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1 ANTICORPOS MONOCLONAIS CONTRA AS PRINCIPAIS TOXINAS DO VENENO DE BOTHROPS ATROX: UMA PERSPECTIVA PARA O USO TERAPÊUTICO. THIAGO SILVA FRAUCHES CAMPOS DOS GOYTACAZES AGOSTO 2007

Anticorpos Monoclonais contra as Principais Toxinas do Ven… · das serpentes uns dos animais mais temidos e rejeitados da humanidade (MELGAREJO, 2003). As serpentes são vertebrados,

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ANTICORPOS MONOCLONAIS CONTRA AS PRINCIPAIS TOXINAS DO VENENO DE

BOTHROPS ATROX: UMA PERSPECTIVA PARA O USO TERAPÊUTICO.

THIAGO SILVA FRAUCHES

CAMPOS DOS GOYTACAZES

AGOSTO 2007

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Anticorpos Monoclonais contra as Principais Toxinas do

Veneno de Bothrops atrox: uma perspectiva para o uso

terapêutico.

Thiago Silva Frauches

”Tese apresentada ao Centro de Biociências

e Biotecnologia. Da Universidade Estadual

do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como

Parte das exigências para a obtenção do

título de Mestre em Biociências e

Biotecnologia.”

Orientador: Milton Masahiko Kanashiro

Campos dos Goytacazes – RJ

2007

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Anticorpos Monoclonais contra as Principais Toxinas do

Veneno de Bothrops atrox: uma perspectiva para o uso

terapêutico.

Thiago Silva Frauches

”Tese apresentada ao Centro de Biociências

e Biotecnologia. Da Universidade Estadual

do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como

Parte das exigências para a obtenção do

título de Mestre em Biociências e

Biotecnologia.”

Aprovada em 31 de agosto de 2007

Comissão examinadora:

----------------------------------------------------------

Dr. André L. Fuly (UFF)

----------------------------------------------------------

Dr. Wilmar Dias da Silva (UENF)

----------------------------------------------------------

Dra Olga Lima T. Machado (UENF)

----------------------------------------------------------

Orientador: Dr. Milton M. Kanashiro (UENF)

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Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Biologia do Reconhecer do

Centro de Biociências e biotecnologia, da Universidade Estadual do Norte

Fluminense Darcy Ribeiro, sob a orientação do Prof. Dr. Milton M. Kanashiro.

Apoio Financeiro:

Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ)

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

Parque de Alta Tecnologia do Norte Fluminense (TECNORTE)

Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)

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Dedico esta tese àqueles que acreditaram em mim,

que me apoiaram e me ajudaram a crescer profiossionalmente.

Dedico também à minha família,

aos meus amigos e ao meu amor.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, pelo esforço e muitas vezes pelo

sacrifício que realizaram e ainda os realizam para que hoje seus filhos tenham

condições de enfrentar o mundo com todas as suas dificuldades.

Agradeço principalmente ao Prof. Milton Kanashiro, pela orientação, pela

confiança e por todo conhecimento passado pela sua orientação, sendo fundamental

na minha formação acadêmica.

À Profa. Thereza Kipnis e ao Prof. Wilmar pelos esforços realizados para nos

proporcionar as condições necessárias para o desenvolvimento dos nossos projetos.

Ao Prof. Eulógio Q. Carvalho, pela realização das análises histológicas.

À Maria Aparecida A. Bohler, pela disponibilização dos camundongos, bem

como toda a infra-estrutura para a realização dos ensaios de soroproteção.

À Aline G. Cozendey por ter cedido com a maior boa vontade a sua máquina

fotográfica para a captura das fotos dos cortes histológicos.

Ao Prof. Jorge pelos toques nas metodologias, pelo apoio e pela

descontração.

Ao Fernando, à Juju, ao Sr. Jorge, à Rozângela, à Patrícia e à Rita pois sem

vocês no laboratório não teríamos condições de desenvolver nossos trabalhos.

Aos colegas (amigos) de laboratório, por terem feito parte do meu cotidiano e

por terem me ajudado de alguma forma na realização deste trabalho.

À Fernanda, o meu grande amor, por fazer parte da minha vida.

E a todos aqueles que, de alguma forma, me ajudaram na minha formação

acadêmica e na realização deste trabalho, o meu muito obrigado!

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Índice

Lista de Figuras,Tabelas e Pranchas................................................................... IX Lista de Abreviaturas............................................................................................ XI Resumo................................................................................................................ XII Abstract................................................................................................................ XIII Introdução............................................................................................................ 2 Epidemiologia............................................................................................ 3 Gênero Bothrops....................................................................................... 4 O veneno................................................................................................... 4 Componentes do veneno.......................................................................... 5 Toxinas Hemorrágicas.................................................................... 6 Trombina-simile............................................................................... 9 Fosfolipase A2................................................................................. 10 O Envenenamento..................................................................................... 14 A Soroterapia............................................................................................. 17 Soro Antiofídico.......................................................................................... 19 Anticorpos Monoclonais Murinos Antitoxinas............................................. 22 Objetivo................................................................................................................ 24 Objetivos específicos................................................................................. 24 Justificativa........................................................................................................... 25 Materiais e Métodos............................................................................................. 27 Veneno e antiveneno................................................................................. 27 Anticorpos Monoclonais............................................................................. 27 Animais...................................................................................................... 27 Neutralização da Atividade Hemorrágica pelo mAb 59/2-E4..................... 28 Determinação da Atividade de Fosfolipase A2........................................... 28 Dosagem de creatina quinase em soro de camundongos inoculados com frações purificadas de PLA2 do veneno de B. atrox............................................. 29 Neutralização da atividade catalítica da trombina-simile pelo anticorpo monoclonal 6AD2-G5........................................................................................... 29 Neutralização da atividade coagulante do veneno de B. atrox pelo anticorpo monoclonal 6AD2-G5 in vitro................................................................................ 30 Produção de líquido ascítico in vivo........................................................... 30 Purificação dos anticorpos monoclonais.................................................... 30

Dosagem de Proteínas............................................................................... 31 Eletroforese em Gel de Poliacrilamida contendo Dodecil Sulfato de Sódio (SDS-PAGE)......................................................................................................... 31 Immunoblotting........................................................................................... 32 Reatividade dos anticorpos monoclonais................................................... 32 Determinação da DL50 do veneno de B. atrox............................................ 33 Neutralização da ação letal do veneno de B. atrox.................................... 33 Neutralização da atividade anticoagulante do veneno de B. atrox............ 34 Análises histológicas.................................................................................. 34 Resultados Avaliação das atividades neutralizantes dos anticorpos monoclonais ...... 37 Neutralização da atividade hemorrágica pelo mAb 59/2-E4...................... 37 Neutralização da atividade fosfolipase A2 pelo mAb A85/9-4.................... 39

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Neutralização da atividade coagulante da trombina-simile pelo anticorpo monolonal 6AD2-G5............................................................................................. 42 Produção de líqüido ascítico...................................................................... 42 Purificação dos anticorpos monoclonais.................................................... 44 Avaliação da reatividade dos mAbs purificados......................................... 46 Ensaio de neutralização da atividade letal do veneno total in vivo pelo pool de mAbs............................................................................................................... 49 Determinação da DL50 do veneno de B. atrox........................................... 50 Neutralização da atividade anticoagulante do veneno de B. atrox............ 53 Análises Histológicas................................................................................. 56 Discussão............................................................................................................. 64 Conclusões........................................................................................................... 71 Referências Bibliográficas.................................................................................... 73

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Lista de Figuras, Tabelas e Pranchas Figura 1: Atividade hemorrágica do veneno total de B. atrox....................... 38 Figura 2: Atividade proteolítica da hemorragina de baixo peso molecular pelo mAb 59/2-E4................................................................................ 38 Figura 3: Cromatografia de alta eficiência em coluna de fase reversa C4 da fração enriquecida em PLA2.................................................................................... 39 Figura 4: Análise por SDS-PAGE das frações obtidas do HPLC......................... 40 Figura 5: Dosagem de CK no soro de camundongos inoculados com as frações de PLA2 enriquecidas do veneno de B. atrox............................................................ 41 Figura 6: Atividade catalítica da trombina-simile pelo anticorpo monolonal 6AD2-G5 sobre o substrato TAME......................................................................... 43 Figura 7: Atividade coagulante do veneno de B. atrox in vitro..................... 44 Figura 8: Perfil eletroforético dos mAbs A85/9-4, 59/2-E4 e 6AD2-G5 purificados............................................................................................................ 45 Figura 9: Análise do percentual de pureza dos mAbs purificados........................ 47 Figura 10: Análise pelo teste de ELISA da atividade dos anticorpos purificados. 48 Figura 11: Neutralização da atividade anticoagulante do veneno de B. atrox...... 54 Figura 12: Neutralização da atividade anticoagulante do veneno de B. atrox pelo mAb 6AD2-G5....................................................................................................... 55 Tabela 1: Resumo das purificações dos mAbs..........................................................45

Tabela 2: Ensaio de soroproteção in vivo de camundongos desafiados com o pool

de mAbs e veneno................................................................................................ 49

Tabela 3: Ensaio de soroproteção in vivo de camundongos desafiados com

misturas de mAbs e veneno................................................................................. 50

Tabela 4: Cálculo da DL50 do veneno de B. atrox................................................ 51

Tabela 5: Ensaio de soroproteção in vivo de camundongos desafiados com

misturas de pool de mAbs e 5 DL50 de veneno.................................................... 52

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Tabela 6: Ensaio de soroproteção in vivo de camundongos desafiados com

misturas de pool de mAbs e 4 DL50 de veneno.................................................... 52

Tabela 7: Ensaio de soroproteção in vivo de camundongos desafiados com

misturas de antiveneno e veneno de B. atrox....................................................... 53

Prancha 1: Análise histológica do peritônio-muscular do assoalho do abdominal 58

Prancha 2: Análise histológica do músculo do diafragma..................................... 59

Prancha 3: Análises histológicas do fígado, músculo do diafragma e baço......... 62

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Lista de Abreviaturas

mAb Anticorpo Monoclonal

A85/9-4 Anticorpo Monoclonal anti fosfolipase A2

59/2-E4 Anticorpo Monoclonal anti metaloproteinase

6AD2-G5 Anticorpo Monoclonal anti trombina-simile

PLA2 Fosfolipase A2

SVMP Metaloproteinase de veneno de serpente

SDS-PAGE Eletroforese em Gel de Poliacrilamida com Dodecil Sulfato de Sódio

H&E Hematoxilina e Eosina

DL50 Dose Letal

kDa Quilo Dalton

TAME tert-Amyl Methyl Ether

NBD-PC 1-Palmitoyl-2-[6-[(7-nitro-2-1,3benzoxadiazol-4-yl)amino]hexanoyl]-sn- Glycero-3-Phosphocholine

BSA Albumina Sérica Bovina

BCA Ácido Biciconínico

CK Creatina quinase

D.O. Densidade Óptica

i.p. Intraperitoneal

s.c. Subcutânea

i.m. Intramuscular

min. Minutos

IgG Imunoglobulina G

ELISA Ensaio de Imunoadsorção Ligado á Enzima

Cont. Controle

PBS Tampão Salina Fosfato

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TEMED Tetrametiletilenodiamina

APS Persulfato de Amônio

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RESUMO

Este trabalho teve como objetivo avaliar a ação de anticorpos monoclonais

neutralizantes na proteção de camundongos desafiados com o veneno de B. atrox,

visando o desenvolvimento de um antiveneno ofídico baseado em um pool de

anticorpos monoclonais produzidos contra as principais toxinas do veneno desta

serpente. Os mAbs contra fosfolipase A2 (clone A85/9-4), metaloprotease (clone

59/2-E) e trombina-simile (clone 6AD2-G5) foram produzidos em grandes

quantidades e purificados. A purificação dos mAbs foi analisada por SDS-PAGE e a

capacidade de neutralização das respectivas toxinas também foram testadas.

Ensaios de soroproteção foram feitos em camundongos Suíços albinos (18 a 20g)

injetados com 13,5 mg do pool de mAbs pela via i.p., desafiados com 350µg de

veneno bruto pela via s.c. e a sobrevivência dos animais avaliada por 48 horas.

Demonstramos que no grupo tratado com mAbs todos os camundongos

sobreviveram, enquanto que no grupo não tratado somente um animal sobreviveu.

Experimentos utilizando mAbs e soro poliespecífico antibotrópico pré-incubados

com veneno de B. atrox e injetados pela via ip em camundongos também foram

realizados. Tecidos e órgãos dos animais submetidos ao teste de soroproteção

também foram analisados no nível histológico. Nos experimentos onde foram

avaliados tempo de sangramento dos animais tratados com o pool de mAbs, com o

mAb anti trombina-simile e soro antibothrópico pré-incubados com o veneno de B.

atrox, foi verificado que o tempo de sangramento dos animais tratado com os

anticorpos foi similar aos animais controles que não receberam o veneno.

Palavras-chaves: veneno, Bothrops atrox, antiveneno, anticorpos monoclonais

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ABSTRACT

The main ojective of this work was the evaluation of monoclonals antibodies in

protecting mice challenged with Bothrops atrox snake venom, aiming the

development of an ophidian antivenom based on a pool of monoclonals antibodies

against the main toxic components of this snake venom. These mAbs against

phospholipase A2 (PLA2), hemorrhagic metalloprotease and thrombin-like enzymes

were produced in large quantity and purified. Purified mAbs were analyzed by SDS-

PAGE and tested for the capacity to neutralize the respective toxin. Serumprotection

assays were constituted by Swiss mice (18 to 20g) inoculated with 13,5mg of pool of

mAbs by via i.p., challenged with 350µg of crude venom by via s.c. and survival rate

scored during 48 hours. These results showed that groups treated with mAbs all mice

survived, while in the non treated group, only one animal survived. Experiments

employing mAbs and antibotropic polispecific antivenom pre-incubated with B. atrox

snake venom and injected via i.p. in mice were also realized. Organs and tissues of

animals submitted to serumprotection tests were collected for the histological

analysis. Bleeding time assays were realized in animals treated with pool of mAbs,

mAb anti thrombin-like and antibotropic serum pre-incubated with venom. These

results showed that the bleeding time of animals that received antibodies were

similar to control animals that not received venom.

Key-words: snake venom, Bothrop atrox, antivenom, monoclonals antibodies

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INTRODUÇÃO

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É possível que a forma alongada do corpo, sem patas e dotado de

movimentos ondulatórios ágeis, o olhar fixo, as cores vivas e, definitivamente, a

capacidade de algumas espécies de produzir e injetar um veneno mortal tenha feito

das serpentes uns dos animais mais temidos e rejeitados da humanidade

(MELGAREJO, 2003).

As serpentes são vertebrados, tetrápodos e amniotas. Entende-se por

vertebrados o grupo de animal cujos representantes possuem vértebras e, por

tetrápodos, aqueles vertebrados que possuem quatro membros locomotores. As

serpentes e alguns lagartos não apresentam membros locomotores, mas

descendem de animais com quatro patas, portanto são tetrápodos também.

Denominamos como aminiotas os tetrápodos que nascem de ovo amniótico, ou seja,

ovos que possuem as membranas córion, âmnion e alantóide, responsáveis pela

manutenção do ambiente aquático dentro do ovo e trocas gasosas (POUGH et. al,

1998).

As serpentes apresentam como características diagnósticas o corpo

extremamente alongado, sem apêndices locomotores e cintura escapular; perda da

sínfise mandibular (perda da sutura óssea das hemimandíbulas no mento,

substituída por um ligamento elástico); fechamento lateral da caixa craniana e perda

das pálpebras móveis, entre outras caracteríticas (FRANCO, 2003). Esses animais

alimentam-se de presas inteiras, e caçam utilizando estruturas quimiossensíveis.

São exclusivamente carnívoras, predando tanto vertebrados quanto invertebrados

(GREENE, 1997). A perda da sínfise mandibular e da cintura, entre outras

modificações cranianas, permite às várias serpentes abrirem a boca e engolirem

presas grandes, algumas com até 3,5 vezes o seu diâmetro. Existem serpentes

muito pequenas, como os escolecofídios (cobras-cegas), dentre os quais algumas

serpentes alcançam a maturidade sexual com pouco mais de 10 centímetros, até

serpentes gigantes, com mais de 10 metros de comprimento, caso de boídeos e

pitonídeos como a sucuri (Eunectes murinus) e a pitão-reticulada (Python reticulatus)

(FRANCO, 2003).

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Esses animais distribuem-se por quase todos os ambientes do globo, com

exceção das calotas polares, onde o clima demasiadamente frio impossibilita a vida

de vertebrados ectotérmicos (CADLE, 1997). Há serpentes aquáticas e terrestres.

Dentre as aquáticas, temos as de água doce e as marinhas. No ambiente terrestre,

ocupam os habitats fossoriais, terrestre e arborícola. Vivem em matas, savanas ou

desertos (GREENE, 1997).

Há, atualmente, cerca de 2.900 espécies de serpentes catalogadas no

mundo, distribuídas em 465 gêneros e 20 famílias. A fauna de serpentes brasileiras

é muito diversa, sendo encontradas várias espécies por todo o território nacional. No

Brasil, temos representantes de 9 famílias, 75 gêneros e 321 espécies, ou seja,

cerca de 10% do total de espécies (FRANCO, 2003). Em nosso país, as serpentes

venenosas distribuem-se em quatro gêneros: Bothrops, Crotalus, Lachesis e

Micrurus. Os três primeiros pertencem à família Viperidae, subfamília Crotalinae e a

última Elapidae, subfamília Elapinae (MELGAREJO et. al, 2003).

