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ANAIS DO II SEMINÁRIO LATINO-AMERICANO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM TURISMO

Organizado pelo Núcleo de Políticas Públicas em Turismo do Centro de Excelência em Turismo.http://seminariolatinoturismo.wordpress.comPeriodicidade: anualDivulgação eletrônica

É permitida a reprodução dos artigos desde que se mencione a fonte.

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIAReitor: Ivan Camargo

Comissão Organizadora:Presidente da comissão: Neio CamposCoordenação Geral: Marutschka Martini Moesch

Corpo Editorial: Coordenação: Dr. Everaldo Batista Costa - UNBMs. Alessandra Santos dos Santos - UNBMs. Ana Rosa Domingues dos Santos - UNBDr. André de Almeida Cunha - UNBDra. Eloísa Pereira Barroso - UNBDra. Iara Lucia Gomes Brasileiro - UNBDra. Karina e Silva Dias - UNBDra. Lana Magaly Pires - UNBDr.Luiz Carlos Spiller Pena - UNBDra. Maria Elenita Menezes Nascimento – UNBDra. Marutschka Martini Moesch - UNBDr. Neio Lucio de Oliveira Campos - UNBDra. Neuza de Farias Araújo - UNB

Endereço para correspondência do CET/UnB: Campus Universitário Darcy Ribeiro - Gleba A, Bloco E - Av. L3 Norte, Asa Norte - Brasília-DF, CEP: 70.904-970.

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SUMÁRIO

RESUMOSO ARTESANATO, SUAS ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO E CONSTITUIÇÃO ENQUANTOPRODUTOTURÍSTICO DA AGRICULTURA FAMILIAR EM PELOTAS, PEDRAS ALTAS E JAGUARÃO - RS: oscasos do ladrilã e das redeiras................................................................................................................3

ADOÇÕES DE ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER E TURISMO URBANOS: do planejamento à percepção dos usuários..................................................................................................................................................4

GOVERNANÇA EM TURISMO – AS CIDADES DE SÃO PAULO E DE SANTIAGO DO CHILE EM FOCO.........6

OS DESAFIOS DOS AMBIENTES DE INOVAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SUSTENTÁVEL – ESTUDO DE CASO DO PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU – BRASIL..................................7

PROPOSTA DE CRIAÇÃO DO CURSO TÉCNICO EM SERVIÇO DE RESTAURANTE E BAR NO MUNICÍPIO DEBREVES – PA...........................................................................................................................................8

PLANEJAMENTO, POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO E PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE/PORTO SEGURO - BAHIA...................................................................................................................................14

Projeto Sebrae de Desenvolvimento Turístico do Distrito Federal.......................................................17

GESTÃO PÚBLICA DO TURISMO E DESENVOLVIMENTOEM UM MUNICIPIO DO LITORAL NORTE POTIGUAR............................................................................................................................................22

A cultura e o entretenimento como ativos econômicos da cidade contemporânea – O cenário de Nova Iguaçu/RJ.....................................................................................................................................28

ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO MUNICÍPIO DE EUNÁPOLIS-BA...........................31

PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE NIQUELÂNDIA: riqueza a ser preservada, conhecimento produzido com as mãos, ideias e fantasias do povo.....................................................................................................34

PROJETO CIRCO ALVORADA: DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À CULTURA NA BARRA DA TIJUCA (RJ) 37

TURISMO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS ADOTADAS EM PIRENÓPOLIS,GOIÁS..........................................40

ARTIGOS

A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO NA REGIÃO TURÍSTICA DO LITORAL DA PARAÍBAPELA ÓTICA DA ANÁLISE DE REDES SOCIAIS (ARS)..............................................42

A EMERGÊNCIA DO TURISMO COMO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO NA ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA............................................................................................58

CULTURA DE TRABALHO COLETIVO E TURISMO: o caso da cooperativa paranaense de turismo........77

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PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO: uma análise do turismo de Uruçuca – Bahia...................................92

A CONTRIBUIÇÃO DA FUNDAÇÃO PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU BRASIL NO FORTALECIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO: a gratuidade do turismo para comunidades regionais...............116

REFLEXÕES SOBRE MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO, COMO APORTE PARA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM TURISMO DE SEGUNDA RESIDÊNCIA.....................................................134

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O ARTESANATO, SUAS ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO E CONSTITUIÇÃO ENQUANTOPRODUTOTURÍSTICO DA AGRICULTURA FAMILIAR EM PELOTAS, PEDRAS ALTAS E

JAGUARÃO - RS: os casos do ladrilã e das redeiras.

Aline Moraes Cunha

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

O objetivo da presente pesquisa, consiste em analisar a comercialização do artesanato ruralcomo produto vinculado ao turismo predominantemente na agricultura familiar através deum olhar aproximado junto a dois grupos produtivos: o grupo “Ladrilã”, integrado porartesãs dos municípios de Pelotas, Pedras Altas e Jaguarão; e o grupo “Redeiras”, integradopor artesãs da Colônia de Pescadores Z3, localizada no 2º distrito do município de Pelotas.Metodologicamente, neste estudo foi realizada uma pesquisa quantitativa e qualitativabásica exploratória com o uso de dados primários e secundários levantados por meio depesquisa bibliográfica, documental e de campo a partir da efetivação de estudo de caso comdois grupos de artesãos, realizando-se 23 entrevistas semiestruturadas com artesãos,coordenadores e entidades parceiras dos grupos. Os resultados permitem tecerconsiderações quanto à constituição do artesanato do grupo Ladrilã como produto turísticoefetivo do RS, porém, o mesmo não se evidencia em relação ao artesanato do grupoRedeiras. Da mesma forma, apresentam a realidade dos grupos, que apesar de distintas,também compartilham similaridades, em especial, quanto aos problemas e dificuldades,onde a falta de autonomia para a gestão dos grupos, ocasionada pela dependência doparceiro SEBRAE, constitui-se no maior desafio ao seu desenvolvimento e sustentabilidade.

Palavras-chave: Produto turístico. Artesanato. Desenvolvimento rural. Ladrilã. Redeiras.

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ADOÇÕES DE ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER E TURISMO URBANOS: do planejamento àpercepção dos usuários

Fernanda Costa Da SilvaUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

Esta pesquisa insere-se na área de Planejamento Urbano e Regional e trata da percepção deusuários em relação a espaços públicos urbanos que sirvam concomitantemente ao lazer eao turismo, em um contexto no qual se verifique parcerias público-privado do tipo Adoção. Apesquisa tem como objetivo contribuir para indicar uma tendência de percepçãocontemporânea da sociedade civil em relação ao papel do Estado brasileiro, levando-se emconta o crescente número de parcerias estabelecidas entre o Poder Público e o setorprivado, para a gestão dos espaços urbanos de uso irrestrito. Em complemento, objetivou-se: averiguar se as parcerias nos espaços públicos urbanos são interpretadas comonecessárias ou como impróprias, sob aspectos físicos e simbólicos, no que se refere àqualificação do lazer e do turismo; e verificar se as parcerias causam interferência naavaliação de desempenho dos espaços onde ocorrem, ou se tal avaliação liga-se aoatendimento dos critérios de adequação e uso, tais como os sugeridos pela área de estudosAmbiente-Comportamento. Para tanto, realizou-se estudo comparativo em três espaçosadotados, localizados na cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, os quais sãorelevantes tanto no contexto do lazer local, como no contexto turístico. A coleta de dadosrealizou-se mediante levantamento de arquivo, levantamento físico, aplicação deentrevistas, de mapas mentais e de questionários. Os resultados indicam existiraceitabilidade das intervenções privadas de forma correlata à relevância atribuída a estaprática de investimento no espaço público. Também se verificou que a avaliação dedesempenho não está relacionada à aceitabilidade dos investimentos privados, nos espaçosem que a pesquisa foi aplicada, embora a percepção dos usuários possa ser influenciada,positiva ou negativamente, em relação a algumas das variáveis de análise do desempenhodo espaço, na medida em que elas aludem a investidores privados. De forma geral,constatou-se não ser expressivo o interesse dos usuários pelo modo como os serviços sãoprovidos nos espaços públicos de lazer e turismo, contanto que o resultado final sejasatisfatório ao propósito desses espaços. Verificou-se que, na percepção dos usuários, oEstado ainda é a esfera sobre a qual incide e sobre a qual deveria incidir a responsabilidadepelo amparo às áreas públicas abertas de lazer e turismo, mesmo que o setor público tenhasido avaliado como pior, comparado ao privado, no que se refere à prestação de serviçosurbanos. Ainda assim, é importante destacar a expressiva parcela de respondentes que jásinalizam o setor privado como aquele que de fato investe em espaços públicos, e comoaquele que deveria ter a responsabilidade por tais investimentos urbanos, percepção estaque sugere haver uma compreensão, por parte dos usuários, sobre a situação transitória dopapel do Estado, indicada pela literatura pertinente ao tema. Os resultados obtidos, além deadicionarem ao debate a avaliação sobre uma modalidade específica de consorciamentourbano, qual seja, a Adoção, abordada à luz da área Ambiente-Comportamento, agregamtratamento teórico a um segmento turístico que ainda necessita ter estudos aprofundados,qual seja, o Turismo Urbano.

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Palavras-chave: Planejamento urbano. Adoção de espaços públicos. Ambiente-Comportamento. Lazer. Turismo.

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GOVERNANÇA EM TURISMO – AS CIDADES DE SÃO PAULO E DE SANTIAGO DO CHILE EMFOCO

Thaís Bento e Silva

Universidade de São Paulo

Esta dissertação busca entender a governança no planejamento da atividade turística nosmunicípios de São Paulo (Brasil) e Santiago (Chile) por meio de uma abordagem qualitativa,exploratória e de um ponto de vista relacional, traduzido pela definição de Patrick Le Galés(2011) que afirma que a governança é “um processo de coordenação de atores, grupossociais e instituições para alcançar objetivos discutidos e definidos coletivamente emambientes incertos e fragmentados” (p. 748, tradução nossa). A principal hipótese dotrabalho defendia que a consistência da governança local em turismo depende delacontemplar, na medida da possível, os interesses dos diversos atores que se relacionamnesse processo. Durante a pesquisa foi observado que os municípios possuem níveisdiferentes de desenvolvimento e maturação da atividade turística, levando a níveisdiferentes de governança: São Paulo possui um espaço formal de discussão, o ConselhoMunicipal de Turismo (COMTUR), espaço que sofre com a ineficiência das discussões eausência de discussões estratégicas, o que pode ser explicado pela falta de clareza dospapeis dos atores locais e pouco entendimento do turismo enquanto atividade sistêmica. Acidade apresenta ainda uma estrutura de governança com pouca presença da sociedadecivil, ao contrário de Santiago que, no desenvolvimento do seu plano, o Plan Capital, buscainserir todos os atores nas mesas de discussões, esforço este que não é percebido comosuficiente pela sociedade civil. No entanto, Santiago sofre com outros problemas, como aausência de uma liderança clara, a falta de integração entre as comunas e um planejamentoturístico ainda em fase inicial. A análise dos casos mostrou pontos importantes dagovernança como os diferentes níveis de governança, resultado dos diferentes arranjospolíticos e sociais, a participação da sociedade civil, que pode ser influenciada por arranjos jáexistentes e pelo interesse da população local no tema, e a importância dos espaços dediscussão, os quais influenciam diretamente a governança, podendo criar círculos virtuososou viciosos.

Palavras-chave:governança, turismo, São Paulo, Santiago do Chile

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OS DESAFIOS DOS AMBIENTES DE INOVAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMOSUSTENTÁVEL – ESTUDO DE CASO DO PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU – BRASIL

Thaisa Praxedes de OliveiraUniversidade de Brasília

Essa dissertação tem como objetivo analisar o processo de construção de um ambiente deinovação, ciência, e tecnologia que tem o turismo como um de seus eixos de atuação. Paratal, propõe-se desvelar as práticas técnico-científicas que vem sendo criadas pelo ParqueTecnológico Itaipu Brasil (PTI) com vistas a desenvolver o turismo, de forma sustentável. Opropósito do Parque desde a sua constituição inicial, em 2003, foi o desenvolvimentoterritorial, no qual o turismo sempre esteve presente como eixo temático das iniciativas eseus planos formais de organização. Com uma atuação crescente e explícita desde queassumiu a gestão e operação do Complexo Turístico da Itaipu Binacional – CTI, em 2007, oPTI se instituiu como materializador da missão ampliada de sua entidade mantenedora, deimpulsionar o “desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil eno Paraguai”. Assim, trata-se de uma investigação qualitativa, de nível exploratório einterpretativo, buscando revelar e compreender o papel dos ambientes de inovação nodesenvolvimento do Turismo, em especial a atuação do Parque Tecnológico Itaipu Brasil -PTI - BR, em Foz do Iguaçu, Paraná. Esta pesquisa apresenta três momentos: no primeirobuscou-se construir a teoria do objeto pela análise a respeito do tema, com a reconstruçãodos conceitos de turismo, desenvolvimento territorial, ambientes de inovação e parquestecnológicos. No segundo, foi explanada a trajetória dos caminhos metodológicos quecontemplou as análises a partir de evidências documentais e entrevistas com atoresestratégicos inerentes ao processo e foi descrita a contextualização do objeto foco de estudo– a atuação do PTI. No terceiro foi analisada como estão sendo construídas as práticas emum ambiente de inovação, tendo o turismo como conteúdo bem como as possibilidadespara sua transposição no desenvolvimento territorial sustentável a partir da atuação doParque Tecnológico Itaipu Brasil.

Palavras-chaves: Turismo, Desenvolvimento Territorial, Ambientes de inovação, ParqueTecnológico Itaipu Brasil.

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PROPOSTA DE CRIAÇÃO DO CURSO TÉCNICO EM SERVIÇO DE RESTAURANTE E BAR NOMUNICÍPIO DE BREVES – PA

Anaryê Ybotira Gonçalves RochaInstituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará- Campus Breves

Maria Elza de Souza BragaInstituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará- Campus Breves

Paula Wanderlly Brabo OliveiraInstituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará- Campus Breves

RESUMO

Este trabalho apresenta dados e análises relacionados à questão da ampliação da oferta de cursostécnicos no Brasil, focando em discussões que embasam a elaboração da proposta pedagógica doCurso Técnico em Serviço de Restaurante e Bar, pensada a partir de observações do Eixo deHospitalidade, Lazer e Turismo no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA,localizado no Município de Breves, Arquipélago do Marajó. Tal discussão torna-se relevante quandose contextualiza a expansão e interiorização dessa Rede Federal, o que tem como consequência anecessidade de adaptações nas políticas educacionais desenvolvidas pela mesma ao local inserida.Desse modo, temos o objetivo de analisar os dados que contextualizam a proposta de criação eimplantação do Curso e apresentar os resultados dos debates e da pesquisa realizadasque permeiamesta proposta. O trabalho foi desenvolvido utilizando-se um levantamento e análise de dados criadosa partir de pesquisa de campo realizada no durante o primeiro semestre de 2014 com informaçõessobre a qualidade do serviço existente do município.Palavras-chaves: Curso técnico, Marajó, Campus Breves.

1. APRESENTAÇÂO

Este projeto apresenta dados e análises relacionados à questão da ampliação daoferta de cursos técnicos no Brasil, focando em discussões que embasam a propostapedagógica do Curso Técnico em Serviço de Restaurante e Bar, que está sendo elaboradaapós a observação da demanda por profissionais para atuarem nessa área, que ainda não écoberta pela Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica dentro do município deBreves, localizado no Arquipélago do Marajó.

Tal discussão torna-se relevante, no contexto da expansão e interiorização dessaRede Federal, pois se mostra fundamental a adequação da instituição às realidades locais, oque tem como consequência a necessidades de adaptações nas políticas educacionaisdesenvolvidas por essa Rede.

Desse modo, temos o objetivo de analisar os dados que contextualizam a propostada criação do referido curso, apresentando os resultados dos debates que elaboraram essaproposta, no âmbito do colegiado do Eixo Tecnológico de Hospitalidade Lazer e Turismo, doIFPA Campus Breves, no Arquipélago do Marajó, na Amazônia paraense.

O trabalho foi desenvolvido utilizando-se um levantamento e análise de dadoscriados a partir de uma pesquisa de campo realizada pelos alunos do Curso Técnico em

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Eventos durante a disciplina de Alimentos e Bebidas para Eventos, onde se apresentou asprimeiras discussões sobre a necessidade de sua criação.Estes discentescontribuíram deforma ativa tanto nas pesquisas realizadas para embasamento teórico quanto na formulaçãodesta proposta.

Em paralelo, também foram realizadas discussões sobre a importância daelaboração da proposta de um projeto pedagógico de curso entre o corpo docente do EixoTecnológico de Hospitalidade, Lazer e Turismo do IFPA Campus Breves.

2. METODOLOGIA

O procedimento metodológico utilizado para a construção da proposta tem-se trêsmomentos distintos: o primeiro que se constitui na apresentação formal da ideia para adiretoria do campus; o segundo quando se realizou o levantamento de informações maisprecisas por meio de pesquisa de campo; e o terceiro durante a depuração e apresentaçãodos resultados em reunião do colegiado.

Utilizou-se como base material para realização da pesquisa o inventário da ofertaturística, caderno de categoria B2, que trabalha diretamente com o setor de serviços eequipamentos de alimentos e bebidas, e foi colocada como atividade das turmas do CursoTécnico em Eventos durante a disciplina de Alimentos e Bebidas para Eventosquando osdiscentes chegaram à conclusão de que existe carência na qualificação profissional do setor.

Por fim, após a depuração dos dados, estes foram apresentados para o colegiado doEixo de Hospitalidade Lazer e Turismo onde se pôde discutir sobre a importância de suacriação.

3. JUSTIFICATIVA

No Estado do Pará pode-se destacar o arquipélago do Marajó, considerado a maiorilha fluvio-marítima do planeta, composto por um conjunto de várias ilhotas formado por 16municípios expressando exuberante riqueza natural que é distribuída em cerca de 50 milkm2, atraindo turistas do mundo inteiro.

O município de Breves, polo madeireiro, indutor do desenvolvimento regional doMarajó da floresta possui sua sede Municipal nas seguintes coordenadas geográficas: 01º 40’45’’ de latitude Sul, e 50º 29’ 15” de longitude a Oeste de Greenwich, sendo considerado omaior município do Arquipélago, com uma superfície de 9.558 km2(fig. 1). Sua economia ébaseada principalmente pelo terceiro setor, seguido pelo secundário e primário; já que aeconomia local passou por uma crise que atingiu grande parte da população, dependentedireta e indiretamente das empresas madeireiras que funcionavam na sede e no interior domunicípio.

A criação do curso possibilita a qualificação para o setor de serviços capazes deutilizar os mais variados equipamentos e tecnologias além de que a localização do municípiode Breves é privilegiada para atuar como indutor desses profissionais para os municípiosvizinhos, conforme mapa logo abaixo. Uma vez que se nota facilmente a baixa qualificação

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profissional, muitas vezes considerada como amadorismo, despreparo ou improviso porparte dos profissionais.

Figura 1- Mapa do Arquipélago do Marajó - PA

4. ASPECTOS DA PROPOSTA PEDAGÓGICA DO CURSO TÉCNICO EM SERVIÇO DERESTAURANTE E BAR

No Brasil, há a oferta pontual de formação técnica para o Curso Técnico em Serviçode Restaurante e Bar, como é o caso da Secretaria de Educação do Estado da Bahia e doProjeto de Curso Técnico em Serviço de Restaurante e Bar do Campus Altamira namodalidade subsequente além das ofertas de cursos técnicos privados no mesmo setor.

Esta proposta pedagógica, no âmbito das discussões sobre as realidades locais daAmazônia, apresenta um curso que objetiva a formação técnica atendendo a demanda dequalificação profissional do setor de serviços, oferecendo ainda a oportunidade de atuar noplanejamento, gestão, implantação e administração de empreendimentos de serviços dealimentos e bebidas nos municípios.

O profissional formado teria habilidades tais como manuseio de equipamentos erecursos tecnológicos do setor; avaliação e comercialização de serviços do produto turístico;criação e administração de espaços destinados para a alimentação; além de compra,transporte, armazenamento e produção dos alimentos e das bebidas.

Este Curso Técnico está estruturado em três módulos, projetados de formasequenciais, onde os alunos desenvolverão atividades essenciais para o planejamento egestão de empreendimentos e de espaços do setor de alimentação, desde o primeiromódulo que possui disciplinas básicas do setor para a iniciação do curso.

Os aspectos curriculares do curso podem ser observados no quadro a seguir, queapresenta a proposta de Matriz Curricular para cada um dos módulos planejados.

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Quadro 1: Matriz Curricular da Proposta Pedagógica do Curso Técnico em Serviço de Restaurante e Bar.Disciplina Carga Horária

1º M

ódul

o 1 Turismo e Gastronomia 402 Português Instrumental 60

3 Serviços em Restaurante 60

4 Noções de administração 40

5 Higiene e Manipulação de Alimentos 40

6 Microestágio 1 80

Total de Carga Horária do 1º Módulo 320

2º M

ódul

o 7 Inglês instrumental 40

8 Serviço em Bar 60

9 Enologia, Cerveja e Café 40

10 Serviços de Restaurante e Bar em Meios de Hospedagem 40

11 Empreendedorismo 40

12 Microestágio 2 80

Total de Carga Horária do 2º Módulo 300

3º M

ódul

o 13 Francês Instrumental 40

14 Sustentabilidade em Serviço de Restaurante e Bar 40

15 Qualidade de Serviços 40

16 Serviços de Restaurante e Bar em Eventos 40

17 Ética Profissional e Legislação 40

18 Microestágio 3 80

Total de Carga Horária do 3º Módulo 280

Carga Horária Total dos Módulos 900

A Matriz curricular apresentada possui disciplinas que levam em consideraçãocaracterísticas do setor em relação à valorização de padrões culturais como na disciplinaEnologia, Cerveja e Café já que a população possui preferências pelas duas ultimas bebidas.Os idiomas foram escolhidos de acordo com a predominância de termos e a disciplinaSustentabilidade em Serviço de Restaurante e Bar tem como objetivo contribuir ativamentepara as práticas de sustentabilidade dentro do setor.

5. RESULTADOSA pesquisa realizada possui um total de 57 empreendimentos entrevistados, todos

localizados na área urbana do município de Breves, onde o campus está sendo implantado.Dentre as categorias existentes no inventário, foi necessário realizar pequenas

adaptações para adequação da realidade local, por exemplo, incluir dentre as categoriasexistentes uma identificação específica para as batedeiras de açaí que corresponderam a23% das entrevistadas, percentual maior que os quiosques, sorveterias ou barracas queficaram com menos de 10% cada uma. Isso mostra claramente a necessidade de criação deum projeto pedagógico que atenda as especificidades locais.

Em relação ao número de funcionários permanentes onde o maior percentualencontrado foi no máximo cinco funcionários com 82%; também nota-se uma aversão nosentrevistados quando se pergunta sobre os funcionários PNE, neste caso 75% preferiramnão responder sobre este questionamento. O que mostra a baixa qualificação profissional

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com empreendimentos de pequeno porte e/ou familiares, uma breve noção sobre aspectosque permeiam o tema da inclusão social.

Quando se pensa as estratégias de comunicação utilizadas tem-se um públicodividido entre os que informaram utilizar o telefone celular como principal meio decomunicação (46%) e os que não informaram (51%). Da mesma forma são os que nãoinformam sobre a sinalização de acesso onde 51% dos empreendimentos entrevistadosresponderam que não existe e 35% preferiu não responder.

Poucos compreendem a importância da pesquisa e a maioria não forneceinformações mais detalhadas como: especificação da gastronomia por região (47%); porespecialização (47%); por dieta (51%); ou os equipamentos utilizados (43%).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Eixo Tecnológico de Hospitalidade, Lazer e Turismo atende atualmente aqualificação profissional para atividades do setor que podem ocorrer em ambientesurbanizados, no entanto, com a expansão da rede federal de instituições no interiorbrasileiro, observa-se a necessidade da formação de profissionais que possam atuar nossetores de hospitalidade, lazer e turismo em seus diversos segmentos assim como tambémse faz necessária a presença de profissionais qualificados no setor de Serviços.

A proposta do curso que trata este projeto apresenta-se como uma alternativa deformação e atuação profissional às populações, sobretudo os jovens;além disso, contribuipara efetividade da intenção política de desenvolvimento da região Amazônica.

A Amazônia, exemplificada pela região do Arquipélago do Marajó, passa a rever suamatriz econômica, buscando interagir com o ideal de sustentabilidade e ao mesmo temposer incluída no processo de desenvolvimento local, por isso a matriz objetiva a interaçãoentre a relação econômica e sustentável tão presente nas discussões atuais, valorizando aqualificação profissional e oportunizando ao discente, após a formação a possibilidade deatuação em todo o território nacional.

Para tanto, faz-se necessária àfinalização da elaboração do projeto com a realizaçãodas audiências públicas e implantação do projeto pedagógico no Campus Breves como umaforma de resposta às necessidades do município.

7. REFERÊNCIAS

Ministério da Educação (2008) Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos. Brasília Recuperadodia 15 setembro,2014dehttp://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/catalogo_tecnicos.pdf

Ministério do Turismo(2011). Inventário da Oferta Turística. Brasília. Recuperado dia 15setembro,2014dehttp://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/B.2_-_Servixos_e_equipamentos_para_alimentos_e_bebidas.pdf

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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Do Pará (2012) Projeto Pedagógico do Curso Técnico em Serviços de Restaurante e Bar. Altamira

Governo do Estado da Bahia (2012). Matriz curricular do Curso Técnico em Serviço de Restaurante e Bar. Recuperado dia 15 setembro, 2014 de http://escolas.educacao.ba.gov.br/educacaoprofissional/orientacoespedagogicas/matrizescurriculares

Mapa da Região do Marajó (2012). Recuperado dia 15 setembro, 2014 de

http://danielsidonio.blogspot.com.br/2012_10_01_archive.html

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PLANEJAMENTO, POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO E PARTICIPAÇÃO DACOMUNIDADE/PORTO SEGURO - BAHIA

Aparecida Fernandes da SilvaUniversidade do Estado da Bahia

Renata Coppieters Oliveira de CarvalhoUniversidade do Estado da Bahia

Sandra Couto SantanaUniversidade do Estado da Bahia

RESUMOEste trabalho objetivou analisar a participação da comunidade no planejamento epolíticas públicasde turismo para o município de Porto Seguro– Bahia. Pelo qual, o lugar consiste em um dos principaisdestinos indutores do país.Consideram-se relevante a participação social no planejamento noprocesso de desenvolvimento da atividade turística no município. O método utilizado foi àanálisedocumental e bibliográfica. Evidenciou-se que a comunidade participoupouco no processo deplanejamento do turismo no município.Palavras-chave: Planejamento Turístico; Políticas públicas;Participação social.

1. INTRODUÇÃO

Porto Seguro está situado na região econômica do Extremo Sul da Bahia, faz parteda Zona Turística Costa do Descobrimento a 707 km de Salvador. Em 1973, foi tombado peloInstituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional e em 2000 foi elevado à condição dePatrimônio Natural Mundial, pois congrega riquezas culturais, arquitetônicas e naturaisformando o Museu Aberto do Descobrimento. Integrao Território de Identidade Costa doDescobrimento, sua economia consiste em dois produtos econômicos distintos turismo e aextração de Celulose (SUDETUR, 2002). O contexto dedesenvolvimento do turismo no Brasilse dá através da política pública, assim,Porto Seguro passou a receber mais investimentosinerentes ao turismo, tornando-se um dos 65 destinos indutores de Desenvolvimento doTurismo no Brasil e também o segundo destino mais visitado da Bahia.Para tanto, cabeanalisar a participação da comunidade no processo de planejamentoturístico como fatorintrínseco à evolução da atividade bem como turística.

2. METODOLOGIAA metodologia utilizada na pesquisa foi análise documental e bibliográfica no

processo de planejamento e políticas públicas de turismo em Porto Seguro por meio deplanos vigentesbuscou-se identificar a participação da comunidade. Dessa forma, o trabalhotem como objetivo analisar a participação da comunidade no planejamento de acordo comas políticas públicas de turismo relacionado aos Planos: Desenvolvimento Integrado doTurismo Sustentável da Costa do Descobrimento (PDTIS)ePlano, Estratégia Turística daBahia: O terceiro salto.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

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O(PDTIS)apresenta participação da comunidade com cursosprofissionalizantes,palestras e cursos de curta duração sobre hotelaria, lazer, alimentos ebebidas, informação e idiomas. Porém, verificou-se que a participação da comunidade noPlano foi mínima, evidenciando carências na gestão participativa de Porto Seguro. ParaGÂNDARA, (2005) é de suma importância que todos os atores estejam engajados noprocesso turístico como instrumento de sustentabilidade.Assim, o planejamento turísticopode junto com políticas públicas fortalecer o processo de elaboração e experiênciaspotencializar a atividade com participação da comunidade continuamente.ParaSudetur(2002) há necessidade de realizar inventário e diagnóstico do produto turístico local. Comodestino turístico de tal importância, quanto à gestão pública, o PDITS sinaliza a insuficiênciade instrumentos de planejamento, administração e fiscalização na proteção do seu território(SUDETUR, 2002).

O Plano, Estratégia Turística da Bahia: O terceiro salto assinalaque a políticaestadual do turismo tem feito ações que envolvem três instâncias no governo, poderprivado, terceiro setor e comunidade. Direcionados à comunidade, o plano propõefortalecer os produtos turísticos regionais, ascensão socioeconômica,empreendedorismo,participação nas tomadas de decisões (BAHIA, 2011). Esse viés podecontribuir com a participação da comunidade, no qual o plano provoca a articulação entre osatores, que pode influenciar o desenvolvimento de aspectos sociais.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo assim, a partir dos planos analisados, observou-se que o turismo em PortoSeguro é fomentado com base nos planos de turismo nacional e estadual, porém ficouevidente que a participação da comunidade no planejamento turístico precisa ser efetiva,pois as políticas obtém potencial para progredir e expandir a atividade na região. Dessemodo, faz-se necessário, políticaspúblicas específicas e planejamentoparticipativodirecionado para o desenvolvimento eficaz do turismo de forma sustentável,com a participação da comunidade, poder público, terceiro setor e iniciativa privada.

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5. REFERÊNCIAS

Bahia,E. T.(2011). O terceiro salto.Recuperado dehttp://www.setur.ba.gov.br/wp-content/uploads/2011/04/Estrategia_Turistica_da_Bahia_Setur.pdf.

GÂNDARA, M., TORRES, E.,&LEFROU, D. (2005). A participação de todos os “atores” no processoturístico.Revista Virtual de Direito e Turismo.

SUDETUR,E.S. D. T. (2002). Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável da Costa doDescobrimento. Recuperado de http://www.iadb.org/regions/re1/br/br0323/pditbh1.pdf

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Projeto Sebrae de Desenvolvimento Turístico do Distrito Federal

Cecília Vieira Martins de PaulaSEBRAE - DF

Jackeyline Reis MapurungaSEBRAE - DF

Cristina Vieira Araújo.SEBRAE - DF

RESUMO

Projeto Sebrae de atendimento coletivo aos pequenos negócios de turismo do Distrito Federal, quepossui como objetivo contribuir para a competitividade e desenvolvimento sustentável das empresasatendidas, além de fomentar o turismo e políticas públicas para o setor. Palavras-chave: Turismo,Sebrae, pequeno negócios, competitividade e sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO

O Sebrae no DF possui a missão de promover a competitividade e odesenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e fomentar o empreendedorismo, parafortalecer a economia do Distrito Federal. O Projeto, de atendimento coletivo, Serviços deTurismo DF, é uma das ferramentas da Instituição para concretização dessa missão. Com umorçamento anual de aproximadamente R$ 1.400.00,00e duração inicial até 2014 prorrogadapara 2018, segundo aprovação do PPA 2015 - 2018, possui a meta de atendimento anual, de700 (setecentos) pequenos negócios.

Seguindo a Metodologia GEOR – Gestão Estratégica Orientada para Resultados,utilizada pelo Sistema Sebrae, o Projeto Serviços de Turismo DF é um projeto deatendimento setor/segmento que atende a um público-alvo organizado e se caracteriza pelaintegração, em diferentes estágios, de clientes e instituições interdependentes ecomplementares, articuladas em um modelo de governança. O Manual de Programas,Projetos e Atividades informa que essa tipologia de projetos deve ser “estruturada emconjunto com parceiros e público-alvo, considerando o território, o setor e o segmento aserem atendidos” (2013, p.33).

O público-alvo atendido no Projeto, e partícipe do trade turístico mobilizador depolíticas públicas para o turismo é formado por: empreendedores individuais, micro epequenas empresas dos setores de agências de viagens, organizadoras, espaços efornecedores de eventos, meios de hospedagem, agências de receptivo, propriedades deturismo rural e guias de turismo.

Todas as ações pactuadas entre esses stakeholders do Projeto devem impactar noatingimento dos resultados finalísticos de “aumentar em 10% o tempo médio depermanência dos turistas na cidade” e “aumentar em 10% o fluxo de turistas na cidade”.Dessa forma, infere-se que o resultado geral do Projeto pode favorecer o desenvolvimentoe/ou apoiar as políticas públicas em turismo do Distrito Federal.

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Como contribuição aos resultados citados, o Projeto ainda executa ações no âmbitona Região Centro-Oeste, por meio da ação Brasil Central. Foi elaborado para execução dessaação o Plano de Desenvolvimento do Turismo do Brasil Central, que de acordo com oreferido documento tem como objetivodiagnosticar o posicionamento turístico conjunto doDistrito Federal e dos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e identificar asprincipais linhas estratégicas para o desenvolvimento do turismo da região em curto e médioprazos. Este Plano é concebido como um instrumento estratégico que define as prioridadese ações para desenvolver a oferta turística, direcionadas para atender às preferências daprocura turística. (Barcelona Media, 2012, p.4)

O ciclo de atendimento ao montante de empresas previsto consiste na realização deintervenções individuais nas empresas, como: diagnósticos empresariais e consultoriastécnicas e de gestão; capacitações em gestão, como: palestras, oficinas, cursos e semináriose, ações de mercado, como: estudos de mercado, encontros e rodadas de negócios,famtours, missões técnicas nacionais e internacionais.

Como ações de destaque finalizadas no ano em vigor, destacam-se: Consultorias de inovação como a implantação da NBR ISO9001:2008 em agências de

viagens e turismo;

Portfólio para os Guias de Turismo;

Famtours para o Turismo Rural;

Turismo Rural Pedagógico.

2. CONSULTORIAS DE INOVAÇÃO

Por meio do apoio do Sebrae e com um subsídio de 70% a agência de viagens ECOSTURISMO, finalista do Prêmio MPE de 2013, certificou-se com sucesso na NBR ISO9001:2008.

Com o mesmo formato de apoio a agência de viagens FAST TRAVEL está agendadapara avaliação da certificação em Dezembro de 2014.

Ambas as agências são micro empresas, consolidadas no mercado e já buscandoinovação nos processos e prestação de serviços. O investimento total do Sebrae noDFcomco-participação das empresas totalizou aproximadamente R$ 35.000,00 durante cincomeses de trabalho.

3. PORTFÓLIO PARA OS GUIAS DE TURISMO

Por meio do apoio do Sebrae no DF e com um subsídio de 70%, foi atendida ademanda dos guias de turismo sindicalizados ao SINDGTUR – Sindicato dos Guias de Turismodo DF, de criação de um portfólio focado nos diferenciais oferecidos por essesmicroempreendedores individuais. Foi oportunizado esse instrumento a 25MEIs quepoderão, a partir desse instrumento,fortalecer a atuação no mercado de turismo, por meioda demonstração das habilidades e experiências. O SINDGTUR pretende, para 2015, realizar

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outras parcerias com o objetivo de conquistar investidores para ampliação e consolidaçãodefinitiva do portfólio.

4. FAMTOUR PARA O TURISMO RURAL

Entre 2013 e 2014 foram realizados famtours para dez propriedades rurais com apresença de representantes de entidades do trade turístico, representante da EMATER/DF,representantes das Secretarias de Esportes, de Agricultura e de Educação do GDF, agênciade viagens e turismo e representantes do Sebrae no DF. Essa ferramenta é utilizada parafavorecer o acesso ao mercado potencial desses respectivos empreendimentos rurais.

Ao considerar os desafios e oportunidades para o turismo rural, segundo o estudoRetrato do Turismo Rural no Brasil com foco nos Pequenos Negócios “oTurismoRural é fatorde desenvolvimento socialeeconômico, funcionando como propulsor daeconomia regionalpor intermédio dos pequenosnegócios relacionados com a agropecuária e suas propriedades(...) hoje, oempreendimento rural é multifuncional e apresentapluriatividade” (2013, p.25).

Dessa forma, o Sebrae, por meio dos Projetos de atendimento pretende favorecer odesenvolvimento desse mercado e consequentemente desenvolver o setor turístico doDistrito Federal.

5. TURISMO RURAL PEDAGÓGICO

Com foco no desenvolvimento do Turismo Rural Pedagógico – “Turismo Rural eEscola – Fazendo Eco”, que consiste da preparação da propriedade rural para atendimentoàs escolas de ensino fundamental. O RURALTUR – Sindicato do Turismo Rural e Ecológico doDF, juntamente ao Sebrae no DF reforçam a integração efetiva entre os setores da educaçãoe turismo, com a vivência do ensino-aprendizagem além dos limites da sala de aula.

Por meio do apoio do Sebrae no DF e com um subsídio de 70% foram realizadas em2013, diagnósticos empresarias para conhecimento e avaliação de oito propriedades ruraisinteressadas em ampliar os serviços oferecidos aos visitantes, no âmbito do atendimentopedagógico. A partir desse documento foram sugeridas ações de melhorias e adaptaçõespara ajustes de infraestrutura e/ou serviços prestados, de acordo com as necessidades docontexto Turismo Rural e Pedagógico.

Como forma de dar continuidade a essa ação e aprimorar o conhecimento daspropriedades rurais envolvidas e demaisinteressados, realizou-se em parceria com oRURALTUR, em Setembro de 2014, a missão de benchmarking para França. Nesse caso osubsídio oferecido pelo Sebrae no DF, ao grupo de participantes, foi de 50%. Com apoio daEmbaixada da França no Brasil, a programação de viagem incluiu a cidade de Paris e a Regiãode Versalhes, na França, por possuírem características que podemaperfeiçoar oconhecimento e experiência dos empresários do DF nessa área.

No período de 27 de Setembro a 03 de Outubro de 2014, foram visitados osseguintes empreendimentos: Escritório central de Gites de France; Parque Regional de

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Haute Vallée de Chevreuse; Fazenda de a La Noue; Castelo de LaMadeleine;Empreendimento de turismo - base de lazer St. Quentin enYvelines; EscolaElementar Saint Exupery.

Castelo deLa Madeleine - Parque Regional de Haute Vallée de Chevreuse

ParqueRegional de Haute Vallée de Chevreuse – Encontro estudantes de Mestrado

De acordo com o ciclo de atendimento dessa ação voltada para o Turismo Rural, aspropriedades interessadas, após a missão de benchmarking e as proposições do diagnósticopodem solicitar intervenções, por meio de consultorias técnicas, a exemplo dapropriedadeReservaChakraGrisu que desenvolveu uma nova sinalização turística dapropriedade e um novo site para divulgação desse serviço inovador.

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Folder – Parte Interna – Reserva ChakraGrisu

Para o período de 2015 – 2018, novas ações estão planejadas e serão pactuadas emDezembro de 2014, com uma previsão de atendimento a 2.800 empresas do setor turístico eum orçamento de aproximadamente R$ 3.360.000,00.Dessa forma, o atendimento aospequenos negócios realizados pelo Sebrae no DF deve continuar a estimular ofortalecimento de políticas públicas para o turismo do Distrito Federal.

6. REFERÊNCIAS

Barcelona Media Inovação Brasil; ABASE; Sebrae. (2012). Plano de Desenvolvimento Turístico do Brasil Central. Brasília. SEBRAE.

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.(2013). Retrato do Turismo Rural no Brasil com foco nos Pequenos Negócios. Brasília. SEBRAE.

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.(2013). Manual de Programas, Projetos e Atividades. Brasília. SEBRAE.

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GESTÃO PÚBLICA DO TURISMO E DESENVOLVIMENTOEM UM MUNICIPIO DO LITORALNORTE POTIGUAR

Esdras Matheus MatiasUniversidade Federal da Paraíba - UFPB

Plínio Guimarães de SousaInstituto Federal de Pernambuco - IFPE – Campus Barreiros

RESUMO

A proposta desse projeto é contribuir para a discussão e reflexão das repercussões do turismo nocontexto das comunidades locais, com base na análise de uma área turística localizada no litoralnorte potiguar. Um dos objetivos da pesquisa é averiguar as percepções dos gestores públicos de SãoMiguel do Gostoso (RN) quanto aos impactos socioambientais causados pela atividade turística nacomunidade e verificar as transformações sociais, econômicas e ambientais decorrentes da atividadeturística na opinião desses atores. Como procedimento metodológico foi realizado um roteiro deentrevista semiestruturado aplicado em duas visitas de campo realizadas em janeiro e fevereiro de2014.Comorepresentantes do setor público do município foram selecionados: Secretaria decomunicação e turismo, Secretaria de saúde, Secretaria de educação, cultura e desporto, Secretariade agricultura e pesca e representante oficial da cidade (prefeita). Esse levantamento foi fruto parcialda pesquisa de doutorado em andamento em Ambiente &Sociedade do Núcleo de PesquisasAmbientais (NEPAM), Unicamp e nessa etapa entrevistou-se a secretária de turismo e a prefeita domunicípio.Comoresultado preliminar levantou-se a preocupação dos entrevistados com uso eocupação da praia, delimitação da área de lazer e entretenimento para turistas e moradores,legislação municipal para delimitação territorial do parque eólico, circulação de veículos pela orla,área de preservação das tartarugas marinhas, estabelecimento irregular de empreendimentos,especulação imobiliária dos espaços públicos e usofuturoda água.

Palavras-chave: Gestão pública do turismo; Rio Grande do Norte; Políticas públicasdo turismo; sustentabilidade; desenvolvimento local.

1. RIO GRANDE DO NORTE: O TURISMO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS O governo tem um papel decisivo nas questões relativas àspoliticas de turismo,

porque incentiva, cria condições, recolhe tributos que podem ser usados para melhorar ainfraestrutura local, alavancar e conduzir ao desenvolvimento em parceria com organizaçõesde fomento e o trade. Os governos também tem forte interesse no turismo devido seusbenefícios de ordem econômica e social (PAGE, 2013) e isso se fez prevalecer nos macro-programas governamentais dos anos 1980 e 1990 para o nordeste.

