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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CONSTRUÇÃO CIVIL
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
DANDARA DELLAI CAMPOS
ANÁLISE NUMÉRICA DA CAPACIDADE DE CARGA DE SAPATAS
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CAMPO MOURÃO
2017
DANDARA DELLAI CAMPOS
ANÁLISE NUMÉRICA DA CAPACIDADE DE CARGA DE SAPATAS ISOLADAS
Trabalho de conclusão de curso de graduação,
apresentado à disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso 2, do curso superior em
Engenharia Civil do Departamento Acadêmico de
Construção Civil – DACOC – da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, para
obtenção do título de bacharel em Engenharia
Civil.
Orientador: Prof. Me. Angelo Giovanni Bonfim
Corelhano
CAMPO MOURÃO
2017
TERMO DE APROVAÇÃO Trabalho de Conclusão de Curso
ANÁLISE NUMÉRICA DA CAPACIDADE DE CARGA DE SAPATAS
por Dandara Dellai Campos
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado às 10h do dia 09 de março de 2017
como requisito parcial para a obtenção do título de ENGENHEIRO CIVIL, pela
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Após deliberação, a Banca Examinadora
considerou o trabalho aprovado.
Prof. Dr. Jorge Luís Nunes de Góes ( UTFPR )
Profª. Dr. Ewerton Clayton Alves da Fonseca
( UTFPR )
Prof. Me. Angelo Giovanni Bonfim Corelhano (UTFPR)
Orientador
Responsável pelo TCC: Prof. Me. Valdomiro Lubachevski Kurta Coordenador do Curso de Engenharia Civil:
Prof. Dr. Ronaldo Rigobello
A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso.
Ministério da Educação Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Câmpus Campo Mourão Diretoria de Graduação e Educação Profissional Departamento Acadêmico de Construção Civil
Coordenação de Engenharia Civil
Aos meus pais, Amador e Eleni.
AGRADECIMENTOS
À Deus, que me acompanha desde o início, cujas bênçãos foram
imprescindíveis para realizar tudo até aqui.
À minha grande família, Amador, Eleni, Naique, Catiusca, Étila e Alaryk pelos
valiosos ensinamentos, por sempre acreditar, encorajar e apoiar, por todo esforço
para que eu sempre seguisse meus sonhos e, principalmente, pelo amor
incondicional.
Ao meu namorado Pedro, pela paciência nos momentos de estresse, por
toda a ajuda na realização deste trabalho, por todo o companheirismo e por todo o
amor dedicado à nós.
Ao meu orientador Giovanni, por todo o conhecimento compartilhado, não só
durante a realização deste trabalho, mas também nos semestres em que fui sua
aluna.
Aos amigos (agora) engenheiros que fiz nesta caminhada. Obrigada pelas
noites viradas, por tantas risadas e dramas, pelo companheirismo nos momentos
de desespero, pelos grupos de estudo e por me ajudarem a chegar até aqui!
À UTFPR e todos os professores que, de alguma maneira, contribuíram para
a minha formação.
RESUMO
CAMPOS, Dandara D. Análise numérica da capacidade de carga de sapatas. 2017. 59f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Engenharia Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Campo Mourão, 2017.
O principal objetivo deste trabalho foi analisar, através de métodos numéricos e provas de carga encontradas na literatura, a capacidade de carga de sapatas e compará-las com métodos usuais indicados na ABNT NBR 6122 – Método de Terzaghi, Fórmula Geral e SPT – com a finalidade de mostrar divergência entre eles. Foram utilizadas quatro provas de carga como base para as simulações numéricas, as quais empregaram os conceitos do modelo constitutivo elasto-plástico perfeito de Mohr-Coulomb. As características do solo foram obtidas através dos artigos utilizados e tabelas de valores médios. Os resultados da simulação foram bastante satisfatórios, mostraram no máximo 16% de diferença se comparado com a prova de carga; fato que demostra a adaptabilidade do modelo constitutivo aos solos analisados. As comparações entre as tensões de ruptura mostraram divergências consideráveis entre a prova de carga e os métodos teóricos, atingindo até 232% de diferença. Quando se trata de tensões admissíveis, as diferenças entre os métodos diminuem, mas ainda assim ficam em torno de 150% da tensão admissível da prova de carga. Entre os métodos teóricos não foram observadas diferenças significativas, provavelmente por não tratarmos, neste trabalho, de sapatas com condições especiais, como por exemplo inclinação, considerando que a complexidade envolvida nesse ramo possibilita inúmeras comparações entre situações práticas e a teoria utilizada no campo geotécnico. Já os resultados de SPT mostraram divergências em torno de 50%, que, apesar de considerável, é a favor da segurança. Portanto, apesar da necessidade de aprofundar os estudos, o trabalho mostra a necessidade da inserção do método dos elementos finitos na engenharia de fundações.
Palavras-chave: Sapata. Capacidade de carga. Simulação numérica. Modelo elasto-plástico perfeito de Mohr-Coulomb.
ABSTRACT
CAMPOS, Dandara D. Numerical analysis of bearing capacity of footings. 2017. 59f. Engenharia Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Campo Mourão, 2017.
The main goal of this paper was evaluate the bearing capacity of footings through numerical methods and load tests comparing with usual methods according to ABNT NBR 6122 – Terzaghi’s Method, Triple N Formula and SPT – in order to present the differences between them. This paper presents four different simulations, which uses Mohr-Coulomb failure criterion as basis to run the program. Soil characteristics were obtained through studies or medium value charts. Simulations results were very accurate obtaining just 16% of difference if compared to the load test, demonstrating the adaptability of the failure criterion to the type of soil analysed. The comparisons between rupture strength results showed considerable divergences between load test and theoretical methods, achieving 232% of load test result. When it comes to design strength, the difference reduces to 150%. Between theoretical methods there were no significant differences, probably because this paper did not consider footing with special lying conditions, as the inclination of foundation base for instance, considering the complexity abroad the geotechnical field that allows many comparisons among practice and theoretical situations. SPT results showed divergences around 50% that, although questionable, ensures safety. Consequently, even though it would be necessary to deep the subject, this paper stresses out the finite element method and its importance in foundations engineering.