EPIDEMIOLOGIA

A apresentação dos dados sobre acidentes ofídicos no Brasil é baseada na

notificação à Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Animais

Peçonhentos (CNCZAP), que no período de janeiro de 1990 a dezembro de 1993,

foi de 81.611 acidentes, o que representou uma média de 20.000 casos/ano para o

país. A maioria dos acidentes foi registrada nas Regiões Sudeste e Sul, as mais

populosas e que contam com melhor organização de serviços de saúde e sistema

de informação. Os coeficientes anuais de incidência para o Brasil estiveram em

torno de 13 acidentes/10.000 habitantes, com distribuições desiguais nas diferentes

macrorregiões (ARAÚJO et. al, 2003). Nas diferentes regiões do país, o maior índice

foi no Centro-Oeste, ainda que apresente um alto coeficiente, é possível que ocorra

subnotificação na região Norte, tendo em vista as dificuldades de acesso aos

serviços de saúde, o mesmo ocorrendo para o Nordeste (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2001). A ocorrência do acidente ofídico está, em geral, relacionada a fatores

climáticos e aumento da atividade humana no campo. Com isso, nas regiões Sul,

Sudeste e Centro-Oeste, observa-se incremento do número de acidentes no período

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de setembro a março. Na região Nordeste, os acidentes aumentam de janeiro a

maio, enquanto que, na região Norte, não se observa sazonalidade marcante,

ocorrendo uniformemente durante todo o ano (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). O

pé e a perna foram atingidos em 70,8% dos acidentes notificados e em 13,4% a mão

e o antebraço. A utilização de equipamentos individuais de proteção como sapatos,

botas, luvas de couro e outros poderiam reduzir em grande parte esses acidentes.

Em 52,3% das notificações, a idade dos acidentados variou de 15 a 49 anos, que

corresponde ao grupo etário onde se concentra a força de trabalho. O sexo

masculino foi acometido em 70% dos acidentes, o feminino em 20% e, em 10%, o

sexo não foi informado. Dos 81.611 casos notificados, houve registro de 359 óbitos.

Excluindo-se os 2.361 casos informados como “não peçonhentos”, a letalidade geral

para o Brasil foi de 0,45%. O maior índice foi observado nos acidentes por Crotalus,

onde em 5.072 acidentes ocorreram 95 óbitos (1,87%) (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2001).

GÊNERO BOTHROPS

Este gênero possui algumas das espécies mais importantes do ponto de vista

médico, já que produzem cerca de 90% dos 20.000 acidentes ofídicos anuais que o

Brasil registra (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Das 20 espécies de Bothrops

reconhecidas no país, quatro delas são comumente responsáveis pelos acidentes

humanos: B. moojeni, no Centro Oeste; B. erythromelas, no Nordeste; B. jararaca

nas regiões Sul e Sudeste; e B. atrox na região Norte do país. Trata-se de uma

serpente ágil e ativa, que pode superar 1,5m de comprimento, de colorido variável,

que freqüenta bastante as beiras de rios, córregos e igarapés (Figura 1). È o

viperídeo mais freqüente no vale amazônico, sendo o principal causador de

acidentes da região Norte (MELGAREJO, 2003).

O VENENO

As peçonhas de serpentes são, provavelmente, os mais complexos de todos

os venenos. Contém vinte ou mais componentes diferentes, sendo que mais de 90%

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do peso seco do veneno é constituído por proteínas, compreendendo grande

variedade de enzimas, toxinas não-enzimáticas e proteínas não-tóxicas. As frações

não-protéicas são representadas por carboidratos, lipídios, metais (freqüentemente

na forma de glicoproteínas e enzimas metaloprotéicas), aminas biogênicas,

nucleotídeos e aminoácidos livres. A função de cada um desses componentes, bem

como suas interações no envenenamento humano, ainda não foram totalmente

esclarecidas (MELGAREJO et. al, 2003). A maioria desses componentes é

produzida por duas glândulas de secreção exócrina situada uma de cada lado na

base da mandíbula, cujos ductos excretores principais se comunicam com as

correspondentes presas. No ato da picada as glândulas são comprimidas e lançam

suas secreções nos ductos que levam aos tecidos da vítima (FRANÇA et. al, 2003).

Além disso, os venenos de serpentes, que são ricos em componentes

farmacologicamente ativos, podem servir como ferramenta de estudo em várias

patologias, como doenças inflamatórias, nas quais as fosfolipases estão envolvidas

(VALENTIN e LAMBEAU, 2000), ou em metástases tumorais e angiogênses. Os

venenos também podem servir de protótipo para o estudo e desenvolvimento de

novas drogas, como foi o caso, por exemplo, da descoberta da bradicinina a partir

do veneno de B. jararaca (ROCHA e SILVA et al., 1949).

COMPONENTES DOS VENENOS

A variedade e complexidade dos elementos que compõem os venenos

ofídicos são responsáveis pelas dificuldades dos estudos das serpentes. Cerca de

90% do peso seco dos venenos é composto de proteínas. Carboidratos, lipídeos,

nucleotídeos, riboflavinas, cátions e ânions também compõem os venenos e,

embora nem todos eles sejam tóxicos por si, em conjunto podem ser responsáveis

pelos efeitos secundários de toxicidade (LOMONTE, 1994). Dentre os componentes

tóxicos dos venenos, três deles são os principais causadores de danos locais aos

tecidos: toxinas hemorrágicas, as trombinas-símiles e as fosfolipases A2.

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TOXINAS HEMORRÁGICAS

Ohsaka (1979), estudando componentes do veneno de uma espécie de

serpente semelhante à Bothrops, mostrou que alguns deles induzem hemorragia,

promovendo abertura de junções intercelulares das células endoteliais dos capilares.

Entretanto, Ownby et al. (1990), estudando toxinas hemorrágicas de Crotalus atrox e

Crotalus horridus, propuseram um mecanismo diferente para atividade hemorrágica

destas toxinas: estas induziriam hemorragia rompendo a integridade das células

endoteliais e promovendo o escape de eritrócitos através dos espaços formados

entre elas.

Metaloproteinases de venenos de serpentes (SVMPs) estão presentes em

altas concentrações em venenos de serpentes pertencentes à família Viperidae e

mais recentemente, elas têm sido reportadas, embora em menores proporções,

também em venenos de serpentes da família Elapidae (MATSUI et al., 2000).

SVMPs são classificadas em classes PI a PIV de acordo com a organização de seus

multidomínios (BJARNASON and FOX, 1994; FOX and SERRANO, 2005). Estas

enzimas são sintetizadas in vivo como proteínas multimodulares que compreendem

um peptídeo sinal, um pró-domínio e um domínio metaloproteinase (classe PI).

Algumas SVMPs também exibem domínios C-terminal subseqüentes, denominados

desintegrinas (classe PII) ou domínio desintegrina-simile (classe PIII) e domínio

lectina-simile tipo-C (classe PIV) (HITE et al., 1994; BJARNASON and FOX, 1994).

Recentemente, Fox e Serrano (2005) atualizaram a proposta de classificação das

SVMPs, incluindo os seguintes precursores: precursor PIIa-PII cuja forma madura

não libera o domínio desintegrina; precursor PIIb-PII cuja forma madura compreende

SVMPs dimérica; precurusor D-I que não contém o domínio metaloproteinase;

precursor PIIIa-PIII que libera seus domínios ricos em cisteína; e precursos PIIIb-PIII

que forma SVMPs dimérica.

Todas as toxinas hemorrágicas isoladas até recentemente de crotalídeos e

viperídeos possuem atividades proteolíticas do tipo caseína ou dimetil caseína. As

caracterizações bioquímicas destas enzimas mostraram serem todas Zn-

metaloproteases (BJARNASON & FOX, 1988). Poucas destas toxinas foram

seqüenciadas. No entanto, a comparação das seqüências mostrou que apesar de

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possuírem diferentes pesos moleculares (25-30 kDa a 60 kDa e 60-90 kDa) todas

estão relacionadas a um gene ancestral comum e não possuem similaridade a

nenhuma outra proteína conhecida, exceto uma significativa homologia com o sítio

de ligação do Zn em outras proteínas que o possuem (HITE , 1992 e PAINE , 1992).

A relação entre atividade proteolítica e mecanismos hemorrágicos está

relacionada com a degradação de componentes da membrana baso-lateral do

endotélio vascular. Usando substratos específicos como laminina, fibronectina,

colágeno tipo IV, os fatores hemorrágicos purificados mostraram-se altamente

proteolíticos. Maruyama e colaboradores (1992) e Bjarnason & Fox (1988)

propuseram um mecanismo de ação baseado na digestão enzimática da lâmina

basal da microvasculatura. Mais recentemente, usando-se células endoteliais em

cultura, foi demonstrada a participação de hemorraginas na organização de

componentes da matriz extracelular através de técnicas de imunohistoquímica e

microscopia eletrônica (TIMPL, 1989).

As toxinas hemorrágicas de alto peso molecular possuem um domínio do tipo

desintegrina (HITE, 1992 e PAINE, 1992). Desintegrinas são peptídeos ricos em

resíduos de cisteína, encontrados nos venenos de várias espécies de serpentes,

todos eles contendo a seqüência Arg-Gly-Asp (RGD). Esta seqüência conservada

permite-lhes inibir a agregação plaquetária e também interagir com as integrinas

celulares (GOULD et al.,1990) e (SCARBOROUGH et al., 1993). Especula-se

também, quanto à possibilidade desse domínio desintegrina, nas metaloproteinases

hemorrágicas, funcionar como unidade de direcionamento da atividade catalítica

lesando o endotélio em sítios específicos, aumentando assim a eficiência destas

enzimas. Um destes possíveis sítios de atuação seria as integrinas, localizadas na

superfície das células endoteliais, que estão envolvidas em processos de adesão à

matriz extracelular (RUOSLAHTI & PIERSCHBACHER ,1987) e (TASHIRO et

al.,1989). A proteólise destes receptores e/ou das proteínas da matriz extracelular a

eles associados causariam a desagregação das células do endotélio vascular. Um

outro possível sítio seria as metaloproteinases endógenas de matriz (MMPs), as

quais estão relacionadas com a degradação da membrana baso-lateral do endotélio

vascular em eventos como angiogênese e metástase tumoral (MURPHY et al.,1993)

e (BENELLI et al., 1994).

22

A análise da seqüência de ácidos nucléicos que codifica para SVMPs indica

que elas são sintetizadas in vivo como zimógenos inativos (BJARNASON e FOX,

1994; SELISTRE-DE-ARAUJO e OWNBY, 1995; KINI, 1996). A ativação in vitro

destas enzimas pode ser executada tanto por serino-proteases extracelulares

(calicreína, plasmina, tripsina e elastase) quanto por metaloproteinases. Uma

exceção aparente é a pró-MMP-2 (gelatinase A), que não contém os sítios

necessários de clivagem para serino-proteases em seu domínio pró-proteína

(SPRINGMAN et al., 1990) dependendo da ação de uma metaloproteinase

associada à membrana (Membrane Type Matrix Metalloproteinase 1, MT-MMP1)

para a sua ativação. Grams et al. (1993) sugeriram que ativação in vivo ocorra pela

troca de cisteínas ou mecanismo do tipo velcro. De acordo com esse mecanismo, o

motivo conservado “PKMCGVT” encontrado no pró-domínio, interage com sítio ativo.

O grupo tiol do resíduo conservado da cisteína presente neste motivo atua como

quarto ligante do zinco catalítico no sítio ativo, portanto bloqueando a formação do

complexo enzima substrato. Esta idéia foi reforçada pela inibição da atividade

adamalsina II pela L-cisteína (IC50=117µM) e também pelo peptídeo correspondente

ao motivo presente no pró-domínio (IC50=3,2µM) (GRAMS et al., 1993).

A ativação enzimática pode ser alcançada tanto pela atividade autocatalítica

residual quanto por outras proteases do veneno (SHIMOKAWA et al., 1996). O

remodelamento da forma purificada do zimógeno de (Pro-ACLF) produzido em

bactéria produced gerou valiosa evidência para suportar a hipótese de ativação

autocatalítica (RAMOS et al., 2003). Durante o processo de remodelamento, a

ativação de intermediários com sucessiva perda de peso molecular foi gerada. A

seqüência N-terminal de três intermediários ativos revelou que duas delas, com alta

massa molecular, tiveram sucessivas perdas de segmentos N-terminais, mas

mantendo o motivo pró-domínio relacionado ao mecanismo de troca de cisteínas, e

embora, os três intermediários não apresentem este motivo e correspondem ao N-

terminal geralmente encontrado em espécies ativas. Em todos intermediários ativos,

a hidrólise ocorreu na região N-Terminal de resíduos hidrofóbicos (RAMOS et al.,

2003).

23

TROMBINA - SIMILE

A ação coagulante, também conhecida como síndrome da desfibrinação, é

resultante da propriedade que o veneno das serpentes do gênero Bothrops, Crotalus

e Lachesis têm de transformar diretamente o fibrinogênio em fibrina (KAMIGUTI E

CARDOSO, 1989). Esta ação é conhecida como “ação coagulante do tipo trombina”.

Além disso, a maioria dos venenos botrópicos tem capacidade de ativar o fator X

(atividade pró-coagulante) e a pró-trombina da cascata da coagulação, cujo

resultado final é o consumo de fibrinogênio e conseqüentemente a incoagulabilidade

sangüínea (SANO-MARTINS et al., 1995). Componentes do veneno das serpentes

que possuem atividade biológica semelhantes à trombina, denominados trombina-

simile, têm sido encontrados no veneno de serpentes dos gêneros Bothrops,

Crotalus e Lachesis. A maioria desses componentes age, apenas, sobre a

extremidade N-terminal da cadeia Aa do fibrinogênio originando o fibrinogênio A.

Como, geralmente, não agem sobre a cadeia Bb do fibrinogênio, os monômeros

formados carecem de um sítio de polimerização na extremidade N-terminal (SANO-

MARTINS et al., 1995). Sendo serino-proteinases, tais enzimas são inibidas com

maior ou menor eficiência por PMSF (Phenyl Methyl Sulfonyl

Fluoride), porém mostram-se insensíveis à heparina, hirudina, SBTI (Soybean

Trypsin Inhibitor), aprotinina (STOCKER e MEYER, 1989), além disso, essas

enzimas possuem outras características como ativação da proteína C (KISIEL et

al.,1987), clivagem do componente C3 do sistema complemento (TAMBOURGI et

al., 1994) e atividade girotóxica (ROSING e TASS, 1992). Trombina-simile de B.

jararaca, B. asper e B. atrox (CAVINATO,et al., 1998; PETRETSKI et al. 2000) entre

outras, já foram descritas. Embora possuindo algumas características particulares no

que se refere à massa molecular (22.000 kDa a 62.000kDa), ao conteúdo de

carboidratos, à especificidade do sítio de clivagem, às atividades biológicas e à

conversão de fibrinogênio, todas as trombinas-simile compartilham algumas

características como: a presença de um resíduo de serina no sítio ativo; uma baixa

capacidade de hidrolisar substratos como a caseína, hemoglobina, insulina ou

glucagon e uma alta atividade esterásica sobre substratos sintéticos como TAME

(tert -Amyl Methyl Ether) e BapNa (Na-Benzoil-DL-Arginine-p-Nitroaniline) (SANO-

MARTINS et al., 1995). Além disso, recentemente, Pérez et al. (2007) demonstraram

24

atividade girotóxica atribuída à trombina-símile BjussuSP-I, isolada do veneno de B.

jararacussu. Essa peculiaridade também já foi demonstrada em trombinas-símile

presente em venenos de Crotalus (MARTINS et al., 2002) e Lachesis (MAGALHÃES

et al., 1993 e SANCHES et al., 2000).

FOSFOLIPASE A2 (PLA2)

O papel biológico das PLA2s de mamíferos ainda não está claramente

definido, mas a sua distribuição específica em vários tecidos e em diferentes

estágios de desenvolvimento sugere que elas estejam envolvidas em vários

processos biológicos, como a clivagem de fosfolipídeos gerando intermediários que

atuam em processos inflamatórios, sinalização celular e sistema complemento. Mais

recentemente, vários estudos têm demonstrado o envolvimento de PLA2 de

mamíferos nos mecanismos de defesa, tais como: inflamação, proliferação, adesão

e contração celular. Com respeito às PLA2 de venenos animais já foram descritas as

atividades farmacológicas que incluem neurotoxicidade, miotoxicidade, hemorrágica,

hemolítica, edematogênica, hipotensiva, cardiotóxica, agregadora de plaquetas,

convulsivante, proliferação celular, antibacteriana e anti-HIV, o que sugere que PLA2

de veneno possa interferir em vários processos fisiológicos ou patológicos de

mamíferos, principalmente quando se leva em consideração a presença de

receptores de PLA2 em células de mamíferos (VALENTIN & LAMBEAU, 2000).

A superfamilia das fosfolipases A2 (PLA2; fosfatidilcolina-2-acilhidrolase, EC

3.1.1.4), consiste em uma grande variedade de enzimas definidas pela sua

habilidade de catalisar, especificamente, a hidrólise da ligação acil-éster na posição

sn-2 de fosfolipídeos liberando ácidos graxos livres e lisofosfolipídeos (DENNIS,

1994). Estes ácidos graxos livres, araquidônico (AA) e oléico (AO), podem funcionar

como reserva de energia, mas o AA pode também funcionar, principalmente, como

segundo mensageiro e como precursor de eicosanóides que são potentes

mediadores inflamatórios e de transdução de sinais (HANASAKI e ARITA, 1999). O

outro produto resultante da ação hidrolítica da PLA2, lisofosfolipídeo, desempenha

um papel importante na sinalização celular, remodelagem de fosfolipídeos e

pertubação da membrana celular (SIX E DENNIS, 2000).

