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Análise dos sistemas de custeio: absorção e variável
Cleiton Francisco Paes de Farias1
Renato Silva2
Resumo: Quando se trata de competitividade em qualquer mercado, a questão custo está entre os primeiros assuntos de discussão dos gestores empresariais. Verifica-se que para a escolha de um
adequado sistema de custeio, é necessário conhecer os sistemas existentes e avaliar qual transmitirá melhores informações para a empresa. O presente artigo analisará dois sistemas de custeio: por absorção e variável. A análise do sistema de custeio por absorção justificará os seus critérios de
aplicação e a do sistema de custeio variável identificará a margem de contribuição e o ponto de equilíbrio para fins gerenciais. Em ambas as análises serão discorridas as vantagens e desvantagens na aplicação dos sistemas de custeio e o reflexo gerado nas informações, a fim de auxiliar os
gestores na tomada de decisão. Palavras-chave: custeio, absorção, variável, competitividade, informações.
Abstract: When it comes to competition in any market, the cost issue is among the first topics of discussion of business managers. It appears that for the choice of a proper costing system, it is
necessary to understand the existing systems and evaluate which one will transmit the best information to the company. This article will examine two costing systems: the absorption system and the variable system. The analysis of the absorption costing system will justify its application criteria
and as for the variable costing system, it will identify the contribution margin and break-even point for management purposes. For both analyzes, it will be described, the advantages and disadvantages of the implementation of costing systems and their reflect on the generated information, in order to assist managers to take decisions.
Keywords: costing, absorption, variable, competitiveness, information.
Introdução
Com o aumento da competitividade das empresas, por consequência do aumento da
exigência do mercado consumidor que começou a adquirir produtos melhores e com
preços mais baixos, fez com que as empresas melhorassem seus processos
produtivos e as informações necessárias aos gestores.
O artigo pretende demonstrar a importância sobre o conhecimento de custos para a
tomada de decisões, e tem a finalidade de propiciar uma reflexão sobre a viabilidade
1Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade Alto Vale do Rio do Peixe - UNIARP Caçador
(SC); Acadêmico do curso de Especialização em Finanças, Controladoria e Planejamento Tributário
pela Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC Videira (SC); e-mail: [email protected] 2 Professor coordenador do curso de Ciências Contábeis – FACOS/CNEC.
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da utilização do custeio por absorção e do custeio variável como instrumentos de
suporte às decisões dos gestores.
O objetivo é comparar os dois sistemas de custeio, com intuito de demonstrar as
vantagens e desvantagens nas suas aplicações e os reflexos que irão gerar nas
informações. Isso se torna necessário, à medida que aperfeiçoamentos são
implantados nas empresas, e estas requerem um detalhamento e refinamento maior
no que diz respeito às informações de custos.
Através da comparação dos pontos negativos e positivos dos dois sistemas de
custeio, é possível identificar qual deles possui o maior grau de assertividade e suas
aplicações gerenciais de forma a melhorar o desempenho decisória e reduzir os
riscos quanto às decisões, para tanto, utilizamos neste artigo a pesquisa de natureza
quantitativa, através de análise de processos em uma empresa, relatórios do
departamento de custos, literatura técnica, utilização de ferramentas de apoio, tais
como, planilhas eletrônicas, tabelas e cálculos efetuados na área de Controladoria,
bem como observação de processos.
Iniciamos o presente artigo fazendo um breve histórico da Contabilidade de Custos e
alguns termos utilizados para essa área, posteriormente, observações sobre custos
e suas subdivisões ou separações, sendo após, discorridos os sistemas de custeio e
as formas de emprego da apropriação dos custos, inclusive por rateios,
evidenciando as vantagens e desvantagens de cada sistema através de um
comparativo.
Introdução à contabilidade de custo
Contabilidade financeira, de custo e gerencial
MARTINS (2003) cita que até a Revolução Industrial, século XVIII, quase que
somente existia a Contabilidade Financeira que também era conhecida como Geral,
que para esta época estava bem estruturada para servir as empresas comerciais.
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Para chegar-se ao resultado de cada período, bastava levantar o estoque
fisicamente, onde basicamente se fazia os cálculos pela diferença, computando
quanto possuía, adicionavam-se as compras e fazia-se a comparação com o que
restava e apurava o valor de aquisição das mercadorias vendidas. Confrontando
esse montante com as receitas líquidas obtidas na venda desses bens, chegava-se
ao lucro bruto, do qual bastava deduzir as despesas necessárias à manutenção da
entidade durante o período, à venda dos bens e ao financiamento de suas
atividades.
Com o surgimento das indústrias, tornou-se mais complexa a função do contador,
onde passou a ser mais difícil o levantamento das informações para poder atribuir
valor aos estoques (MARTINS, 2003).
MARTINS (2003) relata que a Contabilidade de Custos nasceu da Contabilidade
Financeira, quando da necessidade de avaliar estoques na indústria, tarefa essa que
era fácil nas empresas típicas da era do mercantilismo, mas que infelizmente não
conseguia atender tarefas mais importantes como controle e decisão. Através destas
dificuldades, surgiram novas técnicas e métodos específicos para tal missão.
A Contabilidade de Custos fornece informações tanto para a Contabilidade Gerencial
quanto para a Financeira. Ela mede e relata informações financeiras e não
financeiras relacionadas ao custo de aquisição ou à utilização de recursos em uma
organização.
