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Editorial Tema de Capa - adeb.pt · do o emprego, divorciei‐me e perdi o poder paternal em relação à minha filha. 4 Sou Bipolar I, ou seja tenho crises severas tanto de Mania

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Cumpre salientar a preocupação dos diri‐gentes do que terceiro setor da economiasocial, no que concerne às dificuldades senti‐das na sustentabilidade financeira da maioriada instituições que acolhem e apoiam milharesde utentes e associados de norte a sul do País,na área social, da reabilitação e saúde.A ADEB com a caraterização jurídica de IPSS,de utilidade pública, com fins de saúde, com oobjetivo de apoiar e ajudar as pessoas com odiagnóstico da doença Unipolar ou Bipolar eseus familiares, vem sentindo desde 2009devi do às consequências da crise financeiramundial com consequências gravosas a nívelnacional, implicando que o setor estatal nãoestabelecer novos acordos de cooperação,assim como o setor privado a retração deapoios ou donativos ao abrigo da lei do mece‐nato.Acresce, ainda, salientar a dramática e difícilsituação económica e financeira que estão aviver e sentir milhões de portugueses, fatorimperativo que está a coartar o acesso daspessoas em situação de desemprego de longaduração a bens de primeira necessidade comoa habitação, alimentação e a saúde, etc.Também a ADEB está sofrer o impacto destaconjuntura de crise, assim como cerca de 200associações da área da saúde, contudo aDireção está e continua empenhada, com oapoio e participação dos associados, em man‐ter e desenvolver os seus objetivos e fins nocampo da reabilitação psicossocial e educaçãopara saúde mental das pessoas com odiagnósti co da doença unipolar ou bipolar eseus familiares.Nesta sequência, a ADEB funda em 5 de Junhode 1991, vai realizar o seu 23º Aniversário, con‐forme programação constante desta revistaBipolar nº 44, assim se convocam todos osassociados a participarem neste evento pro‐gramado para o dia 8 de Junho de 2013, a fimde em conjunto fazermos das dificuldadesforças para mantermos a associação viva eatuante ao serviço das pessoas sob o lema:“uma porta aberta, um reduto efetivo”.

Delfim Augusto de OliveiraPresidente da Direção da ADEB

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A Doença Bipolar é considerada justa‐mente dentro das perturbaçõespsiquiátricas cuja causa tem fundamental‐mente uma base biológica. Daí a relevân‐cia e eficácia das terapêuticas medica‐mentosas para curar os episódios agu‐dos, maníacos ou depressivos e a maiorimportância na sua profilaxia através dosfármacos com propriedades estabilizado‐ras do humor.Será que estes factos tornam menosimportantes as intervenções psicossociais?As perturbações do humor afetam a pes‐soa no seu todo, manifestando‐se emdiversificadas vivências, com repercussãona interação com os outros e em modifi‐cações na conduta e vida social. A práticaclínica e terapêutica devem orientar‐seem função de todos estes parâmetrospara que a pessoa possa recuperar asaúde e melhorar a sua qualidade de vida.

Editorial Tema de Capa

Doença Bipolar, estigmae psicoeducação

O impacto da crise económicado País nas instituições comfins de saúde...

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É sabido que em doenças crónicas ourecorrentes do foro médico tem grandeimportância a educação do doente, nosentido de melhor lidar com os sintomase assumir um papel activo no tratamento,como pessoa consciente e informadacientificamente. A educação para a saúdepassa por uma aprendizagem sob comolidar com as doenças e os respectivostratamentos, envolvendo modificaçõesde hábitos e estilos de vida, numa ver‐dadeira parceria com o médico. Tenha‐seem vista a Diabetes, a Asma, aHipertensão, por exemplo.O que acima se afirma é sobremaneiraimportante nas doenças psiquiátricas, emuito em especial na Doença Bipolar. Otermo “psicoeducação” corresponde aomesmo conceito de educação sobre adoença, agora com um conteúdo maisespecífico, psicológico, psicopatológico ecomportamental.

A realidade da doença e a luta contra oestigma No livrinho “Depressão e Mania naprimeira pessoa” (ADEB, 2006), um dosassociados afirma de modo assertivo: “Adoença Maníaco‐Depressiva, hoje doce‐mente denominada bipolar, advém deuma deficiência da química do cérebro, éendógena e não tem cura; é tão só esta‐bilizável por psiquiatra experiente nadoença e muito conhecedor dos efeitosda medicação disponível (...)”.

A luta contra o estigma tem umaimportância social maior do que poderápensar‐se à primeira vista.Compreendemos que o doente não dêmuito crédito ao “eufemismo”, pois nonome não está a coisa, que para o própriotem um peso mais compatível com adesigna ção clássica. No entanto, a diversi‐dade de manifestações de alterações dohumor com bipolaridade, torna mais ade‐quada a designação de “Doença Bipolar”ou mesmo “Perturbações Bipolares”, cor‐respondente a um espectro contínuoentre um máximo e um mínimo. O facto de se falar de uma doençapsiquiátrica específica já é um significati‐vo avanço. Ainda há pouco mais de umadécada era muito comum falar de“doença mental”, da “doença mental” ede “doente mental”, num sentido muitogeral, com uma conotação negativa, pejo‐rativa e pessimista. Não há “doença men‐tal” em geral, como não há uma “doençacardíaca” em geral. O mais correcto é oreconhecimento que há uma diversidadede doenças psiquiátricas, umas maisgraves que outras, como em qualquerespecialidade médica. A noção demasia‐do geral de doença “mental” conotava,pelas formas mais graves, todos ostranstornos psiquiátricos.

Será que tem significado específico a lutacontra o estigma na Doença Bipolar? AsAssociações de Doentes Bipolaresrespondem que sim. Em muitos países domundo, incluindo Portugal, têmdesempenha do um papel insubstituívelna informação viva sobre a realidade,com a voz activa das suas experiências naprimeira pessoa. A parceria que se soubecriar, entre portadores da doença,familia res e técnicos de saúde mental,tem um eco muito positivo em meios decomunicação social, desejosos de dar aconhecer novidades sobre temas queforam tabu. No nosso país, a Associação de Apoio aosDoentes Depressivos e Bipolares (ADEB),com mais de 20 anos de trabalho, temsido chamada a participar em muitas ini‐ciativas com a colaboração dos meios decomunicação, incluindo a televisão, per‐mitindo que o público interessadodisponha hoje de uma razoável infor‐mação científica, médica e psicológica,sobre a Doença Bipolar. Reconhecer adoença e as suas variantes, conhecer asterapêuticas, saber pedir ajuda e infor‐mar o médico, são resultados de umamodificação da cultura e educação dapopulação sobre estes temas. O estigmaé resultado em grande medida daignorância, da visão fatalista e moralistadas doenças psiquiátricas e de medosatávicos e irracionais.

“ ...em doençascrónicas ourecorrentes do foromédico tem grandeimportância a educação dodoente... “

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Um dos aspectos muito específicos quepode contribuir para a superação doestigma na doença bipolar, deve‐se aofacto de muitas pessoas que sofrem dedoença bipolar terem capacidades criati‐vas. No livro recentemente editado emportuguês (Tocados pelo Fogo, 2007)prova‐se de modo exaustivo que a bipo‐laridade e as perturbações do humorocorrem com invulgar frequência emartistas de grande valor.Mas o mais importante, numa perspecti‐va médica psiquiátrica, é salientar que adoença pode ser convenientementediagnostic ada (e quanto mais precoce‐mente melhor) tem tratamento, que, aser seguido regularmente, permite parauma grande maioria de doentes a estabi‐lização da perturbação e a recuperaçãoda saúde. É necessário situar a doença no pontocerto, sem minimizar a gravidade, nemsobrevalorizá‐la.

Psicoeducação na Doença BipolarNo livro de testemunhos “Depressão eMania na primeira pessoa” ( ADEB, 2006)eis como um dos sócios da associaçãofala de si e da sua doença, com a maiorfranqueza e grande lucidez:“Chamo‐me António Pereira, tenho 51anos, possuo um curso universitário e tra‐balhei em duas multinacionais até aos 48anos. Aos 27 anos tive o primeiro episó‐dio de Mania, tendo por isso quase perdi‐do o emprego, divorciei‐me e perdi opoder paternal em relação à minha filha.

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Sou Bipolar I, ou seja tenho crises severastanto de Mania como de Depressão.”Este doente esteve nove vezes hospita ‐lizado por Mania com sintomas psicóti‐cos, estando estabilizado já há mais decinco anos sem episódios agudos, man‐tendo sintomas residuais cognitivos edepressivos e pequenas fases de ele‐vação do humor. A sua consciência dedoença é muito boa e cumpre com omaior rigor a terapêutica, além de ter anoção dos sinais precursores de elevaçãodo humor e, com o apoio da filha recorrede imediato ao médico para ajustamen‐tos da medicação. A abordagem psico ‐educativa deu bons frutos.Psicoeducação porquê? A necessidade deuma melhor instrução e educação,designa da psicoeducação quando aplica‐da às doenças psiquiátricas, tornou‐seevidente já que a adesão ao tratamento eo estigma são reconhecidos como proble‐mas da maior importância nesta doença(Bauer, 2002). Esta técnica já havia sidoincorporada de modo menos sistemáticonas “Clínicas de Lítio”, nos anos 70. Hoje,além de fazer parte das outras aborda‐gens psicoterapêuticas, a psicoeducaçãotem vindo a ser cada vez mais valorizadacomo um instrumento terapêutico, vali‐dado na sua eficácia em diversos estudose formalizado nos seus métodos. A suaprática corresponde ao aumento doreconhecimento do doente como parcei ‐ro activo no tratamento, particularmenterelevante em psiquiatria.

