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    ISSN 1982-3541Campinas-SP2010, Vol. XII, n 1/2, 1-19

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, n 1/2, 1-19

    Anlise funcional do comportamento naAnlise funcional do comportamento naAnlise funcional do comportamento naAnlise funcional do comportamento naavaliao e terapia com crianasavaliao e terapia com crianasavaliao e terapia com crianasavaliao e terapia com crianas

    Functional analysis of behavior in the assessment andFunctional analysis of behavior in the assessment andFunctional analysis of behavior in the assessment andFunctional analysis of behavior in the assessment andtherapy of childrentherapy of childrentherapy of childrentherapy of children

    Rochele Paz Fonseca1Janana Thas Barbosa Pacheco2

    Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul

    Resumo

    Este artigo objetiva apresentar a importncia da anlise funcional do comportamento na avaliaoe terapia comportamentais com crianas. Tomou parte um caso com oito anos e seis meses deidade, sexo feminino e dois anos de escolaridade. Sua me procurou atendimento com asdescries comportamentais da filha: desatenta, agitada, agressiva, desobediente e comdificuldades escolares. A avaliao funcional foi realizada em seis situaes: terapeuta-cliente,terapeuta-me, terapeuta-pai, terapeuta-pais, terapeuta-tia e terapeuta-professora. Os principaisprocedimentos foram a observao do repertrio comportamental da cliente, o relato verbal e a

    aplicao de instrumentos especficos. A anlise funcional do comportamento foi promovida combase na formulao de hipteses dos efeitos de mudanas ambientais nos comportamentos-queixada cliente. Procedimentos de reforo verbal e generalizado foram utilizados para aumentar a auto-estima e desenvolver um comportamento de melhor desempenho aritmtico e acadmico. Ambosos objetivos foram alcanados. Esse estudo de caso demonstrou que a anlise funcional podeembasar processos de avaliao e psicoterapia infantil, tornando-os mais efetivos.

    Palavras-chave: Anlise funcional; Avaliao funcional; Terapia comportamental; Infncia.

    AbstractThis article aims to demonstrate the importance of functional behavior analysis in behavioralevaluations and therapy involving children. A client took part who was eight years and six monthsold, female and with two years of schooling. Her mother sought assistance with the behavioraldescriptions of her daughter: listless, agitated, aggressive, disobedient and with learningdifficulties. The evaluation was conducted in six functional situations: therapist-client, therapist-mother, therapist-father, therapist-both parents, therapist-aunt and therapist-teacher. The main

    1 Programa de Ps-Graduao em Psicologia rea de Concentrao em Cognio Humana. Grupo de Neuropsicologia Clnica e Experimental(GNCE), Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Av. Ipiranga, 6.681 - Prdio 11 - 9 andar, sala 93290619-900. Porto Alegre, RS, Brasil. Fone / Fax: 55-513320-3500 ramal 7742. E-mail: [email protected]

    2 Programa de Ps-Graduao em Psicologia, Pontifcia Universidade Catlica (PUCRS). Bolsista PNPD.

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    Anlise funcional do comportamento na avaliao e terapia com crianas

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    procedures involved the observation of the behavioral repertoire of the client, verbal account andthe application of specific tools. The functional analysis of behavior was promoted based on theformulation of hypotheses of the effects of environmental changes on the clients complaint-behavior. Procedures of verbal and generalized reinforcement were used to increase self-esteemand develop a behavior that included better arithmetical and academic performance. Both goalswere achieved. This case study demonstrated that functional analysis can be based on processes ofevaluation and child psychotherapy, making them more effective.

    Keywords: Functional analysis; Functional evaluation; Behavioral therapy; Childhood.

    Introduo

    O presente artigo tem por objetivo

    ilustrar a importncia da anlise

    funcional na avaliao e na terapia

    comportamentais com crianas atravs de

    um estudo de caso. De acordo com Conte

    e Regra (2004), a psicoterapia

    comportamental infantil considerada

    uma atividade clnica diferenciada que

    visa modificao e a ampliao do

    repertrio comportamental infantil. Esta

    abordagem estabeleceu-se como modelo

    psicoterpico infantil apenas a partir das

    dcadas de 1950 e 1960.

    Os pressupostos desta abordagem

    de psicoterapia infantil fazem parte do

    corpo terico-metodolgico da terapia

    comportamental, propriamente dita. A

    terapia comportamental consiste na

    interveno teraputica baseada no

    Behaviorismo Radical e na Anlise

    Experimental do Comportamento;

    tambm conhecida como Terapia

    Analtico-Comportamental TAC ou

    como Psicoterapia Analtica Funcional

    PAF. Delitti (2001) ressalta o papel

    fundamental da anlise funcional para o

    levantamento adequado dos dados

    necessrios para o processo teraputico,

    ou seja, essencial na perspectiva de

    aproximao efetiva entre o clnico e o

    pesquisador. A dificuldade de promover

    uma anlise funcional correta , tambm,

    salientada pela autora. Neste contexto,

    estudos que ilustrem como esta anlise

    pode ser promovida em ambiente clnico

    podem contribuir para reflexes terico-

    metodolgicas, acerca da sua

    aplicabilidade em consultrio.

    Uma interveno psicoterpica

    infantil efetiva deve partir de um

    diagnstico cuidadoso. Na abordagem

    comportamental, a anlise funcional

    consiste na principal ferramenta para um

    processo de avaliao e de terapia de

    modificao do repertrio de

    comportamentos de uma criana (Delliti,

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    2001; Moura, Grossi e Hirata, 2009;

    Silvares, 2004).

