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Emergência FEV/MAR / 2011 48 ARTIGO Identificação dos riscos É preciso registrar corretamente as inundações graduais e bruscas para construir a verdadeira história e evitar futuras tragédias egundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, os desastres naturais podem ser S definidos como um sério distúrbio de- sencadeado por um perigo natural que causa perdas materiais, humanas, eco- nômicas e ambientais excedentes à ca- pacidade da comunidade afetada de en- frentar o perigo. Por esta definição, po- de-se afirmar que os desastres naturais estão sempre associados a prejuízos de grande ou pequena intensidade. As ocor- rências registradas em banco de dados mundiais como o EM-DAT, demons- tram um aumento dramático da frequên- cia dos desastres naturais a partir da década de 50 e dos prejuízos econômi- cos a partir de 70. Tal aumento desenca- deou a maior iniciativa científica interna- cional em busca de possíveis estratégias de mitigação. Hoje, a ONU possui a UNISDR (Intenational Strategy for Disaster Reduction). No Brasil, entre todos os tipos de de- sastres naturais, as inundações têm o maior número de ocorrências, sendo as principais responsáveis por perdas de vida e danos socioambientais e econô- micos. Elas são fenômenos naturais, re- sultados do ciclo hidrológico e forne- cem grandes quantidades de fertilizan- tes e sedimentos às planícies, atuando como agentes modificadores da paisa- gem, trazendo, assim, benefícios à soci- edade. No entanto, muitas vezes, as águas da inundação atingem a comuni- dade em virtude da ocupação sobre a planície de inundação e áreas próximas aos rios, causando prejuízos e, conse- quentemente, caracterizando-se como desastre natural. Devido à grande escala de ocorrência de tal fenômeno, a terminologia associa- da a ele acaba variando de local para lo- cal. No Brasil, os termos associados às inundações são: cheia, enchente, enxur- rada, inundação gradual, inundação brusca, alagamentos, inundações ribei- rinhas, inundações urbanas, enchentes repentinas entre outros. Esta diversida- de de termos causa uma divergência e até a confusão quanto à caracterização das inundações. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi analisar algumas defi- nições dos dois principais tipos de inun- dações, isto é, inundações bruscas e gra- duais, propondo um método de identi- ficar estas duas inundações e apresentar algumas considerações relacionadas à inundação brusca com experiências na tragédia no Vale do Itajaí em 2008. CONCEITOS As palavras cheia e enchente têm co- Masato Kobiyama - Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – UFSC – [email protected] Roberto Fabris Goerl - Doutorando em Geografia – UFPR - [email protected] ANTÔNIO CRUZ/ABr

ANTÔNIO CRUZ/ABr - · PDF filenundações graduais e bruscas em cam-po? Infelizmente a resposta é não. Existe uma grande divergência entre os cien-tistas sobre as ... ainda deve-se

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Emergência FEV/MAR / 201148

ARTIGO

Identificação dos riscos◗É preciso registrar corretamente as inundações graduais e bruscaspara construir a verdadeira história e evitar futuras tragédias

egundo o Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento,os desastres naturais podem serS

definidos como um sério distúrbio de-sencadeado por um perigo natural quecausa perdas materiais, humanas, eco-nômicas e ambientais excedentes à ca-pacidade da comunidade afetada de en-frentar o perigo. Por esta definição, po-de-se afirmar que os desastres naturaisestão sempre associados a prejuízos degrande ou pequena intensidade. As ocor-rências registradas em banco de dadosmundiais como o EM-DAT, demons-tram um aumento dramático da frequên-cia dos desastres naturais a partir dadécada de 50 e dos prejuízos econômi-cos a partir de 70. Tal aumento desenca-

deou a maior iniciativa científica interna-cional em busca de possíveis estratégiasde mitigação. Hoje, a ONU possui aUNISDR (Intenational Strategy for DisasterReduction).

No Brasil, entre todos os tipos de de-sastres naturais, as inundações têm omaior número de ocorrências, sendo asprincipais responsáveis por perdas devida e danos socioambientais e econô-micos. Elas são fenômenos naturais, re-sultados do ciclo hidrológico e forne-cem grandes quantidades de fertilizan-tes e sedimentos às planícies, atuandocomo agentes modificadores da paisa-gem, trazendo, assim, benefícios à soci-edade. No entanto, muitas vezes, aságuas da inundação atingem a comuni-dade em virtude da ocupação sobre aplanície de inundação e áreas próximasaos rios, causando prejuízos e, conse-quentemente, caracterizando-se comodesastre natural.

