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Universidade Federal da Bahia Instituto de Saúde Coletiva Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva Doutorado em Saúde Pública Análise da implantação das Ações Estratégicas para a Redução da Mortalidade Infantil Neonatal em Municípios do Estado de Mato Grosso Stella Maris Malpici Luna Salvador Março /2015

Análise da implantação das Ações Estratégicas para a .... STELLA... · Universidade Federal da Bahia Instituto de Saúde Coletiva ... da Mortalidade Infantil na região Nordeste

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  • Universidade Federal da Bahia

    Instituto de Sade Coletiva

    Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva

    Doutorado em Sade Pblica

    Anlise da implantao das Aes Estratgicas para a Reduo

    da Mortalidade Infantil Neonatal em Municpios

    do Estado de Mato Grosso

    Stella Maris Malpici Luna

    Salvador

    Maro /2015

  • Universidade Federal da Bahia

    Instituto de Sade Coletiva

    Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva

    Doutorado em Sade Pblica

    Anlise da implantao das Aes Estratgicas para a Reduo

    da Mortalidade Infantil Neonatal em Municpios

    do Estado de Mato Grosso

    Tese apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Sade Coletiva do Instituto

    de Sade Coletiva da Universidade Federal

    da Bahia, como requisito parcial para

    obteno do ttulo de Doutor em Sade

    Pblica. rea de Concentrao:

    Planificao e Gesto em Sade

    Orientadora: Prof. Dr. Snia Cristina Lima Chaves

    Salvador

    Maro /2015

  • Ficha Catalogrfica

    Elaborao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva

    L961a Luna, Stella Maris Malpici

    Anlise da Implantao das Aes Estratgicas para a Reduo da

    Mortalidade Infantil Neonatal em Municpios do Estado de Mato Grosso /

    Stella Maris Malpici Luna Salvador: S. M. M. Luna, 2015.

    254f.

    Orientador(a): Prof.a Dr.

    a Snia Cristina Lima Chaves.

    Tese (Doutorado) Instituto de Sade Coletiva. Universidade Federal da

    Bahia

    1.Mortalidade Infantil Neonatal. 2. Avaliao de Programas de Sade. 3.

    Plano de Aes Estratgicas. I. Titulo.

    CDU 613.95

  • Folha de aprovao

  • A minha famlia, em especial, meus pais por terem dedicado

    grande parte de suas vidas educao na certeza de um futuro

    melhor a todos;

    A todas as mes que perderam seus bebs. Para as mes que

    perderam seus bebs por motivos evitveis a minha indignao;

    E a todos os trabalhadores e gestores que fazem do seu dia a dia

    uma luta constante em prol da sade dos mato-grossenses e

    brasileiros.

  • Agradecimentos

    A Deus por ter permitido mais essa conquista.

    A todos os colegas da Secretaria de Estado de Sade de Mato Grosso e da Escola de

    Sade Pblica de Mato Grosso pelo carinho, apoio e incentivo durante toda essa

    caminhada.

    Aos amigos e colegas, Gilce, Maria Helena, Irani, Ione, Scatena, Hudson, Silvana,

    Mara, Alexandre, Hailton, Julia Vine, Nidia, Eliane Jeronimo, pelo incentivo, apoio e

    colaborao para com este trabalho.

    Ao Teles e Diretora do Escritrio Regional da Baixada Cuiabana, Zlia da Guia

    Nobre, pela liberao do motorista e do veculo por um perodo de cinco dias teis.

    Ao Sr. Geraldo B. dos Santos, motorista da SESMT, por ter me acompanhado com

    muita determinao e companheirismo. Sua parceria foi fundamental para encontrar

    parte dos endereos das mes, em Cuiab.

    Ana e Ntalie por terem me ajudado nas transcries das entrevistas. Rose e a todos

    da minha famlia, que me ajudaram em casa na minha ausncia.

    A todos os colegas da ps-graduao, que me ajudaram a abrandar a saudade de casa e

    compartilhar o aprendizado. Em especial, Catharina, Shirley, Denise, Lucia e Jair.

    Em especial, Prof Dr Ligia Maria Viera da Silva e Prof. Dr. Snia Cristina Lima

    Chaves pelo carinho, estmulo e apoio em todos os momentos desse doutorado.

    Em especial, a minha orientadora, Prof. Dr. Snia Cristina Lima Chaves, pelas

    relevantes contribuies para este trabalho, pela pacincia, e oportunidade de

    aprendizado.

    Anunciao, Bia, Snia Malheiros e todo pessoal da secretaria da ps-graduao;

    equipe tcnica e administrativa do ISC/UFBA pelas orientaes e apoio.

    Aos Gestores Municipais de Sade de Cuiab e Pocon, Sr. Kamil Hussein Fares e

    Darlan Guimares Ribeiro, que apoiaram essa pesquisa.

    Aos gestores, profissionais de sade e mes que participaram desta pesquisa.

  • APRESENTAO

    A motivao para a realizao deste estudo surgiu de minha trajetria

    profissional. A minha insero no sistema pblico de sade, desde 1983, desenvolvendo

    atividades profissionais, na Secretaria de Estado de Sade de Mato Grosso, junto com

    outros colegas militantes do SUS, possibilitou-me a experincia de iniciar as

    capacitaes na Escola de Sade Pblica de Mato Grosso, em especial, de avaliaes

    em sade.

    Tal experincia possibilitou-me, ainda, o convvio com os profissionais de sade

    e gestores, Estadual e Municipal, bem como a observao das dificuldades para o

    desempenho das suas funes gestoras, estabelecidas no arcabouo legal do SUS.

    Dentre as quais, destacam-se dificuldades referentes formulao de polticas,

    planejamento e avaliao. Diante disso, acredito que fortalecer a institucionalizao do

    monitoramento e avaliao na SESMT e no SUS muito contribuir para o avano das

    polticas de sade.

    Com esse propsito, na introduo apresento o problema da investigao. Trago,

    tambm, uma sucinta trajetria histrica das polticas de sade para a reduo da

    mortalidade infantil, no Brasil e em Mato Grosso. Exponho o objetivo da pesquisa que

    se trata de analisar a implantao das aes estratgicas, a partir do Plano de Aes

    Estratgicas para a Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal, em dois municpios de

    Mato Grosso no perodo de 2009 a 2013.

    Em seguida, apresento a literatura especializada que nos forneceu os elementos

    terico-metodolgicos para avaliao das aes estratgicas. As contribuies tericas

    do planejamento e da avaliao em sade so destacadas. Um modelo terico lgico da

    avaliao tendo como base o modelo lgico causal e da interveno proposto. O

    estudo de dois casos apresentado como estratgia metodolgica por ser adequado para

    a proposta de anlise do grau de implantao das aes. Destaco o plano de anlise, a

    matriz de avaliao e os parmetros adotados para o julgamento do grau de implantao

    das aes. O julgamento do grau de implantao dos dois casos apresentado. Na

  • discusso me dediquei a realizar uma anlise das categorias, segundo o referencial

    terico estabelecido.

    Por ltimo, recomendo os principais pontos a serem considerados, sem a

    pretenso de esgot-los. Considero como importantes reflexes que podero contribuir

    com o avano das polticas de sade para a acelerao da reduo da mortalidade

    infantil neonatal.

    Enfim, todos que percorrerem esta pesquisa tero mais elementos para refletir

    sobre o problema e respostas para seu enfrentamento. A minha finalidade, tambm, foi

    contribuir com a construo do conhecimento, compreender como a poltica vem sendo

    implementada e com a construo de um arcabouo terico-metodolgico que possa

    subsidiar a avaliao de polticas para a reduo da mortalidade infantil neonatal.

    Boa leitura a todos!

  • Resumo

    Este estudo avaliou a implantao das aes estratgicas, a partir do Pacto Pela Reduo

    da Mortalidade Infantil na regio Nordeste e Amaznia Legal, em dois municpios do

    Estado de Mato Grosso, no perodo de 2009 a 2013. As contribuies terico-

    metodolgicas de Wholey (1977), Matus (1993), Testa (1995) e Denis e Champagne

    (1997) subsidiaram o estudo de avaliabilidade, a anlise das caractersticas de governo e

    da gesto da sade e o grau de implantao das aes estratgicas. Foi construdo o

    modelo causal, da interveno e o terico lgico para subsidiar a avaliao. A pesquisa

    avaliativa foi realizada em duas etapas. Na primeira, realizou-se um estudo de

    avaliabilidade da interveno e, na segunda, uma anlise das caractersticas de governo

    e da gesto da sade e do grau da implantao das aes. Dos treze municpios

    prioritrios de Mato Grosso, estabelecidos no Pacto, foram selecionados como

    municpios-caso deste estudo, Cuiab e Pocon a partir de critrios pr-estabelecidos. O

    estudo de dois casos foi realizado por meio de abordagem qualitativa e quantitativa

    utilizando-se de dados primrios e secundrios. Foram conduzidas entrevistas com

    cinquenta e nove informantes-chave e realizada anlise documental e observao de

    campo. A coleta dos dados e a observao de campo foram realizadas no perodo de

    abril a setembro de 2013. Os dados foram analisados por categorias, conforme o quadro

    terico. O estudo de avaliabilidade demonstrou que as aes estratgicas estavam

    suficientemente estruturadas para permitir avaliaes sistemticas e havia clima poltico

    favorvel para sua implementao. Contudo, as caractersticas de governo e de gesto

    da sade que influenciaram negativamente a implementao do Plano, em ambos os

    municpios-caso, foram uma baixa governabilidade, principalmente, por instabilidade

    poltica e desgaste da gesto local e baixa capacidade de governo marcada por

    dificuldades na poltica de gesto de pessoas que resultou em um Plano Municipal

    frgil. Observou-se uma prtica de planejamento no estruturada com carter mais

    burocrtico e ritualstico, no havendo acompanhamento e avaliao sistemtica do

    Plano. Em 2013, as aes estratgicas para reduo da mortalidade infantil neonatal no

    municpio de Cuiab, foram classificadas como em estgio intermedirio (51,4%),

    enquanto para o municpio de Pocon, elas se mostraram incipientes (42,9%). A

    vigilncia do bito materno e infantil, alm da mobilizao social esto entre os

    componentes menos implantados. As principais causas de mortes neonatais estiveram

    relacionadas aos cuidados imediatos ao recm-nascido, tendo o maior nmero os bitos

    neonatais ocorridos por aspirao de mecnio e por causas redutveis por adequado

    controle na gravidez. Recomenda-se ampliar e qualificar a ateno primria sade,

    implementar e qualificar a vigilncia do bito e nascimento, garantir apoio logstico

    integrado rede de ateno sade, implementar o complexo regulador e a ateno

    especializada, fortalecer e melhorar a qualidade das maternidades, instituir Plano de

    Carreira no SUS para valorizar os profissionais de sade e ampliar a qualidade da

    ateno, monitorando a execuo das aes estratgicas.

