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Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

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Page 1: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Engenharia

Departamento de Engenharia de Materiais e Construção Curso de Especialização em Construção Civil

Monografia

ANÁLISE DO USO DE ESTRUTURAS DE AÇO EM EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS DE

INTERESSE SOCIAL

Autora:

Adriana Almeida de Castro Bandeira

Orientador: Prof. Adriano de Paula e Silva

Janeiro/2008

Page 2: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Adriana Almeida de Castro Bandeira

ANÁLISE DO USO DE ESTRUTURAS DE AÇO EM EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS DE

INTERESSE SOCIAL

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Construção Civil

da Escola de Engenharia da UFMG

Ênfase: Avaliação e perícia

Orientador: Prof. Adriano de Paula e Silva

Belo Horizonte

Escola de Engenharia da UFMG

Janeiro/2008

Page 3: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

SUMÁRIO

1. Introdução.....................................................................................................01

1.1 Objetivos ............................................................................................................01

1.2. Justificativa .......................................................................................................02

1.3. Metodologia ......................................................................................................03

1.4 Descrição do desenvolvimento do trabalho.......................................................04

2. O Aço ............................................................................................................05

2.1 O processo siderúrgico para a produção do aço ...............................................05

2.1.1 Os produtos siderúrgicos .........................................................................08

2.2 Os aços estruturais ............................................................................................09

2.2.1 Propriedades dos aços estruturais ..........................................................11

2.3 Perfis estruturais de aço ....................................................................................13

2.4 Estruturas mistas ...............................................................................................16

3. O Uso da Estrutura de Aço na Arquitetura e na Construção Civil .........19

3.1 Histórico Mundial ...............................................................................................19

3.1.1 O uso da estrutura de ferro e aço nos Estados Unidos ...........................28

3.2 O caso brasileiro ................................................................................................31

4. Parâmetros Técnicos de Projeto e Construção em Estrutura de Aço....42

4.1 A industrialização da construção civil ................................................................42

4.1.1 A Coordenação Modular ..........................................................................43

4.1.2 O projeto arquitetônico e a industrialização da construção civil ..............46

4.2 O processo de projeto a partir do uso da estrutura de aço ................................48

4.3 Parâmetros técnicos que interferem no projeto arquitetônico ...........................55

4.4 Prevenção de patologias da estrutura de aço no projeto arquitetônico .............68

4.4.1 A Corrosão ...............................................................................................69

4.4.2 Proteção contra altas temperaturas .........................................................76

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5. O Uso da Estrutura de Aço em Habitações de Interesse Social .............80

5.1 Os Sistemas Construtivos desenvolvidos pelas empresas do setor .................81

5.2 Estudos de casos na grande Belo Horizonte .....................................................86

5.2.1 Conjunto Habitacional Pedro II - Vila São José.......................................87

5.2.2 Conjuntos Alvorada e Resplendor - Vila Senhor dos Passos ..................91

5.2.3 Conjunto Habitacional Zilah Spósito I ......................................................96

5.2.4 Conjunto Habitacional Oswaldo Barbosa Pena – Nova Lima ................101

Conclusões e considerações finais .............................................................104

Bibliografia .....................................................................................................106

Page 5: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Processo Siderúrgico _______________________________________ 06 Fonte: DIAS, 2002 Figura 02 – Tipos de Perfis Laminados ___________________________________ 13 Fonte: DIAS, 2002 Figura 03 – Composições com Perfis Laminados de Padrão Americano _________ 14 Fonte: DIAS, 2002 Figura 04 – Perfis formados a frio (dobrados) ______________________________ 15 Fonte: DIAS, 2002 Figura 05 – Perfis Tubulares ___________________________________________ 16 Fonte: DIAS, 2002 Figura 06 – Composição de perfis conjugados com chapas e perfis tubulares _____16 Ilustração feita pela autora Figura 07 – Detalhe de perfis mistos – aço e concreto _______________________ 17 Ilustração feita pela autora Figura 08 – Estrutura mista – aço concreto / Obra de um residência - São Paulo___ 18 Fonte: www.metalica.com.br/pg_dinamica Figura 09 – Estrutura mista–aço e madeira/Parque Municipal do Mindu - Manaus__ 18 Fonte: Revista Projeto e Design nº 261/ novembro de 2001 Figura 10 – Ponte sobre o Rio Severn – / Engenheiro Abraham Darby ___________22 Fonte: meusite.mackenzie.com.br/paiva/severn.htm Figura 11 – Palácio de Cristal – Londres / Joseph Paxton _____________________24 Fonte: www.architetturaamica.it/AFDidee.html Figura 12 – Galerie de Machines – Paris / Arquiteto Ferdinand Dutert ___________ 25 Fonte: www.structurae.de/en/strutures/data/str00131.php Figura 13 – Detalhe do pilar - Galerie de Machines __________________________26 Fonte: www.uni-trier.de/uni/fb3/kunstgeschicht/nicolai/ihtml/I_3_6.htm# Figura 14 - Torre Eiffel – Paris / Engenheiro Gustave Eiffel ____________________26 Foto: Sérgio de Castro Figura 15 - Centro Georges Pompidou / Richard Rogers e Renzo Piano _________ 27 Foto: Sérgio de Castro Figura 16 – Edifício do Reichstag - Berlim / Arquiiteto Normam Foster___________ 28 Fonte: Revista Projeto e Design nº 239 / janeiro de 2000

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Figura 17 – Edif. Ludwug E. H. Financial Centre – Berlim / Nicholas Grimshaw ____28 Fonte: www.archinform.nrt/medien/oo1.7511htm?ID=n2VriNpsVmCjYuWo Figura 18 – Lake Shore Drive Apartaments – Chicago / Mies Van der Rohe ______30 Fonte: www.greatbuildings.com/cgi-bin/gbi-cgi/Lake_Shore_Drive_Apts.html Figura 19 – Mercado Ver-o-peso – Belém _________________________________ 32 Fonte: www.nautilus.com.br/~araujo/ferro Figura 20 – Teatro José de Alencar – Fortaleza ____________________________ 32 Fonte: www.colorfotos.com.br/fortal/teatro.jpg Figura 21 – Palácio de Cristal – Petrópolis _________________________________33 Fonte: www.itaipavachannel.com.br/petropolis/palaciocristal3.jpg Figura 22 – Mercado de carne – Belém ___________________________________33 Fonte: www.nautilus.com.br/~araujo/ferro. Figura 23 – Estação da Luz – São Paulo / Arquiteto Charles Henry Driver ________33 Fonte: Bilhete Postal (Revista Arquitetura e Construção nº 9 / ano 13) Figura 24 – Edifício Garagem América – São Paulo / Arquiteto Rino Levi _________35 Fonte: DIAS, 1999. Figura 25 – Construção da Esplanada dos Ministérios – Brasília _______________36 Fonte: DIAS, 1999. Figura 26 – Construção da Esplanada dos Ministérios – Brasília _______________36 Fonte: DIAS, 1999. Figura 27 – Edifício Palácio do Comércio – São Paulo / Lucjan Korgnold _________36 Fonte: DIAS, 1999. Figura 28 – Edifício Avenida Central – Rio de Janeiro / Arquiteto Henrique Mindlin__36 Fonte: DIAS, 1999. Figura 29 – Sede Associação Brasileira de Metais – São Paulo (1984) / Arquitetos Plínio Croce, Roberto Aflalo e Gian Gaperini. _______________________________37 Fonte: DIAS, 1999. Figura 30 – Edifício Saraiva Marinho – Belo Horizonte (1987) / Carlos Viotti ______ 37 Fonte: DIAS, 1999. Figura 31 – Edifício Casa do Comércio – Salvador (1987) / Arquitetos Oton Gomes e Fernando Frank ______________________________________________________38 Fonte: DIAS, 1999. Figura 32 – Edifício Escritório de Arquitetura – São Paulo (1988) / Arquiteto Siegbert Zanettini ____________________________________________________________38 Fonte: DIAS, 1999. Figura 33 – Ponte JK – Brasília / Arquiteto Alexandre Cham ___________________39 Fonte: www.pendulo.com.br/fotos/jk/pontejk1.jpg

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Figura 34 – Indústria IPEL – São Paulo (2002) / Arquiteto Sidônio Porto _________ 39 Fonte: Revista Projeto nº 274 – dezembro de 2002 Figura 35 – Hospital Sarah de Brasília / Arquiteto João Figueiras Lima __________ 39 Fonte: DIAS, 2001. Figura 36 – Sistema de Tolerâncias e Ajustes______________________________ 45 Fonte: ABNT, 1982. Figura 37 – Simulação A - Descrição geométrica sobre base modular pré-definida _ 50 Fonte: SILVA e SANTOS, 2004 Figura 38 – Simulação B - Descrição geométrica sobre base modular pré-definida _ 50 Fonte: SILVA e SANTOS, 2004 Figura 39 – Perfil calandrado ___________________________________________ 51 Fonte: GERDAU AÇOMINAS (Roberto Teixeira) Figura 40 – Edifício 30St. Mary Axe – Londres / Arquiteto Normam Foster ________52 Fonte: www.30stmaryaxe.com Figura 41 – Construção do 30St. Mary Axe – Londres / Arquiteto Normam Foster __52 Fonte: www.30stmaryaxe.com Figura 42 – Detalhe da estrutura tubular retilínea – Edfifício 30St. Mary Axe ______ 52 Fonte: www.30stmaryaxe.com Figura 43 – Estrutura do Museu Guggenheim de Bilbao/Arquiteto Frank Gehry ____53 Fonte: GERDAU AÇOMINAS (Roberto Teixeira) Figura 44 – Conector – Sistema de viga-mista ______________________________56 Fonte: CODEME (Catálogo Steel Deck) Figura 45 – Representação esquemática - contraventamento __________________57 Ilustração feita pela autora Figura 46 – Detalhes aberturas – Edif. Capri – Belo Horizonte / João Diniz _______ 57 Fonte: Revista Arquitetura e Aço nº 01 – publicada pelo CBCA Figura 47 – Detalhe Marquise UNIMEP Lins – SãoPaulo / José Carlos Bueno _____58 Fonte: Revista Construção Metálica nº 63 / Dez 2003 – publicada pela ABCEM Figura 48 – Rodserv Star – São Paulo / Arquiteto Jurandyr Bueno Filho _________ 58 Fonte: Revista Projeto e Design nº273 / novembro de 2002 Figura 49 – Cobertura e detalhes da Catedral da Benção – Brasília / Arquiteto Renato Bittencourt ____________________________________________58 Fonte: www.araya.com.br/obras_igreja.htm Figura 50 – Confecção da viga castelada _________________________________ 59 Fonte: DIAS, 2002.

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Figura 51 – Exemplo de uso da viga castelada _____________________________ 59 Fonte: DIAS, 2002. Figura 52 – Detalhe de ligação da mão francesa / Agência Bancária - Fortaleza ___60 Fonte: DIAS, 2001. Figura 53 – Ligação – pilar e contraventamento / TCU - Maceió _______________ 60 Fonte: DIAS, 2001. Figura 54 – Ligação em pórtico e contraventamento / Centro Empresarial-RJ _____ 61 Fonte: DIAS, 2001. Figura 55 – Ligação do contraventamento / Local não identificado ______________61 Fonte: DIAS, 2002. Figura 56 – Ligação – pilares, viga e contraventamento / Inst. educacional – SP ____ 62 Fonte: Revista Arquitetura e Aço nº 01 – publicada pelo CBCA. Figura 57 – Detalhe da estrutura / Ponte - Barcelona ________________________ 62 Fonte: Catálogo da V&M (Vallourec & Mannesmann Tubes). Figura 58 – Apoio das vigas no pilar / Local não identificado ___________________62 Fonte: GERDAU AÇOMINAS Figura 59 – Ligação da estrutura com a fundação/ Local não identificado ________ 63 Fonte: GERDAU AÇOMINAS Figura 60 – Ligação da cobertura com os pilares / Jornal O Globo – RJ __________63 Fonte: Revista Projeto e Design nº 230 / abril de 1999. Figura 61 – Detalhes–vedação em painel pré-moldado alinhado fora da estrutura __65 Fonte: COELHO, 2002. Figura 62 – Detalhes-vedação em alvenaria de blocos desvinculada com alinhamento pelo eixo do perfil __________________________________________ 66 Fonte: COELHO, 2002. Figura 63 – Detalhes – vedação em alvenaria de blocos vinculada à estrutura com alinhamento pelo eixo do perfil ______________________________________ 67 Fonte: COELHO, 2002. Figura 64 – Processo da corrosão _______________________________________ 70 Fonte: PANNONI, 2002 Figura 65 – Corrosão Galvânica _________________________________________71 Fonte: PANNONI, 2002 Figura 66 – Tabela de série galvânica ____________________________________72 Fonte: PANNONI, 2002 Figura 67 – Detalhes da estrutura de aço para prevenção da corrosão __________ 73 Fonte: PANNONI, 2002 e DIAS, 2002

Page 9: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 68– Detalhes da estrutura de aço para prevenção da corrosão ___________74 Fonte: PANNONI, 2002 Figura 69 – Interface com alvenaria de pilares externos ______________________ 78 Fonte: VARGAS e SILVA, 2003 Figura 70 – Interface com alvenaria de pilares internos _______________________79 Fonte: VARGAS e SILVA, 2003 Figura 71 – Edifício Usiteto – projeto inicial ________________________________82 Fonte: Catálogo USIMINAS Figura 72 – Casa Usiteto acabada _______________________________________83 Fonte: Foto feita pela autora Figura 73 – Estrutura Casa Usiteto ______________________________________84 Fonte: Catálogo USIMINAS Figura 74 – Casa Usiteto – detalhe construtivo _____________________________84 Fonte: Foto feita pela autora Figura 75 – Obra do CDHU – Projeto Cosipa _______________________________85 Fonte: www.cosipa.com.br Figura 76 – Localização do Conjunto Pedro II ______________________________87 Fonte: Ilustação feita pela autora – base: earth. google.com Figura 77 – Planta Baixa Conjunto Pedro II ________________________________88 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 78 – Conjunto Pedro II – vista de um dos blocos_______________________89 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 79 – Conjunto Pedro II – vista dlateral_______________________________89 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 80 – Conjunto Pedro II – escada interna de um dos blocos ______________90 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 81 – Conjunto Pedro II – vigamento interno do apartamento _____________90 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 82 – Localização dos Conjuntos Alvorada e Resplendor_________________91 Fonte: Ilustação feita pela autora – base: earth. google.com Figura 83 – Planta Baixa Conjunto Alvorada________________________________92 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 84 – Planta Baixa Conjunto Resplendor _____________________________ 92 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 85 – Conjunto Alvorada – vista externa ______________________________93 Fonte: SMAHAB/PBH

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Figura 86 – Conjunto Alvorada – detalhe da estrutura________________________ 94 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 87 – Conjunto Resplendor – vista externa ___________________________ 94 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 88 – Conjunto Resplendor – detalhe da estrutura ______________________95 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 89 – Conjunto Resplendor – vista da caixa de escada __________________95 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 90 – Localização do Conjunto Zilah Spósito I_________________________ 96 Fonte: Ilustação feita pela autora – base: earth. google.com Figura 91 – Conjunto Zilah Spósito I – plantas 1º e 2º pav.____________________ 97 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 92 – Conjunto Zilah Spósito I – foto tirada na época da obra_____________ 98 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 93 – Conjunto Zilah Spósito I – foto tirada na época da obra_____________ 98 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 94 – Conjunto Zilah Spósito I – descaracterização do ocnjunto___________ 99 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 95 – Conjunto Zilah Spósito I – problemas de infiltrações________________99 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 96 – Conjunto Zilah Spósito I – detalhe do telhado____________________ 100 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 96 – Conjunto Zilah Spósito I – detalhe do telhado____________________ 100 Fonte: SMAHAB/PBH Figura 97 – Conjunto Oswaldo Barbosa Pena – vista parcial_________________ 101 Fonte: HERMSDOFF, 2005 Figura 98 – Conjunto Oswaldo Barbosa Pena – contraventamento retirado______ 102 Fonte: HERMSDOFF, 2005

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LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 – Diagrama Tensão – Deformação de peça estrutural de aço _________12 Fonte: DIAS, 2002 Gráfico 02 – Evolução da demanda brasileira de laminados planos _____________41 Fonte: IBS - Estatística da Siderurgia (Jul/07) Disponível em <http:\\\www.usiminas.com.br> Acessado em 03/01/2008. Gráfico 03 – Redução da resistência em função da temperatura _______________ 77 Fonte: VARGAS e SILVA, 2003 LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Consumo per capita de aço bruto no Brasil______________________ 40 Fonte: IBS – Anuário Estatístico Siderurgia (2007) Disponível em <http:\\\www.usiminas.com.br> Acessado em 03/01/2008.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

AÇOMINAS – Aços de Minas Gerais

ASTM - American Society for Testing and Materials

CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo

CEF - Caixa Econômica Federal

COHAB - Companhia da Habitação

COSIPA – Companhia Siderúrgica Paulista

CSN – Companhia Siderúrgica Nacional

CST – Companhia Siderúrgica de Tubarão

DIN – Deustsche Industrie Normen

EPS – Poliestireno Expandido

IBS - Instituto Brasileiro de Siderurgia

IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas

ISO – International Organization for Standardization

NBR – Norma Brasileira

OSB – Oriented Strand Board (Placas de Partículas Orientadas)

PBH – Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

SCI – Steel Construction Institute - Grã Bretanha

SMAHAB – Secretaria Municipal Adjunta de Habitação – Belo Horizonte

URBEL – Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte

USIMINAS – Usina Siderúrgica de Minas Gerais

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RESUMO

O uso da estrutura metálica como tecnologia construtiva surgiu em meados do século

XVIII, e no Brasil, sua utilização iniciou-se na segunda metade do século XIX, com o

ferro fundido, e expandiu-se até os dias atuais, com o uso do aço. O emprego de uma

tecnologia industrializada propicia ganhos de prazos e de qualidade, e acabou-se por

se tornar uma alternativa a ser considerada para obras de habitações sociais. Desta

forma, esse trabalho investiga a utilização da estrutura de aço nesse tipo de edificação

e apresentada algumas experiências ocorridas no país, principalmente na região

metropolitana de Belo Horizonte. A estrutura metálica pode trazer algumas vantagens

para esse setor, como a agilidade na construção de inúmeras unidades habitacionais

em curto prazo, e desvantagens, como a questão custo. Com isso, a fim de ampliar o

conhecimento sobre o assunto, apresenta-se uma análise crítica desse sistema

construtivo para uso específico habitacional de interesse social.

