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Analise Livro Das Coroas de Prudencio

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  • Revista Mosaico, v. 6, n. 2, p. 141-149, jul./dez. 2013. 141

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    MARTRIO E HEROSMO: UMA ANLISE DO LIVRO DAS COROAS DE PRUDNCIO*

    Ana Teresa Marques Gonalves**

    Resumo: Aurlio Prudncio Clemente produziu no sculo IV d.C. a obra Liber Periste-phanon ou O Livro das Coroas, na qual canta e conta, em versos, os suplcios sofridos por vrios mrtires em Roma e nas provncias. Os martirizados so identificados como heris pagos e suas tumbas se convertem em pontos de peregrinao. Neste artigo, objetivamos analisar a poesia prudentina, enfatizando as razes clssicas da retrica empregada pelo poeta cristo.

    Palavras-chave: Mrtires. Heris. Roma. Prudncio. Cristianismo.

    MARTYRDOM AND HEROISM: AN ANALYSIS OF PRUDENTIUS THE BOOK OF CROWNS

    Abstract: Aurelius Prudentius Clemens in IV century AD produced the work Liber Periste-phanon or The Book of Crowns, which sings and tells in verse the tortures suffered by many martyrs in Rome and the provinces. The martyrs are identified with the gentiles heroes and their tombs are converted into points of pilgrimage. In this article, we analyze the Pruden-tius poetry, emphasizing the classical roots of the rhetoric employed by the christian poet.

    Keywords: Martyrs. Heroes. Rome. Prudentius. Christianity.

    ampla a historiografia que busca identificar a descrio da prtica do martrio entre os autores cristos com as aventuras dos heris, como narradas pelos autores no cristos. A figura do mrtir preencheria a lacuna deixada pelo abandono e/ou reelaborao de sustentculos retricos clssicos, como exemplo de coragem, virilidade e lealdade dos relatos gentios. O mrtir, como indica a raiz grega de seu nome, antes de tudo uma testemunha da f crist, capaz de superar o medo inerente ao gnero humano para realizar a faanha de se sacrificar em prol de uma crena e de uma comuni-dade de culto. Por exemplo, Daniel Rops, no livro A Igreja dos Apstolos e dos Mrtires, defende que o mrtir apresentaria uma coragem to sublime, que mesmo considerada apenas no plano humano, colocaria estes milhares de sacrificados voluntrios na primeira fila dos heris (ROPS, 1998, p.186).

    * Recebido em: 02.06.2013. Aprovado em: 13.08.2013.** Professora Associada II de Histria Antiga e Medieval na UFG. Doutora em Histria pela USP. Coordena-

    dora do LEIR-GO. Bolsista Produtividade II do CNPq. E-mail: [email protected].

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    J para Dominic Crossan, na obra O Nascimento do Cristianismo, a atitude do mrtir de morrer por sua f testemunho pblico, no qual a autoridade oficial desencadeia seu pleno poder destruidor sobre uma conscincia individual (CROSSAN, 2004, p.324).

    A prtica do sacrifcio na busca de uma ascese j havia sido delineada no Judasmo, como demonstra Daniel Boyarin, no livro Dying for God (1999), e foi ressignificada pelos autores e crentes cristos no contexto da aplicao da lei de lesa majestade pelos magistrados romanos, quando estes se negavam a prestar culto s divindades mais antigas, quebrando a pax deorum, bem como ao genius do Imperador, ferindo a unidade administrativa imperial. O martrio se sustentava na interpretao das prprias palavras de Cristo, que segundo Mateus havia estipulado que bem-aventurados sero vocs quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calnia. Alegrem-se e regozijem-se porque grande ser a recompensa nos cus, pois da mesma forma perse-guiram os profetas que viveram antes de vocs (Evangelho Segundo Mateus, V.11-12). Keith Hopkins, na obra A World Full of Gods: the Strange Triumph of Christianity, demonstra como o prprio Jesus teria sido construdo como um heri sagrado, misturando uma origem divina e humana, tendo um nascimento especial e uma vida repleta de fatos miraculosos (HOPKINS, 2001, p.287). Para Averil Cameron, no clssico livro Christianity and the Rhetoric of Empire: the Development of Christian Discourse, o processo de cristianizao implicou antes de tudo na elaborao de novas representaes feitas a partir de cnones retricos clssicos e pagos, por intermdio de sucessivas acomodaes e apropriaes (CAMERON, 1994, p.120 e p.189). A necessidade humana de exemplos de boas condu-tas sociais permanecia premente e os heris antigos precisavam ser substitudos por novos modelos de interao comunitria, e os mrtires acabaram ocupando este espao no imaginrio cristo, pois devemos sempre relembrar que filosofia e religio no mundo antigo eram antes de tudo formas de vida. Ser cristo era expressar uma f por meio de uma conduta especfica que marcava sua insero social.

