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Universidade Federal da Bahia
Instituto de Sade Coletiva
Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva
Doutorado em Sade Pblica
Anlise da implantao das Aes Estratgicas para a Reduo
da Mortalidade Infantil Neonatal em Municpios
do Estado de Mato Grosso
Stella Maris Malpici Luna
Salvador
Maro /2015
Universidade Federal da Bahia
Instituto de Sade Coletiva
Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva
Doutorado em Sade Pblica
Anlise da implantao das Aes Estratgicas para a Reduo
da Mortalidade Infantil Neonatal em Municpios
do Estado de Mato Grosso
Tese apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Sade Coletiva do Instituto
de Sade Coletiva da Universidade Federal
da Bahia, como requisito parcial para
obteno do ttulo de Doutor em Sade
Pblica. rea de Concentrao:
Planificao e Gesto em Sade
Orientadora: Prof. Dr. Snia Cristina Lima Chaves
Salvador
Maro /2015
Ficha Catalogrfica
Elaborao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva
L961a Luna, Stella Maris Malpici
Anlise da Implantao das Aes Estratgicas para a Reduo da
Mortalidade Infantil Neonatal em Municpios do Estado de Mato Grosso /
Stella Maris Malpici Luna Salvador: S. M. M. Luna, 2015.
254f.
Orientador(a): Prof.a Dr.
a Snia Cristina Lima Chaves.
Tese (Doutorado) Instituto de Sade Coletiva. Universidade Federal da
Bahia
1.Mortalidade Infantil Neonatal. 2. Avaliao de Programas de Sade. 3.
Plano de Aes Estratgicas. I. Titulo.
CDU 613.95
Folha de aprovao
A minha famlia, em especial, meus pais por terem dedicado
grande parte de suas vidas educao na certeza de um futuro
melhor a todos;
A todas as mes que perderam seus bebs. Para as mes que
perderam seus bebs por motivos evitveis a minha indignao;
E a todos os trabalhadores e gestores que fazem do seu dia a dia
uma luta constante em prol da sade dos mato-grossenses e
brasileiros.
Agradecimentos
A Deus por ter permitido mais essa conquista.
A todos os colegas da Secretaria de Estado de Sade de Mato Grosso e da Escola de
Sade Pblica de Mato Grosso pelo carinho, apoio e incentivo durante toda essa
caminhada.
Aos amigos e colegas, Gilce, Maria Helena, Irani, Ione, Scatena, Hudson, Silvana,
Mara, Alexandre, Hailton, Julia Vine, Nidia, Eliane Jeronimo, pelo incentivo, apoio e
colaborao para com este trabalho.
Ao Teles e Diretora do Escritrio Regional da Baixada Cuiabana, Zlia da Guia
Nobre, pela liberao do motorista e do veculo por um perodo de cinco dias teis.
Ao Sr. Geraldo B. dos Santos, motorista da SESMT, por ter me acompanhado com
muita determinao e companheirismo. Sua parceria foi fundamental para encontrar
parte dos endereos das mes, em Cuiab.
Ana e Ntalie por terem me ajudado nas transcries das entrevistas. Rose e a todos
da minha famlia, que me ajudaram em casa na minha ausncia.
A todos os colegas da ps-graduao, que me ajudaram a abrandar a saudade de casa e
compartilhar o aprendizado. Em especial, Catharina, Shirley, Denise, Lucia e Jair.
Em especial, Prof Dr Ligia Maria Viera da Silva e Prof. Dr. Snia Cristina Lima
Chaves pelo carinho, estmulo e apoio em todos os momentos desse doutorado.
Em especial, a minha orientadora, Prof. Dr. Snia Cristina Lima Chaves, pelas
relevantes contribuies para este trabalho, pela pacincia, e oportunidade de
aprendizado.
Anunciao, Bia, Snia Malheiros e todo pessoal da secretaria da ps-graduao;
equipe tcnica e administrativa do ISC/UFBA pelas orientaes e apoio.
Aos Gestores Municipais de Sade de Cuiab e Pocon, Sr. Kamil Hussein Fares e
Darlan Guimares Ribeiro, que apoiaram essa pesquisa.
Aos gestores, profissionais de sade e mes que participaram desta pesquisa.
APRESENTAO
A motivao para a realizao deste estudo surgiu de minha trajetria
profissional. A minha insero no sistema pblico de sade, desde 1983, desenvolvendo
atividades profissionais, na Secretaria de Estado de Sade de Mato Grosso, junto com
outros colegas militantes do SUS, possibilitou-me a experincia de iniciar as
capacitaes na Escola de Sade Pblica de Mato Grosso, em especial, de avaliaes
em sade.
Tal experincia possibilitou-me, ainda, o convvio com os profissionais de sade
e gestores, Estadual e Municipal, bem como a observao das dificuldades para o
desempenho das suas funes gestoras, estabelecidas no arcabouo legal do SUS.
Dentre as quais, destacam-se dificuldades referentes formulao de polticas,
planejamento e avaliao. Diante disso, acredito que fortalecer a institucionalizao do
monitoramento e avaliao na SESMT e no SUS muito contribuir para o avano das
polticas de sade.
Com esse propsito, na introduo apresento o problema da investigao. Trago,
tambm, uma sucinta trajetria histrica das polticas de sade para a reduo da
mortalidade infantil, no Brasil e em Mato Grosso. Exponho o objetivo da pesquisa que
se trata de analisar a implantao das aes estratgicas, a partir do Plano de Aes
Estratgicas para a Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal, em dois municpios de
Mato Grosso no perodo de 2009 a 2013.
Em seguida, apresento a literatura especializada que nos forneceu os elementos
terico-metodolgicos para avaliao das aes estratgicas. As contribuies tericas
do planejamento e da avaliao em sade so destacadas. Um modelo terico lgico da
avaliao tendo como base o modelo lgico causal e da interveno proposto. O
estudo de dois casos apresentado como estratgia metodolgica por ser adequado para
a proposta de anlise do grau de implantao das aes. Destaco o plano de anlise, a
matriz de avaliao e os parmetros adotados para o julgamento do grau de implantao
das aes. O julgamento do grau de implantao dos dois casos apresentado. Na
discusso me dediquei a realizar uma anlise das categorias, segundo o referencial
terico estabelecido.
Por ltimo, recomendo os principais pontos a serem considerados, sem a
pretenso de esgot-los. Considero como importantes reflexes que podero contribuir
com o avano das polticas de sade para a acelerao da reduo da mortalidade
infantil neonatal.
Enfim, todos que percorrerem esta pesquisa tero mais elementos para refletir
sobre o problema e respostas para seu enfrentamento. A minha finalidade, tambm, foi
contribuir com a construo do conhecimento, compreender como a poltica vem sendo
implementada e com a construo de um arcabouo terico-metodolgico que possa
subsidiar a avaliao de polticas para a reduo da mortalidade infantil neonatal.
Boa leitura a todos!
Resumo
Este estudo avaliou a implantao das aes estratgicas, a partir do Pacto Pela Reduo
da Mortalidade Infantil na regio Nordeste e Amaznia Legal, em dois municpios do
Estado de Mato Grosso, no perodo de 2009 a 2013. As contribuies terico-
metodolgicas de Wholey (1977), Matus (1993), Testa (1995) e Denis e Champagne
(1997) subsidiaram o estudo de avaliabilidade, a anlise das caractersticas de governo e
da gesto da sade e o grau de implantao das aes estratgicas. Foi construdo o
modelo causal, da interveno e o terico lgico para subsidiar a avaliao. A pesquisa
avaliativa foi realizada em duas etapas. Na primeira, realizou-se um estudo de
avaliabilidade da interveno e, na segunda, uma anlise das caractersticas de governo
e da gesto da sade e do grau da implantao das aes. Dos treze municpios
prioritrios de Mato Grosso, estabelecidos no Pacto, foram selecionados como
municpios-caso deste estudo, Cuiab e Pocon a partir de critrios pr-estabelecidos. O
estudo de dois casos foi realizado por meio de abordagem qualitativa e quantitativa
utilizando-se de dados primrios e secundrios. Foram conduzidas entrevistas com
cinquenta e nove informantes-chave e realizada anlise documental e observao de
campo. A coleta dos dados e a observao de campo foram realizadas no perodo de
abril a setembro de 2013. Os dados foram analisados por categorias, conforme o quadro
terico. O estudo de avaliabilidade demonstrou que as aes estratgicas estavam
suficientemente estruturadas para permitir avaliaes sistemticas e havia clima poltico
favorvel para sua implementao. Contudo, as caractersticas de governo e de gesto
da sade que influenciaram negativamente a implementao do Plano, em ambos os
municpios-caso, foram uma baixa governabilidade, principalmente, por instabilidade
poltica e desgaste da gesto local e baixa capacidade de governo marcada por
dificuldades na poltica de gesto de pessoas que resultou em um Plano Municipal
frgil. Observou-se uma prtica de planejamento no estruturada com carter mais
burocrtico e ritualstico, no havendo acompanhamento e avaliao sistemtica do
Plano. Em 2013, as aes estratgicas para reduo da mortalidade infantil neonatal no
municpio de Cuiab, foram classificadas como em estgio intermedirio (51,4%),
enquanto para o municpio de Pocon, elas se mostraram incipientes (42,9%). A
vigilncia do bito materno e infantil, alm da mobilizao social esto entre os
componentes menos implantados. As principais causas de mortes neonatais estiveram
relacionadas aos cuidados imediatos ao recm-nascido, tendo o maior nmero os bitos
neonatais ocorridos por aspirao de mecnio e por causas redutveis por adequado
controle na gravidez. Recomenda-se ampliar e qualificar a ateno primria sade,
implementar e qualificar a vigilncia do bito e nascimento, garantir apoio logstico
integrado rede de ateno sade, implementar o complexo regulador e a ateno
especializada, fortalecer e melhorar a qualidade das maternidades, instituir Plano de
Carreira no SUS para valorizar os profissionais de sade e ampliar a qualidade da
ateno, monitorando a execuo das aes estratgicas.
Palavras-chave: Mortalidade Infantil Neonatal, Avaliao de Programas de Sade,
Plano de Aes Estratgicas.
