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LIGIA ULIR HIRT ANÁLISE DAS EXPECTATIVAS DOS JOVENS SOBRE ESCOLHA PROFISSIONAL E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NUMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO MÉDIO ITAJAÍ (SC) 2010

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LIGIA ULIR HIRT

ANÁLISE DAS EXPECTATIVAS DOS JOVENS SOBRE ESCOLHA

PROFISSIONAL E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NUMA ESCOLA PÚBLICA DE

ENSINO MÉDIO

ITAJAÍ (SC)

2010

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UNIVALI

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC

Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu

Programa de Pós Graduação em Educação – PPGE

LIGIA ULIR HIRT

ANÁLISE DAS EXPECTATIVAS DOS JOVENS SOBRE ESCOLHA

PROFISSIONAL E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NUMA ESCOLA PÚBLICA DE

ENSINO MÉDIO

Dissertação apresentada ao colegiado do PPGE como

requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em

Educação. Área de concentração: Educação. Linha de

Pesquisa: Práticas Docentes e Formação Profissional.

Grupo de Pesquisa: Educação e Trabalho

Orientadora: Dra. Tânia Regina Raitz.

ITAJAÍ (SC)

2010

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LIGIA ULIR HIRT

ANÁLISE DAS EXPECTATIVAS DOS JOVENS SOBRE ESCOLHA

PROFISSIONAL E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NUMA ESCOLA PÚBLICA DE

ENSINO MÉDIO

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de Mestre em Educação e

aprovada pelo Curso de Mestrado Acadêmico em Educação da Universidade do Vale do

Itajaí, Campus Itajaí.

Itajaí, 04 de março de 2010.

Profa. Dra. Tânia Regina Raitz

Orientadora

Profa. Dra. Dulce Helena Penna Soares

Avaliadora – UFSC

Profa. Dra. Valéria da Silva Ferreira

Avaliadora – UNIVALI

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Aos Jovens.

Com a experiência de vida que os anos nos trazem, é lícito afirmar que a vida é tecida

a cada dia, o que nos permite um aprendizado constante.

Você, jovem, que pensa saber tudo sobre a vida, saiba que ainda não sabe.

Você que pensa não precisar de alguém, saiba que precisa.

Você que pensa que já aprendeu tudo, engana-se. A vida nos ensina algo novo a cada

dia.

Você que pensa ser o dono do seu espaço, saiba que não é. Depois de você, outros

virão e ocuparão este espaço e lhe cobrarão o uso sustentável. Portanto, cuide, ame, preserve

a natureza, aprenda com os outros, reflita, escolha, aja.

A cada dia o mundo se renova. Assim, renove-se com ele. Deixe para trás tristezas,

tenha convicção que não há o que não possa ser melhor.

Viva intensamente cada dia. Portanto, aprenda a lidar com as frustrações, seja pró-

ativo, lute, faça muitos planos e escolhas, estude, divirta-se, trabalhe, tenha amigos, alguém

especial com quem compartilhar.

Viva o hoje em busca de um novo amanhã, com esperança e a certeza que a vida pode

ser melhor a cada dia.

O amanhã que se levanta em cada dia depende exclusivamente de você, pois você faz

a diferença.

Com carinho,

Ligia Ulir Hirt

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AGRADECIMENTOS

Pessoas maravilhosas cruzaram meu caminho e de uma forma ou outra contribuíram com a

minha pesquisa. Obrigada a todos, especialmente:

A Deus, pela concretização de mais esta jornada, pois sem sua presença e luz nada seria

possível.

Aos meus familiares, pelo apoio incondicional, especialmente ao meu marido e filhos.

A minha Orientadora, Professora Doutora Tânia Regina Raitz, que sempre esteve ao meu

lado, iluminando, abrilhantando, incentivando meu trabalho. Sua força, integridade, lealdade,

inteligência, exemplo e dedicação me fizeram seguir por caminhos seguros na trajetória

acadêmica. Você é uma pessoa incrível, alegre e entusiasmada, por isso irradia luz a todos que

cruzam seu caminho.

À Professora Doutora Elizabeth Caldeira Villela, pelo incentivo, exemplo e confiança. Você é

uma referência que tenho para ter iniciado o mestrado.

À Professora Doutora Valéria da Silva Ferreira, pela amizade, dedicação e pelas importantes

contribuições trazidas no exame de qualificação, estas nortearam muitos aspectos deste

estudo.

À Professora Doutora Verônica por sua competência. Suas considerações foram

importantíssimas e seus apontamentos, tanto como professora como avaliadora da banca de

qualificação, ajudaram a enriquecer este estudo.

À Professora Doutora Dulce Helena Soares. Seus estudos e suas pesquisas inspiraram esta

investigação. Agradeço as considerações por ocasião do exame de qualificação, já que

proporcionaram novos caminhos e nortearam este estudo. Suas contribuições foram valiosas e

sua experiência profissional foi fundamental para a qualidade das reflexões deste estudo.

À direção e aos professores da escola Laureano Pacheco, especialmente à orientadora

educacional professora Jane e demais colaboradores, que disponibilizaram o espaço e os

equipamentos para a realização deste estudo. Agradeço de coração, principalmente pelo

carinho e acolhimento.

Aos jovens, pois sem eles esta pesquisa não teria razão de existir. Obrigada por dividirem suas

experiências de vida, por participarem e deixarem seus depoimentos.

Aos mestres que passaram suas experiências durante as aulas.

Aos amigos que compartilharam esta caminhada comigo e estiveram presentes em todos os

momentos, dividindo experiências, somando, aprimorando nosso conhecimento.

Á Mestre Aparecida Márcia Lucinda da Universidade Federal de Santa Catarina, que muito

contribuiu com suas considerações, presença e amizade.

A Núbia e a Mariana, que sempre estiveram dispostas a ajudar em todas as nossas

necessidades acadêmicas, meu respeito e carinho.

Por fim, à Universidade do Vale do Itajaí, por intermédio de Valéria da Silva Ferreira,

coordenadora do curso Acadêmico de Mestrado em Educação.

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RESUMO

O tema desta pesquisa pertence à linha de Práticas Docentes e Formação Profissional

integrando o Grupo de Pesquisa Educação e Trabalho do PPGE – Univali. O século XXI,

caracteristicamente, é uma Era permeada por crescentes transformações, queda de paradigmas

e desenvolvimento de novas tecnologias, o que tem exigido incessante aperfeiçoamento e

atualização constante dos profissionais de diversas áreas. Este fato gerou a especialização do

trabalho e, como conseqüência, a dos cursos superiores. Os jovens sentem-se inseguros diante

da escolha profissional, mas isto não causa sobressalto, pois esta questão sempre foi e

continua sendo um entre os diversos dilemas a serem superados pela juventude. Este estudo

tem como objetivo compreender e analisar as expectativas dos jovens do terceiro ano do

ensino médio de uma Escola Pública do município de Balneário Camboriú – SC acerca da

escolha profissional e propor futuramente um serviço extracurricular de orientação

profissional. Poucas são as iniciativas das escolas públicas a este respeito, diversamente das

escolas privadas. Para tanto, esta investigação adotou a abordagem qualitativa por meio da

coleta de dados através de questionário semi-estruturado com perguntas fechadas e abertas

aplicado a 99 jovens do sexo masculino e feminino, do terceiro ano do ensino médio, entre 15

e 22 anos. No tratamento dos dados utilizou-se análise descritiva e interpretativa com o

método análise de conteúdo. Os principais autores que contribuíram para o referencial teórico

deste estudo foram: Batista (2006), Raitz (2003), Benassoli (2007), Lampert (2004), Petters

(2007), Pochmann (2004), Souza (2003), Vieira (2005), Soares (1993, 202, 2003, 2007,

2008), Silva & Soares (2001), Sposito (2005), Sparta (2003), Lassance (2003, 2007), entre

outros. Os resultados da pesquisa revelam certa insegurança dos jovens em relação à escolha

profissional e demonstram que mesmo os jovens que já estão empregados sentem a

necessidade de pensar em outras opções de emprego, motivados por uma melhor

remuneração, melhores condições de trabalho, qualidade de vida, formação acadêmica etc.

Neste sentido, a maioria dos jovens diz sentir necessidade de mais reflexão sobre o mercado

de trabalho, futuras profissões, habilidades e aptidões pessoais. A principal expectativa

apontada pelos jovens está na esperança de uma educação de qualidade que contemple as

questões relativas ao mundo do trabalho como meio de acesso ao mercado. Conclui-se que há

necessidade de uma tomada de decisão em prol da juventude, através de ações concretas que

possam contribuir com a qualidade da educação e ao mesmo tempo possibilitem reflexões

críticas como forma de amenizar as desigualdades sociais vivenciadas pelos jovens,

subsidiadas por políticas públicas em favor da juventude. Neste contexto, a orientação

profissional se destaca como uma entre as ações almejadas na área educação e trabalho.

Palavras chave: Jovens. Escolha profissional. Orientação profissional. Educação e trabalho.

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ABSTRACT

The theme of this study is part of the line of research Teaching Practice and Professional

Training, which is part of the Education and Labor Research Group of the PPGE – Univali.

The twenty-first century is an era of increasing change, a falling away of paradigms, an

unveiling of new technologies, and constant updating, requiring professionals in various

areas to constantly improve and update their skills. This fact has led to a greater

specialization of work and, as a consequence, of higher education. Young people feel

insecure faced with so much choice. This is hardly surprising, as the question of career

choice has always been, and continues to be one of the main dilemmas facing young

people. This study seeks to understand and analyze the expectations of young people in the

third year of secondary education, at a Public High School in the town of Balneário

Camboriú – SC, with regard to career choices and the future offer of extracurricular career

advice guidance. Unlike private schools, public schools are making few initiatives in this

regard. This research adopted a qualitative approach. Data were collected using a semi-

structured questionnaire with closed and open questions, which was applied to 99 young

people, both male and female, aged between 15 and 22 years. Descriptive and

interpretative content analyses were used to analyze the data. The main authors who

contributed to the theoretical framework of this study were: Baptist (2006), Raitz (2003),

Benassoli (2007), Lampert (2004), Petters (2007), Pochmann (2004), Souza (2003), Vieira

( 2005), Smith (1993, 202, 2003, 2007, 2008), Silva & Soares (2001), Sposito (2005),

Sparta (2003), and Lassance (2003, 2007). The results of the survey revealed uncertainty

among the young people over career choice. It also revealed that even those already

employed feel a need to consider other job options, in search of better pay, better working

conditions, quality of life, or academic training, etc. Most of the young people interviewed

said they needed to think more about the job market, future professions, skills, and

personal aptitudes. The main expectation pointed out by the interviewees was the hope of a

quality education that includes issues relating to the world of work, as a means of access to

the job market. It is concluded that concrete actions are needed, on behalf of young people,

through concrete actions that can contribute to the quality of education and at the same

time, enable critical reflection, as a means of reducing the social inequalities experienced

by young people, supported by public policies top assist young people. In this context,

professional career advice is one of the actions envisaged in the areas of education and

work.

Key words: Young people. Career choice Career guidance Education and work.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Emprego Formal ou Informal ................................................................................ 69

Tabela 02: Pensar em um emprego futuro ............................................................................... 73

Tabela 03: Fatores que interferem na Escolha Profissional .................................................... 74

Tabela 04: Influências na Escolha Profissional ....................................................................... 75

Tabela 05: Profissão dos Pais .................................................................................................. 77

Tabela 06: Sentimentos em relação à futura profissão ............................................................ 78

Tabela 07: Horário de um possível Grupo de Orientação Profissional ................................... 84

Tabela 08: Como a educação pode contribuir na escolha profissional? .................................. 86

Tabela 09: Informação Profissional......................................................................................... 87

Tabela 10: Importância atribuída a fatores a acompanhar no mercado de trabalho ................ 88

Tabela 11: Requisitos x Expectativas de Vagas no mercado de Trabalho .............................. 89

Tabela 12: Responsabilidade pelo Desemprego ...................................................................... 92

Tabela 13: Expectativas de encontrar um Emprego no Futuro ............................................... 93

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Principais teorias em Orientação Profissional ..................................................... 38

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Situação de moradia dos jovens pesquisados ....................................................... 67

Gráfico 02: Situação de Trabalho e Estudo dos Sujeitos ........................................................ 68

Gráfico 03: Satisfação dos sujeitos que trabalham em relação ao Emprego ........................... 70

Gráfico 04: Permanência no Emprego dos jovens que trabalham ........................................... 71

Gráfico 05: Importância da reflexão sobre as profissões ........................................................ 79

Gráfico 06: Serviço de Orientação Profissional ...................................................................... 80

Gráfico 07: Orientação Profissional na Escola ........................................................................ 81

Gráfico 08: Auxílio da orientação profissional na escola ....................................................... 82

Gráfico 09: Gostaria de fazer parte do Grupo de Orientação Profissional .............................. 83

Gráfico 10: Contribuição da educação na escolha profissional............................................... 85

Gráfico 11: Habilidades e Aptidões ........................................................................................ 91

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LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE A – Questionário ................................................................................................ 145

APÊNDICE B – Termo de Autorização ................................................................................. 154

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................................ 155

APÊNDICE D – Slides das palestras proferidas na escola .................................................... 156

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LISTA DE SIGLAS

ABOP – Associação Brasileira de Orientação Profissional.

CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica.

EM – Ensino Médio.

ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IES – Instituições de Ensino Superior

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

LBD – Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

OP – Orientação Profissional.

OPA – Opção Profissional por Área.

PIB – Produto Interno Bruto.

PLANFOR – Plano Nacional de Formação Profissional.

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio.

PNPE – Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego.

PNQ – Plano Nacional de Qualificação.

PROEJA – Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação

Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos.

ProJovem – Programa Nacional de Inclusão de Jovens.

PROUNI – Programa Universidade para Todos.

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESI – Serviço Social da Indústria

UNESCO – Organização das Nações Unidas pela Educação.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13

JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 18

1 JUVENTUDE, TRABALHO E ESTUDO: A ESCOLHA PROFISSIONAL EM

FOCO ............................................................................................................................ 22

1.1 Recortes sobre juventude e Orientação Profissional ..................................................... 22

1.2 As origens da Orientação Profissional e seu desenvolvimento no Brasil .................... 26

1.3 As principais teorias em Orientação Profissional .......................................................... 37

1.4 Juventude: uma categoria histórica e social .................................................................. 39

1.5 Juventude, diversidade e orientação profissional .......................................................... 44

1.6 Os jovens e as instituições sociais: escola e família ........................................................ 47

1.7 Mudanças no mundo do trabalho e identidade profissional ........................................ 51

1.8 Mudanças Sociais na Contemporaneidade, trabalho e Identidade Profissional ........ 54

2 CAMINHOS PERCORRIDOS NA PESQUISA EMPÍRICA....................................59

2.1 Sujeitos participantes da pesquisa: quem são? .............................................................. 60

2.2 Procedimentos metodológicos .......................................................................................... 62

3 TRABALHO E INFLUÊNCIAS NAS ESCOLHAS PROFISSIONAIS DOS

JOVENS................................................................... .......................................................66

4 EXPECTATIVAS SOBRE AS ESCOLHAS PROFISSIONAIS DOS JOVENS...........97

4.1 A orientação profissional nas escolas públicas: um sonho possível?............................97

4.1.1 As incertezas do futuro....................................................................................................98

4.1.2 A busca pela autonomia e independência ...................................................................... 100

4.1.3 Sentidos do trabalho e temporalidade ............................................................................ 101

4.1.4 Falta experiência para o emprego .................................................................................. 104

4.1.5 As influências da família e da sociedade na escolha profissional ................................. 106

4.1.6 Sentimentos de insegurança, dúvidas e medo da juventude na atualidade .................... 113

4.1.7 A preocupação com tempo e as dúvidas da escolha ...................................................... 115

4.1.8 Possibilidades e limites da escolha profissional ............................................................ 117

4.1.9 A importância da informação e reflexão na escolha profissional .................................. 118

4.1.10 A escolha certa e a satisfação em fazer o que faz: preocupação com o lado financeiro

do trabalho .............................................................................................................................. 119

4.1.11 Iniciativas da escola em promover a Orientação Profissional ..................................... 121

4.1.12 Contribuições da educação na escolha profissional e na Orientação Profissional ...... 127

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 130

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 136

APÊNDICES ............................................................................................................... 144

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INTRODUÇÃO

Pensar em juventude na atualidade remete a pensar em diversidade, multiplicidade,

heterogeneidade, pois não existe uma única categoria ou definição de juventude, conforme

literatura pesquisada neste estudo. Algo que fascina e desperta interesse de muitos estudiosos

do tema é a questão da Orientação Profissional, vista na perspectiva de promoção de saúde, ou

seja, não mais para separar os trabalhadores inaptos para o trabalho como em suas raízes, mas

sim, como conceito preventivo para auxiliar o jovem a fazer escolhas ponderadas, maduras

em relação a sua profissão.

A gama de interesses da juventude em relação à Orientação Profissional é

diversificada diante das crescentes opções colocadas à disposição pela sociedade capitalista

moderna. Na contemporaneidade, existe um avanço crescente de cursos universitários, além

dos cursos técnicos e tecnólogos. Há também uma crescente especialização destes cursos, o

que leva muitos jovens a fazerem escolhas profissionais baseadas nos cursos que estão em

maior evidência, sem considerar aspectos decisivos como os objetivos do curso, o mercado de

trabalho, interesses, disponibilidade de vagas, habilidades ou aptidões pessoais.

Com as novas exigências do mercado de trabalho advindas das transformações que a

sociedade atravessa constantemente devido a informatização, velocidade de informação,

avanços nas comunicações e uso crescente de novas tecnologias, também ocorreu a

fragmentação do conhecimento, e como conseqüência, dos cursos superiores que se

multiplicaram tornando a escolha do jovem cada vez mais complexa, levando, inclusive, a

escolha de cursos que não correspondem as suas expectativas.

Fatores que geram ansiedade nos jovens em relação à escolha profissional são as

influências e expectativas exercidas pela família, grupo ou sociedade. A influência da família

na escolha profissional é bem conhecida. A literatura demonstra que desde que nasce, a

criança recebe uma carga de expectativas de familiares, desta forma, certos comportamentos

que desenvolve ao longo da vida podem ser estimulados ou rechaçados. Soares (2002) afirma

que a família interfere inclusive no processo de assimilação da realidade das crianças e isto

vai moldando a formação de hábitos e interesses. Assim, o jovem ao escolher uma profissão

muitas vezes não se dá conta das influências exercidas por meio da dinâmica familiar. Além

disso, os pais constroem projetos de futuro para os filhos e desejam que eles o sigam de

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acordo com a imagem projetada. Os filhos, na tentativa de fazer parte desta família, muitas

vezes cedem a estes apelos (SOARES, 2002).

Acompanhar as oscilações do mercado de trabalho é outro aspecto essencial a todos

que desejam escolher uma profissão, pois com as mudanças constantes na economia global,

alguns setores empregam mais em detrimento a outros. Segundo dados divulgados pelo IBGE

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego aumentou 1,3% no início de

2009, chegando ao final do ano com uma taxa de 6,8%. O Produto Interno Bruto – PIB baixou

3,6% no último trimestre de 2008 e início de 2009, o que é um reflexo da atual crise mundial.

Estes dados demonstram que o Brasil, embora seja um país em franco desenvolvimento, não é

imune a crise ora instalada. Este fato vai refletir diretamente naqueles que buscam inserir-se

no mercado de trabalho. Neste sentido, um serviço de Orientação Profissional deve promover,

entre outros, a reflexão das condições do mercado de trabalho e das aptidões, gostos e desejos

profissionais de forma preventiva, evitando assim escolhas precipitadas.

Diante do exposto, recorro a traços da memória e numa retrospectiva de minha

trajetória acadêmica e profissional, retomo essa ligação do trabalho com jovens desde o curso

de graduação. Isto me levou a compreender que independente da área de atuação, tal trabalho

é árduo, mas apaixonante, o que denota ser necessária certa afinidade e energia. Além disso, a

curiosidade me impulsionou a seguir em frente, a buscar novos caminhos, a ver a realidade

com outros olhos. Acredito que isto deve ser uma qualidade para qualquer pesquisador.

Em oportunidade anterior, desenvolvi em 2001 (época de estágio em Psicologia

Educacional no Colégio de Aplicação da UNIVALI, em Tijucas – SC) um trabalho com

jovens sobre a escolha profissional, por meio de grupos de reflexão. Este fato me motivou a

investigar na atualidade quais as expectativas dos jovens em relação a este processo de

escolha, pois já naquela época percebi a importância de definir uma profissão e quão difícil é

para os jovens tomar desta decisão, pois envolve um projeto de vida. Neste processo, o jovem

é influenciado por diversos fatores já citados (família, economia, mercado de trabalho,

aptidões pessoais, gostos, cultura, condições sócio-econômicas da família, etc.). Além disso,

outra questão motivadora foi a de investigar se a educação pode contribuir com os jovens no

momento da escolha profissional, pois a rede privada conta com este tipo de apoio; já a rede

pública não.

O trabalho realizado despertou-me o desejo de ampliar os grupos de reflexão de

orientação profissional para as escolas públicas. Nesta perspectiva, surgiu o interesse pela

presente pesquisa principalmente para dar subsídios à prática profissional, pois alunos de

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escolas públicas ou privadas, sem distinção, se deparam com o momento de definir sua

profissão. Embora a escolha faça parte de um processo, pode constituir-se em um dilema na

vida de muitos jovens que geralmente passam por isto sem assistência devido a falta de

oportunidade em contar com um serviço permanente de orientação profissional.

Alguns jovens passam por este momento sem maiores dificuldades, seja por estarem

decididos quanto ao seu futuro, seja por não terem opção e serem obrigados a se lançar no

mercado de trabalho para sobreviver; outros, por razões variadas, precisam de maior atenção,

conforme aponta as pesquisas de Petters (2007). Isto sem mencionar os que entram para as

Universidades e desistem logo após os primeiros períodos por dúvidas em relação à profissão,

por não gostarem do curso que escolheram, por falta de informação profissional ou pela

necessidade de refletir um pouco mais acerca do futuro profissional e de seu projeto de vida.

Este estudo, além de contribuir para a prática profissional dos orientadores como um

diagnóstico para as políticas públicas do município, tem a intenção de propor futuramente um

serviço de orientação profissional nas escolas públicas e privadas de Ensino Médio. Este tipo

de iniciativa, além de tornar a OP mais democrática, pode vir a apoiar e auxiliar os jovens a

fazerem escolhas profissionais mais coerentes, maduras, assertivas baseadas na pesquisa, na

reflexão, na crítica e na informação profissional, o que poderá contribuir com a melhoria da

qualidade educacional dos mesmos. Portanto, antes de se pensar em ofertar o serviço fez-se

necessário investigar junto à escola se existe demanda para tal e quais as expectativas dos

jovens sobre a orientação profissional na mesma. Os subsídios provindos da pesquisa tornam-

se importantes materiais para a prática profissional desta pesquisadora e de outros

profissionais que trabalham com a juventude, capazes de nortear futuros trabalhos e

pesquisas.

Em continuidade a trajetória acadêmica desta pesquisadora, em 2002 surgiu a

oportunidade de fazer Pós-Graduação, ou seja, uma Especialização em Psicologia da Infância.

Nesta oportunidade, fiz uma pesquisa bibliográfica sobre a História do Brinquedo e da

Criança comparando as diversas concepções de Infância e a evolução do brinquedo

historicamente. Este trabalho foi instigante e me proporcionou uma visão histórico-cultural da

criança e da educação. Entretanto, senti que poderia fazer mais, ampliando meus estudos para

a juventude para conhecer melhor esta categoria histórica e social.

Assim, em 2008, entrei para o Mestrado Acadêmico em Educação da UNIVALI, com

especial interesse no Grupo de Pesquisa Educação e Trabalho que vem desenvolvendo

pesquisas com a temática Juventude, Educação e Trabalho. Motivada pelas pesquisas do

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grupo e trabalhos anteriores, minha investigação centrou-se na questão da orientação

profissional nas escolas públicas aprofundando sobre a escolha profissional dos jovens na

atualidade. Portanto, me sentia inconformada pelo fato que somente algumas escolas privadas

contam com este serviço de forma constante, por meio da contratação de profissionais. Aos

poucos a questão da escolha profissional foi se enraizando e percebi que uma pesquisa sobre o

assunto seria de grande utilidade social, pois além de subsidiar a prática profissional poderá

vir a servir de referência para Políticas Públicas que visem um ensino de qualidade, além de

contribuir de maneira especial com a juventude brasileira. Neste contexto, optei por pesquisar

as expectativas dos jovens em relação à orientação profissional, bem como verificar se a

escola pode contribuir neste processo.

Segundo Noce (2008), a escolha profissional faz parte de um processo com maior ou

menor complexidade, o que depende das vivências e experiências dos jovens, do contexto

social, do conhecimento e informações adquiridas, do grau de enfrentamento, bem como do

desenvolvimento de atitudes como responsabilidade, independência, autoconhecimento, entre

outros. Desta forma, defende-se que uma proposta curricular de orientação profissional nas

escolas públicas de ensino médio pode auxiliar os jovens neste processo, clarificando suas

escolhas. Neste sentido, este estudo tem sua relevância social na medida em que procura

trazer subsídios para as Políticas Públicas que visam implantar ações concretas para a

juventude de nosso país. Desta forma, os jovens que freqüentam o ensino médio de escolas

públicas podem ser beneficiados, pois terão indicativos para reivindicar um serviço a seu

dispor, como por exemplo, um programa curricular ou complementar de orientação

profissional permanente nas escolas.

As questões norteadoras deste estudo são: Quais as expectativas dos jovens do ensino

médio em relação as suas escolhas profissionais num contexto de profundas transformações

no mundo do trabalho, para além da ética do trabalho formal como eixo estruturante? Como a

orientação profissional nas escolas públicas pode contribuir neste momento de escolha para os

jovens?

Neste sentido, o objetivo da pesquisa é compreender e analisar as expectativas dos

jovens do terceiro ano do Ensino Médio da Escola Pública Laureano Pacheco, do município

de Balneário Camboriú/SC, com interesse especial sobre suas escolhas profissionais diante

das transformações do mundo do trabalho e de um mercado heterogêneo no município, bem

como investigar a demanda de um serviço de orientação profissional na escola.

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Esta dissertação está estruturada da seguinte forma: no primeiro capítulo apresenta-se

o aporte teórico que contribuiu para as reflexões e análises do estudo.

No segundo capítulo, a metodologia do estudo é detalhada, ressaltando-se desde a

escolha do tema, o local e o perfil dos sujeitos, bem como os procedimentos adotados para a

análise dos dados.

No terceiro capítulo realiza-se a análise estatística dos dados apontando a necessidade

de ações efetivas em prol da juventude que reclama de mais apoio para o segmento juvenil

que tem pela frente a escolha profissional.

A análise qualitativa dos dados é explicitada no quarto capítulo. Os sentimentos de

insegurança, medo e dúvidas da juventude diante das diversidades de um mundo globalizado

e de um mercado de trabalho flexibilizado e mutante se tornam evidentes na atualidade.

As conclusões do trabalho direcionam para a necessidade de pró-atividade para este

segmento juvenil, como, por exemplo, o oferecimento de um serviço de orientação

profissional nas escolas públicas do ensino médio. Contudo, é claro que tais ações devem ser

amparadas por políticas públicas menos assistencialistas, que realmente abracem a causa

daqueles jovens que buscam inserir-se no mercado de trabalho.

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18

JUSTIFICATIVA

A psicologia e a educação caminham na mesma direção em muitos sentidos. A

psicologia, muitas vezes, vale-se da sociologia, da antropologia e de outras ciências e vice-

versa para explicar e analisar fatos e situações que envolvem o estudo das ações humanas.

Assim, esta pesquisa, apesar de estar inserida na área específica da educação, em muitos

momentos se apropria de várias ciências, como a psicologia, a sociologia, a antropologia, a

história, a política, a economia, entre outras, como suporte em seus pressupostos teórico-

metodológicos. A orientação profissional possui suas vertentes na psicologia, entretanto, neste

trabalho pretende-se lançar um olhar global sobre o tema, como uma ação preventiva, que

visa dar suporte à juventude.

A escolha profissional é uma decisão importante na vida de todo jovem, pois dela

depende todo o projeto de vida. Diante da diversificação e especificação dos cursos superiores

e das constantes mutações do mercado de trabalho, como também pelas incertezas geradas

pela economia global, falta de estabilidade nos empregos, ameaça de desemprego, entre

outros fatores, a juventude sente-se insegura para escolher sua profissão.

A revisão da literatura consultada por meio de estudos e pesquisas foca-se

principalmente em Soares (1993, 2002, 2007, 2008), Sposito (1997, 2000, 2003, 2005),

Lassance et al (2003, 2004, 2005), Petters (2007), Silva et al (2008), entre outros. Os autores

apontam para tal insegurança diante da escolha profissional e também para as incertezas

relacionadas às questões ligadas ao mundo do trabalho, como a escolha de um curso

universitário, o primeiro emprego, a experiência, as exigências do mercado de trabalho, a

qualificação profissional, o gerenciamento de carreira, a diversificação de ocupações e de cursos

superiores. Estas questões raramente são discutidas na escola e se constituem de extrema

importância, tanto para os jovens, quanto para o trabalho de orientadores educacionais e

profissionais de diversas áreas, como psicólogos e sociólogos, que trabalham com a juventude e

buscam subsídios para sua prática profissional.

Algumas escolas da rede privada contam com profissionais qualificados como

psicólogos e orientadores educacionais, capacitados a refletir com a juventude acerca da

orientação profissional. Entretanto, nas escolas públicas são poucas as iniciativas neste

sentido. Segundo depoimento colhido com a orientadora educacional na escola Laureano

Pacheco de Balneário Camboriú – SC, a escola conta com o apoio e boa vontade da

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comunidade, por meio de palestras e entrevistas com alguns profissionais para esclarecer as

dúvidas dos alunos a respeito de questões ligadas à escolha profissional. Porém, tal iniciativa

é restrita e não atinge todos na escola.

Embora a escolha profissional seja um processo que não ocorra momentaneamente

(deveria haver reflexões a respeito desde a infância), os alunos do ensino médio são os que

mais necessitam de orientação profissional, pois já estão prestes a passar pelo vestibular e a

entrar no mercado de trabalho. Com o advento da Nova LBD – Lei de Diretrizes e Bases da

Educação de 1996, o ensino médio passou a compor a educação básica, a qual deve assegurar

aos alunos uma formação que garanta o exercício da cidadania, proporcione meios de exercer

com êxito o trabalho e desperte o interesse para cursos posteriores, para constante

aperfeiçoamento. Neste sentido, um serviço de orientação profissional nas escolas públicas

seria de grande utilidade. A referida LDB aponta, em seu primeiro artigo, que a educação

abrange os processos formativos que se desenvolvem na família, na convivência humana, no

trabalho e nas instituições de ensino, pesquisa, etc. Em seu segundo parágrafo ressalta que a

educação escolar deve vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social (BRASIL, 1996). A

lei é clara, entretanto, na prática, muita coisa precisa ser feita. Nesta perspectiva, pergunta-se:

quais as expectativas dos jovens do ensino médio em relação as suas escolhas profissionais

num contexto de profundas transformações no mundo do trabalho, para além da ética formal

como eixo estruturante? Como a educação pode contribuir para dar suporte num momento de

extrema importância na vida do jovem, que é o momento da escolha profissional?

Na comunidade acadêmica se discute assuntos como a qualidade da educação, a

formação profissional, a qualificação profissional, a melhoria salarial, a valorização da

educação, entre outros, entretanto, para além da retórica, a sociedade clama por educação de

qualidade, mediada por ações concretas. No que se refere à profissionalização do jovem, a

orientação profissional tem muito a contribuir. Cabe destacar que o atual governo tem apoiado

programas e projetos para profissionalizar os jovens, como o projeto do Primeiro Emprego,

Brasil Profissionalizado, ProJovem (Programa Nacional de Inclusão de Jovens), entre outros.

Todavia, tais projetos quando aprovados são insuficientes diante da demanda e deixam uma

lacuna quanto à questão da escolha e orientação profissional. Muitas são as carências e

diversidades sociais, culturais e econômicas da juventude, o que cria necessidades

diferenciadas. Nesta perspectiva, Sposito e Carrano (2003) afirmam que as Políticas Públicas

direcionadas à juventude, bem como os projetos desenvolvidos, apresentam-se de forma

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isolada e fragmentada, sem o direcionamento para a constituição de um marco diretivo de

política pública na área.

De acordo com Kuenzer (2006), as políticas de Educação Profissional estabelecidas a

partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, desde o segundo período do

governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e durante o primeiro governo do

presidente Luís Inácio Lula da Silva, mesmo que pautadas no discurso da inclusão dos

trabalhadores no mundo do trabalho por meio da qualificação profissional, não só não

surtiram o efeito anunciado como ainda tornaram mais precarizadas as ofertas educativas.

Baptista (2006) analisou e comprovou em seus estudos e pesquisas que as ações

governamentais como o antigo Planfor (Plano Nacional de Formação Profissional),

atualmente PNQ (Plano Nacional de Qualificação), entre outras, não dão conta de uma

formação e qualificação adequada para o jovem. Embora a oferta de formação e qualificação

tenha aumentado significativamente, persiste a necessidade de Políticas Públicas que

garantam a qualidade da educação, bem como persiste a necessidade de ouvir e atender os

anseios dos jovens que pretendem ingressar no mercado de trabalho.

Kuenzer (2006) fez um estudo sobre os programas existentes na área de educação e

trabalho, mais especificamente dos projetos Planfor, PNQ, ProJovem, Proeja e o PNPE. A

autora afirma que os recursos destinados a estes programas não são bem aproveitados,

indicando o mau uso dos investimentos públicos e baixa efetividade social. O atual governo

apresentou nova proposta de política pública de Educação Profissional, expressa no Plano

Nacional de Qualificação (PNQ), para o período 2003/2007, “com três grandes objetivos:

inclusão social e redução das desigualdades sociais; crescimento com geração de trabalho,

emprego e renda, ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades regionais; e

promoção e expansão da cidadania e fortalecimento da democracia” (BRASIL, 2007, p. 17).

Na época da publicação deste estudo, a autora mencionou que a nova proposta pautada no

PNQ possuía poucos subsídios para uma avaliação mais aprofundada (KUENZER, 2006).

Entretanto, na atualidade observa-se que embora novos programas e políticas públicas para a

juventude estejam sendo elaborados e sejam cada vez mais valorizados, ainda resta um longo

caminho. Muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas e há uma diversidade de carências

sociais a serem consideradas (BRASIL, 2006).

Sobre Políticas Públicas e juventude alguns estudos como o de Sposito (2003),

salientam a necessidade de se criar vontade política para dar visibilidade à juventude, como

sujeitos de direito e atores sociais capazes de ação e de participação não tutelada na esfera

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pública. A autora afirma que além dos desafios em todas as esferas governamentais, integra-se

a necessidade de formulação de um plano de desenvolvimento social com uma clara

habilidade de estabelecimento de justiça social. É urgente verificar quais os projetos e ações

permitirão a execução de mecanismos de fortalecimento de uma esfera pública democrática e

pluralista. Atualmente verifica-se que este movimento em prol da juventude vem sendo

encarado com merecido destaque. A avaliação de alguns programas atuais para o emprego

está deixando de possuir um caráter assistencialista e vem se mostrando como positiva.

Entretanto, há um longo caminho a percorrer em termos de resgate de cidadania, auto-estima

e, muitas vezes, de reconstrução familiar e pessoal (LEITE, 2003).

As mudanças ocorridas no mundo do trabalho, a globalização que para alguns resulta

na mundialização, os avanços da tecnologia, a reestruturação produtiva como nova

organização do trabalho, entre outras, modificaram as relações de trabalho e trazem novos

desafios para todos os povos. Neste contexto, a educação, mais significativamente a escola,

não pode permanecer estagnada, precisa acompanhar as mudanças e dar sua contribuição. No

capítulo em que tratamos da revisão da literatura, pode-se observar a necessidade de

estabelecer ações que visem contribuir com a qualidade da educação e mais especificamente

com os jovens que estão em busca de um futuro profissional.

Como já mencionado, o serviço de orientação profissional, pelo que temos

conhecimento na região, só estaria disponível em algumas escolas da rede privada. Em

escolas públicas o assunto é tratado superficialmente com ações que levam a informação

profissional e não a orientação profissional propriamente dita. Desta forma, defende-se a idéia

da escola – ou de forma mais abrangente a educação – estabelecer ações que possam subsidiar

políticas públicas, as quais futuramente venham possibilitar aos jovens a escolha profissional

e a construção de uma identidade profissional, de maneira pensada, pesquisada e elaborada.

Diante dos aspectos mencionados justifica-se a relevância social, política e científica desta

pesquisa.

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1 JUVENTUDE, TRABALHO E ESTUDO: A ESCOLHA PROFISSIONAL EM

FOCO.

O termo “juventude” é um fenômeno amplo que pode ser estudado sob vários

aspectos. Conforme pesquisa realizada em banco de dados sobre o assunto, como bibliotecas

de universidades, Scielo, PDE, entre outros, não existe uma única juventude e sim juventudes,

dependendo dos contextos e segmentos que o pesquisador esteja se referindo. A construção da

identidade é um processo que deriva das relações sociais que os jovens estabelecem com o

outro, em diversos aspectos e em múltiplos espaços. Desta forma, na construção de uma

identidade profissional, o jovem busca inserir-se no mercado de trabalho. A escolha de uma

profissão é um momento importante na vida de todos os jovens e vai determinar seu projeto

de vida. Portanto, deve ser pensada, individual e coletivamente, pois com as mudanças

ocorridas no mundo do trabalho, a globalização, as crises econômicas, a multiplicidade de

profissões, entre outros fatores, faz-se necessário o acompanhamento e a orientação de tal

processo. A seguir, destacam-se os estudos específicos na área.

1.1 Recortes sobre juventude e Orientação Profissional

A literatura sobre juventude é vasta. Existem muitos estudos e pesquisas recentes na

área da psicologia, sociologia e educação que a definem como uma categoria histórica e

social, ou como condição juvenil, etapa transitória da vida, etc. Portanto, faz-se necessária

uma busca por pesquisas que a conceituam, no sentido de melhor delimitarmos nosso objeto

de estudo.

Antes de prosseguirmos, cabe um esclarecimento acerca do termo juventude.

Encontramos na literatura autores que não diferenciam a adolescência da juventude. Para

alguns autores ligados à psicologia como Palácios (1995), Soares (1993; 2002), Fierro (1995),

Bohoslavsky (1987), entre outros, não há uma diferenciação clara nos estudos, entre

adolescentes e jovens. Tais autores utilizam o termo adolescente na maioria de seus trabalhos,

entretanto, o termo refere-se à mesma discussão teórica. Por outro lado, autores ligados à

sociologia e à educação como Sposito (2000, 2005), Pochmann (2004), Singer (2005), Raitz

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(2003), Pais (2001), entre outros, na maioria dos trabalhos utilizam terminologias diferentes

para juventude e adolescência, destacando o uso da terminologia juventude. Desta forma,

nesta pesquisa, será utilizada a categoria juventude, pois os sujeitos são jovens do ensino

médio, entre 15 e 22 anos.

Soares (2002) descreve características da adolescência/juventude como um fenômeno

psicossocial, atravessada por diversos fatores psicológicos e socioculturais, compreendida

entre os 10 e 20 anos, em divergência com autores como Pochmann (2004), que afirmam um

alargamento desta faixa etária. Entretanto, os dois autores acreditam que seja um fenômeno

cujas etapas são evolutivas. Soares (2002) afirma que é uma arbitrariedade falar em divisão

por idades, assim como falar no final da adolescência. Cada jovem segue uma cronologia

própria. O correto seria estabelecer padrões a serem utilizados para demarcar a entrada do

jovem no mundo adulto como, por exemplo, a constituição de uma identidade estável, a

aceitação à sexualidade e o ajuste ao papel sexual de adulto, a independência dos pais e a

escolha de uma profissão.

Outro fator importante, além de escolher a profissão, é tornar-se independente

financeiramente. Assim, de acordo com Super e Bohn (1972); Super e Bohn (1972 apud

SOARES, 2002), ter um trabalho e uma nova família denota o que muitos autores chamam de

entrada para a adultez. Para eles, o fato dos jovens terem um compromisso, seja profissional

ou com a família, demonstra a canalização de interesses num mundo que já está mais

compreendido. É difícil estabelecer faixas etárias para apontar se uma pessoa é jovem ou

adulta, pois o desenvolvimento humano não é linear e nem segue limites temporais. Portanto,

nesta pesquisa, conforme já salientado, prefere-se compreender a juventude como um

segmento juvenil.

