191
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL ANÁLISE COMPARATIVA DO ENTENDIMENTO DO TRANSPORTE COMO OBJETO DO PLANEJAMENTO ERNESTO PEREIRA GALINDO ORIENTADOR: JOAQUIM JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM TRANSPORTES PUBLICAÇÃO: T.DM-001A/2009 BRASÍLIA/DF: MARÇO DE 2009

ANÁLISE COMPARATIVA DO ENTENDIMENTO DO … · É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação de mestrado e para emprestar ou vender

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UNIVERSIDADE DE BRASLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

ANLISE COMPARATIVA DO ENTENDIMENTO DO

TRANSPORTE COMO OBJETO DO PLANEJAMENTO

ERNESTO PEREIRA GALINDO

ORIENTADOR: JOAQUIM JOS GUILHERME DE ARAGO

DISSERTAO DE MESTRADO EM TRANSPORTES

PUBLICAO: T.DM-001A/2009

BRASLIA/DF: MARO DE 2009

ii

UNIVERSIDADE DE BRASLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

ANLISE COMPARATIVA DO ENTENDIMENTO DO

TRANSPORTE COMO OBJETO DO PLANEJAMENTO

ERNESTO PEREIRA GALINDO

DISSERTAO SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL DA FACULDADE DE

TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE BRASLIA COMO PARTE

DOS REQUISITOS NECESSRIOS PARA A OBTENO DO GRAU

DE MESTRE EM TRANSPORTES

APROVADA POR:

___________________________________________

Prof. Joaquim Jos Guilherme de Arago, Ph.D (UnB)

(Orientador)

___________________________________________

Prof. Yaeko Yamashita, Ph.D (UnB) (Examinador interno)

___________________________________________

Prof. Enilson Medeiros dos Santos, DSc (UFRN) (Examinador Externo)

BRASLIA/DF, 06 DE MARO DE 2009

iii

FICHA CATALOGRFICA

GALINDO, ERNESTO PEREIRA ANLISE COMPARATIVA DO ENTENDIMENTO DO TRANSPORTE COMO OBJETO DO PLANEJAMENTO [DISTRITO FEDERAL] 2009. xiv, 177p., 210x297 mm (ENC/FT/UnB, Mestre, Transportes, 2009). Dissertao de Mestrado Universidade de Braslia. Faculdade de Tecnologia. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. 1.Transporte 2.Planejamento de Transporte 3.Tipos de Definio 4.Relao entre Conceitos I.ENC/FT/UnB II.Ttulo (srie) REFERNCIA BIBLIOGRFICA GALINDO, E. P. (2009). Anlise Comparativa do Entendimento do Transporte como

Objeto do Planejamento. Dissertao de Mestrado em Transportes, Publicao T.DM-

001A/2009, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Braslia, DF,

177p.

CESSO DE DIREITOS AUTOR: Ernesto Pereira Galindo

TTULO: Anlise Comparativa do Entendimento do Transporte como Objeto do

Planejamento

GRAU/ANO: Mestre/2009

concedida Universidade de Braslia permisso para reproduzir cpias desta dissertao

de mestrado e para emprestar ou vender tais cpias somente para propsitos acadmicos e

cientficos. O autor reserva outros direitos de publicao e nenhuma parte dessa dissertao

de mestrado pode ser reproduzida sem autorizao por escrito do autor.

______________________ Ernesto Pereira Galindo [email protected]

iv

AGRADECIMENTOS A Malu por me fazer feliz e ser to companheira e paciente. Ao companheiro Valdumiro

Galindo pela figura central que na minha vida. A minha me, Joanete, e tia Maria pelo

carter e incentivo que me do at hoje. A Duda e Ju pelo amor e eternos laos de irmo

caula e irm mais velha. Ao companheirinho Bruno pela alegria que nos traz.

Aos sogros Osvaldo e Maria Jos e aos cunhados Rosa e Paulo por terem se submetido a

viver longe da maravilhosa filha e irm. Aos tios Esmeraldino, Hlio, Carlos, Poli e

Geraldo pelo amor paterno e suas esposas pelo amor materno que sempre tiveram por mim.

Ao professor Joaquim por suportar um orientando espordico. professora Yaeko por no

desistir de mestrandos enrolados. Ao professor Enilson pela honra da presena na banca.

Aos Professores do PPGT/UnB pelos ensinamentos. Ao professor Pastor pela rigidez e

compreenso frente do programa. Ao amigo-irmo Jlio por absolutamente tudo.

Aos amigos queridos de longas datas imortalizados nas figuras de Bruno, Cssio, John,

Lula, Mrcio e Svio. Aos amigos da FAUFBA, que j geraram tantos frutos: Joe e Mari;

Ju e Marcelinho; Thadeu e Teca; Ana e Mrcio; Mateus e Nanda; Andy e Ludi; Ricardo e

Cssia; Bruno; Dani; Rafa; e Ed. A Mano Jos (in memorian), amigo e mentor intelectual.

A Thadeu e Teca tambm por terem possibilitado as grandes mudanas de minha vida, e ao

pequeno Felipe por ter provocado as grandes mudanas da vida deles. A Slvio, Maristela,

Anco, Egon e Gabria pela recepo em Braslia. A Leo van Holthe, Papel, Mari (prima),

seu Fernando (in memorian) e Zuzu pelo apoio no desbravamento do Oeste.

Aos ex-colegas do Projeto Indicadores (Bruna, Cristiano, Daniel, rika, Frog, Heider, Ju,

Lus Srgio, Raul e Thas) e aos outros do Ceftru (Alan, Alexs, lvaro, Andr, Arley,

Artur, Bruno, Carla, Carlos Henrique, Cleusa, Cris, Daniis, Dudu, Edilene, Ednardo,

Edson, Elis, rica, Eugnio, Felipe, Fleming, Freds, George, Giggio, Granemann,

Heitor, Higor, Iana, Joci, Jlio, Lea, Leila, LG, Lina, Lucas, Lu, Marina, Marise, Marcelo,

Marianne, Matsuo, Melissa, Miguel, Mnica, Moreno, Naide, Paty, Pedro, Rafas,

Reinaldo, Renato, Rejanes, Rezende, Rodriguinho, Rozngela, Sertanejo, Simone,

Sylvia, Tatira, Tesk, Tiago, Tinami, Vicente, Victor e Willer) por tudo que me ensinaram.

v

RESUMO

ANLISE COMPARATIVA DO ENTENDIMENTO DO TRANSPORTE COMO

OBJETO DO PLANEJAMENTO

O transporte gera condies para outras atividades ocorrerem, sendo uma demanda

derivada. Contudo, a sua compreenso restrita a potenciais efeitos externos, como o

crescimento econmico, dificulta o entendimento de suas relaes internas, necessrias ao

seu planejamento. Se por um lado se justifica os investimentos no setor para evitar outros

gastos, por outro se geram externalidades diversas (consumo energtico, poluio, atrasos,

acidentes, doenas, etc.). Entender essas relaes em conjunto com a mobilidade e a

acessibilidade crucial para se planejar. Identificou-se a necessidade de estruturar o

conhecimento de transporte para determinar as caractersticas que devem ser levadas em

conta para medir o seu estado e definir suas prioridades. Para isso props-se um estudo

com objetivo principal de desenvolver um mtodo que permitisse analisar tcnicas de

definio de transporte e selecionar (identificar) aquela que o explique da forma mais

adequada para o planejamento. Para a construo do mtodo utilizou-se da sistematizao

de tcnicas de construo de definies e relacionamento de conceitos, unidas reviso do

tema transporte e planejamento. A partir da foram determinados critrios de seleo do

modelo de entendimento de transporte que seria mais adequado s finalidades do setor e ao

seu planejamento. O modelo selecionado capaz de relacionar finalidades, componentes,

atores e o sistema de transporte numa abrangncia suficiente para ser o gnero das

diversas espcies de transporte. Com isso se permitiu avaliar falhas ontolgicas em

outras formas de entendimento. Alm disso, foram definidos alguns procedimentos para

utilizar o modelo de entendimento na anlise e avaliao de planos de transporte,

possibilitando verificar o foco que cada um deles d para os elementos que compem a

rede semntica do transporte e os objetivos de seu planejamento. Aps utilizar dois planos

(nacional e urbano) como estudo de caso, considerou-se em parte validada a utilidade do

modelo, j que foram identificados alguns pontos a aprimorar no modelo selecionado.

Como resultado paralelo percebeu-se ainda a importncia das finalidades endgenas na

delimitao da contribuio do transporte para o alcance das finalidades exgenas.

vi

ABSTRACT

A COMPARATIVE STUDY ANALYZING TRANSPORTATION AS THE OBJECT

OF PLANNING

Transportation generates conditions for the practice of other activities. However, its

comprehension is often linked to potential external effects, such as economic growth. Such

limited view hinders the understanding of its internal relationships necessary for its

planning. If on one hand the investments made on transportation are considered ways of

avoiding extra costs, several externalities are created (energetic consumption, pollution,

delays, accidents, diseases, etc.). In order to plan, it is crucial to understand these

relationships together with mobility and accessibility. Hence, it was necessary to organize

the knowledge of transportation to determine the characteristics that should be considered

in order to measure its status and priorities. To do so, a study was proposed with the main

goal of developing a method that would allow the analysis of techniques that define

transportation and consequently allow the selection (identification) of the technique that

explains the sector most congruently for planning. To construct the method, the techniques

of definition creation and concept relationships were systemized, together with the revision

of the theme transportation and planning. The next step was to establish criteria to select

the model of transportation comprehension that would be most adequate to the purposes of

the sector and its planning. The selected model is capable of relating purposes,

components, agents and the transportation system in a coverage that is sufficient to be the

gender of the several species of transportation. This allowed the assessment of

ontological imperfections in other forms of understanding. Moreover, some procedures

were defined in order to use the model of comprehension in the analysis and evaluation of

transportation plans, making it possible to verify the focus that each plan directs to the

elements that compose the semantic network of transportation and its planning objectives.