    Assim, modelo e paradigma de ao, o mrtir ocupou amplo espao na literatura crist. Parece-nos que o interessante tentar perceber como os autores identificados com o iderio cristo buscaram se apropriar dos cnones clssicos hericos e construir uma imagem positiva do martrio no interior da prtica proselitista crist. Enquanto no pensamento grego e romano pago a conduta herica estava restrita a poucos seres que apresentavam um comportamento distinto, por isso mesmo exemplar e digno de nota, desde as epopeias mais antigas, no imaginrio cristo todo crente que ex-pressasse sua f publicamente num perodo em que o cristianismo era indicado como religio ilicita, portanto impedida de ser exercida livremente em ambientes pblicos, poder-se-ia converter num heri da f crist, bastando para isso enfrentar o mando dos magistrados pblicos romanos. Todo cristo era um mrtir em potencial, esperando a oportunidade de receber o suplcio. Converter-se era deste modo, uma porta para a heroificao ao estilo cristo.

    Enquanto entre os pagos, heris seriam os seres detentores de dons excepcionais, qui sobre-naturais, e por isso mesmo capazes de realizar feitos de maior relevncia, ou seja, o homem certo na hora da necessidade (HUGHES HALLETT, 2007, p. 14-5), para os cristos, os mrtires heroificados se converteriam em exemplos do poder da crena. O heri clssico nasceria heri, predestinado a grandes feitos por seu carter ambguo, meio divino, meio humano, sendo um ser quase sempre atormentado; o mrtir cristo realizaria aes hericas ao abraar uma concepo de vida contrria ao modelo esta-belecido, rompendo barreiras e instituindo novas prticas institucionais ainda no identificadas com a maioria dos cidados. Ao invs de atormentado, seria um ser decidido a enfrentar os parmetros estabelecidos e auxiliar na tarefa de gerar novas tradies. Desta forma, a prpria heroificao do mrtir estabelece-se na literatura crist como uma adequao dos cnones clssicos s necessidades do Cristianismo, visto que todo converso poderia tornar-se um heri paladino da f crist ao se manter firme na ortodoxia de no cultuar outros deuses que no o cristo.

    Exemplo disto a obra Liber Peristephanon ou O Livro das Coroas de Aurlio Prudncio Clemente, produzida no sculo IV d.C. Prudncio nasceu em 348 d.C. Em sua obra faz referncia ao governo de Juliano, o Apstata (361 a 363 d.C.) e o aponta como imperador durante sua infncia (RIVERO GARCA, 1997, p.35). Possivelmente hispnico, deve ter sido filho de pais cristos, visto que nunca alude sua converso. Recebeu esmerada educao, na qual aprendeu as mais refinadas tcnicas retricas que ps a servio de sua produo literria. Seguiu carreira administrativa e ocupou a funo de comes primi ordinis durante o governo de Teodsio I em Milo. Sabemos que visitou

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    Roma entre 401 e 402 d.C. Porm, no sabemos nem quando nem onde morreu, mas que tinha 57 anos em 404 ou 405 d.C.

    Apesar de ter produzido sua obra em latim, vrios ttulos que nos chegaram esto em grego e o seu relato est repleto de helenismos. A coleo potica prudentina nos chegou composta por nove ttulos: Praefatio (um prefcio, uma apresentao de toda sua obra); Cathemerinon (conjunto de Hinos cristos para serem usados cotidianamente pelos conversos); Apotheosis (seis refutaes s heresias, tambm produzidas em forma de hinos); Hamartigenia (um poema sobre a origem do peca-do); Psychomachia (poema sobre as contendas entre vcios e virtudes pelo domnio da alma humana); Contra Orationem Symmachi (dois livros contrrios aos argumentos pagos de Smaco, que defendia a permanncia do altar da deusa Vitria na porta do Senado de Roma, cuja remoo foi ordenada por Graciano em 382 d.C.); Liber Peristephanon (Livro das Coroas, no qual 14 poemas sobre os heris cristos defendem o martrio corajoso); Tituli Historiarum ou Dittochaeon (48 epigramas de tema bblico, 24 sobre o Antigo Testamento e 24 sobre o Novo Testamento); e De Opusculis suis Pruden-tius (que pode ser traduzido como: Prudncio acerca de suas prprias composies, pois da mesma forma que nos chegou um promio sua obra, tambm nos chegou um eplogo, no qual o autor se apresenta como um cantor de Cristo, visto que no teria bons atos para ofertar a Deus nem riquezas que lhe capacitasse para oferecer esmolas, Prudncio consagra seus versos, para que sua voz pudesse proclamar o nome de Cristo, afirmativa esta que tem levado os comentadores da obra prudentina a crer na recitatio de seus versos e at mesmo em v-los como letras de canes).