ABSTRACT
The presente study evaluated the implementation of strategic actions proposed on the
pact for reducing child mortality in the northeast and legal amazon region, in two
municipalities of the state of Mato Grosso, on 2009-2013 period. The theoretical and
methodological contributions of Wholey (1977), Matus (1993), Testa (1995) and Denis
and Champagne (1997) subsidized the evaluability study, the analysis of government
and health management characteristics and the degree of actions strategic
implementation. It was built the causal model of intervention and the theoretical logical
to support the assessment. The evaluative research was conducted into two stages. On
the first one was held an intervention evaluability study and on the second one, an
analysis of the characteristics of government and health management and the degree of
actions implementation. Of the thirteen priority municipalities of Mato Grosso,
established on the pact, were selected as case-study municipalities, Cuiaba and Pocon
from pre-established criteria. The study was performed in both cases by means of
qualitative and quantitative approach using primary and secondary data. Interviews with
fifty-nine key informants and presents a documentary analysis and field observations
were conducted. Data collection and field observations were made in the period from
April to September of 2013. Data were analyzed by categories as the theoretical
framework. The evaluability study demonstrated that strategic actions were sufficiently
structured to allow systematic reviews and had political pavoravel climate for the
implementation. However, the government's characteristic and health management that
adversely affected the implementation of the plan, in both cities-case, were bad
governance, mainly by political instability and erosion of local management and low
government capacity marked by difficulties in policy people management which
resulted in a fragile municipal level. The study observed a practice of planning
unstructured more bureaucratic and ritualistic character, with no systematic monitoring
and evaluation of the plan. In 2013, the strategic actions to reduce neonatal mortality in
cuiaba municipality, were classified as intermediate stage (51.4%), on the other hand,
Pocon showed as inecipientes (42.9%). The monitoring of maternal and infant death, in
addition to social mobilization, are among the least implemented components. The main
causes of neonatal deaths were related to the immediate care of the newborn, with the
highest number of neonatal deaths by aspiration of meconium and reducible causes by
proper control in pregnancy. It is recommended to widen and improve the primary
health care, implement and assess the surveillance of death and birth, ensure logistical
support integrated health care network, implement the regulatory complex and
specialized care, strengthen and improve the quality of maternity, establish career path
in the SUS to value health professionals and increase the quality of care, monitoring the
implementation of strategic actions.
Keywords: Neonatal and infant mortality , evaluation of health program, strategic action
plans.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Total de entrevistas realizadas, por etapas da pesquisa de anlise
de implantao das aes estratgicas. Cuiab, 2013. ........................................ 64
Tabela 2 Pontuao mdia dada pelos especialistas consultados e respectivo desvio
padro por critrios e padres estabelecidos. Cuiab, 2013. ...................................... 72-73
Tabela 3 Caracterizao dos municpios-caso nos seus aspectos
sociodemogrficos e condies de sade. .......................................................... 77
Tabela 4 - ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e seus
componentes dos municpios de Cuiab e Pocon MT, 2010. ................................. 79
Tabela 5 - Caractersticas das mes que perderam seus bebs no perodo
neonatal precoce em 2010 nos municpios-caso, Cuiab e Pocon ................. 94
Tabela 6 - Caractersticas dos recm-nascidos que foram a bito no perodo
neonatal precoce em 2010 nos municpios-caso, Cuiab (n = 57) e Pocon (n
= 3) ...................................................................................................................... 95
Tabela 7 - Distribuio de bito neonatal precoce ocorrido em 2010, segundo
classificao de causas e CID 10 nos municpios-caso selecionados, Cuiab e
Pocon. Mato Grosso, Brasil/2010. .................................................................... 96-97
Tabela 8 Classificao do grau de implantao das aes estratgicas para
reduo da mortalidade infantil neonatal no nvel gesto da organizao da
ateno por dimenso, subdimenso e critrios dos municpios-caso, Cuiab e
Pocon, Brasil, 2013. .......................................................................................... 152-155
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Polticas de Sade para reduo da mortalidade infantil, no Brasil e
em Mato Grosso .................................................................................................. 52
Figura 2 Modelo lgico causal da mortalidade infantil neonatal ...................... 54
Figura 3 Modelo lgico de interveno: Plano Nacional de Aes Estrat-
gicas para Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal ............................. 56
Figura 4 Modelo terico da avaliao da implantao das aes estratgicas
para reduo da mortalidade infantil neonatal ..................................................... 58
Figura 5 Sumrio das intervenes prioritrias no pr-natal, parto e ps-
parto, nos programas de cuidados de sade materno e neonatal, baseado na
avaliao de evidncias para impacto na sade perinatal e neonatal ....................
59
Figura 6 - Modelo Lgico de Interveno: objetivos, metas e aes
identificados pelos informantes-chave da SMS de Cuiab, 2013......................... 90
Figura 7- Modelo Lgico de Interveno: objetivos, metas e aes
identificados pelos informantes-chave da SMS de Pocon, 2013..................... 91
Figura 8 Modelo Lgico Causal da Mortalidade Infantil Neonatal, segundo
informantes-chave da SMS de Cuiab e Sistema de Informao. Cuiab, 2013.. 98
Figura 9 Modelo Lgico Causal da Mortalidade Infantil Neonatal, segundo
informantes-chave da SMS de Pocon e Sistema de Informao. Pocon, 2013.. 102
Figura 10 - Modelo Lgico de Interveno: a proposta de interveno para
enfrentamento do problema, segundo informantes-chave da SMS de Cuiab
2013 ......................................................................................................................
108
Figura 11 - Modelo Lgico de Interveno: a proposta da SMS de Cuiab,
segundo Plano Municipal de Aes Estratgicas para Reduo da Mortalidade
Neonatal (2009) ....................................................................................................
109
Figura 12 - Modelo Lgico de Interveno: a proposta de interveno para
enfrentamento do problema, segundo os informantes-chave da SMS de
Pocon 2013 .....................................................................................................
113
Figura 13 - Modelo Lgico de Interveno: a proposta da SMS de Pocon,
segundo Plano Municipal de Aes Estratgicas para a Reduo da Mortalidade
Neonatal (2009) ....................................................................................................
114
Figura 14 Trajetria do bito de recm-nascido 1. Cuiab, 2010 ..................... 137
Figura 15 Trajetria do bito de recm-nascido 2. Cuiab, 2010 ..................... 138
Figura 16 Trajetria do bito de recm-nascido 3. Cuiab, 2010 ..................... 138
Figura 17 Trajetria do bito de recm-nascido 4. Cuiab, 2010 ..................... 139
Figura 18 Trajetria do bito de recm-nascido 5. Cuiab, 2010 ..................... 139
Figura 19 Trajetria do bito de recm-nascido 6. Cuiab, 2010 ..................... 140
Figura 20 Trajetria do bito de recm-nascido 7. Cuiab, 2010 ..................... 140
Figura 21 Trajetria do bito de recm-nascido 8. Cuiab, 2010 ..................... 141
Figura 22 Trajetria do bito de recm-nascido 9. Cuiab, 2010 ..................... 141
Figura 23 Trajetria do bito de recm-nascido 10. Pocon, 2010 .................. 142
Figura 24 Trajetria do bito de recm-nascido 11. Pocon, 2010 ................... 143
Figura 25 Trajetria do bito de recm-nascido 12. Pocon, 2010 .................. 143
Figura 26 - Grau de implantao das aes estratgicas para reduo da
mortalidade infantil neonatal por nvel, dimenso e subdimenso nos
municpios-caso, Cuiab e Pocon, Brasil, 2013................................................... 159
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Elementos que devem compor um Estudo de Avaliabilidade,
segundo alguns autores ......................................................................................... 41
Quadro 2 - Municpios priorizados para o Plano de Aes Estratgicas de
Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal, segundo variveis selecionadas para
seleo de municpio-caso, Mato Grosso, 2012 .................................................. 61
Quadro 3 Matriz de anlise de implantao das aes estratgicas dos municpios-
caso: nvel, dimenses, critrios e pontuao. Cuiab, 2013 ....................................... 67-71
Quadro 4 - Matriz das caractersticas de governo e de gesto que podem
influenciar a implantao das aes estratgicas para reduo da mortalidade
infantil neonatal: perguntas-chave e fonte de verificao .................................... 74
Quadro 05- Sntese dos principais achados do estudo de avaliabilidade que
demonstraram condies de viabilidade da avaliao, segundo Wholey (1994,
2004), nos municpios-caso, Cuiab e Pocon. Cuiab, 2013 .............................. 115
Quadro 6 - Sntese das principais caractersticas de governo e de gesto da sade, no
perodo de 2009 a 2010 nos municpios-caso, Cuiab e Pocon, que influenciaram o
Plano Municipal de Aes Estratgicas, 2013 .................................................................. 124
Quadro 7 - Sntese das principais caractersticas da gesto da sade, no perodo de
2009 a 2010, nos municpios-caso, Cuiab e Pocon, que influenciaram o Plano
Municipal de Aes Estratgicas ..................................................................................... 135
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAES
CAPS Centro de Ateno Psicossocial
CID - Classificao Internacional de Doenas
CIB Comisso Intergestores Bipartite
DATASUS Departamento de Informtica do Sistema nico de Sade
DST/AIDS Doena Sexualmente Transmissvel e Sndrome da Imunodeficincia
Adquirida
ESF Equipes de Sade da Famlia
IDH ndice de Desenvolvimento Humano
NASF Ncleo de Apoio Sade da Famlia
PACS - Programa de Agentes Comunitrios de Sade
PAM Pronto Atendimento Mdico
PMS Plano Municipal de Sade
PSF - Programa Sade da Famlia
PTA Plano de Trabalho Anual
RAG Relatrio Anual de Gesto
SCNES Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimento de Sade
SMS Secretaria Municipal de Sade
SUS Sistema nico de Sade
UBSF- Unidade Bsica de Sade da Famlia
UBST Unidade Bsica de Sade Tradicional
SUMRIO
Apresentao
Resumo
Abstract
Lista de Tabelas
Lista de Figuras
Lista de Quadros
Lista de Siglas e Abreviaes
1- Introduo ................................................................................................................. 16 1.1 As polticas de sade para a reduo da mortalidade infantil, no Brasil e em Mato
Grosso ............................................................................................................................. 19