After using two plans (national and urban) as case studies, the use of the model was

considered partially valid, since the need for some improvements in the selected model

were detected. As a parallel result, it was observed the importance of endogenous purposes

in the delimitation of the contribution of transportation for the achievement of the

exogenous purposes.

vii

SUMRIO

1 INTRODUO............................................................................................................. 1

1.1 APRESENTAO................................................................................................ 1

1.2 FORMULAO DO PROBLEMA...................................................................... 1

1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 2

1.4 HIPTESE ............................................................................................................ 5

1.5 OBJETIVOS.......................................................................................................... 5

1.5.1 Geral .................................................................................................................. 5

1.5.2 Especficos......................................................................................................... 5

1.6 METODOLOGIA DE PESQUISA ....................................................................... 5

1.6.1 Descrio geral .................................................................................................. 6

1.6.2 Estrutura metodolgica para desenvolvimento da dissertao .......................... 7

1.7 ESTRUTURAO DA DISSERTAO............................................................ 9

2 FORMAS DE DEFINIO....................................................................................... 10

2.1 APRESENTAO.............................................................................................. 10

2.2 CONCEITO E DEFINIES ............................................................................. 10

2.3 UTILIDADE DA DEFINIO .......................................................................... 11

2.4 TIPOS E TCNICAS DE DEFINIO ............................................................. 11

2.5 RELAO ENTRE CONCEITOS..................................................................... 18

2.6 REDE SEMNTICA .......................................................................................... 21

2.7 TPICOS CONCLUSIVOS ............................................................................... 24

3 TRANSPORTE ........................................................................................................... 25

3.1 APRESENTAO.............................................................................................. 25

3.2 CONCEITO E DEFINIES ............................................................................. 25

3.3 SISTEMA DE TRANSPORTE........................................................................... 27

3.4 FUNES, PAPIS E FINALIDADES DO TRANSPORTE ........................... 33

3.5 TPICOS CONCLUSIVOS ............................................................................... 38

4 FINALIDADES EXGENAS DO TRANSPORTE ................................................ 40

4.1 APRESENTAO.............................................................................................. 40

4.2 FINALIDADES EXGENAS ............................................................................ 40

4.3 TRANSPORTE, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONMICO 45

4.4 EQUIDADE ........................................................................................................ 52

4.5 TPICOS CONCLUSIVOS ............................................................................... 55

viii

5 PRINCPIOS E DIRETRIZES LEGAIS DO TRANSPORTE .............................. 56

5.1 APRESENTAO.............................................................................................. 56

5.2 TRANSPORTE NA CONSTITUIO FEDERAL ........................................... 56

5.3 NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS ........................................................... 59

5.4 TPICOS CONCLUSIVOS ............................................................................... 65

6 PLANEJAMENTO..................................................................................................... 66

6.1 APRESENTAO.............................................................................................. 66

6.2 CONCEITO E DEFINIES ............................................................................. 66

6.3 PROCESSO, ETAPAS E NVEIS ...................................................................... 70

6.4 PLANEJAMENTO ESTRATGICO SITUACIONAL ..................................... 73

6.5 PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE MCIDADES (2006) .......................... 78

6.5.1 Nvel estratgico.............................................................................................. 79

6.5.2 Nvel ttico ...................................................................................................... 81

6.5.3 Nvel operacional............................................................................................. 81

6.5.4 Avaliao (nvel transversal) ........................................................................... 82

6.6 TPICOS CONCLUSIVOS ............................................................................... 82

7 PLANEJAMENTO DE TRANSPORTE.................................................................. 83

7.1 APRESENTAO.............................................................................................. 83

7.2 CONCEITO E DEFINIES ............................................................................. 83

7.3 PROCESSO E ETAPAS ..................................................................................... 86

7.4 OBJETIVOS, FUNES E IMPACTOS........................................................... 92

7.5 TELEOLOGIA DO PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES ......................... 99

7.6 ATORES ENVOLVIDOS................................................................................. 101

7.7 TPICOS CONCLUSIVOS ............................................................................. 106

8 MTODO DE SELEO E ADOO DA DEFINIO .................................. 107

8.1 APRESENTAO............................................................................................ 107

8.2 MTODO DE SELEO................................................................................. 107

8.2.1 Critrios de seleo........................................................................................ 107

8.2.2 Desenvolvimento do critrio de adequao ao uso ....................................... 111

8.3 SELEO DA FORMA DE ENTENDIMENTO ............................................ 117

8.3.1 Adequao ao uso: determinao das finalidades e objetivos....................... 117

8.3.2 Influncia nas atitudes: atores e seus interesses ............................................ 120

8.3.3 Relacionamento de conceitos: uso de estruturas semnticas......................... 121

8.3.4 Resultado da seleo...................................................................................... 125

ix

8.4 TPICOS CONCLUSIVOS ............................................................................. 127

9 ANLISE COMPARATIVA COM PLANOS DE TRANSPORTE.................... 129

9.1 APRESENTAO............................................................................................ 129

9.2 DIRETRIZES PARA USO DA FORMA DE ENTENDIMENTO................... 129

9.3 PLANOS DE TRANSPORTE NO BRASIL .................................................... 132

9.4 PNLT 2007 (2008-2023) ................................................................................... 134

9.4.1 Histrico e caracterizao geral..................................................................... 134

9.4.2 Avaliao do plano ........................................................................................ 137

9.5 PITU 2020 (1998-2020) .................................................................................... 145

9.5.1 Histrico e caracterizao geral..................................................................... 145

9.5.2 Avaliao do plano ........................................................................................ 146

9.6 TPICOS CONCLUSIVOS ............................................................................. 152

10 CONCLUSES E RECOMENDAES ......................................................... 153

10.1 APRESENTAO............................................................................................ 153

10.2 CONSIDERAES SOBRE O ALCANCE DOS OBJETIVOS ..................... 153

10.3 CONSIDERAES SOBRE O MTODO DE SELEO............................. 154

10.4 CONSIDERAES SOBRE O ENTENDIMENTO ADOTADO................... 155

10.5 CONSIDERAES SOBRE OS ESTUDOS DE CASO ................................. 156

10.6 SUGESTES PARA PESQUISAS FUTURAS ............................................... 156

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................... 158

APNDICE A DEFINIES E RELAES........................................................ 167

APNDICE B COMPONENTES DO TRANSPORTE ........................................ 168

APNDICE C PROJETOS DO PNLT ................................................................... 169

APNDICE D OBJETIVOS E INTERVENES DO PITU 2020 ..................... 175

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 - Acidentes e mortes nos servios no-urbanos regulares de passageiros (2006)3

Tabela 1.2 - Distribuio percentual dos tipos de despesa (modificado - IBGE, 2004) ....... 4

Tabela 3.1 - Componentes dos sistemas de transporte (modificado - Manheim, 1979)...... 31

Tabela 3.2 Dimenses da mobilidade sustentvel (modificado - Banister et al, 2000) ... 36

Tabela 3.3 - Efeitos e impactos do transporte (Vasconcellos, 2006) .................................. 37

Tabela 3.4 - Matriz de anlise do Captulo 3 frente ao Captulo 2...................................... 39

Tabela 4.1 - Equidade em transporte (Banister apud Strambi, 2004) ................................. 54

Tabela 5.1 - Normas que definem os componentes e finalidades do sistema de transporte 63

Tabela 5.2 - Objeto, misso, princpios e objetivos do setor (Magalhes, 2004)................ 64

Tabela 6.1 - Formas de tratamento de um problema (Matus, 2005) ................................... 77

Tabela 7.1 - Interpretao de conceitos hutchinsonianos .................................................... 93

Tabela 7.2 Recursos: consumo no sistema de transporte (modificado - Manheim, 1979)95

Tabela 7.3 - Grupos-alvo/mobilidade e eficcia (modificado - Ceftru, 2007a) ................ 103

Tabela 7.4 - Grupos-alvo/eficincia do transporte (modificado - Ceftru, 2007a) ............. 104

Tabela 7.5 - Preocupaes do transporte urbano (modificado - Brava, 2003) .................. 105

Tabela 8.1 - Avaliao da bibliografia frente aos critrios de adequao ao uso.............. 118

Tabela 9.1 - Tipos de Interveno no PNLT (Centran, 2007b)......................................... 136

Tabela 9.2 - Categoria de aes, objetivos e problemas do PNLT.................................... 139

Tabela 9.3 - Categorias de aes, objetivos e elementos diretos do PNLT....................... 140

Tabela 9.4 - Categorias de objetivos no PNLT e elementos ............................................. 140

Tabela 9.5 - Distribuio de investimento do PNLT por elemento................................... 143

Tabela 9.6 - Benefcios diretos do PNLT para usurios e prestadores.............................. 144

Tabela 9.7 - Categorias de aes, objetivos e problemas do PITU 2020 .......................... 148

Tabela 9.8 - Categoria de aes, objetivos e elementos do PITU 2020 ............................ 148

Tabela 9.9 - Categorias de objetivos no PITU 2020 e elementos...................................... 149

Tabela 9.10 - Distribuio de investimento do PNLT por elemento................................. 150

Tabela 9.11 - Benefcios diretos do PITU 2020 para usurios e prestadores.................... 151

Tabela C.1 - Carteira de Projetos do PNLT (modificado - Centran, 2007b)..................... 169

Tabela C.2 - Agrupamento de projetos (modificado - Centran, 2007b)............................ 173

Tabela D.1 - Viso, objetivos, indicadores, resultados e metas do Pitu 2020................... 175

Tabela D.2 - Resumo das proposies do Pitu 2020 (So Paulo, 2000) ........................... 177

xi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Investimento do Ministrio dos Transporte/PIB (modificado - MT, 2008) ...... 4

Figura 2.1 - Tipos e tcnicas de definio........................................................................... 17

Figura 2.2 - Relaes dahlbergianas entre conceitos........................................................... 18

Figura 2.3 - Rede definidora: rvore de Porfrio (modificado - Sowa, 1992) .................... 21

Figura 2.4 - Rede assertiva (modificado - Sowa, 1992) ...................................................... 22

Figura 2.5 - Rede implicadora (modificado - Sowa, 1992) ................................................. 22

Figura 2.6 - Rede executvel (modificado - Sowa, 1992) ................................................... 23

Figura 3.1 - Taxonomia do movimento (modificado - Magalhes et al, 2007) .................. 26

