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PROFESSIONAL MAGAZINE ANO 3 · Edição 9 · Out.Nov.Dez’2016 Nesta edição: PROFISSIONAL CFP ® SER OU NÃO SER? E O QUE ISSO ME FAZ DIFERENTE? Gisele Andrade, CFP ® PLANEJAMENTO FINANCEIRO NO MUNDO ULF MANNHARDT, CFP ® QUEM TEM MEDO DE ROBO-ADVISOR POR LUCIANO TAVARES, CFP ® ESPECIAL: INVESTIMENTO SOCIAL FELIPHE PEREIRA, CFP ® E RAQUEL COIMBRA, IDIS

ANO E ONv.Dez’2016 SER OU NÃO SER? E O QUE ISSO ME … · a visão das pessoas e investidores se torna mais obtusa e de curto prazo. Cabe a nós planejadores ... antigamente, só

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PROFESSIONALM A G A Z I N EANO 3 · Edição 9 · Out.Nov.Dez’2016

Nesta edição:

PROFISSIONAL CFP®

SER OU NÃO SER? E O QUE ISSO ME FAZ DIFERENTE?Gisele Andrade, CFP®

PLANEJAMENTO FINANCEIRO NO MUNDOULF MANNHARDT, CFP®

QUEM TEM MEDO DE ROBO-ADVISORPOR LUCIANO TAVARES, CFP®

ESPECIAL: INVESTIMENTO SOCIALFELIPHE PEREIRA, CFP® E RAQUEL COIMBRA, IDIS

EditorialLuiz Sorge, CFP®

InvestimentosLuciano Tavares, CFP®

Planejamento Financeiro PessoalUlf Mannhardt, CFP®

Conduta ProfissionalGisele Colombo, CFP®

A Vida como Ela ÉLucas Radd, CFP®

Especial: Investimento SocialFeliphe Pereira, CFP® e Raquel Coimbra, IDIS

Indicações de LeituraLeticia Camargo, CFP®

EntrevistaLeandro Loiola, CFP®

Educação Continuada

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SUMÁRIO

Editorial

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EDITORIAL

Prezados Associados,

Em um cenário complexo como o que vivemos, a visão das pessoas e investidores se torna mais obtusa e de curto prazo. Cabe a nós planejadores financeiros, através de nossas competências técnicas e preparo profissional, alargar este horizonte de análise para o médio e longo prazo como condição necessária para que o planejamento financeiro transforme a vida das pessoas para melhor.

Esta é a visão da Planejar e o que nos une como profissionais que atendem a rigorosos padrões internacionais de competência e conduta ética: o planejamento financeiro transforma a vida das pessoas.

Com o objetivo de tornar esta mensagem mais clara para os diversos públicos, conduzimos um processo de reposicionamento de marca institucional. Além disso, a oficialização da entidade como uma Associação de profissionais

Luiz Sorge, CFP®

Assista ao vídeo do evento de Éticaque marcou o lançamento da Planejar

Editorial

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visa promover a condição de pertencimento de todos os planejadores financeiros.

O trabalho do planejador financeiro contribui para o fortalecimento do mercado e para disseminar a educação financeira. Há uma grande carga de responsabilidade nesta atividade, que envolve aspectos subjetivos, como desejos e expectativas de seus clientes, e questões exatas e concretas, como o dinheiro e o tempo. Ao certificar e promover a educação continuada de profissionais ligados ao planejamento financeiro pessoal, a Planejar contribui para uma sociedade financeiramente mais sustentável.

Faço um agradecimento especial aos Diretores e membros de Conselhos e Comissões, além do corpo técnico da Planejar, que dedicam um grande esforço para ajudar a construir a identidade desta profissão.

Boa leitura.

Luiz Sorge, CFP ®

É planejador financeiro certificado desde 2003. Atual presidente da Planejar e diretor da ANBIMA. É CEO da BNP Paribas Asset Management Brasil, onde trabalha desde 2001. Também já atuou no HSBC e no Banco CCF. Formado em engenharia elétrica e pós-graduado em Administração com extensão em Economia.

“CABE A NÓS PLANEJADORES FINANCEIROS,

ATRAVÉS DE NOSSAS COMPETÊNCIAS TÉCNICAS E PREPARO PROFISSIONAL,

ALARGAR ESTE HORIZONTE DE ANÁLISE PARA O MÉDIO E LONGO PRAZO COMO CONDIÇÃO

NECESSÁRIA PARA QUE O PLANEJAMENTO

FINANCEIRO TRANSFORME A VIDA DAS PESSOAS

PARA MELHOR.“

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QUEM TEM MEDO DE ROBO-ADVISOR?

Os robôs investidores, consultores robôs, ou simplesmente serviços automatizados de investimento, já representam uma indústria bilionária. Nos Estados Unidos, um estudo da consultoria A. T. Kearney estima que US$ 300 bilhões de ativos (AUM, do inglês Assets Under Management) estão sob gestão de plataformas automatizadas. Até o ano de 2020, a previsão é de que esse número alcance US$ 2 trilhões.

No Brasil, o tema começou a ganhar mais corpo neste ano, com o surgimento, no mercado, de mais empresas que atraem, principalmente, o público mais jovem. E, como toda inovação, o embate entre o tradicional e o novo aparece, não sem trazer dúvidas sobre como a tecnologia e o humano atuariam juntos.

Neste artigo, pretendo explicar o que são e como funcionam os robo-advisors na prática, desfazendo mitos e mostrando como homem e máquina podem trabalhar lado a lado para melhorar o modo como as pessoas investem.

A presença da tecnologia na indústria de investimentos é uma história que não começou hoje.

Quem não se lembra da época do pregão viva-voz da Bovespa? No auge, em 2005, os operadores eram capazes de movimentar um volume médio diário de R$ 1,6 bilhões de reais em ações. Com o passar do tempo, em prol da eficiência e da redução de custos, tornou-se inviável dar continuidade ao pregão viva-voz. Ele deixou de existir no fim daquele ano, abrindo espaço para o crescimento do mercado acionário brasileiro. Hoje, com o pregão eletrônico, o volume médio diário de negociações na BM&FBovespa aumentou quase cinco vezes, atingindo R$ 7,3 bilhões no fim de 2015.

Esse exemplo mostra como a tecnologia traz ganhos de escala e tem o poder de transformar o mercado financeiro. Atualmente, a gestão e a assessoria de investimentos estão passando por uma nova onda de transformação com o desenvolvimento da indústria de robo-advisors. Nos Estados Unidos,

as maiores e pioneiras são a Betterment e a Wealthfront. Diversas empresas ganham volume na Europa e na Índia. E pelo mundo todo pessoas que nunca tiveram a ajuda de um especialista em investimentos passam a ter acesso a esse tipo de serviço.

Dentro de um contexto maior, os robo-advisors fazem parte da revolução financeira que atualmente toma corpo por meio das fintechs.

As fintechs são empresas que unem tecnologia e finanças (o termo fintech vem do inglês financial technology). Cada fintech normalmente se especializa em um tipo de serviço que, até então, era prestado exclusivamente por empresas tradicionais do segmento financeiro – bancos, corretoras de valores, seguradoras, corretoras de câmbio, entre outras.

Cada qual em sua vertical de atuação, as fintechs usam a tecnologia para buscar soluções para falhas de mercado e prestar serviços em larga escala e a

Luciano Tavares, CFP®

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baixo custo para o consumidor. Uma das verticais é a de investimentos, por meio dos robo-advisors.

ROBO-ADVISOR: PASSO A PASSO

Robo-advisor é o termo usado para falar, de maneira genérica, dos serviços digitais e automatizados de assessoria e gestão de investimentos. Na prática, são interfaces online amigáveis (como sites ou aplicativos) que têm por trás algoritmos desenvolvidos exclusivamente para criar recomendações de investimento personalizadas. De acordo com a sua estratégia, cada empresa pode pedir um tipo específico de licença para Comissão de Valores Mobiliários (CVM): seja para atuar como consultoria de investimentos, gestora, distribuidora de valores mobiliários ou corretora.

A experiência de um cliente de um robo-advisor em geral funciona assim: o usuário responde a um questionário que foi desenhado para mapear seu perfil e objetivos como investidor. As respostas são interpretadas por algoritmos programados para dar recomendações de portfólios de maneira personalizada. Vale dizer que cada robo-advisor tem uma estratégia de investimento diferente, desenvolvida pela equipe – humana – que há por

trás de cada um. Em um segundo momento, a pessoa que deseja concretizar seu plano de investimentos abre uma conta online na plataforma do robo-advisor. A Magnetis, por exemplo, é conectada à corretora Easynvest para a realização das ordens de compra e venda dos ativos.

Uma vez que o usuário faz a transferência do dinheiro que deseja investir para a sua conta na corretora, o algoritmo realiza as ordens de compra das aplicações que irão compor seu portfólio. A partir daí, o investidor pode acompanhar a evolução da sua carteira de forma consolidada, assim como o histórico de movimentações, em um painel de controle.

Qualquer pessoa pode fazer todo esse processo de investimento com um robo-advisor em apenas um dia – desde a simulação, passando pela abertura de conta até a consolidação dos investimentos. Se não tiver dúvidas ou situações atípicas, consegue realizar tudo sem falar com nenhum humano, ainda que exista uma equipe de prontidão para tirar dúvidas e auxiliar os investidores. Tudo isso sem planilhas de Excel, sem economês e com nível de segurança bancário.

Pelo alto nível de automatização de processos, as

fintechs não precisam manter estruturas grandes de equipe. Por isso, os robo-advisors conseguem oferecer esse serviço completo de maneira acessível e a um custo baixo. A cobrança de taxa de consultoria é a fonte de renda das fintechs de investimentos, o que elimina o conflito de interesses.

Para os clientes, são portfólios baratos e eficientes, tanto pela escolha de produtos com baixa taxa de administração (tais como os ETFs para investimento na categoria ações), como pela cobrança de modestas taxas de consultoria. Por exemplo: o custo total das carteiras varia entre 0,58% e 0,99% ao ano na Magnetis, dependendo do perfil de risco e montante.

Na prática, pessoas comuns, que não tinham acesso a uma assessoria de investimentos, passam a usufruir de um serviço com a mesma qualidade que, antigamente, só portfólios grandes teriam condições. São investidores que têm valores iniciais baixos para começar a investir, como R$ 10 mil ou R$ 25 mil. Nos bancos, são tratados como varejo e, nas corretoras e empresas tradicionais de assessoria de investimentos, não chamam atenção por causa do baixo volume.

