Antropologia Face Problema Mundo Moderno

7/24/2019 Antropologia Face Problema Mundo Moderno

1/191

Claude

Lvi-Strauss

A

Aniropoiog

Face

aos

Probler-nas

Mundo

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os

direitos

dos autores.

Os prejudicados

somos

todos

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'ftulo

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Auto: (llaudc

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Reriso:

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Unidade

Lcrsh.ial

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ecio:

lr'ereilo

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2

ISB- (l'cms

e Debates):

97t-989,6.14

168-5

N.a de edo

((lcul)

cle

I-ciroes):

76U8

t)epsitu

legl

nnero

33i773/11

Reselvados

todos

os

dicitos.

Nos

reros

do

cdigo

clo

Dieiro

de

Auto,

expessa crre

poibicla

a

.eprodro

toral

ou parcial

clesta

obra

por

cluaisquer

rneios,

rcuido

1lorocpia

e

o t.aarelro

nl()rmrico.

sen

a

aut(r'iza;io

cxpressa

dos tirl:.es

dos

dircitos.

Noto

do

editor

Agradeo

a

acompanhou

col

de

cada

etapa

dz

(Js

ttulos

dos

de

Claude

Lvi-

editor.


4/191

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assim

este

ou

aquele

texto

que

o

tornou

clebre,

retomando

os

principais

temas

sociais

que nunca

deixaram

de

o inq

u

ierar.

nomeacla_

mente

a

propsito

das igaes

entre


7/191

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vt_5tRU5l'

definir

o

que

a

antropologia

e

mostrar

em

que

que

ela

lana

sobre

os

problemas

do

mundo

contemporneo

um

olhar

origina,

sem

pretender

resolvlos

sozinha,

mas

com

a

esperana

de

os

compreender

melhor.

Aprender

com

os

oulros

Desde

h

cerca

de

dois

sculos,

a

civiiza_

o

ocidental

definiu-se

a

si

prpria

como

a

civilizao

do

progresso.

Congregadas

pelcr

mesmo

ideal,

outras

civilizaes

acreditaram

dever

tom-la

por

modelo.

Todas

partiha_

ram

a

convico

de

que

a

cincia

e

as

tcnicas

iriam

em

frente

sem

cessar,

concedendo

aos

homens

rnais

poder

e

mais

flicidade;

de

que

as

instituies

polticas,

as formas

de

organiza_

o

social

surE;idas

no

final

do

scuo

xvrr

em

F-rana

e nos

Estados

Unidos,

a

filosofia

que

as

inspirava,

dariam

a todos

os

membros

de

cada

sociedade

mais

liberdade

na

conduta

da

sua

vida

pessoal

dos

assuntos

se

nsibilidade

pelo

lerdacl,

r-iam

atlar

:

conquistarial

Os

acon

palco

no

der

tiram

estas

gias totalitr-

legies

do

r.

Os

honens

mihes,

ent

dios.

Ne

srro

parece

segu

tlagam

bene

sfcos,

as

in

vida

social

n:

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As

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12/191

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fsico

e

biolgico.

Deram-nos

um

poder

sobre

a

natureza

de

que

ningum

poderia

ter

sus_

peitado

h

apenas

um

scuo.

Comeamos,

contudo,

a

medir

o

preo

que

foi

preciso

pa-

gar para

o

obter.

De

forma

crescente,

coloca_

-se

a

questo

de

saber

se

estas

conquistas

no

tiveram

efeitos

deletrios.

Colocaram

meios

de

destruio

macia

disposio

dos

homens

e,

mesmo

no

sendo

utilizados,

pela

sua

nica

presena,

estes

meios

ameaam

a

sobrevivn_

cia

da

nossa

espcie.

De

forma

mais

insidiosa

mas

real,

esta

sobrevivncia

tambm

amea_

ada

pela

rarefao

ou

pela

poluio

dos

bens

mais

essenciais:

o espao,

o

ar,

a

gua,

a rique_

za

e

a

diversidade

dos

recursos

naturais.

