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Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador Fotovoltaico para Irrigação com a Integração de um Sistema de Arrefecimento Antônio Walter Araújo Filho Departamento de Engenharia e Tecnologia Universidade Federal Rural do Semi- Árido Mossoró, Brasil [email protected] Maria Izabel da Silva Guerra Departamento de Enegnharia e Tecnologia Universidade Federal Rural do Semi- Árido Mossoró, Brasil [email protected] Romênia Gurgel Vieira Departamento de Enegnharia e Tecnologia Universidade Federal Rural do Semi- Árido Mossoró, Brasil [email protected] Resumo O atual período de crescimento na demanda por energia elétrica traz a necessidade de investir em tecnologias que promovam uma maior eficiência energética. A tecnologia fotovoltaica apresenta baixos rendimentos para produção de eletricidade, uma vez que, por um lado, o aumento da radiação solar eleva a produção de eletricidade, por outro, o aumento da temperatura reduz essa geração de energia. Desse modo, a tecnologia Fotovoltaica e Térmica (PVT Photovoltaic- Thermal), que propõe a recuperação de uma parcela da energia elétrica perdida através do arrefecimento das células fotovoltaicas, pode ser utilizado em substituição a um sistema fotovoltaico convencional para tornar a geração de energia elétrica mais eficiente. Dessa forma, o presente estudo teve por objetivo a análise comparativa do desempenho elétrico de um sistema fotovoltaico, utilizado para irrigação, com e sem a tecnologia de arrefecimento supracitada. Para a análise foram utilizados dois modelos térmicos que simularam, através do software Matlab ® , o desempenho das células fotovoltaicas para as situações em que consideraram o sistema sem resfriamento e com arrefecimento, utilizando a própria água utilizada na irrigação como fluido do trocador de calor. Ao finalizar as comparações, foi possível observar que o sistema de arrefecimento baseado na tecnologia PVT é bastante promissora para a melhora do desempenho elétrico de sistemas fotovoltaicos. Palavras-Chave Sistema Híbrido PVT, Arrefecimento, Sistema Fotovoltaico, Irrigação. I. INTRODUÇÃO O desenvolvimento tecnológico e a melhora no padrão de vida da sociedade moderna acarretam no aumento da demanda de energia elétrica, no qual está relacionada a disponibilidade dos recursos energéticos. Desde a crise do petróleo na década de 70, que ocasionou a redução na oferta de combustíveis fósseis, surgiu um interesse por novas energias renováveis. A energia solar fonte de energia limpa e renovável pode ser utilizada em forma direta como fonte de energia térmica, para aquecimento de fluídos, e pode ainda ser convertida diretamente em energia elétrica por meio do efeito fotovoltaico. A utilização da energia solar para produção de energia térmica apresenta boa eficiência, visto que a transferência de calor acontece com baixas perdas [1]. Por outro lado, os sistemas fotovoltaicos apresentam baixos rendimentos, uma vez que parte da radiação solar incidente, utilizada na produção de eletricidade, é perdida na forma de calor [2]. Nesse cenário, através da combinação das duas formas de aproveitamento direto de energia solar foi desenvolvido os coletores solares híbridos fotovoltaico e térmico (PVT Photovoltaic-Thermal). Essa tecnologia converte a radiação solar em eletricidade e utiliza o calor das células solares para o aquecimento de fluidos de forma simultânea [3], configurando um sistema de arrefecimento para o painel fotovoltaico. Sistema fotovoltaicos convencionais são bastante utilizados para bombeamento de água, em atividades como irrigação, no qual a água é bombeada de um reservatório diretamente para o campo a ser irrigado [4]. A aplicação da tecnologia PVT no sistema fotovoltaico integrado à irrigação permite o aproveitamento da água utilizada na irrigação para o arrefecimento das células fotovoltaicas. Dessa forma, este estudo tem como objetivo avaliar e comparar o desempenho elétrico teórico de um gerador fotovoltaico utilizado para alimentar um sistema de irrigação acoplado a um sistema de arrefecimento baseado na tecnologia PVT, através do estudo de modelos térmicos que utilizam o software Matlab® para simular o sistema fotovoltaico com e sem o processo de arrefecimento. II. REFERENCIAL TEÓRICO A. Características de um módulo fotovoltaico Um sistema fotovoltaico (FV) é um tipo de tecnologia em que há geração de corrente contínua (CC) a partir de semicondutores quando estes são iluminados por fótons, fenômeno conhecido como efeito fotovoltaico. O módulo FV componente fundamental de um sistema fotovoltaico é formado por um conjunto de células FV interligadas eletricamente que são responsáveis pela conversão da energia contida nos fótons da radiação luminosa incidente em energia elétrica [5]. O ponto de operação de um módulo FV é caracterizado pelo comportamento entre a corrente e tensão elétrica geradas pelo painel FV. A partir da curva característica Corrente- Tensão (curva I-V), obtida em Condições de Teste Padrão (STC Standard Test Conditions irradiância solar de 1000

Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

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Page 1: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de

um Gerador Fotovoltaico para Irrigação com a

Integração de um Sistema de Arrefecimento

Antônio Walter Araújo Filho

Departamento de Engenharia e

Tecnologia

Universidade Federal Rural do Semi-

Árido

Mossoró, Brasil

[email protected]

Maria Izabel da Silva Guerra

Departamento de Enegnharia e

Tecnologia

Universidade Federal Rural do Semi-

Árido

Mossoró, Brasil

[email protected]

Romênia Gurgel Vieira

Departamento de Enegnharia e

Tecnologia

Universidade Federal Rural do Semi-

Árido

Mossoró, Brasil

[email protected]

Resumo — O atual período de crescimento na demanda por

energia elétrica traz a necessidade de investir em tecnologias que

promovam uma maior eficiência energética. A tecnologia

fotovoltaica apresenta baixos rendimentos para produção de

eletricidade, uma vez que, por um lado, o aumento da radiação

solar eleva a produção de eletricidade, por outro, o aumento da

temperatura reduz essa geração de energia. Desse modo, a

tecnologia Fotovoltaica e Térmica (PVT – Photovoltaic-

Thermal), que propõe a recuperação de uma parcela da energia

elétrica perdida através do arrefecimento das células

fotovoltaicas, pode ser utilizado em substituição a um sistema

fotovoltaico convencional para tornar a geração de energia

elétrica mais eficiente. Dessa forma, o presente estudo teve por

objetivo a análise comparativa do desempenho elétrico de um

sistema fotovoltaico, utilizado para irrigação, com e sem a

tecnologia de arrefecimento supracitada. Para a análise foram

utilizados dois modelos térmicos que simularam, através do

software Matlab®, o desempenho das células fotovoltaicas para

as situações em que consideraram o sistema sem resfriamento e

com arrefecimento, utilizando a própria água utilizada na

irrigação como fluido do trocador de calor. Ao finalizar as

comparações, foi possível observar que o sistema de

arrefecimento baseado na tecnologia PVT é bastante promissora

para a melhora do desempenho elétrico de sistemas

fotovoltaicos.

