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ANO IV • Nº10 • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA • OUTUBRO 1999

ANO IV • Nº10 • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA • OUTUBRO 1999 · Sempre me dei muitíssimo bem com essesrapazes. Nunca me divorciei da juventude, at

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m privilégiopara 3000 membros

U• Usufruir para ti e até quatro acompanhantes, em qualquer época

do ano de um desconto de 30% sobre os preços de balcão no alojamento dos Aldeamentos Turísticos de Pedras D'El Rei e Pedras da Rainha em Tavira - Algarve;

• Usufruir, para ti e até quatro acompanhantes, em qualquer época do ano, de um desconto de 25% sobre os preços de balcão no alojamento (dormida e pequeno almoço) nas seguintes unidades do Grupo Hoteleiro Fernando Barata:

Mónica Isabel Beach Club (Albufeira)

Forte de S. João (Albufeira)

Hotel Sol e Mar (Albufeira)

Hotel Suiço-Atlântico (Lisboa)

Aparthotel Auramar (Albufeira)

Hotel Sol e Serra (Castelo de Vide)

Hotel Mar à vista (Albufeira)

Hotel Dom Fernando (Évora)

Oleandro Country Club (Albufeira)

Hotel São João (Funchal)

Residencial Vila Recife (Albufeira)

• Utilizar a messe de Marinha em Cascais;

• Usufruir de condições especiais na Estalagem da Quinta de Santo António em Elvas.

• Acesso às consultas do Hospital de Marinha, a todos os asso-ciados da AORN, conjuges, ascendentes e descendentes que integrem o respectivo agregado familiar.

Em turismo de habitação, extensivo até cinco acompanhantes, na margem esquerda do rio Douro. Em qualquer época do ano, na Vila de Resende, com desconto de 30% no alojamento (dormida e pequeno almoço).

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No dia 14 de Julho passado, a bordo da Fragata D. Fernando II eGlória, no acto de assinatura do Protocolo entre a Marinha e aAORN que nesta Revista se relata pormenorizadamente, oAlmirante Nuno Gonçalo Vieira Matias, Chefe do Estado Maior daArmada, terminou a sua intervenção com as seguintes palavras:

“Nesta atmosfera naval, em que o peso das tradições e amemória dos navegadores do passado fazem apelo ao sentidoda responsabilidade dos marinheiros da actual geração ereforçam o nosso espírito de corpo, é com a maior satisfaçãoque expresso à AORN a gratidão da Marinha pela notável ini-ciativa que se propôs levar a cabo.

Formulo votos sinceros para que aAORN alcance as metas quetem definidas, realizando os seus elevados fins estatutários,conferindo a desejada perenidade ao seu projecto e fazendocrescer a família naval que, conjuntamente, continuará a pres-tigiar a Marinha de Portugal.”

Aos votos formulados pelo Almirante CEMA, correspondeu aAORN com a alteração dos seus Estatutos e a abertura daAssociação aos descendentes dos Oficiais da Reserva Naval,alargando deste modo o seu universo aos jovens seus familiaresque sintam a atracção pelo Mar.

Cabe a cada um de nós dar algum contributo para que à adesãoverificada entre os Pais, corresponda um manifesto interesse dosFilhos.

A Comissão de Redacção

Editorial

Publicação Periódica da Associaçãodos Oficiais da Reserva Naval

Nº10 • Ano IVOutubro de 1999

Administração e RedacçãoFábrica Nacional da Cordoaria

Rua da Junqueira1300 Lisboa

Telefs.: 21 362 68 40 / 21 362 68 39 (Fax)

Impressão e acabamentoM. LEMA SANTOS - Comunicação Gráfica, Lda.

Casal do Barota, Lote 65 - Loja dta.Massamá Norte - 2745 Queluz

Tiragem3000 exemplares

Quem te sagrou, criou-te portuguêsDo mar e nós em ti nos deu sinal.Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez.Senhor, falta cumprir-se Portugal!

Fernando Pessoa, in “Mensagem”

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Alistados em 26 de Julho de 1963, os 66 Cadetes do 6º CEORN formaram o maisnumeroso curso de Oficiais da Reserva Naval incorporado até à data; eram 34da classe de Marinha, 2 de Saúde Naval, 4 Engenheiros de Máquinas, 8 de

Administração e 18 Fuzileiros.Comandava a Escola Naval o Comodoro António Morgado Belo, sendo Director deInstrução o Cap. Ten. António Seixas Louçã.Como Patrono do curso, o navegador Miguel Corte Real (1450-1501), considerado odescobridor da Terra Nova, tendo atingido igualmente o Canadá em 1500. Desapareceuem nova viagem empreendida no ano de 1501.Entretanto, o Almirante Armando Júlio de Roboredo e Silva assumia a Chefia doEstado Maior da Armada, em substituição do Almirante Joaquim de Sousa Uva e aMarinha aumentava ao seu efectivo o petroleiro S. Gabriel, construído nos estaleirosde Viana do Castelo.Este curso foi o primeiro ao qual se aplicou o despacho que determinava “que os

O 6º CEORN

6º CEORNClasse de Marinha

1- Domingos Gaspar2- Rogério Carneiro3- Manuel Rafael4- João Mateus5- J. Esteves Pinto6- Leão Rodrigues7- P. Morais Leitão8- A. Liz Dias9- J. Inácio Lourenço10- A. Almeida Mendes11- M. Sá Couto12-M. Sousa Ramos13- V. Cabrita da Silva14- J. Costa Reis15- A. Branco da Silva16- A. Caro Quintiliano17- L. Vilela de Matos18- J. Faria de Almeida19-M. Rosário Machado20-M. Pires de Campos21- F. Baptista Pereira22- A. Oliveira Vera-Cruz23- J. Jardim Fernandes24- J. Costa Monteiro25- J. Andrade dos Santos26- J. Oliveira Baptista27- J. Sousa Patrício28- J. Pereira Brito29- L. Almeida Moreira30- A. Fernando Cláudio31-M. Ruivo Figueiredo32- J. Sousa Eiró33- Heitor Ferreira34- A. Cristino da Costa

Contra-almirante António Morgado Belo

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cadetes RN seriam licenciados depois de cumprirem dois anosde serviço efectivo na Armada, após promoção de Aspirante aOficial”.Correspondia esta norma à legalização de uma situação que naprática já se verificava, desde que se iniciou, em 1961, a mobi-lização para África de uma forma contínua.Embarcados no Aviso “Bartolomeu Dias”, sob o comando doCMG Francisco Ferrer Caeiro, o navio tocou Bissau, Mindelo,Ponta Delgada, Funchal e Lagos, numa viagem de instrução pelaprimeira vez não realizada em Fragatas.AO.D.S.P. de 1-5-64 publicava a atribuição do Prémio Reserva Na-val, concedido anualmente ao aluno mais classificado dos Cursos

Especiais de Oficiais da Reserva Naval. Neste curso, o premiado foioCadete deAdministração Naval RN, Rui Eduardo Rodrigues Pena.Após a cerimónia do Juramento de Bandeira a 23 de Abril,presidida pelo Ministro da Marinha, Almirante FernandoQuintanilha Mendonça Dias, seguiu-se o destacamento para asvárias Unidades e Serviços e de forma regular, a nomeação paracomissões no Ultramar.O aumento ao efectivo dos navios da Armada de mais 4 Lanchasda classe “Argos”, construídas no Arsenal do Alfeite, fezdestacar para a Guiné, para exercerem funções de OficiaisImediatos das LFG’s “Cassiopeia”, “Hidra”, “Lira” e “Orion”,respectivamente, Jorge Jardim Fernandes, Augusto Cristino da

Cadetes no Bartolomeu Dias, com o 1º Ten. Luis Bacharel, um dos oficiaisdo navio

Rui Pena Jorge Jardim Fernandes

Virgílio Cabrita da Silva Oliveira Vera-Cruz Armando Marçal Correia Mário Sá Couto

Augusto Cristino da Costa Amadeu Leão Rodrigues

Ruivo Figueiredo, Leão Rodrigues, Cristino da Costa e Sá Couto, com oComandante da LFG “Hidra”, 1º Ten. Isaías Gomes Teixeira

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Costa, Amadeu Leão Rodrigues e Virgílio Cabrita da Silva.Também as LFP’s “Bellatrix”, “Canopus” e “Deneb”, ainda naGuiné, conheceram novos Comandantes. Foram eles, OliveiraVera-Cruz, Ruivo Figueiredo e Mário Sá Couto.Para Angola seguiram Fernando Baptista Pereira, assumindo ocomando do NRP “Fomalhaut”, enquanto António de AlmeidaMendes exercia igual cargo no NRP “Algol”.

Os Destacamentos e as Companhias de Fuzileiros absorveramigualmente muitos componentes deste curso.Assim, foram nomeados para a Companhia nº 5 de Fuzileiros,Luís Vilela de Matos, Henrique Ribeiro Rocha, João LopesMoreira e José Oliveira Baptista, destacados em Angola.Para Moçambique, integrados na Companhia nº 6 de Fuzileiros,seguiramArmando Marçal Corrêa, Francisco Santa Rita Colaço,

Fernando Baptista Pereira António de Almeida Mendes Luis Vilela de Matos Henrique Ribeiro Rocha

João Lopes Moreira José Oliveira Baptista Francisco Santa-Rita Colaço António Liz Dias

1- H. Faria dos Santos2- F. Santa-Rita Colaço3- H. Sant’Ana4- H. Ribeiro Rocha

5- H. Melo Barreiros6- A. Sales Grade7- J. Costa Xavier8- A. Marçal Corrêa

9- J. Lopes Moreira10- A. Pereira Jardim11- J. Pato François12- J. Medeiros de Almeida

13- P. Ludovice da Paixão14- J. Andrade Mota15- C. Lopes Marques16- A. Maia Rodrigues

6º CEORNClasse de Fuzileiros

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Agostinho Quintiliano e Joaquim Esteves Pinto, enquanto AntónioLiz Dias assumia o comando doNRP “Castor”, o primeiro navio anavegar no Lago Niassa.

E ainda na Guiné, prestaram serviço Armando Branco da Silva,José da Costa Reis, Carlos Picado Horta e José Benito Garcia,estes dois últimos da classe de Administração Naval.Entretanto, o médico Luciano Pinto Ravara realizava prolonga-do embarque no Navio Hidrográfico “João de Lisboa”, sob ocomando do Cap. Ten. José Emílio Cabido de Ataíde, ultrapas-sando as 1300 horas de navegação.Ao longo de 1966 iniciou-se o licenciamento dos oficiais destecurso, tendo ingressado no Quadro Permanente, João da Costa

Xavier, na classe de Fuzileiros e José Medeiros de Almeida, naclasse de Serviço Especial/Ramo de Educação Fisíca.Passados que são trinta e seis anos desde a data da sua incorpo-ração, a recordação do 6º CEORN neste número é o contributoda Revista da AORN para o livro de memórias de um curso quese reúne, desde a sua formação, com frequência bianual, tendorealizado, entre outros, encontros em Madrid e no Funchal.

Nesses encontros, a lembrança dos que não podem já compare-cer é sempre assinalada com a saudade devida a quem faz muitafalta. À voz de chamada, a sua presença será sempre registada.