O que parece também consensual entrevários autores (M. Thase, 2002) é o factode se constatarem factores comuns atodas as terapias (Psicoeducação, TerapiaInter‐pessoal, Terapia Cognitivo‐Comportamental, Terapia Interpessoal ede ritmos sociais) e que são, em sumário,os seguintes: a educação sobre a doença,com a colaboração do doente e família naplanificação do tratamento da doença;reparação, estabilização e, se possível,reforço das redes de apoio social; inter‐venções para saber lidar com os sin‐tomas, reconhecer sinais percursores eresolver problemas concretos.A psicoeducação que, inicialmente, foiuma abordagem sustentada no sensocomum é hoje uma verdadeira técnicacom resultados baseados na evidência. Aafirmação do papel decisivo da psicoedu‐cação no tratamento a longo prazo dadoença bipolar (F.Colom, E.Vieta ‐ 2006)é confirmada pela sua eficácia comprova‐da na prevenção das recorrências.Porque é que a psicoeducação é tão cru‐cial para os doentes bipolares? Eis algu‐mas das razões (F.Colom, E.Vieta ‐ 2006):os doentes bipolares têm frequente‐mente falta de consciência da doença eabandonam com frequência a terapêuti‐ca, sendo essa a primeira causa de recaí‐da, numa doença cujo prognósticodepende da adequação e cumprimentodo tratamento.Um dos aspectos importantes daPsicoeducação é a sua completa inserçãono modelo médico, sendo um meio dereforço da aliança terapêutica. Quaisentão as finalidades principais destatécni ca? De modo abreviado, seguindo osautores da Escola de Barcelona, acimacitados: aumentar a adesão ao tratamen‐to, adquirir competências para umreconheci mento precoce de um novoepisódio, desenvolver estratégias paralidar com os sintomas e melhorar osdesempenhos sociais e ocupacionais. Oprograma psicoducativo pode ser desen‐volvido em grupo ou individualmente.

“ É necessário situar adoença no pontocerto, sem minimizara gravidade, nemsobrevalorizá-la. “

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Os pontos importantes para uma melhorgestão do tratamento sobrepõem‐se com o programa psicoeducativo(Montgomery, Cassano, 1996). E são osseguintes: partilhar com o doente asdecisões terapêuticas, fazer compreen‐der a doença bipolar, procurar o apoio dafamília, ensinar a detectar sinais precocesde crise, manter a confiança no trata‐mento e, finalmente, ensinar a viver coma doença. Assim, a psicoeducação é umimportante instrumento para reforçar aaliança terapêutica na relação do médicocom o doente. Embora possa ser umatécnica utilizada em separado, numamodalidade de grupo, por exemplo,torna‐se mais acessível se integrada narelação médico / doente. Dizia um doente, em tom de desabafo:“reconhecer a doença não é fácil”. Aconsciên cia terá de abranger a diversi‐dade dos episódios, de sentidos opostos(as hipomanias gratificantes!), a recorrên‐

cia ou periodicidade, a gravidade e osperigos, a necessidade do tratamentomedicamentoso e o factor evolutivo,interferido pelos hábitos (bons ou maus)e pela terapêutica profiláctica, cujocumprimento nem sempre é fácil. Nos casos em que há uma instabilidadedo humor mais irregular e frequente,como nos “ciclos rápidos”, a colaboraçãodo doente ou de um familiar pode serpreciosa, através de um registo em gráfi‐co do humor, diário ou semanal. Poderátornar‐se mais fácil correlacionar aevolução do humor, para cima e parabaixo, com as terapêuticas farmacológi‐cas e com acontecimentos significativos.Facilita‐se a cogestão do tratamento,com uma recolha apurada de dados pre‐ciosos para delinear a melhor estratégiapreventiva.Um ponto importante nos programas depsicoeducação é a aprendizagem e

detecção precoce de sinais que antece‐dem uma nova crise. Entre as manifes‐tações mais típicas de uma viragem paraa Mania contam‐se a modificação dopadrão do sono, com despertar precoce(energético!), o aumento da sociabilidade(conta do telemóvel!), a instabilidadeemocional e o aumento do desejo sexual.Pode haver peculiaridades singulares,como o aumento da religiosidade, a uti‐lização de uma roupa chamativa, com‐pras a mais e outros. Entre os factoresque podem concorrer para um acessomaníaco conta‐se o stress excessivo, oabuso de psicoestimulantes (até a cafeínaem exagero), a privação do sono(noitadas seguidas), a utilização continua‐da de antidepressivos e a sazonalidade(ver anamnese). O desencadeamento émais rápido nas crises de Mania do quenas depressões, sendo, por vezes, muitoagudo. A informação do doente e dos

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José Manuel JaraMédico PsiquiatraPresidente da Assembleia Geral da ADEB

Bibliografia• Bauer, Mark S. (2002), Psychosocial

Interventions for Bipolar Disorder: aReview, 285-286. In Bipolar Disorder, ed.M. May, H. Akiskal, JJ.Lopez-Ibor, N.Sarorius; WPA Séries, 5; J Wiley .

• Colom, F. (2005), Psicoeducación en lasfases tempranas de los trastornos bipo-lares, 147-148, In Trastornos Bipolares(Las fases iniciales de las enfermedadesmentales), Elsevier, Masson

• Colom, F; Vieta, E. (2006) The PivotalRole of Psychoeducation in the Long-TermTreatment of Bipolar Disorder, 337-341), inBipolar Psychopharmacotherapy, caringfor the patient, Ed. H. Akiskal and M.Tohen ;Wiley

• Depressão e Mania na primeira pessoa(2006), p. 39; p. 33; p. 25; Edição da ADEB.

• Jamison, Kay Redfield (2007), Tocadospelo Fogo, A doença maníaco-depressiva eo temperamento artístico, Editora Pedrada Lua, [email protected]

• Goodwin, F; Jamison, K.R.(2007), 21-Medication adherence; Manic-DepressiveIllness (bipolar disorders an recurrentdepression), Second Edition, Oxford

• Montgomery S., Cassano, G. (1996),Management of Bipolar Disorder, 24-29,Martin Dunitz, London

• Thase, M. (2002), Some comments onrecent developments in psychosocialtreatme nts for Bipolar Disorder- 325.327;In Bipolar Disorder, WPW Series, Vol. 5,Wiley

A motivação para o tratamento resultade um somatório de factores, no qual émuito importante a qualidade da relaçãomédico/doente. Um tratamento mais sim‐ples é mais cumprido. O resultado positi‐vo é um reforço para a adesão. Mas alongo prazo pode perder‐se a ideia danecessidade do tratamento, pois as crisesparecem longínquas. Pessoas que pas‐sam por acessos de hipomania podem terbaixa motivação, assim como doentesque sofrem uma crise psicótica de Mania,que recalcam ou denegam. Outras pes‐soas vêem as crises como fenómenos iso‐lados, relativizando a doença, “benefi‐ciando” da hipomania e apenas pedindoajuda nas fases depressivas, numa recusados estabilizadores do humor e uma clara“preferência” pelos antidepressivos.Muito em especial, os jovens (F. Colom,2005) têm uma natural relutância emtomar medicamentos regularmente,atribuindo mais males à cura do que àdoença.É interessante observar que a própriapessoa que sofre de Doença Bipolar, numtestemunho dirigido a outros, resultantede uma experiência profícua em gruposde auto‐ajuda, ( Depressão e mania naprimeira pessoa, ADEB, 20006), faz umaclara proposta de psicoeducação: “Pretendo informar as pessoas portado‐ras desta doença, que têm sintomas masnão estão diagnosticados; as que estãodiagnosticadas e que assim se poderãosentir identificadas com alguns aspectosda minha doença (…). Em segundo lugarquero dirigir‐me às famílias, muitas vezesmal informadas ou que não se quereminformar (…). Por fim, dirijo‐me àschefias, que muitas vezes não têm emconta as dificuldades da vida profissional,demitindo‐se de lhes criar condições maisfavoráveis (…).”Para concluir, voltamos a repetir que aintervenção psicoeducativa faz parte doarsenal terapêutico essencial no trata‐mento das perturbações bipolares. É umacondição sine qua non para que os fárma‐cos estabilizadores do humor possamresultar num claro benefício na qualidadede vida da pessoa com perturbações dohumor de tipo bipolar.

