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ANÁLISE DO RUÍDO E DA VIBRAÇÃO
NA UTILIZAÇÃO DE ROÇADORES
MOTORIZADOS
JOSE ANTONIO POLETTO FILHO (Unesp)
RESUMO: Lesão de membros superiores, vibração, ruído, trabalho a
céu aberto, postura incorreta, são alguns aspectos do trabalho na
agricultura que envolve risco aos trabalhadores. Ao operam máquinas
manuais principalmente aquelas providas dde motores sofrem os
efeitos do ruído e da vibração nas mãos e nos braços. O presente
trabalho tem como objetivo uma caracterização da exposição ao ruído
e às vibrações do sistema mão-braço dos operadores de roçador
motorizados. Após a caracterização dos níveis vibracionais e de
pressão sonora, estes foram comparados com a legislação vigente.
Palavras-chaves: Ergonomia, Ruído, Lesão de membros superiores,
Vibração
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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1. Introdução
A vibração esta presente na maioria das atividades humanas, os batimentos cardíacos são
movimentos vibratórios do coração, o principio da fala é a vibração das cordas vocais, o
caminhar envolve oscilações de braços e pernas, a vibração do tímpano nos possibilita ouvir.
Na engenharia os estudos das vibrações são de grande importância e podem ser responsáveis
por prejuízos econômicos e financeiros. Já do ponto de vista da higiene ocupacional a
vibração é em um importante fator de risco à saúde do trabalhador e pode levar a sérias
consequências ao organismo. Resulta de uma fonte emissora de vibração mecânica que incide
no organismo do trabalhador. Pode ser localizada, quando a exposição ocorre ao manusear
equipamentos vibratórios, como no caso dos trabalhadores na agricultura ao manuseares
roçadores motorizados, ou de corpo inteiro quando há uma superfície que vibra, suportando o
corpo humano em pé, sentado ou deitado; esta forma de exposição ocorre em todas as
operações de meios de transporte (SEBASTIÃO, MARZIALE, ROBAZZI, 2007).
A vibração provoca o deslocamento oscilatório das partículas do meio, que quando se propaga
até os ouvidos, provocarão a oscilação dos tímpanos, e por um mecanismo interno de
transmissão, estimularão os nervos auditivos, que por sua vez transmitirá ao cérebro uma
sensação denominada som. Sendo assim, o som se caracteriza por flutuações de pressão em
um meio compressível que se propagam numa faixa de frequência capaz de sensibilizar o
aparelho auditivo (GERGES, 1992).
Vibrações produzidas por fontes sonoras podem emitir simultaneamente muitas frequências e
amplitudes diferentes, que quando combinadas produzem um movimento resultante que não
se da de forma harmônica, denominado de ruído. Portanto ruído se caracteriza pela existência
de muitas amplitudes e frequências ocorrendo ao mesmo tempo de maneira não harmônica,
enquanto que o som se caracteriza por poucas amplitudes e frequências, geralmente
harmônicas.
Comenta Mendes (2005) que assim como outras doenças relacionadas com o trabalho, a perda
auditiva ocupacional pode ser também classificada entre as doenças de ocorrência
desnecessárias, isto é, perfeitamente evitável. Sua simples ocorrência já significa uma falha
em todo o sistema preventivo que já deveria estar colocado à disposição do trabalhador.
2. Objetivo
A proposta deste trabalho é analisar a exposição dos trabalhadores que utilizam roçador
motorizado ao ruído e às vibrações do sistema mão-braço. Comparar os valores encontrados
com a legislação brasileira referente à saúde e segurança no trabalho obedecendo a Norma
Regulamentadora nº 15 – Atividades e Operações Insalubres e os critérios internacionais:
ACGH - American Conference of Governmental Industrial Higyenists e a Norma Britânica
BS 6842-1987.
3. Revisão bibliográfica
Segundo a Organização Mundial da Saúde, saúde é: “um estado de completo bem-estar físico,
mental e social e não apenas a ausência de doenças.” Portanto todos os trabalhadores têm o
direito a um ambiente livre de agentes que possam prejudicar a sua saúde. No caso do
trabalhador rural tais agentes podem ter as mais diversas causas: a exposição a agentes físicos
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– calor, ruído, vibração, radiações, a agentes químicos – agrotóxicos, adubos, etc., a agentes
biológicos – bactérias, fungos, bacilos, trabalho a céu aberto, exposição a intempéries, risco
de acidentes, risco ergonômico, acidentes com animais peçonhentos, entre outros.