Palavras-Chave — Sistema Híbrido PVT, Arrefecimento,

Sistema Fotovoltaico, Irrigação.

I. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento tecnológico e a melhora no padrão de

vida da sociedade moderna acarretam no aumento da

demanda de energia elétrica, no qual está relacionada a

disponibilidade dos recursos energéticos. Desde a crise do

petróleo na década de 70, que ocasionou a redução na oferta

de combustíveis fósseis, surgiu um interesse por novas

energias renováveis.

A energia solar – fonte de energia limpa e renovável –

pode ser utilizada em forma direta como fonte de energia

térmica, para aquecimento de fluídos, e pode ainda ser

convertida diretamente em energia elétrica por meio do efeito

fotovoltaico.

A utilização da energia solar para produção de energia

térmica apresenta boa eficiência, visto que a transferência de

calor acontece com baixas perdas [1]. Por outro lado, os

sistemas fotovoltaicos apresentam baixos rendimentos, uma

vez que parte da radiação solar incidente, utilizada na

produção de eletricidade, é perdida na forma de calor [2].

Nesse cenário, através da combinação das duas formas de

aproveitamento direto de energia solar foi desenvolvido os

coletores solares híbridos fotovoltaico e térmico (PVT –

Photovoltaic-Thermal). Essa tecnologia converte a radiação

solar em eletricidade e utiliza o calor das células solares para

o aquecimento de fluidos de forma simultânea [3],

configurando um sistema de arrefecimento para o painel

fotovoltaico.

Sistema fotovoltaicos convencionais são bastante

utilizados para bombeamento de água, em atividades como

irrigação, no qual a água é bombeada de um reservatório

diretamente para o campo a ser irrigado [4]. A aplicação da

tecnologia PVT no sistema fotovoltaico integrado à irrigação

permite o aproveitamento da água utilizada na irrigação para

o arrefecimento das células fotovoltaicas.

Dessa forma, este estudo tem como objetivo avaliar e

comparar o desempenho elétrico teórico de um gerador

fotovoltaico utilizado para alimentar um sistema de irrigação

acoplado a um sistema de arrefecimento baseado na

tecnologia PVT, através do estudo de modelos térmicos que

utilizam o software Matlab® para simular o sistema

fotovoltaico com e sem o processo de arrefecimento.

II. REFERENCIAL TEÓRICO

A. Características de um módulo fotovoltaico

Um sistema fotovoltaico (FV) é um tipo de tecnologia em que há geração de corrente contínua (CC) a partir de semicondutores quando estes são iluminados por fótons, fenômeno conhecido como efeito fotovoltaico. O módulo FV – componente fundamental de um sistema fotovoltaico – é formado por um conjunto de células FV interligadas eletricamente que são responsáveis pela conversão da energia contida nos fótons da radiação luminosa incidente em energia elétrica [5].

O ponto de operação de um módulo FV é caracterizado pelo comportamento entre a corrente e tensão elétrica geradas pelo painel FV. A partir da curva característica Corrente-Tensão (curva I-V), obtida em Condições de Teste Padrão (STC – Standard Test Conditions – irradiância solar de 1000

Page 2: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

2

W/m2 e temperatura no módulo de 25ºC), pode ser determinada a curva da potência em função da tensão, denominada curva P-V [5].

A Fig. 1 esboça as possíveis relações entre a corrente elétrica e tensão (curva superior) e a potência resultante destas relações, a curva P-V (curva inferior). Valente [6] afirma que o ponto de máxima potência é o ponto de funcionamento ideal e desejado para um painel FV, considerando as condições de teste padrão. No entanto, os parâmetros de irradiância solar e temperatura de funcionamento dos módulos fotovoltaicos influenciam no desempenho elétrico do painel FV [7].

Fig. 1. Curvas I-V e P-V de um módulo fotovoltaico [8]

A corrente elétrica de saída é influenciada diretamente

pela variação da irradiância solar recebida pela célula, de

modo que a corrente cresce linearmente com a intensidade de

radiação. Em contrapartida, a tensão elétrica mante-se

praticamente inalterada com a variação da radiação solar [7].

Dessa forma, maiores níveis de irradiância solar influenciam

positivamente na potência elétrica fornecida pelo gerador

fotovoltaico, conforme mostra o gráfico da Fig. 2.

Fig. 2. Influência da irradiância solar sobre a potência elétrica fornecida

pelo módulo fotovoltaico na temperatura de 25ºC [9]

O aumento da irradiância solar incidente, bem como o

aumento da temperatura ambiente provoca a elevação da

temperatura da superfície do painel FV. Mas, é válido

ressaltar que a corrente gerada pelo módulo irá sofrer

variações mínimas com esse aumento, ao passo que haverá

uma significativa redução da tensão elétrica, no qual

provocará a diminuição da potência elétrica fornecida pelo

gerador FV. A influência da temperatura da superfície das

células sobre a potência é mostrada no gráfico da Fig. 3.

Fig. 3. Influência da temperatura sobre a potência elétrica fornecida pelo

módulo FV sob irradiância de 1000 W/m² [9]

B. Coletor solar híbrido fotovoltaico-térmico (PVT)

As características elétricas dos painéis FV são determinadas a partir das condições de teste padrão, ou seja, com temperatura na célula de 25ºC, distribuição espectral de 1,5 AM e irradiância solar de 1000 W/m². Entretanto, as condições ambientais reais na qual os módulos são instalados dificilmente são iguais as condições obtidas em laboratório [10]. Dessa maneira, os painéis FV sempre apresentarão um desempenho elétrico inferior ao especificado nos dados fornecidos pelos fabricantes.

Ao realizar um estudo sobre o desempenho de painéis fotovoltaicos expostos a condições reais, [11] concluíram que células expostas a temperaturas próximas de 40ºC apresentam redução de até 7% na potência de saída.

[12], ao realizar um estudo para determinação da curva característica de painéis sob condições ambientais reais, concluiu que há perdas de 24% no rendimento dos painéis em relação ao padrão STC do fabricante.

[13] ao estudar o efeito da temperatura na potência de saída de painéis fotovoltaicos de silício policristalino constatou perdas de potência de aproximadamente 6% em painéis com temperatura 15ºC acima das condições de teste padrão.

