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ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS DE FORMULAÇÕES MISTAS EM ELEMENTOS FINITOS João Paulo Lima Santos DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: ____________________________________________ Prof. Webe João Mansur, Ph.D. ____________________________________________ Prof. Eduardo Gomes Dutra do Carmo, D.Sc. ____________________________________________ Prof. José Antônio Fontes Santiago, D.Sc. ____________________________________________ Prof. Luiz Fernando Taborda Garcia, D.Sc. ____________________________________________ Prof. Marco Aurélio Chaves Ferro, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL FEVEREIRO DE 2008

ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

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ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS DE

FORMULAÇÕES MISTAS EM ELEMENTOS FINITOS

João Paulo Lima Santos

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM

ENGENHARIA CIVIL.

Aprovada por:

____________________________________________

Prof. Webe João Mansur, Ph.D.

____________________________________________ Prof. Eduardo Gomes Dutra do Carmo, D.Sc.

____________________________________________ Prof. José Antônio Fontes Santiago, D.Sc.

____________________________________________ Prof. Luiz Fernando Taborda Garcia, D.Sc.

____________________________________________ Prof. Marco Aurélio Chaves Ferro, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

FEVEREIRO DE 2008

Page 2: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

ii

SANTOS, JOAO PAULO LIMA

Análise de modelos reológicos viscoelásticos

através de formulações mistas em elementos finitos

[Rio de Janeiro] 2008

XII, 123 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc.,

Engenharia Civil, 2008)

Dissertação - Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPE

1. Viscoelasticidade

2. Modelos reológicos

3. Elementos finitos

4. Métodos estabilizados

I. COPPE/UFRJ II. Título ( série )

Page 3: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

iii

À minha família.

Page 4: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

iv

AGRADECIMENTOS

A todos que colaboraram ao longo de minha trajetória e nas experiências vividas

desde a minha querida cidade do sertão de Alagoas até o Rio de Janeiro, na conclusão

desta etapa na vida.

Aos meus pais Francisco e Lourdes, pelo imensurável apoio e por ensinar que

sempre devemos ir em busca de nossos objetivos, com muito trabalho e perseverança.

Aos meus irmãos Fábio, Cássia e familiares pelo incentivo em encarar esse

desafio.

À minha namorada Jordana pelo apoio e compreensão constantes, ajudando a

tornar amenos os momentos mais temerosos.

Aos amigos de república, por tornar a estadia no Rio de Janeiro mais agradável,

em especial ao Daniel pelo auxílio na revisão de texto desta dissertação.

Aos colegas do LAMEC: Ivone, Fernanda B., Fernanda M., Tilene, Flávio e

demais colegas. Agradecimento especial ao capitão Vasconcellos e ao Felipe pelas

contribuições na concretização deste trabalho.

Aos professores do PEC pelo aprendizado, especialmente ao professor Marco

Ferro pelo pontapé inicial em um dos temas da dissertação.

Ao professor orientador Eduardo pela paciência e colaboração nos fundamentos

matemáticos utilizados no desenvolvimento do trabalho.

Ao professor orientador Webe Mansur pelas discussões temáticas essenciais no

desenvolvimento do trabalho e pela extrema confiança e conselhos prestados ao longo

do curso.

Ao CNPq pelo apoio financeiro.

Page 5: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

v

Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS DE

FORMULAÇÕES MISTAS EM ELEMENTOS FINITOS

João Paulo Lima Santos

Fevereiro/2008

Orientadores: Webe João Mansur

Eduardo Dutra Gomes do Carmos

Programa: Engenharia Civil

Os materiais viscoelásticos vêm gradativamente atraindo interesse industrial e

adquirindo maior espaço entre aplicações práticas do cotidiano, o que tem estimulado o

interesse no desenvolvimento de estratégias de modelagem computacional desse tipo de

material. Nesse trabalho, aborda-se uma estratégia numérica para representação de

modelos reológicos para sólidos e fluidos viscoelásticos lineares, baseada no método

dos elementos finitos. Na estratégia empregada, toma-se como base um modelo integral

para representação do sólido viscoelástico padrão e o modelo de Maxwell,

transformando-os em um esquema recursivo passo-a-passo, onde a história temporal é

obtida por uma seqüência de solução de modelos lineares atualizados a cada etapa pelas

variáveis controladoras da viscoelasticidade. Faz-se uso de formulações mistas em

elementos finitos para o tratamento de problemas incompressíveis, empregando-se o

método Galerkin Least Square (GLS) e o método de estabilização direta de pressão

(Bochev). Propõe-se também uma estratégia para determinação do parâmetro de

estabilização para o modelo GLS, que representa atualmente uma das maiores

dificuldades no emprego do método. Para verificação dos modelos implementados,

diversas análises numéricas foram realizadas tanto para os modelos lineares quanto para

os modelos viscoelásticos.

Page 6: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

vi

Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

ANALYSIS OF VISCOELASTIC RHEOLOGICAL MODELS USING FINITE

ELEMENTS MIXED FORMULATIONS

João Paulo Lima Santos

February/2008

Advisors: Webe João Masur

Eduardo Gomes Dutra do Carmo

Department: Civil Engineering

Viscoelastic materials are attracting industrial interest gradually and acquiring

larger space among practical applications of daily engineering design, thus stimulating

the development of computational modeling strategies considering this kind of material.

In this work, a numerical strategy is discussed for representation of rheological models

for linear viscoelastic solids and fluids, based on the finite element method. The used

strategy is based on the Maxwell viscoelastic model represented in the integral form,

transformed into a step-by-step recursive scheme, where the time history is obtained

through a sequency of linear models updated in each stage by the controlling variables

of the viscoelasticity. Finite elements mixed formulations are used for the treatment of

incompressible problems, being employed: the Galerking Least Square method (GLS)

and the method of direct stabilization of pressure (Bochev). It also proposed a strategy

for determination of the parameter of stabilization for the GLS model, that represents

one of the greatest difficulties nowadays in the use of the method. For verification of the

implemented models, several numerical analyses were accomplished so much for the

linear models as for the viscoelastic models.

Page 7: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

vii

Índice 1. Introdução................................................................................................................1

2. Modelos reológicos viscoelásticos...........................................................................5

2.1. O comportamento elástico ................................................................................ 5

2.2. O comportamento viscoso ................................................................................ 6

2.3. O fenômeno de fluência (creep) ....................................................................... 7

2.4. O fenômeno de relaxação ................................................................................. 9

2.5. A viscoelasticidade e o fenômeno de fluência e relaxação ............................ 10

2.6. Modelo molecular........................................................................................... 14

2.7. Modelos físicos/matemáticos ......................................................................... 16

2.7.1 Modelo de Maxwell................................................................................ 17

2.7.2 Modelo de Kelvin ................................................................................... 21

2.7.3 Modelo de Burgers ................................................................................. 24

2.7.4 Modelo do sólido linear padrão.............................................................. 25

2.7.5 Generalização dos modelos básicos ....................................................... 27

2.8 Representação por integrais hereditárias ........................................................ 30

3. O método dos elementos finitos ............................................................................34

3.1 Conceitos básicos ........................................................................................... 34

3.2 Formulação mista e incompressibilidade ....................................................... 41

3.3 Condições de estabilidade na formulação (u-p) para a equação de Stokes .... 49

3.4 Métodos estabilizados .................................................................................... 53

3.4.1 Galerkin Least Square (GLS) ................................................................. 54

3.4.2 Estabilização direta de pressão (Bochev) ............................................... 57

4. IGLS: Uma estratégia para determinação do parâmetro de estabilização α do

método GLS ...................................................................................................................61

5. Modelo viscoelástico incompressível....................................................................66

5.1. Extensão dos modelos viscoelásticos unidimensionais .................................. 66

5.2. Formulação em elementos finitos para a viscoelasticidade linear

incompressível ............................................................................................................ 69

5.3. Estratégia numérica ........................................................................................ 75

6. Aplicações e discussões..........................................................................................81

6.1 Exemplo 1: Viga submetida à ação de momento de flexão............................ 81

Page 8: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

viii

6.2 Exemplo 2: Escoamento de Stokes em regime estacionário .......................... 91

6.3 Exemplo 3: Viga viscoelástica submetida à ação de momento de flexão ..... 98

6.4 Exemplo 4: Membrana de Cook................................................................... 100

6.5 Exemplo 5: Análise de reversibilidade da fluência viscoelástica................. 107

7. Conclusões e recomendações ..............................................................................117

8. Referências bibliográficas...................................................................................120

Page 9: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

ix

Lista de figuras Figura 2. 1 – Comportamento elástico linear ....................................................................6

Figura 2. 2 – Comportamento viscoso linear.....................................................................6

Figura 2. 3 – Curva típica experimental de fluência .........................................................8

Figura 2. 4 – Aspecto da curva de fluência em escala logarítmica ...................................8

Figura 2. 5 – Teste de relaxação........................................................................................9

Figura 2. 6 - Fluência em material viscoelástico: (A) sólido; (B) fluido .......................10

Figura 2. 7 – Correção da curva de fluência....................................................................12

Figura 2. 8 – Superposição tempo-temperatura...............................................................13

Figura 2. 9 – Relação entre a taxa de conformação (rate) e o tempo..............................16

Figura 2. 10 – Modelo de Maxwell .................................................................................17

Figura 2. 11 – Resposta ao teste de fluência para o elemento de Maxwell .....................19

Figura 2. 12 – Configuração típica de um corpo submetido a um teste de relaxação .....21

Figura 2. 13 – Representação do modelo de Kelvin........................................................22

Figura 2. 14 – Resposta ao teste de fluência para o elemento de Kelvin ........................23

Figura 2. 15 – Modelo reológico de Burgers...................................................................24

Figura 2. 16 – Elemento sólido viscoelástico linear........................................................25

Figura 2. 17 – Elemento de Maxwell generalizado em série ..........................................28

Figura 2. 18 – Elemento de Maxwell generalizado em paralelo (Maxwell-Weichert) ...28

Figura 2. 19 – Elemento de generalizado Kelvin Voigt em paralelo ..............................29

Figura 2. 20 – Modelo generalizado de Kelvin-Voigt em série. ....................................29

Figura 2. 21 – Variação da deformação no tempo...........................................................31

Figura 3. 1 – Caracterização do domínio e contorno.......................................................36

Figura 3. 2 – Travamento volumétrico da malha. ...........................................................42

Figura 3. 3 – Elemento Q1-P0 – adaptado de BATHE [32] ............................................51

Figura 3. 4- Elemento Q2r-P0 (8/1 em 2D e 20/1 em 3D): adaptado de BATHE [32] ...52

Figura 3. 5 - Elemento Q2-P1 (9/3 em 2D e 27/4 em 3D): adaptado de BATHE [32] ....52

Figura 3. 6 - Elemento P2-P0 (6/1 em 2D e 10/1 em 3D): adaptado de BATHE [32] .....52

Figura 3. 7 - Elemento P2+-P1 (7/3 em 2D e 11/4 em 3D): adaptado de BATHE [32] ...53

Figura 3. 8 – Elemento Q2-Q1 (9/4-c em 2D e 27/8-C em 3D): adaptado de

BATHE [32] ................................................................................................................... 53

Page 10: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

x

Figura 3. 9 - Elemento P2-P1 (6/3-c em 2D e 10/4-c em 3D): adaptado de

BATHE [32] ................................................................................................................... 53

Figura 5. 1 – Modelo viscoelástico linear padrão............................................................68

Figura 5. 2 – Modelo sólido viscoelástico linear generalizado .......................................68

Figura 5. 3 – Elemento quadrilátero bilinear...................................................................76

Figura 5. 4 – Função de forma bilinear ...........................................................................77

Figura 6. 1 – Viga submetida à ação de um momento de flexão (adaptada de REDDY et.

al.[51]) ............................................................................................................................ 82

Figura 6. 2 – Domínio discretizado em 512 elementos (32x16) .....................................82

Figura 6. 3 – Convergência do deslocamento horizontal para ν = 0,499999999. ...........83

Figura 6. 4 – Convergência do deslocamento vertical para ν = 0,499999999.................83

Figura 6. 5 – Convergência do deslocamento horizontal para ν = 0,1. ...........................84

Figura 6. 6 – Convergência do deslocamento vertical para ν = 0,1.................................84

Figura 6. 7 – Deslocamento horizontal em função do Poisson (512 elementos) ............85

Figura 6. 8 – Deslocamento vertical em função do Poisson (512 elementos).................85

Figura 6. 9 – Deslocamento resultante para ν = 0,499999999. .......................................87

Figura 6. 10 – Deslocamento resultante para ν = 0,1. .....................................................87

Figura 6. 11 – Distribuição de pressão para ν = 0,499999999. .......................................87

Figura 6. 12 – Convergência para o deslocamento horizontal (ν = 0,499999999)..........88

Figura 6. 13 – Convergência para o deslocamento vertical (ν = 0,499999999)..............88

Figura 6.14 – Modo pressão espúria para (ν = 0,499999999): (a) 46 elementos;

(b) 85 elementos; (c) 191 elementos; (d) 466 elementos................................................ 90

Figura 6. 15 – Pressão estabilizado pela formulação IGLS (ν = 0,499999999)..............90

Figura 6. 16 – Caracterização do problema de escoamento de Stokes............................91

Figura 6. 17 – Variação da pressão na seção de corte BB...............................................92

Figura 6. 18 – Distribuição espacial da pressão pelo método GLS para α=0.02.............93

Figura 6. 19 – Distribuição espacial da pressão pelo método GLS para α=1.0...............93

Figura 6. 20 – Distribuição espacial da pressão pelo método GLS para α=20................93

Figura 6. 21 – Distribuição espacial da pressão pelo método Bochev para α=2.............94

Figura 6. 22 – Variação da velocidade vertical na seção de corte BB ............................95

Figura 6. 23 – Distribuição espacial da velocidade vertical obtido com o modelo GLS

para: (a) α=0.1; (b) α=0.5; (c) α=1.0; (d) α=20.0; .......................................................... 95

Figura 6. 24 – Variação da velocidade horizontal na seção de corte BB ........................96

Page 11: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

xi

Figura 6. 25 – Distribuição espacial da velocidade horizontal obtido com o modelo GLS

para: (a) α=0.1; (b) α=0.5; (c) α=1.0; (d) α=20.0; ...........................................................96

Figura 6. 26 – Distribuição espacial do módulo de velocidade obtido com o modelo

GLS para: (a) α=0.1; (b) α=0.5; (c) α=1.0; (d) α=20.0;.................................................. 97

Figura 6. 27 – Discretização espacial em 128 elementos finitos.....................................98

Figura 6. 28 – Evolução temporal do deslocamento .......................................................99

Figura 6. 29 – Geometria e discretização espacial em 100 elementos (10 x 10) ..........100

Figura 6. 30 – Deslocamento vertical para a malha 10 x 10 (100 elementos). .............101

Figura 6. 31 – Deslocamento vertical para a malha 50 x 50 (2500 elementos). ...........101

Figura 6. 32 –(a) Malha de 900 elementos (b) malha de 2500 elementos.....................102

Figura 6. 33 – Distribuição da pressão para (a) α = 0 (b) α = 0,5. ...............................102

Figura 6. 34 – Estabilização da pressão para: (a) α = 0,1 ; (b) IGLS ............................103

Figura 6. 35 – Evolução temporal do deslocamento vertical (malha 30 x 30)..............104

Figura 6. 36 – Evolução temporal do deslocamento vertical (malha 50 x 50)..............105

Figura 6. 37 – Deslocamento resultante para t = 0. .......................................................106

Figura 6. 38 – Deslocamento resultante para t = 20. .....................................................106

Figura 6. 39 – Geometria e discretização da malha.......................................................107

Figura 6. 40 – Deslocamento horizontal para o modelo sólido viscoelástico padrão. ..108

Figura 6. 41 – Pressão para o modelo sólido viscoelástico padrão ...............................109

Figura 6. 42 – (a) Distribuição espacial da pressão para t = 0; (b) Evolução temporal da

pressão .......................................................................................................................... 110

Figura 6. 43 – Distribuição espacial da Pressão (estabilizada) .....................................110

Figura 6. 44 – Deslocamento resultante para t = 2,4 para: (a) ν = 0,5; (b) ν = 0,3. .....111

Figura 6. 45 – Deslocamento horizontal para o modelo de Maxwell............................112

Figura 6. 46 – Pressão- Modelo de Maxwell.................................................................112

Figura 6. 47 – Corpo submetido a estado de cisalhamento puro...................................113

Figura 6. 48 – Modo pressão espúria no estado de cisalhamento puro. ........................113

Figura 6. 49 – Deslocamento resultante para o GLS α = 0. ..........................................114

Figura 6. 50 – Evolução temporal do deslocamento vertical (Modelo de Maxwell). ...114

Figura 6. 51 – Evolução temporal da pressão (Modelo de Maxwell). .........................115

Figura 6. 52 – Evolução temporal do deslocamento vertical e pressão (Modelo do sólido

viscoelástico). ................................................................................................................115

Figura 6. 53 – Deslocamento resultando para o modelo de Maxwell em t = 100:........116

(a) ν = 0,2; (b) ν = 0,5....................................................................................................116

Page 12: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

xii

Lista de tabelas Tabela 6. 1 – Resultado para o modelo de Bochev ....................................................... 86

Tabela 6. 2 – Resultado para o modelo GLS ................................................................ 86

Tabela 6. 3 – Resultado para o FEAP............................................................................ 86

Tabela 6. 4 – Resultados para a malha de 46 elementos (ν = 0,499999999) ................ 89

Tabela 6. 5 – Resultados para a malha de 85 elementos (ν = 0,499999999) ................ 89

Tabela 6. 6 – Resultados para a malha de 466 elementos (ν = 0,499999999) .............. 89

Page 13: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

1

1. Introdução

Os estudos do comportamento reológico dos materiais remotam aos primórdios

da humanidade. Para o filósofo grego Heráclito de Éfeso (540-476 a.C.), a lei

fundamental do universo é dividir, o que significa contínuas transformações. Para ele,

todos os seres e a matéria estão em constante movimento, afirmando: “Tudo flui, nada

neste nosso mundo é permanente. Tudo está mudando o tempo todo. A mudança é a lei

da vida e do universo”.

O filósofo parecia observar que boa parte dos materiais quando submetidos a

estágios de solicitações distintas também seguiam os processos regidos por sua lei

fundamental, e já parecia impulsionar a origem dos estudos reológicos.

Nos séculos seguintes, a evolução dos estudos do comportamento reológico foi

descrito pelas “relações constitutivas”, que relacionavam a tensão e deformações

sofridas pelos meios em estudo. Dos trabalhos pioneiros sobre os materiais ideais

podem-se destacar: Archimedes e Newton (1687) sobre corpos perfeitamente rígidos;

Boyle (1600), Hook(1678), Young(1807) e Cauchy(1827) sobre materiais perfeitamente

elásticos; Pascal (1963), Bernoulli(1738) e Euller(1755) sobre fluidos imiscíveis;

Newton(1687), Navier(1823) e Stokes (1845) sobre a dinâmica dos fluidos

newtonianos. O termo reologia foi usado pela primeira vez em 1929, definida então

como o estudo do fluxo e deformação de todas as formas de matéria, apesar de alguns

autores recentemente limitarem o termo reologia ao estudo de materiais que apresentem

comportamento diferente dos sólidos perfeitamente elásticos e fluidos ideais. Maiores

detalhes sobre a origem e evolução da reologia são apresentados de forma resumida por

DORAISWAMY [1].

As relações constitutivas desenvolvidas até meados do século XVIII não

conseguiam representar com precisão o comportamento de determinados materiais, em

especial alguns que apresentam um comportamento intermediário entre o sólido

perfeitamente elástico e o fluido newtoniano, que ficaram conhecidos posteriormente

como materiais viscoelásticos.

Dessa forma, pode-se definir a viscoelasticidade como a propriedade de um

material exibir tanto comportamento elástico quanto viscoso. Os materiais

viscoelásticos têm características tanto de sólido (elasticidade, resistência ao fluxo e

Page 14: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

2

estabilidade da forma) quanto de fluido, tais como a dependência do fluxo com o tempo,

temperatura e tensão aplicada.

Os materiais viscoelásticos são encontrados na indústria alimentícia, em

variedades de polímeros, em geomateriais, em materiais biológicos, em compósitos,

dentre outras diversas variedades. MACKERLE [2] afirma que as áreas de estudos e de

aplicações da viscoelasticidade são as mais variadas possíveis, a exemplo da engenharia

aeroespacial, engenharia biomédica, engenharia civil, engenharia de alimentos e

engenharia mecânica e de materiais.

De acordo com DORAISWAMY [1], os estudos iniciais dos materiais

viscoelásticos foram impulsionados pelo crescimento da indústria dos polímeros.

Webber (1835) foi um dos pioneiros nesse novo campo da reologia, estudando o

comportamento dos fios de seda, na época empregados como componentes de alguns

instrumentos eletromagnéticos.

Webber observou que após tensionar axialmente o fio de seda, observa-se não só

uma deformação instantânea elástica, mas também uma deformação que progredia em

função do tempo. Liberando-o em seguida do esforço de tração, havia uma contração

imediata do fio, que atingia o estado da deformação elástica, seguida por uma contração

gradual até atingir o estado de pré-carregamento inicial. Webber havia então

experimentado o fenômeno que ficou posteriormente conhecido como relaxação de

tensão, que ele chamou de “the after effect”, caracterizando dessa forma a dependência

temporal dessa até então nova classe de materiais.

Nos anos seguintes, cientistas e engenheiros dedicaram estudos experimentais e

matemáticos para obter uma representação das relações constitutivas para a

viscoelasticidade. Destacam-se os trabalhos desenvolvidos por Lord Kelvin e James

Clerk Maxwell. Demais contribuições podem ser consultadas nas referências

DOZDROV [3], FLÜGGE [4], BLEND [5] e CHRISTENSEN [6].

Os estudos numéricos aprofundados dos materiais viscoelásticos foram

desenvolvidos a partir da década de 60, sobretudo impulsionados pelo crescente

interesse industrial sobre os materiais poliméricos. Já nesse período, os métodos de

aproximação das equações diferenciais vinham sendo largamente empregados para a

representação de fenômenos inerentes à reologia, especialmente o método dos

elementos finitos (MEF). Do ponto de vista numérico, a linha de trabalho empregando o

método dos elementos finitos (MEF) na viscoelasticidade seguiu dois caminhos

distintos:

Page 15: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

3

No primeiro, que inclui um maior número de trabalhos desenvolvidos, o

problema é resolvido diretamente no domínio do tempo usando um processo

incremental passo-a-passo. Faz-se uso de relações constitutivas nas formas integrais e

diferenciais, a exemplo dos trabalhos desenvolvidos por ZIENKIEWICZ et. al. [7] e

SRIBATHA e LEWIS [8].

No segundo tipo aplica-se o chamado princípio da correspondência elástico-

viscoelástico, discutido inicialmente por ALFREY [9], onde os problemas

viscoelásticos são transformados em elásticos no domínio de Laplace. Em seguida, o

problema elástico é resolvido via método dos elementos finitos. Depois disso, aplicando

a técnica de transformada inversa de Laplace, obtém-se a solução do problema

viscoelástico inicial. Empregando esse método, ADEY e BREBIA [10] analisaram um

cilindro espesso oco de aço sob pressão interna. Alguns autores, a exemplo de

CARPENTER [11] comentam que o emprego da técnica baseada no princípio da

correspondência pode tornar-se inviável em casos de configurações geométricas

complexas e em casos não lineares.

Um dos trabalhos pioneiros nessa linha foi desenvolvido por WEBBER [12],

que aplicou o princípio da correspondência para problemas termo-viscoelásticos

baseados no modelo de Maxwell, empregando o MEF na formulação clássica, ou seja,

empregando a sentença variacional apenas em termos de deslocamento/velocidade.

Os trabalhos pioneiros que empregavam diretamente a solução no domínio do

tempo eram bastante simplificados. CARPENTER [11] discorre que no trabalho

desenvolvido por WHITE [13] assumia-se o módulo de elasticidade volumétrica

constante no tempo e o material homogêneo e isotrópico.

Fortemente influenciados pela temperatura e pela alteração das propriedades do

material ao longo do tempo, observou-se a necessidade de se incorporar formulações

estáveis que permitissem análises de meios próximos à condição de incompressibilidade

(elevados valores do coeficiente de Poisson), uma vez que a formulação de elementos

finitos baseada apenas na sentença variacional do deslocamento (ou velocidade) pode

induzir a severas oscilações na aproximação da pressão e no campo da

tensão/deformação, além de sofrer o efeito de “travamento” volumétrico da malha. Um

dos trabalhos pioneiros foi proposto por YADAGIRI e REDDI [14], que fizeram uso de

elementos isoparamétricos associados a esquemas de integração reduzida. Nos anos

seguintes, algumas formulações mistas foram sendo empregadas e ainda hoje diversas

Page 16: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

4

estratégias são testadas, sobretudo para um maior ganho de precisão atrelado à busca

por formulações com menor custo computacional.

O presente trabalho objetiva a análise e implementação de modelos reológicos

viscoelásticos que permitam a representação de meios compressíveis e incompressíveis.

Para tanto, investigam-se algumas formulações estabilizadas em elementos finitos,

sobretudo para a garantia de estabilidade numérica em situações de incompressibilidade.

Uma breve revisão bibliográfica relacionada aos modelos viscoelásticos é

apresentada no capítulo 2, destacando-se parte dos modelos conceituais mais difundidos

na literatura.