25

As PLA2s, atualmente consideradas uma superfamília de enzimas

classificadas principalmente em três grupos: PLA2 citosólica (cPLA2), PLA2

secretórias Ca2+ dependentes (sPLA2) e PLA2 intracelular Ca2+ independentes

(CHAKRABORTI, 2003). Essas enzimas, ainda são classificadas com base em suas

seqüências de aminoácidos (BALSINDE et al., 1999), que resultou na divisão das

PLA2 em 10 grupos. E associado a novos critérios, Six e Dennis (2000)

reclassificaram as PLA2 dos venenos de serpentes, insetos e moluscos nos grupos I,

II, III e IX sendo os venenos de viperídeos e crotalídeos inseridos no grupo IIA. As

PLA2s de veneno botrópico, são ainda, subdivididas em dois grupos, as Asp49 e

Lys49. A presença do ácido aspártico na posição 49 é bastante conservada e está

intimamente envolvida na ligação do co-fator Ca++, essencial para a atividade

catalítica da enzima (SCOTT, et al., 1992) e faz com que estas PLA2s tenham alta

atividade sobre substratos sintéticos; por outro lado, a presença da lisina na posição

49, faz com que as atividades catalíticas dessas enzimas sobre substratos

sintéticos, sejam desprezíveis ou mesmo ausentes. Apesar disso, em geral, as PLA2

são extremamente ativas na indução de mionecrose (OWNBY, et al. 1999;

MARAGANORE et al. 1984). A presença de um grande número de resíduos básicos,

principalmente lisina (em torno de 15% do total de aminoácidos), é bastante

característica das PLA2s Lys49, que inclui também uma região rica em lisina na

porção C-terminal da molécula e dois sítios consenso de ligação à heparina, que

estão associados com a indução da mionecrose (OWNBY et al. 1999; SELISTRE-

DE-ARAUJO et al. 1996a e b; DUA e CHO, 1994).

A proposta de que a atividade miotóxica da PLA2 se expresse pela hidrólise

de lipídeos da membrana alvo é respaldada por algumas evidências que

correlacionam a miotoxicidade com a atividade catalítica da enzima (TAKASAKI et

al. 1990; DIAZ et al. 1991). Entretanto, a grande maioria dos dados experimentais,

obtidos principalmente na inibição química das PLA2s ou seu bloqueio com

anticorpos monoclonais ou policlonais, demonstram claramente que a atividade

farmacológica (miotoxicidade, edematogênica) de várias PLA2s independe ou

depende parcialmente da atividade catalítica da enzima (WARD et al. 1998a).

Os mecanismos pelos quais as PLA2s exercem toxicidade ainda não foram

bem esclarecidas. Kini e Evans (1989) propuseram um modelo, no qual sugerem

26

que a PLA2 se liga preferencialmente à célula ou no tecido alvo por afinidade para

alguma proteína de superfície ao invés do domínio lipídico. Após a ligação inicial, as

PLA2s podem induzir vários efeitos farmacológicos que são dependentes ou

independentes da sua atividade enzimática. Ward et al. (1998b) identificaram,

através de análise por “SequenceSpace”, nove aminoácidos bastante conservados

na sub-família das PLA2s Lys49. Estes aminoácidos eram agrupados três a três e

localizados no sítio ativo, no canal hidrofóbico de ligação com o substrato e na

interface de formação de homodímeros, sugerindo que estes três grupos de

aminoácidos estejam envolvidos na atividade farmacológica Ca++ independente.

O sítio de interação da miotoxina II de B. asper com a heparina foi mapeado

em uma região que compreende aos resíduos 115-129 próximo da região C-terminal

da molécula. A injeção intramuscular em camundongo do peptídeo recombinante

correspondente a esta seqüência não induziu mionecrose (CALDERÓN e

LOMONTE, 1998). Este peptídeo também demonstrou ter atividade bactericida

(PÁRAMO et al. 1998). Posteriormente, Calderón e Lomonte (1999) demonstraram

que camundongos imunizados com o peptídeo 115-129 da miotoxina II e desafiados

com a miotoxina II nativa apresentaram necrose tecidual reduzida em comparação

com os controles. Considerando que a ação farmacológica do peptídeo 115-129 da

miotoxina II é dependente da sua característica anfifílica, dada pela combinação de

resíduos catiônicos e hidrofóbicos, Lomonte et al. (1999b), substituiram as três

moléculas de tirosina por triptofano no peptídeo recombinante 115-129 da miotoxina

II. Os estudos farmacológicos demonstraram que esta substituição foi capaz de

restaurar a atividade miotóxica e edematogênica observada na miotoxina II.

A atividade edematogênica já foi observada em várias miotoxinas purificadas

do veneno de serpentes do gênero Bothrops. O edema geralmente se inicia entre

10-15 min após a inoculação e se estende até 6-8 h após a injeção (YAMAGUCHI et

al. 2001; OWNBY et al. 1999; LIU et al. 1991). Através de estudos com

videomicroscopia, Lomonte et al. (1994a) observaram que o extravasamento de

plasma de vênulas e capilares inicia-se a partir de 2min e é intenso após 4 –5min

após o tratamento. O edema inicial (até 30min após a injeção) é inibido pelo

tratamento com ciproheptadina, indicando o envolvimento da histamina e/ou

serotonina. O edema tardio (5h após a injeção) é inibido pelo pré-tratamento com

27

aspirina, sugerindo a participação da prostaglandina neste tipo de edema

(GUTIÉRREZ et al. 1986a).

Embora alguns autores tenham associado o edema à capacidade das PLA2s

de hidrolisar fosfolipídeos (LLORET e MORENO, 1993; VISHWANATH et al. 1988),

vários outros autores demonstraram que a atividade edematogênica independe da

atividade catalítica das PLA2s (DIAZ-OREIRO e GUTIÉRREZ, 1997; DANIELE et al.

1997; GUTIÉRREZ e LOMONTE, 1995; LIU et al. 1991). O fato de que a miotoxina

II, PLA2 Lys-49 cataliticamente inativa, de B. asper induz a formação de edema,

sugere que esta atividade farmacológica seja causada por mecanismo independente

da catálise enzimática (LOMONTE et al. 1993). Inclusive, Ambrosio et al. (2005)

propuseram um mecanismo baseado na estabilização de uma estrutura canônica

dentro da região C-Terminal da molécula que é favorecida pela presença de um

ligante de cadeia longa dentro do sítio ativo/canal hidrofóbico. Esta estrutura

provavelmente pode ser um ácido graxo ou fosfolipídeo in vivo. A estrutura canônica

leva à formação e exposição de extensões hidrofóbicas que se inserem na

membrana através de interações eletrostáticas envolvendo as lisinas da porção C-

Terminal, isso poderia levar a uma perturbação da membrana. Além disso, a

possibilidade de que o edema possa ser decorrente da necrose muscular causada

pelas miotoxinas parece ser infundada, uma vez que venenos com alta atividade

miotóxica (Ex. Micrurus spp) não induzem edema significativo em camundongos

(GUTIÉRREZ et al. 1983).

Modificações químicas da bothropstoxin-I (Lys49) e bothropstoxin-II (Asp49)

realizadas por Andrião-Escarso et al. (2000), demonstraram que para a

bothropstoxin-I os aminoácidos histidina, tirosina e triptofano desempenham um

papel importante na miotoxicidade, mas não interferem na indução de edema e

ruptura de lipossomos. Enquanto que para a bothropstoxin-II, esses resíduos

parecem ser relevantes nas atividades anticoagulante, miotóxica, citotóxica e

indutora de edema, e sem efeito na ruptura de lipossomos. Diaz et al. (1993)

mostraram que a alquilação da histidina 48 da miotxina II de B. asper não provocou

alterações na carga nem nas propriedades imunológicas, porém reduziu a sua

atividade miotóxica.

28

Os anti-soros convencionais não são capazes de neutralizar adequadamente

a atividade edematogênica do veneno, mesmo quando estes anti-soros são

previamente incubados com o veneno e inoculados em animais (GUTIERRÉZ et al.

1986b). Além do edema, uma grande quantidade de células inflamatórias é

observada no local da lesão (FARSKY et al., 1999 e 1997; ZULIANIA et al., 2005).

O ENVENENAMENTO

Os sintomas do envenenamento e lesões variam conforme a espécie de

serpente e/ou quantidade de veneno injetada. Venenos de serpentes dos gêneros

Crotalus (AZEVEDO-MARQUES et. al, 2003) e Micrurus (DA SILVA JR. et. al, 2003),

que são ricos em neurotoxinas, praticamente não lesam os tecidos; porém, às

vezes, induzem graves sintomas neurológicos irreversíveis causados pela ação

desses componentes nas sinapses nervosas. Venenos de serpentes dos gêneros

Bothrops e Lachesis, pobres em neurotoxinas, porém ricos em enzimas de largo

espectro de especificidade, produzem intensas lesões teciduais no local da picada,

geralmente, seguidas por sintomas sistêmicos decorrentes de complexas alterações

dos sistemas de coagulação, das calicreínas-cininas, do complemento e das

paredes vasculares (FRANÇA et. al, 2003 e MÁLAQUE et. al, 2003).

Os efeitos locais do veneno botrópico aparecem logo após sua injeção e são

caracterizados por hemorragia, edema, dermonecrose, mionecrose, (GUTIÉRREZ,

1990). Euchbaum (1947), Amorim et al. (1951) demonstraram que no

envenenamento por B. jararaca a hemorragia e o edema instalam-se poucos

minutos após a inoculação do veneno, seguindo-se então, necrose coagulativa da

musculatura e dos vasos sangüíneos, acompanhada de uma intensa reação

inflamatória aguda. Os venenos botrópicos causam também liberação de

substâncias farmacologicamente ativas que agem ou interagem com receptores

sobre as membranas celulares.

O edema induzido por venenos de serpentes do gênero Bothrops

provavelmente seja devido à ação combinada de componentes farmacologicamente

ativos e bioquimicamente heterogêneos (GUTIÉRREZ et al., 1989). Dentre eles

29

encontram-se: (a) toxinas hemorrágicas que rompem a microvasculatura induzindo

extravasamento de fluidos (OHSAKA, 1979; OWNBY, 1982); (b) toxinas que atuam

diretamente nas células endoteliais das vênulas e capilares, aumentando a

permeabilidade destes (OHSAKA, 1979; OWNBY, 1982); (c) componentes do

veneno, fosfolipases ou citotoxinas, que induzem a liberação de histamina de

mastócitos; (d) PLA2s que liberam ácido araquidônico e ácido graxo através da

hidrólise de fosfolipídeos de membranas celulares, iniciando a via que leva à síntese

de prostaglandinas (ROBBINS et al., 1987); (e) proteases que atuam sobre

cininogênios, liberando cininas, por exemplo, bradicinina (ROCHA e SILVA et al.,

1949). Calicreínas podem ser ativadas pelo fator XII da cascata de coagulação, uma

vez que este fator é ativado depois que a vasculatura tenha sofrido danos e (f)

componentes da cascata do complemento, particularmente C3a e C5a, que

participam da reação inflamatória (DIAS DA SILVA et al., 1967), um problema que

pode ser acentuado pela capacidade das metaloproteinases (BaP-1) em ativar o

sistema complemento (FARSKY et al., 2000). O edema pode contribuir para outros

efeitos do veneno, como compressão do tecido e subseqüente isquemia. A

mionecrose, causada principalmente pelo componente PLA2 do veneno, pode

resultar em perda tecidual permanente, perda da habilidade motora e amputação do

membro acometido (GUTIERREZ e LOMONTE, 1995).

A injeção subcutânea de veneno ou da miotoxina II de B. asper em

camundongos, induziu um aumento dos níveis séricos de IL-6 entre 3 e 6 horas após

a injeção, enquanto que IL-1a e TNF-a não foram detectados (LOMONTE et al.,

1993). Barros et al. (1998) demonstraram que em camundongos BALB/c inoculados

com veneno de B. atrox por via intraperitoneal apresentaram níveis séricos elevados

de IL-6, IL-10, INF-g, TNF-a e oxido nítrico (NO), e in vitro, células esplênicas

desafiadas com veneno produziram somente IL-10, enquanto que as células

peritoneais aderentes produziram IL-6, IL-10 e INF-g, sugerindo que estas citocinas e

NO podem estar envolvidos na lesão tecidual. Mais recentemente, Petricevich et al.

(2000) utilizando camundongos BALB/c inoculados com venenos de B. asper ou B.

jararaca, também detectaram altos níveis das citocinas TNF-a, IL-1, IL-6, IL-10 e

INF-g no soro destes animais. A concentração máxima de IL-6 no soro foi atingida

entre 4 e 6 horas, sugerindo que esta citocina poderia estar modulando a secreção

30

de TNF-a, IL-1 e a síntese de proteínas de fase aguda. Além disso, estes autores

sugerem também que o TNF-a, IL-1 e NO podem desempenhar um papel relevante

nas alterações patofisiologicas sistêmicas causadas por estes dois venenos. Zuliania

et al. (2005) observaram distinção na produção de citocinas quando frações

purificadas de Asp e Lys49 do veneno de B. asper foram injetadas em camundongos

suíços, houve a produção de IL-1 e IL-6 para ambas isoformas, porém só houve

produção de TNF-a quando injetados com Asp49.

Em pacientes humanos picados por serpentes do gênero Bothrops ou

Crotalus durissus terrificus, Barraviera (1994) detectou a IL-1 somente em 37,5%

dos pacientes acidentados com C. d. terrrificus, a IL-6 foi detectada em 75% e 100%

dos pacientes acometidos por Bothrops e C. d. terrificus, respectivamente e a IL-8 foi

observada em 12,5% e 62,5% dos pacientes picados por Bothrops e C.d. terrificus,

respectivamente. Enquanto que o TNF-a não foi detectado no soro de nenhum

paciente, sugerindo que a IL-6 e a IL-8 podem estar envolvidos no aumento dos

níveis séricos de proteínas de fase aguda e na inibição da produção de albuminas.

Dosagens de citocinas séricas em pacientes humanos que sofreram

acidentes escorpiônicos realizadas por Meki e El-Dean, (1998), detectaram níveis

elevados de IL-1b, IL-6, NO e a1-antitripsina, que declinavam após 24 horas de

internação, enquanto que nos casos fatais a IL-1b e IL-6 se mantinham elevados

após 24 horas, sugerindo que estas citocinas estão envolvidas na patogênese do

envenenamento e se correlacionam com a severidade do envenenamento.

Barravieira (1997), comparando o perfil bioquímico sérico observado durante o

envenamento ofídico e escorpiônico, sugeriu que este quadro se assemelha ao

trauma agudo, induzindo uma típica resposta de fase aguda.

A importância do papel das citocinas e quimiocinas no desenvolvimento e

regulação das reações inflamatórias, observadas em várias condições patológicas,

tem sido extensivamente estudada nestes últimos anos, porém o envolvimento de

citocinas e quimiocinas na patofisiologia do envenenamento por serpentes, bem

como os mecanismos de sinalização intracelular induzida por componentes do

veneno em células alvo, tais como, endotélio vascular e musculatura estriada

esquelética, ainda não foram esclarecidos. Um melhor entendimento destes

31

mecanismos moleculares envolvidos na patogênese do envenenamento botrópico

pode abrir novas abordagens de interesse na terapêutica do envenenamento ofídico.

A SOROTERAPIA

A preocupação com o envenenamento ofídico e seu tratamento é bastante

antiga. No Brasil, já durante o período de colonização, o ofidismo era considerado

responsável por um número significativo de óbitos, sendo catalogado como uma das

grandes pragas existentes até então. Com relação ao tratamento, a literatura

produzida na época referia-se basicamente a ervas, rituais e manipulações utilizados

pela população para neutralizar os efeitos do veneno (SANTOS FILHO, 1991).

Esse tipo de abordagem sofreu modificação substancial na transição entre os

séculos XIX e XX, com o desenvolvimento da Microbiologia e Imunologia. As

grandes descobertas científicas vieram privilegiar a observação e a experiência

sistemáticas que deixavam de ser uma prática circunstancial (WEN, 2003).

Uma das grandes descobertas da imunologia foi à evidência de que um alto

grau de resistência a agentes biológicos de certas doenças poderia ser conseguido

pela injeção dos próprios organismos ou de extratos produzidos a partir deles. Era o

princípio da imunização ativa artificialmente induzida. Descobriu-se, também, que o

sangue dos animais imunizados continha os chamados anticorpos, que não só

destruíam os organismos invasores como apresentavam poder terapêutico e

profilático quando injetados no indivíduo doente. Era o princípio da imunização

passiva artificialmente adquirida, obtida por meio de soros hiperimunes, inicialmente

para difteria, tétano, botulismo e envenenamento ofídico (WEN, 2003). Foi assim

que Sewall, em 1887, pôde demonstrar que, em pombas, a inoculação repetida de

veneno de serpente do gênero Sistrurus, um tipo de cascavel norte-americana, em

doses bastante diluídas, produzia resistência contínua e gradativa contra os efeitos

da peçonha, sem aparente influência sobre o estado dos animais.

32

No Brasil, os trabalhos de Wücherer (1866) permitiram que o envenenamento

ofídico transpusesse os limites da cultura popular e da farmacopéia de botica para

integrar-se às pesquisas acadêmicas. Acreditando que a imunidade poderia advir do

próprio envenenamento, o autor achava que era possível obter uma “profilaxia”

semelhante à da varíola. Essa idéia não pôde ser comprovada, mas deu impulso a

uma série questionamentos e pesquisas na área (WEN, 2003).