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familiares sobre os sinais iniciais e osfatores precipitantes, além do rigorosocumprimento da terapêutica estabilizado‐ra são factores decisivos para uma inter‐venção precoce. Os sinais de alerta para um novo episódiodepressivo não são tão relevantes. Adepressão produz mais sofrimento aopaciente do que aos familiares, pelomenos num prazo curto. As estratégiasdestinadas a reduzir um conflito familiare o stress inter‐pessoal (a atenuação deemoções agressivas!), e a redução dascognições negativas têm maior relevânciapara a depressão. A adesão ao tratamento deve merecerum destaque especial na psicoeducaçãoda Doença Bipolar. A má adesão ao trata‐mento é com toda a certeza o factor iso‐lado que resulta numa fraca resposta aotratamento (Goodwin e Jamison, 2007).Estes autores definem com toda aacuidade as tarefas que cabem a um clíni‐co no pleno sentido da palavra: ser pro‐fessor do doente e da família, dando umainformação clara e rigorosa; ser um tera ‐peuta bem preparado, aberto, aceitandoa controvérsia com empatia; psicofarma‐cologista, sabedor das diversas opções,doses, efeitos adversos e interacçõesmedicamentosas; facilitador da partici‐pação de outros, em defesa do doente edo seu melhor tratamento; cientista,actualizado em relação aos progressos esabendo ajustá‐los ao caso singular.A questão da adesão ao tratamento develevar a uma verdadeira monitorização,caso a caso. A discussão sobre a adesãonão deve ser apressada, deve ter emconta a personalidade do doente, e deveser colocada abertamente e repetidasvezes. A colaboração dos familiarespróxi mos, em sintonia, pode ser muitoimportante. O doseamento periódico dosfármacos também é uma boa ajuda. Osefeitos adversos, tanto somáticos comopsicológicos, devem ser explicados aber‐tamente, devendo ser atenuados o maispossível. Todos os procedimentos devemcontar com a colaboração activa dodoente.

“ Não há “doençamental” em geral,como não há uma“doença cardíaca”em geral. “

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Há mais suicídios nas famílias de doentesbipolares?Os estudos iniciais diferiam quanto àdimensão do suicídio nos doentes bipo‐lares, mas actualmente sabe‐se que ésuperior, quando comparado com a popu‐lação geral. Apesar de haver riscos especí‐ficos, relacionados com a doença, para osdoentes bipolares, o suicídio não tem deser encarado como uma inevitabilidade.Existem formas de prevenção, nomeada‐mente: estar atento e valorizar qualquerreferência a ideação suicida quer sejafeita de forma clara ou indireta; não evi‐tar falar sobre ideias de morte; ter acapacidade de escutar sem fazer juízos devalor; conhecer os sinais de alarme efatores de risco; conversar sobre osproble mas que a pessoa vivencia, ajudar aencontrar alternativas de comportamen‐to; combater o isolamento; procurar tra ‐zer mais pessoas de referência (familia ‐res, amigos) para lidar com a situação;acompanhar e pedir ajuda a um profis‐sional de saúde.Por vezes, mesmo que estejamos muitoatentos e procuremos a ajuda indicada,podem ocorrer suicídios. Possivelmente,com a nossa intervenção conseguimosinterromper o processo suicida ou adiá‐mos o momento da morte, fazendo onosso melhor.

Que repercussões na família?A morte é sempre um acontecimento quecausa sofrimento e grandes repercussõesa nível familiar. Os estudos divergemsobre as consequências na família, quan‐do comparada a causa de morte.Contudo, parece haver especial sensibili‐dade em função dos métodos de estudousados, com maior rigor quando o méto‐do de recolha de dados é a entrevista emvez do questionário. São apontadas aindaalgumas fragilidades metodológicas naseleção da amostra, quase sempre porconveniência, sem amostras aleatórias.Alguns estudos apontam para que ossobreviventes (amigos ou familiares dealguém que se suicida e que por via dissosofre a sua perda), se comportam deforma idêntica de alguém que perde umfamiliar por outra qualquer razão. Noentanto, quando aspetos mais específicosdo luto são tidos em conta, os sobre‐viventes, quando comparados com ou ‐tros, apresentam maior rejeição, ver‐gonha, estigma, ocultação da causa demorte e culpa. A noção de rejeição aparece de forma fre‐quente sendo sentida como um ato inten‐cional de rejeição por parte de quem sesuicida. Todavia, se pensarmos que, nestecaso, quem se suicida fê‐lo sobretudomotivado por um processo psicopatológi‐

“ Após o suicídio, afamília enfrentamaior risco depsicopatologia... “

Perturbações deHumor e Suicídio

Repercussões na Dinâmica familiar co poderemos diminuir um eventual sen‐timento de rejeição. A vergonha e oestigm a sentido podem levar a que hajauma ocultação da causa de morte, situa ‐ção que não resolve o problema e que,como os estudos são unânimes em con‐siderar, pode conduzir a um afastamentoda procura de ajuda sendo uma barreirapara a prevenção do suicídio, incluindoaconselhamento e pósvenção (inter‐venção específica com os sobreviventes).A culpa, outro sentimento relativamentecomum, aparece sobretudo nos primeiros18 meses, após os quais não se encon‐tram diferenças para outros grupos emprocesso de luto por outras causas demorte. Além disso, este conceito foioperacionalizado de diversas formas emdiferentes estudos. No entanto, indepen‐dentemente da existência do sentimentode culpa ou da culpabilização de alguém,a partilha de sentimentos e emoçõespoderá ajudar a lidar melhor com oproble ma.

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A evidência científica aponta para algumaheterogeneidade do grupo de sobre‐viventes. Tem sido referido como impor‐tante a história de vida de quem se suici‐da. Se se trata de alguém com comporta‐mentos da esfera suicidária anteriores(comportamentos auto‐lesivos, atos suici‐das), com elevado risco de vir a cometersuicídio, o sentimento inicial pode ser dealívio, muitas vezes percebido como ina‐ceitável e como estratégia para lidar coma culpa. A questão do alívio e daaceitação são conceitos relacionados quepodem ser parte do mesmo continuum,variando entre o protesto, revolta até aoalívio, podendo ocorrer a aceitação entreestes dois sentimentos. Se, pelo con‐trário não há elevado risco de morte osentimento dominante é de choque,entorpecimento e descrença.Após o suicídio, a família enfrenta maiorrisco de psicopatologia, devendo ser esseum fator importante de intervenção.Alguns estudos apontam para um aumen‐to de casos de depressão e consumo desubstâncias psicoativas nos filhos. Poroutro lado, foram identificadas necessi‐dades e desafios familiares: lidar com aalteração das relações familiares e dasrotinas, das actividades e papéis do dia‐a‐dia, questões espirituais, assim comofinanceiras e jurídicas. Podem ainda ocor‐rer processos de identificação com quemse suicidou, modelação social e necessi‐dade de auto‐punição por sentimentosde culpabilização que podem aumentar orisco de suicídio dos sobreviventes.

Como podemos atenuar as consequênciasfamiliares?O trabalho de luto é fundamental.Embora seja um processo predominante‐mente individual e individualizadopodemos apontar para algumas fases:aceitar a realidade da perda e damudança; vivenciar a dor no luto; adaptar‐se a um contexto sem o morto,quer nos processos de ajustamentoexternos, internos, ou espirituais; recolo‐car emocionalmente o morto e continuarcom a vida onde passa a desenvolvernovos papéis, identidades e relações.Na maior parte das vezes as famíliasadaptam‐se e renascem para novos equi‐líbrios, alianças interfamiliares e desafios.Contudo, a partilha de sentimentos eemoções com amigos, vizinhos, fami ‐liares, grupos de apoio específicos, podeser útil para identificação de processosde resolução de problemas semelhantes,identificação de sinais de risco eaconselha mento. Sempre que houvernecessidade não se deve hesitar emrecorrer a um técnico de saúde que con‐tribua para a prevenção de complicações.Para um melhor conhecimento dosprocessos de luto nestes familiares e paraa elaboração de programas de pósvençãoé importante ouvir os sobreviventes, assuas especificidades e as suas necessi‐dades … porque prevenir é possível!

Professor José Carlos SantosPresidente da Sociedade Portuguesa deSuicidologia

Bibliografia recomendada:• Andriessen, K. & Krysinska, K. (2012)

Essential questions on suicide beverement.International Journal of EnvironmentResearch and Public Health, 9: 24-32.

• Gonda, X. et al (2012) Suicidal behavior inbipolar disorder: epidemiology,characterist ics and major risk factors.Journal of Affective Disorders, 143: 6-16.

