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Ano 1 • Nº 1 Outubro/2003

Ano 1 • Nº 1 • Outubro/2003...principal ator da mudança educacional de que o Brasil tanto precisa. Como afirma o ministro da Educação, Cristovam Buarque, seremos um bom país

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CenáriosSaeb aprofunda suas análises

EntrevistaMaria José Féres, secretária

de Educação Infantil e Fundamental

ParceriasTécnicos empreendedores e suas criações

Alunos de informática rompemlimites da escola em Guaraí (TO)

Novas TecnologiasAlunos trocam informações sobre rios

ArtigoAmérico Bernardes – Informatização nas escolas

Teoria e PráticaTV para despertar o gosto de aprender

Emoções trabalhadas em sala de aula

Português AfiadoTira-dúvidas para educadores

Crédito AutomáticoCEF oferece financiamento para casa própria

8

15

18

22

27

28

32

34

Valorização e FormaçãoO que está em pauta para aeducação de qualidade

ComportamentoComportamentoComportamentoComportamentoComportamentoPrevenção e Saúdeao alcance da escola

24

37

36

26

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DesafiosRespeito à tradição na Educação Indígena

DesafiosBrasil combate o analfabetismo

ArtigoOsvaldo Russo – Uma escola de todos

EntrevistaAntonio Ibañez, secretáriode Educação Média e Tecnológica

DebateEspecialistas analisam inserçãosocial dos alunos especiais

AgendaNotícias do MEC

Pelo MundoEducação, Ciência e Tecnologiaem debate internacional

38

45

46

50

54

56 58

60

Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva |Ministro da Educação Cristovam Buarque | Coordenadoria de Comunicação Social – Jornalistasresponsáveis Luís Natal Coordenador de Comunicação Social | Joyce Del Frari Chefe da Assessoria de Comunicação Social | Jaqueline Frajmund

Chefe de Marketing e Propaganda | Conselho Editorial Antônio Carlos Queiroz – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Ana Lúcia Galluf – Secretaria deEnsino Infantil e Fundamental (SEIF), Sandra Branchine – Secretaria de Ensino Médio e Tecnológica (Semtec), Luzinete Marques – Secretaria de Inclusão Social, Samira Jorge –Secretaria de Educação Especial (SEESP), Luiz Motta – Secretaria de Educação a Distância (SEED), José Marcelino Rezende – Instituto Nacional de Estudos e PesquisasEducacionais (INEP), Elizabete Rosa – Secretaria de Comunicação da Presidência da República | Produção Alô Comunicação | Editoras Angélica Torres, Taisa Ferreira | Direçãode Arte Edu Branquinho, Edu Henrique | Editoração Eletrônica Eduardo Krüger | Reportagem Alexandre Marino, Ana Cristina Vilela, Ana Suelly Leite, Cristiano Torres, DulcídioSiqueira, Ionice Lorenzoni, Nicolas Bonvakiades, Marcos Magalhães, Rodrigo Farhat, Súsan Faria, Vilany Kehrle | Fotografia Cristiano Mariz | Colaboração Dad Squarisi |Supervisão Geral Adriano Lopes de Oliveira e Maria Teresa Fernandes | Fotolito e impressão Gráfica Brasil| Endereço para correspondência Esplanada dos Ministérios, Bloco L,Sala 905 – CEP 70074- 900 – Brasília – Distrito Federal | Fones (61) 410 8484 / 8133. Fax: (61) 410 9195 / 9196 | Sítio www.mec.gov.br | Endereço eletrônico [email protected]

Expediente

LivrosColeções literáriasna escola pública

LegislaçãoHasteamento da

Bandeira nas escolas

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PROFESSOR vai receber e publicar, nesta página, a cada edição, as dúvidas, críticas, sugestões, refle-

xões, e o que mais for de seu interesse formular e encaminhar ao Ministério da Educação. Escolha o meio

de envio de sua preferência no Endereço para Correspondência, ao final do expediente, na página 5.

Neste primeiro número da revista publicamos, com os respectivos esclarecimentos, questões relativas a um

tema recorrente junto ao público – o Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental e de Valori-

zação do Magistério (Fundef) – que nos chegam por telefone, fax, correios e endereço eletrônico.

Como os recursos do Fundef devem ser aplicados?

Os recursos devem ser utilizados da seguinte ma-

neira: 60%, no mínimo, para a remuneração dos pro-

fissionais do magistério em efetivo exercício no Ensi-

no Fundamental público, e 40%, no máximo, em ou-

tras ações de manutenção e desenvolvimento do En-

sino Fundamental público – como, por exemplo,

capacitação de professores, aquisição de equipamen-

tos, reforma e melhorias de escolas da rede de ensi-

no e transporte escolar.

Quem são os profissionais do Magistério?

Os profissionais do magistério são aqueles que

exercem atividades de docência e aqueles que ofere-

cem suporte pedagógico a tais atividades, como

administração ou direção de escola, planejamento,

inspeção, supervisão e orientação educacional.

Qual o valor do salário que deve ser pago ao Magistério?

A legislação do Fundef não estabelece um valor

mínimo (piso) ou valor máximo (teto) de salário. As

escalas salariais deverão integrar o Plano de Carreira

e Remuneração do Magistério que cada governo

(estadual e municipal) deve implantar. Assim, os salá-

rios serão definidos de acordo com a realidade de

cada um desses governos, ou seja, dependem do nú-

mero de profissionais, de alunos, da receita, da jor-

nada de trabalho, entre outras variáveis.

Onde e como apresentar reclamações e denúncias

sobre o mau uso de verbas do Fundef?

Em caso de descumprimento dos dispositivos le-

gais sobre o Fundef, recomenda-se procurar, primei-

ramente, os membros do Conselho de Acompanha-

mento e Controle Social do Fundef, para que solici-

tem ao responsável, se necessário, a correção das

irregularidades praticadas. Na seqüência, procurar os

representantes do Poder Legislativo local, para que

estes, pela via da negociação ou adoção de providên-

cias formais, possam buscar a solução com o

governante responsável. Ainda, se necessário, recor-

rer ao Ministério Público (Promotor de Justiça), direta-

mente ou com a ajuda e a intermediação do Conse-

lho do Fundef, formalizando suas denúncias e enca-

minhando-as, também, ao respectivo Tribunal de Con-

tas (do Estado ou dos municípios).

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Diálogo aberto

A revista PROFESSOR nasce com a proposta de ser um espaço

de reflexão e debate sobre a escola pública brasileira. Foi pensada

para atender às demandas dos educadores e para ser um instru-

mento de apoio para quem enfrenta os desafios cotidianos da vida

escolar. É um canal direto de comunicação entre o Ministério da

Educação e você, professor.

O seu lançamento, no dia 15 de outubro, marca o compro-

misso do MEC com os profissionais da Educação. O objetivo é

trocar idéias, por meio do diálogo aberto e transparente, com o

principal ator da mudança educacional de que o Brasil tanto

precisa. Como afirma o ministro da Educação, Cristovam Buarque,

seremos um bom país quando, ao nascer uma criança, o pai ou a

mãe idealizarem: “Quando crescer, vai ser professor”.

Aqui, todos os meses do ano letivo, você vai encontrar reporta-

gens, entrevistas, notas, artigos e fórum de debates sobre temas

de seu interesse. Vai conhecer as novidades na área educacional,

os projetos e as políticas do MEC e, ainda, compartilhar experiên-

cias positivas locais, regionais, nacionais e internacionais.

Nesta primeira edição, os temas centrais são a formação e a

valorização do professor, com a apresentação dos planos, projetos

e ações para seu aperfeiçoamento profissional e a revisão de sua

remuneração. Duas entrevistas, com os secretários da Educação

Infantil e Fundamental e do Ensino Médio, complementam a refle-

xão sobre o assunto. Também são destaques o debate sobre a

Educação Especial e os desafios do programa Brasil Alfabetizado.

Outra boa notícia é a oferta, feita pela Caixa Econômica Fe-

deral, de condições especiais no financiamento da casa própria

aos professores com renda familiar de até 10 salários mínimos.

Os primeiros beneficiados serão os docentes dos 100 municípios

do projeto Escola Ideal do MEC.

Boa leitura.

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VALORIZAÇÃO E FORMAÇÃO

A cada novo dia, o professor brasi-

leiro tem encontro marcado com o

conhecimento. Nas mais populosas

ou remotas regiões do País, em sa-

las de aula improvisadas ou diante

de modernos equipamentos, sozinho

ou com os colegas, ele tem aposta-

do na educação como um processo

permanente. Com maior ou menor

apoio dos governos municipal, esta-

dual e federal, os profissionais de

educação estão marcando presença

em cursos de aperfeiçoamento, gra-

duação e pós-graduação e procuram

fazer a sua parte no processo de

construção de um novo modelo edu-

cacional para o País.

A curva ascendente da participa-

ção dos professores em iniciativas

voltadas ao aperfeiçoamento profis-

sional contrasta, muitas vezes, com

a imobilidade de seus rendimentos.

Os baixos salários e a necessidade

de buscar outras fontes de renda

muitas vezes sopram no ouvido de

cada profissional a tentação de dei-

xar a carreira ou de postergar indefi-

nidamente a adesão ao movimento

de formação continuada. Mesmo

diante de uma realidade às vezes pou-

co generosa, os professores estão dis-

postos a dar sua contribuição.

“Ao mesmo tempo que enfrenta,

muitas vezes, uma situação difícil na

educação, o docente tem demonstra-

do postura muito positiva na busca de

novos cursos para o seu aperfeiçoa-

mento”, atesta a professora Nilda Gui-

marães Alves, presidente da Associa-

ção Nacional de Pós-Graduação e Pes-

quisa em Educação (Anped). “Há uma

campanha difamatória dizendo que o

professor não quer nada, mas o que

eu me pergunto é por que, diante des-

sas provocações, ele simplesmente

não pega o boné e vai embora”.

saberEducadores ampliam conhecimentospara garantir educação de qualidade

EM BUSCA DO

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Jogo de cinturaA baixa remuneração e a falta de

estímulo ao crescimento na profis-

são têm colocado boas intenções de

sobreaviso. Na modesta cidade de

Santa Maria, a 35 quilômetros da

capital do País, um professor de se-

gundo grau buscou por sua própria

iniciativa atrair o gosto dos jovens

pela Matemática.

Com material reciclado, criou tabu-

leiros e peças de xadrez para tornar

menos penoso aos alunos o aprendi-

zado de temas como matrizes. “O xa-

drez é um jogo de raciocínio lógico, que

eu uso para tornar a disciplina mais

atrativa”, relata Léo de Faria. A iniciati-

va deu certo, muitos jovens se encan-

taram pela Matemática e o aprendiza-

do tem fluído mais suavemente. O pro-

fessor é chamado a dar entrevistas e

se tornou popular na região, mas, como

diz em tom de brincadeira, ele ainda

não recebeu nenhum real a mais por

isso. “A grande maioria dos professores

quer se aperfeiçoar, mas a educação

não tem como evoluir sem a valoriza-

ção do profissional”, opina.

Na Unidade Escolar Fontes de

Ibiapina, no Piauí, repete-se um fe-

nômeno cada vez mais comum no

País todo: os professores têm que tra-

balhar em uma ou duas outras esco-

las para garantir a manutenção da fa-

mília. Com um agravante, lembra a

diretora da unidade, professora Fáti-

ma Lopes: os salários não passam de

R$ 240 mensais, acrescidos de

R$ 150 por regência de turma.

“Se o professor fosse valorizado, não

precisaria agir dessa forma”, pondera

Fátima, à frente de um estabelecimen-

to com 2.317 alunos dos ensinos fun-

damental e médio. Mesmo assim, ela

afirma que os professores estão em

busca de novas oportunidades de aper-

feiçoamento. “A Secretaria de Educa-

ção precisa ofereçer mais cursos, e o

que o Ministério da Educação fizer para

melhorar o nosso rendimento em sala

de aula será bem-vindo”, diz.

Formação continuadaO MEC está procurando fazer a sua

parte. A formação continuada do pro-

fessor é prioridade na pasta e diversos

programas vêm sendo desenvolvidos

pelas várias secretarias. Um deles, ain-

da em gestação, prevê a oferta de cur-

sos superiores a distância e tem como

fonte de inspiração a Open University –

ou Universidade Aberta – da Inglaterra.

Entre os programas que estão sen-

do aperfeiçoados está a TV Escola, que

tem levado a 50 mil escolas com mais

de 100 alunos uma programação de

Estudo realizado pelo Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais (INEP) sobre salári-

os das diferentes ocupações nas

cinco regiões do País mostra que

o rendimento mensal dos profes-

sores de Educação Básica é infe-

rior ao de várias outras categori-

as, apesar da função estratégica

da educação para o desenvolvi-

mento do País (ver tabela ao lado).

No Brasil, médicos e advogados

ganham, em média, quatro vezes o

que recebe um professor das séries

finais do Ensino Fundamental. A pro-

fissão em destaque é a de juiz, com

rendimento médio de quase 20 ve-

zes o valor do rendimento médio men-

sal do professor da Educação Infantil.

Diferenças salariais no Brasiluniversitários e apenas 14 mil delega-

dos e 10 mil juízes. O que se observa –

em especial nas carreiras onde o po-

der público é o maior empregador –

é que, quanto maior o número de pro-

fissionais, menor o salário.

Tornar uma profissão mais atrativa

requer, entre outros fatores, a possibi-

lidade de obtenção de bons salários.

Há, de fato, correlação entre nível sa-

larial da carreira e demanda nos pro-

cessos seletivos para ingresso em cur-

sos superiores. Nesse aspecto, se é evi-

dente que bons salários não bastam

para melhorar a qualidade do ensino,

sem eles dificilmente a escola conse-

guirá atrair os graduandos mais bem

preparados para a atividade docente na

Educação Básica.

VALORIZAÇÃO E FORMAÇÃO

A região com maior variação é o

Nordeste, onde as médias salariais de

diversas profissões chegam a ser de

sete a até 34 vezes o valor do salário

de um professor da Educação Básica.

As regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul

apresentam médias salariais maiores

do que a média do Brasil, sendo a pri-

meira, provavelmente, bastante influ-

enciada pelo Distrito Federal. As regi-

ões Norte e Nordeste encontram-se

abaixo da média nacional.

Outra forma de analisar as diferen-

ças é comparar os salários com o nú-

mero de profissionais existentes em

cada área. Havia, em 2001, cerca de

dois milhões de professores da Educa-

ção Básica, para 271 mil advogados,

257 mil médicos, 137 mil professores

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qualidade voltada à melhoria do traba-

lho em sala de aula. Até 2006, o Go-

verno pretende alcançar outras 15 mil

escolas do mesmo porte, além de uni-

dades com menos de 100 alunos. Tam-

bém se pretende aumentar o número

de escolas que gravam os programas e

organizam as próprias videotecas.

“A TV Escola é um instrumento

fantástico de Educação a Distância.

Precisamos estimular sua utilização

pelos professores e adoção pelos sis-

temas educacionais”, observa Jean-

Claude Frajmund, diretor do programa.

Até 2002, a programação era com-

posta, em 85%, por documentários ad-

quiridos no exterior e em 15%, por pro-

gramas nacionais. Segundo Frajmund,

pretende-se aumentar a participação da

produção brasileira para até 50%, dos

quais a maior parte será de vídeos pe-

dagógicos e cursos de formação conti-

nuada. O primeiro deles, feito em par-

ceria com o Gabinete de Segurança

Institucional da Presidência da Repúbli-

ca, mostrará como é possível fazer pre-

venção do uso de drogas nas escolas.

Outra iniciativa importante é o pro-

grama de capacitação inicial e conti-

nuada de professores do Ensino Bá-

sico em Educação Ambiental. Foram

enviados questionários de avaliação

da experiência a 200 professores-

formadores, que trabalharam na pre-

paração de outros professores ao lon-

go dos últimos anos. A partir desse

levantamento serão traçadas diretri-

zes atualizadas de formação de re-

cursos humanos para atuar no setor.

LetramentoEntre os programas novos, um dos

destaques é o Praler, criado recente-

mente pelo Fundescola e destinado aos

professores das duas primeiras séries

do Ensino Fundamental das regiões

Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Por

meio de sugestões de práticas peda-

gógicas simples e criativas, como a ela-

boração de histórias em quadrinhos,

adivinhações e brincadeiras, o programa

pretende estimular o professor a compre-

ender a estrutura da língua materna em

cursos de seis a sete semanas.

A preocupação faz sentido. Segun-

do levantamento do Sistema Nacio-

nal de Avaliação da Educação Básica

(Saeb), 59% das crianças da quarta

série – ou 980 mil estudantes em

todo o País – ainda podem ser consi-

deradas analfabetas. Desse total,

508 mil somente na região Nordes-

te. Para alterar o quadro do Ensino

Fundamental e reduzir o número de

alunos que ainda se encontram na ca-

tegoria de “desempenho muito críti-

R e n d i m e n t o m é d i o m e n s a l p o r p r o f i s s ã o e r e g i ã o – 2 0 0 1 ( e m R $ 1 , 0 0 )

Professor de Educação Infantil

Professor de 1ª a 4ª série

Professor de 5ª a 8ª série

Funções adm. de nív. sup. em educ.

Professor de nível médio

Suboficial das Forças Armadas

Professor pesquisador no ens. sup.

Agente Administrativo Público

Administrador de empresas

Técnico em nível superior - público

Policial civil

Oficial das Forças Armadas

Economista

Auditor

Advogado

Professor de nível superior

Delegado/Perito

Médico

Juiz

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de domicílios (PNAD) - 2001. Notas: 1) Valor em R$ de setembro de 2001.

Tipo de profissionaisNº de profissionais

no Brasil

Rendimento médio por regiões geográficas 1

Brasil Norte Nordeste Sudeste SulCentro-Oeste

201.232

881.623

521.268

139.575

348.831

517.038

6.448

316.761

502.895

421.318

72.743

89.387

44.772

68.870

271.241

136.977

13.973

257.414

10.036

422,78

461,67

599,85

849,16

866,23

868,73

898,80

911,82

1.202,86

1.310,56

1.510,64

2.091,53

2.254,66

2.408,40

2.496,76

2.565,47

2.660,52

2.973,06

8.320,70

388,89

443,17

600,99

753,20

826,28

817,55

215,33

661,40

986,87

1.053,94

1.344,46

2.129,41

1.700,77

3.512,94

3.893,83

1.800,30

2.753,91

4.429,82

5.905,38

232,79

293,18

372,81

549,60

628,08

723,52

1.150,16

679,31

774,85

794,02

1.320,40

1.674,46

2.009,08

1.584,94

2.245,35

2.252,08

1.347,25

2.576,78

8.038,88

522,44

599,19

792,82

1.092,85

979,16

986,19

946,56

1.072,50

1.411,18

1.586,97

1.457,90

2.250,53

2.227,19

2.588,47

2.431,04

3.086,95

2.650,73

2.801,77

9.018,42

435,87

552,72

633,92

738,27

804,32

747,23

712,65

926,14

1.057,85

1.308,30

1.488,02

1.949,68

1.641,35

1.986,32

2.597,39

2.122,77

3.714,45

3.260,41

9.750,00

749,61

567,38

593,52

834,86

872,20

910,93

875,47

1.103,37

1.123,93

1.876,79

2.087,23

2.321,03

3.592,64

3.133,88

2.768,25

2.190,10

5.969,61

4.110,87

7.331,08

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co” no sistema de avaliação, o Gover-

no Federal decidiu apoiar, por meio

do Fundo Nacional de Desenvolvimen-

to da Educação (FNDE), projetos

emergenciais de Estados e municípios

destinados a garantir o letramento de

crianças não-alfabetizadas com mais de

dois anos de escolarização e patroci-

nar a construção de sistemas estadu-

ais de avaliação da Educação Básica.

As medidas fazem parte do progra-

ma Toda Criança Aprendendo, da Se-

cretaria de Educação Infantil e Funda-

mental, que tem entre suas principais

ações a criação do Exame Nacional de

Certificação de Professores da Educa-

ção Básica, realizado anualmente, da

Bolsa Federal de Incentivo à Formação

Continuada e da Rede Nacional de Pes-

quisa e Desenvolvimento da Educação

Básica. As iniciativas se combinam, de

forma que o professor certificado no Exa-

me Nacional possa receber uma bolsa

federal de incentivo à formação conti-

nuada, com duração de cinco anos, cuja

renovação dependerá de nova cer–

tificação. Por sua vez, a rede de pes-

quisa estimulará estudos de temas

como alfabetização e letramento e edu-

cação matemática e científica.

Carência de educadoresProblema sério é a carência de

professores. Para atender à deman-

da das turmas de Ensino Médio e de

5ª a 8ª série do nível fundamental,

que exigem formação superior em li-

cenciatura, o sistema escolar precisa

de mais 250 mil docentes. Só na área

de Física faltam 55 mil professores.

Também é significativa a carência de

professores de Química, Matemática

e Biologia e já começa a faltar pro-

fessor de Português e de Línguas Es-

trangeiras. O alerta está no levantamen-

to realizado pelo Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais

(INEP) a pedido da Secretaria de Ensi-

no Médio e Tecnológico (Semtec).

