Análise comparativa: a Pin-Up americana e a imagem ... · entre a imagem da mulher brasileira no referido magazine, ... dos cosméticos e das novas ... nova fase, despedindo-se das

X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação SEPesq – 20 a 24 de outubro de 2014

Análise comparativa: a Pin-Up americana e a imagem feminina na revista

“O Cruzeiro”

Paola Zambon Azevedo Bacharel em Design de Moda Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Carla Pantoja Giuliano PhD em Design e Communicazione Multimediale Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Vinicius Gadis Ribeiro Doutor em Ciência da Computação Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected]

Resumo: A década de 1950 foi de fundamental importância para a sociedade brasileira. Neste período havia a necessidade de modernização e de progresso, através de mudanças no âmbito social e comportamental, na qual a mulher brasileira representou muito bem essas modificações. É nesse contexto histórico que a presente pesquisa é embasada, aprofundando-se na questão da imagem da mulher no período abordado. O trabalho possui enfoque qualitativo e apresenta, através de análises comparativas de ambas as fontes, Pin-ups e a revista “O Cruzeiro”, relações entre a imagem da mulher brasileira no referido magazine, com a Pin-up americana. Para tanto, o artigo organiza-se da seguinte forma: inicia-se com uma breve descrição da forma como a mulher era retratada na revista “O Cruzeiro”, e posteriormente explica-se as seções do magazine que foram agrupadas, durante o processo de análise, para uma melhor compreensão das mesmas. Em um segundo momento, abordam-se as questões metodológicas que guiaram o projeto. Após a metodologia apresenta-se então a seleção de imagens seguidas de suas análises comparativas. E como fechamento, expõem-se as principais conclusões extraídas ao longo do desenvolvimento do trabalho.

1 Introdução

A presente pesquisa traz à tona o estudo da história, utilizada como fonte para se interpretar as mudanças sociais ocorridas, auxiliando no entendimento do que o indivíduo é atualmente. Conforme Bonadio (2005), a maior abordagem do estudo da História da Moda, no ramo da História, deve-se a pesquisas que, primeiramente, tratavam das novas perspectivas da História das Mulheres que se destacara, principalmente, a partir dos anos 1980, quando o gênero foi reconhecido como uma categoria da emergente “História Cultural”.



O artigo aqui apresentado trata da relação do feminino nos desenhos em estilo Pin-up e na revista “O Cruzeiro”, e tem como recorte temporal a década de 1950, período em que o referido magazine e as imagens de Pin-ups estavam no auge. O trabalho consistiu na utilização da pesquisa histórica, que contribuiu para um maior aprofundamento dos temas relacionados: o estereótipo da mulher nos anos 1950, as Pin-ups e a revista “O Cruzeiro”. A pesquisa aprofundou-se na questão social no período da década de 1950, na posição da mulher na sociedade, bem como na forma com que a revista “O Cruzeiro” abordava este tema, e como ela influenciava comportamentos e determinava estereótipos femininos no Brasil.

A arte Pin-up trata da imagem de uma mulher moderna, que tem atitudes sedutoras e que estimula o voyeurismo1 do observador. Partindo deste princípio, as figuras que retratam o feminino na revista “O Cruzeiro” são comparadas às Pin-ups. Em sua maior parte, a revista publicava imagens que eram associadas à mulher moderna, mas também se voltava às posturas da mulher conservadora. Esta era uma questão na qual os editores da revista preocupavam-se, a fim de passar às suas leitoras este novo ar de modernidade.

A pesquisa apresenta análises comparativas de ambas as fontes, Pin-ups e revista “O Cruzeiro”, buscando identificar relações entre a imagem da mulher brasileira no magazine, com a Pin-up americana. Para um maior aprofundamento e entendimento da mentalidade e das impressões das mulheres dos anos 1950, também foram realizadas entrevistas como fonte oral de pesquisa.