    Anlise funcional do comporta-mento

    O Behaviorismo preconiza,

    segundo Delitti (2001), que a

    compreenso do homem s alcanada a

    partir de conhecimentos empricos e da

    obteno de dados em laboratrio. Matos

    (1999b), ao abordar o Behaviorismo

    Radical, proposto por Skinner, ressalta

    que o eu o construtor do conhecimento

    e que a metodologia do n=1 aceita. Para

    esta autora, o Behaviorismo radical por

    negar radicalmente a existncia de algo

    que no seja identificvel no espao e no

    tempo e por aceitar radicalmente todos osfenmenos comportamentais.

    Para Skinner (1953), o

    comportamento o resultado da

    interao organismo-ambiente, s

    podendo ser entendido a partir da

    identificao das circunstncias em que

    ocorre. O comportamento , ento, umaunidade interativa que deve ser

    investigada sistematicamente. Essa

    investigao se d mediante a descrio e

    a interpretao de relaes funcionais

    entre comportamento e ambiente (Matos,

    1999b).

    Esse entendimento das relaesfuncionais entre comportamento e

    ambiente consiste na base da anlise

    funcional do comportamento. Esta

    anlise pressupe que um indivduo

    emite um dado comportamento por este

    ter sido selecionado por suas

    conseqncias. Assim, todo e qualquer

    comportamento possui uma funo

    dentro do repertrio comportamental de

    um indivduo (Skinner, 1953). A busca

    das variveis externas, independentes,

    das quais o comportamento (varivel

    dependente) funo, consiste na

    principal finalidade de uma anlise

    funcional. No contexto teraputico, o foco

    da anlise funcional o comportamento

    do cliente e pode ser utilizada em

    diferentes momentos da terapia, tais

    como a avaliao, a interveno e o

    processo de alta (Delliti, 2001).

    A anlise funcional realizada na

    avaliao do cliente objetiva desenvolver

    hipteses sobre o efeito de variveis

    ambientais na modelagem e na

    manuteno de comportamentos-

    -problema e, dessa forma, identificar a

    funo do comportamento-problema

    (Field, Nash, Handwerk & Friman, 2000;

    Santarm, 2000). Quanto anlise

    funcional na psicoterapia, a etapa de

    verificao das hipteses, atravs da

    manipulao sistemtica dos eventos

    ambientais (Santarm, 2000). Alguns

    autores denominam essa etapa de anlisefuncional experimental, consistindo na

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    etapa que tem por objetivo central testar

    experimentalmente as hipteses da etapa

    anterior, usando variveis independentes

    derivadas da avaliao funcional (Field et

    al, 2000).

    No que diz respeito aos

    procedimentos a serem tomados em uma

    anlise funcional durante a avaliao do

    cliente, Meyer (2001) retoma trs

    aspectos indicados como essenciais por

    Skinner, para uma formulao adequada

    da interao organismo-ambiente: 1)

    ocasio da ocorrncia da resposta; 2)

    resposta propriamente dita e 3)

    conseqncias reforadoras. Delitti

    (2001) enfatiza que, para a descoberta das

    contingncias em que o comportamento-

    problema se instalou e de como ele

    mantido, esto envolvidos trs momentos

    da vida do cliente: 1) sua histria passada;

    2) seu comportamento atual e 3) sua

    relao com o psicoterapeuta.

    Os mtodos utilizados neste

    processo so a observao e o relato

    verbal. Estes podem ser utilizados no

    contexto clnico, ou seja, em consultrio,

    ou no contexto natural, residncia, escola,

    local de trabalho do cliente, por exemplo.

    A histria passada s pode ser acessada

    por intermdio do relato verbal, que pode

    ser uma conversao dialogada, o relato

    de sonhos, fantasias, filmes, que tenham a

    funo de estmulos discriminativos para

    a evocao de eventos da histria de vida

    do indivduo. O comportamento atual e a

    relao cliente-terapeuta podem ser

    analisados, tanto a partir da observao

    de comportamentos variados do

    indivduo, como a partir da interpretao

    do seu relato verbal (Delliti, 2001).

    Com base nesta breve reviso da

    literatura, observa-se que a anlise

    funcional realizada na avaliao no tem

    o objetivo de estabelecer um diagnstico

    psiquitrico tradicional, como Tors

    (2001) ressalta, mas buscar entender qual

    a funo dos comportamentos-

    problema no ambiente do cliente, atravs

    de hipteses sobre relaes entre

    variveis independentes e dependentes.

    Del Prette, Silvares e Meyer (2005)

    enfatizam que a avaliao, em terapia

    comportamental, visa a uma anlise

    funcional que oriente a seleo de

    estratgias de interveno, fornecendo,

    ainda, indicadores para posteriores

    avaliaes da sua efetividade. Esses

    ltimos autores em sua meta-anlise de

    estudos de caso verificaram umapredominncia do uso dos seguintes

    procedimentos de avaliao: entrevistas

    iniciais com os pais e a criana e a

    observao direta da criana, no contexto

    da terapia.

    Mediante uma viso conceitual

    mais ampla da anlise funcional do

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    comportamento, Matos (1999a) sugere

    cinco procedimentos bsicos, cada um

    desses com estratgias especficas

    envolvidas, para a realizao de uma

    avaliao e de uma interveno

    funcionais, conforme pode ser observado

    na Tabela 1 abaixo.

    Tabela 1. Cinco procedimentos bsicos para uma anlisefuncional do comportamento.