Terminologia em custos
A utilização de uma terminologia homogenia simplifica o entendimento e a
comunicação. MARTINS (2003) cita que:
Gasto: refere-se à compra de um produto ou serviço qualquer que gera
sacrifício financeiro para a entidade, sacrifício esse representado por entrega
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ou promessa de entrega de ativos que normalmente dá-se por dinheiro. Este
conceito é bastante amplo e aplica-se a todos os bens e serviços adquiridos,
podendo haver gastos com a compra de matérias primas, gastos com mão-
de-obra, gastos com honorários, gastos na aquisição de um imobilizado, etc.
Desembolso: significa pagamento resultante da aquisição de um bem ou
serviço.
Investimento: refere-se a gasto ativado em função de sua vida útil ou de
benefícios atribuíveis a futuro período.
Custo: é o gasto relativo ao bem ou serviço utilizado na produção de outros
bens ou serviços. O custo é também um gasto, só que reconhecido como tal,
isto é, como custo, no momento da utilização dos fatores de produção para a
fabricação de um produto ou execução de um serviço.
Despesa: é um bem ou serviço consumido direta ou indiretamente para a
obtenção de receitas.
Perda: é o consumo anormal de um bem ou serviço involuntariamente.
Custos
Para os autores HERNANDES, OLIVEIRA e COSTA (2006), a adequada apuração,
análise, controle e gerenciamento dos custos de produção dos bens ou serviços são
antigas preocupações dos empresários e dos gestores das organizações. Essa
constante preocupação justifica-se plenamente devido à busca contínua, pelas
empresas, de um melhor posicionamento competitivo nas diversas fases da
evolução do ambiente empresarial e da sociedade. Na guerra pela sobrevivência no
mundo dos negócios, é imprescindível o perfeito gerenciamento dos ganhos, em
uma extremidade, e dos custos e despesas, na outra.
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Para a realização das suas atividades no dia a dia na busca das metas fixadas pelo
seu objeto social, as organizações efetuam uma série de gastos que serão
devidamente analisadas, classificadas, codificadas e registradas pela controladoria,
nos setores de Contabilidade Geral e de Custos.
O esquema básico da Contabilidade de Custos consiste em separação de custos e
despesas, apropriação dos custos diretos aos produtos e apropriação mediante
rateio dos custos indiretos aos produtos (MARTINS, 2003).
Custos e despesas fixas e custos e despesas variáveis
Os custos fixos são os que permanecem constantes dentro de determinada
capacidade instalada, independem do volume de produção, ou seja, uma alteração
no volume de produção para mais ou menos não altera o valor total do custo.
Podemos citar como exemplos: salários das chefias, aluguel, seguros, etc.
HERNANDES, OLIVEIRA e COSTA (2006).
As despesas fixas são aquelas que permanecem constantes dentro de determinada
faixa de atividades geradoras de receitas, independem do volume de vendas ou de
prestação de serviços, ou seja, uma alteração destas atividades não altera o valor
total das despesas.
No que se refere a custos variáveis são os custos que mantêm relação direta com o
volume de produção ou serviço. Dessa maneira, o valor absoluto dos custos
variáveis cresce à medida que o volume de atividades da empresa aumenta. Na
maioria das vezes, esse crescimento no total evolui na mesma proporção do
acréscimo do volume produzido.
As despesas variáveis, analogamente aos custos variáveis, são as que se alteram
proporcionalmente às variações no volume de receitas. Como exemplo, citamos os
impostos incidentes sobre o faturamento e comissões sobre vendas e serviços
(HERNANDES, OLIVEIRA e COSTA, 2006).
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Custos diretos e indiretos
Os custos diretos são aqueles que podem ser quantificados e identificados no
produto ou no serviço e valorizados com relativa facilidade. Dessa forma, não
necessitam de critérios de rateios para serem alocados aos produtos fabricados ou
serviços prestados, já que são facilmente identificados. Os custos diretos, na grande
maioria das indústrias, compõem-se de materiais e mão-de-obra (HERNANDES,
OLIVEIRA e COSTA, 2006).
Os materiais diretos são as matérias primas, materiais de embalagem, componentes
e outros materiais necessários à produção, ao acabamento e a apresentação final
do produto.
A mão-de-obra direta é o trabalho aplicado diretamente na confecção do produto,
partes ou componentes, ou na prestação de serviços. Nas empresas industriais,
esse tipo de custo está sendo gradativamente substituído por máquinas e
equipamentos (HERNANDES, OLIVEIRA e COSTA, 2006).
Existem também as despesas diretas, que semelhantemente aos custos diretos, são
as que podem ser facilmente quantificadas e apropriadas em relação às receitas de
vendas e prestação de serviços. Na receita de serviços, para cada bem vendido, é
possível identificar o custo incorrido em sua aquisição ou produção, ou seja, os
impostos incidentes sobre o faturamento e as despesas de fretes e seguro de
transporte. Já para a receita de serviços, para cada serviço prestado, é possível
identificar a mão-de-obra direta utilizada, os materiais empregados e os impostos
incidentes sobre o faturamento.
Os Custos indiretos são os custos que, por não serem perfeitamente identificados
nos produtos ou serviços, não podem ser apropriados de forma direta para as
unidades específicas, ordens de serviço ou produto, serviços executados, etc.
Nestes casos, portanto, necessitam de algum critério de rateio para sua alocação.
