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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ENGENHARIA MECÂNICA ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE REVESTIMENTOS RESISTENTES AO DESGASTE PARA APLICAÇÃO EM PINOS DE RISERS DE PERFURAÇÃO E COMPLETAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO OFFSHORE. Trabalho submetido ao programa ANP – PRH 09 PAULO GUSTAVO B. GONÇALVES ORIENTADOR: PROF. AUGUSTO J. A. BUSCHINELLI. Florianópolis, março de 2005

ANP – PRH 09 - SINMEC - Laboratório de Simulação ...dihlmann/Aninha/Graduacao/... · de exploração offshore, é de fundamental importância conhecer e estudar os revestimentos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ENGENHARIA MECÂNICA

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE REVESTIMENTOS RESISTENTES AO

DESGASTE PARA APLICAÇÃO EM PINOS DE RISERS DE PERFURAÇÃO E

COMPLETAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO OFFSHORE.

Trabalho submetido ao programa

ANP – PRH 09

PAULO GUSTAVO B. GONÇALVES

ORIENTADOR: PROF. AUGUSTO J. A. BUSCHINELLI.

Florianópolis, março de 2005

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

1.1 COLOCAÇÃO DO PROBLEMA................................................................................. 1 1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO NO ÂMBITO DO PROGRAMA............................ 2

2 ESTADO DA ARTE....................................................................................................... 4

2.1 O PROCESSO DE ASPERSÃO TÉRMICA ............................................................... 4 2.1.1 ASPERSÃO TÉRMICA HVOF.................................................................................... 5 2.2 MECANISMOS DO DESGASTE................................................................................. 7 2.2.1 DESGASTE ABRASIVO ............................................................................................. 9 2.2.2 ENSAIOS DE DESGASTE ABRASIVO ................................................................... 12 2.3 MATERIAIS RESISTENTES AO DESGASTE APLICADOS POR AT/HVOF ..14

3 ENSAIO DE DESGASTE ABRASIVO ASTM G 65 ................................................ 16

3.1 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO SUGERIDO PELA NORMA ................................ 17 3.2 CARACTERÍSTICAS DO ENSAIO E DO EQUIPAMENTO ..................................... 18

4 METODOLOGIA UTILIZADA NA EXECUÇÃO DA PRIMEIRA SÉRIE DE ENSAIOS E NO ESTUDO DAS FONTES DE ERRO ................................................... 19

4.1 PRIMEIROS ENSAIOS DE QUALIFICAÇÃO ....................................................... 19 4.1.1 PROCEDIMENTOS DE EXECUÇÃO DA PRIMEIRA SÉRIE DE ENSAIOS ....... 20 4.2 ESTUDO DAS FONTES DE ERRO........................................................................... 25 4.2.1 ANÁLISE DO FORMATO DO NARIZ APLICADOR............................................ 26 4.2.2 ESTUDO DA VARIAÇÃO DO NÍVEL DE AREIA NO RESERVATÓRIO. ....... 26 4.2.3 PLANICIDADE E PARALELISMO ENTRE AS SUPERFÍCIES EM CONTATO CP/ BORRACHA................................................................................................................. 28

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 31

5.1 RESULTADOS DE ANÁLISE DO FORMATO DO NARIZ APLICADOR...... 31 5.2 VARIAÇÃO NO FLUXO DE AREIA........................................................................ 33 5.3 SIMETRIA DO PERFIL DE DESGASTE ............................................................. 36 5.4 SEGUNDA SÉRIE DE ENSAIOS DE QUALIFICAÇÃO .................................... 37 5.4.1 RESULTADOS DA SEGUNDA SÉRIE DE ENSAIOS DE QUALIFICAÇÃO.... 38

6 CONCLUSÕES............................................................................................................. 40

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 42

8 APÊNDICES ................................................................................................................. 43

9 ANEXOS ....................................................................................................................... 46

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Procedimento de conecção entre risers. _____________________________ 1 Figura 1.2- Riser de perfuração (à esquerda), região de conexão caixa/pino e ponteiras (à

direita de cima para baixo). _____________________________________________ 2 Figura 1.3 - Equipamento de ensaio de desgaste projetado e fabricado no laboratório de

soldagem – Labsolda / EMC - UFSC. _____________________________________ 3 Figura 2.1 – Esquema representativo da origem e construção da camada. _____________ 4 Figura 2.2 - Esquema de configuração das pistolas DJ 2700 e JP 5000._______________ 6 Figura 2.3 - Modelo simplificado para o desgaste abrasivo. _______________________ 10 Figura 2.4– Esquema simplificado do ensaio ASTM G65-00. _____________________ 14 Figura 2.5 - Seção transversal e morfologia dos diferentes tipos de fabricação de pós___ 14 Figura 3.1 – Esquema ilustrativo do funcionamento do ensaio ASTM G 65. __________ 16 Figura 4.1 - Seqüência do procedimento de marcação com grafite._________________ 21 Figura 4.2 - Marcação de grafite feita em superfície correta e superficie irregular. _____ 21 Figura 4.3 - Colocação posicionamento da lixa para usinagem. ____________________ 22 Figura 4.4 - Medição de dureza da borracha, durômetro Shore A___________________ 23 Figura 4.5 - Medição do diâmetro da roda, no equipamento de ensaio. ______________ 24 Figura 4.6- Secção transversal da região desgastadas, visto no estereoscópio. ________ 29 Figura 4.7 - Esquema ilustrativo da verificação da simetria de desgaste. _____________ 30 Figura 5.1 - Nariz aplicador, zoom da região de saída de areia. ____________________ 32 Figura 5.2 - Cortina de areia formada pelo nariz aplicador ajustado. ________________ 32 Figura 5.3 – Gráfico do comportamento do fluxo de abrasivo para as condições de

reservatório cheio e vazio._____________________________________________ 34 Figura 5.4 - Comportamento do abrasivo dentro do reservatório ___________________ 35 Figura 5.5 - Curva de variação do fluxo de areia ao longo de 30 min, com equipamento

desligado. _________________________________________________________ 35 Figura 5.6 - Curva de variação do fluxo de areia ao longo de 30 min, com equipamento

ligado. ____________________________________________________________ 36

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Atrito e desgaste em teste de pino em anéis. __________________________ 8 Tabela 2.2 - Constante de desgaste por abrasão, 3(tgθ)m/π, para vários materiais em

contato deslizante. ___________________________________________________ 11 Tabela 2.3 – Camadas de WC-17Co aspergidas com diferentes sistemas. ____________ 12 Tabela 3.1 - Parâmetros de ensaio para os procedimentos sugeridos.________________ 18 Tabela 5.1 - Resultados dos ensaios da primeira série de ensaios de qualificação.______ 31 Tabela 5.2 - Ensaio com reservatório vazio (2000 g). ______________________________ 33 Tabela 5.3 - Ensaio com reservatório cheio (10000g). ______________________________ 33

SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS

Aph [mm2] Área de Contato da Aspereza Projetada no Plano Horizontal Apv [mm2] Área da Seção Transversal da Ranhura em V AISI __ American Iron and Steel Institute Al2O3 __ Óxido de Alumínio - Alumina ASTM __ American society for Testing and Materials ASTM G 65 __ Norma que padroniza o ensaio da “Roda de Borracha” AT AT/HVOF

__ Aspersão Térmica Aspersão Térmica pelo processo HVOF

CP(s) __ Corpo(s) de Prova DJ 2700 JP5000 __ Pistolas de Aspersão Térmica – Última Geração EMC __ Departamento de Engenharia Mecânica FN [N] Força Normal Aplicada no Corpo de Prova Grana __ Unidade de Granulometria da Areia h [mm] Altura de Penetração da Conicidade HVOF __ High Velocity Oxy-Fuel (Chama a Alta Velocidade) IPT __ Instituto de Pesquisa e Tecnologia LabMat __ Laboratório de Materiais LabSolda __ Laboratório de Soldagem Ls [mm] Comprimento de um Único Escorregamento da Aspereza Massa Perdida [g] Massa de material retirado da amostra no ensaio M [mm3] Valor Médio do Volume Perdido Rpm __ Unidade de freqüência de Rotação S [mm3] Desvio-Padrão TIG __ Tungstênio Inerte em Gás – Processo de Soldagem UFSC __ Universidade Federal de Santa Catarina V % Coeficiente de Variação Volume perdido [mm3] Volume de material retirado da amostra no ensaio W N Carga Total Aplicada na Sobre as Partículas W’ N Carga Suportada por Uma Aspereza θ [°] Ângulo de Inclinação da Conicidade da Partícula σe [N/mm2] Tensão de Escoamento do Material 3(tgθ)m/π __ Constante de Desgaste por Abrasão, WC-Co WC-Co-Cr

__ Carboneto de Tungstênio com Cobalto Carboneto de Tungstênio com Cobalto e Cromo

RESUMO Como parte de um extenso projeto de pesquisa que visa avaliar o desempenho de

revestimentos de alta resistência ao desgaste e à corrosão, para aplicação destes materiais

em pinos de risers de perfuração e produção de petróleo offshore. O presente trabalho teve

como objetivo inicial, avaliar o comportamento destes revestimentos quanto à resistência ao

desgaste abrasivo, através de um equipamento de ensaio de desgaste tipo “Roda de

Borracha”, projetado e fabricado numa etapa anterior do projeto.

Em vista da dispersão dos resultados obtidos no processo de qualificação do

equipamento (segundo norma ASTM G 65), teve-se que desviar o foco do trabalho para

descobrir os problemas relacionados às características estruturais do equipamento e aos

procedimentos utilizados para realização do ensaio.

Assim, neste trabalho não será mais conduzida uma analise dos revestimentos

resistentes ao desgaste, e sim um estudo aprofundado das características do desgaste

abrasivo e da norma que padroniza o ensaio (ASTM G 65). Ao longo deste documento,

também será discutido toda a metodologia aplicada para detectar as fontes de erro que

influenciaram na dispersão dos resultados da calibração, bem como as melhorias realizadas

no equipamento e nos procedimentos usados na execução do ensaio.

Como conclusão deste trabalho, foi produzida uma nova série de ensaios para

calibração, os quais apresentaram resultados mais que satisfatórios, certificando o

equipamento para a realização do ensaio ASTM G 65.