As políticas públicas para o turismo no Nordeste e no Rio Grande do Norte (RN)enfatizaram midiaticamente as belezas naturais, estimulando os investimentos estrangeiros,a implantação de megaempreendimentos hoteleiros e a prevalência do segmentoimobiliário-turístico (FERNANDES, 2011); (SILVA, 2010);(CASTILHO e SELVA, 2012);(SILVA eFERREIRA, 2012).As primeiras políticas públicas de fomento à atividade turística do Nordestesão da segunda metade da década de 1960. Mas foi no final da década de 1970 e início dosanos 1980, com a criação de dois fundos de fomento, incentivos federais e a política dos

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megaprojetos que o nordeste começou a se estruturar para o turismo (COSTA e SOUSA,2010).

Para Costa (2008); Fernandes (2011) e Pessoa (2012) o turismo no Estado do RioGrande do Norte (RN) inicia-se no final dos anos 1970 (alavancado pela promoção turística) ecom a construção da Via Costeira (1985), resultado de uma política de megaprojetos. “Odesenvolvimento do turismo potiguar, somente assumiu maior relevância econômica apartirda intervenção do poder público” (SILVA, 2010, p.72). Nos anos 1980 o turismo no RioGrande do Norte deslancha e começa a causar os primeiros problemas decorrentes da suasuperexploração, como a expulsão das populações nativas dos seus locais de origem versusinfraestrutura viária (MARCELINO, 2001).

O fluxo turístico no RN concentra-se principalmente na faixa litorânea ao sul dacapital, com dunas, lagoas, falésias e reservas de Mata Atlântica do Estado, além dapresença marcante das praias em 49 dos seus municípios (BANCO DO NORDESTE, 2012);(FERNANDES, 2011). Para Pessoa (2012) com a construção da rota do sol norte, o turismo seestendeu da praia da Redinha até São Miguel do Gostoso. O PRODETUR II1criou o Programade Polos de Desenvolvimento Integrado do Turismo. “Através desse projeto o litoral leste doEstado do Rio Grande do Norte foi dividido em três regiões turísticas: Região de Natal, Rotado Sol e Rota dos Parrachos” (FELIPE e CARVALHO, 2011, p. 94). Esta última abrange deExtremoz até Pedra Grande e engloba o município de São Miguel do Gostoso.

2. RESULTADOS PRELIMINARES – SÃO MIGUEL DO GOSTOSO

A cidade de São Miguel de Touros no Rio Grande do Norte emancipou-se domunicípio de Touros pela Lei 6.452, de 16 de Julho de 1993, mas o povoado de São Migueldata de Setembro de 18842 (TABOSA, 2000), (IDEMA, 2013). Por força de um plebiscitopopular, São Miguel do Gostoso voltou a ser o nome da cidade, alterado pela lei estadualn.9992 de 05 de Maio de 2001 (IBGE, 2010). O município de São Miguel do Gostoso selocaliza na mesorregião leste potiguar e microrregião do litoral nordeste (FIERN, 2013) e suapopulação da cidade é de 8.659 pessoas, segundo dos dados do IBGE (2010).

A comunidade de São Miguel foi paulatinamente se tornando um lugar propíciopara a prática de esportes náuticos, sendo invadida por turistas, principalmenteestrangeiros. A prática de turismo de aventura e náutico, especialmente da vela, do kitesurf3estimulou a vinda de visitantes e o crescimento do município.

Figura 01: Mapa do Rio Grande do Norte (RN) com destaque para o Município de São Miguel doGostoso (SMG)

1O Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE) é um programa de crédito para o setor público(Estados e Municípios) que foi concebido tanto para criar condições favoráveis à expansão e melhoria da qualidade daatividade turística na Região Nordeste.2 Data corrigida pelo autor3 O nome kite vem de pipa, em inglês. É um esporte que usa uma prancha que desliza pela água impulsionada pelavelocidade do vento, puxada pelo kite.

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Fonte: Elaboração do autor (2014)

Uma característica marcante no município é a preocupação de manter o status quoda cidade. Há uma nítida preocupação dos agentes de assegurar as características depequena localidade costeira, com suas particularidades e hospitalidade, embora hajaclaramente um crescimento que foge ao controle, estimulado pelo turismo e peloestabelecimento das empresas eólicas.

O município é relativamente novo, sendo criado em 1993 e com gestão de apenastrês prefeitos respectivamente: João Wilson (1996-2004), Miguel Teixeira (2005-2012), e aatual Fátima Neri (2012-2016). O governo local é dividido nas seguintes secretarias:Secretaria de Administração Geral; Secretaria de Assistência Social; Secretaria de Agriculturae Pesca; Secretaria de Educação, Cultura e Desporto; Secretaria de Obras e Meio Ambiente;Secretaria de Saúde e Secretaria de Turismo e Comunicação.

Dos 26 distritos que compõem o município, 19 são considerados rurais. Na opiniãoda secretaria de turismo, a localidade tem potencial para o ecoturismo, turismo cultural,turismo rural (ainda incipiente) e o turismo associado ao vento. A ideia da preservação dacultura através da valorização dos locais é uma proposta do município e os primeiros sinaisde um turismo de base local, segundo entrevista. Para a gestora do turismo local oplanejamento turístico requer antes de tudo um inventário. Isso contribui com o que Varine(2012,p.53) expõe: “Toda partilha de conhecimentos em matéria de inventário já e umamaneira de contribuir para o desenvolvimento local”. Há um mapeamento da área de praia eum estudo do Comitê Orla para evitar o dano à reprodução das tartarugas pelo trânsito debuggys na praia.

A despeito das transformações advindas do crescimento da cidade e seusrespectivos problemas, os gestores públicos enumeraram: A articulação na minimização dosproblemas socioambientais, como o destino do lixo, área limítrofe para implantação dosaerogeradores e delimitação da área de circulação dos buggys nos 24km de praia,preservação dos ninhos das tartarugas, além dos conflitos gerados pela discussão do uso da

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Lagoa do Cardeiro, são as questões ambientais em pauta no momento na região. O receiopela ocupação imobiliária no entorno da Lagoa do Cardeiro e o fluxo contínuo de turistas napraia, são duas questões que tem mobilizado a população e as ações da prefeitura.

Há notadamente uma desarticulação dos grupos de labirinteiras (mais presente nodistrito do Reduto), visto que elas ainda não têm um espaço próprio para comercializar seusprodutos, que muitas vezes são vendidos na porta de suas residências, sem precificaçãodefinida. Um dos projetos sociais aprovados pelo Comitê da Cidade, provindo dos recursosdas empresas de energia renovável, visa o fortalecimento do trabalho artesanal daslabirinteiras através da construção de uma associação e um espaço de comercialização dosseus produtos.Outro projeto em processo de implantação é o Banco Solidário de Gostoso(no distrito da Tabua), com o objetivo de organizar e criar uma moeda de troca entre asmulheres que fabricam doces na região. Uma versão preliminar da moeda já circula pelodistrito.

A cidade não tem infraestrutura de abastecimento de água e esgotamento sanitárioe isso acarretará investimentos futuros na obtenção e distribuição de água. Como há umsubstancial aumento dos empreendimentos de hospedagem e alimentação, muitos destesainda não formalizados, visualiza-se em futuro problemas como o destino do lixo e aprodução de resíduos, além da construção sem controle de poços artesanais.

Naturalmente o turismo é um setor que se utiliza do patrimônio natural para seconcretizar como atividade e uma complexa rede de interrelações. São Miguel do Gostosonão escapou incólume desse processo. Os impactos sociais, ambientais e econômicos doturismo (tanto positivos como negativos) destacados por Kimet al (2013) estão claramentepresentes no município: incremento em investimentos, uso e ocupação da terra,deteriorização da cultura local, entorpecentes, tráfego intenso de veículos, oportunidadesde interação social , dentre outros. “Apesar disso, o turismo ainda é uma indústriarelativamente limpa, com menos problemas de poluição se comparado com outros tipos deindústria” (KIM, et al, 2013,p.528).

As quatro empresas de energia eólica que se estabeleceram no município temcontribuído com projetos locais, ainda não mensuráveis. Entre o terceiro setor, a esferagovernamental e o empresariado local há uma relação amistosa de parceria e planejamentointegrado. A comunidade é representada e participa de ações e projetos que interferem nadinâmica da cidade. Como resultado preliminar, percebe-se um processo de legalização deempreendimentos locais, a criação do Conselho de Turismo, atividades de uso e preservaçãodas praias (Tourinhos, Cardeiro, Xêpa, Santo Cristo) redelimitação da área do município (emnegociação com o município vizinho – Touros) e de reorganização de artesãos (Distrito doReduto) e doceiras (distrito da Tabua).

3. REFERÊNCIAS

BANCO DO NORDESTE.(2012)Informações estaduais Rio Grande do Norte. [Natal]: BNB,Disponível:http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/etene/etene/docs/perfil_rio_grande_norte_2012_censo.pdf acesso: 16 Set. 2013

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CASTILHO, Cláudio Jorge Moura de; SELVA, Vanice Santiago Fragoso. (orgs). (2012)Turismo,políticas públicas e gestão dos ambientes construídos. Recife: UFPE.

COSTA, J. Henrique; SOUSA, M. de; (Orgs.) (2010) Política de Turismo e Desenvolvimento:Reflexões Gerais e Experiências Locais. Mossoró: Fundação Vingt-Um Rosado.

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A cultura e o entretenimento como ativos econômicos da cidade contemporânea – Ocenário de Nova Iguaçu/RJ.

Gislaine Oliveira FrançaUniversidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ

Marina Lima dos SantosUniversidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ

Isabela de Fátima FogaçaUniversidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ

RESUMO

Esta pesquisa visou compreender como vem se dando o processo de transformação da cultura emum insumo econômico para reconversão das políticas urbanas, especialmente no município de NovaIguaçu. Optou-se porpesquisas bibliográficas, documentais, na internet e em redes sociais e trabalhode campo. Percebeu-se que, desde a década de 1990, o município se estrutura com base no modeloestratégico de planejamento, em que é privilegiado a cultura e o entretenimento como ativoseconômicos e espaciais, no entanto, ainda as ações são pontuais e não atingem o município comoum todo.PALAVRAS – CHAVE: Nova Iguaçu; Plano estratégico; Economia criativa; City Marketing.

Este trabalho é resultado do projeto desenvolvido pelas autoras, pelo Programa de Iniciação Científica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PROIC 2013-2014).

Nos últimos anos, o planejamento e gestão das cidades vêm seguindo tendências que visam coloca-las em uma espécie de “mercado de cidades”, cujo orientador é a competitividade entre os lugares com o intuito de atrair visibilidade, tanto de investidores quanto de “consumidores” (SANCHEZ, 2010).

No município de Nova Iguaçu as transformaçõessão observadas pelo crescentenúmero de empreendimentos que vêm se instalando,principalmente em sua área central.São estabelecimentos do ramo da hotelaria, como o hotel Mercure da rede Accor, hotéis eApart hotéis da redeMont Blanc;de saúde e fitness como a Smart fitacademia; de alimentose bebidas como o Domino’s Pizza e Etnias Restaurante; condomínios residências como oAqua e comercias como o Le Monde Offices; além da expansão das áreas de comércio e lazercomo Shoppings.Na área de cultura, percebe-se a realização e incentivo a eventos como oEncontro de Artes Cênicas da Baixada Fluminense (ENCONTRART), contemplado com o editalde fomento a empresas criativas do programa estadual Rio Criativo,uma programaçãoconstante de teatro e música,festas como da Banana e do Aipim, etc..

Esses exemplos demonstram que o município tem sido percebido como campo a serexplorado por investidores. E essa perspectiva se reflete nas ações do poder público, que demostra a preocupação em “remodelar” a cidade, a partir da recuperação de áreas antes degradadas por meio de atividades que tragam a circulação para essas áreas e o consumo de

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serviços considerados ativadores dos espaços como os serviços de cultura e entretenimento. Assim, esta pesquisa visou compreender como vem se dando o processo de transformação da cultura, do entretenimento e da criatividade eminsumo econômico para reconversão das políticas urbanas, especialmente no município de Nova Iguaçu/RJ.

Para sua execução foram realizadas pesquisas bibliográficas e documentais, especialmente sobre a política e a administrativa de Nova Iguaçu, bem como sobre as novas perspectivas de planejamento estratégico de cidades. Além disso, foi realizado trabalho de campo com visitas a alguns empreendimentos comerciais e áreas remodeladas da cidade, bem como entrevista com o atual Secretário de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Turismo de Nova Iguaçu, no intuito de se realizar uma análise do contexto estudado.

Entre os principais instrumentos utilizados para o planejamento estratégico de cidades, destacam-se o City Marketing e a Economia Criativa, visto que os mesmos criam mecanismos para promover e consolidar a imagem cidade de forma atrativa a investidores e “consumidores”.

De acordo com Garcia (1997), o city Marketing contribui para a formação/renovação da imagem da “cidade que deu certo”. Essa imagem positiva necessita sermantida, defendida e realimentada, em virtude da aguda competição entre cidades, namanutenção e expansão de investimentos privados.Já a Economia Criativa “[...]abrangedesde os produtos artesanais até as artes cênicas, artes visuais, os serviços audiovisuais,multimídia, indústrias de software etc. (UNCTAD, 2008 apud REIS, 2011, p.14)”

O plano estratégico de Nova Iguaçu data de 1998, e foi elaborado durante aprimeira gestão de Nelson Bornier, entre 1997 e 2001, que ocupa o papel de líder visionáriopreocupado com a promoção da cidade, como destacaCastells e Borja(1996), como um doselementos necessários às cidades estratégicas. O plano teve consultoria de barceloneses,uma prática comum à época (SÁNCHEZ, 2010), quando o modelo-Barcelona seinternacionalizou, principalmente na América Latina, tendo como pioneiro o planoestratégico da cidade do Rio de Janeiro.Entre as linhas estratégicas do plano de Nova Iguaçuestavareforçar e construir a imagem e identidade da cidade por meio de incentivo amanifestações culturais e populares e valorização do patrimônio histórico, cultural eambiental, evidenciando a tendência do planejamento estratégico por meio do que sedenomina Economia Criativa e City Marketing em que a cultura e o entretenimento sãoprivilegiados.

Assim, podemos perceber que a cidade de Nova Iguaçu,principalmente, na áreacentral, sofreu um processo de melhoramento, de forma mais intensa, a partir daelaboração do plano estratégico. As reestruturações mais perceptíveis se deram na região daVia light até o Top Shopping, com iluminação e sinalização diferenciada, incentivo einstalação de empreendimentosvoltados ao entretenimento como bares, restaurantes ecompras, bem como a expansão de seu parque industrial, o que vem fomentando o turismode negócios.

Logo, percebe-se que instrumentos típicos de planejamento estratégico foramutilizados na elaboração e no processo de implantação do plano de Nova Iguaçu. Por outro

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lado, é contraditório pensar em avanços em cidades como Nova Iguaçu que aindaapresentam sérios problemas de infraestrutura, e onde projetos de reestruturação sãopontuais, apenas em áreas centrais, ocultando as reais necessidades de bairros maisafastados do centro.

REFERÊNCIAS

Castells, M.; Borja, J. (1996). As cidades como atores políticos. Novos Estudos, 45, 152-166.

Garcia, F. E. S. (1997).Cidades Espetáculo: Política, Planejamento e City Marketing. Curitiba:Palavra.

Reis, A.C.F.; Urani, A. Cidades criativas - perspectivas brasileiras. In: REIS, A. C. F.;KAGEYAME, P. (Orgs). Cidades Criativas – Perspectivas(2011). São Paulo:Garimpo deSoluções.

SÁNCHEZ, F.(2010).A reinvenção das cidades para um mercado mundial. 2. Chapecó: Argos.

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ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO MUNICÍPIO DE EUNÁPOLIS-BAJilcelia Pinheiro De Oliveira

Universidade do Estado da Bahia - UNEBRenata Coppieters Oliveira De Carvalho

Universidade do Estado da Bahia - UNEB

RESUMO

O objetivo desta pesquisa consiste em analisar o processo de desenvolvimento do turismo nomunicípio de Eunápolis-BA, utilizando como método de pesquisa exploratório, descritivo comabordagem qualitativa, sendo entrevistados os agentes do principal órgão responsável pela atividadeturística no município, buscando compreender a percepção do poder público municipal quanto aimportância da atividade. Para o tratamento de dados utilizou-se a Análise de Conteúdo (BARDIN,2000), de forma a caracterizar o histórico do turismo em Eunápolis, analisar as estratégias deplanejamento e identificar os projetos em turismo desenvolvidos no município. Dessa formapercebe-se a necessidade do planejamento adotado de instrumentos estratégicos que contribuamcom a atividade turística.Palavras Chave: Planejamento; Gestão Pública; Políticas Públicas.

1.INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do turismo e o planejamento da atividade no Brasil se deram apartir de 1966 com a criação da Empresa Brasileira de Turismo - EMBRATUR e surgimento deoutras instituições responsáveis pela promoção da atividade (BECKER, 2011). Dessa forma aBahia ao longo desse processo, buscou desenvolver a atividade com ações e políticas para osetor. Em 2007 foi criadoo Programa de Regionalização do Turismo orientado pelo PlanoNacional de Turismo possibilitando maior autonomia dos Estados e municípiosbrasileiros.Neste processo, o município de Eunápolis, com 25 anos de emancipaçãoepossuindo 100.196 hab. (IBGE, 2010),éreferência em comércio e serviços na região, alémde ser dono da maior festa de São Pedro do Nordeste. Consequentemente, foi incluída naCosta do Descobrimento em 2009, justificado também pela proximidade de Porto Seguro,destino indutor da região. Possui vários meios de hospedagem que atendem a demanda daregião, porém ainda não possui inventário. Além disso, conta com um terminal rodoviário,localizado na BR 367, inaugurado em 1985, administrado pela Sociedade Nacional de ApoioRodoviário e Turístico – SINART desde 2010. Já otransporte interno é realizado por empresamunicipal, além de táxis e moto-taxis. Visando entender como são encarados pelos gestores,a atividade turística, o setor de negócios e serviços, uma vez que são responsáveis pelamaiorporcentagem econômica, perguntou-se, se que forma o turismo está sendo desenvolvido emEunápolis-BA pelo poder público municipal? Dessa forma, visa-secompreender, a partir daspropostas, o caminho pensado para fortalecer a atividade.

2.METODOLOGIA

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O presente estudo foi realizado através de pesquisa descritiva, sendo utilizado ométodo de abordagem dedutivo e pesquisa qualitativa, em conformidade comDencker(1998). Para a coleta de dados foi realizadaentrevista semi-estruturada, análise dedocumentos e pesquisa bibliográfica. Para o tratamento de dados foi utilizada a análise doconteúdo (BARDIN, 2000) e confronto com o referencial teórico, buscando identificar oprocesso de desenvolvimento do turismo na cidade de Eunápolis a partir do poder públicomunicipal, a caracterização do histórico, análise de estratégias e identificação dos projetosexistentes.

3.RESULTADOS E DISCUSSÕES

A formação do município se deu a partir da construção de um ramal, estradaatualmente denominada BR 367 e BA 02, atual BR 101.Foi então que posseiros começaramaacampar, trouxeram suas famílias, e foi aumentando o número de trabalhadores, quetambém explorava a madeira. Foram sendo criadas serrarias, casebres e botecos, até setornar o maior povoado do mundo. Em 12 de Maio de 1988 Eunápolis foi emancipada, e logoapós o término da construção das rodovias, iniciou-se a prática do turismo nas cidadeslitorâneas, já que a BR 367 ligava Eunápolis à Porto Seguro. A partir daí aumentou ocomércio, construção de pousadas, lojas, escolas, além da Veracruz Florestal,embrião daVeracel Celulose. Apenas em 2010 houve a tentativa de criação de um departamento deTurismo, por exigências da Bahiatursa devido à inserção na Costa do Descobrimento,entretanto só em 2013 foi criada a Secretaria de Turismo. Para atingir os objetivos dapesquisa, foram buscados os projetos desenvolvidos no município, os quais não foramencontrados e foi investigada a percepção dos responsáveis quanto o desenvolvimento daatividade. Poucas ações foram catalogadas, e mesmo o setor afirmando a importância doturismo para Eunápolis, percebe-se pouca interação entre os órgãos de turismo, existindodeficiências na articulação que impedem uma proposta de valor, dentre essas a dificuldadede captação de recursos e falta de projetos. É evidente que a falta de estratégia eplanejamento reflete no impedimento de desenvolvimento da atividade efundamentalmente sem a participação da comunidade local é praticamente inviável aproposta de um destino consolidado.

4.CONSIDERAÇÕES FINAISA atividade turística perpassa por vários estágios, e isso exemplifica a condição de

muitos destinos, tendo em vista todo o processo necessário para complementar e consolidara atividade. Eunápolis está em sua fase inicial, de posicionamento quanto ao caminho a sertrilhado. Assim é preciso buscar parcerias de órgãos públicos, privados e terceiro setor juntoà população local, a de fim contribuir para o desenvolvimento, a partir dos instrumentosnecessários para tomada de decisões. Espera-se maior comprometimento dos atores sociaispara uma gestão descentralizada onde todos sejam beneficiados e incentivados a buscaruma identidade permanente para o turismo em Eunápolis.

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5.REFERÊNCIAS

BARDIN, L.(2000). Análise do Conteúdo. Lisboa: Edições 70.

BECKER, B. K. (2001).Políticas e Planejamento do Turismo no Brasil. Caderno Virtual deTurismo, volume 1, 1-7.

DENCKER, A. de F. M.(1998). Métodos e técnicas de pesquisa em Turismo. São Paulo: Futura.

IBGE. (2010). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Recuperado dehttp://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=291072&search=|eunapolis

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PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE NIQUELÂNDIA: riqueza a ser preservada, conhecimentoproduzido com as mãos, ideias e fantasias do povo

ALEXANDRA, Leidilene Arcelino Marinho

Universidade Estadual de Goiás - UEG

GODOY, Rosilene Pimentel dos Santos

Universidade Estadual de Goiás - UEG

LIMA, Rosangela Aparecida Ramos

Universidade Estadual de Goiás - UEG

R E S U M 0

A presente pesquisa busca investigar os conceitos relacionados ao turismo e a cultura material eimaterial, além de, divulgar a importância de preservar patrimônios culturais e sua relevância para odesenvolvimento do turismo local. A riqueza patrimonial, em Niquelândia, objeto desta pesquisa,atualmente, sofre a ameaça de desaparecimento pela falta da valorização e preservação, pois aprópria sociedade local apresenta um comportamento de indiferença aos elementos que consolidama identidade e a sua própria memória. Outro fator, que reforça e estimula o interesse por essapesquisa, é a inexistência de políticas públicas endereçadas a sua manutenção e recuperação.Para o alcance desse intento, foi selecionado o método fenomenológico, pois descreve o objetoestudado e exalta a interpretação dos sujeitos, intencionalmente. Nesse processo de busca, é possívelentender que as coisas não podem ser isoladas de sua manifestação. Com isso, o contexto dainvestigação acontece no município de Niquelândia, cidade com 279 anos de história, que guarda umenorme tesouro cultural, que necessita de novos olhares que o reconheça como uma riqueza a serpreservada e valorizada pela comunidade local e pelo poder público. O procedimento de coleta dosdados foi realizado em referências bibliográficas e documentais. A priori, definiram-se os autores quedefendem essa temática, dentre os quais, destacam-se: Reinaldo Dias (2006), Anderson PereiraPortuguez (2004), Margarida Barreto (2000), Maria Cecília Londres (2004), que reforçam anecessidade da preservação do patrimônio como meio de perpetuação dos conhecimentosconstruídos de cada época. Em seguida, realizou-se uma pesquisa, na Secretaria de Turismo e CulturaMunicipal, para apreciar os documentos que asseguram o zelo pela riqueza patrimonial que existe nacidade. Constatou-se que não existe nenhum documento dessa natureza no município. A pesquisa decampo foi realizada no município de Niquelândia, com alguns moradores e a técnica utilizada foi

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entrevista não estruturada, selecionada por atender o perfil dos sujeitos pesquisados. Nesse processode livre expressão, os entrevistados puderam relatar de que forma eles percebem a valorização dopatrimônio Cultural local. No discurso dos entrevistados, percebeu-se que “realmente é importantemanter a tradição dos casarões, que têm estrutura antiga, bonita, porém muito diferente dasconstruções de hoje em dia”, “para manter a história viva, é preciso preservar”, “outras cidadeshistóricas valorizam mais o patrimônio histórico do que Niquelândia”. As falas dos sujeitos confirmama autora Margarita Barreto (2000), quando evidencia que o patrimônio em todas as suas formas deveser preservado, valorizado e transmitido às gerações futuras, como testemunho da experiência e dasaspirações humanas, com o objetivo de nutrir a criatividade em toda sua diversidade e instaurar umverdadeiro diálogo entre as culturas. O patrimônio cultural ocupa um papel de testemunho dahistória, que foram legados pelos antepassados e que, em uma abordagem de sustentabilidade,deverão ser transmitidos aos nossos descendentes, acrescidos de novos conteúdos e de novossignificados, os quais, provavelmente, deverão sofrer novas interpretações de acordo com asrealidades socioculturais vigentes. Portanto, este estudo visa divulgar, para a comunidade local e osrepresentantes dos diversos segmentos da sociedade, que o município de Niquelândia guarda umenorme tesouro cultural e carece de novos olhares, que o reconheça como uma riqueza a serpreservada e valorizada. Porém são necessárias políticas públicas voltadas para a sensibilização dossujeitos na construção de projetos e programas, para a sua ativa manutenção e seja visto comorecurso de grande potencial histórico e econômico.

REFERÊNCIAS

BARRETO, Margarita. Cultura e Turismo: discussões contemporâneas– Campinas, SP: Papirus, 2000.BERTRAN, Paulo. História de Niquelândia: do julgado de Traíras ao Lago Serra da Mesa/ Brasília:Verano Editora, 3° Ed.2002.

BRAYNER, Natália Guerra Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) 3°Ed.—Brasília,DF: Iphan, 2012.

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DIAS, Reinaldo. Turismo e patrimônio cultural-recursos que acompanham o crescimento dascidades/– São Paulo: Saraiva 2006.

HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Guia Básico de Educação Patrimonial/. – Brasília: Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 4°Ed: fev. 2009.

LONDRES FONSECA, Maria Cecília. (org.) Celebrações e Saberes da Cultura Popular. Pesquisa,inventário, crítica, perspectivas. Brasília: IPHAN / 2004

MARTINS, José Clerton de Oliveira. Turismo, Cultura e identidade. - São Paulo: Roca, 1°Ed.2003.PORTUGUEZ, Anderson Pereira. Turismo, memória e patrimônio cultural. – São Paulo (SP): Roca,2°Ed. 2004.

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PROJETO CIRCO ALVORADA: DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À CULTURA NA BARRA DATIJUCA (RJ)

Marina Marins MorettoniUniversidade Federal Fluminense - UFF

Juliana Carneiro da CostaUniversidade Federal Fluminense - UFF

RESUMO

O presente trabalho apresenta a pesquisa das autoras, que está em andamento, Aceitabilidade dosMoradores sobre a Implantação da Lona Cultural da Barra da Tijuca, o Projeto Circo Alvorada.Palavras-chave: Turismo, Políticas Públicas, Democratização da Cultura, Barra da Tijuca, RJ.

1. INTRODUÇÃO

A pesquisa em andamento busca identificar junto aos moradores da Região daBarra da Tijuca (RJ)o nível de aceitabilidade do Projeto Circo Alvorada.O projeto, idealizadopelo Coletivo Lá Vai Maria, pela CIA de Teatro Os Novos Arteiros e pelo Instituto ProjetarBrasil, é um manifesto à crescente desigualdade sócio demográfica da região, que visa captarinvestimentos públicos e privados para a instalação de uma Lona Cultural nos padrões doCirco Voador, localizado na Lapa (RJ), espaço de grande atratividade turística.

O bairro da Barra da Tijuca surgiu como um projeto de extensão da Zona Sul do Riode Janeiro, para aumentar a área nobre da cidade, pautando-se no modelo de cidadeplanejada de Brasília,porém os interesses imobiliários na região se sobressaíram, resultandona formação socioeconômica e espacial marcada pela desigualdade social (FERNANDES,2013; LEMOS,2004), que se reflete no acesso aos espaços de lazer e entretenimento.

A democratização da cultura e do lazer deve ser promovida pelo governo emparceria com organizações não governamentais e o setor privado. Com o crescimento doestudo do lazer, observou-se o prolongamento do mesmo para a prática cotidiana,justificando a necessidade de políticas públicas de acesso à cultura e informação comoforma de inclusão social(GOMES, 2012). Uma vez que, a cultura assume papel relevante noreforço da cidadania, para o desenvolvimento humano e valorização territorial. (GUERRA et.QUINTELA, 2007), assim como o fenômeno turístico.

Os processos de apropriação dos espaços pelo turismo trazem implícito umcomplexo jogo de interesses constituído pela combinação entre as diversas lógicas de cadaum dos agentes sociais envolvidos (FRATUCCI, 2008).A importância da comunidade local,sendo um desses agentes, demanda atenção especial, uma vez que, a execução do projetopode gerar impactos diretos para a mesma.

2. METODOLOGIA

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A pesquisa em andamento tem uma amostra selecionada por conveniência de 200questionários, a serem aplicados em diferentes locais da região, visando alcançar osdiferentes perfis socioeconômicos dos residentes da Barra da Tijuca.

O questionário é dividido em três partes. A primeira estabelece o perfil sóciodemográfico do entrevistado, contendo perguntas sobre como gênero, faixa etária, grau deinstrução e renda familiar mensal. A segunda parte indagará sobre a frequência que omorador participa de práticas de atividade culturais e quais tipos. Por fim, a terceira partetem por objetivo saber a opinião do entrevistado sobre a possibilidade da implantação daLona Cultual na Barra da Tijuca, com perguntas sobre sua opinião acerca de sua satisfaçãosobre as políticas púbicas culturais para a região, sobre a oferta dos espaços alternativos,entre outras abordagens. Após a aplicação dos questionários, as autoras farão a tabulação eanálise dos dados, e em seguida será redigido um artigo científico com a apresentação dosresultados obtidos na pesquisa.

3. CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA Acredita-se que a pesquisa em andamento pode contribuir para a reflexão da

importância da cultura como fator de reafirmação da cidadania, na prática da inclusão social,chamando atenção para a importância de políticas públicas de acesso à cultura einformação. Considera-se que a implantação do Projeto Circo Alvorada pode se configurarcomo uma nova oferta cultural da cidade, oxigenando os fluxos de turistas e visitantes daregião da Barra da Tijuca, além de contribuir para a democratização do acesso à espaços eatividades culturais e de lazer, atendendo à diversidade de perfis sócio demográficos dosmoradores do bairro.

4. REFERÊNCIAS

GUERRA, Pet QUINTELA, P. A Cultura como alavanca de inclusão e de participação social:uma nova geração de políticas públicas de proximidade. FirstInternationalConferenceofYoung UrbanResearchers CIES – Centre for ResearchandStudies in Sociology. Lisbon, 11 th-12 thJunho, 2007.

FERNANDES, T. Barra da Tijuca (RJ), Plano Piloto, Legislação e Realidade: o processo deurbanização, ocupação e suas consequências ambientais. Revista VITAS – VisõesTransdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade. ISSN 2238-1627, Ano III, Nº 6, abril de 2013.

FRATUCCI, A. C. A dimensão espacial nas políticas públicas brasileiras de turismo: aspossibilidades das redes regionais de turismo. Niterói: Universidade FederalFluminense,2008.

LEMOS, L. Reprodução das Elites, Consumo e Organização do Espaço Urbano: QuestõesComparativas entre a Barra da Tijuca e a Zona Sul do Rio de Janeiro. Cadernos EBAPE.BR -Volume II – Número 2 – Julho 2004.

GOMES, C. L. Los estudiosdelocioen Brasil: Unanálisis histórico-social. Estud. perspect. tur.,Ciudad Autónoma de Buenos Aires, v. 21, n.5, oct. 2012. Disponível em:

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TURISMO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS ADOTADAS EM PIRENÓPOLIS,GOIÁS

Samara Benedita LôboUniversidade de Brasília

RESUMO:

Surgida no período da mineração do ouro, a cidade de Pirenópolis vem se firmandocomo um importante destino turístico do estado de Goiás. Com localização privilegiada euma oferta turística diversificada,a cidade tem atraído um número cada vez maissignificativo de turistas para a região. Propõe-se, através de uma breve análise verificar asmudanças ocasionadas pela atividade turística e as políticas públicas que estão sendoadotadas na preservação do patrimônio histórico-cultural e natural da cidade.

Palavras-chave: Turismo – Políticas Públicas – Pirenópolis

Por políticas públicas compreende-se as ações desenvolvidas, ou não, por parte dopoder público nas esferas federais, estaduais e municipais. As diretrizes adotadas devemestar articuladas para que os projetos cheguem em forma de benefícios às populações e nãosomente a uma parcela da sociedade.

Quando voltadas para localidades turísticas estas ações se tornam mais complexas,pois é necessário um planejamento adequado para atender aos anseios dos autóctones, dotrade turístico e dos turistas que frequentam estas localidades. Em muitos casos “é comum aturistificação dos lugares anteceder, pela força econômica e política, às necessidadesemergentes dos lugares” (CASTROGIOVANNI, 2000, p.133).

Pirenópolis é uma cidade do interior do estado de Goiás, surgida no período damineração do ouro no século XVIII. O fato de estar situada a menos de 200 km de distânciadas duas capitais: Goiânia (Goiás) e Brasília (Distrito Federal), aliado aos seus atrativos:históricos, culturais e naturais tem colocado a cidade como um importante destino turísticoda região. Entretanto, este aumento da população nos finais de semana e feriados,motivadopelo aumento do fluxo turístico, não veio acompanhado por políticas públicas adequadas àsuasituação atual.

Propõe-se, através de uma breve análise, verificar as políticas públicas que estãosendo adotadas na cidade de Pirenópolis, para Demo “analisar significa decompor um todonas partes, desfiando uma a uma, em particular as tidas por mais importantes”(2013, p. 15).

Pirenópolis tem sido alvo de fortes investimentos por parte do poder público federale estadual,estesinvestimentos são em sua maioriavoltados para a ampliação do território deuso do turismo, mas falta planejamento por parte do poder público municipal, que deve

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servir como um elo articulador, para que estes projetos tragam benefícios a todacomunidade.

O turismo é uma atividade social com forte apelo econômico, seu efeito multiplicadore o incremento que este provoca na economia dos destinos receptores é inegável,entretanto a falta de planejamento pode culminar em sérios problemas aos Patrimôniosdestas localidades.

Como ferramenta inicial para o processo de planejamento em Pirenópolis, têm-se aaprovação do Plano Diretor, que foi revisado em 2012, mas não foi aprovado até então, estecontribuirá para tornar o crescimento mais ordenado, além de auxiliar na preservação dosbens histórico-culturais e naturais da cidade. O PlanoNacional de Turismo(PNT),desenvolvido para orientar a atuação do governo no setor, também é um importanteinstrumento neste processo, quando aliado ao Plano Municipal de Turismo, que na cidadede Pirenópolis está em vigor desde 2012, poderão de forma articulada, oferecersubsídiosaos gestores para que o turismo atue de formamais sustentável na região.

Outro mecanismo importante é a estipulação da capacidade de carga, tanto dosatrativos quanto da cidade, pois é comum a falta de água e energia elétrica durante os finaisde semana e feriados, além do trânsito caótico nas ruas do centro histórico, que podemfacilmente ser comparado a grandes centros urbanos, devido ao número de turistas quefrequentam a cidade.

“São múltiplas as transformações que tem ocorrido em Pirenópolis e o processo temsido muito rápido” (LÔBO e LÔBO, 2013, p.15),portanto, o planejamentonão deve serdeixado em segundo plano, este deve ser uma realidade nas ações desenvolvidas na cidade,pois só com um planejamento adequado é que se poderá minimizar os efeitos negativos emaximizar os positivos, inerentes à atividade turística.

Referências Bibliográficas

CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos. Por que geografia no turismo? Um exemplo de caso: PortoAlegre. In. GASTAL, Suzana (org.). 9 propostas para um saber-fazer. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.150 p.-(Coleção Comunicação, 4).

DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas,2013.

LÔBO, Samara Benedita; LÔBO, Tereza Caroline. O turismo como vetor das transformações urbanasde Pirenópolis, Goiás. Buildingtheway. Revista do Curso de Letras da UnU-Itapuranga, v.3, n.1, p.7-19,2013.

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A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO NA REGIÃOTURÍSTICA DO LITORAL DA PARAÍBAPELA ÓTICA DA ANÁLISE DE REDES SOCIAIS (ARS)

Ana Valéria EndresUniversidade Federal da Paraíba - UFPB

Gutenbergue Viana da SilvaUniversidade Federal da Paraíba - UFPB

RESUMO

Objetivando investigar as implicações do Programa de Regionalização do Turismo (PRT) na RegiãoTurística do Litoral da Paraíba, utilizou-se a análise de redes sociais (ARS) para observações sobre asrelações institucionais forjadas por essa política. Além do caráter bibliográfico e documental, foramfeitas entrevistas com os principais atores e tambémpessoasque surgiram a partir da indicação dosmesmos. Identificaram-se mudanças consideráveis na estruturação do PRT, desenhando um novopanorama na região, implicando na posição forte da Empresa Paraibana de Turismo na rede atual econfirmando situação de inatividade da Secretaria de Turismo do Estado como a interlocutora doPRT. O futuro da região no âmbito do programa é bastante incerto, devido pouco comprometimentodos municípios e da Secretaria que deveria impulsionar a implementação do programa nesta RegiãoTurística.

Palavras-chave: Política de Turismo; Programa Nacional de Regionalização do Turismo - PRT; Análisede RedesSociais - ARS; Participação.

1. INTRODUÇÃO

O discurso do turismo como fator de desenvolvimento sustentável/endógeno/localestá presente em todas as ações colocadas pelo governo federal para estimular a atividade.A mais importante política pública orientada para esse fim é o Programa de Regionalizaçãodo Turismo – Roteiros do Brasil (PRT) lançado em 2004 no primeiro governo de Luís InácioLula da Silva e reeditado em maio de 2013 pelo governo Dilma Rousseff. E este ainda temcomo meta principal integrar o país no mercado turístico internacional.

De caráter descentralizador, esta política determina a constituição das Instâncias deGovernança Regional, caracterizadas como arranjos institucionais que devem,obrigatoriamente, pautarem-se pela participação de diversos segmentos da sociedade. Mas,para sua viabilidade política coloca-se cada vez mais em evidência a necessidade dofortalecimento das relações institucionais entre os atores que dela participam para tornarmais eficiente as ações propostas.

Não há divergências nas referências específicas sobre turismo sobre asconsequências benéficas que a atuação baseada em um planejamento participativo podepropiciar à sociedade(Beni, 2006; Hall, 2001, Endres, 2002, 2014a). Porém, ainda falta aoplanejamento da atividade assimilar a importância dos relacionamentos (redes) ao seu

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processo. Por isso, é fundamental compreender que o planejamento é, em essência, umprocesso político e como tal, seus reflexos na sociedade devem ser encarados comoconsequência dos valores e das ideologias, da distribuição do poder, das estruturasinstitucionais e dos processos de tomada de decisão que os atores de cada município eregião apresentam.

Em estudo desenvolvido com objetivo de investigar estas questões, Endres(2012)observa que a Instância de Governança Regional do Fórum Turístico do Litoral criadoem 2009 com grande êxito em seus primeiros anos, apresentava no fim de 2011 umasituação desenhada pela falta de apoio financeiro e logístico da Secretaria de Turismo eDesenvolvimento Econômico (SETDE) – interlocutor oficial do PRT no estado –, e aparticipação pouco efetiva das prefeituras em dar seguimento às ações específicas deplanejamento turístico em seus municípios, delineadas no âmbito do Fórum.

Tendo em vista essas considerações, foi desenvolvido o Projeto Institucional deBolsas de Iniciação Científica (PIBIC 2013/2014) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)intitulado “As políticas de turismo, a análise de redes sociais (ARS) e a institucionalização dosespaços de participação na Paraíba: o caso do Programa de Regionalização do Turismo –PRT” no qual está atrelado o plano de trabalho “A capacidade institucional dos municípiosincluídos na Região Turística do Litoral – Instância de Governança Regional do Programa deRegionalização do Turismo na Paraíba”.

O Projeto tem como objetivo aprofundar as pesquisas sobre as Instâncias deGovernança Regional nas diversas Regiões Turísticas definidas pelo PRT na Paraíba. Nesteartigo, que tem no plano de trabalho sua origem, busca-se analisar a dinâmica do FórumTurístico do Litoralentre os anos de 2011 a 2014 de modo a continuar a acompanhar suatrajetória, e aprofundar a compreensão em como este espaço de participaçãovemcontribuindo para a implementação das propostas de ação doPRT na Paraíba.

Para a elaboração do trabalho, em um primeiro momento, buscou-se ampliar asreferências bibliográficas sobre o tema nas bibliotecas da UFPB, em revistas especializadas eem diversos sites da internet, além de buscar dados em monografias, dissertações e tesesdesenvolvidas sobre os temas a serem discutidos neste artigo. Foi realizada paralelamenteuma pesquisa documental e análise do conteúdo das diretrizes defendidas pelo PRT em suanova edição para também entender os processos de sua implementação adotados pelosórgãos de turismo nos âmbitos estadual e municipal. Houve acesso também a materiais maisrecentes sobre as últimas reuniões do Fórum que foram documentadas.

Foram entrevistados os indivíduos vinculados ao PRT, como o interlocutor estadual,o interlocutor regional e os interlocutores municipais, e outras pessoas que puderamcorroborar informações sobre a construção da trajetória da implementação dessa política deturismo na Paraíba. A pesquisa de campo foi realizada entre os meses de março a julho de2014 nos seguintes municípios: Mataraca, Baía da Traição, Marcação, Rio Tinto,Mamanguape, Lucena, Cabedelo, Conde, Caaporã, além da capital paraibana. Foramentrevistados os atuais representantes das Secretarias de Turismo de cada município,

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segundo documentos oficiais que aos quais se teve acesso via SETDE (interlocução oficial doPRT no estado da Paraíba).

Nas visitas, apenas dois representantes municipais não puderam ser entrevistados,foram eles: o interlocutor do município de Santa Rita, que não possuía secretário de turismona época que estavam sendo realizadas as entrevistas devido à instabilidade política que omunicípio estava vivendo no momento4, e o interlocutor do município de Bayeux que nãorespondeu às tentativas de contato durante o tempo delegado para as entrevistas.

As perguntas abordaram: questões pessoais, como a formação dos entrevistados,seu histórico relacionado à área de turismo;questões de caráter político/administrativo,principalmente sobre a situação da pasta de turismo que administram; questões sobreinformações acerca do Fórum Turístico do Litoral; sobre o contexto que conheciam doturismo local em termos da participação das instituições relacionadas ao planejamento doturismo; além de questões sobre recursos físicos, estruturais e humanos que dispunham ounão, recaindo para uma análise sobre qual o papel da secretaria, motivação para o trabalhocom o turismo e pontos fortes e fracos no desenrolar do trabalho naorganização.

