ANHANGUERA METODOLOGIA

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    Anurio da ProduoAcadmica Docente

    Vol. III, N. 5, Ano 2009

    Daniela Maria Cartoni

    Anhanguera Educacional S.A.

    [email protected]

    CINCIA E CONHECIMENTO CIENTFICO1

    RESUMO

    Fazer pesquisa muito mais uma forma de pensar metodologicamente doque um mero conjunto de normas acadmicas. A atitude cientfica umaprecondio comportamental diante da produo de conhecimentos. Comoconseqncia, temos de pensar e raciocinar pelos parmetros da cincia. neste sentido que o artigo prope uma reflexo sobre os tipos deconhecimento, postura cientfica e limites da cincia, os principais mtodoscientficos e tipos de pesquisa.

    Palavras-Chave: conhecimento cientfico; mtodos cientficos; classificao

    da pesquisa.

    ABSTRACT

    To research is very much a way of thinking methodologically than a mereset of academic standards. The scientific attitude is a precondition behaviorbefore the production of knowledge. As a consequence, we have to thinkand reason by the parameters of science. In this sense, the article proposes areflection on the types of knowledge, attitude and scientific limits of science,major scientific methods and types of research.

    Keywords: scientific knowledge; scientific methods; classification research.

    1Material da 1 aula da Disciplina Metodologia da Pesquisa Cientfica, ministradano Curso de Ps-Graduao Lato Sensu em Didtica e Metodologia do EnsinoSuperior Programa Permanente de Capacitao Docente. Valinhos, SP:Anhanguera Educacional, 2009.

    Anhanguera Educacional S.A.

    Correspondncia/ContatoAlameda Maria Tereza, 2000Valinhos, So PauloCEP [email protected]

    Coordenao

    Instituto de Pesquisas Aplicadas eDesenvolvimento Educacional - IPADE

    Informe TcnicoRecebido em: 25/04/2009

    Avaliado em: 25/01/2010

    Publicao: 21 de abril de 2010

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    10 Cincia e conhecimento cientfico

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    1. INTRODUO

    A elaborao de um trabalho cientfico, um artigo, uma monografia ou uma tese, exige do

    pesquisador trabalho intenso na busca de uma ou mais respostas ao problema proposto.

    Tal busca, semelhante a uma garimpagem intelectual, denomina-se pesquisa. Todo o

    processo do seu desenvolvimento pautado em princpios metodolgicos, que tm a

    funo de mostrar como andar no caminho das pedras, ajud-lo a refletir sobre o objeto

    escolhido e instigar um olhar indagador e criativo sobre o mundo.

    A elaborao de um projeto de pesquisa o primeiro passo no desenvolvimento

    do processo de investigao e, para que este alcance resultados satisfatrios, necessrio

    planejamento cuidadoso e, alicerado em conhecimentos j existentes, reflexes

    conceituais slidas.

    A pesquisa um trabalho em processo no totalmente controlvel ou previsvel.

    Como descreve Demo (1991), em sua origem, a palavra metodologia significa estudos

    dos caminhos ou dos instrumentos utilizados para um trabalho cientfico. No determina

    uma nica via, mas busca apresentar os caminhos possveis do processo cientfico, como

    problematizar criticamente, indagar sobre os limites da cincia e estabelecer um padro de

    inteligibilidade na apresentao da pesquisa.

    Antes de tudo, preciso esclarecer que o processo de investigao cientfica vai

    alm dos procedimentos normativos no formato de um manual a ser consultado e

    seguido, quando necessrio. Assim sendo, a tarefa seria demasiadamente simplificada.

    Fazer pesquisa muito mais uma forma de pensar metodologicamente e requer uma

    precondio comportamental diante do cientfico e da produo de conhecimentos. Como

    conseqncia, temos de pensar e raciocinar pelos parmetros da cincia.

    Adotar uma metodologia escolher um caminho entre outros possveis. Um

    texto cientifico nunca absoluto. Seu percurso, muitas vezes, requer ser reinventado a

    cada etapa. Portanto, a metodologia da pesquisa:

    caracteriza-se pela proposta de discutir e avaliar as caractersticasessenciais da cincia e de outras formas de conhecimento;

    traz instrumentos importantes para o planejamento da pesquisa,apresentao de projetos e a execuo dos mesmos;

    inclui tambm a elaborao de relatrios, defesas e divulgao dostrabalhos de pesquisa embasados na tica profissional.

    O importante que se proceda de forma uniforme, mantendo os padres

    escolhidos do incio ao trmino do trabalho, preservados os compromissos da

    responsabilidade moral, finalidades da pesquisa e conscincia do seu amplo valor social.

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    2. CONSIDERAES SOBRE CONHECIMENTO, CINCIA E PARADIGMA

    Ao acordar pela manh, um cidado mdio tem sua disposio energia eltrica para

    acender a luz e alimentar todos os seus equipamentos eletroeletrnicos incorporados ao

    estilo de vida moderno: chuveiro, liquidificador, forno de microondas, geladeira, mquina

    de lavar roupas, um computador, entre tantos outros.

    Parece bvio que para ter acesso a todos estes bens foi necessria uma condio

    evolutiva. De fato, essas invenes e descobertas s puderam ser produzidas porque a

    capacidade de gerar conhecimento inerente nossa natureza. O homem, buscando a

    soluo dos problemas e respostas para as adversidades que enfrenta, desencadeou um

    processo crescente de desenvolvimento de tecnologia o resultado do conhecimento

    aplicado explorando a atividade sobre a natureza, o sistema de relaes sociais e

    organizaes polticas.

    Neste sentido, a gerao de conhecimento muito mais que uma meta a ser

    atingida. Deve ser compreendido como um processo sujeito a incidentes de percurso que,

    por isso mesmo, promovem rupturas e reconstrues constantes nos conceitos e juzos

    sobre a realidade, como destacou Khun (1962) ao tratar dos paradigmas cientficos.

    Apesar da descontinuidade linear dos paradigmas, tanto no sentido estrito como

    epistemolgico, como esforo de abstrao para entender o desenvolvimento do

    conhecimento desde os primeiros passos da humanidade, pode-se dizer que houve a

    passagem por trs fases: o medo, o misticismo e a cincia.

    Na fase do medo, os seres humanos pr-histricos no conseguiam entender os

    fenmenos da natureza e, por este motivo, suas reaes eram pautas no temor do

    desconhecido, como das tempestades e outras mudanas climticas. Como no

    conseguiam compreender o que se passava, a alternativa que restava era o espanto diante

    do que presenciavam.

    J num segundo momento, a inteligncia humana progrediu do medo para a

    tentativa de explicao dos fenmenos atravs do pensamento mgico, das crenas e das

    supersties. Assim, as tempestades podiam ser fruto da ira divina e a boa colheita da

    benevolncia dos mitos. Como estas explicaes no bastavam, o homem evoluiu na

    busca de respostas por meio de caminhos que pudessem ser comprovados. Nascia a

    cincia metdica, que procura sempre uma aproximao com a lgica para refletir sobre o

    significado de suas prprias experincias e pauta-se na capacidade de transmitir novas

    descobertas aos seus descendentes.

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    3. A EVOLUO DO CONHECIMENTO

    As civilizaes da Antiguidade desenvolveram saberes tcnicos e invenes, que ainda

    influenciam nosso cotidiano, desde conceitos relacionados agricultura, arquitetura,

    medicina e comunicao. Os egpcios, por exemplo, tinham conhecimento principalmente

    nas reas de matemtica e geometria, mas foram os gregos com o desenvolvimento daFilosofia provavelmente os primeiros a buscar o saber que no tivesse, necessariamente,

    uma relao com atividade de utilizao prtica.

    Ao longo do seu desenvolvimento, o conhecimento histrico da humanidade

    sempre teve forte influncia de crenas e dogmas religiosos, especialmente na Idade

    Mdia. Segundo Cervo e Bervian (2006, p. 9),

    [...] a cincia, nos moldes que conhecemos hoje, relativamente recente. Foi somente naIdade Moderna que adquiriu o carter cientfico que tem atualmente. [...] A revoluocientfica propriamente dita ocorreu nos sculo XVI e XVII, com Coprnico, Bacon e seumtodo experimental, Galileu, Descartes e outros.