O presente artigo tem como foco apresentar os resultados obtidos ao fim da pesquisa, e possui como objetivo expor uma pequena seleção dentre as análises comparativas realizadas no decorrer do trabalho. Para tanto, inicia-se com uma breve descrição da forma como a mulher era retratada na revista “O Cruzeiro”, e posteriormente explica-se as seções do magazine que foram agrupadas, durante o processo de análise, para uma melhor compreensão das mesmas. Em um segundo momento, abordam-se as questões metodológicas que guiaram o projeto. Após a metodologia apresenta-se então a seleção de imagens seguidas de suas análises comparativas. E como fechamento, expõem-se as principais conclusões extraídas ao longo do desenvolvimento do trabalho.

2 A imagem da mulher na revista “O Cruzeiro”

Nenhuma outra revista brasileira, em todo o período estudado, aguçou tanto o imaginário dos leitores com as figuras femininas como o fez “O Cruzeiro”. Desde a sua primeira edição, em 1928, a revista caracterizou-se por capas com belas figuras de mulheres e priorizou em suas páginas a beleza e o glamour feminino em detrimento de um conteúdo mais informativo e interpretativo sobre a realidade da época. Suas figuras, por trás de todo o colorido e dos belos traços desenhados pelos melhores ilustradores do país, possuíam uma grande carga de signos e de representações, não somente do imaginário feminino do período, como também de toda uma época. (SERPA, 2003).

1 Voyeurismo é uma prática que consiste em um indivíduo obter prazer sexual através da observação de

outras pessoas. Essas pessoas podem estar envolvidas em atos sexuais, nuas, em roupa interior, ou com qualquer vestuário que seja apelativo para o indivíduo em questão: o voyeur.



Entre as diversas seções contidas na revista “O Cruzeiro”, durante a fase estudada, compreendida entre 1950 a 1959, alguns compartimentos destacam-se por apresentarem em efusão imagens femininas, representando o estereótipo da mulher a ser alcançado, um padrão estético de beleza e de comportamento para a sociedade. Essas seções foram selecionadas e categorizadas em quatro grupos, sendo eles: “As Garotas”; Capas; Propagandas; e Reportagens de Moda, Cinema e Colunas Sociais.

2.1 “As Garotas”

No dia 5 de abril de 1938, os jornais cariocas e paulistas da rede Diários Associados noticiaram uma novidade que prometia atrair mais leitores para “O Cruzeiro”: a coluna “As Garotas”. Anunciadas como “a expressão da vida moderna, irrequietas e endiabradas”, eram desenhadas por Alceu Penna, com traços que permeavam entre o sensual e o lúdico, sempre vestidas com a última moda, frequentavam praias, bailes, cinema, ou seja, o que de melhor havia na vida social do Rio de Janeiro. Permaneceram por 26 anos nas páginas de “O Cruzeiro”, desde 1938 até 1964, povoando o imaginário de moças e de rapazes, despertando a fantasia juvenil masculina e servindo como referência de moda e de beleza para as jovens. (BONADIO, 2007).

Conforme Junior (2004), Alceu Penna fazia parte de uma revolução dos costumes que ganhou força em todo o mundo ocidental após a Segunda Guerra Mundial. Sua seção se iniciava no período em que o corpo feminino foi “dividido”, na praia de Copacabana, pela introdução do maiô de duas peças. Ao mesmo tempo em que os tecidos foram diminuindo, o novo maiô surgiu e se transformou em adereço para a imaginação do artista. Alceu procurou moldar a mulher carioca e, também, a brasileira no geral, aos novos tempos, estimulando-a a dirigir, a estudar línguas, a trocar a saia pela calça comprida e a adotar o baby-doll como ferramenta de sedução feminina. A principal referência do artista vinha da Pin-up americana, uma vez que ao conceber “As Garotas”, sua referência essencial foi a arte de Charles Dana Gibson.

2.2 Capas

A partir do momento em que “O Cruzeiro” lançou sua primeira edição, lá estava estampada, em sua capa, a primeira de muitas beldades que por ali passariam em toda a história do magazine. A revista contava semanalmente, com exceção de edições especiais que tinham capas alternativas, com belas fotografias ou ilustrações de lindas mulheres no estilo Pin-up Hollywoodianas. Alceu Penna foi um dos principais ilustradores das capas de “O Cruzeiro” a partir de 1933. (JUNIOR, 2004).

