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1 António AlvesCaetano «À Mesa do Orçamento»: as remunerações da Função Pública na época da Guerra Civil (18281835) (Ensaio de Cliometria) In Memoriam Alberto Estima de Oliveira (1934-2008) João José Godinho Leite Novais (1941-2008) Amigos de sensibilidade e valor intelectual, raros Preâmbulo Era Fevereiro. No seu décimo primeiro dia. Aguardavase o regresso do Infante D. Miguel, «que a Providência traga a salvamento!», como ansiava o Ministro da Fazenda, Manoel António de Carvalho, no Relatório que submetia à Câmara dos Senhores Deputados (CARVALHO, 1828: 4). A deslocação do Sereníssimo Infante já custara nove mil Libras, remetidas para Londres, por conta. Esta, porém, era apenas uma das três despesas extraordinárias imputáveis ao exercício anterior. Mas, nem era isso o que mais preocupava. Na verdade, o que tirava o sono ao Barão de Chanceleiros era o estado caótico do Erário Régio. O percurso da Administração Pública, em zigzag desde a Revolução de 1820, conduzira a situação desesperada das Finanças Públicas. «Só o Exército e a Marinha absorveram Rs. 6.093:227$291; isto é, quase toda a Receita Ordinária da Nação», que fora 6.400 contos de réis (CARVALHO, 1828: 1). Mas, nem isto o Ministro poderia garantir ser a plena dimensão do desastre, «porque as Repartições que fizeram a [despesa] não dão contas há bastantes anos; e por isso, os Documentos que comprovam esta grande parte da Despesa Pública na Conta do mesmo Tesouro são os simples conhecimentos de Recibo dos Tesoureiros daquelas Repartições» (CARVALHO, 1828: 1). O Ministro alertava o Parlamento para a inexistência (era o termo correcto) de uma Contabilidade Pública devidamente organizada, dotada de «uma Escrituração simples, metódica e judiciosamente classificada», extensiva a «todos os Estabelecimentos da Administração Pública, quaisquer que eles sejam» (CARVALHO, 1828: 1).

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António Alves‐Caetano 

 

«À Mesa do Orçamento»: as remunerações da Função Pública na época da Guerra Civil (1828‐1835)  (Ensaio de Cliometria)  

 In Memoriam

Alberto Estima de Oliveira (1934-2008) João José Godinho Leite Novais (1941-2008)

Amigos de sensibilidade e valor intelectual, raros

 

 

Preâmbulo 

Era  Fevereiro.  No  seu  décimo  primeiro  dia.  Aguardava‐se  o  regresso  do  Infante  D. Miguel, «que a Providência traga a salvamento!», como ansiava o Ministro da Fazenda, Manoel  António  de  Carvalho,  no  Relatório  que  submetia  à  Câmara  dos  Senhores Deputados (CARVALHO, 1828: 4). A deslocação do Sereníssimo Infante já custara nove mil Libras, remetidas para Londres, por conta. Esta, porém, era apenas uma das três despesas extraordinárias imputáveis ao exercício anterior. Mas, nem era isso o que mais preocupava. Na verdade, o que tirava o sono ao Barão  de  Chanceleiros  era  o  estado  caótico  do  Erário  Régio.  O  percurso  da Administração Pública, em  zig‐zag desde  a Revolução de 1820,  conduzira  a  situação desesperada das Finanças Públicas. «Só o Exército e a Marinha absorveram Rs. 6.093:227$291; isto é, quase toda a Receita Ordinária da Nação», que  fora 6.400 contos de  réis  (CARVALHO, 1828: 1). Mas, nem isto  o  Ministro  poderia  garantir  ser  a  plena  dimensão  do  desastre,  «porque  as Repartições que fizeram a [despesa] não dão contas há bastantes anos; e por  isso, os Documentos  que  comprovam  esta  grande  parte  da  Despesa  Pública  na  Conta  do mesmo  Tesouro  são  os  simples  conhecimentos  de Recibo  dos  Tesoureiros  daquelas Repartições» (CARVALHO, 1828: 1). O Ministro alertava o Parlamento para a  inexistência  (era o  termo correcto) de uma Contabilidade Pública devidamente organizada, dotada de «uma Escrituração simples, metódica e  judiciosamente  classificada», extensiva  a «todos os Estabelecimentos da Administração Pública, quaisquer que eles sejam» (CARVALHO, 1828: 1). 

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A  autenticidade  que  o  Ministro  não  ousava  garantir  quanto  à  Conta  do  Tesouro Público,  faltava,  também, acerca da Conta da  Junta dos  Juros, da Dívida Pública  (um poço  sem  fundo)  e  do  Orçamento  Geral.  Mesmo  em  relação  a  este,  o  Ministro asseverava  haver  colegas  de  Governo  distantes  do  seu  tempo,  em  especial  o responsável pelas Forças Armadas, a orçamentar com base em Regulação de 1814, que não era «real nem efectiva». Chanceleiros  ia ao ponto de pedir a rejeição da despesa prevista para o  Exército: «se porventura ela  for  aprovada,  como não  é de esperar» (CARVALHO, 1828: 3). Assim  sendo,  os  Deputados  eram  colocados  perante  um  cenário  (vocábulo  muito ajustado ao quadro existente) para o qual não era possível garantir autenticidade de nenhuma  rubrica,  fosse  da  receita,  da  despesa  ou  do  orçamento  para  1828,  já avançado, no seu segundo mês. Tanto  a  situação era desesperada, e pouco  clara, que o Ministro  rematou  a  fala de apresentação dos números da Conta de 1827 e do Orçamento para 1828 pedindo que a Representação Nacional habilitasse «o Governo para ocorrer às precisões Públicas, ou  seja, por meio de  redução na Despesa, ou por meio de  aumento na Receita, ou finalmente em último extremo, por meio de novo Empréstimo que se haja de decretar, e  contrair  com  as  possíveis  vantagens»  (CARVALHO,  1828:  4).  Pedia,  com  lhaneza, cheque em branco. Assim, no  início de 1828, não apenas a Nação não estava  refeita das  incertezas que pontuavam  a  sua  vida desde  a morte de D.  João VI,  como  continuava  afundada no consuetudinário  desgoverno,  sujeita  a  uma  tropa  que  sugava  a  Receita Ordinária  e roubava braços ao trabalho produtivo, e a um Erário Régio em permanente crise, de fundos e de  registos, porque nem um  simples  rol,  completo, de  receitas e despesas podia ser exibido pelas diferentes Repartições Públicas. E  ainda  faltava  o  sobressalto  que  assolaria  o  País,  logo  no mês  seguinte,  quando  o Infante D. Miguel abjurou de ser Sereníssimo, para dissolver a Câmara dos Deputados e encetar os preparativos de ser entronizado monarca absoluto. Se, em 1827, os empréstimos de que o Tesouro se socorrera para não afundar mais o défice tinham representado 55% da renda (ALVES‐CAETANO, 2010: 19), a beligerância civil determinada pelo assalto miguelista  iria  impor à Nação crescente endividamento para alimentar a máquina da guerra fratricida. Por mais um ror de anos a comunidade lusitana  esteve  alheada  do  progresso  que,  por  toda  a  parte,  no  Velho  e  no  Novo Mundo, animava o género humano. Demo‐nos  conta,  entretanto,  das  despesas  ordinárias  que o Orçamento  previa  para esse ano de 1828, em Pessoal, e de quais eram as várias categorias de Servidores do Estado  que  tinham  estipulada  a  sua  paga,  para  termos  ideia,  ainda  que  vaga,  dos rendimentos distribuídos por parte significativa da burguesia e do operariado. Agora,  começam os números,  com  a  sua  crueza.  Já não dá para  fazer  literatura em cima de défices, permanentes. Sempre a gastar‐se mais do que se tem. A sobreviver à custa  de  empréstimos.  Que  não  há  capacidade  para  pagar.  Que  crescem  no  ano 

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seguinte.  No  outro.  E  no  outro.  Os  números  não  permitem  escamotear  a  dura realidade da prevalência dos  injustos  impostos  indirectos, a taxarem mais duramente os consumidores de menores rendimentos. Da distância a que os poderosos estavam dos sacrifícios da tributação directa. E os números que recheiam este artigo não vão permitir dúvidas acerca da disparidade na repartição dos rendimentos, mesmo, apenas, nos do trabalho. Pior, ainda. Quando as remunerações que foi possível individuar não abrangem a maioria dos rendimentos mais baixos: os pagos aos trabalhadores indiferenciados, sob a denominação de férias e jornais. A discriminação estava, logo, na elaboração dos quadros apresentados pelos Ministros  ao  Parlamento.  Numa  coluna,  o  “Pessoal  de  Serviço:  Ordenados,  Soldos, Gratificações  e  Ajudas  de  Custo”.  Noutra,  “Material  do  Serviço,  Jornais,  Férias, Transportes, Géneros, etc.”. Portanto, quem era pago através de Jornais e Férias não era considerado “Pessoal de Serviço”. Para cada Ministério procurei avaliar a parte das remunerações que corresponderia a esses assalariados, mas o desconhecimento do seu número  impede, mesmo o cálculo de uma simples média. Sublinha‐se, portanto, que o  limite  inferior dos  leques de remunerações encontrados ainda  o  não  é:  número  incontável  de  cidadãos  que  viviam  de  prestar  serviços  na Administração Pública auferia pagas de miséria, ainda maior do que a expressa pelos ínfimos valores do fim das tabelas. O objecto destes estudos não é produzir peças de estilo.  Isto não comporta retórica. Procura‐se  que  sejam  bases  de  dados  a  ter  em  consideração  cada  vez  que  algum historiador queira  conhecer  a  realidade  económica destas  épocas  recuadas, mas de que  somos  tributários, mesmo  que muitos  persistam  em  desvalorizar.  Ou  em  não estudar a fundo.  

1. Orçamento para 1828 Com  todas  estas  imperfeições,  avançava‐se  com  Despesa  orçamentada  próxima  de 14.945 contos de réis e uma Receita que pouco ia além de 11.076 contos1 (CARVALHO, 1828, Mapa IV)2. De qualquer modo, estas contas previsionais conduziam a um défice de  3.869  contos  (35%  da  receita  esperada)  que,  na  melhor  das  hipóteses,  como acontecera em anos anteriores,  seria coberto por empréstimo do Banco de Lisboa – que, assim, caminhava para a insolvência – se Londres não estivesse disponível. O  grosso  da  Despesa  era  processado  pelo  Tesouro  Público,  num  total  próximo  de 11.418 contos de réis: respeitava à Casa Real, às Câmaras Legislativas e aos diferentes Ministérios.  O  restante  era  pago  por  Cofres  independentes  do  Tesouro,  sujeitos  a vários Ministérios, o que ajudava ao descontrole. 