Em resumo, os ganhos para os investidores são muitos, pois o modelo do robo-advisor resolve

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diversos pontos de atrito do mercado tradicional: não há conflito de interesses, o serviço é acessível e de baixo custo, a experiência do usuário é simples e prática, mesmo diante da complexidade do mercado financeiro.

E para os profissionais de investimentos, quais são os ganhos? Vou falar a seguir. Antes, uma reflexão sobre a expressão robo-advisor.

UMA REFLEXÃO SOBRENOMENCLATURA

Há uma discussão rica sobre qual seria o melhor termo para designar as fintechs de investimentos.

Em maio deste ano foi realizada a conferência da Iosco (International Organization of Securities Commissions), organização que reúne os órgãos reguladores do mercado de valores mobiliários ao redor do mundo, entre eles a própria CVM. Na ocasião, fui convidado para fazer uma apresentação sobre fintechs e pude acompanhar uma discussão sobre a nomenclatura do robo-advisor.

A percepção dos órgãos reguladores é de que o termo robo-advisor pode ser muito restritivo para denominar as fintechs que atuam na área de

investimentos. Em sua substituição, foi proposto o termo “digital investment advisor” (consultor de investimentos digital), que seria mais abrangente ao abarcar as variadas formas de investimentos automatizados disponíveis para os investidores. Neste caso, a expressão robo-advisor poderia ser usada para designar uma das modalidades de digital investment advisor.

O aprendizado que essa discussão trouxe foi: é evidente que há uma preocupação por parte dos órgãos reguladores em deixar claro que há participação humana no processo de assessoria de investimentos online. É uma preocupação que também gera receio por parte dos planejadores financeiros CFP®. Será que a máquina vai substituir o humano?

Primeiramente, vale dizer que máquinas são programadas por pessoas. Mesmo por trás de uma interface digital, há a presença do especialista. Afinal, quem é responsável pela programação do algoritmo?

Em junho deste ano, após o referendo que culminou na decisão do Reino Unido em sair da União Europeia – o chamado Brexit –, os mercados enfrentaram grande volatilidade. A Betterment, maior empresa de investimentos automatizados dos Estados Unidos, suspendeu todas as suas transações na

sexta-feira que sucedeu o Brexit. A atitude rendeu críticas, pois os investidores não foram avisados. Enquanto isso, a empresa se justificou afirmando que a decisão foi tomada para proteger o patrimônio dos investidores e evitar perdas desnecessárias em um momento de grande volatilidade.

Esse exemplo evidencia que a estratégia de investimento que é executada pelo algoritmo é definida pela equipe que há por trás do robo-advisor. Os testes dos algoritmos para projeção de rentabilidade das carteiras já preveem cenários de volatilidade. No caso do Brexit, no entanto, parece ter havido uma percepção de que a volatilidade ficou acima do esperado pelo algoritmo, de modo que houve intervenção humana.

Recomenda-se, portanto, que o investidor conheça qual é o time por trás do desenvolvimento de cada algoritmo, buscando referências para se sentir seguro ao tomar uma decisão.

HOMEM E MÁQUINA, COMPETÊNCIAS

DIFERENTESPlanejadores financeiros e robo-advisors podem trabalhar de maneira conjunta. Ao descrever o

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passo a passo de uma experiência de investimento via robo-advisor, tentei deixar claros os benefícios aos clientes.

E qual é o ganho do planejador financeiro CFP®?

O robo-advisor, na realidade, faz um trabalho braçal, o trabalho repetitivo que geralmente consome horas valiosas de um assessor de investimentos. O algoritmo automatiza cálculos que analisam risco e retorno das aplicações, avaliam a rentabilidade líquida de impostos e taxas e criam portfólios eficientes para cada perfil de risco e objetivos – tudo isso em uma fração de segundos. Na Magnetis, já conseguimos criar simulações de carteira de investimento para mais de 20 mil pessoas em pouco mais de um ano. Sem a ajuda do algoritmo, quando isso seria possível? O robô é mais eficiente na automação dos cálculos de alocação e rebalanceamento de portfólios – o consultor humano, por sua vez, deve ser beneficiar disso.

Trata-se de uma das maiores inovações em gestão de patrimônio nas últimas décadas e, como tal, requer adaptação do papel do planejador financeiro. Com a diminuição da assimetria de informação aliada a ganhos de escala, a tecnologia dos robo-advisors pode ser um importante complemento para o planejador financeiro se especializar ainda

mais onde é insubstituível: o relacionamento com o cliente.

Planejadores financeiros de perfil generalista podem oferecer um mix de serviços que inclui parcerias ou indicações de empresas que fazem gestão automatizada no que diz respeito aos investimentos ou controle financeiro, focando o trabalho nos serviços que são mais difíceis de automatizar, tais como os relacionados a sucessão e planejamento tributário.

Até mesmo o profissional CFP® mais especializado em alocação de portfólios pode utilizar a tecnologia para ganhar produtividade e focar em serviços mais personalizados. Sempre haverá casos mais complexos que não são capturados pelos algoritmos e requerem intervenção humana. Nessas situações, o planejador com a visão completa da relação do cliente com seus recursos será capaz de definir estratégias e soluções mais customizadas.

Enquanto isso, para a maior parte da população brasileira – que até hoje tem dificuldade para acessar investimentos de qualidade –, a revolução das fintechs e dos robo-advisors muda o cenário e as perspectivas. Hoje o Brasil tem mais de 71,7 milhões de investidores, segundo relatório da Anbima. A maioria conta com os bancos e tem restrições para acessar uma consultoria de

investimentos. Não mais! Com a revolução do robo-advisor muitos podem ir em busca de investimentos melhores ou investir pela primeira vez – tudo com a praticidade de um “robô” amigo.

Luciano Tavares é fundador e CEO da Magnetis, a primeira e maior consultoria de investimentos automatizados do Brasil. Administrador de carteiras credenciado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e planejador financeiro CFP®, tem mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro. Luciano Tavares também está à frente da Napkn Ventures, que criou para realizar investimentos em startups de tecnologia (ContaAzul, BankFacil). Ao longo de sua carreira, fundou a gestora de fundos Nest Investimentos e foi vice-presidente da Merrill Lynch no Brasil. É administrador formado pela Fundação Getulio Vargas (1995) e tem mestrado em Engenharia Financeira pela Poli-USP (2009).

Luciano Tavares, CFP ®

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PLANEJAMENTO FINANCEIRO NO MUNDO

A nona edição da revista Professional Magazine, do planejador financeiro no Brasil, em 2016, é parte de um marco histórico. O Instituto decidiu mudar seu nome para inovar e melhorar a percepção de seu público. Como entidade afiliada ao FPSB – Financial Planning Standards Board, temos a tarefa de atender três públicos e objetivos distintos:

1. o profissional CFP®, membro da Associação;2. a profissão Planejamento Financeiro, mediante

padrões e certificação alinhados globalmente com o FPSB; e

3. o público em geral, beneficiário final mais importante e a razão da profissão do planejador financeiro e sua certificação de distinção.

A visualização e comunicação do novo nome, já implementado, e a consequente motivação gerada por essa inovação, é motivo para parabenizarmos a equipe do IBCPF/Planejar, suas comissões de trabalho e a atual diretoria. Congratulamos a todos pelo ótimo empenho e registro dos cerca de 3 mil planejadores financeiros CFP® no Brasil. Desejamos

que, com o nome Planejar, a entidade continue crescendo e prosperando no país, compartilhando a visão do FPSB de estabelecer Planejamento Financeiro como profissão globalmente reconhecida, a representar com as marcas CFP seus símbolos de excelência.

Como há 14 anos represento o Brasil e a Planejar junto o FPSB Council, na reunião bianual dos países membros fui solicitado a contribuir, para esta revista, com artigo sobre planejamento financeiro no mundo. Pela amplitude do tema, decidi traduzir um artigo recentemente divulgado na revista austríaca Profil, de 5 de setembro de 2016, que retrata e questiona fatores mais comentados aqui na Europa, onde vivo atualmente. Em reuniões com outros profissionais, clientes e família, discute-se a interdependência do sistema financeiro, como ele atua e preocupa hoje. A volatilidade substancial nos preços das ações de bancos europeus, as taxas de juros negativos pagos pelos bancos aos depósitos à vista em vários países, o baixo crescimento econômico, a baixa inflação, atualmente, não

geram percepções positivas, expectativas futuras de crescimento, maior investimento e melhora na produtividade das economias. O ambiente é de apreensão e incerteza, alimentado pelas recentes tensões provocadas pela crise grega, pelos movimentos migratórios, o Brexit, as eleições nos EUA etc.

O artigo “História da Criação” não é conclusivo. Reflete a percepção atual, em que a falta de conclusão é a conclusão. É a sensação de incerteza vivida pelas pessoas, especialmente na Europa, devido às mudanças na tão habitual tranquilidade financeira de grande parte da população. As pessoas, de fato, gostariam e prefeririam poder se concentrar no trabalho, na produção, naquilo que chamamos de economia real. Porém, a aparente e duradoura crise nos mercados financeiro e econômico é, atualmente, assunto relevante, com destaque especial para os bancos. A função destas instituições, após a crise 2008, está em constante mudança, tanto pelo avanço tecnológico, como pelo papel de controle que agora exercem na sociedade.

Ulf Mannhardt, CFP®

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É a imposição e centralização regulatória, pelas autoridades governamentais e bancos centrais, de todos os fluxos financeiros globais – aliada ao alto nível de endividamento dos países, à capacidade dos bancos de gerarem dinheiro e à falta de reação do ambiente econômico, que continua sem crescimento significativo – que, juntos, geram desconforto e crescente desconfiança na população. A vida digital de hoje contribui para que a moeda física tenha sua relevância reduzida. A maioria das transações hoje podem ser realizadas via cartões ou App’s, em celulares. Discute-se a necessidade de moeda física e, pelo longo período de juros baixos ou negativos, também é questionado se poupar ainda é uma solução. É a discussão sobre questões sistêmicas, novas tecnologias e o futuro do que, pela grande maioria, é visto como o mais importante na vida: o dinheiro.