    O Livro das Coroas nos chegou como uma coleo potica, composta por 14 poemas hexa-mtricos que visam cantar e/ou contar alguns martrios dignos de nota. Todos os hymni narram a passio de algum mrtir e serviam principalmente como leitura edificante para os j cristos e/ou para futuros conversos. Como converter-se ao Cristianismo seria modificar a conduta exercida at ento, os novos crentes deveriam ser municiados de modelos de ao adequados s novas prerrogativas, o que permitiu a produo de obras formatadas segundo estes novos cnones estilsticos e retricos. Prudncio aproveita a forma potica j conhecida de cristos e pagos, para cantar e recontar faanhas de superao espiritual. No poema I, tem-se um hino em honra dos mrtires Emetrio e Celednio de Calahorra; no II, do mrtir Loureno em Roma; no III, da mrtir Eullia em Mrida (Emrita Augus-ta), na Hispnia; no IV, dos 18 mrtires de Zaragoza (Caesaraugusta), tambm na Hispnia; no V, do mrtir Vicente, mais uma vez na Hispnia; no VI, do bispo Frutuoso e de seus diconos Augrio e Eulogio em Tarragona, novamente na Hispnia; no VII, do mrtir Quirino, em Sabaria na Pannia; no VIII, 18 versos relembram que o batistrio de Calahorra, na Hispnia, foi construdo sobre o local onde foram martirizados alguns cristos; no IX, relata-se o martrio de Cassiano em mola (Frum Cornelii, fundada por Lcio Cornlio Sila) na Itlia; no X, do mrtir Romano em Antioquia, na Sria; no XI, do mrtir Hiplito em stia, na Itlia; no XII, dos mrtires Pedro e Paulo em Roma; no XIII, do mrtir Cipriano em Cartago, Lbia, frica; e no XIV, da mrtir Agnes em Roma.

    A disposio do contedo da obra, como nos chegou, permite algumas consideraes iniciais. Como enfatiza Luis Rivero Garca, na maior parte das vezes constituem-se nos relatos mais antigos que nos chegaram destas paixes, municiando obras posteriores, como, por exemplo, a Legenda Aurea (RIVERO GARCA, 1997, p.62). Note-se que congrega apenas duas figuras femininas: Eullia, supli-ciada na Hispnia, e Agnes, martirizada em Roma. Tanto na capital quanto nas provncias o martrio se fazia presente. No incio deste artigo, afirmamos que o mrtir mescla, em sua personificao co-ragem, lealdade e virilidade. O mesmo ocorre, a nosso ver, com as mulheres. Elas so descritas como virgens: nobre de estirpe e mais nobre pela forma de sua morte, Eullia, sagrada virgem, adorna com seus ossos e honra com seu amor a sua querida colnia Emrita Augusta [...] seu corpo no estava destinado ao tlamo (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, III. 4-5 e 20-21) e Dupla coroa teve esta mrtir (Agnes): sua virgindade intacta de toda impureza e a glria de sua morte livremente escolhida (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XIV. 8-9)

    Portanto, as duas so notadas como incapazes de representarem mulheres plenas, pois era o casamento e a maternidade que garantiam s mulheres sua identificao ao gnero feminino. Enquanto seres virginais, e que lutavam para se manterem assim, aos olhos dos antigos, elas se apresentavam destitudas da feminilidade, sendo, desta maneira, identificadas como seres viris. Nicole Loraux, no livro Maneiras Trgicas de Matar uma Mulher, lembra-nos que nos textos das tragdias gregas as virgens,

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    como Ifignia e Polixena, so muitas vezes sacrificadas pela mo masculina, enquanto as mulheres casadas e mes, ou j indicadas para isso, como Jocasta, Antgona, Alceste, entre outras heronas, podem cometer suicdio, agindo por si mesmas em busca da morte, notando a diferena entre as virgens e as casadas na glria alcanada pela morte (LOREAUX, 1988, p.58). O mesmo argumento, que garante certa virilidade s virgens, no mundo clssico como reapropriado pelo iderio cristo, aparece na obra de Eva Cantarella, intitulada Los Suplicios Capitales en Grecia y Roma (1996), na qual a autora identifica mortes com perfis diversos, incluindo as penalidades jurdicas, que diferenciavam casadas de solteiras.