2- Objetivos.................................................................................................................... 30
3- Metodologia .............................................................................................................. 31 3.1- Referencial Terico ................................................................................................. 31
3.1.1 Contribuies Tericas do Planejamento em Sade para a Anlise das Aes
Estratgicas nos Espaos e Processos de Deciso ........................................................ 31
3.1.2 Avaliao em Sade: concepes tericas e metodolgicas............................... 37
3.1.2.1 Avaliabilidade e Anlise de Implantao de planos, programas e aes de
sade: reviso da literatura............................................................................................. 43
3.2 Modelizando a Avaliao......................................................................................... 50
3.2.1 O Modelo Lgico Causal ...................................................................................... 51
3.2.2 Modelo Lgico do Plano de Aes Estratgicas para Reduo da Mortalidade
Infantil Neonatal: Modelo Operacional da Interveno ................................................ 55
3.2.3 O Modelo Terico Lgico da Avaliao das Aes Estratgicas para Reduo
da Mortalidade Infantil Neonatal.................................................................................... 57
3.3 Estratgia Metodolgica........................................................................................... 59
3.3.1 Tipo de estudo e seleo dos municpios-caso ...................................................... 59
3.3.2 Etapas da pesquisa ................................................................................................ 62
3.3.3 Coleta e Anlise dos dados: fontes, tcnicas, sujeitos e instrumentos utilizados. 62
3.3.4 - Plano de Anlise .................................................................................................. 65
3.3.4.1- Matriz de Avaliao .......................................................................................... 65
3.3.4.2 Julgamento do Grau de Implantao das Aes Estratgicas ........................... 74
3.3.5. Procedimentos ticos e Oramento ...................................................................... 75
4 Resultados 76
4.1 Caracterizao dos aspectos sociodemogrficos e condies de sade dos
municpios-caso .............................................................................................................. 76
4.2 O Estudo de Avaliabilidade das Aes Estratgicas .............................................. 85
4.2.1 Identificao do problema, dos objetivos, das metas e das aes estratgicas ...... 85
4.2.2 O modelo causal e de interveno: as causas e a proposta de interveno dos
municpios-caso ............................................................................................................. 92
4.2.3 A interveno para reduo da mortalidade infantil neonatal nos municpios-
caso: a percepo dos informantes-chave e a proposta municipal ................................ 103
4.3 As caractersticas de governo e de gesto da sade e a implantao do Plano de
Aes Estratgicas .......................................................................................................... 116
4.4 Gesto da organizao da ateno: a trajetria do bito neonatal e o julgamento
do grau de implantao das aes estratgicas ............................................................... 136
4.4.1 A trajetria do bito neonatal ............................................................................... 136
4.4.2 A consulta aos especialistas e o grau de implantao das aes estratgicas para
reduo da mortalidade infantil neonatal ....................................................................... 150
4.4.2.1 A consulta aos especialistas................................................................................ 150
4.4.2.2 Grau de implantao das aes estratgicas ..................................................... 151
5- Discusso ................................................................................................................... 177
6- Recomendaes e limites do estudo......................................................................... 206
7- Referncias ................................................................................................................ 212
Apndices ...................................................................................................................... 229 Apndice A - Estudos de Avaliabilidade identificados entre o perodo de janeiro de
2011 at fevereiro de 2013 ........................................................................................... 230
- Estudos sobre avaliao e anlise de implantao selecionados no perodo de
janeiro 2011 a fevereiro 2013 ........................................................................................ 235
Apndice B - Distribuio da Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal (trienal) em
municpios selecionados de Mato Grosso, 2004 a 2010 ............................................... 239
- Demonstrativo da taxa de mortalidade infantil neonatal, segundo municpio
selecionado e ano. Mato Grosso 2004-2010.................................................................. 239
Apndice C - Evoluo da Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal, anual (A) e trienal (T) e linha de tendncia (regresso linear), municpio de Cuiab MT, 2004 a 2010 ...................... 240
- Evoluo da Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal, anual (A) e trienal (T) e linha de
tendncia (regresso linear), municpio de Pocon MT, 2004 a 2010 .................................. 240
Apndice D - Demonstrativo da rede assistencial por municpio priorizado para
realizao do Plano de Aes Estratgicas com vista Reduo da Mortalidade
Infantil Neonatal, Mato Grosso/2009 ............................................................................. 241
Apndice E Roteiro de Entrevistas - Estudo de Avaliabilidade ........................................ 242
Apndice F - Roteiro de Entrevista: Caracterizao do governo e da gesto da sade .... 243
Apndice G - Roteiro de Entrevista com as mes: Trajetria dos bitos ........................ 244
Apndice H - Roteiro de Entrevista com Gestores e Profissionais de sade: Observao
da implantao das aes estratgicas ............................................................................ 245
Apndice I Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Gestores e Profissionais ........... 251
Apndice J Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Mes ou Acompanhantes......... 252
Apndice L Termo de Anuncia Institucional ...................................................................... 253
Termo de Anuncia Institucional de Cuiab ....................................................................... 253
Termo de Anuncia Institucional de Pocon ....................................................................... 254
16
1 INTRODUO
As intervenes propostas pelas polticas pblicas para acelerar a reduo no
mundo de, aproximadamente, 10 milhes de mortes anuais de crianas menores de
cinco anos e de 4 milhes de recm-nascidos, nos primeiros vinte oito dias de vida, por
causas evitveis, precisam ser acompanhadas e avaliadas para produzir conhecimento,
acelerar as mudanas sociais e recomendar tomadas de deciso aos gestores na
implementao das futuras intervenes. As polticas pblicas devem alterar o contexto
sanitrio, politico, social e econmico de uma sociedade. (WHO, 2005; LAWN et al.,
2005; MOREIRA et al., 2012).
Diante dessa realidade, inaceitvel que a sobrevivncia infantil receba pouca
ateno de gestores, implementadores de polticas e pesquisadores. Acompanhar em que
condies os pases conseguiro avanar para reduzir em dois teros a mortalidade de
crianas menores de cinco anos, at 2015, como proposto pelas Metas do Objetivo do
Desenvolvimento do Milnio (ODM) com a participao, tambm, das polticas de
sade, o maior desafio (WHO, 2005; LAWN et al., 2005).
As avaliaes das intervenes formuladas pelas polticas de sade para a
reduo da mortalidade infantil tm sido raras, e a priorizao e o sucesso dos
programas estabelecidos, em nvel internacional para a sobrevivncia infantil, nas
dcadas de 80 e 90, tm levado a uma errnea impresso de que a mortalidade infantil
estaria sob controle com reduo e transferncia de investimentos financeiros a outros
importantes problemas de sade (WHO, 2005; VICTORIA; BARROS, 2005; LAWN et
al., 2005).
A ltima anlise global estimou que 99% dos bitos infantis ocorrem no perodo
neonatal e por causas prevenveis, com elevado nmero de bitos encontrados nos
pases da frica Subsaariana e na sia Subcentral. Dentre as causas prevenveis esto as
infeces respiratrias, em especial as pneumonias (19%) e as condicionantes neonatais,
parto prematuro (28%), infeces (26%) e asfixia intraparto (23%). As mais baixas
taxas de mortalidade de menores de cinco anos foram encontradas na Islndia e
Singapura 3 por 1000 nascidos vivos -, e na Sucia, Noruega e Finlndia, taxas de 4
por 1000 nascidos vivos (WHO, 2005).
17
Alguns pases, como a Tunsia, so exemplos da organizao de programas
verticalizados nos centros de sade e hospitais, onde reduziram a mortalidade de
menores de cinco anos em 50%, entre 1970 e 1980; 48%, entre 1980 e 1990; e, 46%,
entre 1990 e 2000. Em 1990, foram 52 bitos menores de cinco anos por 1000 nascidos
vivos alcanando, em 2006, 23 bitos menores de cinco anos por 1000 nascidos vivos
(WHO, 2005; UNICEF, 2007).
As experincias, tambm, tm demonstrado que mesmo os pases em
desenvolvimento podero reduzir a mortalidade neonatal com medidas simples sem
acesso a altas tecnologias, a exemplo de Honduras, Indonsia e Vietn (LAWN et al.,
2005; UNICEF, 2007). Mesmo os pases ricos conseguiram reduo sem a incluso de
cuidados intensivos onerosos, a exemplo, da Inglaterra, que, por meio da adoo de pr-
natais gratuitos, melhoria dos cuidados do trabalho de parto e disponibilidade de
antibiticos reduziu a TMN de mais 30% por 1000 nascidos vivos, em 1940, para 10%
por 1000 nascidos vivos, no final dos anos 70 (LAWN et al., 2005; MACLFARLANE,
2001).
Na Amrica Latina h diferenas significativas das taxas de mortalidade infantil
entre os pases. Em 2006, no Canad, a mortalidade dos menores de cinco anos foi de 6
por 1000 nascidos vivos; em Cuba, de 8 por 1000 nascidos vivos; na Bolvia e no Haiti
foi de 61 por 1000 nascidos vivos, e 80 por 1000 nascidos, respectivamente. Para a
maioria dos pases da Amrica Latina, mais da metade de todas as mortes, tambm,
acontecem no perodo neonatal (UNICEF, 2007).
Victora e colaboradores (2011) encontraram uma taxa anual de decrscimo do
coeficiente de mortalidade infantil brasileiro de 5,5%, nas dcadas de 1980 e 1990, e
4,4%, no perodo de 2000 a 2008, atingindo vinte mortes por 1000 nascidos vivos em
2008. Segundo esses pesquisadores, no Brasil, as mudanas nos determinantes sociais
das doenas e na organizao dos servios de sade so apontadas como responsveis
por essa reduo.
Chama a ateno que a taxa atual brasileira semelhante a dos pases
desenvolvidos, encontrada na dcada de 60, com reduo simultnea da mortalidade
ps-natal e neonatal, enquanto no Brasil no houve reduo significativa no componente
neonatal nas ltimas dcadas (UNICEF, 2007; LANSKY et al., 2009).
18
A mortalidade neonatal, no Brasil, tem se tornado um importante componente a
ser enfrentado apresentando magnitude alta (14,2/1000, em 2005) quando comparada
com outros pases como os EUA (4,6/1000, em 2004) e o Chile (5,6/1000, em 2000)
(FRANA; LANSKY, 2008).
