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PEDRO HENRIQUE COSTA ANÁLISE DA MODIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS DA PAISAGEM DO CURSO E DAS ADJACÊNCIAS DO CÓRREGO ÁGUA FRESCA LONDRINA 2009

ANÁLISE DA MODIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS DA … · Trabalho de Conclusão de Curso ao Curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina, como requisito à ... este vapor d’água,

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PEDRO HENRIQUE COSTA

ANÁLISE DA MODIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS DA PAISAGEM DO CURSO E DAS ADJACÊNCIAS DO

CÓRREGO ÁGUA FRESCA

LONDRINA

2009

PEDRO HENRIQUE COSTA

ANÁLISE DA MODIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS DA PAISAGEM DO CURSO E DAS ADJACÊNCIAS DO CÓRREGO ÁGUA FRESCA

Trabalho de Conclusão de Curso ao

Curso de Geografia da Universidade

Estadual de Londrina, como requisito à

obtenção do título de Bacharelado.

Orientadora: Prof. Dra. Eloiza Cristiane

Torres.

LONDRINA

2009

PEDRO HENRIQUE COSTA

ANÁLISE DA MODIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS DA PAISAGEM DO CURSO E DAS ADJACÊNCIAS DO CÓRREGO ÁGUA FRESCA

Trabalho de Conclusão de Curso ao Curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina, como requisito à obtenção do título de Bacharelado.

COMISSÃO EXAMINADORA

_______________________________ Profa. Dra. Eloiza Cristiane Torres

_______________________________ Prof. Wladimir Cesar Fuscaldo

_______________________________ Prof. Dr. Ângelo Spoladore

Londrina, de dezembro de 2009.

DEDICATÓRIA Dedico a Deus, a minha família e namorada.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por tudo que me aconteceu

nesses anos de estudo e por tornar possível a realização de um sonho.

Agradeço também a toda minha família, que mesmo estando tão longe,

sempre me apoiou nesta caminhada. Mãe (Marli) e pai (Alceu) obrigado pelo

mais sincero carinho e dedicação, sei que esta conquista é tanto minha quanto

de vocês. Não teria conseguido sem seus apoios morais e financeiros, vocês

são os maiores responsáveis por esta conquista. Amo vocês!

Apesar da distância, agradeço também a meu irmão (Caê) pelos

conselhos dados e pelas críticas feitas durante todos estes anos. Você também

tem parte desta vitória.

Outra pessoa fundamental, que merece os mais fervorosos

agradecimentos é minha namorada Mariana Martin. Foi você, “Vida”, a pessoa

mais presente na minha vida durante estes anos. Sempre me ajudando, me

dando carinho e me ensinando a ser uma pessoa melhor a cada dia, você é

muito especial.

Não posso deixar de agradecer meus companheiros de jornada,

Leonardo (Flor), Marcel (Gordo), Nathália e Renan (Brow) que juntos vivemos

os melhores e piores momentos destes anos. Obrigado pela paciência,

colaboração e amizade, vocês foram importantíssimos para meu crescimento

pessoal.

Agradeço a minha mãezinha de coração, Márcia, que tanto me ajudou e

fez por mim e também a amizade e companheirismo de João, Rafael, Guil,

Ricardo (Pantoja), Glauco e Renan (Bonny), pessoas que sem dúvida fazem da

minha vida um pouco mais feliz.

E por fim agradeço a minha orientadora Eloiza Torres por todas as

dúvidas sanadas, todos os emails respondidos e pela orientação realizada ao

longo de três anos.

COSTA, PEDRO HENRIQUE. Análise da Modificação dos Elementos da Paisagem do Curso e das Adjacências do Córrego Água Fresca. 2009.

Trabalho de Conclusão de Curso de Geografia (Bacharelado) – Universidade

Estadual de Londrina, Londrina, 2009.

RESUMO

A presente monografia é resultado de vários trabalhos de campo realizados ao longo de três anos (2007 a 2009) na Micro Bacia do Córrego Água Fresca, situado na cidade de Londrina – PR. Muitas fotografias e observações resultaram das idas à campo, possibilitando assim, realizar uma análise da modificação ocorrida na paisagem ao longo do período mencionado. Para a viabilização dessa análise, resgataram-se as fotografias e as observações e utilizou-se do Geofotografismo. O presente trabalho também aborda teoricamente questões referentes aos recursos hídricos, paisagem e bacias hidrográficas, o que é fundamental para entender e analisar os processos que ocorreram com o córrego. Além disso, a caracterização física da Micro Bacia do Córrego Água Fresca também é fundamental para a realização deste trabalho, pois, a partir desta, podem-se compreender alguns dos processos que ocorreram e estão ocorrendo no local.

Palavras-Chave: Córrego Água Fresca; Recursos Hídricos; Paisagem; Geofotografismo.

ABSTRACT

This monograph is the result of several field studies conducted over three years (2007 to 2009) in Micro Basin Creek Água Fresca, located in Londrina - PR. Many photos and observations resulted from visits to the field, allowing, with an examination of changes occurring in the landscape over the period. For the feasibility of this analysis, rescued the photographs and the observations and we used the Geofotografismo. This study also addresses theoretical issues relating to water resources, landscape and river basins, which is essential to understand and analyze the processes occurring at the stream. In addition, the physical characterization of Micro Basin Creek Água Fresca is also essential for carrying out this study because, from this, one can understand some of the processes that have occurred and are occurring at the site. Keywords: Creek Água Fresca; Landscape; Geofotografismo; Water Resources.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................1

2 A PROBLEMÁTICA DA ÁGUA.............................................................4

2.1 Ciclo Hidrológico.....................................................................4

2.2 Disponibilidade Hídrica...........................................................6

2. 3 Aproveitamento Múltiplo dos Recursos Hídricos..................10

2. 4 Legislação Hídrica.................................................................13

2. 5 Programa Nacional de Desenvolvimento dos Recursos

Hídricos – PROÁGUA .................................................................16

2. 6 Cobrança Pelo Uso da Água................................................17

3 BACIAS HIDROGRÁFICAS................................................................19

3. 1 Geomorfologia Fluvial...........................................................19

3. 2 Bacia Hidrográfica E Padrão De Drenagem.........................22

3. 3 Hierarquia Fluvial..................................................................26

4 CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO CÓRREGO ÁGUA FRESCA.........29

4. 1 Rede de Denagem...............................................................29

4. 2 Geologia...............................................................................31

4. 3 Solo......................................................................................32

4. 4 Clima....................................................................................34

4. 5 Vegetação............................................................................36

4. 6 Hipsometria..........................................................................38

4. 7. Declividade..........................................................................40

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE PAISAGEM.........................42

5. 1 Paisagem na Arquitetura, Urbanismo e Artes......................42

5. 2 Paisagem na Geografia.......................................................43

5. 3 O Sistema GTP....................................................................46

5. 4 A Ecologia da Paisagem......................................................47

5. 5 As “Unidades de Paisagem”................................................47

6 GEOFOTOGRAFISMO.......................................................................54

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................74

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Mapa de localização da micro bacia do Córrego Água Fresca..1

Figura 2 Representação do Ciclo Hidrológico..........................................5

Figura 3 Disponibilidade de água no mundo............................................6

Figura 4 Consumo de água doce por setor no Brasil.............................12

Figura 5 Padrões de Drenagem.............................................................26 Figura 6 Carta Topográfica da Micro Bacia do Ribeirão Cambé............30

Figura 7 Tipos de solo da cidade de Londrina, segundo SiBCS............33

Figura 8 Classificação Climática do Paraná, segundo Köppen..............35

Figura 9 Vegetação Arbórea Água Fresca.............................................37

Figura 10 Santa Barbara........................................................................37

Figura 11 Vegetação de Fundo de Vale.................................................37

Figura 12: Eucalipto no Vale do Córrego...............................................38

Figura 13: Bambu no Vale do Córrego...................................................38

Figura 14 Mapa Hipsométrico da Micro Bacia do Ribeirão Cambé........39

Figura 15 Mapa de Declividade da Micro Bacia do Ribeirão Cambé.....40

Figura 16 Imagem de satélite do Córrego Água Fresca.........................49

Figura 17 Imagem de satélite, alto curso do córrego.............................50

Figura 18 Imagem de satélite, médio curso do córrego.........................51

Figura 19 Imagem de satélite, baixo curso do córrego..........................52

Figura 20 Localização das Imagens tiradas no Água Fresca................56

1

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho abordará questões referentes à modificação da paisagem

do Córrego Água Fresca, situado em Londrina – PR. Este se localiza na área

urbana da cidade, sofrendo diretamente com as ações da população.

O Córrego Água Fresca, em seu percurso, passa por vários importantes

bairros da cidade de Londrina, como: Centro, Jardim Quebec e Jardim

Higienópolis. A população do local caracteriza-se por possuir, em sua maioria,

alto e médio poder aquisitivo.

O córrego é um importante afluente de primeira ordem do Lago Igapó II,

que compõe a Micro Bacia do Ribeirão Cambé, que por sua vez é um afluente

do Ribeirão Três Bocas, inserido na Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi. A Figura

1 apresenta a localização da área do Córrego Água Fresca.

Figura 1: Mapa de localização da micro bacia do Córrego Água Fresca Fonte: Adaptado e modificado a partir da folha topográfica SF 22-YD- III-4 – DSG/Ministério do Exército. Org.: ROSOLEM, Nathália Prado, 2008.

2

O objetivo deste trabalho é entender a modificação deste local no

período de três anos, mais especificamente nos anos de 2007, 2008 e 2009,

observando suas mudanças, seus problemas, incluindo as causas e algumas

soluções.

Para realizar este trabalho, foram utilizados como procedimentos

metodológicos levantamentos teóricos – acerca dos recursos hídricos, bacias

hidrográficas, concepções de paisagem, Geofotografismo – trabalhos de

campo, além de colóquios com a orientadora.

Desta forma, a presente monografia aborda, em seu primeiro capítulo,

questões referentes à importância dos recursos hídricos, levando em

consideração principalmente seus usos, além da chamada “crise das águas”,

ou seja, o problema que esses recursos vêm enfrentando devido à

disponibilidade, o desperdício e a poluição.

No segundo capítulo, interessou-se em abordar a discussão sobre as

bacias hidrográficas, visto que o presente objeto de estudo é um dos afluentes

que compõe uma importante bacia da cidade de Londrina, a Micro Bacia do

Ribeirão Cambé.

Já no terceiro capítulo, foi realizada a caracterização da área de estudo,

ou seja, da Micro Bacia do Córrego Água Fresca, em que foram levados em

conta aspectos como o relevo, solo, clima, rede de drenagem, declividade,

além da análise de um mapa hipsométrico.

O quarto capítulo perpassa pelas questões referentes à paisagem, seu

histórico na Geografia, o sistema GTP (Geossistema, Território, Paisagem),

além da ecologia; itens que são de fundamental importância para a realização

da presente monografia.

A importância de tal capítulo deve-se à análise da paisagem nos

trabalhos de campo realizados, pois foi por intermédio deste que se pode

adquirir um acervo fotográfico de estudo para assim poder observar a

modificação desse local no período citado.

Assim, o capítulo posterior, é a apresentação do material adquirido por

intermédio dos trabalhos de campo realizados. Esses materiais são fotografias

tiradas em períodos distintos durante os três anos da observação da

modificação.

3

Para realizar tal apresentação das fotografias, foi utilizada a técnica do

Geofotografismo, proposta por Passos (2006-2008), que consiste na análise

aprofundada de cada imagem, levando em consideração vários aspectos que

englobam a referida fotografia.

Por fim, espera-se com este trabalho ter um apanhado geral da Micro

Bacia do Córrego Água Fresca (caracterização física, acervo fotográfico, etc.),

além do entendimento da importância de uma bacia hidrográfica presente em

áreas urbanas, visando também um aprofundamento futuro deste estudo.

4

2 A PROBLEMÁTICA DA ÁGUA Para se falar de uma micro bacia é interessante tratar da mesma em um

contexto regional, global, ressaltando as principais características no tocante

aos recursos hídricos.

Tendo em vista a importância da Micro Bacia do Córrego Água Fresca

para o município de Londrina – PR, principalmente pelo fato desta estar

localizada em uma área urbana, torna-se interessante abordar a problemática

da água de modo geral, a fim de melhor entender este quadro.

2. 1 Ciclo Hidrológico

A água é um recurso natural renovável. Sinteticamente o processo de

renovação ocorre pela evaporação dos mares, lagos, rios e da superfície

terrestre; este vapor d’água, suspenso na atmosfera e que sob determinadas

condições meteorológicas condensa-se e forma gotículas de água, irá

“retornar” à superfície terrestre através da precipitação, que pode ser na forma

de chuva, granizo ou neve.

Segundo Rebouças (1999), o vapor d’água que sobe à atmosfera, tanto

dos oceanos como dos continentes, chega a um volume na ordem de 577.200

Km³/ano, sendo 503.000 km³/ano dos oceanos e o restante, 74.000 Km³/ano,

dos continentes. Esse vapor d’água retorna à superfície terrestre em forma de

chuva, neve ou granizo e atinge o volume de 458.000 Km³/ano nos oceanos e

de 119.000 Km³/ano nos continentes.

A diferença entre as quantidades de água que evaporam e caem nos domínios oceânicos (503.000 – 458.000 = 45.000 Km³/ano) representa a umidade que é transferida destes aos continentes. Por sua vez, a diferença entre o volume precipitado no contexto das terras emersas e é dele evaporado (119.000 – 74.000 = 44.800 Km³/ano) representa o excedente hídrico que se transforma em fluxo dos rios, alimenta a umidade do solo e os aqüíferos subterrâneos. (REBOUÇAS, 1999, p. 6, 7).

Plantas, aqüíferos, e a superfície terrestre como um todo irão absorver

essa precipitação e o ciclo tornará a acontecer sucessivamente, como pode ser

5

observado na Figura 2. Mas devemos ressaltar que este recurso renovável é

influenciado por condições geográficas, climáticas e meteorológicas.

Figura 2: Representação do Ciclo Hidrológico. Fonte: www.sg-guarani.org, acessado em: 15 mai 2008.

Entre os fatores que contribuem para que haja uma grande variabilidade nas manifestações do ciclo hidrológico, nos diferentes pontos do globo terrestre, pode-se enumerar: a desuniformidade com que a energia solar atinge os diversos locais, o diferente comportamento térmico dos continentes em relação aos oceanos, a quantidade de vapor d’água, CO2 e ozônio na atmosfera, a variabilidade espacial de solos e coberturas vegetais, e a influência da rotação e inclinação do eixo terrestre na circulação atmosférica, sendo esta última a razão da existência das estações do ano. (TUCCI, 1993, p. 36).