Para a descoberta de um imunizante realmente eficaz contra o

envenenamento ofídico, foram de grande importância as pesquisas de Behring e

Kitasato (1890) observando que animais tratados com culturas de bacilos de tétano

e difteria produziam substâncias no seu próprio sangue capazes de neutralizar as

toxinas produzidas pelos microrganismos. A constatação de que um animal poderia

ser protegido contra o envenenamento se recebesse o soro de outros animais que

haviam sido previamente imunizados com o veneno foi feita, na mesma época, por

Phisalix e Bertrand (1894) e Calmette (1894). Este último foi o primeiro a utilizar o

antiveneno no tratamento de pacientes picados por serpentes. Tendo verificado que

a substância tinha ação preventiva e curativa contra a peçonha, deu início à

fabricação do primeiro soro antiofídico em Instituto Pasteur em Lille, na França.

No Brasil, o desenvolvimento da maioria das pesquisas em saúde pública

esteve fortemente associado ao combate de doenças transmissíveis, que

constituíam grave problema no final do século XIX (WEN, 2003). Surgiram, assim, os

institutos de pesquisa, entre os quais o Instituto Bacteriológico (1892), Instituto

Oswaldo Cruz (1900) e o Instituto Serumtherapico do Estado de São Paulo (1901),

atual Instituto Butantan (FONSECA, 1954). Foi neste último que Vital Brazil (1901)

demonstrou, pela primeira vez, que os envenenamentos causados por cascavel e

jararaca apresentavam manisfetações clínicas distintas, dando início às experiências

de imunização em cães, cabritos, bois e cavalos. Graças ao pesquisador brasileiro,

ficou comprovado que a especificidade dos soros estava relacionada ao gênero da

serpente (BRAZIL, 1903), contrariamente ao que supunha o pesquisador francês

Calmette, que difundiu o uso do antiveneno, acreditando que o soro produzido com o

veneno de algumas espécies protegeria o indivíduo contra o envenenamento por

qualquer serpente.

33

Desde então, vários estudos têm demonstrado o valor indiscutível dos

antivenenos na terapêutica dos acidentes por animais peçonhentos. Em 1901, Vital

Brazil iniciou a produção dos soros antiofídicos. Naquela ocasião, estimava a

letalidade dos acidentes ofídicos em 25%, proporção essa que mostrava redução de

50% dos casos de morte atribuída ao uso do soro. Passadas quatro décadas desde

o início da produção dos soros antiofídicos no Brasil, estatísticas do Instituto Vital

Brazil indicavam uma letalidade variável de 2,6 a 4,6% em acidentes humanos

(BARROSO, 1943).

SORO ANTIOFÍDICO

A utilização da soroterapia para o tratamento de acidentes por animais

peçonhentos data das últimas décadas do século XIX e a produção de soros

antitoxinas animais ainda é baseada nos métodos originalmente descritos por Vital

Brazil que imunizou cavalos com os venenos das espécies Bothrops jararaca e

Crotalus durissus terrificus e mostrou que a utilização do soro desses animais podia

neutralizar a ação dos venenos dessas serpentes (BRAZIL, 1903 e1905).

A produção de soros antitoxinas animais ainda é baseada nos métodos

originalmente descritos. Animais de grande porte são imunizados com venenos de

uma ou mais espécies de animais peçonhentos de importância médica. O soro

desses animais contém os anticorpos com capacidade de neutralizar as toxinas dos

venenos e é classificado como mono-específico ou poli-específico (monovalente ou

polivalente, respectivamente), segundo o número de venenos empregados na

imunização (CARDOSO et al., 2003)

Dessa forma, a escolha dos antígenos utilizados na imunização dos animais é

um fator primordial para a obtenção dos produtos ativos. A composição dos venenos

animais é bastante variável. Assim, vários soros devem ser produzidos, com a

finalidade específica de utilização em certo tipo de acidente. De modo geral, os

principais grupos de animais peçonhentos com importância médica causam

manifestações clínicas de envenenamento distintas, com exceção das serpentes do

34

gênero Bothrops e Lachesis. Nesses casos, usa-se o recurso da administração do

soro poli-específico, que tem as propriedades de neutralizar os efeitos induzidos

pelos diferentes venenos e, embora a utilização desses soros seja uma decisão

correta para essas circunstâncias, esse procedimento leva a uma série de

desvantagem (CARDOSO et al., 2003).

Os soros poliespecífico podem ser obtidos pela imunização dos animais com

uma mistura de diferentes venenos ou pela mistura de soros monoespecíficos

(obtido pela imunização independente com venenos de uma única espécie ou

gênero). As desvantagens desse processo consistem principalmente na baixa

eficiência do soro resultante. Dadas às características estruturais de cada toxina,

algumas delas são muito mais eficientes em induzir resposta imune. A imunização

de animais com misturas complexas de antígenos pode então levar a produção de

anticorpos predominantemente contra as toxinas presentes no veneno de uma das

espécies, deixando sem proteção os efeitos causados por toxinas menos

imunogênicas. Por outro lado, a mistura de soros mono-específicos leva,

necessariamente, a uma diluição do conteúdo total de anticorpos contra o veneno de

cada espécie. Dessa forma, a eficiência dos soros poli-específicos é sempre muito

reduzida quando comparado aos mono-específicos (CARDOSO et al., 2003). Outro

fenômeno que também pode ocorrer é a redução da resposta imune, e

conseqüentemente, redução da produção de anticorpos, devido à presença de

proteínas com atividade imunossupressoras, como as descritas no veneno de

Crotalus durissus terríficus (CARDOSO et al., 1997).

Outro aspecto a ser considerado na escolha dos antígenos é a variabilidade

que existe nos venenos de animais mesmo dentro do mesmo gênero, ou ainda

dentro da mesma espécie. Essa variabilidade intra-específica está geralmente

relacionada com a distribuição geográfica do animal, sua idade, ou época do ano em

que o animal foi capturado. A mistura de imunização deve incluir venenos de

indivíduos de diferentes idades, coletados em diferentes épocas do ano, nas regiões

onde o soro vai ser utilizado (WARRELL, 1997).

35

Além disso, recentemente no Encontro Nacional dos Laboratórios Produtores

de Soro e do Programa de Controle de Acidentes por Animais Peçonhentos em

setembro de 2003”, realizado no Instituto Butantan, foram analisadas as vantagens e

as desvantagens do uso de anticorpos heterólogos na soroterapia dos

envenenamentos causados por animais peçonhentos. Nos Dados do Ministério da

Saúde do Brasil constam que a presteza na administração do soro específico

(primeiras horas após o acidente), na dose correta e única (por exemplo, 10 ampolas

de 10mL nos acidentes considerados graves) e pela via correta (via intravenosa),

como indicado Manual de Diagnóstico e Tratamento dos Acidentes por Animais

Peçonhentos (Brasília: Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde, 1998, p.

13), reduziu o número de óbitos decorrentes de acidentes ofídicos. Apesar dessa

aparente melhora obtida com a soroterapia, os inconvenientes da utilização de

anticorpos heterólogos induzem reações adversas imediatas (RAIs). A incidência de

RAIs oscila: 14% em Belo Horizonte; 24% em Ribeirão Preto; 46% em Campinas e

25-80% em São Paulo. As RAIs representam a expressão clínica dos mecanismos

de hipersensibilidade às proteínas heterólogas do antiveneno. São classificadas em

reações precoces e tardias. As reações precoces se manifestam na pele (urticária e

angiodema), nos tratos gastrointestinal (náuseas, vômitos, cólicas abdominais e

diarréia), respiratório superior (obstrução por edema da laringe) e inferior

(broncoespasmo) e cardiovascular (hipotensão e choque). As reações tardias, bem

menos freqüentes, são reações de hipersensibilidade do tipo III produzidas por

imunocomplexos formados por anticorpos humanos antianticorpos eqüinos (doença

do soro a mais freqüente) (WEN, 2003). Glomerulopatias podem ocorrer

principalmente em crianças cujo limite de tolerância a proteínas heterólogas

circulantes seria da ordem de 60mg (MAZZUCCONI et al., 1989). A maioria dos

pacientes submetidos à soroterapia heteróloga fica quase definitivamente

impossibilitada de receber anticorpos da mesma origem devido ao risco de

desenvolver doença do soro e/ou choque anafilático. A esses grandes

inconvenientes acrescem-se a administração endovenosa de grandes volumes de

soro principalmente para crianças, as dificuldades de transporte e armazenamento

nos postos de saúde de grandes quantidades de soro em temperaturas de ordem de

4ºC, o custo de produção desses soros que exigem renovação periódica dos

36

estoques armazenados nos postos de saúde. Além disso, nos soros heterólogos

apenas 10-20% dos anticorpos são específicos para toxina importantes nos

envenenamentos por animais peçonhentos (WEN, 2003).

ANTICORPOS MONOCLONAIS MURINOS ANTITOXINAS

A partir dos anos 70, Kohler e Milstein (1975) desenvolveram um método para

imortalizar e clonar células produtoras de anticorpos específicos para um

determinante antigênico particular, revolucionando a imunologia e abrindo inúmeras

perspectivas para a área clínica. O método desenvolvido se baseia no fato de uma

célula B produzir anticorpos de uma única especificidade e, portanto, um tumor

monoclonal derivado da fusão entre um linfócito B e uma célula mielomatosa, produz

indefinidamente um único tipo de anticorpo.

Alguns aspectos fazem do anticorpo monoclonal uma das mais importantes

ferramentas de pesquisa: é o melhor método conhecido para preservar

indefinidamente uma célula produtora de anticorpos dirigidos contra um

determinante antigênico conhecido. A possibilidade de se ter uma célula produzindo

sempre o mesmo anticorpo é extremamente útil dada à homogeneidade do produto

obtido. Os anticorpos policlonais, resultantes da imunização de animais variam, nas

diferentes partidas, dadas a variabilidade dos animais e aos protocolos de

imunização. Além disso, o anticorpo monoclonal se constitui em um método valioso

para a identificação de antígenos desconhecidos, contidos dentro de uma mistura de

antígenos, visto que cada hibridoma é específico para um único determinante

antigênico. Em razão de sua alta especificidade, os anticorpos monoclonais são

reagentes padronizados que podem descriminar com precisão as diferenças

existentes na mesma ou em diferentes moléculas (por exemplo, a substituição de

único aminoácido), se constituindo em importantes ferramentas de pesquisa nas

áreas de pesquisa básica, imunodiagnóstico e clínica (CARDOSO et al., 2003).

37

Anticorpos monoclonais murinos específicos para toxinas de venenos animais

também já foram descritos, como, por exemplo, anticorpos monoclonais dirigidos

contra a-neurotoxina do veneno de Naja nigricollis (BOULAIN et al., 1982), Mojave

toxina (RAEL et al., 1986), b-bunga-rotoxina do veneno de Bungarus multicinctus

(DANSE et al., 1989), fatores hemorrágicos presentes no veneno de Crotalus atrox

(PEREZ et al., 1984 e MARTINEZ et al., 1989) ou no veneno de C. viridis viridis (LI

et al., 1993), ou ainda anticorpos monoclonais anti-PLA2 do veneno de C. durissus

terrificus (CHOUMET et al., 1992). Embora ainda não estejam em uso terapêutico,

tais anticorpos monoclonais têm permitido o isolamento de antígenos purificados, a

caracterização de epítopos presentes nas toxinas, os quais estão relacionados com

sua atividade patológica e/ou letal, possibilitando o desenho de drogas mais

potentes. O entendimento do modo de ação das toxinas, bem como a elucidação

dos mecanismos pelos quais os antivenenos promovem a neutralização destas

(CARDOSO et al., 2003).

As desvantagens apresentadas pelos monoclonais, que dificultam sua

utilização para fins terapêuticos, referem-se principalmente a sua alta

imunogenicidade. Pacientes tratados por longos períodos com anticorpos

monoclonais murinos, como nos casos de tratamento de tumores, acabam por

desenvolver uma resposta imune humoral contra anticorpos administrados (HAMA –

human antimouse antibody) (CARDOSO et al., 2003).

A terapia baseada na administração de anticorpos monoclonais murinos ou de

monoclonais recombinantes (anticorpos monoclonais humanizados) poderia,

teoricamente, tornar-se muito mais potente que a soroterapia atual, dada à presença

majoritária de anticorpos específicos e da conseqüente eliminação de proteínas

desnecessárias ou até indutoras de reações adversas. O grande desafio a ser

vencido refere-se ao estabelecimento de estudos mais conclusivos sobre as

vantagens em substituir a soroterapia atual.

38

OBJETIVO

Este projeto tem como objetivo avaliar a ação de anticorpos monoclonais

neutralizantes na proteção de camundongos desafiados com o veneno de B. atrox,

visando o desenvolvimento de um antiveneno ofídico baseado em um pool de

anticorpos monoclonais produzidos contra as principais toxinas do veneno desta

serpente.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

· Purificar os principais componentes tóxicos do veneno de Bothrops atrox,

hemorraginas, trombina-simile e PLA2, através de métodos conjugados de

cromatografia de exclusão molecular com a cromatografia líquida de alta

eficiência (HPLC);

· Analisar a pureza bem como dosar a atividade enzimática de cada uma das

frações purificadas;

· Produzir e purificar grandes quantidades de anticorpos monoclonais.

· Testar a capacidade dos anticorpos monoclonais em bloquear os efeitos

tóxicos dos respectivos componentes em testes in vitro e in vivo;

· Elaborar misturas de anticorpos monoclonais contendo diferentes

concentrações de cada um dos componentes;

· Avaliar a capacidade das misturas de anticorpos monoclonais em neutralizar

a letalidade do veneno bruto in vivo;

· Avaliar nos animais tratados com misturas de anticorpos monoclonais e

desafiados com veneno de B. atrox os seguintes parâmetros: tempo de

coagulação sangüínea e histopatologia do fígado, rins, baço, pulmões,

coração e músculos do diafragma e do assoalho do peritônio.

39

JUSTIFICATIVA

A grande quantidade de informações sobre a natureza dos venenos animais,

obtidas pelas mais diferentes abordagens, ainda não foi capaz de adicionar

alternativas na terapia dos envenenamentos por toxinas animais. A utilização de um

soro sintético baseado em anticorpos monoclonais poderá tornar a soroterapia

antiofídica mais eficaz, reduzindo-se a concentração de proteínas injetadas no

paciente e dessa forma minimizar os efeitos colaterais. O sucesso dessa proposta

servirá de base para a elaboração de um soro antiofídico com anticorpos

humanizados. Além disso, este trabalho talvez possa criar uma alternativa à

produção de soro antiofídico utilizando animais.

40

MATERIAIS E

MÉTODOS

41

VENENO E ANTIVENENO

O veneno da serpente Bothrops atrox utilizado neste trabalho foi fornecido

pelo Laboratório de Hepertologia do Instituto Butantan, São Paulo, SP, Brasil, sob

forma liofilizada e consistia de um pool do veneno de serpentes provenientes de

Tucuruí, PA. Para o uso, o veneno foi pesado e diluído em água destilada a uma

concentração de 10mg/mL e estocado em freezer a –20ºC, em alguns experimentos,

o veneno foi diluído em solução salina (NaCl a 0,9%). O antiveneno botrópico (lote

0512219/B, 0611203-A/B/C e 3584), com potência para neutralizar 5mg de veneno

para cada 1mL de soro, foi fornecido pelo Instituto Butantan, São Paulo, SP, Brasil e

acondicionado a 4oC.

ANTICORPOS MONOCLONAIS

Os anticorpos monoclonais utilizados nesta dissertação foram produzidos em

trabalhos anteriores no Laboratório de Biologia do Reconhecer. O mAb 59/2-E4

(antiZn-metaloproteinase) desenvolvido por Barros et al. (1998); o mAb 6AD2-G5

(antitrombina-simile); produzido por Petretski et al. (2000a) e o mAb A85/9-4

(antifosfolipase A2) gerado por Kanashiro et al. (2002).

ANIMAIS

Foram utilizados camundongos suíços albinos de ambos os sexos com cerca

de dois meses de vida, pesando entre 18 e 22g. Foram também utilizados

camundongos isogênicos BALB/c de ambos os sexos com aproximadamente 6

meses de idade. Os animais foram fornecidos pelo Biotério de Camundongos

Isogênicos de Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do

Norte Fluminense Darcy Ribeiro e pelo Biotério do Serviço de Animais de

Laboratório (SAL) do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde

(INCQS). Todos os animais foram mantidos em ambiente com renovação de ar,

alimentação e água ad libitum, obedecendo às normas éticas para uso de animais

de experimentação.

42

NEUTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE HEMORRÁGICA PELO MAB 59/2-E4

O ensaio de neutralização da atividade hemorrágica foi realizado incubando-

se diferentes concentrações (100, 50 e 25mg) de mAb 59/2-E4 com 2mg de veneno

de B. atrox durante 30min. à temperatura ambiente. Em seguida, as misturas foram

inoculadas por via intradérmica nos dorsos de camundongos Suíços albinos

previamente depilados. Após trinta minutos, os animais foram sacrificados, a pele da

região dorsal foi rebatida e a área hemorrágica na região subcutânea dos animais foi

avaliada.

O anticorpo monoclonal 59/2-E4 também foi testado quanto a sua capacidade

de inibir a atividade catalítica da Zn-metaloproteinase de baixo peso molecular

purificada do veneno de B. atrox, segundo metodologia descrita por Petretski et al,

2000b. Trinta microgramas da enzima purificada foram pré-incubada com 300µg do

mAb 59/2-E4 ou a mesma concentração de anticorpo policlonal de coelho durante

30min. à temperatura ambiente. Após a incubação, a atividade catalítica

remanescente da enzima foi avaliada utilizando-se como substrato a azocaseína

(Sigma, USA) de acordo com metodologia descrita por Petretski et al. (2000b). O

controle positivo foi constituído de enzima incubada com IgG não relacionada. A

reação foi lida em espectrofotômetro com comprimento de onda a 440nm.

DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE DE FOSFOLIPASE A2

A atividade fosfolipásica foi determinada utilizando-se o substrato sintético

fluorogênico (1-palmitoil-2-[6-(7-nitro-2-1,3-benzoxadiazol-4-yl)amino]caproyl]-sn-

Glycero-3-phosphocholine) (Avanti Polar-Lipids Inc., USA) (NBDPC). A reação foi

realizada em 2ml de tampão NBD (50mM Tris-HCl pH 8,0; 3mM CaCl2; 100mM

NaCl) acrescido de 5µl do substrato NBDPC (1mg/ml, diluído em tampão NBD) e 5µl

de amostra. A reação foi monitorada em fluorímetro (Hitachi - F4500, Japão), onde o

fluoróforo foi excitado a 460nm e o incremento de fluorescência mensurado a

534nm.

43

DOSAGEM DE CREATINA CINASE (CK) EM SORO DE CAMUNDONGOS TRATADOS

COM FRAÇÕES ENRIQUECIDAS EM PLA2 DO VENENO DE B. ATROX

Neste ensaio, empregamos metodologia descrita por Kanashiro et al., 2002.

Brevemente, camundongos Suíços albinos adultos foram injetados com as 40µg

frações de PLA2 por via intramuscular (i.m.) no músculo gastrocnêmio. Uma hora

após a injeção, os animais foram sacrificados com CO2 e o sangue colhido por

punção cardíaca. O soro foi separado e a enzima CK sérica foi dosada utilizando o

kit CK (NAC) Granutest 2,5 (Diagnostica Merk, Germany). Para avaliar a atividade

neutralizante do mAb A85/9-4 (antiPLA2), 40 µg da enzima PLA2 foram previamente

incubada com 140 µg do mAb durante 30 minutos a temperatura ambiente e, em

seguida, inoculada pela via i.m. em camundongos. Uma hora após a inoculação os

animais foram sacrificados, o soro colhido e a enzima CK sérica foi dosada. Cada

experimento foi realizado com pelo menos três animais em cada grupo.

NEUTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE CATALÍTICA DA TROMBINA-SIMILE PELO

ANTICORPO MONOLONAL 6AD2-G5

A inibição da atividade catalítica da trombina-simile de B. atrox pelo mAb

6AD2-G5 foi avaliada pré-incubando-se 40mg da fração enriquecida de trombina-

simile (1,4 mg/mL) com concentrações variadas (5, 10, 20 e 50mg) do anticorpo

6AD2-G5 (5,4mg/mL) durante 30min. à temperatura ambiente. Logo a seguir, as

amostras foram incubadas com 2,9mL de solução composta de substrato TAME

0,2M (Sigma Chemical Company – USA) diluído em tampão (0,2M Tris pH 8,1;

0,01M CaCl2 · 2H2O) por uma hora a temperatura ambiente. Em seguida, a

atividade remanescente da enzima foi medida em espectrofotômetro sob

comprimento de onda de 247nm.

44

NEUTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE COAGULANTE DE VENENO DE B. ATROX PELO

ANTICORPO MONOCLONAL 6AD2-G5 IN VITRO

A inibição da atividade coagulante foi realizada incubando concentrações

variadas (0.1, 0.5, 1.0, 3.0, 5.0, 10mg respectivamente) do mAb 6AD2-G5

(4,62mg/mL) com 20mg de veneno B. atrox durante 5min. à temperatura ambiente.

Em seguida, a essas misturas foram adicionados 500mL de solução composta de

fibribogênio bovino (Sigma, EUA) a 2,7mg/mL, diluído em tampão (50mM Tris-HCl

pH 8,0; 100mM NaCl2; 5mM CaCl2 ). Logo após a adição do fibrinogênio, por análise

visual, o tempo de formação do coágulo foi cronometrado.

PRODUÇÃO DE LÍQÜIDO ASCÍTICO IN VIVO

Células de hibridomas produtoras de anticorpos monoclonais anti-

serinoprotease (trombina-simile) 6AD2-G5 (PETRETSKI et al, 2000a), antifosfolipase

A2 A85/9-4 (KANASHIRO et al, 2002) e anti-hemorragina (Zn-metaloproteinase)

59/2-E4 (BARROS et al, 1998) do veneno de B. atrox, foram descongeladas e

cultivadas em garrafas de cultura com meio DMEM-F12 suplementado com 10% de

SFB e 10µg/mL de gentamicina. Uma vez amplificada a cultura, 1 x 106 células

foram inoculadas por via intraperitoneal (i.p.) em camundongos BALB/c previamente

injetados via i.p. com 0,4 mL de óleo mineral com 7 dias de antecedência. Após a

inoculação os animais foram observados diariamente e com aproximadamente 10

dias após a inoculação, o líquido ascítico foi colhido por punção abdominal

PURIFICAÇÃO DOS ANTICORPOS MONOCLONAIS

A purificação foi realizada segundo o método descrito por Steinbuch e Audran

(1969) através de precipitação com ácido caprílico. O líqüido ascítico ou o soro de

camundongos normais foi diluído 1:3 em tampão acetato de sódio 60 mM, pH 4.0,

em seguida, foi acrescentado, lentamente, 0.4mL de ácido caprílico para cada 10mL

de líqüido ascítico sob agitação, a temperatura ambiente. A agitação foi mantida por

30 min e, a seguir, o material foi centrifugado a 5000g durante 1h a 4ºC. Após a

45

centrifugação, o sobrenadante foi coletado, o pH ajustado para 7.0 com NaOH 3M e

a suspensão, novamente centrifugada nas mesma condições acima. Ao

sobrenandante resultante foi adicionado sulfato de amônio a 45% p/v,

vagarosamente, e a precipitação foi realizada sob agitação a 4ºC, overnight. Por

último, a suspensão foi centrifugada a 5000g durante 30 min. e o precipitado

resultante foi suspenso em solução salina e dialisado contra solução salina.

DOSAGEM DE PROTEÍNAS

Para determinação da concentração de proteínas nas amostras purificadas,

foi utilizada a metodologia descrita por Bradford (1976). Resumidamente, amostras

de mAb purificado foram incubadas com 1mL de solução de Bradford por 10min. em

seguida, as densidades ópticas (D.O.) das amostras foram determinadas em

espectrofotômetro (Shimadzu, Japão) sob comprimento de onde de 492ηm. Como

curva padrão foi usada albumina sérica bovina (BSA). Também foi aplicada, por ser

mais sensível a metodologia do ácido bicinconínico (BCA). Brevemente, amostras de

mAb foram incubados com 200µL de solução BCA (CuSO4 4% diluído 1:49 em

BCA), por 30min. a 37ºC. A seguir, as D.O. das amostras foram determinadas em

espectrofotômetro com comprimento de onda de 592ηm. Utilizou-se novamente BSA

como curva padrão.

ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA CONTENDO DODECIL SULFATO

DE SÓDIO (SDS PAGE)

Os géis de SDS-PAGE foram feitos em sistema descontínuo (Bio Rad Mini

Protean II, USA), constituído de gel separador com 15% de acrilamida (1,5 mL de

Tris-HCl 3M pH 8.8; 2,4 mL de Acrilamida/bisacrilamida 30%; 20µL de SDS a 10%;

45 µL de APS a 10%; 5 µL de TEMED; 2 mL de água destilada) e o gel de

empilhamento com 4% de acrilamida (1,5mL de Tris-HCl pH 6.8; 400µL de

Acrilamida/Bisacrilamida; 30µL SDS a 10%; 30µL de APS a 10%; 6µL de TEMED;

1,049mL de água destilada) em tampão de corrida Tris-Glicina (Tris-base 1,5%;

46

Glicina 7,2%; SDS 0.5%: pH 8,3) segundo a metodologia descrita por Laemmli

(1970). A corrente elétrica utilizada foi de 80v até as amostras cruzarem o gel de

empilhamento, em seguida, ajustada para 120v até o fim da corrida. Os géis foram

corados com azul de Coomassie R250 (Gibco BRL, USA) a 0,1% em solução

metanol-acético por overnigth e descorados em solução descorante (30% de

metanol e 10% de ácido acético) até a visualização das bandas.

IMMUNOBLOTTING

Primeiramente, realizou-se uma SDS-PAGE conforme anteriormente descrito.

O gel foi carregado com 15µg de cada mAb, A85/9-4, 59/2-E4 e 6AD2-G5

purificados. Em seguida, as proteínas contidas no gel foram transferidas para uma

membrana de nitrocelulose (Bio Rad, USA) utilizando o sistema Bio Rad Mini

Transblot II sob voltagem constante de 10v por um período de 2h em tampão fosfato

(Na2HPO4 1,5%; NaH2PO4 1,2%). Após a transferência, a membrana foi corada com

Ponceau S (Sigma Chemical Co, EUA) (Ponseau S 1g; ác. acético 1mL; H2O

destilada 100mL), lavada com água destilada e bloqueada com 15mL de leite

desnatado (leite Molico a 5% em PBST) (por overnight a 4ºC. Após o bloqueio, a

membrana sofreu duas lavagens com PBST durante 5min. cada. Em seguida, a

membrana foi incubada com anticorpo anti-IgG de camundongo marcado com

peroxidase (Southern Biotecnologies, EUA), diluído 1:2000, durante 2h a

temperatura ambiente. A membrana foi , novamente, lavada 3 vezes com PBST

(NaCl 0,8%; Na2HPO4 1,15%; KCl 0,2%; KH2PO4 0,2%; 0,5% tween) por 5min. Após

as lavagens, a membrana foi revelada com solução 3,3-Diaminobenzidina (DAB)

(4,9mL H20; 0,1mL Tris 2M pH 7,5; 0,3mL Imidazol 0,1mL, 5mg DAB, 0,05mL H202),

a reação foi interrompida com adição de água destilada, logo após a visualização

das bandas.

REATIVIDADE DOS ANTICORPOS MONOCLONAIS

A reatividade dos mAbs foi estudada pelo teste de ELISA. Os antígenos,

10mg/mL de uma fração enriquecida de trombina-simile e 30mg/mL do veneno bruto

47

de Bothrops atrox diluídos em tampão carbonato/bicarbonato 0,05M, pH 9.6

(50mL/poço) foram incubados overnight a 4ºC. Após a adsorção do antígeno, as

placas foram lavadas duas vezes com PBST e bloqueados com gelatina 1%

(100mL/poço) diluída em PBS por uma hora, a temperatura ambiente. Após o

bloqueio e uma nova lavagem com PBST, foram acrescentados os anticorpos

monoclonais (75mL/poço) diluídos em PBST, começando com uma concentração

inicial de 1mg/mL seguindo de diluições (fator 5) até o limite de 0,0128 x 10-3mg/mL.

Como controle, foi utilizado IgG inespecífica de camundongos normais. A incubação

da placa foi feita a 37ºC por 45 min. Após três lavagens com PBST, foi adicionado o

anticorpo conjugado anti-IgG de camundongo (Southern Biotechnologies, EUA)

marcado com peroxidase diluído 1:2000 (50mL/poço) em PBST e nova incubação foi

realizada a 37ºC por 45min. Esta reação foi revelada pela adição do substrato H2O2

e ortofenildiamina – OPD (Sigma Chemical Co, EUA) diluídos em tampão (5,75mL

H20 dest.; 3,25mL ác. cítrico 0,1M; 3,5mL fosfato de sódio 0,2M; 5mg OPD; 0,005

H202). A reação foi interrompida adicionando-se H2SO4 3N (50mL/poço) e lida em

comprimento de onda de 492 nm em espectrofotômetro de placas (Tittertek

Multiskan).

DETERMINAÇÃO DA DL50 DO VENENO DE B. ATROX

A determinação da DL50 do veneno de B. atrox foi relizada conforme Finney,

(1971). Brevemente, grupos de dez camundongos suíços albinos com peso entre 18

e 22g, foram inoculados com cada uma das diferentes concentrações de veneno de

B. atrox por via i.p. A sobrevivência dos animais foi avaliada num período de 48h. O

cálculo da DL50 foi realizado, utilizando-se o programa Probit versão 97.1 (F.R.

Marsman, Holanda).

NEUTRALIZAÇÃO DA AÇÃO LETAL DO VENENO DE B. ATROX

Diferentes concentrações do pool de mAbs neutralizantes foram incubados

com 2-3DL50 do veneno de B. atrox, a seguir, esta mistura foi inoculada em

48

camundongos Suíços albinos de 18 a 20g por via i.p. Alternativamente, o pool de

mAbs foi inoculado por via i.p. e em seguida, os camundongos foram desafiados

com o veneno pela via subcutânea (s.c.). Este ensaio foi também realizado segundo

metodologia preconizada pela Farmacopéia Brasileira. Diluições seriadas (fator 1,3)

do pool de mAbs foi incubado com 4 ou 5DL50 de veneno de B. atrox a 37ºC por 30

min. Em seguida, a mistura foi inoculada por via i.p nos animais. A sobrevivência dos

camundongos foi avaliada por até 48 horas. Neste ensaio, foi também testado um

soro antiofídico comercial, fornecido pelo Instituto Butantan, pré-incubado com

veneno de B. atrox. No grupo controle os animais foram inoculados somente com

veneno.

NEUTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE ANTICOAGULANTE DO VENENO DE B. ATROX

A neutralização da atividade anticoagulante foi realizada conforme adaptação

de Otero et al. (2000). Para determinar a cinética da atividade anticoagulante do

veneno de B. atrox, camundongos Suíços albinos de 18 a 22g (n=5) foram

previamente anestesiados com 250µg de cloridrato de quetamina (Vetbrand, Brasil)

via s.c. e inoculados com 200µg de veneno bruto por via i.p. Em diferentes intervalos

de tempo, as pontas das caudas dos animais foram cortadas e imersas em 10mL de

água destilada até o fim do sangramento. Para a determinação do tempo normal de

coagulação, foram utilizados animais não inoculados com veneno. A D.O. da água

foi determinada utilizando espectrofotômetro com comprimento de onda a 410nm.

Para o ensaio de neutralização, camundongos suíços albinos (n=8) anestesiados,

foram inoculados por via i.p. com 200µg de veneno bruto previamente incubado com

13,5mg do pool de mAbs durante 30 min a temperatura ambiente. Experimentos

adicionais, também foram realizados, utilizando-se dois grupos de animais (n=4)

inoculados com veneno de B. atrox previamente incubado com 3,5mg do mAb

6AD2-G5 (antitrombina-simile) ou com 500µL de soro antibotrópico durante 30min. à

temperatura ambiente. Após 1 hora, as pontas das caudas dos animais foram

cortadas e imersas em água destilada até cessar a hemorragia. A D.O. da água foi

determinada utilizando espectrofotômetro com comprimento de onda a 410nm.

49

ANÁLISES HISTOLÓGICAS

Grupos de camundongos submetidos ao ensaio de neutralização, em tempos

determinados (2h, 24h e 48h), foram sacrificados e amostras de coração, pulmões,

fígado, rins, baço e músculos do abdômen e diafragma foram colhidas e

imediatamente embebidas em solução de formol 10% tamponado para fixação. Após

a fixação, as amostras foram desidratadas em concentrações seriadas de álcool (70,

90, 100%), imersas em Xilol e inclusas em parafina de acordo com os protocolos de

rotina para microscopia óptica. Os cortes de 5mm feitos em micrótomo semi-

automático (Leica, Brasil) e coradas com hematoxilina e eosina (H&E). As análises

das lâminas foram feitas em microscópio óptico Axioplan Zeiss (Alemanha). Nas

análises, as lesões foram classificadas como: discreta, moderada e grave.

50

RESULTADOS

51

AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES NEUTRALIZANTES DOS ANTICORPOS

MONOCLONAIS

Os anticorpos monoclonais neutralizantes contras as principais toxinas do

veneno de B. atrox hemorragina, fosfolipase A2 e trombina-simile, foram produzidos

e purificados a partir de líquido-ascítico produzidos em camundongos BALB/c. As

atividades neutralizantes contra as respectivas toxinas foram avaliadas.

NEUTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE HEMORRÁGICA PELO MAB 59/2-E4

Na Figura 1 podemos observar que as três concentrações de anticorpos

utilizados foram capazes de inibir em diferentes graus a hemorragia induzida pelo

veneno, sendo que a concentração de 100µg do mAb 59/2-E4 foi mais eficiente na

inibição da atividade hemorrágica.

Esta mesma preparação de anticorpo monoclonal 59/2-E4 também foi testada

quanto a sua capacidade de inibir a atividade catalítica da Zn-metaloproteinase de

baixo peso molecular purificada do veneno de B. atrox (PETRETSKI et al, 2000b).

Podemos observar na Figura 2 que o anticorpo monoclonal 59/2-E4 ou anticorpos

policlonais produzidos em coelho quando pré-incubados com a hemorragina de

baixo peso do veneno, não foram capazes de inibir a atividade proteásica desta

enzima. A atividade catalítica da enzima incubada com os anticorpos foi similar à

atividade da amostra controle positiva que foi incubada com um anticorpo não

relacionado. Cinéticas utilizando soros hiperimunes produzidos em camundongos,

coelhos e galinhas, também foram realizadas, sendo que nenhum dos soros foi

capaz de inibir a atividade catalítica das metoloproteinases do veneno de B. atrox

(dado não mostrado).

52

Figura 1: Atividade hemorrágica do veneno total de B. atrox. Concentrações de

100, 50 e 25 mg de mAb 59/2-E4 purificado e foram pré-incubados com 2 mg de

veneno durante 30 minutos. A seguir, esta mistura foi inoculada intradermicamente

no dorso de camundongos Suíços albinos e trinta minutos após, os animais foram

sacrificados e a área hemorrágica no subcutâneo dos animais foi avaliada. 1-

Controle (100 mg de mAb IgG1 não relacionado); 2- mAb 59/2-E4 25 mg; 3- mAb

59/2-E4 50 mg; 4- mAb 59/2-E4 100 mg.

