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ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO
TRABALHO (QVT): UM ESTUDO DE
CASO EM UMA EMPRESA NO SETOR
SUPERMERCADISTA DO INTERIOR
MINEIRO
Luan Zuchi Ribeiro (UNIARARAS )
Ivana Salvagni Rotta (UNIARARAS )
As organizações recentemente têm enfatizado a importância à
programas de qualidade de vida no trabalho (QVT), visto seu impacto
positivo nos resultados das empresas. Nesse sentido o trabalho teve
como objetivo analisar a qualidade de vida dde uma pequena empresa
do setor supermercadista do interior de Minas Gerais. A pesquisa
caracterizou-se como quantitativa e descritiva tendo o estudo de caso
como procedimento metodológico. Para avaliação dos dados foi usado
um questionário adaptado do modelo teórico proposto por Walton
(1973). O questionário se mostrou confiável visto seu alto valor do Alfa
de Cronbach =0,87.
Palavras-chave: Qualidade de vida no trabalho;
Supermercadista;Satisfação
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
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1. Introdução
As profundas transformações vividas em nossa sociedade nos últimos anos, em grande parte
devido à globalização, vieram por acarretar em um ambiente corporativo extremamente
complexo e competitivo, marcado por grandes mudanças comportamentais no ambiente de
trabalho, onde se verifica cada vez mais, o aumento de tarefas a serem realizadas pelos
colaboradores e uma constante busca por resultados dos mesmos.
Para a sobrevivência nesse mercado, organizações buscam qualidade com máxima
produtividade, levando em consideração que pessoas são os ativos mais importantes das
empresas, nesse sentido, supõe-se que elas devam ser valorizadas como tal. No entanto, nem
sempre a gestão de pessoas é feita com esse viés e no atual cenário empresarial, a ideia da
qualidade de vida do trabalho (QVT) parece incongruente com a situação dada.
Sendo a QVT um fator importe na promoção do bem-estar do trabalhador, a implementação
de programas de QVT é essencial nos dias de hoje para a competitividade entre as empresas
sendo um fator de diferenciação entre elas. Ainda mais no setor supermercadista, onde a
qualidade do serviço prestado está intimamente relacionada com o bem-estar do colaborador,
devido ao seu contato direto com o cliente.
Ao longo dos anos, vários autores têm se dedicado à criação de modelos teóricos devido à
complexidade e multidisciplinaridade humanista do tema. Tais modelos visam possibilitar a
avaliação do QVT dentro das organizações podem ser destacados os modelos propostos por:
Walton (1973), Westley (1979), Davis & Werther (1981), Huse & Cummig (1983).
No Brasil, a discussão do tema QVT vem sendo sistematicamente ampliada, o que pode ser
percebido devido à grande produção de trabalhos acadêmicos nesta área.
Alguns trabalhos recentes foram realizados no contexto de avaliação da QVT no setor de
serviços tais como Bartoski e Stefano (2007) e Barcelo e Freitas (2012) em serviços bancários
e Silva et. al (2014) em uma rede de supermercado.
O presente estudo propõe-se analisar a qualidade de vida de uma pequena empresa do setor
supermercadista do interior de Minas Gerais. Para avaliação dos dados foi usada uma
adaptação do modelo teórico proposto por Walton (1973). O estudo foi estruturado em três
partes: a primeira parte tratou de uma revisão da literatura sobre a QVT e o modelo de
avaliação proposto por Walton; a segunda parte é composta pela metodologia utilizada no
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estudo; e a última parte contém a análise dos resultados, as considerações finais e as
referências.
2. Referencial Teórico
2.1 Qualidade de Vida no Trabalho - QVT
A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), pode ser definida de acordo com Limongi-França
(2004) como: “um conjunto de ações de uma empresa que envolvem diagnósticos e
implementação de melhorias e inovações gerencias, tecnológicas e estruturais, dentro e fora
do ambiente de trabalho visando proporcionar condições plenas de desenvolvimento humano
para e durante a realização do trabalho”.