                                                            1 Não subscrevo o expediente de retirar, a débito e a crédito, a mesma  importância, correspondente a receita esperada do Hospital de S. José e da Casa Pia. 2 O Mapa IV é a fonte de todos os números utilizados neste capítulo, salvo outra indicação. 

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Da Receita prevista, 7.300,1 contos seriam arrecadados pelo Tesouro, cabendo 3.776 contos aos outros Cofres. Na Despesa, o carro‐chefe era o Ministério da Guerra (mais de 5.710 contos); seguia‐se o da Fazenda, com 5.143; Marinha, com 1.352 e Casa Real, com 562 contos de réis. Portanto, as Forças Armadas iriam absorver 47,3% da despesa. Dos  14.944,7  contos  de  Despesa  prevista,  os  ordenados  do  pessoal  de  serviço correspondiam  a  41,1%,  seguindo‐se  uma  rubrica mista,  de  despesas  de material, transportes e remuneração de pessoal operário, a representar 29,6%. O pagamento de dívidas e consignações certas absorvia 16,8% e o dos  funcionários aposentados e de pensões,  tensas  e ordinárias,  a que  acresciam  esmolas  e  o Montepio Militar não  ia além de 8,1%. Havia, ainda, dotações para estabelecimentos religiosos  (4,4%). Não é difícil admitir que mais de 50% da despesa seria pagamento de remunerações. Quanto  à  Receita,  63,0%  dos  estimados  11.076,1  contos  de  réis  eram  de  impostos indirectos, em que o destaque ia para as Alfândegas, nas suas múltiplas facetas, desde os direitos aduaneiros aos vários impostos cobrados, como o donativo dos 4% e os 3% para as fragatas de guerra. O contrato do tabaco deveria render 1.470,1 contos de réis (CARVALHO, 1828: Resumo A). Os  impostos  directos  quedavam‐se  em  3.104,3  contos,  28,0%  do  total  (CARVALHO, 1828: Mapa IV), com as décimas como principal rubrica (1.128,3 contos) e as sisas em 397,4 contos (CARVALHO, 1828: Resumo A). O Orçamento não  teve execução dado o choque político resultante da dissolução da Câmara dos Deputados, em Março, e da exoneração do Executivo. Esta circunstância não invalida a utilização, no presente estudo, dos valores que o integravam.  

2. Despesas orçamentadas para 1828 A  dotação  da  Família  Real  era  de  562  contos  de  réis,  calculada  com  base  em  366 contos para despesas de manutenção da Corte e 40 contos para cada um dos seguintes membros:  Infanta D.  Isabel Maria, Regente do Reino,  Infante D. Miguel e Princesa do Brasil, D. Maria  Francisca Benedita;  para  a  Imperatriz Rainha Viúva,  36  contos  e  20 contos para  cada uma das  Infantas D. Maria d’Assumpção  e D. Ana de  Jesus Maria (CARVALHO, 1828: Resumo B). Ter‐se‐á  ideia  do  nível  a  que  era  contemplada  a  Família  Real  notando  que  a remuneração de qualquer Ministro e Secretário de Estado era de 4,8 contos de réis. E que muitas das despesas em que  incorriam membros da Casa Real eram pagas como Despesas Extraordinárias do Tesouro (ALVES‐CAETANO, 2010: 9). A  dotação  orçamental  para  o  Pessoal  de  Serviço  do  Parlamento  não  ia  além  de  67 contos de réis, sendo 7 para a Câmara dos Dignos Pares do Reino. Não havia qualquer especificação  do  número  de  funcionários  existentes  nas  duas  Câmaras  (CARVALHO, 1828: Resumo C). O execrado orçamento do Ministério da Guerra tinha, além da desmesura da despesa, a  particularidade  de  ser  pouco  esclarecedor  acerca  dos  beneficiários  do  dispêndio. Previa‐se gastar 5.710,6 contos de réis, 38,2% do total da Administração Pública. 

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Fazendo as decomposições possíveis consegue entender‐se que 3.472,4 contos, 61% do  total  do  Ministério,  se  destinavam  à  remuneração  do  pessoal,  no  activo  e reformado,  incluindo  a  verba  destinada  ao Montepio Militar;  2.101,5  contos  (37%) pagavam fornecimentos de material e 136,7 contos, 2%, diversas consignações. Considerando  as  diferentes  unidades  de  despesa,  o maior  quinhão  destinava‐se  às tropas, através da correspondente  tesouraria geral, com 3.294,9 contos de  réis, 58% do  total.  Seguia‐se  o  comissariado,  cuja  despesa  se  destinava, maioritariamente,  à logística militar, atingindo 1.299,7 contos, 23% do total. O arsenal do exército absorvia 876,6 contos, 15% do  total e a  intendência das obras militares despendia 4%  (209,6 contos).  As  remunerações  do  pessoal  da  Secretaria  de  Estado,  compreendendo  o ministro e o seu gabinete, quedavam‐se em 29,8 contos. O  orçamento  apresentado  pela  principal  pasta  militar  era  tão  agregado  que  nem permitia saber qual a remuneração de cada oficial, qualquer que fosse a patente, ou o pré de cada praça. Nem o número total de efectivos que a tropa comportava3. A  situação  quanto  ao  Ministério  da  Marinha  não  é  mais  lisonjeira.  Conhece‐se  a despesa  geral  estimada,  de  1.351,9  contos  de  réis,  9%  do  total,  sua  repartição  por pessoal, materiais, etc., bem como pelos diferentes departamentos considerados, mas nada  se  adianta  acerca  dos  efectivos  da  Armada  e  das  remunerações  das  várias patentes de oficiais, das praças, etc. No  entanto,  o  orçamento  apresentado  deixa  entender  o  escasso  número  de embarcações  de  que  a Marinha  poderia  dispor,  porquanto  se  faz  a  estimativa  da despesa  com «géneros e  sobressalentes para o  caso de  se  conservarem armadas as seguintes Embarcações: 1 Nau, 2 Fragatas, 3 Corvetas, 2 Brigues, 2 Charruas, 1 Nau de Viagem  e  5  Correios».  Portanto,  ainda  estes mínimos  poderiam  não  existir.  Poucos anos  tinham  passado  sobre  a  cobiça  da  nossa  Esquadra  por  Napoleão.  Tinha  sido doada ao Brasil. Mas ainda estava longe o tempo em que Eça seria sarcástico para com a nossa indústria naval, a caminho do palito. Aliás,  quando  se  apresenta  o  bloco  de  despesa  com  346  oficiais  é  referido  terem «Soldos  de  Terra».  Sem  ser  apresentado  o  ordenado  de  referência  de  qualquer patente, há a discriminação de 1 almirante, 2 vice‐almirantes, 2 chefes de esquadra, 2 chefes de divisão, 7 capitães‐de‐mar‐e‐guerra, 13 capitães‐de‐fragata, etc., bem como vários graduados nas diferentes patentes. Somente  quanto  aos  Ministérios  Civis  é  possível  conhecer  alguns  aspectos  das remunerações  dos  funcionários  da  Administração  Pública,  em  1828.  Deles  nos ocuparemos, então.                                                             3 Consultas  feitas  ao Arquivo Histórico Militar  não  possibilitaram  informações,  para  este  ano,  com  a especificação apresentada no Orçamento de Estado para 1835/6. Nem o Regulamento de 29 de Outubro de  1814,  que  serviu  de  suporte  ao  Orçamento  de  1828,  foi  possível  encontrar.  Assim,  ao  menos, poderíamos  saber  qual  era,  ao  tempo,  a  remuneração  das  várias  patentes  de  oficiais  e  o  pré  dos soldados. Também se encontra  indisponível a documentação referente a Vencimentos, da 1.ª Divisão, 14ª Secção, por estar em curso a sua digitalização.  

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 3. Quatro Ministérios possíveis em 1828 

No Orçamento para 1828 só consegue dispor‐se de informação acerca da remuneração funcional para um número  reduzido de agentes de quatro Ministérios: dos Negócios do  Reino,  dos  Negócios  da  Fazenda,  dos  Negócios  Eclesiásticos  e  da  Justiça  e  dos Negócios  Estrangeiros.  Com  o  decorrer  do  tempo  só  este  Ministério  manteve  a denominação antiga. Apesar da informação recolhida, não é possível abranger os universos dos respectivos empregados e assalariados. Fez‐se o estudo das correspondentes distribuições de frequências de remunerações e da  resultante  da  agregação  dos  quatro  ministérios,  elaborando  Índices  de  Gini  e traçando Curvas de Lorenz (v. pág. 23). A situação é diferenciada nos quatro ministérios. Aquele  de  que  se  obteve  mais  informação  foi  o  da  Fazenda,  referente  a  1.966 funcionários, de um  total  ignorado. Mesmo  assim, os 585,6  contos de  réis que  lhes respeitam  são  64%  da  despesa  com  Pessoal,  excluído  o  que  se  encontrava  fora  do Continente, desde a Madeira às Índias. No caso do Ministério da Fazenda, como no do Reino, existe número significativo de funcionários  para  os  quais  não  é  possível  individuar  a  remuneração.  Era  indicada, apenas,  a  verba  da  retribuição  de  certo  número  de  pessoas. Nalguns  casos,  seriam titulares de postos de trabalho (ou reformados) com remunerações aproximadas, pelo que a utilização da correspondente média não falsearia, muito, os resultados. Noutras situações, porém, aos empregados abrangidos no grupo corresponderiam ordenados muito diferenciados. Nestes casos a média esconde leques salariais muito abertos. Deste modo, as situações evidenciadas nestes dois ministérios, de peso significativo de baixas remunerações, seriam mais graves. Com efeito, no Ministério da Fazenda, para 1.031 pessoas, 52% do total identificável, a que  correspondiam  42%  do  valor  das  remunerações  apuradas,  os  ordenados individuais  considerados  são médias.  No  do  Reino  os  valores  correspondentes  são, respectivamente, de 87% de 968  indivíduos e 68% da massa  salarial. Estas  situações não se verificam nos Ministérios da Justiça e dos Estrangeiros.  Outro  aspecto  importante  a  considerar  respeita  a  este  ministério.  O  respectivo Orçamento  apresentado  à  Câmara  dos  Deputados  ocupa‐se,  apenas,  do  pessoal diplomático e consular e do referente à Secretaria de Estado, com pouco mais do que o gabinete do ministro. Nas  várias  representações  diplomáticas  no  exterior,  aos  ordenados  do  pessoal  já referenciado,  apenas  se  acrescentam  as  despesas  de  funcionamento,  sem  que  haja especificação do correspondente pessoal administrativo.  Deste  modo,  o  Ministério  dos  Negócios  Estrangeiros  apresenta  pronunciada disparidade  remunerativa  –  é  a  Curva  de  Lorenz  mais  distante  da  recta  de  igual distribuição  –  apesar  de  o  seu  nível  inferior  se  situar  em  240$000  rs.,  quando  na 

