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1 ANÁLISE DA OBRA DE JOSÉ DE ALENCAR – “O GUARANI” ALENCAR, José de. O Guarani. Nova Fronteira 2102. Saraiva de Bolso. Thaís dos Santos Souza 1 Graduanda em Licenciatura Plena em Letras – UFU A obra O Guarani constitui uma narrativa em 54 capítulos distribuídos em 4 partes: “Os aventureiros”, “Peri”, “Os Aimorés” e “A catástrofe” que desata toda a história. O cenário da história é ocupado pelo rio Paquequer e pelo rio Paraíba, pelas florestas e pela casa de D. Antônio de Mariz. Em síntese, o romance O Guarani é um romance em que um índio guarani, chamado Peri, além de tentar conviver com os colonos portugueses que invadem suas terras é apaixonado por uma mulher branca, Cecília, chamada de Ceci, Filha de D. Antônio, um fidalgo português, na qual a obra conta suas lutas dramáticas contra os índios que lhe incomodavam a casa e terras e também contra a revolta dos homens d’arma a seu serviço, provocado pelo Loredano, um ex-frade italiano. Peri, um índio que conquisto a alta gratidão de D. Antônio e o afeto espontâneo da jovem Ceci, isto porque, o corajoso e forte índio, certa vez salvo a jovem Ceci de uma avalancha de pedras. E por salvar mais de uma vez a vida de Ceci, Peri torna-se um leal e dedicado aliado de D. Antônio de Mariz. 1 Graduanda em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade Federal de Uberlândia e Bacharelanda em Direito pela Universidade de Uberaba. Experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, Literatura e Linguística. – [email protected]

Análise Da Obra de José de Alencar Guarani Thais

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Anális da Obra Guarani, de José de Alencar

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ANÁLISE DA OBRA DE JOSÉ DE ALENCAR – “O GUARANI”

ALENCAR, José de. O Guarani. Nova Fronteira 2102. Saraiva de Bolso.

Thaís dos Santos Souza1

Graduanda em Licenciatura Plena em Letras – UFU

A obra O Guarani constitui uma narrativa em 54 capítulos distribuídos em 4 partes: “Os

aventureiros”, “Peri”, “Os Aimorés” e “A catástrofe” que desata toda a história. O cenário da

história é ocupado pelo rio Paquequer e pelo rio Paraíba, pelas florestas e pela casa de D.

Antônio de Mariz.

Em síntese, o romance O Guarani é um romance em que um índio guarani, chamado

Peri, além de tentar conviver com os colonos portugueses que invadem suas terras é

apaixonado por uma mulher branca, Cecília, chamada de Ceci, Filha de D. Antônio, um fidalgo

português, na qual a obra conta suas lutas dramáticas contra os índios que lhe incomodavam a

casa e terras e também contra a revolta dos homens d’arma a seu serviço, provocado pelo

Loredano, um ex-frade italiano. Peri, um índio que conquisto a alta gratidão de D. Antônio e o

afeto espontâneo da jovem Ceci, isto porque, o corajoso e forte índio, certa vez salvo a jovem

Ceci de uma avalancha de pedras. E por salvar mais de uma vez a vida de Ceci, Peri torna-se

um leal e dedicado aliado de D. Antônio de Mariz.

Diante disto, tornando-se Cristão, Peri, recebe do fidalgo português a missão de salvar

sua filha quando, impossibilitado de resistir por mais tempo à investida numerosa dos

selvagens, resolve destruir sua casa para não se render.

A partir de então, veremos que o livro em si é colocado como a formação da etnia

brasileiro, isto pelo fato dou autor classificar O guarani como “romance histórico”, tendo o fim

de mostrar um período da historia do Brasil em que este era desbravado e colonizado pelos

portugueses. Isto mostra que a importância de D. Antônio de Mariz: “Homem de valor,

experimentando na guerra, afeito a combater os índios, prestou grandes serviços nas

descobertas e explicações do interior de Minas e Espírito Santos”.