Manuel Ruivo Figueiredo e José Benito Garcia6º CEORN

1992 - Encontro em MadridSousa Ramos, Joaquim Patrício e Cristino da Costa

1998 - Encontro em Vila Boim – Heitor Ferreira, Liz Dias, Chaves e Melo,Luis Moreira, Santa Rita, Ruivo Figueiredo, Vilela de Matos, Benito Garcia,José Lourenço, Manuel Madeira e Alves Mateus (em 1º plano)

Armando Branco da Silva José da Costa Reis Carlos Alberto Picado Horta José António Benito Garcia

1- J. António Rodrigues Benito Garcia2- J. Merêa Pizarro Beleza3- A. José Avelãs Nunes4- E. Fialho Borralho5- C. Alberto Picado Horta6- A. Miguel Joaquim Dias Fernandes7- R. Eduardo Ferreira Rodrigues Pena8- A. Monteiro Homem de Melo

6º CEORNAdministração Naval

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VICE-ALMIRANTE FRANCISCO FERRER CAEIRO

BIOGRAFIAData de nascimento: 22-10-1910Filiação: Agostinho Felício Pereira Caeiro e Dª. Beatriz Augusto CutileiroNatural de S. Pedro - ÉvoraCasou em 28-3-1936 com D. Carmem Cesariny de VasconcelosDescendência: Pedro, nascido a 18-3-1937 - Contra-Almirante

José Manuel, nascido a 15-1-1939 - Engenheiro Químico

Promoções:

Asp. 1-10-1929; GM. 1-9-1932; 2º Ten. 1-3-1934; 1º Ten. 1-3-1940; Cap. Ten. 1-1-1953;Cap Frag - 1-1-1955; CMG 20-2-1958; Comodoro 10-12-1965; C/ Alm. 11-6-1968 (Vice-Almirante)

Comissões no Mar:

Cruzador Vasco da Gama - 1929; NH Cinco de Outubro - 1930 e 1932; Contra Torpedeiro Tâme-ga - 1930 e 1932; Canhoneira Raul Cascais - 1930, 1931 e 1932; Rebocador Lidador - 1930;Cruzador Vasco da Gama - 1931; NE Sagres - 1931, 1933 e 1934; Canhoneira Limpopo - 1931;Fragata D. Fernando II e Glória - 1932; Torpedeiro Sado - 1932 e 1934; Canhoneira Diu - 1932;Canhoneira Damão - 1933; Aviso Carvalho Araújo - 1934; NH Beira -1937 e 1938; Aviso João deLisboa - 1947; C/T Tejo - 1950; C/TDouro - 1950; C/T Vouga 1950; FF Diogo Cão - 1961; FF Corte

Real - 1961; N/T Niassa - 1963 (Capitão de Bandeira); Aviso Bartolomeu Dias - de 9-3-1964 a 11-8-1964 (Comandante); L/F Escorpião - 1964; L/FCassiopeia - 1964; L/F Deneb - 1964; FF Nuno Tristão - - 1965; L/F Hidra - 1965; Sub Narval - 1968; NRP Roberto Ivens - 1970; NRP Honório Barreto- 1971; NRP Santa Cruz - 1972.

Condecorações:

Medalha militar de prata de valor militar com palma MMp/vm c/p; Medalha militar de prata de serviços distintos MMp/sd; Medalha militar de méri-to militar de 1ª classeMM/mm 1.ª cl; Medalha militar de mérito militar de 2ª classe (duas) 2MM/mm 2.ª cl; Ordem militar de Avis (Grã-Cruz); Ordemmilitar do Infante D. Henrique (comendador); Medalha militar de ouro de comportamento exemplar MMo/ce; Legião de Mérito da América do Norte(oficial) of. OLMA;Ordem de Leopoldo I da Bélgica (grande oficial) g. of. OLIB;Ordem de Mérito Naval do Brasil (comendador) com. OMNB;Ordemde Mérito Aeronáutico de Espanha (distintivo branco); Cr. OMAE d. br.; Ordem de Mérito Naval de Espanha (distintivo branco) Cr. OMNE d. br.; Medalhacomemorativa das campanhas das Forças Armadas (Guiné) MC/C-G; Medalha naval de ouro comemorativa do V centenário da morte do Infante D. Henri-queMCo/IDH;OrdemdeMérito Naval do Brasil (grande oficial) g. of. OMNB;MedalhaNaval de Vasco daGamaMNVG;MedalhaMilitar deOuro de ServiçosDistintosMMo/sd.

Outras datas:

21/03/35 Começou a frequentar o curso de piloto da Escola Gago Coutinho em Aveiro

27/03/35 Passagem à Aviação Naval

05/03/36 Considerado especializado como piloto aviador militar e de hidroaviões

23/06/50 Concluiu o Curso Geral Naval de Guerra (CGNG).

10/03/58 Assume o cargo de 1º Comandante da BA nº 6

31/12/58 Regresso à Armada por não desejar transitar para o quadro de pilotos aviadores

20/05/60 Exonerado do cargo de 1º Cte da BA nº6

De 9-3-1964 a 11-8-1964 foi comandante do Aviso Bartolomeu Dias (recebeu do cmg Carlos Alberto Teixeira da Silva e entregou ao cmg Luís BogarimCorreia Guedes)

De 26-9-1964 a 22-9-1967 - Chefe da Repartição dos Serviços de Marinha e Comandante da Defesa Marítima da Guiné (rendeu o CF Manuel Lopesde Mendonça)

De 8-11-1967 - Sub-Chefe do estado Maior da Armada

De 25-7-1968 a 6-6-1973 - Comandante Naval do Continente (entregou ao c/ almirante Luciano Ferreira Bastos da Costa e Silva)

De 8-11-1968 a 4-5-1970 - Comandante da Base Naval de Lisboa (em acumulação).

De 31-10-1973 a 19-3-1975 - Chefe de Missão Militar na Nato, em Bruxelas

Em 4-4-1979 - Presidente da Comissão do Domínio Público Marítimo

Em 30-1-1980 - Passagem à situação de Reforma

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Por duas vezes, foi-me dada a honrade servir sob o seu Comando: aprimeira em 66/67 enquanto Co-

mandante da Defesa Marítima da Guiné,desempenhava eu as funções de OficialImediato no NRP “ORION”, unidadeatribuída àquele Comando; a segunda, de68/70 enquanto Comandante Naval doContinente e da Base Naval doAlfeite, nasua directa dependência, como oficialajudante de ordens. Passados largosanos, conservo ainda na memória a ima-gem de uma personalidade tão simples e

humana quanto determinada e imprevisível,embora de controverso perfil; tambémalgumas histórias de caserna inesquecí-veis a que atletismo e humor militar comestrelas se aliaram sempre.

Foi com esta recordação que, a 22 de Ju-nho passado, o fomos procurar na suaresidência e onde amavelmente se pron-tificou a responder às nossas questões:

AORN - Como analisa o percurso comumefectuado com a Reserva Naval entre1957 (ano de fundação) e 1980, quer do

Em mais um dia no Ministério, pelamanhã, o Almirante chamou-meao gabinete.

Ao entrar cumprimentei-o:

Bom dia Sr. Almirante!

Bom dia Lema! Olhe, tenho aqui um pro-blema para resolver. Sabe, nós por vezes(sorriu) também erramos; estacionei irregu-larmente e tenho aqui o talão da multa paraliquidação; gostava que me fizesse o favorde ir à esquadra efectuar o pagamento.

Enquanto dizia isto, tirou uma nota dacarteira, meteu-a dentro de um envelopejuntamente com o talão da multa e entre-gou-me tudo.

Ainda tentei vislumbrar qualquer sinal derota a seguir e pensei formular uma per-gunta, mas o cenho franzido e a distânciahistórica que medeava entre o Adamastore o Homem do Leme fez-me desistir; que,apesar de tudo ainda pensava ser capaz dedar a “volta” a um assunto tão complica-do! Ora esta! O Almirante a pedir-mepara pagar a multa!

Na dúvida, fardei-me, coloquei os cor-dões de ajudante, liguei para o motoristae fiz-me ao caminho.

Pensativo, percorri em passo estugado olongo corredor do Ministério, desci aescada de acesso à Praça do Comércio,

entrei no carro, indiquei ao motorista aoque íamos e já no caminho para a ditaesquadra ia vociferando com os meusbotões, cada vez mais amarelos!

Tenho de arranjar uma estratégia para mefurtar à alhada em que estou metido! Eu eobviamente, o oficial superior responsá-vel pela esquadra...

Se tenho a veleidade de chegar ao pé deum militar que se preze e dizer-lhe, assima frio, que venho liquidar a multa, amando do Almirante Comandante Navaldo Continente, o mínimo que me poderiasuceder com toda a justificação era ser“arrecadado” o resto do dia, não fosse euter a pretensão de repetir uma façanhadeste tipo com outro qualquer militarcom algum sentido de hierarquia.

Ao chegar, o motorista estacionou “dis-cretamente” o carro em cima do passeio;depois de me identificar devidamente naportaria, indaguei pelo oficial responsá-vel por quem fui recebido e a quem expusa minha angústia:

“Não haverá maneira de resolver o pro-blema?”

“– Só um minuto, Sr. Tenente”. Foi ládentro, regressou após um curto espaçode tempo e disse-me: “– Diga ao Sr. Al-mirante que está tudo resolvido!”.Agradeci e retirei-me.

Regressado ao Comando Naval, fui tercom o Almirante comunicando-lhe o re-sultado das minhas diligências e devol-vendo-lhe simultaneamente a quantiaentregue.

“– Então Lema, você não pagou amulta?”

“– Não, Sr. Almirante. Não foi necessáriorecorrer a esse processo!”

O Almirante franziu o cenho, como deresto lhe era comum, ficou a olhar paramim e rematou: “– Não foi propriamentea forma que mais me agradou!”

Com a irreverência que me caracterizaainda hoje e a convicção de ser paren-te, ainda que muito afastado, do homemdo leme, retorqui-lhe: “– Não faz malSr. Almirante, pode ser que haja umapróxima vez e na oportunidade proce-derei de acordo com as instruções doSr. Almirante...

Percorreu-me um arrepio e tenho ideia deque os meus cordões de ajudante tambémtremeram!

O Almirante franziu perigosamente ocenho, crispou o perfil austero por umafracção de segundo, fixou-me com umolhar penetrante... mas despregou-se a rir.

Quando me retirei ainda sorria.

À MARGEM DA ENTREVISTA

ENTREVISTA COM O VICE-ALMIRANTE FRANCISCO FERRER CAEIRO

...“O que aqueles rapazes foram na Guiné nãotem paralelo”...

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ponto de vista de estratégia quer do pontode vista de integração?

A.F.C. - É muito simples. As impressõesque colhi nessa altura são as que prevale-cem actualmente.

Nos oficiais RN com quem lidei em varia-díssimas situações, desde o comporta-mento em combate até à postura nossalões da diplomacia que a Marinha seorgulha de pisar o melhor que pode esabe, encontrei sempre a melhor respostaque poderia obter.

Julgando estar a interpretar a verdade dosfactos que tão importante é para mim, etendo em conta a fama de “mau” quegranjeei, arrisco afirmar que os oficiaisRN que comigo conviveram e serviram,não colheram essa impressão da minhapessoa.

Sempre me dei muitíssimo bem comesses rapazes.

Nunca me divorciei da juventude, atéporque nessa altura estava bem próximada minha própria juventude; através deum dos meus filhos, senti a crise acadé-mica, a confusão, o descontentamento.