    Foi no perodo do Iluminismo que se retomou o prazer de pensar e produzir o

    conhecimento, quando os princpios de individualidade e razo ganharam espao nos

    sculos seguintes, a exemplo das obras clssicas de Adam Smith no campo da Economia e

    a filosofia crtica de Emmanuel Kant. O francs Ren Descartes concebeu um modelo de

    verdade incontestvel cujo smbolo maior a frase penso, logo existo pelo qual

    mostrou ser a razo a essncia dos seres humanos. Segundo o pensador, a verdade

    poderia ser alcanada atravs de duas habilidades inerentes ao homem: duvidar e refletir.

    Nesse mesmo perodo, surgiram proeminentes estudos no campo das cincias da natureza

    que tambm iro influenciar profundamente o pensamento moderno.

    O processo de laicizao da sociedade j iniciado aps o Renascimento

    Cultural atribuiria importncia fundamental para a cincia. A burguesia assumiu

    autonomia no processo de estratificao social e estimulou caractersticas prprias de

    pensamento, tendendo para um processo que tivesse imediata utilizao prtica e

    propulsora do desenvolvimento econmico2.

    O sculo XIX serviu como referncia de desenvolvimento do conhecimento

    cientfico em todas as reas. Na Sociologia que ajudou criar, Auguste Comte desenvolveu

    sua explicao de sociedade, criando o Positivismo; na Economia, Karl Marx procurou

    explicar as relaes sociais atravs das questes econmicas, resultando no Materialismo-

    2 O pensamento burgus e os conceitos liberais aplicados livre concorrncia e cincia poltica expressaram-se pela

    necessidade do povo eleger seus governantes atravs de livre escolha da vontade popular. Um dos primeiros pensadoresinfluenciados por esse conjunto de idias foi o britnico John Locke. Segundo a sua obra Segundo Tratado sobre o GovernoCivil, o homem teria alguns direitos naturais como a vida, a liberdade e a propriedade. No entanto, os interesses de umindivduo perante o seu prximo poderiam acabar ameaando a garantia de tais direitos. Foi a partir de ento que o Estadosurgiria como uma instituio social coletivamente aceita na garantia de tais direitos.

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    Dialtico; Charles Darwin revolucionou a Biologia e a Antropologia, contestando dogmas

    de outrora.

    No sculo XX, a cincia e seus mtodos objetivos desenvolveram pesquisas em

    todas as frentes do mundo fsico e humano, atingindo um grau de preciso surpreendente

    no somente na rea de explorao espacial ou da medicina, como nos mais variadossetores da sociedade.

    4. TIPOS DE CONHECIMENTO

    A cincia, na condio atual, o resultado de descobertas ocasionais, nas primeiras etapas,

    e de pesquisas cada vez mais metdicas, nas etapas posteriores. O patamar recentes de

    desenvolvimento foi resultante da evoluo de tcnicas, fatos empricos e leis. Estes

    formam o elemento de continuidade que, por sua vez, foi sendo aperfeioado e ampliado

    ao longo da histria da humanidade (CARRAHER, 1999).

    O conhecimento, na sua forma mais simples, aquele que advm da observao

    e dos prprios sentidos, como sensaes capitaneadas pelo nosso corpo fsico. Uma

    definio de conhecimento considera-o como resultado da relao que se estabelece entre

    o sujeito que conhece (sujeito cognoscente) e um objeto a ser conhecido (sujeito

    cognoscvel), que pode ser um objeto fsico inanimado como o prprio homem, suas

    idias, suas leis etc.

    Cervo e Bervian (2006) destacam 4 nveis de conhecimento, a partir dos quais o

    homem se apropria da realidade:

    a) conhecimento emprico:

    Erroneamente chamado vulgar ou senso comum, adquirido pelo indivduo na sua

    relao com o ambiente, por meio da interao contnua, experincias vivenciadas ou na

    forma de ensaios e tentativas, como investigaes pessoais realizadas ao sabor das

    circunstncias da vida ou tradies da coletividade. Mesmo sem operacionalizar mtodos

    e tcnicas cientficas para construir o conhecimento, a pessoa comum tem o saber emprico

    do mundo material exterior de forma emprica.

    O senso comum ou conhecimento vulgar expressa-se na quantidade de

    informaes que so herdadas, repassadas e reconstrudas por ns sem uma

    sistematizao ou teorizao. Em geral, convivem com inmeras crenas e mitos vividos

    pelo grupo social, sem teor crtico, transmitido pelas diferentes geraes. (MEZZAROBA;

    MONTEIRO, 2006).

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    b) conhecimento filosfico:

    O conhecimento filosfico distingue-se do conhecimento cientfico pelo objeto de

    investigao e pelo mtodo. Enquanto na cincia os objetos so imediatos, prximos e

    sensveis, na indagao filosfica o objeto no est sujeito experimentao, ou seja, so

    de origem supra-sensvel e ultrapassam a experincia.

    Uma das caractersticas e a busca do significado das coisas na ordem geral do

    mundo e refletir sobre estas alm de sua aparncia. Podemos aplicar a Filosofia a qualquer

    rea do conhecimento, inclusive sobre a prpria cincia, seus mtodos, valores e

    pressupostos, quando ento a chamamos de Epistemologia.

    O refletir sobre o mundo muda os problemas ao longo do tempo e, com isso,

    deslocam-se os temas de reflexo filosfica. Portanto, tudo pode ser objeto de reflexo do

    conhecimento filosfico, como o mitolgico, a arte, a vida e at o ato de conhecer em si. Afilosofia procura refletir sobre este saber, interroga-se sobre ele, problematiza-o.

    c) conhecimento teolgico ou religioso:

    Este tipo de conhecimento trabalha no plano da f e pressupe a existncia de foras que

    esto alm da capacidade de explicao do homem, como instncias criadores de tudo o

    que existe, incorporado ou no aos rituais sagrados.

    Como destacam Mezzaroba e Monteiro (2006), a expresso revelao indica o

    somatrio de crenas nas quais se apia a religio e, pela sua natureza, no podem ser

    questionadas, o que as aproxima intimamente dos dogmas. Igualmente, h o termo

    mistrio, ou seja, tudo aquilo que est oculto, tudo aquilo que nossa inteligncia incapaz

    de explicar ou compreender.

    Constitui-se, portanto, no conjunto de verdades as quais as pessoas chegaram

    no com o auxlio de sua inteligncia, mas mediante a aceitao dos dados da revelao

    divina. O contedo da revelao passa a ser considerado fidedigno com sinais deautenticidade e verdade, passando a se estabelecer como verdades aceitas.

    d) conhecimento cientfico:

    O conhecimento cientfico vai alm do emprico, visando compreender, alm do fato e do

    fenmeno, a sua estrutura, organizao, funcionamento, causas e leis. Possui

    caractersticas como ser geral, ou seja, universal e vlida para todos os seres da mesma

    espcie; seu intuito constituir-se como mtodo sistemtico em busca de umordenamento das leis e princpios.

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    A viso atual de conhecimento cientfico vai alm da demonstrao e

    experimentao, evitando verdades imutveis. A cincia entendida hoje como uma

    busca constante de explicaes e solues, de reviso e reavaliao dos resultados, apesar

    de sua falibilidade e limites. por meio destes conceitos, leis e teorias que se busca

    compreender e agir sobre as coisas, como um processo dinmico e em construo.

    A cincia (epistme) era entendida pelos gregos como um conceito flagrantemente

    contrrio ao conceito de opinio (doxa), como uma necessidade de depurar o cientfico do

    meramente opinativo. O mtodo aparece como o principal elemento distintivo do que

    pode se definir como cientfico, ou seja, investigao lastreada metodologicamente e o que

    se pode definir como opinativo e expresso do subjetivismo (ABBAGNANO, 2001).