A qualidade de vida no trabalho tem sido uma preocupação do homem desde do início de sua
existência com outros títulos e outros contextos, mas sempre voltada para facilitar ou trazer
contentamento e o bem-estar ao trabalhador no ato de sua tarefa (RODRIGUES,1994).
Entretanto somente no começo do século XX, com a maior racionalização do trabalho é que
as preocupações em relação as condições ambientais dentro da empresa a qual os
trabalhadores estavam submetidos vieram a ser estudadas de maneira científica (VIEIRA,
1996).
A origem do movimento qualidade de vida no trabalho (QVT) se dá na década de 1950, com
o surgimento da abordagem sócio técnica, que tem origem numa série de estudos de Eric
Trist, realizados em Londres, que tinha como objeto tornar a vida dos trabalhadores menos
árdua. (FERNANDES,1996).
Na década seguinte, a maior conscientização dos trabalhadores e o aumento das
responsabilidades sociais das empresas, contribuíram para que dirigentes organizacionais
pesquisassem novas formas de realizarem o trabalho. E na década de 1970, em uma
conferência internacional do trabalho o termo QVT veio à tona através do Professor Louis
Davis. (VIEIRA,1996).
Nas últimas décadas, vários estudiosos conceituaram a QVT, e de acordo com Fernandes
(1996), não há como atribuir uma definição consensual sobre QVT, pois o conceito engloba
atos legislativos que protegem o trabalhador e o atendimento das aspirações humanas.
A implementação de programas de QVT podem ser desafiadoras a princípio pelos seus custos,
mas esses programas se justificam, pois, possibilitam uma maior produtividade conforme
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aponta Lima (1998, p.11) "um programa de qualidade de vida representa custos. No entanto,
vale a pena se a empresa tem a intenção de melhorar sua produtividade, sua imagem ter
funcionários contestes convivendo em um ambiente saudável”.
2.2 Modelo de Walton de QVT
Walton foi o primeiro autor que baseia visivelmente, uma gama de fatores sob a ótica
organizacional de avaliação do QVT, iniciando uma significativa linha de pesquisa de
satisfação. As categorias, por Walton denominada como “critérios”, não foram dispostas em
ordem de prioridade, sendo atribuídas a cada uma delas, a mesma importância na QVT. Os
critérios podem ser abordados da seguinte forma:
Compensação justa e adequada: o trabalho, em primeiro plano, é visto como meio
do indivíduo de se sustentar. Nesse critério foi estabelecida uma relação entre QVT
em função de sua remuneração recebida pelo trabalhador e a equidade dessa
remuneração seja interna ou externa;
Condições de trabalho: nesse critério as condições físicas e a jornada de trabalho às
quais o trabalhador é submetido em seu emprego são abordadas. Essa dimensão pode
ser melhorada por meio de estabelecimento de horários razoáveis e padronizados;
Uso e desenvolvimento das capacidades: no sentido de proporcionar oportunidades
de carreira, no que tange a oportunidade de utilidade de todas as habilidades. Para
avaliação desse critério destacam-se: a autonomia, múltiplas habilidades, perspectiva e
a informação;
Oportunidades de crescimento e segurança: esta categoria a oportunidade de
carreira e segurança e estabilidade no trabalho são abordadas. Nesse quesito podemos
encontrar uma barreira instransponível a da exigência de alta instrução para cargos
mais altos dentro das estruturas da organização;
Integração social na organização: estabelece pontos fundamentais para uma boa
integração social dentro do trabalho. Os fatores de influência deste critério são:
preconceito, igualdade social, mobilidade social, companheirismo e troca de
informações;
Constitucionalismo: Os membros de uma empresa são afetados pelas decisões por ela
tomada. Nesse critério são abordados o estabelecimento de normas e regras da
organização e os direitos dos trabalhadores;
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Trabalho e espaço total na vida: As experiências vivenciadas no trabalho refletem de
forma positiva ou negativa em outras esferas da vida, tais como o convívio familiar.
