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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 25, pp. 53 - 68, 2009 ANÁLISE DAS PRECIPITAÇÕES DIÁRIAS INTENSAS E IMPACTOS GERADOS EM FORTALEZA, CE* Maria Elisa Zanella** Marta Celina Linhares Sales*** Nair Julia Andrade Abreu**** *Resultado parcial do projeto “O estudo do clima urbano em Fortaleza sob o enfoque do Sistema Clima Urbano (SCU): um destaque para os episódios pluviométricos intensos e as inundações urbanas”, junto ao CNPq. **Professora adjunta do Departamento de Geografia da UFC e Coordenadora do projeto. E-mail: [email protected] ***Professora adjunta do Departamento de Geografia da UFC. E-mail: [email protected] ****Geógrafa formada na UFC. E-mail: [email protected] RESUMO: Esse artigo envolve a temática dos problemas ambientais urbanos, na medida em que trata da ocorrência de eventos pluviométricos intensos e dos impactos pluviais na perspectiva do Sistema Clima Urbano - subsistema hidrometeórico de Monteiro (1976, 2003). Consiste em identificar a ocorrência de totais pluviométricos diários iguais ou superiores a 60 mm, dentro dos municípios de Fortaleza, Maranguape e Pacatuba, assim como analisar os impactos na cidade de Fortaleza, destacando-se aqueles ocasionados pelo evento extremo ocorrido na série analisada. De acordo com os resultados, constatou-se um significativo número de eventos pluviométricos concentrados dentro da série estudada e muitos impactos gerados como a ocorrência de inundações em áreas de risco, mortes, engarrafamentos, queda de árvores, desabamento de casas, infiltrações generalizadas, falta de água, luz e telefone, entre outros. Verificou-se que muitos dos impactos pluviais ocorrem pela ocupação das áreas sujeitas às inundações e também em virtude da falta de infra-estrutura do município em questão. PALAVRAS-CHAVE: Eventos pluviométricos extremos; Impactos pluviais; Inundações; Fortaleza/CE. ABSTRACT: The article deals with environmental problems arising from urban extreme rainfall events. The impacts are analyzed from the perspective of Monteiro’s (1976, 2003) Sistema Clima Urbano – subsistema hidrometeorico ( Urban Climate System-subsystem Hydro meteoric). This model identifies the occurrence of daily rainfall totals greater than or equal to 60 mm, in the municipalities of Fortaleza, Maranguape and Pacatuba. The results show a significant number of rainfall events concentrated in the series studied; show also impacts such as flooding in areas of risk, deaths, traffic jams, loss of trees, structural collapse of homes, widespread leaks, lack of water, electricity and telephone, among others. It was found that the impacts are the consequence of occupation of the areas subject to flooding, and of the lack of infrastructure of the municipality. KEY WORDS: Extreme rainfall events; Rainfall impacts; Flooding; Fortaleza/CE. INTRODUÇÃO Os fenômenos naturais relacionados ao clima, principalmente quando se apresentam como eventos extremos, geram nas sociedades inúmeros problemas, muitos dos quais de caráter catastrófico, repercutindo negativamente na qualidade de vida das populações. As maiores e mais significativas modificações que o homem faz sobre o ambiente

ANÁLISE DAS PRECIPITAÇÕES DIÁRIAS INTENSAS E … · Esse artigo envolve a temática dos problemas ambientais urbanos, na medida em que trata da ocorrência de eventos pluviométricos

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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 25, pp. 53 - 68, 2009

ANÁLISE DAS PRECIPITAÇÕES DIÁRIAS INTENSAS E IMPACTOSGERADOS EM FORTALEZA, CE*

Maria Elisa Zanella**Marta Celina Linhares Sales***Nair Julia Andrade Abreu****

*Resultado parcial do projeto “O estudo do clima urbano em Fortaleza sob o enfoque do Sistema Clima Urbano (SCU): um destaque para osepisódios pluviométricos intensos e as inundações urbanas”, junto ao CNPq.

**Professora adjunta do Departamento de Geografia da UFC e Coordenadora do projeto. E-mail: [email protected]***Professora adjunta do Departamento de Geografia da UFC. E-mail: [email protected]

****Geógrafa formada na UFC. E-mail: [email protected]

RESUMO:Esse artigo envolve a temática dos problemas ambientais urbanos, na medida em que trata daocorrência de eventos pluviométricos intensos e dos impactos pluviais na perspectiva do SistemaClima Urbano - subsistema hidrometeórico de Monteiro (1976, 2003). Consiste em identificar aocorrência de totais pluviométricos diários iguais ou superiores a 60 mm, dentro dos municípios deFortaleza, Maranguape e Pacatuba, assim como analisar os impactos na cidade de Fortaleza,destacando-se aqueles ocasionados pelo evento extremo ocorrido na série analisada. De acordocom os resultados, constatou-se um significativo número de eventos pluviométricos concentradosdentro da série estudada e muitos impactos gerados como a ocorrência de inundações em áreasde risco, mortes, engarrafamentos, queda de árvores, desabamento de casas, infiltraçõesgeneralizadas, falta de água, luz e telefone, entre outros. Verificou-se que muitos dos impactospluviais ocorrem pela ocupação das áreas sujeitas às inundações e também em virtude da falta deinfra-estrutura do município em questão.PALAVRAS-CHAVE:Eventos pluviométricos extremos; Impactos pluviais; Inundações; Fortaleza/CE.