Key words: Footing. Bearing capacity. Numerical simulation. Mohr Coulomb failure criterion.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Dimensões da sapata isolada ............................................................................................ 12 Figura 2 – Critério de rigidez ............................................................................................................... 13 Figura 3 – Comportamento da sapata sobre carga vertical ................................................................ 14 Figura 4 – Tipos de ruptura: ................................................................................................................ 15 Figura 5 – Superfície potencial de ruptura .......................................................................................... 19 Figura 6 – Fatores de capacidade de carga ........................................................................................ 21 Figura 7 – Comparação entre as teorias de Terzaghi e ...................................................................... 22 Figura 8 – Notações ............................................................................................................................ 25 Figura 9 – Prova de carga sobre placa ............................................................................................... 29 Figura 10 – Resultado da prova de carga apresentado por Duarte (2006) ......................................... 33 Figura 11 – Resultados da prova de carga apresentado por Miozzo et al. (2009) .............................. 35 Figura 12 – Resultado da prova de carga apresentado por Lopes (1997) .......................................... 37 Figura 13 – Esquematização da simulação ......................................................................................... 40 Figura 14 – Densidade da malha ........................................................................................................ 41 Figura 15 – Resultado da simulação I ................................................................................................. 43 Figura 16 – Resultado da simulação III ............................................................................................... 45 Figura 17 – Resultado da simulação III ............................................................................................... 48
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Fatores de forma .................................................................................... 20
Tabela 2 – Relação dos fatores de profundidade ..................................................... 25
Tabela 3 – Classificação dos solos .......................................................................... 28
Tabela 4 – Resumo dos parâmetros do solo I .......................................................... 42
Tabela 5 – Comparações entre os métodos I ........................................................... 44
Tabela 6 – Resumo dos parâmetros do solo II ......................................................... 45
Tabela 7 - Comparações entre os métodos II .......................................................... 46
Tabela 8 – Resumo dos parâmetros do solo III ........................................................ 47
Tabela 9 – Comparações entre os métodos III ......................................................... 48
Tabela 10 – Comparações entre as tensões de ruptura dos métodos analisados ... 49
Tabela 11 – Comparações entre as tensões de admissíveis dos métodos
analisados ................................................................................................................. 50
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 1.1 OBJETIVO ........................................................................................................ 10
1.1.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 10
1.1.2 Objetivos Específicos ...................................................................................... 10
1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 12 2.1 FUNDAÇÕES RASAS ........................................................................................ 12
2.2 SAPATAS RÍGIDAS ........................................................................................... 12
2.3.1 Mecanismos de Ruptura .................................................................................. 14
2.3.1.1 Ruptura generalizada ................................................................................... 15
2.3.1.2 Ruptura localizada ........................................................................................ 16
2.3.1.3 Ruptura por puncionamento ......................................................................... 16
2.3.1.4 Diferenças dentre os tipos de ruptura ........................................................... 16
2.4 MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA ............... 17
2.4.1 Métodos teóricos para determinação da capacidade de carga ....................... 18
2.4.1.1 Teoria de Terzaghi (1943) ............................................................................ 18
2.4.1.2 Fórmula Geral ............................................................................................... 21
2.4.2 Métodos semi-empíricos para determinação da capacidade de carga ........... 26
2.4.2.1 Standard Penetration Test (SPT) ................................................................. 27
2.4.3 Prova de carga direta sobre terreno de fundação ........................................... 28
2.4.4 Método dos Elementos Finitos ........................................................................ 30
2.4.4.1 Modelos constitutivos ................................................................................... 30
2.5 DESCRIÇÃO DOS TRABALHOS UTILIZADOS ................................................. 31
2.5.1 Prova de carga realizada por Duarte (2006) ................................................... 32
2.5.2 Prova de carga realizada por Miozzo et al. (2009) .......................................... 34
2.5.3 Prova de carga realizada por Lopes (1997) apud Almeida (2000) .................. 36
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 38 3.1 SIMULACÕES NUMÉRICAS .............................................................................. 38
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 42
4.1 PROVA DE CARGA REALIZADA POR DUARTE (2006) .................................. 42
4.2 PROVA DE CARGA REALIZADA POR MIOZZO ET AL. (2009) ....................... 44
4.3 PROVA DE CARGA REALIZADA POR LOPES (1997) APUD ALMEIDA (2000)
.................................................................................................................................. 47
4.4 DISCUSSÕES .................................................................................................... 49
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ........................................................................... 52 5.1 CONCLUSÕES ................................................................................................... 52
5.2 SUGESTÕES...................................................................................................... 53
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 54
9
1 INTRODUÇÃO
O desempenho adequado de uma edificação depende da interação entre os
componentes de sua estrutura — a superestrutura, subestrutura — e o maciço de
solo subjacente. A estrutura responsável pela interação entre a superestrutura e o
maciço de solo é a fundação, que é parte essencial do processo construtivo de
qualquer edificação e que possibilita o comportamento adequado de todo o
conjunto estrutural.
A fim de dimensionar a fundação, é de fundamental importância o
conhecimento prévio das características do solo, tensões e cargas admissíveis. A
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 6122 (2010) cita alguns
métodos — teóricos, semi-empíricos e provas de carga — para prever a
capacidade de carga e recalques de fundações. Além disto, há a possibilidade de
aplicar os métodos dos elementos finitos para simulação numérica do
comportamento da fundação como um todo. Estes métodos consistem na resolução
de equações diferenciais nas quais os elementos são analisados separadamente,
possibilitando uma análise local e global do problema. Essa simulação, apesar de
teórica, deve levar a uma análise mais próxima do real.
É senso comum no meio acadêmico a grande variabilidade nos parâmetros e
resultados quando se trata de determinar a capacidade de carga de fundações.
Porém, há informações limitadas quando refere-se à quantificação e explicações
sobre estas diferenças. Face a esta carência, é de suma importância um estudo
sobre os métodos disponíveis para determinar a capacidade de carga e a
quantificação do desvio relativo ao resultado real considerado – neste trabalho –
como a prova de carga de algumas sapatas.
10
1.1 OBJETIVO
1.1.1 Objetivo Geral
Analisar através do método dos elementos finitos, o comportamento de
sapatas. Por meio das simulações numéricas, será possível comparar a capacidade
de carga de sapatas com métodos teóricos, semi empíricos e provas de carga, com
a finalidade de apresentar quais métodos apresentam um resultado mais próximo
do comportamento real – considerado neste trabalho como as provas de carga.
1.1.2 Objetivos Específicos
Para atingir o objetivo geral, os seguintes objetivos específicos deverão ser
seguidos:
ü Realizar simulações numéricas com base no método dos elementos
finitos, partindo sempre de estudos de solos com provas de cargas já
executadas a fim de analisar o comportamento de sapatas sob cargas
verticais.
ü Comparar a capacidade de carga resultante das simulações
numéricas com métodos teóricos, semi empíricos e provas de carga.
ü Indicar as variações que cada método apresenta em comparação com
o resultado dos ensaios de placa e das provas de carga.
ü Indicar possíveis causas para as variações dos resultados
encontrados.
11
1.2 JUSTIFICATIVA
São poucas as fundações que apresentam patologias devido ao mal
dimensionamento estrutural. Os trabalhos de Dickran Berberian, engenheiro e
atualmente professor da Universidade de Brasília, provam esta afirmação. Em seu
trabalho como consultor, analisou 800 fundações que apresentaram patologias, e
somente quatro apresentaram problemas não relacionados ao solo. Portanto, é de
suma importância conhecer as características do solo para garantir que o
desempenho da fundação atenda o previsto.
Como define a ABNT NBR 6122 (2010), determinar a capacidade de carga
da fundação deve ser um dos primeiros passos do projeto de fundações e há
métodos empíricos, semi empíricos, ensaios de placa e provas de carga que
possibilitam o estudo da mesma. Os resultados gerados por cada método são
bastante variáveis entre si, isso se dá, principalmente, pela heterogeneidade do
solo que, além de ter variada granulometria ainda apresenta materiais orgânicos em
sua composição. Os métodos usuais são em geral imprecisos, os quais podem
resultar em projetos que não condizem com o comportamento real do solo. E,
devido a fatores financeiros e culturais, as provas de carga não são realizadas na
grande maioria das obras.
Consequentemente, há necessidade de quantificar a variabilidade dos
resultados dos métodos teóricos utilizados para determinar a capacidade de carga,
que são os mais aplicados na prática da engenharia, a fim de tornar o processo
mais claro e diminuir as possibilidades de dimensionamento inadequado de projetos
estruturais e de fundação.
12
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 FUNDAÇÕES RASAS
Segundo a ABNT NBR 6122 (2010) são classificadas como fundações rasas
aquelas em que a profundidade de assentamento D em relação a cota do terreno
for menor que duas vezes a sua menor dimensão B, como representa a figura 1.
Exemplos deste tipo de fundação são as sapatas, radier e blocos. Neste trabalho
são estudadas somente as sapatas isoladas.
Figura 1 – Dimensões da sapata isolada Fonte: Autoria própria
2.2 SAPATAS RÍGIDAS
Sapatas são estruturas de concreto armado responsáveis por transmitir as
cargas para o terreno. Para que as sapatas sejam consideradas rígidas, a ABNT
NBR 6118 (2014) determina que a equação (1) seja atendida.
ℎ ≥ (𝐴 − 𝐴!)/3 (1)
13
Onde ℎ é a altura da sapata, 𝐴 é a dimensão da sapata em uma determinada
direção, e 𝐴! é a dimensão do pilar nesta mesma direção, como representado na
figura 2. Segundo a ABNT NBR 6118 (2014), quando a sapata é considerada rígida,
a distribuição de tensões normais ao longo da base, de forma aproximada, pode ser
considerada plana na superfície de contato entre o terreno e a sapata.
Figura 2 – Critério de rigidez
Fonte: Autoria própria
2.3 CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES RASAS
Considerando uma sapata de dimensões irrelevantes, submetida a um
carregamento crescente a partir de zero. De acordo com Velloso e Lopes (2010), a
análise do comportamento desta sapata se dá por um processo dividido em três
fases, analisando os recalques em função do carregamento como mostrado na
figura 3.