    Palavras-chave: Mortalidade Infantil Neonatal, Avaliao de Programas de Sade,

    Plano de Aes Estratgicas.

  • ABSTRACT

    The presente study evaluated the implementation of strategic actions proposed on the

    pact for reducing child mortality in the northeast and legal amazon region, in two

    municipalities of the state of Mato Grosso, on 2009-2013 period. The theoretical and

    methodological contributions of Wholey (1977), Matus (1993), Testa (1995) and Denis

    and Champagne (1997) subsidized the evaluability study, the analysis of government

    and health management characteristics and the degree of actions strategic

    implementation. It was built the causal model of intervention and the theoretical logical

    to support the assessment. The evaluative research was conducted into two stages. On

    the first one was held an intervention evaluability study and on the second one, an

    analysis of the characteristics of government and health management and the degree of

    actions implementation. Of the thirteen priority municipalities of Mato Grosso,

    established on the pact, were selected as case-study municipalities, Cuiaba and Pocon

    from pre-established criteria. The study was performed in both cases by means of

    qualitative and quantitative approach using primary and secondary data. Interviews with

    fifty-nine key informants and presents a documentary analysis and field observations

    were conducted. Data collection and field observations were made in the period from

    April to September of 2013. Data were analyzed by categories as the theoretical

    framework. The evaluability study demonstrated that strategic actions were sufficiently

    structured to allow systematic reviews and had political pavoravel climate for the

    implementation. However, the government's characteristic and health management that

    adversely affected the implementation of the plan, in both cities-case, were bad

    governance, mainly by political instability and erosion of local management and low

    government capacity marked by difficulties in policy people management which

    resulted in a fragile municipal level. The study observed a practice of planning

    unstructured more bureaucratic and ritualistic character, with no systematic monitoring

    and evaluation of the plan. In 2013, the strategic actions to reduce neonatal mortality in

    cuiaba municipality, were classified as intermediate stage (51.4%), on the other hand,

    Pocon showed as inecipientes (42.9%). The monitoring of maternal and infant death, in

    addition to social mobilization, are among the least implemented components. The main

    causes of neonatal deaths were related to the immediate care of the newborn, with the

    highest number of neonatal deaths by aspiration of meconium and reducible causes by

    proper control in pregnancy. It is recommended to widen and improve the primary

    health care, implement and assess the surveillance of death and birth, ensure logistical

    support integrated health care network, implement the regulatory complex and

    specialized care, strengthen and improve the quality of maternity, establish career path

    in the SUS to value health professionals and increase the quality of care, monitoring the

    implementation of strategic actions.

    Keywords: Neonatal and infant mortality , evaluation of health program, strategic action

    plans.

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Total de entrevistas realizadas, por etapas da pesquisa de anlise

    de implantao das aes estratgicas. Cuiab, 2013. ........................................ 64

    Tabela 2 Pontuao mdia dada pelos especialistas consultados e respectivo desvio

    padro por critrios e padres estabelecidos. Cuiab, 2013. ...................................... 72-73

    Tabela 3 Caracterizao dos municpios-caso nos seus aspectos

    sociodemogrficos e condies de sade. .......................................................... 77

    Tabela 4 - ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e seus

    componentes dos municpios de Cuiab e Pocon MT, 2010. ................................. 79

    Tabela 5 - Caractersticas das mes que perderam seus bebs no perodo

    neonatal precoce em 2010 nos municpios-caso, Cuiab e Pocon ................. 94

    Tabela 6 - Caractersticas dos recm-nascidos que foram a bito no perodo

    neonatal precoce em 2010 nos municpios-caso, Cuiab (n = 57) e Pocon (n

    = 3) ...................................................................................................................... 95

    Tabela 7 - Distribuio de bito neonatal precoce ocorrido em 2010, segundo

    classificao de causas e CID 10 nos municpios-caso selecionados, Cuiab e

    Pocon. Mato Grosso, Brasil/2010. .................................................................... 96-97

    Tabela 8 Classificao do grau de implantao das aes estratgicas para

    reduo da mortalidade infantil neonatal no nvel gesto da organizao da

    ateno por dimenso, subdimenso e critrios dos municpios-caso, Cuiab e

    Pocon, Brasil, 2013. .......................................................................................... 152-155

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Polticas de Sade para reduo da mortalidade infantil, no Brasil e

    em Mato Grosso .................................................................................................. 52

    Figura 2 Modelo lgico causal da mortalidade infantil neonatal ...................... 54

    Figura 3 Modelo lgico de interveno: Plano Nacional de Aes Estrat-

    gicas para Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal ............................. 56

    Figura 4 Modelo terico da avaliao da implantao das aes estratgicas

    para reduo da mortalidade infantil neonatal ..................................................... 58

    Figura 5 Sumrio das intervenes prioritrias no pr-natal, parto e ps-

    parto, nos programas de cuidados de sade materno e neonatal, baseado na

    avaliao de evidncias para impacto na sade perinatal e neonatal ....................

    59

    Figura 6 - Modelo Lgico de Interveno: objetivos, metas e aes

    identificados pelos informantes-chave da SMS de Cuiab, 2013......................... 90

    Figura 7- Modelo Lgico de Interveno: objetivos, metas e aes

    identificados pelos informantes-chave da SMS de Pocon, 2013..................... 91

    Figura 8 Modelo Lgico Causal da Mortalidade Infantil Neonatal, segundo

    informantes-chave da SMS de Cuiab e Sistema de Informao. Cuiab, 2013.. 98

    Figura 9 Modelo Lgico Causal da Mortalidade Infantil Neonatal, segundo

    informantes-chave da SMS de Pocon e Sistema de Informao. Pocon, 2013.. 102

    Figura 10 - Modelo Lgico de Interveno: a proposta de interveno para

    enfrentamento do problema, segundo informantes-chave da SMS de Cuiab

    2013 ......................................................................................................................

    108

    Figura 11 - Modelo Lgico de Interveno: a proposta da SMS de Cuiab,

    segundo Plano Municipal de Aes Estratgicas para Reduo da Mortalidade

    Neonatal (2009) ....................................................................................................

    109

    Figura 12 - Modelo Lgico de Interveno: a proposta de interveno para

    enfrentamento do problema, segundo os informantes-chave da SMS de

    Pocon 2013 .....................................................................................................

    113

    Figura 13 - Modelo Lgico de Interveno: a proposta da SMS de Pocon,

    segundo Plano Municipal de Aes Estratgicas para a Reduo da Mortalidade

    Neonatal (2009) ....................................................................................................

    114

  • Figura 14 Trajetria do bito de recm-nascido 1. Cuiab, 2010 ..................... 137

    Figura 15 Trajetria do bito de recm-nascido 2. Cuiab, 2010 ..................... 138

    Figura 16 Trajetria do bito de recm-nascido 3. Cuiab, 2010 ..................... 138

    Figura 17 Trajetria do bito de recm-nascido 4. Cuiab, 2010 ..................... 139

    Figura 18 Trajetria do bito de recm-nascido 5. Cuiab, 2010 ..................... 139

    Figura 19 Trajetria do bito de recm-nascido 6. Cuiab, 2010 ..................... 140

    Figura 20 Trajetria do bito de recm-nascido 7. Cuiab, 2010 ..................... 140

    Figura 21 Trajetria do bito de recm-nascido 8. Cuiab, 2010 ..................... 141

    Figura 22 Trajetria do bito de recm-nascido 9. Cuiab, 2010 ..................... 141

    Figura 23 Trajetria do bito de recm-nascido 10. Pocon, 2010 .................. 142

    Figura 24 Trajetria do bito de recm-nascido 11. Pocon, 2010 ................... 143

    Figura 25 Trajetria do bito de recm-nascido 12. Pocon, 2010 .................. 143

    Figura 26 - Grau de implantao das aes estratgicas para reduo da

    mortalidade infantil neonatal por nvel, dimenso e subdimenso nos

    municpios-caso, Cuiab e Pocon, Brasil, 2013................................................... 159

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Elementos que devem compor um Estudo de Avaliabilidade,

    segundo alguns autores ......................................................................................... 41

    Quadro 2 - Municpios priorizados para o Plano de Aes Estratgicas de

    Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal, segundo variveis selecionadas para

    seleo de municpio-caso, Mato Grosso, 2012 .................................................. 61

    Quadro 3 Matriz de anlise de implantao das aes estratgicas dos municpios-

    caso: nvel, dimenses, critrios e pontuao. Cuiab, 2013 ....................................... 67-71

    Quadro 4 - Matriz das caractersticas de governo e de gesto que podem

    influenciar a implantao das aes estratgicas para reduo da mortalidade

    infantil neonatal: perguntas-chave e fonte de verificao .................................... 74

    Quadro 05- Sntese dos principais achados do estudo de avaliabilidade que

    demonstraram condies de viabilidade da avaliao, segundo Wholey (1994,

    2004), nos municpios-caso, Cuiab e Pocon. Cuiab, 2013 .............................. 115

    Quadro 6 - Sntese das principais caractersticas de governo e de gesto da sade, no

    perodo de 2009 a 2010 nos municpios-caso, Cuiab e Pocon, que influenciaram o

    Plano Municipal de Aes Estratgicas, 2013 .................................................................. 124

    Quadro 7 - Sntese das principais caractersticas da gesto da sade, no perodo de

    2009 a 2010, nos municpios-caso, Cuiab e Pocon, que influenciaram o Plano

    Municipal de Aes Estratgicas ..................................................................................... 135

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIAES

    CAPS Centro de Ateno Psicossocial

    CID - Classificao Internacional de Doenas

    CIB Comisso Intergestores Bipartite

    DATASUS Departamento de Informtica do Sistema nico de Sade

    DST/AIDS Doena Sexualmente Transmissvel e Sndrome da Imunodeficincia

    Adquirida

    ESF Equipes de Sade da Famlia

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    NASF Ncleo de Apoio Sade da Famlia

    PACS - Programa de Agentes Comunitrios de Sade

    PAM Pronto Atendimento Mdico

    PMS Plano Municipal de Sade

    PSF - Programa Sade da Famlia

    PTA Plano de Trabalho Anual

    RAG Relatrio Anual de Gesto

    SCNES Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimento de Sade

    SMS Secretaria Municipal de Sade

    SUS Sistema nico de Sade

    UBSF- Unidade Bsica de Sade da Famlia

    UBST Unidade Bsica de Sade Tradicional

  • SUMRIO

    Apresentao

    Resumo

    Abstract

    Lista de Tabelas

    Lista de Figuras

    Lista de Quadros

    Lista de Siglas e Abreviaes

    1- Introduo ................................................................................................................. 16 1.1 As polticas de sade para a reduo da mortalidade infantil, no Brasil e em Mato