O MEC acompanha esses números

com atenção, até porque, com a regu-

larização do fluxo de alunos no Ensino

Fundamental, os estudantes começam

a se formar em maior número e pas-

sam a integrar o exército de jovens em

busca do Ensino Médio.

Resultado: se, de um lado, o Go-

verno começa a analisar a possibilida-

de da adoção de mecanismos emer–

genciais para a formação de novos pro-

fessores em tempo menor do que os

usuais quatro anos da licenciatura, por

outro precisa promover a reciclagem dos

que já se encontram em sala de aula,

mas necessitam de aperfeiçoarmento.

Duas iniciativas estão sendo toma-

das nesse sentido. A primeira é o

credenciamento, pelo MEC, de proje-

tos de formação continuada que aten-

dam às demandas das secretarias es-

taduais. Identificadas as demandas, as

universidades envolvidas no programa

elaboram um programa curricular para

aulas presenciais e a distância, de

modo a garantir ao professor a

certificação em nível de especialização.

Os cursos que atenderem aos requisi-

tos necessários serão credenciados pelo

MEC e poderão ser contratados pelas

secretarias estaduais, com apoio téc-

nico e financeiro do Governo Federal.

A segunda iniciativa é a criação, pelo

MEC, de seu próprio programa de for-

mação continuada, que poderá ser ado-

tado pelas secretarias estaduais, es-

pecialmente nos casos de unidades da

Federação que não tenham tradição na

reciclagem de professores. As duas

possibilidades poderão se conectar, no

futuro próximo, a uma comunidade de

educadores do Ensino Médio, cuja

criação terá o apoio do Governo e co-

locará os professores em rede, na

Internet, abrindo espaço para a troca de

experiências e a solução de dúvidas.

“Não houve, nos últimos anos,

preocupação direta de deixar o profes-

sor mais antenado com os novos tem-

pos”, avalia a diretora de Ensino Médio

da Semtec, Marise Nogueira Ramos.

“O professor de Ensino Médio ficou um

pouco à margem, por causa da priori-

dade ao Ensino Fundamental”.

A maneira mais correta para se

garantir melhor formação ao profes-

sor de Ensino Médio ainda levanta con-

trovérsias. Apesar da necessidade

apontada pelo Governo do uso de me-

canismos não presenciais para a

reciclagem, há especialistas que con-

testam a eficácia desse método. “É

complicado ensinar Física, Química

e Biologia a distância”, observa a se-

cretária da Associação Nacional pela

Formação de Profissionais de Educa-

ção (Anfope), Helena Freitas.

VALORIZAÇÃO E FORMAÇÃO

O MEC estácredenciandoprogramas de

formaçãocontinuada que

atendam àsdemandasestaduais

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“Se bonssalários nãobastam paramelhorar a

qualidade doensino, sem

eles serádifícil atrair

graduandos bempreparados

para a atividadedocente do

Ensino Básico”

(Do estudo do INEP sobrediferenças salariais)

O papel da universidadeHelena afirma que a real valoriza-

ção do Magistério precisa ter três ali-

cerces sólidos: boa formação inicial,

boa formação continuada e boas con-

dições de trabalho, salário e carreira. A

iniciativa que ela considera mais im-

portante para valorizar o professor é a

adoção de uma política de formação

de professores em nível superior nas

instituições públicas. “Precisamos de

um investimento grande nas universi-

dades para que elas possam respon-

der a esse desafio”, sustenta.

A opinião é compartilhada pela pre-

sidente da Associação Nacional de Pós-

Graduação e Pesquisa em Educação,

Nilda Alves, para quem existe um jul-

gamento equivocado de que as univer-

sidades, por se localizarem nos gran-

des centros, não teriam capacidade de

formar professores que vivem no interior.

“Existe um movimento de universida-

des públicas em direção ao interior. A

participação delas na formação de pro-

fessores de cidades menores é com

certeza mais cara do que a certificação,

mas a certificação é um caminho equi-

vocado”, atesta.

Entre os estudiosos do tema da for-

mação e da valorização do professor, a

necessidade da criação de vínculos

mais estreitos com a universidade pú-

blica parece unanimidade. De acordo

com a presidente da Anfope, Márcia

Ângela Aguiar, as universidades deve-

riam ser “elemento impulsionador” de

um amplo programa de formação de

mestres em todo o País, que incluiria

programas de Educação a Distância.

Nesse sentido, a Secretaria de En-

sino Superior (SESu) tem tido um pa-

pel importante. Entre as ações imedia-

tas, a SESu se empenha em aplicar a

Resolução 04/97 do Conselho Nacio-

nal de Educação (CNE), que fixa as con-

dições para que os bacharéis possam

dar aula em suas respectivas áreas. Isto

quer dizer, por exemplo, que um médi-

co poderia ministrar aulas de Ciências

Biológicas e um engenheiro aulas de

Matemática e Física.

A Resolução prevê um total de 540

horas de formação específica, das quais

240 seriam voltadas ao estudo e atua-

lização do conteúdo e outras 300 ao

estágio. Especialistas na área sugerem

a ampliação para 880 horas, conside-

rando o tempo necessário para o pre-

paro de material didático e prático. O

processo não levaria mais do que um

semestre e meio.

LicenciaturaPara suprir o déficit de professo-

res de licenciatura, já foi encaminha-

do à Casa Civil projeto do PAE (Plano

de Apoio Estudantil) que garantirá 30

mil bolsas de estudo. Desse total, 20

mil bolsas serão destinadas às insti-

tuições privadas para licenciaturas em

todas as áreas. As 10 mil restantes

serão distribuídas entre as instituições

públicas para todos os cursos.

A seleção terá como critério essen-

cial a baixa condição econômica do can-

didato. O PAE deve ser votado ainda este

ano pelo Congresso Nacional. “A falta

de professores no Brasil hoje não será

resolvida de ime-

diato, porque

não conseguire-

mos solucionar,

de uma hora

para outra,

problemas que

se arrastam

há anos”,

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afirma o professor Waldemiro Gremski,

diretor do Departamento de Projetos

Especiais de Modernização e Qualificação

do Ensino Superior da SESu.

A SESu também quer incentivar os

cursos noturnos de licenciatura nas

universidades públicas, que respondem

por apenas 15% das formações em li-

cenciatura no País. Também considera

imprescindível a adoção de uma políti-

ca salarial dividida em vários níveis, com

acréscimos definidos a partir de crité–

rios que incluirão avaliação de desem-

penho e educação continuada. Além

disso, a SESu já encaminhou ao gabi-

nete do ministro proposta sobre piso

salarial, carreira do professor de Edu-

cação Básica, diretrizes de formação

docente e benefícios sociais. A propos-

ta deve ser discutida com urgência.

ProformaçãoNa área de Educação Especial

também existe uma preocupação

crescente com a formação dos pro-

fessores. A Secretaria de Educação

Especial criou um programa nacional

de capacitação de recursos humanos

do ensino regular para atuar junto aos

portadores de necessidades espe-

ciais, inclusive por meio de programas

de Educação a Distância. Com recur-

sos do FNDE, o programa está dispo-

nível para todas as secretarias esta-

duais e municipais.

Os mecanismos de formação a dis-

tância, que podem tornar mais fácil a

integração educacional dos portado-

res de necessidades especiais, tam-

bém ajudarão o Governo a extinguir,

até 2006, a categoria dos professo-

res leigos – aqueles que, principal-

mente nas regiões mais pobres do

País, exercem o Magistério sem for-

mação adequada. Dos 85 mil profes-

sores leigos que lecionavam no País,

em 1998, 27 mil foram atendidos

pelo programa Proformação, da Se-

cretaria de Educação a Distância, e 7

mil devem se formar até ju-

lho de 2004, depois de

exper imentarem

um curso de

dois anos, durante os quais mantêm

encontros presenciais de oito horas

de duração, a cada duas semanas.

Ao final desse período, os profes-

sores obtêm diploma de nível médio em

Magistério e, segundo avaliação exter-

na solicitada pela própria secretaria, pas-

sam a contribuir de forma mais intensa

para o aperfeiçoamento da educação.

“O curso realmente eleva a qualidade

do ensino, além de aumentar a auto-

estima dos professores leigos, que ti-

nham vergonha de sua formação e

eram também discriminados”, relata

Carmen Moreira de Castro Neves, di-

retora do Departamento de Política de

Educação a Distância.

O resultado da iniciativa, diz ela, é

que muitos dos professores que obti-

veram o diploma de Ensino Médio de-

sejam repetir a experiência, agora para

alcançar um certif icado de nível

superior. Por isso, o Governo Federal

já incluiu entre as suas prioridades

para esses quatro anos, expressas no

Plano Plurianual 2003-06, recursos

destinados à formação de todos os

professores leigos – e não mais ape-

nas os do Norte, Nordeste e Centro-

Oeste, como até agora – e o lança-

mento de um programa de gradua-

ção a distância.

A ousadia da iniciativa, que pode

representar um grande passo na

melhoria da qualidade do ensino ofe-

recido no País, deve estar unida, na

opinião da diretora, a medidas desti-

nadas a garantir a permanência do

professor em sala de aula. “A forma-

ção continuada tem que vir acompa-

nhada da valorização da carreira”, su-

gere Carmen. “Caso contrário, o pro-

fessor pode deixar o magistério e fa-

zer outra coisa na vida”.

Uma propostasobre piso

salarial, carreirado professore benefícios

sociais vai serdiscutida com

urgência

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Quem trabalha com educação no

Brasil já ouviu falar do Saeb, mesmo

que superficialmente. Sigla para Sis-

tema Nacional de Avaliação da Edu-

cação Básica, trata-se de uma aferi-

ção da qualidade do ensino de Leitu-

ra e Matemática nas 4ª e 8ª séries do

Ensino Fundamental e na 3ª série do

Ensino Médio. Realizado pelo Institu-

to Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP), é

aplicado a cada dois anos numa amos-

tra de escolas de todas as unidades

da Federação.

Paralelamente às provas, alunos,

professores e diretores respondem a

um questionário que colhe várias in-

formações de contexto, com o ob-

jetivo de identificar fatores que in-

f luenciam no aprendizado. São

questões relacionadas, por exemplo,

à formação dos professores, aos há-

bitos de leitura dos alunos e ao uso

de material didático em sala de aula.

Uma nova leitura da última edi-

CENÁRIOS

O SAEB

Aferição do desempenhoem Leitura e Matemática vaiaprofundar análise de temasrelacionados ao aprendizado

ção do Saeb, de 2001, mostrou que

na 4ª série do Ensino Fundamental,

em Leitura, 22% dos alunos não de-

senvolveram habilidades compatíveis

à série e 37% aprimoraram algumas

competências, mas ainda apresen-

tam desempenho bem abaixo do

desejado. Isso demonstra que 59%

dos estudantes estão nos estágios

“crítico” ou “muito crítico” do apren-

dizado.

DepoimentosQuem está na sala de aula, lidan-

do diariamente com as carências co-

muns à maioria das escolas, não se

espanta com os resultados. A direto-

ra da escola Ayrton Senna da Silva,

de Boa Vista (RR), que tem turmas de

5ª a 8ª série do Ensino Fundamental,

comenta que os alunos já chegam

com sérios problemas de leitura e com-

preensão de textos, que deveriam ter

sido sanados nos primeiros anos de

escolarização.

reexaminado

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CENÁRIOS

Identificar esse problema e as

razões das deficiências, fornecendo

informações que sejam úteis para

quem está na ponta do processo

educacional, são atribuições de um

sistema de avaliação, assunto que

mobiliza diferentes opiniões de es-

pecialistas e gestores.

João Filocre, secretário-adjunto de

Educação de Minas Gerais, afirma que

não é possível administrar um siste-

ma educacional sem avaliação. “Pre-

cisamos ter um tipo de avaliação mais

freqüente, que consiga abranger ou-

tras séries e disciplinas para poder-

mos ter informações mais completas

de cada escola”.

O pesquisador Júlio Jacobo, coorde-

nador da Unesco no Nordeste, também

defende a avaliação, mas faz ressalvas

quanto à forma de divulgação dos re-

sultados. “O método de divulgação usa

escalas interpretadas que vão de 200

a 500 pontos. Fica muito difícil saber o

que fazer se os alunos, ou o Estado, ou

o município, tiveram 250 pontos. Jun-

to com a avaliação é preciso ter um

leque de respostas que oriente uma

ação determinada”, afirma.

Políticas públicasA dificuldade na interpretação dos

dados do Saeb foi uma das razões que

levaram o INEP a fazer nova divulga-

ção dos resultados da edição de 2001,

a fim de permitir maior entendimento

da situação atual do ensino no País.

Dessa percepção nasceu uma escala

com cinco faixas que se inicia no “muito

crítico” e vai até o estágio “avança-

do”, estratégia que procura traduzir a

escala de desempenho em linguagem

acessível a todos, principalmente aos

gestores das redes de ensino.

Mesmo que ainda parcialmente

compreendido, o Saeb tem fornecido

elementos para a implantação de polí-

ticas públicas. O diagnóstico realizado

auxiliou, por exemplo, na formulação

do Toda Criança Aprendendo, progra-

ma lançado pela Secretaria de Educa-

ção Infantil e Fundamental do MEC, em

junho, que se apóia em quatro pontos

básicos: uma política nacional de valo-

rização e formação de professores; a

ampliação do atendimento escolar; o

apoio à construção de sistemas estadu-

ais de avaliação da Educação Básica; e o

letramento da população estudantil.

A construção dos sistemas esta-

duais de avaliação depende do forta-

lecimento do intercâmbio entre o Mi-

nistério da Educação e os Estados.

Segundo Carlos Henrique Araújo, di-

retor do Saeb, 11 unidades da Fede-

ração mantêm atualmente alguma

parceria com o Saeb nacional na mon-

tagem de seus próprios sistemas,

principalmente quanto à utilização de

itens de prova e ao suporte técnico

para o desenvolvimento de meto–

dologias que propiciam a produção de

informações comparáveis.

Críticas e sugestõesCríticas e sugestõesCríticas e sugestõesCríticas e sugestõesCríticas e sugestõesCom o objetivo de aprimorar o ins-

trumento de avaliação, foram reali-

zados quatro encontros regionais.

Neles, os gestores das redes, direto-

res e professores puderam conhecer

melhor e discutir os resultados do

Saeb. Em seminário realizado no

Recife (PE), que reuniu representan-

tes das Secretarias de Educação dos

Estados nordestinos, os presentes

indicaram, por exemplo, problemas

como a desarticulação entre Secre-

tarias de Educação e o Ministério, a

linguagem técnica dos relatórios e

a não utilização dos resultados para

a elaboração de projetos político-

pedagógicos.

Araújo explica que várias críticas e

sugestões apresentadas nos encon-

tros regionais estarão contempladas

no Saeb 2003, com aplicação previs-

ta para novembro próximo. Como pri-

meiro resultado prático dessa articu-

lação, os Estados do Mato Grosso do

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Sul e do Acre tomaram a iniciativa de

implantar a avaliação universal nas

suas rede de ensino.

UniversalizaçãoManuel Palácios, coordenador do

Sistema Mineiro de Avaliação da Edu-

cação Pública (Simave), é um dos de-

fensores da idéia de que cada unidade

da Federação deva desenvolver seu pró-

prio sistema de avaliação. “É preciso

produzir um consenso técnico a respei-

to dos métodos a serem utilizados. Eles

devem permitir comparações e também

o desenvolvimento de instrumentos de

avaliação por parte dos próprios Esta-

dos e municípios, de acordo com suas

peculiaridades”, diz.

A universalização da avaliação é

defendida pelo secretário-adjunto de

Educação de Minas Gerais. Para ele,

os professores reconhecem suas difi-

culdades quan-

do estão dian-

te de um relatório que fala sobre seus

próprios alunos. “Quando você fala do

grupo de alunos da escola, a comuni-

dade escolar recebe aquelas informa-

ções de modo muito especial”. Essa é

também uma das metas da diretoria

do Saeb, que projeta para 2005 a apli-

cação universal de um sistema de ava-

liação em todas as escolas do País. Isso

deverá ser feito em parceria com as

Secretarias Estaduais de Educação e

as universidades.

Próxima avaliaçãoEntre os dias 3 e 7 de novem-

bro, as provas do Saeb serão apli-

cadas a uma amostra de cerca de

350 mil estudantes de 7,5 mil es-

colas públicas e particulares de to-

dos os Estados e do Distrito Federal.

A partir deste ano, a avaliação pas-

sará a acompanhar o desempenho

dos alunos que participam do progra-

ma Bolsa-Escola. Outra novidade diz

respeito ao questionário socioeconô-

mico aplicado a alunos, professo-

res e diretores, que vai

incluir questões so-

bre o problema

da violência.

A diretoria doSaeb projetapara 2005a aplicação

universal de umsistema de

avaliação emtodas as

escolas do País.Isso deverá ser

feito emparceria com as

SecretariasEstaduais de

Educação e asuniversidades

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docentes

ENTREVISTA / MARIA JOSÉ FÉRES

VALOR AOS

A secretária de Educação Infantile Fundamental anuncia: o MEC vaiinvestir no educador como peçafundamental na mudança daqualidade de ensino

Ampliar o atendimento escolar – com a inclusão de crianças de seis anos no

Ensino Fundamental e escolas de tempo integral – e implementar o Sistema

Nacional de Formação Continuada e Certificação. Essas são algumas das medi-

das anunciadas pela Secretária de Educação Infantil e Fundamental do Minis-

tério da Educação, Maria José Féres, para o combate ao analfabetismo que

atinge quase 60% dos estudantes na Educação Fundamental.

Historiadora, formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora, a se-

cretária defende a valorização do professor e a criação de um piso salarial

nacional como instrumentos fundamentais para a garantia da qualidade

na escola pública brasileira – propostas que vem discutindo com repre-

sentantes de vários segmentos da educação, entre os quais professores,

membros de instituições formadoras e gestores da educação.

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Quais os principaisprojetos e programasdo atual Governo paraa Educação Infantile Fundamental?

O nosso desafio é ir além do Toda

criança na escola, feito pelo governo

anterior – hoje faltam de três a cinco

por cento de crianças no Ensino Fun-

damental para serem incluídas. E te-

mos as crianças na escola sem apren-

der, o que é uma inclusão pela meta-

de. Inclusão significa que a criança está

na escola, permanece na escola e

aprende na escola. Então lançamos o

programa Toda criança aprendendo.

Como parte das ações da Secretaria,

vamos implementar a Política Nacional

de Valorização e Formação do Profes-

sor, porque entendemos que ele é o

ator fundamental para qualquer mudan-

ça na qualidade de ensino.

Como está a situação daEducação Fundamental noPaís hoje?

Temos 59% das crianças na 4ª sé-

rie de escolaridade formal que não

adquiriram as competências básicas

de leitura e letramento para esse ní-

vel de escolarização. Das que não

lêem nada, o percentual chega a

22,8%. Outras lêem e não identifi-

cam informações explícitas no texto.

Esse problema vai se arrastando e,

quando você chega na 8ª série,

encontra, de novo, o problema do le-

tramento: as competências não foram

adquiridas como deveriam ter sido. O

grande desafio desse Governo é ga-

rantir qualidade na educação, com

inclusão real e não por matrícula,

como tem dito o ministro Cristovam

Buarque.

Qual a diferença entreinclusão e matrícula?

Matriculei o aluno na escola, mas

se ele não aprende, se não tem aces-

so ao mundo letrado, aos bens cultu-

rais e ao mundo da escrita, significa que

não está, de fato, incluído. É uma in-

clusão de faz-de-conta. É importante

fazer com que as crianças permane-

çam na escola e aprendam.

Como o programa Todacriança aprendendo podecolaborar nesse processo?

O programa procura agir em dire-

ção à qualidade da educação com po-

líticas estruturais, sem descartar as

ações de emergência. A emergência

maior é não ignorar que há 59% de

crianças na 4ª série sem saber ler. En-

tre as ações estão a aceleração de

aprendizagem e a promoção de cursos

para que as crianças comecem a recu-

perar o tempo perdido. Mas é impor-

tante fechar a torneira, senão vamos

fazer aceleração o resto da vida. Vou al-

fabetizando as que estão na 4ª série

agora e, se eu não cuidar da 1ª série,

quando elas chegarem na 4ª vou ter de

novo o mesmo problema. Para isso são

necessárias políticas estruturantes.

Que políticas são essas?A primeira é o Programa Nacional

de Formação e Valorização de Profes-

sores, que são os atores fundamentais

para qualquer mudança na qualidade

do ensino. A segunda busca ampliar

para nove anos a duração do Ensino

Fundamental, com a inclusão das crian-

ças de seis anos, que deve ser univer-

salizada. É preciso alterar diretrizes pe-

dagógicas do Ensino Fundamental para

garantir a inclusão dessas crianças.

Estamos fazendo um levantamento jun-

to aos sistemas estaduais e municipais

Maria José: “Vamos ampliar para nove anos a duração do Ensino Fundamental”

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não cumpre 40 horas numa mesma es-

cola. Para ele, o piso não valeria. Vale

para um professor que trabalhe numa

mesma rede de ensino.

Qual é o prazo para aimplementação do piso?