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 COLOCAÇÃO DO PROBLEMA Para conectar a sonda de perfuração offshore na superfície do mar, ao poço de

petróleo no solo marinho, utilizam-se juntas de risers (Figura 1.1 e Figura 1.2) que são

conectadas na superfície, uma a uma, até atingir a “cabeça do poço” através lâminas d’água

superiores a 1.000 m. Para garantir a estanqueidade nas linha formadas pela coluna de

risers, utiliza-se um sistema caixa/pino (Figura 1.2), onde a “fêmea” (caixa) possui selos de

borracha especial (geralmente Nitrex) em sua região interna, enquanto o pino possui um

revestimento superficial resistente ao desgaste e à corrosão e com um bom acabamento

superficial, de forma a garantir a vedação na região de contato entre o pino e o selo da

caixa.

Toda vai, durante o procedimento de montagem, ou mesmo na movimentação destas

juntas no deck da sonda, pode ocorrer o riscamento da superfície dos pinos ou, até mesmo,

o lascamento do seu revestimento superficial. Este tipo de falha compromete a

estanqueidade da conexão e a segurança do processo de perfuração ou completação do

poço, assim torna-se necessário desmontar toda a coluna de riser, até a junta danificada

para substituí-la, o que significa uma operação que pode levar a mais de 12 h de downtime.

Figura 1.1 - Procedimento de conecção entre risers.

2

Tendo em vista os altos valores envolvidos no aluguel da sonda e dos equipamentos

de exploração offshore, é de fundamental importância conhecer e estudar os revestimentos

superficiais aplicados nos pinos, da mesma forma que é essencial analisar as características

de resistência à corrosão e ao desgaste destas camadas.

Figura 1.2- Riser de perfuração (à esquerda), região de conexão caixa/pino e ponteiras (à direita de cima para baixo).

1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO NO ÂMBITO DO PROGRAMA

O presente trabalho inclui-se como uma etapa de um extenso projeto pesquisa

iniciado pelo engenheiro Fabrício Freire durante seu mestrado em Engenharia Mecânica na

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, em conjunto com CENPES (Centro de

Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello). O objetivo deste

projeto é avaliar o desempenho de revestimentos superficiais resistentes ao desgaste e à

corrosão, visando aplicá-los em ponteiras de risers de perfuração e completação de poços

petrolíferos offshore, através do processo de aspersão térmica HVOF.

Inicialmente, este trabalho tinha como objetivo analisar o comportamento e

características quanto à sua resistência ao desgaste abrasivo, de revestimentos aplicados no

sistema AT/HVOF por mestrando do Labsolda/UFSC e, comparando os resultados com

valores contidos na literatura, fornecer um feedback dos procedimentos de AT utilizados

permitindo otimizar os parâmetros do processo.

3

Para se avaliar o comportamento destes revestimentos quanto à resistência ao

desgaste abrasivo, durante o desenvolvimento deste projeto, foi projetado e fabricado um

equipamento de ensaio de desgaste conforme a norma ASTM G65 (Figura 1.3), conhecido

como “Ensaio da Roda de Borracha”.

Figura 1.3 - Equipamento de ensaio de desgaste projetado e fabricado no laboratório de

soldagem – Labsolda / EMC - UFSC.

Porém, devido a problemas no projeto e construção do equipamento de ensaio

(Figura 1.3), somados à pouca experiência na execução deste tipo de ensaio, durante a

calibração do equipamento, os resultados dos ensaios apresentaram um desvio-padrão

acima do limite estipulado pela norma ASTM G 65 – 00.

Por isso, foi necessário aplicar um programa de detecção de fontes de erro, para

planejar e executar ajustes estruturais no equipamento, bem como, reavaliar e otimizar os

procedimentos de execução do ensaio, de forma a reduzir a dispersão dos resultados e

garantir uma boa confiabilidade dos valores fornecidos.

Assim, este trabalho desviou-se do objetivo inicial, de forma que não será mais

apresentada uma avaliação dos revestimentos aplicados pelo processo HVOF. Ao longo

deste documento será descrita toda a metodologia utilizada para detectar as fontes de erro

atuantes na primeira série de ensaios de calibração, comentando seus resultados e as

modificações realizadas para chegar à confiabilidade alcançada na segunda série de ensaios

de calibração.

4

2 ESTADO DA ARTE

2.1 O PROCESSO DE ASPERSÃO TÉRMICA

Aspersão Térmica é um grupo de processos que permite a deposição de camadas de

materiais metálicos ou não-metálicos, resistentes à corrosão e/ou desgaste, sobre um

substrato (material base) de menor resistência. Os materiais no estado sólido são aquecidos,

mudando para um estado plástico ou fundido e são acelerados, em direção ao substrato, por

um gás comprimido. A Figura 2.1 mostra um esquema representativo da origem e formação

da camada aspergida (Zimmerman apud Freire [1]). As partículas colidem com a superfície

do substrato, tornam-se aplainadas e formam finos grânulos lenticulares que se conformam

aderindo às irregularidades da superfície preparada e, na seqüência, sobre as próprias

partículas já existentes, resfriando-se e formando uma estrutura típica lamelar contendo

inclusões de óxidos, vazios e porosidade (Lima e Trevisan apud Freire [1]).

Material Processo Partículas Aspergidas Revestimento

- Arame ou pó (morfologia)

- Composição - Tamanho de

grão

- Processos: chama, arco-elétrico, HVOF e plasma

- Parâmetros de aspersão

- Ativação térmica

- Grau de fusão - Velocidade de

resfriamento - Oxidação

-- Microestrutura: composição, fases, óxidos, poros, trincas

Figura 2.1 – Esquema representativo da origem e construção da camada (Zimmerman apud Freire [1]).

5

São utilizados diversos tipos de materiais para aspersão, como polímeros, metais

puros ou ligados, cerâmicos, metais misturados a cerâmicos. Estes materiais podem estar na

forma de pó ou arame, dependendo da possibilidade de fabricação. Metais puros ou ligados

podem ser produzidos no formato de arames, pois são maleáveis e resistem a tração e

compressão quando injetados nas pistolas. Materiais mais frágeis como cerâmicos ou

alguma mistura destes vêm na forma de pós, com diferentes morfologias e granulometrias

que dependem do tipo de fabricação empregada. Os polímeros, devido à baixa resistência à

tração/compressão e facilidade de estocagem, são produzidos em pó (Pawlowski apud

Freire [1]).

Os processos de aspersão diferenciam-se pelo tipo de fonte de calor da pistola,

sendo os principais: a chama, HVOF (High Velocity Oxy-Fuel - chama a alta velocidade),

arco-elétrico e plasma. O processo a chama usa oxigênio e um combustível gasoso como o

acetileno, produzindo uma chama com temperatura em torno de 2500oC e baixa velocidade

de projeção das partículas. O material de aspersão pode ser tanto na forma de pó quanto na

de arame. O processo a arco-elétrico é caracterizado por utilizar material na forma de

arames (sólido ou tubular) que produzem um arco-elétrico no bico da pistola, este processo

apresenta uma temperatura um pouco maior do que o processo a chama e, atua com

velocidade de projeção relativamente baixa, chegando a 300 m/s em equipamentos mais

modernos. Tanto o processo plasma quanto o HVOF podem aspergir materiais cerâmicos,

metálicos ou de compósitos. O processo plasma, com temperaturas mais altas

comparativamente aos outros sistemas, e velocidade de projeção em torno de 200 m/s, é

recomendado para materiais cerâmicos, tal como Al2O3. Os sistemas HVOF depositam

materiais a altas velocidades de projeção de partícula, acima de 400 m/s, e a temperaturas

mais baixas em comparação aos demais processos, evitando a deterioração das

características do material aplicado e do substrato (Kreye apud Freire [1]).

2.1.1 ASPERSÃO TÉRMICA HVOF

No processo HVOF os gases da mistura oxigênio-combustível inseridos a alta

pressão são consumidos em uma câmara de combustão produzindo um jato de exaustão

com velocidade muito acima da velocidade do som. Existem vários tipos de equipamentos

e, embora possuam diferenças no design (Figura 2.2), todos os aparelhos são iguais nos

princípios fundamentais, isto é, se baseiam na combustão de uma mistura gasosa ou líquida

6

(no caso da JP-5000) com oxigênio, que é injetada na câmara de combustão a altas pressões

(0,5-3,5 Mpa) e vazões (até 0,016 m3/s). A queima desta mistura gera uma chama que se

expande “supersonicamente” e sai para a atmosfera em velocidades da ordem de 2000 m/s

(mais de 7 vezes a velocidade do som) [1;2].

A AT hipersônica produz camadas densas (>99%) com teores de óxidos e valores de

adesão significativamente melhores que no processo a plasma. Devido a sua alta velocidade

e temperatura relativamente baixa, quando comparado com o plasma, o processo HVOF é

particularmente adequado para revestimentos contendo carbonetos (como as ligas de

carbonetos de tungstênio em matriz de cobalto, e carboneto de cromo em matriz níquel-

cromo), pois a baixa energia térmica envolvida reduz a transformação de fases dos

carbonetos e a sua dissolução, resultando em melhoras na dureza e performance da camada;

enquanto que a elevada velocidade gera uma menor porosidade e melhor adesão ao

substrato [2].

O material, por exemplo, pó de aplicação, é introduzido na corrente de gases em

diferentes posições na câmara, coaxialmente, ou lateralmente, conforme a variedade de

pistola (DJ 2700 ou JP 5000 - Figura 2.2) [1].

Figura 2.2 - Esquema de configuração das pistolas DJ 2700, a cima, e JP 5000, a baixo (Zimmerman apud Freire [1]).

7

2.2 MECANISMOS DO DESGASTE “Desgaste pode ser definido como a indesejável e cumulativa mudança em

dimensões motivada pela remoção gradual de partículas discretas de superfícies em contato

e com movimento relativo, devido, predominantemente, a ações mecânicas” [3].

Na realidade, a corrosão também pode interagir com o processo de desgaste

modificando as características das superfícies sob desgaste. Assim, o desgaste deve ser

compreendido como um complexo de diferentes processos que podem ocorrer

independentemente ou em combinações. Segundo Stoeterau et al.[3], existem quatro

subcategorias principais de desgaste:

Desgaste por adesão;

Desgaste por abrasão;

Desgaste corrosivo;

Desgaste por fadiga superficial.

