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Departamento de Serviço Social 1 Ação Afirmativa no Ensino Superior Um Estudo sobre o Programa Universidade para Todos (PROUNI) da PUC-Rio Aluna: Laís Adelita de Souza e Cruz Orientadora: Andréia Clapp Salvador Introdução O tema da Ação afirmativa é de suma importância para o Brasil, ele entra no debate em torno de possíveis alternativas para redução das desigualdades na sociedade Brasileira. Se formos analisar a partir do quadro de desigualdade social no Brasil, vemos que um dos grupos sociais mais atingidos pela falta de acesso à Educação é a população de ascendência Africana, que configura um expressivo percentual de 51% do povo brasileiro (Censo Demográfico, 2010). A Ação afirmativa entra em questão como um mecanismo para diminuir a desigualdade, promover igualdade e desenraizar o racismo que existe na sociedade Brasileira e outras diversas formas de discriminação. A partir das experiências pioneiras e revolucionárias dos EUA e França se edificou o conceito de igualdade perante a lei. A concepção jurídica de igualdade é genérica e abstrata, deve ser igual para todos, sem qualquer distinção ou privilégio. Este clássico conceito de igualdade jurídica, meramente formal, persistiu como ideia-chave do Constitucionalismo que floresceu no século XIX e continuou segundo Barbosa (2001) sua trajetória até boa parte do século XX e que ainda persiste. Entretanto, a concepção de uma igualdade puramente formal, assente no princípio geral de igualdade perante a lei, começou a ser indagada, quando se constatou que a igualdade de direitos não era, por si só, suficiente para que a lei fosse aplicada e compatível para dar acesso a quem era socialmente desfavorecido das oportunidades e que os indivíduos socialmente privilegiados gozavam. Segundo Barbosa (2001), em vez de igualdade de oportunidades, era preciso debater a igualdade de condições. A implementação de uma concepção substancial da igualdade era imprescindível, e do processo de transição da já ultrapassada noção de igualdade “estática” ou “formal” ao novo conceito de igualdade “substancial”, surgindo daí a ideia de uma igualdade de oportunidades. Desta forma, é introduzido um novo sujeito, que antes genérico, agora passa a ser um indivíduo especificado o principal alvo das Ações Afirmativas. O sujeito passa a ser visto em suas peculiaridades e particularidades, percebe-se a necessidade de conferir a determinados grupos uma proteção especial e particularizada, em face da sua própria vulnerabilidade. Isso significa que a diferença não mais seria utilizada para a aniliquilação de direitos, mas para a promoção deles. Nesta ótica, determinados sujeitos de direitos, ou determinadas violações de direitos exigem uma resposta específica e diferenciada (Piovesan, 2008). As ações afirmativas são tentativas de concretização da igualdade substancial ou material, correspondendo ao ideal de justiça enquanto reconhecimento de identidades, como a igualdade orientada pelos critérios de gênero, orientação sexual, idade, raça, etnia, entre outros (Piovesan, 2008). Durante as duas últimas décadas as Ações Afirmativas vem sendo implementadas no campo da educação superior no Brasil. As primeiras nasceram nas universidades da Bahia e Rio de Janeiro, e depois foram atingindo outras universidades em diversas regiões do país. As Ações afirmativas têm como objetivo não apenas coibir a discriminação do presente, mas sobretudo eliminar os efeitos que ainda persistem (comportamentais, culturais e psicológicos) da discriminação do passado, que tendem a se perpetuar. É a chamada discriminação

Ação Afirmativa no Ensino Superior Um Estudo sobre o ......2004 para 84,3% em 2013. No aspecto da educação básica cabe ressaltar que as desigualdades regionais são significativas

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Departamento de Serviço Social

