12
ANÁLISE DO RUÍDO E DA VIBRAÇÃO NA UTILIZAÇÃO DE ROÇADORES MOTORIZADOS JOSE ANTONIO POLETTO FILHO (Unesp) [email protected] RESUMO: Lesão de membros superiores, vibração, ruído, trabalho a céu aberto, postura incorreta, são alguns aspectos do trabalho na agricultura que envolve risco aos trabalhadores. Ao operam máquinas manuais principalmente aquelas providas dde motores sofrem os efeitos do ruído e da vibração nas mãos e nos braços. O presente trabalho tem como objetivo uma caracterização da exposição ao ruído e às vibrações do sistema mão-braço dos operadores de roçador motorizados. Após a caracterização dos níveis vibracionais e de pressão sonora, estes foram comparados com a legislação vigente. Palavras-chaves: Ergonomia, Ruído, Lesão de membros superiores, Vibração XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

ANÁLISE DO RUÍDO E DA VIBRAÇÃO NA UTILIZAÇÃO DE … · A comprovação ou não da exposição toma por base os limites das normas: ISO 2631-1 (1997) que aborda as vibrações

Embed Size (px)

Citation preview

ANÁLISE DO RUÍDO E DA VIBRAÇÃO

NA UTILIZAÇÃO DE ROÇADORES

MOTORIZADOS

JOSE ANTONIO POLETTO FILHO (Unesp)

[email protected]

RESUMO: Lesão de membros superiores, vibração, ruído, trabalho a

céu aberto, postura incorreta, são alguns aspectos do trabalho na

agricultura que envolve risco aos trabalhadores. Ao operam máquinas

manuais principalmente aquelas providas dde motores sofrem os

efeitos do ruído e da vibração nas mãos e nos braços. O presente

trabalho tem como objetivo uma caracterização da exposição ao ruído

e às vibrações do sistema mão-braço dos operadores de roçador

motorizados. Após a caracterização dos níveis vibracionais e de

pressão sonora, estes foram comparados com a legislação vigente.

Palavras-chaves: Ergonomia, Ruído, Lesão de membros superiores,

Vibração

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

2

1. Introdução

A vibração esta presente na maioria das atividades humanas, os batimentos cardíacos são

movimentos vibratórios do coração, o principio da fala é a vibração das cordas vocais, o

caminhar envolve oscilações de braços e pernas, a vibração do tímpano nos possibilita ouvir.

Na engenharia os estudos das vibrações são de grande importância e podem ser responsáveis

por prejuízos econômicos e financeiros. Já do ponto de vista da higiene ocupacional a

vibração é em um importante fator de risco à saúde do trabalhador e pode levar a sérias

consequências ao organismo. Resulta de uma fonte emissora de vibração mecânica que incide

no organismo do trabalhador. Pode ser localizada, quando a exposição ocorre ao manusear

equipamentos vibratórios, como no caso dos trabalhadores na agricultura ao manuseares

roçadores motorizados, ou de corpo inteiro quando há uma superfície que vibra, suportando o

corpo humano em pé, sentado ou deitado; esta forma de exposição ocorre em todas as

operações de meios de transporte (SEBASTIÃO, MARZIALE, ROBAZZI, 2007).

A vibração provoca o deslocamento oscilatório das partículas do meio, que quando se propaga

até os ouvidos, provocarão a oscilação dos tímpanos, e por um mecanismo interno de

transmissão, estimularão os nervos auditivos, que por sua vez transmitirá ao cérebro uma

sensação denominada som. Sendo assim, o som se caracteriza por flutuações de pressão em

um meio compressível que se propagam numa faixa de frequência capaz de sensibilizar o

aparelho auditivo (GERGES, 1992).

Vibrações produzidas por fontes sonoras podem emitir simultaneamente muitas frequências e

amplitudes diferentes, que quando combinadas produzem um movimento resultante que não

se da de forma harmônica, denominado de ruído. Portanto ruído se caracteriza pela existência

de muitas amplitudes e frequências ocorrendo ao mesmo tempo de maneira não harmônica,

enquanto que o som se caracteriza por poucas amplitudes e frequências, geralmente

harmônicas.

