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ANÁLISE DOS RISCOS OCUPACIONAIS DO OPERADOR DE EXPEDIÇÃO EM UMA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL Ana Caroline Francisco da Rosa [email protected] Maria de Lourdes Santiago Luz [email protected] Aline Culchesk [email protected] O presente trabalho apresenta como objeto de estudo, os riscos ocupacionais sob a perspectiva da ergonomia com ênfase na função Operador de Expedição de farelo de soja, em uma Cooperativa Agroindustrial localizada na região noroeste do Paraná. O acentuado crescimento da demanda desse produto principalmente no mercado externo, tem exigido dos operadores agilidade e alta produtividade, todavia, cuidados a respeito de segurança e saúde ocupacional não são tratados como prioridade. A ergonomia estuda a relação entre o homem e seu meio de trabalho, as condições ambientais e outros fatores que possam influenciar na saúde e no desempenho em relação ao processo no qual está inserido. Como suporte ao estudo, a pesquisa foi conduzida segundo as orientações metodológicas da Análise Ergonômica do Trabalho (AET). Ferramentas de análise de riscos como FMEA e OWAS deram suporte ao diagnóstico. É caracterizada como uma pesquisa qualitativa, exploratória, porém nesse estudo, com escopo de estudo de caso. Os resultados apontaram que a função Operador de Expedição apresenta-se estressante, exaustiva, evidenciando a exposição a diversos riscos ocupacionais. Foram propostas recomendações de melhoria afim de mitigar os constrangimentos sofridos pelo trabalhador. Palavras-chave: riscos ocupacionais, Operador de Expedição, Método OWAS, FMEA XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil” Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

ANÁLISE DOS RISCOS OCUPACIONAIS DO OPERADOR DE … · 2. Riscos Ocupacionais Conforme Pardo (2009) o risco é medido pela severidade e probabilidade de um efeito adverso para a integridade

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  • ANÁLISE DOS RISCOS OCUPACIONAIS

    DO OPERADOR DE EXPEDIÇÃO EM

    UMA COOPERATIVA

    AGROINDUSTRIAL

    Ana Caroline Francisco da Rosa

    [email protected]

    Maria de Lourdes Santiago Luz

    [email protected]

    Aline Culchesk

    [email protected]

    O presente trabalho apresenta como objeto de estudo, os riscos

    ocupacionais sob a perspectiva da ergonomia com ênfase na função

    Operador de Expedição de farelo de soja, em uma Cooperativa

    Agroindustrial localizada na região noroeste do Paraná. O acentuado

    crescimento da demanda desse produto principalmente no mercado

    externo, tem exigido dos operadores agilidade e alta produtividade,

    todavia, cuidados a respeito de segurança e saúde ocupacional não

    são tratados como prioridade. A ergonomia estuda a relação entre o

    homem e seu meio de trabalho, as condições ambientais e outros

    fatores que possam influenciar na saúde e no desempenho em relação

    ao processo no qual está inserido. Como suporte ao estudo, a pesquisa

    foi conduzida segundo as orientações metodológicas da Análise

    Ergonômica do Trabalho (AET). Ferramentas de análise de riscos

    como FMEA e OWAS deram suporte ao diagnóstico. É caracterizada

    como uma pesquisa qualitativa, exploratória, porém nesse estudo, com

    escopo de estudo de caso. Os resultados apontaram que a função

    Operador de Expedição apresenta-se estressante, exaustiva,

    evidenciando a exposição a diversos riscos ocupacionais. Foram

    propostas recomendações de melhoria afim de mitigar os

    constrangimentos sofridos pelo trabalhador.

    Palavras-chave: riscos ocupacionais, Operador de Expedição, Método

    OWAS, FMEA

    XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”

    Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

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    1. Introdução

    Aumentar o desempenho organizacional, financeiro, etc. é um fator de sobrevivência às

    organizações. Nesse contexto de crescente performance, o elemento humano e suas limitações

    não podem ser desconsiderados, de forma que, para garantir a integridade física e intelectual

    do trabalhador a todos os postos de trabalho é recomendável realizar análises de riscos e

    ergonômica (FERREIRA, 2015).

    Segundo BRASIL (2017a), a análise ergonômica objetiva rastrear, avaliar e analisar o

    profissional em seu posto de trabalho, verificar a relação existente entre acidentes, doenças,

    condições de trabalho, sistemas e organização das tarefas.