Diferentemente do Brasil, onde, há décadas, o conturbado ambiente econômico-financeiro criou percepção e atividade financeira aguçada na população, na Europa, as turbulências financeiras, desencadeadas pela crise de 2008, estão gerando nos investidores mais revolta política do que interesse ou ação econômico-financeira. A sensação, muitas vezes externada, é de preocupação sistêmica. O mundo financeiro, aparentemente, está com excesso de liquidez, mas não encontra caminho para sair da armadilha da escassez. Espero que

este artigo mostre ao planejador financeiro, no Brasil, uma perspectiva relevante sobre aspectos diferenciados em planejamento financeiro no mundo.

HISTÓRIA DA CRIAÇÃODinheiro possibilita progresso e,

simultaneamente, excesso. 25 perguntas e respostas sobre

a facilidade mais óbvia do planeta.

De Joseph Gepp, na revista austríaca Profil, 5 set. 2016,

traduzido por Ulf Mannhardt

O que é dinheiro?Dinheiro é promessa de valor. É um acordo que todos respeitam, aprovado pelo Banco Central. Ou você já teve a experiência de ver sua moeda física não ser bem aceita no supermercado?

Dinheiro, então, é o intermediador entre oferta e procura?É esta a teoria mais comum do dinheiro. Dinheiro é um meio prático que evita a necessidade de trocar bens, por agir como intermediador. Os economistas

acreditam que dinheiro não influencia o valor dos bens. Existem, porém, novas pesquisas que questionam isso. Argumenta-se que, quando há mais dinheiro, o valor dos bens aumenta, de modo que se pode dizer que sim, dinheiro influencia valor, a exemplo dos imóveis.

Como é criado o dinheiro?A maior parte – aproximadamente 90% – do dinheiro é gerado pelos bancos, sempre quando é concedido crédito.

Mas como? Você só pode entregar aquele dinheiro que você já tem.Como pessoa física, sim. Mas o banco pode criar dinheiro novo. Quando um banco concede crédito, este dinheiro não é retirado de outro lugar, como, por exemplo, de depósitos dos correntistas. Ele é gerado, novo. A soma do balanço do banco aumenta de acordo com o crédito concedido. A quantidade de dinheiro em circulação, também.

Uau, então banco simplesmente produz dinheiro novo!?É este o sistema que se desenvolveu nos últimos séculos. Bancos geram dinheiro. Porém, eles não são totalmente autônomos no processo. Se não, não precisaria dos bancos centrais, como, por exemplo, o Banco Central Europeu (BCE), na região do Euro. O BCE tenta influenciar a geração

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de dinheiro dos bancos privados com instrumentos monetários.

Quais?As chamadas reservas. Isto é, simplificadamente, o estoque básico em capital. Cada banco necessita manter um valor mínimo junto ao seu Banco Central. As reservas não geram dinheiro como os créditos. Assim, cada banco, quando gera dinheiro, deve observar suas reservas. A quantidade de dinheiro gerado pelos bancos deve manter valor proporcional às reservas determinadas pelo Banco Central. Na comunidade Europeia, por exemplo, a reserva mínima exigida pelo BCE é, atualmente, de 1%. Se um banco administra depósitos e créditos de 100 milhões de Euros, necessita recolher um milhão de Euros em reservas junto ao BCE. Assim, as reservas são como a base, sobre a qual se constrói a casa dos créditos. Por isso, também, são chamadas de base monetária ou dinheiro do Banco Central.

E de onde vêm estas reservas?Elas são, geralmente, emprestadas pelo próprio Banco Central. E, para isso, os bancos pagam juros, os juros básicos.

Ahh, aquele juro que está tão baixo neste momento. A razão deste juro básico, qual era mesmo...?

Com este juro básico, o Banco Central influencia quanto dinheiro os bancos geram. Isso funciona assim: quando aumenta o valor dos juros básicos, os bancos precisam pagar mais pelas suas reservas, seu estoque básico. Fica mais caro. O banco repassa esses custos aos seus clientes, no momento que tomam o crédito. Por isso, os juros dos créditos aumentam e os empréstimos ficam menos atrativos. Menos crédito significa menor geração de dinheiro novo. Com os juros básicos e a porcentagem das reservas exigidas, os bancos centrais controlam quanto dinheiro está sendo gerado pelos bancos privados.

Qual é a função do dinheiro vivo neste sistema? É impresso pelos bancos também?Não. Dinheiro vivo vem exclusivamente do banco central. É parte das reservas. O dinheiro gerado pelos bancos é sempre escritural. É este que só existe em registros eletrônicos, como, por exemplo, nas contas bancárias.

O banco recebe as reservas sem oferecer contrapartida ao banco central?Não, o banco deve comprovar que é merecedor. Quando o banco recebe reservas, deposita valores mobiliários como segurança. Exemplo: papéis do tesouro. Isso é a prova de que um bom devedor, idealmente um Estado, deve dinheiro ao banco.

Os bancos, então, geram dinheiro. Para isso, eles precisam de pequeno lastro junto ao banco central. Eles o recebem quando provam que alguém lhes deve. Então, verdadeiramente, nosso sistema monetário se baseia em corrente de dívidas e promessas de que estas serão pagas? Pode-se dizer que sim. Mas não foi sempre assim. Antigamente havia mais dinheiro vivo, lastro monetário maior. Além disso, existia o padrão ouro.

O que é isso?Na prática, é a cobertura do dinheiro pelo ouro. Até 1971 se podia trocar dinheiro por ouro junto ao FED (Banco Central dos EUA), na base de 35 dólares por uma onça em ouro, exatos 28 gramas. O então presidente, Richard Nixon, cancelou esse sistema. O dólar tinha relação fixa com o ouro. E todas as outras moedas tinham relações estabelecidas com o dólar. A base desse sistema monetário era ouro depositado junto ao tesouro do Banco Central americano.

Se eu for hoje ao Banco Central, recebo algo em troca do meu dinheiro?Não. Antigamente dinheiro representava algo, hoje ele existe por seu próprio direito. Os bancos levavam ouro aos bancos centrais e o trocavam por notas de dinheiro. Hoje os bancos levam dívida aos bancos centrais e recebem suas reservas como contrapartida. Com esse lastro, os bancos

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geram dinheiro escritural. Isso significa crédito, semelhante a novas dívidas.

Então, antigamente tudo era bem melhor.Pare, o padrão ouro falhou em 1971. Também antes, em sua história, foi suspenso inúmeras vezes. Ele não tinha flexibilidade. Só se podia gastar tanto dinheiro quanto ouro havia nos cofres. Mas existem fases em que a sociedade necessita de mais dinheiro do que o ouro disponível permite, quando, por exemplo, é preciso combater crise econômica com investimentos. Ou em situação de guerra, ou quando há mudanças tecnológicas e necessidade de financiar pesquisas importantes. Muitos estudiosos da história da economia acreditam que a industrialização depende, em certas fases, de que haja mais dinheiro investido, do que à disposição no sistema padrão ouro. Atualmente o nosso sistema de geração de dinheiro tem uma grande vantagem: reage flexivelmente às necessidades e desenvolvimento da economia e da sociedade.

Mas, se os fundamentos não são adequados, então estes são castelos de areia?Sim, mas estão funcionando. Pelo menos enquanto a maioria das pessoas acreditarem. O lastro do sistema monetário mundial, hoje, não é mais o ouro, é apenas a confiança. Dinheiro hoje não tem mais lastro. Mesmo assim, todos precisam acreditar nele, para que o sistema funcione.

Confiança? Há anos estamos vivendo em crise econômica!Está certo. A crise de 2008 gerou grande abalo no sistema de confiança. A origem está na excessiva quantidade de crédito oferecido pelos bancos e outras instituições financeiras, nos EUA e na Europa. Esta é a grande desvantagem do sistema atual: ele pode ser bem mais flexível do que o padrão ouro, mas, ao mesmo tempo, facilita o excesso de crédito, isto é, geração de dinheiro. Hoje não há mais limite imposto pelo ouro, o que, consequentemente, mina a confiança sobre a qual o sistema é construído. Foi o que aconteceu durante a crise imobiliária dos EUA: os bancos concederam créditos imobiliários em excesso a devedores com capacidade duvidosa de pagamento. Cada crédito dado é lucro em potencial. Quando os devedores não conseguiram pagar as dívidas, a bolha estourou. Os preços das casas despencaram, as consequências e sofrimentos sociais foram enormes. Então, iniciou-se a longa crise....

Como os bancos centrais estão reagindo?Com os instrumentos que têm à disposição, especialmente com a redução do juro básico. Ele atingiu níveis históricos baixos, próximos a 0%, na região do Euro. Isso deveria fazer com que os tomadores de crédito fossem inundados com créditos baratos e dinheiro disponível. Porém, isso gera o próximo problema: desde a crise, os

instrumentos monetários dos bancos centrais não estão funcionando como esperado. Parece que estão perdendo o controle sobre a geração de dinheiro. Créditos, quantidade monetária, inflação, economia, mesmo com as intervenções, não estão crescendo conforme esperado. Somente os valores das ações e de outros bens estão subindo. O BCE está experimentando medidas nunca antes vistas, como taxa de juros negativos e compra direta de papéis. Tudo sem sucesso. Em março deste ano, o presidente do BCE, Mario Draghi, respondeu à pergunta de um jornalista dizendo que estão estudando o conceito do helicopter-money. Isso significaria que cada europeu receberia dinheiro do BCE na sua conta corrente. Ainda há pouco, a simples menção de algo assim já era considerada tabu. Alguns dizem que o volume das dívidas, neste nosso sistema, cresceu demais. Os limites foram atingidos. Estamos perdendo a base da confiança, que era o substituto do padrão ouro.

E agora, o que devemos fazer?As tentativas de restabelecer a confiança estão caminhando em várias direções. Muitos têm saudades dos tempos em que dinheiro não era somente assegurado pela confiança – como antigamente, quando existia o padrão ouro. Outras mudanças acontecem em nichos; assim, por exemplo, na internet, no sistema de pagamento digital Bitcoin.

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O que é isso mesmo?Bitcoin é uma moeda criptografada. Ela foi desenvolvida e lançada em 2008 por alguém com o pseudônimo Satoshi Nakamoto, cuja identidade até hoje é desconhecida. Bitcoin não é, como as outras moedas, organizada por Estados ou banco centrais, mas sim pelo universo de seus usuários. Com base em protocolo computadorizado, que dita as regras, todos os usuários se autocontrolam e regulam (conceito de Blockchain). Bitcoin, pode-se dizer, é um tipo de Wikipedia em formato de dinheiro.