1

Ação Afirmativa no Ensino Superior – Um Estudo sobre o Programa

Universidade para Todos (PROUNI) da PUC-Rio

Aluna: Laís Adelita de Souza e Cruz

Orientadora: Andréia Clapp Salvador

Introdução

O tema da Ação afirmativa é de suma importância para o Brasil, ele entra no debate

em torno de possíveis alternativas para redução das desigualdades na sociedade

Brasileira. Se formos analisar a partir do quadro de desigualdade social no Brasil,

vemos que um dos grupos sociais mais atingidos pela falta de acesso à Educação é a

população de ascendência Africana, que configura um expressivo percentual de 51% do

povo brasileiro (Censo Demográfico, 2010). A Ação afirmativa entra em questão como

um mecanismo para diminuir a desigualdade, promover igualdade e desenraizar o

racismo que existe na sociedade Brasileira e outras diversas formas de discriminação. A

partir das experiências pioneiras e revolucionárias dos EUA e França se edificou o

conceito de igualdade perante a lei. A concepção jurídica de igualdade é genérica e

abstrata, deve ser igual para todos, sem qualquer distinção ou privilégio. Este clássico

conceito de igualdade jurídica, meramente formal, persistiu como ideia-chave do

Constitucionalismo que floresceu no século XIX e continuou segundo Barbosa (2001)

sua trajetória até boa parte do século XX e que ainda persiste. Entretanto, a concepção

de uma igualdade puramente formal, assente no princípio geral de igualdade perante a

lei, começou a ser indagada, quando se constatou que a igualdade de direitos não era,

por si só, suficiente para que a lei fosse aplicada e compatível para dar acesso a quem

era socialmente desfavorecido das oportunidades e que os indivíduos socialmente

privilegiados gozavam. Segundo Barbosa (2001), em vez de igualdade de

oportunidades, era preciso debater a igualdade de condições. A implementação de uma

concepção substancial da igualdade era imprescindível, e do processo de transição da já

ultrapassada noção de igualdade “estática” ou “formal” ao novo conceito de igualdade

“substancial”, surgindo daí a ideia de uma igualdade de oportunidades. Desta forma, é

introduzido um novo sujeito, que antes genérico, agora passa a ser um indivíduo

especificado o principal alvo das Ações Afirmativas. O sujeito passa a ser visto em suas

peculiaridades e particularidades, percebe-se a necessidade de conferir a determinados

grupos uma proteção especial e particularizada, em face da sua própria vulnerabilidade.

Isso significa que a diferença não mais seria utilizada para a aniliquilação de direitos,

mas para a promoção deles. Nesta ótica, determinados sujeitos de direitos, ou

determinadas violações de direitos exigem uma resposta específica e diferenciada

(Piovesan, 2008). As ações afirmativas são tentativas de concretização da igualdade

substancial ou material, correspondendo ao ideal de justiça enquanto reconhecimento de

identidades, como a igualdade orientada pelos critérios de gênero, orientação sexual,

idade, raça, etnia, entre outros (Piovesan, 2008). Durante as duas últimas décadas as

Ações Afirmativas vem sendo implementadas no campo da educação superior no Brasil.

As primeiras nasceram nas universidades da Bahia e Rio de Janeiro, e depois foram

atingindo outras universidades em diversas regiões do país. As Ações afirmativas têm

como objetivo não apenas coibir a discriminação do presente, mas sobretudo eliminar os

efeitos que ainda persistem (comportamentais, culturais e psicológicos) da

discriminação do passado, que tendem a se perpetuar. É a chamada discriminação

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estrutural, que é institucionalizada no Brasil e permeia todas as áreas da vida (ONU,

2012), ela perpetua desigualdades sociais entre os grupos dominantes e marginalizados.

A Ação Afirmativa configura também como meta a implementação de uma certa

diversidade em ambientes específicos, antes dominantemente composto por pessoas já

selecionadas, tal como as Universidades, dando uma maior representatividade de grupo

minoritários nos mais diversos domínios de atividade pública e privada, e

principalmente acabando com hierarquias, perpetuações de grupos classistas e elitistas

em diversos setores da sociedade civil, onde antes era inalcançável que uma parcela da

população se apropriasse, seja academicamente, culturalmente ou socialmente dessas

demandas. Argumenta-se igualmente que o pluralismo que se instaura em decorrência

das ações afirmativas traz inegáveis benefícios para os próprios países.

