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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 ANALISE DAS ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA ENTRE PRODUTORES E COMPRADORES ATACADISTAS AMBULANTES DA BATATA RENO DO VALE DO ZAMBEZE - MOÇAMBIQUE [email protected] Apresentação Oral-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais JÚLIO ANTÓNIO 1 ; ROMILSON MARQUES CABRAL 2 . 1.UNIVERSIDADE FEDERARL RURAL PERNAMBUCO, RECIFE - PE - MOCAMBIQUE; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL PERNAMBUCO, RECIFE - PE - BRASIL Título : Analise das Estruturas de Governança entre Produtores e Compradores Atacadistas Ambulantes da Batata Reno do Vale do Zambeze - Moçambique Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Resumo O presente estudo tem como objetivo analisar as transações entre os produtores de batata reno 1 e os comerciantes atacadistas ambulantes da Região do Vale do Zambeze, em Moçambique (África). A partir da Teoria dos Custos de Transação são discutidas as estratégias contratuais de suprimento das unidades de produção de batata e comercialização atacadista. Na primeira fase desenvolveu-se o modelo de análise das relações contratuais na cadeia produtiva entre os seus segmentos em seguida fez-se a análise das transações do segmento produtor e comerciante atacadista ambulante. Estas análises buscam entender os arranjos contratuais e estruturas de governança desse elo. Conclui-se que as atacadistas e os produtores apresentam três formas de governança distintas - uma de mercado, e duas híbridas: contratos implícitos e parceria na produção. Palavras-Chaves: Cadeia Produtiva, Transação, Contratos, Governança. Abstract In this study, we investigate the Irish potato production chain and the determinants of the transactions between the local farmers and the wholesalers along the Zambeze Valley region in Mozambique. The theory of transaction costs was used to examine the current contractual strategies in use among the stakeholders of the Irish potato production chain. To understand the specificities of contractual mechanism, the role of the government and the legal issues, we firstly developed the model which encompasses the contractual relations in the production chain, which was followed by general description of stakeholders and the analysis of the transactions between the local farmers and wholesalers. A key result of our analysis is that both the local farmers and the wholesalers are guided by three different marketing and contractual strategies, namely the implicit contracts, the partnership and integration in the production, and the free market strategy.

ANALISE DAS ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA ENTRE … · totalidade das informações necessárias para a tomada de decisão mais adequada na maioria das situações negociais. Williamson

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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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ANALISE DAS ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA ENTRE PRODUTOR ES E COMPRADORES ATACADISTAS AMBULANTES DA BATATA RENO D O

VALE DO ZAMBEZE - MOÇAMBIQUE [email protected]

Apresentação Oral-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e

Cadeias Agroindustriais JÚLIO ANTÓNIO1; ROMILSON MARQUES CABRAL2.

1.UNIVERSIDADE FEDERARL RURAL PERNAMBUCO, RECIFE - PE - MOCAMBIQUE; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL PERNAMBUCO, RECIFE - PE -

BRASIL

Título : Analise das Estruturas de Governança entre Produtores e Compradores Atacadistas Ambulantes da Batata Reno do Vale do Zambeze - Moçambique

Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

Resumo

O presente estudo tem como objetivo analisar as transações entre os produtores de batata reno1 e os comerciantes atacadistas ambulantes da Região do Vale do Zambeze, em Moçambique (África). A partir da Teoria dos Custos de Transação são discutidas as estratégias contratuais de suprimento das unidades de produção de batata e comercialização atacadista. Na primeira fase desenvolveu-se o modelo de análise das relações contratuais na cadeia produtiva entre os seus segmentos em seguida fez-se a análise das transações do segmento produtor e comerciante atacadista ambulante. Estas análises buscam entender os arranjos contratuais e estruturas de governança desse elo. Conclui-se que as atacadistas e os produtores apresentam três formas de governança distintas - uma de mercado, e duas híbridas: contratos implícitos e parceria na produção. Palavras-Chaves: Cadeia Produtiva, Transação, Contratos, Governança. Abstract

In this study, we investigate the Irish potato production chain and the determinants of the transactions between the local farmers and the wholesalers along the Zambeze Valley region in Mozambique. The theory of transaction costs was used to examine the current contractual strategies in use among the stakeholders of the Irish potato production chain. To understand the specificities of contractual mechanism, the role of the government and the legal issues, we firstly developed the model which encompasses the contractual relations in the production chain, which was followed by general description of stakeholders and the analysis of the transactions between the local farmers and wholesalers. A key result of our analysis is that both the local farmers and the wholesalers are guided by three different marketing and contractual strategies, namely the implicit contracts, the partnership and integration in the production, and the free market strategy.

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Key Words: Productive Chain, Transactions, Contracts, Governance.

Introdução

Apesar da batata reno ser considerada apenas mais um produto do grupo das hortaliças em Moçambique, mundialmente, sua importância em termos de consumo humano é comparável à de grandes commodities, ficando atrás somente do trigo, do arroz e do milho. Segundo cálculos da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o valor mundial da produção do tubérculo foi de aproximadamente US$ 63 bilhões, em 2003. Em 2005, foram produzidas 300 milhões de toneladas de batata em uma área de 18 milhões de hectares. Moçambique participa com 0,03 % da produção mundial, em torno de 80 mil toneladas. A produção e consumo moçambicano estão a dar sinais de crescimento. Até 2003 a produção situava-se em torno de 13 mil toneladas, passando para 80 mil toneladas em 2007.

A batata reno é uma importante cultura alimentar e de rendimento em Moçambique. O consumo está concentrado nas grandes cidades e nas regiões produtoras. A maior parte da batata consumida nas grandes cidades é importada da África do Sul. De acordo com Demo et al (2006), mensalmente são importadas da África do Sul cerca de 250 toneladas de batata Reno, das quais 60,0% são comercializadas na zona sul e o restante é distribuído pelos outros centros urbanos do País. O rendimento médio de Moçambique é de 9,02 ton/ha, valor baixo em relação à média da África do Sul que é de 32,7 ton/ha (FAOSTAT, 2007). A baixa produtividade deve-se ao uso de semente de baixa qualidade com 30 gerações desde sua introdução (ADIPSA, 2007). O custo da batata semente da 1ª geração proveniente da África do Sul é alto para os pequenos e médios produtores. A procura da batata vem crescendo dentro de Moçambique assim como nos países vizinhos (África Austral). Esta é uma ótima oportunidade para o desenvolvimento dos pequenos e médios agricultores produtores desta cultura através do aumento da produtividade por unidade de área e melhoramento do sistema de comercialização dentro do País.

Os mercados rurais da região do Vale do Zambeze são atrasados e caracterizados por uma escala de operação muito pequena e fracas ligações com outras regiões do País. A maior parte da batata produzida no planalto de Angónia é vendida em mercados Malawianos e Zambianos. A pouca informação existente sobre a cadeia produtiva de batata reno e o potencial econômico, estimularam-nos à realização da pesquisa. O seu objetivo é entender como se estabelecem as diferentes formas de governança nesse importante elos da cadeia.

