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Pharmacia Brasileira - Maio/Junho 2004 4 BAIXOS PREÇOS SUFOCAM LABORATÓRIOS Analistas clínicos de todas as profissıes reœnem-se, em Brasília, a convite do CFF, para discutir os temas mais relevantes do setor e buscar respostas aos seus problemas Foi uma unanimi- dade: o “I Fórum Éti- co Legal em Análises Clínicas” recebeu de todos os seus partici- pantes nota dez e o re- conhecimento de ter sido um dos mais conseqüentes eventos do setor. O fórum foi realizado pelo Conse- lho Federal de Farmá- cia (CFF), nos dias 20 e 21 de maio de 2004, em seu auditório, em Brasília. Abordou os pontos mais relevantes e respondeu algumas das respostas mais recorrentes dentro do setor. Diretores do CFF, das entidades re- presentativas do setor (a SBAC - Socieda- de Brasileira de Análises Clínicas, a SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, a SBCC - Sociedade Brasileira de Citologia Clínica), e o Conselho Federal de Biomedicina (CFBM), da Confederação Nacional de Saúde (CNS), da Associação Brasileira de Nor- mas Técnicas, da Câmara Brasileira de Diagnósti- co Laboratorial, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), da Frente Parlamentar de Saú- de, bem como farmacêuticos e outros convida- dos discutiram pontos nevrálgicos, como os re- quisitos mínimos para o funcionamento de labo- ratórios clínicos, postos de coleta e terceirização, os baixos pagamentos dos exames praticados pelo Sistema Único de Saúde e planos de saúde priva- da, entre outros. Além de complexo, pela abordagem profun- da dos temas ligados às Análises Clínicas, o Fórum trouxe respostas aos problemas que impacientam o setor. Hoje, as Análises Clínicas vivem um mo- mento crucial. De um lado, aguardam a elabora- ção, pela Anvisa e com a participação do setor, da norma que irá definir o funcionamento dos labo- ratórios e dos postos de coleta. Está em gestação, ainda, outra medida sobre o gerenciamento de re- síduos. Baixa remuneração - Saindo do campo da legislação, os laboratórios vivem um ponto de estrangulamento comprometedor do futuro do se- tor: a baixíssima remuneração aos exames. Para se ter uma idéia, o farmacêutico Tércio Egon, Vice-presidente da Confederação Na- cional de Saúde (CNS), uma entidade sin- dical patronal de grau superior à qual estão ligados todos os estabelecimentos prestadores de serviços de saúde do Bra- sil, informa que 100% de reajuste ainda seriam insuficientes para corrigir a astro- nômica defasagem dos preços, resultado de mais de oito anos de congelamento, motivo da insolvência de vários labora- ANÁLISES CLÍNICAS Pelo jornalista Aloísio Brandão, editor desta revista, com a colaboração da estagiária de Jornalismo Leilane Alves

ANÁLISES CLÍNICAS BAIXOS PREÇOS SUFOCAM · Patologia Clínica/Medicina ... mas Técnicas, ... postos de coleta e terceirização, os baixos pagamentos dos exames praticados pelo

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Pharmacia Brasileira - Maio/Junho 200444444

BAIXOS PREÇOS

SUFOCAMLABORATÓRIOS

Analistas clínicos detodas as profissõesreúnem-se, emBrasília, a convite doCFF, para discutir ostemas maisrelevantes do setor ebuscar respostas aosseus problemas

Foi uma unanimi-dade: o “I Fórum Éti-co Legal em AnálisesClínicas” recebeu detodos os seus partici-pantes nota dez e o re-conhecimento de tersido um dos maisconseqüentes eventosdo setor. O fórum foirealizado pelo Conse-lho Federal de Farmá-cia (CFF), nos dias 20

e 21 de maio de 2004, em seu auditório, em Brasília.Abordou os pontos mais relevantes e respondeu

algumas das respostas mais recorrentes dentrodo setor.

Diretores do CFF, das entidades re-presentativas do setor (a SBAC - Socieda-

de Brasileira de Análises Clínicas, aSBPC/ML - Sociedade Brasileira de

Patologia Clínica/MedicinaLaboratorial, a SBCC - Sociedade

Brasileira de Citologia Clínica),e o Conselho Federal de

Biomedicina (CFBM), da Confederação Nacionalde Saúde (CNS), da Associação Brasileira de Nor-mas Técnicas, da Câmara Brasileira de Diagnósti-co Laboratorial, da Anvisa (Agência Nacional deVigilância Sanitária), da Frente Parlamentar de Saú-de, bem como farmacêuticos e outros convida-dos discutiram pontos nevrálgicos, como os re-quisitos mínimos para o funcionamento de labo-ratórios clínicos, postos de coleta e terceirização,os baixos pagamentos dos exames praticados peloSistema Único de Saúde e planos de saúde priva-da, entre outros.

Além de complexo, pela abordagem profun-da dos temas ligados às Análises Clínicas, o Fórumtrouxe respostas aos problemas que impacientamo setor. Hoje, as Análises Clínicas vivem um mo-mento crucial. De um lado, aguardam a elabora-ção, pela Anvisa e com a participação do setor, danorma que irá definir o funcionamento dos labo-ratórios e dos postos de coleta. Está em gestação,ainda, outra medida sobre o gerenciamento de re-síduos.

Baixa remuneração - Saindo do campoda legislação, os laboratórios vivem um ponto deestrangulamento comprometedor do futuro do se-tor: a baixíssima remuneração aos exames. Para

se ter uma idéia, o farmacêutico TércioEgon, Vice-presidente da Confederação Na-cional de Saúde (CNS), uma entidade sin-dical patronal de grau superior à qual estãoligados todos os estabelecimentosprestadores de serviços de saúde do Bra-sil, informa que 100% de reajuste aindaseriam insuficientes para corrigir a astro-nômica defasagem dos preços, resultadode mais de oito anos de congelamento,motivo da insolvência de vários labora-

ANÁLISES CLÍNICAS

Pelo jornalista Aloísio Brandão, editor desta revista,com a colaboração da estagiária de Jornalismo Leilane Alves

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tórios pelo País afora (veja entrevista com Tércio Egonnas páginas seguintes deste edição).

Aí, surgem perguntas instigantes: com tamanhadefasagem na remuneração dos serviços que prestam,como os laboratórios podem investir em qualidade? Quecaminhos tomar que garantam as suas sobrevivências?O que não pode ficar de fora e o que deve pontuar asnormas que estão em fase de elaboração para regula-mentar o setor?

O Presidente da SBAC (Sociedade Brasileira deAnálises Clínicas), Willy Carlos Yung, assegura que oslaboratórios filiados às sociedades científicas que re-presentam o setor, que são a própria SBAC e a SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/MedicinaLaboratorial), não sofrem problema algum relacionadoà qualidade.

A dificuldade do setor concentra-se mesmo naremuneração não condizente dos exames. O problemanão atinge apenas os laboratórios de farmacêuticos, mastambém de médicos. “As operadoras de planos de saú-de que atuam no mercado da saúde suplementar con-tratam serviços de análises clínicas, sem distinguir se olaboratório tem como responsável um profissional deformação em Medicina, Farmácia-bioquímica ouBiomedicina. Da mesma forma, temos observado que

não costumam ter formas diferen-tes de remuneração de laboratóri-os, quando se trata da mesma re-gião”, explica o Vice-presidente daSBPC/ML, médico WilsonShcolnik.

A Presidente da Comissão deAnálises Clínicas do CFF e Coor-denadora do Fórum, Lenira da Sil-va Costa, Conselheira Federal deFarmácia pelo Rio Grande do Nor-te, diz que “não se pode mais per-mitir o fechamento de laboratóri-os. “Eles fizeram grandes investi-mentos e não conseguem realizarnovos exames, pois a tabela prati-cada no mercado está defasada enão contempla novas tecnologias”.

A revista PHARMACIABRASILEIRA cobriu o I Fórum Ético Legal em Análi-ses Clínicas. Daí, extraiu matérias, inclusive sobre asMesas Redondas (suas apurações e deliberações) e rea-lizou várias entrevistas que podem dar uma radiografiamais apurada do que está acontecendo nas análises clí-nicas e o que o setor está fazendo para resolver os pro-blemas que mais o afligem..

ANÁLISES CLÍNICAS

Mesa de abertura do I Fórum. Da esquerda para a direita, os presidentes da CNS, Tércio Egon; da SBAC, Willy Yung; do CFF, Jaldo de Souza Santos;da SBPC/ML, Wilson Shcolnik; a Secretária Geral do CFF, Lérida Vieira, e a Presidente da Comissão de Análises Clínicas do CFF, Lenira da Silva Costa

Farmacêuticos representando entidades ligadas às Análises Clínicas participaram do evento

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ANÁLISES CLÍNICAS

Presidente do CFF pedeunião para que setorenfrente dificuldadesO Presidente do Conselho Fe-

deral de Farmácia, Jaldo de Souza San-tos, frisou, na abertura do I Fórum Éti-co Legal em Análises Clínicas, que adinâmica e a natureza do setor reque-rem o estreitamento de laços de coo-

peração e entendimento entre as enti-dades parceiras e regulamentadas porlei. São elas os Conselhos Federais deFarmácia, Medicina e Biomedicina.A união deve envolver ainda as socie-dades científicas (SBAC - Sociedade

Brasileira de AnálisesClínicas, e SBPC/ML -Sociedade Brasileirade Patologia Clínica /Medicina Labora-torial), além da Confe-deração Nacional deSaúde (CNS), sindica-tos de laboratórios,Anvisa (Agência Na-cional de VigilânciaSanitária), entre ou-tras.

Souza Santos foienfático, ao dizer que“o setor não vai bem”.Pediu aos participan-tes do evento que dis-

cutissem e encontrassem formas paragarantir uma nova realidade para asanálises clínicas, tanto no campo dasnormas de qualidade e segurança,quanto na relação dos laboratórios comos convênios, os fornecedores, aAnvisa e o paciente.

Pediu também mais sensibilida-de do Ministério da Saúde para com ascausas das análises clínicas e deixouclaro que o Conselho Federal de Far-mácia estará sempre à disposição dosetor para o encaminhamento de deli-berações. “Este é um importante mo-mento para as Análises Clínicas”, con-cluiu.