Figura 2: Atividade proteolítica da hemorragina de baixo peso molecular pelo

mAb 59/2-E4. Trinta microgramas da enzima purificada foram pré-incubada com

300µg do mAb 59/2-E4 ou a mesma concentração de anticorpo policlonal de coelho

durante 30min. a temperatura ambiente. Após a incubação a atividade catalítica

remanescente da enzima foi avaliada utilizando-se como substrato a azocaseína. O

controle positivo foi constituído de enzima incubado com IgG inespecífica. A reação

foi lida em espectrofotômetro com comprimento de onda a 440 nm.

0

0,20,4

0,60,8

1

Cont (-) Cont (+) Soro 59/2-E4

DO

440

nm

0

0,20,4

0,60,8

1

Cont (-) Cont (+) Soro 59/2-E4

DO

440

nm

1 2

4 3

2 1

4 3

53

NEUTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE FOSFOLIPASE A2 PELO MAB A85/9-4

A enzima fosfolipase A2 (PLA2) foi purificada do veneno de B. atrox segundo a

metodologia descrita por Kanashiro et al, (2002). Resumidamente, veneno de B.

atrox foi submetido à cromatografia de exclusão molecular (Sephacryl S100 HR –

Sigma Chemical Company, USA). As frações cuja atividade PLA2, foi determinada

através da utilização do substrato sintético NBDPC, foram reunidas e concentradas

por liofilização. As fosfolipases A2 contidas na fração enriquecida em PLA2 foram

purificadas utilizando-se a cromatografia de alta eficiência (HPLC) e uma coluna de

fase reversa (Bio Rad, USA). O perfil cromatográfico da cromatografia de fase

reversa pode ser visto na Figura 3. Nesta figura podemos observar que a atividade

PLA2 foi eluída em 04 picos, identificados como P1-4. Sendo que a atividade PLA2

foi detectada nos picos P2, P3 e P4 e no pico P1 não foi observada esta atividade.

Entretanto, com base em dados anteriores do nosso grupo, podemos sugerir que P1

corresponde à PLA2 do tipo K-49 (KANASHIRO et al., 2002).

Figura 3: Cromatografia de alta eficiência em coluna de fase reversa C4 da

fração enriquecida em PLA2. Cromatograma representativo das várias corridas em

HPLC para purificação da PLA2. As identificações P1, P2, P3, e P4 correspondem

aos picos com atividade fosfolipásica, determinada com substrato sintético NBDC.

Linha azul representa o gradiente de tampão B (80% de acetonitrila e 0,08% de

ácido trifluoroacético).

P4

DO

280

nm

(m

Abs

)

Con

cent

raçã

o de

B

Tempo - minutos

P4

DO

280

nm

(m

Abs

)

Con

cent

raçã

o de

B

Tempo - minutos

54

Os picos P1-4 foram reunidos e concentrados por liofilização e a pureza das

enzimas foi analisada em gel de poliacrilamida. Na Figura 4 podemos observar que

todos os 4 picos apresentaram uma banda majoritária na região de massa molecular

abaixo de 29kDa, sendo que o pico 1 apresentou o maior grau de pureza, os picos 2

e 3 apresentaram alguns contaminantes com massa molecular maior que 15 Da e o

pico 4 apresentou um duplete com massa molecular também abaixo de 29kDa.

Figura 4: Análise por SDS-PAGE das frações obtidas do HPLC. As amostras

colhidas do HPLC e concentradas foram analisadas em gel de SDS-PAGE a 15%.

A) Linha 1- Marcador de peso molecular; linha 2- fração P1; linha 3- fração P2; linha

4- fração P3. B) linha 1- Marcador de peso molecular, linha 2- fração P4.

Como o objetivo deste experimento não era a purificação da PLA2 e sim

utiliza-las para avaliar a atividade neutralizante do mAb antiPLA2, os picos P1 e P4

enriquecidas em PLA2 foram testadas quanto a sua capacidade de induzir

mionecrose em camundongos suíços albinos. Tanto os picos P1 quanto P4 forsm

capazes de induzir a mionecrose, avaliados pela liberação da enzima creatina

quinase, quando injetados pela via intramuscular em camundongos, conforme pode

ser observado na Figura 5A. Sendo que P4 foi mais eficiente do que o P1 na

indução da mionecrose. A amostra P4 foi utilizada para avaliar a capacidade de

A116976645

29

B 1 2116976645

29

kDa kDaA

116976645

29

AAA116976645

29

116976645

29

B 1 2116976645

29

B 1 2B 1 2B 1 2B 1 2116976645

29

116976645

29

kDa kDa

55

neutralizar a atividade mionecrótica induzida pela PLA2 do veneno de B. atrox,

Figura 5B. Nesta figura pode-se observar que o mAb A85/9-E4 foi capaz de inibir de

forma eficiente a mionecrose induzida pela PLA2 do veneno quando comparado com

o grupo controle, onde a PLA2 foi previamente incubada com uma IgG não

relacionada.

Figura 5: Dosagem de CK no soro de camundongos inoculados com as frações de

PLA2 enriquecidas do veneno de B. atrox. A) Camundongos Suíços albinos foram

injetados com as frações P1 e P4 (40µg) por via im. Uma hora após a injeção foram colhidos

os soros dos animais e a enzima CK sérica foi dosada. B) Neutralização da atividade

miotóxica pelo anticorpo monoclonal A85/9-4. Quarenta microgramas da fração P4 foram

previamente incubadas com 140µg do anticorpo monoclonal A85/9-4 e injetadas por via im

em camundongos Suíços albinos. Os soros dos camundongos foram colhidos 1 hora após a

injeção e submetidos a dosagens de CK. Barras pretas representam o desvio padrão.

0

200

400

600

800

1000

Cont. PLA2 P1 PLA2 P4

Cre

atin

a qu

inas

e U

/LA

0200400600800

1000120014001600

P4+A85/9-4 P4+IgG cont.

Cre

atin

a qu

inas

e U

/L

B

0

200

400

600

800

1000

Cont. PLA2 P1 PLA2 P4

Cre

atin

a qu

inas

e U

/LA

0

200

400

600

800

1000

Cont. PLA2 P1 PLA2 P4

Cre

atin

a qu

inas

e U

/LA

0200400600800

1000120014001600

P4+A85/9-4 P4+IgG cont.

Cre

atin

a qu

inas

e U

/L

B

0200400600800

1000120014001600

P4+A85/9-4 P4+IgG cont.

Cre

atin

a qu

inas

e U

/L

B

56

NEUTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE COAGULANTE DA TROMBINA-SIMILE PELO

ANTICORPO MONOLONAL 6AD2-G5

A inibição da atividade catalítica da trombina-simile de B. atrox pelo mAb

6AD2-G5 foi avaliada incubando-se uma fração enriquecida de trombina-simile com

o anticorpo e a atividade remanescente foi quantificada com a utilização do substrato

TAME. Na Figura 6B podemos ver que o mAb 6AD2-G5 foi capaz de inibir a

atividade catalítica da trombina-simile sobre o substrato TAME em todas as

concentrações testadas.

O mAb 6AD2-G5 também foi avaliado quanto à capacidade de neutralizar a

conversão de fibrinogênio em fibrina in vitro. Assim, concentrações variadas de mAb

6AD2-G5 foram incubadas com 20mg de veneno de B. atrox durante 5min a

temperatura ambiente. Logo a seguir, acrescentou-se solução de fibrinogênio bovino

e o tempo de formação do coágulo foi cronometrado. Na figura 7 podemos observar

que o mAb 6AD2-G5 também foi capaz de inibir a formação de coágulo de forma

dose dependente.

PRODUÇÃO DE LÍQÜIDO ASCÍTICO

Aproximadamente 10 dias após a inoculação dos hibridomas 6AD2-G5,

A85/9-4 e 59/2-E4 em camundongos BALB/c, foram coletados, por punção

abdominal, os líquidos ascíticos produzidos pelos animais. As ascites colhidas foram

centrifugadas a 800 g e o sobrenadante foi colhido e armazenado no freezer –20ºC

para posterior purificação dos anticorpos.

57

Figura 6: Atividade catalítica da trombina-simile pelo anticorpo monolonal

6AD2-G5 sobre o substrato TAME. A) Cinética da atividade catalítica da trombina-

simile sobre o substrato TAME; 5, 10, 20 e 40mg da enzima purificada foram

incubados com 0,2M de TAME por 1h a temperatura ambiente, em seguida a

atividade foi avaliada. B) neutralização da atividade catalítica pelo mAb 6AD2-G5; 5,

10, 20 e 50mg de mAb foram pré-incubados com 40mg de trombina-simile por 30

mim. a temperatura ambiente, em seguida, as misturas foram incubadas com 0,2M

de TAME por 1h a temperatura. A atividade remanescente foi medida em

espectrofotômetro sob comprimento de onda de 247nm. Barras pretas representam

o desvio padrão.

0,000

0,200

0,400

0,600

5 10 20 40

Trombina-simile enriquecida (ug)

D.O

. (24

7nm

)

A

0,000

0,100

0,200

0,300

0,400

0,500

5 10 20 50 cont. +

mAb 6AD2-G5 (ug)

D.O

. (24

7nm

)

B

58

Figura 7: Atividade coagulante do veneno de B. atrox in vitro: Cinética da

inibição da atividade coagulante do veneno de B. atrox, 0.1, 0.5, 1.0, 5.0 e 10mg

respectivamente foram incubados com 20mg de veneno durante 5min., em seguida,

acrescentou-se solução de fibrinogênio bovino e o tempo de coagulação foi

marcado. Barras pretas representam o desvio padrão.

PURIFICAÇÃO DOS ANTICORPOS MONOCLONAIS

Os anticorpos monoclonais purificados através do método combinado com

ácido caprílico e sulfato de amônio resultaram em volumes e concentrações variados

conforme pode ser visualizado na Tabela 1, sendo que a concentração total de cada

mAb ficou na ordem de 500 a 800mg. Na Figura 8, podemos analisar a pureza dos

mAbs por SDS-PAGE. Nesta figura, que é representativa de vários lotes de

purificação, podemos observar que os anticorpos purificados apresentaram duas

bandas majoritárias. A de maior massa molecular, em torno de 55kDa, sugere ser a

cadeia pesada da imunoglobulina e, a de menor massa molecular, em torno de

25kDa, sugere ser a cadeia leve da molécula de anticorpo. Nestas amostras

analisadas, observamos contaminação de outras proteínas.

0

50

100

150

200

250

300

ctrl.+ 0,1ug 0,5ug 1,0ug 3,0ug 5,0ug 10ug

Tem

po

de

Co

agu

laçã

o (

s)

mAb 6AD2-G5

59

Figura 8: Perfil eletroforético dos mAbs A85/9-4, 59/2-E4 e 6AD2-G5

purificados. Os mAbs purificados foram analisados por SDS-PAGE com gel

contendo 12% de acrilamida/bisacrilamida. Linha 1- Marcador de massa molecular;

linha 2- mAb A85/9-4 purificado (15µg); linha 3- mAb 59/2-E4 purificado (15µg) e

linha 4- mAb 6AD2-G5 purificado (15µg).

Para analisar a percentual de IgG nas amostras de líquido ascítico purificadas

foram confeccionados dois géis de SDS-PAGE, sendo que um foi corado com azul

de coomassie e o outro foi transferido a uma membrana de nitrocelulose e as

cadeias leves e pesadas das imunoglobulinas foram detectadas com anticorpo

policlonal anti-IgG murina. Na análise em conjunto das Figuras 9A e B podemos

observar que as duas bandas majoritárias observadas no gel de SDS-PAGE

Tabela 1: Resumo das purificações dos mAbs

mAb nº de Purificações Volume final (mL) Massa (mg)

A85/9-4 3 34 715,18

59/2-E4 6 27 669,97

6AD2-G5 3 17 473,56

1 2 3 4kDa

97

66

45

30

1 2 3 4kDa

97

66

45

30

60

correspondem à cadeia pesada e cadeia leve dos anticorpos murinos.

Adicionalmente, podemos ver também que o mAb 6AD2-G5 apresentou o maior

percentual de contaminantes dentre os três mAbs analisados no gel. Na análise

densitométrica do gel de SDS-PAGE, Figura 9C, podemos ver que os mAbs A85/9-

4, 59/2-E4 e 6AD2-G5 apresentaram o percentual de 46, 45 e 37% de IgG,

respectivamente, obtida pela razão da somatória das densidades ópticas das

cadeias pesada e leve sobre a densidade óptica total e multiplicada por 100. Dessa

forma, foi possível estimar um percentual médio de 42% de IgG nas amostras

purificadas de mAbs.

AVALIAÇÃO DA REATIVIDADE DOS MABS PURIFICADOS

A capacidade dos mAbs purificados de identificar e se ligar aos respectivos

antígenos foi avaliada pelo teste de ELISA. Na Figura 10 pode ser visto o resultado

de um ELISA representativo dos vários lotes de anticorpos monoclonais submetidos

à purificação. Nas Figuras 10A e B podemos observar que os mAbs 59/2-E4 e

A85/9-4 purificados foram eficazes no reconhecimento dos respectivos antígenos,

mesmo em baixas concentrações. Enquanto que o mAb 6AD2-G5, Figura 10C, não

apresentou uma titulação similar aos outros dois anticorpos testados. Este fato se

justifica, provavelmente, porque o antígeno utilizado, fração enriquecida de trombina-

simile, não continha a concentração adequada de trombina-simile requerida para o

teste ou o antígeno apresentava-se degradado. O veneno bruto não foi utilizado

como antígeno neste caso porque a proporção de trombina-simile no veneno total é

baixa.

61

Figura 9: Análise do percentual de pureza dos mAbs purificados. A) Análise dos

mAbs purificados por SDS-PAGE com gel contendo 12% de

acrilamida/bisacrilamida. Linha 1- mAb A85/9-4 purificado (15µg); linha 2- mAb 59/2-

E4 purificado (15µg) e linha 3- mAb 6AD2-G5 purificado (15µg). B) Identificação das

cadeias leves e pesadas das imunoglobulinas por westernblotting utilizando-se um

anticorpo policlonal anti-IgG murina marcado com peroxidase. A seta indica a cadeia

pesada do anticorpo e a cabeça de seta indica a cadeia leve do anticorpo. C)

Análise por densitometria do gel de SDS-PAGE utilizando o programa desenvolvido

por Bozzo e Retamal, (1991).

Den

sida

de ó

tica

rela

tiva

Migração relativa

C6AD2-G5 A85/9-459/2-E4

Den

sida

de ó

tica

rela

tiva

Migração relativa

C

Den

sida

de ó

tica

rela

tiva

Migração relativa

C6AD2-G5 A85/9-459/2-E4

1 2 3B1 2 3A

14.4

97

66

30

20.1

45

kDa

1 2 3B 1 2 3B1 2 3A

14.4

97

66

30

20.1

45

kDa

1 2 3A

14.4

97

66

30

20.1

45

kDa

62

Figura 10: Análise pelo teste de ELISA da atividade dos anticorpos purificados.

O teste de ELISA foi realizado utilizando como antígeno 30µg/mL de veneno de B.

atrox para os testes com os mAbs A85/9-4 (antiPla2) e 59/2-E4 (anti-hemorragina) e

10µg/mL da fração enriquecida de trombina-simile para o mAb 6AD2-G5

(antitrombina-simile). Os antígenos adsorvidos a placa de ELISA reagiram com

diferentes diluições dos mAbs e o complexo antígeno-anticorpo foi detectado com

um anticorpo secundário anti-IgG de camundongo conjugado a peroxidase. A) mAb

A85/9-4. B) mAb 59/2-E4. C) mAb 6AD2-65. Barras pretas representam o desvio

padrão.