No máximo, 2005. Outra questão

é que o piso salarial, atualmente,

está ligado ao Fundef. Queremos que

ele tenha vinculação com o novo fun-

do de financiamento que vai atender

a toda a Educação Básica. Hoje, o

professor que pode receber em fun-

ção do Fundef é só o do Ensino Fun-

damental e isso cria dificuldades nas

redes de ensino, porque as prefeitu-

ras só podem aumentar o salário des-

ses professores se houver recursos no

Fundef. A ampliação do Fundef vai ser

discutida em 2004 e já temos uma

Proposta de Emenda Constitucional

(PEC) que está sendo encaminhada

pelo ministro.

Que outras ações vãobeneficiar os professores?

As Diretrizes Nacionais de Carrei-

ra para o Magistério. Já as temos

hoje, como resolução do Conselho

Nacional de Educação (CNE), e que-

remos transformá-las em lei. Outro

ponto é a institucionalização do Sis-

tema Nacional de Formação Continua-

da e Certificação dos Professores. O

sistema inclui uma Rede Nacional de

Pesquisa e Desenvolvimento da Edu-

cação Básica, responsável pela pro-

dução de cursos de formação conti-

nuada de professores, incluindo ins-

trumentos de Educação a Distância.

Vamos lançar um edital, ainda este ano,

chamando as universidades brasileiras

a concorrerem para a elaboração de

projetos para essa rede de formação

continuada. Ela deve atuar nas áreas

também previstas para certificação do

professor: Educação Infantil, Ensino

Fundamental (quatro primeiros anos),

Língua Portuguesa e Letramento, Ma-

temática, Ciências Humanas, Ciências

da Natureza, Gestão da Educação, Edu-

cação Física, Artes e Avaliação Educa-

cional. Nós discutimos e votamos as

matrizes de referência do sistema em

encontros regionais que contaram com

a participação de 7 mil pessoas.

Como serão os cursos equantos docentes podemser beneficiados?

Vamos discutir com as instituições

formadoras, gestores e os próprios pro-

fessores. O objetivo é que todos os do-

centes dos anos iniciais do Ensino Fun-

damental tenham acesso. A rede vai

ter um componente de formulação e

de execução. Como o MEC investe no

processo de Certificação Docente, que

ENTREVISTA / MARIA JOSÉ FÉRES

de ensino sobre as possibilidades de

cada um adotar essa medida, e como

o MEC poderia contribuir. A Rede Esta-

dual de Educação de Minas Gerais im-

plantará os nove anos do Ensino Fun-

damental a partir do ano que vem. Além

disso, está sendo proposta a amplia-

ção progressiva da jornada escolar e,

até 2010, a consolidação da escola de

tempo integral. Nossa proposta é co-

meçar nas periferias das regiões me-

tropolitanas das capitais, onde o risco

social normalmente é maior para

crianças e adolescentes, e ir gradativa–

mente expandindo.

Como superar asdesigualdades regionais?

Estamos defendendo a criação de

um piso salarial nacional para começar

a combater essas desigualdades. Os

professores, não importa onde estejam,

têm os mesmos direitos de acesso a

bens culturais, de se informar melhor.

Isso tudo exige remuneração mais ade-

quada. Não posso me conformar com

a história de que a criança que nas-

ceu no Estado X tenha uma educa-

ção melhor que a nascida no Estado

Y. Temos que respeitar a diferença,

mas combater a desigualdade.

Já se sabe de quantoserá o piso salarial?

Ainda não. Temos uma proposta de

projeto de lei que o ministro está enca-

minhando para outras esferas de go-

verno e que vamos discutir com a socie-

dade. O que posso dizer é que estamos

trabalhando com a idéia de piso salarial

ligado à jornada de trabalho, que deve

ser de 40 horas na mesma escola. Um

professor que trabalhe em duas redes

– municipal e estadual, por exemplo –

“Está sendo proposta

a ampliaçãoprogressivada jornadaescolar e,até 2010,

a consolidaçãoda escolade tempointegral”

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é o outro lado do Sistema Nacional de

Formação e Certificação, a contra-

partida de Estados e municípios seria a

execução da formação continuada. O

MEC financia a Rede Nacional e a for-

mulação dos cursos, além da Cer-

tificação Docente. Os Estados e muni-

cípios executam a Formação Continua-

da de Professores.

Os professores vãoprecisar da Bolsa Federalde Incentivo à FormaçãoContinuada paraparticipar dos cursos?

Todos têm que ter acesso à forma-

ção continuada. A Certificação Docen-

te é um processo em que estamos in-

vestindo para contribuir com a identi-

dade profissional do professor e para,

ao mesmo tempo, trazê-lo para o cen-

tro da vida do Estado brasileiro. É um

compromisso do Estado com ele, ao

mesmo tempo em que certifica as com-

petências que ele foi acumulando ao

longo da carreira. A certificação não é

obrigatória, não é qualificação para dar

aula, não é a licença. É uma forma de

comprovar conhecimentos acumulados.

A certificação sedará por exame?

É o que consta da Portaria do mi-

nistro. Faremos um Exame Nacional de

Certificação Docente, começando com

os professores dos anos iniciais do En-

sino Fundamental, aberto a todos os

que quiserem participar. Das matrizes

aprovadas para o Sistema Nacional de

Formação e Certificação, uma se refe-

re a conhecimentos e habilidades que

todo professor deve ter. A outra, a sa-

beres e competências específicos dos

professores dos anos iniciais. Os apro-

vados nesse exame receberão um cer-

tificado nacional e uma bolsa, que será

um incentivo para que continue perma-

nentemente em formação.

Há proposta parao valor dessa bolsa?

Temos um critério: não será menos

de 20% da média salarial nacional dos

professores, que está entre R$ 550 e

R$ 650. Pode até ser que se amplie

esse valor. Nos encontros regionais so-

licitou-se a inversão na aplicação: pri-

meiro a Rede Nacional de Formação;

depois a Certificação Docente. Com

isso, temos tempo para discutir melhor

a proposta da bolsa e seu valor.

A imprensa tem ditoque o Exame Nacionalde Certificação Docenteé o Provão do professor.Isso é verdade?

Não é verdade, até porque o Provão

não tem matriz discutida com ninguém,

como fizemos com o Exame Nacional

em todo o País, e umas 7 mil pessoas

estiveram envolvidas no processo. Além

do mais, não se trata apenas de fazer

uma avaliação da formação continua-

da. Estamos fazendo um processo de

certificação voluntária dos professo-

res. O Exame Nacional é o modus

operandi dessa certificação e não um

instrumento de avaliação do profes-

sor. O trabalho dele tem que ser ava-

liado pela prefeitura e pelo Estado, pe-

los sistemas estaduais e municipais,

porque é lá que eles trabalham. A úni-

ca coincidência é que se trata de dois

exames. Mas não se pode com-

parar um instrumento com

o outro, fora do

contexto.

“A CertificaçãoDocente vai

contribuir coma identidade

profissional doeducador e, aomesmo tempo,trazê-lo para ocentro da vida

do Estadobrasileiro”

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humanoAlessandro Tavares e Paulo Men-

donça, estudantes, têm 18 anos.

Um mora em Sergipe, o outro em

Minas Gerais. Apesar da distância,

dividem o mesmo sonho: buscar so-

luções para um mundo melhor e

mais humano. Enquanto Paulo quer

ajudar o Brasil a incluir pessoas da

terceira idade no mundo digital,

Alessandro deseja que portadores

de necessidades especiais usem um

sistema operacional de computador

comandado por voz.

Alessandro e Paulo poderão tornar

seus sonhos realidade na segunda edi-

ção do Prêmio Técnico Empreendedor,

a ser entregue no dia 8 de dezembro,

em Brasília. O concurso, que teve o pra-

zo de inscrições encerrado agora em

outubro, é promovido pelo Ministério da

Educação e pelo Serviço Brasileiro de

Apoio às Micro e Pequenas Empresas

(Sebrae). O objetivo é estimular e pre-

miar soluções empreendedoras desen-

volvidas por alunos de cursos técnicos.

Os projetos, além de tecnicamente viá-

veis, devem contribuir para o desenvol-

vimento socioeconômico de comunida-

PARCERIAS

POR UM MUNDO MAIS

Prêmio Técnico Empreendedorestimula criatividade de alunosda rede federal de Educação

des ou empresas brasileiras.

Segundo Franclin Nascimento, as-

sessor da Secretaria de Educação

Média e Tecnológica (Semtec), há

duas razões para que estudantes de

todo o País participem da iniciativa: o

desenvolvimento de uma cultura em-

preendedora nos jovens e o estímulo

ao potencial criativo do aluno, útil tan-

to em sala de aula quanto na carreira

profissional.

Idoso independenteO sonho de Paulo Mendonça da

Silva, aluno do curso técnico de

Informática do Centro Federal de Edu-

cação Tecnológica (Cefet) de Bambuí

(Minas Gerais), nasceu em sua pró-

pria casa. Ele percebeu a dificuldade

dos avós de se adaptar às engenhocas

do mundo digital, como caixas eletrô-

nicos em bancos, tira-teima de pre-

ços em supermercados e outras.

“Eles ficaram tanto tempo indepen-

dentes, então por que, agora, preci-

sam pedir auxíl io em tarefas do

dia-a-dia?”, questiona Paulo. Segun-

do a professora Aleandra da Silva Fi-

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gueira, orientadora do grupo de Pau-

lo, formado por Denison Viana, Gabriel

Mourão, Marilene Messias e Tiago Ara-

újo, os alunos trabalharão inicialmen-

te com as pessoas da terceira idade

do Centro Mocinhas de Ontem, de

Bambuí. “Eles têm que colocar o pla-

no em prática para poder analisar seu

impacto”, diz a professora.

Depois, será a hora de publicar os

resultados e ajudar a fazer a inclusão

digital de mais pessoas. Como um

sonho puxa outro, ganhando ou não o

prêmio, Paulo e os amigos pretendem

levar o projeto adiante.

Necessidades especiaisAlessandro Tavares Santos estuda

Informática no Cefet de Sergipe. Ele

pretende criar um sistema operacional

comandado por voz para pessoas com

necessidades especiais. Segundo o

estudante, há um programa parecido,

mas usado somente para editar tex-

tos e navegar na internet.

Tudo começou quando Alessandro

assistia a um jogo de basquete dispu-

tado por cadeirantes (portadores de

necessidades especiais em cadeiras de

rodas) no pátio da escola. O projeto

desenvolvido pela instituição para in-

centivar a sociabilização despertou em

Alessandro a disposição de trabalhar

com a inclusão. Ele já procura empre-

sas que se interessem pela idéia.

Michele de Andrade, 20 anos, co-

lega de Alessandro, também quer con-

tribuir com soluções para um mundo

melhor. A estudante apresentará um

projeto de portal na Internet sobre Saú-

de e Segurança no Trabalho, profissão

técnica que escolheu. Nesse espaço

virtual, segundo ela, empresários e alu-

nos terão informações para desenvol-

ver projetos, conhecer o ofício e firmar

convênios e parcerias. No portal tam-

bém haverá espaço para divulgar novi-

dades da área, como novos equipa-

mentos e mobiliário ergonômico.

Michele conhece a receita para a

manutenção do sítio na internet. “Virá

de anúncios de empresas, instituições

de ensino e sindicatos”, adianta. Seu

grupo será orientado pelo professor

Cícero Farias, que trabalha com pre-

venção de riscos. Eles querem que o

portal seja uma referência para a área

de saúde e segurança do trabalho.

Saiba mais sobre o prêmioAvaliação — A avaliação dos pro-

jetos será feita em duas etapas, uma

de âmbito regional e outra nacional.

Em cada uma das cinco regiões brasi-

leiras, três projetos serão seleciona-

dos para concorrer à etapa nacional.

Premiação — Na etapa regional,

os autores dos projetos vencedores e

os professores orientadores receberão

certificados de reconhecimento. Equi-

pes e instituições vencedoras ganha-

rão troféus. Na fase nacional, os prê-

mios são de R$ 5 mil para o primeiro

lugar, R$ 4 mil para o segundo, R$ 3

mil para o terceiro, R$ 2 mil para o

quarto e R$ 1 mil para o quinto. O

professor orientador do projeto ven-

cedor receberá, ainda, uma viagem de

estudos, no valor de R$ 4 mil.

Mais informações nos portaiswww.mec.gov.br e www.sebrae.com.br,

pelo endereço eletrô[email protected] pelos telefones (61) 410-8815

e 410-9681

Paulo (à esquerda) e colegas: projeto para ajudar os da terceira idade a lidar com o mundo virtual

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Guaraí é uma cidade de 20 mil ha-

bitantes, a 200 quilômetros de Pal-

mas, Tocantins. Como acontece em

outros municípios do mesmo porte no

interior do Brasil, boa parte da popu-

lação espera que os poderes públicos

ofereçam melhores condições de vida.

O que torna Guaraí diferente é uma

escola, o Centro de Ensino Médio

Oquerlina Torres. Ela é tão importante

para a população carente quanto a

Prefeitura ou a Câmara de Vereado-

res. Isso porque os estudantes, rom-

pendo os limites das salas de aula,

encontraram soluções para problemas

urgentes da população.

A interferência da escola nas ques-

tões da comunidade favoreceu a cons-

trução de quadras de esportes e de

postos de saúde e policiais. Favoreceu

também a implantação de iluminação

pública e a criação de ruas de lazer e

de programas de aperfeiçoamento pro-

fissional em quatro bairros carentes da

PARCERIAS

JUVENTUDE

Estudantes rompem os limitesda escola e encontram soluçõespara carências da comunidade

cidade — Setor Aeroporto, Canaã,

Querência e Setor Pestana.

A ação da escola começa a se ex-

pandir para outros bairros, como o Se-

tor Serrinha. Lá, os moradores obtive-

ram da Prefeitura o fornecimento de

água. “Ninguém pensava que a atuação

da escola atingisse tal dimensão”,

disse a professora Iolanda Noleto, coor-

denadora da área de Ciências Huma-

nas do Centro Oquerlina Torres.

Tudo começou em 2000, no labo-

ratório de Informática da escola. Du-

rante um curso de capacitação, os

professores elaboraram a primeira

versão do projeto Bairros de Guaraí,

cujo objetivo era levar os estudantes

a praticar o que aprendiam nas diver-

sas disciplinas. Dessa forma, ajuda-

riam a alfabetizar famílias carentes,

estudariam a urbanização e a história

dos bairros. Com os conhecimentos

de Matemática e Informática, fariam

um diagnóstico dessa realidade.

protagonista

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O projeto foi além do imaginado.

Quase todos os 949 alunos matricu-

lados se engajaram. Depois de pes-

quisas realizadas nas comunidades,

os estudantes, por meio de planilhas

e gráficos elaborados nos computa-

dores, identificaram uma realidade

cruel e a necessidade de interferir para

transformá-la. Passaram, então, a fa-

zer visitas à Prefeitura e à Câmara de

Vereadores para discutir os problemas

e reivindicar soluções.

Ao perceber o alcance de sua atua-

ção, os estudantes partiram para a se-

gunda etapa do projeto. Promoveram

campanha de doação de alimentos para

o Natal, coletaram brinquedos para as

crianças, organizaram brincadeiras e

contaram histórias escritas e editadas

por eles próprios, em pequenos livros,

nos computadores da escola. Também

foi desenvolvido o projeto Arte das Mãos,

que ensina trabalhos manuais às mu-

lheres e proporciona o aumento da ren-

da familiar.

“O projeto Bairros de Guaraí mu-

dou a escola e os alunos, que se tor-

naram protagonistas do movimento

social. De certa forma, mudou até a

cidade, já que moradores de outros

bairros passaram a procurar a escola

para reivindicar melhorias junto ao

poder público”, contou Leila Ramos,

coordenadora estadual do Programa

Nacional de Informática na Educação

(ProInfo).

Projetos premiadosEntusiasmados com a possibilida-

de de ajudar a comunidade, profes-

sores e estudantes passaram a de-

senvolver outras iniciativas. O Centro

de Ensino Oquerlina Torres teve dois

projetos premiados no concurso

Escola Jovem, da Secretaria de Edu-

cação do Tocantins. Com o dinheiro

dos prêmios será custeada a implan-

tação dos projetos. O primeiro, desen-

volvido pelos professores, é o Passan-

do a Bola, que proporciona a crianças

de sete a 12 anos a prática de espor-

tes em competições interbairros. O se-

gundo é o Entre Vizinhos, elaborado

pelos alunos para integrar as pessoas

da comunidade por meio de reuniões

de debate, concursos e atividades para

desenvolver habilidades diversas.

Os alunos do terceiro ano passa-

ram a ter cursos de Informática Bási-

ca nos 32 computadores da escola,

com orientação profissional e artísti-

ca. “O objetivo do laboratório de infor–

mática é apoiar atividades curri–

culares, mas os estudantes pretendem

trazer a comunidade para a escola e

oferecer conhecimentos úteis no dia-

a-dia”, explicou a coordenadora do

laboratório, Vênes Souza Lopes. “Es-

tou orgulhosa de fazer parte de uma

escola voltada para atender à comu-

nidade e construir um cidadão críti-

co”, afirmou Leila Ramos.

Rua de Lazer:uma das açõesdo projetoBairros deGuaraí, criadopelos estudantesno laboratóriode informática

Prefeito de Guaraí recebeos estudantes que elaboraramo projeto Bairros de Guaraí

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O Rio Vieira, que banha a cidade

mineira de Montes Claros, foi esco-

lhido pelos alunos da Escola Estadual

Benjamin Versiani para participar do

Riverwalk, projeto internacional que

tem a participação da Universidade de

Michigan (EUA). Estudantes de todo o

mundo trocam informações e fazem

estudos sobre rios e, em conseqüên-

cia, meio ambiente e cultura. Além da

escola mineira, outras dez, de nove

Estados, participam do projeto sob a

supervisão do jornalista Eduardo

Junqueira, estudante daquela univer-

sidade. O Riverwalk tem o apoio do

governo do Japão e parceria com o Pro-

grama Nacional de Informática na Edu-

cação (ProInfo).

No endereço www.riversproject.org

encontram-se informações e relatos

sobre as pesquisas realizadas e

atualizadas pelos próprios estudantes

e professores. Cabe a eles, ainda, re-

digir trabalhos e publicá-los na página

do Riverwalk, além de organizar ativi-

dades educacionais e viagens de estu-

do para pesquisas de campo. “A avalia-

ção é constante e integralizadora, por-

que é dirigida aos alunos e professo-

res”, analisou a professora Maria de

Lourdes Matos, do Núcleo de

Tecnologia da Secretaria de Educação

de Minas Gerais. “Os professores, as-

sim como os alunos, são avaliados e

NOVAS TECNOLOGIAS

RIOS

Escolas brasileirastrocam informaçõescom o mundopelo projetointernacionalRiverwalk

continuamente fazem reflexões sobre

o conhecimento produzido no transcor-

rer do projeto”.

Motivação“Escolhemos o rio Vieira por ser o

que drena a cidade, doente pela po-

luição”, explica Mariângela Paes Aze-

vedo, coordenadora do projeto na es-

cola. Informações e registros escritos

sobre o rio quase não existem. Entre-

tanto, a vontade de mostrar ao mun-

do o desejo de salvá-lo foi maior do

que a tendência de desistir. “Após ár-

duo trabalho, descobrimos que valeu

a pena enfrentar o desafio”, diz a pro-

fessora. Grande parte dos estudan-

tes e professores nem sequer tinha

conhecimento de informática quando

o trabalho começou. Além do diag-

nóstico da situação do rio, o esforço

permitiu aos alunos enriquecer os co-

nhecimentos em Português, Geogra-

fia, Biologia, História, Artes, Matemá-

tica, Física, Química e Inglês.

A Escola Estadual Benjamin Ver–

siani, no bairro Alice Maia, funciona

em três turnos e atende a estudan-

tes de comunidades carentes. São 1,8

mil alunos, que usam um laboratório

com dez computadores, duas impres-

soras e um digitalizador de imagens.

Segundo Eduardo Junqueira, as es-

colas foram escolhidas estrategica-

mente para representar a diversida-

de econômica, geográfica e cultural

do País. Foram escolhidas também

instituições de Brasília, Manaus, Cam-

po Grande, Jaguaribe (CE) e Tapera

(RS), entre outras.

virtuais

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O Programa Nacional de

Informática na Educação (ProInfo)

dedica-se ao processo de informa–

tização e formação de pessoal para o

uso de novas tecnologias no proces-

so de ensino-aprendizagem. Iniciado

em 1997, o programa já instalou

53.895 computadores em cerca de

4,6 mil escolas públicas de todo o

País. Contudo, ele não se restringe à

aquisição e instalação de equipamen-

tos. Tão importante quanto a compra é

a formação de quem vai usar os com-

putadores. Justamente por isso, o

ProInfo já formou 40 mil professores.

Um elemento importante do pro-

grama é o sistema de gestão. Apesar

da execução dos recursos ser centra-

lizada no Ministério da Educação,

equipamentos e processos de forma-

ção são discutidos e negociados com

os Estados, num sistema que respei-

ta a autonomia administrativa e pe-

dagógica de Estados e municípios.