Embora Soares (2002) demonstre em sua tese de doutorado um estudo que nomeia a

adolescência e a adultez em faixas etárias, a própria autora esclarece que as faixas etárias não

são rígidas. De acordo com dados do IPEA, a PNAD 2007, publicada em 2008, a qual se

pauta em dados do IBGE, considera-se jovem a parcela da população situada na faixa etária

entre 15 e 29 anos de idade. Divididos em três grupos: de 15 a 17 anos – jovem adolescente;

de 18 a 24 anos – jovem-jovem; de 25 a 29 anos – jovem adulto. (IPEA, 2008).

Para Sposito (2005), a juventude é uma fase da vida que tem início pela busca da

autonomia. Os jovens nesta época buscam a construção da identidade pessoal e coletiva, bem

como vivenciam atitudes de experimentação. No relatório o “Estado do Conhecimento sobre

Juventude e Educação”, organizado por Spósito (2000), as considerações pontuadas nos

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levam a considerar para efeitos de pesquisa a faixa etária compreendida entre 15 e 24 anos.

Autores como Pochmann (2004), Melucci (1997), Pais (1993), Raitz (2003), Dayrell (1999),

Dayrell e Reis (2005), Sposito (1997, 2000, 2005), etc, defendem o alargamento desta faixa

etária, pois trabalhar dentro destes recortes acaba por condicionar a juventude, vinculada

sempre a uma fase de transitoriedade, incertezas, instabilidade no momento de transição da

adolescência para a vida adulta. Além de defenderem o alargamento da faixa etária, estes

autores pontuam que não se pode delimitar uma única faixa etária para a juventude. É

preferível compreendê-la como um segmento juvenil. Contudo, é necessário delimitar uma

faixa etária para fins de estudo, como no caso desta pesquisa, em que os sujeitos são jovens

entre 15 e 22 anos.

Segundo o Ipea (2008), no âmbito das políticas públicas, a adoção do recorte etário de

15 a 29 anos é bastante recente, porém segue uma tendência internacional. Num passado não

muito distante, se considerava “jovem” a população na faixa etária entre 15 e 24 anos. A

ampliação desta faixa para os 29 anos não é uma singularidade brasileira, mas sim se

configura numa tendência geral dos países que buscam instituir políticas públicas de

juventude. Há duas justificativas que procuram explicar a questão para ter ocorrido essa

mudança: maior expectativa de vida para a população em geral e maior dificuldade desta

geração em ganhar autonomia em função das mudanças no mundo do trabalho.

Sobre jovens e o mundo do trabalho, o relatório1 por meio de 80 estudos enfatiza a

importante relação escola, trabalho e juventude, sendo este um tema bastante significativo.

Um subtema abordado contempla a questão da juventude e profissionalização e outro a

questão da Escolha Profissional, em que se investigam as dificuldades da escolha, as

expectativas e indecisões dos jovens, bem como as frustrações encontradas diante da urgência

da escolha e a realidade encontrada no mercado de trabalho. Questões ligadas ao mundo do

trabalho estão presentes no relatório resgatando a necessidade de investigar os espaços e

setores que não são estudados na maioria de teses e dissertações, como é o caso do trabalho

em zonas rurais e litorâneas.

1 As conclusões deste relatório foram catalogadas pelo INEP e podem ser encontradas em meio eletrônico no site

da Ação Educativa. Esta revisão apresenta dados gerais e específicos sobre o tema da juventude e escolarização

por meio de 296 exemplares de trabalhos e produções de tese, textos e dissertações. O trabalho evidencia os

principais eixos articuladores da produção, orientação, avanços e lacunas das pesquisas analisadas. Neste

relatório, o balanço do conhecimento produzido de 1995 a 2000 na área da Juventude e Educação aponta para

temas já consolidados que vêm sendo objeto de investigação, bem como enfatiza a necessidade de constantes

estudos como é o caso da educação de jovens e adultos, violência e jovens, grupos juvenis, juventude e mídia,

formação de professores. Já juventude, educação e trabalho é um tema que merece destaque, pois nele está

inserido o projeto de futuro da juventude. (SPOSITO, 2000).

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Na literatura existente sobre a definição da categoria juventude, os jovens são vistos

como sujeitos histórico-sócio-culturais. Segundo Sposito (2000), o termo é reconhecido como

um problema sociológico passível de investigação. Ademais, segundo Peralva (1997),

juventude é uma condição social e ao mesmo tempo um tipo de representação. Nesta

perspectiva, na revisão da literatura encontra-se uma diversidade de assuntos que envolvem a

temática juventude, educação e trabalho. Entretanto, na questão da escolha e orientação

profissional tornou-se evidente que o tema carece de mais investigação. A maioria dos

trabalhos consultados trata a questão com enfoque na psicologia, mesmo porque a orientação

profissional teve sua origem arraigada à psicologia aplicada que se preocupou com a

mensuração dos mais ou menos capazes para assumir determinados postos de trabalho, com a

preocupação de evitar acidentes. Como a Orientação Profissional (OP) está atualmente

engajada histórica, política e economicamente na sociedade e cada vez mais se torna agente

de transformação social, abre caminhos para a inserção de profissionais e pesquisadores que a

investiguem.

As considerações de Sposito (2000) obtidas no “Estado do Conhecimento sobre

Juventude e Escolarização” sinalizam que as pesquisas evidenciam a ausência de um serviço

de orientação profissional adequado nas escolas. Isto significa que as iniciativas na área são

irrisórias frente à demanda. A produção dos anos 80 na área de OP aponta o desencontro

existente entre a escolha dos jovens e o curso profissionalizante realizado, bem como o

abandono das expectativas de mobilidade social por meio da educação e de realização pessoal

na profissão. Vários trabalhos de teses e dissertações contidas no relatório enfatizam a questão

das mudanças ocorridas no mundo do trabalho e ressaltam o processo de desconstrução da

identidade juvenil.

A literatura consultada como Sparta (2003) e Silva et al (2008) entre outros, indica que

em seus primórdios a orientação profissional preocupava-se com a manutenção do sistema. Já

na atualidade, ela almeja ser um agente de transformação social, na medida em que pretende

auxiliar a juventude num momento difícil que é o da escolha profissional. Desta forma, abre

possibilidades para a reflexão e para a pesquisa, contribuindo assim com escolhas mais

assertivas para os jovens, pois ao fazerem suas escolhas de forma pensada estarão assumindo-

as de forma madura, com mais responsabilidades e formas particulares de cada jovem

participar do mundo do trabalho.

A escolha profissional é vista por diversos autores como um processo que se inicia na

infância e vai até a vida adulta. Tal escolha não ocorre de uma hora para outra. Pesquisas

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recentes como a de Soares e Sestren (2007) anunciam o redimensionamento de carreira e a

orientação profissional oferecida também para a recolocação de profissionais, que por uma ou

outra razão são levados a se recolocar no mercado de trabalho, o que não seria o foco desta

pesquisa. A lacuna deixada pelas pesquisas estudadas se refere à falta de estudos longitudinais

sobre orientação profissional. A maioria das pesquisas se limita a comprovar o uso de testes

na OP, os efeitos de grupos de reflexão sobre a escolha, entre outras, mas faltam estes estudos

mais longos para investigar se entre os que escolheram por meio da OP fizeram escolhas

adequadas ou como está sendo o desempenho do profissional, os acertos ou fracassos, etc.

O foco da presente pesquisa é a orientação profissional oferecida à juventude que

freqüenta o ensino médio de escola pública, pois poucas escolas contam com este serviço e

quando existe é oferecido pelo orientador educacional, abrangendo mais os aspectos da

informação profissional do que a orientação propriamente dita. Esta deveria ser oferecida por

uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, orientador educacional, professores,

etc. A seguir se apresenta um breve histórico das origens e desenvolvimento da Orientação

Profissional (OP).

1.2 As origens da Orientação Profissional e seu desenvolvimento no Brasil

De acordo com Sparta (2003) e Silva et al (2008), a orientação profissional é

originária da Europa no século XX, em Munique. Em seus primórdios, ela objetivava o

aumento da produção industrial, pois sua finalidade em 1902 compreendia captar os

trabalhadores inaptos, para assim dispensá-los do trabalho com o objetivo de evitar acidentes.

Nas décadas de 20 e 30 esteve ligada à Psicologia Diferencial e à Psicometria, época em que

surgiram os testes de aptidões, habilidades e interesses. As teorias de OP preocupadas com a

adequação do homem à profissão podem ser identificadas como Teoria do Traço e Fator. Isto

é, pelas idéias de que o processo de orientação profissional é diretivo e o papel do orientador

profissional é o de fazer diagnósticos, prognósticos e indicações das ocupações certas para

cada indivíduo. Assim, pode-se afirmar que a OP objetivava colocar o homem certo no lugar

certo.

De acordo com Silva et al (2008), o início oficial da orientação profissional está

situado entre os anos de 1907 e 1909, com a criação do primeiro Centro de Orientação

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Profissional norte-americano, o Vocational Bureau of Boston, e a publicação do livro

Choosing a Vocation, ambos sob responsabilidade de Frank Parsons. Este acrescentou à

Orientação Profissional idéias da Psicologia e da Pedagogia, preocupado com a escolha

profissional dos jovens de seu país. Parsons definiu três caminhos a serem seguidos durante o

processo de Orientação Profissional: a análise das características do indivíduo, a análise das

características das ocupações e o cruzamento destas informações, que constituíam a base da

OP daquela época.

Para Sparta (2003), apenas na década de 40 é que ocorreram mudanças significativas

nos modelos de orientação profissional, com as idéias de Carl Rogers, o qual valorizava a

participação do cliente no processo Psicológico, bem como no processo de intervenção que

passa a ser não diretivo. As idéias de Rogers influenciaram extraordinariamente a psicologia,

a psicoterapia, o aconselhamento psicológico e a orientação profissional da época, o que foi

uma importante baliza para a transformação das práticas de orientação profissional da

atualidade.

Na década de 1950 começaram a surgir diversas teorias de orientação profissional,

enfatizando-a como um processo evolutivo que se inicia na infância, culminando na juventude

com a escolha profissional. Donald Super publicou a Teoria do Desenvolvimento Vocacional.

Nesta teoria de enfoque desenvolvimentista, ele definiu a escolha profissional como um

processo que ocorre ao longo da vida, iniciando-se na infância até a velhice, por meio de

diferentes estágios do desenvolvimento vocacional e da realização de diversas tarefas

evolutivas (SPARTA, 2003).

No Brasil, a orientação profissional surgiu inicialmente com a intenção de suprir as

exigências do mercado industrial, com a missão de agente de manutenção social.

Posteriormente, foi sendo ressignificada para atender as necessidades da nova sociedade pós-

industrial que vive em constante mutação. Não satisfeita em reproduzir ou manter as

exigências sociais, a OP almeja ser um agente de transformação social. Para tal, está engajada

política, social e eticamente na sociedade (SPARTA, 2003). De acordo com a mesma autora,

a orientação profissional brasileira tem como origem a criação, em 1924, do Serviço de

Seleção e Orientação Profissional para os alunos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo,

sob o comando do engenheiro suíço Roberto Mange. A OP nasceu ligada à Psicologia

Aplicada, a qual vinha se desenvolvendo no país na década de 1920, adjacente à medicina, à

educação e à organização do trabalho.

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Nas décadas de 1930 e 1940, segundo a autora acima citada, a orientação profissional

ligou-se à Educação. Em 1934, foi inserida no Serviço de Educação do Estado de São Paulo,

por iniciativa de Lourenço Filho. Em 1942 a lei Capanema, sobre a organização do ensino

secundário, estabeleceu a atividade de orientação educacional e atribuiu-lhe o auxílio na

escolha profissional dos estudantes. Em 1944, foi criada a Fundação Getúlio Vargas, no Rio

de Janeiro, que estudava a organização racional do trabalho e a influência da psicologia sobre

a mesma, conforme explica (SPARTA, 2003).

Já em 1945 e 1946, com assistência do governo brasileiro, de acordo com a autora, foi

oferecido o curso de Seleção, Orientação e Readaptação Profissional, ministrado pelo

psicólogo e psiquiatra espanhol Emílio Mira y López, com o objetivo de formação de técnicos

brasileiros em áreas de atuação específicas. Em 1947, foi fundado o Instituto de Seleção e

Orientação Profissional (Isop), junto à Fundação Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro,

instituto que agrupava técnicos e estudiosos da Psicologia Aplicada, muitos deles formados

pelo curso ministrado por Mira y López, o primeiro diretor do Instituto.

Silva et al (2008) expõe que em 1947 os objetivos do Isop baseavam-se no

desenvolvimento de métodos e técnicas da Psicologia Aplicada ao Trabalho e à Educação.

Isto foi feito principalmente por meio da adaptação e da validação de instrumentos

psicológicos estrangeiros, da criação de instrumentos psicológicos brasileiros, do atendimento

ao público por meio dos processos de seleção e orientação profissional e da formação de

novos especialistas.

Segundo Sparta (2003), na década de 1950, começaram a surgir diferentes teorias

sobre a escolha profissional. Em 1951 foi publicado o livro Occupational Choice, de

Ginzberg e outros. Esta obra originou a primeira teoria do desenvolvimento vocacional, que

enfatizava a questão da escolha profissional não ser um acontecimento específico que ocorre

num momento específico da vida, mas sim um processo evolutivo que ocorre entre os últimos

anos da infância e os primeiros anos da idade adulta. Segundo a autora, dois anos após esta

teoria, foi publicada a teoria do desenvolvimento vocacional de Donald Super. Tal teoria

definiu a escolha profissional como um processo que ocorre ao longo da vida, da infância até

a velhice. Ocorre por meio de diferentes estágios do desenvolvimento vocacional e da

realização de diversas tarefas evolutivas. Em 1959, foi publicada a Teoria Tipológica de John

Holland. Para este estudioso, os interesses profissionais refletem a personalidade do

indivíduo. Desta forma, podem servir de base para a definição de diferentes tipos de

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personalidade, cujas características definem diferentes grupos de trabalho e correspondem a

diferentes ambientes de trabalho (SPARTA, 2003).

Nas décadas de 1950 e 1960, de acordo com a mesma autora, foram publicadas as

teorias psicodinâmicas da escolha profissional, baseadas na teoria psicanalítica e na teoria de

satisfação das necessidades, bem como, nas teorias de tomada de decisão, que estavam

inicialmente mais preocupadas com o momento da escolha do que com processo em si. No

Brasil, desde sua concepção, a OP esteve ligada à Psicologia, pautada no enfoque clínico e

muito influenciada pela Psicanálise. Ela norteou-se principalmente pela estratégia clínica de

orientação vocacional do psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky, e foi introduzida no

Brasil na década de 1970 por Maria Margarida de Carvalho.

Silva et al (2008) salienta que a estratégia clínica de Bohoslavsky e o processo de

intervenção grupal desenvolvido por Carvalho deram origem a um modelo brasileiro de

orientação profissional, utilizado até os dias de hoje no Brasil. Esta pesquisadora propôs os

processos grupais como forma alternativa ao modelo psicométrico e como forma de promoção

da aprendizagem da escolha. O enfoque clínico permanece, mesmo considerando as décadas

de 1980 e 90, período em que muito se pesquisou a respeito da OP em relação à escolha

vocacional e à adolescência. No final da década de 90 do século XX, o foco de interesse das

pesquisas sobre Juventude, Educação e Trabalho se exacerbou. Devido às mudanças ocorridas

no mundo que rodeia o trabalho, novas perspectivas foram abertas para a OP que cada vez

mais vem se consolidando como agente de transformação social.

Atualmente, a OP vem ganhando destaque por meio de novos enfoques. Embora ainda

predomine o clínico, a OP pretende se materializar como agente de transformação social e são

crescentes os artigos e pesquisas publicadas envolvendo o tema, na psicologia, na sociologia,

na educação e outras áreas. Segundo a literatura pesquisada, a OP garantiu sua importância na

sociedade a partir de sua inserção política, econômica e social. Entre os temas pesquisados em

OP na atualidade, encontram-se os processos identitários e a escolha profissional, mudanças

do mundo do trabalho, resignificação do trabalho na perspectiva da OP, uso dos testes

vocacionais, experiências com grupos de OP, informação profissional, aconselhamento,

tendências de mercado, uso da Internet na OP, entre outros.

Cabe salientar que a maioria dos trabalhos consultados, voltados à educação,

sociologia ou psicologia, enfatiza a OP como um processo que não ocorre isoladamente e

tampouco instantaneamente. Neste sentido, muitos fatores e influências se intercalam no

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processo. Alguns dos trabalhos consultados para a presente pesquisa podem ser encontrados

também em várias bases de dados de meio eletrônico2.

Bock (2001), numa abordagem sócio-histórica, realizou uma pesquisa com um grupo

de orientação profissional em que fez avaliações com o grupo composto por 16 participantes.

Os resultados da investigação apontaram um significado positivo para o trabalho de OP,

embora nem todos os participantes tivessem saído do grupo de orientação com uma escolha

profissional definida. Este resultado confirma nossa hipótese de que um grupo focal de

orientação profissional pode contribuir com a melhoria da qualidade da educação e ser um

agente de transformação social, oportunizando aos jovens um canal de comunicação e apoio

num momento decisivo, que é o da escolha profissional.

Soares (2002) elaborou a obra “A escolha profissional: do jovem ao adulto” como

resultado da dissertação de mestrado realizada na Faculdade de Educação da UFRGS em

1985. A leitura traz assuntos de grande interesse para pesquisadores, pois continua atualíssima

para a reflexão da Orientação Profissional. A pesquisa relata a experiência do processo de

escolha com grupos e sua metodologia, bem como traz depoimentos de jovens e influências

de familiares no projeto dos filhos, o que resultou em tese de doutorado. A autora menciona

também algumas mudanças políticas e econômicas ocorridas na atualidade.

Nessa obra, a autora se refere a sua proposta de orientação profissional destacando o

papel do orientador como um facilitador, ou seja, uma pessoa que já pensou na escolha

profissional. Neste sentido, tem condições de auxiliar outras pessoas a pensar. A obra de

Soares (2002) é de grande relevância para a presente pesquisa, pois trata de questões como:

quem é o jovem que escolhe? A autora descreve características da adolescência como um

fenômeno psicossocial, atravessada por diversos fatores psicológicos e socioculturais,

compreendida entre os 10 e 20 anos. A autora afirma ser uma arbitrariedade falar em divisão

por idades, assim como falar no final da adolescência. Cada jovem segue uma cronologia

própria. O correto seria estabelecer padrões a serem utilizados para demarcar a entrada do

jovem no mundo adulto, tais como a constituição de uma identidade estável, a aceitação à

2 Trabalhos como os de Bock (2001), de Soares e Sestren (2007), Noce (2008), entre outros, podem ser

encontrados com facilidade na Internet em várias bases de dados como o Scielo, ou em bibliotecas de

universidades como PUC, UFRGS, UFSC e demais. Para estudiosos, pesquisadores, diversos profissionais ou

quem trabalha com orientação profissional e outros interessados no assunto, existem muitas dissertações em

meio eletrônico, com livre acesso ao pesquisador.

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sexualidade e o ajuste ao papel sexual de adulto, a independência dos pais e a escolha de uma

profissão.

Sparta (2003) apresenta a trajetória da orientação profissional desde as origens

internacionais e sua evolução, traça o panorama da época sobre o tema no Brasil e enfatiza

sua ligação com a psicologia e orientação educacional. Lassance e Sparta (2003) citam as

relações existentes entre a orientação profissional (OP) e as relações de trabalho de nossa

sociedade capitalista. Discutem ainda o papel do orientador profissional frente às mudanças

do mundo do trabalho.

Terencio e Soares (2003) relatam o uso da Internet para o desenvolvimento da

identidade profissional enfatizando que o orientador profissional não pode ficar desatento a

esta ferramenta, pois é imprescindível na atualidade. Noce (2008), por meio de um enfoque

clínico, discorre sobre a maturidade dos jovens para a escolha profissional e defende a

aplicação de testes. Entretanto, na visão desta pesquisadora, os testes por si só não abarcam

toda a questão da escolha profissional, são um complemento que pode ou não ser utilizado.

Muitos autores e esta pesquisadora defendem a idéia que grupos focais possuem melhor

eficácia para a O P, entretanto, isto é assunto para nova pesquisa.

Uma contribuição em destaque para este estudo aborda a Orientação Profissional

contemplada nos trabalhos de Melo-Silva et al (2003), coletânea com diversos artigos e

autores de áreas diversificadas, entre elas sociologia, psicologia, filosofia e educação. A obra

intitulada “Arquitetura de uma Ocupação: orientação profissional, teoria e prática” constitui-

se num trabalho muito extenso e rico, que permite uma revisão de literatura de artigos

nacionais e internacionais sobre a produção científica daquele ano e temas da OP, entre eles

os cenários que revelam as mudanças ocorridas em nossa sociedade e as influências na

escolha profissional. Desta forma, apontam também algumas pesquisas na área da OP em

Graduação e Pós-Graduação, enfatizando questões como a formação acadêmica, a inserção no

mercado de trabalho, entre outros. As experiências práticas dos profissionais ligados à OP são

também contempladas na obra em destaque o trabalho acadêmico do orientador profissional e

do psicólogo, abordando diversos assuntos como: a migração profissional, o uso da internet na

informação e orientação profissional, a OP como estratégia de prevenção do estresse e

promoção de saúde, entre outros tantos temas. Traz também um breve histórico da Associação

Brasileira de Orientação Profissional (Abop), em que são apresentados a ata de fundação e seu

estatuto, e a “Carta Aberta aos Orientadores Profissionais”, a qual foi aprovada no II

Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional e Ocupacional ocorrido em São Paulo no ano

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de 1995. Os organizadores descrevem que a criação da ABOP no Brasil é um marco histórico

e tem por objetivo a criação de uma identidade do Orientador Profissional, além de organizar

a atividade e norteá-la pelos princípios éticos.

Soares (1993) organizou uma coletânea de textos no livro “Pensando e vivendo a

orientação profissional”, numa abordagem que leva em consideração os diversos prismas do

processo de orientação profissional. A autora evidencia as facetas do que é a orientação

profissional, como fazer, onde fazer a orientação profissional de forma prática, o que auxilia

as pessoas envolvidas neste processo em seu cotidiano. A autora ressalta que a orientação

profissional está inserida num contexto de grande abrangência, tanto social, como político e

econômico. Desta maneira, vários fatores atravessam o processo de orientação e escolha

profissional, pois a sociedade vive em constantes transformações. Para Soares (1993) a

orientação profissional tem por objetivo facilitar o momento da escolha profissional,

orientando os jovens a pensar. Assim, coordenando o processo para que os jovens possam

conhecer suas dificuldades e trabalhá-las, procurando a superação e valorização de suas

potencialidades, consegue-se permitir aos jovens a escolha de um caminho próprio a seguir.

Nesta passagem, as palavras da autora refletem como ocorre o processo,

Orientação Profissional é o processo que auxilia o jovem a tomar

conhecimento de inúmeros fatores que interferem na sua escolha

profissional, a fim de que ele possa definir-se com maior autonomia. O

orientador é o facilitador do trabalho. (SOARES, 1993, p. 87).

Esta autora desenvolveu um projeto para a implantação de um serviço de orientação

profissional para escolas do segundo grau, atual ensino médio, no Colégio de Aplicação da

UFSC, realizado por estagiários de Psicologia em 1987. A autora relata que houve muitas

dificuldades e faltou apoio dos professores para o projeto, mas foi uma experiência válida que

muito contribuiu para os jovens. Um ponto importante é a questão das competências e

formação do orientador profissional. Sobre este assunto, Lassance et al (2007), em um artigo

publicado na “Revista Brasileira de Orientação Profissional”, menciona que o orientador deve

possuir uma formação continuada e certificada. A preocupação com a formação é uma

discussão recorrente devido às contínuas transformações ocorridas no mundo do trabalho

provindo da era cibernética. Neste sentido, contempla significativos avanços tecnológicos,

mudanças estas que provocam a resignificação de carreira como um processo contínuo.

De acordo com as autoras, são necessárias políticas públicas que acompanhem e

fiscalizem o serviço de orientação profissional, e este, embora abarque serviços de diferentes

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profissionais como educadores, psicólogos, entre outros, deve estar sujeito às orientações da

Associação Brasileira de Orientação Profissional (Abop). São importantes estas colocações,

entretanto o trabalho de orientação profissional realizado nas escolas deveria ser oferecido

como um serviço permanente, realizado por equipe multidisciplinar. As atribuições

específicas do psicólogo lhe conferem a exclusividade no uso de testes e avaliações

psicológicas, concorda-se que não devem ser questionadas. Todavia, no que tange

especificamente a educação, o psicólogo não trabalha sozinho. Portanto, uma equipe

multidisciplinar integrada por psicólogos, sociólogos, orientadores educacionais e professores

no espaço escolar poderia ser muito mais significativa e efetiva para o sucesso da orientação

profissional.

Os autores Teixeira et al (2007) fazem uma avaliação e simultaneamente realizam um

apanhado da produção científica sobre a orientação profissional em diversas áreas,

considerando a evolução e aspectos teóricos. Nesta perspectiva, os autores discutem e

analisam as publicações da Abop e da Revista Brasileira de Orientação Profissional sobre a

temática. O trabalho consiste na verificação de 11 volumes da revista, entre os anos de 1997 e

2006, totalizando 85 artigos. Como resultados, os autores apontam uma dispersão da temática

e a necessidade de maior colaboração entre pesquisadores. Embora os estudos empíricos

apresentem crescimento, torna-se imperativo fazer mais articulações com o tema.

De acordo com Coutinho, Krawulski e Soares (2007), é grande interesse das ciências

humanas o estudo das transformações ocorridas na sociedade na atualidade3, que trazem

consigo implicações para os sujeitos e suas relações sociais, o que vem a questionar os

modelos clássicos da área. Desta forma, as autoras apontam articulações entre os conceitos de

identidade e trabalho na contemporaneidade, sob a ótica social discutida por teorias e

conceitos de identificação na visão da psicanálise. Neste prisma, o trabalho assume

características de flexibilidade, temporariedade, precariedade e informalidade, numa nova

configuração do trabalho, que desperta um novo modo de ser dos trabalhadores.

A reflexão das autoras resulta na idéia de que as posições do sujeito são transitórias,

isto é, de pouca duração diante das mudanças sociais na atualidade. Nas argumentações de

Vieira (2005), que discute sobre identidade e as mudanças no mundo do trabalho, há

concordância neste aspecto. Outro artigo bem interessante de Soares e Sestren (2007)

3 Estudiosos, pesquisadores e interessados no assunto a respeito da orientação profissional encontram também

reflexões importantes contempladas em vários artigos de Soares e outros pesquisadores, publicados na revista de

Psicologia da Associação Brasileira de Orientação Profissional; Revista Psicologia Ciência e Profissão, etc.

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apresenta uma discussão sobre o redimensionamento de carreira. Este é um tema importante

diante das transformações do mundo do trabalho e suas implicações para o sujeito, pois

conforme a literatura consultada, o emprego não é mais estável e assume aspectos da própria

vida da pessoa. Conforme Vieira (2005), o trabalho tornou-se a vida das pessoas. Desta

forma, Soares e Sestren (2007) destacam a reestruturação dos sistemas de produção e de

gestão, a automatização e a diversidade de serviços na esfera pública, responsável por

modificações como as privatizações, o que gera demissões. Muitas vezes, os trabalhadores

sofrem pressões para aderir aos programas de demissão, o que gera desconforto aos mesmos.

Desta forma, as autoras refletem sobre a experiência dos trabalhadores do setor público

bancário, que passaram pelo processo de demissão incentivada, sendo o objetivo verificar as

repercussões de tal programa. Os resultados da pesquisa apontam que os projetos profissionais

dos sujeitos foram separados da instituição.

Soares et al (2007) relatam as origens da Orientação Profissional, arraigadas à

Psicologia Industrial e, posteriormente, a orientação educacional, com vistas à continuidade

da formação profissional. Os autores afirmam que na atualidade a orientação profissional vem

se destacando fora das instituições escolares e consultórios de psicologia, possuindo uma

demanda cada vez maior de orientação profissional e de carreira nas empresas. Neste sentido,

os autores apontam o desenvolvimento da OP na França e fazem uma reflexão sobre a

inserção do orientador profissional nas empresas brasileiras, ressaltando as competências do

orientador e o papel do psicólogo neste processo. A experiência francesa foi válida, mas no

Brasil o papel do orientador profissional confunde-se com o do educador e sua inserção nas

empresas ocorre de maneira tímida, embora se constitua numa prática que está em expansão

no mercado, com novas perspectivas.

No contexto coletivo Soares et al (2007) retratam a orientação profissional com bases

no psicodrama e abordam uma experiência pré-vestibular em cursinhos populares. Com

objetivo de favorecer o processo de escolha do curso superior, a sensibilização dos alunos em

relação ao cursinho, ao vestibular e à integração entre os jovens, o que favoreceu a escolha, a

integração do grupo, o reconhecimento das necessidades de orientação e o fortalecimento para

o enfrentamento do vestibular. Os autores enfatizam ainda que no contexto contemporâneo

sócio-histórico e na diversidade sócio-cultural dos alunos, a OP deve prever as barreiras

enfrentadas pelos jovens e facilitar o processo de escolha. Concebendo o homem como ser

social, construído historicamente, afirmam que a escolha está sempre presente na vida das

pessoas, quer objetiva ou subjetivamente. Entretanto, muitas dúvidas norteiam a juventude

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frente à escolha profissional. Portanto, a mesma deve ser assistida e orientada. Os autores

acima dizem que a experiência de OP em grupos populares foi legitimada pela oportunidade

que favoreceu o acesso da OP às classes populares, que de outro modo não teriam acesso.

Melo-Silva et al (2004) discorrem em um artigo que é extremamente importante na

área de Educação e Trabalho, um estudo de natureza teórica e descritiva sobre a OP no

contexto da educação e trabalho, com a intenção de refletir criticamente sobre algumas das

práticas utilizadas em orientação profissional no Brasil. Desta forma, destacam as principais

teorias que fundamentam os procedimentos de intervenção, ressaltando as influências de

políticas públicas ou a ausência das mesmas nos processos educacionais e de produção. As

autoras recolheram dados de sites ou sítios oficiais governamentais e de publicações

nacionais, procurando fazer reflexões a partir de diferentes contextos e cenários, o que

contribui com políticas públicas. Neste estudo, descrevem o fazer da orientação profissional

na perspectiva da psicologia, na área da educação e trabalho, destacando marcos históricos,

considerações sobre vestibular e redimensionamento de carreira, uso da avaliação psicológica

no contexto da orientação profissional, necessidade de formação com nível de graduação e

pós-graduação do profissional de OP, entre outros assuntos. Como resultados deste ensaio

teórico, as autoras apontam que a orientação profissional pode contribuir em muito com a

educação e o trabalho, até mesmo com estudos de naturezas teórica e prática.

As possibilidades e limites da escolha profissional são retratados por Dias e Soares

(2007), que expõem uma experiência de uma das autoras na Ilha do Mel (PR). Na ocasião,

buscou-se destacar as articulações identitárias de quem são os jovens nativos e os não nativos,

objetivando desenvolver o senso crítico e participativo dos jovens daquela ilha, no sentido de

identificação e resolução de problemas socioambientais em que se encontravam. Com

enfoque na psicologia social, o artigo contribuiu para esta pesquisa no que tange as atividades

desenvolvidas com os jovens, como o conhecimento de si mesmo, história de vida, processos

grupais, dinâmicas utilizadas e, principalmente, a questão de identidade e escolhas

profissionais.

As autoras afirmam que o projeto profissional se insere no “Projeto Jovem Mostre sua

Cara”, pois oportunizou o diálogo, abriu oportunidades de questionamentos dos jovens e

incentivou os jovens a apropriar seus interesses frente às diversidades e complexidades do

mundo contemporâneo. Também, favoreceu a reflexão sobre a realidade social em que os

jovens estão inseridos, incentivando a realização de escolhas profissionais, além da questão da

identidade. Por meio da identificação, os jovens puderam se reconhecer como membros do

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grupo. Os jovens se encontram em determinadas circunstâncias sociais, as quais interferem na

questão profissional, ou seja, no processo de escolha. Nas palavras das próprias autoras,

encontra-se toda a relevância do estudo,

Como a vida é única para cada um, o projeto profissional depende das

crenças, valores, dons, vivências e sonhos individuais. Em todas as

atividades, distinguem-se jovens que constroem projetos mais realistas,

outros mais fantasiosos, e muitos que ainda não têm certeza de suas

escolhas nem tampouco de suas possibilidades de escolha (DIAS;

SOARES, 2007, p. 330).

Em suma, neste estudo conclui-se que a trajetória de vida das pessoas influencia suas

escolhas profissionais. Neste contexto, o orientador profissional deve considerar a

multiplicidade de aspectos envolvidos na escolha de um futuro pessoal e profissional da

juventude.

Sobre projeto de futuro, um estudo teórico e exploratório que muito contribuiu com

nossa investigação, foi realizado por Soares e Ito (2008), que visou compreender como os

jovens universitários se relacionam com o projeto de futuro, tendo como ponto de partida o

projeto de escolha pessoal e profissional. Assim, as autoras da pesquisa estudaram a

construção deste processo e relacionaram com a identidade. Abordando diferentes conceitos

teóricos, explicitam a falta de estudos nacionais no que se refere à questão de projeto de

futuro. Os resultados parciais trazem que alguns eixos temáticos foram registrados como a

questão da autonomia, independência e estabilidade financeira, realização profissional,

sentidos do trabalho, família e temporalidade. Neste aspecto, as autoras destacam a

importância de mais estudos sobre a relação das pessoas com o projeto de futuro, portanto,

aprofundam o tema neste artigo intitulado “Projeto de Futuro e Identidade: um estudo com

estudantes formados”.

A revisão da literatura consultada para esta investigação evidencia em concordância

com as autoras acima citadas, que o futuro é incerto. Na atualidade não se pode prever o

futuro profissional e isto deixa as pessoas inseguras, o que as leva a pensar em projetos de

curto prazo. Entre outras considerações elaboradas pelas autoras, uma delas diz respeito ao

projeto de futuro dos sujeitos estudados que se mostram cheios de idealizações. Os sujeitos

apresentam sentimentos de insegurança e ansiedade, desta forma procuram estabilidade

financeira, paz e tranqüilidade, entretanto, encontram-se diante de um mercado flexibilizado e

sujeito às mudanças constantes. As referências consultadas para a finalização deste estudo

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asseguram que a orientação profissional no Brasil vem ganhando novas perspectivas. Deixa-

se de lado aquela velha idéia de mensurar os menos capazes, enfatizando cada vez mais a

promoção da saúde e a prevenção, no que tange as escolhas profissionais mais maduras, mais

conscientes de limites, capacidades, gostos e aptidões, conciliando-as com o mercado de

trabalho, e consolidando-se como agente de transformação social. No item a seguir se

apresenta algumas teorias sobre orientação profissional.

1.3 As principais teorias em Orientação Profissional

A trajetória da orientação profissional avançou nesta primeira década do século XXI,

abrindo espaços de inserção profissional outrora não vislumbrados pelos primeiros

orientadores profissionais, que se restringiam a simples mensuração dos menos capazes ou a

colocar o homem certo no lugar certo. Para Pimenta (1984), se existe a possibilidade de uma

pessoa escolher uma profissão e alguém o auxiliar nesta escolha, isto é orientação. Para esta

autora, o trabalho sempre existiu enquanto meio de existência, desde sociedades muito

antigas. Contudo, antigamente e na atualidade, nem sempre o homem pode escolher aquilo em

que gostaria de trabalhar. Desta forma, os homens historicamente tiveram seu poder de

escolha limitado, atravessando períodos em que não havia nenhuma escolha para seu labor,

como no período das sociedades das castas ou no de classes sociais muito rígidas.

Na atualidade existem muitas possibilidades de escolha, pois com as novas demandas

de um mercado globalizado, informatizado, flexível e competitivo, muitas frentes de trabalho

foram abertas, principalmente na área de tecnologia, comunicação e informação, contribuindo

assim com a proliferação de cursos, principalmente os técnicos e superiores. De acordo com

Pimenta (1984) e Souza (2009), entre outros autores, algumas das principais teorias em

orientação profissional em evidência são baseadas nas teorias psicológicas, as quais se pautam

em fatores intrínsecos ao indivíduo. Contudo, existem outras correntes, entre elas as que se

baseiam em fatores externos ao indivíduo, estas são chamadas de correntes de teorias não

psicológicas.

No quadro abaixo, elaborado com dados colhidos dos autores Souza (2009), Ginzberg

et al (1951), Pimenta (1984), Bock (2002), pode-se verificar algumas teorias em orientação

profissional e suas principais características:

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Teorias Características Principais

Teorias não-

psicológicas

Afirmam que a escolha profissional do indivíduo é causada por elementos externos a

ele. Assim, descartam a possibilidade de orientação profissional. Nesta teoria, o sujeito

não escolhe, pois é direcionado pelas contingências do ambiente, ou seja, por

determinantes externos. Exemplo de Autores: Pascal, Naville.

Teorias psicológicas

Analisam os determinantes internos do indivíduo, os quais explicam os movimentos de

escolha. Exemplo de Autores: Carl Rogers

Teorias

psicodinâmicas

Visam explicar como os indivíduos constituem sua personalidade e deste modo, como

se aproximam das profissões. A causa da escolha profissional é interna (interesse,

motivação) e as externas estão em segundo plano. Autores: Holland, Anne Roe.

Teorias

desenvolvimentistas

A escolha não é apenas um momento. É feita pela concepção do desenvolvimento

vocacional, que ocorre em três estágios (GINZBERG et al, 1951).

Escolha fantasiosa (infância até os 11 anos).

Tentativas de escolha (dos 11 aos 17), em que ocorre:

1- Interesse: o que o jovem adolescente gosta?

2- Capacidade: o que o adolescente sabe fazer? Evidência para a escolha.

3- Transição: ocorre no final da adolescência um contínuo conhecimento da realidade.

Realista (aproximadamente ocorre aos 17 anos) em que acontecem as etapas:

1- Exploração: do contexto universitário e de profissões.

2- Cristalização: definição do foco vocacional com alguns aspectos em aberto.

3- Especificação: planejamento e especificação na área de escolha. O que origina:

Exploração: descoberta da existência no meio imediato e na sociedade de problemas

para resolver e tarefas para realizar; acumular informações sobre o ambiente e sobre si

mesmo, dispor de um repertório diversificado de informações; experimentar papéis

profissionais na imaginação.

Cristalização: atua para comprovar a necessidades de se fazer escolhas, identificar

entre as muitas atividades, aquelas que possuem interesses duradouros. Permite

organizar o mundo do trabalho com base nos componentes da identidade pessoal.

Especificação: o jovem identifica, ordena, encontra possibilidades concludentes aos

valores e às necessidades que compartilham com comportamentos. Decide integrando

todos os elementos já considerados.

Realização: Nesta etapa o jovem revê as etapas da decisão e sua estabilidade e certeza,

operacionaliza e planeja as etapas da decisão, antecipa as dificuldades, protege sua

decisão e formula escolhas substitutivas. Autores de Exemplo: Ginzberg, Super.

Teorias decisionais Propõe a racionalidade das escolhas, em que a decisão deve ser fruto de análise

criteriosa dos elementos que intervêm no processo. A racionalidade propõe três etapas:

a) Preditiva: identifica as possibilidades oferecidas e analisa as conseqüências de cada

uma das possibilidades; b) Avaliativa: analisa as conseqüências arroladas na etapa

anterior; c) Decisória: avalia as decisões para chegar à escolha. Exemplo: Gellat

Quadro 01: Principais teorias em Orientação Profissional

Fonte: (SOUZA, 2009); (PIMENTA, 1984); (BOCK, 2002); (GINZBERG et al, 1951).

A evolução tecnológica e de informação avançou com magnitude e velocidade nesta

última década, o que impôs novos olhares aos orientadores profissionais, os quais abriram

novos espaços de inserção profissional, consolidando-se como agentes de transformação

social, respaldados por diversas teorias.