Graas,

em

parte,

aos

progressos

da

me_

dicina,

o

nmero

dos

humanos

no

cessou

de

crescer,

a ponto

de,

em

vrias

regies

do

mun_

do,

no

se

conseguir.j

satisfazer

as

necessi_

dades

elementares

de

populaes

submetidas

fcrme.

Noutros

stios,

em

regies

capazes

de

assegurar

a sua

subsistncia.

no

se

manilesta

^tatro

Lt

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(

dar trabalhc;

nerosos.

sel

mais.

Somos

sern

fim

par

-\

produo

turno,

exige

cada

r,ez mai

que aspilacl:

indiretas

da

em

enornes

tmpem unt

nizada.

O fu:

rnocrticas.

r

cial impical

burocracia

ir

a paralisal

o

se as

socieda

(a,geru)

para

fora

cla

fritura...

O

antroplogo

recusar-se-

a

considerar

estes fctos

nfmos

como

variveis

indepen-

dentes,

particularidades

isoladas.

Ficar,

pelo

contrrio,

impressionado

com

aquilo

que

tm

em comum.

Em

domnios

diferentes

e

sob mo-

dalidades

direntes,

trata-se

sempre

de trazer

a si. ou

de se

tra,/er

I

si mesmt-r

para r,r

intcrior.

Em

lugar

de

colocar

no

incio

o


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CIUDE

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preender

mehor

a reao

entre

as

duas

civi_

lizaes.

Finalmente,

para

a

antropologia,

a

pro_

cura

de uma objetividade

total

no

se

poce

situar

seno

a

um

nvel

onde

os fenmenos

possuem

significao

para

um

conscincia

individual.

A reside

uma

diferena

essencial

entre

o

gnero

de

objetividade

a que

aspira

a antropologia

e

aquela

com

que

se

conten_

tam

as outras

cincias

sociais.

As

realidades

visadas,

por

exempo,

pela

cincia

econmi-

ca

ou

pela demograra no

so

menos

objeti_

vas,

mas

ningum

pensa

em

exigir-lhes

que

tenham

um

sentido

na

experincia

vivida

do

sujeito,

que

no

encontra

ob.jetos

como

o

vaor,

a

rentabiidade,

a

produtividade

mar-

ginal

ou

o

mximo

de

populao.

Esras

so

noes

abstratas,

situadas

fora

do

domnio

dos

reacionamentos

pessoais,

das

reaes

concretas

entre

os indivduos

que

so

a

mar_

ca

das

sociedades

pelas

quais

se

interessam

os

antropogos.


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48/191

(

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forma

que

quinhentas.

No

primeiro

caso,

a comunicao

no

se

estabelece

principal_

mente

entre

pessoas,

ou

segundo

o

mocelo

das

comunicaes

interpessoais.

A

realidade

social

dos..emissoreso

e dos

orecetor65,

(para

faar

a ineuagem

dos

tericos

da

comunica_

o)

desaparece

por

detrs

da

complexidade

dos

-cdigos..

e dos

.relransmissores..

O

futuro

julgar

sem

dvida

que

a

mais

importante

contribuio

terica

da

antropo_

logia

para

as

r.incias

sociais

provm

desta

distino capital

entre

duas modalidades

ce

existncia

socia:

um

gnero

de

vida

enten


49/191

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50/191

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tvt.5tlau3li

curiosidades

do homem

moderno.

euando

nos

es'oramos

por coloc-la

em

perspetiva,

por lhe

atribuir

um

lugar

na histria

das ideias,

a

antropologia

surge

pelo contrrio

como

a

expresso

mais

eeral, e o

ponto

de

chegada,

de uma

atitude

intelectual

e moral

que

nsceu

h

vrios

sculos

e

que designamos

pela pala-

vra

,.humanismo".

Permiti,me

que

me

coloque

por

um mo-

mento

na

perspetiva

ocidental

que

a minha.

