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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS DE MÓVEIS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM: 2000 A 2004. ZILDA JOAQUINA COHEN GAMA BELÉM 2006

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS DE MÓVEIS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM: 2000 A 2004.

ZILDA JOAQUINA COHEN GAMA

BELÉM 2006

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ZILDA JOAQUINA COHEN GAMA

ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS DE MÓVEIS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM: 2000 A 2004

Dissertação apresentada para obtenção do grau de mestra em Economia ao Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Economia, da Universidade da Amazônia. Orientador: Prof. Dr. Antonio Cordeiro de Santana

BELÉM 2006

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Gama, Zilda Joaquina Cohen

Análise da competitividade das empresas de móveis da região metropolitana de Belém. / Zilda Joaquina Cohen Gama. - Belém, 2006.

Orientador: Prof. Dr. Antônio Cordeiro de Santana Dissertação apresentada para obtenção do grau (Mestre) - Universidade da Amazônia, Programa de Pós – Graduação, Mestrado em Economia.

1. COMPETITIVIDADE. 2. EMPRESAS DE MÓVEIS. I. Título. CDD – 338. 604 8

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ZILDA JOAQUINA COHEN GAMA

ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS DE MÓVEIS DA

REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM: 2000 A 2004

Dissertação apresentada para obtenção do grau de mestra em Economia ao Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Economia, da Universidade da Amazônia.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Antonio Cordeiro de Santana

_________________________________________________ Examinador: Prof. Dr. Ahmad Saeed Khan

__________________________________________________ Examinador: Prof. Dr. Fernando Antonio Texeira Mendes

CONCEITO: _____________________ DATA: __________________________

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Aos meus pais Ivan e Ordoênia, meus grandes incentivadores e financiadores.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelos pais maravilhosos, a força e a saúde. Aos meus pais que sempre me apoiaram e me incentivaram na busca pelo conhecimento, nunca poupando esforços para que eu pudesse estudar. Ao Professor Antônio Cordeiro de Santana pela orientação e principalmente pela paciência com que conduziu esses dois anos de orientação, sem os seus conhecimentos e a sua experiência tudo teria sido mais difícil. Ao João, que foi um grande companheiro nesses dois anos de Mestrado, sempre disposto a ajudar e me escutar nos momentos de desespero. Ao Professor Fernando Antônio Texeira Mendes, que sempre me incentivou. A FIDESA e a CAPES pelas bolsas de estudo nos anos de 2004 e 2005, respectivamente. Ao Professor Ahmad Saeed Khan que aceito avaliar meu trabalho e contribuir com seu conhecimento. Aos colegas do Mestrado, em especial ao Irlando que foi meu parceiro em muitos trabalhos. Aos meus colegas do Banco da Amazônia, em especial a Ana Paula que permitiu que eu chegasse atrasada em várias ocasiões, ao Paulo que me ajudou na formatação final desse trabalho e ao Jairo tirou muitas dúvidas de estatística. A Rosana Tie que me ajudou com ótimas referências bibliográficas. As minhas amigas Jane, Keilla, Carla, Neuba, Mara, Shirlene, Laurinete e Aldenize.

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RESUMO

Analisa o desempenho competitivo das empresas de móveis da Região Metropolitana de Belém (RMB) através da identificação dos fatores internos e externos que favorecem ou limitam a competitividade das empresas, utilizando os modelos teóricos do Diamante de Porter e da Competitividade Sistêmica e como instrumental analítico a técnica multivariada da análise fatorial. Essa técnica identificou seis dimensões determinantes da competitividade das empresas de móveis da RMB, sendo a mais importante, com maior percentual de variância explicada, a dimensão de gestão empresarial. Os resultados encontrados para o índice de desempenho competitivo (IDC) mostraram que grande parte das empresas encontra-se em posição intermediária de competitividade, com IDC entre 0,7 e 0,4, devido a alguns fatores limitantes como escassez de mão-de-obra qualificada, baixo nível tecnológico e dificuldade de acesso ao crédito. Outras quatro empresas apresentaram IDC baixo (menor que 0,4) e, apenas, uma empresa se destacou com elevado desempenho competitivo (IDC maior que 0,7) desempenho este debitado, principalmente às vantagens competitivas na dimensão de gestão empresarial. A análise de regressão, por sua vez, mostrou que apenas a dimensão de gestão empresarial influencia positivamente no faturamento, sendo as demais dimensões limitantes. Como grande parte das empresas encontram-se numa posição intermediária de competitividade constatou-se que esforços em todos os níveis (micro, macro, meso e meta) devem ser implementados com o objetivo de criar vantagens sustentáveis no longo prazo (de diferenciação) para que assim, todas as empresas cheguem ao patamar de elevado desempenho competitivo. Palavras-chaves: Competitividade. Empresas de móveis - Região Metropolitana de Belém. Análise fatorial.

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ABSTRACT Analyze the competitive performance of the furniture companies of the Metropolitan Region of Belém (MRB) through the identification of the internal and external factors that stimulate or limit the competitiveness of the companies, using the theoretical models of the Diamond of Porter and the Sistemic Competitiveness and as an instrumental analytical the multivaried technique of the factorial analysis. This technique identified six determinative dimensions of the competitiveness of the companies of furniture of the MRB, being the most important, with greater percentile of explained variance, the dimension of enterprise management. The results found for the index of competitive performance (ICP) had shown that great part of the companies is in intermediate competitive position, with ICP between 0,7 and 0,4, due to some restrictive factors as scarcity of qualified manpower, low technological level and difficulty of access to the credit. Others four companies had presented low ICP (shorter than 0,4) and only one company presented high competitive performance (higher than 0,7) this performance is credited to the competitive advantages in the dimension of enterprise management. The regression analysis, showed that only the dimension of enterprise management influences positively in the invoicing of the companies, being the too much restrictive dimensions. As great part of the companies is in an intermediate position of competitiveness, it was found that efforts in all the levels (micro, macro, meso and meta) must be implemented for that sustainable advantages in the long term period (of differentiation) been acquired and thus all the companies arrive at the platform of high competitive performance. Key words: Competitiveness. Furniture companies - Metropolitan Region of Belém. Factorial analysis.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA 13 1.2 HIPÓTESE 15 1.3 OBJETIVOS 15 1.3.1 Objetivo geral 15 1.3.2 Objetivos específicos 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO 16 2.1 DIAMANTE DE PORTER 18 2.1.1 Condições de fatores 18 2.1.2 Condições de demanda 21 2.1.3 Indústrias correlatas e de apoio 22 2.1.4 Estratégias, estrutura e rivalidade das empresas 23 2.1.5 O papel do acaso 24 2.1.6 O papel do governo 24 2.2 COMPETITIVIDADE SISTÊMICA 26 2.2.1 O nível meta 29 2.2.2 O nível macro 30 2.2.3 O nível micro 31 2.2.4 O nível meso 32 2.3 SÍNTESE DO REFERENCIAL TEÓRICO 32 3 REVISÃO DA LITERATURA 35 4 METODOLOGIA 40 4.1 ÁREA DE ESTUDO 40 4.2 FONTE DOS DADOS 41 4.3 MODELO ANALÍTICO 43 4.3.1 Estrutura de mercado 43 4.3.2 Análise fatorial 44 4.3.3 Análise de desempenho competitivo 49 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 52 5.1 CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS DE MÓVEIS DAREGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM 52

5.1.1 Objetivos das empresas de móveis da RMB 54 5.1.2 Estrutura de mercado 55 5.2 FORÇAS COMPETITIVAS 56 5.2.1 Condições de fatores 56 5.2.2 Relação com fornecedores e indústrias correlatas 69 5.2.3 Relação com clientes (Condições de Demanda) 73 5.2.4 Estratégias 77 5.2.5 Desempenho 80 5.3 ANÁLISE FATORIAL 83 5.3.1 Análise dos fatores 89 5.3.2 Análise de regressão 93

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5.3.3 Índice de Desempenho Competitivo (IDC) 95 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES 99 REFERÊNCIAS 102

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Interpretação do KMO 48 Tabela 2 Tempo de funcionamento das empresas de móveis da RMB, 2003 54 Tabela 3 Principais objetivos de crescimento das empresas de móveis da RMB,

2003 55

Tabela 4 Grau de escolaridade da mão-de-obra das empresas de móveis da RMB, 2003 57

Tabela 5 Faixa salarial dos empregados das empresas de móveis da RMB, 2003 59 Tabela 6 Áreas em que são utilizados programas de microcomputadores nas

empresas de móveis da RMB, 2003 60

Tabela 7 Principais áreas em que as empresas de móveis da RMB realizam treinamento, 2003 62

Tabela 8 Obtenção de crédito de curto prazo nos últimos 5 anos pelas empresas de móveis da RMB, 2003 64

Tabela 9 Obtenção de crédito de longo prazo nos últimos 5 anos pelas empresas de móveis da RMB, 2003 65

Tabela 10 Origem do empréstimo obtido pelas empresas de móveis da RMB, 2003 66 Tabela 11 Dificuldades encontradas para acesso à assistência técnica pelas

empresas de móveis da RMB, 2003 68

Tabela 12 Tipos de informações sistemáticas e regulares obtidas pelas empresas de móveis da RMB, 2003 68

Tabela 13 Subcontratação de outras empresas pelas empresas de móveis da RMB, 2003 70

Tabela 14 Número de fornecedores das empresas de móveis da RMB, 2003 71 Tabela 15 Tipo de fornecedor das empresas de móveis da RMB, 2003 72 Tabela 16 Três principais critérios de escolha do fornecedor das empresas de

móveis da RMB, 2003 73

Tabela 17 Três principais tipos de clientes das empresas de móveis da RMB, 2003 74 Tabela 18 Três principais fatores que favorecem a inserção das empresas de

móveis da RMB nos mercados nacional e externo, 2003 76

Tabela 19 Exigências do mercado (nacional/internacional) para exportação sobre os produtos das empresas de móveis da RMB, 2003 76

Tabela 20 Acompanhamento das tendências de mercado (nacional/internacional) pelas empresas de móveis da RMB, 2003 78

Tabela 21 Normas técnicas de processo utilizadas pelas empresas de móveis da RMB, 2003 78

Tabela 22 Normas técnicas de produto utilizadas pelas empresas de móveis da RMB, 2003 79

Tabela 23 Estratégias utilizadas pelas empresas de móveis para se manterem no mercado, 2003 80

Tabela 24 Variação na capacidade produtiva das empresas de móveis da RMB, 2003 81

Tabela 25 Variação na margem de lucro das empresas de móveis da RMB, 2003 81

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Tabela 26 Percentagem da receita líquida operacional sobre o faturamento, após dedução dos impostos, depreciação e juros à pagar das empresas de móveis da RMB, 2003

82

Tabela 27 Evolução dos custos das empresas de móveis da RMB, 2003 82 Tabela 28 Evolução da parcela de participação no mercado das empresas de

móveis da RMB, 2003 83

Tabela 29 Matriz de correlação 85 Tabela 30 Total de variância explicada dos fatores obtidos através da análise

fatorial das empresas de móveis da RMB, 2003 88

Tabela 31 Matriz de cargas fatoriais rotacionadas das empresas de móveis da RMB, 2003 89

Tabela 32 Resultado da análise de regressão do faturamento em função dos fatores de competitividade das empresas de móveis da RMB 93

Tabela 33 Matriz de pesos dos escores fatoriais 96 Tabela 34 Valores dos escores fatoriais originais e padronizados e o índice de

desempenho competitivo 98

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LISTA DE SIGLAS

ABIMOVEL – Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário.

APL – Arranjo Produtivo Local

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CETEMM – Centro de Tecnologia da Madeira e do Mobiliário

CETEMO – Centro Tecnológico do Mobiliário

ECD – Estrutura – Conduta - Desempenho

FIEPA – Federação da Indústria do Estado do Pará

FNO – Fundo Constitucional do Norte

FUNTAC – Fundação de Tecnologia do Estado do Acre

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IDC – Índice de Desempenho Competitivo

IHH – Índice Hirschman - Herfindahl

MOVERGS – Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul

MQO – Mínimos Quadrados Ordinários

PAE – Projeto de Assentamento Agroextrativista

PIFLOR – Pólo de Indústrias Florestais de Xapuri

PPTA – Programa Paraense de Tecnologia Apropriada

RMB – Região Metropolitana de Belém

REDESIST – Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SINDIMÓVEIS – Sindicato da Indústria de Marcenaria do Estado do Pará

SECTAM – Secretária Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

TCM – Taxa de Concentração de Mercadob

TEMMA – Centro Tecnológico do Mobiliário e da Madeira da Amazônia

UNIVILLE – Universidade da Região de Joinville

UCS – Universidade de Caxias do Sul

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1 INTRODUÇÃO

Em um mundo onde a inovação e o conhecimento são peças-chave para o

crescimento das empresas e dos países, a competitividade, que é a capacidade das empresas

de manterem ou ampliarem as suas parcelas de participação nos mercados, ganha novas

dimensões de análise. No caso das empresas de móveis não poderia ser diferente, questões

como inovações de processo, produto e de gestão, além de práticas ecologicamente corretas

são incorporadas à análise e criam fontes de vantagens competitivas, que não eram

consideradas nas abordagens tradicionais.

No caso da indústria moveleira, o objeto de estudo dessa pesquisa são as empresas

de móveis da Região Metropolitana de Belém (RMB)1, a análise da competitividade perpassa

por questões como a criação de um design próprio (em indústrias tradicionais, como é o caso

da moveleira, o design é o principal gerador de valor ao produto), a qualificação da mão-de-

obra, a modernização das máquinas e equipamentos, a implantação de inovações de processo,

de produto e de gestão e a utilização de práticas ecologicamente corretas no processo

produtivo.

No Estado do Pará não existe pólo2 moveleiro consolidado entre os principais do

país, porém dois que iniciam esse tipo de contorno, começam a se destacar: a RMB e o

Município de Paragominas. Esses dois pólos são fruto da evolução recente da indústria

madeireira no Estado, pois, segundo Santana (2003), as empresas de madeira serrada e

beneficiada estão fabricando móveis e artefatos na mesma fábrica ou em unidades separadas

da mesma empresa. Esse processo de verticalização da produção busca aumentar a agregação

de valor, o que tem sido a principal responsável pelas alterações na estrutura e nas estratégias

das empresas a fim de criar vantagens competitivas e assegurar o desempenho.

Essa expansão na produção acaba refletindo em acréscimo nas exportações. A taxa

média de crescimento das exportações de móveis do Estado do Pará, no período de 1996 a

2005, foi de 16,59% ao ano, enquanto que as exportações de móveis brasileiras, nesse mesmo

período, cresceu a uma taxa média de 13,21% ao ano. A participação do Estado do Pará nas

exportações totais de móveis do país, em 2005, foi de 0,20%. Segundo a Associação

1 Criada pela Lei Complementar n° 14 de 08/06/1973 e ampliada pela Lei Complementar n° 27 de 19/10/1995 que defini como Região Metropolitana de Belém os municípios de Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara. 2 Conjunto de empresas de um determinado setor em um território (SEBRAE, 2004).

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Brasileira da Indústria do Mobiliário (ABIMOVEL), o Pará possui 23 empresas exportadoras

de móveis, com destaque para a empresa Tramontina que exporta 70% da sua produção para

países como Estados Unidos, México, Argentina e vários países da Europa.

Mesmo com esses resultados, as empresas de móveis do Pará, ainda, possuem um

potencial competitivo a ser desenvolvido, para uma média de 700 mil toneladas/ano

exportadas de madeira, a indústria do Pará processa apenas 0,6% (SEBRAE, 2004).

Diante do exposto, a pesquisa procurou analisar a competitividade das empresas de

móveis da RMB, utilizando como teoria de base os modelos teóricos do Diamante de Porter e

da Competitividade Sistêmica.

O trabalho está estruturado em cinco capítulos. O primeiro contém o problema, os

objetivos e a hipótese da pesquisa. O segundo trata do referencial teórico, abordando os

modelos teóricos do Diamante de Porter e da Competitividade Sistêmica. O terceiro trata da

revisão da literatura. O quarto, a metodologia, aborda a área de estudo, a fonte dos dados e o

modelo de análise. O quinto traz a análise dos resultados. E o último são as conclusões.

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Com as mudanças estruturais iniciadas na década de 1970 e prolongadas até

meados da década de 1990, surgiram novos paradigmas que influenciaram uma série de

transformações ocorridas na sociedade, nos processos produtivos, na divisão espacial da

produção, na economia etc. Tais transformações, por sua vez, têm grande impacto sobre a

competitividade das empresas, na medida em que necessitam se adequar às novas exigências

dos clientes, aos novos padrões tecnológicos e as novas formas de organização do trabalho e

da produção.

A globalização e o fim das fronteiras produtivas transformaram a existência de

matéria-prima em abundância (caso da indústria de móveis do Pará) e de mão-de-obra barata

em vantagens comparativas que podem facilmente ser superposta, necessitando-se assim, que

as empresas a fim de manterem ou ampliarem o seu desempenho competitivo criem vantagens

competitivas através do aproveitamento das oportunidades e dos seus pontos fortes e da

minimização das ameaças e dos seus pontos fracos.

O fim das fronteiras dos Estados Nacionais mudou o espaço da competição, que

deixou de ser local, regional ou nacional para ser global aumentando a importância da

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informação e do conhecimento para o processo produtivo e para a competição. Em uma

sociedade onde a informação fluí de um canto ao outro do mundo e em grande velocidade,

ganha vantagens competitivas quem melhor souber aproveitá-la, incorporando-a no processo

produtivo e, assim, transformando-a em conhecimento. Dessa forma, as empresas que tiverem

acesso à informação, no que diz respeito às tendências de consumo, lançamento de máquinas

e equipamentos mais eficientes, por exemplo, têm vantagens competitivas sobre as demais.

Outro fator, resultado dessas transformações e que tem impactado, fortemente, a

competitividade das empresas de móveis, é o fenômeno da crescente conscientização da

sociedade para a importância da preservação ambiental, o que tem obrigado as empresas a

incorporar práticas ecologicamente corretas no processo produtivo.

Dentro deste contexto, ganha destaque a implantação nas empresas do ISO 14000

(conjunto de normas internacionais que estabelecem regras para as empresas implantarem

Sistemas de Gestão Ambiental) com a finalidade de reduzir desperdícios de insumos, matéria-

prima, água, energia e de resíduos usados e obtidos durante o processo de produção, tentando,

dessa forma, minimizar os impactos ambientais e estar de acordo com a legislação ambiental.

Da mesma forma, a série ISO 9000 (normas do sistema de qualidade e especificam

os requisitos necessários para a implantação, acompanhamento do processo de produção e da

satisfação do cliente) também tem se tornado peça fundamental dentro do processo produtivo

das empresas. Assim, em virtude do nível, cada vez mais, elevado de exigência dos

consumidores, a implantação das séries ISO 14000 e ISO 9000 nas empresas é um fator

gerador de vantagens competitivas, mediante diferenciação de produto.

Dentro deste novo cenário em que estão inseridas as empresas e, considerando que

um terço das florestas tropicais do mundo está na Amazônia, esta região tem um grande

potencial para a indústria de produtos e subprodutos florestais. Portanto, esta pesquisa se

propõe a responder aos seguintes questionamentos: Que fatores ambientais internos e

externos das empresas favorecem a competitividade e que fatores são limitantes à

competitividade dessas empresas? Qual a posição competitiva das empresas de móveis

da RMB?

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1.2 HIPÓTESE

Dadas as condições de escassez de mão-de-obra qualificada, baixo nível

tecnológico, difícil acesso ao crédito e baixa diferenciação de produto, poucas empresas de

móveis da RMB estão operando com vantagens competitivas sustentáveis.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo geral

Analisar o desempenho competitivo das empresas de móveis da RMB, através da

identificação dos fatores internos e externos, que favorecem ou limitam a competitividade

dessas empresas, assim como a sua relação com fornecedores e clientes.

1.3.2 Objetivos específicos

� Caracterizar a competitividade das empresas de móveis da RMB, mediante descrição

das variáveis incluídas nos modelos do Diamante de Porter e da Competitividade

Sistêmica.

� Identificar, através da análise fatorial, as dimensões fatoriais determinantes da

competitividade das empresas de móveis da RMB.

� Identificar, através da análise de regressão os fatores (obtidos pela análise fatorial)

determinantes do faturamento das empresas de móveis da RMB.

� Determinar a posição competitiva das empresas de móveis da RMB através do cálculo

do Índice de Desempenho Competitivo (IDC).

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Durante muito tempo a competitividade foi vista, apenas, como uma questão de

custos mais baixos (proveniente, principalmente, de matéria-prima e mão-de-obra baratas) e,

conseqüentemente, de menores preços. Assim, a análise da competitividade era feita com base

em indicadores que ou privilegiavam o desempenho de vendas e penetração nos mercados

(indicadores da parcela de mercado e sua expansão) ou que buscavam as suas raízes na

eficiência produtiva expressados através dos coeficientes técnicos ou de produtividade

(POSSAS, 1999). Porém, essa visão baseada, apenas, em índices é estática e dá espaço para

distorções, pois se sabe que a competitividade é fruto de estratégias e capacidades acumuladas

ao longo do tempo.

Um modelo teórico tradicional de análise da competitividade é o modelo

Estrutura-Conduta-Desempenho (ECD). Este modelo, criado por Maison na década de 1930 e

aperfeiçoado por Bain na década de 1960, está relacionado ao mainstream da Economia

Industrial e tem em sua base princípios da economia neoclássica como o equilíbrio de

mercado e as informações simétricas, situações não verificadas na realidade, o que tem

rendido muitas críticas a esse modelo.

No modelo ECD, o termo estrutura refere-se a estrutura da indústria caracterizada

pelo número de compradores e fornecedores, o nível de diferenciação dos produtos, a

existência ou não de barreiras a entrada e a saída, a integração vertical, os custos de produção

(existência de economias de escala, de escopo e de aglomeração). O termo conduta refere-se

às estratégias das empresas de uma indústria e reflete-se nos investimentos em propaganda,

em inovação tecnológica, em diferenciação dos produtos, na estrutura de gestão, na formação

dos preços. E o desempenho pode ser analisado através de dois enfoques: o desempenho da

empresa e o da economia como um todo. Pelo lado das empresas o desempenho refere-se a

como as empresas estão satisfazendo as preferências dos consumidores no presente e as

perspectivas de aprimoramento potenciais (SANTANA, 2002).

A princípio acreditava-se que as ligações entre esses fatores era unidirecional, de

tal forma que a estrutura da indústria determinava a conduta das empresas que, por sua vez,

determinava o desempenho das empresas, dando um caráter estático ao modelo (CARLTON;

PERLOFF, 1999). Posteriormente, porém, alguns estudos verificaram que essas ligações não

são unidirecionais.

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Santana (2003) afirma que, embora se reconheçam essas interações entre os termos

do modelo ECD, ainda, assim, não é possível uma avaliação completa dos efeitos dinâmicos

produzidos pelas regulamentações governamentais e pelas políticas macroeconômicas,

comerciais e reguladoras que influenciam a indústria e as empresas.

A partir de seus estudos sobre inovação, Schumpeter (1982), deu uma nova visão a

concorrência, que ganhou um enfoque dinâmico e evolucionário baseado em um processo

contínuo de introdução e de difusão de inovações que por sua vez é “entendida como

resultado da busca constante de lucros extraordinários, mediante a obtenção de vantagens

competitivas entre as empresas que procuram diferenciar-se umas das outras” (POSSAS,

2002).

Posteriormente, os neo-schumpeterianos ou evolucionários, com destaque para

Nelson e Winter (2002), deram continuidade às idéias de Schumpeter e propuseram uma

ruptura completa com os princípios neoclássicos de equilíbrio e de racionalidade

maximizadora, que foram substituídos pelos conceitos de trajetórias e de racionalidade

limitada, respectivamente.

Assim, as vantagens competitivas passaram a ser vistas como de dois tipos: de

custo e de diferenciação, sendo a de diferenciação que proporciona vantagens competitivas

sustentáveis (PORTER, 1993; POSSAS, 1999). E a análise da competitividade não é mais

feita, apenas, com base em índices, mas como afirma Possas (1999) é feita tanto por

indicadores ex-post (desempenho efetivamente ocorrido) como por indicadores ex-ante que

reflete as perspectivas de manutenção da competitividade, através do estudo das ameaças e

oportunidades das empresas.

Este trabalho tratará a competitividade como a “capacidade da empresa formular e

implementar estratégias concorrenciais que lhes permitam ampliar (ou conservar), de forma

duradoura, uma posição sustentável no mercado” (KUPFER, 1994, p. 1). Dessa forma, serão

apresentados dois modelos teóricos de análise da empresa: o modelo do Diamante de Porter e

o da Competitividade Sistêmica, que incorporam em seu desenvolvimento o princípio básico

da corrente alternativa (evolucionista/institucionalista) que é a necessidade de constante

mudança por parte da empresa, ou seja, a busca contínua por inovação, seja ela de produto, de

processo ou organizacional, bem como a idéia de que fatores externos as empresas são,

também, geradores de vantagens competitivas.

