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ANÁLISE AMBIENTAL NO BAIXO CURSO DO RIO AQUIDAUANA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E IMPACTOS REPERCUTIDOS NA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DA CIDADE DE AQUIDAUANA/MS Elvira Fátima de Lima Fernandes Pós-graduanda em Geografia da UFMSCâmpus Aquidauana. [email protected] Vicentina Socorro da Anunciação Docente da UFMS, Câmpus Aquidauana. [email protected] INTRODUÇÃO Localizada no Centro Oeste brasileiro, no estado de Mato Grosso do Sul, abacia hidrográfica do rio Aquidauana é abastecida por afluentesde dezesseis municípios. No seualto curso é drenadapelo próprio rio Aquidauana, numa região,que nas últimas décadas vêm se reestruturandoe especializando em atividades relacionadas ao agronegócio. No seu médio curso recebe contribuição de vários canais que vêm sofrendo com a influência da nova divisão do trabalho e valorização do espaço local, redefinido a produção e função do espaço, corroborando para maiores investidas sobre áreas protegidas. Já a partir do seu baixo curso, recebe canaisoriundos de áreas, que para se adequar aos novos padrões de competitividade do mundo globalizado,aderiram a prática de silvicultura, pastagem e atividades turística. Christofoletti (1999) ratifica as consequências deste contexto: Por meio da ocupação e estabelecimento das suas atividades, os seres humanos vão usufruindo desse potencial e modificando os aspectos do meio ambiente, inserindo-se como agente que influencia nas características visuais e nos fluxos de matéria e energia modificando o “equilíbrio natural” dos ecossistemas e geossistemas (CHRISTOFOLETTI, 1999, p.37). Ao adentrar o município de Dois irmãos de Buriti (baixo curso), perde sua competência, assim como a capacidade de carga sólida (na altura do Distrito de

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ANÁLISE AMBIENTAL NO BAIXO CURSO DO RIO AQUIDAUANA:

ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E IMPACTOS REPERCUTIDOS NA PLANÍCIE

DE INUNDAÇÃO DA CIDADE DE AQUIDAUANA/MS

Elvira Fátima de Lima Fernandes Pós-graduanda em Geografia da UFMSCâmpus Aquidauana.

[email protected]

Vicentina Socorro da Anunciação Docente da UFMS, Câmpus Aquidauana.

[email protected]

INTRODUÇÃO

Localizada no Centro Oeste brasileiro, no estado de Mato Grosso do Sul, abacia

hidrográfica do rio Aquidauana é abastecida por afluentesde dezesseis municípios. No

seualto curso é drenadapelo próprio rio Aquidauana, numa região,que nas últimas

décadas vêm se reestruturandoe especializando em atividades relacionadas ao

agronegócio. No seu médio curso recebe contribuição de vários canais que vêm

sofrendo com a influência da nova divisão do trabalho e valorização do espaço local,

redefinido a produção e função do espaço, corroborando para maiores investidas sobre

áreas protegidas. Já a partir do seu baixo curso, recebe canaisoriundos de áreas, que para

se adequar aos novos padrões de competitividade do mundo globalizado,aderiram a

prática de silvicultura, pastagem e atividades turística.

Christofoletti (1999) ratifica as consequências deste contexto:

Por meio da ocupação e estabelecimento das suas atividades, os seres humanos vão usufruindo desse potencial e modificando os aspectos do meio ambiente, inserindo-se como agente que influencia nas características visuais e nos fluxos de matéria e energia modificando o “equilíbrio natural” dos ecossistemas e geossistemas (CHRISTOFOLETTI, 1999, p.37).

Ao adentrar o município de Dois irmãos de Buriti (baixo curso), perde sua

competência, assim como a capacidade de carga sólida (na altura do Distrito de

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Palmeiras), devida à redução da declividade do terreno. Conforme o canal fluvial segue

seu perfil longitudinal em direção aos municípios de Aquidauana, Anastácio a

hidrologia se ajusta ao nível de base e através do leito móvel se modela a paisagem,

tornando-se um típico rio de planície, quando então transfere suas águas para o canal do

rio Miranda.

Porém, é nos municípios de Aquidauana e Anastácioque a vulnerabilidade

ambiental no baixo curso do rio Aquidauana torna-se mais perceptível, pois ficam

nítidos os equívocos relacionados à organização socioespacial, fatoquedesencadeou os

impactos negativos repercutidos, sobretudo nacarência de Área de Preservação

Permanente na planície de inundação da cidade de Aquidauana/MS.