    Grosso ............................................................................................................................. 19

    2- Objetivos.................................................................................................................... 30

    3- Metodologia .............................................................................................................. 31 3.1- Referencial Terico ................................................................................................. 31

    3.1.1 Contribuies Tericas do Planejamento em Sade para a Anlise das Aes

    Estratgicas nos Espaos e Processos de Deciso ........................................................ 31

    3.1.2 Avaliao em Sade: concepes tericas e metodolgicas............................... 37

    3.1.2.1 Avaliabilidade e Anlise de Implantao de planos, programas e aes de

    sade: reviso da literatura............................................................................................. 43

    3.2 Modelizando a Avaliao......................................................................................... 50

    3.2.1 O Modelo Lgico Causal ...................................................................................... 51

    3.2.2 Modelo Lgico do Plano de Aes Estratgicas para Reduo da Mortalidade

    Infantil Neonatal: Modelo Operacional da Interveno ................................................ 55

    3.2.3 O Modelo Terico Lgico da Avaliao das Aes Estratgicas para Reduo

    da Mortalidade Infantil Neonatal.................................................................................... 57

    3.3 Estratgia Metodolgica........................................................................................... 59

    3.3.1 Tipo de estudo e seleo dos municpios-caso ...................................................... 59

    3.3.2 Etapas da pesquisa ................................................................................................ 62

    3.3.3 Coleta e Anlise dos dados: fontes, tcnicas, sujeitos e instrumentos utilizados. 62

    3.3.4 - Plano de Anlise .................................................................................................. 65

    3.3.4.1- Matriz de Avaliao .......................................................................................... 65

    3.3.4.2 Julgamento do Grau de Implantao das Aes Estratgicas ........................... 74

    3.3.5. Procedimentos ticos e Oramento ...................................................................... 75

    4 Resultados 76

    4.1 Caracterizao dos aspectos sociodemogrficos e condies de sade dos

    municpios-caso .............................................................................................................. 76

    4.2 O Estudo de Avaliabilidade das Aes Estratgicas .............................................. 85

    4.2.1 Identificao do problema, dos objetivos, das metas e das aes estratgicas ...... 85

    4.2.2 O modelo causal e de interveno: as causas e a proposta de interveno dos

    municpios-caso ............................................................................................................. 92

    4.2.3 A interveno para reduo da mortalidade infantil neonatal nos municpios-

    caso: a percepo dos informantes-chave e a proposta municipal ................................ 103

    4.3 As caractersticas de governo e de gesto da sade e a implantao do Plano de

    Aes Estratgicas .......................................................................................................... 116

  • 4.4 Gesto da organizao da ateno: a trajetria do bito neonatal e o julgamento

    do grau de implantao das aes estratgicas ............................................................... 136

    4.4.1 A trajetria do bito neonatal ............................................................................... 136

    4.4.2 A consulta aos especialistas e o grau de implantao das aes estratgicas para

    reduo da mortalidade infantil neonatal ....................................................................... 150

    4.4.2.1 A consulta aos especialistas................................................................................ 150

    4.4.2.2 Grau de implantao das aes estratgicas ..................................................... 151

    5- Discusso ................................................................................................................... 177

    6- Recomendaes e limites do estudo......................................................................... 206

    7- Referncias ................................................................................................................ 212

    Apndices ...................................................................................................................... 229 Apndice A - Estudos de Avaliabilidade identificados entre o perodo de janeiro de

    2011 at fevereiro de 2013 ........................................................................................... 230

    - Estudos sobre avaliao e anlise de implantao selecionados no perodo de

    janeiro 2011 a fevereiro 2013 ........................................................................................ 235

    Apndice B - Distribuio da Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal (trienal) em

    municpios selecionados de Mato Grosso, 2004 a 2010 ............................................... 239

    - Demonstrativo da taxa de mortalidade infantil neonatal, segundo municpio

    selecionado e ano. Mato Grosso 2004-2010.................................................................. 239

    Apndice C - Evoluo da Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal, anual (A) e trienal (T) e linha de tendncia (regresso linear), municpio de Cuiab MT, 2004 a 2010 ...................... 240

    - Evoluo da Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal, anual (A) e trienal (T) e linha de

    tendncia (regresso linear), municpio de Pocon MT, 2004 a 2010 .................................. 240

    Apndice D - Demonstrativo da rede assistencial por municpio priorizado para

    realizao do Plano de Aes Estratgicas com vista Reduo da Mortalidade

    Infantil Neonatal, Mato Grosso/2009 ............................................................................. 241

    Apndice E Roteiro de Entrevistas - Estudo de Avaliabilidade ........................................ 242

    Apndice F - Roteiro de Entrevista: Caracterizao do governo e da gesto da sade .... 243

    Apndice G - Roteiro de Entrevista com as mes: Trajetria dos bitos ........................ 244

    Apndice H - Roteiro de Entrevista com Gestores e Profissionais de sade: Observao

    da implantao das aes estratgicas ............................................................................ 245

    Apndice I Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Gestores e Profissionais ........... 251

    Apndice J Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Mes ou Acompanhantes......... 252

    Apndice L Termo de Anuncia Institucional ...................................................................... 253

    Termo de Anuncia Institucional de Cuiab ....................................................................... 253

    Termo de Anuncia Institucional de Pocon ....................................................................... 254

  • 16

    1 INTRODUO

    As intervenes propostas pelas polticas pblicas para acelerar a reduo no

    mundo de, aproximadamente, 10 milhes de mortes anuais de crianas menores de

    cinco anos e de 4 milhes de recm-nascidos, nos primeiros vinte oito dias de vida, por

    causas evitveis, precisam ser acompanhadas e avaliadas para produzir conhecimento,

    acelerar as mudanas sociais e recomendar tomadas de deciso aos gestores na

    implementao das futuras intervenes. As polticas pblicas devem alterar o contexto

    sanitrio, politico, social e econmico de uma sociedade. (WHO, 2005; LAWN et al.,

    2005; MOREIRA et al., 2012).

    Diante dessa realidade, inaceitvel que a sobrevivncia infantil receba pouca

    ateno de gestores, implementadores de polticas e pesquisadores. Acompanhar em que

    condies os pases conseguiro avanar para reduzir em dois teros a mortalidade de

    crianas menores de cinco anos, at 2015, como proposto pelas Metas do Objetivo do

    Desenvolvimento do Milnio (ODM) com a participao, tambm, das polticas de

    sade, o maior desafio (WHO, 2005; LAWN et al., 2005).

    As avaliaes das intervenes formuladas pelas polticas de sade para a

    reduo da mortalidade infantil tm sido raras, e a priorizao e o sucesso dos

    programas estabelecidos, em nvel internacional para a sobrevivncia infantil, nas

    dcadas de 80 e 90, tm levado a uma errnea impresso de que a mortalidade infantil

    estaria sob controle com reduo e transferncia de investimentos financeiros a outros

    importantes problemas de sade (WHO, 2005; VICTORIA; BARROS, 2005; LAWN et

    al., 2005).

    A ltima anlise global estimou que 99% dos bitos infantis ocorrem no perodo

    neonatal e por causas prevenveis, com elevado nmero de bitos encontrados nos

    pases da frica Subsaariana e na sia Subcentral. Dentre as causas prevenveis esto as

    infeces respiratrias, em especial as pneumonias (19%) e as condicionantes neonatais,

    parto prematuro (28%), infeces (26%) e asfixia intraparto (23%). As mais baixas

    taxas de mortalidade de menores de cinco anos foram encontradas na Islndia e

    Singapura 3 por 1000 nascidos vivos -, e na Sucia, Noruega e Finlndia, taxas de 4

    por 1000 nascidos vivos (WHO, 2005).

  • 17

    Alguns pases, como a Tunsia, so exemplos da organizao de programas

    verticalizados nos centros de sade e hospitais, onde reduziram a mortalidade de

    menores de cinco anos em 50%, entre 1970 e 1980; 48%, entre 1980 e 1990; e, 46%,

    entre 1990 e 2000. Em 1990, foram 52 bitos menores de cinco anos por 1000 nascidos

    vivos alcanando, em 2006, 23 bitos menores de cinco anos por 1000 nascidos vivos

    (WHO, 2005; UNICEF, 2007).

    As experincias, tambm, tm demonstrado que mesmo os pases em

    desenvolvimento podero reduzir a mortalidade neonatal com medidas simples sem

    acesso a altas tecnologias, a exemplo de Honduras, Indonsia e Vietn (LAWN et al.,

    2005; UNICEF, 2007). Mesmo os pases ricos conseguiram reduo sem a incluso de

    cuidados intensivos onerosos, a exemplo, da Inglaterra, que, por meio da adoo de pr-

    natais gratuitos, melhoria dos cuidados do trabalho de parto e disponibilidade de

    antibiticos reduziu a TMN de mais 30% por 1000 nascidos vivos, em 1940, para 10%

    por 1000 nascidos vivos, no final dos anos 70 (LAWN et al., 2005; MACLFARLANE,

    2001).

    Na Amrica Latina h diferenas significativas das taxas de mortalidade infantil

    entre os pases. Em 2006, no Canad, a mortalidade dos menores de cinco anos foi de 6

    por 1000 nascidos vivos; em Cuba, de 8 por 1000 nascidos vivos; na Bolvia e no Haiti

    foi de 61 por 1000 nascidos vivos, e 80 por 1000 nascidos, respectivamente. Para a

    maioria dos pases da Amrica Latina, mais da metade de todas as mortes, tambm,

    acontecem no perodo neonatal (UNICEF, 2007).

    Victora e colaboradores (2011) encontraram uma taxa anual de decrscimo do

    coeficiente de mortalidade infantil brasileiro de 5,5%, nas dcadas de 1980 e 1990, e

    4,4%, no perodo de 2000 a 2008, atingindo vinte mortes por 1000 nascidos vivos em

    2008. Segundo esses pesquisadores, no Brasil, as mudanas nos determinantes sociais

    das doenas e na organizao dos servios de sade so apontadas como responsveis

    por essa reduo.

    Chama a ateno que a taxa atual brasileira semelhante a dos pases

    desenvolvidos, encontrada na dcada de 60, com reduo simultnea da mortalidade

    ps-natal e neonatal, enquanto no Brasil no houve reduo significativa no componente

    neonatal nas ltimas dcadas (UNICEF, 2007; LANSKY et al., 2009).

  • 18

    A mortalidade neonatal, no Brasil, tem se tornado um importante componente a

    ser enfrentado apresentando magnitude alta (14,2/1000, em 2005) quando comparada

    com outros pases como os EUA (4,6/1000, em 2004) e o Chile (5,6/1000, em 2000)

    (FRANA; LANSKY, 2008).