Figura 3.2 - Estrutura semntica do transporte (modificado - Magalhes et al, 2007) ....... 26

Figura 3.3 - Um sistema de transporte (modificado - Manheim, 1979) .............................. 29

Figura 3.4 - Esquema semntico: sistema de transporte (modificado - Ceftru, 2007a) ...... 31

Figura 3.5 - Componentes do transporte ............................................................................. 33

Figura 3.6 - Metas e objetivos do transporte urbano (modificado - Hutchinson, 1979) ..... 36

Figura 4.1 - Intensificao de trocas e desenvolvimento (modificado - Vuchic, 1981)...... 42

Figura 4.2 - Passos para o consumo de um produto (modificado - Bowersox et al, 1981). 42

Figura 4.3 - Relao transporte deficiente/ fome (modificado - Owen, 1975).................... 44

Figura 4.4 - Investimento e crescimento (modificado - Banister e Berechman, 2000) ....... 49

Figura 4.5 - Condies do desenvolvimento (modificado - Banister e Berechman, 2000). 51

Figura 4.6 - Transporte e desenvolvimento (modificado - Banister e Berechman, 2000) .. 52

Figura 5.1 - Finalidades dos Sistemas de Viao no PL 1.176/995 (Magalhes, 2004) .... 64

Figura 6.1 - Planejamento contnuo (modificado - Papacostas e Prevedouros, 1993) ........ 70

Figura 6.2 - Planejamento da engenharia de transporte (modificado - Morlok, 1978) ....... 71

Figura 6.3 - Jogo de presses (Matus, 1996)....................................................................... 74

Figura 6.4 - Relao do jogo social (Matus, 2005) ............................................................. 76

Figura 6.5 - Estrutura do processo de planejamento (MCidades, 2006) ............................. 79

Figura 7.1 - Planejamento de transporte (modificado - Creighton apud Morlok, 1978)..... 87

Figura 7.2 - Planejamento compreensivo (modificado - Creighton apud Vuchic, 2005) ... 88

Figura 7.3 - Compreenso estratgica do planejamento de transportes (Magalhes, 2004) 89

Figura 7.4 - Planejamento do transporte e uso do solo (modificado - Morlok, 1978) ........ 90

Figura 7.5 - Nveis do planejamento (modificado - Smith apud Hutchinson, 1979) .......... 91

Figura 7.6 - Planejamento de transporte:teleologia (Magalhes et al, 2007) .................... 100

Figura 7.7 - Esquema semntico: sistema de transporte (modificado - Ceftru, 2007a) .... 101

xii

Figura 8.1 - Etapas e critrios do mtodo de seleo do entendimento do transporte....... 108

Figura 8.2 - Classificao das finalidades do transporte ................................................... 116

Figura 8.3 - Adequao da bibliografia classificao das finalidades............................ 116

Figura 8.4 - Estrutura teleolgica do transporte (modificado - Magalhes et al, 2007).... 119

Figura 8.5 - Relao entre os elementos da estrutura semntica do transporte ................. 123

Figura 8.6 - Transporte versus servio substituto (comunicao) ..................................... 124

Figura 8.7 - Entendimento do transporte (adequao ao uso) ........................................... 126

Figura 8.8 - Entendimento do transporte (influncia de atitudes) ..................................... 127

Figura 9.1 - Definio de elementos de representao (modificado - Arruda et al, 2008)130

Figura 9.2 - Atividades para definio dos elementos (modificado - Arruda et al, 2008) 132

Figura A.1 - Adequao da bilbiografia s categorias de definio.................................. 167

Figura B.1 - Adequao da bibliografia aos componentes do transporte.......................... 168

xiii

LISTA DE SMBOLOS, NOMENCLATURAS E ABREVIAES

AEP Aumento da Eficincia Produtiva em reas Consolidadas

ANAC Agncia Nacional de Aviao Civil

ANTP Associao Nacional de Transportes Pblicos

ANTT Agncia Nacional de Transportes Terrestres

BRT Bus Rapid Transit

CEFTRU Centro de Formao de Recursos Humanos em Transportes

CENTRAN Centro de Excelncia em Engenharia de Transportes

CET Companhia de Engenharia de Trfego

CF Constituio Federal

CIDE Contribuio de Interveno no Domnio Econmico

CO Monxido de Carbono

CO2 Dixido de Carbono

CPTM Companhia Paulista de Trens Metropolitanos

DNIT Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes

DPRF Departamento da Polcia Rodoviria Federal

EBTU Empresa Brasileira de Transportes Urbanos

EMAER Estado Maior da Aeronutica

EMPLASA Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A.

EMTU Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos

EUA Estados Unidos da Amrica

GEIPOT Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes

GPDE Gnero Prximo e Diferena Especfica

HC Hidrocarbonetos

HGV Heavy Goods Vehicle

IDF Induo ao Desenvolvimento de reas de Expanso de Fronteira Agrcola e Mineral

IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

IRS Integrao Regional Sul-americana

MCIDADES Ministrio das Cidades

METR Companhia do Metropolitano de So Paulo

MP Material Particulado

MPOG Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto

MT Ministrio dos Transportes

xiv

NOx xidos de Nitrognio

O/D Origem/Destino

PAC Programa de Acelerao do Crescimento

PED Programa Estratgico de Desenvolvimento

PES Planejamento Estratgico Situacional

PIB Produto Interno Bruto

PITU Plano Integrado de Transportes Urbanos

PMSP Prefeitura Municipal de So Paulo

PMTV Plano Municipal de Trfego e Sistema Virio

PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PND-NR Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova Repblica

PNLT Plano Nacional de Logstica e Transportes

PNV Plano Nacional de Viao

PPA Plano Plurianual

PROCONVE Programa de Controle da Poluio do Ar por Veculos Automotores

PRODEST Programa de Desenvolvimento do Setor Transportes

RDR Reduo de Desigualdades Regionais em reas Deprimidas

RMSP Regio Metropolitana de So Paulo

SEHAB Secretaria da Habitao e Desenvolvimento Urbano

SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento

SNV Sistema Nacional de Viao

SOx xidos de Enxofre

SPTRANS So Paulo Transporte S/A

TCU Tribunal de Contas da Unio

TEP Tonelada Equivalente de Petrleo

TGT Teoria Geral da Terminologia

TRIP Transporte Rodovirio Interestadual de Passageiros

UNB Universidade de Braslia

UTPS Urban Transportation Planning System

VDP Vetor de Descrio do Problema

VLP Veculo Leve sobre Pneus

VOCs Compostos Orgnicos Volteis

1

1 INTRODUO 1.1 APRESENTAO Esta dissertao trata da compreenso do transporte para uso no planejamento. A depender

do entendimento utilizado, podem ser gerados efeitos indesejados, alm de no resolver os

problemas prticos do setor. Identificou-se, portanto, a necessidade de estruturar o

conhecimento de transporte para determinar as caractersticas que devem ser levadas em

conta para medir o seu estado e definir suas prioridades.

Desenvolve-se ao longo da dissertao um estudo para desenvolver um mtodo que

permita analisar tcnicas de definio de transporte e selecionar aquela que o explique da

forma mais adequada para o planejamento. Para a construo do mtodo utilizou-se da

sistematizao de tcnicas de construo de definies e relacionamento de conceitos,

unidas reviso do tema transporte e planejamento.

1.2 FORMULAO DO PROBLEMA O alcance de resultados em um planejamento depende, entre outros aspectos, de seu

mtodo e da compreenso do objeto tratado. Dessa forma, um mtodo adequado de

planejamento (e sua execuo) exige um entendimento tambm adequado do objeto. Isso

inclui (i) perceber a completude de seus elementos ou dimenses e (ii) sistematizar os

requisitos necessrios para se definir e alcanar um estado satisfatrio para o objeto.

No ter por base essa compreenso ampla e coesa nos requisitos das solues faz com que

o planejamento de transporte no contemple todos os elementos para o bom nvel do setor.

As solues incompletas podem, portanto, atender a alguns aspectos, mas podem agravar

outros no percebidos ou no abordados. A lista de aspectos tratados atualmente mais

completa que antes, mas ainda no se dedica o esforo necessrio para sua sistematizao.

Os planos, a maneira de se fazer planejamento de transporte e a forma de se entender o

objeto no revelam apenas as ideologias polticas e interesses envolvidos. Revelam

tambm as limitaes de entendimento sobre o transporte, seus elementos e suas

caractersticas enquanto sistema. Com isso confunde-se a percepo de suas reais

responsabilidades, efeitos e impactos diretos que devem lhe ser atribudos e planejados.

2

Acredita-se que as finalidades fundamentais do transporte e seu conseqente rebatimento

nos objetivos do planejamento do setor podem ser definidos de uma forma geral. Para isso,

deve-se ter uma constante preocupao ontolgica e desenvolver um sistema de conceitos

relacionados aos elementos que compem o transporte. Isso no invalida o fato de serem as

decises polticas que determinem as aes a implantar.

Essa anlise necessria para evitar propostas distorcidas e incompletas para o transporte

enquanto objeto do planejamento. Essa viso pretende minimizar, dessa forma, as

incompatibilidades de aes, a descontinuidade do planejamento e o conseqente fracasso

na efetividade das polticas. Esse contexto ressalta a importncia do entendimento do

transporte como objeto do planejamento.

O desafio posto identificar como abordar o transporte de forma a no restringir seu

planejamento meramente a suas caractersticas fsicas. Tampouco se deve extrapolar o que

suas caractersticas conseguem gerar de resultados mais diretos sociedade. Ou seja,

interessa planejar com foco no resultado, mas distinguindo os resultados que podem ser

assumidos pelo setor daqueles que so afetados por ele secundariamente.

Todas essas dificuldades refletem a necessidade de se compreender de forma mais

profunda e completa o transporte quando for tratado como objeto do planejamento. As

conseqncias de falhas nessa compreenso geram prejuzos que vo alm do setor de

transporte. Frente ao exposto, a abordagem cientfica do problema pode ser resumida a

como identificar o objeto para um planejamento de transporte.

1.3 JUSTIFICATIVA O problema da seo anterior remete necessidade do planejamento de transporte e da

compreenso do seu objeto. Os investimentos realizados, caso no sejam feitos a partir do

conhecimento do transporte para o planejamento, prejudicam o alcance dos resultados

relacionados ao transporte. O problema prtico so as conseqncias negativas da

incompletude ou falta de clareza na compreenso do transporte para planejamento.

