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REVISTA DO NUFEN: phenomenology and interdiciplinary 43 ANTROPOLOGIA DO ENVELHECIMENTO GAY EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS COTIDIANAS DE UM GRUPO DE QUATRO AMIGOS HOMOSSEXUAIS EM PROCESSO DE ENVELHECÊNCIA ANTHROPOLOGY OF AGING GAY - DAILY EXPERIENCES OF A GROUP OF FOUR HOMOSSEXUAL FRIENDS IN “OLDERING” PROCESS ANTROPOLOGÍA DE ENVEJECIMIENTO GAY - EXPERIENCIAS Y EXPERIENCIAS COTIDIANAS DE UN GRUPO DE CUATRO AMIGOS EN EL PROCESO DEL HOMOSEXUAL ENVELHECÊNCIA Wladirson Cardoso 1 Ernani Chaves 1 RESUMO: O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados parciais da pesquisa de doutoramento realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGA/UFPA) e abordará, fenomenologicamente, a auto percepção e a auto representação bio-psico- antropológica de um grupo de quatro homossexuais em processo de envelhecência que se conhecem e convivem como amigos e que, a partir de um contexto social característico da “Amazônia Marajoara”, buscam estratégias e alternativas para a experiência e vivência mesma de práticas eróticas marginais e dissidentes e que, por isso, rompem com as regras e normas da heterossexualidade compulsória, em um momento da vida no qual a cultura Ocidental (genericamente) e a ordem social (especificamente) prescrevem a aposentadoria e o recolhimento dos corpos, afim de que os “idosos” possam se conformar às determinações médico- gerontológicas e, também, de uma certa maneira, ao discurso de uma “psicológica do desenvolvimento”, que entendem a vida como fases progressivas e justapostas e não como prática ou cuidado ou exercício de si. Neste sentido, realizou-se pesquisa de campo, mediante a inserção dos pesquisadores na realidade íntima da vida desses quatro sujeitos, utilizando-se da metodologia da observação participante, considerando-se a abordagem fenomenológica enquanto parâmetro hermenêutico-reflexivo de compreensão da “trajetória” ou “carreira existencial” do grupo de amigos que, por sua vez, colaboraram como interlocutores na realização deste trabalho. Palavras-Chave: homossexualidade masculina, envelhecimento gay, Amazônia Marajoara ABSTRACT:This paper aims to present partial results of a doctoral research by the Post-Graduate Program in Anthropology at the Federal University of Pará (PPGA/UFPA) and address, phenomenologically, “bio-psyco-anthropological” self perception and self representation of a group of four homosexuals in “oldering” process who know and live together as friends and that from a distinctive social context of "Amazon Marajoara" seek strategies and alternatives for the same experience of a group of dissidents erotic practices and that, therefore, break the rules and norms of compulsory heterosexuality, at a time of life in which Western culture (generally) and the social order (specifically) prescribe retirement and collecting the bodies, so that the "elderly" may conform to geriatric medical determinations and, also, in a sense, the "psychological development" which, in turn, understand life as sets of progressive and overlapping phases and not as a practice or care or exercise themselves. In this sense, field research was conducted

ANTROPOLOGIA DO ENVELHECIMENTO GAY …pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v6n1/a04.pdf · Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGA/UFPA) e abordará, fenomenologicamente, a auto

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REVISTA DO NUFEN: phenomenology and interdiciplinary

43

ANTROPOLOGIA DO ENVELHECIMENTO GAY – EXPERIÊNCIAS

E VIVÊNCIAS COTIDIANAS DE UM GRUPO DE QUATRO AMIGOS HOMOSSEXUAIS EM PROCESSO DE ENVELHECÊNCIA

ANTHROPOLOGY OF AGING GAY - DAILY EXPERIENCES OF A GROUP OF FOUR HOMOSSEXUAL FRIENDS IN “OLDERING”

PROCESS

ANTROPOLOGÍA DE ENVEJECIMIENTO GAY - EXPERIENCIAS Y EXPERIENCIAS COTIDIANAS DE UN GRUPO DE CUATRO

AMIGOS EN EL PROCESO DEL HOMOSEXUAL ENVELHECÊNCIA

Wladirson Cardoso1

Ernani Chaves1

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados parciais

da pesquisa de doutoramento realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em

Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGA/UFPA) e abordará,

fenomenologicamente, a auto percepção e a auto representação bio-psico-

antropológica de um grupo de quatro homossexuais em processo de envelhecência

que se conhecem e convivem como amigos e que, a partir de um contexto social

característico da “Amazônia Marajoara”, buscam estratégias e alternativas para a

experiência e vivência mesma de práticas eróticas marginais e dissidentes e que,

por isso, rompem com as regras e normas da heterossexualidade compulsória, em

um momento da vida no qual a cultura Ocidental (genericamente) e a ordem

social (especificamente) prescrevem a aposentadoria e o recolhimento dos corpos,

afim de que os “idosos” possam se conformar às determinações médico-

gerontológicas e, também, de uma certa maneira, ao discurso de uma “psicológica

do desenvolvimento”, que entendem a vida como fases progressivas e justapostas

e não como prática ou cuidado ou exercício de si. Neste sentido, realizou-se

pesquisa de campo, mediante a inserção dos pesquisadores na realidade íntima da

vida desses quatro sujeitos, utilizando-se da metodologia da observação

participante, considerando-se a abordagem fenomenológica enquanto parâmetro

hermenêutico-reflexivo de compreensão da “trajetória” ou “carreira existencial” do

grupo de amigos que, por sua vez, colaboraram como interlocutores na realização

deste trabalho.

Palavras-Chave: homossexualidade masculina, envelhecimento gay, Amazônia

Marajoara

ABSTRACT:This paper aims to present partial results of a doctoral research by the

Post-Graduate Program in Anthropology at the Federal University of Pará

(PPGA/UFPA) and address, phenomenologically, “bio-psyco-anthropological” self

perception and self representation of a group of four homosexuals in “oldering”

process who know and live together as friends and that from a distinctive social

context of "Amazon Marajoara" seek strategies and alternatives for the same

experience of a group of dissidents erotic practices and that, therefore, break the

rules and norms of compulsory heterosexuality, at a time of life in which Western

culture (generally) and the social order (specifically) prescribe retirement and

collecting the bodies, so that the "elderly" may conform to geriatric medical

determinations and, also, in a sense, the "psychological development" which, in

turn, understand life as sets of progressive and overlapping phases and not as a

practice or care or exercise themselves. In this sense, field research was conducted

REVISTA DO NUFEN: phenomenology and interdiciplinary

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by inserting the researchers in the intimate reality of the lives of these four

subjects, using the methodology of participant observation, considering the

hermeneutic phenomenological approach as parameter-reflective understanding of

"trajectory" or "existential career" group of friends who collaborated as partners in

this work.

Keywords: male homosexuality, gay aging, Amazon Marajoara

RESUMEN: Este trabajo tiene como objetivo presentar los resultados parciales de

una investigación doctoral por el Programa de Posgrado en Antropología en la

Universidad Federal de Pará (PPGA / UFPA) y abordar la auto percepción

fenomenológica y la auto-representación bio-pscio-antropológica de un grupo de

cuatro homosexuales en processo de “envelhecência” que se conocen y viven

juntos como amigos y que, a partir de un contexto social distintivo de la "Amazon

Marajoara" buscan estrategias y alternativas para la experiencia y la vivencia

misma de un conjunto de disidentes prácticas eróticas y que, por lo tanto, rompen

las reglas y normas de la heterosexualidad obligatoria, en un momento de la vida

en que la cultura occidental (en general) y el orden social (específicamente)

prescriben la jubilación y la recogida de los cuerpos, por lo que la "vejez" puede

ajustarse a las determinaciones médicas geriátricos y, también, en cierto sentido, el

"desarrollo psicológico", que, a su vez, entiende la vida como conjunto progresivo y

de fases superpuestas y no como una práctica o atención o ejercicio sí mismos. En

este sentido, la investigación de campo se llevó a cabo mediante la inserción del

investigadores en la realidad íntima de la vida de estos cuatro sujetos, utilizando la

metodología de la observación participante, teniendo en cuenta el enfoque

fenomenológico como parâmetro hermenêutico de comprensión de la "trayectoria"

o "carrera existencial" de los amigos que colaboraron como socios en este trabajo.