• Sveen, C.; Walby, F. (2008) Suicidesurviv ors’ Mental Health and grief reactions: a systematic review of controlled studies. Suicde and Life-Threatening Behavior, 38(1): 13-29

“ Na maior parte dasvezes as famíliasadaptam-se erenascem para novosequilíbrios, aliançasinterfamiliares edesafios. “

As perturbações do humor constituemum dos mais importantes capítulos dainvestigação e da clínica na área da saúdemental. A sua relevância epidemiológica eo seu impacto no cotidiano dos cidadãosportadores deste tipo de perturbaçãoelevam‐na, mormente nos tempos atuais,à categoria de prioridade na área dasaúde, em geral, e na saúde mental, emparticular. Um dos sistemas de classificação das per‐turbações mentais mais utilizados nomundo atual é o DSM IV (classificação daAssociação de Psiquiatria Americana). Deacordo com este sistema, uma pertur‐bação do humor caracteriza‐se, essencial‐mente, por alterações ao nível dos esta‐dos afetivos. Ora, estas alterações (sin‐tomas e sinais) enquadram‐se em sín‐dromes que podem ser divididas em três

A importânciae dos cuidadoràs pessoas comUnipolar e Bip

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a da famíliares no apoio

m a patologiapolar

“ Um ambiente fami -liar ajustado consti-tui [...] um potencialpreventor e reabilita-dor da sintomatolo-gia afetiva. “

O Homem, no contexto evolutivo, é umser gregário e social. Ora, estas duascondições podem ser diferenciadas, namedida em que podemos encontrar espé‐cies gregárias sem evidência de relaçãosocial, mas nenhuma espécie socialpoderá deixar de ser gregária. Que queristo dizer? Os seres humanos vivem emgrupos, não só, porque o grupo constituiuma proteção adaptativa (gregarismo),mas, também, porque a sua condição deextrema imaturidade à nascença o obrigaa ser cuidado de uma forma complexa eduradoura (ser social). Também no con‐texto evolutivo, o ser humano tem vindoa sobreviver graças à existência de roti‐nas e de ciclos. Desde o último degrau decaçador‐recolector, à industrializaçãomassiva, passando pelo agricultor edomesticador, o ser humano tem tidorotinas que fazem parte do seupatrimónio genético‐evolutivo. Ainda nocontexto evolutivo, tem adquirido ciclos(essencialmente circadianos; e. dormimosde noite e estamos ativos de dia) queconstituem formas adaptativas ao meioambiente em que nos fomos desenvol‐vendo enquanto espécie. Assim, quandoeste tipo de condições evolutivamenteprogramado entra em rotura revelam‐se,potencialmente, sintomas e sinais dedesajustamento. Nas perturbações dohumor (mais visivelmente nas depressi‐vas) verificam‐se, comumente, alteraçõesdeste tipo: isolamento social, pertur‐bações do sono e alteração das rotinas.Mas, algumas destas perturbações aindatêm um outro tipo de condicionante: ahereditariedade. Mais nas perturbaçõesbipolares do que nas perturbações unipo‐lares, a investigação tem demonstrado opeso da hereditariedade como fator devulnerabilidade ao desencadear dapatologia.

pré‐mórbida ‐ ciclotimia) e Perturbaçõesdo Humor baseadas na etiologia (exºassociadas a um estado físico particularou ao consumo de substâncias).Para este tipo de perturbações, a investi‐gação científica tem desenvolvidonumerosas alternativas terapêuticas,quer farmacológicas quer psicológicas.Contudo, estas alternativas, apesar deterem vindo a demonstrar fortes evidên‐cias de eficiência e eficácia clínica (isto,quer no campo da investigação terapêuti‐ca quer no bem estar efetivo doscidadãos portadores de tais pertur‐bações), ficam aquém do esperado quan‐do outras formas de recuperação ou har‐monização não estão presentes. Essasformas, a que poderíamos chamarfatores de proteção ou facilitadores doprocesso terapêutico, são múltiplas. Duasdas mais relevantes são o apoio familiar eo apoio social.

tipos: Perturbações Depressivas (unipo‐lares, humor predominantementedepressivo, em graus de severidade eduração sintomatológica distinta),Perturbações Bipolares (de, pelo menos,duas tipologias estruturais, I e II, de acor‐do com predominância depressiva oumaníaca na ciclicidade do humor, e umatipologia menos severa ou mera condição

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A literatura científica tem demonstrado,de forma consistente, a importância dosuporte familiar e social nas Perturbaçõesdo Humor. Esta importância tem sidoveri ficada quer no que respeita ao feitoprotetor (prevenção da perturbação ouredução do seu impacto sintomatológico)quer no que respeita ao papel remediati‐vo (reabilitação mais rápida e eficaz dasintomatologia). Também existemevidências de que um ambiente mais roti‐nado (exº atividade laboral ou académicacontinuada e gratificante) e estilos devida mais saudáveis (em particular, noque respeita à atividade física, aos ritmosde sono/vigília adequados e ao evitamen‐to de consumo regular de substâncias –essencialmente álcool, psico‐estimulantese cafeína).A família, pelas suas especificidades, pos‐sui um papel muito relevante nestas per‐turbações. Antes de mais porque é umadas primeiras células sociais a sofrer oimpacto da perturbação. A sintomatolo‐gia deste tipo de perturbação é, fre‐quentemente, fator de perturbação rela‐cional. Com frequência, o sistema familiardesajusta‐se e torna‐se, ele próprio, porfeedback, um fator patognómico.Contudo, a família pode, e deve, fun‐cionar como agente facilitador do proces‐so terapêutico. Um ambiente familiarajustado constitui, como já dissemos, umpotencial preventor e reabilitador da sin‐tomatologia afetiva. Assim sendo, paraalém das intervenções terapêuticas vali‐dadas (quer farmacológicas quer psi‐cológicas), a família pode constituir umelemento chave do processo terapêutico. De que forma?Antes de tudo, e de acordo quer com aliteratura científica quer com a experiên‐cia clínica, a família deve ser informada (ebem informada) das manifestações liga ‐das à perturbação (muitas vezes, tidascomo simples mau feitio). Compreenderque alguns aspetos do comportamentodo paciente constituem sintomas de umaperturbação para a qual existem opçõesterapêuticas é um dos primeiros passospara a sensibilização da família para oprocesso terapêutico. Em seguida, a

família deve ser consciencializada do seupotencial papel no decurso da pertur‐bação, que é, frequentemente, crónica. Atomada de consciência deste potencialpapel é um fator determinante para a suaação (desde a vigilância na tomada damedicação até à ajuda na manutenção deestilos de vida saudáveis). Finalmente,como elemento gregário e potenciadordas rotinas pode funcionar como umalter‐ego do paciente no seu cotidiano,motivando e potenciando a sua vidaacadémica, laboral e social, ao mesmotempo que contribui para a harmonia doseu estado psicológico.Mas, questionemo‐nos: caberá este papelexclusivamente à família?Sem querer discutir aqui a noção defamília e a relevância dos vínculos afe‐tivos para a humanidade, gostaria decolocar, também, o problema doscuidadores, mormente em situaçõesonde o sistema familiar não pode garantiresta ajuda. O papel de cuidadores é tam‐bém muito relevante. Os cuidadores paraeste tipo de tarefa devem ter duascaracte rísticas específicas: pessoais etécni cas. No plano pessoal as característi‐cas de empatia e solidariedade são funda‐mentais. Sem tais características é muitodifícil aceder ao sofrimento do outro. Noplano técnico devem ter a informaçãofundamental sobre as característicasespecíficas do comportamento destespacientes e adquirirem competênciaspara lidar de forma adequada com essescomportamentos. Para tal não énecessário nem muito tempo nem muitoscustos. É somente necessária uma escolha adequada que maximize as características acima descritas. Destaforma, os cuidadores, tal como a família,mas de um modo mais dirigido, podemter um papel determinante na regulaçãodo cotidiano destes pacientes, na medidaem que a sua disponibilidade pessoal e asua informação técnica permitirão gerirde forma mais efetiva as dificuldadesmais frequentes nestes paciente que,aliás, já foram enunciadas.

Em suma, para além do papel fundamen‐tal das terapêuticas clínicas empirica‐mente validadas, a família e oscuidadores podem, e devem, funcionarcomo potenciador dessas mesmas terapêuticas. Em primeiro lugar, porquefazem parte do dia‐a‐dia do doente. Emsegundo lugar porque são mediadoresdessa mesma terapêutica (exº vigilânciada medicação, cooperadores das rotinas,encorajadores da vida social). E em ter‐ceiro lugar porque constituem a epifaniade algumas das condições de adaptaçãodestes pacientes: gregarismo, vida rela‐cional, cooperadores das rotinas, encora‐jadores de estilos de vida saudáveis.Imaginemos alguém com perturbaçãobipolar que viva sozinho, que sejaresistente à medicação, que sejaconsumi dor regular de álcool e que nosperíodos de exaltação maníaca percanoites de sono em festas, por exemplo.Conseguiremos, facilmente, imaginar queesse mesmo alguém, inserido num sis‐tema familiar ajustado e com um ambiente social adequado, desencadeariamenos episódios críticos, ou seria menosseveros ou recuperaria, em face de ajudaclínica, mais fácil e rapidamente dosepisódios que, reitero, muitas vezes, serepetem mercê da cronicidade própria dealgumas das perturbações do humor. Éeste o papel fundamental da família e doscuidadores! Mediar a prevenção e aterapêu tica, especialmente em pertur‐bações onde a severidade do sofrimentotem, muitas vezes, um fim dramático: osuicídio.Tratar um paciente com perturbação afe‐tiva é uma tarefa múltipla. Não se com‐padece com a exclusiva atuação terapêu‐tica clínica. Tal como um martelo necessi‐ta de uma mão para pregar um prego,um paciente com perturbação do humorprecisa de alguém que o ajude a recupe ‐rar, para além das ferramentas clínicas.

