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ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS E BARREIRAS NA PRÁTICA DE AÇÃO CONJUNTA: UMA SURVEY EXPLORATÓRIA NO CLUSTER DE EMPRESAS DE INFORMÁTICA DE LA PLATA - ARGENTINA Tulio Anderson Faria (UFSCar) [email protected] Marcia Regina Neves Guimaraes (UFSCar) [email protected] Luciana do Carmo Menezes de Andrade (UFSCar) [email protected] O objetivo deste artigo é compreender os principais benefícios e dificuldades encontradas na prática da ação conjunta em redes de cooperação, por meio de uma survey exploratória realizada em uma associação de empresas de tecnologia da informação localizada na cidade de La Plata - Argentina. Como resultado, observou-se o baixo desenvolvimento de negócios e soluções em conjunto pelas empresas associadas, devido a problemas relacionados à baixa confiança e cooperação entre os associados. Palavras-chave: Clusters, Redes de Cooperação, Ação conjunta, Survey, Tecnologia da Informação. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS E BARREIRAS NA PRÁTICA DE … · Palavras-chave: Clusters, Redes de Cooperação, Ação conjunta, Survey, Tecnologia da Informação. XXXV ENCONTRO NACIONAL

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ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS E BARREIRAS NA

PRÁTICA DE AÇÃO CONJUNTA: UMA SURVEY

EXPLORATÓRIA NO CLUSTER DE EMPRESAS

DE INFORMÁTICA DE LA PLATA - ARGENTINA

Tulio Anderson Faria (UFSCar)

[email protected]

Marcia Regina Neves Guimaraes (UFSCar)

[email protected]

Luciana do Carmo Menezes de Andrade (UFSCar)

[email protected]

O objetivo deste artigo é compreender os principais benefícios e dificuldades

encontradas na prática da ação conjunta em redes de cooperação, por meio

de uma survey exploratória realizada em uma associação de empresas de

tecnologia da informação localizada na cidade de La Plata - Argentina. Como

resultado, observou-se o baixo desenvolvimento de negócios e soluções em

conjunto pelas empresas associadas, devido a problemas relacionados à

baixa confiança e cooperação entre os associados.

Palavras-chave: Clusters, Redes de Cooperação, Ação conjunta, Survey,

Tecnologia da Informação.

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1. INTRODUÇÃO

O relacionamento entre empresas, principalmente as de pequeno e médio porte, é uma

tendência da economia moderna. A formação das redes empresariais se torna cada vez mais

importante não só para países industrializados, mas também para economias emergentes como

algumas da América do Sul, entre elas, o Brasil e Argentina (AMATO NETO, 2000).

No debate sobre a ação conjunta de empresas, uma questão que vem recebendo crescente

atenção diz respeito às peculiaridades regionais que são encontradas em cada rede de

cooperação. Dessa maneira, analisar e ter informações referentes a redes de cooperação

internacionais é essencial.

Além disso, segundo Balestrin (2010) há também uma necessidade de se realizar um maior

número de estudos quantitativos sobre o tema no Brasil, uma vez que a quantidade de estudos

qualitativos sobre redes de cooperação no país é significativamente maior (59,48%

qualitativos e 23,28% quantitativos), em publicações internacionais ocorre o oposto.

Segundo Olave e Amato Neto (2001), para competir com grandes empresas em alguns

setores, pequenas e médias empresas começaram a buscar novos vínculos com o entorno

socioeconômico de modo a constituir uma reestruturação industrial, incorporando tecnologias

de ponta aos processos produtivos e modificando estruturas organizacionais internas. Um dos

aspectos positivos de se organizar de maneira cooperativa, é a oportunidade de utilizar

tecnologias e reduzir custos de transação referentes ao processo de inovação, o que gera um

aumento de eficiência econômica e consequentemente de competitividade (OLAVE e

AMATO NETO, 2001).

Com o objetivo de identificar os fatores positivos e negativos presentes na prática da ação

conjunta realizou-se um estudo sobre os aspectos relacionados ao trabalho em rede em uma

associação de empresas de tecnologia da informação de La Plata, Argentina. Buscou-se ainda,

compreender quais são os benefícios almejados e quais são as barreiras encontradas em

consequência da cooperação das empresas pertencentes à associação.