Muito bem, mas como o Bitcoin representa mais do que só confiança?A diferenciação é que Bitcoin dispõe de trava automática de limitação de quantidade. A rede atribui este limite de modo imutável. Atualmente existem cerca de 15,8 milhões de Bitcoins, e a cada dez minutos novos 12,5 são gerados. Até o ano 2035, prevê-se que 99% de todos os possíveis Bitcoins, ao todo 21 milhões, serão gerados por computadores com alta capacidade matemática. Isso foi o que Nakamoto programou. O crescimento da quantidade desacelera com o tempo, sem oscilações. Assim, Bitcoin pode ser visto como o padrão ouro da era digital. Só que não é o metal precioso que restringe a quantidade, mas a programação técnica imutável. Bitcoin é cunhado em pedra digital, de acordo com Johannes Grill, da

associação Bitcoin Austria.

Pare! O protocolo escrito por um internet-freak anônimo é a garantia?Muitos acreditam nisso. A demanda por Bitcoin é enorme, como mostra sua relação com o Euro. Em 2013 um Bitcoin valia 50 Euros, hoje 500+ Euros.

Então podemos transformar Bitcoin na nova moeda mundial? Bem, após algum tempo teremos novamente um velho problema: o que acontece se precisarmos de mais dinheiro do que o sistema fornece? Como no passado com o ouro, somente se pode produzir quantidade limitada de Bitcoins. É provável que este padrão tenha destino parecido com o do ouro. Bitcoin funciona como um programa de nicho.

Que complicado... Não existe outra solução?Alguns desejam uma reforma do universo financeiro, como o sociólogo alemão Joseph Huber, que está pleiteando o chamado sistema monetário pleno (Vollgeld). Neste conceito, os bancos não podem mais gerar dinheiro escritural. Todo dinheiro será equivalente às reservas hoje e, assim, a porcentagem das reservas seria de 100%. Isso significa que os bancos somente darão como crédito os recursos efetivamente recebidos pelo banco central. Assim, o banco central controlaria diretamente a quantidade monetária e nenhum

“BITCOIN NÃO É, COMO AS OUTRAS MOEDAS,

ORGANIZADA POR ESTADOS OU BANCO CENTRAIS, MAS

SIM PELO UNIVERSO DE SEUS USUÁRIOS. “

Planejamento Financeiro Pessoal

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sistema econômico-financeiro alternativo adequado para o futuro da humanidade. Ele chama atenção, porém, pela abrangência do questionamento do sistema atual. seus detalhes e possíveis riscos, que raramente incluímos na análise financeira e na discussão do planejamento do futuro dos nossos clientes. Hoje, especialmente, os clientes com atividades transnacionais necessitam de discussão ampliada sobre as possíveis mudanças e riscos do sistema financeiro e seu futuro na sociedade.

banco poderia dar créditos em excesso. Na opinião dos defensores desse sistema, bolhas financeiras e perda de confiança seriam história.

Parece bom, mas difícil de ser realizado.A mudança do sistema monetário seria profunda, fundamental e, certamente, não bem aceita pelos bancos. Além disso, fica aberta a questão de como, neste sistema monetário pleno, será determinado o aumento da quantidade de dinheiro em circulação. Não existe algo mais realista, para melhorar a confiança no nosso sistema monetário?Nosso sistema atual abriga uma tendência ao excesso. Por isso, é importante reconhecer, o quanto antes, sinais de bolhas financeiras, na tentativa de evitar estouros. Uma alternativa possível é a observação detalhada da formação de preços, para intervenção pontual; por exemplo, quando preços imobiliários subirem demais, restringir os respectivos créditos. Outra alternativa é instruir os bancos a financiarem seus negócios com menos dívidas, mas com mais capital de seus próprios acionistas. Algumas dessas tentativas já existem desde a crise financeira, tanto em nível global quanto europeu. Sempre que o dinheiro cumpre sua função sem transtornos, desaparece a necessidade de estar ancorado. Como mencionado, entendo que o artigo não tem o objetivo de concluir qual seria ou se, de fato, existe

Mais de 35 anos de experiência profissional em mercados financeiros brasileiro e europeu, com amplos trabalhos e conhecimento internacional.

Iniciou carreira no Deutsche Bank, no Brasil; trabalhou no Citibank, no Brasil e na Alemanha; assumiu gerências da filial de trade finance do Banco Real na Alemanha e, após retorno ao Brasil, do setor European Corporates; posteriormente, da área de private banking, no Bank Boston, Brasil.

Ulf Mannhardt, CFP ®

Em 1999, assumiu a implantação da filial brasileira do Grupo Amicorp e, em 2005-2006, da filial em Santiago, no Chile. Atuou e liderou, como managing director, serviços financeiros independentes e negócios de estruturação empresarial no grupo Amicorp, no Brasil, por 14 anos, até dezembro 2013.

Atualmente trabalha como especialista independente em planejamento financeiro e estruturação transnacional. Atua com foco no cliente, confiança mútua, transparência e parceria. Conforme a necessidade, consulta outros especialistas, relevantes para o sucesso no desenvolvimento e implementação da estratégia e/ou do plano financeiro individual.

Reside em Viena, Áustria, e trabalha especialmente com clientes particulares e empresariais, relacionados direta e/ou indiretamente com o Brasil.

Em 2000, foi cofundador do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros – IBCPF, em que atuou como diretor voluntário (2000 a 2009) e presidente (2010 a 2013). Mantém dedicação e proximidade com o Instituto, dando continuidade ao compromisso com a profissão, e representando, voluntariamente, a comunidade brasileira de planejadores financeiros junto ao FPSB-Financial Planning Standard Board, organização global que supervisiona esta nova profissão, em crescimento mundialmente.

Entre seus os estudos, concluiu MBA em Finanças, pelo IBMEC, São Paulo-Brasil, em 1989, e o Programa Executivo Sênior – SEP, na London Business School, Londres, em 2013.

A primeira Franquia de Planejamento Financeiro do BrasilAcreditamos que todas as pessoas devem ter Segurança, Tranquilidade e Prosperidade em suas vidas.

Qual é o seu Plano?www.guidelife.com.br

Conduta Profissional

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PROFISSIONAL CFP® – SER OU NÃO SER? E O QUE ISSO ME FAZ DIFERENTE?

Quando pensava sozinha sobre a coluna da CFP® Professional Magazine relativa à conduta profissional, meus pensamentos giravam em turbilhão, por conta de tantas ideias tentando prevalecer como linha mestra. Um dos principais questionamentos se referia ao dilema “escrever algo dentro do manual” ou “expor o que eu realmente penso”. Afinal, uma publicação deste porte, e com a profundidade que pretendemos, não pode ter seu conteúdo reduzido a relatos de seus associados – a menos que realmente esse tipo de texto tenha utilidade prática, além de um mero “detox” emocional do autor! Com grande frequência, escuto profissionais de diversas áreas reclamarem que seriam “obrigados” a obter a certificação, ou que a prova seria cheia de “pegadinhas”, ou ainda (o que me deixa “enfurecida” e me motivou a escrever...rs) que diferença faria em sua vida ser um profissional CFP®.Assumindo o risco de ter o texto criticado pelo Conselho Editorial desta publicação, responsável

por zelar pela qualidade técnica e utilidade do material, escolhi o arriscado caminho de falar sobre o meu dilema profissional: CFP® – ser ou não ser? Nesse ponto, alguns leitores questionarão se o autor não é certificado... Sim, sou certificada desde o exame de novembro de 2007, segundo ano em que a Planejar aplicou as provas no Brasil. Ocorre que essa questão sobre ser ou não certificado vai muito além do título ou da marca que ostentamos em nossos cartões corporativos ou no discurso do dia a dia profissional. Como assim? Você está em alguma das áreas relacionadas ao planejamento financeiro pessoal, ouviu falar da certificação, se preparou e participou do processo porque lhe disseram (ou convenceram) que sempre é bom ter uma certificação internacional – pois dá status?

Bem, pode ser que você seja funcionário de uma instituição financeira que tenha se comprometido com seu autorregulador a ter um mínimo de certificados na equipe que atende os clientes – como ocorre com boa parte dos Private Banks que aderem ao Código de Melhores Práticas da Anbima –, e então você se sente obrigado a se certificar, sem nenhum elã (palavra antiga e culta para descrever uma emoção comumente expressa por outro vocábulo, iniciado por “t”...rs). E há gente como você que soube da existência de uma certificação internacional que distinguia os profissionais por aspectos que, na sua visão, fazem toda a diferença: profundidade em conhecimentos técnicos, elevados padrões éticos, colocando o cliente em primeiro lugar e procurando, a todo o momento, alternativas que realmente façam a diferença, para melhor, na vida das pessoas.

Esse último profissional também tem humildade em reconhecer que não entende profundamente de todos os assuntos que orbitam o universo

GISELE COLOMBO DE ANDRADE, CFP®

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do planejamento financeiro pessoal, mas, como participa da associação de profissionais certificados, sabe que pode contar com sua rede para ajudar a resolver as questões que encontra na vida de seus clientes. O grande mistério, para muitos que não fazem parte desta irmandade, consiste na surpresa ao constatar que você indicou outros profissionais para ajudar a compor a solução para o “seu” cliente – esse colega pode “roubar seu relacionamento! Que absurdo!” Nesse ponto, começamos a entender a diferença entre SER um planejador financeiro CFP® ou apenas ostentar a marca em seu cartão. Convido você a iniciar, comigo, a solução desse dilema, sabendo de antemão que poderemos escolher caminhos diferentes, baseados em nossa formação, nossas crenças e experiências pessoais. Se eu me certifiquei, assinei um Código de Ética onde assumi compromissos com a diligência, a transparência, a qualidade técnica, a objetividade e, acima de tudo, em colocar os interesses do cliente em primeiro lugar.

Crendo que realmente tudo isso é verdadeiro, devo avisar o cliente sobre minhas limitações técnicas e

a necessidade de incluir um ou mais profissionais especialistas naquele determinado trabalho. Se o cliente já contar com alguém que seja adequado e de sua confiança, cabe a mim interagir com esse profissional para estruturar a melhor alternativa. Quando o cliente precisa de indicação, devo fazê-la de maneira crítica, explicitando os “porquês” de estar recorrendo a determinado profissional e fornecendo informações transparentes sobre qualquer remuneração que eu possa receber por estar fazendo tal recomendação. Nessas situações, o profissional CFP® se equipara a um maestro: ele precisa coordenar vários músicos tocando instrumentos diferentes, muitos dos quais ele não conhece bem, mas continuará sendo dele o conhecimento da peça completa a ser executada e será aplaudido – ou não – pela sabedoria em harmonizar todos os outros artistas para compor o resultado final da apresentação. Uma postura como essa gera credibilidade e confiança; portanto, o cliente não irá traí-lo (se assim se pode dizer) com o profissional que você indicou. Ele irá agradecê-lo! Isto é SER um planejador financeiro CFP®!