Alguns estudos brasileiros demonstram que o componente neonatal
responsvel pela maioria dos bitos infantis (COSTA et al., 2003; MONTEIRO;
SCHMTIZ, 2007). Apontam que o componente neonatal tem sido responsvel por 68%
dos bitos infantis, no Brasil. Evidenciam que h uma estabilizao do coeficiente de
mortalidade neonatal, o que compromete o declnio da mortalidade infantil. Os estudos
sugerem, ainda, que a baixa resolutividade e qualificao dos servios de ateno
sade materno-infantil podem ser provveis responsveis pela estabilizao da
mortalidade neonatal (VICTORA et al., 2011; VICTORA; BARROS, 2001;
GONALVES, 2010).
A mortalidade neonatal tambm est vinculada a causas prevenveis,
relacionadas ao acesso facilitado e utilizao oportuna dos servios de sade, alm da
qualidade da assistncia pr-natal, ao parto e ao recm-nascido. As afeces perinatais1
respondem, atualmente, por cerca de 60% das mortes infantis e 80% das mortes
neonatais, alm de ser a primeira causa de morte em menores de cinco anos. Alm
disso, associa-se a esses fatores, taxas elevadas e crescentes de cesarianas, a
prematuridade e o baixo peso ao nascer associado baixa escolaridade da me, a baixa
renda familiar e ao deficiente saneamento bsico, como gua tratada e esgoto (BRASIL,
2009 a).
Assim, um nmero expressivo de mortes no perodo neonatal poderia ser evitado
pela ao dos servios de sade, seja pela ateno sade da mulher, ao pr-natal, ao
parto e ao recm-nascido, sendo, portanto, um grave problema de sade pblica no pas.
1 So afeces que tm origem no perodo perinatal (7 dias), ainda que a morte tenha ocorrido mais
tardiamente. Segundo Caldeira et al. (2005), afeces perinatais representam o principal grupo de causas
reduzveis entre os bitos neonatais e esto relacionadas, em sua maioria, m-nutrio fetal,
prematuridade, hipxia, asfixia perinatal, alm de outras afeces respiratrias ou cardiovasculares
prprias do perodo perinatal.
19
1.1 As polticas de sade para a reduo da mortalidade infantil, no Brasil e em
Mato Grosso
Na perspectiva dos servios de sade, ao longo dos anos, o governo brasileiro
tem proposto vrias aes para o enfrentamento da mortalidade infantil. Dentre elas,
destacaram-se, na dcada de 1970, o Plano Nacional de Saneamento e o II Plano
Nacional de Desenvolvimento, onde diversas polticas pblicas compensatrias foram
implantadas, como o Programa de Sade Materno-Infantil e o de Nutrio em Sade
(VICTORA et al. , 2011).
Essas iniciativas do governo brasileiro foram impulsionadas pelos movimentos
de proteo criana ocorridos no mbito internacional para melhorar o
desenvolvimento econmico e as condies bsicas de vida gua potvel, saneamento
e nutrio - no decorrer da dcada de 1970, por acreditarem ser a melhor trajetria para
alcanar a melhoria da sade infantil (WHO, 2005).
Assim, nesse perodo, a Organizao Mundial da Sade (OMS) e a Organizao
Pan-americana da Sade (OPAS) estimularam o debate acerca da universalizao dos
cuidados. E, em 1978, a Declarao de Alma-Ata destacou a ateno primria como
proposta para a estruturao de sistemas nacionais de sade.
Em Mato Grosso, nessa mesma dcada, os projetos rodovirios, que
atravessaram sua extenso territorial em direo Amaznia, trouxeram importantes
incentivos fiscais e recursos internacionais para o Estado, a exemplo do Programa de
Desenvolvimento Rural Integrado (PDRI), que proporcionou, dentre outros, a expanso
da rede de sade pblica ao longo da rodovia Cuiab-Porto Velho (MEIRELLES, 1984;
MLLER NETO et al., 2012). Alm disso, a diviso do Estado em 1979, trouxe para o
perodo ps-diviso, a criao de novos centros urbanos em decorrncia do processo
migratrio e emancipao poltica, e, tambm, os profissionais de sade com vnculos,
quer com a SESMT e prefeituras e quer com a criao de clnicas ou hospitais privados
e filantrpicos, com predominncia da rede privada sobre a pblica (MLLER NETO
et al., 2012).
As polticas de sade de Mato Grosso, implantadas ao longo dessas ltimas
quatro dcadas, sempre estiveram articuladas com as polticas nacionais, que surgiram
conforme o contexto brasileiro, e, impulsionadas pelos movimentos internacionais de
proteo criana.
20
Um dos marcos internacionais dos anos 80 foi a Revoluo da Sobrevivncia
Infantil, liderada pelo Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF), como
proposta de ao imediata para enfrentar a emergncia da sobrevivncia infantil uma
vez que, a complexidade do desenvolvimento socioeconmico s poderia ser resolvida a
longo prazo. Essa revoluo pautou-se num pacote de quatro intervenes denominada
de estratgia GOBI, que inclua o monitoramento do crescimento, o aleitamento
materno, a reidratao oral e a imunizao. A Organizao Mundial da Sade (OMS)
tambm apoiou, com importantes programas verticais, como o Programa Alargado de
Vacinao, o Programa de Controle das Diarreias e de Infeces Respiratrias Agudas
(WHO, 2005).
No Brasil, no final dos anos 70 e nos anos 80, com os movimentos sociais
movimento feminista e outros-, foi possvel estabelecer legalmente e regulamentar o
direito proteo da mulher e da criana com a participao do Estado.
No mbito nacional, a partir da dcada de 1980, possvel organizar os
movimentos brasileiros de proteo criana e as polticas de sade em dois momentos.
O primeiro momento, o direito proteo, e, o segundo, a qualificao das aes e
pactuaes para a reduo da mortalidade materno infantil.
Assim, no Brasil, destacou-se, em 1982, a obrigatoriedade do alojamento
conjunto, em hospitais universitrios. Em 1984, a implantao do Programa de
Assistncia Integral Sade da Mulher, que teve como proposta a articulao de todos
os ciclos de vida e no apenas o momento reprodutivo (ALMEIDA, 2005). Destaca-se
que esta foi a primeira vez que o governo passou de uma assistncia individual e
curativa para incluir a famlia. Privilegiou o planejamento familiar, deixando de ser a
esterilizao o principal mtodo contraceptivo, e incluiu a preveno e o tratamento de
agravos sade desde a adolescncia at a terceira idade (CASSIANO et al., 2014).
Em 1984, Mato Grosso, acompanhando os acordos realizados no mbito
nacional, faz adeso s Aes Integradas de Sade (AIS) com a participao das
principais cidades do Estado. Nesse mesmo ano, com as altas taxas de morbimortalidade
por doenas infecto-parasitrias proposto pelo governo brasileiro a implantao do
Programa de Ateno Integral Sade da Criana (PAISMC) e a SESMT d inicio, a
partir de 1985, capacitao dos profissionais de sade de diferentes municpios mato-
grossenses para a implantao das aes de promoo, preveno e recuperao da
21
sade das crianas de zero a cinco anos (MLLER NETO et al., 2012; CASSIANO et
al., 2014).
Assim, foram priorizadas cinco intervenes importantes para a sade da
criana. O acompanhamento do crescimento e desenvolvimento trazendo a implantao
do carto da criana, o incentivo ao aleitamento materno e orientaes para o desmame,
a imunizao com o estabelecimento do calendrio de vacinas e das campanhas, a
preveno e o tratamento das infeces respiratrias e diarreias agudas pela
sistematizao do uso de antibitico e do atendimento por grau de gravidade e pela
terapia de hidratao oral (TRO), respectivamente (MOREIRA et al., 2012). Dessas
aes, a que apresentou maior dificuldade de implantao foi o crescimento e
desenvolvimento em relao referncia para a curva adotada para o acompanhamento
da criana.
Em seguida, o Sistema Unificado Descentralizado de Sade (SUDS) foi recebido
no Estado sendo incorporado por prefeituras de expresso, como Cuiab e
Rondonpolis, iniciando a constituio de sistemas municipais de sade. Iniciou-se o
processo de pr-municipalizao, que aconteceu por meio de convnios entre a SESMT
e prefeituras, com repasse do gerenciamento das unidades de sade e recursos
financeiros (MLLER NETO et al., 2012).
A partir de 1988, no Brasil, observa-se, tambm, a instituio de importante
marco legal na garantia do direito proteo. A aprovao, pelo Conselho Nacional de
Sade, das normas para comercializao dos substitutos do leito materno que, aps
1990, passa a fazer parte do cdigo de defesa do consumidor, e se constitui um
importante aparato legal na defesa e proteo amamentao.
A Constituio Federal de 1988 foi tambm um marco importante na garantia
dos direitos das mulheres e crianas, dentre eles destacam-se: o direito das presidirias
em permanecerem com seus filhos, no perodo de amamentao; a licena gestante
sem prejuzo do emprego e salrio com durao de cento e vinte dias; e, a licena-
paternidade (BRASIL, 1988).
Com a Constituio de 1988, que estabeleceu a criao do Sistema nico de
Sade (SUS), teve incio o processo de municipalizao em Mato Grosso. A
municipalizao no Estado no decorreu de um processo de diagnstico e planejamento.
22
Tratou desiguais de forma igual, com repasse aos municpios das unidades sanitrias,
cesso de pessoal e convnios de implantao do SUS (MLLER NETO et al., 2012).
No mbito internacional, em 1990, ocorreu a Reunio de Cpula Mundial em
Favor da Infncia, onde o Brasil, como um dos pases membros da Organizao das
Naes Unidas (ONU), assinou, com os demais pases, a Declarao Mundial sobre a
Sobrevivncia, Proteo e Desenvolvimento da Criana assumindo o compromisso de,
at o ano 2000, cumprir as 26 metas, dentre elas, as 19 metas da rea da sade.
No Brasil, no incio dos anos 90, no campo jurdico, especificamente para a
ateno criana, houve aprovao do Estatuto da Criana e do Adolescente - ECA (Lei
n 8069/90); e, no campo burocrtico, o Ministrio da Sade priorizou a Iniciativa
Hospital Amigo da Criana - IHAC (1992) -, estabelecendo as diretrizes e normas e
assegurando o pagamento de 10% a mais sobre a assistncia ao parto aos hospitais
credenciados (FRIAS et al., 2009).