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Alguns exemplos são: mão-de-obra indireta, materiais indiretos e outros custos
indiretos:
Mão-de-obra indireta: é representada pelo trabalho realizado nos
departamentos auxiliares nas indústrias ou prestadoras de serviços e que
não são mensuráveis em nenhum produto ou serviço executado. Exemplo:
Em uma indústria são os gastos com pessoal responsável pela manutenção
dos equipamentos, pelo planejamento e controle da produção, pela
supervisão da produção dos diversos produtos, etc., já em uma empresa de
serviços (auditoria), compreende os salários e encargos dos instrutores de
treinamento de auditores, visto que tais custos não são passíveis de
identificação com as diversas auditorias realizadas no período.
Materiais indiretos: são aqueles empregados nas atividades auxiliares de
produção ou cujo relacionamento com o produto é irrelevante. Como
exemplo, citamos: graxas e lubrificantes, lixas, parafusos, embalagens de
pequeno valor utilizadas para a expedição dos produtos acabados, etc.
(HERNANDES, OLIVEIRA e COSTA, 2006).
Outros custos indiretos: são aqueles que dizem respeito à existência do setor
fabril, como depreciação das máquinas e equipamentos, valor dos materiais
consumidos nas manutenções, seguro contra incêndios e outros acidentes na
fábrica, transporte e refeições da mão-de-obra, etc.
Despesas indiretas: são as despesas que não podem ser identificadas com
precisão com as receitas geradas. Geralmente são considerados como
despesas do período e que não são distribuídas por tipo de receita. Exemplo:
despesas administrativas, despesas financeiras e despesas com imposto de
renda e contribuição social.
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Sistema de custeio
Custeio significa apropriação dos custos. Desta forma, existem vários métodos
utilizados no mercado, como Custeio por Absorção, Custeio Variável, ABC, RKW,
etc. (MARTINS, 2003).
Segundo os autores HERNANDES, OLIVEIRA e COSTA (2006), o objetivo principal
de qualquer sistema de custeio é determinar o custo incorrido no processo de
produção de bens ou prestação de serviços. Em função da utilidade que será dada a
essa informação, serão definidos os critérios utilizados.
A Lei nº 6.404/76, em seu artigo 177, determina que a escrituração comercial seja
feita de acordo com os princípios contábeis geralmente aceitos no Brasil. O Sistema
de Custeio que atende tais princípios é denominado Custeio por Absorção, também
conhecido como Custeio Integral, aceito pela legislação fiscal vigente no Brasil,
prevista no Art. 290 do RIR/99:
Art. 290. O custo de produção dos bens ou serviços vendidos
compreenderá, obrigatoriamente (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 13, § 1º):
I - o custo de aquisição de matérias-primas e quaisquer outros bens ou serviços aplicados ou consumidos na produção, inclusive os de transporte e seguro até o estabelecimento do contribuinte e os tributos não recuperáveis
devidos na aquisição ou importação; II - o custo do pessoal aplicado na produção, inclusive de supervisão direta,
manutenção e guarda das instalações de produção; III - os custos de locação, manutenção e reparo e os encargos de
depreciação dos bens aplicados na produção; IV - os encargos de amortização diretamente relacionados com a produção;
V - os encargos de exaustão dos recursos naturais utilizados na produção. Parágrafo único. A aquisição de bens de consumo eventual, cujo valor não
exceda a cinco por cento do custo total dos produtos vendidos no período de apuração anterior, poderá ser registrada diretamente como custo (Decreto-Lei nº.1.598, de 1977, art. 13, § 2º).
Com a aprovação da Lei 11.638/07, publicada no D.O.U. em 28/12/2007,
introduziram-se alterações à Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas) com o
objetivo de uniformizar e adequar as demonstrações contábeis no território nacional
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às Normas Internacionais de Contabilidade. Algumas alterações promovidas pela
nova legislação: substituição da DOAR (demonstração das Origens e Aplicações dos
Recursos) pela DFC (Demonstração dos Fluxos de Caixa), obrigação da
demonstração do DVA (Demonstração do Valor Adicionado) para sociedades de
grande porte, extinção da Reserva de Reavaliação e criação dos Ajustes de
Avaliação Patrimonial no PL, criação no Ativo do grupo Intangível, ajuste a valor
presente de ativos e passivos de longo prazo entre outros. Não há alteração do
método de custeio aceito pela legislação (absorção), contudo, verifica-se que há
uma redução da influência da legislação fiscal na Contabilidade a partir dessa Lei e
alguns pontos relevantes de custos, como por exemplo, a reavaliação de ativos e em
decorrência os lançamentos de ajustes, depreciação, amortização e exaustão.
Custeio por absorção
Custeio por absorção é o método derivado da aplicação dos princípios de
contabilidade aceitos, nascido da situação histórica mencionada. Consiste na
apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados, e somente os de
produção, ou seja, todos os gastos relativos ao esforço de produção são distribuídos
para todos os produtos ou serviços feitos (MARTINS, 2003).
Custo de produção
Inicialmente para se analisar o custo de produção deve-se separar dos gastos, os
custos incorridos no período. Após esta separação, o próximo passo é separá-los
em custo direto e custo indireto de produção.
Neste sistema de custeio, os custos diretos serão apropriados aos bens elaborados,
sendo que somente os de produção, conforme métodos aplicados para medições de
consumo, já os indiretos serão apropriados por intermédio de rateio.
Teoricamente, a separação é fácil. Os gastos relativos ao processo de produção são
custos, e os relativos à administração, às vendas e aos financiamentos são
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despesas (MARTINS, 2003).
É bastante simples a visualização de onde começam os custos de produção, mas
nem sempre é da mesma maneira a verificação de onde eles terminam. A regra é
simples, basta definir o momento em que o produto está pronto para a venda, até aí,
todos os gastos são custos, depois deste momento, torna-se despesas (MARTINS,
2003).