Palavras chaves: estrutura, aço, habitação social

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1. INTRODUÇÃO

O uso da estrutura de aço como tecnologia construtiva surgiu em meados do século XVIII

e, a partir dessa época, transformou as criações arquitetônicas e as continua

influenciando até os dias atuais.

No Brasil, a utilização de estruturas metálicas em edificações iniciou-se na segunda

metade do século XIX, com o uso do ferro fundido, e expandiu-se até os dias de hoje,

com o uso do aço, principalmente em edificações de usos comerciais e de serviços.

Dentre as utilizações realizadas, ocorreram também experiências em habitações de

interesse social, algumas desenvolvidas pelas próprias empresas siderúrgicas.

Devido ao grande déficit habitacional do país, o setor de construção habitacional deve

buscar soluções tecnológicas que melhorem sua qualidade e diminua seus custos em

todas as fases do processo de produção a fim de atender sua demanda.

O uso da estrutura de aço permite uma maior agilidade e a industrialização do processo

construtivo. Assim, algumas questões são levantadas. Como o uso do aço nas estruturas

das edificações pode influenciar a produção de habitações de interesse social? A

utilização desse material é viável para o setor da habitação social?

Dessa forma, os objetivos dessa pesquisa foram delineados no intuito de atender esses

questionamentos.

1.1 Objetivos

O objetivo deste trabalho é investigar a utilização de estruturas de aço em habitações de

interesse popular. Serão apresentadas algumas experiências ocorridas no país,

principalmente na região metropolitana de Belo Horizonte, para subsidiar os estudos.

A fim de ampliar o conhecimento sobre o assunto, será realizada uma análise crítica do

mesmo, levantando as vantagens e desvantagens desse sistema construtivo para esse

uso específico.

Page 15: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

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1.2 Justificativa

O déficit habitacional brasileiro foi estimado em 7,903 milhões de novas moradias em

2005, com incidência notadamente urbana (81,2%). A região Sudeste lidera a demanda

nacional, com necessidades estimadas em 2,899 milhões de unidades, vindo a seguir a

Nordeste, com 2,743 milhões de unidades. As duas regiões representam 71,4% do déficit

habitacional brasileiro. (Fundação João Pinheiro, 2007).

As carências habitacionais em Minas Gerais correspondem a 8,6% do total brasileiro,

estimadas em 682 mil, das quais 593 mil nas áreas urbanas. Em números absolutos, é o

segundo maior montante, superado penas por São Paulo, onde se estimou a

necessidade de construção de 1,510 milhão de novas moradias, em 2005. (Fundação

João Pinheiro, 2007).

Dessa maneira, o governo e o setor da construção civil devem buscar alternativas para o

atendimento dessa demanda com qualidade tecnológica e custos apropriados.

A estrutura de aço, portanto, que propicia a industrialização do processo construtivo,

gerando ganhos de prazos e de qualidade, pode torna-se uma alternativa a ser

considerada para obras de habitações sociais.

O uso do aço estrutural começou tardiamente no Brasil, se comparado com países como

a Inglaterra e os Estados Unidos. Na metade do século XX, algumas empresas

siderúrgicas foram criadas no país, facilitando a obtenção do produto, mas seu consumo

ainda é pequeno. Segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), em 2005, o consumo

per capita de aço bruto no Brasil chegou a 101 quilos/habitante, o mesmo índice

registrado no início da década de 80. Em outros países, como a China, o consumo foi

ampliado de 30 quilos na década de 80 para 230 quilos/habitante em 2005. (Agência

Estado, 2006).

No entanto, O Brasil ocupa posição importante no cenário internacional, sendo o 10º

produtor mundial de aço e 1º na América Latina. A produção brasileira de aço bruto

alcançou 10,7 milhões de toneladas entre janeiro e abril de 2007, representando

crescimento de 11,5% em relação ao mesmo período em 2006. (IBS, 2007)

Muitos estudos foram e estão sendo produzidos no país sobre a estrutura de aço. Em

uma pesquisa inicial, verificou-se que as bibliografias consultadas, em sua maioria,

procuram identificar as características físicas e químicas do material aço, determinando

Page 16: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

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as situações ideais para o seu consumo. Além disso, aquelas também ressaltam algumas

características da construção em aço, como agilidade da obra, leveza da edificação,

utilização de peças estruturais menores, gerando um alívio das fundações e atingindo um

ganho de espaço, etc. Constatou-se, porém, que pouco é dedicado para a relação do uso

da estrutura de aço na arquitetura, e principalmente no setor habitacional.

O uso da estrutura metálica como uma alternativa para a habitação de interesse social se

constitui uma realidade. As principais empresas siderúrgicas brasileiras desenvolveram

projetos habitacionais com métodos construtivos industrializados, que, em sua maioria,

são vendidos em kits. Alguns desses sistemas estão sendo utilizados em

empreendimentos da COHAB (Companhia Habitacional) no país.

O uso do aço na habitação também recebeu um impulso a partir da possibilidade de

financiamento, que não existia há alguns anos. Em 2002, a Caixa Econômica Federal

criou o manual: Edificações Habitacionais Convencionais Estruturadas em Aço.

Dessa forma, é importante a realização de uma pesquisa que faça uma análise crítica da

real viabilidade do uso do aço na habitação de interesse social, levantando as vantagens

e desvantagens, com intuito de identificar se esse tipo de sistema construtivo pode

contribuir pra a minimização do déficit de moradias.

1.3 Metodologia

Todo o processo de desenvolvimento e execução da pesquisa para o presente trabalho

será dividido em três etapas.

A primeira trata do conhecimento do estado da arte e da ampliação deste, com

levantamentos bibliográficos e pesquisas documentais. Serão apresentados dados

técnicos sobre o material e os componentes estruturais propriamente ditos. Além disso,

serão selecionadas informações históricas sobre o uso do aço na construção civil mundial

e brasileira.

A segunda etapa se constituirá no levantamento e nas apresentações de experiências

ocorridas no país, e principalmente na região metropolitana de Belo Horizonte, do uso de

estruturas de aço na habitação de interesse social. Esse estudo também será realizado

frente a empresas siderúrgicas, fabricantes de estruturas, órgãos competentes e através

Page 17: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

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de publicações da área, no intuito de observar a situação brasileira em relação ao

consumo do aço no setor habitacional, levantando suas vantagens e desvantagens.

A terceira etapa constará da reunião de todos os dados levantados e, conseqüentemente,

de uma análise crítica sobre eles. Será feito um diagnóstico das informações obtidas,

com o intuito de ressaltar a real viabilidade do uso do aço na habitação social.

1.4 Descrição do desenvolvimento do trabalho

O conteúdo deste trabalho está dividido em quatro capítulos, além das conclusões finais.

O primeiro capítulo apresenta o material aço, assim como suas propriedades, os tipos de

aços estruturais e os tipos de perfis existentes no mercado. Esse capítulo é um

esclarecedor das questões básicas sobre o aço, promovendo o seu conhecimento e

facilitando o entendimento no decorrer do trabalho.

No segundo capítulo, o trabalho é direcionado para a arquitetura em aço. É apresentado

um histórico desse material na construção mundial e brasileira, desde o início da sua

utilização até os tempos atuais.

O terceiro capítulo aborda as questões relativas ao processo de projeto, a partir de uma

estrutura industrializada, e ao uso particular do aço. São estudados alguns parâmetros

técnicos referentes à estrutura pré-fabricada de aço, que podem influenciar nas questões

projetuais. São apresentados também os dados e as informações bibliográficas e os

relatos obtidos em entrevistas com profissionais da área de estruturas e arquitetos que

utilizaram a estrutura de aço em seus trabalhos. Alguns itens abordados no capítulo:

particularidades estruturais do aço e a prevenção de patologias no projeto, como

corrosão e incêndio.

O quarto capítulo apresenta as experiências da aplicação da estrutura de aço na

habitação de interesse social. São apresentados sistemas construtivos desenvolvidos

pelas empresas siderúrgicas, e alguns casos concretos, no intuito de conformar uma

análise crítica do uso da estrutura de aço em habitações de interesse social.

Finalmente, o capítulo das conclusões reúne todas as informações obtidas nas

considerações finais, levantando as vantagens e desvantagens específicas desse

sistema para o setor habitacional.

Page 18: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

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2. O AÇO

2.1 O processo siderúrgico para a produção do aço

A metalurgia é um conjunto de tratamentos físicos e químicos a que os minerais são

submetidos para a extração dos metais. A siderurgia é a denominação dada para a

metalurgia do ferro e do aço, que gera os elementos usados na fabricação das peças

estruturais.

Ao utilizar o termo estrutura metálica, muitas vezes, o ferro e o aço são erroneamente

citados como sendo um mesmo material. É importante a distinção de ambos, pois

possuem características diferentes e são utilizados na produção de componentes

estruturais com propriedades distintas.

Atualmente, as peças estruturais mais usadas na construção civil são produzidas em aço,

com composições químicas variadas para cada especificação determinada.

Os metais ferro e aço possuem em comum duas matérias-primas básicas: o minério de

ferro e o carvão, que pode ser vegetal ou mineral. O minério de ferro é composto pelo

elemento químico ferro (Fe), que é encontrado na natureza basicamente sob a forma de

óxidos (Fe + O).

O principal objetivo na produção dos metais ferro e aço é remover o oxigênio da sua

composição. O elemento químico ferro (Fe) é extraído do minério por meio de elevadas

temperaturas, obtidas dentro de fornos especiais, que retiram o oxigênio na presença do

carvão vegetal ou mineral, este último conhecido como coque. O coque, um material rico

em carbono, é constituído pelo carvão mineral purificado através de altas temperaturas.

O carvão vegetal foi primeiramente utilizado no Brasil devido à vasta oferta da nossa

flora, mas, com o aumento da devastação e com a falta de uma política de

reflorestamento, seu uso foi limitado, acarretando o aumento do custo.

Já o carvão mineral nacional é rico em enxofre, o que proporciona um material de má

qualidade, necessitando de processos para a sua retirada, que também elevam o custo.

(FERREIRA, 1998)

Page 19: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Atualmente, as empresas siderúrgicas buscam alternativas energéticas renováveis, como

a biomassa plantada, com o objetivo de melhorar a qualidade de seus produtos, reduzir

os custos e o impacto ambiental.

O processo siderúrgico para a fabricação do aço consiste no aproveitamento do ferro

contido no minério, através da eliminação progressiva das impurezas deste último, e

pode ser dividido em quatro etapas (Figura 01):

1º. Preparo de matérias-primas (minério de ferro e carvão minera): na Sinterização, é

produzido o sínter, que é o minério de ferro aglutinado, pois seus finos são indesejáveis

para o processo de obtenção do ferro-gusa no alto-forno; na Coqueria, é produzido o

coque (carvão mineral sem impurezas);

2º. Produção do ferro-gusa no alto forno: o princípio básico de operação de um alto-

forno é a retirada do oxigênio do minério, que assim é reduzido a ferro (ferro-gusa);

3º. Produção do aço: na Aciaria, é feito o processo de refino do ferro-gusa,

transformando-o em aço, e o ajuste da sua composição final, de acordo com o tipo de

aço produzido;

4º. Conformação mecânica (Lingotamento e Laminação): o aço em estado líquido é

moldado e, em seguida, laminado, sendo conformado nos produtos desejados (chapas

grossas, chapas finas, perfis, etc.).

Figura 01 Processo Siderúrgico

6

Page 20: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

7

O ferro-gusa, portanto, é o produto da primeira fusão do minério de ferro com o carvão no

alto-forno, sendo uma liga metálica com alto teor de carbono, cerca de 3,5 a 4,0%.

O ferro fundido possui o ferro-gusa como matéria-prima, adicionado de alguns elementos

químicos para a obtenção de um teor de carbono na liga metálica da ordem de 2,5 a

3,0%, o que lhe confere propriedades diferentes da do aço.

O ferro fundido difere substancialmente do ferro forjado ou batido. Este último consiste

em uma forma razoavelmente pura do metal com granulação lenhosa, que pode ser

trabalhado de diversas maneiras: torcido, martelado, enrolado, cortado ou esticado, tanto

a quente, quanto a frio. O tratamento na forja aumenta a elasticidade do material,

enquanto que a fundição aumenta sua rigidez, diferenciando esses dois tipos de ferro.

Como é facilmente moldável, o ferro fundido foi utilizado durante muitos anos na

fabricação de elementos estruturais, principalmente colunas e arcos, e de decoração.

Apesar de possuir uma boa resistência à compressão, resiste somente a leves tensões

elásticas (tração), devido ao alto teor de carbono.

Já o aço, como apresentado, se origina da redução do ferro-gusa em conversores

específicos na Aciaria, com a diminuição de teores de alguns elementos químicos

prejudiciais, como o enxofre, fósforo e silício, e a adição de outros elementos.

O teor de carbono presente no aço é da ordem de 2%, sendo, na maioria dos casos,

menor que 1%. Os aços utilizados na construção civil possuem um teor de carbono na

ordem de 0,18 a 0,25%.

Através da mudança da composição química do aço, podem-se obter variações nas

características físicas dos produtos finais. A adição de elementos químicos é feita quando

o material já está isento das impurezas do minério e em sua forma líquida.

Com o desenvolvimento da construção civil e da arquitetura, criaram-se aços mais

resistentes e mais leves, específicos para fins estruturais, ou seja, com elevada

resistência mecânica e resistência à corrosão. Estes aços são obtidos pela adição

controlada de determinados elementos químicos que lhes conferem características

específicas, ou mesmo pela eliminação de produtos indesejáveis.

Page 21: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

8

As propriedades do aço, no entanto, não dependem apenas da sua composição química. Além dela, características ditas microestruturais, resultantes de tratamentos térmicos, de deformação mecânica e da velocidade de solidificação, conferem propriedades físicas, mecânicas e químicas adequadas às suas diversas aplicações. (DIAS, 2002)

As usinas siderúrgicas podem também utilizar a própria sucata do aço como matéria-

prima em substituição ao minério de ferro, o que também diminui os custos da produção,

sendo assim denominadas usinas siderúrgicas não-integradas.

O aço pode ser reciclado um número ilimitado de vezes sem a perda de sua qualidade e

de suas propriedades. Atualmente a reciclagem do aço é uma realidade e processos

produtivos que privilegiam essa fonte alternativa têm sido desenvolvidos e aperfeiçoados.

No Brasil, como a oferta de sucata de boa qualidade ainda é pequena, os processos de

seleção e coleta devem ser mais divulgados para a conscientização dos setores

envolvidos, e novas tecnologias devem ser desenvolvidas.

Com a ampliação do uso do aço, conseqüentemente, obtém-se a ampliação da oferta de

sucata, o que diminui o consumo de minério de ferro na linha de produção do aço,

reduzindo seu custo.

Outros resíduos, oriundos de outras etapas da linha de produção, também são

aproveitados pela indústria: a escória do alto forno compõe 70% da matéria-prima de

alguns tipos de cimento, e a escória da aciaria pode substituir a brita de pedra na

construção civil. (PARREIRAS, 2001)

2.1.1 Os produtos siderúrgicos

É no processo de laminação que os produtos siderúrgicos passam a obter uma

conformação final. Podem ser obtidas chapas denominadas grossas, cuja espessura

varia de 6,30mm a 75,00mm, e chapas finas, em forma de bobinas, com espessuras de 8

mm a 0,45mm, estas laminadas a frio ou a quente, dependendo da espessura.

O uso de chapas finas fornecidas em bobinas não é aconselhável para a produção de

perfis soldados, pois as chapas têm a tendência de retornar à sua posição deformada na

bobina por ocasião da soldagem dos perfis.

Page 22: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

9

Perfis acabados podem ser conformados, também, diretamente do processo de

laminação com dimensões e espessuras diversas.

É importante que o arquiteto conheça os produtos oferecidos no mercado e suas

dimensões, que podem possibilitar inúmeras alternativas para a execução da estrutura

(as tabelas com dimensões de chapas e perfis são fornecidas por cada fabricante),

principalmente no caso da aplicação em edificações habitacionais de interesse social,

onde a racionalização da construção se faz necessária. Juntamente com o engenheiro

especializado, podem ser determinados os formatos e as dimensões dos perfis

adequados à forma arquitetônica e à estabilidade da estrutura para cada projeto.

2.2. Os aços estruturais

O termo “aços estruturais” designa todos os tipos de aço que, devido às suas

propriedades, são ideais para o uso em elementos estruturais de edificações. Esses

podem ser classificados de acordo com suas propriedades e possuem as seguintes

características:

⇒ Aços-Carbono

De acordo com a NBR 6215 – Produtos Siderúrgicos, o aço-carbono é aquele que

contém elementos de liga em teores residuais máximos admissíveis. Esses elementos

são: Cromo, Níquel, Alumínio, Cobre, Silício e Manganês. São denominados aços de

média resistência mecânica. Em função do teor de carbono presente, os aços-carbono

podem ser divididos em três classes:

• Baixo-Carbono: C ≤ 0,30%

• Médio-Carbono: 0,30% < C < 0,50%

• Alto-Carbono: C ≥ 0,50%

Um alto teor de carbono prejudica a soldabilidade das peças. Portanto, os aços mais

adequados à construção civil são os Baixo-Carbono, que podem ser soldados sem

precauções especiais.

Page 23: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

10

Os principais aços utilizados são os ASTM-A-36 e ASTM-A-570 (especificados pela

American Society for Testing and Materials); e os NBR 6648/CG-26, NBR 7007/MR-250 e

NBR 6650/CF-26 (especificados pela ABNT - Associação Brasileira de Normas

Técnicas), que são produzidos pela maioria das usinas siderúrgicas brasileiras.

⇒ Aços de Baixa Liga / Aços Patináveis

São aços com média e alta resistência mecânica, resistência à corrosão atmosférica e

excelente soldabilidade. O uso de aços com alta resistência mecânica proporciona uma

redução de espessura das peças estruturais, se comparado aos aços-carbono, o que

implica um menor consumo de material, sendo recomendado para a construção civil.

Porém, esse tipo de aço possui uma maior complexidade na fabricação, ocasionando

custos maiores, sendo necessário um estudo da viabilidade econômica para sua

utilização.

No aço patinável, é feita a adição de pequenas quantidades de certos elementos

químicos, em especial o cobre, que cria uma barreira à corrosão do aço. 1

Quando expostos ao clima, ele desenvolve uma camada de óxido compacta e aderente

na sua superfície, a qual funciona como uma barreira de proteção, podendo ser utilizado

sem qualquer tipo de revestimento. Essa camada, ou pátina, somente surge após ciclos

alternados de molhamento e secagem. O tempo para o surgimento da proteção varia de

acordo com o tipo de atmosfera em que o aço está exposto, em geral de 18 meses a 3

anos. Entretanto, após um ano, o material já apresenta uma homogênea coloração

marrom clara.