A abordagem de formulações em elementos finitos para modelos

incompressíveis é apresentada no capítulo 3, enfatizando principalmente o uso de

formulações mistas. Já no capítulo 4 é discutida uma nova estratégia para determinação

do parâmetro de estabilização para o método de aproximação misto em elementos

finitos GLS (Galerkin Least Square).

No capítulo 5 são abordados alguns aspectos relacionados à implementação

computacional e à estratégia numérica para representação de modelos viscoelásticos

incompressíveis.

Algumas aplicações são apresentadas no capítulo 6, sobretudo para análise da

acurácia dos modelos implementados. As considerações finais e sugestões para

trabalhos futuros são apresentadas no capítulo 7.

Page 17: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

5

2. Modelos reológicos viscoelásticos

Os materiais viscoelásticos são caracterizados pela observância de um

comportamento intermediário entre o sólido elástico e o fluido newtoniano. DROZDOV

[3] afirma que para um material ser considerado viscoelástico, é necessário que o

mesmo experimente os fenômenos de fluência e relaxação de tensões. Esses fenômenos

estão associados à combinação dos efeitos elásticos e viscosos, podendo ser

representados por diversos modelos reológicos cujo comportamento peculiar é função

do arranjo em associação dos elementos básicos: mola (representando a parcela elástica)

e amortecedor (representado a parcela viscosa), que podem caracterizar sólidos

viscoelásticos ou fluidos viscoelásticos.

Os estudos discutidos nesse trabalho serão restritos a pequenas deformações,

caracterizando apenas os aspectos da viscoelasticidade linear.

Para uma melhor caracterização dos fenômenos atrelados ao comportamento

viscoelástico, será apresentado nesse capítulo uma breve descrição dos fenômenos

inerentes à viscoelasticidade.

2.1. O comportamento elástico

Os materiais são classificados em elásticos quando após aplicação de um

carregamento interino e conseqüente deformação observa-se a recuperação de sua forma

original, apresentando assim uma deformação reversível, havendo então conservação de

sua energia interna. Nesse material, o estado de deformação é atingido imediatamente

após a aplicação da carga.

Um material básico elástico é geralmente representado por uma mola, conforme

mostrado na figura (2.1a). Aplicando-se uma tensão constante 0)( σσ =t (fig 2.1b), é

dito que o corpo apresenta comportamento elástico linear caso se observe uma

deformação constante e proporcional à tensão aplicada (fig 2.1c).

Page 18: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

6

Figura 2. 1 – Comportamento elástico linear

Os materiais elásticos lineares obedecem à lei de Hooke, sendo a constante de

proporcionalidade E uma característica intrínseca do material, conhecida como módulo

de elasticidade. A relação constitutiva para o material elástico linear é então definida

pela seguinte relação:

( ) . ( )et E tσ ε= (2. 1)

2.2. O comportamento viscoso

A viscosidade de um corpo descreve a resistência que um material oferece ao

escoamento. O efeito da viscosidade é mais evidente nos fluidos, que por definição são

substâncias que se deformam continuamente sob ação de qualquer força tangencial.

Nesta definição, não é levada em conta a estrutura molecular do fluido, que é composto

de diversas moléculas em movimento.

Figura 2. 2 – Comportamento viscoso linear

Um material viscoso é usualmente representado pelo elemento da figura (2.2a).

Aplicando-se nesse elemento uma tensão constante 0)( σσ =t (fig 2.2b), é dito que o

elemento se comporta como fluido newtoniano se sua taxa de deformação é diretamente

proporcional à tensão aplicada:

Page 19: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

7

( ) . ( )it tσ η ε•

= (2. 2)

Nesse caso, a constante de proporcionalidade η é conhecida como viscosidade, e

seu valor irá determinar o grau de resistência ao cisalhamento do fluido, sendo um

parâmetro característico para a descrição da curva de deformação apresentada na figura

(2.2c).

2.3. O fenômeno de fluência (creep)

A fluência, também conhecida na literatura por sua terminologia inglesa (creep),

está relacionada à tendência das partículas constituintes dos materiais sofrerem

movimentos conseqüentes da aplicação continuada de cargas de intensidade constante.

Para um melhor entendimento do fenômeno, discute-se o experimento oriundo do teste

de fluência, apresentado por DROZDOV [3]. Nesse teste, idealiza-se um corpo

inicialmente em seu estado natural (sem carregamento). No instante t = 0 é aplicada

uma força de intensidade P em uma seção de área S obtendo-se uma tensão 0σ . Em

resposta à aplicação da carga, uma deformação 0ε é observada de forma instantânea, e

no caso dos materiais perfeitamente elásticos essa deformação é mantida constante para

t > 0. Entretanto, para materiais viscoelásticos, observa-se uma deformação incremental

)(tε , que em geral apresenta tendência crescente ao longo do tempo, sendo determinada

por uma taxa de variação 0)( ≥•

tε . Esse fenômeno de alteração no valor da deformação

sob condições de carregamento uniforme no tempo é chamado de fluência.

Segundo DROZDOV [3], o processo de fluência pode ser caracterizado pela

deformação de fluência )(tcε , que é a diferença entre a deformação no instante )(tε e a

deformação oriunda do processo elástico 0ε . Entretanto, a representação mais comum é

feita através da chamada função de fluência, que corresponde a uma relação entre a

deformação de fluência e a tensão aplicada 0σ , conforme relação apresentada a seguir:

0

0 0

( ) ( )( ) c t tJ t ε ε εσ σ

−= =

(2. 3)

Na figura (2.3) é apresentada uma curva típica de fluência para um sólido

viscoelástico. Em função de resultados experimentais, em geral ajustam-se as

Page 20: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

8

expressões analíticas para a curva de fluência, usualmente sob forma exponencial, onde

J corresponde ao módulo de fluência.

Figura 2. 3 – Curva típica experimental de fluência

(adaptado de DROZDOV [3])

De acordo com ROYLANCE [15], a curva de fluência quando plotada em escala

logarítmica apresenta um ponto de inflexão, que caracteriza o “tempo de relaxação” τ

do processo de fluência, conforme apresentado na figura (2.4). Os valores Jg e Jr

representam, respectivamente, a fluência do material na “fase vítrea (glassy)” e “fase

elástica (ruberry)”, que serão discutidas na seção 2.5.

Figura 2. 4 – Aspecto da curva de fluência em escala logarítmica

(adaptado de ROYALANCE [15])

Page 21: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

9

2.4. O fenômeno de relaxação

Define-se como relaxação de tensões o fenômeno de alívio nos esforços internos

que ocorre em alguns materiais quando sujeitos a uma deformação constante. Para

melhor entendimento do fenômeno, será apresentada a experiência oriunda do teste de

relaxação. Nesse experimento, um corpo é subitamente posto em situação de

tracionamento axial e conseqüentemente é observado um incremento em seu

comprimento, induzindo a um estado de deformação axial que é mantido constante para

efeitos do teste ao longo do tempo. O comportamento dos valores associados à tensão e

deformação são ilustrados na figura (2.5).

Figura 2. 5 – Teste de relaxação

Para um material perfeitamente elástico a tensão também se manteria constante

ao longo da análise. Entretanto, para um material viscoelástico esse valor diminui

monotonicamente a partir do tempo t >0, tendendo a um valor assintótico limσ . A curva

do comportamento da tensão no tempo apresentada pela figura (2.5) é conhecida como

curva de relaxação, e é geralmente obtida através de ensaios experimentais, onde em

seguida ajustam-se funções para caracterização do comportamento, sendo estas

conhecidas como funções de relaxação. Um parâmetro importante associado aos ensaios

de relaxação é, portanto, a função de relaxação, que determina o módulo de relaxação

em cada instante t, definido pela relação:

0

)()(εσ ttG =

(2. 4)

De acordo com ROYLANCE [15], a fluência e relaxação são resultantes do

mesmo mecanismo molecular, e por essa razão o valor associado à fluência J(t) e o

módulo de relaxação )(tG na maioria das situações podem ser correlacionados. No

caso de um material viscoelástico linear, esses valores são inversos entre si. Entretanto,

nem sempre essa relação é fácil de ser obtida nos demais materiais viscoelásticos, em

particular, porque a resposta ao teste de relaxação é obtida de forma mais rápida do que

o equilíbrio de forças obtido no teste de fluência.

Page 22: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

10

2.5. A viscoelasticidade e o fenômeno de fluência e relaxação

Na literatura, a dependência temporal do campo de tensão e deformação advinda

dos fenômenos de fluência e relaxação confere aos materiais viscoelásticos a

denominação de materiais com memória, que podem ser subclassificados em fluidos

viscoelásticos e sólidos viscoelásticos.

ROYLANCE [15] apresenta alguns elementos diferenciadores do

comportamento de sólidos e fluidos viscoelásticos. De acordo com sua definição, um

fluido viscoelástico submetido a um estado de deformação constante (teste de

relaxação) irá produzir um estado de tensão que irá decair a zero. Contrariamente, os

sólidos viscoelásticos quando submetidos a um estado de deformação constante (teste

de relaxação) apresentarão uma componente de tensão que remanesce não-nula.

DROZDOV [3] afirma que para um meio sólido viscoelástico a deformação ( )tε tende

a um valor limite ε∞ e sua derivada ( )tε•

tende a zero quanto t →∞ . Entretanto, para

um fluido viscoelástico a taxa de deformação ( )tε•

tende para um valor limite ε•

∞ , que

corresponde a um fluxo newtoniano. Em outras palavras, um sólido viscoelástico

quando submetido ao teste de fluência apresentará uma deformação limitada, enquanto

que o fluido viscoelástico tenderá a uma deformação ilimitada cuja taxa de deformação

se aproximará à de um fluído newtoniano. Esse comportamento é apresentado na figura

(2.6).

Figura 2. 6 - Fluência em material viscoelástico: (A) sólido; (B) fluido

(adaptado de DROZDOV [3])

Page 23: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

11

A distinção entre o comportamento de um fluido e de um sólido pode ser feito

através do número de Deborah. De acordo com LEAL [16], o número de Deborah, De, é

uma grandeza adimensional que permite distinguir, em função da sua magnitude, se um

determinado material tem um comportamento mais próximo de um fluido ou de um

sólido. Essa grandeza pode ser obtida pela relação tempo de relaxação/tempo de

observação. Pequenos valores do número de Deborah correspondem a materiais que têm

tempo suficiente para atingir um estado de relaxação e, por isso, comportam-se como

fluidos. Contrariamente, os materiais que apresentam um valor elevado do número de

Deborah estão mais próximos do comportamento de um material sólido.

DROZDOV [3] apresenta uma expressão para a deformação total ( )tε baseada

nas componentes da deformação de fluência, instantânea (elástica) e newtoniana

(viscosa). Para tal, considera-se um elemento viscoelástico submetido a uma tensão

uniforme 0σ , ao qual se pode associar uma deformação newtoniana nε proporcional ao

tempo (eq. 2.5), uma deformação inicial 0ε instantânea e uma componente deformação

de fluência )(~ tcε , que geralmente não é tão simples de ser determinada, correspondendo

a uma parcela variável ao longo do tempo. A deformação total deve corresponder à

soma de uma eventual deformação instantânea e de uma deformação de fluência,

resultante da soma das parcelas newtoniana e )(~ tcε variável, conforme equação (2.6).

0( )n t tσεη

= (2. 5)

)()( 0 tt cεεε +=

onde: )(~)()( ttt cnc εεε +=

(2. 6)

As propriedades de resposta inicial ao estímulo de forças também não é

uniforme nos materiais viscoelásticos. Baseado no trabalho de Giesekus (1995),

DROZDOV [3] apresenta uma classificação de sólidos e fluidos viscoelásticos em

função do comportamento mecânico inicial, conforme apresentado em seguida:

Page 24: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

12

• Sólidos com viscosidade instantânea ( 0 0ε = ,ε∞ < ∞ , 0=∞

ε );

• Sólidos com elasticidade instantânea ( 0 0ε ≠ ,ε∞ < ∞ , 0=∞

ε );

• Fluidos com viscosidade instantânea ( 0 0ε = ,ε∞ = ∞ , ε•

∞ ≠ ∞ );

• Fluidos com elasticidade instantânea ( 0 0ε ≠ ,ε∞ = ∞ , ε•

∞ ≠ ∞ );

(2. 7)

Alguns polímeros apresentam modelo mecânico com comportamento diferente

dos modelos de fluência convencional dos sólidos e fluidos viscoelásticos. Segundo

DROZDOV [3], em alguns casos a deformação ( )tε em sólidos poliméricos aumenta

monotonicamente e não tende a um valor limitado finito, enquanto que sua taxa de

deformação tende a zero com o aumento do tempo.

De acordo com ROYLANCE [15], a temperatura influencia fortemente as

propriedades do material viscoelástico. Essa influência é observada em um

deslocamento relativo da curva de fluência. Com base nisso, pode-se fazer uma analogia

tempo x temperatura, efetuando-se uma correção no tempo de relaxação do material a

partir de um fator de troca Ta (eq. 2.8). Tal procedimento ocorre através da diferença

dos valores apresentados na curva de fluência, conforme figura (2.7), onde

refτ corresponde a temperatura de referência e τ a temperatura para o qual se deseja

efetuar a correção.

log log logref Taτ τ= + (2. 8)

Figura 2. 7 – Correção da curva de fluência.

(adaptado de ROYLANCE [15]).

Page 25: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

13

Para determinar o fator de troca Ta , parte-se de um gráfico de referência que

apresente diferentes valores do módulo de fluência de um mesmo material para distintas

temperaturas. Deve-se então construir uma curva para a temperatura a ser corrigida

através de uma interpolação dos valores das curvas de temperaturas existentes (fig.

2.8a). Com base nos incrementos necessários para o ajuste, retorna-se à curva principal

corrigindo-se os valores deslocados no eixo ordenado, conforme procedimento

apresentado na figura (2.8).

Figura 2. 8 – Superposição tempo-temperatura

(adaptado de ROYLANCE [15).

O procedimento acima é válido apenas para materiais que possuam tempo de

relaxação simples. Para materiais viscoelásticos complexos, que podem apresentar

tempo múltiplo de relaxação (mais de um ponto de inflexão) devem-se efetuar correções

através das relações de Arhenius, conforme discutido por ROYLANCE [15].

Um outro fator que tem influência significativa no fenômeno da

viscoelasticidade é o efeito do envelhecimento do material, que pode trazer mudanças

nas propriedades viscoelásticas com o tempo. Normalmente o efeito do envelhecimento

induz ao aumento do módulo de elasticidade e à diminuição das deformações de

fluência. DROZDOV [3] argumenta que é conveniente distinguir os efeitos físicos

(reversíveis) e químicos (irreversíveis) do envelhecimento. Os efeitos das alterações

químicas, que são geralmente irreversíveis se processam através de reações químicas

sofridas pelos materiais constituintes e irão induzir a modificações mecânicas com o

tempo, a exemplo do processo de hidratação do concreto. Já os processos físicos estarão

associados ao equilíbrio termodinâmico, e tendem, por exemplo, a reduzir a energia de

entropia e por conseqüência as taxas de fluência e relaxação. Convém relembrar que a

entropia está relacionada à quantidade de energia no corpo que não pode ser

Page 26: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

14

transformada em trabalho. Esses processos ocorrem de maneira peculiar a cada classe

de material viscoelástico, cabendo então uma análise pontual para sua caracterização.

2.6. Modelo molecular

Os principais mecanismos controladores da viscoelasticidade estão relacionados

à reacomodação de partículas da estrutura molecular constituinte. Esse comportamento

é explicado pela teoria molecular. Os mecanismos apresentados se baseiam no trabalho

“Engineering Viscoelasticity”, apresentada por ROYLANCE [15] para polímeros

viscoelásticos.

Segundo essa teoria, quando um material viscoelástico é submetido a um estado

de tensão, os comprimentos e ângulos das ligações moleculares são alterados, e os

átomos são movidos para uma posição de maior energia interna. Caso o material tenha

mobilidade molecular suficiente, rearranjos moleculares de larga-escala podem ser

observados, podendo haver grandes mudanças na conformação molecular.

A combinação da primeira e segunda leis da termodinâmica, encarada a partir de

um incremento no trabalho mecânico fdx , faz interpretar que, para o equilíbrio do

sistema, deverá ocorrer um aumento na energia interna dU ou uma diminuição na

energia de entropia TdS, regida pela seguinte relação:

fdx dU TdS= − (2. 9)

De acordo com a formulação apresentada, a entropia dS é fortemente

influenciada pela temperatura T, e pode ser uma forma conveniente de representar

experimentalmente a relação entre as propriedades físicas do material e a energia de

entropia. A entropia está relacionada com o número de configurações (ou arranjos) de

mesma energia que um dado sistema pode assumir. A interpretação molecular da

entropia sugere que, em uma situação puramente geométrica, quanto maior o número de

configurações, maior a entropia [17].

Nesse contexto, nota-se que a força de retração interna necessária para um

eleastômero (borracha) alongado recuperar sua forma original deverá aumentar em

função da elevação de temperatura, caracterizando uma alta parcela de energia

entrópica. Por outro lado, no caso do aço (metal), essa força de retração irá diminuir

com a elevação da temperatura, ou seja, a expansão térmica atuará aliviando a tensão

Page 27: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

15

interna, apresentando dessa forma uma baixa parcela de energia entrópica. A diferença

nesse comportamento é devida à mobilidade molecular, que está relacionada com a

energia entrópica.

Um mesmo material pode apresentar diferentes valores em sua força interna, que

dependerá da temperatura e conseqüentemente do grau de entropia, caracterizando fases

físicas diferenciadas. Na fase vítrea, atingida em baixas temperaturas, o deslocamento

molecular é relativamente pequeno em relação a sua configuração de origem e, por isso,

na realização do trabalho mecânico fdx observa-se um maior armazenamento da energia

elástica, refletido pela elevada rigidez do material e conseqüente menor deformação. Já

em temperaturas mais elevadas (fase elástica), as cadeias moleculares possuem maior

mobilidade, associadas a um maior valor da conformação molecular.

A mobilidade molecular é influenciada por fatores físicos e químicos, tal qual a

arquitetura molecular, a temperatura ou a presença de fluidos de absorção. O grau de

mobilidade molecular é medido pela taxa de conformação (rate), que pode ser

quantificada pela expressão de Arrhenius:

'exp( )ErateRT−

∝ (2. 10)

Nessa expressão, E’ representa a energia de ativação aparente e R é a constante

universal dos gases perfeitos, R=8,314J/mol-K. Em uma zona de transição do

comportamento vítreo-elástico, define-se uma temperatura de transição Tg, tal que para

T>>Tg (fase elástica) o valor da taxa de conformação (rate) é elevado, permitindo aos

materiais atingir reversibilidade completa de deformação. Para T<<Tg (fase vítrea) os

valores da taxa de conformação são pequenos e a resposta ao estímulo de forças é mais

lenta e, por essa razão, a recuperação de deformação é mais lenta. A região

intermediária é conhecida como “leathery” ou viscoelástica, pois sua resposta é

combinação dos efeitos viscosos das fases vítrea e elástica, conforme apresentado na

figura (2.9).

Page 28: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

16

Figura 2. 9 – Relação entre a taxa de conformação (rate) e o tempo

Para EIRICH [18], o comportamento do sólido viscoelástico resulta do rearranjo

molecular que pode ser reversível ou irreversível, sugerindo que os principais

mecanismos controladores da fluência em sólidos viscoelásticos são: a impulsão

mecânica oriunda de movimentos diferenciais, o escorregamento das partículas e a

difusão molecular. No caso dos fluidos viscoelásticos, a viscoelasticidade é controlada

pelo entrelaçamento de cadeias moleculares com as cadeias adjacentes, sendo que a

dinâmica dessas interações controlam a função de fluência do material, podendo

inclusive não ser constante.

Em função dos efeitos viscosos atuantes nos materiais viscoelásticos, o efeito da

fluência introduz modificações nas propriedades intrísecas do material permitindo uma

nova acomodação molecular, que pode induzir a um comportamento de

incompressibilidade.

2.7. Modelos físicos/matemáticos

Para representar os efeitos viscosos e elásticos presentes nos materiais

viscoelásticos diversos modelos físico-matemáticos são encontrados na literatura e

geralmente são constituídos por diferentes arranjos geométricos de molas

(representando a parcela elástica) e amortecedores (representando a parcela viscosa).

Os principais modelos observados na literatura são apresentados em síntese nas

subseções seguintes.

Page 29: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

17

2.7.1 Modelo de Maxwell

O modelo de Maxwell é constituído pela associação de um elemento elástico

ligado em série a um elemento viscoso, conforme ilustrado na figura (2.10). Esse

modelo foi proposto inicialmente por James Clerk Maxwell, em analogia aos modelos

elétricos.

Figura 2. 10 – Modelo de Maxwell

Aplicado-se uma tensão σ nas extremidades do elemento viscoelástico

apresentado na figura (2.10), observa-se que a deformação total corresponde à soma das

parcelas elástica e viscosa (eq. 2.11), representadas pelos índices e e i respectivamente.

Por outro lado, a tensão se distribui de forma constante nas parcelas elástica e inelástica,

conforme expressão (2.12).

ie ttt )()()( εεε += (2. 11)

ie ttt )()()( σσσ == (2. 12)

As relações constitutivas dos elementos componentes da parcela elástica e

viscosa assumem a seguinte forma:

( ) . ( )e et E tσ ε= (2. 13)

( ) . ( )i it tσ η ε•

= (2. 14)

Combinando as expressões anteriores chega-se a uma expressão diferencial para

o modelo de Maxwell, conforme apresentado na equação (2.15):

ie ttt )()()(•••

+= εεε ησσε )()()( t

Ett +=

••

(2. 15)

Page 30: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

18

A partir da equação (2.15) pode-se estudar o comportamento dos materiais

viscoelásticos de Maxwell. Primeiramente, será efetuada uma análise a partir do teste de

fluência. Para tal, aplica-se uma tensão 0σ que se mantém constante para t >0,

conforme expressão:

)(.)( 0 tut σσ = (2. 16)

Nessa expressão acima, u(t) representa a função passo unitário (Heaviside) e δ a

função delta de Dirac. Admite-se inicialmente que o material não está sob ação de

carregamento, conforme condições iniciais apresentadas na expressão (2.17).

0

0

0

0,0;( ) 1,0;

0,5;

t tu t t t

t t

<⎧⎪= >⎨⎪ =⎩

; 0( ) 0; 0

( ) 1

tt t

t dt

δ

δ∞

−∞

⎧ ⎫⎪ ⎪∞ =⎪ ⎪⎪ ⎪= ≠⎨ ⎬⎪ ⎪⎪ ⎪=⎪ ⎪⎩ ⎭∫

0)0( =−ε 0)0( =−σ (2. 17)

Aplicando o operador transformada de Laplace na equação (2.15) obtém-se:

⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

+⎪⎭

⎪⎬⎫

⎪⎩

⎪⎨⎧

=⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

••

ησσε )()()( tL

EtLtL

[ ] ησσσεε )()(.)0()(.)0( tL

EtLstLs +

+−=+−

−−

(2. 18)

Introduzindo as condições iniciais (eq. 2.17) na equação (2.18), resulta:

( ) ( )

. ( )L t L t

s L t sEσ σ

εη

⎡ ⎤⎣ ⎦= +

(2. 19)

Após a aplicação da transformada Laplaciana na equação (2.16), tem-se:

Page 31: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

19

s

tuLtL 00 )()(

σσσ ==

(2. 20)

Rearranjando a equação (2.19) e com base no resultado de (2.20) temos:

200

..)(

ssEtL

ησσ

ε +=

(2. 21)

Reescrevendo (2.21) na forma do operador Laplaciano e aplicando a função

passo unitário chega-se facilmente a uma função que irá fornecer a deformação sofrida

pelo material no instante de tempo t:

⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

+⎭⎬⎫

⎩⎨⎧= )(.)()( 00 tutLtu

ELtL

ησσ

ε

)(.)( 00 tutE

t ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=ησσ

ε

(2. 22)

A resposta ao teste de fluência para o elemento de Maxwell é apresentada na

figura (2.11), destacando-se a variação temporal da tensão e deformação ao longo do

teste de fluência.

Figura 2. 11 – Resposta ao teste de fluência para o elemento de Maxwell

Com base no gráfico da figura (2.11), observa-se que no instante de aplicação da

carga ( 0 0t t= = ) o elemento de Maxwell responde com deformação equivalente à

Page 32: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

20

deformação elástica. Nos instantes de aplicação de carga seguintes ( 10 ttt << ),

observa-se um incremento na deformação advinda do comportamento viscoso,

conforme descrito na equação (2.22). No instante 1tt = , após a remoção da carga

aplicada, nota-se o fenômeno de reversibilidade de fluência. Dessa forma, o material

recupera o estado de deformação sofrido pela parcela elástica, atingindo um estado de

deformação menor que será equivalente ao grau de deformação perdida pela parcela

viscosa.

Através da equação (2.22), nota-se que se a mola for infinitamente rígida (E =∞)

o modelo se reduz ao fluido newtoniano. Da mesma forma se o amortecedor se tornar

infinitamente viscoso (η =∞), o modelo se reduz a uma mola (elástico).

A análise dos limites da equação (2.22) permite extrair as seguintes conclusões:

E0)0(

σε =+

(2. 23)

∞→∞)(ε (2. 24)

De acordo com CHRISTENSEN [6], o modelo de Maxwell prevê que há um

aumento ilimitado da deformação. Isto é uma característica de muitos fluidos, e por isso

os materiais que podem ser descritos pela equação (2.22) são conhecidos como fluidos

de Maxwell.