Os custos de produção são divididos em:
Matéria-prima: material utilizado para fabricação do produto, representa a
parte física do custo;
Mão-de-obra: é o que transforma a matéria-prima em produto, ou seja, o
emprego da mão-de-obra;
Outros custos: além dos custos acima citados, existem outros consumos
indiretos como energia elétrica, água, telefone, etc., para a fabricação do
produto.
Matérias - primas
Segundo MARTINS (2003), as matérias primas, os componentes adquiridos prontos,
as embalagens e outros materiais diretos utilizados no processo de produção são
apropriados aos produtos ou serviços por seu valor histórico de aquisição.
A matéria-prima compreende os materiais aplicados na fabricação de um produto e
que fazem parte dele. Entre os materiais integrantes de um produto encontramos
aqueles cuja quantidade efetivamente consumida, podemos identificar nesse
produto e aqueles que não podemos. Os primeiros são considerados custos diretos
e os demais, indiretos, pois sua apropriação se dará por rateio.
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Perdas com matérias-primas
Inúmeras vezes ocorrem o desperdício de materiais, principalmente de matéria-
prima, durante o processo de produção.
Existem dois tipos de perdas: as normais e as anormais.
As perdas normais podem ocorrer por problema de corte, tratamento térmico,
reações químicas, evaporação, etc., e por serem inerentes à tecnologia da
produção, os prejuízos fazem parte do custo do produto elaborado. Já as perdas
anormais, não sofrem o mesmo tratamento, por serem aleatórias e involuntárias,
deixam de fazer parte do custo da produção e são tratados como perdas do período,
indo diretamente para o resultado (MARTINS, 2003).
Outros custos com aquisição de matérias-primas
Além do custo com a compra da matéria prima, geralmente a empresa fica
responsável por outros custos relativos à aquisição do material, ou seja, além do
valor atribuído ao fornecedor pela compra, cabe a empresa em algumas situações,
integralizar os gastos com fretes, armazenagem, seguro, impostos ao custo do
produto, etc.
Impostos na aquisição de matérias-primas
Diversas hipóteses existem quando da aquisição de materiais para produção.
Primeiramente, se a empresa não tem nenhum tipo de isenção ou suspensão do IPI
nas compras de matérias-primas, mas os tem na venda de produtos acabados,
acaba por ter nesse imposto um acréscimo do próprio material adquirido. Numa
segunda hipótese, a empresa paga IPI na compra de seus materiais e também tem
seus produtos tributados, nesse caso ela funciona como simples intermediária entre
o pagador final do imposto e o Governo Federal. Poderia existir outra forma também,
em que a empresa paga o IPI nas compras de seus materiais, mas que por força de
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uma disposição legal específica tivesse o direito de ressarcimento desse encargo
quando da venda do produto, como por exemplo, às exportações (MARTINS, 2003).
O ICMS tem de fato as mesmas características que o IPI. Cada real pago na compra
de materiais representa um adiantamento feito pela empresa. Eles devem ser
contabilizados igualmente, porém, precisam de tratamentos contábeis diferentes
(MARTINS, 2003).
Critérios para avaliação de estoques
É possível encontrar nos estoques um material adquirido com valores diferentes, ou
seja, são adquiridos muitas vezes de diversos fornecedores, onde os produtos são
adquiridos em datas diferentes e com condições diferentes (MARTINS, 2003).
Surgem algumas alternativas para tratamento na avaliação dos estoques:
Preço médio ou preço médio ponderado móvel: é o método mais utilizado no
Brasil, é assim chamado aquele mantido por empresa com controle constante
de seus estoques e que por isso atualiza seu preço médio após cada
aquisição.
PEPS (FIFO): neste critério o material utilizado é custeado pelos preços mais
antigos, permanecendo os mais recentes em estoque. O primeiro a entrar é o
primeiro a sair. No uso do PEPS não há diferença alguma entre a empresa
que avalia o custo do material aplicado durante o período ou somente em seu
final. Com o uso deste método, há uma tendência do produto ficar avaliado
por custo menor do que quando do custo médio, tendo-se em vista a situação
normal de preços crescentes.
UEPS (LIFO): o método de último a entrar primeiro a sair provoca efeitos
contrários ao PEPS. Com a adoção do UEPS, há uma tendência de se
apropriar custos mais recentes aos produtos feitos, o que provoca
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normalmente redução do lucro contábil. Provavelmente por essa razão,
apesar de aceita pelos princípios contábeis, não é admitida pela legislação
brasileira (Imposto de Renda).
Mão-de-obra direta
A legislação trabalhista brasileira garante um mínimo de 220 horas, mesmo que só
tenha trabalhado metade disso. A mão-de-obra direta é considerada aquela parte
relativa ao tempo realmente utilizado no processo de produção e de forma direta, ou
seja, se alguém deixa, por qualquer razão, de trabalhar diretamente o produto, esse
tempo ocioso ou usado em outras funções deixa de classificada como mão-de-obra
direta (MARTINS, 2003).
No Brasil, os encargos sociais são inclusos no custo horário da mão-de-obra direta.
Ao se optar pela inclusão dos encargos sociais no próprio montante da mão-de-obra,
precisa-se calcular para cada empresa, ou departamento, qual o valor para ser
atribuído por hora de trabalho. Sabemos que decorrem da legislação e do contrato
de trabalho os repousos semanais remunerados, a remuneração dos feriados, as
faltas abonadas por gala, nojo, o 13º salário, a contribuição ao INSS, recolhimento
do FGTS, além de vários outros direitos garantidos por acordos ou convenções
coletivas de trabalho das diversas categorias profissionais.