ENTREVISTA / TÉRCIO EGON

Nem 100%compensariam

preços dos exames

Vice-presidente da CNSdiz que preços pagospelo SUS e planos de

saúde privada não sãoéticos e culpa falta de

mobilização dacategoria

Se os planos de saúde privados e o SUS (SistemaÚnico de Saúde) reajustassem em 100% os preços que pa-

gam aos labo-ratórios deanálises clíni-cas pelos ser-viços que es-tes prestam,ainda assim se-ria pouco paracorrigir a enor-me perda que vêem sofrendo, nos últi-mos dez anos. A declaração é de TércioEgon Paulo Kasten, Vice-presidente da

Confederação Nacional de Saúde (CNS), Coordenador doDepartamento de Laboratórios dessa entidade e Secretário-

Dr. Jaldo de Souza Santos discursa na abertura do Fórum

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ENTREVISTA / TÉRCIO EGON

PHARMACIA BRASI-LEIRA - O senhor tem re-clamado dos preços pra-ticados pelo SUS e pla-nos de saúde em relaçãoaos exames realizadospelos laboratórios. O queestá acontecendo comos preços?Tércio Egon - Os preçospraticados não são éti-cos. Eles estão muitoabaixo dos nossos cus-

tos. O preço ético é o que cobre o cus-to do exame, com uma margem de lu-cratividade que possibilite o laborató-rio a investir em qualidade do atendi-mento ao cliente.

PHARMACIA BRASILEIRA -Por que os preços estão tão defasadosassim?

Tércio Egon - Porque os examesque prestamos estão, há oito anos, semsofrer nenhum reajuste.

PHARMACIA BRA-SILEIRA - Os preços che-garam a esses patamarespor que motivo?

Tércio Egon - Por fal-ta de mobilização de nos-sa categoria, que, até hoje,não entendeu bem o que éassociativismo.

PHARMACIA BRA-SILEIRA - Falta o que paraa categoria adquirir o en-tendimento sobre associ-ativismo e agir?

Tércio Egon - Faltacultura associativa.

PHARMACIA BRA-SILEIRA - Os laboratóriosprecisam de uma correçãonos preços de quanto?

Tércio Egon - De, no mínimo,100%. Digo no mínimo, porque o valorbase está tão defasado, que 100% deaumento ainda não representaria o ver-dadeiro valor do exame.

PHARMACIA BRASILEIRA -Como está a relação entre os planos desaúde e os laboratórios à luz dos paga-mentos e remunerações dos exames?

Tércio Egon - É uma relação leo-nina, devido ao fato de os convêniosditarem os preços.

PHARMACIA BRASILEIRA - Oque está sendo feito para alterar essarealidade?

Tércio Egon - A CNS participa daCâmara de Contratualização da ANS(Agência Nacional de Saúde Suplemen-tar), e a grande novidade, aí, é a obriga-toriedade da assinatura de contrato en-tre os planos de saúde e os laboratóri-os.

PHARMACIA BRASILEIRA - Eo que há de novo nisso?

Tércio Egon - Pela pri-meira vez, os laboratóri-os terão condições de,dentro de prazos deter-minados, poder negoci-ar reajustes de preçosdos seus exames.PHARMACIA BRASI-LEIRA - Como são firma-dos os contratos, hoje?Tércio Egon - Em suagrande maioria, não exis-tem contratos, mas ape-nas referenciamentos oucredenciamentos, quecaracterizam uma relaçãode prestação de serviçosabstrata. Nesses creden-ciamentos, não há cláu-sulas que assegurem

condições de pagamento, reajustes depreços e prazos de validade do contra-to.

PHARMACIA BRASILEIRA - Dr.Tércio, e como é a relação dos labora-tórios com o SUS?

Tércio Egon - É muito ruim. Há dezanos, o SUS não reajusta a tabela depreços laboratori-ais.

PHARMA-CIA BRASILEI-RA - A grandemaioria dos labo-ratórios atende aoSUS. A falta de re-ajuste da tabelatem levado labo-ratórios ao fecha-mento?

Tércio Egon- Sim. Os baixospreços e a falta dereajuste estão le-vando à insolvên-cia os laboratóri-os brasileiros que,em sua grandemaioria (cerca de90%), atendem ao SUS.

PHARMACIA BRASILEIRA -Das crises, sempre fica algo de positi-vo. O que ficará de bom desta longacrise?

Tércio Egon - Ficará um aprimora-mento da qualidade dos serviços labo-ratoriais muito grande em favor da as-sistência à saúde do cidadão brasilei-ro. A crise empurrou o setor para a ca-pacitação, para a busca da qualidade.E qualidade é o que podemos ofereceraos compradores dos nossos serviçose à sociedade. É o que nos faz reconhe-cidos.

�Os preçospraticados nãosão éticos. Opreço ético é oque cobre o custodo exame, comuma margem delucratividade quepossibilite olaboratório ainvestir emqualidade doatendimento aocliente�.

Geral do Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina.Tércio é o único dos seis Vice-presidentes da CNS, umaentidade sindical patronal de grau superior que congregatodos os estabelecimentos prestadores de serviços de saú-de do Brasil. Ele diz que os preços praticados “não sãoéticos”, critica os planos de saúde por “ditarem” os valores

e atribui parte da culpa pela situação à falta de mobilizaçãoda categoria, “que, até hoje, não entendeu bem o que éassociativismo”. Ele resume: “Falta cultura associativa”.Mas o Vice-presidente da CNS anuncia algumas novidadespara o setor. A revista PHARMACIA BRASILEIRA entre-vistou Tércio Egon. Veja a entrevista.

�Os baixospreços e a

falta dereajuste estão

levando àinsolvência os

laboratóriosbrasileiros

que, em suagrande

maioria (cercade 90%),

atendem aoSUS�.

Tércio Egon

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ENTREVISTA / WILLY YUNG

Qualidade garantidaA qualidade dos exames realizados pelos labo-

ratórios de análises clínicas filiados a sociedades cien-tíficas vai muito bem. Essas sociedades instituíram ri-gorosos programas de controle. Pena que somente umterço dos laboratórios está ligado a essas entidades. Éo que explica o Presidente da SBAC (Sociedade Brasi-

leira de Análises Clínicas), Willy Carlos Yung. A baixaremuneração aos serviços prestados é o problema (úni-co) que asfixia o setor, a ponto de levar algumas empre-sas a não mais realizarem determinados exames. APHARMACIA BRASILEIRA entrevistou Willy Yung.Veja a entrevista.

PHARMACIA BRASILEIRA - Osenhor diz não aceitar que alguém afir-me que a qualidade dos serviços doslaboratórios de análises clínicas estácaindo. Por que?

Willy Yung - Osbons laboratórios nãotêm problema de quedade qualidade em suasanálises. O que se verifica é que algunslaboratórios já não realizam mais deter-minados exames, em função de a remu-neração por parte dos planos de saúdeser baixíssima, muito inferior à realida-de do mercado. Todo bom laboratórioestá realizando o controle de qualidade.

PHARMACIA BRASI-LEIRA - Como é realiza-do o controle de quali-dade?Willy Yung - Há os con-troles interno e externo.O interno é realizadodentro do próprio labo-ratório e por ele próprio.Já o externo é realizadopor entidades, como aSBAC (Sociedade Brasi-leira de Análises Clíni-cas) e a SBPC (Socieda-de Brasileira de Patolo-

gia Clínica), entre outras.PHARMACIA BRASILEIRA -

Como eles são realizados?Willy Yung - O controle externo

consiste em que as entidades citadasenviam soros controle aos laboratóri-os inscritos com esse fim. Destaque-seque os valores referenciais dos anali-tos presentes nas amostras não são in-formados. O laboratório realiza as aná-lises e devolvem os resultados à sede

da entidade patrocinadora, que os ava-lia. Já o controle interno, o laboratóriopode realizar com soros próprios, oucomprá-los no mercado.

O controle dequalidade da SBAC érealizado pelo PNCQ(Programa Nacional deControle de Qualidade)

e o programa da SBPC é o PELM (Pro-grama de Excelência de LaboratóriosMédicos).

PHARMACIA BRASILEIRA - Osprocedimentos de controle estão acimade qualquer suspeita e questionamento?

Willy Yung - Sim. Nunca houveum problema agravante.

PHARMACIA BRASILEIRA - Aqualidade não é problema para os la-

boratórios. Qual então é,hoje, o maior problema dosetor?

Willy Yung - É abaixa remuneração prati-cada pelos planos priva-dos de saúde e pelo SUSaos exames realizadospelos laboratórios. Aqualidade não é o proble-ma, mas, infelizmente,somente um terço dos la-boratórios realizam o pro-grama de qualidade. Podemos respon-der pela qualidade daqueles laborató-rios filiados ao Programa de Controlede Qualidade (PNCQ) e PELM. Hoje,não se admite mais que um laboratóriofuncione sem controle de qualidade.

�Todo bom laboratórioestá realizando o

controle de qualidade�.

�A qualidadenão é o

problema,mas,

infelizmente,somente um

terço doslaboratórios

realizam oprograma de

qualidade�

E os laboratórios demédicos, como vão?

ENTREVISTA / WILSON SHCOLNIK

A baixa remuneração aos exames prestados pelos laboratórios de análisesclínicas ao Sistema Único de Saúde e aos planos de saúde privada, que age comoum torniquete estrangulando o setor, é um problema que aflige apenas as empre-sas de farmacêuticos, ou as de responsabilidade de médicos também vivem asmesmas dificuldades? A resposta vem do Vice-presidente da Sociedade Brasileirade Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), médico Wilson Shcolnik.A SBPC é uma entidade científica que congrega médicos portadores do Título deEspecialista em Patologia Clínica ou Medicina Laboratorial. Wilson Shcolnik par-ticipou, a convite do Conselho Federal de Farmácia, do I Fórum Ético Legal emAnálises Clínicas, realizado, em Brasília, nos dias 20 e 21 de maio, pelo CFF.Shcolnik deu esta entrevista à PHARMACIA BRASILEIRA.

Willy Yung

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ENTREVISTA / WILSON SHCOLNIK

PHARMACIA BRASI-LEIRA - Para os farma-cêuticos, o grande pro-blema dos laboratóriosde análises clínicas é ocongelamento dos pre-ços pagos pelo SUS epelos planos privadosaos seus exames, há maisde sete anos. O proble-ma dos laboratórios de

propriedade ou responsabilidade demédicos, é, também, a defasagem dospreços?

Wilson Shcolnik - As operado-ras de planos de saúde que atuam, nomercado da saúde suplementar, contra-tam serviços de análises clínicas, semdistinguir se o laboratório tem comoresponsável um profissional de forma-ção em Medicina, Farmácia-bioquími-ca ou Biomedicina. Da mesma forma,temos observado que não costumamter formas diferentes de remuneraçãode laboratórios, quando se trata damesma região.