Para o desenvolvimento deste estudo, além das entrevistas realizadas em funçãodos atributos dos atores, ainda foram entrevistadas pessoas, cujos nomes surgiram a partirda aplicação da técnica de amostragem snowball (bola de neve), que teve como ponto departida a interlocução estadual do PRT na Paraíba. A ideia era partir do presidente do Fórum,contudo, não foi possível o contato com essa pessoa inicialmente, então optou-se emcomeçar pela interlocução estadual do programa que nos possibilitou acesso a uma série dedocumentos oficiais atualizados. A partir da indicação dos próprios entrevistados, descobriu-se quais são os demais atores de relevância para a implementação do PRT entre 2011 a 2014e o consequente desenvolvimento do turismo na região. É uma seleção de informantesbaseada, segundo Scott (2005), pela concepção reputacional.

Os dados coletados na pesquisa empírica, mais especificamente o conjunto deindivíduos elencados pela snowball, foram insumos para Análise de Redes Sociais (ARS),entendida como um método de investigação que busca evidenciar as relações estabelecidasentre os diversos atores em contexto sociais e políticos específicos. Desse modo, foi possíveldelinear a rede atual da Instância de Governança do Fórum do Litoral e analisar, a partir dosvínculos institucionais estabelecidos entre os indivíduos que representam as prefeiturasmunicipais e os indivíduos representantes dos órgãos estaduais envolvidos, os padrões derelações que se estabelecem no processo de planejamento do PRT na região litorânea daParaíba.

O artigo está composto por algumas considerações teóricas a respeito de políticaspúblicas em turismo, desenvolvimento e análise de redes; em seguida apresenta osresultados obtidos a partir das visitas in loco as municipalidades pertencentes à referidaregião turística e da análise dos sociogramas configurados pelas relações entre os atores que

4Juiz autoriza prefeito de Santa Rita, PB, a retomar cargo após ser afastado. Disponível em<http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2014/03/juiz-autoriza-prefeito-de-santa-rita-pb-retomar-cargo-apos-ser-afastado.html> Acesso em 26 de mar de 2014.

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fazem parte desse novo momento da política de regionalização no litoral; e, ao fim, algumasconclusões sobre o estudo realizado e orientações para novas pesquisas.

2. AS POLÍTICAS DE TURISMO E A ANÁLISE RETICULAR

De maneira geral uma política de desenvolvimento local tem como objetivo atuarde forma conjunta sobre o desenvolvimento urbano do território, a organização flexível daprodução, as inovações e difusão do conhecimento e a flexibilidade e complexidadeinstitucional para estimular o desenvolvimento em cada localidade ou território.

Na conjunção destes fatores, cabe ao Estado propiciar estratégias locais dedesenvolvimento instrumentadas através de ações que procurem realizar os objetivos deaumento da produtividade e da competitividade do sistema produtivo, de melhoria dadistribuição de renda e da conservação dos recursos naturais e do patrimônio histórico ecultural. Atua assim, como um instrumento que procura integrar e melhorar ocomportamento de cada um dos fatores determinantes acima elencados para que aeficiência dos mesmos possibilite o desenvolvimento em suas bases locais (Barquero, 2001).

Pelo prisma da análise política sobre o desenvolvimento local, a flexibilidade e acomplexidade institucional tornam-se mais importantes, pois se evidenciam por umambiente institucional ao qual o setor produtivo está atrelado, caracterizado por densasredes de relações envolvendo empresas, instituições de ensino e de pesquisa, associaçõesde empresários, sindicatos e governos locais, que fornecem ao setor econômico específicopossibilidades de utilizar com maior eficiência os recursos disponíveis e melhorar, assim, suacompetitividade no mercado global.

Para tanto, o planejamento tem sido o método quase unanimemente utilizado paratrabalhar as relações entre Estado, sociedade e mercado na constante busca pelodesenvolvimento. Segundo Cullingsworth (1997 apud Hall, 2001) planejar é um processo noqual há intenções determinadas para a definição de metas e objetivos e, na tentativa decolocar-se em prática o planejamento, há necessidade da elaboração de políticas.

Dentro do processo de planejamento, a elaboração das políticas públicas é oprincipalinstrumento que norteia as ações do poder público. Essas políticas são influenciadaspor características econômicas, sociais e culturais de determinada sociedade, pelasestruturas formais do governo e o sistema político em voga, ou seja, a política é um espelhodo ambiente social, cultural, dos valores, ideologias, distribuições de poder etc.

A política pública é tudo que o Estado através do governo instaurado decide ou nãofazer. Objetivamente, deve passar por um processo de deliberação pública e ser ratificada.Muitas instâncias influenciam o processo de deliberação de uma política pública, havendo aconstante necessidade de acomodação de diversos setores da sociedade e do Estado, nemsempre com interesses convergentes. O estudo das políticas públicas pode ajudar acompreender as causas e consequências das decisões, assim, entendendo-se melhor comose processam as relações entre as diversas esferas de interesses em determinados setores esua situação atual (Hall, 2001).

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O turismo historicamente tem ocupado diversos espaços na estrutura político-administrativa, pelo fato de envolver diversos atores econômicos e impactar outros setoresque são importantes para o Estado como o social, cultural, de lazer etc. Corroborado àperspectiva de Davidson (2001), deve-se entender o turismo não como um setorindependente, mas transversal a outros diversos setores e que deve ser estruturado com acontribuição dos vários interessados em sua dinâmica.

Nesse sentido, é importante entender as interações que existem entre essessetores e seus interesses acerca da atividade turística. Esta interação é extremamentenecessária no direcionamento do planejamento e na gestão do turismo, sendo responsável,por exemplo, por tomadas de decisões sobre recursos, definirá habilidadespolítico/administrativas, podendo ser afetada por jogos de influências dentro desseprocesso.

É necessário sempre saber quais são as instituições e organizações que serãofundamentais durante o processo de planejamento. Há muitos setores e potenciaisinteressados que nem sequer tem noção do quanto podem ser estratégicos para oplanejamento turístico, por isso é importante ter a compreensão da complexidade daatividade e em meio a esta identificar esses sujeitos, sensibilizando-os para ações maiscoordenadas.

A noção da cadeia produtiva do turismo deve dar subsídios à identificação donúmero de envolvidos e suas atribuições, na qual se toma como variável importante aquestão da capacidade institucional que estes detêm (Sagi, 2009). Em um contexto de maiorflexibilidade e complexidade institucional é esta capacidade que permitirá um melhortrânsito das necessárias inter-relações entre indivíduos e organizações. De modo oposto, aspossibilidades de desenvolvimento tornam-se distantes em razão das carências e do maufuncionamento da rede institucional que é desenhada por este contexto, comumenteentendida como redes de políticas públicas (Endres, 2014b).

As redes assim formadas, segundo Burity (2005)são importantes porque é aí emque se dá a constituição de campos de forças no qual se definem atores, práticas, demandase também no qual se determina o que é e o que não é aceitável, legítimo, necessário,urgente, possível, bem como a quem e de que forma se deve dar/distribuir o quê dosrecursos materiais e simbólicos existentes na ordem social.

Tais aspectos podem ser melhor compreendidos a partir da Análise de Redes Sociais(ARS), a qual,

[Para alguns autores] (...) trata-se de uma metodologia de análise de dadosrelacionais que permite a captação de diversos fenômenos sociais que sedeseja estudar, segundo a teorização de uma área de conhecimentoespecífica. (...) Para outros, é uma tentativa de se introduzir um nívelintermediário entre os enfoques micro e macro na análise da realidadesocial, ou entre o indivíduo e a estrutura (Marteleto, R.; Silva, A., 2004, p.42).

Segundo Marques (2000; 2007) a análise de redes sociais é um método para adescrição e a análise dos padrões de relação da estrutura das entidades na sociedade, o que

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permite identificar as posições/papéis sociais que florescem a partir do padrão das relaçõesentre os atores. É o que ele chama de “poder posicional”, em contrapartida ao “poderinstitucional”, sendo ambas as formas de poder fundamentais para o desenrolar da açãoestatal e, neste caso em especial, para a implementação do PRT no litoral da Paraíba.

O PRT, inserido no Plano Nacional de Turismo (2013/2016), é o principalmacro programa de orientação para a política de turismo na qual o governo federal apóia-se.Reestruturado em 2013, reitera os conceitos tanto em termos de fortalecimentoinstitucional quanto em termos da importância para a formação de redes (Brasil, 2013). Odocumento apresentando as novas diretrizes do PNT (2013/2016) considera que, mesmotendo sido institucionalizadas algumas redes de cooperação representadas pelas Instânciasde Governança Regionais,

(...) é necessário avançar no apoio às ações que promovam a organização ea integração motivando a participação e a ampliação da representatividadedos agentes produtivos nas diferentes instâncias de governança queintegram o modelo de gestão (...) (Brasil, 2013 p.26).

Neste momento, o discurso governamental avança quando aventa que, a tentativade inferir as possíveis repercussões que o PRT pode ter para o desenvolvimento das regiõesturísticas do Brasil e da Paraíba mais especificamente, não deixa de estar condicionadas pelacapacidade do Estado e demais organizações da sociedade civil em aceitar e valorizar umaparticipação mais democrática nas arenas que o primeiro estabelece.

3. REGIÃO TURÍSTICA DO LITORAL DA PARAÍBA E A ARS

Os insumos para delinear as redes foram obtidos através das entrevistas edasindicações dos atuais representantes na Instância de Governança do Fórum do Litoral dasmunicipalidades que integram a Região Turística do Litoral. Cada um dos representantesindicou uma pessoa que, segundo seu julgamento, seria sua referência principal deinformações sobre o Programa de Regionalização do Turismo e consequentemente sobre aRegião Turística do Litoral da Paraíba.Dessa maneira, pode-se desenvolver a seguinte redecomo mostra a Figura 1:

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Figura 1 – Rede formada pelos entrevistados e suas indicações reforçando os atributosinstitucionais e de relação com o território do litoral norte e do litoral sul

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

O sociograma da Figura 1 mostra nos círculos amarelos as representatividades dolitoral norte, nos círculos verdes as do litoral sul, e no único círculo vermelho a Presidente doFórum. Nos triângulos, têm-se os atores que foram citados por cada um dos representadospelos círculos. Os triângulos para cima são os atores vinculados à Empresa Paraibana deTurismo (PBTUR) e os triângulos para baixo os atores vinculados à SETDE. As letras, mais onodo 267, são os novos atores que se agregaram a rede do Fórum nos últimos anos e osnúmeros representam os atores que já faziam parte da rede de políticas públicas de turismona Paraíba até 2011, como pode ser visto mais a diante na Figura 3.

A primeira observação a ser feita é que todos os atores entrevistados, mesmo osque declaradamente não conhecem o PRT ou mesmo seus antecessores da Instância deGovernança do Fórum do Litoral, citam indivíduos vinculados ao governo do estado, comdestaque para a atuação da PBTUR – esse órgão se mostra bastante forte na rede atualformada pelos municípios vinculados oficialmente ao programa.

Percebe-se na rede mostrada pelo sociograma que existe uma unidade maior entreos representantes do litoral norte em relação às discussões vinculadas ao PRT e a Região doLitoral. O grupo dos quatro atores (A, B, C e I), representando respectivamente as prefeiturasde Mataraca, Baía da Traição (Interlocutor Regional), Mamanguape e Marcação citou umrepresentante da PBTUR, responsável atualmente pela Diretoria de Economia e Fomento5.De acordo com as entrevistas, deixa-se claro que todo o impulso para a estruturação do

5Usar-se-á esse termo “grupo dos quatro” para esse conjunto de atores que, como percebido através dasentrevistas e pela própria rede, formam um grupo de atores que tem ser reunido informalmente em torno doplanejamento turístico para o litoral norte e da relação dos mesmos com o nodo 84 da rede.

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litoral norte em torno da organização da Associação Turística do Litoral Norte da Paraíba6 étotalmente atribuído à PBTUR.

Fica bastante explícito que, para o grupo dos quatro, a relaçãocom a SETDE é vistacomo “arredia e distante” do território. Toda a comunicação com o governo do estado étotalmente vinculada a PBTUR. A empresa é sempre citada como a que faz a ligação entre osmunicípios e o governo federal, e, ainda, auxilia com a parte burocrática para implantaçãoda Associação, como uma espécie de assessoria informal.

Para compreender melhor a relação existente entre o grupo dos quatro e o diretorda PBTUR citado, foi realizada uma entrevista com o mesmo na qual ficaram claras algumasquestões. O diretor, até 2013, não possuía qualquer relação anterior com os que o citaram emenos ainda com o litoral norte. O que aconteceu segundo relata, é que o Ministério doTurismo teria dado um prazo bastante curto para que o estado redefinisse o seu mapaturístico7 e dessa maneira a PBTUR, tendo em vista a falta de quadros na SETDE para agilizaresse trabalho em tempo hábil, auxiliou no processo de interlocução e o referido diretor foientão designado para atuar na região do litoral norte.

Figura 2 – O primeiro Mapa da Regionalização da Paraíba, em destaque a Região Turística doLitoral em azul.

Fonte: SETDE (2009).

6 A AssociaçãoTurística do Litoral Norte da Paraíba (Lucena, Rio Tinto, Marcação, Mataraca, Mamanguape eBaia da Traição) começou a ser mobilizada em 2013 através do Comitê Turístico do Litoral Norte. A Associaçãoainda não está formalmente institucionalizada e não existe nenhum documento como atas de reuniões ouregimento interno, mas o secretário é otimista no que diz respeito aos avanços conquistados durante poucomais de um ano das novas gestões municipais.7 A atualização dos mapas turísticos estaduais esteve de acordo com a publicação das novas diretrizes doPrograma de Regionalização do Turismo, reeditado em 2013.

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Figura 3 – Mapa da Regionalização atualizado em 2013, em destaque os municípios da RegiãoTurística do Litoral Norte em laranja e os municípios da Região do litoral Sul em bordô.

Fonte: SETDE (2013).

Esse novo desenho do mapa turístico paraibano provocouuma nova configuraçãoda região do litoral,tendo havido mudanças estruturais nas quais houve a divisão da RegiãoTurística do Litoral em Litoral Norte e Litoral Sul(Figura 3). Essas mudanças, contudo, foramprocessadas unilateralmente pelo estado; houve uma reunião na qual foram convidados osmunicípios que figuravam no mapa anterior – de 2009 – e todos os demais que quisessem seincluir no mapa: os representantes que apareceram nessa única reunião ficaram comointerlocutores municipais8 e daí também explica-se, por exemplo, o não aparecimento nomapa turístico de municípios como Pitimbu, detentor de diversos atrativos turísticos.

A entrevista com o diretor também deixa claro que é de conhecimento geral, nosbastidores de ambos os órgãos estaduais, a complicada situação estrutural da SETDE e quede fato existem potenciais problemas de competências entre os técnicos da secretaria (quesão especificamente dois, entre eles, a Gerente interlocutora do PRT) e os técnicos daPBTUR.

Essa atestada situação de inatividade da secretaria estadual como interlocutora doPRT na região do litoral confirma-seaos conflitos de competências entre as duas principaisinstituições turísticas estaduais já identificadas por Endres (2012), que analisou o período dahistória do turismo paraibano até 2011. Lá, conclui-se que:

8 Caso, por exemplo, do ponto D na rede que fica isolado por não ter indicado ninguém. Este ator figura comointerlocutor no município de Caaporã por ter aparecido nessa única reunião que decidiu o desenho do novomapa, contudo, na entrevista, o próprio representante do município deixa claro que não conhece ninguémespecificamente do turismo e suas ações no município à frente da secretaria são orientadas apenas por festasrealizadas com a ajuda financeira do Ministério do Turismo.

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A ausência de um palpável planejamento integral e de longo prazo; asmudanças de gestão que priorizavam novas ações deixando paralisadas,praticamente, todas as outras que vinham sendo executadas pela gestãoanterior; sobreposição de competências entre os dois órgãos estaduais deturismo; a rotatividade de assessores e um quadro reduzido de técnicoscapacitados; tudo isto tem culminado, no âmbito estadual e principalmentena SETDE, em uma situação de inércia institucional paralisante a partir de2007 (Endres, 2012 p.178).

Ainda segundo o diretor entrevistado, a vinculação do grupo dos quatro com ele énatural tendo em vista que é na pessoa dele que o grupo obtém algum direcionamento doprograma e da visão das potencialidades turísticas da região litoral norte9, ainda quetambém comente que sempre procura colocar o grupo dos quatro em contato com a SETDE,citando a interlocutora no sentido de que o grupo a procure para tratar especificamentesobre a futura instância de governança (Associação) que pensam em criar.

O diretor comenta também que as perspectivas que vislumbra são positivas, apesarda problemática local de extrema dependência e falta da cultura do planejamento. Comentaainda que tenta sempre incutir a ideia de que apenas juntos serão fortes para conseguirqualquer melhoria para a região. É bastante perceptível esse vínculo criado entre a PBTURna pessoa do nodo 84 e o grupo dos quatro, mesmo que atualmente estas relações estejamorientadas para outros fins que não os da política de regionalização.

A representação de Lucena (H), mesmo apesar de ter entrado no cenário turísticolocal apenas bem recentemente, a pouco mais de seis meses da época que foi realizada aentrevista (maio de 2014) 10é citada informalmente por alguns desses quatro atoresmencionados e percebe-se que há possibilidades desta se agregar ao grupo dos quatro (A, B,C e I). Pela entrevista com a secretária de Lucena, percebe-se que tem bastante boa vontadee motivação para o trabalho com o turismo no sentido de aprender e realizar parcerias.

Já o ator representado pela letra E (município de Rio Tinto) apresenta-se destoandodessa visível unidade dos municípios do litoral norte. Este ator, também mencionado pelogrupo dos quatro, é sempre percebido como de difícil contato, tendo participado de apenasuma das reuniões que a região do litoral norte tem promovido em torno da pretensaAssociação.

Na entrevista com o ator E, percebe-se o discurso das impossibilidades edivergências políticas entre municípios e entre o município de Rio Tinto e o estado, o quefica bem claro quando se percebe o descompasso deste ator com as novas dinâmicas que sedesenvolvem no litoral norte. Sua indicação (nodo 237) é explicada pela figura atuante daatual presidente da PBTUR que aparece bem posicionada na rede de políticas públicas do9 O diretor comentou que desde então tem feito visitas periódicas a região norte do litoral em companhia dosrepresentantes do grupo dos quatro para conhecer os potenciais da região e prestar uma espécie deconsultoria, reforçando mais o papel duplo da PBTUR (planejamento e divulgação), órgão centralizador detodas as competências turísticas no poder estadual.10A vinculação da referida secretária com o nodo 220, que é o atual secretário de turismo do estado, se explicapor esta ser da área política, tendo sido vereadora do município de Cabedelo, e desse modo conhecer osecretário (220) que também é um político de carreira. Ambos não tiveram nenhuma relação com a área deturismo antes de serem indicados para os seus atuais respectivos cargos.

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estado pelo viés dos espaços de participação implementados, como mostra o sociograma daFigura 3, mesmo que esta não tenharelação direta com o PRT e o Fórum do Litoral naParaíba.Figura 4 –Sociograma da rede formada pelos indivíduos presentes nos espaços de participação até201111, com destaque para os atores que aparecem na nova configuração da Região do Litoral em

2014 apresentados no sociograma da Figura 1.

Fonte: Elaborado pelos autores (2014)

O caso dos nodos 45 e 78 são bastante específicos. O nodo 78 possuíaa maiorcentralidade nas redesformadas como mostra a figura 4dentre os outros indivíduos citadosnos outros espaços de participação, contudo, nessa nova configuração do PRT no litoral, onodo 78 não é citado por nenhum dos atuais representantes municipais. A única pessoa queo cita é a ainda presidente do Fórum (45), eleita à época em que este se reunia (até 2012).

Na entrevista com a ainda reconhecida presidente, percebe-se que sua indicação noainda secretário executivo do Fórum (78), que está institucionalmente ligado ao ConventionBureau de João Pessoa, é motivada por uma aparente neutralidade. Entretanto, no contextoatual das disputas eleitorais deste ano, as informações fornecidas pela entrevistada (45)detêm um forte caráter político-ideológico já que esta encontra-se coordenadora da pastade turismo no município de Campina Grande, agreste da Paraíba, cidade cujo prefeitoatualmente pertence a um grupo político que é adversário do grupo político do atualgovernador.

11 Os números indicam todos os indivíduos que se relacionam nos espaços de participação delimitados peloConselho Estadual de Desenvolvimento do Turismo – CONDETUR (2003 – em vigor), Conselho Costa dasPiscinas/PRODETUR (inativo), Conselho Municipal de Turismo de João Pessoa/PB (2009 – em vigor), GrupoGestor do Projeto dos 65 Destinos Indutores do Turismo Regional de João Pessoa – GG65 (2007 – em vigor) e oFórum Turístico do Litoral (2009 – 2012).

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Ou seja, infere-se que a não indicação em nenhum indivíduo representante dagestão estadual é devido às rixas políticas que ficam evidentes em sua fala, a qual cita a totalinoperância da SETDE e a falta de projetos da instituição estadual, sempre fazendoreferência positiva à antiga gestão estadual (do atual candidato ao governo do estado daParaíba, ex-governador Cássio Cunha Lima, quando esta era a gestora do PRODETUR/PB)enfatizando que foi esta atual gestão (do governador candidato à reeleição RicardoCoutinho) que teria paralisado a atuação que a SETDE vinha tendo no âmbito do programa.

Contudo, tomando por conta a inércia da SETDE já abordadas, sabe-se que estainstituição sempre teve, desde a sua criação, pouca ou nenhuma atuação como órgãoresponsável pelo planejamento do turismo no estado, ou seja, deduz-se que a indicação dapresidente do Fórum (45) no secretário executivo (78) teve uma conotação bastante políticatendo em vista que, como conhecedora do programa e da sua estrutura de implementação,a indicação lógica da presidente deveria ser na interlocutora estadual do programa, nãotendo sido, em parte, pelas desavenças políticas entre o governo do estado e grupo políticoa qual a presidente está claramente vinculada12.

Já as representatividades do litoral sul (nodos G, 267 e F) que possuem formaçãosuperior específica na área de turismo, foram as únicas que citaram a interlocutora estadualdo programa (nodo 5), e a mencionaram como a pessoa que deveria dar maioresinformações sobre o PRT e as instâncias de governança do estado como um todo, já que estaé a responsável por levar a diante a implementação do programa no estado.

Além das informações colhidas pelos nodos G e F, a entrevista com a representaçãodo município de Cabedelo (nodo 26713) trouxe uma provocação que corrobora a tese de queas decisões políticas do passado influem na dinâmica atual da implementação das políticasatuais. Explica-se: O nodo 267relatou queapós passar o cargo à atual interlocutora do PRT(nodo 5), esta teria sido boicotada politicamenteapós assumir a condução do GG65DI comosua interlocutora oficial. As relações internas entre as organizações que compunham oGrupo Gestor foram abaladas pela atuação marcante da então gestora, definida pelopragmatismo das ações, característica inconteste de quem tem marcado na sua trajetóriaprofissional o segmento de eventos. O ritmo em descompasso acabou suscitandoinseguranças nos demais membros que foram afastando-se gradualmente, o que afetou osencaminhamentos de algumas ações necessárias e urgentes que necessitavam do aval dosmembros.

Essa situação de cobranças mútuas, entre outras situações de claro desalinhamentoa exemplo de declarações dadas pela gestora na mídia sobre o turismo na capital que nãoeram compartilhada por seus pares, acabou comprometendo a gestão do nodo 5 e sua saída

12 Essa constatação também é feita tendo por base que, na entrevista, a presidente do fórum deixou claro queconhece a atual gerente executiva da SETDE responsável pela interlocução estadual do PRT e reconhece suacapacidade de gestão. Ou seja, se não houvesse esta rixa política mencionada, possivelmente a indicação dapresidente seria na interlocutora estadual. Nas entrelinhas, fica claro que a não indicação teve também umcaráter essencialmente político.13Esse ator é largamente conhecido no meio turístico paraibano. Éconsultora do SEBRAE/PBe já trabalhou comorepresentante institucional em diversos órgãos públicos e como professora de várias instituições de ensinosuperior em turismo na grande João Pessoa.

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do Grupo. Boicote político ou não, a percepção do representante do município de Cabedelo(nodo 267) é de que o nodo 5, hoje a interlocutora do PRT na Paraíba, ainda padece dessa“perseguição”14.

Diante dos fatos, a pessoa responsável pela interlocução do PRT, ainda quedetentora de boa capacidade institucional individual, possui problemas de relacionamentodentro do setor em que deve atuar política e institucionalmente. E estas relações que não sebaseiam apenas nos vínculos institucionais, mas em outros que são estabelecidos a partirdeste e que ficam marcados na trajetória de vida dos indivíduosafetam as decisões políticas.E estas relações precisam ser consideradas nos estudos e pesquisas sobre a participação noprocesso político.

O estudo observou também que os três representantes do litoral sul,que citaram ainterlocutora estadual como detentora das informações oficiais sobre o PRT no estado,assim o fizeram mais pelo seu poder institucional, atribuído a ela pelos cargos de GerenteExecutiva de Turismo do SETDE e Interlocutora Estadual do PRT, e menos pelo seu poderposicional, pouco significante na rede de relações constituídas até a nova reestruturação dasnovas Regiões Turísticas do litoral.

Outro ponto a ser observado é a autonomia aparente dos representantes dosmunicípios de João Pessoa, Cabedelo e Conde, coincidentemente onde fica a concentraçãode atrações, acessos e equipamentos turísticos, nas realizações de ações em prol daatividade, independente das orientações de fortalecimento regional pregados pelo PRTatravés da SETDE. Tanto assim que os três entrevistados apresentam a mesma falta deinformações sobre o panorama atual da regionalização do turismo no litoral da Paraíba,sobre como está a Região Turística do Litoral e sua Instância de Governança Regional, oFórum do Litoral.

Além disso, as perspectivas de todos os representantes do sul são negativas no quediz respeito à reativação do Fórum enão há nenhum indicativo de iniciativas a partir dosmunicípiosquanto às discussões em torno da regionalização. Todos esperam alguma posiçãodo governo do estado ou do Ministério do Turismo, mas desacreditados em relação ao PRT esuas propostas, principalmente em ano eleitoral.

Assim as ações, como já foi dito, ficam a cargo de cada um considerando que cadaqual tem sua própria opinião sobre o que seria mais apropriado para os rumos da RegiãoTurística do Litoral, sustentadas pelas trajetórias profissionais destes dentro da atividadeturística. De maneira geral, o que se vê são os municípios do litoral sul completamentedesconectado e fragmentado em relação à política de regionalização do governo federal.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela análise de redes sociais, percebe-se que, de fato, o programa e o espaço departicipação que este fomenta, pouco ou nada representam no planejamento turístico dolitoral da Paraíba. A metodologia utilizada se mostrou plenamente aplicável a pesquisa e

14Informação verbal do nodo 267.

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ajudou no direcionamento das questões que foram feitas aos entrevistados, determinandoassim a investigação sobre a rede de relações institucionais que os atores locais possuemnos encaminhamentos para a implementação dessa política.

A constatação é no sentido de que a maneira como as mudanças ocorreram e comoo Fórum do Litoral, ora considerado na época de sua implementação como modelo nacional,foi gradativamente caindo de produção pela irrelevância com que foram tratadas asreuniões nesse espaço de participação ao longo dos anos. O descrédito na proposta doprograma é o que caracteriza essa política de turismo no litoral da Paraíba.

A pesquisa de Endres (2012) já mostrou um quadro bastante desolador dedesistência do Fórum enquanto espaço de aprofundamento de discussões no âmbito daregionalização devido uma série de fatores, incluindo lideranças pouco centrais nas redes depolíticas estaduais e discussões pouco produtivas no sentido da institucionalização elegalização do espaço, como a criação de cadastro de pessoa física que regulamentasse asquestões financeiras relativas aos projetos propostos pelo Fórum.

As mudanças políticas ocorridas nos municípios a partir de 2013 afetaram o Fórumcom a perda de sua liderança e acabaram por “enterrar” as infrutíferas (in)decisões,acabando por remodelar um novo panorama regional – por imposição do Ministério – quedesconectou a política pública federal do contexto da região turística: forjam-se reuniões,divide-se aleatoriamente a região, intenções de uma tênue “governança”, regionalização eintegração de municípios, contudo, totalmente desvinculadas da proposta do programa.

Falta principalmente o básico: sensibilização, capacitação, mobilização e habilidadesdo desenvolvimento institucional para o desenvolvimento pleno do PRT na região do litoral.Após oficialmente seis anos de sua criação, a Região Turística do Litoral e sua(s) Instância(s)de Governança encontra(m)-se no estado inicial de desenvolvimento.

Ainda, as análises apontam novos atores com poderes posicionais relevantes, comoé o caso do Diretor de Economia e Fomento da PBTUR. O poder posicional desde ator narede é um aspecto importante, pois evidencia como o PRT no estado está em retrocesso, jáque os indivíduos representantes das prefeituras municipais não vêem na SETDE o foco dapolítica de regionalização. O indivíduo que detém o poder institucional de divulgar osconceitos do programa e implementá-lo que é o interlocutor do PRT no estado vinculado aSETDE não tem o respectivo poder posicional na rede (centralidade).

O futuro da região turística do litoral no âmbito do programa é bastante incerto,tendo-se em vista o pouco número de organizações de outros setores que pudessempressionar os governos e os poderes públicos no sentido de levar a frente o programa. Atémesmo quando o Fórum era ativo e se reunia constantemente a maior parte da participaçãofora do setor público era de instituições que tem sede em João Pessoa ou no Conde,evidenciando que outros municípios do litoral contam apenas com as representaçõesmunicipais para participar do programa. Na pratica, o PRT nunca conseguiu, de fato,abranger toda a região do litoral.

O PRT é consideradoa principal política estruturante de turismo no país até opresente momento e, independentemente dos resultados das eleições presidenciais deste

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ano que incidirá sobre a sua permanência ou não, enfatiza-se a necessidade depesquisasfuturas que possibilitem uma visão mais integral das suas repercussões para o planejamentodo turismo regional/local. E, além disso, observar as dinâmicas de implementação a partir daconstituição e ação das Instâncias de Governança Regional em consonância com a atuaçãodo Conselhos Municipais que interagem nos limites das regiões turísticas não deixa derepresentar a busca em melhor entender como se processam as mudanças institucionais nasrelações entre o Estado e a sociedade em direção a uma maior e mais eficaz participaçãopolítica.

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A EMERGÊNCIA DO TURISMO COMO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO NA ORGANIZAÇÃODO TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA

Daniela Caruza Gonçalves FerreiraInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI

RESUMO

O Tratado de Cooperação Amazônica assinado em 1978 pela Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador,Guiana, Peru, Suriname e Venezuela é um instrumento jurídico que reconhece a naturezatransfronteiriça da Amazônia, fortalecendo um sentido de projeto internacional a uma regiãocomposta por diferentes países, com diferentes contextos estruturais. A Organização do Tratado deCooperação Econômica (OTCA) foi criada vinte anos depois, em 1998, no intuito de aperfeiçoar efortalecer o processo de cooperação. Seguindo as disposições do Tratado, esta organização seempenha em influenciar na tomada de decisão dos Estados sobre o uso do território, e, nessesentido, se torna um importante agente na disputa pelos bens da natureza. Recentemente, o turismopassa a configurar nos planos da organização como um projeto de desenvolvimento possível para aregião, na expectativa de melhorar as oportunidades de emprego, fortalecer o apreço pela naturezae proteger a integridade das formas culturais, ao mesmo tempo em que permitiria gerarinvestimentos adicionais locais e nacionais – o que acompanha uma tendência global de aposta noturismo. Buscamos compreender como essa orientação para o turismo emerge no contexto daproposta de integração e desenvolvimento regional, ou seja, como passa a ser construída umaestratégia de uso e apropriação do território e dos bens naturais para a região baseada no turismo, ecomo essa estratégia se inscreve em disputas já estabelecidas ou engendra novas questões.Palavras-chave: turismo; desenvolvimento; integração regional; Organização do Tratado deCooperação Amazônica.

1. INTRODUÇÃO

Em 2012 a Organização do Tratado de Cooperação Econômica (OTCA) fez olançamento de três circuitos turísticos15integrando seus países membros na FeiraInternacional de Turismo de Berlim - ITB Berlin, um dos maiores eventos do mercado deviagens do mundo16. Os circuitos turísticos são a grande proposta da organização para oaproveitamento do turismo como ferramenta de desenvolvimento sustentável na regiãoamazônica, com o objetivo declarado de concretizar benefícios para os habitantes da região(ITB Berlin, 2012).O turismo, de fato, já estava incluído entre os objetivos do Tratado que lhedeu origem; mas, apesar de a ideia de trabalhar com circuitos turísticos integrando os

15 Circuitos turísticos podem ser definidos como itinerários de viagens que integram pelo menos três destinosturísticos de maior porte, localizados em diferentes áreas, mas em uma distância que pode ser coberta pelosturistas em uma sequência de viagens (Chowdhury, 2011). 16 No Brasil, os circuitos foram apresentados ao público acadêmico durante o Seminário Latino-americano dePolíticas Públicas e Turismo, na palestra Política Pública e Sustentabilidade na Amazônia, pelo Dr. CarlosAranaCourrajollles, coordenador de Assuntos Sociais, Transporte, Infraestutura, Comunicação e Turismo daOTCA.

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diferentes países tenha sido vislumbrada há mais de 20 anos, só mais recentemente eles sãoapresentados como um produto já formatado.

Diante disso, colocamos a seguinte questão: como o turismo passa a serconsiderado uma proposta viável de cooperação e de promoção do desenvolvimentosustentável entre esses países? O turismo não é uma novidade na região, tampouco seucrescimento sempre ascendente na economia mundial, e seu reconhecimento quasehegemônico como uma atividade econômica que poderia contribuir para o desenvolvimentosustentável17. A criação dos circuitos pela OTCA, entretanto, não pode ser vista apenas comouma consequência natural de fatos casualmente relacionados. Além de constituir umaproposta de intervenção deliberada, a opção pelo turismo é uma escolha arbitrária. Comoessa escolha foi feita? Quais as suas possíveis implicações para os lugares e as pessoasenvolvidas?

A criação da OTCA, seus objetivos e formas de atuação são permeados por temascomplexos como desenvolvimento, cooperação internacional e integração regional, queenvolvem interesses e versões diversas. Tentamos nos aproximar inicialmente desse objetoatravés de levantamento bibliográfico, etapa introdutória de um esforço mais amplo depesquisa que se pretende empreender para sua compreensão. Assim, apresentamos a seguiralgumas versões sobre a Organização, seu papel na região amazônica, e seus planos,propostas e ações voltados especificamente para o turismo, pontuando algumasconsiderações sobre questões que elesnos provocam.

A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e seu papel na regiãoA Organização do Tratado de Cooperação Amazônica – OTCA é uma organização

internacional com personalidade jurídica e foi criada em 1998, seguindo as disposições doTratado de Cooperação Amazônica, assinado em 1978, no intuito de aperfeiçoar e fortalecero processo de cooperação entre os países que compõem essa região: Bolívia, Brasil,Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Esta organização se empenha eminfluenciar na tomada de decisão dos Estados sobre o uso do território, e, nesse sentido, setorna importante um agente do desenvolvimento naquela área. Para compreender suaatuação, é necessário entender os processos que levaram à sua criação.

Em primeiro lugar, devemos situar a Amazônia como um lugar visto como fonteinestimável de recursos. Desde sua “descoberta”, fornece matéria prima para vários setoresda economia, em escala global. Mais recentemente, esses recursos foram diversificados eressignificados:

AAmazônia tem atraído olhares de diversos setores do MercadoInternacional, desde seus recursos hídricos, minerais e florestais até adiversidade biológica (incluindo a variabilidade genética), areciclagem do ar e dos fluxos hídricos para todo o continente, oarmazenamento de carbono e todos os demais elementos naturais

17 “Tourism’s ability to Foster sustainable economic development is so great that even the periods of recessionevidenced in the last decades have been unable to change its growth trend” (Jesus, 2010:150).

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enquadráveis na categoria de “serviços ambientais” (Mamed&Cavalcante, 2012:154).

Desse fato, que desperta o interesse em relação ao controle sobre a região, somadoà característica de divisão do território amazônico entre diferentes Estados Nacionais, derivaa ideia de que é necessária a cooperação internacional para tutela do meio ambiente e dequestões econômicas de interesse dos países da região (Mamed& Cavalcante, 2012).

O Tratado de Cooperação Amazônica (também chamado Pacto Amazônico) é umacordo multilateral de cooperação entre oito países que compõem a região amazônica, áreaem que, destacam os autores, não havia ainda uma proposta oficial de integração regional 18.No contexto de seu surgimento, seus objetivos expressos são reivindicar o direito aodesenvolvimento, sugerindo que é possível manter o equilíbrio entre o crescimentoeconômico e a proteção do meio ambiente, e a defesada soberania nacional, garantindo aexclusiva responsabilidade dos países signatários pela utilização do território amazônico. Otratado tinha prevista duração ilimitada e a não abertura a adesão de novos membros, vistoque o critério de participação é geográfico – os países signatários são aqueles situados emterritório amazônico – e que um de seus objetivos principais era, como já dito, garantir aexclusiva responsabilidade dos seus membros sobre suas respectivas porções desseterritório (Antiquera, 2006).

Piedra-Calderón (2007: 62) chama atenção para o fato de que a região amazônica seconverteu em um centro de atenções da política mundial e alvo de interesses e pressõesexternas e atribui esse processo à sua dimensão territorial, aos seus recursos estratégicos evitais como a biodiversidade e a água, e à sua posição privilegiada no espaço geopolítico naAmérica do Sul.

Antiquera(2006) analisa as condições no âmbito nacional, regional e internacionalque deram origem ao Tratado. Do que nos interessa nesta investigação, no âmbitointernacional, o momento era de emergência das questões do meio ambiente e dos direitoshumanos na pauta global. Com a emergência dessas questões, passava-se a questionar,inclusive, os limites da soberania nacional e as possíveis consequências ecológicas daspolíticas internas. Surgia, então, a ideia de que algumas áreas deveriam ficar sob controleinternacional, incluindo aí a própria Amazônia.Desde 1972, na Conferência das NaçõesUnidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, se passa a defender aideia da soberania relativa do Brasil sobre este território, sob o argumento de que os riscos eameaças à floresta amazônica contribuiriam às mudanças climáticas do planeta (Bentes,2005). O desejo global de estabelecer controle sobre a região é problematizado por Bentes(2005:228), que o associa não só a interesses econômicos, mas também ao privilégio docontrole político sobre o verde, em sociedades onde o verde se tornou sinal de status social.

O debate sobre a proteção das áreas verdes do planeta que emerge nessemomento histórico envolve questões estruturais de configuração geopolítica e econômica

18 As observações sobre o TCA nesta seção se baseiam especialmente no estudo desenvolvido por Antiquera(2006). O autor produz uma análise sistemática das publicações até então e as congrega com o objetivo decompreender o Tratado e sua transformação em organização internacional.

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mundial. Segundo Antiquera (2006), os países amazônicos, em sua maioria, responderam aeste debate adotando o discurso de que a defesa da preservação ambiental, fortementeencabeçada pelos países ricos nesse momento, era uma maneira de impedir o crescimentoeconômico dos países menos desenvolvidos, no intuito de manter a estrutura econômicaglobal vigente. Esses países encontravam-se empenhados em programas dedesenvolvimento das suas respectivas porções do território amazônico.

A Amazônia tem sua importância destacada nesse contexto internacional eo desafio que ela representa para a política externa brasileira épotencializado.Responderàs pressões internacionais, em conformidadecom a peculiaridade do momento mundial é um dos objetivos do Tratadode Cooperação Amazônica. (Antiquera, 2006:56)

Nesse contexto, o Tratado se configura como “uma solução diplomática complexaquearticula diferentes níveis de interesse e responde a diferentes âmbitos de atuaçãointernacional do Brasil” (Antiquera, 2006:57).O acordo responde ao debate internacionalsobre as questões ambientais, defendendo a soberania e reivindicando o direito aodesenvolvimento. Com a reação, “prevaleceu a visão de que industrialização significavadesenvolvimento e nível superior de vida e aceitou-se a ideia de não intervenção naspolíticas dos países do Sul” (Bentes, 2005:227). Até mesmo porque a crítica aos efeitosnegativos da industrialização nos países do sul implicaria a crítica de si mesmos:

A economia e o poder político dos países industrializados se sustentam, emgrande medida, na produção, consumo e exportação de ciência etecnologias antiecológicas e a maioria de seus habitantes, em particular osnorte-americanos, tem ainda dificuldade de aceitar mudanças nos padrõesindustriais de produção e consumo, pois eles foram educados paraacreditar que vivem o melhor padrão de vida do planeta (Bentes,2005:228).

Na análise de Oliveira (1994), entretanto, a cobiça internacional não é, exatamente,o grande motivador do esforço do Estado brasileiro em garantir sua soberania sobre oterritório. Para o autor, no pensamento geopolítico brasileiro (basicamente em sua vertentemilitar), a perspectiva de defesa da Amazônia passa a ser considerada viável a partir de umforte entrelaçamento entre os interessados na área e o Estado brasileiro; isto é, valia a penadefender a soberania brasileira sobre o território porque haviam fortes interesseseconômicos envolvidos.

Depois de ser criado em 1978 e entrar em vigor em 1980, alcançando com sucessoseus objetivos políticos, o Tratado permanece sem maiores movimentos e atuaçõesconcretas, a não ser pelas reuniões já previstas entre os membros, que ratificavam suasintenções originais. Segundo os autores consultados (especialmente Antiquera, 2006), issose deu porque a política externa dos países envolvidos priorizavam outros tipos de relaçõesinternacionais, e o TCA, como cooperação multilateral não econômica, não era visto comoprioridade. Contudo, considerando as análises sobre os desenvolvimentos do debateambiental no cenário internacional, se estabelecia uma articulação entre os movimentos

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internacionais e os povos habitantes das florestas, especialmente as populações indígenas,que conseguem ampliar sua luta por direitos a partir da inserção no debate internacional(ver, por exemplo, Porto-Gonçalves, 2008). Com o assassinato do ambientalista ChicoMendes, em 1988, a Amazônia retorna ao centro do debate mundial, o que aumentavasignificativamente as pressões internacionais sobre o governo brasileiro, acusado depromover o desmatamento da floresta, contribuindo para a degradação do meio ambiente epara o aquecimento global. Como demonstra Antiquera (2006:98), a pressão internacional ea reação brasileira resultam na retomada do TCA enquanto instância de articulação.

A partir desse momento, ocorre uma mudança no sentido geral dos discursos noâmbito do Tratado, que deixam de girar em torno da oposição à interferência externa emassuntos amazônicos e passa, segundo Antiquera (2006), a uma postura de cobrança emrelação aos países desenvolvidos que, responsabilizados pelos problemas ambientais doplaneta, teriam a obrigação de contribuir financeiramente com os projetos dos paísesdesenvolvidos. A mudança na postura coincide com uma crescente disponibilidade defundos dos países ricos para bancar projetos ambientais19.