Na literatura também podem ser encontradas outras categorias de desgaste, tal

como: desgaste por fretting, por impacto, erosão, cavitação, deformação plástica e

delaminação, deslizamento rotativo. Além destes modelos, Serra [2] descreve que o

desgaste provocado por uma partícula incidente na superfície do metal pode ser produzido

pela combinação, ou de maneira isolada, de alguns modelos, podendo-se dividir nos

seguintes modos:

Impringimento: onde os modelos de deformação plástica e trincamento por fadiga

são predominantes. O impringmento caracteriza-se por elevados ângulos de

incidência.

Fricção: onde os modelos de abrasão, adesão e desgaste por rolamento ocorrem na

região de contato entre as partículas e a superfície. Este modo ocorre

predominantemente quando as partículas abrasivas se chocam com a superfície em

baixos ângulos ou efetivamente deslizam na superfície. Se as tensões na superfície

excederem o limite de cizalhamento do material ocorre o corte ou arrancamento do

material.

8

Trituração: ocorre quando as partículas abrasivas são aprisionadas e trituradas

entre duas superfícies em movimento relativo. O desgaste é especialmente maior se

a dureza das partículas exceder às das duas superfícies.

É importante acrescentar que atrito e desgaste não devem ser sempre relacionados,

apesar de ambos proverem da interação de superfícies, um elevado desgaste não significa

alto atrito. Assim, os valores da Tabela 2.1 mostram que materiais c/ coeficientes de atrito

próximos, apresentam desgastes bastante diferentes [3].

Tabela 2.1 - Atrito e desgaste em teste de pino em anéis [3]. MATERIAIS COEF. DE ATRITO DESGASTE EM cm3/cm .10-12

1. AÇO DOCE / AÇO DOCE 0,62 157.000

2. 60/40 BRONZE / CHUMBO 0,24 24.000

3. PTFE (TEFLON) 0,18 2.000

4. AÇO INOX FERRÍTICO 0,53 270

5. POLIETILENO 0,65 30

6. CNW / CNW (CARBONETO

DE TUNGSTÊNIO)

0,35 2

CARGA: 400G VELOCIDADE 180 cm/s Anéis de aço ferramenta endurecidos, exceto nos testes 1 e 6

Analisando o processo de desgaste pode-se perceber sua complexidade através do

reconhecimento das variáveis envolvidas, incluindo dureza dos materiais envolvidos,

tenacidade, ductilidade, módulo de elasticidade, tensão de escoamento, propriedades

relativas à fadiga, estrutura e composição das superfícies em contato, bem como geometria,

pressão de contato, temperatura, estado de tensões, distribuição de tensões, coeficiente de

atrito, distância de escorregamento, velocidade relativa, acabamento superficial,

lubrificante, contaminantes, e atmosfera ambiente na interface sob desgaste. Em alguns

casos, pode também ser importante conhecer o histórico ‘tempo de separação X tempo de

contato’ das superfícies sob desgaste [3].

“Embora o processo de desgaste seja complexo, nos últimos anos conseguiu-se o

desenvolvimento de relações empíricas quantitativas para as várias subcategorias de

desgaste, sob determinadas condições de operação. Muitos experimentos deverão ser feitos,

entretanto, até que essas relações sejam amplamente aceitas” [3].

9

2.2.1 DESGASTE ABRASIVO

De acordo com a norma ASTM G65 – 00 [4], desgaste abrasivo é o desgaste

realizado por partículas ou protuberâncias duras pressionadas contra uma superfície sólida

ao longo de um movimento relativo entre ambos. Onde, para qualquer sistema, este

fenômeno dependerá, sobre tudo, dos seguintes fatores:

Tamanho da partícula abrasiva;

Dureza do abrasivo;

Formato da partícula;

Valor de tensão imposta pela partícula abrasiva;

Freqüência de contato entre o abrasivo e a superfície.

Dentre estes principais fatores que atuam no desgaste abrasivo, Serra [2] descreve as

seguintes relações de influência:

Quanto menor for o tamanho da partícula abrasiva, maior será o desgaste. Isto

porque maior será sua área de contato com a superfície metálica;

Quanto maior for a dureza do abrasivo, maior será o desgaste;

Quanto maior a velocidade relativa do abrasivo, maior o desgaste promovido pelo

mesmo;

Abrasivos com formato agudo aceleram o desgaste;

A abrasão será maior quando houver a presença de umidade ou um lubrificante,

porque a presença deste faz com que as partículas abrasivas não percam suas bordas

cortantes.

Rabinowicz apud Stoeterau et al. [3], desenvolveu um modelo simplificado de

desgaste abrasivo, considerando uma forma cônica para as asperezas cortantes, ou

partículas, conforme mostra a Figura 2.3.

10

Figura 2.3 - Modelo simplificado para o desgaste abrasivo [3].

Segundo ele, considerando a ação de uma única aspereza cônica, pode-se notar que

a profundidade de penetração na superfície cessa quando a porção da carga suportada por

essa única aspereza, W’, dividida pela área de contato da aspereza projetada em um plano

horizontal, Aph, for igual à tensão de escoamento, ou seja,

eee

ph

WrrWAW

πσπσσ

3'3'3' 22 =⇒×=⇒=

(Eq. 2.1)

onde r é o raio do cone da aspereza penetrante, na altura da superfície do metal. A área da

seção transversal da ranhura em V produzida pela aspereza, riscando ao longo da

superfície, pode ser expressa por

θtgrrhApv ×=×= 2 (Eq. 2.2)

e o volume total de desgaste produzido um único escorregamento, Ls, da aspereza é

θtgrLsLsAV pvab2' ×=×= (Eq. 2.3)

e substituindo r2 da equação 2.3 pela equação 2.1 obtém-se o volume de desgaste

produzido por uma única aspereza durante um ricamento de comprimento Ls, ou seja,

e

abtgLsWV

πσθ

3'' ××=

(Eq. 2.4)

assim, para todas as asperezas que estariam suportando a carga total W, o volume total de

desgaste seria:

e

mab

tgLsWV

πσθ

3)(××

= (Eq. 2.5)

11

onde (tgθ)m é um valor médio para todas as asperezas que varia de acordo com o tipo de

desgaste abrasivo, os materiais envolvidos e o tamanho da partícula, conforme é mostrado

na Tabela 2.2, onde o desgaste do tipo três corpos é de ordem de grandeza menor, porque as

partículas introduzidas entre as superfícies rolam aproximadamente 90% do tempo total de

desgaste (Rabinowicz apud Stoeterau et al.[3]), riscando e removendo o material da

superfície somente em uma pequena parcela de tempo.

Tabela 2.2 - Constante de desgaste por abrasão, 3(tgθ)m/π, para vários materiais em contato deslizante segundo relatórios de vários pesquisadoras (Rabinowicz apud Stoeterau et al.[3]).

Materiais Tipo de Desgaste Tamanho da partícula (μm) 3(tgθ)m/π

Vários dois corpos ----- 180 x 10-3

Vários dois corpos 110 150 x 10-3

Vários dois corpos 40 - 150 120 x 10-3

Aços dois corpos 260 80 x 10-3

Vários dois corpos 80 24 x 10-3

Latão dois corpos 70 16 x 10-3

Aço três corpos 150 6 x 10-3

Aço três corpos 80 4,5 x 10-3

Vários três corpos 40 2 x 10-3

A respeito dos tipos de desgaste, Stoeterau et al.[3], descreve que o desgaste

abrasivo ocorre de duas formas:

Entre dois corpos: quando uma superfície rugosa e dura, ou uma superfície mole

contendo partículas duras, desliza sobre uma outra superfície mais mole, e risca uma

série de ranhuras nesta superfície. O material das ranhuras é deslocado na forma de

partículas de desgaste, geralmente soltas. Este tipo de desgaste não ocorre quando a

superfície dura for lisa.

Entre três corpos: quando partículas duras e abrasivas são introduzidas entre as

superfícies deslizantes, desgastando-as. O mecanismo desta forma de desgaste

abrasivo pode ser compreendido como: Um grão abrasivo adere temporariamente a

12

uma superfície deslizante, ou fica incrustado nela, riscando a outra superfície e

gerando uma ranhura. Neste caso o desgaste pode deixar de existir caso as partículas

do sistema forem muito pequenas ou de dureza menor que o material das

superfícies.

Serra [2] também classifica a abrasão em três tipos de processo:

Abrasão por goivagem: processo abrasivo no qual o abrasivo exerce sobre a peça

uma forte solicitação por pressão/impacto, removendo partículas grandes da

superfície do metal. A superfície desgastada exibe profundos sulcos.

Abrasão de elevado esforço ou alta pressão: processos abrasivos em que as

superfícies dos componentes são usadas para uma progressiva fragmentação das

partículas abrasivas (o abrasivo é triturado ou fragmentado entre as duas

superfícies). O desgaste é ocasionado pelo esforço de forças compressivas

concentradas no ponto de contato do abrasivo com a superfície, e é resultado do

desgastes da superfície pelo escoamento plástico e fadiga dos seus componentes

dúcteis e trincamento daqueles frágeis. O termo elevado esforço significa que as

partículas abrasivas são submetidas a esforços superiores a sua resistência ao

esmagamento.

Abrasão de baixo esforço: processo abrasivo em que a superfície do metal é

submetida a riscamento por partículas abrasivas e onde as partículas não são

submetidas a esforços superiores a sua resistência ao esmagamento (as tensões

envolvidas são baixas e não excedem a resistência à ruptura do abrasivo).

2.2.2 ENSAIOS DE DESGASTE ABRASIVO

Os ensaios de desgaste abrasivo geralmente utilizados para testes com camadas

duras feitas por aspersão térmica são o da roda de borracha ASTM G65 e o do disco de

fricção JIS H8615. O ensaio ASTM, conforme pode ser observado na Tabela 2.3, produz

resultados em uma ordem de grandeza muito maior que o da JIS possibilitando diferenciar

melhor a características das camadas aspergidas de metal-duro WC-17Co. O ensaio JIS

apresenta valores de desgaste mais baixos e com variação muito pequena entre uma camada

e outra, tornando mais difícil diferenciá-las [1].