Os condicionantes geológico-geomorfológicos,na várzea do rio

Aquidauana,contribuem para ocorrência de inundações que se processam no espaço,

principalmente nas margensdos córregos Guanandy e João Dias ao sul da cidade, este

espaçofoi sendo gradativamente ocupado, principalmente após a décadade 1970,

potencializando a ocorrência dos desastres naturais na cidade.

Diversos autores compartilham da premissa que:

[...] o adensamento populacional em áreas de risco, a falta de planejamento urbano, os baixos investimentos na saúde e educação, entre outros fatores, que aumentam consideravelmente a vulnerabilidade das comunidades expostas aos perigos naturais (ALEXANDER, 1997; ALCÁNTARA-AYALA, 2002 apud MARCELINO, 2008, P. 16).

Os episódios de enchentes sazonaisna região inunda o leito excepcional, durante

as grandes cheias, tornando a área suscetível a vulnerabilidade, é potencializado pelas

cotas altimétricasna área urbana de Aquidauana encontrar-se entre 136,00 e 140,00;

somado a carência de vegetação típica de mata ciliar a situaçãoexacerba-se

principalmente quando a região é atingida pela circulação atmosférica que desencadeia

excessos pluviométricos extremos.

[...] as APPs de margens de rios, que uma vezdesmatadas, degradadas e/ou indevidamente ocupadas, perdem a proteção conferida pela vegetaçãociliar, ficando sujeitas aos efeitos de desbarrancamentos e deslizamentos de solo ou rochase o consequente carreamento de sedimentos para o leito dos rios, promovendo seu assoreamento.Com isso os rios tornam-se mais rasos, e nas

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situações de precipitações mais volumosas, não conseguemconter o volume adicional de água, potencializando cheias e enchentes. (BRASIL, 2011, p.15).

A cidade de Aquidauana a partir da década de 1950 passou por transformações

nos aspectos de planejamento e gestão urbana, Silva e Joia (2001, p.24) afirmam que “o

então prefeito Sr. Fernando Luiz Alves Ribeiro por meio da Secretaria de Viação e

Obras Publicas, elaborou um plano para o loteamento de toda margem do rio, com a

denominação de Zona Ribeirinha”,autorizando o loteamento da Área de Preservação

Permanente do rio Aquidauana. Esta ocupação partiu da Praça Nossa Senhora da

Conceição em direção a Ilha dos Pescadores, no bairro Guanandy, sentido oeste leste da

área urbana.

A área destinada a zona de passagem de enchente foi aos poucos sendo ocupada,

e a planície de inundação, denominado por Christofoletti (1980) como “leito

excepcional”, torna este espaço vulnerável para o meio ambiente, sobretudo a população

que ocupa a área de risco na cidade. Este processo de uso e ocupação durante

aproximadamente seis décadas pode ser elencado como fator preponderante para que a

população ali estabelecida apresenteresiliência e alto grau de topofilia, o que

dificultando a demolição dos imóveis e sua remoção.

Carlos (2008) assegura que compreender a origem histórica da cidade é

fundamental, pois significa entender a cidade como espacialização das relações sociais,

como produto, condições e meio do processo de reprodução de uma sociedade

dinâmica.

Os quatro episódios recentes de transbordamentodo rio Aquidauana fortalece a

ideia de queas estratégias de uso e ocupação da planície de inundação na margem direita

do rioe dos córregos supracitados foram realizadas sem considerar as questões

ambientais e se tornaram fator determinante nos processos relacionados aos desastres

naturais que atingem a população estabelecida neste espaço.

O episódio deinundação registradono mês de março de 2011 teve seu ápice no

dia 4 e perdurou até o dia 09, ocasião em que o nível da água aumentou

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aproximadamente 7,5 m acima do normal; o acontecimento repercutiu de maneira

exaustiva nos veículos de comunicação localregional e nacional.

Neste sentido Maricato (1995) assevera que:

Toda temporada de chuvas é acompanhada anualmente por tragédias urbanas no Brasil. Enchentes e desmoronamentos com mortes fazem parte do cotidiano da população pobre que habita as grandes cidades. A mídia repete continuamente acontecimentos desse tipo, sem fazer, entretanto, qualquer referencia ao processo anárquico de uso e ocupação do solo. (MARICATO, 1995, p.33, grifo nosso).

Destarte, este trabalho trás uma reflexão dos aspectos físico, socioeconômico e

ambiental na planície de inundação do rio Aquidauana e na foz dos córregos Guanandy

e João Dias, dando um suporte de diagnóstico geoambiental, e ações no local

considerando a capacidade de suporte de carga na área e diligência do uso e ocupação

no local principalmenteaos abusos cometidos pela sociedade contra as áreas protegidas

na cidade de Aquidauana.