Este artigo é composto por esta introdução, que contém o objetivo e a justificativa para a

realização do trabalho; a seção dois apresenta uma revisão bibliográfica, em que são expostos

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conceitos de redes de cooperação e clusters, alguns benefícios e dificuldades comumente

encontrados pelas redes; a seção três apresenta a metodologia de pesquisa; a seção quatro os

resultados encontrados através da survey; e por fim, a seção cinco traz a conclusão do artigo.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

As redes de empresas podem ser definidas como um modo de organização de atividades

econômicas entre empresas através de coordenação e cooperação (GRANORI E SODA,

1995).

Roth et al (2012) afirmam que para que uma rede interorganizacional seja desenvolvida é

fundamental que haja um sistema de gestão e governança claramente definido. A governança

é responsável por delimitar a atuação, estabelecer regras, definir a autonomia e construir

normas da rede, enquanto a gestão está ligada a prática gerencial, ou seja, a governança

estabelece os limites para a atuação dos gestores da rede. O conceito de redes está ligado à

regulação e coordenação de processos, como pesquisa, produção ou engenharia, que uma

coalizão interfirmas tem capacidade coordenar (AMATO NETO, 1999).

Para Grandori e Soda (1995), as redes de empresas são maneiras de se regular a

interdependência entre firmas, o que é diferente de agregar essas empresas como uma única e

também é diferente de elas se coordenarem por sinais do mercado (preços, movimentos

estratégicos, etc).

De acordo com Balestrin et al (2010), a grande gama de abordagens teóricas existentes é uma

das causas que proporciona a existência da variedade de explicações complementares e,

algumas vezes, concorrentes no campo de estudo sobre as redes de cooperação, já que

diferentes pontos de vista da realidade existente são utilizados.

Olave e Amato (2001) compilaram as tipologias utilizadas para a classificação das redes,

algumas são apresentadas no Quadro 1:

Quadro 1: Tipologia de redes

AUTOR TIPOLOGIA

Redes Sociais : Simétricas e Assimétricas.

Redes Burocráticas : Simétricas e Assimétricas.

Redes Proprietárias : Simétricas e Assimétricas.

Redes Top-Down : Subcontratação, terceirização,

parceirias.

Redes Flexíveis : Consórcios.

Estrutura Modular: Cadeia de Valor e Terceirização de

atividades suporte.

Estrutura Virtual: Liga temporariamente rede de

fornecedores.

Estrutura Livre: de barreiras, define funções, papéis e

tarefas.

GRANORI & SODA (1995)

CASSAROTO & PIRES (1998)

WOOD JR & ZUFFO (1998)

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Fonte: adaptado de Olave e Amato (2001)

Granori e Soda (1995), em uma explicação mais detalhada das tipologias apresentadas,

classificam as redes em Sociais (não existe formalização do relacionamento dos integrantes);

Burocráticas (relacionamento dos integrantes é regulado formalmete, por meio de contratos) e

Proprietárias (há direitos de propriedade envolvidos por meio de acordos formalizados).

Esses três tipos de rede apresentados também são divididos em simétricas e assimétricas, de

maneira geral, são consideradas simétricas às relações em que não existe uma empresa que

tenha maior poder sobre as outras, enquanto as redes assimétricas apresentam uma firma

como figura central;

A tipologia de Cassaroto e Pires (1998), define dois tipos de redes para empresas de pequeno

porte: top-down, na qual uma empresa mãe recebe fornecimento da produção das empresas

filhas por meio de terceirizações, parceirias, subcontratações e outras formas de repasse; rede

flexível, quando empresas de pequeno e médio porte se reúnem de forma que cada empresa é

responsável por uma parte do processo produtivo, funcionando como uma grande empresa.

A classificação apresentada por Wood JR. e Zuffo (1998) aponta três tipos de rede: modular,

a empresa mantém sua atividade principal da cadeia de valor e terceiriza atividades suporte;

estrutura virtual, que liga por um determinado tempo os elos da cadeia produtiva de uma

empresa, bem como suas concorrentes e a estrutura livre, que não tem barreiras e tem um

papel menos rígido ma organização.

Entre as barreiras encontradas pelas redes de cooperação está a dificuldade em gerar

confiança entre os membros da rede, pois há o receio de haver algum comportamento

oportunista. Quanto mais as empresas estão dispostas a subordinar interesses individuais em

detrimento de interesses coletivos, maior o acúmulo de capital social, gerando benefícios para

o cluster (BALESTRIN e VERSCHOORE, 2008).