Ao assumirmos a direção do

ProInfo, nós o avaliamos, de fato,

como elemento importante para a

melhoria da Educação no Brasil. As-

sim, decidimos não só mantê-lo, mas

expandir suas metas. No planejamen-

to plurianual foi estabelecida a con-

clusão da proposta de informatização

do sistema escolar público para

2010. Damos, agora, novo passo,

com o lançamento do edital para aqui-

sição de aproximadamente 10 mil

computadores para cerca de mil es-

ARTIGO / AMÉRICO BERNARDES

Informatização das escolas

colas. Isso ocorre no momento em

que o Governo Federal discute a im-

plantação e uso de software livre em

suas várias áreas de atuação.

A discussão atende a vários obje-

tivos: livrar-se do pagamento de licen-

ças sobre softwares proprietários,

substituindo-os por equivalentes livres

de licenças; incentivar a indústria de

desenvolvimento e produção de

software nacional; garantir indepen-

dência e autonomia frente aos pro-

dutores, pois a utilização de software

livre permite o conhecimento do có-

digo que constitui o programa do

computador.

A questão-chave do programa, nes-

se aspecto, é conciliar um modelo de

gestão que respeite autonomias es-

taduais e municipais e, ao mesmo

tempo, incentive a util ização de

softwares livres. Em muitos Estados

já há iniciativas de maior ou menor

alcance visando ao uso desses

softwares. Contudo, a disseminação

pode encontrar resistências. Muitas

vezes, as pessoas sentem-se insegu-

ras antes de adotar uma solução que

ainda não conhecem, em relação à

qual construiu-se até certo mito de

“coisa de iniciados”. Desmistificar isso

e garantir segurança aos usuários é

papel da política que desenvolvemos.

Dessa forma, optamos por utilizar,

como passo para a introdução de

software livre, a distribuição de com-

putadores com dois sistemas ope–

e software livre

racionais: MSWindows e Linux. Ao

mesmo tempo, desenvolveremos

ações de capacitação que permitam

o suporte e o acompanhamento des-

sa política. Serão formados cerca de

mil técnicos e professores para os

mais de 300 núcleos de tecnologia

educacional existentes no País.

Criar comunidades locais e regio-

nais de usuários de software livre é

condição necessária para o sucesso

dessa política. Incentivar a produção

de material educativo baseado em

software livre também será elemento

dessa nova ação. Trata-se de cami-

nharmos em direção ao futuro, à ex-

pansão de possibilidades de uso e

construção do conhecimento, e de

nos recusarmos a aceitar a postura

de usuários passivos. A adoção de so-

luções livres abrirá novo espaço de

ação. O que buscamos, em síntese,

é trabalhar com os diversos elemen-

tos que permitirão o êxito dessa linha

de ação.

“Incentivar a produção dematerial educativo baseado

em software livre também seráelemento dessa nova ação”

EDU

CAR

VALH

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Américo Bernardesé diretor do ProInfo/MEC

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camiOs estudantes não são anjos: têm

sexo. Talvez a vida fosse mais simples

se eles só descobrissem isso depois de

adultos, mas hoje a atividade sexual do

jovem brasileiro começa, em média,

aos 14,5 anos. Não importa a posi-

ção, conservadora ou não, que as fa-

mílias assumam nessa polêmica. O fato

é que muitas acabam enfrentando si-

tuações bastante difíceis com os filhos

adolescentes, como gravidez precoce,

a disseminação de doenças sexualmen-

te transmissíveis (DST) e casos de Aids.

Os números assustam. Entre 1999

e abril de 2003, o Sistema Único de

Saúde (SUS) registrou 210.946 partos

de meninas entre dez e 19 anos. Os

atendimentos de curetagem por abor-

to totalizaram 219.834 casos. A ocor-

rência de Aids entre meninas e meni-

nos dos 13 aos 19 anos chegou a

5.597 casos naquele período.

Enquanto diminuiu o índice de con-

taminação pelo HIV entre os grupos ini-

cialmente mais atingidos pela doença

COMPORTAMENTO

VISTA ESTA

Saiba tudo sobre o projetode prevenção à saúde, jáiniciado na escola pública

(homossexuais e profissionais do sexo),

aumentou a ocorrência entre os hete-

rossexuais. A proporção de contamina-

ção feminina também cresceu: na fai-

xa etária de 15 a 19 anos, é de duas

mulheres para cada homem infectado.

Nesse contexto de preocupação e

alerta, os ministérios da Saúde e da

Educação lançaram o projeto Preven-

ção e Saúde nas Escolas. A proposta con-

siste, basicamente, em tornar disponível

em escolas públicas uma quantidade

determinada de preservativos masculinos

(oito por mês) para alunos entre 15 e 19

anos com vida sexual ativa. O objetivo é

bem claro: proteger e salvar vidas.

Mas nem todos os alunos de esco-

la pública receberão preservativos. O

MEC é enfático ao anunciar que não

haverá distribuição generalizada nas

escolas. Somente as que desenvolvem

ações preventivas de DST/Aids e têm

um trabalho de formação de professo-

res na área de sexualidade serão indi–

cadas pelas secretarias estaduais e

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saSão muitas

as ocorrênciasde gravidez na

adolescênciae preocupa também

a disseminaçãodo HIV e outras DST

nessa faixa etária

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COMPORTAMENTO

municipais de Educação e Saúde. Tam-

bém precisa haver concordância por

parte da comunidade.

AtendimentoO Brasil tem 17,7 milhões de ado-

lescentes entre 15 e 19 anos. A popu-

lação escolar nessa faixa etária é de

8.931.041 no Ensino Fundamental e

5.747.768 no Médio em escolas ur-

banas e rurais.

As metas de atendimento prevêem

a entrega de 256 mil camisinhas a

30 mil alunos até dezembro deste

ano, e de 235 milhões de unidades,

por ano, a 2,4 milhões de jovens, até

2006.

Os municípios selecionados para

o projeto-piloto são Xapuri, Rio Bran-

co (Acre), São José do Rio Preto, São

Paulo (São Paulo) e Curitiba (Paraná),

onde o programa foi lançado em 19

de agosto deste ano.

PesquisasPesquisas científicas realizadas no

Brasil e no exterior trazem luz sobre a

prevenção contra a DST/Aids e a gravi-

dez na adolescência. O professor Edgar

Hamman, da Universidade de Brasília,

doutor em Epidemiologia, foi o respon-

sável pela condução de uma delas em

duas escolas públicas do Distrito Fe-

deral, com a participação de 412 alu-

nos com idades entre 13 e 18 anos.

Nesse grupo, aproximadamente

60% das meninas e meninos admiti-

ram experiências sexuais com penetra-

ção. A média para as garotas era de

um parceiro; para os garotos, de três

parceiras. Enquanto 63% declararam o

uso de preservativo em relações even-

tuais, nas relações estáveis (namoro),

a grande maioria, o percentual caiu para

21%. “Constatamos que essa utiliza-

ção não era tão regular quanto deveria

ser”, afirma Hamman.

Mesmo que houvesse alguma inibi-

ção dos jovens ao pedir camisinhas nos

balcões de farmácias, 79% deles com-

praram os preservativos. Outros 4% usa-

ram material cedido por organizações

não-governamentais e 2% conseguiram

as camisinhas por meio do serviço pú-

blico de saúde. “Houve relato de pro-

cura nos postos de saúde, mas ali a

distribuição é restrita a participantes de

programas de planejamento familiar”,

pontua o pesquisador.

O professor Hamman afirma que

dar aos jovens o acesso gratuito a pre-

servativos é uma ação de prevenção

eficaz. “A experiência brasileira de-

monstra que foram obtidos bons re-

sultados em outros grupos”, diz. A pro-

moção à saúde, explica Hamman, é

o tipo de ação preventiva que

extrapola o âmbito dos hospitais,

como o ensino da escovação dentária

correta. Isso pode ser feito em em-

Serão entregues 256 mil preservativos a 30 mil alunos,até dezembro próximo, e 235 milhões de unidades,por ano, a 2,4 milhões de jovens, até 2006

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O projeto não incentiva ainiciação sexual precocedos adolescentes?

Não. Pesquisas nacionais e inter-

nacionais comprovam que isso não

ocorre. Ao tornar preservativos mas-

culinos disponíveis nas escolas, preten-

de-se atender adolescentes sexualmen-

te ativos, e isso está vinculado ao con-

texto do trabalho de educação em saú-

de para a construção de vivência sau-

dável da sexualidade.

Os pais serão consultados?

Certamente. É necessário que toda

ação preventiva contemple os diversos

protagonistas. Pais, professores e alu-

nos serão consultados e estabelece-

rão a estratégia que a escola adotará

na implantação do projeto.

Como os alunos terãoacesso aos preservativos?

O acesso ao preservativo faz parte

de um trabalho amplo, a ser desen-

volvido junto às instituições de ensi-

no. O sistema de entrega obedecerá

a critérios estabelecidos em cada

município e adequados às necessida-

des e características específicas de

cada escola e região.

Quantos preservativosestarão disponíveis paracada aluno?

O cálculo estimado de preservativos

tem sido de oito unidades por mês por

adolescente. A distribuição deve con-

templar a população sexualmente ati-

va, o que corresponde, hoje, a 32% dos

adolescentes entre 15 e 17 anos e a

73% com idade superior a 18 anos.

O projeto pode integrar agrade curricular dasescolas de mododefinitivo e obrigatório?

O currículo é definido pelos siste-

mas educacionais e pelas unidades es-

colares a partir da formulação de seus

projetos político-pedagógicos. Não há

poder de gerência externa sobre ele.

A adesão de escolas será feita por

meio das secretarias municipais e es-

taduais de Saúde e Educação. As es-

colas selecionadas devem capacitar

professores e desenvolver trabalhos

preventivos em DST/Aids, além de

mobilizar a comunidade escolar.

Os professores terão aobrigação de participarda educação sexual dosalunos?

A educação no campo da sexuali-

dade ocorre nos mais diversos cená-

rios. Um deles é a escola. Lá, o profes-

sor pode participar de modo direto ou

indireto. Há professores dispostos a

contribuir na prevenção da Aids.

Qual a relação dasescolas com as unidadesde saúde?

As unidades de saúde participarão

do projeto como receptoras e arma–

zenadoras dos preservativos e como au-

xiliares no monitoramento e na avalia-

ção do processo. É necessário haver

interlocução e trabalho

conjunto das redes

de educação

e saúde.

TIRA-DÚVIDAS

presas, associações comunitárias e

em qualquer ambiente. “Pelo caráter

de formação do jovem, a escola é o

ambiente ideal para ações de promo-

ção à saúde”, enfatiza o pesquisador.

Conflito de geraçõesAs diferenças de mentalidade em

relação à atividade sexual existem,

com posições firmes de cada lado.

Mas a realidade muitas vezes atro-

pela crenças pessoais. No caso es-

pecífico dos adolescentes, os pais se

deparam com situações que não es-

colheram, mas que são obrigados a

enfrentar.

No Rio de Janeiro, a atriz

Alessandra Menezes, 32 anos, é uma

entre milhões de mães a lidar com a

situação. Ela tem um filho de 14 anos

que assumiu já ter mantido relações

sexuais. “Fazer o quê? Para quem é

da minha geração é muito cedo, mas

as coisas agora são assim. É compli-

cado impor uma mentalidade vista por

eles como ultrapassada”, afirma.

“A gente se preocupa e se esfor-

ça para conversar e orientar bem,

mas eles dizem que já sabem tudo”,

diz Alessandra.”Hoje, a turma não

namora, fica.E nesse ficar, não se

sabe quem ficou com quem ou até

onde chegaram”, pondera a atriz. Se

a situação não é a que ela conside-

ra ideal, uma atitude ela cobra do

filho: o uso da camisinha.

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TEORIA E PRÁTICA

PLUGADOS NA

telinhaProfessora de Taguatinga (DF)usa televisão e cinema paraalfabetizar e motivar alunos

Melhorar a auto-estima dos estu-

dantes e valorizar os interesses que eles

manifestam. Essa é a receita usada pela

professora Nadir Oliveira, 42 anos e 20

de profissão, para atrair a atenção da

turma de aceleração da 3ª e 4ª séries,

formada por crianças semi-analfabetas,

de 11 a 15 anos, da Escola Classe n°

15, em Taguatinga, cidade-satélite de

Brasília. “Percebi que eles gostam muito

de ver televisão e que, a partir daí, era

possível despertar a vontade de apren-

der e a busca pelos sonhos, pois são

crianças em defasagem escolar, que acu-

mulam fracassos”, conta. O trabalho de

Nadir Oliveira foi recompensado, pois o

projeto De olho na tela, de sua autoria,

obteve o Prêmio Incentivo à Educação Fun-

damental, do Ministério da Educação/Fun-

dação Bunge (leia boxe).

Os filmes vistos em sala de aula,

assim como programas de televisão a

que as crianças assistem em casa, mo-

tivam discussões e atividades de clas-

se sobre vários temas – violência, fa-

mília, preconceito etc. Um dos casos

que mais chamaram a atenção da tur-

ma foi o do garoto Pedrinho, raptado

quando recém-nascido de uma mater-

nidade, em Brasília. Os alunos usaram

as contas de luz que traziam fotos de

crianças desaparecidas para fazer um

mural e aprender Matemática e Geo-

grafia do Distrito Federal. Passaram a

ler jornais e revistas e treinaram orto-

grafia escrevendo redações e cartas

para Lia, a mãe verdadeira de Pedrinho.

RelacionamentosO programa Big Brother Brasil, da

Rede Globo, deu o pontapé inicial no

projeto. Percebendo o interesse dos

meninos e meninas, Nadir propôs

realizar o Big Brother Sem Preconceito

e usou o teatro para discutir temas

como discriminação e diferença na

escola. Ela conta que foi um modo

de trabalhar problemas de relaciona-

mento entre os colegas, como brigas

e apelidos maldosos, além de trans-

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mitir noções de respeito e responsa-

bilidade. Outros assuntos discutidos

foram a Guerra do Iraque e a impor-

tância da paz. Como resultado do tra-

balho, os estudantes apresentaram a

peça A Última Flor. O tema atual é o

idoso, por causa da personagem Dó-

ris, que maltratava os avós na novela

Mulheres Apaixonadas, da TV Globo. A

turma chegou a visitar um asilo e levou

produtos de higiene e agasalhos para

os idosos. Com o tema, Nadir está dis-

cutindo conteúdos como as fases da

vida (em Ciências) e cidadania.

Além dessas atividades, há

A Música da Semana – em que, com

o tema atual, idoso, estão sendo tra-

balhadas músicas antigas – e o Mu-

ral da Segunda-Feira (TV Notícias),

onde as crianças produzem textos

contando o que aconteceu na esco-

la, na comunidade, e o que elas vi-

ram na TV durante o fim de semana.

Leitura como diversãoA Escola Classe n° 15 tem 18 pro-

fessores e 474 estudantes. Embora

fisicamente pequena para atender ao

grande número de alunos da comu-

nidade, possui boa infra-estrutura e

conta com coordenação pedagógica,

sala de vídeo e biblioteca. O emprés-

timo de livros é alternado com apre-

sentações teatrais dos alunos e his-

tórias contadas pelos professores,

quinzenalmente.

A leitura é muito estimulada em sala

de aula. Toda semana, Nadir conta uma

história em sala e os estudantes levam

livros para casa. As leituras, no entan-

to, não são cobradas. “Os meninos sem-

pre associaram a leitura a uma obriga-

ção, a algo desagradável. Meu objetivo

é que eles tenham prazer lendo, ou

seja, que façam da leitura uma diver-

são. Por isso não cobro as leituras, nem

em provas, nem em trabalhos”.

O estímulo à criação de leitores e

escritores faz parte de um dos três

eixos do projeto pedagógico da escola,

chamado de Qualidade de vida. Os

outros dois são: A Retomada de Valores

Éticos e Morais e O Posicionamento Ético

em Relação ao Meio Ambiente.

Professora Nadir rodeada pelos alunos: “Percebi que eles gostam muito de TV”.Um dos temas que mais chamaram a atenção da turma foi o caso Pedrinho

Competênciareconhecida

As 20 professoras que conquis-

taram o Prêmio Incentivo à Educa-

ção Fundamental este ano foram

homenageadas no Dia do Profes-

sor, 15 de outubro, no Ministério

da Educação, quando receberam

R$ 5 mil, certificado da Fundação

Bunge, diploma de honra ao méri-

to, viagem e estadia na Capital

Federal, por quatro dias. Além das

20 vencedoras, entre 1.376 pro-

jetos inscritos, três professoras re-

ceberam Menção Honrosa.

As premiadasAs premiadasAs premiadasAs premiadasAs premiadasJaqueline Maria de Souza Dias

(AM); Raquel Sales Caldas de

Santana (BA); Ninfa Emiliana Freire

S. Fausto (BA) – Menção Honrosa;

Cláudia Simone F. Caixeta Gomes

(DF); Nadir da Trindade Chaves Oli-

veira (DF); Eliene Maria Ferreira

(GO); Eleusa Maria Rodrigues Viana

(MG); Maria Rita Lorêdo de Souza

(MG) – Menção Honrosa; Cleide

Maria Ferreira Pereira (MS); Suzi

Gleide Lewandowski de Aquino

(MS); Maria do Socorro Nunes

Francisco (PE); Josefa Rocha de

Abreu Saraiva (PI); Roméa Almeida

Ribeiro (PI) – Menção Honrosa;

Marisete de Souza Lacerda (PR);

Dinamara Padilha da Silva (PR); Ana

Maria Teixeira Costa (RJ); Maria So-

lange Nogueira de Aquino (RN);

Marilete Bernardi Nunes (RO); Tâ-

nia Traub Fries (RS); Ana Regina

Gehlen (RS); Cláudia Salete Mozer

(SC); Edelisía Magalhães Araújo

(SE); Luciana Regina Zaniratto (SP).

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Crianças tristes, cabisbaixas, que

choravam à toa e detestavam ir à es-

cola. Era esse o retrato da Escola Mu-

nicipal Marcínio Pereira de Castro, em

Cruzeiro (SP). A situação começou a mu-

dar depois que a professora de Educa-

ção Infantil Vera Lúcia Gigliotti colocou

em prática o projeto E por falar em

saudade..., uma tentativa de resgatar

a auto-estima de alunos com sérios pro-

blemas familiares. O projeto deu tão

certo que a professora Vera Lúcia aca-

bou arrebatando o Prêmio Qua-

lidade na Educa-

TEORIA E PRÁTICA

EMOÇÕES EM

Professora trabalha auto-estima dealunos com a integração dos pais

ção Infantil 2003 (ver boxe).

“Depois que passamos a trabalhar

as emoções, com a participação dos

pais, as crianças ficaram mais alegres

e perderam o medo de expressar seus

sentimentos no papel. O trabalho des-

pertou o diálogo e resgatou valores”, co-

memora a professora. Ela conta que a

maioria das crianças da turma do Pré

III, formada por alunos de cinco e seis

anos, convive com pais separados, de-

sempregados, mães agredidas moral e

fisicamente, alcoolismo e drogas. Pro-

blemas que afetam diretamente o de-

sempenho escolar. Foi para lidar me-

lhor com a situação, que,

sala de aula

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depois de um diálogo com a diretora

da escola, Suely Salotti, surgiu o E por

falar em saudade...

O projeto é baseado na história Col-

cha de retalhos, de Conceil Corrêa da

Silva e Ney Ribeiro Silva. Outro texto,

Descobrindo sentimentos, de Paula

Boulanger Noce, inspirou a escolha do

tema saudade, que aguçou a curiosi-

dade e mexeu com a emoção da

meninada.

Saudade-carinhosa, saudade-triste,

saudade-alegre, saudade-amor foram

os sentimentos trabalhados. Saudade

da avó que morreu; dos tempos de cri-

ança; de quando os filhos eram bebês.

Os alunos se interessaram e

interagiram com os pais, chamados a

participar do projeto. Depois que o livro

foi lido em casa, com a família, os pais

enviaram um pedacinho de pano com

O Prêmio Qualidade na Educa-

ção Infantil é uma parceria entre o

MEC, a Fundação Orsa e a União

Nacional dos Dirigentes Municipais

de Educação (Undime). Instituído

em 1999, o Prêmio objetiva esti-

mular e valorizar práticas educativas

vitoriosas e de qualidade, que pos-

sam servir de referência a outros pro-

fissionais. Nelas, o professor é o

principal agente no processo de

melhoria da qualidade do ensino. O

Prêmio também é um incentivo para

Estados e municípios investirem na

Educação Infantil.

Cada Estado teve um ganhador,

com direito a R$ 3.000,00, certifi-

cado e kit pedagógico, entregues no

dia 16 de outubro pelo ministro da

Experiências vitoriosasEducação, Cristovam Buarque. As es-

colas e as Secretarias de Educação do

município serão contempladas com

estatuetas. A Secretaria de Educação

Municipal de Cruzeiro – de onde saiu o

projeto E por falar em saudade..., da

professora Vera Lúcia Gigliotti dos Reis

– receberá materiais pedagógicos, brin-

quedos, livros, instrumentos musicais, dis-

cos, TV, vídeo e computador.