Entre esses fatores, alguns estão diretamente sendo influenciados pelo

homem, ou seja, esta interferência pode prejudicar o ciclo hidrológico e,

portanto, a água pode ser considerada um recurso finito. Assim, torna-se

necessário realizar um controle da intervenção humana no ciclo hidrológico, por

meio de um adequado planejamento e um estudo ambiental

2. 2 Disponibilidade Hídrica

O planeta Terra tem 71% do seu espaço físico composto por água,

sendo que este recurso corresponde a 97,5% de água salgada, distribuída

entre mares e oceanos, 2,493% de água doce, de difícil acesso, distribuída

6

entre aqüíferos e geleiras, e 0,007% de água doce de fácil acesso para a

utilização humana, distribuída em rios, lagos e na atmosfera, como pode ser

observado na Figura 3.

Figura 3: Disponibilidade de água no mundo. Fonte: http://e-atlantico.org/seccaoa/img/agua2.jpg, acessado em: 20 set 2009.

Devemos ressaltar que o termo água, segundo Rebouças (1999), refere-

se ao elemento natural sem qualquer utilização, já o termo recurso hídrico

refere-se à água como bem econômico, havendo a utilização de tal recurso.

Assim, nem toda água da Terra é um recurso hídrico, pois não

necessariamente esta terá viabilidade econômica, mas entenda o termo “água”,

tratado neste trabalho, como sendo passível de utilização humana.

A água por ser de vital importância para o homem tem aumentado

gradualmente seu uso. Sua retirada excessiva da natureza aumentou nove

vezes desde 1950. Segundo a UNESCO (1999), em 1950, a reserva de água

doce no mundo por pessoa era de 16,8 mil m³, passando para 7,3 mil m³ em

1998, com uma estimativa alarmante para 2018 de 4,8 mil m³ por pessoa.

Esses números mostram que milhões de pessoas ficarão sem água nos

próximos anos se nada for feito.

A UNESCO (1999) estima que, em 2050, a população mundial seja de

8,9 bilhões de pessoas, sendo que quatro bilhões não terão acesso à água

potável.

7

Para Rebouças (1999), temos ainda que ressaltar a má distribuição dos

recursos hídricos, no caso, principalmente dos rios, tanto do ponto de vista das

zonas climáticas, como por país.

Segundo o autor, as zonas intertropicais úmidas e temperadas

representam 98% da descarga dos rios do mundo. Já analisando essas

descargas por país, temos uma desigualdade maior ainda, sendo que os nove

países mais ricos em água doce do mundo (sendo o Brasil o primeiro da lista)

representam mais de 60% desse total.

Fazendo uma análise ainda da má distribuição dos recursos hídricos,

Rebouças (1999) aponta o problema da distribuição per capita que, segundo

ele, é a mais desigual.

Alguns continentes que possuem grandes reservas de água sofrem com

a escassez desta, como por exemplo a Ásia, a região com maior descarga de

água doce do mundo, mas devido seu contingente populacional, esta sofre com

a falta de água.

Ainda podemos citar regiões com baixa descarga de água doce, mas

que, devido sua baixa população, não sofre com a escassez, como é o caso da

Oceania.

Antigamente não se tinha uma elevada preocupação com a escassez

dos recursos hídricos como vemos hoje, pois a preocupação estava no

benefício gerado pelo recurso. Com o passar do tempo, houve um crescimento

demográfico o qual acarretou uma maior exploração dos recursos naturais,

incluindo a água, assim, a população passou a se preocupar mais com suas

ações.

O Brasil detém aproximadamente 8% da água utilizável do mundo, mas

temos que levar em conta que cerca de 80% deste total nacional encontra-se

na Amazônia, onde não temos uma população elevada, em torno de 7%, ou

seja, os outros 20% do total de águas do Brasil são responsáveis por abastecer

a maioria da população brasileira.

Torna-se necessário o uso racional deste recurso, mesmo porque,

muitos dos mananciais que há 20 anos eram responsáveis por abastecer

determinada população sofreram, ou estão sofrendo, devastação pelo homem,

o qual polui suas nascentes, desmata suas margens, resultando na escassez

de água.

8

Um dos principais “inimigos” a ser combatido, segundo a ONU, para

acabar com a escassez de água, principalmente em países que possuem

muitas reservas como o Brasil e os Estados Unidos da América, é o

desperdício.

Nestes países, pela abundância de água, as pessoas utilizam esse

recurso como se ele fosse inesgotável. Estudos mostram que o consumo

poderia diminuir em um terço se os consumidores adotassem medidas simples

de economia, como não deixar a torneira aberta para lavar um carro, para lavar

a louça, para escovar os dentes, não demorar no banho, entre outras pequenas

atitudes.

Países que não possuem muitas reservas de água, como os países da

Europa, adotam medidas para diminuir o desperdício, até as instalações

hidráulicas são projetadas para diminuir os gastos; as válvulas de descargas

são reguladas para utilizar menor quantidade de água possível.

Os hábitos da população destes países também estão direcionados a

um menor consumo, pois estes vivenciam o que é ficar sem água em

determinadas épocas do ano.

Outra questão que se torna importante em relação à disponibilidade

hídrica é a qualidade da água, a qual, segundo Rebouças (1999), é muito

variada, de acordo com seus ambientes de origem, circulação e local

armazenado. Com isso, ela sofre influência dos fatores antrópicos, como

formas de uso e ocupação do meio físico e das atividades socioeconômicas, o

que torna necessária a distinção das características naturais e das causadas

pela ação do homem.

A classificação mundial com relação à característica natural classifica

água doce como aquela que apresenta teor de sólidos totais dissolvidos (STD)

inferior a 1.000 mg/l; água salobras aquelas com STD entre 1.000 e 10.000

mg/l; e água salgada com STD superior a 10.000 mg/l.

Os três grandes usos, urbano, industrial e principalmente o agrícola, são

os grandes responsáveis pelas alterações na qualidade das águas.

Os corpos de água têm capacidade de diluir e assimilar esgotos e resíduos, mediante processos físicos, químicos, e biológicos, que proporcionam sua autodepuração, em ciclos de transformação de matéria em energia. Mas essa capacidade é

9

limitada, podendo ocorrer situações de contaminação e poluição, de difícil regressão, se a carga poluidora lançada for acima da tolerável. (BARTH e POMPEU, 1987, p.2).

A água pode também servir como veículo para transmissão de doenças,

principalmente nas zonas rurais dos países em desenvolvimento, que

dependendo dos hábitos sanitários, do clima, da utilidade da água, terá uma

maior ou menor incidência. Doenças como a leptospirose, as verminoses, o

cólera, entre outras, são encontradas em águas poluídas.

A ingestão de água potável é um dos mais importantes fatores para a

conservação da saúde, prevenção de doenças e proteção do organismo contra

o envelhecimento. Cerca de 10 milhões de pessoas morrem todos os anos

devido a doenças transmitidas por ela. As áreas contaminadas com essas

doenças são locais carentes, principalmente, de saneamento básico. Segundo

a ONU, 25 mil pessoas morrem todos os dias, na maioria crianças, devido a

doenças causadas pela ingestão de água com qualidade inadequada para o

consumo.

Existem índices que “medem” a qualidade das águas e dos

monitoramentos disso originam dados que podem ser referenciais para a

geração dos índices, como por exemplo, temos o caso do Paraná, o qual utiliza

o Índice de Qualidade das Águas – IQA, que foi desenvolvido pela National

Sanitation Foundation dos Estados Unidos da América, uma espécie de

atribuição de notas para isso, podendo variar de zero a cem, com indicadores

entre ótima, boa, razoável, ruim e péssima.

A água é considerada potável quando está dentro dos limites

estabelecidos no Padrão de Potabilidade – que são características físicas

organolépticas (as quais afetam o olfato e o paladar), químicas e

bacteriológicas - e também quando estiver de acordo com as normas da

legislação vigente - e é considerada contaminada quando tem suas

características alteradas e os valores ultrapassem os limites estabelecidos

nesse Padrão.

Rebouças (1999), acerca da qualidade das águas para o consumo,

levando em conta sua qualidade, ressalta:

10

Atualmente as populações dos grandes centros urbanos, industriais e áreas de desenvolvimento agrícola com uso intensivo de insumos químicos já se defrontam com o problema da escassez qualitativa de água para o consumo. Deve-se ressaltar, ainda, que se a escassez quantitativa de água constitui fator limitante ao desenvolvimento, a escassez qualitativa engendra problemas muitos mais sérios a saúde publica, à economia e ao ambiente em geral. (1999, p. 25).

Assim, podemos verificar que a qualidade da água torna-se um

agravante maior ou tão importante quanto a escassez quantitativa no

abastecimento da população de centros urbanos.

2. 3 Aproveitamento Múltiplo dos Recursos Hídricos

Segundo Barth e Pompeu (1987), a utilização da água para os diversos

fins deve ter normas próprias que regularizem seu uso, e também são

necessárias normas gerais que estabeleçam prioridades e regras para a

solução dos conflitos entre usos e usuários. Os usos da água, para múltiplos

fins são simultâneos e cumulativos em seus efeitos.

Existem dois tipos de uso d’água que estão de acordo com o que é

retirado do curso dela e o que volta a este. Temos assim, o uso consuntivo e o

uso não consuntivo.

a) Usos Consuntivos

O uso consuntivo de água é aquele em que há “perda” entre o que sai e

o que volta ao curso d’água natural. Entre eles temos o abastecimento urbano,

abastecimento industrial e a irrigação.

O abastecimento urbano refere-se ao abastecimento doméstico,

comercial, público e industrial. É o uso da água para beber, higiene pessoal e

residencial, entre outros.

O aproveitamento hídrico urbano, salientado por Barth e Pompeu (1987),

possui uma demanda de uso que é medida pelo número de população

abastecível através de estudos demográficos e pela adoção de quotas per

capita, que é calculada por condições sanitárias desejáveis e níveis de

11

desenvolvimento previsto. Esse consumo urbano aumenta na medida em que

uma cidade cresce ou seu nível de vida aumenta.

Em geral, os consumos específicos de água crescem com o melhoramento do nível de vida e com o desenvolvimento do núcleo urbano. Quanto maior o tamanho, maiores são as demandas industriais e comerciais de uma dada localidade. Outros fatores sociais, econômicos, climáticos e técnicos poderão influir nesses consumos específicos. (SETTI [et al.], 2001, p.45).

A utilização urbana dos recursos hídricos tem como uns dos seus

principais problemas a poluição e o desperdício. Esgoto residencial não tratado

sendo despejado nos mananciais e rios sem os devidos tratamento, falta de

instrução da população no simples ato de lavar um carro com uma mangueira,

deixando-a aberta, demorar no banho com o chuveiro ligado, todos são atos de

poluição e desperdício de água no meio urbano os quais podem ser

controlados ou diminuídos.

Segundo Rebouças (1999), este quadro é agravado principalmente pelo

crescimento de favelas em áreas de alto risco ambiental, como em várzeas de

rios, falta de coleta do lixo doméstico e industrial produzido, lançamento de

esgoto não tratado nos corpos hídricos que são utilizados para o

abastecimento e o desperdício da água disponível.

No abastecimento industrial, a água é utilizada de diferentes modos,

dependendo de fatores como o tipo de produção e tecnologia adotada. Para

Tucci (1993), o uso da água pode ser participativo no processo industrial, não

entrando em contato com o material, como por exemplo, a utilização da água

para refrigeração pode ser ainda parte do produto fabricado, como por

exemplo, nos produtos alimentícios, além da utilização poder ser para a higiene

dos funcionários e limpeza de máquinas.

A respeito da demanda de água nas indústrias, existem dois grupos: as

indústrias altamente consumidoras, que na maioria das vezes possuem

captações próprias de água, e as pequenas consumidoras, geralmente

abastecidas por serviços públicos de água.

No uso destinado à indústria, o problema está relacionado à poluição

das águas oriunda dos efluentes lançados nos rios e lagos, contaminando a

12

água com metais pesados ou outras substâncias prejudiciais à saúde humana

e a vida da biodiversidade.

O lixo industrial muitas vezes é tratado, mas às vezes precisa ser tratado

novamente, pois ainda podem ser encontradas partículas poluidoras, como as

partículas patológicas.

No mundo, o uso destinado à agricultura representa 70% do total, e no

Brasil este número chega a atingir 81% do total utilizado. Isso ocorre, muitas

vezes, pela irrigação inadequada do solo.

Segundo a UNESCO (1999), existem tecnologias de irrigação que

diminuem em até 70% o consumo de água na agricultura. Quando utilizada de

forma incorreta, a irrigação pode afetar a qualidade do solo e dos recursos

hídricos superficiais e subterrâneos, principalmente devido à utilização de

agrotóxicos, fertilizantes, corretivos, etc.

A Figura 4 representa o consumo de água no mundo por setor, dividindo

em consumo urbano, industrial e agrícola.

Figura 4: Consumo de água doce por setor no Brasil. Fonte: www.uniagua.org.br, acessado em: 15 mai 2008.

O maior consumo d’água é o destinado à irrigação e segundo Setti et al.

(2003), “A irrigação de culturas agrícolas é uma prática utilizada de forma a

complementar a necessidade de água, naturalmente promovida pela

precipitação, proporcionando teor de umidade ao solo suficiente para o

crescimento das plantas.” (p. 57).

13

b) Usos não consuntivos:

Entre os usos não consuntivos, podem-se citar como exemplos o uso

para a geração de energia elétrica, navegação, pesca, entre outros.

A geração de energia elétrica é o principal uso não consuntivo, pois o

ciclo hidrológico propicia, em determinados pontos, quedas e principalmente

vazões que possibilitam o aproveitamento hidrelétrico destes cursos d’água

através da construção de usinas hidrelétricas.

Deve-se ressaltar que a construção de barragens, segundo Stipp (1999),

causa desmatamento para a instalação de alojamentos e canteiros de obras,

além da construção de estradas, terraplanagem, desvio do leito fluvial, entre

outras consequências poderem acabar degradando uma grande área devido à

construção dessas usinas hidrelétricas.

A navegação fluvial é outro uso não consuntivo, servindo como uma

hidrovia para circulação de mercadorias, o que se torna viável de acordo com o

tamanho das embarcações.

Em condições naturais, os rios são navegáveis apenas nos períodos de

águas altas. Assim, a construção de barragens inviabiliza a circulação das

embarcações, mas existem soluções que tornam a viabilizá-la, como é o caso

da construção de eclusas (transposição de nível).

A recreação, ou simplesmente a harmonia paisagística são usos

importantes na promoção da qualidade de vida das pessoas. Os esportes

náuticos, a pesca recreativa, ou mesmo contemplar a beleza das águas, são

maneiras de buscar nelas a diversão e distração, sempre lembrando que o

desenvolvimento dessas atividades está diretamente ligado à qualidade da

água.

A pesca é fonte de alimento para as populações, principalmente as

ribeirinhas, este uso também está relacionado com a qualidade da água.