Analisa-se agora o elemento de Maxwell submetido ao teste de relaxação,

através da aplicação de uma deformação constante:

)().()( 0 tutt εε = (2. 25)

)(1)(.)(. tLtLEstLs σ

ησε +=

)(1. 0 tLEs

ss σ

ηε

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=

sE

EtL+

=

η

εσ 1..)( 0

⎪⎭

⎪⎬⎫

⎪⎩

⎪⎨⎧

=− tE

eLEtL.

0 ..)( ηεσ

Page 33: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

21

tE

etEt ηεσ−

= ).(.)( 0 (2. 26)

A curva de relaxação para um elemento de Maxwell é apresentada na figura

(2.12). Através da análise dos limites da expressão (2.26), pode-se observar que

inicialmente a tensão no elemento é equivalente a tensão em regime elástico (eq. 2.27),

que decai exponencialmente até um valor que tenderá a zero (eq. 2.28).

0.)0( εσ E=+ (2. 27)

0)( =∞σ (2. 28)

Figura 2. 12 – Configuração típica de um corpo submetido a um teste de relaxação

O comportamento do elemento de Maxwell é estritamente peculiar ao de um

fluido viscoelástico, tratando-se dessa forma de um fluido não-newtoniano. Na

literatura, observa-se uma grande quantidade de materiais que podem ser enquadrados

como fluidos viscoelásticos, que são principalmente observados em alimentos e

componente biológicos.

NAGAYAMA et. al [19] utilizaram um modelo de Maxwell composto por

dois elementos ligados em paralelo para modelar o comportamento de células do tecido

muscular de artérias submetidas a pressões do fluxo sanguíneo.

No artigo intitulado “Rheology for the food industry”, MUNIZAGA e

CÁNOVAS [20] descrevem uma série de alimentos que podem ser representados pelo

modelo de Maxwell, a exemplo da maionese e ketchup.

2.7.2 Modelo de Kelvin

De acordo com o modelo reológico proposto por Lord Kelvin, o efeito da

viscoelasticidade pode ser representado pela combinação de um elemento viscoso e um

elástico, ligados em paralelo, conforme figura (2.13).

Page 34: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

22

Figura 2. 13 – Representação do modelo de Kelvin

A aplicação de uma tensão σ nas extremidades do elemento de Kelvin provocará

uma distribuição de tensões nas parcelas elástica e viscosa, de forma que a tensão total

atuante no elemento será equivalente a soma de cada parcela (eq. 2.29). Por outro lado,

como os elementos estão interconectados em suas extremidades, as deformações

sofridas pela parcela elástica e viscosa deverão apresentar igual valor, conforme

equação (2.30), onde e representa a parcela elástica e i representa a parcela viscosa.

ie ttt )()()( σσσ += (2. 29)

ie ttt )()()( εεε == (2. 30)

Combinando as expressões (2.29) e (2.30) às relações constitutivas elásticas e

viscosas, eq. (2.13) e eq. (2.14), obtém-se a equação diferencial do modelo de Kelvin,

apresentada a seguir:

ie ttt )()()( σσσ += ησε

ηε )()()()( tttEt =+•

(2. 31)

Para analisar o comportamento do modelo de Kelvin quando submetido ao teste

de fluência, a equação diferencial (2.31) será resolvida através da aplicação do operador

Laplaciano, conforme procedimento apresentando anteriormente para o modelo de

Maxwell. Chega-se então a expressão (2.32), onde u(t) corresponde a função

Heavisidade. Para a tensão 0σ atuando no intervalo de (0, t1), o comportamento da

história de deformação )(tε é o indicado na figura 2.14.

)(.1)(.

0 tueE

ttE

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡−=

−ησ

ε (2. 32)

Page 35: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

23

Figura 2. 14 – Resposta ao teste de fluência para o elemento de Kelvin

Através da análise de limites da equação (2.32) pode-se provar que

imediatamente após a aplicação da carga, o elemento de Kelvin submetido ao teste de

fluência apresenta uma deformação instantânea nula (eq. 2.33). Por outro lado, se o

carregamento for mantido constante no tempo, o valor da deformação tende para um

valor assintótico apresentado na equação (2.34). Entretanto, após a remoção da carga, a

deformação decai exponencialmente até o valor de deformação nula.

0)0( =+ε (2. 33)

E0)(

σε =∞

(2. 34)

Submetendo o elemento de Kelvin ao teste de relaxação, através da análise da

equação (2.32), sob a aplicação súbita de uma deformação 0ε mantida constante, irá se

obter:

ση

εη

ε LLEL .1. =+•

ση

εη

Ls

Es .11. 0 =⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

)(..)(..)(..)(.... 000000 tuEtLtuLEtLsEL εδεηεδεηεεησ +=+=+=

[ ])(.)(.)( 0 tuEtt += ηδεσ

(2. 35)

Com a análise dos limites da expressão (2.35) pode-se observar que, após a

aplicação da carga, a tensão se mantém constante, conforme a equação (2.37 ).

Page 36: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

24

∞→+ )0(σ (2. 36)

0.)( εσ E=∞ (2. 37)

O comportamento do elemento de Kelvin é típico de um sólido viscoelástico. Na

literatura, podem-se destacar aplicações do modelo de Kelvin no campo da engenharia

geotécnica, geologia e indústria de alimentos. MAKRIS [21] apresenta um modelo

viscoelástico de Kelvin, combinado a partir de 2 elementos, para análise de fundações

frente a resposta sob o efeito de terremotos. Como aplicação na indústria de alimentos,

KUO e WANG [22] utilizaram um esquema composto de 6 elementos de Kelvin para

modelar o comportamento de diversas variedades de queijo, objetivando o

desenvolvimento de uma metodologia de rotulação de qualidade através de uma análise

de fluência viscoelástica.

2.7.3 Modelo de Burgers

O modelo proposto por Burger consiste na junção de um elemento de Kelvin

associado a um elemento viscoso e outro elástico em série, conforme figura (2.15).

Figura 2. 15 – Modelo reológico de Burgers

Delimitando 3 zonas de deformação, em que a zona (1) corresponde à parcela

viscosa, a zona (2) ao elemento de Kelvin e a zona (3) à parcela elástica, pode-se

afirmar que a deformação total no elemento é dada por:

)()()()( 321 tttt εεεε ++= (2. 38)

Redefinindo a expressão (2.38) em termos de taxa de deformação, e combinando

com as expressões (2.13), (2.14) e (2.31), chega-se a formulação diferencial para o

modelo de Burges apresentada na equação (2.39).

Page 37: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

25

1 2 1 2 1 2 11

2 2 1 2 1 2

E E E E E E EEσ σ σ ε εη η η η η η

•• • •• •⎛ ⎞+ + + + = +⎜ ⎟⎝ ⎠

(2. 39)

O modelo de Burgers tem sido um dos modelos reológicos mais utilizados na

descrição do comportamento viscoelástico de misturas betuminosas, a exemplo dos

estudos realizados por VALE e MELO [23].

2.7.4 Modelo do sólido linear padrão

Aparentemente parece não haver uma padronização na definição do chamado

modelo do sólido viscoelástico padrão. Entretanto, os dois modelos apresentados na

literatura estão relacionados à associação de dois elementos elásticos e um elemento

viscoso.

O modelo mais difundido associa um elemento de Maxwell a um elemento

elástico conectados em paralelo (fig. 2.16). Esse modelo é discutido por

CHRISTENSEN [6], SIMO e HUGHES [24], DROZDOV [3], FINDLEY et. al. [25] e

VINOGRADOV e MALKIN [26]. A outra representação não será abordada nesse

trabalho.

Figura 2. 16 – Elemento sólido viscoelástico linear

Sendo eσ e mσ as tensões na parcela elástica e no elemento de Maxwell

respectivamente, representados pelos índices 1 e 2, a distribuição de tensões no

elemento é dada por:

)()()()( 221 tttt iee σσσσ +== (2. 40)

Rearranjado a expressão (2.40) e aplicando as equações (2.13) e (2.14) chega-se

à equação diferencial para o modelo do sólido padrão apresentado na equação (2.41).

Page 38: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

26

)()()1()()(

2

1

2

1

22

tEtEEt

Et ε

ηε

ησσ

++=+•

(2. 41)

O sólido viscoelástico linear ao ser submetido ao ensaio de relaxação, fazendo-

se 0)( εε =t e considerando a equação (2.41), passará a ser representado pela equação

diferencial (2.42).

02

1

22

)()( εηη

σσ EtE

t+=+

(2. 42)

A solução geral da equação (2.42) é dada pela expressão (2.43), onde )0( +σ

representa a tensão no corpo viscoelástico imediatamente após a aplicação da carga.

[ ])0()exp()( 012

201

++−⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−+= σεη

εσ EtE

Et (2. 43)

Integrando a equação (2.41) com relação ao tempo, objetivando a determinação

de )0( +σ a partir do instante imediatamente anterior à aplicação da deformação no

tempo t(0-), obtém-se:

∫∫∫∫−−−−

++=+•

•nnnn tttt

dttEdttEEdttdt

Et

02

1

02

1

0 20 2

)()()1()()( εη

εησσ

(2. 44)

Admitindo que no instante inicial da aplicação da deformação (teste de

relaxação) instante t=t(0-), o corpo apresenta estado de tensão e deformação nula, o

resultado da equação (2.44) no instante t=tn se apresenta na forma:

)(1)(

2

1

2n

n tEE

Et

εσ

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=

(2. 45)

Fazendo tn=0+ na equação (2.45), observa-se que imediatamente após a

aplicação da deformação, o modelo do sólido viscoelástico linear apresenta uma

Page 39: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

27

resposta em tensão total que corresponde a um comportamento elástico com rigidez

equivalente a soma dos elementos elásticos associados em paralelo, ou seja:

( ) 00)0( εσ E=+ ,

onde 210 EEE +=

(2. 46)

Substituindo o valor da tensão inicial, advindo da equação (2.46), na expressão

(2.43), pode-se estabelecer o valor da tensão para cada instante de tempo )(tσ na

forma:

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛−+= )exp(1)(

2

2

0

1

0

10 tE

EE

EEt

ηεσ

(2. 47)

Pela definição da eq. (2.04), a razão entre a tensão total e a deformação

constante é definida como função de relaxação )(tG , de forma que pode-se reescrever a

equação (2.47) na forma:

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛−+== )exp(1)()(

2

2

0

1

0

1

0

tE

EE

EEttG

ηεσ

(2. 48)

O modelo viscoelástico do sólido linear padrão tem sido amplamente utilizado

em modelagens de aplicações na engenharia estrutural, mecânica e geotécnica.

Tipicamente, aplicações podem ser feitas em materiais que apresentem fluência

viscoelástica, a exemplo do concreto, algumas variedades de madeira, materiais

poliméricos, dentre outros.

2.7.5 Generalização dos modelos básicos

Os modelos mais simples podem ser generalizados por um número finito de

combinações dos elementos básicos. Esse processo permite particularizar alguns

fenômenos viscoelásticos que não conseguem ser representados com precisão pelos

modelos tradicionais.

Para o modelo de Maxwell, as combinações podem ser feitas através da

interligação de elementos básicos em série ou em paralelo. Na combinação em série

Page 40: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

28

apresentada na figura (2.17), o comportamento é semelhante ao modelo básico, sendo

que as parcelas elástica e viscosa resultantes correspondem ao somatório da

contribuição de cada elemento básico, conforme equação (2.49).

Figura 2. 17 – Elemento de Maxwell generalizado em série

∑∑==

••

+=n

i i

i

i i

tE

tt11

1)(1)()(η

σσε (2. 49)

Já na combinação dos elementos de Maxwell em paralelo, chamado de modelo

de Maxwell-Weichert, apresentado na figura (2.18), a influência de cada elemento de

Maxwell produz alteração no tempo de relaxação. Nesse modelo, a tensão e deformação

total podem ser obtidas através da análise individual de cada elemento.

Figura 2. 18 – Elemento de Maxwell generalizado em paralelo (Maxwell-Weichert)

De acordo com FINDLEY et. al [25], cada equação diferencial do elemento de

Maxwell pode ser reescrita sob a forma de um operador diferencial em relação ao tempo

D = d/dt. No modelo de Maxwell-Weichert, a tensão total corresponde à soma das

tensões em cada elemento de Maxwel que compõe o novo sistema, conforme a seguinte

equação:

1 1 1

n n

ii i

i i

DDE

σ σ ε

η= =

⎛ ⎞⎜ ⎟⎜ ⎟= =⎜ ⎟+⎜ ⎟⎝ ⎠

∑ ∑

(2. 50)

Eliminando o operador D do denominador da equação (2.50) através de uma

manipulação algébrica, chega-se facilmente à equação (2.51), que representa uma

expressão para o modelo generalizado de Maxwell-Weichert.

Page 41: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

29

εηηηη

ση ⎥

⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛++⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+=

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+∏

=

......1.1...1.11

331133221 ED

ED

ED

ED

EDn

i ii

(2.51)

Já na associação de um número finito de elementos de Kelvin em paralelo,

dando origem ao modelo generalizado de Kelvin-Voigt (fig. 2.19), o sistema irá se

comportar como um elemento com rigidez e viscosidade equivalentes ao somatório de

cada propriedade associada ao n-ésimo elemento de Kelvin, conforme equação (2.52).

Figura 2. 19 – Elemento de generalizado Kelvin Voigt em paralelo

∑∑=

=

+=n

ii

n

iiE

11ηεεσ

(2. 52)

Na combinação de elementos de Kelvin em série, observa-se que a deformação

total corresponde à soma das deformações nos elementos básicos (fig. 2.20), conforme

equação (2.53).

Figura 2. 20 – Modelo generalizado de Kelvin-Voigt em série.

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

== ∑∑==

n

i ii

n

ii ED11

σεε (2. 53)

Para a eliminação do operador diferencial D da equação (2.53), faz-se

novamente uma operação algébrica, cuja expressão final é dada pela equação (2.54).

Page 42: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

30

( ) ( )( ) ( )( )[ ]......... 331133221

++++++=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

=

EDEDEDEDEDn

iii ηηηησηε

(2.54)

2.8 Representação por integrais hereditárias

Até a presente seção, os modelos viscoelásticos descritos foram apresentados na

forma diferencial. Uma outra maneira bastante difundida na literatura de se representar

o comportamento viscoelástico é através da chamada forma integral.

Esse procedimento é possível, no caso da viscoelasticidade linear, graças ao

emprego do princípio de superposição de Boltzmann (BERGER [27]). Para descrever a

formulação integral da viscoelasticidade linear adotam-se novamente das hipóteses as

seguintes considerações (DROZDOV [3]):

Idealiza-se um corpo viscoelástico inicialmente em seu estado natural (livre de

tensões). No instante 0τ ≥ uma força de valor unitário é aplicada, e a deformação

longitudinal e(t,τ) em cada instante t τ≥ é apresentado pela forma:

0 1( , ) ( ) ( , )e t e e tτ τ τ= + (2. 55)

Na formulação apresentada em (2.55), 0e representa a deformação elástica

instantânea e0, ao passo que 1e traduz a deformação adicional advinda dos efeitos

viscoelásticos. De acordo com o princípio de superposição de Boltzmann, a deformação

( )tε resultante da história de tensão ( ) | (0 )t tσ τ≤ ≤ é igual à soma das deformações

causadas pelas variações elementares de tensões:

0

( )( ) ( , )t dt e t d

dσ τε τ ττ

= ∫ (2. 56)

Para tal, o comportamento da tensão no tempo é idealizado a partir da curva

apresentada na figura (2.21), onde se podem observar os elementos infinitesimais e o

tempo 0τ ≥ de aplicação da força.

Page 43: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

31

Figura 2. 21 – Variação da deformação no tempo

Integrando por partes a equação (2.56), obtém-se:

τσττσττσ

ττττσε τ

τ dttYtEtdtetet

ttt )(),(

)()()(),(|),()()(

000 ∫∫ ∂

∂+=

∂∂

−= ==

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+−=Υ ),(

)(1),( ττ

τ tCE

t

(2. 57)

Como a tensão aplicada apresenta valor unitário, observa-se que na expressão

(2.57) a função ),( τtΥ corresponde à deformação total advinda da parcela 10

−= Ee e

1),( etC =τ . Naturalmente, se E for constante, a derivada da parcela ),( τtΥ e,

conseqüentemente, o respectivo integrando da expressão (2.57) é nulo.

A partir do operador K(t,τ) aplicado a ),( τtΥ , definido por DROSDOV [3]

como “creep kernel”, a equação (2.57) pode ser representada sob a forma da equação

(2.58), onde ),( τtC contabiliza uma medida dos incrementos de deformação

viscoelásticos:

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+

∂∂

−= ),()(

1)(),( τττ

τ tCE

tEtK

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ += ∫

tdtKt

tEt

0)(),()(

)(1)( ττστσε

(2. 58)

Page 44: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

32

Na prática, o operador “creep kernel” é um controlador do parâmetro de

fluência, e a parcela ),( τtC irá representar a influência do envelhecimento no material

viscoelástico. Idealiza-se que o módulo de elasticidade se mantém constante, de forma

que EtE =)( . Pode-se também caracterizar o operador K “creep kernel” unicamente

em função da diferença de tempo ( τ−t ), de forma que a equação (2.59) pode ser

reescrita sob a forma de uma integral de convolução:

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ −+= ∫

tdtKt

tEt

0)()()(

)(1)( ττστσε

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ −+= ∫

•tdtCt

tEt

0)()()(

)(1)( ττστσε

onde: •

= 0K(t) C e )(0 tECC =

(2. 59)

A equação (2.59) é conhecida como equação de fluência. De forma similar,

podemos estabelecer uma equação integral que correlacione a tensão viscoelástica em

função da deformação, também conhecida como equação de relaxação.

ττεττχεσ dtttEt

t)(),()()()(

0∫ ∂∂

−=

Onde ),()(),( τττχ tQEt +=

(2. 60)

A função ),( τtQ quantifica uma medida do parâmetro de relaxação do material

viscoelástico, que no instante τ = 0 corresponde a 0),( =τtQ . Com base no funcional

),( τtR , definido por DROSDOV [3], a equação (2.60) pode ser reescrita sob a forma:

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ −= ∫ ττετεσ dtRttEt

t)(),()()()(

0

onde:

1 1( , ) ( , )( ) ( )

R t Q tE t t E

τ ττ

⎡ ⎤∂= +⎢ ⎥∂ ⎣ ⎦

(2. 61)

De maneira similar às simplificações adotadas na equação de fluência, a equação

de relaxação também pode ser reescrita unicamente em função do tempo ( τ−t ), de

forma que a equação (2.61) pode ser reapresentada como:

Page 45: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

33

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ −−=⎥⎦

⎤⎢⎣⎡ −−= ∫∫

ττετεττετεσ dtQttEdtRttEttt

)()()()()()()()()(0 00

onde:

)()( 0 tQtR•

−= e EtQtQ )()(0 =

(2. 62)

Em geral, as equações integrais são expressas em termos das funções de fluência

e de relaxação, conforme observado em CHRISTENSEN [6], BLAND [5], BERGEN

[27] e VINOGRADOV e MALKIN [26]. Dessa forma, DOZDROV [3] correlaciona a

função Q(t) com a função de relaxação )(tG , de forma que:

1)()( 0 += tQtG (2. 63)

Com o uso da expressão (2.63) e integração por partes, a equação (2.62) pode ser

apresentada na forma (2.64), obtendo desta maneira uma equação integral para a tensão

em função da taxa de deformação e da função de relaxação )(tG .

=⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−+−−= ∫

•== ττεττετεσ τ

τ dtGtGttEttt )()(|)()()()()(0 00

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ −=

∫ ττετσ dtGEtt

)()()(0

(2. 64)

No capítulo 4, serão discutidas as técnicas empregadas para a solução das

equações integrais apresentadas, baseadas principalmente no método dos elementos

finitos, que será focado no próximo capítulo.

Page 46: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

34

3. O método dos elementos finitos

Em paralelo aos avanços tecnológicos, a engenharia tem aprimorado seus

métodos e processos em busca da obtenção de melhores resultados. Os métodos

numéricos têm acompanhado essa tendência e a cada dia busca-se por formulações

numéricas mais precisas e computacionalmente eficientes.

O método dos elementos finitos já é bastante difundido na solução de problemas

que envolvem equações diferenciais. Teve suas origens na década de 50, sobretudo na

aplicação à indústria aeroespacial e à engenharia estrutural, sendo posteriormente

estendido na década de 70 à mecânica dos fluidos e outras áreas a partir dos princípios

da análise funcional. Formulações distintas foram desenvolvidas nas décadas seguintes,

principalmente em função das oscilações numéricas observadas nos problemas da

mecânica dos fluidos. Uma das linhas de maior destaque desenvolvida nesse período

envolve a chamada formulação mista em elementos finitos. Maiores detalhes sobre o

desenvolvimento das formulações em elementos finitos ao longo da história podem ser

observados em LOGAN [28] e HUEBNER e THORNTON [29].

Serão apresentados na seção (3.1) os conceitos elementares da formulação

clássica do método dos elementos finitos. Em seguida, discute-se a formulação mista do

MEF, destacando-se os critérios de estabilidade numérica. As formulações estabilizadas

são discutidas na seção (3.4), enfatizando a formulação Galerkin Least Square,

doravante chamada de (GLS), e a de estabilização direta da pressão, que será

referenciada como (Bochev), formulações estas empregadas no desenvolvimento deste

trabalho.

3.1 Conceitos básicos

O foco principal do método dos elementos finitos consiste na transformação da

formulação diferencial do problema em uma forma integral variacional, também

conhecida como formulação variacional ou formulação fraca. A partir da formulação

variacional e da discretização espacial e temporal (problemas transientes) da região em

análise (domínio), a solução que em geral pertence a um espaço de dimensão infinita

(solução contínua) é aproximada por elementos de espaço de dimensão finita (solução

discreta). Esta solução aproximada é chamada de aproximação de elementos finitos. O

problema então recai na resolução de um sistema de equações algébricas cuja solução

corresponde aos valores aproximados nos nós dos elementos.

Page 47: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

35

Para tal procedimento, é necessário ter o conhecimento da equação diferencial

regente do problema e das restrições às quais a mesmo está sujeita, caracterizando dessa

forma um problema de contorno e de valor inicial.

De forma geral, o objetivo é obter a solução u de um problema que atenda ao

conjunto de equações diferenciais no domínio Ω definidas pelo operador diferencial

matricial A(u) (3.1), respeitando as condições no contorno Γ regidas pelo operador

diferencial matricial B(u) (3.2).

1

2

( )( )

( )n

AA

A

⎧ ⎫⎪ ⎪⎪ ⎪= =⎨ ⎬⎪ ⎪⎪ ⎪⎩ ⎭

uu

Α(u) b

u

em Ω

(3.1)

g

u

uu

B(u) =

⎪⎪⎭

⎪⎪⎬

⎪⎪⎩

⎪⎪⎨

=

)(

)()(

2

1

nB

BB

em Γ

(3. 2)

Através da discretização espacial 1,..., e

hnΠ = Ω Ω , a geometria da região será

decomposta em partições do domínio, denominadas de malha de elementos finitos,

composta por ne elementos e nn pontos nodais, satisfazendo: 'e eΩ ∩Ω ≠∅ se 'e e≠

(fig. 3.1). Dessa forma, eΩ pode ser mapeado no correspondente elemento padrão

regular através de mapeamentos isoparamétricos, sendo o domínio de modelagem dado

pela união de todos os elementos finitos, tal que: 1 1

e ecn n

e ece ec= =

Ω∪Γ = Ω ∪ Γ∪ ∪ (fig. 3.1),

onde ecΓ denota o contorno dos elementos em contato com eΓ . A forma geométrica

dos elementos da malha pode assumir diversas configurações, sendo as mais comuns

para problemas bidimensionais as geometrias triangulares e quadriláteras.

Page 48: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

36

Figura 3. 1 – Caracterização do domínio e contorno

No domínio da região ilustrada na figura (3.1), a solução aproximada em cada

elemento da malha (um) é obtida através da interpolação dos valores nodais ami de cada

i-ésimo ponto nodal do elemento (constituído por r pontos nodais ) da malha m, através

das funções Ni, conforme equação (3.3). Convém ressaltar que a aproximação é feita

para todos os graus de liberdade nodal (componentes do vetor solução).

1

rh

m m mi ii

u u a N=

≈ =∑ com m = 1, ..., ne (3. 3)

De acordo com ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30], os valores de ami da expressão

(3.3) são parâmetros a serem determinados. As funções Ni utilizadas para aproximar a

solução nodal no interior dos elementos são conhecidas como funções de interpolação

(funções de forma), que devem ser linearmente independentes. MANSUR [31] discorre

que a escolha das funções de interpolação deve ser feita de tal maneira que, quando o

número de partições no domínio tenda a um valor infinito, a solução aproximada deve

tender ao valor exato, sendo este critério conhecido por completividade.

Pode-se também representar a solução aproximada em qualquer ponto do

domínio u = u1, u2, ..., unglT (vetor contendo aproximações de distintos graus de

liberdade) através de uma relação global entre os parâmetros a serem determinados em

cada elemento da malha (arranjados em uma forma matricial global) e suas respectivas

funções de forma (interpolação) (eq. 3.4).