Palabras clave: la homosexualidad masculina, el envejecimiento gay, Amazon

Marajoara

1. Introdução.

Há aproximadamente 87

km de Belém, a cidade de

Soure – localizada na Costa

Oriental da Baía do Marajó – é

conhecida pelas enormes

fazendas de campos alagados,

onde pastam tranquilamente

grandes búfalos pretos, que

servem não só para o

transporte de carga, mas,

também, para o corte e a

produção do leite, que é

utilizado na fabricação

caseira/tradicional de queijo – o

famoso Queijo do Marajó! –

apreciado pelos habitantes

nativos e servido como iguaria

para visitantes e turistas da

capital e/ou do Brasil e do

exterior. Num trajeto que dura

entre três horas/três horas

meia e que vai da Companhia

Docas Do Pará (CDP), no

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45

cruzamento da Avenida Doca

de Souza Franco com o

Boulevard Castilhos França – na

“Cidade das Mangueiras” – até

o Porto de Camará – já na

Grande Ilha – prossegue-se,

em via terrestre, até a cidade

de Salvaterra, de onde se

atravessa de “barquinho pô-pô-

pô”1 pelo rio Paracauarí até a

Ponte do Trapiche da “Pérola

Marajoara”.

De ruas largas e

numeradas, com frondosas

mangueiras ao centro e com

um Mercado Municipal de

frutas, verduras, peixes e

artefatos – vendidos como

“autêntico” registro da cultura

material dos nativos do lugar –

Soure é uma Cidade de médio

porte, isto é, com uma

atividade econômico-comercial

que atende às necessidades dos

habitantes municipais e dos

moradores das comunidades

próximas, como a comunidade

do Caju-Una. Possuidora de

uma história caracterizada por

ciclos, tal qual o da colonização

e o das fazendas de criação de

equinos e de bubalinos (que,

por sua vez, garantiu a

territorialização desta parte da

Ilha), Soure abriga uma

Prelazia da Igreja Católica e

durante algum tempo gozou de

prestígio e importância política

na região, sendo alcunhada de

“Capital do Marajó”, situação

que começou a se inverter na

segunda metade do século XX,

perdendo o distrito de

Salvaterra, que, hoje em dia, é

o maior município em termos

econômicos e populacionais do

arquipélago.

46

46

Assim, enquanto

Salvaterra vive a fleuma de sua

“voação turística”, de um lugar

que se entrega àquela corrente

alvoroçada de banhistas

sedentos de “praia”; a tranquila

Soure descansa

esplendidamente de uma “belle

époque” que só se agita em

folias no período das férias

escolares de janeiro/fevereiro,

do carnaval e do chamado

“verão amazônico” do mês de

julho. Entretanto, é justamente

na vida quase açoreana dessa

realidade dos pastos aquosos e

fluidos da Amazônia, que se

encontram um grupo de amigos

que se reúnem frequentemente

na casa do mais velho deles

para celebrar sua amizade,

dividir uma boa companhia e

brindar aprazíveis histórias de

flertes e conquistas. É,

portanto, nessa “geografia” –

que se desenha nos contornos

de um relevo homoerótico e

diferenciado; mas também

incômodo e perturbador – em

que vivem Agatão, Fedro,

Erixímado e Pausânias1: quatro

amigos que se ajudam e

“suportam”, ao mesmo tempo

em que brigam e discordam –

mas, sobretudo, envelhecem

juntos... Esse grupo de amizade

e apoio constitui-se, destarte,

no ponto nodal de uma

paisagem sóciossexual

complexa que aproxima

categorias e/ou conceitos que

se vinculam numa descrição

etnocartográfica de relações

bastante singulares, definindo,

assim, uma fronteira entre

“homossexualidade masculina”

e “envelhecimento gay”, em

que o jogo afetivo se dá no

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47

horizonte de um registro

marginal e dissidente, num

sentido múltiplo - “homem gay”

e “homossexual envelhecente”1.

As estratégias de

sobrevivência e de resistência

ao preconceito homofóbico –

seja na sua truculência

discursiva, quando, por

exemplo, são acusados de

pedófilos pelo Bispo

representante da Prelazia; seja,

ainda, através da sutileza do

gesto cordial e, obviamente,

hipócrita da polícia, que já

“reconduziu” um deles até à

própria residência, para, com

isso – supostamente – “evitar o

perigo” – impõem-lhes um

modo de vida íntimo, singular,

onde performatizam não

somente a amizade de uma

maneira autêntica; mas

também o gênero, os limites e

possibilidades do corpo no

envelhecimento, o desejo, o

prazer, o sexo e o gozo.

Ora, sabe-se que a

performatividade sóciossexual

implica em certo número de

práticas e técnicas corporais

que descrevem um conjunto

variado de cuidados de si para

um uso ético/estético da

sexualidade. Destarte, se

considerarmos a especificidade

do modo de vida gay e das

experiências homoeróticas

desse grupo de velhos

homossexuais, nativos e/ou

habitantes de Soure, tornar-se-

á possível descortinar,

sociológica e

antropologicamente, alguns

aspectos da política de sua

existência e, certamente, do

reposicionamento da questão

da envelhecência quanto ao

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48

alargamento dos horizontes

teóricos, no que respeita à

questão da "terceira idade

LGBT".

O presente artigo tem

como objetivo apresentar os

resultados parciais da pesquisa

de doutoramento realizada

junto ao Programa de Pós-

Graduação em Antropologia da

Universidade Federal do Pará

(PPGA/UFPA) e abordará,

fenomenologicamente, a auto

percepção e a auto

representação bio-psico-

antropológica de um grupo de

quatro homossexuais em

processo de envelhecência que

se conhecem e convivem como

amigos e que, a partir de um

contexto social característico da

“Amazônia Marajoara”1, buscam

estratégias e alternativas para

a experiência e vivência mesma

de práticas eróticas marginais e

dissidentes e que, por isso,

rompem com as regras e

normas da heterossexualidade

compulsória, em um momento

da vida no qual a cultura

Ocidental (genericamente) e a

ordem social (especificamente)

prescrevem a aposentadoria e o

recolhimento dos corpos, afim

de que os “idosos” possam se

conformar às determinações

médico-gerontológicas e,

também, de uma certa

maneira, ao discurso de uma

“psicológica do

desenvolvimento”, que

entendem a vida como fases

progressivas e justapostas e

não como prática ou cuidado ou

exercício de si. Neste sentido,

realizou-se pesquisa de campo,

mediante a inserção dos

pesquisadores na realidade

49

49

íntima da vida desses quatro

sujeitos, utilizando-se da

metodologia da observação

participante, considerando-se a

abordagem fenomenológica

enquanto parâmetro

hermenêutico-reflexivo de

compreensão da “trajetória” ou

“carreira existencial” do grupo

de amigos que, por sua vez,

colaboraram como

interlocutores na realização

deste trabalho.

2. Homossexualidade

masculina e envelhecimento

gay em Soure: as vivências

e experiências de quatro

amigos na “Amazônia

Marajoara”.

A quem importa uma

pesquisa junto a um grupo de

quatro amigos homossexuais

masculinos em processo de

envelhecimento numa cidade

no interior da Amazônia

Marajoara? Em primeiro lugar,

não se trata de uma percepção

do ser velho necessariamente,

já que envelhecer é um

processo contínuo e

ininterrupto (CORREA, 2009)1.

Em segundo lugar, não se trata

de discutir, comparativamente,

um estrato homossexual mais

jovem a outro de maior idade.

Trata-se, isto sim, de discutir a

peculiaridade atinente a cada

um dos quatro interlocutores

que, convivendo num mesmo

contexto social específico,

participam da mesma ordem

discursiva, que produz um

sentido acerca de um limite

cruzado entre a velhice e a

homossexualidade masculina,

no horizonte de práticas que,

supõe-se(!), estão muito mais

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relacionadas à juventude

propriamente do que para a

famigerada decadência do

corpo, da libido e da própria

imagem (PAIVA, 2009)1.

Inicialmente, portanto,

abordaremos as práticas e, na

sequência, adentraremos na

especificidade/intimidade

mesma do cotidiano de cada

um dos quatro

amigos/interlocutores que

consubstanciam esta pesquisa

– destacando que isto não teria

sido possível sem a colaboração

dos mesmos que, ao longo do

trabalho de campo, me

concederam, de bom grado,

relatos que descrevem um

pouco o seu modo de vida.

Começaremos, então, pelo jogo

da sedução e conquista, ou

seja, pelas investidas através

de olhares, gestos, palavras ou

por um conjunto amplo (e

aparentemente infinito!) de

ações dirigidas à

obtenção/satisfação do prazer,

quanto à “presa”, isto é, o

menino, o garoto, bofe, o boy,

o homem, o macho (FRY, 1982;

MOTT, 2003)1 – que é inserido

e/ou deixa-se inserir no circuito

de relações que caracterizam “a

conquista” e o “exercício

erótico” desses nativos

envelhecentes do “amor que

não ousa dizer o nome”...