A base teórica em que se apóia o presente estudo é dada, principalmente pelo modelo de análise do sistema agroindustrial, desenvolvido por Zylbersztajn (1995), que combina elementos da Teoria dos Custos de Transação (TCT). A pesquisa é exploratória e foram coletados dados secundários e primários com base em questionários aplicados aos agentes da cadeia.

O texto se divide em cinco partes. Primeiramente faz-se uma discussão da Teoria dos Custos de Transação e definem-se os conceitos de cadeia produtiva. Na segunda parte apresenta-se a metodologia. Na terceira parte delimita-se a cadeia produtiva. Em seguida, faz-se a análise do modelo das estruturas de governança. A quarta parte analisa as transações e estruturas de governança entre os produtores e comerciantes atacadistas. Finalmente, na quinta e última parte, apresentam-se as considerações finais.

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1. Referencial Teórico 1.1. Teoria dos Custos de Transação

Segundo Willianson (1985), a unidade da análise central pela Teoria de Custos da Transação (TCT) é a transação. As características da transação determinam os custos transacionais envolvidos que, por sua vez, ditam a forma de governança vigente. Assim, a forma de governança é função das características da transação, cujas principais dimensões são freqüência, incerteza e especificidade de ativo (WILLIAMSON, 1985).

A teoria aponta que uma maior freqüência nas transações entre os mesmos agentes gera o que se chama de “reputação”. O detalhe é que a reputação tende a reduzir os custos de transação tendo em vista não haver a necessidade de se buscar informações acerca do parceiro comercial e da qualidade do produto transacionado. Portanto, segundo a TCT, quanto maior a freqüência nas transações, maior o nível de reputação e conseqüentemente menores os custos de transação envolvidos.

A Incerteza relaciona-se ao desconhecimento dos agentes com relação aos elementos relacionados ao ambiente (econômico, institucional e comportamental), que exercem algum tipo de influência na gestão da cadeia de suprimentos. No campo organizacional, a fonte fundamental de incerteza decorre exatamente do suposto de racionalidade limitada e oportunismo dos agentes.

A especificidade de ativos refere-se a quanto o investimento no ativo é específico para a atividade e quão custosa é sua utilização alternativa em outra situação, a perda de valor do ativo ou ainda, aos investimentos que são dedicados a um relacionamento de troca e não podem ser reempregados em usos alternativos. (WILLIANSON, 1985 e ARBAGE, 2004).

Segundo TCT há pelo menos seis tipos distintos de especificidade de ativos: a) especificidade locacional; b) especificidade física; c) especificidade ligada ao capital humano; d) especificidade de ativos dedicados à produção ou especificidade dedicada; e) especificidade de marca (mercadológica); e f) especificidade temporal. (ARBAGE, 2004).

Especificidade Locacional: esta situação ocorre quando uma determinada produção exige que outra, normalmente complementar (horizontal ou verticalmente) em termos de matéria-prima, se localize próximo. As especificidades locacionais envolvem a necessidade de proximidade a algum recurso natural, energético, de insumos, em relação a aspectos estratégicos vinculados à estoques, centros de distribuição e especificidades ligadas a pontos comerciais.

Especificidade Física: este aspecto ocorre quando uma organização exige um dado padrão de matéria-prima dos seus fornecedores para ser utilizada em seu processo de produção. Relaciona-se, portanto, às características físicas do produto transacionado.

Especificidade ligada ao Capital Humano: esta especificidade está relacionada ao conjunto de conhecimentos idiossincráticos envolvidos direta e indiretamente nas transações.

Ativos dedicados à produção ou especificidade dedicada: este aspecto se relaciona aos ativos envolvidos na produção do produto transacionado e ocorre nos casos em que uma estrutura produtiva ou um determinado processo de produção são exigidos para a produção de um dado produto.

Especificidade de Marca (mercadológica): esta especificidade é ligada à construção de um nome, de uma marca, de uma reputação em um determinado mercado,

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do esforço de relações mais próximas com a comunidade, imprensa e agentes do ambiente institucional, entre outras possibilidades. Também podem ser relacionados os esforços de comunicação previstos no arranjo de coordenação estabelecido em termos de posicionamento de um determinado produto, marketing, promoção de vendas, etc.

Especificidade Temporal: esta especificidade está presente quando um determinado produto apresenta características de perecibilidade ou qualquer outra condição que implique na necessidade de consumo ou processamento (política de estoques da empresa focal) em um período de tempo pré-determinado. (ARBAGE, 2004).

A TCT considera que as características comportamentais (racionalidade limitada e o oportunismo) dos agentes envolvidos nas transações podem afetar os tipos de contratos existentes e a decisão por um ou outro tipo de estrutura de governança utilizada.

Williamson (1985), sustenta que o oportunismo é a busca pelo interesse próprio com dolo. Isto inclui algumas formas mais flagrantes tais como a mentira, o roubo e o engano, mas não se limita a elas. O oportunismo compreende também algumas formas sutis de engano. Incluem-se, neste caso, “as formas ativas e passivas e os tipos ex-ante e ex- post”.

Segundo Williamson (1985) a racionalidade pode ser resumida em termos da condição de absoluta impossibilidade dos agentes dominarem e conseguirem processar a totalidade das informações necessárias para a tomada de decisão mais adequada na maioria das situações negociais.

Williamson (1985), considera estrutura de governança como matriz institucional onde a transação é definida. O autor caracteriza a matriz institucional como conjunto de regras, leis, contratos, normas formais e informais e regulamentos internos às organizações que governam institucionalmente uma transação. A Figura 2 (p. 9), resume os elementos que condicionam a construção da estrutura de governança, nos arranjos interorganizacionais, à luz da TCT.

As instituições são definidas como “as regras do jogo”, ambas as regras formais e informais como normas, convenções, e códigos da conduta que fornecem a estrutura da interação humana (NORTH, 1990). As instituições surgiram para minimizar os custos de transação e facilitar as trocas no mercado. A evolução da troca pessoal pela troca impessoal ou anônima, apoiada por sistemas legais que forçam contratos, é o centro do processo de crescimento e desenvolvimento (NORH e THOMAS, 1973 apud GABRE-MADHIN, 2001).

Consideram-se, na realidade que, parcerias, joint venture’s, franquias, arranjos cooperativos, coordenação vertical, entre outras, são formas organizacionais alternativas ao mercado e a hierarquia, e que podem apresentar estruturas de governança particulares. Mesmo ao se analisar apenas as coordenações verticais, por exemplo, certamente haverá uma série de possibilidades alternativas de arranjos reguladores das transações (contratos mais ou menos hierarquizados, com ou sem cláusulas punitivas, contratos mais ou menos completos, com especificidades técnicas dos produtos transacionados ou não, etc.) e, conseqüentemente, diferentes mecanismos institucionais que regulem essas transações.