A perspectiva brasileira, de capitalizar a valorização internacional daquestão ambiental (ou seja, traduzir a discussão ambiental emtransferência de recursos), por meio do conceito estratégico dedesenvolvimento sustentável, fará com que o TCA seja concebido como umpossível instrumento de captação das verbas internacionais (Antiquera,2006:130,131).

Segundo o autor, a proposta de aperfeiçoar a estrutura do TCA criando umasecretaria permanente, parte do Brasil. Aidealização, criação e construção da OTCA,organização internacional em que se transformará o Tratado, se dá no período quecompreende os anos entre 1995 e 2002, com a preocupação em torná-lo operacional eeficiente (em especial no quesito captação de recursos).Botto (1999) destaca o papel daatuação da Secretaria Pro Tempore sediada no Peru de 1994 a 1999, que atuou de formamais vigorosa do que as gestões anteriores na mobilização de entidades e setoresresponsáveis pelas políticas e ações de cada país sobre a região, e na formulação de projetosde âmbito regional que envolveram grande soma de investimentos com o apoio deentidades importantes da organização das nações unidas, mostrando já a tendênciaidentificada por Antiquera (2006).

Antiquera (2006) enumera os desafios de atuação do tratado, os quais a criação dasecretaria permanente visou superar ou minimizar: dificuldade de formular propostascomuns, resultado das divergências na maneira de conceber os respectivos espaçosamazônicos e de responder a seus desafios; conflitos históricos (para um maior

19 Para Bentes (2005:229), o papel de financiadores de projetos ambientais conservacionistas foi adotada pelospaíses desenvolvidos pela comodidade que representa: “Preservar essas florestas não acarretainconvenientealgum para norte-americanos e europeus, tem ar romântico e agrada elites científicas e a poderosa indústriafarmacêutica.” A cooperação internacional tem um importante papel nesse sentido, especialmente as grandesONGs conservacionistas, voltadas para a conservação de florestas tropicais através de gerenciamentocientífico.

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detalhamento, ver Teixeira e Anselmo, 2011); o grande desconhecimento da regiãoamazônica pelos próprios países; a falta de recursos para investir em pesquisas e projetosde desenvolvimento; questões institucionais referentes a estrutura de atuação e regimentodo TCA.

A criação da OTCA dá mais institucionalidade ao Tratado. O protocolo de emendaao TCA assinado em Caracas, em 1998 (Tratado de Cooperação Amazônica, 1998), lheconfere personalidade jurídica e lhe atribui competência para assinar acordos com osmembros, outros Estados e outras organizações internacionais, ampliando seu escopo deatuação. A sua criação significa uma renovação de função do tratado, além de novasprioridades estabelecidas. Além disso, alivia os governos nacionais da formulação deprojetos de cooperação e busca de financiamentos para a Amazônia, que fica sobresponsabilidade da Organização (Antiquera, 2006). A Organização atua no sentido daconservação do meio Ambiente e do desenvolvimento sustentável; da incorporação daAmazônia às respectivas economias nacionais; da cooperação Sul/Sul; e de decisõesconsensuais entre os países membros. As suas áreas de atuação são: soberania; navegação;educação; comércio (populações em área de fronteira); infraestrutura (transporte ecomunicações); turismo; recursos hídricos; preservação de espécies (fauna e flora); pesquisacientífica e tecnológica; proteção das culturas indígenas e saúde (Dorfler, 2010:2). Contudo,é importante ressaltar que os recursos financeiros distribuídos por coordenação, em 2010,estavam majoritariamente concentrados nos projetos relacionados ao meio ambiente, commais de US$ 40 milhões contra os pouco mais de US$ 5 milhões destinados aos projetos daárea de saúde, em segundo lugar na distribuição. O turismo, no mesmo período, contavacom, aproximadamente, metade desse valor (Dorfler, 2010:7).

Segundo Dorfler (2010), as ações de cooperação da Organização devem serbaseadas no interesse e nas prioridades dos países parte, com tendência a umafortepresença do Estado no planejamento e execução dos projetos de desenvolvimento –tendo a ideia de sustentabilidade como norteadora.Essa perspectiva considera os governosdos países parte como os principais atores do desenvolvimento na região.O papel doscooperantes, por sua vez, sãoorientados pelo contexto, pelas decisões da OTCA e pelosprincípios de cooperação internacional. Os atores sociais da região interatuam porintermédio dos seus governos.Dorfler observa que, apesar do caráter multilateral do Tratadoe da Organização, prevalecem as relações bilaterais na abordagem das políticas externas dospaíses membros, de forma que a Organização vê como uma oportunidade a ser explorada ofortalecimento da ação bilateral a partir da interação regional.

Para Piedra-Calderón (2007), a OTCA é uma organização internacional que seconfigura como um espaço de diálogo regional para buscar consensos e convergências emtermos de importância para o futuro da Amazônia. Dorfler apresenta sua visão de futuro: setornar “uma Organização reconhecida nos Países Parte e internacionalmente comoreferência na discussão e na cooperação regional sobre assuntos Amazônicos fundamentais,atuando em base aos princípios do respeito à natureza, o desenvolvimento sustentável e asoberania dos Estados da Região” (Dorfler, 2010:11). O seu padrão de integração gira em

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torno da cooperação funcional e da conjugação de decisões que tratam de interessesmútuos e do desenvolvimento regional através de políticas e projetos comuns (Piedra-Calderón, 2007). Sua atuação se dá tanto numa esfera de objetivos “especificamenteamazônicos”, como a formulação e execução de projetos, com cooperação regional e extra-regional, quanto em um diálogo com relação ao mundo, na busca de recursos, articulaçãopara fóruns internacionais e adesão aos regimes de assuntos ambientais. Ou seja, suaatuação se dá conforme objetivos nos níveis “mundial (como instrumento deposicionamento perante ospaíses de fora da região), o regional (como mecanismo deaproximação dospaíses do norte da América do Sul) e o local (no sentido dosobjetivosespecificamente amazônicos)” (Antiquera, 2006:166). Sua personalidade jurídicalhe permite planejar e executar projetos, além de captar recursos.

Para Santos Júnior (2012), que analisa o processo de integração amazônica deforma bastante crítica, como uma integração ao capitalismo global, existe uma explícitaintenção de converter o território amazônico em uma plataforma produtiva, inserindolegalmente o espaço amazônico em uma lógica competitiva que busca a adequação àsnecessidades e demandas do mercado internacional. Sob a atuação da OTCA, seguindo aperspectiva de criação do TCA, ainda se destaca a soberania dos Estados nesse percurso, osquais buscam harmonizar seus programas e projetos no sentido do desenvolvimentoeconômico da região. Para o autor, a OTCA é um agente de grande importância na região.Na sua dinâmica de atuação, junto a outros projetos aos quais forneceu fundamentopolítico, como a Iniciativa para a Integração RegionalSul-Americana (IIRSA) que visa aintegração física da região, a OTCA garante que os recursos da regiãosejam incorporados aofluxo global de mercadorias e serviços.

Para o autor, a região amazônica experimenta uma integração completa aosimperativos, preceitos, demandas e interesses do capitalismo global, o que resulta numareorganização do seu território, e esse processo deve ser entendido em sua dimensãohistórica. Por isso, os projetos de integração como OTCA e IIRSA, que potencializam ascapacidades produtivas da região, não podem ser pensados fora do contexto das políticasnacionais de desenvolvimento e mesmo da posição de liderança regional do governobrasileiro, além da presençade atores importantes no processo, como a ConfederaçãoAndina de Fomento e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), principaisfinanciadores do plano IIRSA, e o Banco Nacional do Desenvolvimento(BNDES), que setornou um dos financiadores da carteira de projetos da Iniciativa a partir de 2004.

A OTCA conta com o apoio de muitas outras instituições internacionais20.Lembramos que a atuação de cada um desses atores conforma deliberações e ações sobre oterritório como prerrogativa para os seus investimentos.Em síntese, podemos perceber que20Fontes atuais de cooperação, segundo Dorfler (2010:6): Governos da Alemanha e dos Países Baixos (BMZ-GTZe DGIS); Banco Alemão de Desenvolvimento (KFW); Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID);Organização Internacional de Madeiras Tropicais (ITTO); Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF); Governodo Brasil (ABC-MRE); Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO); BancoMundialUnião Internacional para Conservação da Natureza (UICN); Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente (PNUMA); Fundo Mundial para a Vida Selvagem e Natureza (WWF); Fundação Gordon e Betty Moore(GBMF).

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existem diferentes níveis de objetivos que competem à atuação da OTCA, e que elaestabelece parcerias com muitas outras instituições internacionais (inclusive países que nãofazem parte do grupo), visando diferentes tipos de apoios. Mas, embora haja oreconhecimento da relevância da cooperação internacional e do aporte dos paísesdesenvolvidos, a Organização é uma criação dos Estados amazônicos. Portanto, é importantenotar que sua perspectiva de desenvolvimento envolve a forte presença do próprio Estadoem cada um deles. Todas as intenções – do Tratado e da sua transformação em OrganizaçãoInternacional - estão mais ou menos explicitadas nos documentos e discursos oficiais, mas,para compreendê-las em sua complexidade, é necessário compreender os contextoshistóricos, políticos e econômicos regionais e mundiais em que foram delineadas. Essescontextos permitem variadas interpretações, a depender do enfoque abordado.

Embora possam refletir questões originadas no nível de atuação local, asdeliberações no âmbito desta Organização acontecem, em grande medida, em reuniõesexecutivas, em que se mesclam e se hierarquizam os diferentes níveis de objetivos. Contudo,percebe-se uma tendência da Organização a enfatizar, no discurso voltado ao público maisamplo, os objetivos especificamente amazônicos, ou seja, seus projetos de atuação de nívelmais local, o que entendemos como uma forma de conquistar legitimidades21 junto àsociedade.

2. O TURISMO NOS PLANOS DA OTCA

A promoção do turismo já é mencionada entre os objetivos e as questõeslevantadas no Tratado assinado em 1978(mas ainda sem deixar muito clara sua importânciapara o futuramente estipulado desenvolvimento sustentável e para integração entre ospaíses), ao lado de problemas básicos relativos à Amazônia e outras questões, como saúde esaneamento básico, infraestrutura, tanto dentro da região como de ligação com o resto dopaís, a questão indígena, necessidade de desenvolvimento tecnológico específico eapropriado à região, geração e distribuição de energia e educação: “As Partes contratantescooperarão para incrementar as correntes turísticas, nacionais e de terceiros países, em seusrespectivos territórios amazônicos, sem prejuízo das disposições nacionais de proteção àsculturas indígenas e aos recursos naturais” (BRASIL, 1980: Artigo XIII, grifo nosso).

A Comissão Especial de Turismo (CETURA) foi criada em 199022 e tinha comoresponsabilidades principais, basicamente, a preparação e execução de estudos sobre oturismo e seus efeitos sobre os recursos naturais e comunidades nativas, além do

21A legitimidade, para Swartz, Turner e Tuden, é uma questão de produção e reprodução de expectativas: “aobediência baseada no poder consensual, que é motivada pela crença (que pode ser apenas vagamenteformulada) de que, em algum momento do futuro, a organização para com a qual os indivíduos prestamobediência vai satisfazer suas expectativas” (Swartz et al, 1966:14,15).22As comissões especiais, temáticas e de caráter técnico, foram criadas a partir do fim da década de 1980,seguindo uma tendência de revitalização do Tratado, que já foi abordada na primeira parte desse artigo. Oobjetivo das comissões era dar maior operacionalidade e poder gerar resultados mais concretos, com objetivosmais especificados, embora em grande parte se restringisse basicamente a estudos sobre a região(Antiquera,2006). As comissões especiais são formadas por instituições nacionais competentes em cada setor, ligadas auma rede ativa de comunicação sub-regional (Botto, 1999).

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intercâmbio de experiências e pesquisas conectadas com as linhas de crédito einvestimentos em diferentes áreas do turismo, a organização de feiras e eventos paraestimular o turismo ecológico, e o estímulo à cooperação entre instituições nacionais,regionais, públicas e privadas relacionadas ao turismo (Botto, 1999:75).Durante as reuniõesperiódicas da CETURA23 na década de 1990, que analisamos aqui através de atas publicadascomo antecedentes constitutivos da OTCA pela própria Organização (Tratado de CooperaçãoAmazônica, 2002), representantes diplomáticos dos países membros definiram estratégias,apresentaram propostas e analisaram possíveis convênios com outras instituições, entreoutras questões importantes.

Em 1995 foi realizada pela CETURA uma oficina para pensar as “Perspectivas eestratégias para o desenvolvimento do ecoturismo na região amazônica” (Tratado deCooperação Amazônica, 1995). A oficina reuniu especialistas em turismo e assuntosindígenas, empresários, consultores contratados e representantes dos órgãos nacionais deturismo para falar das potencialidades, problemas e estratégias possíveis do ecoturismo e acooperação amazônica, e das propostas nacionais dos países membros.

Na última reunião realizada pela CETURA em 1997, entretanto, algumas delegaçõesdiscutiram sobre as dificuldades encontradas para a execução dos programas definidos nasreuniões anteriores, argumentando em favor da redução do número de programas oureformulação dos mesmos. Foi citado que, ainda que não se tenham efetuado os estudospropostos na I reunião da CETURA, era possível perceber avanços na cooperação bilateral. ASecretaria Pro Tempore, por sua vez, insistiu na necessidade de fortalecer os contatostécnicos além da via diplomática. Sobre a descontinuidade das reuniões da Comissão,encontramos um indicativo, na agenda de discussão da VI Reunião de Ministros das RelaçõesExteriores realizada em Caracas, em 2000, de que as reuniões da CETURA estavampendentes em virtude da dificuldade de identificar fundos internacionais para este tipo deiniciativa, uma vez que são percebidas como prejudiciais para o entorno (Tratado deCooperação Amazônica, 2002:112).

A transformação do Tratado em Organização deu prosseguimento às preocupaçõescom as áreas citadas no documento, inclusive o turismo. Atualmente, os projetos para osetor passaram a ser administrados por uma Coordenação de Assuntos Sociais, Transporte,Infraestutura, Comunicação e Turismo24, aglutinando a CETURA com Comissão Especial deTransporte, Infraestrutura e Comunicação (CETICAM) do TCA.A Coordenação só foiestruturada e institucionalizada, e um coordenador especialista em turismo nomeadopara aposiçãoentre 2005 e 2006. Seus objetivos amplos iniciais envolviam expandir o acesso domercado à região, estabelecer uma maior conectividade entre os diferentes atrativos epromover maiores benefícios para a população cujo sustento sofra impactos doempreendimento turístico. Com a institucionalização da coordenação, foi definido um plano

23 Realizadas em 1990 (Manaus), 1993 (Quito), 1995 (Lima) e 1997 (Rio de Janeiro) (Tratado de Cooperação Amazônica, 2002).24 As demais coordenações temáticas são quatro: Assuntos Indígenas, Ciência, Tecnologia e Educação, MeioAmbiente e Saúde.

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para a atuação e ações empreendidas para implementar as estratégias definidas(Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, 2006:19).

A estratégia de turismo que vem sendo definida por estaCoordenação envolve trêsgrandes áreas:

1) Fortalecimento institucional (com o objetivo de fortalecer as capacidadesorganizacionais e administrativas do turismo na região);

2) Desenvolvimento de produto (com o objetivo de organizar o produto do turismoamazônico como uma experiência de turismo transfontreiriça e integrada);

3) Marketing (no sentido de elevar o perfil da Amazônia no mercado turístico)(Sinclair &Jayawardena, 2010a:131).

Em 2009 a OTCA declara o Ano do Destino Amazônia como uma estratégia depromoção da região voltada para o mercado internacional e promove uma série deatividades e eventos. Em 2010, um número da revistaWorldwideHospitalityandTourismThemes (WHATT) foi totalmente dedicado ao tema “Oturismo sustentável oferece soluções para a proteção da floresta amazônica?”. A publicaçãotraz os artigos que foram discutidos em uma mesa redonda realizada no ano anterior pelaOTCA em parceria com a WHATT, como uma dessas atividades.A pergunta foi endereçada apesquisadores do turismo de cada um dos países membros da OTCA, ligados aos Ministériosdo Turismo, ao setor privado e à academia.

A publicação é aberta e fechada por artigos escritos pelo então coordenador deAssuntos Sociais, Transporte, Infraestutura, Comunicação e Turismo da OTCA, DonaldSinclair, e pelo estudioso do turismo ChandanaJayawardena. O primeiro artigo apresentacaracterísticas gerais da região, as estratégias da OTCA para o turismo, e a organização geraldo evento. O último artigo apresenta um panorama das questões mais importanteslevantadas nos artigos e propõe sugestões práticas implementáveis para orientar as açõesda Organização e dos países membros na consecução do objetivo de explorar o turismocomo vetor do desenvolvimento sustentável da região.

Das respostas apresentadas pelos demais autores, é interessante notar que,mesmo tratando o turismo primordialmente como uma estratégia de preservação econservação da natureza e de promoção do bem estar dos habitantes locais, o índice desucesso parece continuar sendo a quantidade de renda gerada, o volume do fluxo turístico, eas taxas de crescimento superiores à média, na maior parte dos artigos publicados nacoletânea (Cortez, 2010; Jesus, 2010; Sánchez &Jaramillo-Hurtado, 2010; Reyes, 2010;Butts&Sukhdeo-Singh, 2010; Sijlbing, 2010).

Reyes (2010:168) fala do quanto o planejamento para o turismo força ogoverno a defender e proteger os territórios nos quais o turismo acontece contra atividadesextrativas e de alto impacto, destacando a importância da necessidade de manutenção dosrecursos hídricos como argumento nesse sentido. A atividade turística também éreconhecida como uma opção menos prejudicial de trabalho se comparada ao corte de

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madeira, mineração e tráfico de animais silvestres (Butts&Sukhdeo-Singh, 2010), mas essasatividades ainda representam um desafio para os planejadores do turismo (Sijlbing, 2010).

O turismo, assim compreendemos, compete com outros projetos dedesenvolvimento para a região, uma vez que muitas dessas atividades têm o potencial deesvaziar o território daquilo que presentemente é considerado atrativo para o turismo:natureza preservada, modo de vida tradicional e “em harmonia com a natureza”. Assim, ajustificativa de geração de renda é fundamental para assegurar que o turismo possacompetir economicamente com essas atividades. A lógica econômica da preservaçãoambiental - defendida por Plog (2001) no final da década de 199025, e criticada, de certaforma, por Jesus (2010), nesta coletânea, em relação ao campo do turismo no Brasil - não é,contudo, apenas um argumentopara fazer com que o turismo pareça viável diante de outrasalternativas econômicas, mas faz parte do próprio processo de produção no turismo.Comparando perspectivas entre distintos (porém, de alguma forma, complementares)projetos de desenvolvimento, os processos de construção de infraestrutura de integração daAmérica Latina no contexto do IIRSA, analisados por Porto-Gonçalves e Quental (2012), sãomarcados por uma lógica diferente daquela preconizada pelo turismo que se dizsustentável.De acordo com a visão dos autores, é dominante uma visão de que a natureza éobstáculo a ser superado pela engenharia e de que os povos e comunidades, seus territóriose suas formas vidas são prescindíveis. Se esses elementos são concebidos comodispensáveis, e até mesmo como um entrave a outros projetos, é notório o quanto sãoconsiderados valiosos para o turismo26. É como se o turismo se apropriasse do que édispensável em outros contextos, produzindo rentabilidade sobre aquilo que não erarentável, ou seja, aproveitável do ponto de vista econômico.

A preservação, portanto, é justificada (quando o é) por causa do turismo27, e isso sóacontece porque o turismo representa uma importante força econômica no mundo atual,conquistando cada vez mais novas fronteiras – fontes do seu incontível crescimento.Oargumento de que o turismo é importante porque estimula a preservação, é, na verdade,resultado da sua importância na economia mundial. O turismo, afinal, acontece com ou, emmaior medida, sem a incumbência dapreservação ambiental.Melhor que ele aconteça,portanto, dentro de um contextoem que, ao menos,se vislumbra essa possibilidade, além decerta abertura à agência dos atores locais, de forma que esses atores possam também seapropriar do turismo, em vez de serem somente apropriados por ele28.

25 A publicação original data de 1998, embora a tradução para o português que utilizamos como referênciatenha sido publicada em 2001.26 A valorização destes elementos pelo turismo, entretanto, não significa necessariamente que há umrompimento com a colonialidade, centro da discussão dos autores (Porto-Gonçalves & Quental, 2012).27 Existem outros tipos de atividades que incorporam a preservação à lógica econômica, como o mercado decrédito de carbono (Butts&Sukhdeo-Singh, 2010).28 Devemos destacar aqui que consideramos que esse processo de abertura não se dá numa única direção,podendo muitas vezes ser resultado de conquistas por parte dos próprios atores locais. Basta lembrar que aquestão social e cultural no debate sobre a natureza foi introduzido pelos movimentos sociais, em lutas sociaistravadas em diferentes lugares do mundo (Porto-Gonçalves & Quental, 2012).

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O discurso do desenvolvimento sustentável permite uma maior apropriaçãopor parte dos agentes tradicionais justamente porque, em determinado momento dahistória (Brasil, 2000), passou-se a incorporar a ideia de que as populações tradicionaisseriam, por excelência, agentes da preservação da biodiversidade. Esse cenário é um poucomais aberto do que aquele em que prevalecia a teoria da modernização, em queoconhecimento tradicional era associado ao atraso e a cultura era vista como obstáculo àmodernização (Kuper, 1999). Entretanto, a emergência de um discurso não resultanecessariamente a total substituição do outro, e eles podem, inclusive, se mesclar, dandoorigem a sentidos muito diferentes.Assim, os processos de sensibilização, etapa consideradaimpreterível nos programas e projetos voltados ao desenvolvimento do turismo sustentável,podem ser entendidos tanto como instrumentos efetivos de empoderamento dos agenteslocais, ao fornecer-lhes repertório apropriado para atuação dentro do campo político dodesenvolvimento, por exemplo, quanto como elemento de convencimento e cooptação, demudança de valores em um sentido único, ou seja, como instrumentos de invisibilização dooutro, na visão de Gerhardt (2007:276,277).

Sobre isso, é importante observar um duplo movimento percebido naspublicações analisadas. Por um lado, se enaltece o modo de vida em completa harmoniacom a natureza dos povos indígenas (ver, por exemplo, Cortez, 2010:142). Butts e Sukhdeo-Singh (2010:173) chegam mesmo a afirmar que o desenvolvimento sustentável pode ser umconceito relativamente novo, mas, para os habitantes da floresta na Guiana, é um “modo devida”. As autoras indicam que esses habitantes teriam passado toda a sua vida promovendoos princípios do desenvolvimento sustentável porque o seu sustento depende das florestas.Ao mesmo tempo, é destacada a necessidade de sensibilizar essas “comunidades” para aimportância da preservação dos seus territórios29, atribuindo-lhes grande responsabilidadenesse processo (Sánchez &Jaramillo-Hurtado, 2010:158; Cortez, 2010:141; Butts&Sukhdeo-Singh, 2010:180), numa postura que parece ignorar que muito raramente esses habitantessão os responsáveis pelos grandes danos causados ao meio ambiente que habitam30.Entendemos o aparente paradoxo como um conjunto de argumentos que visa garantir apreponderância do conhecimento técnico-científico e, portanto, a tutela do Estado, iniciativaprivada ou cooperação internacional e seu corpo técnico responsável, sobre o território eseus recursos. As práticas tradicionais têm sua importância reconhecida, mas precisampassar por um reconhecimento técnico e científico que atestam sua validade31.

29 “To give you an idea of how the community resources evaluation was done we built capacity within thecommunity to help them understand what the exercise is designed to do so as to help them to manage thearea and to ensure that their traditional access to food and other things they use are not denied them but alsothey understood what is meant by sustainable extraction so that they are not over-fishing or over-harvestingand so shooting themselves in the feet.” (Butts&Sukhdeo-Singh, 2010:180).30 Notamos o aparente paradoxo nos textos citados, mas também pode-se perceber a preocupação com aresponsabilidade compartilhada entre agentes em diversos níveis em Reyes (2010:170),Yánez e Sevilla(2010:190) e Sijlbing (2010:195).31Algo parecido foi observado por Oliveira (1994), em reflexão sobre o que ele chama de reconquista daAmazônia, no que ele considera uma de suas frentes: o projeto Rondon. O autor destaca dois legados distintosda tomada de conhecimento in loco dos problemas do país, possibilitado pelo projeto a milhares deuniversitários participantes: de um lado, “uma impressão, de queos problemas da Amazônia eram tão grandes,

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Outro grupo do qual se costuma cobrar responsabilidades sobre a proteçãoambiental (e cultural) são os turistas. O turismo, acredita Reyes (2010:170), deve sersustentado por práticas conscientes e proativas, além de responsáveis decisões de viagem edemanda por serviços por parte dos turistas. Através da seleção que eles fazem de destinos,companhias aéreas, acomodações, alimentação, passeios e souvenirs, os turistas têm opoder de “punir” práticas não sustentáveis e “recompensar” iniciativas de turismoresponsável. O “poder” do consumidor é evocado nessa equação, justificando a tentativa deatrair os turistas “bem educados” (Butts&Sukhdeo-Singh, 2010:179) ou de high profile, highincome (Sánchez &Jaramillo-Hurtado, 2010:154,160).Beaumont (2011) observa que éamplamente aceito como verdade que os ecoturistas são mais preocupados com o meioambiente, e que, por isso, a sustentabilidade é um dos fatores na sua decisão quanto aosdestinos a serem visitados. Contudo, não existem muitos estudos empíricos que confirmemessa suposição. A investigação empreendida pela pesquisadora, inclusive, demonstrara quenão é possível perceber diferenças significantes nas atitudes pró-ambientais entre os turistasidentificados como ecoturistas e os demais.

A responsabilização de turistas e povos tradicionais pela preservação doambiente pode ser vista como parte do mesmo percurso já citado acima que procura centraras discussões ambientalistas no tema da conservação, desviando as atenções dos efeitoscausados pelos processos de produção industrial (cf. Bentes, 2005).

Outra coisa que se pode perceber dos estudos de caso é que alguns paísespossuem um histórico mais sólido de desenvolvimento do turismo de base comunitária,enquanto outros ainda estão muito estruturados em torno da iniciativa privada, com planosde futuramente aumentar a participação comunitária em complemento à oferta privada jáestruturada. Em alguns países afirma-se ter desenvolvido e aplicado mecanismos nessesentido, como os projetos piloto do Equador, executados desde 2002 (Reyes, 2010:166) e asentidades de gestão do destino no Peru, pensadas para lidar com o turismo de formaarticulada entre as partes envolvidas (Yanéz& Sevilla, 2010:190). No caso do Suriname,Sijlbing (2010:196)observa que, de todos os países da América, o Suriname é o único quenão prevê direitos legais à terra às populações tribais que vivem na floresta, e destaca que afalta de proteção legal nesse caso solapa as possibilidades de desenvolvimento sustentáveldessas comunidades e da região. Cada um dos países, entretanto, tenta demarcar suaimportância no debate sobre a proteção da Amazônia.

Apesar de termos notado a descrição quantitativa do aumento do turismo na regiãonos artigos da coletânea, sobressaem as apostas no desenvolvimento futuro de um turismosustentável, mas não ficam muito evidentes os possíveis problemas sociais e ambientais deum turismo já consolidado. Yánez e Sevilla (2010:191) chegam a citar a preocupação com ocombate à exploração sexual infantil como uma das prioridades da política nacional deturismo do Peru para a região, mas os demais textos parecem focar a atenção apenas nos

imensos, que as sociedades,comunidades, tribos, nações indígenas e etnias locais e regionais não teriamforças, competência técnica, recursos financeiros, poderes abrangentes parasuperá-los.” De outro, “oreconhecimentoda capacidade inventiva das populações locais” (Oliveira, 1994:6).

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problemas de gestão e negócios da atividade, como a baixa qualidade e informalidade dosserviços, destacados por Sánchez &Jaramillo-Hurtado (2010), para citar um exemplo.

Na análise final, apresentada por Sinclair e Jayawardena (2010b), os autores elegemtrês questões críticas que emergiram a partir das apresentações discutidas acima. São elas: aimportância do governo como agente de proteção da floresta; as vantagens econômicas doturismo como alternativa contra o extrativismo industrial na região; e os desafios para que oturismo se consolide como mecanismo de proteção da floresta. É possível cruzar as questõesdestacadas com os objetivos mais amplos da Organização já discutidos acima e percebernelas a orientação para destaque do Estado como ator principal, e a tentativa de marcar oturismo como atividade lucrativa para fazer frente às atividades consideradas mais danosasao ambiente. Quanto aos principais desafios levantados pelos autores nos estudos de caso,Sinclair e Jayawardena identificam os recursos humanos, técnicos e financeiros; ainfraestrutura da região; um quadro legal inadequado; o desenvolvimento limitado depadrões para a prática do turismo na Amazônia; e questões de saúde e segurança dovisitante. Como soluções, foram vislumbradas sugestões que, resumidamente, abordam anecessidade da consulta e debate regular, do planejamento (de longo prazo), execução eavaliação de uma agenda de ações para o turismo, de pesquisas, publicações acadêmicas ecompartilhamento de informações, do aumento das chegadas internacionais através dacriação de maior número de atrações, da cooperação entre os países membros e do avançono sentido do desenvolvimento de empreendimentos de base comunitária. O turismo debase comunitária une três dos temas prioritários da OTCA: o desenvolvimento regionalatravés do uso sustentável dos recursos naturais, assuntos indígenas e turismo.

Tippman e Sinclair (2012), então consultores de turismo da OTCA, observam queembora não haja uma maneira exata de medir o fluxo de turistas na região, é possívelafirmar que a Amazônia não recebe grande número de turistas e a maioria deles seconcentra na costa não amazônica ou nos centros urbanos dos países membros daAmazônia. Os autores citam estudos realizados em países europeus, importantes países deorigem de turistas no mundo, que mostram que a complexidade da região amazônica aindanão é suficiente comercializada e que a diversidade cultural ou social dos países fronteiriçosnão é refletida em nenhum produto turístico em oferta no mercado.

Seguindo as estratégias da OTCA para o turismo, mais recentemente foramidealizados três circuitos turísticos envolvendo destinos em três ou mais países da região,sendo estabelecido que esses destinos seriam promovidos com predominância do turismode base comunitária. Segundo Tippmann e Sinclair (2012), os circuitos foram debatidos emum workshop com representantes municipais e setores privados dos oito países, em que trêspossíveis roteiros foram identificados e analisados. A formação dos circuitosfinais, que estãosendo divulgados ao mercado, foram definidos pela OTCA e atores chave do setor público doturismo dos países. São eles:

1) Rota Amazônia-Andes-Pacífico (The Amazon-Andes-Pacific Route): envolve destinosno Peru, Brasil e Bolívia. O contraste entre as paisagens e culturas das montanhasandinas e da região amazônica é parte da atração (Tippmann e Sinclair, 2012:46).

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2) Trilha Turística Amazônia-Caribe (The Amazon-CaribbeanTourismTrail): envolvedestinos no Brasil, Guiana e Suriname. É uma combinação da “experiênciaamazônica” com o “sabor caribenho”. O Suriname tem uma forte conexão com omercado turístico alemão (Tippmann e Sinclair, 2012:47).

3) Rota da Água (The AmazonWaterTourismRoute): envolve destinos no Brasil,Colômbia, Equador e Peru. Explora a conexão entre as populações humanas e osistema fluvial (Tippmann e Sinclair, 2012:47).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aposta no turismo como saída para o desenvolvimento dos países pobres vigoradesde o pós Segunda Guerra Mundial, quando foram aconselhados pelos experts dos paísesdesenvolvidos a desenvolver o turismo para obter divisas e gerar empregos (Graburn,2009:18). O próprio texto do Tratado já o abordava como possível meio para alcançar odesenvolvimento, mostrando que o setor já tinha uma importância considerável nos anos1970. Hoje, o turismo é visto como um dos setores que mais cresce na econômica mundial, econtinua sendo promovido e estimulado, ainda mais por suas característicasproclamadamente “limpas”. Tippmann e Sinclair (2012), ao analisar as possibilidades doproduto turístico desenvolvido pela OTCA, observam que o turismo é amplamenteconsiderado como uma ferramenta importante que pode manter recursos naturais preciososenquanto confere benefícios econômicos e outros sobre as sociedades ou comunidadesenvolvidas na prática do turismo sustentável.

A presença em feiras internacionais, como a ITB Berlim, para promover os destinosamazônicos já é uma prática dos países, isoladamente. A OTCA tenta promovê-los emconjunto. É uma postura indicativa de quem são os turistas que os gestores procuram nessesespaços: os turistas dos principais mercados emissores do mundo, que ainda se concentramna Europa.

A criação e exploração comercial de circuitos ou roteiros turísticos que podemenvolver mais de um destino e, inclusive, mais de um país é uma prática já consolidada nosetor do turismo e amplamente propagada. Tem como objetivo complementar recursosentre os destinos integrados, aumentar o número total de visitas em cada um deles, seconstituir como uma forma de competir contra grandes mercados mundiais, e, ao mesmotempo, ser um meio de ofertar ao turista as atrações de todos os destinos localizados nocircuito de uma só vez (Chowdury, 2011).

Apesar de amplamente difundida no mercado, na esfera da cooperaçãointernacional e nos planos governamentais de desenvolvimento para o turismo atualmente,a relação entre desenvolvimento sustentável e turismo não é uma relação dada. Se hoje eleé considerado uma “indústria sem chaminés”, porque teria a capacidade de gerar renda semo infortúnio da poluição, os efeitos perversos do turismo têm sido alardeados por umaparcela de pesquisadores (inclusive e, principalmente, antropólogos), desde a consolidaçãodas viagens turísticas com o desenvolvimento dos transportes e da comunicação, por volta

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dos anos 1950 e 1960. Na literatura do turismo, entretanto, é frequente encontrar aatribuição desses problemas a falhas na gestão, numa suposição de que os erros nunca sãodo modelo de desenvolvimento em si, mas da sua má implementação. Prado (2003) observaessa tendência ao analisar a implementação do ecoturismo em um destino, e Sigaud (1988)já a apontava como característica dos projetos de desenvolvimento em sua análise sobre osefeitos sociais da construção de duas usinas hidrelétricas.

O “simples” deslocamento de pessoas que possibilita o turismo como atividadelucrativa pressupõe obras de infraestrutura que por si só têm efeitos sobre o ambiente e aspopulações residentes: abertura, construção e ampliação de estradas, aeroportos, terminais.A falta desse tipo de estrutura é frequentemente citada como desafio ao desenvolvimentodo turismo, mas seus processos de implementação não parecem ser calculados, em seusefeitos mais nefastos, na concepção do turismo como atividade sustentável.

Piedra-Calderón (2007) chama a atenção para o fato de que a integração regional éum processo que comporta diferentes significados e interesses para os organismosinternacionais envolvidos e para os países no nível da política nacional. Acreditamos queesse processo também tem significados diferentes para os atores locais envolvidos. Alémdisso, qual será o tipo de relação empreendida entre os povos tradicionais selecionados parafazer parte do circuito, pesquisadores e técnicos dos países membros, da OTCA,empresárioslocais e regionais, e os operadores turísticos, que serão os intermediadores do produto juntoao consumidor final? Uma pesquisa voltada para entender o processo de produção daAmazônia como destino poderia indicar algumas respostas sobre estas e outras relaçõesimplicadas no desenvolvimento do turismo. A partir das pesquisas de campo quepretendemos desenvolver, novas percepções e questões poderão ser contempladas naanálise.

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CULTURA DE TRABALHO COLETIVO E TURISMO: o caso da cooperativa paranaense deturismo

Joélcio Gonçalves SoaresUniversidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO – PR

Cicilian Luiza Löwen SahrUniversidade Federal do Paraná-UFPR/Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG-PR

RESUMO

A organização da oferta turística regional de destinos turísticos potenciais, sob uma basecooperativista, vem se delineando no Brasil desde 2001 através de iniciativas de fomento que partemda ação do Estado. Tal processo recebe apoio de governos estaduais, do segmento turístico e decomunidades com potencial para o desenvolvimento da atividade. No Paraná, a concretude dainiciativa é evidenciada com a criação em 2004 de uma Cooperativa Paranaense de Turismo, baseadana articulação de comunidades étnicas com experiência em atividades cooperativas de produção.Neste contexto, o presente artigo se propõe a analisar quais elementos da constituição destaCooperativa de Turismo podem ser analisados com base na Teoria de Elinor Ostrom. Tal teoriadelineia os princípios para o êxito de ações coletivas voltadas ao aproveitamento de recursos de usocomum, neste caso da cultura e da natureza regional com finalidade turística. Convém salientar queOstrom não desenvolve estudos diretamente voltados para o turismo, mas à configuraçãosociogeográfica de bens comuns, portanto, a aplicação desta base ao turismo cooperativo apresenta-se aqui com um caráter inédito.

Palavras-chave: Turismo Cooperativo. Ações Coletivas. Recursos Comuns. Paraná/Brasil.

1. INTRODUÇÃO

A gênese do turismo com base em organizações cooperativas no Brasil está ligada aações do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP). Esta entidade,ao observar o turismo como uma possível atividade que viesse agregar renda complementarem comunidades rurais que apresentassem potencialidades turísticas, “[...] decidiu investirna implementação de um modelo de turismo rural que se caracterizasse pela organizaçãosocial de seus empreendedores, sob a orientação e supervisão de suas Unidades Estaduais 32”(SESCOOP, 2002, p. 5-6).

Com o objetivo de realizar um trabalho em âmbito nacional, se fizeram necessáriasalgumas parcerias, sendo a principal delas fechada com o Ministério do Esporte e Turismo,por meio do Convênio 298/2001, que apresentava como objetivo viabilizar a implantação doPrograma de Turismo Rural Cooperativo nos estados brasileiros. Seriam estes os primeiros32 Em cada estado existe uma unidade representativa da Sescoop. No caso do Paraná a mesma estáintimamente ligada aos trabalhos da Ocepar – Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná(SETTI, 2011).

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passos rumo à organização de cooperativas de turismo, tendo como foco o desenvolvimentode ações em pequenas propriedades de comunidades rurais que apresentassempotencialidades, podendo assim gerar uma renda complementar, e desta forma incentivaros agricultores a se manter no campo, evitando, pelo menos em parte, o êxodo rural(MIELKE, GANDARA e SERRA, 2008).

O desenvolvimento das ações derivadas do Convênio 298/2001 se deu em dozemunicípios-pólo33 pertencentes a dez estados brasileiros, sendo estes: Minas Gerais,Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, RioGrande do Sul, Distrito Federal e Alagoas (PARANÁ COOPERATIVO, 2002). No Paraná,escolheu-se Ponta Grossa como município-polo, a partir do qual se estruturariam eixos dedesenvolvimento turístico.

Tal iniciativa visava organizar a oferta turística regional de alguns destinos turísticospotenciais, sob uma base cooperativista, isto é, a ideia era desenvolver o turismo através docooperativismo (MIELKE, GANDARA e SERRA, 2008). Nesta proposta, o território turísticoseria articulado em rede, compondo o que Haesbaert (2007, p. 279) denominou de“territórios-rede”.

Após a aplicação do curso derivado do Programa de Turismo Rural Cooperativo34

nas comunidades selecionadas, foi instituída no Paraná “[...] o que seria conhecida como aprimeira cooperativa de turismo do Brasil, a Cooperativa Paranaense de Turismo – Cooptur,cujos segmentos de turismo comercializados seriam os de Turismo Rural e Turismo deAventura” (MIELKE, GANDARA E SERRA, 2008, s/p). A formação se daria através daintegração de seis cooperativas de produção que constituiriam a Rota dos Imigrantes (SETTI,2011).

O objetivo central da Cooptur seria “estruturar e promover o turismo, onde osvisitantes entrariam em contato com a cultura, a culinária, o artesanato, o trabalho e aspaisagens onde vivem os imigrantes e descendentes de holandeses, ucranianos e alemães”.Cabe salientar, que é nessas cooperativas que “se desenvolve agricultura e a pecuária deleite mais moderna do Brasil em termos de tecnologia e produtividade” (SETTI, 2011, p. 235),algo que se apresentou como mais um atrativo para a atividade turística, tendo em vista aexperiência e cultura destes imigrantes para com os trabalhos coletivos cooperativos.

Para implementação do programa, se fez necessária a identificação por parte defacilitadores locais, de características importantes nas comunidades, que “[...] deveriamapresentar uma estrutura comunitária com coesão social”, na qual o processo departicipação pudesse ocorrer de forma positiva. “Significava ir para além da aparência dacomunidade, captando a essência das relações sociais entre os interessados” (SESCOOP,2002, p. 19).

33 A Teoria dos Pólos de Crescimento foi desenvolvida por Perroux na França na década de 1950 com base noestudo do setor industrial. Desde então esta vem sendo aplicada também nas atividades de planejamento,como no caso deste programa de turismo, para a criação de Pólos de Desenvolvimento. 34 O programa de capacitação se constituiu em oito módulos, sendo eles: Turismo Rural; Atrativos e Produtosdo turismo Rural; Hospedagem, Gastronomia e Produção Local; Segurança; Marketing; Administração; Projetosde Turismo Rural; Estratégia de Organização Social (IDEC, 2003).

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Assim, considerando que os elementos centrais da tipologia de comunidades queseriam alvo do programa de turismo cooperativo proposto coincidem com o perfil apontadopor Ostrom (2011) para o sucesso de comunidades em ações coletivas, o presente artigo sepropõe a analisar se as bases legais da Cooptur apresentam as características dos princípiosdesenhados pela Teoria de Ostrom. Para tanto, aprofunda-se a leitura das obras de Ostrom,como referência analítica com ênfase na estruturação sociogeográfica de bens comuns, bemcomo do material documental produzido para a criação e manutenção da Cooptur. Faz-setambém entrevistas com pessoas35 que acompanharam os passos da implementação dessacooperativa.

Cabe salientar que Ostrom não desenvolve estudos voltados para o turismo36,portanto, esse esforço de aproximação da base teórica de Ostrom (2011) à discussão deturismo cooperativo apresenta aqui um caráter inédito. Primeiramente são apresentadas asreflexões teóricas sobre cultura de trabalho coletivo de Ostrom numa configuraçãogeográfica, quer dizer na sua abrangência regional de interações econômicas e sociais e numsegundo momento, aproxima-se a discussão para a área de turismo a partir da experiênciada Cooptur.

2. CULTURA DE TRABALHO COLETIVO: REFLEXÕES TEÓRICAS A PARTIR DE ELINOR OSTROM

A discussão central de Elinor Ostrom gira em torno da busca por entender de queforma comunidades que possuem um recurso de uso comum se organizam internamente,sem a influência de agentes externos (governo ou entidades privadas), fazendo com quetodos os membros tenham um uso equitativo e sejam beneficiados da mesma forma. A obramais eloquente da autora, intitulada El Gobierno de los Bienes Comunes: la evolución de lasinstituciones de acción colectiva (2011), apresenta uma discussão calcada em algunsaspectos, tendo como pontos de partida três elementos centrais.