Plane (1995) aponta que muitos planos se julgam portadores de nobres objetivos, mas a

escassez de ferramentas de aplicao gera polticas apenas mitigadoras. Um desses

objetivos pode ser a sobrevivncia, citada por Bowersox et al (1981), mas se pode gerar

3

efeito inverso (mortes por acidente e poluio). A tabela 1.1 traz acidentes em servios de

transporte, conforme clculos a partir de Anac, 2007; Emaer, 2008; ANTT 2007a e 2007b.

Tabela 1.1 - Acidentes e mortes nos servios no-urbanos regulares de passageiros (2006)

acidentes mortos mortos/ 106 pass. mortos/

109 pass.km TRIP 568 201 1,47 7,06 Transporte Areo Regular 3 173 3,63 2,98 Transporte Ferrovirio Regular Interestadual de Passageiros

1 1 0,34 1,08

Alm da relao com a sobrevivncia, Bowersox et al (1981) explicitam tambm que se

gastam tantos recursos com transporte para poupar outros e manter padres de vida. O

transporte, entretanto, pode ter efeito inverso ao de poupar outros recursos. Os custos de

congestionamentos de 10 cidades apresentados em Ipea-ANTT (1998), por exemplo, foram

atualizados por Vasconcellos (2006) para 837,9 milhes de reais/ano.

Os efeitos inversos sobrevivncia tambm geram inverso no poupar outros recursos.

Em Ipea (2006) observa-se que os 110.599 acidentes ocorridos entre julho de 2004 a junho

de 2005 nas rodovias custaram R$ (dez/2005) 6,51 bilhes, alcanando uma mdia de R$

418.341,00 por acidente com fatalidade. Para esse mesmo tipo de acidente, em

aglomeraes urbanas brasileiras em 2001, estimou-se R$ 144.478,00 (Ipea-ANTT, 2003).

A poluio evita que se poupem recursos. Vasconcellos (2006) adapta estudos para obter

custos para a sade em 2005 que alcanam R$ 19.062,00/t para material particulado (MP).

Pinheiro et al (1994) ao comparar 1997-2000 a 1991-1994 apontam uma economia de US$

(1999) 2,88 bilhes devido a eventos evitados pelo Proconve Programa de Controle da

Poluio do Ar por Veculos Automotores em So Paulo

O governo no tem gastado tantos recursos com o setor (figura 1.1), alm disso, eles

tampouco so utilizados por completo. Em Brasil (2008), verifica-se que o Ministrio dos

Transportes realizou 88,07% do total de R$ 14,37 bilhes de recursos oramentrios

previstos para 2007. E mesmo com o aumento de gastos com o PAC, da previso de R$

1,14 trilho (Brasil, 2009), so destinados menos de 12% ao eixo de logstica e nos metrs.

4

-

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

1,80

2,00

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

Figura 1.1 - Investimento do Ministrio dos Transporte/PIB (modificado - MT, 2008)

Os recursos so reduzidos pela desvinculao de receitas. A Cide (Contribuio de

Interveno no Domnio Econmico) a maior fonte do MT, mas dos R$ 5,54 bilhes

usados em 2002, s R$ 3,60 bilhes (65%) foram para infra-estrutura de transporte (Vilaa

apud Cmara dos Deputados, 2003). Lacerda (2005) aponta que R$ 5,3 bilhes dos R$

22,7 bilhes (2002-2004) foram gastos de pessoal e custeio.

Se por um lado o governo no tem gastado, nas despesas familiares pode-se dizer que de

fato se gastam tantos recursos com transporte. Em IBGE (2004) so apresentados os

resultados da POF Pesquisa de Oramentos Familiares feita entre 2002 e 2003. As

despesas familiares com transporte (urbano, aquisio de veculo, combustvel e outros)

representaram em mdia 15,19% das despesas totais (tabela 1.2).

Tabela 1.2 - Distribuio percentual dos tipos de despesa (modificado - IBGE, 2004) classes de rendimento monetrio e no-monetrio mensal familiar despesa total at R$ 400,00 mais de R$ 6.000,00

habitao 29,26 37,15 22,79 alimentao 17,10 32,68 9,04 transporte 15,19 8,15 17,26 assistncia sade 5,35 4,08 5,62 vesturio 4,68 5,29 3,21 educao 3,37 0,30 4,89 despesas diversas 2,30 1,46 2,79 recreao e cultura 1,97 0,81 2,16 higiene 1,79 2,40 1,10 servios pessoais 0,84 0,64 0,81 fumo 0,57 1,14 0,23 Total 82,42 94,10 69,90

5

1.4 HIPTESE O transporte no planejamento necessita de firme noo ontolgica para responder ao

problema da seo 1.2 e evitar as conseqncias da 1.3. A identificao do objeto para

planejamento de transporte deve ser feita com maior completude e limitao de escopo.

Para isso, deve-se utilizar tcnica de definio do transporte por meio da relao entre seus

elementos e por meio de suas finalidades, relacionando-as aos objetivos do planejamento.

1.5 OBJETIVOS 1.5.1 Geral Existem muitas formas de se entender o transporte, mesmo que no estejam em geral to

explcitas em planos de transportes ou em estudos e livros especializados no assunto. Isso

torna possvel uma anlise comparativa do entendimento do transporte como objeto do

planejamento. Unindo essa possibilidade indicao do problema (seo 1.2) e da hiptese

(seo 1.4), elaborou-se o objetivo geral da dissertao.

O objetivo geral contribuir para o entendimento do objeto de transporte com base no

desenvolvimento de mtodo que permita analisar tcnicas de definio e selecionar aquela

que o explique por meio de suas finalidades e da relao entre seus elementos. Alm de a

tcnica ter que relacionar as finalidades do transporte com os objetivos de seu

planejamento. Assim se identifica e valida a tcnica relacionada hiptese.

1.5.2 Especficos Os objetivos especficos esto intrinsecamente relacionados s conseqncias do alcance

do objetivo geral. Um deles a comprovao da relao entre falhas ontolgicas na

construo do entendimento do transporte e o seu mau funcionamento prtico. O outro

trata da anlise de planos setoriais no Brasil, identificando sua limitao de entendimento

do transporte e comparando-o com a proposta.

1.6 METODOLOGIA DE PESQUISA A seo 1.6.1 apresenta em linhas gerais os mtodos e tcnicas que embasaram a

metodologia de pesquisa. A inteno apenas localizar a linha seguida pela pesquisa na

metodologia cientfica. A estrutura metodolgica para desenvolvimento da dissertao,

com cada uma de suas etapas est descrita apenas na seo 1.6.2, onde se pode observar o

passo a passo para a elaborao da pesquisa e os temas que fizeram parte dela.

6

1.6.1 Descrio geral 1.6.1.1 Mtodo de Abordagem O Mtodo de abordagem hipottico-dedutivo. Conforme se apresenta na seo 1.4,

supe-se que a identificao do objeto deve ser feita por tcnica de definio que explique

o transporte por meio da relao entre seus elementos fundamentais e por meio de suas

finalidades, relacionando-as aos objetivos do planejamento de transporte. Parte-se dessa

hiptese geral e terica para poder explicar situaes especficas e reais sobre o tema.

1.6.1.2 Mtodo de Procedimento Basicamente foram dois os mtodos de procedimento utilizados para elaborao da

dissertao. Por se tratar de uma pesquisa de verificao relacionada auxiliarmente a

experincias existentes, os mtodos de procedimento utilizados foram os mtodos

observacional e comparativo. O primeiro observa o fenmeno acontecendo ou j ocorrido e

o segundo relaciona as semelhanas e diferenas entre fenmenos.

Consideram-se os fenmenos dos planos e programas de transportes que j ocorreram ou

que esto em vigncia. Esses fenmenos foram comparados luz da definio de

transporte selecionada como mais adequadas para perceber suas caractersticas, testar a

prpria utilidade da definio e detectar os impactos de no utiliz-la. Assim foi possvel

desenvolver as aes para se alcanar o objetivo previsto na pesquisa.

1.6.1.3 Tcnicas Quanto ao Processo de Coleta

Tanto a pesquisa bibliogrfica, quanto documental foram de utilidade para a pesquisa. A

pesquisa bibliogrfica teve lugar em bibliotecas pblicas em geral. Destaca-se, pelo acervo

especfico, a importncia das bibliotecas dos rgos de transporte (MT Ministrio dos

Transportes e Dnit Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, incluindo

material da extinta Geipot Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes).

Pela abrangncia de sua coleo, a biblioteca da UnB Universidade de Braslia tambm

foi de grande utilidade. Os livros selecionados puderam fornecer os insumos

indispensveis para a elaborao da dissertao. Alm disso, os trabalhos acadmicos

(artigos, monografias, dissertaes, teses) complementaram o material obtido nos livros, ao

sintetizar o entendimento de diversos autores sobre assuntos abordados nesta dissertao.

7

A pesquisa documental serviu tambm de apoio e complemento bibliogrfica. A inteno

desse material foi obter informaes que auxiliassem no entendimento do tema, por meio

de outros dados que se fizeram necessrios a compreenso de contextos e relaes no

esclarecidas nas pesquisas anteriores. Assim, na pesquisa documental foram coletados

documentos no publicados, dados quantitativos e documentos eletrnicos da internet.

Quanto Forma

A pesquisa ocorreu de forma indireta, atravs de pesquisa documental e bibliogrfica de

acordo com os processos explicados no item anterior. A delimitao do universo de temas

a tratar est referida no item 1.6.2.2 (Reviso bibliogrfica para fundamentao terica) e

est explicitada na bibliografia ao final deste documento. A partir dela e dos captulos da

fundamentao terica percebe-se o entrelaamento entre os temas.

1.6.2 Estrutura metodolgica para desenvolvimento da dissertao Nesta seo so apresentadas as atividades desenvolvidas para a construo da pesquisa

foco desta dissertao. Aps a leitura da descrio geral (seo 1.6.1), para o entendimento

das linhas seguidas dentro da metodologia cientfica, descrito de forma mais prtica o

passo a passo utilizado no desenvolvimento da pesquisa. Cada item a seguir dividido em

sub-atividades que formam a construo de cada etapa do estudo.