De acordo com Piper (1976), a imprensa sempre encontrou uma oportunidade para colocar o retrato de uma bela jovem, a fim de revigorar o interesse dos leitores. Desta forma, dificilmente algum meio de comunicação deixaria de utilizar o sexo, em maior ou em menor intensidade na sua programação, nas capas ou na publicidade em geral, expondo belos corpos femininos que correspondiam seus atrativos com os do produto anunciado. Consoante Junior (2004), “O Cruzeiro” seguiu essa tendência, provinda, principalmente, da imprensa americana e francesa de apresentar em suas capas garotas com belas formas,



com a intenção de atrair mais leitores e, consequentemente, aumentar o número de vendas.

2.3 Propagandas

A revista “O Cruzeiro” encontrou na intensificação das propagandas publicitárias em suas páginas, uma das suas maiores fontes de renda (SERPA, 2003), e em grande parte dos seus anúncios estavam estampadas belas mulheres. Consoante Bologne (1990), a mulher servia, muito naturalmente, de isca para os espetáculos que a revelavam e depressa se compreendeu o impacto que ela poderia ter na promoção de qualquer produto.

A propaganda vista na revista “O Cruzeiro” foi modificando-se com o passar dos anos, onde, já nos anos 1940, percebia-se uma maior exposição vinda das modelos, as quais se mostravam mais a vontade e não tinham maiores constrangimentos em apresentarem-se com roupas mais ousadas. Conforme Serpa (2003), as mudanças processaram-se gradativamente e a sociedade acompanhava esse ritmo, especialmente, nos padrões de comportamento e nas tendências de moda. A imagem da mulher no magazine representava sua modernização, muito difundida nas propagandas, onde transmitiam, por exemplo, os benefícios de modernos produtos que auxiliavam as donas de casa ou, então, a facilidade dos novos produtos de higiene, dos cosméticos e das novas lingeries.

A influência dos padrões norte-americanos e do cinema Hollywoodiano eram uma constante nas propagandas da revista, observada em muitos anúncios e colunas. A mulher moderna é representada também por esse novo padrão de estética e de comportamento. A beleza é o tema mais abordado na publicidade do período em estudo, na qual a instigação ao culto da beleza faz parte de várias colunas e propagandas, além da promoção dos concursos que premiavam as mais belas garotas. (SERPA, 2003).

Entre as publicidades analisadas, a imagem feminina com características voyeurs é encontrada, com maior frequência, em propagandas voltadas para o público feminino e relacionadas, geralmente, ao embelezamento da mulher, como higiene, cosméticos e moda. De acordo com Sant’Anna (1995), os anos 1950 representaram uma época de transformações aceleradas para a história do embelezamento no Brasil, com a modernização das técnicas de produção de perfumes e de cosméticos, e a ampliação do mercado de produtos industrializados relacionados ao conforto e aos cuidados corporais.

2.4 Seções de Moda, Cinema e Colunas Sociais

“O Cruzeiro” dedicava mais de 50% de suas páginas ao público feminino, em colunas especializadas e de publicidade, ou em espaços que mostravam as mulheres da alta sociedade, em reportagens como desfiles de moda e concursos de beleza. A imagem feminina, durante o período em estudo, era construída em um universo glamoroso e espelhava-se nas atrizes de Hollywood, portanto usavam cosméticos, sonhavam em ser famosas e em ganhar concursos de beleza. Além das celebridades do cinema, a revista também expunha estrelas do rádio, do teatro e do cinema nacional. As belas mulheres preenchiam as páginas em fotografias, revelando suas intimidades e mostrando presença em eventos sociais. Essa é a representação das mulheres brasileiras entrando em uma



nova fase, despedindo-se das saias longas para adaptar-se ao maiô e banhar-se nas praias tropicais, excitando a imaginação dos leitores. (SERPA, 2003).

Quanto às seções de moda, de reportagens e de editorias sobre o assunto, todos eram utilizados por “O Cruzeiro”, como forma de representar a imagem da mulher no período. A moda tratada na revista era sempre acompanhada de termos como moderna, nova e novidade, o que demonstrava que o magazine pretendia estar de acordo com os quesitos de uma publicação moderna, e a moda seria um dos símbolos da modernidade. (LIMA, 2009).