ABSTRACT:The article deals with environmental problems arising from urban extreme rainfall events. The impactsare analyzed from the perspective of Monteiro’s (1976, 2003) Sistema Clima Urbano – subsistemahidrometeorico (Urban Climate System-subsystem Hydro meteoric). This model identifies theoccurrence of daily rainfall totals greater than or equal to 60 mm, in the municipalities of Fortaleza,Maranguape and Pacatuba. The results show a significant number of rainfall events concentratedin the series studied; show also impacts such as flooding in areas of risk, deaths, traffic jams, lossof trees, structural collapse of homes, widespread leaks, lack of water, electricity and telephone,among others. It was found that the impacts are the consequence of occupation of the areassubject to flooding, and of the lack of infrastructure of the municipality.KEY WORDS:Extreme rainfall events; Rainfall impacts; Flooding; Fortaleza/CE.

INTRODUÇÃO

Os fenômenos naturais relacionados aoclima, principalmente quando se apresentamcomo eventos extremos, geram nas sociedadesinúmeros problemas, muitos dos quais de

caráter catastrófico, repercutindonegat ivamente na qualidade de vida daspopulações.

As maiores e mais significativasmodificações que o homem faz sobre o ambiente

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natural encontram-se nas grandes cidades.Embora existam muitos estudos sobre elas sãoraros os exemplos em que os resultadosproduzidos sejam aplicados diretamente em seuplanejamento.

O presente trabalho envolve a temáticados impactos meteóricos (MONTEIRO, 1976,2003), mais especificamente dos episódiospluviais concentrados, podendo contribuir parauma maior divulgação dos problemas correlatos,sensibilizando ou pressionando os gestorespúblicos a tomarem medidas para minimizaresses impactos.

De acordo com Brandão (2001), nosestudos sobre impactos pluviais, estes são, namaioria das vezes, enquadrados na categoriados eventos naturais extremos, dependendo desua magnitude e extensão espacial.

Considerando essa idéia e o fato de nãoter sido feita uma análise detalhada damagnitude e extensão espacial de todos osepisódios relacionados nesse trabalho, optou-se por referir-se a eles como episódios pluviaisintensos, com exceção do ocorrido no dia 29 dejaneiro de 2004, analisado detalhadamente econsiderado neste estudo como evento pluvialextremo, já que atinge o total máximo (250 mmem 24 horas) dentro da série estudada (1974-2006).

Segundo Gonçalves (1992, 2003),mesmo com o grande avanço tecnológico e osesforços para o conhecimento das forçasnaturais, as sociedades ainda permanecemvulneráveis e parecem estar cada vez maisexpostas aos “eventos naturais extremos”, eindependente da origem desses eventos e dasáreas onde ocorrem, resultam em desastresnaturais, com grandes perdas e prejuízos àseconomias nacionais e às populações expostas.

Ao analisar os dados referentes aosdesastres naturais ocorridos no planeta entreos anos 1900 e 2000, com base nos bancos dedados existentes, Marcelino, Nunes e Kobiyama(2006) destacam o incremento destes a partirda década de 50, possivelmente relacionado ao

aumento da população global com maiorexposição às vulnerabilidades. Especificamentepara o Brasil indicam que do numero total dedesastres naturais ocorridos aproximadamente60% vinculam-se as inundações.

É importante ressaltar que, de acordocom Gonçalves (1992, 2003), entre esseseventos naturais, os fenômenos pluviaisextremos, sejam eles negativos ou positivos(secas e inundações), são os que provocamverdadeiro impacto no ambiente e na vida sociale econômica de um país.

Dentro da perspectiva do Sistema ClimaUrbano - S.C.U. de Monteiro (1976, 1991, 2003),os impactos causados pelas precipitações, emrelação aos campos do conforto térmico e daqualidade do ar, são os menos estudados,embora nos últimos anos, o aumento das áreaspor eles afetadas venha motivandoconsideravelmente as pesquisas neste campo.