Tabela 2.3 – Camadas de WC-17Co aspergidas com diferentes sistemas

13

(Schwetzke e Kreye apud Freire 2002 [1]). Sistema HVOF Combustível Dureza

(HV 0,3) Desgaste [mg]

ASTM G65 Desgaste [mg]

JIS H8615 Jet Kote Propano, etileno, hidrogênio 1080-1240 48-59 2,9-5,5 Top Gun Propano, etileno, hidrogênio 1080-1240 69-94 3,8-8,4 DJ Standard Propano 930-980 58-62 4,5-4,8 DJ 2600 Hidrogênio 1300-1340 32-36 3,0-3,2 DJ 2700 Propano, etileno 1320-1400 34-39 2,9-3,5 JP-5000 Querosene 1260-1490 32-38 2,9-3,6 Top Gun-K Querosene 1230-1330 29-35 3,1-4,1 Carbide Jet Querosene 1170-1340 44-47 3,9-4,1

O ensaio JIS funciona com uma roda de 12 mm x 50 mm φ onde é colocado um

papel abrasivo # 320. Essa roda é pressionada com uma carga de 30 N contra a camada

aspergida. Após uma translação de 30 mm de ida e volta ou duplo passe, a roda gira 0,9o e

repete a translação. Depois de 400 duplos passes ou uma volta completa, troca-se a lixa

(SiC) por uma nova e pesa-se a amostra. O total de perda de massa depois de 1200 duplos

passes é considerado como valor de comparação para a resistência ao desgaste do

material[1].

Quanto ao ensaio de desgaste ASTM, constitui-se de uma roda de aço revestida por

um anel de borracha de dureza 60 Shore A, como pode ser visto no esquema da Figura 2.4.

O equipamento utilizado para este ensaio consiste de uma roda que gira a uma rotação

constante, sempre em contato com a superfície do corpo de prova e, entre ambos, escoa um

fluxo constate de material abrasivo, areia de quartzo, ao mesmo tempo em que se aplica,

através de um sistema de braço-de-alavanca, uma carga constante no corpo de prova

comprimindo-o contra a superfície do anel de borracha. Enquanto isso é mantida uma

rotação fixa do disco (200 rpm) e, desta forma, o CP desgasta pela ação do abrasivo que se

adere momentaneamente na borracha riscando a superfície da amostra e arrancando

material da camada [1,4].

Maiores detalhes sobre o ensaio ASTM G65 serão comentados no Capítulo 3.

14

Figura 2.4– Esquema simplificado do ensaio ASTM G65-00 [1].

2.3 MATERIAIS RESISTENTES AO DESGASTE APLICADOS POR AT/HVOF

Nos sistemas HVOF utiliza-se principalmente uma ampla variedade de pós de

carboneto. Os pós variam pela composição, granulometria e também em termos do tipo de

fabricação: sinterizado, aglomerado sinterizado, recoberto, esferoidizado, atomizado,

britado ou apenas misturado.Vê-se na Figura 2.5 a morfologia e seção transversal de alguns

tipos de pós [1].

Sinterizado Aglomerado sinteriz Recoberto Esferoidizado

Figura 2.5 - Seção transversal e morfologia dos diferentes tipos de fabricação de pós (Beczkowiak apud Freire [1]).

O modo de fabricação determina a morfologia dos pós. Essa característica tem

grande influência na troca de calor entre a partícula e os gases de combustão, pois

diferencia os pós pela área de troca de calor e capacidade de absorver a energia térmica.

Como o tempo que as partículas ficam na chama é de cerca de 1 ms, uma rápida e

homogênea absorção de calor é importante para que o material atinja uma semifusão ou

fusão adequada á sua deformação ao se chocar ao substrato. A morfologia dos pós é

determinante também em como as partículas ao se chocarem com o substrato, se

15

deformarão e adaptarão a ele, distribuindo homogeneamente as fases duras, formando a

estrutura da camada [1].

Quanto à granulometria, o pó que possui uma granulação máxima superior a 45 μm

conduz em todos os sistemas a camadas com maior porosidade e inferior dureza. Uma

granulação dentro de –45+10 μm, mais fina, seria ideal para as propriedades mecânicas das

camadas. Os pós mais densos, como sinterizado e fundido produzem geralmente camadas

mais porosas, mesmo para uma granulometria de –45+15 μm, em relação ao aglomerado

sinterizado; e especialmente em sistemas que utilizam uma menor energia térmica. Assim

deve-se optar sempre que possível por pós aglomerados sinterizados com granulometria

abaixo de 45 μm. (Schwetzke e Kreye apud Freire [1]).

Os principais materiais, para revestimentos resistentes ao desgaste e a corrosão,

citados pela literatura, são: WC-Co, WC-Ni, WC-Co-Cr, WC-Cr-Ni, Cr3C2-NiCr. Estes

materiais têm a característica de possuírem carbonetos de alta dureza. Esses carbonetos

estão imersos em uma matriz relativamente tenaz/dúctil de Co, Ni, Co-Cr ou Ni-Cr que tem

como função a união das partículas, além de possuir resistência a corrosão [1].

A Tabela 2.4 mostra os valores de desgaste dos diversos pós aspergidos pelo

sistema HVOF , ficando na faixa de 25 a 49 mg para o ensaio da roda de borracha ASTM

G65 com 2000 rotações e 2,8 a 35 mg para o ensaio de disco de fricção com 1200 DP

(duplo passes) JIS H8615. Para o ensaio da ASTM os pós aglomerados sinterizados ainda

mantém vantagem em relação aos sinterizados e fundidos tanto para o WC-Co quanto para

o WC-Co-Cr, sendo esses dois materiais similares em relação às taxas de desgaste [1].

Tabela 2.4 - Propriedades de camadas produzidas com o sistema DJ 2700 [1].

Tipo de Pó Tipo de Fabricação

Granulometria [μm]

Dureza (HV 0,3)

Desgaste [mg]

ASTM G65

Desgaste [mg]

JIS H8615

Queima de carbono [% peso]

WC-Co 83-17 Agl./Sint. -45+10 1390 35 2,9 33 WC-Co 88-12 Agl./Sint. -45+10 1310 25 2,8 24 WC-Co 88-12 Sinterizado -45+11 1150 37 2,8 24 WC-Co 88-12 Fundido -45+10 1150 31 3,5 7 WC-Co-Cr 86-10-4

Agl./Sint. -45+15 1390 25 5,6 34

WC-Co-Cr 86-10-4

Sinterizado -45+15 1410 30 3,6 19

WC-Co-Cr 86-6-8 Agl./Sint. -45+15 1350 30 4,5 --

16

3 ENSAIO DE DESGASTE ABRASIVO ASTM G 65

O ensaio da roda de borracha, como é comumente conhecido (em inglês, dry

sand/rubber wheel abrasion test), envolve o processo de desgaste de um corpo de prova

padrão através de um fluxo controlado de areia normatizada com granulometria e

composição determinadas. Conforme se pode observar na Figura 3.1, o abrasivo é

introduzido entre o CP e a roda de borracha, disco de aço com uma tira, ou anel, de

borracha com dureza específica. O corpo de prova é pressionado contra a roda de borracha

por uma força aplicada, FN, através de um sistema ‘braço de alavanca’ enquanto o fluxo de

areia adere momentaneamente à borracha arranhando a superfície a amostra. O sentido de

rotação da roda é tal que a face de contato (CP-borracha) mova-se na mesma direção que

escoa o abrasivo. O tempo de ensaio e o valor da força FN variam de acordo com o

procedimento adotado (ver Tabela 3.1, página 18). O CP deve ser pesado antes e depois do

ensaio e, pela diferença de massa, determina-se a massa consumida pelo desgaste, massa

perdida (mass loss). Porém, o desgaste abrasivo deve ser mensurado em volume (mm3)

devido aos diferentes valores de densidade dos materiais e, portanto, deve-se converter o

valor de massa perdida em volume perdido (volume loss).

Figura 3.1 – Esquema ilustrativo do funcionamento do ensaio ASTM G 65.

Fluxo de areia 300 – 400g/min

Porta-amostra

Braço de alavanca

Peso

FN Disco

Borracha

Rotação 200rpm

17

3.1 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO SUGERIDO PELA NORMA

O ensaio ASTM G65 – 00 recomenda cinco procedimentos diferentes, de acordo

com o grau de resistência a abrasão e/ou espessura de revestimento superficial do corpo de

prova.

Procedimento A – Este teste é relativamente severo, utilizado para analisar

classificar materiais metálicos em uma ampla escala de desgaste abrasivo, indo

desde os metais de baixa resistência à abrasão, até materiais com alta resistência ao

desgaste abrasivo, tal como os metais duros. Geralmente este procedimento é

utilizado para classificar materiais de média e alta resistência.

Procedimento B – Uma variação econômica do procedimento A, podendo ser

usado para materiais com alta resistência a abrasão, porém é mais comum utiliza-lo

em materiais com media a baixa resistência. Também se deve optar pelo

procedimento B quando o total de volume perdido no procedimento A exceder à

100mm3.

Procedimento C – Uma variação do procedimento A, em menor tempo. Para ser

utilizado em corpos de provas revestimentos com camadas finas.

Procedimento D – Este procedimento e uma variação mais tênue do procedimento

A, particularmente executado em ensaios com materiais de baixa resistência à

abrasão. Também se deve optar por este procedimento no caso materiais com taxa

de volume perdido muito próximas, quando ensaiados no procedimento A.

Procedimento E – Variação menor do procedimento B para materiais com média

ou baixa resistência ao desgaste abrasivo.

A Tabela 3.1 mostra os parâmetros, força e rotação, para cada procedimento, bem

como o comprimento de desgaste referente a cada procedimento. Este comprimento total de

desgaste nada mais é do que a linearização do número de revoluções da roda de borracha

(ver anexo I, 8.4 Lineal Abrasion).

18

Tabela 3.1 - Parâmetros de ensaio para os procedimentos sugeridos [4]. Procedimento Força Aplicada,a

FN (N) Número de Revoluções

Comprimento Total de desgaste (m)

A 130 6000 4309 B 130 2000 1436 C 130 100 71,8 D 45 6000 4309 E 130 1000 718

a Tolerância admissível de FN ± 3%

3.2 CARACTERÍSTICAS DO ENSAIO E DO EQUIPAMENTO

Dentre as características que envolvem este ensaio, existem alguns detalhes, tais

como aspectos estruturais do equipamento, característica dos materiais utilizados (abrasivo,

tipo de borracha etc.), procedimentos e precauções a serem tomadas, os quais são de

grande importância para garantir a validade dos resultados obtidos e analisa-los diante dos

resultados de ensaios descritos na literatura. Dentes estas características pode-se citar:

Estruturais

Dimensões e Preparação da Roda de Borracha;

Formato e Posicionamento do Nariz Aplicado de Areia;

Alinhamento do Braço de Alavanca em Relação ao Eixo do Disco e a Superfície

de contato.