A

0,0000,2000,4000,6000,8001,000

1000 200 40 8 1,6 0,320,064

0,0128

mAb mg/mL x

D.O

. (4

92n

m) A85/9-4

IgG controle

10-3

B

0 ,0 0 0

0 ,1 0 0

0 ,2 0 0

0 ,3 0 0

0 ,4 0 0

0 ,5 0 0

1000200 40 8 1,6

0 ,320,064

0,0128

m Ab m g/m L x

D.O

. (4

92

nm

)

5 9 -2 E 4

Ig G co n tro le

10-3

C

0 ,0 0 0

0 ,1 0 0

0 ,2 0 0

0 ,3 0 0

0 ,4 0 0

1000200 40 8 1,6

0 ,320,064

0,0128

m Ab m g/m L x

D.O

. (4

92

nm

)

6 AD 2 -G5

Ig G co n tro le

10-3

A

0,0000,2000,4000,6000,8001,000

1000 200 40 8 1,6 0,320,064

0,0128

mAb mg/mL x

D.O

. (4

92n

m) A85/9-4

IgG controle

10-3

A

0,0000,2000,4000,6000,8001,000

1000 200 40 8 1,6 0,320,064

0,0128

mAb mg/mL x

D.O

. (4

92n

m) A85/9-4

IgG controle

10-3

0,0000,2000,4000,6000,8001,000

1000 200 40 8 1,6 0,320,064

0,0128

mAb mg/mL x

D.O

. (4

92n

m) A85/9-4

IgG controle

10-3

B

0 ,0 0 0

0 ,1 0 0

0 ,2 0 0

0 ,3 0 0

0 ,4 0 0

0 ,5 0 0

1000200 40 8 1,6

0 ,320,064

0,0128

m Ab m g/m L x

D.O

. (4

92

nm

)

5 9 -2 E 4

Ig G co n tro le

10-3

B

0 ,0 0 0

0 ,1 0 0

0 ,2 0 0

0 ,3 0 0

0 ,4 0 0

0 ,5 0 0

1000200 40 8 1,6

0 ,320,064

0,0128

m Ab m g/m L x

D.O

. (4

92

nm

)

5 9 -2 E 4

Ig G co n tro le

10-3

0 ,0 0 0

0 ,1 0 0

0 ,2 0 0

0 ,3 0 0

0 ,4 0 0

0 ,5 0 0

1000200 40 8 1,6

0 ,320,064

0,0128

m Ab m g/m L x

D.O

. (4

92

nm

)

5 9 -2 E 4

Ig G co n tro le

10-3

C

0 ,0 0 0

0 ,1 0 0

0 ,2 0 0

0 ,3 0 0

0 ,4 0 0

1000200 40 8 1,6

0 ,320,064

0,0128

m Ab m g/m L x

D.O

. (4

92

nm

)

6 AD 2 -G5

Ig G co n tro le

10-3

C

0 ,0 0 0

0 ,1 0 0

0 ,2 0 0

0 ,3 0 0

0 ,4 0 0

1000200 40 8 1,6

0 ,320,064

0,0128

m Ab m g/m L x

D.O

. (4

92

nm

)

6 AD 2 -G5

Ig G co n tro le

10-3

0 ,0 0 0

0 ,1 0 0

0 ,2 0 0

0 ,3 0 0

0 ,4 0 0

1000200 40 8 1,6

0 ,320,064

0,0128

m Ab m g/m L x

D.O

. (4

92

nm

)

6 AD 2 -G5

Ig G co n tro le

10-3

63

ENSAIO DE NEUTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE LETAL DO VENENO TOTAL IN VIVO

PELO POOL DE MABS

No primeiro ensaio preliminar o pool de mAbs foi constituído de 3,45mg de

cada mAb (A85/9-4, 59/2-E4 e 6AD2-G5) totalizando 10,35mg a ser administrado

para cada camundongo. O pool de mAbs foi incubado com 200 ou 300µg de veneno

de B. atrox por 30 minutos e inoculado via i.p. em camundongos de 18-20g. A

sobrevivência dos animais foi avaliada em 24 e 48 horas após a inoculação. Todos

os animais que receberam o pool de mAbs incubados com 300µg de veneno

morreram em até 48 horas, enquanto 3 de 5 animais inoculados que receberam o

pool de mAbs pré-incubados com 200µg de veneno sobreviveram, conforme pode

ser visto na Tabela 2.

Tabela 2: Ensaio de soroproteção in vivo de camundongos desafiados

com o pool de mAbs e veneno

* A mistura de mAbs utilizada corresponde a 3,45mg de cada anticorpo monoclonal

A85/9-4, 59/2-E4 e 6AD2-G5 totalizando 10,35mg/camundongo.

**A quantidade de veneno utilizada por camundongo

Grupos mAbs* Veneno** Vivos/Total

Grupo 1 10,35mg 200ug 3/5

Grupo 2 ---- 200ug 1/5

Grupo 3 10,35mg 300ug 0/5

Grupo 4 ---- 300ug 0/5

64

Em outro modelo de análise, os camundongos foram inoculados pela via subcutânea

(s.c.) com o pool de mAbs e em seguida desafiados com veneno total de B. atrox pela

mesma via. Os três mAbs foram reunidos a uma concentração de 13,5 mg/camundongo

(5,0mg de A85/9-4 e de 59/2-E4; e 3,5mg de 6AD2-G5) em um volume de final de 0,7 mL e

inoculado via ip em camundongo Suíço albino com 18 a 20g. O grupo controle foi inoculado

com a mesma concentração de IgG inespecífica. Em seguida, os animais foram desafiados

com 350mg de veneno pela via subcutânea. A sobrevivência dos animais foi observada por

48 horas. Na Tabela 3 podemos observar que o grupo experimental constituído de

camundongos previamente tratados com os anticorpos específicos, todos os animais

sobreviveram. Enquanto que no grupo controle, que recebeu IgG inespecífica, somente um

camundongo sobreviveu.

DETERMINAÇÃO DA DL50 DO VENENO DE B. ATROX

A determinação da DL50 do veneno de B. atrox foi realizada inoculando-se

doses variadas do veneno em grupos de 10 camundongos Suíços albinos. Após a

inoculação a taxa de sobrevivência dos animais foi avaliada nos tempos de 24 e 48

horas. Na Tabela 4 podemos observar que no grupo 5 que foi inoculado com 62,2µg

de veneno todos os animais sobreviveram, enquanto que no grupo 1 que foi

inoculado com 129µg de veneno somente 4 animais sobreviveram. O resultado final

Grupos mAbs* Veneno** Vivos/Total

Grupo 1 13,5mg 350ug 5/5

Grupo 2 ----- 350ug 1/5

*A mistura de mAbs utilizada corresponde a 5,0mg dos mAbs A85/9-4 e 59/2-E4 e

3,5 mg de 6AD2-G5, por camundongo.

** A quantidade de veneno utilizada para cada camundongo.

Tabela 3: Ensaio de soroproteção in vivo de camundongos desafiados com misturas de mAbs e veneno

65

deste experimento foi analisado pelo método de Probit (Finney, 1971) que

determinou a concentração de 120,89µg a DL50 do veneno de B. atrox para

camundongos Suíços albinos de 18-22 g.

Uma vez demonstrado que os três mAbs em conjunto são capazes de inibir a

atividade letal do veneno de B. atrox, realizamos alguns ensaios de soroproteção de acordo

com a metodologia preconizada pela Farmacopéia Brasileira. No primeiro ensaio realizado

foram utilizados 4 grupos 8 de camundongos cada e com 18 a 22g de peso. Cada animal do

grupo 1 recebeu 13,5 mg do pool de mAbs previamente incubados com 5 DL50 de veneno de

B. atrox. Da mesma forma, cada animal do grupo 2 recebeu 10,5 mg do pool de mAbs, do

grupo 3 recebeu 7,9 mg do pool de mAbs e do grupo 4, cada animal recebeu 6,0 mg do pool

de mAbs. Na Tabela 5 estão sumarizados os resultados com 48 horas após a inoculação.

Nesta tabela podemos observar que somente no grupo 1 que recebeu 13,5 mg do pool de

mAbs apresentou dois animais sobreviventes. Nos grupos 2 e 4 houve somente um animal

Grupos Veneno(ug) Vivos/Total

Grupo 1 129 4/10

Grupo 2 120,7 7/10

Grupo 3 89,6 8/10

Grupo 4 74,6 9/10

Grupo 5 62,2 10/10

Tabela 4: Cálculo da DL50 do veneno de B. atrox

Grupo 6 51,8 10/10

Grupo 5 43,2 10/10

66

sobrevivente e no grupo 3 não houve camundongo sobrevivente. Todos os camundongos

sobreviventes foram sacrificados, necropsiados e amostras de coração, pulmões, fígado,

rins, baço e músculos do abdômen e do diafragma foram colhidas para análises

histológicas.

Grupos mAbs* Veneno** Vivos/Total

Grupo 1 13,5mg 5DL50 2/8

Tabela 5: Ensaio de soroproteção in vivo de camundongos desafiados com misturas de pool de mAbs e 5 DL50 de veneno

* A mistura de mAbs utilizada corresponde a 5,0mg dos mAbs A85/9-4 e 59/2-E4 e

3,5 mg de 6AD2-G5, por camundongo.

**A DL50 do veneno de B. atrox corresponde a 120,89µg.

Grupo 2 10,5mg 5DL50 1/8

Grupo 3 7,9mg 5DL50 0/8

Grupo 4 6,0mg 5DL50 1/8

67

Um ensaio similar ao apresentado na Tabela 6 foi repetido, sendo que foram

utilizados 4 DL50 do veneno de B. atrox e as concentrações do pool de mAbs por grupo

foram de 10,5mg , 7,9mg e 6,0mg por animal, respectivamente. Na Tabela 7 podemos

observar que no grupo 1 houve 3 animais que sobreviveram ao desafio com o veneno, no

grupo 2 houve apenas 1 animal e no grupo 3 não houve animal sobrevivente.

Com o intuito de fazer uma análise comparativa da potência do pool de mAbs com o

antiveneno comercial produzido pelo Instituto Butantan, foi realizado um ensaio de

soroproteção utilizando diferentes diluições do antiveneno antibotrópico e desafiado com 5

DL50 do veneno de B. atrox. Neste ensaio também não foi possível calcular a potencia do

antiveneno botrópico, pois houve somente dois animais sobreviventes nos grupos 1, 2 e 3 e,

no grupo 4 houve somente um animal vivo, conforme pode ser observado na Tabela 8.

Novos ensaios de soroproteção serão realizados para confirmar a potência do pool de mAbs

e a potência do antiveneno botrópico frente ao veneno de B. atrox.

Grupos mAbs* Veneno** Vivos/Total

Tabela 6: Ensaio de soroproteção in vivo de camundongos desafiados com

misturas de pool de mAbs e 4 DL50 de veneno

* A mistura de mAbs utilizada corresponde a 5,0mg dos mAbs A85/9-4 e 59/2-E4 e

3,5 mg de 6AD2-G5, por camundongo.

**A DL50 do veneno de B. atrox corresponde a 120,89µg.

Grupo 1 10,5mg 4DL50 3/8

Grupo 2 7,9mg 4DL50 1/8

Grupo 3 6,0mg 4DL50 0/8

68

NEUTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE ANTICOAGULANTE DO VENENO DE B. ATROX

Na Figura 11A podemos observar que o aumento do tempo de coagulação

em camundongos Suíços albinos inoculados com 200µg pela via ip do veneno de B.

atrox tem início aos 10 minutos após a inoculação do veneno e atinge o seu valor

máximo entre 30 e 60 minutos.

Para avaliar a capacidade do pool de mAbs neutralizar a atividade

anticoagulante do veneno de B. atrox, foi incubado 200µg do veneno com 13,5 mg

do pool de mAbs e inoculados via ip em camundongos Suíços albinos. Uma hora

após a inoculação a intensidade de sangramento dos animais foi avaliada. Na Figura

11B podemos observar que a intensidade de sangramento dos animais tratados com

o pool de mAbs foi similar à intensidade medida antes da inoculação do veneno pré-

incubado com o pool. Enquanto que os animais que receberam somente o veneno

apresentaram um sangramento muito mais intenso.

A ação isolada do mAb 6AD2-G5 antitrombina-simile foi também avaliada.

Camundongos Suíços albinos foram inoculados com 150µg de veneno previamente

incubado com 3,5mg do mAb 6AD2-G5 ou com 500µL de antiveneno antibotrópico.

A neutralização da atividade anticoagulante do veneno conferida pelo mAb 6AD2-G2

foi similar a atividade do antiveneno antibotrópico, conforme pode ser visto na Figura

12.

Grupos Antiveneno* Veneno** Vivos/Total

Grupo 1 0,750 mL 5DL50 2/8

Tabela 7: Ensaio de soroproteção in vivo de camundongos desafiados com

misturas de antiveneno e veneno de B. atrox.

* Antiveneno com potência para neutraliza 5mg de veneno por mL de soro.

** A DL50 do veneno de B. atrox corresponde a 120,89µg.

Grupo 2 0,570 mL 5DL50 2/8

Grupo 3 0,430 mL 5DL50 2/8

Grupo 4 0,330 mL 5DL50 1/8

69

Figura 11: Neutralização da atividade anticoagulante do veneno de B. atrox. A)

Cinética da atividade anticoagulante. Camundongos Suíços albino foram

anestesiados com 250µg de cloridrato de quetamina, e inoculados com 200µg de

veneno bruto via ip. Em diferentes intervalos de tempo as pontas das caudas dos

animais foram cortadas e imersas em água destilada até o fim do sangramento. B)

Animais anestesiados foram inoculados pela via i.p. com a mistura de 200µg de

veneno incubado durante 30min com 13,5mg do pool de mAbs. Uma hora após a

inoculação a intensidade do sangramento dos animais foi avaliada. Barras pretas

representam o desvio padrão.

0

1

2

3

4

0 10 30 60 120 180

minutos

D.

O.

(41

0 n

m)

A

0

1

2

3

4

cont. ( - ) cont. ( + ) tratado

D.

O.

(41

0n

m)

B

70

Figura 12: Neutralização da atividade anticoagulante do veneno de B. atrox

pelo mAb 6AD2-G5. Camundongos Suíços albino foram inoculados pela via ip com

150µg de veneno pré-incubados com 3,5mg de mAb 6AD2-G5 ou com 500µL de

soro antibotrópico. Uma hora após a inoculação as pontas das caudas dos animais

foram cortadas e imersas em água destilada até o fim do sangramento. A densidade

óptica da água foi medida em espectrofotômetro com comprimento de onda a

410nm. Barras pretas representam o desvio padrão.

ANÁLISES HISTOLÓGICAS

Camundongos suíços albinos foram inoculados com 150µg de veneno de B.

atrox, previamente incubado com 13,5mg do pool de mAbs, por via i.p. Após 2h de

ensaio, os animais foram sacrificados e amostras de coração, pulmões, fígado, rins,

baço, músculo, peritônio do assoalho do abdômen e do diafragma foram colhidas

para análises histológicas. Como controle de veneno, os animais receberam 150µg

de veneno bruto diluído em água destilada por via i.p. Nos animais controle, o

exame histopatológico em sessões do músculo e peritônio do assoalho abdominal,

revelou hemorragia difusa, com distribuição endomisial, algumas vezes com

evidente dissociação das fibras e, raras vezes, subserosa (subperitonial),

associadas à edema (prancha 1D, flecha triangular). Impressionava ainda, em

campos com derrame, sinais de hialinização de fibras individuais ou em grupos

(prancha 1D, flecha esférica). Nas amostras do músculo do diafragma, os achados

revelaram distúrbios circulatórios do tipo hemorrágico (prancha 2C, flecha triangular),

que mimetizavam aqueles distúrbios circulatórios do músculo e peritônio do

0,000

0,200

0,400

0,600

0,800

1,000

1,200

cont. (-) Antiveneno 6AD2-G5 cont. (+)

D.O

. (41

0nm

)

71

assoalho dorsal da cavidade abdominal. Nos animais tratados com o pool de mAbs,

as amostras de músculos do diafragma e do abdômen, o derrame se fazia presente,

notadamente na camada voltada para cavidade adominal (prancha 2B, flecha

triangular). Havia ainda associados ao músculo abdominal, sinais de leucocitose,

representados por numerosos polimorfos atulhando luzes dilatadas de capilares,

instalando um quadro de miosite sero-hemorrágica (prancha 1C, flecha triangular).

Nas demais amostras de órgãos colhidas, não houve alterações significativas

(resultado não mostrado).

Camundongos que sobreviveram as primeiras 24h do ensaio de soroproteção

com o pool de mAbs foram sacrificados, necropsiados e novamente amostras de

coração, pulmões, fígado, rins, baço e músculos do diafragma e do assoalho do

abdômen foram colhidas para análises histológicas. Nos animais controle positivo,

análises histopatológicas em sessões do fígado revelaram tumefação difusa discreta

(flecha triangular) com sinais discretos de leucositose (flecha esférica) nos vasos

hepáticos (prancha 3A) enquanto que nos animais tratados com o pool de mAbs

nenhuma alteração significativa foi observada (prancha 3B). Em sessões do músculo

do assoalho do peritôneo os achados revelaram hemorragia livre, algumas vezes

endomisial, a hemorragia discreta também se fazia presente no tecido adiposo

mesentérico.

72

Prancha 1: Análise histológica do peritônio-muscular do assoalho do

abdominal. Camundongos suíços albinos foram inoculados com 150µg de veneno

via i.p., diluído em água destilada, pré-incubado com o pool de mAbs por 30min. TA,

2h após animais foram sacrificados e amostras de órgãos e tecidos foram colhidos.

A) Animal controle negativo; aumento de 100X com zoom. B e C Animal tratado com

pool de mAbs (13,5mg): B) aumento de 400X com zoom; e C) aumento de 200X

com zoom. D) Animal controle positivo, inoculado com veneno somente; aumento de

400X com zoom.

D C

A B

73

Prancha 2: Análise histológica do músculo do diafragma. Camundongos suíços

albinos foram inoculados com 150µg de veneno via i.p., diluído em água destilada,

pré-incubado com o pool de mAbs por 30min. TA, 2h após animais foram

sacrificados e amostras de órgãos e tecidos foram colhidos. A) Animal controle

negativo; aumento de 100X com zoom. B) Animal tratado com pool de mAbs

(13,5mg); aumento de 200X com zoom. C) Animal controle positivo, inoculado com

veneno somente; aumento de 400X com zoom.

B

A

C

74

No músculo do diafragma dos animais que receberam somente o veneno, a

análise revelou hemorragia moderada endomisial e perimisial, em alguns campos

havia sinais de edema discreto (prancha 3C, flecha triangular), sendo que lesões

similares, porém, em menor grau, foram observadas nos animais tratados com o

soro polivalente (prancha 3D, flecha triangular). Em sessões do baço, os achados

revelaram um comprometimento congestivo hemorrágico moderado (prancha 3E,

flecha triangular) e nos animais tratados com o pool de mAbs o mesmo padrão de

lesão foi observado, porem em menor grau. Nas demais amostras colhidas, não

foram encontradas alterações dignas de nota. Nos animais tratados com o pool de

mAbs, de uma forma geral, os exames histológicos revelaram alterações em menor

grau quando comparado com os animais controles que receberam somente veneno.