Comenta Mendes (2005) que assim como outras doenças relacionadas com o trabalho, a perda

auditiva ocupacional pode ser também classificada entre as doenças de ocorrência

desnecessárias, isto é, perfeitamente evitável. Sua simples ocorrência já significa uma falha

em todo o sistema preventivo que já deveria estar colocado à disposição do trabalhador.

2. Objetivo

A proposta deste trabalho é analisar a exposição dos trabalhadores que utilizam roçador

motorizado ao ruído e às vibrações do sistema mão-braço. Comparar os valores encontrados

com a legislação brasileira referente à saúde e segurança no trabalho obedecendo a Norma

Regulamentadora nº 15 – Atividades e Operações Insalubres e os critérios internacionais:

ACGH - American Conference of Governmental Industrial Higyenists e a Norma Britânica

BS 6842-1987.

3. Revisão bibliográfica

Segundo a Organização Mundial da Saúde, saúde é: “um estado de completo bem-estar físico,

mental e social e não apenas a ausência de doenças.” Portanto todos os trabalhadores têm o

direito a um ambiente livre de agentes que possam prejudicar a sua saúde. No caso do

trabalhador rural tais agentes podem ter as mais diversas causas: a exposição a agentes físicos

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

3

– calor, ruído, vibração, radiações, a agentes químicos – agrotóxicos, adubos, etc., a agentes

biológicos – bactérias, fungos, bacilos, trabalho a céu aberto, exposição a intempéries, risco

de acidentes, risco ergonômico, acidentes com animais peçonhentos, entre outros.

3.1. Ruído

Segundo Mendes (2005) dentre os fatores que resultam em risco ocupacional, certamente o

ruído aparece como o mais frequente e é universalmente distribuído, expondo um grande

número de trabalhadores.

A perda auditiva induzida por nível de pressão sonora elevado é uma patologia cumulativa e

insidiosa, que cresce ao longo dos anos de exposição ao ruído associado ao ambiente de

trabalho. É causada por qualquer exposição que exerça 85 dB(A), em oito horas diárias de

exposição (BRASIL, PORTARIA 32,14, 1978), é uma doença de caráter irreversível e de

evolução progressiva, passível de prevenção (SANTOS E RUSSO, 1993)

Fisicamente o ruído é um som de grande complexibilidade, resultante da superposição

desarmônica de sons provenientes de várias fontes, seu espectro sempre será uma confusa

composição de harmônicas sem qualquer classificação ou ordem de composição.

Normalmente seu espectro é de banda larga, compacto e uniforme, sendo comum aparecer

uma maior predominância de uma faixa de freqüências (FERNANDES, 2002).

Fernandes, (1999) relata que somente na primeira metade do século XX apareceram as

primeiras pesquisas sobre a relação homem/máquina, que geralmente analisavam as posições

de trabalho, não se preocupando com o conforto acústico dos usuários. Apenas a partir de

1950, surgiram as primeiras pesquisas voltadas para este tema, relacionando a máquina, o

ruído e a perda de audição induzida por ruído.

Com a constante mecanização de equipamentos usados na agroindústria, observa-se que as

máquinas agrícolas têm atingido níveis de ruído perigosos, indicando cada vez mais a

necessidade da avaliação dos níveis sonoros induzidos por estes sistemas, a fim de se proteger

os usuários, pois dependendo do nível de ruído os danos causados ao trabalhador podem ser

irreversíveis.

Uma das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores rurais é roçar utilizando equipamentos

especialmente desenvolvidos para este fim. Tais equipamentos denominados “roçadeiras

transversais” são necessárias e imprescindíveis para a manutenção das propriedades rurais,

canteiros de rodovias, praças e jardins nas cidades. Portanto o estudo dos Níveis de Pressão

Sonora (NPS) destes equipamentos tem fundamental importância para evitar prejuízos à saúde

do operador.

