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O presente estudo objetivou identificar fatores, causas e situações estressantes na modalidade do basquetebol. Objetivou-se, também, caracterizar e identificar os fatores e aspectos estressantes na modalidade do basquetebol; dividir os fatores estressantes mais comuns relatados pelos atletas infantis, infanto-juvenis e adultos; sugerir trabalho psicológico necessário para suprir o déficit causado pelo estresse. Foi realizada uma revisão de literatura a fim de encontrar situações vivenciadas pelos atletas que são possíveis geradoras de estresse, fator o qual poderia diminuir o desempenho dos mesmos. Observou-se que a exclusão social, conflitos com o técnico, problemas relacionados à preparação física, problemas de relacionamento com pessoas importantes, situações relacionadas ao jogo, medo de um desempenho pessoal e/ou coletivo ruim, ansiedade, preocupação com o resultado da partida, nervosismo pré-jogo e a importância da competição ou partida são os problemas mais apontados entre os jogadores de basquetebol.
Citation preview
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ANÁLISE DO ESTRESSE EM COMPETIÇÕES E SITUAÇÕES DE JOGO NO
BASQUETEBOL
João Pedro Lopes Gallo1
Paulo Henrique Xavier de Souza2
RESUMO
O presente estudo objetivou identificar fatores, causas e situações estressantes na
modalidade do basquetebol. Objetivou-se, também, caracterizar e identificar os fatores e
aspectos estressantes na modalidade do basquetebol; dividir os fatores estressantes mais
comuns relatados pelos atletas infantis, infanto-juvenis e adultos; sugerir trabalho
psicológico necessário para suprir o déficit causado pelo estresse. Foi realizada uma
revisão de literatura a fim de encontrar situações vivenciadas pelos atletas que são
possíveis geradoras de estresse, fator o qual poderia diminuir o desempenho dos
mesmos. Observou-se que a exclusão social, conflitos com o técnico, problemas
relacionados à preparação física, problemas de relacionamento com pessoas
importantes, situações relacionadas ao jogo, medo de um desempenho pessoal e/ou
coletivo ruim, ansiedade, preocupação com o resultado da partida, nervosismo pré-jogo
e a importância da competição ou partida são os problemas mais apontados entre os
jogadores de basquetebol.
Palavras-chave: Estresse. Competição. Basquetebol
_______________________
¹ Graduando do Curso de Educação Física/Bacharelado do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte
(CEFID), da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis-SC, Brasil.
2 Professor Mestre do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (CEFID) da Universidade do Estado de
Santa Catarina (UDESC), Florianópolis-SC, Brasil. Orientador do artigo de conclusão de curso.
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INTRODUÇÃO
No momento que falamos de estresse podemos ter a impressão de um fator
negativo e causador de problemas para o organismo humano. Segundo Meleiro (s. d.), o
estresse é um mecanismo fisiológico necessário para nosso processo evolutivo. Sem ele
nem nós e nem os outros animais teriam sobrevivido a situações perigosas. Nossos
ancestrais não teriam deixado descendentes caso algum animal selvagem os atacasse e
estes não reagissem imediatamente.
Segundo Margis et al. (2003), o estresse denota o estado gerado pela percepção
de estímulos que provocam uma excitação emocional. Estes estímulos disparam um
processo de adaptação pelo aumento na produção de adrenalina, o que desencadeia uma
série manifestações como distúrbios fisiológicos e psicológicos. Segundo estes mesmos
autores, um “agente estressor” se define como evento ou estimulo que provoca ou
conduz ao estresse.
Para De Rose Junior et al. (2004), apenas uma minoria dos atletas de alto nível
supera o estresse gerado pelas pressões internas e externas. Treinos, compromissos,
jogos, viagens, contusões, problemas pessoais e de relacionamento são os principais
fatores causadores do estresse. O autor também fala que a maior incidência de atletas
que largaram o esporte está nos jovens. Isso acontece pela exclusão social e alienação
dos estudos causados pelo enorme tempo necessário dedicado ao esporte.