Prolongados períodos de trabalho podem causar sérios danos na vida pessoal dos
colaboradores, o trabalho, nesse sentido, não pode absorver a energia e limitar a
capacidade de lazer para a vida comunitária;
Relevância social: A responsabilidade social praticada pela empresa é percebida pelo
trabalhador, de forma a melhorar a sua autoestima, sendo o trabalho o trabalho uma
atividade social que traga orgulho para quem pratica. A empresa deve ter uma atuação
e uma imagem perante a sociedade.
Mesmo após quatro décadas da sua publicação, o modelo teórico de Walton tem sido um dos
modelos mais utilizados para subsidiar pesquisas – quantitativas e qualitativas– na área da
QVT. No Brasil, o modelo de Walton tem sido utilizado em grande escala, superando a
utilização dos demais modelos, sendo considerado o mais completo modelo utilizado,
principalmente, por estudiosos da administração de recursos humanos e da psicologia
organizacional.
O modelo teórico de Walton pode apresentar algumas limitações, principalmente em sua
aplicabilidade, pois é comum que alguns funcionários ao tentarem responder o instrumento,
apresentem dificuldades em interpretar a forma original do modelo, devido à utilização de
termos e expressões técnicas, que em muitos casos, tiveram origem em traduções literais.
(TIMOSSI et al. 2009 p.396).
3. Metodologia
Esta pesquisa se caracteriza em sua abordagem como quantitativa que segundo Lakatos e
Marconi (2001) consiste em investigações de pesquisa empírica cuja principal finalidade é o
delineamento ou - análise das características de fatos ou fenômenos.
Ela tem caráter descritivo que de acordo com Gil (2008) possuem como objetivo a descrição
das características de uma população, fenômeno ou de uma experiência. Tal pesquisa foi
realizada por meio de um estudo de caso, que segundo Gil (2008) é uma modalidade de
pesquisa que consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira
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que permita seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa quase impossível mediante outros
delineamentos a serem considerados.
O segundo bloco visa a avaliação da QVT por meio de 36 questões (dimensões) subdivididas
em 8 critérios seguindo o modelo teórico de Walton. Entretanto, nesta pesquisa, o termo
constitucionalismo foi substituído por normas e regras do trabalho, para maior simplicidade
de entendimento dos colaboradores. O Quadro 1 apresenta os fatores e critérios do modelo
proposto por Walton em comparação ao utilizado nessa pesquisa.
Para o levantamento foi utilizado um questionário foi aplicado aos funcionários de uma
pequena empresa do setor supermercadista, no interior de Minas Gerais, tendo sido aplicados
22 questionários durante o mês de dezembro de 2015. A escala usada para as alternativas dos
questionários seguiu a escala Likert, que de acordo com Apolinário (2011) é o tipo de escala
de atitude na qual o respondente indica o seu grau de concordância ou discordância em
relação a determinado objeto. Foram utilizados cinco itens: Muito insatisfeito, Insatisfeito,
Indiferente, Satisfeito e Muito Satisfeito. As respostas posteriormente foram convertidas em
valores de 1 a 5 para maior facilidade de tabulação dos resultados.
Quadro 1- Fatores e dimensões do Modelo de Walton e sua adaptação
Fatores do
Modelo de
Walton
Dimensões do
Modelo de Walton
Fatores
correspondentes
ao Modelo de
Walton na
pesquisa
Dimensões correspondentes ao Modelo de Walton
na pesquisa
1.Compens
ação justa e
adequada
1.1Renda adequada ao
trabalho
1.Em relação a
compensação
justa e adequada
1.1Sua remuneração (Q1)
1.2Seu salário quando comparado a profissionais que
atuam na mesma área que a sua. (Q2) 1.2Equidade interna
1.3A política de participação dos lucros praticado pela
empresa (Q3)
1. Equidade externa 1.4Benefícios extras oferecidos pela empresa (Q4)
2.
Segurança e
saúde nas
condições
de trabalho
2.1Jornada de trabalho
2.Em relação as
condições de
trabalho
2.1A salubridade (Q5)
2.2A disponibilidade de equipamentos de segurança.
(Q6) 2.2Ambiente físico
seguro e saudável 2.3Cansaço proporcionado pelo seu trabalho. (Q7)
3.