Devido à grande escala de ocorrênciade tal fenômeno, a terminologia associa-da a ele acaba variando de local para lo-cal. No Brasil, os termos associados àsinundações são: cheia, enchente, enxur-rada, inundação gradual, inundaçãobrusca, alagamentos, inundações ribei-rinhas, inundações urbanas, enchentesrepentinas entre outros. Esta diversida-de de termos causa uma divergência eaté a confusão quanto à caracterizaçãodas inundações. Sendo assim, o objetivodeste trabalho foi analisar algumas defi-nições dos dois principais tipos de inun-dações, isto é, inundações bruscas e gra-duais, propondo um método de identi-ficar estas duas inundações e apresentaralgumas considerações relacionadas àinundação brusca com experiências natragédia no Vale do Itajaí em 2008.

CONCEITOSAs palavras cheia e enchente têm co-

Masato Kobiyama - Departamento de Engenharia Sanitária eAmbiental – UFSC – [email protected]

Roberto Fabris Goerl - Doutorando em Geografia – UFPR [email protected]

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Emergência 49FEV/MAR / 2011

mo origem o verbo encher, do Latimimplere, que significa: ocupar o vão, a ca-pacidade ou a superfície de; e tornarcheio ou repleto. Quando as águas dorio elevam-se até a altura de suas mar-gens, contudo, sem transbordar nas áre-as adjacentes, é correto dizer que ocor-re uma enchente. A partir do momentoem que as águas transbordam, ocorreuma inundação. A Figura 1 demonstraa diferença entre as enchentes e inunda-ções.

A Defesa Civil classifica as inundaçõesem função da magnitude (excepcionais,de grande magnitude, normais ou regu-lares e de pequena magnitude) e em fun-ção do padrão evolutivo (inundaçõesgraduais, inundações bruscas, alagamen-tos e inundações litorâneas), segundo opesquisador Antônio Luiz Coimbra deCastro. Apesar desta diferenciação, amaior parte das situações de emergên-cia ou estado de calamidade pública écausada pelas inundações graduais ebruscas. De acordo com Castro, as inun-dações graduais ocorrem quando a águaeleva-se de forma lenta e previsível,mantêm-se em situação de cheia duran-te algum tempo, e a seguir escoa gradu-almente. Citando os rios Amazonas, Ni-lo e Mississippi como exemplos, o mes-mo autor mencionou que este tipo deinundação possui uma sazonalidade (pe-riodicidade). Aparentemente, essa inun-dação não é tão violenta, mas sua áreade impacto é extensa. A Tabela 1 mos-tra algumas definições utilizadas para asinundações graduais.

Por outro lado, popularmente conhe-cida como enxurrada, a inundação brus-ca ocorre devido às chuvas intensas,principalmente em regiões de relevoacidentado. Castro cita que a elevaçãodos caudais é súbita e seu escoamento éviolento. Ela ocorre em um tempo pró-

ximo ao evento da chuva que a causa. Aelevação das águas ocorre repentina-mente, causando mais mortos, apesar daárea de impacto ser bem menor do queas inundações graduais. A Tabela 2 apre-senta algumas definições sobre inunda-ção brusca por diversos autores.

DÚVIDASNeste contexto, surgem alguns ques-

tionamentos: as definições das inunda-ções graduais e bruscas estão bem cla-ras e elucidativas? É fácil diferenciar i-nundações graduais e bruscas em cam-po? Infelizmente a resposta é não. Existeuma grande divergência entre os cien-tistas sobre as definições a serem adota-das. Devido às diferentes percepções eterminologias utilizadas para as inunda-ções, há uma dificuldade em padronizaras categorias. O fato é que até hoje diver-sas vezes as inundações graduais vêmsendo registradas como inundaçõesbruscas e vice-versa. Isto nem sempre é

Figura 1 - Enchente e inundação

Normal

Enchente

Inundação

Fonte: Goerl & Kobiyama, 2005

devido à falta de conhecimento, mas simdevido à dificuldade de identificação dofenômeno em campo e à ambiguidadedas definições existentes. Além dos pro-blemas tipicamente conceituais e etimo-lógicos, algumas características compor-tamentais são similares para ambas asinundações, ou seja, ocorrem tanto nasinundações graduais como nas brus-cas.