Abordarei uma outra situação com a qual convivo rotineiramente: a venda de produtos. Ouvi, por inúmeras vezes, críticas sobre esse assunto e com

argumentos que me parecem religiosos frutos de fanatismo e não racional análise dos fatos: quase todas as soluções envolviam o consumo ou aquisição de um produto! Não tem jeito! Entretanto, o ponto central da discussão me parece outro e, muitas vezes, acaba sendo evitado – trata-se da adequação do produto. Ao falarmos sobre esse tema, não penso ser razoável reduzir os problemas a preços, como é muito comum no mercado financeiro, de seguros ou mesmo dos serviços nas áreas relacionadas ao direito e à psicologia. Há, sim, estruturas bastante sofisticadas que têm custo elevado – incluindo inteligência – e estas precisam ser remuneradas. Mais preocupante talvez seja a comercialização de produtos sem o profundo conhecimento de suas características, combinada com a oferta a clientes desinformados e sem as condições estruturais de adquiri-los. Ou seja, quando um profissional “empurra” para um cliente desavisado algo que não lhe serve e, ainda, pode lhe causar transtorno. Essa prática ainda é corriqueira entre profissionais certificados com pouca convicção e sob pressão de metas e rankings.

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Nessa hora eu lhe pergunto (seja sincero): CFP® – ser ou não ser?

Agora que você respondeu – eu deixei duas linhas em branco para você pensar – vou emitir minha opinião nada modesta (quem me conhece sabe que essa virtude realmente não me acompanha, pena, rs...). Acredito firmemente ser possível conciliar a conduta esperada de um verdadeiro profissional CFP® com a venda de produtos. Explico-me. Toda empresa tem suas metas de produtos e de resultados, por questões de estratégia, participação no mercado e retorno financeiro; porém, para ter o mencionado retorno, é de absoluta necessidade que haja clientes a servir! Por “servir” entendendo o sentido de prestar serviços de elevado valor agregado e qualidade (bem longe do significado de ser servil ou subserviente), quanto mais bem atendido em suas necessidades, maior reciprocidade natural haverá entre o cliente, você e sua empresa.

Pela minha experiência – já longa, diga-se – o cliente

percebe quando você procura ouvi-lo, entendê-lo e, a partir disso, apresentar propostas com objetivo de atender a uma necessidade ou planejamento. Ele valoriza isso. Como consequência desta forma de atuar, você terminará por “vender” um ou mais produtos que farão parte da solução proposta para seu cliente, e todos, você, seu cliente e sua empresa, sairão ganhando. A discussão de preço será mais justa, pois você conseguirá argumentar, a seu favor, sobre o valor de uma consultoria bem feita e o quanto ela agregará ao resultado final. Sempre considerei que, para ter essa independência profissional – fosse atuando como autônoma (só fiz isso por um ano!), fosse como parte de uma empresa pequena ou em uma grande instituição financeira (meu caso em 99% da minha vida) –, eu precisaria de muitas convicções. É necessária uma dose de coragem para ficar “zerado” num ranking de produção em cujo produto você não acredita. Imprescindível ter em mente que sua vida profissional vai além do “emprego” nesta ou naquela empresa, e ter convicção de que seu nome É a sua marca e você irá levá-lo consigo por toda a vida.

“O CLIENTE PERCEBE QUANDO VOCÊ PROCURA

OUVI-LO, ENTENDÊ-LO E, A PARTIR DISSO,

APRESENTAR PROPOSTAS COM OBJETIVO DE ATENDER

A UMA NECESSIDADE OU PLANEJAMENTO. ELE

VALORIZA ISSO.“

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Em minha vivência, sempre fui uma profissional CFP®, ainda antes de conhecer a certificação. Talvez por isso, em alguns momentos, minha carreira corporativa não tenha evoluído como eu imaginava – nesse ambiente, ter convicções pode atrapalhar. Porém, quando mantenho contato com pessoas que atendi há quinze anos, que até hoje me consultam em situações importantes – mesmo que não sejam clientes da instituição onde trabalho – percebo que vale a pena. Fui colecionando amigos ao longo da vida. Há ainda algo relevante a falar – o cumprimento das metas. Quando se age de maneira diligente e transparente, termina-se premiado com a preferência do cliente pelos serviços oferecidos. Isso traz, de forma automática, o cumprimento das metas (mesmo considerando alguns produtos que não se vai mesmo utilizar e cujos rankings o deixarão zerados). Pode acreditar! Quase me esqueci de um ponto fundamental: a prática da transparência com o cliente. Várias vezes fui criticada por negociar o “spread” de operações financeiras com os clientes: você fala quanto está cobrando? Sim. Toda atividade tem seu custo e seu preço

– gosto de que o cliente perceba o valor do que faço. Trabalho voluntário eu faço, mas no dia a dia nossa atuação deve ser reconhecida e remunerada. E sempre pergunto aos clientes se esperam pagar preço popular por carro de luxo... claro que não! Nessa nossa conversa, já colocamos vários pontos para reflexão sobre o que somos e se queremos ou não representar, de fato, aquelas três letrinhas da nossa certificação. Examine sua consciência, observe seu entorno, faça sua opção. Acredito muito em nossa atividade. Estava participando ativamente na Planejar quando publicamos a frase que é nossa visão institucional: “Planejamento financeiro transforma a vida das pessoas”. Por isso trabalho muito divulgando nossa marca e nossos padrões de atuação. Planejadora Financeira CFP®, ser ou não ser...não tenho dúvida...já nasci certificada! E você?

É planejadora financeira CFP® desde 2008. Trabalha no mercado financeiro em instituições de grande porte desde 1988, desenvolvendo diversas atividades em Private Bank nos últimos 16 anos. Atuou como voluntária em Comissões na Planejar, ocupando dois mandatos como Diretora da Associação integrada à comissão de Comunicação de Marketing. Participou de uma ONG voltada à educação de crianças e adolescentes, onde ministra de tempos em tempos palestras com conteúdo de Educação Financeira visando complementar os requisitos mínimos para o exercício de cidadania.

Gisele Colombo de Andrade, CFP®

A Vida Como Ela É

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A VIDA COMO ELA É

Sou planejador financeiro CFP® desde 2011 e busquei a certificação para complementar minha formação e o serviço que eu já oferecia como AAI em uma corretora. Já sentia que o mercado caminhava no sentido de buscar a isenção de conflitos de interesses e sabia que a remuneração por comissionamento se tornaria mais questionável com o passar do tempo.

Hoje, mais de 5 anos depois, consigo ver que mirei em um alvo e acertei outro. Ainda é comum a profissão do AAI comissionado e com taxas “ocultas”, porém minha carreira caminhou muito bem, com o reconhecimento de meu esforço por oferecer um serviço isento. Para tanto, a certificação CFP® foi crucial.

Dito isso, vou agora contar um pouco mais como é a vida profissional de um planejador CFP® no estado de Minas Gerais, principal região de atuação da minha empresa e, consequentemente, minha também. Como era autônomo, já estava acostumado à vida sem salário definido e sem muita estabilidade

financeira. Em um primeiro momento, após a certificação, comecei a oferecer o serviço de consultoria em planejamento financeiro. A ideia era fazer planejamento para clientes que até então chagavam à corretora buscando “fazer render mais” uma quantia que já possuíam em aplicações como poupança ou CDBs mal remunerados em bancos comerciais. Meu trabalho era mostrar que não bastava encontrar a aplicação que pagasse mais; era preciso entender onde se buscava chegar com aquele investimento. Palavras como liquidez, risco de crédito, volatilidade, marcação a mercado, entre outras, começaram a fazer parte do meu vocabulário cotidiano com os clientes.

Embora o trabalho fosse muito bem reconhecido por todos que o “provavam”, ainda era muito difícil conseguir novos clientes. Por quê? Daí entramos no que me parecia ser um traço dos mineiros com que lidava: embora ele se atente às taxas e a cada centavo do que paga, os mineiros adoram uma taxa embutida/oculta. Sinto que o sentimento é de “tirar vantagem” ou de “não ser passado para trás”. De

qualquer maneira, essa é uma percepção minha e não um fato. O que posso citar como fato é que grande parte da venda desse tipo de consultoria era prejudicada por muitos clientes não perceberem valor na terceirização/profissionalização da tomada de decisão financeira. É sempre muito presente o sentimento de que “posso fazer sozinho”. Se a taxa é oculta, fica a sensação de ter ocorrido uma “ajudinha” de um profissional. Isso era visto até mesmo em outras áreas do mercado financeiro como, por exemplo, em mesas de renda variável. Não raro os clientes conversavam por vários minutos com o broker e, na sequência, desligavam e realizavam a transação pelo Home Broker para pagar uma corretagem menor. Por outro lado, posso citar um detalhe muito gratificante. O cliente mineiro é muito fiel. Se ele gosta do seu trabalho, dificilmente trocará de prestador de serviço por uma questão de custo. Num linguajar mais direto, poderia dizer que não é taxeiro, uma vez que já tenha decidido contratar o seu serviço. Difícil de contratar, difícil de demitir

Lucas Radd, CFP®

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– é como eu explicaria. Ainda hoje possuo clientes que começaram em 2011 e, apesar dos aumentos dos meus honorários, em razão do incremento de outros benefícios, continuaram sendo assíduos e indicando muitos outros amigos e conhecidos.

Tendo-se abordado essa questão do pagamento, o que dizer da questão cultural? Algumas adaptações são sempre necessárias em qualquer local, imagino. Um traço que entendo ser de todos os brasileiros, mas um pouco exacerbado em Minas Gerais, é a paixão pela liquidez. E tenho a opinião de que esse aspecto está diretamente ligado a outra grande paixão do mineiro: os imóveis. O estado tem uma cultura imobiliária enorme e, mais do que no resto do país, quando se fala em investimento, fala-se em imóvel. Pode ser um lote, um apartamento na planta, uma loja ou uma sala; se for de tijolo, vai ser um sucesso. Cabe aqui a pergunta: Lucas, como se liga liquidez a imóvel? Simples. A tradição é acumular dinheiro em investimentos financeiros até o momento em que surgir uma “oportunidade” em um imóvel. Daí a constante preocupação em investimentos com altíssima liquidez, pois um mineiro ficaria extremamente contrariado se perdesse uma compra de um imóvel por ter algum tipo de carência em suas aplicações financeiras.