Ora, foi, justamente, em

primeira visita à casa de

Agatão, na noite de

04/08/2012, que percebemos

seu interesse por rapazes mais

jovens. Quando chegamos lá,

Agatão embalava-se em sua

rede, atada de uma ponta a

outra da sala, assistindo a uma

partida de um jogo de vôlei da

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Seleção Masculina. Ele

cumprimentou-nos; porém,

imediatamente nos convidou –

e aquele convite era quase uma

intimação! – para assistirmos

ao jogo juntos. Na medida em

que a partida evoluía com

ataques e contra-ataques dos

jogadores brasileiros, Agatão

exprimiu seu apreço pela

modalidade esportiva e,

também, pelos próprios atletas,

que, em sua opinião, “(...) são

jovens, altos, muito bonitos! É

cada um mais gostoso que o

outro!” (Em 04/08/2012).

Indicando um especificamente,

disse: “(...) Esse aí é muito

bonito! É o mais bonito! Queria

chupar o pau dele todinho! Já

pensou o tamanho dessa rola

dele, entrando no meu rabo?!”

(Em 04/08/2012)

Esses relatos, anotados

em nosso caderno de campo e,

também, registrados em

gravação de áudio,

despertaram-nos a atenção

etnográfica, quanto ao que

Clifford Geertz (1989)1 chama

de “clínica do social”, qual seja,

tomar os relatos como

dispositivo analítico-

interpretativo da realidade e da

vida nativa. Logo, a partir

dessas poucas asserções, além

de notarmos que Agatão gosta

muito de vôlei e,

preferencialmente, de homens

“jovens, altos”, percebemos

nele mais do que isso;

percebemos um despojamento

quanto ao uso da linguagem e à

aplicação de termos para definir

o “objeto de desejo”, como, por

exemplo, quando exprime que

queria chupar o pau de um dos

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52

jogadores da Seleção Masculina

de Vôlei. Talvez isso se deva ao

fato de termos nos apresentado

para ele também como

homossexuais e, com isso, criar

um vínculo arriscado – mas

necessário (na pesquisa em

Antropologia Social) – no que

respeita à relação de

colaboração entre pesquisador-

e-interlocutor. Perguntamos se

ele gostava de assistir ao jogo

da Seleção Feminina e ele

respondeu que “(...) sim, eu

gosto de assistir. É cada

negona: elas são altas, fortes,

mas eu prefiro mesmo é ver a

Seleção Masculina. Eles tem um

bração, um pernão, um bundão

assim ó!!” E completou: “(...)

eu gosto de homem assim,

branco, bonito! Não gosto de

[homem] preto!” (Em,

04/08/2012)...

Esta afirmação de Agatão

intrigou-nos bastante. Por

diversas vezes, ao longo do

trabalho de campo em sua

casa, durante a observação

(participante) de seu

cotidiano/intimidade, ele a

repetiu categoricamente. Do

mesmo modo como também fez

questão de dizer que havia

contribuído muito para a

história da educação no Marajó,

particularmente na localidade

do Jubim (em Salvaterra),

tanto quanto em Soure, de

onde é natural. Portanto,

Agatão quis que percebêssemos

1) que ele era uma pessoa

importante/influente e que 2)

ele possuía “um critério”, “um

padrão”, quanto ao exercício de

seu desejo e à prática de seu

gozo. Todavia, na medida em

que fomos nos acercando cada

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53

vez mais do dia-a-dia de

Agatão e na medida em que

fomos convivendo com ele e

com os demais interlocutores

da pesquisa, tivemos a

oportunidade de perceber que

nem sempre o “ideal de

homem” expresso mediante um

“juízo de gosto” de cunho

marcadamente racista

corresponde à realidade dos

jogos de sedução e conquista,

em especial do próprio Agatão.

Por exemplo, quando nos

conhecemos e nos vimos pela

primeira vez, ele havia acabado

de completar 80 (oitenta) anos

de idade e se relacionava com

um rapaz, ou melhor, um

homem de 28 anos – portanto

bem mais jovem que ele! –, e a

quem Agatão chama(va), ora

de “Preto”, ora de “Moreno”,

visto que o mesmo não se

enquadrava naquele modelo ou

“tipo ideal”, principalmente por

causa de sua raça/cor negra, de

maneira que, por todo o

trabalho de campo, nunca

ouvimos Agatão se referir a ele

pelo nome próprio, a não ser

pela alcunha que, por fim,

acabou virando substantivo. No

entanto, havia um tempo já

que Agatão estava com o

“Preto” – uns cinco anos!

Agatão não soube precisar

exatamente; mas deixou claro

que não gostava dele, mas sim

de outro, que era mais jovem,

branco e que de vez em quando

ia em sua casa.

Aliás, desde a primeira

viagem de campo e,

particularmente, desde a

primeira vez que tivemos a

oportunidade de conhecer

Agatão e conviver com ele e os

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54

demais (Erexímaco, Fedro e

Pausânias), notamos que a casa

de Agatão é uma espécie de

ponto de encontro de amigos. É

para onde esse “grupo de

conhecidos” vai todas as vezes

que querem se ver, se

encontrar, conversar, trocar

ideias, sentimentos e

experiências e, também, dividir

histórias, angústias e tensões.

A casa de Agatão é, neste caso,

um espaço de

homossociabilidade, ao qual

todos recorrem e por um

motivo muito simples: Agatão é

o mais velho deles, mora só

desde há muito tempo e, hoje

em dia, quase não sai mais.

Quando está em Soure, prefere

ficar em casa:

“(...) quase não saio. Já trabalhei

muito e hoje tenho uma vida

tranquila. Fico aqui assim o dia todo:

me embalando na minha rede.

Também gosto de fazer “Palavras

Cruzadas” e de escutar minhas

músicas. Tenho um monte de música

aqui desse lado da estante. As

pessoas quando vem aqui se passam

pras minha músicas. São aquelas

músicas das antigas. Daquele tempo

em que os cantores sabiam cantar.

Não era essa porcaria que é agora,

um bando de vulgaridade. Fico aqui

tranquilo, quando saio é só pra ir ali

na Lotérica ou no Mercado. De vez em

quando vem gente aqui pra conversar

comigo. Mas eu gosto de viver

sozinho.” (Em 22/10/2012)

Ouvimos histórias da

parte dos outros interlocutores

de que, quando estes eram

mais jovens, Agatão já tinha

sua vida, morava só e recebia

em sua casa os rapazes com os

quais se relacionava. Todos (e

inclusive o próprio Agatão!) são

unânimes em dizer que tudo

era feito com muita discrição e

que Agatão nunca se expôs,

muito embora todos em Soure

saibam que ele é homossexual,

termo com o qual, aliás, Agatão

é bastante reticente, pois, na

concepção dele:

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“(...) hoje em dia é desse jeito, tudo

exagerado, espalhafatoso! Por isso

que dizem que homossexual não

presta! Querem se exibir, mostrar

jeito de mulher, colocar unha, peito.

Eu sou na minha; por isso que

ninguém perde o respeito por mim:

quando eu tenho que fazer minhas

coisas, eu faço aqui em casa, no

quarto, em cima da minha cama e

ninguém precisa ficar sabendo. Até

porque a gente que tem essa vida não

pode dar motivo pra ninguém falar da

gente, pra ninguém fazer comentário

que prejudique. Como acontece com o

Erixímaco que não se dá o respeito.

Ele meche com os garotos e a

garotada meche com ele. Quando ele

passa, gritam “- Ei, viado! Pau no

cu!”, e ele nem liga, não tá nem aí...”

(Em 25/10/2012)

Na auto-percepção

fenomenológica de Agatão, ele

tem uma estilística discreta e

reservada. Ele não se pensa

espalhafatoso e vulgar e não vê

com bons olhos as

performatividades

sóciossexuais

recentes/emergentes. No que

tange a “mostrar-se mulher”,

Agatão implica bastante com

Erixímaco e Fedro; muito

embora dentro de casa, vez por

outra, ele se permita “brincar”

com os amigos, chamando-lhes

por termos e locuções

femininas.1 Com respeito a

Pausânias, Agatão diz que “(...)

ele é muito discreto, educado e

inteligente. Mas é

‘perigosíssima’! (Em

25/10/2012)...” De fato,

Agatão possui gestos leves,

delicados; porém nada muito

exagerado. No entanto, tal

delicadeza e leveza no falar, no

caminhar e, particularmente,

no gesticular estão, segundo

ele mesmo, relacionados à sua

formação acadêmico-escolar e

posição social, pois “(...)

também sou formado em Letras

e tenho Especialização. Hoje eu

estou aposentado, mas eu já

dei muita aula. Eu ensinei

muita gente aqui a ler,

escrever, a como se comportar,

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56

a ter modos, postura.” (Em

25/10/2012). E, completa:

“(...) o importante é sempre manter a

educação. Nada adianta se não tiver

educação. Ninguém mais se importa

com o Português [o idioma, a Língua

Portuguesa], com a pronúncia das

palavras, com a escrita. Isso tudo

conta! Quando esses meninos vem

aqui, eu também educo eles, eu

instruo, digo o que é certo, o que é

errado. Teve uma vez que me

chamaram pra dar aula para os

policiais aqui. De vez em quando me

chamam pra dar uma palestra, pra

falar nas escolas...” (Em, 25/10/2012)

Deve-se perceber a

importância que Agatão devota

à educação enquanto um

processo de formação e

refinamento. Isto lhe parece

algo de grande relevância,

quanto a um posicionamento

político e crítico que ele diz ter

no que implica aos problemas

sociais de Soure, como, por

exemplo, “o enriquecimento

ilícito dos agentes do poder

executivo local”, “o abandono

do comércio, das práticas

culturais, da própria rede

pública municipal de ensino”, “o

abandono das ruas que são

‘cheias de buraco’” e “o trânsito

livre de búfalos” – que, na

opinião dele, “(...) mijam e

cagam em tudo por aí. Por isso

que fica esse cheiro horrível,

insuportável!” (05/08/2012).