Diante do exposto, para evitar a perda de potência gerada pelos módulos FV devido ao aumento da irradiância – em consequência do aumento da temperatura das células, é sugerido a utilização da tecnologia solar hibrida PVT, que constitui o sistema de arrefecimento, na qual são inseridas placas absorvedoras que recebem energia térmica das células FV e transferem para um fluido removedor de calor [14], contribuindo para a conservação da temperatura das células FV em níveis adequados de modo a maximizar a geração de potência elétrica.

III. METODOLOGIA

A. Características do sistema de irrigação

O sistema de irrigação em que será realizado o estudo

teórico do desempenho elétrico da tecnologia de

arrefecimento está localizado na comunidade rural São José

no município de Mossoró-RN, que possui temperatura média

anual de 27,6°C [15]. O sistema possui uma bomba submersa

do modelo 4R6PB-22 350, da fabricante Leão, de 4,5cv (3,31

kW) [16]. De acordo com o catálogo da bomba, a mesma

possui uma vazão dentro da faixa de 3,0 a 8,0m³/h.

De acordo com [16], o consumo mensal da bomba de

irrigação, considerando o uso médio diário de 15 horas em

Page 3: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

3

períodos secos, é de 1112,75 kWh, ou seja, possui um

consumo médio diário de 37,09 kWh, sendo necessário um

sistema fotovoltaico de 6,59 kWp, pois irá suprir o consumo

diário considerando as 7,5 horas de sol pleno.

O sistema fotovoltaico projetado acoplado ao sistema de

irrigação será composto por 24 módulos FV, no qual cada

módulo possui 60 células de silício monocristalino,

denominada Q6LMXP3-G3, do fabricante alemão Q Cells.

Uma célula FV produz 4,58 W de potência elétrica nominal

máxima [17], dessa forma, o sistema fotovoltaico possui uma

potência nominal de 6,59 kWp para suprir o consumo da

bomba utilizada no sistema de irrigação.

Para a simulação desse sistema fotovoltaico será

considerado que os 24 módulos estão distribuídos em quatro

fileiras com seis painéis em cada, todas conectadas em série,

formando um arranjo de 6,24m de comprimento por 5,62m

de largura.

B. Dados das células que integram os painéis FV

A célula que compõe os módulos fotovoltaicos,

considerando as condições de teste padrão (STC), possui

potência elétrica nominal máxima de 4,58 W, corrente

elétrica de curto-circuito de 9,19 A, tensão elétrica de circuito

aberto de 637 mV e eficiência de 18,8%.

Em virtude das limitações provocadas pelo aumento da

temperatura, [17] estabelece que a tensão elétrica decai

0,33% do seu valor para cada 1K de temperatura que se eleva

e a potência elétrica da célula reduz 0,42% de sua potência

definida no STC. A partir desses dados, [18] estabeleceu a

Equação 1, que mostra a relação entre a potência elétrica e a

temperatura de superfície de uma célula FV.

𝑃′ = 4,58 − [0,0192. (𝑇𝑐𝑒𝑙𝑙 − 298,15)] (1)

Onde:

𝑃′ = potência produzida por uma célula FV em função da

temperatura da célula (W);

𝑇𝑐𝑒𝑙𝑙 = temperatura da superfície da célula (K).

Em relação a influência da irradiância solar sobre a célula

FV, através dos dados sobre o comportamento da potência

elétrica da célula com a variação da irradiância solar

fornecida por [17], [18] estabeleceu, a partir da curva de

tendência, a Equação 2 que relaciona esses parâmetros

citados.

𝑃′′ = (0,0046. 𝑆) − 0,058 (2)

Onde:

𝑃′′ = potência produzida pela célula FV em função da

irradiância solar (W);

𝑆 = irradiância solar global (W/m²).

A partir das duas equações apresentadas, [18] elaborou

uma expressão que representa a eficiência da célula FV em

função da temperatura e da irradiância solar disponível em

sua superfície, indicada na Equação 3.

𝑃𝑐𝑒𝑙𝑙 = [(0,0046. 𝑆) − 0,058] − [0,0192. (𝑇𝑐𝑒𝑙𝑙 − 298,15)] (3)

Onde:

𝑃𝑐𝑒𝑙𝑙 = potência produzida pela célula FV em função da

temperatura da célula e da irradiância solar (W).

Posteriormente, a partir da equação geral da eficiência de

conversão de uma célula fotovoltaica, apresentada por [19],

[18] desenvolveu a Equação 4, que define a eficiência da

célula em estudo em função da temperatura da célula e da

irradiância solar.

𝜂𝑐𝑒𝑙𝑙 =𝑃𝑐𝑒𝑙𝑙

𝑆. 𝐴𝑐𝑒𝑙𝑙

(4) 𝜂𝑐𝑒𝑙𝑙 =

[(0,0046. 𝑆) − 0,058] − [0,0192. (𝑇𝑐𝑒𝑙𝑙 − 298,15)]

𝑆. (0,1562)

Onde:

𝜂𝑐𝑒𝑙𝑙 = rendimento elétrico da célula FV;

𝑇𝑐𝑒𝑙𝑙 = temperatura da superfície da célula (K).

Através das Equações 3 e 4 será possível observar o

comportamento elétrico em relação à potência e ao

rendimento elétrico e, dessa forma, verificar a influência da

adição do processo de arrefecimento aos painéis FV ao

compará-lo com o sistema FV sem a tecnologia de

arrefecimento.

C. Modelos térmicos

Para ser realizado o estudo do desempenho elétrico do

sistema fotovoltaico após a inserção do sistema de

arrefecimento, é necessário analisar o comportamento da

temperatura da célula fotovoltaica diante de variações da

irradiância solar e temperatura ambiente.

Isto posto, [18] desenvolveu dois modelos térmicos

baseados na primeira lei da termodinâmica, em que esses

modelos se referem a presença ou não do sistema de

arrefecimento para os painéis fotovoltaicos utilizados no

sistema de irrigação.

Para a constituição dos modelos térmicos, [18] realizou

algumas considerações importantes referentes aos sistemas

que serão estudados. A autora considerou que ambos os

sistemas estão em regime permanente, ou seja, a taxa de

mudança de energia total no sistema é igual a zero. Também

foi destacado que todas as propriedades seriam tratadas como

uniformes e analisadas em termos de valores médios de

mistura, de modo que as perdas de calor por convecção,

radiação e condução seriam consideradas como resistências

térmicas constantes.

Além disso, [18] desprezou as perdas de calor através da

superfície inferior das células e do dissipador de calor, no

Modelo Térmico 1 e Modelo Térmico 2, respectivamente,

considerando que as mesmas estão isoladas. Também foram

desconsideradas as perdas por radiação, condução e

convecção nas faces laterais e, por último, assumiu-se a

ausência de resistência de contato considerando que os

contatos entre as superfícies são perfeitos.