Page 49: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

37

h≈ =u u aN

Onde: 11 1

1

r

m mr

a a

a a

⎡ ⎤⎢ ⎥= ⎢ ⎥⎢ ⎥⎣ ⎦

a…

1j

jm

⎡ ⎤⎢ ⎥= ⎢ ⎥⎢ ⎥⎣ ⎦

NN

N e 1 2[ ]j T

kN N N=N

(3. 4)

A partir da discretização do domínio em elementos finitos, as funções de forma

Ni serão definidas localmente em cada elemento, tendo seus valores atribuídos a partir

de seus nós. É comum na literatura rotular a função de interpolação através de sua

classe. Uma função de interpolação pertence à classe Cn-1 se ela é de ordem n, ou seja,

se sua derivada de ordem (n-1) existe (é finita). Neste caso, tanto a função como suas

derivadas até ordem (n-1) devem ser contínuas.

Conforme discutido anteriormente, o objetivo é transformar a forma diferencial

em uma forma integral variacional, que pode ser de maneira geral representada pela

equação (3.5). A partir dessa formulação será permitida a obtenção dos parâmetros

desconhecidos ami da expressão (3.3), calculados com uma malha de ne elementos:

1

e

e e

n

j j j j je

d d d d dΩ

=Ω Γ Ω Γ ΩΓ

⎛ ⎞Ω+ Γ = Ω+ Γ = Ω⎜ ⎟⎜ ⎟

⎝ ⎠∑∫ ∫ ∫ ∫ ∫G g G g F

(3. 5)

A forma integral da expressão (3.5) para cada problema específico pode ser

obtida através da aplicação do método dos resíduos ponderados. Uma outra maneira de

se obter a forma (3.5) é através da determinação do funcional variacional.

No método dos resíduos ponderados, os resíduos ( ) ( )h −A u A u e ( ) ( )h −B u B u

são multiplicados por funções vetoriais ( )1

T

j jw w=w com j = (1,...,r),

linearmente independentes (funções de ponderação), e em seguida são integrados em Ω

e Γ , respectivamente na seguinte forma:

( ) ( ) 0TT

jj d dΩ Γ

Ω+ Γ =∫ ∫w A aN w B aN Para j = 1 a ne (3. 6)

Page 50: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

38

Na prática, é possível reduzir a ordem dos operadores A(u) e B(u) da expressão

(3.6) através da integração por partes, para casos unidimensionais, e do teorema de

Gauss para casos bidimensionais, obtendo-se assim a formulação variacional associada.

Maiores detalhes sobre o procedimento podem ser observados em MANSUR [31],

ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30] e BATHE [32].

A forma de definição da função de ponderação wj irá determinar o método de

aproximação em elementos finitos. Os mais difundidos na literatura são:

• Método de Galerkin: No método de Galerkin, adota-se como função de

ponderação a mesma função utilizada como função de forma

(interpolação). Por produzir matrizes simétricas, esse método é bastante

empregado na literatura.

• Ponderação por mínimos quadrados (least square): No método dos

mínimos quadrados, adota-se como função de ponderação o próprio

resíduo A(u) derivado do operador diferencial.

De acordo com ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30], na literatura, a denominação

de método de Petrov-Garlerkin é sempre associado às estratégias em que o uso da

função de ponderação é tal que j jw N≠ .

As aplicações dos modelos empregados nesse trabalho atendem à equação de

Stokes para a elasticidade linear compressível e incompressível, o escoamento de

fluidos incompressíveis em regime estacionário (fluxo de Stokes) e para a

viscoelasticidade linear, sendo regidas pelas equações (3.7) e (3.8), onde div

corresponde ao operador divergente. Além disso, b está assocido à ação de forças de

massa, p é a pressão e K o módulo de elasticidade volumétrica (Bulk Module).

div= − =A(u) σ b (3.7)

div pK

= − =A(u) u (3. 8)

A equação (3.7) é na verdade uma simplificação da equação geral de

conservação de momento de Navier-Stokes, obtida através da análise de equilíbrio de

um volume de controle elementar, desprezando-se a variação temporal de u. Além

disso, a expressão (3.8) representa a relação constitutiva volumétrica, relacionada à

Page 51: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

39

conservação da massa. Maiores detalhes podem ser observados em FOX &

MCDONALD [33].

As componentes de uT=[u,v,w] na mecânica dos sólidos representam as

componentes dos deslocamentos, enquanto que na mecânica dos fluidos o vetor u

corresponde as componentes da velocidade [30]. Em ambos os casos, as componentes

do tensor de tensão σ serão de maneira geral dependentes das componentes de u através

das relações constitutivas, discutidas previamente no capítulo 2.

O tensor σ é simétrico, a menos que se considere efeitos de rotação na equação

de equilíbrio, e pode ser decomposto na forma expressa em (3.9a) (FOX &

MCDONALD [33]). Em função da simetria, pode-se também representar σ em uma

forma vetorial, expressa em (3.9b).

0 0

0 0

0 0

xx xy xz xx xy xz

yx yy yz yx yy yz

zx zy zz zx zy zz

p p

p p

p p

σ τ τ σ τ τ

τ σ τ τ σ τ

τ τ σ τ τ σ

⎡ ⎤ ⎡ ⎤+⎛ ⎞⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎜ ⎟⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎜ ⎟= = − + +⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎜ ⎟⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎜ ⎟ +⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎝ ⎠⎣ ⎦ ⎣ ⎦

σ

T

xx yy zz xy xz yzσ σ σ τ τ τ⎡ ⎤= ⎣ ⎦σ

(3. 9a) (3. 9b)

Na equação (3.9a), as componentes iiσ se associam à tensão normal, τ à tensão

tangencial (tensão de cisalhamento), e p representa a pressão estática associada a parte

isotrópica do tensor de tensões.

A formulação aqui apresentada é complementada pelas condições de contorno

especificadas em (3.10) e (3.11). A equação (3.10) faz referência à condição de

contorno de Dirichlet, utilizada quando o valor da velocidade (ou deslocamento) é

conhecido em uma região do contorno uΓ . No caso em que se conhecem as

componentes das forças atuantes por unidade de área da superficie em tΓ , faz-se uso da

equação (3.11), conhecida como condição de Neumann.

gu = em uΓ (3.10)

tσ.n = em tΓ (3.11)

onde u tΓ = Γ ∪Γ

Page 52: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

40

De posse da equação diferencial regente do problema e das condições de

contorno associadas, pode-se finalmente estabelecer uma forma fraca da equação de

Stokes para a aproximação em elementos finitos. A seguir, será apresentada uma síntese

do processo utilizado por ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30], através do estabelecimento

de uma expressão funcional via princípio dos trabalhos virtuais. Para tanto, a equação

de equilíbrio (3.7) pode ser agora reescrita em função de suas componentes, de maneira

que:

⎪⎭

⎪⎬

⎪⎩

⎪⎨

⎧=

⎪⎭

⎪⎬

⎪⎩

⎪⎨

⎧+

⎪⎪⎪

⎪⎪⎪

⎪⎪⎪

⎪⎪⎪

∂+

∂∂

+∂

∂∂

∂+

∂+

∂∂∂

+∂

∂+

∂∂

000

z

y

x

yzxzzz

yzyxyy

xzxyxx

bbb

yxz

zxy

zyx

ττσ

ττσ

ττσ

(3. 12)

Partindo da expressão geral (3.6), a variação [ ], , Tu v wδ δ δ δ=u corresponde à

função de ponderação (forma vetorial) equivalente ao método dos resíduos ponderados:

xyxx xzx

yy yx yzTy

V V

yzxzzzz

u bx y z

dV v b dVy x z

w bz x y

τσ τδ

σ τ τδ δ

ττσδ

⎡ ⎤∂⎛ ⎞∂ ∂− + + + +⎢ ⎥⎜ ⎟∂ ∂ ∂⎝ ⎠⎢ ⎥⎢ ⎥∂ ∂ ∂⎛ ⎞⎢ ⎥= − + + + +⎜ ⎟∂ ∂ ∂⎢ ⎥⎝ ⎠⎢ ⎥

∂⎛ ⎞∂∂⎢ ⎥− + + +⎜ ⎟⎢ ⎥∂ ∂ ∂⎝ ⎠⎣ ⎦

∫ ∫u A(u)

(3. 13)

Através da integração por partes e da realização de algumas operações algébricas

chega-se à forma variacional dada pela expressão (3.14), que pode ser reescrita

utilizando a notação de resíduos ponderados, bastando substituir Tuδ =u w .

0=Γ−Ω−Ω ∫∫∫Γ

ddd T

V

T

V

T tubuσε δδδ

0Tu u u

V V

d d dΓ

∇ Ω− Ω− Γ =∫ ∫ ∫w σ w b w t

(3. 14)

Na formulação acima, δ δ=ε S u , onde ∇ corresponde ao operador gradiente:

Page 53: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

41

0 0 0

0 0 0

0 0 0

x y z

y x z

z y x

⎡ ⎤∂ ∂ ∂⎢ ⎥∂ ∂ ∂⎢ ⎥⎢ ⎥

∂ ∂ ∂⎢ ⎥∇ = ⎢ ⎥∂ ∂ ∂⎢ ⎥⎢ ⎥∂ ∂ ∂⎢ ⎥⎢ ⎥∂ ∂ ∂⎣ ⎦

e εδ é um operador linear definido por:

( )

( )

( )

( ) ( )

( ) ( )

( ) ( )

ux

vy

wz

u vy x

v wz y

w ux z

δ

δ

δ

δ δ δ

δ δ

δ δ

δ δ

∂⎧ ⎫⎪ ⎪∂⎪ ⎪⎪ ⎪∂⎪ ⎪

∂⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪∂⎪ ⎪

∂⎪ ⎪= = = ∇⎨ ⎬

∂ ∂⎪ ⎪+⎪ ⎪∂ ∂⎪ ⎪⎪ ⎪∂ ∂⎪ ⎪+⎪ ⎪∂ ∂⎪ ⎪⎪ ⎪∂ ∂⎪ ⎪+∂ ∂⎩ ⎭

ε S u u

(3.15)

Após a discretização, a equação (3.14) passa a ser representada por um conjunto de

equações algébricas e é geralmente caracterizada na forma matricial Ku=f.

3.2 Formulação mista e incompressibilidade

O comportamento incompressível ou quase incompressível dos materiais pode

induzir a algumas dificuldades na simulação numérica da formulação clássica do MEF,

tais como o “travamento” volumétrico (locking), com conseqüente imprecisão de

solução e oscilações na distribuição de pressão. Esse efeito em geral ocorre na

aproximação de fluidos incompressíveis, na elasticidade linear incompressível, em

Page 54: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

42

materiais hiper-elásticos e em matérias que exibem comportamento viscoso, a exemplo

da viscoelasticidade e viscoplasticidade.

De acordo com BATHE [32], o termo “travamento” (locking) é tradicionalmente

usado quando o deslocamento (ou velocidade) aproximado pela solução do MEF é

menor do que o valor real. Isso irá induzir a uma propagação do erro ainda maior na

aproximação das tensões/deformações, que dependem das derivadas dos

deslocamentos/velocidades.

Uma interpretação física do fenômeno de “travamento” é discutida por

PANNACHET e BOONPICHETVONG [34], que afirmam que o efeito de

“travamento” ocorre quando a malha em elementos finitos não é capaz de descrever, de

forma contínua, a preservação de volume. No caso da elasticidade, esse efeito se dá

quando o material está próximo à situação de incompressibilidade (elevados valores do

coeficiente de Poisson: 5,0→ν ), implicando que a deformação volumétrica tende a ser

nula. Para ilustrar o fenômeno, apresentam-se os elementos da figura (3.2). Nota-se que

o elemento superior da região destacada pode apenas deslocar verticalmente seu nó

livre. Por outro lado, o único nó livre do elemento inferior pode apenas ser deslocado

horizontalmente. Como o único nó livre é comum a ambos os elementos, a única forma

de atender a ambas as situações de forma simultânea é não realizar movimento,

travando dessa forma o deslocamento no elemento.

Figura 3. 2 – Travamento volumétrico da malha.

(Adaptado de PANNACHET e BOONPICHETVONG [34]] )

Convém ressaltar que o efeito de “travamento” ocorre somente em problemas

em que há restrição à deformação. Por exemplo, esse fenômeno não está presente em

problemas em que se admite um estado plano de tensão. Entretanto, valores elevados do

coeficiente de Poisson ( 5,0→ν ) podem induzir ao modo de pressão espúria,

Page 55: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

43

comprometendo dessa forma a aproximação das tensões e da pressão. Esse fenômeno

será descrito com mais detalhes na seção 3.3.

Baseado no trabalho de Nagtegall (1974), BITEENCOUR [35] discute o efeito

do refinamento da malha no fenômeno de “travamento”. Segundo o mesmo, o efeito do

“travamento” ocorre quando a razão entre o número de graus de liberdade na malha e o

número de restrições é igual ou inferior ao valor unitário. Para contornar o problema,

poder-se-ia aumentar o número de graus de liberdade através do refinamento de malha,

de forma que quando o número de elementos tende a um valor infinito, a formulação

clássica de Galerkin se aproxima da solução exata, removendo dessa forma o efeito do

“travamento” de malha. Entretanto, a aproximação da pressão ainda continua

comprometida.

Uma interpretação em termos de conservação de energia sobre a origem do

fenômeno de “travamento” é discutida por SORIANO [36]. Segundo o mesmo, a

inabilidade de certos elementos finitos em representar quantidades críticas de

determinados tipos de energia, com conseqüente grande rigidez espúria, é o que

denomina de “travamento”. Há então inconsistência de alguns campos de variáveis

quando um ou mais tipos de energia tende a ser anulada, o que geralmente é requerido

pelas condições físicas limites. Por exemplo, no caso da elasticidade incompressível, a

energia potencial correspondente à variação de volume tende a ser anulada à medida

que o coeficiente de Poisson tende a 0,5.

Uma das alternativas pioneiras empregadas para remover o efeito de

“travamento” consiste no uso do modelo de deslocamentos/velocidades com integração

reduzida ou integração reduzida seletiva.

A integração reduzida seletiva substitui a parcela relacionada à deformação

volumétrica em cada ponto de integração por uma deformação volumétrica média no

elemento. Porém, esse método não é capaz de prever o “travamento cisalhante” em

problemas predominados por flexão [37].

A integração reduzida uniforme, por possuir apenas 1 ponto de integração, é

mais eficiente do que o método de integração reduzida seletiva. Contudo, a energia

artificial introduzida para controlar o “travamento cisalhante” pode afetar

negativamente a precisão da solução e requerer um refinamento de malha significativo

[37].

Com os avanços na fundamentação matemática do método dos elementos finitos,

sobretudo baseada na análise funcional, começaram a ser desenvolvidas formulações

Page 56: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

44

alternativas à formulação clássica (deslocamentos/velocidades), principalmente para

remover o efeito do “travamento” característico da formulação da Galerkin em situações

próximas a incompressibilidade.

Uma das vertentes se baseia na chamada formulação mista, cuja idéia central é

utilizar como variável de estimação não apenas o campo de velocidade/deslocamento,

mas também outras variáveis de interesse de aproximação. De acordo com BATHE

[32], os trabalhos pioneiros que empregavam formulações mistas se basearam no

funcional de Hu-Washizu, sendo posteriormente substituído pelo uso do funcional de

Hellinger-Reissner.

Dentro do contexto lingüístico da formulação mista, o número de variáveis

utilizadas na aproximação sub-definirá a classe do problema em uma terminologia

denominada de campo. Na literatura, são bastante difundidas formulações de 2 campos

(u-σ e u-p), 3 campos (u-σ-ε e u-p-ε) e 4 campos (u-σ-ε-T). Esse trabalho se restringirá

ao estudo da formulação mista de 2 campos (u-p). Maiores detalhes sobre as demais

formulações são disponibilizados em BATHE [32] e ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30].

De acordo com ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30], o principal problema no uso

da formulação clássica baseada apenas no deslocamento para a classe de problemas

incompressíveis ou quase-incompressíveis reside na determinação da tensão média ou

pressão. Por essa razão, é conveniente efetuar a separação do tensor de tensões em suas

componentes desviatória e hidrostática, de maneira similar à expressão (3.9). A pressão

hidrostática corresponde à média das tensões nas direções ortogonais, de forma que:

1 1( ) ( )3 3

Txx yy zzp trσ σ σ= + + = =σ σ m

(3.16)

onde:

000111[=Tm ] (3.17)

Admitindo-se que o material seja isotrópico, a deformação volumétrica εv se

relaciona com a pressão hidrostática através do módulo de elasticidade volumétrica K

(3.18):

vpK

ε =

onde:

(3. 18)

Page 57: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

45

Tv xx yy zzε ε ε ε= + + = m ε

T

xx yy zz xy xz yzε ε ε ε ε ε⎡ ⎤= ⎣ ⎦ε

)21(3 ν−=

EK (3.19)

De maneira similar à componente do tensor de tensão, pode-se definir uma

componente de deformação desviatória, expressa pela equação (3.20):

1 1 1( )3 3 3

T T Td v dε ⎛ ⎞= − ≡ − = − ⊗ =⎜ ⎟

⎝ ⎠ε ε m I mm ε I m m ε I ε

(3. 20)

Ainda de acordo com a notação de ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30], a tensão

desviatória pode ser reescrita na forma: p= −s σ m (3. 21)

Com base nas prerrogativas discutidas acima, pode-se representar a tensão total

pela soma da parcela desviatória s e da pressão hidrostática p.

0123

Tuu upp G p p⎛ ⎞= + = − + ≡ +⎜ ⎟

⎝ ⎠σ s m I mm ε m D ε D

(3. 22)

onde:

0

2 02

2112

10 1

⎡ ⎤⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥

= ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎣ ⎦

I

2ij

ij =ε

ε se i j≠

(3. 23)

)1(2 ν+=

EG (3. 24)

Para se obter a forma fraca, aplica-se o método dos resíduos ponderados,

conforme discutido na seção 3.1. Os espaços correspondentes às funções de forma e

Page 58: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

46

função de ponderação devem estar restritos às definições de (3.25) a (3.27). Maiores

detalhes podem ser observados em GUERMOND [38] e ADAMS [39]. 1 2 ( ) | S H u g= ∈ Ω =u em uΓ (3. 25)

* 2 ( )P q L= ∈ Ω se não existe incompressibilidade total

* 2 ( ); 0P q L qdΩ

= ∈ Ω Ω =∫ no caso de incompressibilidade total

(3. 26)

1 2 ( ) ; 0w H w= ∈ Ω =w em uΓ (3. 27)

Para uma melhor compreensão das definições supracitadas, será apresentado

resumidamente cada espaço associado às funções de interpolação e de ponderação para

a formulação mista. Detalhes adicionais podem ser consultados nas referências [36],

[37] e [38]. Convém ressaltar que as derivadas são no sentido fraco:

• 2 2( ) : ; L dϕ ϕΩ

Ω = Ω Ω < ∞∫ ;

• 1 2 2( ) : ; ( ), ( )i

H L Lxϕϕ ϕ ∂

Ω = Ω ∈ Ω ∈ Ω∂

;

• 1 11,...,( ) ( ); ( )n

n iH Hϕ ϕ ϕ ϕΩ = = ∈ Ω com 1n ≥ ;

O objetivo então é encontrar o par de soluções (u, p) ∈ *S P× que satisfaça à

sentença de resíduos ponderados para a equação de conservação de momentum e

conservação de massa. Para a conservação de momentum, o tensor de tensões definido

na expressão (3.14) pode ser agora aplicado na forma mista, através da substituição do

tensor de tensões (3.24) em suas parcelas desviatória e hidrostática:

: ( ) d du uu up u up dΩ Ω Γ

∇ + Ω = Ω+ Γ∫ ∫ ∫w D ε D w b w t (3. 28)

Na equação (3.28), u∇w denota o gradiente da função de ponderação uw . O

deslocamento (ou velocidade) e a pressão são finalmente calculados fazendo-se a

aproximação (3.31) (forma matricial), escolhendo-se como funções de ponderação para

o deslocamento e pressão as mesmas adotadas como funções de interpolação (3.29 e

3.30), caracterizando assim o uso do método de Galerkin. Na notação utilizada, uδd e

pδP correspondem respectivamente aos valores infinitesimais (discretos) do campo de

deslocamento e pressão, conforme notação apresentada em [44]:

Page 59: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

47

( ) ( )T Tu u u=w δd N (3. 29)

( ) ( )T T

p pq = δP N (3. 30)

hu≈ =u u N u

hpp p≈ = N P

(3.31)

A sentença variacional resultante da expressão (3.28) assume a forma da

equação (3.32) (forma fraca):

( )

( )

( ) ( ) : ( )d ( ) d

( ) d

TT T Tuu u up p u u

TTu u

Ω Ω

Γ

∇ ∇ + Ω = ⋅ Ω+

+ ⋅ Γ

∫ ∫

u uδd N D N u D N P δd N b

δd N t

(3.32)

Além disso, para a sentença volumétrica (conservação da massa), a forma fraca é

obtida de acordo com a expressão (3.33), onde divu corresponde ao divergente aplicado

ao campo u.

( )div ( ) divT T

p pp pq d dK KΩ Ω

⎛ ⎞ ⎛ ⎞− Ω = − Ω⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎝ ⎠ ⎝ ⎠∫ ∫u δP N u *q P∈

(3.33)

Matricialmente, a sentença resultante pode ser representada pela expressão

(3.34), conforme formulação apresentada por ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30] e

BATHE [32]:

uu up u

up pp p

⎡ ⎤ ⎧ ⎫⎧ ⎫⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎢ ⎥ =⎨ ⎬ ⎨ ⎬⎢ ⎥− ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩ ⎭⎣ ⎦ ⎩ ⎭

T

K K Ru

K K RP

sendo:

1

ene

uu uue=

=K K∪

1

ene

up upe=

=K K∪

1

ene

pp ppe=

=K K∪

(3.34)

Page 60: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

48

1

ene

u ue=

=R R∪

1

ene

p pe=

=R R∪

onde:

de Tuu uu

Ω

= Ω∫K B D B

de Tup up p

Ω

= Ω∫K B D N

1 de Tpp p pKΩ

= Ω∫K N N

d de T Tu u u

Ω Γ

= Ω + Γ∫ ∫R N b N t

0ep =R

(3. 35)

s u= ∇ =ε N u Bu (3. 36)

1[ ]es u nB B= ∇ =B N … (3. 37)

0123

Tuu G ⎛ ⎞= −⎜ ⎟

⎝ ⎠D I mm

(3. 38)

up =TD m (3. 39)

De acordo com BATHE [32], uma atenção especial deve ser dada às condições

de contorno no caso da incompressibilidade total. Segundo o mesmo, quando todo o

contorno estiver restrito à condição de Dirichlet (apenas deslocamento/ velocidade

prescrito), o deslocamento/velocidade u deve ser compatível com a deformação

volumétrica do domínio. Convém ressaltar que esse caso particular de condição de

contorno é mais comum em fluidos. Essa observação física é expressa por:

0t

vd dtεΩ Γ

Ω = ⋅ =∫ ∫ u n (3. 40)

Na expressão (3.40), n é o vetor unitário normal à superfície do domínio. A

relação é atendida caso o deslocamento/velocidade prescrito na direção normal a

superfície do domínio seja tal que o volume do corpo seja conservado. Uma segunda

condição é que a pressão deve ser precrita em algum ponto do domínio, visto que a

relação constitutiva é função tanto do deslocamento/velocidade quanto da pressão, e a

Page 61: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

49

não prescrição de um valor pontual poderá torná-la indeterminada. Em todo caso, pode-

se prescrever qualquer valor para a pressão, uma vez que a pressão não irá conduzir a

nenhuma deformação. Detalhes adicionais podem ser consultados na referência [36].

Observa-se na formulação apresentada em (3.35) que a matriz Kpp assume

valores próximos a zero para elevados valores de Poisson ( 5,0→ν ), uma vez que o

módulo K tende ao infinito. Esse fato induzirá a alguns critérios para garantia de

estabilidade.

O estudo da estabilidade nas formulações mistas (u-p) são geralmente associadas

à condição de elipsidade e inf sup, relacionada às condições de (BNB) Babuska-Necas-

Brezzi (GUERMOND [38]), discutidas na próxima seção.

3.3 Condições de estabilidade na formulação (u-p) para a equação de Stokes

Conforme discutido por DE [40], a formulação em elementos finitos baseada

unicamente na sentença variacional do deslocamento/velocidade (formulação clássica) é

sempre estável, mas é sujeita ao fenômeno “travamento” em situações de

incompressibilidade. Por outro lado, a formulação mista consegue remover o efeito do

“travamento”, mas nem sempre é estável para todas as classes de funções de

interpolação da pressão e deslocamento/velocidade.

De acordo com DE [40], a estabilidade da formulação mista (u-p) é garantida

caso os critérios de elipisidade e condições inf-sup sejam atendidos. A condição de

elipsidade é automaticamente atendida para problemas incompressíveis, desde que se

faça uso da integração total, não usando dessa forma esquemas de integração reduzida.

Para a discussão do critério inf sup, consideram-se espaços das funções de

ponderação wu como sendo 1

0HVh ⊂ . Toma-se também 2 ( )hQ L⊂ Ω como o espaço das

funções de ponderação wp.