Entretanto, ainda no tocante à

relevância que a educação tem

como “ideal de vida” para

Agatão, cabe relembrar as

palavras de Serge André

(1994)1, o qual afirma que:

“[n]ão há preocupação mais nobre,

não há ideal mais elevado, para o

homossexual (mesmo que ele não

seja pederasta no sentido estrito), do

que formar e corrigir a juventude –

entenda-se: os meninos pequenos.

Montherlant, Jouhandeau e Genet

afirmam essa vontade de maneira

mais explícita; Gide a atesta mais

discretamente. Nesse projeto de

educação dos jovens, o homossexual

se encarrega de bom grado da

posição da mãe educadora que ensina

as palavras de ordem da virilidade.”

(ANDRÉ, 1994:170)

57

57

Aqui, duas observações

se fazem necessárias:

1) os jovens pelos quais

Agatão e seus amigos

se interessam não são

infantes, mas rapazes

púberes ou saídos da

adolescência e recém-

chegados à idade

adulta. Isto provoca

todas as indisposições

de Agatão com o Bispo

da Prelazia do Marajó

que, generalizando de

forma moralista e

dogmática, acusa todos

os homossexuais de

pedófilos. De acordo

com Agatão: “(...) esse

Bispo é muito

inteligente. Ele só tem

um problema: ele acha

que os homossexuais

vivem uma vida errada,

são pedófilos. Ele não

respeita a diferença.”

(Em 29/11/2012)

Perguntei a Agatão o

que ele entendia por

“pedofilia” e ele

respondeu que “(...) é

quando um adulto “tem

relação” com uma

criança. Eu não faço

isso!” (Em 29/11/12).

Ou seja, Agatão não se

identifica com as

pregações que o Bispo

de Soure realiza aos

domingos,

reproduzindo um

preconceito histórico da

Igreja Católica contra

todas/as aqueles/as

que “amam diferente”.

58

58

2) Não vemos de que

modo Agatão e seus

amigos assumam “de

bom grado a posição da

mãe”! Ele e os demais

(Fedro, Erixímaco e

Pausânias) não se

perceberem desta

maneira e nem tem

qualquer interesse em

assumir tal papel –

ainda que, na maioria

das conversas e

situações, eles se

tratem frescativamente

no feminino e sempre

se apresentem

vestidos, geralmente,

de bermuda, camiseta,

sandálias ou boné, ou

seja, à semelhança da

moda usada pelos

garotos por quem eles

se interessam, numa

possível tentativa de

diminuir a distância

entre os tempos,

idades e gerações,

aproximando-se, assim,

de seus “alvos”. Ora,

não é o lugar da mãe

que Agatão e seus

amigos demandam, e

sim o lugar do amante,

ou melhor, “da

amante”, pois, eles se

dirigem uns aos outros

comumente através de

termos e expressões

que marcam e,

portanto, definem a

feminilidade e a

preferência assumida

pelo “sexo passivo”1.

Quando, aliás, os

amigos de Agatão estão

na casa dele, todos se

gongam, se tombam e

59

59

frecam1; contam

histórias e riem dos

casos e aventuras

amorosas uns dos

outros. Pois a

gongação, a tombação

e a frescação são

respectivamente isto:

1) ironizar, 2) expor ao

ridículo, à chacota, ao

riso e, finalmente, 3)

apropriar-se

exageradamente do

feminino para,

mediante gestos e

palavras, descrever um

sentimento, relatar

uma emoção, emitir um

pensamento e

performatizar o

“ser/estar mulher”.

Supondo, então, que

“(...) o sujeito “não está ‘lá’

exatamente desde o começo

(isto é, desde o momento que

nasce)” (SALIH, 2012:21-22)1

– quer dizer, supondo que o

sujeito não é nem essencial e,

tampouco, natural, mas sim um

produto, um efeito cambiante,

instituído a partir de momentos

e contextos determinados, ou

melhor, diferenciados –, é

possível concluir que as

“identidades generificadas” são

sexualmente performativas.

Neste sentido, portanto,

caminhando à esteira de Salih

(2012) é possível afirmar que

“(...) a constituição do sujeito

supõe que sexo e gênero são

efeitos – e não causa – de

instituições, discursos e

práticas.” (p. 21) Ora, na casa

de Agatão, encontra-se um

“território livre” para que as

rígidas fronteiras que separam

60

60

gênero e sexo em duas

categorias estanques e

apoditicamente binárias

rompam-se em “devires

variados”, em que o “ser/estar

mulher” torna-se uma atitude

crítica fundada num jogo anti-

melancólico que desmistifica a

crença numa “metafísica da

substância”, para a qual “(...) o

sexo e o corpo são entidades

materiais, ‘naturais’,

autoevidentes, ao passo que

[...] sexo e gênero são

construções culturais

“fantasmáticas” que demarcam

e definem o corpo.” (SALIH,

2012:72)

Isto explicaria, ao menos

em parte, a gongação, a

tombação e a frescação dos

interlocutores na casa de

Agatão – coisa que, às vezes,

esbarra nas alterações de

humor e na impaciência dele,

principalmente com Erexímaco

e Fedro. Entretanto, ao longo

de dois anos de pesquisa,

compreendidos entre agosto de

2012 e abril de 2014 em Soure,

junto a este grupo –

investigando seu modo de vida,

a estilística de sua existência,

suas representações no tocante

uns aos outros e,

particularmente, no que diz

respeito à questão do

envelhecimento (substrato,

pois, deste trabalho, o qual

procura inter-relacionar as

noções de homossexualidade

masculina e envelhecência gay)

– nunca conseguimos ver todos

eles reunidos ao mesmo tempo.

Era sempre Agatão e mais um

ou dois de seus amigos – além

dos dois pesquisadores. A

despeito disto, pudemos

61

61

constatar, mediante

observação, que todos se

respeitam, apesar de algumas

divergências quanto a assuntos

de ordem política, religiosa e,

também, amorosa.

3. Auto percepção e auto

representação

fenomenológicas da

homossexualidade

envelhecente: as “carreiras”

e “trajetórias existenciais”

de Agatão, Erexímaco, Fedro

e Pausânias.

As conversas, as

concordâncias (de ideias), as

divergências (de opinião), as

acusações (no tocante a

situações mal resolvidas e

pouco esclarecidas) fluem num

clima de amizade,

companheirismo e, como

anteriormente descrito, num

ambiente de

gongação/frescação – como

anteriormente descrito –, em

que, geralmente, se flagra

Agatão deitado em sua rede ou

sentado em sua cadeira de

vime, fazendo palavras

cruzadas e escutando suas

músicas (boleros antigos de

grandes nomes do cancioneiro

brasileiro do passado –

especialmente as “divas” Lana

Bittencourt, Elizeth Cardoso,

Ângela Maria e a cantora

Maysa)1. É, pois, nesse clima

que ele espera a Creuza – a

diarista – preparar o almoço ou

alguma visita (dos amigos,

vizinhos, conhecidos, parentes

ou... de algum garoto que a ele

recorra atrás de um

“aconselhamento”).

Num espaço de

homossociabilidade como este,

62

62

resguardado pela intimidade,

onde os convivas sentem-se à

vontade para expressar a

subjetividade, Agatão observa

que “(...) aqui em casa é

sempre assim: na brincadeira,

na gargalhada! Um falando do

outro, um tirando graça com o

outro! Pra que viver com a cara

fechada, amarrada, o tempo

todo reclamando da vida? Toda

vez que você chegar aqui vai

ser sempre assim.” (Em

05/08/2012) Seriam estas

risadas e gargalhadas uma

forma reativa de posicionar o

envelhecimento e a velhice

propriamente dita num campo

emocional de ressignificação e

aceitabilidade? Aparentemente

sim, visto que para Salih

(2012), por exemplo: “[t]odas

as identidades de gênero

estáveis são ‘melancólicas’,

baseadas num desejo primitivo

proibido que é escrito sobre o

corpo.” (p. 82) No entanto, não

se está diante aqui de um

grupo sóciossexual que

resguarde uma identidade

estável!