14
Figura 3 – Comportamento da sapata sobre carga vertical
Fonte: Velloso e Lopes (2010)
A primeira fase, chamada fase elástica, ocorre para pequenas cargas onde o
crescimento do recalque é proporcional ao aumento da carga. Como o nome
sugere, os recalques nesta fase podem ser considerados reversíveis. A segunda
fase é caracterizada pelo surgimento das zonas plásticas. As zonas plásticas
surgem inicialmente junto às bordas das fundações e cresce com o aumento do
carregamento. A principal característica desta fase são os recalque irreversíveis.
(Velloso e Lopes, 2010). Após um determinado valor crítico de carga, a terceira e
última fase se inicia, na qual os recalques crescem rapidamente até a condição de
que pequenos aumentos de carga causam grandes recalques, caracterizando
assim a ruptura do solo, ou seja, quando o limite de resistência é atingido. O
carregamento correspondente a ruptura é chamado capacidade de carga da
fundação (Holanda Júnior, 1998).
2.3.1 Mecanismos de Ruptura
Apesar da curva carga-recalque mostrada na figura 3 ser de grande utilidade
para observar casos gerais, há algumas diferenças nos gráficos quando se coloca
em pauta as características do solo. Terzaghi, em 1943, foi quem primeiro estudou
15
as rupturas em diferentes tipos de solo e identificou dois tipos: (a) generalizada e
(b) localizada. Mais tarde, em 1963, Vesic observou outro tipo de ruptura, por
puncionamento (c) (Velloso e Lopes, 2010). A figura 4 representa os três tipos de
ruptura mencionados acima e que serão esclarecidos a seguir.
Figura 4 – Tipos de ruptura: (a) generalizada (b) localizada (c) por puncionamento
Fonte: Velloso e Lopes (2010)
2.3.1.1 Ruptura generalizada
A ruptura generalizada é caracterizada por apresentar um mecanismo de
ruptura bem definido e uma superfície de deslizamento que vai de um dos lados da
fundação até a superfície do solo como mostrado da figura 4(a) (Holanda Júnior,
1998). Nas situações em que a tensão é controlada, como o caso da maioria das
fundações, a ruptura é brusca e catastrófica. Durante o carregamento observa-se
um levantamento do solo em volta da fundação, e quando a ruptura ocorre, este
movimento acontece apenas em um dos lados da fundação (Velloso e Lopes,
2010).
16
2.3.1.2 Ruptura localizada
Já na ruptura localizada, o modelo de ruptura só é bem definido logo abaixo
da fundação. As superfícies de deslizamento se iniciam também nas bordas da
fundação, mas, por outro lado, aqui há somente uma tendência de levantamento do
solo, não ocorrendo movimentação devido as tensões verticais sob a base da
fundação. A superfície de deslizamento somente atinge a superfície do terreno caso
aconteçam deslocamentos verticais significativos. Neste caso não ocorre o colapso
ou tombamento da fundação, que continua encaixada no terreno, como pode ser
observado na figura 4(b), há apenas um beneficiamento da resistência do solo das
camadas mais profundas do terreno (Holanda Júnior, 1998).
2.3.1.3 Ruptura por puncionamento
A observação da ruptura por puncionamento torna-se difícil pela forma com
que ocorre. É caracterizada pela compressão do solo exatamente abaixo da
fundação à medida que o carregamento aumenta e com isto, grandes recalques
são notados. A penetração ocorre através do cisalhamento vertical do solo em torno
do perímetro da fundação. As porções de solo vizinhas praticamente não participam
do processo, e devido a isto, não é possível observar movimentações de terras,
como podemos notar na figura 4(c) (Velloso e Lopes, 2010).
2.3.1.4 Diferenças dentre os tipos de ruptura
17
Considerando a mesma geometria e carregamento de uma sapata, o tipo de
ruptura é determinada pela compressibilidade relativa do solo. Para solos pouco
compressíveis e com baixa resistência ao cisalhamento, a ruptura é generalizada.
Já para solos bastante compressíveis e alta resistência ao cisalhamento, a ruptura
é por puncionamento (Velloso e Lopes, 2010).
2.4 MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA
Segundo a ABNT NBR 6122 (2010), há basicamente três modos diferentes
de determinar a capacidade de carga de fundações rasas: prova de carga sobre
placa, métodos teóricos e métodos semi-empíricos. A prova de carga consiste em
um ensaio de campo, onde aplica-se carga sobre uma placa rígida, e têm como
resultado a curva carga-recalque do solo analisado. Os métodos teóricos podem
ser exemplificados através do estudos de Karl Von Terzaghi em 1925, Meyerhof em
1951 e Vesic em 1973, que publicaram equações que descrevem as capacidades
de carga de fundações (Velloso e Lopes, 2010). Por fim, os métodos semi-
empíricos são aqueles que relacionam os resultados obtidos através de ensaios,
como SPT e CPT, com as tensões admissíveis de projeto (ABNT NBR 6122, 2010).
Similarmente, o European Committee for Standardization (CEN) Eurocode 7
(2004) também indica três formas para calcular a capacidade de carga de
fundações rasas. A primeira é a determinação por métodos analíticos, o qual é
exemplificado no anexo D através da Triple N Formula. A segunda são os métodos
semi-empíricos, os quais métodos reconhecidos deverão ser usados; como
exemplo, apresentado no anexo E, está a utilização do pressiômetro. A terceira, é a
utilização de métodos prescritivos. Tal método é utilizado quando não há a
possibilidade de estudar diretamente o comportamento do solo, então se faz uso de
tabelas e gráficos para obter os valores de capacidade de carga através de
proporções diretas (Baban, 2016).
18
2.4.1 Métodos teóricos para determinação da capacidade de carga
Uma vez conhecidas as características de compressibilidade e resistência ao
cisalhamento do solo e parâmetros eventualmente necessários, podem ser
aplicadas as teorias clássicas de Mecânica dos Solos a fim de determinar as
tensões admissíveis e prever os recalques que irão se desenvolver no solo; desde
que sejam também observados eventuais inclinações, excentricidades entre outros
fatores definidos pela ABNT NBR 6122 (2010).
A fim de desenvolver o presente trabalho, somente duas teorias serão
consideradas: Terzaghi e Formula Geral. As duas foram escolhidas por motivos
distintos: Teoria de Terzaghi por ser a primeira a presentar formulação para
determinar a capacidade de carga (Velloso e Lopes, 2010); Fórmula Geral, a qual é
uma evolução da teoria de Terzaghi – pois abrange conceitos que não eram
mencionados originalmente (que foram determinados a partir de estudos de
diversos autores, como Meyerhof e Vesic) (Velloso e Lopes, 2010). Tal equação é a
apresentada no CEN Eurocode 1997 (2004), anexo D.
2.4.1.1 Teoria de Terzaghi (1943)
Terzaghi desenvolveu suas teorias com base nas apresentadas por Prandtl
em 1920, as quais eram aplicadas para metais. Para desenvolver seus estudos,
Terzaghi considerou as seguintes hipóteses:
• A sapata é corrida, ou seja, o comprimento L dividido pela largura B deve ser
maior do que 5.
• A profundidade de assentamento D deve ser inferior a largura B. Esta ação
permite desprezar a resistência ao cisalhamento do solo que está acima da
cota da sapata, que pode ser substituído por uma sobrecarga q, como
descrito na equação (2).
19
𝑞 = 𝛾𝐷 (2)
Onde 𝛾 é o peso específico efetivo do solo.
• Considera que o solo abaixo da cota de assentamento da sapata seja
compacto ou rijo, que permite considerar um caso de ruptura geral (Cintra et
al., 2003).
Levando em conta os itens citados acima, a superfície potencial de ruptura pode
ser esquematizada como mostrado na figura 5, onde c é a coesão do solo e 𝜙 é o
angulo de atrito, considerando solo não drenado. Observa-se também a formação
de uma angulo 𝛼 entre os segmentos OO’ e OR, que varia entre 𝜙 e 45°+ 𝜙/2
(Cintra et al., 2003).