Assim, há uma grande dificuldade emestabelecer um limiar, ou seja, um tem-po limite que diferencie as inundaçõesbruscas das graduais. Este tempo limitepode variar muito de acordo com a ba-cia hidrográfica, pois não apenas a quan-tidade de precipitação é que determinaa ocorrência de um desastre devido auma inundação, mas também as carac-terísticas fisiográficas da bacia e as ca-racterísticas socioeconômicas da comu-nidade.

Contudo, faz-se necessária a distinçãoentre as inundações bruscas e graduais,visto que há um sistema de registro paracada tipo de inundação criado egerenciado pela Defesa Civil Nacional.Este sistema era feito com base em re-latórios de avaliação de danos (AVA-DAN) enviados à Defesa Civil quandoum município decretava a situação deemergência ou o estado de calamidadepública em virtude da ocorrência de umdesastre natural. Este registro era impor-tante fonte de dados, pois era o únicoreconhecido oficialmente. Em dezem-bro de 2010 entrou em vigor a lei nº12.340, que dispõe sobre o Sindec (Siste-

Tabela 1 - Conceitos utilizados para definir as inundações graduais

Autor Definição

Castro (1999) As águas elevam-se de forma paulatina e previsível, mantém em situação de cheia durante algum tempo e,a seguir, escoam gradualmente. Normalmente, as inundações graduais são cíclicas e nitidamente sazonais(inundação gradual ou enchente).

Tucci e Bertoni (2003) Quando a precipitação é intensa e o solo não tem capacidade de infiltrar, grande parte do volume escoapara o sistema de drenagem, superando sua capacidade natural de escoamento. O excesso de volume quenão consegue ser drenado ocupa a várzea, inundando de acordo com a topografia áreas próximas aos rios(inundação ribeirinha).

Mendiondo (2005) O transbordamento do curso do rio é, normalmente, o resultado de prolongada e copiosa precipitação sobreuma grande área. Inundações de rio acontecem associadas a sistemas de grandes rios em trópicos úmidos(inundação fluvial).

NWS/ NOAA (2005) A inundação de uma área normalmente seca causada pelo aumento do nível das águas em um cursod’água estabelecido, como um rio, um córrego ou um canal de drenagem, ou um dique, perto ou no localonde a chuvas precipitaram (inundação).

Adaptado de Goerl & Kobiyama (2005) e Kobiyama & Goerl (2007)

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ARTIGO

ma Nacional de Defesa Civil), sobre astransferências de recursos para ações desocorro, assistência às vítimas, restabele-cimento de serviços essenciais e recons-trução nas áreas atingidas por desastree sobre o Fundo Especial para Calami-dades Públicas. Conforme o artigo 17da referida lei, para o município ou oestado receber recursos para a execuçãode ações de reconstrução destinadas aoatendimento de áreas afetadas por de-sastres, ele deve enviar para a SecretariaNacional de Defesa Civil do Ministérioda Integração Nacional três docu-mentos: o decreto declaratório do esta-do de calamidade pública ou da situa-ção de emergência; NOPRED (Notifi-cação Preliminar de Desastre), emitidopelo órgão público competente; e pla-no de trabalho, com proposta de açõesde reconstrução em áreas atingidas pordesastres.

Nota-se que o AVADAN não é maisnecessário para o registro da ocorrênciade um desastre, mas ainda é uma im-portante fonte de informações históri-cas. Além disso, mesmo no NOPREDainda deve-se colocar o código do tipode desastre, ou seja, ainda deve-se con-tinuar a distinguir as inundações entregraduais e bruscas.

PROPOSTASO autor Konstantine Georgakakos ad-

mite que as inundações bruscas requei-ram a emissão de alertas pelos centroslocais de previsão. O sistema de monito-ramento, previsão e consequente alertada ocorrência de inundação deve ser lo-cal. Assim, um dos aspectos que pode-ria determinar a diferença entre as duasinundações é que as bruscas necessitamde centros de monitoramento, previsãoe alerta local, e não em escala regional.Outro fator que pode ser utilizado paradiferenciar os dois tipos de inundaçõesaqui tratados seria o tempo de resposta

da comunidade, pois para as inundaçõesbruscas o tempo de resposta deve sermuito curto, em um intervalo de horasapós o início das chuvas.