Neste aspecto, pois,

Agatão e seus amigos – todos

interlocutores nesta pesquisa –

diferentemente dos

heterossexuais,

desconheceriam os limites

rígidos de gênero que “(...)

escondem a perda de um amor

original, não reconhecido e não

resolvido” (SALIH, 2012:82).

Eis aí a hipótese do “gênero

melancólico” e a reação que

observamos no comportamento

de nossos interlocutores em

campo. Mas o que,

precisamente, significa a

“melancolia” no horizonte desta

63

63

discussão? Nas palavras de

Salih (2012), o sujeito

heterossexual carrega na “(...)

superfície do corpo seu desejo

proibido pelo mesmo sexo, de

modo que a ‘ultrafeminilidade’ e

a ‘ultramasculinidade’ físicas

denotam o desejo renegado do

sujeito por um objeto do

mesmo sexo.” (SALIH,

2012:83)

Quando Agatão, então,

destaca que em sua casa os

amigos se encontram para rir,

gargalhar, brincar e,

finalmente, aproveitar a

convivência uns dos outros,

caracterizando, enfim, uma

postura reativa à tristeza ou,

numa linguagem muito mais

técnica, numa reação à

melancolia, pensamos estar

constatando, in loco, entre um

grupo específico de

homossexuais masculinos em

processo de envelhecimento em

Soure, aquilo que Luiz Mott

(2003) afirma desmistificar

quanto à “(...) visão negativista

do triste futuro das bichas

velhas.” (p. 49) No artigo

intitulado Bichas de terceira

idade: o alegre fim dos

solteirões, o referido autor

destaca, veementemente, que

é comum se acreditar que “(...)

todo homossexual estaria

condenado à solidão na velhice,

vegetando sozinho e

abandonado, num quartinho

sombrio de uma pensão de

quinta categoria.” (idem)

No entanto, Mott (2003)

contrapõe-se ao senso comum

desta representação, como ele

mesmo diz, “negativista”,

adjudicando vários argumentos

em favor de uma nova

64

64

compreensão deste fenômeno

sócio-antropológico, qual seja,

o envelhecimento da população

LGBT. Mott (2003) sente em si

mesmo a “(...) a velhice como

algo distante, não só porque

[segundo ele, sente-se] jovem

de espírito, muitas vezes,

mesmo um menino brincalhão”

(p. 50); mas também porque,

como ele “(...) igual à maioria

dos gays maduros, construí um

patrimônio sólido – pagando o

INPS e plano de saúde, além de

ter aposentadoria garantida e

casa própria”. (idem) Tudo isto

– satiriza Mott (2003) – lhe

garante “(...) um futuro,

quando menos, num hotel de

várias estrelas... e não numa

pensãozinha de beira de

estrada.” (idem) Ora, em nossa

pesquisa de campo,

observamos que o mesmo teor

discursivo se encontra nas

palavras de Agatão que, certa

vez, confidenciou-nos que é

uma pessoa independente, ou

seja, que não possui vínculo de

dependência (afetiva e/ou,

principalmente, financeira) com

ninguém. Segundo ele

informou:

“(...) Sou aposentado, tenho o meu

salário, a minha casa – graças a

Deus! Quando tenho que ir pra Belém,

fico no apartamento da minha

sobrinha e aqui eu tenho a Crueza [a

diarista] – que vem, limpa tudo e faz

o meu almoço. E tem os ‘meninos’

que também vem me ver...” (Em

25/10/2012)

Se se alargar/ampliar o

significado do termo e, com

isso, se interpretar de forma

extensiva o que disse Agatão,

por “meninos”, aqui talvez seja

possível compreender, tanto a

presença de seus amigos, isto

é, Fedro, Erixímaco e

Pausânias; quanto também da

“visita” de seus casos ou

65

65

namorados permanentes ou

eventuais. De todo modo, o que

é significativo é esta auto-

percepção de uma vida em que

o “salário da aposentadoria” e

“a casa própria” constituem

marcadores ou garantidores de

uma envelhecência

relativamente tranquila. Além

do que,

“[n]ós gays, pelo fato de não

reproduzirmos descendentes

biológicos, criamos laços e

entabulamos relações de amizade e

coleguismo que podem ser tão

duradouras e às vezes até mais

profundas e gratificantes, do que os

laços de sangue. Como diz a

sabedoria popular, família a gente não

escolhe, os amigos sim. E depende de

cada um escolher e selecionar seleta

plêiade de amigos, daqueles que se

guardam no lado esquerdo do peito...

e, de preferência, homossexuais que

compartilhem nosso mesmo universo

social e cultural, para envelhecermos

juntos. Enquanto homossexuais,

podemos ainda contar com outra

possível vantagem: a existência de

jovens gays que,

desinteressadamente, curtem homens

mais velhos, alguns preferindo

inclusive os de cabelos brancos,

barrigudos etc. Um presente dos

deuses que existam pessoas com

gosto tão generoso.” (MOTT,

2003:50)

É a renda e a moradia

própria, assim como o suporte

da diarista e da sobrinha em

Belém, tanto quanto dos

amigos e convivas de Agatão,

que lhe dão a garantia de uma

existência amparada e a

estabilidade emocional de que

precisa para não sentir-se

totalmente sozinho e

abandonado. Aliás, é,

justamente, esta

independência, subscrita nestas

condições objetivas, que

permitem a Agatão o exercício

de sua sexualidade, na reserva

e intimidade de sua casa, mais

precisamente, de seu quarto,

pois, como ele mesmo afirma

constantemente: “(...) eu gosto

de fazer tudo na cama, deitado,

com tranquilidade – nada de

pressa! Sexo pra mim tem que

ser desse jeito.” (Em

66

66

25/10/212) Mas Fedro, que

sempre está pela casa de

Agatão, seja limpando ou

cozinhando quando a diarista

falta, seja mesmo fazendo-lhe

companhia, tem a seguinte

opinião:

“[h]um, isso aí?! Isso aí não presta,

mana! Isso aí é perigosa! Tu não tá

vendo? Ela não pode ver um

garotinho desses que passam aqui na

porta da casa dela que ela já quer!

Quando ela não fode, não faz nada,

ela fica agoniada, chata, num mal

humor, num mal humor! Ela fica

louca, mana! Essa coisa de tá sempre

em casa, de não sair, isso é papo

dela! É só porque ela já tem os cacho

dela que vem aqui com ela todo o dia.

E ela nunca tá contente, não se

satisfaz! Não se satisfaz! Ela tem o

“Preto”, ela tem um outro bem dali,

um daqui de perto – um monte,

mana! Isso é foguenta! E é um calor,

é um fogo, é um fogo, mais do que o

meu! (risos) Mas ela é que tá certa,

né, mana? Ela tem a vidinha dela, o

dinheirinho dela, não tá morta e tem

mais é que aproveitar!” (Em

25/10/2012)

Pausânias, que, mui

carinhosamente, alcunha

Agatão de “estrela das águas

do Marajó” ou de “pérola

marajoara” – numa alusão à

paráfrase que remete ao nome

da cidade de Soure – refere-se

comumente ao amigo como

“(...) a bicha mais ativamente

passiva que eu conheço. [E

que] não sabe lidar muito bem

com a idade, a velhice, a

doença, a perda de interesse

dos garotos pelo corpo dele.”

(Em 05/08/2012) Na opinião de

Pausânias, Agatão “(...) sofre

muito com isso. Quando ele não

“trepa”, ele fica nervoso. Mas

ele tem os meninos dele que

sempre vão lá na casa dele e

que ele alimenta, dá conselho,

dinheiro.” (Em 05/08/2012) De

fato, Agatão gosta muito de

observar o que ele chama de

meninada ou rapaziada, isto é,

os jovens púberes escolares

que passam em frente o pátio

de sua casa:

“[a]qui em Soure, meu amigo, tá

crescendo uma rapaziada, que tu

precisas ver: eles são jovens, fortes,

67

67

bonitos. Todo o dia de tarde eu me

sento aqui no pátio de casa pra ver

eles passarem pra escola. Eles tem

uma bundinha redondinha assim e são

muito bonitinhos. De vez em quando

um passa e meche comigo “– Oi,

Professor!” e eu respondo “– Oi!” e

fico pensando “ai, quem de dera!

(risos)” (Em 13/01/2013)

Antônio Crístian Saraiva

Paiva (2009) questiona-se:

“[s]eriam essas cenas, cenas abjetas,

envolvendo velhos abjetos?

Certamente, são cenas que perturbam

o imaginário da velhice, do

envelhecimento. As pesquisas em

torno do campo de estudos sobre

velhice no Brasil apontam que as

representações acerca da velhice

mudaram nas duas ou três últimas

décadas, deixando esta de ser

associada àquilo que Baudrillard

(1996), num texto escrito em 1976,

chama de ‘morte social’, morte do

corpo, morte da vida, que podemos

associar diretamente à exclusão dos

velhos do mundo do trabalho, do

acesso aos bens de consumo e ao

desempenho de funções importantes

nas solidariedades familiares. Temos

hoje em construção um

reposicionamento dos velhos em

relação ao laço social, num processo

ambivalente de positivação e de

denegação da ‘terceira idade’.