Figura 5 – Superfície potencial de ruptura
Fonte: Cintra et al. (2003)
Segundo Terzaghi, a superfície potencial de ruptura pode ser dividida em
três regiões características. A solução do problema se dá com a consideração de
que forças verticais oriundas do empuxo passivo estivessem agindo na região I em
formato de cunha (Bowles, 1988). Devido a estas forças, a região I se comporta
como se fizesse parte da fundação e move-se verticalmente para baixo, forçando o
solo adjacente e formando as outras duas regiões plásticas, a região de
20
cisalhamento radial (II) e a de cisalhamento linear (III). Portanto, a capacidade de
carga da fundação é igual a resistência ao deslocamento oferecida pelas regiões II
e III (Velloso e Lopes, 2010). Caso o valor do empuxo passivo seja conhecido, a
solução do problema se dá somente analisando a região I. Entretanto, o peso do
solo acima da cota da fundação e sua influência não seriam considerados.
Portanto, Terzaghi estudou casos particulares, às vezes hipotéticos, para então ser
adotado o princípio de superposição de efeitos e chegar na seguinte equação da
capacidade de carga (3).
𝜎! = 𝑐𝑁!𝑆! + 𝑞𝑁!𝑆! + 0,5𝛾𝐵𝑁!𝑆! (3)
Onde 𝑁! , 𝑁! e 𝑁! são fatores da capacidade de carga referente à coesão,
sobrecarga e peso do solo, respectivamente (Cintra et al., 2003). Tais fatores são
determinados através da figura 6 e 𝑆! , 𝑆! e 𝑆! são fatores de forma segundo a
tabela 1.
Tabela 1 – Fatores de forma
Fonte: Cintra et al. (2003)
21
Figura 6 – Fatores de capacidade de carga
Fonte: Cintra et al. (2003)
2.4.1.2 Fórmula Geral
O primeiro aperfeiçoamento que Meyerhof aplicou às resoluções de Terzaghi
foi a consideração de que o solo que está acima da cota de assentamento da
sapata também oferece resistência ao cisalhamento. A superfície de deslizamento
intercepta a superfície do solo no caso de fundações rasas, como mostra a figura 7.
22
Figura 7 – Comparação entre as teorias de Terzaghi e Meyerhof
Fonte: Velloso e Lopes (2010)
Tal como Terzaghi, Meyerhof também distingue as superfícies de
deslizamento em três regiões plásticas. A região ABC, em formato de cunha que
assume o mesmo comportamento da fundação. Uma zona de cisalhamento radial
BCD e outra de cisalhamento misto BDEF, em que o cisalhamento varia entre radial
e plano dependendo da rugosidade e profundidade da fundação (Velloso e Lopes,
2010). Após outras modificações e correções propostas por Hansen em 1970 e
Vésic em 1974, determina-se a seguinte equação:
𝜎! = 𝑐′.𝑁! . 𝑆! .𝑑! . 𝑖! . 𝑏! .𝑔! + 0,5. 𝛾.𝐵.𝑁! . 𝑆! .𝑑! . 𝑖! . 𝑏! .𝑔! + 𝑞.𝑁! . 𝑆! .𝑑! . 𝑖! . 𝑏! .𝑔! (4)
Onde:
𝑐′: é a coesão efetiva do solo;
𝑁!, 𝑁! e 𝑁! : fatores de capacidade de carga;
𝑆!, 𝑆! e 𝑆! : fatores de forma da fundação;
𝑑!, 𝑑! e 𝑑! : fatores de profundidade da fundação;
𝑖!, 𝑖! e 𝑖!: inclinação do carregamento;
𝑏!, 𝑏!, e 𝑏!: inclinação da base;
𝑔!, 𝑔!, e 𝑔!: inclinação do terreno;
𝛾 : peso específico do solo;
B : menor dimensão da fundação;
23
q: tensão efetiva na cota de assentamento, assim como define a equação
(2).
No CEN Eurocode 1997 (2004), são apresentadas as equações que
somente definem os fatores de correção da capacidade de carga, inclinação da
base, fatores de forma e inclinação do carregamento. Segundo o UK’s National
Annex (2004), a decisão de omitir os fatores de profundidade geram erros a favor
da segurança, enquanto que a não consideração da inclinação do terreno geram
erros contra a segurança. Portanto, é definido que poderão ser utilizadas equações
que incluem tais fatores. Assim sendo, no presente trabalho, a equação completa
será utilizada.
Portanto, segundo o CEN Eurocode 1997 (2004):
• Fatores da capacidade de carga:
𝑁! = 𝑒!.!"#$𝑡𝑎𝑛! 45+ 𝜙/2 (5)
𝑁! = 𝑁! − 1 𝑐𝑜𝑡𝜙 (6)
𝑁! = 2 𝑁! − 1 𝑡𝑎𝑛𝜙 (7)
• Inclinação da base da fundação:
𝑏! = 𝑏! − (1− 𝑏!)/(𝑁!𝑡𝑎𝑛𝜙) (8)
𝑏! = 𝑏! = (1− 𝛼. 𝑡𝑎𝑛𝜙)! (9)
Onde 𝛼 é o ângulo de inclinação da fundação, como indicado na
figura 8 (a).
• Fatores de forma para fundações retangulares:
𝑆! = 1+ (𝐵′/𝐿′) 𝑠𝑖𝑛𝜙 (10)
24
𝑆! = 1− 0,3(𝐵′/𝐿’) (11)
𝑆! = (𝑆! .𝑁! − 1)/(𝑁! − 1) (12)
Onde B’ e L’ são a base e comprimentos efetivos da fundação, cujo centro
de gravidade coincide com o ponto de aplicação da carga, como mostrado na figura
8.
• Fatores da inclinação do carregamento, causados por um carregamento
horizontal H, conforme a figura 8 (b):
𝑖! = 𝑖! −
1− 𝑖!(𝑁!𝑡𝑎𝑛𝜙)
(13)
𝑖! = [1−𝐻
𝑉 + 𝐴′. 𝑐. 𝑐𝑜𝑡𝜙]! (14)
𝑖! = [1−𝐻
𝑉 + 𝐴′. 𝑐. 𝑐𝑜𝑡𝜙]!!!
(15)
Onde:
𝑚 = [2+ (𝐵′/𝐿′) ]/[1+ (𝐵′/𝐿′)] , quando H age na direção de B.
𝑚 = [2+ (𝐿′/𝐵′) ]/[1+ (𝐿′/𝐵′)] , quando H age na direção de L.
25
(a) (b) Figura 8 – Notações
Fonte: CEN Eurocode 1997 (2004)
Quanto aos fatores de profundidade e inclinação do terreno, recorreremos
aos propostos por Vesic, mostrados na tabela 2 (Velloso e Lopes, 2010).
Tabela 2 – Relação dos fatores de profundidade
Fonte: Velloso e Lopes (2010)
Devido aos procedimentos de execução das fundações, alguns autores
como Vesic, indicam a não utilização destes fatores; porém, outros como Velloso e
Lopes, concordam com a utilização (Velloso e Lopes, 2010).
26
A fim de considerar os efeitos da inclinação do terreno, as equações (16) e
(17) foram propostas.
𝑔! = 1− [2𝑤𝜋 + 2]
(16)
𝑔! = 𝑔! = (1− 𝑡𝑔 𝑤 )! (17)
Onde w é o angulo de inclinação do terreno em relação à horizontal em
radianos. O efeito dessas tensões pode ser desprezado se 0 < 𝑤 < 𝜙/2, se
𝑤 > 𝜙/2 uma análise mais cautelosa da estabilidade da fundação deve ser feito
(Velloso e Lopes, 2010).
2.4.2 Métodos semi-empíricos para determinação da capacidade de carga
Segundo a ABNT NBR 6122 (2010), para qualquer edificação deve ser feita
uma investigação geotécnica preliminar com Standard Penetration Test (SPT), a fim
de determinar a estratigrafia e classificação do solo, o índice de resistência à
penetração e a posição do nível de água. O SPT é considerado o teste mais
popular, rotineiro e econômico de investigação geotécnica (Schnaid e Odebrecht,
2012), e, portanto, é a técnica escolhida para exemplificar este método.
27
2.4.2.1 Standard Penetration Test (SPT)
O ensaio consiste em obter uma medida de resistência do solo à penetração,
em conjunto com um simples reconhecimento por meio das amostras de solo que
são coletadas a cada metro de profundidade. Usa-se um peso de 65 kg em queda
livre a partir de uma altura de 75 cm. O valor 𝑁!"# representa a quantidade de
golpes necessários para ocorrer a penetração de 30 cm, após uma penetração
inicial de 15 cm (ABNT NBR 6484, 2001).