Talvez, existam situações de exce-ção, em virtude de diferenciais ofereci-dos pelos laboratórios. Assim, pode-mos concluir que os laboratórios, in-dependentemente da responsabilidade

técnica, atualmente, sofrem dos mes-mos problemas: estão, há cerca de noveanos, sem reajustes em seus honorári-os, e isto tem preocupado a SBPC/ML,especialmente, por conta da necessi-dade de manutenção de um parque deequipamentos atualizado, capaz de re-alizar os exames que possam trazer be-nefícios para a assistência à saúde dapopulação e da qualidade / segurançados serviços oferecidos. Esperamosque a contratualização, nos termos exi-gidos pela Agência Nacional de SaúdeSuplementar, possa contribuir para amodificação desta situação.

PHARMACIA BRASILEIRA -Como se encontra a qualidade dos la-boratórios de médicos?

Wilson Shcolnik - A SBPC/ML,em 1975, criou o Programa de ControleExterno de Qualidade e, desde então,vem estimulando a participação dos la-boratórios. Dados apresentados pelaAnvisa, neste Fórum do CFF(NR I Fó-rum Ético Legal em Análises Clínicas),indicam que há apenas 30% de labora-tórios inscritos nos programas das so-ciedades científicas, entre laboratóriosdirigidos por médicos, farmacêuticos ebiomédicos. Portanto, podemos con-cluir que a maioria dos laboratórios,

entre públicos e privados, dirigidos porprofissionais de variadas formações,está fora deste tipo de programa, ape-sar de, em vários Estados, a legislaçãosanitária já exigir tal participação.

PHARMACIABRASILEIRA - Comoo Conselho Federal deMedicina está fiscali-zando os laboratóriosde médicos?

Wilson Shcolnik- Não temos notíciassobre a atuação dosConselhos Regionaisde Medicina na fiscali-zação de laboratórios,mas sabemos que hápontos a melhorar, poisverificamos a existênciade inúmeros profissio-nais não especialistasatuando como respon-sáveis técnicos de labo-ratórios. Entendemosque a atividade labora-torial se modificou bas-tante, nos últimos anos,e é preciso de compe-tências específicas paraatuar nesta área.

�As operadorasde planos de

saúde queatuam, no

mercado dasaúde

suplementar,contratam

serviços deanálises

clínicas, semdistinguir se o

laboratório temcomo

responsávelum profissional

de formaçãoem Medicina,

Farmácia-bioquímica ouBiomedicina�.

ENTREVISTA / LENIRA DA SILVA COSTA

A auto-superaçãodas Análises Clínicas

Analistas clínicos não aceitamo fechamento de laboratórios,vitimados pelas baixíssimasremunerações que lhe sãofeitas pelo SUS e planos desaúde privada. Muitos delesfizeram grandesinvestimentos, sem conseguir,depois, realizar novos exames.

O I Fórum Ético Legal em Análises Clínicas, reali-zado pelo Conselho Federal de Farmácia, gozou de umreconhecimento tão grande dos analistas (farmacêuti-cos, médicos e biomédicos) brasileiros do setor, que es-tes, já nas primeiras horas de andamento do evento, pe-diam uma nova edição do mesmo, com o objetivo de darvazão às suas proposituras, reivindicações, reflexões,questionamentos. O Fórum acabou em tão alta conta.Foi complexo e positivo e dele deverão brotar propostapara fazer frente às enormes dificuldades vividas pelosetor. A Coordenadora do evento foi Lenira da Silva Cos-

ta. Ela é farmacêuticabioquímica do Minis-tério da Saúde, Con-selheira Federal deFarmácia pelo Rio Grande do Norte e preside a Comissãode Análises Clínicas do CFF, da qual fazem parte tam-bém os Conselheiros Federais João Samuel de MoraisMeira (Paraíba), Maria da Aparecida Vianna (Sergipe) eSebastião Ferreira Marinho (Amazonas). Lenira Costafala à PHARMACIA BRASILEIRA sobre a importânciado Fórum e sobre as suas conseqüências.

Wilson Shcolnik

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ENTREVISTA / LENIRA DA SILVA COSTA

P H A R M A C I ABRASILEIRA - Por que oI Fórum Ético Legal emAnálises Clínicas abor-dou esses temas (ver te-mário na primeira das vá-rias matérias sobre Aná-lises Clínicas)?

Lenira da SilvaCosta - Os tópicos abor-dados foram considera-dos pelos participantes como sendoatuais e da mais alta relevância. Entreos tópicos, posso citar os requisitosmínimos para funcionamento de labo-ratórios clínicos, os postos de coleta eterceirização; a confidencialidade dos

laudos e o seu en-vio por fax, Inter-net, Correios; ascópias de laudospara convênios,arquivamento deresultados, relaçãolaboratório/convê-nios (preços éticose preços de merca-

do), assinatura de convênio com exclu-sividade, relação com planos de saúdee seguradoras, classificação brasileirahierarquizada de procedimentos médi-cos (procedimentos laboratoriais), re-lação laboratório/paciente, direitos edeveres dos clientes e dos laboratóri-os, resultados falso positivo e falso ne-gativo, controle e certificação da quali-dade, relação laboratório/fornecedores/Anvisa, validação de reagentes parauso após data de validade, os direitosdos laboratórios na compra de reagen-tes e equipamentos,saúde, segurança emestabelecimentos desaúde (RDC 33), geren-ciamento de resíduos.

P H A R M A C I ABRASILEIRA - Qual aimportância deste even-to para as Análises Clí-nicas?

Lenira da Silva Costa - Eu respon-do com as palavras unânimes dos re-presentantes de entidades e institui-ções presentes ao Fórum: foi a ação

mais importante realiza-da pelo Conselho Fede-ral de Farmácia em rela-ção aos laboratórios clí-nicos do Brasil.Este evento reuniu repre-sentantes de todo o seg-mento laboratorial doPaís, como os conselhosfederais de Farmácia eBiomedicina, a Anvisa,

as sociedades brasileiras de AnálisesClínicas e Patologia Clínica, sindicatosde laboratórios, fornecedores, Confe-deração Nacional de Saúde, Frente Par-lamentar de Saúde, além de alguns la-boratórios privados, demonstrandouma verdadeira parceria do setor e umabusca de soluções para os graves pro-blemas que enfrentam os laboratóriosclínicos do País.

PHARMACIA BRASILEIRA - O queo Fórum vai trazer de conseqüências positi-vas? Que deliberações foram adotadas?

Lenira da Silva Costa - O setororganizado busca com estas discus-sões estabelecer estratégias e capaci-dade de auto-superação, pois, ao mes-mo tempo em que está sendo elabora-da pela a Anvisa e sociedades científi-cas (SBAC, SBPC) uma norma para fun-cionamento de laboratórios clínicos,postos de coleta e sobre a terceiriza-ção, além da implementação de outranorma sobre gerenciamento de resídu-os (RDC 33), o setor vem enfrentandosérias dificuldades, principalmente, emrelação à defasagem dos coeficientesde honorários, com preços de examescongelados, desde 1992. Portanto, es-

tão sem reajuste, alémde sofrer o peso da cres-cente carga tributária einsumos dolarizados.

Então, estamosdiante de um dilema:como gerir qualidade,atender às normas sani-tárias e de biosseguran-ça, sem um aporte finan-

ceiro para investimentos nos estabele-cimentos e nos recursos humanos?Como nos mantermos, diante dessa re-alidade?

As deliberações do evento foramimprescindíveis para esta manutenção.Por exemplo:

1. Estaremos em vigilância extre-ma em todas as consultas pú-blicas que venham regulamen-tar o segmento, para que asexigências fiscais e sanitáriaspossibilitem a adequação domaior número de laboratórios.

2. Enviamos correspondência àANS (Agência Nacional deSaúde Suplementar), solicitan-do prorrogação do prazo decontratualização entre labora-tórios e as operadoras de pla-nos de saúde, regido pela Ins-trução Normativa número 54,pois as poucas propostas apre-sentadas pelas operadorasnão satisfaziam o setor e esta-vam em desacordo com a nor-ma, principalmente, no que dizrespeito aos aspectos econô-micos e financeiros.

3. Apoio do Conselho Federal deFarmácia a CBHPM (Classifi-cação Brasileira Hierarquizadade Procedimentos Médicos),na área de procedimentos la-boratoriais.

4. Ações junto ao Ministério daSaúde, na revisão da PortariaSIA/SUS.

5. Incentivo à criação de sindi-catos e associações do seg-mento, não negociando comos planos de saúde de formaindividual, mas coletivamente.

6. Realização de fóruns regionaise do II Fórum Nacional, comvistas ao acompanhando darealidade dos laboratórios eestabelecendo soluções paraos problemas.

Não podemos mais permitir o fe-chamento de laboratórios que, muitasvezes, fizeram grandes investimentose não conseguem realizar novos exa-mes, pois, além de a tabela praticadano mercado estar defasada, não con-templa novas tecnologias. Estamosunidos nesta luta, para resgatar o pres-tígio dos analistas clínicos, no Brasil.

�O setor organizadobusca com estas

discussõesestabelecer

estratégias ecapacidade de

auto-superação�

�Não podemos maispermitir o fechamentode laboratórios que,

muitas vezes, fizeramgrandes investimentos enão conseguem realizar

novos exames�.

Lenira da Silva Costa

Pharmacia Brasileira - Maio/Junho 2004 1111111111

ANÁLISES CLÍNICAS

Funcionamento delaboratórios clínicosserá regulamentado

Norma éelaborada comparticipação dosetor e sobcoordenação daAnvisa. Entrará emconsulta públicaaté julho

Um Regulamento Técnico (RT)abrangendo as normas de funciona-mento dos laboratórios clínicos estásendo elaborado sob a coordenação daAgência Nacional de Vigilância Sanitá-rio (Anvisa) e com a participação dasvigilâncias sanitárias estaduais, Socie-dade Brasileira de Patologia Clínica(SBPC), Sociedade Brasileira de Análi-ses Clínicas (SBAC), laboratórios desaúde pública e Ministério da Saúde.

A farmacêutica Isabel CristinaMacedo, da Gerência de Tecnologia daOrganização em Serviços de Saúde daAnvisa, participou do I Fórum Legalem Análises Clínicas, realizado peloConselho Federal de Farmácia, onde fezuma exposição do Regulamento Técni-co. Segundo ela, a minuta do texto en-contra-se em fase final de elaboração,próxima da etapa de Consulta Pública(CP). “O documento estará sendo pu-blicado como CP, até a primeira quinze-na de julho”, garantiu.