    5. O CONCEITO DE VERDADE E OS LIMITES DA CINCIATratar do conhecimento nos leva a discutir a problemtica da verdade, j que se busca a

    verdade sobre os fatos ou o conhecimento verdadeiro. A noo de verdade pode ser

    entendida tanto como carter lgico aposto falsidade ou, por outro lado, algo que

    guarda conformidade com a realidade e, neste sentido, seu oposto seria a iluso, o irreal.

    No que tange cincia, aceita-se hoje que a verdade sobre os fatos ou a realidade

    transitria. Em um momento histrico que a verdade era o fato do Sol se mover ao redor

    da Terra, fica evidente que as verdades so inoculadas por paradigmas e deve-se tomar

    cuidado com os dogmatismos. Nesta perspectiva, uma atitude dogmtica trata seus

    objetivos de conhecimento a partir de pressupostos aceitos como verdadeiros, sendo as

    leis apresentadas como dadas e acabadas, de certa forma uma indiferena com a realidade

    externa3. Rompe-se com tal postura a partir do momento em que h capacidade de

    estranhamento, indagao e questionamento sobre determinado fato, lei, objeto e

    comportamento.

    Um dos principais autores a defender a idia de que o conhecimento fruto de

    rupturas epistemolgicas Kuhn (1962), em seu livro A estrutura das revolues

    cientficas, quando introduz o conceito de paradigmas4. O paradigma traduz-se em uma

    estrutura imaginria, modelo de pensamento prprio de cada poca e produzido pela

    experincia de mundo, pela linguagem prpria do perodo e imposto a todos os domnios

    do pensamento. No caso do paradigma cartesiano e a concepo de cincia desenvolvida

    3

    O perigo do dogmatismo se revelou em diversos episdios da histria, como na Alemanha de Hitler e seus dogmasarianos, na colonizao da Amrica e dominao da populao indgena que era considerada pelos catequizadores comodesprovidos de alma.4Paradigma pode ser analisado semanticamente como toda a constelao de crenas, valores e tcnicas compartilhados pormembros de um dado agrupamento em determinado momento histrico e, na verdade, so de origem social e cultural.

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    por Newton, apesar de primordiais na era industrial moderna, o princpio norteador era

    de que o mundo um grande sistema mecnico, acabado, previsvel e

    independentemente do homem, cuja misso da cincia era descobrir seu funcionamento,

    medi-lo e domin-lo.

    Kuhn constatou que, quando um paradigma aceito pela maioria dacomunidade cientfica, acaba, por conseguinte, impondo-se como modo obrigatrio de

    abordagem dos problemas. Assim, um novo paradigma s pode surgir com a mudana

    das velhas crenas e formas de pensar, como aconteceu quando Coprnico conseguiu

    provar que a Terra no era o centro do universo, ou Einstein descobriu que uma coisa

    pode estar ou no no mesmo lugar no espao de acordo com o ponto de vista.

    Morin (1990) alerta para o fato de que os paradigmas so ocultos, governam

    nossas aes, nossa viso de mundo e das coisas; sem que tenhamos conscincia como

    princpios supralgicos de organizao de pensamento.

    Ainda como destacam Mezzaroba e Monteiro (2006, p.17), as limitaes mais

    srias que encontramos no processo de busca do conhecimento verdadeiro esto nas

    velhas crenas paradigmticas conscientes ou inconscientes que predefinem nossas

    percepes e formas de pensar.

    Neste sentido, o avano somente possvel porque algumas crenas ou

    procedimentos anteriormente aceitos esto sendo descartados e, ao mesmo tempo,substitudos por outros. Se todo processo de mudana traz insegurana, esta resultado

    do fracasso constante da cincia em produzir resultados esperados, mas simultaneamente

    o estmulo para estabelecer/buscar novas regras e renovao dos instrumentos. Alertam

    Diehl e Tatim (2004), por isso mesmo o termo crisedeve ser usado como parmetro de

    mudana implcito no conhecimento e como radicalizao dos princpios epistemolgicos

    da cincia moderna.

    A crise uma caracterstica da cincia moderna. O processo de mudana ddestaque tica e epistemologia para as reflexes e estabelecimento de parmetros das

    prticas cientficas. Sempre que limites so rompidos ou ameaados em qualquer

    disciplina cientfica, a tica trazida ao debate para chamar a ateno da conscincia dos

    cientistas e das instituies para a necessidade de dilogo, meio de equilibrar os anseios

    da comunidade acadmica e os valores da sociedade. Por seu lado, a epistemologia ganha

    importncia medida que o debate passa a vasculhar os critrios de verdade dos

    discursos sobre natureza e suas transformaes.

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    6. VERDADE E INCERTEZA

    preciso recusar a idia sedutora de que a cincia busca a verdade e a descrio da

    realidade em seus aspectos universais. Sendo assim, seria muito mais simples a discusso

    sobre as implicaes da pesquisa cientfica. Em outras palavras, como destacam Diehl e

    Tatim (2004),

    [...] a cincia lida com fenmenos complexos, realidades caticas e com incertezas. Decerta forma, por meio da cincia, procuramos ordenar esses fenmenos e explic-losracionalmente. Surge da o cuidado que devemos ter sempre que afirmamos ou negamosalgo. Assim que se explica o fato de que os textos cientficos, mesmo bemfundamentados em termos de conceituao terica, metodologia, pesquisa bibliogrficae emprica, possuem uma estrutura de erudio. Essa erudio compreende o sistema decitaes e o respaldo em pesquisas anteriores.

    Nesta perspectiva, os autores destacam a conscincia do pesquisador da

    relatividade dos fenmenos e de que a sua representao em um texto cientfico nunca

    absoluta, j que a cincia, apesar de se caracterizar como universal e racional, nunca

    definitiva. Continuam os autores:

    [...] justamente essa constante mudana que est sujeita a cincia que torna asconcluses no totalmente falsas ou verdadeiras, mas sim que algumas sejam maisprovveis que outras, dependendo do grau de fundamentao terica, do arsenalmetodolgico e da pesquisa emprica. Mesmo cientes de que dificilmente chegaremos verdade absoluta dos fenmenos analisados, devemos fazer um esforo para no nossodeixar levar pela subjetividade de posies e opes pessoais.

    7. CRITRIOS DE CIENTIFICIDADEEmbora no haja uma definio nica de cincia, ela pode ser definida genericamente a

    partir de sua caracterstica mais comum: o processo de produo de conhecimento. Pode

    ser entendida, nesse sentido, como um conjunto de mtodos lgicos e empricos que

    permitem a observao sistemtica de fenmenos, a fim de compreend-los e estabelecer

    padres regulares que seguem.

    A cincia uma forma de proceder que busca: a) responder questionamentos; b)

    solucionar problemas; c) desenvolver de modo mais efetivo os procedimentos para

    responder as questes e de solucionar problemas. Para Cervo e Bervian (2002), cincia a

    busca constante de explicaes e de solues, de reviso e de reavaliao de seus

    resultados, apesar de sua falibilidade e de seus limites.

    Conhecimento, do ponto de vista cientfico, tanto o reflexo quanto a produo

    de determinado objeto em nossa mente. Deste processo de conhecimento participam tanto

    a razo quanto os sentidos e a intuio. O conhecimento cientfico pode ser definido como

    conhecimento racional e sistemtico da realidade. Sua origem est nos procedimentos de

    verificao baseados na metodologia cientfica. Conforme j exposto, o conhecimento

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    cientfico no considerado como algo pronto, acabado ou definitivo, mas como busca

    e reviso constantes dos conhecimentos existentes.

    O processo de conhecimento tem a funo precpua de levar o homem da

    ignorncia para a sabedoria, do senso comum para o senso crtico5. Aquele que se dedica a

    esse estudo sistematizado da realidade e da cincia denominado de pesquisador,tornando-se produtor e no apenas consumidor do conhecimento, deixando de aceitar

    passivamente as idias dos outros (CHAU, 2007).