Oportunida
de imediata
para
3.1Autonomia 3. Em relação a
utilização e
desenvolvimento
da capacidade
3.1Sua oportunidade de tomar decisões dentro da sua
empresa. (Q8)
3.2Significado da
tarefa
3.2A importância da sua atividade que você realiza
dentro da organização (Q9)
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utilização e
desenvolvi
mento das
capacidades
humanas
humana 3.3Polivalência de suas atividades (Q10)
3.3 Identidade da
tarefa 3.4A sua avaliação de desempenho (Q11)
3.4 Variedade de
habilidades
3. Grau de participação, permitindo pela organização,
no planejamento de próprio trabalho (Q12)
3.5 Retro informação
3.Seu conhecimento de todos os processos que
ocorrem dentro da empresa a qual você faz parte
(Q13)
3.7 O feedback (resposta, retorno) dada pela gerencia
pela execução de suas tarefas (Q14)
4.
Oportunida
de futura
para
crescimento
contínuo e
garantia
profissional
4.1 Possibilidade de
carreira
4.Em relação as
oportunidades de
crescimento
pessoal
4.1A sua oportunidade de crescimento profissional
(Q15)
4.2 As promoções dadas pela empresa (Q16)
4.2 Crescimento
profissional 4.3Os treinamentos que você faz (Q17)
4.4 A frequência em que ocorrem as demissões no seu
trabalho (Q18) 4.3 Segurança de
emprego 4.5Em relação ao incentivo que a empresa dá para
você estudar (Q19)
5.
Integração
social na
organização
5.1 Igualdade de
oportunidades
5. Em relação a
integração social
no seu trabalho
5.1 A discriminação (social, racial, religiosa, sexual,
etc.) (Q20)
5.2Ao seu relacionamento com seus colegas e seu
superior (Q21) 5.2 Relacionamento
5.3Ao comprometimento da sua equipe e dos colegas
com o trabalho (Q22)
5.3 Senso comunitário 5.4 A valorização de suas ideias e iniciativas no
trabalho (Q23)
6.
Constitucio
nalismo
6.1 Respeito às leis e
aos direitos
trabalhistas
6. Em relação as
Regras e normas
da organização
6.1Ao respeito dos direitos humanos praticado pela
sua empresa (Q24)
6.2 Privacidade
pessoal 6.2 A sua liberdade de expressão no trabalho (Q25)
6.3 Liberdade de
expressão 6.3As normas e regras do seu trabalho (Q26)
6.4 Normas e rotinas 6.4 A sua individualidade (Q27)
7. Trabalho
e espaço
total
da vida
7.1 Papel balanceado
do trabalho
7.Em relação ao
espaço que o
trabalho ocupa
na vida
7.1 A influência do trabalho sobre sua vida/rotina
familiar (Q28)
7.2 A influência do trabalho sobre sua possibilidade de
lazer (Q29)
7.3Com seus horários de trabalho e de descanso (Q30)
7.4Ao tempo que você passa com sua família, sem ser
afetado pelo trabalho (Q31)
8.
Relevância
social do
trabalho
8.1 Imagem da
empresa
8. Em relação a
relevância social
e importância do
trabalho
8.1 Ao orgulho de realizar o seu trabalho, como você
se sente (Q32)
8.2Com a imagem que esta empresa tem perante a
sociedade (Q33)
8.2 Responsabilidade
social pelos serviços
8.3A integração comunitária (contribuição com a
sociedade) que empresa tem(Q34)
8.4A preocupação dela ao prestar um serviço ou um
produto a seu cliente (Q35) 8.3 Responsabilidade
social pelos
empregados
8.5A política de recursos humanos (a forma da
empresa tratar os funcionários) que a empresa
tem(Q36)
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Fonte: Elaboração própria. Adaptado de Walton (1973)
4. Resultados e Discussões
4.1. Calculo da confiabilidade
A confiabilidade do questionário foi medida através do α de Cronbach (CRONBACH, 1951),
constituindo um dos procedimentos estatísticos mais utilizados para calcular a confiabilidade
de um questionário para avaliação de um objeto a que se destina, ele é estabelecido como um
índice que serve para avaliar a magnitude em que os itens de um instrumento estão
correlacionados (CORTINA, 1993).