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Fazenda  o  ordenado mais  baixo,  atribuído  a  12  empregados,  foi  de  2$850  rs.,  na Justiça, de 7$200 rs e no Reino, de 32$121 rs., num daqueles casos de média atribuída a  um  grupo  de  sete  funcionários.  O  mesmo  é  dizer  que  o  valor  real  da  menor retribuição  seria  inferior  a estes  trinta e dois mil  réis. Os  valores  apresentados  são, sempre, de remunerações anuais. Para o enorme  leque salarial no Ministério dos Estrangeiros contribui a circunstância de ser o único em que os 4,8 contos do ordenado do ministro não são o tecto. Aqui, o embaixador no Rio de Janeiro ganhava 19,2 contos de réis, o de Madrid, 14 contos e, ao  todo,  havia  dez  remunerações  de  embaixadores  e  enviados  a  Cortes  Europeias acima da do ministro.  No Quadro 1 apresentam‐se os principais elementos referentes aos quatro Ministérios e à respectiva agregação.  Aspecto saliente é a menor representatividade do Ministério do Reino no estudo feito (38,2% da despesa com pessoal), apesar do expediente de calcular ordenados médios para quase 90% dos  indivíduos. Talvez por  isso é o ministério em que a posição dos 20% mais pobres está mais atenuada.  Dada a circunstância de, neste ministério, a maior parte das remunerações abaixo de 200 mil  réis  resultar  de médias  de  grupos  indiferenciados,  só  é  possível  identificar poucos cargos com  retribuição neste escalão. Assim, no Arquivo da Torre do Tombo havia  o  porteiro  (160$000)  e  o  escrivão  (135$000).  Na  Casa  de  Bragança,  com ordenados entre 180$000 e 48$000 havia porteiro, meirinho,  solicitador,  inquiridor, escrivão  do  meirinho,  tapeceiro,  contínuo,  escrivão  da  Ouvidoria  Geral,  oficial papelista e oficial do registo. Não  se  pode  considerar  serem  funções  a  desempenhar  por  pessoas  de  fracas habilitações literárias e de pouca responsabilização. O mesmo  se  diga  quanto  aos  cargos  remunerados  no  escalão  seguinte,  em  que  se identificam, entre 295$200 e 200$000: porteiro, na Biblioteca Pública; oficial, na Torre do Tombo; juiz das justificações, oficial maior, oficial e cronista na Casa de Bragança e amanuense, na Torre do Tombo. Também no da Fazenda o rendimento detido pelos 20% mais pobres representa 4,2% do respectivo total, por ser outro com grande participação de ordenados médios. Apesar disso, no escalão inferior são identificáveis mais situações do que no Ministério do Reino, como a do mais baixo ordenado, de 2$805, anuais, pago a 12 escrivães das sisas, do Almoxarifado das Sisas do Termo. É apresentado como ordenado, mas custa a crer  que  não  seja  gratificação  atribuída  a  quem  tenha  outro  ordenado  de  base. Situação  análoga  quanto  a  4$000,  suposto  ordenado  do  oficial  que  faz  a  folha,  no Almoxarifado das Terças do Reino, ou acerca de 4$800 (0,1% do ordenado de ministro) atribuídos ao escrivão das malfeitorias na Chancelaria Mor do Reino. Nenhuma destas funções podia ser desempenhada por quem não tivesse razoável grau de alfabetização e de sentido de responsabilidade. 

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Mais próximo do  limite  superior dos 200 mil  réis há que  considerar os 185$000 do chanceler da Chancelaria das Três Ordens Militares4; os 180 mil réis do administrador do Consulado da Alfândega Grande e dos feitores do Almoxarifado dos Vinhos; os 170 mil de vários funcionários da Alfândega Grande do Açúcar, etc. Mesmo com 150 mil, a maioria  dos  cargos  era  de  escrivão,  feitor,  solicitador,  procurador,  tudo  situações  a requererem razoáveis habilitações literárias e noção de responsabilidade. No Ministério da Justiça o valor das remunerações susceptíveis de estudo representa 91% da massa  salarial  respectiva e  tem  a posição mais baixa dos 20% mais pobres: 2,4%. É um ministério em que há muitos letrados, a par de profissões de mais reduzida remuneração.  É  a  pátria  dos  desembargadores.  Já  existe  o  escol  da  Mesa  da Consciência e Ordens, do Desembargo do Paço e da Casa da Suplicação, com muitos ordenados de conto de réis ou superiores, identificáveis no Anexo A.  Mas, o que  se destaca neste ministério  é o maior peso  do que podemos  chamar  a Classe Média Alta, com ordenados anuais entre 500 mil réis e os 999 mil, e profissões como chanceler da Relação e Casa do Porto, corregedores extravagantes da Casa da Suplicação,  porteiro  e  tesoureiro  do  Desembargo  do  Paço,  escrivão  da  Mesa  da Consciência e Ordens, oficial ordinário da Secretaria de Estado, etc. Como  se  evidencia  no  Quadro  2,  os  122  letrados  aqui  abrangidos  valiam  40%  do rendimento  distribuído  pelo  ministério.  E  logo  a  seguir  apresenta‐se  a  classe  de remunerações mais elevada abaixo do ordenado do ministro. Assim, entre 500$000 e 4 contos de réis situavam‐se 42% dos funcionários e 76% dos rendimentos. A Classe Média, correspondente aos ordenados anuais de 200 a 499 mil réis, absorvia significativo número de pessoas5. Nestes  termos, no Ministério da  Justiça, abaixo de 200 mil réis havia 147 funcionários a auferir, apenas, 6,5% da massa salarial. O  Índice de Gini em todos os ministérios denota elevada assimetria na repartição de rendimentos. O menor é o da Fazenda, com os 20% mais ricos a deterem metade do rendimento. O Quadro 2 evidencia o predomínio das remunerações de 300 mil a 499 mil réis, logo seguida da imediatamente inferior. Este conjunto absorve quase metade do pessoal e 46% da renda. O maior contingente – 742 empregados – ganhava abaixo de 200 mil réis. Neste ministério, a Classe Média Alta representa menos de 10% dos efectivos  e  os  rendimentos  de  conto  de  réis,  ou mais,  só  contemplam  86  pessoas. Respeitam a número restrito de funcionários de topo na Alfândega Grande do Açúcar, na Casa da Índia, no Conselho da Fazenda, na Chancelaria Mor do Reino e no Tesouro Público. É pouco para quase dois mil empregados. 

                                                            4 Tem de ser gratificação de  funcionário de elevada graduação, pelo alto cargo e porque o recebedor, seu subordinado, ganhava 300$000. 5  A  esta  distância  é  muito  difícil  estabelecer  classificações  sociais  baseadas  em  remunerações, desconhecido o  custo de  vida. Um  indicador para a  tentativa de  classificação  feita  foi  facultado pelo Ministro da Fazenda, José Silva Carvalho, no Relatório apresentado à Câmara dos Deputados, na Sessão Extraordinária de 30 de Agosto de 1834, ao considerar “módico subsídio” uma remuneração mensal de 12$000  réis, anual de 144$000. Considerando a  inflação verificada no decurso de  tempo desde 1828, que abrangeu a Guerra Civil, admiti que, em 1828, 200$000  réis anuais seria o  limite  inferior de vida familiar confortável. 

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A situação mais aguda é a do Ministério do Reino. O Índice de Gini é elevado e os 48% de  rendimento  dos  20% mais  ricos  não  têm  a  clareza  dos  elementos  contidos  no Quadro 2. Com remunerações abaixo de 200 mil réis há quase metade do respectivo funcionalismo, que detém só 15% da renda. Acrescentando a classe  imediata tem‐se cerca  de  90%  do  pessoal  a  ganhar menos  de  300 mil  réis!  Num  universo  de  968 pessoas somente 28 pertencem à Classe Média Alta e apenas 8 auferem remuneração igual ou superior a conto de réis, sendo metade ministros de Estado aposentados. É certo que não existe especificação de ordenados no Ensino Público, na Guarda Real de Archeiros, nas Obras Públicas e em outros diferentes departamentos onde não é de supor devessem existir remunerações das mais elevadas. São poucas as funções que, neste ministério, têm remunerações acima de 500 mil réis. Importa  considerar  a  componente  regional.  No  Orçamento  de  1828  não  consegue vislumbrar‐se. A pouca  individuação de  remunerações nos Ministérios do Reino e da Fazenda  não  permite  qualquer  ideia  sobre  diferenciação  espacial  de  ordenados. Na Fazenda,  o  melhor  que  se  consegue  é  identificar  a  hierarquização  dos  órgãos aduaneiros  da  capital.  A  supremacia  ia  para  a  Alfândega  Grande  do  Açúcar,  com remunerações mais elevadas em todos os cargos. A Alfândega do Tabaco fica a alguma distância.  Nos  Almoxarifados,  destaque  para  os  dos  Vinhos,  Pescado  e  do  Paço  da Madeira.  Já a situação do Almoxarifado da Casa dos Cinco é  incompreensível, com o juiz da balança a ganhar 20 mil réis, o meirinho, 19$200 e o escrivão, 10$000. No Ministério da  Justiça conhecem‐se, apenas, as  remunerações de duas  funções na Relação  do  Porto,  ambas  abaixo  das  correspondentes,  em  Lisboa,  na  Casa  da Suplicação. O chanceler desta recebia um conto e trezentos e o da Relação do Porto, 950 mil réis. O desembargador desta ganhava 600 mil réis e o da Suplicação quase o dobro:  1,1  contos  de  réis. Neste Ministério,  a Mesa  da Consciência  e Ordens  era  o órgão mais relevante, com o respectivo presidente a receber 2,4 contos e metade os deputados. O Desembargo do Paço vinha logo após, superando a Casa da Suplicação. A distribuição de frequências resultante da agregação dos dados referentes aos quatro Ministérios Civis  tem de estar  fortemente  influenciada pelas  características dos dois ministérios com maior número de funcionários: Fazenda e Reino. O  Índice  de Gini  ultrapassa  0,5,  a  denotar  a  elevada  concentração  de  rendimentos, com quase 60% detidos pelos 20% mais  ricos. Os  valores do Quadro 2  revelam que quase 70% dos funcionários tinha remuneração inferior a 300 mil réis e que, juntando a classe seguinte (até 499$000 rs.), se encontra mais de 80% do pessoal com cerca de metade do rendimento distribuído.  A Classe Média Alta  contempla 400  funcionários  (pouco mais de 10% do  total) e os ricos não seriam mais do que 204, num universo de 3.522 (5,8%). O maior ordenado – 19,2 contos de réis, atribuído ao embaixador no Rio de Janeiro – era 6.845 vezes superior ao menor, de 2$805 rs., a que já se aludiu.   