3.1. Ruído
Segundo Mendes (2005) dentre os fatores que resultam em risco ocupacional, certamente o
ruído aparece como o mais frequente e é universalmente distribuído, expondo um grande
número de trabalhadores.
A perda auditiva induzida por nível de pressão sonora elevado é uma patologia cumulativa e
insidiosa, que cresce ao longo dos anos de exposição ao ruído associado ao ambiente de
trabalho. É causada por qualquer exposição que exerça 85 dB(A), em oito horas diárias de
exposição (BRASIL, PORTARIA 32,14, 1978), é uma doença de caráter irreversível e de
evolução progressiva, passível de prevenção (SANTOS E RUSSO, 1993)
Fisicamente o ruído é um som de grande complexibilidade, resultante da superposição
desarmônica de sons provenientes de várias fontes, seu espectro sempre será uma confusa
composição de harmônicas sem qualquer classificação ou ordem de composição.
Normalmente seu espectro é de banda larga, compacto e uniforme, sendo comum aparecer
uma maior predominância de uma faixa de freqüências (FERNANDES, 2002).
Fernandes, (1999) relata que somente na primeira metade do século XX apareceram as
primeiras pesquisas sobre a relação homem/máquina, que geralmente analisavam as posições
de trabalho, não se preocupando com o conforto acústico dos usuários. Apenas a partir de
1950, surgiram as primeiras pesquisas voltadas para este tema, relacionando a máquina, o
ruído e a perda de audição induzida por ruído.
Com a constante mecanização de equipamentos usados na agroindústria, observa-se que as
máquinas agrícolas têm atingido níveis de ruído perigosos, indicando cada vez mais a
necessidade da avaliação dos níveis sonoros induzidos por estes sistemas, a fim de se proteger
os usuários, pois dependendo do nível de ruído os danos causados ao trabalhador podem ser
irreversíveis.
Uma das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores rurais é roçar utilizando equipamentos
especialmente desenvolvidos para este fim. Tais equipamentos denominados “roçadeiras
transversais” são necessárias e imprescindíveis para a manutenção das propriedades rurais,
canteiros de rodovias, praças e jardins nas cidades. Portanto o estudo dos Níveis de Pressão
Sonora (NPS) destes equipamentos tem fundamental importância para evitar prejuízos à saúde
do operador.
Na Tabela 1 encontra-se o tempo máximo diário de exposição permissível em função do
nível de pressão sonoro, segundo a NHO 01 da Fundacentro.
Nível de pressão
sonoro (dB(A))
Tempo máximo
permissível (minutos)
85 480,00
91 120,00
100 15,00
115 0,46
Fonte: Fundacentro, 2011
Tabela 1: tempo máximo diário de exposição permissível em função do nível de pressão sonoro. (tabela
resumida)
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3.2. Vibração
Reynaud (1969) foi que primeiro descreveu em 1862, os distúrbios vasculares observados em
indivíduos expostos a vibrações de mãos e braços, em sua tese intitulada Local Asphyxiaand
Symmetrical Gangrene of the Extremities. Vendrame (2005) comenta que pesquisadores
italianos, já em 1911 descreviam a síndrome da vibração nos trabalhadores que operavam
marteletes, correlacionando com o fenômeno de Reynaud. No Brasil a portaria nº 1339
(1999), do Ministério da Saúde do Brasil, considera as vibrações localizadas como agentes de
risco de natureza ocupacional.
Iida (2005) define vibração ou oscilação como qualquer movimento que se repete depois de
certo intervalo de tempo. É, portanto, o estudo do movimento de oscilação de um corpo em
torno de uma posição de equilíbrio, bem como das forças ou momentos a ele associadas. Para
Mendes (2005) a vibração é uma grandeza vetorial e, portanto com magnitude, direção e
sentido. Alem destas variáveis outras devem ser levadas em consideração quando se trata de
vibração localizada: área de contato com a vibração, força de contato, postura do dedo, mão
ou braço e temperatura.