    Procedimentos Estratgias envolvidasDefinio precisa docomportamento deinteresse

    1) observao do comportamento deinteresse

    2) relato de outras pessoas sobre ocomportamento

    Identificao e descriodo efeito comportamental

    1) especificao do efeitocomportamental (freqncia deocorrncia, por exemplo)

    Identificao de relaesordenadas entre variveisambientais e o comporta-mento de interesse, assimcomo entre ocomportamento-alvo edemais comportamentos

    1) descrio da situao que antecedee da situao que sucede ocomportamento de interesse

    2) identificao das conseqnciasdentre as situaes que sucedem ocomportamento de interesse

    3) identificao das condies dentreas situaes que antecedem ocomportamento de interesse

    Formulao de predies

    sobre os efeitos demanipulaes dasvariveis ambientais e deoutros comportamentossobre o comportamentode interesse

    1) descrio da natureza das relaes

    funcionais dentro de umreferencial conceitual

    2) identificao do envolvimento deeventos fsicos e/oucomportamentos (da prpriapessoa ou de outras pessoas) nascondies antecedentes

    Teste das predies 1) interveno clnica ou institucional2) investigao laboratorial

    Para esta autora, ento, uma

    anlise funcional completa deve englobar

    observao, suposio e verificao,

    visando produo de uma definio

    funcional do comportamento. Matos

    (1999a) enfatiza, ainda, a impossibilidade

    de se observar diretamente uma relao

    funcional. Esta pode ser, apenas,

    investigada com base na observao dos

    comportamentos de um indivduo. Assim

    sendo, as vantagens de uma anlise

    funcional completa so a identificao de

    variveis que influenciam na ocorrncia

    do comportamento de interesse, o

    planejamento de intervenes, atravs da

    modificao destas variveis e,

    conseqentemente, do comportamento-

    problema, e a previso das condies que

    podem proporcionar a generalizao e a

    manuteno das modificaes

    comportamentais efetuadas.

    Quanto aplicao da anlise

    funcional no atendimento clnico de

    crianas, Conte e Regra (2004) e Silvares

    (2004) mencionam a importncia desta

    ferramenta para que os antecedentes e os

    conseqentes ambientais, que controlam

    o comportamento-queixa infantil atuais,sejam identificados. A busca por como,

    quando e onde tal comportamento ocorre,

    essencial para o planejamento da

    psicoterapia comportamental infantil.

    Psicoterapia comportamental com

    crianas

    A Psicoterapia Comportamental

    pode ser entendida como aquela

    interveno para a modificao e

    ampliao de comportamentos, baseada

    na aprendizagem, na preocupao com o

    mtodo e na especificao das relaes

    funcionais (Kerbauy, 2001; Kohlenberg &

    Tsai, 2001). Sua utilidade associada ao

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    tratamento de indivduos de diferentes

    faixas etrias. Entretanto, na literatura

    que aborda a aplicao da terapia

    comportamental no processo de avaliao

    e interveno com crianas, algumas

    especificidades so apontadas.

    Silvares (2004), ao mencionar a

    anlise funcional no contexto da

    psicoterapia infantil, enfatiza que a forma

    de conduzir esta anlise muda de acordo

    com a idade do cliente, mas os objetivos

    de buscar as relaes funcionais no

    sofrem modificaes. Regra (2000) e

    Conte e Regra (2004) esclarecem que,

    tanto na avaliao quanto na interveno

    psicoterpica, o envolvimento de outras

    pessoas, em casa e na escola, alm da

    prpria criana, fundamental para o

    sucesso de uma anlise funcional do

    comportamento infantil.

    O manejo de contingncias, a

    partir da interao de, no mnimo, trs

    pessoas, pode ser chamado de modelo

    tridico (Silvares, 1995). Assim, alm do

    envolvimento do terapeuta e do cliente,

    conforme o modelo ditico, geralmente

    aplicado na terapia comportamental com

    adultos, na terapia comportamental com

    crianas, um mediador tambm

    envolvido. Este pode ser representado

    pelos pais, pela professora, entre outros.

    A efetividade da interveno ser maior,

    quanto maior for a modificao das

    variveis independentes mantenedoras

    do comportamento de interesse da

    criana em anlise. O comportamento da

    criana continua sendo o alvo primrio,

    mas para as modificaes

    comportamentais serem generalizadas e

    duradouras, o treino de pais e/ou

    professores torna-se essencial.

    Desta forma, a anlise funcional do

    comportamento infantil requer o

    entendimento das relaes funcionaisentre o comportamento-queixa e as

    conseqncias comportamentais dos pais,

    dos professores e do terapeuta

    comportamental. O mtodo mais

    utilizado para esta anlise o relato

    verbal das pessoas envolvidas (Deaver,

    Miltenberger & Stricker, 2001). Frente reviso apresentada, conclui-se que a

    anlise funcional do comportamento

    uma ferramenta importante na terapia

    comportamental. No entanto, a sua

    implementao na prtica clnica, ainda

    se constitui em um desafio. A fim de

    contribuir com a literatura sobre o tema,

    este estudo de caso visa a apresentar

    procedimentos de avaliao e de

    interveno sustentados pela anlise

    funcional do comportamento, em um

    contexto de psicoterapia infantil.

    Mtodo

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    O mtodo utilizado para a

    realizao deste estudo de caso foi a

    anlise funcional do comportamento que

    guiou as duas etapas de interveno

    promovidas: 1) avaliao e 2) terapia.

    Ressalta-se que, como primeiro

    procedimento deste estudo de caso,

    conduziu-se a aplicao de um Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido, que foi

    assinado pelo pai e pela me da cliente.

    Primeiramente, uma descrio geral da

    participante e da queixa ser promovida.

    Participante e relato da queixa

    A participante, por critrios ticos,

    ser chamada de A. Esta tem oito anos e seis

    meses de idade e do sexo feminino.

    Encontra-se cursando a terceira srie do

    Ensino Fundamental. Mora com seus pais e

    com sua irm gmea, B (nome fictcio,

    ressaltando-se a semelhana entre os nomes

    reais), permanecendo no turno da manh, sob

    os cuidados de uma tia materna.

    A me de A procurou atendimento em

    uma clnica psicoterpica da regio

    metropolitana de Porto Alegre, RS, com as

    seguintes queixas comportamentais

    relacionadas sua filha: desatenta, agitada,

    agressiva (com familiares e amigos),

    desobediente e apresentando dificuldades

    escolares.