Paulo SargentoPsicólogo / Universidade Lusófona

“ ... a família deve serinformada (e beminformada) das mani-festações ligadas àperturbação (muitasvezes, tidas comosimples mau feitio). “

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O número de pessoas mais velhas temvindo a crescer a um ritmo exponencialem todo o mundo e em particular, emPortugal, onde se estima que existamatualmente 2 023 000 idosos. Hojeassiste‐se já a uma inversão da pirâmideetária (para cada 100 jovens existem 129idosos), prevendo‐se que em 2060, 32%da população portuguesa terá mais de 65anos [1].Esta evolução demográfica não deve serencarada como algo catastrófico, massim como uma oportunidade para trazersoluções inovadoras para muito dos atu‐ais desafios económicos e sociais, exigin‐do uma nova avaliação e reformulaçãodas várias políticas económicas, dassociedades atuais, onde todos devemdesempenhar um papel ativo. Em resposta a este desafio, as NaçõesUnidas definiram 2012, como o AnoEuropeu do Envelhecimento Ativo e daSolidariedade entre Gerações [2].

Neste contexto, foram definidas comoorientações fundamentais: a promoçãodo envelhecimento ativo no emprego; apromoção do envelhecimento ativo, nacomunidade através do voluntariado e docuidar; a promoção de uma vida saudávele independente no envelhecimento e oreforço da solidariedade entre as gera ‐ções, a fim de criar uma sociedade paratodas as idades [2]. No presente artigo será desenvolvidosobretudo o último aspeto, o da soli‐dariedade entre gerações e práticasintergeracionais. Esta preocupação com as práticas inter ‐geracionais teve início nos EUA, tendovindo a ser replicado um pouco por todoo mundo, particularmente com o trabalhodesenvolvido de uma forma estruturada,pela Beth Johnson Foundation [3], quecriou programas específicos implementa‐dos no Reino Unido, Irlanda, e posterior‐mente alargado a nível internacional, a

Envelhecimentoe Solidariedade IntergeracionalA intervenção intergeracional define-se como umaprática que visa mobilizar as pessoas para que em con-junto tenham o propósito de desenvolver atividadesmutuamente benéficas, que promovam uma maior com-preensão e respeito entre gerações, podendo deste modocontribuir para a construção de comunidades maiscoesas. A prática intergeracional é inclusiva, e construí-da a partir dos recursos positivos que os jovens e os maisvelhos têm a oferecer uns aos outros e a todos os que osrodeiam

(Definição da Beth Johnson Foundation)

“ ... as pessoas maisvelhas, [...] consti -tuem um valiosopotencial [...] noapoio aos jovens, nosentido da suavalorização. “

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Este trabalho encontra soluções paramuitas questões inerentes à solidão,combatendo muitas vezes o isolamento,e melhorando a saúde e o bem‐estar dosjovens e idosos. Neste processo, pre‐tende‐se ainda incentivar a partilha decompetências e experiências, através dasgerações, no sentido da promoção desociedades mais justas e equilibradas. Uma área privilegiada deste trabalho,estrutura‐se desde logo a partir dasfamílias. Tem sido notório na nossasociedade, o número maior de famíliasmultigeracionais, onde o papel dos maisvelhos vem sendo valorizado, com odesempenho de papéis de substituiçãodos progenitores, nomeadamente quandoprestam apoio e cuidados aos netos [5]. Por outro lado, tornam‐se uma referênciana transmissão das memórias familiares eno conhecimento que possuem sobre osrelacionamentos, ao longo de um perío‐do de tempo alargado. Constituem umelemento privilegiado de comunicaçãoentre os vários membros neste contextofamiliar multigeracional [5].Para além disso, as pessoas mais velhas,inseridas ou não, no contexto familiar,constituem um valioso potencial de par‐tilha de aptidões formais e informais,nomeadamente no apoio aos jovens, nosentido da sua valorização. Importa ainda estabelecer ligações entrea estrutura familiar e outras áreas, comosão as instituições de ensino. Estas insti‐tuições (escolas, liceus e universidades)podem desempenhar um papel muitoimportante, no contacto intergeracional,sendo exemplo disso as experiências ino‐vadoras desenvolvidas no Reino Unido enos Países Nórdicos [3].

Por outro lado, o desenvolvimento denovas tecnologias, com a criação deredes virtuais de âmbito social, constituium meio de partilha de experiências oude aprendizagem de novas aptidões.Devem por isso, ser encaradas de formapositiva, pelo elevado potencial informa‐tivo e formativo e não apenas, como umfraco substituto de relações humanas [6]. O trabalho intergeracional entre jovens eidosos visa deste modo, uma aproxi‐mação recíproca entre estes, no contextodas nossas realidades atuais, em torno deproblemáticas comuns que se encontramna comunidade, onde queremos viver. Segundo estudos recentes [7], estãoidentificadas cinco áreas fundamentaisde práticas intergeracionais:

1. Voluntariado intergeracional, incluindoorientação, partilha de aptidões.

2. Programas de promoção da coesão dacomunidade, reduzindo o medo dacriminalidade e acionando a segu‐rança.

3. Programas para impulsionar oenvelheci mento ativo e melhorar asaúde e o bem‐estar.

4. Programas de apoio ao desenvolvi‐mento das relações familiares e princi‐palmente do contributo que os maisjovens podem dar aos mais velhos evice‐versa.

Deste modo, estas práticas intergera‐cionais são geralmente realizadas atravésde projetos que unem as pessoas por umperíodo de tempo determinado ou cadavez mais, através de programas que inte‐gram a prática intergeracional na suaforma de trabalho. Nesse âmbito são consideradas umagrande variedade de atividades tais comoartes e ofícios, informática e computa‐dores, jardinagem, história, teatro,desporto, decoração e culinária, comoforma de facilitar a comunicação inter ‐geracional.

quase toda a Europa. Em Portugal, esteesforço tem sido desenvolvido por diver‐sas instituições, lideradas pela FundaçãoCalouste Gulbenkian [4], que procurandoresponder a este desafio, ampliou odebate na nossa sociedade, através daorganização de várias conferências, work‐shops e publicações, na perspectiva deinterligação do envelhecimento dassociedades, com a vida das pessoas,famílias e comunidades. Este trabalho intergeracional torna‐seessencial para quebrar barreiras, que fre‐quentemente existem entre gerações,baseadas em estereótipos negativos,muito potenciadas pela influência dosmass media. Torna‐se por isso crucial, oincentivo do diálogo entre gerações e oreforço do conceito de comunidade,como forma de ultrapassar esta dificul‐dade.

“ Torna-se [...] cru-cial, o incentivo dodiálogo entre gera -ções e o reforço doconceito decomunidade. “

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Para a implementação destas práticas,podem ser utilizados diversos recursos,tais como escolas, centros comunitários,centros de dia, centros de enfermagem eresidências, jardins, museus, bibliotecas,centros de lazer e de cultura e associações desportivas. Torna‐se fundamental que estas ativi‐dades sejam divulgadas e tenham acapacidade de cativar a participação dosdiversos intervenientes. Independentemente do tipo de abor‐dagem, estas iniciativas intergeracionais,caem sobretudo em três categorias [3]:

• Membros de uma geração, que dãoapoio a membros de outra.

• Pessoas de diferentes gerações quetrabalham em conjunto para resolveros problemas da comunidade.

• Pessoas de diferentes gerações queaprendem em conjunto.

Decorre dos programas implementadosem Inglaterra e Irlanda, a sistematizaçãodos seguintes benefícios adquiridas comesta prática intergeracional:

• São uma forma eficaz de abordar umasérie de questões (muitas delas priori‐dades fundamentais dos governos)como construção de comunidades ati‐vas, promoção da cidadania em bair‐ros, regenerando e abordando áreasrelacionadas com problemas inerentesàs desigualdades.

• São relevantes para uma série deáreas, como educação, saúde, segu‐rança comunitária, desenvolvimentocomunitário, emprego, economia, cul‐tura, artes e lazer.

• Têm impactos diretos sobre osenvolvidos, bem como sobre as suascomunidades. Os participantes podemsentir aumento da auto‐estima eserem capazes de dar e receber unsdos outros.

• Podem ainda promover a melhoria nasaúde em geral, dando um maior senti‐do a uma valorização individual,enquanto membro de uma comu‐nidade.

A avaliação da prática dos referidos pro‐gramas (projetos financiados em colabo‐ração com os respetivos governos), iden‐tificou uma série de benefícios para osparticipantes) [3]. Estas vantagens incluíam:

• A apreciação e satisfação com os pro‐jetos após a sua finalização, por todosos participantes no sentido de granderealização pessoal.

• As oportunidades para os idosos e osjovens se conhecerem e construíremamizade/relação.

• A possibilidade de partilha de conheci‐mentos, experiências e opiniões.

• A oportunidade de dar voz, permitindoo confronto e a compreensão depreocu pações, medos, opiniões,perceções, estereótipos e frustrações.

• Permitir a maior compreensão um dooutro em cada geração.

• Aumentar a confiança e os sentimen‐tos de segurança.

• Aprender e desenvolver novas com‐petências.