Ao longo da implantao do SUS, avanos importantes aconteceram para a
reduo da mortalidade infantil, como a reorganizao dos servios de sade, em
especial na ateno bsica, com a implantao do Programa de Agentes Comunitrios
de Sade (PACS), em 1991; e, o Programa Sade da Famlia (PSF), em 1994 (PAIM et
al., 2011; VICTORA et al., 2011).
Em Mato Grosso, as Normas Operacionais Bsicas (NOB) de 93 e 96, como
expresso da descentralizao, possibilitaram aos municpios mato-grossenses
habilitarem-se a diferentes formas de gesto, e, consequentemente, a assumirem e
ampliarem o acesso, em especial ateno primria, alterando a lgica do
financiamento no SUS (MATO GROSSO, 2000a). Essas NOBs expressaram, para a
maioria dos municpios, uma habilitao de condio de gesto mais parcial (42% na
NOB 93) e plena da ateno bsica (99% na NOB 96), onde apenas a capital foi
habilitada numa gesto mais avanada, demonstrando que o sistema de sade possua
uma rede pouco desenvolvida e dependente de Cuiab (MLLER NETO et al., 2012).
O perodo de 1995 a 2002, para o sistema de sade de Mato Grosso, foi de
expanso e de consolidao de algumas aes e servios coordenados pela gesto
Estadual, que modificou a conduo da descentralizao para uma participao ativa, a
nvel regional, de importncia, tambm, para a sade da mulher e da criana. Dentre as
aes e servios, destacam-se a criao do Programa de Apoio ao Agente Comunitrio
23
Rural (PASCAR), Incentivo Estadual diferenciado, por regies, para o PACS e PSF, o
estabelecimento dos consrcios intermunicipais de sade, a criao do Servio Estadual
de Referncia assegurando, dentre outros, acesso e fluxo dos pacientes para os servios
bsicos, de mdia e de alta complexidade. Dentre as referncias prioritrias, estavam a
gestante e o recm-nascido de alto risco (MATO GROSSO, 1998, 2000b, c, 2001;
MARQUES; MENDES, 2003).
Alm disso, foram criadas as Comisses Intergestores Bipartites Regionais
(CIBR), as Cmaras de Auditorias Regionais (CAR), a Escola de Sade Pblica de
Mato Grosso, denominada, poca, Escola de Sade Pblica Doutor Agrcola Paes de
Barros, e constitudo o Comit Estadual de Mortalidade Materna de Mato Grosso.
Como consequncia, as pactuaes, o acompanhamento e a formao e educao
permanente dos profissionais de sade puderam acontecer com intensidade (MATO
GROSSO, 2000d). Esse perodo, para a sade de Mato Grosso, pautou-se pela expanso
e organizao municipal da ateno bsica, por meio da estratgia Sade da Famlia
com ordenao dos servios especializados de forma regionalizada (MLLER NETO et
al., 2012).
Em 1998, o Ministrio da Sade adaptou para o Brasil a estratgia da Ateno
Integrada s Doenas Prevalentes na Infncia (AIDIPI), com o objetivo de reduzir a
mortalidade infantil e organizar a assistncia s crianas menores de cinco anos.
Em 2000, aps trs dcadas de implantao do PAISM, considerando os altos
ndices de morbimortalidade materna e infantil e as dificuldades polticas, financeiras e
operacionais enfrentadas por esse programa, foi lanado o Programa de Humanizao
do Parto e Nascimento (PHPN) (TYRRELL, 1997; SERRUYA et al., 2004).
O PHPN teve como objetivo reduzir a morbimortalidade materna e neonatal por
meio de atendimento humanizado, melhorando o acesso, a cobertura e a qualidade da
assistncia do pr-natal, do parto, do puerprio e do recm-nascido. A implantao do
PHPN garantia a presena do pediatra na sala de parto e foi incentivada por meio de
recursos financeiros e acompanhada pelo Sistema de Informao do Pr-natal
(SISPRENATAL) (BRASIL, 2000).
Alm disso, houve, em 2000, a aprovao das normas para a implantao do
Mtodo Me Canguru, esta destinada a humanizar o atendimento ao recm-nascido de
baixo peso. E, em 2001, a implantao do Programa Nacional de Triagem Neonatal
24
(Teste do Pezinho), com o objetivo de ampliar a cobertura para 100% dos recm-
nascidos, oportunizando a identificao das doenas congnitas ou infecciosas
assintomticas, no perodo neonatal e a busca ativa dos pacientes triados para
confirmao do diagnstico e tratamento adequado (FRIAS et al., 2009).
O incio desse perodo, em 2000, pautou-se por reflexes sobre a sade da
criana, quer no mbito internacional - onde os 189 pases integrantes das Naes
Unidas se comprometeram a cumprir os oitos objetivos da Cpula do Milnio - quer no
mbito nacional, pelo Ministrio da Sade, com os compromissos estabelecidos no
documento Agenda de Compromisso para a Sade Integral da Criana e Reduo da
Mortalidade Infantil (BRASIL, 2004a).
Alm disso, o governo brasileiro, reconhecendo que os indicadores de sade
demonstravam que muitos avanos, ainda, deveriam ser conquistados na sade integral
das crianas brasileiras, passou a delinear pactos com os Estados e municpios para
reduzir a mortalidade materna infantil e reorganizar uma rede nica integral, qualificada
e humanizada (BRASIL, 2004a).
O Pacto Nacional pela Reduo da Mortalidade Materna e Neonatal, proposto
pelo Ministrio da Sade, em 2004, definiu uma srie de aes estratgicas, como a
ampliao da Estratgia Sade da Famlia, a vigilncia dos bitos materno e infantil, a
reduo da transmisso vertical do HIV/AIDS e sfilis congnita, investimentos na rede
hospitalar, e nos servios de apoio diagnstico e teraputico (BRASIL, 2004b, c).
Em 2006, o Pacto pela Sade, na dimenso Pacto pela Vida, elegeu, dentre as
seis prioridades, a reduo da mortalidade materna e infantil como um compromisso a
ser acompanhado, por meio do Pacto de Indicadores a partir do estabelecimento de
metas entre os trs nveis de gesto (BRASIL, 2006, 2009a).
O Plano Mais Sade: direito de todos, lanado em 2008, teve como objetivo
colocar em toda a sua estrutura a clara percepo de que sade no somente uma
poltica social, mas parte integrante do desenvolvimento econmico do pas, e apontou
oito eixos de atuao, dentre eles o Eixo 2, o da ateno sade, envolvendo a
assistncia bsica e as aes de alta e mdia complexidade, a regulao e a qualificao
da sade suplementar e a integrao com aes voltadas para o monitoramento, a
preveno e a vigilncia em sade(BRASIL, 2008a).
25
O Pacto pela Reduo da Mortalidade Infantil (2009) foi um dos compromissos
do governo federal para acelerar a reduo das desigualdades, no Nordeste e na
Amaznia Legal, priorizando no apenas a sade, mas, tambm, a reduo do
analfabetismo, a erradicao do sub-registro civil e o fortalecimento da agricultura
familiar (BRASIL, 2012). Na sade, a proposta era reduzir em, no mnimo, 5% ao ano a
mortalidade infantil (crianas menores de um ano de idade), especialmente o
componente neonatal (at 27 dias do nascimento), nos anos de 2009 e 2010 (BRASIL,
2009b).
As aes desenvolvidas foram concentradas em 250 cidades. Sendo 154
municpios prioritrios, em oito estados do Nordeste: Alagoas, Bahia, Cear, Paraba,
Pernambuco, Piau, Rio Grande do Norte e Sergipe; e, em 96 municpios prioritrios,
em nove estados da Amaznia Legal: Amap, Acre, Amazonas, Maranho, Mato
Grosso, Par, Roraima, Rondnia e Tocantins (BRASIL, 2009c).
Nesse sentido, a Amaznia Legal e o Nordeste deveriam implantar 425 equipes
de Sade da Famlia, 460 Ncleos de Apoio Sade da Famlia (NASF), 736 leitos de
UTI, 2.208 leitos de UCI, 22 bancos de leite, 107 Hospitais Amigo da Criana, 110
Maternidades com equipes capacitadas para Mtodo Canguru e capacitar 1.659 equipes
de Sade da Famlia (BRASIL, 2009c).
Foram previstos no pacto sete componentes prioritrios, a saber: qualificar a
ateno ao pr-natal, ao parto e ao recm-nascido; educao em sade; gesto do
trabalho; gesto da informao; vigilncia do bito infantil e neonatal; mobilizao
social e comunicao; e produo de conhecimento e pesquisa. Para cada componente
foram elencadas vrias aes e programadas por meio de planos estaduais e municipais,
visando o alcance da meta de reduo de 5% ao ano da mortalidade neonatal.
Do ponto de vista dos resultados desse conjunto de intervenes, observa-se que
o Estado de Mato Grosso vem apresentando um declnio na taxa de mortalidade infantil,
de 22/1000 nascidos vivos, em 2000, para 16,6/1000 nascidos vivos, em 2009 (SESMT,
2014). Porm, de 2006 a 2009 observa-se uma reduo lenta nesta taxa (16,7/1000
nascidos vivos em 2006 para 16,6/1000 nascidos vivos em 2009), com o componente
neonatal representando 63,2% desses bitos. Alm disso, a razo de mortalidade
materna, em 2009, apresentou-se alta com 76 bitos maternos por cem mil nascidos
vivos (SESMT, 2014).
26
O Estado de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado da Sade de Mato
Grosso e das Secretarias Municipais de Sade, participou desse pacto, no perodo de
maro a maio de 2009, e se comprometeu a elaborar planos estadual e municipais para
viabilizar tal estratgia, visando reduo desses indicadores. Assim, o Plano Estadual
e Municipal de Aes Estratgicas para a Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal foi
celebrado em maro de 2009. O Ministrio da Sade priorizou 11 municpios e a
SESMT acrescentou na listagem mais dois. So eles: Cuiab, Vrzea Grande, Rondonpolis, Cceres, Sinop, Barra do Garas, Tangar da Serra, Alta Floresta, Juna,
Pocon, Sorriso, Pontes e Lacerda (Estado) e Juara (Estado) (BRASIL, 2009c).