    Mtodo

    A fim de tornar claros os

    procedimentos desenvolvidos com a

    cliente, o mtodo ser dividido em:

    mtodo do procedimento de avaliao e

    mtodo da interveno teraputica.

    importante salientar que ambos foram

    desenvolvidos utilizando a anlise

    funcional.

    Mtodo do Procedimento deAvaliao

    Instrumentos e Procedimentos

    A avaliao foi efetuada mediante

    contato em seis situaes: terapeuta-

    cliente, terapeuta-me, terapeuta-pai,

    terapeuta-pais, terapeuta-tia e terapeuta-

    professora. Diferentes instrumentos e

    quantidade de sesses foram utilizados

    em cada situao, conforme pode ser

    visualizado na Tabela 2.

    Tabela 2. Nmero de sesses e instrumentos para cadasituao da avaliao funcional.

    Situaessesses

    (n) Instrumentos

    Terapeuta-cliente 4 Atividade ldica livreDitado de palavras e frasesExame do cadernoTeste das MatrizesProgressivas de Raven

    Seqncias lgicasTarefa de habilidadesaritmticas

    Terapeuta-me 2 Entrevista ficha deanamneseQuestionrio parental desintomas

    Terapeuta-pai 1 Entrevista - Ficha deanamnese

    Terapeuta-pais 1 Entrevista

    Terapeuta-tia materna 1 Entrevista

    Terapeuta-professora 1 Entrevista

    Total 10 17

    Nota: As entrevistas esto apresentadas na ordem em queforam realizadas, sendo a segunda entrevista com meefetuada aps aquela com os pais.

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    Quanto aos procedimentos

    utilizados na avaliao, a observao do

    repertrio comportamental da cliente foi

    efetuada desde a sala de espera at cada

    sesso individual de avaliao e aplicao

    dos instrumentos. Alm disso, as

    relaes funcionais tambm foram

    inferidas a partir do relato verbal das

    pessoas que convivem com a cliente:

    me, pai, tia e professora. Foram

    definidos os comportamentos de

    interesse, com a posterior

    identificao dos efeitos

    comportamentais.

    Mtodo da Interveno Teraputica

    Instrumentos e Procedimentos

    A anlise funcional do

    comportamento foi realizada em

    ambiente clnico, a partir de trs

    interaes: 1) terapeuta-cliente (29

    sesses); 2) terapeuta-familiares (3

    sesses) e 3) terapeuta-professora (2

    sesses). A partir dos resultados da

    avaliao, foram formuladas predies

    sobre as conseqncias, no

    comportamento de interesse da

    cliente, de modificaes nas

    variveis ambientais. Assim, foram

    efetuadas intervenes especficas

    em cada interao, cujos objetivos,

    procedimentos e estratgias

    encontram-se explicitados na

    Tabela 3.

    Tabela 3. Intervenes clnicas, atravs das interaesterapeuta-cliente-familiar-professora.

    Terapeuta-cliente

    Interaes

    Terapeuta-familiareseTerapeuta-professora

    Aumentar auto-estima

    Objetivos

    Desenvolver comportamento de melhor desempenhoaritmtico e acadmico

    Reforo verbal

    Reforo generalizado

    Procedimentos

    Orientaes para diminuio na freqncia decomparaes entre irms

    Elogiar sua aparncia e produo escritaTcnica de economia de fichas

    Relato verbal do efeito do comportamentocomparativo dos pais sobre a cliente

    Estratgias

    Relato verbal do efeito da demonstrao verbal e no-verbal de afeto aps melhoras de desempenho dacliente

    Resultados

    Assim como na seo Mtodo, os

    resultados sero apresentados em dois

    momentos: 1) Resultados da avaliao e

    2) Resultados da interveno teraputica.

    Resultados da avaliao

    Histria pregressa e atual

    A e sua irm-gmea, B, dormem no

    mesmo quarto h sete meses. Antes,

    dormiam no quarto dos pais. Quanto

    escolarizao, A finalizou a segunda srie

    do Ensino Fundamental em dezembro de

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    Rochele Paz Fonseca - Janana Thas Barbosa Pacheco

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, n 1/2, 1-19 9

    2004. No freqentou pr-escola, sendo

    sua primeira srie realizada com

    dificuldades atribudas a questes

    institucionais, tais como greve, falta de

    professor e violncia no bairro, em que a

    escola se localiza. Nos dois anos escolares,

    teve sua irm como colega, na maior

    parte do tempo. A professora e seus

    familiares referiram que ela

    freqentemente demorava a terminar as

    atividades propostas em aula, tendo que

    levar tarefas para casa ou pedir auxlio

    irm, para que esta terminasse as suas

    tarefas. Sua professora salientou, ainda,

    que A apresentava dificuldades no

    reconhecimento de nmeros, na

    realizao de tarefas que demandavam

    habilidades aritmticas, assim como

    habilidades mais complexas de linguagemescrita (narrativa escrita, por exemplo).

    Atravs da anlise das fichas de

    anamnese, preenchidas individualmente

    pelos pais de A, observou-se que no

    houve intercorrncias, durante a

    gestao. Seu parto foi realizado com o

    procedimento de cesariana. Nasceu aps

    sua irm, com hipxia. Seu

    desenvolvimento psicomotor e lingstico

    sugestivo de normalidade neurolgica.

    Foi amamentada naturalmente, at os

    seis meses de idade e artificialmente, at

    cinco anos e um ms. Apresentava sono

    agitado.