    Alguns estudos brasileiros demonstram que o componente neonatal

    responsvel pela maioria dos bitos infantis (COSTA et al., 2003; MONTEIRO;

    SCHMTIZ, 2007). Apontam que o componente neonatal tem sido responsvel por 68%

    dos bitos infantis, no Brasil. Evidenciam que h uma estabilizao do coeficiente de

    mortalidade neonatal, o que compromete o declnio da mortalidade infantil. Os estudos

    sugerem, ainda, que a baixa resolutividade e qualificao dos servios de ateno

    sade materno-infantil podem ser provveis responsveis pela estabilizao da

    mortalidade neonatal (VICTORA et al., 2011; VICTORA; BARROS, 2001;

    GONALVES, 2010).

    A mortalidade neonatal tambm est vinculada a causas prevenveis,

    relacionadas ao acesso facilitado e utilizao oportuna dos servios de sade, alm da

    qualidade da assistncia pr-natal, ao parto e ao recm-nascido. As afeces perinatais1

    respondem, atualmente, por cerca de 60% das mortes infantis e 80% das mortes

    neonatais, alm de ser a primeira causa de morte em menores de cinco anos. Alm

    disso, associa-se a esses fatores, taxas elevadas e crescentes de cesarianas, a

    prematuridade e o baixo peso ao nascer associado baixa escolaridade da me, a baixa

    renda familiar e ao deficiente saneamento bsico, como gua tratada e esgoto (BRASIL,

    2009 a).

    Assim, um nmero expressivo de mortes no perodo neonatal poderia ser evitado

    pela ao dos servios de sade, seja pela ateno sade da mulher, ao pr-natal, ao

    parto e ao recm-nascido, sendo, portanto, um grave problema de sade pblica no pas.

    1 So afeces que tm origem no perodo perinatal (7 dias), ainda que a morte tenha ocorrido mais

    tardiamente. Segundo Caldeira et al. (2005), afeces perinatais representam o principal grupo de causas

    reduzveis entre os bitos neonatais e esto relacionadas, em sua maioria, m-nutrio fetal,

    prematuridade, hipxia, asfixia perinatal, alm de outras afeces respiratrias ou cardiovasculares

    prprias do perodo perinatal.

  • 19

    1.1 As polticas de sade para a reduo da mortalidade infantil, no Brasil e em

    Mato Grosso

    Na perspectiva dos servios de sade, ao longo dos anos, o governo brasileiro

    tem proposto vrias aes para o enfrentamento da mortalidade infantil. Dentre elas,

    destacaram-se, na dcada de 1970, o Plano Nacional de Saneamento e o II Plano

    Nacional de Desenvolvimento, onde diversas polticas pblicas compensatrias foram

    implantadas, como o Programa de Sade Materno-Infantil e o de Nutrio em Sade

    (VICTORA et al. , 2011).

    Essas iniciativas do governo brasileiro foram impulsionadas pelos movimentos

    de proteo criana ocorridos no mbito internacional para melhorar o

    desenvolvimento econmico e as condies bsicas de vida gua potvel, saneamento

    e nutrio - no decorrer da dcada de 1970, por acreditarem ser a melhor trajetria para

    alcanar a melhoria da sade infantil (WHO, 2005).

    Assim, nesse perodo, a Organizao Mundial da Sade (OMS) e a Organizao

    Pan-americana da Sade (OPAS) estimularam o debate acerca da universalizao dos

    cuidados. E, em 1978, a Declarao de Alma-Ata destacou a ateno primria como

    proposta para a estruturao de sistemas nacionais de sade.

    Em Mato Grosso, nessa mesma dcada, os projetos rodovirios, que

    atravessaram sua extenso territorial em direo Amaznia, trouxeram importantes

    incentivos fiscais e recursos internacionais para o Estado, a exemplo do Programa de

    Desenvolvimento Rural Integrado (PDRI), que proporcionou, dentre outros, a expanso

    da rede de sade pblica ao longo da rodovia Cuiab-Porto Velho (MEIRELLES, 1984;

    MLLER NETO et al., 2012). Alm disso, a diviso do Estado em 1979, trouxe para o

    perodo ps-diviso, a criao de novos centros urbanos em decorrncia do processo

    migratrio e emancipao poltica, e, tambm, os profissionais de sade com vnculos,

    quer com a SESMT e prefeituras e quer com a criao de clnicas ou hospitais privados

    e filantrpicos, com predominncia da rede privada sobre a pblica (MLLER NETO

    et al., 2012).

    As polticas de sade de Mato Grosso, implantadas ao longo dessas ltimas

    quatro dcadas, sempre estiveram articuladas com as polticas nacionais, que surgiram

    conforme o contexto brasileiro, e, impulsionadas pelos movimentos internacionais de

    proteo criana.

  • 20

    Um dos marcos internacionais dos anos 80 foi a Revoluo da Sobrevivncia

    Infantil, liderada pelo Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF), como

    proposta de ao imediata para enfrentar a emergncia da sobrevivncia infantil uma

    vez que, a complexidade do desenvolvimento socioeconmico s poderia ser resolvida a

    longo prazo. Essa revoluo pautou-se num pacote de quatro intervenes denominada

    de estratgia GOBI, que inclua o monitoramento do crescimento, o aleitamento

    materno, a reidratao oral e a imunizao. A Organizao Mundial da Sade (OMS)

    tambm apoiou, com importantes programas verticais, como o Programa Alargado de

    Vacinao, o Programa de Controle das Diarreias e de Infeces Respiratrias Agudas

    (WHO, 2005).

    No Brasil, no final dos anos 70 e nos anos 80, com os movimentos sociais

    movimento feminista e outros-, foi possvel estabelecer legalmente e regulamentar o

    direito proteo da mulher e da criana com a participao do Estado.

    No mbito nacional, a partir da dcada de 1980, possvel organizar os

    movimentos brasileiros de proteo criana e as polticas de sade em dois momentos.

    O primeiro momento, o direito proteo, e, o segundo, a qualificao das aes e

    pactuaes para a reduo da mortalidade materno infantil.

    Assim, no Brasil, destacou-se, em 1982, a obrigatoriedade do alojamento

    conjunto, em hospitais universitrios. Em 1984, a implantao do Programa de

    Assistncia Integral Sade da Mulher, que teve como proposta a articulao de todos

    os ciclos de vida e no apenas o momento reprodutivo (ALMEIDA, 2005). Destaca-se

    que esta foi a primeira vez que o governo passou de uma assistncia individual e

    curativa para incluir a famlia. Privilegiou o planejamento familiar, deixando de ser a

    esterilizao o principal mtodo contraceptivo, e incluiu a preveno e o tratamento de

    agravos sade desde a adolescncia at a terceira idade (CASSIANO et al., 2014).

    Em 1984, Mato Grosso, acompanhando os acordos realizados no mbito

    nacional, faz adeso s Aes Integradas de Sade (AIS) com a participao das

    principais cidades do Estado. Nesse mesmo ano, com as altas taxas de morbimortalidade

    por doenas infecto-parasitrias proposto pelo governo brasileiro a implantao do

    Programa de Ateno Integral Sade da Criana (PAISMC) e a SESMT d inicio, a

    partir de 1985, capacitao dos profissionais de sade de diferentes municpios mato-

    grossenses para a implantao das aes de promoo, preveno e recuperao da

  • 21

    sade das crianas de zero a cinco anos (MLLER NETO et al., 2012; CASSIANO et

    al., 2014).

    Assim, foram priorizadas cinco intervenes importantes para a sade da

    criana. O acompanhamento do crescimento e desenvolvimento trazendo a implantao

    do carto da criana, o incentivo ao aleitamento materno e orientaes para o desmame,

    a imunizao com o estabelecimento do calendrio de vacinas e das campanhas, a

    preveno e o tratamento das infeces respiratrias e diarreias agudas pela

    sistematizao do uso de antibitico e do atendimento por grau de gravidade e pela

    terapia de hidratao oral (TRO), respectivamente (MOREIRA et al., 2012). Dessas

    aes, a que apresentou maior dificuldade de implantao foi o crescimento e

    desenvolvimento em relao referncia para a curva adotada para o acompanhamento

    da criana.

    Em seguida, o Sistema Unificado Descentralizado de Sade (SUDS) foi recebido

    no Estado sendo incorporado por prefeituras de expresso, como Cuiab e

    Rondonpolis, iniciando a constituio de sistemas municipais de sade. Iniciou-se o

    processo de pr-municipalizao, que aconteceu por meio de convnios entre a SESMT

    e prefeituras, com repasse do gerenciamento das unidades de sade e recursos

    financeiros (MLLER NETO et al., 2012).

    A partir de 1988, no Brasil, observa-se, tambm, a instituio de importante

    marco legal na garantia do direito proteo. A aprovao, pelo Conselho Nacional de

    Sade, das normas para comercializao dos substitutos do leito materno que, aps

    1990, passa a fazer parte do cdigo de defesa do consumidor, e se constitui um

    importante aparato legal na defesa e proteo amamentao.

    A Constituio Federal de 1988 foi tambm um marco importante na garantia

    dos direitos das mulheres e crianas, dentre eles destacam-se: o direito das presidirias

    em permanecerem com seus filhos, no perodo de amamentao; a licena gestante

    sem prejuzo do emprego e salrio com durao de cento e vinte dias; e, a licena-

    paternidade (BRASIL, 1988).

    Com a Constituio de 1988, que estabeleceu a criao do Sistema nico de

    Sade (SUS), teve incio o processo de municipalizao em Mato Grosso. A

    municipalizao no Estado no decorreu de um processo de diagnstico e planejamento.

  • 22

    Tratou desiguais de forma igual, com repasse aos municpios das unidades sanitrias,

    cesso de pessoal e convnios de implantao do SUS (MLLER NETO et al., 2012).

    No mbito internacional, em 1990, ocorreu a Reunio de Cpula Mundial em

    Favor da Infncia, onde o Brasil, como um dos pases membros da Organizao das

    Naes Unidas (ONU), assinou, com os demais pases, a Declarao Mundial sobre a

    Sobrevivncia, Proteo e Desenvolvimento da Criana assumindo o compromisso de,

    at o ano 2000, cumprir as 26 metas, dentre elas, as 19 metas da rea da sade.

    No Brasil, no incio dos anos 90, no campo jurdico, especificamente para a

    ateno criana, houve aprovao do Estatuto da Criana e do Adolescente - ECA (Lei

    n 8069/90); e, no campo burocrtico, o Ministrio da Sade priorizou a Iniciativa

    Hospital Amigo da Criana - IHAC (1992) -, estabelecendo as diretrizes e normas e

    assegurando o pagamento de 10% a mais sobre a assistncia ao parto aos hospitais

    credenciados (FRIAS et al., 2009).