Animais submetidos ao ensaio de soroproteção com antiveneno comercial

também foram analisados. Após 24h de envenenamento, os animais sobreviventes

foram sacrificados e necropsiados. Sendo os tecidos e órgãos analisados

histologicamente. O exame histológico das sessões do músculo do diafragma

revelou hemorragia subperitonial e intramuscular discreta com sinais de processo

congestivo hemorrágico na região subpleural do diafragma (prancha 3D, felcha

esférica), o exame também revelou distúrbio circulatório associado a infiltrados

escassos de neutrófilos e hialinização de fibras individuais, em algumas vezes com

dissolução. O exame em sessões dos pulmões revelou derrame alveolar focal,

provavelmente devido ao método de sacrifício adotado (resultado não mostrado).

Nas amostras do assoalho abdominal os distúrbios eram semelhantes aos

encontrados nos músculo do diafragma com distúrbio congestivo hemorrágico

discreto e hialinização de fibras individuais. Em alguns animais, nos rins, os achados

revelaram congestão corticoglomerular com raros cilindros hialinos inclusive. No

fígado, a análise demonstrou tumefação turva discreta difusa.

Os animais que sobreviveram as 48h do ensaio de soroproteção com o pool

de mAbs foram sacrificados, necropsiados e mais uma vez amostras de coração,

pulmões, fígado, rins, baço e músculos do diafragma e do assoalho do abdômen

foram colhidas para análises histológicas. Nos animais controle, o exame

histopatológico no fígado revelou tumefação difusa discreta sem sinais de distúrbio

vascular, em alguns campos os achados revelaram degeneração hidrópica. Nas

75

demais amostras, alterações significativas, não foram encontradas. Nos animais

tratados com o pool de mAbs, após 48h de ensaio, as análises histopatológicas

revelaram tumefação turva discreta no fígado. O músculo do diafragma encontrava-

se sem alterações. Em sessões do baço, foi encontrado um processo congestivo

hemorrágico discreto. Nas demais amostras, não foram encontradas alterações

dignas de nota.

Nos camundongos submetidos ao ensaio de soroproteção com antiveneno

comercial, após 48h de envenenamento, a análise histológica dos tecidos e órgãos

dos animais sobreviventes revelou lesões semelhantes às encontradas nos animais

tratados com o pool de mAbs. Em sessões do fígado, novamente tumefação discreta

se fazia presente. Nos músculos do diafragma e do peritônio, os achados revelaram

hemorragia discreta, em raros campos, no diafragma, havia hemorragia moderada

focal. No baço desses animais, processo congestivo hemorrágico também foi

encontrado. Nas demais amostras coletadas, nenhuma alteração significativa foi

encontrada.

76

Prancha 3: Análises histológicas do fígado, músculo do diafragma e baço. Animais que

sobreviveram as primeiras 24h do ensaio de soroproteção foram sacrificados e amostras de

órgãos e tecidos foram colhidas. A) Fígado de animal controle positivo; aumento de 400X

com zoom. B) Fígado de animal tratado com pool de mAbs; aumento de 400x com zoom. C)

Músculo do diafragma de animal controle positivo; aumento de 400X com zoom. D) Músculo

do diafragma de animal tratado com pool de mAbs; aumento de 400x com zoom. E) Baço de

animal controle positivo; aumento de 400X com zoom. F) Baço de animal tratado com o pool

mAbs; aumento de 400X com zoom.

A B

C

FE

D

77

DISCUSSÃO

78

Acidentes ofídicos ocorrem freqüentemente no Brasil, com uma incidência

anual de 20.000 casos reportados, sendo que o acidente botrópico corresponde ao

acidente ofídico de maior importância epidemiológica no país, responsável por cerca

de 90% dos envenenamentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Na região

amazônica, a espécie Bothrops atrox é responsável por 90% dos acidentes

(MELGAREJO, 2003). Venenos de serpentes contêm misturas complexas de

centenas de moléculas farmacologicamente ativas, incluindo componentes

orgânicos e minerais (histamina e outros alérgenos, poliaminas, alcalóides...),

pequenos peptídeos e proteínas (MARKLAND, 1998; FRY, 1999). Os efeitos

biológicos são complexos porque componentes diferentes possuem ações distintas

e devem, sinergicamente, agir com outras moléculas do veneno (CALVETE et al.,

2005).

Mesmo após mais de 100 anos da introdução da soroterapia por Calmette, a

administração de antivenenos, baseados em anticorpos heterólogos, permanece

como único tratamento contra picadas de serpentes (BON, 1996). A primeira

geração de antivenenos era constituída de soros de animais hiperimunizados com

os respectivos venenos. A próxima etapa surgiu com o desenvolvimento de métodos

bioquímicos capazes de enriquecer os preparados com anticorpos,

preferencialmente, separando a fração protetora de outros componentes séricos

conhecidos como causadores de reações de hipersensibilidades. Atualmente, os

antivenenos são constituídos de fragmentos de imunoglobulinas purificados e com

alta potencia neutralizante (STOCK et al., 2007). Ainda assim, administração de

soros heterólogos em pacientes induz reações alérgicas que podem ser inicias ou

tardias, sendo as EARs (early antivenom reactions) o principal problema associado à

soroterapia (OTERO-PATIÑO et al., 1998). Além disso, os soros antibotrópicos

poliespecíficos produzidos no Brasil não são eficientes na neutralização dos efeitos

do veneno de algumas espécies de Bothrops da floresta amazônica, principalmente

B. atrox (MUNIZ et al., 2000).

Neste trabalho tivemos como objetivo a produção de um antiveneno baseado

em anticorpos monoclonais (mAbs) contra os principais componentes tóxicos do

veneno de B. atrox. Para isso, anticorpos monoclonais contra fosfolipase A2 (PLA2),

trombina-simile e Zn-metaloproteinase foram produzidos em escala de miligramas,

79

purificados, agrupados em um pool e avaliados quanto à capacidade de

neutralização dos principais efeitos tóxicos do veneno.

A purificação de anticorpos monoclonais pelo método combinado do ácido

caprílico e precipitação com sulfato de amônio, utilizado neste trabalho, apresentou

um percentual relativamente baixo de pureza. Conforme pode ser observado na

Figura 9, o percentual médio de pureza nas diferentes preparações ficou em torno

de 42%. Em trabalhos anteriores, realizados em nosso grupo, utilizando esta mesma

metodologia, foi observado um grau de pureza maior do que o observado neste

trabalho. Possivelmente o grau de pureza dos mAbs pouco satisfatório pode ser

melhorado fazendo-se um acompanhamento mais adequado dos ajustes de pH

durante o processo de purificação. Além disso, estes resultados devem ser

considerados ao analisar os outros ensaios que utilizaram estes preparados.

Os mAbs anti-PLA2 (figura 10A) e Zn-metaloproteinase (figura10B) foram

eficazes no reconhecimento de seus respectivos antígenos, mesmo nas menores

diluições. Entretanto, o mAb anti-trombina-simile não apresentou o mesmo padrão

de reconhecimento daqueles mAbs (figura 10C). Esta baixa eficiência pode ter

ocorrido devido aos seguintes fatores: a) o antígeno utilizado no ensaio, trombina-

simile enriquecida, não se encontrava na concentração adequada para o teste; b)

sabe-se que o mAb 6AD2-G5 reconhece epítopos conformacionais (PETRETSKI et

al., 2000a), a adsorção do antígeno na placa de ELISA pode ter induzido a uma

mudança conformacional do antígeno, diminuindo, assim, a ligação do mAb 6AD2-

G5 ao seu epítopo; ou ainda, c) o antígeno poderia estar degradado.

A síndrome hemorrágica é uma das principais conseqüências graves do

envenenamento por serpentes pertencentes à família Viperidae (GUTIÉRREZ et al.,

2005). O principal componente responsável por este sangramento local, ou

sistêmico (em casos severos de envenenamento), é a metaloproteinase de serpente

(STOCKER et al., 1995). A neutralização da atividade hemorrágica induzida pelo

veneno de B. atrox foi analisada in vivo na Figura 1. O mAb antimetaloproteinase

59/2-E4 foi capaz de inibir a atividade hemorrágica de maneira dose dependente.

Porém, em ensaios in vitro, o mAb 59/2-E4 foi incapaz de inibir a atividade catalítica

80

da Zn-metaloproteinase de baixo peso molecular (Figura 2) purificada do veneno de

B. atrox (PETRETSKI et al., 2000b), sugerindo que o mAb 59/2-E4 não seja

direcionado contra o sítio catalítico da enzima, mas contra uma outra região da

molécula que seja responsável pelo acoplamento da metaloproteinase ao substrato,

o domínio desintegrina e o domínio enriquecido em cisteína. Conforme foi

demonstrado por Tanjoni et al., (2003) utilizando anticorpos monoclonais

desenvolvidos contra a hemorragina de Bothrops jararaca.

Mionecrose é outra complicação médica importante nos acidentes ofídicos

(LOMONTE et al., 2003). A miotoxidade descrita em envenenamentos por estas

serpentes é atribuída principalmente às PLA2 (TEIXEIRA et al., 2003). A purificação

da PLA2 segundo metodologia descrita por Kanashiro et al., (2002) foi compatível

com os resultados observados pelo autor (Figuras 4 e 5). A eficácia do mAb anti-

PLA2 na neutralização da atividade miotóxica provocada pela PLA2, foi avaliada

indiretamente pelos níveis séricos de creatina quinase. As análises mostraram que

o mAb A85/9-4 foi eficaz na neutralização da atividade miotóxica provocada pela

fração PLA2 -P4 em camundongos Suíços albinos (Figura 5B), conforme já

demonstrados em trabalhos anteriores do nosso grupo.

A ação coagulante, também conhecida como síndrome da desfibrinação, é

resultante da propriedade que o veneno das serpentes do gênero Bothrops, Crotalus

e Lachesis têm de transformar diretamente o fibrinogênio em fibrina (KAMIGUTI e

CARDOSO, 1989). A enzima responsável pela formação do coágulo na fase final da

coagulação sanguínea é a trombina-símile (ZAGANELLI et al. 1996). O mAb 6AD2-

G5 foi testado quanto à capacidade de inibição da atividade catalítica utilizando o

TAME como substrato. Na Figura 6B podemos observar que o mAb 6AD2-G5 foi

eficaz em neutralizar a atividade catalítica da trombina-simile em todas

concentrações testadas. O mAb 6AD2-G5 também foi testado quanto à capacidade

de neutralizar a conversão de fibrinogênio em fibrina. Na figura 7 podemos observar

que o mAb 6AD2-G5, foi capaz de inibir a formação do coágulo. Em algumas

amostras purificadas, o mAb foi capaz de inibir em até três vezes a atividade

coagulante do veneno (resultado não mostrado). Esses dados demonstram que,

apesar da baixa titulação observada no teste de ELISA (Figura 10C), o mAb 6AD2-

81

G5 foi capaz de neutralizar eficientemente a atividade catalítica da serinoproteinase

trombina-simile.

Após a comprovação da eficácia de cada um dos mAbs na neutralização de

suas respectivas toxinas, eles foram agrupados em pool e testados quanto à

capacidade de neutralização da ação letal do veneno de B. atrox. No primeiro ensaio

preliminar, onde o pool de mAbs foi pré-incubado com veneno bruto e inoculado por

via i.p. em camundongos Suíço albinos, o grupo de animais desafiado com 200mg de

veneno, a maioria dos camundongos sobreviveu, enquanto que no grupo controle,

que recebeu veneno somente, nenhum animal permaneceu vivo (Tabela 3). No

ensaio seguinte, onde o pool de mAbs foi inoculado nos animais pela via i.p.. e

desafiados com veneno bruto pela via s.c., foi observado que o grupo de

camundongos tratados e desafiados com 350mg de veneno, todos os camundongos

sobreviveram (Tabela 4). Enquanto que no grupo controle que não receberam o pool

de mAbs, somente um camundongo sobreviveu. Esses dados mostram que os três

mAbs em conjunto são capazes de inibir a ação letal do veneno de B. atrox.

Adicionalmente, poderíamos considerar que a concentração de 13,5mg de proteínas

administrada por animal seja um pouco elevada, entretanto, esta análise deve levar

em consideração de que somente 42% desta preparação correspondem a

anticorpos, reduzindo para aproximadamente 5,7mg de anticorpos administrados

para cada animal.

Ensaios de soroproteção realizados conforme metodologia preconizada pela

Farmacopéia Brasileira podem ser visualizada nas tabelas 6 e 7, onde foram

utilizados 4 e 5 DL50 do veneno de B. atrox por animal, respectivamente. Estas duas

tabelas demonstram que a concentração de anticorpos utilizada não foi capaz de

neutralizar a toxicidade letal da dose de veneno injetada. Foi realizado, também, um

ensaio de soroproteção utilizando um soro poliespecífico antibotrópico pré-incubado

com 5 DL50 de veneno de B. atrox (tabela 8), que também não foi capaz de

neutralizar a ação letal da dose de veneno injetada. Este resultado demonstra a

ineficácia dos antivenenos poliespecíficos nacionais na neutralização da ação letal

do veneno de B. atrox, conforme já demonstrado por Muniz et al. (2000). O baixo

nível de proteção conferido pelo pool mAbs, comparável ao nível de proteção

82

conferido pelo antiveneno poliespecífico, poderia estar associado à ação sinérgica

das outras toxinas presentes no veneno, além das três principais toxinas

neutralizadas pelos mAbs. Uma outra possível justificativa é de que a DL50 por nós

determinada (120,89µg) esteja acima da DL50 real, uma vez que a DL50 determinada

por Otero et al. (2000) foi de 66,2µg de veneno por animal. Entretanto, Barros et al.

(1998) utilizando várias linhagens de camundongos isogênicos, demonstraram

suscetibilidades diferenciadas entre os diversos padrões genéticos murinos

testados. Sendo a DL50 de 89,4µg de veneno de B. atrox para a linhagem A/J de

maior sensibilidade, e a DL50 de 137µg de veneno para linhagem mais resistente

DBA/2. Uma confirmação da DL50 para este lote de veneno será realizada e novos

ensaios de soroproteção serão realizados para confirmar as potências do pool de

mAbs e do antiveneno botrópico frente ao veneno de B. atrox.

O pool de mAbs também foi avaliado quanto à capacidade de neutralização

da atividade anticoagulante in vivo promovida pelo veneno de B. atrox. Lorìa et al.

(2003) demonstraram que a incoagulabilidade sangüínea perdura por três horas

após a inoculação do veneno de B. asper em camundongos. Similarmente, a

inoculação de veneno de B. atrox em camundongos causou o mesmo efeito (Figura

11A). O pool de mAbs neutralizou de forma eficiente a atividade anticoagulante,

conforme pode ser visto na Figura 11B a intensidade do sangramento permaneceu

similar à intensidade observada nos animais controles que não receberam o veneno.

O mAb 6AD2-G5 por si só também foi capaz de neutralizar a atividade

anticoagulante do veneno de B. atrox de forma eficiente, semelhante ao resultado

visto com o soro antibotrópico (Figura 12), confirmando os resultados observados

nas Figuras 6 e 7 nos ensaios in vitro e corroborando com os resultados

demonstrados por Petretski et al. (2000a) que o mAb antitrombina-simile é um

potente inibidor desta enzima.

As análises histológicas dos animais sobreviventes, de uma maneira geral,

demonstrou que tanto o pool de mAbs como o soro antiofídico foram capazes de

reduzir significativamente o nível de lesões causadas pelo veneno de B. atrox nos

tempos de 2hr, 24hr e 48hr, quando comparado com o grupo controle que foi

83

inoculado semente com o veneno. Os animais tratados com o pool de mAbs

apresentaram graus de lesões similares aos animais tratados com o soro antiofídico.

Nesta dissertação foi demonstrada a eficácia do pool de mAbs, composto por

anticorpos contra metaloproteinase, PLA2 e trombina-símile, na neutralização das

atividades letal e hemorrágica promovidas pelo veneno de B. atrox. Esses dados em

conjunto apontam para a possibilidade de desenvolvimento de um antiveneno

baseado em anticorpos monoclonais humanizados.

84

CONCLUSÕES

85

Os resultados aqui apresentados nos permitem concluir que:

· O mAb anti Zn-metaloproteinase foi capaz de inibir a atividade hemorrágica in

vivo de maneira dose dependente. Porém este mAb foi incapaz de inibir a

atividade catalítica da enzima in vitro;

· O mAb anti-PLA2 foi capaz de neutralizar a atividade miotóxica induzida pela

fração PLA2-P4 em camundongos Suíços albinos;

· O mAb anti trombina-simile neutralizou eficientemente a atividade catalítica da

enzima sobre o substrato TAME. O mAb também foi capaz de neutralizar a

conversão de fibrinogênio em fibrina, in vitro, induzida pela trombina-simile;

· O pool de mAbs neutralizou a ação letal do veneno de B. atrox quando pré-

incubado com veneno e inoculado via i.p. nos animais. Resultado similar foi

alcançado quando o pool foi inoculado via i.p. e, em seguida, os animais

foram desafiados com veneno por via s.c.;

· Ensaios de soroproteção conforme preconizado pela Farmacopéia Brasileira,

o pool de mAbs não foi capaz de conferir proteção aos animais. A proteção

também não foi atingida quando soros antibotrópicos poliespecíficos foram

empregados;

· O pool de mAbs neutralizou eficientemente a atividade anticoagulante

induzida pelo veneno de B. atrox. O mAb antitrombina-simile, por si só, foi

também capaz de inibir essa atividade.

· A análise histológica dos tecidos dos animais experimentais demonstrou que

o pool de mAbs e o soro antiofídico foram capazes de reduzir

significativamente as lesões teciduais induzidas pelo veneno.

86

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