Conforme exposto no quadro acima, pode-se observar que são muitas as teorias que

norteiam a orientação profissional, com enfoques diferenciados que permitem a escolha por

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parte dos profissionais daquela que melhor se adapte à maneira de pensar, agir e trabalhar de

cada um na tarefa de promover a orientação profissional. Não se pode deixar de mencionar as

contribuições advindas da teoria de Donald Super, em concordância com a teoria de Ginzberg,

cujas principais características podem ser observadas no quadro acima e foram consideradas

avanços para a orientação profissional. A teoria desenvolvimentista de Donald Super possui

uma vertente geral, estruturada no modelo tradicional, entretanto, combina fatores sócio

culturais, econômicos, desenvolvimentistas e fenomenológicos. A consideração que os

indivíduos possuem diferenças individuais e semelhanças que os unem é determinante para

uma teoria que se baseia em estágios de desenvolvimento. Desta forma, Super e Bohn (1969)

apontam em sua teoria desenvolvimentista alguns conceitos para uma concepção de escolha

profissional, com base na maturidade, interesses, valores e conceitos que indicam a escolha

profissional como um processo de desenvolvimento.

A respeito de maturidade vocacional do indivíduo, Super e Bohn (1990) e Super,

Savickas e Super (1996) dizem que pode ser compreendida como a capacidade que o

indivíduo possui para enfrentar as tarefas de desenvolvimento com as quais ele é confrontado.

Como conseqüência de seu desenvolvimento social e biológico de um lado, e de outro as

necessidades da sociedade em relação às outras pessoas que alcançam este estado de

desenvolvimento.

A escolha profissional conforme já salientado anteriormente e constatada por meio da

literatura consultada, não ocorre de um momento para o outro, mas é construída, faz parte de

um processo, levando-se em consideração a combinação de diversos fatores internos e

externos à pessoa. Neste processo, o jovem faz identificações, comparações e busca o

autoconhecimento. O papel do orientador neste processo é de suma importância, como

salienta Soares (2002), uma vez que orientar é auxiliar no processo de escolha profissional.

No tópico seguinte trazem-se alguns pressupostos teóricos acerca da categoria juventude.

1.4 Juventude: uma categoria histórica e social

Aqueles que pretendem auxiliar os jovens em suas escolhas profissionais sabem que

como orientadores vão precisar compreender a juventude globalmente, pois se trata de um

fenômeno, ou melhor, de uma categoria muito ampla. Para Raitz (2003) compreender a

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juventude na atualidade é fazer uma retrospectiva histórica e social, entender sobre suas

semelhanças e diferenças. Os jovens de hoje são diferentes dos de ontem e serão diferentes

dos de amanhã. A categoria juventude não é homogênea e sim heterogênea, contém em suas

características unidade e diversidade, por isso devemos falar em juventudes ao invés de

juventude, pois se diferencia conforme seus usos, costumes, moda, grupos, sociedades, tempo

e cultura. Existem diferenças na condição juvenil em cada época, cultura ou sociedade (PAIS,

1993).

A juventude é uma categoria histórico-sócio-cultural, que ao mesmo tempo em que se

constrói é construída. Esta categoria ampla busca se inserir no mercado de trabalho, para

tanto, necessita de apoio, sendo a escolha profissional um processo que não ocorre em um

único momento. É necessária a compreensão desta categoria refletida nos gostos, motivações,

potencialidades, limitações, aptidões, desde a infância. Desta forma, alguns autores, entre eles

Oliveira (1986, p. 11) afirma,

A infância e a juventude não são etapas de preparação para condição adulta;

aquilo que costumeiramente se chama “tornar-se adulto” não pode ser a

meta; muito menos o ponto final. O processo de formação social das pessoas

supõe o preparo para perceber, compreender e atuar em situações que estão

em constante mudança.

Pode-se observar que o autor acima não acredita em seres prontos, formados,

entretanto, a fragmentação da pessoa em faixa etária também é uma construção social, pois na

trajetória de vida as pessoas recolhem informações e conhecimentos, mas isto não quer dizer

que estes conhecimentos não mudem ou que sejam verdadeiros. Diversos estudiosos apontam

a juventude como uma fase de vida não delimitada, mas compreendida para fins de estudo, em

uma faixa etária que vai dos 15 a 24 anos. Entre eles, Singer (2005) diz que a juventude é

formada por pessoas que possuem a mesma faixa etária, que vivenciam os mesmos momentos

históricos, situados em uma cultura, atravessando as mesmas diversidades, por isso fazem

parte de uma coorte. Já Pochmann (2004) proclama que a juventude vai além deste período

citado por Singer, devido ao aumento da expectativa de vida das pessoas, que outrora estavam

estimadas em 60/70 anos, segundo pesquisas, passando atualmente para os 100 anos num

período curtíssimo de tempo.

O autor acima afirma que a juventude não é linear, pois ocorre de forma diferente para

cada jovem, em determinada cultura ou tempo histórico, embora semelhanças também

ocorram. Muitas vezes as juventudes são vistas como uma fase dourada da vida. Isto, na visão

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de muitos autores, se deve ao fato de haver uma identificação juvenil baseada em informações

de uma classe privilegiada. Todavia, ela não ocorre de forma homogênea a todos (as), pois ser

jovem em uma classe privilegiada de renda é diferente de ser jovem em classes onde a renda é

mais baixa. Esta visão equivocada da juventude oculta a realidade vivenciada por grande parte

dos jovens. Por este motivo, segundo Raitz (2003), deve se falar em juventudes ao invés de

juventude, pois existe uma diversidade de segmentos juvenis que vivem em contextos

diversificados: histórico, político, cultural, social e econômico em cada sociedade.

A juventude busca autonomia e singularidade, todavia, Sposito (2005) pondera que a

condição juvenil da sociedade ocidental nem sempre é demarcada, mas pautada em relações

como família, escola e sociedade, estando diretamente ligada à capacidade de produção

industrial, reprodução, maturidade emocional e social. Pochmann (2004) complementa que é

difícil haver uma homogeneização da juventude, pois existem muitas diferenças na natureza

de classes da sociedade. Vários estudiosos, entre eles Pais (1993) e Raitz (2003), afirmam que

o que diferencia as juventudes são os aspectos histórico-sócio-culturais.

Na cultura ocidental, a entrada da juventude na vida adulta retardou-se, o que criou um

status social para os jovens, com roupas, modas, gírias, consumo e sentimentos de pertencer a

um grupo. No que tange ao consumo, Costa (2004) em palestra organizada pela UNESCO

enfatiza que o consumismo é uma forma que o imaginário econômico achou para se legitimar

culturalmente, em que os objetos são necessidades de consumo supostamente pré-universais e

culturais, mascarando assim as desigualdades econômico-sociais existente entre os

compradores. Atualmente, constata-se que os jovens entram mais tardiamente no mercado de

trabalho, neste sentido é que se fala em prolongamento desta categoria juventude, mas cabe

lembrar que este fato ocorre com mais freqüência nas classes mais privilegiadas, onde o

jovem pode concluir o ensino superior para depois entrar no mercado de trabalho. Já em

classes em que o poder aquisitivo é menor, o jovem obriga-se a entrar precocemente no

mercado de trabalho e na grande maioria dos casos não chega a cursar o ensino superior.

Assim, muitos autores afirmam que na pobreza não há juventude, entre eles, Palácios (1995).

Para alguns autores, é na juventude que ocorre o processo de desenvolvimento da

personalidade, existindo diferentes enfoques como o de Fierro (1995, p. 289) que pontua,

[...] personalidade é um conjunto de processos e de sistemas

comportamentais, intimamente relacionados entre si, definido,

principalmente, pelos seguintes elementos: o fato de que, na mesma situação

ou em situação semelhante, diferentes indivíduos reagem e se comportam de

diferentes maneiras [...] em momentos ou situações diferentes as pessoas

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manifestam algum tipo de regularidade e estabilidade em sua maneira de se

conduzir, a realidade da unidade do sujeito de se conduzir em suas diferentes

atividades psicológicas e de comportamento, o fato que esse sujeito é

verdadeiramente agente, ativo e não apenas reativo diante da estimulação ou

pressão interna.

Por este ângulo, a juventude pode ser entendida como parte de um processo evolutivo.

O sujeito é ativo, se constrói e é construído, ou seja, passa também por uma ação de

construção e desconstrução, em que o jovem participa de um processo de continuidade e

descontinuidade do passado, no qual tem muito a experimentar e a vivenciar. Para esse autor

que não faz distinção entre juventude e adolescência, esta é universal, pois todos passam por

ela com maior ou menor intensidade. Os conflitos que os jovens vivenciam nesta época são

entendidos como um processo psico-social, no entanto, ocorre de modo diferente em cada

sociedade. Inclusive, a duração da adolescência/juventude é diferente nas várias culturas e em

épocas históricas distintas. Em suma, para o autor, a adolescência/juventude é universal,

porém, alguns jovens precisam de um aprazamento maior que outros. Isto ajuda a explicar

porque há diferenças entre os estudiosos, quanto ao período onde a mesma está compreendida.

Neste aspecto, Pochmann (2004) e Fierro (1995) assim como esta pesquisadora, estão em

concordância, pois muitos jovens necessitam de um aprazamento maior para entrar na

“chamada vida adulta”.

Os jovens estão em busca de identidade e experimentam muitos papéis, assim vão se

construindo, buscando seu espaço, seus direitos e deveres, começam a agir com mais

criticidade. Buscam intelectualizarem-se, por meio de livros, internet, familiares, enfim,

buscam informações para esclarecer suas dúvidas. Vivem períodos de contradições, nos quais

a espera pela maturidade é ativa, embora lenta. Este é um período fundamental na constituição

da identidade. Os jovens elaboram identificações e representações de si mesmos, formam seu

autoconceito, possuem necessidades de conhecimento e aceitação. As atividades físicas e

corporais vão integrando suas personalidades, suas escolhas, enfim, seu constituir-se como

cidadão.

No que se refere à identidade, Raitz (2003) pontua que a mesma é entendida como

processos, os quais estão relacionados e se formam por meio das interações sociais. O autor

afirma que os limites da adscrição são estabelecidos com outros e não apenas por intermédio

de uma definição grupal compartilhada, devido ao fato de que há múltiplos espaços de

reconhecimento, como também uma diversificação de experiências da juventude. Assim, os

jovens atribuem sentidos ou significado ao mundo por meio dos relacionamentos que

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constroem com seus pares. Desta forma, vão construindo suas identidades, pois a identidade

não é única – os jovens assumem vários papéis. Portanto, a construção da identidade envolve

complexidade e ambigüidade, permeada por relações sociais e de poder, as quais promovem

uma gama considerável de identidades. Assim, os jovens experimentam diferentes papéis

vivenciados, tanto na singularidade, quanto na pluralidade.

Para Osório (1989), autor que não diferencia adolescência de juventude, o mundo de

hoje está passando por uma crise de identidade igual àquela que os jovens passam na busca de

sua identidade. A globalização, a internet, o consumismo, a desigualdade de oportunidade de

estudo e trabalho, a velocidade da informação e das mudanças e a constante necessidade de

integração com o mundo são fatores que levam as pessoas a correrem o risco de perder a

identidade nacional. Frente ao novo cenário, os jovens sentem-se inseguros. Vivemos em uma

época de muitas angústias em que a humanidade questiona valores e tenta reformulá-los para

viver neste constante processo mutante do mundo contemporâneo. Isto ocorre também com os

jovens, que vivem muitas angústias e incertezas, muitos dilemas, muitas mudanças, muitos

avanços e recuos, dependência e independência, na busca pela identidade.

Conforme já afirmado, muitos pesquisadores e estudiosos diferem quanto ao período

de tempo que estaria compreendida a juventude. Leite (2003) resgata o termo por meio de um

recorte, aludindo ao discurso da retórica da piedade à política de direitos, enfatizando o jovem

como ator social. Esta autora delimita a juventude como uma etapa de vida situada numa faixa

etária entre 15 e 24 anos de idade. Tal etapa é marcada por processos que vão configurar a

vida adulta, como a partida da família de origem, a definição e início da vida profissional e a

formação de outra família. Estes processos são complexos e variam entre os jovens, de acordo

com a individualidade e os contextos histórico, social, cultural, político, econômico e familiar.

Os autores acima enfatizam que na atualidade o importante é compreender a juventude

como uma categoria social, em que os jovens são sujeitos ativos. Além do mais, tanto os

autores da psicologia quanto os da sociologia ressaltam que ambas – adolescência e juventude

– seriam categorias históricas e sociais, que fazem parte de um processo que envolve cultura,

sociedade e tempo, pois ser jovem no Brasil, nos dias de hoje, não é igual a ser jovem em

outro contexto sócio-cultural. Os autores consultados concordam também que a adolescência

e a juventude não são homogêneas e sim marcadas pela diversidade como já se salientou.

As referências bibliográficas relacionadas à Psicologia do Desenvolvimento procuram

situar juventude como uma categoria bio-psico-social, pois o jovem é ao mesmo tempo um ser

biológico, possui emoções e está inserido num contexto social. A escolha profissional faz

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parte de um processo que se inicia na infância e culmina com uma escolha, a qual denota a

maneira do jovem ser, pensar e estar no mundo. A escolha profissional não é o ponto final do

processo, mas sim o desejo de definir um projeto de vida e de participar do mundo do

trabalho. Conforme Oliveira (1986), a juventude não é uma etapa, mas sim um processo, uma

construção social. Por sua vez, a escolha profissional, nesta perspectiva, não é uma etapa ou

um momento, mas sim um processo, que não ocorre instantaneamente e tampouco é

definitivo. Isto significa dizer que atualmente se vive em uma era em constante mutação.

Escolher uma profissão na atualidade não representa que devemos fazer escolhas imutáveis,

pois assim como não se acredita em seres prontos, acabados, é na trajetória de vida que as

pessoas recolhem informações e conhecimentos, mas isto não quer dizer que estes

conhecimentos não mudem ou que sejam verdadeiros. A velocidade da informação e as novas

tecnologias nos obrigam à eterna busca de conhecimento e a reconfigurar nossas escolhas.

Na escolha profissional, entender que se vive em constante transformação, tanto

pessoal como profissional, é um elemento chave que está na interface da opção por uma

profissão. Assim, é necessário acompanhar todas as mudanças, comparar as tendências deste

mundo globalizado e, principalmente, conhecer a si mesmo. O autoconhecimento leva o

jovem a pensar criteriosamente em seus gostos e assim descobrir habilidades, interesses,

aptidões pessoais, bem como capacidades e limites. A seguir, apresentam-se reflexões acerca

da interlocução entre juventude, diversidade e orientação profissional.

1.5 Juventude, diversidade e orientação profissional

Escolher uma profissão parece ser fácil, entretanto, muitos jovens sentem-se confusos

diante de tal escolha, pois desta escolha vai depender todo um projeto e estilo de vida.

Portanto, a escolha profissional deve ser ponderada. Bohoslavsky (1987), autor que

influenciou a OP no Brasil na década de 70 do século XX, afirma que na

adolescência/juventude existe uma confusão profissional. O jovem não escolhe apenas uma

carreira, escolhe um sentido para a vida. Ele escolhe quando, onde e como trabalhar. No

entanto, quando ele escolhe, aparece o conflito por não ter escolhido a outra profissão,

portanto, a escolha deve ser resultado de um processo. Este autor afirma que há três

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momentos para definir a profissão no processo de escolha da carreira: a seleção, a eleição e a

decisão.

Para este autor, a identidade profissional se desenvolve como uma interação de fatores

internos e externos à pessoa, sendo salientada a relação com os outros. Existem duas

expectativas que influenciam a escolha profissional: as próprias expectativas e as expectativas

dos outros, desta forma, fica intrínseca uma gama de influências. Diferentes pesquisadores

ligados à psicologia, mais especificamente à orientação profissional, apontam que são várias

as influências na escolha da profissão do jovem, tais como o lugar da residência, a posição

sócio-econômica, o sexo (também influi nos padrões ocupacionais), a ocupação dos pais, os

atrativos exercidos por determinadas profissões, a escolaridade, o salário, o status, entre

outros. Super e Bohn (1972), autores de renome na questão da escolha profissional, assim

como Bohoslavsky (1987), afirmam que a escolha vocacional faz parte de um processo que

vai da infância até a velhice e possui quatro tarefas:

A tarefa de exploração, em que os jovens coletam dados, informações sobre as profissões,

experimentam papéis e usam a imaginação. Têm comportamentos contraditórios, passam

da solidão ao grupo, da autonomia à dependência, do entusiasmo ao desinteresse;

A tarefa de cristalização, na qual os jovens fazem uma escolha geral das profissões, e as

preferências se acentuam. Ele faz um balanço dos pontos positivos e negativos ao

desempenho das profissões, analisa e seleciona, pois percebe que tem que fazer uma

escolha;

A tarefa de especificação, na qual os jovens procuram fazer uma escolha mais específica

de sua profissão. O processo é realizado de forma cognitiva e envolve reflexão. Ele avalia

conscientemente as informações, de acordo com sua identidade, procurando ver em qual

se encaixa, na qual ele se adapta melhor. Por último, a realização, em que os jovens

revêem as etapas, e esta é decisória. Eles se engajam nas profissões. Fazem um

planejamento dos meios para realizá-las, antecipam as dificuldades e definem escolhas

substitutivas.

Super e Bohn (1972), Osório (1989) e Bohoslavsky (1987) utilizam o termo escolha

vocacional, enquanto na atualidade, embora se encontre na literatura as duas nomenclaturas, o

termo mais utilizado é escolha profissional. Anteriormente a estas últimas décadas, não havia

tantos cursos e opções para se escolher. Os jovens escolhiam pautados na vocação ou

profissão dos pais ou parentes e os cursos eram poucos, como medicina, engenharia ou

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direito. As mulheres geralmente se tornavam professoras, por ser esta uma profissão aceita

socialmente para elas. Os homens eram médicos, advogados ou engenheiros. Na atualidade,

com a gama de opções de cursos e profissões, muita coisa mudou.

O futuro, que antigamente era previsível, hoje em dia não o é. Vários dilemas assolam

as juventudes, mas o grande dilema existencial para Osório (1989) consiste no projeto de

vida, pois como elaborar um projeto de vida se o mundo nos apresenta um projeto de morte?

Como garantir a sobrevivência se o mercado de trabalho não é mais estável e não dá conta de

absorver a mão-de-obra existente, uma vez que o crescimento econômico não é condizente

com a população economicamente ativa? E o desemprego? E a questão da crise mundial,

como afeta o emprego?

Assim, Osório (1989) apresenta mais um entre os dilemas vividos pelos jovens: o

vocacional, pois há uma contradição entre o que os jovens escolhem ser e as insatisfações

profissionais a que eles se submetem. Muitas vezes, eles fracassam nas escolhas profissionais

e afetivas, pela própria ansiedade ou a de outros. Como fazer uma escolha profissional

satisfatória numa sociedade onde o poder econômico é quem dita as regras? O autor acima

explicita que a própria sexualidade é um grande dilema para os jovens, pois a revolução dos

costumes sexuais foi a geradora da perda de muitos valores morais. Desta forma, os jovens

iniciam sua vida sexual cada vez mais precocemente. Com a crise dos valores da família e da

falência das instituições como o casamento e novos arranjos familiares, os jovens

adolescentes em grande parte, ficam sem ter onde se apoiar, onde se assegurar. Suas relações

afetivas ficam sem estabilidade. O problema das drogas também gera muitos conflitos. Como

os jovens podem renunciar aos prazeres da droga se a sociedade induz ao seu consumo?

Como dizer não às drogas se em casa os próprios pais são exemplos, como no caso do álcool,

do cigarro, dos remédios, entre eles os calmantes? Como ingressar no mercado de trabalho se

o mesmo exige experiência? Como competir com centenas de outros jovens?

Os jovens se vêem diante de muitas indagações e muitas transformações. Segundo

Sposito (2005), existe uma diversidade de dados e aspectos sobre o que é ser jovem no Brasil,

mas de modo geral, a condição juvenil é permeada por relações sociais como a escola e a

família, as quais asseguram a reprodução cultural e social dos diversos grupos e classes

sociais. Em suma, a entrada dos jovens para a vida adulta é diversa, heterogênea, complexa e

não linear. A escolha profissional para ser mais assertiva deveria ser assistida, tanto pela

escola quanto pela família, para promover o apoio que a juventude necessita. O item a seguir

discute sobre os jovens e a influência das instituições da família e da escola na atualidade.

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1.6 Os jovens e as instituições sociais: escola e família

A família e a escola são as primeiras instituições sociais que se tem contato na vida.

Elas nos acompanham ao longo da vida, são responsáveis pela reprodução dos valores, usos e

costumes das sociedades. Assim como estas instituições sociais, o modo de produção da

sociedade vai influenciar a vida da família, do jovem e da escola. A escola é um espaço social

e cultural de interação com o outro. Assim, deveria permear a relação dos jovens com o

mundo do trabalho. Entretanto, na prática, muitas vezes isto não ocorre. Segundo Sposito

(2005), a condição juvenil na atualidade sofre uma desinstitucionalização, ou seja, o espaço

antes ocupado pela família e pela escola passa a ser ocupado pela subjetividade juvenil. Esta

vivencia a juventude de uma forma diferente daquela vivida por gerações anteriores, devido

às constantes mutações que as instituições atravessam na contemporaneidade e frente a

diferentes instâncias produtoras ou reprodutoras de valores sociais e culturais.

Para a autora, muitos fatores entrelaçados com diversos significados atravessam as

relações dos jovens com as instituições família e escola, influenciando também na entrada dos

jovens no mundo adulto, marcando a entrada no mundo do trabalho, a saída de casa, a prole,

etc. Outros fatores que atravessam as relações dos jovens são: sexo, ciclo de vida, classe

social, tempo de permanência na escola, entrada tardia ou precoce no mercado de trabalho, o

que produz diferentes significações de mundo e das responsabilidades do adulto. A escola

deve acompanhar as mudanças oriundas de um mundo globalizado e do novo perfil juvenil.

Apesar da oferta de educação ter aumentado, faz-se necessário um incremento e novos

investimentos para garantir educação de qualidade. Mas antes de tudo, a escola precisa mudar

seu perfil e acompanhar os jovens nestas mudanças, cativando-os para que possam cada vez

mais galgar os graus mais elevados de ensino e educação, que os possibilite refletir

criticamente e ter sucesso em seus projetos. Com maiores oportunidades e melhores condições

de vida, ressalta a autora, por meio das políticas públicas e auxílio da sociedade, se poderia

dar chance aos jovens de entrar no mercado de trabalho, somente após concluir o ensino

superior. A escola ainda é uma instituição formadora que dá referências identificatórias e

pode com certeza contribuir para um futuro profissional melhor para os jovens.

Osório (1989), assim como outros autores que se debruçam sobre o estudo da

juventude, a julga como um privilégio das classes mais abastadas, ou seja, um luxo não

permitido àqueles que estão empenhados na escarnecida luta pela subsistência. Observa-se

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que este pensamento é onipresente em muitos estudos de diversos pesquisadores e alvo de

crítica para os estudiosos que defendem a universalidade da mesma. Assim, se fazem

necessárias em muitas pesquisas a reflexão e a crítica sobre o assunto, principalmente no

sentido de encontrar um modo de auxiliar o jovem neste processo de vida, especialmente

àqueles das classes populares ou das escolas públicas. Embora a oferta de educação tenha

aumentado, especialmente nestas últimas décadas, ela precisa de uma revolução estrutural,

pois com certeza o início de tudo passa pela educação de qualidade. De acordo com Costa

(2004), as mudanças primordiais precisam emergir das próprias pessoas, iniciando pelo

cotidiano, em que pequenos gestos fazem a diferença.

Neste sentido, no que diz respeito à juventude e à escola, Soares (2002) pontua que a

escola na maioria das vezes não incentiva o jovem em sua auto-reflexão e autoconhecimento

como deveria. Para a autora, a escola deveria preparar para a vida e para o trabalho. Mas

infelizmente nem sempre a juventude pode contar com o apoio da escola. Assim, os jovens

sentem-se desamparados e inseguros em relação à colaboração da escola na participação de

sua vida social, profissional, política e econômica.

A escola precisa refletir sua prática e traçar ações que dêem conta dos novos rumos

que se impõe diante das mudanças que o mundo globalizado favoreceu. A escola de hoje

ainda traz reflexos do passado. Neste sentido, é possível entender resquícios que carregamos

da velha cultura e filosofia ocidental, marcando nosso comportamento, cultura, relações de

trabalho, pessoas e sociedade, bem como nosso modo de ver, sentir e agir no mundo. Segundo

Lampert (2004), a educação traz estes reflexos, pois é excludente e sofre influências de

políticas neoliberais, nas quais o lucro, a minimização de custos e a diminuição de recursos

estão em voga.

No passado, a educação tinha um vínculo religioso muito forte, com a missão de

inculcar conceitos e verdades, segundo o pensamento de cada época. Hoje, pouca coisa

mudou, pois continuamos a carregar conceitos assimilados do passado que moldam nosso

jeito de ser e estar no mundo. Atualmente, a educação propõe uma nova pedagogia e tem a

missão de acompanhar as mudanças. Principalmente, a de formar cidadãos autônomos e

críticos, que vão além de simplesmente apertar o parafuso da máquina, mas precisam aprender

a pensar e a raciocinar criticamente para circular numa sociedade que se caracteriza de

maneira cambiante. Entretanto, esta não é uma tarefa fácil, pois a história da educação

demonstra que não fomos formados para pensar, refletir, muito menos para pesquisar. Este é

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um caminho que se revela para ser trilhado pela escola, não apenas teoricamente, mas na

prática com efetividade.

A escola tem o dever de se empenhar e acompanhar as mudanças da sociedade, não

basta estar amparada científica e tecnologicamente. É primordial valorizar a convivência, os

valores individuais e coletivos, saber resolver conflitos, resgatar o lado humano, por vezes

adormecido em meio a tantas transformações como a tecnologia e a velocidade da

informação, processos esses que muitas vezes transformam seres humanos em pessoas

alienadas. Na atualidade, é necessário quebrar paradigmas e seguir as recomendações do

relatório Delors (1998), saber resolver conflitos, incentivar o trabalho em equipe, a

convivência com o outro e despertar a consciência planetária, pois não estamos sós e nem

seremos os últimos a habitar este planeta. Este século nos chama a questionar valores. A

cooperação é a palavra-chave na atualidade e também constitui um grande desafio.

Lampert (2004) chama a atenção para a necessidade de se fazer uma nova leitura do

ser humano no mundo. Com as mudanças constantes de nossa sociedade, é importante que

todos (as) as acompanhem, especialmente a escola. Posto isto, percebe-se que os jovens têm

nas mãos grandes responsabilidades e grandes dilemas. Em que valores se pautarão para

construir sua identidade? Como se forma a identidade frente a tantas mudanças? Como

escolher uma profissão diante de um contexto cambiante? Para que lado ir? Em quem confiar?

São questões relevantes que devem se constituir em reflexões pelos jovens e pela escola.

Certamente as escolas têm sua parte a contribuir, refletindo cotidianamente sua prática,

entretanto, as famílias dos jovens também.

Estudos associados à psicologia como os de Soares (2002) e da sociologia como os de

Sposito (2000, 2005) demonstram que são muitas as questões que influenciam os jovens no

momento da escolha profissional. Além da escola, a família é um dos referenciais nos quais os

jovens se pautam. A influência da família sobre os jovens pode alterar as expectativas dos

mesmos e a própria escolha profissional. Os pais, muitas vezes, sem perceber, fazem

cobranças e pressionam os filhos, por isso há necessidade de estabelecer uma comunicação

aberta entre pais e filhos. No processo de orientação profissional, o jovem aprende a se

autoconhecer, consequentemente a separar as expectativas dos pais de suas próprias, assim

reflete e torna a escolha mais consciente e segura.

A escola, bem como de maneira geral, a relação entre juventude e trabalho, muitas

vezes, indica exclusão, desigualdades sociais, pobreza, ou se atribui à juventude um papel de

rebeldia, conflitos e bagunças, esquecendo-se que nesta categoria histórica e social existem

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muitos valores, qualidades e potencialidades. É conveniente lembrar o que se atribui a

determinados grupos não serve para outros. Portanto, generalizações são inapropriadas, pois

se trata de juventude no plural, na diversidade. A escola vista sob a ótica sociológica e

antropológica é um espaço sócio-cultural, o qual abriga uma diversidade de atores sociais, que

se articulam na construção de uma sociedade democrática, solidária, levando em consideração

o contexto histórico-sócio-cultural. Por conta disso, a escola se constitui em um espaço de

heterogeneidades. Gusmão (2006) traz a diversidade de problemas que os jovens enfrentam: o

contexto, o cotidiano, a diversidade cultural, a dificuldade de inserção no mercado de

trabalho, entre outros, que acabam refletindo na escola e são refletidos por ela. Neste sentido,

a escola tem um sentido polissêmico e múltiplo, assim, torna-se necessário acolher a

diversidade, as diferentes orientações e representações, os ritmos, os tempos e os espaços que

gestam práticas. Enfim, é preciso conhecer, tanto a escola, como os diversos movimentos e

atores coletivos, na condição de universos que gestam representações e práticas polissêmicas

de produção cultural (SPOSITO, 1997; GUSMÃO, 2006).

Nas palavras destes autores, a escola é um espaço sócio-cultural, em que a diversidade

de experiências é mediada de modo crítico e reflexivo. Desta forma, a necessidade da escola

orientar o jovem no momento de sua definição profissional desponta como uma necessidade

que poderá minimizar muitos conflitos. Cabe à escola contribuir com princípios para

proporcionar educação de qualidade, a qual forma valores, caráter e que seja emancipadora no

sentido de promover mudanças, ou seja, que favoreça orientação para a vida. Portanto, a

orientação profissional pautada na reflexão de possibilidades e limites tem muito a contribuir.

Seria de grande valia se as escolas oferecessem um serviço de orientação profissional aos

jovens, para que os mesmos pudessem vir a fazer escolhas mais madura, oportunizando a

reflexão crítica sobre os diversos aspectos que envolvem a escolha da profissão, o

autoconhecimento, a realidade do mercado de trabalho e a construção de uma identidade

profissional. Assim, é importante refletir sobre as mudanças ocorridas no mundo do trabalho e

na identidade, essa entendida como um processo histórico, social e evolutivo, como se verá no

tópico a seguir.

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1.7 Mudanças no mundo do trabalho e identidade profissional

A história nos mostra que o trabalho é muito antigo e remonta tempos longínquos em

que o homem iniciou a transformação da natureza utilizando-se de suas capacidades físicas e

mentais. Desta forma, o trabalho é mais antigo que o emprego. Este pode ser entendido como

uma relação estável, duradoura ou não, entre quem organiza o trabalho e quem o executa.

Em Ferreira (1993), encontra-se a definição para trabalho como sendo: aplicação de

forças e faculdades humanas, para alcançar um determinado fim. O trabalho é entendido como

uma capacidade coordenada, física ou intelectual, necessária para realizar tarefas, serviços ou

empreendimentos. Para o mesmo autor, o emprego pode ser entendido como uma ocupação,

cargo ou colocação. Diferentemente de profissão, que para o autor é o ofício em si, entendida

como uma capacidade ou ocupação específica e especializada.

A história das civilizações e a literatura especializada demonstram que na antiguidade

não havia relação de emprego, mas sim relações de escravidão. Nesta época havia artesãos,

considerados uma categoria especial de trabalhadores que fabricavam seus produtos e os

vendiam. Desta forma, não havia ainda relação de emprego, tampouco existia na idade média.

Neste período, havia uma relação de trabalho de servo e servidor. Já na idade moderna

apareceram pequenas empresas familiares que vendiam seus produtos artesanais, havia

também oficinas com aprendizes, mas ainda não se configurava a relação de emprego. Esta se

estabeleceu a partir da revolução industrial, em que as pessoas saíam do campo. Nas cidades,

não tinham meios para trabalhar como artesãos e ofereciam sua mão-de-obra para trabalharem

na base da troca. Na idade contemporânea, de acordo com Vieira (2005), a relação de

emprego alterou-se, pois o emprego estável, com carteira assinada, deixou de existir da

maneira como era concebida anteriormente. Hoje, fala-se em competências, gerenciamento de

carreiras, empregabilidade, globalização, transformações constantes devido a avanços

tecnológicos e de informação, o que tem exigido dos profissionais de diversas áreas,

atualizações constantes.

Vivemos em uma sociedade capitalista. Tal fato não pode ser ignorado, muito menos

suas conseqüências. De acordo com Raitz (2003), inúmeros pesquisadores que se debruçaram

sobre as transformações ocorridas no mundo do trabalho nestes últimos séculos afirmam que

este contexto proveniente do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, da reestruturação

produtiva, etc, alterou a realidade social e a vida das pessoas. Por conseqüência, um fenômeno

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tem ocorrido em massa: o desemprego, principalmente o juvenil. Nesta perspectiva, Pais

(2001) afirma que tal fato se deve à precariedade do emprego, o que tem levado muitos jovens

a vivenciar inseguranças e lançarem mão de recursos pouco convencionais para superar as

dificuldades encontradas na tentativa de entrarem para o mercado de trabalho, traduzidos na

informalidade do emprego.

Novas configurações são atribuídas ao trabalho na atualidade, advindas do cenário

mundial. Isto provocou novas demandas e a emergência de novas ocupações e trabalho. Por

conseqüência, ocorreram alterações na organização do trabalho. Assim, um conjunto de

características para as quais os empregos da atualidade têm convergido aponta para a

flexibilidade, a instabilidade, os baixos salários, o achatamento da estrutura hierárquica, a

polivalência e a heterogeneidade da mão-de-obra empregada (MOCELIN, 2006).

Para Raitz (2003), emprego e trabalho possuem significados diferentes, sendo sua

história bastante longa e complexa. Não é o objetivo deste trabalho investir num constructo

sobre esse assunto, uma vez que muitos pesquisadores já o fizeram, apenas refletir questões

importantes que possam ajudar a explicitar o objeto de estudo desta dissertação. De modo

simplificado, o emprego é mais recente que o trabalho. Seu surgimento direciona

aproximadamente após a Revolução Industrial, época em que iniciou a relação de compra e

venda da força de trabalho humano. Para a autora, na história do trabalho encontra-se uma

multiplicidade ou diversidade de sentidos, o que pode ser constatado na vasta literatura

especializada no assunto que compreende muitos teóricos como: Marx (1980 e 1989), Weber

(1980), Frigotto (1998), Offe (1995) e Habermas (1984 e 1995) Ribeiro (1999), Arendt

(1995), entre outros. Ainda, na história das sociedades, configura-se o fato de que o trabalho é

composto por diversos sentidos, em períodos históricos distintos, traduzindo várias

experimentações, significações e atribuições, de acordo com diversas abordagens que

explicam o fenômeno.

Soares (2002) também diferencia profissão e trabalho. Afirma que o jovem que vem

em busca de orientação profissional está também em busca de um curso superior ou de uma

profissão. Para a autora, o engajamento das pessoas com o trabalho é a maior preocupação

que o ser humano possui. Fato identificado desde cedo nas crianças, tentativa essa de se

identificarem com os pais, acabam por considerar suas tarefas escolares como trabalho. E de

fato, o trabalho é intrínseco à vida das pessoas, principalmente em uma sociedade capitalista

como é a nossa e pode ser entendido como uma categoria ampla.

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Para Raitz (2003), nos estudos e pesquisas referentes aos sentidos do trabalho, há uma

abordagem polêmica e complexa que vem sendo discutida na comunidade científica que se

refere à centralidade ou não do trabalho. Hoje se questiona o trabalho como sentido e valor,

dimensionando o debate para outros espaços de inclusão, como o conteúdo da formação

profissional e suas diversas concepções, suas relações e outras formas de conhecimento e

resignificação do trabalho, assim como convergências e divergências nas diversas abordagens.

Esta autora chama a atenção para as questões em estudo do trabalho como princípio

educativo, como também a questão do trabalho como valor ou o valor do trabalho. Como

também, o termo politecnia, questão que nesta pesquisa não cabe aprofundar. Entretanto,

nesta configuração ou contexto atual exposta pela autora, alguns autores demarcam um

discurso do fim dos empregos e da sociedade do trabalho.

A autora concorda com Pais (2001) que enfatiza que o trabalho não deixa de existir,

tampouco perde sua importância. No entanto, na atualidade, ele ganha novas dimensões,

como heterogeneidade e diversidade de sentidos, impelindo a juventude a viver esta nova

dimensão na composição também heterogênea e diversa do mercado de trabalho. Neste

sentido, pode-se afirmar que no contexto atual de modificação constante e de incertezas em

relação ao trabalho, este assume uma pluralidade de sentidos, contudo o mesmo não perde sua

característica instrumental, embora contemple o cotidiano dos jovens, o qual é entrecruzado

de outros sentidos.

Assim, o trabalho pode assumir diversos sentidos na vida das pessoas, de acordo com

evolução social, características culturais, econômicas, políticas e históricas de cada sociedade.

Por si só, o trabalho já possui um valor intrínseco. Para muitos, é questão de sobrevivência,

para outros, é prazer, independência, auto-realização, cidadania como forma de participar

ativamente da sociedade, etc. De fato, ele ocupa a maior parte do tempo e da vida das pessoas.

Portanto, uma boa escolha é fundamental para um futuro profissional promissor. Por isso

mesmo, é importante conscientizar a juventude de todos os fatores que atravessam a escolha

profissional. No item seguinte, expõem-se as mudanças ocorridas na sociedade na relação que

se estabelece com o trabalho e a identidade profissional.

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1.8 Mudanças Sociais na Contemporaneidade, Trabalho e Identidade Profissional

Muitas mudanças ocorreram em nossa sociedade, principalmente no mundo do

trabalho no século XX e XXI, o que alterou a identidade pessoal e profissional das pessoas.

Segundo Bohoslavsky (1987 apud SOARES, 1993), a identidade profissional está sempre em

construção, sendo um aspecto da identidade pessoal total, pois ao longo da vida, o sujeito vai

assumindo muitos papéis, o que sugere pensar identidade como multifacetada, fluida e

flexível. Soares (2002) afirma que a identidade se forma nas relações estabelecidas entre as

pessoas, as quais desempenham papéis sociais. Desde criança, as pessoas vão se identificando

de forma consciente ou inconsciente com os papéis sociais e vão experimentando e assumindo

tais papéis e assim estabelecendo a futura identidade que é fluida, flexível, compartilhada e

negociada.

No século passado, o trabalho era descrito por meio de grandes narrativas ou

metanarrativa. A identidade das pessoas era construída de acordo com sua ocupação. Segundo

Vieira (2005), havia um vínculo forte entre as relações de trabalho e as instituições. Já na

atualidade, a identidade tem seu elo com o trabalho enfraquecido, mas não desaparecido. Hoje

se questiona o projeto moderno de sujeito e sua metanarrativa. De acordo com a autora a ética

religiosa modernista pretendia preservar a disciplina e o comprometimento com o trabalho,

desta forma os valores e a moral eram disseminados pelos religiosos.

Conforme a autora acima, neste período, a identidade era vista como uma unidade

temporal, estável, com referenciais invariantes. Na atualidade, a identidade passa a ser vista

em constante construção, com características fluidas e cambiantes. Com o enfraquecimento

das instituições em relação ao trabalho, a ação das pessoas torna-se individual, sem muita

assistência. Desta forma, o indivíduo tem dois modelos para conceber a identidade. O

primeiro reflete o pensamento em que o Estado deve oferecer os recursos sociais. O segundo é

aquele em que o discurso liberal afirma que o indivíduo tem responsabilidade na construção

de si mesmo, dependendo menos das instituições.

Para Vieira (2005), o discurso ideológico do trabalho funcionou como um gigantesco

projeto civilizacional. Atualmente, o trabalho encontra-se cindido e pode ser descrito a partir

de Ethos ou pequenas narrativas. Observa-se, portanto, que ocorreu um desmonte do trabalho

e o mesmo já não é concebido como o era na modernidade, ou seja, o desmonte do trabalho é

parte de um acontecimento maior, que marca o fim da modernidade e o início de uma nova

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composição nos sentidos do trabalho. Na contemporaneidade, de acordo com a mesma autora,

o conceito de emprego foi substituído pelo de projeto, e este deve dar resultados. O sujeito

tem que se transformar em uma estrela para abarcar as competências necessárias para o

mundo do trabalho. Portanto, trabalhar atualmente é ter um projeto pessoal, no qual a

profissão reflita seus gostos, necessidades, desejos, competências e potenciais. Assim, o

trabalho é definido por projetos e é privatizado, entra para a órbita da personalidade de cada

indivíduo. Tem características estéticas na construção da obra individual, em que o sucesso e

o fracasso dependem do indivíduo. O profissional se tornou um prestador de serviços que

deve fidelidade a si mesmo. Na atualidade, o trabalho não é mais troca de algo, é uma face

estética do eu, ou seja, se torna trabalho vida. Neste sentido, a responsabilidade pelo sucesso

ou fracasso do trabalho passa a ser do indivíduo e não mais do Estado.