De acordo com Porter (1998), clusters são definidos como concentrações geográficas de

empresas e instituições interconectadas em um campo da indústria em particular. Para o autor,

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os clusters aglomeram um conjunto de empresas conectadas e entidades que são importantes

para a competição, como fornecedores especializados de componentes, maquinário e serviços,

gerando um ganho de eficiência coletiva.

Para Bispo e Schlemm (2012), clusters são uma aglomeração de empresas que fazem parte do

mesmo elo da cadeia produtiva, sendo, dessa forma, compostos por empresas concorrentes,

que alcançam benefícios em razão dessa organização coletiva, conscientemente ou não.

Destacam também que a entrada e saída de empresas em um cluster não interferem

significativamente sobre o nível de negócios alcançado.

A formação de um cluster é relevante para a localidade em que é implantada devido à geração

de valor que proporciona. A forte identificação regional ajuda a buscar soluções para

problemas específicos e ajuda a fortalecer os diferenciais competitivos do grupo no mercado

(OLIVEIRA et al, 2012).

É possível identificar incentivos a inovação em empresas localizadas em uma mesma região

geográfica vindos de agentes externos que buscam o desenvolvimento regional. Porém,

quanto mais afastados geograficamente, maiores serão as diferenças encontradas, tanto pela

colaboração dos agentes externos quanto pelo estabelecimento de informações locais

(CAVALCANTI et al, 2011).

Mytelka e Farinelli (2000) definem os clusters em três tipos: informais, organizados e

inovativos, em que suas características podem ser observadas no quadro 2, a seguir:

Quadro 2: Classificações dos clusters

Fonte: adaptado de Mytelka e Farinelli (2000)

Tipos Clusters informais Clusters organizados Clusters inovativos

Presença de líderes Baixa Baixa e média Alta

Tamanho das empresas Micro e pequena PMEs PMEs e grandes

Capacidade inovativa Pequena Alguma Contínua

Confiança Pequena Alta Alta

Tecnologia Pequena Média Média

Cooperação Pequena Alguma a alta Alta

Competição Alta Alta Média a alta

Novos produtos Nenhum ou poucos Alguns Contínuo

Exportações Nenhum ou poucos Média a alta Alta

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Os tipos informais e organizados de clusters são predominantes em países em

desenvolvimento. Clusters informais caracterizam-se por terem empresas com tecnologias

ultrapassadas e baixas capacidades de gestão, com pouca perspectiva de crescimento, alta

competição, baixa confiança e baixo compartilhamento de informações (MYTELKA e

FARINELLI, 2000).

Os clusters organizados apresentam como atributo um processo de atividade coletiva,

orientado principalmente para a busca de infraestrutura, serviços e o desenvolvimento de

canais formais para que seja possível encarar e analisar os problemas compartilhados pelas

diferentes empresas. O que os diferencia dos informais é a cooperação e o trabalho em rede

entre firmas que emerge, proporcionando o surgimento de potencial para inovação

(MYTELKA e FARINELLI, 2000).

Ainda de acordo com Mytelka e Farinelli (2000), os clusters inovativos são caracterizados

pelo alto grau de confiança existente entre as empresas membros, o que torna o cenário

propício para que inovações tecnológicas ocorram através da cooperação entre as,

aumentando o grau de competitividade das firmas participantes do cluster, encontrados, em

sua maioria, em países desenvolvidos.

Para Eisingerich et al (2010), a força da rede social e a sua abertura são fatores que estão

diretamente relacionados a força dos clusters, ou seja, quanto mais fortes são os

relacionamentos entre as empresas e a abertura do cluster, maior é a força da rede como um

todo.

Segundo Bispo e Schlemm (2012), as alianças em questões estratégicas que surgem pelos

clusters geram diversos benefícios às empresas, como por exemplo, o aumento do poder de

barganha junto aos fornecedores, a possibilidade de ganho de escala na produção, a

capacidade de diminuição dos custos operacionais e o crescimento de sua influência frente à

comunidade local e ao poder público.

De acordo com Porter (1998) os clusters interferem na competição de três maneiras:

aumentando a produtividade das empresas da mesma área, direcionando as organizações rumo

à inovação e estimulando a formação de novos negócios, o que aumenta e fortalece a rede

(PORTER, 1998).