1.6.2.1 Estruturao inicial bsica Nesta etapa foram configuradas as principais questes relativas ao desenvolvimento da

dissertao, sendo includas as atividades:

Estruturao do contexto e justificativa;

Estruturao do problema;

Estruturao da hiptese;

Estruturao dos objetivos;

Estruturao inicial da metodologia de pesquisa;

Elaborao do cronograma inicial; e

Estruturao inicial da dissertao.

8

1.6.2.2 Reviso bibliogrfica para fundamentao terica Os temas e assuntos tratados foram revisados na conformao do referencial terico para

fundamentar o desenvolvimento da pesquisa. Para isso, foram desenvolvidas as etapas de:

Reviso e anlise das formas de definio e representao do conhecimento;

Reviso e anlise do transporte (definies, componentes, quadros conceituais e

finalidades);

Reviso e anlise do planejamento (definies, mtodos, etapas, finalidades); e

Reviso e anlise do planejamento de transporte (definies, mtodos, etapas,

finalidades).

1.6.2.3 Estabelecimento do mtodo de anlise e seleo de tcnicas de definio do transporte para uso no planejamento

Neste tpico foi elaborado o mtodo de anlise de tcnicas de definio do transporte e

feita a seleo daquela que se considerou a mais coerente. Essa etapa contou com:

Elaborao do mtodo de anlise/seleo de tcnicas de definio de transporte;

Seleo da tcnica de definio; e

Estruturao da definio selecionada para anlise de planos e programas.

1.6.2.4 Anlise de planos e programas de transporte luz da definio selecionada Para avaliar os planos e programas, e validar a abrangncia da definio selecionada,

foram tratados dois planos e programas distintos (um urbano e um no-urbano):

Reviso e anlise do PNLT Plano Nacional de Logstica e Transportes; e

Reviso e anlise do PITU Plano Integrado de Transporte Urbano.

1.6.2.5 Avaliao dos resultados da dissertao Por fim, a ltima etapa da pesquisa envolve a avaliao dos resultados por meio do seu

alcance, crticas ao mtodo adotado e perspectivas futuras, sendo etapas:

Avaliao do alcance dos objetivos (anlise da hiptese);

Avaliao das limitaes do mtodo de seleo da melhor tcnica de definio;

Avaliao das limitaes da tcnica de definio selecionada; e

Identificao de pesquisas futuras.

9

1.7 ESTRUTURAO DA DISSERTAO Para abordar o tema e desenvolver a anlise do entendimento do transporte no

planejamento, optou-se por distribuir a dissertao em mais nove captulos. No prximo

acrescentou-se um tpico sobre formas de definio. Nele, apresentam-se algumas

maneiras de se definir um objeto para dar apoio s anlises dos captulos seguintes (onde

se apresentam diversas definies e entendimentos sobre os temas tratados na dissertao).

As definies, finalidades e componentes do transporte so apresentados no captulo trs.

Nele analisada a coerncia e adequao da contribuio dos diversos autores para a

posterior construo de um entendimento do transporte para planejamento. Os captulos

quatro e cinco complementam esse entendimento ao apresentar outros tipos de finalidades

(captulo quatro) e princpios legais do setor (captulo cinco).

No captulo seis feita uma reviso do conceito de planejamento para fundamentar

teoricamente a importncia do objeto para o planejamento. Nesse captulo tambm se

apresentam alguns mtodos e processos que serviro para a identificao daquele mais

coerente para uso em transporte. Na seqncia, o captulo sete apresenta as formas com

que o planejamento de transporte teorizado e como o objeto visto em cada uma delas.

No captulo oito, elabora-se o mtodo de anlise e seleo de tcnicas de definio do

transporte para uso no planejamento. Nele se constroem alguns procedimentos para serem

utilizados no captulo seguinte. A ttulo de verificao, foram selecionadas duas

experincias recentes de planos e programas de transporte no Brasil para serem

comparados frente definio de transporte selecionada no captulo nove.

H ainda um captulo de concluses que aponta algumas consideraes finais e sugestes

de prosseguimento da pesquisa. Ao final se apresentam as referncias bibliogrficas

utilizadas no estudo e alguns apndices. Com isso pretende-se alcanar os objetivos

definidos e contribuir para a ateno que deve ser dada compreenso do transporte no

planejamento do setor em qualquer escala em que ele for tratado.

10

2 FORMAS DE DEFINIO 2.1 APRESENTAO Neste captulo abre-se a discusso sobre o conceito de definio. Sua utilidade e suas

formas de serem feitas foram analisadas com base na reviso bibliogrfica realizada. A

representao e compreenso de um objeto o foco deste captulo.

A inteno apresentar as diversas formas de definio para, no captulo seguinte, ao tratar

de transporte, verificar qual deve se usar. Pretende-se tambm, no captulo de

planejamento de transporte, verificar formas de tratar o tema. Alm disso, o captulo serve

para embasar o desenvolvimento do mtodo presente no captulo 8.

A seguir apresenta-se uma seo com definies para o termo definio, seguida de outra

sobre suas utilidades. Uma seo sobre tipos e tcnicas de definio antecede a discusso

das relaes entre conceitos. Aborda-se ainda uma forma de representao dessas relaes

(rede semntica). Por fim, sintetiza-se a discusso na seo Tpicos Conclusivos.

2.2 CONCEITO E DEFINIES Para Sager apud Lara (2004), a definio uma explicao aceita do significado

especializado de itens lexicais cuja ocorrncia pode ser documentada em vrias fontes.

Ele critica a teoria terminolgica clssica, que reconhece apenas um tipo de definio, e

defende a idia da definio como um processo que se vale de diversos mtodos, existindo

assim muitas formas de definio, alm de definies que mesclam vrios.

De acordo com Lara (2004), a preciso da definio pode ser rigorosa ou flexvel. Para

Dahlberg apud Lara (2004) elaborar uma definio definir uma equao de sentido, ou

restringir para fixar limites de um conceito. Para Sager apud Almeida et al (2007) os vrios

tipos de definio devem ser usado de acordo com a natureza e a finalidade que se deseje.

Para Dubuc apud Almeida et al (2007) um dos fatores a ser considerado na elaborao da

definio a eleio do modelo que se vai adotar. Antes de escolher o tipo de definio,

deve-se analisar os traos conceituais constitutivos do termo a ser definido e adequar o

vocabulrio s necessidades do pblico-alvo.

11

Existem, portanto, diversas formas de se definir um objeto. Uma maneira de definio

pode ser adequada para um fim e inadequada para outra. Da mesma forma, pode ser

desejvel para um tipo de objeto e de pouca utilidade para outro. Dessa forma, a adequao

do tipo de definio relativa, no havendo uma que seja em princpio melhor que a outra.

A definio de bola, por exemplo, pode ser feita por meio de suas caractersticas de

forma (esfrica), mas uma bola de basquete talvez necessite de uma relao com a sua

funo para ser mais bem explicada, apreendida e diferenciada de outras bolas. Deve-se,

ento, verificar as formas de definio e de se entender um conceito.

2.3 UTILIDADE DA DEFINIO Uma definio pode ter diversas utilidades a depender da necessidade. Copi (1981)

apresenta cinco propsitos bsicos para a definio: aumentar o vocabulrio; eliminar a

ambigidade; aclarar o significado; explicar teoricamente; e influenciar atitudes.

Ao ensinar o significado de um termo pouco conhecido, atinge-se o propsito de aumentar

o vocabulrio. A eliminao da ambigidade possibilitada com o esclarecimento de qual

de dois significados distintos est se empregando um termo. O aclaramento do significado

deixar claro o significado de um termo j conhecido. Por sua vez, explicar teoricamente

a caracterizao teoricamente adequada ou cientificamente til do termo. Enfim, a

influncia de atitudes possvel com a valorao do significado da palavra (Copi, 1981).

2.4 TIPOS E TCNICAS DE DEFINIO Copi (1981), com base nas cinco utilidades que ele mesmo determina para a definio,

apresenta uma classificao de cinco tipos de definio:

Definio estipulativa: algumas vezes denominadas de nominais ou verbais, se

referem a um novo termo ou novo uso de um termo para o qual o criador determina

seu significado com liberdade e no passvel de verificao de veracidade;

Definio lexicogrfica: elimina a ambigidade e amplia o vocabulrio para um

termo que no novo, no d palavra a definir um significado que faltava, mas

informa um que j possui e passvel de verificao de verdade;

Definio aclaradora: devido falta de clareza deve-se avanar de modo fiel

palavra a definir at onde seja possvel;

12

Definio terica: caracterizao teoricamente adequada, substituindo definies

anteriores com o aumento da compreenso terica; e

Definio persuasiva: prope-se a influenciar atitudes e possui funo expressiva,

qualquer um dos tipos anteriores a depender do uso pode ser tambm persuasivo.

Copi (1981) considera que as definies lexicogrfica e a estipulativa no so capazes de

reduzir o carter vago de um termo, ou seja, no permitem o adequado discernimento

quanto aplicao ou no do termo. Na definio aclaradora, diferente da estipulativa, o

termo no novo, tem uso j estabelecido, embora seja vago. No possvel, portanto,

estabelecer por meio dessa tcnica qualquer significado com total liberdade. A inteno

avanar alm do uso estabelecido para tentar reduzir a vagueza do termo.

A definio persuasiva, por sua vez, devido sua transversalidade, aproxima-se mais de

uma possvel caracterstica de uma definio do que de uma tcnica de definio

propriamente dita. Portanto, adota-se nessa dissertao esse entendimento da definio

persuasiva como uma caracterstica que qualquer tipo de definio pode ter.

Alm desses tipos ou tcnicas de definio, Copi (1981) cita mais dois:

Demonstrativa ou ostensiva: apontar, em vez de nomear ou descrever os objetos.

Tem a desvantagem de nem sempre se ter por perto objetos de exemplo, alm de

poder gerar confuso por se entender que se aponta para a cor ou parte do objeto; e

Operacional: estabelece que o termo aplicvel a determinado caso se somente a

realizao de operaes especficas e apropriadas a ele produzir um resultado

especfico (Copi, 1981). Tambm denominada de gentica ou funcional.