Quando,

na Europa,

os

homens

do

Renasci-

mento

redescobriram

a

Antiguidade

greco-

-romana,

e

quando

os

jesutas

fizeram

do

la-

tim a

base da

formao

escolar

e

universitria,

no

era

isso

j

uma

realizao

antropolgica?

Reconhecia-se

que

uma

civilizao

no

se

pode

pensar

a

si mesma

se

no

dispuser

de

uma

ou

de r'rias

outras

para servirem

de

termos

de

comparao.

Para

conhecer e

compreender

a

sua

prpria

cutura,

preciso

aprender

a

olh-

-la

do

ponto

de vista

de

uma

outra:

um pouco

maneira

do

ator

do

N

de

que fala

o

vos-

56


51/191

t9

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52/191

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costumes

e

as

nossas

crenas

com

os

de

outros

tempos

e

de

outros

locais.

Numa

paavra,

cria_

ram

as

ferramentas

daquilo

a

que

se

poderia

chamar uma

tcnica de expatriao.

No

foi

tambm

esse

o

cso

do

Japo,

quando

a

escola

dita

"nativista,

de

Motoori

Norinaga

se

encarregou

de

separar

as

catac_

tersticas

especficas,

a

seus

ohos,

da

cultura

e

da

civiizao

japonesas?

Foi

entregando_se

a

um

dihlogo

apaixonado

com

a

China

que

con_

seguiu

fazo.

Motoor-i

confi.onta

as

duas

cul_

turas,

e

ao

separar

certos

caracteres,

tpicos

a

seus

olhos,

da

cutura

chinesa

_


53/191

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54/191

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tvt.gtu5s

deria

aspirar

a

conhecer

qualquer

frao

da

humanidade

sem

ser

por

referncia

a

outras.

Nos

sculos

xvrrr

e

xrx,

o

humanismo

alar_

gou-se com

o

progresso

da

exporao

geogr_

fca.

A

China,

a

ndia,

o

Japo

inscrevem_se

entamenle

no

quadro.

Ao

inferessar_se

hoje

pelas

ltimas

civilizaes

ainda

mal

conheci_

das

ou

negigenciadas,

a

antropologia

permite

que

o

humanismo

entre

na

sua

terceira

fase.

Sem

dvida

que

ser

tambm

a

ltima,

uma

vez

que,

depois

disso,

o homem

j

no

ter

nada

a

descobrir

sobre

si

mesmo,

pelo

menos

em

extenso

(pois

existe

uma

outra

pesquisa,

essa

em

plofundidade,

de

que

no

estamos

sr:_

quer

perto

de

atingir

o fim).

O

probema

comporta

um

outro

aspeto.

Os

dois

primeiros

humanismos.

o

primei_

ro

imitado

ao

mundo

mediterrnico,

depois

o

oulro

engobando

o

Oriente e

o

Exlremo

Oriente,

viam

a

sua

extenso

limitada

no

s

em

superfcie,

mas

tambm

em

natureza.

l)e_

pois

de

as

civilizaes

antigas

desaparecerem,

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55/191

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er8olodo

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58/191

aIAUDE

Yt.5tR^Ut5

privilegiadas.

E,

ao

mobilizar

mtodos

e

tcni_

cas

respigadas

a

todas

as

cincias

para

os fazer

servir

para

o

conhecimento

do

homem,

apea

reconciliao

do

homem

e

da

natureza.

num

humanismo

generaizado.

Se

compreendo

bem

o

tema

que

pedistes

para

tratar

nestas

conferncias,

a

questo

re_

sidir

para

ns

em

saber

se

esta

terceira

for_

ma

de

humanismo.

que

consritui

a

antropulo_

gia,

se

mostrar

mais

capaz

do

que

as

formas

precedentes

de

trazer

solues

aos

grandes

probemas

com

os

quais

a humanidade hoje

se

confronta.

Durante

trs

sculos,

o

pensa-

mento

humanista

tem

alimentado

e

inspira_

do

a reflexo

e

a

ao

do

homem

ocidental.