Nesse Pacto, encontrava-se, tambm, o Plano de Qualificao das Maternidades
e Redes Perinatais, cujo objetivo foi qualificar a assistncia obsttrica e neonatal de 26
maternidades do pas. Em Mato Grosso, foi selecionado o Hospital Santa Helena, no
municpio de Cuiab (BRASIL, 2012). Quase duas dcadas depois da proposio essa
foi a segunda maternidade a ser credenciada no Estado (2010) como Hospital Amigo
da Criana. Sendo a primeira, o hospital de Vila Rica (Portaria 109/2000), no incio
dos anos 2000, atualmente desativado; e, a terceira, o Hospital So Lus, no municpio
Cceres, em 2014 (SESMT, 2001b, 2014).
Alm disso, os planos deveriam compor aes para atender s Leis n
11.108/2005 e n 11.634/2007. A primeira estabeleceu o direito da mulher
acompanhante, de sua livre escolha, na internao para o parto; a segunda, a vinculao
da gestante, desde o pr-natal, ao servio onde o parto realizar-se-ia (BRASIL, 2012).
Em 2011, o Ministrio da Sade props implementar a poltica de reduo da
mortalidade materno infantil, com nfase no componente neonatal, lanando o
Programa Rede Cegonha. Para tal, pretendeu implementar a ateno sade da
mulher e sade da criana redirecionando a ateno ao parto, ao nascimento seguro e
ao crescimento e desenvolvimento da criana de zero a vinte e quatro meses, buscando
garantir o acesso, o acolhimento e a resolutividade da aes. Nessa perspectiva,
contemplou quatro eixos: Pr-Natal, Parto e Nascimento, Puerprio e Ateno Integral
Sade da Criana, e, o Transporte Seguro e Regulao (BRASIL, 2011a).
Em relao ao Pr-Natal, a Rede Cegonha, propunha a captao de gestantes,
precocemente, bem como seu acolhimento, segundo classificao de risco, buscando
27
garantir os exames de pr-natal, de risco habitual e de alto risco, alm de vinculao da
gestante da Unidade Bsica de Sade Maternidade.
Para o Parto e Nascimento, pretendeu garantir suficincia de leitos, a ambincia,
o direito da mulher acompanhante, o acolhimento e a classificao de risco, boas
prticas e a implantao de conselho gestor nas maternidades.
Com relao ao Puerprio e Ateno Criana, a Rede Cegonha, props
estimular o aleitamento materno, o acompanhamento da criana, a visita domiciliar, na
primeira semana aps o parto e nascimento, com busca ativa das crianas vulnerveis, a
preveno e tratamento das DST/HIV/Aids e Hepatites e o planejamento reprodutivo.
Para o Transporte e Regulao, o programa se predisps a garantir o transporte
seguro2, por meio do Sistema Mvel de Urgncia SAMU Cegonha, com ambulncias
de suporte avanado equipadas com incubadoras e ventiladores neonatais, a vaga
sempre3, e a regulao de leitos.
A operacionalizao da Rede Cegonha previa a adeso do municpio, elaborao
do diagnstico municipal com construo do desenho regional, a contratualizao dos
pontos de ateno, qualificao e certificao dos componentes. Para tal, seria
necessrio a constituio de um grupo de conduo municipal, regional e estadual com a
participao dos Colegiados de Gesto Regional, do Conselho de Secretrios
Municipais de Sade (COSEMS), das Comisses Intergestores Bipartite com o apoio do
Ministrio da Sade.
A Rede Cegonha previa, tambm, repasses de recursos financeiros, aquisio e
distribuio de equipamentos, ampliao dos exames como o teste do pezinho e de
ultrassom, a garantia de qualificao dos profissionais de sade que, por meio dos
Ministrios da Sade e da Educao, lanaram o Programa Nacional de Residncia de
Enfermagem Obstetrcia (BRASIL, 2011a, 2012).
2 Componente transporte sanitrio refere-se promoo, nas situaes de urgncia, do acesso ao
transporte seguro para as gestantes, as purperas e os recm- nascidos de alto risco, por meio do Sistema
de Atendimento Mvel de Urgncia - SAMU Cegonha, cujas ambulncias de suporte avanado devem
estar devidamente equipadas com incubadoras e ventiladores neonatais (BRASIL, 2011).
3 "Vaga Sempre": vinculao da gestante ao local de ocorrncia do parto visando o acolhimento imediato
da gestante e do recm-nascido independente de vaga. (BRASIL, 2011). Pactuao ocorrida com as
maternidades que participaram do Plano de Qualificao (BRASIL, 2012).
28
Assim, pode-se dizer que a Rede Cegonha, institudo pelo governo federal, foi
uma conexo das vrias polticas de sade anteriormente estabelecidas para a reduo
da mortalidade materna infantil visando implementar aes j existentes com acrscimo
de algumas intervenes de interesse das necessidades da poca.
Segundo Barreto (2013), essas polticas de sade, estabelecidas para a reduo
da mortalidade infantil, a partir dos anos 2000, apresentam intensa medicalizao no
nascimento e o uso de tecnologias sem evidncias cientficas, cesreas e intervenes
desnecessrias ao parto.
No Brasil, a justificativa para a implementao das polticas de sade materno
infantil e suas reedies com nomes distintos tm sido em decorrncia da persistncia
das taxas elevadas de mortalidade materna e da reduo gradual da mortalidade infantil,
em especial, nas regies Nordeste e Amaznia Legal. A mortalidade materna passou de
140 bitos por 100 mil nascidos vivos, em 1990, para 64,8 bitos por 100 mil nascidos
vivos em 2011. Na mortalidade infantil (menores de um ano), o componente ps-
neonatal apresentou reduo significativa, entre 1990 a 2007, de 7,3% ao ano. Contudo,
o componente neonatal precoce e tardio no acompanhou o mesmo decrscimo onde a
reduo de bitos neonatais precoce foi de 3,1% ao ano, entre 1990 a 2007,
permanecendo como um importante problema de sade pblica (BRASIL, 2009c;
BRASIL, 2009; BRASIL, 2012).
Assim, no Brasil, ao longo das ltimas dcadas, o conjunto das intervenes
voltadas para o perodo da gestao e primeiro ano de vida esteve sempre no escopo das
polticas pblicas de sade, e, apesar dos avanos, h ainda um longo e complexo
caminho a percorrer, na busca pela qualidade da assistncia neonatal, no qual a
superao pode ser construda pelas avaliaes sistemticas dessas aes.
Desta forma, este estudo pretendeu responder os seguintes questionamentos: Por
que o coeficiente de mortalidade infantil neonatal do municpio-caso, apesar das aes
estabelecidas para o perodo 2009 a 2010, no respondeu com uma reduo percentual
significativa maior do que a proposta de 5% ao ano? Como o problema, os objetivos, as
aes realizadas e o resultado do Plano de Ao so percebidos pelos seus
implementadores? Quais fatores facilitaram ou obstaculizaram a realizao das aes
propostas? Em que medida as aes foram implantadas nos municpios selecionados?
29
A hiptese inicial deste estudo que as caractersticas do governo local, como o
projeto e capacidade de governo e sua governabilidade, e os aspectos organizacionais,
como o menor acesso e a baixa resolutividade dos servios de sade materno-infantil,
podem explicar essa reduo lenta do coeficiente da mortalidade infantil neonatal.
Assim, o presente estudo avaliou a implantao das aes estratgicas, a partir
do Plano Nacional de Aes Estratgicas de Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal
proposto no Pacto Pela Reduo da Mortalidade Infantil Nordeste e Amaznia legal,
(BRASIL, 2009c) em municpios do Estado de Mato Grosso.
Por fim, este estudo pretendeu compreender como os gestores e profissionais de
sade local, implementadores dessas polticas, percebiam o problema, os objetivos
propostos pela interveno. Alm de poder verificar como essas aes foram priorizadas
e o resultado alcanado. Ademais, estabelecer o grau de implantao das aes
estratgicas implementadas, a partir dos relatos das mes, tendo os bitos neonatais
evitveis ocorridos, em 2010, como eventos sentinela, triangulando com as informaes
obtidas dos gestores, dos profissionais de sade e nos documentos oficiais, propiciou a
construo de uma robusta metodologia de confirmao desses importantes achados
empricos, que podero contribuir, tanto com o conhecimento cientfico para futuras
pesquisas, como com o redesenho da poltica de sade para a reduo da mortalidade
infantil neonatal.
30
2 OBJETIVOS
Geral
Analisar a implantao das aes estratgicas, a partir do Plano de Aes
Estratgicas para a Reduo da Mortalidade Infantil Neonatal, em dois municpios de
Mato Grosso no perodo de 2009 a 2013.
Especficos:
Descrever a implementao dessa poltica pblica no nvel local;
Avaliar como o problema, o objetivo, as aes realizadas e o resultado do Plano
de Ao tem sido percebido pelos implementadores;
Analisar a influncia das caractersticas de governo e organizacionais na
implantao do Plano de Aes;
Identificar e descrever os fatores facilitadores e obstaculizadores para a
implementao da interveno;
Analisar a trajetria dos bitos neonatais precoces ocorridos em 2010, em ambos
os municpios, identificando as provveis barreiras organizacionais da rede de
ateno, bem como os determinantes sociais da sade;
Estimar o grau de implantao das aes estratgicas para a reduo da
mortalidade infantil neonatal.
31
3 METODOLOGIA
3.1 REFERENCIAL TERICO
3.1.1 Contribuies Tericas do Planejamento em Sade para a Anlise das Aes
Estratgicas nos Espaos e Processos de Deciso.
A fundamentao terica inicial, considerando o objeto a ser estudado, parte da
necessidade de estabelecer o conceito de planificao, em particular, o planejamento em
sade, que na literatura, tanto nacional como latino-americana, apresenta vrias
denominaes.
Assim, o planejamento conceituado como um processo social, um mtodo,
uma ferramenta ou tecnologia de gesto, um clculo que precede e preside a ao.
visto ainda como um trabalho de gesto, uma mediao entre as diretrizes polticas de
uma organizao e a subjetividade dos trabalhadores (GIORDANI, 1979; MATUS,
1993; MERHY, 1995; SCHRAIBER et al., 1999; PAIM, 2002b; CAMPOS, 2003;
RIVERA; ARTMANN, 2003).