Abordando a definio lexicogrfica (citada na primeira das listagens acima) de uma forma

mais complexa, Lara (2004) distingue-a da terminolgica, ao admitir uma diferena entre

palavra e termo. Boutin-Quesnel et al apud Almeida et al (2007), em seu Vocabulrio

Sistemtico da Terminologia, afirmam que a definio entendida como um enunciado

que descreve uma noo e permite diferenci-la das outras noes em um sistema nocional.

Em ISO apud Almeida et al (2007) a definio terminolgica declarao que descreve

um conceito e suas designaes e permite diferenci-los de outros conceitos. Ela define o

conceito como uma unidade composta de caractersticas que tornam o conceito nico.

13

Lara (2004) afirma tambm que a definio terminolgica (ou terminogrfica) melhor

para documentao, ao delimitar o universo tratado, alm das terminologias serem

sistemas definicionais que retratam a organizao estruturada e delimitada de domnios

especficos. Segundo a autora, diferente da lexicogrfica, que se presta mais a dicionrios

de especialidade, a terminolgica mais utilizada nos dicionrios de lngua geral.

Mantendo sempre a lgica da contraposio entre uma definio e outra, Lara (2004)

considera a definio terminolgica como classificadora, hierarquizante e estruturante e, a

lexicogrfica feita por meio da identificao de traos semnticos, caractersticas do

significado. O significado lingstico; o conceito terminolgico.

Lara (2004) afirma que a definio terminolgica tem relao com a aristotlica. Desmet

apud Lara (2004) cita esta definio: a definio uma proposio que exprime o que a

palavra significa (...) A palavra signo da proposio (...) A definio e a significao de

uma palavra no podem ser dadas por outra palavra, mas somente pela proposio.

Assim, diferentemente da definio da palavra, que explica o que ela na lngua (Lara,

2004), a definio da coisa , para Aristteles, uma relao entre uma idia (o

definiendum) e outras idias (o definiens), alm disso, essa definio (terminolgica)

inclui as definies genrica, partitiva e funcional. (Desmet apud Lara, 2004).

Para Lara (2004), as definies real (tambm chamada de conceitual por Campos) e

nominal de Dahlberg so semelhantes respectivamente terminolgica e lexicogrfica de

Desmet. Conclui Lara (2004) que a lexicografia a partir do signo determina o conceito e a

terminografia a partir do conceito pesquisa os termos correspondentes.

Dubuc apud Almeida et al (2007) apresenta os tipos de definies terminolgicas:

por gnero prximo e diferena especfica (GPDE): situa-se o conceito no grupo de

objetos de caractersticas comuns a ele e depois se explicita sua diferena;

por apresentao de caractersticas circunstanciais: caractersticas de um conceito e

suas particularidades (natureza, forma, matria, objeto, causa, efeito, tempo, lugar);

por descrio com apoio dos componentes: situa-se o conceito em seu gnero

prximo e se enumera suas partes;

14

por sinnimo ou parfrase sinonmica: especifica-se por meio de sinnimo(s); e

por descrio de uma ao: descrevem-se as etapas de seu desenvolvimento.

Almeida et al (2007) citando Lerat apud Desmet (1990) aponta como procedimentos

metodolgicos para a elaborao da definio terminolgica: a procura do gnero comum

(ou, definio genrica); a situao de uma noo relativamente s outras (relao

todo/parte ou partitiva); a descrio de propriedades ou funes (ou definio funcional).

Sobre o tipo de definio gnero e diferena, citado por Dubuc apud Almeida et al (2007),

Copi (1981) aprofunda a explicao e apresenta cinco regras para realizar a definio. Ela:

deve indicar os atributos essenciais da espcie;

no deve ser circular;

no deve ser excessivamente ampla nem excessivamente estreita;

no deve ser expressa em linguagem ambgua, obscura ou figurada; e

no deve ser negativa quando pode ser afirmativa.

Outra polmica, alm da discusso entre definio terminolgica e lexicogrfica, envolve

as definies cientficas. Santos (2003) discute o uso da linguagem vulgar do senso comum

(literria e humanstica) e suas metforas, analogias e outras formas imagticas para

retratar questes cientficas. Ao versar sobre o uso da linguagem pela cincia, o autor

apresenta o argumento de Bourdieu, para quem a mera substituio da linguagem vulgar

pela tcnica no resolve o problema, pois a preocupao da definio rigorosa pode no ser

vlida se o princpio unificador dos objetos submetidos definio no sofrer crticas.

Para Santos (2003), a teoria argumentativa da cincia no deve se limitar pelas concepes

positivistas e demonstra com exemplos desde Aristteles que a cincia se valeu de

analogias e metforas, que muitas vezes j esto consolidadas a exemplo do uso do termo

de hidrulica corrente para se referir a fluxos eltricos.

Scheffler (1974) utiliza a dicotomia de definies cientficas e gerais, sendo as gerais:

Estipulantes (estipulam a equivalncia de um termo em relao a outro ou outros)

Descritivas (esclarecem o significado do termo, estabelecem uma regra para a sua

utilizao e explicam sua utilizao em usos anteriores); e

15

Programticas (possuem finalidade, programa e excluem ou incluem itens).

J Dahlberg (1978), em sua discusso sobre sistemas de classificao, define conceito

cientfico como uma unidade de conhecimento que sintetiza as caractersticas de um

determinado item de referncia por meio de um termo ou um nome, sendo de dois tipos:

Geral (que sintetiza apenas caractersticas necessrias ou essenciais); e

Individual (que sintetiza as necessrias ou essenciais e tambm as acidentais).

Esse entendimento de Dahlberg (1978) tem mais utilidade na conceituao de objetos

materiais. As caractersticas necessrias ou essenciais podem ser constitutivas (e.g.

composio e estrutura qumica), ou consecutivas (e.g. propriedades fsico-qumicas).

Enquanto que as acidentais podem ser acidentais-gerais (e.g. forma e cor), ou acidentais-

individuais (e.g. espao: local de origem; e tempo: idade/momento de encontro).

Sobre os termos cientficos, Hermans apud Lara (2004) identifica os subtipos tcnico e

terico. Diferente dos termos tcnicos, que servem para definir objetos que j existem

antes de suas definies (observaes, medidas, experincias, instrumentos), os tericos

possuem sua significao dependente de seu funcionamento no contexto, ou seja, de sua

relao com outros termos do enunciado, que so usados para delimit-lo. No possvel,

portanto, elaborar uma rvore nocional de seus conceitos que estruture previamente um

domnio (Hermans apud Lara, 2004).

De acordo com Lara (2004), em contraponto aos conceitos tcnicos, os tericos so

indeterminados e, conforme afirma Hermans apud Lara (2004), a preciso obtida

sacrificando-se sua significao, alm disso, vrias significaes de um termo coexistem

dentro de uma mesma disciplina cientfica.

A pretenso de preciso ao se definir um termo era uma exigncia da Teoria Geral da

Terminologia (TGT) de Wter, teoria que deu origem terminologia clssica e s normas

terminolgicas e que era mais voltada engenharia. Datada da dcada de 1930, a teoria

seguia a corrente neopositivista da filosofia analtica, que considerava a linguagem

comum impura e imprpria cincia (Lara, 2004).

16

Para Lara (2004), a abordagem da terminologia tem utilidade para sistemas conceituais

estveis e coerentes, com objetos determinados, ou seja, serve para termos tcnicos. Para

os termos tericos, cabe a abordagem lexicogrfica, em que sua significao depende de

seu funcionamento nos textos. As definies tericas so baseadas em teorias, mas como

observa Copi apud Lara (2004), as teorias so passveis de discusso e refutao, gerando

mudanas de acordo com a evoluo do conhecimento e da compreenso terica.

Alm das dicotomias definicionais terminolgica/taxicogrfica e tcnica/terica, h outra

essencial na teoria definicional. Dahlberg (1978) refere-se a esses dois termos importantes

na discusso de definio: a extenso e a intenso de um conceito. A intenso de um

conceito (encontrado tambm como definio por compreenso, lgico-categorial ou

gnero prximo e diferena especfica GPDE, de acordo com Almeida et al, 2007) seria

o conjunto de suas caractersticas (conceitos mais amplos e caractersticas especficas).

Para a definio intensional bastaria se referir ao conceito imediatamente mais amplo e

uma ou algumas caractersticas especficas em nmero definido.

A extenso de um conceito, por sua vez, a soma de conceitos para os quais o conceito

referido mais amplo. Dahlberg (1978) apresenta trs tipos de extenso de um conceito:

de acordo com a relao de gnero-espcie (e.g. escola, apartamento, etc.; ou casa

de pedra, casa de madeira, etc.);

de acordo com as caractersticas do conceito, sem criar hierarquia (e.g. casa-barco,

house-boat; mosca domstica, house-fly; governanta, house-keeper); e

de acordo com possveis conceitos individuais, ou tudo que se puder chamar de

casa (e.g. a casa em que Gandhi vivia em Bombaim).

Copi (1981) considera como tcnicas de definio o que se observa em Dahlberg (1978),

por exemplo, como a discusso entre intenso e extenso, ou como tipos de definio para

outros autores. Para Copi (1981) a intenso determina a extenso, mas esta no determina

aquela. Baseado nas espcies de significado (utilizando significado intensivo como

sinnimo de conotativo; e extensivo como denotativo), so duas as tcnicas de definio:

Definies denotativas (enumerativa ou exemplificativa, por meio de exemplos); e

Definies conotativas (por meio do conjunto de suas caractersticas).

17

Copi (1981) cita duas limitaes da tcnica conotativa:

s aplicvel a palavras que conotam propriedades complexas; e

inaplicveis para palavras que conotam propriedades universais (e.g. ser), devido

classe de todas as entidades no ser uma espcie de algum gnero mais amplo.

Ainda existem falsas definies que so consideradas como pseudo-definies, ou defeitos

de definio, a exemplo do que Dubuc apud Almeida et al (2007) lista como:

definio tautolgica (dizer a mesma coisa de forma diferente);

definio circular (fazer referncia a um conceito j usado na definio); e

definio negativa (indicar apenas o que o conceito no ).