O aço patinável pode ser utilizado com ou sem revestimento de proteção. A escolha do

modo como deve ser usado é baseada no tipo de atmosfera onde será implantado, que é

classificada em urbana, industrial, rural e marinha. Aconselha-se o uso de revestimento

quando as condições climáticas ou de utilização da estrutura não permitirem a formação

da pátina. Em regiões submersas ou sujeitas a respingos, onde não ocorram os ciclos de

molhamento e secagem, em ambientes industriais agressivos e à distância de até 600m

da orla marítima, é ideal o uso do revestimento de proteção.

1Detalhes sobre o processo de corrosão ver item 4.4.1.

Page 24: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

11

⇒ Aços Resistentes ao Fogo

Uma das preocupações existentes em relação ao uso da estrutura em aço é a sua

resistência ao fogo, em caso de incêndio. 2

Com o desenvolvimento da tecnologia, foram criados aços mais resistentes e que

possuem um tempo maior de início de deformação da estrutura, conferindo segurança

para a evacuação das construções pelos usuários.

Os aços resistentes ao fogo são basicamente resultantes da modificação de aços

resistentes à corrosão atmosférica. As adições são ajustadas sempre no limite mínimo

possível, para garantir um valor elevado de resistência mecânica à tração, sem prejudicar

sua soldabilidade e a resistência à corrosão atmosférica, intrínseco do aço de origem.

2.2.1 Propriedades dos aços estruturais

Por ser um material industrializado, obtido sob rígido controle de qualidade, as

características da liga metálica são certas e confiáveis. Com isso, os coeficientes de

segurança utilizados no cálculo estrutural podem ser mais baixos.

Do ponto de vista da aplicação em estruturas, o aço apresenta a interessante

característica de ter, aproximadamente, a mesma resistência à tração e à compressão,

sendo a primeira mais adaptável ao tipo de material. Em relação aos esforços de

compressão, pode ocorrer o fenômeno da flambagem, o que necessita do aumento das

seções dos perfis e/ou a criação de travamentos, denominados de contraventamentos,

diminuindo o comprimento livre da peça.3

Outras propriedades do material aço:

• Elasticidade: é a capacidade de retornar à forma original após o efeito de

carregamento e descarregamento (tensões de tração ou compressão). O aço deve

sempre trabalhar em sua fase elástica, onde a sua deformação é proporcional ao esforço

aplicado (Gráfico 01);

2 Detalhes sobre o comportamento do aço em situação de incêndio ver item 4.4.2. 3 Sobre o contraventamento da estrutura de aço e sua interferência na arquitetura ver item 4.3.

Page 25: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

• Plasticidade: é uma deformação definitiva provocada pelo efeito de tensões iguais ou

superiores ao limite de escoamento do aço. Deve-se impedir que a tensão

correspondente ao limite de escoamento seja atingida nas seções transversais das

barras, como forma de limitar a sua deformação;

Gráfico 01 Diagrama Tensão – Deformação de peça estrutural de aço

• Ductilidade: é a capacidade de se deformar plasticamente sem se romper. As vigas

de aço sofrem grandes deformações antes de se romperem, o que constitui um aviso da

presença de tensões elevadas, diferentemente do ferro fundido, que não se deforma

antes da ruptura. Quanto mais dúctil o aço maior é a redução de área ou o alongamento

antes da ruptura;

• Tenacidade: é a capacidade de absorver energia quando submetidos a um impacto.

Um material dúctil com a mesma resistência de um material não-dúctil vai necessitar de

uma maior quantidade de energia para ser rompido, sendo, portanto, um material mais

tenaz.

Além disso, a composição química da liga de aço pode determinar características

importantes para a sua aplicação estrutural. A indústria deve buscar a quantidade exata

do material a ser adicionado, pois geralmente os componentes acabam por melhorar

certa qualidade do aço, em prejuízo de outra.

12

Page 26: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

2.3. Perfis estruturais de aço

Os perfis de aço produzidos para a construção civil possuem diversos tipos e dimensões,

além de possibilitar diversas conformações.

Os perfis laminados são fabricados diretamente da linha de produção através de blocos e

tarugos, que são trabalhados a quente até chegarem à forma “I”, “H” ou cantoneiras.

Esses perfis podem possuir abas paralelas ou ser de padrão americano com abas

inclinadas (Figura 02).

Segundo Dias (2002), a oferta de perfis laminados de padrão americano no país é

bastante restrita. Além disso, eles possuem uma limitação quanto à disponibilidade de

tipos e à variedade de tamanhos, e a sua aba inclinada dificulta a execução de ligações.

É possível obter várias conformações a partir do uso conjugado de perfis (Figura 03) e

também é permitida a execução de curvas nos dois sentidos das peças. O ideal é que se

utilizem raios longos, pois, com raios pequenos, é necessário o aquecimento dos perfis.

Figura 02 Tipos de Perfis Laminados

13

Page 27: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 03 Tipos de composições com Perfis Laminados de Padrão Americano

Já os perfis soldados são obtidos pelo corte, composição e soldagem das chapas planas

de aço, o que possibilita uma grande variedade de formas e dimensões. Como foi

exposto anteriormente, os perfis para uso estrutural não devem ser provenientes de

chapas na forma de bobina, pois pode haver deformação quando aquecidas pela solda.

Dessa forma, apenas chapas denominadas grossas devem ser utilizadas, gerando perfis

mais pesados que os perfis laminados.

Esse tipo de perfil possui uma vantagem sobre o perfil laminado, porque para ele não há

limites de altura, já que o segundo fica restrito à capacidade da linha de produção de

cada fabricante.

A fabricação dos perfis soldados pode ser “artesanal” ou completamente industrial. Os

fabricantes de estruturas possuem uma gama de perfis com dimensões padronizadas. No

entanto, perfis especiais com conformações diversas podem ser encomendados e

produzidos com facilidade.

Os perfis podem ser também eletrossoldados, o que consiste em um processo industrial

em que a soldagem é feita por resistência elétrica, conhecida como eletrofusão, na qual

não há a deposição de outros materiais, como na solda comum.

A produção de perfis pode ser feita, ainda, pelo dobramento a frio de chapas de aço.

Esse tipo de fabricação também possibilita a criação de formas e dimensões

diferenciadas, além das padronizadas, guardadas as limitações dimensionais de suas

linhas de produção (Figura 04).

14

Page 28: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Como são utilizadas chapas mais finas em sua produção, esses perfis são indicados para

construções mais leves, sendo usados, principalmente, como barras de treliças, terças,

etc.

Esses perfis formados a frio são também utilizados para a construção dos painéis

estruturais do sistema construtivo steel-frame. Os perfis, no caso galvanizados, compõem

guias e montantes de vedações, lajes e cobertura, e são projetados para a absorção de

cargas. Os fechamentos podem ser feitos com diversos materiais, como gesso

acartonado, placa cimentícia, painéis OSB (Placas de Partículas Orientadas), etc.

Figura 04 Perfis formados a frio (dobrados)

Os perfis também podem ser tubulares, e, a partir da secção circular prensada, pode-se

produzir formas quadradas e retangulares (Figura 05). Esse tipo de perfil pode possuir

costura, sendo produzido por soldagem, ou sem costura, fabricado diretamente da

laminação a quente de barras de aço maciças. O primeiro possui uma limitação quanto

ao seu comprimento, devido ao tamanho da chapa; o segundo pode ser laminado em

qualquer comprimento.

15

Page 29: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Os perfis tubulares de médio e grande porte são muito utilizados como pilares, pois,

devido a sua geometria, seja ela circular, quadrada ou retangular, apresentam alta

resistência a flambagem.

Já os perfis de menores diâmetros são usados na fabricação de treliças planas e

espaciais. Além disso, juntamente com o uso de chapas, é possível a composição de

perfis, sendo utilizados como vigas e pilares (Figura 06).

Figura 05 Perfis Tubulares

Figura 06 Composição de perfis conjugados com chapas e perfis tubulares

2.4 Estruturas mistas

A determinação de um material para a execução de uma estrutura não pode passar pela

comparação direta entre eles. Não existe um material melhor do que o outro. Cada

projeto possui particularidades que variam de acordo com o seu programa de

necessidades, com o local a ser implantado, e até mesmo com a conjuntura econômica

do país.

16

Page 30: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

É preciso investigar as propriedades de cada material que possa atender a esses

requisitos, e escolher a opção mais técnica e financeiramente viável.

Muitas vezes, a utilização de materiais diferentes em uma mesma estrutura pode ser a

melhor solução. A estrutura de aço não pode ser considerada uma solução única e ideal

para todos os casos, e sua utilização também pode ser combinada com outros materiais,

como madeira e concreto, a fim de se obter um melhor resultado (Figuras 08 e 09).

A partir do estudo das características de cada material e dos requisitos projetuais, o

engenheiro estrutural e o arquiteto podem propor uma utilização conjunta, aproveitando o

melhor desempenho de cada elemento.

Como exemplo, podemos citar o uso de peças mistas em aço e concreto, que propicia

um aumento da resistência à compressão da peça metálica e o melhor desempenho à

tração do concreto. Dessa forma, é possível diminuir suas dimensões finais e o consumo

dos dois materiais. Além disso, o revestimento dos perfis de aço com concreto cria uma

proteção contra altas temperaturas4 (Figura 07).

Figura 07 Detalhe de perfis mistos – aço e concreto

17

4 Ver mais detalhes em relação à proteção contra incêndios no item 4.4.2.

Page 31: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 08 Estrutura mista – aço e concreto

Obra de uma residência - São Paulo

Figura 09 Estrutura mista - aço e madeira

Parque Municipal do Mindu - Manaus

A compreensão das características do aço proporciona o melhor entendimento do

comportamento estrutural de seus componentes. Além disso, o conhecimento da

variedade de peças existentes no mercado e das possibilidades de conjugações de perfis

e de outros materiais facilita a absorção dos conceitos necessários para a concepção e o

desenvolvimento do objeto arquitetônico de forma criativa e racional.

18

Page 32: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

19

3. O USO DA ESTRUTURA DE AÇO NA ARQUITETURA E NA CONSTRUÇÃO CIVIL

O uso do ferro e do aço está presente na história da humanidade desde a Antigüidade.

Como materiais de construção, eles passaram a ser utilizados nos séculos XVIII e XIX e,

juntamente com o desenvolvimento tecnológico que surgia, transformaram toda uma

época através da Revolução Industrial.

Neste capítulo, será apresentado o histórico do uso do aço na arquitetura mundial e

brasileira, com o objetivo de mostrar o que já foi produzido e as possibilidades permitidas

por esse material.

Com isso, é possível salientar a importância do conhecimento técnico das questões

referentes ao projeto e à estrutura de aço, além de criatividade e sensibilidade artísticas

para o desenvolvimento desse tipo de arquitetura no Brasil.

3.1 Histórico mundial

Não se pode determinar ao certo a origem do ferro. Acredita-se que a presença ocasional

de um tipo de minério em alguma fogueira tenha fundido o metal acidentalmente. “O

vestígio mais remoto deste metal é um conjunto de quatro esferas de ferro, datadas de

4000 a.C., encontradas em El-Gezivat, no Egito”.(BRAGA, 1998).

Já o aço foi descoberto posteriormente, utilizando-se o ferro maleável e o carvão vegetal.

No entanto, sua produção levava dias e era dispendiosa e, assim, por muito tempo, o aço

continuou a ser um material escasso.

Na Antigüidade, o ferro veio a substituir o cobre e o bronze na fabricação de armas e

ferramentas por ser um metal mais resistente. Esse uso militar impulsionou o

desenvolvimento da metalurgia e, aos poucos, o material passou a ser usado também na

fabricação de máquinas e equipamentos industriais mais duradouros que, até então,

eram feitos em madeira.

À medida que a sociedade vai se desenvolvendo, o homem passa a utilizar-se da

natureza através do desenvolvimento tecnológico e científico. Acreditava-se na

Page 33: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

20

supremacia humana e na superação de obstáculos através do desenvolvimento. Esse

pensamento, surgido desde o século XVII, fazia parte da classe burguesa que crescia

cada vez mais nesta época.

Os conceitos do capitalismo uniram-se ao desenvolvimento tecnológico. Ao longo dos

séculos, novos processos técnicos e científicos foram-se formando e tiveram seu ponto

culminante na Revolução Industrial.

O ferro foi um material de suma importância para esse movimento. A visão capitalista,

surgida com a concentração de renda pela burguesia, buscava o aumento da produção

para a obtenção de lucro. O desenvolvimento tecnológico da época levou ao surgimento

de novas máquinas para alcançar esse aumento. A máquina movida à força motriz do

vapor foi uma grande descoberta e o ferro foi o elemento fundamental para sua produção,

pois a tornava mais resistente.

Graças também à máquina a vapor, os altos-fornos, onde era produzido o ferro, puderam

ter suas dimensões aumentadas. Este e outros inventos deram um enorme impulso à

siderurgia: em menos de vinte anos, a produção de ferro na Inglaterra quadruplicou e o

seu preço caiu vertiginosamente. (DIAS, 2001)

Desde o século XVII, pesquisas já eram feitas com o objetivo de se produzir energia a

vapor e ferro a baixo custo. No entanto, o ferro ocupou pouco espaço na arquitetura e

engenharia até esta época, e era usado em sua maioria para a confecção de peças de

decoração.

A partir deste momento e até o séc. XIX, o desenvolvimento da produção e a utilização do ferro e do aço estão muito mais relacionados aos técnicos, cientistas e industriais do que aos artistas e arquitetos. São ferreiros, engenheiros, mecânicos e forjadores que, com suas habilidades e trabalho manual, desenvolveram as bases da produção industrial do ferro e do aço, que posteriormente viria a ser utilizado por arquitetos na construção de monumentos à sociedade moderna. (FERREIRA, 1998).

Com o desenvolvimento dos processos metalúrgicos, no final do século XVIII e no século

XIX, a produção de ferro, e neste momento também a do aço, passa a ser em escala

industrial, o que ocasiona o baixo custo do material.

Page 34: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

21

Em 1856, a descoberta do inglês Henry Bessemer de que a injeção de um jato de ar no ferro em fusão eliminaria quase todo carbono do banho, convertendo desta forma o ferro-gusa em aço, permitiu a produção do aço em escala realmente industrial, baixando seu preço a um sétimo do valor que vigorava antes da introdução do novo processo. (DIAS, 2001).

A indústria siderúrgica é obrigada a se aprimorar para atender à demanda de um

mercado em ebulição na Europa e nos Estados Unidos. Essa grande demanda é

conseqüência do desenvolvimento dos transportes, principalmente da criação das

ferrovias.

O crescimento da indústria siderúrgica, certamente promovido pela implantação das redes ferroviárias, não somente britânicas como também européias, ensejou a perspectiva de produção de ferro e aço em uma escala nunca vista anteriormente. (SILVA, 1986)

Conseqüentemente, surgiu a necessidade de serem construídos pontes e viadutos em

grande número, sendo essas as duas primeiras grandes aplicações do ferro e do aço nas

construções. As pontes metálicas eram feitas inicialmente com ferro fundido, depois com

aço forjado e, posteriormente, passaram a ser construídas com aço laminado.

Um marco dessas construções é a ponte sobre o rio Severn, na Inglaterra, construída

entre 1775 e 1779 pelo industrial Abraham Darby (Figura 10). A primeira ponte construída

em ferro fundido era considerada um avanço tecnológico, mas ainda utilizava os

princípios usados nas pontes de madeira e pedra.

O material trabalha essencialmente à compressão, que proporciona seu melhor desempenho, sendo sua resistência à tração relativamente baixa. A concepção estrutural da obra era semelhante à de pontes de pedra e a junção das partes foi baseada em técnicas de construção de tesouras de madeira. A solução era, de certa maneira, conseqüência natural das derivações de métodos construtivos tradicionais, uma vez que a pedra era empregada, em geral, de modo trabalhar fundamentalmente a compressão. (KUHL, 1998)

Page 35: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 10 Ponte sobre o Rio Severn – Inglaterra

Abraham Darby

Com o desenvolvimento da malha ferroviária, surgiram novos programas arquitetônicos,

como edifícios de apoio, estações, galpões para abrigo dos trens e edifícios

administrativos. Esses novos tipos de construções, em sua maioria, necessitavam de

inovações estruturais, pois deviam possuir grandes vãos livres para cobrir toda a

extensão dos trilhos nas estações.

Além dessas questões, outro motivo que propiciou o uso do ferro fundido foi a

necessidade de serem essas edificações executadas na mesma velocidade em que eram

feitas as próprias ferrovias.

A partir deste momento, a utilização da estrutura metálica passa a ser estendida a outros

tipos de construções. Edificações em madeira, como moinhos e tecelagens, e até mesmo

coberturas em forma de cúpulas são substituídas pela estrutura de ferro. O material

passa a ser considerado como uma alternativa para alcançar uma maior resistência ao

fogo. 5

No início, como a técnica da construção em aço não era muito desenvolvida, a maioria

das construções executadas repetia o sistema estrutural utilizado em madeira, e as peças

eram revestidas com alvenaria de pedras e tijolos.

5 Entretanto, com o passar do tempo, percebeu-se que o ferro aparente tinha um comportamento indevido de

torção em altas temperaturas. O fator que estimulou o seu emprego foi, mais tarde, um dos principais a

22

Page 36: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

23

Um exemplo foi a substituição da cúpula de madeira da Bolsa de Comércio de Paris,

construída em 1760. No ano de 1802, ela foi consumida por um incêndio, e a sua

reposição deveria ser feita por um material à prova de fogo. O uso de tijolos foi

descartado, pois a cúpula não suportaria seu peso próprio. O ferro fundido foi a opção

adotada, utilizando-se uma estrutura que repetia o desenho das peças originais.

Aos poucos, o uso do ferro na construção civil se transforma com os progressos

industriais que permitiram sua produção em grande escala e estendeu sua possibilidade

de aplicação.

Surge um novo uso na arquitetura: os locais de comércio com passagens cobertas

denominados galerias. Em Paris, a maioria das galerias foi construída na primeira metade

do século XIX, e podem ser comparadas a uma grande loja de departamento. Segundo

Graeff (1994), estas seriam embriões dos atuais centros comerciais, os shoppings

centers.

Dois fatores que contribuíram para o desenvolvimento dessa arquitetura e engenharia

foram a prosperidade da indústria, que promoveu a base para o comércio, e a utilização

do ferro como material estrutural, com a capacidade da sua conjugação com a cobertura

de vidro.