Servindo o País como eu servi, considereisempre como componentes do dever mi-litar a disciplina e o sentido de justiça,procurando, em cada situação, distinguiro trigo do joio. Foi necessário articularesses conceitos garantindo que o País, emguerra, prosseguia o seu caminho comdignidade.

Foi com este sentimento que recebi aentrada dos Oficiais da Reserva Naval.

AORN - Como avaliaria, para ambas aspartes, a integração na Marinha de GuerraPortuguesa de um universo de quase3.000 oficiais da Reserva Naval, oriundosde todas as áreas profissionais que, aolongo de quase 40 anos, desfilaram peloquadro dos Oficiais da Armada?

A.F.C. - Bem depressa me apercebi que osoficiais RN se enquadravam totalmente nosobjectivos que prossegui no desempenhodas minhas funções. Entendíamo-nos per-feitamente e, as pequenas discrepâncias queexistiram resultaram tão somente de diferen-ças de personalidade normais no convívioentre seres humanos. Esses rapazes eram

praticamente da geração dos meus filhos,com pouca diferença. Comportaram-sesempre com a Marinha de Guerra de umamaneira digna, ao contrário talvez daquiloque ouvia comentar a camaradas meus doExército e da Força Aérea. Eram e sempreforam uns tipos “pacholas”.

Tudo isso se elevou a um nível extraor-dinário de grande admiração, de grandeconsideração durante a guerra (do Ultra-mar) na Guiné. O que aqueles rapazesforam na Guiné não tem paralelo: houveuma dedicação total e levaria talvezalgum tempo a espraiar aquilo que passá-mos juntos e que não cabe aqui relatar. Osrapazes dos Fuzileiros então foram mes-mo meus filhos.

AORN - Permite-me recordar-lhe o epi-sódio atrás relatado sob o título “ À margemda entrevista” e comentá-lo?

A.F.C. - Está a contar factos que induzemdemonstrar que eu não era, afinal, “a fera”que se dizia. Era bem diferente disso. Aselecção desses factos mostra, só por si, opropósito que os trouxe hoje até mim e odever de lhes estar muito agradecido por-que através de provas dessa natureza é quese consegue demonstrar que, muitas vezes,conclusões transcendentes devem ser tiradasde factos aparentemente simples.

Só por isso, faço questão de lhes mostrara minha gratidão.

Não quero com isto dizer que todos osfactos da minha vida sejam assim tão alea-tórios quanto esses; como toda a gente,

Num momento de recolhimento e concentração

No “salote” de recordações, um desfile interminável!

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tenho pecados que lastimo. Lastimo masnão os renego com a facilidade que nor-malmente temos em renegar as asneiras quecometemos; é melhor assimilarmos as as-neiras como asneiras que foram porque,como alguém dizia, essas asneiras “falarama tempo” e vieram trazer elementos parauma justiça que nós próprios desejamos.

AORN - Numa carreira militar com umavertente invulgar na Aviação Naval so-mando, para lá de outros aspectos, 3412horas de voo, pode transmitir-nos algodessa experiência?

A.F.C. -Adificuldade é responder em ex-tensão aceitável. Isso representa na minhavida algo que só não considero a maisimportante faceta dessa mesma vidaporque tenho que pôr, acima de tudo, a mi-nha família e, sobretudo, a minha mulher.Acho que não consigo compreender aminha vida desligada desses elementos.Também não posso dizer que esses factosforam os mais importantes por que tenhomedo de estar a cometer uma injustiçapara com a Marinha de Guerra. Antes deser aviador quis ser marinheiro! Depoisde ser marinheiro, fui aviador! Com muitavocação, muito entusiasmo mas não queroestabelecer comparações: é quase como per-guntarem-me de qual dos meus dois filhoseu gosto mais. É impossível responder!

A Aviação e a Marinha são as minhasmães: a aviação, com aspectos muitoparticulares, teve para mim algo que meprendeu de uma forma muito especial,tendo de confessar, com tristeza e até comreceio, poder estar a atraiçoar o que, naminha vida, foi sempre mais importante.

A Marinha foi sempre uma cadela para aAviação Naval! Desculpe o desabafo mastrata-se da vontade de ser exacto, correc-to e justo. Elas foram sempre irmãs e con-tinuam a sê-lo, mas essas duas mães quetive nunca se entenderam e a Marinha tra-tou sempre com profunda injustiça aAviação Naval.

Como dizia o Sacadura Cabral “a Mari-nha não gosta de gostar!” nem da suaprópria irmã que era a Aviação Naval.Esta é a explicação mais benevolente queposso encontrar porque, na verdade einfelizmente, o meu mau fundo diz-meque a origem foi outra: a Aviação Navalganhava mais uns tostões que não eramnada, comparados com o facto de 25,6%dos pilotos que para lá foram morreremem desastres de aviação.

AORN - O Museu da AORN é hoje umarealidade em curso, embora ainda comalgumas limitações de espaço que nãonos permitem expôr e conservar devida-mente todo o enorme espólio disponível:

documentos, fotografias, equipamentos,artesanato, condecorações, etc.

A AORN veria com todo o empenho aliadoao prestígio que tal traria à nossa Instituição,que o Sr. Almirante estivesse representadono nosso Museu com algo cujo significadomantenha viva a recordação das largas de-zenas de oficiais da Reserva Naval quedirecta ou indirectamente desfilaram pelasUnidades que dirigiu ou comandou.

Podemos deixar esta possibilidade em aber-to para consideração do Sr. Almirante?

A.F.C. - Com certeza. Para já a minhamotivação é a mais forte e sentimentalpor aquilo que já lhes disse. A maneiracomo isso poderá acontecer é que não meocorre de imediato. Falta-me o engenho earte para resolver isso já. Tenho receio deque o que eu decida possa ser considera-do uma forma de um indivíduo se gabar aele próprio.

Ao fim ao cabo, ninguém me gaba melhordo que eu!

Manuel Lema Santos8º CEORN

9/3/1964O Cmg Francisco Ferrer Caeiro assume ocomando do NRP “Bartolomeu Dias”que lhe foi entregue pelo Cmg Carlos AlbertoTeixeira da Silva

1935 - Aveiro - “Escola Gago Coutinho”José Casimiro Alcobia Freitas Ribeiro (2º Ten AV), Manuel Antunes Cardoso Barata (2º Ten AV),Alberto Henrique Ferreira Bastos da Costa e Silva (2º Ten AV), Francisco Ferrer Caeiro (2º Ten AV) eHenrique Owen Pinto de Barros da Costa Pessoa (2º Ten AV)

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No dia 10 de Maio deu-se início aoCiclo de Conferências Nacio-nais promovido pela AORN.

No Palácio da Bolsa do Porto, o PresidentedaAssembleia Geral daAssociação, ErnâniRodrigues Lopes, proferiu a primeira dasconferências sob o título “Política de Coo-peração com os Países Africanos - Passadoe Futuro”. Presentes mais de duzentosassistentes, com larga representação deOficiais da Marinha de Guerra, Cadetesda Escola Naval, membros de Embaixadasde Países Africanos de Língua Portugue-sa e muitos RN’s.

Abriu a sessão o Presidente da AssociaçãoComercial do Porto, Virgílio FolhadelaMoreira, também ele um ex-Oficial daReserva Naval que, nessa dupla qualidade,agradeceu a presença de todos e se congra-tulou pela escolha feita pela AORN de darinício a este ciclo, no ambiente da magnífi-ca Sala Árabe do Palácio da Bolsa.

Ao longo de duas horas, numa brilhanteexplanação, Ernâni Lopes manteve a assis-tência vivamente interessada, proporcionan-do no final um interessante debate.

O Almirante Nuno Vieira Matias, Chefedo Estado Maior da Armada fez-se repre-sentar pelo Almirante Luís Joel Pascoal,Presidente da Comissão Cultural da Ma-rinha que, na mesa de honra, esteve acom-panhado pelos Presidentes da Direcção e do

Conselho Fiscal daAORN, respectivamenteAntónio Rodrigues Maximiano eAlípio Diase pelo Presidente da Associação Comercialdo Porto, Virgílio Folhadela Moreira.Seguiu-se um jantar nas caves da RealCompanhia Velha, com a presença de

mais de cem convidados, nomeadamenteo Almirante Botelho Leal, Sub-Directordo Instituto Superior Naval de Guerra, oAlmirante Luís Roque Martins, Directorda Revista da Armada e o Almirante Joa-quim Espadinha Galo.

NOTÍCIAS

Aspecto geralda assistência

A Mesa de honra

Dois momentos do jantar nas caves da Real Companhia Velha

CICLO DE CONFERÊNCIAS NACIONAIS

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Quando a Associação dos Oficiaisda Reserva Naval estabeleceu co-mo prioritário dar a conhecer o

que foi a História da passagem dos seusmembros pela Marinha, existia, no intímode cada um, a certeza de que esse projec-to iria preencher uma grande lacuna naHistória da própria Marinha de GuerraPortuguesa.

Sentimos, desde a primeira hora, o reavivarde uma estreita ligação que uniu Oficiais doQuadro Permanente e Reserva Naval du-rante longos períodos. Difíceis para uns,mais fáceis para outros, mas para todos pro-fundamente marcantes numa etapa dajuventude que, naturalmente, nos orientamesmo inconscientemente, nas constantesdecisões da vida.

Quatro anos na existência de uma Associa-ção não são nada. Melhor, não seriamnada se durante este reduzido tempo nãotivéssemos testemunhado o alto preço emque a Reserva Naval é tida hoje pelo seupassado, embora, na época, não fizesseparte do nosso imaginário essa situação.

É certo que o tempo das ilusões, paramuitos, já lá vai. Seremos porventura, douniverso de civis que algum dia vestiuuma farda militar, os únicos que respei-tam o seu passado fazendo questão de odivulgar mesmo contra tendências gene-ralizadas de pseudo responsáveis quefazem da falta de vergonha a sua coroa deglória.

E neste trabalho de mostrar aos outros oque foi a História da Marinha desde que a

Reserva Naval nela foi incorporada, estátoda a teimosia de quem tentou aprendercom grandes Mestres as mais nobres vir-tudes humanas.

O dia 31 de Agosto de 1999, constituiu pa-ra quem teve o privilégio de estar, nessedia, em casa do Almirante FranciscoFerrer Caeiro, dos mais notáveis mo-mentos da ainda curta vida da AORN.

Profundamente ligado à História daMarinha na Guiné, e não apenas entre1964 e 1967, o Almirante Ferrer Caeiro éfigura marcante na História da ReservaNaval, não faltando testemunhos a com-prová-lo.

Quando a AORN decidiu entrevistar oAlmirante Ferrer Caeiro e publicar o textorespectivo numa das suas Revistas, nãoimaginávamos que o desfecho desse en-contro tomaria a forma de um acto do maisrelevante significado para esta Associação.

Foi a AORN honrada com o privilégiode ser a fiel depositária do mais valioso

espólio de um Marinheiro como o Almi-rante Francisco Ferrer Caeiro - a suavasta panóplia de Medalhas e Condeco-rações, conjuntamente com as Asas daAviação Naval onde permaneceu durantemais de vinte anos.

Brilhante nas palavras que dirigiu àAORN no acto, comovente nos sentimen-tos que demonstrou e sobretudo corajosona decisão de deixar sair de sua casa oque certamente constitui o mais sagradodo seu espólio militar - as suas medalhas,o Almirante Ferrer Caeiro foi mais umavez o Mestre que, fardado ou à paisana,marcou a Reserva Naval com o timbre dafrontalidade, da coragem e da amizade.