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4. A situação financeira no início de 1835 As armas da guerra fratricida tinham sido depostas havia alguns meses, apenas. Muitas feridas  continuavam  em  carne  viva.  A  maior  parte  associava‐se  à  clivagem  da Sociedade. Ninguém era neutro. A todos pesavam mortes. As Contas Públicas permitiam saber que se pagava, embora pela Tarifa mais antiga, de 1790, a «oficiais apresentados do Exército do usurpador»  (em minúscula). Os que o tinham feito depois de 16 de Maio de 1834, amnistiados e um grupo vindo da ilha da Madeira, eram pagos por meio  soldo. O Erário Régio ainda  custeava  três Corpos de Militares Ingleses e dois de Franceses. Naquele  início  de  1835,  quando  o Ministro  dos Negócios  da  Fazenda,  José  da  Silva Carvalho, apresentou perante a Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa o Orçamento Geral do Estado para o ano económico de 1 de  Julho de 1835 a 30 de Junho de 1836, as Finanças Públicas estavam de rastos.  Apesar dos generosos – e decisivos para o  triunfo da Causa Liberal – contributos do Conde do Farrobo, então, Barão de Quintela, feitos em tempo de grande  incerteza, e de  contribuições  públicas,  foi  necessário  recorrer  ao  crédito  externo,  em  condições onerosas.  Além  disso,  como  proclamou  o  ministro  Silva  Carvalho,  na  sessão extraordinária da Câmara dos Deputados, em 30 de Agosto de 1834, após a debandada Miguelista «em todas as repartições do Estado ficou a desordem, e confusão, motivada menos pela súbita fuga dos rebeldes, do que pela delapidação e estragos de seis anos de  desgoverno,  de  malversações  e  violências,  obra  de  uma  administração  tão ignorante como bárbara» (CARVALHO, 1834: 13). Silva  Carvalho  apresentou  ao  Parlamento  as  Contas  que  fora  possível  apurar  e  o Orçamento para o ano que, pela primeira vez, não coincidiria com o ano civil e, ainda, pela  vez  primeira,  era  apresentado  a  tempo.  Ficou  bem  evidente  o  extraordinário esforço  desenvolvido  para  superar  a  desorganização  e  desgoverno  herdados  e conseguir  exibir  resultados  animadores:  pelo  que  fora  possível  arrecadar,  pelas perspectivas  de  cobrar  dívidas  antigas  e  pelo  empenho  em  respeitar  encargos  da dívida do Estado, com o que se reconquistava o crédito público. O  ministro  mostrou‐se  particularmente  agradado  pela  qualidade  das  Contas  que apresentava  aos deputados,  até por  ser  a primeira ocasião  em que um  governo  da Monarquia Portuguesa – disse – conseguia fazê‐lo (CARVALHO, 1835: n.º 92).  Na sessão extraordinária de 30 de Agosto de 1834 houvera uma primeira apresentação de Contas de todo o tempo da guerra, e do orçamento, que seria reapresentado, com ajustamentos  permitidos  pelo  decurso  do  tempo,  em  Janeiro  seguinte,  quando,  em cumprimento  do  estabelecido  na  Carta  Constitucional,  as  Câmaras  abriam  para  sua apreciação. Acerca  deste  orçamento  elaborado  por  Silva Carvalho  escreveu Armand Carrel, no seu jornal parisiense National, ser «o documento financeiro mais importante estampado depois do orçamento de Necker» (MOGARRO, 1990: 44). O Orçamento nem terá sido discutido no Parlamento (VALÉRIO, 2005: 27), o que não invalida  a  utilização  que  se  faz  da  informação  nele  contida  acerca  da  prevista 

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retribuição do Funcionalismo Público. Não abundam  fontes destas e não podem  ser desprezadas.  E  o  Orçamento  da  Despesa  foi  apresentado  com  grande  clareza, permitindo fazer as análises que se seguem. Certo,  também,  é  que  o Ministro  da  Fazenda  não  conseguiu  pôr  em  prática  a  sua política  de  transformações  estruturais  visando  a melhoria  global  da  Economia  e  da Sociedade. Como proclamou na Câmara dos Deputados, em 1840, após o regresso de mais um exílio, «a única coisa em que me enganei foi persuadir‐me que as revoluções em Portugal estavam acabadas; este é que foi o meu engano» (MOGARRO, 1990: 44).  

5. O Orçamento de Pessoal para 1835/6 e o confronto com o de 1828 Vamos ater‐nos à despesa prevista com o funcionalismo6. Considerando,  apenas,  a  Casa  Real,  as  Câmaras  (dos  Pares  e  dos  Deputados)  e  o Serviço dos Ministérios, no Continente Europeu, a Despesa Total Orçamentada era de 10.874,0  contos  de  réis.  Para  conhecer  a  despesa  total  da  Nação  haveria  que acrescentar os encargos  com  Empréstimos de  Londres  (1.870,2  contos) e  a despesa com as Províncias Ultramarinas (1.612,0 contos). Estabelecendo  o  confronto  com  a  Despesa  prevista  no  Orçamento  para  1828,  aos 10.874,0 contos de 1835/6 correspondem 14.944,7 contos em 1828, portanto, cerca de 40% mais antes do início da Guerra Civil, com menor inflação. A  parte  referente  ao  Pessoal  era  de  6.435,7  contos  de  réis,  em  1828,  e  de  5.406,1 contos em 1835/6, quebra de 16%. Na Casa Real, embora a base da dotação da Rainha fosse a mesma – um conto de réis por dia – havia menos Pessoas Reais a contemplar adicionalmente, pelo que a despesa prevista para 1835/6 era de 450,8 contos, enquanto a de 1828 fora de 562,0. Com o Pessoal das Câmaras Legislativas previa‐se gastar 72 contos de réis, quando o Orçamento para 1828 fora de 67,0 contos. Entre  as  duas  datas  em  confronto,  para  além  da  Guerra  Civil  existiu,  também,  a Reforma Administrativa  empreendida pelo ministro Mouzinho da  Silveira,  ainda nos Açores.  Por  esta  circunstância  a  orgânica  dos  vários Ministérios  apresenta  grandes alterações que justificam parte das diferenças de verbas, a denunciar, no geral, maior eficiência dos serviços e, por vezes, economia de recursos. Agora, existia presidente do Conselho de Ministros, com a mesma remuneração de 4,8 contos de réis dos restantes ministros, mantida ao nível de 1828. O Ministério do Reino tinha grande diferença de estrutura, com a supressão de órgãos e a criação de outros, embora, no total da remuneração do pessoal, o acréscimo seja diminuto, ao passar de 466,4 para 493,2 contos de réis. Os efectivos conhecidos, e que aumentaram 48%, respeitam, apenas, à parte do custo de pessoal com  individuação, desconhecendo‐se o total de funcionários nas duas datas. 

                                                            6 As  fontes  utilizadas  para  recolha  dos  números  apresentados  são  (CARVALHO:  1828)  e  (CARVALHO: 1835), consoante os correspondentes Orçamentos. 

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Significativo  da  maior  preocupação  com  o  Ensino  Público,  o  agravamento  de remunerações,  de  35,5  para  193,2  contos  de  réis!  Além  de  muitos  serviços  com designações não comparáveis nas duas épocas, assinale‐se a nova despesa resultante da criação das Prefeituras do Reino, a absorverem 160,2 contos, com pessoal. No Ministério  da  Fazenda,  a  reforma  empreendida  determinou  uma mais  racional distribuição de serviços, nomeadamente ao nível alfandegário, com supressões, o que conduziu ao abaixamento de 919,5 para 589,2  contos de  réis,  como  retribuição dos funcionários, entre 1828 e 1835/6. A quebra da massa salarial foi de 64%. No Ministério da  Justiça um dos  factores de agravamento da despesa  foi a nova  Lei pela qual as Côngruas dos Párocos passavam a ser encargo do Tesouro. Já no Ministério dos Negócios Estrangeiros observou‐se grande redução, baixando de 337,7  para  223,3  contos,  a  que  corresponde  quebra  de  um  terço.  Houve  cortes significativos  na  remuneração  do  pessoal  de  topo.  Em  1835/6,  talvez  pelo  pouco tempo  decorrido  desde  a  vitória  liberal,  havia  encarregados  de  negócios  em  várias Cortes,  com  o  ordenado  de  2,4  contos  de  réis  e  não  havia  embaixadores.  Os diplomatas  acreditados  nas  Cortes  mais  salientes  tinham  a  categoria  de  enviado, auferindo  10  contos  o  colocado  em  Londres;  8  contos,  cada  um  dos  colocados  em Paris, Madrid e Rio de Janeiro e 7,2 contos o de Roma. Não se pense haver menor preocupação pelo resguardo do «decoro nacional» exigido pela  representação  diplomática,  pois  era  entendimento  do  governo,  expresso  pelo ministro, dever  retribuí‐los convenientemente, para que não  fossem, apenas, os que tivessem fortuna pessoal a representar a Nação Portuguesa (CARVALHO, 1835: n.º 92). Também  no Ministério  da  Guerra  se  obteve  substancial  redução  da  despesa  com pessoal. Não  temos  ideia, por desconhecer os efectivos em 1828, da  influência que pode  ter  tido eventual  abaixamento do número de militares e  funcionários. É  certo que os 3.243,6 contos de réis arbitrados para 1828 mereciam a reprovação do ministro Manoel António de Carvalho, como a seu tempo foi assinalado. Mesmo para os 2.401,8 contos  de  1835/6  (quebra  de  26%),  o  ministro  Silva  Carvalho  tinha  esperança  de substancial  abaixamento  «quando  poder  considerar‐se  a  guerra  definitivamente terminada», porque os corpos do Exército poderiam ter menor dotação de militares. Na Marinha, o  agravamento de 41%,  ao passar de 606,4 para 853,2  contos de  réis, deve atribuir‐se à mais robusta composição da Armada Nacional, distante da escassa dimensão a que  se aludiu ao  fazer a análise de 1828. No mais, a  impossibilidade de comparação entre departamentos  com denominação desigual, por  força da  reforma empreendida, não permite fazer suposições7.  