Frente s muitas maneiras de se definir um objeto, foram estruturadas na figura 2.1

categorias na tentativa de incluir todos os tipos e tcnicas de definio revisados. A

correlao entre todos os tipos citados na reviso est na figura A.1 do apndice A.

tipo de definio

terminolgica

intensiva

genrica

partitiva

circunstancial

por etapa

geral

individual

extensiva

lexicogrfica

descritiva

aclaradora

estipulativa

por gnero e espcie

por caractersticas conceituais

por conceitos individuais

por parfrase sinonmica

demonstrativa

operacional

programtica

Figura 2.1 - Tipos e tcnicas de definio

Pde-se verificar que muitas tcnicas de definio de um conceito relacionam outros

conceitos. Essa forma de construo essencial para definies intensivas (definio

terminolgica intensiva na figura 2.1). A seo seguinte tratar dessas formas de relao.

18

2.5 RELAO ENTRE CONCEITOS Dahlberg (1978) considera que a relao entre conceitos pode ser de dois tipos diferentes a

depender da abordagem desejada e do tipo de conceito considerado: relao quantitativa; e

relao qualitativa. A figura 2.2 um esquema de elaborao prpria a partir dos tipos e

subtipos de relao entre conceitos de Dahlberg (1978). Eles so explicados a seguir.

relao entre

conceitos

qualitativa

formal-categrica

paradigmtico-material

hierrquica

abstrao/especificao ou gnero-gspcie

de agrupamento

partitiva

de oposio

contraditria

contrria

positivo-indiferente-negativa

sintagmtico-funcional

quantitativa ou lgico-

formal

por identidade de caractersticas

por incluso de caractersticas

por interseo de caractersticas

por disjuno de caractersticas

Figura 2.2 - Relaes dahlbergianas entre conceitos

A quantitativa compara conceitos de pontos de vista lgico-formais: identidade de

caractersticas; incluso de caractersticas; interseo de caractersticas; e disjuno de

caractersticas. A qualitativa compara tipos de caractersticas para identificar relaes:

formais/categricas; paradigmtico-materiais; e sintagmtico-funcionais.

As relaes formais/categricas, segundo Dahlberg (1978), dependem do tipo de item de

referncia utilizado e desde Aristteles so utilizadas, a exemplo de sua categoria de

substncia (fenmeno, objetos imateriais em geral e objetos materiais). Outras formas

usadas pelo filsofo, citadas por Dahlberg (1978): quantidades/qualidades/comparaes;

operaes/estados/processos; e perodos no tempo/posies/lugares no espao.

As categorias surgem pelo processo de predicaes sucessivas (Dahlberg, 1978):

a felicidade um sentimento humano de alegria;

um sentimento humano de alegria um sentimento humano;

19

um sentimento humano um estado presente no homem; e

um estado presente no homem um estado.

O segundo tipo de relaes (paradigmtico-materiais) se subdivide em (Dahlberg, 1978)

hierrquicas, partitivas e opositoras. Dahlberg (1978) apresenta as hierrquicas como

baseadas na relao lgica de implicao, existem quando dois conceitos possuem uma

base de caractersticas idnticas, mas um deles possui uma ou mais caracterstica

diferentes. Esse tipo de relao se subdivide em:

relao de abstrao/especificao ou gnero/espcie, tambm denominada de

genrica, de acordo com Lyons apud Lara (2004);

relao em agrupamento (array).

A definio gnero/espcie se baseia na relao entre conceitos mais amplos ou mais

especficos. O uso das palavras gnero e espcie na biologia permitem ter uma idia clara

dessa relao. Homo-sapiens so primatas. Por sua vez primatas so mamferos por aqueles

possurem todas as caractersticas de um mamfero, alm de outras especficas.

Para Copi (1981) quando no existe um sinnimo, ou uma definio operacional

inapropriada, pode-se usar uma definio por gnero e diferena (tambm conhecido como

definio por diviso; analtica; ou conotativa). Segundo o autor, essa relao de

gnero/espcie, talvez seja o mais conhecido e usual tipo de relao, muito utilizada para

apoiar a criao de definies de termos. Alm disso, de acordo com ele, alguns autores

consideram-no como o tipo mais importante ou mesmo o nico autntico. J Sager apud

Lara (2004) afirma que poucas so as definies de padro clssico de gnero e diferena.

A relao de agrupamento quebra a idia restrita da linearidade existente na relao

gnero/espcie para gerar relaes de conjunto onde se encaixam. Na relao de

abstrao/especificao restringe-se a uma relao onde um conceito mais amplo ou

especfico que o outro, na relao de agrupamento surge, por exemplo, a relao dos

macacos com os homens (esto dentro de um mesmo gnero, primatas, mas no possuem

uma diferenciao vertical na posio hierrquica).

20

As relaes partitivas se referem noo do todo/parte. Para Lyons apud Lara (2004) elas

so hierrquicas de hiperonmia/hiponmia do ponto de vista lingstico. J Dahlberg

(1978) refora a diferena com a relao hierrquica. Para ele, apesar de uma parte trazer

uma idia de ser hierarquicamente inferior ao todo, o ser humano no pode ser visto

como conceito mais amplo de espinha dorsal. Alguns exemplos desse autor:

em um sistema natural (organismo animal e suas partes);

em um sistema artificial, ou de objetos fabricados (uma ferramenta e suas partes);

em uma organizao humana (o pas e seus estados); e

na organizao do conhecimento, em campo subjetivo (uma disciplina e campos).

As relaes de oposio ocorrem por meio de conceitos que possuem caractersticas que

expressam essa relao. Segundo, Dahlberg (1978) desde Plato se utiliza dessa relao

para explicar dicotomias e tricotomias. difcil explicar sem cair em tautologias ou

circularidades. Utilizando-se de uma definio exemplificativa dos seus subtipos tem-se:

oposio contraditria (presena/ausncia);

oposio contrria (preto/branco); e

positivo-indiferente-negativo (favorvel-neutro-desfavorvel).

Enfim, relaes sintagmtico-funcionais diferem das outras duas por deixar o que Dahlberg

(1978) chama de um corpo esttico de conceitos relacionados a objetos e propriedades

para tratar de relaes determinadas por processos ou operaes.

O referido autor exemplifica com a trade escrita-papel-conferncia para dar uma noo

das possibilidades desse tipo de relao, onde os suplementos relacionados ao conceito

analisado podem ser tanto de natureza obrigatria (como medio relacionada ao que

medido, com que instrumento, em que unidade de medida, e quem ou o que sofreu a

medio) quanto facultativa (circunstncias em que ocorreram a medio, local e

momento). At a atribuio de obrigatria/necessria e facultativa pode depender do caso.

Analisando a relao entre conceitos, percebe-se que uma definio, por melhor e mais

completa que seja, pode no ser suficiente para permitir um adequado planejamento. Nesse

caso, uma estrutura explicativa pode ser necessria para entender o transporte e seu papel.

A rede semntica uma forma de representar esse entendimento.

21

2.6 REDE SEMNTICA A rede semntica uma estrutura de representao do conhecimento por meio de um

padro de ns e arcos interconectados (Sowa, 1992). Pode-se considerar que, desde

desenhos em rvore de estruturas hierrquicas que remontam a filosofia no sculo trs at o

uso em estudos de inteligncia artificial, passando pelo seu desenvolvimento no campo da

linguagem, essa forma de representao largamente utilizada (Sowa, 1992). Nas redes

semnticas as notaes so fceis para as pessoas lerem; eficientes para computadores

processarem; e poderosas para representarem a as linguagens naturais (Sowa, 1992).

Do artigo revisado e ampliado, Sowa (1992) aponta seis tipos de redes semnticas mais

comuns: redes definidoras; redes assertivas; redes implicadoras; redes executveis; redes

inteligentes; e redes hbridas. As definidoras so baseadas em hierarquia de conceitos.

Nelas so relacionados os conceitos numa estrutura que indica na parte superior categorias

mais gerais que vo se tornando mais especficas medida que vo descendo a rvore.

Como exemplo, apresenta-se a figura 2.3 a seguir usada para ilustrar o mtodo de definio

por gnero e diferena de Aristteles, que foi apresentado por Sowa (1992).

Substncia

Material Imaterial

Corpo Esprito

Animado Inanimado

Vivo Mineral

Sensvel Insensvel

Animal Planta

Racional Irracional

Humano Besta

Scrates Plato Aristteles etc.

Figura 2.3 - Rede definidora: rvore de Porfrio (modificado - Sowa, 1992)

22

As redes assertivas so feitas para construir proposies, frases (Sowa, 1992). Nelas se

organizam os termos de uma sentena de forma grfica tentando explicar a relao entre

eles, a exemplo da figura 2.4. Algumas redes assertivas tm sido propostas como modelos

de estruturas conceituais fundamentadas na semntica de linguagem natural.

um estagirita

um oponente de

um filsofo admirado pelos padres

um macednico

um discpulo de

conquista o mundo

ensina (professa)

Um professor estagirita de um conquistador macednico do mundo um discpulo e um oponente de um filsofo admirado pelos padres

Figura 2.4 - Rede assertiva (modificado - Sowa, 1992)

Diferentemente da rede definidora, cujas informaes so assumidas como

necessariamente verdadeiras, as informaes em uma rede assertiva so entendidas para ser

em geral condicionalmente verdadeira. A distino entre essas redes tem um paralelo com

a distino entre memria semntica e memria episdica de Tulving apud Sowa (1992).

As redes implicadoras organizam em um esquema lgico, as relaes de causas e

conseqncias de um fenmeno (Sowa, 1992). Usam-se essas implicaes como relaes

para conectar ns, que podem representar padres de valores, causalidade ou inferncias. A

figura 2.5 apresenta um exemplo utilizado por Sowa (1992) desse tipo de rede.

Estao chuvosa

Choveu recentemente Regadores em uso

Grama molhada

Escorregadio

F V

Figura 2.5 - Rede implicadora (modificado - Sowa, 1992)

23

No exemplo, a grama est escorregadia. Uma sentena diretamente ligada outra significa

que ela implica diretamente (caso da grana molhada e escorregadio). Porm, a grama pode

estar molhada devido ao regador ter sido usado ou porque choveu. Numa estao chuvosa,

os regadores no so utilizados, ento nessa poca a causa ter sido gerada pelos regadores

uma assertiva falsa (F), restando o fato de ter chovido recentemente (V).