    Ao longo da implantao do SUS, avanos importantes aconteceram para a

    reduo da mortalidade infantil, como a reorganizao dos servios de sade, em

    especial na ateno bsica, com a implantao do Programa de Agentes Comunitrios

    de Sade (PACS), em 1991; e, o Programa Sade da Famlia (PSF), em 1994 (PAIM et

    al., 2011; VICTORA et al., 2011).

    Em Mato Grosso, as Normas Operacionais Bsicas (NOB) de 93 e 96, como

    expresso da descentralizao, possibilitaram aos municpios mato-grossenses

    habilitarem-se a diferentes formas de gesto, e, consequentemente, a assumirem e

    ampliarem o acesso, em especial ateno primria, alterando a lgica do

    financiamento no SUS (MATO GROSSO, 2000a). Essas NOBs expressaram, para a

    maioria dos municpios, uma habilitao de condio de gesto mais parcial (42% na

    NOB 93) e plena da ateno bsica (99% na NOB 96), onde apenas a capital foi

    habilitada numa gesto mais avanada, demonstrando que o sistema de sade possua

    uma rede pouco desenvolvida e dependente de Cuiab (MLLER NETO et al., 2012).

    O perodo de 1995 a 2002, para o sistema de sade de Mato Grosso, foi de

    expanso e de consolidao de algumas aes e servios coordenados pela gesto

    Estadual, que modificou a conduo da descentralizao para uma participao ativa, a

    nvel regional, de importncia, tambm, para a sade da mulher e da criana. Dentre as

    aes e servios, destacam-se a criao do Programa de Apoio ao Agente Comunitrio

  • 23

    Rural (PASCAR), Incentivo Estadual diferenciado, por regies, para o PACS e PSF, o

    estabelecimento dos consrcios intermunicipais de sade, a criao do Servio Estadual

    de Referncia assegurando, dentre outros, acesso e fluxo dos pacientes para os servios

    bsicos, de mdia e de alta complexidade. Dentre as referncias prioritrias, estavam a

    gestante e o recm-nascido de alto risco (MATO GROSSO, 1998, 2000b, c, 2001;

    MARQUES; MENDES, 2003).

    Alm disso, foram criadas as Comisses Intergestores Bipartites Regionais

    (CIBR), as Cmaras de Auditorias Regionais (CAR), a Escola de Sade Pblica de

    Mato Grosso, denominada, poca, Escola de Sade Pblica Doutor Agrcola Paes de

    Barros, e constitudo o Comit Estadual de Mortalidade Materna de Mato Grosso.

    Como consequncia, as pactuaes, o acompanhamento e a formao e educao

    permanente dos profissionais de sade puderam acontecer com intensidade (MATO

    GROSSO, 2000d). Esse perodo, para a sade de Mato Grosso, pautou-se pela expanso

    e organizao municipal da ateno bsica, por meio da estratgia Sade da Famlia

    com ordenao dos servios especializados de forma regionalizada (MLLER NETO et

    al., 2012).

    Em 1998, o Ministrio da Sade adaptou para o Brasil a estratgia da Ateno

    Integrada s Doenas Prevalentes na Infncia (AIDIPI), com o objetivo de reduzir a

    mortalidade infantil e organizar a assistncia s crianas menores de cinco anos.

    Em 2000, aps trs dcadas de implantao do PAISM, considerando os altos

    ndices de morbimortalidade materna e infantil e as dificuldades polticas, financeiras e

    operacionais enfrentadas por esse programa, foi lanado o Programa de Humanizao

    do Parto e Nascimento (PHPN) (TYRRELL, 1997; SERRUYA et al., 2004).

    O PHPN teve como objetivo reduzir a morbimortalidade materna e neonatal por

    meio de atendimento humanizado, melhorando o acesso, a cobertura e a qualidade da

    assistncia do pr-natal, do parto, do puerprio e do recm-nascido. A implantao do

    PHPN garantia a presena do pediatra na sala de parto e foi incentivada por meio de

    recursos financeiros e acompanhada pelo Sistema de Informao do Pr-natal

    (SISPRENATAL) (BRASIL, 2000).

    Alm disso, houve, em 2000, a aprovao das normas para a implantao do

    Mtodo Me Canguru, esta destinada a humanizar o atendimento ao recm-nascido de

    baixo peso. E, em 2001, a implantao do Programa Nacional de Triagem Neonatal

  • 24

    (Teste do Pezinho), com o objetivo de ampliar a cobertura para 100% dos recm-

    nascidos, oportunizando a identificao das doenas congnitas ou infecciosas

    assintomticas, no perodo neonatal e a busca ativa dos pacientes triados para

    confirmao do diagnstico e tratamento adequado (FRIAS et al., 2009).

    O incio desse perodo, em 2000, pautou-se por reflexes sobre a sade da

    criana, quer no mbito internacional - onde os 189 pases integrantes das Naes

    Unidas se comprometeram a cumprir os oitos objetivos da Cpula do Milnio - quer no

    mbito nacional, pelo Ministrio da Sade, com os compromissos estabelecidos no

    documento Agenda de Compromisso para a Sade Integral da Criana e Reduo da

    Mortalidade Infantil (BRASIL, 2004a).

    Alm disso, o governo brasileiro, reconhecendo que os indicadores de sade

    demonstravam que muitos avanos, ainda, deveriam ser conquistados na sade integral

    das crianas brasileiras, passou a delinear pactos com os Estados e municpios para

    reduzir a mortalidade materna infantil e reorganizar uma rede nica integral, qualificada

    e humanizada (BRASIL, 2004a).

    O Pacto Nacional pela Reduo da Mortalidade Materna e Neonatal, proposto

    pelo Ministrio da Sade, em 2004, definiu uma srie de aes estratgicas, como a

    ampliao da Estratgia Sade da Famlia, a vigilncia dos bitos materno e infantil, a

    reduo da transmisso vertical do HIV/AIDS e sfilis congnita, investimentos na rede

    hospitalar, e nos servios de apoio diagnstico e teraputico (BRASIL, 2004b, c).

    Em 2006, o Pacto pela Sade, na dimenso Pacto pela Vida, elegeu, dentre as

    seis prioridades, a reduo da mortalidade materna e infantil como um compromisso a

    ser acompanhado, por meio do Pacto de Indicadores a partir do estabelecimento de

    metas entre os trs nveis de gesto (BRASIL, 2006, 2009a).

    O Plano Mais Sade: direito de todos, lanado em 2008, teve como objetivo

    colocar em toda a sua estrutura a clara percepo de que sade no somente uma

    poltica social, mas parte integrante do desenvolvimento econmico do pas, e apontou

    oito eixos de atuao, dentre eles o Eixo 2, o da ateno sade, envolvendo a

    assistncia bsica e as aes de alta e mdia complexidade, a regulao e a qualificao

    da sade suplementar e a integrao com aes voltadas para o monitoramento, a

    preveno e a vigilncia em sade(BRASIL, 2008a).

  • 25

    O Pacto pela Reduo da Mortalidade Infantil (2009) foi um dos compromissos

    do governo federal para acelerar a reduo das desigualdades, no Nordeste e na

    Amaznia Legal, priorizando no apenas a sade, mas, tambm, a reduo do

    analfabetismo, a erradicao do sub-registro civil e o fortalecimento da agricultura

    familiar (BRASIL, 2012). Na sade, a proposta era reduzir em, no mnimo, 5% ao ano a

    mortalidade infantil (crianas menores de um ano de idade), especialmente o

    componente neonatal (at 27 dias do nascimento), nos anos de 2009 e 2010 (BRASIL,

    2009b).

    As aes desenvolvidas foram concentradas em 250 cidades. Sendo 154

    municpios prioritrios, em oito estados do Nordeste: Alagoas, Bahia, Cear, Paraba,

    Pernambuco, Piau, Rio Grande do Norte e Sergipe; e, em 96 municpios prioritrios,

    em nove estados da Amaznia Legal: Amap, Acre, Amazonas, Maranho, Mato

    Grosso, Par, Roraima, Rondnia e Tocantins (BRASIL, 2009c).

    Nesse sentido, a Amaznia Legal e o Nordeste deveriam implantar 425 equipes

    de Sade da Famlia, 460 Ncleos de Apoio Sade da Famlia (NASF), 736 leitos de

    UTI, 2.208 leitos de UCI, 22 bancos de leite, 107 Hospitais Amigo da Criana, 110

    Maternidades com equipes capacitadas para Mtodo Canguru e capacitar 1.659 equipes

    de Sade da Famlia (BRASIL, 2009c).

    Foram previstos no pacto sete componentes prioritrios, a saber: qualificar a

    ateno ao pr-natal, ao parto e ao recm-nascido; educao em sade; gesto do

    trabalho; gesto da informao; vigilncia do bito infantil e neonatal; mobilizao

    social e comunicao; e produo de conhecimento e pesquisa. Para cada componente

    foram elencadas vrias aes e programadas por meio de planos estaduais e municipais,

    visando o alcance da meta de reduo de 5% ao ano da mortalidade neonatal.

    Do ponto de vista dos resultados desse conjunto de intervenes, observa-se que

    o Estado de Mato Grosso vem apresentando um declnio na taxa de mortalidade infantil,

    de 22/1000 nascidos vivos, em 2000, para 16,6/1000 nascidos vivos, em 2009 (SESMT,

    2014). Porm, de 2006 a 2009 observa-se uma reduo lenta nesta taxa (16,7/1000

    nascidos vivos em 2006 para 16,6/1000 nascidos vivos em 2009), com o componente

    neonatal representando 63,2% desses bitos. Alm disso, a razo de mortalidade

    materna, em 2009, apresentou-se alta com 76 bitos maternos por cem mil nascidos

    vivos (SESMT, 2014).

  • 26

    O Estado de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado da Sade de Mato

    Grosso e das Secretarias Municipais de Sade, participou desse pacto, no perodo de

    maro a maio de 2009, e se comprometeu a elaborar planos estadual e municipais para

    viabilizar tal estratgia, visando reduo desses indicadores. Assim, o Plano Estadual

    e Municipal de Aes Estratgicas para a Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal foi

    celebrado em maro de 2009. O Ministrio da Sade priorizou 11 municpios e a

    SESMT acrescentou na listagem mais dois. So eles: Cuiab, Vrzea Grande, Rondonpolis, Cceres, Sinop, Barra do Garas, Tangar da Serra, Alta Floresta, Juna,

    Pocon, Sorriso, Pontes e Lacerda (Estado) e Juara (Estado) (BRASIL, 2009c).