O primeiro se refere a “Criticar os fundamentos de análise que partem de teoriasfechadas, tal como se aplica em muitos recursos e bens de uso comum” (OSTROM, 2011, p.136). A contribuição de Ostrom quanto aos estudos sobre ação coletiva e instituições, temcomo ponto de partida os pressupostos expostos por Hardin (1968) e Olson (2011). Paraestes estudiosos a ação coletiva seria algo utópico, que por um lado, o egoísmo dos usuáriosiria prevalecer em algum momento deixando de cooperar de forma igualitária, já que teriabenefício via o trabalho do outro (OLSON, 2011), e por outro que a cooperação não existiriadevido àquele que iria se utilizar mais do recurso degradando-o, utilizando de forma não

35 Entrevistou-se duas pessoas ligadas ao turismo de Witmarsum (PHILIPPSEN, 2012 e HAMM, 2012), onde sedesenvolveu o Programa de Turismo Rural Cooperativo enquanto Projeto Piloto.36 Na área do turismo, a iniciativa que de certa forma tangencia as reflexões de Ostrom é a de turismocomunitário ou de base local, cuja discussão já é bastante presente no cenário acadêmico. Sampaio (2005,p.113) destaca que esta modalidade de turismo é “[...] uma estratégia de comunicação social que possibilitaque experiências de planejamento para o desenvolvimento de base comunitária em curso, na qual a populaçãoautóctone se torna a principal protagonista, resgatando ou conservando seus modos de vida que lhes sãopróprios, possam ser vivenciadas através da atividade turística”.

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sustentável, o que levaria a tragédia dos comuns (HARDIN, 1968). Nota-se que tais autorespossuíam um viés fechado e generalizante, observando somente para o que poderia ocorrerde negativo via ação coletiva sobre os bens comuns, condenando as comunidades aofracasso.

O segundo elemento concerne a “Apresentar exemplos empíricos de iniciativastanto exitosas como não exitosas de regulação e administração de recursos e bens de usocomum” (OSTROM, 2011, p. 36). Neste a autora a partir de estudos de caso, possibilitaobservar que muitas comunidades (Ex.: aldeias de Hirano, Nagaike e Yamanoka no Japão eTörbel na Suíça, com as terras de uso comum (2011, pp. 123-135 )) conseguem se organizarpor meio da ação coletiva, sendo maioria perante àquelas que não chegam a tal êxito (Ex.:comunidades de Bodrum e Izmir na Turquia com áreas comuns de pesca (2011, pp. 250-259)). Para isso se utiliza de estudos desenvolvidos por ela mesma e seu grupo de pesquisa,bem como de outros autores e grupos. Utiliza-se da técnica de meta-análise para levantarpontos chave nos resultados de tais estudos e inferir sobre as similaridades entre oselementos que levavam ao sucesso/insucesso da ação coletiva.

No que se refere a elementos principais que levam ao sucesso, pode-se citar: aorganização local de uma instituição pelos usuários do recurso, sem interferência de agentesexternos; a possibilidade da participação de todos os usuários na organização em torno dorecurso; e também a confiança existente entre os usuários. Já como fatores que levam aofracasso, têm-se: a falta de uma instituição robusta que controle o uso do recurso comum deforma igualitária pra todos; a baixa confiança entre usuários; e a inexistência de normas eregras, e quando essas existem, pode ser a falta de monitoramento sobre o seucumprimento, gerando conflitos entre os usuários e também a perda de confiança nainstituição (OSTROM, 2011).

Já o terceiro elemento, que pode-se considerar o mais importante, diz respeito a“Desenvolver instrumentos mais bem estruturados a fim de compreender as capacidades elimitações das comunidades e suas instituições de autogoverno e a regulação de distintosrecursos” (OSTROM, 2011, p. 36). Este elemento representa a contribuição teórica deOstrom (2011), onde através da crítica a teorias fechadas (primeiro elemento) e a partir doestudo de diversas comunidades e organizações que envolviam recursos de uso comum(segundo elemento), ela cria pressupostos passíveis de serem utilizados para embasar, tantoenquanto conteúdo teórico como metodológico, estudos em comunidades que apresentemprocessos de cooperação e trabalho coletivo de longa duração, os quais ela denomina como“princípios de desenho” (OSTROM, 2011, p. 168).

Ao tratar destes princípios, Ostrom (2011, p. 168) salienta que “[...] por princípio dedesenho entende-se um elemento ou condição essencial que permite explicar o êxito dasinstituições para sustentar um sistema de recursos de uso comum - RUC e sustentar ocumprimento das regras de uso, geração após geração de usuários”. Ou seja, a partir dasinúmeras pesquisas desenvolvidas, chegou-se a princípios que estão presentes nascomunidades que sinalizam para situações exitosas quanto ao trabalho com recursos de uso

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comum por meio da cooperação entre os membros, tendo como elemento central umainstituição.

No entanto:Para que estes princípios de desenho constituam uma explicação plausívelda persistência destes sistemas de RUC e de suas respectivas instituições,tenho que mostrar que eles podem afetar os incentivos de tal maneira, queos usuários estarão dispostos a comprometer-se com o cumprimento dasregras de funcionamento criadas nos sistemas, a monitorar o cumprimentodas regras por parte de cada membro e a reproduzir suas instituições degeração em geração (OSTROM, 2011, p. 168).

Sendo assim, ela não simplesmente supõe que determinada situação/princípio podeser importante, mas se propõe a comprovar a influência de cada um através de estudos, nãosomente seus, mas, também do seu grupo de pesquisa sobre RUC e de outros grupos depesquisa. Desta forma, assevera sobre como cada princípio de desenho proposto influi nasituação das comunidades, de seus recursos e de sua gestão intracomunidade via umainstituição central.

Os oito princípios de desenho formulados por Ostrom (2011) estão apresentados noQuadro 1, tendo em vista que os mesmos além de serem a base teórica deste artigo,também se apresentam como pressupostos para a metodologia de análise da instituiçãocooperativa que faz parte deste estudo.

Quadro 1 – Princípios de desenho de Ostrom (2011) para estudo de comunidades/instituições comrecursos de uso comum

1. Limites claramente definidosOs indivíduos ou famílias com direitos para extrair unidades derecurso do sistema de RUC, devem estar definidos com clareza,igualmente aos limites do próprio sistema de recursos.

2. Coerência entre as regras de apropriação e provimento e as condições contextuais

As regras de apropriação que restringem o tempo, o lugar, atecnologia e a quantidade de unidades de recurso se relacionamcom as condições locais e com as regras de provimento querequerem trabalho, materiais e/ou dinheiro.

3. Acordos de escolha coletiva A maioria dos indivíduos afetados pelas regras operacionais podeparticipar em sua modificação.

4. MonitoramentoQuem monitora de maneira ativa as condições do RUC e ocomportamento dos apropriadores, prestam contas aosapropriadores ou são apropriadores eles mesmos.

5. Sansões graduadas

Os apropriadores que violam as regras de operação recebemsansões graduadas (dependendo da gravidade e do contexto dainfração) por parte de outros usuários, funcionárioscorrespondentes ou ambos.

6. Mecanismos para resolução de conflitos

Os apropriadores e as autoridades têm acesso rápido a instânciaslocais para resolver com um custo baixo os conflitos entre osusuários ou entre estes e os funcionários.

7. Reconhecimento mínimo de direitos de organização

Os direitos dos usuários de organizar suas próprias instituições nãosão questionados por autoridades governamentais externas.

8. Empreendimentos aninhados

As atividades de apropriação, provimento, monitoramento,aplicação das normas, resolução de conflitos e governança estãoorganizadas em múltiplos níveis de entidades/empreendi-mentosaninhados.

Fonte: Organizado pelos autores com base em Ostrom (2011, pp. 169-185) e Ostrom et al (2011, pp. 140-142).

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De acordo com Ostrom et al (2011, p. 142) “a possibilidade de os princípios dedesenho sintetizarem os fatores que determinariam a sobrevivência duradoura de umainstituição de recurso de uso comum vem atraindo o interesse de um grande grupo deacadêmicos”, devido a relevância teórica dos mesmos e pela forma como foram propostos,pois representam confiabilidade, já que não foi somente uma proposição, mas algo calcadoem diversos estudos de caso. “Uma recente meta-análise de 112 artigos publicados porpesquisadores diversos avaliou a validade dos princípios de desenho para explicar o sucessoou fracasso em variados recursos de uso comum” (OSTROM et al, 2011, p. 142), onde doisterços dos artigos vieram a confirmar que os princípios de desenho de Ostrom (2011) sãorelevantes para estudar as instituições que envolvem RUC.

É neste sentido, que esta pesquisa se utiliza de tais princípios como pressupostospara analisar a Cooptur enquanto instituição que influencia a comunidade de Witmarsumquando do seu desenvolvimento turístico.

3. COOPERATIVISMO E TURISMO NO PARANÁ: REFLEXÕES A PARTIR DA COOPTUR

A Cooptur tem um papel fundamental nas mudanças que se desenvolvem noParaná, sobretudo na região dos Campos Gerais para o fortalecimento das atividadesturísticas. Assim, o objetivo desta seção é analisar esta instituição a partir dos princípios dedesenho de Ostrom (2011).

Embora a fundação da Cooptur tenha ocorrido em 2004, ao longo do tempo assiste-se a reorganizações estruturais e a reformulações no seu estatuto. Novas ações sãopropostas e, em 2012, a cooperativa de turismo passa a trabalhar mais como uma agênciade turismo propriamente dita, comercializando os produtos de diferentes localidades dosCampos Gerais. Isso faz com que o turismo envolvendo as colônias que possuemcooperativas étnicas, segundo Hamm (2012) e Phillipsen (2012), seja impulsionado,tornando-as mais conhecidas e as consolidando enquanto destinos importantes nesta regiãodo Paraná.

Assim, com vistas a conhecer as peculiaridades da Cooptur e sinalizar paraelementos que promovam ações coletivas e cooperação, o estatuto da instituição éanalisado a seguir, em diferentes versões temporais, detalhando-se as aproximações edistanciamentos a cada um dos princípios de Ostrom (2011).

1. Limites claramente definidos Neste princípio são avaliados a área de atuação da cooperativa e quem pode nela

participar em dois momentos: na sua fundação em 2004 (Figura 1) e três anos após, quandopassou a vigorar o estatuto de 2007.

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Figura 1 – Área de atuação da Cooptur – 2004

Fonte: Organizado pelos autores.

Na proposta apresentada em 2004, quando da organização do primeiro estatutosocial da cooperativa, consta que a área de atuação abrangeria os municípios do roteiro dosimigrantes constituído de duas rotas étnicas distintas: a) a Rota Eslavo Germânica,compreendendo os municípios de Palmeira (Witmarsum), Prudentópolis e Guarapuava(Entre Rios); e b) a Rota Holandesa, compreendendo os municípios de Carambeí, Castro(Castrolanda) e Arapoti. Poderiam ainda ser incorporados outros municípios do entornodestes com componentes étnico-culturais marcantes ao longo dos eixos de acesso de cadarota (SESCOOP, 2004).

No entanto, ocorrem mudanças no estatuto a partir de 2007. Neste novo estatutoconsta como área de abrangência e atuação todo território nacional e de admissão deassociados circunscritos no estado do Paraná (COOPTUR, 2007a, p. 1). Com isso, os limitesdeixam de ser claramente definidos. Os associados podem ser de qualquer ponto da unidadeda federação, o que garante o caráter paranaense da cooperativa, mas as ações dacooperativa passam a abranger todo o Brasil. Isso reflete um distanciamento da Coopturcom relação às suas finalidades iniciais de promoção do turismo com base em recursosétnicos (eslavo-germânicos e holandeses) de localidades. Na proposta original destacavam-se os elementos apontados por Ostrom (2011), ou seja, a presença de recursos de usocomum (primeiro e segundo elementos de Ostrom).

No estatuto de 2004, é citado que “Poderá se associar a cooperativa qualquerpessoa que ofereça produtos turísticos conforme aqueles definidos pela cooperativa”(SESCOOP, 2004, s/p.). Isso também é modificado, já que no estatuto de 2007, apresenta-se

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no Art. 3, que “Poderá associar-se à cooperativa qualquer pessoa que ofereça produtos eserviços turísticos tais como: recursos históricos, culturais e naturais; atividades produtivas,artesanais ou práticas do meio rural; hospedagem e alimentação; transporte e condução devisitantes, informação e tradução” (COOPTUR, 2007a, p. 3).

Observa-se, assim, que o maior detalhamento, apontando os ramos de atividadesque podem fazer parte da cooperativa contribui para definir melhor os limites, como apontao primeiro princípio de Ostrom (2011). Tal delimitação, todavia, pode ter sido necessária emfunção da ampliação da abrangência da Cooptur. Salienta-se, entretanto, que os ramos deatividade reforçam tanto os recursos de uso comum (história, cultura e natureza), apontadospor (Ostrom 2011), como aqueles ligados a infraestrutura básica do turismo (hospedagem,alimentação, transporte, entre outros).

2. Coerência entre as regras de apropriação/participação e provimento e as condiçõescontextuais

Na aplicação do curso de treinamento para a implantação do Programa de TurismoRural Cooperativo pela Sescoop em 2003/2004 e posteriormente com a criação da Coopturem 2004, tinha-se como ponto de partida potencialidades apresentadas pelas colôniasétnicas que possuem cooperativas para organização de suas atividades econômicas (Quadro2), o que vem de encontro com o princípio 2 de Ostrom (2011). Não foi ao acaso que aSescoop propôs o curso em comunidades que já possuíam essa forma de organização, massim já pensando que as possibilidades de sucesso seriam maiores do que se aplicada talcapacitação em comunidades que não tivessem como parte de sua cultura a ação coletiva ecooperação (terceiro elemento de Ostrom), duas condições contextuais importantes.

Quadro 2 - Comunidades e Cooperativas de produção ligadas ao município-polo Ponta Grossa naconstituição da Cooptur

Unidade Turística Cooperativa de Produção Recurso ÉtnicoWitmarsum/Palmeira Witmarsum Alemães menonitas

Entre Rios/Guarapuava Agrária Alemães do VolgaPrudentópolis Camp Ucranianos e Poloneses

Carambeí Batavo HolandesesCastro Castrolanda HolandesesArapoti Capal Holandeses

Fonte: Organizado pelos autores.

As seis organizações cooperativas de produção se preparariam para a criação deuma cooperativa que tivesse como foco a atividade turística. O estabelecimento de umaforma de organização social em cooperativa ou associação era o principal objetivo doPrograma de Turismo Rural Cooperativo, buscando assim fortalecer ascomunidades/municípios por meio de uma estrutura onde todos os envolvidos na atividadefizessem parte (SESCOOP, 2002, pp. 14-15).

No entanto, quando é modificado o estatuto em 2007, nota-se certa abertura paralocalidades que não tinham a mesma organização que as consideradas como primordiais

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para existência da Cooptur. Isso vai fazer com que ocorram divergências entre os que erammembros das comunidades étnicas, que conheciam os ideais cooperativos, e aqueles quenão tinham esses ideais, que sempre trabalharam num viés mais individualista, mas que,neste momento, estavam ingressando numa forma de organização com ação coletiva(HAMM, 2012; PHILIPPSEN, 2012).

Nota-se assim que a princípio levou-se em conta a coerência entre quem poderia seapropriar/participar da cooperativa e as questões contextuais, ou seja, com membrosoriundos de cooperativas de produção étnicas. Hoje a Cooptur congrega membros diversos,não somente dessa modalidade de comunidades/colônias.

Cabe ainda citar um fato apontado no novo estatuto, quando da formação/eleiçãode nova diretoria, que consta no Art. 37:

Para a realização das eleições as chapas serão inscritas na Assembléia GeralOrdinária e deverá ser formada por associados que preencham todos oscargos eletivos, sendo apresentado, de preferência, contemplando 1(um)representante de cada uma das seguintes Unidades Turísticas –Witmarsum, Entre Rios, Prudentópolis, Ponta Grossa, Carambeí, Castro eArapoti (COOPTUR, 2007a, p. 10; Grifo nosso).

Ou seja, mesmo sendo aberta para participação de membros de outros municípios elocalidades, a diretoria (presidente e vice, secretários e outros) é preferencialmente formadaapenas com membros das comunidades étnicas que possuem cooperativas de produção,constando somente Ponta Grossa que não possui este perfil, mas que ocupa a posição demunicípio pólo.

A situação que se apresenta em 2007 é de manter no comando da Cooptur pessoasque possuem mais experiência sobre o sistema cooperativo, criados no contexto da culturacooperativa, já que se abre mão da exclusividade de participação apenas desse segmentoentre os associados. Com isso, atende-se apenas parcialmente o princípio 2 do desenho deOstrom (2011).

3. Acordos de escolha coletivaNeste momento avalia-se o direito de todos participarem das decisões e opinarem

sobre os interesses comuns da instituição. O estatuto de 2004 propõe no Art. 7, quandotrata dos direitos do associado, que o mesmo pode: “a) participar das Assembléias Geraisdiscutindo e votando os assuntos que nela forem tratados; e b) propor ao Conselho deAdministração, ao Conselho Fiscal, ou às Assembléias Gerais medidas que interessem àcooperativa” (SESCOOP, 2004, s/p.).

O estatuto atualizado, de 2007, apresenta o seguinte: “Art. 7 – São direitos doassociado: a) propor ao Conselho de Administração, ao Conselho Fiscal, ou às AssembléiasGerais medidas de interesse da cooperativa; e b) o de participar ativamente da sua vidasocietária e empresarial” (COOPTUR, 2007a, p. 4).

Sendo assim, ambos os estatutos atendem o princípio de participação aberta aosmembros, garantindo o atendimento dos interesses coletivos nas tarefas de gestão.

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4. Monitoramento Para este princípio foram avaliados os seguintes elementos: a) monitoramento

interno sobre as atividades da cooperativa; e b) monitoramento sobre os serviços prestadospelos associados.

O monitoramento das atividades da cooperativa se dá pelo Conselho Fiscal comopode-se observar a seguir:

Art. 57 – 2004 / Art. 52 – 2007 - Os negócios e atividades da cooperativaserão fiscalizados assídua e minuciosamente por um Conselho Fiscal [...].Art. 60 – 2004 / Art. 55 – 2007 - Compete ao Conselho Fiscal exercerassídua fiscalização sobre as operações, atividades e serviços dacooperativa, examinando livros, contas e documentos (SESCOOP, 2004 s/p;COOPTUR, 2007a, p. 15).

Quanto ao monitoramento dos serviços prestados pelos associados, isso não constaem nenhum dos estatutos aqui analisados. Pode-se citar dados levantados a partir dosboletins que eram enviados pela Cooptur trimestralmente para os associados, onde hádiversas considerações sobre a prestação de serviços, a qualidade deste e os preçoscobrados. Além disso, uma forma de monitoramento destes elementos era aplicação dequestionários para os visitantes que usufruíam dos serviços, os quais eram analisados pelaCooptur, e posteriormente eram repassadas informações a cada empreendimento,salientando para possíveis mudanças e melhoras (COOPTUR, 2007b; 2007c; 2007d; 2008).

Nota-se, assim, que este princípio de desenho de Ostrom (2011) é plenamenteatingido, minimizando as possibilidades de falta de êxito da iniciativa em função de falta devisibilidade nas ações e/ou condições isonômicas aos associados. O Conselho Fiscal garante,assim, uma gestão voltada à coletividade.

5. Sansões graduadas:A normatização de procedimentos e condutas garante a “integração interna”

(GIDDENS, 1984, p. 26) da instituição, dos grupos e dos indivíduos que dela participam,excluindo ou punindo aqueles que não as seguem. Para este princípio foram então avaliadas:a existência de regras de operação e as punições àqueles que não as cumprem.

No Art. 50 – 2004 / Art. 43 – 2007 - são apontadas as atribuições que cabem aoConselho de Administração, dentro dos limites da lei e do estatuto. São estas:

[...] b) estabelecer as normas para funcionamento da cooperativa; c)elaborar Regimento Interno para a organização do quadro social; d)estabelecer sanções ou penalidades a serem aplicadas nos casos deviolação ou abuso cometidos contra disposições de lei, deste estatuto, oudas regras de relacionamento com a entidade que venham a serestabelecidas; e) deliberar sobre a admissão, eliminação e exclusão deassociados e suas implicações; [...] g) fixar as normas disciplinares; [...] m)zelar pelo cumprimento da legislação do Cooperativismo e outras aplicáveis(SESCOOP, 2004, s/p.; COOPTUR, 2007a, pp. 11-12)

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Já no Art. 12 trata-se da eliminação do associado, que poderá ser realizada emvirtude de infração de lei, do estatuto ou norma da cooperativa, a qual será feita peloConselho de Administração.

O Conselho de Administração poderá eliminar o associado que: a) mantiverqualquer atividade que conflite com os objetivos sociais da cooperativa; b)deixar de cumprir as obrigações por ele contratadas na cooperativa; c)deixar de realizar, com a cooperativa, as operações que constituem seuobjetivo social; d) desrespeitar normas de funcionamento da cooperativa(SESCOOP, 2004, s/p.; COOPTUR, 2007a, pp.4-5).

Observa-se, neste sentido, que a Cooptur busca atender também a este princípio dedesenho de Ostrom (2011).

6. Mecanismos para resolução de conflitosPara este princípio o elemento avaliado foi à forma de resolução de conflitos com

custo baixo e a efetividade em resolver problemas entre os usuários ou entre estes e osfuncionários da instituição.

Com relação a esta questão, é apresentada como uma das deliberações dasAssembléias Gerais prevista nos estatutos, no item “d” do parágrafo 2º do Art. 39 – 2004 /Art. 34 – 2007: “solução de conflitos entre associados ou entre estes e a Administração daCooperativa” (SESCOOP, 2004, s/p.; COOPTUR, 2007a, p.9).

Assim, também este princípio de Ostrom (2011) é alcançado no que tange a buscaruma atmosfera de convivência plural entre pessoas e ideias, mesmo entre grupos commesma vivência cultural. Este princípio, assim como o anterior, possibilitam a integraçãointerna do grupo.

7. Reconhecimento mínimo de direitos de organizaçãoEste princípio versa sobre os direitos dos usuários de organizar suas próprias

instituições sem haver questionamentos por autoridades governamentais e/ou externas. ACooptur é reconhecida quanto aos seus direitos de organização, uma vez que é filiada aOcepar – Sindicato e Organizações das Cooperativas do Paraná, já sendo apoiada por estainstituição maior quando da sua fundação. Está também registrada na Junta Comercial doParaná e na Receita Federal.

No Estatuto atualizado de 2007 consta no Art. 1, que a Cooptur:

[...] é uma sociedade civil, de responsabilidade limitada, sem fins lucrativos,que se rege pelos valores e princípios do Cooperativismo, pelas disposiçõeslegais, em sincronismo com o Programa de Autogestão das CooperativasParanaenses, com o Programa de Turismo Rural Cooperativo e por esteestatuto (COOPTUR, 2007a, p. 2).

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Portanto, trata-se de uma instituição autônoma, com plenos poderes, que devefuncionar respeitando as leis vigentes no território nacional e os princípios cooperativistasapregoados pela Ocepar, e também, em nível nacional pela OCB – Organização dasCooperativas Brasileiras.

Sendo assim, a instituição também alcança este princípio de desenho de Ostrom(2011), garantindo, além de sua integração interna, também uma “integração sistêmica”(GIDDENS, 1984, p. 26), ou seja, uma integração a instituições e leis em dimensões escalaressuperiores a sua.

8. Empreendimentos aninhadosPara este princípio de Ostrom (2011), a avaliação versa sobre o fato das atividades

desenvolvidas pela Cooptur estarem organizadas com ligação a múltiplos níveis deentidades/empreendimentos aninhados. Há toda uma estrutura de entidades e instituições,conhecida como Sistema Ocepar, que versam sobre o cooperativismo no Paraná das quais aCooptur faz parte e recorre para resolver problemas, buscar recursos, cursos de capacitaçãoe outros.

O Sistema:

[...] é formado por três sociedades distintas, sem fins lucrativos que, emestreita parceria, se dedicam à representação, fomento, defesa sindical,desenvolvimento, capacitação e promoção social das cooperativasparanaenses: O Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado doParaná – Ocepar, o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo –Sescoop/PR e a Federação e Organização das Cooperativas do Estado doParaná – Fecoopar (SESCOOP, 2014, s/p.).

A “representação do sistema cooperativista nacional cabe à Organização dasCooperativas Brasileiras (OCB), sociedade civil, com sede em Brasília [...] que representatodos os ramos do cooperativismo brasileiro” (SESCOOP, 2014, s/p.). O Sistema Ocepar estáligado a OCB.

Desta forma, a Cooptur se integra às diferentes instâncias do cooperativismobrasileiro e, desta forma, também atende a mais este princípio de desenho de Ostrom(2011), ou seja, o de empreendimentos alinhados.

Assim, tendo efetuado a análise da Cooptur a partir dos princípios de desenho deOstrom (2011), pode-se observar que a cooperativa somente não atendeu plenamente aosprincípios concernentes aos Limites claramente definidos e a Coerência entre as regras deapropriação e provimento e as condições contextuais. Todavia, são estes dois princípios quegarantem a utilização do potencial endógeno de desenvolvimento local/regional, questãoprimordial quando se busca a conjugação entre natureza e cultura, e também quando separte da organização de um turismo cooperativo.

Já os outros seis princípios são encontrados na constituição Cooptur, demonstrandoque no seu planejamento a cooperativa utiliza os aspectos centrais para ser o que Ostromdenomina de “instituição robusta” (2011, pp.139-140). Enquanto “robusta”, a instituição

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permite a articulação de comunidades não contíguas na forma de “território-rede”(HAESBAERT, 2007, p. 279) integrando, sobretudo, territórios étnicos através de interessescomuns, a exploração de seus recursos turísticos em termos regionais.

Segundo Ostrom (2011, p. 305), “[...] não mais que três dos princípios de desenhoestão presentes em qualquer um dos casos onde os apropriadores de RUC foram claramenteincapazes de resolver os problemas que enfrentavam”. Salienta-se com isso, que asinstituições que não apresentam mais do que três dos oito princípios de Ostrom nãocostumam ter sucesso quanto à ação coletiva. No caso a Cooptur, esta atendeu plenamentea seis princípios, ou seja, apresenta uma situação positiva para seguir desenvolvendo açõesenvolvendo a atividade turística, tendo como enfoque central as comunidades comcooperativas via ação coletiva.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo pode se desenvolver de várias formas, envolvendo empresas e/ouiniciativas locais. Contudo, na maioria dos casos observam-se organizações privadastrabalhando isoladamente, num regime de concorrência ferrenho, sem buscar parcerias comoutros empreendimentos. Este não é o caso observado na Região dos Campos Gerais, onde aação coletiva e o cooperativismo, unindo empresas individuais e privadas presentes emvárias comunidades, apresenta bons resultados, fazendo com que a atividade turística cresçae se apresente cada vez mais atrativa para os empreendedores e as comunidades.

Um elemento central neste desenvolvimento turístico pode ser atribuído a culturade trabalho coletivo existente nas comunidades. As comunidades com suas cooperativasétnicas de produção apresentam uma forma de organização peculiar, envolvendo ostrabalhos em grupo e os processos de cooperação, que permeiam a religião, a forma deeducação e o trabalho via ação coletiva e cooperativa. Estes são os pilares de organização evivência comunal defendidos em tais comunidades. Estes preceitos estão presentes nasatividades desenvolvidas, mesmo que às vezes de forma indireta, seja nas questõeseconômicas, com as Cooperativas Agropecuárias, seja nas questões sociais das Associaçõesde Moradores e/ou Conselhos Locais, seja nas questões religiosas, ligadas as suas igrejaslocais. Estes elementos se interligam de forma coerente gerando formas de organização delonga duração e com sucesso de resultados.

Sendo assim, tais comunidades conseguem unir estes preceitos em torno de umaforma trabalho ou utilização de um bem comum, sua cultura e a natureza, a partir dodesenvolvimento de suas potencialidades, e assim tornam-se exemplos por caracterizaremuma cultura de trabalho coletivo. A união destes preceitos comunitários à uma ação em redeentre estas comunidades, permite desenvolver ainda mais a potencialidade turísticaregional.

Neste sentido, tanto o Programa de Turismo Rural Cooperativo, como a criação daCooptur e as ações por estas desenvolvidas – enquanto uma instituição robusta e comprincípios de organização bem estruturados como observou-se na análise feita aqui –

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tiveram um papel fundamental no despertar de Witmarsum, Entre Rios, Castrolanda,Carambéi, Prudentópolis e Arapoti para o turismo. Também, não se pode deixar de salientaro papel fundamental dos empreendedores locais, que trabalhando em conjunto,melhorando gradativamente seus produtos e criando novas alternativas para aqueles que osvisitam.

É inegável o papel da Cooptur, enquanto instituição organizadora e agenciadora,quando se trata do turismo nas comunidades dos Campos Gerias. De toda forma, éimperativo relembrar que tanto o projeto piloto do programa de turismo cooperativo nacomunidade de Witmarsum como o envolvimento das demais comunidades étnicas com aCooptur, só ocorre devido à atmosfera propícia, calcada nas formas de organização eparticipação comunitária, bem como na coesão social via ação coletiva, aspectosfundamentais na aplicação das ações de turismo cooperativo. Sendo assim, nada ocorre aoacaso, mas sim pelas características peculiares pré-existentes de organização local.

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PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO: uma análise do turismo de Uruçuca – BahiaMayne Santos

Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Marco Avila

Universidade Estadual de Santa Cruz , UESC

RESUMO

Este artigo é um recorte da pesquisa de mestrado que abordou da necessidade de uma análise dos processos de participação no turismo do município de Uruçuca. O objetivo deste trabalho é apresentar alguns dados da análise do desenvolvimento da atividade turística do município de Uruçuca - Bahia, a partir da ótica dos diferentes atores locais, como forma de colaborar com as reflexões sobre o planejamento participativo e entraves para que o mesmo ocorra efetivamente nas comunidades turísticas. Para tanto, apresenta dados sobre o nível de participação dos diferentes setores sociais locais em relação ao turismo que vem sendo desenvolvido no município de Uruçuca a partir dos três grupos de atores sociais locais: sociedade civil, empresários e poder público. Objetivo principal é analisar a percepção e as expectativas dos diferentes atores sociais, a fim de contribuir para o melhoramento da gestão turística participativa, de modo a otimizar as possibilidades locais relativas ao turismo e minimizar os impactos socioambientais que tal atividade pode gerar ao se desenvolver sem o planejamento adequado. Trata-se de um estudo descritivo, de natureza quali-quantitativa. O referencial teórico foi construído a partir de fontes secundárias. A coleta de dados primários foi feita através de ferramentas específicas para cada sujeito da pesquisa: poder público, empresários e/ou responsáveis pelas empresas turísticas e comunidade. Para tratar e discutir os dados, foi utilizado o Pacote Estatístico para Ciências Sociais – SPSS e análise de conteúdo. O estudo identificou que o município de Uruçuca (Ba) precisa desenvolver desenvolvidos mecanismos adequados de planejamento e participação para o alcance da sustentabilidade da atividade turística e comunidade receptora, visto que identificou-se que, até o momento, a participação e o envolvimento dos diferentes segmentos da sociedade no planejamento turístico é baixo, o que pode prejudicar a expansão adequada da atividade

Palavras-chave: Turismo, Planejamento, Participação social, Uruçuca - Bahia.

1 INTRODUÇÃO

O planejamento é indicado como uma ferramenta facilitadora para que o turismo promova desenvolvimento a partir do envolvimento e participação dos diferentes atores atuantes nas comunidades turísticas. Contudo, estabelecer um processo participativo exige a compreensão de elementos que impactam nas localidades turísticas que vão além das questões puramente referente

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às atividades. Mas que fazem parte da realidade social local, como identidade, capital social, entre outros.

Entretanto, superar os obstáculos para o estabelecimento de um processo participativo e inclusivo pode assegurar que o planejamento seja construído não só para atrair e fidelizar turistas. Mas, como forma de atender às demandas dos residentes. Nesse sentido, a participação dos vários atores envolvidos no turismo (poder público, comunidade, turistas e empresários) tem sido apontadacomo elemento importante para a construção e proposição do planejamento das localidades turísticas, de acordo com as reais necessidades e possibilidades apresentadas por estas.

No Brasil, os processos de construção participativa iniciaram a partir de 1990, ou seja, as políticas de descentralização são recentes. Cabe ressaltar que esse movimento se deu também por muitos órgãos financiadores apontarem a necessidade de envolvimento da comunidade no planejamento e para o desenvolvimento sustentável dessas localidades (BANDEIRA, 1999).

Diante disso, vários autores (BENI, 2006; CRUZ, 2006; CORIOLANO, 2003; DIAS, 2003) que tratam do turismo apontam para a importância das articulações sociais e da valorização de novas práticas de gestão pública, com a inserção de novos atores nos processos de planejamento da atividade turística. Os governos locais passam a exercer um papel de coordenação, de mobilizador das ações dos diferentes setores da sociedade.

Acredita-se que oportunizar e instrumentalizar para que as comunidades participem efetivamente das atividades propostas para o desenvolvimento local significa proporcionar condições para que elas mobilizem seu próprio potencial, sejam agentes sociais em vez de sujeitos passivos e passem a controlar as atividades que afetam sua vida. Dessa forma, o planejamento participativo surge como instrumento para alcançar o desenvolvimento local de forma equitativa e provocar o comprometimento da sociedade. Nesse sentido, este artigo apresenta algumas considerações e aprofundamentos a partir de reflexões dos resultados da dissertação de mestrado finalizada em 2012 que tratou de maneira abrangente do mesmo tema do artigo.

Portanto, o objetivo geral deste trabalho é apresentar alguns dados da análise do desenvolvimento da atividade turística do município de Uruçuca - Bahia, a partir da ótica dos diferentes atores locais, como forma de contribuir para uma gestão mais adequada para a localidade.Além disso, apresenta se dados sobre o nível de participação dos diferentes setores sociais locais em relação ao turismo que vem sendo desenvolvido no município de Uruçuca.

Cabe destacar que a pesquisa de mestrado trabalhou com cinco públicos: visitantes,setor acadêmico, empresários, poder público e residentes locais, porém, optou-se por fazerum recorte para esse artigo correlacionando e refletindo apenas sobre os três últimos atoreslocais. Foram utilizados dois tipos de amostra para realizar análise da participação dosresidentes locais: não probabilística por julgamento (ANDRADE, 2003), no caso destapesquisa considerou-se importante ouvir a presidenta do Conselho Municipal de Turismo eMeio Ambiente, sendo aplicada a entrevista semi estruturada e para a comunidade local,utilizou-se da amostra probabilística, para tanto foram aplicadas 241 questionários, para asistematização dos dados.

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As abordagens para esse público aconteceram em três locais diferentes domunicípio. Sendo dois locais na sede de Uruçuca (BA) e no Distrito de Serra Grande. No total,foram aplicados 241 questionários. Para o tratamento foi utilizado o Pacote Estatístico paraCiências Sociais – SPSS e análise do discurso.

Em relação ao poder público e os empresários foram aplicadas entrevistas semiestruturada. Assim, em relação à gestão pública entrevistou se a Secretaria deDesenvolvimento Econômica, que cuida também da pasta de Turismo e o Diretor de Cultura.E o setor empresarial, abordou se os proprietários de restaurantes e meios de hospedagens.Para o entendimento de alguns fatores que influenciaram no resultado encontrado pelapesquisa, recorreu-se a outras fontes de dados para subsidiar a discussão, dentre estas asatas das reuniões do Conselho Municipal de Turismo.

2 PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO: TEORIAS E REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO

A visão fragmentada do turismo conduziu numerosos países a experimentar erros com um custo muito alto nos âmbitos cultural, econômico e social. O panorama que a atividade turística tem oferecido às sociedades latino-americanas é desalentador, visto que a política turística nos países latinos tem buscado exclusivamente facilitar que os turistas usufruam das belezas naturais desses locais sem tornar a atividade realmente capaz de oportunizar o desenvolvimento para as comunidades anfitriãs (MOLINA E RODRIGUEZ, 2001).

Tem-se consciência de que este não é um problema relacionado apenas com o turismo, mas, sim, com o sistema econômico atual, que está caracterizado pelo acúmulo e concentração de capital. Segundo Coriolano (2005), o turismo forja respostas às necessidades humanas, pois atende preferencialmente ao capital. Entretanto, podemos estimular a redução dos impactos do sistema pormeio de ações planejadas que minimizem as injustiças e diferenças, com foco não só econômico, mastambém das problemáticas socioambientais das localidades.

No Brasil, o modelo de desenvolvimento turístico que vem sendo adotado parece menosprezar os equívocos históricos, visto que, copiamos ou valorizamos modelos que ampliam essas distorções e desigualdades (AVILA, 2009). Brusadin (2008) acrescenta que o planejamento público da atividade turística vem sendo direcionado pelo Estado, sempre com o objetivo meramente econômico. O autor salienta que o poder público parece esquecer o próprio fim a que sepropõe, pois relega ao segundo plano os benefícios sociais, chegando a dar relevância e divulgação, nas políticas do setor, à essencialidade do investimento privado na estratégia que é de sua própria responsabilidade, o que torna ainda mais importante a adesão das comunidades aos projetos de planejamento, como forma de defender seus interesses.

O turismo tem oferecido alguns ganhos que podem sugerir que o desenvolvimento está sendo alcançado, mas o Programa de Qualificação a Distância para o Desenvolvimento do Turismo faz um alerta, quando coloca que a atividade tem oferecido (BRASIL, 2008, p. 55)

[...] avanços sócio-econômicos,melhoria do padrão de vida e um

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enriquecimento tanto social quanto cultural, levando a uma percepção de prosperidade social e econômica. Porém, e, sobretudo no Brasil, em muitos casos o incremento do fluxo turístico gera, reforça ou intensifica as injustiças socioculturais preexistentes. Alguns poucos se beneficiam do patrimônio natural e cultural, enquanto a maioria da população receptiva, não se beneficia e vivencia um processo de exclusão social e espacial [...]

Estes fatores remetem à necessidade de tentar melhorar a qualidade dos “encontros” promovidos pela atividade turística, o que pode ocorrer através de um planejamento adequado. “Contudo, o grande paradoxo do turismo é que essa atividade coloca em contato pessoas que não enxergam a si mesmas como pessoas, mas como portadores de uma função precisa e determinada” (BARRETO, 2003, p. 26). Dessa forma, planejar vem como forma de otimizar as possibilidades que o turismo pode oferecer às comunidades e minimizar os impactos que este pode trazer (ÁVILA, 2009; LICKORISH e JENKINS, 2000). Ruschmann (1997) acrescenta que o planejamento turístico possibilita ouso adequado dos recursos, a proteção e a conservação do patrimônio ambiental (natural, social e cultural) e cria condições que facilitam e regulamentam o funcionamento dos serviços e equipamentos nas destinações, necessárias ao atendimento dos desejos dos turistas.

É a partir dos planejamentos que as comunidades receptoras poderão utilizar de forma adequada suas potencialidades e trabalhar suas fragilidades. E, com base no diagnóstico, poderá estabelecer uma imagem que agregue o seu diferencial e atrativo, bem como estabelecer os objetivos que se quer alcançar, as habilidades e recursos locais e as oportunidades que o mercado oferece para esse possível destino (DIAS, 2006; PEREIRA, 2001; PETROCCHI, 2004).

Para a OMT (2001), o planejamento pode melhorar a prosperidade no longo prazo da comunidade local, satisfazer os visitantes, aumentar a rentabilidade das empresas locais e seus efeitos multiplicadores na economia. E, por fim, potencializar os impactos do turismo, assegurando um equilíbrio sustentável entre benefícios econômicos e custos socioculturais e meioambientais. Dessa forma, o planejamento participativo do turismo vem com o mecanismo de traçar e executar o modelo de desenvolvimento que o setor público, o privado e os representantes da sociedade desejam para o destino turístico (CORIOLANO, 2005; DIAS, 2003). Neste caso, os planejadores atuam como agentes que planejam com e não para.

A participação da sociedade no Brasil se fortaleceu a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (ECO-92), realizada no ano de 1992, no Rio de Janeiro, Brasil. Com isso, algumas mudanças vêm ocorrendo, em que “o modelo de planejamento centralizado cedeu lugar a modelos descentralizados, nos quais os municípios, os governos estaduais e as empresas locais desempenham um papel relevante” (MOLINA, 2005, p. 17-18). Para Molina (2005), o modelo centralizado é ineficiente face à realidade do turismo moderno.

Diante dessa nova realidade, o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT) foi uma das primeiras iniciativas, no Brasil, de planejar com os diferentes setores envolvidos no turismo. A partir daí, começaram a surgir os Conselhos Municipais de Turismo como espaços para proposição de um planejamento turístico participativo (PNT, 2007). Farah (2000) expõe que novas formas de articulação vêm se desenvolvendo entre Estado e mercado. Essas evidenciam a

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valorização de novas práticas de gestão pública, com a inserção de novos atores sociais nos processos de planejamento da atividade turística.

Bordenave (1986) indica que a participação efetiva de comunidades necessita da criação deinstrumentos que funcionem a partir das características da organização social local, formada por umaestrutura sociocultural que permita diferenciá-la de outras comunidades e demonstrar quais os fatores que realmente valem para estas. Contudo, não existe fórmula pronta para o processo de participação, apesar de os gestores públicos terem a função de oportunizar os espaços participativos,de instrumentalizar os diferentes segmentos da sociedade para participar. Os diferentes setores locais aprenderão juntos a identificar e criar o melhor caminho para o desenvolvimento social coletivo.

Nesse sentido, esse saber social é “um conjunto de conhecimentos, procedimentos práticos, destrezas, critérios valorativos que um grupo humano ou sociedade julgam válido para se relacionar com o ambiente, para viver e se projetar” (TORO, 2005, p. 99). Entretanto, muitos espaçoscomo conselhos municipais tem servido apenas para cumprir demandas para viabilização de recursospara ações governamentais ou cumprimento de lei. Sendo assim, é essencial que aconteça às mobilizações para o chamamento dos diferentes setores sociais para o processo de planejamento participativo e aprendizado do fazer coletivo. Segundo Toro (1997), a mobilização é um ato de liberdade, oposto à manipulação, um ato público de vontade a partir de uma convocação e entendimento do processo.

O planejamento turístico precisa se harmonizar com a coletividade, de maneira a estimular a participação da comunidade ao invés de desenvolver a hostilização destes. Pois, a concentração de poder no desenvolvimento da atividade turística irá dificultar a prosperaridade e manutenção da atividade no local receptor (ARAÚJO, 2003). Nesse sentido, a compreensão por todos os agentes locais do que é o turismo, das potencialidades e dos impactos negativos que este pode gerar para a localidade é fundamental para uma possível compreensão da participação dos diferentes atores no seu desenvolvimento.