Para Vendrame (2005), o corpo humano possui uma vibração natural que quando coincide
com a frequência do equipamento implica em amplificação do movimento oscilatório. A
energia vibratória é absorvida pelo organismo devido a atenuação promovida pelos tecidos e
órgãos. A sensibilidade a estas vibrações também é diferente: vibrações longitudinais, ao
longo do eixo z, da coluna vertebral é distinta da sensibilidade transversal, eixos x ou y, ao
longo dos braços ou através do tórax. Em cada direção, a sensibilidade também varia com a
frequência, desta forma, para determinada frequência, a aceleração tolerável é diferente
daquela em outra frequência. (REGAZZI, XIMENES, 2005) Cabe ressaltar que não há, para o
agente físico vibração, normatização nacional definida. O anexo nº 8 da norma
regulamentadora nº15 (BRASIL, PORTARIA 32,14, 1978) remete a questão para a
International Organization for Standardization.
A comprovação ou não da exposição toma por base os limites das normas: ISO 2631-1 (1997)
que aborda as vibrações de corpo inteiro e ISO 5349–1 (2001), vibrações de mão e braço.
Estas normas definem a vibração em três variáveis: a freqüência (Hz), a aceleração máxima
sofrida pelo corpo (m/s2) e a direção do movimento, que é dada em três eixos espaciais: x, das
costas para frente, y, da direita para esquerda e z, dos pés à cabeça. (ROCHA, 2010)
Alem destas também pode ser usada como parâmetro a American Conference of Industrial
Hygienists (ACGIH), que determina os Valores Limites de Exposição (TLV, Threshold Limit
Value) ocupacional para substâncias químicas e agentes físicos. No caso da vibração a Tabela
2 indica os níveis e duração da exposição à vibração que representa condições às quais se
acredita que a maioria dos trabalhadores possa ser repetidamente exposta sem evoluir alem do
estágio 1 do Sistema de Classificação do Encontro de Estocolmo para Dedos Brancos
Induzidos por Vibração. (ACGIH, 2010)
Duração total da exposição
diária
Componente da aceleração
dominante [m/s2]
Mais de 4 horas e menos de 8 4,0
Mais de 2 horas e menos de 4 6,0
Mais de 1 hora e menos de 2 8,0
Menos de 1 hora 12,0
Fonte: American Conference of Industrial Hygienists (ACGIH).
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Tabela 2: limites para exposição para vibração localizada(mão)
Conforme comenta Mendes (2005) os níveis de exposição proposto pela comunidade
Econômica Européia são: nível limiar de 1,0 m/s2, nível de ação de 2,5 m/s
2 e limite de
exposição de 5,0 m/s2. A diretiva cuja finalidade é oferecer proteção aos trabalhadores em
relação aos riscos físicos propõe medidas que devem ser tomadas a partir do nível limiar e
declara que abaixo deste não há efeitos adversos sobre a saúde e segurança do trabalhador. A
norma Britânica BS 6842, por exemplo, pressupõe que um nível de exposição de 2,8m/s2 em
8 horas de atividade gerará 10% de prevalência de síndrome de Reynaud após oito anos de
exposição (Tabela 3).
Para Pelmear e Leong (2000) a ACGIH deveria também adotar a metodologia da raiz do
somatório dos quadrados das componentes da aceleração (rss) e desta forma harmonizando-se
com as outras normas como a revisão da ISO 5349-2 e das Diretrizes da Comunidade
Econômica Européia.
Exposição
diária [h]
Exposição em anos
05 1 2 4 8 16
8 44,8 22,4 11,2 5,6 2,8 1,4
4 64,0 32,0 16,0 8,0 4,0 2,0
2 89,6 44,8 22,4 11,2 5,6 2,8
1 128,0 64,0 32,0 16,0 8,0 4,0
0,5 179,2 89,6 44,8 22,4 11,2 5,6
0,25 256,0 128,0 64,0 32,0 16,0 8,0
Fonte: BS – 6842
Tabela 3: magnitude da aceleração da vibração Ponderada em frequência (m/s2) as quais podem ser esperadas
para produzir embranqueciemento dos dedos em 10% dos trabalhadores expostos.
Os novos limites propostos por Pelmear e Leong (2000) consideram que valores acima de 1
m/s2 são classificados como sendo de risco potencial e medidas preventivas devem ser
adotadas. Propõem ainda os limites constantes na Tabela 4.