Não nos cabe fazer juízos sobre as car-reiras militares dos Oficiais de Marinha.

Nessa tarefa, outros certamente maishabilitados o farão com todo o rigor.

Sentimo-nos, no entanto, com autoridadepara incorporar na História da ReservaNaval a vida do Almirante FranciscoFerrer Caeiro, um notabilíssimo Oficialda Marinha de Guerra Portuguesa, de-monstrando que, na segunda metade doséculo XX, a História da Marinha e a daReserva Naval são uma e única História.

O MUSEU DA RESERVA NAVAL

“Honra-me deixar aquia minha gratidão paracom quem tão significa-tivamente contribuiupara os êxitos que meforam creditados”

Alm. Francisco Ferrer Caeiro14 de Julho de 1999

A expressão máxima de um testemunho que dispensa comentários

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Odia 14 de Julho de 1999 constituiu,para a AORN, uma data de vira-gem na sua curta existência.

Testemunhado por cerca de trezentas pes-soas, a Fragata D. Fernando II e Glóriafoi cenário de um encontro onde, paraalém do dia festivo comemorado, foi as-sinado o Protocolo com a Marinha deGuerra para utilização do Torreão Poente

do Edifício da Fábrica Nacional de Cordoa-ria, onde a Associação projecta instalar asua Sede Nacional e um Museu, perpetuan-do a Reserva Naval na História da própriaMarinha Portuguesa.

O Almirante Nuno Vieira Matias, Chefedo Estado Maior da Armada representandoa Marinha de Guerra Portuguesa e os Pre-sidente e Vice-Presidente da Direcção da

AORN, respectivamente António Rodri-gues Maximiano e Alfredo de LemosDamião, pela Associação de Oficiais daReserva Naval, oficializaram o Documentoque permitirá relançar o projecto que em14 de Julho de 1995 os ex-RN, reunidosna Casa da Balança, decidiram iniciar:

“Desde meados do século XVIII temestado atribuído à Marinha de Guerra

Portuguesa a utilização, fruição e con-servação do notável edifício da FábricaNacional de Cordoaria, sito na rua daJunqueira, freguesia de Santa Maria deBelém, em Lisboa.

Pela sua excepcional dimensão e ca-racterísticas, o Edifício da Fábrica Na-cional de Cordoaria permite utilizaçõesmúltiplas, diversificadas e autónomas,

reconhecendo-se como desejável que asua utilização predominante tenha estrei-tas ligações à Marinha e a esta pertença asupervisão da sua fruição e conservação.

Existem áreas consideráveis do edifíciohá muito desactivadas e sem utilização,situação de que, inevitavelmente, resultauma progressiva deterioração da sua es-trutura física e da sua operacionalidade.

A AORN é uma Associação sem finslucrativos que congrega todos aquelesque, como Oficiais da Reserva Naval,serviram Portugal, integrados na Mari-nha de Guerra.

A AORN, numa reiterada afirmação dequerer continuar uma ligação à Mari-nha de que se orgulha, manifestou odesejo de instalar, em áreas desactivadas

O 4º ANIVERSÁRIO DA AORN

O Almirante do Chefe de Estado Maior da Armada cumprimentado porErnâni Lopes e Rodrigues Maximiano a bordo da Fragata.

O Vice-Almirante Carlos Magalhães Queiroz, Director do Instituto SuperiorNaval de Guerra

O Vice-Almirante José Manuel Castanho Paes, Superintendente do Serviço dePessoal e Rodrigues Maximiano

A chegada do Vice-Almirante Luís Mota e Silva, Superintendente do Serviçode Material, cumprimentado por Ernâni Lopes.

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do Edifício da Fábrica Nacional de Cor-doaria, a sua Sede Nacional e os seusserviços de apoio à melhor actuação dosseus elevados fins estatutários.

AMARINHA, reconhecendo os elevadosserviços prestados pela sua ReservaNaval e atendendo aos valores e fins quea AORN prossegue, viabilizou a cele-bração de um Protocolo em que estaAssociação é autorizada a utilizar, narealização dos seus fins estatutários, o

Torreão Poente do Edifício da FábricaNacional da Cordoaria, para nele pro-ceder à instalação e funcionamento dasua Sede Nacional, Zona de Convívio,Biblioteca e Museu.

Os trabalhos de recuperação, manu-tenção, conservação e benfeitorias sãoencargo da AORN, que procederá aostrabalhos necessários sob aprovação efiscalização da Direcção de Infra-Estru-turas da Marinha”.

O excerto do texto do Protocolo, repro-duzido do original assinado, reporta-se àocupação de uma área de dois pisos, ondefuncionaram as instalações fabris da an-tiga Alfaiataria e Tinturaria da FábricaNacional de Cordoaria, estendendo-sepor cerca de 1800 m2, sendo o piso térreodestinado totalmente ao Museu da Re-serva Naval.

O acto revestiu-se de grande solenidade,com intervenções brilhantes de António

José Pires de Lima durante a leitura do Protocolo O Almirante Nuno Vieira Matias proferindo o seu discurso

Ernâni Rodrigues Lopes, na sua intervenção na cerimóniaO Almirante Nuno Vieira Matias e António Rodrigues Maximiano no acto deassinatura do Protocolo

António Rodrigues Maximiano na sua alocução Após a assinatura, a troca dos documentos entre o Almirante CEMA e oPresidente da Direcção da AORN

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Rodrigues Maximiano e de ErnâniRodrigues Lopes, salientando o primeiroo significado da cerimónia ter lugar nomais antigo e carismático navio da Mari-nha de Guerra Portuguesa e do Protocolose referir à ocupação do Torreão Poenteda Fábrica Nacional de Cordoaria, sim-bolizando o Ponto Cardeal que nos man-tém unidos ao Mar.

O Presidente da Assembleia Geral, ErnâniLopes, historiando a vida da AORN, real-çou a ligação profunda que continua aexistir entre a Marinha de Guerra e a suaReserva Naval, mesmo para aqueles que

por ela passaram em período curto dassuas vidas.

A presença de tantos neste dia de aniver-sário da AORN e o trabalho já realizadoem apenas quatro anos de existência, pro-va a marca que cada RN deixou e certa-mente também recebeu da Marinha.

Uma referência especial e um agradecimen-to de Ernâni Rodrigues Lopes para os SrsAlmirantes e também para o grande númerode Oficiais que, com a sua presença, quise-ram honrar esta cerimónia, reiterando àAORN o reconhecimento da sua valia, den-tro da instituição militar a que pertence.

Nas palavras que proferiu na ocasião eque se transcrevem na íntegra, o Almi-rante Nuno Vieira Matias, Chefe doEstado Maior da Armada, transmitiu deforma perfeita o sentimento existenteentre a Marinha de Guerra Portuguesa e asua Reserva Naval:

“A assinatura do Protocolo que hoje écelebrado, consagrando a utilização departe do edifício da antiga Fábrica deCordoaria para instalação da SedeNacional da Associação dos Oficiais daReserva Naval, tem para a Marinha,um profundo significado.

Congregando insignes concidadãos queserviram Portugal, na Marinha, duran-te um período difícil da nossa Históriarecente, a AORN, por direito próprio,faz parte da família naval que se orgu-lha de ter contribuído para edificar aNação que somos.

A sua reiterada afirmação de querercontinuar uma ligação à Marinha,testemunha, de forma irrefutável, quevaleu a pena passar pelas suas fileiras,vivendo bons ou maus momentos, massempre num salutar clima de camara-dagem e de entreajuda que insiste emperdurar.

E representa também, o sentimento deque a Marinha é legítima pertença detodos aqueles que nela deixaram umpouco de si própios, ao defenderemcom determinação e, por vezes comsacrifício pessoal, os interesses do País.

Estes laços, naturalmente estabelecidosentre a Corporação e a AORN e que hojesão reforçados, simbolizam alicerces decuja solidez depende, em grande parte, o

... acompanhada peloguitarrista Paulo Sousa

A assistência escutandoa brilhante actuaçãoda sopranoCristina Almeida...

Troca de presentes entre António Rodrigues Maximiano e o Cte Adriano Beça Gil O Comandante Armando Saturnino Monteiro e José Pires de Lima

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sucesso da Marinha. Sucesso no cum-primento das missões que a Nação lheconfia, mas também na sua acção em-preendedora de estimular o espírito damaritimidade, que constitui uma base deidentidade nacional.

Coube-me o privilégio de assinar esteProtocolo, dando rosto a uma Marinhaapostada em apoiar, dentro do possível,os marinheiros de coração que lhe dãoalma.

Nesta atmosfera naval, em que o peso dastradições e a memória dos navegadoresdo passado fazem apelo ao sentido da

responsabilidade dos marinheiros daactual geração e reforçam o nosso espíri-to de corpo, é com a maior satisfação queexpresso à AORN, a gratidão da Mari-nha pela notável iniciativa que se propôslevar a cabo.

Formulo votos sinceros para que aAORNalcance as metas que tem definidas,realizando os seus elevados fins estatu-tários, conferindo a desejada pereni-dade ao seu projecto e fazendo crescera família naval que, conjuntamente,continuará a prestigiar a Marinha dePortugal”.

Contribuindo para o elevado nível da ce-rimónia, a soprano Cristina Almeida,acompanhada pelo guitarrista PauloSousa, apresentou alguns números decanto lírico, numa actuação de grandebrilhantismo, repetindo a presença já ve-rificada em outros encontros da AORN.

Evitando eventuais injustiças por omissão,não fazemos referência individualizada atantos que, ligados à nossa História, noshonraram com a sua presença neste dia14 de Julho de 1999.

A todos deixamos o nosso reconhecimen-to pelo significado do seu testemunho.

Ernâni Rodrigues Lopes em convívio Pedro Valle Teixeira (19º CFORN), Vasco Quevedo Pessanha (7º CEORN) eAntónio Pessanha (11º CEORN)

Aspecto geral do encontro

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Assentei praça na Marinha em1961.10.06, como cadete fuzilei-ro da Reserva Naval - 1º Curso de

Fuzileiros - Curso Nuno Tristão.

Chamo-me João Marcelino Machado Bra-vo Queiroz, sou Professor de EducaçãoFísica, já o era quando cheguei à Mari-nha e, vivo e trabalho no Porto.

Naquele tempo os Cadetes da RN de todasas classes faziam o 1º ciclo na Escola Naval,passando pela Escola de Artilharia, Limi-tação de Avarias e um mês em Vila Franca,para aprender a “comunicar”.

Só depois do Natal de 1961 eu e os meuscamaradas de então nos apresentámos naEscola de Fuzileiros.

Desde já digo que tivemos tratamento de“Príncipes”.

Porquê?

Eu e os meus colegas de curso do InstitutoNacional de Educação Física - INEF -- Fonseca e Costa e Melo de Carvalho, co-nhecíamos os então 1ºs Tenentes Patrício e

Metzner que tinham sido nossos colegas no1º ano do INEF quando aqueles oficiais láestiveram a tirar a especialidade de Edu-cação Física. Embora os tratássemos por tu,nunca deixámos de realizar com disciplina erespeito “o que aquelas cabecinhas inven-tavam para nos torturar”.