Sachs (2004) coloca que a criação de espaços de participação democráticos que empoderam os cidadãos pode otimizar a criação de ideias criativas, além de permitir que essas assumam o desenho de suas vidas. Contudo, percebe se que a diferença de saberes e nível social impacta diretamente na forma de envolvimento dos diferentes setores sociais das comunidades turísticas. E, Bursztynet al (2009) apresenta perguntas importantes para serem refletidas antes de se estabelecer um planejamento turístico: a quem interessa? Quem serão seus efetivos beneficiários? E qual o modelo a ser construído?

Contudo, sendo o turismo, uma atividade que se apropria dos espaços coletivos, bem comodos patrimônios das comunidades para o acontecimento é importante que pensadores e construtores do processo reflitam os espaços participativos a partir dos entraves e bases para que o mesmo aconteça. Deste modo a identidade, assim como capital social vai impactar diretamente no resultado do envolvimento social nas localidades turísticas.

O planejamento participativo do turismo nasce como via capaz de auxiliar na minoração dos impactos negativos e fortalecimento das potencialidades locais. Contudo falar da participação requer, muitas vezes, recorrer a teorias que explicam particularidades das comunidades. Por isso, no

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caso deste estudo, optou-se por recorrer também à teoria do capital social e identidade para compreender elementos que impactam no funcionamento dos espaços participativos (BARROSO RIBAL, 2006; HALL, 1999; CASTELLS, 1999).

Barroso Ribal (2006), assim como Castells (1999), ao discutirem o poder da identidade, trazem esclarecimentos de como, apesar do processo de globalização, as pessoas encontram, na identificação com seus pares e espaços coletivos a possibilidade de construírem ações e transformações sociais. Segundo o autor, a partir das dificuldades apresentadas na atual conjuntura global, apesar dos diferentes encontros entre povos, esses encontram na identidade um caminho para se conhecer, reconhecer, reconstruir e fortalecer.

A identidade passa a ser uma necessidade para a proteção pessoal e coletiva. Deixa de ser somente elemento de significância cultural, para ser também fonte de afirmação e resistência dos povos. Hall (1999, p. 20) expõe que

[...] as pessoas não identificam mais seus interesses sociais exclusivamente em termos de classe, a classe não pode servir como um dispositivo discursivo através da qual todos os variados interesses e todas as variadas identidades das pessoas possam ser reconciliadas e representadas.

Trazendo essas constatações para o processo de participação relacionado à identidade, Castells (1999, p.22) acrescenta que,a respeito dos atores sociais, entende por

[...]identidade o processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter relacionados, os quais prevalecem sobre outras fontes de significado. Para um determinado indivíduo ou ainda um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas. No entanto, essa pluralidade é fonte de tensão e contradição tanto na auto-representação quanto na ação social.

Ao ter o turismo como base de análise desses fatores, sabe-se que, nesse aspecto, a identidade das populações anfitriãs, com o passar da atividade, torna-se mais complexa para ser compreendida e identificada; visto que esses locais turísticos recebem também pessoas que buscam os “paraísos na terra”, a partir da perspectiva de um lugar melhor para viver, produzir e trabalhar.

Então os conflitos não surgem somente quando existe o encontro entre turistas e residentes, mas também entre os autóctones e os que chegam por diferentes interesses. Canclini (2000, p. 190) coloca que “quando se ocupa um território o primeiro ato é apropriar-se de suas terras, seus frutos, minerais e, é claro, os corpos da sua gente, ou ao menos do produto de sua força trabalho”. O que remete à possibilidade de apropriar-se de ou tornar-se parte daquela comunidade.

Castro (2009), ao discutir sobre identidade e planejamento turístico, apresenta que essas relações estabelecidas pelo turismo podem desencadear tensões capazes de favorecer a aculturação

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ou fortalecer as identidades locais. Diante de toda essa problemática, surgem as crises. No entanto, Hall (1999) estabelece que todas as identidades modernas são móveis, suscetíveis a crises e passíveisde transformações. Com isso, o turismo é somente mais um promotor de encontros e confrontos entre diferentes identidades, que, ao encontrar-se, podem se fortalecer, misturar-se ou até mesmo criar uma nova identidade.

Apesar da chegada de novos residentes aos destinos desencadear muitas vezes conflitos à questão do planejamento participativo pode significar, também, que essa comunidade, composta por uma gama de saberes e experiências de dentro e de fora, aumentou seu capital social. Putnam (2007, p.177) define capital social como “características da organização social, como confiança, normas e sistemas que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas.

Nesse sentido, Flores e Javiedes (2000, p. 230), numa revisão de alguns textos sobre participação, apresentam alguns condicionantes psicossociais para a participação

[...]o indivíduo percebe como parte de um grupo e que não pode mudar suasituação por si só, mas necessariamente agindo em conjunto com o grupo, estar participando.Essa participação pode ser entendida como uma forma de grupo ou comportamento coletivo sobre um problema cuja solução é reconhecida não individualmente, mas em uma ação conjunta. A forma como se imagina esse problema também afeta a participação. 37

Portanto, essas diferenças e potencialidades sociais, se bem conduzidas, podem ser produtoras de soluções para os problemas locais ou de conflitos de interesse. Todavia, a depender dos diferentes atores sociais e de como esses compreendem o processo, podem tornar-se espaços para vaidades, individualidade e interesses de classes (empresariais, da comunidade e do poder público).Nesse sentido, Castells (1999, p.24) acrescenta que a “construção social da identidade sempre ocorre em um processo marcado por relações de poder”.

Castells (1999) apresenta três formas e origens de construção de identidades dentre estes destaca se:

Identidade de projeto: quando os atores sociais, utilizando-se de qualquer tipo de material cultural ao seu alcance, constroem uma nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade e, ao fazê-lo, de buscar a transformação de toda a estrutura social (CASTELLS, 2008, p. 24).

Nesse sentido, conhecer a identidade local ou as identidades pode permitir aos condutores,mobilizadores e participantes dos espaços coletivos, conhecer as particularidades da sua comunidadee também permitir que o grupo que compõe o processo se conheça. Bordenave (1986, p. 64) diz que

37 Tradução: tradução feita pelos autores do artigo.

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“tão importante quanto conhecer a realidade objetiva, é que a comunidade ou grupo se conheça [...] suas percepções, seus valores e crenças, seus temores e aspirações”. Segundo Castells (1999, p. 79), “as pessoas resistem ao processo de individualização [...] tendendo a agrupar-se em organizações comunitárias, que ao longo do tempo, geram um sentimento de pertença e, em muitos casos, uma identidade cultural, comunal”. Milani vai acrescentar a esta reflexão que (2005, p. 21), o “sentimentode pertencer ao grupo [...] é fundamental na definição do capital social”.

Assim como Demo (1996), Putnam (2007) e Castells (1999), apesar das diferentes abordagens, apresentam o valor que a história, a identidade, as relações e redes, a construção participativa têm para o desenvolvimento social igualitário. Justificam e subsidiam a continuidade da busca pelos processos participativos, mesmo que estes demandem mais tempo e recursos financeiros. Portanto as dificuldades de se estabelecer a participação, melhorar o capital social das comunidades, fortalecer, modificar ou autorreconhecer, através da identidade e de outros elementos locais, devem ser constantes.

3 PLANEJAMENTO E PARTICIPAÇÃO A PARTIR DE TRÊS OLHARES: SOCIEDADE CIVIL, EMPRESÁRIOS E PODER PÚBLICO

Para compreensão dos dados e reflexões é importante conhecer um pouco do perfildos três grupos apresentados neste artigo: os residentes, o poder público e os empresários.Os residentes que participaram da pesquisa, 67% moram na sede do município de Uruçuca,30%, no Distrito de Serra Grande e 3%, na zona rural. Para essa percentagem foi escolhidoduas praças na sede e uma no Distrito para aplicação dos questionários. A partir doquestionamento sobre o tempo de moradia no município, 59% nasceram ou vivem a mais devinte anos no município, 21% residem de onze a vinte anos e 20% de um a dez anos; sendo53% do sexo feminino e 47% do masculino.

Quanto aos grupos de empresários, participaram 23 empresários e/ou responsáveispelos restaurantes e meios de hospedagem do município38, dos quais quatro sãorepresentantes e/ou proprietários de empresas localizadas na sede do município e dezenoveNo Distrito de Serra Grande (Vila Alta e Vila Baixa - Sargi). Dentre os tipos de empresa, oitosão de hospedagem, quatorze são restaurantes e um se enquadrava nos dois tipos. Salienta-se que o número superior de meios de hospedagem e restaurantes no Distrito do municípiose dá, como apresentado anteriormente, pelo fato de o turismo, até o momento,concentrar-se nessa localidade de Uruçuca.

No roteiro de entrevista, buscou-se saber se as pessoas que administravam asempresas tinham alguma formação em turismo ou áreas similares em relação aos papéisque desempenhavam. Somente 4,4% tinham formação em turismo e atuavam no ramo dealimentação; 13%, em administração e em letras; 56,5% cursaram Ensino Médio completoou incompleto; 26% Fundamental completo ou incompleto. Coube registrar a maior parte38No intuito de primar pelo anonimato dos colaboradores e suas empresas, os mesmos serão citados durante adiscussão através da letra “E” e um número correspondente. Exemplo: E1.

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das empresas é formada por capital local, sendo investidores de pequeno e médio porte,cujas empresas têm uma organização com base em uma empresa do tipo familiar.

Com relação às funções das pessoas que não eram proprietárias dosestabelecimentos e sim responsáveis, identificou-se que, em alguns estabelecimentoshoteleiros, durante a baixa estação, pessoas que, na alta estação, atuam como cozinheiros,vigias ou faxineiras, passam a ser responsáveis pelo local, atuando desde a reserva, ahospedagem até as demais necessidades dos que chegam até o local.

Essas questões podem sinalizar que o turismo ainda é tratado pelos empresários deUruçuca sem muito profissionalismo e sem compreender que, independente do período, osserviços oferecidos pela atividade turística devem primar pela qualidade e satisfação dosseus clientes. Isso poderá auxiliar a fidelização dos visitantes, não só aos seusempreendimentos como ao turismo local. Todavia, sabe-se que as questões econômicaspodem afetar diretamente as empresas na baixa estação, tornando-se, muitas vezes, difícilpara estas manterem o mesmo quadro de funcionários.

Assim como, os demais atores entrevistados, o formulário da entrevista semiestruturada para este público foi subdividido em “percepção e satisfação”. “participação e planejamento”, “expectativas” e “identidade”. Quando as características dos atores do setor público a secretária é Engenheira Agrônoma, Especialista em Desenvolvimento e em Mudanças Climáticas, Mestre em Produção Vegetal; quanto ao Diretor de Cultura, é formado em Matemática.

Após traçar o perfil dos residentes, buscou-se identificar como era a percepção e aparticipação destes em relação ao turismo. Quando interrogados se o turismo geravabenefícios para o município, 85,5% responderam que sim e 14,5%, não. Ainda referente aonível de contribuição que estes percebiam, 43% responderam que contribui de forma regulare apenas 20% disseram que o turismo não contribui.

Entretanto, com objetivo de compreender se a percepção dos residentes que vivemna sede do município e no Distrito é diferente, optou-se por cruzar os dados referentes àspessoas que disseram que o turismo não gerava benefícios. Constatou-se que 84,4% daspessoas que deram essa resposta residem na sede de Uruçuca e somente 15,2%, no Distrito.O que se dá possivelmente pela atividade turística ser concentrada em Serra Grande.

Cabe acrescentar que, durante toda pesquisa, pôde-se constatar que os residentesda sede e os do Distrito de Serra Grande têm percepções distintas em relação ao turismo eàs possibilidades do mesmo. Destaca-se, também, que os residentes de Serra Grande, opúblico mais em contato com a atividade turística, quando interrogados com perguntas quese referiam à atividade turística no município, faziam objeções à pergunta. Para esclareceressa constatação, quando perguntados se “o turismo gera benefícios para o município”,muitos afirmavam que para Uruçuca não, mas para Serra Grande sim. O mesmo se dava comos munícipes da sede ao serem questionados sobre o turismo. Durante toda a pesquisa,grande parte destes respondia que o turismo não acontece no município, para estes sóocorre em Serra Grande.

Desta forma, essa percepção de espaçamento municipal e de identidade localinfluenciou durante toda a discussão e considerações feitas pelos residentes na pesquisa. A

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partir dos dados, que estarão sendo apresentados, percebe-se que, diante da geografiamunicipal, bem como das diferenças sociais e organizacionais de cada localidade nomunicípio, o envolvimento e a participação desse público são diferentes.

Em continuidade à pesquisa, foi questionado se a atividade gerava problemas.Nesse sentido, a maior parte disse que não gerava, correspondendo a 47 %. Porém, quase amesma quantidade disse que gera pouco ou parcialmente, sendo 22%, parcialmente e24,5%, pouco.

Com relação aos empresários ao tratar da percepção e satisfação destes, observou-se que as empresas de Serra Grande trabalhavam diretamente com o turista, apesar de nãoviverem somente da renda proveniente dele. Os espaços de alimentação, em sua maioria,funcionavam durante todo ano, atendendo a visitantes e, principalmente, a comunidadelocal. Porém, a maior parte dos restaurantes sinalizou que não viviam do turismo e sim doatendimento à comunidade local.

Entre esses, segue a frase do E6 (restaurante): “não tem turismo aqui em SerraGrande. Eu vendo alimentação para os funcionários de hotéis, policiais, comerciantes...”. E7sinaliza o mesmo fato: “Eu atendo turista no verão, mas durante todo ano atendovendedores, a comunidade...”. Ainda um dos estabelecimentos de alimentação colocou queo principal público dele é o da cidade: “Eu trabalho principalmente voltado para o público dacidade e final de ano pessoas que vêm visitar a família...” (E5). Três pousadas disseram queatendiam principalmente vendedores de empresas e viajantes (comerciantes ambulantes),pois, em Uruçuca, não havia turismo, uma delas recebia também casais locais na pousada(E.14).

Referente à pergunta se o turismo gerava benefícios, a maioria afirmou que sim e,de modo geral, os residentes de Serra Grande citaram a geração de emprego, aumento darenda e os impostos gerados como contribuições da atividade para o município. Porémtodos os representantes da sede disseram que não gerava, visto que os mesmos nãoacreditam existir tal atividade no “município” 39 e, sim, no Distrito. Entre os que disseramque não gerava e atuavam no distrito, um deles (E7) disse o seguinte:

Aqui a gente atende o turista somente no verão, mas durante o ano todoatende vendedores e comunidade [...] O turismo não gera benefícios paraSerra Grande.

Outro colaborador da pesquisa, E12, apresentou que

São poucas coisas voltadas para o turista... é difícil que o turismo tragaalguma coisa. Tem o fato que as pessoas passam por Serra Grande e os queconhecem, muitos optam por ficar e morar. Agora está acontecendo umaimplantação da sinalização na comunidade, que pode ser um sinal que estácomeçando a acontecer uma preocupação com a estruturação para oturista”.

39 Muitos entrevistados referiam-se a município ao tratar da sede.

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Essa declaração corrobora as afirmações, anteriormente apresentadas pelacomunidade sobre a necessidade de se melhorar a infra estrutura e serviços, para que oturismo ocorra de fato. Todavia a fala apresenta sinais de que os empresários podemcompreender que é somente papel da gestão pública criar atividades, serviços turísticos eações para melhoria do turismo. E 12 acrescenta que “o turismo tem atraído mais coisasruins para Serra Grande. Geralmente as pessoas que vêm são proprietários das casas doSargi e na Vila” (referindo-se à Vila Alta – grifo da autora). Essa afirmação apresenta algunsconflitos existentes no Distrito de Serra Grande. A Vila Alta, por muito tempo, era compostapor residentes permanentes, e os temporários provenientes da sede de Uruçuca, parapassar férias de dezembro e janeiro.

E12 demonstra a distância existente entre “nativos” e os “novos residentes40” aoesclarecer que seu estabelecimento comercial oferece, além de alimentação, encontros deprodução de cultura, através de uma programação semanal cultural, na qual as pessoas quetiverem interesse podem se apresentar, tocar, pintar. Contudo, ressaltou que, apesar de os“nativos” 41 usufruírem dos serviços de alimentação, não participavam das demaisatividades.

Durante algumas entrevistas, foi constatado que as pessoas que chegaminteressados em investir na localidade agrupam-se, mais facilmente, com os novosmoradores e os residentes conhecidos como “locais ou nativos” do que com eles próprios.Este tipo de conflito pode ser observado em destinos turísticos, porém pode ser umempecilho para uma gestão participativa do turismo.

Entretanto, se bem contornada, a chegada de novos residentes pode alimentar atroca de saberes e beneficiar o acúmulo do capital social. Entretanto, como afirma Castells(2008), a identidade pode servir como um mecanismo de resistência, quando os atoressociais se consideram em situações desvalorizadas e estigmatizadas pela lógica dedominação. Para esses atores, as “trincheiras” servem como mecanismos de defesa ebaseiam-se no princípio da diferença entre eles e os demais setores da sociedade. Essesentimento de diferença é sinalizado também nas colocações dos empresários que estão amais tempo no município e aos que chegaram há sete anos ou menos tempo.

Com relação à questão que investigava a geração de problemas pela atividadeturística, somente três entrevistados apresentaram alguns pontos negativos produzidos pelaatividade. E12 disse o seguinte:

Nos finais de semana com a vinda dos ônibus de excursão aumenta o lixo eo barulho durante todo o verão. O Carnaval é um período difícil porque vemmuita gente, daí começa a faltar água, energia sempre. Esse ano (referenteao carnaval do ano de 2010 – grifo da autora) aconteceu de restaurantefechar porque não tinha água.

E16 acrescenta:

40 Pessoas que têm em média dez anos ou menos no Distrito e vieram com advento das UC’s, rodovia e turismo.41 As terminologias “nativos” e “locais” são citadas, durante toda a entrevista, referindo-se aos residentesnascidos no Distrito de Serra Grande.

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Do jeito que vem acontecendo, causa perda. Uruçuca as pessoas não sabemse é uma fruta, um lugar... se você for a Serra Grande não tem nada, estátudo fechado. O Distrito ainda é como se fosse o primo pobre do município.Nenhum prefeito se atentou para a importância do lugar...

Cabe ressaltar que durante todo o período de entrevista, entre residentes da sede edo Distrito, observou-se uma percepção diferente em relação à atividade, à realidade decada área de Uruçuca. Observou-se, também, que os empresários atuantes no bairro Sargi ena área do centro do Distrito conhecem, de forma limitada, as formas de funcionamentodesses dois territórios de Serra Grande.

A frase anterior, na qual o E16 afirma que os locais em Serra Grande (referindo-se àVila Alta) estão todos fechados contraria a realidade, visto que as entrevistas aconteceramno período de funcionamento dos estabelecimentos comerciais. O distanciamento territorialcausa também o distanciamento pessoal com esses locais. Esse deve ser um fator relevantepara os gestores, não só da atividade turística como dos gestores públicos, atentarem, sequiserem realizar uma gestão participativa eficaz. Através da pesquisa, constatou que todosos empresários entrevistados consideraram o nível de contribuição do turismo regular. “Oturismo contribui de forma regular, é difícil manter o restaurante” (E2).

De maneira geral, é explicitado durante a pesquisa que a percepção referente aoturismo ocorrer ou não e influenciar é diferente entre residentes e empresários que atuamna sede e os que atuam no Distrito de Serra Grande. Quanto ao nível de contribuição parasua qualidade de vida, 31,5% dos residentes entrevistados disseram que o turismo colaborade forma boa e para 30% não contribui. Nessa questão, observou-se que a maior parte dosque sinalizaram que a atividade turística não contribuía para a qualidade de vida residem nasede. O que corresponde a 87,5% dos residentes da sede, 8,4% de Serra Grande e 4,1% dazona rural.

Referente à alteração da rotina da comunidade, 74,2% disseram que não houvealteração devido ao turismo, somente 1,2%, muita; e 1 %, radicalmente. Apesar do baixonível de alteração na rotina detectada pela pesquisa, cabe ressaltar que, à medida que oturismo se expande, ampliam-se também as alterações nos aspectos demográficos, físicos,sociais e culturais dos destinos

A respeito da influência do turismo no modo de vida da comunidade, 55,6 %disseram que não há influência e 3 %, radicalmente. Na questão que trata do nível desatisfação dos residentes, referente ao turismo, 33,6% disseram estar insatisfeitos (apóscruzar dados, observou-se que destes, 76,5% eram da sede) e 18,3% estão satisfeitos. Essenível de insatisfação pode estar diretamente relacionado ao fato de os mesmos sinalizarem,durante a pesquisa, que o município não tem turismo ou que o mesmo só acontece oubeneficia Serra Grande. Essa constatação está explicitada na percepção que estes têm deque o fato de o turismo acontecer no Distrito não sugere a estes que acontece no município.E também corroboram com a colocação de alguns munícipes de que Sede e Distrito sãolugares distintos, com realidades distintas.

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Com relação aos empresários em relação às mesmas questões abordadas acimacom os residentes à questão que perguntava aos empresários a atividade melhorou odesenvolvimento do município, 35% disseram que não. Dentre esses, alguns sãoproprietários de empresas que têm mais de vinte anos de existência, trabalham voltadospara atender, principalmente, viajantes e residentes. Porém, somente 22% disseram que oturismo não influenciava no desenvolvimento da empresa. Um deles colocou que impacta deforma negativa, porque, segundo ele, no geral, a segurança do município é ruim; formaçãoda mão de obra não existe; não tem telefone público (segundo o mesmo, o telefone foiinstalado por conta própria para conseguir ter cartão de crédito no estabelecimento) 42.

E16 acrescenta que “da forma que está acontecendo, para que o negócio sesustente eu tenho que ser autônomo para buscar os turistas, investindo eu mesmo, fica numsistema fechado. Porque a mentalidade das pessoas não é trabalhar em parceria”. Éimportante salientar que os empresários enfatizaram, durante toda a entrevista, a falta deparceria entre eles próprios, entre eles e o poder público como um agravante do baixodesenvolvimento do turismo. Todavia é possível perceber, a partir das falas desses atores,que consideram ser papel sempre do outro agente e não de si mesmo estimular essaparceria.

Referente à satisfação com relação ao turismo e o desenvolvimento do município, amaior parte dos empresários sinalizou que não está satisfeita e justificou que, para melhoria,deveria ocorrer união entre comerciantes e maiores investimentos na infra estrutura edivulgação.

Para melhor aprofundamento e reflexão sobre os dados a entrevista a secretária do departamento responsável pelo turismo traz elementos que colaboram para um melhor entendimento. A secretária responsável pelo turismo, antes de tratar das questões sobre a existênciado turismo e se gerava benefícios para os municípios fez uma breve apresentação sobre o município e os seus aspectos sociais e geográficos:

O município é dividido em dois distritos censitários: Uruçuca (sede) e Serra Grande; O turismo acontece em Serra Grande. Em Serra Grande não existe desemprego hoje, quem não está trabalhando é porque não tem qualificação nenhuma ou não quer. Porque estão sendo oferecidas capacitações e o espaço está aberto a todos. Já em Uruçuca o turismo não existe. Em Serra Grande ele é uma realidade e já gera muitos benefícios tanto na geração de emprego quando para o comércio local, que cresceu muito. Houve a chegada de muita gente. Esses são atraídos com essa questão da sustentabilidade e compram algumas áreas para preservar e outros, pelo local ter uma situação econômica alta e vem para fazer investimentos...

42 Cabe sinalizar que este estabelecimento localiza-se no Sargi, na qual não existe sistema de telefonia para asempresas e residências, calçamento público ou fornecimento de água encanada. Esse fato pode ser observadoatravés das falas, das atas do COMTUMA e por visita in loco.

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Assim como os empresários, a secretária apresenta uma característica que não é exclusiva em Uruçuca: a chegada de novos residentes e a formação de guetos. Coriolano (1998), ao explanar sobre o turismo no litoral cearense sinaliza a existência das segregações a partir das classes sociais, existindo divisão entre os nativos, comerciantes e veranistas.

Já o diretor municipal de cultura, que também colaborou com a pesquisa, disse que Uruçuca tem um déficit grande em relação ao turismo, pois foi pouco explorado. Mas o município, segundo o mesmo, tem se mostrado melhor, porque existem pontos catalogados, Já se pensa em umTurismo Ecológico de Uruçuca, passando pela estrada de chão que liga a sede ao Distrito. Mas acrescenta também que é necessário que aconteça a revitalização de alguns pontos e a sua preparação para receber os turistas.

A secretária expôs ainda que a especulação é um dos grandes problemas que vem ocorrendo no Distrito:

É importante pensar nas particularidades que existem em Serra Grande. Nós temos aquele investidor que quer comprar área e a gente tem o ‘nativo’. É bem clara essa divisão de segmentos... São várias cidades em sua só: a do nativo, a do empresário, dos grupos naturalistas. São guetos muito claros... Tem ONG que trabalha com educação e educadores e eles não conseguem se encontrar com os educadores [...]

Tais elementos podem colaborar para os residentes não considerarem que o turismo gera melhorias para o município. A secretária citou também os problemas de acesso a áreas consideradas de lazer e trabalhos tradicionais, como é o caso da pesca, do parapente e do surf. Para tais esportes, algumas vezes, os praticantes precisam atualmente passar por áreas que são particulares, apesar de serem áreas de acesso. Além dessa questão, os acessos a passagens tradicionais da comunidade também foram citados:

Eles identificam que o acesso é um problema [...] Alguns acessos tradicionais já foram identificados e isso tem que ser colocado e amarrado com clareza no PRUA [...]

De maneira geral, ao analisar os dados referentes a percepções e os dadossocioambientais identificados estão relacionadas também questões ligadas à educação e àformação do cidadão, o que pode, através destas constatações, sinalizar o nãoentendimento do conceito de município, e, também, em relação à identidade municipal, quepode ser diferente em Serra Grande e na Sede, refletindo nos aspectos de percepção e departicipação.

Com o objetivo de medir o nível de envolvimento dos residentes, referente àparticipação no planejamento da atividade turística, foi constatado que 72,6% nunca

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participaram de nenhuma ação ou atividade relacionada com o turismo. Somente 3% quasesempre participam e 1,2% sempre participam. Apesar da percepção diferente a respeito donível de benefícios gerados pelo turismo, a participação dos munícipes de forma geral ébaixa, contudo essa questão pode ter diversas causas, como: educação, baixo estímulo àparticipação, falta de interesse dos gestores em envolver efetivamente a comunidade, faltade informação, entre outros (BANDEIRA, 1999; BORDENAVE, 1983; TORO, 2005).

Aos que disseram participar de alguma forma, 45 entrevistados ou exatamente18,6% dos respondentes, foi questionado como era sua forma de participação. Em relação aessa questão, 64,4% disseram ser de outras formas, 31,1% na reunião do COMTUMA e 4,5%,dentro de ONGs. Corroborando com o dado levantado a partir da questão anterior; aseguinte, no questionário aplicado com os residentes, buscou medir se os entrevistadosconheciam o COMTUMA. Dentre estes 56,1%, nunca ouviram falar e 44,9%, dizem conhecer.

Ao cruzar os dados que mediam o nível de participação com o conhecimento sobreo COMTUMA, constatou-se que, dos que disseram que “sempre participavam”, nenhumconhecia o conselho; dos que disseram “quase sempre participar”, somente uma pessoadisse conhecer o conselho; do grupo que “às vezes participava”, a maior parte nunca ouviufalar do COMTUMA.

O cruzamento desses dados permite afirmar que o nível de conhecimento sobre oconselho é baixo, mas alerta também que, mesmo o grupo que considera participar doturismo e planejamento deste, talvez compreenda a participação de forma equivocada.Muitas vezes, podendo estar relacionando colaborar com alguma ação ligada ao meioambiente, à educação, à cultura, com a participação no planejamento turístico.

Tal afirmação fica mais explicitada a partir da questão que esclarece se o grupo,que dizia conhecer o conselho, já havia participado de alguma reunião do COMTUMA.Destes a maior parte, 88,9%, disse que nunca participou, e somente 1,7% afirmaramparticipar todo mês.

Na busca por compreender o nível de participação dos residentes nas reuniões doCOMTUMA, maior espaço de participação referente ao planejamento do turismo deUruçuca, uma das interrogações buscou saber o que levava algumas pessoas a nãoparticipar. Constatou-se também que 78,2% não são membros de nenhuma entidade local, e21,8% pertencem a algum tipo de organização. O dado sinaliza um baixo nível deorganização, assim como um nível de acúmulo de capital social.

Com relação aos empresários no tocante à participação e ao planejamento, 43,5%dos empresários não conhecem o COMTUMA; 39% nunca participaram das reuniões; e17,4% já participaram de alguma reunião. Dos que sinalizaram ter ouvido falar, quandoperguntado se sabiam o papel do conselho, a maioria disse não saber, porém dois disseramo seguinte a esse respeito: “Já fui convidado a participar, mas não tenho interesse. Devido àfalta de ação, tem muita gente com boa vontade, mas é muita conversa, muita picuinha,fofoca para pouca ação. Não tenho estímulo” (E16). O outro colaborador sinalizou que “ouvifalar, mas nunca fomos convidados. Porém, eles (referindo-se ao conselho – grifo da autora)têm obrigação de visitar os empresários, fazer ações etc”. (E 22). Por fim, um dos que

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disseram participar, quando perguntando sobre o papel do COMTUMA disse que seria “fazerfestas para atrair turistas, aumentar o artesanato” (E3).

Todas as falas sinalizam que existe um baixo nível de entendimento sobre o papeldo conselho, quem o compõe e a importância de todos os atores locais se envolverem nesseprocesso. A responsabilidade ainda é destinada para o outro e não para si próprio por essesempresários.

Portanto, é importante que os diferentes setores sociais compreendam os espaçosde participação como os locais adequados para buscar melhorias para seus segmentos epara a coletividade. E para que isso ocorra, vai requerer uma maior ampliação dosconhecimentos dos diferentes segmentos sociais sobre o papel de cada um, valor do espaçocoletivo participativo, as possibilidades que a construção coletiva gera.

Dando continuidade com questões sobre a participação no planejamento local,somente quatro disseram saber o que é o COMTUMA, porém se referiram a ações realizadaspor ONGs como planejamento. Ao observar o nível de participação dos residentes eempresários, afirma-se que esse cenário apresenta o município com um baixo nível deacúmulo de capital social, fator importante para a participação; engajamento dacomunidade e diferentes atores sociais no processo participativo.

Todavia as falas do setor privado apresentam a interferência do terceiro setor eeste pode ser forte aliado para a melhoria do processo participativo no município. Dessaforma, as instituições que atuam, no município de Uruçuca, podem auxiliar diretamente noaumento da participação. Os dados apresentados em entrevista aos representantes do setorpúblico colaboram para ampliação da compreensão do baixo nível de envolvimento deresidentes e empresários atuarem no turismo. Nesse sentido, referente às questões quebuscam entender como se dá o nível de contribuição do turismo para o município o diretorde cultura, no momento, as pessoas de Uruçuca precisam passar por uma preparação e asações devem ser voltadas para isso. Assim como estes, a Secretaria de Desenvolvimentotambém relata que o turismo ainda está embrionário

[...] ainda tem jeito para fazer um ordenamento, preparação da comunidade, definir o papel do turismo... Nesse sentido, a gente tem os empresários que às vezes fazem o papel de parceiros e em alguns momentos puxa seu tapete...

Durante a entrevista, a representante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico citou que estão sendo planejados, e já oferecidos, cursos de formação em áreas específicas, como turismo,artesanato, pedreiro, não só pela prefeitura como por ONGs que atuam em Serra Grande. Também está sendo realizado o diagnóstico local para identificar as demandas do comércio e, a partir daí, ser estabelecida parceria com SENAC para oferecer os cursos adequados. Eles acontecerão provavelmente em parceria com hotéis para realização de atividades práticas. Juntamente com o MTUR, acontecerá, em Itacaré e Serra Grande, o curso de guias. Esse relato corrobora as respostas

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dos demais entrevistados desse setor, a respeito da necessidade de acontecer a capacitação dos residentes e demais envolvidos, para o desenvolvimento do turismo.

Sobre as questões que tratavam da participação o diretor de cultura municipal informou que não sabia se existia ou não “esse COMTUMA”. Esclareceu que poderia abordar sobre o de cultura, o qual estava sendo criado em Uruçuca. No entanto, já a Secretaria participava no período da pesquisa como vice-presidente do conselho e, de acordo com a representante da mesma, o órgão tem buscado estimular a participação das demais secretarias.

Os diferentes elementos na fala do diretor cultural do município e da secretária revelam a falta de envolvimento de alguns setores públicos municipais importantes para a proposição e construção do turismo. Cabe salientar que a integração e o envolvimento dos diferentes setores públicos locais podem facilitar a construção e a gestão turística local (BENI, 2006).

Por considerar a cultura elemento essencial para a construção do produto turístico e elementos dessa terem sido citados (festas de largo, datas tradicionais, aspectos da cultura) pelos residentes como elementos atrativos para o desenvolvimento da atividade local, salienta-se ser importante o trabalho inter-relacionado dessas secretarias e departamentos da prefeitura; pois os diferentes setores públicos têm atividades e ações que influenciam no turismo (como a Diretoria de Cultura, Secretaria de Educação e Esporte) e, portanto, necessitam ser envolvidos nas discussões e construções da atividade. As parcerias entre as diferentes secretarias poderão facilitar a viabilizaçãode ações voltadas para o melhoramento do turismo e da participação dos diferentes setores.

Em continuidade ao entendimento da percepção dos atores do setor público sobre a participação, a secretária acrescenta que existe uma necessidade de inserir Uruçuca no COMTUMA. A respeito do planejamento participativo e os impactos deste no desenvolvimento local o diretor de cultura também sinaliza que estão acontecendo ações com a finalidade de estabelecer o planejamento adequado do turismo municipal e, como foi citado anteriormente, estão acontecendo cursos de capacitação e diagnóstico local. Ao tratar do papel de cada setor, segundo, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, os empresários têm o discurso de sustentabilidade, mas para ela a ação é diferente.

Com relação a essa questão, a representante da Secretaria sinaliza que isso só será modificado através do enfrentamento da comunidade, através da criação do código de postura do município e de um plano ambiental: “Tem que ser amarrado algumas questões na lei. Trabalhando também no empoderamento das pessoas, criando cidadania. Fortalecer essas pessoas com algumas leis.”. O coordenador coloca que o papel dos empresários é fundamental, e sinaliza a necessidade de ter empresários no conselho, visto que o COMTUMA é bipartite e assegura a participação do poder público e da sociedade civil organizada.

Como forma de aprofundar se os residentes tinham interesse de se envolver com oturismo 49,8% gostariam de se engajar, 44,9% não têm interesse e 5,3% já participam doplanejamento da atividade turística. Para a ampliação do entendimento sobre a existênciade algum fator que limitava a participação dos munícipes que gostariam de se engajar noplanejamento e desenvolvimento do turismo local, identificou-se que 33,7% disseram nãoexistir nenhum impedimento para sua participação e 34,2%, ser a falta de tempo (Figura 14).

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Com base no regimento do conselho, nas atas constatou-se que as reuniões deveriamocorrer mensalmente, sendo alternadas, um mês na Sede e outra no Distrito.

Contudo, como observado nas atas, a maior parte das reuniões ocorreu em Serra Grande, bem como seus assuntos eram referentes a questões que tratavam do turismo e/ou meio ambiente, voltadas especialmente para o Distrito. Esse fator sinaliza que o foco das discussões da atividade turística é o Distrito e seus residentes, colaborando para a fixação da percepção dos munícipes da centralidade do turismo no Distrito e da realidade distinta entre sede e os outros locais de Uruçuca.

Para ampliar o entendimento sobre a ótica dos residentes, buscou-se compreendercomo esses percebiam o papel de cada ator social no planejamento e desenvolvimento doturismo local. Nesse sentido, referente ao poder público, 33,2% dos entrevistados disseramque este tinha como função atrair investimentos para o turismo, e 29,8%, planejar e gerir oturismo. De acordo com 41,5% dos respondentes da pesquisa, os empresários deveriamatrair investimentos para o turismo. Divulgar o turismo aparece como o segundo papelprincipal desse último setor, com 21,2%.

No tocante ao papel da comunidade, 37,3% disseram que seria usufruir da rendagerada pela atividade, assim como 10,4% não souberam responder. Vale ressaltar que, aoobservar que o papel mais importante para a comunidade, segundo ela própria, é usufruir darenda gerada pelo turismo, conota o não entendimento da importância desta sobre aparticipação dos diferentes atores locais no processo de planejamento e desenvolvimentodo município. Esta percepção pode estar influenciando na não participação destes noCOMTUMA, o que iria sugerir que a comunidade considera que não é responsável peloturismo, existindo, com isso, um baixo comprometimento para com as questões pertinentesà atividade.

Em se tratando de quem seria o maior responsável pelo turismo local, 65,1% dosentrevistados indicaram ser o poder público, seguido do setor privado e, por fim, dacomunidade. Similar aos residentes os empresários também colocaram como maiorresponsável o poder público, ou seja, 39% disseram que a gestão pública era responsávelpelo planejamento do turismo e apenas 22%, disseram que seriam todos (os outrosentrevistados indicaram diversos outros responsáveis).

Quanto ao papel dos empresários, foram apresentadas as seguintes funções: cobrarda prefeitura melhorias para o turismo, dar empregos à comunidade. Segundos os mesmos,já faziam a gestão compartilhada da atividade; investir; atrair turistas e atender bem;mostrar preocupação com a comunidade; organizar para trabalhar; apoiar naquilo que fosseprocurado; e alguns não souberem dizer qual a função desse setor para o melhoramento doturismo.

Observou-se que, em algumas respostas, os entrevistados parecem compreender oempresário como pessoa que tem propriedades de grande porte, não estando ele inseridonesse público, considerando-se, em suas falas, como comerciantes com responsabilidadesdiferentes dos empresários. Também se compreende, a partir das respostas, o baixoentendimento sobre o papel dos empresários. Quanto à responsabilidade da comunidade,os empresários apresentaram quatro respostas: “cobrar do poder público melhorias”, “se

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preparar para trabalhar e receber o turista”, “fiscalizar” e “não sabe”. Dentre os quesinalizaram não saber o papel da comunidade, um deles disse que a comunidade estádespreparada para se envolver no turismo e nas discussões a respeito deste.

Relativo ao poder público, constatou-se que a infraestrutura foi o ponto apontadocomo o que a gestão pública deveria cuidar para o desenvolvimento da atividade, e esseseria o seu papel na concepção de parte dos empresários, por conseguinte seria educaçãodos residentes, a gestão pública local, atrair investimentos e incentivar o comércio local.Sobre essa questão, cabe destacar a resposta de E2 que diz: “O poder público é ausente. Adistância entre a sede e o Distrito dificulta o processo administrativo, percebo ações muitomais promovidas por ONG’s no sentido turístico”. Sobre esse tema, E11 acrescenta “aprefeitura deveria investir em educação, esporte, acesso. Tenho alunos que moram na zonarural que vão à praia de cinco em cinco anos”. Cabe esclarecer que o acesso à praia principal,a do Pé de Serra, se dá através da BA 001 e não existe acostamento adequado para o tráfegode pedestre ou qualquer ação que vise à segurança e tráfego destes.

Posteriormente, algumas questões trataram da expectativa e da identidade. Assim,43,1% dos residentes identificaram as praias de Serra Grande como o que deveria ser maisevidenciado e, em seguida, com 30,3%, a Mata Atlântica. Apesar da diferente percepçãosobre o turismo, de modo geral, os residentes da sede, Distrito e zona rural consideraram aspraias localizadas em Serra Grande como o que deveria ser mais evidenciado.

Referente ao nível de identificação com o turismo, 30% dos entrevistados disseramque se identificam pouco e, 21% não se identificam. Dos sujeitos que disseram que não seidentificam com a atividade turística, a maior parte reside na sede do município,configurando 80,5% do público entrevistado; de Serra Grande, 13,7%; e 5,8% da zona rural.Cabe ressaltar, mais uma vez, que a percepção de Serra Grande, como local independenteda sede, e a falta de entendimento de unidade do município podem favorecer a percepçãodo turismo como ocorrendo somente no Distrito. Cabe registrar que para esse quesitoalguns entrevistados respondiam com a justificativa de que não percebiam o turismoacontecer no município de Uruçuca (referindo-se à sede), não se identificavam com oturismo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após analisar o desenvolvimento da atividade turística do município de Uruçuca - Bahia, a partir da ótica dos diferentes atores sociais constatou se que o nível de participação dos segmentos sociais locais é baixo no planejamento municipal. Apesar do Conselho Municipal de Turismo e Meio Ambiente (COMTUMA) existir a oito anos, o nível de conhecimento a respeito dele no município é pequeno e os setores participam de forma irregular. Ficou evidente, a partir da análise das Atas, umaparticipação maior da sociedade civil organizada, porém a maioria dos residentes ainda não conhece o COMTUMA e os que conhecem não têm clareza da finalidade deste. O envolvimento dos empresários ainda é incipiente, podendo ser constatado, a partir das entrevistas com os empresários locais, o poder público e a Presidente do Conselho.

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No que se refere ao poder público, percebe-se que a atual gestão tem um discurso que sugere estar iniciando uma mobilização das diferentes secretarias do município, para que estas se envolvam nos assuntos referentes ao meio ambiente e turismo local. Todavia, até o momento, o envolvimento de outras secretarias é baixo e sinaliza uma desarticulação dentro da gestão pública, visto que a direção de cultura, em exercício, na época da entrevista, afirmou não saber se existia um Conselho Municipal de Turismo. Tal fato é relevante para ser avaliado pelos gestores públicos, visto que, como discutido anteriormente, a cultura e o turismo devem caminhar juntos, como forma de fortalecer e criar diferenciais para atividade no município, assim como para conhecer e compreendera identidade local.

Apesar do baixo nível de envolvimento dos diferentes segmentos sociais deUruçuca, acredita-se que a mobilização e a ampliação do processo participativo podemviabilizar um adequado desenvolvimento do turismo, que se encontra ainda em estágioinicial. Parte-se do pressuposto de que este, construído por todos os interessados, terácondições de identificar os anseios dos diferentes segmentos, as características locais, aspotencialidades e fragilidades naturais, sociais e econômicas, e as dificuldades e aspossibilidades que o turismo pode oferecer para o município. Para tanto, acredita-se que aexpansão do processo de planejamento participativo do turismo local pode ser feito a partirdo COMTUMA, pois os atores que já colaboram com essa construção podem juntos traçar osmecanismos para mobilização de novos colaboradores.

Compreende-se que estabelecer um processo participativo eficiente e eficaz não éfácil. Todavia essa dificuldade não pode servir como justificativa para impedir que esseprocesso aconteça, pois a participação na gestão, no planejamento e na construção daspolíticas públicas é recente e, portanto, exige uma mudança de paradigma e atitude de cadaator social. Em Uruçuca, percebe-se a necessidade de um trabalho educativo que colaborecom o processo de envolvimento dos diferentes segmentos locais; porque a educação, nessecaso, servirá também para trazer o valor do envolvimento destes no planejamento, nodesenvolvimento local, para o acúmulo de capital social e para o entendimento de comoalcançar a sustentabilidade socioambiental.