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2.1 DIAMANTE DE PORTER

Nesse modelo, ao contrário do ECD, a natureza da competição não é o equilíbrio,

mas o constante estado de mudança que se dá através da inovação e a conseqüente criação de

vantagens competitivas, porém a sua implantação depende de uma série de fatores ambientais.

Dessa forma, o modelo teórico do Diamante de Porter parte do princípio de que

existem quatro atributos modeladores do ambiente das empresas e que promovem ou

impedem a inovação e, portanto a criação de vantagens competitivas (PORTER, 1993). São

eles: as condições de fatores; as condições de demanda; as indústrias correlatas; e de apoio e a

estratégia, estrutura e rivalidade das empresas.

Esses atributos formam um sistema, com fortes relações, porém o efeito de cada

um deles depende do estado dos demais, não existindo, assim, uma única relação de

causalidade. Além desses quatro determinantes Porter (1993), admite que existem duas outras

variáveis com influência sobre o ambiente competitivo e que, portanto são necessárias para

completar a sua teoria: o acaso e o governo. Essas duas variáveis são exógenas ao modelo do

Diamante porque a influência delas se dá sobre todos os determinantes do ambiente

competitivo, como mostra a Figura 1.

2.1.1 Condições de fatores

Este atributo diz respeito a quantidade, a qualidade, o custo e a especialização dos

diversos fatores de produção (recursos humanos, recursos físicos, recursos de conhecimento,

recursos de capital e infra-estrutura).

Porter (1993) distingue os fatores em herdados e criados. Um exemplo de fatores

herdados são os recursos naturais, como no caso da indústria de móveis da RMB que possui a

matéria-prima madeira em abundância.

A criação de fatores, por sua vez, visa suprimir desvantagens em quantidade e

qualidade dos fatores e pode ser feita através das instituições educacionais públicas e

privadas, dos institutos de pesquisa governamentais e privados, dos órgãos governamentais de

infra-estrutura etc.

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Figura 1: Diamante de Porter Fonte: adaptado de PORTER, 1999

� Recursos humanos

O custo da mão-de-obra pode ser uma vantagem ou uma desvantagem de custo

para as empresas de móveis da RMB, pois é uma variável que interfere diretamente no custo

de produção.

Já a qualificação da mão-de-obra, mesmo não interferindo diretamente no custo de

produção pode ser uma força ou uma fraqueza para as empresas de móveis da RMB, visto que

a presença de mão-de-obra qualificada possibilita a incorporação de novas tecnologias no

processo produtivo, que por sua vez geram vantagens competitivas.

Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas - Condições para criação de novas empresas - Organização das empresas - Natureza da rivalidade interna

Condições de demanda - Composição da demanda - Tamanho e padrão de crescimento da demanda - Mecanismos de transmissão da preferência interna

Condições de fatores - Recursos humanos - Recursos naturais - Recursos de conhecimento - Recursos de capital - Infra-estrutura

Indústrias correlatas e de apoio - Fornecedores capazes - Indústrias correlatas competitivas

EMPRESAS

GOVERNO E ACASO

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� Recursos naturais

Diz respeito a abundância, a qualidade, a acessibilidade e o custo dos diversos

recursos naturais utilizados no processo produtivo.

A proximidade dos recursos naturais, por exemplo, implica em menores custos de

acesso o que proporciona as empresas vantagens de custo para seus produtos.

No caso das empresas de móveis da RMB a proximidade da matéria-prima

madeira possibilita a essas empresas menores custos e, portanto vantagens em relação aos

seus concorrentes.

No entanto, apenas a disponibilidade de recursos naturais em abundância e o fácil

acesso a eles não garantem, por si só, vantagens competitivas sustentáveis, é necessário que

tais recursos sejam de qualidade, garantindo, assim, a qualidade do produto final.

� Recursos de conhecimento

Trata-se da infra-estrutura científica e tecnológica, ou seja, da presença de

institutos públicos e privados de pesquisa, de treinamento, de órgãos estatísticos

governamentais, de pesquisa de mercado etc, que garantam às empresas acesso às

informações e conhecimento de novas tecnologias, técnicas organizacionais e tendências de

mercado.

A existência de centros de treinamento da mão-de-obra, de pesquisa e

desenvolvimento de tecnologias em determinada localidade são capazes de gerar para as

empresas, que nela estão inseridas, vantagens competitivas sobre as demais, porque

estimulam a inovação, qualificam a mão-de-obra, além de serem vantagens de difícil cópia

pelos concorrentes.

� Recursos de capital

O investimento do setor privado em inovação para ocorrer precisa de boas

condições de financiamento que por sua vez depende da disponibilidade e do custo do capital.

Dessa forma, a criação de linhas de crédito específicas para a modernização das

empresas de móveis nos Bancos de Desenvolvimento, que facilitassem o financiamento à

importação de máquinas com elevado padrão tecnológico, criaria para elas a possibilidade de

modernizarem o processo produtivo, gerando tanto vantagens de custo quanto de

diferenciação.

� Infra – estrutura

A infra-estrutura diz respeito a quantidade e a qualidade do sistema de transportes,

de comunicações, de energia e de todos os recursos físicos que influenciam no processo

produtivo e de comercialização.

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Uma infra-estrutura adequada, com canais de distribuição bem estruturados

possibilita vantagens de custo para as empresas.

2.1.2 Condições de demanda

Para Porter (1993) a demanda interna exerce dois tipos de influência sobre a

competitividade das empresas, uma estática e outra dinâmica. A estática decorre de sua

influência sobre as economias de escala, já a dinâmica ocorre porque é a demanda interna

quem determina o rumo e o caráter das inovações.

Existem três atributos da demanda interna que são significativos na determinação

de vantagens competitivas: i) composição da demanda; ii) tamanho e padrão de crescimento

da demanda e; iii) mecanismos de transmissão da preferência interna.

� Composição da demanda

É a composição da demanda interna que determina a maneira pela qual as

empresas percebem, interpretam e reagem às necessidades dos compradores. Necessidades

dos clientes locais que antecipem as que surgirão em outros lugares, por exemplo, habilitam

as empresas locais a competirem em outros mercados com vantagens.

Dessa forma, quanto mais sofisticados e exigentes os clientes locais maior é o

estímulo das empresas a inovarem o que dá a elas vantagens perante seus competidores em

outros mercados.

O investimento em design da indústria de móveis brasileira, até princípios da

década de 1990, era muito pequeno, visto que a característica da demanda interna era de

móveis populares, o que não estimulava as empresas a investirem em design e, assim, não

tendo vantagens no mercado internacional mais exigente.

Da mesma forma, a procura pelas empresas de móveis brasileira de certificação da

série ISO só começou a ocorrer após a entrada no mercado internacional, bem mais exigente

que o mercado interno.

� Tamanho da demanda e padrões de crescimento

Enquanto a composição da demanda interna é responsável pela geração de

vantagens competitivas para as empresas o tamanho e o padrão de crescimento desta são

responsáveis pela ampliação dos mercados.

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Porter (1993) coloca que o tamanho da demanda interna é mais importante para a

ampliação de vantagens competitivas em determinadas indústrias do que em outras. Um

mercado interno grande pode levar a ampliação de vantagens competitivas em indústrias onde

há exigência de pesquisa e desenvolvimento, substanciais economias de escala, grandes saltos

na geração de tecnologia e altos níveis de incerteza, o que não é o caso da indústria moveleira.

Já o padrão de crescimento da demanda interna tem influência na ampliação das

vantagens competitivas na medida em que a taxa de investimento nas indústrias é função da

rapidez com que o mercado cresce.

� Mecanismos de transmissão da preferência interna

Os mecanismos de transmissão da preferência interna são responsáveis por ampliar

as vantagens competitivas das empresas para outros mercados, porém um excesso de negócios

externos “cativos” pode enfraquecer a vantagem competitiva, reduzindo a pressão para inovar

(PORTER, 1993).

2.1.3 Indústrias correlatas e de apoio

Como terceiro atributo do Diamante a presença de empresas fornecedoras e

correlatas competitivas na localidade criam vantagens competitivas de várias formas.

� Empresas fornecedoras

Para Porter (1993) a presença de fornecedores competitivos geram dois tipos de

vantagens para as empresas: i) a primeira é basicamente de custo e ocorre devido ao acesso

facilitado aos insumos; ii) a segunda vantagem surge do processo de inovação e

aperfeiçoamento proporcionado pela intensa troca de informação com os fornecedores.

Porém, para que tais vantagens competitivas sejam criadas não basta, apenas, a

presença de fornecedores competitivos é necessário o intercâmbio empresa-fornecedor de tal

forma que as empresas aproveitem todas as oportunidades surgidas dessa relação.

A Itália, maior exportadora de móveis do mundo, também possui, juntamente, com

a Alemanha a mais desenvolvida indústria de máquinas e equipamentos para indústria

moveleira o que lhe proporciona crescentes vantagens competitivas.

� Empresas correlatas

As empresas correlatas são aquelas que compartilham os mesmos fornecedores de

matérias-primas, insumos ou de serviços, ou ainda que envolvem produtos complementares.

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Da mesma forma, que nas empresas fornecedoras, as correlatas proporcionam

vantagens através do intercâmbio de informações e conhecimentos ou, ainda, do

compartilhamento de custos quando da utilização de um mesmo insumo ou serviço.

Uma das maneiras de ocorrer esse tipo de intercâmbio de informação, entre as

empresas de móveis e as suas correlatas, são as feiras da indústria.

As empresas de artefatos que inclui as produtoras de decks para piscina, molduras

para quadros, embalagens de madeira, utilidades para cozinha etc, são atividades correlatas as

empresas de móveis na RMB, visto que utilizam os mesmos fornecedores de matéria-prima e

serviços de distribuição semelhantes, dessa forma o aumento da competitividade das empresas

de artefatos implica em aumento da competitividade das empresas de móveis desde que estas

sejam bem relacionadas, ou seja, mantenham um intercâmbio de informações e políticas de

compartilhamento de custos de distribuição e desenvolvimento de novas tecnologias que

beneficiem a ambas.

2.1.4 Estratégias, estrutura e rivalidade das empresas

A maneira como as empresas são criadas, organizadas e dirigidas, bem como a

natureza da rivalidade entre elas formam o quarto atributo gerador de vantagens competitivas.

� Estratégia e estrutura interna das empresas

Diz respeito ao ambiente empresarial que encoraje os investimentos, estimula a

inovação e a geração de vantagens competitivas.

Por outro lado, as estratégias das empresas podem determinar se estas criarão, ou

não, vantagens competitivas. As empresas de móveis italianas, por exemplo, têm como

estratégia o desenvolvimento de produtos com elevado valor agregado pelo design que visa

atender pequenos nichos de consumidores.

� Rivalidade interna

A rivalidade interna é capaz de gerar vantagens competitivas para as empresas, na

medida em que cria pressões para a redução dos custos, o aprimoramento da qualidade e para

criação de novos produtos e processos.

Por outro lado, a inexistência de rivalidade interna leva as empresas a

contentarem-se com o mercado local não expandindo para outros mercados.

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2.1.5 O papel do acaso

O acaso é um fator exógeno ao modelo do Diamante de Porter, mas que interfere

na vantagem competitiva das empresas, modificando as condições do diamante. É

caracterizado por ocorrências fortuitas como: atos de pura invenção; importantes

descontinuidades tecnológicas; descontinuidades nos custos dos insumos; modificações

significativas nos mercados financeiros mundiais ou nas taxas de câmbio; surtos de demanda

regional ou mundial; decisões políticas de governos estrangeiros e; guerras.

2.1.6 O papel do governo

O governo é o outro fator exógeno ao diamante da vantagem competitiva. Para

Porter (1993) o papel fundamental do governo é influenciar os quatro determinantes, ou seja,

ele deve criar um ambiente no qual as empresas possam melhorar as suas vantagens

competitivas.

� Influência do governo sobre as condições de fatores

O papel mais tradicional do governo é a criação e o aperfeiçoamento dos fatores o

que perpassa pelas políticas educacionais, de infra-estrutura básica e de ciência e tecnologia.

A política educacional e de treinamento influencia, diretamente, o fator recursos

humanos, uma vez que quanto maior o nível educacional da população, maior é qualificação

da mão-de-obra e, portanto maior a facilidade para incorporação de novas tecnologias. Da

mesma forma, a presença de centros de treinamento da mão-de-obra permite a constante

atualização dos conhecimentos.

Quanto a política de ciência e tecnologia Porter (1993) afirma que a pesquisa e

desenvolvimento não devem ficar, apenas, nas mãos das empresas, pois os benefícios para a

economia nacional excedem aqueles obtidos pelas empresas, individualmente, em virtude da

generalização do conhecimento, logo o estímulo à melhoria em ciência e tecnologia, também,

é papel do governo.

Porter (1999) coloca outro papel elementar do governo: o de melhorar a

capacidade microeconômica geral da economia, através do aumento da eficiência e da

qualidade dos insumos básicos das empresas (mão-de-obra educada, infra-estrutura física

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apropriada e informação econômica precisa e oportuna) e fomentar as instituições que

fornecem esses elementos.

Os recursos de capital, peça fundamental para o investimento, também podem ser

influenciados pelas políticas governamentais, visto que o governo controla tanto a oferta

quanto o custo do capital, assim uma política que vise estimular o investimento deve tornar o

capital mais barato através do controle das taxas de juros.

O governo pode, também, através das publicações dos seus órgãos de estatística e

pesquisa aumentar o estoque de informação disponível para as empresas, fator cada vez mais

importante na competição.

Quanto aos subsídios diretos, que visam influenciar os custos dos fatores, Porter

(1993) é contrário, e afirma que estes não estão relacionados à verdadeira vantagem

competitiva, na medida em que retardam a inovação em vez de promovê-la. Já os subsídios

indiretos para áreas como educação e pesquisa têm o poder de influenciar a geração de

vantagens competitivas.

Da mesma forma que para os subsídios, Porter (1993) é contrário as políticas

fiscal, monetária, cambial e de regulação cujo objetivo é alterar os custos dos fatores, pois

para ele os movimentos ascendentes que refletem as forças de mercado não devem ser

resistidos e não se devem fazer esforços para provocar a sua baixa.

� Influência do governo sobre as condições da demanda

Para Porter (1993) são basicamente dois os efeitos das políticas governamentais

sobre as condições de demanda. O primeiro é através das compras do governo que podem

tanto ser uma força positiva quanto negativa. É positiva se o governo for um comprador

exigente e sofisticado e se as suas necessidades refletirem demandas futuras em outras

regiões. Porém, será uma força negativa se o governo priorizar a compra de produtos de

empresas locais, diminuindo o estímulo à inovação dessas empresas que sem competidores de

outras regiões não se aprimoram.

O governo, também, pode afetar as condições de demanda através da regulação

dos padrões, produtos e processos. Políticas de regulação rigorosas contribuem para as

empresas melhorarem suas vantagens competitivas, através do aprimoramento do produto e

da tecnologia.

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� Influência do governo sobre a estratégia, estrutura e rivalidade das

empresas

Para Porter (1993) as empresas devem ter uma estratégia global e, portanto o

governo deve ter mecanismos sobre leis de investimento externo direto, controles de câmbio e

de importações.

Outro papel importante do governo é o de assegurar a rivalidade interna, através de

políticas antitruste e de gerar o ambiente propício a formação de novas empresas.

A política comercial, por sua vez, deve se preocupar em abrir mercados e eliminar

práticas injustas. A política tributária deve assegurar às empresas a capacidade de produção e

expansão e não o sobrecarregamento das contribuições.

2.2 COMPETITIVIDADE SISTÊMICA

Este modelo teórico baseia-se no fato de que vantagens competitivas sustentáveis

não são criadas, apenas, no nível micro, ou seja, apenas no ambiente interno das empresas,

mas ao contrário, diversos fatores exógenos influenciam na criação de vantagens competitivas

(COUTINHO; FERRAZ, 1993, ESSER et al, 1996, POSSAS,1996, MEYER-STAMER,

2001, SANTANA, 2002).

Na visão de Possas (1996) os fatores sistêmicos da competitividade podem ser

divididos em três níveis:

a) os fatores que estimulam a criação e a consolidação de um ambiente

competitivo, para isso é necessário o estabelecimento de mecanismos de estímulo

à pressão competitiva que é vista, por esse autor, como um “conjunto de condições

estruturais dos mercados que mantêm as empresas sobre pressão permanente

interna e externa” (POSSAS, 1996). Os instrumentos mais utilizados são os

regulatórios.

b) os fatores que promovam as externalidades à competitividade empresarial, aqui

incluem-se as questões infra-estruturais de transporte, energia, comunicação,

educação básica, qualificação da mão-de-obra, infra-estrutura tecnológica etc.

c) os fatores político-institucionais, abrange as políticas macroeconômicas

(cambial, fiscal, monetária, creditícia, comercial), bem como as políticas de

fomento e promoção (incentivos a ciência e tecnologia, P & D etc).

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Para Coutinho e Ferraz (1993, p. 3) a competitividade sistêmica é:

um modo de expressar que o desempenho empresarial depende e é também

resultado de fatores situados fora do âmbito das empresas e da estrutura industrial

da qual fazem parte, como a ordenação macroeconômica, o sistema político

institucional e as características sócio-econômicas dos mercados nacionais.

Esses autores dividem os determinantes da competitividade em três níveis: os

internos as empresas, os de natureza estrutural e os fatores sistêmicos, como mostra a Figura

2.

Fatores internos

à empresa Fatores estruturais (setoriais)

Fatores sistêmicos

Estratégia e

gestão

Mercado

Configuração

da indústria Concorrência

Internacionais

Sociais

Capacitação

para inovação

Infra-estruturais

Tecnológicos

Capacitação

produtiva

Políticos

institucionais

Fiscais e

Finaceiros

Recursos

humanos

SET

OR

ES

Macroeconômicos

Figura 2: Fatores determinantes da competitividade da indústria. Fonte: COUTINHO; FERRAZ, 1993

a) Os fatores internos à empresa são aqueles que estão sobre o controle direto da

empresa, como a estratégia e a gestão, a capacitação para inovação, a capacitação produtiva,

os recursos humanos.

b) Os fatores estruturais são aqueles que não são controlados, diretamente, pelas

empresas mais que de certa forma exercem influência, como as características do mercado, a

configuração da indústria (grau de concentração, atributos dos insumos etc) e a concorrência

no que diz respeito as regras que definem às condutas e estruturas.

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c) Os fatores sistêmicos são aqueles que estão fora do domínio das empresas

como: as questões macroeconômicas (taxa de câmbio e taxa de juros); as político-

institucionais (políticas tributária e tarifária); as regulatórias (políticas de proteção ambiental);

as infra-estruturais (disponibilidade de energia, transportes, comunicação); as sociais

(qualificação da mão-de-obra e o sistema educacional); as referentes a dimensão regional

(aspectos relativos à distribuição espacial da produção); e as internacionais (tendências do

comércio mundial).

Segundo Esser et al. (1996) esse modelo se distingue dos demais em dois pontos: a

diferenciação entre quatro níveis analíticos distintos (meta, macro, meso e micro) e a

vinculação de elementos pertinentes da economia industrial e da teoria da inovação com os

argumentos do recente debate sobre gestão econômica no desenvolvimento de políticas.

Para esses autores as empresas são competitivas quando cumprem dois requisitos

fundamentais: 1) estão submetidas às pressões competitivas que as obriguem a empregar

esforços sustentados para melhorar seus produtos e sua eficiência produtiva; 2) estão inseridas

em redes articuladas, dentro das quais os esforços de cada empresa são apoiados por toda uma

série de externalidades, serviços e instituições.

Os quatro níveis responsáveis pela criação de vantagens competitivas interagem de

maneira sinérgica, formando um sistema onde as relações são dinâmicas, como mostra a

Figura 3.

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Figura 3: Determinantes da competitividade sistêmica Fonte: SANTANA, 2002.

2.2.1 O nível meta

No nível meta se analisa, principalmente, a capacidade da sociedade para

integração, ou seja, a capacidade estratégica e política dos atores sociais, visto que a

competitividade exige um elevado nível de organização, interação e gestão por parte dos

atores (ESSER et al., 1996).

METANÍVEL - Fatores socioculturais - Padrões básicos político e tecnológicos - Organizações econômicas e estratégias de ação - Capacidade política

MACRONÍVEL - Política orçamentária - Política monetária - Política fiscal - Política comercial - Política cambial

MESONÍVEL - Política de infra-estrutura - Política educacional - Política tecnológica - Política de infra-estrutura tecnológica - Política ambiental - Política regional - Política de importação

MICRONÍVEL - Capacidade gerencial dos empresários - Estratégias de negócios - Inovação dos processos de gestão - Eficiência em todo ciclo de produção - Rede de integração tecnológica e logística interempresarial - Interação entre fornecedores, manufaturas e clientes

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Nesse sentido, é necessário que haja um padrão de gorvenança3 definido e

adequado para apoiar a criação de vantagens competitivas. Segundo Santana (2002) uma

adequada capacidade de governança necessita dispor dos seguintes elementos: 1) uma

orientação das empresas para os mercados doméstico e internacional; 2) uma separação clara

do estado, da economia e de organizações intermediárias.

Em uma economia cada vez mais baseada no conhecimento e na aprendizagem a

integração e a cooperação são fatores fundamentais para geração de vantagens competitivas.

Este nível está diretamente, relacionado a capacidade das empresas de um Arranjo

Produtivo Local (APL)4 em gerar eficiência coletiva, visto que o incremento da

competitividade dos aglomerados, via ações coletivas, depende da ação dos agentes que

planejem, excutem e coordenem estas ações, estes agentes podem ser tanto privados quanto

públicos (MOTTA; HANSEN, 2003)

No caso da indústria de móveis, o nível meta corresponde ao nível onde são

analisadas a capacidade dos atores envolvidos nessa indústria (empresários, governo,

associações, instituições de pesquisa, universidades, centros de treinamento da mão-de-obra

etc.) de interagirem de modo que vantagens competitivas sejam criadas.

2.2.2 O nível macro

Este nível diz respeito aos diversos fatores responsáveis pela estabilidade

microeconômica, onde estão relacionadas as políticas cambial, orçamentária, monetária, fiscal

e comercial.

Cada uma dessas políticas é um fator fundamental para a formação de um

ambiente macroeconômico propício ao desenvolvimento da competitividade. A política

monetária adequada é importante para a manutenção de baixas taxas de inflação, visto que

taxas de inflação elevadas trazem desequilíbrios sociais que inibem o investimento e

conseqüentemente a criação de vantagens competitivas. A política fiscal, por sua vez deve

estimular a produtividade e a geração de divisas. A política cambial deve buscar o equilíbrio

3 É a totalidade das diversas maneiras pelas quais os indivíduos e as instituições públicas e privadas, administram seus problemas comuns. (SEBRAE, 2004) 4 Aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes (ALBAGLI; BRITO, 2004).

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de modo que nem as importações nem as exportações sejam prejudicadas, pois vantagens

advindas de taxas de câmbio elevadas, que favorecem as exportações, são artificiais e não se

sustentam por muito tempo.

Como afirma Santana (2002) a estabilização macroeconômica deve se iniciar com

a reforma orçamentária e fiscal e com as políticas de controle cambial e monetária.

Um exemplo da importância desses fatores foi o impulso sofrido pela indústria de

móveis no Brasil com a estabilização macroeconômica ocorrida após o Plano Real e com a

liberalização econômica, iniciada na década de 1990, quando foi possível a modernização dos

equipamentos através da importação de países como a Itália e a Alemanha (GORINI, 1998).

2.2.3 O nível micro

Neste nível, trata-se do ambiente interno da empresa, sua capacidade gerencial,

suas estratégias, o processo produtivo, suas relações com fornecedores, prestadores de

serviços e clientes etc.

Segundo Santana (2002) e Esser et al. (1996) para incrementar a eficiência, a

flexibilidade, a qualidade e a agilidade dos processos produtivos são necessárias a aplicação

de três mudanças:

a) Organização da produção – encurtar o tempo de produção através da

transferência de ações para as células de manufaturas de modo a responder

rapidamente o desejo dos clientes;

b) Organização do desenvolvimento do produto – estruturação do processo

produtivo em vários estágios de desenvolvimento a fim de reduzir o tempo de

elaboração do produto, aumentar a eficiência e atender adequadamente o mercado;

c) Organização dos canais de oferta – diminuir a integração vertical e aumentar a

especialização.

Para Gorini (1998) a verticalização da produção, uma das principais características

da indústria de móveis brasileira, é um dos obstáculos à criação de vantagens competitivas

para essa indústria, visto que ela impede a especialização.