OBJETIVOS

Este trabalho buscou identificar a vulnerabilidade ambiental da várzea de

inundação da margem direita do rio Aquidauana dentro do perímetro urbano,

enfatizando o aspecto rarefeito da Área de Preservação Permanente (APP). Elegeu o

tempo cronológico em que ocorreram as inundações de magnitude excepcionais

compreendido entre 1976 e 2013 dentro da malha urbana do município de Aquidauana.

METODOLOGIA

Para alcançar a realização dos objetivos traçados ancorou-se no aporte teórico de

literaturas que orientou os procedimentos adotados na abordagem do estudo. Os

aspectos referentes a temática de planejamento e gestão urbana foram pautados em

Carlos (2008) e Maricato (1995); a evolução histórica da cidade de Aquidauana e os

processos de ocupação e urbanização foram fundamentados em levantamento

bibliográfico de autores que tratam desta temática como Silva e Joia (2001). O

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entendimento de geomorfologia urbana e fluvial da área de estudo buscou-se em

Christofoletti (1980, 1999) e Botelho (2011).

O recorte temporal de análise temporal foi o período de trinta e sete anos, entre

1976 e 2013, pois se observou que a partir da década de 1970 houvesucessivos

aumentosnos registros de episódios de inundações. Desta forma, foram analisados dados

deíndices pluviométricos e gráficos do Centro de Previsão de Tempo e Estudos

Climáticos (CEPETEC) e elementos referentes acota do rio da estação de

monitoramento Aquidauana nº 66945000 disponíveis no portal da Agência Nacional de

Águas (ANA), acessadas em Sistema de Informações Hidrológicas (Hidro Web) e

software HIDRO 1.2 (banco de dados do tipo cliente/servidor projetada especificamente

para o ambiente gráfico), e tabulado as informações na averiguação do tempo

cronológico das inundações e a relação entre os excessos pluviométricos e as

inundações.

Somado a isso visitas in loco,onde foram aplicados questionários junto a

população na margem direita do rio Aquidauana, inerente a planície de inundação.Para a

confecção do mapa da Área de Preservação Permanente foi utilizada uma imagem do

Google Earth (2010) no softwareArcGIS 10®, onde a delimitação dos 100,00m a partir

da calha do rio, como estabelece o novo código florestal nº12.651(BRASIL, 2012) .

RESULTADOS PRELIMINARES

Os resultados apontaram que a várzea de inundação encontra-se com vegetação

descaracterizada ou nula, a faixa destinada a passagem de enchente esta sendo usada

indevidamente por habitações, atividades econômicas, órgãos públicos e privados.

O novo Código Florestal no Art.4 da Lei nº 12.651(BRASIL, 2012) estabelece o

conceito de APP, faixa de passagem de enchente e várzea de inundação:

“Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, [...] I - as faixas marginais de qualquer curso d'água natural perene e intermitente excluído os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de [...]: [...] c) 100 (cem) metros, para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; [...]; XXI - várzea de inundação ou planície de inundação: áreas marginais a

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cursos d'água sujeitas a enchentes e inundações periódicas; XXII - faixa de passagem de inundação: área de várzea ou planície de inundação adjacente a cursos d'água que permite o escoamento da enchente; (BRASIL, 2012).

Enfatiza-se queaproximadamente 40% das construções encontram-se inseridas

dentro da planície de inundação, em área destinada a APP, várzea do rio Aquidauana.

Fato que demonstra a vulnerabilidade ambiental associada aos excessos pluviométricos

oriundos dos extremos climáticos, o que expõe parte da sociedade a uma situação crítica

e suscetível a frequentes inundações, quando a magnitude das águas avança em direção

a sua planície de inundação.

O Quadro 1demonstra que nos últimos vinte e quatro anos a população foi

atingida cinco vezes por inundações de magnitudes excepcionais. Referindo-se

especificamente ao episódio de inundação em março de 2011, quando o rio Aquidauana

subiu 7,5m do seu normal, aproximadamente 349 lotes foram afetadose 559 pessoas

foram atingidas.

Quadro 1 Relação entre os anos, meses e cotas e magnitude excepcional

Ano Mês Cota Magnitude > 9,50

1990 MAI - excepcional

1991 OUT 9,66 excepcional

1997 DEZ 9,88 excepcional

2000 MAR 9,82 excepcional

2011 MAR 10,5 excepcional

Fonte: Fernandes, 2013.