Materiais

Granulometria e Composição do Abrasivo;

Composição e Dureza da Borracha;

Materiais Utilizados como Referência para Calibração;

Procedimentos e Precauções

Limpeza e Pesagem do Corpo de Prova;

Posicionamento do CP e Regulagem do Porta-Amostra;

Verificação do Fluxo de Abrasivo;

Verificação da Planicidade e Paralelismo entre a Superfície do CP e a Região de

Contato da Borracha;

Todas estas características, bem como outras menos relevantes, estão comentadas na

norma ASTM G 65 – 00, anexo I.

19

4 METODOLOGIA UTILIZADA NA EXECUÇÃO DA PRIMEIRA

SÉRIE DE ENSAIOS E NO ESTUDO DAS FONTES DE ERRO

Para que pudessem ser realizados os ensaios de desgaste abrasivo nos revestimentos

aplicados pelo processo AT/HVOF, foi necessário, inicialmente, calibrar o equipamento.

No entanto, os resultados da primeira série de ensaios para qualificação apresentaram um

coeficiente de variação muito alto (ver anexo I, 11.4 Initial Machine Operation and

Qualification). Isto exigiu iniciar todo um trabalho para se conhecer e eliminar as fontes de

erro dos procedimentos de execução usados e do equipamento, visando minimizar a

dispersão dos resultados. Assim, neste capítulo serão apresentados os parâmetros e

procedimentos adotados para primeira série de ensaios de qualificação e, na seqüência, a

metodologia aplicada para estudar as fontes de erros que influenciaram nos resultados desta

primeira série de ensaios de qualificação.

4.1 PRIMEIROS ENSAIOS DE QUALIFICAÇÃO

Na primeira série de ensaios, optou-se pelo Procedimento A, 6000 rotações e 130 N

(ver item 3.1, página 24), devido às características de elevada dureza e resistência ao

desgaste dos revestimentos aplicados, os quais seriam ensaiados posteriormente. Foram

utilizados 6 CPs de AISI D-2 termicamente tratados (ver anexo I, 11.6 Reference

Materials), nas dimensões: 76 X 25 X 12,5 mm, com acabamento superficial de retificação

grosseira. A rotação da roda de borracha (RB) foi fixada em 200 rpm, conforme prescrito

por norma para todos os ensaios em qualquer Procedimento, de “A” a “E”. A borracha

utilizada foi a tipo SBR 60 Shore A, porém sua dureza medida com durômetro Shore A -

KORI, variou entre 68-72 Shore A. Apesar da norma especificar Grana 70, o abrasivo

consumido foi areia normal Grana 50 fabricada pelo IPT (Instituto de Pesquisas

Tecnológicas), pois a areia tipo 70 (Grana 70) não é comercialmente disponível no Brasil e,

como neste ensaio a areia não pode ser reutilizada, seria muito dispendioso importar este

tipo de material. Quanto ao fluxo de areia, recolheu-se, separadamente, toda a areia

consumida em cada ensaio, pesando-a posteriormente, de forma a se obter a massa total de

areia usada em cada ensaio e, conseqüentemente o fluxo médio de cada ensaio.

20

4.1.1 PROCEDIMENTOS DE EXECUÇÃO DA PRIMEIRA SÉRIE DE ENSAIOS

Os procedimentos usados para a realização destes ensaios estão baseados em norma

(ASTM G 65 –00) e foram executados na seqüência em que serão postos a seguir:

Limpeza e Secagem do CP

Antes de iniciar o ensaio o corpo de prova deve estar devidamente limpo e seco,

para poder ser pesado. Para tanto, as amostra foram submersas em acetona, durante 5 min

no ultra-som, e posteriormente secadas com secador de ar quente (secador de cabelos).

Pesagem do CP

Logo após ser limpo e seco o CP deve ser pesado em uma balança calibrada, com

resolução de: 0,0001g para o Procedimento C e 0,001g para os demais Procedimentos. No

caso dos ensaios em questão, as amostras forma pesadas em uma balança digital com

0,001g de resolução.

Fixação e Posicionamento do CP no Equipamento

Os corpos de prova foram posicionados no porta-amostra de forma a ficarem o mais

próximo possível do bico aplicador e (nariz), para que se garantisse a maior área de contato

entre a superfície de apoio, do porta-amostra, e a face do CP, oposta à face ensaiada,

pressionou-se o CP a amostra contra a roda de borracha, através da carga aplicada no braço

de alavanca, e só depois disto foram apertados os parafusos de fixação o CP.

Marcação com Grafite para Analisar Paralelismo e Planicidade

Antes de iniciar cada ensaio, foi aplicado grafite comum em uma pequena região da

superfície da roda de borracha para se projetar em uma tira de papel (sulfite comum) a

marcação do contato CP-borracha. Para tanto, foi executada seqüência ilustrada na Figura

4.1 comentada e na próxima página:

21

Figura 4.1 - Seqüência do procedimento de marcação com grafite.

Espalhar o grafite por toda espessura da região da borracha (foto A - Figura 4.1);

Envolver o CP com a tira de papel e fixa-los no porta-amostra (foto B – Figura 4.1);

Girar o disco até o grafite ficar em contato com o papel sobre o CP;

Liberar o braço de alavanca e aplicar a carga (FN = 130 N), via colocação do peso;

Girar o disco no mesmo sentido da rotação de ensaio, até toda a região com grafite

riscar o papel;

Suspender o braço de alavanca e retirar a tira de papel (foto C – Figura 4.1).

A marcação do grafite (Figura 4.2) serve para analisar o paralelismo entre as

superfícies formadas pela região de contato da borracha e a face de ensaio do CP, bem

como a planicidade destas superfícies.

Figura 4.2 - Marcação de grafite feita em superfície correta (à esquerda)

e superficie irregular (à direita).

Paralismo e Problema c/ Plan. corretos planicidade

A) B) C) Grafite

22

Lixamento para Ajuste da Superfície da Borracha

Em casos onde a marcação indicou inclinação entre as superfícies ou falta de

planicidade, conforme detalhe mostrado na Figura 4.2, efetuou-se uma usinagem da

superfície da borracha para eliminar esta inclinação. Para tanto, introduziu-se uma tira de

lixa d’água #100 entre o CP a borracha (a parte de abrasivo voltada p/ a borracha - Figura

4.3), servindo como ferramenta de usinagem.

Figura 4.3 - Colocação posicionamento da lixa para usinagem.

O processo de usinagem foi realizado conforme a seqüência a baixo:

Ligar o variador de freqüência na rotação de ensaio, 200 rpm (1700 no display);

Liberar o braço de alavanca e colocar a lixa em contato com a borracha, porém, sem

adicionar peso ao braço de alavanca, atuando somente com o peso próprio;

Após um tempo de aproximadamente 10 a 15 segundos, suspender o braço e

desligar o equipamento.

Depois do lixamento, foi feita uma nova marcação, para verificar se houve correção

da planicidade (ver Figura 4.2, página 21), caso ela não tivesse sido corrigida, foi repetido o

procedimento. Nos casos onde a marcação com grafite não mostrou problemas de

inclinação e paralelismo, foi efetuado um leve lixamento, entre 3 a 5 segundos, para retirar

o grafite da borracha.

Verificação da Dureza da Borracha

Para medir a dureza da borracha foi utilizado um durômetro Shore A, da marca

KORI SEIKI MFG (Figura 4.4), com escala de 0 à100 Shore A. Antes e depois de cada

ensaio foram tomadas quatro medições na superfície do disco, de forma a se obter, para as

Lixa d’água

Lixa e CP fixados no Porta-Amostra

23

duas etapas (início e fim), um valor médio da dureza da borracha ao longo do seu

perímetro. O procedimento utilizado para medição da dureza é descrito na norma ASTM G

65 ( ver anexo I, 6.2 Rubber Whee).

Figura 4.4 - Medição de dureza da borracha, durômetro Shore A

Rotina de Inicialização do Ensaio

Após medir a dureza da borracha, executou-se a rotina de inicialização descrita

abaixo:

Ligar o variador de freqüência na rotação de 200 rpm (1700, no display do variador

de freqüência);

Abrir sistema de refrigeração;

Abrir fluxo de areia e esperar ele estabilizar-se;

Liberar o braço de alavanca, já com o peso posicionado;

Iniciar a contagem do tempo via cronômetro digital com resolução de 0,01s.

Durante todo o decorrer do tempo de ensaio, o comportamento do equipamento foi

observado para que se pudesse perceber qualquer irregularidade que interferisse nos

parâmetros do ensaio, tal como: vibração excessiva, descolamento da borracha, interrupção

do fluxo de areia e variação da rotação (mudança no valor de display do variador de

freqüência). Também foi adicionado areia ao reservatório de forma aleatória, visando

apenas manter constante o nível de abrasivo dentro dele.

70 Shore A

24

Rotina de Encerramento do Ensaio

Ao fim de 30 minutos, primeiramente suspendeu-se o braço de alavanca para

interromper o contato da borracha com o corpo de prova, em seguida, foi executada uma

rotina de encerramento, conforme esta posta a seguir:

Desligar o variador de freqüência;

Fechar fluxo de areia;

Fechar sistema de refrigeração;

Medir dureza da borracha (ver item 4.1.1.6, página 22);

Medir diâmetro da roda de borracha (ver item 4.1.1.9, página 24);

Limpar, secar e pesar o CP (ver item 4.1.1.1 e 4.1.1.2, página 20).

Medição Diâmetro da Roda de Borracha

De acordo com a norma ASTM G 65 – 00, deve-se medir o diâmetro da roda de

borracha ao final de cada ensaio, para que o valor do desgaste produzido seja corrigido

(maiores detalhes, ver anexo I, 10. Calculating and Reporting Results, ASTM G65-00).

Assim, para medir o diâmetro da roda de borracha, foi utilizado um paquímetro analógico,

de 300 mm, sendo tomadas três medições de diâmetro em diferentes posições da roda, sem

precisar retirara-la do equipamento, como mostrado na Figura 4.5.

Figura 4.5 - Medição do diâmetro da roda, no equipamento de ensaio.