Durante a fase de consulta, o do-cumento ficará disponível no site daAnvisa (www.anvisa.gov.br), por umperíodo que pode variar, de 30 até 90dias, para que os interessados (pesso-as físicas e jurídicas) enviem sugestões.“Estas sugestões serão consolidadaspelo grupo que elaborou a norma, paraposterior incorporação, ou não, dasmesmas no texto final, de acordo comas suas pertinências. Essas propostasdeverão ficar disponíveis por 60 dias”,explicou Isabel Macedo. O texto final,já consolidado, será, então, encaminha-do à Diretoria Colegiada da Anvisa, queo aprovará (ou não) para, em seguida,ser publicado como RDC (Resoluçãoda Diretoria Colegiada).

Segundo Isabel Macedo, aindanão existe nenhuma norma federal que

regulamenta o funcionamento dos la-boratórios clínicos, mas como a saúde,no Brasil, é descentralizada, algumasnormas regionais, nesse sentido, estãoem vigor. “Existem regulamentos esta-duais que estão sendo revisados paraentrar em harmonia com o novo RT,como é o caso do de São Paulo. BeloHorizonte trabalha com uma normamunicipal exclusiva para seus labora-tórios clínicos”, disse.

A norma federal discorrerá sobre

as instalações dos laboratórios, a com-pra de produtos, o controle interno eexterno de qualidade, biossegurança,processos operacionais etc. Dessamaneira, os Estados que ainda nãopossuem normas deverão guiar-se peloRT. “Esta é a primeira norma a ser ela-borada e virá suprir uma grande deman-da existente no setor, principalmente,nos Estados e Municípios que nãopossuem regulamentação sanitária so-bre o tema”, afirmou Isabel.

MESAS REDONDASO I Fórum Ético Legal em Análises Clínicas, realizado, em Brasília, nos

dias 20 e 21 de maio de 2004, pelo Conselho Federal de Farmácia, foi movimenta-do por seis Mesas Redondas. Ricas em seus temários, elas discutiram aspectoscapitais do setor, apresentaram propostas, adotaram deliberações, refletiram econceituaram sobre a própria rotina dos laboratórios. Veja o que cada Mesadiscutiu e propôs.

(Os textos abaixo, sobre as Mesas Redondas, foram produzidose são de responsabilidade da Comissão de Análises Clínicas do CFF).

TEMA “ Requisitos Mínimos para oFuncionamento deLaboratórios Clínicos, Postosde Coleta e Terceirização”.

Convidados: Anvisa, CFF, SBPC e CFBM.Palestrantes: Isabel Cristina Macedo (An-visa), Wilson Shcolnik (SBPC), Sílvio Cec-ci e Marco Abrahão (CFBM) e Lenira daSilva Costa (CFF).

A farmacêutica Isabel Cristina Mace-do, da Gerência de Tecnologia da Organiza-ção em Serviços de Saúde da Anvisa, rela-tou que, de acordo com dados do CadastroNacional dos Estabelecimentos de Saúde

(novembro de 2003), existem, no Brasil, 19mil laboratórios, sendo 75% deles (14.452)são laboratórios de análises clínicas e 25%(4.758) laboratórios de anatomia patológica.A representante da Anvisa apresentou, ain-da, a legislação federal do Ministério da Saú-de para laboratórios clínicos (ver abaixo).- Portaria GM/MS, número 787/2002 –

Manual de Apoio aos Gestores do SUS– Organização de Laboratórios Clínicos;

- Portaria GM/MS, número 788/2002 –Manual de Apoio aos Gestores do SUS– Organização dos Postos de Coleta;

- Portaria GM/MS, número 59/2003,

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ANÁLISES CLÍNICAS

substituiu a Portaria número 488 –Define e Normatiza a sub-rede de labo-ratórios do programa DST/AIDS;

- Portaria GM/MS, número 1985/2001– Transporte de Material Biológico.

Veja, também, a legislação federalda Anvisa para laboratórios clínicos.

- RDC (Resolução da Diretoria Colegia-da) número 50, de 21/02/2002 – Regu-lamento Técnico para o Planejamento,Programação, Elaboração e Avaliação deProjetos Físicos de EstabelecimentosAssistenciais de Saúde;

- RDC (Resolução da Diretoria Colegia-da) número 33, de 25/02/2003 – Regu-lamento Técnico para o Gerenciamen-to de Resíduos de Serviços de Saúde;

- Em fase de elaboração pela GTOSS/Anvisa – Minuta de Regulamento Téc-nico sobre o Funcionamento dos Labo-ratórios Clínicos. Deste regulamento,irão constar processos de organização,coleta, procedimentos pré-analíticos,analíticos e pós-analíticos, biosseguran-ça, garantia da qualidade, estrutura físi-ca, resíduos para serviços públicos eprivados. O Grupo de Trabalho queelabora o regulamento está sob a coor-denação da Anvisa, em conjunto comas vigilâncias sanitárias estaduais emunicipais e com as sociedades organi-zadas (SBAC e SBPC). Mais informa-ções sobre o regulamento encontram-se em matéria nesta edição da PHAR-MACIA BRASILEIRA.Na Mesa Redonda, o médico Wilson

Shcolnik, Vice-presidente da SBPC/ML,apresentou dados sobre a norma que estásendo elaborada para o segmento dos labo-ratórios clínicos, na Anvisa, e lamentou ofato de apenas 31% dos laboratórios parti-ciparem de um programa de controle exter-no de qualidade.

Na minuta do Regulamento Técnico, emelaboração para Consulta Pública, consta-rão, além dos aspectos de segurança sanitá-ria, da gestão de qualidade. Wilson Shcol-nik destacou ainda uma preocupação emrelação ao Conselho Regional de Medicinado Rio de Janeiro, que permite a responsa-bilidade técnica de laboratórios por médiconão especialista.

Outra fim, os representantes do Con-selho Federal de Biomedicina – Dr. SilvioCecci e Marco Abrahão encaminhou algu-mas dificuldades no atendimento as exigên-cias sanitárias e de qualidade descritos nareferida norma.

Deliberações

1. Solicitação à Anvisa para que, no Re-gulamento Técnico, conste tambémquem são os profissionais habilitadosao exercício das análises clínicas, porLei, e que os fiscais da Vigilância Sani-tária sejam igualmente habilitados, como conhecimento específico da área.

2. Realização de novo fórum, para discutir aConsulta Pública da Anvisa sobre a Mi-nuta de Regulamento Técnico de Funcio-namento de Laboratórios Clínicos.

TEMA “ Encaminhamento deResultados Via Fax, Internet,Correios, Confidencialidade,Envio de Cópias de Laudoscom Faturas de Convênios,Arquivamento deResultados”.

Palestrantes: O farmacêutico UlissesTuma, Presidente eleito da SBAC; WilsonShcolnik, Vice-presidente da SBPC/ML, eAntônio César Cavalcanti Júnior, Consul-tor Jurídico doCFF.

Os palestrantes abordaram as váriasformas de entrega de laudos de exames, “cor-relacionando”, como ocorre em outros paí-ses. Discutiram, ainda, os princípios bási-cos de segurança da informação, incluindo aconfidencialidade e a legalidade, verifican-do-se que os próprios códigos de ética dasprofissões regulamentadas sobre os exercí-cios das análises clínicas já prevêem o sigiloprofissional, além do Código de Defesa doConsumidor.

No entanto, é cada vez mais comum asolicitação, por parte dos planos de saúde,do envio de segunda cópia dos laudos parapagamento da fatura. Apesar da normati-zação já existentes sobre os laudos, como aNBR 14.500 (ABNT) e a BPLC, é impor-tante que os conselhos federais das profis-sões regulamentem a matéria, dando segu-rança aos profissionais que atuam na área.

TEMA “ Relação Laboratório / convênios– Preços Éticos x Preços deMercado. Assinatura deConvênios com Exclusividade(É Licito? É Ético?). Relaçãocom Planos de Saúde eSeguradoras. Classificação

Brasileira Hierarquizada deProcedimentos Médicos –Exames Laboratoriais”. Estafoi considerada a Mesa maispolêmica do Fórum, pordiscutir exatamente omomento difícil por quepassam os laboratóriosclínicos brasileiros e osdesdobramentos da crise.

Palestrantes: O Vice-presidente da CNS,Tércio Kasten; Irineu Grimberg (SBAC-RS)e o Deputado Federal Francisco Gonçal-ves, da Frente Parlamentar de Saúde daCâmara dos Deputados, fizeram um relatodos sistemas público e privado e da remu-neração que fazem aos exames realizadospelos laboratórios clínicos. Abordaram, ain-da, o modelo de definição de preços, as dis-torções destes, ao longo do tempo, a Porta-ria número 233/2003, que instituía o âmbi-to da Secretaria de Atenção a Saúde (SAS),o Grupo de Trabalho com a finalidade deproceder aos estudos técnicos com vista aestabelecer as seguintes orientações: 1. Cri-térios para a reestruturação da rede de labo-ratórios clínicos; 2. Critérios para a elabo-ração de um plano de capacitação de recur-sos humanos e 3. Ações de melhoria daqualidade dos exames realizados.

Os integrantes da Mesa trataram tam-bém da Resolução Normativa ANS, núme-ro 54, de 28 de novembro de 2003, queestabelece os requisitos para a celebraçãodos instrumentos jurídicos firmados entreas operadoras de planos privados de assis-tência à saúde e prestadoras de serviçosauxiliares de diagnóstico e terapia e clínicaambulatoriais. Discutiu-se o que é preçoético e preço de mercado, a alta tributação,insumos com preços dolarizados e remune-ração baixa.

Propostas: Tentar sensibilizar os de-putados federais para que defendam os plei-tos dos laboratórios clínicos; participar dosConselhos Municipais de Saúde, com vis-tas a reivindicar melhores negociações como SUS; criar uma comissão única nacional,integrada pelas entidades representativas dosetor, com o objetivo de elaborar um con-trato padrão único para todo o País e chan-celado por essa comissão, com prazo paraa adoção da CBHPM (Classificação Brasi-leira Hierarquizada de Procedimentos Mé-dicos); fomentar a formação das comissõesestaduais ou regionais, com vistas a facili-tar as negociações com os convênios.

Os debatedores concordaram que as ne-gociações com os convênios não podem serfeitas, individualmente, mas somente atra-

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ANÁLISES CLÍNICAS

vés dos sindicatos, associações ou coleti-vamente; pediram ao Conselho Federal deFarmácia a elaboração de uma resolução,nos moldes da resolução CFM número1.673/03, que apresenta a seguinte ementa:“A Classificação Brasileira Hierarquizadade Procedimentos Médicos é adotada comopadrão mínimo e ético de remuneração dosprocedimentos médicos para o Sistema deSaúde Suplementar”.