Os crosses no lôdo, as idas à Serra daArrábida, os “trotes” depois do jantar àvolta da mata da Escola, para além dos“sustos” nas pistas, com as subidas a umeucalipto como ponto de partida para a

descida em slide. Eram muitos e muitosmetros sempre sem pôr os pés no chão.

Lembro com saudade o Comandante da Es-cola o Cap. Ten. Maxfredo da CostaCampos e ainda o 1º Tenente Santos Patrícioe os 2os Tenentes Vasconcelos Caeiro, Pas-coal Rodrigues e outros cujos nomes aminha memória já não recorda. De todosguardo gratas recordações.

Já vai longo o intróito e não estou a escre-ver para falar de mim e de tão belos tempos,mas sim para vos dizer algo de CÃES.

Assinalamos, no entanto, o agradecimentoao Comandante da Fragata D. Fernando II eGlória,CMGAdriano Beça Gil, pelo apoioque desde a primeira hora prestou à AORNna organização das cerimónias deste dia,contribuição sem a qual não seria possível

atender eficazmente a todos os pormenores.De referir, pelo seu especial significado,o convite que o Comandante do Navio fezaos Oficiais da Reserva Naval presentesna hora do “Arriar da Bandeira”, cerimó-nia em que, sob a voz de comando do

Comandante Beça Gil, a AORN esteverepresentada pelo RN mais antigo nomomento, Frederico Blanc de Sousa, do3º CEORN.

A. Oliveira Brás (23º CEORN), C. Guedes de Amorim (20º CEORN), A. LemosDamião (15º CEORN), Cte A. Beça Gil e A. Rodrigues Maximiano (20º CEORN)

Oliveira Brás (23º CEORN), José Pires de Lima (4º CEORN), Herculano Ferreira(18º CEORN), Cte Saturnino Monteiro e o Alm. Espadinha Galo e mulher

EU E OS CÃES DA ARMADA

Dogue Alemão

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Exactamente, de CÃES.

Desde que me conheço, há 63 anos, queem minha casa conheci os cães, a “Fly” e o“Pinóquio” - Terrier - os meus primeiroscompanheiros. Depois dois Boxer, o “Alca-lá”, comprado em Espanha na minhaviagem do 7º ano do Liceu, baptizado comsal e vinho emMadrid na avenida deAlcaláe a “Narucha” que comprei, em Lisboa, aumOficial deMarinha de que não recordo onome. Por último, dois Doberman - o “Do-verak” e a “Gigi” a qual tive de mandarabater, pois sofria de uma grave crise cardía-ca que a levaria a uma agonia que eu nãoteria coragem para presenciar. Foi a minhacompanheira e da Família nos últimos 11anos. Um desgosto!

E agora aqui vão seis PastoresAlemães quetive durante uns tempos, naquele que con-sidero a minha segunda casa - a Base NavaldoAlfeite e o Centro de Educação Física daArmada, onde fui colocado comoAspiranteRN com o meu colega Fonseca e Costa.

Era entãoComandante da 6ª Repartição e doCEFA o Comandante António da CostaPereira, no qual reconhecíamos qualidadesde “marinheiro”, mas que sempre nos tratoucom amizade e deferência.

Trabalhámosmuito pelo CEFA, que pratica-mente foi organizado por nós.

Trabalhámos todos juntos numa sala daEscola Naval que era o antigo gabinete deOficial de Serviço.

Passámos depois para umas pequenas insta-lações na Base Naval de Lisboa, junto àrampa que dá acesso à Escola Naval.E foi na qualidade de oficial - Aspirante edepois promovido a Sub-Tenente - que, naaltura, o Comandante da Base Naval deLisboa me chamou e me disse sem rodeios:“Vai ficar responsável pelo Canil da Base!Fale com os tratadores.”Fiquei siderado! Gosto e já naquela alturagostava muito de cães mas não percebianada de treino nem do seu tratamento.Era na altura Comandante da Base o Almi-rante Paulo Viana totalmente careca (peçoperdão) e que infundia um respeito enorme(alguns tinham um certo “medo”) especial-mente o Oficial de Serviço da Base, quandoo Almirante resolvia pernoitar no palácioaos fins de semana.Bom, para além do meu serviço normal noCEFA, lá fui ver os canis, um pequenoespaço, melhor, umas gaiolas. Sujas, umaração de carne que era só gordura, e os trata-dores lá me foram elucidando como faziamos treinos.Eu percebia alguma coisa de treino, maspara homens. Pensei e disse cá para mim:Como aplicar alguns princípios do treinorelacionados com a resistência e a veloci-dade ao treino dos cães?E assim, introduzi algumas melhorias.A higiene e limpeza das gaiolas foram me-lhoradas. Havia “baldeação do convés”duas vezes por dia. A comida melhorou:uma conversa com o Despenseiro da Messee tanto bastou para que os cães comessem “àMarinha”.O treino de obediência e obstáculos conti-nuou conforme os tratadores já faziam, sótendo sido melhorada a postura dos trata-dores, dos quais infelizmente já não lembroos nomes.Quanto ao treino físico, a mata do Alfeiteservia às mil maravilhas. Não vou ser fas-tidioso, mas até “interval training” os cãesfizeram.Um dia, o Almirante Paulo Viana chamou--me e disse: ”Inscrevi os cães na ExposiçãoCanina Internacional de Lisboa. Trate dostransportes, leve os cães e os tratadores. É jáno Sábado e Domingo próximos.”

E lá fomos. Fardas lavadas e passadas dostratadores, eu de farda azul, cães escovados,

trelas limpas... enfim, os preparativos paraas grandes ocasiões.

Na FIL, local de Exposição Canina, os cãesfizeram um sucesso.

“Olha a Marinha já tem cães!”. “São para irpara o Ultramar?”. “Posso pôr-lhe a mão?”.“Vão embarcar em navios?”. “São dóceis?”.“Atacam?”

E quando desfilámos... muitas palmas, foto-grafias, e até filmados para as ActualidadesPortuguesas - documentário que era sempreexibido antes dos filmes que passavam naaltura nos cinemas do país.

Prémios, taças, mas o melhor prémio foiquando me vi no documentário cinemato-gráfico, duas semanas depois, quando fuiver um filme ao S. Jorge.

O Sub-tenente Bravo Queiroz com um cãopela trela e com os cinco tratadores atráscom os seus cães e eu a fazer uma continên-cia cheio de orgulho.

O Almirante Paulo Viana apareceu na FIL,assistiu à entrega dos prémios e veio falarcomigo e com os tratadores. Com um sor-riso deu-nos os parabéns pelos resultadosobtidos e disse: “Vão lá para o Alfeite poisestão nisto há 48 horas!” Era já meia-noite.Eu, com um sorriso e um pouco irreverente,disse: “Muito obrigado, Sr. Almirante, va-mos para o Alfeite pois nós já não sabemos“se falamos ou se ladramos”.

“O Sr. Almirante determina mais algumacoisa?”

Tudo acabou com sorrisos.

João Bravo QueirozFZ - 4º CEORN

“Alga de Vale do Zebro”

“Leonberg”

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ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA DA AORN

Realizou-se, no passado dia 3 deJulho, a Assembleia Geral Extraor-dinária da AORN, com a seguinte

ORDEMDE TRABALHOS:“Apreciar e votar Propostas de Altera-ção dos artigos 5º, 6º e 7º dos Estatutosda AORN - Associação dos Oficiais daReserva Naval.”O tema, já abordado em anteriores encon-tros da AORN e sobre o qual muitasopiniões e sugestões foram apresentadas,encontrou nesta Assembleia a redacçãoconsensual, permitindo alargar o conceitode sócio a um universo mais de acordocom os interesses da Associação.A Direcção realizou um estudo sobre alegislação em vigor acerca da prestaçãodo serviço militar na Marinha de Guerrae, face a diversas outras situações de inte-ressados em aderirem à AORN, entendeupor bem dar o seu contributo para umasolução que, em definitivo, viesse trazernovas perspectivas à Associação.O debate estabelecido permitiu corrigiralguns conceitos, melhorar o articulado eintroduzir novas formas às sugestões apre-sentadas pela Direcção, sendo convicçãogeral que a redacção, que a seguir se trans-creve na íntegra, se apresenta com o textomais adequado para legalização de novascategorias de sócios da AORN.Nova Redacção dos artigos 5º, 6º e 7ºdos Estatutos da AORN

Artigo Quinto - Dos AssociadosUm: A Associação é constituída por Só-cios Originários, Sócios Efectivos, Sóciosde Mérito, Sócios Honorários e SóciosDescendentes.

a) Podem ser Sócios OrigináriosTodos os que tenham servido comoOficiais da Reserva Naval da Mari-nha de Guerra Portuguesa, criada peloDec. - Lei nº 41399 de 26 de Novem-bro de 1957.b) Podem ser Sócios EfectivosTodos os que, como Oficiais, tenhamprestado serviço militar obrigatóriona Marinha de Guerra Portuguesa e,tendo ou não passado ao Regime de

Contrato (RC), tenham já passado àsituação de disponibilidade ou ingres-sado no Quadro Permanente (QP) daMarinha de Guerra Portuguesa.c) Podem ser Sócios de MéritoTodos os que, como Oficiais, tenhamprestado serviço na Marinha de GuerraPortuguesa e, integrando-se no espíri-to da Reserva Naval e da AORN, porproposta fundamentada de seis sóciosOriginários, sejam admitidos pordeliberação da Assembleia Geral.d) Podem ser Sócios HonoráriosTodas as pessoas, física ou colectivas,que por actos meritórios praticados paracom a Reserva Naval ou para com aAssociação, mereçam essa distinção.e) Podem ser sócios DescendentesOs descendentes de todos os Oficiaisreferidos nas alíneas a) e b) do Ar-tigo Quinto.

Dois: A qualidade de Sócio Originário ede Sócio Efectivo adquire-se pela ins-crição com pagamento da jóia.

Artigo Sexto - Direitos dos SóciosUm: São direitos dos Sócios Origináriose dos Sócios Efectivos:

a) Elegerem e serem eleitos para osorgãos sociais da Associação.b) Usufruírem das vantagens resul-tantes da actividade da Associação.c) Serem assistidos pela Associação eutilizar os serviços nas condições quevierem a ser estabelecidas nos Regu-lamentos Internos.d) Reclamar dos actos que consideremlesivos dos direitos daAssociação e dossócios.e) Serem informados das actividadesda Associação, examinarem as con-tas, os orçamentos, os livros de con-tabilidade e os livros de actas, nos ter-mos dos Regulamentos Internos.f) Usar o distintivo daAssociação queé pessoal e intransmissível.

Dois: São direitos dos Sócios de Mérito edos Sócios Honorários:

a) Os consignados nas alíneas b), c) ef) do número anterior.

b) A isenção de jóia e quota.Três: São direitos dos Sócios Descen-dentes:

a) Os consignados nas alíneas b), c),d), e) e f) do número Um.b) O valor da jóia e da quota é reduzi-do a metade.c) Poderem ser considerados “Descen-dentes Júniores”, se assim o solicitarem,sendo o limite máximo de idade trintaanos.d) Poderem requerer à Direcção daAssociação a qualidade de sócio Efe-ctivo, desde que decorridos cincoanos como associados e terem, pelomenos, trinta anos de idade.