E

constatamos

hoje

que

ter

sido

impotente

para

evitar

os

massacres

escaa

panetria

que

constituram

as

guerras

mundiais,

a

mis_

ria

e a

subalimentao que chacinam

de

forma

crnica

uma

grande

parte

da

Terra

habitada,

a

poluio

do

ar

e da

gua,

a

espoiao

dos

recursos

e

das

belezas

nalurais...

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62/191

^

t{to

( auDE

tvt.9Rut3

O

seu

pequeno efetivo

demogrfico,

o seu

conhecimento

prodigioso

dos recursos

natu-

rais permiteJhes

viver no meio

daquilo

que

no

hesitaramos,

sem

dvida,

em

chamar

abundncia. E,

no entanto

-

estudos

minucio-

sos mostraram-no

na

Austrlia,

na

Amrica

do

Sul,

na

Melansia

e em frica

*,

duas

a

quatro

horas

de trabaiho

quotidiano

so amplamente

suficientes

aos seus

membros

ati\os

para asse-

surarem

a subsistncia

de

todas

as famlias,

in-

cluindo as crianas

e os velhos

que ainda no

participam.

ou

que

j

no

parricipam.

na

pro-

duo alimentar.

Que

diferena

em relao

ao

tempo

que os nossos

contemporneos

passam

na fbrica

ou

no

escritriol

Seria

portanto

falso

acreditar

que estes

po-

vos

so

escravos

dos

imperativos

do meio. Bem

pelo

contrrio

,

gozarrr

em relao

ao

meio de

uma maior

independncia

do

que

os

cultiva-

dores

e

os

pastores. Dispem

de mais

diverti-

mentos

que

lhes

permitem

conceder

um largo

papel

ao

imaginrio,

interpor

entre

eies

e o

nundo

ext(

doras,

crent

todas

estas

f

rarnos

reig

Admitim

nidade

r.iveu

sculos,

mil

a agriculturz

lizao,

ela

sr

r

ez mais

con

hoje,

este

er

por

intennc

lgicas.

Complet:

que

penetral

rnanidade

se

tada

com

os

so

resutado

fico, da quan

espao

livle.

de

que

dispo

dades

biogi


63/191

-69

.su)rnbsd

setrr8glorq

sppp

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gov

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vtcorodoll{v

v


64/191

aauDE

vt.5tRgt

Neste

sentido,

poderemos

perguntar se

as exploses

ideolgicas

que se

produzem

desde

h mais

ou

menos

um

sculo

e que se

continuam

a

produzir

-

as

do

comunismo

e do

marxismo,

a

do

totalitarismo, que

no

perderam a

sua fora

no

terceiro

mundo,

a

mais

recente

do

integrismo

muulmano

-

no

constituem

reaes

de revolta

perante

as

condies

de

existncia

em rutura

brutal com

as

do passado.

Produziu-se

um divrcio,

cavou-se

um

fosso

entre

os

dados

da sensibilidade,

que

j

no

tm para

ns

uma

significao

geral

'ora

daqueles,

restritos

e rudimentares,

que

nos

fornecem

sobre

o

estado

do nosso

orga-

nismo,

e

um

pensamento

abstrato

onde

se

concentram

todos

os nossos

es-oros

para

conhecer

e para

compreender

o

universo.

Nada nos

afasta

mais

destes

povos

que

os

antroplogos

estudam,

para

quem

cada

cor,

cada textura,

cada

odor,

cada

sabor

tem

um

sentido.

Este

mundo

cemogr';

terninar

caso.

o

(

ce

eristr

tes

daqu

co

cle

qr

\as.

radoras.

des

que

,

e

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tel

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nteio:

70


65/191

-

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se

as

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soura:apod

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as

re1un5


66/191

(t^uDt

rvt,5IU33

Pois

este

problema

da

diversidade

no

se

co_

loca

somente

a respeito

das

culturas

encara_

das

nas

suas

relaes

recprocas.