Existem diversas vantagens deste teste, como por exemplo, a simplicidade
do equipamento e o baixo custo. Por outro lado, as diversas técnicas de perfuração,
equipamentos e procedimentos de ensaio resultam na não uniformidade da
significância dos resultados obtidos. Diferenças significativas são também
observadas para o mesmo teste, sob a mesma normativa e em locais próximos.
Tais diferenças, somadas às perdas de energia na queda do martelo devido ao
atrito, por exemplo, resulta na utilização de um fator de correção, equacionado
abaixo (Schnaid e Odebrecht, 2012).
𝑁!"#,!" =
𝑁!"# .𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑎𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑑𝑎0,60
(18)
Após obter os resultados do SPT, é possível classificar o solo segundo a
ABNT NBR 6484 (2001), como mostra a tabela 3.
28
Tabela 3 – Classificação dos solos
Solo Índice de Resistência Designação
Areia e Silte Arenoso
< 4 Fofa
5 - 8 Pouco compacta
9 - 18 Medianamente compacta
19 - 40 Compacta
> 40 Muito compacta
Argila e Silte Argiloso
<2 Muito mole
3 - 5 Mole
6 - 10 Média
11 - 19 Rija
> 19 Dura
Fonte: ABNT NBR 6484 (2001)
A capacidade de carga também pode ser obtida através dos ensaios de SPT.
Alonso (2010) estabelece que a tensão admissível de uma fundação pode ser
obtida através da equação 19, considerando que o valor médio do SPT seja obtido
a partir da cota de assentamento da base da sapata até uma profundidade de
ordem de grandeza igual a duas vezes a largura estimada para a sapata.
𝜎!"# =𝑆𝑃𝑇!é!"#
50 (𝑀𝑃𝑎) (19)
Obs: A equação 19 só é válida para valores de SPT ≤ 20.
2.4.3 Prova de carga direta sobre terreno de fundação
Este ensaio consiste no emprego de uma placa rígida de ferro fundido que
é carregada por meio de um macaco hidráulico, o qual reage contra uma carga de
29
reação ou sistema de tirantes (Alonso, 2010), como mostrado na figura 9. A carga
é adicionada em intervalos de 20% da carga inicial prevista.
Figura 9 – Prova de carga sobre placa
Fonte: Alonso (2010)
O procedimento do teste deve seguir as condições apresentadas na ABNT
NBR 6489 (1984) que estabelece normas pertinentes à instalação, execução e
apresentação de resultados.
Baseando-se no valor da pressão aplicada obtido através da leitura do
manômetro acoplado ao macaco hidráulico, e também no valor do recalque obtido
através do deflectômetro, é possível obter a curva carga-recalque do solo estudado
(Alonso, 2010).
A tensão admissível é obtida através da observação da curva carga-
recalque. Se apresentar comportamento com predominância de ruptura
generalizada utiliza-se a equação 20. Caso apresente ruptura localizada, utiliza-se
a equação 21 (Alonso, 2010).
30
𝜎!"# =𝜎!"#2 (20)
𝜎!"# ≤
𝜎!"2𝜎!"
(21)
Considerando que 𝜎!" é a tensão correspondente a um recalque de 25
mm, enquanto que 𝜎!" é a tenção que corresponde a um recalque de 10 mm
(Alonso, 2010).
2.4.4 Método dos Elementos Finitos
A ideia primordial do método dos elementos finitos é dividir o problema
original em inúmeras partes de tamanhos menores, as quais são chamadas de
elementos finitos. Cada um desses elementos são ligados através do que é
chamado nó, e são descritos por sua própria equação diferencial. Isto possibilita a
criação de um sistema de equações, permitindo obter uma solução numérica do
problema (Fish e Belytschko, 2007).
A principal vantagem da utilização do métodos dos elementos finitos é a
representação precisa de materiais complexos, a inclusão de propriedades distintas
em diferentes materiais e também a identificação de efeitos localizados que são
difíceis de serem identificados utilizando outros métodos.
2.4.4.1 Modelos constitutivos
A sofisticação e versatilidade que a modernização computacional oferece,
possibilita o crescimento dos estudos utilizando modelagem. Os modelos
constitutivos são simplificações do comportamento dos materiais, que se dá através
de formulações matemáticas, objetivando uma representação gráfica precisa de
31
suas características mais importantes como a não-linearidade entre tensão e
deformação (Desai e Siriwardane, 1984).
O comportamento dos solos é, geralmente, bastante complexo e depende de
diversos fatores como por exemplo a história de tensões, homogeneidade e
temperatura. Portanto, existem diversas formulações para representar o
comportamento dos solos e que variam desde os mais simples, como linear
elástico, até os mais complexos que envolvem endurecimento cinemático (Duarte,
2006).
Vários modelos constitutivos são baseados na teoria da plasticidade. A
matemática da teoria da plasticidade constitui-se principalmente de dois aspectos: a
definição do critério de plastificação e o cálculo das deformações plásticas após o
escoamento. O critério de plastificação é definido como a combinação de estado de
tensões que delimita a ocorrência de deformações plásticas, onde a expressão
matemática que a representa é, normalmente, definida através de observações
experimentais (Burnier, 2006). Um dos modelos constitutivos mais difundidos para a
análise de solos é o modelo elasto-plástico perfeito de Mohr-Coulomb (Tiser, 2004).
Para este tipo de material, a superfície de escoamento permanece fixa e as tensões
após o escoamento permanecem constantes (Burnier, 2006).
2.5 DESCRIÇÃO DOS TRABALHOS UTILIZADOS
Neste tópico são apresentadas breves discussões sobre as duas
dissertações e o artigo utilizados como base para o desenvolvimento das
simulações. A primeira, apresentado em 2006 à Universidade Federal de Viçosa
(UFV) pelo aluno Leandro Duarte, intitula-se “Análise de prova de carga
instrumentada em uma sapata rígida.”. O segundo, foi o artigo desenvolvido por
alunos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) intitulado “Comportamento
de sapatas de concreto armado assentes em lamito da formação Santa Maria.”. O
terceiro trabalho intitula-se “Análise numérica de uma prova de carga direta em solo
residual de Gnaisse” apresentado à UFV por Almeida (2000) e trás os resultados da
prova de carga do trabalho de Lopes (1997).
32
2.5.1 Prova de carga realizada por Duarte (2006)
A prova de carga foi realizada no campo experimental de Agronomia,
Campus da UFV em Viçosa – MG. A sapata é rígida, de base quadrada igual a
0,8m, e foi assentada na cota de apoio de 0,5m. Como a profundidade é pequena,
esta será desconsiderada na simulação, já que este procedimento é a favor da
segurança do sistema.
A granulometria encontrada revela uma argila-areno-siltosa de alta
compressibilidade. O peso específico natural do solo é 𝛾!!" = 16,44𝑘𝑁/𝑚3. Os
ensaios de cisalhamento direto obtiveram os parâmetros de resistência: coesão c’ =
66,06 𝑘𝑁/𝑚2 e ângulo de atrito 𝜙 = 24°. Ensaios triaxiais axissimétricos também
foram executados a fim de confirmar os resultados, revelando parâmetros muito
próximos aos de cisalhamento direto: coesão c’ = 65,2 𝑘𝑁/𝑚2 e ângulo de atrito
𝜙 = 21°.
A prova de carga revelou ruptura local e para este tipo Terzaghi (1943) apud
Duarte (2006) sugere uma redução dos parâmetros como se segue:
𝑐 ∗=23 𝑐′(𝑘𝑁/𝑚!) (22)
𝑡𝑔 𝜙 ∗ =23 𝑡𝑔(𝜙) (23)
Portanto, os parâmetros utilizados para a realização da simulação são
coesão c’ = 43,46 𝑘𝑁/𝑚2 e ângulo de atrito 𝜙 = 14,36°.