    Ao tratar do processo de investigao cientfica importante citar-se o critrio da

    falseabilidade, sugerido por Karl Popper6para a aceitao de generalizaes empricas.

    Segundo ele, uma teoria cientfica vlida quanto mais estiver aberta a fatos novos que

    possam tornar falsos os princpios e conceitos em que se baseava. Assim, o valor de uma

    teoria mede-se no pela sua verdade, mas pela possibilidade de ser falsa. A falseabilidade

    garantiria a idia do progresso cientfico.

    Em outras palavras, o Critrio da Falseabilidade o critrio sugerido, segundo

    Popper, o qual exclui aqueles modos de evadir a falsificao logicamente admissveis.

    Desse ponto de vista, as asseres empricas so decididas apenas em um sentido, isto ,

    no sentido da falsificao, e podem ser submetidas prova s por tentativas sistemticas

    de colh-las em erro. Desse modo, o problema da induo e da validade das leis da

    natureza desaparece.

    Segundo Umberto Eco (2006), um estudo cientfico quando responde aos

    requisitos7:

    a) O estudo debrua-se sobre um objeto reconhecvel e definido de tal maneira queseja igualmente reconhecvel pelos outros. Destaca-se que o termo objeto no temnecessariamente um significado fsico. Por exemplo: a raiz quadrada um objetosem que a tenham visto ou as classes sociais so objetos mesmo que algunspossam alegar que s se conhecem indivduos ou mdias estatsticas e noclasses propriamente ditas. Estabelecer o objeto significa definir as condies

    sobre as quais trataremos com base em que regras que estabelecemos ou outrosestabeleceram anteriormente.

    b) O estudo deve dizer do objeto algo que ainda no foi dito ou rever sob uma ticadiferente do que foi dito. Como exemplo, um trabalho matematicamente exatovisando demonstrar com mtodos tradicionais o teorema de Pitgoras no seriacientfico, uma vez que nada acrescentaria ao j sabido. Mesmo um trabalho de

    5De acordo com Carraher (1999, p. 14), [...] a pessoa com senso crtico levanta dvidas sobre aquilo em que comumente seacredita, explora rigorosamente alternativas atravs da reflexo e avaliao das evidncias, com a curiosidade de quemnunca se contenta com o seu estado atual de conhecimento.6Karl Popper nasceu em 1902, em Viana e se tornou um dos mais conhecidos filsofos da cincia, especialmente pela sua

    obra A lgica da descoberta cientfica (1935).7 sempre mais fcil dizer o que no seria cincia. Simplificadamente, no so cincia a ideologia e o senso comum.Todavia, no h limites rgidos entre tais conceitos, pois a cincia est cercada de ideologia e senso comum, no apenascomo circunstncias externas, mas como algo que est inerente ao prprio processo cientfico, j que o conhecimentodesenvolvido historicamente contextualizado.

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    compilao pode ser cientificamente valioso na medida em que a pesquisareuniu e relacionou de modo orgnico e criativo as opinies j expressas poroutros sobre o tema.

    c) O estudo deve ser til aos demais. A importncia de um trabalho acrescentaralgo quilo que a comunidade j sabia reflete a funo social da pesquisa emmelhorar as condies de vida, a libertao moral e poltica de povo, o domnio

    de uma tecnologia e sua aplicao prtica.d) O estudo deve fornecer elementos para verificao e contestao das hipteses

    apresentadas e, portanto, para uma continuidade pblica. Este requisito fundamental para o progresso da cincia e validao dos resultados,questionando procedimentos e a prpria tica da verificao dos dados.

    Como demonstrou Eco (2006), possvel desenvolver uma tese cientfica

    mesmo sem utilizar logaritmos e provetas.

    8. POSTURA CIENTFICA, LIMITES DA CINCIA E QUALIFICAO DOPESQUISADOR

    Um dos grandes pilares cientficos a busca de neutralidade e imparcialidade. sabido

    que, para se fazer uma anlise desapaixonada de qualquer tema, necessrio que o

    pesquisador mantenha certa distncia emocional do assunto abordado. Mas ser isso

    possvel? Seria possvel um padre, ao analisar a evoluo histrica da Igreja, manter-se

    afastado de sua prpria histria de vida? Ou ao contrrio, um pesquisador ateu abordar

    um tema religioso sem um conseqente envolvimento ideolgico nos caminhos de suapesquisa?

    Provavelmente a resposta seria no. Mas, ao mesmo tempo, a conscincia desta

    realidade pode nos preparar para trabalhar esta varivel de forma que os resultados da

    pesquisa no sofram interferncias alm das esperadas. preciso que o pesquisador tenha

    conscincia da possibilidade de interferncia de sua formao moral, religiosa, cultural e

    de sua carga de valores para que os resultados da pesquisa no sejam influenciados por

    eles alm do aceitvel.

    Alguns atributos pessoais so desejveis para um bom pesquisador. Para Gil

    (1999), um bom pesquisador precisa, alm do conhecimento do assunto, ter curiosidade,

    criatividade, integridade intelectual e sensibilidade social. So igualmente importantes a

    humildade para ter atitude autocorretiva, a imaginao disciplinada, a perseverana, a

    pacincia e a confiana na experincia.

    Atualmente, o sucesso como pesquisador est cada vez mais vinculado a sua

    capacidade de captar recursos, enredar pessoas para trabalhar em sua equipe e fazer

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    Anurio da Produo Acadmica DocenteVol. III, N. 5, Ano 2009 p. 9-34

    alianas que proporcionem os recursos necessrios para o desenvolvimento de sua

    pesquisa.

    a) Tendncias e Preferncias Pessoais. O pesquisador deve escolher umassunto correspondente ao seu gosto pessoal que sejam preferencialmentena sua rea de atuao. Deve ter empenho e perseverana no sentido de

    vencer os obstculos.b) Tempo. Antes do problema da escolha do assunto importante considerar

    o tempo disponvel e o tempo necessrio para levar a bom termo esta ouaquela pesquisa. bem verdade que o entusiasmo e a aptido multiplicamda eficcia do trabalho, mas no se pode optar por um assunto que exigemuito mais tempo de pesquisa do que dispe o pesquisador.

    c) Relevncia da pesquisa. O pesquisador imbudo do esprito cientfico nocede tentao e ao comodismo de escolher assuntos pela sua aparentefacilidade. Ao contrrio, procura assuntos cujo estudo e aprofundamentopossam trazer contribuio efetiva para o prprio amadurecimentocultural, para esclarecer melhor determinado problema ao corrigir umafalsa interpretao ou, ainda, aprimorar a definio de um conceitoambguo. Tais aes visam ao aprofundamento sobre o tema dado suarelevncia pelo contedo e pela sua atualidade.

    O ttulo ou rtulo de ser cientista factvel quele que, de alguma forma,

    cultiva esses conhecimentos e possui atitude cientfica. Para alm da figura estereotipada

    do pesquisador, fazer cincia no privilgio de um tipo particular de pessoa, povo ou

    cultura.

    Pouco adianta o conhecimento e o emprego de tcnicas metodolgicas sem o

    rigor e seriedade que a pesquisa exige. Segundo Cervo e Bervian (2006, p. 13),

    [...] a postura cientfica , antes de tudo, uma atitude ou disposio subjetiva dopesquisador que busca solues srias, com mtodos adequados para o problema queenfrenta. Esta postura no inata da pessoa; ao contrrio, desenvolvida ao longo davida, custa de muito esforo e de uma srie de exerccios. Ela pode e deve seraprendida. Na prtica, expresso de uma conscincia crtica, objetiva e racional.

    A conscincia crtica que levar o pesquisador a aperfeioar seu julgamento e

    discernimento, separando o essencial do superficial como habilidade para analisar e

    criticar, permite avaliar os elementos em questo, sendo crtica no sinnimo de negativa,

    mas antes uma tomada de posio que impede a aceitao do que superficial e no

    suscetvel a provas. Ainda para Cervo e Bervian (2006, p. 14),

    [...] a postura cientfica implica aes racionais: as razes explicativas de uma questo spodem ser intelectuais e racionais. As razes que a razo desconhece, as razes daarbitrariedade, do sentimento e do corao nada explicam ou justificam o campo dacincia.