    A ficava sob os cuidados dirios de

    sua tia materna, juntamente com sua

    irm e um primo. Estudava no turno

    vespertino. Costumava brincar na escola

    apenas com crianas de seu sexo,

    preferindo a companhia de uma amiga

    (amiga em comum com sua irm) e de

    sua irm. Gostava de assistir televiso,

    sem permanecer muito tempo nesta

    atividade. Optava freqentemente por

    brincadeiras de rua, tais como pular

    corda, subir em rvores, correr, entre

    outras. Relacionava-se melhor com o pai

    (sic. pai e me). Ocorriam, com

    freqncia, episdios de discusso verbal

    entre as irms, iniciados sempre por A

    (sic. pais e tia).

    No Questionrio Parental de

    Sintomas, respondido pela me, esta

    referiu problemas de alimentao, sono,

    ocorrncia de medos e preocupaes

    excessivos, assim como de hbitos de

    onicofagia e mordedura de objetos.

    Quanto aos aspectos afetivos

    propriamente ditos, a me mencionou

    sintomas de dependncia na realizao deatividades e tarefas dirias, problemas

    com sentimentos, problemas em fazer e

    manter amigos, problemas com a irm,

    agitao, intolerncia frustrao e

    desateno, temperamento explosivo

    associado a mau-humor, problemas na

    escola, ocorrncia de mentiras,provocao de danos propriedade. Por

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    Anlise funcional do comportamento na avaliao e terapia com crianas

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    fim, classificou o problema de sua filha

    como menor, apesar de graduar a

    freqncia de observao desses

    comportamentos como muito, numa

    escala Likert de quatro graus (nunca, um

    pouco, bastante, muito) (para uma

    reviso, consultar Pasquali, 2003).

    Sentia-se culpada por ter demonstrado

    preferncia por B, referindo que na poca

    da avaliao, amava de modo igualitrio

    suas filhas.

    No processo de avaliao, o

    repertrio de comportamentos e condutas

    da cliente foi observado em diferentes

    situaes. Na sala de espera, pode-se

    constatar que as irms vestiam-se com

    roupas, calados e acessrios de modelos

    idnticos, apenas com cores

    diversificadas. A procurava ficar longe da

    irm, demonstrando satisfao ao afirmar

    que, apenas ela, entrava na sala de

    atendimento. Mostrava-se agitada,

    alternando sistematicamente os lugares

    em que permanecia sentada ou em p,

    enquanto aguardava ser chamada.

    Ressalta-se que a me da clientedemonstrava carinho direcionado B,

    com maior expresso. Costumava fazer

    comentrios sobre as dificuldades

    apresentadas por A, na prpria sala de

    espera. Alm disso, nas tarefas

    domiciliares e escolares, mesmo que

    apenas uma das irms pudesse execut-las, ambas eram estimuladas pela famlia

    a executarem-nas conjuntamente.

    Enfatiza-se, ainda, que a me comparava

    com freqncia as filhas gmeas,

    destacando as qualidades de B, em

    contraponto s dificuldades de A. Esta

    ltima, percebia o comportamento

    materno.

    Na execuo das tarefas em geral,

    A apresentou comportamentos de

    impulsividade e pouca tolerncia a um

    preparo e a uma espera para umaexecuo mais cuidadosa das atividades

    propostas. Mostrou comportamentos

    ligados desejabilidade social,

    procurando agradar a terapeuta

    constantemente, apesar de demonstrar

    irritabilidade aumentada, frente maior

    complexidade das tarefas.

    No que concerne s habilidades

    lingsticas e comunicativas, A

    apresentou discursos oral e escrito

    restritos, para sua idade. Teve

    dificuldades em organizar logicamente as

    seqncias de quatro e seis peas,

    apresentando sentenas de extenso curtae narrativa das respectivas histrias com

    contedo e forma lingsticos pouco

    explorados. No exame do caderno,

    observaram-se equvocos ortogrficos e

    gramaticais, de um modo geral, bastante

    freqentes, com a maioria das tarefas

    inacabadas. No ditado de palavras e

    sentenas, demonstrou encontrar-se na

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    Rochele Paz Fonseca - Janana Thas Barbosa Pacheco

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, n 1/2, 1-19 11

    fase alfabtica do desenvolvimento da

    linguagem escrita (Ferreito & Teberosky,

    1985), com aumento de dificuldade frente

    maior complexidade dos estmulos

    lingsticos. Tais caractersticas de escrita

    alfabtica so esperadas para sua srie

    escolar. Entretanto, sua explorao

    restrita da linguagem escrita no tpica

    de sua faixa etria.

    Quanto inteligncia, no teste

    Matrizes Progressivas de RAVEN

    (Angelini, Alves, Custdio et al, 1999), a

    cliente obteve desempenho classificado

    como grau III, ou seja, intelectualmente

    mdio. Observaram-se, qualitativamente,

    respostas com caractersticas de

    impulsividade, desateno, com pouco

    tempo de manuteno de observao dos

    estmulos visuais. Alm disso, apresentou

    desempenho regular na tarefa de

    habilidades aritmticas, realizando

    adequadamente as operaes de soma

    com unidades, com respostas

    inadequadas para as demais operaes.

    Tais dados confirmaram as observaes

    efetuadas pela professora da cliente.

    Resultados dos procedimentos da

    avaliao

    Primeiramente, os comportamentos de

    interesse foram definidos o mais

    precisamente possvel, mediante

    solicitao de exemplos que ilustrassem

    os comportamentos-queixa apresentados

    pelos entrevistados. Na Tabela 4,

    encontram-se as definies dos

    comportamentos-queixa de interesse.

    Tabela 4. Definies dos comportamentos de interesse oucomportamentos-queixa.