Os contratos são mecanismos de coordenação, considerando que apenas os preços não funcionam como coordenadores da produção. Muitos dos contratos consistem de promessas e entendimento não formalizados (ZYLBERSZTAJN, 1995). Assim, são de difícil imposição, dependendo de incentivos para que os indivíduos cumpram os termos de contrato.

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MacNeil (1978) apud Arbage (2004) elaborou uma tipologia que classifica os contratos em clássicos, neoclássicos e relacionais. Williamson (1989), relacionou os atributos das transações com os tipos de contratos desenvolvidos por MacNeil (1978) e construiu uma tipologia de estruturas de governança vista no Quadro 1, abaixo.

Quadro 1 - Formas eficientes de governança e atributos das transações Especificidade de Ativos Frequência

Ocasional

Baixo Mista Alta Governança do mercado (contrato clássico)

Governança trilateral (contrato neoclássico)

Governança trilateral ou Governança unificada

Recorrente Governança do mercado (contrato clássico)

Governança bilateral (contratação relacional)

Hierarquia

Fonte: Adaptação do Autor a partir de Williamson apud Arbage (2004).

Williamson (1985), afirma que os contratos clássicos são aqueles nos quais todas as regras estão estabelecidas previamente de maneira formal, tendo, por conseguinte, conseqüências plenamente previsíveis. É um modelo estático que não apresenta margem para renegociações futuras.

Com o incremento da especificidade de ativos, mesmo em condições de baixa freqüência de transações, a governança do mercado vai deixando de ser eficiente, pois resulta em custos de transação crescentes. Nesses casos, contratos neoclássicos, baseados em estruturas de governança trilaterais, tendem a ser mais eficientes. A governança trilateral requer uma terceira parte para resolver as disputas quando as transações não são frequentes e há a possibilidade de comportamento oportunístico entre os agentes. Diferentemente dos contratos clássicos, nos quais o ordenamento jurídico é suficiente, os contratos neoclássicos se fazem necessários quando há uma maior especificidade nos ativos transacionados e quando surge a necessidade da manutenção de uma relação de mais longo prazo entre os agentes. Portanto, a contratação neoclássica surge da necessidade de relações mais duradouras, sendo que se caracteriza pelo desejo mútuo de manutenção do acordo. Admite uma maior flexibilidade de ajustes posteriores, utiliza-se normalmente do contrato anterior como base de negociação e também, por vezes, exige uma arbitragem de terceiros quanto a eventuais disputas (ARBAGE, 2004).

Quando ocorre uma maior freqüência nas transações e há necessidade de ativos mais específicos ainda, a governança bilateral, baseada em contratos relacionais, passa a ser indicada como o modo de organização mais eficiente. O pressuposto básico dos contratos relacionais é que os agentes tendem a privilegiar a continuidade nas relações. Além disso, os contratos relacionais prevêem a possibilidade de revisão permanente das cláusulas em decorrência de alterações ambientais, configurando-se, então, em um sistema em constante negociação. Finalmente, quando a especificidade dos ativos é muito

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significativa, a estrutura de governança que minimiza os custos de transação tende a ser a hierarquia - integração das atividades em uma organização (ARBAGE, 2004).

É largamente reconhecido que as transações de mercado, em particular em países em desenvolvimento, muitas vezes são embutidas em relações personalizadas de longo prazo. A troca personalizada surgiu em resposta ao fracasso de compromisso, no qual o risco da violação de contrato ou oportunismo é alto, resultando da falta da regulação de informações no mercado inadequada, e a ausência de mecanismos de execução legais. As instituições constroem a confiança e promovem a reputação e capital social, tal como associações comerciais, as redes de solidariedade, e os grupos de laços étnicos ou religiosos, emergem para lograr o fracasso de compromisso (GABRE-MADHIN, 2001),

1.2. Cadeia Produtiva

De acordo com Silva (2002) citando Haguenauer e Prochnik (2000, p.6) “a noção de cadeia produtiva é, normalmente, usada sem muito rigor”. Os autores sugerem que uma cadeia produtiva é estruturada por uma seqüência de etapas sucessivas pela qual passam e vão sendo transformados os diversos materiais.

Haguenauer et al (2001), apud Silva (2002) conceituam cadeia produtiva como “o conjunto das atividades, nas diversas etapas de processamento ou montagem, que transforma matérias-primas básicas em produtos finais”. Porém, salientam que “em uma estrutura industrial razoavelmente desenvolvida é praticamente impossível a delimitação de cadeias produtivas no sentido estrito, dada a interdependência geral das atividades, além da possibilidade de substituição de insumos” (HAGUENAUER et al, 2001, apud SILVA, 2002, p.6). Para Silva (2002), uma cadeia produtiva engloba fornecimento de insumos e

equipamentos, produtores, indústrias, distribuidores, atacado e varejo. Além disso, é envolvida por um ambiente institucional, como leis e regulamentações, e por serviços de apoio, como transporte, armazenagem e informações de mercado. Há uma forte interdependência desses processos, cujo sucesso depende da interação eficiente de todos os elos da cadeia.

A cadeia produtiva apresenta três níveis distintos. O nível “micro” considera a unidade de análise como sendo a firma, o produtor agrícola ou entidade governamental, com suas características organizacionais, tecnológicas, vantagens e desvantagens competitivas. No nível intermediário enfoca-se a inserção da cadeia produtiva estudada no sistema agroindustrial onde ela atua. Neste ponto são analisados os outros participantes do sistema, a divisão de poder entre eles, a distribuição e fluxos de recursos, as formas de coordenação existentes, as pressões e tendências atuando no sistema. No nível mais “macro” volta-se a atenção para o ambiente econômico e as políticas públicas que podem afetar o sistema (ambiente institucional mais geral).

A cadeia produtiva que será analisada esta de acordo com a definição encontrada em Silva (2002) e busca-se entender os arranjos contratuais praticados no mercado a partir das características observadas nas transações ao nível do produtor e os principais atores da cadeia (nível intermediário de análise).

2. Metodologia 2.1. Caracterização da Região de Estudo

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O Moçambique está situado na costa oriental do Sul da África, com uma área de 799.380 quilômetros quadrados, 2.515 quilômetros de costa partindo do sul a norte e tem 10 províncias divididas em três regiões, a saber: regiões Norte, Centrais e Sul. A área de estudo concentra-se na região do Vale do Zambeze situada no centro do País.

O Vale do Zambeze localiza-se entre os paralelos 14º e 19º latitude sul, prolonga-se até ao ponto ocidental do País, cerca do meridiano 30º este de Greenwich. É composto por quatro províncias, abrangendo a totalidade da província de Tete, com área de 100.000 Km2; metade da província da Zambézia 50.000 Km2; cerca de 40.000 Km2 da província de Sofala e de 30.000 Km2 da província de Manica. No total a região ocupa uma área de 225. 000 Km2 (cerca de 27,7% da superfície do país).