    Alm disso, os poemas prudentinos apresentam tamanhos muito diversos, indo dos sucintos 18 versos do poema VIII at os 1.140 versos do poema X, que descreve de forma eloquente o martrio de Romano. Trabalho de flego que indica extenso conhecimento da arte potica clssica retomada em prol do proselitismo cristo. Sempre que possvel Prudncio rememora o nome dos algozes, ou ao menos sua magistratura, ou seja, o cargo pblico ocupado pelos que infligiam os martrios em Roma e nas provncias, o que tornava a prtica absolutamente de acordo com a legislao romana. Nas provncias, eram os Pretores Peregrinos, que assessoravam os Governadores, os que condenavam os mrtires e, muitas vezes, conduziam os suplcios, sendo os Governadores e os Imperadores apenas informados do ocorrido: Conta-se que o Prefeito comunicou ao Imperador todo o sucesso (do suplcio de Romano) (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, X. 1113).

    No relato do martrio de Eullia, Prudncio destaca que esta sofreu sob o governo de Maxi-miano, mas quem imprimiu a paixo foi o Pretor (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, III. 81-83 e III. 98-99). O mesmo ocorre com Vicente em Zaragoza (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, V.102 e V.175), cujo nome do Pretor relembrado: Daciano (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, V. 422). Tambm so nomeados os Pretores que supliciaram o bispo Frutuoso e seus diconos Augrio e Eulogio: Emiliano, apresentado como selvagem violento, soberbo, mpio e capaz de ordenar que se rendesse culto frente aos altares do demnio (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, VI. 35-36), bem como o terrvel Asclepades, Pretor em Antioquia, responsvel pelo suplcio de Romano (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, X. 41-45).

    Em Roma, eram os Prefeitos da Cidade de Roma, cargo senatorial de extrema relevncia eco-nmica e poltica, os que conduziam o martrio. No poema II, Loureno, dicono do bispo de Roma Sixto II, foi martirizado quando se recusou a entregar objetos sagrados ao Prefeito, seguindo o Edito de Valeriano:

    (Loureno) estava a cargo da custdia dos objetos sagrados, controlando com chave confivel o segredo da casa celestial e administrando as riquezas ofertadas. A fome de dinheiro ronda o Prefeito da rgia cidade, representante de um chefe enfraquecido, recolhedor de ouro e de sangue, e busca de forma violenta arrancar moedas escondidas, crendo que embaixo do sacrrio ocultos eram guardados montes de talentos (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, II.41-53).

    Da mesma forma foi o Prefeito, com o auxlio do Pretor Urbano, quem implementou a paixo de

    Agnes (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XIV. 38). Enquanto as mulheres so descritas como puras e virginais, os homens martirizados so apresentados na obra prudentina como uiri por excelncia, os representantes da uirtus, a marca mxima do homem romano. Possuir uirtus poder expressar, a virtude, a humanitas, a valentia, a coragem, em todos os atos. Por isso, os mrtires enfrentam as torturas at mesmo com jocosidade, como no caso de Loureno, que ao ser queimado vivo, informa no sentir dor:

    Uma vez que a duradoura chama acabou de queimar e dourar um lado do corpo, dirige-se Lou-reno ao Pretor da sua grelha com estas poucas palavras: Vire o corpo para o outro lado, pois este j est suficientemente exposto contnua ao do fogo, e comprove o que fez teu ardente Vulcano. O Prefeito ordena que ele seja virado para o outro lado. Ento, diz Loureno: J est feito! Devora e prova se est melhor cru ou cozido (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, II. 399-407).