    Como qualidades a serem desenvolvidas, destacam-se a objetividade e

    imparcialidade. Em relao primeira, o que vale no o que o pesquisador pensa e sim o

    que de fato o objeto de estudo, escolhido de modo que outros possam repetir aexperincia, em qualquer tempo, e o resultado ser sempre o mesmo. Nada impede que o

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    cientista parta de suas prprias vivncias ou reflexes para elaborar suas hipteses

    explicativas, porm o resultado deriva da anlise impessoal dos resultados obtidos.

    J o segundo aspecto exige a obedincia escrupulosa verdade e limites ticos.

    Cultiva a honestidade, evita o plgio, pois respeita o que os outros plantaram e tem horror

    acomodao diante dos obstculos de uma pesquisa.A pesquisa exige esforo e dedicao, sem se resumir ao esforo isolado de um

    gnio que faz descobertas decisivas. Conta com a mobilizao de uma comunidade de

    tcnicos e pesquisadores que trabalham de forma disciplinada e comprometida em busca

    do seu crescimento profissional, da colaborao para o desenvolvimento da cincia como

    um todo.

    9. O TRABALHO CIENTFICO E SUA AVALIAO

    O trabalho cientfico, propriamente dito, deve ser avaliado pela sua qualidade temtica e

    pela sua qualidade formal. A qualidade temtica (ou poltica) refere-se fundamentalmente

    aos contedos, aos fins e substncia do trabalho cientfico. J a qualidade formal diz

    respeito aos meios e formas usados na produo do trabalho. Refere-se ao domnio de

    tcnicas de coleta e interpretao de dados, manipulao de fontes de informao,

    conhecimento demonstrado na apresentao do referencial terico e apresentao escrita

    ou oral em conformidade com os ritos acadmicos (DEMO, 1991).

    Ressalta-se que o papel do cientista estudar, pesquisar, sistematizar, teorizar

    sem, contudo, intervir, influenciar, tomar posio no sentido de apenas comprovar seu

    ponto de vista, sua maneira de conceber a realidade. A qualidade do pesquisador tambm

    est em ser competente formalmente.

    Detalhando os critrios que caracterizam um trabalho cientifico, Demo (1989)

    divide-os em internos e externos. Entre os critrios internos, cita:

    Coerncia significa sua propriedade lgica, ou seja: no contradio;

    argumentao bem estruturada; corpo sistemtico e bem deduzido de enunciados;

    desdobramento do tema de modo progressivo e disciplinado (com comeo, meio e fim) e

    deduo lgica de concluses.

    Consistncia significa a capacidade de resistir a argumentaes contrrias;

    difere da coerncia porque esta estritamente lgica, enquanto a consistncia se liga

    tambm atualidade da argumentao. Exemplo: dos livros produzidos num ano, apenas

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    alguns sobrevivem, tambm como dos autores que se tornam clssicos, porque produzem

    estilos consistentes de argumentao, tanto no sentido lgico como na atualidade.

    Objetivao significa a tentativa nunca completa de descobrir a realidade

    social assim como ela , mais do que como gostaramos que fosse. Como no h

    objetividade (ou seja, o conhecimento objetivo imparcial e com total verossimilhana emdescrever o fenmeno), substitui-se pelo de objetivao.

    Entre os critrios externos fundamental a intersubjetividade, significando a

    opinio dominante da comunidade cientfica em determinada poca e lugar. externo

    porque a opinio algo atribudo de fora, por mais que provenha de um especialista 8.

    Aqui transparece a marca social do conhecimento. Em si, o cientfico deveria ligar-se

    apenas a critrios de propriedade interna.

    Destacam-se outros elementos relevantes para a avaliao de um trabalhocientfico:

    Observao das normas tcnicas e cientficas: este quesito para avaliaode trabalhos relaciona-se diretamente com a observncia dos critriostcnicos estabelecidos pela ABNT e as normas de comunicao cientficasobre documentao e da padronizao metodolgica: capa, folha derosto, formatao, paginao, numerao, abreviaturas, tabelas, citaes,bibliografia, siglas, equaes matemticas, etc.

    Aspecto estrutural do trabalho: o trabalho deve apresentar claradelimitao do tema, objetivos geral e especfico, justificativas,metodologia, sumrio, resumo, citaes no texto.

    Qualidade da redao e organizao do texto: este o quesito mais auto-explicativo do conjunto. Sugere-se considerar nesta avaliao: a) Aqualidade formal da redao - sua ortografia e gramtica. b) Aorganizao do texto - sua objetividade, lgica e estrutura. Enfim, otexto apropriado transmisso de conhecimento cientfico?

    Originalidade do trabalho e relevncia do tema: a originalidade dotrabalho pode ser interpretada de diversas maneiras. Deve-se observarque at mesmo um trabalho sobre um tema to antigo e clssico como,

    por exemplo, o Estado Democrtico de Direito pode, em tese, ser original,j que pode trazer novas evidncias empricas, novas articulaes tericasou mesmo questes ainda no respondidas por correntes ou escolas depensamento emergentes. Por outro lado, um tema relevante , emprincpio, aquele que tem implicaes significativas sobre seu campo deconhecimento ou para a sociedade e, em particular, sobre as prticasorganizacionais, podendo, portanto, ser funo de um contexto.

    Clareza, pertinncia e consecuo dos objetivos: este quesito paraavaliao de trabalhos relaciona-se essencialmente aos objetivos de cadatrabalho. Para tanto, analisa-se: a) Os objetivos so colocados claramenteno trabalho? b) Os objetivos expressam claramente e justificam o

    problema da pesquisa? c) De que forma pretende atingir os objetivos? d)

    8Da decorrem outros critrios externos, como a comparao crtica, a divulgao, o reconhecimento generalizado etc.

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    Os objetivos foram atingidos? Se no o foram, h razes justificveis paraisso?

    Consistncia terica do trabalho: este quesito visa avaliar a coerncia comque se utiliza uma teoria ao longo de um dado trabalho ou,eventualmente, de como se utiliza um conjunto de diferentes teorias,correntes tericas ou escolas de pensamento. Neste caso, esta consistncia

    pode provir da compatibilidade natural entre as escolas de pensamentoutilizadas ou das evidncias deixadas pelo autor das limitaes,delimitaes e consideraes necessrias coerente compatibilizao dasmesmas.

    Metodologia: via de regra, a boa metodologia um caminho adequadopara responder ao problema de pesquisa, devendo assegurar coernciaem suas etapas e partes. As metodologias no so universais, assimsendo, a avaliao quanto adequao das mesmas deve considerar seucontexto. Seguem-se dois exemplos: a) O primeiro tpico dos trabalhosquantitativos, e decorrente da popularizao de softwares estatsticos. b)No que tange aos trabalhos qualitativos, comum o uso de percepes

    pessoais de indivduos entrevistados, em estudos de caso, como sendosignificativos ou representativos de uma coletividade ou organizaocomo um todo, sem a apresentao de qualquer evidncia dessarepresentatividade.

    Anlise de resultados e informaes - articulao terica e metodolgicada interpretao: os resultados de estudos cientficos costumam seranalisados frente a teorias ou outras consideraes no empricas. Estacombinao no deve ser aleatria nem desconexa, mas sim guardarcaractersticas de adequada articulao entre um e outro campo. Nestequesito avalia-se a harmonia entre resultados, teoria e metodologia de

    pesquisa. Concluses: avalia-se primeiramente se o trabalho propicia fundamentos

    consistentes s concluses do autor. Deve-se considerar se as conclusesso coerentes entre si e com o quadro terico de referncia utilizado, setem alcance compatvel com a anlise efetuada e, se for o caso, com aamostra estudada para os trabalhos de campo. Freqentementeobservam-se trabalhos com concluses tmidas e acanhadas, que ficamaqum do que seria possvel e, em outros casos, concluses que vo almdo que permitiria a anlise das observaes que as originaram.