    Nesse Pacto, encontrava-se, tambm, o Plano de Qualificao das Maternidades

    e Redes Perinatais, cujo objetivo foi qualificar a assistncia obsttrica e neonatal de 26

    maternidades do pas. Em Mato Grosso, foi selecionado o Hospital Santa Helena, no

    municpio de Cuiab (BRASIL, 2012). Quase duas dcadas depois da proposio essa

    foi a segunda maternidade a ser credenciada no Estado (2010) como Hospital Amigo

    da Criana. Sendo a primeira, o hospital de Vila Rica (Portaria 109/2000), no incio

    dos anos 2000, atualmente desativado; e, a terceira, o Hospital So Lus, no municpio

    Cceres, em 2014 (SESMT, 2001b, 2014).

    Alm disso, os planos deveriam compor aes para atender s Leis n

    11.108/2005 e n 11.634/2007. A primeira estabeleceu o direito da mulher

    acompanhante, de sua livre escolha, na internao para o parto; a segunda, a vinculao

    da gestante, desde o pr-natal, ao servio onde o parto realizar-se-ia (BRASIL, 2012).

    Em 2011, o Ministrio da Sade props implementar a poltica de reduo da

    mortalidade materno infantil, com nfase no componente neonatal, lanando o

    Programa Rede Cegonha. Para tal, pretendeu implementar a ateno sade da

    mulher e sade da criana redirecionando a ateno ao parto, ao nascimento seguro e

    ao crescimento e desenvolvimento da criana de zero a vinte e quatro meses, buscando

    garantir o acesso, o acolhimento e a resolutividade da aes. Nessa perspectiva,

    contemplou quatro eixos: Pr-Natal, Parto e Nascimento, Puerprio e Ateno Integral

    Sade da Criana, e, o Transporte Seguro e Regulao (BRASIL, 2011a).

    Em relao ao Pr-Natal, a Rede Cegonha, propunha a captao de gestantes,

    precocemente, bem como seu acolhimento, segundo classificao de risco, buscando

  • 27

    garantir os exames de pr-natal, de risco habitual e de alto risco, alm de vinculao da

    gestante da Unidade Bsica de Sade Maternidade.

    Para o Parto e Nascimento, pretendeu garantir suficincia de leitos, a ambincia,

    o direito da mulher acompanhante, o acolhimento e a classificao de risco, boas

    prticas e a implantao de conselho gestor nas maternidades.

    Com relao ao Puerprio e Ateno Criana, a Rede Cegonha, props

    estimular o aleitamento materno, o acompanhamento da criana, a visita domiciliar, na

    primeira semana aps o parto e nascimento, com busca ativa das crianas vulnerveis, a

    preveno e tratamento das DST/HIV/Aids e Hepatites e o planejamento reprodutivo.

    Para o Transporte e Regulao, o programa se predisps a garantir o transporte

    seguro2, por meio do Sistema Mvel de Urgncia SAMU Cegonha, com ambulncias

    de suporte avanado equipadas com incubadoras e ventiladores neonatais, a vaga

    sempre3, e a regulao de leitos.

    A operacionalizao da Rede Cegonha previa a adeso do municpio, elaborao

    do diagnstico municipal com construo do desenho regional, a contratualizao dos

    pontos de ateno, qualificao e certificao dos componentes. Para tal, seria

    necessrio a constituio de um grupo de conduo municipal, regional e estadual com a

    participao dos Colegiados de Gesto Regional, do Conselho de Secretrios

    Municipais de Sade (COSEMS), das Comisses Intergestores Bipartite com o apoio do

    Ministrio da Sade.

    A Rede Cegonha previa, tambm, repasses de recursos financeiros, aquisio e

    distribuio de equipamentos, ampliao dos exames como o teste do pezinho e de

    ultrassom, a garantia de qualificao dos profissionais de sade que, por meio dos

    Ministrios da Sade e da Educao, lanaram o Programa Nacional de Residncia de

    Enfermagem Obstetrcia (BRASIL, 2011a, 2012).

    2 Componente transporte sanitrio refere-se promoo, nas situaes de urgncia, do acesso ao

    transporte seguro para as gestantes, as purperas e os recm- nascidos de alto risco, por meio do Sistema

    de Atendimento Mvel de Urgncia - SAMU Cegonha, cujas ambulncias de suporte avanado devem

    estar devidamente equipadas com incubadoras e ventiladores neonatais (BRASIL, 2011).

    3 "Vaga Sempre": vinculao da gestante ao local de ocorrncia do parto visando o acolhimento imediato

    da gestante e do recm-nascido independente de vaga. (BRASIL, 2011). Pactuao ocorrida com as

    maternidades que participaram do Plano de Qualificao (BRASIL, 2012).

  • 28

    Assim, pode-se dizer que a Rede Cegonha, institudo pelo governo federal, foi

    uma conexo das vrias polticas de sade anteriormente estabelecidas para a reduo

    da mortalidade materna infantil visando implementar aes j existentes com acrscimo

    de algumas intervenes de interesse das necessidades da poca.

    Segundo Barreto (2013), essas polticas de sade, estabelecidas para a reduo

    da mortalidade infantil, a partir dos anos 2000, apresentam intensa medicalizao no

    nascimento e o uso de tecnologias sem evidncias cientficas, cesreas e intervenes

    desnecessrias ao parto.

    No Brasil, a justificativa para a implementao das polticas de sade materno

    infantil e suas reedies com nomes distintos tm sido em decorrncia da persistncia

    das taxas elevadas de mortalidade materna e da reduo gradual da mortalidade infantil,

    em especial, nas regies Nordeste e Amaznia Legal. A mortalidade materna passou de

    140 bitos por 100 mil nascidos vivos, em 1990, para 64,8 bitos por 100 mil nascidos

    vivos em 2011. Na mortalidade infantil (menores de um ano), o componente ps-

    neonatal apresentou reduo significativa, entre 1990 a 2007, de 7,3% ao ano. Contudo,

    o componente neonatal precoce e tardio no acompanhou o mesmo decrscimo onde a

    reduo de bitos neonatais precoce foi de 3,1% ao ano, entre 1990 a 2007,

    permanecendo como um importante problema de sade pblica (BRASIL, 2009c;

    BRASIL, 2009; BRASIL, 2012).

    Assim, no Brasil, ao longo das ltimas dcadas, o conjunto das intervenes

    voltadas para o perodo da gestao e primeiro ano de vida esteve sempre no escopo das

    polticas pblicas de sade, e, apesar dos avanos, h ainda um longo e complexo

    caminho a percorrer, na busca pela qualidade da assistncia neonatal, no qual a

    superao pode ser construda pelas avaliaes sistemticas dessas aes.

    Desta forma, este estudo pretendeu responder os seguintes questionamentos: Por

    que o coeficiente de mortalidade infantil neonatal do municpio-caso, apesar das aes

    estabelecidas para o perodo 2009 a 2010, no respondeu com uma reduo percentual

    significativa maior do que a proposta de 5% ao ano? Como o problema, os objetivos, as

    aes realizadas e o resultado do Plano de Ao so percebidos pelos seus

    implementadores? Quais fatores facilitaram ou obstaculizaram a realizao das aes

    propostas? Em que medida as aes foram implantadas nos municpios selecionados?

  • 29

    A hiptese inicial deste estudo que as caractersticas do governo local, como o

    projeto e capacidade de governo e sua governabilidade, e os aspectos organizacionais,

    como o menor acesso e a baixa resolutividade dos servios de sade materno-infantil,

    podem explicar essa reduo lenta do coeficiente da mortalidade infantil neonatal.

    Assim, o presente estudo avaliou a implantao das aes estratgicas, a partir

    do Plano Nacional de Aes Estratgicas de Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal

    proposto no Pacto Pela Reduo da Mortalidade Infantil Nordeste e Amaznia legal,

    (BRASIL, 2009c) em municpios do Estado de Mato Grosso.

    Por fim, este estudo pretendeu compreender como os gestores e profissionais de

    sade local, implementadores dessas polticas, percebiam o problema, os objetivos

    propostos pela interveno. Alm de poder verificar como essas aes foram priorizadas

    e o resultado alcanado. Ademais, estabelecer o grau de implantao das aes

    estratgicas implementadas, a partir dos relatos das mes, tendo os bitos neonatais

    evitveis ocorridos, em 2010, como eventos sentinela, triangulando com as informaes

    obtidas dos gestores, dos profissionais de sade e nos documentos oficiais, propiciou a

    construo de uma robusta metodologia de confirmao desses importantes achados

    empricos, que podero contribuir, tanto com o conhecimento cientfico para futuras

    pesquisas, como com o redesenho da poltica de sade para a reduo da mortalidade

    infantil neonatal.

  • 30

    2 OBJETIVOS

    Geral

    Analisar a implantao das aes estratgicas, a partir do Plano de Aes

    Estratgicas para a Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal, em dois municpios de

    Mato Grosso no perodo de 2009 a 2013.

    Especficos:

    Descrever a implementao dessa poltica pblica no nvel local;

    Avaliar como o problema, o objetivo, as aes realizadas e o resultado do Plano

    de Ao tem sido percebido pelos implementadores;

    Analisar a influncia das caractersticas de governo e organizacionais na

    implantao do Plano de Aes;

    Identificar e descrever os fatores facilitadores e obstaculizadores para a

    implementao da interveno;

    Analisar a trajetria dos bitos neonatais precoces ocorridos em 2010, em ambos

    os municpios, identificando as provveis barreiras organizacionais da rede de

    ateno, bem como os determinantes sociais da sade;

    Estimar o grau de implantao das aes estratgicas para a reduo da

    mortalidade infantil neonatal.

  • 31

    3 METODOLOGIA

    3.1 REFERENCIAL TERICO

    3.1.1 Contribuies Tericas do Planejamento em Sade para a Anlise das Aes

    Estratgicas nos Espaos e Processos de Deciso.

    A fundamentao terica inicial, considerando o objeto a ser estudado, parte da

    necessidade de estabelecer o conceito de planificao, em particular, o planejamento em

    sade, que na literatura, tanto nacional como latino-americana, apresenta vrias

    denominaes.

    Assim, o planejamento conceituado como um processo social, um mtodo,

    uma ferramenta ou tecnologia de gesto, um clculo que precede e preside a ao.

    visto ainda como um trabalho de gesto, uma mediao entre as diretrizes polticas de

    uma organizao e a subjetividade dos trabalhadores (GIORDANI, 1979; MATUS,

    1993; MERHY, 1995; SCHRAIBER et al., 1999; PAIM, 2002b; CAMPOS, 2003;

    RIVERA; ARTMANN, 2003).