De acordo com a condição inf sup, 0>∃β tal que (GUERMOND [38], BATHE

[32]):

*

0 0 0 1

( )(div )inf sup

u hq wu

q P w V

q d

≠ ≠

Ω

∈ ∈

Ω≥∫ u

u

w

w

(3. 41)

onde:

Page 62: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

50

( ) Ω⋅=⋅ ∫Ω

d22

0 (3. 42)

22 2

2 2

1 01 1

( )i

i j jx= =Ω

⎛ ⎞∂ ⋅⋅ = ⋅ + ⎜ ⎟⎜ ⎟∂⎝ ⎠

∑∑∫ (3. 43)

De acordo com GUERMOND [38], quando a condição (3.41) é atendida, a

seguinte estimativa pode ser obtida:

1 0( , ) l

h hu u p p C p h− + − ≤ u com 1l ≥ (3. 44)

Em (3.44) h é o maior diâmetro avaliado para os elementos da malha. Maiores

detalhes sobre as condições inf-sup podem ser obtidos nas referências [38] e [42].

De forma bastante simplificada, quando o resultado da expressão (3.41) conduz

a β=0 é dito que a formulação encontra-se no “modo de pressão espúria”, visto que a

condição inf-sup não é satisfeita. Na prática, isso ocorre em situações próximas a

incompressibilidade total, quando o módulo K tende a um valor infinito e,

conseqüentemente, a matriz Kpp tende a ser anulada. Dessa forma, a matriz resultante

(3.34) irá se tornar singular, e o sistema poderá dessa forma retornar múltiplas soluções,

não garantindo a acurácia da solução. Os fundamentos matemáticos dessa interpretação

podem ser observados em [38] e [40].

De acordo com ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30], o resultado mais importante

das restrições da inf-sup refere-se ao fato de que a ordem da função de interpolação

utilizada para aproximação do deslocamento/velocidade deve ser maior do que a

utilizada na pressão (3.45). Em função disso, a formulação mista (u-p) foi largamente

empregada através do uso de elementos finitos isoparamétricos com elevados números

de nós.

pu ηη > (3. 45)

CHAPELLE e BATHE [41] propuseram uma estratégia numérica para

verificação das condições inf-sup. Nessa estratégia, o parâmetro β é calculado para uma

seqüência de malhas discretizadas do problema. É dito que a formulação mista (u-p)

passa no teste inf-sup numérico se o parâmetro β se aproxima assintoticamente para um

Page 63: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

51

valor positivo à medida que a malha vai sendo refinada. Maiores detalhes são

apresentados nas referências [40] e [41].

Em geral, observam-se na literatura duas estratégias distintas para o tratamento

da pressão no uso da formulação mista (u-p). Na primeira, a pressão não é considerada

contínua entre os pontos nodais adjacentes dos elementos. De acordo com BATHE [32],

nessa estratégia a pressão pode ser estaticamente condensada, fazendo com que a

solução seja aproximada apenas em termos do campo de deslocamento (ou velocidade).

Segundo o mesmo, essa estratégia pode ser eficiente para situações próximas à

incompressibilidade somente quando a malha for suficientemente refinada. Um

arquétipo dessa estratégia é o chamado método B-bar. Segundo ZIENKIEWICZ e

TAYLOR [30], esse método é frequentemente utilizado em problemas não-lineares, tais

como plasticidade e problemas com não linearidade geométrica, principalmente pela

simplicidade da formulação e respectiva facilidade no acoplamento da formulação mista

a problemas mais complexos. Entretanto, a condensação estática inviabiliza o uso da

formulação para incompressibilidade total. Convêm ressaltar que o uso dessa

formulação está restrito às condições de estabilidade discutidas previamente.

Uma outra maneira de tratar a pressão nos problemas mistos consiste no

emprego de formulações que garantam a continuidade da pressão nos nós adjacentes aos

elementos finitos. Nesse caso, a pressão não pode ser condensada, sendo então obtida

diretamente através da aproximação nodal.

Com base nos critérios de estabilidade, BATHE [32] apresenta em síntese as

seguintes considerações para classes de elementos finitos submetidas ao uso da

formulação mista (u-p):

• Elemento Q1-P0 (4/1 em 2D e 8/1 em 3D): O elemento aproxima razoavelmente

o deslocamento, mas a aproximação da tensão pode não ser acurada, visto que o

tratamento da pressão constante no elemento pode induzir a possíveis flutuações

da pressão. O elemento não satisfaz à condição inf-sup.

Figura 3. 3 – Elemento Q1-P0 – adaptado de BATHE [32]

Page 64: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

52

• Elemento Q2r-P0 (8/1 em 2D e 20/1 em 3D): O elemento satisfaz à condição inf-

sup, mas o fato de se assumir a pressão constante pode requerer uma malha

bastante refinada para a aproximação da tensão com acurácia.

Figura 3. 4- Elemento Q2

r-P0 (8/1 em 2D e 20/1 em 3D): adaptado de BATHE [32]

• Elemento Q2-P1 (9/3 em 2D e 27/4 em 3D): Corresponde ao primeiro membro

da família de elementos da forma Qn-Pn-1, com n≥2. Essa família de elementos

satisfaz à condição inf-sup.

Figura 3. 5 - Elemento Q2-P1 (9/3 em 2D e 27/4 em 3D): adaptado de BATHE [32]

• Elemento P2-P0 (6/1 em 2D e 10/1 em 3D): O elemento satisfaz à condição inf-

sup. Entretanto, o fato de se assumir a pressão constante pode requerer uma

malha bastante refinada para a aproximação da tensão com acurácia.

Figura 3. 6 Elemento P2-P0 (6/1 em 2D e 10/1 em 3D): adaptado de BATHE [32]

• Elemento P2+-P1 (7/3 em 2D e 11/4 em 3D): Corresponde ao primeiro membro

da família de elementos Pn+-Pn-1, com n≥2. Essa família de elementos satisfaz à

condição inf-sup.

Page 65: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

53

Figura 3. 7 - Elemento P2

+-P1 (7/3 em 2D e 11/4 em 3D): adaptado de BATHE [32]

• Elemento Q2-Q1 (9/4-c em 2D e 27/8-C em 3D): Corresponde à família de

elementos Qn-Qn-1 , com n≥2. Essa família de elementos satisfaz à condição inf-

sup. Os nós destacados são pontos de aproximação do deslocamento (ou

velocidade) e da pressão, que agora é contínua entre os elementos.

Figura 3. 8 – Elemento Q2-Q1 (9/4-c em 2D e 27/8-C em 3D): adaptado de BATHE [32]

• Elemento P2-P1 (6/3-c em 2D e 10/4-c em 3D): Corresponde à família de

elementos Pn-Pn-1 , com n≥2. Essa família de elementos satisfaz à condição inf-

sup. Os nós destacados são pontos de aproximação do deslocamento (ou

velocidade) e da pressão, que agora é contínua entre os elementos.

Figura 3. 9 - Elemento P2-P1 (6/3-c em 2D e 10/4-c em 3D): adaptado de BATHE [32]

3.4 Métodos estabilizados

As aplicações envolvendo a formulação mista (u-p) foram bastante difundidas

para a elasticidade incompressível e para o problema de Stokes através do uso de

elementos finitos isoparamétricos com funções de interpolação de ordem superior.

Page 66: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

54

Entretanto, o custo computacional necessário para resolver sistemas de equações

oriundos dos elementos finitos isoparamétricos com elevados números de pontos nodais

é relativamente significativo.

Por essa razão, novas formulações continuaram sendo desenvolvidas para que

fosse possível a aproximação da formulação mista (u-p) em qualquer classe de

elementos e, conseqüentemente, qualquer ordem de função de interpolação para o

deslocamento/velocidade e para a pressão. Entretanto, essas formulações devem de

alguma maneira atender ou burlar os critérios de estabilidade de Babuska-Necas-Brezzi

[38], principalmente em relação à condição inf-sup.

De acordo com FRANCA [42], os métodos estabilizados são construídos a partir

da modificação da forma variacional do problema, de tal maneira que o ganho na

estabilidade numérica não comprometa a consistência da aproximação.

No presente trabalho, optou-se pelo emprego das formulações mistas (u-p) GLS

e Bochev, que serão descritas nas seções seguintes. 1

3.4.1 Galerkin Least Square (GLS)

O método Garlerkin least square (GLS) foi inicialmente proposto por HUGHES et

al.[43], e consiste em adicionar na sentença variacional de Garlekin a parcela

correspondente a ponderação por mínimos quadrados, conforme (3.46).

*[ ] [ ] 0

TT d dδ δΩ Ω

− Ω+ − Ω =∫ ∫u A(u) b A(u) τ A(u) b (3. 46)

A primeira parcela da sentença (3.46) é idêntica à formulação (3.28). Deve-se,

agora, estabelecer a sentença variacional para a parcela de mínimos quadrados,

conforme expressão (3.47):

*| | [div ( , )] [div ( , ) ]T Td p dδ δ

Ω

− Ω = + Ω∫ ∫Ω

δA(u) τ A(u) b σ u τ σ u p b (3. 47)

Nessa formulação, τ corresponde a uma matriz de estabilização, definida por

HUGHES et al. [43] na forma: * valor em módulo

Page 67: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

55

IτGh

2

2α−=

(3. 48)

Na expressão (3.48), α corresponde a um parâmetro que deve ser ajustado para a

boa performance do método, sendo recomendado ser de ordem O(1) para elementos

triangulares e quadriláteros. De acordo com HUGHES et al. [43], h é um parâmetro

característico dos elementos da malha, e pode ser representado como: 1/dim( )e

h dΩ

= Ω∫ ,

onde dim corresponde à dimensão do domínio.

Para a aproximação por mínimos quadrados, a função de ponderaçãoδA(u)

pode ser decomposta nas parcelas desviatória e esférica, na forma da equação (3.49). A

formulação empregada nessa seção se baseia na referência [44].

[div ( , )] [div( )]T u T Tuuq p= = +δA(u) σ w D ε I (3. 49)

onde: T

uT

u )()( Nδdε ∇= (3. 50)

Tp

Tpp )()( NδP= (3. 51)

Utilizando as expressões (3.50) e (3.51) em (3.49) obtém-se:

[div ( , )] ( ) [div( ) ] ( ) div( )T u T T T T Tu uu u p pq ⎡ ⎤= = ∇ + ⎣ ⎦δA(u) σ w δd D N δP mN (3. 52)

De maneira similar, pode-se reescrever a sentença residual na forma forte A(u)

de acordo com a expressão:

div ( ) div( ) div( )Tuu u p uu upp= + = ∇ + + = + +A(u) σ u, b D N u mN P b L u L P b (3. 53)

onde:

div( )Tuu uu u= ∇L D N (3. 54)

div( )up p=L mN (3. 55)

Finalmente, pode-se escrever a sentença da ponderação por mínimos quadrados

na forma da equação (3.56).

Page 68: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

56

[( ) ( ) ( ) ( ) ] [ ]T T T T Tu uu P up uu upd d

Ω Ω

Ω = + + + Ω∫ ∫δA(u) τA(u) δd L δP L τ L u L P b

[( ) ( ) [ ]

[( ) ( ) [ ]

T Tu uu uu up

T Tp up uu up

d

Ω

= + + Ω+

+ + + Ω

δd L τ L u L P b

δP L τ L u L P b

(3. 56)

A formulação GLS é então obtida somando a parcela de ponderação do resíduo

(sentença variacional) dos método de Galerkin (3.32) e de mínimos quadrados (3.56):

( ) ( ) ( ) ( )T T T Tuu up p uu uu uu up

T T Tu u uu

d d d d

d d dΩ Ω Ω Ω

Ω Ω Ω

Ω + Ω + Ω + Ω

= ⋅ Ω+ ⋅ Ω − Ω

∫ ∫ ∫ ∫

∫ ∫ ∫

B D B u B D N P L τL u L τL P

(N ) b (N ) t (L ) τb

(3. 57)

A parcela corresponde à equação de conservação de massa (3.8) para o GLS

assume a forma:

( ) div 0T T T

p up uu upp d dK

δ δΩ Ω

⎛ ⎞− Ω+ + + Ω =⎜ ⎟⎝ ⎠∫ ∫TP (N ) u ( P) (L ) τ[L u L P b]

(3. 58)

Combinando as expressões (3.57) e (3.58) pode-se chegar a uma representação

matricial para o modelo GLS, conforme apresentado pelo conjunto de equações (3.59).

T

⎡ ⎤ ⎡ ⎤+ + +⎧ ⎫=⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎨ ⎬+ +⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎩ ⎭⎣ ⎦ ⎣ ⎦

G G Guu uu up up u u

G G Gup up pp pp p

K K K K R Ru(K K ) K K RP

(3. 59)

As matrizes correspondentes à expressão (3.59) podem ser calculadas a partir do

conjunto de equações (3.60):

e

dΩΩ

⎡ ⎤ =⎣ ⎦ ∫G Tuu uu uuK (L ) τL

edΩ

Ω

⎡ ⎤ =⎣ ⎦ ∫G Tup uu upK (L ) τL

Page 69: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

57

edΩ

Ω

⎡ ⎤ =⎣ ⎦ ∫G Tpu up uuK (L ) τL

èdΩ

Ω

⎡ ⎤ =⎣ ⎦ ∫G Tpp up upK (L ) τL

ed

Ω

⎡ ⎤ = − Ω⎣ ⎦ ∫TG

u uuR (L ) τb

edΩ

Ω

⎡ ⎤ = −⎣ ⎦ ∫TG

p upR (L ) τb

Onde:

* *1

ene

e=

⎡ ⎤= ⎣ ⎦G GK K∪

** **1

en e

e=

⎡ ⎤= ⎣ ⎦G GR R∪

(3. 60)

O método GLS é bastante difundido na literatura, principalmente em aplicações

da dinâmica dos fluidos computacional (CFD). A estabilidade do método é garantida

pela ponderação entre a soma dos resíduos dos métodos de Galerkin e de mínimos

quadrados. De acordo com BARTH et al. [45], essa formulação tem obtido sucesso por

ser uma das únicas formulações mistas a garantir a conexão entre as modificações da

sentença variacional por penalização a um problema de otimização do funcional

Lagrangiano na forma mista, o que aproxima a solução a um ponto de sela (saddle-

point) (u-p), garantindo dessa forma acuradas aproximações para a

velocidade/deslocamento e a pressão.

Um fator complicador nessa formulação está relacionado à definição do

parâmetro de estabilização α , que possui um valor ótimo para cada classe de problema

e requer testes numéricos para sua calibração, sendo definido globalmente para todos os

elementos da malha. Testes numéricos revelam uma influência significativa do

parâmetro de calibração na precisão da aproximação, sendo a interferência ainda maior

em malhas não estruturadas. Para contornar essa dificuldade, no presente trabalho se

investiga uma estratégia para determinação do parâmetro de estabilização de forma

automática a nível de elemento e com base em parâmetros geométricos da malha,

conforme será discutido no capítulo 4.

3.4.2 Estabilização direta de pressão (Bochev)

Page 70: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

58

O método proposto por DOHRMANN e BOCHEV [46] é obtido através da

modificação da sentença variacional mista através do uso da projeção da pressão local

em L2. Nesse método, a estabilidade resulta de uma relação especial entre os espaços da

velocidade e pressão, que assegura que o espaço da pressão coincida com o intervalo do

operador do espaço divergente da velocidade. De acordo com DOHRMANN e

BOCHEV [46], essa relação é equivalente à condição inf-sup.

A estabilização do método é obtida sem o uso da sentença variacional da

equação de momentum, usando apenas a equação de conservação de massa. Dessa

forma, não há necessidade de cálculo de derivadas de ordens superiores para a

implementação desse esquema. Detalhes do fundamento teórico podem ser consultados

na referência [46].

De acordo com ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30], esse método parece estar

totalmente correto e é obtido sem ignorar nenhum termo da sentença variacional global.

A sentença variacional mista da equação de momento é mantida intacta (3.61). Para

garantir a estabilidade, DOHRMANN e BOCHEV [46] introduzem na sentença

variacional da parcela de conservação de massa uma expressão dependente da pressão p

(aproximada por uma função de forma contínua de grau de polinômio k ), e da projeção

da pressão p em um espaço polinomial de ordem (k-1), conforme expressão (3.62).

0=Γ−Ω−Ω+Ω ∫∫∫∫ΓΩΩΩ

ddpdd tδubδumδεεDδε TTTd

T (3. 61)

( ) ( ) Ω−−−Ω⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ − ∑∫∫ Ω

Ω

dppG

ppdpK

pe e

αδδδ 1mε (3. 62)

Na expressão (3.62), α corresponde a um parâmetro de estabilização a ser

ajustado para boa performance da formulação. Nota-se claramente que esse parâmetro

não é dependente de parâmetros da malha. DOHRMANN e BOCHEV [46] sugerem o

uso de α = 1. Já ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30], com base em exemplos numéricos,

sugerem o valor α = 2 para ótima performance da aproximação.

De acordo com ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30], à parcela correspondente a

estabilização de pressão, a nível de elemento, é garantida pela expressão (3.63), e

apresenta baixo custo computacional, pois não envolve derivadas de ordem superiores.

Page 71: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

59

( ) 0=Ω−∫Ω dppp

e

δδδ (3. 63)

Na formulação (3.63) a pressão é aproximada pela expressão (3.64), onde Na

contém o conjunto de polinômios de ordem k:

pN~~ˆ ==≈ ∑

aaa pNpp (3. 64)

Por outro lado, a pressão projetada p é calculada com base no conjunto de

polinômios hb(x) de ordem (k-1) , conforme expressão (3.65).

ββ h(x)=≈ ∑b

bb xhp )( (3. 65)

Com base nas equações (3.64) e (3.65), pode-se estabelecer uma relação entre a

pressão p e p , de forma que:

pNhhh TT ~∫∫

ΩΩ

Ω=Ωee

dd β (3. 66)

pGH ~=β (3. 67)

Finalmente, a projeção da pressão pode ser calculada pela expressão (3.68):

pGh(x)H 1 ~−=p (3. 68)

Com base na expressão (3.68) e no desenvolvimento das sentenças variacionais

(3.61) e (3.62), chega-se à aproximação para o deslocamento/velocidade e pressão,

conforme expressões matriciais (3.69) e (3.70) [30].

⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

=⎭⎬⎫

⎩⎨⎧⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡− 0

fpu

VCCK

Td

~~

(3. 69)

e d

Ω

= Ω∫ Td dK B D B

e dΩ

= Ω∫ TC B mN

(3. 70)

Page 72: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

60

1e dK G G

α α −

Ω

⎡ ⎤= + Ω−⎢ ⎥⎣ ⎦∫ T 1V N N GH G

onde:

1

ene

e=

=d dK K∪

1

ene

e=

=C C∪

1

ene

e=

=V V∪

ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30] discorrem que para a matriz V, quando G/α é

muito menor que K, o efeito da estabilização direta da pressão corresponde a uma forma

de penalidade equivalente à diferença entre a pressão interpolada e a projetada. Além

disso, para as condições de existência e estabilidade, nota-se que o fato de se utilizar a

pressão projetada de ordem (k-1) por si só equivale à condição inf-sup.

Page 73: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

61

4. IGLS: Uma estratégia para determinação do parâmetro de estabilização α do método GLS

A grande dificuldade nas aplicações do método GLS proposto por HUGHES et

al. [43] está relacionada à definição do parâmetro de estabilização α, que assume um

valor ótimo para cada classe de problema.

Essa dificuldade passa a ser mais evidente em problemas que envolvem malhas

não estruturadas, principalmente em casos onde haja grande contraste entre as áreas

características dos elementos e em casos de distorções excessivas da malha.

Para contornar essas dificuldades, neste capítulo investiga-se uma formulação

para a determinação do parâmetro α a nível de elemento, tomando por base as

propriedades físicas do problema e a característica geométrica de cada elemento da

malha. A formulação aqui apresentada foi desenvolvida em CARMO et al. [47].

Para facilitar a compreensão do desenvolvimento teórico, reapresenta-se a

formulação do problema de Stokes, cujo objetivo é encontrar o par de solução do campo

de deslocamento e pressão (u, p), pertencente ao espaço 1 2( ) ( )nH LΩ × Ω satisfazendo:

ii

i fxpuG =

∂∂

+∇⋅∇− )( em Ω para i = 1, n*2 (Conservação de momento) (4. 1)

0=⋅∇+ uBp em Ω (Conservação da massa) (4. 2)

ii gu = em gΓ para i = 1, n* (Condição de Dirichlet) (4. 3)

rnIu =−∇ )( pG em qΓ (Condição de Newman) (4. 4)

Na formulação acima, G corresponde ao módulo elástico cisalhante (para o caso

da elasticidade) ou a viscosidade (para o caso de fluidos) (4.5), e junto com λ (4.6)

define as chamadas constantes de Lamé. A partir das mesmas pode-se definir a relação

(4.7) para B:

)1(2 ν+=

EG (4. 5)

)21)(1( νννλ−+

=E

(4. 6)

λ+=

GB 1

(4. 7)

* n = 2 para problemas bidimensionais; n = 3 para problemas tridimensionais

Page 74: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

62

Nota-se claramente que quando 5,0→ν o valor de ∞→λ e,

conseqüentemente, 0→B .

Conforme discutido no capítulo 3, o método GLS consiste em adicionar na

formulação de ponderação de Galerkin por uma sentença de ponderação em mínimos

quadrados, assumindo a forma da expressão (4.8):

Ω

⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢

⎡∂∂

+∇⋅∇−

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡∂∂

+∇⋅∇−∫ ∑Ω =

dG

xpuG

xpuGh i

in

i iie

e

e

)()()(

1

(4. 8)

Pode-se reescrever em função da parcela da pressão a identidade (4.9), pela

adição e subtração do termo difusivo:

)()( ii

ii

uGxpuG

xp

∇⋅∇+∂∂

+∇⋅−∇=∂∂ para i = 1, n

(4. 9)

Elevando-se os lados esquerdo e direito da expressão (4.9) ao quadrado,

observa-se que a relação (4.10) é verdadeira:

( ) ( )

( )⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡∇⋅∇+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+∇⋅∇−

≤∇⋅∇+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+∇⋅∇−+∇⋅∇−=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

22

222

)()(2

)()(2)(

ii

i

ii

iii

uGxpuG

uGxpuGuG

xp

(4. 10)

Realizando a multiplicação de cada termo da expressão (4.10) por uma parcela

constante, a nível de elemento, chega-se à seguinte relação:

( ) ( )22

2222

22

)()(2

)()(2

)(2

ie

e

iie

e

ie

e

uGhGx

puGhG

xph

G

∇⋅∇+⎟⎟

⎜⎜

⎛⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+∇⋅∇−

≤⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

αα

α

(4. 11)

A partir da desigualdade (4.11), são estabelecidas as seguintes conclusões:

Page 75: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

63

• O primeiro termo da desigualdade, 2

2)(2 ⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

ie

e

xph

Gα , corresponde à

parcela de estabilização da pressão;

• A parcela ( )22

22 )()(2 ⎟

⎜⎜

⎛⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+∇⋅∇−i

ie

e

xpuGh

Gα corresponde ao termo

fornecido pelo GLS;

• A parcela ( )22 )()(2 ie

e

uGhG

∇⋅∇α corresponde a um termo não fornecido

pela sentença variacional do GLS.

No caso de incompressibilidade total ( 5,0=ν ), nota-se que a parcela

relacionada ao divergente do campo de velocidade/deslocamento tende a ser anulado na

equação de conservação de massa. Conseqüentemente, 0)( =∇⋅∇ iuG , e, portanto,

0eα > é exigido apenas para melhoria da aproximação, mas não para a estabilização da

pressão, que é estabilizada para qualquer 0≠eα .

Para um eα pequeno o suficiente, a conseqüência para os espaços de polinômios

a nível de elemento na sentença variacional de Galerkin pode ser reescrita na seguinte

desigualdade:

( ) ( ) Ω∇=Ω∇⋅∇<Ω∇⋅∇ ∫∫∫ ΩΩΩduGduuGduG

Gh

eeeiiii

ee

222

)()(

ββα

(4. 12)

Como 10 << β , é observada uma diminuição na parcela correspondente à parte

difusiva na sentença variacional de Galerkin. Dessa forma, a estabilidade do GLS é

conseguida por um empréstimo da estabilidade da parcela difusiva para o campo de

pressão.

O que deve ser feito então é determinar um eα que consiga ponderar de forma

eficiente essa distribuição numérica da parcela que irá garantir a estabilidade da pressão

no método GLS. Esse procedimento pode ser realizado pela estratégia descrita a seguir:

Sendo e1η , e

2η , ... , enpelη as funções de forma nos npel pontos nodais do

elemento eΩ , podem-se definir as funções:

Page 76: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

64

enpele

npel

eie

iei d

d

e

e ηη

ηηϕ

Ω

Ω−=∫∫Ω

Ω ,

com i = 1, 2, ..., (npel-1)

(4. 13)

Definindo o espaço ∑ −

=ℜ∈=ΨΨ=Ω

1

1*, ;;)( npel

i ieiie

k AAP ϕ , nota-se que

eλ corresponde ao máximo da seguinte relação limitada superiormente:

( ) [ ]

∫∫

Ω

Ω

≠Ω∈ ΩΨ∇

ΩΨ∇⋅∇

=

e

e

ek dG

dG

Ghe

P

e2

22

0),(

)(

Sup*, ψψ

λ

(4. 14)

Se a relação (4.14) for verdadeira, a seguinte sentença deve ser obedecida:

( ) [ ]Ω

Ψ∇⋅∇≥ΩΨ∇ ∫∫ Ω

Ω

dG

GhdG

ee

ee22

2 )(λ *, ( )n

eP∀Ψ∈ Ω

(4. 15)

Multiplicando ambos os termos da expressão (4.15) por 0eα > , obtém-se:

( ) [ ] ΩΨ∇⋅∇≥ΩΨ∇ ∫∫ ΩΩ

dGGh

dGe

e

ee

ee 22

2 )(α

λα *, ( )neP∀Ψ∈ Ω

(4. 16)

Para que ocorra um maior equilíbrio entre a estabilização do campo u e p adota-

se:

21

=eeλα

(4. 17)

Portanto, pode-se finalmente estabelecer uma relação para eα nos moldes da

expressão (4.18) em função de eλ , que traduzirá informações relativas ao grau de

distorção do elemento.

