “hotspot” do mundo e atualmente com 5% da área original (MURRAY--SMITH et al., 2009). O corte ilegal de madeira gera clareiras nas florestas, induzindo a formação de vegetação secundária (RONDON NETO et al., 2000) e promovendo mudanças qualitati-vas na luminosidade, umidade e temperatura (ALMEIDA, 1989).

Dentre as formações vegetais da Mata Atlântica, encontram-se as Florestas Estacionais Semideciduais (RIZZINI, 1979), que se enquadra a Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba (EEEG), último e maior remanescente de planície localizado nos tabu-leiros costeiros do Nordeste Fluminense, (21º24’ S e 41º04’ W) com área de 3.260ha (INEA, 2011), incluindo a Mata do Carvão. A floresta tem diminuído ao longo dos anos devido ao desma-tamento para produção de carvão vegetal, agropecuária e cor-te de madeiras de valor comercial. Devido essas perturbações SOUZA (2005) distinguiu 2 setores, o setor preservado (SP) que não sofre corte seletivo desde a década de 1960 e o setor ex-plorado (SE) que sofreu corte seletivo até recentemente.

O presente estudo tem como objetivo caracterizar a anatomia do lenho de Alseis pickelii Pilger et Shmale (Rubiaceae) nos 2 setores da Mata do Carvão, contribuir para o conhecimento anatômico da espécie e relacionar seus caracteres às estra-tégias de aclimatação e sobrevivência

Materiais e Métodos O material foi coletado nos 2 setores da Mata do Carvão, seu solo possui textura arenosa, baixa capacidade de retenção de água e pobre em nutrientes (RADAMBRASIL, 1983). O clima é sazonal com um inverno seco e chuvas concentradas no ve-rão (SILVA et al., 2001), Os setores apresentam distintas ca-racterísticas devido a degradação gerada pelo corte seletivo de madeira no SE (Tab.1).

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Parâmetros

Temperatura (ºC)* (-) 3.3a

(+)13.5a

95a

15±19a

(-)1.0b

(+)12.0b

70b

340 ± 570b

Umidade (%)*

Cobertura do dossel (%)

Radiância (μmol fótons m-2 s-1)

SP SE

Tabela 1. Observações das características de cada setor de coleta na EEEG.

Letras diferentes marcam diferença significativa (teste-t p < 0.05).* Compa-

ração com ambiente aberto. (-) Valores menores que o ambiente aberto; (+)

Valores maiores que o ambiente aberto. (Fonte: RABELO et al., 2012).

O lenho dos indivíduos foi coletado por método não destrutivo a 1,30m do solo em árvores com diâmetro à altura do peito en-tre 15-30cm. O material foi processado a partir da confecção de corpos de prova que foram seccionados no plano trans-versal e longitudinal (radial e tangencial) e macerados para confecção de lâminas permanentes e semi-permanente. As descrições, contagens e mensurações celulares obedeceram às normas da IAWA (1989), e foram efetuados após captura de imagens com câmera acoplada ao microscópio óptico. Testes histoquímicos foram feitos em cortes seccionados sem trata-mento prévio para avaliar presença de amido, lignina, com-postos fenólicos, lipídeos e cristais. Dezesseis parâmetros quantitativos foram utilizados para análise comparativa dos indivíduos, e os índices de vulnerabilidade e mesomorfia para avaliar a eficiência e suscetibilidade a problemas de condução

hídrica. Os resultados estatísticos foram obtidos após teste de Shapiro-Wilk seguido por estatística descritiva e Teste-t para as diferenças significativas entre os setores.

Resultados e Discussões Os caracteres qualitativos do lenho de A. pickelii não varia-ram entre os setores, são semelhantes aos encontrados para a família Rubiaceae (Fig. 1). Os anéis de crescimento devido à sazonalidade da EEEG expressam tendências ecológicas (CARLQUIST, 2001). Assim como, o depósito de amido no raio e nas fibrotraqueídes que funciona como reserva e estratégia para a sobrevivência em ambiente sazonal. Fibras septadas também estão associadas ao transporte e armazenamento de substâncias quando o parênquima axial é raro (ESAU, 2000), como na espécie. Quantitativamente os caracteres variaram sob as diferentes condições microclimáticas entre os setores, Tab. 2. Fatores ambientais influenciam a estrutura do lenho e com isso o desempenho de suas funções (BASS, 1973). Os indivíduos de A. pickelii no SE possuem fibrotraqueídes mais espessas, o que pode ser associado à ambientes com tem-peratura elevada (DICKISON 2000). Alterações quantitativas referentes aos elementos de vasos e fibras são fortemente relacionadas às condições ambientais, proporcionando segu-rança e eficiência no transporte de água e solutos (CARLQUIST, 2001). No SE A. pickelii apresentou elementos de vasos mais estreitos e em maior frequência, segundo DICKISON (2000) essas características evoluíram em condições de seca e baixa