Coloca_se

tambm em

cada sociedade

que

junta

no

seu

seio

grupos

ou

subgrupos

que

no

so

homo_

gneos:

castas,

classes,

meios

profissionais

ou

confessionais.

. .

Estes

grupos

desenvovem

en_

tre

si

direnas

s

quais

cada

um

atribui

uma

grande

importncia,

e

pode

acontecer

que

esta

diversidade

interna

tenda

a

crescer,

en_

quanto

a sociedade

se

torna

mais voumosa

e

mais

homognea

sob

outros

aspetos.

Sem

dvida

que

os

homens

elaboraram

culturas

direntes

devido

ao

afastamento

geogrfico,

das

caractersticas

particulares

do

meio

onde

se

encontravam,

da

sua

ignorncia

em

relao

a

outros

tipos

de

sociedade.

Mas,

a

par

das

direnas

devidas

ao isolamento,

h

aquelas,

de igual modo importantes,

devicas

proximidade:

desejo

de

se

oporem,

de

se

distinguirem,

de

serem

eles

mesmos.

Muitos

costumes

nasceram,

no

de

uma

necessidade

tlte

\

ont

zinh,

mni

qtra

-{

.ropC

tamb

rLerl

r-rgr-r

de

re

CgL

cebes

acun

no

s:

'\

ciecla

Nesta

dupla

perspetiva,

r,-se

a que

ponto

vo

falar

de

npovos sem

histria".

As

socieda_

des

a

que

chamamos

primitivas

tm

uma his-

tria

como

todas

as

outras,

mas,

ao

contrrio

do

que

se

passa

entre

ns,

recusam-se

his-

tria,

esbram-se

por

esterilizar

no

seu seio

tudo

aquilo

que poderia

constituir

o esboo

de

um

devir

histrico.

As nossas

sociedades

esto

feitas

para mudar,

este

o

princpio da

sua

estrutura

e do

seu

funcionamento.

As socie-

dades

ditas

primitivas

sul

gem-nos

como

tal,

sobretudo,

por

serem

concebidas

pelos

seus

membros

par-a

durar

A sua

abertura

ao

ex-

terior

muito

reduzida,

domina-as

aquilo

a

que

chamamos

em francs

o

nesprito

de

pa-

rquia".

Em

contrapartida,

a

sua

estrutura

so-

ca

interna

tem uma

trama

mais

cerrada,

uma

composio

mais

rica

do

que

a das

civilizaes

mais

complexas.

Am

disso,

sociedades

de

1ii

:,

-r I

,

-:

::

:a1lI

::

-

-,

r:i,

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:]]-t

-

I

l

-


109/191

-

ILL-

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-slt

Q

orlEJjrl

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-eporJo

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gvlf,ttiod

tov

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vt00to{o v

v


110/191

cluDE vt_5tRu5s

que

as

outras,

mas

consumindo

a

sua

energia

e

destruindo-a

progressivamente.

Dizia

assim

que

as

sociedades

estudadas

pelos

antropogos,

comparadas

com

as

nos_

sas

sociedades

modernas. mais

numer.osas

e

compicadas,

so

um

pouco

como

as

sociecla-

des

"iias"

ern

relao

s

sociedades (quentes>:

so

lelgios

comparados

com

a

mquina

a

va_

por.

So

sociedades

que

produzem

pouca

de_

sordem

-

os

sicos

dirianr

pouca

_

e

que

tendem

a

manter_se

indefinidamente

no

seu

esrado

inicial

(ou

naquilo

que

imaginanrser

um

estado

inicial);

o

que

expica

que,

vis-

tas

de

fora,

paream

no

ter

histria

nem

pro_

gresso.