                                                            7 Composição da Armada Nacional em 1835/6: «1 Nau em meio armamento; 2 Fragatas em armamento; 1 Fragata em meio armamento; 4 Corvetas em armamento; 1 Corveta em meio armamento; 4 Brigues em  armamento;  1  Brigue  em  meio  armamento;  4  Escunas  em  armamento;  2  Escunas  em  meio armamento; 4 Iates em armamento; 7 Charruas em armamento; 4 Correios em armamento; 1 Cuter em armamento; 3 Canhoneiras em  armamento; 2 Vapores em  armamento»  (CARVALHO, 1835: Marinha, Armamento). 

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6. Remunerações individuadas em 1835/6 O Orçamento para 1835/6 permitiu a obtenção de amostras significativas em todos os Ministérios,  o  que  possibilita  maior  aproximação  ao  universo  do  Funcionalismo Público.  No  Ministério  dos  Estrangeiros,  tal  como  em  1828,  apenas  o  pessoal diplomático e consular teve especificadas as remunerações, bem como o da Secretaria de Estado. Nestes termos, ficou‐se com amostra representando 49,8% de despesa com pessoal. As percentagens das restantes amostras são as seguintes:    Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça  100%   Idem dos Negócios da Marinha      85,0%   Idem dos Negócios do Reino       74,0%   Idem dos Negócios da Guerra      70,5%   Idem dos Negócios da Fazenda      62,1%. O  Quadro  3,  com  os  principais  indicadores  da  repartição  de  rendimentos  nos ministérios, em 1835/6, continua a exibir  Índices de Gini correspondentes a elevadas concentrações. O menos mau é o do Ministério da Marinha, com os 20% mais pobres com 5,1% da  renda distribuída e os 20% mais  ricos, com perto de 47%. Porém, esta situação é  ilusória, porquanto os 20%,  supostamente, mais  ricos  iniciam‐se  com um ordenado anual de 180$000 rs., que não dava riqueza a ninguém. As  distribuições  de  frequências  dos  Ministérios  Militares,  que  vão  influenciar  a distribuição geral pelo peso dos seus efectivos (78,1% na Guerra e 15,0% na Marinha), são  particularmente  desequilibradas,  exigindo  a  especificação  do  Quadro  5.  Com efeito,  91%  do  pessoal  da Marinha  recebia  retribuição  abaixo  de  200 mil  réis,  com destaque para os marinheiros, grumetes e pages da Armada Nacional e os sargentos e praças da Brigada Real da Marinha. Com ordenados de conto de  réis ou  superior  só havia 18 pessoas em 6.954, uma insignificância! Situação  análoga  ocorre  no Ministério  da Guerra,  em  que  o  Índice  de Gini  não  faz sobressair o absurdo de os 20% tidos como mais ricos se iniciarem com a remuneração anual  de  65$500  rs.,  que  só  poderia  comprar  miséria!  Neste  ministério,  95%  dos efectivos  (Quadro  5)  tinha  ordenado  e  salário  abaixo  de  200  mil  réis,  a  que correspondiam 62% da renda distribuída. Juntando o grupo seguinte, de 200 mil a 299 mil  réis, obtém‐se 80% do  rendimento pago por este ministério. Apenas 26 pessoas ganhavam um conto de réis ou mais num universo de 36.134! Quanto aos Ministérios Civis, a concentração face a 1828 aumentou nos do Reino e da Fazenda.  No  primeiro  dos  casos  deve  resultar,  basicamente,  dos  ordenados  mais elevados atribuídos aos integrantes da nova estrutura das Prefeituras do Reino. À sua parte, e considerando, apenas, as remunerações mais elevadas, houve dois ordenados de 3,2 contos, seis de 2,4 contos, um de 1,2 contos e trinta e três de conto de réis! Os dez  conselheiros  de  Estado,  a  2,4  contos  cada,  também  contribuem  para  a maior concentração, efeito da Reforma Administrativa.  

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Assim, o Ministério do Reino tem agora 61% dos efectivos (Quadro 4) a ganhar menos de 200 mil  réis e 4,5% acima ou  igual a  conto de  réis, quando em 1828  (Quadro 2) tinha, respectivamente, 48,6% e 0,9%. No Ministério da Fazenda o agravamento do  Índice de Gini é muito pronunciado, ao passar de 0,43 para 0,57. O confronto dos  respectivos  indicadores nos Quadros que lhes respeitam revela bem a diferença de situações. Agora, os 20% mais ricos têm 60% da  renda,  exactamente  todo  o  conjunto  com  remunerações  acima  de  500 mil  réis. Estes  ordenados,  em  1828,  eram  detidos  por,  apenas,  14%  dos  funcionários  e representavam 41% do rendimento distribuído. Os 20% mais pobres, em 1835/6, são muito menos do que em 1828. Nos Ministérios da Justiça e dos Estrangeiros os Índices de Gini atenuaram‐se entre as duas datas, embora em 1835/6 continuem a denunciar situações de concentração. No Ministério dos Estrangeiros persiste a circunstância de não haver individuação das remunerações,  mais  baixas,  dos  empregados  administrativos  das  representações diplomáticas no exterior e dos serviços de Correio, o que falseia os resultados. No  Ministério  da  Justiça  há  plena  representatividade  do  núcleo  de  remunerações especificadas,  agora  correspondente  à  totalidade  da  despesa  de  pessoal.  Diminuiu, substancialmente, a parte das remunerações abaixo de 200 mil réis (10% dos efectivos contra 34%; 1% da  renda contra 7%),  reforçou‐se a situação da Classe Média e a da Classe Média Alta, e os que recebem um conto de réis e mais são 19%, com 48% da renda, quando em 1828 representavam 15% dos efectivos, com 38% do rendimento.  O peso da Fazenda e do Reino faz que, em 1835/6, a situação dos Ministérios Civis seja de maior  concentração de  renda do que em 1828,  como  claramente evidenciam os indicadores dos respectivos Quadros estatísticos. O que, agravado pelas circunstâncias já  descritas  quanto  aos Ministérios Militares,  determina  a  situação  do  Total  Geral, evidenciada no Quadro 5. Estamos perante uma distribuição de frequências perversa, em que os 20% tidos como mais ricos começam numa remuneração anual de 180$000 rs., impensável como característica de riqueza! E assim é que 91% dos 46.274 funcionários inventariados ganhavam menos de 200 mil réis, correspondentes a 48% da massa salarial! A Classe Média – se podermos admitir que, em 1835/6, com a  inflação  implantada por uma Guerra Civil que desmantelou a Nação, um ordenado de 200 mil  réis  confere esse estatuto –  só  comportava 6% de efectivos, dispondo de 23% da renda. A Classe Média Alta não tinha mais de 1,8% de Servidores do Estado, com 15,5% do rendimento. Finalmente, os ricos (com um conto de réis e mais) seriam, apenas, 285 pessoas, a deter 14% da riqueza distribuída! O Orçamento para 1835/6 permite algumas ilações acerca das diferenciações espaciais das remunerações do funcionalismo. No Ministério do Reino, os «Estudos nas Províncias» não  são especificados. Mesmo acerca  da Universidade  de  Coimbra  nada  pode  ser  apurado,  por  ser  apresentado  o valor total da despesa da «Universidade, Hospitais, Colégio das Artes, Junta Literária e da Folha dos Professores e Mestres que recebem pelo Subsídio Literário». 

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Só as Prefeituras permitem alguma  luz sobre a distribuição regional da despesa. A da Estremadura,  com  Lisboa  na  dianteira,  absorvia  40,6  contos  de  réis.  O  respectivo prefeito  ganhava  3,2  contos,  assim  como  o  da  do Douro  (Porto),  que  custava  35,6 contos. Os outros prefeitos ganhavam 2,4 contos de réis e as despesas oscilavam entre 28,0  contos  no  Alentejo  e  13,2  em  Trás‐os‐Montes.  Em  todas  havia  várias  sub‐prefeituras,  não  se  notando  diferenciações  marcadas  nas  remunerações,  todas consideradas de bom nível quando  comparadas  com o que ocorria no Ministério da Fazenda, em especial nas Alfândegas, exceptuadas as de Lisboa e Porto. Os cargos da capital seriam mais apetecidos, por se situarem na Corte. Além disso, o movimento e, portanto, a  importância  como  fonte de  renda de alfândegas  como as situadas em Lisboa,  justificava remunerações mais robustas. No entanto, dificilmente se aceitam situações como as de muitas estações aduaneiras da província, em que os ordenados pagos não têm relação com o que ocorria em funções análogas em Lisboa, Porto e, mesmo, Setúbal. O administrador geral da Alfândega das Sete Casas era o que auferia a remuneração mais elevada (2,4 contos de réis), mas os restantes funcionários perdiam no confronto com os da Alfândega Grande de Lisboa, com ordenados maiores em todas as funções, desde o  tesoureiro  geral  ao meirinho. A Alfândega do Porto  regista diferenças para menos  quando  comparada  com  a  Alfândega  Grande  mas,  em  alguns  casos,  tinha remunerações  superiores  às  verificadas  nas  Sete  Casas.  A  Alfândega  de  Setúbal, embora  a  distância  destas,  apresentava  maiores  ordenados  do  que  as  restantes espalhadas pelo território nacional, apesar de ainda ter meirinho a receber 12 mil réis e o escrivão do superintendente da Alfândega, 6 mil. As Alfândegas provinciais eram multidão e proporcionavam rendimentos muito baixos (ALVES‐CAETANO,  2008:  118).  A  norte  eram  vinte  e  cinco  e,  a  sul,  vinte.  Algumas tinham até razoável proximidade. A remuneração mais frequente de juiz situava‐se no intervalo  de  40  a  30 mil  réis.  Havia  casos  de  20 mil  réis, mas  nas  Alfândegas  de Alegrete, Castelo de Vide, Marvão (encostadas) e Montalvão quedava‐se em 12 mil. As  situações mais  comuns de  feitor/recebedor  registam entre 60 e 30 mil  réis, mas recebiam 12 mil réis os de Peniche e Campo Maior e incríveis 3 mil réis o de Tavira. As remunerações, de  forma geral, eram de baixo valor, em especial quanto ao escrivão que,  raramente, auferia mais do que 10 mil  réis. O caso mais  surpreendente é o da Alfândega  de  Esposende,  em  que  se  referem  como  «Ordenados»  3  mil  réis  para director e tesoureiro e 4 mil para escrivão e guarda. A verba destinada a despesas de expediente (12$800) quase igualava a dos quatro ordenados. O Ministério  da  Justiça  tinha muitíssimos  funcionários  colocados  em  todo  o  espaço continental. Os juízes de direito para a região de Lisboa recebiam 1,2 contos; para a do Porto, um conto e, para as comarcas do Reino, 800 mil réis. Na Relação de Lisboa todos os ordenados – salvo o do guarda – sobrelevavam os correspondentes na do Porto. A excepção  estava  nos  Tribunais  de  Comércio  da  Primeira  Instância:  no  Porto  e  em Lisboa tinham iguais retribuições nos diversos cargos e os mesmos efectivos. 