Estes são os ganhadores do Prêmio

Qualidade na Educação Infantil 2003:

Maria da Conceição Pinheiro de Oli-

veira Pedrosa (AC); Alda Martins San-

tos Bispo (AL); Cristiane Nascimento

(AM); Maria Saliana de Siqueira Batis-

ta (AP); Cecília Maria Mourão Carvalho

(BA); Vanny Bezerra de Araújo (CE);

Francinéia F. Gomes Soares (DF); Dul-

ce Mara de Lima Freitas (ES);

Adriane de Fátima Felipe Rosa (GO);

Lisiane de Jesus Carneiro Piancó

(MA); Stefânia Padilha Costa (MG);

Cristina Pires Dias Lins (MS); Juliethe

Aparecida Miranda Riva (MT); Maria

do Socorro Cezar da Silva (PA); Nadja

dos Santos Araújo (PB); Ana Lúcia

Hilário dos Santos (PE); Sandra Re-

gina Araújo de Souza (PI); Maria

Aparecida Duarte (PR); Maria Cristina

Rodrigues Silva Moreira (RJ); Evanir

de Oliveira Pinheiro (RN); José Gil-

berto Senger (RO); Isis Maia Malvas

(RR); Carla Seelig Soares Ribeiro

(RS); Andréia Roncáglio (SC); Elisa-

bete Teles Souza Santos (SE); Vera

Lúcia Carvalho Gigliotti dos Reis (SP);

Flaviana Rodrigues Silva (TO).

Vera Lúcia (de branco): destaque nacional entre os projetos premiados

ARQ

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O E

M M

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ÍNIO

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ASTR

O

a sua história. Vieram fotos, relatos, de-

senhos, e assim nasceu Colcha de re-

talhos, na versão da Escola Marcínio

de Castro.

Para identificar sentimentos, os alu-

nos leram e dramatizaram outras his-

tórias infantis, além de assistirem a

vídeos, como A Bela e a Fera. “As

crianças descobriram que todo mun-

do sofre, e não apenas elas. Havia,

por exemplo, um distanciamento delas

com um dos alunos, cujo pai está na

cadeia. Por meio do trabalho, os cole-

gas passaram a entendê-lo e o aco-

lheram melhor”, revela Vera Lúcia.

E por falar em saudades foi desen-

volvido entre abril e junho deste ano e

beneficiou 60 crianças. A intenção agora

é expandir a iniciativa para outras es-

colas do município.

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PORTUGUÊS AFIADOA frase do mês

“Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê.”

MaceteQuer que seu aluno perca o

medo de escrever? É fácil como

andar pra frente. Peça a ele que

escreva todos os dias uma página.

Pode ser sobre qualquer assunto: a

aula de segunda-feira, um comen-

tário sobre um capítulo da novela, a

partida de futebol, a paquera do fim

de semana, a discussão com o pai.

Depois, não recolha o texto.

Nem peça para lê-lo. Mande-o jo-

gar a obra no lixo. Em um mês, a

cabeça e as mãos do garoto fi-

cam desinibidas. O medo? Fará

companhia aos papéis descarta-

dos. Já vai tarde.

Monteiro Lobato

FFFFFeminismo lingüísticoeminismo lingüísticoeminismo lingüísticoeminismo lingüísticoeminismo lingüístico A discussão corria solta. O tema: o nome da revista do MEC.

Chamá-la Professor não seria sinal de machismo? Por que não

Professor e Professora? Alguém lembrou o slogan do Governo –

“Brasil de todos”. Não deveria ser Brasil de todos e todas?

A história começou com o movimento feminista. Nos anos 60, as

mulheres foram à luta. Queriam os mesmos direitos dos homens.

Abusaram dos trajes masculinos. Desfilaram barrigas grávidas. Quei-

maram sutiãs em praça pública. E chegaram lá.

Depois, partiram pra outras. O alvo foi a língua. “O português é

machista”, decretaram elas. Ao englobar os gêneros, a palavra fica

no masculino. “Dia do Professor” homenageia mestres e mestras.

“Meus filhos” inclui filhos e filhas. “É injusto”, disseram.

Os políticos, de olho no voto delas, entraram na onda. “Brasi-

leiros e brasileiras”, saudava José Sarney. “Meus amigos e mi-

nhas amigas”, dizia Fernando Henrique. “Companheiros e com-

panheiras”, cumprimenta Lula. Há pouco, João Paulo Cunha de-

cidiu: “Doravante, a Câmara dos Deputados será Câmara dos

Deputados e das Deputadas”.

A diferença de gênero virou obsessão. Reações não faltaram. Millôr

Fernandes dirige-se às “pessoas e pessôos”. Luiz Fernando Veríssimo

fala em “povo e pova”. Alguém sugeriu

distinguir “humanidade e mulhe–

ridade”. Em suma: a coisa passou a

cheirar a Odorico Paraguassu.

A língua é machista? Nada mais

injusto. A coitada nem marca o mas-

culino. O o de menino não caracte-

riza o sexo. É a vogal temática da palavra.

Opõe-se ao a de menina. O a, sim,

denuncia o feminino. O mesmo ocor-

re com professor, mestre & Cia. A

gente diz que pertencem ao gênero

masculino porque se opõem às for-

mas professora e mestra.

Em suma: a língua não está nem

aí pro masculino. Só marca o feminino.

Tudo falaSer professor é ser artista.

O mestre não só tem de ensi-

nar conteúdos. Tem, sobretudo,

de motivar a garotada, prender-

lhe a atenção. Um dos recursos

é harmonizar o corpo com as

palavras. Ao falar, a gente se

comunica por inteiro. A expres-

são do rosto, os gestos, o olhar,

a respiração, a voz, a maneira de

vestir-se – tudo conta. Segundo

pesquisa da Universidade de

Stanford, o corpo responde por

45% da mensagem; o tom da voz,

20%; as palavras, 35%.

EDU

CAR

VALH

O

Dad Squarisi

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Estado

Acre

Ceará

Goiás

Maranhão

Mato Grosso do Sul

Paraíba

Piauí

Município

Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia e Xapuri

Aratuba, Ibicuitinga, Jati e Icapuí

Cabeceira, Corumbá de Goiás, Mimoso e Vila Boa

Cajapió, Santana e Feira Nova

Corguinho, Douradina e Tacuru

Coxixola, Curral de Cima, São Mamede e Teixeira

Acauã, Bela Vista do Piauí, Cajueiro da Praia, Caxingo,

Guaribas, Paes Landim, Pimenteira, Santa Filomena,

São João do Piauí e Valença do Piauí

Municípios selecionados no âmbitodo Programa Escola Ideal

CRÉDITO AUTOMÁTICO

O presidente Luiz Inácio Lula da

Silva anunciou no Dia do Professor,

15 de Outubro, condições especiais

nos programas de financiamento da

casa própria para os educadores da

rede pública de ensino. Os minis-

t ros da Educação, Cr istovam

Buarque, e das Cidades, Olívio Dutra,

assinaram protocolo de intenções

formalizando a parceira, durante so-

lenidade em homenagem aos do-

centes no Palácio do Planalto.

O benefício será implantado por

meio de convênio entre a Caixa Eco-

nômica Federal (CEF) e as prefeitu-

ras ou os Estados, quando os edu-

cadores pertencerem à rede esta-

dual de ensino. O programa simpli-

fica as exigências para concessão de

crédito e, ainda, viabiliza o débito

das prestações como desconto na

folha de pagamento.

O protocolo, elaborado pelo Mi-

nistério das Cidades, prevê que es-

sas condições especia is sejam

implementadas, inicialmente, nos

100 municípios do Projeto Escola

Ideal do MEC (ver tabela). No en-

tanto, nada impede que qualquer

outro município adote o sistema.

Basta o prefeito formalizar um con-

vênio com a CEF. Como contra–

partida das prefeituras e dos Esta-

dos, o programa estabelece a dis-

posição de áreas ou infra-estrutura

para a construção de moradias.

CondiçõesA aprovação do financiamento pela

Caixa será praticamente automática

para professores das redes federal,

estadual e municipal. A análise da ins-

tituição financeira se limitará a verifi-

car o percentual de comprometimen-

to de renda, mediante apresentação

do comprovante de pagamento e a

pesquisa cadastral. Não será exigida

apresentação de perfil ou comporta-

mento em operações de crédito. Es-

sas condições serão destinadas aos

professores que tenham renda fa-

miliar de até dez salários mínimos.

Com os recursos, os professores

podem adquirir imóvel, arrendar ou

reformar unidades habitacionais. Os

critérios limitam as concessões de cré-

dito a educadores públicos que sejam

efetivos no cargo há mais de três anos,

não tenham propriedade ou imóvel em

qualquer localidade do País nem se-

jam beneficiários de outro tipo de fi-

nanciamento imobiliário e, ainda, pos-

suam dependentes ou agregados.

Mais informações no endereço eletrônicowww.cidades.gov.br

PROFESSORES COM

casa própria

EDU

CAR

VALH

O

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Creuza Prunkwyj Krahô é professo-

ra da escola indígena da aldeia Krahô,

no Tocantins. Sua filha mais velha,

Letícia, estuda na Escola Timbira do

Centro de Ensino e Pesquisa Pinxyj

Himpèjxà, em Carolina (Maranhão).

Creuza, que nunca estudou com pro-

fessores de outras etnias, foi alfabe-

tizada pelo marido, Sabino Koyame,

que também aprendeu a ler e a es-

crever com os professores da aldeia.

Ambos lecionam para cerca de 30 alu-

nos dos dois primeiros ciclos da esco-

la, que faz parte de um projeto de

ensino desenvolvido especificamente

para os povos Timbira, respeitadas

suas tradições, cultura e língua.

Os professores indígenas formados

pelo Centro de Ensino e Pesquisa de

Carolina fazem, posteriormente, o cur-

so de formação da Gerência de Desen-

volvimento Humano do Maranhão. Já

se formaram 146 professores de nível

médio, de acordo com proposta de

magistério indígena aprovada pelo Con-

DESAFIOS

tradiçõesRESPEITO ÀS

Povos Timbira querem formarsociedade autêntica, educada porprofessores de suas comunidades

selho Estadual de Educação.

O estabelecimento de uma pro-

posta curricular diferenciada, que res-

peite a cultura e a tradição dos índi-

os, é um dos grandes desafios da

Educação Escolar Indígena no Brasil,

assim como a formação de professo-

res como Creuza e Sabino, perfeita-

mente identificados com suas comu-

nidades e habilitados para passar à

frente seus conhecimentos.

Etnia De acordo com o Centro de En-

sino e Pesquisa de Carolina, os Timbira

são, hoje, cerca de oito mil índios, em

seis povos espalhados pelo Maranhão

e Tocantins, entre os quais os Krahô.

Em terras indígenas, contam com 38

escolas, que fazem parte do modelo

proposto pelo Centro Timbira, vincu-

lado à Associação Vyty-Cati dos Povos

Timbira do Maranhão e do Tocantins.

Letícia Jonkàkwy, filha de Creuza e

Sabino, representa a terceira geração

formada pelo programa de Educação

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Os Timbira são,hoje, cerca de oitomil índios, em seispovos espalhadospelo Maranhão eTocantins, entreos quais os Krahô

do Centro de Trabalho Indigenista (CTI),

organização não-governamental que

há 20 anos atua entre os Timbira. A

experiência inovadora desenvolvida

pelo Centro de Carolina, no qual es-

tudam 60 jovens indicados por pro-

fessores que atuam nas aldeias, é

considerada modelo.

LegalizaçãoA proposta curricular definida pela

Escola Timbira, que leva em conside-

ração o universo cultural indígena, foi

encaminhada à Gerência de Desen-

volvimento Humano do Maranhão e

aguarda aprovação pelo Conselho Es-

tadual de Educação. O procedimento

é estabelecido em lei. De acordo com

a super–visora de Educação Escolar In-

dígena da Secretaria, Kátia Núbia

Ferreira Correa, não há prazo definido

para a emissão do parecer.

O antropólogo Luís Augusto Nasci-

mento, que integra a equipe do CTI

em Carolina, explica que a proposta

curricular é elaborada com a partici-

pação de técnicos da Fundação Nacio-

nal do Índio (Funai), de educadores

do CTI e, especialmente, da Comis-

são de Professores Timbira, essa últi-

ma a principal articuladora da política

educacional para seu povo. A comis-

são atua ainda no Comissão Nacional

de Professores Indígenas do Ministé-

rio da Educação e no Conselho de Edu-

cação Indígena do Tocantins, com um

representante em cada entidade.

Críticos e conscientes“Meus alunos são crianças mehin

(índios) e estão aprendendo leitura

dos brancos, mas sabem cantar nos-

sos cantos, sabem da festa do ritual

e todas as coisas que a gente faz aqui

na aldeia — tecer esteira, mocó de

palha, fazer uma caçada e pescar”,

afirma Creuza.

Essa é a linha da política de

Educação Escolar Indíge-

na do MEC, expli-

ca Kle–ber

Gesteira, coordenador-geral de Educa-

ção Escolar Indígena do Ministério. Ele

esclarece que a proposta é respeitar e

apoiar o magistério indígena, que deve

ter autonomia para definir o próprio pro-

cesso educacional, como determina a

Constituição. Para isso, os diversos po-

vos contam com a assessoria técnica

do Ministério da Educação. As secreta-

rias estaduais exercem o papel

institucional de normatizar os projetos

pedagógicos.

A proposta formulada pelo Centro

Timbira prevê a formação de índios

com visão crítica e melhor conheci-

mento do que ocorre ao seu re-

dor, sem perder as

raízes da pró-

pria cultura.

A proposta curricular da EscolaTimbira aguarda aprovaçãopelo Conselho Estadual deEducação do Maranhão

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tureza e qualidade de vida.

São 250 horas de aula em Caroli-

na e 750 nas aldeias, a cada etapa

de aprendizagem. Em um ano, o es-

tudante deve cumprir três etapas. Para

a conclusão do Ensino Fundamental,

devem ser cumpridas 7,2 mil horas. A

equipe do CTI, integrada por profes-

sores indígenas, educadores e antro-

pólogos, entende que, no futuro, com

a evolução do preparo dos professo-

res, essas etapas serão cumpridas nas

próprias aldeias.

O Centro de Trabalho Indigenista

conta com financiamento da institui-

ção norueguesa Rain Forest. Sua par-

ticipação no orçamento do Centro de

Ensino e Pesquisa Timbira é de apro-

ximadamente 40% do total. O Estado

entra com 50% para alimentação e

fornecimento de material para as es-

colas. A Funai, com os 10% restantes

para transporte dos estudantes. O MEC

contribui com material didático, ela-

borado no idioma indígena coerente

com o seu universo cultural.

Os alunos Timbira têm 250 horas/aula em Carolina e 750 horas/aula nas aldeias, a cada etapa

DESAFIOS

“Esses índios serão os futuros pro-

fessores de suas comunidades”, ex-

plica Kleber Gesteira. “São pessoas de

formação complexa porque são lide-

ranças, mas não devem entrar em

conflito com as lideranças tradicionais.

Devem ter capacidade de pesquisa e

ser gerenciadores de conflitos.”

Segundo o antropólogo Augusto

Nascimento, a Escola Timbira propõe

que os índios dominem a língua por-

tuguesa para compreender documen-

tos e para entender a discussão polí-

tica, os projetos de desenvolvimento,

o sistema monetário e as técnicas de

comunicação e, ao mesmo tempo,

aprofundar os estudos de suas

próprias tradições.

Assim, estudam Matemática ele-

mentar, voltada para questões funcio-

nais, compreensão de textos, geogra-

fia regional, história dos povos indíge-

nas e os segredos das ervas medici-

nais. O currículo também respeita o

calendário de rituais indígenas, como

os períodos de festas, caças e outros

eventos tradicionais.

Entre a aldeia e a cidadeDe acordo com a proposta do Cen-

tro de Ensino e Pesquisa de Carolina,

os dois primeiros ciclos do ensino re-

gular indígena, equivalentes à primei-

ra parte da Educação Fundamental,

são ministrados nas aldeias. Em Ca-

rolina, os alunos cumprem os dois ci-

clos mais avançados. Mas alguns ain-

da procuram fazer o antigo ginásio nas

cidades mais próximas. Isso implica

aprendizado deficiente, repetência e

evasão, em função da inadequação

do modelo à realidade indígena.

Atualmente, 60 jovens, considera-

dos alunos adiantados e indicados

pelos professores das aldeias, partici-

pam da fase mais avançada do Ensino

Fundamental na Escola de Carolina. Lá,

o estudante desenvolve o curso de for-

ma modular. Participa de atividades

alternadamente na cidade, durante um

mês, e na aldeia, nos três meses se-

guintes. Nas chamadas aulas presen–

ciais, em Carolina, são realizadas ativi-

dades como elaboração de mapas, re-

dação, leitura de documentos impor-

tantes para os Timbira, visitas moni–

toradas, passeios recreativos e estudo

dos rituais.

Aulas presenciais Nos três meses

seguintes, o aluno volta para a aldeia,

onde participa de atividades inter–

disciplinares e faz pesquisas previamen-

te determinadas – as aulas não-

presenciais. Uma equipe de antropólo-

gos, matemáticos e historiadores circula

pelas aldeias para orientar o aluno nas

pesquisas. São desenvolvidos temas

como meio ambiente, relação com os

brancos, relação entre sociedade e na-

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Dignidade

Acabar com o analfabetismo no Bra-

sil. Garantir a todos os brasileiros o di-

reto de aprender a ler e escrever. Gerar

emprego e renda. Fazer com que, até

2006, 20 milhões de jovens e adultos

tenham uma nova perspectiva de vida.

Essas são propostas do programa

Brasil Alfabetizado, lançado em setem-

bro deste ano pelo Governo Federal. É

uma ação conjunta entre o Ministério

da Educação, Estados, municípios, or-

ganizações não-governamentais, em-

presas, associações e a sociedade civil

para riscar o analfabetismo da história

do País. Até agora, o programa colocou

56 mil alfabetizadores e mais de um

milhão de alunos em sala de aula.

De Norte a Sul, de Leste a Oeste,

do Oiapoque ao Chuí, o Brasil tem,

segundo o Censo Demográfico de

2000, do IBGE, 16.294.889 analfa-

betos. Levando-se em consideração

o aumento populacional que ocorreu

de lá para cá, e a omissão daqueles

DESAFIOS / BRASIL ALFABETIZADO

NA PONTA DO LÁPISPrograma Brasil Alfabetizado é criadopara abolir o analfabetismo no País

que se envergonham de dizer que não

lêem e não escrevem, o Governo tra-

balha com uma estimativa de 20 mi-

lhões de jovens e adultos que não ti-

veram a oportunidade de freqüentar

uma sala de aula.

São pessoas que não sabem se-

quer desvendar placas e endereços ou

simplesmente identificar o que vêem

escrito nos ônibus que tomam todos

os dias para ir ao trabalho ou voltar

para casa. Histórias de jovens de 15

anos em diante e de adultos que vão

poder resgatar sonhos, projetos, iden-

tidade e respeito por meio da leitura

e da escrita.

Gente como dona Edileusa Valdi–

vino da Silva, 61 anos, mãe de 12

fi lhos, moradora de Toledo, no

Paraná. Ela é toda felicidade porque,

em pouco tempo, não vai mais preci-

sar “colocar o dedão na tinta” na hora

de assinar o nome. Quando trabalha-

va na roça com o pai, em Alagoas,

revi

sta

do p

rofe

ssor

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onde nasceu e cresceu, escutava sem-

pre: “Menina-mulher não devia estu-

dar”. Assim, a vida passou. Casou-se

aos 15 anos. Vieram os filhos, os 34

netos e os cinco bisnetos.

A oportunidade de mudar a história

apareceu com o Brasil Alfabetizado.

“Eu tinha muita vontade de aprender,

estou com dificuldades de formar as

palavras, mas mesmo assim sei que

vou conseguir”, diz, confiante e rindo

de tanto gosto. E o que dona Edileusa

vai poder fazer com a leitura e a es-

crita, além de assinar o nome? “Vou

poder andar na cidade, ler as placas

e os nomes dos ônibus”, planeja. E

não é só isso. Todos os filhos são al-

fabetizados, mas ela ainda quer po-

der ajudar os netos que estão na es-

cola. Estudar com eles.

Emprego e rendaO Brasil Alfabetizado, que atua por

meio de parcerias, prevê a alfabeti-

zação básica entre seis e oito meses

de aula e está em andamento em

quase 1,8 mil municípios brasileiros.

Até o momento, foram fechados 40

convênios entre o MEC, governos es-

taduais e municipais, ONG, empresas,

associações e entidades civis em todo

o País. O MEC repassa recursos para

a capacitação dos alfabetizadores

que, em sala de aula, recebem

R$ 15/mês por aluno.

Para esses 40 convênios, o MEC li-

berou R$ 94 milhões. O dinheiro chega

às instituições depois que seus proje-

tos são avaliados e aprovados pelo Fun-

do Nacional de Desenvolvimento da

Educação (FNDE) e pela Secretaria Ex-

traordinária de Erradicação do Analfa-

betismo (SEEA). Além de financiar a al-

fabetização, esses recursos ajudam a

economia a girar. Geram emprego e de-

senvolvimento.