Na Tabela 1 encontra-se o tempo máximo diário de exposição permissível em função do

nível de pressão sonoro, segundo a NHO 01 da Fundacentro.

Nível de pressão

sonoro (dB(A))

Tempo máximo

permissível (minutos)

85 480,00

91 120,00

100 15,00

115 0,46

Fonte: Fundacentro, 2011

Tabela 1: tempo máximo diário de exposição permissível em função do nível de pressão sonoro. (tabela

resumida)

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

4

3.2. Vibração

Reynaud (1969) foi que primeiro descreveu em 1862, os distúrbios vasculares observados em

indivíduos expostos a vibrações de mãos e braços, em sua tese intitulada Local Asphyxiaand

Symmetrical Gangrene of the Extremities. Vendrame (2005) comenta que pesquisadores

italianos, já em 1911 descreviam a síndrome da vibração nos trabalhadores que operavam

marteletes, correlacionando com o fenômeno de Reynaud. No Brasil a portaria nº 1339

(1999), do Ministério da Saúde do Brasil, considera as vibrações localizadas como agentes de

risco de natureza ocupacional.

Iida (2005) define vibração ou oscilação como qualquer movimento que se repete depois de

certo intervalo de tempo. É, portanto, o estudo do movimento de oscilação de um corpo em

torno de uma posição de equilíbrio, bem como das forças ou momentos a ele associadas. Para

Mendes (2005) a vibração é uma grandeza vetorial e, portanto com magnitude, direção e

sentido. Alem destas variáveis outras devem ser levadas em consideração quando se trata de

vibração localizada: área de contato com a vibração, força de contato, postura do dedo, mão

ou braço e temperatura.

Para Vendrame (2005), o corpo humano possui uma vibração natural que quando coincide

com a frequência do equipamento implica em amplificação do movimento oscilatório. A

energia vibratória é absorvida pelo organismo devido a atenuação promovida pelos tecidos e

órgãos. A sensibilidade a estas vibrações também é diferente: vibrações longitudinais, ao

longo do eixo z, da coluna vertebral é distinta da sensibilidade transversal, eixos x ou y, ao

longo dos braços ou através do tórax. Em cada direção, a sensibilidade também varia com a

frequência, desta forma, para determinada frequência, a aceleração tolerável é diferente

daquela em outra frequência. (REGAZZI, XIMENES, 2005) Cabe ressaltar que não há, para o

agente físico vibração, normatização nacional definida. O anexo nº 8 da norma

regulamentadora nº15 (BRASIL, PORTARIA 32,14, 1978) remete a questão para a

International Organization for Standardization.

A comprovação ou não da exposição toma por base os limites das normas: ISO 2631-1 (1997)

que aborda as vibrações de corpo inteiro e ISO 5349–1 (2001), vibrações de mão e braço.

Estas normas definem a vibração em três variáveis: a freqüência (Hz), a aceleração máxima

sofrida pelo corpo (m/s2) e a direção do movimento, que é dada em três eixos espaciais: x, das

costas para frente, y, da direita para esquerda e z, dos pés à cabeça. (ROCHA, 2010)

Alem destas também pode ser usada como parâmetro a American Conference of Industrial

Hygienists (ACGIH), que determina os Valores Limites de Exposição (TLV, Threshold Limit

Value) ocupacional para substâncias químicas e agentes físicos. No caso da vibração a Tabela

2 indica os níveis e duração da exposição à vibração que representa condições às quais se

acredita que a maioria dos trabalhadores possa ser repetidamente exposta sem evoluir alem do

estágio 1 do Sistema de Classificação do Encontro de Estocolmo para Dedos Brancos

Induzidos por Vibração. (ACGIH, 2010)

Duração total da exposição

diária

Componente da aceleração

dominante [m/s2]

Mais de 4 horas e menos de 8 4,0

Mais de 2 horas e menos de 4 6,0

Mais de 1 hora e menos de 2 8,0

Menos de 1 hora 12,0

Fonte: American Conference of Industrial Hygienists (ACGIH).