A pré-fabricação de componentes e a montagem nos canteiros de obras aparecem

também nesta época para suprir as necessidades de uma sociedade industrial que

precisava de novos espaços construídos rapidamente e a baixo custo. A racionalização

do processo construtivo foi resultado do pensamento capitalista e influenciou vários

países da Europa.

Em 1840, é proposta a idéia de uma demonstração comercial e industrial entre as nações

européias com o intuito de promover uma abertura das relações entre os países.

Em 1851, realiza-se a primeira Exposição Universal, em Londres, com a construção do

Palácio de Cristal (Figura 11), que pode ser considerado um marco na arquitetura.

Projetado pelo arquiteto Joseph Paxton, a grande construção foi um exemplo para a

industrialização do processo construtivo, sendo executado com componentes pré-

fabricados em um curto espaço de tempo.

restringi-lo, mas sendo resolvido, posteriormente, com a substituição do ferro pelo aço e com o

desenvolvimento de tecnologias de proteção contra incêndio.

Page 37: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

A busca de uma nova linguagem arquitetônica que se adequasse ao material e aos novos

usos levou a soluções formais dissociadas das referências históricas, questionando-se

alguns princípios consagrados.

O uso da estrutura em ferro e do vidro possibilitou novos conceitos na expressão

arquitetônica: a transparência, a relação do espaço interno com o externo e a leveza.

Após a exposição, a edificação foi desmontada, como era previsto, e remontada em outro

local, com algumas modificações. Permaneceu aberta à visita ao público até 1936,

quando foi destruída por um incêndio.

Figura 11 Palácio de Cristal – Londres

Arquiteto Joseph Paxton

A partir deste momento, todas as exposições que viriam a seguir tornaram-se um

importante evento para a apresentação do potencial da industrialização da construção,

tanto do ponto de vista da arquitetura, quanto dos sistemas estruturais. Os edifícios

construídos com a estrutura metálica representavam a lógica industrial da época.

Compostos com peças pré-fabricadas, eles eram montados nos canteiros de obra como

“jogos de armar”.

Inicia-se a internacionalização da arquitetura e a disseminação, em vários países, de

novos conceitos para o projeto arquitetônico. Com as características dos materiais ferro e

aço, as peças de apoio estrutural passam a ser mais esbeltas e resistem a esforços

maiores que uma coluna de mesma dimensão em pedra ou madeira. As proporções que

eram utilizadas para estes materiais não se aplicam ao ferro e ao aço, e a estética da

época é alterada. 24

Page 38: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Em 1889, aconteceu a Exposição Universal de Paris, em comemoração ao Primeiro

Centenário da Revolução Francesa, onde duas obras se destacaram. A primeira foi a

Galerie de Machines (Figura 12), projetada pelo arquiteto Ferdinand Dutert e pelo

engenheiro Vitor Contamim. O pavilhão de exposição, com um vão livre de 115m, que

excedeu em tamanho tudo que tinha sido construído anteriormente, representou a união

dos conhecimentos dos materiais e dos princípios estruturais.

A Galerie de Machines assim como os demais edifícios de exposições anteriores

demonstraram uma estreita ligação entre a forma arquitetônica e a solução estrutural.

Giedion (apud EGGEN; SANDAKER, 1995) comparou a junção de pilar com o solo,

adotada na galeria, como uma bailarina na ponta dos pés (Figura 13).

O segundo marco da exposição de Paris foi a Torre Eiffel (Figura 14), projetada pelo

engenheiro Gustave Eiffel. Com 300m de altura, ela deveria ser demolida após a

exposição, mas a sociedade francesa, ao ver esse desafio à técnica da época ser erguido

em apenas dois anos, dispensou as críticas e passou a aceitá-la, tornando-a o símbolo

da França.

Figura 12 Galerie de Machines – Paris Arquiteto Ferdinand Dutert

25

Page 39: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 13 Detalhe do pilar - Galerie de Machine

Figura 14 Torre Eiffel – Paris

Engenheiro Gustave Eiffel

26

Page 40: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Após a Primeira Guerra Mundial, o uso do ferro e do aço aparente passou a ser aplicado

em menores proporções na Europa. No entanto, algumas construções continuaram a ser

feitas, incluindo também pesquisas na área.

Um verdadeiro renascimento do uso de estruturas metálicas ocorreu no século XX, em

meados dos anos 70, com o Centro Pompidou, em Paris (Figura 15), de Renzo Piano e

Richard Rogers. Estes desenvolveram obras de alta precisão e tecnologia, tendo essa

sua obra como um manifesto que difundiu novamente o emprego do aço aparente na

arquitetura.

Figura 15 Centro Georges Pompidou – França

Arquitetos Richard Rogers e Renzo Piano

Dessa forma, abriu-se caminho para novos usos e pesquisas formais na área, atingindo-

se a maturidade em várias obras, citando-se como exemplo os projetos dos arquitetos

Normam Foster e Nicholas Grimshaw (Figuras 16 e 17).

27

Page 41: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 16 Edifício do Reichstag - Berlim

Arquiteto Normam Foster

Figura 17 Edifício Ludwig Erhard Haus Financial

Centre -Berlim Arquiteto Nicholas Grimshaw

3.1.1 O uso da estrutura de ferro e aço nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, onde se desenvolveu uma forte sociedade capitalista, surgiu, a

partir da segunda metade do século XIX, uma arquitetura e engenharia que também

utilizava a construção metálica. Assim como na Europa, os novos programas

arquitetônicos se basearam em necessidades ligadas à indústria e ao comércio. O ferro,

o aço e o vidro foram muito utilizados e acabaram por desenvolver uma arquitetura

americana própria.

Em 1871, a cidade de Chicago é incendiada e sua reconstrução é marcada com a

utilização da estrutura metálica de uma maneira ainda pouco usada: “o esqueleto

metálico” em edifícios de andares múltiplos.

O desenvolvimento do comércio, o crescimento demográfico e a valorização dos terrenos

em cidades não só como Chicago, mas também como Nova York, contribuíram para a

verticalização das construções.

Um dos mais importantes construtores de Chicago foi Willian Le Baron, que é

considerado também o precursor do uso do aço nas edificações.

28

Page 42: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

29

O princípio de sustentar todo o edifício sobre uma rede metálica equilibrada com precisão, solidificada e protegida contra incêndio, deve-se a Willian Le Baron Jenney. Ninguém o precedeu nisso, e a ele cabe todo o mérito que deriva da proeza de engenharia que foi o primeiro a executar. (BENEVOLO, 1989)

Juntamente com ele, trabalharam grandes nomes da arquitetura americana, como Louis

Sullivam, de quem Frank Lloyd Wright foi discípulo. Com isso, Le Baron é considerado o

fundador do movimento da época denominado “Escola de Chicago”.

O edifício ganhou, cada vez mais, um número maior de andares e, com a invenção dos

elevadores, o americano realiza o sonho de criar o “arranha-céu”. Enquanto na Europa os

edifícios iam somente ao sétimo ou oitavo pavimento, nos Estados Unidos foram

construídos edifícios com vinte e até trinta pavimentos, que, posteriormente, também

seriam superados.

A utilização de um sistema do tipo “esqueleto estrutural”, com peças pré-fabricadas,

influenciou também a linguagem arquitetônica. A simplicidade e o ritmo da estrutura

passaram a ser expressos nas fachadas, desenvolvendo a base de um estilo que seria

internacionalmente conhecido.

Aos poucos, a estrutura deixa de ser revestida na parte externa, e, à medida que a altura

do edifício aumenta, as peças estruturais e os contraventamentos necessários passam a

fazer parte da concepção arquitetônica.

Arquitetos como Mies Van der Rohe, Frank Lloyd Wright, Walter Gropius, entre outros,

contribuíram para a criação dessa arquitetura americana que, paulatinamente, se difundiu

em vários países (Figura 18).

Em 1893, o projeto para a Feira Mundial de Chicago, feito por Louis Sullivam, foi

rejeitado, sendo aprovado um projeto que retomava o conceito neoclássico, mais aceito

pela burguesia da época, marcando o fim do movimento da Escola de Chicago.

No entanto, a arquitetura americana prossegue até os dias atuais com uma constante

verticalização e a valorização da padronização e da industrialização dos processos

construtivos.

Page 43: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 18 Lake Shore Drive Apartments – Chicago

Arquiteto Mies Van der Rohe

Após a Segunda Guerra Mundial, a necessidade de suprir o déficit habitacional criado,

com recursos financeiros e mão-de-obra especializada escassos, contribuiu para a

organização de um setor industrializado na construção civil de vários países.

A estrutura metálica, portanto, contribui para a implementação e a difusão do conceito de

pré-fabricação na construção civil pelo mundo. Por ser um material industrializado, a sua

utilização influenciou a mudança de todo o processo construtivo.

No século XX, o movimento moderno introduz um novo material já conhecido, mas pouco

utilizado até o momento: o concreto armado. Mesmo sendo este material mais plástico, o

uso da estrutura metálica já estava firmado nos Estados Unidos e na Europa, o que não

aconteceu no Brasil.

Apesar de muitos “modernistas” terem abandonado o ferro aparente como meio de expressão e terem desenvolvido uma nova linguagem principalmente através do concreto armado, os passos dados pela geração anterior foram uma inegável contribuição para as inovações. (KUHL, 1998)

30

Page 44: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

31

3.2 O caso brasileiro

Portugal não possuía uma tradição na metalurgia, por isso os primeiros instrumentos de

ferro fabricados no Brasil foram feitos pelos escravos, que trouxeram o conhecimento do

continente africano.

Nas primeiras décadas do século XIX, foram descobertas reservas de carvão e minerais

ricos em ferro no interior do sudeste do país, onde se estabeleceram as primeiras

“fábricas de ferro”.

O material produzido era de baixa qualidade, pois era rico em fósforo, que reduzia sua

ductilidade e o tornava quebradiço. Seu custo também era alto, devido à dificuldade de

transporte para os principais centros urbanos, que se situavam no litoral.

Devido a esses fatores, o ferro produzido no país não conseguiu competir com o material

que era importado da Inglaterra. A transferência da corte portuguesa para o Brasil

intensificou o comércio com a Inglaterra, através de diversos tratados assinados por

Portugal. Isso também contribuiu para que a concorrência com os produtos ingleses

impedisse o desenvolvimento da metalurgia no país. O Brasil passou, então, a receber

objetos “modernos”, fruto de uma tecnologia de ponta para a época, sem passar por um

processo de industrialização. A arquitetura de ferro existente no país evidencia essa

incongruência.

O ferro importado pelo país vinha em forma de produtos acabados, como grades, guarda-

corpos, máquinas industriais e agrícolas. A importação contribuiu para o desenvolvimento

das ferrovias e, como na Europa, foram construídas várias estações e edifícios de apoio

com a estrutura em ferro fundido.

A partir da segunda metade do século XIX, a burguesia emergente, enriquecida pelo

cultivo do café (na região sudeste) e da borracha (na região norte) e pelo

desenvolvimento do comércio, voltava-se para o consumo dos produtos europeus.

Edifícios inteiros são comprados, desde teatros, mercados até estações ferroviárias.

Nesse período, a região amazônica era a única produtora de borracha do mundo, o que

promoveu um rápido enriquecimento de seus exploradores, fazendo com que Belém, a

maior cidade dessa área, fosse um dos centros urbanos brasileiros que mais importou

edifícios de ferro da Europa. Pode-se citar como exemplo dessa arquitetura, ainda

Page 45: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

presente na cidade, o Mercado do Ver-o-peso (Figura 19) e o antigo Mercado Municipal,

atualmente o Mercado de Carne (Figura 22).

Desta forma, a arquitetura metálica no país se inicia através da importação de estruturas,

principalmente em ferro fundido, de países europeus. Essa arquitetura marcou uma

época e muitos exemplares ainda podem ser vistos em algumas cidades brasileiras: o

Teatro José de Alencar, em Fortaleza, (Figura 50), o Mercado Municipal de Manaus, o

Palácio de Cristal em Petrópolis (Figura 51), etc.

Figura 19 Mercado Ver-o-peso – Belém

Figura 20 Teatro José de Alencar - Fortaleza

32

Page 46: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 21 Palácio de Cristal - Petrópolis

Figura 22 Mercado de Carne – Belém

São Paulo também foi uma das cidades que mais importou edifícios europeus. Um

exemplo ainda existente é a Estação da Luz (Figura 23), que adotou um partido

semelhante às estações londrinas. Sua construção é atribuída a várias empresas, e a

estrutura de ferro não dispensa acréscimos decorativos muito utilizados na época.

Seus edifícios [...] vinham completos e podiam ser montados facilmente. Os componentes modulados, em ferro fundido, formavam a estrutura que era montada com a ajuda de uns poucos parafusos. Frisos e acabamentos ornamentais eram acrescentados ao gosto do usuário, para criar instantaneamente um estilo. (COSTA, 2001)

Figura 23 Estação da Luz – São Paulo

Arquiteto Charles Henry Driver

33

Page 47: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

34

Durante a Primeira Guerra Mundial, a importação de ferro e de aço é dificultada e a

demanda por estes materiais aumenta. Com isso, o setor siderúrgico começa a se

desenvolver no Brasil. 6

Entre 1917 e 1930, com a criação, em Sabará/MG, da Companhia Siderúrgica Brasileira,

a siderurgia nacional deu um grande salto com a construção de um alto-forno mais

moderno. Em 1922 a empresa se transformou na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira,

e em 1937, inaugurou uma fabrica em João Monlevade/MG, que passa a produzir

pequenos perfilados e arames.

Em 1930, a produção da Belgo-Mineira e de outras pequenas instalações somava 21 mil toneladas de aço e 36 mil toneladas de ferro-gusa, e as importações de artefatos de ferro e aço ultrapassavam a cifra de 300 mil toneladas. (ZACCARELLI apud DIAS, 2001).

Na década de 30, o então presidente Getúlio Vargas investe na industrialização do país,

e o setor siderúrgico se desenvolve para sustentar a construção de novas fábricas. A

indústria pesada acaba gerando altos lucros para as usinas siderúrgicas, que não

investiram na construção civil e cresceram voltadas para atender a outros setores

industriais, principalmente o automobilístico.

Em 1942, é criada a Usina da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), em Volta

Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, e a Companhia Vale do Rio Doce, para

exploração do minério de ferro.

O primeiro edifício de múltiplos pavimentos de estrutura em aço, construído no país com

tecnologia nacional, foi o Edifício Garagem América, em 1957. Situado em São Paulo,

com 15 pavimentos, ele possui estrutura aparente em uma das fachadas, diferentemente

do que foi proposto pelo arquiteto em seu projeto original (Figura 24).

6 No entanto, é nesta mesma época que a indústria de cimento se desenvolve no país, influenciando o setor

da construção civil a partir da década de 20 e possibilitando o desenvolvimento de uma arquitetura voltada

para o uso do concreto armado. Segundo Bruand (1997), esse desenvolvimento se deu devido às

características da construção artesanal, mais adaptável às necessidades de um país subdesenvolvido.

Page 48: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 24 Edifício Garagem América - São Paulo

Arquiteto Rino Levi

Na década de 60, é inaugurada a COSIPA (Companhia Siderúrgica de São Paulo) e a

USIMINAS (Usina Siderúrgica de Minas Gerais), e em 1976 foi construída a CST

(Companhia Siderúrgica de Tubarão), localizada no Espírito Santo, que inicia suas

operações em 1983. A AÇOMINAS, localizada em Ouro Branco, Minas Gerais, começou

a produzir, posteriormente, em 1986 e atualmente está integrada ao Grupo GERDAU.

Sendo assim, somente no final da década de 50 e na década de 60, a estrutura de aço

começa a ser utilizada no país. Nesta época, a estrutura de aço era usada basicamente

como um esqueleto interno do edifício e sua forma e seu sistema estrutural eram pouco

trabalhados.

Como exemplo, podemos citar os onze edifícios da Esplanada dos Ministérios, em

Brasília, construídos com estrutura importada dos Estados Unidos, em 1958 (Figuras 25

e 26).

35

Page 49: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 25 Construção da Esplanada dos Ministérios

Brasília

Figura 26 Construção da Esplanada dos Ministérios

Brasília.

Pode-se citar, também, o Palácio do Comércio, em São Paulo (Figura 27). Criado em

1959, este foi o primeiro edifício de andares múltiplos para fins comerciais construído no

país com estrutura de aço.

O Edifício Avenida Central, no Rio de Janeiro (Figura 28), construído em 1961, possui

toda a estrutura externa revestida em alumínio para a proteção contra incêndio. Esses

exemplos, entre outros, marcaram uma época onde a estrutura de aço era, na maioria

das vezes, completamente revestida e usada simplesmente como um elemento de

sustentação.

Figura 27 Edifício Palácio do Comércio – São Paulo

Arquiteto Lucjan Korgnold

Figura 28 Edifício Avenida Central – Rio de Janeiro

Arquiteto Henrique Mindlin 36

Page 50: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Nos anos 80, a siderurgia do Brasil atinge um patamar de excelência, com produtos que

possuem certificados de qualidade exigidos mundialmente.

Nesse período também, o emprego do aço como expressão arquitetônica passa a ser

significativo, quando a estrutura começa a surgir nas fachadas das edificações e a fazer

parte da arquitetura. Aos poucos, os arquitetos passam a trabalhar essa estrutura como

parte integrante da composição e da concepção de seus projetos (Figuras 29, 30, 31 e

32).

Figura 29 Sede Associação Brasileira de Metais –

São Paulo (1984) Arquitetos Plínio Croce, Roberto Aflalo e Gian

Gaperini.

Figura 30 Edif. Saraiva Marinho – Belo Horizonte

(1987) Arquiteto Carlos Viotti

37

Page 51: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 31 Edifício Casa do Comércio – Salvador (1987)

Arquitetos Oton Gomes e Fernando Frank

Figura 32 Escritório de Arquitetura – São Paulo

(1988) Arquiteto Siegbert Zanettini

A consolidação do setor também passa o país de importador para exportador de produtos

siderúrgicos. No entanto, as maiores usinas siderúrgicas criadas, até então, eram

empresas estatais, cujas mudanças e necessidades de expansão são percebidas, mas

sua atuação no mercado acontece de forma mais lenta, devido à grande burocracia do

governo. Sendo assim, a construção civil deixou de ser, por muito tempo, um cliente para

o setor.

Já na década de 90, inicia-se a privatização das empresas, que passam a possuir uma

filosofia de atuação diferente da anterior, com a necessidade de expansão do seu

mercado. Neste momento, a construção civil passa a ser um grande consumidor em

potencial. Além disso, o desaquecimento do mercado das indústrias pesadas fez com

que os investimentos fossem direcionados para outras áreas.