Essas situações podem ser potencialmente geradoras do cansaço mental e
conviver com elas passa a ser fundamental para a manutenção de um estado psicológico
aceitável que permita ao atleta, além de manter seu desempenho esportivo, tomar
conscientemente decisões importantes em diferentes momentos da competição (DE
ROSE JUNIOR, 2002).
Este estudo foi realizado visando à importância da identificação dos fatores
estressantes os quais prejudicam o desempenho dos atletas infantis, infanto-juvenis e
adultos no basquetebol. Considera-se de fundamental relevância esta identificação para
que possam ser desenvolvidos trabalhos psicológicos com a intenção de diminuir e até
anular os efeitos negativos do estresse nos resultados do atleta.
O esporte foco do trabalho dá-se no basquetebol, pois em sendo atleta da
modalidade há mais de dez anos e ter grande afinidade com o esporte foi possível uma
melhor compreensão e familiarização com as situações e os resultados pesquisados de
minha parte.
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Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo identificar fatores, causas e
situações estressantes em atletas da modalidade do basquetebol. Nesta perspectiva,
pretendeu-se também: a) caracterizar e identificar os fatores e aspectos estressantes na
modalidade do basquetebol; b) dividir os fatores estressantes mais comuns relatados
pelos atletas infantis, infanto-juvenis e adultos; c) sugerir trabalho psicológico
necessário para suprir o déficit causado pelo estresse. Uma busca por fatores
psicológicos intrínsecos e extrínsecos capazes de influenciar, tanto positivamente,
quanto negativamente o desempenho de atletas nas situações de jogo no basquetebol.
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura sobre o estresse em
situações e competições de jogo no basquetebol a partir da análise de livros e artigos
científicos nacionais e internacionais. Para a inclusão dos artigos, foram adotados os
seguintes critérios: relação com situações geradoras de estresse, relação de problemas
causados pelo estresse em atletas de diferentes modalidades e, também, específicos ao
basquetebol.
Esta revisão foi realizada em três fases: Fase 1 - Pesquisar e selecionar os artigos
que atendem aos critérios citados. Fase 2 - Leitura analítica, selecionar, dentre o
material encontrado, artigos diretamente ligado ao tema proposto. Fase 3 - Leitura
crítica, ou seja, excluir artigos os quais não tenham como foco principal do trabalho o
tema proposto.
Para análise, comparação e apresentação dos artigos, estes foram divididos em
duas categorias: relacionados a atletas infantis e infanto-juvenis e relacionados a atletas
adultos.
Foi desenvolvida uma tabela onde se evidencia os autores, objetivos da pesquisa
e os principais resultados a fim de facilitar a compreensão e visualização das
informações mais importantes dos artigos pesquisados.
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AUTOR SUJEITOS OBJETIVO RESULTADOS
Castro (2008) 63 atletas masculinos
de basquetebol de nível escolar (15 a 17 anos)
Analisar situações
competitivas, desencadeadoras
de estresse.
Competência individual:
Errar em momentos decisivos Repetir os mesmos erros
Cometer erros causadores da
derrota da equipe
Problemas com o técnico:
Escolhas consideradas injustas
Técnico que só enxerga o lado
negativo
Não valoriza o esforço
Críticas excessivas
Miguel (2008) 30 atletas da seleção
brasileira juvenil
Analisar emoções
vivenciadas por
jogadores no momento
pré-competição.
Emoções contraditórias
Emoções positivas pelo momento
vivenciado Auto-expectativas positivas
Sentimentos de preocupação e
apreensão
Weis,
Romanzini e
Carvalho
(2011)
37 atletas masculinos
de basquetebol de nível
escolar (11 a 14 anos)
Identificar
principais
indicadores de
estresse nos
atletas de
diferentes
categorias no
basquetebol.