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Para Olave e Amato Neto (2001) uma das dificuldades observadas no arranjo produtivo é

referente às diferenças de porte entre as empresas do cluster, uma vez que quanto maior a

assimetria entre as empresas, maior será a tendência das empresas maiores ou com maior

poder impor seus objetivos às empresas de menor porte, o que abala a confiança necessária

para a geração de capital social para o cluster.

Corso et al (2011), analisaram os aspectos dos clusters sob quatro ângulos: estratégia, que

está claramente relacionada a melhoria da estrutura física para tornar o cluster mais atrativo

para novas empresas; estrutura, que conta com empresas, instituições governamentais e de

ensino, e órgão de coordenação, porém sem função de coordenação gerencial nos negócios;

processos compartilhados, que ocorrem de maneira incipiente, originado de maneira não

ordenada por iniciativas isoladas de alguns membros da associação e as relações,

estabelecidas de maneira informal entre os dirigentes das empresas nas reuniões realizadas

pelo órgão de coordenação, mas sem grande envolvimento do nível operacional das empresas

ou dos órgãos de apoio (governamentais e instituições de ensino).

Entre os fatores citados pelos autores como barreiras ao ganho de vantagens competitivas de

um cluster estão a falta de estrutura física e a falta de visão dos empresários, que não buscam

a cooperação como forma de inovação e aumento de produtividade, mas sim como meio de

obter incentivos fiscais e compartilhar recursos físicos (CORSO et al, 2011).

Côrtes et al (2005) analisou a cooperação em empresas de base tecnológica do Brasil, como

resultado obteve que 51% das empresas apresentam como parceiro de cooperação

universidades ou institutos de pesquisa, revelando uma forte ligação entre o setor de

tecnologia e as instituições de ensino. Outro dado relevante encontrado é que empresas que

possuem uma área de Pesquisa e Desenvolvimento cooperam mais (89%) do que as que não

têm (72%), o que evidencia a relação entre inovação e cooperação.

3. METODOLOGIA

Segundo seus objetivos, a pesquisa pode ser classificada como exploratória, pois busca

proporcionar maior familiaridade ao problema, com o objetivo de torná-lo explícito ou

construir hipóteses, envolvendo levantamento bibliográfico, além de entrevistas com pessoas

que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e a análise de exemplos que

estimulem a compreensão do problema (GIL, 1991).

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Com relação à abordagem, pode ser considerada quantitativa, pois se pretendeu traduzir em

números opiniões e informações a fim de analisa-las e classifica-las (GIL, 1991).

O método de pesquisa utilizado foi uma survey exploratória, que segundo Forza (2002), é

relevante em estágios iniciais, onde o objetivo é ganhar conhecimento sobre um tópico,

promovendo a base para estudos posteriores, além de fornecer informações de uma maneira

mais simples, facilita a obtenção de dados.

A técnica de pesquisa adotada foi o questionário, enviado para as 20 empresas da associação

através de um link de internet, dividido em cinco partes: caracterização das empresas; gestão

da associação; parceiros do cluster; ações conjuntas desenvolvidas e possíveis ações conjuntas

a serem levantadas e vantagens da cooperação entre as empresas.

A análise dos dados dos 14 questionários respondidos foi feita de maneira quantitativa através

da tabulação e interpretação das respostas dos questionários.

4. RESULTADOS

A associação estudada pertence ao setor de tecnologia da informação e localiza-se na cidade

de La Plata – Argentina. Segundo informações contidas em seu website, a associação conta

atualmente com 20 empresas e têm parcerias com as duas maiores universidades do

município, com um banco e com duas instituições públicas (uma municipal e um órgão ligado

à ciência e tecnologia).

Quanto à caracterização das empresas que responderam o questionário, sete trabalham com

softwares de gestão (50% das respostas), duas com Desenvolvimento de Jogos e duas com

Design Gráfico, uma com CRM, uma com Automação Industrial e uma com Outros.

Como a maioria das empresas respondentes pertence ao mesmo ramo da atuação, a

competição entre as elas é evidente, e como consequência disso os associados veem as outras

empresas como concorrentes e não como parceiras.