2. 4 Legislação hídrica

Neste tópico serão abordadas as principais Leis, Resoluções e Decretos

da legislação dos Recursos Hídricos no Brasil, explanando as principais

características de cada uma, sem um maior aprofundamento em tal legislação.

14

A LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997, institui a Política Nacional

de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos. O objetivo desta política é, basicamente, assegurar que

este recurso seja utilizado de forma racional e adequada para que gerações

futuras possam utilizar do mesmo.

Alguns dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos são:

cobrança pelo uso da água, mostrando que ela possui real valor (dinheiro) e

incentiva, assim, seu uso racional; o Sistema de Informação sobre Recursos

Hídricos, levantamentos de dados sobre recursos hídricos; e os Planos de

Recursos Hídricos, planos diretores que visam orientar e fundamentar essa

Política Nacional de Recursos Hídricos, sendo elaborados por Bacia

Hidrográfica, por Estado e para o País.

Já a LEI Nº 9.984, DE 17 DE JULHO DE 2000, criou a Agência Nacional

de Águas – ANA, que é integrante do Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos, e é responsável, em sua esfera de atribuições, pela

implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. Sua sede está

localizada no Distrito Federal, podendo instalar unidades administrativas

regionais.

A ANA é responsável por algumas atividades dentro do Sistema

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, como avaliar os

instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, fiscalizar o uso desses

recursos, fazer estudos técnicos para saber os valores a serem cobrados pelo

uso da água e implementar essa cobrança, planejar e promover ações

destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e inundações, entre

outras tarefas.

O DECRETO Nº 4.613, DE 11 DE MARÇO DE 2003, aponta que o

Conselho Nacional de Recursos Hídricos, integrante da estrutura regimental do

Ministério do Meio Ambiente, tem por competência: promover a articulação do

planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regionais,

estaduais e dos setores usuários; analisar propostas de alteração da legislação

pertinente a recursos hídricos e à Política Nacional de Recursos Hídricos;

estabelecer critérios gerais para outorga de direito de uso de recursos hídricos

e para a cobrança por seu uso; formular a Política Nacional de Recursos

Hídricos nos termos da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e do art. 2º da

15

Lei no 9.984, de 17 de julho de 2000; autorizar a criação das Agências de

Água, nos termos do parágrafo único do art. 42 e do art. 43 da Lei no 9.433, de

1997; entre outros.

Outra lei que merece destaque é a LEI Nº 10.881, DE 9 DE JUNHO DE

2004, a qual dispõe sobre os contratos de gestão dos recursos hídricos no

território da União entre a ANA e outras entidades de Agências de Águas.

DECRETO Nº 3.692, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000: com este

Decreto, a Agência Nacional de Águas – ANA, foi instalada. Tendo sua

Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos Comissionados e

dos Cargos Comissionados Técnicos aprovados.

Dentro da Estrutura Regimental da ANA, entre os pontos já citados na

Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, temos também a regulação e a

fiscalização dela.

Na questão da regulação, cabe à ANA garantir o adequado atendimento

às necessidades e prioridades de uso dos recursos hídricos e regular a vazão

mínima e a concentração máxima de poluentes na transição de corpos de água

de domínio Estadual para Federal. Cabe também à ANA fiscalizar a utilização

dos recursos hídricos mediante o acompanhamento, o controle e a apuração

de irregularidades e infrações, orientando os usuários para não cometerem

condutas irregulares.

Esse órgão poderá também firmar contrato de gestão ou termo de

parceria com as agências de água ou de bacia hidrográfica para execução dos

serviços que lhe cabem.

Já o DECRETO Nº 5.440, DE 4 DE MAIO DE 2005, estabelece

definições e procedimentos sobre o controle de qualidade de sistemas de

abastecimento público e também irá comunicar o consumidor sobre a

qualidade da água para o consumo, conforme os padrões de potabilidade

estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

Cabe aos responsáveis pelo sistema de abastecimento de água informar

os usuários sobre os padrões desta água distribuída, de acordo com suas

qualidades, características físicas, químicas e microbiológicas.

Estas informações devem estar contidas nas contas mensais, no caso

de ser através do sistema de abastecimento do local, já no caso da distribuição

por prestadores de serviços, como dos carros-pipas, estes devem entregar as

16

informações necessárias aos usuários. As informações tanto da conta mensal

como da entregue pelos prestadores de serviços devem ter linguagem clara,

objetiva, a qual eduque os usuários e possa orientá-los em situações de risco à

saúde.

2. 5 Programa Nacional de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos - PROÁGUA

O Programa Nacional de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos –

PROÁGUA é um programa do Governo Brasileiro, que segundo a ANA, visa

contribuir com a melhoria da qualidade de vida da população brasileira,

principalmente nas regiões menos desenvolvidas do país, e também melhorar

a infra-estrutura hídrica do Brasil, acarretando em uma melhor oferta tanto em

termos de qualidade, quanto de quantidade dos recursos hídricos para os

diversos usos.

Especificamente o programa irá consolidar o Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos, em que instrumentos de gestão serão

utilizados e aprimorados para ampliar a eficácia do programa, através da

elaboração de relatórios, projetos e estudos, e melhorar e/ou dar continuidade

em obras de infra-estrutura hídrica.

Todos os Estados brasileiros estão incluídos no PROÁGUA, através da

gestão dos recursos hídricos, sendo que os Estados das regiões consideradas

semi-áridas, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba,

Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, também terão as ações da

infra-estrutura hídrica.

Este Programa, segundo a ANA, terá recursos equivalentes a US$ 200

milhões e será financiado, em torno de 25%, pelo Banco Mundial, e o restante,

em torno de 75%, pelos Estados e pela União. Sua origem é do

PROÁGUA/semi-árido, que irá manter sua estrutura, dando ênfase na gestão e

na construção e/ou melhoria das infra-estruturas hídricas, gerando um uso

racional dos recursos hídricos.

17

2. 6 Cobrança pelo Uso da Água

A cobrança pelo uso da água é um dos instrumentos de gestão dos

recursos hídricos instituídos pela Lei 9433/97, que tem por objetivo estimular o

uso racional deste recurso, e assim, também, arrecadar fundos e investir em

projetos para preservar os mananciais das bacias.

Esta cobrança deve-se principalmente ao fato de que a água, há muito

tempo, deixou de ser um recurso inesgotável, quer seja por sua quantidade ou

qualidade, e passou a ter valor econômico. Isto fez com que as autoridades

buscassem maneiras para regular essa situação, assim, surgiu à cobrança pelo

uso da água.

A implementação desta cobrança, vem sendo utilizada desde 2001 no

Brasil, através de ações desenvolvidas pela Agência Nacional de Águas –

ANA, em conjunto com gestores estaduais e comitês de bacias. A ANA é

responsável pela operacionalização da cobrança do uso da água dos recursos

hídricos que pertencem a União, ou seja, cursos de água que atravessem mais

de um Estado da federação. Conforme a Lei 10.881, de 2004, a ANA deve

repassar integralmente os recursos arrecadados para Agência de Águas da

Bacia, e cabe a esta cumprir as metas estabelecidas no contrato de gestão

fixado junto a ANA.

Atualmente a cobrança foi implementada em poucas bacias, são elas:

Bacia do Rio Paraíba do Sul e nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e

Jundiaí.

A seguir será apresentado o exemplo de cobrança pelo uso da água no

Comitê Piracicaba, Capivari, Jundiaí (PCJ) e no Comitê do Paranapanema.

O Comitê das Bacias Hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e

Jundiaí e o Comitê do Paranapanema foram criados para buscar a melhoria na

quantidade e qualidade das águas destas bacias hidrográficas.

O Comitê PCJ está cobrando pelo uso da água desde 2006 e é o

segundo Comitê instituído no Brasil, o primeiro Comitê é responsável pela

Bacia do Rio Paraíba do Sul.

A cobrança é feita através dos usos que são constantes no cadastro da

ANA, DAAE, CETESB, IGAM e FEAM, os usos que não estão no cadastro

18

destes órgãos são considerados ilegais e sujeitos as penalidades previstas em

Lei.

Os recursos financeiros arrecadados pela cobrança do uso da água são

repassados para as entidades que ficaram responsáveis pelas ações

delegatárias das Agências de Águas e são investidos, na própria região onde

foram arrecadados, em obras, projetos e programas que estão previstos no

Plano de Bacias aprovado pelos Comitês PCJ. Estes Planos são programas

que consistem em ações para melhorar a qualidade e quantidade dos recursos

hídricos, preservando, recuperando e conservando os mesmos.

O Comitê do Paranapanema ainda não começou a cobrar pelo uso da

água, mas está previsto que em 2010 os valores já estarão sendo cobrados e

assim, como no Comitê PCJ, as áreas que são cadastradas nos órgãos

responsáveis passaram a ser taxadas.

Após observar o quadro geral dos recursos hídricos e mesmo a base do

aparato legislativo, julga-se necessário entender e analisar a Micro Bacia do

Córrego Água Fresca em toda sua morfologia.

19

3 BACIAS HIDROGRÁFICAS A utilização da unidade espacial representada pela bacia hidrográfica, no

presente trabalho, deve-se principalmente por esta unidade permitir conhecer e

analisar os processos e as características que nela acontecem em uma escala

com muitos detalhes. Como ressaltado por Vitte E Guerra (2007):

A bacia hidrográfica é conhecida como unidade espacial na Geografia Física desde o fim dos anos 60. Contudo, durante a última década ela foi, de fato, incorporada pelos profissionais não só da Geografia, mas da grande área chamada Ciências Ambientais, em seus estudos e projetos de pesquisa. Entendida como célula básica de análise ambiental, a bacia hidrográfica permite conhecer e avaliar seus diversos componentes e os processos e interações que nela ocorrem. A visão sistêmica e integrada do ambiente está implícita na adoção desta unidade fundamental (p. 153).

O estudo de Bacias Hidrográficas é de fundamental importância para se

compreender e analisar os processos e os agentes que formam e caracterizam

o Córrego Água Fresca. Assim, julga-se necessário ter como referencial teórico

aspectos da geomorfologia fluvial, dos padrões de drenagem e da hierarquia

fluvial, utilizando como principal referencial os estudos de Antônio Christofoletti

(1980).

3. 1 Geomorfologia Fluvial

Existem diversas denominações para os cursos d’água, como por

exemplo, córrego, ribeirão, riacho, rio, entre outras, as quais são atribuídas

devido ao tamanho destes cursos, sendo que a denominação rio é aplicada ao

curso d’água principal de uma bacia, ou seja, o que possui maior número de

afluentes.

Christofoletti (1980), com relação a tais denominações, ressalta que na

“Geologia e Geomorfologia o termo rio aplica-se exclusivamente a qualquer

fluxo canalizado e, por vezes, é empregado para referir-se a canais destituídos

de água”. Tais denominações são: rios efêmeros (possuem fluxo de água após

uma chuva), rios intermitentes (fluem em determinada época do ano e na outra

secam) e rios perenes (fluem o ano todo).

20

Estes fluxos d’água de um determinado rio podem ser: laminar ou

turbulento. É laminar quando este fluxo está escoando em um canal reto,

suave, ou seja, sem perturbações no decorrer de seu leito, que é o caso do

córrego de análise do presente trabalho (Córrego Água Fresca).

Já o turbulento se dá quando a velocidade do rio, logo abaixo a sua

superfície, atinge um ponto máximo, causando perturbações, movimentos

contrários, que acabam deixando o fluxo desordenado.

A velocidade do rio e sua turbulência estão diretamente relacionadas ao

grau de erosão, ao transporte e a deposição dos detritos deste curso d’água.

O transporte realizado pelos rios, segundo Christofoletti (1980), pode ser

de três diferentes maneiras: solução, suspensão e saltação. A solução é o

transporte dos constituintes das rochas que sofrem com o intemperismo

(processo que provoca a alteração das rochas e de seus minerais, podendo ser

intemperismo físico, químico e biológico) que estão dissolvidos na água dos

rios.

A quantidade de constituintes das rochas, ou seja, de matéria em

solução, depende da contribuição do escoamento superficial e subterrâneo dos

rios, sendo que está matéria é transportada na mesma velocidade da água e

até onde ela chegar.

A quantidade de matéria em solução depende, em grande parte, da contribuição relativa da água subterrânea e do escoamento superficial para o débito do rio, sofrendo variações na escala temporal e espacial. Para esses tipos de abastecimento, a composição química das águas dos rios é determinada por vários fatores, tais como o clima, a geologia, a topografia, a vegetação e o tempo gasto para o escoamento (superficial ou subterrâneo) atingir o canal. Além da fonte terrestre, também há contribuições provenientes da atmosfera. (CHRISTOFOLETTI, 1981, p. 21).

Ainda segundo o mesmo autor, a suspensão é quando o rio transporta

partículas de granulometria (dimensão das partículas sedimentares) reduzidas,

como o silte e a argila. Estas são transportadas pelo fluxo turbulento dos rios,

carregadas na mesma velocidade das águas até que a turbulência existente

seja suficiente para manter as matérias em suspensão. Com isso, ocorrerá a

precipitação destas no momento em que a turbulência for insuficiente para o

transporte de tais partículas.

21

Já a saltação é o transporte de partículas com a granulometria maior,

como a areia e o cascalho, sendo que estas matérias movem-se de modo mais

lento que o fluxo d’água, pois elas rolam, deslizam ou saltam ao longo do leito

dos rios devido ao fato do rio não conseguir transportar tais grãos na mesma

velocidade de suas águas.

No caso do Córrego Água Fresca, o transporte é realizado, no decorrer

de seu curso, principalmente por solução e suspensão, ocasionalmente

ocorrendo a saltação.

Com relação à erosão fluvial, Christofoletti (1980) aponta que tal

processo é realizado por meio da corrosão, corrasão e cavitação. O primeiro

deles, a corrosão, é um processo químico que acontece devido à reação entre

a água e as rochas da superfície.

O segundo processo, a corrasão, é o desgaste das rochas pelo atrito

mecânico, sendo que as partículas carregadas pela água acabam se

chocando, ocorrendo o impacto entre elas, e conseqüentemente a erosão.

Já o terceiro, a cavitação, segundo ressaltado por Christofoletti (1980),

“(...) ocorre, somente sob condições de velocidades elevadas da água, quando

as variações de pressão sobre as paredes do canal facilitam a fragmentação

das rochas”.

No caso do Córrego Água Fresca, o curso foi alterado e o processo

erosivo que aconteceria nas bases e nas laterais ficou impedido de ocorrer pelo

fato da canalização semi-aberta.

A deposição dos detritos ocorre quando o rio perde sua força, sua

capacidade fluvial, devido principalmente ao aumento do tamanho do detrito

transportado pelo fluxo d’água; pela diminuição do volume do rio, que não

consegue mais transportar as partículas e grãos; e pela redução da declividade

do curso d’água, o que diminui a intensidade da velocidade do curso.