25

4.2 ESTUDO DAS FONTES DE ERRO

Para se avaliar quais problemas estariam atuando como fontes de erro, foi realizada,

com base na literatura, a relação abaixo, com todos os fatores que poderiam influenciar na

dispersão dos resultados bem como a maneira como influenciariam:

Falta de controle e potência no eixo de saída: Causa variação da rotação da roda

ao longo do ensaio;

Excentricidade do disco e má confecção da roda de borracha: Causam

desalinhamento do anel de borracha e vibração excessiva do equipamento,

produzindo variação na área desgastada, vibração excessiva e variação da força FN

ao longo do ensaio;

Problemas de planicidade e paralelismo entre as superfícies em contato CP/

borracha: Produz não-uniformidade na área da região desgastada e no perfil de

desgaste;

Variação do nível de areia no reservatório: Influencia na variação do fluxo de

areia durante o ensaio;

Variação na composição e/ou presença de umidade no abrasivo: Causa variação

no fluxo de areia e mudança nas características de desgaste;

Problemas no formato do nariz aplicador: Compromete a uniformidade da

cortina de areia;

Imprecisão da balança utilizada: Não produz medições confiáveis;

Procedimento de limpeza e secagem indevidos: “Camuflam” os resultados pois a

umidade e sujeira somam-se aos valores da massa medida;

Variação das propriedades do material padrão: causa aleatoriedade dos

resultados; Aquecimento e variação das propriedades da borracha durante o ensaio: não

permite que o abrasivo se desprenda após riscar o CP, dificultando a renovação dos

grãos de areia.

26

Dentre os fatores listados, através de uma análise das características do equipamento

e seu comportamento durante os ensaios, selecionou-se os prováveis causadores da

dispersão nos ensaios da primeira série:

1. Problemas no formato do nariz aplicador.

2. Variação do nível de areia no reservatório.

3. Problemas de planicidade e paralelismo entre as superfícies em contato CP/

borracha.

A partir desta seleção aplicou-se uma metodologia específica para analisar cada uma

destas três fontes de erro. O método usado no estudo destas fontes serão descritos abaixo,

sendo que seus resultados serão comentados posteriormente no Capítulo 5.

4.2.1 ANÁLISE DO FORMATO DO NARIZ APLICADOR

Estudando uma versão antiga (1991) da norma ASTM G 65, notou-se que nos dois

exemplos sobre equipamentos que não apresentaram bons resultados o problema estava

relacionado com o nariz aplicador. Segundo norma, defeitos no bocal do nariz aplicador

influenciam na uniformidade da cortina de areia e esta, por sua vez, compromete a

repetibilidade dos ensaios. À luz disto, desmontou-se o equipamento a fim de analisar o

nariz aplicador, separadamente.

Para verificar a dimensões do nariz foi usado um paquímetro convencional e,

dispondo do desenho de projeto do nariz aplicador, o qual pode ser visto no Apêndice B,

comparou-se o nariz atual com as dimensões especificadas no projeto. Também foi

observada uniformidade da cortina formada pelo fluxo do abrasivo, a partir de fotografias

tiradas da cortina de areia logo após deixar o bocal de saída do nariz aplicador. Estas fotos,

digitalizadas, foram importadas para o ambiente do Auto Cad 2000, onde se pode, através

de uma conversão de escala, medir a cortina de areia ao logo do seu comprimento.

4.2.2 ESTUDO DA VARIAÇÃO DO NÍVEL DE AREIA NO RESERVATÓRIO.

O fluxo de abrasivo, segundo ASTM G 65, deve estar entre 300 a 400 g/min. No

entanto a norma não especifica se este fluxo pode variar dentro desta faixa ao longo do

ensaio, ou se ele deve ser constante e, não maior que 400 g/min e nem menor que 300

g/min de areia.

27

Como uma variação de 25% no fluxo (400 para 300 g/min) é um valor muito alto,

em vista da variação aceitável por norma. Entendeu-se que o fluxo deve ser o mais

constante possível e, dentro da faixa de valores estipulados pela ASTM.

Desta forma, procurou-se estudar o comportamento do fluxo de areia com relação à

quantidade de abrasivo no reservatório, bem como sua variação no decorrer do tempo do

ensaio (30 minutos), pois o nível de abrasivo (altura da coluna de areia) vai diminuindo ao

longo do tempo.

Para tanto, foram utilizados 12 kg de areia normal Grana 50 (IPT), 22 sacolas

plásticas para coletar a areia, uma balança digital com resolução 0,01 g, um cronômetro

digital com resolução de 0,01 s e o próprio equipamento de ensaio de desgaste.

Variação do Fluxo e Altura de Reservatório

Visando avaliar o comportamento do fluxo de areia com a quantidade de abrasivo

disponível no reservatório foram tomadas as medidas de massa de areia para cinco

intervalos de tempos: 1 min, 2 min, ..., 5 min, tanto para o reservatório cheio, em torno de

10 kg de areia, quanto para o reservatório vazio, com somente 2 kg de abrasivo. Em ambos

os casos, o equipamento estava desligado e o fluxo de areia era medido somente após estar

estabilizado. Ao final de cada intervalo de tempo, fechou-se o fluxo de abrasivo e, a areia

coletada foi pesada e novamente devolvida ao reservatório, de modo que este se mantivesse

sempre no mesmo nível quando se iniciasse uma nova medição.

Comportamento do Fluxo no Decorrer do Tempo do Ensaio (30 minutos)

Durante o ensaio, não há como se coletar, de maneira eficaz, a areia que esta sendo

aplicada sobre o CP, pois ao entrar em contato com a borracha as partículas de abrasivo são

aceleradas, sendo que, uma boa parte delas acompanha a rotação da roda e se desprendem

em posições diferentes, espalhando-se por todo equipamento, tornado impossível analisar o

comportamento do fluxo nesta situação. Assim, optou-se por fazer a medição do fluxo de

areia com o equipamento desligado.

O procedimento adotado para este teste foi primeiramente, alimentar o reservatório

com 12 de areia (capacidade total do reservatório), em seguida abria o fluxo de areia e,

logo depois de estabilizado, iniciar a contagem do tempo e a amostragem da areia em

sacolas plásticas (de embalar alimento). A cada 5 minutos a sacola com areia era

28

substituída por uma outra vazia, identificada e, na seqüência, pesadas na balança citada

anteriormente (item 4.2.2).

Esta seqüência de coleta e pesagem da areia foi realizada até o tempo transcorrido

somar 30 minutos. Porém, depois de coletada a areia do quinto intervalo (20 à 25 min) do

teste com equipamento desligado, por descuido não se pesou esta amostragem, despejando-

se a areia coletada de volta ao recipiente onde estava armazenada toda a areia usada. Para

que não fosse interrompido o teste, a sexta (última) amostragem foi coletada, pesada e, logo

em seguida, adicionou-se ao reservatório duas vezes a massa de areia contida na última

amostragem, simulando a situação da quinta amostragem. Assim, foram coletados os 5

primeiros minutos de escoamento da areia adicionada e, depois de pesar esta amostragem,

sua massa foi usada como resultado da quinta amostragem.

Na intenção de avaliar o comportamento do fluxo quanto à vibração do

equipamento, e de repetir o teste anterior sem cometer nenhuma distração, foi retirado o

disco de borracha da máquina para que se pudesse executar o mesmo procedimento do teste

anterior, porém com o equipamento ligado. Neste caso não houve problemas com a coleta

da areia e as amostragens foram pesadas corretamente.

4.2.3 PLANICIDADE E PARALELISMO ENTRE AS SUPERFÍCIES EM

CONTATO CP/ BORRACHA

Para verificar se ocorreram problemas de paralelismo e planicidade na região de

contato Borracha/CP, além de uma análise visual da marcação do desgaste, conforme

explica a norma ASTM G 65 (ver anexo I, 9.9 Preparatiom and Care of Rubber Wheels),

foram feitos cortes transversais (Figura 4.6) ao longo da marcação de desgaste, de forma a

se poder avaliar a uniformidade da espessura de desgaste e a simetria da região desgastada.

Os corpos de prova foram cortados e em um equipamento Arotec Cor-40 com disco

abrasivo Metalprisma MPZ e rotação de 3420 rpm, disponível no Labmat/EMC – UFSC,

onde também foi utilizado o estereoscópio para produzir as fotografias das três secções

transversais selecionadas ao longo da marcação de desgaste, uma no início da região de

desgaste, outra no meio desta região e uma última no final a área desgastada. A partir das

fotos obtidas no estereoscópio, utilizou-se o recurso do software AutoCad 2000 para

realizar medições da área do perfil de desgaste gerado e a verificação da simetria de

desgaste.

29

Figura 4.6- Secção transversal da região desgastadas, visto no estereoscópio.

Verificação da Simetria de Desgaste

A norma ASTM G 65 – 00 descreve que o perfil de desgaste deve ter uma espessura

(profundidade de desgaste) uniforme ao longo da seção transversal da amostra, no entanto,

como a borracha tem menor resistência nas suas extremidades, dado o comportamento

elástico característico deste material, é de se esperar que a profundidade de desgaste

diminua à medida que se aproxima destas regiões, conforme pode ser observado na Figura

4.6 e Figura 4.7 . Assim, mais importante que a uniformidade da espessura do perfil de

desgaste, é a simetria deste perfil com relação à linha média ao longo da amostra, pois é

reflexo direto da planicidade das faces em contato (CP/Borracha), bem como do

paralelismo entre estas superfícies.

Para se avaliar esta simetria de desgaste, criou-se um método de medição e

comparação das áreas, baseado no sistema de projeção de perfil, comumente utilizado em

análises de cordão de solda. Porém , ao invés de se projetar um perfil, utilizou-se a própria

foto digitalizada, obtida via esclereoscópio, importando-a para o ambiente de trabalho do

AutoCad.

Seguindo a seqüência mostrada na Figura 4.7, de cima para baixo: primeiro foram

definidos os limites da região de desgaste e, em seguida, a partir da distância entre as linhas

limite, traçou-se a linha média que divide o perfil de desgaste em duas regiões de

comprimento igual (esquerda e direita). Em ambas as regiões foram inseridas linhas de

grades para auxiliar a traçar o contorno que delimitam as áreas do perfil de desgaste. O

número total de grades escolhido foi 100, para todo o perfil, sendo o espaçamento entre elas

linha referência da superfície original

Perfil de Desgaste

30

dado pela distância entre as linhas limites dividida pelo número de grades. Depois de

inseridas as grades, traçou-se uma linha passando por todas as intersecções grade/superfície

desgastada da peça, como também pela intersecção desta superfície com as linha limites,

assim definiu-se a área total do perfil de desgaste. Como mostrado no final da Figura 4.7,

dividiu-se esta área total em duas, a região esquerda (em azul) e a região direita (em

vermelho), a partir da linha média. Medindo estas áreas no próprio ambiente do AutoCad

obteve-se a relação entre elas que é a própria razão de simetria de desgaste.