1) Modelo térmico 1 – Sem sistema de arrefecimento

O Modelo Térmico 1 corresponde ao sistema fotovoltaico

sem a presença de um sistema de arrefecimento, ou seja, a

tecnologia PVT não está presente. Nesse modelo, os painéis

FV possuem um isolante térmico, no qual as trocas de calor

entre a face posterior e o ambiente são desprezadas [18]. A

Fig. 4 apresenta o esquema do Modelo Térmico 1.

Page 4: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

4

Fig. 4. Esquema do Modelo Térmico 1 [18]

A Fig. 4 representa as trocas de energia no sistema FV

obtidas após as considerações descritas no item C, no qual Eel

equivale a geração de potência elétrica (W/m²) pelo painel

FV; Ssolar representa a irradiância solar incidente sobre a placa

(W/m²); qrad corresponde às perdas de calor por radiação

(W/m²); qconv refere-se às perdas de calor por convecção

(W/m²); Tcéu é a temperatura efetiva do céu (K), Tamb é

relacionado à temperatura ambiente (K) e Tcell expressa a

temperatura da célula FV (K).

O Modelo Térmico 1 (MT1) será utilizado para a

determinação da temperatura da célula (Tcell) a partir do

dados de irradiância solar e temperatura ambiente, que serão

obtidos a partir da implementação das equações definidas por

[18], no software Matlab® através de métodos iterativos. A

Fig. 5 mostra um fluxograma que sintetiza as principais

variáveis de entrada e saída da simulação, bem como as

variáveis do balanço de energia envolvidas no cálculo dos

parâmetros de saída do estudo.

Fig. 5. Fluxograma do algoritmo do Modelo Térmico 1 (Autoria própria)

2) Modelo térmico 2 – Com sistema de arrefecimento

O Modelo Térmico 2 (MT2) corresponde ao sistema

fotovoltaico com a presença de um sistema de arrefecimento,

em que se trata de um trocador de calor que será equivalente

a tecnologia PVT [18]. A Fig. 6 apresenta o esquema do

Modelo Térmico 2.

Fig. 6. Esquema do Modelo Térmico 2 [18]

No MT2, as dimensões da placa de cobre e do trocador de

calor são similares as do gerador FV. Em relação ao trocador

de calor, o fluido de escoamento será a água, em que o

escoamento acontecerá por circulação forçada com o auxílio

da bomba submersa que é utilizada no sistema de irrigação.

No MT2 da Fig. 6, além das variáveis mostradas no

esquema do MT1, foram adicionados os elementos referentes

ao fluxo de calor por condução entre a célula FV e a placa de

cobre (q’cond) e o fluxo de calor por convecção entre a placa

de cobre e o fluido do trocador de calor (q’conv).

Após a definição das variáveis do balanço de energia para

o MT2, [18] elaborou um algoritmo que determina a

temperatura da célula (Tcell) e de saída da água (Tsai) por meio

de simulações das diferentes situações de temperatura do

ambiente (Tamb), temperatura de entrada da água (Tent) e

irradiância solar (Ssolar), realizadas no software Matlab®. A

Fig. 7 mostra um fluxograma que resume as principais

variáveis de entrada e saída da simulação, bem como as

variáveis do balanço de energia envolvidas no cálculo dos

parâmetros de saída do estudo.

Fig. 7. Fluxograma do algoritmo do Modelo Térmico 2 (Autoria própria)

IV. ANÁLISE DOS RESULTADOS

As análises do comportamento individual das células

fotovoltaicas, serão apresentadas, através das simulações do

Modelo Térmico 1 e Modelo Térmico 2, que compõem o

gerador FV utilizado para alimentar a bomba do sistema de

irrigação. Além disso, é realizada uma comparação entre o

desempenho elétrico desenvolvido nos dois modelos

térmicos.

Para as simulações realizadas em ambos os modelos, foi

determinado um intervalo de 200 W/m² a 1400 W/m² para a

irradiância, a temperatura ambiente ficou entre 15°C e 45°C

e a temperatura da entrada da água variou de 20°C até 35°C.

A. Análise da simulação do Modelo Térmico 1

No Modelo Térmico 1, que representa o sistema

fotovoltaico sem a tecnologia de arrefecimento, foi verificado

a variação de irradiância solar e temperatura ambiente. A

partir disso, foram gerados gráficos que representam a

temperatura de superfície das células do gerador FV, a

potência elétrica produzida pelo conjunto de células do

sistema fotovoltaico e seu rendimento elétrico.

De acordo com o gráfico da Fig. 8, é verificado que a

temperatura na superfície das células do gerador FV é

influenciada diretamente pelo aumento da temperatura

ambiente e irradiância solar. Em um ambiente com 15°C de

temperatura ambiente e 200 W/m² de irradiância, a

temperatura das células é de 23,8°C, enquanto que na

condição de 45°C e 1400 W/m², a temperatura das células

chega a 104,7°C, provocando uma considerável perda de

potência elétrica.

Page 5: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

5

Fig. 8. Temperatura das células FV sem a presença do sistema de arrefecimento (Autoria própria)

Ainda analisando a Fig. 8, considerando a temperatura

média anual de Mossoró – aproximadamente 28°C – e

simulando para uma irradiância de 800 W/m², observa-se que

a temperatura nas células FV chega a 63,57°C.

Posteriormente, observando o comportamento das células nas

condições STC, ou seja, a uma temperatura ambiente de 25°C

e irradiância solar de 1000 W/m², a temperatura das células

chega a 67,94°C, uma vez que o modelo térmico 1

desconsidera o controle de temperatura das células FV. Dessa

forma, será gerado uma potência elétrica inferior à nominal

determinada pelo fabricante das células FV.

A Fig. 9 apresenta o comportamento das células do

gerador FV no que se refere a potência elétrica de saída, em

que é observado a diminuição da potência produzida a

proporção que a temperatura ambiente se eleva. Por outro

lado, é constatado que ocorre o aumento dessa potência

produzida com o aumento da irradiância solar. Isso ocorre,

pois, apesar de haver também o aumento da temperatura das

células FV, o aumento da irradiância apresenta maior

influência sobre a potência produzida, quando comparado as

perdas causadas por essa elevação de temperatura.

Dessa forma, a potência elétrica produzida pelas células,

nas condições STC, é inferior à sua potência nominal. Como

é observado na Fig. 9, a potência produzida pelo gerador

fotovoltaico em análise é 5353 W, no qual caracteriza uma

perda de 18,83% ao equiparar com a potência de saída

esperada de 6595,2 W.