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No Exército, não é conhecida a distribuição territorial dos vários regimentos, mas, nas Forças Armadas, a diferenciação era segundo as Armas, onde quer que se situassem. Verdadeiramente,  só  Engenharia,  com  remunerações  mais  elevadas  para  os  seus oficiais, se destacava das restantes, todas niveladas. Apesar das transformações operadas pelos anos de Guerra Civil, com o agravamento da dificuldade de  abastecimentos e  a  inerente  inflação, o quadro  remuneratório da Função Pública não se alterou. O confronto entre as remunerações funcionais em 1828 e em 1835/6 revela uma certa fixidez.  O  ministro  continuou  a  ter  a  retribuição  de  4.800$000,  os  porteiros  das Secretarias de  Estado permaneceram  com  600 mil  réis de ordenado, os oficiais dos gabinetes ministeriais, sempre com 700 mil réis, etc.8 As alterações operadas pela Reforma Administrativa, com a supressão de uns órgãos e a  criação  de  outros,  impedem  comparações  directas  como  as  das  Secretarias  de Estado. Mas nota‐se que funções análogas, embora exercidas em departamentos com diferente  denominação,  tinham  remunerações  da  mesma  ordem  de  grandeza.  De certo modo, o que denominei de Classe Média e Classe Média Alta, permaneceria com os mesmos  limites, embora possa admitir‐se que a  inflação tirava poder de compra e que  o  nível  de  vida  permitido  por  200 mil  réis,  em  1828,  seria  inferior,  sete  anos volvidos, com o mesmo rédito nominal. Quanto  às  remunerações  das  funções  de  topo  nos  vários ministérios  –  para  o  que basta comparar os Anexos A e B – nota‐se, apenas, troca de prevalência, da Fazenda, outrora, pela Justiça, agora: onde estava o provedor da Casa da Índia está, em 1835, o presidente do Supremo, logo seguido do procurador geral da Coroa e dos conselheiros do  Supremo. Na  Fazenda, mesmo  o  procurador  da  Fazenda,  cargo  de  cariz  judicial, sobreleva ao administrador geral da Alfândega das Sete Casas que, de certo modo, se substituiu ao que  tinha  idênticas  funções na Alfândega Grande do Açúcar, extinta. A Universidade de Coimbra saíra vitoriosa: os desembargadores tomavam conta do País. Viu‐se,  ainda,  que  os  postos  diplomáticos  que  ultrapassavam,  muito,  em  1828,  a remuneração do ministro, passaram a ter dotações significativamente mais baixas. Mas,  subsistia o  império das  remunerações  reduzidíssimas. O Ministério da Fazenda tinha, em 1835, a maioria dos ordenados abaixo de 200 mil  réis, descontando o pré dos  soldados  –  21$900  para  21.216  indivíduos  –  e  das  praças  de Marinha,  ambos desconhecidos em 1828. Indicador bastante da penúria da paga ao pessoal nos vários ministérios  está  em  que  411  funcionários  tinham  remuneração  inferior  aos  21$900 que recebiam os soldados, alimentados e vestidos pelo Estado. Era  impossível  que  a  corrupção  não  grassasse  numa  Administração  que  pagava ordenados  abaixo  dos  10  mil  réis  a  empregados  alfandegários,  com  funções  de                                                             8 O problema é mais  fundo. Pelo menos desde 1808 a  tabela de  remunerações do  funcionalismo civil seria  a  mesma.  Nos  decretos  publicados  no  Rio  de  Janeiro  a  estruturar  a  Corte  os  ordenados  de ministro, oficial da Secretaria de Estado  ido de Lisboa, etc. têm o valor existente em 1828 e em 1835. Importa  construir  índices de preços que permitam avaliar a erosão que  foi  sofrendo, por dezenas de anos, a paga dos servidores públicos, na maioria dos casos, como se viu, de baixíssimo nível. 

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direcção (!), superintendência, tesoureiro,  juiz de balança, pesador, selador, medidor, guarda, escrivão, não se acreditando que os emolumentos permitissem a reunião de rendimento apropriado para vida familiar desafogada.  

*** A amostra constituída pelos que «se sentavam à Mesa do Orçamento» em 1835/6 não será  lisonjeira acerca da  riqueza nacional, se atendermos a que, na época, a própria Agricultura, mesmo  pouco  vigorosa,  ainda  não  podia  ter  recuperado  da  destruição causada pela guerra. Existia no Governo e no Ministro da Fazenda a noção de que a Economia Interna não comportava maiores sacrifícios tributários e de que tinha de ser aliviada para poder soerguer‐se. Ao apresentar‐se perante os Deputados, em Janeiro de 1835, o Ministro Silva Carvalho formulou várias hipóteses à  sua disposição para criar  impostos,  tanto directos como indirectos.  Mas,  esclareceu  não  ser  esse  o  caminho  a  percorrer  pelo  Governo encarregado  de  curar  as  feridas  da Guerra  Civil  para  obter  o  equilíbrio  das  Contas Públicas. Cortava com a tradição. Iniciava‐se nova fase na gestão das Finanças Públicas Portuguesas. Silva Carvalho terá aspirado a fazer Escola. «Geralmente se creria, à vista do que entre nós se tem passado até agora, que o único meio  de  ocorrer  às  despesas  públicas,  e  de  cobrir  o  défice  fora  o  de  lançar  novos tributos sobre a Nação, onerando o presente e o futuro para pagamento do passado; porém o meu sistema, individualmente falando, e o do Governo de que tenho a honra de formar parte, é totalmente o inverso – ele consiste em aliviar o povo para colher os frutos  da  geral  prosperidade  –  ele  consiste  em  fomentar  toda  a  casta  de  empresas úteis para elevar ao mais alto valor este nosso solo  tão  favorecido da Providência. E enquanto assim se aumentam os valores, de que deve derivar‐se a Renda pública, o que se for vendendo dos Bens Nacionais, e as Cobranças do Brasil da parte da Dívida já vencida, não somente nos hão‐de habilitar a pagar com prontidão a despesa corrente, mas  também  nos  darão  meios  para  irmos  diminuindo  os  nossos  empenhos» (CARVALHO, 1835: n.º 92).          (Texto escrito em conformidade com a ortografia anterior ao último Acordo)  Ligustro, Agosto de 2011   

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18  

    

Rubricas

REINO

FAZENDA

JUSTIÇA

ESTRAN

GEIROS

TOTA

L

Despesa Total

1.207.106,141

5.143.254,320

346.809,590

555.979,510

7.253.149,561

Despesa com Pessoal

466.422,986

919.504,880

233.083,144

337.745,910

1.956.756,920

    % da De

spesa Total

38,6

17,9

67,2

60,7

27,0

Desp. c/ P

ess. Especificada

177.978,186

585.645,100

211.764,544

218.240,110

1.193.627,940

    % da De

spesa c/ Pessoal

38,2

63,7

90,7

64,6

61,0

N.º Fun

cion

ários E

specificado

s968

1.966

436

152

3.522

Men

or Orden

ado

32$121

2$805

7$200

240$000

2$805

Maior Orden

ado

4.800$000

4.800$000

4.800$000

19.200$000

19.200$000

Idem

 abaixo do

 Ministro

1.600$000

4.000$000

2.400$000

4.000$000

4.000$000

% de Re

ndim

ento detida po

r:    20% c/

 men

ores Orden

ados

4,4

4,2

2,4

4,0

2,4

    20% c/

 maiores Orden

ados

48,0

50,1

48,4

68,0

57,9

ÍNDICE

 DE GINI

0,4492

0,4313

0,4641

0,5868

0,5173

Nota: A Des

pesa

 com

 Pes

soal exclui a

 realizad

a na

s Províncias

 Ultramarinas

.

Fonte: CAR

VALH

O, 1828: Diverso

s Qua

dros

.

©  Antón

io Alves

‐Cae

tano

M  I  N

  I  S  T  É  R  I  O

  S

PRINCIPA

IS IN

DICA

DORES DA

 REPAR

TIÇÃ

O DE RENDIMEN

TOS EM

 MINISTÉRIOS EM

 1828

Quadro 1

Valores e

m Réis

Page 19: António Alves Caetano Mesa Orçamento»: na época da ... · Administração Pública auferia pagas de miséria, ainda maior do que a expressa pelos ínfimos valores do fim ... religiosos

19  

   Va

lores em

 Mil Réis

ESCA

LÕES

N.º

Valor

N.º

Valor

N.º

Valor

N.º

Valor

N.º

Valor

Inferio

r a 200$000

Núm

ero

470

25.910,2

742

78.661,3

147

13.815,7

00,0

1.359

118.387,2

Percen

tagem

48,6

14,6

37,7

13,4

33,7

6,5

0,0

0,0

38,6

9,9

200$000 a 299$000

Núm

ero

390

89.262,1

585131.005,3

5311.752,0

4011.185,4

1.068

243.204,8

Percen

tagem

40,3

50,2

29,8

22,4

12,2

5,5

26,3

5,1

30,3

20,4

300$000 a 499$000

Núm

ero

7128.485,9

363138.079,8

5019.890,0

73.310,0

491

189.765,7

Percen

tagem

7,3

16,0

18,5

23,6

11,5

9,4

4,6

1,5

13,9

15,9

500$000 a 999$000

Núm

ero

2818.920,0

189111.200,0

122

85.556,8

6142.344,7

400

258.021,5

Percen

tagem

2,9

10,6

9,6

19,0

2840,4

40,1

19,4

11,4

21,6

1.000$000 a 4.000$000

Núm

ero

810.600,0

86121.898,7

6375.950,0

3353.080,0

190

261.528,7

Percen

tagem

0,8

6,0

4,4

20,8

14,4

35,9

21,7

24,3

5,4

21,9

Supe

rior a

 4.000$000

Núm

ero

14.800,0

14.800,0

14.800,0

11108.320,0

14122.720,0

Percen

tagem

0,1

2,7

0,0

0,8

0,2

2,3

7,2

49,6

0,4

10,3

TOTA

L968177.978,2

1.966585.645,1

436211.764,5

152,0218.240,1

3.522

1.193.627,9

Fonte: CAR

VALH

O,1828: Diverso

s Qua

dros

.