3 Metodologia

A pesquisa aqui apresentada possuiu enfoque qualitativo, que, segundo os autores Sampieri, Collado e Lucio (2013), objetiva compreender e aprofundar os fenômenos explorados, aprofundando experiências, pontos de vista, opiniões e significados. O trabalho teve como problema a relação entre a imagem da mulher representada nas ilustrações em estilo Pin-up e a influência destas na construção do estereótipo feminino na revista “O Cruzeiro”, durante a década de 1950. A principal fonte de pesquisa foi a revista “O Cruzeiro”, que permitiu estudar o fenômeno da relação entre o magazine e as imagens de Pin-ups, assim como suas impressões para a sociedade brasileira dos anos 1950, e a sua influência sobre as mulheres do período.

Após a concepção do tema e do problema a ser estudado, buscou-se uma maior familiarização com a temática em questão. Desta forma, a pesquisa foi classificada, com base nos seus objetivos, em bibliográfica, histórica e descritiva.

A partir da pesquisa bibliográfica procurou-se conhecer e analisar as contribuições culturais do passado existentes sobre o assunto abordado, através da utilização de materiais escritos. Com a pesquisa descritiva foi possível observar, registrar, analisar e correlacionar fatos, fenômenos ou variáveis sem manipulá-las. E por fim, a pesquisa histórica enfocou na investigação e na análise de fatos ocorridos num momento passado, para a posterior interpretação dos dados estudados.

Como embasamento, construiu-se, a partir das pesquisas bibliográfica, histórica e descritiva, um referencial teórico que versou sobre todos os temas relacionados ao problema, tais como: contexto histórico, cultura e influências estrangeiras no Brasil, mudanças na sociedade brasileira e comportamento feminino durante os anos 1950, histórico e definições da arte Pin-up, e por fim, o estudo da história da Revista “O Cruzeiro”. O referencial construído serviu como base para a posterior análise das imagens selecionadas. Devido ao presente artigo ter como enfoque os resultados da pesquisa, não foram abordados os temas aprofundados no referencial teórico descrito acima.

Como métodos aplicados, a pesquisa apresentou a coleta documental e a entrevista. A pesquisa documental caracteriza-se por ser uma fonte de coleta de dados, restrita a documentos. Este trabalho se restringiu a análise de documentos chamados de documentação indireta, conforme a classificação de Medeiros (2005), por se tratar da pesquisa em livros (para a constituição do referencial teórico e para a seleção de ilustrações de Pin-ups que seriam utilizadas posteriormente nas análises comparativas), e



das revistas “O Cruzeiro” (onde foram fotografadas partes da revista como editoriais, reportagens e propagandas, que poderiam ser úteis no decorrer da pesquisa).

A pesquisa contou com um levantamento de, aproximadamente, 1200 imagens fotografadas em mais de 300 revistas “O Cruzeiro”. Todas as edições da revista da década de 1950, disponíveis no acervo consultado, foram analisadas. Os dados do referido magazine foram coletados no Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, localizado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Para a realização das entrevistas, foi estabelecido como método a entrevista semiestruturada, na qual o entrevistador segue um roteiro de perguntas, porém possui a liberdade de fazer outros questionamentos para precisar alguns conceitos ou obter mais informações. Esta técnica de entrevista foi conduzida para a modalidade não dirigida, onde o entrevistador pode incentivar o informante a relatar sobre determinado assunto, expressando suas opiniões e sentimentos, porém sem forçá-lo a responder. As entrevistas também contaram com um método denominado por Banks (2009) como foto-elicitação, pois dispuseram do uso de ilustrações e fotografias para evocar uma série de comentários por parte do entrevistado, estimulando-o a rememorar situações vividas e obter opiniões mais precisas e elucidativas. Foram entrevistadas duas senhoras que viveram sua juventude durante o período de estudo, e que eram leitoras da revista “O Cruzeiro”. As entrevistas foram gravadas, e posteriormente foi realizada a transcrição das mesmas para uma melhor análise.

Após a coleta dos dados, através dos métodos de pesquisa documental e de entrevista, foram elaboradas e classificadas de forma sistemática, as informações coletadas. Primeiramente, foi realizada a seleção, ou seja, um minucioso exame dos dados, onde se verificou todas as informações, retirando os dados confusos ou incompletos. Nesta etapa, foram avaliadas as anotações e fotografias feitas das revistas, e selecionadas as mais pertinentes ao trabalho, assim como as entrevistas, levantando-se os dados mais relevantes para a pesquisa.