    10. A PESQUISA E O MTODO CIENTFICO

    A investigao cientfica depende de um mtodo, ou seja, um conjunto de procedimentos

    intelectuais e tcnicos para que seus objetivos sejam atingidos (GIL, 1999). Trata-se da

    linha de raciocnio adotada no processo de pesquisa ou, em outras palavras, a maneira

    como sero resolvidos os problemas de pesquisa, de forma lgica e pautada nos conceitos

    da cincia. Os mtodos cientficos pressupem ao menos uma forma de organizao do

    raciocnio que ser empregada na pesquisa. A partir dela, o pesquisador opta pelo alcance

    da sua investigao, pelas premissas explicativas e validade de suas generalizaes.

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    Se o que distingue o conhecimento cientfico dos outros conhecimentos a

    possibilidade de verificao dos seus resultados, o mtodo cientfico que permite sua

    comprovao, pois identifica clara e objetivamente os raciocnios e tcnicas utilizados.

    Segundo Mezzaroba e Monteiro (2006, p.30),

    [...] quando sabemos exatamente qual foi o caminho seguido na pesquisa, podemos

    proceder com exatido verificao dos passos percorridos at o resultado final. Essecaminho seguido, o roteiro seguro que guia o cientista em suas investigaes o mtodopor ele utilizado.

    Embora no seja a inteno fazer a histria do mtodo na literatura filosfica,

    importante a breve reflexo acerca de seus conceitos fundadores e seus desdobramentos

    para a pesquisa, dos quais se destacam os autores (ABBAGNANO, 2001):

    Pitgoras e o mtodo hermtico, em que a religio, metafsica enumerologia se confundem (compreenso da essncia das coisas donmero)

    Scrates e o mtodo maiutico, associado ao dilogo e ironia, pois, se oconhecimento est na alma, dela que se deve extrair o conhecimento pormeio da parturio das idias.

    Plato e o mtodo idealista, segundo o qual o conhecimento da verdadedepende da oposio entre a Realidade das Idias (Ideal) e a falsarealidade das idias, na Realidade das Coisas (Terreno).

    Aristteles e o seu mtodo que buscava o conhecimento empiricamenteextrado do contato sensvel das coisas existentes, pois o homem umatabula rasa na qual se imprimem os conhecimentos humanos a partir daexperincia.

    Escola Patrstica ou Escolstica na Idade Mdia, com a valorizao dacontemplao e da revelao divina.

    Descartes e o seu Discurso sobre o Mtodo, pregando a abolio dodogmatismo e a necessidade de matematizao da cincia.

    Bacon e o seu Novum Organum, difusor do empirismo experimental comomtodo cientfico, base da cincia moderna na formulao de hipteses eexperimentao.

    Popper e a ruptura com o logicismo, propondo uma reflexo sobre atestabilidade das cincias e crtica ao empirismo.

    Para a categorizao dos mtodos, nos ateremos aos mtodos:

    a) dedutivo: o raciocnio parte de uma proposio abstrata parra construiruma proposio discursiva concreta;

    b) indutivo: o raciocnio parte de uma proposio concreta para construir aproposio discursiva abstrata;

    c) hipottico-dedutivo: formulao de hipteses, das quais deduzem-seconseqncias que devero ser testadas ou falseadas;

    d) dialtico: questionamento a partir da anlise dos opostos e alcance dasntese.

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    Quadro 1 Definio e caractersticas dos mtodos.

    Mtodo Definio Caractersticas

    Indutivo Extrao discursiva do conhecimento a partir de

    evidncias concretas, passveis de generalizao.

    Procede do particular para o geral

    Dedutivo Extrao discursiva do conhecimento a partir de

    premissas gerais aplicveis a hipteses concretas.

    Procede do geral para o particular.

    Hipottico-dedutivo Pressuposto de que os conhecimentos disponveissobre determinado assunto so insuficientes para

    a explicao de um fenmeno. Para explic-lo so

    formuladas conjecturas ou hipteses.

    Procede pela formulao dehipteses, das quais deduzem-se

    conseqncias que devero ser

    testadas ou falseadas.

    Dialtico Corresponde apreenso discursiva do

    conhecimento a partir da anlise e interposio de

    elementos diferentes

    Procede de modo crtico,

    ponderando polaridades opostas,

    at o alcance da sntese.

    Fonte: Adaptado de Bittar (2001).

    10.1. Mtodo Indutivo

    Mtodo proposto pelos empiristas Bacon, Hobbes, Locke e Hume. Considera que o

    conhecimento fundamentado na experincia e o mtodo permite analisar o objeto para

    tirar concluses gerais ou universais.

    No raciocnio indutivo, a generalizao deriva de observaes de casos da

    realidade concreta. As constataes particulares levam elaborao de generalizaes.

    Veja um clssico exemplo de raciocnio indutivo formal:

    Terra, Marte, Vnus e Saturno so todos planetas.

    Ora, Terra, Marte, Vnus e Saturno no tm luz prpria.Logo, os planetas no tm luz prpria.

    O raciocnio indutivo permite chegar a concluses mais amplas do que o

    contedo estabelecido pelas premissas nas quais est fundamentado. Outro exemplo:

    Um dos papis do Direito proteger a criana, o incapaz, o cidado perante opoder estatal, o consumidor perante a empresa comercial.

    Logo, um dos papis do Direito velar pela proteo de pessoas fracas.

    Os argumentos do tipo indutivo levam a resultados plausveis, mas no dotados

    do rigor que a Lgica chama de concluses necessrias.

    Outro exemplo considerando o raciocnio do tipo induo cientfica como o

    movimento do pensamento que via de uma ou vrias verdades singulares a uma verdade

    mais universal (lei), temos que certo nmero de vezes o xido de carbono paralisa os

    glbulos sanguneos; desta observao infere-se que sempre dadas as mesmas condies,

    o xido de carbono paralisar os glbulos sanguneos.

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    Pensando em uma situao em que os jornais do cobertura a um grande caso de

    corrupo de um importante magistrado nacional. O cidado leigo e no uso do senso

    comum pensaria: Se o juiz X corrupto, logo todos os juzes tambm so. Mas

    importante perceber que, mesmo sendo o raciocnio indutivo responsvel por

    generalizaes, ele tem um papel importante no desenvolvimento cientfico,

    especialmente nas cincias experimentais como acima apresentado. Nas pesquisas

    farmacuticas, no caso da descoberta da penicilina, tivemos um caso de induo. Por

    exemplo, se h um processo de busca de remdio para determinada doena e acaba-se

    descobrindo uma substncia Y que tem a capacidade de regenerar alguns tipos de

    clulas doentes. A partir da pode-se induzir que aquele princpio qumico pode regenerar

    qualquer clula e concentrar a pesquisa na cura para o cncer.

    10.2. Mtodo Dedutivo

    Mtodo proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz que pressupe que s a

    razo capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O raciocnio dedutivo tem o objetivo

    de explicar o contedo das premissas gerais para argumentos particulares.

    Por intermdio de uma cadeia de raciocnio em ordem descendente, de anlise

    do geral para o particular, chega a uma concluso. Usa o silogismo, construo lgica

    para, a partir de duas premissas, retirar uma terceira logicamente decorrente das duasprimeiras, denominada de concluso. Veja um clssico exemplo de raciocnio dedutivo:

    Todo homem mortal. ...........................................(premissa maior)

    Pedro homem. .....................................................(premissa menor)

    Logo, Pedro mortal. .............................................(concluso)

    A questo fundamental da deduo est na relao lgica estabelecida entre as

    proposies apresentadas, a fim de no comprometer a validade da concluso. Aceitandoas premissas como verdadeiras, as concluses tambm o sero.