1 Graduanda em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade Federal de Uberlândia e Bacharelanda em Direito pela Universidade de Uberaba. Experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, Literatura e Linguística. – [email protected]

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Isto tudo se dá pelo fato do estilo de Alencar ser inconfundível, por levar uma

imaginação insuperável, surpreendendo o leitor com brilhantes comparações e figuras,

aproveitando, de elementos indígenas e a natureza brasileira. Assim, com sua simplicidade e a

criação de estilo brasileiro, com um modo de escrever que reflete o espírito do povo brasileiro e

as particularidades sintáticas e vocabulares do falar brasileiro, tendo acrescentado inúmeros

tupinismos e brasileirismos à língua nacional o faz um autor sofisticado que aprofundou todas

as contradições do chamado romance romântico, pois isso Alencar é considerado o fundador do

romance brasileiro.

Já o foco narrativo da obra se faz em terceira pessoa, sendo o narrador onisciente

intruso, pelo fato do narrador possuir acesso aos personagens e sentimentos dos mesmos, ele

também expõe no decorrer da narrativa comentários sobre as atitudes delas. Tal atitude do

narrador influencia diretamente o leitor, com a ideia de que o índio seja ou poderia ser um herói

nacional, exaltando a natureza nacional, como bem mostra no fragmento adiante: “O contato

deste solo virgem do Brasil, o ar puro destes desertos, remoço-me durante os últimos anos.”

(p.175).

Posto isto, passemos a fragmentar a obra O guarani de José de Alencar, analisando toda

sua estrutura.

Primeiramente, o titulo dado ao livro “O guarani”, significa o indígena brasileiro. Na

qual Peri, protagonista da história, seria não só o representante da grande nação tupi-guarani,

como também símbolo do aborígine brasileiro em geral.

Como se vê o romantismo é um estilo do qual se concentra no coração com o fim de

sensibilizar o leitor, sendo o amor uma das suas principais temáticas. E isso não é difícil de

perceber em O Guarani, como a história de amor entre Isabel e Álvaro e de Peri e Cecília.

Outros pontos que caracterizam bem o romantismo na obra é a exaltação de sentimentos

como lealdade, nobreza, bravura, honra que retrata bem os personagens românticos como a

Cecília, D.Antônio, Peri e Álvaro. A atitude frequente e a procura de solidão, como no caso da

atitude de D. Antônio que se isola num recanto, longe da sociedade. O fragmento seguinte

também retrata bem a atitude do individual, isto é, da solidão; “e deixando sua prima um

momento só no jardim, foi agasalhar os seus dois companheiros de solidão...” (p.50).

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Outros aspectos românticos posto na obra é o sentimento religioso, do qual a difusão do

cristianismo é retratada como uma missão, um compromisso em que o personagem romântico

sempre se propõe, um exemplo deste é a passagem abaixo:

“em religião o mesmo sucedia; e um dos maiores desgostos que ela sentia

na sua existência, era não se ver de todo esse aparato do culto, que d.

Antonio, como os homens de uma fé robusta e de um espírito direito,

tinha sabido substituir perfeitamente.” (p.55).

Outro exemplo é logo no inicio, quando toda família se silencia para a “prece” quando a

própria natureza parecia dizer “Ave-Maria” (p.58). a identificação que Peri via de Cecília com

Nossa Senhora e o próprio Batismo de Peri, retrata bem essa postura religiosa que o romance

traz.

Em seguida, se tem mais uma característica que define uma postura romântica na obra,

que é a busca do ideal, que está bem retratado nas façanhas hercúleas e sobrenaturais do índio

Peri que “ havia lutado com o tigre, com os homens, com uma tribo de selvagens, com o

veneno; e tinha vencido”. E a representação de Cecília, como a mulher-anjo dos românticos,

sempre loira e de olhos azuis. Assim como retrata no fragmento a seguir: “[...] Cecília tinha a fé

cristã em toda a pureza e santidade..” e em “não, respondeu a menina fitando nele os grandes

olhos azuis.”, (p.224).

O nacionalismo é outro aspecto romântico que Alencar pontua na obra. Cabe visualizar

que Peri não só representa esse ideal com sua lealdade e nobreza, coragem e força, como

também a terra, a paisagem, está bem exaltada de forma ufanista e patriótica: “D. Antônio de

Mariz, sentado junto de sua mulher, contemplava por entre uma abertura das folhas o céu azul e

aveludado de nossa terra, que os filhos da Europa não se cansam de admirar” (p.126).

A representação de Isabel, como sua cor de jambo e sua sensualidade retrata bem a

mulher brasileira como bem mostra o fragmento a seguir: “os olhos grandes e negros, o rosto

moreno e rosado, cabelos pretos, lábios desdenhosos, sorriso provocador, davam a este rosto

um poder de sedução irresistível.” (p.46).