A maneira mais fácil de calcular esse valor é verificar o gasto que cabe à empresa
por ano e dividi-lo pelo número de horas em que o empregado efetivamente se
encontra à sua disposição.
Sabe-se que existe o tempo não produtivo da mão-de-obra direta, assim podendo
chamá-lo de tempo ocioso que ocorre em virtude de falta de produção, avarias, etc.
Caso a ociosidade seja normal e o operário esteja sendo mantido parado, o mais
comum é a acumulação desse tempo como tempo improdutivo dentro dos custos
indiretos para rateio à produção geral. Quando houver paradas em determinadas
épocas, a empresa deverá utilizar um sistema de provisionamento para rateio destes
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custos indiretos a todos feitos no ano.
Adicional de horas extras e outros adicionais provocam o dilema de se debitar
diretamente ao produto ou se atribuir aos custos indiretos para rateio geral. Tudo irá
depender da análise elaborada.
Existe também o apontamento da mão-de-obra direta, onde a empresa deverá
munir-se de sistemas de controle de ponto, registro automático de início e término
de ordens. Muitos equipamentos computadorizados de produção possuem
mecanismos de registro automático do tempo de execução das operações. Esses
itens são importantes, porém, voltados muito aos aspectos burocráticos do que
conceituais (MARTINS, 2003).
Aplicação dos custos indiretos de produção
Alguns custos indiretos não ocorrem homogeneamente durante o período. Existem
alguns procedimentos para essas situações:
Previsão da taxa de aplicação de CIP: é necessário que se tenha bases adequadas
para uma boa estimativa e para isso são necessárias:
Estimativa do volume de produção;
Estimativa do valor dos custos indiretos;
Fixação do critério de apropriação dos custos indiretos aos departamentos e
aos produtos.
Com isso é possível a previsão da taxa de aplicação de custos indiretos de
produção.
Contabilização dos CIP aplicados: normalmente os custos indiretos são acumulados
numa conta ou num grupo de contas, e daí transferido aos produtos. À medida que
cada produto for sendo fabricado, seus custos diretos são apropriados e também lhe
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será contabilizada a parcela estimada de CIP.
Análise dos critérios de rateio
MARTINS (2003) cita que todos os custos indiretos só podem ser apropriados, por
sua definição, de forma indireta aos produtos, isto é, mediante estimativas, critérios
de rateio, previsão de comportamento de custos, etc. Todas essas formas de
distribuição contêm, em menor ou maior grau, certo subjetivismo, portanto, a
arbitrariedade sempre vai existir nessas alocações, sendo que às vezes ela existirá
em nível bastante aceitável.
Como exemplo, suponha-se que a empresa tenha seus prédios e instalações todos
alugados sob um único contrato e que se veja ela agora obrigada a separar a parte
que cabe à produção (custo) e aos setores administrativos e de vendas (despesas).
O critério de rateio que vai ser primeiramente lembrado será o de área ocupada por
cada um. Entretanto, um problema poderá ocorrer caso haja, por exemplo, um silo
vertical na produção, será necessário trabalhar com outro critério se esse silo for de
grande volume e funcionar como fator importante no próprio preço do aluguel.
Rateio dos custos dos departamentos
Observa-se que vários departamentos são rateados em função de sua natureza.
Para cada rateio é importante verificar qual base será a mais adequada. Além de
atribuir os custos indiretos aos departamentos, precisamos também ratear os
serviços existentes.
Observa-se que vários departamentos são rateados em função de sua natureza.
Para cada rateio é importante verificar qual base será a mais adequada. Além de
atribuir os custos indiretos aos departamentos, precisamos também ratear os
serviços existentes.
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Esses departamentos são frequentemente chamados de centro de custos, sendo o
menor segmento de atividade ou área de responsabilidade para o qual se acumulam
os custos. O centro de custos são os departamentos, porém às vezes, o
departamento pode ter vários centros de custos (MARTINS, 2003).
Formas de apuração dos custos: por ordem e por processo
Existem dois fatores que determinam o tipo de custeio: por ordem e por processo. A
forma de a empresa trabalhar e a conveniência contábil/administrativa. Quanto à
forma, principal responsável pela distinção, basta lembrar que se a empresa trabalha
produzindo produtos iguais de forma contínua, fundamentalmente para estoque, isto
é, para venda, terá já caracterizada sua natureza. Se produzir atendendo a
encomendas de clientes ou, então, produz também para venda posterior, mas de
acordo com determinações internas especiais, não de forma contínua, já se terá
incluído entre as de produção por ordem.
Praticamente, a única diferença entre estes tratamentos consiste em:
Por ordem: os custos são acumulados numa conta específica para cada
ordem ou encomenda. Essa conta só para de receber custos quando a
ordem estiver encerrada.
Por processo: os custos são acumulados em contas representativas das
diversas linhas de produção e são encerradas sempre no fim de cada
período, conforme estabelecido pela empresa.
Vantagens e desvantagens do custeio por absorção
O custeio por absorção é o método derivado da aplicação dos princípios de
contabilidade geralmente aceitos, consistindo na apropriação de todos os custos de
produção aos bens elaborados, e só os de produção. Todos os gastos relativos ao
esforço de fabricação são distribuídos para todos os produtos feitos. Apesar de não
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ser totalmente lógico e de muitas vezes falhar como instrumento gerencial, é aceito
para fins de avaliação de estoques (para apuração do resultado e para o próprio
balanço) (MARTINS, 2003).