Para se avaliar o alfa, considera-se X como sendo uma matriz n x k que corresponde às
respostas quantificadas de um questionário. Cada linha de X representa um sujeito e cada
coluna representa uma questão. Segundo Leontitsis e Pagge (2007) o coeficiente alfa de
Cronbach é mensurado de acordo com a Equação 1:
(1)
Onde σ2
τ é a variância das colunas de X, ou seja, é a variância relacionada à cada questão de
X, e o σ2
i é a variância da soma de cada linha de X, ou seja, é a variância da soma das
respostas de cada sujeito. Também deve ser observado que k deve ser maior do que 1 para que
não haja zero no denominador.
Freitas e Rodrigues (2005), sugerem uma classificação de confiabilidade a partir do α de
Cronbach, visto o não consenso a respeito da interpretação desse instrumento, conforme a
tabela 1 abaixo.
Tabela 1 - Classificação da confiabilidade a partir do coeficiente α de Cronbach
Confiabilidade e
de α Muito baixa Baixa Moderada Alta
Muito
Alta
Valor de α α<=0,3 0,3<α<=0,6 0,6<α<0,75 0,75<α<=0,9 α>0,9
Fonte: Adaptado de Freitas & Rodrigues (2005)
Calculou-se o alfa por meio da Equação 1, que contempla a variância. Dispondo-se os
resultados obtidos em uma tabela, onde as linhas representavam os respondentes do
supermercado e as colunas os itens do questionário, puderam ser determinados os parâmetros
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da fórmula. A equação 2 mostra o cálculo do α. O quadro 2 mostra o resultado obtido pelo
alfa e o número de variáveis do questionário.
(2)
Quadro 2 – Alfa de Cronbach e n° de variáveis na pesquisa
Alfa de Cronbach Nº de variáveis
0,87 36
Fonte: Elaboração própria
4.2 Análise dos dados do bloco I
Os dados obtidos no Bloco I do questionário relatam que:
59,1% dos respondentes são do sexo masculino;
63,6% deles são solteiros;
40,9% tem menos de 1 ano de empresa e apenas;
9,1% tem mais de 10 anos; 63,3% possuem apenas o ensino fundamental;
68,1% trabalham mais que 40 horas semanais;
18% relatam mudança de setor.
A figura 1 mostra as distribuições de frequências desses dados.
Figura 1-Respostas dos colaboradores ao Bloco I
Fonte: Elaboração própria
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Com isso, pode-se concluir que a empresa é constituída por funcionários de baixa
escolaridade, que há uma alta rotatividade, e que há uma baixa perspectiva de mudança de
cargo dentro da organização.
4.3 Análise dos Dados do Bloco II
O bloco II contém as questões referentes à avaliação da QVT no supermercado, onde o
colaborador informa o seu grau de satisfação em relação às questões. A figura 2, mostra a
variância e a média de cada questão assim como a média dos 8 critérios e pôr fim a média
geral e o alfa de Cronbach obtidos no questionário.
Figura 2 -Análise das dimensões
Fonte: Elaboração própria
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Analisando a figura 2 é possível perceber que a média geral é 3,6. Visto que o índice vai de 1
a 5 é possível dizer que no geral há um grau de satisfação positivo quanto as questões
relacionadas a satisfação no trabalho no supermercado estudado.
O primeiro critério analisado foi quanto à compensação justa e adequada com uma média de
(3,03), sendo que o critério que apresentou pior desempenho obteve pontuação (0,57) menor
que a da média geral. Nesse critério as dimensões mais críticas foram a Q3 e Q4 que se
referem à política de participação de lucros e os benefícios oferecidos pela empresa. Isso
indica uma insatisfação dos funcionários com sua remuneração, maior ainda quanto à
participação dos lucros e os benefícios oferecidos pela organização, o que se deve ao fato de
alguns funcionários relatarem a ausência de benefícios como plano de saúde ou vale
transporte.