    Diversos acidentes, de acordo com Rangel Júnior (2008), que ocorrem por intoxicação,

    soterramento, asfixia, explosões, quedas em altura, são ocasionados pelo acúmulo de poeira

    nos armazéns e ruídos emitidos pelos equipamentos em unidades de armazenagem de grãos.

    Nesse sentido, verifica-se a importância da engenharia na elaboração de medidas de

    planejamento, monitoramento e controle de riscos de forma a eliminá-los ou minimizá-los.

    O presente trabalho apresenta como objeto de estudo, os riscos ocupacionais sob a perspectiva

    da ergonomia com ênfase na função de operador de expedição de farelo de soja, em uma

    Cooperativa Agroindustrial, localizada na região noroeste do Paraná. O acentuado

    crescimento da demanda desse produto, principalmente no mercado externo, tem exigido dos

    operadores agilidade e alta produtividade.Todavia, cuidados a respeito de segurança e saúde

    ocupacional não são tratados como prioridade. Portanto, o objetivo desse estudo foi identificar

    os fatores de risco por meio do estudo da rotina de trabalho do setor, identificação dos riscos

    ambientais, identificação de ações de segurança e saúde no trabalho da empresa, assim como

    propor a implantação de Programas de apoio a Higiene, Saúde e Segurança do Trabalho.

    2. Riscos Ocupacionais

    Conforme Pardo (2009) o risco é medido pela severidade e probabilidade de um efeito

    adverso para a integridade da saúde de pessoas, bens e meio ambiente. O risco ocupacional é

    estimado pela conjugação de consequências associadas, probabilidade de ocorrência e do

    ambiente de trabalho.

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    Mapa de Riscos é a representação gráfica dos fatores atuantes no ambiente de trabalho capaz

    de ocasionar agravos à saúde dos trabalhadores. Possui a finalidade de conscientizar e

    informar os laboriosos dos riscos existentes no ambiente, estabelecer diagnóstico de

    segurança e estimular a participação dos mesmos em atividades de prevenção dos acidentes

    (NOVELLO; NUNES; MARQUES, 2011).

    2.1 Fatores de Risco durante a armazenagem de grãos

    Segundo com Tietboehl Filho (2004), “a poeira gerada durante os processos de armazenagem

    e movimentação de grãos é o principal fator de risco ocupacional para o sistema respiratório

    nesses ambientes de trabalho”. Outro fator de risco relacionado à atividade física é a

    intensidade das operações, pois, ao aumentar-se a frequência respiratória e o volume de ar

    corrente, as vias aéreas são expostas a uma maior dose de agentes inaláveis (TIETBOEHL

    FILHO, 2004).

    O ruído intenso e constante proveniente das fitas transportadoras e elevadores, possui

    capacidade de ocasionar alterações psicológicas, perdas irreversíveis de audição,

    interferências na comunicação, agressão ao sono, estresse, e aumento da incidência de

    acidentes de trabalho e trajeto (MACAGNAN, 2009).

    Outros fatores de risco relacionados à operação de movimentação e armazenagem de grãos

    são: o calor excessivo, esforços biomecânicos e acidentes. Em relação ao calor excessivo,

    pode ocasionar no trabalhador, superaquecimento do corpo e esgotamento físico. No que

    tange os esforços biomecânicos, há os constrangimentos osteomusculares, oriundos de

    posturas e aplicação de forças inadequadas. Quanto aos acidentes, podem proporcionar lesões

    temporárias ou permanentes, além de óbitos. A observação de rotinas básicas e uso de EPIs

    (Equipamentos de Proteção Individual) podem evitar esse tipo de acidentes (TIETBOEHL

    FILHO, 2004).

    2.2 Ergonomia e Alimentação

    Segundo Mattos e Másculo (2011) ergonomia pode ser definida como: “uma disciplina

    científica que busca estudar o ser e sua interação com elementos de um sistema visando

    saúde, segurança, conforto e eficiência; enfim, bem-estar do homem”.

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    A alimentação desempenha grande influência na vida de uma pessoa: sua saúde, longevidade,

    capacidade de trabalho, entretenimento e aparência uma vez que toda a energia do corpo

    humano é proveniente da alimentação (GALISA; ESPERANÇA; SÁ, 2011).

    Segundo Paula (2011), a alimentação se realizada de forma adequada aos esforços físicos

    resulta em redução do número de acidentes de trabalho e queda do absenteísmo. Uma

    alimentação inadequada, entretanto, é manifestada nos trabalhadores por sintomas de

    sensação de fadiga e tontura, que se agravam à medida que o trabalhador se distancia do

    horário em que a última refeição foi ingerida.