O que o Governo Federal espera com

o programa, portanto, é bem mais que

ensinar a ler e a escrever. “Há uma

dinamização da economia pela base

social. Basta lembrar que, segundo da-

dos do Ipea, assim que uma pessoa

acaba de ser alfabetizada seu ganho

aumenta em 41%”, garante o secretá-

rio nacional de Erradicação do Analfa-

betismo, João Luiz Homem de Carva-

lho. Para ele, com a inclusão no mun-

do pela escrita e a leitura cria-se a de-

cência, amplia-se a visão e aumenta-

se a eficiência. “O vendedor de pipo-

cas, por exemplo, pode fazer uma pla-

ca para seu negócio, criar um diferen-

cial, colocar alguém para ajudar”, afir-

ma o secretário.

Mercado Melhorando as possibilida-

des de ganho, gera-se emprego. O

cálculo é o seguinte: o montante li-

berado para este ano (R$ 94 milhões)

representa uma média de 56 mil pes-

soas ganhando R$ 300 (cálculo mé-

dio por alfabetizador). Cada profes-

sor, dentro da estimativa de três mi-

lhões de alfabetizados, em 2003, vai

ensinar cerca de 50 mil alunos até

dezembro, o que pode gerar 50 mil

novos negócios e, conseqüentemen-

te, 100 mil novos empregos diretos.

No final, um giro de R$ 900 milhões

por ano no mercado.

No Recife, Genilson Antônio da Sil-

va, solteiro, 27 anos, aguarda ansio-

so a conclusão do curso para que

possa conseguir emprego. Antes, tra-

balhava de segurança à noite e dor-

mia de dia. Por isso, não estudou.

Hoje, aposta na educação. “Eu não

sabia nada; agora já estou juntando

as letras e sei assinar meu nome. Até

para procurar emprego é preciso sa-

ber ler, quanto mais para conseguir

uma vaga”, avalia ele, que sonha em

fazer Educação Física.

Portas abertasTodo mundo sabe – e o MEC tam-

bém – que ninguém passa a ler e a

escrever fluentemente em seis ou

oitos meses. João Luiz Homem de

Carvalho deixa claro que esse tempo

é para se colocar o adulto numa

condição de continuidade. “O Brasil

Alfabetizado é o primeiro degrau de

um processo de aprendizado. O alu-

no tem que sair sabendo, no míni-

mo, escrever, ler e interpretar um bi-

lhete, por exemplo”, esclarece.

O importante é despertar nas pes-

soas a vontade de não parar mais. E

não tem a idade para começar a

aprender. Por isso, o programa dá for-

ça inclusive aos idosos. O secretário

lembra que, em se tratando da mu-

lher idosa, há uma recompensa mui-

to grande, porque, em geral, ela quer

disseminar para filhos, netos e até vi-

DESAFIOS / BRASIL ALFABETIZADOre

vist

a do

pro

fess

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Foram liberadosR$ 94 milhões

para 40 convênios,e esses recursosgeram emprego edesenvolvimento,

além definanciarem aalfabetização

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O Alfa-Inclusãoquer ensinar oalfabetizando aagregar valores

ao trabalho,entender oporquê dapobreza,

enriquecer aalimentação

e se organizarpara melhorar

ganhos e acondição de vida

zinhos o que aprendeu, criando um

ciclo. “Quando a mãe não é analfa-

beta, a tendência é que seus filhos

também não sejam”, observa.

Aos 65 anos, dona Maria Nazaré

da Silva concluiu seu curso de alfabeti-

zação no clube de idosos que freqüen-

ta em Natal (RN). Mãe de dez filhos e

avó de 22 netos, todos alfabetizados,

ela, que não pôde estudar porque vi-

via no interior, quer ver toda a família

lendo e escrevendo muito bem.

“Incentivo a todos e se puder aju-

dar...”, sonha. Maria Nazaré não só

melhorou a leitura, pois “lia gaguejan-

do”, como também fez amizades. “Ar-

rumei colegas e agora participo até do

Boi de Reis”, conta, orgulhosa.

Dona Maria foi uma das 5.067

pessoas alfabetizadas em 210 turmas

nos primeiros meses de atuação do

programa em Natal – uma parceria

com a Prefeitura Municipal da capital

potiguar, segundo informa a coorde-

nadora do Programa Geração Cidadã/

Brasil Alfabetizado, Sandra Borba.

Agora, mais cinco mil alunos estão em

sala de aula com o propósito de cons-

truir um novo futuro.

Recife Também em Recife, a meta é

ensinar 10 mil pessoas este ano, por

intermédio de convênio firmado com

o MEC. Leila Loureiro, coordenadora

de Educação de Jovens e Adultos da

Secretaria Municipal de Educação de

Recife, conta que o atendimento da

rede municipal era de 14 mil estu-

dantes. Assim, de passo em pas-

so, de escola em escola, de

letra em letra, o Brasil vai

construindo uma nação de cida-

dãos. Como escreveu o mestre Pau-

lo Freire, “ninguém nasce feito, va-

mos nos fazendo aos poucos, na prá-

tica social de que tomamos parte”.

Alfa-Inclusão: o alunocontextualizado

O MEC estuda a possibilidade de

implantar o Alfa-Inclusão, programa

que também trabalharia com a alfa-

betização, levando para a sala de aula

o mundo e a vida do aluno, no con-

texto em que vive: sua profissão, con-

dição de higiene, moradia.

Para o secretário João Luiz Ho-

mem de Carvalho, essa capacitação

especial propõe ensinar itens como

agregar valores ao trabalho, entender

o porquê da pobreza, enriquecer a ali-

mentação e como se organizar para

melhorar os ganhos e a condição de

vida. “Seria o ensino contextualizado”,

acrescenta. A idéia, diz o secretário,

embute a proposta de esticar a teo-

ria de Paulo Freire, segundo a qual o

analfabeto não sabe ler a palavra es-

crita, mas sabe ler o mundo.

Informações – [email protected]/alfabetizaMinistério da EducaçãoEsplanada dos Ministérios,Bloco L, Sala 704.Brasília (DF). CEP: 70047-900

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As mudanças pelas quais passa o

Brasil têm colocado na ordem do dia

a reflexão sobre o papel da educação

na transformação da realidade brasi-

leira. Presenciamos pela primeira vez

no País um governo que tem como

principal meta minimizar os efeitos de

séculos de injustiça social, resquícios

de um passado escravista, cuja aboli-

ção manteve os escravos sem terra e

seus filhos sem escola. A esses se

juntaram, ao longo da história, uma

legião de brancos pobres, aumentan-

do ainda mais as desigualdades e as

injustiças sociais.

A pouca atenção historicamente dis-

pensada à educação impediu a confor-

mação de um processo educacional

capaz de destruir a barreira entre po-

bres e ricos. Vivemos, hoje, em um país

em que os 10% mais ricos da popula-

ção apropriam-se de aproximadamen-

te 50% da renda. Essa desigualdade

se expressa na educação formal: o dé-

cimo mais rico da população apresen-

ta a média de 10,7 anos de estudo; já

os 10% mais pobres não atingem, em

média, quatro anos de estudo.

Mas a questão da desigualdade e

da exclusão social não é só econômi-

ca, é também sociocultural. No Bra-

sil, das cerca de 15 milhões de pes-

soas com mais de 15 anos, que não

sabem ler e escrever, 65% são negras

ou pardas e somente 3% da popula-

ção negra conclui o Ensino Médio.

Entre os analfabetos brasileiros, mais

ARTIGO / OSVALDO RUSSO

de 50% são mulheres e, entre as

mulheres analfabetas, mais de 63%

são negras. Após séculos de igualda-

de racial formal, não exterminamos a

educação da escravidão. Mesmo com

a mulher ocupando um papel social

mais importante, não exterminamos

as desigualdades de gênero.

Uma educação que assuma a

acepção plena da palavra, contrapon-

do-se à qualquer forma de exclusão

passa pela implementação de políti-

cas públicas estruturantes. E é nesse

caminho por um processo educacio-

nal capaz de cicatrizar a divisão social

brasileira que o Ministério da Educa-

ção reconhece a sua missão. Nesse

sentido, o Governo transformou a Se-

cretaria do Programa de Bolsa-Escola

do MEC em Secretaria da Inclusão

Educacional (Secrie), à qual novos pro-

gramas foram agregados. Com isso, o

Ministério abre caminhos para ampli-

ar a sua atuação, assumindo um pa-

pel pró-ativo na promoção de uma

educação de qualidade para todos.

Com o controle mais rigoroso da fre-

qüência escolar dos beneficiários do

Bolsa-Escola – que passam a integrar

o Bolsa Família, resultante da unifica-

ção de diferentes programas sociais do

Governo – e a implementação de ações

educativas complementares, de com-

bate à evasão escolar, de superação

das desigualdades, de incentivo à per-

manência e promoção dos alunos do

Ensino Médio e do programa de

capacitação, a Secrie passa a ter uma

atuação efetiva na garantia do acesso,

da permanência e do sucesso escolar

de crianças e adolescentes em situa-

ções de desigualdade, pobreza e

vulnerabilidade social, bem como na

oferta de oportunidades educacionais

aos jovens e adultos nessas condições.

No entanto, não se desconstrói um

histórico de injustiça social em quatro

anos. Por isso, precisamos sensibili-

zar e mobilizar toda a sociedade –

Governo, iniciativa privada e ONG – na

construção das mudanças que não são

apenas econômicas e sociais, mas

também culturais. Criar uma rede em

prol de uma educação capaz de levar

a todos os instrumentos para comple-

tar a “abolição” e garantir o acesso à

cidadania. Educação como um meca-

nismo de transformação e de inclu-

são social. Para tenhamos uma esco-

la para todos, de todos.

Uma escolade todos

“A pouca atençãohistoricamentedispensada à

educaçãoimpediu

a conformaçãode um processo

educacionalcapaz de destruira barreira entrepobres e ricos”

Osvaldo Russo, estatístico, é Secretário deInclusão Educacional do Ministério da Educação

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ENTREVISTA / ANTONIO IBAÑEZ

IncentivosA Coordenação de Aperfeiçoamentodos Professores de Ensino Médioe Profissional vai conceder bolsasde estudo e pesquisa aos docentes

Um sonho – o de garantir Educação Básica para todos – move o secre-

tário de Educação Média e Tecnológica e também professor na Universi-

dade de Brasília, Antonio Ibañez. PhD em Engenharia Mecânica pela

Universidade de Birminghan (Reino Unido), o secretário pontua, nesta

entrevista, as ações da Semtec voltadas para garantir o acesso dos jovens

ao Ensino Médio e Profissional. Destaca também a importância da for-

mação dos professores e discorre sobre os desafios com que se depara o

Governo, a fim de certificar 65 milhões de trabalhadores com mais de 18

anos que não cursaram a Educação Média – nível que, a partir de 2004,

será obrigatório no País. Segundo ele, o alvo das políticas públicas da

Semtec é o desenvolvimento do País. “É do aumento do número de alunos

no Ensino Médio,Técnico e Universitário e da qualidade dos cursos que

surgirão mais e melhores pesquisadores e cientistas”, diz o secretário.

BEM-VINDOS

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Em janeiro, quando assumiu,como o senhor encontrou aSecretaria de EducaçãoMédia e Tecnológica?

Encontrei uma secretaria em tran-

sição para a extinção, apoiada em três

programas: o de Expansão da Educa-

ção Profissional (Proep), o de Expan-

são do Ensino Médio (Promed) e o Pro-

jeto Alvorada. Só que programas têm

tempo determinado; eles acabam. E a

base da Secretaria era essa. Nosso pri-

meiro trabalho foi formular políticas

públicas para o Ensino Médio e Tecno–

lógico, sem esquecer o dia-a-dia, man-

tendo os programas em funcionamen-

to e corrigindo problemas como a falta

de gestão democrática nos centros fe-

derais de educação tecnológica e nas

escolas agrotécnicas. Não foi possível

fazer uma reestruturação como quería–

mos, porque tivemos que cortar cargos

comissionados e porque a secretaria ti-

nha consultores, mas não quadros, que

são as pessoas que vão continuar o tra-

balho. Mesmo com essas dificuldades,

hoje temos uma feição do que queremos.

O que motivou a formulaçãode políticas públicas naSecretaria?

Partimos de dois seminários. Um da

Educação Média, com 600 participan-

tes, aconteceu no final de maio e início

de junho. Reunimos a representação

dos Estados, dos professores, dos sin-

dicatos e das redes públicas e priva-

das. Ainda em junho realizamos o se-

minário da Educação Profissional, com

900 convidados. Verificamos que os

professores estavam muito inseguros

em relação à reforma do Ensino Mé-

dio, que foi realizada no governo ante-

rior. Por isso, a necessidade de traba-

lhar mais essas reformas.

Então a reforma sóaconteceu no papel?

Foram feitas as Diretrizes Curri–

culares da Educação Média e os

Parâmetros Curriculares, mas, na prá-

tica, pouco aconteceu.

Quais são as políticaspara o Ensino Médio?

Estamos implementando a LDB de

fato. A partir de 2004, o Ensino Médio

será obrigatório, gradativamente. Para

aqueles alunos em idade regular ou

com uma pequena defasagem, o Ensi-

no Médio será obrigatório em 2004.

Quem concluir a 8ª série do Ensino Fun-

damental, em 2003, com até 16 anos,

será obrigado a se matricular na 1ª sé-

rie do Ensino Médio, em 2004; em

2005, na 2ª série; e em 2006, na 3ª.

Fizemos um levantamento, Estado por

Estado, e deu para perceber que os

concluintes com 16 anos são em nú-

mero pequeno, o que dá para garantir

vaga no próximo ano. Essa política visa

a estancar o problema da defasagem

na saída do Ensino Médio.

E os mais velhos, com 18, 19anos, não serão atendidos?

As Diretrizes Curriculares da Edu-

cação de Jovens e Adultos dizem que

é possível ter um modelo pedagógi-

co adequado para a Educação de

Jovens e Adultos, com carga horá-

ria diferente do

“A formaçãoinicial de

professoresé o grandegargalo daeducaçãopública.

Não dá parapensar em

implementarpolíticas semprofessores”

Ibañez: “Estáaberto editalpara inscriçãode projetos queserão avaliadose oferecidos aosEstados, paraa formação deprofessores doEnsino Médio”

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Ensino Médio regular. Hoje são 65 mi-

lhões de trabalhadores com mais de

18 anos sem Ensino Médio. Temos um

dado importante: 80% dos alunos que

estão na escola, estão na escola públi-

ca; destes, 60% no ensino noturno, que

é onde ocorrem os grandes fracassos,

onde a repetência chega a quase 50%

e a evasão é acima de 15%. É um pú-

blico que trabalha, estuda em escolas

de periferia, está à procura de empre-

go, faz bicos, está na informalidade.

Então, esse modelo de 2.400 horas não

atende a esse jovem e ao adulto. Temos

que construir um modelo que leve em

conta a experiência, aliada a uma Educa-

ção Profissional motivadora, que permita

ao aluno sair do Ensino Médio com ex-

pectativa de encontrar um emprego.

O senhor diz que são mais de65 milhões de adultos acimade 18 anos sem o EnsinoMédio. O Governo vai ofere-cer formação a eles?

Estamos fazendo um levantamento

dos modelos pedagógicos que existem

para a Educação de Jovens e Adultos

junto ao Sistema S (Senai, Sesi, Senar

e Senac), centrais sindicais, ONG, sis-

temas públicos, para definir modelos

adequados de Educação Média e Pro-

fissional para os adultos. Vamos ver o

que cada parceiro pode fazer e definir

quanto tempo vai ser necessário para

certificar 65 milhões de trabalhadores

nos próximos 15 anos.

Quem vai fazer a formaçãocontinuada de professores?

A Secretaria abriu edital para inscri-

ção de projetos que serão avaliados e

os escolhidos receberão um selo de

qualidade do Ministério. Esses proje-

tos serão oferecidos aos Estados para

que eles, com recursos do Promed,

possam fazer a formação de professo-

res do Ensino Médio.

A exemplo da Capes, quefinancia a formação pós-universidade, o Ensino Médiotambém terá um apoio?

O Ministério da Educação vai criar a

Coordenação de Aperfeiçoamento dos

Professores de Ensino Médio e Profis-

sional (Capemp), que vai incentivar, com

bolsas de estudo e pesquisa, o apri-

moramento do professor de Ensino

Médio e Profissional. A Coordenação

terá um conselho técnico-científico que

vai definir as políticas. A montagem

desse projeto está sendo feita com as

sociedades de Física, Química, Mate-

mática, Biologia e com a Sociedade

Brasileira para o Progresso da Ciência,

entre outras entidades afins.

Junto com o Ensino Médioobrigatório vem o livro didáti-co. Com quais livros o pro-grama começa?

Vamos começar a distribuir os livros

de Matemática e Português em feve-

reiro de 2005. Esses dois livros terão

todos os conteúdos que o aluno vai estu-

dar da 1ª à 3ª série do Ensino Médio.

Hoje a Educação Profissionalestá amparada no Decreto2.208/97, mas o senhordefende uma legislaçãoespecífica. Por que?

A Educação Profissional é algo tão

sério, mas tão sério, que não pode ser

tratada num simples decreto. Tem que

haver uma legislação que fale na Edu-

cação Profissional da mesma forma que

existe para o itinerário da universidade.

O estudante precisa saber, ainda no En-

sino Fundamental, que ele pode esco-

lher o Ensino Técnico, o Técnico Supe-

rior, profissionalizar-se e ainda cursar

uma universidade tecnológica. Hoje,

para ingressar no Ensino Técnico, o alu-

no tem que ter certificado de conclu-

são do Ensino Médio. Nós estamos mu-

dando isso na regulamentação dos ar-

tigos 35 e 36 da LDB, que tratam do

Ensino Profissional, para permitir que

as escolas que quiserem possam ofe-

recer a parte tecnológica desde o início

do Ensino Médio. Dessa forma, com

quatro anos de estudo, o aluno sai com

dois certificados. Mas se ele não qui-

ser o diploma de técnico em manuten-

ção, por exemplo, ele tem quatro

anos dedicados às disciplinas de cu-

nho científico que vão prepará-lo me-

lhor para a universidade.

Isso vai funcionar em 2004?Sim. Já estamos trabalhando a

formatação de dois projetos-piloto den-

tro dessa regulamentação, um no

Paraná e outro no Espírito Santo. Ao

mesmo tempo, vamos discutir com os

secretários estaduais de Educação, com

“Sem um pisosalarial,teremos

dificuldade demotivar os

professores,embora a fontede motivaçãonão seja só decunho salarial”

ENTREVISTA / ANTÔNIO IBAÑEZ

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os diretores dos Cefets e escolas

agrotécnicas, com os sindicatos e com

os deputados, pois algumas mudanças

serão feitas via Congresso.

Para tornar o Ensino Médiomais atraente, reduzir aevasão e a repetência, queprojetos a Semtec pretendedesenvolver?

Estamos interessados em oferecer

uma escola mais agradável aos estu-

dantes, com uma participação deles

cada vez maior. Um projeto muito inte-

ressante, patrocinado pela Semtec e

pela Secretaria de Educação a Distân-

cia, está começando agora em 70 es-

colas de três Estados (Mato Grosso,

Mato Grosso do Sul e Goiás). É a edu-

cação através do rádio. Vamos qualifi-

car os professores e os alunos, e de-

pois a Semtec vai financiar a monta-

gem de uma rádio dentro da escola,

onde os alunos e os professores vão pro-

duzir programas, musicais, teatro, rotei-

ros, entrevistas, o que eles quiserem criar

para aprender mais e melhor. Há outros

programas que estão sendo desenvolvi-

dos nos Estados para a juventude, como

é o caso do programa Protagonismo Ju-

venil de Pernambuco, que seria interes-

sante levar para outros Estados.

Faltam muitos professoresno Ensino Médio. Como issoserá resolvido?

A formação inicial de professores é

o grande gargalo da educação pública.

Não dá para pensar em implementar

políticas sem professores. Criamos um

grupo de trabalho com a SEED e com a

SESu para buscar alternativas e reali-

zamos um levantamento nacional para

verificar a demanda. Precisamos de 55

mil professores de Física para atender

da 5ª à 8ª série da Educação Funda-

mental e todo o Ensino Médio. Mas

precisamos também de professores de

Química, Matemática, Biologia e já co-

meça a faltar professor de Português e

de línguas estrangeiras. Olha o quadro

que encontramos: nos últimos 11 anos,

as universidades federais, estaduais,

municipais e particulares, todas, forma-

ram 7.700 professores, então, a defa-

sagem é muito grande. Sabemos que

em quatro anos vai ser impossível fazer

isso, mas vamos deixar equacionado e

definido em quanto tempo poderemos

resolver. O incrível é que, nos últimos oito

anos, o Governo Federal não mexeu uma

palha para melhorar esta situação.

E as dificuldades?Uma delas é a financeira, mas não

é a única. Essa não é uma questão só

da Secretaria, mas do Ministério todo.