• Desenvolver maior compreensão erespeito pelas pessoas idosas e pelacontribuição positiva que estas pos‐sam dar.

• Tornar possível o desenvolvimento deuma melhor comunicação, compreen‐são, tolerância e confiança entre osparticipantes.

• Fornecer novos interesses para osintervenientes.

• Os mais velhos poderem prestar umpapel positivo como modelo para osmais jovens.

• Permitir a construção de uma melhorarticulação com a comunidade.

“ Este trabalhointergeracionaltorna-se essencialpara quebrar bar-reiras, que frequente-mente existem entregerações, baseadasem estereótipos nega-tivos, muitopotencia das pelainfluência dos massmedia. “

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A avaliação final destes projetos permitiuainda concluir como resultado, que osparticipantes mais velhos sentiam‐se maisseguros à volta de pessoas mais jovens emelhoravam a sua saúde geral e bem‐estar. Por outro lado, os participantesmais jovens tinham mais respeito pelaspessoas mais velhas, falando mais facil‐mente com estas, quando se encon‐travam. Além disso, sentiam‐se melhorcom as pessoas mais velhas que já conhe ‐ciam. Muitos participantes planeavammanter‐se em contato uns com os outros,após finalização do projeto [3].Vários relatórios recentes que exami‐naram como a prática intergeracionalpode ajudar a resolver problemas desegurança da comunidade, nomeada‐mente pelo combate a situações de isola‐mento, destacaram a necessidade deaumentar a comunicação e permitir, porexemplo, uma melhor compreensão dosproblemas de imigração. Estes progra‐mas ajudam, deste modo, a combater omedo da criminalidade, que exerce umainfluência negativa nas relações inter ‐geracionais. Neste contexto, são de promover proje‐tos intergeracionais, em que sejamdesenvolvidas atividades onde ambas asgerações tomem parte, melhorando osentimento de comunidade segura,reduzindo o medo do crime e aumentan‐do o bem‐estar dos participantes, geran‐do assim um capital social [5, 6].Em Portugal todo este trabalho está emfase inicial, necessitando de uma maiorsensibilização, para além das instituiçõese associações já envolvidas [8], commobilização ao nível das organizaçõesprivadas, das organizações de voluntaria‐do e sobretudo do apoio governamental(local e central), no sentido de genera ‐lização destas atividades, reforçando oenvolvimento das diferentes gerações,para que em conjunto construam um tra‐balho acrescentado no seio das comu‐nidades, que sustentem esta abordagem.Só assim, será possível construir comu‐nidades mais inclusivas, onde a segre‐gação dos mais velhos seja definitiva‐mente superada.

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Lia Fernandes, MD, PhDProf. da Faculdade de Medicina daUniversidade do PortoPsiquiatra no Centro Hospitalar S. João,PortoPresidente da Associação Portuguesa deGerontopsiquiatria

Referências:1. Instituto Nacional de Estatística, 2011.

http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_main

2. União Europeia, Governo de Portugal.Programa de Acão do AEEASG, 2012.http://www.envelhecimentoativo.pt/con-teudo.asp?tit=5

3. Beth Johnson Foundation, 2013.http://www.bjf.org.uk/

4. Fundação Calouste Gulbenkian, 2013.http://www.gulbenkian.pt/section154artId2196langId1.html

5. Fundação Calouste Gulbenkian. Questõesintergeracionais. Seminário, Outubro de2008.

6. Fundação Calouste Gulbenkian. Relaçõesintergeracionais. Resumo das principaisdescobertas. Ipsos Marketing, Setembrode 2009.

7. Alan Hatton-Yeo. Perspectivas sobrepráticas intergeracionais (pags.4-5). Em:Fundação Calouste Gulbenkian. Questõesintergeracionais. Seminário, Outubro de2008.

8. European Map of IntergenerationalLearning (EMIL), 2013. Disponível em:http://www.emil-network.eu/

BruceOmnipotente

A depressão é uma doença real que afetapessoas reais de forma intensa nas suasvidas, com repercussões em todas asdimensões da sua relação humana, comos outros e consigo mesmos. ADepressão não escolhe idades, género,ou estatuto socioeconómico. Esta é umadoença que é frequentemente desvalo ‐rizada socialmente e interpretada comoum sinal de fraqueza ou de falta de forçade vontade para lidar com as situações. Falar de Depressão é falar de pessoas.Pessoas em situação de sofrimento e quenecessitam de ser ajudadas. E é por essemotivo que hoje partilhamos um resumode um artigo publicado no New Yorker,por David Remnick, em Julho de 2012, emque Bruce Springsteen falou da sua lutacom a depressão desde há mais de 30anos.É difícil conceber esta pessoa, com umaimagem pública de grande força e vitali‐dade, o Boss (o Chefe), como podendoser vulnerável a esta doença, mas esta éa realidade, e o motivo por querealçamos esta situação tem a ver com ofacto de que este problema pode atingirqualquer pessoa e ser vivido com umaintensidade quase paralisante, mas deuma forma pouco visível pelos outros,não significando que estas pessoas sejammenores em nenhum aspecto, apenasque estão doentes e necessitam deapoio.Neste artigo do New Yorker, e apósvários meses em que o músico partilhouaspetos da sua vida pessoal comRemnick, surge a revelação do seu per‐curso na Depressão, suas causasprováveis, sintomas e estratégias.

Depressão deBruce Springsteen

“ ... a prática inter -geracional pode aju-dar a resolver proble-mas de segurança dacomunidade. “

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O seu percurso em psicoterapia vemdesde 1982, quando começou por se sen‐tir com ideação suicida, segundo o seuamigo e biografo Dave Marsh. Amudança de uma vida bastante modestapara uma situação de grande estrelatoprecipitou o aparecimento destes sin‐tomas num contexto biográfico anteriorde vivência com um pai alcoólico e violen‐to, com quem mantinha uma relaçãovolátil, devido às depressões paralisantesde que este sofria e preocupado que nãoconseguisse escapar à ameaça deinstabili dade mental que existia na suafamília.Foi por este receio que nunca recorreu adrogas, descrevendo os seus problemascomo mais discretos, mas igualmenteproblemáticos. O peso da violênciadoméstica entre os seus pais deixou‐lheferidas emocionais que, segundo opróprio, nunca conseguiu reparar. Sentiaque tinha herdado as características doisolamento depressivo do seu pai.Através da psicoterapia e da sua música,o artista, segundo a sua esposa PattiScialfa, pôde desenvolver estratégiaspara lidar com esta doença e com apressão constante a que estava sujeitomantendo o seu percurso profissional desucesso internacional.A Depressão clínica é diferente da tris‐teza, pois esta ultima é um sentimentoessencial a uma expressão emocional sã ecumpre uma função que pode permitir aadaptação a determinada circunstânciaque está na sua origem. A Depressão éalgo diferente, desajustado e disfun‐cional, que precisa de um apoio especia ‐lizado para poder ser controlado ou ultra‐passado. Na raiz das depressões estãopor vezes questões emocionalmentetraumáticas e estas têm que ser abor‐dadas. Em algumas situações como adepressão Bipolar a articulação com apsiquiatria é essencial e permite umaintervenção complementar e mais eficaz.Lidar com um diagnóstico de depressãoclinica é sempre uma experiência difícilmas é também, por vezes, a oportu‐nidade de olhar para a vida, abordarquestões que temos dentro de nós e pen‐sar no nosso percurso de forma diferente,de uma forma renovada e melhor, comoaparentemente aconteceu com o Boss.

Tradução e Adaptação: Renata Frazão

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Ground Zero

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Testemunho

O que quero dizer é que é extremamentedifícil compreender como é que alguémpode passar de "10 a 1000" apenas de umdia para o outro. Passar de um isolamen‐to e timidez totais para uma extroversãoe à vontade social imenso. O que sei é que eu própria tenho, porvezes, dificuldade em compreendermuitos dos meus próprios comportamen‐tos... e os outros?

Pés no chão ‐ que chatice!Este é o terceiro testemunho que escrevoe há muito tempo que estou a maiorparte do tempo estável. Tão estável quese torna aborrecido...Contrassenso? Provavelmente. Durante cerca de 4 anos creio ter ouvido,repetidamente, a psiquiatra dizer‐me:"você está à espera da hipomania". Quando me queixei a uma amiga dealgum tédio ela brincou: "bem‐vinda aomundo real".... Como assim?! Assimmesmo...Apesar de diagnosticada com a bipolar II(padecer com mais frequência e intensi‐dade de depressão do que de euforia), ocerto é que os estados de euforia ligeiratornavam o mundo mais fácil, mais interessante, mais bonito. E os meusníveis de confiança e autoestimatrepavam de uma forma só comparávelaos efeitos de algumas drogas.Tenho de tomar medicamentos paradeixar de me sentir "naturalmente"bem??