Aços especiais são desenvolvidos para a utilização em sistemas estruturais, com alta

resistência mecânica e resistência à corrosão. Em pouco tempo, o Brasil aumentou

bastante sua produção de aço.

Além disso, nos anos 90 e até os dias atuais, os arquitetos brasileiros passaram a

conhecer melhor o material, e, com a consultoria de profissionais especializados,

apoiados pela tecnologia desenvolvida, começaram a criar com a estrutura metálica,

desde a concepção inicial do projeto.

38

Page 52: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

A estrutura de aço obtém formas que, apesar de terem sido utilizadas nas construções

antigas de ferro, eram imagináveis para o tipo de material industrializado na época atual

(Figuras 33, 34 e 35).

Figura 33 Ponte JK – Brasília (2002) Arquiteto Alexandre Cham

Figura 34 Indústria IPEL – São Paulo (2002)

Arquiteto Sidônio Porto e associados Figura 35 Hospital Sarah de Brasília (2000)

Arquiteto João Figueiras Lima

O surgimento de uma nova arquitetura em aço brasileira também fica evidente na

qualidade das obras, que, muitas vezes, pode ser comprovada em concursos realizados

por entidades da área, que premiam cada vez mais obras com esse tipo de estrutura.

39

Page 53: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

40

As empresas siderúrgicas também incentivam a produção dos arquitetos em aço a partir

de concursos, como o da USIMINAS e da CSN, este último voltado para os estudantes

do último período do curso de graduação em arquitetura.

Mesmo assim, o uso da estrutura metálica no Brasil ainda é pequeno, se comparado com

países como Estados Unidos e Japão. A falta de conhecimento do material pelos

profissionais de engenharia e arquitetura, originada de uma formação universitária

enraizada no uso do concreto armado, contribui para a não utilização do aço nas

estruturas.

Entretanto, o uso da estrutura de aço está se ampliando aos poucos e várias obras

representativas já podem ser encontradas no Brasil. O consumo de aço e a demanda por

perfis laminados perceberam uma ampliação, principalmente entre os anos de 2004 e

2006. (Tabela 01 e Gráfico 02)

Brasil - Consumo Per Capita de Aço Bruto

Ano Consumo per capita (ton)

1998 99

1999 96

2000 103

2001 108

2002 105

2003 100

2004 112

2005 101

2006 110 Fonte: IBS - Anuário Estatístico Siderurgia (2007)

Tabela 01

Consumo per capita de aço bruto no Brasil

Page 54: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Gráfico 02 Evolução da demanda brasileira de laminados planos

A partir de algumas iniciativas de profissionais arquitetos e engenheiros, o aço vai

surgindo na paisagem das principais cidades brasileiras, mostrando inúmeras

possibilidades formais para a concepção arquitetônica.

Desta maneira, o uso do aço no país está se transformando, e várias obras de excelência

vão surgindo a partir do trabalho conjunto dos profissionais da área. O arquiteto começa

a se apropriar do aço em seu aspecto estrutural, mas também no âmbito da expressão

arquitetônica.

Conciliando os materiais à forma, o arquiteto consegue criar obras de excelência, tanto do ponto de vista técnico como do artístico. Desta maneira, unem-se as duas vertentes da arquitetura, a arte e a técnica. (CASTRO, 2004)

41

Page 55: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

42

4. PARÂMETROS TÉCNICOS PARA PROJETO E CONSTRUÇÃO EM ESTRUTURA DE AÇO

A estrutura de aço é um elemento presente na arquitetura brasileira e, como exposto

anteriormente, sua aplicação está sendo ampliada nos últimos anos.

Todavia, poucos são os estudos que ressaltam as questões do projeto arquitetônico que

utilizam o aço como estrutura. Bibliografias e pesquisas, em sua maioria, estão voltadas

para as características da construção, discursando sobre suas vantagens e

desvantagens; quando se referem à arquitetura, somente são levantadas as questões

históricas.

Tendo em vista o objetivo deste trabalho, que é investigar a utilização de estruturas de

aço em habitações de interesse popular, este capítulo pretende levantar os

condicionantes da estrutura de aço no projeto arquitetônico, a fim de definir diretrizes

para esse tipo de arquitetura. As informações apresentadas a seguir foram obtidas a

partir de uma investigação da pouca bibliografia existente e de entrevistas com

profissionais da área.

O primeiro item expõe aspectos gerais sobre o projeto arquitetônico e a industrialização

da construção. Posteriormente, são destacadas as questões específicas da estrutura de

aço, incluindo parâmetros técnicos que podem influir no projeto, desde o âmbito da

estética, como também do detalhamento e da especificação de materiais.

4.1 A industrialização da construção civil

Após a Segunda Guerra Mundial, o aumento do déficit habitacional propiciou a

organização de um setor industrializado na construção de alguns países na Europa.

No Brasil, boa parte do setor ainda utiliza processos “artesanais” de construção. Para o

alcance da industrialização, é necessário introduzir métodos, técnicas e componentes

que permitam aumentar a produtividade e a qualidade dos processos convencionais.

A construção civil é uma indústria diferenciada, se comparada às demais, com as

seguintes características peculiares:

Page 56: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

43

Possui um produto individual, uma vez que cada obra é geralmente única;

Possui um caráter nômade, já que cada produção está localizada em um local;

Divide-se em duas: a indústria da produção da edificação e a indústria dos materiais,

subsidiária da primeira. (ROSSO, 1980)

Para entender o que significa a industrialização da construção civil, é importante

esclarecer que o conceito de industrialização está ligado à decomposição do processo

produtivo e à repetição do mesmo, envolvendo a mecanização.

A industrialização está essencialmente associada aos conceitos de organização e de produção em série, os quais deverão ser entendidos, analisando de forma mais ampla as relações de produção envolvidas e a mecanização dos meios de produção. (BRUNA, 1976)

É importante ressaltar que a pré-fabricação é considerada apenas uma fase da

industrialização, não implicando a existência de uma relação dessa com o planejamento

e a organização do processo, necessários para o desenvolvimento do setor.

A industrialização da construção civil deve englobar um campo mais amplo, que envolve

a transformação estrutural de todo o processo produtivo, abrangendo aspectos sócio-

econômicos, culturais, científicos e ideológicos.

Portanto, ela passa por uma mudança de cultura dos profissionais envolvidos, incluindo o

treinamento da mão-de-obra. Esta deve estar apta a executar os processos de montagem

com qualidade, acarretando, também, a melhoria da qualidade da obra.

4.1.1 A Coordenação Modular

A industrialização do processo construtivo, a partir da utilização de componentes pré-

fabricados, ou seja, com dimensões pré-definidas, acaba por influir no processo do

projetar arquitetônico. Uma ferramenta, com fundamentação matemática, capaz de

possibilitar a interface entre as dimensões dos componentes e as do projeto é a

Coordenação Modular.

Page 57: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

44

Rosso (1976) define a coordenação modular como um instrumento de integração que

visa compatibilizar dimensionalmente o repertório completo de componentes de todo um

setor industrial e ainda dotá-los de atributos que facultem a sua permutabilidade. Esta

deve ser buscada em cada família de componentes, considerando-as como subsistemas

de um sistema maior constituído pela edificação.

A permutabilidade ou intercambialidade é uma propriedade que permite utilizar

componentes diferentes em uma mesma posição, promovendo a possibilidade de

substituição destes, garantindo a qualificação do espaço, além do seu desempenho

individual.

Na coordenação modular, a determinação de um módulo base serve como um

instrumento de inter-relação das medidas dos componentes com as dimensões espaciais

do projeto.

O módulo é uma medida básica que deve estar inserida tanto no projeto, quanto na

fabricação dos componentes. A ISO (International Organization of Standardization) e a

norma DIN 18.000 (Deustshe Industrie Normen) definem como “Módulo Fundamental de

Norma” a medida de 100 mm e o uso de sistemas de coordenação modular baseados em

seus múltiplos e submúltiplos.

No Brasil, a ABNT tem as normas NBR 5706 a 5731, num total de 26 normas, sobre o

escopo da Coordenação Modular. A NBR 5706 - Coordenação Modular da Construção

“fixa as bases, nomenclatura e definições que coordene as medidas dos componentes da

construção, desde o projeto até a execução”, e determina o módulo M em 1dm, ou seja,

também, 100 mm. A NBR 5731 “define os termos empregados na construção coordenada

modularmente”.

Juntamente com coordenação modular, o Sistema de Tolerâncias e Ajustes, com os

conceitos de folga e tolerância presentes na NBR 5725 - Ajustes Modulares e

Tolerâncias, define uma série de regras para a montagem dos componentes no canteiro

de obra, ilustradas, simplificadamente, na Figura 36.

Page 58: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 36 Sistema de Tolerâncias e Ajustes

De acordo com a NBR 5725, o ajuste modular é a dimensão que relaciona as medidas do

projeto com as medidas modulares e deve ser determinado de acordo com algumas

características dos componentes, como tipo de união, natureza e superfície dos

materiais, propriedades intrínsecas dos elementos, etc. Esse sistema propicia uma inter-

relação entre os componentes para a sua montagem no canteiro de obra. O ajuste

geométrico e mecânico promove uma articulação da união entre dois ou mais elementos,

que é realizada através das juntas.

A tolerância de fabricação é a diferença entre as dimensões máximas e mínimas de uma

peça. Os componentes estão sujeitos a variações dimensionais, as quais podem decorrer

da imprecisão da fabricação ou de deformações originadas de fenômenos físicos e

químicos, e que exigem, portanto, um “jogo de união”. É importante ressaltar que o

componente não tem que, necessariamente, possuir uma medida modular, mas sim,

através dos ajustes e dos jogos de união, ocupar um espaço modular.

A normalização da fabricação de componentes é imprescindível para a implantação dos

princípios mencionados. A partir dela, pode-se organizar a produção em série e também

o processo de construção/montagem e obter um controle dimensional em cada obra,

aplicando os princípios do controle de qualidade da construção civil.

Ao lado da normalização, é necessária também uma fiscalização. Neste ponto, cabe ao

arquiteto trabalhar e utilizar somente produtos com qualidade e que se adaptam ao seu

projeto arquitetônico e aos requisitos da coordenação modular.

Em relação à concepção do projeto, o arquiteto não deve se fixar no módulo objeto, e,

sim, no módulo espacial que está presente nas três dimensões. Pode-se falar, portanto,

45

Page 59: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

46

de coordenação dimensional, já que a coordenação modular é um caso particular da

primeira.

Obviamente, no caso de um projeto especial, haverá componentes especiais, que

implicarão um custo maior, não sendo, entretanto, empecilho para a execução desse tipo

de obra. Todavia, o que ocorre atualmente é que se gasta mais para construir o básico e

o convencional como se fossem edificações especiais, e isso deve ser modificado.

Com a utilização de componentes pré-fabricados e com dimensões que se inter-

relacionam, o detalhe arquitetônico é essencial para o andamento da obra, que acaba por

perder suas características artesanais de improviso, para se tornar realmente industrial.

Dessa forma, a coordenação modular passa a modificar a maneira de projetar e de

construir.

4.1.2 O projeto arquitetônico e a industrialização da construção civil

O fazer arquitetônico compreende um processo criativo e a geração de um produto, que é

o projeto. O ato de projetar envolve várias áreas do conhecimento que se inter-

relacionam e, à medida que o trabalho se desenvolve, devem ser hierarquizadas para a

materialização do objeto arquitetônico.

O projeto pode apresentar inúmeras alternativas que podem ser construídas com uma

gama diversa de componentes. Nele não se definem apenas as questões estéticas, mas

também construtivas, de qualidade e de custo.

O arquiteto desempenha um papel importante na indústria da construção civil, porque

cabe a ele apresentar ao cliente uma solução que atenda ao programa requerido em

todos os seus aspectos.

O projeto arquitetônico é a base para a construção de uma edificação, sendo também o

definidor de parâmetros para os demais projetos. Na industrialização da construção, o

estudo da coordenação modular e do sistema de ajustes e tolerâncias é imprescindível

para o arquiteto produzir um projeto compatível com o conceito de racionalização.

A indústria de materiais deve fazer-se presente junto ao trabalho do arquiteto, na

definição do desempenho e das características dos materiais e componentes que

poderão ser utilizados, assim como na determinação das juntas e dos acoplamentos.

Page 60: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

47

Segundo o arquiteto Roberto Candusso, a tecnologia, principalmente a industrializada,

não inibe e nem prejudica a criação arquitetônica. Pelo contrário, ela até respeita mais o

conceito inicial do que é traçado. No sistema artesanal, há uma série de desvios e

mudanças no decorrer da construção. Com a tecnologia de componentes de montagem,

não há como reinterpretar os desenhos e executá-los de uma maneira diferente. (LEAL,

2003)

A construção industrializada possui como uma de suas características a determinação de

cada passo do processo construtivo ainda na fase de projeto, buscando a racionalização

e planejando as ações, para evitar qualquer alteração e decisões errôneas tomadas no

decorrer da obra. Pode-se fazer, portanto, uma ligação com o conceito da engenharia

simultânea, em que se tem a elaboração simultânea do “projeto do produto” e do “projeto

para produção”. Este último se diferencia do projeto executivo porque não está voltado

para o produto final, mas, sim, para as seqüências das atividades que devem ser

executadas na produção da obra.

Entre os desenhos que devem fazer parte do “projeto para a produção”, estão o de

acoplamento de detalhes, que deve conter todos os elementos necessários à colocação

de cada componente em sua posição específica, e o de acoplamento de projeto, que

define a posição relativa de todos os elementos dentro da edificação com um todo.

A engenharia simultânea visa otimizar o projeto do produto e processo de manufatura para conseguir reduzir tempo de desenvolvimento e melhorar a qualidade e os custos através da integração das atividades de projeto e manufatura [...]. (BROUGHTON, 1990 apud LOPES, 2001).

De acordo com Melhado (1998), dentro dessa busca da melhoria da eficiência produtiva,

a atividade de projeto destaca-se como elo fundamental da cadeia produtiva,

influenciando diretamente nos resultados econômicos dos empreendimentos, enquanto

instrumento de decisão sobre as características do produto, e interferindo na eficiência de

seus processos, enquanto informação de apoio à produção.

O desenvolvimento do projeto na construção industrializada deve ser trabalhado em

conjunto com todos os profissionais presentes no processo. No Brasil, gasta-se poucos

meses no projeto, para executar a obra em alguns anos, com várias modificações,

adaptações e ajustes no decorrer da sua execução.

Page 61: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

48

4.2 O processo de projeto a partir do uso da estrutura de aço

No processo de criação do projeto arquitetônico, as idéias iniciais e os principais

balizadores das decisões tomadas surgem a partir dos anseios do cliente, do local

(terreno / lugar / entorno / cidade) onde a edificação será implantada, do programa de

necessidades, da legislação vigente, da disposição de investimentos, etc.

As soluções técnicas, principalmente a estrutura, devem surgir simultaneamente nesse

processo inicial como instrumento viabilizador da obra. A concepção formal e a estrutural

possuem uma relação intrínseca. O arquiteto, como definidor da forma e da concepção

estrutural, deve, ainda no processo de criação do projeto arquitetônico, determinar o tipo

de estrutura que será utilizada.

Não se pode afirmar que a estrutura de aço é “melhor” ou “pior”, “mais cara” ou “mais

barata” que a estrutura em concreto armado. Cada método construtivo tem suas

características e particularidades que são viáveis ou não, dependendo de cada caso

particular. Além disso, não pode ser feita uma comparação direta de custos apenas em

relação às estruturas; é preciso levar em consideração a influência que um tipo de

estrutura terá sobre todo o andamento do projeto e da obra.

A estrutura de aço possui particularidades que devem ser conhecidas desde a concepção

formal do projeto. Podem-se citar algumas características que influenciam a escolha

desse processo construtivo:

Possibilidade de vencer grandes vãos, com peças mais leves, portanto, mais

esbeltas;

Dimensões menores de vigas e pilares (a resistência é obtida através da variação de

espessura das chapas), acarretando um maior aproveitamento dos espaços;

Alívio das cargas nas fundações, ideais para determinados tipos de terrenos;

Construção por montagem, industrializada, o que exige uma maior precisão no projeto

e maior rapidez e racionalização da execução.

Como seu processo executivo passa pela industrialização da construção, o projeto deve

ser pensado de uma forma diferente do processo “artesanal”.

Page 62: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

49

O projeto arquitetônico pode condicionar o uso da estrutura de aço de dois meios

diferentes, que, também, podem-se interpor. O primeiro é basicamente criado para

atender às necessidades específicas do projeto, cujos espaços propostos possuem uma

repetição dimensional e a estrutura passa a ser um instrumento para agilizar a

construção. O segundo está ligado ao estilo, a uma forma de expressão diferenciada a

partir da estrutura. Além de espaços com dimensões padronizados, o projeto possui

espaços com formas diferenciadas cuja estrutura é executada com elementos especiais.

A forma a ser adotada na edificação deve ser bem pensada, principalmente em relação

ao custo da construção. A indústria siderúrgica produz chapas e perfis com determinadas

dimensões, podendo fabricar peças especiais por encomenda, o que acarreta um custo

maior. Com isso, certa solução arquitetônica pode-se tornar inviável economicamente

com a estrutura de aço, mas esta pode ser ideal para outros casos.

A coordenação modular e o uso, conseqüentemente, do módulo base são os principais

instrumentos para a estruturação, organização e inter-relação entre as medidas do

projeto, a execução e a logística da obra, que permitirão a implementação da proposta na

prática.

Um projeto concebido a partir desses conceitos e dentro da lógica da produção

industrializada, ao ser executado, ou seja, fabricado e montado, minimiza perdas de

materiais e mão-de-obra, obtendo viabilidade econômico-financeira.

No caso da estrutura de aço, os produtos produzidos, como chapas e perfis, possuem

dimensões relacionadas com a medida de 600 mm. O comprimento padrão das chapas é

de 12000 mm, pois possibilita vários divisores inteiros (2000 mm, 3000 mm, 4000 mm,

6000 mm, etc), e facilita o transporte urbano e rodoviário das peças. Geralmente os

projetos são desenvolvidos sobre malhas orientadoras de 3000x3000mm. (SILVA e

SANTOS, 2004).

O uso da ferramenta Coordenação Modular e dos Sistemas de Tolerâncias e Ajustes não

deve ficar restrito somente aos elementos estruturais, mas deve englobar todos os

componentes construtivos presentes na arquitetura. A inter-relação entre os

componentes é permitida através do módulo base de 100 mm (1M), que, por sua vez, se

relaciona com a medida usada na estrutura metálica de 600 mm (6M).