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2.2.4 O nível meso

Neste nível, estuda-se a formação de um entorno capaz de fomentar, complementar

e multiplicar os esforços ao nível das empresas (ESSER et al, 1996). Assim, estão

relacionadas uma série de políticas, tais como: educacional, ambiental, tecnológica, de

importação, regional, de infra-estrutura física etc.

A política de infra-estrutura física deve assegurar que as vantagens competitivas,

adquiridas no processo produtivo, não sejam anuladas no processo de distribuição, por

deficiências nos canais de distribuição, como estradas ruins, por exemplo. A política

educacional deve assegurar uma educação básica adequada de modo a se constituir uma mão-

de-obra qualificada e/ou apta à qualificação. A política tecnológica deve ter por objetivo

primordial a ampla difusão de novas tecnologias e concepções organizacionais. A política

ambiental, por sua vez, deve assegurar que as vantagens competitivas sejam fruto de uma

eficiência técnica e organizacional e não da exploração exaustiva dos recursos naturais. A

política regional deve assegurar a distribuição uniforme das indústrias pelo território nacional.

Uma das principais deficiências da indústria de móveis é a mão-de-obra pouco

qualificada, que está relacionada a deficiências na política educacional do país, sendo que

muitos operários não chegam nem a ter o ensino fundamental completo. Isso acaba

interferindo, diretamente, na criação de vantagens competitivas, pois sem uma mão-de-obra

qualificada fica difícil implementar inovações tanto de processo quanto de produto.

2.3 SÍNTESE DO REFERENCIAL TEÓRICO

Os dois modelos apresentados apesar de estarem estruturados de maneiras

diferentes têm em comum os seus pressupostos básicos de necessidade de constante mudança

por parte das empresas (inovação) e de incorporação de elementos externos as empresas como

determinantes da competitividade.

No modelo do Diamante de Porter o Governo é apresentado como um elemento

exógeno com forte influência sobre os quatro atributos que compõem o modelo, já na

Competitividade Sistêmica a influência do Governo na competitividade das empresas é

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apresentada em dois níveis de análise, o macro e o meso, que englobam todas as políticas

governamentais.

O que no modelo de Competitividade Sistêmica é representado como micronível e

incorpora todos os elementos que estão relacionados ao ambiente interno das empresas ou

questões externas sobre as quais exercem influência, como estratégias, capacidade gerencial,

integração com fornecedores e clientes, eficiência no ciclo de produção, no modelo do

Diamante de Porter abrange os quatro atributos da vantagem competitiva (condições de

fatores, condições de demanda, indústrias correlatas e de apoio e estratégia, estrutura e

rivalidade).

O diferencial do modelo de Competitividade Sistêmica, em relação ao modelo do

Diamante de Porter, está na presença do metanível como fator determinante da

competitividade das empresas, fator que capta a importância dos agentes de governança

(sindicatos, federações de indústria etc.) na integração dos diversos agentes envolvidos no

processo de criação de vantagens competitivas.

Dessa forma, percebe-se que os dois modelos apresentados são estruturas

complementares de abordagem da competitividade das empresas de tal forma que a análise

dos resultados abordará aspectos dos dois modelos. A Figura 4 mostra uma integração dos

elementos que compõem o Diamante de Porter e a Competitividade Sistêmica.

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34

Figura 4: Síntese da Teoria Fonte: Elaboração própria.

ESTRATÉGIA, ESTRUTURA E RIVALIDADE

AMBIENTE INTERNO

(MICRONÍVEL)

CONDIÇÕES DE

DEMANDA

CONDIÇÕES DE

FATORES

INDÚSTRIAS CORRELATAS E DE APOIO

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35

3 REVISÃO DA LITERATURA

A indústria de móveis internacional, de modo geral, tem como característica

principal a fragmentação, ou seja, é formada, basicamente, por empresas de pequeno e médio

porte.

Na Itália, maior exportadora de móveis do mundo, a característica marcante, além

da fragmentação, é a alta especialização e, conseqüentemente, a baixa verticalização da

produção. As grandes empresas dedicam-se, exclusivamente, à montagem e ao acabamento

dos móveis, sendo que as peças e os componentes são produzidos por pequenas empresas

localizadas ao redor das grandes e subcontradas por estas, formando, assim, um aglomerado

de empresas altamente especializadas e competitivas que cooperam entre si, são os

conhecidos clusters industriais italianos. Outras características da indústria italiana de móveis,

que podem explicar a sua competitividade, são: a forte presença do design como fator de

diferenciação do produto e a forte interação entre a indústria de móveis e a de bens de capital.

A indústria de móveis alemã, segunda maior exportadora, produtora e

consumidora do mundo, foge da tendência mundial da indústria de móveis, sendo, assim,

caracterizada pela verticalização. Porém, bem como na indústria italiana, percebe-se a forte

interação entre a indústria de móveis e a de bens de capital, um importante fator determinante

da competitividade.

Além da Itália e da Alemanha outros países desenvolvidos destacam-se na

indústria mundial de móveis como Canadá, Dinamarca e França, além dos Estados Unidos

que é o maior produtor, maior consumidor e maior importador de móveis. Países em

desenvolvimento, como China e Taiwan, têm aumentado, nos últimos anos, as suas parcelas

de participação no mercado.

Essa indústria, recentemente, passou por algumas transformações no padrão

tecnológico com a mudança dos equipamentos eletro-mecânicos por eletro-eletrônicos, além

de inovações técnicas de gestão empresarial, de processo (que reduziu a necessidade de mão-

de-obra), de produto (com o aprimoramento do design) e de materiais, principalmente devido

a crescente preocupação com as questões ambientais.

No Brasil, também, observa-se a fragmentação da indústria de móveis com

elevado número de micro e pequenas empresas, somente de empresas formais são 16.112

micro, pequenas e médias empresas, que geram 189.372 empregos formais (ABIMÓVEL,

2005). Outra característica da indústria de móveis nacional é a verticalização da produção,

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sendo que as empresas concentram grande parte do processo produtivo, desde a secagem da

madeira até a produção dos móveis. Segundo Gorini (1998) isso contribui para o baixo grau

de especialização, o que leva a indústria a produzir uma multiplicidade muito grande de

produtos com menor eficiência e em escalas reduzidas.

A indústria de móveis do Brasil foi privilegiada com a liberalização ocorrida na

década de 1990, visto que possibilitou a aquisição de máquinas e equipamentos provenientes,

principalmente, da Alemanha e da Itália, o que deu um impulso muito grande à produção

nacional e as exportações, sendo que, em 2004, o faturamento desse setor foi de US$ 4.271

milhões (ABIMÓVEL, 2005).

Além dessas, outra característica é a forte concentração regional da indústria

moveleira nacional, sendo que os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

Paraná respondem por 82% da produção nacional.

Os principais pólos moveleiros no Brasil são: Votuporanga (SP), São Bento do Sul

(SC), Ubá (MG), Arapongas (PR), Bento Gonçalves (RS), Linhares e Colatina (ES)

(VILLASCHI; BUENO, 2000).

Segundo dados da ABIMOVEL (2005) o Estado do Pará ocupou, em 2004, a 7°

posição no rank dos Estados exportadores e possui 127 empresas formais que empregam

1.682 trabalhadores, os dois pólos de destaque são o da RMB e o município de Paragominas.

Porém, poucos estudos foram produzidos para esta indústria, um deles, o de Carvalho e

Santana (2004) faz uma análise da organização e da competitividade da indústria de móveis

do Pará, tendo como base teórica o modelo de Competitividade Sistêmica, o modelo ECD,

além dos conceitos de cluster industrial e de cadeia produtiva.

Quanto a abordagem de cluster industrial, esses autores afirmam que a economia

da Amazônia é fragmentada e os seus agentes atuam de forma desarticulada logo, o que se

observa são pré-clusters ou clusters de sobrevivência, classificação na qual o aglomerado das

empresas de móveis, também, se enquadra.

Segundo esses autores um cluster para atingir sua maturidade deve passar por

quatro fases: 1) extração do produto natural com baixo grau de elaboração; 2) um pequeno

avanço no processo de acabamento do produto; 3) início da exportação de produtos com um

alto grau de utilização de bens e serviços; 4) plenitude da agregação de valor a matéria-prima.

Nessa pesquisa os autores detectaram algumas características importantes das

empresas de móveis do Estado do Pará como: 1) a grande maioria são micro e pequenas

empresas o que acompanha a característica da indústria nacional; 2) a presença de diversos

fatores limitantes à expansão no mercado nacional e internacional, como o baixo índice

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tecnológico, a falta de padronização do produto, a pouca diversificação e diferenciação dos

produtos, a ausência de um design próprio e a ausência de informação sobre o mercado

internacional.

Outro ponto detectado por Carvalho e Santana (2004) foi a participação das

empresas em associações ou entidades setoriais, principalmente cooperativas e associações de

classe, que para esses autores são o cerne da formação de APL, porque permitem a troca de

informações e o compartilhamento de inovações, além da ação conjunta para lidar com

fornecedores e clientes.

No que diz respeito, ao desempenho das empresas, medido através do market-

share (uma medida de competitividade ex-post), cerca de 80,2% das empresas manteve e/ou

aumentou sua participação no mercado relativamente ao ano anterior. Os autores, também,

utilizaram a análise da competitividade ex-ante e constataram que as empresas de móveis do

Estado do Pará são competitivas no mercado local.

Outro estudo que utiliza o referencial da competitividade sistêmica para analisar a

indústria de móveis é o desenvolvido por Lanzer et al. (1998), no qual o setor de móveis de

Santa Catarina, mais especificamente da região de São Bento do Sul (principal pólo produtor

de móveis do Estado e um dos principais do Brasil), é analisado com base no modelo teórico

da competitividade sistêmica.

Analisando cada um dos níveis que compõem o conceito de competitividade

sistêmica, os autores verificaram que entre as principais economias externas presentes nesse

pólo moveleiro estão: a) existência de um sistema fluído de abastecimento de matérias-primas

e insumos; b) disponibilidade de mão-de-obra experiente e de alta mobilidade; c) presença de

um conjunto de empresas prestadoras de serviços vinculados ao comércio exterior; d)

presença do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (FETEP/SENAI) e da

Universidade da Região de Joinvile (UNIVILLE); e) desenvolvimento de um conjunto de

microempresas especializadas em tarefas e serviços de apoio.

Já entre os principais problemas percebidos pelas empresas em seu ambiente

competitivo estão: a) a valorização cambial; b) concorrência desleal de outras empresas da

região e de Santa Catarina; c) falta de financiamento adequado para investimento; d) elevados

custos tributários, sociais, trabalhistas e financeiros.

Lanzer et al. (1998) constataram, assim, que a excessiva diversificação e

verticalização das empresas, o fraco entrelaçamento entre elas e as deficientes relações de

parcerias impedem que as empresas se beneficiem de ganhos de escala e eficiência que um

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38

elevado grau de especialização flexível e atuação em redes cooperativas poderiam

proporcionar à indústria como um todo.

A Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (REDESIST),

também possui alguns estudos sobre a indústria moveleira, com destaque para o que analisa a

competitividade, capacitação tecnológica e inovação no arranjo produtivo moveleiro da Serra

Gaúcha elaborado por Vargas e Alievi (2000). Para esses autores a presença de empresas de

grande porte no arranjo é um fator muito importante, visto que apresentam um nível de

capacitação, tanto no que se refere a processo produtivo como em termos de inovação e

design e funcionam como empresas líderes.

Quanto a configuração institucional do arranjo moveleiro da Serra Gaúcha, os

autores detectaram a presença de quatro instituições que interagem com as empresas: o Centro

Nacional de Tecnologia em Mobiliário e Madeira (CETEMO), vinculado ao SENAI, que

presta serviços de informações, assistência técnica e tecnológica, pesquisa básica e

qualificação de recursos humanos; a Associação das indústrias de Móveis do Estado do Rio

Grande do Sul (MOVERGS), que atua com o objetivo central de desenvolver e representar o

setor moveleiro, facilitando o acesso ás informações e as novas tecnologias; o Sindicato das

Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves, que atua no sentido de obter melhores

condições de desenvolvimento para o setor; e a Universidade de Caxias do Sul (UCS) que no

campus de Bento Gonçalves possui o Centro de Tecnologia em Produção Moveleira.

Outro estudo da REDESIST para indústria moveleira é o do Arranjo Produtivo

Florestal – Moveleiro de Xapuri no Acre elaborado por Silva et al. (2004). O arranjo florestal-

moveleiro de Xapuri é formado por seis marcenarias, uma marcenaria comunitária, o Pólo de

Indústrias Florestais de Xapuri (PIFLOR) – constituído por uma empresa de fabricação de

móveis decorativos (Aver Amazônia) e uma Escola-Marcenaria, pelo Projeto de

Assentamento Agroextrativista Chico Mendes (PAE Chico Mendes) que produz madeira

certificada e por um conjunto de instituições, como a Prefeitura, os governos estadual e

federal, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), o SENAI, a

Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

Este arranjo, ainda, possui ligações horizontais incipientes, porém a sinergia entre

as empresas e as instituições como o Centro Tecnológico da Madeira e do Mobiliário

(CETEMM) deve aumentar com a fundação do Sindicato tanto que o setor já possui um

Programa de design desenvolvido pelo SENAI/CETEMM em parceira com a Faculdade de

Belas Artes de São Paulo.

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Com exceção da Aver Amazônia, que tem características próprias, como o design

exclusivo, mão-de-obra qualificada em unidades produtivas da empresa em outros Estados, a

utilização de madeira certificada da PAE Chico Mendes e parceria com uma empresa de

decoração de São Paulo, as demais marcenarias do arranjo trabalham na reprodução de

modelos feitos sob encomenda pelos clientes locais e apresentam um déficit tecnológico onde

a maioria dos equipamentos são antigos e de segunda mão.

Mesmo com a presença da Escola – Marcenaria, que é coordenada por uma pessoa

com larga experiência na área vinda da Itália, não há uma relação de governança entre os

agentes envolvidos no arranjo, o que reduz a eficácia da atuação desses agentes.

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4 METODOLOGIA

4.1 ÁREA DE ESTUDO

O Estado do Pará não possui pólo entre os pólos de destaques da indústria de

móveis nacional, porém tem atingido bons resultados nos últimos anos na exportação de

móveis, principalmente por ser um dos maiores exportadores de madeira do país, o que

facilita o acesso à matéria-prima.

Duas áreas têm conseguido destaque na produção de móveis no Estado do Pará, a

RMB e o Município de Paragominas.

Esta pesquisa teve como enfoque as empresas de móveis da RMB que abrange os

municípios de Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara, pois é onde está

concentrada a maioria das empresas exportadoras de móveis do Estado e a maior parte do

mercado consumidor.

Mapa 1: Região Metropolitana de Belém Fonte: IBGE

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4.2 FONTE DOS DADOS

A análise será feita com base em dados primários da pesquisa “Organização e

Competitividade da Indústria de Móveis do Pará", que usou como base para a determinação

das empresas pesquisadas o cadastro do SEBRAE que contempla tanto as empresas formais

quanto as informais.

Com base nesse cadastro a população das empresas moveleiras da RMB é de 337.

O cálculo da amostra foi feito utilizando-se a fórmula:

)1N(eSZNSZ

n 222

22

−+=

em que:

S = desvio padrão da média da amostra

Z = valor da variável normal reduzida para o nível de confiabilidade desejado

e = erro máximo permitido

N = número de elementos da população

n = número de elementos da amostra.

Admitindo o nível de confiança de 95% o tamanho da amostra das empresas de

móveis da RMB é de 32, sendo que a escolha das empresas segue a técnica da Amostra

Aleatória Simples. Porém, devido a necessidade de se obter informações sobre as médias e

grandes empresas como forma de corrigir a distribuição da variabilidade do conjunto de dados

a amostra sofreu um aumento e foram pesquisadas 53 empresas da RMB (CARVALHO;

SANTANA, 2004).

O questionário utilizado na coleta dos dados foi dividido em seis blocos, cada um

deles abordando aspectos distintos do funcionamento da empresa. São eles:

1) informações gerais das empresas – nome, endereço, nome do entrevistado e

posição na empresa e a alternativa utilizada pela empresa para crescer, caso seja manifestada a

vontade e capacidade para tal fim;

2) caracterização da empresa – tipo de sociedade empresarial, objetivos da

empresa, tempo de funcionamento, total de pessoas ocupadas, faixa salarial, critérios

utilizados na seleção dos empregados, escolaridade do pessoal ocupado, áreas em que há

realização de treinamento, subcontratação de serviços, variação da capacidade produtiva,

faixa em que se situa a capacidade ociosa e participação em associações ou entidades

setoriais;

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3) acesso ao crédito – obtenção de crédito de curto e de longo prazo, origem do

empréstimo, recebimento de assistência técnica, dificuldades para obter assistência técnica,

para ter acesso ao crédito e para liquidação do crédito;

4) abastecimento e mercado – número de fornecedores, principais matérias-primas

utilizadas, origem da principal matéria-prima, acesso às informações regulares, critérios de

seleção dos fornecedores, o tipo dos principais clientes, destino das vendas, tempo de venda

para o mercado nacional, base de mercado do principal produto da empresa, como realiza a

exportação caso esta ocorra, base do mercado dos principais clientes internacionais, margem

de lucro sobre os custos totais, fatores que favorecem a inserção da empresa nos mercados

nacional e internacional, os principais problemas de acesso a outros mercados, tipos de

exigências que incidem sobre os produtos da empresa, formas utilizadas para acompanhar as

tendências de mercado, estratégias utilizadas pela empresa para se manter no mercado, o

padrão dos móveis de madeira produzidos, fatores que mais influenciam no preço do produto

e logística de transporte utilizada pela empresa;

5) capacitação gerencial, produtiva e tecnológica – realização de controle de

qualidade na produção, nos insumos e nos componentes utilizados, normas técnicas utilizadas

quanto ao processo e quanto ao produto, técnicas de organização da produção usadas pela

empresa, idade média das máquinas da empresa, dificuldades na implementação de qualidade

e produtividade, organização da empresa em departamentos, utilização de programas de

microcomputadores, os principais problemas da empresa para funcionar, tipo de apoio que a

empresa precisa para melhorar e desenvolver, necessidades da empresa para ampliar o

horizonte de mercado e exportar;

6) desempenho – variação da margem de lucro, do volume de vendas, do custo de

produção, da participação da empresa no mercado e do número de empregados da empresa,

magnitude do faturamento em 2002, posição da receita operacional bruta e percentagem da

receita líquida operacional sobre o faturamento, após a dedução dos impostos, depreciação e

juros a pagar.

Este questionário foi aplicado nas empresas selecionadas pela técnica da Amostra

Aleatória Simples no ano de 2003.

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4.3 MODELO ANALÍTICO

4.3.1 Estrutura de mercado

Segundo Ferguson e Ferguson (1998) a estrutura de mercado pode ser descrita

considerando-se (em conjunto ou separadamente) o número de empresas, a diferenciação de

produtos, as condições de entrada e o grau em que as empresas são verticalmente integradas,

porém a medida mais freqüente é a concentração de mercado.

As medidas de concentração de mercado mostram o grau em que a produção de

um bem ou serviço está concentrado em um pequeno número de grandes empresas, assim

quanto menor o número de empresas e/ou maior a disparidade de tamanho entre elas, maior é

a concentração de mercado e, conseqüentemente, menor é a competitividade (FERGUSON;

FERGUSON, 1998).

Resende e Boff (2002), porém, alertam para o fato de que existem pelo menos três

razões para esses índices, construídos através de participações nos mercados, não serem

completos: i) se a entrada em um mercado for fácil, nenhuma empresa poderá exercer poder

de mercado, não importando o quão ampla seja sua participação neste mercado; ii) uma

empresa pode ter uma parcela de mercado elevada não decorrente de poder de mercado mas

advinda de custos reduzidos ou de produtos de qualidade superior; iii) o cálculo de medidas

de concentração pressupõe a delimitação de mercado e implica ignorar a disciplina exercida

por substitutos próximos, comercializados em outros mercados.

Ainda assim, os índices de concentração de mercado são bastante usados nos

trabalhos empíricos devido à sua relativa facilidade de cálculo e o potencial de análise dos

mesmos. Segundo Kon (1999) os índices de concentração mais utilizados são a Taxa de

Concentração de Mercado (TCM), o Índice Hirschman-Herfindahl (IHH), o Índice de Joly, o

Coeficiente de Entropia e o Coeficiente de Gini. Neste trabalho foram calculados a TCM e o

IHH.

� Taxa de Concentração de Mercado (TCM)

Este índice é uma medida de concentração de mercado parcial, ele mede a

proporção representada por um número fixo (geralmente 4 ou 8) maiores empresas da

indústria em relação ao total da indústria, tomando-se como base o market share (parcela de

mercado). É representado pela seguinte fórmula (RESENDE; BOFFF, 2002):

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�=

=k

1iiMSTCM (1)

onde:

k = 4 ou 8 maiores empresas

XX

MS ii = = market share

=iX a informação disponível sobre a empresa, que pode ser quantidades produzidas, vendas

totais, número de empregados etc.

�=

=n

1iiXX , n = total de empresas

A TCM tem limitações como afirmam Resende e Boff (2002), tais como: i) ela

ignora a presença das demais empresas, assim fusões horizontais ou transferências de

mercado que ocorram entre elas não alterarão o valor do índice; ii) não leva em consideração

a participação relativa de cada empresa no grupo das maiores.

� Índice Hirschman-Herfindahl (IHH)

Esta é uma medida de concentração sumária, visto que considera todas as

empresas da indústria (RESENDE; BOFF,2002). Ele é calculado pela fórmula:

�=

=n

1i

2iMSIHH (2)

Segundo Cabral (2000) e Resende e Boff (2002) este índice proporciona uma

melhor medida para a concentração de mercado, visto que ao elevar ao quadrado a parcela de

mercado ele atribui um peso maior às empresas relativamente maiores, assim quanto maior o

IHH maior a concentração de mercado.

O IHH = 10000 equivale a um MS = 100, ou seja, uma estrutura extremamente

concentrada (monopólio). Da mesma forma, o IHH abaixo de 1000 equivale a um mercado

não concentrado e entre 1000 e 1800 equivale a uma concentração baixa.

4.3.2 Análise fatorial

A análise fatorial é uma técnica multivariada que tem como objetivo principal

facilitar a interpretação de grandes quantidades de dados, dessa forma ela permite explicar o

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comportamento de um número grande de variáveis em relação a uma pequena quantidade de

fatores, que são combinações lineares das variáveis originais (ZAMBRANO; LIMA, 2004).

Ela foi empregada, neste trabalho, com o objetivo de agrupar variáveis

semelhantes e, assim, fornecer os fatores determinantes da competitividade das empresas de

móveis da RMB que posteriormente serão utilizados no modelo econométrico e no cálculo do

IDC.

O desenvolvimento da técnica da análise fatorial feito por Barroso e Artes (2003)

considera que tp1 )X,....,(XX = é o vetor de variáveis observadas e t

p1 ),...,()X(E µµ=µ= é

o vetor média de X, assim o modelo de análise fatorial é dado por:

1mm111111 F....FX ε+φ++φ=µ−

2mm212122 F...FX ε+φ++φ=µ−

. . .

. . .

. . .

pmpm11ppp F...FX ε+φ++φ=µ−

em que: p1 F,...,F = são os fatores comuns

ijφ p,...,1i = e m,...,1j = = são as cargas fatoriais

=ε i são os fatores específicos.

Na forma de matriz:

ε+Φ=µ− FX (3)

onde: tm1 )F,...F(F =

tp1 ),...,( εε=ε

�������

�������

φφφ

φφφφφφ

pmp21p

2m2221

1m1211

.... . . .. . .

....

....

No desenvolvimento da técnica de análise fatorial é necessário considerar algumas

suposições a respeito de F: 0)F(E i = e m1,...,i ,1)F(Var i ==

É necessário admitir também que: 1) mI)F(Cov = ; 2) 0)(E =ε ; 3)

),...,(diag)(Cov p1 ψψ=Ψ=ε ; 4) 0),F(Cov =ε .

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Partindo dessas suposições tem-se que:

)F;F....F....F(Cov)F,X(Cov jmimjij11iji φ++φ++φ=

ijjjijji )F;F(Cov)F,X(Cov φ=φ= (4)

Logo, as cargas fatoriais ijφ são as covariâncias medidas entre as variáveis

observadas e os fatores comuns.

Sendo Σ a matriz de covariância de X, tem-se que:

)F(Cov)X(Cov ε+Φ==Σ

Ψ+ΦΦ=Σ t (5)

A expressão (5) é uma maneira alternativa de expressar o modelo de análise

fatorial.