Figura 4.7 - Esquema ilustrativo da verificação da simetria de desgaste.

Linhas que delimitam as áreas a serem comparadas

Grades para se traçar a linhas que definem as áreas

Linhas de limite de região para análise de simetria

Linha Média

31

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na primeira série de ensaios de qualificação foi apresentada uma dispersão muito

grande dos valores de desgaste, conforme mostrado na Tabela 5.1, pode-se observar que o

desvio padrão (S = 9 mm3) é bem maior que a variação admitida pela norma ASTM G 65-

00 (ver Anexo, Table X1.2 Volume Loss Range). Além disto, o valor médio de volume

perdido produzido nos ensaios de calibração, também foi maior do que 35,6 mm3 (valor

padrão referido na norma). Isto veio mostrar que o equipamento apresentava problemas que

estavam influenciando na aleatoriedade dos resultados, porém , não descartava falhas nos

procedimentos usados para execução destes ensaios.

Tabela 5.1 - Resultados dos ensaios da primeira série de ensaios de qualificação.

Ensaios Volume Perdido (mm3)

Valor Médio, M

(mm3)

Desvio-Padrão, S

(mm3)

Coeficiente de variação,

V (%)

C2-01 58,8 49,9 9,0 18 C2-02 56,5 49,9 C2-03 40,8 49,9 C2-04 49,6 49,9 C2-05 56,5 49,9 C2-06 37,4 49,9

Assim, neste capítulo serão comentados os resultados dos testes, descritos no item

4.2, aplicados para descobrir os problemas com o equipamento e procedimentos usados e,

na seqüência, serão discutidas soluções para correção destes problemas, juntamente com os

resultados da segunda série de ensaios de qualificação.

5.1 RESULTADOS DE ANÁLISE DO FORMATO DO NARIZ APLICADOR

Observando o nariz aplicador, conforme esta mostrado no detalhe em vermelho na

Figura 5.1, percebeu-se que não havia uniformidade ao longo de sua abertura. Além disto,

medindo-se com um paquímetro convencional, verificou-se que o comprimento do bocal

de saída era 13,2 mm, ou seja, maior do que o comprimento especificado em projeto, 12,7

mm e recomendado por norma (ver Apêndice A e Anexos, 6.4.2 Formed Nozzle).

Entretanto, ainda na Figura 5.1, observando a região uniforme do bocal, pode-se

notar que o comprimento desta era exatamente igual ao recomendado por norma, desta

forma, optou-se por preencher a parcela não uniforme com solda, via processo TIG.

32

Figura 5.1 - Nariz aplicador (à esquerda), zoom da região de saída de areia (à direita).

Obs.: As cotas são apenas ilustrativas, não estão em escala.

Depois de se preencher com solda a região não uniforme do bocal de saída de areia,

do nariz aplicador, e diminuir a área de abertura do bocal, o fluxo de abrasivo caiu

consideravelmente, passando de valores da ordem de 350 g/min (medidos na primeira série

de ensaios) para valores mais baixos do que a faixa estipulada por norma (300 – 400

g/min), conforme será mostrado no item 5.3. Porém, a cortina de areia apresentou uma

excelente uniformidade tanto na espessura como na largura, como mostram as fotos da

Figura 5.2, isto garantiu uma continuidade da camada de abrasivo em contato com a

interface Borracha/CP produzindo um desgaste mais uniforme melhorando também a

simetria do perfil de desgaste.

Figura 5.2 - a) Cortina de areia formada pelo nariz aplicador.

b) Perfil da cortina de areia produzida pelo nariz ajustado.

Bocal de saída de areia

13,2 mm12,7 mm

33

5.2 VARIAÇÃO NO FLUXO DE AREIA. O estudo do comportamento do fluxo de areia apresentou resultados muito

interessantes, os quais revelaram que se deve atentar aos cuidados com o abastecimento de

areia durante o decorrer de um ensaio, como também mostraram que o fluxo de abrasivo

depende muito mais do formato do reservatório e do comportamento da areia dento dele, do

que da quantidade de areia disponível nele (altura da coluna de areia).

Analisando os resultado das medições do fluxo de areia para as duas condições de

reservatório:

Vazio: 2.000 g de areia, o que garante o escoamento contínuo para somente o

maior intervalo de tempo do teste, 5 min (Tabela 5.2).

Cheio: Com 10.000 g de areia, quantidade usada para garantir todo um ensaio

de 30 min (Tabela 5.3).

Pode-se perceber através dos valores dispostos na Tabela 5.2 e Tabela 5.3. que o

fluxo de areia é maior na condição de reservatório cheio, porém esta diferença não é

expressiva comparada ao fluxo total.

Tabela 5.2 - Ensaio com reservatório vazio (2000 g)

Amostragem Tempo (min) Massa de Areia (g)

Fluxo de Areia (g/min)

Fluxo Médio (g/min)

P1 1 306,23 306,23 303,47 P2 2 609,40 304,70 P3 3 912,00 304,00 P4 4 1201,65 300,41 P5 5 1510,00 302,00

Tabela 5.3 - Ensaio com reservatório cheio (10000g)

Amostragem Tempo (min) Massa de Areia (g)

Fluxo de Areia (g/min)

Fluxo Médio (g/min)

P1' 1 312,49 312,49 308,97P2' 2 620,28 310,14 P3' 3 925,65 308,55 P4' 4 1223,78 305,95 P5' 5 1538,57 307,71

34

Ao observar o gráfico da Figura 5.3, pode-se perceber que a inclinação das curvas,

‘plotadas’ com os dados das Tabela 5.2 e Tabela 5.3, são praticamente iguais, logo o fluxo

de areia depende muito pouco da quantidade de abrasivo no reservatório. Assim, concluiu-

se que não há necessidade de se manter o reservatório em um certo nível constante, pois o

nível de areia dentro dele não interfere significativamente no fluxo.

Por outro lado, quando se adiciona areia ao reservatório ao mesmo tempo em que o

abrasivo escoa, interfere-se na escoabilidade da areia dentro dele, pois enquanto a areia sai

pelo nariz aplicador, os grãos da superfície do reservatório vão se arranjado, conforme

mostrado na Figura 5.4, formando uma conicidade na direção do escoamento que irá

permanecer até que toda a areia tenha escoado, a menos que ocorra uma perturbação no

reservatório, ou seja, quando se adiciona mais areia.

1 2 3 4 50

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

Mas

sa d

e Ar

eia

(g)

Tempo (min)

Reservatório Cheio (10kg de areia) Reservatório Vazio ( 2kg de areia)

Figura 5.3 – Gráfico do comportamento do fluxo de abrasivo para

as condições de reservatório cheio e vazio.

Este problema foi percebido durante o teste com o fluxo de areia no tempo de ensaio

de 30 min com o equipamento desligado. Como já foi comentado mo item 4.2.2

Comportamento do Fluxo Decorrer do Tempo do Ensaio (30 minutos), esqueceu-se

de pesar a quinta amostragem do teste e, para interrompê-lo, esperou que se terminasse os

30 min e depois se adicionou ao reservatório a quantidade de areia “estimada” para a quinta

35

amostragem. Isto causou uma perturbação no escoamento dentro do reservatório

desestruturando todo o seu arranjo cônico.

Figura 5.4 - Comportamento do abrasivo dentro do reservatório

O efeito de perturbações deste tipo pode ser notado no gráfico da Figura 5.5, mais

especificamente, no quinto intervalo de tempo (20 a 25 min) onde ocorreu a adição de areia

sobre o arranjo cônico do reservatório. Neste intervalo de tempo teve-se uma queda abrupta

do fluxo de areia devido à própria alimentação do reservatório.

0 a 5 5 a 10 10 a 15 15 a 20 20 a 25 25 a 300

25

200

225

250

275

300

325

230,65

Flux

o M

édio

de

Arei

a(g/

min

)

Intervalos de Tempo (min)

Curva de Variação do Fluxo Valor Médio de Fluxo

Figura 5.5 - Curva de variação do fluxo de areia ao longo de 30 min, com equipamento

desligado.

36

No caso onde não ocorreu esta perturbação, o fluxo de abrasivo sofreu pouca

alteração ao longo do ensaio. Isto pode ser percebido pela curva do gráfico da Figura 5.6,

onde não há variação significativa do fluxo no decorrer do ensaio. A queda brusca do fluxo

no final da curva mostra o comportamento dele quando acaba a areia do reservatório.

À luz destes resultados, concluiu-se que, para minimizar a variação do fluxo durante

o ensaio, antes de iniciá-lo deve-se encher completamente o reservatório, de forma a evitar

reposições de areia durante o decorrer do ensaio

0 à 5 5 à 10 10 à 15 15 à 20 20 à 25 25 à 30 30 ao fim0

25

200

225

250

275

300

325

Intervalos de Tempo (min)

Flux

o M

édio

de

Arei

a(g/

min

)

Curva de Variação do Fluxo Valor Médio de Fluxo

Figura 5.6 - Curva de variação do fluxo de areia ao longo de 30 min, com equipamento

ligado.

As tabelas de dados referente aos dois gráficos de fluxo ao longo de 30 mim (Figura

5.5 e Figura 5.6) estão dispostos no Apêndice B.

5.3 SIMETRIA DO PERFIL DE DESGASTE Analisando a simetria do perfil de desgaste, conforme o método descrito no item

4.2.3, depois da modificação do bocal a variação de simetria do desgaste apresentou valores

relativamente baixos (4% de variação entre o lado esquerdo e direito). Isto mostrou que o

problema de assimetria também estava relacionado com a uniformidade da cortina de areia,

37

visto que, as amostras da primeira série de ensaios de qualificação apresentavam assimetria

de desgaste visível na própria superfície da amostra

Infelizmente as fotos destas superfícies não são capazes de revelar esta assimetria,

pois é preciso que se trabalhe variando o reflexo da luz incidente na face, movimentando a

amostra. Por isso não foi acrescentada nenhuma fotografia destas marcações de desgaste

assimétrica.