    Os Pretores so descritos como especialistas na arte de fazer sofrer (ars dolorum) (PRUDN-CIO. O Livro das Coroas, V. 135), mas o suplcio ocasio de mostrar a virtude, por isso os mrtires so sempre descritos nos versos como uiri por excelncia: Vicente intitulado uir (PRUDNCIO. O

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    Livro das Coroas, V.183 e V.284), enquanto Frutuoso, Augrio e Eulogio so nomeados diretamente os uiris (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, VI.18). Deste modo, so passveis de carregarem a coroa do martrio, que aparece no texto prudentino com seu vocbulo grego: stemma, coroa ou diadema que simboliza um poder supranatural, ao invs do termo latino corona. E ao possurem a coroa, con-quistada pelo suplcio e pela firmeza de carter de perseverar na fidelidade aos princpios cristos, estes mrtires passam a ser patronos dos peregrinos que buscam visitar suas tumbas, como forma de conquistar sua ateno e de us-los como intermedirios de suas preces e desejos. Prudncio ressalta em inmeros versos esta troca que se estabelece entre o mrtir e o crente cristo:

    Escritos esto no cu os nomes dos mrtires, que Cristo ali anotou com letras de ouro, os mesmos que entregou a terra com marcas de sangue. Poderosa e feliz no mundo a terra da Ibria por esta coroa, pois a Deus pareceu este lugar digno de albergar seus ossos, tornando-a modesta anfitri de seus corpos bem-aventurados. Esta terra, empapada pelo duplo assassinato (de Emetrio e Celednio), absorveu ondas quentes de sangue e agora seus habitantes visitam as arenas impreg-nadas de sangue santo, implorando com oraes, votos e oferendas. Tambm chega aqui colono do mundo exterior, pois por todas as terras espalha-se o rumor, divulgando que aqui se acham patronos da orbe aos quais acodem suplicantes. Ningum que aqui tenha rogado acumulou em vo suas preces sinceras, contente retorna o suplicando, enxugando lgrimas, ao sentir que conseguiu tudo aquilo que com justia foi solicitado [...] Ento, derramam-se sobre as terras desde a fonte mesma generosos dons que banham as dores dos suplicantes com aqueles remdios que busca-vam. Cristo jamais negou nada a seus testemunhos (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, I.1-23).

    A imagem do suplicante recorrente na obra prudentina para aqueles que visitavam as tumbas dos mrtires, espalhadas por todo o Imprio e mesmo na capital: Apenas nos chega a notcia de quanto Roma est cheia de sepulcros de santos, como florescem sagradas tumbas no solo da cidade (PRU-DNCIO. O Livro das Coroas, II. 542-4). Intercedendo junto a Cristo, os mrtires se transformavam em intermedirios entre as necessidades humanas e os desgnios divinos. Loureno, por exemplo, descrito como Cnsul Perptuo (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, II. 561) em Roma, por receber tantos visitantes e demandas em sua tumba. Afirma Prudncio: atravs do patronato dos mrtires se pde conseguir esta cura (PRUDNCIO. O Livro das Coroas , II. 578). Eullia, por sua vez, recebe inmeras visitas em seu tmulo e vela por toda a Hispnia: Assim desejo venerar seus ossos e o altar situado sobre seus ossos. Ela, colocada aos ps de Deus, nos v de cima e, ganha a nossa causa pelo meu canto, tutela seu povo (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, III. 214-5). O prprio Prudncio roga a Eullia, por intermdio do canto de seus versos, que interceda pelos hispnicos como ele.

    Daciano, Pretor Urbano de Roma, que auxiliou o Prefeito a martirizar Loureno, estipulou inmeras formas de se desfazer do cadver, impedindo o patronato:

    Mas me cabe um ltimo recurso: aplicar-lhe um castigo quando j morto, entregar s feras seu cadver ou d-lo aos cachorros para que o despedacem. Farei desaparecer at seus ossos para que no desfrute de enterro e de um sepulcro que possa honrar as pessoas de seu grupo, onde lhe ponham o rtulo de mrtir [...] submergirei o cadver nas guas (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, V. 385-393, 436).

    Assim, contamos com diversas informaes sobre os ritos funerrios romanos por meio da an-lise da obra prudentina. Como relembra Hugh Lindsay, no captulo Death-Pollution and Funerals in the City of Rome, parte integrante do livro Death and Disease in the Ancient City, editado por Valerie M. Hope e Eireann Marshall (2000), os ritos funerrios praticados tanto por gentios quanto por cristos tinham a inteno de superar a poluio, a impureza, a sujeira causada pela morte. O tmulo era local de memria e o pior que podia acontecer com um cadver era ser abandonado sem os ritos fnebres ou ser perdido sem ao menos a produo de uma lpide ou de um cenotfio, no qual seu nome fosse relembrado em forma de epitfio. Por isso, os corpos de criminosos ou traidores foram muitas vezes lanados no rio Tibre, em Roma, para que seus espritos vagassem sem sepultura (HOPE, 2009, p.179).