É importante ressaltar que a utilização desses instrumentos no processo de projeto não

significa limitar a criação do arquiteto e tornar tudo igual. A função do arquiteto é

Page 63: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

ponderar os parâmetros de cada situação específica com originalidade. O desenho de um

projeto a partir de uma malha modulada básica é apenas um indutor, mas que pode ser

trabalhado de inúmeras maneiras (Figuras 37 e 38).

Figura 37 Simulação A - Descrição geométrica sobre bases modular pré-definida

Figura 38 Simulação B - Descrição geométrica sobre bases modular pré-definida

50

Page 64: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

É bom lembrar que o uso da modulação é espacial e não deve ser considerado apenas

em relação às dimensões da planta baixa.

A solução geométrica quadrada é a mais ligada à lógica da estrutura metálica, pois

possui uma melhor estabilização das cargas. No entanto, esta não pode ser considerada

a única possibilidade da arquitetura em aço.

Através do processo de calandragem, é possível obter formas curvas em todos os

sentidos do perfil, sendo aconselhável o uso de raios longos. Já os raios mais curtos são

de difícil execução, sendo feitos diretamente no corte das chapas (Figura 39).

Figura 39 Perfil calandrado

Exemplos das possibilidades formais, são os projetos do Edifício Comercial 30St. Mary

Axe, em Londres (Figuras 40, 41 e 42) e do Museu Guggenheim, em Bilbao, na Espanha

(Figura 43). Estes dois projetos utilizam uma padronização de peças metálicas retilíneas

para a composição de formas curvas.

51

Page 65: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 40 Edifício 30St. Mary Axe – Londres

Arquiteto Normam Foster

Figura 41 Construção do 30St. Mary Axe – Londres

Arquiteto Normam Foster

Figura 42 Detalhe da estrutura tubular retilínea - Edifício 30St. Mary Axe – Londres

52

Page 66: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 43 Estrutura do Museu Guggenheim de Bilbao - Espanha

Arquiteto Frank Gehry

Outro requisito fundamental para o uso da estrutura de aço é o controle dimensional.

Como os componentes são fabricados fora da obra e o processo executivo é feito por

montagem, é necessário um rigoroso dimensionamento, baseado na teoria de ajustes

que inclui os conceitos de folga e tolerância. As peças estruturais devem-se encaixar, e

esse controle deve-se iniciar no projeto arquitetônico, englobando todos os componentes

construtivos utilizados na obra.

O controle dimensional remete à necessidade do detalhamento do projeto arquitetônico

com o uso da estrutura metálica. As tolerâncias de fabricação e montagem da estrutura

são da ordem de milímetros e é necessário que o projeto e a construção possuam

acoplamentos perfeitos entre os diversos elementos, mesmo os que possuam formas

geométricas complexas.

Outro fator importante é que os demais projetos (elétrico, hidráulico, etc.) sejam feitos em

conjunto com a definição arquitetônica e estrutural, levando-se em consideração os

condicionantes específicos da estrutura de aço.

53

Page 67: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

54

Portanto, há a necessidade de uma abordagem sistêmica e planejada do projeto, além de

uma coordenação e um gerenciamento, realizados através de trabalho de parceria entre

os diversos profissionais.

A partir desses aspectos, o detalhamento passa a ser uma fase importante de projeto

para evitar erros de acoplamento que geram desperdício e retrabalho. É necessário que o

detalhe arquitetônico tenha uma precisão de milímetros e que seja desenvolvido a partir

do conceito dado pela engenharia simultânea para o projeto de produção.

A solução integrada (projeto arquitetônico, civil e complementares), a visão do todo arquitetônico e dos detalhes racionaliza o processo de projeto e construção, simplifica os processos de fabricação – montagem e acabamentos, torna os custos compatíveis com soluções propostas e contribui para atingir os objetivos propostos para a utilização do aço na construção. (SANTOS, 1984)

Entretanto, o que ocorre é que, muitas vezes, a decisão do uso da estrutura metálica é

tomada posteriormente à criação da arquitetura. Conseqüentemente, no desenvolvimento

do projeto estrutural, tenta adequar uma concepção feita para o concreto armado à

estrutura metálica.

Soluções propostas inicialmente para uma construção mais “artesanal” não podem ser

adaptadas ao produto industrializado, o que acaba por influenciar principalmente no seu

custo final.

Destacam-se dois procedimentos, dentre os apontados por Novaes (1998), que são muito

comuns e têm contribuído para a elaboração de projetos e especificações inadequados e

imprecisos. Estes são praticados em vários projetos arquitetônicos, não sendo restritos

aos que utilizam a estrutura de aço:

Decisões tomadas durante o desenvolvimento dos projetos, em geral, não

consideram as particularidades da produção das edificações, ou seja, os sistemas

construtivos a serem adotados;

Projetos são desenvolvidos de forma isolada, sem coordenação e sem o devido

relacionamento e comunicação entre seus autores, e entre os responsáveis pelos

demais projetos envolvidos.

Page 68: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

55

Dessa forma, o detalhamento do projeto, quando executado, não é suficiente devido à

falta de integração entre os projetistas e por não ser elaborado em atendimento aos

condicionantes dos processos construtivos utilizados.

O arquiteto deve conhecer as propriedades físicas do material e os parâmetros técnicos

para a utilização do aço, para poder tirar partido das peças, conexões e

contraventamentos na arquitetura. Essas questões devem ser consideradas desde a

definição arquitetônica, onde deve haver uma maior participação dos profissionais das

áreas co-relativas.

4.3 Parâmetros técnicos da estrutura de aço que interferem no projeto arquitetônico

A estrutura de aço possui algumas características e especificidades que devem ser

conhecidas desde o início do processo de criação do arquiteto, para que este tome

decisões corretas a saiba explorar melhor o material.

A alta resistência à compressão e à tração do aço proporciona a utilização de peças

estruturais esbeltas para a absorção das cargas. Sendo assim, toda a estrutura é

consideravelmente leve e deformável, se comparada a uma estrutura convencional de

concreto armado. Dessa maneira, a estabilização do sistema estrutural que utiliza o aço

deve prever algumas peças estruturais especiais.

É importante ressaltar que toda solução estrutural, seja em aço ou não, necessita de um

sistema de estabilização que garanta sua performance dentro do estabelecido no projeto.

A estrutura deve absorver as combinações de esforços verticais (pisos, coberturas, peso

próprio, etc), horizontais (vento) e não ter deformações excessivas que comprometam

seu uso. A rigidez tridimensional é necessária para que haja uma estabilidade completa,

principalmente em edificações de grande altura.

Quando se adota um esqueleto estrutural metálico, essa rigidez, a partir do

contraventamento da estrutura, pode ser obtida de várias formas:

• Utilização de elementos de vedação e de cobertura como elementos estruturais de

estabilização. No plano horizontal, podem ser utilizadas a cobertura e as lajes internas,

Page 69: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

como sistema de vigas-mistas. Nestas, vigas e lajes trabalham em conjunto através da

utilização de conectores. (Figura 44). No plano vertical, as vedações, externas ou

internas, inseridas no quadro estrutural, com rigidez suficiente para garantir sua forma

inicial, são denominadas paredes de cisalhamento. Nesses dois casos, as deformações

de cada elemento utilizado, estrutura e vedações, devem ser minuciosamente estudadas

e detalhadas para eliminar o surgimento de fissuras em dilatações diferenciadas.

Figura 44 Conector - Sistema de viga-mista

• Contraventamento através da utilização de peças metálicas, formando treliças

planas, que trabalham somente à tração ou à compressão. Esse princípio se baseia no

fato de o triângulo ser geometricamente indeformável. As dilatações térmicas também

devem ser consideradas e detalhadas, juntamente com a vedação, caso esta exista.

Além disso, essas paredes contraventadas possuem certas limitações quanto ao

posicionamento de aberturas que devem ser analisadas desde o projeto. O arquiteto

pode tirar partido dessas peças, principalmente no caso de estruturas aparentes, e

trabalhar também as aberturas em seu projeto (Figura 46).

56

Page 70: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 45 Representação esquemática -

contraventamento

Figura 46 Detalhes aberturas – Edif. Capri / BH

Arquiteto João Diniz

• A utilização de um núcleo central rígido, que são torres estruturadas em concreto

armado, geralmente combinadas com elementos como caixa de escadas e elevadores,

com rigidez suficiente para garantir o esquadro e o prumo das demais peças da estrutura.

Essa solução gera uma diferença na velocidade de execução de tecnologias diferentes, o

que pode comprometer o rendimento global da obra.

• O uso de sistemas de pórticos rígidos, ou seja, utilizando ligações totalmente

rígidas, com um maior consumo de solda e parafusos, e a inserção de placas metálicas

nas ligações. Essa solução proporciona um aumento no peso global da estrutura,

podendo influenciar no seu custo final (já que este está relacionado à quantidade de aço

usado na obra). Esse tipo de travamento da estrutura é mais indicado para edificações de

baixa altura, observando-se a necessidade de um detalhamento preciso de vedações e

estrutura para se evitar o aparecimento de fissuras.

• Outra maneira de se estabilizar a estrutura é utilizando cabos de aço ou estais,

para atirantar as peças estruturais, sendo estes, muitas vezes, trabalhados como

elementos arquitetônicos (Figuras 47 e 48).

57

Page 71: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 47 Detalhe Marquise – UNIMEP Lins / SP

Arquiteto José Carlos Bueno

Figura 48 Rodserv Star – São Paulo

Arquiteto Jurandyr Bueno Filho

Por ser um material leve e permitir várias conformações, a estrutura de aço é ideal para

vencer grandes vãos, através de sistemas estruturais de treliças planas e espaciais, que

podem ser trabalhadas de diversas formas pelo arquiteto, na concepção de seus projetos

(Figura 49).

Figura 49 Cobertura e detalhes da Catedral da Benção - Brasília

Arquiteto Renato Bittencourt

58

Page 72: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Além disso, para se obterem grandes vãos com a utilização de vigas, podem ser

utilizados os sistemas vierendeel ou vigas alveolares e casteladas. Estas são peças com

altura de alma significativa, executadas a partir de um único perfil e com a mesma massa

inicial de material, variando apenas o tipo de corte, castelar (em losangos) ou alveolar

(circulares). (Figuras 50 e 51)

Figura 50 Confecção da viga castelada

Figura 51 Exemplo de uso da viga castelada

Outros elementos importantes das estruturas de aços que podem influenciar no projeto

arquitetônico são os tipos de conexões e ligações das peças, as quais podem ser

aparafusadas ou soldadas.

As ligações entre os perfis de vigas, pilares, contraventamentos e treliças devem ser

trabalhadas no detalhamento arquitetônico, principalmente quando a estrutura estiver

aparente. Esses elementos presentes nas fachadas também fazem parte da arquitetura e

podem receber várias conformações provenientes do estudo em conjunto do arquiteto e

do engenheiro estrutural.

59

Page 73: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

A seguir, são apresentados alguns exemplos de ligações trabalhadas também na

composição arquitetônica:

Figura 52 Detalhe de ligação da mão francesa

Agência Bancária - Fortaleza

Na Figura 52, as mãos-francesas em

perfis soldados promovem a

estabilização do pilar. O perfil inclinado

é aparafusado em uma peça especial

que, por sua vez, é soldada ao pilar.

Figura 53 Ligação - pilar e contraventamento

Tribunal de contas da União – Maceió

No caso da Figura 53, o

contraventamento do quadro estrutural

foi feito por uma chapa plana, a qual é

fixada ao pilar por um detalhe executado

em pequenas chapas soldadas.

60

Page 74: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 54 Ligação em pórtico e contraventamento

Centro Empresarial – Rio de Janeiro

A estrutura apresentada na Figura 54 é

formada por pórticos em perfis soldados

e o contraventamento é feito por barras

mais finas, do tipo vergalhão, com uma

pequena peça de ligação central.

Figura 55 Ligação do contraventamento Local não

identificado

Na Figura 55, o contraventamento dos

quadros estruturais é feito através de

perfis tubulares que possuem peças de

ligações especiais para a fixação com

as vigas e pilares e no cruzamento

central.

61

Page 75: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 56 Ligação - pilares, viga e contraventamento

Instituição educacional – São Paulo

Na Figura 56, os perfis planos e um

tubular central formam um desenho

diferenciado de pilares e peças de

contraventamento, que foram

executados especialmente para esse

projeto.

Figura 57 Detalhe da estrutura Ponte - Barcelona

A Figura 57 apresenta uma peça

estrutural feita com chapas e perfis

tubulares, formando um pilar, e a ligação

aparafusada de sua continuação.

Figura 58 Apoio das vigas no pilar Local não identificado

Na Figura 58, os perfis inclinados das

vigas se apóiam juntamente no centro

do pilar circular de concreto.

62

Page 76: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 59 Ligação da estrutura com o bloco de fundação

Local não identificado

A Figura 59 apresenta um tipo de

ligação rotulada dos perfis do pilar e do

contraventamento com a peça de

ligação do bloco de fundação.

Figura 60 Ligação da cobertura com os pilares

Jornal O Globo – Rio de Janeiro

A Figura 60 apresenta uma ligação para

apoio da cobertura sobre os pilares em

perfis tubulares.

O detalhamento arquitetônico não deve ser feito apenas em relação às ligações da

estrutura, mas também em relação às interfaces desta com outros elementos da

construção, principalmente, as vedações.

63

Page 77: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

64

As vedações, sejam elas em painéis e placas pré-moldadas, alvenaria do tipo cortina e

alvenaria convencional, são compostas por materiais com características distintas da

estrutura de aço e, portanto, possuem dilatações diferenciadas.

Com isso, devem ser previstas juntas de movimentação para a absorção da dilatação,

que estão presentes principalmente nas fachadas das edificações, incluindo os

revestimentos externos. Dessa forma, no estudo da composição das fachadas, é

necessário prever esse condicionante em seu desenho.

As juntas são executadas, em sua maioria, com cantoneiras metálicas auxiliares, para

fixação de painéis, placas de EPS (Poliestireno Expandido) e espaçadores. No caso de

juntas externas, essas devem ser protegidas com selantes resistentes a intempéries.

A seguir, são apresentados dois modelos para execução dessas juntas de dilatação em

tipos de vedações distintas. Estas podem ser feitas de várias maneiras, mas o importante

é utilizar materiais que permitam e absorvam a movimentação diferenciada de cada

elemento construtivo (Figuras 61 e 62).

Page 78: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 61 Detalhes - vedação em painel pré-moldado alinhado por fora da estrutura

65

Page 79: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 62 Detalhes - vedação em alvenaria de blocos desvinculada com alinhamento pelo eixo do perfil

66

Page 80: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Quando a alvenaria está vinculada à estrutura, inserida no quadro estrutural e servindo

como contraventamento, esta deve ser executada em blocos moldados in loco, com a

utilização de telas eletrossoldadas ou “ferro cabelo” (vergalhões metálicos ou estribos

soldados na estrutura) para a vinculação ao perfil metálico (Figura 63).

Figura 63 Detalhes - vedação em alvenaria de blocos vinculada à estrutura

com alinhamento pelo eixo do perfil

No entanto, esse procedimento é criticado, pois utiliza duas tecnologias distintas,

podendo prejudicar o cronograma da obra e diminuindo uma das vantagens do aço, que

é a rapidez na execução.

O desenvolvimento desses detalhes é de suma importância para a arquitetura em aço,

pois permite uma melhor qualidade na sua execução, mantendo a estanqueidade da

edificação e evitando o surgimento de fissuras e outras patologias.

67

Page 81: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

68

⇒ Corrosão;

4.4 Prevenção de patologias da estrutura de aço no projeto arquitetônico

As patologias não surgem devido a fatores isolados; elas têm origem a partir de um

conjunto de variáveis que podem ser classificadas de acordo com o processo patológico,

com os sintomas, com o período do ciclo de vida da edificação em que ocorreram, e com

seus agentes causadores.

Com o desenvolvimento da tecnologia da construção em aço, surge a preocupação com

as patologias oriundas desse tipo de material e com as medidas de prevenção que

devem ser tomadas.

Segundo Pravia e Betinelli (2003), as patologias mais comuns em estruturas de aço são:

Deformações excessivas;

Flambagem local ou global;

Fraturas e propagação das mesmas.

Os profissionais responsáveis pela construção devem trabalhar a partir de uma visão

preventiva e não corretiva. Logo, a partir do conhecimento das patologias de ocorrências

prováveis, é necessário buscar soluções para a sua prevenção.

Podemos, também, inserir, junto às medidas tomadas para se evitar as patologias

citadas, a prevenção e a proteção da estrutura contra altas temperaturas, no caso de

incêndio.

Como foi apresentado no início deste capítulo, é na fase de projeto que são tomadas as

decisões de maior repercussão nos custos, velocidade e qualidade do empreendimento.

Essa etapa também está ligada à determinação da durabilidade da construção, a partir da

especificação dos materiais e componentes e de seus detalhes executivos.

Além disso, o planejamento prévio, através do projeto, define as diretrizes de uma

manutenção estratégica, sendo importante considerar o seu custo no projeto e na vida útil

da edificação.

Page 82: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

69

Dessa forma, entre as patologias citadas, consideraram-se, para este trabalho, as que

mais interferem na concepção e no projeto do arquiteto: a corrosão e a proteção contra

incêndio.

Como a estrutura de aço possui essas particularidades, é necessário que o arquiteto as

conheça e saiba como proceder, pois o projeto deve também prever a vida útil da

construção. Assim, na fase de definição do projeto, todos os detalhes e especificações

devem ser considerados para a prevenção das patologias.

4.4.1 A Corrosão

O homem utiliza energia para transformar materiais presentes na natureza em produtos

industrializados. Já a natureza, através das ações do intemperismo, tem a tendência de

fazer com que eles retornem ao estado original.

No caso dos metais, que são encontrados na natureza na forma de minério (óxidos e

sais) e necessitam de grande quantidade de energia para sua obtenção, a corrosão é o

processo inverso, surgido a partir da ação de determinados agentes naturais.

A corrosão (oxidação) é um processo espontâneo e contínuo, podendo ser entendido

como inverso ao da metalurgia (redução). O oxigênio, retirado do minério de ferro durante

o processo de produção do ferro e do aço, tende a voltar a se combinar novamente com

estes, retornando à forma de óxido de ferro.

A corrosão atmosférica dos metais pode ser de origem química ou eletrolítica. A primeira

ocorre quando uma superfície metálica entra em contato com um tipo de gás poluente,

havendo uma reação entre os dois, com a formação de um sal ou de um óxido.

Esse óxido formará uma camada sobre a superfície do metal que pode ser permeável à

difusão de oxigênio. Nessa camada, ocorre, então, a difusão de íons do metal e do

oxigênio, e, mesmo se for removida por algum processo, como abrasão, por exemplo, a

oxidação permanecerá e a espessura do metal diminuirá progressivamente.