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

5

Tabela 2: limites para exposição para vibração localizada(mão)

Conforme comenta Mendes (2005) os níveis de exposição proposto pela comunidade

Econômica Européia são: nível limiar de 1,0 m/s2, nível de ação de 2,5 m/s

2 e limite de

exposição de 5,0 m/s2. A diretiva cuja finalidade é oferecer proteção aos trabalhadores em

relação aos riscos físicos propõe medidas que devem ser tomadas a partir do nível limiar e

declara que abaixo deste não há efeitos adversos sobre a saúde e segurança do trabalhador. A

norma Britânica BS 6842, por exemplo, pressupõe que um nível de exposição de 2,8m/s2 em

8 horas de atividade gerará 10% de prevalência de síndrome de Reynaud após oito anos de

exposição (Tabela 3).

Para Pelmear e Leong (2000) a ACGIH deveria também adotar a metodologia da raiz do

somatório dos quadrados das componentes da aceleração (rss) e desta forma harmonizando-se

com as outras normas como a revisão da ISO 5349-2 e das Diretrizes da Comunidade

Econômica Européia.

Exposição

diária [h]

Exposição em anos

05 1 2 4 8 16

8 44,8 22,4 11,2 5,6 2,8 1,4

4 64,0 32,0 16,0 8,0 4,0 2,0

2 89,6 44,8 22,4 11,2 5,6 2,8

1 128,0 64,0 32,0 16,0 8,0 4,0

0,5 179,2 89,6 44,8 22,4 11,2 5,6

0,25 256,0 128,0 64,0 32,0 16,0 8,0

Fonte: BS – 6842

Tabela 3: magnitude da aceleração da vibração Ponderada em frequência (m/s2) as quais podem ser esperadas

para produzir embranqueciemento dos dedos em 10% dos trabalhadores expostos.

Os novos limites propostos por Pelmear e Leong (2000) consideram que valores acima de 1

m/s2 são classificados como sendo de risco potencial e medidas preventivas devem ser

adotadas. Propõem ainda os limites constantes na Tabela 4.

Raiz da somatória dos

quadrados – RSS [m/s2]

Tempo de exposição

em horas [h]

1,8 4 – 8

2,5 2 – 4

3,6 1 – 2

5,0 Menos de 1

Tabela 4: Limites propostos por Pelmear e Leong (2000)

O efeito das vibrações sobre o corpo humano pode ser extremamente grave, havendo a

possibilidade de ocorrência de perda de equilíbrio, falta de concentração, visão turva,

degeneração gradativa do tecido muscular e nervoso, especialmente para os trabalhadores

submetidos a vibrações localizadas. Neste caso podem apresentar a patologia, popularmente

conhecida como “dedo branco” (Figura 1), causando perda da capacidade manipulativa e o

tato nas mãos e dedos, dificultando o controle motor. (GERGES, 2005)

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

6

Fonte: Syndrome Vibration (NIOSH, 1997)

Figura 1: doenças causadas pela vibração sobre as mãos

É no sistema mão e braço que as consequências das vibrações são mais severas. Nas

ferramentas motorizadas atingem-se altas acelerações oscilatórias nas mãos e articulações dos

pulsos. A utilização destas ferramentas submete o trabalhador a vibrações localizadas que

podem acarretar diversas patologias nas mãos e braços. A exposição a vibrações excessivas

pode originar danos físicos permanentes denominados síndrome dos dedos brancos, uma

degeneração gradativa do tecido muscular e nervoso. Com isto, alguns dedos - normalmente o

dedo médio - ficam brancos até azulados, frios e "sem sentidos". Após algum tempo, os dedos

voltam a ficar vermelhos e doloridos. É caracterizada por uma contração espasmódica dos

vasos sanguíneos é conhecida também como doença de Reynaud. Pode surgir no máximo

após seis meses de trabalho com uma ferramenta vibratória (XIMENES, 2006).