Raiz da somatória dos
quadrados – RSS [m/s2]
Tempo de exposição
em horas [h]
1,8 4 – 8
2,5 2 – 4
3,6 1 – 2
5,0 Menos de 1
Tabela 4: Limites propostos por Pelmear e Leong (2000)
O efeito das vibrações sobre o corpo humano pode ser extremamente grave, havendo a
possibilidade de ocorrência de perda de equilíbrio, falta de concentração, visão turva,
degeneração gradativa do tecido muscular e nervoso, especialmente para os trabalhadores
submetidos a vibrações localizadas. Neste caso podem apresentar a patologia, popularmente
conhecida como “dedo branco” (Figura 1), causando perda da capacidade manipulativa e o
tato nas mãos e dedos, dificultando o controle motor. (GERGES, 2005)
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Fonte: Syndrome Vibration (NIOSH, 1997)
Figura 1: doenças causadas pela vibração sobre as mãos
É no sistema mão e braço que as consequências das vibrações são mais severas. Nas
ferramentas motorizadas atingem-se altas acelerações oscilatórias nas mãos e articulações dos
pulsos. A utilização destas ferramentas submete o trabalhador a vibrações localizadas que
podem acarretar diversas patologias nas mãos e braços. A exposição a vibrações excessivas
pode originar danos físicos permanentes denominados síndrome dos dedos brancos, uma
degeneração gradativa do tecido muscular e nervoso. Com isto, alguns dedos - normalmente o
dedo médio - ficam brancos até azulados, frios e "sem sentidos". Após algum tempo, os dedos
voltam a ficar vermelhos e doloridos. É caracterizada por uma contração espasmódica dos
vasos sanguíneos é conhecida também como doença de Reynaud. Pode surgir no máximo
após seis meses de trabalho com uma ferramenta vibratória (XIMENES, 2006).
Para a classificação do Fenômeno de Reynaud induzido pela vibração é utilizada a escala do
Sistema de Classificação do Encontro de Estocolmo para Dedos Brancos Induzidos por
Vibração. (Tabela 5)
Estágio Condição dos Dedos Interferência no Trabalho e Social
0 Nenhum embranquecimento Nenhuma queixa
0T Formigamento intermitente Nenhuma interferência
0N Adormecimento intermitente Nenhuma interferência
1
Embranquecimento de uma ou
mais pontas dês dedos com ou sem
adormecimento
Nenhuma interferência
2
Embranquecimento de uma ou
mais pontas dês dedos com
adormecimento
Leve interferência com atividades sociais e domésticas
nenhuma interferência no trabalho
3
Embranquecimento extenso.
Episódios frequentes no verão e no
inverno
Interferência definitiva no trabalho nas atividades
sociais e domésticas. Restrição de praticas de lazer
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Embranquecimento extenso na
maioria dos dedos freqüentes no
verão e no inverno
Mudança de ocupação para evitar exposição à vibração
em razão da gravidade dos sinais e sintomas
Fonte: Instituto de Seguridad e Salud Laboral (2000)
Tabela 5: sistema de classificação do encontro de Estocolmo para dedos brancos induzidos por vibração
A Tabela 6 ilustra os sintomas percebidos pelo trabalhador com as respectivas frequências de
vibração. (FERNANDES, 2000)
Sintomas Frequência (Hz)
Sensação geral de desconforto 4-9
Sintomas na cabeça 13-20
Sintomas no maxilar 6-8
Dor no peito 5-7
Contrações musculares 4-9
Desejo de urinar 10-18
Tabela 6: sintomas e frequências de vibração.
A avaliação das vibrações que atuam sobre o trabalhador deve ser realizada conhecendo-se
três fatores: a direção de atuação: x, y e z (Figura 2) a frequência e a intensidade do sinal de
excitação. Usa-se o tempo de duração para o cálculo da dose e consequentemente o grau de
exposição às vibrações indesejadas. (ROCHA, 2010)
Figura 2: Sistema de coordenadas para a mão – eixos de medição
Fonte: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/12734/2/Texto%20integral.pdf
As vibrações que são transmitidas ao corpo humano podem ser classificadas em dois tipos,
segundo a região do corpo atingida conforme Tabela 7.
Tipo de vibração Efeito
Transmitidas ao corpo inteiro
São de baixa frequência e grande amplitude, situando-se na faixa de 1 a
80 Hz, mais especificamente de 1 a 20 Hz. São mais importantes nos
trabalhadores em atividades relacionadas aos meios de transporte;
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Vibrações que atingem um segmento
do corpo (localizadas)
São as mais estudadas, situando-se na faixa de 6,3 a 1250 Hz. Atingem
principalmente os trabalhos que utilizam ferramentas manuais
Fonte: Regazzi e Ximenes, 2005.