Giordani (1986), em sua obra intitulada Planificacin, Ideologa y Estado: El
caso de Venezuela, traz a possibilidade de observar a planificao num conceito que se
fundamenta em uma realidade concreta, explicando a evoluo da planificao como
fenmeno social: [...] ambos aspectos, lo concreto y lo abstracto, deben ser
dialcticamente considerados al observar la planificacin como un proceso social
(GIORDANI, 1986, p.41).
Compreender o planejamento [...] como uma forma de orientao da ao
humana dirigida para o alcance de uma dada finalidade (VILASBAS, 2006) ou
como [...] possibilidade de pensar o futuro e de interveno social (GIORDANI,
1986) sugere que fundamental pensar no posicionamento ideolgico dos atores sociais
inseridos num determinado contexto, tentando identificar se eles so capazes de intervir
para modificar a realidade, caracterizando-se no apenas como sujeitos crticos, mas
especialmente como sujeitos implicados (SPINELLI ; TESTA, 2005).
As diferenas entre as concepes citadas anteriormente relacionam-se com as
possveis interaes e racionalidades presentes no ato de planejar, e o papel deste na
construo de estratgias para intervir na transformao de uma realidade social. Essas
diferenas tambm conduzem a refletir sobre o papel que o Estado exerce na
32
formulao, implantao e implementao das polticas dentro de um processo socio-
histrico e de conjunturas especficas (GIORDANI, 1979; RIVERA, 1989; PAIM,
1986; CAMPOS, 2003; PAIM, 2002b). As convergncias dessas definies trazem a
ideia do planejamento como estratgia de ao humana dirigida para alcanar uma
finalidade.
Desta maneira, o planejamento pode ser visto como uma ao social (WEBER,
1994). Weber (1994) considera a ao como o objeto da sociologia e afirma que [...] a
sociologia uma cincia que pretende compreender e interpretar a ao social
(WEBER, 1994). Destaca a diferena entre ao e ao social (incluindo a omisso)4. O
terico, para compreender o sentido5 da ao do agente, apresenta trs tipos de aes
que determinam a ao social: o racional, o emocional e o tradicional6.
O poder e a dominao so categorias centrais na obra de Weber. Para o autor,
poder refere-se [...] toda probabilidade de impor a prpria vontade numa relao
social, mesmo contra a resistncia, seja qual for o fundamento desta. Acrescenta,
ainda, que o desejo de poder seria algo que movimenta o agente e o instinto de poder
seria uma de suas qualidades (WEBER, 2003).
Entretanto, a dominao7 seria [...] a probabilidade de obedecer a uma ordem
de determinado contedo, entre determinadas pessoas (WEBER, 1994). Para Weber
(2003), o Estado exerce a dominao reivindicando com xito o monoplio legtimo da
violncia fsica para realizar as ordens vigentes. De sua anlise sobre o Estado e da
realidade social alem, Weber prope a teoria da burocracia (COLLINS, 2009;
4 Para Weber (1994) ao social [...] uma ao que, quanto ao seu sentido visado pelo agente ou pelos
agentes, refere-se ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso
5 O sentido, segundo Weber(1994), refere-se ao racional, emocional e tradicional da ao social. E
destaca que mesmo em uma ao racional, como tipo ideal, haver componentes do afetivo e do
tradicional que iro moldar a ao planejadora dos atores sociais.
6 Weber (1994), define trs modos de determinao da ao social: o racional, baseado em fins voltados
para o xito ou em valores; o emocional, conduzido pelos afetos; e, o tradicional, fundamentado em
costumes arraigados.
7 Weber (2003) estudou diferentes formas de dominao: poder tradicional, o que o patriarca exercia;
poder carismtico, enquanto devoo e confiana estritamente pessoais depositadas em algum; e
legalidade, crena na validez de um estatuto legal.
33
TRAGTENBERG, 1977). E, como consequncia, a moderna sociologia das
organizaes (COLLINS, 2009).
Segundo Weber (1982) a burocracia refere-se a uma organizao, com padro de
racionalidade tendente a fins. A ao racional burocrtica a coerncia da relao de
meios e fins visados, no sendo entendida apenas como um fenmeno meramente
tcnico, mas um fenmeno de dominao. A burocracia pressupe o formalismo, a
existncia de normas escritas, estrutura hierrquica, diviso horizontal e vertical do
trabalho, alm da impessoalidade no recrutamento dos quadros (WEBER, 1982;
TRAGTENBERG, 1977).
Por fim, o planejamento, enquanto ao humana com finalidade determinada
socialmente, possui uma dimenso estratgica dentro do contexto poltico
organizacional, que no exclui o social, transformando as aes estratgicas deste em
produto, que implica em trabalho humano.
Nesse aspecto, a produo terica relacionada dimenso estratgica dos
processos de gesto pblica em sade, especialmente no seu componente planejamento,
tambm til para subsidiar a anlise estratgica de implantao dos planos propostos
para desenvolver a poltica de sade, no caso deste estudo, a de reduo da mortalidade
infantil neonatal.
Na Amrica Latina, dois autores tm contribudo com essa produo terica: o
economista chileno, Carlos Matus, e o mdico argentino, Mrio Testa. As importantes
abordagens tericas produzidas por esses autores apoiam este estudo, conforme
demonstrado a seguir.
- Carlos Matus: as contribuies do tringulo de governo para anlise do Plano e
suas aes estratgicas.
Para Matus (1991), um plano um compromisso que expressa a inteno de
alcanar resultados, porm, no depende unicamente desse acordo porque est
circundado, na vida real, de incertezas, imprecises, rejeies, ou apoio de diversos
atores.
Esse planejamento, tomado como trabalho de diferentes atores, necessrio para
implementar polticas, no caso de sade. Para o autor, o dirigente e sua equipe escolhem
34
e alteram os objetivos que pretendem alcanar, de acordo com as circunstncias do
projeto de governo em questo, superando os obstculos conforme sua governabilidade,
e resistindo s foras com a capacidade de governo que possui (MATUS, 1993).
Para Matus, o tringulo de governo se constitui em um sistema triangular de trs
variveis que se articulam entre si no ato de governar, a saber: projeto de governo,
capacidade de governo e governabilidade do sistema8. A capacidade de governo se
refere s prticas das aes planejadas, e esto dependentes e condicionadas pelo
projeto de governo e pela governabilidade do sistema.
- Mario Testa: as contribuies do pensamento estratgico na anlise do processo
de programao em sade.
As contribuies tericas de Testa (1992,1995), voltadas para o campo da sade,
esto relacionadas s anlises, acerca das inter(aes) de poder nas organizaes, onde
os atores sociais se constituem e da forma como se configuram os cenrios, os tempos,
as formas organizativas e suas consequncias e significaes quanto ao seu uso.
Testa (1995) define poltica como forma de distribuio de poder e a estratgia
como modo de implementao da poltica. Para o autor, o pensamento estratgico [...]
tem a ver com comportamentos organizacionais destinados ao manejo de situaes em
que seja preciso superar obstculos que se oponham conquista de um objetivo. J a
estratgia se refere maneira como o ator se coloca em situao para se aproximar do
alcance da meta: ganhar espao, ganhar tempo, estabelecer condies favorveis ao
prprio desempenho (TESTA, 1995, p.15). Assim, para agir em situaes de
enfrentamento preciso pensar estrategicamente, podendo ser um risco ou mesmo um
fracasso, parcial ou total, no faz-lo.
8 Projeto de governo: trata-se do [...] contedo propositivo dos projetos de ao que um ator pretende
realizar para alcanar seus objetivos; governabilidade do sistema: [...] relao entre variveis que o ator
controla e no controla no processo de governo, variveis essas ponderadas pelo seu valor ou peso para
ao do ator; e, capacidade de governo : [...] uma capacidade de conduo ou direo e refere-se ao
acervo de tcnicas, mtodos, destrezas, habilidades e experincias de um ator e sua equipe de governo,
para conduzir o processo social a objetivos declarados, dados a governabilidade do sistema e o contedo
propositivo do projeto de governo (...) expressa-se na capacidade de direo, de gerncia e de
administrao e controle (MATUS, 1993, p 59-61).
35
Testa (1995) destaca ainda que a poltica de sade no est presente apenas no
setor sade, devendo abarcar o conjunto social. Alm disso, a poltica de sade no
pode ser a mesma em todos os lugares, porque as estratgias adotadas sero diferentes
em virtude das condies que as determinam, das conjunturas e dos acontecimentos que
ocorrem fora do setor sade, ou seja, as foras para transformao ou conservao e do
poder. Desta forma, as propostas para o social ou para a sade sero direcionadas para
favorecer o acesso ao poder das foras partidrias para transformao ou conservao.
Nessa perspectiva, Testa (1992) destaca que o papel do Estado ser de busca
constante de dominao, acentuando suas funes de rbitro, de unificador de certos
segmentos da burguesia, de organizador do proletariado e de apoio acumulao de
capital.
Nesse sentido, o autor enfatiza que nas organizaes9, por meio da burocracia e
dos interesses dos atores sociais inseridos nela, que o poder se manifesta. Testa (1992)
estabelece uma tipologia do poder, referente ao setor sade, como a capacidade de um
indivduo, grupo social, instituio de realizar o poder tcnico10
que abrange gerar,
aceder e lidar com a informao; o poder administrativo11
de se apropriar e atribuir
recursos administrativos; e, o poder poltico12
de mobilizar grupos sociais frente s
necessidades ou interesses.
Para Testa (1995), o exerccio do poder contm uma ao, o uso de um
instrumento ou recurso para se atingir determinados objetivos. As interaes de poder se
desenvolvem em cenrios, em razo e funo tempo, de propsitos institucionais e de
9 Para Testa (1992, p.117), o conceito de organizao abrange dois aspectos: o institucional, ou a
consolidao burocrtica de uma organizao em geral e o agrupamento de pessoas com interesses
comuns, os atores sociais primrios.
10 O poder tcnico atua em vrios aspectos e mbitos, tratando das informaes que lidam como forma de
poder identificadas como: informaes mdicas inerentes clnica, sanitrias e as tericas, identificando a
determinao e produo das enfermidades em geral (TESTA, 1992, p. 119).
11 O poder administrativo, na perspectiva de acumulao de poder no setor sade, nos pases capitalistas,
se d no elemento central que o financiamento, conseguir recursos financeiros diretos (prprios) ou
indiretos (incentivos, aquisio de equipamentos e outros) para se conseguir alcanar os propsitos do
plano em curso dentro da organizao (TESTA,1992, p.121).