Os integrantes da Mesa Redonda e oauditório entendeu que tendo uma remune-ração mínima aprovada, poderão dar enca-minhamentos às comissões de ética dos Con-selhos para as devidas orientações aos pro-fissionais que descumprirem a tabela.

TEMA “Relação Laboratório /Paciente – Direitos e Deveresdo Cliente e do Laboratório.Resultados Falso Positivo eFalso Negativo. Implicaçõescom o Paciente. Controle ecertificação de qualidade”.

Palestrantes: José Abol Correa (SBAC),Luiz Gastão Rosenfeld (Diagnóstico daAmérica), José Francisco de FigueiredoEles abordaram as questões ligadas aos di-reitos do paciente, quesão:• Acesso irrestrito a seus dados médicos

e prontuários;• Direito de “escolha de seus médicos”;• Consentimento informado sobre pro-

cedimentos;• Direito de opção sobre conduta tera-

pêutica;• “Direito a resultados compreensíveis

pelo paciente”;• Direito a treinamento e orientações de

medicina preventiva;• Também, falaram da relação laborató-

rio / paciente na Área de diagnóstico.Os direitos são os seguintes:

• Informação prévia ao paciente (comconsentimento) - (Código do Consu-midor, Artigo 14 / Portaria N.S. LeiEstadual);

• Acesso a seus resultados e apoio à suainterpretação;

• Habilidade do profissional habilitado naárea de diagnóstico como “membro deequipe”.

A Mesa Redonda discutiu ainda outrosassuntos, quais sejam:• Auto-exameConceito: Selftest / Waived Tests

Bases: Conhecimento e treinamento dospacientes; doentes crônicos (Exemplo: dia-betes), DST.Medicina Preventiva - Testes liberados paraauto-execução, no Brasil e EUA. Exemplos:glicose, colesterol, gravidez, HIV (salivar),etc. Cobertura de custos inexiste.

• Controle da Qualidade emAnálises Clínicas

1 São todas as fases, itens e procedimen-tos realizados no laboratório clínico,destinados a avaliar e melhorar a preci-são e a exatidão dos laudos laboratori-ais.

2 Para tanto, é necessário identificar, nosprocedimentos pré-analíticos, analíticose pós-analíticos, as causas que provo-cam as variabilidades dos resultados.

3 É de responsabilidade do Diretor dolaboratório a observação, o encontro ea eliminação das causas que determi-nam a variabilidade dos resultados ana-líticos ou avaliados.

• Controle da Qualidade emLaboratórios Clínicos

1. Controle interno da qualidade – precisão2. Controle externo da qualidade - exatidão• Controle Interno da Qualidade

Objetivo:Assegurar um funcionamento confiável

e eficiente do laboratório clínico, a fim defornecer resultados válidos, em tempo útil,para influenciar as decisões médicas.

• Controle Interno da QualidadeConsta da utilização de material de con-

trole, de valor conhecido, testado juntamen-te com o material do cliente.• Precisão:

É a reprodutibilidade dos resultados ob-tidos, repetidas vezes, da mesma amostra,encontrando-se o maior número sem, con-tudo, obter-se necessariamente o valor real.• Controle Externo da Qualidade

Objetivo:Assegurar que os resultados laborato-

riais fiquem o mais próximo possível dovalor real dos parâmetros analisados. A exa-tidão do desempenho dos laboratórios par-ticipantes é comparada à média interlabo-ratorial ou de consenso, calculada entre osparticipantes do programa.• Controle Externo da Qualidade

Consta da utilização de material de con-trole, de valor desconhecido, que deverá serdosado pelos laboratórios participantes.• Sistema da Qualidade

“É a estrutura organizacional, procedi-mentos, responsabilidades, processos e re-cursos necessários para implementar a ges-tão da qualidade”. (NBR ISO 8402)• Sistema da qualidade

(quem acredita ou certifica?)

Acreditação no Brasil1. ISO 9001/ 2.000 – Requisitos de siste-

ma da qualidade, IACs.2. BPLC

DICQ: Departamento de Inspeção eCredenciamento dos Laboratórios Clí-nicos - SBACPALC: Programa de Acreditação dosLaboratórios Clínicos - SBPCML

3. NBR 14.500 – Gestão da qualidade nolaboratório clínico

4. ONA – Organização Nacional de Acre-ditação: Hospitais, Laboratórios clíni-cos, serviços de hemoterapia, hemodi-álise, radiologia, etc.

5. ISO 15.189 – laboratório clínico – re-quisitos especiais de qualidade e com-petência. Ed. de 15-02-2003.

DeliberaçõesA Mesa concluiu que é preciso que o

farmacêutico pense mais em sua importân-cia e cumpra o sigilo profissional. No coti-diano, os profissionais fecham-se em suasrotinas diárias, sem buscar outras fontes deinformação. É imprescindível a capacitaçãoe importante tomar conhecimento das leisque regem os direitos do consumidor, a re-lação dos convênios com as seguradoras,além da relação com o meio ambiente.

Os integrantes da Mesa recomendaram,ainda, a necessidade de o laboratório ofere-cer qualidade e confiabilidade aos serviçosque realiza. “É imprescindível a solicitaçãoe identificação do paciente, com a apresen-tação de documentos para proteção de pos-síveis ações judiciais”, pediram os integran-tes da Mesa.

TEMA “ Relação Laboratório –Fornecedores – Anvisa.Validação de Reagentes paraUso Após Data de Validade.Os Direitos do Laboratório naCompra e Aquisição deEquipamentos e Reagentes.Os Direitos do Laboratório naInspeção Sanitária”.

Convidados: Pedro G. Vidigal (LABTEST)e José Abol Correa (SBAC).

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ANÁLISES CLÍNICAS

SUB-TEMA: “ Manual de RequisitosPALC – 2000 Critério 12: Equipamentos eReagentes”.

1.3.5.1 – A utilização de materiais ereagentes deve respeitar as recomendaçõesde uso dos fabricantes e os prazos de vali-dade, quando pertinente. O emprego dosmesmos fora dessas especificações deveráser precedidos de estudos que validem oprocedimento.

Interpretação: O manual da qualidadedeve especificar que os reagentes só devemser usados dentro do seu prazo de validade,e descartados, assim que este vencer. Con-vém lembrar que uma das irregularidadesque os fiscais de Vigilância Sanitária procu-ram são reagentes e controles vencidos.

NBR 14500:2000 – Gestão da Qualida-de no Laboratório Clínico• Requisito 7: Reagentes, insumos,

serviços e suprimentos externos.

7.6 Quando o laboratório clínico precisautilizar um reagente fora da sua datade validade, ele deve ter um procedi-mento da qualidade de validação quedescreva:a) processo analítico utilizado para

verificar o seu desempenho;b) profissional habilitado responsável

para a verificação do desempenho;c) registro do resultado da validação.O que é validação? É a ação ou o

processo para provar que um procedi-mento, processo, sistema, equipamentoou método funciona, da forma esperada,e proporcione o resultado desejado (De-finições ISO e NCCLS).

Validação de Produto Vencido -Determinar por quanto tempo deseja es-tender à validade do produto; realizarprocedimento de degradação acelerada,conhecendo: o tempo e temperatura dedegradação; o modelo de degradação se-guido pelo produto. Utilizar o produtosubmetido à agressão para estimar oserros aleatório e sistemático e o interva-lo operacional.

Verificação do erro aleatório - Me-dir a imprecisão intra-ensaio: amostrasnativas com concentrações do analito em,pelo menos, dois níveis de decisão médi-ca; realizar 20 replicações, utilizando oreagente submetido à agressão.

Caso o erro aleatório seja maior doque o especificado: não é possível esten-der o prazo de validade.

Verificação do erro sistemático -

Realizar teste comparativo entre o rea-gente submetido à agressão e o mesmoproduto dentro da validade; ensaiar 20amostras nativas com concentrações doanalito distribuídas no intervalo opera-cional; verificar a significância da dife-rença entre a média dos resultados comos dois reagentes; aplicar a estatística daRegressão e R2 para verificar o atendi-mento aos requisitos do fabricante.

Caso o erro sistemático seja maiordo que o especificado: não é possívelestender o prazo de validade.

Avaliando o erro total - A soma doserros aleatório e sistemático permite ob-ter o erro total;

avaliar o impacto do erro total na uti-lização médica dos resultados para vali-dar o novo prazo de validade.

Verificação do intervalo operacio-nal - Utilizar uma amostra com concen-tração baixa e uma com concentração altado analito; realizar uma curva de diluiçãoprogressiva com 11 pontos com concen-trações do analito dentro do intervalooperacional do método; ensaiar os pon-tos da curva em duas replicações, utili-zando o reagente submetido à agressão;aplicar a estatística da Regressão e R2

para verificar o atendimento aos requisi-tos do fabricante.

ConclusõesSão necessários, no mínimo, 102 en-

saios para validar um produto vencido eestender sua validade. O laboratório deveavaliar o que é mais custo efetivo:- O procedimento de validação de pro-

duto vencido;- O planejamento adequado da aquisi-

ção e recebimento de materiais.- Na validação dos reagentes, deve

constar da esterilidade do reagente edos componentes, a garantia do fa-bricante, a defesa do usuário, a segu-rança dos laudos, a segurança dos cli-entes.

- É importante reunir-se com a Anvi-sa, para tratar deste assunto, pois asVisas não aceitam a validação de rea-gentes, e alguns fiscais exigem prazode validade em substâncias que sãoestáveis e não constam dos prazoscomo, por exemplo, os ácidos e sais.

TEMA “Saúde, Segurança emEstabelecimentos de Saúde

- RDC 33 – Gerenciamento dos Resídu-os dos Estabelecimentos de Saúde”.Convidados: Luiz Carlos da Fonseca

e Silva (Anvisa), Humberto Marques Ti-búrcio (Sindilab – MG), José Abol Cor-rea (SBAC)

Laboratório Clínico - Gerenciamen-to de Resíduos

Definições: Resíduo do laboratórioclínico: resíduos que contém materiais bi-ológicos, químicos, radioativos e perfu-rantes. Resíduo infectante: resíduos queapresentam risco potencial à saúde e aomeio ambiente. Resíduo perfurocortan-te: materiais que podem perfurar, cortarou dilacerar a pele, durante seu manu-seio. Resíduo químico: resíduo que apre-senta risco à saúde e ao meio ambiente,devido às suas características inflamá-veis, corrosivas, reativas ou tóxicas. Re-jeito radioativo: resíduo que contêm ra-dionuclídeo em quantidade superior aoslimites de inserção especificados naCNEN-NE-6.02 (2 mCi/kg).