Por fim, outro aspecto frequente no romance romântico é a oposição heróica x vilão,

que é bem marcante no O Guarani, como bem mostra os capítulos : “lealdade” (p.27), “Gênio

do mal” (p.132), “vilania” (p.146).

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Como se sabe, na obra, o vilão é o ex-frade italiano Loredano, “o frade renegado”, “ o

gênio do mal”, que visava à morte de D. Antônio de Mariz e a rapto de Cecília a quem desejava

muito. Tal vilão está bem presente dentro da estrutura do romance, pois é ele que, assumi o

papel de antagonista, realçando as virtudes do protagonista e deflagrando as ações.

O exemplo bem exposto do vilão está no episodio em que o Loredano quase mata

Álvaro à traição, vindo a demonstrar bem do que era capaz. Porém, Peri sempre surge na hora

oportuna e o vilão acabando sendo vítima de sua própria maldade.

Por sua vez, os verdadeiros heróis românticos, se colocam donos de virtudes e

qualidades que os sublimam e dignificam, tais como a lealdade, honra, nobreza, coragem,

tenacidade, dignidade etc. como é o caso de D.Antônio, de Álvaro, de Peri.

Diante de tudo o que foi dito até então, se observa dentre outros aspectos o sentido

nacionalista que sobressai na própria linguagem da obra de Alencar, transcorrido de uma

melodia, sintaxe próprias do Brasil, com inúmeros vocábulos indígenas. Isto porque a

linguagem usada na obra é uma língua mais brasileira do que portuguesa, ou seja, o narrador

mostra como falava o povo brasileiro da época.

Além dessa marca nacionalista na obra, outros aspectos caracterizam também a

linguagem utilizada em O guarani, como o gosto pela descrição, que marca bem o estilo do

autor, como é o caso da descrição abaixo de Cecília:

“os grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se abriam

languidamente como para se embeberem de luz, e abaixavam de

novo as pálpebras rosadas. Os lábios vermelhos e úmidos

pareciam uma flor da gardênia dos nossos campos, orvalhada pelo

sereno da noite; o hábito doce e ligeiro exalava-se formando um

sorriso” (p.44).

Refletindo a seguir, o nacionalismo da linguagem, é frequente a próclise inicial, por ser

vista como uma linguagem coloquial brasileira.

“- Ah! trouxe viva! Mas não vedes que é impossível!” (p.90)

“- Merece uma reprimenda: lha darei e forte.” (p.91)

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Por sua vez, a ênclise indevida era meio que incoerentemente, já que havia situações

não permitidas pela gramática tradicional, frequentes, isto para refletir colocação brasileira:

“...uma lágrima que desfiava-lhe pela face” (p.74)

“quando levantou-se, o seu rosto exprimia grande surpresa” (p.104)

Outros aspectos da linguagem usada na obra é a flexao do verbo fazer quando indica

tempo: “... depois de amanhã fazem três semanas” (p.52). As corporações poéticas, que são

constantes e sempre associadas a elementos da natureza:

“- Peri, só defendera sua senhora: não precisa de ninguém. É

forte; tem como a andorinha as asas de suas flechas; como a

cascavel o veneno das setas; como o tigre a força de seu braço;

como a ema a velocidade de sua carreira.” (p. 202).

Agora, partiremos para a caracterizaçao das personagens românticas, na qual em

O guarani, os mais importantes são:

Peri: um super humano , simbolizado da terra e da pátria brasileira, encarnando bem as

qualidades que o autor lhe confere, como sendo-o corajoso, bravo, impetuoso, leal e nobre,

como reconhece o próprio D.Antônio.

“è para mim uma das coisas mais admiráveis que tenho visto

nesta terra, o caráter desse índio. Desde o primeiro dia que aqui

entrou, salvando minha filha, a sua vida tem sido só ato de

abnegação e heroísmo. Crede-me, Álvaro, e um cavalheiro

português no corpo de um selvagem!’ (p.64)

Observa-se que Alencar traz a tona Peri pelo fato dele ser um selvagem idealizado, dono

de qualidades que fariam inveja aos nobres e leais fidalgos medievais. Por outro lado, é o

protetor de Cecília, isto é é o seu “anjo da guarda”, como bem diz D.Antônio: “A casa onde

habito um amigo dedicado como este, tem um anjo da guarda que vela sobre a salvação de

todos” (p.177).