O método mais utilizado para estimação do modelo de análise fatorial é o das

componentes principais. A vantagem deste método é que nele não há necessidade de

pressuposição da normalidade das variáveis envolvidas, assim sendo a decomposição

espectral (uma matriz simétrica A passa a ser escrita como tA ΓΛΓ= ) da matriz Σ é: tΓΛΓ=Σ

em que: Λ = matriz diagonal de autovalores de Σ , sendo que os autovalores são as raízes da

equação 0I =λ−Σ .

),...,( p1 αα=Γ = matriz dos respectivos autovetores que são vetores não-nulos associados aos

autovalores e que satisfazem a condição iii αλ=αΣ .

Assim, Ψ+ΦΦ=ααλ++ααλ++ααλ=Σ ttppp

tmmm

t111 .......

Daí tem-se que:

),...,(),...,( m1mm11 φφ=αλαλ=Φ

Uma vez que os autovalores são ortonormais, ou seja, 0 e 1 jtii

ti =αα=αα , se

ji ≠ , tem-se que:

�=

λ=αλαλ=φj

1ij11

t11

2ij )()( (6)

Ou seja, o autovalor ( jλ ) é a soma das cargas fatoriais do fator j e expressa a

parcela da variabilidade total que é explicada pelo fator j.

A comunalidade que indica a porção da variância total das variáveis associadas aos

fatores comuns é dada por:

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2im

21i

2i ...c φ++φ= (7)

E iψ é a parcela não explicada e representa a especificidade da variável iX .

Sendo �=

σ=σp

1i

2i

2T a variabilidade total dos dados, 2

T

p

1i

2ij

σ

φ�= é a proporção da

variância total dos dados que é explicada pelo fator j e 2T

p

1i

2ic

σ

�= é a proporção da variabilidade

total dos dados que é explicada pelo conjunto de fatores comuns.

Porém, como trata-se de um conjunto de dados com variáveis com variâncias de

magnitudes diferentes, utiliza-se variáveis padronizadas, e nesse caso, trabalha-se com a

matriz de correlação ao invés da matriz de covariância, assim:

Ψ+ΦΦ=ρ t (8)

Nesse caso, as cargas fatoriais são as correlações entre as variáveis originais e os

fatores comuns:

ijji )F,X(Corr φ= (9)

Segundo Hair et al. (2005) uma ferramenta importante para interpretação dos

fatores é a rotação fatorial. As soluções de fatores não-rotacionados extraem fatores na ordem

de sua importância, sendo que cada fator explica porções, sucessivamente, menores de

variância. O efeito final de rotacionar a matriz fatorial é redistribuir a variância dos primeiros

fatores para os últimos com o objetivo de atingir um padrão fatorial mais simples e

teoricamente mais significativo. A rotação mais comum é a rotação ortogonal, na qual os

eixos são mantidos a 90°.

Geometricamente, essa operação consiste em pós multiplicar a matriz de cargas

fatoriais ( Φ ) por uma matriz ortogonal, sendo que o método varimax de rotação ortogonal é o

mais utilizado em análise fatorial (BARROSO; ARTES, 2003).

Quanto a escolha do número de fatores tanto Hair et al. (2005) quanto Barroso e

Artes (2003) abordam vários critérios, porém o mais utilizado é o de Kaiser, também

conhecido como critério da raiz latente segundo o qual o número de fatores deve ser igual ao

número de autovalores maiores ou iguais a 1.

Já o critério de adequação da análise fatorial mais utilizado é o coeficiente KMO

(Kaiser-Meyer-Olkin) no qual as correlações parciais entre pares de variáveis, eliminando o

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efeito das demais, devem ser pequenas se o modelo for adequado (BARROSO; ARTES,

2003):

�� ��

��

= = = =

= =

+= p

1i

p

1j

p

1i

p

1j

2ij

2ij

p

1i

p

1j

2ij

ar

rKMO (10)

em que: ija é a correlação parcial entre iX e jX eliminando o efeito das demais variáveis.

Uma escala para interpretação de KMO é dada na Tabela 1.

Tabela 1 - Interpretação do KMO KMO Interpretação

0,80 - 1,00 Excelente 0,70 - 0,80 Ótimo 0,60 - 0,70 Bom 0,50 -0,60 Regular 0,00 - 0,50 Insuficiente

Fonte: BARROSO; ARTES, 2003

Dessa forma, a técnica descrita acima foi utilizada para alcançar um dos objetivos

propostos, nesta pesquisa, que é identificar os fatores determinantes da competitividade das

empresas de móveis da RMB.

As variáveis que foram utilizadas para este fim estão elencadas no quadro abaixo e

o software utilizado para o desenvolvimento do modelo de análise fatorial foi o SPSS 13.0.

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V1 organização em departamentos V2 subcontratação da produção ou de serviços V3 nível de capacidade ociosa V4 obtenção de crédito de curto prazo V5 obtenção de crédito de longo prazo V6 total de pessoas ocupadas V7 salário médio

V8 qualificação: percentual de funcionários com instrução maior ou igual ao ensino fundamental

V9 indicador de tecnologia: média do tempo de uso das máquinas V10 presença de assistência técnica V11 normas de utilização quanto ao produto V12 tempo de venda para o mercado nacional V13 clientes: fatores que favorecem a escolha dos clientes V14 número de fornecedores V15 critério de escolha do fornecedor V16 market share V17 margem de lucro Quadro 1- Variáveis que serão utilizadas na análise fatorial Fonte: Elaboração própria

4.3.3 Análise do desempenho competitivo

Conforme Possas (1999) a competitividade é um conceito ex-post e ex-ante.

Assim, a análise do desempenho das empresas pode ser feita utilizando esses dois parâmetros.

Na análise ex-post, verifica-se o desempenho efetivamente ocorrido através do cálculo de

taxas de aumento das vendas, parcela de mercado e lucro. Na análise ex-ante consideram-se

as estratégias estabelecidas pelas empresas no curto prazo e que se consolidam no médio e

longo prazo, refletindo-se no desempenho ex-post (CARVALHO; SANTANA, 2004;

GOMES, 2003).

Neste trabalho, o desempenho ex-post foi medido através de indicadores como a

variação da capacidade produtiva, variação da margem de lucro, percentual da receita líquida

operacional sobre o faturamento, evolução dos custos e evolução do market share.

Outras maneiras utilizadas para medir o desempenho competitivo das empresas

foram a análise de regressão e o índice de desempenho competitivo.

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� Análise de Regressão

O desempenho competitivo das empresas de móveis da RMB, também, foi medido

através do modelo econométrico especificado abaixo, onde a variável dependente é o

faturamento e as variáveis independentes são os escores fatoriais dos fatores determinantes da

competitividade encontrados através da análise fatorial.

inn22110i F....FFY ε+α++α+α+α= (11)

em que: =iY o indicador de competitividade – faturamento da empresa i.

=n21 F,...,F,F os fatores determinantes da competitividade obtidos através da análise fatorial.

=ε i termo de erro

A regressão foi obtida através do método dos Mínimos Quadrados Ordinários

(MQO), calculado utilizando o software Eviwes 3.0.

Os sinais dos coeficientes do modelo econométrico especificado acima

( ),...,, n10 ααα poderiam ser tanto positivo quanto negativo, visto que os fatores de

competitividade encontrados através da análise fatorial ( )F,....,F,F n21 podem influenciar o

faturamento positiva ou negativamente.

� Índice de Desempenho Competitivo

Outra maneira de medir a competitividade das empresas de móveis da RMB,

aplicada neste trabalho, foi o cálculo do Índice de Desempenho Competitivo (IDC).

Este índice é dado pela soma dos escores fatoriais padronizados obtidos pela

análise fatorial ponderados pelas respectivas parcelas de explicação na variância total dos

dados de cada fator, de tal modo que (SANTANA, 2006.):

��=

=

λ

λ=

6

1jj6

1jj

j FIDC (12)

onde: minmax

minjj FF

FFF

−−

= é o escore fatorial padronizado

minF = escore fatorial mínimo do fator j

maxF = escore fatorial máximo do fator j

jλ = percentual da variância explicada pelo fator j

O cálculo deste índice fornece um número entre 0 e 1, sendo que conforme

Santana (2006):

IDC ≥ 0,7 = alto desempenho competitivo

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51

0,4 ≤ IDC < 0,7 = desempenho competitivo intermediário

IDC < 0,4 = baixo desempenho competitivo.

Dessa forma, o IDC possibilitou a hierarquização das empresas de acordo com o

seu nível de desempenho competitivo.

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52

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS DE MÓVEIS DA REGIÃO

METROPOLITANA DE BELÉM.

Do conjunto de empresas de móveis pesquisadas na RMB, a maioria (60,38%) está

localizada no Município de Belém e as demais estão distribuídas nos municípios de

Ananindeua (15,09%), Marituba (13,21%) e no Distrito de Icoaraci (11,32%), concentrando,

assim, a maior parte das empresas de móveis na apital (71,70%) visto que o Distrito de

Icoaraci faz parte de Belém, isso ocorre em função do tamanho do mercado consumidor da

apital ser maior do que o dos demais municípios.

No que diz respeito ao tamanho das empresas (segundo o número de funcionários),

observa-se que as empresas de móveis da RMB seguem a tendência da indústria nacional e

mundial, pois 86,79% são microempresas (até 19 empregados), 11,32% são pequenas

empresas (de 20 a 99 empregados) e, apenas, 1,89% é média empresa (de 100 a 499

empregados), Gráfico 1.

86,79%

11,32% 1,89%

Micro Pequena Média

Gráfico 1 – Classificação das empresas segundo o número de empregados da RMB, 2003. Fonte: Pesquisa de campo

Da mesma forma, na classificação do tamanho da empresa com base no

faturamento, também, predominam as microempresas com faturamento anual até

R$ 244.000,00 (77,27%), em seguida vêm as pequenas empresas entre R$ 244.001,00 e

R$ 1.200.000,00 (15,91%) e 8,89% das empresas são de porte médio (de R$ 1,2 milhão e R$

35 milhões).

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53

O tamanho da empresa, quando relacionado às economias de escala5 e a escala

ótima de produção, pode funcionar como uma importante barreira à entrada de outras

empresas, na medida em que qualquer nova entrante no mercado ou terá prejuízos por

produzir além da demanda ou por se estruturar numa escala abaixo da escala ótima,

neutralizando, assim, a ameaça de novos entrantes uma das cinco forças de Porter que

ameaçam a competitividade das empresas.

Porém, mais importante do que o porte são a organização, o planejamento e a

definição de estratégias para a empresa se enquadrar na escala ótima de produção e, assim,

criar barreiras à entrada de novas empresas.

Outra característica da indústria de móveis da RMB é o elevado número de

empresas que está no mercado há mais de 5 anos (60,38%). Essas empresas, por estarem a

mais tempo desenvolvendo suas atividades dentro da indústria já tiveram a possibilidade de

criar o know how necessário à expansão para outros mercados, através do aprimiramento de

técnicas eficazes de organização da produção, estreitamento da relação com os fornecedores e

clientes, adoção de novas tecnologias através da renovação das máquinas e equipamentos e

principalmente através do aperfeiçoamento da mão-de-obra (curva de aprendizagem).

Além disso, esse aperfeiçoamento proporciona às empresas um aumento na

produtividade derivado da redução dos custos, visto que uma empresa ganha experiência ao

produzir e seus custos médios caem. Assim, a curva de aprendizagem descreve a relação entre

a produção acumulada das empresas e a quantidade de insumos necessários à produção de

uma unidade de produto fazendo o custo de produção da empresa diminuir, ao longo do

tempo, à medida que administradores e trabalhadores se tornem mais experientes e eficazes na

utilização da fábrica e dos equipamentos (PINDYCK; RUBINFELD, 1999).

Por outro lado, as empresas cujo tempo de funcionamento é de até 2 anos

(20,75%), ainda não puderam desenvolver um conhecimento sólido sobre o processo

produtivo, os custos de produção e a legislação, além de não terem tido tempo de estabelecer

bons relacionamentos com os fornecedores e os concorrentes (Tabela 2).

5 Produzir mais ao menor custo (PINDYCK; RUBINFELD, 1999).

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Tabela 2 – Tempo de funcionamento das empresas de móveis da RMB, 2003. Tempo Frequência Percentual Menos de 1 ano 2 3,77% De 1 a 2 anos 9 16,98% Mais de 2 a 5 anos 10 18,87% Mais de 5 anos 32 60,38% Total 53 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

5.1.1 Objetivos das empresas de móveis da RMB

No que diz respeito aos objetivos principais da empresa (Tabela 3), verificou-se

que, apenas, 14,29% das empresas de móveis da RMB têm como um dos seus objetivos a

maximização do lucro, característica da empresa neoclássica e, neste caso, as empresas

dirigem seus esforços na busca da melhor alocação dos recursos produtivos e na determinação

dos preços, buscando resultados no curto prazo (DANTAS; KERTSNETZKY; PROCHNIK,

2002). Na empresa neoclássica, definir os limitantes do tamanho da firma é definir o que

limita a quantidade de dado produto a ser produzido, tendo em vista os custos e os

rendimentos previstos, ou seja, o lucro previsto (KON, 1999).

Outro objetivo apontado pelas empresas de móveis da RMB como um dos

principais é o crescimento através do aumento do tamanho da empresa, com 20,78%,

buscando esse objetivo as empresas esperam uma menor influência das forças de mercado

sobre a alocação dos recursos produtivos e uma maior autonomia para as decisões de

planejamento de sua atividade econômica, ou seja, ao contrário da empresa neoclássica que

tem como foco central o mercado, nessas empresas o foco é a empresa como unidade de

tomada de decisão, onde questões como investimento, formas de financiamento etc. ganham o

espaço da maximização do lucro.

Porém, o objetivo com maior percentual de respostas (59,74%) foi o de aumentar o

volume de vendas. Essas empresas que declararam tal postura estão de acordo com a teoria

institucionalista, segundo a qual a empresa como instituição é comandada por administradores

com objetivos próprios, não necessariamente coincidentes com os objetivos dos proprietários,

neste sentido surge como objetivo da empresa o aumento da parcela de participação no

mercado (market share) que se dá através do aumento volume de vendas.

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Tabela 3 – Principais objetivos de crescimento das empresas de móveis da RMB, 2003. Objetivo Frequência Percentual Aumentar o volume de suas vendas 46 59,74% Aumentar o tamanho da empresa (crescer) 16 20,78% Maximizar o lucro da empresa 11 14,29% Outros 4 5,19% Total 77* 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo. * Era possível a escolha de mais de um objetivo

Essa visão mais institucionalista e menos neoclássica, detectada nas empresas de

móveis da RMB, sinaliza para uma maior preocupação das empresas com os resultados de

longo prazo do que com os de curto prazo (maximização do lucro) sendo este um indicador

positivo para aquisição de vantagens competitivas sustentáveis.

5.1.2 Estrutura de mercado

A estrutura de mercado das empresas tem um papel importante na análise do seu

desempenho, em geral, é com base no tipo de estrutura que são definidas as estratégias

impactantes no desempenho (paradigma Estrutura-Conduta-Desempenho), sabe-se, porém,

que essa relação não é unidirecional, pois a conduta das empresas, também, pode influenciar

na estrutura de mercado bem como o desempenho. E por essa razão buscou-se identificar a

estrutura de mercado das empresas de móveis da RMB.

Para Ferguson e Ferguson (1998) a estrutura de mercado pode ser descrita

considerando-se (em conjunto ou separadamente) o número de empresas, a diferenciação de

produtos, as condições de entrada e o grau em que as empresas são verticalmente integradas,

porém a medida mais freqüente é a concentração de mercado calculada com base nos índices

de participação das empresas no mercado.

Neste trabalho, foram calculados a TCM e o IHH, utilizando como variável para o

cálculo da parcela de mercado o faturamento.

A TCM foi calculada através da participação no faturamento total das 4 e 8

maiores empresas. O valor encontrado para as 4 maiores empresas foi de 61,95, significando

que as 4 maiores empresas detêm 61,95% do mercado, ou seja, mais da metade do mercado de

móveis da RMB está concentrado em apenas 4 empresas. Já a TCM das 8 maiores empresas

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foi de 79,13, indicando que 79,13% do mercado de móveis da RMB está concentrad, em

apenas, 8 empresas.

Já o índice IHH é mais completo que a TCM, porque abrange todas as empresas do

mercado e não apenas as maiores e, ao se elevar o market share ao quadrado, coloca-se maior

peso nas empresas maiores. O IHH pode variar entre 0 e 10.000. O resultado encontrado para

a indústria de móveis da RMB foi 1.412,97, ou seja, está compreendido no intervalo entre

1.000 e 1.800. Para Resende e Boff (2002) IHH, nesse intervalo, indica concentração

intermediária, abaixo de 1000 significa ausência de concentração e acima de 1800 forte

concentração.

Essa concentração intermediária do momento atual sinaliza para uma maior

concentração no futuro, pois o mercado exige, cada vez mais, qualidade e boas práticas de

produção (ISO 9000) obrigando as empresas a buscarem processos e produtos mais eficientes

demandando, assim, investimentos em tecnologias, treinamento etc, o que manterá no

mercado somente as empresas com capacidade de investimento, aumentando a concentração.

5.2 FORÇAS COMPETITIVAS

A análise das forças competitivas das empresas de móveis da RMB, apresentada a

seguir, será embasada nos dois modelos teóricos apresentados no referencial teórico: o

modelo do Diamante de Porter e da Competitividade Sistêmica. Porém, a seqüência de análise

seguirá os atributos determinantes das vantagens competitivas das empresas do modelo

teórico do Diamante de Porter, de tal forma que o primeiro atributo abordado será as

condições de fatores (recursos humanos, capacitação tecnológica, recursos de crédito e

recursos de conhecimento), em seguida as relações com fornecedores e com clientes, as

estratégias e por último o desempenho competitivo, resultado da ação das forças competitivas.

5.2.1 Condições de fatores

As condições de fatores é um dos atributos que compõem o Diamante de Porter.

Ele diz respeito a quantidade, qualidade, custo e especialização dos diversos fatores

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envolvidos no processo produtivo (recursos humanos, recursos físicos, recursos de

conhecimento, recursos de capital e infra-estrutura).

A presença de fatores especializados e próximos das empresas é capaz de

favorecer a criação de vantagens competitivas tanto de custo quanto de diferenciação. As

vantagens de custo surgem pela proximidade e quantidade dos fatores e as de diferenciação da

qualidade e especialização dos fatores de produção que as empresas têm acesso.

� Recursos humanos

A sua importância na geração de vantagens competitivas para as empresas se dá de

duas maneiras; a primeira é através dos custos de produção, visto que a mão-de-obra é um

fator de produção, portanto influencia o custo desta, e a segunda e, talvez, a mais importante é

a vantagem advinda da qualificação da mão-de-obra que influencia na qualidade do produto

final e na produtividade da empresa.

Quanto maior o nível de escolaridade da mão-de-obra maior é a facilidade na

assimilação dos conhecimentos e, portanto na incorporação de novas tecnologias de produto e

processo. No caso das empresas de móveis da RMB, os dados da pesquisa mostraram que

quase metade da mão-de-obra (45,93%) é analfabeta ou possui o primário incompleto e

apenas 10,47% tem o ensino superior completo (Tabela 4).

Esse elevado percentual de mão-de-obra analfabeta ou com primário incompleto,

também, dificulta a incorporação de inovações tecnológicas e de programas de qualidade total

como a certificação das séries ISO 9000 (gestão e garantia da qualidade que dão as diretrizes

para implantação do sistema de qualidade ao especificar todas as fases da produção ou da

prestação de serviços, desde a execução até o pós-venda) e ISO 14000 (correspondente ao

Sistema de Gestão Ambiental). Considerando-se que a qualidade dos produtos e processos é

uma exigência, cada vez mais, presente nos mercados, a ausência desses fatores reduz a

competitividade das empresas.

Tabela 4 – Grau de escolaridade da mão-de-obra das empresas de móveis da RMB, 2003.

Escolaridade Frequência Percentual Analfabeto/primário incompleto 79 45,93% Primário completo/ginasial incompleto 24 13,95% Ginasial completo/colegial incompleto 16 9,30% Colegial completo/superior incompleto 35 20,35% Superior completo 18 10,47% Total 172 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

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A presença de uma mão-de-obra com um grau de escolaridade baixo e, portanto

pouco qualificada, também, influencia indiretamente nos custos da empresa, visto que se a

empresa necessitar de mão-de-obra especializada, ela terá de treiná-la elevando os seus

custos. Dessa forma, os critérios mais utilizados na contratação da mão-de-obra é a

experiência profissional, com 34,86%, em seguida o resultado de teste de habilidade feito pela

empresa (20,18%).

Assim, essa ausência de mão-de-obra qualificada se configura para a empresa

como um ponto fraco para o seu funcionamento, o que é confirmado pelo fato de 26,42% das

empresas pesquisadas apontarem a ausência de mão-de-obra qualificada como um dos cinco

principais problemas para o seu funcionamento e portanto para a competitividade.

Na tentativa de contornar esse problema, o Sindicato da Indústria de Marcenaria

do Estado do Pará (SINDIMÓVEIS)b em parceria com a Secretária Executiva de Ciência,

Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM), através do Programa Paraense de Tecnologia

Apropriada (PPTA), Prefeitura de Marituba e uma universidade privada, construiu em um

terreno cedido pela Prefeitura de Marituba o Centro Tecnológico do Mobiliário e da Madeira

da Amazônia (TEMMA).

Ainda em fase inicial, o TEMMA já possui em suas instalações um laboratório de

design, onde alunos do curso de design de uma universidade privada (IESAM) realizam suas

aulas práticas, uma empresa residente (incubada) e uma sala de afiação de ferramentas. Em

processo de construção estão a sala de estufa e pintura e o laboratório de ensaio do mobiliário

onde serão feitos os testes de resistência e de adequação às normas do produto.

O objetivo principal do SINDIMÓVEIS, com a criação do TEMMA, é que ele seja

a estrutura de suporte onde a mão-de-obra será treinada na utilização de máquinas, em

técnicas de pintura e secagem de madeira, além de cursos de design.

Através da implantação do TEMMA, o SINDIMÓVEIS exerce a função de agente

responsável pela organização e integração do setor (Governança) sendo este um fator positivo,

pois de acordo com Esser et al. (1996) a capacidade competitiva exige uma elevada

capacidade de organização, interação e gestão por parte dos atores exatamente o que

pressupõe o modelo teórico da competitividade sistêmica.

Segundo Santana (2002), para que haja um padrão de governança adequado para

apoiar a criação de vantagens competitivas sustentáveis é necessário: uma orientação das

empresas para os mercados doméstico e internacional, uma vez que as decisões devem ser

tomadas com base nas tendências da economia, visando firmar acordos que atendam os

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interesses presentes e futuros; uma separação clara do Estado, da economia e de organizações

intermediárias e uma disposição para manter diálogo permanente entre os atores.

Nesse sentido, observa-se que na indústria moveleira da RMB, a Governança

(análise do metanível no modelo teórico de Competitividade Sistêmica) está sendo exercida

pelo SINDIMÓVEIS com o intuito de minimizar um ponto fraco das empresas (a ausência de

mão-de-obra qualificada) e, portanto, favorecendo a geração de vantagens competitivas.

No que diz respeito aos salários, percebe-se que como decorrência do nível de

escolaridade baixo da mão-de-obra, os salários médios, também, são baixos, o maior

percentual encontra-se na faixa salarial de 2 até 5 salários mínimos (40,76%), em seguida está

o intervalo de 1 até 2 salários mínimos (35,39%) e 18,20% recebem até 1 salário mínimo,

como pode ser observado na Tabela 5.

Tabela 5 – Faixa salarial dos empregados das empresas de móveis da RMB, 2003 Faixa Frequência Percentual Até 1 SM 92 18,29% De mais de 1 até 2 SM 178 35,39% De mais de 2 até 5 SM 205 40,76% De mais de 5 até 10 SM 17 3,38% De mais de 10 até 20 SM 10 1,99% Mais de 20 SM 1 0,20% Total 503 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Por outro lado, esses baixos salários contribuem para redução dos custos de

produção que, por sua vez, contribui para as vantagens competitivas das empresas, mas como

bem observado por Porter (1993) e Possas (1999), as vantagens provenientes de custos baixos

são menos sustentáveis que as provenientes da diferenciação (qualidade do produto).

Nesse sentido, essa combinação de baixos salários com mão-de-obra

desqualificada pode até funcionar como uma vantagem no curto prazo (baixo custo), porém

ao longo do tempo as empresas que se encontrarem com essa configuração estrutural não se

sustentarão no mercado e nem serão capazes de expandir para outros mercados, pois

as vantagens provenientes da diferenciação de produtos, que dependem, diretamente, de mão-

de-obra qualificada, são mais sustentáveis do que as provenientes de custo.

Esse aspecto, portanto representa um ponto fraco das empresas de móveis de

Belém, que, porém, tende a ser minimizado com a atuação do agente de Governança, o

SINDIMÓVEIS, através da criação do TEMMA.