O ensaio de SPT mostrou camadas varia de 0,45m à 3,35m de argila
arenosa e siltosa com mica e 𝑆𝑃𝑇!é!"# = 10 (média entre os SPTs desde a cota de
assentamento até a profundidade igual a 2B). Através da sondagem pressiométrica
na profundidade de 0,6m foram obtidos os valores do módulo de Menárd 𝐸! =
2664,98 𝑘𝑃𝑎, 𝑃! = 10 𝑐𝑚! e 𝑃! = 360 𝑐𝑚!. Combarieu (1995) apud Fawaz (2014)
desenvolveu a equação 24 que correlaciona os parâmetros obtidos através da
sondagem pressiométrica com o módulo de elasticidade com a finalidade de
obtenção deste.
33
𝑃! + 𝑐′𝑐𝑜𝑡𝜙 = 𝑃! + 𝑐′𝑐𝑜𝑡𝜙 1+ 𝑠𝑖𝑛𝜙𝐸
2 1+ 𝜐 𝑃! + 𝑐′𝑐𝑜𝑡𝜙 𝑠𝑖𝑛𝜙
!"#$!!!"#$
(24)
Aplicando os valores obtidos através dos ensaios na equação 24, foi obtido o
módulo de elasticidade 𝐸 = 2962 𝑘𝑃𝑎, o qual será utilizado nas simulações.
Vale ressaltar que a prova de carga realizada por Duarte (2006) utilizou
carregamentos com intervalos incrementais sucessivos de 25 kN, como indica a
ABNT NBR 6489 (1984).
Os resultados obtidos por Duarte (2006) são mostrado na figura 10.
Figura 10 – Resultado da prova de carga apresentado por Duarte (2006)
Fonte: Duarte (2006)
34
Atentando para o que indica a ABNT NBR 6489 (1994), e considerando que
o solo não atingiu a tensão de ruptura durante o experimento, o autor dispôs de três
métodos teóricos para fazer a sua previsão. O primeiro, método de Massad,
extrapola os dados com base em n valores de recalque igualmente espaçados,
chegando a um valor de força de 272kN e tensão de 425kPa. O segundo, método
da função hiperbólica, procura aproximar a curva carga-recalque através de uma
curva hiperbólica padrão; este apresentou uma tensão de ruptura de 459,21kPa ou
293,89kPa. Já o método de Decórt, utiliza o chamado gráfico de correção, descrito
a partir de equações logarítmicas o qual resultou em uma carga de ruptura de
215,77kN ou 337kPa. Através de comparações entre a curva carga-recalque e os
resultados determinados por estes métodos, o autor concluiu que o método de
Decórt é o que mais se aproxima do resultado do experimento.
2.5.2 Prova de carga realizada por Miozzo et al. (2009)
O estudo foi realizado no campo experimental de engenharia geotécnica da
UFSM, em um terreno que apresenta o relevo alterado, plano à suave ondulado. A
caracterização geotécnica deste solo foi realizada por Emmer (2004) apud Miozzo
et al. (2009) durante a implantação do campo experimental, quando um grande
número de amostras foi submetida a diversos ensaios de caracterização e
investigação. Os resultados de SPT mostra uma argila arenosa de consistência
média a rija, apresentando 𝑆𝑃𝑇!é!"# = 13 . Já os ensaios de caracterização
revelaram um peso específico natural do solo 𝛾!"# = 18,99𝑘𝑁/𝑚3, coesão c’ = 30,70
𝑘𝑁/𝑚2 e ângulo de atrito 𝜙 = 23°.
No trabalho de Miozzo et al. (2009) foram realizadas quatro provas de carga
estática em sapata pré-moldadas de concreto armado. A sapata é quadrada de
0,6m de lado e 0,25m de altura. Para transferência da carga, foi construído um
pilarete de 0,20x0,20x0,65m. Com essa geometria é possível afirmar que a sapata
é rígida. A cota de realização do ensaio – 1m de profundidade – foi atingida após a
retirada do solo do local.
35
A curva carga-recalque encontrada na prova de carga de Miozzo et al.
(2009) está disponível na figura 11.
Figura 11 – Resultados da prova de carga apresentado por Miozzo et al. (2009)
Fonte: Miozzo et al. (2009)
O trabalho consistiu em quatro provas de carga, cada uma gerou uma curva
carga-recalque específica. O ensaio S-1 foi realizado com incrementos de carga de
50kN e atingiu a ruptura sob a carga de 350kN e tensão de 972,2kPa. Já o ensaio
S-2 foi realizado com incrementos de 40kN até 320kN e depois passou para 350kN
antes de iniciar o processo de descarregamento onde foi observado que o solo
ainda tinha uma pequena carga de reação, pois reestabeleceu uma pequena parte
das deformações. O ensaio S-3 foi semelhante ao S-2, até atingir 350kN quando
atingiu a ruptura. Já o último ensaio, o S-4, foi feito semelhante ao S-1, com
36
incrementos de carga de 50kN; porém, quando atingiu 300kN, os incrementos
passaram a 20kN e o solo atingiu a ruptura com 370kN e tensão de 1027,8kPa.
2.5.3 Prova de carga realizada por Lopes (1997) apud Almeida (2000)
A prova de carga foi realizada no Campo Experimental de Geotecnia do
Departamento de Engenharia Civil da UFV. Importante observar que o local sofreu
desconfinamento após a escavação do talude existente no local. A sapata é
quadrada com 1,2 m de lado e foi assentada a uma profundidade de 1 m. O ensaio
foi dividido em duas etapas. A primeira, pretendia-se chegar a um terço da provável
capacidade do solo, aplicados em dez estágios de carregamento, realizando em
seguida um descarregamento total, também em 10 estágios. Após este período, a
sapata seria carregada novamente até a ruptura do solo ou a máxima capacidade
de carga do sistema.
A sondagem de SPT foi realizada através de três furos próximos ao local de
ensaio, e revela um 𝑆𝑃𝑇!é!"# = 15,2 – média entre os três 𝑆𝑃𝑇!é!"# apresentados
no trabalho. As amostras retiradas foram submetidas a ensaios de caracterização,
compressibilidade e resistência os quais revelaram uma Areia Siltosa com
𝛾!"# = 13,75𝑘𝑁/𝑚3, coesão c’ = 12 𝑘𝑁/𝑚2 e ângulo de atrito 𝜙 = 30°.
Os resultados alcançados na prova de carga encontram-se na figura 12.
37
Figura 12 – Resultado da prova de carga apresentado por Lopes (1997)
Fonte: Lopes (1997) apud Almeida (2000)
Segundo Lopes (1997) apud Almeida (2000), o primeiro descarregamento foi
feito quando o solo atingiu um terço da tensão prevista, correspondente a 450 kPa.
Após esta etapa, o autor reiniciou o carregamento até a ruptura do solo, a qual
ocorreu em aproximadamente 1750kN.
38
3 METODOLOGIA
3.1 SIMULACÕES NUMÉRICAS
O primeiro passo para elaboração desta pesquisa foi a definição das provas
de carga utilizadas como parâmetro para a simulação numérica. O critério adotado
para a seleção foi a confiabilidade dos dados apresentados e, devido a esta
premissa, foram selecionados duas dissertações de mestrado e um artigo Os
procedimentos de cada trabalho foram apresentados de forma sucinta no
referencial teórico.
O software utilizado para as simulações foi a versão educacional do Plaxis
2D, um pacote de elementos finitos desenvolvido para análises de deformação e
estabilidade de obras geotécnicas em duas dimensões.
A seleção dos modelos constitutivos utilizados, além de considerar somente
os abrangidos pelo programa, levou em conta o grau de complexidade dos mesmos
e sua capacidade de representar adequadamente o comportamento do solo
proposto, sendo as escolhas baseadas em análises já propostas na literatura que
apresentaram resultados satisfatórios (Tiser, 2004). O modelo elasto-plástico
perfeito de Mohr-Coulomb foi utilizado nas simulações apresentadas neste trabalho
pois é um dos mais difundidos na análises do solo por considerar os dois principais
parâmetros: coesão e ângulo de atrito. Este modelo requer um total de cinco
parâmetros de rigidez e resistência definidos através de testes de laboratório. São
os seguintes:
• 𝐸(𝑘𝑃𝑎) – Módulo de Young
• υ – Coeficiente de Poisson
• 𝑐′ (𝑘𝑁/𝑚!) – Coesão
• 𝜙 (∘) – Ângulo de atrito
• 𝜓(∘) – Ângulo de dilatância
39
Por sua vez, o ângulo de dilatância de argilas e areias – solos escolhidos
para estudo – é tão pequeno que será considerado zero para efeitos de simulação
neste trabalho.