Devido o grande impasse que existeem determinar a diferença entre as duasinundações, propusemos uma maneirasimples e quantitativa de diferenciar es-tas inundações, criando o IEO (Índicede Eficiência de Operação). Este índiceé definido como: IEO = Tc / To. Nele,Tc é o tempo de concentração, que édefinido como o tempo necessário parachuva que cai no local mais distante doexutório escoar até ele e To é o tempooperacional de resposta no sistema ins-tituição-comunidade. Nota-se que o Tcé um fator que contém influências am-bientais de precipitação, topografia, usode solo, etc. Já o To é determinado pelosfatores humanos e proposto como: To= -Ta + Tt + Tal + Te.

O Ta é o tempo antecedente da pre-visão do tempo com alta precisão. Tt éo tempo de transmissão levado do Cen-tro de Previsão até Defesa Civil. O Talé o tempo necessário para alertar a co-munidade. Por último, Te é o temponecessário para a comunidade se deslo-car para local seguro. Desta maneira,esse índice envolve aqueles fatores quedeterminam a ocorrência de um desas-

tre natural, isto é, os fatores ambientaise sociais.

Por meio desta relação, as inundaçõesbruscas e graduais podem ser identi-ficadas. Quando IEO > 1, as inunda-ções são graduais e IEO < 1, ocorreminundações bruscas. Do ponto de vistade prevenção de desastres naturais,quando IEO < 1, ou seja, quanto me-nor valor de IEO, pode-se ter maiordano, pois a população não teria tempohábil para tomar as medidas preventi-vas. Por exemplo, sabendo que em umabacia o Tc é de quatro horas, deve-seestabelecer um tempo de resposta me-nor que isto, o que resultará em IEO >1. Dessa maneira, o To deve ser menorque quatro horas, por exemplo, duas ho-ras. Assim, teríamos, IEO = 4/2 = 2,ou seja, IEO > 1, resultando em inunda-ções graduais.

As inundações em si são fenômenosnaturais. No entanto, como a sociedadebrasileira exige a identificação destesdois tipos de inundação para tratar osdesastres, a diferenciação entre os doispode ser feita com IEO que inclui con-siderações ambientais e humanas. As-sim, este índice pode ser utilizado paraidentificar estes dois tipos de inundaçõescomo desastres, não como apenas fenô-menos naturais. Além disso, o IEO podeser utilizado para estabelecer o sistemade alerta.

Sabendo-se o tempo de concentraçãode uma bacia para precipitações de di-ferentes intensidades e tempos de retor-no, pode-se estabelecer o tempo de açãoe resposta da comunidade e também otempo mínimo do sistema de alerta ne-cessário para aquela comunidade. Ou,ainda, otimizando ao máximo o tempode resposta e alerta, e caso ele não fiquemenor que o tempo de concentração,medidas estruturais podem ser im-plementadas para aumentar o tempo deconcentração, adequando-o ao tempo deação e resposta.

O Tc no campus da UniversidadeFederal de Santa Catarina, em Floria-nópolis, é, em média, de 30 minutos.Como não existe nenhum lugar que Toseja menor do que 30 minutos em Flo-rianópolis, pode-se concluir que Floria-nópolis possui praticamente só inunda-ções bruscas. Isto implica que este muni-cípio deveria ter o sistema de alerta juntocom a previsão do tempo e previsão deinundação.

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ARTIGO

Leia bibliografia completa no site

www.revistaemergencia.com.br

Na nova classificação dos desastresnaturais feita pelo CRED (Center forResearch on the Epidemiology of Disasters) etambém adotada pela UNISDR, as inun-dações junto com escorregamentos (oumais precisamente falando, movimen-tos de massa úmidos) constituem osdesastres hidrológicos que são vistos co-mo maior ocorrência entre todos os ti-pos de desastres naturais.

As inundações e os escorregamentosocorrem com o excesso de chuva embacias hidrográficas. Então, muitas ve-zes, não é possível separá-los. Em ter-mos de concentração de sedimentos evelocidade de fluxos, podemos classifi-cá-los conceitualmente (Figura 2). Osescorregamentos rotacionais não neces-sariamente ocorrem junto com as inun-dações graduais, mas inundações brus-cas podem ocorrer junto com fluxos dedetritos.