© Antón

io Alves

‐Cae

tano

DISTRIBU

IÇÃO

 DOS FU

NCIONÁR

IOS DO

S MINISTÉRIOS CIVIS PO

R ESCA

LÕES DE REMUNERAÇ

ÃO EM 1828

Quadro 2

REINO

FAZENDA

JUSTIÇA

ESTRAN

GEIROS

T O T A L 

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20  

   

Rubricas

REINO

FAZENDA

JUSTIÇA

ESTRAN

GEIROS

C  I  V  I  S

GUERRA

MAR

INHA

TOTA

L

Despesa Total

1.102.448,958

2.785.150,850

794.190,830

278.700,640

4.960.491,278

3.989.945,066

1.395.941,15610.346.377,500

Despesa com Pessoal

493.207,660

589.168,119

317.901,200

223.278,640

1.623.555,619

2.401.761,813

853.161,344

4.878.478,776

    % da De

spesa Total

44,7

21,2

40,0

80,1

32,7

60,2

61,1

47,2

Desp. c/ P

ess. Especificada

364.800,680

365.699,287

317.901,200

111.246,000

1.159.647,167

1.692.449,900

725.578,960

3.577.676,027

    % da De

spesa c/ Pessoal

74,0

62,1

100,0

49,8

71,4

70,5

85,0

73,3

N.º Fun

cion

ários E

specificado

s1.434

1.222

465

653.186

36.134

6.954

46.274

Men

or Orden

ado

6$000

$220

30$000

300$000

$220

21$900

12$000

$220

Maior Orden

ado

4.800$000

4.800$000

4.800$000

10.000$000

10.000$000

4.800$000

4.800$000

10.000$000

Idem

 abaixo do

 Ministro

3.200$000

3.000$000

4.000$000

3.200$000

4.000$000

2.400$000

2.319$960

4.000$000

% de Re

ndim

ento detida po

r:    20% c/

 men

ores Orden

ados

6,5

1,2

4,2

5,9

2,9

9,4

5,1

5,6

    20% c/

 maiores Orden

ados

56,0

60,5

49,8

57,2

62,5

60,8

46,7

71,1

ÍNDICE

 DE GINI

0,4571

0,5675

0,4562

0,4708

0,5604

0,4613

0,4172

0,5911

Nota: A Des

pesa

 com

 Pes

soal exclui a

 realizad

a na

s Províncias

 Ultramarinas

.

Fonte: CAR

VALH

O, 1835: Diverso

s Qua

dros

.

  ©  Antón

io Alves

‐Cae

tano

M  I  N

  I  S  T  É  R  I  O

  S

Quadro 3

PRINCIPA

IS IN

DICA

DORES DA

 REPAR

TIÇÃ

O DE RENDIMEN

TOS NOS MINISTÉRIOS EM

 1835/6

Valores e

m Réis

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21  

   

Valores em

 Mil Réis

ESCA

LÕES

N.º

Valor

N.º

Valor

N.º

Valor

N.º

Valor

N.º

Valor

Inferio

r a 200$000

Núm

ero

872

94.500,2

654

47.086,3

453.501,2

00,0

1.571

145.087,7

Percen

tagem

60,8

25,9

53,5

12,9

9,7

1,1

0,0

0,0

49,3

12,5

200$000 a 299$000

Núm

ero

219

49.567,8

100

22.139,1

155

31.808,0

00,0

474

103.514,9

Percen

tagem

15,3

13,6

8,2

6,1

33,3

10,0

0,0

0,0

14,9

8,9

300$000 a 499$000

Núm

ero

201

73.423,7

223

75.117,0

248.960,0

83.546,0

456

161.046,7

Percen

tagem

14,0

20,1

18,2

20,5

5,2

2,8

12,3

3,2

14,3

13,9

500$000 a 999$000

Núm

ero

7850.344,0

185122.926,9

154120.032,0

2719.700,0

444

313.002,9

Percen

tagem

5,4

13,8

15,1

33,6

33,1

37,8

41,5

17,7

13,9

27,0

1.000$000 a 4.000$000

Núm

ero

6392.165,0

5993.630,0

86148.800,0

2442.000,0

232

376.595,0

Percen

tagem

4,4

25,3

4,8

25,6

18,5

46,8

36,9

37,8

7,3

32,5

Supe

rior a

 4.000$000

Núm

ero

14.800,0

14.800,0

14.800,0

646.000,0

960.400,0

Percen

tagem

0,1

1,3

0,1

1,3

0,2

1,5

9,2

41,3

0,3

5,2

TOTA

L1.434364.800,7

1.222365.699,3

465317.901,2

65111.246,0

3.186

1.159.647,2

Fonte: CAR

VALH

O,1835: Diverso

s Qua

dros

.

© Antón

io Alves

‐Cae

tano

DISTRIBU

IÇÃO

 DOS FU

NCIONÁR

IOS DO

S MINISTÉRIOS CIVIS PO

R ESCA

LÕES DE REMUNERAÇ

ÃO EM 1835/36

Quadro 4

REINO

FAZENDA

JUSTIÇA

ESTRAN

GEIROS

T O T A L 

Page 22: António Alves Caetano Mesa Orçamento»: na época da ... · Administração Pública auferia pagas de miséria, ainda maior do que a expressa pelos ínfimos valores do fim ... religiosos

22  

   

Valores em

 Mil Réis

ESCA

LÕES

N.º

Valor

N.º

Valor

N.º

Valor

N.º

Valor

Inferio

r a 200$000

Núm

ero

34.316

1.050.291,9

6.344506.935,7

40.660

1.557.227,6

42.231

1.702.315,3

Percen

tagem

95,0

62,1

91,2

69,9

94,4

64,4

91,3

47,6

200$000 a 299$000

Núm

ero

1.252

310.632,0

318

75.390,6

1.570

386.022,6

2.044

489.537,5

Percen

tagem

3,4

18,3

4,6

10,4

3,6

16,0

4,4

13,7

300$000 a 499$000

Núm

ero

211

91.434,0

202

72.673,9

413

164.107,9

869

325.154,6

Percen

tagem

0,6

5,4

2,9

10,0

1,0

6,8

1,9

9,1

500$000 a 999$000

Núm

ero

329

198.772,0

7243.446,4

401

242.218,4

845

555.221,3

Percen

tagem

0,9

11,7

1,0

6,0

0,9

10,0

1,8

15,5

1.000$000 a 4.000$000

Núm

ero

2536.520,0

1722.332,3

4258.852,3

274

435.447,3

Percen

tagem

0,1

2,2

0,2

3,1

0,1

2,4

0,6

12,2

Supe

rior a

 4.000$000

Núm

ero

14.800,0

14.800,0

29.600,0

1170.000,0

Percen

tagem

0,0

0,3

0,0

0,6

0,0

0,4

0,0

1,9

TOTA

L36.134

1.692.449,9

6.954725.578,9

43.088

2.418.028,8

46.274

3.577.676,0

Fonte: CAR

VALH

O,1835: Diverso

s Qua

dros

.

© Antón

io Alves

‐Cae

tano

DISTRIBU

IÇÃO

 DOS FU

NCIONÁR

IOS DO

S MINISTÉRIOS MILITAR

ES POR ESCA

LÕES DE REMUNERAÇ

ÃO E TOTA

L GERAL

 EM 1835/36

Quadro 5

GUERRA

MAR

INHA

MILITAR

EST O T A L    G

 E R A L

MINISTÉRIOS

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23  

 

CURVA DE LORENZ DOS MINISTÉRIOS CIVIS EM 1828 E EM 1835/6 

 

   

 

 

CURVA DE LORENZ DE TODOS OS MINISTÉRIOS EM 1835/6 

 

 

©António Alves‐Caetano 

   

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

1828

1835/6

reta

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

reta

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24  

ANEXO A 

CARGOS DE MAIORES REMUNERAÇÕES ABAIXO DE MINISTRO, EM 1828 

4.000$000 – Provedor da Casa da Índia (F); Encarregado de Negócios (E). 3.000$000 – 2 Encarregado de Negócios (E). 2.800$000 – Administrador Geral da Alfândega Grande do Açúcar (F). 2.400$000  –  Procurador  da  Fazenda  (F);  Procurador  da  Coroa  (J);  Presidente  da Mesa  da Consciência  e Ordens  (J);  2  Encarregado  de Negócios  (E);  3  Secretário  de  Embaixada  (E);  2 Comissário da Comissão de Reclamações (E). 2.000$000 – Presidente da  Junta do Tabaco  (F); Tesoureiro Mor do Tesouro Público  (F); 15 Conselheiro do Conselho da Fazenda (F); 3 Conselheiro do Conselho da Fazenda, Aposentado. 1.800$000 – Escrivão do Tesoureiro Mor, do Tesouro Público (F). 1.600$000 – 4 Ministro de Estado, Aposentado (R); Guarda‐Mor da Casa da Índia (F); 3 Escrivão da Fazenda, do Conselho da Fazenda (F); 4 Contador Geral, do Tesouro Público (F); Escrivão da Repartição da Fazenda, da Mesa da Consciência e Ordens (J); Intendente Geral da Polícia (J); 4 Secretário de Embaixada (E). 1.500$000 – Escrivão do Desembargo do Paço (J). 1.400$000 – Primeiro Feitor da Casa da Índia (F); Tesoureiro Geral da Junta do Tabaco (F). 1.300$000 – Juiz da Balança da Casa da Índia (F); Chanceler da Casa da Suplicação (J). 1.280$000 – Secretário de Embaixada (E). 1.250$000 – Escrivão do Desembargo do Paço (J). 1.200$000 – Primeiro Feitor da Alfândega Grande do Açúcar (F); 5 Escrivão da Mesa Grande da Casa da  Índia  (F); Escrivão do Registo das Mercês, na Chancelaria Mor do Reino (F); 3 Oficial Maior  das  Secretarias,  no  Conselho  da  Fazenda  (F);  Contador Geral Graduado,  no  Tesouro Público  (F); 13 Desembargador, do Desembargo do Paço  (J); 3 Escrivão, do Desembargo do Paço (J); 7 Deputado da Mesa da Consciência e Ordens (J); 2 Deputado Aposentado, da Mesa da Consciência e Ordens (J); Conselheiro de Embaixada (E); Secretário de Embaixada (E). 1.170$000 – Recebedor da Chancelaria, pelo Tesouro Público (F). 1.100$000 – 3 Juiz da Coroa, na Casa da Suplicação (J); Ajudante do Procurador da Coroa, na Casa da Suplicação (J); Procurador da Fazenda, na Casa da Suplicação (J); Corregedor do Crime da  Corte  e  Casa,  na  Casa  da  Suplicação  (J);  Corregedor  do  Crime  da  Corte,  na  Casa  da Suplicação (J); 12 Desembargador de Agravos efectivo, na Casa da Suplicação (J); Ouvidor Geral do Crime, na Casa da Suplicação (J); Juiz da Chancelaria, na Casa da Suplicação (J); Promotor da Justiça, na Casa da Suplicação (J); 3 Corregedor do Cível, na Casa da Suplicação (J); 2 Agravista, na Casa da Suplicação (J); 2 Desembargador de Agravos, Aposentado, na Casa da Suplicação (J). 1.000$000 – 4 Oficial Maior da Secretaria de Estado (R, F, J, E); 2 Oficial Maior, Aposentado (R); 8  Escrivão  da Mesa Grande  da Alfândega Grande  do Açúcar  (F); Guarda‐Mor  da Alfândega Grande do Açúcar  (F); Tesoureiro da Alfândega Grande do Açúcar  (F); Tesoureiro da Casa da Índia (F); Escrivão da Carga e Descarga da Casa da Índia (F); Ajudante do Escrivão, no Tesouro Público  (F);  3  Tesoureiro  Geral,  no  Tesouro  Público  (F);  4  Ajudante  do  Contador Geral,  no Tesouro Público  (F); 4 Fiel do Tesouro, no Tesouro Público  (F); Contador Geral, na  Junta dos Juros dos Reais Empréstimos (F); Comissário Geral da Junta da Bula da Cruzada (J); 12 Adido de Embaixada (E); Secretário de Embaixada (E).        