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� Capacitação tecnológica

De acordo com Hasenclever e Ferreira (2002) o processo de mudança tecnológica

é resultado do esforço das empresas, ou seja, suas estratégias, em investir em atividades de

pesquisa e desenvolvimento (P&D) e na incorporação posterior de seus resultados em novos

produtos, processos e formas organizacionais (inovações). No entanto, ainda de acordo com

esses autores, a capacitação tecnológica depende tanto das estratégias das empresas quanto do

conjunto de instituições que contribuem para inovação (recursos de conhecimento o que será

abordado posteriormente).

As inovações que surgem a partir da capacitação tecnológica são segundo Albagli

e Brito (2004) um fator básico de competitividade econômica sustentável, associado às

transformações de longo prazo na economia e na sociedade, visto que as inovações podem

gerar maior eficiência técnica, aumento da produtividade e da qualidade, redução de custos e

ampliação das aplicações de um produto ou processo.

O nível de desenvolvimento tecnológico de uma empresa será aqui medido através

de alguns indicadores como: utilização de programas de microcomputadores, tempo de uso

das máquinas, realização de treinamento da mão-de-obra e técnicas de organização da

produção.

Aproximadamente, metade das empresas entrevistadas (46,43%) não utiliza

programas microcomputadorizados, as demais os utilizam principalmente na Contabilidade

(17,86%), nas vendas (14,29%) e, apenas, 9,52% na produção. Este é um ponto fraco para a

competitividade das empresas de móveis da RMB, visto que a introdução de programas de

microcomputador na área de criação, por exemplo, proporcionaria vantagens competitivas

advindas da diferenciação de produtos devido a utilização de softwares de desing

possibilitando a criação de um design próprio ao invés da simples cópia dos padrões de

móveis estrangeiros (Tabela 6).

Tabela 6 – Áreas em que são utilizados programas microcomputadorizados nas empresas de móveis da RMB, 2003.

Área Frequência Percentual Gerenciamento administrativo 7 8,33% Contabilidade 15 17,86% Vendas 12 14,29% Produção 8 9,52% Outras 3 3,57% Nenhuma 39 46,43% Total 84 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

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Da mesma forma, a utilização de programas de microcomputador proporciona

vantagens de custos para as empresas devido a redução nos custos provocada pela economia

de tempo e racionalização dos insumos no processo produtivo.

O outro indicador de capacitação tecnológica é o tempo de uso das máquinas.

Neste caso, a idade média das máquinas é de 5,03 anos, sendo que mais da metade (58,14%)

encontra-se com idade entre 6 e 10 anos, 32,56% na faixa entre 3 e 5 anos e apenas 9,30% na

faixa de até 2 anos de uso, estes percentuais mostram que a maioria das máquinas utilizadas

pelas empresas de móveis RMB tem uma média de tempo de uso razoável e uma pequena

parcela são novas (com até 2 anos de uso), representando uma defasagem tecnológica

refletida na produção de produtos de baixa qualidade sendo assim um ponto fraco da

indústria, influenciando, negativamente, a sua competitividade.

Porém, ao se analisar o motivo da ausência de máquinas novas destaca-se a falta

de capital para investimento (recursos de crédito), a carência de mão-de-obra qualificada para

operar com máquinas modernas e a inadequação das máquinas disponíveis no mercado à

madeira da Amazônia.

Cada uma dessas razões merece uma atenção especial. A falta de capital para

investimento pode ser resolvida com uma maior oferta de capital para as empresas, o que será

discutido no tópico sobre recursos de crédito. Quanto à carência de mão-de-obra qualificada

verificou-se que o SINDIMÓVEIS está procurando contornar esse problema com a

implantação do TEMMA e quanto à inadequação das máquinas disponíveis no mercado à

utilização de madeira da Amazônia caberiam as políticas governamentais do mesonível,

principalmente as políticas tecnológicas, o incentivo às pesquisas que viessem a solucionar

esse problema através da construção de equipamentos adequados a essa realidade.

O indicador de capacitação tecnológica representado pela variável realização de

treinamento da mão-de-obra pela empresa (Tabela 7) está relacionado à necessidade de

qualificação da mão-de-obra para torná-la apta à utilização das novas tecnologias (inovações

de processos e de gestão) bem como na criação e produção de novos produtos (inovação de

produto).

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Tabela 7 – Principais áreas em que as empresas de móveis da RMB realizam treinamento, 2003.

Áreas Frequência Percentual Qualidade e produtividade 11 13,25% Gestão do meio ambiente 4 4,82% Tecnologia de produção 11 13,25% Operação de máquinas e equipamentos 6 7,23% Gestão de pessoal 1 1,20% Gestão empresarial 2 2,41% Vendas/ marketing 2 2,41% Desenvolvimento/ design de produto 6 7,23% Segurança/ medicina do trabalho 6 7,23% Outras 2 2,41% Não realiza treinamento 32 38,55% Total 83 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Um percentual bastante significativo das empresas (38,55%) não realiza

treinamento, um ponto fraco para competitividade dessas empresas, pois no mercado, cada

vez mais competitivo a qualificação e a constante atualização da mão-de-obra é fator

preponderante na criação de vantagens competitivas, principalmente quando se buscam outros

mercados além do local.

As áreas que apresentam maior percentual de realização de treinamento são a de

qualidade e produtividade e a de tecnologia de produção cada uma com 13,25%, isso mostra a

preocupação de alguns empresários com a importação e implantação das inovações

tecnológicas disponíveis no mercado no processo produtivo, uma vez que na indústria

moveleira as principais inovações de processo ocorrem em decorrência das inovações na

indústria de máquinas e equipamentos e, também, a preocupação com a qualidade do produto

final.

As áreas de operação de máquinas e equipamentos, desenvolvimento/design do

produto e segurança/medicina do trabalho, apresentam cada uma o percentual de 7,23%. A

área de desenvolvimento/design do produto deveria merecer maior atenção por parte dos

empresários pois na indústria de móveis o principal fator agregador de valor ao produto é o

design. Outra área que merecia maior destaque para realização de treinamentos é a gestão do

meio ambiente (4,82%), considerando que a indústria de móveis utiliza como principal

matéria-prima um recurso natural, portanto a melhor utilização desse recurso deveria ser tema

de estudos e pesquisas.

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Quanto as técnicas de organização da produção (Gráfico 2), verificou-se que as

mais utilizadas foram: o just in time (41%), técnica que visa o máximo de produção com o

mínimo de desperdício buscando a elevação do valor dos produtos, processos, serviços e

informações, por meio da redução de custos e do aumento da qualidade e da produtividade; as

células de produção (25%), técnica segundo a qual as máquinas são agrupadas de forma que

cada grupo fabrique os produtos totalmente; e o rodízio, polivalência nos postos de trabalho

(17%) onde todos os operários são capazes de executar todas as atividades. Além disso,

destaca-se que 9% das empresas não utilizam nenhuma técnica de organização da produção,

essas empresas possuem um ponto fraco em relação as demais que compromete o potencial

competitivo e atrasa o processo de criação de vantagens competitivas.

41%

17%4%2%

25%

9% 2%

Just in timeRodízio, polivalência nos postos de trabalhoControle estatístico de processosCírculos de controle da qualidadeCélulas de produçãoNenhuma técnicaOutros

Gráfico 2 – Técnicas de organização da produção utilizadas pelas empresas de móveis da RMB, 2003. Fonte: Pesquisa de campo.

Como pôde ser observado, algumas empresas de móveis da RMB apresentaram

características que sinalizam para a preocupação quanto a capacitação tecnológica e a

conseqüente geração de inovações, como a presença de máquinas novas (com até 2 anos de

uso) no processo produtivo, utilização de microcomputadores na produção, realização de

treinamento da mão-de-obra em qualidade e produtividade e utilização da técnica de just in

time, porém esses pontos são neutralizados reduzindo as vantagens competitivas das empresas

quando verifica-se que 46,43% das empresas não utilizam programas de microcomputadores,

38,55% não realiza treinamento da mão-de-obra e 9% não utilizam técnicas de organização da

produção.

� Recursos de crédito

O primeiro autor a enfatizar a importância do crédito para o desenvolvimento de

uma empresa foi Schumpeter (1982), para ele, a função essencial do crédito consiste em

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habilitar o empresário ao acesso de bens, meios de produção, matérias-primas e mão-de-obra,

ou seja, dar ao empresário poder de compra, dinamizando os investimentos, facilitando a

incorporação das inovações e, conseqüentemente, gerando vantagens competitivas.

Foi Schumpeter quem idealizou o moderno Banco de Desenvolvimento, pois para

ele é através do crédito que as inovações idealizadas pelo empresário inovador se

concretizam, sendo estes os três elementos básicos do desenvolvimento econômico.

Porém, os recursos de crédito são um fator externo à empresa e eles podem ser de

curto (para capital de giro) e longo prazo (para investimentos, compra de equipamentos etc)

obtidos nas instituições financeiras públicas e privadas. Esse fator está entre os elementos que

compõem as condições de fatores do Diamante de Porter, e é fortemente influenciado pelas

políticas governamentais do macronível do Modelo de Competitividade Sistêmica, pois o

custo e a oferta de capital, que é a base principal do crédito, dependem das políticas monetária

e fiscal adotadas pelo Governo.

Assim, uma política monetária (macronível) de juros baixos combinada com uma

política regional (mesonível) que incentive através do crédito para micro e pequenas empresas

nos bancos de fomento e desenvolvimento representa um ponto positivo para a indústria de

móveis da RMB.

Nas empresas pesquisadas, a grande maioria 77,36% afirmaram não ter obtido

crédito de curto prazo para capital de giro nos últimos 5 anos, como pode ser observado na

Tabela 8. Sendo que 67,92% apontaram a falta de capital de giro como um dos cinco

principais problemas para funcionar, pode-se concluir que está havendo uma desarticulação

entre empresas e Instituições Financeiras, pois existe a necessidade do crédito de curto prazo,

porém a maioria não tem acesso.

Tabela 8 – Obtenção de crédito de curto prazo nos últimos 5 anos pelas empresas de móveis da RMB, 2003.

Resposta Frequência Percentual Sim 12 22,64% Não 41 77,36% Total 53 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Quanto ao crédito de longo prazo cujo objetivo principal é o investimento em

máquinas, equipamentos e instalações, também a maioria das empresas (77,36%) não o

obteve nos últimos cinco anos (Tabela 9).

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Tabela 9 – Obtenção de crédito de longo prazo nos últimos 5 anos pelas empresas de móveis da RMB, 2003.

Resposta Frequência Percentual Sim 10 18,87% Não 41 77,36% Sem resposta 2 3,77% Total 53 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Foram várias as dificuldades apontadas pelos empresários para a obtenção de

crédito e que, portanto justificam o baixo número de empresas com crédito de curto e longo

prazo, sendo que 17,56% das empresas apontaram os juros elevados (uma questão de política

econômica) como uma das três principais dificuldades para a obtenção de crédito. No Brasil,

de modo geral devido o histórico de inflação elevada existe uma preocupação muito grande

em controlá-la e a política mais utilizada para isso é a manutenção das taxas de juros em

patamares elevados, no entanto existem Bancos de Desenvolvimento e Fomento como o

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco da Amazônia

que possuem linhas de crédito com taxas de juros menores para micro e pequenas empresas

em setores com potencial de desenvolvimento regional.

As outras dificuldades apontadas foram: exigência de garantias (13,74%), prazos

de pagamentos curtos (12,98%), encargos financeiros altos (12,98%), outros (12,98%), falta

de documentação (10,69%) visto que muitas empresas encontram-se na informalidade,

restrição cadastral (9,92%), falta de relacionamento bancário (7,63%) e projeto incompleto

(0,76%). Apenas 0,76% afirmaram não possuir nenhuma dificuldade.

Essas dificuldades, como garantias, prazos de pagamento, restrição cadastral etc

fazem parte da burocracia inerente ao sistema de concessão de crédito dos bancos. No caso do

Banco da Amazônia, principal Banco de Desenvolvimento da Região, cujos recursos para o

crédito de fomento são provenientes do Fundo Constitucional do Norte (FNO), as garantias

pré-existentes para investimento de micro e pequenas empresas é de 50% do valor do

financiamento e a final de 130%.

A não adequação das empresas de móveis da RMB à burocracia do sistema de

concessão crédito dos Bancos de Desenvolvimento é justificada pelo número elevado de

empresas que estão na informalidade ou que mesmo sendo formais não estão regularizadas. O

Banco da Amazônia, por sua vez, vem exercendo o seu papel de agente de governança, ao

estabelecer em seu planejamento anual os setores que apresentam potencial de crescimento e,

portanto devem receber finaciamento, entre os quais se encontra a madeira e mobiliário.

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A origem do crédito varia, sendo que o maior percentual (35%) é proveniente

diretamente de pessoas físicas, em seguida vem a opção outras fontes (25%), empréstimo de

pessoa jurídica não bancária (20%), empréstimos em bancos privados (10%), empréstimos em

bancos oficiais (5%) e crédito bancário direto ao consumidor (5%), Tabela 10.

Entre a origem do crédito enquadrada em outras fontes estão o FNO, Banco do

Povo, descontos em duplicatas e a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

(SUDAM).

Tabela 10 – Origem do empréstimo obtido pelas empresas de móveis da RMB, 2003. Origem do empréstimo Frequência Percentual Empréstimo de pessoa física 7 35,00% Empréstimo de pessoa jurídica não bancária 4 20,00% Empréstimos de bancos privados 2 10,00% Empréstimos de bancos oficiais (Basa, BB, BNDES, CEF, Bancos Estaduais)

1 5,00%

Crédito bancário direto ao consumidor 1 5,00% Outros 5 25,00% Total 20 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo

O baixo acesso ao crédito e as muitas dificuldades apontadas pelos empresários

justificam o baixo índice de incorporação de novas tecnologias apresentados no tópico sobre

capacitação tecnológica (poucas empresas com programas de microcomputadores na

produção e idade média das máquinas de 5,03 anos), visto que sem crédito os empresários são

obrigados a investir com capital próprio o que para muitos não é possível.

Dessa forma, observou-se que o recurso de capital é um fator externo à empresa

muito importante na criação de vantagens competitivas porque é através dele que a empresa

pode investir em novas tecnologias de produto e processo, gerando vantagens tanto de custos

quanto de diferenciação, porém o acesso ao crédito, ainda, é bastante restrito nas empresas de

móveis da RMB, devido a uma série de fatores principalmente os relacionados a burocracia.

� Recursos de conhecimento tecnológicos

As mudanças ocorridas a partir da década de 1970 que culminaram com a

emergência de um novo paradigma tecnológico (a microeletrônica) impuseram às empresas

um processo produtivo mais intensivo em conhecimento. Da mesma forma, o novo padrão de

acumulação que surgiu a partir dessas mudanças exige uma crescente intensidade e

complexidade dos conhecimentos desenvolvidos e uma acelerada incorporação nos bens e

serviços produzidos e comercializados (LASTRES; CASSIOLATO, 2001).

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Assim, a competitividade não é mais baseada unicamente em preço, mas na

construção de competências e habilidades específicas que se dá através da acumulação de

conhecimentos.

Nesse contexto, é que se torna cada vez mais importante a difusão das tecnologias

de informação e comunicação (TIC), pois possibilitam a codificação dos conhecimentos

(obtidos através da informação) e a transferência desses conhecimentos codificados, sem

esquecer, contudo, da importância dos conhecimentos tácitos que são difíceis de serem

transferidos, mas tão importantes quanto os primeiros.

Os recursos de conhecimento são, dessa forma, um fator que depende tanto dos

fatores internos às empresas (micronível) através das suas estratégias no que diz respeito a

investimento em tecnologias de informação, bem como de fatores externos como as políticas

governamentais do mesonível (política educacional, política tecnológica e política regional) e

as questões do metanível de como o agente de governança está agindo para incentivar e

facilitar o acesso a informação e transformação desta em conhecimento pelas empresas.

Neste sentido, um bom indicativo deste fator nas empresas de móveis da RMB é o

recebimento de assistência técnica ou gerencial, onde se constatou que 86,79% das empresas

não recebe nenhum tipo de assistência e apenas 11,32% recebem, das quais 100% é

proveniente do SEBRAE, que segundo os empresários tem atuado, principalmente, no sentido

de levar as empresas para expor seus produtos em feiras de móveis fora do Estado (uma

estratégia para entrada em outros mercados) e na realização de cursos para mão-de-obra e de

lay-out de fábrica dinamizando a eficiência do processo produtivo, via melhor organização da

produção.

Considerando que a indústria de móveis no Estado do Pará, ainda, encontra-se em

estado embrionário de desenvolvimento, resultado da evolução da indústria madeireira é

muito importante a presença de instituições governamentais e não governamentais, além de

empresas de consultoria que funcionem como suporte técnico às empresas orientado-as para

os melhores investimentos, técnicas de produção e tendências de mercado.

Investigando as razões para que tão poucas empresas possuam assistência técnica,

verifica-se que 39,66% das empresas conhece os serviços, mas nunca os procurou, o que

demonstra uma falta de interesse dos empresários, por não saberem da importância de tal

assistência, 24,14% afirmaram terem procurado, mas terem encontrado dificuldade face as

exigências burocráticas e entraves de comunicação, 10,34% não conhecem os serviços

disponíveis o que se atribui a falta de divulgação e a pouca oferta de assistência técnica na

RMB (Tabela 11).

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Tabela 11 – Dificuldades encontradas para o acesso à assistência técnica pelas empresas de móveis da RMB, 2003.

Dificuldades Frequência Percentual Não conhece os serviços disponíveis 6 10,34% Não possui pessoal técnico qualificado para receber a assistência

2 3,45%

Conhece os serviços mas nunca os procurou 23 39,66% Centros de apoio técnico/gerencial estão distantes 4 6,90% Encontrou dificuldade de acesso (entraves burocráticos, dificuldades de comunicação etc)

14 24,14%

Procurou os serviços mas este não foram considerados adequados às necessidades

5 8,62%

Teme que estes serviços sejam onerosos 4 6,90% Total 58 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Esse aspecto da carência de assistência técnica se torna um obstáculo na criação de

vantagens competitivas quando se observa a necessidade de padronização dos produtos

quanto as normas e exigências do mercado.

Quanto à informação disponível às empresas de móveis da RMB, constatou-se que

as principais informações sistemáticas e regulares que os empresários possuem são no âmbito

local: fornecedores locais, 21,5%, concorrentes locais, 20,56%, clientes locais, 14,02% e

preços praticados pelas empresas locais, 13,08% (Tabela 12). Isso acontece devido a maioria

das empresas terem como principal mercado o local, e portanto terem as atenções voltadas

exclusivamente para este mercado.

Tabela 12 – Tipos de informações sistemáticas e regulares obtidas pelas empresas de móveis da RMB, 2003.

Tipos de informação Frequência Percentual Concorrentes locais 22 20,56% Concorrentes em outros estados 3 2,80% Preços praticados pelas empresas locais 14 13,08% Forncedores locais 23 21,50% Fornecedores em outros estados 5 4,67% Preços praticados por gandes empresas 3 2,80% Clientes locais 15 14,02% Clientes internacionais 1 0,93% Processos produtivos e tecnologia 1 0,93% Índices econômicos globais e setoriais 1 0,93% Não dispõe 19 17,76% Total 107 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo

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Um percentual bastante significativo, 17,76% não dispõe de informações um ponto

fraco para essas empresas, considerando-se que esta é um instrumento chave para os

empresários na tomada de decisões e na definição de estratégias.

Sendo um recurso que compõe as condições de fatores do modelo teórico do

Diamante de Porter, os recursos de conhecimento exercem um papel importante na criação de

vantagens competitivas para as empresas no cenário econômico atual onde a informação se

bem apreendida se transforma em conhecimento e facilita a criação de estratégias, bem como

a incorporação de novas tecnologias, que repercutirão positivamente sobre a competitividade

das empresas. Nesse contexto, as empresas de móveis da RMB apresentam deficiências,

devido a assistência técnica está restrita a um número reduzido de empresas, sendo que estas

levam vantagem sobre as demais e a informação disponível se restringir ao mercado local, o

que por sua vez dificulta a expansão para outros mercados, devido ao desconhecimento

destes.

5.2.2 Relação com fornecedores e indústrias correlatas

Este é um dos quatro atributos do Dimanate de Porter que favorecem a criação de

vantagens competitivas, pois a presença de fornecedores competitivos próximos traz

vantagens de custo bem como de diferenciação a partir da constante troca de informações

entre empresa e fornecedores.

É nesse contexto de relação com fornecedores que se concentra o cerne dos efeitos

para trás da cadeia produtiva. Considerando que a indústria de móveis é um elo da cadeia

produtiva da madeira e, assim, a existência de um vínculo forte entre esses elos favorece os

encadeamentos, ou seja, os efeitos positivos que surgem na indústria madeireira se propagam

até a indústria de móveis.

A interação entre empresas e fornecedores é um aspecto diretamente relacionado

ao micronível (ambiente interno das empresas), na medida em que os riscos inerentes a um

relacionamento frágil, como quebra de contratos ou inexistência desses, pode comprometer os

resultados da empresa (desempenho) e afetar a sua competitividade.

Paralelamente a esse aspecto, Barney (1997) baseado na teoria das Cinco Forças

de Porter coloca que os fornecedores podem ameaçar o desempenho de uma empresa

aumentando os preços de suas mercadorias ou reduzindo a qualidade das mesmas, sendo que

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esta ameaça se concretiza em cinco situações, quando: a indústria de fornecedores é formada

por um pequeno número de empresas; a mercadoria que os fornecedores fornecem é única ou

altamente diferenciada; os fornecedores não são ameaçados por substitutos; os fornecedores

promovem a integração vertical e deixam de ser apenas fornecedores e passam a ser rivais e;

as empresas não são uma parcela importante do mercado de fornecimento.

Analisando os resultados para as empresas de móveis da RMB, verificou-se que a

maioria (84,91%) das empresas não subcontrata outra empresa e, apenas, 13,21% realiza

subcontratação (Tabela 13). A subcontratação possibilita à empresa concentrar seus esforços

em poucas atividades e delegar a outras empresas as demais atividades, o que sinaliza para um

processo de desverticalização e formação de rede de empresas. Dessa forma, verifica-se que

as empresas de móveis da RMB não realizando subcontratação estão adotando como

estratégia a verticalização e isso se justifica pelo fato dessas empresas, ainda, encontrarem-se

em um estágio inicial de desenvolvimento onde a interação entre os agentes é incipiente.

Tabela 13 – Subcontratação de outras empresas pelas empresas de móveis da RMB, 2003.

Realiza subcontratação Frequência Percentual Sim 7 13,21% Não 45 84,91% Sem resposta 1 1,89% Total 53 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Quando se observa o tipo de subcontratação realizada pelas empresas de móveis da

RMB verifica-se que esta é basicamente de serviços sendo o maior percentual de contador

(57,14%), em seguida de escritório de contabilidade (14,29%) e refeição (14,29%), ou seja,

são subcontratações que não tem efeito como instrumento de desverticalização da produção e

conseqüente especialização das empresas.

Quanto à distribuição do número de fornecedores, a média é de 8,21 fornecedores

por empresa, sendo que 84,91% das empresas possuem até 8 fornecedores, mostrando uma

distribuição bastante assimétrica. O número mínimo é de 2 e o máximo de 60. O maior

percentual é de empresas com quatro fornecedores (22,64%), como pode ser observado na

Tabela 14.

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Tabela 14 – Número de fornecedores das empresas de móveis da RMB, 2003. Número de fornecedores Frequência Percentual

2 10 18,87% 3 7 13,21% 4 12 22,64% 5 6 11,32% 6 2 3,77% 7 5 9,43% 8 3 5,66%

10 2 3,77% 20 2 3,77% 35 1 1,89% 40 1 1,89% 50 1 1,89% 60 1 1,89%

Total 53 100,00% Fonte: Pesquisa de campo.

O número de fornecedores é uma variável que interfere, diretamente, no custo de

produção, pois um grande número eleva os custos de transação e por outro lado um pequeno

número é capaz de torná-los mais fortes aumentado o seu poder de barganha e

conseqüentemente aumentando os custos de produção.

Dessa forma, a formação mais adequada é a de rede de empresas, um

agrupamento formal ou informal de empresas autônomas, com o objetivo de realização de

atividades comuns, permitindo que as empresas participantes se concentrem apenas nas

atividades principais. A participação em redes pode proporcionar um largo conjunto de

experiências, estimulando diversas formas de aprendizado e gerando um conhecimento

coletivo que amplifica a possibilidade de geração e difusão de inovações tecnológicas e

organizacionais (ALBAGLI; BRITO, 2004).