Para a classificação do Fenômeno de Reynaud induzido pela vibração é utilizada a escala do

Sistema de Classificação do Encontro de Estocolmo para Dedos Brancos Induzidos por

Vibração. (Tabela 5)

Estágio Condição dos Dedos Interferência no Trabalho e Social

0 Nenhum embranquecimento Nenhuma queixa

0T Formigamento intermitente Nenhuma interferência

0N Adormecimento intermitente Nenhuma interferência

1

Embranquecimento de uma ou

mais pontas dês dedos com ou sem

adormecimento

Nenhuma interferência

2

Embranquecimento de uma ou

mais pontas dês dedos com

adormecimento

Leve interferência com atividades sociais e domésticas

nenhuma interferência no trabalho

3

Embranquecimento extenso.

Episódios frequentes no verão e no

inverno

Interferência definitiva no trabalho nas atividades

sociais e domésticas. Restrição de praticas de lazer

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

7

4

Embranquecimento extenso na

maioria dos dedos freqüentes no

verão e no inverno

Mudança de ocupação para evitar exposição à vibração

em razão da gravidade dos sinais e sintomas

Fonte: Instituto de Seguridad e Salud Laboral (2000)

Tabela 5: sistema de classificação do encontro de Estocolmo para dedos brancos induzidos por vibração

A Tabela 6 ilustra os sintomas percebidos pelo trabalhador com as respectivas frequências de

vibração. (FERNANDES, 2000)

Sintomas Frequência (Hz)

Sensação geral de desconforto 4-9

Sintomas na cabeça 13-20

Sintomas no maxilar 6-8

Dor no peito 5-7

Contrações musculares 4-9

Desejo de urinar 10-18

Tabela 6: sintomas e frequências de vibração.

A avaliação das vibrações que atuam sobre o trabalhador deve ser realizada conhecendo-se

três fatores: a direção de atuação: x, y e z (Figura 2) a frequência e a intensidade do sinal de

excitação. Usa-se o tempo de duração para o cálculo da dose e consequentemente o grau de

exposição às vibrações indesejadas. (ROCHA, 2010)

Figura 2: Sistema de coordenadas para a mão – eixos de medição

Fonte: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/12734/2/Texto%20integral.pdf

As vibrações que são transmitidas ao corpo humano podem ser classificadas em dois tipos,

segundo a região do corpo atingida conforme Tabela 7.

Tipo de vibração Efeito

Transmitidas ao corpo inteiro

São de baixa frequência e grande amplitude, situando-se na faixa de 1 a

80 Hz, mais especificamente de 1 a 20 Hz. São mais importantes nos

trabalhadores em atividades relacionadas aos meios de transporte;

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

8

Vibrações que atingem um segmento

do corpo (localizadas)

São as mais estudadas, situando-se na faixa de 6,3 a 1250 Hz. Atingem

principalmente os trabalhos que utilizam ferramentas manuais

Fonte: Regazzi e Ximenes, 2005.

Tabela 7: efeito da vibração no corpo humano

Os parâmetros para avaliação da vibração são mensuráveis em unidades métricas, de acordo

com as normas ISO. Utiliza-se, usualmente, a aceleração, expressa em metros por segundo

quadrado (m/s2), utilizando-se para isso equipamentos denominados acelerômetros, uma

combinação entre transdutores, amplificadores, e detetor-indicador de sinal com

características metrológicas controladas (REGAZZI e XIMENES, 2005).

4. Materiais e métodos:

Para efeito de comparação foram escolhidos nove trabalhadores utilizando os seguintes

equipamentos: um de 1,6 Hp do fabricante “A”, seis do fabricante “B” (três com potencia de

2,2 Hp e três de 2,4 Hp) e dois com potencia 1,6 Hp do fabricante “C”, conforme Tabela 8.

Os resultados das medições foram comparados com os valores demonstrados na tabela 1 que

apresenta o TLV da ACGIH e com a tabela 3, proposta por Pelmear e Leong (2000).