    Apesar dos mrtires serem infratores da lei romana, seus corpos recebe ateno. Loureno queimado, mas suas cinzas so recolhidas e enterradas: Sobre seus ombros transportaram o corpo (de

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    Loureno) alguns senadores que se surpreenderam com a liberdade que aquele homem tinha persuadido a seguir a Cristo (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, II.490-492); Sobe a pira que te prepararam, reclina-te no leito digno de ti e ento confia que isto no nada, Vulcano (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, II. 354-6). Dezoito mrtires de Zaragoza foram enterrados juntos numa mesma tumba e assim so relembrados: Nosso povo guarda embaixo de um nico sepulcro as cinzas de nove pares de mrtires. Cesaraugusta chamamos a cidade que alberga to grande tesouro (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, IV. 1-3). J Frutuoso bispo de Tarragona e seus diconos Augrio e Eulogio, tiveram suas exquias tratadas sob o mais estreito costume romano: Ento, recolheram-se as cinzas dos sagrados corpos e os ossos, limpos com vinho puro, relquias que a necessidade de cada qual reclamava para si (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, VI. 130-3), foram guardados numa urna de mrmore.

    Quirino, martirizado na Pannia, foi afogado, mas Prudncio ressalta em seu relato que a pedra de moinho usada para fazer seu corpo submergir mais rapidamente lhe serviu de campa e que seu corpo foi acolhido pelas guas, como um novo batismo, garantindo que seu esprito no vagasse perdido (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, VII. 23-15 e VII. 90-1). Romano, no longo dilogo que trava com seu supliciador, relembra que todos os mortos merecem uma sepultura dig-na: No vos assusteis, gente que me rodiais. Morreremos todos: o rei, o cliente, o pobre e o rico. A carne dos escravos apodrece igual a dos senadores quando esto enterrados no fundo de uma tumba (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, X. 524-7); Quando o esprito abandona o defunto e a pompa fnebre o translada para a tumba, aplicam-se placas metlicas sobre as partes supliciadas e uma lmina de chamativo ouro cobre a pele. Cobre o metal o que o fogo queimou (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, X. 1083-5). Cipriano, cujo sangue descansa na Lbia (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XIII. 4), foi martirizado por ordem do Pro-Cnsul (PRUDNCIO. O Livro das Coroas , XIII. 52) e foi-lhe erigido um tmulo e consagraram-se suas cinzas, e: No se dirigem a ele to somente os povos da Lbia, [...] mas cuida dos gauleses, ensina aos bretes, tutela a Hespria e lembra a Cristo entre os remotos iberos (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XIII. 98-105). Desta maneira, Cipriano por sua recordao constante, de seus feitos e de seus escritos, relembra a todos a fora do Cristianismo. No poema XIV, Prudncio informa que: Na casa de Rmulo se encontra o sepulcro de Agnes, corajosa menina (treze anos) e nclita mrtir (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XIV. 1-2). Rivero Garca acrescenta que o incio da ltima estrofe do poema de Prudncio Oh virgem imaculada, oh glria nova, nobre moradora do cu (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XIV. 125) foi esculpido na baslica romana de Santa Agnese Fuori le Mura (RIVERO GARCA, 1997, p. 20) com o intuito de recordar o martrio da santa, promovido no Circo de Domiciano (hoje Piazza Navona), onde se encontra outro templo dedicado a ela, Santa Agnese in Agone. Agnes (ou Ins) tambm conta com seu sepulcro, prximo a Via Nomentana. Vinda de famlia rica, Agnes foi se-pultada com todas as honras devidas a uma menina bem nascida e sua tumba transformou-se em espao de festas em sua homenagem.

    No caso de Eullia, seu funeral se aproxima da consecratio romana, quando o poeta afirma: Ento, salta de dentro das chamas uma pomba mais branca que a neve, foi vista abandonar a boca da mrtir e dirigir-se aos astros. Era este o esprito de Eullia, de luminoso calor, rpido, inocente (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, III. 162-6). Entre os Imperadores, os que receberam por senatus consultum o direito apotheosis ou consecratio, isto , a possibilidade de se tornar divus aps a morte e ir viver junto aos deuses, seus espritos eram levados para o cu por uma guia, solta durante o ritual de queimar sua efgie numa pira.