A respeito do ambiente urbano noBrasil, os trabalhos relacionados ao impactodas chuvas nas cidades começaram a ganharmaior importância a part ir da década de1980, mas se ampliaram em número e áreasestudadas nas décadas de 1990 e 2000,sendo a c idade de São Paul o a maisprivilegiada em relação às demais cidadesbrasileiras.

Alguns desses estudos tais como osde Past or ino (1971) , Mont e i ro (1980) ,Paschoal (1982), Oliveira e Figueiroa (1984),Cabral e Jesus (1991), Gonçalves (1992,2003), Brandão (2001), Serrano e Cabral(2004), Vicente (2005), Zanella (2006), entreoutros, destacam a impermeabilização dossol os, a fa l ta de inf ra-es t rutu ra e dep lanejamento urbano nas c idades comoprincipais responsáveis pelas inundações.Out ros apont am a i nda, o aumento nonúmero de eventos pluviométricos intensosocorridos nas últimas décadas e a intensaocupação das áreas de risco (GONÇALVES,1992, 2003; BRANDÃO, 2001; ZANELLA,2006, entre outros).

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Este trabalho também compartilha dessatemática, pois a cidade de Fortaleza, por ocasiãodo período chuvoso, é freqüentementesubmetida a impactos decorrentes de eventosde chuvas concentradas, sendo as áreas derisco localizadas nas proximidades de rios elagoas as mais atingidas. Assim, na medida emque trata desses problemas, o presentetrabalho poderá ser útil para a elaboração depropostas de planejamento para a cidade.

Em pesquisas dessa natureza, faz-senecessário atentar para o sítio urbano da áreaem estudo, na medida em que os impactospluviais estão relacionados não somente àscondições cl imát icas, mas também aofuncionamento da rede de drenagem, aosprocessos de infiltração e escoamento, que porsua vez, estão l igados às variáveis solo,vegetação e relevo. Nesse caso, é importantemencionar que se considerou apenas o sítiourbano de Fortaleza, porque foram analisadosapenas os impactos ocorridos dentro dessemunicípio.

Zanella (2006) ao realizar pesquisas sobreeventos pluviométricos intensos, no bairro Cajuru,em Curitiba, trabalhou com aqueles iguais esuperiores a 60 mm em 24 horas, destacando naanálise os superiores a 100mm diários.

Gonçalves (2003) constatou que os eventosde maior repercussão espacial na cidade de Salvadorestão relacionados a intensidades de precipitaçãomáxima em 24 horas, iguais ou superiores a 60 mm.

Apesar das diferenças entre Fortaleza eo espaço urbano de Salvador acredita-se, que

as precipitações diárias a partir desse valor sãoas que causam maiores impactos no municípiode Fortaleza. Por isso, optou-se por considerar,nesse trabalho, somente as chuvas diárias quese inserem nesse valor.

Assim, o objet ivo desse estudo éident if icar a ocorrência de eventospluviométricos iguais ou superiores a 60 mm em24 horas no município de Fortaleza e nosmunicípios de Maranguape e Pacatuba, essesdois últimos contendo as nascentes de rios quedrenam a capital do estado, bem como analisaros impactos ocorridos dentro de Fortaleza.Objet iva ainda, ident if icar os sistemasatmosféricos geradores desses eventos e aparticipação de La niña no número de eventosocorridos quando de sua ocorrência. Procurou-se, também, estabelecer a relação entre totalanual de chuvas e número de eventos ocorridosno ano.

Na análise dos impactos considerou-seo evento pluviométrico de maior intensidadeidentificado no período correspondente a umasérie de 33 anos (1974-2006).

METODOLOGIA

O município de Fortaleza localiza-se noNorte do Nordeste do Brasil, mais precisamentena zona litorânea do estado do Ceará, entre ascoordenadas geográficas 3º 45’ 47" S e 38º 37’35" W. Na f igura 01 pode-se visualizar alocalização do referido município bem como alocalização de Maranguape e Pacatuba, alémdos postos pluviométricos analisados.

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Esse trabalho utilizou como base teórico-conceitual os estudos de Monteiro (1976, 1991,2003), considerando a teoria do Sistema ClimaUrbano (S.C.U.), subsistema hidrometeórico,que corresponde ao canal de percepção deimpactos meteóricos.

Ainda com base em Monteiro (1976, 2003),esse estudo não foi limitado apenas às precipitações,mas procurou-se entendê-las a partir de uma visãointegrada dos sistemas atmosféricos atuantes, dosítio urbano e das atividades humanas (tanto poratuar modificando o ambiente como também porlocalizar-se em áreas sujeitas aos riscos deinundações).