Artigo Sétimo - Deveres dos SóciosUm: São deveres dos Sócios Origináriose dos Sócios Efectivos:

a) Acatar os preceitos estatutários eos Regulamentos da Associação, bemcomo as deliberações dos seus orgãossociais.b) Participar na vida da Associaçãocontribuindo activamente para a reali-zação dos seus objectivos.c) Comportar-se com dignidade por for-ma a honrar e prestigiar a Associação.d) Exercer os cargos para que foremeleitos.e) Pagar atempadamente as quotasque forem estabelecidas.

Dois: São deveres dos Sócios de Mérito edos Sócios Honorários os constantes dasalíneas a) e c) do número anterior.Três: São deveres dos Sócios Descen-dentes os constantes das alíneas a), b), c),e e) do número Um.Quatro: A Direcção, sob proposta de doisSócios, Originários e/ou Efectivos, poderádispensar do pagamento total ou parcial dajóia e/ou quotas, os associados que consi-dere não possuírem condições para supor-tarem o encargo durante o tempo em que talsituação se mantiver.Cinco: Os Sócios que tenham em atrasoo pagamento de seis ou mais quotas, fi-carão com os seus direitos suspensos atéregularização da situação.

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Implantado majestosamente noAtlânticoNorte, o arquipélago dos Açores, cujaorigem vulcânica explica a frequência

das crises sísmicas, foi descoberto no sé-culo XV por Diogo de Silves, da Casa doInfante D. Henrique. É constituído por noveilhas, sendo a maior e mais povoada (com150.000 habitantes) São Miguel, com a suacapital Ponta Delgada.

O clima temperado marítimo e mediter-rânico permite-lhe deter uma flora luxuri-ante, numa mistura colorida de hortênsiase azáleas que retalham os prados verdes,tornando a paisagem de uma beleza rara einvejável aos olhos do mundo.

Nas palavras de Alfredo Lemos Damião,o chefe da Missão da AORN do Conti-nente, na sua intervenção na cerimónia de

entronização do Núcleo, “os Açores são,indubitavelmente, uma prova da inter-venção Divina no Acto da Criação - sóum Ser Superior e Omnipotente criarialugar tão belo!”Foi nesta ilha que a pequena comitiva daAORN, constituída por cinco elementos,três dos quais acompanhados das mu-lheres, aterrou para uma fraternal visita eentronização do Núcleo da Associação.Foi a oportunidade para estreitar laços deamizade, partilhar objectivos e envolver,no projecto, outros oficiais de Marinha.Foi a promoção da AORN nas ilhas e oincentivo para a criação de um espaçopara a actividade do Núcleo dos Açores.

À paisagem natural, associou-se o calorhumano com que fomos acolhidos. Tão

grande, que dissipou as habituais nuvensdo céu açoreano, presenteando-nos comum dia de Sol brilhante.Na manhã do dia 27, a apresentação decumprimentos ao Comandante da ZonaMarítima dos Açores, Almirante JaimeMontalvão e Silva, a quem foi oferecidaa Cresta da AORN e expostos os objec-tivos da Associação, foi o nosso primeiroacto após o “tocar à faina”.No “apito”, Carlos Teixeira da Silva, umveterano Fuzileiro, comandava o pelotão.Aliás foi Carlos Teixeira da Silva o res-ponsável pela surpresa de uma oferta dealtíssimo nível, um livro documentandoos Açores com fotografias de rara beleza.Foi em ambiente de grande cordialidade esimpatia que este encontro decorreu.

O NÚCLEO DA AORN DOS AÇORES

DIÁRIO DE BORDOOficial de Serviço: Carlos Alberto Neves Poças

39º CFORN - 1982 - FZ

Teixeira da Silva, Lemos Damião, Pereira da Silva, Jorge Teles, Pires de Lima,Carlos Poças, Rodrigues da Silva, Francisco Cordovil e Ricardo Campos

A embaixada de Lisboa, na Lagoa das Sete Cidades

No cenário deslumbrante da Lagoa do Fogo Alfredo Lemos Damião entregando a Cresta da AORN ao Almirante JaimeMontalvão e Silva.

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A oferta da Cresta daquele Comando, umaoriginal peça onde o Brasão de Armas seapresenta sobre uma rocha vulcânica, seloua promessa de total colaboração da Marinhade Guerra àAORN nosAçores.

Partimos então à descoberta da ilha deSão Miguel, orientados pelo excelenteguia Fernando Reis Araújo. A nossaadmiração cresceu a cada momento,subindo a encosta e deixando para trás oscasarios junto do mar.

Ficámos deslumbrados perante a belezanatural das Lagoas formadas no interiordas enormes Caldeiras - em particular aLagoa das Sete Cidades, a Lagoa do Fogoe a Lagoa das Furnas.

A presença das águas minero-medicinaisé uma constante, com destaque para oVale das Furnas, com fontes de águas sul-furosas, bicarbonatadas, carbogasosas eférreas, de temperatura elevada (34 a100 °C), como fonte geradora de energiaeléctrica e, de cariz mais “doméstico”,para a feitura do famoso “cozido das fur-nas”, com todo o mistério de bruma querodeia a sua confecção.

À noite, num caloroso e belíssimo jantar,reuniram-se na Estalagem da Senhorada Rosa, os elementos do Núcleo dosAçores, a missão da AORN doContinente, o Almirante Jaime Montal-vão e Silva, o Chefe do Estado Maior daZona Marítima, o Comandante e o OficialImediato da Corveta “Jacinto Cândido” emuitas senhoras que, acompanhando osmaridos, deram ao encontro o brilho quedurante o dia o Sol dera ao nosso passeio.

Se durante o dia ficáramos pasmados pelapaisagem, à noite pasmados ficámos pelasimpatia, amizade e veemência das inter-venções.

João Bernardo Pacheco Rodrigues, quefoi RN do 7º CEORN, em nome doNúcleo, teve a primeira intervenção danoite. Improviso fácil, sentido e conta-giante, que ajudou a criar o ambiente damais sã camaradagem.

Alfredo Lemos Damião, o vice Presi-dente da Direcção Nacional da AORN,referiu o papel civilista da Associação,defensora dos ideais que um dia nos jun-tou, nas mais diversas situações, numaMarinha de Guerra que nos marcou defi-nitivamente e onde, cada um de nós,deixou certamente a sua própria marca.

Hoje, na vida civil, continuando a ser osdefensores da Instituição que representa arazão de ser de Portugal como país, como mar como traço de união com todosaqueles que, em todos os continentes,continuam a falar português, somos certa-mente a única associação que, organiza-da, olha o futuro com total respeito peloque foi o nosso passado.

Referiu a extrema simpatia e colaboraçãoque a Marinha, ao mais alto nível da suahierarquia, dedica à AORN num entendi-mento perfeito quanto aos nossos objec-tivos, e com o reconhecimento permanenteda valia que estaAssociação representa paraa Instituição Naval.

O anúncio da assinatura de um protocolode cedência de instalações no edifício daFábrica Nacional de Cordoaria, por parteda Marinha de Guerra, para Sede/Museuda Reserva Naval, e a projecção que osoficiais RN têm dado à Marinha nasociedade civil, muitos deles em posiçõesdo maior destaque, foram as últimaspalavras de Alfredo Lemos Damião, quebrindou à Marinha e a todos os presentes.

Pudémos então constatar que os Almi-rantes também se comovem.

O Almirante Jaime Montalvão e Silva,em resposta a Alfredo Lemos Damião,começou por dizer que, depois do quetinha ouvido e, sobretudo, pela formacomo as referências à Marinha foramfeitas, não encontrava palavras para retri-buir de igual forma.

No entanto, não sendo por acaso que sechega a Almirante, iniciou uma inter-venção brilhante que, não sendo fácil dereproduzir, é facilmente entendível e sen-tida por quantos passaram pela Briosa eusaram a farda do botão de âncora.

José Pires de Lima, o Secretário Geralda AORN, na sua intervenção, fez umabreve referência à experiência adquiridadurante sete anos de Marinha, em naviosque fazem parte de uma História cheia deacontecimentos, revivendo episódios elembrando figuras que, ao longo das últi-mas décadas, ligaram definitivamente aMarinha de Guerra à sua Reserva Naval.

Foi esta introdução pretexto para o inícioda cerimónia de oferta de vários quadrosque irão dar corpo ao Museu do NúcleoRN dos Açores, o primeiro representandoo grupo de fundadores deste Núcleo, far-dados de Cadetes, o segundo com um

Nove representantesdo Núcleo dos Açores

O Almirante Montalvãoe Silva com as senhorasque conferiram ao jantarde confraternização omáximo brilho.

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louvor concedido ao mesmo grupo e que,em tom “académico/jocoso” premeia oesforço de todos na formação do referidoNúcleo e o terceiro, réplica de outro exis-tente no Museu da AORN em Lisboa,com a reprodução da Ordem da Armadaem que é concedido o primeiro louvor danossa História a um Oficial RN, louvoresse concedido em 1960 pelo entãoComando Naval dos Açores.As Senhoras presentes procederam àimposição da Ordem da Reserva Naval(vulgo PIN) aos membros do Núcleo, e atodos foi feita a recomendação do seu usopermanente.

Num gesto de agradecimento pela acei-tação do convite para estarem presentesno jantar, foi feita oferta da medalha dafundação da AORN ao Almirante Co-mandante da Zona Marítima, ao seuChefe de Estado Maior, ao Comandanteda Corveta “Jacinto Cândido” e ao seuOficial Imediato.

Dia 28 foi a alvorada, com o despertar aotoque nas portas dos alojamentos da Messedo Loreto, pelo madrugador RicardoCampos, a que se seguiu igual gesto, poucotempo decorrido, do Jorge Teles, não fosseo caloiro voltar a adormecer.

Cumprindo o ETD determinado pelarapaziada RN, a que o Comando do navioacedeu “disciplinadamente”, embarcá-mos no N.R.P. “Jacinto Cândido” parauma saída de cerca de duas horas, aolongo da costa sul da Ilha de S. Miguel.

O toque à Faina, o arriar do Jaque, a ordeirae rotineira actividade do largar das amarras,as vozes de comando e o cheiro do navio doConvés à Ponte e das Cobertas à Casa dasMáquinas, e também omar chão, adequadoà circunstância de muitas Senhoras estarema bordo, foram momentos que ficarão namemória, grata memória de quem teve asorte de ser recebido, mais uma vez de for-ma ímpar, pelo ComandanteVieira Pereira epela sua Guarnição.

Na Câmara de Oficiais, foram trocadosbrindes e as tradicionais Crestas entre osvisitantes e navio, sendo dado a todos aoportunidade de apreciar os “côcos”, umaespecialidade do cozinheiro de bordo.

Uma breve passagem pela Igreja doSenhor Santo Cristo culminou esta esta-da em São Miguel, até porque não ficamal agradecer a Alguém o privilégio denos ter proporcionado esta inesquecívelexperiência.

Os maiores agradecimentos que sepodem fazer a quem nos recebeu destaforma, traduzem-se numa simples frase:

Queremos voltar!

Obrigado!

Neves Poças39º CFORN

O Comandante da Corveta “Jacinto Cândido” procedendo à entrega daCresta do navio

Ricardo Campos, médico RN do 11º CFORN, entre dois Asp. RN de 1998 abordo da “Jacinto Cândido”

Francisco Potes Cordovil(FZ - 22º CFORN),Carlos Teixeira da Silva(FZ - 13º CFORN) eAdelino Rodrigues daSilva (FZ - 18º CFORN)

Adelino Rodrigues daSilva (FZ - 18º CFORN),Alfredo Lemos Damião(TE - 15º CFORN) eJoão Tavares Carreiro(FZ - 19º CFORN)

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No dia 3 de Julho, no auditório do ISNGe mais uma vez por especial deferênciado seu Director, Almirante Carlos deMagalhães Queirós, realizou-se a Assem-bleia Geral Extraordinária da AORN.