Estamos trabalhando a transformação

do Fundef em um fundo da Educação

Básica capaz de financiar a Educação

Infantil, Fundamental, Média e a de

Jovens e Adultos. Nessa transformação,

o principal aporte de recursos tem que

vir da União. Para iniciar, seriam ne-

cessários R$ 4,5 bilhões, além dos re-

cursos já garantidos no Fundef, mas isso

pode ser negociado. Se tivermos, por

exemplo, R$ 1,5 bilhão, vamos come-

çar o Fundeb com isso. É necessário

incluir nesse fundo o piso salarial do

professor. Sem ele teremos dificulda-

de para motivar os professores, embo-

ra a fonte de motivação não seja só de

cunho salarial. Também para a Educa-

ção Profissional não há nenhuma res-

ponsabilidade sobre quem financia e

muito menos sobre a fonte para o fi-

nanciamento, e essa é a causa do afas-

tamento do Estado das políticas públi-

cas para a Educação Profissional.

O Programa de trabalho daSemtec vai além de oferecerEducação Média,Tecnológica, de Jovens eAdultos. Seria um programaque prepara uma base parao desenvolvimento?

Quando se pensa num modelo de

desenvolvimento para o Brasil, pensa-

se em exportações, duplicar o que te-

mos hoje. Por exemplo: a Coréia expor-

ta US$ 100 bilhões por ano, a Malásia

chega perto disso. O Brasil exporta tal-

vez a metade, mas, para exportar mais,

precisa agregar tecnologia, não apenas

vender matéria-prima. Para chegar a

isso, precisamos trabalhar toda a ca-

deia produtiva, desde a pesquisa, for-

mar engenheiros, técnicos, construir

projetos de qualidade. Precisamos, por-

tanto, de um projeto nacional que inte-

gre todo o Governo, as universidades.

Quando se pensa em desenvolvimen-

to, tem-se que agregar conhecimentos,

formar pesquisadores, professores,

técnicos, aumentar a

base de alunos do

Ensino Médio,

Profissional e

Universitário.

Do aumento da

base é que vão

surgir mais e

melhores

cientistas.

Ibañez: “Olha o quadro que encontramos: nos últimos11 anos, as universidades federais, estaduais,

municipais e particulares, todas, formaram 7.700professores. Então, a defasagem é muito grande”

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DEBATE

SOLIDARIEDADE ENTRE

Especialistas analisam a inclusão dosalunos com necessidades especiais

diferentesAs pessoas com necessidades es-

peciais vêm, gradativamente, ganhan-

do espaço no contexto social brasilei-

ro. Os avanços são lentos, mas signi-

ficativos: rampas que começam a sur-

gir onde antes havia escadas, ônibus

com acesso especial, iniciativas de

profissionalização e inserção no mer-

cado de trabalho, sinalizações em

braille em elevadores e outros locais

públicos etc. Mas o passo mais im-

portante dado nos últimos anos foi o

entendimento do que vem a ser a Edu-

cação Especial após a LDB e as Dire-

trizes Nacionais para essa modalida-

de de ensino na Educação Básica.

Para discutir o processo de implan-

tação da Educação Especial no País,

foram convidadas três especialistas no

assunto. Fabiana Soares de Oliveira é

coordenadora nacional de educação

da Federação Nacional das Associa-

ções de Pais e Amigos de Excepcio-

nais (Apaes) e diretora pedagógica do

Centro de Educação Especial Girassol/

Apae-MS. Marlene de Oliveira Gotti é

assessora técnica da Secretaria de

Educação Especial do Ministério da

Educação e Erenice Soares de Carva-

lho é professora da Universidade Ca-

tólica de Brasília.

É delas a lição: a Educação Es-

pecial redefine seu papel na edu-

cação; oferece o atendimento edu-

cacional especializado; visa a aten-

der as necessidades educacionais

dos alunos para torná-los produti-

vos e integrados; e propicia a troca

de experiências entre colegas, pais,

educadores e comunidade.

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Fabiana Oliveira – Estamos nos

perguntando há muitos anos: o que é

Educação Especial? A quem se desti-

na? Seria outro sistema educacional

ou parte integrante da educação ge-

ral, conforme dito na Lei de Diretrizes

e Bases?

Erenice Carvalho – É uma moda-

lidade de educação escolar, certamen-

te, mas sem exclusividade, e tem

conotação muito abrangente: vai de

uma concepção muito abstrata até

questões como equipamentos, presta-

ção de serviços, apoio, se necessário,

e manejo curricular.

Marlene Gotti – A Constituição de

1988 deixou claro que pessoas com

deficiências têm direito a atendimento

educacional especializado, e a LDB

definiu que a Educação Especial é uma

modalidade de educação escolar que

oferece o atendimento educacional es-

pecializado previsto na Constituição.

Agora, esse atendimento educacional

especializado precisa ser visto na se-

guinte ótica: o aluno portador de defi-

ciência tem uma situação biológica que

pode refletir em sua situação edu–

cacional, interferindo na sua aprendi-

zagem. Por outro

lado, há

a questão psicológica: como essa pes-

soa vai se conduzir na vida social e na

vida educacional? Essas duas raízes

confundiam as ações da Educação Es-

pecial com as ações da saúde.

Fabiana Oliveira – A construção so-

cial dessa pauta de acesso ao aprendi-

zado é um trabalho de desconstrução

da ligação entre o não aprender e a

deficiência. O que cai na questão de

que ele não aprende porque tem defi-

ciência e, para aprender, precisa pas-

sar primeiro pela fisioterapia, pela

fonoaudiologia, com muito mais inten-

sidade. E o professor? Se der só quin-

ze ou vinte minutos de aula está tudo

bem? Ora, isso precisa acabar.

Marlene Gotti – É isso mesmo.

Esse aluno precisa de um atendimen-

to na área da saúde e da psicologia,

mas também de atendimentos edu-

cacionais. O aluno com deficiência

tem direito de ser atendido pelo sis-

tema de saúde, mas isso não deve ser

confundido com o di-

reito que ele tem à

educação e ao ser-

viço educacional

especializado. Até então, nós mes-

mos, da educação, confundíamos es-

sas ações. O aluno ia para a escola e

tinha, no mesmo horário, ações de

saúde e da educação simultaneamen-

te. Se ele tem direito a 20 horas/aula

semanais, mas sai da sala para aten-

dimentos da área da saúde, acaba

tendo carga horária menor que a dos

outros alunos. Ele não aprendeu por-

que tem deficiência? Não! Não apren-

deu porque não lhe dei a carga horária

a que tinha direito.

Fabiana Oliveira – Esse aluno com

deficiência tem o direito de cumprir a

mesma carga horária que os demais

estudantes. É necessário um tempo

para as ações da Educação Especial

acontecerem, conforme rege a legisla-

ção educacional.

Marlene Gotti – Para esclarecer o

que a LDB traz no capítulo 5 sobre Edu-

cação Especial, o CNE publicou as di-

retrizes para a Educação Especial na

Educação Básica, que é formada pela

Educação Infantil, Fundamental e Mé-

dia. O aluno com necessidades es-

peciais tem o direito de passar por

todas essas etapas, assim como

pela Educação Superior. E a Reso-

lução nº 2,

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52

DEBATE

de 2001, traçou diretrizes para o sis-

tema educacional brasileiro organi-

zar o atendimento a esse aluno e

para o papel de apoio do educador

especial.

Fabiana Oliveira – Além da fun-

ção da Educação Especial, que está

ali na retaguarda, a escola regular tem

a obrigação de prever e de prover os

serviços de apoio.

Marlene Gotti – A Resolução 02/

2001 define a Educação Especial

como um conjunto de recursos colo-

cado à disposição do aluno para que

ele possa ter acesso a todo o pro-

cesso de ensino. Esse conjunto de

serviços vai se distinguir conforme a

etapa em que o estudante estiver e

deve ocorrer preferencialmente na

rede regular de ensino. Todas as es-

colas têm que matricular alunos com

ou sem necessidade especial. Ma-

triculado o aluno, a escola tem que,

imediatamente, estar organizada

para atendê-lo. Essa organização não

é na área da saúde, mas na área da

educação. Dentro ou fora da classe

comum, o aluno com deficiência con-

tinua tendo o direito ao atendimento

educacional especializado. A função

da Educação Especial não é substi-

tuir a escolaridade promovida pela

escola regular comum. Seu papel é

apoiar o aluno.

Erenice Carvalho – Começamos

com medidas legais, mudança de

atitudes, distribuição de recur-

sos, persistência e diálogo. É

um processo cultural, também,

e não só de providência gover-

namental. Não se pode exi-

gir do MEC ou de um sis-

tema de ensino que,

num passe de mágica,

mude a cultura do País. O processo

de inclusão exige refinamento cultu-

ral, sobretudo. É uma responsabili-

dade de todos. Como estamos refle-

tindo sobre a diferença? Isso não pode

ser demarcado no tempo.

Marlene Gotti – A inserção é, na

verdade, social. O aluno com neces-

sidades educacionais especiais é

muito discriminado. No passado, era

muito comum nem se olhar para uma

pessoa com deficiência, porque era

“feio” fazer isso. Havia ainda a cultu-

ra da piedade, e é essa cultura que

estamos tentando alterar. Essa pes-

soa precisa ser vista por todos como

ser humano, com direitos como qual-

quer cidadão. A legislação hoje já bus-

ca mostrar isso. Para mudar a antiga

concepção, a partir da LDB, passa-

mos a utilizar a nomenclatura neces-

sidades educacionais de alunos. Por-

que não é função da escola ofertar

os serviços clínicos da área da saúde

relativos à deficiência do aluno, mas

verificar qual é a necessidade educa-

cional que ele tem. O aluno cego, por

exemplo, precisa de material em

braille, o surdo precisa de Libras.

Erenice Carvalho – Na formação

inicial o professor precisa ter clareza

de que existe uma diversidade de alu-

nos e que é preciso uma reflexão

sobre a educação nesse contexto.

Isso por muito tempo não foi feito e

ainda não acontece em todas as ins-

tituições de Ensino Superior,

porque as disciplinas, ou

não são obrigatórias, ou

contemplam parcialmente

a questão da diferença. É

muito mais fácil discu-

tir sobre o

a l u n o

numa perspectiva de homogeneidade, do

que pensar na diversidade, que é muito

mais desafiadora e complexa. Na forma-

ção continuada, voltada a professores já

formados, mas indevidamente prepara-

dos, deve-se viabilizar informações sobre

a construção do novo paradigma, ou os

professores vão estar sempre aquém do

que temos conseguido construir em ter-

mos de compreensão de educação.

Marlene Gotti – A instituição de En-

sino Superior tem que construir seu pro-

jeto pedagógico, ter um corpo docente

capaz de formar adequadamente profes-

sores na perspectiva de uma escola in-

clusiva na fase da formação inicial. Isso

ainda está iniciando. A legislação prevê

que a prática de ensino aconteça desde

o começo do curso, para que não ocorra

como antigamente, quando era dada so-

mente no último semestre e o aluno saía

sem saber nada sobre necessidades edu-

cacionais especiais de alunos.

Erenice Carvalho – É preciso lembrar

também do professor especialista. Pre-

cisamos dar um novo dimensionamento

a seu trabalho, porque antigamente ele

atuava em uma escola especializada.

Hoje, ele está orientando o professor da

classe comum e compartilhando seu

ensinamento com a equipe pedagógica

de uma escola regular. Não temos que

colocar regras, mas acompanhar o movi-

mento da educação que

estamos fazendo, e ir

redimensionando os papéis

desses profissionais.

Fabiana Oliveira

– Na perspectiva

do Direito, a esco-

la deverá dar a

esse aluno espe-

cial apoio para

ERENICE CARVALHO

FABIANA OLIVEIRA

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53MARLENE GOTTI

chegar à universidade e ao mercado de tra-

balho. Hoje, essa educação não deve se

processar somente sob o ponto de vista

do professor. Toda a comunidade escolar

tem que se envolver no projeto político-

pedagógico da escola, para que promova

o sucesso do aluno, da Educação Infantil

à Superior, sempre com a mesma

conotação. Esse processo já começou.

Marlene Gotti – Precisamos lembrar

da Educação Profissional. Assim como todo

jovem tem direito a passar pela Educação

Básica e outras modalidades de educação

escolar, tem também o direito à Educação

Profissional – que é outra modalidade, que

a Apae, uma mantenedora, também ofer-

ta. O aluno com deficiência tem direito de

se qualificar profissionalmente para ser

uma pessoa produtiva na sociedade.

Fabiana Oliveira – É um trabalho de

mudança de cultura muito profunda, pois

as famílias dessas pessoas também fo-

ram espectadores desse processo, de ou-

vir dizer que não, que seu filho tem um

déficit intelectual e ele precisa de uma es-

cola especial. No passado, isso significava

que ele iria precisar da Apae a vida toda,

por exemplo. A visão era direcionada para

dentro da escola especial. Hoje trabalha-

mos para modificar essa visão, invertendo

a perspectiva da escola especial para fora.

Tentamos derrubar as barreiras para que

se enxergue o aluno com déficit intelectual

com competências e condições de partici-

par da vida produtiva do País. Essa é uma

mudança interna, que passa, primeiramen-

te, pelas cerca de 1,8 mil Apaes do Brasil.

Depois pela família e pela sociedade.

Marlene Gotti – Sem a família, não

há como promover uma boa educa-

ção. Prova disso são as crianças

que se evadem e que repetem

séries quando os pais não

estão envolvidos – e não estou falan-

do aqui só de pais de alunos com ne-

cessidades especiais. No caso da sur-

dez, por exemplo, os pais devem par-

ticipar até da aprendizagem da língua

que seus filhos vão desenvolver: Se

não sabem a língua de sinais que o

filho fala, como vão participar da vida

dele? E o professor deve atuar tanto

com os pais quanto com o colegui-

nha, porque há muitas formas de der-

rubar os mitos que acompanham a

pessoa com deficiência. Depende de

como o professor conduz o processo

pedagógico. Na primeira vez em que

colocamos crianças surdas na escola

da 113 Sul, em Brasília, a primeira

providência foi contar para os colegas

que criança surda é absolutamente

normal e que fala uma outra língua,

desconhecida dos professores. Todos

aprenderam a língua de sinais para

brincar com os professores. Ou seja,

o estar juntos é excelente para todos.

Fabiana Oliveira – Importante

lembrar: acesso ao ensino, flexi–

bilização, saber lidar com a questão

do tempo e como avaliar a po–

tencialidade sem aquela intenção de

derrubar o aluno.

Marlene Gotti – O aluno com ne-

cessidades especiais tem o direito ao

currículo estabelecido pela LDB. Há

uma base nacional comum – Portu-

guês, Matemática etc – e todos

os alunos têm o direito de ter

acesso a ela. Para tanto, po-

dem ser necessários ajustes

curriculares. Se o aluno de-

manda mais tempo para

aprender, a escola

pode flexibilizar sua

organização para

possibilitar o aprendizado. Quem de-

termina que o menino precisa apren-

der a ler em um ano? Quem vai de-

terminar o tempo é o potencial do

aluno. Currículo não é só o conteú-

do, é toda uma movimentação da es-

cola, que precisa ser aberta, flexível.

Erenice Carvalho – E se assim

não for, o aluno não terá suas neces-

sidades especiais atendidas e, em

relação à nota, dança. O que deve

ser avaliado é o que o aluno apren-

deu, de forma qualitativa.

Marlene Gotti – A função da es-

cola especial era a de atender a to-

das as crianças com deficiência, mas

hoje estamos enxergando com maior

clareza que a finalidade da educa-

ção é a de promover a inclusão soci-

al. O que faz com que a escola espe-

cial modifique também suas funções

ao realizar atendimento educacional es-

pecializado, com o objetivo de dar con-

dições ao aluno de viver na sociedade,

e não na escola. Um exemplo dessa

mudança é que está sendo estudada

pelo ministro da Educação a possibili-

dade de se criar Faculdades Integradas

de Educação Bilingüe: Libras/Língua Por-

tuguesa, no Instituto Nacional de Edu-

cação dos Surdos do Rio de Janeiro.

Tais faculdades permitirão aos surdos

e aos ouvintes que querem ser profes-

sores aprenderem duas línguas e a

utilizá-las em suas classes.

Fabiana Oliveira – A es-

cola especial tem que

acompanhar todo esse pro-

cesso de inclusão esco-

lar e social. Nossa

defesa não é aca-

bar com elas, mas

modificá-las.

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Um porrete em forma de remo cha-

mado puratigñ (porantim) é o maior

símbolo cultural dos índios Sateré-

Maué, que vivem na Área Indígena

Andirá-Marau, região do Rio Tapajós,

na divisa do Amazonas com o Pará.

Eles acreditam que o porantim foi res-

gatado de demônios, que o utilizavam

para matar inimigos. Inscrições dese-

nhadas em cada lado do instrumento

– um, representando o bem, o outro,

o mal – contam a história mítica des-

ses índios, também conhecidos como

os primeiros a cultivar as sementes do

guaraná.

Porantim é, portanto, arma, remo

e memória. Poderia perfeitamente

servir também de símbolo para o Pro-

grama Nacional Biblioteca na Escola

(PNBE), executado pelo Fundo Nacio-

nal de Desenvolvimento da Educação

(FNDE) que, este ano, distribuirá quase

38 milhões de livros de literatura para

mais de oito milhões de alunos das

4ª e 8ª séries da rede pública do En-

sino Fundamental e para as classes

da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

LIVROS

A AVENTURA DE LER

Coleções do PNBE fazemdo estudante da rede públicaum leitor privilegiado

Afinal, para além do prazer da fanta-

sia, a leitura amplia a cultura das pes-

soas, abre seus horizontes para no-

vas viagens, virtuais e concretas, e as

torna mais aptas para lutar pela vida.

Coleções da 4ª sérieA história do porantim, relatada

pelo índio Yaguarê Yamã, 28 anos, faz

parte de uma das dez coleções do

PNBE destinadas à 4ª série. Cada

uma dessas coleções tem cinco livros

e seis gêneros – contos, poesias, no-

velas, narrativas da tradição popular

brasileira, peças de teatro e clássicos

da literatura universal.

Assim, a criançada poderá passar

o próximo ano letivo na companhia

de personagens como o Pequeno

Príncipe, Tom Sawyer, o Barão de

Münchhausen, os gregos Cupido,

Psiquê, Eco e Narciso ou os brasilei-

ros Boitatá, a Mãe-d’água, Tainá e o

Boto. Os alunos poderão também se

divertir recitando poemas de clássicos

como Casimiro de Abreu, Cecília

Meireles e Carlos Drummond de

o mundo

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Andrade, ou de moderníssimos como

Paulo Leminski, Arnaldo Antunes e

Millôr Fernandes. E ainda se emocio-

nar com as histórias de Lygia Fagundes

Telles, Carlos Heitor Cony e Moacyr

Scliar ou com as peças da carioca

Sylvia Orthof, dos cearenses Ronaldo

Correia de Brito e Assis Lima ou do

paulista Walcyr Carrasco.

Para a 8ª sérieDez coleções também estarão à

disposição do pessoal da 8ª série. Os

alunos poderão levar para casa e fa-

zer trabalhos em sala de aula. As co-

leções contêm uma antologia poética

brasileira, uma antologia de crônicas

e contos do Brasil, uma novela ou ro-

mance brasileiro ou estrangeiro, e uma

peça teatral nacional ou estrangeira.

Será interessante observar a reação

de um garoto de 14 anos se imaginan-

do na pele de Gregor Samsa, o perso-

nagem de Franz Kafka, de A Metamor-

fose, que certa manhã acorda transfor-

mado em inseto. Ou tendo pesadelos

na couraça de João Paulo, quase um

caranguejo, lutando contra a fome nos

manguezais do Recife, na novela de

Josué de Castro. Lições também po-

derão ser tiradas da alegria de uma me-

nina fazendo o papel de Titânia, a rai-

nha das fadas do Sonho de uma Noite

de Verão, de William Shakespeare, ou

de seus próprios devaneios diante da

Receita de Mulher, de Vinícius de

Moraes. Ou, ainda, da agonia que sen-

tiria se fosse Rosa, a nordestina obri-

gada a acompanhar o marido Zé-do-

Burro, na jornada de O Pagador de Pro-

messas, de Dias Gomes.

Jovens e adultos leitoresCom mais experiência de vida, os es-

tudantes do Fazendo Escola poderão re-

fletir, com Paulo Freire, que “a leitura do

mundo precede a leitura da palavra” e

que a leitura boa é aquela que conduz ao

mundo que nos interessa viver. O texto A

importância do ato de ler, do grande edu-

cador pernambucano, integra uma das

quatro coleções do PNBE destinadas a

esse grupo.

Dessa coleção fazem parte leitu-

ras de Domingos Pellegrini, Machado

de Assis, Olavo Bilac e Rubem Alves;

poemas de autores românticos brasi-

leiros, como Fagundes Varela e Cas-

tro Alves; a carta de Pero Vaz de Ca-

minha, relatando a chegada de Cabral

às costas da Bahia; as proezas de

João Grilo, em versos de cordel de João

Ferreira Lima (trata-se do mesmo per-

sonagem imortalizado no Auto da

Compadecida, de Ariano Suassuana);

e ainda a peça O burguês fidalgo, do

clássico francês Molière, cujo impa–

gável personagem, Monsieur Jourdain,

cultiva os hábitos da nobreza em de-

cadência no século 17.