    Comportamento-queixa Definio

    agitada Comportamento de movimentaoexcessiva, com pouco tempo demanuteno em uma atividade

    desobediente Comportamento de discordnciacom figuras de autoridade frente solicitao de execuo de tarefasdomsticas e escolares

    desatenta Comportamento de atribuio deateno a quaisquer tarefas excetoquelas solicitadas por professora efamiliares

    agressiva comfamiliares e amigos

    Comportamento de discusso e deenfrentamento com familiares eamigos

    tem dificuldadesescolares

    Comportamento de no execuodas atividades escolares ou deexecuo incompleta, com maiserros do que acertos

    Posteriormente, foram

    identificadas e descritas as relaes

    ordenadas entre as variveis ambientais

    (antecedentes e conseqentes) e os

    comportamentos de interesse. Na Tabela

    5, os resultados destes procedimentos

    podem ser visualizados para cada

    comportamento-queixa.

    Assim sendo, a partir dos

    resultados das observaes efetuadas no

    processo de avaliao de A, evidenciaram-

    se dificuldades relacionais

    predominantemente nas dades cliente-

    irm e cliente-me. A demonstrava

    dependncia com relao sua irm e

    busca por desejabilidade social e materna.Apresentava dificuldades aritmticas e

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    lingsticas, provavelmente oriundas da

    falta de estimulao e da demanda

    reduzida do ambiente. Este ltimo fator

    est ligado s dificuldades afetivas da

    cliente, ou seja, ela era reforada ao no

    realizar as tarefas solicitadas.

    Tabela 5. Antecedentes e conseqentes dos comportamentos-queixada cliente.

    Antecedentes Comportamentos-queixa

    Conseqentes

    Solicitaorepetida deexecuo dastarefas escolares

    pela tia ou pelame

    agitada exemplo:A no pra quietaenquanto faz ostemas

    No completa asatividades e a tiapermite que ela vbrincar

    Solicitaorepetida dearrumao eorganizao deroupas e objetos,acompanhada decomparao coma excelenteorganizao dairm-gmea

    desobediente exemplo: A nega asolicitao da me dearrumar a baguna deseu quarto

    Me arruma seuquarto, enquantobriga com ela

    Aumento dademanda deexecuo datarefa com

    delimitao detempo

    desatenta exemplo: A olha pelajanela enquanto fazas tarefas escolares

    em casa ou na escola

    No termina astarefas e sua me ouprofessora briga comela; sua irm

    completa as tarefasda A para que as duaspossam brincar ou irpara casa

    Prima, amiga daescola ou familiaroptam por darateno (brincar,conversar) irm

    agressiva comfamiliares e amigos exemplo: chama aprima, a amiga daescola ou o pai comalgum apelido oupalavro

    A recebe ateno daprima, da amiga oudo familiar, uma vezque estes passam adiscutir com ela

    Aumento dademanda derealizao deuma tarefaescolar com

    exigncia de bomdesempenho edelimitao detempo

    tem dificuldadesescolares exemplo: erraoperaesmatemticas

    Professora efamiliares conversamcom ela, em tom dexingamento por noter se desempenhado

    conforme o esperado

    Indicou-se atendimento psico-

    terpico individual com freqncia de

    duas vezes semanais para A e separao

    das irms em duas turmas de terceira

    srie. Os objetivos predominantes dainterveno psicoterpica foram auxiliar a

    cliente no seu processo de independncia,

    melhorar sua auto-estima e auto-

    confiana e contribuir para o

    aprimoramento do seu desempenho

    acadmico, estimulando suas habilidades

    lingusticas e aritmticas.

    Resultados da interveno luzda anlise funcional do compor-tamento

    Em um primeiro instante,

    predies foram formuladas acerca dos

    efeitos de manipulao das variveis

    ambientais sobre os comportamentos-

    queixa da cliente. No contexto terapeuta-

    cliente, os reforos verbais de elogio

    aparncia e vestimenta da cliente,

    assim como legibilidade de sua letra,

    foram promovidos com a finalidade de

    contribuir para o aumento da auto-

    estima da cliente. Mostraram um efeito

    de modificao do comportamento,

    conforme pode ser observado na Tabela

    6, em que pode ser observada uma

    comparao entre os comportamentos

    verificados antes e depois do esquemade reforamento de razo varivel: a

    quantidade de reaes

    comportamentais aos elogios

    aumentaram, aps esse esquema de

    reforamento. O aumento do repertrio

    de habilidades sociais da cliente,

    representado pelo aceite aos elogios es mudanas na interao com os

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    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, n 1/2, 1-19 13

    demais membros da clnica, denota

    uma melhora de sua auto-estima.

    Tabela 6. Comparao antes e depois do esquema dereforamento de razo varivel.

    Comportamentos/Interveno

    Antes Depois

    Comportamentos verbais

    Silncio

    Intensidadevocal quaseinaudvel aocumprimentarequipe

    Agradecimentos econcordncia comos elogios daterapeutaCumprimentosaudveis comequipe

    Comportamentos no-verbais

    Flexo da cabeae expressofacial dedescontentamentoEvitao doolhar aosmembros daequipe

    Sorriso e abrao naterapeuta

    Direcionamento doolhar, sorrisos eabraos nosmembros da equipe

    Ainda no contexto terapeuta-

    cliente, foi utilizada a tcnica

    comportamental de economia de fichas,

    sendo as fichas coraes desenhados

    com rgua especfica de desenho

    infantil em papel cartolina e

    recortados pela cliente. O objetivo

    dessa tcnica foi instalar o

    comportamento de desempenho

    aritmtico e acadmico satisfatrio,

    assim como, indiretamente,

    generalizar o reforo atribudo sfichas para a ateno e valorizao das

    pessoas ao seu redor. Na Figura 1, na

    qual exposto o percentual de acertos

    em operaes matemticas da linha de

    base, at o 13 dia de interveno,

    pode-se constatar um aumento

    gradativo do desempenho em tarefasaritmticas. A partir da linha de base

    simples, a cliente foi apresentando

    ganhos em desempenho, at alcanar

    100%.