Entretanto, os velhos evocados acima

não são nada afeitos ao ideal médico-

normativo-midiático da velhice

risonha/dançante e saudável que

vemos circular hoje. Seriam aqueles

velhos tomados como corpos/seres

abjetos, corpos/seres que não

importam, corpos incoerentes, corpos

sujos, poluidores do imaginário da

velhice, derrisórios, sucatas do mundo

(PEREIRA, 2001) sem lugar no laço

social? Seria a velhice homossexual

campo fértil para a abjeção?” (p.

197)

Ora, de acordo com Paiva

(2009), o abjeto e a abjeção

remetem às noções de

“degradação”, “aviltamento” e

“desvalorização dos sujeitos”,

em face dos “(...)

correspondentes esquemas

classificatórios sociossexuais

binaristas e aos

correspondentes esquemas de

constituição das

subjetividades.” (p. 198) Neste

sentido, Agatão, Fedro,

Erixímaco e Pausânias

habitariam “zonas inóspitas” e

“obscuras” do laço familiar e da

vida social, numa dobradura em

que, ao limite, circunscrevem-

se e definem-se subjetividades

marginais ou “periféricas” que

não participam das benesses

correspondentes ao “status de

sujeito”, mas que reivindicam

68

68

seu direito à vida e à

autonomia. Pois:

“[q]uando os sujeitos subvertem o

imaginário do velho e da velhice (...)

resistem ao lugar a eles reservado,

lugar ‘desistido’ e, portanto,

melancolizante, depressor, na medida

em que o lugar do velho bonzinho,

assexuado, sempre feliz, sempre

dançante, quase uma criança,

frequentemente significa a paralização

do seu desejo e dos poderes de seu

corpo, como se este não importasse

mais enquanto corpo sexual, erógeno,

mas somente enquanto corpo

ofertado à medicina e aos

medicamentos.” (idem)

A resistência desse grupo

de homossexuais envelhecentes

não significa, necessariamente,

uma negação da velhice, do

transcurso do tempo e da

memória; nem, tampouco, uma

rejeição da trajetória existencial

e da própria carreira sexual.

Pelo contrário: é uma

necessidade de atualização do

desejo, de vivência mesma do

prazer e, finalmente, de

presentificação da sexualidade,

num momento da vida em que

todas essas coisas são tidas ou

percebidas – vulgarmente –

como impensadas ou

inesperadas. Agatão, Fedro,

Erixímaco e Pausânias atestam

o contrário do imaginário

popular que é muito cruel com

os gays – particularmente

quando se encontram no

interior de uma coorte

geracional (des)qualificada

como “terceira idade”. Se,

portanto, Agatão chora quando

escuta o bolero “O que é que

falta”, interpretado por Maysa,

é geralmente de saudade de

sua mãe e da relação que tinha

com ela:

“(...) Eu gosto da minha vida; não

tenho nada que reclamar. Fico em

casa, tranquilo, fazendo minhas

palavras cruzadas e escutando minhas

músicas. Minha vida é essa. Mas tem

uma música que eu não posso escutar

sozinho que eu choro. É “O que é que

me falta”, da Maysa. Já ouviste? Eu

tenho aqui. Mas essa eu não posso

escutar. Lembro da minha mãezinha.

Sinto falta dela.” (Em 17/04/2014)

69

69

É claro que Agatão, como

qualquer outra pessoa, tem

seus problemas, suas

preocupações, mas isso,

sobremaneira, está relacionado

exclusivamente à velhice. E se,

neste grupo de amigos, há

algum sinal de tristeza e

insatisfação, talvez seja com

relação à incompreensão social

no que diz respeito à

homossexualidade mesma,

constrangia por um habitus,

digo, uma “atitude natural” ou

“experiência dóxica”

(BOURDIEU, 2007:17)1,

sedimentadas naquilo que Eve

Kosowsky Sedgwick (2007)

define como

“heterossexualidade

compulsória” (p. 21-53)1. Daí,

enfim, os risos, as brincadeiras

e os chistes, isto é, a gongação,

a tombação e a frescação.

Todavia, Sara Salih (2012)

adverte que, paradoxalmente,

homossexuais em geral podem

ser acometidos pela mesma

“síndrome melancólica dos

heterossexuais”, mantida

apenas por incorporação, “(...)

uma vez que não existe a

mesma sanção cultural contra o

reconhecimento da

heterossexualidade, [de modo

que] a melancolia

heterossexual e a melancolia

homossexual não são, de fato,

equivalentes.” (SALIH,

2012:82)1. Entretanto,

deparamo-nos no campo da

pesquisa com outro cenário,

bem semelhante àquele pintado

por Mott (2003):

“(...) nenhum dos homossexuais mais

velhos daquele grupo de bichas (...)

permitiria qualquer associação com a

imagem da bicha velha abandonada

num quartinho sujo de uma pensão

de quinta categoria. Por seus gestos

70

70

exuberantes e alegria de viver a

comparação era inevitável, entre este

bando de gays velhos com os velhos

heterossexuais e casais de marido e

mulher, da mesma faixa etária (...) –

apressados, tensos, carrancudos, sem

tempo para sentar num banco para

curtir a deliciosa fresca e a lua quarto

crescente.

Comparando os velhos heterossexuais

com os velhos homossexuais, não tive

a menor dúvida de qual dos grupos

enfrentava a velhice de forma mais

feliz! Ponto para as bichas de terceira

idade.” (p. 52)

Pausânia relatou-nos que:

“(...) todas as vezes que venho a

Soure, vou a casa de Agatão. Se eu

não for, ele fica com raiva, chateado.

Às vezes tomo café e almoço com ele,

e volto para descansar. Quando vou lá

à tarde, vou antes do jantar, pra fazer

companhia pra ele; mas volto depois

do Jornal, porque ele não gosta de

assistir novela e muda de canal, ou

pro SBT ou pra RECORD. E também

esse é o horário que geralmente ele

recebe o “Preto” ou os outros

meninos. Quando eu tô lá e vejo que

ele já tá agoniado, eu já sei o que é, e

volto logo. Então a gente tem que

respeitar esse movimento dele:

quando ele estiver assim, a gente tem

que sair.” (Em 06/07/2012)

Erixímaco, por sua vez,

descreveu-nos que:

“[q]uando eu tô por Soure, eu dou

uma passada aqui com o Agatão. Não

é sempre. Agora, por exemplo, eu tô

muito ocupado, sem tempo. Eu tenho

que me dividir entre a minha casa

aqui e o Caju-Una. Não moro longe

daqui, minha casa fica lá na Sétima

Rua [de Soure]. Mas agora com o

Círio [de São Sebastião], eu tenho

ficado a semana todo fora [no Caju-

Una], porque é difícil ir pra lá e voltar

pra cá todo dia. É que eu organizo a

procissão e a festa lá. Esse ano [de

2013] o Bispo proibiu que a festa

ocorra junto com a procissão. Então,

num final de semana vai ser a missa e

no outro a bebida. Mas eu gosto de

vim aqui com o Agatão: ele me fala

dele, a gente fala dos machos, das

rolas. Eu já prometi pra ele que

qualquer dia desses eu passo mais

tempo aqui com ele.” (Em

18/07/2013)

Já Fedro disse:

“[m]oro um pouco longe daqui, mas

minha mãe mora aqui do lado nessa

casa branca. Quase todo dia eu venho

aqui com ela, mana – até porque eu

venho na mamãe; aí aproveito e

venho aqui. Tem vezes que eu limpo a

casa pra ela, faço a comida; só que

quando ela tá chata, eu num fico,

venho rápido, fico pela sala e vou logo

embora.” (Em 25/10/2012)

A percepção de Agatão quanto aos amigos:

“[o] Erixímaco também é professor,

nós trabalhamos juntos na mesma

escola, somos amigos de muitos anos.

Eu só não gosto muito desse jeito

dele. Às vezes ele é exagerado, gosta

de falar alto, de gesticular, de chamar

atenção. Quando a gente sai junto na

rua, ele até se segura mais, tenta se

comportar. Uma vez nós saímos e

quando chegou perto de um grupo de

meninos lá do Caju-Una, ele mexeu

com eles, e eles tiraram uma gracinha

com ele. Depois ele ficou meio assim,

porque ele viu que eu não gostei. (...)

Ele dá o cu em qualquer lugar: no

mato, no quintal da casa dele – é uma

puta! (...) Já o Pausânias é muito

71

71

inteligente, educado, fala vários

idiomas. Eu conheço a mãe dele,

morei um tempo perto da casa dela,

ali na Terceira Rua. Éramos vizinhos.