Fabricante Potência

(hp)

Número de

equipamentos

A 1,6 1

B 2,2 3

B 2,4 3

C 1,6 2

Tabela 8: equipamentos avaliados

4.1. Avaliação a exposição à vibração

O equipamento utilizado para as medições foi o Medidor de Vibração e Tacômetro COM RS

232, modelo MV-690, Instrutherm. A medida da vibração foi realizada sequencialmente ao

longo de cada eixo nas três direções, considerando que as condições de operação eram

similares para todas as três medições, com duração de 30 minutos. O transdutor do

acelerômetro foi instalado na superfície vibrante da empunhadura do equipamento próximo da

mão do operador, em condições de operação, não interferindo com trabalho normal do

operador (Figura 5).

Figura 5: localização dos acelerômetros nos equipamentos.

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

9

A avaliação da exposição à vibração é baseada na quantidade combinada dos três eixos. Isto é,

o valor total da aceleração de vibração, ahp, para mãos e braços, é definido pela raiz média

quadrática dos três valores componentes, conforme a equação 1. (ISO 5649, 1986)

(1)

Onde:

ahv ; valor da vibração total, [m/s2];

ahwx, ahwy, ahwz,; valores eficazes de aceleração ponderados em frequência, em m/s2, determinados

segundo as coordenadas ortogonais (x, y, z).

Se a exposição diária a vibração, for medida num período diferente de 8 horas, a exposição

equivalente para um período de 8 horas pode ser determinada pela equação 2.

(2)

Onde:

T: duração total diária da exposição à vibração,

To:duração de referencia de 8horas (28.800s).

A exposição diária a vibração A(8) deve ser avaliada separadamente para ambas as mãos do operador.

4.2. Avaliação a exposição ao Ruído

Como a manutenção dos canteiros das rodovias acontece em todo o trajeto da pista as

medições dos Níveis de Pressão Sonoros não puderam ser realizadas sempre no mesmo local,

mas, conforme as equipe de trabalho se deslocavam ao longo do percurso. Para evitar

interferência do ruído originado na pista de rolamento pelos veículos que ali trafegavam o que

poderia alterar o resultado obtido, as medições foram sempre tomadas o mais longe possível

destes pontos e em nenhum momento este ruído de fundo ultrapassou à 75 dB(A). O

equipamento utilizando para as avaliações foi um medidor de nível sonoro, modelo MS 6700,

Mastech. A metodologia empregada para as medições obedeceram ao que preconiza a

Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR 9999 - (1990), que estabelece critérios e,

fixa as condições exigíveis para a medição e registro do nível de ruído, no posto de operação

de tratores e máquinas motorizadas utilizadas na agricultura.

Foram realizadas cinco repetição para cada medida tomada e para cada repetição, foram feitas

cinco leituras instantâneas, por um períodos de cinco segundos. Caso a dispersão das leituras

excedesse 3 dB(A), outra medição era realizada até que as leituras se limitassem a uma

dispersão na faixa de 3 dB(A).

Para comparação com a Norma regulamentador nº 15 também foi realizada a dosimetria

durante 3 horas em 4 trabalhadores com utilização de um Dosímetro DOS-500 da

Instrutherm.

5. Resultados e conclusões

5.1.Vibração

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

10

Na Tabela 9 estão descritos os valores encontrados nas avaliações experimentais. Como

comentado na revisão bibliográfica a legislação brasileira remete a questão da vibração para

normas internacionais. No caso em estudo os resultados das medições foram comparados com

os valores apresentados na tabela 2 que apresenta o TLV da ACGIH e com a tabela 4,

proposta por Pelmear e Leong (2000).