12 O poder poltico, como capacidade de mobilizar, vai depender do conhecimento emprico e cientifico.
Esse poder, no setor sade, intersecta-se com os poderes do tipo tcnico e administrativo, nas formas de
saber cientfico, com a prtica de dominao, e de saber emprico, com a prtica hegemnica (TESTA,
1992, p. 124).
36
objetivos particulares, que vo conformar dialeticamente uma direo poltica para o
processo em curso.
No planejamento, as dimenses temporais so, portanto, dependentes das
consideraes estratgicas. Essas delimitaes de fluxos, limites de tempo (curto, mdio
e longo prazo), recursos escassos, condicionam as configuraes estratgicas no campo
do poder. Os propsitos da instituio podem ser de mudana ou crescimento, mas,
principalmente, o de busca da legitimao.
Para se analisar as relaes e aes de poder, no mbito institucional, torna-se
necessrio relacionar as caractersticas dos atores ao recurso, aos tipos e tempo de
poder, aos propsitos institucionais e aos objetivos particulares, colocando-os no centro
de uma trama estratgica, onde se destacam as suas ideologias, seus interesses, suas
motivaes e objetivos polticos.
Na sua proposta de pensamento estratgico, Testa (1995) desenvolve ainda as
questes de transparncia e opacidade estratgicas, e destaca que essa ltima no pode
ser total, pois pode dificultar o xito do plano. Estabelece categorias para os atores
sociais do drama estratgico como os atores individuais e coletivos, onde os seus
comportamentos so de relevncia no pensamento estratgico porque atravs deles
que se alcanam os objetivos.
O cenrio de uma ao social tambm colocado como importante no
pensamento estratgico de Testa (1995) e se define como um espao social onde ocorre
uma relao entre os atores, que so gerados ao desenvolver uma ao (p.67). O espao
social caracterizado como um campo de fora, enquanto o poder definido como
capacidade, a fora do campo social seria essa capacidade em movimento. O campo de
fora pode alterar permanentemente, tanto mediante situaes conjunturais diversas
como histricas.
Cabe destacar, no pensamento estratgico de Testa (1995), que as estratgias
institucionais internas esto relacionadas com dois aspectos: 1) o da lgica
organizacional; e, 2) o das contradies ou conflitos que se expressam no espao
institucional. A estratgia programtica abrange a implementao de uma poltica por
meio da constituio de um programa que tem recursos especficos, objetivos prefixados
e sob conduo normativa. Nessa estratgia pode ocorrer uma limitao dos alcances,
37
frente preciso dos objetivos e rigidez dos atos administrativos interferindo na eficcia
do programa (p.75).
Assim, o tringulo de governo, proposto por Matus (1993) e o pensamento
estratgico de Testa (1995) contribuem na avaliao da caracterstica poltico-
organizacional do governo local, do Plano e suas aes estratgicas estabelecidas.
3.1.2 Avaliao em Sade: concepes tericas e metodolgicas
A avaliao como um componente das prticas nos diversos mbitos e campos
do espao social gera uma polissemia conceitual e metodolgica (VIEIRA-DA-SILVA;
FORMIGLI, 1994). As diversidades das definies sobre o que avaliar marcam a
evoluo dos diferentes conceitos e objetivos das mesmas ao longo do tempo
(CHAMPAGNE et al., 2011).
Patton (1997) inclui na sua definio alguns aspectos como [...] a coleta de
informaes sobre as atividades, caractersticas e resultados dos programas; e fazer
julgamento sobre programas e ou subsidiar o processo de tomadas de decises sobre
futuras programaes.
Weiss (1972a, 1972b, 1972c, 1998a) acrescenta uma concepo mais ampla,
tratando-a como apreciao sistemtica do funcionamento para alm do
acompanhamento dos objetivos traados, mas analisando os processos para poder
aprimor-los.
Para Mark, Henry e Julnes (2000), avaliao se refere a uma anlise sistemtica
das atividades, dos efeitos, das justificativas e das consequncias sociais de polticas e
programas, com o objetivo de contribuir para a melhoria destes e das condies sociais.
Rossi e Freeman (1993, p.5) definem a avaliao como a aplicao sistemtica
de procedimentos de pesquisa cientfica para verificar a conceitualizao, design,
implementao e utilidade dos programas de interveno social. Esses autores
consideram a avaliao como uma atividade complexa que envolve tambm decises
polticas e administrativas.
Autores como Guba e Lincoln (1989, p.8) ressaltam que a avaliao deve
transcender a simples aplicao dos mtodos de pesquisa cientfica, e incluir os diversos
38
aspectos humanos, polticos, sociais, culturais e contextuais que envolvem todo o seu
processo.
Entretanto, Champagne e colaboradores (2011) apresentam uma definio que
agrega elementos consensuais mais atuais, adotada por este estudo:
[...] avaliar consiste fundamentalmente em emitir um juzo de valor sobre
uma interveno, implementando um dispositivo capaz de fornecer
informaes cientificamente vlidas e socialmente legtimas sobre essa
interveno ou sobre qualquer de um de seus componentes, com o objetivo
de proceder de modo a que os diferentes atores envolvidos, cujos campos de
julgamento so por vezes diferentes, estejam aptos a se posicionar sobre a
interveno para que possam construir individual ou coletivamente um
julgamento que possa se traduzir em aes (CHAMPAGNE et al., 2011,
p.44).
Assim, com essa definio, torna-se necessrio evidenciar o conceito de
interveno em uma pesquisa avaliativa, que visa compreender o porqu e o como dos
resultados. Nessa perspectiva, para CHAMPAGNE e colaboradores (2011), uma
interveno pode ser um sistema organizado de ao com seus componentes que, em um
contexto e tempo determinado, podem modificar ou corrigir uma situao problemtica.
Com isso, pode-se caracterizar diferentes tipos de intervenes: a tcnica, a de
medicamentos e tratamentos, os protocolos clnicos, as organizaes, os programas e as
polticas.
Segundo Cohen e Franco (1993: 85-6), os termos projeto, programa e plano
designam modalidades de interveno social que diferem em escopo e durao. Para
esses autores [...] um plano a soma dos programas que procuram objetivos comuns,
ordena os objetivos gerais e os desagrega em objetivos especficos, que constituiro por
sua vez os objetivos gerais dos programas. Ele determina o modelo de alocao de
recursos resultante da deciso poltica e dispe as aes programticas em uma
sequncia temporal de acordo com a racionalidade tcnica das mesmas e as prioridades
de atendimento [...]. O plano inclui a estratgia, isto , os meios estruturais e
administrativos, assim como as formas de negociao, coordenao e direo
(COHEN; FRANCO, 1993).
39
A interveno compreendida como projetos, programas e planos pode ainda ser
caracterizada como simples ou complexa13
, e a abordagem e o mtodo de avaliao
dependero do tipo e da complexidade da mesma.
A pesquisa avaliativa, como descrita por Contandriopoulos (1997), deve levar
em considerao os fundamentos tericos da interveno, sua pertinncia, sua
produtividade e seus efeitos. Deve verificar o contexto que a gerou e buscar conhecer as
relaes entre contexto, processo e resultados, de forma a ser capaz de produzir
informaes que permitam orientar efetivamente a tomada de decises.
Em uma pesquisa avaliativa, desejvel realizar uma importante etapa,
conhecida como estudo de avaliabilidade ou pr-avaliao, como um procedimento e
mtodo para determinar se a interveno ou programas esto prontos para serem
avaliados.
Thurston e Ramaliu (2005) destacam que estudos de avaliabilidade so definidos
como um conjunto de procedimentos para que os interesses dos envolvidos sejam
considerados, e, assim, possam maximizar a utilidade da avaliao. O que se espera com
esse estudo uma descrio abrangente da interveno, das questes-chave que devem
ser abordadas, e um plano de avaliao em consonncia com os envolvidos. Neste
estudo, avalia-se e critica descrio da interveno at que esta represente um desenho
coerente e lgico.
Para Rossi e Freeman (1999), a avaliabilidade a anlise sistemtica e
preliminar de um programa, em sua teoria e prtica, para determinar se h justificativa
para uma avaliao extensa e/ou delimitar melhor os seus objetivos, alm de identificar
reas crticas a serem priorizadas na avaliao.
Wholey (1977) j recomendava um EA como a primeira atividade a ser
realizada em um programa antes de sofrer uma avaliao em profundidade. Para o autor,
o objetivo de um EA identificar em que medida os objetivos so mensurveis, se esses
objetivos so partilhados pelas principais partes interessadas, se existe uma estrutura de
13 Interveno simples, os problemas podem ser resolvidos com soluo nica; e, nas complexas,
procuram-se solues que se apresentam de formas diversas, contraditrias ou opostas
(CAMERON,1986; CHAMPAGNE et al., 2011,p.49).
40
programa razovel e recursos suficientes para a obteno dos objetivos, e se os gestores
do programa vo utilizar os resultados das avaliaes.
Wholey (1994) observa, ainda, que um dos aspectos importante de um EA
examinar a realidade do programa que se destina a observar, a plausibilidade para
alcanar a meta, se o modelo lgico realista, a possibilidade de acessar dados
relevantes e significativos e identificar usos prentendidos de potenciais usurios da
avaliao. Essa plausibilidade, para Alkin e Taut (2003), envolve examinar os fatores
ligados ao processo de avaliao e as carctersticas do avaliador, os fatores contextuais
que incluem o inter e intra organizacional e os fatores humanos que incluem os usurios
pretendidos, caracterrsticas organizacionais, pessoais e profissionais.
Para Wholey (1977,1994, 2004), o EA uma importante ferramenta de gesto.
O autor prope como mtodo para conduzir um EA, a realizao de entrevistas com
gestores e formuladores de polticas, visitas ao local para observar o programa em
operao e a anlise dos seus documentos.
Outros autores como Smith (1989), Thurston e Potvin (2003) e Thurston e
Ramaliu (2005) propem para o EA um sistema de elementos a serem descritos por dez
etapas ou por sete elementos, respectivamente (Quadro 01).
A pesquisa avaliativa pode ser decomposta em seis tipos de anlise: a
estratgica, a lgica, da produtividade, dos efeitos, da eficincia, e a anlise da
implantao (BROUSSELLE et al. , 2011), ainda que