Outra questão importante a ser ressaltada em relação aos cursos d’água

são os tipos de leitos fluviais existentes, local por onde as águas dos rios

escoarão, de acordo com a demanda deste. Christofoletti (1980) aponta a

existência de quatro tipos de leitos:

1º) leito de vazante: responsável pelo escoamento das águas baixas, ou

seja, é o leito em que o rio percorre quando este está baixo, acompanhando o

talvegue (parte mais profunda do leito);

22

2º) leito menor: local com margens bem definidas, ocorre no decorrer do

trecho local mais profundo e menos profundo, geralmente é o leito normal de

um rio, ou seja, é quando ele está fazendo seu percurso sem alterações, como

secas ou cheias;

3º) leito maior periódico ou sazonal: local onde ocorrem as cheias devido

ao aumento do volume de água do rio, ocorrendo ao menos uma vez por ano;

4º) leito maior excepcional: local onde ocorrem as enchentes, ou seja, as

cheias mais elevadas, ocorridas esporadicamente.

O leito do Córrego Água Fresca, levando em consideração as

enchentes, não chega a alarmar, pois mesmo se ele atingir o chamado leito

maior excepcional não irá afetar a parte urbana da cidade, visto que o local no

qual o mesmo se encontra possui ampla área gramada até chegar às ruas e

avenidas que o cercam.

3. 2 Bacia Hidrográfica e Padrão de Drenagem

As bacias hidrográficas, também conhecidas como bacias de drenagem,

são assim denominadas devido ao conjunto de canais de escoamento que

estas possuem. Christofoletti (1980) ressalta que:

A drenagem fluvial é composta por um conjunto de canais de escoamento inter-relacionados que formam a bacia de drenagem, definida como a área drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial. A quantidade de água que atinge os cursos fluviais está na dependência do tamanho da área ocupada pela bacia, da precipitação total e de seu regime, e das perdas devido à evapotranspiração e à infiltração (p. 102).

Essas bacias são classificas, de acordo com Christofoletti (1980), como

exorreica, endorreica, arreica e criptorreica.

Na drenagem exorreica, o prefixo “exo” significa fora, sendo assim, esta

drenagem ocorre quando toda a água drenada pela bacia vai em direção ao

mar ou oceano, saindo do continente de modo contínuo, ou seja, os rios correm

em direção e desembocam nos mares e oceanos.

Já na drenagem endorreica, o prefixo “endo” significa dentro, ou seja,

toda a água drenada pela bacia fica dentro do continente, não escoando até os

23

mares e oceanos, desembocando principalmente em lagos ou dissipando-se

nas areias dos desertos (dependendo do lugar).

O Córrego Água Fresca desemboca no Lago Igapó II, que faz parte do

Ribeirão Cambé e, conseqüentemente, da Micro Bacia do Ribeirão Cambe.

Sendo assim, a classificação deste córrego é endorreica.

Na drenagem arreica, o prefixo “a” significa não, ou seja, não existe

direção certa no escoamento das águas, elas simplesmente desaparecem. Isso

ocorre principalmente nos desertos, em que os rios “desaparecem” pelo fato da

baixa ou nula precipitação existente e também pela intensa atividade das

dunas, as quais migram constantemente de lugar.

A drenagem criptorreica, assim como as demais, possui no prefixo da

palavra um indicativo de sua característica, sendo que “cripto” significa

escondido, oculto. Assim, o escoamento desta drenagem é subterrâneo, por

isso escondido ou oculto.

Além da classificação das bacias, os rios também possuem

classificações próprias de acordo com escoamento de suas águas em relação

à inclinação das camadas geológicas.

A referida classificação foi feita, segundo Christofoletti (1980), por

William Morris Davis e classifica os cursos d’água em: consequentes (curso de

lineamento reto em direção às partes mais baixas); subsequentes (a direção do

fluxo é controlada por uma estrutura rochosa, podendo ser uma falha

geológica), obsequente (correm para as camadas mais baixas, mas no sentido

inverso dos rios consequentes), ressequentes (correm no mesmo sentido dos

rios consequentes, mas nascem num nível mais baixo) e insequentes (rios que

correm de acordo com a morfologia do local, sendo as mais variadas direções).

A partir da classificação das bacias de drenagem e dos rios, de acordo

com o escoamento de suas águas e, no caso dos rios especificamente,

considerando sua inclinação, pode-se analisar os padrões de drenagem, o que

é ressaltado por Christofoletti (1980) do seguinte modo:

Os padrões de drenagem referem-se ao arranjamento espacial dos cursos fluviais, que podem ser influenciados em sua atividade morfogenética pela natureza e disposição das camadas rochosas, pela resistência litológica variável, pelas diferenças de declividade e pela evolução geomorfológica da

24

região. Uma ou várias bacias de drenagem podem estar englobadas na caracterização de determinado padrão (p. 103).

Os tipos de padrões de drenagem são diversos, variando de autor para

autor, e o que irá diferenciar os estudos de um para o outro é o grau de

complexidade de análise.

No presente trabalho, serão apresentados os tipos básicos de padrões

de drenagem, segundo Christofoletti (1980): drenagem dendrítica, drenagem

em treliça, drenagem retangular, drenagem paralela, drenagem radial,

drenagem anelar e drenagem desarranjada ou irregular.

A drenagem dendrítica assemelha-se a uma árvore, pois a configuração

do rio principal e dos afluentes desta bacia formam uma imagem que lembra

uma árvore, em que o rio principal seria o tronco e os afluentes seriam os

galhos, os ramos e as folhas desta analogia descrita.

Os tributários da bacia que apresenta a drenagem dendrítica possuem

confluências em ângulos agudos (maior que 0º e menor que 90º) das mais

variadas graduações, nunca chegando ao ângulo reto (90º), a não ser devido a

irregularidades de caráter principalmente tectônico. Este tipo de drenagem

ocorre principalmente nas planícies de inundação.

Na drenagem treliça tem-se vários rios principais, sendo que estes fluem

em leitos retos e são paralelos entre si. Já os afluentes deste tipo de drenagem

são transversais aos rios principais, sendo que a confluência, na maioria das

vezes, ocorre com ângulos retos (90º). Essa drenagem é característica de

regiões sedimentares em locais que sofreram processo de glaciação e em

estruturas que possuam falhas geológicas.

A drenagem retangular é parecida com a drenagem treliça, mas havendo

uma mudança básica entre elas, que é o aspecto ortogonal (forma ângulos

retos) tanto nos rios principais como nos afluentes, devido a alterações no

curso das correntes fluviais do local, causada principalmente por falhas ou

diáclases (fratura/ruptura que não produziu deslocamento dos dois lados da

rocha, como na falha). Este tipo de padrão de drenagem ocorre em locais com

as mesmas características que a drenagem treliça.

A drenagem paralela é caracterizada por praticamente todos os seus

cursos d’água, sendo os afluentes, estarem dispostos de modo paralelo,

25

escoando até o curso principal, com confluência em ângulos agudos. A

drenagem paralela ocorre principalmente em regiões com declividade

acentuada e locais com falhas paralelas.

Na drenagem radial os cursos d’água encontram-se dispostos de uma

maneira que a imagem formada por tal drenagem aproxime-se de um raio de

uma roda, tendo como referencial um ponto central. Ocorre em diversos tipos

de estruturas.

Neste padrão duas configurações são importantes: a centrífuga, em que

os cursos escoam a partir de um ponto mais elevado para as regiões mais

baixas, como por exemplo, um cone vulcânico; e a centrípeta, cujos cursos

d’água escoam para um ponto central, sendo das regiões mais elevadas, para

as mais baixas, como por exemplo, uma depressão topográfica.

Na drenagem anelar, como o próprio nome já revela, sua estrutura se

assemelha a um anel, sendo que os cursos d’água deste padrão de drenagem

escoam se assemelhando a uma árvore, diferindo da drenagem dendrítica pelo

fato de ter a forma de um anel. Este tipo de drenagem ocorre tanto em

estruturas frágeis como duras, sendo típica de áreas dômicas.

Por fim, a drenagem desarranjada ou irregular é o tipo de padrão que foi

desorganizado/modificado por algum aspecto natural ou antrópico, como por

exemplo, o bloqueio do fluxo do curso d’água por algum desmoronamento ou

erosão, modificando o escoamento dos rios da bacia de drenagem.

Na Figura 5 pode-se observar a representação dos tipos de padrão de

drenagem mencionados no presente trabalho.

26

Figura 5: Padrões de Drenagem. Fonte: www.dicionario.pro.br, acessado em: 10 dez 2009. Org.: COSTA, Pedro H.

Para classificar o padrão de drenagem do Córrego Água Fresca, deve-

se levar em conta que este é um afluente da Micro Bacia do Ribeirão Cambé,

sendo assim, a classificação será realizada de acordo com esta micro bacia. A

Micro Bacia do Ribeirão Cambé é classificada como drenagem mista, com

predomínio da drenagem dendrítica no baixo curso e paralelizada no alto curso

(local onde está localizado o Córrego Água Fresca).

3. 3 Hierarquia Fluvial A hierarquia fluvial é um processo que estabelece, segundo Christofoletti

(1980), “a classificação de determinado curso de água (ou da área drenada que

lhe pertence) no conjunto total da bacia hidrográfica na qual se encontra”.

27

A classificação apresentada foi realizada por alguns autores no decorrer

do século XX, sendo que cada autor utilizou um determinado método de

análise para realizar a classificação dos cursos d’água. No presente trabalho

será abordada a classificação de Robert E. Horton (1945) e Arthur N. Strahler

(1952).

O primeiro autor a iniciar os estudos sobre hierarquia fluvial foi Horton,

em 1945, fazendo a classificação dos cursos d’água, utilizando critérios de

ordem, ou seja, canais de primeira ordem, segunda ordem, terceira ordem e

assim por diante, sendo que esta ordem é determinada de acordo com o

número de afluentes que o curso de água possui. Assim, Christofoletti (1980)

ressalta que:

os canais de primeira ordem são aqueles que não pussuem tributários; os canais de segunda ordem somente recebem tributários de primeira ordem; os de terceira ordem podem receber um ou mais tributários de segunda ordem, mas também podem receber afluentes de primeira ordem; os de quarta ordem recebem tributários de terceira ordem e, também, os de ordem inferior. E assim sucessivamente. Todavia, na ordenação proposta por Horton, o rio principal é consignado pelo mesmo número de ordem desde a sua nascente. (p. 106).

Essa classificação realizada por Horton (1945) foi seguida por muitos

pesquisadores, porém em 1952, o pesquisador Arthur N. Strahler propôs uma

classificação um pouco diferente da realizada por Horton.

Para Strahler (1952), os menores canais que não possuem tributários,

são os classificados como de primeira ordem, desde sua nascente até sua

confluência com outro canal. Já os canais de segunda ordem só aparecem

quando há a confluência entre dois canais de primeira ordem, recebendo

apenas tributários de primeira ordem.

Assim como nos cursos de segunda ordem, os de terceira ordem só

surgem quando há a confluência entre dois canais de segunda ordem, podendo

receber afluentes tanto de primeira como de segunda ordem, e assim

sucessivamente.

A classificação proposta por Strahler (1952) difere da idéia de Horton

(1945), de que o rio principal deve ter a mesma ordem em todo o seu curso. O

28

córrego água Fresca é um afluente, de primeira ordem do Ribeirão Cambé, na

classificação de ambos os autores.

Desta forma, apresentada a caracterização morfológica das bacias

hidrográficas e da Micro Bacia do Córrego Água Fresca, o próximo capítulo

abordará as características físicas da referida micro bacia.

29

4 CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO CÓRREGO ÁGUA FRESCA

A fim de entender melhor as características físicas do Córrego Água

Fresca, foi realizado um levantamento preliminar das mesmas, como rede de

drenagem, geologia, declividade, clima, entre outras características que

compõem o local.

Para efetuar análises como da declividade, foram utilizados mapas que

abordam toda a Micro Bacia do Ribeirão Cambé. Isto se deve ao fato de que as

análises de algumas características se tornam mais notórias quando esta é

observada em uma escala maior.

4. 1 Rede de Denagem

O curso d’água do Córrego Água Fresca é perene, apresentando fluxo

laminar, devido o seu pequeno porte e profundidade. Realiza transporte em

solução e em suspensão (por vezes em saltação). O processo erosivo ocorre

por meio da corrosão e da corrasão.

Esse Córrego possui drenagem endorreica, desembocando suas águas

no Lago Igapó II, o qual faz parte do Ribeirão Cambé, sendo um dos afluentes

da Micro Bacia do Ribeirão Cambé, uma micro bacia urbana, ou seja, toda a

sua extensão territorial está situada dentro da cidade de Londrina – PR.

Os grandes problemas das micro bacias urbanas são as erosões e as

enchentes acentuadas, as quais ocorrem principalmente pela

impermeabilização do solo devido as edificações e pavimentações.

A água da chuva, impedida de infiltrar-se, escoa sobre a superfície pavimentada, seguindo diretamente para os canais fluviais, alimentando-os rapidamente e podendo causar – dependendo, entre vários fatores, da intensidade e duração das precipitações – enchentes de proporções alarmantes. A água, quando infiltra ou é interceptada pela cobertura vegetal (de onde pode, inclusive, ser evapotranspirada, retornando à atmosfera), leva um tempo comparativamente maior para atingir os cursos d’água, diminuindo os picos de cheia e os riscos de enchente. Contudo, há ainda a possibilidade de a água que escoa estar carregando sedimentos, caracterizando a erosão. A água que escoa por superfícies lisas (pavimentadas) ganha maior velocidade e, portanto, maior potencial erosivo. (VITTE E GUERRA, 2007, p. 173).

30

O Córrego Água Fresca não apresenta problemas relacionados a

enchentes, devido ao seu tamanho e sua a distância em relação às ruas que o

circundam.

Já com relação ao processo erosivo o córrego em estudo apresenta

sérios problemas. Nota-se no local, diversos pontos de erosão, causados pelo

escoamento das águas para o córrego, que acabam carregando sedimentos do

solo, caracterizando o processo erosivo.

O mapa apresentado a seguir (Figura 6) mostra a topografia da Micro

Bacia do Ribeirão Cambé. A utilização deste mapa no presente trabalho faz se

necessária devido ao fato deste apresentar a delimitação e a drenagem dos

cursos de acordo com os divisores d’água, ou seja, de acordo com as curvas

de níveis. Além de que, a micro bacia do córrego Água Fresca é pequena e

imaginou-se interessante apresentá-la no contexto maior da Micro Bacia do

Ribeirão Cambé.

Figura 6: Carta Topográfica da Micro Bacia do Ribeirão Cambé. Elaboração: ARAÚJO, Rafael Silva de, 2004. Adaptação: COSTA, Pedro Henrique, 2009.