    Giordani (1986), em sua obra intitulada Planificacin, Ideologa y Estado: El

    caso de Venezuela, traz a possibilidade de observar a planificao num conceito que se

    fundamenta em uma realidade concreta, explicando a evoluo da planificao como

    fenmeno social: [...] ambos aspectos, lo concreto y lo abstracto, deben ser

    dialcticamente considerados al observar la planificacin como un proceso social

    (GIORDANI, 1986, p.41).

    Compreender o planejamento [...] como uma forma de orientao da ao

    humana dirigida para o alcance de uma dada finalidade (VILASBAS, 2006) ou

    como [...] possibilidade de pensar o futuro e de interveno social (GIORDANI,

    1986) sugere que fundamental pensar no posicionamento ideolgico dos atores sociais

    inseridos num determinado contexto, tentando identificar se eles so capazes de intervir

    para modificar a realidade, caracterizando-se no apenas como sujeitos crticos, mas

    especialmente como sujeitos implicados (SPINELLI ; TESTA, 2005).

    As diferenas entre as concepes citadas anteriormente relacionam-se com as

    possveis interaes e racionalidades presentes no ato de planejar, e o papel deste na

    construo de estratgias para intervir na transformao de uma realidade social. Essas

    diferenas tambm conduzem a refletir sobre o papel que o Estado exerce na

  • 32

    formulao, implantao e implementao das polticas dentro de um processo socio-

    histrico e de conjunturas especficas (GIORDANI, 1979; RIVERA, 1989; PAIM,

    1986; CAMPOS, 2003; PAIM, 2002b). As convergncias dessas definies trazem a

    ideia do planejamento como estratgia de ao humana dirigida para alcanar uma

    finalidade.

    Desta maneira, o planejamento pode ser visto como uma ao social (WEBER,

    1994). Weber (1994) considera a ao como o objeto da sociologia e afirma que [...] a

    sociologia uma cincia que pretende compreender e interpretar a ao social

    (WEBER, 1994). Destaca a diferena entre ao e ao social (incluindo a omisso)4. O

    terico, para compreender o sentido5 da ao do agente, apresenta trs tipos de aes

    que determinam a ao social: o racional, o emocional e o tradicional6.

    O poder e a dominao so categorias centrais na obra de Weber. Para o autor,

    poder refere-se [...] toda probabilidade de impor a prpria vontade numa relao

    social, mesmo contra a resistncia, seja qual for o fundamento desta. Acrescenta,

    ainda, que o desejo de poder seria algo que movimenta o agente e o instinto de poder

    seria uma de suas qualidades (WEBER, 2003).

    Entretanto, a dominao7 seria [...] a probabilidade de obedecer a uma ordem

    de determinado contedo, entre determinadas pessoas (WEBER, 1994). Para Weber

    (2003), o Estado exerce a dominao reivindicando com xito o monoplio legtimo da

    violncia fsica para realizar as ordens vigentes. De sua anlise sobre o Estado e da

    realidade social alem, Weber prope a teoria da burocracia (COLLINS, 2009;

    4 Para Weber (1994) ao social [...] uma ao que, quanto ao seu sentido visado pelo agente ou pelos

    agentes, refere-se ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso

    5 O sentido, segundo Weber(1994), refere-se ao racional, emocional e tradicional da ao social. E

    destaca que mesmo em uma ao racional, como tipo ideal, haver componentes do afetivo e do

    tradicional que iro moldar a ao planejadora dos atores sociais.

    6 Weber (1994), define trs modos de determinao da ao social: o racional, baseado em fins voltados

    para o xito ou em valores; o emocional, conduzido pelos afetos; e, o tradicional, fundamentado em

    costumes arraigados.

    7 Weber (2003) estudou diferentes formas de dominao: poder tradicional, o que o patriarca exercia;

    poder carismtico, enquanto devoo e confiana estritamente pessoais depositadas em algum; e

    legalidade, crena na validez de um estatuto legal.

  • 33

    TRAGTENBERG, 1977). E, como consequncia, a moderna sociologia das

    organizaes (COLLINS, 2009).

    Segundo Weber (1982) a burocracia refere-se a uma organizao, com padro de

    racionalidade tendente a fins. A ao racional burocrtica a coerncia da relao de

    meios e fins visados, no sendo entendida apenas como um fenmeno meramente

    tcnico, mas um fenmeno de dominao. A burocracia pressupe o formalismo, a

    existncia de normas escritas, estrutura hierrquica, diviso horizontal e vertical do

    trabalho, alm da impessoalidade no recrutamento dos quadros (WEBER, 1982;

    TRAGTENBERG, 1977).

    Por fim, o planejamento, enquanto ao humana com finalidade determinada

    socialmente, possui uma dimenso estratgica dentro do contexto poltico

    organizacional, que no exclui o social, transformando as aes estratgicas deste em

    produto, que implica em trabalho humano.

    Nesse aspecto, a produo terica relacionada dimenso estratgica dos

    processos de gesto pblica em sade, especialmente no seu componente planejamento,

    tambm til para subsidiar a anlise estratgica de implantao dos planos propostos

    para desenvolver a poltica de sade, no caso deste estudo, a de reduo da mortalidade

    infantil neonatal.

    Na Amrica Latina, dois autores tm contribudo com essa produo terica: o

    economista chileno, Carlos Matus, e o mdico argentino, Mrio Testa. As importantes

    abordagens tericas produzidas por esses autores apoiam este estudo, conforme

    demonstrado a seguir.

    - Carlos Matus: as contribuies do tringulo de governo para anlise do Plano e

    suas aes estratgicas.

    Para Matus (1991), um plano um compromisso que expressa a inteno de

    alcanar resultados, porm, no depende unicamente desse acordo porque est

    circundado, na vida real, de incertezas, imprecises, rejeies, ou apoio de diversos

    atores.

    Esse planejamento, tomado como trabalho de diferentes atores, necessrio para

    implementar polticas, no caso de sade. Para o autor, o dirigente e sua equipe escolhem

  • 34

    e alteram os objetivos que pretendem alcanar, de acordo com as circunstncias do

    projeto de governo em questo, superando os obstculos conforme sua governabilidade,

    e resistindo s foras com a capacidade de governo que possui (MATUS, 1993).

    Para Matus, o tringulo de governo se constitui em um sistema triangular de trs

    variveis que se articulam entre si no ato de governar, a saber: projeto de governo,

    capacidade de governo e governabilidade do sistema8. A capacidade de governo se

    refere s prticas das aes planejadas, e esto dependentes e condicionadas pelo

    projeto de governo e pela governabilidade do sistema.

    - Mario Testa: as contribuies do pensamento estratgico na anlise do processo

    de programao em sade.

    As contribuies tericas de Testa (1992,1995), voltadas para o campo da sade,

    esto relacionadas s anlises, acerca das inter(aes) de poder nas organizaes, onde

    os atores sociais se constituem e da forma como se configuram os cenrios, os tempos,

    as formas organizativas e suas consequncias e significaes quanto ao seu uso.

    Testa (1995) define poltica como forma de distribuio de poder e a estratgia

    como modo de implementao da poltica. Para o autor, o pensamento estratgico [...]

    tem a ver com comportamentos organizacionais destinados ao manejo de situaes em

    que seja preciso superar obstculos que se oponham conquista de um objetivo. J a

    estratgia se refere maneira como o ator se coloca em situao para se aproximar do

    alcance da meta: ganhar espao, ganhar tempo, estabelecer condies favorveis ao

    prprio desempenho (TESTA, 1995, p.15). Assim, para agir em situaes de

    enfrentamento preciso pensar estrategicamente, podendo ser um risco ou mesmo um

    fracasso, parcial ou total, no faz-lo.

    8 Projeto de governo: trata-se do [...] contedo propositivo dos projetos de ao que um ator pretende

    realizar para alcanar seus objetivos; governabilidade do sistema: [...] relao entre variveis que o ator

    controla e no controla no processo de governo, variveis essas ponderadas pelo seu valor ou peso para

    ao do ator; e, capacidade de governo : [...] uma capacidade de conduo ou direo e refere-se ao

    acervo de tcnicas, mtodos, destrezas, habilidades e experincias de um ator e sua equipe de governo,

    para conduzir o processo social a objetivos declarados, dados a governabilidade do sistema e o contedo

    propositivo do projeto de governo (...) expressa-se na capacidade de direo, de gerncia e de

    administrao e controle (MATUS, 1993, p 59-61).

  • 35

    Testa (1995) destaca ainda que a poltica de sade no est presente apenas no

    setor sade, devendo abarcar o conjunto social. Alm disso, a poltica de sade no

    pode ser a mesma em todos os lugares, porque as estratgias adotadas sero diferentes

    em virtude das condies que as determinam, das conjunturas e dos acontecimentos que

    ocorrem fora do setor sade, ou seja, as foras para transformao ou conservao e do

    poder. Desta forma, as propostas para o social ou para a sade sero direcionadas para

    favorecer o acesso ao poder das foras partidrias para transformao ou conservao.

    Nessa perspectiva, Testa (1992) destaca que o papel do Estado ser de busca

    constante de dominao, acentuando suas funes de rbitro, de unificador de certos

    segmentos da burguesia, de organizador do proletariado e de apoio acumulao de

    capital.

    Nesse sentido, o autor enfatiza que nas organizaes9, por meio da burocracia e

    dos interesses dos atores sociais inseridos nela, que o poder se manifesta. Testa (1992)

    estabelece uma tipologia do poder, referente ao setor sade, como a capacidade de um

    indivduo, grupo social, instituio de realizar o poder tcnico10

    que abrange gerar,

    aceder e lidar com a informao; o poder administrativo11

    de se apropriar e atribuir

    recursos administrativos; e, o poder poltico12

    de mobilizar grupos sociais frente s

    necessidades ou interesses.

    Para Testa (1995), o exerccio do poder contm uma ao, o uso de um

    instrumento ou recurso para se atingir determinados objetivos. As interaes de poder se

    desenvolvem em cenrios, em razo e funo tempo, de propsitos institucionais e de

    9 Para Testa (1992, p.117), o conceito de organizao abrange dois aspectos: o institucional, ou a

    consolidao burocrtica de uma organizao em geral e o agrupamento de pessoas com interesses

    comuns, os atores sociais primrios.

    10 O poder tcnico atua em vrios aspectos e mbitos, tratando das informaes que lidam como forma de

    poder identificadas como: informaes mdicas inerentes clnica, sanitrias e as tericas, identificando a

    determinao e produo das enfermidades em geral (TESTA, 1992, p. 119).

    11 O poder administrativo, na perspectiva de acumulao de poder no setor sade, nos pases capitalistas,

    se d no elemento central que o financiamento, conseguir recursos financeiros diretos (prprios) ou

    indiretos (incentivos, aquisio de equipamentos e outros) para se conseguir alcanar os propsitos do

    plano em curso dentro da organizao (TESTA,1992, p.121).