Bendassolli (2007) enfatiza a construção da identidade profissional como plural, pois a

construção da identidade do sujeito na atualidade separou-se de uma única identidade. Esta

não é mais fixa e deixou de ser ponto de referência estável na vida do indivíduo, que assume

muitos papéis. Desta forma, a identidade profissional também não é única, pois os sujeitos na

atualidade trabalham com contratos temporários e não possuem a estabilidade no emprego,

mesmo que sejam altamente qualificados.

Portanto, a identidade que na modernidade era descrita por meio de grandes narrativas

ou metanarrativa, agora passa a ser descrita por meio de pequenas narrativas ou ethos. Entre

eles, Vieira (2005) destaca Ethos da Moral Disciplinar, que demonstra que o trabalho é

realizado porque deve ser realizado, independentemente de satisfação. Ethos Romântico

Expressivo remonta o ideal grego de boa vida, a ética é do artesão. Realça a natureza

expressiva do trabalho, o mesmo tem um fim em si mesmo e é algo que se executa com

maestria, aparece a questão dos dons do indivíduo. Ethos Instrumental em que confere a

característica de emprego ao trabalho, pois é resultado do pensamento econômico, em que o

trabalho aparece como uma troca, submetido à lógica capitalista da eficiência e produtividade.

Ethos Consumista: está ligado à satisfação, é o ethos da lógica, do prazer e do descarte. Neste

sentido, as empresas passaram a se interessar por aspectos motivacionais. Quanto maior a

satisfação proporcionada pelo trabalho, maiores os índices de desempenho e produtividade.

Apareceram nos discursos empresariais, chavões como qualidade de vida e responsabilidade

social, pesquisas de satisfação da clientela, melhores lugares para se trabalhar. Ethos

Gerencialista, em que as pessoas são levadas a se descrever como empresas. Surgem os

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modismos gerenciais, que buscam soluções fáceis no setor de negócios e indústria. O ethos

gerencialista nasce de transformações. (VIEIRA, 2005).

O indivíduo circula por meio de ethos e, segundo a autora, os ethos conferem

características. Neste sentido, a identidade não é dada, é construída ao tempo em que o sujeito

circula por um ou vários ethos. Conforme o exposto acima, o trabalho torna-se vida. O trabalho,

tal como conhecemos na modernidade, deixa de existir ou perde sua força. Atualmente, não há

mais garantias de emprego, nem de carteira assinada, progressão linear e muito menos garantia

de estabilidade para quem está no mercado. O indivíduo é um empreendedor de si mesmo. É ele

quem gerencia sua carreira. Isto nos remete às noções de empreendedorismo, como a solução

fácil para todos os problemas e para todas as áreas. Em relação ao emprego, o que acontece

também na educação, o Estado tira a responsabilidade de si e coloca-a sobre o indivíduo.

Portanto, no novo cenário, os indivíduos não devem mais se preocupar com empregos, mesmo

porque o trabalho não existe mais da forma como existia em outras épocas. Hoje, o indivíduo é

seu próprio capital: social, humano e intelectual, ou seja, o eixo foi deslocado para a pessoa.

Não existe um arranjo único para a identidade ou para o trabalho.

Ao considerar a situação descrita acima, a qual remete aos conceitos postulados por

Vieira (2005), torna-se claro que trabalhar na atualidade significa ter um projeto pessoal em

que a profissão reflita gostos, necessidades, desejos, competências e potencialidades como já

exposto, mas sem apoio institucional o trabalho se tornou a vida das pessoas. Diante deste

quadro está o jovem que se questiona como conciliar a realidade do mercado de trabalho com

as aptidões pessoais? O jovem se encontra confuso diante da escolha profissional, de novos

caminhos a trilhar e busca auxílio na escola como formadora de caráter, quem deveria

promover este auxílio, propiciando uma educação de qualidade. Como vimos, o cenário atual

alterou a relação do emprego e do trabalho. Neste sentido, como fica a questão da identidade

na atualidade?

No passado, conforme o exposto acima, a identidade era vista como uma unidade

temporal, estável, com referenciais invariantes. O indivíduo possuía um vínculo estável com

as instituições. Na atualidade, a identidade desconectou-se do emprego e passa a ser vista de

forma fluida, em construção. Torna-se maleável, sendo a ação individual, sem assistência. O

indivíduo pode basear-se em dois modelos para conceber a identidade: um em que se

considera que o estado deve oferecer os recursos sociais para o indivíduo, ou o segundo

modelo baseado no discurso liberal, o qual afirma que o indivíduo tem responsabilidade na

construção de si mesmo; dependendo menos das instituições (VIEIRA, 2005).

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Neste sentido, para a autora acima citada, em nosso contexto, o ideal de ação sem

assistência encontra restrições dos que têm acesso restrito ao capital. Como resposta, aparece a

insegurança, o medo de fracasso, a falta de oportunidades, etc. Será mesmo que o indivíduo tem

responsabilidade na construção de si mesmo, sem assistência? Surge a insegurança ontológica, a

qual segundo Bendassolli (2007) pode ser entendida como uma falha na descrição de si mesmo.

Portanto, o indivíduo não é capaz de encontrar uma narrativa coerente para poder justificar a si

mesmo e suas ações.

Conforme Vieira (2005), percebe-se que a responsabilidade do Estado em relação ao

trabalho e ao emprego foi deslocada para a pessoa. O sucesso ou o fracasso no trabalho foi

jogado para o plano individual, isentando o Estado de sua responsabilidade. E a escola vai

omitir-se também? Ora, se há um enfraquecimento das instituições, se a responsabilidade do

sucesso ou fracasso no trabalho é de cada um, isto nos reenvia ao conceito de

empregabilidade, bastante questionado hoje na academia, provindo do mundo empresarial, da

performance, do culto de excelência e da circulação do indivíduo pelos ethos. Remete ao

trabalhador como empreendedor de si mesmo. Esta tendência de considerar o indivíduo uma

empresa aparece tanto na educação como no mundo empresarial. Entretanto, carrega em si,

por melhor que pareça a intenção, o esvaziamento das responsabilidades do Estado, jogando a

culpa pelo emprego ou desemprego na capacitação do trabalhador. De acordo com Baptista

(2006) e Vieira (2005), o conceito de empregabilidade esconde a diversidade das realidades

econômica e social existentes em nosso país, refletidas na educação e no trabalho, em que

ricos e pobres têm diferentes opções de estudo, qualificação e trabalho.

Segundo dados divulgados pelo IBGE (2009), a população economicamente ativa é

maior que a oferta de vagas no mercado de trabalho. Então como se pode jogar a

responsabilidade do emprego e não emprego ao trabalhador? Enquanto não tivermos uma

educação com qualidade que desenvolva nos jovens o espírito crítico, que incentive a

pesquisa e a reflexão, continuaremos tendo e sendo massa de manobra nas mãos de

poderosos, cujos interesses são os do capital, da economia e do lucro desenfreado.

Concorda-se com as idéias de Vieira (2005), ao afirmar que na atualidade uma das

grandes mudanças ocorridas com relação ao trabalho está diretamente ligada à educação.

Também a substituição do conceito de profissionalização pelo de competência, que deve vir

com os devidos cuidados e preocupações, pois também envolve ideologias que podem

acarretar apenas numa nova roupagem do termo “qualificação”. A informação sobre

profissionalização está ligada a uma educação tecnocrática e profissional, a qual obedece à

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grade curricular oficial que é considerada o centro da formação dos alunos. Já o ensino

baseado em competências, situado dentro do ensino profissionalizante, é decorrente do

comprometimento contínuo das competências com os processos de produção, em que a

validade das ações depende da aplicabilidade dos conhecimentos no exercício profissional.

A LBD – Leis de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996) define competência

como a capacidade que cada indivíduo tem de articular os saberes, os quais são também os

princípios básicos da educação do futuro, citada no relatório Delors (1998), saber ser, saber

conviver, saber fazer e saber aprender, em situações que fazem parte concreta do trabalho.

Diante disto, a questão que se levanta é por que o Estado procura cada vez mais se isentar de

responsabilidades, jogando para a iniciativa privada a incumbência do ensino

profissionalizante ou por competências, estágios, entre outras questões?

Nesta perspectiva, Vieira (2005) enfatiza o risco do aligeiramento de cursos e das

formações profissionais advindas com a substituição crescente do conceito de

profissionalização e qualificação pelo de competências. Este modelo, baseado em

competências, assim como o de empregabilidade, enfatiza as características individuais do

trabalhador. Portanto, joga o fracasso ou o sucesso do trabalho ou não trabalho nos ombros do

trabalhador ou, no caso da escola, nos ombros do aluno.

Diante deste quadro está o jovem, buscando certezas entre tantas incertezas. Como

escolher uma profissão? Quais cursos são importantes para sua busca profissional? Inglês,

espanhol ou informática, o que é melhor cursar? Qual qualificação deve-se procurar? Será

melhor freqüentar um curso, cujo ensino e educação sejam técnicos ou generalistas? Quais as

profissões que permanecerão no futuro? Será melhor ser empregado ou patrão? É melhor

partir para a economia formal ou informal? A quem procurar? Quais as responsabilidades do

Estado? E como fica a questão da experiência? E o currículo, como deve ser feito? E a

entrevista? Estas e outras questões poderão ser refletidas com os jovens nas escolas, se as

mesmas se empenharem em oferecer uma educação com qualidade, que privilegie entre

outros, um serviço de orientação profissional ou vocacional. A seguir apresentam-se os

pressupostos metodológicos do presente estudo.

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2 CAMINHOS PERCORRIDOS NA PESQUISA EMPÍRICA

Os passos para elaboração desta pesquisa se iniciaram com a definição do tema

“Juventude e Orientação Profissional”. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que teve como

propósito inicial conhecer melhor o perfil dos jovens do ensino médio de uma escola pública.

O objetivo foi identificar e compreender suas expectativas a respeito da escolha profissional e

orientação profissional, no sentido de subsidiar a prática profissional. A mesma foi realizada

por intermédio de um instrumento (questionário), elaborado pela pesquisadora com base na

literatura, com questões abertas e fechadas, resultando na análise descritiva e interpretativa

dos dados.

A aplicação do instrumento ocorreu em etapas distintas, pois foi aplicado

separadamente em cada turma do ensino médio, no total de quatro turmas de alunos (as),

embora tenha sido realizado no mesmo dia. Dois momentos mapearam a pesquisa: a coleta

dos dados por meio de um questionário com perguntas abertas e fechadas e a análise dos

dados estatísticos e qualitativos. Pelas perguntas abertas do questionário, os sujeitos tiveram a

oportunidade de expressar e justificar suas opiniões. Por meio das respostas do questionário,

estabeleceram-se as categorias de análise, as quais nortearam os eixos da análise qualitativa.

Depois de realizada a pesquisa, foi elaborada uma palestra como forma de devolutiva

para a escola e os alunos (as) sobre a orientação profissional, na qual foram abordados temas

pertinentes de interesse dos sujeitos, obtidos por meio do questionário. Na palestra, a

pesquisadora e sua orientadora exibiram um vídeo da Ação Educativa, com diversos

depoimentos de profissionais que relataram suas escolhas e trajeto profissional. Entre os

temas abordados na ocasião, destacam-se: Inteligências Múltiplas relacionadas à Orientação

Profissional, habilidades e interesses profissionais. Cabe um esclarecimento sobre tal palestra.

A mesma não fez parte da gama de interesses da investigação, entretanto, cabe ressaltá-la,

pois a mesma foi muita rica e houve participação dos alunos.

A revisão da literatura sobre pesquisa qualitativa demonstra que a mesma visa

compreender de maneira abrangente relações complexas e não apenas dados isolados, embora,

muitas vezes, os utilize para análise qualitativa dos dados. A escolha da metodologia da

pesquisa ocorreu por se considerar a mais indicada para abarcar os objetivos da pesquisa e

para o instrumento selecionado. Após percorrer uma vasta literatura sobre o tema da pesquisa,

procedeu-se a revisão de literatura. Para embasar a investigação, recorreu-se a autores como

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Bardin (1977), Stumpf (2006), Baptista (2007), Koche (1997), Campos (2007), que abordam

os passos para elaboração de uma pesquisa qualitativa utilizando a análise de conteúdo.

O tema da orientação profissional surgiu como leitura preliminar dos trabalhos de

Petters (2007), Soares (1993, 2002, 2007, 2008), Baptista (2006), Bendassolli (2007),

Lampert (2004), Pochmann (2004), Souza (2003), Vieira (2005), Sposito (1997, 2000, 2003,

2005), Sparta (2003), Lassance (2003, 2004, 2007), entre outros, que abordam principalmente

a questão da orientação profissional, juventude, escolarização e trabalho. O relatório “Estado

do Conhecimento Juventude e Escolarização” foi uma contribuição decisiva para a pesquisa,

pois lá se encontra um esplêndido trabalho de teses e dissertações sobre a juventude e a

educação.

O objeto de estudo desta pesquisa é a juventude e a contribuição da orientação

profissional nas escolas públicas, mais especificamente, jovens entre 15 e 22 anos que

estudam na escola pública da cidade de Balneário Camboriú – SC. O local da pesquisa foi

escolhido após ouvir relatos de um aluno do ensino médio que lá estuda. O mesmo forneceu

as referências da escola e de seu funcionamento. Este colaborador teceu algumas

considerações importantes sobre os demais alunos, tais como o hábito de se reunir em

momentos fora do horário escolar, conversar e refletir sobre questões importantes de seu

cotidiano, como passeios, sexo, drogas, trabalho, curso superior, preocupações com o

trabalho, entre outras, fato que motivou a pesquisa e foi considerado ideal para a investigação

e desenvolvimento da mesma. Outro fator motivacional foi a indagação de verificar como a

escola pública trabalha com a questão da orientação profissional, pois não contam com um

serviço de OP, como é o caso das escolas da rede privada.

A escola eleita para a pesquisa é uma Escola Pública de Ensino Médio – EM, em que

estudam jovens cuja renda familiar é média baixa. Na continuidade do trabalho, foram

explicados para a direção da escola e alunos os objetivos da pesquisa e as etapas de

realização.

2.1 Sujeitos participantes da pesquisa: quem são?

Os sujeitos são jovens de classe média baixa, que freqüentam o terceiro ano do Ensino

Médio na escola pública Laureano Pacheco, de Balneário Camboriú – SC, entre 15 e 22 anos.

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A maioria é do sexo feminino, trabalha e estuda, é solteira e vive com a família. Os critérios

para seleção dos sujeitos se basearam inicialmente na participação de todos os alunos do

Ensino Médio. Entretanto, para afunilar a gama dos sujeitos, fez-se um recorte para os alunos

do terceiro ano do Ensino Médio, pois estes estão próximos à escolha profissional. Dos 126

alunos matriculados no terceiro ano, estavam presentes no dia da aplicação do questionário

100 alunos, dos quais 99 aceitaram participar da pesquisa. Os alunos responderam ao

questionário e assinaram um termo de compromisso (anexo III) com permissão para a

utilização dos dados, com a promessa da pesquisadora em manter o anonimato dos jovens

pesquisados. Apenas um aluno presente não respondeu ao questionário.

Cada aluno respondeu ao questionário na presença da pesquisadora, que esclareceu

algumas dúvidas aos sujeitos pesquisados. O tempo necessário para os alunos responderem ao

questionário foi de aproximadamente uma hora. Após o prazo, os alunos que ainda não

tinham concluído as questões, continuaram a respondê-las e entregaram os questionários no

mesmo dia, em mãos, à pesquisadora. Em relação ao perfil dos jovens, registra-se que do total

dos sujeitos, 78,7% responderam ao questionário, ou seja, uma amostra significativa dos

sujeitos participou da pesquisa.

Entretanto, este fato se constitui num dado que chama a atenção, pois aqueles que

foram transferidos ou não confirmaram a matrícula desde o início da pesquisa até a data da

aplicação dos questionários correspondem a 21,3%. Isto é bastante significativo, devido à

população da cidade possuir a característica de ser uma população flutuante. Balneário

Camboriú/SC é uma cidade litorânea com vocação turística. Anualmente, muitas pessoas

chegam à cidade em busca de trabalho, enquanto muitos a deixam, pelos mesmos motivos. A

cidade vive essencialmente do turismo e lazer, o que resulta na sazonalidade em relação a

empregos. As características das vagas no mercado de trabalho desta cidade demonstram uma

heterogeneidade e atividades rotativas.

Portanto, há um predomínio do setor de serviços, o qual oferece mais vagas informais,

sem carteira de trabalho assinada. As atividades como as de bares, restaurantes, hotéis,

excursões, casas noturnas, entre outras, se proliferam em certas épocas do ano (temporada de

verão) e depois há uma quebra brusca em outros meses do ano. Os jovens vivenciam esta

experiência sazonal na busca de vagas no mercado de trabalho na cidade e na região. A

maioria dos sujeitos que participaram da pesquisa são do sexo feminino, o que corresponde a

53% e 47% do sexo masculino, portanto uma diferença de apenas 6% para a questão sexo.

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Em relação à idade, os sujeitos da pesquisa são jovens entre 15 e 22 anos. A maioria se

encontra na faixa etária dos 17 anos, correspondendo a 46%; 37% possuem 16 anos. Os

jovens com 18 anos representam 11% e os que estão entre 19 a 22 anos correspondem a 5%,

enquanto os sujeitos de 15 anos somam apenas 1% dos pesquisados. Quanto ao estado civil

dos jovens pesquisados, os dados coletados demonstram que 92% dos sujeitos são solteiros,

enquanto apenas 1% é casado. Já na condição de outros (categoria que engloba amasiado,

separado, viúvo), encontramos 7%. Demonstra-se pela pouca idade dos sujeitos que eles

iniciam a constituição de novas famílias muito cedo, embora a maioria seja solteira.

2.2 Procedimentos metodológicos

Inicialmente, os passos da pesquisa foram criteriosamente elaborados, seguindo

recomendações de Bardin (1977), Stumpf (2006), Baptista (2007), Koche (1997) e Campos

(2007), que orientam todas as etapas da pesquisa, partindo pela escolha do tema, seleção da

literatura, planejamento das etapas, escolha de objetivos, justificativa, escolha da

metodologia, elaboração do texto da dissertação, além de dicas preciosas para quem deseja

executar um bom trabalho científico.

A pesquisa proposta, como já comentado em item anterior, foi realizada em duas

etapas. Inicialmente, para a coleta de dados, foi elaborado pela pesquisadora como

instrumento um questionário com perguntas fechadas e abertas, o qual permitiu a coleta de

dados quantitativos e qualitativos. Posteriormente, os dados das perguntas fechadas foram

tabulados e interpretados. Quanto às informações das perguntas abertas, procedeu-se à análise

de conteúdo. Os dados quantitativos foram interpretados e associados de forma complementar

à análise. Isto permitiu aumentar a qualidade da análise dos dados pesquisados. Neste sentido,

a pesquisa priorizou a abordagem quantitativa e qualitativa, na qual uma complementou a

outra, pois conforme Koche (1997, p. 29), não há dissociação,

É preciso considerar que os conceitos de quantidade e qualidade não são

totalmente dissociados, na medida em que de um lado a quantidade é uma

interpretação, uma tradução um significado que é atribuído à grandeza com

que um fenômeno se manifesta, e de outro ela precisa ser interpretada

qualitativamente, pois sem relação a algum referencial não tem significação

em si.

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Segundo Campos (2007, p. 265), “[...] a pesquisa com o método de análise de

conteúdo exigirá do pesquisador o trabalho arqueológico de desconstrução para construção”.

Explica o autor que as palavras têm muito mais a dizer do que dizem desta forma,

[...] Não se trata de adivinhar, ou mesmo de criar observações de estudo, mas

sim de ver no conteúdo apresentado ao pesquisador o que de fato o

fenômeno observado apresenta, tornando visível o oculto (CAMPOS, 2007,

p. 265).

De acordo com o autor acima, a análise de conteúdo é uma metodologia que

possibilita a compreensão de diversos discursos do ser humano, pautados no rigor científico-

metodológico. Embora muitas críticas sejam feitas a este método, por pautar-se em

inferências do pesquisador, as quais são provindas de deduções obtidas da análise do material

pesquisado, o pesquisador que se debruça sobre o material de estudo o faz, como que com

uma lupa, desvenda a fala e as ações ocorridas. Para o autor, é nas interpretações que a análise

de conteúdo ganha força e o pesquisador com rigor científico torna o que estava latente

presente e, assim, faz ciência.

A análise de conteúdo é um método qualitativo, portanto, baseia-se na fenomenologia,

a qual busca compreender o homem em todas as suas dimensões. Assim, este método se

propõe a elucidar o sentido e a desvendar intenções, comparando, avaliando, descartando o

que não é essencial e reconhecendo o que é fundamental, a fim de que se possa dar sentido às

ações (CAMPOS, 2007). Este método permite associar dados quantitativos e qualitativos, sem

dissociação. O trabalho de análise de conteúdo, segundo Campos (2007), privilegia a

interpretação de materiais como textos, cartas e documentos, como também as respostas de

um questionário, assim como a presente pesquisa.

Os objetivos traçados para a análise dos dados contemplaram a análise de conteúdo,

por ser uma metodologia que permite associações com outras técnicas e, no caso do

questionário, permite analisar as respostas dadas às perguntas com maior clareza. Nesta

perspectiva, não se desprezaram os dados quantitativos, pelo contrário, contribuíram para a

análise dos dados qualitativos, evidenciando resultados mais precisos e ambigüamente mais

abrangentes, revelando o que muitas vezes não é declarado.

Assim, na elaboração do questionário, foram organizadas perguntas semi-

estruturadas, abertas e fechadas, pois estas permitem uma análise mais precisa e rica em

conteúdo. A análise de conteúdo, segundo Bardin (1977), se constitui em uma técnica de

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análise que utiliza procedimentos sistemáticos para obter dados objetivos da descrição de

conteúdo das mensagens. Ou seja, é um conjunto de instrumentos metodológicos capaz de

fornecer diversificados meios e técnicas, que privilegiam o desvendar do conteúdo latente, o

qual não aparenta de qualquer mensagem. Afinal, o conteúdo nunca é dado e tampouco é

transparente, mas sim construído social e historicamente. Já de acordo com Stumpf (2006,

p. 51), com a metodologia da análise de conteúdo, pode-se afirmar que a mesma “[...] num

sentido amplo, é o planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa que vai

desde a identificação, localização e obtenção de bibliografia pertinente sobre o assunto”.

Assim, a análise de conteúdo pode auxiliar a captar o conteúdo das mensagens dos

estudantes, bem como suas expectativas.

O critério de seleção dos alunos (as) da escola pública ocorreu porque as escolas

privadas já contam com o serviço de orientação profissional, realizado por psicólogos

contratados pela iniciativa privada. Em síntese, a sistematização dos dados estatísticos se deu

por meio do programa Excel, com a elaboração de tabelas e gráficos que resultaram no

tratamento e na análise dos dados.

A análise das freqüências das respostas abertas, bem como das justificativas das

questões, norteou o estudo do conteúdo. O tratamento dos dados qualitativos obedeceu à

seguinte cronologia: os dados foram coletados, catalogados, transcritos e na seqüência se

estabeleceu categorias que originaram os eixos para a análise, no sentido de identificar

tendências, dimensões, padrões e relações. Isso permitiu à pesquisadora, em conjunto com os

dados estatísticos, revelar o significado das respostas ou depoimentos da investigação. Os

eixos extraídos da análise dos dados foram: as incertezas dos projetos no futuro; a busca pela

autonomia e independência; os sentidos do trabalho e temporalidade; a falta de experiência

para o emprego; as influências da família e da sociedade na escolha profissional; os

sentimentos de insegurança, dúvidas e medo da juventude na atualidade; a preocupação com o

tempo e as dúvidas da escolha; a possibilidades e os limites da escolha profissional; a

importância da informação e a reflexão na escolha profissional; a escolha certa e a satisfação

em fazer o que faz: preocupação com o lado financeiro do trabalho; as iniciativas da escola

em promover a orientação profissional; as contribuições da educação na escolha profissional e

na orientação profissional.

Os resultados obtidos por meio da coleta dos dados demonstraram a tendência inferida

por meio da amostra daqueles alunos pesquisados, da particularidade de um segmento juvenil,

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embora se desejasse resultados do universo total, tem-se a consciência que, pelo tempo

disponível para a conclusão deste estudo, o tempo escapou do limite permitido.

A mensagem transmitida no vídeo, embora não pertença à investigação, foi debatida

com os sujeitos, que expressaram suas opiniões. Portanto, a idéia transmitida no evento

consiste em constatar que sempre se pode recomeçar, pois não existe escolha certa e única,

mas sim a mais adequada para aquele momento. Este ponto de vista vem ao encontro do que

Soares (2002) salienta sobre não existir escolhas certas, assim escolhemos a todo o momento.

No item a seguir, apresenta-se a análise dos dados e os resultados da pesquisa empírica.

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3 TRABALHO E INFLUÊNCIAS NAS ESCOLHAS PROFISSIONAIS DOS JOVENS

É importante ressaltar que desde o início da pesquisa obteve-se muito apoio e

colaboração por parte da escola, da direção, da coordenação, das professoras e da orientadora

educacional. Todos (as) demonstraram bastante interesse pela pesquisa e contribuíram com

sugestões, pois salientaram a iniciativa de ter na escola uma investigação sobre a demanda e,

futuramente, quem sabe, um grupo de orientação profissional.

Os alunos participaram com entusiasmo no momento da aplicação do questionário,

fizeram perguntas e contaram algumas experiências vividas por eles. Um aluno do turno

noturno relatou que teria conseguido arranjar um emprego de empacotador para o período

noturno, mas não foi possível assumir o emprego em função do choque de horário com a

escola que naquele momento não poderia trocá-lo de turno. Outros sujeitos não sabiam o

nome de sua profissão, pois trabalham no mercado informal e nunca tinham refletido sobre

isso. Dentre todos os sujeitos presentes no dia da aplicação do questionário, apenas um não

respondeu ao questionário, cujo preenchimento voluntário foi previamente esclarecido.

Alguns deixaram questões em branco. Pela observação da pesquisadora, os sujeitos percebiam

seus companheiros entregando os questionários e se apressavam em entregá-lo com a maior

rapidez possível. Em suma, os alunos participaram ativamente da pesquisa e assim os

objetivos da mesma foram atingidos plenamente.

Nota-se no estudo uma tendência dos jovens a permanecerem mais tempo na casa dos

familiares, mesmo os que já possuem vínculos familiares novos, fato que é apontado também

na literatura consultada. Com o alargamento da faixa etária da juventude, conforme aponta

Pochmann (2004), é uma tendência evidente permanecer mais tempo em casa. Ademais,

muitos não se encontram independentes financeiramente da família, pois durante o tempo em

que estudam são obrigados a submeterem-se a viver na casa de familiares, mesmo os que já

possuem outra família. Além da questão do emprego ou desemprego ser influenciada pela

conjuntura econômica mundial e o avanço da tecnologia, há também a sazonalidade no

mercado de trabalho da cidade, que consiste em outro fator que impõe aos jovens a saída

tardia da casa dos pais. Na alta temporada (dezembro a fevereiro), a expectativa de emprego é

maior. Já nos meses de março a novembro, as chances de inserção no mercado de trabalho dos

jovens diminuem consideravelmente.

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Gráfico 01: Situação de moradia dos jovens pesquisados Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

A situação de moradia dos sujeitos é evidenciada pelo gráfico acima e denota que a

maioria dos sujeitos mora com a família. Alguns deles moram com o cônjuge. Nenhum dos

sujeitos mora sozinho. Na categoria “outros”, encontram-se os que moram com amigos,

namorados, demais familiares, etc. Comparando-se os dados do gráfico com o perfil dos

sujeitos, conclui-se que mesmo considerando as situações civis diversas, a maioria mora com

a família.

Na seqüência, nota-se por meio do gráfico 02, que grande parte destes jovens trabalha

e estuda, o que corresponde a 58,5%, sendo 41,4% os que apenas estudam. Estes dados

demonstram o fato da maioria dos jovens é impelida a entrar no mercado de trabalho antes de

terminar o ensino médio. É um dado relevante, pois indica a escarnecida luta pela

sobrevivência e não deixa para a juventude a opção de somente estudar, obrigando-os a se

lançarem no mercado de trabalho de forma precoce. Como justificativa de respostas para a

questão, apareceram com mais freqüência, entre os que se dedicam apenas aos estudos,

estudar para ter um futuro melhor. Entre os que estudam e trabalham, estão os que declaram

trabalhar para ter independência, para ajudar em casa, para despesas pessoais, os que gostam

de trabalhar e estudar, para ter experiência e, ainda, os que estudam por necessidade, entre

outros aspectos menos significativos.

Mora com a família 95%

Mora com o cônjuge 3%

Outros 2%

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Trabalha e Estuda

Só Estuda

Total

41,4%

58,5%

Gráfico 02: Situação de Trabalho e Estudo dos Sujeitos Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

De acordo com a PNAD 2007, num período dez anos, verificou-se que a escolaridade

dos jovens aumentou e está mais alta do que a média nacional (7,2 anos de estudo). Em 1997,

a média de anos de estudo do jovem era de 6,8 no grupo de 18 a 24 anos; em 2007, a média

subiu para 9,1 (IPEA, 2008). Isto demonstra que os jovens desta faixa etária estão

conseguindo ingressar no ensino médio, mas logo o abandonam pela necessidade de escolher

entre estudo e o trabalho. A juventude pesquisada não foge à realidade, pois 58,5% dos

sujeitos trabalham e estudam. Muitos dos que só estudam afirmam pretender arrumar um

emprego após terminar o ensino médio. Contudo, em outras escolas, conforme nos mostra a

PNAD 2007, a realidade é ainda mais cruel (IPEA, 2008). Muitos jovens são obrigados a

abandonar os estudos mesmo antes de terminar o ensino médio, fato que se verifica no perfil

dos sujeitos: 21,3% não confirmaram a matrícula, seja por transferência ou desistência.

Ainda segundo a pesquisa da PNAD 2007, o abandono do estudo começa a ficar mais

evidente na medida em que aumenta a faixa etária. Antes de completar 18 anos, muitos jovens

já se dividem entre o estudo e o trabalho: no grupo de 15 a 17 anos, 21,8% dos jovens o

fazem. Já no grupo de 18 a 24 anos, essa porcentagem se reduz para 16,2% (IPEA, 2008).

Verificou-se também que na medida em que a renda aumenta, maiores são as chances de o

jovem conseguir estudar e trabalhar ao mesmo tempo: no grupo de 18 a 24 anos, por exemplo,

pertencentes a famílias com renda familiar per capita de até meio salário mínimo, apenas

cerca de 10% estuda e trabalha. Tal porcentagem alcança cerca de 29% no grupo com renda

domiciliar per capita de dois a cinco salários mínimos e 30% no grupo com renda domiciliar

per capita igual ou acima de cinco salários mínimos.

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Na pesquisa da PNAD4 2007, observou-se que na correlação da escolaridade com o

sexo, as mulheres puxam para cima as taxas de escolarização dos jovens (IPEA, 2008). Elas

têm maior escolaridade e adequação aos estudos do que os homens. Os dados da tabela a

seguir, extraídos desta investigação, revelam que a maioria dos jovens que trabalha e estuda

está em empregos informais, o que corresponde a 43% dos jovens, enquanto 40% trabalham

em empregos formais. O percentual dos jovens que não responderam à questão perfaz 17%.

Convém salientar que a situação do emprego informal pode se alterar, uma vez que a lei que

criou os empreendedores individuais entrou em vigor no final do mês de junho de 2009,

podendo se mostrar eficaz ou não. Trata-se da Lei Complementar n.º 128 (BRASIL, 2008), a

qual promete tirar da informalidade muitos trabalhadores autônomos ou donos de pequenos

negócios que empregam apenas um funcionário. A proposta é formalizar um milhão de

empregos, fazendo com que o empreendedor individual que ganha até R$36.000,00

anualmente pague um carnê de R$50,00 mensais. Assim, feirantes, costureiras, artesãos,

manicures, vendedores de pipoca, ambulantes, entre outros, poderiam ter benefícios como

aposentadoria, auxílio maternidade e contabilidade facilitada, pois teriam um CNPJ e

inscrição na junta comercial, contando também com os serviços da previdência social.

De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas (2009), estima-se que mais de dez

milhões de pessoas trabalham na informalidade. Por conta disso, a Lei Complementar nº 128

visa diminuir a burocracia e promover a formalização do emprego destas pessoas, bem como

promover a criação de novos pequenos negócios, o que constitui um desafio. A iniciativa

conta com o auxílio do Sebrae e promete fazer campanha para que a eficiência da lei torne-se

realidade e seja aprovada pelos que vivem às margens do emprego formal. Nesta questão, a

tabela abaixo é bem clara: os dados não fogem à regra da informalidade do emprego vigente

em nosso país.

Tabela 01: Emprego Formal ou Informal

Emprego Formal x Informal Quantidade Porcentagem

Informal 25 43%

Formal 23 40%

Não responderam 10 17%

Total 58 100,00%

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

4 Nesta investigação trazem-se dados atualizados da PNAD 2007, não como forma de comparações, até porque

são variáveis diferentes das empreendidas neste estudo, mas como contraponto na verificação de dados atuais

sobre o mercado de trabalho.

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Abaixo o gráfico 03 mostra a satisfação ou não dos jovens que trabalham em relação

ao emprego atual. Verifica-se pelos dados informados que a maioria dos jovens está satisfeito

em relação ao emprego atual (78%) e apenas 10% dizem não estarem satisfeitos. Entretanto,

12% afirmam não se sentirem satisfeitos ou insatisfeitos, pois consideram o emprego atual

como temporário. Isto significa que a maioria dos jovens gosta do que faz. Os jovens fazem

suas escolhas profissionais com tenra idade e inserem-se muito precocemente no mercado de

trabalho. Em muitos casos, assumem qualquer tipo de vaga pela necessidade de subsistência.

Gráfico 03: Satisfação dos sujeitos que trabalham em relação ao emprego Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

Algumas justificativas em relação à satisfação no emprego atual aparecem com mais

freqüência, tais como gostar do que faz, gostar da área em que trabalha e pela experiência

trazida. No entanto, aparece também uma contradição quando afirmam para condição de

outros, em que o emprego é considerado temporário. Isto representa que desejam mudar ou ter

outro emprego. Mesmo assim, conclui-se que grande parte está satisfeita com o trabalho atual.

A seguir, no gráfico 04, observa-se que entre os jovens que trabalham, a maioria não

deseja permanecer no mesmo tipo de emprego em que se encontra atualmente (58,62%).

Ainda, 39,66% gostariam de permanecer no mesmo tipo de emprego. Isto é uma ambigüidade,

pois conforme dados pesquisados, se 78% estão satisfeitos com o emprego atual, não

deveriam desejar outro emprego. No entanto, eles afirmam possuir tal expectativa.

78% 10% 12%

0

10

20

30

40

50

Quantidade 45 6 7

Sim Não Outros

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0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

Porcentagem 39,66% 58,62% 1,72%

Sim Não Não

Gráfico 04: Permanência no emprego dos jovens que trabalham Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

Constata-se, portanto, que a maioria está em busca de um futuro emprego melhor, o

que demonstra haver uma parcela significativa de jovens indecisos quanto ao futuro

profissional. As justificativas apresentadas pelos jovens para a permanência ou não

permanência no emprego que aparecem com mais freqüência demonstram que dentre os

jovens que trabalham, a maioria não mantém a intenção de permanecer no emprego atual,

devido ao atual emprego não pertencer à área que eles pretendem seguir para um futuro

emprego. Constata-se que uma parcela significativa dos jovens não deseja manter o emprego

atual e não está satisfeita, pois deseja fazer uma faculdade em outra área, diferente da que

atua. Outros jovens que não preferem permanecer no emprego afirmam que desejam progredir

profissionalmente. Alguns jovens justificaram estar indecisos, entretanto, há outros que

pretendem permanecer no emprego, embora afirmem também, pensarem num emprego

melhor, o que demonstra que esta parcela também vivencia a busca de um futuro emprego e

por conseqüência vivenciam inseguranças, o que é apontado na literatura consultada. Entre os

que confirmaram o desejo de permanecer no mesmo tipo de emprego, estão os que

consideram o emprego atual como um bom emprego. Neste sentido, estão satisfeitos. Há

também os que desejam fazer faculdade na área e desejam permanecer no emprego atual para

viabilizar a faculdade. As respostas daqueles que pretendem ajudar a família são expressivas.

As justificativas que aparecem com mais freqüência revelam indecisão. Quanto ao

desejo de permanecerem ou não no atual emprego, as justificativas estão relacionadas ao

desejo de uma melhoria na qualidade de vida. Desta forma, as respostas com maior freqüência

apontam para os jovens estarem trabalhando em um emprego provisório, pois afirmam que

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não é a área que pretendem seguir, justificando que objetivam fazer faculdade em outra área,

diversa da que atuam profissionalmente.

Observou-se que as justificativas para a questão acima estão relacionadas também à

independência financeira, embora a mesma ainda não aconteça, o que se revela um fato

inusitado, pois a maioria dos jovens entra no mercado de trabalho justamente por questões

financeiras, seja pela busca de autonomia, pelo consumo, pela sobrevivência, para pagar os

estudos ou mesmo para ajudar a família. O número de jovens que desejam permanecer no

emprego para fazer faculdade em outra área é expressivo, assim sugere-se que a busca por um

emprego futuro continua para esta parcela de sujeitos. Portanto, constata-se que os jovens

estão em busca de melhoria na qualidade de vida e demonstram possuir a expectativa de

conquistar um emprego melhor.

Na tabela 02 a seguir, é possível visualizar os dados sobre a possibilidade dos jovens

pensarem em um futuro emprego, mesmo entre os que já estão trabalhando. De acordo com

Baptista (2006) e Vieira (2005), com as oscilações do mercado de trabalho, a crise mundial, a

necessidade de aperfeiçoamento e qualificação constante, com o surgimento de novas

necessidades no mercado de trabalho e de consumo, ninguém está garantido em um emprego

do início ao fim da carreira. Neste sentido, mesmo os jovens que já estão empregados sentem

a necessidade de pensar em outras opções de emprego, seja por causa de melhor remuneração

ou de melhores condições de trabalho, qualidade de vida, formação acadêmica, ambição de

um emprego melhor etc. Já os que ainda têm a escolha do primeiro emprego pela frente

sentem com mais intensidade a necessidade de refletir e pensar em uma futura profissão,

como algo maior, um projeto de vida. Desta forma, conforme a tabela 02, 87% dos jovens

afirmam já terem refletido sobre uma futura profissão e apenas 13% afirmam não pensar em

tal possibilidade. Os dados obtidos evidenciam uma contradição, pois se 87% dos jovens

pensam em uma futura profissão e apenas 13% não pensaram, isto demonstra que a maioria

está em busca de uma nova profissão e mesmo os que estão empregados, estão sujeitos ao

mesmo tipo de insegurança e ansiedade que os demais. Se compararmos dados do perfil dos

sujeitos – os quais demonstram que 87% dos jovens pensam em um futuro emprego – com o

gráfico 03, o qual evidencia que 78% dos jovens estão satisfeitos com o emprego atual,

percebemos uma ambigüidade: se estão satisfeitos com o emprego atual, deveriam optar por

permanecer no mesmo emprego. Entretanto, no gráfico 04 acima, os dados demonstram que

menos que 40% pretendem permanecer no mesmo tipo de emprego. Constata-se que mesmo

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os que já estão empregados e satisfeitos com o emprego atual pensam em um futuro emprego,

nesta perspectiva precisam de mais tempo para refletir.

Tabela 02: Pensar em um emprego futuro

Pensar na Profissão Futura Percentual Quantidade

Sim 87% 86

Não 13% 13

Total 100,00% 99

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

Um fator preponderante na tabela a seguir é o número de questões assinaladas pelos

jovens nas respostas, cuja questão previa múltiplas escolhas, demonstram que cada jovem

contribuiu em média com quase três alternativas em cada resposta sobre os fatores que

influenciam suas escolhas. Os dados evidenciam que a maior interferência com relação à

escolha profissional é o salário, que representa 27%. Já outros fatores que influenciam na

escolha profissional dos jovens é a tentativa de conciliar o mercado de trabalho e satisfação

pessoal, o que representa 19%.