Legislação pertinente: Resolução Co-nama, número 275, de 25/04/2001, estabe-lece o código de cores para diferentes tiposde resíduos a serem adotados na identifica-ção de coletores e transportadores, bemcomo nas campanhas informativas paracoleta seletiva. Resolução CONAMA 283DE 12/07/2001. RDC Anvisa, número 50,de 21/02/02, dispõe sobre o regulamentotécnico para planejamento, programação,elaboração e avaliação de projetos físicosde estabelecimentos assistenciais de saúde(EAS). RDC Anvisa, núemro 33, de 25/02/2003, dispõe sobre o regulamento técnicopara o gerenciamento de resíduos de servi-ços de saúde.

Classificação dos resíduosGrupo A - Potencialmente infectan-

tes: sangue e seus componentes, bolsas efrascos coletores, secreções e excreções,tecidos e peças anatômicas, descarte dasreações químicas e material biológico,meios, recipientes de coleta e placas decultura, luvas, gazes, swabs e algodãocontaminado com material biológico, etc.

Grupo B – Químicos: substânciasquímicas, reagentes, sobras de reagentese padrões, termômetros de mercúrio, pro-dutos de reações químicas, pilhas e bate-rias, lâmpadas fluorescentes, agentes es-terilizantes e desinfetantes.

Grupo C - Rejeitos radioativos: rea-gentes contendo radionucídeos, rejeitosradioativos resultantes de RIE. Grupo

D – Comuns Recicláveis: frascos, gar-

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ANÁLISES CLÍNICAS

rafas e embalagens plásticas, latas de re-frigerantes, papéis, revistas, jornais, pa-pelão, pratos e copos descartáveis, vi-dros, cartuchos de impressoras, papel dealumínio, isopor, etc.

Devem ser segregados para recicla-gem em recipientes, obedecendo as co-res especificadas na legislação: azul = pa-péis / papelão, amarelo = metais, verde= vidros, vermelho = plásticos, preto =madeira, marrom = resíduos orgânicos,laranja = resíduos perigosos, roxa = resí-duos radioativos, branca = resíduos deserviços de saúde, cinza = resíduos nãorecicláveis ou misturados, não passiveisde separações. Não recicláveis: resíduosde sanitários, absorventes, fraldas des-cartáveis, flores, guardanapos de papel,luvas de limpeza, papel carbono, restosalimentares, etc. Grupo E – Perfurocor-tantes: agulhas, pipetas, ponteiras, tu-bos de microhematócito, tubos de ensai-os, cacos de vidros e plásticos, lancetas,etc.

Manuseio: Consiste no conjunto deprocedimentos de acondicionamento, co-leta, transporte e armazenamento, segui-dos de tratamento, se necessário, e des-tinação final, conforme normas de segre-gação e classificação. Segregação, acon-dicionamento, armazenamento, trans-porte interno, tratamento e descarte.

Segregação: Consiste na separaçãodos resíduos no ato de sua geração, con-forme o sistema de classificação adota-do, com vista a minimizar riscos e quan-titativos, impedindo que, pelo contatodos resíduos de maior potencial de riscocom aqueles de menor potencial, todo oconjunto se torne portador de maior ris-co.

Tratamento dos resíduos: Esterili-zação, diminuição da carga bacteriana.Processos físicos: calor, calor e pressãoe radiação ionizante. Processos quími-cos: hipoclorito, formol, glutaraldeido eácido peracético.

Descarte: Material biológico: san-gue e derivados, meios e placas de cultu-ras, amostras de urina e fezes, secreçõese excreções, luvas, swabs, gases e algo-dão contaminados. Resíduos químicos:eliminar possíveis ações corrosivas, an-tes do descarte. Descartar no esgoto sa-nitário com bastante fluxo de água. Di-luir as misturas químicas oriundas dosequipamentos automatizados, antes dodescarte no esgoto sanitário. Rejeitosradioativos (RIE): diluir e descartar noesgoto sanitário.

Requisitos de segurança: todo opessoal que manuseia resíduos dentro dolaboratório deve usar luvas de proteçãoe outros EPI (Equipamento de ProteçãoIndividual), quando necessário. Após aatividade de manuseio ou contato aciden-tal com material biológico, as mãos de-vem ser lavadas com água e sabão, secase submetidas a anti-sepsia com álcool a70%. Os profissionais que trabalham nolaboratório devem ser vacinados contraHepatite C e Tétano.

Plano de Gerenciamento de Resí-duos de Serviços de Saúde (RSS) =PGRSS+: Documento que aponta e des-creve as ações relativas ao manejo dosresíduos sólidos, observadas as suas ca-racterísticas, no âmbito dos estabeleci-mentos, contemplando os aspectos refe-rentes à geração, segregação, acondicio-namento, coleta, armazenamento, trans-porte, tratamento e destinação final, bemcomo a proteção à saúde pública.

Recursos humanos: Profissionalhabilitado para implantar o PGRSS, pro-fissional habilitado pela CNEN, se hou-ver rejeitos radioativos; profissional trei-nado para gerenciar o PGRSS; treinamen-to de todo o pessoal do laboratório.

Atribuições do gerente de resídu-os: Elaborar, desenvolver, implantar eavaliar a aplicação do PGRSS, de acordocom a lei; gerenciar todas as fases, pro-ver os materiais, equipamentos e insta-lações necessárias, treinar os recursoshumanos envolvidos com o manuseio deresíduos e investigar acidentes de ordemocupacional. PGRSS - Deve conter: iden-tificação do laboratório clínico; caracte-rização dos resíduos gerados; geração efluxo dos resíduos; manuseio e segrega-ção; identificação armazenamento tem-porário; transporte interno; tratamento;disposição final ou descarte

Segurança no laboratório clínico -NBR ABNT 14.785

Escopo - O pessoal do laboratórioclínico deve zelar pela sua segurança, dosvisitantes, dos clientes ou pacientes edo meio ambiente.

Treinamento - O pessoal do labo-ratório clínico deve adotar os seguintesprocedimentos: reconhecer e interromperquaisquer riscos imediato em suas ativi-dades; registrar qualquer problema rela-tivo à segurança; iniciar, recomendar ou

providenciar ações corretivas para as si-tuações de risco; participar e acompa-nhar a implementação das ações correti-vas. Já a direção do laboratório deveproceder da seguinte forma: prover re-cursos necessários; designar um coorde-nador de segurança; estabelecer um pro-grama de segurança; elaborar e implantaros procedimentos de segurança; identifi-car e monitorar os riscos químicos e bi-ológicos; estabelecer um programa de trei-namento para os funcionários.

Do treinamento: o Coordenador desegurança é o responsável pelo progra-ma de segurança, procedimentos e trei-namento, que devem incluir: riscos deinoculação e ingestão; manuseio corretodas amostras; primeiros socorros e pro-cedimentos de evacuação em caso deemergências; segurança química e controlede infecção.

Precauções universais com: alimen-tação; tabagismo; cosméticos; cabelos,barba e adornos; pipetagem; lavagem dasmãos; derramamentos; aerossóis.

Barreiras de proteção prevêem ouso de: uniformes; sapatos; proteçãofacial; luvas; máscaras de proteção res-piratória; cabine de segurança biológica;segurança elétrica.

Insalubridade no laboratório - In-salubridade é uma regulação do Ministé-rio do Trabalho, de 1978 (NR 15) – ati-vidades e operações insalubres. Ativida-des insalubres são trabalhos e operaçõesem contato permanente com pacientes,animais ou com material infectocontagi-ante. Em laboratório de análises clínicase histopatologia, aplica-se tão-só ao pes-soal técnico.

Admite atividades insalubres (Ane-xo 13 - Químicos, Anexo 14 - Agentesbiológicos). Cabe à autoridade regionalcompetente em matérias de segurança esaúde do trabalhador comprovar, por lau-do técnico, a insalubridade.

É facultado às empresas e aos sindi-catos das categorias profissionais inte-ressadas requererem ao Ministério doTrabalho e Emprego (MTE) a realizaçãode perícia. Nas perícias requeridas àsDRT (Delegacia Regionais de Trabalho),desde que comprovada a insalubridade,o perito do MTE indicará o adicionaldevido.

Insalubridade:9,5% da folha de pagamento.

Pharmacia Brasileira - Maio/Junho 20041616161616

ANÁLISES CLÍNICAS

Congressodiscute pontoscapitais do setor

Da produção deimunobiológicos à baixa

remuneração dos exames,Congresso Brasileiro de

Análises Clínicas tratou dostópicos mais atuais do

universo dos laboratórios

Biotecnologia para a produção deimunobiológicos e suas aplicações em análi-ses clínicas; o papel do laboratório de imu-nogenética no transplante de órgãos; imu-noensaios como potentes instrumentos dediagnósticos laboratoriais; modificações ia-trogênicas induzidas por radioterapia; geno-ma humano: influência na vida futura; sobre-vida de pacientes com câncer do colo de úte-ro; o controle de câncer, no Brasil. Avança-dos e atuais, esses foram apenas alguns dostemas abordados no XXXI Congresso Brasileiro de Aná-lises Clínicas, que aconteceu, no Centro de Convenções,em Salvador (BA), de seis a dez de junho de 2004, para-lelamente ao IV Congresso Brasileiro de Citologia Clíni-

ca. Os eventos fo-ram realizados res-pectivamente pelaSBAC (SociedadeBrasileira de Aná-lises Clínicas) eSBCC (SociedadeBrasileira de Cito-logia Clínica).

O Congressoavançou para ou-tros temas relevan-tes. Exemplos:quando terceirizar,

porque e como escolher o seu parceiro; gestão de labo-ratórios públicos (centros de saúde e hospitais); fusãointerlaboratorial: como operacionalizar vantagens e des-vantagens; responsabilidade civil pelos erros laborato-riais; principais dificuldades encontradas nos laborató-rios: técnicas, gerenciais, financeiras e jurídicas; o im-pacto dos tributos no custo laboratorial; soluções jurí-dicas para a implantação da CBHPM (Classificação Bra-sileira de Hierarquização de Procedimentos Médicos),entre outros. Foi mesmo um evento de grande magnitu-de, por abarcar um universo múltiplo de temas obrigató-

rios na agenda de pri-oridades de qualqueranalista clínico.