Já a corrosão eletrolítica, o tipo mais comum, envolve tanto reações químicas, quanto

fluxo de elétrons, incorporando três constituintes essenciais:

Page 83: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

[...] o anodo, o catodo e uma solução eletricamente condutora. O anodo (-) é o local onde o metal é corroído, a solução eletricamente condutora é o meio corrosivo, e o catodo (+) é a parte da mesma superfície metálica (ou outro metal em contato com ela) que constitui o outro eletrodo da cela, e não é consumido pela corrosão. (PANNONI,2002)

Portanto, o processo de corrosão eletrolítica consiste de elétrons fluindo dentro do metal

e íons fluindo dentro do eletrólito superficial. Este eletrólito superficial deve conter

simultaneamente água e oxigênio. Na ausência de um desses elementos, não haverá

corrosão.

A velocidade do desenvolvimento do processo corrosivo depende da condutividade do

meio em que o metal se encontra. Esta será menor em meios pouco condutores, como a

água pura, ou será maior em meios condutores, como a água do mar e soluções ácidas.

É importante ressaltar que a corrosão acontece no anodo, sendo o catodo não atingido

pelo ataque. No entanto, com o tempo, as áreas catódicas se tornam anódicas, e toda a

superfície acaba-se corroendo de modo uniforme (Figura 64).

Figura 64 Processo da corrosão

A Corrosão Galvânica é uma forma bastante comum de corrosão eletrolítica. Essa

acontece quando dois metais diferentes entram em contato e estão em um mesmo meio

condutor, o que forma uma “pilha”. Um dos metais acaba por ceder elétrons ao outro, ou

seja, se corrói (anodo), enquanto o que recebe os elétrons vai se corroendo mais

70

Page 84: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

lentamente (catodo). Dessa forma, considera-se que o metal que foi menos corroído foi

“protegido” pelo que se corroeu mais rapidamente.

Figura 65 Corrosão Galvânica

Assim, é importante conhecer o potencial de corrosão galvânica de cada metal para

especificações de projeto. Através de Tabela de Série Galvânica, pode-se analisar o

comportamento de um metal na presença de outro. Os metais situados no topo da tabela,

quando utilizados em contato com os metais situados na base da mesma, sofrerão uma

corrosão mais acelerada. Já estes últimos serão “protegidos”, ou seja, o processo de

corrosão se iniciará mais lentamente (Figura 66).

71

Page 85: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 66 Tabela de Série Galvânica

A corrosão pode ser prevenida através de medidas a serem tomadas pelos profissionais

responsáveis pelo projeto e pela execução da obra. Existem várias formas de prevenção,

entre elas, o uso de aços especiais, pinturas e detalhamentos, que devem ser avaliadas

em relação ao custo e ao tipo de projeto.

O meio mais eficiente e barato de evitar a corrosão é projetar corretamente a obra, não favorecendo o ataque corrosivo.[...] Simplifique as formas! Quanto mais simples a forma dada à construção, maiores as chances de que uma boa proteção frente à corrosão seja alcançada. (PANNONI, 2002)

Alguns detalhes de projetos devem ser cuidadosamente estudados para evitar soluções

inadequadas que propiciam a corrosão. Destacam-se, aqui, alguns detalhes que podem

ser considerados já no projeto arquitetônico:

• Prever a estrutura com furos de drenagem, em quantidades e tamanhos suficientes,

para assegurar o escoamento da água;

• Os perfis devem ser dispostos de modo que a umidade não fique retida e, se ocorrer,

deve-se criar condições que permitem o fluxo de ar, facilitando a secagem;

72

Page 86: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

• Prever uma forma de escôo da água, principalmente na junção com o piso;

Figura 67 Detalhes da estrutura de aço para prevenção da corrosão

73

Page 87: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 68 Detalhes da estrutura de aço para prevenção da corrosão

• Cuidar para que os acessos sejam facilitados e os espaços, os mais amplos

possíveis, para propiciar adequada manutenção;

• Evitar juntas sobrepostas de metais diferentes, prevenindo contra a corrosão

galvânica. Pode-se evitá-la, também, com a colocação de um isolante elétrico, não

poroso, entre os dois metais;

• Evitar que peças fiquem semi-enterradas ou semi-submersas.

Na utilização de aços com maior resistência à corrosão, no caso, os aços patináveis7,

algumas precauções e limitações devem ser observadas:

• Evitar contato com superfícies que absorvam água;

• Evitar condições de umedecimento prolongadas. Sob condições de contínuo

molhamento, determinadas por secagens insatisfatórias, a formação da pátina fica

prejudicada;

• Evitar utilizar esse tipo de aço imerso na água, enterrados no solo e cobertos por

vegetação sem proteção;

• Evitar contato com metais diferentes, prevenindo contra corrosão galvânica, assim

como executar a solda com composição química compatível com o aço patinável;

74

7 Os aços inoxidáveis também possuem uma alta resistência à corrosão, porém seu custo é bastante alto

tornando-o inviável para o uso nas estruturas das edificações.

Page 88: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

75

• Em ambientes agressivos, como industriais e marinhos, o aço patinável deve receber

uma proteção extra.

Outro método para a proteção contra corrosão é a pintura, que constitui o principal meio

de proteção das estruturas metálicas e um dos mais utilizados.

É sempre importante lembrar que, antes da aplicação dos diversos tipos de tintas

protetoras, a superfície da peça deve ser limpa e preparada.

Na fabricação do aço a elevadas temperaturas, é formada uma camada de óxidos em

sua superfície chamada carepa. Esta, diferentemente do que se imagina, não protege o

aço da corrosão, pois possui um coeficiente de dilatação diferente do aço, podendo gerar

fissuras que facilitam a entrada de eletrólitos. Portanto, ela precisa ser removida antes da

pintura, pois, uma vez fissurada, reterá os constituintes necessários ao processo

corrosivo.

A limpeza do aço pode ser manual ou mecânica. Esta última, além da limpeza, confere

rugosidade à superfície, facilitando a fixação do revestimento.

As tintas são suspensões homogêneas de partículas sólidas (pigmentos), dispersas em

um líquido (solvente e resina), em presença de componentes em menores proporções,

chamados de aditivos. Os pigmentos conferem cor, opacidade, coesão e inibição do

processo corrosivo, e também a consistência, a dureza e a resistência da película. Os

solventes têm a finalidade de dissolver a resina e facilitar a aplicação da tinta.

As tintas são divididas em tintas de fundo, intermediárias e de acabamento. As tintas de

fundo (primers) devem ser aplicadas sobre a superfície metálica limpa e possuem a

finalidade de promover a aderência do metal ao substrato. As tintas intermediárias

auxiliam na proteção, fornecendo espessura ao sistema de pintura empregado (proteção

por barreira). Quanto mais espessa a camada, maior a vida útil do revestimento. Já as

tintas de acabamento têm a função de proteger todo o sistema contra a ação do meio

ambiente e de fornecer a cor e o brilho requeridos.

Essas camadas de tintas devem ser compatíveis entre si. Sugere-se que sejam

preferencialmente de um mesmo fabricante, o que minimizará a ocorrência de defeitos,

como o descolamento.

Page 89: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

76

Existem outras maneiras para prevenir a corrosão nas estruturas metálicas, entre elas, a

criação de uma barreira entre o metal e o meio corrosivo. Esta barreira pode ser feita com

o revestimento das peças estruturais com materiais não metálicos e não condutores,

como cerâmica, concreto e vidro, borracha, plásticos de PVC, betumes, asfalto, etc. Além

desses, pode-se revestir a peça com outro metal mais resistente à corrosão.

A galvanização ou zincagem também constitui um processo de proteção à corrosão por

recobrimento de uma camada de zinco metálico, que funciona como um revestimento de

grande resistência devido às propriedades de proteção catódica do zinco. A duração

desta proteção depende da espessura da camada de zinco depositada, que deve ser

contínua e uniforme, e da agressividade do ambiente onde for usado, que não deve estar

sujeito a substâncias ácidas.

Atualmente, a estrutura de aço galvanizado está sendo muito utilizada no sistema steel-

frame para a construção de unidades habitacionais.

4.4.2 Proteção contra altas temperaturas

O objetivo principal da segurança contra incêndio é minimizar danos e proteger a vida e o

patrimônio. A busca pela segurança total cresce juntamente com o custo para obtê-la.

Dessa maneira, a escolha do sistema adequado de segurança deve levar em

consideração os riscos de início de incêndio, de sua propagação e de suas

conseqüências.

Segundo Vargas e Silva (2003), uma concepção arquitetônica racional e balanceada,

fundamentada em algumas variáveis simples previstas nas normas de segurança contra

incêndio, pode resultar em soluções mais econômicas e que respeitam ao mesmo tempo

as exigências de proteção ao fogo.

Em relação às estruturas, incluindo aqui qualquer tipo de material usado, quando

atingidas por altas temperaturas, suas características químicas e físicas são alteradas,

reduzindo sua resistência e rigidez. Fala-se muito que a estrutura de concreto tem uma

resistência maior que a estrutura de aço.

No entanto, o comportamento desses dois materiais é semelhante em altas temperaturas

(Gráfico 03). O que acontece é que as dimensões das peças estruturais executadas com

Page 90: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

esses dois materiais são diferentes. Essa diferença, ou seja, o maior “fator de

massividade” do concreto faz com que ele se aqueça mais lentamente.

Gráfico 03 Redução da resistência em função da temperatura

O objetivo dos sistemas de proteção é impedir o colapso estrutural, que ocorre após uma

deformação excessiva, ou ampliar o tempo de resistência a altas temperaturas das

estruturas para permitir a completa evacuação das dependências da edificação.

No caso das estruturas de aço, por possuir peças mais esbeltas, a alta temperatura

atinge o centro dos perfis mais rapidamente. Quanto maior for o perímetro do perfil, maior

será o seu aquecimento, e este será menor se o perfil possuir uma maior espessura.

Portanto, os sistemas de proteção devem evitar que as altas temperaturas atinjam a

estrutura interna dos perfis, utilizando materiais de proteção térmica.

Os tipos de materiais mais empregados são:

• Argamassa projetada – geralmente constituída de gesso ou vermiculita, cimento e

resinas acrílicas, formando uma massa fluída que é aplicada por jateamento diretamente

na superfície da peça de aço;

• Fibra projetada – constituída por agregados, fibras minerais e aglomerantes que

também são jateados diretamente nas peças estruturais;

• Mantas – podem ser feitas em fibra cerâmica ou lã de rocha. Sua aplicação é feita

pelo envolvimento do contorno das peças pela manta com fixação por meio de pinos

soldados, ou pela criação de uma caixa ao redor da peça, com auxílio de uma tela para

fixação da manta; 77

Page 91: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

• Placas – são elementos pré-fabricados, compostos por materiais fibrosos, vermiculita

ou gesso, fixados na estrutura, proporcionando diversas possibilidades de acabamentos;

• Pintura Intumescente – constituída por polímeros com pigmentos intumescentes que

reagem na presença de fogo, aumentando seu volume. Esses produtos são degradáveis

na presença de água, necessitando de uma pintura de base e de acabamento

compatíveis, quando utilizados em peças estruturais sujeitas à ação de intemperismo.

Como o seu custo é maior, a sua utilização deve ser bem planejada.

Além disso, a proteção contra altas temperaturas pode ser feita por meio de outros

elementos construtivos. A integração dos perfis estruturais com elementos da alvenaria,

forros, ou outros elementos arquitetônicos cria uma diminuição do perímetro exposto dos

perfis, proporcionando uma economia na aplicação de sistemas de proteção contra

incêndio. As possibilidades de arranjo são inúmeras e depende da concepção do projeto

e do tipo de detalhe que o arquiteto preferir adotar (Figuras 69 e 70).

Figura 69 Interfaces com alvenaria de pilares externos8

78

8 Desenhos esquemáticos que não incluem os detalhes das juntas de dilatação necessárias.

Page 92: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 70 Interface com alvenaria de pilares internos9

A proteção contra altas temperaturas também pode ser obtida com a utilização de

estruturas mistas, principalmente pilares, pois o concreto forma uma barreira para o perfil

metálico.

Apesar da necessidade de se proteger a estrutura de aço em caso de incêndio, o uso de

perfis externos aparentes nas fachadas não deve ser descartado. Muitos arquitetos

optam por utilizar a estrutura como parte da expressão arquitetônica, e a proteção contra

altas temperaturas não se caracteriza como um empecilho.

Nesses casos, na ocorrência de incêndio, a estrutura será aquecida apenas pelas

chamas que emanam na janela ou de outras aberturas da fachada do edifício.

Segundo Vargas e Silva (2003), é possível que os elementos estruturais externos

possam dispensar a proteção térmica, mantendo a necessária segurança contra incêndio,

se eles forem posicionados de forma adequada em relação às aberturas das fachadas.

Além disso, a utilização da pintura intumescente também pode ser uma solução para o

caso de estruturas externas aparentes.

Os conhecimentos teóricos e técnicos devem servir de base para o arquiteto planejar,

conceber e desenvolver o seu projeto, prevenindo as patologias. No próximo capítulo,

são apresentados estudos de casos para levantar outras questões importantes e

identificar a utilização da estrutura de aço em projetos habitacionais de interesse social.

79

9 Desenhos esquemáticos que não incluem os detalhes das juntas de dilatação necessárias.

Page 93: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

80

5. O USO DA ESTRUTURA DE AÇO EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL

O déficit habitacional brasileiro foi estimado em 7,903 milhões de novas moradias em

2005, sendo que a região Sudeste lidera a demanda nacional. As carências habitacionais

em Minas Gerais correspondem a 8,6% do total brasileiro, estimadas em 682 mil, das

quais 593 mil nas áreas urbanas. (Fundação João Pinheiro, 2007).

Dessa maneira, o governo e o setor da construção civil buscam alternativas para o

atendimento dessa demanda com processos construtivos racionalizados, no intuito de

obter uma maior economia, aplicabilidade, rapidez e qualidade.

Com isso, surgiram algumas experiências que incorporaram inovações tecnológicas da

indústria da construção civil, tais como, estrutura metálica e a utilização de sistemas

construtivos industrializados.

O uso da estrutura de aço, juntamente com o uso de outros componentes de construção

a seco, possibilita a industrialização dos processos construtivos, diminuindo as perdas de

materiais e o re-trabalho. O tempo gasto para a execução desse tipo de construção

também é menor, o que influencia em outros custos, como, por exemplo, da mão-de-

obra. No entanto, esta deve ser especializada.

Além disso, por se tratar de uma estrutura mais leve que a convencional em concreto, o

aço propicia uma diminuição de custos nas fundações das edificações. Com a criação de

espaços flexíveis e com a execução feita por montagem, várias ampliações e

reformulações são permitidas também através de um processo industrializado, sem

descaracterizar as edificações.

Outro fator de interesse às entidades envolvidas na construção habitacional é que,

havendo necessidade de demolição as peças estruturais podem ser aproveitadas ou

recicladas.

Page 94: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

81

5.1 Os Sistemas Construtivos desenvolvidos pelas empresas do setor

O uso da estrutura de aço tornou-se uma alternativa para a habitação social e se

constituiu em realidade, sendo utilizada em alguns empreendimentos da COHAB

(Companhia Habitacional) e de outros órgãos ligados à habitação no país.

As principais empresas siderúrgicas brasileiras desenvolveram projetos habitacionais

com métodos construtivos industrializados, que em sua maioria são vendidas em kits.

Segundo Viotto e Mattos (2001), com o aperfeiçoamento dos processos e o aumento da

demanda, esses projetos podem alcançar um custo em torno 8% menor, em relação a

um projeto convencional, sendo que no passado esse custo era 30% superior.

Um exemplo a ser citado é o da USIMINAS que criou o Usiteto. Inicialmente o projeto

tratava-se de edifícios de quatro pavimentos, incluindo o térreo, com área útil de 42,54m²

(Figura 71). A partir de uma necessidade da CDHU (Companhia de Desenvolvimento

Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) o projeto foi adaptado para uma

edificação de cinco e sete pavimentos, com unidades com área total de 48m².

Atualmente o edifício que está sendo mais comercializado é o de sete pavimentos, que

deve ser instalado em terrenos com declive para que dois pavimentos de situem no

subsolo, um no térreo e quatro superiores, sem a necessidade do uso de elevadores.10

Segundo o fabricante, esses edifícios podem ser executados com duas soluções: semi-

industrializada, que utiliza perfis dobrados, lajes maciças e alvenaria cerâmica para as

vedações, ou industrializada, com perfis soldados, lajes tipo steel-deck, vedações

internas com painéis em gesso acartonado e externas em painéis de concreto celular. A

construção da solução semi-industrializada possui um tempo total de 116 dias e a

industrializada de 100dias.

10 Em Belo Horizonte, o Código de Obras vigente permite apenas a construção de edifício de no máximo 5

pavimentos em a instalação de elevadores.

Page 95: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 71 Edifício Usiteto – projeto inicial

Além disso, o Usiteto também possui um projeto para habitações unifamiliares. O projeto

da casa faz parte do mesmo programa destinado para construção de habitações

populares em estrutura metálica e que utiliza uma tecnologia desenvolvida pela própria

empresa, com o objetivo de proporcionar à construção civil novas perspectivas para esse

setor.

De acordo com a Usiminas, esse projeto possibilita, ainda, ao futuro morador construir a

sua própria casa (autoconstrução) após ser instruído de como utilizar um dos processos

construtivos: um semi-industrializado (fechamento em tijolo cerâmico) e outro

industrializado (fechamento com painéis).

A casa é composta por engradamento e por colunas em perfis de aço resistentes à

corrosão, com partes soldadas executadas na fábrica, ficando a obra somente com a

montagem aparafusada. As colunas servem de guias para o alinhamento das vedações,

que, como citado, podem ser executadas em vários tipos, como alvenaria de blocos

cerâmicos, blocos de concreto, blocos e painéis de concreto celular, ou painéis tipo dry

wall. (Figuras 72, 73 e 74)

A casa Usiteto possui dimensões de 36, 42 e 45m², sendo que a primeira é destinada a

programas de órgãos públicos ou consumidores diretos que não necessitem de

82

Page 96: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

financiamento, pois a Caixa Econômica Federal não financia habitações com áreas

menores que 42 m².

O kit da casa Usiteto é fornecido pela empresa com todo engradamento metálico, exceto

esquadrias, mas incluindo a estrutura do telhado e projetos hidráulico e elétrico.

Considerando a casa de 36 m², a montagem dessa estrutura pode ser feita entre uma e

quatro horas, dependendo do tipo de mão de obra.