    Se por um lado o mtodo dedutivo leva o investigador do conhecido para o

    desconhecido com uma pequena margem de erro, por outro lado h limitao, pois sua

    concluso no pode em hiptese alguma ultrapassar o contedo enunciado nas premissas.

    Vejamos uma comparao entre o mtodo dedutivo e indutivo no Quadro 2.

    Quadro 2 Comparao entre mtodos dedutivo e indutivo.

    Raciocnio dedutivo Raciocnio indutivo

    Premissa maior: Os lees so carnvoros Foi observado em lees o comportamento alimentar carnvoro.

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    Premissa menor: King um leo.

    Concluso: Logo, King carnvoro.

    Logo, todos os lees so carnvoros.

    Destaca-se que na deduo a certeza das premissas transferida para a concluso

    em virtude do uso correto das regras lgicas, enquanto na induo uma vez as premissas

    consideradas verdadeiras, a concluso ser igualmente verdadeira.

    10.3. Mtodo Hipottico-Dedutivo

    Proposto por Popper, consiste na adoo da seguinte linha de raciocnio, descrita por Gil

    (1999): quando os conhecimentos disponveis sobre determinado assunto so

    insuficientes para a explicao de um fenmeno, surge o problema. Para tentar explicar as

    dificuldades expressas no problema, so formuladas conjecturas ou hipteses.

    Das hipteses formuladas, deduzem-se conseqncias que devero ser testadas

    ou falseadas (isto , tornar falsas as conseqncias deduzidas das hipteses). Enquanto no

    mtodo dedutivo se procura a todo custo confirmar a hiptese, no mtodo hiptetico-

    dedutivo, ao contrrio, procuram-se evidncias empricas para derrub-las. Ele tem em

    comum com o mtodo dedutivo o procedimento racional que transita do geral para o

    particular e, com o mtodo indutivo, o procedimento experimental como condio

    fundante.

    Karl Popper, em 1934, em sua obra A lgica da pesquisa cientfica, promoveu uma

    crtica ao mtodo indutivo, afirmando que a cincia somente capaz de fornecer solues

    temporrias para os problemas que enfrenta. Assim, as teorias cientficas e seus

    problemas so viveis de anlise por meio de hipteses (conjecturas) para promov-las a

    um rigoroso processo de falseabilidade, ou seja, a verificao emprica de modo a

    corrobor-las ou refut-las.

    10.4. Mtodo Dialtico

    Fundamenta-se na dialtica proposta por Hegel, na qual as contradies transcendem-se

    dando origem a novas contradies que passam a requerer soluo. um mtodo de

    interpretao dinmica e totalizante da realidade. Coloca que os fatos no podem ser

    considerados fora de um contexto social, poltico, econmico etc. Segundo Marconi e

    Lakatos (2001), empregado em pesquisas qualitativas.

    Encontramos entre os filsofos gregos (Scrates, Plato e Aristteles) a dialticarepresentativa da arte do dilogo, especialmente como tcnica de argumentar e contra-

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    argumentar sobre assuntos, cuja demonstrao ocorre por meio de raciocnios analticos.

    As opinies e diferenas de opinio poderiam ser consideradas racionais desde que

    fundamentadas em uma argumentao consistente, isto , para que algo se mostre real e

    verdadeiro necessrio que seja confrontado com suas possibilidades contraditrias

    (antteses).

    Hegel, pensador alemo do sculo XIX, definiu o raciocnio dialtico da seguinte

    forma:

    Tese (uma pretenso de verdade) Anttese (a tese negada) = Sntese (o resultado do

    confronto) / A sntese uma nova tese.

    A concepo hegeliana de dialtica, que depois seria usada por outros tericos

    como Karl Marx para elaborar a teoria do Materialismo Dialtico, pressupe que o objeto

    pode se auto-superar mediante o confronto com seu contraditrio, vindo a serinteiramente outro como resultado de si mesmo. Trata-se de um mtodo dinmico,

    altamente sofisticado de raciocinar, pois supe a transformao e superao como uma

    nova proposio.

    10.5. Mtodo Fenomenolgico

    O mtodo fenomenolgico baseia-se na investigao de fenmenos humanos, tais como

    vividos e experimentados pelo indivduo, ou seja, examina a realidade a partir da

    perspectiva de primeira pessoa.

    Como reao ao positivismo e idealismo do sculo XIX, um dos principais

    expoentes deste mtodo o filsofo alemo Edmund Husserl. Prope uma anlise da

    essncia e das coisas como elas se manifestam, que tm relao com o cotidiano e a

    intencionalidade, ou seja, a conscincia em compreender o mundo.

    Mediante a intencionalidade, todos os atos, gestores e aes humanas tm um

    significado e este deve ser apreendido pela percepo do indivduo em sua totalidade. As

    reflexes sobre o carter originrio do fenmeno, para este mtodo, partem de uma

    rigorosa descrio das idias e atitudes cognitivas ante o fenmeno.

    Na prtica da fenomenologia efetuam-se as estratgias de coleta de dados

    (entrevistas no diretivas e descrio oral das experincias do sujeito) e estratgias de

    apresentao de resultados (descrio com as palavras na forma como usadas pelo

    sujeito).

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    11. CLASSIFICAO DA PESQUISA

    Sinteticamente, pesquisa um conjunto de aes, propostas para encontrar a soluo para

    um problema, que tm por base procedimentos racionais e sistemticos. A pesquisa

    realizada quando h um problema e no se tem informaes para solucion-lo.

    Trata-se de atividade de combinao particular entre teoria e dados que compe

    um processo intrinsecamente inacabado e permanente, resultado de uma realidade que

    nunca se esgota. a realizao concreta de uma investigao planejada, desenvolvida e

    redigida de acordo com as normas da metodologia consagradas pela cincia.

    H diferentes formas de classificar a pesquisa, definidos essencialmente pelo

    tratamento que se d ao problema: quanto sua natureza, abordagem do problema ou

    procedimentos.

    a) No que se refere classificao da pesquisa quanto natureza, ela pode ser organizada

    em:

    Pesquisa bibliogrfica

    A pesquisa bibliogrfica procura analisar e conhecer as contribuies culturais ou

    cientficas existentes sobre um determinado assunto, explicando um problema a partir

    desse levantamento. Estuda teorias, correlaciona conceitos e formula quadros de

    referncia, pautada em dados secundrios.

    Cabe lembrar que, em qualquer rea ou qualquer modalidade de pesquisa, exige-

    se uma pesquisa bibliogrfica prvia, para levantamento da situao da questo, uma

    fundamentao terica ou, ainda, para justificar os limites e contribuies da prpria

    pesquisa.

    Quando realizada como o todo da pesquisa, a pesquisa bibliogrfica deve

    conter todas as etapas formais de um trabalho cientfico. muito comum encontrar-se este

    tipo de pesquisa em Cincias Humanas, nas reas da Lingstica, Histria, Literatura ouTeologia. Na rea das Cincias Exatas, a pesquisa bibliogrfica geralmente faz parte da

    pesquisa descritiva ou experimental, com o intuito de recolher informaes e

    conhecimento prvios sobre o problema pesquisado.

    Pesquisa Exploratria

    a pr-pesquisa ou o levantamento de hipteses para posterior pesquisa,

    normalmente o primeiro passo da investigao. Auxilia na formulao de hipteses para

    posteriores aes. Ou colabora com a familiarizao do fenmeno para que se obtenha

    uma percepo sobre ele. Primordialmente, tem o papel de avaliar quais as relaes entre

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    30 Cincia e conhecimento cientfico

    Anurio da Produo Acadmica DocenteVol. III, N. 5, Ano 2009 p. 9-34

    os componentes do objetivo de estudo e , em geral, recomendada quando h pouco

    conhecimento sobre o assunto.