Para a análise do desempenho elétrico do gerador FV, é

estudado o comportamento do rendimento elétrico das células

em conjunto, apresentado no gráfico da Fig. 10, em diferentes

situações. Em um ambiente com irradiância fixa de 200

W/m², na temperatura ambiente de 15°C é observado um

rendimento de 18,19%, ao passo que na temperatura ambiente

de 45°C o rendimento cai para 5,6%. Enquanto que em um

ambiente com irradiância fixa de 1400 W/m², na temperatura

de 15°C o rendimento observado é de 16,15% a medida que

a 45°C esse rendimento cai para 14,24%.

Fig. 9. Potência de saída do sistema fotovoltaico sem a presença do sistema de arrefecimento (Autoria própria)

Page 6: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

6

Fig. 10. Rendimento das células FV sem a presença do sistema de arrefecimento (Autoria própria)

Estudando o rendimento elétrico nas condições STC, ou

seja, com temperatura ambiente de 25°C e irradiância de 1000

W/m², é observado, na Fig. 10, um rendimento elétrico de

15,28%, no qual é inferior aos 18,8% previsto pelo fabricante

da célula FV. Esse declínio do rendimento elétrico ocorre por

causa da temperatura de operação das células FV que não

pode ser controlada em 25°C, chegando a 67,94°C, e,

consequentemente, provocando a redução da potência

elétrica produzida para 5353 W.

B. Análise da simulação do Modelo Térmico 2

O Modelo Térmico 2, que representa o sistema

fotovoltaico com a tecnologia de arrefecimento, é constituído

por um trocador de calor que utiliza a água como fluido

resfriador, com sua vazão controlada pela bomba submersa

de 3,31 kW de potência, no qual a mesma é utilizada no

sistema de irrigação. Para a simulação realizada no Matlab®,

foi considerado a variação da irradiância solar, da

temperatura ambiente e, além disso, foi definido quatro

valores para a temperatura de entrada da água para o sistema

de arrefecimento, a saber, 20°C, 25°C, 30°C e 35°C.

Uma vez que não foi definida o valor exato da vazão da

bomba, o Modelo Térmico 2 será simulado para duas

situações distintas referente a vazão mínima e máxima da

bomba, ou seja, na Simulação A será utilizado uma vazão

igual a 3,0 m³/h (3000 L/h) e na Simulação B, uma vazão de

8,0 m³/h (8000 L/h).

1) Simulação A – Vazão da bomba igual a 3,0 m³/h

Os gráficos gerados na simulação A do Modelo Térmico

2, considerando o uso de uma bomba submersa com vazão

igual a 3m³/h, apresentam a temperatura de superfície das

células, a potência elétrica produzida pelo sistema

fotovoltaico, o rendimento elétrico e a temperatura de saída

da água, após passar pelo sistema de resfriamento. Esses

gráficos são mostrados, respectivamente, da Fig. 11 até a Fig.

14.

O gráfico da Fig. 11 apresenta o comportamento da

temperatura da superfície das células FV em observação para

as quatro condições de temperatura da água utilizada no

processo de arrefecimento.

Fig. 11. Temperatura de superfície das células FV com a presença do sistema de arrefecimento com bomba de vazão igual a 3m³/h (Autoria própria)

Page 7: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

7

De acordo com o gráfico da Fig. 11, a temperatura das

células não apresenta grandes variações quando há a mudança

da temperatura ambiente ou da irradiância, mantendo-se

próxima à temperatura de entrada da água utilizada para o

arrefecimento das mesmas. A variação máxima de

temperatura das células foi de aproximadamente 3,09°C,

comparado à temperatura de entrada da água, quando a

temperatura ambiente, irradiância solar e temperatura de

entrada da água foram 45°C, 1400 W/m² e 35°C,

respectivamente.

Ao comparar a temperatura das células do MT1 e da

Simulação A do Modelo Térmico 2 (MT2-A), apresentados

respectivamente nas Fig. 8 e Fig. 11, observa-se,

considerando as condições de teste padrão, que para uma

temperatura de entrada da água de 20°C, houve a redução de

67,26% na temperatura de operação das células, à medida que

na condição em que a temperatura da água foi de 25°C, a

temperatura das células diminuiu 60,07% em relação ao valor

obtido no MT1. Com a temperatura de entrada da água de

30°C, houve um resfriamento de 53,02% nas células FV,

enquanto que a água à 35°C, o sistema de arrefecimento

retirou 46,01% de calor da superfície das células.

Como abordado no Referencial Teórico, a redução da

temperatura de operação das células fotovoltaicas promovida

pelo sistema de arrefecimento interfere sobre a potência

elétrica gerada por essas células. Essa influência, para as

condições de teste padrão, é apresentada na Tabela I.

Tabela I. Potência elétrica gerada pelo sistema fotovoltaico para cada

condição de temperatura de entrada da água

Temperatura de entrada da água (°C)

Potência gerada (W)

20 6617

25 6482 30 6349

35 6218

Comparando os valores de potência elétrica obtidos no

MT2-A e mostrados na Tabela I com os resultados

alcançados no MT1 (Fig. 9), constata-se que no Modelo

Térmico 2 acontece a recuperação de 23,61% da potência

elétrica do gerador FV quando o mesmo é resfriado com uma

água de 20°C; 21,09% da potência quando o fluido trocador

de calor estava a 25°C; 18,61% da potência ao ser arrefecido

com água à 30°C e; 16,16% da potência quando o gerador FV

é resfriado por uma água à 35°C.

O gráfico da Fig. 12 apresenta o comportamento da

potência elétrica produzida pelo gerador fotovoltaico em

estudo para as quatro condições de temperatura da água

utilizada no processo de arrefecimento.

Fig. 12. Potência de saída do sistema fotovoltaico com a presença do processo de arrefecimento com bomba de vazão igual a 3m³/h (Autoria própria)

Como é observado na Fig. 12 a potência elétrica do

gerador aumenta conforme os valores de irradiância solar

também se elevam, enquanto que se mantem praticamente

constante com o aumento da temperatura ambiente. Isso

ocorre porque a temperatura de superfície das células é

preservada pelo sistema de arrefecimento, para todo o

intervalo de temperatura aplicado.

O valor do rendimento elétrico do gerador FV, que é

influenciado pela irradiância solar e potência elétrica

produzida pelas células FV em conjunto, é apresentado na

Tabela II, considerando as condições STC.

Tabela II. Rendimento elétrico do gerador FV para cada condição de temperatura de entrada da água

Temperatura de entrada da água

(°C) Rendimento (%)

20 18,88 25 18,50

30 18,12

35 17,74

Contrapondo os valores de rendimento elétrico obtidos no

MT2-A e mostrados na Tabela II com os resultados obtidos

no MT1 (Fig. 10), observa-se que no MT2-A o rendimento é

3,60% maior quando comparado ao MT1 para a temperatura

inicial de entrada da água à 20°C, à medida que na condição

em que a temperatura da água foi de 25°C, o desempenho do

MT2-A foi 3,22% superior ao MT1. Com a temperatura de

entrada da água de 30°C, o rendimento elétrico no MT2-A é

2,84% superior ao MT1, enquanto que a água à 35°C, o

aproveitamento do sistema do MT2-A é 2,46% maior em

relação ao MT1.