No que diz respeito ao privilégio de algumas empresas pela gestão da associação, percebe-se

que para a maioria dos associados acredita que associação é parcial (64% concordam em parte

com a afirmação, 22% concordam totalmente e 14% discordam que haja privilégios).

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De modo geral, as perguntas que trataram sobre a gestão da associação tiveram respostas que

evidenciaram a falta de confiança entre os associados e a gestão da rede. Conforme

explicitado na Tabela 1, a maioria dos associados não concorda com afirmações que tratam

sobre a transparência da gestão. É evidente também o fato de que há baixa participação das

empresas nas decisões dos rumos da associação, já que poucas consideram ter voz ativa nos

rumos da associação.

Tabela 1 –

Respostas sobre a

gestão da associação

Fonte: elaboração própria

Essas características referentes à falta de confiança entre as empresas associadas, o que, em

concordância com a alta competição, acarretam na falta de cooperação entre as firmas

corroborando com a definição de cluster informal apresentada por Mytelka e Farinelli (2000).

As respostas acerca dos parceiros da associação também demonstram sua incipiência, uma

vez que para poucos associados às parcerias são bem exploradas e trazem benefícios claros ao

cluster. A tabela 2 mostra como os entrevistados classificaram, em uma escala de 1 (menos

verdadeiro) a 5 (mais verdadeiro), cada um dos parceiros quanto a exploração e benefícios

claros trazidos à associação.

Tabela 2 – Respostas sobre o aproveitamento dos parceiros

Concordo

Totalmente

Concordo

em partes

Discordo

totalmente

Estar associado ao CLUSTER traz benefícios

claros para a empresa.

22% 64% 14%

A gestão da associação é transparente. 28% 50% 22%

A gestão da associação não privilegia nenhuma

empresa.

22% 64% 14%

Tenho voz ativa nos rumos da associação. 14% 72% 14%

1 2 3 4 5

Universidade 1 7% 29% 36% 14% 14%

Universidade 2 7% 36% 43% 7% 7%

Órgão Municipal 43% 21% 14% 14% 7%

Banco 14% 21% 21% 36% 7%

Órgão Governo 50% 29% 7% 14% 0%

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Fonte: elaboração própria

Como observado, a maioria dos respondentes não considera os parceiros bem explorados. As

parcerias com instituições públicas foram consideradas as mais mal aproveitadas, 43% dos

entrevistados considera o apoio da municipal mal explorado e além de não trazer benefícios

claros à associação e 50% considera o mesmo para o órgão federal ligado à ciência e

tecnologia.

Os dois órgãos públicos foram considerados os parceiros mais importantes (43% cada um),

evidenciando o desejo dos associados de que a associação busque maiores incentivos fiscais e

reduções de impostos para as empresas. O banco foi considerado a instituição menos

importante, isso se deve ao fato do banco ter como única ação de apoio oferecer taxas

menores às empresas associadas.

O desejo dos membros da associação em conseguir ajuda das instituições públicas com a

redução de impostos e maiores incentivos fiscais, fica claro na questão sobre quais ações os

parceiros poderiam ajudar a realizar, na qual 79% dos entrevistados responderam que os

parceiros poderiam ajudar com benefícios fiscais.

Nesse ponto, pode-se traçar um paralelo com resultado apresentado por Corso et al (2011),

em ambos os casos, os empresários enxergam que o caminho que suas associações devem

buscar é conseguir incentivos fiscais, mais do que uma real cooperação entre as empresas, o

que geraria capital social para os associados.

Nas questões que procuraram levantar aspectos relativos a ações conjuntas já desenvolvidas

ou a serem levantadas, percebe-se que pouco de fato foi feito nesse sentido. Ficou claro que

os respondentes sequer conhecem seus colegas de associação (apenas 14% conhece mais de

11 gestores), o que mostra que a rede social existente é fraca, o que prejudica a associação,

pois segundo Eisingerich et al (2010), a força da rede social está diretamente relacionada a

força do cluster.

Por outro lado, todos os associados já participaram de algum tipo de ação conjunta promovida

pela associação, como e feiras de informática e treinamentos em conjunto. No entanto, a

realização de negócios em conjunto e o desenvolvimento de soluções em conjunto foi muito

baixo, 3 responderam já ter participado desse tipo de ação conjunta. Demonstra-se assim a

baixa cooperação existente entre as empresas, característica dos clusters informais na

definição de Mytelka e Farinelli (2000).