Alencar retrata Peri como um símbolo nacional, sendo um homem primitivo e

selvagem, bom e puro:

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“Álvaro fitou no índio um olhar admirado. Onde é que este

selvagem sem cultura aprendera a poesia simples, mas graciosa;

onde bebera a delicadeza de sensibilidade que dificilmente se

encontra num coração gasto pelo atrito da sociedade?” (p.156)

Peri sem duvida, como já dito antes, é a exaltação da força, da coragem e da nobreza do

indígena brasileiro. Índio este, que era um elemento americano, autóctone, que atestava bem a

nossa nacionalidade e a nossa recente independência, com a sua bravura e a sua força

simbolizando bem a bravura e a força do povo brasileiro.

Diante de tudo isso, se conclui que Alencar traz a tona o personagem Peri além de tudo

o que foi dito sobre o índio, também por simbolizada uma união, entre um índio e uma mulher

branca que é Peri e Cecília, no contato de ambos brotarem o povo brasileiro.

Cecília: com seus lábios vermelhos, grandes olhos azuis e longos cabelos louros (p.45).

como já foi dito, Alencar a encarna como a mulher-anjo do Romantismo. Ela é bela, pura,

virgem, inocente, dona de qualidades morais e dignas de uma heroína romântica.

D. Antônio de Mariz: um protótipo do fidalgo medieval, colocando a lealdade, a honra,

a dignidade e a nobreza acima de tudo: “Português de antiga tempera, fidalgo leal, entendia que

estava preso ao rei de Portugal pelo juramento da nobreza e que só a ele devia preito e

mensagem’ (p. 30).

Loredano: é um personagem muito importante na obra, pois sem ele não seria possível

muitas ações nobres e dignas do protagonista, ele é o vilão da história, representando o

antagonista. é um frade renegado, levando uma vida cheia de crises.

Isabel: “era um tipo inteiramente diferente de Cecília; pois é um tipo brasileiro em oda a

sua graça e formosura, com o encantador contraste de languidez e malícia, de indolência e

vivacidade” (p.49). ela é filha natural de D.Antônio, sendo uma mistura de anjo e demônio,

pois “ vendo essa moça morena, lânguida e voluptuosa, o espírito apegava-se á terra, esquecia o

anjo pela mulher; em vez do paraíso, lembrava-lhe algum retiro encantador, onde a vida fosse

um breve sonho” (p.182)

Outros personagens frisados são: D.Lauriana, esposa de D.Antônio; seu filho, D. Diogo,

responsável pela morte da índia que provocou a vingança dos aimorés; e seu escudeiro, Aires

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Gomes, que empresta um pouco de comicidade à narrativa. Outro destaque, são os aimorés que,

também assumem a função de antagonista.

Por fim, concluindo nossa raciocínio da obra, partiremos a analise da afirmação bem

colocada de Oswaldo de Andrade em que ele diz: “Nunca fomos catequizados. Fizemos foi

carnaval. O índio vestido de senador do império. (...) ou figurando nas óperas de Alencar cheio

de bons sentimentos portugueses.” Neste fragmento Andrade retrata bem a questão indianista,

nos fazendo lembrar de Peri, um índio, que fora catequizado e moldando com os costumes

europeus . Assim, Andrade ao dizer que nunca fomos catequizados e que fizeram foi carnaval,

é que ao tentar catequizar os índio, tiram deles a inocência e a malicia que tinham enquanto os

portugueses não chegará até então, virando uma bagunça, um carnaval. Desta forma, o escritor

faz uma critica a essa moldagem que fizeram com os índios.

REFERÊNCIAS

ALENCAR, José de. O Guarani. Nova Fronteira 2102. Saraiva de Bolso.

ALENCAR, José de. Como e porque eu sou romancista. In Obras completas.

                                                , O Guarani. Porto Alegre: L&P, 2011. 320 p.

SEKOEN, Maria Tereza Bueno S.G. O Guarani, de José de Alencar: uma história de amor

e de construção de uma nação. 2010.

SRÁMKOVÁ, Lucie. A figura do índio brasileiro no romance O Guarani de José de

Alencar. 2010.