Para identificação dos episódiospluviométricos iguais e superiores a 60 mm/24h seutilizou dados de três postos pluviométricos: umlocalizado no município de Fortaleza (Posto Fortaleza-FUNCEME); outro em Maranguape (PostoMaranguape); e o terceiro em Pacatuba (PostoPacatuba). O interesse em conhecer asprecipitações máximas ocorridas nesses dois últimosmunicípios fez-se pelo fato daquelas áreasabrigarem as nascentes de rios que drenam a cidadede Fortaleza, contribuindo de forma efetiva comaumento das vazões e consequentemente para asinundações nas suas margens dentro de Fortaleza.

Com relação às etapas da pesquisa,procedeu-se inicialmente, o levantamento erevisão bibliográfica, documental e cartográficasobre o assunto e a área de estudo. Junto àFUNCEME, se obteve dados pluviométricoscorrespondentes à área e ao período estudadoque corresponde a uma série histórica de 33anos (1974-2006). Posteriormente, fez-se aident if icação e registro dos episódios queinteressavam à pesquisa. A série histórica dePacatuba apresentou falhas nos anos de 1983e 1987, e, portanto, esses dois anos não foramconsiderados na análise daquele município. Asséries históricas de Fortaleza e Maranguape nãoapresentaram falhas.

O procedimento seguinte consistiu nainterpretação e análise dos resultados. Paraisso, recorreu-se ao aporte teórico obt idoinicialmente. Finalmente, passou-se a analisarespecif icamente o episódio de maiorpluviosidade registrado, ocorrido no dia 29 dejaneiro de 2004 e seus impactos. Para essaanálise, se considerou dados registrados nojornal “O POVO” sobre o referido evento,informações da Defesa Civil de Fortaleza, cartassinóticas e imagens de satélite referentes aosdias 27, 28 e 29 de janeiro de 2004, visando

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uma melhor compreensão do comportamentodos sistemas atmosféricos atuantes naquelasdatas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

-Análise dos Eventos pluviométricosiguais e superiores a 60mm/24h

O subsitema “hidrometeórico” envolvetodas as manifestações meteóricas de impacto,aqui considerados os eventos pluviaisconcentrados.

A tabela 01 contém dados relativos apluviosidade de Fortaleza, Maranguape ePacatuba. A partir desses dados, pode-se dizerque nos três municípios, para o períodoestudado, o número de eventos iguais ousuperiores a 60 mm diár ios é bastantesignificativo, principalmente em Fortaleza.

No posto Fortaleza-FUNCEME, como sepode verificar em referida tabela, em apenas 3dos 33 anos observados, não foi registradonenhum dos episódios que aqui considerou-secomo “possíveis” causadores de impactospluviais, fato que está de acordo com Monteiro(2003), que afirma que no Brasil, em diferentesregiões, dificilmente há um ano em que não hajauma ou algumas cidades atingidas por fortesimpactos pluviais.

Na década de 1970, embora os registrosiniciem em 1974, ocorreram 27 eventossuperiores a 60mm/24h em Fortaleza e 14 emMaranguape. Em Pacatuba os registros iniciaramem 1979. Na década de 1980 ocorreram 38 emFortaleza, 24 em Maranguape e 22 emPacatuba. Já na década de 1990, os eventosatingiram um número de 20 em Fortaleza, 16em Maranguape e finalmente 26 em Pacatuba,embora esse resultado para Pacatuba possaindicar algum erro de registro.

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Acredita-se que comumente a ocorrênciade La Niña, ao contrário do El Niño, contribuapara que ocorra precipitação pluvial acima donormal no Norte do Nordeste do Brasil. Diantedisso, é importante destacar que segundoBerlato e Fontana (2003), houve ocorrência deLa Niña, entre outros anos, em 1974 e 1985.Conforme a tabela 01, no posto de Fortaleza,são justamente esses dois referidos anos, etambém o de 2004 (ano neutro) os queapresentam o maior número de eventospluviométricos intensos, podendo ser entendidocomo uma evidência de que esse fenômeno podeinf luenciar na atuação dos sistemasatmosféricos a nível regional e, portanto, emmaiores índices pluviométricos como também nageração desse tipo de evento.

Há uma tendência de anos maischuvosos serem também os que apresentammaior número de eventos intensos. No postoFortaleza-FUNCEME, por exemplo, os três anosque apresentam o maior número de eventosintensos, no caso os anos de 1974, 1985 e2004, também apresentam o maior totalpluviométrico anual, com exceção do ano de2004. Contudo esse último também apresentoutotais superiores à média (1.619,6mm) para operíodo analisado. Em 2004 choveu 1.991,1mmconforme pode ser observado na tabela 01.

Em Maranguape, o ano de 1974 étambém o mais chuvoso (2.311,7mm)

apresentando o maior número de eventossuperiores a 60 mm diários, sendo que o anode 2004 também apresenta o mesmo númerode episódios. Entretanto, referido ano tambémregistrou total pluviométrico anual bastanteelevado para Maranguape. Com relação àPacatuba, o maior total pluviométrico anualocorreu no de 1985, coincidindo com o ano demaior número de eventos.