Componentes da aceleração nos

eixos x, y, z rss

Componente da

aceleração dominante

[m/s2] Fabricante Potência ahpx ahpy ahpz ahp

A 1,6 1,50 1,35 1,63 2,59 1,63 ahpz

C 1,6 1,61 1,25 1,68 2,64 1,68 ahpz

C 1,6 1,70 1,36 1,41 2,55 1,70 ahpx

B 2.2 1,65 1,48 1,52 2,69 1,65 ahpx

B 2.2 1,82 1,51 1,32 2,71 1,82 ahpx

B 2.2 1,55 1,59 1,75 2,82 1,75 ahpz

B 2.4 1,95 1,45 1,58 2,90 1,95 ahpx

B 2.4 1,86 1,55 1,68 2,94 1,86 ahpx

B 2.4 1,65 1,79 1,58 2,88 1,79 ahpy

Tabela 9: resultados das acelerações encontradas.

Quando se compara os resultados com os critérios da tabela 2 elaborada pela ACGIH nota-se

que nenhum equipamento ultrapassa o limite de tolerância TLV. Por este critério o

trabalhador poderá ficar exposto a uma aceleração de 4,0 m/s2 por até 8 horas sem prejuízo a

sua saúde. Já quando a comparação é feita com os critérios propostos por Pelmear e Leong

(2000), tabela 4, pode-se notar que todos os operários deveriam trabalhar no máximo 2 horas,

pois o RSS ultrapassa 2,5 m/s2 em todos os casos. Sabe-se que a jornada de trabalho destes

operários é de 8 horas diárias, fica bastante clara a situação de insalubridade existente nesse

trabalho, quando utilizado o critério da norma Britânica.

A análise dos resultados obtidos permitiu chegar às seguintes conclusões:

Os equipamentos avaliados apresentaram níveis de vibração dentro dos limites

estabelecidos pela ACGIH, mas não atendem os critérios da norma Britânica,

Os níveis de vibração de alguns dos equipamentos ensaiados do fabricante “B” quando

utilizados por 8 horas poderão causar a síndrome de Reynaud em 10% dos trabalhadores,

Os níveis de vibração muito acima dos valores permitidos pela legislação, excedendo os

limites de tolerância expõem o trabalhador a uma grave situação de insalubridade na

operação destes equipamentos, podendo ações trabalhistas.

5.2. Ruído

A legislação brasileira especifica que o valor máximo de exposição a níveis de ruído deve ser

de 85 dB(A) para o dia de um trabalho de 8 horas e sem equipamento proteção individual

(EPI). Na Tabela 10 encontram-se os resultados obtidos nas avaliações.

Nível sonoro dB(A)

Fabricante Potência Motor OLE OLD Posterior Anterior

A 1,6 112 98 96 93 90

C 1,6 102 98 98 96 93

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

11

C 1,6 105 99 97 96 93

B 2.2 115 99 100 105 98

B 2.2 111 100 105 106 98

B 2.2 112 100 104 105 99

B 2.4 102 97 99 104 98

B 2.4 105 98 99 104 97

B 2.4 110 99 101 103 98

OLD - Ouvido do lado direito do operador

OLE - Ouvido do lado esquerdo do operador

Tabela 10: resultados dos níveis de pressão sonora encontrados.

A jornada de trabalho diária desta equipes é de oito horas e de acordo com a norma

regulamentadora nº 15, anexo 1 o tempo de exposição máximo para estes nível de ruído foi

extrapolado, ficando caracterizada a insalubridade, conforme demonstrado na Tabela 11.

Fabricante Potência (hp) Dose dB(A)

Tempo máximo de

exposição segundo

NR 15 (h)

A 1,6 94 2,25

C 1,6 95 2

B 2,2 99 1

B 2,4 95 2

Tabela 11: comparação da dose com a norma regulamentadora nº 15

Quando se compara os mesmos valores com Norma de Higiene Ocupacional NHO – 01 da

Fundacentro (FUNDACENTRO, 2001) nota-se que o tempo máximo de trabalho é ainda

menor conforme demonstra a Tabela 12.

Fabricante Potência (hp) Dose dB(A)

Tempo máximo de

exposição segundo

NHO 01 (mim.)

