Antonio Gonçalves da Silva

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/31/2019 Antonio Gonalves da Silva

    1/7

    1

    Antonio Gonalves da Silva

    Batura

    [...] Era baixo, entroncado e usava longas barbas que lhecobriam o peito amplo. Com o tempo, essa barba se fezbranca e os amigos diziam que ele era to bom, que separecia com o Imperador. [...]

  • 7/31/2019 Antonio Gonalves da Silva

    2/7

    2

    Filho de humildes camponeses nasceu em Portugal na Freguesiadas guas, em 19 de maro de 1839.

    Tendo apenas completado a instruo primria, veiopara o Brasil no Rio de Janeiro 3 de Janeiro de 1850, comseus pais.

    Trabalhou na Capital do Imprio, no comrcio da Corte, por trsanos, transferindo-se depois para Campinas (So Paulo), ondetrabalhou por alguns anos na lavoura.

    Depois, mudou-se para So Paulo, uma cidade que poca,

    possua cerca de 30 mil habitantes.

    Costumes dos agricultores em torno de

    Lisboa 1840

    Rua da Misericrdia, RJ

  • 7/31/2019 Antonio Gonalves da Silva

    3/7

    3

    Nos primeiros anos foidistribuidor do jornal CorreioPaulistano que notabilizou-sepela defesa da abolio da

    escravatura e da causarepublicana.

    Naquele tempo nohavia bancas de jornal. Aentrega se fazia tarde, decasa em casa, e to somenteaos assinantes, conquistando,nessa profisso, a simpatia ea amizade dos seusfregueses.

    Livraria e Tipografia Correio Paulistano Em 1854, Azevedo Marques

    lana em So Paulo o primeiro jornal peridico e terceiro do Brasil, o

    Correio Paulistano. A populao paulista ainda era tmida, mas a cidade

    comeara a dar reflexos na grandiosidade que se tornaria. O Correio

    Paulistano no possua convices polticas, era um jornal independente

    adotando posies audaciosas em um perodo monrquico. Foi o

    incentivador e patrocinador oficial da Semana de Arte Moderna de 1922

    e o jornal era escrito por diversos intelectuais como Menot Del Picchia.

    Seis anos mais tarde, na rua do Rosrio, 49 a cidade de So Paulo

    contemplada com a primeira livraria do Correio Paulistano

    (provavelmente junto tipografia).

    Rua XV de Novembro 1850

  • 7/31/2019 Antonio Gonalves da Silva

    4/7

    4

    Foi nessa poca que o menino portugus Antonio Gonalves daSilva recebeu o apelido de Batura, nome dado a ave pernalta, muito

    ligeira, de vo rpido, que existia em grande quantidade nos charcos doParque D. Pedro II, em So Paulo.

    Este apelido lhe foi dado, como pode-se antever, em virtude deser ele trabalhador incansvel, muito ativo na entrega do jornal.

    Convivendo com osacadmicos de Direito doLargo de So Francisco,passou a se dedicar arte

    teatral: montou pequenoteatro rua Cruz Preta(depois denominadaSenador QuintinoBocaiva).

    Quando aparecia emcena, Batura era

    aplaudido e os estudanteslhe dedicavam versos

    como estes:

    Salve, grande Batura

    Com Teus dentes de trara

    Com teus olhos de Safira

    Com tua arte que me inspiraNas cordas da minha lira

    Estes versos de mentira.

    quela altura da sua vida, passou a fabricar charutos, o que fezprosperar suas finanas.

    Mais tarde, j adulto, esprito audaz, adquiriu uma grande rea deterreno no Lavaps, onde havia um morro, regio desvalorizada.

    Data desta poca a prosperidade maior de Batura.

    Largo So Francisco 1862

  • 7/31/2019 Antonio Gonalves da Silva

    5/7

    5

    Abriu diversos lotesde terrenos no Lavaps,onde construiu suaresidncia e, ao lado, uma

    rua particular: RuaEspirita.

    De espritohumanitrio e idealista,aderiu, desde logo, Campanha Abolicionista,trabalhou denodadamenteao lado de Luiz Gama eAntnio Bento. Em suacasa, ele abrigava os

    escravos foragidos e s os deixava sair com a Carta de Alforria.

    De suas primeiras npcias com dona Brandina Maria de Jesus,teve um filho, Joaquim Gonalves Batura, que veio a se casar comdona Flora Augusta Gonalves Batura. Das segundas npcias, teveoutro filho, que desencarnou aos 12 anos. Era uma criana, por quem ocasal se extremava em dedicao e carinho. Esse golpe feriuprofundamente aquele lar, que s pode encontrar lenitivo dor na

    consoladora Doutrina dos Espritos.

    Despertado pela Doutrina Esprita, exemplificou no mais alto grauos ensinamentos cristos: praticava a caridade, consolava os aflitos,tratava os doentes com a Homeopatia e difundia os princpios espritas.