    Ao dedicar o relato do martrio de Hiplito, cujo corpo foi destroado por cavalos como o Hi-plito grego, ao bispo Valeriano de Calahorra, Prudncio enfatiza que visitou algumas destas tumbas:

    Incontveis cinzas de santos eu vi na cidade de Rmulo, Valeriano, homem consagrado a Cristo. Me perguntas pelas inscries gravadas em suas tumbas e por cada um de seus nomes, mas difcil responder-lhe. To numerosos foram os povos de homens justos que foram tragados pela pag loucura quando a Roma troiana venerava seus deuses ptrios. Tem grande quantidade de sepulcros com pequenas letras inscritas que anunciam o nome de um mrtir ou algum epitfio (No caso de Eullia, ento, salta de dentro das chamas uma pomba mais branca que a neve, foi vista abandonar a boca da mrtir e dirigir-se aos astros. Era este o esprito de Eullia, de luminoso calor, rpido, ino-cente (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XI. 1-10).

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    Para descrever as visitas, utiliza um instrumento retrico caro aos pagos: a ekphrasis. Como indica Ruth Webb, no livro Ekphrasis, Imagination and Persuasion in Ancient Rhetorical Theory and Practice, ekphrasis em grego ou descriptio em latim a ao de descrever uma obra artstica (esttua, relevo, mural, pintura, etc...) de forma vvida num texto literrio, utilizando a imaginao do expec-tador (theatai). A descrio deve permitir que o leitor/ouvinte recrie o que est sendo descrito em sua mente, produzindo um impacto emocional e se deixando persuadir (WEBB, 2009, p.19-20).

    Por vezes, o prprio poeta quem descreve a tumba que v, como no caso do sepulcro de Cassiano, no Frum Cornelii. Neste caso, um protetor da tumba tambm descreve para o autor uma pintura que representa o martrio, acrescentando informaes ao seu relato:

    Fincado na terra, estava eu prosternado ante a tumba que com a consagrao de seu corpo adorna o santo mrtir Cassiano. [...] Frente a mim se erguia a imagem do mrtir, pintada com colo-ridas tintas. Portando mil chagas, desmembrados todos os seus membros, mostrando a pele rompida por minsculas incises. [...] Perguntei ao protetor do tmulo e este me disse: Peregrino, o que ests contemplando no uma velha fbula v. Essa pintura conta uma estria que, transmitida pelos livros, mostra a f autntica do passado (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, IX. 5-20).

    Na descrio potica da tumba e do desmembramento de Hiplito, em stia, estes tambm contam com um mural retratando o suplcio que auxilia o narrador a se lembrar de todos os fatos concernentes ao martrio:

    Uma parede tem pintada a representao deste crime. Nela, pinturas de muitas cores narram a selvageria por completo (o desmembramento do corpo de Hiplito pelos cavalos). Cheio de fora, se ala sobre a tumba este mural que entre claros reflexos representa os membros ensanguentados de nosso homem enquanto era arrastado. Eu vi, oh pai excelente (bispo Valeriano), as pontas das pernas banhadas de sangue e as marcas vermelhas sobre os braos. A mo do pintor, experta em sua imaginada representao dos verdes campos, pode simbolizar o ocorrido com o vermelho do sangue (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XI. 122-33).

    J na descrio da tumba e do martrio de Pedro e de Paulo em Roma, utiliza-se do recurso retrico de um amicus que descreve para o poeta, enquanto um peregrino, os dois tmulos erigidos em honra dos mrtires: Mas do habitual se agrupa a gente para a celebrao. Diga-me, amigo, o que se passa. Por toda Roma andam correndo e gritando de alegria. Chega-nos de novo este dia festivo do triunfo dos apstolos, dia ilustre para o sangue de Paulo e de Pedro (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XII. 1-5). Em meio a festa que rememora o martrio, o amigo descreve que Pedro foi crucificado de cabea para baixo no Circo de Nero, prximo colina do Vaticano, enquanto Paulo, como cidado romano, foi decapitado junto Via Ostiense, nas Aquae Saluiae (hoje Trs Fontes):