Medo
Ansiedade
Preocupação com o resultado
Nervosismo pré-jogo
Assuntos ligados a competição
Maior responsabilidade
Insegurança em relação às próprias
capacidades
De Rose
Junior,
Deschamps e Korsakas
(1999)
19 atletas com
passagem pela seleção
brasileira de basquetebol
Identificar
situações
consideradas causadoras de
“stress”
relacionadas ao
processo
competitivo
126 situações estressantes:
114 situações diretas:
O jogo A influência de pessoas
importantes
Estados psicológicos
Planejamento/organização da
competição ou jogo
Medos e inseguranças
Problemas com técnico e
companheiros de equipe
Importância/dificuldade do
próximo jogo
12 situações indiretas: Problemas familiares
Relacionamentos amorosos
Falta de vida social
Miguel (2008) 18 atletas da seleção
brasileira adulta
Analisar emoções
vivenciadas por
jogadores no
momento
pré-competição.
61% afirmaram
Valorizar emoções ligadas ao
momento vivenciado
Emoções que levam a atitudes
positivas
Auto-expectativas positivas
Emoções contraditórias
39% afirmaram
Ansiedade, nervosismo e preocupação
Emoções que antecipam
positivamente e negativamente os
resultados
Tabela 1 – Relação dos artigos pesquisados
Fonte: produção do próprio autor
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REVISÃO DE LITERATURA
Partindo do conhecimento sobre os efeitos positivos e negativos do estresse
competitivo, buscou-se revisar na literatura questões biológicas e sociais, procurando
compreender o contexto dos atletas da modalidade do basquetebol e, partindo desta
análise, buscar estudos relacionados com o tema.
Os tópicos foram organizados de forma coerente com a problemática estudada,
para melhor compreensão dos elementos envolvidos, a saber:
Fatores e situações estressantes
Jones & Hardy (1990) afirmam que o desempenho esportivo resulta da
combinação de três fatores: fisiológicos, biomecânicos e psicológicos. Os fatores
fisiológicos apontam para os aspectos da preparação física do atleta, os quais permitem
suportar as diferentes cargas de exigência física das competições, treinamentos e testes.
Os fatores biomecânicos estão ligados à execução dos gestos específicos de cada
esporte, ou seja, seus fundamentos, dentro dos altos padrões técnicos para o nível do
atleta. Diferentemente dos anteriores, os fatores psicológicos são capazes de interferir
no desempenho do atleta, independente de sua condição física, de sua preparação
técnica e tática. Ainda de acordo com estes autores, há diversos exemplos de aspectos
psicológicos. Entre eles: motivação, ansiedade, atenção, concentração, agressividade.
De Rose Junior (2002), comenta que processo competitivo engloba fatores os
quais proporcionam condições para a atuação do atleta. Aspectos como torcida,
técnicos, clima, adversários, árbitros, local da disputa, são citados descrevendo os
agentes externos criadores de estresse. Estes, o atleta não obtém controle. Já noite mal
dormida, carga emocional, medo, insegurança, problemas em relacionamentos e
questões financeiras são exemplos de agentes internos, os quais o atleta está sujeito a
sofrer caso não tenha a preparação psicológica necessária para enfrentar determinada
situação.
Todavia, a competição não representa necessariamente uma fonte de estresse
prejudicial ao atleta. Tudo dependerá da avaliação que ele fará da quantidade e
intensidade das situações provocadas pelo processo competitivo como um todo.
Especialmente por aquelas que surgem nos momentos de decisões importantes, pois
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nestas situações que o atleta utiliza seus recursos psicológicos, técnicos, físicos e táticos
próprios para lidar com elas.
Passer (1984) e Vasconcellos (1992) concordam que à medida que o atleta
vivencia situações e experiências novas, a percepção da competição aumentará e isso,
consequentemente, irá facilitar a analise do atleta, melhorando as respostas deste. Para
atletas bem preparados e com mais experiência, a competição poderá ter um caráter
desafiador, entretanto para novatos ou atletas despreparados, as mesmas situações
poderão ter uma conotação ameaçadora ao seu bem estar, seja ele físico, psicológico ou
social.
Situações geradoras de estresse são comuns e, com o passar dos anos, o
individuo vai estabelecendo um maior controle sobre seus atos. Quando este se depara
com situações estressantes, porém comuns a ele ou até mesmo em novas ocasiões, as
chances de uma escolha mais sábia são maiores. É natural que haja uma evolução nas
interpretações por parte do individuo ao longo dos anos diante destas situações. Caso
não houvesse, seria como se este tivesse parado no tempo, pois teria sempre os mesmos
medos, inseguranças e receios.