31

A utilização de um mapa que contemple toda a região da bacia, a qual o

córrego faz parte, se justifica pelo fato de que a observação apenas da área em

que este se encontra não permite a percepção total das diferenças de

topografia da região.

4. 2 Geologia Geologia é a ciência que estuda a Terra, tendo como um de seus focos

as rochas, levando em consideração principalmente sua estrutura e

composição.

Esta ciência estuda como as rochas estão distribuídas no espaço, a

articulação entre elas, ou seja, a formação dos corpos rochosos, a composição

mineralógica, a gênese, além de ressaltar o intemperismo e a erosão ocorridos

no decorrer do tempo.

A importância da análise geológica a respeito da área de estudo do

presente trabalho faz-se necessária pelo fato de que é sobre estas estruturas

que os outros aspectos naturais têm agido e modelado a paisagem.

De acordo com Maack (2001), a área que compreende o objeto de

estudo do presente trabalho situa-se no Terceiro Planalto.

A geologia da área em estudo é composta pela Formação Serra Geral,

pertencendo ao grupo São Bento, formada na Era Mesozóica (Triássico e

Cretáceo, 120 milhões de anos atrás), a qual pertence à Bacia do Paraná, esta

abrangendo toda a região centro-sul do Brasil estendendo-se até as fronteiras

com Argentina, Paraguai e Uruguai.

Esta formação tem característica de regiões magmáticas que sofreram

derramamento, sendo constituída principalmente por basalto, sendo esta uma

das rochas mais abundantes na crosta terrestre.

O basalto é uma rocha ígnea vulcânica, formado basicamente por

plagioclásio cálcico (grupo do feldspato) e piroxênios, apresentando uma

textura de granulometria fina. Sua composição apresenta teores variados de

Cálcio (Ca), Ferro (Fe), Magnésio (Mg) e Potássio (K).

A constituição geológica do Terceiro Planalto é relativamente simples. Sobre os horizontes coloridos da formação Esperança

32

e as camadas vermelhas, areno-argilosas do grupo Rio do Rasto, constituintes do pedestal da Serra da Boa Esperança, ou da escarpa triássico-jurássica respectivamente, começa, em toda a sua extensão, com uma discordância de erosão, o arenito terrestre Botucatu da série São Bento com paredões e alguns degraus, protegidos por lençóis de rochas básicas, diabásios, diabásio-porfiritos, meláfiros amidalóides ou também andesitos augíticos. (MAACK, 2001).

A característica desta unidade lito-estratigráfica, de ser formada por

processos vulcânicos, não ocorreu com a presença dos cones vulcânicos, ou

seja, com a estrutura cônica resultante da acumulação dos materiais expelidos

pelas erupções, mas sim devido a fraturas ou fissuras das rochas presentes no

local por onde o magma conseguiu chegar até a superfície.

4. 3 Solo

Solo é a camada que cobre a superfície terrestre, sendo a camada mais

superficial da crosta. Sua composição varia de acordo com o local onde este foi

formado.

O solo é composto por água, matéria orgânica, gases e diferentes tipos

de minerais, que são oriundos da geologia do local, ou seja, sua composição

está diretamente relacionada com o tipo de formação geológica.

O solo da área de estudo do presente trabalho é de origem basáltica,

como explanado anteriormente sobre o aspecto geológico da micro Bacia do

Córrego Água Fresca, este dando origem a um solo vermelho e muito fértil,

conhecido popularmente como “Terra Roxa”.

Segundo o novo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – SiBCS,

criado pela EMBRAPA em 1999, a antiga denominação para o solo encontrado

em Londrina, conhecido popularmente como “Terra Roxa”, foi modificada,

dando lugar para três diferentes denominações ou tipos de solo: o Nitossolo, o

Latossolo e o Neossolo.

O mapa do Atlas Ambiental da cidade de Londrina – PR, apresentado a

seguir, mostra os tipos de solos que substituíram o chamado “Terra Roxa”,

segundo o novo SiBCS .

33

Figura 7: Tipos de solo da cidade de Londrina, segundo SiBCS. Fonte: Atlas Ambiental de Londrina 2008, (http://www.uel.br/revistas/ atlasambiental/NATURAL/TiposdeSolos.jpg). Adaptação: COSTA, Pedro Henrique, 2009.

O tipo de solo da área de estudo do presente trabalho é o NITOSSOLO

VERMELHO Eutroférrico. A denominação Nitossolo, segundo o Atlas Ambiental

de Londrina (2008), é devido ao aspecto lustroso, reluzente, que o solo de

“Terra Roxa” apresenta.

Já a denominação Vermelho Eutroférrico é devido à grande presença de

ferro no solo do local e da cidade de Londrina, sendo que tal mineral é o

responsável pela coloração avermelhada deste.

Os NITOSSOLOS tendo como material paterno o Basalto e Diabásio apresentam na sua constituição mineralógica: Piroxênios, Feldspatos Calco-Sódicos, Plagioclásio, Labradorita, Magnetita, Hematita e acessórios como Titânio e Manganês. (TAGIMA e TERABE, 2005, p. 39).

34

Com relação aos horizontes deste tipo de solo, Tagima e Terabe (2005)

ressaltam que o horizonte A é pouco profundo (20 a 35 cm) com textura

argilosa e estrutura granular pequena.

Já o horizonte B, e suas sub-divisões B21, B22 e B23 apresenta textura

argilosa com estrutura forte, media e grande, apresentando também

efervescência em contato com água oxigenada e atração forte por imã.

4. 4 Clima

O clima é um dos elementos de fundamental importância para entender

a ocorrência de vida em uma determinada região. Com o auxílio deste, pode-se

desvendar a existência de espécies vegetais e animais no local de estudo.

Deve-se ressaltar a importância também de outros elementos para entender e

desvendar a ocorrência de vida, como por exemplo, o relevo.

Para melhor classificar os climas, diversos estudiosos propuseram os

chamados “sistemas de classificações climáticas” que, de acordo com o autor,

abordam características diversificadas de classificação.

Os sistemas de classificações climáticas (SCC) são de grande importância, pois, analisam e definem os climas das diferentes regiões levando em consideração vários elementos climáticos ao mesmo tempo, facilitando a troca de informações e análises posteriores para diferentes objetivos. (ROLIM, 2007, p. 712).

A caracterização do clima desta área de estudo será realizada de acordo

com a proposta de classificação de Köppen (1900), segundo o Instituto

Agronômico do Paraná – IAPAR. Ela os divide em cinco grandes grupos,

alguns tipos e subtipos.

Cada clima possui um conjunto variável de letras com dois ou três

caracteres, representando cada uma dessas letras alguma característica do

clima.

Assim, a primeira letra de cada classificação é maiúscula e representa

os cinco grandes grupos climáticos que existem no mundo, as letras que

representam tal grupo são “A”, “B”, “C”, “D” e “E”, sendo os climas

respctivamente Tropical, Árido, Temperado (ou Temperado Quente),

Continental (ou Temperado Frio) e Glacial.

35

A segunda letra é minúscula e representa o tipo de clima dentro dos

cinco “grandes grupos”, estabelecendo a quantidade e distribuição da

precipitação deste tipo climático, ou seja, revela a umidade de cada clima.

Deve-se ressaltar que, se a primeira letra for “B” ou “E”, a segunda também

será maiúscula e representará a precipitação total anual do tipo climático.

Já a terceira letra também é minúscula e representa a temperatura

média mensal ou temperatura média anual (dependendo da classificação na

segunda letra) de cada tipo climático.

Deste modo, de acordo com a classificação citada, o tipo de clima da

área de estudo é o Cfa, em que o grupo climático é o temperado (“C”), sendo

úmido, com chuvas distribuídas durante o ano inteiro (“f”) e possuindo a

característica de verão quente (“a”).

Figura 8: Classificação Climática do Paraná, segundo Köppen. Fonte: IAPAR, 2009. Adaptação: COSTA, Pedro Henrique, 2009.

De acordo com o IAPAR, a média da temperatura anual na cidade de

Londrina, no período de 1976 a 2004, é de 21 ºC, sendo que a média da

36

temperatura no trimestre mais frio (junho, julho e agosto) varia de 16 ºC a 17 ºC

e no trimestre mais quente (dezembro, janeiro e fevereiro) a temperatura varia

de 27 ºC a 28 ºC.

Com relação à precipitação, o Instituto revela que a média anual da

cidade de Londrina, no mesmo período (1976 a 2004) varia entre 1400 a 1600

mm por ano. O trimestre mais chuvoso, que compreende os meses da estação

do verão (dezembro, janeiro e fevereiro), representa uma precipitação entre

500 a 600 mm, já o trimestre mais seco, que compreende os meses da estação

de inverno (junho, julho e agosto), representa uma precipitação entre 200 e 225

mm.

4. 5 Vegetação

A vegetação está diretamente relacionada com o clima e com o solo, ou

seja, de acordo com os aspectos climáticos e do solo é que se tem a vegetação

nativa. Lembrando que é muito comum, hoje, a existência de espécies exóticas

em todos os tipos de vegetação.

O predomínio da vegetação na cidade de Londrina, de acordo com o

clima, era a Floresta Estacional Semidecidual (duas estações climáticas,

perdendo folhas na estação seca), mas segundo Barros et. al. (2008) pouco

resta desta vegetação, salvo algumas Unidades de Conservação.

O objeto de estudo do presente trabalho foi a primeira fonte de

abastecimento da cidade de Londrina, fato que ocasionou uma grande perda

da Floresta Estacional Semiecidual do local.

Atualmente, a vegetação da Micro Bacia do Córrego Água Fresca tem o

predomínio de espécies arbóreas (Figura 10), como a Santa Barbara (Melia

azedarach L.) (Figura 11), e herbáceas, como as gramíneas.

37

Figura 9: Vegetação Arbórea Água Fresca. Figura 10: Santa Barbara Fonte: COSTA, Pedro H. Fonte: COSTA, Pedro H.

Podem ser observados também diversos tipos de árvores frutíferas no

local, como o abacate, a pitanga, entre outras espécies.

No mapa a seguir (Figura 12) são apresentados os tipos de vegetação

da cidade de Londrina – PR, indicando, como já ressaltado, que o objeto de

estudo do presente trabalho possui predominância de vegetação arbórea.

Figura 11: Vegetação de Fundo de Vale. Fonte: Atlas Ambiental da Londrina 2008, (http://www.uel.br/ revistas/atlasambiental/ NATURAL/FundosdeVale.jpg). Adaptação: COSTA, Pedro Henrique, 2009.

38

Como ressaltado, algumas espécies vegetais que fazem parte da

paisagem do local não são nativas, um dos exemplos muito presente na Micro

Bacia do Córrego Água Fresca são os eucaliptos (Eucaliptus spp) (Figura 13) e

os bambus (Dendracalamus giganteus) (Figura 14).

Figura 12: Eucalipto no Vale do Córrego. Figura 13: Bambu no Vale do Córrego. Fonte: COSTA, Pedro H. Fonte: COSTA, Pedro H.

O eucalipto foi plantado no local para substituir árvores nativas extraídas

com intuito de construir casas populares no final de década de 70 e início de 80

(gestão de Antonio Casemiro Belinati).

Já os bambus foram plantados no local para conter o processo erosivo,

visto que as raízes do bambu formam um forte emaranhado e conseguem

segurar os solos, evitando a erosão.

4. 6 Hipsometria

A hipsometria é a técnica cartográfica da medição e representação do

relevo. Uma técnica cartográfica utilizada para representar a altitude ou

elevação do terreno por meio de variação de cores.

Tal técnica utiliza-se de um sistema de graduação de cores que

convencionalmente utiliza o verde para representar as altitudes mais baixas,

passando por tons de amarelo e marrom, chegando ao cinza em altitudes mais

elevadas.

Esta técnica hipsométrica possibilita visualizar o relevo da área de

estudo, fato que é de fundamental importância para analisar outros aspectos

39

naturais do local, como por exemplo, a deslocação dos ventos, ou ainda,

analisar a interferência que o relevo tem no processo erosivo.

No presente trabalho, o mapa hipsométrico utilizado (Figura 15) aborda

toda a Micro Bacia do Ribeirão Cambé, visto que, a análise altimétrica apenas

do Córrego Água Fresca não dá a dimensão desejada de diferença de altitude

entre regiões por se tratar de uma área reduzida sem grandes modificações no

mapa hipsométrico.

Figura 14: Mapa Hipsométrico da Micro Bacia do Ribeirão Cambé. Elaboração: ARAÚJO, Rafael Silva de, 2004. Adaptação: COSTA, Pedro Henrique, 2009.

A análise do mapa hipsométrico revela que a área em que está situado o

Córrego Água Fresca é uma das regiões com maior elevação apresentada,

sendo menor somente do que a região da cabeceira da bacia, tendo o

predomínio do indicador entre 530 e 560 metros de elevação.

40

4. 7 Declividade

Declividade é a inclinação de um terreno, ou seja, o grau de inclinação

em relação à linha do horizonte, sendo considerada do ponto mais alto em

relação ao ponto mais baixo deste terreno.

Assim, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,

“declividade é a relação entre a diferença de altura entre dois pontos e a

distância horizontal entre esses pontos” (IBGE, 2009).

O grau de inclinação de um terreno, ou melhor, sua variação, irá

determinar as formas e as feições da paisagem, tendo relação também com os

potenciais de aproveitamento ou não das terras (plantações, moradias, etc.).

O mapa de declividade apresentado (Figura 16) aborda toda a Micro

Bacia do Ribeirão Cambé. A análise panorâmica dessa região, e não apenas

do Córrego Água Fresca, revela que a área em questão tem o predomínio de

relevo plano devido ao maior índice de declividades baixas, de 0 a 6%.

Figura 15: Mapa de Declividade da Micro Bacia do Ribeirão Cambé. Elaboração: ARAÚJO, Rafael Silva de, 2004. Adaptação: COSTA, Pedro Henrique, 2009.

41

A importância do estudo da declividade de um terreno está diretamente

relacionada ao grau de erosão de uma área, pois, segundo Vitte e Guerra

(2007), a declividade é um dos fatores que interferem sobre o processo erosivo

de um determinado local, sendo o principal fator do relevo que condiciona tal

processo.

Com este mapa de declividade (Figura 16) e com os trabalhos de campo

realizados, pode-se constatar que o escoamento superficial no córrego é lento,

sendo que a erosão hídrica pode ser controlada por práticas simples, como por

exemplo, a técnica vegetativa que se trata do plantio de gramíneas de rápido

crescimento nas áreas afetadas, como demonstrado nas imagens 15 e 16 do

presente trabalho.

Ao realizar a caracterização física da Micro Bacia do Córrego Água

Fresca, pode-se observar, por intermédio dos trabalhos e campo e

levantamentos bibliográficos, mudanças recentes na paisagem, mostrando

vários ciclos de transformações.

Assim, julgou-se viável realizar um resgate de como a micro bacia

referida, e conseqüentemente a paisagem reagiu a estas transformações.