O gráfico da Fig. 13 apresenta o comportamento do

rendimento elétrico do gerador FV em estudo quando há a

variação da temperatura ambiente e irradiância solar, sendo

exibido para as quatro condições de temperatura da água

utilizada no processo de arrefecimento.

Page 8: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

8

Fig. 13. Rendimento elétrico do gerador FV com a presença do sistema de arrefecimento com bomba de vazão igual a 3m³/h (Autoria própria)

Observando o gráfico da Fig. 13 verifica-se que o

rendimento elétrico, obtido nas quatro condições de

temperatura de entrada da água, mantem-se estável com a

variação da temperatura ambiente, havendo perdas no

desempenho quando acontece a queda nos valores de

irradiância solar, em que essas perdas são intensificadas a

medida que a temperatura de entrada do fluido trocador de

calor é maior.

A última variável analisada na simulação é a temperatura

de saída da água utilizada no processo de arrefecimento das

células do gerador FV. O gráfico da Fig. 14 apresenta esses

resultados obtidos na simulação, considerando cada condição

de temperatura de entrada da água.

Fig. 14. Temperatura de saída da água após o arrefecimento das células FV com bomba de vazão igual a 3m³/h (Autoria própria)

Analisando o gráfico da Fig. 14, percebe-se que houve

uma variação da temperatura de saída da água em relação a

temperatura de entrada da mesma. Isso ocorre porque o

controle da temperatura das células do gerador FV é realizada

por esse fluido trocador de calor, através da transferência de

calor entre a célula FV e a água.

A medida que a temperatura ambiente e irradiância solar

aumentam, amplia-se os níveis de troca de calor entre as

células e o fluido resfriador, no qual exige um sistema de

arrefecimento cada vez mais eficaz e que resulta na

temperatura de saída da água cada vez maior. Além disso,

analisando o comportamento nas condições de teste padrão,

observa-se que a medida que a temperatura de entrada da

água é menor, o arrefecimento da célula produz valores de

temperatura de saída da água menores.

2) Simulação B – Vazão da bomba igual a 8,0 m³/h

Doravante, os gráficos apresentados nessa seção foram

gerados na Simulação B do Modelo Térmico 2 (MT2-B),

considerando a vazão da bomba utilizada igual a 8m³/h, em

que foram mantidas as mesmas variáveis analisadas na

Simulação A do Modelo Térmico 2, ou seja, a temperatura de

superfície das células, a potência elétrica produzida pelo

gerador fotovoltaico, o rendimento elétrico e a temperatura

de saída da água. Os gráficos são mostrados da Fig. 15 até a

Fig. 18.

Page 9: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

9

A Fig. 15 esboça o comportamento da temperatura da

superfície das células do gerador FV em observação para as

quatro condições de temperatura da água utilizada no

processo de arrefecimento.

Fig. 15. Temperatura das células FV com a presença do sistema de arrefecimento com bomba de vazão igual a 8m³/h (Autoria própria)

A análise do gráfico da Fig. 15 permite afirmar que, assim

como na simulação com a bomba de vazão de 3m³/h, o

comportamento da temperatura das células também não

apresentou grandes variações com a mudança da temperatura

ambiente ou da irradiância, mantendo-se próxima à

temperatura de entrada da água utilizada para o arrefecimento

das mesmas.

Entretanto, comparando com os resultados obtidos na

Simulação A, o teste com a vazão máxima de 8m³/h

apresentou melhores valores de temperatura de operação das

células, havendo uma variação máxima de temperatura da

célula FV, comparando com a temperatura de entrada da

água, de 2,51°C contra 3,09°C de variação na Simulação A,

nas condições de temperatura ambiente, irradiância solar e

temperatura de entrada da água de 45°C, 1400 W/m² e 35°C,

respectivamente.

Ao comparar a temperatura das células dos MT1 e MT2-

B, apresentados nas Fig. 8 e Fig. 15, observa-se, considerando

as condições STC que, para uma temperatura de entrada da

água de 20°C, houve a redução de 67,85% na temperatura de

operação das células, à medida que na condição em que a

temperatura da água foi de 25°C, a temperatura das células

diminuiu 60,61% em relação ao valor obtido no MT1. Com a

temperatura de entrada da água de 30°C, houve um

resfriamento de 53,52% nas células FV, enquanto que a água

à 35°C, o sistema de arrefecimento retirou 46,45% de calor

da superfície das células.

Em seguida, é verificado a influência da redução da

temperatura de operação das células FV sobre a potência

elétrica gerada pelo gerador fotovoltaico, em que essa

interferência, para as condições de teste padrão, é apresentada

na Tabela III.

Tabela III. Potência elétrica gerada pelo gerador fotovoltaico para cada

condição de temperatura de entrada da água

Temperatura de entrada da água

(°C) Potência gerada (W)

20 6628

25 6492

30 6359 35 6226

Equiparando os valores de potência elétrica obtidos no

MT2-B e mostrados na Tabela III com os resultados atingidos

no MT1 (Fig. 9), verifica-se que, para o MT2-B, acontece a

recuperação de 23,82% da potência elétrica do gerador FV

quando o mesmo é resfriado com uma água de 20°C; 21,28%

da potência quando o fluido trocador de calor estava a 25°C;

18,79% da potência ao ser arrefecido com água à 30°C e;

16,31% da potência quando o gerador é resfriado por uma

água à 35°C.

Comparando com os valores de potência elétrica gerada

pela Simulação A (Tabela I), observa-se que na simulação do

MT2, em que foi considerada a vazão máxima da bomba, a

recuperação de potência elétrica é maior para todas as

condições de temperatura do fluido trocador de calor.

A Fig. 16 esboça graficamente o comportamento da

potência elétrica produzida pelo sistema fotovoltaico em

estudo para as quatro condições de temperatura da água

utilizada no processo de arrefecimento.

Page 10: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

10

Fig. 16. Potência de saída do gerador fotovoltaico com a presença do processo de arrefecimento com bomba de vazão igual a 8m³/h (Autoria própria)

Como esperado, a análise do gráfico da Fig. 16 permite

observar que a potência elétrica do gerador aumenta

conforme os valores de irradiância solar se elevam, enquanto

que se mantem praticamente constante com o aumento da

temperatura ambiente.