A 1,6 94 60

C 1,6 95 47,62

B 2,2 99 18,89

B 2,4 95 47,62

Tabela 12: comparação da dose com a NHO 01 - Fundacentro

6. Referências

ACGIH, American Conferenceof Industrial Hygienists, Valores Limites de Exposição (TLV, Threshold Limit

Value) ocupacional para substâncias químicas e agentes físicos, 2010

BRAGA, C.,A.,C., Exposição Ocupacional a Vibrações no Sistema Mão-Braço no Sector da Construção, 2007

Tese submetida à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, disponível em <http://repositorio-

aberto.up.pt/bitstream/10216/12734/2/Texto%20integral.pdf> , cesso em janeiro 2011.

BRASIL, Portaria 1339 GM de novembro de 1999, disponível em <

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_relacionadas_trabalho_2ed_p1.pdf>, acesso em dezembro

2010.

BRASIL, Portaria 3214/78, Medicina e Segurança do Trabalho, 1978, disponível em <

http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/63/mte/1978/3214.htm >, acesso em dezembro de 2010.

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

12

BS 6842, disponível em < http://www.noisenet.org/Vibration_Occup_HAVS.htm > , acesso

em maio 2011.

FERNANDES, J. C., 2000, Segurança nas Vibrações sobre o Corpo Humano- Apostila

GOTCHY, J., Bridging the Narrows, Peninsula Historical Society; First Edition edition, 1990.

IIDA, I., Ergonomia Projeto e Produção , Editora Edgard Blucher, 2005.

ISO, INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (1997). Mechanical Vibration

and Shocks – Evaluation os Human Exposure to Whole Body Vibration– Part 1: General Requiriments: ISO

2631/1. Second Edition.Geneve.

ISO, INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (2001). Mechanical Vibration –

Measurement andevalution of human exposure to hand-transmitted vibration– Part 1: General Requiriments:

ISO 5349/1. Second Edition. Geneve.

MENDES, R., Patologia do Trabalho, Editora Atheneu, 2005.

RAMAZZINI, B., As Doenças dos trabalhadores, Editora Fundacentro, Campinas, 2000.

RAYNAUD, M., On Local Asphyxia And Summetrical Gengreneof The Extremities, 1969, disponível em

<http://archneur.ama-assn.org/>, acesso em dezembro 2010.

REGAZZI, R. D., XIMENES, G. M., A Importância da Avaliação da Vibração no Corpo Human,. IMETRO,

Rio de Janeiro, Brasil, 2005

ROCHA, L., H., M., Análise De Vibrações Transmitidas A Carrinhos De Bebês Em Percursos Sobre Calçadas,

dissertação de mestrado submetida ao Departamento de Engenharia Civil E Ambiental da Universidade De

Brasília, 2010, disponível em<http://www.transportes.unb.br/arquivos/lara_hill_moreira_da_rocha.pdf>, acesso

em janeiro 2011.

SEBASTIÃO, B., A., MARZIALE, M., H., P., ROBAZZI, M., L., C., C., Uma Revisão Sobre Efeitos

Adversos Ocasionados na Saúde de Trabalhadores Expostos à Vibração, 2007, disponível

em<http://www.saude.ba.gov.br/rbsp/volume31/P%C3%A1ginas%20%20de%20Revista_Vol31_n1_2007%20%

20178.pdf >acesso em dezembro 2010.

VENDRAME, A., C., Vibrações Ocupacionais, 2005, disponível

em<http://www.higieneocupacional.com.br/download/vibracoes_vendrame.pdf>, acesso em dezembro de 2010.

XIMENES, G., M., Gestão Ocupacional Da Vibração No Corpo Humano, Aspectos Técnicos E Legais

Relacionados À Saúde E Segurança, 2006, Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de

Gestão da Universidade Federal Fluminense, disponível em <

http://www.inmetro.gov.br/producaointelectual/obras_intelectuais/179_obraIntelectual.pdf>, acesso em janeiro

2011.

GERGES, SAMIR N.Y. Ruído: Fundamentos e Controle, 1ª ed., Florianópolis, 1992.

FUNDACENTRO, disponível em < http://www.fundacentro.gov.br/ > , acesso em abril de 2011.