42

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE PAISAGEM

Paisagem é uma palavra derivada do latim (pagus), em que seu

significado é país, aproximando-se do sentido de lugar, território.

Os elementos que constituem a paisagem, tanto os naturais como os

construídos pelo homem serviram, desde a pré-história, enquanto um

referencial espacial (localização) ou mesmo como um objeto de observação.

O termo paisagem, muito utilizado atualmente, possui significados

diferenciados de acordo com a área do conhecimento que este está sendo

empregado. Para o senso comum, ou mesmo para áreas do conhecimento

como a arquitetura, urbanismo e artes, a paisagem é aquilo que se pode ver e

observar, ou seja, é “o ponto visível” de algum lugar.

Já para a área das ciências, a paisagem possui relações, as vezes

ocultas, na qual ocorre a interação entre o conjunto dos elementos que a

compõem, como o relevo, os rios, a vegetação, o homem, etc.

5. 1 Paisagem na Arquitetura, Urbanismo e Artes

Na arquitetura, a paisagem está diretamente vinculada à observação,

isto é, à presença visível dos diversos componentes em um determinado lugar.

Para este ramo do conhecimento a paisagem é um elemento a ser construído,

seja pelas construções ou mesmo pelo paisagismo.

O paisagismo, que é a arte de tornar um ambiente, uma paisagem, em

um local prazeroso aos olhos, é praticado desde o século VIII e sofreu ao longo

do tempo algumas alterações. Hoje o paisagismo visa promover não somente

os projetos, mas também a gestão dos espaços livres, melhorando além da

estética da paisagem, sua funcionalidade.

As migrações das civilizações da aridez, - entre os séculos VIII e XV – desde os jardins da Índia de um lado, e a aqueles do Maghreb de outro, até os jardins mourescos da Espanha: Granada, Cardiz e Toledo, desenvolveram a fórmula, regra geral utilitária e estética, fundada sobre a escolha e a valorização dos elementos benéficos de um meio ambiente freqüentemente hostil. (PASSOS, 1999, p. 29).

43

O urbanismo que surgiu no final do século XIX na Europa, também

trabalha com a paisagem, que assim como a arquitetura não possui caráter de

interação entre os elementos. O diferencial do urbanismo é a preocupação com

a paisagem exclusivamente urbana, buscando as melhores condições para

agir, planejar e gerir este espaço. Um exemplo da atuação do urbanismo são

os projetos para desafogar o trânsito em grandes cidades, buscando melhorar

a paisagem, seja funcionalmente e/ou visualmente.

Com as artes, segundo Torres (2003), a paisagem relaciona-se desde o

século XV, principalmente com a pintura, ou seja, a arte pictórica. Esta não

sendo apenas uma descrição da paisagem observada, mas também a

subjetividade por trás desta.

5. 2 Paisagem na Geografia

Na Geografia, o conceito de paisagem surge a partir do século XV, no

renascimento, período em que o homem começa a descobrir e adquirir técnicas

para se apropriar e mesmo transformar essa paisagem. Autores como

Alexander Von Humboldt, com a obra “Cosmos”, Carl Ritter, com a obra

“Geografia Comparada” e Friedrich Ratzel, com a obra “Antropogeografia”,

contribuíram muito no início da discussão sobre paisagem na Geografia

(SCHIER, 2003).

O primeiro a estudar a paisagem foi Alexander Von Humboldt, através

de suas observações associou elementos da natureza e da ação humana. Carl

Ritter organizou o conhecimento sobre determinados países e regiões, se

dedicando as descrições e análises regionais, visto que este autor deu

continuidade ao trabalho de Humboldt. Já Friedrich Ratzel analisou a dialética

entre os elementos fixos da paisagem (solo, rio, etc.) e os elementos móveis

(humanos).

A discussão sobre “paisagem”, na Geografia, começa a ter maior

relevância no século XIX, principalmente para se compreender as relações

sociais e naturais de um determinado lugar. O termo possui diversas

interpretações dentro da ciência geográfica, dependendo da abordagem

utilizada.

44

A discussão da paisagem é um tema antigo na geografia. Desde o século XIX, a paisagem vem sendo discutida para se entenderem as relações sociais e naturais em um determinado espaço. Dentro da geografia, a interpretação do que é uma paisagem diverge dentro das múltiplas abordagens geográficas. Observa-se que existem certas tendências “nacionais” mostrando que o entendimento do conceito depende, em muito, das influências culturais e discursivas entre os geógrafos. (SCHIER, 2003, p. 80).

Inicialmente o termo “paisagem” esteve ligado ao positivismo, sendo que

na Alemanha, segundo Schier (2003), se focalizavam os fatores geográficos

agrupados em unidades espaciais e na França o caráter processual era o mais

importante, mas em ambas a paisagem era vista como uma face material do

mundo, em cujo se imprimiam as atividades humanas.

Posteriormente, a abordagem neopositivista deu enfoque ao termo

“região” e ao processo de abstração da realidade física, isso devido a sua

metodologia quantitativa.

A abordagem marxista, segundo Schier (2003), “pouco interessada na

geograficidade da paisagem, identificou-se com o termo região, o qual define

como um produto territorial da ação entre capital e trabalho”. A partir da década

de 60 o termo “paisagem” foi substituído pelo termo “região” nos circuitos

geográficos, isso principalmente devido a estudos realizados por Hartshorne.

Na França, iniciada com Vidal de La Blache, a descrição da paisagem, a

familiaridade com mapas, com as fotografias e as pesquisas/estudos pessoais

foram fundamentais para a formação da Escola Francesa de Geografia. Para

Bertrand (2007), o início dos estudos de paisagem na França, se assemelham

a mutação paisagística do inicio do século XX. Ressaltando que os primeiros a

estudar a paisagem na França, do ponto de vista que as ciências, como a

Geografia, a analisam atualmente foram G. Bertrand (biogeografia) e J. Tricart

(geomorfologia).

Na abordagem vidaliana, o estudo da paisagem repousa sobre um quadro rigoroso à base de análises históricas, de referencias geológicas e climáticas, de pesquisas pessoais sobre os relevos, enfim, sobre pesquisas e cálculos estatísticos. A fotografia e sobretudo a familiaridade com os mapas e com a cartografia multiplicaram as referências à paisagem e diversificam as escalas de percepção e os ângulos de visão. Trata-se pois, de uma descrição enriquecida, quase

45

de uma descrição pseudo-paisagística. É um monumental quadro geográfico, homogêneo, exaustivo, rico de observações e de uma excessiva apresentação literária. A descrição das regiões geográficas sustentava-se, sobretudo, na aparência das coisas, deixando na sombra as infraestruturas e seus funcionamentos. Esse painel fez durante mais de cinqüenta anos, o renome da escola geográfica francesa. (PASSOS, 1999, p. 52).

Atualmente a idéia de paisagem merece destaque devido a avaliação

ambiental e estética da mesma, sendo esta formada/construída pela cultura

das pessoas que nela realizam suas atividades. A transformação da paisagem

pelo homem, devido a cultura da população, representa um dos principais

elementos da formação da paisagem.

Com relação a análise da paisagem, Bertrand (2007) propõe o que ele

chamou de “quadratura da paisagem”. Para o autor o estudo/análise da

paisagem deve abranger: os locais paisagísticos (árvore, montanha, etc.), os

atores da paisagem (com sua memória patrimonial), os projetos de paisagem

(empreendedores, etc.) e os tempos da paisagem (tempo histórico – sociedade

e natureza – com o tempo cronológico).

A partir desta “quadratura” obtém-se um “modelo de interpretação da

paisagem”, formado por dois subsistemas: o cultural – percepções e

representações paisagísticas que permitem evidenciar as relações sociais que

ocorrem em torno da paisagem; e o material – análise dos objetos da paisagem

com suas características, organização e funcionamento.

Assim, existem dois tipos de paisagem, a natural e a cultural. A primeira

delas é a combinação dos elementos da natureza, como vegetação, solo, rios,

lagos, etc., sem a intervenção do homem. Já a segunda, é a modificação desta

“paisagem natural” pelo homem.

a paisagem não existe como tal, no terreno. Ela é uma criação, ou mais exatamente uma recriação permanente cada vez que um ser pensante, dotado de sensibilidade e de memória, rico de sua cultura e dos valores que lhe são associados, olha um objeto material, flor ou construção, lixo público ou circo de Gavarnie (...) a paisagem é, então, por essência, um produto, ou mais exatamente, um processo de interface, ao mesmo tempo sujeito e objeto, natural e cultural, individual e social. (BERTRAND, 2007, p. 250).

46

Para Bertrand (2007) a combinação dos elementos físicos, biológicos e

antrópicos fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, sendo esta

homogênea, sem privilegiar um ou outro elemento que a constitui.

5. 3 O sistema GTP

Bertrand, a partir de 1990, propôs o sistema GTP, em que associa

Geossitema (fonte-source) ao Território (recurso-ressource) e à paisagem

(identidade-ressourcement).

A função central deste sistema é realizar a pesquisa ambiental em várias

dimensões, tanto no tempo como no espaço, para Bertrand (2007), a respeito

do GTP, “Sua vocação primeira é favorecer uma reflexão epistemológica e

conceitual e, na medida do possível, desencadear proposições metodológicas

concretas.”.

O sistema GTP surgiu devido ao déficit metodológico nos estudos da

paisagem. Estudo que durante muito tempo teve profissionais que não são

ligados ao mundo cientifico, tentando excluir a paisagem de toda a análise,

ressaltando principalmente os arquitetos e artistas, que buscam nesta

imaginação e criatividade para desenvolverem seus trabalhos.

Esse sistema, segundo a idéia de Bertrand (2007), propõe 3

coordenadas interdependentes (GTP) para o estudo da paisagem, buscando

assim a interação entre estes elementos para obter uma análise do ambiente

geográfico em sua globalidade.

Seguindo esta mesma vertente, AB’SÁBER (2003) ressalta a

importância da herança no estudo da paisagem. O autor explana que a

paisagem na realidade “(...) é uma herança em todo o sentido da palavra:

herança de processos fisiográficos e biológicos, e patrimônio coletivo dos

povos que historicamente as herdaram como território de atuação de suas

comunidades” (p. 9).

Sendo assim, a paisagem revela a associação/combinação de

elementos físicos, biológicos e antrópicos que durante o passar dos anos vão

se acumulando ou se transformando, por meio da herança adquirida pela

mesma.

47

5. 4 A Ecologia da Paisagem

O termo “ecologia da paisagem” foi inicialmente utilizado em 1939 por

Troll, mas que ganhou força a partir da década de 80, com a Escola Ecológica

dos EUA.

Segundo Torres (2003), com respaldo em Burel e Baudry (2000), a

ecologia da paisagem possui grande preocupação com as ações antrópicas na

paisagem e as relações homem-meio, levando em consideração o aspecto

temporal e espacial, sendo que sua contribuição maior é a identificação dos

elementos, através das unidades ecológicas e espaciais, que formam o

mosaico do território estudado, assim ressaltando a importância da

heterogeneidade existente na organização espacial.

Deve-se ressaltar a importância do tempo no estudo da ecologia da

paisagem, visto que este fator é de suma importância na análise dos fatos

ecológicos e dos processos evolutivos da paisagem, como por exemplo, é por

meio deste fator que se pode descobrir se a condição ambiental existente

atualmente é reflexo de condições ambientais passadas.

Para Torres (2003) “A intenção de utilizar a ecologia da paisagem é de

integrar o objeto de estudo (paisagem), seus determinantes (meio e sociedade)

e seus efeitos sob os processos ecológicos estudados”. Assim é necessário

que a ecologia da paisagem possua um caráter multidisciplinar para desvendar

a grande heterogeneidade existente.

5. 5 As “Unidades de Paisagem” Outro ponto importante a ressaltar são as “unidades da paisagem”.

Segundo Torres (2003), “Unidade da paisagem é uma porção do espaço que

se apresenta de forma homogênea, mas heterogênea se comparada com as

áreas vizinhas”.

As unidades da paisagem natural se diferenciam, ressaltado por Torres

(2003), com respaldo em Ross (1990), por meio de um clima, de relevo, solo ou

mesmo a litologia de um local, levando em consideração que os elementos

mais comumente observáveis não extinguem a existência de outros elementos

não facilmente observáveis.

48

A ferramenta utilizada para resolver esta questão do visível e invisível de

uma paisagem é a imagem de satélite, que possui na mesma imagem uma

junção de informações variadas, como: textura, superfície, etc., sendo de

fundamental importância na definição de suas unidades básicas. Com essa

imagem, é definida e classificada as unidades da paisagem, utilizando uma

abordagem holística e hierárquica.

Torres (2003), respaldada em Le Du (1995), aponta a existência de três

níveis de dificuldade para classificar uma unidade de paisagem, levando em

conta principalmente suas descontinuidades. Assim, tem-se: as unidades de

paisagem que possuem seus contrastes bem marcados com relação às

unidades vizinhas; as unidades de paisagem que possuem limites, mas são

muito difíceis de localizar; e finalmente as unidades de paisagem que possuem

seus limites imperceptíveis.

Assim, definir estes grandes grupos é o ponto inicial de um estudo sobre paisagem, para, em seguida, ser cartografado e analisado. Vale ressaltar que a hierarquização das unidades é algo, em certo ponto, bem subjetivo, e, muitas vezes, carrega em si a visão do pesquisador ou do que ele pretende transmitir. Vale lembrar que a noção de paisagem tem sido um bom caminho com vistas a apreender o global do espaço geográfico e, desta forma, impossível de ser colocada em um único campo epistemológico. (TORRES, 2003, p. 54).

É importante que esta imagem esteja sempre atualizada para que a

classificação seja o mais fiel possível com a realidade. Visto que a paisagem

está em constante mudança, por meio da mudança de uso do solo, apropriação

do território, entre outros motivos que favorecem e ocasionam o aparecimento

de novas unidades de paisagem.

No caso da Micro Bacia do Córrego Água Fresca, pode-se observar que

esta apresenta diversas unidades de paisagem, isto devido ao fato da mesma

se localizar em uma área urbana, mais precisamente na região central de

Londrina – PR.

Por intermédio das imagens de satélite do programa Google Earth

(software disponibilizado gratuitamente na internet), apresentadas a seguir,

pode-se observar as unidades de paisagem da referida micro bacia.

49

A primeira imagem de satélite apresentada (Figura 17) delimita o

Córrego Água Fresca. Para classificar as unidades de paisagem, o referido

córrego será dividido em alto, médio e baixo curso, sendo necessário ampliar a

imagem para poder observar os tipos de ocupação nas proximidades do local.

Figura 16: Imagem de satélite do Córrego Água Fresca.

Fonte: Google Earth, acessado em: 17 nov 2009.

Adaptação: COSTA, Pedro H., 2009.