A região norte de Tete, região do Planalto de Angónia e área de estudo, compreende áreas, localizadas a mais de 500 metros de altitude, formadas por estratos sedimentares do karoo, rochas metamórficas do sistema fíngoè e afloramentos graníticos. A região possui um clima tropical de altitude nas terras altas de interior. A umidade relativa varia na época chuvosa de 90 - 100%. As temperaturas médias anuais variam de 18 e 24 ºC. Durante o inverno em áreas montanhosas podem registrar-se temperaturas mínimas absolutas de 3 ºC. O valor médio anual de precipitação é superior a 1.200 mm podendo exceder a 2.400 mm. As deficiências hídricas são, em regra, baixas: um a três meses, mais excepcionalmente quatro. Na região existe uma área de cerca de 6,5 milhões hectares de potenciai para exploração agropecuária e predominam solos vermelhos ferralíticos, com textura pesada.

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Figura 1 - Mapa da área de estudo em Moçambique Fonte: TIA, 2006

2.2. Coleta de Dados O estudo pode ser caracterizado como pesquisa exploratória que, segundo Mattar

(1994), ajuda o pesquisador a estabelecer as prioridades a estudar. Ainda segundo o autor os métodos utilizados pela pesquisa exploratória são bastante amplos e versáteis e compreendem: levantamento em fontes secundárias, levantamento de experiências, observação informal e amostragem por acessibilidade. Foram aplicados questionários quali-quantitativos junto aos produtores, intermediários (atacadistas e varejistas) e outros agentes da cadeia. Ao todo foram realizadas entrevistas com 49 produtores de batata reno; 20 comerciantes atacadistas ambulantes; 10 comerciantes varejistas dos mercados e feiras livre, 3 barracas de venda de insumos agrícolas especializada; e 7 representantes do ambiente institucional, Associação de Produtores de Batata, Associação dos Vendedores de Batata do Mercado Kwachena e Biri-Biri, técnicos dos serviços de agricultura, serviços de comércio e indústria, instituições financeiras, Apoio as Iniciativas Privadas no Setor Agrário (ADIPSA).

Área de Estudo

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A pesquisa de campo foi realizada na região do Planalto de Angónia, nos distritos de Angónia e Tsangano a mais representativa de Moçambique na produção e comercialização de batata. De acordo com Demo et al (2006), os distritos de citados produzem 90% da produção de Moçambique. Para levantamento de dados de produção, os produtores foram selecionados com base na acessibilidade e nas informações de produção obtidas nos relatórios dos serviços provinciais de agricultura. Para os intermediários também foi usado o critério de acessibilidade. Os dados de comercialização foram obtidos nos Mercado de Biri-Biri e Tete Bene na Região do planalto de Angónia, Mercado Kwachena e Mercado 1º de Maio, na cidade de Tete, Mercado Maquinino, na cidade da Beira, Mercado 25 de Junho, na cidade de Chimoio e Mercado Central de Quelimane. A pesquisa foi realizada no período de Janeiro a Fevereiro de 2009, em Moçambique.

2.3. Análise dos Dados

No primeiro momento a análise foi direcionada para o entendimento da cadeia como um todo, avaliando-se todos os elementos constituintes da sua estrutura assim como os elementos externos que a influenciam.

Em seguida, identificou-se e caracterizaram-se os agentes da cadeia. Quem eram os fornecedores de insumos agrícolas, produtores, comerciantes atacadistas e varejistas e consumidores finais, o que faziam e como faziam são algumas questões respondidas. No momento seguinte, estabeleceram-se os relacionamentos existentes entre produtores e intermediários, ou seja, identificaram-se quais deles transacionam entre si, estabelecendo-se os fluxos físicos e de informações existentes.

A seguir investigou-se a estrutura da cadeia produtiva buscando enfocar aspectos institucionais e ambientais verificando-se o papel das associações e organizações ligadas à cadeia, nos seus aspetos culturais, tais como costumes, tradições e preferências dos consumidores e aos aspetos de interação com agentes internacionais (públicos e privados) também foram considerados.

2.4 O Modelo de Analise das Transações

O esquema de análise é composto pela estruturação da cadeia produtiva e pelas categorias analíticas com base na TCT. As categorias analíticas são exatamente os pressupostos de natureza cognitiva e comportamental dos agentes e os principais atributos das transações, e compõem parte do esquema preliminar de pesquisa. São elas: Oportunismo e Racionalidade Limitada, os determinantes da estrutura de governança: Incerteza, Especificidade de Ativos, Freqüência e Ambiente Institucional.

Pressupostos Comportamentais - Oportunismo - Racionalidade limitada

Atributos das transações - Especificidade de ativos - Frequência - Incerteza

Ambiente Institucional - Leis - Cultura e tradição - Hábitos dos consumidores

Formas de Regulação das Transações - Relações de curto prazo: mercado spot - Contratos - Integração vertical

Estrutura de Governança Matriz Institucional reguladora das transações

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Figura 2 - Modelo de análise das estruturas de governança Fonte: Adaptado de Zylbersztajn (1995)

2.4.1 Análise das Transações

A cadeia produtiva compreende um grande número de agentes e transações relacionados através de complexas interações. Sendo assim, fez-se necessário delimitar o conjunto de agentes e transações que foram analisados mais profundamente, ou seja a T2.

Uma vez identificadas as transações a serem estudadas, parte-se para a avaliação dos pressupostos comportamentais - oportunismo e racionalidade limitada; avaliação dos seus atributos das transações - especificidade de ativos, incertezas e freqüência. A análise dos atributos das transações foi feita levando-se em conta os agentes de ambos os lados da transação. Após a análise dos atributos transacionais buscou-se entender as formas de regulação das transações e finalmente a identificação das formas de governança sugeridas pela TCT.

2.4.2 Análise dos Contratos

Foram analisados os contratos atrelados às transações enfocadas, os mecanismos de incentivos (bonificações, descontos, etc.) e controle (penalidades, multas, etc.) previstos antecipadamente (ex-ante) e os dispositivos de adaptação às questões não previstas (ex-post). Também foram vistos os aspetos de arbitragens e das salvaguardas contratuais. Dentro deste aspecto incluiu-se a apreciação dos mecanismos de monitoramento e controle, assim como o acesso às informações demandadas pelos agentes. A análise contratual, adicionalmente, precisa abarcar a questão da duração (ex-ante) e continuidade (ex-post) dos contratos (ZYLBERSTAJN; LAZZARINI, 1997).

3. A Cadeia Produtiva da Batata 3.1. Delimitação da Cadeia

A cadeia produtiva da batata reno da região do planalto de Angónia esta delimitada de acordo com a Figura 3 (p. 12). Os segmentos que definem a sua configuração são apresentados a seguir, e envolvem: fornecedores de insumos agrícolas; a produção primária, distribuição, consumidores e os ambientes, institucional e organizacional.