umidade na atmosfera e no solo. CARLQUIST (1977) defende que quanto menor é a área do elemento de vaso maior será a frequência para impedir efeitos de estresse hídrico. Pois a capilaridade melhora a resistência hidráulica e a frequên-cia compensa a eficiência no transporte hídrico (METCALFE, 1983). Elementos de vasos largos são mais eficientes na con-dução de água que os estreitos, porém proporciona menor segurança hidráulica (BOSIO et al.,2010) o que foi observado para os indivíduos do SP. Valores elevados de vulnerabilidade indicam maior propensão à cavitação e interrupção do fluxo de água, já o contrário indica capacidade de resistir ao estres-se hídrico (CARLQUIST, 1977). Valores menores foram encon-trados no SE, porém não foram estatisticamente diferentes do SP. Mas por estarem menor que 1 os indivíduos possuem elementos de vasos considerados seguros para o transporte de água. A espécie foi considerada mesomorfa, todavia, os in-divíduos do SP apresentaram índice mais mesomorfos que do SE. A espécie está bem ajustada ao ambiente estacional, mos-trando sua aclimatação em cada setor. Os resultados obtidos evidenciam que as condições ambientais influenciam a estru-tura anatômica do lenho de A. pickelii, sugerindo um melhor ajuste dos indivíduos às condições mais secas e a outros fa-tores ambientais de acordo com as mudanças em cada setor.

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Fig.1. Microscopia óptica do lenho de A. pickelii. A. Anéis de crescimento distintos; porosidade difusa; elementos de vaso solitários (seta) ou agrupados (seta

larga). B. Raio uni e multisseriado (seta e asterisco). C. Amido em preto nas células do raio e fibrotraqueídes. D. Raio com célula perfurada (asterisco); hetero-

gêneo formado por células procumbentes (cabeça de seta), eretas (seta) e quadradas (seta larga). E. Fibrotraqueídes (seta larga) e elemento de vaso (asterisco)

com apêndices (seta). F. Fibrotraqueídes septadas (cabeça de seta); pontoações alternas, areoladas e ornamentadas (seta) com detalhe (barra 10μm). Barra:

A-B. 200μm; C, D e E.100μm; F. 20μm.

Tabela 2. Parâmetros quantitativos (Média ± desvio padrão) do lenho de A.

pickelii nos 2 setores da Mata do Carvão (SP e SE) com análise do Teste-t

(teste-t α<0.05). * valores significativamente diferentes.

Parâmetros

elementos de vasos

fibras

parênquima radial

vulnerabilidade

mesomorfia

Frequência (vasos/mm2)

Comprimento (μm)

Área do círculo (μm2)

Espessura da parede (μm)

Pontoações Intervasculares (μm)

Pontoações Raio-vasculares (μm)

Diâmetro (μm)

Lume (μm)

Comprimento (μm)

Espessura da parede (μm)

Pontoações (μm)

Raios/mm

Altura (μm)

Largura (μm) - multisseriados

93.92 ± 17.22

664.79 ± 137.75

1339.18 ± 394.56

4.28 ± 1.12

4.54 ± 0.58

3.71 ± 0.53

22.59 ± 4.5

11.49 ± 3.28

1368.03 ± 313

5.54 ± 1.26

5.78 ± 1.62

6.47 ± 1.7

433.05 ± 117.28

34.58 ± 7.4

0.401 ± 0.1

267.96 ± 87

0.336 ± 0.06

259.9 ± 89.46*

111.15 ± 18.44*

753.97 ± 184.51*

1223.15 ± 353.64*

4.02 ± 1.02

5.22 ± 0.72*

3.87 ± 0.58

25.25 ± 4.24*

13.4 ± 3.52*

1514.07 ± 253*

5.93 ± 1.28*

5.71 ± 1.5

6.9 ± 1.37

408.43 ± 116.57

32.41 ± 5.63*

SP SE

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ConclusõesA análise comparativa entre os indivíduos dos 2 setores evi-denciou modificações quantitativas na estrutura anatômica do lenho de A. pickelii devido às variações nas condições ambien-tais entre os locais, mostrando a sua capacidade de aclimata-ção. Assim, os dados obtidos podem contribui para a anatomia ecológica e conservação da espécie neste ecossistema.

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