Segundo Cintra et al (2003) no caso de fundações superficiais quadradas ou
de forma irregular, para efeitos de análise e simulação, pode-se considerar uma
sapata circular de área equivalente. A versão disponível do Plaxis é a 2D, portanto,
para melhor considerar os efeitos em duas dimensões, foi utilizado o modo
axissimétrico de análise, o qual irá descrever uma sapata circular de área
equivalente à analisada.
Segundo o Plaxis 2D Reference Manual (2016), há duas opções de
elementos: seis ou quinze nós. O de quinze nós fornece interpolações de quarto
grau para deslocamentos e a integração numérica envolve doze pontos de Gauss.
Os elementos com quinze nós são bastante precisos e são recomendados para uso
em análises axissimétricas. Devido à cálculos mais lentos e maior consumo de
memória dos elementos com quinze nós, há também disponibilidade de utilização
de elementos com seis nós. Este fornece interpolações de segunda ordem para
deslocamentos e a integração numérica envolve três pontos de Gauss, mas acaba
superestimando os resultados quando se trata de capacidade de carga.
Baseando-se em trabalhos semelhantes disponíveis na literatura, a
dimensão utilizada para a amostra de solo na simulação é de profundidade 4B e
largura 8B, sendo B a largura da fundação (Pereira et al., 2003).
Os trabalhos selecionados para o desenvolvimento das simulações já
dispunham das características principais do solo estudado. Outras características
necessárias não disponíveis nos trabalhos selecionados foram obtidas através de
tabela de valores médios disponíveis na literatura, as quais serão explicitadas nos
tópicos explanatórios das respectivas simulações neste capítulo.
As simulações serão desenvolvidas a partir da imposição dos
deslocamentos. Para uma melhor análise dos resultados, aplicamos um
deslocamento um terço maior do que o alcançado pelas provas de carga, assim
garantindo o alcance da carga de ruptura do solo. Após o término, os gráficos e
informações necessárias para análise são gerados automaticamente pelo Plaxis
2D.
40
Como mostrado na figura 13, o deslocamento imposto ocorreu do nó 1 à 4,
enquanto que, nas situações em que houve tensões acima da cota da sapata,
aplicou-se também tensões do nó 4 à 2, como indica Terzaghi, o qual ocorre no
trabalho de Lopes (1997) apud Almeida (2000).
Figura 13 – Esquematização da simulação Fonte: Autoria própria
Após impor os deslocamentos, define-se os parâmetros do solo – obtidos
através dos trabalhos – e então o software gera automaticamente a malha de
elementos. A figura 14 representa a densidade da malha utilizada.
41
Figura 14 – Densidade da malha Fonte: Autoria própria
42
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 PROVA DE CARGA REALIZADA POR DUARTE (2006)
O resumo dos dados utilizados na simulação encontra-se na tabela 4.
Tabela 4 – Resumo dos parâmetros do solo I
Tipo 𝛾!"# (𝑘𝑁/𝑚!) 𝜙 (∘) 𝑐′ (𝑘𝑁/𝑚!) 𝐸(𝑘𝑃𝑎) υ* Raio (m)
Argila
Arenosa 16,44 14,36 43,46 2962 0,33 0,45
*O Coeficiente de Poisson foi retirado de tabelas de valores médios, disponíveis em
Gerscovich (2008)
Fonte: Autoria própria
Como mencionado anteriormente, o deslocamento imposto foi de 13cm,
aproximadamente um terço a mais do resultado da prova de carga. Os resultados
são mostrados na figura 15.
43
Figura 15 – Resultado da simulação I Fonte: Autoria própria
Portanto, a ruptura se desenvolve sob a carga de aproximadamente
40kN/rad ou 251 kN e após cerca de 10 centímetros de deslocamento,
aproximadamente o mesmo deslocamento resultante da prova de carga.
A tensão de ruptura gerada pela prova de carga foi de aproximadamente
337 𝑘𝑃𝑎, enquanto que pela simulação foi de 350,19 𝑘𝑃𝑎. Aplicando as teorias
apresentadas no referencial teórico, foi possível chegar aos valores teóricos e
empíricos apresentados na tabela 5.
44
Tabela 5 – Comparações entre os métodos I
𝜎!"#(𝑘𝑃𝑎)
Calculado/
Experimental 𝜎!"# 𝑘𝑃𝑎 ∗
Calculado/
Experimental
Prova de Carga 337 1 168,5 1
Simulação 350,19 1,04 - -
Terzaghi 561,39 1,66 187,13 1,11
Fórmula Geral 781,92 2,32 260,64 1,54
SPT 600 1,78 200 1,18 *Os coeficientes para determinação da tensão admissível são os determinados pela
ABNT NBR 6122 (2010)
Fonte: Autoria própria
O resultado da simulação foi satisfatório, o valor mais próximo da prova de
carga. Já os resultados dos métodos teóricos e semi-empíricos resultaram em
valores que extrapolam consideravelmente os da prova de carga, chegando ao
dobro. Por outro lado, quando a análise passa a ser das tensões admissíveis, os
resultados teóricos e semi-empíricos se aproximam consideravelmente dos
resultados da prova de carga. O mais próximo neste caso é Terzaghi, com pouca
diferença dos resultados de SPT. Porém, deve-se observar que apesar de
próximos, os resultados da tensão admissível são maiores que os da prova de
carga, situação contra a segurança.
4.2 PROVA DE CARGA REALIZADA POR MIOZZO ET AL. (2009)
O resumo dos dados utilizados na simulação encontra-se na tabela 6.
45
Tabela 6 – Resumo dos parâmetros do solo II
Tipo 𝛾!"# (𝑘𝑁/𝑚!) 𝜙 (∘) 𝑐′ (𝑘𝑁/𝑚!) 𝐸 𝑘𝑃𝑎 * υ* Raio (m)
Argila
Arenosa 18,99 23 30,7 34320 0,3 0,33
Obs: O Coeficiente de Poisson e Módulo de Young foram retirados de tabelas de valores
médios, disponíveis em Gerscovich (2008)
Fonte: Autoria própria
O deslocamento imposto foi de cinco centímetros, e a curva carga x recalque
resultante da simulação encontra-se na figura 16.
Figura 16 – Resultado da simulação III
Fonte: Autoria própria
Portanto, a ruptura ocorreu sob a carga de aproximadamente 58 kN/rad ou
369 kN (multiplicando por 6,28 – quantidade de radianos por circunferência), cerca
de 10% a menos do que o resultado da prova de carga, que foi de
aproximadamente 350kN – média entre todos os ensaios apresentados. O solo
46
rompeu após cerca de quatro centímetros de deslocamento, aproximadamente o
dobro do resultado da prova de carga.
Aplicando as teorias apresentadas anteriormente, foi possível chegar aos
valores teóricos e empíricos apresentados na tabela 7.
Tabela 7 - Comparações entre os métodos II
𝜎!"#(𝑘𝑃𝑎) Calculado/
Experimental 𝜎!"# 𝑘𝑃𝑎 ∗
Calculado/
Experimental
Prova de Carga 985,9 1 492,8 1
Simulação 1080 1,09 - -
Terzaghi 714,93 0,72 238,31 0,48
Fórmula Geral 823,87 0,83 274,6 0,55
SPT 780 0,79 260 0,52 *Os coeficientes para determinação da tensão admissível são os determinados pela
ABNT NBR 6122 (2010)
Fonte: Autoria própria
Através desta comparação entre os valores foi possível observar que a
simulação gerou um resultado satisfatório, em torno de 9% acima da tensão
admissível real. Já nos resultados teóricos, não há uma diferença significante entre
eles, porém, deve ser levado em conta que alguns dos fatores propostos pela
fórmula geral não foram utilizados, como os de inclinação da base e terreno. Já o
método semi-empírico utilizado, o SPT, mostrou resultados satisfatórios, a favor da
segurança, em torno de 79% do valor experimental. Por outro lado, os valores das
tensões admissíveis se afastaram ainda mais valores admissíveis experimentais,
ainda que a favor da segurança resultaram em tensões em torno da metade da
capacidade admissível experimental.