(...) O namorado do Pausânias vive

bem ali em frente, nessa direção. Ele

se chama Eros, tem 18 anos, é um

menino altão, bonitão; diz que tem

um pauzão assim, ó! Daqui a pouco

ele aparece ali na janela; ele ainda

não apareceu porque deve tá

dormindo – passa a noite acordado

nas festas, bebendo. Tem muito

tempo que ele fica com o Pausânias. E

o Pausânias ainda é louco por ele!

(...) Quem é amante do tio do Eros é

o Fedro. Mas eles só se encontram

quando a mulher dele [do tio de Eros]

tá viajando. Aí quem vira a mulher é o

Fedro! (risos) (...) Eu sempre falo pra

ele [Fedro] que ele tem que se ajeitar

e deixar de ser preguiçoso. Às vezes

ele chega aqui com a cara inchada de

cachaça, fedendo a cigarro, limpa

tudo rápido, passa só uma vassoura

na casa, mas não tira o tapete e faz a

comida às pressas. Vem aqui e logo

vai logo embora. Tem um mês que ele

me pediu cem reais emprestado e

disse que ia me dar no outro dia,

quando ele voltasse de Salvaterra, e

até hoje eu tô esperando... Ele é uma

pessoa muito boa, mas tem esses

problemas.” (Em 17/07/2013)

Toda a complexidade das

relações vivenciadas entre

Agatão, Fedro, Erixímaco e

Pausânias, isto é, seus

consensos e seus dissensos, ou

melhor, suas alianças e suas

discordâncias são

experenciadas numa “rítmica

paisageira” (Sansot 1983)1 que

descreve o cotidiano daquela

“Cidadezinha Qualquer”,

descrita e celebrada,

antologicamente, em poema

através da ilustre pena de

Carlos Drummond de Andrade

(2002)1, onde “(...) Um homem

vai devagar. / Um cachorro vai

devagar./ Um burro [e um

búfalo!] vai devagar./ [E]

[d]evagar... as janelas olham.”

(p. 63) Muitas vezes era

engraçado e ao mesmo tempo

angustiante ir a casa de Agatão

e esperar que um de seus

amigos aparecesse e nos

concedesse meia hora que

fosse de uma simples

observação participante. Outras

vezes era frustrante marcar

com Fedro ou Erixímaco na

casa de Agatão e deparar

apenas com a “imagem do

72

72

sábio da Ilha de U-topos”,

sentado confortavelmente em

sua cadeira, escutando música

e “cruzando palavras”. No

entanto, em cada viagem a

Soure, nossa proximidade com

Agatão aumentava e o

(im)provável “afastamento

antropológico” no tocante aos

sujeitos/agentes da pesquisa

trocava-se, também, em

convivência e amizade.

4. Considerações Finais:

A discussão acerca do

envelhecimento humano não

pode se limitar,

exclusivamente, ao domínio da

Psicologia ou da Geriatria e,

tampouco, da Gerontologia.

(CORREA, 2009)1 Entretanto, a

figura jurídica do “idoso”,

presente na legislação brasileira

(Lei Nº 10.741/03)1, quanto à

definição do fenômeno humano

da velhice, também não

contempla a diversidade real,

no que implica às

representações sociais acerca

deste período da vida. (MOTA,

2009)1 Os grupos etários e

geracionais são culturalmente

definidos e, como tal, variam

de acordo com os contextos e,

também, de acordo a relação

que cada grupo humano

mantém com a passagem do

tempo e os imponderáveis da

existência. (SIMÕES, 2005)1

Delimitar, portanto, faixas

de idade para demarcar a saída

e, consequentemente, a

entrada em um determinado

grupo etário é, pois, arbitrário,

circunstancial. Assim, a noção

de “terceira idade” dever ser

compreendida apenas como um

73

73

parâmetro e não como uma

medida exata dos limites entre

“o vigor e a maturidade” e “o

ocaso ou o fim”. Neste sentido,

o envelhecimento tem de ser

pensado como um processo

contínuo e ininterrupto que se

impõe a todos/as como parte

da dinâmica da própria vida;

mas, ainda, enquanto uma

condição pessoal e cultural.

(MUCIDA, 2009)1

A distância que se

estabelece entre os marcadores

sociais da juventude e da

velhice operam um espécie de

reforço das noções de

“dinamismo/atividade” e

“limitação/dependência” que

supõem uma diferença entre os

papéis culturais de jovens e

velhos, relativamente às suas

necessidades cognitivas,

laborais e sexuais. (NEVES,

2012)1 Em um contexto

sociopolítico como o do mundo

capitalista, onde a importância

dos laços humanos e o cultivo

dos afetos se transfiguram em

mercadoria e/ou se liquefazem

na exigência de novidades, a

pessoa definidamente velha

representa um limite, uma

barreira, um estorvo que é

preciso reposicionar, a fim de

que a própria noção de

envelhecimento seja afastada e

os imperativos da juventude

celebrados. (STEPANSKY,

2012)1

Por outro lado, se aquela

imagem da velhice encarnada

na aposentadoria ou no

isolamento e/ou no cuidado

com os/as netos/as e,

principalmente, no tratamento

de doenças está sendo, cada

vez mais, substituída pela

74

74

imagem de velhinhos e

velhinhas sorridentes,

brincalhões e dançantes nos

salões e festas dos Clubes ou

Universidades da “terceira

idade”; observa-se que a

abordagem do tema não

superou a ideia de que o lugar

preferencial da velhice é

mesmo o passado e a memória

– entendidos como coisas

distantes, que residem alhures,

num tempo/espaço que

parecem ter sentido apenas lá,

onde a lembrança trava uma

luta contra o esquecimento de

si, dos outros e da própria vida.

(MUCIDA, 2009)1

Enquanto categoria de

análise, quer na Psicologia

Social, quer na Antropologia

Cultural, a memória é um

aporte e uma referência

necessária ao estudo e à

reflexão das trajetórias

biográficas, porquanto atualiza

a auto-representação histórica

e social que os sujeitos tem de

si mesmos. (BOSI, 2005)1

Assim, ela não pode ser tomada

simplesmente como um resgate

de histórias perdidas nas

lembranças, e sim como uma

faculdade de reelaboração de

um tempo vivo e presente,

atual; pois, o que se narra e o

que se cala descrevem os

efeitos subjetivos de

experiências socialmente

compartilhadas. É, neste

aspecto, que a noção de

“trajetória de vida” ou

“trajetória existencial” deve ser

considerada, visto que

desessencializa e desnaturaliza

a noção de “fases da vida”, com

suas “demandas

75

75

características” e seus

“comportamentos típicos”.

Como se pode ver, o

tratamento da questão do

envelhecimento e da velhice

possuem um teor amplo, geral

e abstrato que, por sua vez,

não vão além da comparação

com as noções e

representações de juventude e,

comumente, não rompem com

os imperativos da

heterossexualidade,

destacando-se mesmo a

relevância do sexo neste

período da vida, sem, contudo,

romper os esquemas binaristas

que opõem os gêneros e as

performatividades

sóciossexuais estabelecidas:

homem/mulher,

masculino/feminino.

O presente trabalho

procura superar os debates

anteriores em quatro principais

aspectos: 1) entrecruzando as

noções de envelhecimento e

homossexualidade; 2)

aproximando as noções de

“modo de vida gay” e

masculinidade; 3) situando a

reflexão ao nível das

experiências de quatro

homossexuais masculinos em

processo de envelhecência e,

finalmente 4) deslocando o

olhar do universo centro-

urbano para o contexto de uma

cidade do interior do estado do

Pará, localizada na Ilha do

Marajó, na Amazônia Brasileira.

Portanto, o tema

“envelhecimento gay e

homossexualidade masculina”

emergiu tanto da necessidade

de se contribuir com os debates

76

76

acerca da velhice, numa

perspectiva da diversidade

sexual – tomando de

empréstimo o modelo de

análise da “coorte geracional”,

para se compreender o

tempo/lugar das práticas de

sociabilidade homoerótica de

gays envelhecentes; quanto,

também, da necessidade de se

vislumbrar as estratégias de

gozo e satisfação do prazer de

homossexuais masculinos que,

em virtude de não mais

participarem do grupo social

das “bichas novas”, são,

praticamente, impedidas de

participar do mesmo “circuito”

de expressão da sexualidade,

porquanto estarem “coroas”,

“velhas”, “barrocas”. (SIMÕES,

2011)1

A escolha do local de

pesquisa deveu-se,

basicamente, a dois motivos.

Primeiramente: a necessidade

de operar um “giro

copernicano” nos estudos

antropológicos referentes à

problematização do

envelhecimento de

homossexuais masculinos,

ampliando horizontes

etnográficos, descentralizando

um debate que se “ensaia” a

partir de grandes metrópoles

como São Paulo, Fortaleza e

Belém e desenvolvendo-o a

partir de um contexto

marajoara. Em segundo lugar:

os interlocutores, em número

de quatro, são todos nativos de

Soure e tem mais de 45

(quarenta e cinco) anos de

idade.