O segundo passo para a elaboração dos dados consistiu na sua codificação, momento em que os dados foram reunidos por proximidade ou relação, e organizados em categorias. Desta forma, quatro categorias foram criadas para facilitar a organização dos dados e auxiliar no entendimento das análises comparativas das imagens de Pin-ups e das imagens fotografadas da revista “O Cruzeiro”: “As Garotas”; Capas; Propagandas; e Reportagens de Moda, Cinema e Colunas Sociais.

A partir da etapa de codificação dos dados, as fotografias da revista pertinentes a cada grupo foram reunidas, e posteriormente comparadas com imagens pré-selecionadas de ilustrações de Pin-ups. As imagens de ambas as fontes foram colocadas lado a lado, sendo escolhidas aquelas que possuíam maior proximidade em termos visuais.

Após esse procedimento, iniciou-se a etapa de análise dos dados. Neste momento, foram realizadas as análises comparativas entre as imagens previamente selecionadas. Conforme Gibbs (2009), a análise comparativa consiste em uma análise em que os dados de diferentes contextos em um mesmo momento são analisados com o intuito de se identificar semelhanças ou diferenças entre eles. Após a análise comparativa das imagens,



realizou-se a análise das duas entrevistas coletadas, traçando relações entre ambas, assim como com as informações dispostas no decorrer do trabalho.

O último procedimento foi o de interpretação, que consistiu na atividade intelectual, onde se procurou dar um amplo significado às respostas encontradas nas análises. Foi nesta última etapa que se expôs o verdadeiro sentido do material analisado, em relação aos objetivos e ao tema propostos. Neste momento as ideias iniciais do trabalho foram averiguadas, chegando enfim ao fechamento e conclusão da pesquisa.

4 Análise Comparativa e Resultados Obtidos

Entre todas as análises realizadas ao decorrer do trabalho, de um total de vinte e três, foram selecionadas para o presente artigo, como forma de exemplificar os resultados da pesquisa, uma análise comparativa entre duas imagens, para cada um dos quatro grupos categorizados. Após uma breve análise descritiva das imagens selecionadas, apresenta-se um quadro que possibilita uma clara visualização dos dados analisados e comparados em cada imagem.

Inicialmente analisam-se duas imagens da categoria “As Garotas”. Observa-se que a temática e o traço dos desenhos representados na coluna “As Garotas” de Alceu Penna podem ser relacionados fortemente com a arte Pin-up. A Figura 1 fazia parte de um conjunto de imagens especiais que Alceu Penna desenvolvia nos finais de ano para “O Cruzeiro”, inspiradas nos famosos calendários ou “folhinhas” distribuídos por toda América do Norte. A referida figura, por ser apresentada no mês de dezembro, teve como temática o Natal, assim como a Figura 2. A Pin-up de Gil Elvgren (Figura 2) está nua e muito insinuante, como se estivesse convidando o observador a ajudá-la a abrir a grande caixa de presente. Já a “Garota” (Figura 1), está nua da mesma forma, porém a caixa cobre seus seios e a região íntima, devido, provavelmente, ao fato de a revista “O Cruzeiro” ser de acesso de toda a família, não sendo conveniente e, nem tão pouco de boa moral, apresentar imagens nuas. Esta é a imagem mais nua de toda a série de figuras apresentadas no calendário do magazine.

Figura 1: “Calendário das Garotas” criado por Alceu Penna em 1950. Figura 2: Pin-up de Gil Elvgren.

Fonte: “O Cruzeiro”, 30 dez 1950. Fonte: MARTIGNETTE; MEISEL, 2008, p. 88



Como segunda análise, apresentam-se duas imagens referentes à categoria “Capas”. Destacam-se as temáticas com ambientação da praia nas capas da revista “O Cruzeiro”, principalmente nos meses de verão. Esta era uma oportunidade para se revelar mais o corpo das modelos e, consequentemente, despertar a atenção do leitor. As capas ilustravam, além de belos rostos e corpos, a moda do período, o que chamava a atenção não somente do público masculino, como também do feminino, que tinha a revista como um “guia” de estilo e de comportamento. Conforme Lima (2009), a revista estereotipava o ideal feminino através das jovens de Copacabana, vestidas em trajes de banho e em poses sensuais no melhor estilo Pin-up, nas areias de uma das praias mais famosas do país.