As redes executveis so baseadas em mecanismos dinmicos que podem causar mudanas

na rede (figura 2.6). Para Sowa (1992), as redes inteligentes so baseadas na capacidade de

aprender com novas informaes e so muito usadas em inteligncia artificial.

Nmero

Nmero

Nmero +

Nmero

x Nmero

Texto TpN

Figura 2.6 - Rede executvel (modificado - Sowa, 1992)

As redes hbridas so combinaes de tipos de rede e permitem criar relaes complexas

(Sowa, 1992). Sistemas so chamados de hbridos se suas linguagens tm diferente sintaxe.

Grficos conceituais incluem componente de rede definidora para determinar tipos e

componente de rede assertiva que usa esses tipos para determinar preposies.

Os tipos de rede semntica no se esgotam nos exemplos citados por Sowa (1992). A

construo de uma rede pode usar diferentes tipos de definio e estruturar diversas

relaes entre conceitos. A citao de redes hbridas pelo autor revela as inmeras

possibilidades na construo dessa forma de representao do conhecimento.

24

2.7 TPICOS CONCLUSIVOS Este captulo sintetizou os tipos de definio e sua utilidade. Tratou das relaes entre

conceitos e como estrutur-las por meio de uma forma de representao. Buscou-se o

embasamento terico para apoiar o mtodo de seleo objeto desta dissertao, e auxiliar

na anlise dos prximos captulos. De acordo com o que foi reunido, pode-se concluir que:

A definio explica um significado (Sager apud Lara, 2004) por meio de restrio

para fixar limites de um conceito ou idia (Dahlberg apud Lara, 2004).

A definio se vale de diversos mtodos e feita de vrias formas (Sager apud

Lara, 2004) conforme o conceito e a finalidade (Sager apud Almeida et al, 2007).

Antes de escolher o tipo de definio, devem ser analisados os traos conceituais

constitutivos do termo a ser definido e adequar o vocabulrio s necessidades do

pblico-alvo, portanto a eleio do modelo que se vai adotar um fator

importante (Dubuc apud Almeida et al, 2007).

So utilidades da definio: aumentar o vocabulrio; eliminar a ambigidade;

aclarar o significado; explicar teoricamente; e influenciar atitudes (Copi, 1981). A

utilidade se relaciona ao tipo de definio. Alm dessas utilidades (rebatidas nos

tipos de definio citados por Copi, 1981), h outras de acordo com outros tipos.

Reuniu-se 41 tipos e subtipos de definio na reviso deste captulo, demonstrando

a variedade de formas possvel. Destacam-se as dicotmicas bsicas (extensiva

versus intensiva; terica versus tcnica; e lexicogrfica versus terminolgica).

Montou-se uma estrutura para reunir os tipos de definio, j que cada autor

trabalha com tipos diferentes. Optou-se por organiz-los em duas categorias

dicotmicas: lexicogrfica e terminolgica. A definio persuasiva (Copi, 1981)

no foi includa por ser efeito.

Foram reunidas tambm formas de relacionamento entre conceitos com base em

Dahlberg (1978). 15 categorias e subcategorias compem as duas categorias

principais (relao quantitativa e qualitativa).

Cada categoria de relao entre conceitos pode ter maior, menor ou nenhuma

importncia na construo da definio de acordo com seu tipo. As definies

terminolgicas, principalmente as intensivas, so mais dependentes dessa relao.

Por fim, foi apresentado o conjunto de tipos de redes semnticas (definidora,

assertiva, implicadora, executvel, inteligente e hbrida) de Sowa (1992) como

forma de representao de relaes entre conceitos.

25

3 TRANSPORTE 3.1 APRESENTAO Neste captulo apresentam-se os entendimentos existentes sobre o transporte. J que muitos

deles esto relacionados ao termo sistema de transportes aborda-se esse conceito

tambm. Para o intuito desta dissertao analisam-se as funes e finalidades do transporte.

A abordagem nesta seo objetiva verificar as noes de transporte para apoiar a adoo do

mtodo desenvolvido no captulo 8. Frente reviso deseja-se verificar as formas mais

apropriadas de construo do conceito de transporte para uso no planejamento.

Conforme a necessidade apontada, este captulo estrutura-se a partir de uma seo sobre

conceitos e definies complementada pela seo seguinte (sistema de transporte). A

penltima trata das finalidades do transporte e a ltima dos tpicos conclusivos.

3.2 CONCEITO E DEFINIES Em Ceftru (2007a) consideram-se poucas as definies de transporte encontradas na

bibliografia. Credita-se isso considerao do termo como subentendido. mais comum

encontrar definies que apenas caracterizam o transporte por meio de uma suposta classe

superior. Nesse sentido se encontram muitas referncias ao transporte como uma demanda

derivada (Boyer, 1998; Hanson, 1995; Ortzar, 2000).

Como exceo a essa carncia, pode-se citar Ferraz e Torres (2004), que o definem como

a denominao dada ao deslocamento de pessoas e de produtos. Rodrigues (2003)

tambm o entende como o deslocamento de pessoas e pesos de um local para o outro.

Manheim (1979) segue a mesma linha ao considerar que o transporte envolve o

movimento de pessoas e bens de um lugar para outro. Essas definies so intensivas e

genricas, pois relacionam conceitos, por meio de relaes qualitativas paradigmtico-

materiais hierrquicas de gnero e espcie.

Em Ceftru (2007a) o transporte algo mais especfico podendo ser entendido como o

deslocamento intencional de pessoas e cargas. Desmembra-se, assim, ainda mais a

hierarquia. Magalhes et al (2007) entendem o conceito da mesma forma e enquadra o

transporte na taxonomia dos movimentos, distinguindo-o dos outros tipos de movimentos.

26

Apoiando-se tambm em uma relao hierrquica (dessa vez de agrupamento, no apenas

de gnero e espcie), ele constri a seguinte rede semntica definidora (figura 3.1).

Movimentos

Intencionais No intencionais

Objeto 1

Objeto 2

Objeto n

Energia

Mensagens

Pessoas e cargas

Objeto n

Transporte

Figura 3.1 - Taxonomia do movimento (modificado - Magalhes et al, 2007)

A partir do enquadramento como movimento intencional, algumas implicaes podem ser

observadas (Magalhes et al, 2007). O transporte pressupe uma ao (um sujeito e um

objeto) relacionada satisfao da necessidade do sujeito. O transporte do objeto no

necessariamente feito pelo sujeito, necessitando de um mediador (figura 3.2).

Finalidade do Transporte Transporte

Meio do Transporte

Sistema do Transporte

Sujeito do Transporte

Objeto do Transporte

tem pelo menos 1 tem pelo menos 1

necessita do transporte do

tem

tem pelo menos 1

aciona transporta

uma instncia do

Figura 3.2 - Estrutura semntica do transporte (modificado - Magalhes et al, 2007)

Infere-se, pela rede semntica assertiva acima, que deve existir compatibilidade entre

sujeito-meio e meio-objeto para o transporte acontecer. Esse fato leva a uma definio

operacional na acepo de Copi (1981), j que s considera o transporte se a realizao de

operaes especficas e apropriadas produzirem um resultado especfico. Para afetar essas

relaes (sujeito-meio e meio-objeto) preciso modificar algum dos elementos.

27

Como o principal objeto do planejamento de transporte so os sistemas de transporte

(Magalhes e Yamashita, 2005), e entendendo o transporte como o prprio sistema que o

compe, encontram-se diversas definies partitivas, observadas na seo seguinte.

3.3 SISTEMA DE TRANSPORTE Um sistema um conjunto de elementos organizados de forma a dirigir a ao do sistema

por meio de inputs em direo a metas e objetivos especficos (Hutchinson, 1979). De

forma similar, Bertalanffy apud Tedesco (2008) considera-o um conjunto de elementos,

que se encontram em interao para um dado objetivo. Sobre o sistema de transporte,

Khisty e Alan apud Tedesco (2008), o consideram complexo, pois est sujeito a influncias

externas, possui um grande nmero de elementos (de atributos no predeterminados) e de

interaes (pouco organizadas, no lineares e probabilsticas) entre eles. Seus subsistemas

evoluem, so subjetivos e geram objetivos prprios.

Tedesco (2008) rene definies especficas de sistema de transporte de distintos autores:

Um conjunto de facilidades e instituies organizado para distribuir seletivamente

uma qualidade de acesso em uma rea urbana (Wingo e Perloff apud Bruton);

Relao entre o sistema de demanda (desejos e necessidades dos usurios) e o de

suporte (infra-estrutura, ou produo do servio de transporte: da infra-estrutura

fsica ao plano operacional) (Febbraro e Sacone);

Uma cadeia de transporte concebida de forma a que as diferentes operaes

envolvidas se liguem num conjunto to eficiente quanto possvel (Stopford); e

Um conjunto de elementos que determinam aes para o transporte ocorrer (Costa).

Hutchinson (1979) considera que muitos sistemas naturais existem em conjunto com o

meio ambiente e no simplesmente dentro dele. Referindo-se especificamente ao sistema

de transporte urbano (no lugar dos sistemas naturais), o autor considera que essa analogia

tambm vlida. Alm disso, o autor atesta que medida que a compreenso sobre o

papel do sistema de transporte aumentou, os fatores inclusos no processo de planejamento

de transportes se tornaram mais claros.

28

Nesse sentido, para Hutchinson (1979), o principal desafio na definio de um problema de

transporte urbano a definio da interface sistema-meio ambiente. Ele conclui por

considerar essa diferena entre o sistema e o meio ambiente como arbitrria. Essa suposta

arbitrariedade o que se tem a pretenso de tentar eliminar com a construo ontolgica a

ser definida ao final desta dissertao.

Em Ceftru (2007) apresentado o conceito de Ambiente de Transporte como o conjunto

de fenmenos que influenciam e/ou so influenciados pelo transporte. Essa definio

aproxima-se do que Hutchinson (1979) chamou de meio ambiente (conjunto de fatores

exteriores ao sistema que tanto influencia o comportamento do sistema quanto