    Figura 1. Percentual de acertos em operaes matemticas dalinha de base at o dcimo terceiro dia deinterveno.

    Nota: D = dia. De tal modo, D1 = dia 1, D2 = dia 2 e assimsucessivamente.

    Aps atingir 100% de desempenho

    positivo por dois atendimentos

    consecutivos, A mostrou o pote de fichas

    conquistadas para seus pais, que a

    elogiaram e demonstraram carinho

    atravs de trocas de abraos e beijos, com

    a cliente. No contexto terapeuta-

    familiares e terapeuta-professora, o

    resultado das orientaes para

    diminuio da freqncia de comparaes

    entre irms pelos pais e pela professora

    pode ser evidenciado na Figura 2. Nesta,

    pode-se notar uma diminuio da

    quantidade de emisses de comparao

    A-B pelos familiares (principalmente

    me, pois pai e tia tinham poucas

    emisses, desde a primeira entrevista) e

    pela professora. Na Figura 2 so

    apresentados, ento, o nmero deemisses, em cada entrevista.

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    120%

    linhadebase

    D1

    D2

    D3

    D4

    D5

    D6

    D7

    D8

    D9

    D10

    D11

    D12

    D13

    fase de interveno

    percentualde

    acertos

    percentual de acertos

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    Alm desta orientao, tambm foi

    efetuada uma combinao de pais e

    professora elogiando A, aps cada

    pequena conquista (acerto em uma

    operao matemtica, por exemplo). Na

    ltima entrevista com cada um deles, a

    partir de seu relato verbal, os efeitos

    dessa mudana comportamental puderam

    ser identificados no repertrio

    comportamental de A: aumento da

    ateno nas atividades escolares e

    execuo independente das tarefas de

    aula e de casa.

    Figura 2. Quantidade de emisses de comparao entreirms nas entrevistas realizadas com pais,professora e tia.

    Nota: Eme1 = Primeira entrevista com a me; Eme2 =Segunda entrevista com a me; Epai = Entrevista com o pai;Eprof1 = Primeira entrevista com a professora; Etia =Entrevista com a tia; Epais1 = Primeira entrevista com os pais;Epais2 = Segunda entrevista com os pais; Eprof2 = Segundaentrevista com a professora; Epais3 = Terceira entrevista com

    os pais.

    Atualmente, A encontra-se em fase

    final de generalizao dos resultados

    obtidos em consultrio, para os

    ambientes casa e escola. Os pais e a

    professora demonstraram preocupao,

    inicialmente, com as modificaes dos

    comportamentos da cliente: A mantm-se

    em silncio, enquanto a professora

    explica o contedo, termina as atividades,

    embora demore, ainda, mais que alguns

    colegas. Veste-se diferentemente da irm,

    est fazendo novas amizades e impe sua

    vontade da irm (de modo, ainda,

    agressivo). A terapeuta, ento, explicitou

    que estas mudanas representam melhora

    e no piora, no comportamento de A.

    Discusso

    Os comportamentos-queixa

    trazidos pelos familiares e pela professora

    da cliente consistem em caractersticas de

    comportamento bastante freqentes, no

    incio da fase escolar. A contingncia de

    evitar tarefas escolares considerada

    comum por Northup, Kodak, Lee e Coyne

    (2004). Apesar de queixas, tais como as

    de desobedincia, agitao e desateno

    serem frequentemente originadas pelos

    pais (Shapiro & Bradley, 1999), na

    literatura, a utilizao da anlise

    funcional, tanto na avaliao, como na

    terapia comportamentais, mais

    incidente em casos de queixas mais

    bizarras do desenvolvimento infantil, tais

    como distrbios alimentares (Piazza,

    Fisher, Brown, Shore, Patel et al., 2003),

    transtornos do desenvolvimento (Bosch,

    2002) e auto-agresso (Deaver et al.,

    2001), entre outros.

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    Eme1

    Eme2

    Epai

    Eprof1

    Etia

    Epais1

    Epais2

    Eprof2

    Epais3

    Momento

    Nmerodeemisses

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    Os comportamentos-queixa,

    embora considerados inadequados pelas

    pessoas com quem a cliente convivia,

    mostraram-se funcionais, ou seja,

    apresentavam uma funo no seu

    repertrio de comportamentos, com um

    antecedente que contribua para sua

    ocorrncia e um consequente que

    contribua para a sua manuteno e

    posterior repetio. Para a identificao

    dos antecedentes e consequentes de cada

    comportamento de interesse, assim como

    da relao funcional entre

    comportamentos da cliente e variveis

    ambientais, os procedimentos sugeridos

    por Delitti (2001) e Matos (1999a) foram

    fundamentais. A observao das relaes

    funcionais na histria de vida permitiu a

    inferncia de que a cliente estabeleceuuma auto-regra de que j era a pior e que

    nada que fizesse mudaria este status na

    sua famlia. Esta auto-regra, segundo a

    conceituao e classificao de Jonas

    (1999), pode ser considerada encoberta.

    Graas a esta regra, A passou a tomar

    decises de no completar as tarefasdomsticas e escolares, alm do que sua

    me e sua irm, as faziam, reforando o

    comportamento de A. Alm da histria de

    vida, comportamentos apresentados na

    relao terapeuta-cliente (busca por

    agradar constantemente a terapeuta

    desejabilidade social) e relatados por seus

    pais, contriburam para o entendimento

    da sua funo do repertrio da cliente.