    Pesquisa Descritiva

    A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenmenos

    (variveis) sem manipul-los. Pesquisa a freqncia com que um fenmeno ocorre, assuas dependncias e caractersticas no mundo fsico ou humano, sem a interferncia do

    pesquisador. Tem por objetivo definir melhor o problema, descrever o comportamento

    dos fenmenos, definir e classificar fatos e variveis, sem a pretenso de explic-los.

    utilizada em todos os ramos da Cincia, mas principalmente em Cincias

    Sociais e Humanas, analisando relaes que ocorrem na vida social, poltica, econmica e

    demais aspectos do comportamento humano. Apresenta-se como a descrio das

    caractersticas, propriedades ou relaes existentes na comunidade, grupo ou realidadepesquisada.

    Pesquisa Experimental

    Aplicada soluo de problemas ou diagnstico de uma realidade especfica,

    codifica a face mensurvel da realidade. Baseada na anlise de dados primrios e originais

    para interpretar e predizer os resultados, visa a construo de uma teoria e interfere

    diretamente na realidade ou meio ambiente.

    Procura explicar de que modo ou por que causas o fenmeno produzido,

    empregando para tanto a avaliao qualitativa e quantitativa do tema. Caracteriza-se por

    manipular diretamente as variveis relacionadas com o objeto de estudo, atravs de

    situaes controladas. Utiliza-se de equipamentos de medida e tcnicas modernas de

    anlise para a mensurao das variveis envolvidas no objeto de estudo. So usados os

    termos pesquisa de campo ou pesquisa de laboratrio, como indicativo das pesquisas

    prticas.

    b) Se classificarmos a pesquisa do ponto de vista da abordagem do problema, ela pode:

    Pesquisa Qualitativa

    descritiva e se preocupa com a natureza da atividade e em descrev-la, sem

    realizar medies ou mtodos estatsticos. Geralmente a abordagem inicial no estudo de

    um problema. Inclui tcnicas de coleta de dados baseadas principalmente em entrevistas

    em profundidade (individual ou em grupos).

    Nas sesses de pesquisa qualitativa, utiliza-se sempre um roteiro no-estruturado para que a reunio ou entrevista transcorra com o mximo de

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    Anurio da Produo Acadmica DocenteVol. III, N. 5, Ano 2009 p. 9-34

    espontaneidade. As sesses podem ser gravadas, transcritas e armazenadas em meio

    magntico. O pesquisador ouve ou l as transcries, assiste aos vdeos e faz anlise dos

    resultados.

    Pesquisa Quantitativa

    Considera que tudo pode ser quantificvel, o que significa traduzir em nmerosopinies e informaes para classific-las e analis-las. Requer o uso de recursos e de

    tcnicas estatsticas (percentagem, mdia, moda, mediana, desvio-padro, coeficiente de

    correlao, anlise de regresso etc.).

    Inclui a coleta de dados (estatsticas oficiais, pesquisas em arquivos, entrevistas

    pessoais ou por outros meios, como telefone, postal e internet) e requer procedimentos

    para escolha da amostra, localizao e abordagem do entrevistado.

    c) Na sua classificao do ponto de vista dos procedimentos tcnicos, temos:

    Pesquisa bibliogrfica

    Quando elaborada a partir de material j publicado, constitudo principalmente

    de livros, artigos de peridicos e atualmente com material disponibilizado na Internet.

    Pesquisa documental

    Quando elaborada a partir de materiais que no receberam tratamento analtico.

    Pesquisa experimental

    Quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variveis que seriam

    capazes de influenci-lo, definem-se as formas de controle e de observao dos efeitos que

    a varivel produz no objeto.

    Levantamento

    Quando a pesquisa envolve a interrogao direta das pessoas cujo

    comportamento deseja-se conhecer.

    Estudo de caso

    Quando envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de

    maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento.

    Pesquisaex-post facto

    Quando o experimento realiza-se depois dos fatos.

    Pesquisa-ao

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    Anurio da Produo Acadmica DocenteVol. III, N. 5, Ano 2009 p. 9-34

    Quando concebida e realizada em estreita associao com uma ao ou com a

    resoluo de um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos da

    situao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

    Pesquisa participante

    Quando se desenvolve a partir da interao entre pesquisadores e membros dassituaes investigadas.

    Classificao da pesquisa

    a) Classificao da pesquisa quanto a sua natureza:

    Pesquisa bibliogrfica

    Pesquisa exploratria

    Pesquisa descritiva

    Pesquisa experimental

    b) Classificao da pesquisa quanto abordagem do problema:

    Pesquisa qualitativa

    Pesquisa quantitativa

    c) Classificaes da pesquisa do ponto de vista dos procedimentos tcnicos:

    Pesquisa bibliogrfica

    Pesquisa documental

    Pesquisa experimentalLevantamento

    Estudo de caso

    Pesquisa ex-post facto

    Pesquisa-ao

    Pesquisa participante

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    Anurio da Produo Acadmica DocenteVol. III, N. 5, Ano 2009 p. 9-34

    Fazer pesquisa defender uma idia, fundamentando-a com bibliografias e pela

    utilizao de procedimentos de investigao sistematizados. Esse processo serve para

    organizar e muitas vezes desnudar o fenmeno que se est estudando, no deixando de

    lado qualquer uma de suas partes. O fenmeno precisa ser definido, ordenado, clarificado

    e divido em suas partes para que possa ser perfeitamente compreendido.

    12. CONSIDERAES FINAIS

    A pesquisa um tratamento de investigao que tem por objetivo descobrir respostas

    para dvidas e indagaes, atravs do emprego de processos cientficos. Quando se fala

    em procedimentos metodizados, referem-se aos meios, tcnicas e recursos que se utilizam,

    que possam ser descritos, repetidos tantas vezes quando for necessrio e que sempre se

    mostrem satisfatrios para obter os resultados procurados.

    Desenvolver pesquisas e esprito crtico crescer profissionalmente, adquirir

    conhecimento enfim. Este processo est intimamente associado ao crescimento intelectual,

    recusa s idias ingnuas de discursos fceis e sedutores do senso comum, da moda ou

    repletos de armadilhas, segundo a quais a complexidade scio-cultural no precisaria de

    abordagem sofisticada.

    O pensamento cientfico est constantemente sujeito a mudanas, percebidas em

    seus fundamentos tericos, metodolgicos e paradigmticos. Neste sentido, a cincia lida

    com fenmenos complexos, realidades caticas e incertezas. Cabe ao pesquisador a

    sensibilidade para compreender a complexidade no processo de investigao e pesquisa,

    de forma a evitar a noo de verdade e o pensamento reducionista da cincia tradicional,

    a qual nos ensinou sobre a existncia de uma verdade nica e conclusiva.

    Neste sentido, escrever sobre orientaes e normas cientficas uma empreitada

    rdua, porque pode passar a impresso errnea de que h um corpo cientfico

    consolidado. Vivemos numa poca em que a cincia passa por uma profunda

    reestruturao dos seus critrios de plausabilidade. Os parmetros da cincia so

    polmicos e, por vezes, contraditrios. Portanto, cabe ao pesquisador e ao professor-

    pesquisador avaliar os pontos de convergncia nos trabalhos apresentados pelos assim

    denominados cientistas, avaliar suas orientaes e mtodos para ultrapassar os cnones

    tradicionais do reducionismo ou simples relativismo.

    REFERNCIAS

    ABBAGNANO, Nicola. Dicionrio de filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 2001.

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    Daniela Maria Cartoni

    Possui Graduao em Cincias Sociaispela Universidade Estadual de Campinas(1998), Mestrado em Poltica Cientfica eTecnolgica pela Universidade Estadualde Campinas (2002) e MBA em Gesto deRecursos Humanos (2008). Atualmente Supervisora de Cursos de Extenso

    Universitria da Anhanguera Educacional. Na docnciaatua como Professor Adjunto na UniversidadePresbiteriana Mackenzie, Faculdades de Valinhos eFaculdade Comunitria de Campinas. Experincia comopesquisadora em Inovao Tecnolgica, ReestruturaoProdutiva e Polticas de Qualificao Profissional. Atuacomo consultora em projetos governamentais daFundao do Desenvolvimento Administrativo

    (Fundap).