Entre os fornecedores mais freqüentes a maioria é o comércio varejista (34,91%)

em seguida vem as serrarias com 28,30%, como pode ser observado na Tabela 15. Grande

parte dos insumos como tecidos, cola, estofado, vidro e verniz são obtidos fora do Estado,

uma maneira de reduzir custos, visto que no Pará existem, apenas, representantes das fábricas

do Sul e Sudeste, havendo poucos produtores locais desses insumos.

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Tabela 15 – Tipo de fornecedor das empresas de móveis da RMB, 2003. Tipo de fornecedor Frequência Percentual Comércio varejista 37 34,91% Comércio atacadista 6 5,66% Serrarias 30 28,30% Empresa de laminado/compensado 13 12,26% Micro e/ou pequena empresa industrial 9 8,49% Média e/ou grande empresa industrial 3 2,83% Empresa de placas de madeira - MDF 4 3,77% Outras 4 3,77% Total 106 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

As serrarias e as empresas de laminado/compensado aparecem como um dos

principias fornecedores, pois 67,92% das empresas compram 100% da matéria-prima de

fornecedores locais e nenhuma empresa tem como principal fonte a produção própria o que

sinaliza para o início de um processo de desverticalização da produção no ambiente interno

das empresas.

A presença do recurso natural (condições de fatores) madeira, principal matéria-

prima da indústria de móveis, é uma das principais vantagens competitivas das empresas de

móveis da RMB, porém esta vantagem pode ser anulada se a relação com os fornecedores for

deficiente.

O principal critério de escolha dos fornecedores é o preço da matéria-prima

(30,97%), visto que 45% dos custos da indústria de móveis decorre de gastos com matéria-

prima, e por isso 26,42% das empresas apontaram esse como um dos cinco principais

problemas para o seu funcionamento.

A qualidade do produto foi apontada por 23,23% dos empresários como um dos

principais critérios de escolha do fornecedor, pois esta depende da qualidade da matéria-prima

e dos insumos. As condições de pagamento (12,90%) e pontualidade na entrega (11,61%),

foram os outros critérios apontados como principais na escolha dos fornecedores (Tabela 16).

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Tabela 16 – Três principais critérios de escolha do fornecedor das empresas de móveis da RMB, 2003.

Critérios de escolha dos fornecedores Frequência Percentual Preço da matéria-prima 48 30,97% Qualidade do produto 36 23,23% Pontualidade na entrega 18 11,61% Atendimento 12 7,74% Únicos no mercado 1 0,65% Condições de pagamento 20 12,90% Menor prazo de entrega 4 2,58% Confiança/conhecimento 14 9,03% Outros 2 1,29% Total 155 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Os resultados apresentados, neste tópico, mostram que por se encontrar em estágio

inicial de desenvolvimento, as empresas de móveis da RMB, ainda, apresentam relações

incipientes com os seus fornecedores, destacando-se o pequeno número de empresas que

subcontaratam e a grande assimetria no número de fornecedores, porém já é possível observar

a preocupação quanto ao preço e qualidade da matéria-prima e dos insumos refletindo

diretamente no custo e na qualidade do produto final.

5.2.3 Relação com os clientes (Condições de Demanda)

As relações com os clientes são importantes na geração de vantagens competitivas

para as empresas segundo Porter (1999), porque são os clientes exigentes que determinam o

caráter da inovação, ou seja, quanto maior for o nível de exigência maior é o estímulo para a

empresa buscar inovações nos seus processos e nos seus produtos.

Por outro lado os clientes, também, podem representar uma ameaça para as

empresas, visto que quanto maior for o poder dos compradores maior é a ameaça para redução

da rentabilidade das empresas (BARNEY, 1997).

A interação com os clientes, também, é um aspecto da análise do ambiente interno

das empresas (micronível) do modelo de Competitividade Sistêmica. Neste sentido, faz-se

necessário analisar o tipo de cliente das empresas de móveis da RMB, os mercados

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alcançados por essas empresas, os problemas encontrados para atingir novos mercados e o

grau de exigência e necessidade dos clientes.

Nas empresas de móveis da RMB, o principal cliente é o consumidor final

(44,55%) ressaltando a idéia de que grande parte da produção de móveis na Região é de

móveis feitos sob encomenda, sendo poucas as empresas que produzem em linha de produção.

O segundo maior percentual (23,76%) para os maiores clientes é o comércio

varejista (lojas pequenas e médias especializadas na venda de móveis, existe também algumas

empresas com loja própria). O Governo por sua vez (11,88%) compra na grande maioria

móveis escolares. A Tabela 17 traz uma síntese dos principais clientes das empresas de

móveis da RMB.

Tabela 17 – Três principais tipos de clientes das empresas de móveis da RMB, 2003. Tipo de clientes Frequência Percentual Comércio varejista 24 23,76% Comércio atacadista 5 4,95% Grande empresa de móveis 4 3,96% Comercial exportadora 1 0,99% Consumidor final 45 44,55% Governo 12 11,88% Micro e/ou pequena empresa industrial 4 3,96% Empresa prestadora de serviço 2 1,98% Outros 4 3,96% Total 101 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Conforme Porter (1999), o Governo pode influenciar a geração de vantagens

competitivas por meio das condições de demanda de duas maneiras: primeiro através das suas

compras, sendo um cliente exigente e assim estimulando a inovação, a segunda é através da

regulação e incentivo. No caso das empresas de móveis da RMB, o Governo do Estado do

Pará tem participado na criação de vantagens competitivas através do incentivo fiscal, onde as

empresas de móveis tiveram o ICMS reduzido de 17% para 5%.

No que diz respeito aos mercados 67,92% das empresas vendem 100% da sua

produção para mercado local, municipal e microrregional, este elevado percentual se deve ao

fato da indústria de móveis da RMB, ainda, encontrar-se em estado embrionário, onde o

processo de introdução dos produtos em outros mercados é lento devido a uma série de

adequações aos padrões dos demais mercados que são necessárias e demandam tempo e,

sobretudo investimentos.

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Apenas 15,09% das empresas vendem para o mercado nacional e 11,32%

exportam, sendo que 50% das que vendem para o mercado nacional, também, exportam. Entre

as empresas pesquisadas 37,74% afirmaram que a exportação faz parte dos planos de

expansão da empresa. Isso sinaliza para o fato de que apesar da maioria dos clientes das

empresas de móveis da RMB estarem no mercado local, algumas possuem no seu horizonte

de expansão o mercado externo.

A principal dificuldade para inserção em outros mercados sentida pelas empresas é

devido a falta de financiamento (17,19%), um recurso de crédito cria vantagens competitivas

na medida em que possibilita o investimento, peça fundamental para a inovação de processos

e produtos, este recurso depende muito da ação do Governo através das políticas monetárias

(macronível) e políticas regionais (mesonível).

Outras dificuldades apontadas são a burocracia excessiva (14,48%), a falta de

publicidade (10,86%), a exigência de normas técnicas (7,24%), pois os consumidores estão

cada vez mais exigentes no que diz respeito a segurança, durabilidade e conforto do produto,

custos portuários e transportes elevados (6,79%), falta de contato com representantes

estrangeiros e no Brasil dificuldade em associar-se com sócios estrangeiros (6,33%), entre

outras.

A questão da falta de publicidade e de representantes no exterior pode ser

minimizada através da ação dos agentes de Governança, Federação da Indústria do Estado do

Pará (FIEPA), SINDIMÓVEIS e SEBRAE, no sentido de reunir algumas empresas com

potencial para vender seus produtos no mercado nacional e internacional e levar essas

empresas para expor em feiras no país e fora do país.

Porém, ainda assim a maioria das empresas para competirem nos mercados

nacional e internacional precisam mudar algumas estratégias, visto que grande parte delas

competem via preço, 23,16% das empresas afirmaram que um dos três principais fatores de

inserção da empresa nos mercados nacional e externo é o preço competitivo.

Atualmente, sabe-se que a competição via preços baixos não é a melhor estratégia,

porque não se sustenta ao longo do tempo, as empresas devem buscar criar vantagens

competitivas sustentáveis e isso ocorre através da diferenciação dos produtos e

aperfeiçoamento da qualidade, sendo que este já é um ponto considerado entre os principais

que favorecem a inserção das empresas nos mercados nacional e externo, com 18,95% das

respostas.

Em terceiro lugar, entre os fatores que favorecem a inserção nos mercados

nacional e externo, está o prazo de entrega (17,89%), em quarto o tipo de produto (12,63%),

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fator relevante devido, principalmente, a matéria-prima utilizada na produção, madeiras

nobres da Região o que se bem explorado pelos empresários pode transformar-se em

importante fonte de vantagem competitiva, visto que a marca Amazônia tem grande aceitação

nos mercados tanto nacional quanto internacional (Tabela 18).

Tabela 18 – Três principais fatores que favorecem a inserção das empresas de móveis da RMB nos mercados nacional e externo, 2003.

Fatores Frequência Percentual Preço competitivo 22 23,16% Infra-estrutura adequada 5 5,26% Tipo de produto 12 12,63% Apoio do governo 7 7,37% Qualidade do produto 18 18,95% Prazo de entrega 17 17,89% Logística eficiente de transporte 1 1,05% Participação em feiras e exposições 2 2,11% Acesso à assistência técnica 4 4,21% Disponibilidade do produto para entrega 1 1,05% Baixos custos de produção 2 2,11% Canal de comercialização adequado 1 1,05% Energia e telecomunicação 1 1,05% Outros 2 2,11% Total 95 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Essa mudança nas estratégias de competição se faz necessária principalmente

quando se analisa as principais exigências do mercado (nacional/internacional) sobre os

produtos, visto que o maior percentual é a utilização de normas técnicas de processo (série

ISO) e exigências de proteção ambiental, ambas com 23,08% cada (Tabela 19).

Tabela 19 – Exigências do mercado (nacional/internacional) para exportação sobre os produtos das empresas de móveis da RMB, 2003.

Exigências Frequência Percentual Normas técnicas de processo (série ISO) 6 23,08% Exigências de proteção ambiental 6 23,08% Padrão de embalagem 5 19,23% Normas técnicas para o produto 5 19,23% Nenhuma 3 11,54% Outras 1 3,85% Total 26 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

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Através dos resultados apresentados pôde-se constatar que a maioria dos clientes

das empresas de móveis da RMB se localizam no mercado local, porém algumas empresas

demonstram a intenção e o potencial para expandir para outros mercados, sendo que para isso

será necessário a mudança em suas estratégias, pois o mercado nacional e principalmente

internacional são mais exigentes que o mercado local.

5.2.4 Estratégias

As estratégias compõem o atributo do Diamante de Porter chamado estratégia,

estrutura e rivalidade das empresas, este atributo favorece a criação de vantagens

competitivas, na medida em que com a adoção de estratégias os empresários buscam

minimizar os seus pontos fracos e as ameaças bem como tirar o melhor proveito dos pontos

fortes e das oportunidades.

Um dos instrumentos mais importantes para a tomada de decisão dos empresários

é a informação, como foi enfatizado no tópico sobre recursos de conhecimento,

principalmente a informação sobre as tendências de mercado que possibilita, entre outras

coisas, o aperfeiçoamento dos produtos, nesse sentido, faz-se necessário investigar como as

empresas estão obtendo este tipo de informação, assim verificou-se que: 30% das empresas

apontaram as feiras e os congressos como principais instrumentos de acompanhamento das

tendências de mercado, em seguida vêm as informações repassadas pelos clientes, 20%,

revistas técnicas, 18%, fornecedores de equipamentos e insumos, 2% e outras fontes

(informações pelos colegas e projetos enviados pelos clientes), 6%. Os que não acompanham

as tendências de mercado somam 24% (Tabela 20).

Esse acompanhamento das tendências através de feiras e congressos tem sido

incentivado pelo SEBRAE, que exercendo a sua governança, fornece os stands para as

empresas exporem em conjunto os seus produtos em feiras pelo Brasil e dentro do próprio

Estado.

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Tabela 20 – Acompanhamento das tendências de mercado (nacional/internacional) pelas empresas de móveis da RMB, 2003.

Itens de resposta Frequência Percentual Através de feiras e congressos 15 30,00% Revistas técnicas 9 18,00% Informações repassadas pelos clientes 10 20,00% Fornecedores de equipamentos e insumos 1 2,00% Não acompanha 12 24,00% Outros 3 6,00% Total 50 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Como a principal exigência dos mercados (nacional/internacional) é a utilização de

normas técnicas de processo, já mencionado no tópico sobre relação com os clientes, as

empresas que têm entre os seus objetivos a expansão para outros mercados procurando

atender a essas exigências adotam como estratégias a utilização de normas técnicas de

processo, sendo que a mais utilizada é a da série ISO 9000 (11,32%) em seguida a NBR

(9,43%) e outras (ABNT) (1,89%).

Ainda assim, muitas empresas, 49,06% não tem conhecimento desse tipo de norma

e 24,53% mesmo tendo o conhecimento não as utiliza, isso ocorre devido a falta de uma

instituição na Região que estimule e auxilie as empresas na busca pela certificação,

enquadrando seus processos nas normas (Tabela 21).

Tabela 21 – Normas técnicas de processo utilizadas pelas empresas de móveis da RMB, 2003.

Normas Frequência Percentual Sem resposta 2 3,77% Da série ISO 6 11,32% Da NBR 5 9,43%

Não tem conhecimento da existência de normas técnicas 26 49,06%

Tem conhecimento mas não utiliza 13 24,53% Outros 1 1,89% Total 53 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo

Quanto às técnicas de produto, o resultado é semelhante as técnicas de processo,

50,94% das empresas não tem conhecimento da existência de normas técnicas, 22,64% tem

conhecimento mas não utiliza, 16,98% utilizam normas da NBR, 3,77% utilizam outras

normas (ABNT e ISO) e 5,66% não responderam (Tabela 22).

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Tabela 22 – Normas técnicas de produto utilizadas pelas empresas de móveis da RMB, 2003.

Normas Frequência Percentual Sem resposta 3 5,66% Da série NBR 9 16,98% Não tem conhecimento da existência de normas técnicas 27 50,94% Tem conhecimento mais não utiliza 12 22,64% Outras 2 3,77% Total 53 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

As principais dificuldades apontadas, que justificam a pouca utilização de normas

técnicas de processo e de produto, são a falta de orientação técnica (26,67%), o nível de

qualificação do pessoal (20,83%), a falta de recursos financeiros (20%), a falta de informação

(15%) e a inexistência desses serviços na Região (14,17%).

Com a criação do TEMMA, o SINDIMÓVEIS espera solucionar o problema da

inexistência de instituições na Região, pois será criado um laboratório de ensaio do

mobiliário, que testará a resistência dos produtos e facilitará o processo de certificação dos

mesmos.

Acima, abordou-se as estratégias utilizadas pelas empresas de móveis da RMB

para conquistar mercados. Com relação as estratégias adotadas pelas empresas para se manter

no mercado, verificou-se que: 17,19% utilizam pesquisa para identificar o comportamento do

consumidor, 15,63% fazem investimento na qualidade do produto, 9,38% realizam pesquisa

de preço dos concorrentes, 9,38% utilizam propaganda e marketing para vender o produto no

mercado, 7,81% fazem diferenciação do produto com a mesma qualidade, 6,25% fazem

treinamento em mão-de-obra, 6,25% atendem os padrões de qualidade e de não agressão ao

meio ambiente e 4,69% utilizam tecnologia para aproveitar a matéria-prima e reduzir custos

(Tabela 23).

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Tabela 23 – Estratégias utilizadas pelas empresas de móveis da RMB para se manterem no mercado, 2003.

Estratégias Frequência Percentual Propaganda e marketing para vender o produto no mercado 6 9,38% Pesquisa para identificar o comportamento do consumidor 11 17,19% Fazendo investimentos em qualidade do produto 10 15,63% Fazendo a diferenciação de produtos com a mesma qualidade

5 7,81%

Utilização de tecnologia para aproveitar a matéria-prima e reduzir custos

3 4,69%

Investimento no treinamento de mão-de-obra 4 6,25% Realização de pesquisa de preços dos concorrentes 6 9,38% Atendimento dos padrões de qualidade e de não agressão ao meio ambiente

4 6,25%

Outras 15 23,44% Total 64 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Dessa forma, as empresas de móveis da RMB adotam estratégias tanto para a

diferenciação, quanto para redução de custos, as duas principais fontes de vantagens

competitivas.

Verifica-se assim, que as estratégias adotadas pelas empresas de móveis da RMB

depende dos seus objetivos, não existindo uma única estratégia definida como padrão.

5.2.5 Desempenho

A competitividade é a “capacidade da empresa formular e implementar estratégias

concorrenciais que lhe permitam ampliar (ou conservar), de forma duradoura, uma posição

sustentável no mercado” (KUPFER, 1994, p.1). E segundo Possas (1999), é um conceito que

pode ser medido por indicadores de desempenho ex-ante e ex-post.

Sendo que os indicadores ex-post (parcela de mercado, lucro, faturamento etc.) são

resultados das estratégias estabelecidas pelas empresas (indicadores ex-ante). Neste tópico

serão analisados os principais indicadores de desempenho ex-post.

O primeiro desses indicadores é o crescimento em relação ao ano anterior, ou seja,

a variação da capacidade produtiva. Este indicador é importante porque indica o sucesso ou o

fracasso das estratégias tomadas pelas empresas. Como pode ser observado na Tabela 24,

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47,17% das empresas de móveis da RMB aumentaram a sua capacidade produtiva e assim

puderam ampliar as suas vendas e sua participação no mercado, 24,53% das empresas tiveram

a sua capacidade produtiva reduzida e 28,30% permaneceu com a mesma do ano anterior,

para essas empresas as estratégias adotadas não foram suficientes para melhorar o

desempenho.

Tabela 24– Variação da capacidade produtiva das empresas de móveis da RMB, 2003. Variação Frequência Percentual A mesma 15 28,30% Aumentou 25 47,17% Diminuiu 13 24,53% Total 53 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Entre as empresas que aumentaram a capacidade produtiva, 33,33% tiveram

acréscimo entre 5 e 10%, 25% cresceram entre 10 e 15%, 25% aumentaram mais de 15% e

16,67% aumentaram entre 0 e 5%.

As empresas que tiveram aumento da capacidade produtiva são aquelas cujas

estratégias voltaram-se para atender a exigência do mercado o que foi possível com a

renovação das máquinas e equipamentos (capacitação tecnológica), com a organização da

produção e com a qualificação da mão-de-obra, refletindo, assim, em aumento da capacidade

produtiva e conseqüente no aumento das vendas.

O segundo indicador de desempenho ex-post é a variação da margem de lucro em

relação ao período anterior, onde se verificou que 43,4% das empresas não tiveram variação

na margem de lucro, apenas 18,87% tiveram aumento e 37,74% redução a margem de lucro

(Tabela 25).

Tabela 25 – Variação na margem de lucro das empresas de móveis da RMB, 2003. Evolução Frequência Percentual Diminuiu 20 37,74% Permaneceu 23 43,40% Aumentou 10 18,87% Total 53 100,00%

Fonte: pesquisa de campo.

Essa pequena parcela de empresas com registro de aumento na margem de lucro e

o elevado percentual de empresas que diminuíram suas taxas de lucro mostra quão poucas

empresas foram competitivas com relação a esse indicador de desempenho.

O lucro, medido através da percentagem da receita líquida operacional sobre o

faturamento, após fazer a dedução de todos os impostos, depreciação e juros a pagar, de

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39,62% das empresas de móveis da RMB situa-se entre 1% e 10%, por outro lado 45,28% das

empresas obtiveram lucro acima de 10%. Segundo Santana e Carvalho (2004) esse lucro

supernormal (Tabela 26) é natural considerando-se que essa medida de desempenho refere-se

ao curto prazo.

As empresas que não aumentaram ou que reduziram a margem de lucro não terão

como investir e, portanto terão problemas para sobreviver no longo prazo, pois este lucro

supernormal atrai a entrada de novas empresas além de proporcionar as empresas existentes

um elevado potencial de investimento.

Tabela 26 – Percentagem da receita líquida operacional sobre o faturamento, após a dedução dos impostos, depreciação e juros à pagar das empresas de móveis da RMB, 2003.

Itens de resposta Frequência Percentual Sem resposta 8 15,09% 1% a 10% 21 39,62% 10% a 20% 19 35,85% Mais de 20% 5 9,43% Total 53 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Com relação ao indicador de desempenho custo da produção, a maioria das

empresas, 67,92% afirmou que aumentou em relação ao período anterior, 22,64% das

empresas tiveram os custos mantidos e apenas 9,43% reduziram seus custos. Esses valores

mostram que boa parte das empresas adquiriu uma desvantagem competitiva que influenciará

negativamente na sua competitividade (Tabela 27).

Tabela 27 – Evolução dos custos das empresas de móveis da RMB, 2003. Evolução Frequência Percentual Diminuiu 5 9,43% Permaneceu 12 22,64% Aumentou 36 67,92% Total 53 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

Para as empresas que além de reduzirem seus lucros tiveram seus custos

aumentados, a perspectiva para o longo prazo é de redução da receita e conseqüentemente

dificuldade de manutenção no mercado.

No que diz respeito ao mais conhecido entre os indicadores de desempenho ex-

post, a parcela de mercado (market share), verificou-se que a maioria das empresas (58,49%)

permaneceu com a mesma parcela de mercado em relação ao período anterior, do restante das

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empresas 20,75%, aumentou o market share e 20,75% diminuiu, ou seja, perderam

competitividade (Tabela 28).

Tabela 28 – Evolução da parcela de participação no mercado das empresas de móveis da RMB, 2003.

Evolução Frequência Percentual Diminuiu 11 20,75% Permaneceu 31 58,49% Aumentou 11 20,75% Total 53 100,00%

Fonte: Pesquisa de campo.

São vários os fatores que vinculam as poucas empresas que obtiveram sucesso,

aumentando a parcela de participação no mercado, entre eles o investimento em máquinas e

equipamentos, a integração com fornecedores e clientes, a busca pela diferenciação e ações no

âmbito institucional que estimulam a participação em feiras.

A seguir serão apresentadas as análises provenientes dos resultados obtidos através

da análise fatorial, utilizada para identificar os fatores determinantes da competitividade das

empresas de móveis da RMB.

5.3 ANÁLISE FATORIAL

A análise fatorial foi utilizada para atender a um dos objetivos específicos da

pesquisa, a identificação dos fatores de competitividade das empresas de móveis da RMB,

visto que é uma técnica útil para análise de fenômenos com muitas variáveis.

Além disso, a técnica da análise fatorial possibilitou a estimação dos escores

fatoriais, utilizados na construção do IDC, cuja finalidade foi hierarquizar as empresas de

acordo com o seu desempenho e obtenção da regressão entre o faturamento das empresas de

móveis da RMB e os fatores.

As 17 variáveis utilizadas na análise fatorial foram elencadas no Quadro 1

apresentado na página 49.

Os testes utilizados para verificar a adequação dos dados à técnica de análise

fatorial, foram: o teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o tetse de Bartlett. O KMO indica a

proporção de variância comum ao conjunto de dados, para as empresas de móveis da RMB

obteve-se um KMO da ordem de 0,533 indicando adequação regular dos dados, o que é

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devido a amostra relativamente pequena. O teste de Bartlett testa a hipótese nula da matriz de

correlação ser uma matriz identidade (não existe correlação entre as variáveis), o valor de

316,681, significante a 1% permite rejeitar a hipótese nula, ou seja as variáveis são

correlacionadas. Portanto, a combinação desses dois testes indicam a adequação dos dados à

técnica de análise fatorial (HAIR et al., 2005).

Kaiser-Meyer-Olkin Measure of

Sampling Adequacy. 0,5329

Approx. Chi-Square 316,6808

df 136 Bartlett's Test of Sphericity

Sig. 0,0000

Quadro 2- - Teste KMO e Teste Bartlett’s Fonte: Cálculo no SPSS 13.0

O passo seguinte na análise fatorial é a obtenção e análise da matriz de correlação

das 17 variáveis escolhidas para análise da competitividade das empresas de móveis da RMB.

A análise da matriz de correlação foi utilizada para definir o grau de relação linear

entre duas variáveis, pois a existência de correlações, relativamente, altas entre as variáveis

indica que essas variáveis medem algo em comum e são esses grupos de variáveis comuns

(fatores) que são medidos através da análise fatorial. A análise de correlação, também, indica

que quando as variáveis estão bastante correlacionadas, a maior parte da variabilidade pode

ser explicada por poucos componentes.

A Tabela 29 apresenta a correlação entre as variáveis escolhidas para análise da

competitividade, os valores em negrito são as correlações estatisticamente significantes a

10%.