A influência da recuperação de potência pelo processo de

arrefecimento é verificada através do desempenho elétrico do

gerador FV, mostradas na Tabela IV para as condições de

teste padrão.

Tabela IV. Rendimento elétrico do gerador FV para cada condição de

temperatura de entrada da água

Temperatura de entrada da água (°C)

Rendimento (%)

20 18,91

25 18,53

30 18,14 35 17,77

Analisando os valores de rendimento elétrico obtidos no

MT2-B e mostrados na Tabela IV com os resultados obtidos

no MT1 (Fig. 10), observa-se que no MT2-B o rendimento é

3,63% maior quando comparado ao MT1 para a temperatura

inicial de entrada da água à 20°C, à medida que à medida que

na condição em que a temperatura da água foi de 25°C, o

desempenho do MT2-B foi 3,25% superior ao MT1. Com a

temperatura de entrada da água de 30°C, o rendimento

elétrico no MT2-B é 2,86% superior ao MT1, enquanto que a

água à 35°C, o aproveitamento do sistema do MT2-B é 2,49%

maior em relação ao MT1.

Contrapondo com os valores do desempenho elétrico

gerado pela Simulação A (Tabela II), observa-se que na

simulação do MT2 considerando a vazão máxima da bomba,

a eficiência elétrica obtida é levemente maior para todas as

condições de temperatura do fluido trocador de calor.

A Fig. 17 esboça graficamente o comportamento do

rendimento elétrico do gerador FV em estudo com a variação

da temperatura ambiente e irradiância solar para as quatro

condições de temperatura da água utilizada no processo de

arrefecimento.

Fig. 17. Rendimento elétrico do gerador FV com a presença do sistema de arrefecimento com bomba de vazão igual a 8m³/h (Autoria própria)

Analisando o gráfico da Fig. 17 observa-se que o

rendimento elétrico é mantido estável com a variação da

temperatura, havendo redução nos níveis de desempenho à

medida que a irradiância solar diminui e a temperatura de

entrada da água se eleva.

Page 11: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

11

Por fim, é analisado a temperatura de saída da água

utilizada no processo de arrefecimento das células do gerador

FV. O gráfico da Fig. 18 apresenta esses resultados obtidos

na simulação, considerando cada condição de temperatura de

entrada da água.

Fig. 18. Temperatura de saída da água após o arrefecimento das células FV com bomba de vazão igual a 8m³/h (Autoria própria)

Observando o gráfico da Fig. 18, percebe-se que, assim

como na Simulação A, houve uma variação da temperatura

de saída da água em relação a temperatura de entrada da

mesma na Simulação B. Entretanto, na simulação com vazão

de 3m³/h, os níveis de temperatura de saída da água foram

mais elevados em comparação a simulação com vazão de

8m³/h. Isso é explicado pelos fatores que contribuem para a

elevação da temperatura da água de saída, a saber, a área de

contato entre a água e a placa fotovoltaica e a vazão mássica.

Nas simulações MT2-A e MT2-B, a superfície de contato

são iguais, logo, o aspecto que influenciou nos resultados de

temperatura de saída da água foi a vazão considerada em cada

simulação. A bomba, ao trabalhar com a vazão máxima de

8m³/h, não permite, devido a velocidade elevada, um tempo

de contato suficiente para permitir uma troca de calor capaz

de proporcionar um aquecimento da água de forma

expressiva.

A medida que a temperatura ambiente e irradiância solar

aumentam, eleva-se a temperatura da superfície absorvedora,

desta forma, ampliando os níveis de troca de calor entre as

células FV e o fluido resfriador resulta na temperatura de

saída da água cada vez maior. Além disso, analisando o

comportamento nas condições de teste padrão, observa-se

que a medida que a temperatura de entrada da água é menor,

o arrefecimento da célula produz valores de temperatura de

saída da água menores.

Isto posto, a Tabela V permite observar uma síntese dos

parâmetros de saída analisados nos modelos térmicos, no qual

é possível verificar os valores de potência elétrica

recuperados com o sistema de arrefecimento bem como a

melhora no desempenho elétrico das células FV. Além disso

é averiguado os valores de temperatura de operação das

células e a temperatura de saída da água após o processo de

resfriamento.

Tabela V. Parâmetros de saída dos modelos térmicos nas condições de teste padrão (Temperatura ambiente de 25°C e irradiância solar de 1000 W/m²)

Simulação

Temperatura de

entrada da água (°C)

Temperatura

das células (°C)

Potência elétrica

(W)

Rendimento

elétrico (%)

Temperatura de

saída da água (°C)

Modelo Térmico 1 - 67,94 5353 15,28 -

Modelo Térmico 2-A

20 22,24 6617 18,88 27,95

25 27,13 6482 18,50 32,66

30 31,92 6349 18,12 36,98

35 36,68 6218 17,74 41,18

Modelo Térmico 2-B

20 21,84 6628 18,91 22,99

25 26,76 6492 18,53 27,92

30 31,58 6359 18,14 32,64

35 36,38 6226 17,77 37,34

Uma vez que não foi proposto uma aplicação para o calor

gerado pelo sistema de arrefecimento, a utilização da bomba

com vazão mínima, que permite o maior aquecimento da água

de entrada, dependerá de análises realizadas por especialistas

em irrigação quanto ao uso da água quente em plantações.

V. CONCLUSÃO

Diante do cenário de desenvolvimento tecnológico e a

necessidade da geração de energia com melhores níveis de

eficiência e considerando a capacidade de recuperação de

energia elétrica que um sistema de arrefecimento, como a

tecnologia PVT pode fornecer, o presente estudo apresentou

a análise do desempenho elétrico teórico de um gerador

fotovoltaico utilizado para alimentar um sistema de bombeio

para irrigação, ao ser inserido um sistema de arrefecimento

baseado na tecnologia PVT.

As análises foram realizadas com base em dois modelos

térmicos elaborados por [18], em que o Modelo Térmico 1

Page 12: Análise Comparativa do Desempenho Elétrico de um Gerador

12

era caracterizado pelo sistema fotovoltaico sem o processo de

arrefecimento, enquanto que o Modelo Térmico 2 oferecia o

estudo do mesmo sistema com o processo de resfriamento

através de um fluido trocador de calor.

Para o teste dos modelos térmicos, no qual foram

desprezadas as perdas por radiação, condução e convecção

nas faces laterais das células, bem como as perdas por

contato, foi considerado um gerador fotovoltaico composto

por 24 módulos FV com potência nominal de 6,59 kWp, para

suprir o consumo da bomba utilizada na irrigação. As células

que compõem os módulos FV possuem um rendimento

elétrico de 18,8% nas condições de teste padrão (STC), ou

seja, temperatura ambiente de 25°C e irradiância solar de

1000 W/m².

Na simulação do Modelo Térmico 1, observou-se que as

células do gerador FV apresentavam uma temperatura de

operação de 67,94°C, no qual ocasionou a geração de 5353

W, correspondendo a uma perda de 18,83% de potência

elétrica em relação ao valor nominal do gerador fotovoltaico

considerando as condições de teste padrão. Além disso, o

rendimento das células estavam abaixo do previsto pela

fabricante, com um valor de 15,28% de desempenho elétrico.

