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Licenciatura em Ciências Forenses e Criminais 1ºano/ 2º Semestre U.C: Análise da Cena do Crime II Junho de 2012 Relatório de Antropologia Forense Discentes: Fábia Berbigão nº109175 Inês Delgado nº109067 João Dias nº109207 Sofia Carneiro nº109187 Tomé Cardoso nº 109574 Docente: Profª. Doutora Nathalie Ferreira

Relatório Antropologia

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Relatório de Antropologia - Exercício

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Page 1: Relatório Antropologia

Licenciatura em Ciências Forenses e Criminais 1ºano/ 2º Semestre

U.C: Análise da Cena do Crime II Junho de 2012

Relatório de Antropologia

Forense

Discentes:

Fábia Berbigão nº109175

Inês Delgado nº109067

João Dias nº109207

Sofia Carneiro nº109187

Tomé Cardoso nº 109574

Docente: Profª. Doutora Nathalie Ferreira

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1. Contextualização:

No âmbito do processo 2480/2012

No dia 31 de Maio de 2012, pelas 11h, a Polícia Científica foi chamada à Praceta da Paz, N.º14, Vila Pouca de Aguiar, habitação da Senhora Elvira Alegre e Senhor Ramiro Feliz Antunes.

A denúncia partiu de uma vizinha, Senhora Liliana Dalila que, mantendo uma relação próxima ao casal, estranhou o facto de há já três dias não ver o Senhor Ramiro. Ao questionar a esposa sobre o seu paradeiro, obteve sempre respostas diferentes e pouco convincentes. Alarmada, Liliana Dalila contactou a PSP local, que mais tarde encaminhou o caso para a Polícia Científica.

A vizinha relata mais a frente no seu depoimento que, dois dias antes da denúncia terá visto movimentos estranhos da parte da Senhora Elvira durante a madrugada, além de um cheiro pouco comum e que caracterizou de “nauseabundo”.

Na casa do desaparecido foram encontradas várias manchas de sangue que, embora disfarçadas devido a uma tentativa de lavagem, eram ainda visíveis. A equipa de Antropólogos Forenses da Polícia Científica investigou ainda o quintal onde, depois do terreno devidamente batido, encontrou uma sepultura com ossadas associadas a um indivíduo do sexo masculino na faixa etária dos quarenta anos. Os referidos ossos demonstraram, no entanto, um avançado estado de decomposição o que conduziu à conclusão de que estes apresentavam um tempo de deposição mínima de dez anos. O cheiro relatado pela vizinha provinha do facto de o terreno ter abatido na zona da sepultura devido a problemas de canalização. Assim, o odor da já muito avançada decomposição acelerada pela água proveniente da tubagem tornou-se impossível de disfarçar.

A Senhora Elvira Alegre confessou mais tarde que tais ossadas seriam de um primo afastado assassinado por ela e pelo marido, segundo a própria, “por puro prazer”. Quanto ao marido, foi apenas referido pela mulher que “teve o que mereceu”, não tendo o seu corpo sido encontrado no quintal da casa.

A Polícia Científica continua a procura do corpo do Senhor Ramiro Feliz Antunes, tentando que o processamento das ossadas encontradas revele o modus operandi da suspeita Elvira Alegre.

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2. Início e término dos trabalhos:

Na tarde do dia 31 de Maio de 2012, a equipa de antropólogos forenses da Polícia

Científica chegou à Praceta da Paz, N.º14, Vila Pouca de Aguiar, tendo iniciado de

imediato a procura pela sepultura no quintal da residência. Foi encontrada uma área

com terra abatida e ligeiramente alagada com as medidas aproximadas de um corpo

humano. Os trabalhos de escavação tiveram início no referido local, cerca das 13:23h,

tendo terminado às 17h do mesmo dia, após registo e exumação dos achados. O

tempo no local na altura dos trabalhos de escavação era seco, com uma amplitude

térmica entre os 32 e os 35ºC.

3. Constituição da equipa e funções de cada membro:

Inês Delgado: Coordenação da Escavação

Sofia Carneiro: Registos Antropológicos/Desenho Técnico

Tomé Cardozo: Escavação

João Dias: Escavação e decapagem dos achados

Fábia Berbigão: Fotografia do local e vestígios

4. Materiais e métodos:

4.1. Ferramentas utilizadas:

Colherim

Pincéis

Baldes

Cavilhas (4)

Cordel

Norte

Bússula

Fita métrica (2)

Fio de prumo

Luvas (opcional)

Material de desenho (régua/esquadro, lápis, papel milimétrico)

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4.2. Síntese dos procedimentos de campo:

1º Batimento do terreno para identificação da sepultura;

2º Delimitação e vedação da área;

3º Estabelecimento de pontos de referência;

4º Registo fotográfico e desenho do cenário;

5º Exposição dos restos cadavéricos e das evidências associadas:

-Decapagem/Exposição dos ossos;

-Registo da estratigrafia e características dos sedimentos envolventes;

-Manutenção in situ do espólio;

6º Registo fotográfico e desenho dos restos expostos e evidências associadas;

7º Descrição exaustiva dos achados e seu inventário;

8º Consolidação dos ossos mais frágeis;

9º Exumação dos achados;

10º Análise (morfológica e métrica) preliminar dos achados;

11º Acondicionamento, catalogação, e transporte dos achados.