O meu 11 de Setembro de 2001 ocorreu a14 de Março de 2000. Antecipei, assim, o"fim do mundo" ‐ pelo menos o meu, etal como o conhecia até aí.Pode parecer excessivo mas não é. Umdiagnóstico de doença mental é absoluta‐mente terrível. E não há eufemismos queatenuem o seu poder devastador.Avisei quem me pediu este testemunhoque não havia muito de bom a dizer. Nãohá, de facto. E não tenho jeito paradourar a pílula. Também me solicitaramque compusesse um testemunho "impo‐nente" ‐ uma brincadeira em forma deelogio, de forma a convencer‐me aescreve‐lo. Não tenho a certeza do queseja um testemunho imponente mas sehá algo de imponente numa história devivência da doença mental é a própriadoença que merece esse adjetivo. Porquea realidade é que ela é, de facto, impo‐nente. E não só: ela é traiçoeira, irónica,avassaladora, egoísta e omnipresente.Exagero? Não me parece.Porquê? Porque, tal como disse inicial‐mente, e para quem teve muitas crises,com particular intensidade, sabe que elaarrasa e destrói as certezas do quesomos ‐ abala totalmente a nossa identi‐dade. Quem a viu virar‐lhe a sua própriapersonalidade do avesso, ser‐se quemnão se é, acreditar em coisas que normal‐mente jamais acreditaria, sabe do quefalo.Mas o que é, talvez, mais ingrato e "fasci‐nante" na convivência com a bipolar é asua inexplicabilidade ao nível dos com‐portamentos, sensações e sentimentos. Por exemplo: se neste momentoestivesse em euforia, este texto discorre‐ria sem percalços, hesitações ou duvidas,e estaria convencida de que estava aescrever um tratado de importância parauma inteira humanidade. Como não é o caso cumpro apenas umcompromisso, aborrecida por ter a consciência de que este latim não vai adiantar nada que não tenha já sidoreferido nalguma das revistas da ADEB.

Isso choca muitos doentes e, provavel‐mente, de forma mais marcada os bipo‐lares I. Mas a realidade é que têm, edevem, de estar conscientes das conse‐quências da euforia: os delírios e a detur‐pação do mundo são apenas algumasdelas, com consequências nefastas nosrelacionamentos, sejam de trabalho,amizade, familiares ou amorosos

Mas como é isso possível? Porque é que anossa "felicidade" deve ser travada??Porque a química do nosso cérebro está,nessas fases, a libertar mais serotonina edopamina do que o normal. E em poucotempo o nosso organismo deixa de saberlidar com isso de forma saudável. Masdeixo isso para os técnicos de saúde.

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Em 2012 foram receitados aos portugue‐ses 20.500 embalagens de antidepres‐sivos por dia. Jovens dos 12 aos 19 anosconsumiram 240 caixas de antidepres‐sivos e tranquilizantes diariamente.Naquele ano, os médicos prescreveramno total mais de 87 mil embalagensdestes psicofármacos (!). Em situaçõesiniciais como depressões ligeiras oumédias, as intervenções psicológicas sãoeficazes com resultados que se mantêmao longo do tempo. Ajudam os doentes adesenvolver estratégias para lidar com asdificuldades. O apoio psicológico, àsdepressões reativas por causas denatureza económica, aponta visõesmenos negativas e cria competênciaspessoais para melhor lidar com a doença.A dimensão psicológica não pode serparen te pobre ou descurada. APsicoterapia tem um poder fundamentalna ajuda aos doentes, evitando até atoma de psicofármacos em situaçõesdepressivas e perturbações de ansiedade.

Portugal é o país com mais consumo debenzodiazepinas (ex: xanax, lorenin)prescri tas em excesso e por períodosdemasiadamente longos, contrariandorecomendações internacionais. Estesansiolíticos têm ação apenas sintomática,provocando dependência e alteração damemória e raciocínio. O SNS, através doministério da Saúde, tem por dever eobrigação ter o conhecimento do serhumano na sua dimensão psicológica,apostando em dotar a Saúde Mental commais Psicólogos e combatendo a pressãoda indústria farmacêutica junto dos médi‐cos para que estes prescrevam cada vezmenos. Não podemos estar condenadosao empobrecimento, à depressão, àansiedade, ao sofrimento. Quando aspessoas estiverem em primeiro lugar!, adepressão deixará de doer.

Vítor Colaço Santos

Para mim a boia de salvação, para aaceitação e compreensão da minhacondição, foi o conhecimento da patolo‐gia. Ler e ler, perguntar, informar‐me. Naassociação, em livros, na internet e comos médicos. Os primeiros anos do meu Ground Zeroforam tão dedicados ao que me estava aacontecer que cheguei ao extremo,talvez obsessivo, de constante monitori ‐zação do meu comportamento, na tenta‐tiva de "controlar" a doença ‐ o quemesmo os médicos me diziam ser impos‐sível.

MedicaçãoNesta odisseia de 13 anos sei que tive detomar cerca de 20 medicamentos dife ‐rentes, muitos deles aos quais o meuorganismo reagiu bastante mal, fiz umaintoxicação com um estabilizador dehumor que me levou a internamento, emais recentemente tive o fígado afetadodevido a excesso de uma outra medi ‐cação. Neste campo há que ter redobrado cuida‐do e a híper vigilância é útil: a verdade éque todos os organismos reagem deforma diferente aos medicamentos e nãobasta fazer o que os médicos dizem. Háque comunicar‐lhes os estadosdesagradáveis resultantes dos efeitossecundários daqueles e discutir quais são,e em que dosagem, aqueles com os quaisnos sentimos melhor.

Sócia da ADEB n.º 827

“ ... a boia desalvação, para aaceitação ecompreensão daminha condição, foi oconhecimento dapatologia. “

A dimensão psicológicanão pode serparente pobre

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Foi publicado no Decreto‐lei n.º 22/2011,de10 de Fevereiro e Portaria n.º 149/2011de 8 de Abril, a regulamentação da coor‐denação nacional, regional e local dasunidades e equipas prestadoras de cuida‐dos integrados de saúde mental, ondeconsta a descrição da caracterização,serviços e critérios de admissão ao ApoioDomiciliário.Esta Portaria realça a importância daintervenção de equipas de apoio domiciliário junto de pessoas com doençamental grave, estabilizadas clinicamente,que necessitem de programa adaptadoao grau de incapacidade psicossocial,para reabilitação de competências rela‐cionais, de organização pessoal e domés‐tica e de acesso aos recursos da comu‐nidade, devendo estar preferencialmenteintegrada em estruturas com experiênciade intervenção em saúde mental.A ADEB vem implementando o seuserviço de apoio domiciliário, enquadradona sua capacidade de resposta, nos con‐celhos de Lisboa, Porto e Coimbra, deuma forma pontual e após uma avaliaçãodos critérios que levam ao pedido doassociado. Este apoio vai de encontro àsnecessidades dos doentes (e dos seusfamiliares) e aos objetivos estratégicos eregulamentares definidos pela Direção daADEB e enquadrados no Plano Nacionalde Saúde Mental. O Serviço de Apoio Domiciliário (SAD)constitui uma Resposta Social organizadaa que as pessoas em situação de maiorfragilidade e incapacidade de deslocaçãoàs nossas instalações, podem ter acessopara apoio nas actividades da vida quo‐tidiana e apoio psicossocial. Este conjun‐to de serviços é prestado no domicíliohabitual de vida do cliente, contribuindo

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para a promoção da sua autonomia e aprevenção de situações de descompen‐sação clínica, dependência ou seu agrava‐mento.Na valência de SAD os objetivos específi‐cos compreendem:

• Apoio psicossocial no domicílio;• Promoção de competências rela‐

cionais, organizacionais e autonomiapessoal;

• Prevenção de situações de risco e iso‐lamento;

• Garantia de acompanhamento psicos‐social e inserção social;

• Consciencialização do doente e famíliapara especificidades da doença ecuidados a ter;

• Contribuir para melhoria da qualidadede vida do doente e seus familiares.

O apoio domiciliário visa, tendo em contaas especificidades clínicas e necessidadesde cada associado, a promoção dosseguintes princípios:

• Respeito pelos direitos e dignidade doassociado com incapacidade psicossocial;

• Ter em consideração o superior inte ‐resse dos associados especialmentequando se planifica a intervenção, oque exige uma articulação muito próxi‐ma com estes, pessoas significativasdos mesmos e potenciais entidadesparceiras;

• Reconhecer que todos os associadosnecessitam de se sentir incluídos, deter um sentimento de pertença, de sesentir valorizados através do respeitomútuo e através de relações afectivascalorosas e recíprocas entre o associa‐do e os técnicos da ADEB;

Apoio Domiciliário no âmbito do apoio a Pessoascom Doença Unipolar e Bipolar

• Compreender a individualidade e per‐sonalidade de cada associado, deforma a criar um ambiente que facilitea interação, a criatividade e a reso ‐lução de problemas por parte deste;

• Garantir o envolvimento dos associa‐dos, de forma ativa e participativa nosapoios de que beneficiam;

• Assegurar o acesso a cuidados desaúde de qualidade a todos os associa‐dos, no âmbito da área de intervençãoda ADEB, mesmo aqueles que, pormotivos de dificuldade de ordem físicaou psicológica não conseguem deslo‐car‐se às nossas instalações;

• Fomentar a prestação de apoio psicos‐social aos nossos associados, pro‐movendo a participação das suasfamílias, quando possível, no seuprocesso de reabilitação, sendo estacooperação de extrema importância;

• Maximizar a autonomia da pessoa comincapacidade psicossocial;

• Reforçar a sua rede de suporte socialatravés da promoção de relaçõesinterpessoais significativas;

• Melhorar a sua integração social e oacesso aos recursos comunitáriosdisponíveis e adequados às necessi‐dades;

• Prevenir internamentos hospitalares • Sinalizar e encaminhar situações de

descompensação para os Serviços depsiquiatria adequados;

• Fomentar a educação para a saúde epsicoeducação na gestão destaspatologias (Unipolar e Bipolar);

• Aquisição de mais qualidade de vida eganhos de saúde.