    2.3 Ferramentas para Análise Ergonômica e de Riscos

    As ferramentas para análise de riscos (What if, FMEA), análise ergonômica (método OWAS)

    e de e análise de ruído, estão sintetizadas nas descrições a seguir:

    What if (E se)

    Trata-se de uma técnica de análise qualitativa de revisão de riscos de processos que se

    desenvolve através de reuniões de questionamento com o intuito de postular condições

    anormais que possam resultar em eventos indesejáveis e, traçar possíveis soluções. Os

    objetivos do What if são: identificar problemas operacionais, perigos presentes em instalações,

    projetos ou estruturas existentes; relacionar diferentes ações de melhorias complementares

    que permitam obter um nível de segurança aceitável (RUPPENTHAL, 2013).

    FMEA

    O FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) é uma metodologia sistemática para analisar e

    classificar os riscos associados com a variação do produto/processo e seus modos de falha,

    traçando-se ações corretivas. (PACIAROTTI; MAZZUTO; D’ETTORRE, 2014). A aplicação

    do FMEA pode ser dividida em três fases:

    Análise Qualitativa, baseada na identificação de todos os potenciais modos de falha,

    suas causas e efeitos;

    Análise Quantitativa, baseada na evolução dos índices de severidade (S), ocorrência

    (O) e detecção (D). O grau de severidade, corresponde aos possíveis efeitos das falhas.

    Para a ocorrência, correlaciona-se à probabilidade de a falha acontecer e a detecção,

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    equivale a capacidade de detectar a falha antes que o cliente seja afetado. Os índices

    são classificados de 1 a 10, onde 1 significa que raramente acontece e 10 acontece

    com muita frequência. Baseado em tal avaliação quantitativa é calculado o número de

    prioridades de risco (NPR) para cada causa potencial de falha, a partir da

    multiplicação entre os três índices.

    Análise Corretiva, pautada na implantação de melhorias e estratégias para reduzir o

    nível dos riscos (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON,2009).

    Análise de Ruído

    Saliba (2008) cita que o ruído pode ser definido como um fenômeno físico vibratório, onde

    para cada frequência podem existir aleatoriamente no tempo variações de pressões. De acordo

    com a NR (Norma Regulamentadora) 15, ruído contínuo é aquele cujo nível de pressão sonora

    varia até 3dB (decibéis) durante mais de 15 minutos de observação, enquanto o ruído de

    impacto é caracterizado como picos de energia acústica de duração inferior a 1 segundo, a

    intervalos superiores a 1 segundo. Para ruídos contínuos a exposição máxima permissível é de

    85dB durante 8 horas, enquanto os níveis de pico máximo admissíveis variam em função do

    número de impactos e de níveis de pico máximo admissíveis, sendo que para 100 impactos

    admite-se nível de pico de até 140dB dispensando o uso de protetores auriculares, enquanto,

    para níveis de pico superiores a 140dB é obrigatório o uso de protetores auditivos

    (BRASIL,2017b).

    Segundo a NR 15, em situações cuja exposição do ruído contínuo é composta por dois ou

    mais períodos de exposição a diferentes níveis, deve ser estimado a dose de ruído que é

    calculado a partir da Equação (1) (SALIBA, 2008).

    = (1)

    Cn corresponde ao tempo total à exposição ao ruído, enquanto Tn equivale a duração total

    permitida nesse nível. O Nível Equivalente de Ruído (Leq) calcula-se conforme a Equação(2).

    Leq = 16,61 x log + 85 (2)

    Onde D corresponde à dose equivalente em fração decimal, a variável T equivale ao tempo de

    medição (SALIBA, 2008).

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    Método OWAS

    O Sistema OWAS trata de um sistema prático de registro desenvolvido para superar as

    dificuldades em analisar e corrigir más posturas que são categorizadas em: classe 1 – postura

    normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais; classe 2 – postura que deve

    ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho; classe 3 – postura

    que deve merecer atenção em curto prazo e classe 4 – postura que deve merecer atenção

    imediata (IIDA ; BUARQUE, 2016). A Figura 1 ilustra a codificação e classificação proposta

    pelo método, o qual permite evidenciar 252 tipos de posturas de trabalho, combinando os

    segmentos das costas, braços, pernas ao uso de força e a fase da atividade que está sendo

    observada, sendo atribuídos valores e um código de quatro dígitos. O primeiro dígito do

    código indica a posição das costas, o segundo, posição dos braços, o terceiro, das pernas, o

    quarto indica levantamento de peso ou uso de força. A combinação das posições das costas,

    braços e pernas determinam níveis de ação para as medidas corretivas. Determina-se,

    portanto, o efeito resultante sobre o sistema osteomuscular.