A flora naturalna margem direita do rio Aquidauana e córregos,sobretudo no

núcleo urbano, seriam de fitofisionomias de Floresta Estacional Decidual Aluvial,

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apresentando encraves de vegetação típica de ambiente paludoso em parte da área

(Pirizal),e a pertencente ao subgrupo das savanas arbóreas abertas (Sa) encontrada em

pelo menos 100,00m do canal como estabelece a legislação vigente, novo Código

Florestal, Lei nº 12.651 (BRASIL, 2012) para área destinada a APP.Porém observa-

seque, pelo fato da área ter sofrido uma intensa interferência antrópica, a margem do rio

e dos córregos encontram-se desbarrancadas por conta da vegetação extraída e alterada,

conforme Figura 1.

Figura 1Mosaico de fotos da Ilha dos Pescadores, onde se localiza a foz docórrego Guanandy (margem direita na malha urbana do rio Aquidauana) Fonte: Fotos do trabalho de campo, 2012.

O resultado da ocupação adversana margem direita do rio Aquidauana, desde a

fundação do núcleo urbano até o presente momento, estabeleceu impactos ambientais

catastróficos, causados pelo uso indiscriminado da Área de Preservação Permanente e

Pirizal, atravésdos loteamentos legalizados e fomentados pelos gestores públicos.

Na área circundante a APP encontra-se um adensamento residencial,

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representado na sua maioria pela classe D, comércio e serviço, em virtude da

proximidade com a área central, fato que também corrobora com o acúmulo de resíduos

sólidos advindo das atividades in loco.

Ao adentrar a malha urbana o rio Aquidauana banha toda a região sul da cidade,

apresenta baixa declividade, devido as características geomorfológicas favorecendo o

parcelamento do solo, fato primordial para ocupação da margem direita do rio

Aquidauana que gradativamente foi sendo povoada. Ressalta-se que durante o período

chuvoso na região, a grande vazão de água oriunda dos altos índices pluviométricos

reflete no fluxo das águas que por vezes permanecem freadas em virtude da cheia a

jusante. Estes fatores aliados a ineficácia do planejamento habitacional,de forma

desordenada, dá origemao maior problema ambiental urbano na atualidade na cidade de

Aquidauana, que tem a margem direita do rio na área urbana.

Os episódios deinundações registradosnos anos de 2010, 2011, 2012 e 2013

vieram fortalecer o conceito de que o uso e ocupação desta região necessitamde

interferência não só do poder público municipal, mas alvitra-se uma intervenção do

poder público estadual e federal, visto que, essas construções não poderiam localizar-se

dentro da área do Pirizal (zona de escape do rio), na margem do rio Aquidauana e dos

Córregos João Dias e Guanandy, uma vez que toda essa área é de Preservação

Permanente.

No caso especifico, o aumento populacional da cidade nas ultimas décadas

fomentou a ocupação da margem direita do rio Aquidauana na área urbana.Deste modo,

a supressão da mata ciliar imprescindível no processo de infiltração ou escoamento

quando há excessos pluviométricos, com o processo de urbanização foi substituída por

residências e atividades econômicas em áreas vulneráveis a risco de inundações.

A ocupação populacional na área denominada Zona Ribeirinha foi

gradativamente sendo fomentada pelos lotes financeiramente acessíveis, deficiência da

mobilidade e acessibilidade do grupo social carente a área central da cidade,

intensificando o uso da área de risco que dispõe hoje de um alto grau de vulnerabilidade

sócio espacial e ambiental, exposta a desastres naturais.

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Realizou-se a delimitação da área de APP, dentro do mapa de uso e ocupação, e

verificou-se que a Lei nº 12.651 (BRASIL, 2012) não está sendo respeitada, pondera-se

que na área encontra residências do padrão proletário ao suntuoso, atividades comerciais

e prestação de serviço,além de destino final do esgoto entre outras irregularidades,

conforme Figura 2. O trabalho instiga uma reflexão entre a delimitação de 100,00m a

partir da calha do canal para o rio supracitado e o regimento do Código Florestal

4.771/1965 que estabelecia a mesma metragem, porém a partir do leito maior do rio.

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Figura 2:Ocupação na área de APP (margem direita do rio Aquidauana) por casas, serviço e comércio no perímetro urbano do município de Aquidauana. Fonte: Fernandes, 2013.