As

nossas

prprias

sociedades

no

azem

somente

um

grande

uso

de

mquinas

termo_

rlinmicas;

do

ponto

de

vista

da

sua

estrutura

lnte'na,

parecem_se

com

;

aqutnas

a

vapo:

L

necessaflo

que existam

nelas

anlagonismos

comparveis

quee

que

se

observa

numa

m_

qurna

a

vapor,

entre

a nte

de

caor

e

o

rgo

-llB_


111/191

o

a

ut[

o

oroJ

oES

.so]dse

srop

so

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SVWttiO .t

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VtOOodO{l

V

V

-o,t

-sl.

ute

oua

-


112/191

_atauD

vt _5tiut5

)ang

da

filosofia

chinesa:

estes

dois

princpios

opem-se

e

competam_se,

mas

h

sempre

1in

no

yng

e

yang

no

fin.

Uma

sociedade

ao

mesmo

tempo

uma

mquina

e

o

trabalho

que

essa

mquina

fornece.

Como

mquina

a vapor,

fabrica

entropia;

como

motor,

fabrica

ordem.

Estes

dois

spetos

_

ordem

e

desordem

_

cor_

respondem

s

duas

formas

segundo

as

quais

se

pode

considerar

uma

cviizao:

de

um

ado

a

cutura,

do

outro

a

sociedade.

A

cultura

consiste

no

conjunto

das

rela_

es

que

os

homens

cle

uma civilizao

dada

mantm

com

o

mundo;

a

sociedade

consiste

mais

particularmente

nas

reaes

que

esses

mesmos

homens

mantm

uns

com

os

outros.

A

cultura

abrica

a

ordem:

cultivamos

a

terra,

construmos

as

casas,

produzimos

ob_

jetos

manufaturados.

Em

contrapartida,

as

nossrs

sociedades

labric;

Dissipam

as

suas

foras.

*J.-"J::i-

flitos

sociais,

lutas

poticas,

tenses

psquicas

que

fazem

nascer

nos

indivduos.

E

os

valores

.-.

:

:

-:

:-

_

-:

--:

_tza_


113/191

-

L'L-

.pEparl

-os

Ens

eu

ErdoJtu

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uelrlqJ

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ro'^ron,r::*J::';::

soJ-orEfgrsselJ

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Ess

Jocl

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Bns

e

rupJo

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uetrJqeJ

erJls

us

soôd

no

(


114/191

lu

o

t

rvr.srnluss

O

idea

seria

sem

dvida

uma

terceira

via:

aquea

que

conduziria

a

fabricar

sempre

mais

ordem

na

cutura

sem

,

-a

com um

crescimen,:::::fi

:.

dade.

Dito

de

outra

for

nizava

oconcre

de

,'":;;*.:'ilffi:

incio

do

scuo

xrx,

saber

passar

_

cito

_

"do

governo

dos

homens

para

a

administrao

das

coisasu.

Ao

formular

-simon

anrecipava

".

,'::inff.til:

o

antropoleica

entre

a

cutura

e

a

sociecla-

de e

sobre

essa

revoluo

que

se

opera

neste

momento

sob

os

nossos

ohos

com

os

progres_

sos

da

eetrnica.

Tlvez

ela

nos

faa

"r_r,..u".ue

ser

um

dia

possve

passar

de

uma

civii_

zao

que

inaugurou

outrora

o

devir

histri_

co,

mas

reduzindo

os

ho

mquinas,

a

uma

civilizemens

condio

de

conseguiria

-

como,.

."1::",::i':-t::

robs

-

transftrrmar

as

mquinas

em

homens.

Ento,

tendo

a

cultura

recebido

integramente

a

hrea

de

abricar

o

progresso,

a

sociedade

-122_


115/191

tzl

-rru9uo)

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u

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116/191

(

tauDE

rvt.tturg

ca

que,

na

dca

do

industrial

e

do

financei_

ro

modernos,

constituem

vestgios

arcaicos,

obstculos

ao

desenvovimento,

que

merecem

ser

considerados

com

respeito

e

tratados

com

todo

o cuidado.