0,5eα = se 810−≤eλ

1min 0,5;2( 0,25)

eeα

λ⎧ ⎫

= ⎨ ⎬+⎩ ⎭ se 810−>eλ

(4. 18)

Page 77: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

65

É necessário, portanto, determinar eλ para obter informações da geometria do

elemento e, conseqüentemente, estabelecer o valor para o parâmetro de estabilização eα . Isso é feito pela definição do funcional (4.19):

( ) [ ]

∫∫

Ω

Ω

ΩΨ∇

ΩΨ∇⋅∇

e

e

dG

dG

Ghe

2

22 )(

)(λ *, ( )neP∀Ψ∈ Ω

(4. 19)

Pode-se então estabelecer um valor ótimo para eλ através da maximização do

funcional (4.19):

0)(=

∂Ψ∂

iAλ com i = 1, 2, ..., (npel-1)

(4. 20)

Para facilitar a notação resultante, definem-se as matrizes gradeij

,M e diveij,M ,

expressas respectivamente pelas equações (4.21) e (4.22)

Ω∇⋅∇= ∫Ω

dGM ej

ei

gradeij

e

ϕϕ, com i = 1, 2, ..., (npel-1) (4. 21)

( ) Ω∇⋅∇∇⋅∇= ∫Ω

dGGhM ej

eie

diveij

e

)]()][([2, ϕϕ com i = 1, 2, ..., (npel-1) (4. 22)

Do resultado da maximização (4.20) do funcional (4.14), conclui-se que eλ é o

maior auto-valor da seguinte relação:

( ) ( ) λXXMM =− dive

ijgrade

ij,1,

Com X = (X1, X2 , ..., Xnpe-1)

(4. 23)

Page 78: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

66

5. Modelo viscoelástico incompressível

A propriedade intrínseca do material viscoelástico de ir adquirindo um

comportamento incompressível ao longo tempo, sobretudo pelos efeitos da fluência e

relaxação, discutidos no capítulo 2, tem despertado ao longo dos anos o interesse por

formulações numéricas que garantam consistência e estabilidade numérica para a

modelagem dos materiais viscoelásticos.

Conforme discutido no capítulo 3, a técnica de aproximação numérica utilizada

nesse trabalho é baseada no método dos elementos finitos (MEF). Será apresentada

nesse capítulo uma extensão dos conceitos de viscoelasticidade apresentados no capítulo

2. Em seguida, na seção 5.2, é discutida a formulação em elementos finitos para a

viscoelasticidade linear. Na seção seguinte, são abordadas algumas considerações sobre

a estratégia numérica adotada para a implementação computacional para a

viscoelasticidade incompressível.

5.1. Extensão dos modelos viscoelásticos unidimensionais

Os modelos reológicos unidimensionais apresentados no capítulo 2 podem ser

estendidos facilmente para as formulações bidimensional e tridimensional. Dessa forma,

os valores da tensão total σ, deformação total ε, tensão desviatória s e deformação

desviatória e, até então idealizados como escalares, passam a ser interpretados como

tensores, expresso num arranjo vetorial, conforme representado pela expressão (5.1)

para 3 dimensões e (5.2) para 2 dimensões.

[ ]Txzzxzyyzyxxyzyx σσσσσσσσσ=σ

[ ]Txzzxzyyzyxxyzyx εεεεεεεεε=ε

[ ]Txzzxzyyzyxxyzyx sssssssss=s

[ ]Txzzxzyyzyxxyzyx eeeeeeeee=e

(5.1)

Page 79: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

67

[ ]Txyyx σσσ=σ

[ ]Txyyx εεε=ε

[ ]Txyyx sss=s

[ ]Txyyx eee=e

(5.2)

De acordo com SIMO e HUGHES [24], os efeitos da viscoelasticidade são

desprezíveis na parcela hidrostática do campo de tensão e de deformação, sendo estes

admitidos como puramente elásticos. Dessa forma, o efeito da viscoelasticidade

formulado neste trabalho se restringirá à parcela desviatória. Partindo da equação

integral do modelo viscoelástico linear apresentado na equação (2.57), pode-se

reescrever a expressão para a parcela desviatória da tensão em função da deformação

desviatória e na forma da equação (5.3), conforme discutido por ZIENKIEWICZ e

TAYLOR [48].

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡

∂∂

−= ∫ ∞−τ

ττ dtGt

t es )(2)( (5.3)

As análises aqui desenvolvidas serão restritas ao modelo do sólido viscoelástico

linear padrão (fig 5.1). Através dessa formulação, será possível particularizar a

representação final tanto para um fluido viscoelástico (modelo de Maxwell) quanto para

um sólido viscoelástico (sólido viscoelástico padrão). Partindo da forma integral (5.3),

nota-se que é necessário obter uma função de relaxação G(t-τ), de tal maneira que a

expressão diferencial do modelo do sólido viscoelástico linear apresentado na equação

(2.41) seja atendida. Uma representação da função de relaxação que atende à equação

diferencial resultante é apresentada na expressão (5.4), expressa agora em termos do

módulo elástico cisalhante G0. Note que a expressão assume a mesma forma da função

de relaxação apresentada na equação (2.48).

[ ]0 0 1( ) exp( / )G t G tμ μ λ= + −

onde:

210 GGG +=

210 EEE +=

(5.4)

Page 80: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

68

0

1

0

10 G

GEE

==μ

0

2

0

21 G

GEE

==μ

2

2

Eηλ =

Figura 5. 1 – Modelo viscoelástico linear padrão

Generalizando o modelo apresentado na figura (5.1), através de uma associação

de N elementos de Maxwell ligados paralelamente a um elemento elástico (fig. 5.2),

observa-se que a tensão resultante nesse elemento assume a forma da expressão (5.5),

onde qi representa a deformação parcial advinda de cada elemento de Maxwell.

∑=

−=N

i

E1

0 iqεσ (5.5)

Figura 5. 2 – Modelo sólido viscoelástico linear generalizado

Tomando-se como referência a expressão (5.4) e a equação (2.41), redefine-se

uma expressão diferencial para o sólido viscoelástico padrão generalizado. Nesse caso,

com base na solução da equação diferencial resultante, conclui-se que a função de

relaxação deve assumir a seguinte forma:

Page 81: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

69

0 01

( ) exp( / )N

N Ni

G t G tμ μ λ=

⎡ ⎤= + −⎢ ⎥

⎣ ⎦∑ , onde:

01

1N

iiμ μ

=

= −∑

00 G

G∞=μ

0GGN

N =μ

N

NN E

ηλ =

(5.6)

De acordo com ZIENKIEWICZ e TAYLOR [48], a formulação (5.6) equivale a

uma expressão da série de Dirichelet-Prony. Dessa forma, as formulações integral e

diferencial do modelo viscoelástico são equivalentes a partir do uso da série de Prony

como função de relaxação. Na prática, os parâmetros associados à série de Prony são

ajustados a partir do ensaio de relaxação.

A solução de modelos viscoelásticos em elementos finitos através da série de

Prony é bastante difundida, sendo inclusive incorporada em programas comerciais, a

exemplo do ABAQUS®, ANSYS® e FEAP®. Maiores detalhes sobre a estratégia

numérica utilizada nesses programas podem ser observados nas referências [37], [49] e

[50].

5.2. Formulação em elementos finitos para a viscoelasticidade linear

incompressível

A estratégia numérica utilizado no desenvolvimento deste trabalho se baseia na

formulação apresentada por ZIENKIEWICZ e TAYLOR [48] e SIMO e HUGHES [24].

A idéia central é transformar a integral de convolução (5.3) em esquema recursivo

passo-a-passo, envolvendo variáveis internas que permitam efetuar a integração

numérica a partir do histórico de tensões e deformações em cada incremento de tempo.

Dessa forma, em cada intervalo de tempo obtém-se uma configuração típica de uma

formulação linear, onde em cada passo subseqüente ocorre a atualização incremental

das variáveis intrínsecas ao processo viscoelástico.

Page 82: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

70

Incorporando a expressão da função de relaxação (5.6) na equação integral (5.3)

é possível reescrever a componente da tensão desviatória em função dos parâmetros da

série de Prony.

ττ

λτμμ dtGtt M

nn∫ ∑∞−

= ∂∂

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−−+=

es1

100 )/)(exp(2)( (5.7)

Para o modelo do sólido viscoelástico linear padrão, particularizado a partir da

expressão (5.7) fazendo-se M=1 tem-se:

ττ

λτμμ dtGtGtt

∫ ∞− ∂∂

−−+=eεs )/)(exp(2)(2)( 11000

(5.8)

A partir da introdução da variável interna h(t) a expressão (5.8) pode ser

reescrita na forma:

ττ

λτ dttt

∫ ∞− ∂∂

−−=eh )/)(exp()( 1

[ ]0 0 1( ) 2 ( ) ( )t G t tμ μ= +s ε h

(5.9)

De acordo com ZIENKIEWICZ e TAYLOR [48], nas aplicações dos modelos

viscoelásticos assume-se que inicialmente o material não está submetido à ação de

carregamento. No instante t0, o corpo viscoelástico sofre um valor deformacional

instantâneo, apresentando variação em função dos tempos subseqüentes. Para calcular a

deformação nos instantes seguintes à aplicação da carga, recorre-se ao artifício:

∫∫∫∫∫+

+

+

−+

+++=∞−∞−

11

(.)(.)(.)(.)(.)0

0

0

0 n

n

nn t

t

tt

ddddd τττττ (5.10)

Pelas condições impostas, nota-se que o primeiro termo do lado direito é nulo. O

segundo termo se relaciona à deformação instantânea (elástica), enquanto os últimos 2

termos cobrem a história das deformações. O resultado da expressão (5.10) aplicado a

Page 83: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

71

(5.9) explicitado em termos do instante t(n+1) resulta em uma expressão que pode ser

representada pela combinação das equações (5.11) e (5.12).

hhh Δ+Δ−=+ nn t )/exp( 11 λ (5.11)

∫+

∂∂

−−=Δ +1

11 )(exp(n

n

t

t nn dtt ττ

λ eh (5.12)

Para obter uma solução numérica da expressão (5.12), pode-se adotar que a taxa

de formação em cada intervalo de tempo Δt é constante, sendo expressa em termos da

diferença finita progressiva (5.13), conforme discutido por ZIENKIEWICZ e TAYLOR

[48] e SIMO e HUGHES [24]. Aplicando (5.13) na equação (5.12) é possível

representar a variável interna hΔ na forma da equação (5.14).

tnn

Δ−

=∂∂ + eee 1

τ (5.13)

∫+

−−−Δ

=Δ +++1 ]][/)(exp[1

1111n

n

t

t nnnnn dttt

τλ eeh (5.14)

Integrando a expressão (5.14) em função do valor médio do intervalo [tn,tn+1],

obtém-se o valor da variável h(t) indicada na equação (5.9) para cada incremento de

tempo t(n+1) sob a forma da equação (5.15).

*

1 1 1 1exp( / ) ( )n n n n nt hλ+ + += −Δ + Δ −h .h e e

onde

)]/exp(1[ 11

1* λ

λ tt

h n Δ−−Δ

=Δ +

(5.15) (5.16)

ZIENKIEWICZ e TAYLOR [48] sugerem que para pequenos intervalos de

tempo Δt, a expressão (5.16) deve ser substituída pela solução da série apresentada na

equação (5.17), visto que para valores de Δt próximos a zero a função (5.16) vai

assumindo comportamento singular.

Page 84: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

72

...!4

1!3

1211

3

1

2

11

1* +⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛ Δ−⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛ Δ+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛ Δ−=Δ +

λλλttth n

(5.17)

A relação constitutiva viscoelástica apresentada na equação (5.9) pode então ser

discretizada para cada intervalo de tempo t(n+1) em função da variável interna (5.15),

de forma que a tensão em cada passo subseqüente é dada por:

⎟⎠

⎞⎜⎝

⎛+= ∑

=+++

M

m

mnmnn G

1

)(11001 ...2 hes μμ

(5.18)

Do ponto de vista computacional, a partir da formulação de elementos finitos

discutida no capítulo 3, é necessário calcular a matriz constitutiva Cn+1** para o modelo

viscoelástico em estudo, que pode ser obtida através da diferenciação do tensor de

tensões desviatório apresentado na equação (5.18) em relação à deformação total,

conforme estabelecido por ZIENKIEWICZ e TAYLOR [48] na forma da equação

(5.19). 3

dIes

εsC

1

1

1

11

+

+

+

++ ∂

∂=

∂∂

=n

n

n

nn

(5.19)

A derivada parcial da expressão da parcela desviatória do tensor de tensões

assume a forma apresentada na equação (5.20), onde I corresponde ao tensor identidade.

Para exemplificar o processo de obtenção analítica das expressões, restringe-se o

número de termos para M=1, correspondente a um modelo do sólido viscoelástico

padrão. Entretanto, para a extensão da formulação para M>1, deve-se calcular o valor

da variável interna hn+1 para cada M-ésimo elemento de Maxwell ligado ao modelo,

alocando a contribuição de cada parcela de forma linear.

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡

∂∂

+=∂∂

ehI

es

1002 μμG (5.20)

Por outro lado, derivando a expressão (5.15) com relação a deformação

desviatória tem-se: *** Para manter a notação original de ZIENKIEWICZ e TAYLOR [48], a matriz constitutiva Duu passa agora a ser representada por Cn

Page 85: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

73

Iheh )(1

1

1 tnn

n ΔΔ=∂∂

++

+ (5.21)

Combinando as equações (5.20) e (5.21), pode-se reescrever a expressão (5.19)

sob a forma:

[ ] dnn

nn tG Ih

εsC )(2 1100

1

11 ΔΔ+=

∂∂

= ++

++ μμ

(5.22)

ZIENKIEWICZ e TAYLOR [48] discorrem que a formulação para matriz

constitutiva apresentada na equação (5.22) difere da formulação elástica linear apenas

na parcela do módulo de cisalhamento, que agora passa a ser dependente dos parâmetros

viscoelásticos e da variável interna.

O tensor de tensões σ em cada passo de tempo tn+1 é atualizado a partir da

parcela desviatória, conforme apresentado pela equação (5.18). Dessa forma, é

necessário efetuar a atualização do vetor de forças internas, conforme formulação

apresentada por ZIENKIEWICZ e TAYLOR [48] e SIMO e HUGHES [24]:

Ω= ∫Ω ++ dn

Tnvisc .1

1 σBf (5.23)

Objetivando uma generalização dos conceitos discutidos, será apresentada uma

formulação alternativa para a viscoelasticidade, baseada na função de energia

armazenada Wo(ε), conforme apresentado por SIMO e HUGHES [24].

Essa função de energia Wo(ε) pode também ser decomposta em uma parcela

desviatória e volumétrica, de forma que:

)()(~)( 000 Θ+= UWW eε (5.24)

onde Θ corresponde ao traço do tensor de deformação ε.

A resposta elástica volumétrica é caracterizada pela parcela U0(Θ). Pode-se

definir também uma resposta elástica instantânea para o tensor de tensão, dado pela

relação:

εεεεσ ε ∂

∂≡∂=

)(~)(~)(

000 WW

(5.25)

Page 86: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

74

Com base no elemento apresentado na figura (5.2), e de maneira similar à

obtenção da expressão (5.5), pode-se reescrever o tensor de tensão sob a forma:

∑=

−=N

iitt

1

0 )()( qσσ (5.26)

A equação constitutiva para o modelo viscoelástico discutido previamente

também pode ser reescrito com base na função da energia Wo, resultando na expressão

(5.27).

( )∫ ∞−∂−+Θ=

tdssW

dsdstGUt )]([~dev)()(')( 00 eIσ e

(5.27)

Similarmente ao procedimento realizado para a obtenção do esquema recursivo

passo-a-passo apresentado anteriormente, adotando-se a série de Prony como função de

relaxação, pode-se a partir da expressão (5.27) redefinir a variável interna h(t), agora

expressa em termos da função de energia:

( )∫ ∞−∂−−=

tdssW

dsdstt )]([~dev]/)(exp[)( 0 eh eτ

(5.28)

Dessa forma, em cada n-ésima iteração temporal a variável interna h(t) é

atualizada com base na equação (5.29), obtida de maneira similar à expressão discutida

em (3.14), através de um esquema de integração de ponto médio em [tn tn+1]. SIMO e

HUGLES [24] enfatizam que a formulação apresentada é incondicionalmente estável e

acurada em segunda-ordem. Entretanto, para elementos de baixa ordem a formulação

está sujeita ao fenômeno de “travamento” próximo ao limite de incompressibilidade.

Por essa razão, é extremamente importante fazer uso da formulação mista em elementos

finitos.

))(2/exp()/exp( 0011 nnnnnn tt sshh −Δ−+Δ−= ++ ττ (5.29)

onde:

)](~[dev 10

1 ++ ∂= nn W es e

(5.30)

][dev 11 ++ = nn εe (5.31)

Page 87: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

75

Assumindo-se d/ds [s0(s)] constante no intervalo [tn tn+1], chega-se finalmente a

uma expressão equivalente à forma apresentada anteriormente na equação (5.15):

)(/

)/exp(1)/exp( 00

11 nnn

nnnn t

tt sshh −

ΔΔ−−

+Δ−= ++ ττ

τ (5.32)

Para a matriz constitutiva, a expressão resultante é obtida através da relação

(5.33):

11

11 1 +

+

++ +

∂=∂∂

= nn

nn n

σεσC ε

(5.33)

SIMO e HUGHES [24] apresentam a formulação da matriz constitutiva em

função de uma parcela 01+nC , obtida pela linearização do tensor 0

1+ns (eq. 5.34) e de

alguns termos da variável interna auxiliar hn+1, resultando na expressão (5.35).

( ) ( )[ ] ( )[ ]

( )[ ] IIII

IIIIC

ee

eeeeee

⊗∂+

+⊗∂−∂⊗−∂=

+

++++

:~:91

:~31:~

31~

12

12

12

120

1

n

nnnn

W

WWW

(5.34)

01

1

1''011 )( +

+

+++ Δ+

∂Θ∂

⊗= nn

nnn tGU C

εIC

(5.35)

Nota-se que se o comportamento inicial do material for admitido como elástico

linear, e que os efeitos da viscoelasticidade estão presentes apenas na parcela

desviatória, a expressão (5.35) é equivalente à particularização da formulação (5.22),

discutida anteriormente.

5.3.Estratégia numérica

Conforme discutido anteriormente, a idéia central da estratégia numérica

adotada para a solução do modelo viscoelástico linear consiste na transformação da

expressão (5.3) em um esquema incremental, onde em cada passo de tempo Δt é obtida

Page 88: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

76

uma configuração de um modelo linear, que é atualizada a cada etapa de solução através

das variáveis controladores da viscoelasticidade.

Duas estratégias de solução para o modelo linear foram empregadas nesse

trabalho: A primeira se baseia na formulação mista proposta por HUGHES et. al. [43],

conhecida como GLS[25]. A segunda na formulação de estabilização direta da pressão,

proposta por DOHRMANN e BOCHEV [46] .

Adotou-se para implementação das formulações descritas no capítulo 3 o

elemento quadrilátero bilinear apresentado na figura (5.3). O deslocamento/velocidade e

a pressão são aproximados diretamente a partir dos 4 pontos nodais do elemento.

Convém ressaltar que o procedimento de cálculo agora passa a ser efetuado a nível de

elemento, em função das coordenadas locais ξ e η (bidimensional).

Figura 5. 3 – Elemento quadrilátero bilinear

A função de interpolação adotada assume a forma da expressão (5.36), que foi

empregada tanto para a aproximação do deslocamento/velocidade quanto para a

pressão.

)1)(1(41

iiiN ηηξξ ++= i = 1,2,3 e 4 (5.36)

Os valores de iξ e iη estão associados a cada índice i da expressão (5.36) e,

conseqüentemente, a cada ponto nodal do elemento (fig 5.3), na forma apresentada na

tabela seguinte:

Page 89: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

77

Tabela 5. 1 – Parâmetros da função de interpolação bilinear i iξ iη1 -1 -1 2 +1 -1 3 +1 +1 4 -1 +1

Nota-se que a expressão (5.36) garante continuidade entre os nós adjacentes dos

elementos finitos tanto no deslocamento/velocidade quanto na pressão. O

comportamento gráfico da função de interpolação para i = 1 é ilustrado na figura (5.4).

Figura 5. 4 – Função de forma bilinear

De acordo com BATHE [32], de forma geral, nos elementos isoparamétricos as

coordenadas locais se relacionam com as coordenadas globais através da matriz

Jacobiana J, relação esta que pode ser facilmente obtida através da aplicação da regra

da cadeia, resultando na expressão (5.37), onde ς representa a coordenada natural na

direção z, nos casos tridimensionais.

⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢⎢⎢⎢

∂∂∂∂∂∂

=

⎥⎥⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢⎢⎢

∂∂∂∂∂∂

ς

η

ξ

i

i

i

i

i

i

N

N

N

zNy

Nx

N

1J

(5.37)

onde:

Page 90: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

78

⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢⎢⎢⎢

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

=

∑∑∑

∑∑∑

∑∑∑

ii

ii

ii

ii

ii

ii

ii

ii

ii

zN

yN

xN

zN

yN

xN

zN

yN

xN

ςςς

ηηη

ξξξ

J

(5.38)

Na implementação do método GLS, uma importante etapa está relacionada ao

cálculo das derivadas de segunda ordem das funções de interpolação. A estratégia

adotada baseia-se na formulação apresentada na referência [44], sob a forma:

⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟

⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜

⎪⎪⎭

⎪⎪⎬

⎪⎪⎩

⎪⎪⎨

∂∂∂∂

⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢⎢⎢⎢

∂∂∂

∂∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

⎪⎪⎪

⎪⎪⎪

⎪⎪⎪

⎪⎪⎪

∂∂∂∂∂∂∂

⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢⎢⎢⎢⎢

∂∂

∂∂

+∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

∂∂

∂∂

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

=

⎥⎥⎥⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢⎢⎢⎢

∂∂∂∂∂∂

yNx

N

yx

yx

yx

N

N

N

xyyxyyxx

yxyx

yxyx

xyN

yN

xN

i

i

ii

ii

ii

i

i

i

iiiiiiii

iiii

iiii

i

i

i

ηξηξ

ηη

ξξ

ηξ

η

ξ

ξηξηηξηξ

ηηηη

ξξξξ

22

2

2

2

2

2

2

2

2

2

2

2

2

2

1

22

22

2

2

2

2

2

.

.2

2

(5.39)

A integração numérica foi realizada através do método da quadratura de Gauss.

A expressão resultante para a integração tanto no modelo GLS quando no BOCHEV

requer apenas 2 pontos de quadratura de integração. De acordo com BATHE [32], o

número de pontos de integração é função do grau p do polinômio do integrando,

definido pela relação ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +

21p , para p ímpar; para p par considera-se o número inteiro

imediatamente superior ao resultado da razão descrita.

A correlação, a nível de elemento, entre as integrações nos sistemas de

coordenadas global e local é estabelecida mediante a expressão (5.40), onde det J

corresponde ao determinante da matriz Jacobiana, npi o número de pontos de integração

e w o peso correspondente a cada quadrante de integração de Gauss. Maiores detalhes

podem ser consultados em BATHE [32] e ZIENKIEWICZ e TAYLOR [30].

Page 91: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

79

ςηξςηξ

ςηξςηξ

dddwwwh

dddgedzyxf

ijknpii npij npik

iii

e

J

J

det),,(

det),,(),,(

,1 ,1 ,1

1

1

1

1

1

1

∑ ∑ ∑

∫ ∫ ∫∫

= = =

− − −Ω

=

==Ω

(5.40)

Com base nas prerrogativas enfatizadas nas seções preliminares, o modelo

viscoelástico incompressível é obtido por um esquema recursivo passo-a-passo,

recaindo em um modelo linear a cada iteração temporal n, conforme esquema

apresentado em (5.41).

( ) ),(),( 111 pupu nvis

nn +++ −= ffXK δ (5.41)

No caso da viscoelasticidade linear, nota-se que a matriz Kn+1 depende apenas do

intervalo de tempo Δt, conseqüente da dependência da matriz constitutiva Cn+1(ver

equação 5.22).

Em função das hipóteses discutidas nos capítulos preliminares, observa-se que,

para t = 0, a formulação corresponde à solução de um modelo elástico linear. Para tanto,

atribui-se:

00 11 =→= +n

visfh (5.42)

Nas etapas seguintes, a força interna viscoelástica 1+nvisf é calculada com base na

expressão (5.23), que é dependente das tensões e deformações deviatórias e por

conseqüência da variável interna hn+1.