Para a simulação do Modelo Térmico 2 foi realizado duas

simulações, A e B, representando o uso da bomba com vazão

mínima e máxima, respectivamente. Na simulação A, ao

considerar a condição STC e temperatura de entrada da água

de 25°C, constatou-se a geração de 6482 W de potência, que

representa uma recuperação de 21,09% de potência elétrica

em comparação com o sistema sem o processo de

arrefecimento. O desempenho elétrico das células nessa

condição foi 18,50%, representando uma elevação de 3,22%

em comparação ao Modelo Térmico 1.

E na Simulação B, também considerando a condição STC,

foi observado a geração de 6492 W, representando a

recuperação de 21,28% de potência elétrica ao ser

confrontado com o valor obtido no Modelo Térmico 1. O

rendimento elétrico nessa simulação foi de 18,53%, ou seja,

3,25% maior que o valor obtido no Modelo Térmico 1.

Diante do exposto, os possíveis gastos de energia que

seriam necessários para a realização da circulação forçada do

fluido trocador de calor são eliminados para essa aplicação,

uma vez que a bomba utilizada no sistema de irrigação é

capaz de arrefecer seu próprio sistema de alimentação

elétrico, mesmo quando estiver operando com sua vazão

mínima.

Além disso, o comparativo entre os modelos térmicos

permite afirmar que a utilização de processos de

arrefecimento em sistemas fotovoltaicos permite a

recuperação de potência elétrica através da eliminação dos

efeitos negativos que seriam provocados pelo aumento da

temperatura de operação das células fotovoltaicas, mostrando

que a tecnologia PVT é promissora para a melhora do

rendimento elétrico de sistemas fotovoltaicos.

REFERÊNCIAS

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Janeiro: CEPEL/Eletrobras, 2013. 69 slides. Disponível em: <http://www.cresesb.cepel.br/download/casasolar/casasolar2013.pdf>. Acesso em 06 jun. 2018.

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[3] A. N. Kadhim et al, “Study on the Performance of Photovoltaic Thermal Collector (PV/T) with Rectangular Tube Absorber Design”. In: ZAHARIM, Azami et al (Ed.). Computer Applications in Environmental Sciences and Renewable Energy. Kuala Lumpur: Wseas Press, 2014. p. 67-72. Disponível em: <http://www.wseas.us/e-library/conferences/2014/Malaysia/RESEN/RESEN-08.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2018.

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[5] CRESESB, Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito. “Manual de Engenharia papa Sistemas Fotovoltaicos”. Rio de Janeiro, 2014.

[6] M. A. S. Valente, “Caracterização Automática de um Painel Fotovoltaico”. 2011. 82 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Eletrotécnica e Computadores, Departamento de Engenharia Eletrotécnica, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2011.

[7] R. E. A. Beltrão, “Efeito da Temperatura na Geração de Energia de Módulos Fotovoltaicos Submetidos a Condições Climáticas Distintas: Estudo de Caso para as Localidades de Recife e Araripina”. 2008. 171 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Tecnologias Energéticas e Nucleares, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.

[8] Alternative Energy Tutorials. “Solar Cell I-V Characteristic and the Solar Cell I-V Curve”. Disponível em: <http://www.alternative-energy-tutorials.com/energy-articles/solar-cell-i-v-characteristic.html>. Acesso em: 12 jul. 2018.

[9] F. F. Leva et al, “Modelo de um projeto de um sistema fotovoltaico”. In: Congresso Sobre Geração Distribuída e Energia no Meio Rural, 5., 2004, Uberlândia. Campinas: UNICAMP, 2004. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000022004000200020&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 jul 2018.

[10] I. P. Ribeiro, F. F. S. Matos e A. R. Alexandria, “Avaliação Computacional da Influência da Temperatura na Potência de um Painel Fotovoltaico”. Conexões - Ciência e Tecnologia, [s.l.], v. 10, n. 5, 15 dez. 2016.

[11] A. R. Gxasheka, E. E. Van Dyk e E. L. Meyer, “Evaluation of performance parameters of PV modules deployed outdoors”. Renewable Energy, [s.l.], v. 30, n. 4, p.611-620, abr. 2005.

[12] E. Gnoatto et al, “Determinação da curva característica de um painel fotovoltaico em condições reais de trabalho”. SIGCOMM Comput. Commun. Rev., Maringá-PR, p. 191–196, 2005.

[13] J. S. R. Michels, “Influência de fatores ambientais sobre o desempenho de um sistema de bombeamento fotovoltaico: um estudo de caso”. Revista Agroambiental, v. 3, n. 3, p. 51–55, 2011.

[14] R. L. M. R. P. Marques, “Avaliação da viabilidade de coletores híbridos fotovoltaicos e térmicos para aplicação ao aquecimento de águas e micro-geração de eletricidade”. 2008. 111p. Dissertação (Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, 2008. Disponível em: <http://paginas.fe.up.pt/~em00099/ralatorio.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2018.

[15] S. A. O. Silva, “Análise das Variáveis Metereológicas no Município de Mossoró-Rn (1970-2013)”. 2014. 46 f. Monografia (Especialização) - Curso de Engenharia Agrônoma, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, 2014.

[16] I. D. M. C. Lima, “Estudo da Viabilidade Econômica da Implantação de um Sistema Fotovoltaico Conectado À Rede para Irrigação”. 2017. 48 f. TCC (Graduação) - Curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, 2017.

[17] Q CELLS. “Full-square monocrystalline solar cell: Q6LMXP3-G3”. Bitterfeld-Wolfen: Hanwha Q Cells, 2013. 2 p. (Data sheet Q6LMXP3-G3). Disponível em: <https://q-cells.nl/uploads/tx_abdownloads/files/Hanwha_Q_CELLS_Data_sheet_Q6LMXP3-G3_2013-04_Rev01_EN_01.pdf>. Acesso em: 05 ago. 2018.

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13

[18] M. I. da S. Guerra, “Análise do Desempenho Elétrico de um Gerador Fotovoltaico com o Auxílio da Tecnologia PVT”. 2016. 141 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Elétrica, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2016.

[19] M. G. Villalva e J. R. Gazoli, “Energia solar fotovoltaica: conceitos e aplicações”. 1. ed. São Paulo: Érica, 2012.

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