A competição testa diversos níveis físicos do atleta que, dependendo da
modalidade, poderão ser a chave para alcançar a vitória. A mesma competição nos
mostra, porém, que nem sempre o mais forte ou o mais habilidoso vencerá. No futebol é
comum um time dito mais frágil, por ser menos organizado, ter menor porte físico,
poucas horas de treinamento e outros fatores, conseguir vencer o time citado como
“favorito”. Jogar na casa do adversário, pressão da torcida, desentendimentos com
companheiros de time e técnico, desfocando o da partida e outros fatores psicológicos
podem ser determinantes no resultado de uma partida de futebol.
Assim, para competir o atleta deve estar muito bem preparado e se destacar entre
aqueles que praticam determinada modalidade esportiva. Pressupõe-se que ele deva
superar os mais elevados níveis de exigência, sejam eles físicos, técnicos, táticos ou
psicológicos. Tudo isto requer muito trabalho, planejamento e organização rigorosa,
visando o aperfeiçoamento dos requisitos necessários para obter os melhores resultados
(LIMA, 1990).
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Fatores estressantes no basquetebol em atletas infanto-juvenis
Weis, Romanzini e Carvalho (2011) afirmam que a competição infanto-juvenil é
compreendida entre os sete anos (período chamado de segunda infância) até o final da
adolescência (por volta de 17 ou 18 anos). De Rose Junior (2002), alega que as
competições dos atletas infanto-juvenis são atividades realizadas por adultos e é onde
começa o processo de formação de equipes e as primeiras participações em torneios e
campeonatos.
Os treinamentos de basquetebol possuem bom nível técnico nos fundamentos
básicos da modalidade, porém, muitas vezes, o mesmo não acontece durante o jogo. Os
atletas respondem bem ao estresse e as situações que o basquetebol é capaz de expô-los,
todavia, quando estes atletas se deparam com uma situação de jogo, estes tendem a uma
redução do desempenho (WEIS, ROMANZINI e CARVALHO, 2011).
Estes mesmos autores elaboraram uma pesquisa com 37 crianças e adolescentes
do sexo masculino com idades entre 11 e 14 anos. A inclusão da amostra se dava com a
presença do atleta 24 horas antes da competição em foco, bem como no dia da
competição. O tempo de prática dos atletas era de 3,8 anos, o que aponta para atletas
com certa experiência na modalidade. A pesquisa constatou que os mais frequentes
apontamentos feitos pelos atletas questionados estão relacionados ao medo de
decepcionar as pessoas os quais o atleta se relaciona (técnico, companheiros de equipe,
pais) por culpa de performances ruins, ansiedade, medo, preocupação com o resultado
da partida, nervosismo antes do inicio da partida, assuntos ligados à competição (falar
muito sobre a partida), não conseguir pensar em outras situações que não na competição
em questão, sentir maior responsabilidade e ter insegurança em relação às próprias
capacidades.
Também foi possível constatar que os atletas da categoria infantil (13 e 14 anos)
apresentaram um maior número de sintomas relacionados ao estresse, comparado aos
atletas mais novos. Isso demonstrou que os atletas mais velhos da pesquisa sentem-se
mais pressionados se comparados às categorias mais novas.
Muñoz (2003) alega que a preparação de play-offs deverá ter uma atenção
especial, visto que os atletas deverão estar preparados para controlar as situações
estressantes, pois estas podem provocar reações emocionais que interferem na eficácia
das soluções encontradas pelos próprios atletas para combatê-las, o que inviabiliza as
ações tomadas contra elas pelo atleta.
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Miguel (2008) realizou um estudo com 30 atletas da seleção brasileira juvenil.
Estes relataram a incidência de diversos fatores psicológicos. O autor questionou como
o atleta se sentia momentos antes da competição. Os resultados afirmaram que os itens
mais apontados foram: emoções contraditórias (emoções contraditórias para o mesmo
fenômeno), emoções positivas pelo momento vivenciado (valorização da posição de
destaque na seleção brasileira), auto-expectativas positivas (confiança nas capacidades,
habilidades, competências físicas, técnico/táticas e psicológicas próprias) e sentimentos
de preocupação e apreensão (preocupação com o desempenho próprio e coletivo nas
competições realizadas).