Tudo isso mostra a importância de uma educação financeira extensiva e um entendimento

bastante aprofundado, a meu ver, em finanças comportamentais. É preciso endereçar os conflitos e vieses inerentes aos clientes de forma educativa e respeitosa, pois muitas vezes eles não serão receptivos. Afinal, estaremos lhes dizendo que aquela estratégia que funcionou muito bem para seu pai ou avô pode não funcionar tão bem para eles. E, para isso, precisamos demonstrar a evolução do país, do mercado financeiro e imobiliário sem parecer estar dizendo que os seus queridos parentes “deram sorte”.

Dentro desse tema – parentes, pais e avós –, há mais um aspecto cultural que talvez valha a pena ressaltarmos. Ao contrário do que ocorre em outras regiões do país, o mais velho é visto como experiente e não como ultrapassado. De maneira prática, isso se reflete na tomada de opinião dos pais antes da decisão de contratação do serviço de consultoria ou quase qualquer decisão financeira. É impressionante como isso acontece com qualquer jovem. Posso dizer que até 35 anos é praticamente certo que o mineiro não fechará uma contratação dessa natureza na primeira reunião ou antes de conversar com alguma pessoa mais velha tida como referência. E qualquer pressão por um fechamento imediato não terá nenhum efeito positivo, sendo provável uma desistência. O pensamento costuma ser: “ Por que ele está insistindo tanto? Aí tem coisa...”

Dessa forma, sempre tive uma base de clientes de crescimento contínuo e exponencial. Isso porque uma forma poderosa de captação de clientes é a indicação. Em qualquer lugar do mundo penso que a indicação funciona bem, mas em Minas é quase uma certeza de venda. Assim, cuidar da sua reputação com a clientela, oferecer “um pouco a mais” do que o que foi contratado e solicitar indicações ativamente são a chave do sucesso.

Mas como trabalhar a indicação nos nossos tempos? Na minha opinião, nosso grande trunfo são as redes sociais. Seja com uma página no Facebook, Linkedin, um perfil no Instagram ou por um blog. Se um grande marketing sempre foi ser colunista de um jornal, crie seu próprio jornal nessas mídias e alimente a audiência interessada com conteúdo relevante.

Os grandes nomes do marketing sempre ressaltaram vários princípios que ajudam a criar uma boa reputação e alavancar as vendas, dentre os quais, dois muito importantes são a validação social e a autoridade. A primeira é a indicação: se alguém nos valida ou ao nosso serviço, temos muito mais chances de vender. Já a autoridade pode ser construída mediante exposição em meios conhecidos, como jornais, revistas e, obviamente, internet. Isso porque passam a nos entender como um perito da área em que estamos falando pelo

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fato de alguma mídia ter confiado em nós.

As redes sociais permitem atacarmos esses dois vetores imediatamente. Quando alguém curte a sua publicação, faz uma pergunta, vê o seu vídeo e o compartilha ou recomenda aos seus seguidores/amigos, está exatamente fazendo a validação social e reforçando a sua autoridade enquanto especialista na área. Obviamente, é um trabalho que demanda tempo e esforço, mas sem dúvida nenhuma é mais eficiente do que publicidades pagas em meios impressos.

Direcionando esse aspecto para o mercado mineiro, o mais importante é abordar os assuntos da maneira culturalmente aceitável. O que quero dizer com isso? É muito mais fácil falar sobre LCIs e fundos imobiliários e ressaltar a isenção de IR, do que entrar na discussão sobre como imóveis podem, algumas vezes, ser uma escolha ruim. Em um primeiro momento, falar sobre assuntos em que concordamos com a audiência ajuda bem mais. Em um segundo momento, podemos partir para um tema mais polêmico para atrair atenção com a quebra de paradigmas.

Enfim, o que percebi como Planejador CFP® em um mercado fora de SP e RJ é que os desafios são bem maiores e, portanto, as recompensas também. Espero, enquanto profissional da área,

divulgar a certificação para que o mercado mineiro avance em termos de educação financeira e para que possamos criar um mercado financeiro mais construtivo, transparente, dinâmico e com mais opções de investimentos. Em resumo, contribuir mais para os clientes e colegas de profissão para que também nós possamos crescer enquanto profissionais.

Lucas Radd, CFP ®

Lucas Radd é Economista pela UFMG, pós graduado em finanças pela FDC,Gestor de Carteiras autorizado pela CVM e Planejador Financeiro CFP® desde 2011

“TUDO ISSO MOSTRA A IMPORTÂNCIA DE UMA

EDUCAÇÃO FINANCEIRA EXTENSIVA E UM

ENTENDIMENTO BASTANTE APROFUNDADO, A MEU

VER, EM FINANÇAS COMPORTAMENTAIS.“

Investimento Social

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INVESTIMENTO SOCIAL CENÁRIO E O PAPEL DO PLANEJADOR FINANCEIRO

VALORES FAMILIARES, RELIGIÃO, AUSÊNCIA DE HERDEIROS... enfim, são inúmeras as experiências de vida que podem “acender a chama” do altruísmo e o interesse pelo investimento social privado por parte dos nossos clientes.

Uma pessoa se torna um INVESTIDOR SOCIAL quando tem PAIXÃO POR UMA CAUSA e condições de contribuir para a sociedade com seu patrimônio material e imaterial. Não se trata de caridade; como disse o empresário e filantropo norte americano George Soros: Não estou fazendo meu trabalho filantrópico por desencargo de consciência ou para ter boas relações públicas. Estou fazendo porque eu posso pagar por ele e porque eu acredito nele.

Para as famílias de elevado patrimônio que obtêm sucesso nesse tipo de empreitada, existe a percepção de pertencimento à realidade, e são inúmeros os casos de real transformação de indivíduos em função do aprendizado no investimento social, que muitas vezes colabora para a solução de problemas que o setor público

não consegue resolver sozinho.

Quando trazemos essa necessidade para a realidade da consultoria financeira e patrimonial, deparamo-nos com diversos instrumentos que permitem a planejamento filantrópico.

Desde simples DOAÇÕES, passando por apoio a projetos mediante DEDUÇÃO NO IR (PF e PJ), chegando nos INVESTIMENTOS DE IMPACTO ou até mesmo a constituição de ASSOCIAÇÕES e FUNDAÇÕES, cada alternativa deve ser analisada à luz dos objetivos da família considerando valores envolvidos, aspectos tributários, sucessórios, de governança, de transmissão de legado, societários, entre outras questões particulares de cada cliente.

É também importante lembrar que não deve existir transposição dos limites do consultor financeiro e patrimonial, que deve ter plena clareza da sua função de conselheiro de confiança na tomada de decisões de seus clientes, ATUANDO, QUANDO NECESSÁRIO, EM CONJUNTO COM

ESPECIALISTAS em filantropia e projetos do terceiro setor, tributação, contabilidade, entre outros.

O apoio de consultorias especializadas tende a potencializar o caráter transformador das ações filantrópicas, e existem alguns tipos de assessoria que podem ser prestadas à família, desde a ESTRUTURAÇÃO DE SOLUÇÕES, PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, CAPACITAÇÃO EM ISP, APOIO OPERACIONAL na implantação de projetos até a AVALIAÇÃO DE RESULTADO E IMPACTO dos investimentos sociais.

A seguir, convidamos Raquel Coimbra, Diretora de Projetos do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – para um bate-papo sobre os principais aspectos do investimento social privado no Brasil.

FP: O QUE É INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO (ISP)?RC: Trata-se da alocação voluntária (sem

Feliphe Pereira, CFP® e Raquel Coimbra, IDIS

Investimento Social

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obrigação legal) e estratégica de recursos privados (por exemplo: dinheiro, bens imóveis, know-how etc.) para o benefício público. Enquanto o assistencialismo é reativo e não ataca a raiz dos problemas socioambientais, o ISP busca transformar a realidade, busca mudar o status quo.

FP: E FILANTROPIA?RC: Em muitos países o termo investimento social privado não existe e o conceito utilizado é filantropia. Entretanto, como a palavra filantropia passou a ser confundida com assistencialismo no Brasil, criou-se o termo investimento social privado para denotar um investimento de cunho estratégico, que busca resultados e impactos socioambientais.

FP: QUEM É O INVESTIDOR SOCIAL PRIVADO BRASILEIRO?RC: São famílias de alto poder aquisitivo, concentradas em aproximadamente 0,08% da população brasileira, e que acumularam suas riquezas junto ao setor industrial e financeiro.

Estima-se hoje em 300 o número de famílias investidoras sociais atuantes no Brasil, as quais focam seus investimentos principalmente em educação de crianças e adolescentes, saúde, empreendedorismo, meio ambiente e desenvolvimento comunitário.FP: QUAIS SÂO OS PRINCIPAIS ASPECTOS QUE

ENVOLVEM AS DECISÕES SOBRE INVESTIMENTOS SOCIAIS?RC: As decisões provêm de uma equação entre o racional e o emocional. Isso porque as motivações que estão por trás desses investimentos sociais são guiadas por valores familiares, em que a formulação da atividade filantrópica sofreu influência de modelos dos pais, avós e outros membros da família.

Outros motivos também de ordem subjetiva que desencadeiam as ações sociais familiares são:

• Transferência intergeracional da tradição de doar;• Vontade de resolver os problemas

socioambientais, apoiar uma causa para “fazer a diferença”;

• Vontade de “devolver” para a sociedade o êxito pessoal e/ou econômico obtido;

• Trajetória de vida difícil (por exemplo: caso de doença ou morte no círculo familiar/social);

• Obrigação moral, motivo individual ou filosófico; e

• Religião.

Além disso, um outro motivo que move essas pessoas é o sentimento de compromisso com a causa, ou seja, uma verdadeira paixão pelo que se está fazendo.

Elie Horn (em pé à esquerda), fundador da Cyrela, declarou em 2015 ter assinado o Giving Pledge, iniciativa criada por Warren Buffet, Bill e Melinda Gates, que reúne um grupo de bilionários dispostos a investir metade de suas fortunas em causas sociais ao longo de suas vidas. Até o momento, Elie Horn é o único brasileiro que aderiu à iniciativa, comprometendo-se a doar 60% do seu patrimônio em vida. Demais filantropos da foto: Ana Maria Diniz, Beatriz Gerdau, Inês Mindlin Lafer, Ana Lucia Villela e Guilherme Leal.