O deslocamento e a pressão em cada etapa n são atualizados através da solução

incremental da expressão (5.41), conforme expressões (5.43) e (5.44). nnn uuu += ++ 11 δ (5.43) nnn ppp += ++ 11 δ (5.44)

Para melhor compreensão dos procedimentos descritos, o algoritmo com os

procedimentos de cálculo é apresentado na figura seguinte:

Page 92: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

80

Figura 5. 5 – Algoritmo para o modelo viscoelástico linear

Início das iterações no tempo n

tn+1=tn+Δt

Início do modelo elástico incompressível [GLS ou Bochev]

Cn+1 Motangem da matriz constitutiva (eq. 5.22)

Iteração nos elementos

-Montagem da matriz Kn+1 [GLS ou bochev]

nnn ppp += ++ 11 δ (nodal) – Atualização da pressão nodal

Iteração nos pontos de integração de Gauss

εn+1 = εn + Δε - (Atualização da deformação total)

en+1=Id εn+1 (Deformação desviatória)

hn+1=exp(-Δt /λ).hn + Δh(en-en+1) (Variável interna)

⎟⎠

⎞⎜⎝

⎛+= ∑

=+++

M

m

mnmnn G

1

)(11001 ...2 hes μμ (Tensão desviatória)

pn

np Np 11

++ = (Pressão no ponto de integração)

111 +++ += nnn pmsσ (Tensão total)

Ω= ∫Ω ++ dn

Tn .11

int σBf (Força interna viscoelástica)

Fim da iteração nos pontos de integração de Gauss

Fim das iterações nos elementos

-Computar K e 11 ++ −= nvis

nr fff global;

-Computar solução 1),( += nrspu fKX 1+nuδ e 1+npδ (eq. 5.41)

- nnn uuu += ++ 11 δ (atualizar deslocamento)

Fim das iterações no tempo

Page 93: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

81

6. Aplicações e discussões

Este capítulo é voltado à realização de análises das estratégias e métodos

desenvolvidos no trabalho. Nas primeiras aplicações (exemplos 6.1 e 6.2), avaliam-se as

formulações em elementos finitos implementadas frente a situações de quase-

incompressibilidade e incompressibilidade total (fluidos), sobretudo para verificar a

acurácea da solução dos modelos lineares GLS e Bochev, necessários para o processo

de solução do modelo viscoelástico.

Nos exemplos seguintes, investiga-se o comportamento reológico de sólidos e

fluidos viscoelásticos, efetuando a análise comparativa através do software FEAP,

desenvolvido por TAYLOR [50]. Na última aplicação, avalia-se o comportamento

numérico frente à realização de um ensaio de fluência. Em situações em que há

presença de malhas não estruturadas, investigam-se também os resultados obtidos com a

formulação IGLS, proposta no capítulo 4.

Convém ressaltar que a formulação utilizada para o modelo misto no FEAP

corresponde à formulação de 3 campos (u-p-θ) com pressão descontínua entre os nós

adjacentes dos elementos na malha, podendo eventualmente, em função da malha,

apresentar um pequeno desvio quando comparada às formulações de 2 campos (u-p) de

pressão contínua avaliados nesse trabalho.

Todas as unidades físicas utilizadas nos exemplos são do Sistema Internacional

de unidades (SI), e essas unidades não serão explicitadas nos exemplos apresentados.

6.1 Exemplo 1: Viga submetida à ação de momento de flexão

O objetivo dessa primeira análise é avaliar globalmente os modelos lineares

implementados. Para tanto, os modelos serão aplicados para obter a aproximação das

componentes do deslocamento de uma viga submetida à ação de um momento de flexão

em estado plano de deformação, conforme apresentado na figura (6.1). O momento

aplicado pode ser substituído pelo sistema binário de força equivalente (carregamento)

apresentado na figura (6.1).

Page 94: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

82

Figura 6. 1 – Viga submetida à ação de um momento de flexão (adaptada de REDDY et.

al.[51])

Esse problema é discutido por REDDY e DJOCO [51], que apresentam a

solução analítica para os deslocamentos vertical e horizontal, explicitados

respectivamente pelas equações (6.1) e (6.2).

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −

−= ylx

ELfyxu

2)1(2),(

2ν (6. 1 )

( )⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ −

−+

−= lyyx

ELfyxv

ννν

1)1(),( 2

2

(6. 2)

Primeiramente, será analisada a convergência dos modelos GLS e Bochev frente

ao grau de refinamento da malha. Adotam-se como parâmetros os seguintes valores: L =

10; l = 2; f = 100; E = 1500.

Os resultados foram extraídos a partir dos valores da solução aproximada e exata

no ponto nodal da extremidade superior da face direita (fig. 6.1). As malhas utilizadas

nas análises apresentam distribuição de refinamento em elementos retangulares, sendo o

domínio subdividido em: 8 elementos (4x2); 32 elementos (8x4); 128 elementos (16x8)

e 512 elementos (32x16). Para fins ilustrativos, a malha de 512 elementos é apresentada

na figura seguinte (fig. 6.2). Nessa primeira análise, optou-se apenas pelo uso de malhas

estruturadas.

Figura 6. 2 – Domínio discretizado em 512 elementos (32x16)

Page 95: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

83

Cabe ressaltar que os algoritmos implementados devem apresentar boa

performance tanto para valores elevados de coeficiente de Poisson quanto para valores

mais baixos. Por essa razão, a análise de convergência foi realizada para os valores de

coeficiente de Poisson ν = 0,1 e ν = 0,499999999.

Adotou-se como parâmetro característico da malha a raiz quadrada do número

de elementos. A norma do erro absoluto foi utilizado como critério indicador da

qualidade da aproximação. Nas figuras seguintes são apresentadas as variações do erro

absoluto em função da raiz quadrada do número de elementos, que será um indicativo

da taxa de convergência dos algoritmos em função da variação dos parâmetros de

estabilização.

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0

Raiz quadrada do número de elementos

|Err

o ab

solu

to|

Bochev a = 1

Bochev a = 2

GLS a = 0.1

GLS a = 0.5

GLS a = 1.

Figura 6. 3 – Convergência do deslocamento horizontal para ν = 0,499999999.

0.00

1.00

2.00

3.00

4.00

5.00

6.00

7.00

0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0

Raiz quadrada do número de elementos

|Err

o ab

solu

to|

Bochev a = 1

Bochev a = 2

GLS a = 0.1

GLS a = 0.5

GLS a = 1.

Figura 6. 4 – Convergência do deslocamento vertical para ν = 0,499999999.

Page 96: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

84

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

0.80

0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0

Raiz quadrada do número de elementos

|Err

o ab

solu

to|

Bochev a = 1

Bochev a = 2

GLS a = 0.1

GLS a = 0.5

GLS a = 1.

Figura 6. 5 – Convergência do deslocamento horizontal para ν = 0,1.

0.00

0.50

1.00

1.50

2.00

2.50

3.00

3.50

4.00

0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0

Raiz quadrada do número de elementos

|Err

o ab

solu

to|

Bochev a = 1

Bochev a = 2

GLS a = 0.1

GLS a = 0.5

GLS a = 1.

Figura 6. 6 – Convergência do deslocamento vertical para ν = 0,1.

Observa-se que para um número reduzido de elementos a formulação mista não

apresenta boa performance, principalmente para elevados valores do coeficiente de

Poisson (fig 6.3 e 6.4). Entretanto, aumentando-se o número de elementos (de 8 para

32) já se observa uma melhora significativa na aproximação.

Os testes mostraram que os algoritmos implementados conseguiram evitar o

efeito de travamento característico da formulação clássica de Garlekin para elevados

valores de Poisson em estado plano de deformação. Esse comportamento é apresentado

na figura (6.7) para o deslocamento horizontal e (6.8) para o deslocamento vertical.

Os resultados foram condizentes com a resposta analítica. Para facilitar a

comparação e avaliação de qualidade dos métodos implementados, em função do

parâmetro de estabilização, são apresentadas as tabelas (6.1) e (6.2), que trazem a

informação do erro relativo comparado com a solução analítica. Na tabela (6.3)

Page 97: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

85

apresentam-se os resultados obtidos através do FEAP®, sobretudo para que se possa

utilizá-lo como parâmetro de análise de qualidade nos exemplos seguintes.

0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0

Coeficiente de poisson

u - d

eslo

cam

ento

hor

izon

tal

AnaliticaBochev a=1Bochev a=2GLS a=0.1GLS a=0.5FEAP-F.MistaFEAP-F.Desl.

Figura 6. 7 – Deslocamento horizontal em função do Poisson (512 elementos)

0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.50

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

Coeficiente de poisson

v - d

eslo

cam

ento

ver

tical

AnaliticaBochev a=1Bochev a=2GLS a=0.1GLS a=0.5FEAP-F.MistaFEAP-F.Desl.

Figura 6. 8 – Deslocamento vertical em função do Poisson (512 elementos)

Page 98: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

86

Tabela 6. 1– Resultado para o modelo de Bochev Poisson Bochev α =1 Bochev α = 2

u v Erro u Erro v u v Erro u Erro v 0 -0,6641 3,3215 0,39% 0,36% -0,6647 3,3243 0,30% 0,27%

0,1 -0,6585 3,2932 0,23% 0,21% -0,6593 3,2969 0,11% 0,09%0,2 -0,6396 3,1983 0,06% 0,05% -0,6406 3,2031 0,10% 0,10%0,3 -0,6073 3,0364 0,11% 0,10% -0,6086 3,0425 0,32% 0,30%0,4 -0,5616 2,8073 0,29% 0,26% -0,5633 2,8150 0,58% 0,53%0,49 -0,5089 2,5435 0,46% 0,41% -0,5109 2,5527 0,84% 0,77%

0,4999 -0,5025 2,5111 0,47% 0,43% -0,5045 2,5205 0,88% 0,80%0,499999 -0,5024 2,5108 0,47% 0,43% -0,5044 2,5202 0,88% 0,80%

0,499999999 -0,5024 2,5108 0,47% 0,43% -0,5044 2,5202 0,88% 0,80%

Tabela 6. 2– Resultado para o modelo GLS Poisson GLS α = 0.1 GLS α = 0.5

u v Erro u Erro v u v Erro u Erro v 0 -0,6639 3,3206 0,41% 0,38% -0,6655 3,3282 0,17% 0,15%

0,1 -0,6582 3,2917 0,27% 0,25% -0,6601 3,3006 0,02% 0,02%0,2 -0,6391 3,1960 0,14% 0,13% -0,6414 3,2064 0,21% 0,20%0,3 -0,6066 3,0332 0,01% 0,01% -0,6092 3,0452 0,42% 0,39%0,4 -0,5606 2,8030 0,12% 0,11% -0,5637 2,8167 0,65% 0,59%0,49 -0,5077 2,5379 0,21% 0,19% -0,5111 2,5534 0,88% 0,80%

0,4999 -0,5012 2,5054 0,22% 0,20% -0,5046 2,5211 0,91% 0,82%0,499999 -0,5011 2,5050 0,22% 0,20% -0,5046 2,5207 0,91% 0,82%

0,499999999 -0,5011 2,5050 0,22% 0,20% -0,5046 2,5207 0,91% 0,82%

Tabela 6. 3– Resultado para FEAP Poisson FEAP – Formulação mista FEAP – Formulação u

u v Erro u Erro v u v Erro u Erro v 0 -0,6618 3,3156 0,73% 0,53% -0,6603 3,3103 0,97% 0,70%

0,1 -0,6573 3,2891 0,41% 0,33% -0,6554 3,2826 0,70% 0,53%0,2 -0,6394 3,1960 0,09% 0,13% -0,6370 3,1879 0,46% 0,38%0,3 -0,6080 3,0358 0,21% 0,08% -0,6049 3,0249 0,30% 0,28%0,4 -0,5628 2,8081 0,49% 0,29% -0,5578 2,7896 0,39% 0,37%0,49 -0,5096 2,5441 0,58% 0,44% -0,4847 2,4343 4,53% 4,05%

0,4999 -0,5027 2,5113 0,52% 0,44% -0,0852 0,4274 486,7% 485,1%0,499999 -0,5026 2,5110 0,52% 0,44% -0,0013 0,0053 3,8.104% 4,7.104%

0,499999999 -0,5023 2,5085 0,45% 0,34% -1,4,10-6 5,3,10-6 3,6.107% 4,7.107%

Com base nos resultados apresentados, observa-se que os modelos Bochev e

GLS removeram eficientemente o efeito do “travamento” característico da formulação

clássica de Galerkin em estado plano de deformação, obtidos através do FEAP®. Nota-

se também que o grau de aproximação depende essencialmente do parâmetro α adotado

nas análises.

O deslocamento resultante (módulo do deslocamento) e a pressão são

apresentados nas figuras a seguir:

Page 99: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

87

Figura 6. 9 – Deslocamento resultante para ν = 0,499999999.

Figura 6. 10 – Deslocamento resultante para ν = 0,1.

Figura 6. 11 – Distribuição de pressão para ν = 0,499999999.

Analisa-se agora o comportamento das formulações lineares frente à

aproximação em malhas não estruturadas e com grau de distorção entre os elementos,

sobretudo para avaliar o desempenho das formulações GLS, Bochev e IGLS. Os estudos

foram realizados com malhas subdivididas em 46, 85, 191 e 466 elementos. A relação

entre a raiz quadrada do número de elementos e o erro absoluto obtido na aproximação

dos deslocamentos horizontal e vertical é apresentada, respectivamente, nas figuras

(6.12) e (6.13). Os estudos foram realizados adotando-se ν = 0,499999999.

Page 100: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

88

6 8 10 12 14 16 18 20 220

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

0.12

Raiz quadrada do número de elementos

|Erro

abs

olut

o|

Convergencia - Deslocamento horizontal

IGLSBochev a=1.bochev a=2.GLS a=0.1

Figura 6. 12 – Convergência para o deslocamento horizontal (ν = 0,499999999).

6 8 10 12 14 16 18 20 220

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

0.4

0.45

0.5Convergencia - Deslocamento vertical

Raiz quadrada do número de elementos

|Erro

abs

olut

o|

IGLSBochev a=1.bochev a=2.GLS a=0.1

Figura 6. 13 – Convergência para o deslocamento vertical (ν = 0,499999999).

Os resultados mostraram um grande aumento na sensibilidade do parâmetro de

calibração α para malhas irregulares, principalmente no modelo GLS. Nota-se que a

formulação proposta IGLS apresentou os melhores resultados, tanto em termos de

aproximação quanto em termos de taxa de convergência.

Para facilitar as análises comparativas, são apresentados nas tabelas de (6.4) a

(6.6) os resultados numéricos para a aproximação dos deslocamentos vertical e

Page 101: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

89

horizontal oriundos das diversas formulações implementas nesse trabalho,

apresentando-se também o erro relativo obtido em cada aproximação.

Tabela 6. 4– Resultados para a malha de 46 elementos (ν = 0,499999999) Formulação u v erro u erro v

IGLS -5.20E-01 2.59E+00 4.06% 3.72% Bochev α = 1 -5.52E-01 2.76E+00 10.42% 10.25% Bochev α = 2 -6.01E-01 2.99E+00 20.18% 19.72% GLS α = 0.1 -5.71E-01 2.83E+00 14.17% 13.24% GLS α = 0.5 -1.40E+00 6.51E+00 179.81% 160.26% GLS α =0. -4.71E-01 2.33E+00 5.85% 6.85%

Tabela 6. 5– Resultados para a malha de 85 elementos (ν = 0,499999999) Formulação u v erro u erro v

IGLS -5.10E-01 2.55E+00 1.92% 1.96% Bochev α = 1 -5.20E-01 2.60E+00 3.99% 4.14% Bochev α = 2 -4.83E-01 2.43E+00 3.42% 2.67% GLS α = 0.1 -5.22E-01 2.61E+00 4.43% 4.31% GLS α = 0.5 -6.32E-01 3.16E+00 26.41% 26.31% GLS α =0. -4.83E-01 2.43E+00 3.42% 2.67%

Tabela 6. 6– Resultados para a malha de 466 elementos (ν = 0,499999999) Formulação u v erro u erro v

IGLS -5.01E-01 2.50E+00 0.26% 0.11% Bochev α = 1 -5.06E-01 2.53E+00 1.11% 1.05% Bochev α = 2 -5.12E-01 2.56E+00 2.32% 2.27% GLS α = 0.1 -5.05E-01 2.52E+00 1.07% 0.99% GLS α = 0.5 -5.35E-01 2.69E+00 6.94% 7.52% GLS α =0. -4.97E-01 2.48E+00 0.63% 0.63%

Um fato que vale a pena observar está relacionado ao excelente grau de

aproximação do campo de deslocamento obtido pela formulação GLS com α = 0, que

corresponde ao uso apenas da parcela de Galerkin. Entretanto, conforme discutido no

capítulo 3, em situações próximas à incompressibilidade o uso da formulação mista de

Galerkin é sujeita ao chamado modo “pressão espúria”. Esse comportamento ocorre no

exemplo analisado. A distribuição da pressão para GLS, α = 0, é apresentada na figura

seguinte:

Page 102: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

90

Figura 6. 14 – Modo pressão espúria para (ν = 0,499999999): (a) 46 elementos; (b) 85

elementos; (c) 191 elementos; (d) 466 elementos.

A formulação IGLS conseguiu contornar com eficiência o modo de pressão

espúria (instabilidades no campo de pressão), bem como obteve grande ganho de

precisão no campo de deslocamento. A distribuição de pressão obtida pelo IGLS para a

malha de 466 elementos é apresentada na figura (6.15).

Figura 6. 15 – Pressão estabilizado pela formulação IGLS (ν = 0,499999999)

Page 103: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

91

6.2 Exemplo 2: Escoamento de Stokes em regime estacionário

Nesta análise procura-se avaliar a performance das formulações mistas

implementadas frente à situação de incompressibilidade total. Tradicionalmente,

emprega-se o problema de fluxo de Stokes em regime estacionário, que coincide com o

problema de incompressibilidade da elasticidade linear (ν = 0,5). Esse problema é

descrito por ZIENKIEWICKZ e TAYLOR [30] e BATHE [32].

O problema consiste na representação de um domínio bidimensional em forma

de um quadrado de dimensão unitária. Idealiza-se que todos os lados do contorno

apresentam velocidade nula nas direções vertical e horizontal, exceto no contorno

superior que apresenta velocidade unitária na direção horizontal em todos os nós, com

exceção dos nós das extremidades. Admite-se que o fluido possui viscosidade unitária, e

através da relação de Lamé facilmente pode ser obtido o valor do módulo de

elasticidade correspondente.

Como o problema analisado não possui solução analítica, serão adotados os

mesmos parâmetros utilizados por ZIENKIEWICKZ e TAYLOR [30], sobretudo para

que seja possível efetuar uma análise comparativa.

Tratando-se de um problema totalmente incompressível, e que dispõe somente

de velocidades prescritas no contorno, é necessário especificar o valor da pressão em

um ponto no domínio, conforme discutido no capítulo 3. A geometria e condições de

contorno são apresentadas no modelo conceitual, mostrado na figura (6.16).

O domínio foi discretizado em elementos quadrangulares de comprimento de

lado 0.1, obtendo-se dessa forma uma malha em elementos finitos composta por 100

elementos.

Figura 6. 16 – Caracterização do problema de escoamento de Stokes

Page 104: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

92

ZIENKIEWICKZ e TAYLOR [30] apresentam a solução numérica do problema

obtida por diversas técnicas distintas através da aproximação de uma malha de 200

elementos triangulares, cuja geometria se sobrepõe à obtida pela divisão de cada

elemento quadrangular da figura (6.16) em 2 elementos triangulares a partir de sua

diagonal.

Os resultados aqui obtidos foram semelhantes aos obtidos por ZIENKIEWICKZ

e TAYLOR [30]. Na figura (6.17), a solução numérica da pressão em uma seção de

corte BB (fig. 6.16) é apresentada. Foram avaliados distintos parâmetros de calibração

para os modelos GLS e Bochev. Uma solução obtida por ZIENKIEWICKZ e TAYLOR

[30] para elementos triangulares é afixada no gráfico para fins comparativos.

Figura 6. 17 – Variação da pressão na seção de corte BB

De acordo com o gráfico apresentado na figura (6.17), observa-se que o cálculo

da pressão é extremente sensível e dependente dos parâmetros de penalização utilizados

nos modelos, principalmente pelo fato de se considerar apenas velocidades prescritas.

Para melhor compreensão do fenômeno, será apresentado o comportamento da

distribuição espacial da pressão para o modelo GLS em função do parâmetro de

estabilização α (figuras 6.18, 6.19 e 6.20).

Page 105: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

93

Figura 6. 18 – Distribuição espacial da pressão pelo método GLS para α=0.02

Figura 6. 19 – Distribuição espacial da pressão pelo método GLS para α=1.0

Figura 6. 20 – Distribuição espacial da pressão pelo método GLS para α=20

Observa-se que para valores muito baixos de α a pressão permanece estável (fig.

6.18), mas apresenta gradientes acentuados e altos valores numéricos nas regiões

Page 106: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

94

próximas à extremidade superior do domínio. À medida que o parâmetro α vai

assumindo maiores valores os gradientes nas extremidades vão diminuindo (fig. 6.19).

Entretanto, para valores muito elevados de α observa-se uma forte dissipação nos

valores da pressão (fig. 6.20). Especificamente nesse problema ZIENKIEWICKZ e

TAYLOR [30] sugerem um valor para o parâmetro de estabilização GLS compreendido

entre 15.0 ≤≤ α .

Nota-se na figura (6.17) que o comportamento do parâmetro α=0.5 no modelo

GLS foi similar ao modelo Bochev com α=2. A figura (6.21) mostra a distribuição

espacial da pressão para o modelo do Bochev.

Figura 6. 21 – Distribuição espacial da pressão pelo método Bochev para α=2

Esse valor condiz com os resultados analisados por DORHMANN e BOCHEV

[46], que sugerem o uso do parâmetro estabilizador para esse modelo de projeção de

pressão (Bochev) entre 2.1 ≤≤ α .

De maneira geral, o campo de velocidade nos problemas incompressíveis é bem

mais comportado quando comparado ao de pressão. Na figura (6.22) é apresentado o

perfil de velocidade vertical (v) na seção de corte BB. A distribuição espacial do campo

de velocidade obtido através do método GLS é apresentada na figura (6.23). Já o perfil

de velocidade horizontal (u) é representado na figura (6.24), tomado como base a seção

de corte AA. Em seqüência, o campo de velocidade horizontal é mostrado na figura

(6.25).

Convém ressaltar que para elevados valores do parâmetro de estabilização α

observa-se um comportamento anômalo do campo de velocidade (fig. 6.23d e 6.25d).

Page 107: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

95

-0.5 -0.4 -0.3 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5-0.2

-0.15

-0.1

-0.05

0

0.05

0.1

0.15

0.2

Coordenada x

Vel

ocid

ade

verti

cal (

v)

Velocidade no corte BB

GLS 0.1GLS 0.5GLS 1.0Bochev 1.Bochev 2.

Figura 6. 22 – Variação da velocidade vertical na seção de corte BB

Figura 6. 23 – Distribuição espacial da velocidade vertical obtido com o modelo GLS

para: (a) α=0.1; (b) α=0.5; (c) α=1.0; (d) α=20.0;

Page 108: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

96

-0.5 -0.4 -0.3 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5-0.4

-0.2

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

Coordenada x

Vel

ocid

ade

horiz

onta

l (u)

Velocidade no corte AA

GLS 0.1GLS 0.5GLS 1.0Bochev 1.Bochev 2.

Figura 6. 24 – Variação da velocidade horizontal na seção de corte BB

Figura 6. 25 – Distribuição espacial da velocidade horizontal obtido com o modelo GLS

para: (a) α=0.1; (b) α=0.5; (c) α=1.0; (d) α=20.0;

Page 109: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

97

Observa-se que as oscilações no campo de velocidade em função do parâmetro

estabilizador são mínimas. No entanto, a combinação dos efeitos oscilatórios na parcela

da velocidade vertical e/ou horizontal pode comprometer a velocidade resultante

(módulo da velocidade) das partículas fluidas e, conseqüentemente, a direção de fluxo.

Objetivando efetuar essa análise, são apresentadas as componentes gráficas da figura

(6.26), que mostra a variação do módulo de velocidade em função do parâmetro

estabilizador para o modelo GLS.

Figura 6. 26 – Distribuição espacial do módulo de velocidade obtido com o modelo

GLS para: (a) α=0.1; (b) α=0.5; (c) α=1.0; (d) α=20.0;

Conforme já esperado, as interferências das oscilações no módulo da velocidade

das partículas fluidas são praticamente inexistentes no intervalo 15.0 ≤≤ α para o

modelo GLS. De maneira similar ao campo de pressão, o campo do módulo de

velocidade para o modelo Bochev é idêntico ao campo de velocidade do modelo GLS

com α=1.0, conforme previamente apresentado na figura (6.26c).

Page 110: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

98

6.3 Exemplo 3: Viga viscoelástica submetida à ação de momento de flexão

Para analisar o efeito temporal da viscoelasticidade, reapresenta-se o problema

discutido no item 6.1. A análise foi realizada com a malha de 128 elementos, ilustrada

na figura seguinte:

Figura 6. 27 – Discretização espacial em 128 elementos finitos.

Para a análise, adota-se um Poisson ν = 0,3 e módulo de elasticidade E = 1000.

Os parâmetros viscoelásticos correspondem a μ1 = 0,99 e τ = 1, admitindo-se que a viga

apresenta comportamento típico de um sólido viscoelástico linear padrão. Adota-se nas

análises um intervalo de tempo Δt = 0,1.