Os ganhos e a satisfação pessoal aparecem com 18%, fator que se destaca entre as

influências na escolha de uma profissão. Já as questões de tempo gasto com a formação e o

tempo gasto com a realização do trabalho, aparecem com menos que 6% cada, embora alguns

jovens afirmem desejar fazer a escolha certa para não perder tempo com um curso e depois

descobrir outros interesses. Verifica-se uma pequena parcela a qual corresponde a menos de

1% dos jovens, que aceita qualquer profissão, desde que existam vagas no mercado de

trabalho. Isto demonstra a necessidade de mais reflexão sobre o mercado de trabalho,

habilidades e aptidões pessoais.

A questão das vagas X número da população economicamente ativa é outro item a ser

discutido com os jovens, pois a literatura e os dados do IBGE (2009) apontam a existência de

menor quantidade de vagas e maior quantidade da população economicamente ativa, fato já

apontado também por Baptista (2006).

No que tange a escolha profissional, Soares (2002) afirma que, muitas vezes, indica a

entrada para o mundo adulto, embora na vida profissional se faça muitas outras escolhas. A

autora diz que não se deve pensar em uma única escolha, ou na escolha certa, pois escolhemos

muitas coisas e a todo o momento em razão da mutação constante de nossa sociedade. O

melhor é pensar em fazer a melhor escolha no momento e condições estabelecidas. Sobre a

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temática, Soares (2002) ainda faz uma reflexão sobre a liberdade de escolha e questiona se

realmente somos livres para escolher, pois a liberdade é relativa e possui limites. Nem todos

têm consciência de suas escolhas, limitações e determinantes. Grande número de jovens é

impelido a fazer escolhas para satisfazer as pressões familiares ou do grupo. As influências e

pressões que os jovens estão expostos, muitas vezes, não são claras, tampouco percebidas pela

juventude. Muitos fatores atravessam a escolha como: políticos, econômicos, sociais,

educacionais, familiares e psicológicos. Neste sentido, a autora relata que o ideal é tomar

consciência destes fatores e tentar compreender sua inter-relação. A seguir, os jovens apontam

os fatores que os influenciam na escolha profissional.

Tabela 03: Fatores que interferem na Escolha Profissional

Fatores na Escolha Profissional Percentual Freqüência

Salário 27% 69

Conciliar satisfação pessoal e mercado 19% 47

Ganhos com satisfação pessoal 18% 46

Considera condições do mercado 13% 32

Outros requisitos 7% 17

Tempo gasto com estudos 6% 15

Vagas para entrar na universidade 5% 13

Tempo gasto com a atividade 4% 11

Aceita qualquer profissão com vaga 1% 2

Total 100,00% 252

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

Conforme a tabela acima, o salário é o carro-chefe entre as preocupações dos jovens. É

certamente um dos fatores que pesam na escolha profissional deste segmento juvenil, o qual

se preocupa também em conciliar a satisfação pessoal, o salário e o mercado de trabalho. Na

tabela a seguir, se observam algumas influências na escolha profissional dos jovens

pesquisados, como familiares, amigos, profissões e outros. Por meio dos dados abaixo, fica

evidente que 44% dos jovens afirmam não sofrer influências. Isto remete às considerações de

Soares (2002), que diz que a família exerce influência sobre a juventude, desde o momento

em que se nasce. A família desponta na pesquisa com 24% como influenciadora dos jovens na

questão da escolha profissional, 14% dos jovens declaram sofrer outros tipos de influências e

8% colocam que recebem influências profissionais de outros familiares que não o pai ou a

mãe. Já 5% declaram sofrer influências dos amigos, enquanto que apenas 3% afirmam que a

profissão dos pais os influencia na escolha profissional. Se somarmos as influências da

família, das profissões dos pais e de outros da família, teremos 34% que correspondem ao

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número total das respostas que envolvem a família, demonstrando que na hora de escolher

uma profissão a questão familiar é bastante expressiva, como nos traz Soares (2002), por isso

não deixam de ser relevantes e atuais suas considerações.

Os jovens que declaram que nada os influencia na escolha profissional demonstram a

necessidade de maior reflexão, pois ainda não tomaram consciência das pressões do meio.

Portanto, pesquisa, informação, reflexão, autoconhecimento e um canal de comunicação

tornam-se um caminho para a relação pais, filhos e escolhas profissionais.

Tabela 04: Influências na Escolha Profissional

Influências na Escolha Profissional Freqüência Porcentagem

Nada influencia 52 44%

Família 29 24%

Outras influências 16 14%

Profissão de outros da família 9 8%

Amigos 6 5%

Professores 4 3%

Profissão dos pais 3 2%

Total 119 100,00%

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

Entre os fatores que influenciam a escolha profissional dos jovens, há um que, muitas

vezes, não é debatido nas escolas, os fatores políticos,

A falta de uma política educacional mais compatível com os interesses da

maioria da população é um fato constante na história do Brasil. Pode mudar

o governo: militar, democrata, ditador ou neoliberal, todavia nunca é dado o

devido valor à educação (SOARES, 2002, p. 47).

Segundo a autora, é difícil planejar as necessidades de formação profissional, pois o

capital internacional dita as regras da produção, o que é próprio do sistema capitalista. A

questão salarial é válida, mas como almejar melhores salários se não se prepara os jovens para

o mundo do trabalho com uma educação de qualidade que privilegie as questões

profissionais? Soares (2002) declara que devido à imprevisibilidade e até mesmo à

impossibilidade de planejamento do mundo do trabalho da sociedade capitalista, ocorrem

situações como o lançamento de algumas categorias profissionais em detrimento de outras,

além da formação de profissionais mal preparados e desatualizados em relação às exigências

de mercados de trabalho exigentes e globalizados. Há necessidade de políticas públicas para

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auxiliarem os jovens, principalmente nas escolhas profissionais, tanto na questão da primeira

escolha, como na recolocação profissional e redimensionamento de carreira. Somente

profissionais bem preparados terão chances de remuneração satisfatória no mercado de

trabalho. Tudo isso passa pela escolha profissional e pela escolha.

Em relação às influencias que interferem nas escolhas profissionais dos jovens,

retomamos o fator familiar que, conforme os dados coletados foram expressivos na escolha

profissional, embora os jovens não se dêem conta. Soares (2002) contribui em suas

ponderações mencionando que quando a criança nasce recebe uma carga de expectativas e

certos comportamentos desenvolvidos ao longo da vida que podem ser estimulados ou

rechaçados, o mesmo ocorre quanto à escolha profissional, embora a maioria dos jovens

pesquisados afirme não sofrer influência alguma. Esta autora assegura que a família interfere

inclusive no processo de apreensão da realidade das crianças, o que vai moldando a formação

de hábitos e interesses. Desta forma, ao escolher uma profissão, muitas vezes, a juventude não

se dá conta das influências familiares, exercidas por meio da dinâmica familiar ou pressão do

meio. Além disto, os pais, muitas vezes, constroem projetos de futuro para os filhos e desejam

que eles o sigam de acordo com a imagem projetada. Os filhos, na tentativa de fazer parte

desta família, cedem a estes apelos e escolhem sua profissão se baseando nas expectativas dos

pais e familiares. Assim, a orientação profissional deve favorecer a reflexão e o

autoconhecimento, pois grande parte das escolhas dos jovens é permeada por representações

sociais, positivas ou negativas, das profissões exercidas pelos pais. A autora explica ainda que

as identificações com a família ou com o valor que as profissões ostentam influenciam a

juventude em sua escolha, levando muitos jovens a optar por profissões semelhantes ou bem

diferentes da dos pais. Desta maneira, a seguir os jovens pesquisados nomeiam as influências

na escolha profissional.

Na tabela 05 exibe-se a relação existente entre as escolhas profissionais e a profissão

dos pais. É possível dizer que a profissão dos pais não tem importância na escolha

profissional destes jovens pesquisados, se considerarem que 76% apontaram esta alternativa.

Os mesmos consideram a futura profissão uma escolha pessoal em que a profissão dos pais

não os influencia. De acordo com a tabela, 17% desejam seguir uma profissão bem diferente

da dos pais e apenas 4% pretendem seguir a profissão dos pais.

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77

Tabela 05: Profissão dos Pais

Profissão dos Pais Freqüência Percentual

Não tem importância; é uma opção pessoal 77 76%

Seguir uma profissão bem diferente 17 17%

Pretende seguir a mesma dos pais 4 3,9%

Outras 4 3,9%

Total 102 100,00%

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

As justificativas dos jovens para esta questão são apresentadas sobre a importância que

os pais teriam ou não na escolha profissional. Neste aspecto, as que surgem com mais

freqüência são: a profissão dos pais não tem influência, pois querem fazer o que gostam;

pretendem uma profissão diferente; gostam de coisas distintas daquelas que seus pais

escolheram; querem escolher de acordo com seus gostos e visão; os pais não tiveram

instrução e desejam se formar numa faculdade. Muitas vezes, as escolhas dos filhos

caminham para a imitação ou diferenciação da profissão dos pais. Neste caso, os jovens

apontam que pretendem seguir uma profissão diferente devido ao pouco estudo que os pais

tiveram.

A relação dos jovens com a futura profissão, conforme suas escolhas profissionais e

sentimentos, demonstra que a maioria gostaria de ter mais tempo para escolher. Eles se

sentem inseguros e ainda possuem muitas dúvidas. Os dados exibem que poucos jovens

escolhem sua profissão já na infância, antes de terminar o ensino médio. Os que o fazem, por

este motivo, sentem-se seguros. Os dados revelam que 36% já definiram sua escolha. No

entanto, se somarmos os dados dos que ainda não o fizeram, teremos 64%. Desta forma, pode-

se fazer uma inferência de que a orientação profissional poderia ser de grande importância

para esta parcela de jovens na escola.

Insegurança, medo, ansiedade e frustração são alguns dos sentimentos que assombram

e tiram o sono de muitos jovens. A sociedade coloca em seus ombros com tenra idade a

responsabilidade da escolha profissional. Há um predomínio de insegurança entre a maioria

dos jovens, o que significa que um serviço para auxiliar na sua escolha profissional precisaria

de mais reflexão baseado em itens como capacidades, habilidades, conhecimentos, interesses

e atitudes deste segmento juvenil. Os poucos jovens que já definiram suas escolhas declaram

sentir-se seguros, mas a soma dos que, por uma razão ou outra, ainda não o fizeram, revela

sentimentos de insegurança e dúvidas.

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Tabela 06: Sentimentos em relação à futura profissão

Relação com a profissão futura Freqüência Percentual

Seguro, pois já definiu a escolha 36 32,4%

Inseguro, confuso diante das opções 28 25,2%

Tenho muitas dúvidas 22 19,8%

Gostaria de ter mais tempo para escolher 19 17,1%

Seguro, pois escolheu na infância a profissão 4 3,6%

Outros 2 1,8%

Total 111 100,00%

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

Em relação às justificativas apresentadas pelos jovens sobre a futura profissão, as que

aparecem com mais freqüência são aquelas em que se sentem inseguros, têm dúvidas e

gostariam de ter mais tempo para refletir. Alguns mencionam que há muitas alternativas a

analisar e outros ainda estão confusos entre duas profissões. No quesito insegurança, de

acordo com a literatura consultada, na pesquisa de Petters (2007) aparece que mesmo os que

já estão no mercado de trabalho sentem-se inseguros, devido à falta de garantia de

permanência no emprego, o que ocorre com as constantes mudanças ocorridas no mercado de

trabalho. Observando as justificativas, as quais abordam desde indecisão, insegurança,

pressão e medo, conclui-se que a situação é preocupante, pois são poucos os que afirmam

estarem seguros de suas escolhas profissionais.

De acordo com Pais (2005), os jovens contemporâneos vivenciam um tempo de

instabilidade e incertezas. O autor cita as pressões que a juventude vivencia pela incerteza

entre o presente e o futuro, como também pelos laços persistentes de dependência e desejo

insistente de independência. Soares (2002) também revela que o mundo dos jovens é marcado

por inseguranças e medos em função da juventude se encontrar em uma fase de transição.

Somam-se a este fato as inseguranças da escolha e do futuro profissional que é incerto. Para a

autora, esta fase leva a juventude a ter atitudes de auto-afirmação, reveladas, muitas vezes,

por atitudes de rebeldia, na tentativa de mostrar a si mesmo, aos adultos e aos amigos que ele

sabe e pode. Neste sentido, reafirma-se a importância da reflexão.

No gráfico 05 pode-se verificar a importância da reflexão sobre as profissões,

ressaltando-se o conhecimento de possibilidades e limites, bem como exigências do mercado

de trabalho, habilidades, gostos, interesses. Sobre possibilidades e limites da escolha

profissional, é importante que o indivíduo possua a consciência de si e do mundo que o cerca,

para assim construir um projeto de vida. Bock et al (1995) afirma que todos os indivíduos têm

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possibilidades, entretanto, é necessário conhecer também os limites. Todos os indivíduos

possuem possibilidades, todavia, as condições são dadas pela sociedade. Assim, ter uma

atitude de estranhamento, indagação e enfrentamento diante da realidade é uma habilidade

que se adquire com reflexão.

Cada vez mais é importante desenvolver a habilidade de refletir, principalmente no

que tange a escolha profissional. A reflexão sobre o mundo do trabalho e sobre si mesmo

pode auxiliar a juventude no momento decisório que é o da escolha de uma profissão, desta

forma, o gráfico abaixo demonstra que os jovens têm consciência desta necessidade e a

escolha profissional vai além da mera informação profissional.

0 20 40 60 80 100

Sim

Não

Não

responderam

Total

3%

2%

95%

Gráfico 05: Importância da reflexão sobre as profissões Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

A maioria respondeu ser importante refletir sobre as questões ligadas ao mercado de

trabalho e escolha profissional. Apenas 2% não consideram a reflexão importante. Observa-se

que a maioria dos jovens deste segmento estudantil valoriza a reflexão para escolher uma

profissão. As explicações dadas pelos jovens sobre a importância da reflexão sobre o mercado

de trabalho, bem como as dificuldades e possibilidades encontradas para um futuro emprego,

estão baseadas com maior freqüência na importância da reflexão, pois se constitui num

projeto de vida e não uma mera escolha, sendo relevante a informação e a reflexão. A escolha

profissional é uma decisão difícil e torna-se necessário fazer escolhas conforme o gosto e a

aptidão de cada um. Nas justificativas apresentadas para a questão, com maior expressividade

os jovens pensam nas conseqüências de uma escolha certa. Como se fosse possível fazer a

escolha certa, pois com o mercado cambiante de nossa sociedade, novas exigências são

solicitadas a todo o momento, exigindo aperfeiçoamento e qualificação constante, o que

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obriga, muitas vezes, os profissionais a atuarem em áreas diferentes daquela que escolheram.

Soares (2002) afirma que não há na atualidade uma escolha certa, pois escolhemos muitas

coisas a todo o momento e as escolhas não são definitivas.

No gráfico abaixo os jovens responderam sobre as informações que eles têm sobre

orientação profissional.

44%

56%

Sim, já ouviu falar.

Não ouviu falar a

respeito

Gráfico 06: Serviço de Orientação Profissional Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

Fica evidente que a maioria dos jovens pesquisados nunca ouviu falar a respeito do

assunto. Este dado demonstra que há um caminho ou uma lacuna muito grande a ser

percorrida pela educação, mais especificamente pela escola, na busca de um ensino de

qualidade que contemple entre outros a orientação profissional, para que os jovens possam

fazer escolhas mais assertivas. Os dados comprovam que 56% dos sujeitos nunca ouviram

falar em um Serviço de Orientação Profissional e apenas 44% afirmam que já ouviram falar.

Os dados demonstram a necessidade de maior informação sobre o serviço de O P permanente

na escola, para auxiliar os jovens na hora da escolha profissional.

Investigou-se com os sujeitos se a escola já promoveu algum tipo de ação ou reflexão

sobre orientação profissional. Os dados do gráfico 07 são curiosos, pois a metade dos sujeitos

afirma que já houve na escola algum tipo de reflexão sobre orientação profissional e,

surpreendentemente, a outra metade afirma que nunca houve na escola nenhuma tentativa de

reflexão sobre orientação profissional. Constata-se pelos depoimentos que já houve na escola

algum movimento de reflexão e palestras sobre a OP, por intermédio do Rotary e de outros

profissionais voluntários. Portanto, justifica-se pelo fato do terceiro ano do ensino médio ser

realizado em dois turnos, o matutino e o noturno. A tentativa de reflexão sobre a OP ocorreu

em apenas um turno e não para os dois turnos que compõem o ensino médio da escola. Este

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dado demonstrou que são poucos os que têm acesso democrático e igualitário ao serviço, tanto

em escolas públicas quanto em privadas.

No que diz respeito à juventude e à escola, Soares (2002) diz que a escola na maioria

das vezes não incentiva o jovem em sua auto-reflexão e autoconhecimento, como seria

esperado de uma instituição educacional (que não é o caso da escola em estudo). A escola é

uma instituição social que abriga a diversidade, não é homogênea em sua composição,

mantém contato sistematizado com os indivíduos, possibilita a convivência de grupos e

promove certas mudanças. Desta forma, a orientação profissional na escola deveria ser mais

igualitária, com acesso democrático a todos (as) os alunos (as). Mas a realidade nem sempre

acompanha este raciocínio. Por meio de políticas públicas em prol da juventude, acredita-se

que este acesso possa vir um dia a ser mais democrático. Assim, alunos de todos os turnos

poderão, quem sabe, ter igualdade de condições e benefícios na escola. A literatura aponta

para a necessidade de se despertar vontade política para estabelecer ações pró-ativas em favor

da juventude e de outros segmentos sociais em que as políticas deveriam favorecer a inclusão.

3%

48,5%

48,5% Sim

Não

Não responderam

Gráfico 07: Orientação Profissional na Escola Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

Os jovens que responderam que a escola não proporciona reflexão sobre orientação

profissional justificaram acreditar não haver interesse por parte da instituição. Já aqueles que

responderam existir a reflexão apontam que diversos profissionais já foram dar palestras na

escola. Além disso, os alunos dizem terem sido oferecidas aulas de empreendedorismo, citam

iniciativas do Rotary, do OPA da Univali, na aula de educação física por iniciativa do

professor, quando foram aplicados testes e diálogos. Por meio destas justificativas, pode-se

fazer a inferência de que o serviço de orientação profissional na escola deveria ser realizado

por uma equipe multidisciplinar, uma vez que alguns professores já estão engajados no

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processo orientando os alunos. O II Congresso Latino-americano de Orientação Profissional

da ABOP e o IX Simpósio Brasileiro de Orientação e Ocupacional (ABOP, 2009) ressaltam a

importância da OP e mencionam a quantidade de decisões que temos que tomar em nossa

vida, frente às mudanças laborais que ocorrem, resultantes do mundo globalizado. Há uma

série de desafios para a área que está em expansão, abrindo novas demandas e espaço de

inserção profissional. A OP na escola pesquisada ainda é um desafio, pois conforme

depoimentos da Orientadora Educacional, conta-se somente com a boa vontade da

comunidade e de alguns professores. Profissionais liberais se mobilizam para colaborar com a

escola neste sentido.

O gráfico abaixo demonstra o posicionamento dos jovens a respeito da idéia que os

mesmos fazem sobre o auxílio que um Serviço de Orientação Profissional nas escolas

produziria para a escolha da profissão.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Sim

Não 12%

88%

Gráfico 08: Auxílio da orientação profissional na escola

Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

O gráfico acima evidencia que a juventude crê no serviço de O P na escola e que este

pode auxiliar os jovens no momento de sua escolha profissional, pois a maioria dos jovens

acredita nesta possibilidade e apenas uma minoria considera que o serviço de OP não

contribuiria com a escolha profissional. Desta forma, os dados comprovam que para a

juventude pesquisada, seria eficaz este tipo de serviço nas escolas, especialmente nas

públicas. Nesta perspectiva, os jovens justificaram suas respostas e aprovaram caso fosse

oferecido como um serviço extracurricular, acreditando que o mesmo esclareceria as dúvidas,

proporcionaria mais informação e ajuda profissional, traria maior conhecimento das

profissões e das aptidões e traria segurança na escolha. Entre essas alternativas, observa-se

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que eles têm interesse, entretanto, muitas vezes, não se mobilizam para aproveitar a

oportunidade. Além de interesse, é necessário comprometimento dos jovens.

Outra questão abordada junto à juventude do ensino médio da escola selecionada foi o

desejo dos jovens em fazer parte de um grupo de reflexão de OP. Os dados do gráfico abaixo

revelam a predominância nas respostas dos jovens na vontade de fazer parte de um grupo de

OP, caso tal setor fosse criado em sua escola. Foram poucos os que responderam não desejar

fazer parte de um grupo de OP. As justificativas apresentadas pelos sujeitos que não desejam

fazer parte do grupo revelam a falta de tempo vivenciada por este segmento juvenil, pois a

maioria trabalha em período oposto ao escolar. Alguns dos sujeitos se dispõem em participar

do grupo, mas deixam clara a condição do mesmo ser oferecido em horário escolar.

64,6%

35,5%

Sim, gostaria de participar

Não

Gráfico 09: Gostaria de fazer parte do Grupo de Orientação Profissional Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

As justificativas para este caso são variadas. Para aqueles que responderam sim, estão

respostas como: participar de um grupo ajuda na reflexão da escolha e nas dúvidas; é

importante ter ajudada na decisão sobre a escolha profissional, também para compreender

melhor o mercado de trabalho e profissões. As justificativas para aqueles que responderam

não estão baseadas em respostas como: já definiram a profissão; não têm interesse; não têm

tempo para participar de atividades fora do horário de aula; participariam desde que o grupo

acontecesse em horário compatível. Os dados e as justificativas dos jovens revelam que

muitos, além de trabalhar, fazem cursos em períodos contrários aos dos estudos. Isto

inviabilizaria sua participação. Alguns mencionaram também que poderiam participar, caso o

serviço fosse oferecido durante as aulas, demarcando a falta de tempo para participar de

qualquer outra atividade.

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Na tabela abaixo, verifica-se os horários em que os sujeitos dão preferência ao grupo

de OP, caso a escola oferecesse tal serviço. Os dados da tabela abaixo comprovam que os

jovens gostariam de participar de um grupo, caso houvesse um na escola, desde que fosse

dentro do horário de aula. A questão do tempo para participar de atividades extraclasse é um

dado que aparece com certa freqüência nas respostas da juventude, pois muitos estudam e

trabalham, evidentemente não dispõem de tempo fora do horário escolar.

Tabela 07: Horário de um possível Grupo de Orientação Profissional

Horário do Grupo de OP Porcentagem Freqüência

Horário de aula 32,3% 32

Não responderam 28,3% 28

Durante as aulas 19,2% 19

Horário diferente do horário de aula 15,2% 15

Outras 5,1% 5

Total 100,00% 99

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

Conforme os dados da tabela acima, a maioria dos jovens prefere que o grupo seja

formado em horário de aula. Uma parcela significativa de sujeitos não respondeu à questão, o

que demonstra a probabilidade que esta parcela seja de sujeitos que já estão com sua escolha

definida. Outros jovens optaram pelas reflexões durante as aulas e justificaram a falta de

tempo, enquanto alguns dos sujeitos preferem um horário diferente do escolar. Apenas uma

minoria teria outras preferências. Os dados demonstram que os jovens possuem interesse no

grupo de OP no horário das aulas, embora apresentem argumentos que evidenciam a

preocupação em não atrapalhar as aulas. Alguns preferem reflexões durante as aulas, sem

evidenciar o mesmo tipo de preocupação. Os dados apontam a probabilidade de que a maioria

dos interessados em participar do grupo trabalha ou tem outros compromissos. Nas

justificativas aparece, ainda, com grande freqüência, a questão dos jovens afirmarem não

dispor de tempo livre para participar de atividades extraclasse, mesmo que tenham interesse

ou que possam extrair benefícios em participar do grupo.

Os sujeitos desta pesquisa avaliam se a educação pode dar sua contribuição para a

escolha profissional, o que pode ser constatado no gráfico 10. Quando perguntados se eles

acham que a educação poderia contribuir de alguma maneira com a juventude na questão do

futuro profissional, a maioria foi enfática ao afirmar que sim, como se constata em 98% das

respostas. Apenas alguns dos sujeitos colocam que a educação não pode contribuir com o

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futuro profissional deles. Comprova-se, portanto, que a maioria dos jovens coloca nas mãos

da educação o poder de auxiliá-los na escolha e no futuro profissional, demonstrando

esperança e confiança nela. Desta maneira, é importante salientar que a educação não pode

omitir-se em torno destas reflexões.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Sim 97 98%

Não 2 2%

Tot al 99 100%

Ocorrência Porcent agem

Gráfico 10: Contribuição da educação na escolha profissional Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

As justificativas apresentadas pelos jovens sobre as contribuições da educação estão

relacionadas a uma base que ela proporcionaria a todo profissional. Segundo eles, a educação

também leva ao conhecimento do mercado de trabalho e a oportunidades, além de qualificá-

los a faz parte da sociedade. Uma curiosidade observada nas justificativas é que muitos jovens

confundiram a educação com ser educado, o que levanta o questionamento da maioria que

respondeu sim para a contribuição da educação na escolha ou futuro profissional dos jovens.

Deduz-se que os mesmos não justificaram devido ao fato de não compreenderem inteiramente

a questão. Outra inferência se faz necessária: o silêncio também é revelador. O fato de alguns

jovens não justificarem pode apontar para o fato de que acreditam na contribuição da

educação, contudo, considera-se que esta ainda tenha um longo caminho pela frente até se

tornar uma educação de qualidade. Que seja excelência também na Orientação Profissional,

pois de acordo com Soares (2002), não importa o tipo de governo que esteja no comando, se

situação ou oposição, nunca é dado o devido valor à educação.

Neste sentido, na tabela a seguir, pode ser observado como a educação na visão dos

jovens pode contribuir com a juventude na escolha profissional. Neste sentido, a maioria das

respostas de múltiplas escolhas aponta para o fato de a educação preparar para o mercado de

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trabalho. Alguns dos jovens desejam uma educação de qualidade, outros apontam para a

necessidade de um serviço de OP na escola. Outros acham que a educação deveria promover

parcerias entre escolas e empresas. O acesso igualitário à faculdade também é mencionado

nas respostas. Os dados comprovam a importância das contribuições da educação para a

escolha profissional. Das alternativas propostas, 6,9% das respostas indicam que a educação

deveria promover a reflexão sobre os direitos do aluno, o que é um dado relevante. As

respostas dos jovens registram as várias necessidades ou lacunas existentes na educação,

como é o caso da OP. A interpretação das respostas revela a necessidade da educação se

posicionar a favor da juventude, portanto, comprova-se nesta pesquisa que a educação tem

muito a contribuir com a juventude na questão da escolha profissional.

Cerca de 26,4% da população brasileira é composta por jovens, o que representa 50,2

milhões de pessoas. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2007

apresenta que este grupo populacional continua enfrentando um importante conjunto de

problemas (IPEA, 2008). Desta forma, 14 milhões de jovens, na faixa etária entre 15 a 29

anos, podem ser considerados pobres, pois vivem em famílias com renda familiar per capita

de até meio salário mínimo. Somente a metade desta juventude situada entre 15 a 17 anos

freqüenta o ensino médio. Cerca de 4,6 milhões de jovens encontram-se desempregados, o

que é um dado alarmante. Contudo, ao longo dos anos, as condições de vida juvenil têm

melhorado em diversos aspectos: a formalização do trabalho vem se intensificando, o nível de

escolaridade aumentando e as diferenças e desigualdades no que se refere à cor/raça e gênero

vem diminuindo. Nesta questão, a pesquisa demonstra não haver dados relevantes que

necessitem serem destacados, observando compatibilidade com os dados levantados pela

PNAD 2007 (IPEA, 2008).

Tabela 08: Como a educação pode contribuir na escolha profissional?

Contribuições Porcentagem Freqüência

Preparar para o Mercado de Trabalho 18,2% 66

Educação de qualidade 18,0% 65

Melhorando a qualidade do Ensino 14,9% 54

Com serviço de OP permanente na Escola 14,1% 51

Fazendo parcerias com empresas 14,1% 51

Promovendo acesso igualitário à faculdade 12,2% 44

Auxiliando reflexão sobre direitos do aluno 6,9% 25

Todas as alternativas exceto as 2 anteriores 1,7% 6

Total 100,00% 362

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

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A seguir, registra-se na investigação como estes jovens se informam sobre as profissões e o

mercado de trabalho. A maioria declara que a internet é a mais utilizada. Na atualidade, esta

ferramenta é indispensável, pois com a velocidade da informação, das comunicações e com o

avanço de novas tecnologias, a internet é o meio mais rápido de acesso à pesquisa e à

informação. Na tabela abaixo, encontram-se os meios de acesso à informação da juventude

pesquisada.

Tabela 09: Informação Profissional

Informação Profissional Porcentagem Freqüência

Utiliza a Internet 31,2% 67

Por meio de amigos ou familiares 20,5% 44

Lê jornais 13,0% 28

Revistas 12,1% 26

Televisão 11,6% 25

A Escola orienta 4,7% 10

Não se informa 4,7% 10

Professores 1,4% 3

Outras alternativas 0,9% 2

Total 100,00% 215

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

A era digital comanda a vida das pessoas. As crianças ao nascer já se deparam com a

evolução tecnológica e aos poucos são rodeadas por computadores, celulares e vários outros

aparelhos e utensílios tecnológicos. Portanto, com a velocidade da informação e a tecnologia

já era de se esperar que os jovens buscassem na Internet as informações necessárias que

precisam. Entretanto, este acesso ainda não está disponível a toda a população, ou pelo menos

não em tempo integral.

A informação profissional se revela como instrumento extremamente importante para

todo jovem que deseja ingressar no mercado de trabalho e conquistar a tão almejada vaga,

devido à velocidade da informação ali disponibilizada. Observa-se na tabela acima, que a

família e os amigos são também um meio de acesso à informação profissional em destaque.

Curiosamente, uma minoria de jovens afirma não se informar e poucos recorrem a

professores. Este dado reforça nossa perspectiva de que a educação é fundamental. Faz-se

necessária à escola e de modo mais abrangente a educação ser mais atuante junto à juventude,

estabelecendo ações que promovam reflexão, pesquisa e crítica para a juventude.

Principalmente em questões associadas ao futuro profissional dos jovens, pois disto depende

todo um projeto de vida e sem informação não há escolha.

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Com certeza, muitos jovens já se imaginaram exercendo alguma profissão, pois desde

a infância interagem com o mundo e por meio desta construção e reconstrução é que o

indivíduo desenvolve sua personalidade. Cada pessoa idealiza um projeto de vida, todavia, na

hora da escolha, surgem as dúvidas. Entram em cena as influências ou pressões de familiares

e do grupo. Nesta perspectiva, a orientação profissional é primordial para a escolha. Para que

a ela seja feita de forma assertiva, ou pelo menos pensada cuidadosa e criteriosamente, a

informação profissional é imprescindível para a tomada de decisão do jovem. Conhecer as

profissões, as habilidades, as atitudes, as exigências, os cursos necessários para a profissão,

entre outros, faz parte do processo de escolha. As justificativas apresentadas pelos jovens com

mais freqüência apontam os meios de comunicação, entretanto, não desprezam as influências

dos amigos, grupos ou familiares. Poucos justificaram que assistem a palestras na escola ou

em outras instituições, como é o caso da UNIVALI. Alguns ainda disseram contar com algum

tipo diverso de apoio, no caso declarado por um dos jovens: “preparadores”. Estas

justificativas demonstram que a escola ainda está pouco presente na vida dos jovens, os quais

têm pela frente a escolha profissional. Constata-se pelo estudo da literatura e pelos dados do

questionário que este fato gera muitas dúvidas, tanto pela gama de oportunidades e profissões

que existem na atualidade no mercado de trabalho, como pelas mutações constantes no mundo

do trabalho e pelas incertezas pessoais. A seguir, pode-se observar a importância deste

segmento juvenil em acompanhar as variações do mercado de trabalho.

Tabela 10: Importância atribuída a fatores de acompanhar no mercado de trabalho

Acompanhamento do Mercado de Trabalho Porcentagem Freqüência

Cursos universitários x vagas no Mercado de Trabalho 15,2% 46

Oferecimento de vagas para setores 15,2% 46

Crises econômicas e efeitos no Mercado de Trabalho 13,9% 42

Desemprego 10,9% 33

Variação do M. T. em relação às profissões 10,6% 32

Cursos Tecnólogos x vagas no Mercado de Trabalho 10,6% 32

Variação econômica do mercado global 8,3% 25

Jornais x solicitação de emprego 6,9% 21

Vagas de emprego imediato sem formação 5,6% 17

Alternativas apresentadas 3,0% 9

Total 100,00% 303

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

Na questão acima, os jovens assinalaram múltiplas alternativas. Os dados revelaram a

prioridade da maioria dos jovens em acompanhar o oferecimento de vagas no mercado de

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trabalho para determinados setores em evidência. Aparece entre as respostas outro fator

preponderante que é o acompanhamento dos cursos universitários, os quais podem abrir vagas

no mercado de trabalho. Já alguns jovens consideram importante acompanhar as crises

econômicas, pois estas afetam diretamente o mercado de trabalho e a oferta de vagas. No

entanto, outro grupo de jovens aponta a necessidade de se fazer o acompanhamento do nível

de desemprego no país, para verificar os setores que estão sendo mais ou menos solicitados.

Uma parcela de jovens considera importante fazer o acompanhamento do mercado de trabalho

em relação às profissões mais solicitadas no sentido de saber se são abertas novas vagas.

Alguns poucos sujeitos falaram sobre a necessidade de acompanhar os cursos de tecnólogos

da região e quais os tipos de vagas ofertadas. As variações da economia global aparecem nas

respostas de poucos jovens, o que configura a preocupação com o mercado mundial, pois este

pode afetar o mercado nacional. Apenas alguns sujeitos declaram acompanhar as solicitações

de emprego via jornais, o que é surpreendente, pois os classificados são conhecidos

internacionalmente como fonte de recrutamento para emprego.

A minoria das respostas dos sujeitos sugere o acompanhamento de profissões que

ofereçam emprego imediato e não requer formação adequada, o que indica a possibilidade de

escolha da profissão e que estes sujeitos não estão à procura de qualquer tipo de vaga. A

interpretação das respostas acima confirma a importância de acompanhar as variações do

mercado de trabalho. Os sujeitos que responderam ao questionário demonstraram pelas

justificativas estarem conscientes das dificuldades que terão pela frente ao escolher uma

profissão. Neste contexto, o grupo de orientação profissional pode ser de grande ajuda para os

mesmos.

A importância de acompanhar as variações do mercado de trabalho é demonstrada

também na tabela 11, que apresenta os dados sobre os requisitos e as expectativas de vagas no

mercado de trabalho.

Tabela 11: Requisitos x Expectativas de Vagas no mercado de Trabalho

Requisitos x Expectativas de Vagas no M. T. Porcentagem Freqüência

Ter boa qualificação profissional 20,7% 56

Ter boa formação profissional 17,8% 48

Possuir formação além da oferecida na escola 14,4% 39

Terminar uma faculdade 14,4% 39

Já está empregado (a) 14,1% 38

Terminar o Ensino Médio 10,8% 28

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Experiência anterior 7,4% 20

Outras 0,7% 2

Total 100,00% 270

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

Os dados demonstram que os jovens, ao buscarem um emprego, têm uma batalha

diária para definir sua escolha profissional. Afirmam ter noção da importância das variações

econômicas e das exigências do mercado de trabalho. Desta maneira, sintetizam as principais

necessidades deste acompanhamento para a inserção no mercado de trabalho. Estas são de

suma importância para a escolha profissional, pois podem influenciar na escolha do tipo de

trabalho ou do curso universitário que o jovem vai realizar, bem como o tipo de vida que o

jovem vai trilhar. Observa-se na prática a importância em se acompanhar objetivos,

exigências, benefícios, limitações e habilidades necessárias para cada curso ou profissão, o

que pode ser conseguido por meio de visita as universidades e informações de profissionais da

área.

Os requisitos e expectativas dos jovens necessários para entrar no mercado de trabalho

evidenciados na tabela acima registram a qualificação profissional como o principal quesito

para se conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Uma boa formação profissional é a

segunda preocupação dos jovens para conseguir a vaga no mercado de trabalho. Possuir uma

formação profissional que vai além da oferecida pela escola aparece em grande parte das

respostas, o que justifica que a educação precisa rever suas práticas. Uma parcela significativa

de sujeitos preocupa-se com uma formação inicial e continuada. Com igual indicativo de

inquietação, aparece a intenção da juventude em terminar uma faculdade para depois entrar no

mercado de trabalho, o que seria considerado o ideal. Entretanto, este dado revela uma utopia,

pois no cenário atual em que os jovens entram no mercado de trabalho antes mesmo de

terminar o ensino médio, isso pode apenas gerar expectativas, fato que se pode constatar no

perfil dos sujeitos pesquisados. Portanto, entrar no mercado de trabalho somente após

terminar a faculdade é um sonho para poucos.

Se compararmos esta questão com o dado levantado na pesquisa, verifica-se que

58,6% dos sujeitos estudam e trabalham. Pode-se facilmente comprovar tal utopia: entrar para

o mercado de trabalho após o término da faculdade e igualmente após terminar o ensino

médio, entretanto, este fator aparece em 10,4% das respostas dos jovens, o que é significativo.

Possuir experiência anterior é um requisito e também uma expectativa para conseguir uma

vaga no mercado de trabalho, mas consiste em uma preocupação. O mercado de trabalho é

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cada vez mais exigente e competitivo. Muitos jovens não têm experiência anterior. Portanto,

as expectativas dos jovens apontam para o estudo, a educação, a formação e a qualificação

profissional para conseguir uma vaga no mercado de trabalho.

Logo abaixo, estão ilustradas no gráfico as habilidades e aptidões descritas pelos

jovens como condições necessárias que contribuem na conquista de uma boa colocação no

mercado de trabalho. Os dados evidenciam a importância de se fazer cursos

profissionalizantes para possuir habilidades necessárias para conquistar uma vaga, bem como

trabalhar em equipe, o que também é retratado no relatório Delors (1998).

As habilidade e aptidões que compõem o rol de requisitos para uma boa colocação no

mercado de trabalho aparecem nas diversas alternativas.

0%

5%

10%

15%

20%

Boa aparência

Residência fixa

Falar outros idiomas

Cursos profissionalizantes

Fluência verbal

Espírito de liderança

Iniciativa e tomada de

decisõesTrabalhar em equipe

Outras alternativas

14,7%

17,1%

14,2%

18,5%

14,7%

6,8%

10,1%

3,8%

Gráfico 11: Habilidades e Aptidões Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora.

Entre as habilidades e aptidões que os jovens consideram importantes para uma boa

colocação no mercado de trabalho, constata-se que a maioria acredita que os cursos

profissionalizantes podem garantir uma boa colocação, o que corresponde a 18,5% das

respostas. Já outros sujeitos consideram que trabalhar em equipe é um requisito fundamental

para a boa colocação no mercado de trabalho. Ter iniciativa e falar outros idiomas aparecem

nas respostas com expressividade, sendo a segunda considerada uma habilidade indispensável

devido ao mercado globalizado. Igualmente importante e com o mesmo percentual, os sujeitos

apontam para a iniciativa associada à tomada de decisões. A autonomia profissional é uma

habilidade importante na contemporaneidade, pois muitas situações exigem resposta imediata.

Já alguns sujeitos atribuem à experiência a chave para a boa colocação profissional, da mesma

forma, os jovens apontam considerar a boa aparência um requisito fundamental para uma boa

colocação no mercado de trabalho e atribui à fluência verbal um dos requisitos necessários

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para um bom emprego. Apenas alguns jovens consideram o espírito de liderança um requisito

importante para a colocação profissional, o que está em desacordo com as exigências atuais

do mercado. Somente para poucos sujeitos, ter residência fixa pode contribuir para a

colocação profissional. Este é um item fundamental, pois além de residência fixa, muitas

empresas preferem funcionários que morem próximos ao local de trabalho a fim de diminuir

custos com transporte e tempo de deslocamento até o local de trabalho.