Biografias As outras três coleções des-

tinadas ao EJA incluem biografias de

brasileiros ilustres, como o mestre da

música popular Pixinguinha e a

catarinense Anita Garibaldi, que lutou

na Guerra dos Farrapos e nas bata-

lhas pela unificação da Itália, por isso

mesmo denominada “heroína de dois

mundos”. Trazem ensaios sobre a

identidade cultural do Brasil (Roberto

da Matta), sobre a saúde pública

(Moacyr Scliar) e sobre a violência

na periferia das grandes cidades

(Fernando Pedrosa e outros).

Nas coleções destacam-se alguns

cordéis (ABC do lavrador e outros

cantos, de Silvio Romero, e Dicioná-

rio dos Sonhos, de J. Borges) e ainda

Lisístrata, peça do grego Aristófanes

(5º século antes de Cristo). A obra re-

gistra uma greve de sexo deflagrada

pelas mulheres dos soldados das ci-

dades inimigas Atenas e Esparta, para

impedir a carnificina.

No processo do conhecimento, as

pessoas não apenas apreendem os

dados já existentes no mundo, mas

constroem novos dados e até novas

realidades. Isso é ainda mais verda-

deiro no âmbito da literatura, univer-

so da fantasia por excelência. As co-

leções do PNBE, como o porantim dos

Sateré-Maué, são instrumentos e gui-

as para que os estudantes do Ensino

Fundamental participem dessa aventura

que é ler o mundo e as letras.

A criançada poderá passar o próximo ano letivo na companhia de personagens como O PequenoPríncipe, Tom Sawyer, os gregos Cupido e Psiquê e os brasileiros Boitatá e O Boto

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AGENDA

Um software inédito no mundo para facilitar o aprendizado dos alunos com necessidades auditivas está sendo

criado pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), com apoio de uma equipe de

lingüistas da Universidade Estadual de Pernambuco (UPE). O programa traduzirá textos para a Língua Brasileira de

Sinais (Libras). Palavras ou frases digitadas em Português aparecerão, na tela do computador, na forma de imagens

(sinais da Libras). O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação apoiará financeiramente o programa. Reso-

lução nesse sentido foi publicada no DOU no último dia 8 de setembro.

Encontro ambientalVamos cuidar do Brasil é o tema da Con-

ferência Nacional do Meio Ambiente que

será realizada em Brasília, de 28 a 30

de novembro, para debater com a so-

ciedade questões de qualidade de vida

e de sustentabilidade socioambiental.

Eventos preparatórios à conferência se-

rão promovidos em várias capitais bra-

sileiras, entre outubro e novembro. A

agenda está no portal www.mma.gov.br,

do Ministério do Meio Ambiente, que

prepara o grande encontro e tem o apoio

do MEC. Em setembro, escolas públi-

cas e privadas de todo o País realizaram a Conferência Nacional Infanto-Juvenil do Meio Ambiente. A cartilha Passo a

Passo da Conferência encontra-se nos Núcleos de Educação Ambiental (NEA) do Ibama e nas comissões organizadoras.

Proteção à criançaOs professores vão ter acesso, em breve, ao Guia Escolar – Identificação de Sinais de Abuso e Exploração Sexual em

Crianças e Adolescentes, lançado pelo MEC, por meio da Secretaria de Inclusão Educacional, e pela Secretaria

Especial dos Direitos Humanos, ligada à Presidência da República, no dia 23 de setembro, em Brasília. O Guia

Escolar está dividido em três partes: a maneira como a escola pode participar no processo; a notificação dos casos;

e a rede de proteção à criança e ao adolescente.

Com tiragem inicial de três mil exemplares, a publicação está sendo entregue a todas as secretarias estaduais de

Educação e em locais com alto índice de violência. Sua versão em cd-rom estará também na página eletrônica

www.mec.gov.br. Em dezembro o Guia será apresentado e discutido em uma série de cinco programas da TV Escola.

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Tradução em Libras

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Pela igualdade racialO Ministério da Educação e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da

Igualdade Racial (Seppir) criaram um grupo interministerial para, até dezem-

bro próximo, propor políticas públicas de acesso e permanência de estudan-

tes negros nas universidades públicas federais. O grupo vai estabelecer e

aperfeiçoar mecanismos de promoção da igualdade na formação acadêmica

de negros e de brancos, assim como levantar dados sobre as desigualdades

educacionais. Outra tarefa é ouvir dirigentes de entidades de ensino públicas

e privadas, especialistas, juristas e representantes de organismos internacio-

nais para colher subsídios que possam enriquecer a proposta.

Salário-Educação à mãoOs valores da arrecadação bruta e da distribuição do salário-educação encontram-se atualizados, mensalmente, na

página eletrônica www.fnde.gov.br. Os interessados podem obter informações sobre os números referentes à distri-

buição do recolhimento da contribuição social, junto à autarquia, por Estado e por região, bem como o valor que foi

repassado para cada Estado. O salário-educação é uma contribuição social prevista na Constituição, que serve

como fonte adicional de recursos do Ensino Fundamental público. Dois terços dos recursos são repassados mensal-

mente às Secretarias de Educação dos Estados e do Distrito Federal e o restante dos recursos (um terço) é aplicado

em programas administrados pelo FNDE, como o Dinheiro Direto na Escola, o Livro Didático, Biblioteca da Escola e

Alimentação Escolar.

Multiplicadores da InclusãoA Secretaria de Inclusão Educacional (Secrie) está capaci-

tando gestores municipais para formar a Rede de Agentes

de Inclusão – Movimento Nacional para Superação das

Desigualdades pela Educação – em todo o País. Iniciado

em setembro, o curso prossegue até 27 de novembro. A

meta é formar mais de 23 mil gestores nos 27 Estados.

Na primeira fase, presencial, deverão ser formados 1.400

multiplicadores. Na segunda etapa, o curso atenderá mais

22 mil pessoas, por meio de teleconferência. O objetivo

geral do projeto é consolidar uma Rede de Gestão dos

programas da Secrie, formado por gestores municipais dos

programas, educadores, parceiros estaduais e promotores

de ações educativas complementares. Informações nos

telefones 61-410-6156/6090/6027 e endereço eletrô-

nico [email protected].

As escolas pela InternetO usuário de informações educacionais dispõe hoje de

duas importantes ferramentas de pesquisa: o

Edudatabrasil (www.edudatabrasil.inep.gov.br),lançado

em maio, e o Databrasilescola, disponível desde se-

tembro, no endereço www.dataescolabrasil.inep.gov.br.

Nesse novo sistema, o usuário pode conhecer o nú-

mero e rendimento dos alunos matriculados e funções

docentes para cada nível de ensino da escola; suas

instalações e infra-estrutura; os equipamentos eletrô-

nicos de suporte pedagógico disponíveis; e a participa-

ção nos programas do MEC, como Transporte Escolar

e TV Escola. O Databrasilescola possui ainda um espa-

ço para que as escolas divulguem a realização e parti-

cipação em projetos de interesse da coletividade.

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altaNa Escola Municipal Mansões

Coimbra, em Águas Lindas de Goiás

(GO), cantar o hino e hastear a ban-

deira nacional já é uma realidade.

Pelo menos uma vez por semana,

300 alunos do Ensino Fundamental

participam do momento cívico. “Mui-

tas crianças e mesmo adultos não

têm o devido respeito pela bandeira

e sequer sabem cantar o nosso belo

hino. Isso tem que mudar”, decreta

Maria Helena Lobo, 47 anos, pro-

fessora de Artes, Educação Física,

Ensino Religioso e Inglês.

A escola do interior de Goiás é

um bom exemplo de que a noção

de civismo pode ser passada para o

aluno de maneira agradável e diver-

tida. “Mesmo sem ser obrigatório,

fazemos questão de ensinar aos

meninos os valores cívicos. Afinal de

contas, não é só na Copa do Mundo

que devemos ser patriotas”, atesta

a professora. Ela acrescenta que a

população dos países como Estados

Unidos, França e Argentina transpi-

ram patriotismo. “E isso vem desde

pequeno, na escola”, completa.

A professora Mirian Chaves Car-

neiro, 48 anos, da Fundação Peninah,

de Santa Efigênia, em Belo Horizonte

(MG), é outra entusiasta da hora cívi-

ca nas escolas. “Houve época em que

usar roupa com a figura da bandeira

era considerado crime. Hoje é moti-

vo de orgulho durante a Copa do

Mundo, mas, por que só durante a

Copa?”, indaga. Mirian entende que

é preciso hastear a bandeira e can-

tar o hino não apenas nos minutos

que antecedem partidas de futebol

e outros eventos.

Essas motivações levaram o Go-

verno Federal a editar o Decreto

4.835/2003, orientando as escolas

do País a hastearem a bandeira,

LEGISLAÇÃO

CIVISMO EM

A volta da hora cívica nasescolas resgata respeitopelos símbolos nacionais

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pelo menos uma vez por semana. A

proposição sugere ainda que a so-

lenidade seja de forma espontânea,

sem a determinação de medidas

punitivas para as instituições que

não aderirem. “Quando as pessoas

são convocadas e motivadas, parti-

cipam”, disse o presidente da Re-

pública Luiz Inácio Lula da Silva, no

dia 7 de setembro, data da soleni-

dade de assinatura do decreto.

“Quem não se emociona quan-

do, num evento como as Olimpía-

das, por exemplo, se canta o hino

diante da bandeira nacional? No

meu tempo de estudante, hastear

a bandeira era uma honra, era mo-

tivo de orgulho para a gente. Acho

muito legal continuar a se cultivar esta

postura cívica”, lembra a professora

Vânia Almeida de Abreu, 50 anos, da

Escola de Ensino Fundamental Darcy

Ribeiro do Paranoá (DF).

História da Bandeira

Sua música foi composta em

1822 para comemorar a abdicação

de D. Pedro I, por Francisco Manoel

da Silva, com letra que saudava a

nossa emancipação política de Por-

tugal. Adotado como Hino do Impé-

rio, foi, durante muitos anos, exe-

cutado sem letra em todas as apre-

O Hino Nacionalsentações públicas de D. Pedro II.

Apenas em 1909 recebeu a letra de

Joaquim Osório Duque Estrada, que,

após algumas modificações, foi ofi-

cializada em 1922, às vésperas da

comemoração do Centenário da In-

dependência.

Quando surgiu

A Bandeira do Brasil foi adotada

pelo decreto no 4 de 19 de novem-

bro de 1889, preparado por Benja-

min Constant, membro do Governo

Provisório.

Responsáveispela criação

A idéia deve-se ao professor

Raimundo Teixeira Mendes, presiden-

te do Apostolado Positivista do Brasil.

Com ele colaboraram o Dr. Miguel Le-

mos e o professor Manuel Pereira

Reis, catedrático de Astronomia da

Escola Politécnica. O desenho foi exe-

cutado pelo pintor Décio Vilares.

As cores

O verde e amarelo estão associados

à casa real de Bragança, da qual fa-

zia parte o imperador D. Pedro I, e à

casa real dos Habsburg, à qual per-

tencia a imperatriz D. Leopoldina.

Círculo interno azul

Corresponde a uma imagem da es-

fera celeste, inclinada segundo a la-

titude da cidade do Rio de Janeiro

às 12 horas siderais (8 horas e 30

minutos) do dia 15 de novembro de

1889.

As estrelas

Cada estrela representa um Esta-

do da Federação e todas as estrelas

têm 5 pontas. Elas aparecem em cinco

dimensões: primeira, segunda, tercei-

ra, quarta e quinta grandezas. Não

correspondem diretamente às mag-

nitudes astronômicas, mas estão re-

lacionadas com elas. Quanto maior a

magnitude da estrela, maior é o seu

tamanho na bandeira.

A faixa branca

Embora alguns digam que representa

a eclíptica, ou o equador celeste ou

o zodíaco, na verdade a faixa bran-

ca é apenas um lugar para a inscri-

ção do lema “Ordem e Progresso”.

Não tem qualquer relação com de-

finições astronômicas.

O lemaOrdem e Progresso

É atribuído ao filósofo positivista

francês Augusto Comte, que tinha

vários seguidores no Brasil, entre

eles o professor Teixeira Mendes.

Receita de Lulaàs escolas:motivação eespontaneidade

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Quem ainda tinha dúvidas de que é

investindo em educação que os povos

conseguem dar o salto de qualidade

para as suas sociedades, pôde tira-las

no seminário internacional Educação,

Ciência e Tecnologia como Estratégias

de Desenvolvimento, em Brasília. O

seminário foi promovido, em setembro

passado, pela Unesco, com o apoio dos

ministérios da Educação e da Ciência e

Tecnologia. Durante dois dias, represen-

tantes de vários países relataram suas

experiências realizadas nas últimas dé-

cadas e provaram que foi a decisão

política de investir em educação que

os colocaram em destaque, quando se

trata de desenvolvimento econômico e

social. Malásia, Espanha, Irlanda e

Coréia foram alguns dos países que

deram lições ao mundo.

Alicerce para a Malásia“Passeamos pelos jardins do mun-

do recolhendo as práticas de cada

povo”, diz o professor de Administra-

PELO MUNDO

liçõesCONTEMPORÂNEAS

ção, Liderança e Políticas Públicas da

Universidade Tun Abdul Razak, da

Malásia, Ibeahim Ahma Bajunid, para

mostrar a amplitude do sistema edu-

cacional do seu país. Colonizada por

Portugal, Holanda, Inglaterra e Japão,

a Malásia teve que lidar com a diversi-

dade de culturas, línguas, costumes e

economias desses povos para construir

a sua unidade.

Há 40 anos, o país saiu do ciclo agrí-

cola, onde a borracha natural era um

dos principais produtos de exportação,

e partiu para a economia industrial. A

educação foi a plataforma que o país

usou para dar os saltos de um ciclo para

outro e que hoje é o alicerce para uma

sociedade pós-industrial onde os servi-

ços do conhecimento são cada vez mais

exigidos, segundo Bajunid. Isso se ma-

terializou na decisão política de aplicar

25% do orçamento em educação.

Três foram as decisões que deram

sustento ao programa: toda a família

precisa ter em casa um computador e

Seminário internacionalmostra que educação é a chavedo progresso socioeconômico

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saber operá-lo; a educação deve ocor-

rer pela vida toda; o papel do professor

deve ser enaltecido e ele deve receber

o mesmo salário do servidor público.

No decorrer da implantação do proces-

so, que já dura cerca de 40 anos, o

Governo conseguiu reverter a situação

da educação. Há 30 anos, relata

Bajunid, por falta de universidades, 100

mil alunos da Malásia migravam para

estudar em outros países, a um custo

de US$ 1 bilhão por ano ao governo.

Hoje, 55 mil estudantes estrangeiros

procuram as boas universidades da

Malásia para estudar, trazendo recur-

sos para os cofres do país.

Mas esses avanços, diz Ibrahim

Bajunid, não são suficientes. A Malásia

trabalha para melhorar seu sistema

educacional e quer atingir 60% da for-

mação de sua mão-de-obra em Ciên-

cia para dominar os conhecimentos os

básicos da tecnologia e 40% em Hu-

manidades, para construir a cidadania

que é necessária e bem-vinda.

Política públicana Espanha

Acesso, eqüidade e qualidade cons-

tituem a base do sistema educacional

espanhol construído nos últimos 25

anos, relata o professor de Teoria e His-

tória da Educação na Universidade Na-

cional de Educação a Distância da

Espanha, Alejandro Tiana.

A reforma da educação, que hoje

garante acesso ao Ensino Médio a

79,5% dos jovens entre 15 e 19 anos,

começou nos anos 70, durante o pro-

cesso de abertura, ainda sob o governo

de Francisco Franco. Depois da morte

do ditador, em 1975, as forças demo-

cráticas construíram o Pacto de

Moncloa, celebrado entre o governo, os

partidos políticos e os sindicatos, que

deu impulso às reformas na educação.

Foi o pacto que permitiu multiplicar por

dois o orçamento da educação públi-

ca, entre 1977 e 1980, e registrar na

história do país decisões como a dos

trabalhadores que abriram mão de re-

ceber aumentos salariais para garantir

a quota da educação no orçamento do

Estado. Para o professor Alejandro

Tiana, o que tornou viável o avanço foi

a importância atribuída à educação

como política pública, pelo governo e

pela sociedade.

A democratização da Espanha, a

partir de 1975, ampliou o ensino em

mais dois anos. De 1982 a 1996, sob

o governo socialista, a Espanha tornou

obrigatórios o Ensino Fundamental, dos

seis aos 16 anos, e a Educação Infan-

til, a partir dos três anos. Nesse perío-

do, investiu em qualidade, promoven-

do a revisão dos currículos e a forma-

ção continuada dos professores. Hoje,

os professores espanhóis do Ensino

Básico têm horários reduzidos, mas

dedicação exclusiva. Os do Ensino Fun-

damental trabalham 25 horas sema-

nais e os do Ensino Médio, de 18 a 20

horas semanais, o que lhes garante

qualidade de vida e desejo de perma-

necer no Magistério, diz Tiana. A for-

mação permanente é outro atrativo da

carreira. Quanto maior a formação,

maior o salário.

Sem incentivar a competição entre

escolas e professores, a Espanha criou

a cultura da avaliação e introduziu ins-

trumentos democráticos de gestão,

dentre eles a eleição direta dos direto-

res. “Na Espanha, a educação é uma

responsabilidade compartilhada que

EDU

CAR

VALH

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atingiu níveis importantes, mas que pre-

cisa continuar se aprimorando”, obser-

va o professor.

Ensino gratuito na IrlandaO ministro de Estado para Assuntos

Europeus, Richard Roche, conta que a

educação e, principalmente, o ingres-

so da Irlanda na Comunidade Européia,

em 1972, tiveram papel de destaque

na reconstrução da economia do país,

de perfil inexpressivo até o final da dé-

cada de 1980.

A educação, segundo Roche, é vis-

ta como uma espécie de cimento para

o desdobramento dos outros fatores.

Seu desenvolvimento teve início em

meados dos anos 60, quando o então

ministro da pasta decidiu pela

gratuidade do Ensino Secundário. Fo-

ram criadas oito escolas politécnicas em

áreas rurais. Em seguida, deu-se o ingres-

so da Irlanda na comunidade européia,

passo, segundo ele, considerado funda-

mental, “pois a instituição tem sido muito

generosa com os países membros”.

A mudança na economia irlandesa

começou a ocorrer, de fato, a partir dos

últimos 30 anos, por influência da

interação de fatores como: a entrada

de subvenções da União Européia e cli-

ma propício a investimentos; o idioma

do país (inglês) e a falta de barreiras

culturais; a abertura comercial e os

parceiros sociais; as instituições legais

e a estabilidade política; e, ainda, os

agrupamentos industriais e o investi-

mento nos recursos humanos.

“As gerações trabalharam ardua-

mente para que as transformações

ocorressem e, nas últimas décadas,

aprendemos muito sobre nós mes-

mos. Descobrimos em que áreas éra-

mos importantes e em quais outras,

insignificantes”.

Conselho de um coreanoNos últimos 50 anos, a Coréia mu-

dou de uma sociedade rural pobre ar-

rasada pela guerra para uma socie-

dade moderna, de rápida industriali-

zação, com uma economia dinâmica.

No campo da educação, a expansão

não foi menos notável.

O professor de Educação da Uni-

versidade de Hanyang, em Seul, Yun-

Kyung Cha, conta que, influenciada

pelo confucionismo, a educação for-

mal na Coréia teve início no século IV.

A educação moderna surgiu no final

do século 19, dentro do movimento

de reforma nacional.

Durante o período de colonialismo

japonês, de 1910 a 1945, as opor-

tunidades educacionais para o povo

coreano foram restritas. Com a liber-

tação, o povo passou a experimentar

oportunidade de educação.

A expansão quantitativa foi a ca-

racterística mais marcante no de-

senvolvimento educacional da Coréia

nos últimos 50 anos, segundo Yun-

Cha. O número de escolas, de pro-

fessores e alunos dobrou, drastica-

mente, em todos os níveis escola-

res. No Ensino Médio, as matrícu-

las aumentaram de 26,4% para

94%. O mais extraordinário aconte-

ceu na Educação Superior, segundo

relata Yun-Cha. De 19 instituições

de ensino, em 1945, o país chegou

a 1.261, em 2001; o número de

alunos matriculados aumentou de

7.819 (em 45) para 3,55 milhões

(em 2001), atingindo uma das ta-

xas mais elevadas do mundo.

Apesar de declarar-se “deslumbra-

do” com alguns indicadores educa-

cionais do seu país, Yun Cha diz que,

para a maioria dos coreanos, o signi-

ficado da educação formal está em

seus valores instrumentais: a educa-

ção é, para eles, simplesmente um

meio de ascensão social e de riqueza

material, estando ausente a perspec-

tiva humanitária.

Ele ressaltou que a expansão edu-

cacional impulsionada pela cobiça hu-

mana não tem capacidade de trans-

formar o mundo em um lugar melhor

para se viver. “Nossa sociedade pre-

cisa de seres humanos, e generosos,

que exercitem a compaixão, e não de

pessoas egoístas e competitivas. Não

desejo que o Brasil repita certos er-

ros adotados por nós”, desabafa.

Representantes dos países convidados provaram que a educação os colocou em destaque

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