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5. Resultados:

5.1. Descrição dos procedimentos:

Os trabalhos da equipa antropológica iniciaram-se com o batimento do terreno, com objectivo de encontrar uma possível sepultura. Esta foi identificada devido a um claro abatimento do terreno associado à compactação da terra naquele local, agravado por um ligeiro alagamento da zona por problemas de canalização. Por se tratar de uma sepultura com cerca de uma década não foram notadas irregularidades na vegetação da zona.

Depois de encontrada a localização da sepultura foi utilizada uma bússola para identificar o Norte e tirada uma fotografia à forma da sepultura com uma seta a indicar esta coordenada, juntamente com uma escala (Fotografia 1.).

A área junto das margens mais visíveis da sepultura foi limpa (20 a 30 cm) com o recurso a colherins, de forma a perceber de forma clara o seu limite. Uma nova fotografia (Fotografia 2.) foi tirada aquando do término deste procedimento.

O passo seguinte consistiu na delimitação da sepultura, tendo sido feito um rectângulo em seu redor com cordel e cavilhas. Com a área já delimitada, foi possível fazer o desenho técnico inicial em papel milimétrico na escala 1:10 : utilizando-se um fio de prumo e duas fitas métricas representando um sistema de eixos (x,y), foram tiradas todas as medidas representativas dos contornos da sepultura. Os pontos foram marcados no papel milimétrico e unidos de forma a desenhar o limite exacto da sepultura (Desenho 1.), constituindo este o primeiro registo topográfico.

A sepultura foi posteriormente decapada meticulosamente tendo em conta os princípios estratigráficos, ou seja, a decapagem foi realizada uniformemente em toda a área, não havendo zonas desniveladas em relação a outras.

Após terem sido encontrados a uma profundidade de cerca de 1m, os restos mortais foram cuidadosamente expostos com o auxílio de um pincel. O mesmo método foi aplicado aquando da descoberta de um vestígio não ósseo (pedra de calçada). Foram, como tal, tiradas fotografias gerais e de pormenor ao conteúdo da sepultura (Fotografias 3., 4., 5.), tendo também sido tiradas as suas medidas para se proceder ao seu registo no desenho técnico. Foi assim possível proceder-se à exumação dos achados.

Em último lugar, foi feito o segundo desenho técnico (também na escala 1:10),

consistindo este no registo do corte vertical da sepultura, evidenciando declives e

profundidades. Esta averiguação foi possível devido às diferenças encontradas entre a

consistência da terra pertencente à sepultura e à das imediações desta. O método

utilizado para este desenho foi igual ao aplicado para a realização do primeiro registo

topográfico.

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5.2. Fotografias:

Fotografia 1. –Sepultura com indicação do Norte e escala

Fotografia 2. – Fotografia da sepultura limitada com Norte

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Fotografia

3. – Primeiro

vestígio – pedra de calçada

Fotografia 4. – Restos esqueléticos presentes na sepultura (fotografia de pormenor)

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Fotografia 5. – Restos esqueléticos presentes na sepultura (fotografia de pormenor)

Fotografia 6. – Restos esqueléticos presentes na sepultura (fotografia de pormenor)

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Fotografia 7. –Interior da sepultura delimitada e vestígios associados

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5.2. Desenhos Técnicos:

Desenho 1. – Planta da sepultura e vestigios Autoria: Sofia Carneiro Local: Praceta da Paz, N.º14, Vila Pouca de Aguiar (quintal da habitação) 31/Maio/2012 Escala 1:10

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Desenho 2. – Corte vertical da sepultura Autoria: Sofia Carneiro Local: Praceta da Paz, N.º14, Vila Pouca de Aguiar (quintal da habitação) 31/Maio/2012 Escala 1:10

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6. Considerações finais

Esta investigação decorreu no âmbito de uma denúncia alertando para a ocorrência de um possível homicídio com ocultação do cadáver numa morada conhecida. Como tal, a equipa de antropólogos forenses da Polícia Científica deslocou-se ao local com o intuito de descobrir uma sepultura com restos mortais associados.

Primeiramente foram tidas em conta irregularidades no terreno e alterações na coloração do solo e a sua compactação para a localização da sepultura.

Os procedimentos adequados, como a identificação do contexto de imunação, delimitação da vala, desenho técnico, registo topográfico e técnicas de escavação, permitiram maximizar a quantidade e qualidade de informação acerca dos restos cadavéricos; é impossível recuperar a totalidade da informação se esta não for recolhida no campo. Foi imprescindível que todo o processo de escavação bem como o exame dos restos mortais e de outras evidências tenha sido multidisciplinar.

Como tal, foi descoberto um esqueleto completo de um indivíduo do sexo masculino com cerca de 40 anos e com sinais de um estado avançado de artrite reumatóide, visível devido a descalcificações articulares traduzidas em alterações radiográficas. Com recurso a registos médicos, foi possível confirmar a confissão da suspeita de que se tratava do seu primo, desaparecido há dez anos.

O crânio da vítima apresentava fracturas de grande dimensão no osso occipital direito, consistentes com a estrutura e peso da pedra também encontrada na sepultura, não tendo sido possível determinar no local se teria de facto sido a causa da morte. Como tal, o esqueleto foi cuidadosamente exumado para que se possa tratar e examinar juntamente com os vestígios recolhidos na cena do crime.

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7. Bibliografia de suporte

Antunes-Ferreira, N.; Cunha, A. – Antropologia Forense, Quid Juris, Lisboa, 2008.