A capa de “O Cruzeiro” apresentada na Figura 3 revela esses ideais vigentes. A referida capa traz modelos muito ousadas para o período, visto que o umbigo era uma parte do corpo velada pela maioria das mulheres ainda nos anos 1950. As jovens moças são fotografadas com biquínis, desvendando o corpo com a invenção que, quatro anos antes, em 1946, havia escandalizado a sociedade. A atitude moderna representada por “O Cruzeiro” vai ao encontro da ideia de quebrar padrões e de desnudar o corpo, atraindo a atenção e os olhares dos homens, essencial à arte Pin-up. A Figura 4, escolhida como forma de comparação com a capa da revista, apresenta uma jovem sensual e desnudada, à beira da praia, em um momento de lazer, assim como as modelos de “O Cruzeiro”.

Figura 3: Capa “O Cruzeiro” de 1950. Figura 4: Pin-up de Edward Runci.

Fonte: “O Cruzeiro”, 18 nov 1950. Fonte: MARTIGNETTE; MEISEL, 1996, p. 617.

A terceira análise exemplifica a categoria das “Propagandas” contidas na revista “O Cruzeiro”. Entre as imagens analisadas, nota-se que é uma constante nas propagandas a exaltação do prazer de se embelezar, sem desconforto ou esforço, distanciando-se das antigas técnicas prosaicas. A Figura 5 expõe a propaganda da marca de Lingeries “Valisère”, mostrando exatamente este enaltecimento da mulher em deleitar-se com produtos confortáveis, como a delicada camisola representada na ilustração. A imagem possui uma grande carga voyeur, já que a jovem mulher está sendo observada em um momento de intimidade, com uma peça de baixo, sua lingerie. A propaganda possui relação



direta com as imagens de Pin-ups, como a exposta na Figura 6, em que ela está vestindo igualmente um traje íntimo, com a aparência sedosa e transparente. A linguagem corporal das imagens possui muitas semelhanças, ao estarem sentadas e com as pernas levemente dobradas e, ao mesmo tempo, passando uma sensação de leveza, de bem-estar e de conforto. O busto pronunciado, assim como as pernas, possui destaque na imagem e acentua as curvas sensuais dos corpos femininos.

Figura 5: Propaganda Lingerie “Valisère”. Figura 6: Pin-up de Bill Medcalf.

Fonte: “O Cruzeiro”, 12 abr 1958. Fonte: MARTIGNETTE; MEISEL, 1996, p. 206.

Como última imagem de análise, pertencente à categoria de “Seções de Moda, Cinema e Colunas Sociais”, observa-se uma reportagem (Figura 7) voltada para a moda, mais exatamente para as camisolas. A reportagem inicia da seguinte forma:

Embora na intimidade da alcova, na hora silenciosa do sono, as mulheres se vestem com tanta elegância como se estivessem em público. [...] Elas devem estar preparadas para a eventualidade do sonambulismo ou, o que é mais poético, povoar os nossos belos sonhos. (“O Cruzeiro”, 17 nov 1956).

A reportagem, somente pelo seu texto inicial, já revela a intenção voyeur que está subentendida na matéria. Esta ideia se confirma quando são analisadas as imagens, em que admiráveis jovens são vistas por detrás da fechadura nos seus momentos mais íntimos, resguardando-se em seus aposentos em trajes adequados para o momento do sono. Esta atitude, representada pela ilustração de fechaduras posicionadas sobre as fotografias, na Figura 7, possui uma carga extremamente voyeurística, certamente inspirada nas obras de diversos artistas de Pin-ups, como na imagem da Figura 8, que representam suas garotas de papel sendo observadas, secretamente por um buraco de fechadura, em momentos de extrema intimidade.



Figura 7: Reportagem “Belos sonhos Figura 8: Pin-up de Gil querida”, de 1956. Elvgren.