Em apreciação, propostas de alteração dosnúmeros 5, 6 e 7 dos Estatutos, permitindo a

admissão de sócios em novas categorias ecom origem não obrigatória na ReservaNaval.

Com várias intervenções, reflectindo asopiniões que ao longo de vários mesesforam sendo discutidas nos encontros daAssociação, os sócios deram a sua apro-

vação às alterações que noutra páginadeste número da Revista se transcre-vem.

Fica a certeza de mais condições paralevar a bom termo os objectivos daAORN, sem desvirtuar os princípios quelhe deram origem.

NOTÍCIAS

Nodia 23 de Junho, o Grupo nº1 deEscolas da Armada foi visitadooficialmente por S. Exa. o Pre-

sidente da República, Dr. Jorge Sampaio.Recebido pelo CEMA, Almirante VieiraMatias, vários Oficiais Generais e peloComandante da Escola, passou revista àsforças em parada efectuando uma visitaàs instalações da Unida���

No almoço que se seguiu presentes pelaReserva Naval, como convidados HeitorSousa Santos (5º CEORN), Manuel LemaSantos (8º CEORN),Almeida Resende (10ºCFORN) e Campos Teixeira (11º CFORN).

Na oportunidade, o Comandante da Es-cola, Cmg Alves Correia manifestou odesejo de ali reunir, num almoço/conví-vio, os ex-oficiais da Reserva Naval queno seu tempo de permanência na Marinhade Guerra ali tivessem prestado serviço.

A AORN disponibilizou-se de imediatopara colaborar e apoiar a iniciativa.

Integrado no Dia da Marinha, realizou-se no dia 18 de Maio, um ConcertoComemorativo, que teve lugar na Aula

Magna da Reitoria da Universidade deLisboa.A Orquestra Metropolitana de Lisboa e a

Banda da Armada, sob a Direcção dosmaestros Miguel Graça Moura e Cap.Ten. Mus. José Araújo Pereira, propor-cionaram um espectáculo de alto nível,numa actuação conjunta de mais de 180músicos, presenciada por uma audiência

que encheu o auditório.A AORN esteve largamente representa-da, correspondendo ao convite do EstadoMaior da Armada.

O cerimonial queantecedeu a visita doPresidente da Repúblicaàs instalações doGrupo nº1 de Escolasda Armada

Na mesa em 1º plano,Manuel Lema Santoscom os AlmirantesRibeiro Ferreira, Vidalde Abreu, Silva Santos,Celestino da Silva, ReisRodrigues e Mota e Silva

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Como dizia no artigo anterior, omeu grupo de combate, entreAgosto e Outubro de 1966, esteve

no posto do Tridente, no Rio Zaire, juntode Noqui.

A vida era pacata e tranquila e no nossoesquema de rotatividade sabíamos de an-temão, de forma muito aproximada, otempo que iríamos passar em cada umdos postos. Essa situação não era propor-cionadora das neuras que assaltavam osnossos colegas de Noqui, como contei daúltima vez.

Contudo, o cumprimento da nossa missãonos diferentes postos do Zaire, também jádescrita no artigo anterior, deixava-nosmuito tempo livre que se tornava neces-sário ocupar. A localização de Tridentenão facilitava a existência de um terreiropara jogar à bola estando assim posta departe uma possível ocupação dos temposlivres da guarnição, que eram muitos.

Entre aulas do 2º ano do Liceu que davaa grumetes e marinheiros, tal como oscamaradas que nos precederam e os quenos sucederam, fizémos muitas obras,plantámos bananeiras, hortas; a conser-vação e reparação dos motores e botes,patrulhas no rio, patrulhas terrestres,escalas de serviços e caçadas nocturnasaos jacarés iam tomando conta do tempo.

Pessoalmente, nos diversos postos doZaire onde estive, li imenso tanto livroscomo revistas e jornais que tinha assina-do. Através do Monde ia seguindo a guer-ra no Vietnam e realizava a sorte quemuitos de nós em Angola tínhamos denão estarmos num teatro de guerra comoaquele.

Mas aqui vai a segunda história curiosapassada no Tridente e em Noqui.

Como referi, Noqui estava na linha defronteira com o Congo e, como tal, alémda guarnição militar e de um adminis-trador havia as autoridades fronteiriças eum posto da PIDE.

Em Angola, os Pides não andavam dechapéu e gabardina, com golas levantadas,como no “Puto”, e aparentavam serempacatos civis frequentemente confundíveiscom qualquer comerciante ou cantineiro.

Uma das áreas em que eles eram peritosera a gestão (como dizemos hoje!) dainformação. A sua rede de informadoresde ambos os lados da fronteira permitiaterem uma noção bastante razoável doque se passava do lado do IN, dos seusmovimentos, iniciativas, problemas, difi-culdades, etc.

Mas a obtenção da informação não se faziasó com chá e simpatia ou a troco de unscobres. Fazia-se também por troca de infor-mações. Passava-se para o lado de lá aquiloque se achava ser pouco importante ou nãoreservado, na expectativa de receber emtroca algo de mais sério e substancial.

Com todo esse contacto acabava por secriar um certo à vontade, quase que algu-ma intimidade. Os turras do lado de láconheciam bem a nossa PIDE e eles co-nheciam também razoavelmente algunsdeles. Enfim, todos sabemos que a vida éfeita de compromissos e importa que oresultado seja positivo.

Um dia, numa das tardes que fui a Noquibeber uma cerveja com os camaradas doexército, o médico da companhia (o DOC!)não apareceu. Estava a dormir. A dormir às4h da tarde? Sim, estava a dormir e nãopodia ser acordado. Tinha vivido uma aven-tura espantosa que terminara nessa manhã eestava a recarregar as baterias.

Dias antes, a altas horas da noite, vindodo Congo, tinham-se apresentado noposto fronteiriço de Noqui 2 carros civiscom negros, alguns deles armados.

Queriam falar com o nosso Pide comurgência. Tinha acontecido uma desgraçae só ele poderia, eventualmente, ajudar aresolvê-la.

Que se tinha passado?

Nesse dia, algures longe e a leste de No-qui, os Turras da FNLA tinham caído numaemboscada montada pela nossa tropa (masnão a de Noqui) junto à nossa fronteira como Congo. Tinham sofrido umas baixas, maso pior era que na patrulha da FNLAque tinhasofrido a emboscada tinha sido gravementeferido o 2º comandante da Base de Kinkusu.Ora a base de Kinkusu, para quem não sabeou já não se lembra, era umdos principais, senão o principal campo militar da FNLA noCongo e servia de apoio logístico aos gruposde guerrilheiros da FNLA que actuavam noNorte deAngola.

Obviamente a base era, por sua vez,apoiada pelo estado congolês.

Ora acontecia que o 2º comandante dabase tinha sido gravemente ferido pelosportugueses, encontrava-se em estado gra-ve e recusava-se peremptoriamente quera ser evacuado para qualquer hospital deLeopoldeville (actual Kinchasa), quer aser assistido por médicos da FNLA oucongolenses. Só admitia ser tratado pormédico português e por nenhum outro.Os colegas dele que se desenrascassem edescobrissem um português que fosse látratar dele.

HISTÓRIAS DO DFE 13

ANGOLA 65/67 - IV

Vasco Quevedo Pessanha

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Assim na fronteira de Noqui, depois devárias horas de viagem em picada, láestavam os negros da base de Kinkusu apedir ao nosso Pide que mandasse o Docda companhia de Noqui com eles de re-gresso a Kinkusu para safar o 2º coman-dante deles que tinha sido ferido por umdos nossos!

Depois de muitas súplicas e muita conver-sa, o nosso Pide fala com o comandanteda companhia que, depois de ponderar asituação, decide acordar o Doc e pôr-lheo problema: Estaria ele disposto a ir, nãose sabia muito bem onde, tentar safar umprincipal do IN que tinha sido ferido porcomandos nossos? As condições eram maisque precárias: garantias de regresso esegurança eram zero. Mas, se o homemfosse safo, talvez tudo naquela regiãopudesse vir a melhorar. Estaria ele dis-posto a correr o risco?

O Doc acabou por aceitar o desafio.Arranjou a trouxa, preparou os seus ins-trumentos e mezinhas e lá partiu, sozinho,

sem escolta nem viaturas, com aquelaturma semi-turra e semi-civil para destinodesconhecido.

Depois de algumas horas de saltos esafanões lá chegou a Kinkusu. A basemilitar era grande, razoavelmente organi-zada e guarnecida, e lá lhe puseram o2º comandante nas mãos.

Com todas as dificuldades que são fáceisde imaginar, o Doc consegui extrair-lhe abala que estava alojada já não me lembroonde. Tratou o turra e quando estava járelativamente fora de perigo, ao fim dealguns dias, trouxeram-no de volta aNoqui.

Tinha chegado nessa manhã, depois dealguns dias e noites de vigília ao 2º co-mandante de Kinkusu, completamenteexausto e, nessa tarde, estava natural-mente a refazer-se de tudo: do susto, daemoção, do risco que tinha corrido e docansaço físico e psicológico.

Tinha sido tratado nas palminhas, comconsiderações e mordomias durante os

dias e noites que tinha durado aquelaaventura.

Não o tornei a ver pois, passados poucosdias, o meu grupo de combate largava oTridente. Também fiquei sem saber comoevoluiu a acção militar naquela terradepois deste incidente. Mas certamentepara o turra que tinha sido baleado e parao Doc português que o tinha tratado esalvo nas circunstâncias que relatei, mui-to de importante se tinha passado.

Este caso que descrevi não é único. O quede único tem para mim é ter-se passadoperto e nas minhas barbas.

Episódios bizarros deste género pas-saram-se em Angola repetidamente.

Seriam eles o reflexo deste nosso por-reirismo nacional também já assimiladopelos nossos negros de Angola ou seráque é normal e corrente as guerras faze-rem-se assim?

Vasco Quevedo PessanhaFZE - 7º CEORN

Foz do Rio Zaire

Pormenor a montante dolocal assinalado com

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Desde há vários anos, germinava nonosso subconsciente o retorno aoLago Niassa. Poderá mesmo dizer-

-se que tal ideia, mais do que um anseionascido após uma ausência de trinta anos, erauma necessidade de dar descanso à saudadeque ficara desde o tempo em que, emboranum ambiente de missão militar, a nossaactividade se rodeara de um sentido humanoque inevitavelmente teria de nos marcar.

Não é fácil a organização de uma viagemdestas. Reunir vontades, escolher as datas,estudar percursos, reservar alojamentos egarantir transportes, para além de acertarcom as entidades locais os pormenores dosencontros, são tarefas que levam algunsmeses a tomar forma.

Podemos dizer que o sucesso da Missãonos fez esquecer as dúvidas e algumaangústia porque passámos, nas semanasque antecederam o dia da partida.

Foi no dia 11 de Maio de 1999.

De Lisboa, a Missão da AORN a Metan-gula, em Moçambique, partiu com o objec-tivo de rever um dos locais mais marcantese emblemáticos da passagem da ReservaNaval pelo continente africano, procurandodar um contributo para uma cooperação eapoio que se deseja e se crê possível, consti-tuindo uma das finalidades expressa nosEstatutos desta Associação.