Neste contexto, surgem no Brasil as Políticas Públicas voltadas para a Ação

Afirmativa, como o Reuni e Prouni. O Prouni conforme dito no projeto de pesquisa, é

uma política do governo federal que passou, a partir de 2005, a exigir das universidades

privadas beneficentes, um percentual de bolsas para alunos egressos do ensino médio da

rede pública ou bolsista integral da rede privada e para estudantes com deficiência. E o

Reuni. Segundo Cazarin (2012) é o Plano de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais- instituído pelo decreto 6096 de 24 de abril de 2007 que

objetiva ser mais do que uma iniciativa governamental, na medida em que está alinhado

às propostas de dirigentes das universidades federais para a educação superior pública,

visando melhorar sua qualidade. Alguns dos seus objetivos, é criar condições para o

acesso e permanência na educação superior pública, no nível de graduação. (Brasil-

MEC-REUNI).

Com a implementação dessas medidas, como por exemplo o PROUNI (Programa

Universidade Para Todos), do Governo Federal, que promove acesso à Educação

Superior Privada a sujeitos antes excluídos da Educação Superior, é incrementado, no

sentido lato, a diversidade e, no sentido estrito, a inclusão de grupos historicamente

excluídos (Gonçalves, 2014). Podemos concluir que tais políticas que promovem a

inclusão são responsáveis pela entrada de um novo modelo de acesso ao ensino superior

e promovem a emergência de uma inclusão dos grupos historicamente desiguais nestes

setores da sociedade. Trabalhamos a partir do conceito teórico de Joaquim Barbosa

(2001), que define política de ação afirmativa como sendo políticas públicas (e

privadas) voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade material e à

neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem

nacional e de compleição física. Deste modo, com as demandas organizadas pela

sociedade civil e movimentos sociais, surgem vários programas nas universidades que

adotam modalidade diversas de reserva de vagas, como as cotas raciais, por renda, entre

outros. Como sabemos, a raça/cor é uma construção social e tem explicado o lugar que

as pessoas ocupam na sociedade. A forma como cada identidade racial é construída

implica adesão ou não a ela. Sendo assim, mudanças positivas se refletem na adesão a

determinada identidade. Soares (2008) aponta para uma interpretação possível para o

fenômeno: segundo ele, a partir do início dos anos 2000, em função de mudanças

políticas e sociais, as pessoas tendem a ter menos temor de assumir a identidade negra

por exemplo.

As Ações Afirmativas são imprescindíveis neste contexto histórico, pois são

políticas públicas voltadas para sujeitos antes excluídos historicamente de diversos

setores da sociedade brasileira, proporcionando assim a diversidade e inclusão social, tal

como o PROUNI dentro das Instituições de Ensino Superior. A presente Pesquisa

propõe conhecer o perfil e a trajetória dos estudantes do PROUNI da PUC-Rio,

ingressantes no ano de 2005 e 2006. A análise dos dados será baseada nas entrevistas

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que serão realizadas com os alunos bolsistas-PROUNI do Centro de Ciências Sociais

(CCS) da PUC-Rio. Estas questões nos ajudarão a compreender o significado de uma

política afirmativa na vida de estudantes oriundos de classes populares e como se dá

esta trajetória em uma instituição de educação superior reconhecida como formadora da

elite Brasileira.

Resumo da Síntese dos Indicadores Sociais no Brasil: desafio na educação

superior no Brasil

A educação tem um papel fundamental na inserção social dos indivíduos, sendo um

bem coletivo essencial para a promoção da cidadania e demonstra um visível

rebatimento social nas condições gerais de vida da população como um todo. Sendo a

educação a principal mediadora de oportunidades futuras na vida de um cidadão nas

sociedades democráticas, é essencial que os objetivos de uma sociedade seja a elevação

da educação de seu povo, da qualidade e a maior igualdade no acesso à esta educação de

qualidade, estes princípios devem ser sempre mantidos como prioridades e um direito

inalienável para todos em uma Democracia.

Diante de tantos desafios apresentados na Educação Superior no Brasil, fizemos um

resumo da Síntese dos Indicadores Sociais no Brasil (Brasil,2014) partir dos dados

referência que serão apresentados a seguir . Estes dados são focados no campo da

Educação Superior. Com o resumo apresentado neste estudo e principalmente pelo

recorte dos capítulos: Educação e Crianças, Jovens e adolescentes, que focam na

questão do trabalho do jovem e a Educação em geral, poderemos analisar melhor os

dados apresentados pela pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD),

realizada pelo IBGE, que permitem retratar o sistema educacional brasileiro e explorar

diversas dimensões da escolaridade da população brasileira e que surgiram como dados

primordiais para o entendimento da análise dos elementos de nossa Pesquisa.