Tabela 7: efeito da vibração no corpo humano
Os parâmetros para avaliação da vibração são mensuráveis em unidades métricas, de acordo
com as normas ISO. Utiliza-se, usualmente, a aceleração, expressa em metros por segundo
quadrado (m/s2), utilizando-se para isso equipamentos denominados acelerômetros, uma
combinação entre transdutores, amplificadores, e detetor-indicador de sinal com
características metrológicas controladas (REGAZZI e XIMENES, 2005).
4. Materiais e métodos:
Para efeito de comparação foram escolhidos nove trabalhadores utilizando os seguintes
equipamentos: um de 1,6 Hp do fabricante “A”, seis do fabricante “B” (três com potencia de
2,2 Hp e três de 2,4 Hp) e dois com potencia 1,6 Hp do fabricante “C”, conforme Tabela 8.
Os resultados das medições foram comparados com os valores demonstrados na tabela 1 que
apresenta o TLV da ACGIH e com a tabela 3, proposta por Pelmear e Leong (2000).
Fabricante Potência
(hp)
Número de
equipamentos
A 1,6 1
B 2,2 3
B 2,4 3
C 1,6 2
Tabela 8: equipamentos avaliados
4.1. Avaliação a exposição à vibração
O equipamento utilizado para as medições foi o Medidor de Vibração e Tacômetro COM RS
232, modelo MV-690, Instrutherm. A medida da vibração foi realizada sequencialmente ao
longo de cada eixo nas três direções, considerando que as condições de operação eram
similares para todas as três medições, com duração de 30 minutos. O transdutor do
acelerômetro foi instalado na superfície vibrante da empunhadura do equipamento próximo da
mão do operador, em condições de operação, não interferindo com trabalho normal do
operador (Figura 5).
Figura 5: localização dos acelerômetros nos equipamentos.
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A avaliação da exposição à vibração é baseada na quantidade combinada dos três eixos. Isto é,
o valor total da aceleração de vibração, ahp, para mãos e braços, é definido pela raiz média
quadrática dos três valores componentes, conforme a equação 1. (ISO 5649, 1986)
(1)
Onde:
ahv ; valor da vibração total, [m/s2];
ahwx, ahwy, ahwz,; valores eficazes de aceleração ponderados em frequência, em m/s2, determinados
segundo as coordenadas ortogonais (x, y, z).
Se a exposição diária a vibração, for medida num período diferente de 8 horas, a exposição
equivalente para um período de 8 horas pode ser determinada pela equação 2.
(2)
Onde:
T: duração total diária da exposição à vibração,
To:duração de referencia de 8horas (28.800s).
A exposição diária a vibração A(8) deve ser avaliada separadamente para ambas as mãos do operador.
4.2. Avaliação a exposição ao Ruído
Como a manutenção dos canteiros das rodovias acontece em todo o trajeto da pista as
medições dos Níveis de Pressão Sonoros não puderam ser realizadas sempre no mesmo local,
mas, conforme as equipe de trabalho se deslocavam ao longo do percurso. Para evitar
interferência do ruído originado na pista de rolamento pelos veículos que ali trafegavam o que
poderia alterar o resultado obtido, as medições foram sempre tomadas o mais longe possível
destes pontos e em nenhum momento este ruído de fundo ultrapassou à 75 dB(A). O
equipamento utilizando para as avaliações foi um medidor de nível sonoro, modelo MS 6700,
Mastech. A metodologia empregada para as medições obedeceram ao que preconiza a
Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR 9999 - (1990), que estabelece critérios e,
fixa as condições exigíveis para a medição e registro do nível de ruído, no posto de operação
de tratores e máquinas motorizadas utilizadas na agricultura.
Foram realizadas cinco repetição para cada medida tomada e para cada repetição, foram feitas
cinco leituras instantâneas, por um períodos de cinco segundos. Caso a dispersão das leituras
excedesse 3 dB(A), outra medição era realizada até que as leituras se limitassem a uma
dispersão na faixa de 3 dB(A).
Para comparação com a Norma regulamentador nº 15 também foi realizada a dosimetria
durante 3 horas em 4 trabalhadores com utilização de um Dosímetro DOS-500 da
Instrutherm.
5. Resultados e conclusões
5.1.Vibração
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Na Tabela 9 estão descritos os valores encontrados nas avaliações experimentais. Como
comentado na revisão bibliográfica a legislação brasileira remete a questão da vibração para
normas internacionais. No caso em estudo os resultados das medições foram comparados com
os valores apresentados na tabela 2 que apresenta o TLV da ACGIH e com a tabela 4,
proposta por Pelmear e Leong (2000).