Contudo, ao se observar a correlaçãoentre total pluviométrico e número de eventos,nota-se que isso não é sempre evidenciado,pois os resultados em termos estatísticossomente são significativos para Fortaleza (R =0,68) e não para Maranguape e Pacatuba (R =51 e R = 0,53, respectivamente). Conforme sepode visual izar nos gráficos de dispersão(Gráficos 01, 02 e 03) estabelecidos entre asduas variáveis – para os municípios de Fortaleza,Maranguape e Pacatuba, respectivamente - nemsempre anos de totais pluviométricos maiselevados são os que necessariamenteapresentam o maior número de eventos,embora para Fortaleza a correlação encontradafoi maior. Isso evidencia a necessidade de alertada defesa civil para todos os anos por ocasiãoda quadra chuvosa, independente da altavariabil idade interanual das precipitações,característica da região em estudo, ou dasprevisões pré-estabelecidas pelosmeteorologistas.

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A observação do número de eventos pordécada, indica que houve uma diminuiçãoconsiderável, em Fortaleza e Maranguape, donúmero de eventos na década de 1990 em relaçãoà de 1980, já que não é possível compará-los aosda década de 1970 pela ausência de registrosanteriores a 1974. Um dos fenômenos que podeter influenciado nestes valores é o El Niño que paraFortaleza e os demais municípios aqui considerados,reduz os totais pluviométricos em virtude de suainfluência na célula de circulação de Walker gerandosubsidência do ar no Nordeste Brasileiro, diminuiçãodos processos convectivos, além de influenciar no

deslocamento da Zona de ConvergênciaIntertropical. A tendência (Gráfico 04), embora nãosignificativa em termos estatísticos, evidencia umaredução da precipitação na série histórica analisadapara a capital do estado do Ceará. É importanteconsiderar que, embora tenha ocorrido umadiminuição do número de eventos pluviométricossuperiores a 60 mm/24h na década de 1990 emrelação à de 1980, os eventos de maior magnitudesão registrados em abril de 1997 e janeiro de 2004,sendo esse último o evento extremo ocorrido entre1974 e 2006 e analisado com detalhesposteriormente.

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Analisou-se também a freqüência mensal doseventos em estudo, conforme registrado na tabela02.

De acordo com a referida tabela se observaque ao longo da série histórica analisada, tanto emcada um dos postos, como no total dos três, osmeses de maior número de eventos são março eabril, correspondendo aos mais chuvosos em virtudeda maior atuação da Zona de ConvergênciaIntertropical (ZCIT), comprovando a preponderânciadesse mecanismo atmosférico no estabelecimentoda estação chuvosa na região. Contudo, é

importante destacar que nesses meses tambémpodem ocorrem os Complexos Convectivos de Meso-Escala (CCM), sistemas secundários importantes nageração de eventos de maiores magnitudes.

A ZCIT, segundo Ferreira e Mello (2005), é ofator mais importante na determinação de quãoabundante ou deficiente serão as chuvas no nortedo Nordeste do Brasil. Em março/abril ela atinge asua posição mais meridional no hemisfério Sulgerando precipitação para todo o Estado do Ceará,incluindo, portanto, a área aqui analisada.

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Baseando-se no fato de março e abrilserem os meses de registro do maior númerodos eventos aqu i t ra tados, a l iado àsupos ição de que nessa época,possivelmente o nível de água dos rios jáest ar bastante e levado, supõe -se quenesses meses ocor ra t ambém mui tosimpactos p luv iais nas áreas sujei tas asinundações. Ent r etan to, é impor tantedestacar o mês de janeiro por apresentarum número bastante elevado de eventos enes te mês tem-se como mecanismosatmosféricos mais importantes os VórticesCiclônicos de Altos Níveis (VCAN´s), além daatuação de Comp lexos Convect ivos deMeso-esca las (CCM´s) , s is temasimpor tantes na ge ração de even tospluviométricos diários intensos.

Para caracter izar a ocor rênc ia deeventos p luv iomét r icos int ensos emFortaleza e os impactos resultantes deles,destaca-se nesse t raba lho, o d ia 29 dejaneiro de 2004, correspondendo ao dia emque se registrou a maior pluviosidade diáriado período estudado, também descrito porZanella (2006).

O EPISÓDIO PLUVIOMÉTRICO DO DIA29/01/2004 E OS IMPACTOS CAUSADOS NACIDADE DE FORTALEZA.