    Figura 1: Posturas codificadas no Método OWAS

    Fonte: Adaptado de Zanutti; Cielo; Poncino (2005)

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    3. Metodologia

    O presente estudo caracteriza-se como pesquisa qualitativa, exploratória com escopo de

    estudo de caso. Como abordagem metodológica utilizou-se os procedimentos da Análise

    Ergonômica do Trabalho (AET) (ABRAHÃO et al., 2009). Uma ação ergonômica é composta

    por um ciclo contínuo de Diagnóstico, Implantação e Avaliação e, nesse estudo comportou

    pelas as seguintes fases:

    Caracterização da Empresa;

    Análise do Ambiente de Trabalho;

    Análise da Tarefa;

    Análise Ergonômica – esforços biomecânicos;

    Análise de Ruído;

    Identificação dos Riscos Ambientais;

    Diagnóstico;

    Recomendações.

    As informações sobre a empresa e características da população foram coletadas através

    dos dados da organização. Foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    (TCLE) para autorização dos registros por meio de filmagens, fotografias e entrevistas. Foram

    realizadas as análises de Ruídos e os registros foram obtidos com o equipamento próximo ao

    ouvido do operador, utilizando o aparelho Termo-Higro Decibelímetro Luxímetro - modelo

    THDL-400. A análise ergonômica foi feita por meio de observações sistemáticas e os

    registros de imagem, munidos do software Ergolândia utilizando a ferramenta OWAS. A

    etapa de diagnóstico abrangeu as condições organizacionais do trabalho, a compreensão

    técnica da atividade e condições ambientais resultando na construção do Mapa de Riscos.

    4. Desenvolvimento

    Trata-se de uma Cooperativa Agroindustrial, fundada em 1966, cujas atividades incluem:

    recebimento, beneficiamento, industrialização e comercialização de soja, milho, canola,

    algodão, café, trigo e suplemento mineral. No complexo industrial localiza-se as seguintes

    indústrias: fios, óleos, bebidas e sucos, e, em diversas cidades do sul do Brasil encontra-se as

    unidades operacionais, além de atuar também no transporte rodoviário de cargas.

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    4.1 Caracterização e análise do Ambiente de Trabalho

    O ambiente de trabalho no setor M&A é composto por 2 armazéns graneleiros (onde o

    produto é armazenado), fitas e elevadores (transportadores do produto) e a área de embarque

    (onde é realizado o carregamento e expedição do farelo).

    As atividades operacionais do operador de expedição são: receber o farelo a jusante das

    Fábricas de óleo, armazenar o produto nos armazéns, e, conforme a demanda, enviá-lo dos

    armazéns para o embarque. Algumas situações atípicas podem ocorrer quando os armazéns

    estiverem cheios e, passar-se a embarcar a produção sem que o produto seja armazenado no

    armazém conforme apresentado na Figura 2.

    Figura 2: Mapeamento das Atividades Operacionais da Expedição de Farelo

    Fonte: Autoras

    Na Expedição de farelo, as atividades operacionais acontecem 24 horas por dia, 7 dias por

    semana, e, os colaboradores são alocados em três turnos. Há funcionários que trabalham em

    horário comercial, outros no turno com períodos das 06:40 às 14:30h, das 14:30 às 22:35h e

    das 22:40 às 06:40h. Em nenhum dos três turnos de operação a equipe possui tempo para

    lanche/ou café o que acarreta em estresse e fadiga no decorrer da jornada de trabalho.

    A rotatividade no Setor de M&A é alta, os operadores permanecem em operação, no máximo,

    2 anos. Em relação ao absenteísmo, normalmente 2 a 3 vezes na semana de 1 até 3

    colaboradores se ausentam no trabalho devido a alergias, dores nas costas e/ou outros motivos

    desconhecidos. Faltas relacionadas aos acidentes de trabalho não são situações rotineiras,

    mas, quando acontecem normalmente são ocasionadas devido à acidentes graves, como

    compressão de parte do corpo, queda de altura, etc.

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    O uso de Equipamentos de Proteção Individual para a função do operador de expedição é

    obrigatório e fornecido pela empresa a saber: bota, capacete, cinto de segurança, luvas, óculos

    e máscara. Os óculos e a máscara comumente não são utilizados porque os colaboradores

    consideram que tais itens mais atrapalham sua atividade laboral do que conferem benefícios

    aos mesmos.