Vários convi-dados, todos consi-derados excelênciasnos diversos segmentos das análises clínicas do mundointeiro, participaram dos congressos. Vieram especialis-tas da Espanha, Itália, Argentina, França, Estados Uni-dos, México, o que propiciou uma grande integração entreos profissionais e deu aos brasileiros acesso às experi-ências técnico-científicas internacionais.

Nos congressos, professores universitários reu-niram-se para discutir o ensino farmacêutico na área dasAnálises Clíni-cas, o que foiconsiderado umoutro instanteimportante doseventos. Aspec-tos do dia-a-diados laboratórios,bem como as di-f iculdades quevêm pesando so-bre o funciona-mento das em-presas, como oscoeficientes de

Abertura do XXXI Congresso Brasileiro de AnálisesClínicas, no Centro de Convenções da Bahia, em Salvador

Os presidentes da Comissão de Análises Clínicas do CFF, Lenira Costa; doCFF, Jaldo de Souza Santos; da SBCC, Rita Palhano; e da SBAC, Willy Yung

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ANÁLISES CLÍNICAS

honorários, tiveram destaque dentro do temário. Alémda programação técnico-científica, uma feira de equipa-mentos, insumos e serviços animou os eventos.

Prêmio CFF - O Conselho Federal de Farmáciaconcedeu o “Prêmio CFF” ao melhor trabalho desenvol-vido por farmacêutico-bioquímico, no campo da Citolo-gia. O trabalho vencedor levou o título de “Lesão intra-epitelial cervical: existe correlação entre o tempo de rea-lização do Exame Papanicolaou e o aspecto do colo ute-rino para o aparecimento da lesão?”. O artigo é de auto-ria dos farmacêuticos Janice Corrêa Mendes, Luiz Márioda Silva Silveira e Alcyone de Oliveira Paredes. O prê-mio foi de R$ 2 mil, mais um diploma alusivo à conquista.

PRONUNCIAMENTO

O setor, do pontode vista do CFF

Presidente do Conselho Federal deFarmácia faz discurso na aberturado Congresso Brasileiro de AnálisesClínicas, em que apontadificuldades e as providências queo órgão tomará para o setor.

Em um discurso incisivo e ob-jetivo, proferido na abertura do XXXICongresso Brasileiro de Análises Clí-nicas, o Presidente do Conselho Fede-ral de Farmácia, Jaldo de Souza San-tos, tocou em alguns dos pontos capi-tais que marcam o setor. O controle de

qualidade, a acreditação, o gerencia-mento de resíduos foram alguns deles.O evento foi realizado, em Salvador(BA), de seis a dez de junho de 2004.Paralelamente, aconteceu o IV Con-gresso Brasileiro de Citologia Clínica.Souza Santos falou ainda da sobrevi-

vência dos laboratórios no mercadocompetitivo de hoje, dos recursos ne-cessários para o desenvolvimento deuma política de qualidade, da necessi-dade de auto-superação etc. Veja, naíntegra, o discurso do Presidente doCFF.

O Conselho Federal de Farmácia, a SociedadeBrasileira de Análises Clínicas e a Sociedade Brasi-leira de Citologia Clínica vêm construindo uma ver-dadeira parceria em assuntos estratégicos e relevan-tes, estimulados pela convicção de melhorar a ges-tão e a qualidade dos laboratórios clínicos.

O tema qualidade, ou seja, a participação emprogramas de controle de qualidade interno e exter-no, em programas de ensaio de proficiência, em acre-ditação e até em programas de gerenciamento de re-síduos, representa, sem dúvida, um indicador estra-tégico na gestão de um serviço de saúde e, como tal,necessita de um aporte financeiro e de recursos hu-manos competentes.

No entanto, a este fato acrescenta-se a ne-cessidade da sobrevivência dos laboratórios em ummercado competitivo e, também, de mudanças deordens tecnológica, econômica e social.

A garantia do setor, em que a dinâmica dodesenvolvimento tem constantemente desafiado aprópria capacidade de adaptação dos laboratórios,exige um volume crescente de recursos para realizaros investimentos, a manutenção e a qualidade.

São necessárias grandes estratégias, capaci-dade de autosuperação, pois, enquanto no setorpúblico, a defasagem salarial chega a superar 130%,e onde não há um plano de carreira, cargos e salári-os; onde não há, muitas vezes, condições dignas de

Os presidentes do CFF, Jaldo de Souza Santos, e do CRF-BA, Ademarisa Fontes,e o Conselheiro Federal pela Bahia, Jorge Antônio Piton Nascimento

Pharmacia Brasileira - Maio/Junho 20041818181818

PRONUNCIAMENTO

�Enquanto nosetor público, a

defasagemsalarial chega a

superar 130%, eonde não há um

plano de carreira,cargos e salários,no setor privado,trabalha-se juntoàs operadoras de

saúde, há noveanos, sem

reajuste e com opeso de uma

crescente cargatributária�.

�A participação emprogramas decontrole dequalidade internoe externo, emprogramas deensaio deproficiência, emacreditação e emprogramas degerenciamento deresíduos,representa umindicadorestratégico nagestão de umserviço de saúde�.

trabalho, expondo o profissional à margem das própri-as normas de biossegurança, no setor privado, traba-lha-se junto às operadoras de saúde, há nove anos,sem reajuste, e com o peso de uma crescente cargatributária.

Como não se rebelar, neste momento? Este é ummomento de paradigmas, e é preciso, urgentemente,

resgatarmos o prestígio dos ana-listas clínicos do Brasil.

O Conselho Federal deFarmácia, através de sua Comis-são de Análises Clínicas, preo-cupado com tal situação, organi-zou, em Brasília, nos dias 20 e 21de maio de 2004, o I Fórum ÉticoLegal em Análises Clínicas, co-ordenado e idealizado por suaPresidente e Conselheira Federal,Dra. Lenira da Silva Costa.

Na ocasião, convidou en-tidades e instituições represen-tativas do segmento laboratorialbrasileiro, como os Conselhos deProfissões Regulamentadas parao exercício das Análises Clínicas(a SBAC, a SBPC), como também

a Anvisa, a ABNT, CNS, CBDL, Sindicatos de Labora-tórios Clínicos e a Frente Parlamentar de Saúde.

Com uma grande diversidades de temas, inclu-indo o mais polêmico - a relação laboratórios-convê-nios, preços éticos e preços de mercado -, este eventodeu a oportunidade para que farmacêuticos bioquími-cos, médicos patologistas e biomédicos abrissem umamplo debate, intregalizando ações, buscando solu-ções e inevitáveis mudanças, visando ao fortalecimen-to do setor.

Os resultados do mesmo serão sistematizadose divulgados na revista “Farmácia Brasileira”, instru-mento de divulgação do Conselho Federal de Farmáciapara todos os farmacêuticos do Brasil.

A realização do Fórum tornou-se um marco nahistória do Conselho Federal de Farmácia, em que profis-sionais habilitados da área uniram-se para encontrar me-didas saneadoras para o momento estratégico que vivem.

Na fala do Deputado Federal, Dr. Francisco Gon-çalves, da Frente Parlamentar de Saúde, houve referên-cia à necessidade de um maior envolvimento políticodas entidades e dos seus filiados com mudanças deposturas.

O comprometimento detodos, incluindo o Governo,será o fator primordial no desen-volvimento e sustentação dosetor.

Meus queridos colegase amigos, a presença do Conse-lho Federal de Farmácia, nesteCongresso, significa mais quesua relevância institucional,pois tem um valor especial paramim, porque, ao mesmo tempoem que compartilho com vocêsdo grande trabalho que o nos-so Conselho vem realizando,ampliando, de forma legal, a atu-ação do farmacêutico, diante doavanço científico e tecnológico,sei que temos muitos desafios a superar e, neste ins-tante, assumo o compromisso junto ao Plenário doCFF, de defender os valores e princípios operacionaisdo segmento das Análises Clínicas, convocando no-vamente as entidades co-relacionadas anteriormente,para lutarmos por uma integração e não uma simplesagregação de ações.

Finalizo, citando frases proferidas pelo políticoMário Covas em seu último discurso: “Dizem que ohomem inteligente é aquele que é capaz de fazer o bem.E dizem que o homem sábio é aquele que é capaz dereunir vários homens inteligentes para fazer melhor”.

Por isso, são importantes as parcerias e o com-prometimento de todos, para potencializá-las.

O Conselho Federal de Farmácia é solidário comos problemas deste setor tão importante e nobre paraa profissão e para a saúde da população brasileira, esente-se honrado em dividir com o público tão seletoos avanços da ciência, no Brasil.

Agradeço a Sociedade Brasileira de AnálisesClínicas e a Sociedade Brasileira de Citologia Clínicapor este momento privilegiado e de honra que nosconcede e, ao cumprimentar a Comissão de AnálisesClínicas do Conselho Federal de Farmácia, aqui, pre-sente, estendo os cumprimentos a todos os analistasclínicos, desejando-lhes um excelente Congresso.

Muito obrigado

Jaldo de Souza Santos,Presidente do Conselho Federal de Farmácia

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ENTREVISTA / ULISSES TUMA

O que diz o novoPresidente da SBAC

A SociedadeBrasileira de

Análises Clínicastem novo

presidente. É ofarmacêutico

bioquímico goianoUlisses Tuma. Ele foi

eleito, durante oCongresso daSociedade, e

tomará posse, emnovembro.

Pelo jornalista Aloísio Brandão,Editor desta revista

O farmacêutico bioquímico goiano Ulisses Tuma é onovo Presidente da SBAC (Sociedade Brasileira de Análi-ses Clínicas), a importante entidade científica do setor, fun-dada, em 1967, com o objetivo de estimular o desenvolvi-mento da especialidade, no Brasil. Para tanto, a SBAC con-seguiu montar uma estrutura respeitável, da qual se so-bressaem a realização do Congresso Brasileiro de AnálisesClínicas e o seu bem equipado Laboratório Nacional deReferência. Ulisses Tuma foi eleito, durante o XXXI Con-gresso Brasileiro de Análises Clínicas, realizado, em junho,em Salvador (BA), e substituirá Willy Yung. Especialistaem Citopatologia, Tuma exerce as Análises Clínicas, desdeque se formou, em 1976, pela Universidade Federal de Goi-ás (UFG), quando adquiriu o Laboratório Moderno, em

Goiânia. Ex-conselheiro Regi-onal de Farmácia de Goiás, elejá integrou a Comissão deAnálises Clínicas do Conse-lho Federal de Farmácia e diri-giu o Departamento de Medicamentos Básicos da Se-cretaria de Saúde do Estado de Goiás. Foi duas vezesSecretário Geral da SBAC e coordenou o Congresso daentidade. Ulisses Tuma assumirá a presidência da Soci-edade, com o setor mergulhado num momento de grandedificuldade. O novo Presidente tem um diagnóstico darealidade e traçou um rosário de alternativas à crise. Elefalou à revista PHARMACIA BRASILEIRA. Veja a en-trevista.