A variável que apresenta o maior número de relações estatisticamente significantes

com as demais variáveis é V1 – organização em departamentos. Esta variável está associada

positivamente, ou seja, varia na mesma direção, que as variáveis: nível de capacidade ociosa

(V3), obtenção de crédito de curto prazo (V4), obtenção de crédito de longo prazo (V5) e

utilização de normas técnicas de produto (V11), assim, se houver um acréscimo no nível de

organização em departamentos das empresas de móveis da RMB haverá um aumento na

obtenção de crédito de curto e de longo prazo pelas empresas e um aumento na utilização de

normas técnicas de produto, mesmo que este aumento seja pequeno, pois se tratam de

correlações fracas (menor que 0,5), isso porque a organização em departamentos conduz ao

aumento de eficiência em todos os processos da empresa.

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Tabela 29 – Matriz de correlação V6 V2 V3 V4 V5 V10 V14 V15 V12 V17 V13 V11 V1 V16 V7 V8 V9

V6 1

V2 -0,043 1

V3 0,008 0,103 1

V4 -0,283 0,017 0,027 1

V5 -0,503 0,076 -0,036 0,416 1

V10 0,159 0,316 0,212 0,017 -0,103 1

V14 0,515 -0,216 -0,094 -0,036 -0,073 0,139 1

V15 -0,043 -0,179 0,058 0,032 -0,297 0,08 0,034 1

V12 0,036 0,109 -0,091 0,23 0,057 0,027 0,099 0,23 1

V17 0,004 0,04 0,331 0,042 -0,061 0,32 -0,096 0,222 -0,054 1

V13 -0,139 0,125 -0,265 0,041 0,024 -0,457 -0,194 -0,192 -0,103 -0,174 1

V11 -0,134 -0,175 -0,265 0,042 0,25 -0,009 -0,06 -0,079 -0,05 -0,089 -0,208 1

V1 -0,251 0 0,197 0,316 0,212 -0,108 -0,455 0,123 0,146 -0,166 -0,228 0,25 1

V16 0,433 -0,222 -0,056 -0,12 -0,33 0,041 0,401 -0,059 -0,218 0,032 0,036 -0,232 -0,486 1

V7 0,064 0,106 0,058 -0,215 -0,149 -0,034 -0,001 -0,021 -0,006 0,065 0,102 -0,263 -0,335 0,352 1

V8 0,434 -0,335 0,002 -0,055 -0,243 -0,002 0,438 -0,028 -0,174 0,026 -0,082 -0,222 -0,373 0,917 0,286 1

V9 0,096 0,006 0,131 0,142 -0,047 0,268 0,207 0,118 0,105 0,163 -0,372 0,102 0,123 -0,048 -0,05 -0,056 1 Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração: software SPSS 13.0 Valores em negrito são estatisticamente significativos a 10% de probabilidade de erro.

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Por outro lado, a variável V1 – organização em departamentos apresenta relação

negativa, ou seja, varia em direção oposta, com as variáveis: total de pessoas ocupadas (V6),

número de fornecedores (V14), fatores que favorecem a escolha dos clientes (V13), market

share (V16), salário médio (V7) e índice de qualificação da mão-de-obra (V8). Essas

associações negativas identificadas entre as variáveis de competitividade das empresas de

móveis da RMB se justificam pela existência de poucas empresas organizadas em

departamentos (apenas 26,42%), pois o conjunto das empresas encontra-se em estágio

embrionário de desenvolvimento.

A ausência de departamentos de marketing e de vendas nas empresas de móveis da

RMB, por exemplo, dificulta o acesso aos clientes e a identificação de suas preferências,

refletindo, negativamente, sobre as variáveis market share e fatores que favorecem a escolha

dos clientes. Da mesma forma, a ausência de um departamento de recursos humanos torna

mais difícil para empresa o investimento em qualificação, o que reflete negativamente sobre o

índice de qualificação da mão-de-obra e o salário médio.

Outra variável que apresenta muitas relações significativas com as demais

variáveis é a variável V16 – market share. O aumento no market share está fortemente

associado ao aumento do índice de qualificação da mão-de-obra (0,917), pois mão-de-obra

qualificada implica em maior facilidade na adoção de inovações de processo, produto e

organização o que está, diretamente, relacionado com o aumento das vantagens competitivas e

conseqüentemente o aumento das vendas e da parcela de mercado.

Outras associações positivas do market share ocorrem com as variáveis: i) total de

pessoas ocupadas (V6), maior parcela de mercado torna necessário aumento na produção e,

portanto no número de pessoas ocupadas; ii) número de fornecedores (V14) e; iii) salário

médio (V7).

O market share está associado negativamente, ou seja, varia em direção oposta a

subcontratação da produção ou de serviços (V2), a obtenção de crédito de longo prazo (V5), o

tempo de venda para o mercado nacional (V12), a utilização de normas técnicas de produto

(V11) e a organização em departamentos (V1).

Essas associações negativas, a princípio contraditórias, são justificadas pelo

estágio embrionário de desenvolvimento das empresas de móveis da RMB, pois é pequeno o

percentual de empresas que subcontratam (13,21%), possuem crédito de longo prazo

(18,87%), utilizam técnicas de produto (20,75%) e estão organizadas em departamentos

(26,42%). O baixo percentual de empresas com subcontratação e sendo estas de serviços de

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Contabilidade e refeição indica que as empresas, ainda, estão distantes do processo de

especialização da produção que traria vantagens de custo e de diferenciação.

A variável índice de qualificação da mão-de-obra (V8), também, apresenta muitas

relações estatisticamente significativas com outras variáveis. Esta variável está associada

positivamente com as variáveis: total de pessoas ocupadas (V6), número de fornecedores

(V14), market share (V16) e salário médio (V7). E, negativamente associada as variáveis:

subcontratação da produção ou de serviços (V2), obtenção de crédito de longo prazo (V5),

utilização de normas técnicas de produto (V11) e organização em departamentos (V1).

A grande limitação do coeficiente de correlação linear é que ele capta, apenas, as

relações lineares entre duas variáveis.

Após a obtenção e análise da matriz de correlação das variáveis, passa-se para

obtenção dos fatores, uma vez que segundo Hair et al. (2005) os procedimentos da análise

fatorial são baseados na computação inicial de uma tabela completa de intercorrelações entre

as variáveis.

Assim, pela transformação da matriz de correlação padronizada obtém-se a matriz

de cargas fatoriais, porém antes de analisá-la é necessário identificar o número de fatores a

serem extraídos para representar o conjunto de dados e para isso o critério mais utilizado é o

da raiz latente segundo o qual o número de fatores utilizados é igual ao número de fatores

com autovalores (soma dos quadrados das cargas fatoriais) maiores ou iguais a 1.

Dessa forma, a partir da matriz do total de variância explicada, apresentada abaixo,

(Tabela 30) e utilizando o critério da raiz latente o número de fatores de competitividade

identificados nas empresas de móveis da RMB é igual a seis, sendo que esses fatores foram

escolhidos pela importância que cada um tem na explicação da variância total dos dados.

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Tabela 30 – Total da variância explicada dos fatores obtidos através da análise fatorial das empresas de móveis da RMB, 2003.

Autovalores iniciais Peso das somas de quadrado explicada

Peso das somas ao quadrado explicada após a rotação

Fatores

Total % da

Variância Acumulado

% Total % da

Variância Acumulado

% Total % da

Variância Acumulado

% 1 3,501 20,592 20,592 3,501 20,592 20,592 3,114 18,319 18,319 2 2,3 13,531 34,124 2,3 13,531 34,124 2,067 12,161 30,48 3 1,768 10,4 44,524 1,768 10,4 44,524 1,747 10,276 40,756 4 1,364 8,023 52,547 1,364 8,023 52,547 1,732 10,186 50,941 5 1,319 7,761 60,308 1,319 7,761 60,308 1,497 8,807 59,748 6 1,295 7,619 67,927 1,295 7,619 67,927 1,39 8,179 67,927 7 0,996 5,859 73,786 8 0,862 5,071 78,857 9 0,734 4,319 83,176

10 0,722 4,248 87,425 11 0,6 3,532 90,957 12 0,428 2,52 93,477 13 0,352 2,07 95,547 14 0,322 1,893 97,439 15 0,242 1,426 98,865 16 0,138 0,81 99,675 17 0,055 0,325 100

Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração: software SPSS 13.0

Na Tabela 30, além dos autovalores apresentam-se, também, os valores das

variâncias (quociente entre o autovalor e a variabilidade total dos dados) de cada fator iniciais

e rotacionados. A rotação ortogonal pelo método varimax é feita para que haja uma

redistribuição das variâncias explicadas pelos fatores de tal forma que se obtenha um padrão

fatorial mais simples e teoricamente mais significativo, isto porque a rotação varimax busca

soluções nas quais se maximiza as correlações de cada variável com apenas um fator,

preservando, contudo a especificidade (comunalidade) das variáveis.

A variância total dos dados é explicada por dezessete fatores, porém apenas seis

apresentam autovalores maiores que 1, de tal forma que esses seis fatores explicam 67,93% da

variância total dos dados.

Identificados os fatores parte-se para análise da matriz de cargas fatoriais

rotacionada apresentada na Tabela 31, onde pode-se identificar as variáveis que compõem

cada um dos fatores bem como o grau de correspondência (correlação) entre cada variável e

cada fator.

Na Tabela 31, também, está apresentado o percentual da variância de cada

variável que é explicada pelo conjunto de fatores (comunalidade), obtida pela soma em linha

das cargas fatoriais ao quadrado.

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Tabela 31 – Matriz de cargas fatoriais rotacionados das empresas de móveis da RMB, 2003.

Fatores Variável 1 2 3 4 5 6

Cumulnalidades

V6 - total de pessoas ocupadas 0,533 0,314 -0,481 -0,165 0,064 0,1 0,655 v2 - subcontratação da produção ou de serviços -0,186 -0,031 0,009 0,106 0,861 0,037 0,791 V3 - nível de capacidade ociosa -0,066 0,159 0,026 0,744 0,032 -0,041 0,586 V4 - obtenção de crédito de curto prazo -0,044 0,077 0,821 0,068 -0,074 0,279 0,769 V5 - obtenção de crédito de longo prazo -0,22 0,003 0,804 -0,129 0,098 -0,231 0,775 V10 - presença de assitência técnica 0,084 0,631 -0,083 0,316 0,43 -0,028 0,698 V14 - número de fornecedores 0,667 0,415 -0,003 -0,316 -0,021 0,149 0,739 V15 - critério de escolha do forncedor -0,133 0,099 -0,247 0,278 -0,383 0,637 0,719 V12 - tempo de venda para o mercado nacional -0,084 0,129 0,167 -0,215 0,178 0,79 0,754 V17 - margem de lucro 0,041 0,194 -0,009 0,691 0,047 -0,001 0,519 V13 - fatores que favorecem a escolha dos clientes 0,044 -0,781 0,069 -0,218 0,173 -0,008 0,694 V11 - utilização de normas técnicas de produto -0,355 0,384 0,095 -0,402 -0,268 -0,358 0,644 V1 - organização em departamentos -0,662 0,15 0,223 0,062 -0,288 0,123 0,613 V16 - market share 0,885 -0,069 -0,103 0,092 -0,187 -0,116 0,855 V7 - salário médio 0,401 -0,341 -0,132 0,268 0,216 0,051 0,415 V8 - indice de qualificação da mão-de-obra 0,867 -0,006 -0,016 0,106 -0,319 -0,083 0,873 V9 – indicador de tecnologia 0,007 0,634 0,083 0,113 0,021 0,165 0,449

soma dos quadrados ( autovalor) 3,114 2,067 1,747 1,732 1,497 1,39 11,548

Variância explicada 18,319 12,161 10,276 10,186 8,807 8,179 67,927 Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração software SPSS 13.0

As variáveis que têm maior percentual de explicação pelos seis fatores

determinantes da competitividade das empresas de móveis da RMB encontrados através da

análise fatorial são: V8 – índice de qualificação da mão-de-obra (87,3%), V16 – market share

(85,5%), V2 - subcontratação da produção ou de serviços (79,1%), V5 – obtenção de crédito

de longo prazo (77,5%), V4 – obtenção de crédito de curto prazo (76,9%), V12 – tempo de

venda para o mercado nacional (75,4%), V14 – número de fornecedores (73,9%) e V15 –

critério de escolha do fornecedor (71,9%). As variáveis com comunalidades pequenas (V7 –

salário médio e V9 – indicador de tecnologia) mostram que uma boa parte da variância dessas

variáveis não é explicada pelos fatores.

5.3.1 Análise dos fatores

O procedimento de escolha das variáveis que compõem cada um dos seis fatores se

dá observando-se as cargas fatoriais de cada variável da esquerda para direita, elegendo-se a

maior carga fatorial da variável.

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Assim, no primeiro fator que explica 18,32% da variância dos dados, estão

agrupadas as variáveis V6 (total de pessoas ocupadas), V14 (número de fornecedores), V1

(organização em departamentos), V16 (market share), V7 (salário médio) e V8 (índice de

qualificação da mão-de-obra). Este fator pode ser visto como a dimensão gestão

empresarial.

As variáveis V6, V7 e V8 relacionadas aos recursos humanos (quantidade e

qualidade) possuem uma relação positiva com este fator. Essas variáveis compõem o atributo

condições de fatores do Diamante de Porter e, portanto são fontes de vantagens tanto de custo

(salários baixos reduzem o custo) quanto de diferenciação (mão-de-obra qualificada permite a

incorporação de inovações de processos e produtos) para as empresas.

A variável V8 (índice de qualificação da mão-de-obra) em particular apresenta

uma carga fatorial elevada, ou seja, está fortemente correlacionada com o fator 1 (0,867),

demonstrando ser uma importante fonte de vantagem competitiva para as empresas de móveis

da RMB, assim considerando-se que é elevado o percentual de funcionários analfabetos ou

com primário incompleto (45,93%) e a importância dessa variável para a criação de vantagens

competitivas, as empresas que apresentam o maior número de funcionários qualificados ou

aptos para tal saem na frente em relação as demais.

O salário médio (V7) apresenta uma carga fatorial baixa (0,401) por estar

relacionada às vantagens competitivas de custo não sustentável no longo prazo e, portanto

com baixa influência sobre a primeira dimensão de competitividade das empresas de móveis

da RMB.

O market share (V16) é outra variável que está relacionada positivamente ao

primeiro fator, sendo que possui a maior carga fatorial (0,885), ou seja, quanto maior for a

parcela de participação no mercado da empresa mais competitiva é a empresa, isso porque as

empresas com grandes parcelas de mercado são aptas à atender as exigências dos

consumidores (vantagens de qualidade e diferenciação) além de possuírem economias nos

custos devido as economias de escala, os relacionamentos com fornecedores e o know how

dos funcionários.

A variável V14 - número de fornecedores, relacionada a uma das principais forças

competitivas abordadas por Porter (1993), a relação com fornecedores, também, tem uma

relação positiva com o fator da dimensão gestão empresarial, indicando que boas relações

com os fornecedores implicam em efeitos positivos sobre o primeiro fator determinante da

competitividade.

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Por outro lado, a variável V1 - organização em departamentos tem relação

negativa com o fator da dimensão gestão empresarial, isso porque entre as empresas de

móveis da RMB observa-se que são poucas as empresas com divisão em departamentos e,

portanto os reflexos positivos dessa organização não são percebidos como determinantes de

vantagens competitivas nessas empresas.

O segundo fator contemplou as variáveis V10 - presença de assistência técnica,

V13 - fator que favorece a escolha do cliente e V9 - indicador de tecnologia, podendo, assim

ser denominado de dimensão tecnológica. Este segundo fator explica 12,16% da variância

total dos dados e possui relação positiva com as variáveis presença de assistência técnica e

indicador de tecnologia (medido pela média do tempo de uso das máquinas), essa relação

positiva informa que essas variáveis têm importante participação na criação de vantagens

competitivas para as empresas de móveis da RMB, uma vez que a capacitação tecnológica

possibilita a redução dos custos com a utilização de técnicas e equipamentos mais eficientes

reduzindo o tempo de fabricação, a necessidade de mão-de-obra, os desperdícios de insumos,

além de possibilitar a diferenciação e o aprimoramento da qualidade do produto.

Por outro lado, esta dimensão possui relação negativa com a variável fatores que

favorecem a escolha dos clientes, pois o principal fator de escolha dos clientes é o preço

competitivo (23,16%), indicando que as empresas de móveis da RMB competem

principalmente via preços o que não é o melhor critério de competitividade, pois trás

vantagens, apenas, no curto prazo.

No terceiro fator estão as variáveis V4 - obtenção de crédito de curto prazo e V5

obtenção de crédito de longo prazo. Este fator pode ser chamando de dimensão de crédito e

explica 10,28% da variância total dos dados. Tanto V4 quanto V5 se relacionam

positivamente com a dimensão de crédito, isso porque o crédito é peça fundamental na

geração de vantagens competitivas,uma vez que possibilita o investimento na compra de

máquinas e equipamentos, qualificação da mão-de-obra etc.

Porém, no caso das empresas de móveis da RMB são poucas as que usufruem

dessas vantagens dado o pequeno percentual de empresas com acesso ao crédito de curto e/ou

longo prazo (22,64% - curto prazo e 18,87% - longo prazo) devido as dificuldades de

adequação a burocracia inerente ao sistema de concessão de crédito nos bancos oficiais, sendo

a principal fonte de crédito pessoas físicas.

No quarto fator, estão as variáveis V3 - nível de capacidade ociosa, V17 -

margem de lucro e V11 - utilização de normas técnicas de produto. Este fator explica 10,17%

da variância total dos dados e pode ser denominado dimensão de eficiência produtiva.

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O nível de capacidade ociosa e a margem de lucro possuem relação positiva com o

quarto fator, eles são indicadores de desempenho que dependem das estratégias tomadas

previamente pelas empresas quanto ao nível de produção e a margem de lucro esperada. Já a

variável utilização de normas técnicas de produto apresenta relação negativa com a dimensão

de desempenho, pois nas empresas de móveis da RMB são poucas as que utilizam essas

normas (20,75%) o que tem impacto direto sobre a qualidade do produto final e, portanto no

desempenho competitivo das empresas.

O quinto fator explica 8,81% da variância total dos dados, sendo composto pela

variável V2 - subcontratação da produção ou de serviço e por isso denominado de dimensão

integração horizontal. A variável subcontratação da produção ou de serviços tem relação

positiva com este fator, pois a variável sinaliza para a criação de redes de empresas, ou seja,

as empresas delegam a outras parte de suas atividades concentrando seus esforços em

atividades restritas, como por exemplo: o desenvolvimento e design de produto o que, por sua

vez, melhora a eficiência do processo produtivo.

No caso das empresas de móveis da RMB são pequenas as vantagens advindas

dessa dimensão devido o pequeno percentual de empresas que subcontratam e dentre estas

não haver subcontratação da produção, apenas, de serviços de contabilidade e refeição.

No sexto fator, que explica 8,18% da variância total dos dados, estão as variáveis

V15 - critério de escolha do fornecedor e V12 - tempo de venda para o mercado nacional,

abrangendo, assim, o relacionamento com fornecedores e clientes e, portanto sendo nomeada

dimensão conexão de mercado. Ambas variáveis têm relação positiva com o sexto fator e,

portanto sobre a competitividade o que está de acordo com o modelo do Diamante de Porter

abordado anteriormente.

Nas empresas de móveis da RMB o principal critério de escolha do fornecedor é o

preço da matéria-prima (30,97%), seguido pela qualidade do produto (23,23%) indicando que

os empresários estão buscando obter da relação com fornecedores tanto vantagens de custo

quanto de diferenciação.

Já o tempo de venda para o mercado nacional indica a capacidade da empresa de

atender as necessidades de mercados mais exigentes que o mercado local e, portanto a

melhora no seu desempenho competitivo.

As dimensões de competitividade identificadas através da análise fatorial estão

aderentes com os aspectos apresentados na análise descritiva dos dados. Verificou-se que a

técnica da análise fatorial agrupou as variáveis em dimensões correspondentes aos aspectos

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identificados na análise descritiva que por sua vez estão de acordo com os modelos teóricos

do Diamante de Porter e da Competitividade Sistêmica.

A seguir, passa-se para estimação da análise de regressão do faturamento em

função dos fatores de competitividade das empresas de móveis da RMB.

5.3.2 Análise de regressão

A estimação da regressão feita utilizando o software Eviews 3.0 mostrou a

presença de heterocedasticidade (estatística F do teste de heterocedasticidade de White

significante a 1% o que leva a rejeição da hipótese nula de homocedasticidade). Esse

problema foi corrigido pelo método de White e os resultados dos parâmetros são mostrados na

Tabela 32.

Tabela 32 – Resultado da análise de regressão do faturamento em função dos fatores de competitividade das empresas de móveis da RMB.

Variável Coeficiente Desvio padrão Estatística t Probabilidade Constante 463837,2 260924,6 1,7777 0,0835 FP1 3397627 469622 7,2348 0,000 FP2 -506929,8 231497,6 -2,1898 0,0347 FP3 -184654,8 186183,2 -0,9918 0,3276 FP4 257584,2 161578,9 1,5942 0,1192 FP5 -508768,1 212131,3 -2,3984 0,0215 FP6 -254370,3 169517 -1,5006 0,1417 R-quadrado 0,865221 Média da variável dependente 269021,1 R-quadrado ajustado 0,84394 S.D da variável dependente 629770,8 S.E. da regressão 248787,7 Critério de inf. Akaike 2,7829 Soma dos quadrados dos resíduos

2,35E+12 Critério deSchwarz 2,811

Log de probabilidade -6,1914 Estatística F 40,657 Estatística Durbin-Watson-d 2,4223 Prob(Estatística F) 0,0000

Fonte: Cálculo no software Eviews 3.0. FP1= dimensão de gestão empresarial, FP2 = dimensão tecnológica, FP3 = dimensão de crédito, FP4 = dimensão de desempenho. FP5 = dimensão de integração horizontal, FP6 = dimensão de conexão de mercado.

Os demais problemas de violação das hipóteses do modelo clássico de regressão

linear, a autocorrelação e a multicolinearidade não foram identificados no modelo.

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O R-quadrado no valor de 0,8652 indica que 86,52% das variações ocorridas no

faturamento das empresas é explicada pelos fatores incluídos no modelo. A estatística F foi

significativa a 1% de probabilidade, indicando que o modelo utilizado é adequado.

Os coeficientes dos fatores 3 (dimensão de crédito), 4 (dimensão de eficiência

produtiva) e 6 (dimensão de conexão de mercado) não são significantes a 5% de

probabilidade de erro. No caso da dimensão de crédito isso se justifica pelo número restrito de

empresas de móveis da RMB que recebem crédito de curto e longo prazo, o que, por sua vez

ocorre, segundo os empresários devido aos juros elevados e a exigência de garantias, um

grande empecilho considerando que se trata na grande maioria de micro e pequenas empresas.

O coeficiente do quarto fator identificado como dimensão de eficiência produtiva

onde estão as variáveis nível de capacidade ociosa, utilização de normas técnicas de produto e

margem de lucro também não apresenta significância estatística a 5% de probabilidade de erro

o que pode ser justificado pela elevada capacidade ociosa (54,72% das empresas estão com

capacidade ociosa acima de 10%) e pela utilização restrita de normas técnicas de produto

pelas empresas de móveis da RMB (apenas 20,75% das empresas utilizam).

O baixo nível de relacionamento entre as empresas de móveis da RMB com seus

fornecedores e clientes, por sua vez, justifica o fato do coeficiente da dimensão conexão de

mercado (fator 6) não ser, estatisticamente, diferente de zero a 5% de probabilidade de erro,

sendo assim, uma dimensão que não está exercendo influência positiva sobre o faturamento

das empresas.

Já os coeficientes dos fatores 1 (dimensão gestão empresarial), 2 (dimensão

tecnológica) e 5 (dimensão integração horizontal) são estatisticamente significativos a 5% de

probabilidade de erro e por essa razão merecem uma análise mais detalhada:

i) o coeficiente da dimensão gestão empresarial apresenta sinal positivo, indicando

que variações positivas unitárias e simultâneas nas variáveis que compõem este fator (total de

pessoas ocupadas, número de fornecedores, organização em departamentos, market share,

salário médio e índice de qualificação da mão-de-obra) implicam em aumento médio de R$

3.397.627,00 no faturamento das empresas.

ii) o coeficiente da dimensão tecnológica é estatisticamente diferente de zero,

porém apresenta sinal negativo, isso ocorreu devido a defasagem tecnológica das máquinas e

equipamentos das empresas de móveis da RMB (o tempo médio de uso das máquinas é de

5,03 anos), a ausência de assistência técnica (apenas 11,32% das empresas possuem

assistência técnica) e a pouca importância dada pelos empresários a qualidade e a

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diferenciação do produto como principal fator que favorece a escolha dos clientes, pois para

essas empresas o preço é o principal fator de inserção nos mercados.

iii) o coeficiente da dimensão integração horizontal, também, é estatisticamente

significativa a 5% de probabilidade e apresenta sinal negativo, pois são poucas as empresas

que subcontratam (apenas 13,21%) e sendo todas subcontratações de serviços de

contabilidade e refeição não há nenhum indicativo que sinalize para o começo de um processo

de desverticalização da produção e, portanto de especialização nas empresas de móveis da

RMB.