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FP: QUANTO INVESTEM ESTAS FAMÍLIAS?RC: O valor varia bastante dependendo do critério adotado pela família, são exemplos:

• Percentual de rendimentos anual;• Percentual do patrimônio total; • Valor necessário para a manutenção da

qualidade das ações sociais; e Valor referente a um filho extra na divisão da herança.

O valor médio doado em 2015 pelas famílias de filantropos brasileiros foi de R$ 5,7 milhões.

FP: QUAL A EVOLUÇÃO OBSERVADA NOS INVESTIMENTOS SOCIAIS NOS ÚLTIMOS ANOS?RC: Sabe-se que em 2015 o valor total das doações individuais no país atingiu o montante de R$ 13,7 bilhões. Não obstante, o Brasil não possui uma série histórica que permita análise da evolução do investimento social privado nos últimos anos, especialmente das famílias de alto poder aquisitivo.FP: QUAIS SOLUÇÕES COSTUMAM SER ESTRUTURADAS PARA AS FAMÍLIAS?RC: As soluções mais comuns são a constituição de:

• Associações sem fins lucrativos (Institutos);• Fundações; e • Fundos Patrimoniais (Endowment Funds).Ao estabelecer uma Associação, uma Fundação

ou um Fundo Patrimonial, a família acaba institucionalizando o seu investimento social privado e ao mesmo tempo proporcionando controle e transparência à gestão do ISP. Por meio do estabelecimento de um destes veículos, a família declara um compromisso de longo prazo com a sociedade, cria a oportunidade de construir uma inteligência social própria e aumenta a sua

capacidade de mobilização de recursos, inclusive por meio de incentivos fiscais.

A Associação tem fins definidos pelos associados no seu Estatuto Social, podendo ser alterados pelos mesmos a qualquer momento. Não há exigência de patrimônio mínimo para a sua constituição. A Fundação tem finalidade imutável, obrigatoriedade

FINALIDADE PATRIMÔNIMOMÍNIMO FISCALIZAÇÃO

INCENTIVOS FISCAIS (IMPOSTO

DE RENDA)

ASSOCIAÇÕES/INSTITUTOS

FINS PRÓPRIOS, CONFORME DEFINIDO PELOS ASSOCIADOS;

FINS ALTERÁVEIS

NÃO HÁ EXIGÊNCIA DE PATRIMÔNIO/ RECURSOS

MÍNIMOS PARA CONSTITUIÇÃO

COMPETE AOS PRÓPRIOS ASSOCIADOS

P/ EMPRESAS E INDIVÍDUOS (P/

INDIVÍDUOS SOMENTE NAS CAUSAS: CRIANÇA E

ADOLESCENTE, IDOSO, CULTURA, ESPORTE,

CÂNCER E DEFICIÊNCIA)

FUNDAÇÕESFINS ALHEIOS, CONFORME DESEJO DO INSTITUIDOR;

FINS IMUTÁVEIS

PATRIMÔNIO MÍNIMO É UM COMPONENTE SINE QUA

NON A SER ALOCADO PELO INSTITUIDOR

COMPETE AO MINISTÉRIO PÚBLICO

P/ EMPRESAS E INDIVÍDUOS (P/

INDIVÍDUOS SOMENTE NAS CAUSAS: CRIANÇA E

ADOLESCENTE, IDOSO, CULTURA, ESPORTE,

CÂNCER E DEFICIÊNCIA)

FUNDOS PATRIMONIAIS

SUSTENTABILIDADE DE CAUSA(S) POR MEIO DA

UTILIZAÇÃO DOS RENDIMENTOS

SIM, NO CASO DE SER UMA FUNDAÇÃO

COMPETE AO MINISTÉRIO PÚBLICO, NO CASO DE

FUNDAÇÕES

P/ EMPRESAS E INDIVÍDUOS (P/

INDIVÍDUOS SOMENTE NAS CAUSAS: CRIANÇA E

ADOLESCENTE, IDOSO, CULTURA, ESPORTE,

CÂNCER E DEFICIÊNCIA)

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de patrimônio mínimo e é fiscalizada pelo Ministério Público.

O Fundo Patrimonial, por sua vez, consiste em um fundo cujo valor principal é preservado perpetuamente para que apenas os rendimentos sejam utilizados em investimento social. De acordo com a legislação vigente, um Fundo Patrimonial pode ser criado por meio de uma Associação ou de uma Fundação. Existem projetos de lei em trâmite no Congresso Nacional que visam “blindar” o Fundo Patrimonial para dar mais segurança ao investidor e que também preveem incentivos fiscais como estímulo à constituição de fundos volumosos.

A gestão do patrimônio das Associações, Fundações e, em especial, dos Fundos Patrimoniais é um nicho para o setor financeiro e uma oportunidade que ainda pode ser bastante explorada (por exemplo, oferta de taxas e produtos especiais).

Vale ressaltar que a constituição de um veículo não é pré-requisito para o investimento social privado familiar acontecer.

FP: QUAL A IMPORTÂNCIA DE ESTIMULAR E ORIENTAR FAMÍLIAS A FAZEREM INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO? RC: O Brasil representa uma das maiores economias mundiais e é o 16º país com o maior número high-

net-worth individuals. Ao mesmo tempo, ocupamos a 75ª posição do Índice de Desenvolvimento Humano, posição pior que a do Sri Lanka, Venezuela e Irã, algo que parece ser contraditório ante a riqueza nacional.

Estamos consolidando no país a consciência de que as complexidades e iniquidades do mundo contemporâneo não serão resolvidas somente pelos Governos e/ou Organismos Internacionais.

Estamos cada vez mais convencidos de que o papel do setor filantrópico em prol do desenvolvimento socioambiental será fundamental para o futuro das próximas gerações. Vide o exemplo de todo o trabalho da Bill & Melinda Gates Foundation na África, em especial com prevenção e tratamento de aids, tuberculose e malária. Há um forte movimento pelo desenvolvimento do investimento social privado e pela cultura de doação no país. O profissional CFP® pode desempenhar um papel muito estratégico abrindo esta porta para as famílias.

FP: E QUAIS SÃO AS RECOMENDAÇÕES PARA QUEM QUER COMEÇAR OU SE APERFEIÇOAR?RC: O primeiro passo a ser dado pela família é identificar sua vocação e sua ambição. O investidor social precisa ter uma teoria de mudança que o guie,

“O APOIO DE CONSULTORIAS ESPECIALIZADAS TENDE A

POTENCIALIZAR O CARÁTER TRANSFORMADOR DAS

AÇÕES FILANTRÓPICAS...“

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precisa ter clareza da transformação que quer ver acontecer e os resultados que pretende alcançar. À luz dessa decisão, é preciso definir como o investimento irá se operacionalizar em termos de financiamento (dinheiro e outros ativos da família que serão disponibilizados) e em termos de ações (atividades a serem realizadas, parcerias com o poder público, organizações sem fins lucrativos etc.).

Por fim, cabe ao investidor monitorar seu investimento, corrigir eventuais desvios de rota e comemorar os resultados alcançados, mesmo que tenha de esperar alguns anos para vê-los acontecer.

FILANTROPIA É DIFERENTE DE INVESTIMENTO DE IMPACTO!

IMPACT INVESTING:Por Leonardo Letelier, CEO da Sitawi

Sabemos que nem todos os investimentos são iguais do ponto de vista de externalidades ainda que possam apresentar um retorno financeiro semelhante. Em 2007, foi cunhado o termo impact investing para se referir aos investimentos que buscam, de forma proposital, impacto socioambiental positivo além do retorno financeiro. É a evolução da visão de balancear risco e retorno para balancear risco, retorno e impacto.

De acordo com a Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais cerca de R$13 bilhões foram

investidos em mecanismos de finanças sociais em 2014 e este valor pode chegar a R$50 bilhões em 2020. Finanças Sociais representa um guarda-chuva amplo que inclui desde microcrédito a subsídios em transações específicas a doações para fortalecimento do campo a investimentos com alta perspectiva de retorno em Negócios de Impacto.Quando se fala em investimento de impacto, ainda que investimento de capital (equity) seja a face mais visível do campo, empréstimos também podem ser utilizados para atingir os mesmos fins e, com isso, abre-se uma porta para apoiar também Negócios de Impacto sem fins lucrativos.

Em resumo, para ter impacto socioambiental positivo, não faltam oportunidades e instrumentos.Saiba mais sobre o tema assistindo a palestra de Vox Capital e SITAWI Finanças do Bem, dois pioneiros no campo.

Fontes:• Pesquisa Doação Brasil – IDIS, 2016.• World Wealth Report - RBC Wealth Management, 2015.• Retratos do Investimento Social Familiar no Brasil - GIFE, 2015.• Da Prosperidade ao Propósito - Brasil: Perspectivas sobre a Filantropia e Investimento Social Privado na América Latina - UBS, 2014.

Investimento Social

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É planejador financeiro certificado desde 2013. Possui ampla experiência em negócios de private banking e no mercado alta renda, atuando há 14 anos no mercado financeiro conduzindo projetos, trabalhando na área estratégica e no relacionamento com clientes. Formado em Administração, possui MBA em Economia e Setor Financeiro pela Fipe/USP e pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela FIA.

Feliphe Pereira, CFP ®

Diretora de Projetos do IDIS. É responsável pela área de assessoramento à famílias e empresas em estruturação e planejamento do investimento social privado. Foi Diretora Executiva da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), Gestora de Projetos pelos Direitos da Criança e do Adolescente no ILANUD (Nações Unidas) e na Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de SP. Previamente atuou em escritório de advocacia no Brasil e no exterior. É formada em Direito pela PUC-SP, Mestre em Direitos Sociais também pela faculdade de Direito da PUC-SP e especialista em Direito do Terceiro Setor pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

[email protected]

Raquel Coimbra, IDIS O IDIS é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1999, que trabalha na promoção da filantropia e do investimento social privado para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável. O IDIS tem duas grandes linhas de atuação: promoção da causa por meio de ações disseminação de conhecimento, advocacy, eventos, cursos e pesquisas; e o apoio técnico a investidores sociais para maximizar o impacto do recursos alocados em projetos sociais.