3.2. Fornecedores de Insumos

A oferta de insumos agrícolas em Moçambique ainda é bastante incipiente. Atualmente batata–semente certificada é distribuída via crédito pelos Serviços Distritais de Atividades Econômicas. A batata-semente local é comercializada em feiras locais e os restantes dos insumos: fertilizantes e agrotóxicos são comercializados por vendedores informais e formais nos mercados, barracas e lojas da região do planalto de Angónia.

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3.3. Segmento da Produção: Caracterização dos Produtores e Sistema de Produção O segmento de produção, na cadeia produtiva da batata da Região do Planalto de

Angónia, é composto por 39.808 produtores (Demo et al, 2006). De acordo com o Ministério da Agricultura (2006) a estrutura do Sector Agrícola Moçambicano é dominado por pequenas explorações agrícolas, representando 99,0% sendo o restante 1,0% composto por médias e grandes explorações. A maior parte da batata comercializada provém de explorações com área menor que 3,0 ha, tipicamente entre 0,5 e 2,0 ha. A mão de obra é constituída basicamente por agregado familiar, todavia, em tarefas que exigem maior quantidade de trabalho, são utilizados esquemas tradicionais de interajuda. Os meios de produção são rudimentares com predominância da enxada e tração animal. A produção é realizada em duas safras, a safra seca e a chuvosa. O sistema de cultivo dominante é a monocultura e os produtores no geral utilizam poucos insumos modernos (agroquímicos), maquinaria, crédito. Cerca de 95,0% dos pequenos na região do planalto de Angónia cultivam a variedade Rosita (variedade local). Pouco mais de 5,0% dos pequenos produtores cultivam BP, Mondial e Lizeta que são variedades certificadas. O BP1 é importado da África do Sul e o Mondial e a Lizeta da Holanda. O rendimento médio da batata reno na região de Angónia é de 9,3 ton/ha cultivando-se cerca de 7.901 ha. O custo de produção médio é de US$ 2,037/ha o que corresponde a um retorno médio de US$ 2,130/ha/safra.

3.4. Distribuição: Atacado e Varejo

A comercialização da batata por atacado é organizada fundamentalmente por comerciantes atacadistas ambulantes, os quais se deslocam as explorações agrícolas e aos mercados do produtor para aquisição de produtos. Uma parte de produtores transportam a batata reno para os mercados atacadistas e varejistas dos grandes centros urbanos (transações T2 e T3). O principal mercado do produtor é o de Biri-Biri que se localiza na fronteira entre Moçambique e Malawi onde as vendas são feitas a vista. Cerca de 80,0% da batata produzida na região de Angónia e Tsangano é comercializada neste mercado. Destas quantidade, 50,0% entra no mercado nacional. No Mercado de Biri-Biri os preços identificados são baixos comparados com praticados no mercado das grandes cidades de Moçambique. Em Moçambique a batata reno custa US$ 320,00 por tonelada e no Malawi custa US$ 180,00 por tonelada. Esta diferença é prejudicial para os produtores de batata reno, daí a necessidade de melhoramento de infra-estruturas e informações para que ela seja comercializada no mercado nacional.

O setor de varejo é constituído por pequenos comerciantes dos mercados municipais, feiras e mercearias. Eles adquirem a batata nos mercados distribuidores das cidades de Tete, Chimoio, Beira, Quelimane e Nampula. Os intermediários atacadistas dos mercados da Beira e Quelimane vendem a batata a crédito e os outros mercados à vista.

3.5. Comportamento de Consumidores

O consumo de batata é grande nos grandes centros urbanos. As cidades de Tete e Nampula têm preferência pela variedade Rosita, variedade vermelha rica em matéria seca. As outras cidades o consumo se divide entre as variedades brancas e vermelhas. Contudo, o perfil está mudado, as populações com renda baixa estão cada vez mais preferindo consumir batata vermelha (Rosita). A Rosita é uma variedade rica em matéria seca e conserva-se a por um mês a temperatura ambiente. De acordo com alguns agentes

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entrevistados, esta variedade é boa para produção de chips e fast food porque consome pouco óleo e é ideal para cozidos uma vez que não se transforma em purê com facilidade.

3.6. Ambiente Institucional e Organizacional

O ambiente organizacional compreende organizações corporativas, clubes de produção de batata, órgãos públicos e privados, e institutos de pesquisa vinculados ao governo do Estado.

Os clubes de produção de batata e associações de produtores tem a função de defender os interesses comuns dos associados junto aos diversos segmentos, e, especialmente, no que se refere às questões crédito junto a instituições financeiras e aos órgãos públicos. Apesar disto, ainda existem muitas atividades e desafios para esses grupos trabalharem em sintonia com o mercado e outros serviços.

Os Serviços Distritais de Atividades Econômicas têm a função de acompanhar o desenrolar da produção agropecuária da região, distribuição de sementes, assistência técnica, identificação de problemas e propor soluções.

O Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) tem por missão gerar e difundir inovações e tecnológias para o desenvolvimento sustentado da agropecuária. Na batata reno estão sendo testados 8 clones provenientes de CIP-Quénia. O Centro Internacional de Batata (CIP) participa no programa de melhoramento genético nacional de novas variedades de batata.

Os produtores e comerciantes rurais recebem informações via intermediários ambulantes (atravessadores) que saem das grandes cidades para comprar a batata e transportá-la para esses centros. Semanalmente o Ministério de Agricultura e o Ministério de Indústria e Comércio divulgam boletins sobre mercados de diversos produtos nos diferentes canais de informação (rádios comunitárias, jornais eletrônico, jornal notícia) e periodicamente são publicados os boletins, por via eletrônica.

Apesar de existir regulamento sobre: de licenciamento da atividade comercial e industrial; de inspeção da indústria e comércio; os requisitos sanitários da produção, transporte, comercialização e inspeção e fiscalização de gêneros alimentícios; importação e exportação de produtos agrícolas e estratégias a comercialização agrícola, durante a pesquisa observou-se nos principais mercados rurais o comércio é informal, sem fiscalização das normas e até com exportação ilegal da batata reno para Malawi e Zambia. A exportação de batata reno para mercados dos países vizinhos é ilegal porque ela não obedece as regras impostas pelos regulamentos antes citados e não existe nenhum agente do estado ou sociedade civil que registra a quantidade de batata destinada ao mercado externo. Apesar das exportações serem ilegais ela constitui um canal disponível para a comercialização da batata reno desta região devido a existência de poucos intermediários nacionais disponíveis para transportar batata para distribuir no mercado nacional. Os produtores defendem a criação de normas de padronização e fiscalização da comercialização de produtos agrícolas, pois se sentem prejudicados, por estarem, de certa forma, sendo excluídos do mercado nacional e receberem preços baixos nas vendas aos intermediários dos países vizinhos (Malawi, Tamzania e Zambia).