Observou-se também a diferença na dinâmica social dos distintos territórios dentrodo município, ou seja, na Sede e no Distrito de Serra Grande. Cabe destacar que a estradavicinal, que liga a sede ao Distrito, se melhorada, poderá contribuir para uma melhorconvivência entre os espaços distintos dentro de Uruçuca, e para o envolvimento dosresidentes da zona rural.

Entretanto, não só questões de ordem estrutural física, mas também pertinentes aoentendimento da organização social local, a identidade, o turismo permearão esse processode expansão turística e participativa. É perceptível a concentração de instituições de SerraGrande participando no COMTUMA; para tanto, a divisão paritária entre as áreas dosmunicípios e entre os diferentes segmentos locais (poder público, empresários, comunidade)poderão contribuir para ampliação da participação; melhorando com isso o envolvimento nagestão do turismo e melhor estruturação do turismo local, não só a partir das características

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do Distrito, mas de uma discussão que entenda o turismo como elementar para odesenvolvimento municipal.

Contudo é importante que a gestão pública municipal estimule a ampliação dessasações, voltadas para o município como um todo. Ressalta-se, ainda, ser relevante adisseminação de informações a respeito do turismo, do meio ambiente e da participaçãoatravés de estratégias e utilização dos meios locais de comunicação. Nesse sentido, asescolas locais, assim como as ONGs, também podem alimentar esse processo de expansãodo entendimento e da participação na gestão pública, no melhoramento do entendimentosobre deveres e direitos dos cidadãos e diferentes segmentos da sociedade, na educaçãoambiental e turística local.

Todavia, até o momento, os estudos existentes eram voltados para o Distrito; noentanto o planejamento realizado de forma fragmentada ou concentrada em uma únicaregião municipal contribuirá para ineficácia do mesmo, para o fortalecimento das distintaspercepções existentes entre os atores locais vividos nos diferentes espaços territoriaismunicipais, para utilização inadequada das potencialidades e o agravamento dos problemassocioeconômicos. O sucesso do turismo em Uruçuca dependerá do entendimento de todossobre a necessidade de diagnósticos, planejamentos, avaliação, participação e conduçãoprofissional da atividade. A participação será a chave para evitar que esta atividade seexpanda e agrave a exclusão social, permitindo que os espaços turísticos sejam projetadospara turistas, empresários e comunidade.

Os encontros promovidos pela participação na gestão pública e pela atividadeturística poderão colaborar para o compartilhamento dos saberes, para o intercâmbiocultural, para o entendimento de si e do outro. O turismo em Uruçuca pode ser fonte deexpansão de outras atividades já existentes, ou seja, para o comércio local, a pesca e aagricultura; podendo contribuir para utilização adequada das Unidades de Conservaçãoexistentes, servindo ainda como elemento para o desenvolvimento da educação ambiental.

A partir do recorte da pesquisa de mestrado apresentado neste artigo espera se colaborar para a reflexão sobre planejamento e participação, bem como estimular a compreensão dos entravesque podem ocorrer em cada comunidade. Entretanto, acredita-se que a participação social é pressuposto para o estabelecimento de um desenvolvimento municipal adequado, porque contribui para a superação de barreiras como questões financeiras e políticas partidárias, existentes nas localidades de pequeno porte, como é o caso de Uruçuca.

Concluí-se, enfatizando que a educação dos diferentes setores da sociedade é essencial para que esse processo ocorra de forma legítima e não meramente condicional à realização de ações governamentais. Educar o homem para ser cidadão ativo na construção da sociedade é essencial para superar resultados não apenas quantitativos, mas também obter bons resultados qualitativos para o município. O turismo, a agricultura, o comércio local e as ações de cunho socioeconômicas precisam do empenho de todos para o desenvolvimento, porém, para que todos participem, é importante que estes estejam realmente preparados para participar e não somente legitimar governos.

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A CONTRIBUIÇÃO DA FUNDAÇÃO PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU BRASIL NOFORTALECIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO: a gratuidade do turismo para

comunidades regionais

Thaisa Praxedes de Oliveira

Fundação Parque Tecnológico Itaipu

Marcel Rodrigo Henn Bonfada

Fundação Parque Tecnológico Itaipu

Juliano Hoesel

Fundação Parque Tecnológico Itaipu

RESUMO

A visitação na Itaipu Binacional, na margem esquerda (brasileira) passou, em 2007, de visitasinstitucionais mantidas pela empresa a visitas turísticas cobradas. Tal mudança gerou inúmerosquestionamentos e inquietudes junto à comunidade local (agentes de viagem e operadores deturismo, representantes da academia, estudantes, pesquisadores, guias de turismo, etc.). Contudo, aFundação Parque Tecnológico Itaipu, que assumiu a gestão e operação do Complexo Turístico daItaipu Binacional manteve, desde o início de sua atuação, a estratégia de aproximação com ascomunidades regionais por meio da gratuidade em seus atrativos. Tal política sofreu transformação eevoluiu gradativamente, a partir de diálogos estabelecidos com a sociedade, tendo a ampliação dosdias gratuitos e como consequência, um incremento de visitação por parte de moradores regionais.O objetivo desse trabalho é apresentar como a política de gratuidade da Fundação ParqueTecnológico Itaipu – Brasil contribui para o fortalecimento do acesso ao Turismo por parte decidadãos habitantes de Foz do Iguaçu e entorno. Para demonstrar esse processo, foram analisadas asestratégias adotadas no início da gestão e suas mudanças; os dados estatísticos do número devisitantes do Complexo Turístico Itaipu desde o início da cobrança até os dias atuais e a partir delefeitas análises críticas. Os resultados obtidos demonstram que a mudança na gestão eposicionamento político institucional adotados pela Fundação devolveram a aproximação com oscidadãos e contribuíram para a valorização de “pertencimento do atrativo” à comunidade. Além deservir de inspiração para que outros atrativos da cidade adotem a mesma iniciativa e a incrementemenquanto política pública municipal.

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Palavras-chave: Turismo. Fundação Parque Tecnológico Itaipu - Brasil. Complexo Turístico Itaipu.Políticas Públicas. Comunidade.

1. INTRODUÇÃO

No ano de 2007, a Itaipu Binacional, na margem esquerda (brasileira), mudou suaforma de gestão das visitas que passaram a ser cobradas. Ao mesmo tempo que houve umganho ao destino e aos turistas, com ampliação dos horários e dias de funcionamento aopúblico (enquanto institucional não havia atendimento aos domingos e feriados, porexemplo), com a melhoria da infraestrutura e equipamentos (ônibus, sinalização, centro derecepção de visitantes, entre outras), tal mudança gerou inúmeros questionamentos einquietudes junto à comunidade local, em função da cobrança impor a restrição do acesso amoradores locais e regionais. Contudo, a Fundação Parque Tecnológico Itaipu, que assumiu agestão e operação do Complexo Turístico da Itaipu Binacional manteve desde sempre comoestratégia, a aproximação com as comunidades regionais por meio da gratuidade em seusatrativos. É fato que tal política sofreu transformação e evoluiu gradativamente, a partir dediálogos estabelecidos com a sociedade, tendo a partir dessa dinâmica de interação, aampliação dos dias gratuitos e como consequência, uma mudança nos números referentes àvisitação dos moradores locais e regionais. Neste contexto que este artigo objetivaapresentar a política de gratuidade da Fundação Parque Tecnológico Itaipu – Brasil comoestratégia de aproximação com a comunidade e analisar de que forma ela contribui para ofortalecimento do acesso ao Turismo por parte de cidadãos habitantes de Foz do Iguaçu eentorno. Para demonstrar esse processo, a metodologia utilizada foi exploratória,bibliográfica e documental de caráter qualitativo onde se utilizaram fontes primárias esecundárias. A partir desses dados, foram analisadas as estratégias adotadas no início dagestão das visitas turísticas e destacadas suas mudanças; os dados estatísticos do número devisitantes do Complexo Turístico Itaipu desde o início da cobrança até os dias atuais e a partirdele feitas análises para demonstrar os resultados desta iniciativa. A análise demonstra queuma mudança no posicionamento político institucional adotada pela Fundação devolveu aaproximação dos cidadãos com o atrativo e que esta iniciativa pode contribuir para avalorização do “pertencimento do atrativo” à comunidade. Além de servir de inspiração paraque outros atrativos adotem a mesma iniciativa e que destinos turísticos incrementem ainiciativa enquanto política pública.

2. POLÍTICAS PÚBLICAS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

Para compreendermos qual a relação entre a decisão política sobre a gratuidade deum atrativo turístico e as políticas públicas, considerou-se pertinente balizar o entendimentosobre alguns destes conceitos.

Política remete-se à organização pública que tem por finalidade suprir interesses enecessidades de toda sociedade. Assim, tem relação com a maneira que se institui o

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gerenciamento da ‘coisa’ pública, “dos recursos ligados a ela, com estratégias de definição decritérios para o alcance de fins comuns, com a eleição das ações alavancadores dodesenvolvimento social, com a definição de ideologias predominantes na constituição dotecido social” (PAIXÃO & CASTRO, 2011). Enfim, tudo o que está diretamente vinculado aoque é público e ao que orienta o encaminhamento do que é privado, de forma que " temrelação com os modos de organização do espaço público, objetivando o convívio social"(BITTAR, 2005, apud HENZ, 2009).

Sendo a comunidade uma ordem política não há como projetar futuro social semorganização e valorização política, que ganha amparo na figura do Estado, pois é por meio dainstituição das políticas públicas que o sistema se adapta e torna-se positivo coletivamente. Éa correlação predisposta (ética, existencial e intelectual) nos indivíduos e nos grupos para asolidariedade e alteridade: "pensar portanto o conjunto dos interesses, a correlação deforças, o governo, a dominação, as necessidades e as possibilidades." (NOGUEIRA, 2005,p.63).

Assim, as políticas públicas formam um sistema, sendo formuladas, planejadas,executadas e por fim geram resultados puramente públicos, direcionados aos cidadãos. Naprática, assumem a forma de planos, programas, projetos, sistemas de informações, depesquisas e bases de dados que são o resultado dos propósitos, objetivos e metas dosgovernos produzindo ações e mudanças na sociedade, efetivando políticas de formulação,regulamentação, monitoramento ou avaliação.

Cada política produz distintos efeitos nas camadas sociais, a depender as ações quedela se derivam e também da absorção da própria sociedade em relação a estas políticas. Opapel das políticas públicas não é, principalmente em países em desenvolvimento, defomentar bases e critérios sobre a diminuição das desigualdades sociais, mas sua atuaçãoestá na contribuição com mecanismos de gestão para diversas áreas das políticas sociais.

Na execução de tais ações e mudanças estão os aparatos estatais e as entidades quetem como finalidade o atendimento daquilo que é público, inclusive as entidades do terceirosetor. “Nos últimos dez anos a sociedade civil organizada brasileira vem ocupando espaçoscada vez maiores na discussão, formulação e execução de políticas públicas.” (MATTOS;DRUMMOND 2005, p.177). Há uma percepção que “a sociedade civil e o governo estãobuscando, cada vez mais, parcerias entre si e assumindo corresponsabilidade pela oferta dealguns bens públicos.” (Ibidem, p.78).

Esse artigo não objetiva entrar na seara da discussão se as ONGs substituem aorganização popular ou as ações do Estado e o quanto isso é adequado ou inadequado.Contudo, existe um consenso de que tais organizações conseguem suprir com eficáciaespaços de atuação e intervenção descobertos pelo Estado, “movidas por preocupaçõesprivadas (ainda que com a missão de realizar o interesse público) e baseadas em redes deconhecimentos e em padrões próprios de eficiência e eficácia.” (GARRISSON, 2000 apudMATTOS; DRUMMOND 2005, p.178). Reforça-se ainda que:

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...nos anos recentes disseminou se nos sistemas democráticos ourepresentativos de muitos países ocidentais o conceito de que aresponsabilidade social não é mais um atributo exclusivo do Estado, nem daação cívica dos indivíduos tomados um a um. Além do fenômeno daemergência das ONGs, podemos verificar em pesquisas recentes quesegmentos da sociedade civil brasileira, especialmente empresas quebuscam exclusivamente o lucro, estão aderindo a ou tomando a iniciativa derealizar programas de “responsabilidade social”. (MATTOS; DRUMMOND2005, p.178).

Nesse contexto, a Fundação PTI, é tida por sua mantenedora, a Itaipu Binacional,como “importante instrumento da Entidade para contribuir com o desenvolvimentosocioeconômico, especialmente na região de influência da Usina” (ITAIPU 2005 apudOLIVEIRA, 2014, p. 126). Tal intencionalidade está materializada na revisão de seuplanejamento estratégico, em 2014. Uma das 5 diretrizes contempla explicitamente aintencionalidade da entidade em: “desenvolver modelos e soluções que inspirem políticaspúblicas.” (FPTI, 2014, p.12).

Entre tantas iniciativas da Fundação PTI, destaca-se a sua atuação no Turismo. Antesde destacar esse item, é importante explicitar sinteticamente a atuação da Fundação PTI emdistintas temáticas voltadas ao desenvolvimento do território, desde seu surgimento, em2005.

3. FUNDAÇÃO PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU – BRASIL E O TURISMO

A ITAIPU Binacional, em busca de alinhar sua atuação a programas de governo quecontemplassem ações de responsabilidade socioambiental e desenvolvimento regionalampliou sua missão em 2003, que passou a ser “Gerar energia elétrica de qualidade, comresponsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turísticoe tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. Com essa ampliação, além de reforçar oquesito geração de energia com qualidade, foram incorporadas ações em seu planejamentoestratégico para impulsionar o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico,sustentável, no Brasil e no Paraguai.

Esse compromisso da ITAIPU em impulsionar o desenvolvimento foi o grandemotivador da criação do Parque Tecnológico Itaipu – Brasil, em 2003 e posteriormente desua entidade gestora a Fundação Parque Tecnológico Itaipu - Brasil, encarregada de fomentariniciativas com foco no desenvolvimento territorial.

Criada em 2005, a Fundação Parque Tecnológico Itaipu – Brasil (FPTI-BR),organização civil sem fins lucrativos de direito privado, tem o objetivo de manter e operar oParque Tecnológico Itaipu - PTI, contribuindo para o desenvolvimento regional de formasustentada, por meio de atividades científicas, tecnológicas e de inovação; da difusão doconhecimento, capacitação profissional, e a geração de empreendimentos; interagindo, paraesses fins, com entidades públicas e privadas, acadêmicas e de pesquisa, de fomento e deprodução.

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Com a missão de “Promover o desenvolvimento territorial sustentável por meio daeducação, ciência, tecnologia, inovação, cultura e empreendedorismo” a FPTI, além degestora do Parque, desenvolve programas, projetos e ações, que constituem as bases para odesenvolvimento dos diversos projetos e negócios do Parque.

Nesse contexto, o PTI é caracterizado como instrumento estratégico no alcance dodesenvolvimento proposto pela ITAIPU Binacional, em sua região de influência, direcionandoseus esforços para a consecução da missão da ITAIPU e, por extensão, a missão da própriaFPTI-BR. O Parque Tecnológico Itaipu (PTI) é um dos mecanismos do território para apromoção do desenvolvimento. É um ambiente complexo, de promoção do desenvolvimentoterritorial, que visa fomentar economias baseadas no conhecimento e inovação, por meio daintegração da pesquisa científico-tecnológica, negócios e empresas, organizaçõesgovernamentais e da sociedade, e do suporte às inter-relações entre estes grupos, gerandoriqueza, equidade e inclusão social.

Os atores conectados ao PTI atuam de maneira integrada, constituindo parceriasestratégicas. No parque habitam universidades, institutos de pesquisa, agências dedesenvolvimento, centros de estudo e pesquisa, laboratórios e empresas, que juntosrepresentam uma circulação de mais de 5000 pessoas por dia. Todos os atores mantêmvínculos com programas, ações e projetos desenvolvidos pela FPTI, em pelo menos um deseus temas de interesse, voltados a atender as demandas da mantenedora e odesenvolvimento territorial.

Tal propósito demanda o aproveitamento das capacidades do próprio território(ainda que não exclusivamente) para melhoria da produtividade e competitividade dasatividades produtivas locais, por meio da inovação, bem como a igualdade no acesso a bense serviços essenciais ao exercício pleno da cidadania e oportunidade de inserções sócioprodutivas.

O Turismo como um dos temas de interesse da Fundação PTI tem umatransversalidade nas ações de programas, nos projetos e na sua atuação institucional. A FPTIentende o turismo como:

“Um fenômeno humano de deslocamento e encontro, organizado por umsistema complexo de relações sociais, atividades econômicas, manifestaçõesculturais e ações políticas, em ambientes que envolvem experiência entrevisitantes e visitados. Proporciona trocas, vivências e conhecimentos,agregando valores culturais e históricos à região, bem como disseminando ahospitalidade”. (FPTI, 2012, apud PRAXEDES, BONFADA, MOESCH 2013, p.7).

A Fundação PTI, conta com ações diretamente relacionadas ao turismo sendo: oPrograma Turismo Sustentável, com objetivo de desenvolver o Turismo de forma sustentávele vetor do Desenvolvimento Territorial. Por meio da articulação e fomento de ações voltadasà pesquisa, inovação e planejamento no turismo. Para isso, interage com atores internos,regionais, nacionais e internacionais. Outra ação é o Programa Trinacional de Artesanato

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Ñandeva, desde 2004, o setor artesanal da Região Trinacional do Iguassu (Argentina, Brasil eParaguai) tem sido impulsionado pelo programa Ñandeva (“Todos nós” no idioma Guarani),por meio da capacitação técnica de artesãos, da transferência de tecnologias e da busca porcanais de comercialização para os produtos certificados. O Ñandeva contribui para ofortalecimento da identidade iconográfica regional da região, por meio da inserção deelementos e ícones que remetem à cultura desses povos. Realiza ações nos três países(Brasil, Paraguai e Argentina).

Além destes, o PTI abriga o Espaço do Barrageiro, local de preservação e memóriados trabalhadores solteiros (barrageiros) que ajudaram a construir a Usina Hidrelétrica ItaipuBinacional. Este é um local de visitação a turistas e visitantes que acessam o PTI. E o PoloAstronômico Casimiro Montenegro Filho, um centro de ensino não-formal, que tem a missãode divulgar e disseminar conhecimentos e técnicas relacionados à Astronomia e ciênciasafins. O espaço está inserido nos atrativos do Complexo Turístico Itaipu (PTI, 2013).

A Fundação PTI também dispõe de uma significativa atuação institucional noTurismo. Tem representação no Conselho Municipal de Turismo (COMTUR) em Foz do Iguaçu;na Agência de Desenvolvimento da Região Turística Cataratas do Iguaçu e Caminhos ao Lagode Itaipu (ADETUR); no CONPARNI – Conselho do Parque Nacional do Iguaçu; no Fundo deDesenvolvimento e Promoção Turística do Iguaçu; na Câmara Técnica de Turismo doCODEFOZ – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de Foz do Iguaçu, e do ICVB –Iguassu Convention & Visitors Bureau. Além de associada a ADETUR a Fundação PTI ocupa adiretoria técnica da entidade e é membro associado e mantenedor do Instituto PoloInternacional Iguassu.

Porém, a ação mais reconhecida em turismo realizada pela FPTI é a Gestão eOperação do Complexo Turístico Itaipu (CTI), contribuindo para o desenvolvimento detecnologias de suporte à sua operação, práticas de educação para o turismo e aumento dofluxo e permanência de visitantes nos diversos atrativos oferecidos pela Usina. A seguir serátrabalhado esse tema com a intenção de mostrar um breve histórico e o desenvolvimento doturismo em Itaipu.

4. COMPLEXO TURÍSTICO ITAIPU E A COMUNIDADE

A Itaipu Binacional começou a receber os primeiros visitantes ainda na época de suaconstrução, na década de 1970. O gigantismo da obra e seus desafios chamavam atenção de muitaspessoas no Brasil e no mundo, que vinham a Foz do Iguaçu para visitar o canteiro de obras. Muitasdessas visitas foram registradas no Informativo Unicon, um jornal que teve circulação entre 1978 e1988. Em 1986 a Itaipu já registrava 2 milhões de visitantes (UNICON, 1986).

Em 2002 a Itaipu prosseguiu a implantação do Complexo Turístico Itaipu com novosprojetos e modernização de atrativos existentes como a Iluminação Monumental da Barragem, oEcomuseu e a revitalização do Refúgio Biológico Bela Vista, além da elaboração dos projetos deremodelação do Centro de Recepção de Visitantes (ITAIPU, 2002). Em 2005 o Complexo Turísticoestava implantado e foi criado um novo atrativo: o Circuito Turístico Especial.

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A visitação turística na Itaipu Binacional representava um grande desafio para uma empresaespecializada em gerar energia. Com os recursos disponíveis a Itaipu conseguia atender um grandepúblico. Em 1989 houve recorde de visitação com 540.126 visitantes e em 2006, no último ano antesda gestão da FPTI foram atendidos 422.421 visitantes (ITAIPU, 2014).

Para o atendimento eram utilizados os ônibus de transporte dos funcionários da usina nohorário de expediente, aproveitando a frota que ficava ociosa nesse período. Não havia visitação emfinais de semana e feriados e o atendimento não era voltado à experiência do visitante. Os passeiosaconteciam em comboios de veículos, que percorriam os principais pontos da usina guiados por umsistema de áudio simples e de conteúdo técnico. Outra dificuldade encontrada foi a de atender aagilidade do mercado turístico, que pelas características e procedimento que uma empresa públicadeve seguir, dificultavam o atendimento da demanda turística com qualidade.

A mudança da missão da Itaipu, com a entrada da nova gestão em 2003, preocupada com odesenvolvimento turístico na região, além da crescente demanda exigir uma melhor qualidade aItaipu, decidiu modernizar a gestão e operação do Complexo Turístico. Para tanto, foi contratado umestudo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Esse estudo43 apontou soluções para a gestãodo CTI e a hidrelétrica decidiu pela gestão realizada por uma fundação privada, a FPTI (IPT, 2005). Apartir desse estudo e de outras decisões estratégicas da Itaipu, a gestão e operação do CTI passoupara a FPTI.

Desde 2007 a FPTI é responsável pela operação e gestão do Complexo Turístico Itaipu – CTIque é composto pelos atrativos e passeios turísticos da Itaipu Binacional e demais serviços oferecidoscomo lojas de souvenir e artesanato, serviços de alimentação, imagem e fotografia, e transporte.Formou-se uma equipe para a gestão e operação, foram implantadas melhorias, novos modelos deônibus e atendimento durante o ano todo. O Complexo Turístico é considerado o segundo principalatrativo turístico de Foz do Iguaçu atendendo mais de 500 mil visitantes ao ano.

Atualmente 8 atrações compõem o Complexo Turístico Itaipu

1 – Visita Panorâmica: Contempla a visão externa da usina do vertedouro ao topo da barragem deconcreto onde estão instaladas as 20 unidades geradoras. A visita inicia no Centro de Recepção deVisitantes passa pelo mirante do vertedouro e inclui uma parada no mirante central, de onde se temuma ampla visão da barragem de aproximadamente 8 km de extensão e 170 metros de altura. Avisita continua passando pelos condutos forçados e por cima da barragem, de onde se tem uma vistacomposta de um lado pelo Rio Paraná com Foz do Iguaçu e Ciudad del Este ao fundo e, na direçãooposta, o reservatório de 1.350 km² que abastece Itaipu.

2- Circuito Turístico Especial: Além de percorrer o mesmo trajeto da Visita Panorâmica o passeioinclui uma visita interna na barragem onde se pode conhecer a arquitetura côncava das catedrais deconcreto. O visitante conhece a sala de comando central, a estação Galeria, com quase umquilômetro de comprimento, e o eixo da turbina em funcionamento.

43 Relatório do IPT teve como objetivo descrever as atividades e apresentou os resultados obtidos no período de 01 de abril de 2004 a 28 de fevereiro de 2005, no projeto de consultoria denominado Planejamento Estratégico para Desenvolvimento Turístico da Usina de Itaipu, executado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S/A – IPT – em conjunto com a Fundação de Apoio ao IPT – FIPT.

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3- Iluminação da Barragem: Antes do acendimento das luzes, dois apresentadores e um vídeomostrado em telões contam a história da hidrelétrica e a traduzem em números expressivos. Derepente, a barragem de concreto é iluminada por 747 refletores e 112 luminárias. Uma trilha sonora,criada especialmente para a apresentação, embala o acendimento das luzes. O turista acompanha aapresentação do mirante central, de onde pode-se ver a distância o funcionamento da usina duranteo dia.

4- Refúgio Biológico Bela Vista: É uma unidade de proteção criada para receber milhares de plantas eanimais desalojados pelo reservatório da usina. O passeio inicia numa carretinha, que sai do Centrode Recepção de Visitantes e contorna o Canal da Piracema até as edificações do Refúgio. Todos osespaços usam fontes alternativas de energia e foram construídos com base em conceitos dearquitetura verde. O roteiro segue com uma caminhada de 2 km numa trilha em meio a florestanativa e envolve lições de educação ambiental. São mais de 960 gêneros de plantas e 50 espéciesanimais.

5- Ecomuseu: Interativo e com exposições incomuns, o Ecomuseu reproduz cenários fiéis ao passadoe a história de Itaipu. O circuito é dividido em módulos que retratam desde a ocupação da região dausina na margem brasileira até os projetos de conservação conduzidos pela binacional. Existemespaços temáticos de água e energia, além de uma réplica do eixo de uma turbina em atividade e umespaço que abriga uma das maiores maquetes do Brasil retratando a fronteira entre Brasil, Paraguaie Argentina.

6- Polo Astronômico Casimiro Montenegro Filho: O Polo Astronômico Casimiro MontenegroFilho é um dos poucos no mundo a reunir de forma integrada planetário, observatório eplataforma de observações a olho nu. O passeio oferece diversas atrações, com atividadesnos ambientes internos e externos como o Espaço Universo, que contém exposições deréplicas em miniatura de sondas e naves espaciais, protótipos de planetas e simuladores dosistema solar. E ainda, contempla um céu virtual que simula a visão de um observador emqualquer latitude do planeta no passado, presente ou futuro. Destinado às observações docéu real - tanto diurno quanto noturno – o Observatório possui três telescópios. Sua cúpulamede seis metros de diâmetro e possibilita observar a Lua, os planetas, aglomeradosestelares e algumas galáxias. Neste atrativo é possível praticar a Astronomia semequipamentos sob o ponto de vista de diversas culturas, sendo possível aprender sobre oconceito de constelação e identificar os vários tipos de astros visíveis.

7 – Teste Drive Veículo Elétrico: Experiência única de dirigir um veículo elétrico, silencioso enão poluente, e ainda conhecer alguns dos cenários mais impressionantes da usina. Aatração, inédita no país, possibilita dirigir um veículo elétrico produzido com tecnologianacional dentro da maior usina hidrelétrica do mundo em geração de energia. O passeio tematendimento personalizado e é acompanhado por um monitor exclusivo. Embarcam noveículo apenas o condutor e até dois convidados, que também poderão dirigir. O percurso dotest drive é semelhante ao da Visita Panorâmica, com aproximadamente 20km.

8 – Porto Kattamaram: Essa atração do Complexo Turístico Itaipu possibilita um passeio debarco pelo lago de Itaipu. Com uma infraestrutura para atender até 200 pessoas, a

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embarcação tem convés aberto, bar americano, restaurante e solário. No restaurante doPorto Kattamaram ainda há um deck que proporciona uma vista do lago de Itaipu. O barcoparte do Porto Kattamaram, o último ponto de parada da Visita Panorâmica, e navegabeirando a barragem da Itaipu Binacional, unindo Brasil e Paraguai. Nas noites de sexta-feirae sábado pode ser realizado um roteiro especial, com visita a Iluminação da barragem enavegação pelo lago com um jantar servido a bordo.

Figura 01: Área da Itaipu Binacional com o Parque Tecnológico Itaipu e atrações.

Legenda:

01- Centro de Recepção de Visitantes

02- Canal da Piracema

03- Mirante do Vertedouro – Margem Direita

04- Mirante do Vertedouro – Margem Esquerda

05- Mirante Central – Margem Esquerda

06- Estação Catedral

07- Cota 225

08- Espaço do Barrageiro – Parque Tecnológico Itaipu

09- Polo Astronômico Casemiro Montenegro Filho - Parque Tecnológico Itaipu

10- Ecomuseu

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11- Refúgio Biológico Bela Vista

12- Porto Kattamaram

Fonte: FPTI, 2014.

O Modelo de gestão do Complexo Turístico Itaipu está pautado em um contrato entre aITAIPU Binacional e a Fundação Parque Tecnológico Itaipu. O contrato prevê que a FPTI siga asdiretrizes estratégicas solicitadas pela ITAIPU e realize a gestão e operação do CTI e as demaisrelações com outras empresas prestadoras de serviços no Complexo e também com agências eoperados de turismo nacionais e internacionais, além do atendimento ao público final.

Sendo assim, toda a gestão e operação é de responsabilidade da FPTI, incluindo agestão econômica e financeira, marketing, comercialização, investimentos, gestão daqualidade e gestão operacional (serviço de estacionamento, atendimento, transporte,serviços de apoio).

Com qualidade e inovação, a FPTI implantou melhorias nos atrativos e serviçosturísticos do CTI, alcançando excelentes resultados.

Em 2013, o CTI bateu o recorde de visitação anual, com 586.307 visitantesatendidos. O número representa um movimento 23,94% superior ao de 2012, quando foramatendidos 473.072 turistas. Foi a maior movimentação turística anual desde que foiimplantado o novo modelo de visitação à Itaipu, operado pela FPTI. Além de contribuir parao fortalecimento do turismo e para a ampliação de oportunidades de emprego e renda naregião, somente no Complexo Turístico Itaipu são gerados 100 empregos diretos eaproximadamente 100 indiretos, com a valorização do profissional, oferecendo condições detrabalho e renda acima da média do mercado local, contribuindo para um aumento naqualidade de vida dos colaboradores (FPTI, 2014).

O recurso arrecadado com a venda dos ingressos é utilizado na sustentabilidade detoda a gestão e operação. O excedente é revertido para o fundo tecnológico da FPTI. Esserecurso permanece na região e é utilizado para apoiar e financiar pesquisas e projetosvoltados ao desenvolvimento territorial sustentável. Os atrativos turísticos oferecidos pelaItaipu, com gestão da FPTI, foram os primeiros a receber o selo internacional de qualidadeISO 9001:2008 no Brasil. Graças ao trabalho realizado pela equipe do CTI, a certificação foimantida em 2013, atestando a boa gestão e operação do Complexo. A qualidade doatendimento turístico também foi um dos destaques de 2013. São realizadas avaliaçõesperiódicas e pesquisas com os visitantes e a nota média de satisfação do turista foi de 94,3%(FPTI, 2014).

A FPTI ao assumir a operação e gestão do CTI teve como premissa tornar a operaçãoeconomicamente viável. No entanto, para continuar com o acesso gratuito da comunidaderegional, criou o “Dia da Comunidade”. Realizado todo primeiro domingo de cada mês e nodia do aniversário de Itaipu, permitia que os moradores de 34 municípios da regiãotrinacional e lindeira ao Lago de Itaipu pudessem usufruir gratuitamente os atrativos da

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usina, possibilitando o acesso livre aos passeios da Visita Panorâmica, Refúgio Biológico, PoloAstronômico e Ecomuseu. Além disso, eram realizadas ações nos bairros e escolas públicasde Foz do Iguaçu para incentivar a visitação, inclusive com a disponibilização de transportepara os moradores.

A partir do alcance da sustentabilidade econômica, superação dos desafiosfinanceiros e o amadurecimento da gestão do CTI, com base em sua missão como ator socialda comunidade promotor do desenvolvimento, a FPTI decidiu ampliar a gratuidade da tarifaaos moradores, buscando aproximar ainda mais a comunidade das atividades de lazer e aosequipamentos que, em sob sua ótica, fazem parte da cidade.

Em abril de 2012 foi implantada a nova política de ingresso para a comunidade.Todos os dias, moradores dos municípios da região trinacional44, lindeiros ao Lago de Itaipu eao Parque Nacional do Iguaçu45 têm isenção de ingressos para conhecer os seguintesatrativos: Visita Panorâmica; Iluminação da Barragem; Refúgio Biológico; Polo Astronômico;Ecomuseu. Além de 50% de desconto no Circuito Especial, Porto Kattamaram e noEstacionamento.

Figura 02: Municípios que fazem parte da política de ingresso para a comunidade.

Fonte: FPTI 2014.

Além do ingresso para a comunidade, a Itaipu Binacional oferece ainda apossibilidade da Visita Institucional. É uma visita oficial, restrita às empresas, instituições,centros de pesquisas, universidades e escolas. As visitas são realizadas de segunda a sexta-

44Municípios da Região trinacional: Argentina - Puerto Iguazu, Puerto Libertad, Puerto Esperanza e Wanda; Paraguai - Ciudad del Este, Presidente Franco, Minga Guazú e Hernandárias.45Municípios lindeiros ao Lago de Itaipu e ao Parque Nacional do Iguaçu: Capanema, Capitão Leônidas Marques,Céu Azul, Diamante do Oeste, Entre Rios do Oeste, Foz do Iguaçu, Guaíra, Itaipulândia, Lindoeste, Marechal Cândido Rondon, Matelândia, Medianeira, Mercedes, Missal, Mundo Novo, Pato Bragado, Ramilândia, Santa Helena, Santa Lúcia, Santa Tereza do Oeste, Santa Terezinha de Itaipu, São José das Palmeiras, São Miguel do Iguaçu, Serranópolis do Iguaçu, Terra Roxa, Vera Cruz do Oeste.

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feira (exceto em feriados). Devem ser agendadas com antecedência e a confirmação estásujeita à agenda de Itaipu (Itaipu, 2014).

Essa nova política de acesso aos atrativos turísticos às comunidades gerou um impacto navisitação que será apresentado na análise dos resultados da pesquisa realizada.

5. METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesse trabalho está embasada em uma investigação inicialexploratória, bibliográfica e documental de caráter qualitativo onde se utilizaram fontesprimárias e secundárias.

Foram pesquisados temas relacionados a políticas públicas, turismo e terceiro setor.Além disso, foram pesquisadas informações acerca da Fundação Parque Tecnológico Itaipu -Brasil, Itaipu Binacional, Complexo Turístico Itaipu, modelo de gestão e sua evoluçãoenquanto atrativo turístico.

A seguir foram utilizados os dados da pesquisa realizada com todos os visitantes doComplexo turístico, trata-se de uma entrevista estruturada. No momento da compra e daretirada dos ingressos, o atendente realiza a entrevista com o turista. Esses dados servempara compor as estatísticas dos visitantes e os relatórios do CTI. Foram utilizados os dadosreferentes a procedência e ao número total de visitantes, com a finalidade de identificar osmoradores da região contemplada com a política de desconto e número total de visitantes,antes e depois do benefício da gratuidade todos os dias. A continuação foi realizada umaanálise comparativa descritiva dos resultados obtidos. A população entrevistada estácomposta pela totalidade de turistas e visitantes que adquiriram os seus ingressos para fazeralgum dos passeios no CTI.

No próximo apartado serão mostrados os dados e analisados os resultados.

2. PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE REGIONAL NAS VISITAS AO COMPLEXO TURÍSTICO ITAIPU.

O número de visitas atendidas pelo Complexo Turístico Itaipu apresenta um crescimentosólido desde que a Fundação PTI assumiu a gestão e operação, conforme a figura 03.

Figura 03: Tabela com o número total de visitantes, visitantes da comunidade e a porcentagementre eles.

Ano Total de Visitantes Visitantes da Comunidade %

2007* 221.497 7.172 3,24%

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2008 351.961 31.308 8,90%

2009 324.224 26.836 8,28%

2010 347.973 17.000 4,89%

2011 390.592 23.236 5,95%

2012 473.072 53.502 11,31%

2013 586.307 58.101 9,91%

* Refere-se aos meses de junho a dezembroFonte: Elaboração própria a partir de dados do CTI.

No ano de 2007 foram atendidas 221.497 pessoas. Vale ressaltar que esse dado nãocontempla os 365 dias do ano, pois a participação da FPTI iniciou em 1° de junho deste ano. Destes7.172 foram visitantes da comunidade regional.

Em 2008 foram atendidos 351.961 visitantes, sendo que deste total, 31.308 pessoas eramdos municípios que compõem a região.

Em 2009, o número de visitantes do Complexo Turístico apresentou uma queda. Essadiminuição no número de visitantes deve-se a dois fatores principais. O impacto da crise econômicamundial, com a diminuição da visita de turistas estrangeiros, e o aumento de casos e consequenterisco de epidemia do vírus H1N1. Neste ano 324.224 visitas foram atendidas, sendo que 26.836foram de moradores da região.

Em 2010, houve um crescimento do número de visitantes, com 347.973 quase igualando aonúmero de 2008. Um fator importante impediu essa recuperação e a superação dessa marca. OEcomuseu, um dos atrativos mais visitados, permaneceu fechado para reformas de abril de 2010 atéjaneiro de 2012, tendo um impacto no número de visitantes considerável no fechamento do ano. Oshabitantes da região que visitaram os atrativos da Itaipu registraram uma queda considerável. Foram17.000 visitantes. Esse impacto pode ser atribuído ao fechamento do Ecomuseu, que historicamenteé muito visitado por esse público.

Em 2011, apesar do fechamento do Ecomuseu, o número de visitas apresentou umsignificativo crescimento. Foram atendidas 390.592 pessoas. Dessas 23.236 eram da região. Nota-seque esse número é superior ao ano de 2010, porém abaixo dos anos de 2008 e 2009, o que reforça oimpacto do fechamento do Ecomuseu e a procura desse atrativo por parte da comunidade local.

Já em 2012, com a reabertura do Ecomuseu e início da nova política de visitação, com agratuidade concedida em todos os dias para a comunidade (e não somente no primeiro domingo decada mês), o número de visitantes da região apresentou um salto importante. Subiu de 23.236pessoas do ano anterior para 53.502 pessoas atendidas, um aumento de mais de 130%. Já o númerototal de visitantes alcançou 473.072.

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Durante esse ano da implantação da nova política de ingresso para a comunidade regional,outro dado chama a atenção. A porcentagem de visitantes da região em comparação aos visitantestotais aumentou consideravelmente saltando de 5,95% do ano anterior para 11,31%.

Em 2013 os números não pararam de crescer. Foram atendidos 586.307 visitantes. Destes58.101 foram habitantes da região. Um aumento de aproximadamente 8,6% em comparação ao anoanterior. Isso representa 9,91% das visitas totais do Complexo.

A participação da comunidade local neste ano apresentou um crescimento em númeroabsoluto e uma diminuição na porcentagem relativa ao número total de visitantes. Houve umcrescimento muito grande no número total de turistas do CTI, cerca de 24%, e um aumento de 8,6%no número de visitantes locais. Isso demonstra que a população da região ampliou o seu interessepor visitar a Itaipu, porém não igualando ao crescente número de turistas.

O gráfico, representado na figura 04, representa a evolução do número dos visitantes totaise da comunidade no CTI.

Figura 04: Variação do número de visitantes por ano.

Durante o período de junho de 2007 a março de 2012, onde a gratuidade para os visitanteslimitava-se apenas ao Dia da Comunidade, ou seja, ao primeiro domingo de cada mês houve um totalde 126.682 visitas. A figura 05 demonstra os dados relativos somente aos visitantes dos municípioscom direito à gratuidade durante este período.

Figura 05: Visitação dos moradores da Comunidade no período de cobrançaAno Total de Visitantes da Comunidade Moradores no Dia da Comunidade %

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2007* 2008 2009 2010 2011 2012 20130

100000

200000

300000

400000

500000

600000

700000

221,497

351,961324,224

347,973390,592

473,072

586,307

7,17231,308 26,836 17,000 23,236

53,502 58,101

Total

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2007** 7.172 627 8,74%

2008 31.308 9.161 29,26%

2009 26.836 10.464 38,99%

2010 17.000 6.638 39,05%

2011 23.236 5.536 23,85%

2012*** 21.130 1.900 8,92%

Total 126.682 34.326 27,10%

* Refere-se ao número de moradores que visitaram gratuitamente os atrativos do Complexo Turístico no “Dia daComunidade”** Refere-se aos meses de junho a dezembro*** Refere-se aos meses de janeiro a março

É possível verificar de modo geral que das 126.682 visitas atendidas durante todo esseperíodo, 34.326 foram atendidas no Dia da Comunidade, ou seja, um pouco mais de 27% do total,conforme ilustra a figura 06. Destaca-se que este percentual de visitantes foi atendido em 12 dias decada ano, ou em 0,3% do período aberto, conforme a figura 06. No ano de 2009 e 2010, conforme afigura 05, cerca de 39% dos visitantes locais foram atendidos durante o Dia da Comunidade.

Figura 06: Visitantes da comunidade durante o período de cobrança:

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73%

27%

PagantesDia da Comunidade

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Tal cenário demonstra a necessidade e o legítimo interesse dos moradores em teracesso aos atrativos sem qualquer custo financeiro. Além disso, representa a importância deestabelecer mecanismos que garantam a visitação gratuita para os moradores da região onde osatrativos estão inseridos e a responsabilidade dos gestores desses atrativos em oferecer e garantiruma política que proporcione condições de acesso para os habitantes locais.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a apresentação e análise dos dados desse trabalho foi possível atingir oobjetivo que consiste em apresentar a política de gratuidade da Fundação ParqueTecnológico Itaipu – Brasil como estratégia de aproximação com a comunidade e analisar deque forma ela contribui para o fortalecimento do acesso ao Turismo por parte de cidadãoshabitantes de Foz do Iguaçu e entorno.

Os dados apresentados demonstram a grande importância em disponibilizar acessofacilitado aos atrativos do Complexo Turístico Itaipu. Nos dois momentos distintos, anterior a2012, com o Dia da Comunidade e com a adoção da nova política ampliando a gratuidade, agrande procura por parte dos habitantes do entorno fica evidente.

A adoção dessa nova política por parte da FPTI, ampliando consideravelmente oacesso aos habitantes, vem ao encontro do seu papel e também da sua missão e conceito deturismo. Promover o encontro e a troca entre os visitantes e visitados é uma forma deproporcionar novas experiências para a comunidade que geralmente vive à margem dasbenesses do turismo. É uma forma de se aproximar e promover aproximação dacomunidade, de estimular um sentimento de pertencimento e cuidado, e consequentementeum fortalecimento de todo o destino turístico.

Tal iniciativa tem grande relevância, especialmente em atrativos “públicos” nosdestinos. Demonstra a responsabilidade que a gestão desses atrativos devem ter em adotaruma postura, compartilhada com o Estado, em prover oportunidade para que a populaçãotenha acesso ao lazer e ao turismo.