Nosso site: www.idis.org.br

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INDICAÇÕES DE LEITURA:O VALOR DO AMANHÃ | RÁPIDO E DEVAGAR

O VALOR DO AMANHÓOs juros são o prêmio da espera na ponta credora – os ganhos decorrentes da transferência ou cessão temporária de valores do presente para o futuro; e são o preço da impaciência na ponta devedora – o custo de antecipar ou importar valores do futuro para o presente.” Essa é uma das melhores definições de juros que já li em minha vida, e está presente no livro de Eduardo Giannetti, O Valor do Amanhã – Ensaio sobre a natureza dos juros.

Cheguei a esta obra quando assisti uma entrevista de Giannetti na TV Fechada. Adorei suas ponderações e, por isso, resolvi comprar um livro seu. Foi então que me deparei com O Valor do Amanhã. O livro é tratado de forma simples e não possui uma linguagem rebuscada, portanto, é de fácil leitura. O mais interessante é que o autor, que é filósofo e economista, explica o conceito dos juros quase sem falar em finanças.

Ele procura mostrar aos leitores que os juros fazem parte da vida cotidiana de todos nós desde os

primórdios da humanidade. Eles são o resultado das trocas intertemporais. O seu significado não se restringe ao conceito financeiro, mas faz parte da natureza como um todo.

Para se ter uma ideia, vale lembrar que o nosso corpo já se utiliza desta noção de juros quando armazena gordura como fonte de energia para um uso futuro ou quando gasta em abundância nossa energia vital enquanto ainda somos jovens, pagando um preço bem caro na velhice pela falta que ela nos fará.

O livro é uma ótima reflexão entre o agora e o depois: tudo o que temos que abdicar no presente para poder usufruir no futuro, com os louros por ter feito esta escolha intertemporal. A obra ainda traça um paralelo entre como seria uma visão míope, em que damos mais valor ao presente do que ao futuro, e como seria a sua antítese – a visão hipermétrope – quando priorizamos o futuro em detrimento do presente.

Ótima leitura para os profissionais CFP® e também excelente indicação para nossos clientes.

Leticia Camargo, CFP®

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RÁPIDO E DEVAGARAs ciências comportamentais apareceram na minha vida por acaso. Era novembro de 2012, eu estava no aeroporto em São Paulo voltando para o Rio de Janeiro, quando perdi meu voo. Como teria de esperar mais de quatro horas pelo próximo, resolvi comprar um livro para me fazer companhia e ajudar a passar o tempo.

Dei uma passada de olhos e vi aquele simpático lápis na capa, onde vinha escrito “Prêmio Nobel de Economia”. Pronto, era essa a minha escolha. Nerd que sou, nunca gostei de romances; prefiro uma leitura com que possa aprender algo. No máximo, vez ou outra me dou ao luxo de ler biografias, pois pelo menos aprendo alguma lição de vida com elas...

Voltando ao livro que comprei no aeroporto, tratava-se do Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar. Esta obra foi eleita uma das melhores do ano de 2011 pelo New York Times Book Review e foi escrita por Daniel Kahneman, que é psicólogo e ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2002.

Economista que sou, tinha aprendido na faculdade que os indivíduos são racionais em suas escolhas, mas percebia que não era bem assim que funcionava

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na prática. Meus clientes sabiam que estavam gastando mais do que poderiam e, mesmo assim, continuavam a gastar, o que não fazia sentido do ponto de vista racional.

O livro mostra que nem sempre somos racionais em nossas escolhas. Por meio de pesquisas, o autor demonstra que, na maioria das vezes, as decisões são tomadas de uma forma predominantemente intuitiva e emocional.

De acordo com Kahneman, nossa mente trabalha coordenando dois mecanismos: o Sistema 1, mais rápido e regido pelos instintos e pelas emoções; e o Sistema 2, mais lento e regido pela lógica e pelas ponderações. O primeiro controla as atividades automáticas, mas pode ser influenciado por estereótipos e vieses, e o segundo funciona quando precisamos de um raciocínio mais elaborado e analítico.

O autor mostra ao longo do livro como somos influenciados por comportamentos como a aversão à perda ou o excesso de confiança, e nos ensina métodos para que os erros inconscientes possam ser evitados.

De um modo geral, o livro não é dos mais finos e sua leitura também não é das mais fáceis. Precisei fazer umas duas pausas, partir para outros textos,

É planejadora financeira certificada desde 2011.Atua como planejadora financeira independente, professora de finanças e palestrante.Cursou MBA em Finanças pelo IBMEC e é graduada em economia pela PUC-Rio. Recentemente fez um curso de Introdução à Psicologia Econômica na FIPECAFI – SP e outro sobre Comportamento Irracional pelo Coursera.Possui mais de 20 anos de experiência profissional em Instituições Financeiras, tendo sido sócia do Family Office Taboaço, Nieckele e Associados Gestão Patrimonial e da Ativa Corretora e trabalhado em Instituições Financeiras de renome como Icatu, Anbid (atual Anbima) e BBM. Além de ter atuado cinco anos como gestora no setor de Educação e Vestuário.Experiência nas áreas de: Treinamento e Capacitação, Planejamento Financeiro, Wealth Management, Captação de Recursos, Alocação Estratégica de Portfólio, Análise de Operações do Mercado de Capitais e Análise Macroeconômica.

Leticia Camargo, CFP ®

para então retornar à esta obra. Mas, com certeza, o embasamento que passei a ter ao lê-lo foi muito importante para o meu trabalho hoje em dia. É um livro que aconselho para os planejadores financeiros e para todos aqueles que buscam melhor compreensão da forma como fazemos nossas escolhas.

Sua leitura é extremamente válida!

Entrevista

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ENTREVISTA: LEANDRO LOIOLA, CFP®

Qual a pergunta mais frequente dos seus clientes?Nos segmentos de varejo é comum os clientes perguntarem “o que está rendendo mais?” Se respondêssemos à pergunta do cliente sem uma abordagem consultiva, bastaria olhar a tabela de rentabilidades com o histórico dos retornos, o que certamente acarretaria erros na recomendação.

Nos treinamentos para as nossas equipes sempre endereçamos esse tema, porque o cliente chega com essa “bola quadrada” e temos que “arredondá-la”, explorando temas relacionados ao suitability, às reais necessidades do cliente ao investir, sua tolerância ao risco, seu prazo de investimento etc...

Qual o maior desafio do planejador financeiro hoje?A percepção dos potenciais clientes quanto ao valor adicionado pelos serviços prestados é um dos desafios. Porque, se o cliente não percebe valor, não aceita pagar por ele. Muitos planejadores no Brasil são ligados a instituições financeiras e o planejamento financeiro é “grátis”. Nossa base de

planejadores independentes ainda é muito pequena no Brasil e pouca gente sabe que pode contratar esse serviço.

As exigências e necessidades dos clientes têm mudado nos últimos anos? Como o planejador deve se adaptar às novas demandas?No varejo, percebo uma demanda mais sofisticada, com o crescimento dos “supermercados de investimentos”, que contam com maior diversidade de produtos e serviços, assim como com o surgimento de plataformas digitais que “automatizam” a alocação de recursos. Mas vejo o planejador financeiro CFP® explorando nichos de clientes com maiores volumes de recursos sob gestão, assim como resolvendo problemas mais complexos, como os planejamentos sucessório e fiscal. Como as novidades tecnológicas, os aplicativos principalmente, têm ajudado o planejador financeiro?Eu acho que podem ajudar muito, porque os

aplicativos não são (ou não serão), autossuficientes. Um planejador que souber aproveitar das inovações tecnológicas para ganhar escala pode viabilizar o atendimento a clientes menores. Isso abre oportunidade para explorar nichos que ainda não atendidos.

Como a volatilidade no mercado brasileiro tem afetado os clientes e como o papel do planejador pode ser um diferencial no momento?Quando o cenário é muito incerto, do tipo “cara ou coroa”, aumenta a chance de surgirem “profissionais” que têm certeza do futuro da economia e dos preços futuros dos ativos. Vejo muitos clientes perdidos, à procura de aconselhamento para investir seus recursos. Nesse contexto, o profissional certificado ganha ainda mais importância, porque a certificação nos separa dos “palpiteiros de plantão” e exige que tenhamos ética e reconheçamos as reais necessidades dos clientes antes de fazer qualquer sugestão para que “enriqueçam” rapidamente.

Entrevista

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Qual a importância da reciclagem educacional e profissional do planejador? Quais são as suas fontes de atualização?A informação está muito disponível e o cliente pode chegar tão preparado quanto você para uma reunião. E há muito ruído informacional também; assim, não imagine que vai saber tudo o que está acontecendo. É importante acompanhar as grandes mudanças e seus impactos nos portfólios dos clientes. Uma boa estratégia é ler as notícias com seus clientes em mente para lhes antecipar as consequências.

As minhas fontes de atualização são os jornais locais e internacionais, além das páginas das entidades nas redes sociais. Os congressos e eventos promovidos por diversas entidades (como Planejar, Anbima e outras) são minhas oportunidades para me aprofundar em temas de fora de meu quotidiano.

Formação educacional: Mestre em Administração de Empresas pela Eaesp-FGV Cidade/Estado de atuação: São Paulo/ SP

Especialidade: Comunicação/Advisory para Investidores dos segmentos de Varejo

Empresa de atuação: Santander

Leandro Loiola, CFP ®

Educação Continuada

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EDUCAÇÃO CONTINUADA

QUIZhttps://pt.surveymonkey.com/r/Quiz_CFPMagazine9

Vale 2 créditos no Programa de Educação Continuada

A Certificação CFP® única credencial de profissionalismo mudialmente reconhecida para o planejador financeiro pessoal. Ao buscar aconselhamento objetivo, competente e de confiança, procure um profissional CFP®.

Para mais informações sobre a Certificação CFP® visite:www.planejar.org.br

CERTIFICAÇÃO CFP® EXCELÊNCIA GLOBAL EM PLANEJAMENTO FINANCEIRO

As marcas CFP®, CERTIFIED FINANCIALPLANNER e CFP pertencem ao Financial Planning Standards Board Ltd. para uso fora do território norte-americano. A Planejar - Associação Brasileira de Planejadores Financeiros é a entidade autorizada pelo FPSB mediante acordo firmado entre ambas para a concessão e administração destas marcas no território brasileiro.

Diretoria da Planejar

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Equipe Técnica - Planejar Cintia Valim

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Ano 3 . Edição 9 . Out.Nov.Dez’2016