No crédito para comercialização agrícola existem programas orientados para a comercialização fornecidos por ONGs, bancos de micro crédito e fundos de apoio ao desenvolvimento local dos governos distritais. Mas o acesso é limitado a comerciantes

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formais dos centros urbanos e não atinge os produtores e vendedores informais dos mercados rurais.

T1 T2 T3 T4

Figura 3 - Delimitação simplificada da cadeia produtiva de “Batata Reno” da Região do Vale do Zambeze (Moçambique) Fonte: Elaboração do autor com base no diagrama Zylberstajn (1995) 4. Características das Transações 4.1 Transação 2 - Produtores Rurais e Comerciantes Atacadistas Ambulantes

A transação T2 refere-se a compra de batata in natura efetuada pelos comerciantes atacadistas ambulantes junto aos produtores de batata reno.

Os oportunismos podem se manifestar a partir da revelação incompleta ou distorcida de uma informação, notadamente dos esforços premeditados para equivocar, ludibriar, distorcer, ocultar, ofuscar ou confundir. Na transação T2 observa-se que a circulação de informações de preços e mercado da batata reno é precária para o produtor. A maior parte dos produtores obtém informações sobre preços via rádio (30,0%), seguido de outros produtores com (9,0%) e restantes 61,0% obtém com os comerciantes ambulantes. Apesar disto, cerca de 82,0% dos produtores obtém informações de preços dias antes da venda e somente 53,0% conseguiram vender ao preço conhecido ou mais (vide Tabela 2). Esta concentração de informações por parte dos comerciantes atacadista ambulantes gera

Vendedores de Insumos

Distribuição por Atacado

Distribuição no Varejo

C O N S U M I D O R E S

Produtor Rural

Ambiente Institucional: Regulamento de licenciamento de atividade comercial; regulamento de licenciamento de atividade industrial; regulamento de inspeção de industria e comércio, regulamento sobre os requisitos higiênicos - sanitários da produção, transporte e comercialização e inspeção e fiscalização de gêneros alimentícios; Estatutos dos clubes de batata, regulamento de sistema de poupança e crédito dos clubes, regulamento de atividade econômica - negócios dos clubes.

Ambiente Organizacional: Ministério de Indústria e Comércio, Serviços distritais de atividades econômicas, Apoio as Iniciativas Privadas no Setor Agrário (ADIPSA), Sociedade de Gestão e Financiamento para a Promoção da Pequena e Media Empresas (GAPI) e clubes de produtores de batata e tribunais comunitários.

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atitudes oportunísticas por parte desles. Isto é confirmado por 90,0% de produtores que reclamam do baixo preço pago pelos comerciantes atacadistas. Entretanto, esse problema poderá ser minimizado com criação de clubes de batata que terão como função mobilizar compradores para os centros de negócio que serão criados, onde pesquisa de preços da batata e mercados serão e divulgação aos seus membros.

Tabela 2 - Período de obtenção de informação de preço e acordo de venda

Descrição da variável

Descrição Percentagem (%)

Tempo de obtenção de informação de preço

Na hora de venda 18,4 Dias antes 81,6

Preço pago em relação ao conhecido pelo produtor

Mais baixo do que esperado 46,9 Semelhante ao que esperou, ou mais alto do que o esperado

53,1

Tempo que leva para chegar ao acordo de preço

No momento da Venda 98,0 Por acordo prévio 2,0

Fonte: Construção própria com base nos Dados da Pesquisa A racionalidade limitada pode ser resumida em termos da condição de absoluta

impossibilidade dos agentes dominarem e conseguirem processar a totalidade das informações necessárias para a tomada de decisão mais adequada na maioria das situações comerciais. Da pesquisa observou-se que 52,0% dos produtores não sabem ler e nem escrever. Isto dificulta a interpretação das informações sobre mercado e preços divulgadas em boletins e jornais. Esta dificuldade é aproveitada pelos compradores para definirem os preços de compra da batata. Contudo, a racionalidade é reduzida pelo compartilhamento de informações entre os produtores vizinhos.

As especificidades de ativos do comerciante atacadista para esta transação são de capital humano, ativo físico, temporal e locacional. A primeira refere-se ao conhecimento do comercio atacadista e do mercado da batata reno adquirido pelo comerciante atacadista ambulante através da sua experiência no negócio (“learning by doing”). Isto quer dizer que os comerciantes atacadistas ambulantes não podem ser substituídos por outros qualquer, sem prejuízo de eficiência na transação. Cerca de 90,0% dos atacadistas entrevistados estão no negócio há mais de 5 anos. Segundo ativo, o físico refere-se a necessidade de aquisição de uma banca2 e armazenagem nos mercados distribuidores de Kwachena em Tete, 25 de Junho no Chimoio, Maquinino na Beira e Mercado Central na Beira, cujas implicações vão além do custo monetário existe fator influencia (relações de proximidade, amizade, região comum e religião) e penetração na comissão de venda de batata.

Os comerciantes atacadistas ambulantes se defrontam com especificidade temporal. A batata reno é uma cultura altamente perecível e perde qualidade rapidamente. A falta de armazenagem refrigerada e a dependência de varejista dos mercados, feiras e restaurantes que compram em pequenas quantidades fazem com que haja perdas significativas no período chuvoso e baixas perdas no período seco. Para reduzi-las o comerciante atacadista

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ambulante não compra a batata do produtor se não tiver perspectiva de vendê-la rapidamente. Somente se desloca ao campo depois de vender toda a batata e verificar que a oferta do produto no mercado está se reduzindo para obter melhores preços.

As especificidades locacionais envolvem a necessidade de proximidade a algum recurso natural, energético, de insumos, em relação a aspectos estratégicos vinculados à estoques, centros de distribuição e especificidades ligadas a pontos comerciais. No geral a especificidade locacional refere-se à localização adequada da firma que é determinante dos resultados das vendas dos produtos. Cerca de 95,0% dos comerciantes atacadistas ambulantes inquiridos afirmaram que o local onde vendem a batata é adequado, pois representa o mercado distribuidor, onde varejistas e consumidores finais freqüenta-o diariamente. Ao longo do Vale do Zambeze existem dois locais em que os comerciantes podem adquirir a batata. Os distritos de Angónia e Tsangano no planalto de Angónia e o distrito de Gorongasa. Este último oferece pequenas quantidades de batata da variedade BP1 ou Mondial, produz somente na safra seca (Março a Agosto). A fraca oferta faz com que a Região de Angónia seja a principal fornecedora de batata para Centro e Norte de Moçambique.