Entre as justificativas, a maioria dos jovens não elencou as habilidades indispensáveis

para uma boa colocação no mercado de trabalho. Entretanto, conforme a questão foi

elaborada, só precisaria justificar os que elegessem outras habilidades não contempladas no

questionário. Dos que elegeram outras habilidades, os quais compõem a minoria,

especificaram que é necessário falar outros idiomas, embora o questionário contemple tal

aspecto, alguns jovens responderam o mandarim e o inglês. Já um jovem especificou que é

importante trabalhar no que se gosta, não apenas seguir as regras que o mercado de trabalho

dita. Todavia, esta justificativa pode indicar mais uma utopia, pois nem sempre é possível

conciliar aptidões pessoais e gostos com exigências do mercado. Como exemplos, estão

muitos profissionais que possuem formação superior em determinada área, porém devido às

exigências do mercado de trabalho, acabam trabalhando em outros segmentos, principalmente

para compor a renda. O que se pode fazer é tentar conciliar ou eleger uma profissão que

garanta o sustento e um “hobbie” ou lazer, que garanta a satisfação, quando não for possível

conciliar habilidades, aptidões, gostos e expectativas salariais com o mercado de trabalho.

Na tabela 12 a seguir, observa-se a situação atribuída à responsabilidade pelo

desemprego na opinião dos jovens. A maioria aponta a responsabilidade pela falta de emprego

ao governo.

Tabela 12: Responsabilidade pelo Desemprego

Responsabilidade Porcentagem Freqüência

Governo 26,7% 40

Sociedade em geral 25,3% 38

Mercado de Trabalho 15,3% 23

Educação 14,7% 22

É sua 9,3% 14

Escola 1,3% 2

Outras 7,3% 11

Total 100,00% 150

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

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Além da responsabilidade atribuída ao governo, um número significativo de jovens

atribuiu à sociedade em geral a responsabilidade pela falta de emprego. No que se alude à

educação, as respostas dos jovens foram interessantes, pois grande parte respondeu que a

educação é a responsável pela falta de empregos. Apenas poucos sujeitos atribuem à escola tal

responsabilidade. Somando-se as duas respostas, constata-se que 15,7% esperam o apoio da

escola para enfrentar o desemprego. Quanto à responsabilidade pelo desemprego ser atribuída

ao mercado de trabalho, a questão aparece nas respostas com 15,3%, enquanto 7,3% registram

outras responsabilidades. Um fato interessante nesta questão foi o percentual de respostas

indicando a responsabilidade pelo desemprego para a própria pessoa. Este dado é bastante

significativo, pois sugere que esta parcela de sujeitos provavelmente não entendeu a questão e

colocaram sobre si a responsabilidade que na verdade não seria só deles, mas sim de todos.

Esta questão remete ao discurso de empregabilidade, postulada por Baptista (2006), no qual a

culpa pelo emprego ou desemprego é atribuída ao trabalhador. A literatura nos mostra que

esta é uma falácia, assimilada por muitos jovens.

No que se refere ao emprego, os dados do PNAD 2007 mostram que embora a

escolarização da juventude brasileira tenha se ampliado nestas últimas décadas, o desemprego

juvenil continua sendo uma das preocupações do país, pois a maioria dos trabalhos deste

segmento encontra-se na iniciativa informal ou no trabalho assalariado (IPEA, 2008). Os

dados da tabela 04 desta pesquisa comprovam tal tendência. Nesta questão, 43% dos jovens

pesquisados afirmaram trabalhar em atividades informais. Apenas 40% deles afirmaram

possuir emprego formal. Todavia, mesmo os que já trabalham têm a expectativa de, no futuro,

conseguirem melhor colocação profissionalmente. As expectativas que os jovens têm em

conseguir um futuro emprego são demonstradas na tabela 13 e repousam sobre a possibilidade

de conciliar realização profissional com remuneração.

Tabela 13: Expectativas de encontrar um Emprego no Futuro

Expectativas de um futuro emprego Porcentagem Freqüência

Encontrar um emprego: realização x remuneração 30,1% 50

Encontrar um emprego após o Ensino Médio 13,9% 23

Pretende fazer muitos cursos antes de trabalhar 13,9% 23

Após a Faculdade 13,3% 22

Trabalha em emprego temporário x emp. melhor 12,1% 20

Está indeciso quanto à carreira a seguir 8,4% 14

Já trabalha e não pretendo mudar de emprego 6,6% 11

Outras expectativas 1,81% 3

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Total 100,00% 166

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

A tabela acima evidencia que a grande expectativa dos jovens para um futuro emprego

consiste em encontrar uma ocupação que ao mesmo tempo proporcione realização pessoal e

um salário condizente. Ao retomar a interpretação sobre as preocupações dos jovens, verifica-

se que o salário aparece como o maior fator que influencia a escolha da profissão. Estes dados

sugerem a confluência da expectativa de encontrar um emprego em que a pessoa goste do que

faz e seja bem remunerada. Algumas das expectativas juvenis dizem respeito a encontrar um

emprego após terminar o ensino médio, da mesma forma, apontam para o desejo de fazer

muitos cursos antes de trabalhar. Estas respostas demonstram certa ambigüidade, na medida

em que os dados apontam o fato da maioria dos jovens da pesquisa já trabalhar. Portanto, a

expectativa seria de encontrar um emprego melhor que o atual.

Este estudo aponta que 32,4% dos jovens escolhem sua profissão antes de terminar o

ensino médio. Conclui-se, portanto, que os jovens estão conscientes que precisam de muitos

cursos para qualificar-se para o mercado de trabalho. Se compararmos estes dados com os

58,6% dos jovens que estudam e trabalham, pode-se constatar que eles têm expectativas de

encontrar um emprego futuro que lhes dê melhores condições der vida. Mesmo os que já

trabalham e estão satisfeitos podem, no futuro, almejar um emprego melhor. A leitura dos

dados mostra que 30,1% dos jovens possuem a expectativa de encontrar um emprego que

concilie realização pessoal com remuneração. Um dado interessante está nas respostas dos

13,3% que pretendem arrumar um emprego após terminar a faculdade, o que seria benéfico

para os alunos, porém, conforme os dados das tabelas anteriores, isto nem sempre é possível.

Apenas algumas das respostas afirmam que os jovens estão indecisos, embora as justificativas

sugiram tal fato. Poucos responderam possuir outras expectativas.

A principal justificativa que aparece com maior freqüência nas respostas deste

segmento juvenil é que a maioria possui expectativas em relação ao futuro emprego, mesmo

os que já trabalham, mas nem todos justificaram. Alguns sujeitos dizem pretender fazer

faculdade e trabalhar no período oposto, após o ensino médio. Outros afirmam já trabalhar,

mas mesmo assim desejam fazer uma faculdade. Alguns jovens desejam fazer muitos cursos,

como informática e vendas, mas só depois pretendem trabalhar O espírito empreendedor é

apresentado por meio das justificativas de alguns sujeitos que disseram desejar concluir uma

faculdade e montar uma empresa na seqüência. Com o advento da Lei Complementar n.º 128

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(BRASIL, 2008), este sonho poderá vir a se tornar realidade, pois há um incentivo por parte

do governo em tirar mais de dez milhões de trabalhadores da informalidade com a abertura de

novos empreendimentos, por meio da criação do empreendedor individual, o qual poderá ter

um funcionário registrado em seu negócio.

Algumas mensagens enviadas pelos jovens foram extraídas da tabulação,

categorização e sistematização dos dados do questionário. Em síntese, a investigação revela

que a maioria dos jovens trabalha. No entanto, nem todos fizeram escolhas definitivas, mesmo

porque na atualidade, com a instabilidade do mercado de trabalho e as crises constantes,

ninguém possui garantias de emprego ou sucesso com atividades empreendedoras garantidas e

definitivas.

Os jovens demonstraram, por meio de suas respostas, que possuem muitas

inseguranças. Entre elas, a da escolha profissional, mesmo entre os que já escolheram um

curso ou profissão. Neste sentido, manifestaram que gostariam de ter mais tempo para refletir,

têm muitas dúvidas e contam com pouco apoio institucional, embora a escola em que a

pesquisa foi realizada demonstre interesse no assunto e apóie a iniciativa da orientação

profissional. Neste aspecto, para além da escola, se faz necessário maior apoio de instâncias

governamentais, seja por meio de projetos ou leis que garantam tal apoio, especialmente para

este segmento juvenil que tem pela frente a escolha profissional.

Como já dito anteriormente, a partir da literatura consultada e dos resultados obtidos

nesta pesquisa, constata-se que o processo de escolha é um momento decisivo para o jovem,

pois vai definir uma profissão. Trata-se de todo um projeto e estilo de vida. Assim, comprova-

se de acordo com o conteúdo das mensagens elaboradas pela juventude pesquisada, que esta

clama por iniciativas que possam auxiliá-la em suas expectativas, pois crê em uma educação

de qualidade que possa prepará-la, tanto no momento da escolha, como na qualificação para o

trabalho.

Os jovens, embora afirmem a necessidade de refletir, precisam desenvolver mais esta

habilidade. Porém, muitas das respostas do questionário não foram justificadas, ou seja,

sabem da importância da reflexão, entretanto, praticam pouco.

O silêncio, muitas vezes, pode revelar um protesto deste segmento juvenil. O fato dos

jovens não justificarem algumas das questões levantadas também pode indicar a falta de

credibilidade no sistema educacional, apesar de depositarem esperanças de um futuro melhor

na escola e na educação. Não se pode esperar que a educação possa ter em suas mãos a

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resposta para todos os problemas, nem resolver todas as mazelas e problemas sociais

existentes em nossa sociedade. Todavia, cada vez mais se comprova que ela é a chave que

pode oportunizar transformações. Portanto, a análise dos dados desta pesquisa mostra que a

juventude reclama por melhores oportunidades de vida e trabalho, colocando nas mãos da

educação a esperança de um futuro melhor.

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4 EXPECTATIVAS SOBRE AS ESCOLHAS PROFISSIONAIS DOS JOVENS

A análise das questões abertas foi um elemento valioso para este estudo. Ela

proporcionou a coleta de um material riquíssimo, cujas vozes dos estudantes do ensino médio

da escola pública estudada contribuíram para subsídios relevantes para a prática profissional.

Para finalizar o trabalho na escola, foi realizada uma palestra devolutiva para todos os

jovens do terceiro ano do ensino médio. Esta foi realizada em duas etapas. No primeiro dia, a

mesma foi oferecida aos alunos do turno noturno, que foram agrupados na biblioteca (com o

uso de data show e computadores para auxiliar na apresentação que contou com slides e um

filme sobre orientação profissional). A segunda etapa envolveu os alunos do turno matutino e

foi realizada no dia posterior à primeira apresentação. Nesta etapa, os alunos foram separados

por turma e foram realizadas duas palestras, utilizando-se os mesmos recursos técnicos e

instrumentais. Embora as contribuições tenham sido valiosas, as mesmas não compõem as

análises, pois escapam aos objetivos deste trabalho.

Na seqüência da análise dos dados, um texto foi elaborado para transcrever com

fidedignidade os trechos mais significativos e as principais idéias da juventude da escola

pública estudada. O material englobou os dados coletados no questionário por meio das

perguntas abertas, bem como alguns depoimentos dos jovens declarados durante a aplicação

do questionário, os quais foram anotados em um diário de campo pela pesquisadora,

originando os eixos revelados na pesquisa. Um esclarecimento se faz necessário, pois as falas

dos sujeitos, as quais se apresentam nas respostas abertas às questões levantadas no

questionário, foram transcritas literalmente, entretanto, correções ortográficas foram feitas.

4.1 A orientação profissional nas escolas públicas: um sonho possível?

Os dados deste estudo apontam para a necessidade de orientação profissional nas

escolas públicas, mas seria este um sonho possível? A seguir serão apresentadas as análises

que originaram os eixos deste estudo.

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4.1.1 As incertezas dos projetos no futuro

Embora muitos estudiosos como Leite (2003) afirmem que o trabalho está perdendo

suas características, deixando de ser considerado como sinônimo de emprego e sendo

ressignificado em diversas formas e em muitos países, a juventude que pretende entrar no

mercado de trabalho sente a insegurança da perda destas características, gerando ansiedade.

Um dos episódios que mais me inquietaram no decorrer da pesquisa foi constatar, por meio de

alguns dos depoimentos dos jovens, que muitos deles não planejam o futuro, não ousam

sonhar ou conseguem sonhar. Vivem na esperança de um futuro melhor, entretanto, quando se

fala em projeto de futuro, de vida e de trabalho, mostram-se acomodados, inseguros, como se

continuar estudando fosse algo impossível para eles.

Segundo depoimentos destes jovens, muitos afirmaram pretender parar de estudar ao

terminar o ensino médio. Eles acreditam que com esta formação já possam arrumar um

emprego, pois precisam muito trabalhar para ajudar a família e desta forma não sobrará tempo

(e em alguns casos nem vontade) para estudar. Outros jovens não possuem dinheiro para

cursar uma faculdade. Falta-lhes incentivo para desvendar que podem sim continuar a estudar,

pois atualmente há inúmeras maneiras para se conseguir tal propósito. Uma das modalidades

apresentadas pelo Governo Federal é o Programa Universidade para Todos – Prouni,

programa de bolsas de estudo para universitários, concedido de forma parcial ou total. Nesta

modalidade, os jovens podem estudar na universidade privada e ter as despesas pagas pelo

programa. Não entramos no mérito de discutir sobre o programa, apenas que é uma alternativa

a mais.

A título de ilustração, segue o relato da palestra que oferecemos à escola (pesquisadora

e sua orientadora). Na oportunidade, levaram-se aos jovens inúmeras possibilidades de

ingressar na faculdade, bem como os cursos e instituições disponíveis na região em nível

técnico ou superior. Apresentou-se também uma discussão ou reflexão sobre as inteligências

múltiplas de Gardner (1995) aperfeiçoadas por Golemann (1995). Nesta palestra, procurou-se

no trabalho da pesquisadora relacioná-las com a orientação profissional questionando os

alunos (as) se eles conheciam pessoas que possuíam tal tipo de inteligência. Se realmente este

assunto era pertinente ou não, se eles concordavam que algumas pessoas se destacavam em

certas áreas quando as utilizam. Existe toda uma discussão sobre as habilidades, inclusive de

correntes críticas na psicologia, sociologia, etc, mas a finalidade foi apenas mostrar que todos

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temos habilidades, mas algumas pessoas as utilizam mais que as outras ou utilizam apenas

certas habilidades. Pode-se compreender habilidade como o jeito próprio de cada um fazer as

coisas, podendo desenvolvê-la. Muitas vezes, as pessoas possuem facilidade em uma

determinada tarefa, enquanto outras pessoas encontram facilidade em outras. Cabe a cada um

descobrir suas habilidades e procurar desenvolvê-las. Não se trata de descobrir as habilidades

para colocar o homem no lugar certo como antigamente, mas sim de descobrir as habilidades

para ocupar o lugar que cada um é destinado no mercado de trabalho. Profissionalmente é

essencial descobrirmos nossas habilidades para verificarmos em quais setores ou áreas

teríamos mais facilidade e quais tarefas conseguimos executar com maior agilidade e

satisfação. Neste sentido, sentiu-se uma interação interessante, pois os jovens participaram

respondendo às questões solicitadas e ajudando na leitura dos slides.

Durante as palestras, também se discutiu algumas formas deles se colocarem no

mercado de trabalho. Neste sentido, foi apresentado um vídeo sobre a escolha profissional e

foram realizados questionamentos e reflexões sobre o mercado e a escolha profissional. É

importante retomar o que Soares (2002) chama a atenção: não existe escolha certa, mas sim se

deve escolher a melhor opção para aquele momento, pois com as mudanças constantes na

esfera da tecnologia e informação, novas exigências e novas competências são exigidas dos

profissionais a cada momento, o que leva a maioria a fazer adaptações na carreira e estar em

constante atualização. Nesta perspectiva, pode-se perceber que muitos profissionais que se

formam em uma área acabam ingressando em outra bem diferente para acompanhar as

exigências do mercado. Nesta evolução, algumas profissões são mais valorizadas, outras

menos e algumas ainda deixam de existir. Assim, o jovem que almeja uma vaga no mercado

de trabalho necessita estar atento a estas variações e oportunidades que se abrem ou se fecham

neste competitivo mundo do trabalho.

Nas respostas qualitativas, retornando às análises, alguns dos jovens pesquisados

afirmaram já ter escolhido o curso para o qual pretendem prestar vestibular. Entretanto,

muitos mostraram que continuam confusos diante de tantas opções a escolher, mais ainda

diante das dúvidas sobre o mercado de trabalho. Este fato foi comprovado na análise

quantitativa quando se coletou dados sobre os sentimentos em relação à futura profissão. Os

jovens afirmaram sentir muitas angústias, inseguranças e até medo.

Este aspecto foi complementar na análise e revela o que a literatura constata: o

predomínio da insegurança entre os jovens em busca de emprego. Quando perguntados sobre

a situação de estudo e trabalho,

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Trabalho para ter minhas coisas, sem pedir nada a ninguém [...] assim,

trabalho par ter meu próprio dinheiro (Sujeito 01).

Estudo porque é preciso, para ter uma vida boa futuramente, trabalho para

ter experiência, porque é bom poder comprar as minhas próprias coisas,

não preciso depender de meus pais... (Sujeito 02).

[...]. Para ajudar a minha família, para ajudar em casa e para ter meu

próprio dinheiro (Sujeito 03).

Os depoimentos demonstram fatos como preocupação financeira, necessidade em

ajudar em casa (a família), independência e poder consumir o que desejar. A preocupação

financeira aliada à faculdade aparece como um dos principais obstáculos nas expectativas dos

jovens que se sentem inseguros pela falta de certeza de poderem pagar uma faculdade.

Conforme já salientado, a maioria das faculdades da região é da iniciativa privada. Outro

aspecto que se observa na fala dos jovens é o consumo que reflete a sociedade capitalista

atual, marcada pelo individualismo e hedonismo, em que o consumo desenfreado e o que é

descartável estão em voga.

Na fala dos jovens, observa-se a expectativa de ser alguém no futuro que seja bem-

sucedido e independente. Na fala do sujeito 04, evidencia-se também a noção do trabalho com

o sentido de prazer.

Trabalho por prazer, para ser independente. Estudo para ingressar na

faculdade (Sujeito 04).

Trabalho e estudo porque quero ter um bom emprego e, no futuro, para ser

alguém na vida. Estudo para conseguir entrar na faculdade e pretendo

guardar dinheiro para isso (Sujeito 05).

4.1.2 A busca pela autonomia e independência

Conforme depoimentos dos jovens, torna-se evidente a busca pela autonomia e pela

independência. Alguns demonstram que fazem planejamento para o futuro, outros não. O fato

dos sujeitos desejarem ter seu próprio dinheiro e poderem consumir revela a busca pela

autonomia e pela independência característica da juventude. “Não quero mais depender de

meus pais. Trabalho em um barco, assim conquisto os meus próprios bens” (Sujeito 05).

Sposito (2005) menciona o fato de ser uma característica da juventude que é uma fase da vida

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que tem início pela busca da autonomia. Os jovens nesta época buscam a construção da

identidade pessoal e coletiva, bem como vivenciam atitudes de experimentação.

Atualmente, a autonomia e a independência financeira são relativas e de certa forma

trazem ambigüidades, pois como ser independente e ter autonomia sobre sua vida se o espaço

no qual o jovem vive ainda é a casa dos pais? Com o aditamento da juventude proclamado por

Pochmann (2004), Sposito (2005) e outros autores que estudam a juventude, constata-se que

os jovens tardam a sair da casa dos pais. Por diversas razões, entre elas, o desemprego, o

aumento dos anos de estudo para se tornar um profissional qualificado, a demora em formar

uma nova família ou a dificuldade em ganhar a vida de forma autônoma, como também

demonstram os dados da PNAD 2007 (IPEA, 2008). Contudo, as respostas dos jovens

pesquisados deixam clara esta busca por independência financeira e autonomia. Muitos jovens

trabalham para pagar seus estudos, outros afirmam que trabalham para não depender dos pais

financeiramente e alguns ainda dizem sentir necessidade de ajudar a família.

Nos depoimentos, alguns jovens desejam fazer a faculdade, pensam em ser alguém no

futuro, por isso, trabalham para pagar a faculdade. Um deles menciona “[...] trabalho, pois

desejo fazer faculdade na área em que trabalho” (sujeito 19). Outro segue um planejamento

para realizar seu sonho: “Trabalho e estudo para realizar meu sonho de fazer jornalismo”

(Sujeito 04). O que revela estar em busca de um bom emprego no futuro, pensa em um projeto

profissional de vida e de futuro. Fato observado em poucos depoimentos dos jovens

pesquisados. Conforme Soares (2002, p. 94), “[...] o projeto profissional pode significar o

modo como o jovem é obrigado a tomar uma série de decisões quanto ao seu futuro. Entre

estas resoluções, está decidir o que ele deseja fazer no futuro [...]”, desta maneira deve

planejar a realização de seu projeto com antecedência.

4.1.3 Sentidos do trabalho e temporalidade

Atualmente, o trabalho é multifacetado e possui uma infinidade de significados na

vida das pessoas. Raitz (2003) pondera sobre o estudo de inúmeros pesquisadores que se

debruçaram sobre as transformações ocorridas no mundo do trabalho nestes últimos séculos.

Estes autores conferem esta diversidade de sentido ao trabalho após estudar diversos fatores

como a conjuntura econômica de cada país, a reestruturação produtiva, a nova organização do

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trabalho, etc, afirmando sua proveniência principalmente ao que se refere ao avanço da

ciência e da tecnologia. A atribuição de múltiplos sentidos ao trabalho, bem como, suas

características multifacetadas alteraram a realidade social e a vida das pessoas. Uma das

conseqüências deste fato é o desemprego juvenil, o que leva muita insegurança à juventude no

século XXI.

Os sentidos do trabalho se alteraram a partir de diversas mudanças econômicas,

políticas, sociais e culturais. Historicamente, o trabalho passou a ser concebido desde a ótica

do castigo, escravidão, obrigação, sobrevivência, etc, chegando à atualidade com a existência

de diversos sentidos para além da ética do trabalho formal, entre eles, trabalho como vida,

valor, sobrevivência, princípio educativo, independência, auto-realização, prazer, etc.

O trabalho como auto-realização despontou com muita insistência em alguns

depoimentos dos jovens. Um deles chama a atenção: “Trabalho com ar-condicionado. Adoro

fazer o que faço, mas não gosto muito de estudar, mas sou obrigado, por isso eu faço os dois”

(Sujeito 14). Muitos jovens afirmam que gostam de estudar e trabalhar. No entanto, observou-

se na pesquisa, assim como no depoimento acima, que alguns jovens gostam de trabalhar e

não de estudar. A expectativa deste jovem é terminar o ensino médio e não prosseguir os

estudos, assim como muitos outros jovens esperam apenas terminar o ensino médio e

trabalhar. Eles depositam no curso toda expectativa para conseguirem um emprego, como se

apenas o ensino médio bastasse. Contudo, sabe-se na prática que as exigências são outras.

Estar atualizado constantemente é apenas uma delas. O discurso do jovem acima evidencia a

dicotomia existente entre estudo e trabalho, bem como chama a atenção sobre a importância

da educação estar atenta à necessidade desta integração. O jovem diz: “[...] trabalho para me

ocupar” (Sujeito 15). Esta fala resgata a discussão do tempo livre ou de não saber lidar com

ele sem culpa. Até mesmo algumas das pessoas as quais já estão para se aposentar vivenciam

este conflito, pois não sabem o que fazer com o tempo livre. O sujeito acima atribui ao

trabalho o sentido de ocupação, já o sujeito anterior enfatiza um sentido de prazer ou auto-

realização, isto é, uma forma de ganhar dinheiro.

Muitos sujeitos atribuíram ao trabalho um sentido de obrigação ou sobrevivência,

primeiro sentido que normalmente aparece nas pesquisas, como o deste jovem “[...] trabalho

porque preciso, para ajudar em casa [...] quero estudar para ter um futuro melhor” (Sujeito

08). Por meio de alguns depoimentos, constata-se que o trabalho possui uma multiplicidade de

sentidos para as pessoas e estes se entrecruzam. Os jovens trabalham por diversas razões e

atribuem ao trabalho vários significados. Raitz (2003) considera que trabalho na atualidade

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possui diversos sentidos e tem características heterogêneas. As próprias representações sobre

o trabalho estão atualmente assinaladas por instabilidades. Apresenta-se como turbulência,

flexibilidade e impermanência nas trajetórias juvenis ou de seus percursos na conquista de

uma vaga no mercado de trabalho, isto não quer dizer que o trabalho não seja uma esfera

importante na vida dos indivíduos, mas ganha novas dimensões (PAIS, 2001). Neste contexto,

torna-se aparente a própria diversidade e a heterogeneidade, as quais caracterizam o mercado

de trabalho na contemporaneidade. Especialmente o Brasil já demonstrou não ser imune a

crises mundiais. Isto leva-nos a refletir sobre as diferentes situações vivenciadas pela

juventude, iniciando-se pela escola onde a maioria trabalha e estuda e poucos possuem a

chance de apenas estudar.

Na seqüência da análise, observa-se entre os que somente estudam que a maioria se

limitou a responder: “[...] os estudos são a minha prioridade” (Sujeito 16). Entretanto, estas

respostas nem sempre evidenciam um planejamento profissional, de vida ou de futuro. As

respostas mais expressivas dos jovens que só estudam e conseguem se planejar podem ser

vistas na passagem abaixo:

Pretendo dar prioridade aos estudos para entrar preparado para o mercado

de trabalho (Sujeito 16).

Ao me dedicar somente aos estudos terei melhor desempenho. Estudo para

ter um futuro melhor (Sujeito 18).

[...] desejo trabalhar depois que terminar o ensino médio, quero terminar a

escola primeiro e depois trabalhar (Sujeito 17).

Na questão relacionada à satisfação dos sujeitos trabalhadores, ou seja, os quais

afirmam sentir prazer em fazer o que fazem, uma fala merece destaque, pois o jovem escolheu

justificar com nenhuma das alternativas: “[...] nenhuma das alternativas acima, porque vai

depender do setor da empresa e dos colegas. E como há mudanças constantes de setor, varia”

(Sujeito 02). Esta fala reflete as mutações constantes do mercado de trabalho, o emprego tal

como existia no passado não existe mais. Antigamente, as pessoas entravam em uma empresa

e ali se aposentavam, sem grandes mudanças. Na atualidade, segundo Vieira (2005), o

trabalho tornou-se parte integrante da vida das pessoas e com os avanços constantes de

tecnologia e informação o emprego como outrora não existe mais. Ele assume outra

conotação, por meio de projetos.

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104

4.1.4 Falta experiência para o emprego

A falta de experiência profissional é um dilema na vida dos jovens e leva-os a

questionamentos: como ter experiência se o mercado de trabalho a exige para preenchimento

das vagas disponíveis, seja de qualquer setor público ou privado? Isto ocorre com todos,

todavia é uma exigência mais evidente na juventude. É contraditório, uma vez que se as portas

do mercado de trabalho não se abrirem para os que não têm experiência, como estes vão

adquiri-la e se inserir no mesmo? Esta questão foi levantada nas palestras realizadas na escola

e foi causa de preocupação dos jovens: “[...] só estudo, pois não tenho experiência [...] é

difícil conseguir trabalho [...]” (Sujeito 16). Além da experiência, o mercado de trabalho

exige dos candidatos para uma determinada vaga características competentes. Poucas

empresas oferecem vaga para principiantes. Há uma tendência por parte das empresas,

incentivadas por alguns programas governamentais, para mudança neste perfil. Alguns

programas governamentais com apoio do Senai E Senac têm investido neste aspecto, pois a

questão da experiência é crucial para a juventude que se candidata a uma vaga de emprego.

Na devolutiva ofertada aos jovens, por meio da palestra, foram mencionadas pelas

pesquisadoras sugestões para além do ensino médio. Entre as opções, os jovens poderiam

fazer cursos profissionalizantes paralelamente. Assim, teriam além de uma formação geral,

uma que lhes permita qualificar-se e profissionalizar-se. Outro aspecto abordado foi a

possibilidade deles entrarem nas empresas como trainees, estagiários ou se candidatarem aos

empregos temporários, pois têm a possibilidade posterior de contratação efetiva. Quando se

treina um funcionário, pode-se prepará-lo de acordo com o perfil da empresa. Assim, na

atualidade, muitas empresas como o Banco do Brasil, por exemplo, que possui o programa “O

Jovem Aprendiz”, que na maioria das vezes contrata futuramente, treinam e oferecem

oportunidades aos jovens. Justificando as questões abertas, um jovem afirmou fazer parte de

um projeto semelhante: “Trabalho como menor aprendiz, nesse caso eu ganho um curso pelo

Senac. Então, ele dura 9 (nove) meses” (Sujeito 13). Outras preocupações surgiram nos

depoimentos dos jovens, entre elas:

Não estou preparada para o trabalho com outras pessoas, gostaria de

estudar, ver no que quero trabalhar (faculdade) e só depois trabalhar

(Sujeito 16).

Só estudo, pois estou grávida, por isto ninguém me dá oportunidade (Sujeito

17).

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Apenas estudo, pois meus pais querem que eu me preocupe apenas com isto

(Sujeito 18).

Entre várias respostas apresentadas, observou-se a expectativa dos estudantes em

arrumar um bom trabalho no futuro, embora poucos façam um planejamento para tal. O

jovem que pondera sobre o desejo de seus pais querem que ele apenas estude, demonstra com

efetividade a influência da família em suas escolhas. O fato é comprovado também nos

estudos de Soares (2002).

A expectativa do sujeito 01 aponta o desejo de escolher uma faculdade e só depois

trabalhar, o que reflete o pensamento de muitos outros jovens pesquisados. Entretanto, isto

nem sempre é possível, pois muitos jovens são obrigados a trabalhar antes mesmo de terminar

o ensino médio, fato evidenciado nos dados estatísticos desta pesquisa. No momento da

palestra, discutiu-se com os jovens que não têm experiência profissional a possibilidade de

fazerem paralelamente ou após o ensino médio um curso profissionalizante no Senac, Senai,

Sesi, entre outros. Afinal, um curso técnico ou profissionalizante pode abrir as portas para o

mercado de trabalho e oferecer experiência, como diz um jovem: “Eu trabalho para ter uma

experiência melhor. Eu comecei a trabalhar por meio de um curso que eu fiz no Senac/SC”

(Sujeito 13). Foi perguntado para os sujeitos que trabalham se eles gostam do que fazem. A

maioria respondeu que sim. Desta maneira, há os que pretendem fazer faculdade na área e os

que consideram o emprego apenas temporário, mas gostam do que fazem. Alguns

manifestaram o desejo de fazer faculdade em outra área,

Trabalho com prótese dentária. Quero fazer faculdade de odonto ou um

curso de prótese. É por isso que gosto de meu trabalho (Sujeito 01).

No momento sim, é legal trabalhar com as pessoas, ainda mais que você não

vê todos os dias as mesmas pessoas (Sujeito 02).

Sim, ainda mais que sou muito comunicativa. Eu trabalho como consultora

de vendas em uma loja (Sujeito 03).

Gosto, mas é apenas um emprego temporário, pois após eu entrar na

faculdade pretendo trabalhar em outra área, a do jornalismo (Sujeito 04).

Gosto, pois trabalho em vendas e trabalho por experiência para no futuro

ter uma noção (Sujeito 05).

Nesta perspectiva, visualiza-se por meio dos depoimentos certa satisfação de alguns

jovens em fazer o que fazem profissionalmente, embora nem todos desejem permanecer no

mesmo tipo de emprego como já referenciado. Na Europa, muitos jovens acabam trabalhando

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sem remuneração, apenas para obter experiência. No Brasil, tal prática tem se tornado

comum, conforme Pochmann (2004).

4.1.5 As influências da família e da sociedade na escolha profissional

A escolha profissional é uma etapa decisória na vida dos jovens e depende de todo um

projeto de vida e de trabalho. Muitos são os fatores que influenciam a escolha profissional,

entre eles estão os econômicos, os políticos e os sociais. No que diz respeito aos fatores

sociais, encontramos as influências de familiares, o status da profissão, os amigos e a escola.

A fala de uma jovem que trabalha chama a atenção quando perguntado se gosta do que

faz “[...] sim, porque tenho dois empregos, um é o que eu gosto e o outro é só para dizer que

faço alguma coisa” (Sujeito 10). O que leva uma pessoa a trabalhar apenas para dizer que

trabalha? Isto nos remete a refletir sobre as influências da família, muitas vezes, faz cobranças

e obriga os jovens a escolherem o que eles não desejam. De acordo com Soares (2002), a

família impõe ao jovem, algumas vezes de modo sutil ou não, a realização de suas

expectativas em detrimento aos interesses pessoais. Ao aceitar o apelo familiar, o jovem é

influenciado pelos papéis sociais. Desta forma, é importante separar as expectativas da família

das expectativas do jovem para que os mesmos possam fazer suas próprias escolhas. A seguir

é possível perceber as expectativas positivas de alguns quando perguntados se gostam do que

fazem:

Eu trabalho em um consultório odontológico e é bem legal porque é uma

profissão interessante e eu acompanho-a em meu trabalho. E olhe, eu sei

fazer algumas coisas já, como, por exemplo, me dar com as pessoas também

(Sujeito 01).

Sim porque trabalho em um setor que “lida” com as pessoas (é

comunicação visual e verbal). E isso será importante para o curso que vou

escolher. Gera conhecimento (Sujeito 02).

Gosto do trabalho. Sou auxiliar administrativo, mas não é a área que eu

queria atuar no mercado de trabalho (Sujeito 07).

Gosto, pois me identifico muito bem com o que faço e além de teoria é

necessário também “praticar” o que nos interessa (Sujeito 05).

Pode-se perceber nas respostas a contínua motivação dos sujeitos em trabalhar para

adquirir experiência e conhecimento. O sujeito 03 demonstra acompanhar as variações do

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mercado de trabalho e desta forma possui conhecimento sobre a demanda dos profissionais na

área em que atua e pretende continuar. A resposta do sujeito 05 é bem valiosa, pois lembra

que além de teoria, todo profissional precisa de prática, o que vem com a experiência, questão

que conforme já salientada, preocupa muitos jovens.

“O processo de formação social das pessoas supõe o preparo para perceber,

compreender e atuar em situações que estão em constante mudança” (OLIVEIRA, 1986, p. 11),

assim a escolha profissional deve ser a mais adequada para o momento. Já entre os jovens que

não gostam do que fazem, as falas revelam os que estão em empregos temporários:

[...] não é o que eu queria para sempre. Trabalho apenas para garantir

minha faculdade e ajudar em casa (Sujeito 01).

Trabalho numa padaria, mas procuro trabalhar em uma contabilidade, para

seguir esta profissão (Sujeito 11).

[...]. Mais ou menos. Não gosto, mas também não adoro, e também não é um

emprego temporário (Sujeito 03).

Os sujeitos afirmam ser o emprego atual apenas temporário (com exceção do sujeito

03, pois este não gosta e nem desgosta do emprego atual, entretanto não possui a pretensão de

arrumar outro emprego). Eles assumem qualquer vaga no mercado de trabalho, seja pela falta

de qualificação ou para cumprir com seus objetivos. Entretanto, possuem a expectativa de um

emprego mais condizente com seus anseios.

Após perguntar à juventude pesquisada sobre a satisfação trabalhar no que fazem,

constatou-se que a maioria gosta do atual emprego (embora muitos afirmem pretender

trabalhar em outra área). Neste momento, a pesquisadora inquiriu se os sujeitos pensavam em

permanecer no mesmo tipo de emprego em que atuavam e a maioria foi enfática em afirmar

que não. Algumas justificativas apresentadas pelos sujeitos a esta questão versaram sobre

trabalhar em áreas diferentes da que atuam atualmente,

Não terei muito futuro sendo garçom e não é o meu sonho [...] (Sujeito 12).

Quero fazer faculdade em outra área [...] (Sujeito 02).

Não, pois é só até eu entrar e ter tempo suficiente para conseguir emprego

na minha área [...] (Sujeito 03).

Com o aperfeiçoamento, quero buscar empregos com uma renda melhor e

mais focada com minha área (Sujeito 04).

Não, quero fazer faculdade e atuar na área que eu escolher (Sujeito 06).

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As falas dos jovens comprovam que grande parte deles aceita qualquer tipo de

emprego, até conseguir um na área desejada ou de formação pretendida. A afirmativa do

sujeito 05 evidencia um fato importante, pois o mesmo ainda não escolheu a área em que

pretende atuar, assim como muitos dos jovens participantes da pesquisa. Contudo, as

justificativas para não permanecer no mesmo tipo de emprego vão além: “[...] este é o meu

primeiro emprego e está sendo bom para eu aprender a ter mais comparação” (Sujeito 07). A

afirmação se refere à experiência profissional e à comparação com outros empregos.

Outras respostas significativas destacam-se: “[...] sim, pois os dois têm retorno

financeiro” (Sujeito 04). Neste caso, o sujeito se refere aos dois empregos já mencionados

anteriormente. Outro sujeito, embora tenha respondido não, afirma que: “[...] quero me

formar em alguma especialidade melhor para ter um bom dinheiro [...]” (Sujeito 07), assim

apresenta a preocupação financeira como algo que o influencia na escolha profissional.

Curiosamente, são poucos os jovens que pensam no retorno financeiro do trabalho. Desta

maneira, há evidências da predominância da satisfação com o emprego em detrimento dos

ganhos financeiros. São poucas as falas que podem ser comparadas com a maioria que traz a

preocupação ou a expectativa no foco financeiro, o que difere dos dados estatísticos em que o

salário aparece como uma das principais preocupações juvenis.

Em outra justificativa de uma jovem sobre a permanência no mesmo tipo de emprego,

observa-se que quanto mais especializado for e maior a escolaridade, maior será o salário a

receber na expectativa dos jovens. “Sim, quero me especializar na área e garantir um bom

retorno financeiro” (Sujeito 05). As justificativas que contemplam a continuação na área em

que já atuam são variadas, “Sim, porque não é um emprego difícil e tenho bons amigos lá”

(Sujeito 06). Esta resposta é intrigante e remete às influências dos amigos e dos

relacionamentos para a construção da carreira. Na atualidade, existe uma palavra para este

tipo de relacionamento que se chama network. Estes relacionamentos podem abrir portas para

futuras parcerias, principalmente para quem trabalha solo. A seguir, algumas respostas dos

jovens que já definiram seu projeto de futuro:

Sim, vou fazer administração, caso não tenha oportunidade, vou procurar

outro serviço (Sujeito 03).

Ano que vem, quando começar minha faculdade, pretendo sair do cargo de

recepcionista e mudar para estagiária de Educação Física (Sujeito 02).

Sim, tenho uma meta que quero cumprir e estar chegando à gerência talvez

(Sujeito 03).

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Estes depoimentos indicam que os sujeitos têm projetos futuros, embora nem todos

estejam na área na qual pretendem atuar. Um depoimento interessante foi o de um jovem que

justificou não pretender continuar na área em que trabalha: “Trabalho em um supermercado, e

vejo que ali não leva ninguém a lugar nenhum. Os que trabalham lá são praticamente

escravos” (Sujeito 08). Fala indicando que o sujeito pensa no mercado de trabalho e no

retorno financeiro que o trabalho oferece, bem como no esforço para realizá-lo. É também

uma iniciativa por parte dele em refletir sobre o que é vantajoso ou não no mercado de

trabalho. Outras falas apresentadas pela juventude apontam que alguns dos sujeitos já estão

com escolhas definidas como este: “[...] sim, pretendo continuar na área. Odontologia,

porque futuramente pretendo fazer algo deste tipo” (Sujeito 01). Outros jovens, embora,

justifiquem que não pretendam continuar na área, também já fizeram suas escolhas,

Não. Pretendo trabalhar com criação e manutenção de sites (Sujeito 09).

Não, porque acho que devo trabalhar com outras pessoas, aprender coisas

novas, e eu quero faculdade de Ed. Física então nem dá (Sujeito 06).

Não quero ser office boy a vida toda, pretendo fazer Gestão Empresarial ou

algo no ramo (Sujeito 09).

Quero algo melhor ou algo na minha área, que é design gráfico (Sujeito 04).

Observou-se certa freqüência nos depoimentos dos jovens à permanência no emprego

para ajudar a família. Esta preocupação é constante em muitas falas como esta: “Sim, [...]

para ajudar minha família” (Sujeito 03). Segundo Soares (2002), a família exerce pressão nas

escolhas dos jovens. Muitas vezes indiretamente, pois esta é velada em muitos os casos.