Hoje

em

dia,

h

quem

se

declique

a

cons_

tituir

bancos

de

genes

onde

se

preserva

aquio

que

subsiste

ainda

de

espcies

vegetais

origi-

nais,

criadas

durante

milnios

atravs

de

mo_

dos

de

produo

totalmente

diferentes

dos

nossos.

Espera-se

assim

diminuir

os

riscos

de

uma

agricultura reduzida

a

algumas

espcies

de

eevado

rendimento,

mas

devedoras

de

en-

riquecimentos

qumicos

e

cada

vez

mais

vu_

nerveis

aos

agentes

patognicos.

No

deveramos

ir

ainda

mais

longe

e,

no

contentes

em

preservar

os

resultarJos

d,estes

modos

de

produo

arcaicos.

assegurar_nos

de

que

os

saher

fazer

(em

ingls:

hnow_how)

in_

subsrituveis.

graas

aos

quais

estes

resutados

foram

obtidos,

no

desaparecero

sem

espe_

rana

de

regresso?

Por

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117/191

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sop

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'so)IefJe

-IJJUeu

r


118/191

c aut E vt-srRu3s

produzir cada vez

mais.

Ee

procura tambm,

no

trabalho,

satis{zer

aspiraes

que esto

en-

raizadas

na

sua natureza

profnda: realizar-se

como indivduo,

imprimir

a

sua marca

mat-

ria.

dar: alrars

das

suas

obras. uma expresso

objetiva

sua subjetividade.

sob

todos

estes

aspetos

que

o

exemplo

das

sociedades

ditas

primitivas

nos

pode

ins-

truir.

Elas fundam-se

sobre

princpios

que tm

como eleito

converter

o

volume

das riquezas

produzidas

em valores

morais

e

sociais:

reali-

zao pessoal

num

trabalho,

estima dos pr-

ximos

e dos vizinhos,

prestgio mora

e

social.

acordo

conseguido

entre

os

mundos

natural

e

sobr-enatural.

As investigaes

antropolgicas

ajudam

a compreender

melhor

a necessidade

de

uma

harmonia

ent'e estas

diversas

compo-

nentes

da natureza

humana.

E, em

todo o lado

onde

a

civilizao

industrial

rende

a

destrula.

a antropologia

poder

colocar-nos

de

sobre-

aviso

e

indicar-nos

algumas

das

vias

a

seguir

para a reconqustar.

Quois

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126


119/191

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imprprio

Desde

ogo,

os

dados

do

problema

rela-

tivo

s relaes

entre

a

noo

de raa

e

a

de

cultura

encontram-se

confundidos.

Durante

todo

o sculo

xrx

e a

primeira

metade

do s-

culo

xx,

perguntou-se

se

a

raa

influenciava

a cultura

e

de

que

maneira.

Depois

de

se

ter

constatado

que

o

problema

assim

colocado

ela

insolvel.

percebe-se

agora

que

as

coisar

se passam

no outro

sentido.

So as

formas

de

cultura

que adotam

aqui

e

ali

os

homens,

as

suas formas

de viver

passadas

e

presentes.

que

determinam

numa

larga

medida

o

rit-

mo

e a

orientao

da

sua

evoluo

biolgica_

Longe

de

ser

preciso

perguntar

se

a cultura

ou

no

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da raa,

descobrimos

qlle

a

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-

ou aquio

que

se

entende

em

gera

por

este

termo

imprprio

-

uma

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entr-e

outras

da

cultura.

Como

poderia

ser

de

outr-o

modo?

a

cul-

tura

de

um

grupo

que

determina

os

limite.

-

152


144/191

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epun8as Equrr

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nascerte. O

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seu laclo, plocedeu

a

urna restaurao que,

r-ernontanclo

s rntes. tinha tanrbnl

cono

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intcgrzu'o povo na conrunidadc

na-

cional.

Mas

capitalizou

o

passirdo,

em

vez

de

clestlu-lo. O

-|apo

conseguir.t

assim

coloczu'

zro

sellio da

nov:r

or'


184/191

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e

mtico?

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Antropologia Face Problema Mundo Moderno