Em relação às condições de trabalho verificou-se uma média bem semelhante à média geral
com uma diferença apenas de (-0,07). Entretanto, a Q7 foi uma das dimensões mais críticas de
toda pesquisa, que se refere ao cansaço proporcionado, mostrando que as atividades
executadas no dia-a-dia desses funcionários são desgastantes.
No entanto, foi possível verificar uma satisfação alta quanto Q5 e Q6 que se referem a
salubridade e às normas de segurança do trabalho, visto que eles trabalham em um lugar
arejado e em respeito à legislação trabalhista, somente em alguns setores a verificação de
pouco espaço devido e ao layout ruim do supermercado.
No caso do uso e o desenvolvimento da capacidade humana, a média de satisfação é
semelhante com a média geral, uma diferença de apenas (-0,06), indicando uma alta satisfação
nesse critério. Visto que as tarefas são bem definidas e há uma percepção de responsabilidade
e comprometimento por todos colaboradores. Mostrando que o funcionário tem espaço para
desenvolverem sua potencialidade, tendo certo grau de autonomia e identificação com a tarefa
executada. A Q10 foi a dimensão que apresentou menor satisfação, devido ao fato de alguns
colaboradores realizarem a mesma atividade todos os dias, o que pode acarretar em uma
rotina estressante e cansativa.
Em relação à oportunidade e segurança dentro da empresa, o critério também apresentou
índice semelhante à média, com uma diferença de (-0,02) da mesma, isto indica uma
satisfação pela experiência adquirida, pois a possibilidade de ascensão vertical é praticamente
nula, pelas características próprias do supermercado, que é pequeno e extremamente familiar.
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A integração social foi o critério com melhor avaliação, com média 3,79 indicando um alto
grau de satisfação quanto ao relacionamento entre colegas e superiores, mostrando que as
ideias dos colaboradores são valorizadas e o ambiente é de baixa descriminação, o que
minimiza a insatisfação percebida no trabalho.
A respeito das normas e regras na organização também se obteve um grau de satisfação alto,
com média de 3,74 indicando que a empresa cumpre com os direitos trabalhistas, e que o
ambiente é de respeito à individualidade.
No que tange ao espaço que o trabalho ocupa na vida, esse critério também obteve um
resultado positivo, o que pode significar que o trabalho não tem uma forte interferência
negativa na vida pessoal dos colaboradores e há espaço para a família, amigos e divertimentos
após a jornada de trabalho.
No último critério referente ao espaço que o trabalho ocupa na vida, também se obteve um
média de satisfação alta. Os colaboradores relataram estarem satisfeitos visto a preocupação e
compromisso da empresa com a sociedade, eles se mostram orgulhosos pela qualidade do
serviço oferecido e quanto a imagem da empresa eles observam um bom posicionamento da
empresa no ambiente que ela está inserida.
5. Conclusão
Muitos são os fatores que influenciam a qualidade de vida no trabalho (QVT), sendo o seu
cuidado primordial para a obtenção de vantagens competitivas, principalmente pelo ganho em
produtividade e qualidade, ainda mais em empresas do setor supermercadista onde o
colaborador tem um contato direto com cliente.
Nesse sentido, a avaliação da QVT é um importante instrumento para empresas de setor
supermercadista conhecerem o índice de satisfação dos seus colaboradores. Essa ferramenta
pode servir de auxílio para melhoria do ambiente interno por meio de um retorno sobre quais
itens apresentam satisfação ou não.
Sendo assim, este estudo atingiu seu objetivo ao analisar a QVT em uma pequena empresa do
setor supermercadista com 22 colaboradores no interior de Minas Gerais. O modelo mostrou-
se confiável, visto sua alta classificação pelo Alfa de Cronbach. Sendo possível a verificação
dessas características em novos estudos empresas do mesmo setor ou na própria empresa.
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Com base nos resultados apresentados, observou-se que o índice mais crítico é quanto a
compensação justa e adequada, índice que foi significativamente inferior do que a média. Mas
no geral os colaboradores mostram um nível de satisfação elevado.
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