Componentes da aceleração nos
eixos x, y, z rss
Componente da
aceleração dominante
[m/s2] Fabricante Potência ahpx ahpy ahpz ahp
A 1,6 1,50 1,35 1,63 2,59 1,63 ahpz
C 1,6 1,61 1,25 1,68 2,64 1,68 ahpz
C 1,6 1,70 1,36 1,41 2,55 1,70 ahpx
B 2.2 1,65 1,48 1,52 2,69 1,65 ahpx
B 2.2 1,82 1,51 1,32 2,71 1,82 ahpx
B 2.2 1,55 1,59 1,75 2,82 1,75 ahpz
B 2.4 1,95 1,45 1,58 2,90 1,95 ahpx
B 2.4 1,86 1,55 1,68 2,94 1,86 ahpx
B 2.4 1,65 1,79 1,58 2,88 1,79 ahpy
Tabela 9: resultados das acelerações encontradas.
Quando se compara os resultados com os critérios da tabela 2 elaborada pela ACGIH nota-se
que nenhum equipamento ultrapassa o limite de tolerância TLV. Por este critério o
trabalhador poderá ficar exposto a uma aceleração de 4,0 m/s2 por até 8 horas sem prejuízo a
sua saúde. Já quando a comparação é feita com os critérios propostos por Pelmear e Leong
(2000), tabela 4, pode-se notar que todos os operários deveriam trabalhar no máximo 2 horas,
pois o RSS ultrapassa 2,5 m/s2 em todos os casos. Sabe-se que a jornada de trabalho destes
operários é de 8 horas diárias, fica bastante clara a situação de insalubridade existente nesse
trabalho, quando utilizado o critério da norma Britânica.
A análise dos resultados obtidos permitiu chegar às seguintes conclusões:
Os equipamentos avaliados apresentaram níveis de vibração dentro dos limites
estabelecidos pela ACGIH, mas não atendem os critérios da norma Britânica,
Os níveis de vibração de alguns dos equipamentos ensaiados do fabricante “B” quando
utilizados por 8 horas poderão causar a síndrome de Reynaud em 10% dos trabalhadores,
Os níveis de vibração muito acima dos valores permitidos pela legislação, excedendo os
limites de tolerância expõem o trabalhador a uma grave situação de insalubridade na
operação destes equipamentos, podendo ações trabalhistas.
5.2. Ruído
A legislação brasileira especifica que o valor máximo de exposição a níveis de ruído deve ser
de 85 dB(A) para o dia de um trabalho de 8 horas e sem equipamento proteção individual
(EPI). Na Tabela 10 encontram-se os resultados obtidos nas avaliações.
Nível sonoro dB(A)
Fabricante Potência Motor OLE OLD Posterior Anterior
A 1,6 112 98 96 93 90
C 1,6 102 98 98 96 93
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11
C 1,6 105 99 97 96 93
B 2.2 115 99 100 105 98
B 2.2 111 100 105 106 98
B 2.2 112 100 104 105 99
B 2.4 102 97 99 104 98
B 2.4 105 98 99 104 97
B 2.4 110 99 101 103 98
OLD - Ouvido do lado direito do operador
OLE - Ouvido do lado esquerdo do operador
Tabela 10: resultados dos níveis de pressão sonora encontrados.
A jornada de trabalho diária desta equipes é de oito horas e de acordo com a norma
regulamentadora nº 15, anexo 1 o tempo de exposição máximo para estes nível de ruído foi
extrapolado, ficando caracterizada a insalubridade, conforme demonstrado na Tabela 11.
Fabricante Potência (hp) Dose dB(A)
Tempo máximo de
exposição segundo
NR 15 (h)
A 1,6 94 2,25
C 1,6 95 2
B 2,2 99 1
B 2,4 95 2
Tabela 11: comparação da dose com a norma regulamentadora nº 15
Quando se compara os mesmos valores com Norma de Higiene Ocupacional NHO – 01 da
Fundacentro (FUNDACENTRO, 2001) nota-se que o tempo máximo de trabalho é ainda
menor conforme demonstra a Tabela 12.
Fabricante Potência (hp) Dose dB(A)
Tempo máximo de
exposição segundo
NHO 01 (mim.)
A 1,6 94 60
C 1,6 95 47,62
B 2,2 99 18,89
B 2,4 95 47,62
Tabela 12: comparação da dose com a NHO 01 - Fundacentro
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