É importante ressaltar que, segundodados do posto Fortaleza-FUNCEME, o ano de2004 registrou um total de 1.991,10mm dechuvas em Fortaleza, e somente no mês dejaneiro alcançou 500 mm. A média para oreferido mês da série histórica de 1974-2004 éde 124 mm. O gráfico 04 mostra a quantidadede chuvas para o mês, no qual se evidencia oevento extremo ocorrido, registrando um valorde 250 mm no dia 29 para a Estação daFUNCEME. Observa-se que, antecedendo aoepisódio, os totais pluviométricos alcançadosnos dias 27 e 28 foram elevados, contribuindopara agravar os problemas. Para os Postos deMaranguape e Pacatuba, os totais do dia 29atingitam 83 mm e 50 mm, respectivamente,valor inferior ao de Fortaleza tendo em vista asua localização mais afastada do litoral. Ocomportamento pluviométrico do estado doCeará se caracteriza pela distribuição irregularno tempo e também no espaço, o que justificaos valores bastante diferenciados por ocasiãodo evento aqui considerado.

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Para um melhor entendimento dosimpactos das chuvas em Fortaleza, faz-senecessário salientar que o município é banhadopor três bacias hidrográficas, sendo elas: baciado rio Cocó, bacia do rio Maranguapinho e baciada Vertente Marítima, esta última formada pelos

rios Jacarecanga, Pajeú e Maceió-Papicú. Alémdisso, o município apresenta inúmeros sistemaslacustres (lagoas e lagunas), como o daParangaba, de Messejana, entre outras, muitasdas quais com populações localizadas em suasmargens.

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As margens dos médios e baixos cursosdo rio Maranguapinho e Cocó constituem-se emáreas planas sujeitas às inundações periódicas,e por isso são consideradas áreas de risco.Apesar disso, essas áreas são intensamenteocupadas pela população, contribuindo para quenelas ocorram os mais graves problemasrelacionados aos episódios pluviométricosextremos, a exemplo do ocorrido no dia 29 dejaneiro de 2004.

A população residente junto a essescorpos hídricos é predominantemente de baixarenda. Esse fato já vem sendo mencionado nabibliografia pertinente evidenciando que osimpactos das chuvas atingem principalmente apopulação localizada nos espaços f ísicos,constituído, em muitos casos, em áreas de riscoe insalubridade.

As planícies flúvio-marinhas formadasnas desembocaduras dos rios em Fortalezatambém se encontram ocupadas pela populaçãode baixa renda, e esta por sua vez, enfrentaproblemas resultantes das inundações.

Deve-se considerar também que grandeparte da superfície de Fortaleza encontra-seimpermeabilizada, devido à construção de casas,edifícios, asfaltos, praças, entre outros. Issodiminui a infiltração da água das chuvas,colaborando para o aumento do escoamentosuperficial e ocorrência de inundações. Além disso,em alguns locais, a infra-estrutura de drenagempluvial não está preparada para escoar um grandevolume de águas, e ainda existe, entre outrosproblemas, o entupimento de galerias em virtudedo lixo, que muitas vezes é jogado nestes locais.

As figuras 02, 03 e 04 registram ascondições do tempo dos dias 27, 28 e 29/01/04,respectivamente.

De acordo com Xavier (2004/2005) o anode 2004 foi atípico, pois:

“a atividade das frentes frias foi muito intensa,chegando a provocar chuvas em todo o Ceará,inclusive, associando-se a vórtices ciclônicos dosaltos níveis em janeiro [...], em alguns casosatraindo a ZCIT para latitudes ao sul doEquador”(2004/2005, p. 18).

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Com base nas cartas sinóticas e nasimagens do satélite Meteosat, evidencia-se,nesses dias, a atuação de diferentes sistemasatmosféricos na região. As Repercussões dasFrentes Frias (RFF) associadas à formação deum Vórtice Ciclônico de altos níveis (VCAN),provocaram valores de chuvas importantes paraos dias 27 e 28/01. Já no dia 29, a atuação doVCAN, causou totais pluviométricos elevados,não registrados desde o ano de 1974, quandoiniciaram os registros da estação meteorológicada FUNCEME.

As chuvas do dia 29 de janeiro de 2004causaram inúmeros impactos em Fortaleza,evidenciando a falta de infra-estrutura da cidadefrente a eventos pluviométr icos destamagnitude.

No caso específico deste estudo, o jornalfoi um elemento importante e disponível para aidentificação dos impactos negativos geradosna cidade de Fortaleza por ocasião do referidoepisódio. As considerações a respeito dosproblemas gerados são realizadas mediante asinformações obtidas junto às noticias do Jornal“O Povo” e pelos dados da Defesa Civil.

De acordo com o jornal “o Povo”, vinte ecinco (25) bairros de Fortaleza foram atingidospelas chuvas, ocorrendo danos em toda acidade. Entretanto, os que sofreram maioresimpactos foram: Barra do Ceará, Pirambu,Itaperi, Castelão, Antônio Bezerra, Genibaú eBom Jardim, muitos dos quais com populaçõeslocalizadas em áreas de risco.