No imaginário coletivo –

trata-se aqui do imaginário, isto

é, de representação e não da

77

77

realidade vivenciada

necessariamente –, a passagem

dos 20 (vinte) para os 30

(trinta) anos significaria, nas

experiências de vida de um

homossexual masculino e

centro-urbano, uma

preocupação quanto ao futuro.

Isso se agravaria ainda mais no

transcurso do tempo, à medida

que se vai envelhecendo.

(MOTT, 2003; SIMÕES, 2005)1

A restrição dos espaços de

(homos)sociabilidade, em

decorrência dos “interditos da

idade”, e os dramas

pessoais/existenciais (como

solidão, dificuldades para

conseguir parceiros sexuais,

limitações físicas, doenças e

morte), imporia um triste e

melancólico fim à “bicha velha”.

Entretanto, tais especulações

se sustentam,

inequivocamente, no mesmo

campo dos “pré-juízos” e

preconceitos que cercam as

pessoas que ama e praticam o

same sex love ou o amor que

não ousa dizer seu nome.

Se este amor não “se

revela”, é porque a ele se

impõem as sanções

compulsória de uma moral

heternormativa; mas, este

amor não se sufoca ou

extingue, porque, de fato, ele

descreve a condição subjetiva

de todos/as aqueles/as que

resistem às portas do armário

que procura esconder a

plasticidade e a diversidade

estética do desejo humano.

Ora, “ser um gay envelhecente”

não pode ser uma tragédia.

Pelo contrário, é um tom a mais

no colorido LGBT. No entanto,

se a questão apresenta

78

78

contornos próprios, ela se torna

muito mais específica quando

se observa as experiências e

trajetórias de vida de

homossexuais masculinos em

uma cidade de porte médio

para a realidade de uma

Amazônia Marajoara.

É justamente isso,

portanto, que Agatão,

Erexímaco, Fedro e Pausânias,

interlocutores diretos nesta

pesquisa, ensinam, qual seja –

independentemente da idade –,

o desejo e o exercício da

sexualidade estão sempre

renovados, ressignificados.

Como muitos homossexuais

envelhecentes nos centros-

urbanos, eles constituem um

grupo de amigos e uma rede de

apoio e solidariedade, em que

conflitos e tensões

presentificam-se, visto que se

tratam de sujeitos distintos

que, ora demonstram

afinidades e

sentimentos/pensamentos

convergentes, ora discordam e

tencionam com respeito ao

exercício e cuidado de si.

Todavia, enquanto um

grupo de amigos nativos de

Soure, Agatão e os demais

possuem técnicas de flerte e

conquista diferentes que se

performatizam em situações

que informam um contexto

outro, em que o barco que

realiza a viagem Belém-

Camará-Belém é, por exemplo,

lugar propício para olhares e

“paqueras” ou, ainda, a reserva

e a intimidade da casa/da cama

indicam o sossego e a

tranquilidade de um sexo que

busca a calma de um prazer

amadurecido. A economia das

79

79

trocas afetivas integra cenários

em que se transbordam os

limites e fronteiras de gênero,

no qual a gongação, a

tombação e a frescação

denotam as preferências

sexuais, os sucessos e o

fracassos quanto às parcerias;

mas, também, integra as

preocupações quanto à vida

políticas e, consequentemente,

a inserção de cada um deles em

uma dimensão religiosa – seja

negando ou afirmando o

catolicismo ou exercendo uma

outra devoção como Fedro que

é pai de santo e tem um

terreiro que se localiza num

bairro de ocupação popular,

distante do centro comercial da

cidade.

A partir de nossa inserção

no campo de pesquisa e da

observação etnográfica do

cotidiano de Agatão,

Erexímaco, Fedro e Pausânias,

pudemos constatar que a

convergência de experiências

geracionais encontra-se em um

ethos homoerótico que lhes é

comum, o que não significa,

porém, a dedução de um

modelo ou elaboração de um

certo tipo ideal de

comportamento, que apresente

uma síntese numa fórmula a

partir da qual seja possível

entender as suas práticas.

Quando, nesta pesquisa,

buscamos a sistematização de

algumas informações coletadas

em campo e, a partir daí,

estruturamos nossas

interpretações, o método

utilizado foi o comparativo,

permitindo-nos cotejar e

organizar esquemas de

aproximação, sem nenhuma

80

80

pretensão a busca a um

esquema de valor categórico e

peremptório.

Ora, esta pesquisa se

inscreve nos horizontes de uma

antropologia contemporânea e,

como tal, pretende estabelecer

um diálogo com as abordagens

anteriores que tratam da

questão do envelhecimento e

da própria homossexualidade,

problematizando, destarte, os

silenciamentos em torno da

relação entre o processo de

envelhecimento de

homossexuais masculinos e seu

modo de vida, partindo-se de

uma realidade nativa e local, de

uma cidade ilhéu. Assim,

considerando alguns debates

foucaultianos e, também,

algumas reflexões sociológicas

e antropológicas de alguns

autores das Ciências Humanas

e Sociais – Simões (2011),

Mota (2009) e Paiva (2007,

2009) – procuramos abrir

novos arquivos, isto é, arquivos

da dissidência e, com isso,

avançar em uma direção do

entendimento da ars erotica

desses sujeitos/interlocutores.

Por isso, adotamos aqui a

noção de “modo de vida” que,

por sua vez, entendemos como

a maneira pela qual

determinado sujeito ou grupo

constitui a própria existência

quanto às vivências e/ou

experiências passadas e

presentes, às relações

intersubjetivas, à auto

percepção histórica, à memória

e ao conjunto de suas práticas

e representações simbólicas,

desenhando, pois, ao longo da

vida, uma carreira existencial,

isto é, uma trajetória (auto)

81

81

biográfica, que se exprime,

tanto em atos de fala (no nível

da linguagem), quanto pela

performatividade (em termos

de comportamento e ação),

indicando signos e valores que

delineiam, portanto, os traços

de subjetividade e as marcas

(sócio-históricas) da identidade.

(PAIVA, 2007)1

Talvez a definição precise

de alguns importantes ajustes;

no entanto, nossas orientações

teóricas ensejam, aqui, a noção

de cultura como “teia de

significados” (GEERTZ, 1989)1,

o que nos possibilitou um

exercício hermenêutico-

fenomenológico e interpretativo

das experiências de vida e

memória de nossos

interlocutores propriamente –

em vista das trajetórias e

carreiras existências que eles

mesmos relataram em campo –

e, também, da observação

participante de seu cotidiano –

seja embalando-se numa rede

ao som de boleros antigos ou

cruzando palavras no sossego

de uma cadeira de vime, como

no caso de Agatão; seja

organizando uma procissão

religiosa, como no caso de

Erexímaco ou, ainda,

celebrando e dançando entre

deuses do Candomblé e

espíritos e entidades

metafísicas, como no caso dos

festejos do Candomblé de

Fedro.

Se Agatão aparece como

personagem principal dessa

trama cartografada entre idas e

vindas a Soure, num intervalo

de tempo que se prolongou de

agosto de 2012 a abril de 2014;

Pausânias tem,

82

82

inequivocamente, um papel

importante em nossas reflexões

etnográficas, uma vez que: 1)

possibilitou o contato com os

interlocutores e, também, 2)

conduziu nossos passos do

começo ao fim, na “confecção”

do presente texto. Esta é,

certamente, uma situação

singular que demonstra o seu

grau de colaboração nesta

pesquisa – sem, desconsiderar

a importância de Agatão que,

além de abrir as portas de sua

casa, tratava-nos com o carinho

de um velho amigo professor,

que educava e instruía acerca

de sua envelhecência.

Envelhecência,

envelhecência gay... Ambos os

termos procuram relativizar

uma condição sócio-existencial

e sexual, a partir, justamente,

do modo de vida de Agatão,

Fedro, Erexímaco e Pausânias,

no tocante a sua

performatividade enquanto

homossexuais em processo de

envelhecimento. A heterotopia

de seus desejos, gozos e

prazeres remete a um conjunto

de táticas ou estratégias de

resistência e, também, de

vivência/experimentação da

sexualidade, onde Soure não é

apenas uma metáfora ou

somente um “pano de fundo”;

mas sim uma personagem, que

abriga a possibilidade de se

compreender uma

homossexualidade plena de

cores, cheiros e sabores

específicos...

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Notas sobre os autores:

Wladirson Cardoso: Dr em Antropologia Social- PPGP-UFPA; professor Auxiliar I da Universidade do Estado do Pará e Coordenador de Interiorização.

Ernani Chaves: Dr em Filosofia (USP, 1993). Prof. Associado IV da Faculdade de Filosofia da UFPA

Recebido em setembro de 2014

Aceito em novembro de 2014