O autor da pesquisa ainda afirma que quanto mais incerto foi o resultado da
próxima partida ou competição, mais os atletas sofrem com emoções pré-competitivas
relacionadas à preocupação e ansiedade.
Castro (2008) realizou um estudo com 63 atletas de basquetebol em nível
escolar, com idades de 15 a 17 anos, onde concluiu que os fatores mais citados entre os
atletas foram relacionadas a duas categorias: competência individual e ao técnico.
Dentre as competências individuais que mais causam estresse nos atletas, podemos
citar: errar em movimentos decisivos, repetir os mesmos erros e cometer erros que
causem a derrota da equipe. Em relação a problemas com o técnico, os pontos mais
citados foram: condutas e escolhas feitas pelo técnico consideradas injustas, na visão
dos atletas, técnico que só enxerga o lado negativo, técnico que não valoriza o esforço
do atleta e excessivas críticas do técnico.
Fatores estressantes no basquetebol em atletas adultos
De Rose Junior (2001) afirma que o atleta pertencente à classe do alto nível
(participante de competições nacionais ou internacionais) deve estar sempre buscando
melhorar, evoluir, aprender novas técnicas e táticas para que tenha um maior
desenvolvimento. Manter um padrão altíssimo requer do atleta muito sacrifício.
Sacrifício que pode resultar em problemas com relacionamentos, ausência do atleta em
eventos/reuniões sociais, por causa do tempo dedicado a pratica. Isso acontece
independentemente da modalidade praticada, pois todas elas possuem, dia após dia,
níveis mais elevados de exigências físicas, técnicas, táticas e psicológicas e cabe ao
atleta acompanhar, caso este queira ter chances de chegar ao objetivo, que é a vitória.
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Isto já deverá estar inserido no jogador de alto nível. O tempo dedicado à prática será
maior do que o tempo de lazer.
Miguel (2008), em seu estudo, envolveu também 18 atletas da seleção brasileira
adulta. O questionário foi aplicado da mesma maneira tanto para os atletas juvenis
quanto para os adultos, chegando à conclusão que os adultos também vivenciam uma
mistura de emoções. Dentre os atletas entrevistados, 61% valorizam mais emoções
ligadas ao momento vivenciado (posição de destaque na seleção brasileira), emoções
que levam a atitudes positivas, auto-expectativas positivas e também as emoções
contraditórias. Emoções estas que ficaram mais evidentes nos outros 39% dos atletas, os
quais apontaram mais comumente para situações que refletem ansiedade, nervosismo,
preocupação, emoções que antecipam positiva e negativamente os resultados.
O estudo realizado por De Rose Junior, Deschamps e Korsakas (1999) envolveu
19 atletas com passagem pela seleção brasileira de basquetebol. Os atletas foram
entrevistados e suas respostas foram categorizadas como diretamente e indiretamente
relacionadas à competição. No total, os autores registraram 126 situações consideradas
estressantes. Destas situações, 114 (90,5%) estavam diretamente ligadas à competição e
12 (9,5%) foram consideradas situações indiretas.
Em relação às situações diretamente ligadas à competição o estudo concluiu que,
por ordem de ocorrência, as situações causadoras do estresse estão relacionadas com: o
jogo, a influência de pessoas importantes, estados psicológicos e o planejamento e
organização da competição ou jogo. Medos e inseguranças, problemas com técnicos e
companheiros de equipe, a organização das equipes, a importância e dificuldade do jogo
e a própria competência são os fatores mais comuns e estes podem influenciar
negativamente no desempenho do atleta.
Já em relação às situações indiretamente ligadas à competição, os autores
concluíram que situações como problemas familiares, relacionamentos amorosos, falta
de uma vida social e estabelecimento de vínculos de amizades constantes e duradouras
foram algumas das situações apontadas sendo as causas de estresse entre os atletas
entrevistados.