Fonte: “O Cruzeiro”, 17 nov 1956. Fonte: MARTIGNETTE; MEISEL,

2008, p. 48.

4 Considerações Finais

A mulher bonita sempre teve espaço garantido nas páginas da revista “O Cruzeiro”, através dos corpos esculpidos, das atitudes e das poses sensuais, assim como dos belos rostos que, com esses elementos citados, auxiliavam na construção do imaginário popular, criando estereótipos e moldando os desejos e os modismos da mulher brasileira.

A partir da primeira seção analisada, intitulada de “As Garotas”, pode-se confirmar a relação entre as graciosas garotas desenhadas por Alceu Penna e as famosas Pin-ups americanas. Durante a análise comparativa, foram identificados nas garotas de Alceu, traços, ideias de poses, vestimentas e temáticas muito abordadas pelos ilustradores de Pin-ups. “As Garotas” ainda possuíam “voz”, onde manifestavam através de versos nas páginas da revista, seus pensamentos modernos, representando a juventude e a quebra de antigos padrões, enaltecendo uma jovem mulher com mais atitude e liberdade.

As capas de “O Cruzeiro” foram outra fonte de pesquisa ao realizar a análise comparativa, onde se pode perceber claramente a constante ideia da revista em apresentar, na sua maioria, capas com belas jovens, com o intuito de chamar a atenção do público. As Pin-ups, que se constituíram como padrões estéticos ideais de beleza física, também eram utilizadas como fontes de inspiração para a escolha das capas de “O Cruzeiro”. As análises mostram semelhanças entre o corpo e as roupas das moças que posavam para as capas, trajando, geralmente, peças como maiôs e biquínis, fazendo alusão à erotização do corpo. “O Cruzeiro” utilizava-se de atitudes modernas em suas capas, o que fortemente relaciona-se a arte Pin-up, ao quebrar padrões e desnudar o corpo, atraindo, assim, os olhares dos homens. Desta forma, as capas do magazine ditavam modas, utilizando a imagem de belas moças, bem maquiadas e vestidas na última moda para atrair não somente o público masculino, como também o feminino.



A terceira identificação das Pin-ups com “O Cruzeiro” foi realizada através das propagandas que estampavam ilustrações de admiráveis garotas, quase sempre em anúncios voltados para produtos de higiene, de beleza e de vestimenta, direcionados para o público feminino. A linguagem corporal, identificada nas imagens analisadas, possui muitos elementos semelhantes aos encontrados na arte Pin-up. As temáticas adotadas pelos anúncios também denotam a influência dos desenhos americanos na revista, em cenas extremamente voyeurísticas.

As seções de moda, de cinema e de colunas sociais foram as últimas analisadas em comparação com as Pin-ups e foram unidas em um mesmo grupo por apresentarem, sem exceção, mulheres reais, de “carne e osso”. Constatou-se, assim como nas outras seções analisadas, suas relações com o apelo da ilustração Pin-up.

As entrevistas, que serviram como outro importante meio de levantar dados e de enriquecer a pesquisa, só vieram a confirmar – por impressões de duas mulheres que viveram sua juventude e idade adulta nos anos 1950, que vivenciaram as mudanças da sociedade e do comportamento feminino e que, junto com a revista, moldaram-se aos padrões disseminados de beleza, de moda e de comportamento – o que se havia concluído nas análises: a influência da Pin-up nas representações femininas de “O Cruzeiro”.

A presente pesquisa auxiliou em uma maior compreensão do imaginário feminino no Brasil dos anos 1950, ao desvendar em parte as mudanças vividas na sociedade do país, no âmbito feminino, ao ter as Pin-ups como uma forma de disseminar conceitos de modernidade, de emancipação, de feminilidade e de liberdade. A arte Pin-up contribuiu na construção de uma nova mentalidade da mulher, uma mulher que passou a ter uma relação mais saudável com o seu corpo e com a sua sexualidade. Essa referida mentalidade, em que “O Cruzeiro” auxiliou a difundir no Brasil, é confirmada ao observar que no final dos anos 1950 e, principalmente, na década de 1960, é marcado o início de uma revolução no comportamento feminino, revolução essa, que as Pin-ups podem ter corroborado para existir.

Referências

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