47
4.3 PROVA DE CARGA REALIZADA POR LOPES (1997) APUD ALMEIDA (2000)
Para a realização da simulação, as características utilizadas estão descritas
na tabela 8.
Tabela 8 – Resumo dos parâmetros do solo III
Tipo 𝛾!"# (𝑘𝑁/𝑚!) 𝜙 (∘) 𝑐′ (𝑘𝑁/𝑚!) 𝐸 𝑘𝑃𝑎 * υ* Raio (m)
Areia
Siltosa 13,75 30 12 10000 0,27 0,68
Obs: O Coeficiente de Poisson e Módulo de Young foram retirados de tabelas de valores
médios, disponíveis em Gerscovich (2008)
Fonte: Autoria própria
O deslocamento imposto foi de 0,18m, e a curva carga recalque é
apresentada na figura 17.
48
Figura 17 – Resultado da simulação III Fonte: Autoria própria
A ruptura ocorreu por volta de 230 kN/rad ou 1470kN. Aplicou-se as teorias
apresentadas no referencial, foi possível elaborar a tabela 9 para fins de
comparação das teorias com as simulações.
Tabela 9 – Comparações entre os métodos III
𝜎!"#(𝑘𝑃𝑎) Calculado/
Experimental 𝜎!"# 𝑘𝑃𝑎 ∗
Calculado/
Experimental
Prova de Carga 1750 1 875 1
Simulação 1470 0,84 - -
Terzaghi 827 0,47 275 0,31
Fórmula Geral 1315,6 0,75 438,5 0,5
SPT 912 0,52 304 0,35 *Os coeficientes para determinação da tensão admissível são os determinados pela
ABNT NBR 6122 (2010)
Fonte: Autoria própria
49
O resultado da simulação é novamente o mais próximo da prova de carga,
ainda que mais distante do que os resultados anteriores. A diferença entre o valor
resultando de Terzaghi e da Fórmula Geral provavelmente se dá pela consideração
da profundidade da cota de assento, fazendo com que a segunda opção
correspondesse à mais próxima do valor real. Apesar de distante do valor
experimental, o resultado de SPT ainda é a favor da segurança.
4.4 DISCUSSÕES
A tabela 10 apresenta as comparações entre os valores calculados e
experimentais dos resultados das tensões de ruptura.
Tabela 10 – Comparações entre as tensões de ruptura dos métodos analisados
Simulação I II III
Tipo de solo Argila
Arenosa
Argila
Arenosa
Areia
Siltosa
Prova de Carga 1 1 1
Simulação 1,04 1,09 0,84
Terzaghi 1,66 0,72 0,47
Fórmula Geral 2,32 0,83 0,75
SPT 1,78 0,79 0,52 Fonte: Autoria própria
Como mencionado anteriormente, devido a indisponibilidade da versão
tridimensional do Plaxis, todos os modelos foram simulados supondo problema
axissimétrico, ou seja, o programa descreveu sapatas circulares de área
equivalente à estudada. Os resultados da simulação se mostraram deveras
uniforme comparando todas, variando somente de 84% a 109%, valores mantendo-
50
se próximos aos experimentais. Isso mostra que a aplicação do modelo constitutivo
de Mohr-Coulomb foi apropriado para este padrão de solo – Argila Arenosa e Areia
Siltosa. Vale ressaltar que a Argila Arenosa teve variação menor em comparação
com a Areia Siltosa, discrepância que pode ter sido causada por diversos motivos,
como a adaptabilidade do modelo ao solo.
Em contrapartida, os modelos teóricos apresentaram resultados bastante
variáveis em relação uns aos outros. Variam de 47% a 232% do resultado da prova
de carga. Entre os dois métodos apresentados, não há grande diferença a ser
considerada. Isto se deve ao fato de que os diferenciais entre as duas equações
acabaram não sendo levados em conta devido a simplicidade da fundação. Por
exemplo, em nenhum dos casos apresentados a fundação era inclinada. Portanto, a
principal diferença entre os métodos propostos é a consideração na profundidade
na equação, e que não apresentava profundidade tão relevante.
Já no caso do SPT, apresentou menor variabilidade comparando com os
métodos teóricos, característica que, somado à simplicidade do método, representa
e garante seu grande uso na engenharia de fundações.
A tabela 11 apresenta as comparações entre os valores calculados e o
experimental dos resultados das tensões admissíveis.
Tabela 11 – Comparações entre as tensões de admissíveis dos métodos analisados
Simulação I II III
Tipo de solo Argila
Arenosa
Argila
Arenosa
Areia
Siltosa
Prova de Carga 1 1 1
Simulação - - -
Terzaghi 1,11 0,48 0,31
Fórmula Geral 1,54 0,55 0,5
SPT 1,18 0,52 0,35 Fonte: Autoria própria
51
Devido à norma não formalizar o uso de simulações utilizando o método
dos elementos finitos como forma de determinar a capacidade de carga de
fundações rasas, não há disponível um fator de segurança oficial. Além de que,
antes da comprovação da eficiência do método, este poderá ser utilizado como
forma de confrontar com resultados de outros métodos, fato que comprova
novamente a necessidade de mais estudos como este.
Como consequência dos resultados da tensão de ruptura, os métodos
teóricos apresentaram valores com grande variabilidade, porém, com menor
variação comparado aos resultados anteriores, de 31% à 154%. Isto reforça que,
apesar dos fatores de segurança apresentados pela norma aproximarem dos
valores experimentais, o processo ainda é bastante ineficiente.
Dentre os métodos apresentados, o SPT é o que mais se aproxima dos
valores experimentais e, quando distantes, continuam a favor da segurança,
reforçando a grande representatividade dentre os métodos apresentados.
52
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES
5.1 CONCLUSÕES
Este trabalho teve como principal objetivo determinar a capacidade de
carga de fundações rasas através de simulações utilizando o método dos
elementos finitos, e compara-los com outros métodos tradicionais indicados por
norma a fim de apontar os desvios entre os resultados.
Para realizar a simulação, foi usado o programa computacional Plaxis 2D
como também o modelo constitutivo elasto-plástico perfeito de Mohr-Coulomb.
Foram realizados três ensaios baseados em resultados de provas de carga
publicados na literatura, como mestrados e artigos.
Notou-se uma pequena variabilidade entre os métodos teóricos
apresentados: Método de Terzaghi e Fórmula Geral (Método de Terzaghi adaptado
por Meyerhof). Isso se deve ao fato de nenhuma das fundações apresentarem
condições especiais de construção encontradas diariamente na engenharia, como
por exemplo inclinação do carregamento. Porém, foi constatado também uma
grande variabilidade entre o teórico e real.
Assim como nos métodos teóricos, os resultados do método semi-
empírico analisado, o SPT, apresentaram valores constantes mas distantes dos da
prova de carga e devido a isto necessita de um maior número de dados para
determinar sua variância e estabelecer critérios de correção.
A simulação utilizando método dos elementos finitos foi o método que,
nesta pesquisa, se mostrou mais próximo do considerado real. Isto se deve a
adaptabilidade do modelo constitutivo ao solo avaliado como também a forma com
que a simulação foi desenvolvida – através da imposição de deslocamentos.
Portanto, apesar da necessidade de um estudo aprofundado de casos
mais distintos, a pesquisa demostra a importância da inserção do método dos
elementos finitos na engenharia geotécnica como ferramenta para realizar a
previsão da capacidade de carga do elemento de fundação.
53
5.2 SUGESTÕES
Devido à variabilidade apresentada entre os métodos teóricos e semi-
empíricos, recomenda-se realizar a pesquisa para um maior número de dados a fim
de estabelecer um critério de correção dos resultados teóricos para os
considerados reais.
Para uma melhor abrangência dos resultados, sugere-se a mesma
avaliação com solos variados que necessitem de estudos mais avançados, como os
solos orgânicos, colapsíveis ou com presença de lençóis freáticos. Porém, há
também influência de outros pontos como a profundidade, formato e tamanho das
fundações. Variações nessas características da fundação são imprescindíveis para
determinar a funcionalidade do método.
54
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