O produtor, por sua vez, apresenta especificidades de capital humano e de ativo físico medianas, alta especificidade temporal e locacionais. A especificidade de capital humano é baixa e ela refere-se à experiência no cultivo da batata, utilizando normas técnicas largamente difundidas e que não exigem, necessariamente, conhecimentos técnicos sofisticados, somente muita prática. Qualquer produtor que estiver interessado em produzir batata pode copiar facilmente a técnica de produção. Cerca de 88,0% dos produtores entrevistados nunca tiveram qualquer curso de formação agrária e nem assistência técnica na produção. Os conhecimentos sobre o cultivo da batata foram transmitidos de geração a geração pelos pais. A especificidade de ativo físico é baixa, uma vez que o ciclo produtivo curto (aproximadamente 120 dias), e as condições agro-ecológicas no local de produção podem ser usados para outras culturas alternativas em qualquer mês ao longo do ano agrícola. A especificidade temporal, por sua vez, é alta. A comercialização da batata deve ser efetuada num prazo relativamente curto sem que o produto possa apresentar alterações nas suas características físicas e químicas levando à perda de seu valor de venda. Além disso, sua armazenagem é problemática devido ao seu grande volume e falta de condições de refrigeração no campo. No geral os agricultores fazem a colheita somente quando são contatados pelos comerciantes ambulantes e em casos extremos transportam-na para o mercado ou feira mais próxima da aldeia.

Tabela 3 - Principais características dos produtores e suas esposas

Principais Características dos Chefes dos Agregados Familiares Percentagem

Sexo Masculino 98

Feminino 2

Estado civil Solteiro (a) 4,1

Casado(a) 6,1

União Marital 89,8 Sabe ler e escrever Sim 55,1

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Não 44,9

Nível escolaridade

Sem escola formal 42,9

Nível primário 53,1

Nível secundário 2

Superior 2

Faz trabalho remunerado Sim 42,9

Não 57,1

Pratica atividade agro-pecuária Principal 93,9

Secundária 6,1

Não pratica 0

Formação agrária de pelo menos 3 meses Sim 12,2

Não 87,8 Fonte: Construção própria com base nos Dados da Pesquisa

A especificidade de marca esta ligada à construção de um nome, de uma marca, de

uma reputação em um determinado mercado, posicionamento de um determinado produto, marketing, promoção de vendas, etc. Nas cidades de Chimioio, Nampula e Tete os consumidores têm preferência pela batata da região do planalto de Angónia, a variedade Rosita por esta possuir maior quantidade de matéria seca o que reduz a quantidade de óleo usado durante a fritura, pelas possibilidades de produzir chips e pela resistência a perecibilidade, em média dura 1 mês armazenada nas condições normais de temperatura e pressão. No campo verificou-se que esta variedade é cultivada há 18 anos e os pequenos produtores resistem a substitui a semente por novas variedades mais produtivas. Ela adquiriu uma espécie de “marca” nesses mercados e dos países vizinhos (Malawi e Zambia). Nos mercados de Beira e Quelimane há preferência por variedade de polpa branca importadas, contudo tem havido um aumento gradual do consumo da batata nacional. Para promover a marca nacional de batata o Governo esta implementando um projeto de produção de embalagens padronizadas para ensaque da batata e campanhas de incentivo ao consumo de produtos agrícolas nacionais.

A transação é altamente freqüente uma vez que ocorre diariamente, mas está sujeita a diferentes incertezas dos agentes. Há fortes barreiras à entrada no mercado distribuidor. Em relação a novos entrantes no mercado também há barreiras de entrada. Os comerciantes atacadistas que já fazem o negócio têm a seu favor grande disponibilidade de informações sobre os preços (ao produtor, no atacado e no varejo), volume de oferta e qualidade. Ele conhece as regiões produtoras, quando as safras começam e que qualidade de produto tende a oferecer. Em relação aos produtores também há barreiras de entrada. Em cada mercado existem atravessadores que criam barreiras a produtores que queiram vender sua produção no mercado. Por exemplo, no principal Mercado distribuidor (Biri-Biri), os produtores são obrigados a entregar a batata aos atravessadores que a comercializa e depois a entrega a outros compradores a um valor combinado, mais uma comissão pela venda do produto, caso não entregue não o deixam vender, chegando o produtor a ficar uma semana para vender uma tonelada de batata o que implica em prejuízo em relação a tempo e perda de qualidade do produto.

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Para o produtor a freqüência da transação é maior uma vez que se realiza o ano todo embora com variações sazonais. As melhores transações de maior valor monetário concentram-se de Novembro a Janeiro. Isto ocorre porque a Região do Planalto de Angónia que é caracterizado como sedo uma zona de cultivo intensivo com condições climáticas e de solos favoráveis para produzir em qualquer mês no ano.

No que diz respeito às incertezas, para o comerciante atacadista ambulante, elas relacionam-se á qualidade do produto comprado, uma vez que uma parte dos comerciantes atacadistas compram batata reno já ensacada em embalagens opacas e existe a possibilidade de que a batata comprada não corresponda à pretendida. Os outros comerciantes atacadistas ambulantes reduzem esta incerteza quando vão à exploração agrícola comprar a batata no momento da colheita e efetuar o pagamento após seleção da batata no campo.

Para o produtor as incertezas referem-se à demanda por parte dos varejistas, com relação a preços, quantidade e variedades. Esta situação deve-se ao seu limitado acesso a essas informações em posse dos comerciantes ambulantes que as manipulam em seu proveito. Os comerciantes atacadistas ambulantes buscam informações sobre a produção através de “olheiros”, geralmente recrutados entre pequenos produtores das regiões produtoras. Os comerciantes atacadistas com maior poder financeiro contam com funcionários contratos exclusivamente para percorrer as regiões produtoras em busca de informações sobre preços e locais de compra de batata e para o desenvolvimento de relacionamentos. Da pesquisa 5 dos 20 comerciantes atacadistas entrevistados usam os seus trabalhadores para pesquisa de preços e batata e os 15 restantes contam com informação de produtores amigos e outros intermediários da mesma zona de origem.

4.1. Formas de Governança e Arranjos Contratuais de T2

As transações verificadas entre os comerciantes atacadistas ambulantes e os produtores apresentam três formas de governança distintas - uma de mercado spot e duas híbridas - relacionadas às peculiaridades das transações.

A forma de governança via mercado spot refere-se, em sua maior parte, às transações envolvendo batata as duas variedades Rosita de polpa vermelha e BP1 ou Mondial de polpa branca em pequenos volumes ou, ainda, a transações esporádicas (não-recorrente). Os dados da Tabela 2 (p. 13) mostram que 98% dos produtores obtiveram acordo de preços na hora da venda da batata. Esta forma de governança relaciona-se, ainda, ao destino a ser dado ao produto pelo atacadista. Boa parte destas transações envolvem batata destinada aos clientes dos mercados varejistas urbanos, suburbanos e rurais, frequentado por clientes de faixas de rendas média a baixa menos exigentes em relação a qualidade do produto e à regularidade da sua disponibilidade.