Alfredo de Lemos Damião, Jorge VieiraTeles e José Pires de Lima, estiveram no

aeroporto a desejar o maior sucesso àMissão que, após nove horas de viagematerrou em Maputo.

À chegada, tivemos a primeira recepçãocom as boas vindas do Adido de Defesada Embaixada de Portugal, o Comandan-te Fernando Santos Lourenço, uma pre-sença constante e fundamental durantetoda a nossa estadia, que de uma formaimpecável cumpriu a incumbência rece-bida do General Chefe do Estado Maiordas Forças Armadas.

Realce para a manifestação de interessena cobertura do acontecimento, quandocontactámos a Direcção de Programas ede Informação da RTP Internacional.

Escreveu, a propósito, o Delegado da RTPÁfrica em Moçambique, Dr. FernandoTeixeira Gomes - “É com imenso gostoque a RTP África acompanha estaMissão, no âmbito do serviço público quelhe está confiado e do respeito e estimapor tudo e todos que possam unir ospovos de Moçambique e Portugal”.

E o mesmo escreveria mais tarde, quandose despediu da Missão - “Começou porser mais um serviço e acabou por serum prazer enorme, descobrir a sensibi-lidade do marinheiro português. Ver asaudade espelhada nos olhos de um Serhumano é algo difícil de descrever, masque nos transmite a verdadeira razão

porque somos diferentes dos outros Seresque povoam este planeta”.

O repórter de imagem Jacinto Miguel BaiBai registou todos os passos desta Mis-são, dando o maior relevo às reportagenstransmitidas para Portugal pela RTPÁfrica. Foi uma tarefa que muito contribuiupara o sucesso da viagem, que assinala-mos e que merece os maiores agradeci-mentos da nossa parte.

No dia imediato, a viagem prosseguiu deavião, passando por Tete, com destino aLichinga (ex-Vila Cabral), onde a Missãofoi recebida, ainda no aeroporto, peloSecretário do Governador do Distrito doNiassa.

MISSÃO METANGULA 1999 - PARTE I

Ricardo Campos

Comandante Santos Lourenço

Dr. Fernando Teixeira Gomes, Delegado daRTP África

O repórter Jacinto Miguel Bai Bai daRTP África

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Breve paragem para preparar a acomo-dação nesta cidade e nova partida, destavez com destino a Meponda, primeirocontacto com a região do Lago Niassa,nosso destino principal neste regresso aMoçambique.

Integrou a comitiva o Director Geral dosTransportes do Niassa, em representaçãodo Governador, numa manifestação davalia que esta Missão representou para asentidades moçambicanas.

O percurso reavivou a recordação dotempo passado na zona, por aqueles que,desde há trinta anos, vivem de uma lem-brança inesquecível.

Representou também o primeiro contactocom o Lago Niassa, após décadas deprofundas alterações no relacionamentosecular de Portugal com a África Austral.

Em Meponda, com a beleza do Lago pre-sente, visitámos o aldeamento anexoonde nos esperava a surpresa de umarecepção espontânea, entusiástica e calo-rosa da população civil.

Embora Meponda se tenha afirmado, du-rante o conflito político-militar do passado,

como um porto extremamente importantecomo apoio da Base Naval de Metangu-la, não era local suficientemente fre-quentado e de grande conhecimento dageneralidade dos marinheiros de então.Talvez seja essa a razão dos vestígiosda nossa passagem, no local, não seremagora visíveis.

Foi em Meponda que mais uma vez anatureza nos presenteou com um “Pôr deSol” de extraordinária beleza, fenómenoque se mantém indiferente às alteraçõesque a civilização e os conflitos imprimemà vida dos povos. Não perdemos a opor-tunidade de registar esse facto.

Regressados a Lichinga onde pernoitá-mos, partimos no dia seguinte, por estra-da, para Metangula.

Um trajecto de 120 Km, dos quais 100 seencontram asfaltados, num cenário deextraordinária beleza que nos obrigou afrequentes paragens para os inevitáveisregistos fotográficos.

Assinalamos a povoação de Maniamba,onde assistimos, em pleno céu aberto, auma bem organizada consulta médica de

Puericultura, de um Hospital que em tem-pos recuados foi dirigido pelo ExércitoPortuguês, motivo de reencontro emocio-nado com um dos elementos do nossogrupo que na época ali prestara serviço deenfermagem, Luís Henrique.

A mais emocionante paragem deu-se noinício da acentuada descida para a mar-gem do Lago Niassa, já com o MonteChifuli à direita, mostrando toda a suaimponência e beleza, sempre lembrado eapreciado por todos.

No horizonte, a Península de Metangula,nosso destino de viagem.

Foi este o local escolhido para uma pa-ragem de reflexão, revivendo o passado epermitindo observar o Lago e Metangula,a partir de uma zona onde a maioria doselementos da Missão nunca tinha tido aoportunidade de estar.

Como se fosse um postal ilustrado, comum céu azul brilhante, a montanha, os

Director Geral dos Transportes do Niassa

No aeroporto de Maputoantes da partida paraLichinga

No avião, de Maputo para Lichinga

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Joaquim Ascensão distribuindo brindes às crianças

Na Pousada de Lichinga No Mercado de Lichinga

Luis Henrique não esconde a emoção em Maniamba

Hospital de Maniamba Luis Henrique e Ricardo Campos na consulta de Puericultura em Maniamba

Consulta dePuericultura

O cenário que nosaguardava à chegadaa Metangula.

campos verdes e o Lago de águas sere-nas, era este o cenário que nos aguarda-va, parecendo que a própria natureza nosqueria dar as boas vindas.

Junto da Placa Toponímica indicativa deMetangula, fizemos questão de fixar omomento da chegada, sem imaginarmosainda os momentos de emoção que nosestavam reservados.

Deixo para a próxima crónica a “Recepçãoem Metangula”.

Ricardo Campos11º CFORN (SN)

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Aformulação clássica da situaçãosanitária e assistencial de um paístem evoluído muito nos últimos

decénios. Depois de três décadas domina-dos pelo primado do “sanitarismo” dadefesa da Saúde Pública, como garantiada qualidade de vida perante o risco daepidemias ou das endemias, surgiramnovas ameaças tais como a destruição dossantuários florestais ou rurais, o urbanis-mo selvagem das megametrópoles, os ris-cos da motorização e o caos rodoviário.Estes factos, entre outros, alteraram subs-tancialmente a formulação habitual daOrganização Mundial de Saúde.Podemos dizer que, na Europa de hoje, oconceito de saúde se encontra muito liga-do ao bem estar e mesmo à cultura. Osíndices de vida vão a par dos indicadoresde saúde - veja-se entre nós a correlaçãoentre declínio da mortalidade infantil coma subida do ordenado médio das famíliasportuguesas e o declínio da natalidade.Os meios de comunicação e o crescimentoda sociedade civil possibilitam a grandesmassas o acesso à praia e lazer e, de umamaneira geral, a diminuição de horas de tra-balho e o fim de uma mecanização indus-trial mutilante para o homem, como eraapresentado no pós-guerra. A informática, oaumento de licenciados a par de acções daCruz Vermelha ou de outra ONG, tornaramo indivíduo consciente do dever e da possi-bilidade de também, no campo da saúde, seprecaver e ser mais responsável; e os se-guros de saúde ou a Medicina de empresavieram dar novas formas importantes nocombate à doença.Por outro lado, aumentou em mais de umdecénio a duração média da vida; daí queo recurso aos cuidados de saúde que seacentua especialmente na 3ª e 4ª idadescriasse um multiplicar de despesas mé-dicas, que a rede hospitalar se vissesubmergida por uma legião de doentescrónicos recorrentes, particularmente dosdiabéticos ou dos respiratórios com ascomplicações frequentes nos meses deinverno ou nas estações mais agrestes.Por outro lado, a cirurgia plástica, o recurso

em grande escala à traumatologia devidoaos acidentes de automóvel, e o impressio-nante crescimento dos acidentes vascularescerebrais “desiquilibraram” o nosso sistemahospitalar e, mesmo num período de relati-vo declínio populacional, assistimos aocrescimento desmesurado das chamadasUrgências hospitalares.O lançamento, após o 25 de Abril, de umsector dito dos cuidados ambulatórios, deforte raiz estatal - os Centros de Saúde nãose mostraram consentâneos com a manei-ra de ser da nossa população - foi emparte inviabilizado por certo atavismo às“fichas” e às consultas planeadas à dis-tância . Os médicos de família, o centrardos cuidados assistenciais no clínicogeral que não teve, apesar do lançamentode uma carreira inovadora, acompanha-mento ou formas de instalação atractivase eficientes, explica o baixo nível de pro-dutividade dos Centros de Saúde emgeral. Mesmo em Lisboa, na grande maio-ria dos casos, estão instalados em vulgaresandares de edifícios muitas vezes velhos,com escadas ou acessos difíceis a crianças ea deficientes. A aposta na Clínica Gerallevou ao afastamento da Pediatria e dasespecialidades na rede ambulatória e em-purrou para os hospitais, que para tal nãoforam planeados mas tão somente para osdoentes com necessidades de internamen-to, um enorme universo de consultas coma desorganização subquente. Os hospitaiscresceram e bem na região suburbana enas capitais de distrito, mas não o sufi-ciente em escolas de enfermagem ou emincentivos para a deslocação de técnicosnos locais onde o acesso é muito difícil;importantes investimentos no chamadointerior não estão rentabilizados. Tam-bém não é possível, num país de livrestradições, impôr medidas de carácteradministrativo sem o apoio e a compreen-são dos sindicatos ou das estruturasrepresentativas do sector, o que torna aacção do Ministério da Saúde ineficaz.Por outro lado, nos últimos anos, o Minis-tério da Saúde, com a acção dos chamados“ARS” (que englobam quer os centros de

saúde quer os hospitais e a criação das sub--unidades de saúde e as agências de acom-panhamento) dilui a responsabilidade dedecisão quer nos centros de saúde quer noshospitais, sem ter técnicos ou adminis-tradores formados para tais acções,copiando muitas experiências francesas(o plano Jupé) sem que haja discussão ouadaptação prévia dos nossos responsáveisde saúde. Quer se queira ou não, são osmédicos e enfermeiras chefes que labu-tam diariamente nos hospitais centrais hámuitos anos e hoje se sentem perdidos etentados a reformarem-se precocemente.

Tudo isto são, quanto a nós, factores ne-gativos que se opõem à melhoria naturalresultante quer das novas tecnologias intro-duzidas no sistema hospitalar, quer dosrecursos assistenciais já atrás referidos quesão benéficos para a saúde. O Ministério daSaúde tem uma responsabilidade importanteneste relativo sucesso assistencial que nãoacompanha nem se coaduna com o cresci-mento económico e empresarial do País, pornão ser capaz de atrair para o seu núcleocentral profissionais de reconhecido valor;em muitos casos, as chamadas ARS estãoentregues a elementos relativamente desco-nhecidos ou inexperientes da gestão hospi-talar o que é, em todos os países europeusmodernos, uma das apostas mais sedutorasmas mais difíceis de ganhar.

Luciano Ravara6º CEORN - 1963 (SN)

SAÚDE E MEDICINA

A SAÚDE EM PORTUGAL 1998

Luciano Ravara (6º CEORN)

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