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As respostas sobre qual a principal vantagem observada por pertencer à associação,

destacadas na Figura 1, mostram que as empresas enxergam diferentes benefícios por fazer

parte da associação, sem uma alternativa com ampla vantagem sobre as outras.

Figura 1 – Principais vantagens de pertencer ao CLUSTER

Fonte: elaboração própria

A maior barreira para a ação conjunta das empresas é segundo os entrevistados a falta de

confiança entre os associados, sendo que para 36% a falta de confiança entre os envolvidos e

para 28% o medo de compartilhar informações com os concorrentes são as principais

barreiras à ação conjunta.

Para os entrevistados os principais benefícios que a associação oferece para os associados são

os incentivos fiscais (43%), eventos de networking (21%) e treinamentos (21%). Pode-se

apontar como causa desses itens serem apontados como principais benefícios o fato da

associação ser incipiente, tendo pouco tempo de existência, faz sentido que eventos para que

as empresas se conheçam e treinamentos sejam realizados nessa fase, além de buscarem a

redução de custos através de incentivos fiscais pela força coletiva.

É importante ressaltar que a maioria dos associados não enxerga a geração de negócios em

conjunto e o desenvolvimento de soluções em conjunto como vantagens significativas da ação

conjunta, sendo apontadas por 58% dos entrevistados como o benefício menos relevante entre

os levantados.

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A última parte do questionário, relativa às vantagens da cooperação entre as empresas, destaca

que os associados ainda não observam a atuação da associação como um fator diferencial no

aumento de competitividade para as empresas. Entre as respostas, 64% discordam totalmente

das afirmações sobre que fazer parte da associação ajuda a competir com empresas maiores. O

mesmo número se repetiu quando a afirmação era referente a aumentar o poder de barganha

frente a fornecedores e clientes.

Na afirmação “fazer parte da associação ajuda a empresa a competir pelos talentos com as

multinacionais” 71% dos entrevistados discordaram totalmente, esses números mostram que

as vantagens da cooperação observadas pelos associados são poucas.

A principal vantagem apontada pelos entrevistados foi sobre o acesso à informação

proporcionado pela associação, 64% dos entrevistados acredita que fazer parte da associação

facilita a iteração sobre novidades e oportunidades do setor de TI.

As características apresentadas pelos associados à associação nessa evidenciam a incipiência

da organização e que há muito espaço pouco explorado para ganhos proporcionados pela ação

conjunta.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo de identificar benefícios e barreiras na prática da ação conjunta da associação foi

alcançado, uma vez que as respostas obtidas no questionário evidenciaram algumas vantagens

conseguidas e principalmente dificuldades e pontos de melhoria.

A partir dos resultados encontrados pode-se concluir que a associação estudada pode ser

classificada como cluster, pois possui as características apontadas por Porter (1998), como

proximidade geográfica, empresas do mesmo porte e de um mesmo setor. Quanto às

tipologias propostas por Mytelka e Farinelli (2000), a associação tem as especificidades dos

clusters informais, com pouca capacidade inovativa, pouca confiança entre os membros,

pouca cooperação e alta competição. Por mais que se esteja buscando organizar as atividades

da associação, o relacionamento existente entre as empresas os aproxima dos clusters

informais e os distancia dos clusters organizados.

Os problemas relacionados à baixa confiança e cooperação entre os envolvidos se destacaram,

o que explica o pouco desenvolvimento dos negócios e soluções em conjunto pelas empresas.

A associação deve buscar ações que aumentem o grau de confiança na gestão da associação e

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entre as empresas, para que assim aumente a cooperação e os possíveis benefícios em fazer

parte de um cluster sejam melhores explorados.

O trabalho é relevante por levantar algumas características comuns e os problemas

enfrentados pelas redes de cooperação brasileiras em uma associação localizada em outro

país, o que mostra que essas dificuldades não estão diretamente relacionadas ao Brasil.

Destaca-se ainda o fato de que o trabalho em rede realizado por essa associação não havia

sido estudado antes.

Fica evidenciada também a possibilidade de realização de futuros trabalhos com a associação,

explorando melhor as dificuldades para a ação conjunta apontadas nesse trabalho e possíveis

ações ou medidas que busquem melhorar a confiança e cooperação entre as empresas,

gerando ganhos de eficiência coletiva.

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