    4.2 Tarefas – sequência operacional

    O Operador de Expedição realiza o carregamento dos caminhões vagões (Figura 3).

    Figura 3: Atividade Carregamento de Caminhões

    Fonte: Autoras

    Um fator agravante à saúde vocal do trabalhador se dá no momento de carregamento do

    caminhão, em que o operador precisa gritar para o motorista colocar o veículo para frente/traz

    conforme a necessidade, com a finalidade de melhor distribuição da carga.

    Em relação a atividade Carregamento dos Vagões, o sequenciamento das operações

    configuram-se conforme a Figura 4:

    Figura 4: Atividade Carregamento dos Vagões

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    Fonte: Autoras

    Em linhas gerais, a tarefa de carregar vagões é condizente com a atividade realizada,

    entretanto, todas as atividades exigem atenção e domínio das tarefas, pois o não cumprimento

    de qualquer uma dessas atividades implica em atrasos e complicações durante o dia laboral.

    4.3 Análise dos Riscos Ocupacionais

    Análise Ergonômica- Método OWAS

    O Operador de Expedição realiza as atividades relacionadas nas Figuras 3 e 4. As atividades

    cujas posturas e podem ser consideradas idênticas tanto para carregamento de caminhões

    como de vagões estão representadas pela Figura 5, estratificadas nas operações de:

    Receber/Devolver Ordem de Carregamento, Emissão de Nota Fiscal/Autorização de Saída. A

    porcentagem de tempo foi estimada a partir dos dados históricos da empresa e por meio da

    medição dos tempos de operação.

    Na análise postural verificou-se que existem atividades que requerem correções imediatas,

    outras onde são necessárias correções em um futuro próximo, enquanto há aquelas que não

    necessitam de correções.

    Figura 5: Análise postural da Função Operador de Expedição

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    Fonte: Autoras

    Análise de Ruído

    A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos em função do nível de ruído, sua classificação e

    período de exposição estimado. Para ruídos contínuos que são a realização do carregamento e

    o ruído do ambiente, o nível de ruído e o tempo de exposição foram de, respectivamente:

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    85dB por 4 horas e 76,2dB por 3 horas. Quanto aos ruídos de pico que correspondem ao

    acionamento das bicas e o fechamento da tampa dos vagões, o nível de ruído e o número de

    picos estimado foram respectivamente de 93,8dB em 160 picos e 104,3dB em 50 picos.

    Tabela 1: Nível de ruído obtido nas medições

    Fonte: Autoras

    O Leq obtido a partir dos ruídos contínuos foi de 84,03dB. Ao que tange os ruídos de

    impacto, a quantidade é 210 picos a 104,3dB de exposição, o que caracteriza, segundo a NR

    15 dispensa do uso de protetores auriculares.

    4.4 Análise e elaboração do Mapa de Riscos

    O Setor Farelo de Soja é composto por 4 ambientes: 2 armazéns, fitas e elevadores e área de

    embarque.

    Os armazéns são classificados como espaço confinado, apresentando riscos físicos, químicos

    e biológicos que entre os quais: asfixia , combustão, fungos e doenças transmitidas por

    animais.

    Para a análise dos riscos ocupacionais utilizou-se as ferramentas What if e FMEA. Antes da

    execução desta atividade foi realizado um brainstorming com 16 trabalhadores, para que se

    tivesse um melhor entendimento sobre o processo, conforme destacado no Quadro 1.

    Nas fitas transportadoras e elevadores, os riscos são físicos, ergonômicos, acidentais e

    químicos, e, são considerados espaços confinados. Os riscos físicos são: enclausuramento,

    exposição ao ruído, calor excessivo. Já os riscos químicos são: combustão do farelo, asfixia e

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    intoxicação. Quanto aos riscos de acidentes apresenta-se: cortes, colisão, fratura e lesões

    múltiplas.

    Quadro 1: Análise de Riscos What If/FMEA

    Fonte: Autoras

    Na área de embarque, os riscos encontrados foram: ergonômico, físico, acidente e biológico.

    Risco ergonômico por possibilitar que o colaborador fique com constrangimento postural

    durante a execução de seu trabalho; risco físico devido exposição ao calor, ruído; de acidente

    quando o operador desce do trabalho em altura ainda existe a possibilidade de atropelamento

    principalmente por parte dos caminhões, tanto a queda quanto o atropelamento podem levar o

    trabalhador a ter lesões múltiplas e/ou fraturas; riscos biológicos estão relacionados à

    contaminação por bactérias e fungos, conforme apresentado na Figura 6.