NAKAGAWA (1994) aponta as seguintes razões para as distorções que ocorrem na
apuração dos custos de produtos e serviços pelo método de custeio por absorção:
Assume-se que os custos variam basicamente em razão do volume de
produção;
Os custos indiretos de fabricação (CIF) têm crescido mais do que
proporcionalmente em relação aos custos de mão de obra direta;
Os “rateios” são praticados com grande dose de arbitrariedade pessoal de
quem os utiliza, prejudicando a acuracidade dos números relacionados com
os custos finais dos produtos.
Observa-se, também, que no custeio por absorção há uma discrepância razoável em
termos de rentabilidade, resultante dos critérios adotados para distribuição dos
custos fixos de produção e despesas operacionais fixas, que contêm uma boa dose
de subjetividade (SILVESTRE 1983).
Dessa forma, conclui-se, que não é aconselhável utilizar-se desta metodologia para
decisões gerenciais.
Custeio variável
Esse sistema nasceu a partir das desvantagens e riscos existentes em função da
apropriação dos custos fixos aos produtos e se são eles muito mais derivados da
necessidade de se alocar em condições de operar uma produção, muito pouco
estando de fato vinculados a este ou àquele produto ou unidade e, além disso, se
são na maioria, senão na totalidade, repetitivos a cada período, por que não deixar
de apropriá-los aos produtos, tratando-os como se fossem despesas? (MARTINS,
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2003).
Nesse sistema, somente são considerados na avaliação dos estoques em processo
e acabados os custos variáveis, e os custos fixos são lançados diretamente nos
resultados. Por isso, o custeio variável não é ainda um critério plenamente
consagrado (MARTINS, 2003).
Nas demonstrações à base do custeio variável obtém-se um lucro que acompanha
sempre a direção das vendas, o que não ocorre com o custo por absorção. Mas por
contrariar a competência e a confrontação, o custeio variável não é válido para
balanços de uso externo, deixando de ser aceito tanto pela auditoria independente
quanto pelo fisco (MARTINS, 2003).
Margem de contribuição e ponto de equilíbrio
Para MARTINS (2003), os procedimentos da Contabilidade de Custos para efeito de
avaliação de estoques e de resultado e os princípios contábeis geralmente aceitos,
nem sempre são critérios desejáveis e necessários para outras finalidades como,
por exemplo, no auxílio à tomada de decisão. Para isto são necessárias algumas
adaptações.
Dependendo dos critérios utilizados no rateio dos custos indiretos, sempre haverá
certo grau de imprecisão no resultado final, ou seja, um produto quando medido seu
grau de lucratividade utilizando determinado critério de apropriação dos custos
indiretos de produção (CIP) pode tornar-se atraente em relação aos lucros obtidos
no resultado e dependendo a maneira a qual se rateia os CIP pode se transformar
num produto menos rentável.
Na fabricação dos produtos existe a ocorrência dos custos variáveis e ao serem
comercializados surgem outros custos como impostos, fretes, seguros, etc. Com
isto, existem os custos e as despesas variáveis. O método de custeio variável
considera que aos produtos devam ser alocados somente os custos variáveis.
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A margem de contribuição é o que resta do preço, ou seja, do valor de venda de um
determinado produto são deduzidos os custos e despesas por ele gerado. A
empresa só começa a gerar lucro quando a margem de contribuição dos produtos
vendidos superarem os custos e despesas fixas do exercício.
MARTINS (2003) resume que a margem de contribuição é conceituada como
diferença entre receita e soma de custo e despesas variáveis, tem a faculdade de
tornar bem mais facilmente visível à potencialidade de cada produto, mostrando
como cada um contribui para, primeiramente, amortizar os gastos fixos e depois
formar o lucro propriamente dito.
O Ponto de Equilíbrio (também denominado Ponto de Ruptura – Break-even Point)
nasce da conjugação dos custos e despesas totais com as receitas totais. Segundo
MARTINS (2003), nenhum custo ou despesa é perfeitamente fixo, e muitas vezes
não existe custo ou despesa perfeitamente variável. Por isso, o Ponto de Equilíbrio
tem validade restrita.
Existem, pelo menos, três Pontos de Equilíbrio: Contábil, quando receitas menos
custos e despesas totais dão resultado nulo; Econômico, quando dão como
resultado o custo de oportunidade do capital próprio empregado; e Financeiro,
quando o valor das disponibilidades permanece inalterado, independente de haver
resultado contábil ou econômico (MARTINS, 2003).
Vantagens e desvantagens do custeio variável
O custeio variável é aproveitado pela administração com sucesso nos casos em que
se deseja saber, com segurança, quais produtos, linhas de produtos,
departamentos, territórios de vendas, clientes e outros segmentos (ou objetos) que
são lucrativos e onde a contabilidade de custos deseja investigar os efeitos inter-
relacionados das mudanças ocorridas nas quantidades produzidas e vendidas, nos
preços, nos custos e despesas. Outras vantagens podem ser mencionadas. O
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custeamento variável apresenta imediatamente a margem de contribuição. O
custeamento por absorção não dispõe dessa importante informação. Os custos
periódicos não se “escondem” nos estoques de produtos fabricados e em
andamento, fazendo com que as figuras de lucro sejam ilusórias. O custeio direto é
preparado facilmente e as demonstrações contábeis resultantes são mais inteligíveis
por parte de quem não está afeito às rotinas da contabilidade. Os custos fixos,
periódicos e repetitivos da forma como são destacados nas demonstrações de
resultado facilitam a visão do administrador sobre o montante desses custos e
despesas e a influência que têm sobre o lucro dos negócios. Como produto paralelo
que se destaca no emprego do custeamento variável, estão os orçamentos flexíveis,
uma vez são decorrentes da análise do comportamento das despesas e dos custos
de fabricação diante de variáveis tomadas como referências. A maior parte das
despesas e custos variáveis de fabricação são itens que passam imediatamente por
caixa. Assim como o custeamento por absorção, o custeamento variável também é
facilmente acoplado aos demais sistemas de custeamento (MARTINS, 2003).