    12 O poder poltico, como capacidade de mobilizar, vai depender do conhecimento emprico e cientifico.

    Esse poder, no setor sade, intersecta-se com os poderes do tipo tcnico e administrativo, nas formas de

    saber cientfico, com a prtica de dominao, e de saber emprico, com a prtica hegemnica (TESTA,

    1992, p. 124).

  • 36

    objetivos particulares, que vo conformar dialeticamente uma direo poltica para o

    processo em curso.

    No planejamento, as dimenses temporais so, portanto, dependentes das

    consideraes estratgicas. Essas delimitaes de fluxos, limites de tempo (curto, mdio

    e longo prazo), recursos escassos, condicionam as configuraes estratgicas no campo

    do poder. Os propsitos da instituio podem ser de mudana ou crescimento, mas,

    principalmente, o de busca da legitimao.

    Para se analisar as relaes e aes de poder, no mbito institucional, torna-se

    necessrio relacionar as caractersticas dos atores ao recurso, aos tipos e tempo de

    poder, aos propsitos institucionais e aos objetivos particulares, colocando-os no centro

    de uma trama estratgica, onde se destacam as suas ideologias, seus interesses, suas

    motivaes e objetivos polticos.

    Na sua proposta de pensamento estratgico, Testa (1995) desenvolve ainda as

    questes de transparncia e opacidade estratgicas, e destaca que essa ltima no pode

    ser total, pois pode dificultar o xito do plano. Estabelece categorias para os atores

    sociais do drama estratgico como os atores individuais e coletivos, onde os seus

    comportamentos so de relevncia no pensamento estratgico porque atravs deles

    que se alcanam os objetivos.

    O cenrio de uma ao social tambm colocado como importante no

    pensamento estratgico de Testa (1995) e se define como um espao social onde ocorre

    uma relao entre os atores, que so gerados ao desenvolver uma ao (p.67). O espao

    social caracterizado como um campo de fora, enquanto o poder definido como

    capacidade, a fora do campo social seria essa capacidade em movimento. O campo de

    fora pode alterar permanentemente, tanto mediante situaes conjunturais diversas

    como histricas.

    Cabe destacar, no pensamento estratgico de Testa (1995), que as estratgias

    institucionais internas esto relacionadas com dois aspectos: 1) o da lgica

    organizacional; e, 2) o das contradies ou conflitos que se expressam no espao

    institucional. A estratgia programtica abrange a implementao de uma poltica por

    meio da constituio de um programa que tem recursos especficos, objetivos prefixados

    e sob conduo normativa. Nessa estratgia pode ocorrer uma limitao dos alcances,

  • 37

    frente preciso dos objetivos e rigidez dos atos administrativos interferindo na eficcia

    do programa (p.75).

    Assim, o tringulo de governo, proposto por Matus (1993) e o pensamento

    estratgico de Testa (1995) contribuem na avaliao da caracterstica poltico-

    organizacional do governo local, do Plano e suas aes estratgicas estabelecidas.

    3.1.2 Avaliao em Sade: concepes tericas e metodolgicas

    A avaliao como um componente das prticas nos diversos mbitos e campos

    do espao social gera uma polissemia conceitual e metodolgica (VIEIRA-DA-SILVA;

    FORMIGLI, 1994). As diversidades das definies sobre o que avaliar marcam a

    evoluo dos diferentes conceitos e objetivos das mesmas ao longo do tempo

    (CHAMPAGNE et al., 2011).

    Patton (1997) inclui na sua definio alguns aspectos como [...] a coleta de

    informaes sobre as atividades, caractersticas e resultados dos programas; e fazer

    julgamento sobre programas e ou subsidiar o processo de tomadas de decises sobre

    futuras programaes.

    Weiss (1972a, 1972b, 1972c, 1998a) acrescenta uma concepo mais ampla,

    tratando-a como apreciao sistemtica do funcionamento para alm do

    acompanhamento dos objetivos traados, mas analisando os processos para poder

    aprimor-los.

    Para Mark, Henry e Julnes (2000), avaliao se refere a uma anlise sistemtica

    das atividades, dos efeitos, das justificativas e das consequncias sociais de polticas e

    programas, com o objetivo de contribuir para a melhoria destes e das condies sociais.

    Rossi e Freeman (1993, p.5) definem a avaliao como a aplicao sistemtica

    de procedimentos de pesquisa cientfica para verificar a conceitualizao, design,

    implementao e utilidade dos programas de interveno social. Esses autores

    consideram a avaliao como uma atividade complexa que envolve tambm decises

    polticas e administrativas.

    Autores como Guba e Lincoln (1989, p.8) ressaltam que a avaliao deve

    transcender a simples aplicao dos mtodos de pesquisa cientfica, e incluir os diversos

  • 38

    aspectos humanos, polticos, sociais, culturais e contextuais que envolvem todo o seu

    processo.

    Entretanto, Champagne e colaboradores (2011) apresentam uma definio que

    agrega elementos consensuais mais atuais, adotada por este estudo:

    [...] avaliar consiste fundamentalmente em emitir um juzo de valor sobre

    uma interveno, implementando um dispositivo capaz de fornecer

    informaes cientificamente vlidas e socialmente legtimas sobre essa

    interveno ou sobre qualquer de um de seus componentes, com o objetivo

    de proceder de modo a que os diferentes atores envolvidos, cujos campos de

    julgamento so por vezes diferentes, estejam aptos a se posicionar sobre a

    interveno para que possam construir individual ou coletivamente um

    julgamento que possa se traduzir em aes (CHAMPAGNE et al., 2011,

    p.44).

    Assim, com essa definio, torna-se necessrio evidenciar o conceito de

    interveno em uma pesquisa avaliativa, que visa compreender o porqu e o como dos

    resultados. Nessa perspectiva, para CHAMPAGNE e colaboradores (2011), uma

    interveno pode ser um sistema organizado de ao com seus componentes que, em um

    contexto e tempo determinado, podem modificar ou corrigir uma situao problemtica.

    Com isso, pode-se caracterizar diferentes tipos de intervenes: a tcnica, a de

    medicamentos e tratamentos, os protocolos clnicos, as organizaes, os programas e as

    polticas.

    Segundo Cohen e Franco (1993: 85-6), os termos projeto, programa e plano

    designam modalidades de interveno social que diferem em escopo e durao. Para

    esses autores [...] um plano a soma dos programas que procuram objetivos comuns,

    ordena os objetivos gerais e os desagrega em objetivos especficos, que constituiro por

    sua vez os objetivos gerais dos programas. Ele determina o modelo de alocao de

    recursos resultante da deciso poltica e dispe as aes programticas em uma

    sequncia temporal de acordo com a racionalidade tcnica das mesmas e as prioridades

    de atendimento [...]. O plano inclui a estratgia, isto , os meios estruturais e

    administrativos, assim como as formas de negociao, coordenao e direo

    (COHEN; FRANCO, 1993).

  • 39

    A interveno compreendida como projetos, programas e planos pode ainda ser

    caracterizada como simples ou complexa13

    , e a abordagem e o mtodo de avaliao

    dependero do tipo e da complexidade da mesma.

    A pesquisa avaliativa, como descrita por Contandriopoulos (1997), deve levar

    em considerao os fundamentos tericos da interveno, sua pertinncia, sua

    produtividade e seus efeitos. Deve verificar o contexto que a gerou e buscar conhecer as

    relaes entre contexto, processo e resultados, de forma a ser capaz de produzir

    informaes que permitam orientar efetivamente a tomada de decises.

    Em uma pesquisa avaliativa, desejvel realizar uma importante etapa,

    conhecida como estudo de avaliabilidade ou pr-avaliao, como um procedimento e

    mtodo para determinar se a interveno ou programas esto prontos para serem

    avaliados.

    Thurston e Ramaliu (2005) destacam que estudos de avaliabilidade so definidos

    como um conjunto de procedimentos para que os interesses dos envolvidos sejam

    considerados, e, assim, possam maximizar a utilidade da avaliao. O que se espera com

    esse estudo uma descrio abrangente da interveno, das questes-chave que devem

    ser abordadas, e um plano de avaliao em consonncia com os envolvidos. Neste

    estudo, avalia-se e critica descrio da interveno at que esta represente um desenho

    coerente e lgico.

    Para Rossi e Freeman (1999), a avaliabilidade a anlise sistemtica e

    preliminar de um programa, em sua teoria e prtica, para determinar se h justificativa

    para uma avaliao extensa e/ou delimitar melhor os seus objetivos, alm de identificar

    reas crticas a serem priorizadas na avaliao.

    Wholey (1977) j recomendava um EA como a primeira atividade a ser

    realizada em um programa antes de sofrer uma avaliao em profundidade. Para o autor,

    o objetivo de um EA identificar em que medida os objetivos so mensurveis, se esses

    objetivos so partilhados pelas principais partes interessadas, se existe uma estrutura de

    13 Interveno simples, os problemas podem ser resolvidos com soluo nica; e, nas complexas,

    procuram-se solues que se apresentam de formas diversas, contraditrias ou opostas

    (CAMERON,1986; CHAMPAGNE et al., 2011,p.49).

  • 40

    programa razovel e recursos suficientes para a obteno dos objetivos, e se os gestores

    do programa vo utilizar os resultados das avaliaes.

    Wholey (1994) observa, ainda, que um dos aspectos importante de um EA

    examinar a realidade do programa que se destina a observar, a plausibilidade para

    alcanar a meta, se o modelo lgico realista, a possibilidade de acessar dados

    relevantes e significativos e identificar usos prentendidos de potenciais usurios da

    avaliao. Essa plausibilidade, para Alkin e Taut (2003), envolve examinar os fatores

    ligados ao processo de avaliao e as carctersticas do avaliador, os fatores contextuais

    que incluem o inter e intra organizacional e os fatores humanos que incluem os usurios

    pretendidos, caracterrsticas organizacionais, pessoais e profissionais.

    Para Wholey (1977,1994, 2004), o EA uma importante ferramenta de gesto.

    O autor prope como mtodo para conduzir um EA, a realizao de entrevistas com

    gestores e formuladores de polticas, visitas ao local para observar o programa em

    operao e a anlise dos seus documentos.

    Outros autores como Smith (1989), Thurston e Potvin (2003) e Thurston e

    Ramaliu (2005) propem para o EA um sistema de elementos a serem descritos por dez

    etapas ou por sete elementos, respectivamente (Quadro 01).

    A pesquisa avaliativa pode ser decomposta em seis tipos de anlise: a

    estratgica, a lgica, da produtividade, dos efeitos, da eficincia, e a anlise da

    implantao (BROUSSELLE et al. , 2011), ainda que