A imagem de satélite revela áreas verdes na margem direita do rio Aquidauana

conservadas, porém sabe-se que em vários pontos há um processo continuo de

degradação através de lançamento de esgoto, desmatamento da margem, ocupação da

barranca do rio. Ressalta-se que a dificuldade de intervir no cumprimento da legislação

ambiental em área urbana é muito complexo por causa dos múltiplos interesses

envolvidos.

Botelho ratifica as consequências deste problema:

Além disso, somam-se às águas pluviais as águas servidas, se uso doméstico, comercial e industrial, que muitas vezes são conduzidas juntamente com águas pluviais, não havendo sistema de recolhimento e escoamento individualizados. As águas servidas são também, algumas vezes lançadas diretamente nos corpos de água (rios, lagos, reservatórios, lagoas, mares e oceano), antes, aliás, de qualquer tratamento para desinfecção ou descontaminação. Estas são práticas altamente nocivas não só porque reduzem o tempo do “ciclo hidrológico urbano”, mas também porque são responsáveis pela degradação da qualidade das águas no ambiente urbano (BOTELHO, 2011, p.73).

O Plano Diretor do Município de Aquidauana (2008, p.33) estabelece critérios

no Art. 43 para situação existente na “Zona Ribeirinha” da área urbana de Aquidauana.

[...] áreas urbanas com disfunções urbanísticas, alagáveis, de risco, necessitando da atuação / intervenção urbana por parte do Poder Público Municipal para a remoção da população instalada nestes locais impróprios para assentamento [...]. O Parágrafo único ressalta “A população removida deverá ser instalada prioritariamente em localidade próxima a sua moradia em local que contenha no mínimo instalações de infraestrutura urbana, acesso a serviços como transporte urbano, educação, saúde, etc.”(PLANO DIRETOR, 2008, p.33).

O instrumento legal menciona a situação da população instalada em áreas

sujeitas à inundação, porém as execuções das medidas cabíveis tem sido ineficazes, para

ou ignoradas, visto que o Plano Diretor esta em vigor desde 2008 e a situação dos

transbordamentos da água perduram há décadas sem que nenhuma medida efetiva tenha

sido realizada para remover a população, evacuar e isolar a área.

Os pulsos de inundações característicos da região, por consequência da

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antropização desregrada também impactam negativamente a população ribeirinha, que

vem sofrendo inúmeros transtornos por estar estabelecida dentro da planície de

inundação do rio.

Os inúmeros transbordamentos do canal priorizam esta região como 2ª área mais

critica nos eventos de inundações. Acredita-se que esta seja a principal motivação para o

abandono ou fechamento das residências, fazendo com que parte da população que

ocupava o espaço transfira-se para outras áreas da cidade.

BIBLIOGRAFIA

BOTELHO, R. G. M. Bacias Hidrográficas Urbanas.In: GUERRA, A.J.T. Geomorfologia urbana. Antônio Teixeira Guerra (org.). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.71-115. 2011. BRASIL. Áreas de Preservação Permanente e Unidades de Conservação & Áreas de Risco. O que uma coisa tem a ver com a outra?.Relatório de Inspeção da área atingida pela tragédia das chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro / Brasília: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE.SCHÄFFER, W.B.; ROSA, M.R.; AQUINO, L. C. S. de. ; MEDEIROS, J; de D. (org.) 2011. BRASIL. Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; [...]; revoga a Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, - DF: Congresso Federal, 2012. CARLOS, A.F.A. A (re) produção do espaço urbano. 1. ed. 1.reimpr. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blucher. 2ª Edição, 1980.

CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de sistemas ambientais. 1º ed. São Paulo: Edgard Blücher, capítulo 7, 1999.

FERNANDES, E. F. de L. Análise socioambiental da planície de inundação do rio Aquidauana: riscos extremos climáticos repercutidos na cidade de Aquidauana/MS. (monografia de graduação), UFMS/CPAq. Aquidauana-MS,2013.

MARCELINO, E.V. Desastres naturais e geotecnologias: Conceitos Básicos. CRS/INPE. Santa Maria, 2008. Disponível em:

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MARICATO, E. Metrópole na Periferia do Capitalismo: Ilegalidade, Desigualdade e Violência. São Paulo: Hucitec, 1995.

PLANO DIRETOR. Prefeitura Municipal de Aquidauana.Lei Complementar nº 009/2008 – Diário Oficial [do] Estado de Mato Grosso do Sul.Aquidauana,2008.

SILVA, J. F.;JOIA,P. R. Territorialização e Impacto Ambiental: Um estudo da Zona Ribeirinha de Aquidauana-MS. Revista Pantaneira, Aquidauana, volume 3 , nº 1 p17-30, 2001.