De acordo com a defesa civil do município,746 pessoas ficaram desabrigadas e 1.763ficaram desalojadas. Das casas atingidas, 369foram totalmente destruídas e 1.861 sofreramdanos parciais. Além disso, houve registros demortes resultantes das chuvas intensas.

As chuvas ocasionaram ainda oaparecimento de inúmeras doenças, sendo amaioria dos casos de crianças com desidratação,apresentando sintomas como diarréia evômitos, pois são elas as primeiras a sofreremas conseqüências da falta de saneamento.

O lixo acumulado nas ruas contribuiupara que as galerias e bueiros de Fortalezaficassem entupidos. Estes locais constituem-seem ambientes propícios para ratos e baratas,conhecidos transmissores de doenças. Aleptospirose é uma delas. A urina do rato étransportada, pelas águas, para o interior dascasas atingindo pessoas que entram em contatocom a água contaminada.

Os bairros de classe média-alta tambémsofreram impactos nesse dia, em função dealagamentos nas ruas e formação de crateras.Na aldeota, alguns carros caíram em buracosque haviam sido feitos durante obras daPrefeitura Municipal.

Nos bairros Benfica, Centro, Cocó,Fátima, Praia de Iracema, Parangaba, Pirambue outros, muitas ruas e avenidas f icaramintransitáveis devido a abertura de crateras ealagamentos. Houve congestionamentosdurante várias horas do dia, inclusive na BR 116,saída do Município.

No bairro Mucuripe algumas casasdesabaram em virtude de deslizamentos deterra, e algumas pessoas atingidas pelas chuvasinterditaram a Via Expressa para realizarprotestos.

O Conjunto São Miguel foi um dosmais atingidos devido ao transbordamentodas águas do r io Maranguapinho, sendoesta bacia hidrográfica a que apresenta osmaiores prob lemas tendo em v ist a àocupação, em grande escala, das planíciesde inundação. Em a lgumas áreas maiscríticas, a água chegou a aproximadamente2 metros de altura dentro das casas. Nacomunidade Zizi Gavião e no Genibaú ambaslocal izadas às margens do Maranguapinhovárias famílias tiveram que abandonar suascasas. Todos os anos , por ocas ião doperíodo chuvoso e da ocorrência de eventospluviométricos intensos, essa população ésubmet i da às mesmas cond ições. Nocon junt o F l uminense, no P i rambu e noBarroso não foi diferente.

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No morro de Santa Terezinha, onde selocalizam aproximadamente 255 famílias emáreas de risco, casas foram soterradas pelosdeslizamentos de areia das dunas. No bairroCastelo Encantado, também ocorreramdeslizamentos.

As chuvas do dia 29/01 trouxeram danostambém às comunidades que ficam localizadaspróximas ao rio Cocó. Aerolândia, Dias Macêdo,Boa Vista e Jardim Violeta são alguns dos bairrosque ficaram mais afetados durante o temporal.Na BR-116, também próximo ao Makro, o fluxono sentido do Castelão ficou praticamenteparado e o engarrafamento de mais de umquilômetro de veículos permaneceu durantetoda a manhã.

No Lagamar, a situação é a mesma emtodos os anos durante o período chuvoso. Issoocorre porque o Canal do Lagamar transbordacom a ocorrência de eventos pluviométricos maisintensos. Em situação tão crítica quanto a doLagamar, estava a comunidade que fica namargem da Avenida Deputado Paulino Rocha,no Jardim Violeta, próximo ao Castelão etambém a comunidade localizada nas margensda Avenida Alberto Craveiro, no bairro Boa Vista.

Além dos impactos já mencionados,outros danos ocorreram na cidade, tais comoabertura de crateras em várias ruas e avenidas,quedas de muros, destruição de barracas decomerciantes, árvores arrancadas, postes de luztombados, prejudicando o abastecimentotemporário de energia para alguns bairros.Infiltrações e goteiras também foram comunsem toda a cidade. Problemas de falta de água etelefone também contribuíram para ampliar osproblemas causados à cidade.

De acordo com o que se observa dasconsiderações feitas pelo jornal, a Defesa Civilmostrou-se ausente, mostrando a dificuldade eo despreparo dos órgãos públicos frente aeventos climáticos desta magnitude.

Com relação às medidas tomadas paraenfrentar os problemas causados pela chuva nomunicípio, os gestores públicos citaram a

evacuação das populações at ingidas e aconstrução de abrigos provisórios para alojaros desabrigados, evidenciando medidas do tipocorretivas e não preventivas.