A imagem de satélite a seguir (Figura 18) é a ampliação da Figura 17, a

qual representa o alto curso do Córrego Água Fresca, ou seja, próximo a sua

nascente (nascente canalizada).

50

Figura 17: Imagem de satélite, alto curso do córrego.

Fonte: Google Earth, acessado em: 17 nov 2009.

Adaptação: COSTA, Pedro H., 2009.

Analisando a Figura 18, pode-se observar que no alto curso do Córrego

Água Fresca existe o predomínio de residências, ou seja, o uso do solo do local

é na sua maioria residencial, principalmente na vertente direita do córrego.

Pode-se notar, também, como destacado na figura, a presença da

Companhia de Saneamento do Paraná – Sanepar (empresa responsável pelo

tratamento de água e esgoto de Londrina) e do Hotel Blue Tree (hotel 4

estrelas de Londrina), ambos na vertente esquerda do córrego.

A imagem de satélite a seguir (Figura 19) representa o médio curso do

Córrego Água Fresca.

51

Figura 18: imagem de satélite, médio curso do córrego.

Fonte: Google Earth, acessado em: 17 nov 2009.

Adaptação: COSTA, Pedro H., 2009.

Com esta imagem (Figura 19), pode-se observar que, assim como no

alto curso, no médio curso do córrego predominam os usos residenciais,

principalmente na vertente esquerda.

Já na vertente direita, pode ser observado por meio da figura, a

presença do Centro Universitário Filadélfia – UniFil e do Clube Canadá, sendo

que ambos possuem fluxo diário intenso de pessoas, muitas vezes, não

residentes da região.

A imagem de satélite a seguir (Figura 20) representa o baixo curso do

Córrego Água Fresca, ou seja, próximo a sua foz (Lago Igapó II).

52

Figura 19: Imagem de satélite, baixo curso do córrego.

Fonte: Google Earth, acessado em: 17 nov 2009.

Adaptação: COSTA, Pedro H., 2009.

No baixo curso do córrego nota-se, assim como no alto e médio curso, a

ocorrência de muitas residências, principalmente na vertente direita, mas tendo

um diferencial que é a presença de terrenos vazios na vertente esquerda.

Como se pode observar na Figura 20, na vertente direita do baixo curso

do córrego encontra-se o cemitério João XXIII, o qual interfere diretamente no

córrego devido ao necrochorume. Já na vertente esquerda encontra-se o

Colégio Universitário (escola particular de Londrina) que possui fluxo intenso

diário, interferindo também no córrego.

O que pode ser observado em todas as imagens de satélites

apresentadas é a presença de mata ciliar em praticamente todo o percurso do

53

córrego, seguindo, desta maneira, a Lei nº 4771, de 15 de setembro de 1965, a

qual instituiu o novo Código Florestal brasileiro.

A análise mais detalhada das instituições citadas anteriormente,

relacionando-as com o Córrego Água Fresca, pode ser observada no próximo

capítulo que trabalha com a técnica do Geofotografismo.

54

6 GEOFOTOGRAFISMO A fotografia é um recurso tecnológico que também pode ser um

instrumento didático e de pesquisa, considerada por muitos como uma das

grandes revoluções do mundo. Partindo do princípio de que antes da

descoberta da fotografia o modo de representar as pessoas, os lugares, as

paisagens, etc., era a arte pictórica, que apesar de ser uma representação

destes, possuía/possui seus estilismos, infelizmente ressalta-se que ela não é

tão fiel à realidade como a fotografia.

A fotografia é uma imagem, segundo Torres (2003), carregada de

informações que o “fotografo” quis evidenciar, a partir de um determinado

referencial. Assim, a arte de fotografar possui caráter de representação do real,

ou seja, é um arquivo do real, e também possui caráter de sensibilização ou

mesmo de conscientização de alguém sobre determinadas coisas.

Poderia-se identificar duas maneiras de fotografar uma paisagem. Uma, no registro poético, levaria à apresentação de uma “realidade em gênese”. A outra seria mais simplesmente uma atividade de arquivagem do real. Se esta última maneira se presta a um estudo relevante de uma aproximação cientifica, a primeira se coloca mais diretamente sobre a experiência de explicitar, de forma mais simbólica, a paisagem. (PASSOS, 2006-2008, p. 15).

Segundo Passos (2006-2008), a representação da paisagem, seja ela

por fotografia ou qualquer outra forma, possui caráter fortemente sugestivo.

Esta paisagem é representada por uma “idéia” desta, e não do exato modo

como esta é, ou seja, a paisagem será representada de acordo com os

interesses por de trás das imagens geradas, seja ela uma pintura ou uma

fotografia, uma imagem subjetiva ou objetiva, o resultado será o produto

almejado pelo agente captador desta paisagem.

Inicialmente as paisagens eram representadas pelas pinturas (arte

pictórica), sendo que, na geografia, a fotografia ganhou significativa

importância, segundo Passos (2006-2008), com os estudos de Vidal de la

Blache, principalmente em sua obra La France (1908) e, posteriormente, com a

reedição de Tableau de la géographie de La France (1903), a qual apresenta

inúmeras fotografias.

55

Para tal estudo, La Blache contou com a participação de profissionais

ligados a outras áreas do conhecimento, como botânicos e agrônomos, além

de contar com geógrafos universitários.

Com relação à utilização da fotografia na geografia, a partir dos estudos

e trabalhos de La Blache, Passos (2006-2008) ressalta que:

Vidal de La Blache avança rápido do ponto de vista ilustrativo para o ponto de vista cientifico, afirmando que “há um método geográfico de interpretar paisagens”. É preciso que a fotografia seja praticada num espírito geográfico, por pessoas que saibam ler a natureza. Não se trata mais do uso da fotografia como ilustração, mas de uma técnica de análise. (p. 19).

Jean Brunhes e Emmanuel de Martonne, que trabalharam com La

Blache, foram os herdeiros da pesquisa trabalhada com imagens, seguindo a

mesma linha iconográfica vidaliana.

Passos (2006-2008) ressalta ainda que de Martonne foi o precursor e

promotor da fotografia aérea na França, fato que, mais tarde, torna-se de

fundamental importância nos estudos geográficos, principalmente os

relacionados à geografia física.

A contribuição destes nomes da geografia, no que diz respeito aos

estudos realizados através de imagens fotográficas, faz-se presente hoje em

dia, visto que, atualmente, a fotografia é um instrumento importantíssimo na

área da geografia, principalmente voltado para os geógrafos que atuam na

pesquisa.

Torres (2003) ressalta que a utilização da fotografia na Geografia não

possui caráter meramente ilustrativo, mas deve ser analisada e interpretada de

forma que se interrelacione com a pesquisa em si.

Para o geógrafo, a fotografia é um recurso a mais na busca por

desvendar, evidenciar e representar as relações entre a sociedade e a

natureza. Pela Geografia se tratar de uma ciência, as fotos dos geógrafos

devem ser direcionadas à representação do real, tendo assim um caráter mais

científico, mas isso não exclui a possibilidade destas fotos serem realizadas de

forma mais poética, ou seja, possuam caráter de sensibilização.

No presente trabalho, encontra-se um apanhado de fotografias

resultantes de diversos trabalhos de campo realizados no Córrego Água Fresca

56

no período de três anos, compreendidos entre 2007, 2008 e 2009. Estas

imagens são frutos de trabalhos que tiveram como premissa diagnosticar e

representar os diversos problemas encontrados no local, a relação da

população com o córrego, as iniciativas de instituições próximas ao local

voltadas para sua conservação e proteção, além de ressaltar uma obra da

prefeitura, a duplicação da Rua Goiás.

O Córrego Água Fresca:

A seguir é apresentado um mapa de localização das imagens que serão

analisadas no decorrer deste capítulo (Figura 21). Estas imagens foram tiradas

no percurso do Córrego Água Fresca e em ambas as vertentes, ou seja, tanto

na vertente esquerda como na direita, como pode ser observado a seguir.

Figura 20: Localização das Imagens tiradas no Água Fresca. Fonte: Google Earth e Trabalho de Campo Org.: COSTA, Pedro H. e ROSOLOEM,Nathália Prado, 2009.

57

Imagem 01 Imagem 02

Autor: COSTA, Pedro H., outubro de 2007. Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009.

Fotografias tiradas próximo à nascente do Córrego Água Fresca, a qual

se encontra canalizada. Estas imagens são da região próxima à Companhia de

Saneamento do Paraná – Sanepar, do município de Londrina – PR, situada na

Rua Juscelino Kubitschek, entre a Rua José Oiticica e Rua Pio XII.

Nelas nota-se a presença de tubos de concreto utilizados para fazer,

entre outras coisas, a rede urbana de esgoto.

A imagem 01 foi fotografada em 2007, já a imagem 02 em 2009, fato que

demonstra o abandono destes objetos no local, mesmo porque em nenhuma

das ocasiões em que as fotos foram tiradas foi observado, nas proximidades,

algum tipo de construção ou obra, salvo a Rua Goiás, a qual se encontra a

duas quadras do local.

O que se pode observar na Imagem 01 é o abandono dos tubos no local,

fato representado pelo desordenamento destes. Já na Imagem 02, pode-se

observar que os mesmos estão dispostos em três faixas, o que sugere uma

ordenação destes.

58

Imagem 03 Imagem 04

Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007. Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009.

Estas fotografias (Imagens 03 e 04) mostram a evidencia de instituições

que tentam cuidar, da melhor maneira possível, do córrego. Um exemplo

dessas relações da população com o Córrego Água Fresca (representada na

Imagem 03) é a presença no local do Grupo de Escoteiros Verde Vale.

Este grupo realiza suas atividades há mais de 30 anos neste vale,

utilizando-o para recreação e conscientização das crianças e dos escoteiros, os

quais se reúnem nas proximidades do córrego todos os sábados.

Entre as atividades, eles realizam mutirões de limpeza (recolhem os

lixos possíveis jogados no vale e no córrego, operação denominada pelo grupo

de “pente fino”); plantam mudas de vegetação nativa (Imagem 04); e também

tentam retirar as árvores que estão doentes para revitalização do local, mas,

muitas vezes, encontram barreiras burocráticas para realizarem tal ação.

Imagem 05 Imagem 06

Autor: TORRES, Eloiza C., out de 2007. Autor: TORRES, Eloiza C., out de 2007.

59

Estas duas fotografias, localizadas no alto curso do córrego, mostram

que, após o córrego sair da canalização, como mostrado nas Imagens 01 e 02,

este encontra-se canalizado novamente (Imagem 05) até chegar ao seu leito

natural (Imagem 06) e seguir assim até a foz. A distância entre a primeira e a

segunda vez que o córrego sai da canalização gira em torno de 200 metros.

Imagem 07 Imagem 08

Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007. Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009.

Ainda no alto curso do córrego, em sua vertente esquerda, encontra-se

um muro de arrimo, o qual auxilia no não desmoronamento de terra e

conseqüentemente evita possível assoreamento do córrego.

Neste local, nota-se que ocorreu uma intensa movimentação de massa,

isto devido ao fato de que a vegetação encontra-se muito retorcida, mostrando

que, ao cessar o movimento, as árvores voltaram a crescer, modificando sua

forma.

No local, observa-se também a presença de várias mudas de bambu

(principalmente na Imagem 07) que, apesar de não serem nativas da região,

foram plantadas para amenizar a erosão. Isto ocorre devido às raízes do

bambu formarem um forte emaranhado, “segurando” e dando melhor

sustentação ao solo em terrenos acidentados ou íngremes (como é o caso

mostrado na Imagem 07 e 08), combatendo assim essa erosão.

60

Imagem 09 Imagem 10

Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007. Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007.

Estas fotografias foram tiradas no ano de 2007 e mostram a obra de

duplicação da Rua Goiás da cidade de Londrina – PR ainda em seu estágio

inicial. Esta obra de duplicação foi iniciada em agosto de 2006, tendo como

responsável a empresa Jacarandá Pavimentação e Obras Ltda.

Deve-se ressaltar que ocorreram diversos impactos no local com tal

obra, tanto os impactos como as erosões, microrravinas, quedas em bloco,

escoamento linear, entre outros, como os impactos sociais (várias residências

tiveram que ser desapropriadas para que a duplicação pudesse prosseguir,

como pode ser visto ao fundo de ambas as Imagens 09 e 10).

Imagem 11 Imagem 12

Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007. Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007.

Estas imagens, tiradas em 2007 (Imagens 11 e 12), mostram impactos

no meio natural ocorridos no vale do Córrego Água Fresca, nas proximidades

61

da Rua Goiás. Os impactos mencionados, no caso, são as erosões (Imagem

11) e as microrravinas (Imagem 12), sendo que um dos agravantes destes

processos foi a obra de duplicação da referida rua.

Tais impactos acabam por formar um escoamento de água linear em

alguns pontos deste local, o que poderia vir a desmoronar a obra em questão

(a Rua Goiás passa sobre o córrego), se tais problemas não viessem a ser

solucionados.

Imagem 13 Imagem 14

Autor: VAZ, Fábio, julho de 2008. Autor: VAZ, Fábio, julho de 2008.

Nestas duas fotografias, de 2008 (Imagens 13 e 14), pode-se observar

que a obra da Rua Goiás avançou muito, sendo que as vias já foram

duplicadas, o canteiro central já está pronto com os postes de iluminação

instalados e está se iniciando sua pavimentação. Conseqüentemente, constata-

se que as várias residências desapropriadas já não existem mais, dando lugar

a duplicação de uma via de acesso para a população.

62

Imagem 15 Imagem 16

Autor: VAZ, Fábio, julho de 2008. Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009.

A Imagem 15, tirada em 2008, revela que o problema do escoamento

linear, mencionados nas Imagens 11 e 12, não foram solucionados até a

presente data da foto.

Este fato fica nítido ao se observar a ausência de vegetação em partes

da imagem, que ocorre principalmente devido ao escoamento linear, a erosão e

as quedas em blocos, não dando o tempo adequado para a vegetação deste

terreno muito íngreme se fixar.

Já na Imagem 16, tirada em 2009, observa-se que os impactos que

estavam assolando o local foram solucionados, visto que a vegetação voltou a

crescer, eliminando o escoamento linear e cessando as quedas em bloco.

Nota-se a interferência do homem neste local para solucionar tais

problemas, principalmente pelas barreiras de madeira colocadas no terreno

para interromper a erosão e permitir que a vegetação enraíze de modo que não

se desprenda facilmente.

63

Imagem 17 Imagem 18

Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009. Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009.

Nestas duas fotografias, tiradas em 2009 (Imagens 17 e 18), pode-se

observar que a obra de duplicação da Rua Goiás foi concluída (obra finalizada

em outubro de 2008). Os problemas gerados no Córrego Água Fresca, com

esta obra, tanto os de ordem naturais como os sociais, foram muitos e já

citados nas imagens anteriores, mas convém ressaltar que a maioria deles

foram ou estão sendo solucionados por profissionais ligados a prefeitura do

município de Londrina – PR. Esta via de acesso está sendo muito questionada

pela população, que fica dividida com as diversas opiniões, sendo que muitos

criticam e outros concordam, mas não cabe ao presente trabalho entrar nesta

discussão.