Os fenômenos que causaram maioresdanos na tragédia no Vale do Itajaí, em2008, foram fluxos de detritos, cuja ve-locidade é semelhante à da inundaçãobrusca.

Cada vez mais a sociedade está ocu-pando áreas de encostas (Figura 3). En-tão, pode-se prever que a inundaçãobrusca junto com fluxo de detritos tor-na-se mais problemática do que inunda-ção gradual. Nesta figura, entende-seque enquanto há uma dominância dosdesastres relacionados à água, o tipo deinundação pode ser mais gradual. No en-tanto, após a evolução da cidade, começaa dominância dos desastres relacionadosa sedimentos, principalmente quando aocupação urbana migra da planície paraas encostas. Nesta fase, o tipo de inunda-ção deve ser predominantemente brus-ca.

Para obter as medidas estruturais enão-estruturais adequadas na prevençãode desastres associados aos dois tiposde inundações, é necessário identificá-las. Segundo o autor Mario Tachini e co-laboradores, uma das falhas na reduçãode desastres em 2008 foi falta de conhe-cimento sobre inundação brusca emBlumenau e sua consequente falta depreparação contra ela. Então, é indispen-

sável identificá-las, caracterizá-las e re-duzi-las com medidas adequadas.

Além disso, a inundação brusca ocor-re em áreas próximas aos rios, onde asárvores e os solos constituem a zona ri-pária (comumente falado mata ciliar).Caso ocorra a inundação brusca, podetambém ocorrer fluxos de detritos de-vido à mobilização desse material dazona ripária, aumentando a concentra-ção de sedimentos da inundação. Nestecaso, a beira do rio torna-se uma áreaextremamente perigosa. Por isso, a APP(Área de Preservação Permanente) deveser também considerada como Área dePerigo Permanente (APP). Então, alémde diferenciar cada tipo, deve-se tam-bém fazer o zoneamento de área de pe-rigo associado a cada tipo de inunda-ção.

HISTÓRIAJá foi mencionado que a identificação

é importante para caracterizar os fenô-menos e estabelecer suas respectivas me-didas adequadas tanto estruturais quan-to não-estruturais. Além disso, a identi-ficação é importante para os registros afim de construir a história. Embora a

Inundação brusca junto com fluxo de detritossão características da tragédia do Vale do Itajaí em 2008

Aprendizagens na tragédia história trate dos eventos ocorridos nopassado, são pessoas no presente mo-mento que a constrói. Dependendo dainterpretação do momento atual, a his-tória pode ser modificada e até distorci-da. Para construir uma história mais pró-xima à verdade, é preciso descrever ocor-rências mais precisas possíveis.

Segundo o jornalista norte americanoNorman Cousins, “a história é um enor-me sistema de aviso prévio”. Para terum bom sistema de aviso (alerta), é pre-ciso identificar as inundações e registrá-las corretamente.

Com base nos corretos registros,pode-se entender a história. Enfim, valea pena introduzir pensamento de Ma-hatma Gandhi, “Se queremos progre-dir, não devemos repetir a história, masfazer uma história nova.” Desta manei-ra, fazer uma nova história significamudar de postura frente aos desastres,compreendendo a sua dinâmica, regis-trando a sua ocorrência e mitigando osseus danos, reescrevendo assim a nossanova história.

Em janeiro de 2011, ocorreu a tragé-dia no estado de Rio de Janeiro. A quan-tidade total e a intensidade da chuvanesta tragédia podem ser menores doque aquelas do Vale do Itajaí em 2008.Contudo, a ocupação da terra ou densi-dade populacional da região da tragédiano Rio de Janeiro é bem maior que a doVale do Itajaí. Este fato também clara-mente implica que os prejuízos devidosaos fenômenos hidrogeomorfológicos(inundações e movimentos de massas,especialmente fluxos de escombros)vêm aumentando em termos de fre-quência e magnitude, por causa dos fato-res humanos.

A história demonstra que as tragédiasno Rio de Janeiro não são recentes, poisdesde 1756 há registros sobre inunda-ções e escorregamentos.

Este fato nos faz lembrar de uma im-portante lição: “os desastres naturaisvoltam quando os esquecemos”(Torahiko Terada). Assim, a nossa futu-ra história depende totalmente da co-munidade, e que cada comunidade re-gistre corretamente os fenômenos parajamais esquecer deles.