Na seqüência, a pesquisadora perguntou aos jovens se eles já haviam pensado em uma

futura profissão. As respostas foram esmagadoramente sim, entre elas, uma jovem justificou:

“Sim, tem várias, mas na verdade, ainda não escolhi” (Sujeito 06). O depoimento demonstra

ainda que a jovem está em dúvida quanto à escolha profissional. Este fato reflete o que muitos

dos jovens pesquisados afirmam: estar em dúvida quanto à carreira a seguir. Assim, sobre a

importância da profissão dos pais na escolha profissional, a maioria dos sujeitos mencionou

que a profissão dos pais não tem importância na escolha, pois os mesmos consideram esta

uma decisão pessoal. Alguns depoimentos merecem destaque:

Deve-se escolher a sua profissão sem influências de outras pessoas e sim

com a sua visão e modo de pensar (Sujeito 01).

[...] a profissão dos meus pais não me influencia. Seria fácil para eu

aprender e estudar nela, não, eu não quero (Sujeito 02).

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[...] tenho que ver o que é melhor para mim para me satisfazer. Pois não é

apenas exercer qualquer profissão e sim ver o que você quer para sua vida

(Sujeito 03).

Conforme Soares (2002), muitas vezes, as expectativas da família se confunde com a

dos jovens, que acabam aceitando-as para sentir-se aceito, sem perceber tais influências.

Entretanto, os pais influenciam os filhos desde que estes nascem. Sutilmente ou não,

exacerbam ou rechaçam certos comportamentos, valorizam ou não certas atitudes, o que leva

a juventude a aprovar ou não certos padrões de comportamento. Profissionalmente, ocorre a

mesma situação. Assim, certamente a família influencia nas escolhas dos filhos. Alguns

jovens mencionaram que seguiriam uma profissão bem diferente da dos pais, pois nada os

influencia,

Meus pais não tiveram oportunidade de estudo, já que eu tenho vou seguir

uma profissão bem diferente (Sujeito 01).

A profissão de meus pais não tem importância alguma, porque uma pessoa

só dá o seu melhor quando ama o que faz e eu irei dar o meu melhor na

profissão que eu escolher para mim, independente de meus pais (Sujeito 02).

A escolha é minha. Quero fazer alguma coisa que me traga satisfação e ao

mesmo tempo, que tenha uma boa remuneração (Sujeito 03).

Acho que devo fazer algo que goste, que me sinta bem. Adoro a profissão

dela (mãe) e como ela desempenha a sua profissão, mas não é a área que eu

gostaria de trabalhar (professora) (Sujeito 08).

Muitas vezes, a vida familiar é tão sofrida que exerce influência contrária nos filhos,

reforçando ou assegurando o que eles não desejam para suas vidas. A juventude pesquisada

demonstrou que as influências da família na escolha profissional algumas vezes ocorrem

sutilmente. Tanto que eles não se dão conta de tal influência, pois mesmo os que afirmam que

nada os influencia ou que seguiriam uma profissão bem diferente da dos pais, fazem esta

afirmativa baseados em influências e informações anteriores. Segundo Soares (2002), as

pessoas recebem influências da família e da sociedade desde o momento em que nascem e

assim podem não perceber tais influências por falta de reflexão e de autoconhecimento.

Observa-se, conforme os relatos, que este segmento juvenil possui a expectativa de

arrumar um trabalho que proporcione satisfação pessoal associada ao gosto em realizá-lo, bem

como revelam a expectativa de bons salários: “Pretendo escolher uma profissão que me dê uma

boa condição financeira, independente da profissão de meus pais” (Sujeito 05). Esta fala

demonstra que o jovem tem noção de planejamento e de projeto de vida, bem como possui a

consciência de que a escolha profissional vai impor um modo de vida diferente, portanto, esta

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deve ser pensada e refletida. Ao mesmo tempo, constataram-se na maioria dos depoimentos que

são poucos os jovens que possuem a noção do esforço e dos cursos de treinamento, capacitação

e aperfeiçoamento constantes que serão obrigados a fazer, além de um curso superior ou

técnico, na tentativa de conciliar suas expectativas com a realidade do mercado de trabalho.

Foram poucos jovens que mencionaram que escolheram na infância o que desejam fazer no

futuro,

[....] é uma coisa que gosto desde pequena, penso em fazer uma faculdade e

continuar no que escolhi para mim (Sujeito 01).

Cada pessoa é diferente da outra, sendo pai ou mãe eles fizeram a escolha

deles por opção ou vontade. Vou fazer igual. É uma coisa que eu queria

desde pequena [...] (Sujeito 02).

Um fato inusitado ocorreu após a aplicação dos questionários. A pesquisadora

permaneceu do lado de fora da sala num espaço aberto, no qual alguns dos sujeitos

pesquisados também se encontravam. Eles vieram perguntar sobre a pesquisa. Neste

momento, a pesquisadora estava lendo a questão sobre a profissão dos pais e perguntou aos

jovens se eles seguiriam a mesma profissão dos pais. Um dos alunos respondeu

imediatamente: “Se eu for fazer a mesma coisa que meu pai e minha mãe fazem, eu não serei

nada na vida”. Então a pesquisadora perguntou o que os pais dele faziam e o sujeito disse

“Nada, eles não tiveram estudos por isso não tiveram oportunidades [...]”. Outro jovem

comentou “Bem, ninguém da minha família tem faculdade e um emprego bom. Só eu estou

terminando o terceirão e pretendo fazer vestibular e faculdade”. Nas falas dos jovens,

percebe-se o valor que eles dão aos estudos e a expectativa de conseguir uma boa colocação

no mercado de trabalho,

Meus pais são agricultores e moram longe daqui. Eu já estou aqui para

estudar [...] nenhum deles tentou se formar [...] eles tiveram uma vida muito

difícil e não pretendo ter também. Eles tiveram dificuldades por falta de

estudo e eu estudo para crescer (Sujeito 01).

Muitos jovens justificaram que pretendiam seguir uma profissão diferente da dos pais

porque eles não tiveram chances de estudar. Isso comprova a esperança e a expectativa que a

juventude deposita na educação. Para outros jovens, seguir a mesma profissão dos pais não se

constitui num problema,

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Eu gosto muito da profissão de meus pais e talvez eu até queira segui-

la, mas não é porque tem que ser assim (Sujeito 05).

Independente do que os meus pais fazem, vou ver se eu consigo me

encaixar e verificar se aquilo também me satisfaz, então trabalharia

na mesma coisa que eles (Sujeito 02).

Outros ainda disseram que a profissão dos pais ajuda na escolha, mas não os

influencia, como se pode ver nas falas dos jovens,

Eu não preciso exatamente ter a mesma profissão de meus pais, mas eles me

ajudam na minha escolha, porém não são eles que influenciam na minha

decisão final (Sujeito 05).

É bom ouvir a opinião da família nessas horas, mas a escolha no final

sempre será minha (Sujeito 02).

[...] se eu gostar da profissão, posso até segui-la, mas não gosto muito

(Sujeito 03).

A questão da escolha profissional é atravessada por muitos fatores. Entretanto, por

meio de reflexão, pesquisa e autoconhecimento e muita comunicação é que o jovem consegue

definir-se profissionalmente. A afirmativa do sujeito abaixo nos dá a noção da extensão das

influências que atravessam a escolha: [...] meu pai é marceneiro. Até pensei em fazer

Arquitetura e Urbanismo para trabalhar com ele, porém não é o que eu quero no momento

(Sujeito 09). Nem todos os jovens conseguem dizer não aos apelos familiares, caso deste

jovem. Por isso, muitas vezes, acabam escolhendo uma profissão baseada nas expectativas

dos outros.

Ainda na questão sobre seguir ou não a mesma profissão dos pais, uma resposta

interessante é deste jovem: “Cada um trabalha no que gosta. É certo que nem todos estão

satisfeitos com seu trabalho e não gostam dele, mas tem que trabalhar” (Sujeito 10). Fala que

remete ao sentido do trabalho como sobrevivência. Para este jovem, é nítida a noção de

trabalho encarado como sacrifício ou algo penoso. Demonstra a falta de expectativa e

esperança no futuro. A maioria dos jovens que possuem a expectativa de conseguir um bom

emprego no futuro e que consigam se auto-realizar declararam,

Eu vou escolher uma profissão que eu goste de fazer [....] (Sujeito 06).

[...] procuro um futuro melhor [...] eu quero algo melhor. Eu vou ser

administradora (Sujeito 03).

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Estes depoimentos evidenciam a expectativa da juventude em conseguir um bom

emprego, o qual proporcione um futuro melhor. Muitos jovens declaram fazer suas escolhas

com certa autonomia, entretanto, conforme a literatura consultada, muitos fatores e

influências atravessam a escolha profissional.

4.1.6 Sentimentos de insegurança, dúvidas e medo da juventude na atualidade

Um dos fenômenos que assola a juventude brasileira na atualidade é o desemprego. É

um dos principais medos vivenciados pelos trabalhadores adultos e jovens, contexto que causa

incertezas e uma diversidade de sentimentos em relação ao futuro profissional especialmente

dos jovens. Especificamente quanto ao desemprego juvenil, a Pesquisa Nacional por Amostra

de Domicílio 2007 (PNAD) ressalta o quanto ainda são restritas as oportunidades para os

jovens no mercado de trabalho: 4,6 milhões estavam desempregados, representando 63% do

total de desempregados no país (IPEA, 2008). O desemprego juvenil era 2,9 vezes maior que o

dos adultos (a taxa de desemprego juvenil era de 14%, enquanto a taxa de desemprego adulto

era de 4,8%). Separando os dados por faixas etárias, consta-se que, de 2006 para 2007, ocorreu

uma redução no percentual de desempregados nas faixas etárias de 16 a 17 anos e de 18 a 25

anos. O mesmo não aconteceu no grupo de 25 a 29 anos, para o qual foi constatada uma ligeira

alta no desemprego.

Só se sentem seguros em relação ao emprego aqueles jovens que já escolheram um

curso para fazer após o Ensino Médio ou aqueles já empregados. Todavia, na atualidade,

ninguém tem garantias de emprego. Tal condição é um fato gerador de outro tipo de

ansiedade e medo para a juventude brasileira. Em relação aos sentimentos quanto à futura

profissão, alguns jovens se manifestaram inseguros. Eles se sentem confusos e indecisos

diante de tantas opções e colocam a necessidade de mais tempo para as escolhas,

Não tenho e nunca tive oportunidade de entender bem aquilo que eu quero

[...] eu tenho uma escolha, mas não me sinto segura com essa escolha. Não

sei se vai dar certo, se vai ser bom pro meu futuro (Sujeito 01).

Tenho dúvidas entre outras profissões que eu gosto e que sejam bem

remuneradas (Sujeito 02).

Eu já tenho uma profissão que escolhi, só preciso um pouco mais de tempo

para pensar [...] não consegui ainda me decidir (Sujeito 05).

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[...] me sinto um pouco inseguro. Vai que eu comece a fazer a faculdade e

não goste, pois pensava que era diferente daquilo (Sujeito 06).

Outros jovens colocam mais dúvidas, principalmente os que ainda não escolheram sua

profissão ou curso,

Tenho muitas dúvidas porque é uma profissão para minha vida, para meu

futuro e tem que ser analisada com muita cautela (Sujeito 02).

Todos falam para eu seguir um tipo de profissão e com isso eu fico indecisa

(Sujeito 03).

Nem faço idéia do que eu quero ser ou de qual profissão eu me encaixo

(Sujeito 06).

Ainda tenho dúvidas sobre algumas profissões a seguir. Na infância pensava

em ser engenheiro, mas hoje penso em ser jornalista (Sujeito 04).

Tenho muitas dúvidas. Existem muitas carreiras a seguir que nos deixam em

dúvida na hora de escolher (Sujeito 08).

Os depoimentos revelam o drama de muitos jovens que entram para a universidade e

após um período curto desistem dos cursos escolhidos por não acharem compatíveis com

aquilo que almejavam. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais (INEP, 2009), uma pesquisa realizada entre os anos 2005 e 2006 registra que

anualmente mais de 20% dos alunos matriculados nos cursos superiores compõem o índice de

evasão escolar no setor, logo nos primeiros anos de estudo. Este índice varia de acordo com as

regiões, chegando a 46% na região Norte. Muitos fatores contribuem para este índice, como

econômicos e sociais, entretanto, a escolha prematura e a falta de conhecimento das

especificidades de cada curso são alguns dos dados que merecem atenção. Neste sentido,

novas pesquisas despontam sobre o tema.

O jovem tem na atualidade uma gama crescente de cursos superiores a escolher. Tal

fato torna a escolha ainda mais tumultuada devido à especificação dos cursos, que muitas

vezes não são claros. Segundo o INEP (2009), o censo da Educação Superior de 2008 traz que

o número de cursos aumentou 5,2%. Novos cursos de graduação presencial nas IES brasileiras

foram ofertados. Somente as IES estaduais não registraram crescimento em 2007, com um

decréscimo de 1,6% nos cursos ofertados. Igualmente, houve um aumento de 7,3% (cerca de

319 mil) no número de vagas ofertadas em graduação presencial e à distância. As instituições

privadas foram responsáveis pela oferta de cerca de 4 (quatro) milhões de vagas em 2008,

apresentando aumento de 4% em comparação a ano anterior.

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115

Os dados coletados pelo INEP (2009) apontam que em 2008 foram ofertadas 463.969

vagas nos cursos de Educação Tecnológica, com um aumento de 17,8% em relação a 2007.

As IES privadas são responsáveis por 94% da oferta. Na graduação à distância, cerca de 115

instituições ofereceram 647 cursos em 2008. Desta forma, as matrículas na modalidade de

ensino à distância aumentaram 96,9% em relação ao ano anterior. Em 2008, passaram a

representar 14,3% do total de matrículas no ensino superior. Além disso, o número de

concluintes em Ead cresceu 135% em 2008, comparado a 2007.

Diante da diversidade de cursos e opções, os jovens buscam apoio na tentativa de

escolher um curso que melhor se adapte as suas exigências, habilidades e aptidões. Muitos

declararam que não querem ou não podem perder tempo. Nesta perspectiva, desejam acertar

na escolha já na primeira tentativa, diversamente do que ocorre com muitos jovens que

segundo pesquisas anteriores das próprias instituições superiores, declaram não gostar do

curso que escolheram.

4.1.7 A preocupação com o tempo e as dúvidas da escolha

A questão do tempo é relevante e aparece como uma das principais preocupações dos

sujeitos pesquisados, os quais afirmam que gostariam de ter mais tempo para refletir. Os

jovens são obrigados a tomar decisões sobre sua carreira e o curso a seguir com tenra idade, o

que acarreta por vezes escolhas prematuras. Nas falas dos sujeitos pesquisados o tempo e o

medo são evidentes,

Tenho medo de escolher alguma coisa e não dar certo. Irei perder muito

tempo [...] (Sujeito 01).

Não tive tempo para escolher [...] inseguro, pois o mercado de trabalho é

muito disputado e temos vários tipos de profissão. Então assim ficamos

indecisos (Sujeito 02).

Talvez eu saiba com o que queira trabalhar, mas ainda posso mudar de

escolha (Sujeito 03).

Pelos depoimentos, constata-se que os jovens sentem-se inseguros, mesmo os que já

escolheram revelam tal sentimento.

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Tenho muitas dúvidas sobre qual profissão seguir, acho que tenho que

pesquisar mais (Sujeito 04).

Inseguro [...] assim eu escolhi minha profissão, mais até eu entrar na

faculdade, pode ser que apareçam outras coisas, ou eu acabe querendo

mudar por vontade própria (Sujeito 05).

[...] inseguro e indeciso, tenho muitas dúvidas, pois é uma profissão para o

resto de minha vida (Sujeito 06).

Os depoimentos revelam a mesma problemática já exposta por Soares (2002), a qual

ressalta que ao longo de nossa vida fazemos muitas escolhas e estas não são definitivas. Não

existe a escolha certa para o resto da vida, pois tudo muda constantemente e as exigências do

mercado de trabalho evoluem, solicitando dos atores sociais constantes aperfeiçoamentos e

aprendizagens. Uma profissão que na atualidade está em voga, amanhã poderá deixar de

existir e novas surgirão. Entretanto, mesmo assim, alguns jovens já se mostraram seguros em

relação as suas escolhas,

Estou segura porque pensei e pesquisei muito sobre a profissão que vou

seguir. E acho que é a melhor para mim (Sujeito 01).

A faculdade que irei fazer me traz muita segurança e certeza para o que eu

quero pra minha vida, pois é algo que gosto muito e sei que realizarei com

sucesso (Sujeito 02).

Encontrei a profissão que se encaixa no meu perfil (Sujeito 03).

Como se pode ver, alguns destes jovens declararam estar seguros de suas escolhas e

logos abaixo a mesma segurança é observada nos depoimentos entre os quais já escolheram o

curso de sua preferência, como medicina e direito. Entretanto, observa-se a preocupação

financeira com o custo do curso escolhido.

Medicina não importa se é caro ou não, sei que vai ser difícil eu pagar, mas

é isso que eu quero (Sujeito 16).

Interesso-me por certa profissão e só, pois exerço um pouco dela e gosto do

que faço (Sujeito 05).

Desde criança me interessa a área do direito e cada vez mais gosto mais do

que faço (Sujeito 17).

Desde que escolhi minha profissão não tive mais incertezas (Sujeito 07).

Os sujeitos que estão decididos por um curso afirmam se sentirem seguros. Porém, um

deles ponderou não se sentir nem seguro nem inseguro “[...] a profissão que eu quero exercer

é muito difícil, mas faço de tudo para poder alcançá-la” (Sujeito 10). Numa análise positiva,

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este jovem deseja alcançar sua meta. Assim, com muito estudo, planejamento e dedicação terá

sucesso. Talvez seja possível, uma vez que várias modalidades estão sendo lançadas pelo

governo para quem pretende cursar uma faculdade ou fazer um curso técnico, o que capacita

os sujeitos a cargos especializados.

4.1.8 Possibilidades e limites da escolha profissional

Bock et al (1995) ressalta que o profissional que trabalha na promoção de saúde

deveria nortear sua prática em relações sociais amplas e de condição de vida saudáveis para

além da prevenção. Para o autor, os indivíduos estão inseridos num contexto sócio-histórico.

O fato de poder planejar ações as quais contribuam para a saúde de modo amplo significa

trabalhar para ampliar a consciência do indivíduo sobre sua realidade, preparando-o para agir,

transformar e resolver todas as dificuldades que o rodeiam, ou seja, visando re-significar as

relações e experiência vividas.

Em Orientação Profissional é importante o indivíduo possuir a consciência de si e do

mundo que o cerca, para assim construir um projeto de vida. Bock et al (1995) salienta que

todos os indivíduos têm possibilidades, entretanto, é necessário conhecer também os limites e

necessidades. Assim, as condições são dadas pela sociedade. Ter uma atitude de

estranhamento, indagação e enfrentamento diante da realidade é uma habilidade que se

adquire com reflexão. A importância de refletir sobre as profissões, possibilidades e limites

individuais, antes de fazer a escolha profissional, também foi postulada nos depoimentos da

maioria dos jovens, os relatos mais significativos trazem-se a seguir,

[...] porque nós, com pouca idade, devemos fazer uma escolha que irá

definir o nosso futuro e isso não é fácil e nem é brincadeira (Sujeito 01).

Tudo tem que ser pensado antes, para que você evite tomar uma decisão

precipitada e tenha uma decepção profissional (Sujeito 02).

Nem todos nós estamos preparados para fazer esta escolha, pois é a escolha

de nosso futuro (Sujeito 03).

Muitos estudiosos e pesquisadores trazem reflexões sobre fazer a escolha profissional

em tenra idade. Em nossa cultura são poucos os pais que incentivam os filhos a refletirem.

Menos ainda são os que aceitam dar um tempo maior para que os filhos escolham. Conforme

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depoimentos em pesquisas anteriores que participei, os jovens que pedem um aprazamento

maior para escolher são rotulados como “vagabundos”. Como já trabalhei com Orientação

Profissional em uma escola pública, tive a oportunidade de conversar com pais de jovens e

verificar este rótulo atribuído aos jovens na prática. Alguns pais afirmavam na época: “[...]

este menino não quer nada com nada, agora nem estudar ele quer, quer um tempo, vê se pode

uma coisa destas”. Outros pais mais esclarecidos não tinham problemas em afirmar que os

filhos poderiam ficar até um ano sem estudar e trabalhar para decidir o seu futuro. Entretanto,

esta é uma condição que não é viável para a maioria das famílias, pois conforme dados desta

pesquisa, a maioria dos jovens entra no mercado de trabalho antes de terminar o ensino

médio.

4.1.9 A importância da informação e reflexão na escolha profissional

A escolha profissional não é simplesmente escolher uma faculdade, mas sim, um

trabalho e um estilo de vida (BOCK et al, 1995). Os jovens pesquisados apontam em suas

falas a necessidade de reflexão para fazer a escolha profissional. Como já vimos, o primeiro

depoimento descrito revela a importância de avaliar o curso ou profissão. Ele se refere à

preocupação de saber como este é integrado, pois de nada adianta escolher uma profissão

como médico, por exemplo, e não poder ver sangue,

[...] pois não poderia ser agrônoma ou veterinária, se não gosto do que estas

profissões exercem (Sujeito 01).

[...] é importante refletir, esclarecer todas as minhas dúvidas, pois afinal

não sei ao certo o que irei fazer (Sujeito 02).

Sim, pois temos que escolher os benefícios que irão nos trazer e a satisfação

pessoal [...] (Sujeito 03).

Este aspecto demonstra ser relevante a reflexão por parte do sujeito para escolhas mais

acertadas. Assim, o envolvimento e o conhecimento das profissões passam a ser essenciais,

[...] para que lá no futuro não nos arrependamos [...] tenho que escolher

bem para não perder tempo (Sujeito 04).

[...] pois devemos ficar por dentro dos assuntos que envolvem o que quero

seguir. Não só eu como os outros também (Sujeito 05).

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[...] querendo ou não, sua escolha profissional pode ser uma escolha para o

resto da vida, aí então você precisa parar e refletir, pois não adianta você

estar em um trabalho em que você não se sente satisfeito (Sujeito 9).

Nas palavras do sujeito 09 observa-se sua tendência em fazer uma escolha definitiva.

Na atualidade, com as constantes mutações provindas em grande parte pela velocidade de

informação, nem sempre esta expectativa é possível. Em uma das falas de outro jovem, a

reflexão sobre projeto de futuro apareceu também como algo imutável “[...] sim, pois é algo

que vai fazer parte de minha vida profissional [...] é algo que vou fazer para o resto de minha

vida” (Sujeito 16). Ao mesmo tempo, demonstrou projeto de futuro. Há certa ingenuidade na

crença de um futuro que não muda, pois com as constantes mudanças ocorridas no mercado

de trabalho e na sociedade, o emprego como existia antigamente, com carteira assinada, no

qual a pessoa entrava em uma empresa e ali se aposentada, deixou de existir. Segundo Vieira

(2005) e Bendassolli (2007), ninguém tem garantias de emprego ou trabalho, mesmo sendo

um profissional liberal. Ninguém pode apostar que fará a mesma coisa por muitos anos. No

vídeo apresentado nas palestras devolutivas, também ressaltamos esta questão, com os

depoimentos de pessoas entrevistadas pela TV Educativa, as quais afirmaram iniciar sua

carreira em uma área, mas o mercado de trabalho solicitou exigências diferenciadas da

formação inicial dos sujeitos.

4.1.10 A escolha certa e a satisfação em fazer o que faz: preocupação com o lado financeiro

do trabalho

Em quase todas as respostas e justificativas dadas às questões levantadas na pesquisa,

aparece a discussão da escolha certa (SOARES, 2002). Neste sentido, um jovem justificou:

“[...] se não refletir acaba por escolher a profissão errada e fica se lamentando” (Sujeito 06).

Já outro sujeito considera “Para escolher uma profissão temos que saber do que se trata e

como iríamos nos sair; qual o caminho que iríamos tomar para não voltar para trás” (Sujeito

05). Conforme se pode constatar, o mesmo tipo de explicação se evidencia na preocupação

dos jovens em fazer escolhas certas ou erradas, se tornando um problema aparente. Com

muita freqüência a questão é escolher uma faculdade ou profissão em função de fazer o que se

gosta de fazer, se auto-realizar-se. Entretanto, a questão financeira ficou mais evidente nestas

escolhas, mas poucos justificam o fato, “[...] para fazer uma boa escolha, tanto para ter

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satisfação, quanto para ter um retorno financeiro” (Sujeito 04); “[...] ela será nosso futuro,

nela trabalharemos todos os dias. Será ela que fará nossa renda mensal” (Sujeito 16).

Na análise desta investigação, a noção de trabalho como algo penoso ou castigo

apareceu em algumas respostas anteriores, mas um jovem referiu-se sobre a importância da

reflexão na escolha profissional significando o trabalho “[...] para saber se a profissão será

muito desgastante, estressante, etc..” (Sujeito 08); “[...] sim, para saber se será uma profissão

desgastante” (Sujeito 11). Ainda sobre a importância da reflexão nas decisões futuras, aparece

como um não arrependimento ou risco de fracasso “[...], pois sempre é bom pensar antes de

seguir em frente. Pois se você seguir sem refletir pode se arrepender depois” (Sujeito 03).

A preocupação do conhecimento e da informação profissional aparece associada à

reflexão “[...] é importante eu saber sobre cada uma, para que eu possa decidir qual é a

melhor para mim e qual eu me sinto mais à vontade” (Sujeito 10). Outro sujeito declara: “[...]

então eu teria um melhor conhecimento sobre as profissões. Se com as minhas capacidades

eu irei me encaixar no emprego e até onde eu posso chegar seguindo certa profissão”

(Sujeito 08). Conhecer as demandas do mercado de trabalho, acompanhar as oscilações e

exigências deste são pré-requisitos exigidos no perfil de um novo trabalhador e os jovens não

deixam de ter conhecimento sobre este fato, “Acho que tenho que escolher uma profissão que

tende a crescer no mercado de trabalho” (Sujeito 05). Outro jovem se posiciona “[...] se eu

não souber tudo o que posso saber sobre essa profissão, isso pode me frustrar daqui a algum

tempo, sabendo que não era o que eu imaginava sobre a profissão e o mercado” (Sujeito 07).

Estas falas remetem à pesquisa realizada nas instituições de ensino superior no Brasil, na qual

de acordo com dados do INEP (2009), mais de 20% dos alunos desistem ou mudam de curso,

entre outros motivos, por não considerarem o curso escolhido compatível com o desejado. O

depoimento deste jovem caminha na mesma direção, ou seja, a preocupação em não mudar de

curso: “[...] penso bem antes de analisar, para não ficar mudando de profissão” (Sujeito 16).

A reflexão ainda se mostrou relevante como forma de esclarecimentos de dúvidas:

“Sim, porque podemos tirar nossas dúvidas e vai nos ajudar” (Sujeito 03). Em síntese, os

depoimentos revelaram que a reflexão tem sua importância garantida entre as preocupações

dos jovens diante da escolha profissional.

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4.1.11 Iniciativas da escola em promover a Orientação Profissional

A escola é uma instituição social que tem o dever de promover aos alunos a cidadania,

formar valores e favorecer a reflexão, portanto é formadora de opinião. Abriga a diversidade,

a heterogeneidade e a multiplicidade traduzida pelos jovens que a freqüentam. Neste contexto,

Soares (2003) nos diz que a escola na maioria das vezes não incentiva o jovem em sua auto-

reflexão e autoconhecimento, como deveria. Para a autora, a escola deveria preparar para a

vida e para o trabalho. Entretanto, nem sempre a juventude pode contar com o apoio da

escola. Muitas vezes os jovens sentem-se desamparados e inseguros, em relação à

colaboração da escola na participação de sua vida social, profissional, política e econômica.

Os desafios que os jovens enfrentam para se inserirem no mercado de trabalho,

segundo Schwartzman e Cossio (2007), perpassam por uma determinante fundamental: a

educação, a qual além de preparar o jovem para ter maior probabilidade de conseguir um

emprego, é responsável também pelas chances dos jovens conseguirem cargos com melhor

remuneração. A juventude pesquisada crê na educação como propulsora para um emprego

melhor. Isto não equivale dizer que ela é responsável por todas as mazelas e problemas

sociais. Seria imprudência creditar a responsabilizar por fatores externos a ela, os quais

dependem de políticas públicas e conjunturas econômicas específicas de cada país. Entretanto,

a educação também é um caminho que pode proporcionar uma sociedade mais democrática e

justa em suas dimensões, a fim de que os jovens possam alçar vôos rumo a uma vida melhor.

Como foi possível visualizar nas falas dos jovens estudados, é importante refletir sobre

todas as questões que envolvam a escolha profissional, incluindo as possibilidades e os limites

da escolha, autoconhecimento, informação profissional, comunicação entre pais e filhos, etc.

Com referência à questão sobre iniciativas da escola em promover reflexões sobre o futuro

profissional dos jovens, um fato inusitado ocorreu: 50% dos jovens pesquisados responderam

sim e 50% responderam que não. Em se tratando de pesquisa realizada na mesma escola, as

respostas foram ambíguas. Entretanto, uma explicação pode estar relacionada ao fato de se

tratar de dois turnos, o matutino e o vespertino. Aqueles que responderam afirmativamente

que já houve palestras e cursos na escola justificaram,

[...] a escola se preocupa com as escolhas que fazemos e sempre aparece

alguém fazendo palestras (Sujeito 01).

O Rotary Clube já veio na escola com o Projeto Rumo, que ajuda a orientar

os alunos sobre cada profissão (Sujeito 02).

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Muitas vezes na aula de Educação Física [...] os professores sempre

aconselham (Sujeito 04).

Trouxeram diversas pessoas de diferentes áreas para palestrar sobre sua

profissão (Sujeito 05).

A escola é um lugar ou um espaço onde o aluno desenvolve suas habilidades sociais,

afetivas e cognitivas com o objetivo de desenvolver conhecimentos teóricos. Seu objetivo

abrange também a preparação para o trabalho, bem como a missão de oferecer uma formação

adequada para o ingresso dos alunos no mercado. Entretanto, de modo geral, na prática isto

não ocorre desta forma. Para a autora é urgente que a oreintação profissional seja trabalhada

na escola (SOARES, 2000).

Os sujeitos se empenharam ao justificar as iniciativas da escola em ofertar algum tipo

de reflexão sobre a orientação profissional, assim complementa este sujeito,

Sim, pois no ano passado teve a OPA da Univali de Itajaí, mais eu não pude

ir, pois tinha que trabalhar [...] houve aulas de empreendedorismo (Sujeito

01).

As iniciativas de reflexão com os jovens sobre as escolhas profissionais e sobre as

questões ligadas ao mundo do trabalho ficam a critério de eventos esporádicos ou, conforme

depoimento da Orientadora Educacional, fica a cargo da boa vontade da comunidade. Os

professores também orientam, entretanto, esta orientação também não é permanente, embora,

no caso de algumas palestras realizadas por profissionais convidados houve debate. Neste

sentido, um jovem afirmou que não fez o ensino fundamental na escola pesquisada disse “[...]

na escola onde eu estudei na 6.ª série, sempre tivemos esse hábito de estar pensando sobre

nosso futuro” (Sujeito 17).

Neste aspecto, acredita-se que a Orientação Profissional, como um processo que não

ocorre momentaneamente, deveria ser tema de reflexão na escola desde os primeiros anos do

ensino fundamental, pois já na infância alguns dos sujeitos pesquisados afirmaram que

escolheram o que queriam fazer profissionalmente no futuro. É obvio que muitos não

persistem nos ideais da infância, porém, a reflexão sobre o futuro profissional é carregada de

influências. Quando refletidas desde a mais tenra idade, podem proporcionar escolhas mais

maduras, pensadas, assertivas e favorecer o jovem no futuro, que tem chances de fazer a

escolha que melhor se adapte ao momento, uma vez que tudo muda constantemente, inclusive

nossas escolhas.

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Retomando a análise, os jovens responderam que a escola não realiza reflexão sobre o

assunto ou não toma iniciativas para reflexão sobre a escolha profissional e assuntos a ela

relacionados. Suas justificativas mais expressivas foram no sentido da expectativa de uma

educação com qualidade que contemple inclusive as questões profissionais, como é

evidenciado nesta afirmativa: “Penso que neste assunto os colégios ainda estão ruins”

(Sujeito 04). Um dos jovens menciona ainda “Não há muito interesse por parte da escola”

(Sujeito 06). Outro declarou: “Na verdade, nunca observei a escola tomar uma iniciativa

sobre a profissão de alunos” (Sujeito 09). Já outros jovens em suas falas se limitaram a dizer

“Não houve ainda. Não que eu saiba” (Sujeito 11).

Quando perguntados sobre a possibilidade da escola vir a oferecer um serviço de

Orientação Profissional, relacionou-se ao tipo de auxílio que a escola poderia estar investindo,

destacam-se algumas falas,

[...] sim, porque muitas vezes estamos em dúvida, não temos certeza se é

aquilo mesmo, pode ajudar sim (Sujeito 01).

[...] pois nem sempre o que eu escolhi é o que eu realmente penso (Sujeito

02).

[...] sim, ajudaria a tirar dúvidas e esclareceria pontos que não sabemos [...]

quanto mais ajuda melhor (Sujeito 03).

[...] se os alunos se interessarem (Sujeito 04).

Este último depoimento é muito significativo, pois nem sempre há interesse por parte

dos alunos a respeito de um serviço de Orientação Profissional, por mais benefícios que isto

possa trazer aos sujeitos. Às vezes, os jovens não se disponibilizam a aproveitar o que lhes é

oferecido, apesar de registrarmos que não foi um fato que tenha ocorrido na escola

pesquisada, todavia é possível ocorrer. A contribuição da orientação profissional é registrada

em outros depoimentos,

Pois acho que muitos jovens que estão cursando o último ano do ensino

médio ainda estão indecisos na escolha de sua profissão, precisando assim

de orientação (Sujeito 01).

[...], pois estariam tirando as dúvidas de muitos [...] vai ajudar muita gente

(Sujeito 02).

Com certeza, precisamos de muita informação, quero ajuda (Sujeito 03).

Acho que poderia ajudar muito, pois a maioria dos alunos tem muitas

dúvidas e muita insegurança quanto à escolha profissional (Sujeito 04).

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Os relatos desvelam o que Soares (2002) e Petters (2007), entre outros estudiosos do

assunto, já constataram em suas investigações: os jovens sentem-se inseguros diante da

escolha profissional e diante das escolhas que têm pela frente. Isto gera medo, angústia e

ansiedade. Alguns sujeitos declararam que a orientação profissional oferecida nas escolas

serviria para esclarecer as dúvidas, pois muitos se encontram indecisos,

[...] esclareceria muitas dúvidas de vários alunos, seria uma luz. (Sujeito 4).

Muitas pessoas não sabem que caminhos devem seguir. É uma maneira de

ajudarmos a fazerem escolhas certas (Sujeito 01).

Talvez acabemos descobrindo mais e tirando dúvidas que temos, e perguntas

(Sujeito 02).

Existem muitas dúvidas ainda em relação à profissão, então acho que eles

poderiam explicar e dar oportunidade de conhecer e quem sabe fazer uma

aula na profissão escolhida (Sujeito 03).

Nas falas observa-se que a juventude demonstra o que quer, os jovens opinam e

sugerem aspectos na realização de grupos de Orientação Profissional. Também nos relatos a

seguir, consideram este auxílio na escola como um momento possível para refletir suas

angústias e anseios profissionais,

Pois assim nós poderíamos ficar um pouco mais seguros em relação à

escolha (Sujeito 05).

Já que muitos têm dúvidas ainda, uma orientação poderia ser uma forma de

auxílio na escolha (Sujeito 08).

Abrirá bastante os horizontes dos alunos, pois muitos não têm conhecimento

de várias profissões e nem de suas aptidões pessoais (Sujeito 09).

Os depoimentos indicam sentimentos de indecisão e dúvidas, apontando também para

a necessidade de informação profissional sobre os cursos e profissões.

Pois alguns ainda não estão decididos e/ou às vezes não sabem como fazer e

nem como procurar (Sujeito 01).

Com ajuda eles se sentiriam menos confusos sobre o que querem fazer

(Sujeito 02).

Eles poderiam estar nos ajudando, dando idéias de como é o preparo para

as profissões escolhidas (Sujeito 03).

[...] aí saberíamos as qualidades e defeitos, os prós e os contras das

profissões (Sujeito 04).

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De modo geral, as justificativas dos jovens demonstraram alguns conhecimentos sobre

o mercado de trabalho. Contudo, evidenciou-se também pelos depoimentos, a necessidade de

aprofundamento sobre as diversas mudanças no mundo do trabalho, demandas regionais,

aptidões pessoais, diagnóstico sobre a realidade das profissões em seu município e região,

mercado formal e informal, universidades próximas, índice de emprego e desemprego,

possibilidades profissionais, cursos disponíveis, qualificação profissional, etc. Temáticas estas

exploradas na palestra de devolutiva para a escola e alunos. Em outros depoimentos, as

justificativas apontaram a necessidade deste auxílio,

[...] nós jovens poderemos ter mais conhecimento da carreira que iremos

prestar [...] nós não estamos bem preparados para o mundo do trabalho

ainda (Sujeito 03).

Estamos no último ano e tem muita gente com dúvidas, inclusive eu. Assim

poderíamos esclarecer melhor nossas dúvidas [...] isto ajuda na escolha de

um trabalho que se encaixe com nosso perfil pessoal (Sujeito 04).

[...] uma oportunidade de conhecer melhor algumas profissões [...]. Para

tirar muitas dúvidas e assim estarmos mais preparados para a faculdade

(Sujeito 05).

Um depoimento que se destaca é o de uma jovem, a qual menciona a falta do apoio

familiar que alguns jovens vivenciam, “[...], pois tem muitas pessoas que não têm formação

própria do que querem para o futuro, e não têm o auxílio dos pais” (Sujeito 07). Esta fala

evidencia as influências da família, entretanto muitos não têm com quem contar para essa

reflexão.

O conhecimento sobre o mercado de trabalho e as exigências profissionais locais são

aspectos que devem ser considerados na escolha profissional. Como exemplo, de nada adianta

uma pessoa se formar em agronomia ou medicina veterinária se em sua região a demanda está

centrada na indústria pesqueira. “Seria bom desde cedo as pessoas já irem decidindo e vendo

o que lhe seria melhor para fazer” (Sujeito 05). Esta fala remete a pensar sobre a orientação

profissional como um processo que vai contribuir para que os jovens possam trilhar seus

caminhos com mais êxito profissional.

Neste sentido, os depoimentos acima trazem traços comuns, perceptíveis nas

respostas. O interessante é que os jovens falam de outros e, muitas vezes, não se incluem,

como se eles não fizessem parte do processo, como se sua escolha já estivesse feita. Conforme

depoimentos deste segmento juvenil pesquisado, verifica-se que eles se colocam no lugar do

outro, ou seja, fazem projeções. Poucos sujeitos falam sobre si e seu ponto de vista, como este

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“[...], pois ajudaria na minha escolha porque vou poder me aprofundar melhor no assunto”

(Sujeito 06).

A possibilidade de formar um grupo de Orientação Profissional na escola foi

registrada em alguns relatos de forma afirmativa, mas com algumas ressalvas, como o tempo

para a participação,

Mas infelizmente não tenho disponibilidade de horário (Sujeito 01).

[...] se tivesse em horário que eu tivesse disponibilidade eu participaria sim

(Sujeito 02).

[...] sim, mais não iria poder, pois estudo em dois colégios e não me sobra

tempo [...] (Sujeito 08).

[...] gostaria já que eu tenho muitas dúvidas, porém vai depender de meu

horário (Sujeito 09).

Conforme as respostas, o tempo se constitui num impeditivo para aqueles que

trabalham ou fazem outros cursos, pois não lhes resta tempo livre. Já aqueles que não

colocaram ressalvas, o esclarecimento de dúvidas aparece em evidência,

Acho que me ajudaria a escolher minha profissão, pois os professores não

falam sobre isso com os alunos (Sujeito 01).

Sim, pois quero fazer faculdade e isso me ajudaria a escolher melhor

(Sujeito 02).

Sim, pois é um benefício para nós [...] porque é uma forma de você pensar

melhor no seu futuro (Sujeito 05).