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25  

ANEXO B 

CARGOS DE MAIORES REMUNERAÇÕES ABAIXO DE MINISTRO, EM 1835/6 

4.000$000 – Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (J). 3.600$000 – Procurador Geral da Coroa, no Supremo Tribunal de Justiça (J). 3.200$000 – Encarregado de Negócios em Petersburgo (E); Prefeito da Prefeitura do Douro (R); Prefeito da Prefeitura da Estremadura (R); 12 Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça (J). 3.000$000 – Procurador da Fazenda, no Tesouro Público (F); 8 Conselheiro do T. Público (F). 2.400$000 – 10 Conselheiro do Conselho de Estado (R); 6 Prefeito de Prefeitura da Província (R);  Administrador Geral  da  Alfândega  das  Sete  Casas  (F); Director Geral  da  Contadoria  do Tesouro  Público  (F);  Pensão  ao  Duque  de  Palmela  (E);  7  Encarregado  de  Negócios  (E);  2 Marechal de Exército (G). 2.319$960 – Almirante da Armada Nacional (M). 2.000$000 – Inspector Geral do Terreiro Público (R); Tesoureiro Geral da Alfândega Grande de Lisboa  (F);  Presidente  da  Relação  de  Lisboa  (J);  Presidente  do  Tribunal  de  Comércio  de  2.ª Instância (J). 1.800$000 – Presidente da Relação do Porto  (J), Ajudante do Procurador Geral da Coroa, no Supremo Tribunal de Justiça (J). 1.640$000 – Tesoureiro Geral da Alfândega do Porto (F). 1.600$000 – Pensão a Ministro de Estado, Honorário (R); Administrador Geral das Alfândegas do  Sul  (F); Administrador  da  Repartição  do  Papel  Selado  (F);  8  Recebedor Geral  (F);  2  Sub Director  do  Tesouro  Público  (F);  Empregado  da  Junta  dos  Juros  (F);  Pensão  a Ministro  de Estado, Honorário (F); 21 Juiz da Relação de Lisboa (J); Procurador Régio, na Relação de Lisboa (J); 4 Juiz do Tribunal de Comércio de 2.ª Instância (J); 4 Secretário de Legação (E); 2 Pensão a Diplomata (E); Inspector/Intendente do Arsenal da Marinha (M); Contador Geral da Contadoria Geral  da Marinha  (M); Major  General  (gratificação)  (M);  Conselheiro  Relator  do  Supremo Tribunal da Marinha (M); Procurador Régio, no Supremo Tribunal da Marinha (M). 1.440$000 – 10 Tenente General, de Oficiais Generais (G); 8 Tenente General, de 3.ª Secção do Exército (G). 1.400$000 – Director da Alfândega Grande de Lisboa  (F); 6 Chefe de Repartição do Tesouro Público (F); Administrador Geral das Alfândegas do Norte (F); 21 Juiz da Relação do Porto (J); Procurador Régio, na Relação do Porto (J). 1.320$000 – Ajudante do Procurador da Fazenda, no Tesouro Público (F). 1.240$000 – Administrador Geral das Matas (M). 1.200$000  – Comandante Geral da Guarda Municipal  (R);  Secretário Geral da  Prefeitura da Estremadura  (R);  Tesoureiro  Geral  da  Alfândega  das  Sete  Casas  (F);  1.º  Escrivão  da Mesa Grande da Alfândega Grande de Lisboa (F); 6  Juiz de Direito para os Distritos de Lisboa (J); 3 Magistrado da Polícia Correccional, na Relação de Lisboa (J); Secretário do Supremo Tribunal de  Justiça  (J); Magistrado do  Tribunal de Comércio  (J);  Juiz do  Tribunal de Comércio da 1.ª Instância (Lisboa) (J); Juiz do Tribunal de Comércio da 1.ª  Instância (Porto) (J); 2 Cônsul (E); 2 Adido de Legação  (E); Secretário de Embaixada  (E); 4  Intendente da  Intendência Militar  (G); Vogal  do  Supremo  Tribunal  da  Marinha  (M);  Tesoureiro  Pagador  das  Estações  Civis  e  da Fazenda (M). 1.065$000 – Intendente de Obras Públicas (R). 

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1.000$000  –  6 Oficial Maior  da  Secretaria  de  Estado  (R,  F,  J,  E,  G, M);  3 Oficial Maior  da Secretaria de Estado, Aposentado (R, M); 3 Oficial Maior da Secretaria de Estado, Graduado (E, M); 32 Sub‐Prefeito  (R); Secretário Geral da Prefeitura do Douro  (R); Tesoureiro do Terreiro Público  (R);  Director  do  Real  Museu  e  Jardim  Botânico  (R);  Escrivão  da  Receita  Geral  da Alfândega das Sete Casas  (F); Director da Alfândega do Porto  (F); Guarda‐Mor da Alfândega Grande de Lisboa (F); Superintendente da Mesa dos Novos e Velhos Direitos (F); 6 Sub‐Chefe do  Tesouro  Público  (F);  8  Escrivão  da  Mesa  Grande  da  Alfândega  Grande  do  Açúcar  (F); Guarda‐Mor da Alfândega Grande do Açúcar (F); Tesoureiro da Alfândega Grande de Lisboa (F); 3  Juiz de Direito para os Distritos do Porto  (J); 2 Ajudante Procurador Régio, na Relação de Lisboa (J); 2 Adido de Legação (E); Oficial Maior da Contadoria Geral da Marinha (M).     

 

   

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FONTES E BIBLIOGRAFIA 

FONTES 

Biblioteca da Assembleia da República (BAR): CARVALHO,  Manoel  António  de,  1828  –  Relatório  apresentado  na  Câmara  dos  Senhores Deputados da Nação Portuguesa  em 11 de  Fevereiro de 1828 pelo Ministro  e  Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda Manoel  António de Carvalho. Lisboa: Impressão Régia. CARVALHO, José da Silva, 1834 – Relatório do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda  apresentado  à  Câmara  dos  Senhores  Deputados  da  Nação  Portuguesa  na  Sessão Extraordinária de 1834. Lisboa: Imprensa Nacional. CARVALHO, José da Silva, 1835 – Relatório apresentado na Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa em 23 de Janeiro de 1835 pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda José da Silva Carvalho com a Conta da Receita e Despeza do Thesouro Público, etc. Lisboa: Imprensa Nacional. 

BIBLIOGRAFIA 

ALVES‐CAETANO,  António,  2008  –  A  Economia  Portuguesa  no  Tempo  de  Napoleão  – Constantes e Linhas de Força. Lisboa: Tribuna da História.              ,  2010  –  As  Crises,  das  Finanças  Públicas  e  do  Erário  Régio,  na véspera do Miguelismo (1822‐1827). Lisboa: Actas do XXX Encontro Anual da APHES. BACCINI, A. e GIANNETTI, R., 1977 – Cliometría. Barcelona: Crítica, N. I. U. CÂMARA  dos  Senhores  Deputados  (Coord.),  1883‐1891  –  Documentos  para  a  História  das Cortes Gerais da Nação Portuguesa. 8 Volumes. Lisboa: Imprensa Nacional. COLLECÇÃO de Decretos e Regulamentos publicados durante o Governo do Reino estabelecido na Ilha Terceira, de 2 de Junho de 1830 a 16 de Julho de 1834. Lisboa: Imprensa Nacional. FUENTE,  Francisco  de  la,  2011  –  D. Miguel  Pereira  Forjaz,  Conde  da  Feira,  1769‐1827  – O Organizador  da  luta  contra Napoleão.  Tradução  a  apresentação  de Manuel Amaral.  Lisboa: Tribuna da História. GODINHO,  Vitorino  Magalhães,  1955  –  Prix  et  Monnaies  au  Portugal  (1750‐1850).  Paris: Librairie Armand Colin. MOGARRO, Maria  João, 1990 –  José da Silva Carvalho e a Revolução de 1820. Lisboa: Livros Horizonte. Colecção Horizonte Histórico, n.º 34. MURTEIRA, Bento  J. F., 1996 – Análise Exploratória de Dados – Estatística Descritiva. Lisboa: McGRAW‐HILL. PEREIRA, Miriam Halpern, 2009 – Mouzinho da Silveira. Pensamento e Acção Política. Lisboa: Assembleia da República. Colecção Parlamento, n.º 28. RODRIGUES, António Simões (Coord.), 1994 – História de Portugal em Datas. Lisboa: Círculo de Leitores. VALÉRIO, Nuno (Coord.), 2005 – Os Orçamentos no Parlamento Português. Lisboa: Assembleia da República. Colecção Parlamento, n.º 21. VASCONCELLOS, J. Leite de, 1902 – Diccionario Chorographico de Portugal. Porto: Lopes & C.ª., 2.ª Edição, 1903. YULE,  G.  e  KENDALL, M.  G.,  1945  –  Introduccion  a  la  Estadistica Matematica. Madrid: M. Aguilar, 1947.