Os autores ressalvam que apesar de terem sido citadas apenas 12 situações
indiretas à competição (número baixo em relação às 114 situações diretamente ligadas),
não se deve descartá-las, pois o estudo não mensurou o impacto e a intensidade delas no
desempenho dos atletas. É importante afirmar que qualquer uma delas pode ter um
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impacto bastante significativo, do mesmo modo que qualquer uma das situações
diretamente ligadas pode ter.
CONCLUSÃO
Levando-se em consideração a literatura investigada, observa-se uma quantidade
relevante de pesquisas e estudos sobre situações e fatores causadores de estresse no
cotidiano de atletas, sejam estes infantis, infanto-juvenis ou adultos. É oportuno
destacar que os estudos citados chegaram a conclusões muito parecidas. Estes
apontaram para problemas de relacionamentos sociais, preocupação com o desempenho
pessoal e/ou coletivo e, ainda, problemas com a organização da equipe (treinamentos,
jogos e eventos), o que identifica a carência de trabalhos psicológicos na preparação
pré-competitiva de atletas, independentemente da modalidade estudada.
Problemas psicológicos poderão afetar o desempenho de um atleta ou time,
independentemente da idade ou categoria destes. Observa-se que o medo de decepcionar
pessoas importantes para os atletas; medo de um mau desempenho pessoal e coletivo;
ansiedade e preocupação com o resultado da partida; nervosismo pré-jogo; assuntos
ligados à competição; importância da competição e partida e o fator técnico foram os
aspectos mais apontados pelos atletas de basquetebol, como fatores estressantes.
A preocupação com o técnico da equipe é crucial no desempenho do atleta.
Quando se trata de atletas de categorias infantis e infanto-juvenis, o medo de
decepcionar o técnico; técnico que só enxerga o lado negativo; técnico que não valoriza
o esforço ou o acerto; excessivas críticas do técnico e conflitos com o mesmo são os
aspectos mais citados entre os problemas com o técnico.
É clara a grande incidência de fatores estressantes relacionados ao desempenho,
como por exemplo: erros em momentos decisivos; preocupações com o desempenho
próprio e dos colegas; nervosismo com o resultado da partida; nervosismo pré-jogo;
ansiedade e responsabilidade (presença na seleção brasileira) foram os mais citados
entre os atletas das categorias infantis e infanto-juvenis.
Os fatores mais citados que acarretam situações de estresse nos adultos foram: a
necessidade de uma contínua evolução; manter um alto padrão de desempenho através
de muito tempo dedicado ao esporte (o que também é um fator estressante por gerar
alienação social); ansiedade; nervosismo pré-jogo; problemas com pessoas importantes;
problemas relacionados ao jogo ou competição; desacordos com os técnicos e
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companheiros de equipe; importância e dificuldade da próxima competição ou
campeonato disputado; medo de mau desempenho próprio; problemas familiares
(relacionamentos amorosos, brigas familiares e amizades pouco duradouras);
planejamento e organização de jogos problemas com treinamentos e ainda viagens
longas.
Todos esses fatores podem estar presentes isoladamente ou de forma combinada,
sendo mediados por características como: nível de habilidade do atleta, grau de
preparação, tempo de prática, experiências anteriores, idade e sexo.
Esta revisão mostra haver um déficit na realização de trabalhos psicológicos com
atletas das mais variadas modalidades e em especial no Basquetebol. Questões como
medo, ansiedade e preocupação são exemplos de dificuldades enfrentadas pelos atletas
que diminuem o desempenho dos mesmos durante a partida.
O presente estudo é apenas uma pequena demonstração da grandiosidade do
problema. Resta aos profissionais do esporte e da psicologia trabalharem juntos a fim de
amenizar os danos causados pelas dificuldades dos atletas. Abre-se, portanto, um
expressivo número de possibilidades de investigações acerca do tema apresentado. Para
melhor compreensão e tendo em vista as limitações deste estudo, sugerem-se novos
estudos na área do basquetebol, pois os artigos selecionados apresentaram diversas
situações comuns aos atletas, situações que poderão ser amenizadas através de trabalhos
psicológicos.
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