Embora este artigo trate dos impactosger ados na c idade de For ta leza , éimportante destacar que todo o Estado foiat ingido pe las cheias. A lgumas rodoviasestaduais e federais foram interrompidas emvir tude de: t ransbordamento de r i os;t ra sbordamento ou ar r ombamento deaçudes; pontes caídas; desmoronamento debar re i r as; ampl iação de buracos nasrodovias; lama; entre outros. Vale registrarinclusive a acumulação de água no AçudeCastanhão, que naquele ano encontrava-seem fase de finalização, tendo nesse eventoatingido um volume de água próximo da suacapacidade máxima de 6,7 bilhões de metroscúb icos , ocor rendo o sang ramento nosprimeiros dias de fevereiro, o que despertoumui ta p reocupação nas auto r idadesresponsáveis pelo seu gerenciamento.

Atualmente a Prefeitura Municipal deFortaleza desenvolve projetos específ icospar a a minimização dos p rob l emas deinundações nas áreas de risco de Fortaleza.Exemplo deles é o Projeto Maranguapinho,que objetiva o re-assentamento de famíliaslocal i zadas em suas áreas de r isco paraconjuntos habitacionais, além da limpeza erecuperação ambiental do mesmo. Outroprojeto é o Águas de Março desenvolvidopor uma ONG – CEARAH Perifer ia - e seconst itui no cadast ramento das famíl iaslocalizadas em áreas de risco a fim de obtero reg is t ro de quant as famí l ias res idemnestas áreas, para que no período chuvoso,a Defesa C iv i l possa t omar medidaspreventivas. O cadastramento tende a seruma prát ica constante com o intu ito deest rutu rar p lanos de ações nas ár easlocalizadas a beira dos rios Maranguapinhoe Cocó sendo estas as mais vulneráveis ainundações (RIBEIRO et. al, 2006).

Análise das precipitações diárias intensas e impactos gerados em Fortaleza, CE, pp. 53 - 68 67

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Os impactos das precipitaçõesconstituem-se em dos problemas mais sérios doSistema Climático Urbano, principalmente nascidades dos países emergentes, dadas àsconseqüências geradas por eventos de maiormagnitude, relacionados às inundaçõesurbanas.

As características do quadro natural,associadas aos processos de ocupação eimpermeabil ização do solo, apontam paraFortaleza muitos problemas relacionados aalagamentos e inundações. Atualmente, aintensa ocupação das áreas de r isco, temprovocado maior potencial de danosrelacionados ao fenômeno das cheias queocorrem no primeiro semestre de cada ano,relacionados aos totais mais elevados deprecipitação deste mesmo período.

De acordo com os resultados obtidos napesquisa, observou-se, de uma maneira geral,certa relação entre o número de eventospluviométr icos intensos e os totaispluviométricos anuais em anos de totais anuaismais elevados. Assim é que os anos de 1974 e1985 de ocorrência de La Niña mostraram-semais chuvosos e apresentaram os números maiselevados de eventos superiores a 60 mm/24h.Contudo, nem sempre isso é evidenciado,conforme apontam as correlações estabelecidasentre as duas variáveis, principalmente paraMaranguape e Pacatuba, portanto, anos maischuvosos nem sempre são os que apresentamos números mais elevados de eventos intensos.

Com relação à distribuição mensal doseventos, observou-se um maior número nosmeses de março e abril, coincidindo com osmeses de maiores precipitações mensais,quando a ZCIT atua com maior intensidade noNorte do Nordeste brasileiro e, portanto, nacidade de Fortaleza.

O episódio pluviométrico ocorrido nodia 29 de janeiro de 2004 deixou Fortalezaem situação de calamidade, tanto pelo fatode ter atingido um total de 250 mm diário,como também em v i r tude da c idadeapr esen tar a maior par te do so loimpermeabilizado, ruas com infra-estruturapre cár i a , s is tema de co le ta de águasp luv ia i s in suf i c ient e , e mui tas pessoasmorando em áreas sujeitas à inundações.Inúmeros bairros e comunidades sofreramimpactos decorrentes das chuvas intensas,principalmente aqueles localizados em áreaspróximas aos leitos dos rios Maranguapinhoe Cocó. Contudo, bairros de classe média-alta também foram atingidos pelas chuvas,o que evidencia a falta de infra-estrutura ep lanejamento urbano da c i dade deFortaleza frente a eventos pluviométr icosdesta magnitude. Além disso, observa-setambém, a dificuldade dos órgãos de defesacivil para lidar com os referidos eventos.

Diante disso, destaca-se a importânciadesse estudo pela possibil idade de gerarsubsídios aos planejadores e tomadores dedecisão e assim contribuir para uma melhororganização do ambiente urbano de Fortaleza.

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Trabalho enviado em setembro de 2008

Trabalho aceito em fevereiro de 2009

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