Mercado de trabalho e escolaridade da juventude Brasileira: desemprego e

falta de acesso à Educação Básica

Da mesma maneira que houve avanços significativos na inserção dos jovens na

escola e no mercado de trabalho nos últimos anos, merece destaque a quantidade de

jovens que em 2014 não trabalhavam nem estudavam no ensino regular. Entre os jovens

de 15 e 29 anos de idade, praticamente 1 em cada 5 não frequentava escola de ensino

regular e não trabalhavam em 2013. Já no grupo do grupo etário mais jovem de 15 e17

anos a proporção foi de 10,2%, enquanto entre os de 18-24 anos a incidência chegou a

24% dos jovens, e para aqueles com 25-29 anos de idade o indicador foi maior com

21,8%. Entre o elevado número de jovens da faixa etária de 15 e 29 anos que não

estudavam ou trabalhavam grande parte residia nas regiões nordeste e norte do país se

comparada com a proporção de jovens residentes nestas regiões (38,3%). Comparando o

total dos jovens há um certo equilíbrio entre os sexos, com pequena maioria feminina

(50,1%), merece destaque que no grupo daqueles que somente trabalhavam os homens

eram maioria (59,6%) e no grupo que não trabalhava e nem estudava as mulheres eram

maioria (68,8%). No grupo de jovens que não trabalhava ou estudava, os pretos e pardos

tinham maior participação (62,9%) do que no grupo total de jovens (56,1%) e em

qualquer outra categoria de atividade na semana de referência. É de grande ênfase

ressaltar que os jovens que não trabalhavam nem estudavam apresentaram 8,6 anos de

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estudo em média, sendo que para o grupo de jovens que somente trabalhava este valor

atingiu 9,8 anos e para aqueles que trabalhavam e estudavam foi de 10,4 anos. Mesmo

para os jovens que somente estudavam, formado principalmente por jovens entre 15 e

17 anos de idade, a escolaridade média foi ligeiramente superior (8,8 anos) ao do grupo

que não trabalhava nem estudava. Para os jovens que não trabalhavam nem estudavam,

30,7% não tinham o ensino fundamental completo, mas cerca de 46,6% já tinha ensino

médio completo ou nível mais elevado. Entretanto, essa proporção é menor se

comparada com aqueles que trabalhavam e estudavam, em que 49,8% tinham ensino

médio completo ou nível mais elevado, ou no grupo que somente trabalhava, onde

59,9% tinham este nível de instrução.

A proporção de jovens de 15 a 17 anos de idade entre 2004 e 2013 que

frequentavam a escola cresceu somente 2,5 pontos percentuais, passando de 81,8% em

2004 para 84,3% em 2013. No aspecto da educação básica cabe ressaltar que as

desigualdades regionais são significativas. Em 2013, o Norte possuía a menor proporção

de crianças de 4 a 5 anos na escola (67,9%), contra 87% no Nordeste e 85% no Sudeste.

Além disso, 27,2% das crianças dessa faixa etária, que viviam na área rural, não

frequentavam a escola. O acesso à escola estava próximo da universalização (93,1%)

para o quinto mais rico (os 20% com maiores rendimentos), enquanto as crianças de 4 a

5 anos pertencentes ao quinto mais pobre (os 20% com menores rendimentos)

apresentaram uma escolarização de 75,2% (Cadernos do GEA, 2012)

Recortes Regionais, Raciais e de Gênero

Segundo a pesquisa do IBGE (2014), a partir de um recorte racial, os jovens de 15-

17 anos de idade brancos possuíam uma taxa de frequência escolar líquida 14,4%

pontos percentuais maior do que a dos jovens pretos ou pardos, com 49,3%. As

mulheres tinham frequência escolar líquida de 9,9% pontos percentuais maior do que a

dos homens. A vantagem das jovens pode estar relacionada a papéis de gênero que

direcionam os jovens mais cedo para o mercado de trabalho, reduzindo seu tempo

disponível para os estudos e agravando seu atraso escolar.