    Recolhia os doentes e os desamparados, infundindo-lhes a fnecessria para poderem suportar suas provas terrenas.

    A sua casa no Lavaps, que era ao mesmo tempo hospital, farmcia,albergue, escola e asilo. Ele a doou para sede da Instituio Beneficente"Verdade e Luz.

    A propsito disso, dizia-se de Batura: "um bando de aleijadosvivia com ele". Quem chegasse casa, fosse l quem fosse, tinha cama,mesa e cobertor. Batura adquiriu uma tipografia a que deu o nome deTipografia Esprita, onde imprimia o peridico quinzenal com o nome

    de Verdade e Luz, que chegou a uma tiragem de 15 mil exemplares.

    "

    Rua Esprita, 1904

  • 7/31/2019 Antonio Gonalves da Silva

    6/7

    6

    Durante as epidemias varilicas entre 1873 a 1875, acolheuBatura em seu prprio lar inmeros doentes pobres tratando-lhes aenfermidade e dando-lhes tambm agasalho e alimento. Ele serviu demdico, de enfermeiro, de pai para flagelados, deu-lhes no apenas o

    remdio e os desvelos, mas tambm o po, o teto e o agasalho. Da apopularidade de sua figura.

    Batura era tambm mdium curador, sendo centenas as curas decarter fsico e espiritual que obtinha ministrando gua efluviada ouaplicando "passes magnticos".

    Em virtude de todosesses fatos, o povo, omais beneficiado por

    Batura, passou adenomin-lo "Mdico dosPobres", que igualmenteaureolou o nome deAdolfo Bezerra deMenezes.

    Adotou o Zeca em1888, criana paraltica,

    doente e retardada,dando-lhe todo o carinhode filho, o Zeca veio afalecer em 1933.

    No ano de 1889, Batura passou a ser, na cidade de S. Paulo, oagente exclusivo do "Reformador", funo de que se encarregou at1900.

    REFORMADOR - Fundado nesta Capital em 21 de Janeiro de 1883, por

    Augusto Elias da Silva. Ao entrar no segundo ano, passou, a ser rgooficial da Federao Esprita Brasileira.

    No dia 6 de Abril de 1890, restabeleceu o Grupo Esprita Verdadee Luz que havia muito "se achava adormecido".

    Criou grupos espritas em So Paulo, Minas Gerais e Estado doRio.

    Realizou conferncias sobre diversos temas doutrinrios, em

    inmeras cidades de vrios Estados, ocasio em que tambm visitava ecurava irmos sofredores; espalhou gratuitamente prospectos e folhetos

    Rua Teixeira Leite

  • 7/31/2019 Antonio Gonalves da Silva

    7/7

    7

    de propaganda do Espiritismo, por ele prprio impressos, e distribuiumilhares de livros pelo interior do Pas.

    Foi um grande seareiro de Jesus. No foram poucos os de outrasreligies que se maravilharam diante das curas conseguidas por Baturacom o tratamento de gua fluidificada e dos passes que ministrava.Ouvindo-lhe a palavra doutrinadora banhada daquela f que transportamontanhas, muita obsidiados tidos como loucos incurveis pelamedicina terrena, voltaram vida consciente e normal.

    Era to popular, que foi citado em obra como "Histria e Tradiesde So Paulo", de Ernani Silva Bueno, "A Academia de So Paulo -Tradies e Reminiscncias -Estudantes, Estudantes e Estudantadas",de Almeida Nogueira,"A Cidade de So Paulo em 1900", de Alfredo

    Moreira Pinto.

    Escreveram ainda sobre ele, J.B. Chagas, Afonso Schimidt, PauloAlves Godoy e Zeus Wantuil.

    Em dezembro de 1904, lanou as bases da Instituio CristBeneficente Verdade e Luz, para cujo patrimnio passaram a figurar a

    sua tipografia Esprita, bem como dois stios seus localizados em SantoAmaro, em So Paulo, onde eram socorridos rfos e vivas pobres,realizando-se ali, tambm, o tratamento de enfermos e obsidiados.

    Unido a outros confrades ilustres, constituiu na capital paulista, a24 de Maio de 1908, a "Unio Esprita do Estado de S. Paulo", quefederaria todos os Centros e Grupos existentes no Estado.

    Assim era o valoroso obreiro da Terceira Revelao, o incansvellidador que nunca se deixou abater pelas asperezas da jornada, tendosido incontestavelmente um dos maiores propagandistas do Espiritismo

    no Brasil.

    Batura faleceu em 22 de Janeiro de 1909(Sexta-feira, cerca de uma hora damadrugada), So Paulo inteiro comoveu-secom seu desaparecimento. Que idade tinha?Nem ele mesmo sabia. Mas o seu nome ficoupor a, como um claro de bondade, de doura,de delicadeza do cu, dessas que vo fazendo

    cada vez mais raras num mundo velho, semporteira.