Quanto à marcação do desgaste, explicada na norma ASTM G 65 (ver Anexo, 9.9

Preparatiom and Care of Rubber Wheels), o procedimento de marcação com grafite e

lixamento da superfície da borracha (iten 4.1.1) mostrou-se muito eficiente na prevenção

deste tipo de falha, garantindo a planicidade e paralelismo da interface CP/borracha.

5.4 SEGUNDA SÉRIE DE ENSAIOS DE QUALIFICAÇÃO

Feitas todas as análises em cima das fontes de erro e dadas as correções feitas no

nariz aplicador junto aos cuidados a serem tomados quanto à alimentação do reservatório.

Iniciou-se uma nova série de ensaios com 4 CPs de AISI D-2, nas mesmas dimensões e

condições de tratamento térmico dos corpos de prova da primeira série. Adotou-se

novamente o Procedimento A, assim como os mesmos materiais: borracha 60 Shore A,

areia normal Grana 50 etc., além dos mesmos equipamentos: paquímetro (300mm),

durômetro Shore A, cronômetro, balança, ultra-som etc.

Os procedimentos de execução adotados para esta série de ensaios, foram

praticamente os mesmos, só acrescentando alguns cuidados espaciais, como:

Encher completamente o reservatório antes de iniciar o teste para evitar ter

que alimenta-lo durante o ensaio;

No lixamento, usar um lixa mais fina #320, abaixando o braço de alavanca

lentamente até a lixa entrar em contato com a borracha e mantendo o braço

nesta posição para diminuir a pressão da lixa sobre a borracha, melhorando o

acabamento da superfície da borracha. Além disto, diminui o desgaste da

borracha e, o contato suave, melhora a sua usinagem, garantindo uma menor

excentricidade e, portanto, menor vibrações do braço de alavanca.

38

5.4.1 RESULTADOS DA SEGUNDA SÉRIE DE ENSAIOS DE QUALIFICAÇÃO

Os resultado obtidos nesta série, com podem ser vistos na Tabela 5.4, foram

extremamente positivos, pois além de diminuir o desvio padrão para 3,4 mm3, também

qualificou o equipamento dentro da faixa de variação aceitável pela norma (ver Anexo,

Table X1.2 Volume Loss Range).

Porém, é importante acrescentar que, de acordo com a ASTM G 65 – 00, nos ensaios

de qualificação, no Procedimento A, os valores de desgaste do AISI Tool Steel D-2 os

valores de desgaste devem ser da ordem de 35,6 ± 5,2 mm3 (ver anexo I, Table X1.2

Volume Loss Range) e, observando a Tabela 5.4, pelo valor médio, tem-se como resultado

de desgaste do AISI D-2 56,0 ± 3,4 mm3. Isto mostra que a variação dos resultados esta

menor do que a variação prevista na norma, o que garante uma boa repetibilidade dos

ensaios, podendo-se comparar, de forma precisa, valores de amostras ensaiadas neste

equipamento. No entanto, não seria possível comparar quantitativamente os valores de

ensaios feitos neste equipamento, com os resultados contidos na literatura, visto que os

valores produzidos serão bem maiores.

Esta diferença entre os valores de desgaste recomendados pela norma e o resultado

produzido pelo equipamento é facilmente explicável, considerando-se a afirmação de Serra

[2], onde, segundo ele: “Quanto menor for o tamanho da partícula abrasiva, maior será o

desgaste. Isto porque maior será sua área de contato com a superfície metálica”, pois a

granulometria da areia usada nos ensaios (Grana 50) era menor do que a Grana especificada

na norma (Grana 70).

Tabela 5.4 - Resultados dos ensaios da segunda série de ensaios de qualificação.

Ensaios Volume Perdido (mm3)

Valor Médio, M

(mm3)

Desvio Padrão, S

(mm3)

Coeficiente de variação, V

(%)

C3-01 54,2 56,0 3,4 6 C3-02 52,2 56,0 C3-03 59,9 56,0 C3-04 57,6 56,0

39

Toda via, pelo o modelo simplificado de Rabinowicz, segundo Stoeterau et al. [3],

dada a Equação 2.5,

e

mab

tgLsWV

πσθ

3)(××

=

onde (tgθ)m é um valor médio para todas as asperezas que varia de acordo com o tipo

de desgaste abrasivo, os materiais envolvidos e o tamanho da partícula, observando a

Tabela 2.2 (página 11) nota-se que (tgθ)m é menor quando diminui o tamanho da partícula,

logo o volume de desgaste: Vab, também será menor.

Assim, um outro parâmetro a ser avaliado é a dureza da borracha utilizada, que

diferente do valor especificado na norma (60 Shore A), apresenta dureza de 70 Shore A e,

segundo ASTM G 65 – 00 [4], o desgaste abrasivo depende diretamente do valor de tensão

imposta pela partícula abrasiva. Considerando que uma borracha mais dura, irá se deformar

menos e impor uma tensão maior sobre o abrasivo e, pela analise da Equação 2.5, pode-se

concluir que: quanto maior a dureza da borracha, maior a carga W e maior será o volume

de desgaste Vab, o que é uma possível explicação para os resultados produzidos.

De qualquer forma, os ensaios realizados no novo equipamento não poderão ser

comparados, quantitativamente, com os valores da literatura, no entanto, não haverá

problema algum em associa-los de forma qualitativa e/ou relativa (porcentagem). Além

disto, as comparações entre os ensaios produzidos nesta máquina serão de grande

confiabilidade, dado o baixo coeficiente de variação conseguido na qualificação do

equipamento.

40

6 CONCLUSÕES

Apesar dos objetivos iniciais não terem sido completamente atingidos e o estudo dos

revestimentos resistentes ao desgaste aplicados por AT/HVOF não estar contido no

trabalho, este documento servirá de grande utilidade para o Labsolda/EMC e inclusive

outros laboratórios que possuírem um equipamento de ensaio de desgaste abrasivo ou

similar, bem como, para aqueles que pretendam projetar, fabricar, ou simplesmente adquirir

este tipo de equipamento: i) auxiliará os projetistas a prever possíveis erros, assim como irá

acrescentar conhecimento aos pesquisadores sobre os resultados dos seus ensaios e ii)

servirá para orientar o operador do equipamento, quanto os cuidados a serem tomados

durante o procedimento de execução do ensaio.

Em vista da metodologia desenvolvida e dos resultados alcançados, conclui-se que

este trabalho atingiu os novos objetivos traçados, pois foi permitido detectar e corrigir os

problemas que causaram a grande dispersão dos resultados da primeira série de ensaios de

qualificação, chegando-se numa segunda série de ensaios a baixos desvio-padrão (3,4 mm3)

e coeficiente de variação (6%). Assim, mesmo com valores de desgaste (volume perdido)

de ordem maior que referido na norma (aparentemente devido à diferença na dureza da

borracha e granolometria do abrasivo, conforme foi discutido anteriormente), a partir desta

segunda calibração, o equipamento está apto para realizar os ensaios propostos no início

deste projeto, bem como para ser usado em outras pesquisas que envolvam analises

comparativas do desgaste abrasivo.

Fica como proposta para trabalhos futuros, executar os ensaios originalmente

previstos, no equipamento, agora qualificado, e completar o estudo dos revestimentos

aspergidos, somando os resultados ao projeto de aplicação das camadas nas ponteiras de

risers de completação e perfuração de poços petrolíferos offshore. Será então possível dar

continuidade à pesquisa e aumentar o conhecimento a respeito das variáveis envolvidas no

ensaio ASTM G 65.

7

41

42

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] FREIRE, F. Avaliação de revestimentos aplicados por aspersão térmica para proteção contra o desgaste de ponteiras de “risers”. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. 70 p. [2] SERRA, F. A. S. Curso de formação de inspetores de equipamentos – módulo revestimentos metálicos. REPLAN/DIDES/SEDEQ. 1994. 51 p. [3] STOETERAU, R. L. et al. Tribologia. 2002. Apostila. p 37-100 [4] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS, ASTM G 65 - 00: 2001 Standard test method for measuring abrasion usung the dry sand/rubber wheel apparatus.

43

9 APÊNDICES

44

APÊNDICE A

TABELAS COM OS DADOS REFERENTES OS ENSAIOS COM O FLUXO DE AREIA AO LONGO DO TEMPO DE ENSAIO (30 MIN).

Madição do Fluxo de Areia Durante o Procedimento A com Equipamento Desligado

Intervalo de Tempo (min)

Massa de Areia (g)

Fluxo de areia

(g/min)

Fluxo Médio (g/min)

Media Mássica,

X (g) (Xi-X)2

Desvio Padrão,

S

Coef. Variação,

V (%) L-i1 0 a 5 1537,95 307,59 292,92 1464,60 5380,47 152,90 52,20 L-i2 5 a 10 1540,53 308,11 292,92 1464,60 5765,36 L-i3 10 a 15 1522,47 304,49 292,92 1464,60 3348,94 L-i4 15 a 20 1512,92 302,58 292,92 1464,60 2334,82 L-i5 20 a 25 1153,24 230,65 292,92 1464,60 96945,05 L-i6 25 a 30 1520,48 304,10 292,92 1464,60 3122,57

Madição do Fluxo de Areia Durante o Procedimento A com Equipamento Ligado

Intervalo de Tempo (min)

Massa de Areia (g)

Fluxo (g/min)

Fluxo Médio (g/min)

Media Mássica

(g) (Xi-X)2

Desvio Padrão,

S

Coef. Variação,

V (%) D-i1 0 à 5 1429,55 285,91 282,46 1412,32 296,93 10,71 3,79 D-i2 5 à 10 1409,93 281,99 282,46 1412,32 5,71 D-i3 10 à 15 1419,91 283,98 282,46 1412,32 57,61 D-i4 15 à 20 1399,85 279,97 282,46 1412,32 155,50 D-i5 20 à 25 1405,31 281,06 282,46 1412,32 49,14 D-i6 25 à 30 1409,36 281,87 282,46 1412,32 8,76

30 ao fim do reserv. 1075,09 215,02 - - -

45

APÊNDICE B

DESENHO DE PROJETO DO NARIZ APLICADOR DO EQUIPAMENTO DE

ENSAIO DE DESGASTE FABRICADO.

46

10 ANEXOS

47

ANEXO I