    Pela observao dos antecedentes e

    dos conseqentes de cadacomportamento-queixa (Tabela 5), pode-

    se, tambm, inferir que, em geral, o

    aumento da demanda por desempenho do

    ambiente e as freqentes comparaes

    com sua irm gmea foram variveis

    independentes significativas no

    estabelecimento e manuteno dos seus

    padres comportamentais de no

    execuo das tarefas. Ressalta-se que a

    regra familiar que categorizou B como a

    irm-modelo e A como a irm mal-

    sucedida, associada constante punio

    materna, contribuiu muito para a

    ocorrncia dos comportamentos

    indicativos de baixa auto-estima e de

    busca constante por aceitao materna.

    Alm disso, associao entre baixa auto-

    estima e dificuldades escolares

    amplamente destacada na literatura (por

    exemplo, Shirk & Harter, 1999).

    A partir da identificao destas

    variveis, a anlise funcional do

    comportamento de A pde ser planejada.

    Conforme o modelo tridico preconiza, a

    participao de, no mnimo, trs pessoas

    fundamental para o sucesso da

    interveno psicoterpica infantil. Elliott

    e Fuqua (2000) ilustram casos bem-

    sucedidos de tratamento de auto-agresso

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    Anlise funcional do comportamento na avaliao e terapia com crianas

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, n 1/2, 1-1916

    infantil, a partir do envolvimento de

    modificaes comportamentais dos pais,

    do terapeuta e da professora. Para tanto,

    a conscientizao dos pais sobre as

    contingncias que circundam o

    comportamento da criana, mostram-se

    essenciais (Bosch, 2002; Rocha &

    Brando, 2001). No caso em estudo, o

    relato verbal da terapeuta, sobre os

    antecedentes e conseqentes dos

    comportamentos de A, auxiliaram neste

    processo de conscientizao dos seus pais

    e da professora, sendo fundamental para

    o aceite das orientaes de modificao

    dos seus comportamentos nos ambientes

    casa e escola. McNeill, Watson,

    Henington e Meeks (2002) salientam,

    inclusive, que em seu estudo o

    treinamento de pais na realizao deanlises funcionais foi bem-sucedido,

    conseguindo estes identificar as relaes

    funcionais entre os comportamentos.

    No contexto terapeuta-cliente, o

    reforo verbal (ver em Simonassi, Borges

    & Loja, 2000 e Tomanari, 2000) e a

    tcnica de economia de fichas (ver emTomanari, 2000), o elogio e as fichas

    foram muito importantes para o

    estabelecimento de padres compor-

    tamentais de maior auto-estima e de

    melhor desempenho escolar. As fichas

    atuaram como reforadores condicio-

    nados generalizados, cujos comporta-mentos a elas relacionados foram

    ampliados para o ambiente casa, a partir

    da transferncia do controle por elas

    exercido para a aprovao de seus pais

    (reforador natural).

    Apesar de se ter conquistado bons

    resultados at o momento, a fase atual de

    generalizao crucial para a concluso

    efetiva da terapia comportamental.

    Simonassi et al. (2000) abordam a

    importncia desta ampliao do efeito

    alcanado de alguns estmulos

    discriminativos para outros importantes,

    tendo-se em vista uma maior adaptao

    da cliente ao seu ambiente. O processo de

    generalizao em contexto clnico

    complexo e envolve variveis extrnsecas

    ao setting teraputico, podendo ser

    dificultado pela inconsistncia ou no

    sistematicidade dos esquemas dereforamento (Gadelha & Vasconcelos,

    2005). Dessa forma, a manuteno das

    orientaes ensinadas famlia de A,

    principalmente no sentido de reforar

    positivamente as condutas esperadas,

    ser fundamental para que o processo de

    generalizao das aprendizagens ocorrasatisfatoriamente, ampliando o repertrio

    comportamental da cliente.

    Concluso

    Apesar de o ambiente de

    consultrio no permitir um controle

    rigoroso como o laboratrio o faria e de a

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    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2010, Vol. XII, n 1/2, 1-19 17

    modificao do comportamento em

    ambiente natural no ter sido efetuada, o

    presente estudo de caso demonstrou que

    os pressupostos da avaliao e da anlise

    funcional do comportamento podem

    embasar os processos de avaliao e de

    psicoterapia de uma criana, tornando-os

    mais efetivos. A ferramenta anlise

    funcional foi essencial para que as

    funes das variveis, que controlavam os

    comportamentos-queixa da cliente,

    fossem identificadas e, a partir da

    previso do efeito da manipulao de

    variveis independentes (comportame-

    ntos do pai, da me, da terapeuta e da

    professora), novos padres comporta-

    mentais fossem planejados e instalados.

    Assim sendo, a avaliao funcional

    foi promovida, graas observao do

    comportamento da cliente em diversos

    contextos de interao comportamental,

    relato verbal e aplicao de

    alguns instrumentos, que objetivaram a

    avaliao clnica. Com base nestesprocedimentos avaliativos, conduziu-se a

    uma anlise funcional do

    comportamento, que fundamentou a

    interveno de mudanas ambientais,

    refletindo diretamente nos comporta-

    mentos disfuncionais da cliente.

    Procedimentos de reforo verbal e

    generalizado foram utilizados para

    aumentar a auto-estima e desenvolver

    comportamento de melhor desempenho

    aritmtico e acadmico, com objetivos de

    interveno atingidos. Esse estudo de

    caso refora a importncia da aplicao

    da anlise experimental do comporta-

    mento, na clnica psicoterpica infantil.

    Referncias

    Angelini, A. L., Alves, I. C. B., Custdio, E. M., Duarte, W. F. & Duarte, J. L. M. (1999).Matrizes Progressivas Coloridas de Raven: Escala Especial. Manual. So Paulo:

    CETEPP.

    Bosch, J.J. (2002). Use of directed history and behavioral indicators in the assessment ofthe children with a developmental disability. Journal of Pedriatics Health and Care,16(4): 170-179.

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    Recebido em: 03/04/2007

    Aceito para publicao em: 04/03/2009