Nota-se que a função de relaxação para o problema descrito corresponde à

expressão (6.3):

[ ]1000( ) 0,01 0,99exp( )2,6

G t t= + − (6.3)

Conforme discutido no capítulo 2, o rearranjo molecular advindo dos efeitos da

viscoelasticidade pode induzir a situação de incompressibilidade. Esse efeito pode ser

avaliado através de um coeficiente de Poisson efetivo, que pode ser calculado pela razão

entre o módulo de elasticidade volumétrica K e o módulo de cisalhamento ( )G t ,

resultando na seguinte expressão:

3 2 ( )( )6 2 ( )ef

K G ttK G t

ν −=

+

(6.4)

No gráfico (6.28), é apresentada a evolução temporal do deslocamento vertical

na extremidade superior da face direita (ver ponto de análise na figura 6.1). Os

resultados obtidos através de diferentes parâmetros de estabilização para o modelo

viscoelástico através dos métodos GLS e Bochev são comparados aos resultados obtidos

através do software FEAP®. Convém ressaltar que a análise no FEAP® foi realizada a

partir da formulação baseada apenas no método dos deslocamentos, principalmente para

avaliar o efeito do “travamento” característico dessa formulação para elevados valores

de Poisson.

Page 111: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

99

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 500

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Tempo

Des

loca

men

to v

ertic

al -

v

Feap - desl.Bochev a = 1Bochev a = 2GLS a = 0.1GLS a = 1.0

Figura 6. 28 – Evolução temporal do deslocamento

A partir da equação (6.4), pode-se observar que o Poisson efetivo para ∞→t

corresponde a νef = 0.49769585253456. Um valor significativo do coeficiente de

Poisson efetivo é alcançado em t = 10, correspondendo a νef (10) = 0.49768551230893.

A partir dos instantes seguintes, nota-se um crescente aumento do erro absoluto entre a

formulação MEF baseada no método dos deslocamentos, obtidos com o FEAP®, e as

aproximações dos demais modelos.

Nos resultados apresentados na tabela (1.3), nota-se que essa formulação do

FEAP® apresenta erro numérico de 4,05% para um ν = 0,49, sendo que os erros

crescem consideravelmente quando 5,0→ν . Entretanto, para valores mais baixos de ν

os resultados são aceitáveis. Dessa forma, pode-se concluir que os resultados obtidos

com os modelos GLS e Bochev foram condizentes com os resultados obtidos com o

FEAP® dentro da margem de validade da formulação nele utilizada para análise. Por

outro lado, para tempos elevados, onde o Poisson efetivo se aproxima de 0,5,

aparentemente a formulação em deslocamento (relativa ao FEAP®) sofreu o efeito de

“travamento”.

Page 112: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

100

6.4 Exemplo 4: Membrana de Cook

Nesse exemplo, apresenta-se um problema em estado plano de deformação

tradicionalmente utilizado para avaliação de resultados das formulações mistas. O

problema de Cook foi introduzido por SIMO e RAFAI [52] e consiste em uma placa

engastada na extremidade esquerda e submetida à ação de forças tangenciais na face da

direita. Nas demais interfaces a placa é livre e não há aplicação de forças. Tal

configuração torna-se interessante para análise, uma vez que se observa o aparecimento

de esforços normais e cortantes. A geometria e condições de contorno podem ser

visualizadas na figura (6.29). Adota-se um módulo de elasticidade E = 250. Observa-se

que os elementos da malha apresentam um certo grau de distorção, o que pode

complicar o desempenho da formulação GLS.

Figura 6. 29 – Geometria e discretização espacial em 100 elementos (10 x 10)

Primeiramente, é feita uma análise da estabilidade e convergência dos modelos

lineares frente a situações de quase-incompressibilidade. Os estudos foram realizados

com a região discretizada em 100 elementos (10 x 10), 400 elementos (20 x 20), 900

elementos (30 x 30) e 2500 elementos (50 x 50).

Os resultados foram comparados aos do programa FEAP®. Nas figuras (6.30) e

(6.31) são apresentados a variação do deslocamento vertical no ponto de referência

(extremidade superior da face da direita) em função do coeficiente de Poisson, para as

malhas de 100 (10x10) e 2500 (50x50) elementos respectivamente.

Page 113: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

101

0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.50

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Coeficiente de Poisson

Des

loca

men

to v

ertic

al -

v

GLS a = 0.05GLS a = 0.0Feap - mist.Feap - desl.Bochev a = 1Bochev a = 2

Figura 6. 30 – Deslocamento vertical para a malha 10 x 10 (100 elementos).

0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.51

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Coeficiente de Poisson

Des

loca

men

to v

ertic

al -

v

GLS a = 0.05Feap - mist.Feap - desl.Bochev a = 1Bochev a = 2

Figura 6. 31 – Deslocamento vertical para a malha 50 x 50 (2500 elementos).

Através das figuras (6.30) e (6.31) nota-se claramente que à medida que a malha

atinge um certo grau de refinamento, a aproximação dos modelos implementados (GLS

e Bochev) são equivalentes à aproximação obtida com a formulação mista do FEAP®.

Page 114: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

102

Independentemente do grau de refinamento da malha, a formulação baseada apenas na

sentença variacional do deslocamento (u) apresenta “travamento” para elevados valores

do coeficiente de Poisson. Apenas para efeito ilustrativo, na figura seguinte pode-se

observar a distribuição de elementos para a malha (30 x 30) e (50x50):

Figura 6. 32 –(a) Malha de 900 elementos (b) malha de 2500 elementos

Por outro lado, independentemente do grau de refinamento da malha, a

distribuição de pressão mostrou-se bastante sensível em função dos parâmetros de

estabilização. No modelo GLS, para α = 0 se observou novamente o modo pressão

espúria. Já para α = 0,5 as pressões foram fortemente amortecidas, gerando também

oscilações numéricas, conforme apresentado na figura (6.33).

(a) (b)

Figura 6. 33 – Distribuição da pressão para (a) α = 0 (b) α = 0,5.

Page 115: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

103

Os melhores resultados relativos a estabilização da pressão foram obtidos com

valores α<0,1. Já a formulação IGLS novamente obteve grande êxito na aproximação,

apresentando ganho de precisão numérica quando comparado a α = 0,1, conforme

apresentado na figura (6.34).

(a) (b)

Figura 6. 34 – Estabilização da pressão para: (a) α = 0,1 ; (b) IGLS

Admite-se para as análises seguintes que o material em estudo apresenta um

comportamento reológico típico de um sólido viscoelástico padrão (linear), com os

seguintes parâmetros: ν = 0,49; μ1 = 0,5 ; τ = 1. A função de relaxação assume então a

forma:

[ ]250( ) 0,5 0,5exp( )2,98

G t t= + − (6. 5)

Através da relação (6.4) pode-se observar que o material apresenta um

coeficiente de Poisson efetivo de 0,495 para ∞→t .

A evolução temporal do deslocamento é apresentada na figura seguinte. Os

resultados foram obtidos com o uso da malha de 900 elementos (30x30).

Page 116: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

104

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 207

8

9

10

11

12

13

14

15

16

Tempo

Des

loca

men

to v

ertic

al -

v

GLS a = 0.05Feap - mist.Feap - desl.Bochev a = 1Bochev a = 2

Figura 6. 35 – Evolução temporal do deslocamento vertical (malha 30 x 30)

A diferença percentual máxima entre os resultados obtidos com a formulação

mista do FEAP® foi de 2,8% para o GLS, de 1,6% para o Bochev α = 1 e de 1,7 %

para o Bochev α = 2. Nota-se que a formulação baseada na sentença variacional do

deslocamento (Feap – desl.) apresentou valores inferiores às demais formulações para

t >1,5, aparentemente conseqüente do efeito de “travamento” para elevados valores do

coeficiente de Poisson.

A diferença percentual entre os resultados obtidos através da formulação mista

do FEAP® e dos modelos desenvolvidos tende a diminuir em função do grau de

refinamento da malha. Na figura seguinte, é apresenta a evolução temporal do

deslocamento obtida com uma malha de 2500 elementos (50x50). Os resultados foram

obtidos utilizando um coeficiente de Poisson inicial de ν=0,499.

Page 117: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

105

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 207

8

9

10

11

12

13

14

15

16

Tempo

Des

loca

men

to v

ertic

al -

v

GLS a = 0.05Feap - mist.Bochev a = 1Bochev a = 2

Figura 6. 36 – Evolução temporal do deslocamento vertical (malha 50 x 50)

Nessa análise, a diferença percentual máxima entre a formulação mista do FEAP

e dos modelos implementados corresponde a 1,1% para o GLS, 0,9% para o Bochev

α = 1, e 1,2% para o Bochev α = 2.

Nas figuras seguintes, são apresentados o deslocamento resultante (módulo do

deslocamento) nos instantes t = 0 (deformação elástica instantânea) e t = 10 (advinda

dos efeitos da viscoelasticidade). Nota-se que o efeito da viscoelasticidade incorporou

um incremento significativo do deslocamento resultante.

Page 118: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

106

Figura 6. 37 – Deslocamento resultante para t = 0.

Figura 6. 38 – Deslocamento resultante para t = 20.

Page 119: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

107

6.5 Exemplo 5: Análise de reversibilidade da fluência viscoelástica

Nesta aplicação, analisa-se o comportamento numérico em analogia ao

comportamento físico de um corpo viscoelástico posto em ensaio de fluência (carga

constante) e submetido à remoção da carga q em um instante t’>0.

Para tanto, idealiza-se inicialmente um corpo engastado submetido à ação de

força de tração originada por um carregamento q, cuja configuração geométrica e

discretização espacial é apresentada na figura (6.39), onde pode-se observar a

subdivisão do domínio em 64 elementos. Adota-se: a =b =2; q=5; t’=2,5;

Figura 6. 39 – Geometria e discretização da malha.

Primeiramente, considera-se um material com propriedades características de um

sólido viscoelástico padrão, adotado como incompressível (ν = 0,5) e com viscosidade

G = 3,333 ( equivalente a um E = 100). Adota-se como tempo de relaxação o valor

unitário (τ = 1) e μ1 = 0,6.

O comportamento temporal do deslocamento horizontal no ponto de análise (ver

figura 6.39) é apresentado na figura (6.40).

Page 120: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

108

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

Tempo

Des

loca

men

to h

oriz

onta

l - u

Bochev a = 2GLS a = 0.5GLS a = 0.1

Figura 6. 40 – Deslocamento horizontal para o modelo sólido viscoelástico padrão.

Observa-se no instante inicial a resposta instantânea correspondente ao

deslocamento de um modelo elástico linear. Nos instantes seguintes de aplicação da

carga constante q, o deslocamento aumenta continuamente, apresentando tendência a

assumir um valor assintótico característico dos exemplos apresentados anteriormente.

No instante t’ = 2,6, após a remoção da carga, há uma recuperação imediata equivalente

a resposta instantânea inicial. Em seguida, observa-se a recuperação da parcela viscosa,

que deve ser integralmente recuperada em função do arranjo do modelo.

A interpretação do comportamento ilustrado na figura (6.40) é facilmente

compreendida se o analisarmos a partir do modelo físico apresentado na figura (2.16).

Inicialmente, a resposta instantânea deve corresponder ao deslocamento advindo da

parcela elástica do modelo, que corresponde a soma dos elementos elásticos que estão

ligados em paralelo. Após a remoção da carga, o elemento elástico que está

paralelamente ligado ao elemento de Maxwell forçará a recuperação total do

deslocamento, condizendo com o comportamento obtido pelo MEF mostrado na figura

(6.40).

Page 121: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

109

Pela própria definição do ensaio de fluência, a pressão deve ser mantida

constante no elemento ao longo do teste. Esse comportamento é compatível com os

resultados obtidos, onde nos instantes de aplicação da carga t<2,6 a pressão é mantida

constante e proporcional ao valor de carregamento aplicado. Após a retirada da carga, é

esperado que pressão seja nula. Dessa forma, os resultados numéricos apresentados na

figura (6.41) estão condizentes com o comportamento físico do ensaio de fluência.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10-1

0

1

2

3

4

5

6

Tempo

Pre

ssão

Bochev a = 2GLS a = 0.5

Figura 6. 41 – Pressão para o modelo sólido viscoelástico padrão

Um fato importante a destacar está relacionado aos resultados obtidos através do

modelo GLS com α = 0, que equivale ao uso somente da formulação mista de Galerkin.

Conforme discutido no capítulo 3, para elevados valores do coeficiente de Poisson essa

formulação está sujeita ao modo “pressão espúria”. Tem-se aqui novamente um caso

típico, onde os deslocamentos são razoavelmente aproximados (fig 6.40) mas a pressão

está totalmente comprometida, conforme ilustrado em (6.42).

Page 122: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

110

00.5

11.5

2

0

0.5

1

1.5

2

-100

-50

0

50

100

Eixo X

Pressão (p)

Eixo Y 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10-50

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Tempo

Pre

ssão

GLS a = 0.

Figura 6. 42 – (a) Distribuição espacial da pressão para t = 0; (b) Evolução temporal da

pressão

Dessa forma, as formulações implementadas conseguiram efetivamente remover

o efeito do modo “pressão espúria” e o efeito de “travamento”, garantindo estabilidade

para o modelo viscoelástico. A pressão estabilizada é apresentada na figura (6.43),

obtida pelo modelo Bochev.

0

0.5

1

1.5

2

0

0.5

1

1.5

2

0

5

10

15

20

Eixo X

Pressão (p)

Eixo Y

Pressao

4 5 6 7 8 9 10 Figura 6. 43 – Distribuição espacial da Pressão (estabilizada)

Para avaliar os efeitos temporais da viscoelasticidade, consideraram-se também

análises com diferentes valores do coeficiente de Poisson, obtendo-se resultados

similares aos apresentados. Entretanto, para a configuração em estudo, nota-se

claramente a dependência dos deslocamentos com o valor do coeficiente de Poisson. Na

figura seguinte, os resultados em t = 2,4 para coeficientes de Poisson 0,5 e 0,2 são

apresentados. Destaca-se o comportamento próximo às extremidades do engaste, onde

observa-se a conservação de volume nos elementos da malha para ν =0,5.

Page 123: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

111

Figura 6. 44 – Deslocamento resultante para t = 2,4 para: (a) ν = 0,5; (b) ν = 0,3. (escala

alterada para visualização – 2x)

Considera-se agora o material com propriedades de um fluido viscoelástico de

Maxwell. Nesse caso, têm-se μ1 = 1,0 e demais propriedades idênticas às utilizadas na

análise anterior (ν = 0,5).

O comportamento temporal do deslocamento horizontal no ponto de análise é

apresentado na figura (6.45). Conforme esperado, nota-se uma resposta elástica inicial

seguida por um aumento do deslocamento no tempo, que de acordo com as análises

teóricas apresentadas no capítulo 2 crescerá indefinidamente, cuja tendência da taxa de

deformação (coeficiente angular) se aproximará a de um fluido newtoniano. Nota-se que

a partir do instante de retirada da carga (t>2,6), há recuperação imediata da parcela

elástica, sendo a parcela viscosa irrecuperável, conforme discutido previamente.

Observa-se uma pequena oscilação numérica no instante imediatamente posterior a

retirada da carga, originada pela descontinuidade do carregamento. Convém relembrar

que a taxa de deformação é aproximada através de um esquema numérico em diferença

finita progressiva.

Page 124: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

112

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 50

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

0.4

0.45

0.5

Tempo

Des

loca

men

to h

oriz

onta

l - u

Bochev a = 2GLS a = 0.5GLS a = 0.1

Figura 6. 45 – Deslocamento horizontal para o modelo de Maxwell

O comportamento da pressão aproximada é mostrado no gráfico seguinte, e

conforme discussão prévia está de acordo com a interpretação física do problema.

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5-1

0

1

2

3

4

5

6

Tempo

Pre

ssao

Bochev a = 2GLS a = 0.5

Figura 6. 46 – Pressão- Modelo de Maxwell

Page 125: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

113

Agora, faz-se uma análise de um corpo submetido a um estado de cisalhamento

puro. Nesse caso, os efeitos da viscoelasticidade estão presentes apenas na parcela

desviatória, uma vez que a pressão deve ser nula. A distribuição da carga q é

apresentada na figura seguinte:

Figura 6. 47 – Corpo submetido a estado de cisalhamento puro

Novamente, para elevados valores de coeficiente de Poisson, o uso da

formulação mista de Galerkin revelou o modo “pressão espúria”, conforme apresentado

na figura (6.48).

Pressao

-3000 -2000 -1000 0 1000 2000 0

0.511.52

0

0.5

1

1.5

2

-4000

-2000

0

2000

4000 Pressão (p)

Eixo X

Eixo Y

Figura 6. 48 – Modo pressão espúria no estado de cisalhamento puro.

Page 126: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

114

Entretanto, os valores aproximados para o deslocamento foram novamente

razoáveis, evitando dessa forma o efeito do “travamento”. A configuração do

deslocamento resultante é apresentada na figura seguinte:

0 0.5 1 1.5 20

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2Deslocamento resultante

Figura 6. 49 – Deslocamento resultante para o GLS α = 0.

Os resultados obtidos para o modelo de Maxwell com ν = 0,5 são apresentados

na figura (6.50), onde se observa um comportamento condizente com os resultados

teóricos previamente discutidos.

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 50

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2

Tempo

Des

loca

men

to h

oriz

onta

l - u

Bochev a = 2GLS a = 0.5GLS a = 0.1

Figura 6. 50 – Evolução temporal do deslocamento vertical (Modelo de Maxwell).

Page 127: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

115

De maneira esperada, a pressão aproximada toma valores nulos ao longo de toda

análise, conforme apresentado na figura (6.51).

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 50

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1x 10

-8

Tempo

Pre

ssao

Bochev a = 2GLS a = 0.5

Figura 6. 51 – Evolução temporal da pressão (Modelo de Maxwell).

Em outra análise, adotou-se o material com comportamento típico de um sólido

viscoelástico padrão, com μ1=0,6. Os resultados obtidos para o deslocamento e pressão

foram novamente condizentes com o comportamento físico esperado, conforme

apresentado na figura (6.52).

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

Tempo

Des

loca

men

to h

oriz

onta

l - u

Bochev a = 2GLS a = 0.5GLS a = 0.1

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10x 10-9

Tempo

Pre

ssao

Bochev a = 2GLS a = 0.5

Figura 6. 52 – Evolução temporal do deslocamento vertical e pressão (Modelo do sólido

viscoelástico).

Page 128: ANÁLISE DE MODELOS REOLÓGICOS VISCOELÁSTICOS ATRAVÉS …

116

Ambas as análises foram realizadas com diversos valores do coeficiente de

Poisson. Para ilustrar a influência desse parâmetro nas análises, apresenta-se na figura

seguinte o deslocamento resultante (módulo do deslocamento) para o modelo de

Maxwell realizado com Poissons ν = 0,2 e ν = 0,5 em t = 100.

Figura 6. 53 – Deslocamento resultando para o modelo de Maxwell em t = 100:

(a) ν = 0,2; (b) ν = 0,5.

a b

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117

7. Conclusões e recomendações

Com base nos resultados apresentados, observa-se que a aplicação da

formulação mista em elementos finitos é altamente eficaz no que diz respeito à

eliminação do fenômeno de “travamento” de malha, que ocorre com o emprego da

formulação clássica de Galerkin em situações próximas à incompressibilidade.

Entretanto, é necessário o uso de formulações estabilizadas para a garantia da

aproximação do campo de pressão com acurácia, evitando dessa forma as instabilidades

numéricas advindas do chamado “modo pressão espúria”. Assim, pretende-se enfatizar

a idéia de que nem sempre os resultados com bom grau de aproximação do campo de

deslocamento/velocidade induzirá a boas aproximações do campo de pressão (tensão e

deformação). Por essa razão, os métodos estabilizados são altamente recomendados no

emprego das formulações mistas em elementos finitos.

O método Galerkin Least Square (GLS) [43] mostrou-se eficiente na remoção

do fenômeno de “travamento” de malha e do modo “pressão espúria”. Entretanto, o fato

de a formulação depender de um parâmetro de calibração α, que detém um valor ótimo

para cada classe de problemas, passa a dificultar o uso do modelo. Nos exemplos

analisados, pode-se observar que em valores de α próximos a zero a pressão pode não se

comportar de maneira estabilizada, visto que a parcela relacionada à ponderação por

mínimos quadrados tende a ser anulada, predominando dessa forma a parcela de

ponderação de Galerkin. Entretanto, para valores elevados de α nota-se um

amortecimento artificial na aproximação da pressão, que pode dessa forma apresentar

valores não compatíveis com a solução exata.

Já a formulação linear de estabilização direta de pressão Bochev [46] mostrou

ser menos sensível à variação do parâmetro de estabilização, pois as modificações do

parâmetro α alteravam de maneira pouco significativa os resultados aproximados para a

pressão e deslocamentos/velocidades.

É notório, de acordo com os resultados apresentados no exemplo 4, que em

função do grau de refinamento da malha, o parâmetro de estabilização passa a não ter

influência acentuada na aproximação dos resultados.

Observou-se que a sensibilidade do parâmetro de estabilização é mais crítica em

situações onde todo o contorno do domínio apresenta a condição de Dirichlet

(velocidades/deslocamento prescritos). Nesse caso, é extremamente necessária a

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118

prescrição do valor da pressão em algum ponto do domínio, conforme discutido no

capítulo 3.

No tocante ao comportamento dos modelos lineares em situações em que a

malha não seja estruturada e contenha elementos com alto grau de distorção, foi

perceptível uma perda na precisão da aproximação numérica (exemplo 1). Esse efeito é

mais evidente no modelo GLS [43], onde para os exemplos numéricos analisados foi

observado que quanto maior é a parcela atribuída à sentença de ponderação em mínimos

quadrados, maiores são os desvios numéricos. Aparentemente isso ocorre ao se fazer

atribuições ao parâmetro de ponderação α maiores do que o valor necessário,

provocando dissipações numéricas. Em função da capacidade de determinar o valor de α

para cada elemento, o método IGLS proposto obteve grande ganho na precisão do

campo de deslocamento/velocidade, garantindo também a estabilidade do campo de

pressão. Trata-se de uma estratégia interessante, visto que ainda hoje a formulação GLS

é alvo de enumeras discussões em função da necessidade de determinação do parâmetro

de calibração de forma automática.

Ambos os modelos lineares apresentaram significativas taxas de convergência

entretanto, conforme discutido no exemplo 1, a formulação mista não tem boa

aproximação para malhas com o grau de refinamento ínfimo (pobre). Observou-se em

todos os exemplos consistência, convergência e conseqüentemente estabilidade

numérica das formulações.

Em termos de tempo de processamento, a formulação proposta por Bochev

mostrou-se computacionalmente mais eficiente, uma vez que não são necessários

cálculos de derivadas de ordens superiores, tal qual ocorre na formulação GLS. Nos

exemplos executados, o tempo de processamento na formulação GLS foi em média 9%

mais lento quando comparado à formulação do Bochev. Entretanto, para tratamento de

problemas que apresentem distorções na malha, observou-se numericamente que os

resultados obtidos através da estratégia proposta (IGLS) foram mais precisos que os

advindos da formulação do Bochev. Por essa razão, para se o obter o mesmo grau de

precisão da formulação IGLS seria necessário o refinamento de malha para o modelo do

Bochev, o que aumentaria o custo de processamento numérico.

No que diz respeito aos resultados advindos do modelo viscoelástico, pode-se

destacar a influência do grau de aproximação da pressão na evolução temporal dos

descolamentos\velocidades, uma vez que é necessária a aproximação da pressão em

cada etapa do incremento temporal para o cálculo da tensão total e conseqüente

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119

atualização do vetor de forças internas resultante. Como discutido no capítulo 2, a

reacomodação molecular oriunda da combinação dos efeitos viscosos e elásticos do

material viscoelástico pode induzir a um comportamento de incompressibilidade. Assim

sendo, a formulação do modelo linear deve responder de maneira eficiente à remoção

dos efeitos de “travamento de malha” e do modo “pressão espúria”, de maneira similar

aos resultados dos exemplos (6.3) e (6.4). Com base nas análises realizadas, é possível

afirmar que a consistência e convergência numérica dos modelos lineares (Bochev, GLS

e IGLS) garantem estabilidade para o modelo viscoelástico incompressível.

Com base nas análises comparativas realizadas através do software FEAP®,

observou-se que o modelo viscoelástico linear se comportou de maneira compatível às

respostas obtidas com o FEAP®, o que de certa forma valida os resultados numéricos

obtidos.

No caso da última análise, realizada a partir da verificação da reversibilidade da

fluência, constatou-se que os resultados obtidos são compatíveis com o comportamento

físico previsto.

Em função dos incrementos temporais dos deslocamentos (ou velocidades) e

pressão, observa-se em alguns casos, principalmente no modelo de Maxwell, a presença

de grandes deslocamentos resultantes. Dessa forma, sugere-se incorporar estratégias

para o tratamento dos efeitos da não linearidade geométrica em trabalhos futuros.

Pretende-se em trabalhos futuros incorporar estratégias para a representação de

fenômenos inerentes à poromecânica e plasticidade, o que após a integração de módulos

com as estratégias já desenvolvidas permitirá o acoplamento de modelos

poroviscoelásticos e poro-viscoelastoplásticos.

Em todo caso, os algoritmos desenvolvidos nesse trabalho apresentaram

robustez e consistência numérica, podendo ser aplicados em análises reológicas

envolvendo a elasticidade linear compressível e incompressível e na modelagem de

escoamento de fluidos em regime permanente (equação de Stokes). Permitem também

aplicações na modelagem de sólidos viscoelásticos (modelo do sólido viscoelástico

linear padrão) e fluidos viscoelásticos (modelo de Maxwell).

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