As formas hibridas de governança são observadas entre os comerciantes atacadistas ambulante e os produtores de batata de qualidade superior. Devido à necessidade de obtenção de batata de alta qualidade de maneira recorrente, para atender às necessidades dos clientes mais exigentes (pequenos supermercados, restaurantes de hotéis de luxo), os comerciantes atacadistas ambulantes buscam arranjos contratuais informais que permitam a diminuição da sua incerteza em relação ao produto (qualidade e disponibilidade) e preços. Os produtores mantêm contatos regulares com os comerciantes atacadistas e trocam favores na condição dos primeiros vender a batata a comerciantes atacadistas mais

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exigentes. A Tabela 2 (p. 13), mostra que somente 2,0% dos produtores acordaram o preço muito antes de vender os produtos.

Estes arranjos híbridos são do tipo: contrato implícito de fornecimento e parcerias na produção. Os primeiros geralmente são estabelecidos com os produtores que possuem melhor qualidade e homogeneidade do produto. Os produtores informam ao comerciante da disponibilidade de batata vindo esses ao encontro dos primeiros. Em alguns casos o produtor envia o produto sem necessidade de grandes negociações, uma vez que têm a compra do produto pelo comerciante atacadista ambulante assegurada para toda a produção enviada. O preço é o do dia. Sendo assim, estes contratos implícitos possuem mecanismos de adaptação para situações não conhecidas ex-ante. Novamente, o que se vê nesta situação são salvaguardas ligadas ao risco reputacional. Os compradores, embora saibam não haver qualquer retaliação em caso de não comprar o produto dos produtores, uma vez anteriormente acertado, acabam por fazê-lo, mesmo se as condições para eles forem adversas, isto com o intuito de manterem os vínculos. Da mesma maneira, o produtor, ao enviar o produto sem conhecer as condições de preço, sabe que o comerciante atacadista ambulante pagará o preço adequado às características do produto de acordo com as condições do mercado. O comerciante atacadista ambulante, na realidade, chega a pagar um preço superior à média do mercado para que os produtores entreguem sua produção dentro das especificações esperadas e com os quais relacionam-se de maneira regular e com maior freqüência.

Estes contratos implícitos possuem salvaguardas de natureza reputacional apenas, oferecendo incentivos (regularidade, qualidade, preços altos) à manutenção dos acordos e penalizando descumprimento com a interrupção da relação e sua divulgação para o mercado. Estes contratos, informais ou implícitos, são mais prováveis de existirem em situações onde o relacionamento entre as partes é repetido e de longo prazo, como é o caso aqui analisado.

A outra forma de estrutura relacional encontrada na parceria na produção, está mais próxima das formas hierarquizadas de governança apresentando, inclusive, mudanças nos direitos de propriedade. Na parceria o comerciante atacadista ambulante fornece ao produtor os adubos, compra a crédito motobombas para irrigação necessários à produção em troca de uma percentagem da batata produzida, redução no preço podendo ainda o comerciante atacadista garantir a compra do restante da produção aos preços vigentes na época da colheita. Dessa maneira, o comerciante atacadista ambulante busca interferir no processo produtivo com o objetivo de obter maior garantia de disponibilidade e qualidade do produto ao mesmo tempo em que busca maiores retornos financeiros. Com isso os comerciantes atacadistas adquirem informações privilegiadas, área a serem produzidas, variedades, produtividade etc antes de produzir-se. O produtor, por sua vez, obtém financiamento para sua produção com quitação em produto, dividindo assim os riscos de flutuação de preço e de queda da safra com o comerciante atacadista ambulante, ao mesmo tempo em que garante o escoamento da sua produção3. Apesar de fornecer incentivos óbvios aos agentes da relação, esta forma de governança, exige algum tipo de controle da produção, por parte do comerciante atacadista ambulante, com seus inerentes custos e dificuldades. Há riscos reputacionais aos quais estão sujeitos os produtores no caso de quebra contratual. Essa quebra pode ser de duas formas: não entrega de produto (ou em menor quantidade que o combinado) ou entrega de um produto com qualidade abaixo da estipulada. A principal punição recebida pelo produtor diante de um comportamento

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oportunista são as dificuldades criadas para comercialização futura. Ou seja, um produtor que age por oportunismo com comerciante atacadista passa a ser “ mal visto” pelos outros comerciantes aos se deslocar aos mercados produtores uma vez que a maior parte dos comerciantes atacadistas ambulante têm contacto entre si através das comissões de comercialização de batata que estes são membros e as relações de compra muita vezes são por indicação ou relacionamento por serem da mesma zona de origem. 5. Considerações Finais

A análise das transações entre produtores e comerciantes atacadistas ambulantes mostra que os consumidores de batata estão diferenciados de acordo com a variedade de batata produzida na região de Angónia. A variedade Rosita é mais consumida pelos consumidores de faixa de renda média e baixa. As características químicas e físicas desta variedade fazem-na a mais consumida nos quatro grandes cidade da região do vale do Zambeze e no Malawi e comercializada mais nos mercados varejistas das zonas sub-urbanas e rurais. As variedades brancas são de preferência das classes média alta à alta, sendo comercializada mais nos supermercados, restaurantes e fast food dos grandes centros urbanos. Esta segmentação pode ser verificada pelo crescimento da participação de mercados de novas variedades de batata (Ex. BP1, Mondial) destinadas às faixas mais altas.

A movimentação na ponta da cadeia produtiva (consumidor final), portanto, cumpre um papel crucial no aumento da importância das incertezas envolvidas na produção agrícola para a determinação das formas de governança. Os agentes da cadeia produtiva de batata passam a caminhar em busca de arranjos contratuais que diminuam as incertezas quanto à disponibilidade dos produtos de qualidade superior. Além disso, maiores exigências quanto ao produto e, portanto, à produção podem ser interpretadas como um aumento na especificidade de ativos, que também levam a formas de governança que forneçam possibilidades de adaptação cooperativa, mais distantes da governança via mercado.

Da análise dos resultados, pode-se observar que as formas de governança nas transações verificadas entre os comerciantes atacadistas ambulantes e os produtores apresentam três formas de governança distintas - uma de mercado spot e duas híbridas – relacionadas às peculiaridades das transações. As especificidades de ativos do comerciante atacadista para esta transação são de capital humano, ativo físico e temporal e o produtor apresenta especificidades de capital humano, ativo físico medianas, alta especificidade temporal e locacional. As especificidades variam em função do produto.

Notas 1

Batata reno também conhecida no Brasil por batata inglesa.

2 O comerciante para vender a sua batata nos mercados urbanos necessita ter uma banca. Este equipamento tem um papel importante. É um ponto fixo e permite que os clientes localizem o comerciante e na falta de armazém os comerciantes armazenam seu estoque neste local. 3 Há exigências por parte do varejista para que a batata de melhor qualidade seja produzida. Esta é a explicação de presença mais hierarquizada.

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