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    Verificou-se que em todos os ambientes encontram-se riscos ambientais de características

    grave e médio, destacando-se o risco físico que se configura de distintas formas no ambiente

    como um todo. O que requer de todos os trabalhadores atenção, foco e disciplina, pois

    qualquer descuido ou ato inseguro pode acarretar na perda de uma vida.

    Figura 6: Mapa de Riscos

    Fonte: Autoras

    5. Diagnóstico

    Conforme observações e análise de dados foi possível diagnosticar que a função Operador de

    Expedição é estressante, exaustiva e ergonomicamente incorreta.

    Na análise de ruídos, verificou-se que tanto os ruídos contínuos quanto aos ruídos de impacto

    não são suficientes para caracterizar insalubridade, ou seja, não atingem níveis de forma a

    afetar a saúde do trabalhador permanentemente, porém causa irritabilidade, estresse,

    dificultam a comunicação entre os operadores.

    Quanto à análise ergonômica, observou-se que 37% do período laboral são necessárias

    correções imediatas nas atividades de: receber/devolver ordem de carregamento, lonar

    caminhões e lacrar vagões em cima. Em 58% do período laboral são necessárias correções

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    tão logo quanto possível correspondendo a: carregar caminhão/vagão e lacrar vagões em

    baixo. Somente em 5% do tempo despendido na jornada de trabalho diária, não são

    necessárias correções ergonômicas, correspondendo às atividades de emissão de nota fiscal,

    autorização de saída e anotações das placas. Nas atividades lacrar vagões embaixo e

    receber/devolver ordem de carregamento verificou-se a necessidade de ações corretivas

    imediatamente.

    Quanto à análise dos demais riscos ocupacionais, verificou-se que a atividade que expõe o

    funcionário a elevado risco ocupacional é a limpeza das fitas. Em relação ao carregamento

    dos caminhões os riscos se manifestam na movimentação do veículo com operador em cima

    da carga, escorregamento do operador no vão entre o caminhão e plataforma.

    No que diz respeito à atividade carregar vagão, os riscos estão na possibilidade de

    rompimento da tampa no ato da abertura do vagão e existência de animais peçonhentos.

    A respeito do mapa de riscos, observou-se que em todas as áreas os riscos foram classificados

    como grandes e médios, o que requer que toda a equipe tenha comportamentos e práticas

    laborais seguras.

    Com relação à Saúde e Segurança do Trabalhador, os pontos considerados mais críticos são

    postura inadequada durante a execução das atividades, desconforto térmico, desgaste físico

    relacionado à intensidade das operações e impossibilidade de se alimentar durante a jornada

    de trabalho. Outro fator a ser considerado é a negligência do uso dos EPIs óculos e máscara.

    6. Recomendações

    Recomenda-se o uso de protetores auriculares para evitar irritações auditivas. Em relação a

    atividade lacrar vagões embaixo, indica-se que a aquisição de assentos de elevação de forma

    que os colaboradores não mais necessitem abaixar-se para a colocação dos lacres nos vagões.

    No que tange as atividades receber/devolver ordem de carregamento e lonar caminhões, as

    mesmas podem ser melhoradas com o uso de pegador de objetos com garra.

  • XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”

    Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .

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    Para evitar o escorregamento no vão entre o caminhão e a plataforma e rompimento do cinto

    de segurança, aconselha-se manutenção periódica no cinto de segurança, colocação de fitas

    antiderrapantes, e, o operador não mais solicitar movimentação do caminhão enquanto está

    sobre o mesmo.

    Para evitar rompimento na abertura das tampas dos vagões aconselha-se práticas seguras ao

    abrir uma tampa por vez e o uso de luvas de proteção.

    Algumas ações que se aplicadas podem melhorar de imediato a Saúde e Segurança do

    Trabalhador: o estabelecimento de uma área próxima do ambiente de trabalho que possibilite

    realizar pequenas refeições e pausas para descanso. Desta forma, a equipe trabalhará mais

    motivada, erros de operação e acidentes de trabalho devido ao desgaste físico ocorrerão com

    menor frequência e, consequentemente, os colaboradores terão maior interesse em

    permanecer na organização.

    Outra melhoria importante para a saúde ocupacional é a implantação de um sistema de som

    para que não mais seja necessário que o colaborador grite para a movimentação do caminhão.

    Recomenda-se estudos futuros abrangindo a dispersão do pó.

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