PHARMACIA BRASI-LEIRA - Quais serão asprioridades de sua ges-tão à frente da SBAC?Ulisses Tuma - Primeira-mente, vamos disponibi-lizar o material dos sitesda entidade e do Con-gresso Brasileiro de Aná-lises Clínicas em portu-guês, inglês e espanhol,na Internet, devido aofato de termos vários as-sociados em países de

línguas espanhola, principalmente naAmérica do Sul, e inglesa.

Também, pela grande procura queestamos tendo por parte das empresasde outros países interessadas no mer-cado de auxílio de diagnóstico brasilei-ro. Significa que elas desejam expor osseus produtos, equipamentos e reagen-tes para o público do nosso Congres-so. Eu cito, como exemplo a participa-ção, no último Congresso, realizado emSalvador, de empresas da Espanha eda Índia.

Outra prioridade será dar continui-

dade ao trabalho austero, desenvolvi-do pela atual diretoria, para podermoster condições de, cada vez mais, inves-tir no aprimoramento e atualização doconhecimento científico na nossa áreaprofissional, valorizando, assim, o nos-so sócio e, também, os não-sócios quemilitam nas Análises Clínicas.

Vamos, ainda, desenvolver umprograma de intercâmbio com outrasentidades congêneres internacionais,no sentido de viabilizar o aprimoramen-to dos conhecimentos do nosso jovemcientista analista clínico. Para isso, aSBAC terá que disponibilizar vagas emuniversidades e grandes laboratóriosda área, públicos e privados, a exemplodo que já existe com a InternationalFederation of Clinical Chemistry, comsede em Milão, Itália, da qual a SBACjá é sócia membro.

Outra prioridade é a valorizaçãodo sócio que esteja em dia com as suasresponsabilidades junto à SBAC. Va-mos trabalhar junto às diretorias e de-legacias regionais da Sociedade, deuma forma mais intensiva, com o obje-tivo de desenvolver mais cursos, pa-

lestras, seminários, jornadas científicasetc. Queremos que esse trabalho ve-nha inserir, com mais profundidade, aSBAC nos setores relacionados àsAnálises Clínicas, como secretarias deSaúde, entidades filantrópicas, labora-tórios públicos e privados, com vistasa fazer com que os nossos profissio-nais sejam ainda mais competentes nodesempenho de suas funções.

PHARMACIA BRASILEIRA - Onúmero de laborató-rios que realizam con-trole de qualidade épequena (em tornode 30% apenas). Osenhor vai implantaralguma política, comvistas a inverter es-ses números?

Ulisses Tuma -Nós vamos intensifi-car o trabalho debusca de laboratóri-os que ainda não de-senvolvem progra-ma de controle dequalidade, para que

�Um equipamentopode fornecerresultadosprecisos, mas nãoexatos, por falta decalibração doequipamento. Oproblema é que olaboratório nãodetecta ainexatidão, porfalta de controlede qualidade�.

Ulisses Tuma

Pharmacia Brasileira - Maio/Junho 20042020202020

ENTREVISTA / ULISSES TUMA

eles se filiem ao programa, trazendo, as-sim, maior segurança ao usuário e, tam-bém, aos próprios laboratórios, para

que estes realizem, commais segurança, as suasanálises. Também, fare-mos todo esforço, nosentido de ampliar o tra-balho do DICQ (Depar-tamento de Inspeção eCredenciamento da Qua-lidade) da SBAC, paraque tenhamos maior nú-mero de laboratórios ins-pecionados e credencia-dos pelo sistema de qua-lidade.PHARMACIA BRASI-LEIRA - Os laboratóriosnão filiados a um progra-ma de controle apresen-tam problemas de quali-dade?Ulisses Tuma - Aparen-temente, esses laborató-rios não manifestam pro-blemas de qualidade. Eudisse aparentemente. Naverdade, eles não estãotendo conhecimento deque sua qualidade podeestar comprometida.Exemplo: um equipamen-

to pode fornecer resultados precisos,mas não exatos, por falta de calibraçãodo equipamento. O problema é que olaboratório não detecta a inexatidão,por falta de controle de qualidade.

Gostaria de aproveitar, para expli-car o que é precisão e exatidão, atravésde comparações. Precisão: em um tiroao alvo, você acerta todos os tiros nummesmo ponto, porém a arma não alcan-ça o alvo central. Essa arma seria preci-sa, mas não exata. Para ela ser precisa eexata, teria que acertar os tiros no cen-tro do alvo. Trazendo isso para a reali-dade do equipamento laboratorial, elepode estar liberando resultados preci-sos, mas não exatos.

PHARMACIA BRASILEIRA -Uma inexatidão dessa pode comprome-ter a vida de um paciente que se sub-meteu a um exame clínico?

Ulisses Tuma - Normalmente, umainexatidão, por falta de calibração, não

chega a comprometer a vida, mas não éimpossível que isso ocorra.

PHARMACIA BRASILEIRA -Não há nenhuma norma que obrigueum laboratório a desenvolver um pro-grama de controle de qualidade. ASBAC pode buscar meios que levem àobrigatoriedade?

Ulisses Tuma - Não somente aSBAC, mas a Anvisa já está desenvol-vendo uma norma que exige que o re-gistro para a abertura de um laborató-rio de análises clínicas nos seus devi-dos Conselhos ocorra, somente apósele estar inscrito em um programa nacio-nal de controle de qualidade. Importa sa-lientar que a SBAC está trabalhando jun-to à Anvisa na elaboração dessa norma.

PHARMACIA BRASILEIRA -Durante o I Fórum Ético Legal em Aná-lises Clínicas, realizado pelo ConselhoFederal de Farmácia, falou-se insisten-temente sobre as baixas remuneraçõesdo SUS e planos de saúde privadas aosexames realizados pelos laboratórios.Os participantes daquele evento atri-buíram a essa questão o maior proble-ma enfrentado pelo setor. O que o se-nhor diz?

Ulisses Tuma - Sem dúvida, o se-tor foi sobrecarregado com impostos,obrigações sociais, salários, custos deequipamentos e reagentes, porém nãose tem conseguido, apesar das lutas,grandes avanços, no sentido de resga-tar uma remuneração justa dos servi-ços prestados pelos laboratórios.

Recentemente, o Governo Fede-ral, através do SUS, concedeu um pe-queno reajuste para uma quantidademuito pequena de exames, o que nãorepresenta, de forma alguma, a realida-de dos laboratórios, marcada por ne-cessidades, embora a SBAC - eu, exaus-tivamente - tenha participado de reuni-ões com técnicos do Departamento deExames de Média Complexidade da Se-cretaria de Assistência à Saúde (SAS),do Ministério da Saúde.

Continuaremos na luta, não sójunto ao Ministério da Saúde, mas tam-bém à ANS, para que seja implantada aCBHPM (Classificação Brasileira Hie-rarquizada de Procedimentos Médicos),no que diz respeito à área de patologiaclínica.

�Não somentea SBAC, mas a

Anvisa estádesenvolvendo

uma normaregulatória

que exige queo registro paraa abertura de

um laboratóriode análises

clínicas nosseus devidos

Conselhosocorra,

somente apósele estar

inscrito em umprograma

nacional decontrole de

qualidade�.

ACADEMIA

Rita Palhanoé a mais nova

integranteda ANF

A farmacêuti-ca bioquímica mara-nhense Rita Mariado Amparo BacelarPalhano é a maisnova integrante daAcademia Nacionalde Farmácia (ANF).Ela foi eleita paraocupar a cadeira denúmero 78, antes,pertencente a Eusé-bio Martins Costa.A concorrida soleni-dade de sua posse foirealizada, no dia 23de abril, no Palácio do Governo, em São Luiz, econtou com as presenças dos presidentes da ANF,Caio Romero Cavalcanti, e do Conselho Federalde Farmácia, Jaldo de Souza Santos; do Conselhei-ro Federal pelo Maranhão, Ronaldo Ferreira Pe-reira Filho, de autoridades estaduais e do Municí-pio de São Luiz, farmacêuticos, entre outros con-vidados.

Rita Palhano tem especialização em Cito-patologia Clínica. Professora aposentada da Fa-culdade de Farmácia da Universidade Federal doMaranhão (UFMA), Ex-presidente do ConselhoRegional de Farmácia do seu Estado, a farmacêuti-ca, hoje, está à frente da Sociedade Brasileira deCitopatologia Clínica, uma entidade científicavoltada à promoção do conhecimento e da qualifi-cação dos profissionais da área.

“Acredito que a ANF possui a mesma gran-deza que a Academia Brasileira de Letras possuipara um escritor, um poeta”, diz a nova acadêmi-ca, em tom de comemoração. Rita Palhano atribuia escolha do seu nome para ocupar uma cadeira naAcademia ao trabalho que vem realizando no cam-po da Citopatologia”. Revelou que pretende levar

para a Casa a luta que vem travando em favor doenvolvimento do farmacêutico na prevenção docâncer de colo uterino.

ANF - A Academia Nacional de Farmáciapossui 64 anos de fundada. É uma entidade técnicae científica, criada para abrigar os expoentes daFarmácia, no Brasil. Foi fundada pela ComissãoCientífica da Associação Brasileira de Farmacêuti-cos, instituição da qual despontaram excelênciasdo setor, como os professores Abel de Oliveira,Souza Martins, Malhado Filho, Pechold, GerardoMagela Bijos. A ANF possui 100 vagas. Oitenta ecinco delas são destinadas a farmacêuticos e asoutras 15 a médicos (dez) e a odontólogos (cinco).

Desde que foi criada, a ANF tem sede, no Riode Janeiro. O seu endereço é Rua da Lapa, número120, salas 606/607 - CEP 20021-180. O telefoneé (021)263-6441.

A farmacêutica Rita Palhano prestajuramento, ao tomar posse como membroda Academia Nacional de Farmácia

Rita Palhano entre os seus colegas acadêmicos. Da esquerda para adireita: Mauro Ferreira Leal, Luiz Gonçalves Paulo, Jaldo de Souza Santos,Presidente do Conselho Federal de Farmácia; Caio Romero, Presidenteda ANF; Mateus Mandré de Souza e Antônio Benedito de Oliveira.