    Separa o Tibre os ossos de ambos, sagrado por uma e por outra margem j que se desliza entre seus santos sepulcros. Guarda a Pedro, recolhido embaixo de tetos dourados, a zona da direita, entre embranquecidas oliveiras e o murmrio de um riacho. [...] Agora corre entre mrmores preciosos [...] Tem uma parte interior do mausolu em que a gua se revolta em sonora cascata sobre um espao frio e profundo. Uma pintura muito colorida marca de cima abaixo as guas cristalinas, reluzem os musgos, o ouro verdeja [...] Na outra margem, na Via Ostiense, guarda-se o epitfio de Paulo, por onde o rio roa a grama do lado esquerdo. rgio o fausto do lugar, pois um bom Imperador (Honrio) consagrou este local e o enfeitou com grandes e custosas obras. Embaixo das vigas colocaram-se placas para que a luz do interior tivesse o tom do ouro, como o sol ao amanhecer. Apoio estes ureos tetos sobre colunas de Paros, dispostas em quatro fileiras. Depois recobriu as curvas arcadas com cristal brilhante de variadas matizes. Assim, resplandecem os campos com as flores da primavera (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XII. 29-54).

    Os tmulos refletem a beleza da morte dos que ali jazem. Prudncio se apropria da imagem da bela morte (VERNANT, 2001, p. 46), a kals thnatos, da morte gloriosa, a eukles thnatos, to cara a gregos e romanos, para qualificar a passagem dos mrtires para o convvio dos eleitos: Este um belo modo de morte [...] vencer o inimigo com a morte (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, I. 25, I. 28); Aqui dois uiri assassinados por defender o nome do Senhor (Dominus) ganharam com a bela morte a prpura do martrio (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, VIII. 3-4). O ideal no era ser martirizado, mas a lealdade aos princpios cristos impelia os crentes a enfrentarem a lei romana e com isso recebe-

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    rem as penas devidas aos seus crimes. Se era necessrio enfrentar o martrio e a morte, que esta fosse vista com coragem e abnegao. Loureno se recusa a entregar os objetos sagrados ao Prefeito e por isso punido: Isto o exige a utilidade pblica, o exige o fisco e o errio, que vosso dinheiro ajude nosso general pagando o soldo aos soldados (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, II. 90-3). queimado vivo com grande temperana. Vicente, tambm dicono como Loureno, se recusa a fazer culto aos deuses pagos: Prestem culto vocs a estas divindades, rendam culto a pedras, a objetos de madeira, faz-te tu pontfice morto de deuses mortos; ns, Daciano, reconhecemos o Pai, criador da luz, e a Cristo, seu filho, o nico e verdadeiro Deus (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, V. 34-41). Seu corpo no afunda, por ao divina, e acaba sendo enterrado em terra firme aps morrer afogado. Cassiano foi morto a estiletadas pelos prprios alunos, ao ensinar princpios cristos. Romano foi lder em Antioquia de um grupo que se negava a fazer culto ao genius do Imperador (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, X. 62), teve a lngua arrancada, mas continuou falando pela graa de Deus. Hiplito era um venervel ancio (PRUDNCIO. O Livro das Coroas. XI. 109), que se recusou a frequentar os altares pagos e acabou desmembrado. Cipriano foi intrprete de grandes recursos dos escritos dos apstolos (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XIII. 16) e, sob os governos de Valeriano e Galieno, teve a cabea cortada, no sem antes dar merecida graas a Deus e elevar um canto triunfal (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, XIII. 95). Tambm Eullia e Agnes enfrentam os carrascos com fora de carter e no temem a morte. No se lanar a desdita, mas enfrentar o suplcio de forma valorosa, ressaltando a f, a fidelidade vida crist.

    Deste modo, Prudncio defende neste poema que os romanos apresentem uma prtica religio-sa nica: o Cristianismo (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, II. 436), e que este se configure como repositrio de prticas morais estabelecidas sobre princpios teolgicos rgidos. Ser cristo se com-portar como cristo; viver e morrer como cristo. E mesmo enfrentando suplcios e martrios, o ato da morte deveria ser revestido de glria por ser uma deciso: morrer com honra. Proclama o bispo Frutuoso: No castigo, creia-me, o que ests vendo, pois passa rpido, em um momento, e no se leva consigo a vida, mas ao contrrio se a transforma. Felizes as almas a quem coube subir s alturas do Tonante por meio do fogo: das chamas vir algum dia o fogo eterno ! (PRUDNCIO. O Livro das Coroas, VI. 95-9). Portanto, como o heri grego Heracles, que ao ter seu corpo queimado no monte Oeta, pode ascender ao Olimpo, os mrtires ao terem seus corpos seviciados e, por vezes, queimados, adquiriam a possibilidade de ascender aos cus. Heris clssicos e mrtires cristos compartilhavam a possibilidade da glria e da insero de seus nomes na memria dos membros de suas comunidades.

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