Esta casa pode ser executada em módulos, possuindo duas fases de ampliações. O

módulo base possui apenas um quarto/sala, banheiro e cozinha, sendo as duas fases

seguintes acrescidas de um quarto em cada uma delas.

Figura 72 Casa Usiteto acabada

83

Page 97: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 73 Estrutura Casa Usiteto

Figura 74 Casa Usiteto - detalhe construtivo

84

Page 98: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Em parceria com a iniciativa privada, órgãos públicos e prefeituras, já foram construídos

cerca de 105 edifícios, aproximadamente 1.702 casas e mais de 3.830 engradamentos

metálicos do projeto Usiteto em várias cidades do país. (Revista Construção Metálica,

2003).

Não somente a Usiminas, mas também outras usinas siderúrgicas possuem sistemas

semelhantes. A COSIPA, que atualmente é uma empresa do grupo USIMINAS, possui o

projeto de edifícios de quatro ou cinco pavimentos, sem elevador e com quatro

apartamentos por andar (Figura 75). Cada apartamento possui dois dormitórios, cozinha,

banheiro, lavatório, sala e área de serviço distribuídos numa área total de 48,90m², sendo

40,39m² de área útil. Existe também o projeto de casas, que foram desenvolvidas,

inicialmente, para atender ao padrão da CDHU.

Assim como no sistema Usiteto, no sistema Cosipa existe também a possibilidade da

execução dessas edificações através de mutirões, como no sistema convencional. No

entanto, como a construção é industrializada, o responsável pela execução deve entregar

à comunidade a estrutura, as vedações externas, instalações principais e telhados,

ficando a cargo do proprietário a execução dos acabamentos e o restante das

instalações.

Figura 75 Obra do CDHU - Projeto COSIPA

85

Page 99: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

86

A GERDAU também possui um sistema de construção de casas denominado Casa Fácil

Gerdau, com áreas de 48, 36 e 24m². A residência fica totalmente pronta em até 21 dias,

com telhados, paredes e acabamentos, uma economia de tempo de 35% em comparação

com os 32 dias gastos no sistema convencional.

A CSN lançou um sistema modular de construção que utiliza chapas de aço galvanizado,

dobradas a frio na forma de perfis estruturais. Painéis modulares em aço são utilizados

para a montagem das paredes, enquanto perfis em "U" simples são usados na

composição e ligação entre os módulos.

Na estrutura da cobertura são utilizados perfis estruturais tipo "U" enrijecidos e perfis

cartola, que oferecem mais segurança e leveza à estrutura, de acordo com a CSN. O aço

possui revestimento de zinco para proteção contra corrosão e está em conformidade com

as normas técnicas da ABNT e o desempenho térmico-acústico foi avaliado em testes

realizados pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).

O uso do aço na habitação de interesse social recebeu um impulso a partir da

possibilidade de financiamento, que não existia há alguns anos. A Caixa Econômica

Federal, em 2002, criou o manual Edificações Habitacionais Convencionais Estruturadas

em Aço: requisitos e critérios mínimos para financiamento pela Caixa. Este documento

tem por finalidade estabelecer os requisitos e critérios mínimos aplicados em edifícios e

casas habitacionais, com utilização de estruturas de aço como pilar, viga, laje e estrutura

de cobertura, nos empreendimentos objeto de financiamento.

Desta forma surgiram várias experiências no país, inclusive na região metropolitana de

Belo Horizonte, que serão apresentadas a seguir.

5.2 Estudos de casos na grande Belo Horizonte

Como estudos de casos, foram realizadas vistorias em quatro empreendimentos

habitacionais estruturados em aço realizados pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte,

no intuito de conhecê-los e de atestar as condições atuais dos mesmos para uma análise

do uso da estrutura de aço nesse tipo de edificação.

Além disso, serão apresentados neste estudo alguns aspectos apontados na dissertação

de mestrado realizada pela arquiteta Mariana Hermsdorrf, pela Universidade Federal de

Page 100: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Ouro Preto em 2005, que realizou vistoria e uma avaliação de pós-ocupação em um

Conjunto Habitacional da Cidade de Nova Lima, também estruturado em aço.

5.2.1 Conjunto Habitacional Pedro II - Vila São José

O Conjunto Habitacional Pedro II foi construído, no ano de 2000, para o reassentamento

de famílias da Vila São José, região noroeste de Belo Horizonte, que foram atingidas pela

ampliação do sistema viário local (Figura 76). Em 1999, o Estudo de Impacto Ambiental

realizado para as obras viárias, sugeriu o uso da estrutura metálica como uma

possibilidade para o sistema construtivo.

Figura 76 Localização do Conjunto Pedro II

87

Page 101: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

O projeto desenvolvido para o conjunto não corresponde a nenhum modelo próprio de

empresas siderúrgicas. As unidades habitacionais possuem em média 41,61m² de área.

Foram previstas unidades habitacionais de 2 quartos, com a possibilidade de rearranjos

internos, viabilizando unidades de 1 e 3 quartos (Figura 77). Cada bloco, com planta

baixa em “H”, possui 4 pavimentos com 16 unidades habitacionais no total.

Figura 77 Planta Baixa – Conjunto Pedro II (incluindo variações de 1 e 3 quartos)

O projeto é padrão para todo o conjunto, com perfis padronizados, e a estrutura é travada

através da laje de piso e da alvenaria. Em vistoria realizada no mês de outubro de 2007,

constatou-se que o conjunto encontra-se em boas condições, sem patologias graves

aparentes, e não houve nenhuma intervenção desde a finalização da obra. (Figuras 78,

79, 80 e 81)

88

Page 102: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 78 Conjunto Pedro II – vista de um dos blocos

(sem patologias aparentes)

Figura 79 Conjunto Pedro II – vista lateral

(não há peça de contraventamento no bloco de apartamentos)

89

Page 103: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 80 Conjunto Pedro II – escada interna de um dos blocos

(pequeno desgaste da pintura do corrimão)

Figura 81 Conjunto Pedro II – vigamento interno do apartamento

(não há presença de trincas)

90

Page 104: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

5.2.2 Conjuntos Habitacionais Alvorada e Resplendor - Vila Senhor dos Passos

Os conjuntos habitacionais Alvorada e Resplendor foram construídos dentro da Vila

Senhor dos Passos, entre os anos de 1997 e 1998, para reassentamento de famílias da

própria vila, removidas por obras ou por residirem em áreas de risco. (Figura 82)

Figura 82 Localização – Conjuntos Alvorada e Resplendor

Por se localizar num terreno mais estreito, a tipologia do Conjunto Alvorada possui dois

apartamentos por andar, com dois quartos, banheiro, cozinha e área de serviço. Já o

Conjunto Resplendor, possui a tipologia Usiteto, com quatro apartamentos por pavimento.

(Figuras 83 e 84)

91

Page 105: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 83 Planta Baixa – Conjuntos Alvorada

Planta Pavimento TipoCONJUNTO RESPLENDOR

Figura 84 Planta Baixa – Conjuntos Resplendor

92

Page 106: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Ambos os conjuntos, segundo o engenheiro de Prefeitura Municipal de Belo Horizonte,

passaram por reformas recentemente, pois havia muitos problemas de trincas e

infiltrações, principalmente no encontro da estrutura com a alvenaria. Essas patologias

eram motivos de várias reclamações dos moradores.

Como a vistoria foi realizada após essas reformas, não foi possível constatar esses

problemas, e os conjuntos, atualmente, não apresentam problemas construtivos

aparentes (Figuras 85, 86, 87, 88 e 89).11

Figura 85 Conjunto Alvorada – vista externa

(sem patologias construtivas aparentes)

93

11 Como esses conjuntos se encontram dentro da área da vila Senhor dos Passos, devido a questões de

segurança, não foi possível fotografá-lo internamente, e até mesmo as fotos externas foram restritas.

Page 107: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 86 Conjunto Alvorada – detalhe da estrutura

Figura 87 Conjunto Resplendor – vista externa

(contraventamento feito por peças metálicas)

94

Page 108: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 88 Conjunto Resplendor – detalhe da estrutura

Figura 89 Conjunto Resplendor – vista da caixa de escada

95

Page 109: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

5.2.3 Conjunto Habitacional Zilah Spósito I

O Conjunto Habitacional Zilah Spósito I está localizado na região norte de Belo Horizonte,

no bairro Jaqueline, e foi executado entre os anos de 1998 e 1999. Diferente dos casos

anteriores, esse conjunto é composto por 100 unidades unifamiliares, construídas com

perfis metálicos e blocos de concreto. (Figura 90)

Figura 90 Localização Conjunto Zilah Spósito I

O projeto foi desenvolvido especialmente para o empreendimento e utiliza perfis de aço

patinável. As casas possuem ente 56,48 e 77,20m² e a sua construção foi desmembrada

em duas etapas. A primeira, executada pela URBEL (Companhia Urbanizadora de Belo

Horizonte) possuía no primeiro pavimento uma sala, cozinha, banheiro, pequena área

serviços, no segundo pavimento varanda (nas casas intermediárias), alvenaria externa,

parte da alvenaria do banheiro, caixa d’água e cobertura.

96

Page 110: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

A segunda etapa, que deveria ser realizada pelos proprietários era a complementação

das alvenarias internas do segundo pavimento (dois quartos, banheiro), instalação

hidráulica e porta do banheiro, guarda corpo da escada e acabamentos. (Figura 91)

Planta 1 Pavimento o-

CONJUNTO ZILAH SPÓSITO I

Planta 2 Pavimento o-

CONJUNTO ZILAH SPÓSITO I

Figura 91 Conjunto Zilah Spósito I – plantas do 1º e 2º pavimentos

97

Page 111: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 92 Conjunto Zilah Spósito I – foto tirada na época da obra

Figura 93 Conjunto Zilah Spósito I – foto tirada na época da obra

Em vistoria realizada no mês de outubro de 2007, constatou-se a completa

descaracterização do conjunto. A tipologia unifamiliar favorece as ações dos próprios

moradores, que acrescentam cômodos e pavimentos sem nenhum critério técnico.

(Figuras 94, 95, 96 e 97)

Além disso, a principal patologia encontrada foram infiltrações e manchas na pintura,

causadas principalmente pela inexistência de calhas sob do telhado, que não possui 98

Page 112: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

beiral, e descarrega a água diretamente na laje. Analisando o projeto arquitetônico,

constatou-se que esta calha estava prevista, não foi possível confirmar se ela foi

executada ou retirada pelos próprios moradores após a obra. (Figura 96)

Figura 94 Conjunto Zilah Spósito I – descaracterização do conjunto

Figura 95 Conjunto Zilah Spósito I – problemas de infiltrações

99

Page 113: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

Figura 96 Conjunto Zilah Spósito I

Detalhe do telhado sem a calha sobre a laje prevista em projeto

Figura 97 Conjunto Zilah Spósito I

Intervenções realizadas pelos moradores

100

Page 114: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

5.2.4 Conjunto Habitacional Oswaldo Barbosa Pena – Nova Lima

O trabalho desenvolvido pela arquiteta Mariana Hermsdoff apresenta uma avaliação de

pós-ocupação realizada no Conjunto Habitacional Oswaldo Barbosa Pena, em Nova

Lima. A apresentação de alguns pontos levantados nessa pesquisa foi considerada

relevante para a complementação deste estudo.

O conjunto foi executado pela COHAB-MG (Companhia Habitacional do Estado de Minas

Gerais) em 1999, e possui 8 blocos, com tipologia “H” do sistema Usiteto, com 4

pavimentos, num total de 16 unidades em cada edifício. (Figura 98)

Figura 98 Conjunto Oswaldo Barbosa Pena

Vista parcial do conjunto

Foram utilizados perfis em aço patinável, que são apropriados para áreas de umidade e

os pontos de “corrosão” (formação da pátina) já são previstos. Os acabamentos foram

executados pelos próprios moradores, e alguns realizaram pequenas mudanças em

algumas paredes para alteração do layout. (HERMSDOFF, 2005.)

101

Page 115: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

As principais patologias encontradas foram trincas, e até mesmo deslocamentos da

parede, devido e movimentação na interface estrutura e alvenaria (executada blocos de

concreto e blocos cerâmicos em alguns edifícios). Inclusive optou-se pela retirada da

peça de contraventamento, após 4 anos, aproximadamente, da conclusão da obra

(Figura 99). (HERMSDOFF, 2005.)

Figura 98 Conjunto Oswaldo Barbosa Pena

Marcas dos contraventamentos retirados

A pesquisa com os moradores aponta também o pouco conhecimento da tecnologia da

estrutura metálica, havendo inclusive certo receio no que se refere à durabilidade e até

mesmo à provocação de choques. Além, disso não foram repassadas informações para

os proprietários sobre as questões de manutenção e reforma dos edifícios.

(HERMSDOFF, 2005.)

102

Page 116: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

103

Avaliando as informações obtidas nesses estudos podemos ressaltar os seguintes

aspectos:

- Todos os empreendimentos foram executados em um mesmo período (final dos anos

90 e início de 2000), o que se conclui que se tratou de um período de investimento da

tecnologia metálica para esse tipo de construção. No entanto, atualmente, na Prefeitura

de Belo Horizonte, não há projetos que utilizem a estrutura metálica, talvez por uma

questão do custo do aço ter aumentado nos últimos anos.

- A agilidade construtiva atribuída ao uso da estrutura de aço pode ser um fator primordial

para a construção de inúmeras habitações num curto período, para uma demanda

emergencial como o reassentamento de famílias de áreas de risco ou atingidas por obras

públicas.

- Apesar de ser defendida pelos fabricantes de estrutura de aço, a autoconstrução e os

mutirões tornam-se mais difíceis de ser implementados, pois essa tecnologia necessita

de mão de obra especializada. Mesmo que estes sejam organizados apenas nas fases

de acabamento, os detalhes técnicos devem ser bem definidos e executados devido à

movimentação diferenciada da estrutura.

- As principais patologias encontradas e relatadas (no caso dos Conjuntos da Vila Senhor

dos Passos) são trincas e fissuras na interface alvenaria e estrutura. Essa é uma questão

de qualidade técnico-construtiva que precisa ser solucionada, pois gastos com

manutenções são fatores preponderantes para uma população de baixa renda.

- Os edifícios estruturados em aço permitem a variação do layout e da divisão dos

cômodos, possibilitando o atendimento de acordo com a conformação das famílias.

- No caso das habitações unifamiliares, a divisão das etapas da construção em módulos,

sem um acompanhamento técnico e social adequado, propicia, não somente no caso da

construção metálica, mas em qualquer tecnologia utilizada, a descaracterização do

projeto original e a inadequação dos espaços construídos.

Page 117: Análise do Uso de Estruturas de Aço Em Edificações Habitacionais

104

6. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso da estrutura de aço na arquitetura brasileira se transformou nas últimas décadas.

Durante esses anos, surgiram vários estudos e pesquisas na área que procuraram

identificar as propriedades físicas e químicas desse material, determinando as situações

ideais para o seu consumo e ressaltando as características da construção em aço

(agilidade da obra, leveza da edificação, utilização de peças estruturais menores,

gerando um alívio das fundações e atingindo um ganho de espaço, etc.).

É fundamental que o profissional conheça as características e o comportamento físico

dos materiais para que faça a escolha da melhor alternativa em cada projeto. Através do

trabalho conjunto de arquitetos e engenheiros, amplia-se cada vez mais a utilização do

aço, gerando inúmeras possibilidades formais e construtivas.

Com isso, surgiram novas experiências com a utilização da estrutura metálica, inclusive

na construção de habitações de interesse social. Este trabalho procurou fazer uma

abordagem investigativa sobre a utilização desse tipo de estrutura na área habitacional.

Foram apresentados alguns estudos de casos ocorridos no país, buscando uma análise

crítica dessa utilização.

O primeiro aspecto levantado foi a pouca tradição do uso da estrutura metálica na

construção de edificações habitacionais. Todas as experiências estudadas ocorreram em

um mesmo período (entre 1997 e 200), o que mostra uma tentativa das empresas do

setor de iniciar a atuação num novo mercado.

Além disso, podem ser ressaltados aspectos positivos e negativos da estrutura de aço

para a área habitacional de interesse social. Como ponto positivo destaca-se a agilidade

na construção, que possibilita a construção de inúmeras moradias em um curto espaço

de tempo, principalmente em casos emergenciais.

A edificação estruturada também permite uma maior flexibilização dos espaços, o que

não ocorre com a alvenaria estrutural, permitindo o atendimento a famílias com várias

conformações e até mesmo a alteração interna dos apartamentos feitas pelos próprios

moradores.

Ainda, a partir da adoção de critérios para sua industrialização, a construção habitacional

de baixo custo passa a possuir a mesma qualidade que as construções de padrão mais

alto. A diferença é que, para a primeira, não serão usados componentes especiais ou

qualquer outro tipo de detalhe que aumente seu custo.

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105

Como ponto negativo o principal fator são as patologias (trincas e fissuras na interface

alvenaria estrutura) muito comuns a esse tipo de estrutura, infiltrações e até mesmo

movimentações das vedações. A qualidade técnico-construtiva do sistema estrutural em

aço é ainda insatisfatória neste aspecto.

Além disso, o público alvo das habitações de interesse social não possui condições de

arcar com os custos de reparos e manutenções dispendiosos. Os moradores devem ser

bem informados sobre os critérios de uso e manutenção para conservá-las por mais

tempo.

Finalmente, o aspecto custo deve ser mencionado. Como o aço é um produto de

exportação, seu custo está vinculado a questões econômicas internacionais, que

influenciam o valor final do produto e podem inviabilizar a sua utilização.

No entanto, para a efetiva implantação de unidades habitacionais com sistemas

industrializados, destinadas à população de baixa renda, e, de modo a viabilizar um

produto acessível, a fase de projeto ainda deve passar por uma série de estudos. Deve-

se analisar o desenvolvimento de cada etapa construtiva, enfatizando a sua simplificação

e a minimização de seus custos para, finalmente, analisar-se a viabilidade econômica do

sistema.

Ao mesmo tempo, no que se refere à construção de moradias para a população de baixa

renda, além dos aspectos de custo, devem ser considerados aspectos de ordem

ambiental e social, pois os próprios moradores devem confiar no sistema e ter condições

de executarem a manutenção e recuperação da residência no decorrer dos anos.

Desta forma, o uso da estrutura de aço em habitações, através de suas características,

pode contribuir para uma diminuição do déficit habitacional do país. O trabalho conjunto

do arquiteto, engenheiro e da indústria de materiais e componentes, como uma equipe de

produção, pode contribuir para a execução de uma habitação popular de boa qualidade,

atendendo também aos requisitos da sustentabilidade. Conseqüentemente, as novas

habitações serão mais bem recebidas pela sociedade.

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