Os sinais encontrados para os coeficientes dos fatores de competitividade na

análise de regressão do faturamento indicam que, apenas, a dimensão de gestão empresarial

age como um fator de competitividade para as empresas de móveis da RMB e as demais

dimensões funcionam como limitantes à competitividade dessas empresas respondendo,

assim, a um dos objetivos específicos da pesquisa o de identificar os fatores que favorecem e

os limitantes a competitividade das empresas.

Assim, é na gestão interna onde estão concentradas as principais fontes de

vantagens competitivas para as empresas de móveis da RMB, principalmente baixos salários.

Quanto às deficiências limitantes a competitividade dessas empresas verifica-se que estão

relacionadas as demais dimensões de capacitação tecnológica (máquinas com muito tempo de

uso e limitadas tecnologicamente), acesso ao crédito (inadequação às exigências dos bancos

oficiais de desenvolvimento para concessão de crédito), desempenho (pouca utilização de

normas técnicas de produto), integração horizontal (inexistência de subcontratação da

produção) e conexão de mercado (critério de escolha dos clientes baseado no preço).

5.3.3 Índice de Desempenho Competitivo (IDC)

Além da descrição e entendimento da estrutura de correlação das variáveis, o que é

representado pelas cargas fatoriais analisadas no item anterior, a análise fatorial possibilita

que cada indivíduo da amostra tenha um valor para cada um dos fatores comuns, chamados de

escores fatoriais, que são calculados pela combinação linear entre os pesos fatoriais (Tabela

33) e os valores das variáveis originais (SANTANA, 2006).

Os escores fatoriais associados a cada um dos fatores, por sua vez, possibilitam

muitas análises subseqüentes, entre elas a construção de um índice de desempenho

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competitivo, que serve para hierarquizar as empresas de acordo com o nível de

competitividade.

Tabela 33 – Matriz de pesos dos escores fatoriais Fatores Variáveis

1 2 3 4 5 6 V6 0,1202 0,1661 -0,2329 -0,1604 0,0827 0,0615 V2 -0,035 0,0031 -0,012 0 0,5722 0,0253 V3 -0,0225 0,0276 0,0446 0,4386 -0,0319 -0,0733 V4 0,1243 0,0073 0,5353 0,073 -0,0466 0,206 V5 0,0528 0,0313 0,4803 -0,0329 0,0744 -0,1602 V10 0,0309 0,3112 -0,0214 0,1067 0,2934 -0,0801 V14 0,2477 0,2212 0,0936 -0,2304 0,0496 0,1044 V15 -0,0913 -0,0341 -0,1651 0,1523 -0,2839 0,4427 V12 0,0219 0,0249 0,0945 -0,1764 0,1444 0,5822 V17 0,0126 0,0468 0,0377 0,3992 -0,0126 -0,0427 V13 0,0344 -0,3704 0,0442 -0,0817 0,1097 0,0672 V11 -0,1302 0,2428 -0,0262 -0,2311 -0,1524 -0,2858 V1 -0,2134 0,0502 0,0371 0,058 -0,218 0,0635 V16 0,2971 -0,0388 0,0829 0,0712 -0,1062 -0,0663 V7 0,1326 -0,1882 -0,0017 0,1611 0,1284 0,062 V8 0,3012 -0,0153 0,1364 0,088 -0,195 -0,0475 V9 0,0206 0,2982 0,0622 0,0162 0,0291 0,0683

Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração: software SPSS 13.0

Os escores fatoriais originais e os padronizados de cada empresa, bem como o

índice de desempenho competitivo estão apresentados na Tabela 34.

Por esses resultados, observa-se que uma empresa apresenta alto desempenho

competitivo (IDC = 0,7108), esta empresa apresenta sinais positivos nos quatro primeiros

escores fatoriais, que são os mais importantes, e sinal negativo nos dois últimos. Os escores

fatoriais positivos nas dimensões gestão empresarial, tecnológica, crédito e eficiência

produtiva indicam que as variáveis definidoras dessas dimensões apresentam influência

positiva sobre o desempenho competitivo dessa empresa e os escores fatoriais negativos nas

dimensões integração horizontal e conexão de mercado indicam que as variáveis definidoras

dessas dimensões não estão agindo de forma a gerar vantagens competitivas para as empresas.

Ou seja, o alto desempenho competitivo dessa empresa só foi possível porque ela

possui mão-de-obra qualificada, recebeu assistência técnica, tem máquinas com até 2 anos de

uso, recebeu crédito de curto ou longo prazo, porém o seu desempenho não foi maior porque

apresenta deficiências na relação com fornecedores e clientes e não possui empresas

subcontratadas.

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97

Apenas quatro empresas apresentam IDC inferior a 0,4, ou seja, baixo desempenho

competitivo, em três dessas existe, apenas, uma dimensão com escore fatorial positivo e em

uma delas todas as dimensões possuem escores fatoriais negativos.

Deficiências comuns a essas empresas estão relacionadas aos escores fatoriais

negativos em algumas dimensões, o que, por sua vez, é conseqüência de deficiências em

variáveis estratégicas para a geração de vantagens competitivas como o índice de qualificação

da mão-de-obra e salário médio na dimensão gestão empresarial, utilização de normas

técnicas de produto na dimensão de eficiência produtiva, subcontratação da mão-de-obra na

dimensão integração horizontal, critério de escolha do fornecedor e tempo de venda para o

mercado nacional na dimensão conexão de mercado, presença de assistência técnica e tempo

de uso das máquinas na dimensão tecnológica.

No caso da empresa que apresentou todos os escores fatoriais negativos a sua

posição competitiva só será aperfeiçoada se variáveis estratégicas, como qualificação da mão-

de-obra, compra de máquinas e equipamentos novos, estreitamento da relação com

fornecedores e clientes etc forem aprimoradas dentro dessa empresa.

A grande maioria das empresas apresentou desempenho competitivo intermediário

(IDC entre 0,7 e 0,4). A segunda empresa com maior IDC (0,6377) apresenta escores fatoriais

positivos em todas as dimensões, com exceção da primeira dimensão (gestão empresarial),

mas como ela tem maior parcela na explicação da variância total dos dados devido a

importância das variáveis que dela fazem parte na criação de vantagens competitivas, o seu

impacto reduz o índice de desempenho competitivo dessa empresa.

Entre essas empresas com índice de desempenho competitivo intermediário duas

apresentam sinal positivo nos escores de todas as dimensões, indicando que elas possuem as

principais variáveis que favorecem a criação de vantagens competitivas, necessitando, apenas,

o aperfeiçoamento que levaria ao aumento nos escores fatoriais e conseqüentemente melhora

nas suas posições competitivas.

Das empresas pesquisadas, 55,8% apresentam IDC acima do valor médio de

0,5093, essas empresas encontram-se numa posição desconfortável, pois chegaram a um nível

de competitividade intermediário através de vantagens advindas de custos baixos e a evolução

para o estágio de alto desempenho competitivo somente se dará pó meio da diferenciação o

que requer investimentos em tecnologia, capacitação da mão-de-obra, pesquisas de mercado,

implementação de normas técnicas de processo e produto etc, ou seja, requer das empresas

um fôlego maior do que aquele necessário para atingirem o estágio intermediário.

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98

Tabela 34 – Valores dos escores fatoriais originais e padronizados e o índice de desempenho competitivo Escore fatorial original Escore fatorial padronizado Empresa F1 F2 F3 F4 F5 F6 Fp1 Fp2 Fp3 Fp4 Fp5 Fp6 IDC

Maso Industrial S/A 5,4077 0,6143 0,4923 0,3848 -2,2578 -0,5797 1 0,7093 0,8963 0,7394 0,305 0,234 0,7108

F. de Sousa Carvalho Madeira -0,0881 0,3928 0,928 1,6458 0,5982 0,9232 0,1466 0,6731 0,9965 1 0,8733 0,5292 0,6377

Americo F. Silva Industria e Comercio 0,2086 0,5772 0,1966 1,6322 -0,4801 2,3986 0,1926 0,7032 0,8283 0,9972 0,6587 0,819 0,6367

G. N .Souto M.E. 0,1139 0,1712 0,7823 1,3759 0,7995 0,5816 0,1779 0,637 0,963 0,9442 0,9133 0,4621 0,6233

Perfini Industria e Comércio Ltda 2,1799 0,4859 0,6099 -0,9435 -0,1705 0,7492 0,4988 0,6883 0,9233 0,4648 0,7203 0,495 0,6201

Urnas Mart Ltda 1,4258 0,9518 -0,3624 -0,3889 0,6856 0,5377 0,3816 0,7643 0,6998 0,5794 0,8907 0,4535 0,6026

Marcenaria e Carpintaria Mimóveis -0,2029 0,8852 0,8592 0,7931 0,4058 0,4123 0,1287 0,7535 0,9807 0,8238 0,835 0,4288 0,6014

Marcenaria Caio Móveis 0,139 0,3196 0,9433 1,1231 0,1105 0,2397 0,1818 0,6612 1 0,892 0,7762 0,3949 0,6006

Benção de Deus 0,0986 0,5791 0,6716 -0,3163 0,8256 0,2985 0,1755 0,7035 0,9375 0,5944 0,9185 0,4065 0,5723

Movelaria São Pedro -0,2809 0,5876 0,7007 0,0365 0,5063 0,5301 0,1166 0,7049 0,9442 0,6674 0,855 0,452 0,5658

Não identificado na pesquisa -0,5356 0,5322 0,7449 0,969 0,0906 0,1 0,0771 0,6959 0,9544 0,8601 0,7723 0,3675 0,5631

Ravel Kadela Industria -0,1827 0,8008 0,7204 1,2606 0,5949 -1,7708 0,1319 0,7397 0,9487 0,9204 0,8726 0 0,5627

Reginaldo S Almeida -0,4868 0,6692 0,3611 0,7697 -0,267 0,7275 0,0846 0,7182 0,8661 0,8189 0,7011 0,4907 0,5552

Carpintataria São Jorge -0,1583 0,2539 0,6937 -0,4584 0,6044 0,6324 0,1357 0,6505 0,9426 0,5651 0,8745 0,4721 0,5506

S.A. Moreira e Meira -0,1595 -1,1641 0,6202 0,2873 0,7852 1,0117 0,1355 0,4191 0,9257 0,7192 0,9105 0,5466 0,5433

Tapanã LTDA 1,5311 -1,1333 -1,4605 1,4179 0,6155 -0,3406 0,398 0,4241 0,4473 0,9529 0,8767 0,2809 0,5413

Orivaldo Frota Pereira -0,2837 0,3807 0,7027 -0,5395 0,4204 0,5338 0,1162 0,6711 0,9447 0,5483 0,8379 0,4527 0,5398

Mad Móveis 0,1573 0,2329 0,448 0,3157 0,5505 -0,9943 0,1847 0,647 0,8861 0,7251 0,8638 0,1525 0,5388

Lambari Compensados -0,432 0,3436 0,5219 1,4171 -0,0354 -1,0557 0,0931 0,6651 0,9031 0,9527 0,7472 0,1405 0,5375

Belmodulo 1,1938 2,3962 -0,7456 -3,1923 1,0894 0,1924 0,3456 1 0,6117 0 0,971 0,3856 0,5371

Movelaria Santo Antonio -0,5074 0,3338 0,5167 1,4562 -0,064 -1,0928 0,0814 0,6635 0,9019 0,9608 0,7415 0,1332 0,5334

Maria S. Pereira 0,3325 -1,7909 0,6333 -0,039 1,2352 0,4138 0,2119 0,3168 0,9287 0,6518 1 0,4291 0,5334

Móveis e Decorações Carvalho Ltda -0,3407 0,399 0,3546 1,1817 -0,1324 -1,0884 0,1073 0,6741 0,8646 0,9041 0,7279 0,1341 0,5265

Maria Pinto Coelho -0,4526 0,5635 -0,1283 -0,0108 0,2246 0,7451 0,09 0,701 0,7536 0,6576 0,7989 0,4942 0,5255

J. Atamazio Ind. Com. e Exp. Ltda 0,3923 -0,3942 0,4869 0,1199 0,602 -1,2184 0,2212 0,5447 0,8951 0,6846 0,874 0,1085 0,5216

Hamilton Vanzeler -0,273 -0,3986 0,6926 -0,4352 0,4653 0,4802 0,1178 0,544 0,9424 0,5699 0,8468 0,4422 0,5202

Toraleys Exp. Ltda 0,0417 0,8695 -0,1071 -1,1976 0,5544 0,3769 0,1667 0,7509 0,7585 0,4123 0,8646 0,4219 0,5188

Oficina Globo de Ouro -0,5481 0,2281 0,6009 -0,0528 0,1602 -0,0398 0,0751 0,6462 0,9213 0,6489 0,7861 0,34 0,5155

Industria de Móveis Austrália Ltda 0,029 0,3807 -0,6926 -0,9338 0,596 1,3116 0,1647 0,6712 0,6239 0,4668 0,8728 0,6055 0,515

Marcenaria Santos -0,4553 0,252 0,5113 -0,3709 0,216 -0,2767 0,0895 0,6501 0,9007 0,5832 0,7972 0,2935 0,5029

Gab Móveis -0,5909 0,2603 0,5778 0,3868 -0,0031 -1,1531 0,0685 0,6515 0,916 0,7398 0,7536 0,1213 0,4969

Movelaria Campos -0,7433 0,4625 -1,0649 0,9675 -0,1445 0,5297 0,0448 0,6845 0,5383 0,8598 0,7255 0,4519 0,4935

Massa Móveis Ltda 1,1615 -1,5963 -1,556 0,6075 1,0647 -0,606 0,3406 0,3486 0,4254 0,7854 0,9661 0,2288 0,4892

Moraes Móveis -0,4829 0,1943 0,4502 -0,0424 0,006 -0,8798 0,0852 0,6407 0,8866 0,6511 0,7554 0,175 0,4885

Marcenaria Eucalipal -0,5726 0,4617 0,551 -1,3778 0,2556 0,2086 0,0713 0,6844 0,9098 0,375 0,8051 0,3888 0,4868

A. C. Vargas -0,1547 -0,0099 0,5464 -1,2156 -0,0531 -0,0567 0,1362 0,6074 0,9088 0,4086 0,7437 0,3367 0,4812

Marceneria Fé em Deus -0,2038 0,182 -0,7577 -0,5842 0,949 -0,2354 0,1286 0,6387 0,6089 0,5391 0,9431 0,3016 0,4806

A Sampaio -0,645 -0,6147 0,5948 -0,7507 0,263 0,0277 0,0601 0,5087 0,9199 0,5047 0,8066 0,3533 0,4692

Não identificado na pesquisa -1,0318 0,4308 -1,9609 1,3466 -2,9156 3,32 0 0,6793 0,3323 0,9382 0,1742 1 0,4556

N A Veiga Sampaio Ltda 1,0087 -2,5834 -1,5736 0,6761 0,3117 -0,1385 0,3169 0,1875 0,4214 0,7996 0,8163 0,3206 0,4471

R E Alves da Silva -0,276 -0,6319 0,8186 -1,164 -1,6936 0,4199 0,1174 0,5059 0,9713 0,4192 0,4173 0,4303 0,438

Meirelhes e Meira Ltda 0,0861 -1,2803 -1,8602 0,5496 0,9243 -0,8275 0,1736 0,4001 0,3555 0,7734 0,9381 0,1853 0,4321

Marcenária Sousa -0,5724 -0,0529 0,3929 -0,0676 -1,4878 -1,072 0,0713 0,6004 0,8735 0,6459 0,4582 0,1373 0,4317

Celso Móveis -0,4602 1,0391 -3,4063 -0,3858 0,4431 0,6623 0,0888 0,7786 0 0,5801 0,8424 0,4779 0,4171

Juci Móveis Industria e Comércio -0,6519 -0,5296 0,4896 -0,7681 -0,8282 -0,9482 0,059 0,5226 0,8957 0,5011 0,5895 0,1616 0,416

Neir Móveis e Decorações -0,6665 0,7296 -1,8602 -0,2018 0,1654 -0,8551 0,0567 0,7281 0,3554 0,6181 0,7872 0,1799 0,4158

Chagas Móveis -0,1128 -3,7327 0,773 -1,2817 -0,3187 1,6925 0,1427 0 0,9608 0,3949 0,6908 0,6803 0,4145

Mahogany Ind. de Móveis da Amazônia Ltda -0,5231 -0,2401 0,6549 -1,415 -2,111 -0,1264 0,079 0,5699 0,9337 0,3673 0,3343 0,323 0,4019

Andrade Móveis -0,4799 -1,9243 0,4127 -1,2665 -0,349 -0,2589 0,0857 0,2951 0,878 0,3981 0,6848 0,297 0,393

Carpintaria São Francisco -0,611 0,3229 -1,9368 -0,5604 -0,0123 -0,9833 0,0653 0,6617 0,3378 0,544 0,7518 0,1547 0,3849

Rudy Móveis -0,7192 -0,231 -0,986 -0,5679 -0,0037 -1,7098 0,0485 0,5714 0,5564 0,5424 0,7535 0,012 0,38

L. A. Fernandes -0,6223 0,0242 -0,5957 -0,1922 -3,791 -1,749 0,0636 0,613 0,6462 0,6201 0 0,0043 0,3181

Mínimo -1,0318 -3,7327 -3,4063 -3,1923 -3,791 -1,7708 Média 0,5093

Máximo 5,4077 2,3962 0,9433 1,6458 1,2352 3,32

Peso 0,2697 0,179 0,1513 0,1499 0,1296 0,1204

Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração software SPSS 13.0

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6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Os modelos teóricos do Diamante de Porter e da Competitividade Sistêmica

utilizados na dissertação mostraram-se adequados à análise da competitividade das empresas

de móveis da Região Metropolitana de Belém (RMB), possibilitando, a análise dos atributos

que favorecem a criação de vantagens competitivas, e dos que limitam o desempenho

competitivo dessas empresas.

De modo geral, verificou-se que a maioria das empresas de móveis da RMB são

micro e pequenas. O Índice Hirschman-Herfindahl (IHH) indicou uma estrutura de mercado

der baixa concentração, porém com possibilidade de aumento de concentração, por causa das

fracas barreiras à entrada, pois são poucas as empresas aptas a atender as exigências do

mercado quanto a qualidade, durabilidade e flexibilidade do produto, assim como das boas

práticas de produção e das exigências quanto à origem da matéria-prima.

Entre os fatores que limitam a criação de vantagens competitivas para as empresas

de móveis da RMB estão: i) o baixo nível de escolaridade e de qualificação da mão-de-obra,

dificultando a incorporação de inovações de processo, produto e gestão; ii) o baixo porcentual

de empresas que utilizam programas microcomputadorizados, o que poderia favorecer o

controle da qualidade e redução dos custos devido a maior agilidade e flexibilidade na

produção; iii) dificuldades no acesso a matéria-prima de qualidade o que interfere na

qualidade do produto final e eleva os custos de produção; iv) defasagens tecnológicas

representada pela elevada idade média das máquinas e equipamentos; v) dificuldades no

acesso a assistência técnica; vi) ausência de empresas subcontratadas na produção e; vii)

dificuldades no acesso ao crédito, um fator imprescindível no aperfeiçoamento dos outros

fatores.

Já os fatores presentes nas empresas de móveis na RMB que favorecem a criação

de vantagens competitivas são o custo baixo da mão-de-obra, devido o baixo nível de

escolaridade, levando os empresários a considerarem como principal fator de inserção dos

produtos nos mercados o preço competitivo, ou seja, a principal vantagem das empresas de

móveis da RMB está relacionada a vantagens de custo, não sustentável em longo prazo.

As demais fontes de vantagens competitivas das empresas de móveis da RMB

estão relacionadas às estratégias de adoção de técnicas de organização da produção que

reduzem os custos e aumentam a eficiência do processo produtivo (muitas empresas utilizam

a técnica do just in time) e às ações do agente de governança (Sindicato) que com a criação do

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100

Centro Tecnológico da Madeira e do Mobiliário da Amazônia (TEMMA) pretende minimizar

o efeito dos fatores que dificultam a geração de vantagens competitivas para as empresas.

A análise fatorial possibilitou o agrupamento das variáveis que influenciam o

desempenho competitivo das empresas de móveis da RMB em seis dimensões competitivas.

A dimensão com maior percentual de explicação sobre a variância total dos dados e, portanto

apresentando as variáveis mais importantes para a criação de vantagens competitivas foi a

dimensão gestão empresarial, que contemplou as variáveis: total de pessoas ocupadas,

número de fornecedores, market share, salário médio, índice de qualificação da mão-de-obra

e organização em departamentos, sendo esta última negativamente relacionada com a

dimensão. Em seguida vieram as dimensões tecnológica, acesso ao crédito, eficiência

produtiva, integração horizontal e conexão de mercado.

A análise de regressão do faturamento (indicador de desempenho competitivo) em

função desses fatores mostrou que, apenas, a dimensão de gestão empresarial atua como fonte

de vantagem competitiva para as empresas de móveis da RMB, as demais dimensões estão

limitando a competitividade dessas empresas.

Os resultados do Índice de Desempenho Competitivo (IDC) consolidaram a idéia

de que as empresas de móveis da RMB estão em estágio embrionário de desenvolvimento

competitivo, pois a maioria das empresas apresentou nível intermediário de desempenho

competitivo, com escores fatoriais positivos em alguns dos fatores e negativo em outros,

mostrando a necessidade de aprimoramento dos fatores importantes para a criação de

vantagens competitivas.

Apenas uma empresa obteve IDC alto, apresentando escores fatoriais positivos nos

quatro primeiros fatores, envolvendo as dimensões gestão empresarial, capacitação

tecnológica, crédito e eficiência produtiva que influenciam positivamente para o desempenho

competitivo dessa empresa. Em função disso, a empresa apresenta vantagens de custo e

vantagens de diferenciação de produtos, resultado da gestão empresarial.

O IDC mostrou, também, que 55,8% das empresas apresentaram IDC acima da

média e 88,68% estão em posição intermediária (0,7< IDC � 0,4), posição esta que é

incomoda, uma vez que para chegar nesse estágio as empresas utilizaram-se de vantagens de

custo, porém para evoluir dessa posição intermediária é necessário a utilização de vantagens

de diferenciação o que requer investimentos em tecnologia e qualificação e aprimoramento

das técnicas de gestão e processo.

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Assim, o aprimoramento das vantagens competitivas presentes e a criação de

novas vantagens para as empresas de móveis da RMB requer o desenvolvimento e

implementação de ações e estratégias por todos os agentes envolvidos no processo.

No ambiente interno das empresas cabe a implementação de ações como a saída da

informalidade (para aquelas que ainda se encontram nesse estádio) a fim de se tornarem aptas

a atender às exigências burocráticas inerentes ao sistema de concessão de crédito dos Bancos

de Desenvolvimento e assim poderem investir na aquisição de máquinas e equipamentos. Para

as empresas formais é necessário o aprimoramento da integração com fornecedores de

matéria-prima, o que possibilitaria uma maior agregação de valor ao produto local, além de

trazer vantagens de custo para as empresas, através aproveitamento da madeira de qualidade

não exportada, fortalecendo assim os setores madeireiro-moveleiro local.

No âmbito institucional o aprimoramento das vantagens competitivas existentes e

a minimização dos fatores limitantes perpassa pela redução da burocracia inerente ao sistema

de concessão de crédito de curto e longo prazo nos Bancos de Desenvolvimento a fim de

facilitar o acesso ao crédito pelas empresas que dessa forma poderão investir na compra de

máquinas e equipamentos modernos. Outro aspecto do âmbito institucional a ser considerado

na criação de vantagens competitivas para as empresas de móveis da RMB é o fortalecimento

das instituições responsáveis pela prestação de assistência técnica como o Serviço Nacional

de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE), sendo o primeiro peça fundamental no processo de qualificação da

mão-de-obra, um dos principais fatores limitantes na criação de vantagens competitivas.

Mesmo com a amplitude de análises, que as duas teorias de base proporcionam,

questões como a relação com fornecedores não foi bastante aprofundada cabendo aos novos

estudos essa abordagem, uma vez que a utilização de metodologias como insumo-produto e

contabilidade social possibilitariam a visualização das integrações existentes entre a indústria

madeireira (fornecedores) e a de móveis. Da mesma forma, como já enfatizado, as empresas

de móveis da RMB encontram-se em estágio embrionário de desenvolvimento, de tal forma

que novos estudos deverão ser feitos no futuro a fim de constatar se houve alguma evolução

ou se as mesmas permaneceram estagnadas no que diz respeito à competitividade nos

mercados local, nacional e externo.

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