De acordo com estes depoimentos, observa-se e ao mesmo tempo sugere-se a

necessidade de Orientação Profissional nas escolas públicas, entretanto, não se pode jogar

mais esta responsabilidade nos ombros dos professores, que para esta atuação, necessitariam

de capacitação e formação adequada para cumprir com mais esta meta. Uma proposta para

este trabalho seria buscar uma equipe multidisciplinar composta por professores, orientadores

educacionais, psicólogos, sociólogos, entre outros profissionais. O relatório Delors (1998) é

uma referência importante para pensarmos nas competências adquiridas, seja para os alunos,

como também para professores e profissionais de todas as áreas que pretendam acompanhar

as mudanças ocorridas em nossa sociedade. Trabalhar em equipe, saber ser, saber fazer, saber

resolver conflitos e saber colocar-se no lugar do outro são as competências destacadas neste

relatório como essenciais para este século. É justamente nestes casos que o serviço de OP na

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escola pública poderia fazer a diferença na vida dos jovens, preparando-os para enfrentar este

novo milênio, que exige atualização constante dos diversos profissionais de todas as áreas.

De acordo com os depoimentos dos alunos (as), constatamos que os jovens desta

escola pública possuem interesse nos grupos de orientação profissional, mas desde que

aconteçam nos horários de aula, preferencialmente durante uma das aulas, pois por razões

diversas, especificamente pelo choque de horários com o emprego, não dispõem de tempo

livre fora do mesmo. Pelas justificativas apresentadas observa-se a preocupação com o outro,

o que é muito positivo em termos de grupo e trabalho em equipe, condição e habilidade

necessária para quem pretende ingressar no mercado de trabalho,

Fora do horário de aula teríamos mais tempo para discutir sem atrapalhar

as aulas (Sujeito 02).

Prefiro assim, pois não atrapalharia nossas aulas e viríamos para o grupo,

mais tranqüilos e dispostos (Sujeito 03).

[...] diferente, pois assim teríamos um tempo livre só para isso, e a atenção

seria redobrada (Sujeito 04).

Apesar de saber que muitos não poderiam vir, pois trabalham. Assim seria

melhor, pois não iria atrapalhar o desempenho escolar (Sujeito 05).

Estas são preocupações de grande relevância, pois nem sempre a escola pode abrir

espaço durante as aulas para este tipo de iniciativa. Portanto, a questão de horário teria que ser

discutida em conjunto com a direção e orientação da escola. A juventude desta escola

demonstra por meio de suas justificativas ter clareza que as aulas perdidas podem fazer falta

ou a diferença no vestibular, como na fala deste sujeito, “[...] porque no horário de aula pode

acabar atrapalhando os professores (Sujeito 01).

4.1.12 Contribuições da educação na escolha profissional e na Orientação Profissional

Neste eixo foi investigado em que sentido a educação pode contribuir com a juventude

pesquisada na questão do futuro profissional. Constatamos nos depoimentos que os jovens

têm grandes expectativas relacionadas a esse questionamento,

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A educação é fundamental tanto para o mercado de trabalho quanto para o

futuro profissional. [...] cada dia que passa o que mais se pede em qualquer

cargo é a qualificação necessária para este [...] (Sujeito 01).

A educação faz sentirmos parte da sociedade ainda mais, e temos vontade de

contribuir com a sociedade, e escolher a profissão (Sujeito 04).

Sem educação não se faz nada na vida, até para ser gari; lixeiro; precisa ter

2º grau completo (Sujeito 05).

Uma boa educação é a base de tudo, e sem dúvida acrescenta muito [...]

porque a educação faz parte de um futuro profissional (Sujeito 07).

Uma educação de qualidade é aquela que possa ajudar a melhorar a qualidade de vida

das pessoas e contribui para alavancar o desenvolvimento do país e dos processos de

formação humana, aspectos que poderão ser refletidos em grupos de orientação profissional.

Neste sentido, é possível verificar nos relatos dos jovens o auxílio da educação neste

processo, assim aparece de forma diversa:

Pessoas com mais estudos têm mais oportunidades no mercado de trabalho

(Sujeito 5).

Pois passamos uma parte de nossa vida estudando e aprendendo para

usarmos no futuro e/ou até mesmo ensinar (Sujeito 3).

Pois pode voltar nossas mentes para o futuro (Sujeito 4).

Sim, pois ajudaria a tomar muitas decisões certas [...] como, por exemplo:

“Como se portar durante uma entrevista”. (Sujeito 8).

Num dos depoimentos, aparece a questão de como se comportar numa entrevista, bem

como a elaboração de currículos, preocupações estas de muitos jovens que deveriam ser

discutidas na Orientação Profissional, para apoiar a juventude no momento da escolha da

carreira e do primeiro emprego. Segundo Caldeira (2002), a educação pode contribuir com o

ambiente de trabalho como recurso criativo e prazeroso, dimensão que direciona a educação

em todos os espaços, possibilitando a formação de um sujeito consciente. Entre os

depoimentos dos jovens, encontra-se esse que sugere aliar educação e trabalho: “Montar algo

que jovens desempregados pudessem trabalhar, assim, ensinando algumas maneiras sobre o

trabalho [...]” (Sujeito 09).

Entretanto, um fato curioso analisado na pesquisa é que alguns jovens confundiram

educação com ser educado. Pelas falas dos sujeitos, pode-se constatar tal fato: “Uma pessoa

educada, eu nem sei, mas é bom, pois assim ela está apta para o futuro, fazendo dele um

futuro melhor” (Sujeito 17). Na fala deste jovem fica evidente: “Com educação você será bem

recebido em qualquer lugar e será tratado com educação também” (Sujeito 12). Outro jovem

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também se manifesta, “Por causa da educação sabemos tratar uma pessoa de modo

respeitável, saber conversar em público, etc” (Sujeito 11).

Dentre os poucos sujeitos que não acreditam que a educação possa contribuir com seu

futuro profissional se destaca: “Porque o estudo poderia ser mais direto no que a pessoa

quer” (Sujeito 07). Este sujeito refere-se ao fato de que a escola poderia oferecer um ensino

profissionalizante, entretanto, inúmeras pesquisas comprovam que o ensino médio deveria ser

complementado com o ensino profissionalizante para dar uma formação mais generalista e

não apenas com o foco no mercado de trabalho. Algumas escolas de ensino médio já

contemplam o ensino médio integrado como uma modalidade que possibilita estes dois níveis.

Conforme os relatos constata-se que a maioria dos jovens acredita que a educação pode

contribuir com seu futuro profissional. Os jovens pesquisados depositam a expectativa de

conseguir um bom emprego por meio da educação e na escola, como base para um futuro

profissional promissor.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da compreensão e análise das expectativas dos jovens acerca da escolha e

orientação profissional em escolas públicas, pode-se compreender e sintetizar algumas

questões norteadoras do estudo, como a importância da educação na vida dos jovens que estão

frente à escolha profissional. Os jovens acreditam que uma educação com qualidade pode

auxiliá-los a conseguir um bom emprego e muitos têm a expectativa de consegui-lo após

terminar o ensino médio, embora outros pretendam obtê-lo após a faculdade. A maioria dos

jovens pretende mudar de emprego após concluir os estudos (seja o ensino médio ou

superior), possuindo a expectativa de conseguir uma ocupação melhor que a atual e que lhes

proporcione maior qualidade de vida, pois acreditam que o estudo possa lhes garantir

remuneração mais elevada.

Ao justificar como a educação poderia contribuir na questão da escolha profissional, a

maioria afirmou que além de qualificá-los para o mercado de trabalho, a educação de

qualidade se constitui na melhor maneira de auxiliá-los. Um serviço de orientação profissional

permanente nas escolas foi apontado como um diferencial que contribuiria na escolha

profissional, início de carreira e escolhas mais acertadas. A expectativa de conseguir um

emprego em que haja boa remuneração e satisfação em realizá-lo é bastante significativa para

os jovens.

A maioria dos jovens desta escola se informa sobre as profissões através da Internet.

Esta é uma ferramenta que merece destaque na informação e orientação profissional. Segundo

pesquisadores como Fortim e Lemos, em trabalhos apresentados em mesa redonda no

congresso realizado pela ABOP (2009), esta é uma ferramenta que não pode ser dispensada na

atualidade, pois a juventude contemporânea é conhecida como a geração @ (arroba) ou

Millenium, nasceram com a internet e com as informações por ela oferecidas a seu alcance, o

que lança novos desafios ao Orientador Profissional.

O grupo pesquisado registrou o que considera importante ao acompanhar o mercado

de trabalho, desta forma, a maioria declarou que é essencial seguir as vagas que os setores

oferecem, para assim escolher aquela que ofereça maiores chances de contratação. Para eles é

importante acompanhar também os cursos universitários e o oferecimento de vagas dos

mesmos para escolher o curso superior. Outro fator apontado é o acompanhamento das crises

globais e nacionais.

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As expectativas dos jovens em entrar no mercado de trabalho foram também

registradas de forma contundente. Parte deles mencionou que devem possuir boa qualificação

profissional e terminar a faculdade para depois ingressar no mercado de trabalho. Outros

jovens pontuaram sobre a expectativa de entrarem para o mercado de trabalho após

terminarem o ensino médio, pois acreditam que já estarão aptos e não continuarão estudando.

Sobre habilidades e aptidões necessárias, os jovens acreditam que realizar cursos

profissionalizantes, ter boa aparência, falar outros idiomas e saber trabalhar em equipe, entre

outros requisitos são fundamentais para quem deseja se inserir no mercado de trabalho. No

quesito falar outros idiomas um jovem disse ser importante falar: “Inglês e Mandarim, pois a

China está crescendo muito” (Sujeito 09). Talvez tenha a pretensão de ir para esse país, quem

sabe. Um profissional que vem sendo cada vez mais procurada no mercado de trabalho é o

tradutor, tanto para empresas que exigem a linguagem empresarial, como para profissionais

liberais que necessitam deste tipo de serviço para suas negociações.

Com relação ao desemprego e aos responsáveis por essa situação, analisando

quantitativamente os dados, percebemos que grande parte dos jovens entrevistados atribui a

responsabilidade ao governo e à sociedade em geral. Entretanto, outros jovens pensam de

maneira diferente, como este que afirma que “[...] particularmente não acho que exista falta

de emprego, ao menos na minha cidade não tem para quem não quer” (Sujeito 04). Outro

sujeito complementa este pensamento atribuindo a responsabilidade pelo desemprego à: “[...]

falta de profissionais qualificados” (Sujeito 07). Todavia, percebemos uma resposta dúbia,

pois não se sabe se a responsabilidade pelo desemprego é por falta de competência dos que

ajudam a gerar os empregos no Brasil ou se o sujeito afirmou que há falta de pessoal

qualificado, por esta razão as vagas não são preenchidas. Neste caso, a responsabilidade seria

de todos.

Por outro lado, 9,3% dos sujeitos responderam que a responsabilidade pelo

desemprego é deles. Conforme já foi salientado, este discurso é uma falácia assimilada por

muitos jovens. Remete-nos a refletir sobre o conceito de empregabilidade ressaltada por

Baptista (2006) e Vieira (2005), em que a responsabilidade pelo emprego ou não emprego é

atribuída ao sujeito, ao trabalhador, quando na verdade não é bem assim, pois o fenômeno do

desemprego tem muitas causas e fatores externos aos trabalhadores.

Oliveira (2004) apontou a necessidade da orientação profissional na escola para que os

jovens possam escolher sua profissão com maior clareza e segurança. Ou seja, ingressar na

formação que lhes garanta a qualificação necessária para uma determinada profissão, pois

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mesmo quando o jovem está maduro para escolher sua profissão e consegue a formação

adequada para tal, ainda resta-lhe enfrentar o fantasma do desemprego.

Nos estudos realizados por Baptista (2006) ficou comprovado que as ações

governamentais como o antigo PLANFOR (Plano Nacional de Formação Profissional),

atualmente PNQ (Plano Nacional de Qualificação), entre outros, não dão conta de uma

formação e qualificação adequada para o jovem. Embora a oferta de formação e qualificação

tenha aumentado significativamente, ainda persiste a necessidade de políticas públicas que

sejam assistencialistas e garantam a qualidade da educação. Ao mesmo tempo persiste a

necessidade de ouvir e atender as necessidades dos jovens que pretendem ingressar no

mercado de trabalho. Para esta autora, o desemprego em massa, fenômeno da atualidade, não

é conseqüência da desqualificação técnica do trabalhador, mas sim fruto do sistema capitalista

e de políticas neoliberais, nas quais o Brasil está inserido. Portanto, a crise que o país enfrenta

é de ordem estrutural e mudanças se fazem necessárias, iniciando com a conscientização dos

gestores de políticas públicas para que garantam uma educação de qualidade.

Quanto à expectativa de obter um emprego futuro, a maioria dos jovens declarou que

deseja um emprego em que se possa conciliar satisfação pessoal e remuneração. A questão

satisfação pessoal apareceu em vários momentos da pesquisa, mas o item remuneração foi

pouco abordado pelos jovens na maioria das respostas. Este dado demonstra que os jovens

estão mais preocupados com o prazer em realizar um trabalho que com a remuneração que ele

proporciona, embora possuam a expectativa de conciliar os dois fatores.

Contudo, alguns jovens mostraram outras expectativas: “Montar uma empresa que

seja minha e fazer uma faculdade” (Sujeito 11). Este, por exemplo, pretende fazer um curso

superior e trabalhar na área de formação: “Igual falei, já trabalho e vou fazer administração,

se onde eu trabalho me derem oportunidade de seguir esse cargo eu continuo se não, não”

(Sujeito 10). Já este outro se manifestou afirmando pretender atuar na área antes mesmo de

concluir o curso: “Por exemplo, irei me formar no Ensino Médio e assim que entrar na

faculdade pretendo atuar na minha área” (Sujeito 13).

A expectativa de conseguir um emprego com boa remuneração e satisfação em realizá-

lo é bastante significativa para alguns jovens. Esta jovem diz que pretende seguir trabalhando

em outra área, ser empresária: “Já trabalho, gosto do que faço, mas pretendo seguir em outra

função, quem sabe ser dona de meu próprio negócio” (sujeito 06). Aqui, vemos a expectativa

de encontrar um emprego assim que terminar o ensino médio: “Pretendo encontrar um

emprego assim que me formar e fazer uma faculdade no período oposto” (Sujeito 03).

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Podemos perceber, através dos depoimentos, que os jovens pesquisados possuem muitas e

diferentes expectativas, assim como os sentidos atribuídos ao trabalho são diversos.

Os dados coletados para a presente pesquisa foram suficientes na compreensão e

análise das expectativas dos jovens acerca da escolha e orientação profissional e muito

contribuíram com a qualidade deste estudo. Os jovens participaram com entusiasmo e

deixaram claras suas principais expectativas: a educação contribuir na escolha profissional e

obtenção de um emprego melhor, que seja bem remunerado e que futuramente seja formado

um grupo ou serviço de orientação profissional na escola para auxiliá-los em sua formação

profissional, pois já que estão próximos do vestibular sentem tal necessidade. Além disso,

também apontam para outros jovens que ainda irão se deparar com o momento da escolha

profissional e sentirão as mesmas necessidades, ou seja, apoio para refletir sobre suas escolhas

e auxílio na inserção no mercado de trabalho.

A pesquisa qualitativa permitiu confirmar as expectativas dos jovens quanto à

orientação profissional, como também demonstrou que a juventude acredita na escola ou de

modo amplo na educação. Os dados demonstraram que os jovens têm esperança na qualidade

educacional, entretanto têm a clareza que ainda resta um longo caminho pela frente até se

chegar a uma educação de excelência, a qual privilegie inclusive a questão da orientação

profissional.

Nos diversos depoimentos foi possível verificar as expectativas dos jovens e constatar

que a escola está fazendo sua parte, ou seja, abrindo espaço para iniciativas como a da

orientação profissional, mesmo de forma modesta, trazendo profissionais para palestras e

proporcionando espaço para pesquisa. Os professores, por sua vez, também estão

contribuindo, auxiliando os jovens durante as aulas. Mas estas iniciativas são muito restritas

diante da importância da escolha profissional. Portanto, os resultados apontam que a

juventude luta por mais apoio neste sentido. Muitos deles declaram ter a expectativa de

conseguir um bom emprego logo que terminem os estudos, especialmente após o término do

ensino médio. Poucos mencionam a faculdade o que reflete a falta de expectativa da

juventude em poder cursar uma faculdade, pois na região a maioria delas é particular.

No que se refere à educação, é possível dizer que a escola contribuiria muito se

oferecesse um serviço de orientação profissional, pois a maioria ainda possui muitas dúvidas e

é uma das ações almejadas pela juventude. Portanto, há necessidade de políticas públicas que

favoreçam a juventude com a melhoria da qualidade da educação. A educação, muitas vezes,

coloca sobre os ombros dos professores a responsabilidade por tudo que é promovido na

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escola, desta forma uma reflexão sobre o tema é importante e aponta para o trabalho

multidisciplinar e multiprofissional.

No caso de orientação profissional, os professores e a escola fazem sua parte, dentro

daquilo que está ao seu alcance, todavia passar a eles a responsabilidade por mais este desafio

não parece lógico. Neste sentido, reafirmamos a urgência de políticas públicas educacionais

voltadas à juventude, para que este segmento realmente possa almejar participar de processos

de formação humana e, entre outras necessidades, apóie também o jovem no momento da

escolha profissional. A pesquisadora também tem sonhos e um deles é que um dia a

orientação profissional possa vir a ser oferecida como disciplina ministrada desde a infância,

uma vez que a escolha profissional não ocorre de forma imediata.

Este estudo, que visou compreender as expectativas dos jovens de uma escola pública

acerca da orientação profissional, cumpriu com o objetivo proposto oferecendo um

diagnóstico da realidade vivenciada pelos estudantes da escola pesquisada, favorecendo a

prática profissional de todos que estudam ou trabalham com a juventude.

Espera-se que esta pesquisa ao ter retratado este segmento juvenil possa ter

contribuído fidedignamente junto à realidade destes jovens do ensino médio, trazendo-lhes a

possibilidade de um pouco de reflexão, e de certa forma, promovendo a melhoria na qualidade

de vida dos mesmos. Ao mesmo tempo, ao trazer a tona um diagnóstico da realidade vivida

por este segmento juvenil e suas expectativas acerca da escolha e orientação profissional,

utopicamente espera-se que a pesquisa seja referência para que políticas públicas sejam

implantadas visando à melhoria da educação destes jovens por intermédio da orientação

profissional. Espera-se ainda que sua contribuição abra espaço de inserção, não só para o

psicólogo, como para uma equipe multidisciplinar na escola.

Espera-se, portanto, além disto, que as políticas públicas voltadas para a juventude

possibilitem aos jovens novos vôos em seus projetos futuros, incentivem e efetivem,

especialmente nas escolas públicas, este atendimento aos jovens, que seja contemplado no

currículo e se estabeleça como um programa complementar que abrigue o trabalho

multidisciplinar. Que os jovens lutem por seus direitos e tenham consciência que são

legítimos detentores destes direitos, não só como beneficiários, mas também como autores.

Este estudo não é conclusivo. Muitas outras considerações e interpretações seriam

possíveis, todavia têm-se a consciência sobre muitos aspectos ainda inexplorados. Porém as

limitações de tempo foram impeditivas, assim se sugere que novas pesquisas sejam realizadas

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sobre o assunto abordando questões de gênero, sentimentos afetivos, relações grupais, estudos

longitudinais, tipos de emprego, subemprego, e principalmente como outras escolas públicas

tratam a questão da orientação profissional, entre outros merecedores de investigação. Nesta

perspectiva, deixa-se para futuros pesquisadores ou quem sabe num futuro doutorado.

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APÊNDICES

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145

APÊNDICE A – Questionário

QUESTIONÁRIO

Pesquisadora: Ligia Ulir Hirt

QUESTIONÁRIO A SER REALIZADO COM OS JOVENS DO ENSINO MÉDIO DE

UMA ESCOLA PÚBLICA DA CIDADE DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ – SC

1. Dados gerais

Iniciais da Instituição: E. E. L. P.

3º Ano do Ensino Médio.

Nome do aluno:

Idade:

Sexo: ( ) feminino ( ) masculino.

Estado Civil: ( ) solteiro (a) Casado (a) ( ) outros.

Data da aplicação do questionário: ..... /...../.....

Local de aplicação do questionário: ( ) Escola ( ) trabalho ( ) residência ( ) outros.

Local que reside:

Situação de moradia: ( ) mora sozinho (a) ( ) mora com a família ( ) com o cônjuge

( ) outros.

2. Em que situação você se encontra atualmente? Justifique abaixo a alternativa escolhida.

( ) Trabalha.

( ) Apenas Estuda.

( ) Trabalha e Estuda.

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

Tipo de emprego ( ) formal (com carteira assinada) ou ( ) informal (sem carteira assinada)

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3. Caso trabalhe, gosta do que faz? Justifique abaixo a alternativa escolhida.

( ) Sim.

( ) Não.

( ) É apenas um emprego temporário.

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

4. Caso trabalhe, pensa em permanecer no mesmo tipo de emprego? Justifique.

( ) Sim

( ) Não

( ) Não trabalho.

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

5. Você já pensou em uma profissão na qual você gostaria de trabalhar?

( ) Sim

( ) Não

6. Assinale abaixo uma ou mais alternativas: Ao escolher uma profissão para seu futuro, você

leva em consideração:

( ) O salário.

( ) O tempo gasto para desempenhar as atividades do trabalho.

( ) O tempo gasto para estudar até conseguir se formar e poder trabalhar.

( ) A disponibilidade de vagas para entrar na faculdade.

( ) Aceita qualquer profissão, desde que haja vaga de trabalho no mercado.

( ) Só aceita seguir uma profissão se ela lhe trouxer satisfação pessoal.

( ) Pensa nas condições do mercado (econômicas, sociais, disponibilidade de vagas, crises,

setores que mais contratam).

( ) A tentativa de conciliar a satisfação pessoal com o mercado de trabalho.

( ) Outros requisitos.

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7. Ao escolher uma profissão para seu futuro, quais os fatores que podem influenciar na sua

escolha?

( ) A opinião da família.

( ) A opinião dos amigos.

( ) Nada me influência.

( ) A opinião dos professores.

( ) A profissão dos pais.

( ) A profissão de outros membros da família.

( ) Outras.

8. Quanto à profissão de seus pais, você acha que é importante:

( ) Seguir a mesma profissão de um deles.

( ) Seguir uma profissão bem diferente.

( ) Não tem importância alguma em minha escolha profissional, é uma escolha pessoal.

( ) Outras

Justifique sua resposta: ................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

9. Quando se fala em escolher uma profissão você se sente:

( ) Seguro, pois já tem definido o que vai escolher.

( ) Inseguro, pois se sente confuso diante de tantos caminhos a seguir.

( ) Tenho muitas dúvidas ainda sobre qual profissão seguir.

( ) Já na minha infância fiz minha escolha profissional.

( ) Gostaria de ter mais tempo para refletir sobre minha escolha

( ) Outros.

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10. Você acha importante refletir sobre as profissões, suas possibilidades e limites para

escolher uma profissão para seu futuro?

( ) Sim.

( ) Não.

Justifique: ....................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

11. Você já ouviu falar em um Serviço de Orientação Profissional?

( ) Sim.

( ) Não.

Na Orientação Profissional, um profissional Orientador Educacional ou um Psicólogo podem

individualmente ou em grupo, refletir sobre as profissões e o mundo do trabalho, bem como

sobre os cursos disponíveis para cada região, entre outros assuntos. Neste sentido, as dúvidas,

as capacidades, as habilidades e também as limitações de cada um são colocadas em pauta,

refletidas, questionadas, para facilitar a escolha profissional, levando-se em consideração o

mercado de trabalho e as aptidões pessoais.

12. Desta forma, em sua escola já houve iniciativas de refletir sobre seu futuro profissional?

( ) Sim

( ) Não

Justifique: ....................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

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13. Em relação a sua escola você acha que um serviço de Orientação Profissional oferecido

aos alunos do Ensino Médio poderia auxiliar na escolha profissional?

( ) Sim.

( ) Não.

Justifique: ....................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

14. Caso um grupo de Orientação Profissional fosse formado em sua escola para refletir sobre

a escolha profissional, bem como questões ligadas ao mundo do trabalho, você gostaria de

fazer parte?

( ) Sim.

( ) Não.

Justifique: ....................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

15. Caso tenha respondido a questão acima de maneira positiva, para você seria melhor:

( ) Que o grupo fosse formado no horário da aula.

( ) Que o grupo fosse formado em horário diferente do horário escolar.

( ) Que as reflexões fossem feitas durante as aulas.

( ) Outras.

Especifique: .................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

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16. Você acha que a Educação pode contribuir de alguma maneira com a juventude na

questão do futuro profissional?

( ) Sim.

( ) Não.

Justifique: ....................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

17. Assinale uma ou mais alternativas para a questão: Como a Educação pode contribuir com

o futuro profissional da juventude?

( ) Oportunizando um serviço de Orientação Profissional permanente na escola.

( ) Oferecendo uma educação de qualidade que favoreça a reflexão sobre a escolha

profissional.

( ) Melhorando a qualidade do ensino em todos os níveis de educação.

( ) Promovendo acesso igualitário à faculdade.

( ) Auxiliando a reflexão sobre os direitos dos alunos.

( ) Fazendo parceria com as empresas para oportunizar o emprego.

( ) Preparar os alunos para o mercado de trabalho.

( ) Outras alternativas. Quais?

( ) Nenhuma das alternativas acima.

18. Como você se informa sobre as profissões? Assinale uma ou mais alternativas:

( ) Não me informo.

( ) Utilizo a Internet.

( ) A escola me orienta.

( ) Leio Jornais.

( ) Revistas.

( ) Me informo com meus amigos ou familiares.

( ) Me informo com os professores.

( ) Acompanho pela televisão

( ) Outras alternativas, quais?

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

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19. Quanto ao mercado de trabalho, assinale as alternativas que você considera importante.

( ) Acompanhar as variações do mercado de trabalho em relação às profissões mais solicitadas.

( ) Acompanhar as variações econômicas do mercado global.

( ) Acompanhar as crises econômicas e seus efeitos no mercado de trabalho.

( ) Acompanhar a questão do desemprego.

( ) Acompanhar o oferecimento de vagas para determinados setores.

( ) Acompanhar os cursos universitários que podem abrir vagas para o mercado de trabalho.

( ) Acompanhar os cursos de tecnólogos oferecidos em minha região, que oferecem vagas

de trabalho.

( ) Acompanhar os classificados dos jornais para ver o que está sendo solicitado para

emprego.

( ) Acompanhar as vagas de emprego imediato, sem a necessária formação.

( ) Outras alternativas.

20. Quanto as suas expectativas de emprego, para conseguir uma vaga no mercado de

trabalho? Assinale uma ou mais alternativas.

( ) Já estou empregado (a).

( ) Ter boa formação profissional.

( ) Ter boa qualificação profissional

( ) Ter experiência anterior.

( ) Possuir uma formação que vá além da oferecida pela escola.

( ) Terminar o segundo grau.

( ) Terminar uma faculdade

( ) Outras.

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21. Quais as aptidões e habilidades necessárias na atualidade para conseguir uma boa

colocação no mercado de trabalho?

( ) Ter boa aparência.

( ) Ter residência fixa.

( ) Realizar cursos profissionalizantes.

( ) Ter fluência verbal.

( ) Ter espírito de liderança.

( ) Ter iniciativa e saber tomar decisões.

( ) Saber trabalhar em equipe

( ) Falar outros idiomas

( ) Outras. Quais?

......................................................................................................................................................

......................................................................................................................................................

22. Você acha que a responsabilidade pela falta de emprego é:

( ) Sua.

( ) Do Governo.

( ) Da escola.

( ) Da sociedade em geral.

( ) De sua família.

( ) Do mercado de trabalho.

( ) Da educação.

( ) Outras.

23. Assinale a (as) alternativa (as) que mais se adaptam a você. Quanto a um futuro emprego,

quais suas expectativas?

( ) Encontrar um emprego assim que se formar no Ensino Médio.

( ) Encontrar um emprego assim que terminar a faculdade.

( ) Já trabalho e não pretendo mudar de emprego.

( ) Trabalho em um emprego temporário, mas pretendo arrumar um emprego melhor.

( ) Pretendo fazer muitos cursos antes de encontrar um emprego definitivo.

( ) Encontrar um emprego que me realize profissionalmente e que tenha boa remuneração.

( ) Ainda estou indeciso (a) quanto a que carreira seguir.

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( ) Não tenho expectativas.

( ) Outras expectativas. Quais?

Obrigada por sua participação, Ligia Ulir Hirt.

[email protected]

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154

APÊNDICE B – Termo de Autorização

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

A E.E.B. Prof Laureano Pacheco, localizado no município de Balneário Camboriú – SC,

autoriza a realização da pesquisa com o título: JUVENTUDE EM BUSCA DE NOVOS

CAMINHOS: UMA PROPOSTA DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NUMA ESCOLA

PÚBLICA. Este estudo tem como objetivo investigar as expectativas dos jovens do terceiro

ano do Ensino Médio em relação à Orientação Profissional, bem como o papel da família e da

Educação neste processo. A pesquisa será realizada pela mestranda LIGIA ULIR HIRT, sob

orientação da Prof. ª Dr.ª TÂNIA REGINA RAITZ. Durante o desenvolvimento da pesquisa,

a acadêmica e sua orientadora estão autorizadas a freqüentar a instituição para a realização da

coleta de dados. Os horários e organização da coleta serão negociados previamente com a

coordenação e os professores responsáveis pelos jovens estudantes do terceiro ano do Ensino

Médio. A acadêmica e a sua orientadora estarão disponíveis para esclarecimentos de dúvidas

a respeito da pesquisa, sempre que for necessário.

Mestranda: Ligia Ulir Hirt – Fone (47) 3367-7962; 9967-3033

Orientadora: Prof. ª Dr.ª Tânia Regina Raitz – Fone (48) 9991-1810; (47)

3341-7516 sub ramal 8010

Local de pesquisa: Rua Julieta Lins, 685 Balneário Camboriú – SC

Validade desta autorização: maio de 2009 a dezembro de 2009.

Balneário Camboriú, 05 de maio de 2009.

________________________________

Profª Jucineide Victorino

Assessoria de Direção da E.E. B. Prof.

Laureano Pacheco. 17ª GERED

Balneário Camboriú – SC

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155

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, _____________________________________________________________________,

idade:_________ anos, sexo:_______________________, endereço:

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

Profissão: ________________________________, fui esclarecido sobre o trabalho e estou de acordo

com a participação na pesquisa intitulada: JUVENTUDE EM BUSCA DE NOVOS CAMINHOS:

UMA PROPOSTA DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NUMA ESCOLA PÚBLICA. Este estudo

tem como objetivo investigar as expectativas dos jovens do Ensino Médio da E. E. B. Prof. Laureano

Pacheco, em relação à Orientação Profissional e a entrada do jovem no mercado de trabalho, bem

como o papel da família e da educação neste processo. A pesquisa será realizada pela mestranda

LIGIA ULIR HIRT, sob orientação da Prof. ª Dr. ª TÂNIA REGINA RAITZ. A metodologia da

pesquisa é de natureza quantitativa e qualitativa, que utiliza a análise de conteúdo, para análise e

interpretação dos dados coletados. Na primeira etapa da pesquisa serão aplicados 160 questionários e

na segunda etapa serão efetuados 02 encontros com os jovens do terceiro ano do Ensino Médio, que

desejarem participar de um grupo focal. Ao consentir em participar deste estudo, terei de responder ao

questionário sobre a Orientação Profissional, trabalho e educação, de acordo com minha percepção.

Por se constituir num estudo de caráter puramente científico, meus dados pessoais serão mantidos em

anonimato e os dados do questionário e depoimentos no grupo, só serão utilizados para os propósitos

deste estudo. Se, em qualquer momento, me sentir desconfortável com as questões poderei retirar este

consentimento. Fui esclarecido (a) também que no momento em que eu precisar de maiores

informações sobre esta pesquisa, mesmo após sua publicação, poderei obtê-las entrando em contato

com a pesquisadora ou sua orientadora. Sendo minha participação totalmente voluntária, estou ciente

de que não terei direito à remuneração.

Balneário Camboriú, ____ de ______________ de 2009.

Assinatura do (a) entrevistado (a): _______________________________________________

Assinatura da pesquisadora:____________________________________________________

Assinatura da Orientadora da Pesquisa:____________________________________________

Programa de Mestrado em Educação – Univali – 3341-7516

Orientadora da Pesquisa: Profª. Dra. Tânia Regina Raitz

Rua: Uruguai, nº. 458 – Bloco 29 – Mestrado em Educação

Centro – Itajaí/SC – Telefone: (47) 3341-7516

Pesquisadora: Ligia Ulir Hirt

R: 3.100, nº 270, apto 1001, Centro, Balneário Camboriú – SC.

Telefones: (47) 3367-7962 – 996730333.

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156

APÊNDICE D – Slides das palestras proferidas na escola

SLIDES DAS PALESTRAS PROFERIDAS NA ESCOLA

ORIENTAORIENTAÇÇÃO PROFISSIONALÃO PROFISSIONAL

–Mestranda: Ligia Ulir Hirt

–Orientadora: Tânia R. Ratiz

–Colaboração: Heraldo Hirt e

Aparecida Marcia Lucinda

–UNIVALI

CurrCurríículoculo

• Informações pessoais

• Formação acadêmica

• Informações ou cursos complementares

• Idiomas

• Últimos locais em que trabalhou

• Referências para contato

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Inteligência LInteligência Lóógicogico--matemmatemááticatica

Capacidade de solucionar problemas envolvendo números e outros elementos matemáticos, perceber a relação entre as coisas, saber, por exemplo, como um computador funciona. Envolve todas as ciências exatas. Exemplos de profissões: engenheiros, físicos, químicos, técnicos em informática e médicos. Albert Einstein é um exemplo de pessoa com inteligência lógico-matemática.

Inteligência LingInteligência Lingüíüísticastica

Habilidade para lidar com as palavras, para expressar idéias, memorizar o que se fala, gostar e saber como falar, usar a linguagem para representar o mundo . É a inteligência responsável pela comunicação. Exemplos de profissões: políticos, professores, jornalistas, vendedores e escritores. Grandes autores, como Jorge Amado, têm grande potencial lingüístico.

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Inteligência EspacialInteligência Espacial

Habilidade para memorizar cenas, noção

de espaço e direção, saber onde está e

quais são as referências a sua volta,

criatividade e imaginação. Exemplos de

profissões: arquitetos, engenheiros e

decoradores. Um bom exemplo é o

arquiteto Oscar Niemeyer.

Inteligência MusicalInteligência Musical

Pessoas com o chamado "ouvido

absoluto", capacidade de organizar sons

de maneira criativa, ouvir uma melodia e

não esquecer mais, tocar uma música que

nunca tocou antes, reconhecer notas e

acordes. Exemplo de profissões: músicos,

cantores, compositores. Os compositores

Beethoven e Mozart possuíam inteligência

musical

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InteligênciaInteligência InterpessoalInterpessoal

Habilidade de compreender os outros, se dar

bem com as pessoas, saber se comunicar, ter

empatia (saber o que o outro está sentindo),

gostar de estar entre outras pessoas. Indivíduos

com esta inteligência costumam ser bons

líderes. Exemplos de profissões: psicólogos,

advogados, assistentes sociais, apresentadores

de TV e administradores. Silvio Santos, por

exemplo, tem capacidade interpessoal.

Inteligência Inteligência IntrapessoalIntrapessoal

Capacidade de relacionamento consigo

mesmo, saber se entender, gostar de

passar tempo sozinho, compreender os

próprios sentimentos - relacionada com a

auto-estima. Exemplos de profissões:

psicólogos e filósofos. Os filósofos

clássicos, como Platão, podem ser

exemplos de inteligência intrapessoal.

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Inteligência NaturalistaInteligência Naturalista

Daniel Daniel GolemanGoleman

Sensibilidade à natureza e ao meio ambiente.

Capacidade de entender o meio natural e

identificar como as coisas acontecem,

compreender, por exemplo, como as plantas

crescem e se desenvolvem. Exemplos de

profissões: paisagistas, biólogos e ecologistas.

O britânico Charles Darwin, que desenvolveu

uma teoria sobre a evolução dos seres vivos, é

um exemplo de quem tem aptidão naturalista.

CURSOS DISPONCURSOS DISPONÍÍVEIS:VEIS:

SENAISENAI

SENACSENAC

FACULDADES E FACULDADES E

UNIVERSIDADES UNIVERSIDADES

(PROUNI, BOLSA ART. 170, FIES (PROUNI, BOLSA ART. 170, FIES

(FINANCIAMENTO ESTUDANTIL (FINANCIAMENTO ESTUDANTIL

(CAIXA ECONOMICA)(CAIXA ECONOMICA)

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161

CURSOS NO SENACCURSOS NO SENACITAJAI E BALNEARIO CAMBORIÙ

• VITRINISMO

• TÉCNICAS DE VENDAS

• TÉCNICAS EM COMÉRCIO EXTERIOR

• SATISFÇÃO DO CLIENTE

• LOGÍSTICA DISTRIBUIÇÃO

• LOGÍSTICAS DE ARMAZENAMENTO

• ASSISTENTE DE VENDAS

• APRENDIZAGEM EM VENDAS

• ASSISTENTE CONTABIL

• AUXILIAR ADMINISTRATIVO

• RECEPCIONISTA

• MICROSOFT WINDOWS

• TÉCNICO EM CONTROLE AMBIENTAL

• ENFERMAGEM DO TRABALHO

• TÉCNICO EM ENFERMAGEM

• TÉCNICO EM GUIA DE TURISMO

PARA ESTUDAR NO SENAC TEM QUE TER ENSINO MÉDIO OU ESTAR ESTUDANDO NO ÚLTIMO ANO DO ENSINO MÉDIO.

CURSO NA UNIVALICURSO NA UNIVALI

Material Impresso

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162

AVANTISAVANTIS• CURSOS:

• ADMINISTRAÇÃO LINHA DE FORMAÇÃO– COMÉRCIO EXTERIOR

– MICRO PEQ. E MÉDIA EMPRESAS

– MARKETING

– GESTÃO DE PESSOAS

– CIÊNCIAS CONTÁBEIS

– PSICOLOGIA

– SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

• ENSINO A DISTÂNCIA• HISTÓRIA, MATEMÁTICA, PEDAGOGIA, PROCESSOS GERENCIAIS, SERVIÇO

SOCIAL, TEOLOGIA, GEOGRAFIA, EDUCAÇÃO ARTÍSTICA, CIÊNCIAS

BIOLÓGICAS, LETRAS, NEGÓCIOS IMOBÍLIARIOS

FACULDADE SINERGIA FACULDADE SINERGIA

((NAVEGANTES, Avenida Prefeito Cirino Adolfo Cabral 199 NAVEGANTES, Avenida Prefeito Cirino Adolfo Cabral 199 -- Beira Mar)Beira Mar)

• CURSOS: ADMINISTRAÇÃO, DIREITO E PEDAGOGIA

FACULDADE LITORAL CATARINENSE (BALNEÁRIO CAMBORIU)

• CIÊNCIAS CONTABEIS E ADMINISTRAÇÃO (BALNEÁRIO CAMBORIÚ)

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FIES (FINANCIAMENTO FIES (FINANCIAMENTO

ESTUDANTIL (CAIXA E.) ESTUDANTIL (CAIXA E.)

• O Programa de Financiamento Estudantil - FIES é destinado a

financiar a graduação no Ensino Superior de estudantes que não

têm condições de arcar com os custos de sua formação e estejam

regularmente matriculados em instituições não gratuitas,

cadastradas no Programa e com avaliação positiva do MEC.

• Bolsistas parciais de 50% do ProUni - Programa Universidade para

Todos, seja de bolsas oferecidas obrigatoriamente como

adicionalmente.

• Estudantes beneficiários de bolsas complementares matriculados

em cursos considerados prioritários.

• Estudantes beneficiários de bolsas complementares matriculados

nos demais cursos.

• Este financiamento precisa de fiador, deve-se procurar a CAIXA. O

pagamento é feito depois que se formar, através de prestações.

ReferênciasReferências

• GARDNER, Haward. Inteligências múltiplas, a inteligência na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

• Tradutor: VERONESE, MARIA ADRIANA VERISSIMOEditora: ARTMEDAssunto: PSICOLOGIA

• GOLEMANN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.