Como desvantagens, podemos considerar: os resultados do custeio variável não
devem substituir, em algumas decisões, as informações decorrentes de outros
critérios; as informações do custeio variável são bem aplicadas em problemas cujas
soluções são de curto alcance no tempo; para obter soluções de longo prazo,
normalmente, as informações do custeio variável não são recomendadas; o trabalho
de análise das despesas e custos em fixos e variáveis é dispendioso e demorado;
sempre deverão ser feitos estudos de custos x benefícios e os resultados do custeio
variável não são aceitos para preparação de demonstrações contábeis de uso
externo (MARTINS, 2003).
Comparativos entre os sistemas
Abaixo, um comparativo entre o sistema de custeio por absorção e o sistema de
custeio variável:
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ABSORÇÃO
VARIÁVEL
Vantagens:
Aceito pela legislação vigente para avaliação dos estoques;
Como todos os custos são atribuídos
ao produto ou serviço, não requer
sistemáticas complicadas para apropriação dos mesmos.
Vantagens:
Demonstra o resultado por produto ou departamento;
Utilizado com maior frequência pela
Contabilidade Gerencial;
Demonstra com mais notabilidade a
Margem de Contribuição;
ABSORÇÃO
VARIÁVEL
Desvantagens:
Não demonstra referências sobre a
Margem de Contribuição;
Nas distribuições dos custos fixos,
como há certa subjetividade, há
distorções relevantes para análise de produtos ou departamentos.
Desvantagens:
Não aceito pela legislação vigente
para avaliação de estoques;
Não recomendado para solucionar
problemas de longo prazo;
Fonte: Autoria própria
Qual o problema nos rateios dos custos indiretos
Conforme citado anteriormente, as distorções causadas pela adoção de um critério
específico para distribuição (rateio) dos custos pode inviabilizar um projeto, produto
ou serviço, porque, a maneira de interpretar esses registros, bem como sua
distribuição, é subjetivo, varia de acordo com o julgamento que o analista faz sobre a
origem e destino dos valores, o que pode mudar substancialmente o resultado de
um negócio específico. Para tanto, observemos o exemplo evidenciado abaixo.
Em uma indústria de bebidas, há três produtos de uma determinada área de negócio
da empresa (Produtos A, B e C), para os quais temos os seguintes valores de custos
apurados em um determinado mês: custos variáveis, $ 328.000 e custos fixos $
732.000, perfazendo um custo total de $ 1.060.000. Como sabemos, os custos
variáveis são facilmente identificáveis à quais produtos pertencem (aplicação direta),
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não sendo necessário qualquer tipo de rateio, porém, para nossos custos fixos, é
necessário uma distribuição dos mesmos, caso tenhamos que apropriar os custos
mensais por produto ou serviço.
Neste exemplo, vamos considerar que para produzir uma tonelada do produto A,
seja necessário $ 500 de custo variável (matéria-prima, mão-de-obra direta, etc.),
produto B, $ 650 e produto C, $ 850. Para os demais custos fixos do mês, $
732.000, utilizaremos como parâmetro de rateio a quantidade de horas de mão-de-
obra indireta utilizada para fabricar cada material, sendo, produto A, 40 horas/ton.,
produto B, 52 horas/ton., e produto C, 68 horas/ton. A produção do mês para o
produto A foi de 255 ton., para o produto B 145 ton., e produto C, 125 ton., dessa
forma, chegamos ao valor de rateio dos custos fixos para cada tonelada dos
produtos, sendo produto A, $ 1.116, produto B, $ 1.451 e produto C, $ 1.897. Para
os preços de venda, a companhia estipulou os seguintes valores: produto A, $ 2.100,
produto B, $ 2.730 e produto C, $ 3.570.
Partindo das informações acima, criamos a seguinte tabela de lucratividade por
produto:
Fonte: Demonstrativo de lucratividade (MARTINS 2003) adaptado.
Nessa situação temos a maior lucratividade para o produto C, logo após o produto B
e em terceiro lugar o produto A. Mas, e se mudássemos o critério de apropriação
dos custos fixos? Sabendo que todos os produtos (bebida) utilizam o equipamento
de filtração, onde estão alocados 88% dos custos fixos dessa área de negócio, a
área de controladoria resolve alocar os custos fixos por hora/máquina trabalhada,
sendo que o processo consome 2 horas para o produto A, 3 horas para o produto B
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e 5 horas para o produto C, para cada tonelada produzida, dessa forma, os custos
fixos no montante de $ 732.000, em relação à produção mensal informada
anteriormente, seriam apropriados da seguinte forma: produto A, $ 237.783, sendo o
custo por tonelada de $ 932, produto B, $ 202.815, sendo o custo por tonelada de $
1.399 e, produto C, $ 291.401, com o custo por tonelada em $ 2.331.
Recalculados os custos totais, temos a seguinte situação no demonstrativo de
lucratividade:
Fonte: Demonstrativo de lucratividade (MARTINS 2003) adaptado.