Esse modelo de gratuidade implantado pela FPTI, que garante a visita totalmentegratuita, não só para o habitante da cidade onde o atrativo está localizado, mas de todo oterritório influenciado por ele. Poderia ser adotada como uma política pública em outrosatrativos turísticos, principalmente naqueles que são constituídos em espaços e ou áreaspúblicas, tanto municipais, quanto estaduais ou federais, devido aos benefícios gerados àcomunidade e ao entorno.

Como limitações ao trabalho e sugestão de novas pesquisas pode-se afirmar que é possívelaprofundar a análise com a obtenção da percepção dos moradores, representantes de instituições e

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empresários locais, da academia, sobre a gratuidade e o quanto ela impacta na relação deles com oatrativo e com o turismo.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FUNDAÇÃO PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU – BRASIL (2014). Resolução de Conselho de Curadores002/2014. Centro de Documentação FPTI. Foz do Iguaçu.

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OLIVEIRA, T. P. (2014). Os desafios dos ambientes de inovação para o desenvolvimento doTurismo Sustentável – estudo de caso do Parque Tecnológico Itaipu – Brasil. Dissertaçãoapresentada Universidade de Brasília para obtenção do título de mestre Turismo junto aoprograma de Mestrado em Turismo na área de concentração: Turismo, Cultura eDesenvolvimento Regional, na linha de pesquisa de Desenvolvimento, Políticas Públicas eGestão no Turismo, como requisito parcial para obtenção do título de mestre. Brasília.

OLIVEIRA, T. P.; BONFADA, M.R.H.; MOESCH M.M (2013). Releitura Técnica do Tema Turismono Parque Tecnológico Itaipu Brasil: uma inovação conceitual para uma prática inovadoraem desenvolvimento territorial. Trabalho apresentado no X Seminário da Associação NacionalPesquisa e Pós Graduação em Turismo. Caxias do Sul.

ROSÁRIO, L.P.D.; CASTRO, R.S.M. (2011). Participação Social e Democrática no Parlasul. InRevista de Direito Brasileira RDBras 1. Vol. 1, n. 1, p. 311-333. Florianópolis, SC. Disponívelem <http://www.rdb.org.br/ojs/index.php/revistadireitobrasileira/article/view/62> Acessoem: 10 out. 2014.

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REFLEXÕES SOBRE MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO, COMO APORTE PARAIMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM TURISMO DE SEGUNDA RESIDÊNCIA.

Vinícius Weitzel NovaesUniversidade de Brasília

RESUMO:

O presente artigo busca, de forma sintética, apresentar as origens e fundamentos do materialismodialético, bem como articulá-lo às possibilidades de abordagens fenomenológicas no estudo doturismo. Posteriormente, buscar-se-á demonstrar a justificativa da necessidade de interligaçãodessas duas correntes metodológicas na pesquisa do turismo de segunda residência.

Palavras-Chave: Materialismo Histórico. Turismo. Turismo de Segunda Residência.

1. INTRODUÇÃO

Primeiramente, há que se salientar que o materialismo histórico é fruto dopensamento marxista, e da crítica e análise da estruturação da sociedade burguesa que lhesão peculiares. Dessa forma, infere-se que o método perseguido para a pesquisa de Marxsobre o modo de produção capitalista foi o materialismo histórico, de forma a perceber queo processo histórico sempre esteve atrelado ao incremento das estruturas e superestruturasdo capital.

Apesar dos inúmeros questionamentos advindos da crise do socialismo real, sobre oreferencial teórico de compreensão da realidade proposto por Marx – e consequentementedo método que a sustentou, acredita-se que as interpretações marxistas da sociedadecapitalista foram as mais autênticas e pormenorizadas realizadas; reconhecidas, inclusivepor aqueles que discordam das ideias socialistas de organização social, o que confereatualidade e pertinência ao método marxista, que deve, a todo tempo, ser contextualizado.

Infere-se, neste contexto, que o método é um meio, um caminho estabelecidoteoricamente para interpretação da realidade, com possibilidades de contribuição para amelhor compreensão de um dado ou fenômeno – em nosso caso, o turismo de segundaresidência. A adequada compreensão do método reflete diretamente na instrumentalizaçãoda realidade pesquisada.

2. O MATERIALISMO DIALÉTICO ENQUANTO ESCOLHAMETODOLÓGICA

A questão central que se estabelece como termo inicial do processo investigatóriomencionado – e definidora da escolha do método – é a localização da relação sujeito-objeto,eis que a compreensão de referida relação é o cerne da compreensão da relação do ser

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humano com as coisas, com a natureza, e, em última instância, com a vida. Estaproblemática, presente em todas as ciências, pode ser enfrentada a partir de diferentesabordagens, entre elas a dialética, e especialmente a do materialismo histórico-dialético, oua dialética marxista.

A dialética marxista emerge como possibilidade de superação da dicotomia(separação) entre o sujeito e o objeto em um processo investigatório. Entretanto, a dialéticanão é uma forma de pensamento exclusiva de Marx. Na Grécia Antiga, havia a compreensãoda dialética como a arte do diálogo, utilizada, entre outros, por Sócrates, num processodenominado maiêutica, consistente na repetição de vários questionamentos sobre umdeterminado assunto, aprofundando-se, a cada questão, a compreensão, almejando-se, aofinal, a percepção da verdade, da essência sobre a matéria questionada.

Desta forma, é pressuposta a existência mínima de duas instâncias de diálogo,percebendo-se que, na diferença, na divergência e no conflito é que se conduz o diálogo, e éa partir destes elementos que emerge a verdade. Em suma, percebe-se que a lógica dialéticaé um meio de compreensão da realidade, como contraditória em sua essência, e emtransformação constante (KONDER, 1991).

Saltando-se da dialética grega descrita para o período do Renascimento, percebe-seque a busca pela objetividade, peculiar ao período histórico em apreço, levou a separaçãoentre sujeito e o objeto, excluindo-se a abordagem dialética como lógica para percepção domundo, e consequentemente, como meio de estudo científico e filosófico, ascendendo-se oque denominamos lógica formal, a qual prevê a separação entre sujeito e objeto noprocesso da pesquisa, de forma dualista, impedindo a explicação entre as contradiçõeshumanas, e bloqueando o movimento necessário para a sua compreensão.

No entanto, com Hegel, no século XVIII, o processo dialético foi revitalizado a partirda percepção da capacidade do homem de intervenção na realidade como sujeito ativo,concebendo-se a dialética como método, a partir da contraditoriedade, em que uma coisa ée não é ao mesmo tempo, e sob o mesmo aspecto, preconizando-se a contradição, atotalidade e a historicidade.

Contudo, é a dialética que fundamenta o pensamento marxista46, resultado lógicodo método materialista histórico, que é apresentada como possibilidade teórica viável parainterpretação da realidade turística que buscamos compreender, eis que, o fenômeno doturismo de segunda residência deve ser analisado através dos mais variados elementos queo constituem, objetivando a compreensão mais completa possível. E não se pode fazer istoatravés da abordagem da lógica formal, já que insuficiente para tal tarefa, em funçãoexatamente do distanciamento entre o sujeito e objeto por ela proposta.

É preciso destacar-se que a lógica formal não consegue explicar as contradiçõesexistentes nas relações humanas e sociais, em virtude do distanciamento em apreço, e

46Meu método dialético — diz Marx — não só é fundamentalmente diverso do método de Hegel, mas é, emtudo e por tudo, o seu reverso. Para Hegel o processo do pensamento que ele converte inclusive em sujeitocom vida própria, sob o nome de ideia, é o demiurgo (criador) do real e este, a simples forma externa em quetoma corpo. Para mim, o ideal, ao contrário, não é mais do que o material, traduzido e transposto para acabeça do homem". (Karl Marx, palavras finais da 2.ª edição do t. I do "O Capital").

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consequente impedimento da movimentação do pensamento de modo a compreender arealidade dialética do mundo, que se movimenta e é contraditório. Necessita-se de ummétodo, uma teoria interpretativa que possa compreender esta realidade, que pode ser ométodo dialético marxista.

O princípio da contradição, basilar para a dialética em apreço, propõe que pararefletir sobre uma determinada conjuntura é necessária à aceitação da contradição,perpassá-la e extrair dela o que é essencial – partindo-se do empírico (a realidade, os fatoscomo se apresentam a primeira vista, de forma mais simples), e, através de reflexõeschegar-se ao concreto (percepção elaborada sobre a essência do objeto, síntese de váriasdeterminações).

Desta forma, a diferença sobre o empírico e o concreto são exatamente asabstrações, que percebem a realidade de forma mais profunda e detalhada; o estudo partede uma percepção simples, sobre a qual, após referidas abstrações, chega-se à compreensãoplena do fenômeno observado. Destaca-se que a dialética descrita não descarta ou secontrapõe à lógica formal, mas se vale dela como instrumento, faz com que a lógica formalseja uma etapa da lógica dialética (mas sem se esgotar nela, a lógica formal, concebendo-sepor e a partir dela a complexidade do objeto da pesquisa).

Karl Marx, economista, filósofo, jornalista e militante político viveu na Europa noséculo XIX. Buscando compreender a realidade social em que se inseria e que o desafiava, ebuscando um caminho a fundamentar referida compreensão, deu cunho materialista ehistórico às posições hegelianas no que tange à dialética. Para ele, importante se faz adescoberta das leis dos fenômenos de cuja investigação se ocupa; captar, em detalhes, osmecanismos engendrados no problema em estudo, analisar evoluções, investigar asconexões sobre os fenômenos que os envolvem. Para Marx, isto só foi possível através dareinterpretação da dialética hegeliana, posto que Hegel tratava a dialética idealmente, noplano das ideias e do espírito, mas a realidade exige a materialização, a concreção dessadialética.

Quando se fala em materialismo, refere-se ao caráter material na pesquisamarxista, que percebe que os homens se organizam socialmente para a produção ereprodução da vida; quando se fala no caráter histórico, refere-se à forma que essaorganização humana ocorreu através da história. A partir destes pilares, Marx desenvolveuseu método, perceptíveis nas análises econômicas por ele empreendidas.

Portanto, o pesquisador deve possuir papel ativo e atuante no processo dedesenvolvimento da pesquisa, e não aquele do cientista inerte e alheio à realidadepesquisada. Existe um processo interativo durante a produção do conhecimento científicoque não pode ser desprezado. Além disso, busca-se, no materialismo, a busca da essência doobjeto da pesquisa, e referida busca tem como termo inicial dados reais e concretos:

Como bom materialista, Marx distingue claramente o que é da ordem darealidade, do objeto, do que é da ordem do pensamento (o conhecimentooperado pelo sujeito): começa-se pelo real e pelo concreto, que aparecemcomo dados; pela análise, um e outro elemento são abstraídos e,

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progressivamente, com o avanço da análise, chega-se a conceitos, aabstrações que remetem a determinações as mais simples. Este foi ocaminho, ou se quiser, o método (NETTO, 2011, p.42).

Isto posto, verifica-se que a pesquisa materialista não é caracterizada pelodistanciamento do pesquisador, muito menos da análise fria e estanque dos dados, quedevem ser conhecidos, analisados e criticados a partir de uma articulação dos mesmos como respectivo contexto sócio histórico, sem prejuízo de todos os determinantesimprescindíveis para a concepção da pesquisa de forma a não produzir um conhecimentofragmentado. Desta forma, permite-se que “todo e qualquer objeto de estudo é real eefetivamente aparece como objeto humano, social e histórico” (ALVES, 2011, p. 604).

Importante se faz o destaque que, como desdobramento da vertente materialista,emerge, no que tange a pesquisa em Turismo, a necessidade de ressignificação dascategorias, investigação de novas faces do fenômeno turístico, de forma interdisciplinar –desmistificando-se a visão do fenômeno turístico tão somente a partir do viés econômico,haja vista que o turismo e as interações culturais que lhe são peculiares exercem fortepressão sobre a construção da subjetividade social. Conforme Moesch:

O turismo constitui-se num fenômeno sociocultural de valor simbólico aossujeitos que o praticam. Os sujeitos turísticos consomem o turismo, pormeio de um processo tribal, de comunhão, de re-ligação, de testemunho,em um espaço e tempo tanto real como virtual, desde que possível deconvivência, de presenteísmo. O valor simbólico,, perpassado pelacomunicação táctil deste fenômeno, reproduz-se, ideologicamente, quandoos turistas comungam de sentimentos reproduzidos pela diversão, equando há a possibilidade de materialização do imaginário, por vezesindividual, em societal.(Moesh,2002.p.134)

Não se pode furtar ainda, sobre o assunto, ao magistério de Carvalho; Moesch, cujoensinamento é o de que:

A perspectiva é pensar o sujeito de forma complexa. Ele é produtor econsumidor,e desta forma se estabelece a lógica da atração social, ou seja,o estar junto. O desafio é resistir à realidade de atividade econômica emercadológica imposta ao turismo, tida como evidente, romper com osautores que não possuíam qualquer preocupação epistemológica, como osempíricos positivistas, e superar a abordagem do paradigma sistêmico, parao qual o sistema econômico suplanta todos os demais sistemas, naperspectiva de caminhar para a compreensão do turismo como umfenômeno social que implica em processos de contradição na relação entreseus atores e o meio ambiente em que esta prática se efetiva (CARVALHO;MOESCH, 2013, p. 449).

3. A ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA

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Por isso, afirmamos que, a partir das bases lançadas pelo materialismo,principalmente no que tange ao tratamento e percepção do objeto de pesquisa, e da relaçãoentre este e o pesquisador, construiu-se o que chamamos de fenomenologia, eis que:

A fenomenologia procura abordar o fenômeno, aquilo que se manifesta a simesmo, de modo que não o parcializa ou o explica a partir de conceitosprévios, de crenças ou de afirmações sobre o mesmo, enfim, de umreferencial teórico. Mas ela tem a intenção de abordá-lo diretamente,interrogando-o, tentando descrevê-lo e procurando capturar sua essência.Ela se apresenta como uma postura mantida por aquele que indaga. Oinquiridor fenomenólogo dirige-se para ofenômeno da experiência, para odado, e procura ´ver´ esse fenômeno da forma que ele se mostra na própriaexperiência . (MARTINS; BICUDO, 1983, p.11)

Desta forma, não só compatíveis, mas simbióticas as relações entre o materialismoe a postura fenomenóloga, já que ambas propõem a interatividade e a percepção dacomplexidade do objeto de pesquisa, que deve ser observado de forma integral einterdisciplinar – na busca pela essência, não se descobrem tão somente dados, masprincipalmente valores que permeiam as relações sociais travadas pelos atores envolvidos –no caso, nas relações turísticas, estudadas a partir da realidade social e das históriashumanas, em contraponto ao modelo científico positivista em crise, pois, se referido modeloaduz que, no processo de pesquisa científica, deve haver a separação do objeto investigadoe os fenômenos que a ele se relacionam,

parcializa e afasta-se da questão básica que impulsionou o ato original doconhecimento daquele ser. Com isso, pode gerar um distanciamento dopensar autêntico, concerne ao significado fundamental que subjaz aosprocedimentos chamados científicos e pode permanecer ao nível do fazertécnico. Ou seja, pode permanecer apenas trabalhando com fórmulas, comconceitos, com os símbolos que representam ideias sobre as coisas,gerando, infinitamente, mais fórmulas, mais conceitos, mais símbolos.Assim, se não houver um esforço consciente daquele que pensa (docientista?), para não perder de vista o pensamento original que conferesignificado àquele fazer técnico, o seu trabalho pode, facilmente, como temocorrido com frequência, ficar circunscrito à técnica e ao progresso damesma, não chegando ao conhecimento autêntico (MARTINS; BICUDO,1983, p. 9).

Ademais, necessário o destaque que, sobretudo nos processos investigativos decunho sociológico, no contexto das ciências humanas, o ponto de partida se dá através dainterpretação da vida cotidiana. Neste interim, a conduta fenomenóloga tem comopremissas a observação e reflexão do pesquisador sobre o mundo cotidiano, de formaatenta, sem dados ontológicos como ponto de partida, ou sem dogmas predeterminados,para que assim se possa iniciar um processo de dúvida fenomenológica (SMART, Barry,

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1978). Conforme Husserl, fenomenologia denota “um método e uma atitude intelectual: aatitude intelectual especificamente filosófica, o método especificamente filosófico”.(HUSSERL, s/d, p. 46, apud NETTO; AYRES, 2012, p. 6).

4. Turismo e sua evolução

Ultrapassada a fase de delimitação metodológica escolhida para a pesquisa doturismo de segunda residência, necessária se faz a abordagem conceitual dos conteúdosteóricos que circundam o objeto de referida área da pesquisa em Turismo. Neste contexto,anota-se que, para a Organização Mundial do Turismo – OMT, o turismo compreende asatividades que realizam as pessoas durante suas estadas em lugares diferentes ao seuentorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano com finalidade de lazer,negócio ou outras”. Em uma definição mais pragmática, a OMT define o turista como o“visitante que permanece, pelo menos, uma noite em um meio de hospedagem coletivo ouprivado do país. (ORGANIZAÇÃO, 2001, p.38)

O início das atividades turísticas no mundo é um pouco incerto. Os estudos na áreasão parcos e recentes. Algumas obras atribuem o nascimento da atividade turística aodesenvolvimento do capitalismo, o que pode ser no mínimo equivocado. Para João dosSantos Filho (2005, p.01):

Para podermos entender o fenômeno do turismo em sua dimensãoteórico/metodológica, com raras exceções pouco se tem onde recorrer,uma vez que os estudos existentes nesse campo são restritos, e muitasvezes, rejeitados por parte da academia. Diante de tais constatações,partimos da premissa de que necessitamos estudar a construção históricadesses conceitos. Em primeiro lugar, parece questionável que o turismopossa ser entendido como produto do capitalismo.

Inicialmente o sentido do deslocamento, para o ser humano, não se tratava dabusca por lazer ou descanso. Era uma questão de sobrevivência. Era o período paleolíticoque existiu há cerca de 2,5 milhões de anos. As historiadoras Myriam Mota e Patrícia Braickcompletam ainda (1997, p.04):

A sociedade paleolítica caracterizou-se pela subsistência, na dependênciada caça, da pesca e da coleta de frutas e raízes, e pela utilização de objetosconfeccionados com pedra lascada, ossos e dente de animais.Devido a essadependência os grupos humanos eram nômades, acossados pelasintempéries e pela busca de alimentos. Viviam em bandos e dividiamcoletivamente o espaço e as atividades. Deixaram marcas de suasatividades através de suas pinturas rupestres, encontradas nas cavernascomo as de Altamira (PA) e Lascaux, na França, nas quais desenvolveramcenas de seu cotidiano. Uma conquista fundamental do homem paleolíticoocorreu há mais de 500 mil anos: o controle do fogo.

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Sabe-se ainda que deslocamento de pessoas de seu local de habitação por motivosque extrapolam a sobrevivência também existe há milhares de anos. A Bíblia retrata a vidade algumas pessoas que se deslocaram de seu local de residência para seguir por algumtempo o “Messias” – Jesus Cristo, ou os próprios apóstolos em suas pregações.

Assim, acredita-se que o turismo como fenômeno social não tenha se materializadonestes deslocamentos. Pode, é claro, fazer parte da história do turismo na humanidade, masa essência turística nos padrões atuais somente se efetivou na modernidade. È no contextodo capitalismo que as atividades relacionadas ao tempo livre como descanso de um períodode trabalho - inclusive o turismo - começam a se concretizar. OURIQUES (2005, p.28)considera:

Em outras palavras, o homem sempre viajou, mas só muito recentementecomeçou a fazer turismo. Claro que as pessoas mais abastadas ou mesmoaventureiros viajavam por puro diletantismo ou como requisito cultural de“formação aristocrática”, vigente na Europa nos séculos XVI a XVIII, mas ofato social do turismo é uma criação moderna. Também é produto dodesenvolvimento da modernidade capitalista.

A revolução Industrial, iniciada na Inglaterra na segunda metade do século XIX,introduziu novas formas de produção mecanizada e em série. Junto com ela novas formas detrabalho começaram a vigorar. A exploração máxima do trabalhador sob a ótica da “mais-valia” 47 se tornou prática corrente nos locais onde predominava o modo de produçãocapitalista. De acordo com Paul Lafargue (1977:89) “Essa qualquer coisa para além da açãodiária é a mais-valia, que o capitalista tira ao operário.”.

O autor ainda completa (1977, p.90):

Assim, portanto, mantendo-se inalteráveis as condições de utensílios e decompras de matérias-primas, os lucros do capitalista são tanto maisconsideráveis quanto a soma empregada em salários. Portanto, nestascondições para aumentar a taxa da mais-valia, é preciso diminuir a taxa dossalários e prolongar as horas de trabalho.

Com o aumento da insatisfação da massa trabalhadora, a burguesia, para melhorcontrolá-los e deter o avanço das ideias socialistas, criou algumas leis que beneficiavam ourespondiam as expectativas do proletariado. Essas leis regulamentavam não apenas asatividades dos operários, como também determinavam o seu tempo livre. De acordo comMartoni (2006, p.01): “a privatização do tempo livre ocorre na medida em que conquistastrabalhistas são alcançadas, as necessidades do ócio são salientadas e na possívelrentabilidade de atividades vinculadas ao lazer”.

Os salários, geralmente muito baixos, não colaboravam para um aproveitamento dotempo livre com qualidade. Os trabalhadores, na maioria das vezes, utilizavam seu tempo

47 Termo utilizado por Karl Marx para explicar o lucro capitalista por meio do uso da mão-de-obra com preço inferior ao dos custos de produção.

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livre aliando bebidas alcoólicas a esportes que envolviam animais como brigas de galos, deursos, entre outros. Todavia, tais atividades acabaram atrapalhando o rendimento dostrabalhadores, e consequentemente, a lucratividade dos burgueses.

Surge, a partir de então, a necessidade de disciplinar o descanso dos trabalhadorese retira-los das tabernas. Novas legislações foram criadas proibindo atividades esportivascom animais e altos impostos foram inseridos nas bebidas alcoólicas. Após essas medidas,fazia-se necessário criar atividades para ocupar o tempo dos populares.

O capitalismo industrial, o descanso semanal e o avanço das estradas de ferro e denovas tecnologias foram essenciais para a disseminação das pequenas excursõesmecanizadas para as massas. Os religiosos se aliaram à burguesia para buscarem alternativasde ocupação do tempo livre do trabalhador. As excursões eram geralmente organizadas pelaIgreja o que contribuía para o aumento e retorno dos fiéis às práticas religiosas. Para aburguesia era a maneira mais tátil de controlar o descanso do trabalhador. Segundo HeltonRicardo Ouriques (2005, p.30):

O fato é que, já em meados no século XIX, os religiosos e burgueses tinhampercebido as vantagens das viagens de trem. Para os religiosos, a promoçãodas viagens era uma vitória contra as diversões populares depravadas e apossibilidade de aumentar o rebanho dos servos de Deus, uma vez que ostrabalhadores passavam mais tempo com suas famílias e ouviam mais aspregações da palavra nas excursões. Para os capitalistas, era uma forma dediversão controlável e disciplinada, que poderia acabar com as anárquicasmanifestações nas ruas e com as bebedeiras dos domingos e segundas-feiras.

Os movimentos nazifascistas que ocorreram na Europa, após a Primeira GuerraMundial desenvolveram práticas de trabalhistas de finais de semana livres e remuneradosque deveriam ser desfrutados com atividades lúdicas de lazer. Foram esses movimentos quepopularizaram as práticas das viagens de recreio da Inglaterra. (RYBEZYNSKI, apudOURIQUES, 2005, p.32):

O fim de semana fascista foi uma instituição criada pelo Estado. O governocriou uma série de instituições dopolavoro (depois do trabalho) para queesse novo lazer fosse dissipado numa “reles imitação dos vícios burgueses”.Por ordem do governo, aos sábados, havia matinês especiais em óperascom entradas muito mais baratas que nos outros dias, exclusivas para ostrabalhadores de baixa renda e pensionistas. O sábado à tarde e o domingotambém eram para aos trens especiais levarem os trabalhadores a passeiopelo campo e à praia. Os esportes e as atividades ao ar livre foramincentivados, pois, quando o assunto era lazer, os fascistas – como osmembros da associação para o fechamento – eram reformadores sociaisque queriam não só oferecer tempo livre, mas ainda a forma certa deutilizar esse tempo livre.

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A proliferação das novas leis trabalhistas, com controle da carga de trabalho, fériase folgas remuneradas, desenvolvimento e redução nos preços dos meios de transportetornou a existência do tempo livre cada vez maior e a necessidade de preencher essemomento com alguma atividade ficou latente.

Possuidores de capital, visualizando a oportunidade de ganhos, perceberam notempo livre, de não trabalho, uma forma de ganhar dinheiro. Afinal, o tempo livre se tornatambém o tempo de consumo, de dispêndio de dinheiro. Verificaram então que o tempolivre pode ser lucrativo. Helton Ricardo Ouriques em A produção do Turismo: Fetichismo eDependência citaIstvánMészáros no texto produção destrutiva e estado capitalista (1996,p.85):

Tempo disponível, do ponto de vista do capital, é necessariamentepercebido como algo a ser explorado no interesse da expansão do capital(desde a venda de ferramentas e materiais do tipo faça você mesmo àextrema comercialização de toda atividade de lazer seja ela sexo, cultoreligioso ou arte).

5. CAPITALISMO E TURISMO DE SEGUNDA RESIDÊNCIA

O conceito de Turismo de Segunda Residência, por sua vez, apresenta diversasvertentes. Entretanto, a maioria delas convergem na ideia de que a segunda residência éaquela que não é a de uso habitual, sendo utilizada, geralmente, nos momentos de ócio,tempo livre, férias ou recuperação de enfermidades.

De acordo com Mario Beni (2001, p.430), o turismo habitacional:

Assemelha-se às características do turismo de segunda residência eaproxima-se da natureza da estrutura do timesharing. Trata-se de imóveisparticulares disponibilizados durante todo o ano para locações porintermédio de um pool imobiliário.

Ou seja, o proprietário escolhe um determinado período do ano para a suaocupação; fora esse tempo o imóvel ficará disponível no pool.

Já Hiernaux (2005b,p.3) conceitua o turismo de segunda residência como aquelepelo qual as pessoas recorrem a um destino ou uma localidade que não é propriamenteturística, onde tem a posse por compra, aluguel ou empréstimo de um imóvel no qualpernoitam e realizam atividades de ócio e entretenimento.

O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística define segunda residência comoresidência ocasional sendo esta “o domicilio particular permanente que na data dereferência servia ocasionalmente de moradia, ou seja, usado para descanso de fins desemana, férias ou outro fim, mesmo que, na data de referência, seus ocupantes ocasionaisestivessem presentes. (BRASIL, 2000, p.15).

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Tal conceito pode ser empregado hoje ou nos primórdios como se conhece oTurismo de Segunda Residência. Inicialmente tinha-se uma tradição bastante aristocrática,onde famílias reais e aquelas ligadas à nobreza possuíam castelos e residências oficiais paraque pudessem usufruir e aproveitar da melhor maneira determinadas estações do ano.Ressalta-se que eram famílias bastante abastadas que pouco ou nunca trabalhavam e quepodiam desfrutar do tempo livre da forma como achassem melhor.

A família real Brasileira também utilizou da segunda residência. O Palácio oficial selocalizava no Bairro de São Cristovão na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro , atual Riode Janeiro, Estado do Rio de Janeiro. Entretanto, devido ao intenso calor da cidade oImperador Dom Pedro II em 16 de março de 1843, assinou o decreto 155, pelo qualarrendava ao engenheiro Koeler a Imperial Fazenda Concordia, ex-Córrego Seco, com acondição de que ele edificasse não apenas o povoado, mas também o Palácio de Verão, umaigreja e um cemitério. Do empenho do engenheiro emergiu não apenas a segunda residênciada família Imperial Brasileira, mas a Petrópolis Imperial, primeira cidade planejada daAmérica Latina, com seus rios domados e contornados por jardins, pelo seu palácio, peloscasarões, pelas praças e pelos recantos privilegiados.

Figura 1: Palácio Imperial – Petrópolis, RJ.

Fonte: site guidetravelbrazil.com.br48

Além dessa segunda residência, tipicamente relacionada às famílias nobres quemantinham contato direto com a Corte, as cidades também recebiam construçõesdestinadas à segunda residência. O Brasil era um país agrário exportador. As famílias ricasque não estavam diretamente ligas à Nobreza e Administração Publica eram famílias ligadasà exportação de cana de açúcar. cacau, algodão, e café. Essas famílias, geralmentehabitavam regularmente suas fazendas e possuíam, para uso ocasional (seja paratratamento de saúde, para fins educacionais – estudar nas Universidades) uma residência nacidade. Geralmente eram erguidos belos e enormes palacetes.

48http://www.guidetravelbrazil.com.br/?p=15511 acesso em: jul/2014

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Um dos principais centros financeiros e comerciais do país atualmente, erahabitado, ate a década de 1950, por grandes palacetes dos barões do café – a AvenidaPaulista. De acordo com o site educacional49:

A primeira fase da Avenida Paulista foi de 1891 (sua inauguração) até 1937.Aos poucos, ela se transformou no centro de animação da cidade. Os ricossenhores do café, os grandes comerciantes e os chefes das indústriasconstruíram elegantes mansões nos lotes da avenida. Lá, aconteceramcorridas de charrete, de cabriolés e dos primeiros automóveis e os grandescarnavais dos anos 20 e 30. No final da década de 1920, seu nome foialterado para Avenida Carlos de Campos, em homenagem ao ex-governador do estado de São Paulo, mas o povo não gostou, então o nomedela voltou a ser Avenida Paulista.

Durante anos, a Avenida Paulista teve uso somente residencial. Era proibida aconstrução de prédios na localidade. Em 1952, uma nova lei permitiu a construção deedifícios hospitalares e educacionais, órgãos de imprensa e televisão, além de pontosculturais como cinemas e teatros. Essa nova lei foi promulgada pelo prefeito Armando deArruda Pereira. Posteriormente, estabelecimentos comerciais, escritórios e tiveramconstrução liberada.

Figura 2: Avenida Paulista, São Paulo – SP (início do século XX)

Fonte: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/50

Já com o desenvolvimento das atividades trabalhistas, não relacionadas àsatividades agrárias, mas aos serviços e à indústria, o turismo de segunda residência adquireuma nova configuração. Passa a integrar o chamado Turismo de massa, aquele que abarca eatrai um grande numero de visitantes para uma localidade. Olga Tulik (2001 p.71) citandoMarc Boyer afirma: “A residência secundária não é mais um fato do turismo aristocrático do

49http://www.educacional.com.br/reportagens/sp450/textovpsavpaulista.asp acesso em: jul/201450http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1900.php acesso em: jul/2014

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século XIX, mas uma expressão do turismo moderno de massa. Nasceu aristocrática e semassificou... graças às conquistas sociais e econômicas”.

Complementando Boyer, Lenilton Francisco se Assis diz (2003, p.111):

Marco da sociedade “pós – industrial” o direito ao tempo livre é uma dasgrandes conquistas sociais do mundo do trabalho que tem na segundaresidência uma das suas modalidades de usufruto. A busca da recreação edo gozo do tempo livre é, sem dúvida, a principal finalidade dasconstruções das segundas residências.

Assim, o Turismo de Segunda residência, tal qual é conhecido está diretamenteatrelado às conquistas trabalhistas (direito a férias remuneradas, descanso semanalremunerado) assim como à acumulação de capital.

Apesar de ser considerado um fenômeno de massa, a atividade turística,principalmente a de segunda residência, está vinculada à aquisição de imóveis, notadamentemais de um, pois a primeira residência, de uso constante, já se considera adquirida.Posteriormente almeja-se; acumula-se capital ou solicita-se crédito para aquisição de umanova residência, essa então considerada de uso ocasional.

Realizadas estas considerações, é necessário, por fim, reiterando a lógica domaterialismo histórico-dialético para a abordagem do turismo de segunda residência, que seexemplifique como as reflexões a partir do método aqui proposto ocorrem, e em quesentido pode beneficiar a pesquisa em turismo.

O exemplo escolhido, inclusive porque é importante para a pesquisa relacionada aoturismo de segunda residência, é exatamente o ligado ao uso do espaço turístico. Istoporque a percepção do espaço, sobretudo o espaço social de onde se desenvolve ofenômeno turístico, consiste em ponto central da perspectiva de articulação de fatorespresentes na investigação que ocorre sob direcionamento materialista histórico-dialético.

Feitas estas afirmações, quando do estudo do espaço de desenvolvimento doturismo, não se pode esquecer-se da perversidade e exclusão que permeiam os mecanismosdo sistema de produção capitalista, sobretudo pelo privilégio das coisas (mercadorias) emdetrimento do homem. Neste contexto, a mercadoria não consiste somente no produtoindustrializado, mas também “fragmentos e momentos da existência social que tambémserealizam nos circuitos de valorização do capital” (SEABRA, 1996, p. 82).

Sendo assim, formas de exploração do tempo de lazer - foco da investigaçãoturística -, também consistem em mercadoria, sobretudo quando referido tempo é vendidocomo produto, e o indivíduo, levado a pagar por ele, destacando-se a intervençãoespeculativa da indústria cultural sobre as massas, manipulando-as no intuito deincrementar a acumulação de capital dos grupos detentores de poder. O ser humano, nestadinâmica, consiste em mero objeto de intervenção das práticas, cujo objetivo maior é o lucro– e não a produção de bens imateriais comuns, advindos da construção interativa queprivilegia a alteridade, possível quando do intercâmbio de culturas decorrente das práticasturísticas.

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O interesse do indivíduo é relegado a um plano inferior, já que o turismo acabasendo uma extensão das atividades do sistema de produção capitalista (afirmação realizadaapós a reflexão no sentido que a expansão do capital acaba por inovar no que tange àspossibilidades de consumo e acesso ao espaço), que tem como característica maior oalijamento das classes trabalhadoras nas decisões que envolvem os rumos das atividadesprodutivas.

Nesse espaço mercantilizado, a ideia de cultura acaba sendo transformada ante aapropriação dos bens simbólicos, manipulados pelos interesses dos detentores de poder.Menciona-se, para melhor visualização do panorama apresentado, a apropriação danatureza e de belas paisagens pelo turismo, as quais acabam por ser reduzidas à condição deprodutos consumíveis à nutrição do modo de produção capitalista e da sociedade deconsumo que o sustenta.

Um destino turístico, desta forma, torna-se um local estruturado e apropriado apartir de necessidades alheias à boa parte da comunidade autóctone, e é vendido paraconsumo sazonal, às classes sociais subjugadas ao modo de produção e ideologiadominantes, desprestigiando práticas tradicionais que não sejam interessantes aos novosdonos do espaço, transformando as práticas sociais de relação entre o homem e a natureza,inclusive – o que resulta na alienação do tempo de ócio do homem, o qual, ao fugir da rotinade expropriação abusiva de sua força de trabalho, se dirige a destinos massificadospreviamente, e, boa parte das vezes, não menos estressantes que as cidades de origem:

[...] nos períodos de lazer, de ócio, de tempo livre, os homens procuram sedeslocar para lugares em que possam gozar de espaços abertos, dilatadoshorizontes, atividades de recreação, entretenimento ou desportivas, emque o mais importante é o contato com a natureza [...]. E para onde ele [ohomem moderno] quer ir? Para a mãe Terra. Mas nem sempre vai para ela.A publicidade o apanha e ele vai, por exemplo, para balneáriosmassificados, rápidos e alienados como a jaula dourada e confortável daqual saiu. (BENI, 2001, p. 55).

Percebe-se, portanto, que o turismo faz com que os elementos de alienação daclasse trabalhadora se reproduzam no momento de ócio, já que os destinos turísticos,vendidos como mercadoria, assim o sejam somente após a confirmação desta conveniênciapor parte da classe hegemônica economicamente, culturalmente e ideologicamente.

Procurou se evidenciar-se, portanto, de forma sintética, como se dá a pesquisa sobo método materialista-histórico dialético, valendo-se da questão do uso do espaço turísticocomo exemplo. O objetivo dessa atividade se dá exatamente para que se perceba que, aindaque sem a filiação ideológica ao pensamento de Marx, o exercício dialético por ele propostopode ser aplicado na pesquisa relacionada ao turismo de segunda residência (e para apesquisa em turismo em geral), ante o conjunto de reflexões que partem da concepçãomaterialista do processo histórico, já que a pesquisa em turismo de forma profunda ecomprometida deve estar atenta aos elementos materiais e movimentos dialéticos (erespectivas contradições) que fazem parte dos mecanismos do capital.

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6. CONCLUSÃO:

Recapitulando os conteúdos brevemente apresentados, percebemos que o métodoproposto pela teoria Marxista, concebe a natureza e as relações sociais não somente comoum frio e estático aglomerado casual de fenômenos e objetos isolados, mas como umconjunto articulado e único, com organismos e pessoas que estabelecem vínculos, seinterdependendo e se condicionando mutuamente. Por isso, a pesquisa proposta nosmoldes marxistas não pode compreender nenhum fenômeno de forma isolada edesconectada dos fenômenos circundantes – os quais devem ser investigados a partir destasconexões.

Percebe-se ainda que o objeto da pesquisa materialista visualiza os objetos depesquisa como um todo dinâmico, em constante transformação, renovação edesenvolvimento. Por isso, os objetos de pesquisa investigados a partir desta concepçãodevem ser pesquisados não só no contexto de suas interações, mas também do ponto devista de seu desenvolvimento, e ciclo de atuação e interferência, bem como a partir dascontradições que emergem deste movimento:

O materialismo histórico, em última instância, é uma forma decompreensão da sociedade e do próprio espaço geográfico; uma “autópsia”da história e dos processos socioespaciais a ela subjacentes; uma análise danossa viagem enquanto espécie biológica no mundo; um método que nospermite interpretar o processo de construção da história pelos homens nasua relação com outros homens e com os recursos materiais de quedispõem. A concepção materialista da história, por sua vez, é uma lógicanão abstrata, assentada na observação do “real”; em outras palavras, não éuma “regra” que conduz a sociedade em termos ideais mas umaconstatação do movimento dialético observado por Marx e Engels (1984)no esforço de construírem uma ciência da história da sociedade. Não setrata, pois, de leis imutáveis, mas de leis que os próprios homensconstroem na tentativa de suprir as necessidades primeiras, gerando, porconseguinte, novas necessidades. Ocorre que a complexidade alcançadapela sociedade capitalista contemporânea sobrepôs às necessidadeselementares outras variadas necessidades secundárias, “fictícias”. Talcontexto pode ser reiterado pela constatação de que as sociedades pós-industriais possuem a capacidade de produzir necessidades cada vez maissofisticadas, bens materiais e imateriais a partir da “cultura de mercado”que elas próprias constroem. Além das necessidades básicas desubsistência, produzem-se também necessidades de ordem cultural, comoo desejo de viajar, a indústria da moda, o telefone celular etc. Comodecorrência de tais fatores, o processo de realização de uma necessidadesofisticará cada vez mais a relação homem/homem e homem/naturezaexterna. A partir de tais pressupostos, torna-se possível analisar acapacidade de a espécie humana se (re)produzir e deslocar-se globalmente.(BEDIM, 2008, p. 10).

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Percebe-se ainda, pelo histórico e concepção do turismo apresentados,especialmente o turismo de segunda residência, que o desenvolvimento do fenômenoturístico se acentua com o incremento e ascensão do sistema de produção capitalista e dasociedade de consumo que lhe é peculiar, haja vista que o binômio espaço/tempo de lazerestá fortemente arraigado ao sistema produtivo capitalista, e da lógica deprodução/reprodução de acumulação de capital que o caracteriza.

E é exatamente por estas características socioeconômicas do turismo que seescolhe o método marxista, no que tange ao trato do objeto da pesquisa (turismo desegunda residência), levando-se em conta, inclusive, que Marx, na pesquisa econômica queempreendeu para criticar a sociedade de consumo e o capitalismo que geraram o turismo talqual se coloca na atualidade, se valeu exatamente do método do materialismo histórico-dialético, o que reforça a viabilidade deste método como melhor opção metodológica para ainvestigação do turismo de segunda residência.

Ademais, no que diz respeito à aplicabilidade do método Marxista e suasproposições à pesquisa em Turismo, Bedin (2008, p.11) coloca que

As forças produtivas que envolvem o turismo não apenas intervêm nosmodos de organização socioespacial como também os recriam. O turismo,enquanto esfera produtiva diferenciada, suscita a coexistência, a(des)integração ou a superposição de distintas formas de relações deprodução, engendrando e acentuando desigualdades a partir dosdiferenciados ritmos de desenvolvimento. À articulação produtiva quedefine a prestação de serviços direta ou indiretamente ligados ao turismoagregam-se processos sociais, costumes, espaços, indivíduos e gruposhumanos – os quais possuem ritmos diferenciados de transformação nahistória, assim como a formaçãoeconômico-social que os envolve.

Isto posto, aliado à ideia de que a percepção marxista da sociedade atual talvez sejaa mais pertinente e completa já produzida, impensável se torna (ao menos de forma maisacentuada) qualquer pesquisa na área das ciências humanas e/ou sociais que não flertem ouabordem (mesmo que para criticar), ainda que brevemente, a propositura marxista.

Entende-se também que a pertinência do pensamento marxista para a sociedadetambém se estende para o método que instrumentalizou o nascimento de referidopensamento, razão pela qual se afirma que a pesquisa em turismo, eis que área doconhecimento inserta no campo das ciências humanas e sociais tem no materialismohistórico-dialético um grande aliado para a adequada interpretação da realidade,especificamente, a realidade do turismo de segunda residência.

Apreende-se, portanto, que o estudo da ascensão de uma classe trabalhadoraurbana em busca de momentos de descontração, de fuga ao ambiente citadino industrialcom base na visão integradora sistêmica do materialismo histórico, está atrelado aodesenvolvimento da atividade do turismo de segunda residência, que apesar de ter iniciadonas classes mais abastadas desenvolveu-se e consolidou-se como prática de lazer dos

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contingentes de trabalhadores urbanos, estejam eles em atividades industriais ou deserviços.

Essa visão holística elucubrada na fenomenologia, com a busca da essência doelemento da segunda residência, possibilita compreender de forma crítica as nuances quelevaram a atividade ao ponto tal qual hoje se observa – um turismo massificado que degradao patrimônio natural e o patrimônio edificado, que busca o consumo desenfreado einconsequente dos recursos. Uma atividade na qual se percebe isenção do poder públicodesde a formação de uma legislação pertinente até nas atividades de fiscalização, o quemuitas vezes se justifica pela participação dos agentes públicos na construção edesenvolvimento dessa atividade como especuladores imobiliários ou empreiteirosinteressados em grandes obras que em nada favorecem os autóctones ou a construção deum turismo responsável.

Essa reflexão reforçada ao exercício da dialética possibilita a construção derespostas e possíveis mudanças que podem alterar o turismo de segunda residência de umaatividade meramente econômica para uma atividade sócio econômica que não apenas geralucros para uma pequeno grupo de investidores, mas que levam desenvolvimento de todauma comunidade de forma mais sustentável.

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Anais do II Seminário Latino Americano de Políticas Públicas e Turismo