Imagem 19 Imagem 20

Autor: TORRES, Eloiza C., out de 2007. Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007.

64

Estas fotografias (Imagem 19 e 20) revelam que em parte do médio

curso do córrego, este se encontra concretado, tanto o fundo, como a margem,

que possui em torno de 1,50 metros de altura (tendo como referência a pessoa

da imagem 19), ou seja, neste percurso do córrego, que se inicia no

cruzamento deste com a Rua Goiás e termina próximo a UNIFIL na Rua Iowa,

existe o que é chamado de canalização aberta com concreto.

Esta obra foi realizada com a intenção de prevenir o desmoronamento

da margem e conseqüentemente o assoreamento do córrego, visto que nesta

região o processo de erosão é bastante intenso.

Imagem 21 Imagem 22

Autor: COSTA, Pedro H.; out de 2007. Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009.

As Imagens 21 e 22 revelam a existência das galerias de águas pluviais,

que estão no mesmo trecho do Córrego Água Fresca que as Imagens 19 e 20,

utilizadas para a realização da drenagem de infiltração do vale. No trecho em

questão, são várias as tubulações encontradas, que acabam drenando toda a

água da chuva que chega até as boca de lobo que estão nas ruas próximas ao

córrego.

O problema desta drenagem acaba sendo os resíduos sólidos e líquidos

que vem juntamente com a água, trazendo folhas e tocos de árvores, plásticos,

papéis, latas, entre outras coisas que podem tanto entupir as tubulações,

ocasionado problemas de infiltração, como podem também poluir as águas e o

vale do córrego.

65

Imagem 23 Imagem 24

Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007. Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007.

Para a análise das Imagens 23 a 28 será utilizado o conceito de

poluição, que no presente trabalho corresponderá ao acúmulo ambiental de

resíduos sólidos e líquidos decorrentes das atividades do homem, ou seja, os

resíduos que são produzidos por ação antrópica sendo lançados, no caso,

diretamente no Vale e no Córrego Água Fresca.

Com relação a poluição, ainda no médio curso do córrego, pode ser

observado nestas duas fotografias de 2007, a presença de papéis, plásticos,

garrafas e até um pedaço do que parece ser um pé de uma cama. Deve-se

ressaltar que ao longo do córrego foram encontrados diversos tipos de

resíduos sólidos, desde as mencionadas nestas fotos, até restos de

construção, como já mencionado anteriormente.

Imagem 25 Imagem 26

Autor: VAZ, Fábio, julho de 2008. Autor: VAZ, Fábio, julho de 2008.

66

Nestas duas fotografias, tiradas em 2008 (Imagens 25 e 26), pode-se

observar que a poluição é uma questão muito relevante em relação ao córrego.

As Imagens 25 e 26 revelam que tanto no leito do córrego como em seu vale

encontra-se muita poluição, sendo que até um saco preto com lixo doméstico

foi encontrado (Imagem 26), sem mencionar os plásticos, papéis, garrafas e

latas que vão se acumulando no local.

Imagem 27 Imagem 28

Autor: Pedro H., agosto de 2009. Autor: Pedro H., agosto de 2009.

Estas fotografias, tiradas em 2009 (Imagens 27 e 28), revelam que a

poluição está aumentando com o passar dos anos, visto que do trabalho de

campo realizado em 2007 para o realizado em 2008, a poluição observada

aumentou significativamente, assim como a de 2008 para a de 2009.

Neste trecho foi notado o maior índice de poluição causada por lixo

como, restos de móveis, pneus, lixos domésticos e óleo derramado no córrego,

como demonstrado nas imagens, sendo encontrado um colchão (Imagem 27),

e também isopor, garrafinhas de água, latas e plásticos, boiando numa água

oleosa (Imagem 28).

67

Imagem 29 Imagem 30

Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007. Autor: COSTA, Pedro H., out de 2007.

A poluição diagnosticada nas imagens anteriores (Imagens 23, 24, 25,

26, 27 e 28) revelam a situação alarmante do córrego, mas deve-se ressaltar

que existem instituições presentes no local que se importam e realizam

projetos para minimizar impactos gerados no córrego.

As fotografias tiradas próximo ao Centro Universitário Filadélfia – UniFil,

mostra uma lixeira e uma placa (Imagem 29) colocados em 2002 – 2003, para

representar um projeto de revitalização e intervenção urbanística e paisagística

do Córrego Água Fresca.

O referido projeto foi realizado por ação conjunta de alunos do curso de

Biologia e de Arquitetura e Urbanismo da própria UniFil, o qual engloba o

entorno da Universidade, tendo como foco a Rua Raja Gabaglia entre a Rua

Alagoas e a Rua Goiás. O objetivo deste projeto foi realizar um mutirão de

limpeza no córrego e plantar 1400 mudas de espécies de árvores nativas do

local.

Imagem 31 Imagem 32

Autor: VAZ, Fábio, julho de 2008. Autor: VAZ, Fábio, julho de 2008.

68

Do cruzamento do Córrego Água Fresca com a Rua Iowa até

praticamente sua foz, este se encontra sem canalização, ou seja, em seu leito

natural. O que se pode observar por meio das imagens é o problema do

assoreamento encontrado a partir deste ponto, e também a erosão que se

intensifica nas margens do córrego.

Na Imagem 31, observa-se que o volume de água do córrego está bem

baixo, motivado principalmente pela erosão, representada pela imagem 32, que

acaba alargando este, diminuindo assim sua profundidade.

Imagem 33 Imagem 34

Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009. Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009.

No baixo curso do Córrego Água Fresca, em frente ao Colégio

Universitário, foi construída uma ponte, a pedido da própria instituição, para

facilitar o acesso dos estudantes e da população ao local, sendo realizado

também um projeto paisagístico, no qual foram plantadas árvores, arbustos e

também colocaram bancos e lixeiras nas proximidades do córrego.

Conforme informações obtidas no Colégio Universitário, os alunos,

principalmente as crianças, realizam o plantio de árvores em datas

comemorativas, como o dia da árvore, dia do meio ambiente, entre outros.

Além disto, é realizado com ação dos professores um processo de

conscientização dos estudantes com relação à importância da água, do vale e

de assuntos pertinentes que possam ser discutidos no córrego.

Este tipo de iniciativa torna-se de fundamental importância para a

sobrevivência do córrego e do vale, pois estas crianças e jovens que passam

69

todos os dias pelo local necessitam de instrução e incentivo para poderem

intensificar o cuidado e a preservação para com o córrego.

Imagem 35 Imagem 36

Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009. Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009.

Ao atravessar a ponte mencionada nas imagens 33 e 34, encontra-se o

cemitério João XXIII, situado na Avenida da Saudade, entre as Ruas Monte

Castelo e Paranaguá.

O que é de fundamental importância analisar é o “grande” problema de

cemitérios próximo a córregos, rios, etc., que podem contaminar as águas

próximas pelo necrochorume, que é uma substância liberada por corpos em

seu processo de decomposição por até 6 meses - composto basicamente por

água, sais minerais e substâncias orgânicas biodegradáveis.

Para evitar esta contaminação, o solo do cemitério tem que estar

impermeável, ou seja, o necrochorume não pode alcançar os corpos d’água

próximos, processo que ocorre na maioria das vezes pela infiltração da água

da chuva, que leva este para córregos, rios, etc., ou ainda para o lençol

freático, contaminando-os com tal substância.

Por intermédio de pesquisas em jornais, revistas e internet, não foi

encontrado nenhum tipo de informação a respeito de contaminação do referido

córrego pelo necrochorume do Cemitério João XXIII.

70

Imagem 37 Imagem 38

Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009. Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009.

No baixo curso do Córrego Água Fresca, chegando à sua foz, este

novamente volta a ser canalizado, como se pode observar nas Imagens 37 e

38.

Assim, como já observado anteriormente, a foz do córrego também se

encontra assoreada, como pode ser observado pelo alargamento que este

ganha ao passar pelos três buracos paralelos representados na Imagem 38,

sendo conseqüência de um processo que ocorre ao longo de todo o córrego, o

processo erosivo, mas que se torna mais evidente a partir do médio curso do

córrego.

Os muros erguidos para realizar a canalização aberta com concreto,

são fundamentais para segurar o processo erosivo e conseqüentemente o

assoreamento do córrego, quando estes processos já estão bem acentuados.

Imagem 39 Imagem 40

Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009. Autor: COSTA, Pedro H., agosto de 2009.

71

Fechando o ciclo das águas do Córrego Água Fresca, chegamos a sua

foz, que se encontra canalizada como já mencionado, e deságua no Lago

Igapó II, que pode ser observado ao fundo da Imagem 40.

Deve-se ressaltar também, no presente trabalho, a participação do

Estado no tocante a projetos que envolvam o Córrego Água Fresca. Assim, é

de suma importância o ACQUAMETRÓPOLE.

O nome deste projeto é um conceito criado para definir uma região

metropolitana que tem como visão e missão estratégica promover a gestão

integrada e sustentável de seus recursos econômicos, sociais e naturais tendo

como eixo referencial o patrimônio hídrico.

O Córrego Água Fresca foi escolhido para inaugurar o

ACQUAMETRÓPOLE em Londrina. Este projeto teve início no ano de 2007. O

motivo da escolha do Água Fresca para iniciar as atividades do projeto, deve-

se principalmente pela sua localização (área central), seu intenso tráfego de

veículos, comércio, pequenas indústrias, residências, escolas e universidades,

que terão papel fundamental na realização do projeto.

Este projeto em Londrina é a ampliação e aperfeiçoamento do projeto

“Rio da Minha Rua”, desenvolvido pela Prefeitura Municipal, que tem como

formula básica inovação e ampla participação popular, visando assim uma

completa transformação sócio-ambiental.

A análise das imagens de diferentes períodos (que no caso do presente

trabalho são três anos) é relevante para entender e compreender a evolução,

em diversos aspectos, de uma determinada paisagem. Neste ponto, o trabalho

de campo e conseqüentemente as fotografias oriundas deste, são instrumentos

de análise do pesquisador de muita valia, sendo importante o acervo de

imagens/fotografias, pessoal, público ou mesmo privado, para que tais análises

possam ser realizadas.

No caso do Córrego Água Fresca por meio destes instrumentos, tanto o

trabalho de campo como as fotografias, pode-se observar a modificação da

paisagem deste local. Diversas mudanças foram observadas e registradas,

como por exemplo, a duplicação da Rua Goiás, a poluição e a erosão do vale,

além do envolvimento de instituições e do Estado com o córrego.

72

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização da presente monografia, vários aspectos que tangem

a análise da paisagem e dos aspectos físicos de uma bacia hidrográfica

puderam ser contemplados e observados.

Primeiramente ressalta-se que o levantamento teórico a respeito dos

recursos hídricos, principalmente a disponibilidade, os usos, a poluição e o

desperdício foi de fundamental importância, pois por intermédio de tais leituras

foi possível compreender a importância de preservá-los e conservá-los.

Também foi com base nestes referenciais teóricos, oriundos de uma

iniciação científica, e na realização de um trabalho sobre o Córrego Água

Fresca em uma das disciplinas da graduação, que selecionou-se o objeto de

estudo citado.

Para que os objetivos propostos pudessem ser contemplados, foi

imprescindível a realização dos trabalhos de campo, pois por meio destes

montou-se um acervo fotográfico da área de estudo, levando em consideração

a diferença de três anos entre o primeiro e o último campo, o que viabilizou a

análise da modificação da paisagem na Micro Bacia do Córrego Água Fresca.

Assim, o levantamento bibliográfico a respeito da paisagem aliado às

fotografias serviram como base para a micro bacia em questão poder ser

analisada.

Deste modo, a caracterização física da mesma supriu alguns dos

grandes problemas encontrados para entender os processos de formação da

paisagem do local.

A paisagem é fruto dos processos formadores do relevo, do solo, do

clima presente e conseqüentemente da vegetação, da hidrografia, da altitude,

ou seja, das características físicas ali encontradas. Assim, foi fundamental

compreender tais processos para analisar essa modificação paisagística.

Tal análise foi realizada pelos trabalhos de campo e pelas fotografias

tiradas, porém mais especificamente pela técnica do Geofotografismo, o qual

viabilizou o presente trabalho.

Esta técnica possibilitou ver, perceber, analisar e compreender os

processos e a modificação que ocorreu durante os anos na paisagem do

Córrego Água Fresca.

73

Os resultados obtidos após todo o levantamento bibliográfico, os

trabalhos de campo e análise das fotografias, é o de que mesmo em um

intervalo de tempo relativamente curto, no caso três anos, a paisagem passou

por diversas transformações, como pode ser observado no corpo deste

trabalho no capítulo sexto.

Deve ser ressaltado ainda, que a ação antrópica esteve presente em

todas, ou praticamente todas as mudanças ocorridas na paisagem, desde a

duplicação da Rua Góias (obra da engenharia humana que interferiu

diretamente no córrego e em seu vale), até mesmo nos projetos realizados por

algumas entidades no local de estudo, como o projeto de revitalização

realizado pela UniFil.

Essas ações antrópicas, muitas vezes foram impactantes negativas,

mas, algumas vezes, estes impactos foram solucionados de alguma forma, o

que revela a preocupação em cuidar de um local que futuramente pode ser vital

para a população.

Os grandes problemas analisados na realização desta monografia, sobre

a Micro Bacia do Córrego Água Fresca, foram as erosões encontradas e o

despejo de resíduos sólidos no local.

Tais problemas, como ressaltando anteriormente, são oriundos dessa

ação antrópica, sendo que muitas das erosões foram solucionadas,

principalmente devido ao plantio de gramíneas, como pode ser observado no

trecho da duplicação da Rua Goiás.

Já o problema do lixo só vem aumentando e, ao longo dos anos, muitos

resíduos sólidos foram jogados no local, o que revela a falta de consciência e

de conscientização da população que freqüenta o lugar.

Devem ser ressaltadas, também, as dificuldades encontradas. A

principal delas foi a limitação para trabalhar com softwares que servem para

produzir mapas, havendo a necessidade de adequação dos mesmos.

A partir destas conclusões, pode-se dizer que os objetivos traçados e

almejados foram alcançados. Com isso, é possível, por intermédio da presente

monografia, entender e observar o processo de modificação da paisagem na

Micro Bacia do Água Fresca.

74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

ARAÚJO, Rafael S. de. Micro Bacia do Ribeirão Cambé-Londrina-PR:

Levantamento Ambiental Utilizando Técnicas de Geoprocessamento e

Sensoriamento Remoto. 2004. 140 páginas. Tese (conclusão de curso) UEL.

Londrina, 2004.

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