Notem que o produto C passou da primeira posição para a última, o produto B
manteve inalterada a sua posição e o produto A migrou da última posição para a
primeira. Isso comprova que, mesmo definindo um critério de rateio que atenda aos
controles e processos da companhia, haverá sempre certo grau de imprecisão,
afetando a análise de viabilidade de produtos e serviços.
Uso em atividades de planejamento, controle e decisão
Uma das inquietações atuais da contabilidade de custo é a tendência marcante das
indústrias em transformarem a produção de seus controles, em processos
automatizados. As técnicas contábeis precisam ser adaptadas a essa nova
realidade. Os custos variáveis (porque a mão-de-obra direta passa a ser um custo
não significativo, sendo orientado para se constituir em um item a mais das
despesas indiretas fixas) tornam-se menos relevantes diante do constante aumento
das despesas e custos fixos, periódicos e repetitivos. (MARTINS, 2003).
O custeio variável é um instrumento de grande utilidade para a gerência em sua
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função de planejamento das operações. O custeamento variável divide as despesas
e os custos de fabricação (e de outras funções) em fixos e variáveis; determina a
margem de contribuição em relação a qualquer objeto ou segmento da empresa,
facilita a análise do processo de simulação – muito empregado pela função de
planejamento – porque pode antever os resultados da interação de custos, volume e
lucro.
O custeio variável é muito empregado nos casos em que há grande variedade de
produtos diferentes. Uma vez que o conceito determina que cada produto tenha
custos diretos e variáveis, surge imediatamente a margem de contribuição total ou
unitária por produto. A administração, através dos relatórios contábeis fica sabendo
qual o produto que tem maior margem de contribuição, relativa e absoluta. A
contabilidade de custos pode ir mais além: aplicar o conceito de custeio variável
para as atividades da função comercial. Assim, poderá determinar que produtos
devessem cobrir melhor os custos periódicos, mesmo que suas vendas tenham sido
subtraídas dos custos variáveis de produção e depois custos variáveis comerciais.
A aplicação do custeio variável nesse caso envolve os chamados custos de
distribuição (despesas e custos que são realizados pelas atividades de distribuição,
ou seja, aquelas que ocorrem antes e depois da produção dos produtos e serviços e
que se destinam a fazer chegar produtos e serviços aos clientes).
Em relação a outros tipos de custeamento, a análise das despesas e dos custos
fixos e variáveis permite que a empresa possa estudar melhor as mudanças nos
volumes de produção como consequência de várias alternativas que tem a sua
frente: alcance de novos mercados, aumento da fábrica, parcerias, terceirização,
novos produtos, comprar ou fazer os próprios produtos e muitas outras.
Conclusão
Comparando os sistemas de custeio por absorção e variável foi possível identificar
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suas principais diferenças, como segue:
O método de custeio por absorção é o único aceito pela legislação vigente,
pois no curto prazo traz ganhos para o Governo, devido aos custos fixos e
variáveis permanecerem no estoque até o momento da realização, já no
variável, que é proibido pelo fisco, uma vez que os gastos fixos permanecem
no resultado, diminuindo dessa forma a arrecadação do Governo;
No método de custeio por absorção, todos os custos sejam eles fixos ou
variáveis são alocados ao estoque, e apropriados para o custo somente
quando da venda do produto, já no variável, somente os custos variáveis são
alocados ao estoque, e os custos fixos permanecem no resultado a partir de
sua realização;
No método de custeio por absorção, quando há mais de um produto fabricado
é necessário à utilização de rateios para alocar os custos fixos ao estoque,
dessa forma, distorcendo o custo real, pois os critérios de rateios tendem a
ser subjetivos, já no variável, não ocorre rateio de custos fixos, assim
somente os custos variáveis são apropriados ao estoque;
No método de custeio por absorção, com os custos fixos e variáveis alocados
ao produto é difícil fazer análises de rentabilidade e identificar o melhor preço
de venda, também não é possível apurar a margem de contribuição, dessa
forma, para projeções de resultado é melhor utilizar o custeio variável, pois a
separação entre custos fixos dos variáveis é complexa, já no variável, é
possível identificar a margem de contribuição, é possível identificar qual
produto gera o melhor resultado e também é possível fazer projeções com
maior rapidez e precisão para a empresa.
Ao analisar os pontos negativos e positivos dos dois sistemas de custeio é possível
identificar que o custeio variável fornece melhores informações para os
administradores, de forma a reduzir os riscos na tomada de decisão (análise
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gerencial), porém, a obrigatoriedade do uso do sistema de custeio por absorção, de
maneira a atender as disposições legais (Lei das Sociedades por Ações e o
Regulamento do Imposto de Renda), por si só, é um problema, pois mesmo que o
sistema de custeio variável transmita melhores informações gerenciais, seria
necessário utilizar ambos os sistemas devido à imposição legal.
Referências
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imposto de renda - RIR/99.
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1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
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e revogação de dispositivos das Leis n. 6.385, de 07 de Dezembro de 1.976 e 6.404,
de 15 de Dezembro de 1.976.
HERNANDES PEREZ JÚNIOR, J.; OLIVEIRA, L. M. de; COSTA, R. G. Gestão
Estratégica de Custos. Editora Atlas S/A, 5. ed., 2006.
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Sociedades por Ações. Editora Atlas S/A, 7. ed., 2007.
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SILVESTRE, W. C. O Sistema de Custeio Direto Aplicado em uma Programação
Econômica de Empresa a Curto Prazo. Editora FEA/USP, 1.ed., 1983.