O critério de aceitação de pedido deapoio domiciliário pelos associados daADEB passa pela incapacidade manifestade se deslocar às nossas instalações parareceber o apoio psicossocial com a nossaequipa de psicólogos, seja por motivo deproblemas de ordem física, psicológicaou outra devidamente identificada eavaliada.

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1944Maio 2013

Quando tudo é demasiado interes‐sante, inspirador, enrolamo‐nos nessadevoção. Nesse pasmar.As medidas práticas de ação – comque até há pouco estava obcecada,perdem importância. Não cabem nodia.

“Mas eu não estou em nenhum sítio!Estou de passagem!” ‐ gritei a alguém.

Have to try and adapt the world to myneeds and not the other way around.

Rádio no intervalo das emoções.Dói‐me o cabelo. Sinto os tendões.Musica apaziguadora.Pensamentos fogem. Deixo estar.Distraio (me), contraio (me), o tendãoda mão.

Sócia da ADEB n.º 827

Hipo

Deitar cigarro fora para dentro docarro. Bater contra passeio.Nível de alerta grande, nada de veloci‐dade.A vontade, pensamentos e planos e aabsoluta necessidade de fazer e criar émaior que a capacidade real deesforço possível do corpo.De repente já não tenho tempo paratanta vida social.Faço mini‐paragens. Concentro‐menos estados do corpo.“Trabalho” a Psicoenergia.Penso duas vezes quando os impulsosparecem violentar um ritmo maisnatu ral e de respeito para com as minhas prioridades.

Esquecer‐me, deixar de precisar decomer, dormir, tomar banho.A que tipo de energia andamos nestasfases?O que é que faz acelerar o corpo quese arrasta atrás de uma mente inquieta, ávida, hiper‐rápida?Corta‐se união Corpo‐Mente.Funcionam em registos diferentes.

O tempo abranda. 5 segundos é iguala meia‐hora. Impaciência, impulsivi‐dade, aparente clarividência. E depois há momentos PERFEITOS.Tudo discorre e desliza naturalmente.Não há esforço, tudo faz sentido. Omundo encaixa em ti e não tu nomundo.Fora esses momentos é a ânsia constante. Fazer, fazer, fazer.Tudo é intenso. Atinge, pica, corta ocorpo. Atravessa‐o em flechas deenergia.

ProsaAs diferentes alterações que se têm veri‐ficado na sociedade atual, sobretudo aonível da composição e funções do grupofamiliar, da solidariedade intergeracionale social e da insuficiência de respostasadequadas ao controlo das situações dedependência, permitem verificar que, umgrande número de pessoas em situaçãode dependência, continua a encontrar noServiço de Apoio Domiciliário umaresposta que contribui para colmataralgumas das dificuldades com que elaspróprias e/ou o seu agregado familiar sedebatem quotidianamente. A ADEB visaassegurar a prestação de apoio psicosso‐cial a estes associados, articulando, senecessário, com outras instituições paragarantir a dignidade necessária aoprocesso de reabilitação individual decada associado, e a prestação de apoioscomplementares que sejam necessários.O número crescente de pessoas vulnerá ‐veis e em situação de dependência pordiversas causas, entre as quais devido aproblemas de saúde mental, o númerorestrito de familiares que possam assegu‐rar os cuidados necessários devido aoestilo de vida atual, e a vontade de retar‐dar a institucionalização, levam à necessi‐dade crescente de implementação edesenvolvimento deste tipo derespostas, estando a ADEB a procuraraumentar progressivamente, de acordocom as nossas possibilidades, a capaci‐dade de resposta a estas solicitações.Esta resposta garante a continuação dainserção no seu meio habitual de vida,numa fase transitória, em que não existeuma alternativa adequada, garantindo oacesso ao apoio psicológico e psicosso‐cial essencial á gestão da doençaUnipolar e Bipolar, em algumas das suasfases, e desde que clinicamente perti‐nente.Assim, a prestação do serviço de apoiodomiciliário encontra‐se definido noRegulamento Interno de ServiçoDomiciliário‐ADEB, disponível no Site daADEB e em Brochura a partir de 1 deJunho de 2013.

Renata FrazãoPsicóloga da Sede da ADEB

Bibliografia:Manual de processos chave serviço de apoiodomiciliário – Segurança Social (2ª ediçãorevista)

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Convocatória

Estatuto Editorial• Editoriais temáticos• Publicação de documentos técnicos e científi‐

cos sobre as doenças mentais em geral, e emespecial sobre a doença Unipolar e Bipolar

• Informação pedagógica de modo a con‐tribuir para a Reabilitação, Educação ePrevenção daquaeles que sofrem dadoença Unipolar e Bipolar

• Entrevistas, artigos de opinião e documentários• Divulgação e testemunhos de pacientes e

familiares• Relatório das actividades sociais desen‐

volvidas pela ADEB• Espaço para divulgação das potenciali‐

dades dos associados no campo cultu‐ral,recreativo e social

ESCREVA E DIVULGUE A REVISTA BIPOLAR

Ficha TécnicaRevista Bipolar n.º 44Ano XVI, 1.º trimestre de 2013Proprietário: ADEB, NIF n.º502 610 760Editor: ADEBDiretor: Delfim Augusto OliveiraSub‐Diretora: Cristina DinisCoordenador da Redação: Delfim AugustoOliveiraColaboradores: José Manuel Jara, José CarlosSantos, Paulo Sargento, Lia Fernandes, ManuelaCipriano, Vítor Colaço Santos, Renata Frazão.Design Gráfico: Helder CarvalhoN.º depósito Legal: 143533 / 99Registo no ICS: 121 888Distribuição gratuita aos sócios

ContactosSede Nacional da ADEBQuinta do Cabrinha, Av. de Ceuta, n.º 53, LojaF/G, H/I e J1300‐125 LISBOATel: 218540740/8, Fax: 21 854 07 49,Tlm: 968982150, [email protected]ção da Região Norte da ADEBUrbanização de Santa Luzia, Rua Aurélio Pazdos Reis, n.º 357, Torre 5, r/c, Paranhos4250‐068 PORTOTel: 226066414 / 228331442, Fax 228331443, Tlm:968982142, [email protected]ção da Região Centro da ADEBRua Central nº 82 ‐ Mesura ‐ Stª Clara3040‐197 COIMBRATel/Fax: 239812574, Tlm: [email protected]

www.adeb.pt

Apoios

Encontro de Saberes eMemórias entreGerações

Sessão Solene comemorativa do23º Aniversário da ADEB

Em nome da Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares, (ADEB) convo‐co todos os associados a estarem presentes na Sessão Solene a fim da se comemoraro 23º Aniversário da ADEB, bem como no Encontro de Saberes e Memória EntreGerações, a realizar no próximo dia 8 de Junho de 2013, entre as 10:00 e 13:00 horas,na Escola Superior da Cruz Vermelha, em Lisboa, com base na seguinte ordem de trabalhos:

8 Junho 2013

Programa

10h00 Sessão solene alusiva ao 23ºaniversário da ADEBcom a representação de algunsmembros fundadores

1) Breve história do percurso do papelda ADEB na divulgação das patolo‐gias Unipolar e Bipolar. Contributospara a promoção da saúde emPortugal.

2) Resultados quantitativos e qualita‐tivos obtidos pelos associados daADEB, traduzidos em ganhos desaúde, qualidade de vida e autonomia

11h00 Combate ao estigma, direitoshumanos e inclusão socialDr. José Manuel Jara.Psiquiatra e sócio fundador da ADEB

11h30 A importância dos cuidadores daspessoas com Depressão ePerturbação BipolarDr.ª Maria José Hespanha,Investigadora no Centro de EstudosSociais da Universidade de Coimbra

12h00 Da ficção à realidadeO impacto junto da comunidadeda divulgação Perturbações deHumor

1) Custódia Gallego,atriz (a confirmar)

2) Testemunhos de associados comperturbação de humor e seus familiares

12h30 Tertúlia de PoesiaAutores de Antologia

Almoço convívio comemorativo:

• Restaurante David da BuracaEscolha do menu à lista a suportar pelopróprioLocal: Estrada da Buraca, nº 20, LisboaInscrições prévias na secretaria da ADEBaté ao dia 5 de Junho

Co-Financiado pelo Instituto da Segurança Social: AFEAF'2012 | Apoio Financeiro do Estado às Associações de FamíliaCo-Financiado pelo Instituto da Segurança Social: AFEAF'2012

Apoio Financeiro do Estado às Associações de Família