Ao analisarmos esses dados podemos chegar ao desfecho que a falta de

possibilidade de acesso à Educação no Brasil tem claramente um recorte por região, cor

e gênero. Homens do Norte e Nordeste, moradores de áreas rurais e de cor preta ou

parda estão visivelmente mais vulneráveis a falta de oportunidades para a garantia do

acesso ao conhecimento. Passamos para um novo contexto, no qual passa a importar a

discussão concreta acerca dos mecanismos e critérios adotados pelas políticas de

inclusão, diferentemente do anterior no qual o debate dominante era o normativo, que se

preocupada principalmente com a questão da legalidade e constitucionalidade da ação

afirmativa étnico-racial.

Vulnerabilidade Racial e Regional a partir da distorção idade-série

A distorção idade-série atingia quase metade dos estudantes de 13-16 anos de idade

em 2004 (47,1%) e 41,4 % deles em 2013, totalizando cerca de 3,7 milhões de

estudantes. Em 2013 as Regiões Norte e Nordeste apresentaram as maiores taxas de

distorção idade-série (55,2% e 52,2%), respectivamente. Além disso a proporção desses

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estudantes com atraso no ensino fundamental era mais elevada entre os estudantes da

rede de ensino pública, homens, residentes de área rural e de cor preta ou parda.

Ademais, os 20% mais pobres da distribuição do rendimento mensal familiar per capita

nacional possuíam taxa de distorção idade-série 3,3 vezes maior do que a taxa dos

estudantes pertencentes aos 2º% mais ricos, fazendo com o que o atraso escolar afetasse

mais da metade desses estudantes (54%). Outro fato importante é o aumento da

proporção de pessoas de 18-24 anos de idade que frequentava o ensino superior, essa

proporção era de 10,4% em 2004, e passou para 16,3% em 2013, mas terá que dobrar

até 2020 para atingir a Meta 12 do Plano nacional de educação (PNE), que prevê essa

expansão, assegurando a qualidade de oferta (Cadernos do GEA, 2012).

1.4. Democratização e garantia do acesso à Educação Superior: redução das

desigualdades e a questão étnico-racial

A focalização do debate midiático sobre o tema “ação afirmativa” é sempre sobre a

questão étnico-racial. Contudo, em 2012 a modalidade mais frequente de ação

afirmativa adotada pelas universidades públicas brasileiras tem como beneficiários

alunos oriundos da escola pública: 61 de um total de 98 instituições. Enquanto que

apenas 40 instituições têm políticas focalizadas para negros (ou pretos e pardos).

Ao falarmos de Ações Afirmativas é de grande importância contextualizar o

protagonismo do Movimento Negro na luta por esses direitos e de seus simpatizantes ao

articular a demanda por inclusão frente às universidades por todo o Brasil. Atingimos

em todo o país um percentual de 72% de universidades públicas com o acolhimento de

algum tipo de política de ação afirmativa, o que representa uma vitória para a

democracia e paridade social. Entretanto as universidades ao serem pressionadas por

esses setores da sociedade civil organizada, elas reagiram, cada uma a seu modo,

pouquíssimas vezes criando cotas somente para negros (quatro casos), muitas vezes

criando cotas para negros e alunos de escola pública (31), e majoritariamente criando

cotas para alunos de escola pública. Não houve, por outro lado, nenhum movimento

independente para a inclusão de alunos pobres no ensino superior. Em suma, se não

fosse pela demanda por inclusão para negros, o debate sobre o papel da universidade no

Brasil democrático certamente estaria ainda bem mais atrasado. A partir da exposição

do assunto referente às cotas estar atualmente na mídia, diversos setores criticaram

fortemente as políticas, com o argumento de que a ação afirmativa beneficiaria somente

a classe média negra. Contudo, seis universidades, entre elas as universidades estaduais

do Rio de Janeiro, exemplos pioneiros de adoção de ação afirmativa no país, adotam o

critério de renda. No caso das universidades fluminenses, os programas que começaram

em 2003 tinham cotas para escola pública separadas de cotas para “negros e pardos”,

mas em 2005 a lei foi alterada passando a sobrepor um limite de renda à cota racial. Isso

confirma que a reclamação é apenas mais um dos muitos modos da velha elite reagir

para manter seus privilégios em nome de uma qualidade que ignora e desdenha a

diversidade e a equidade como valores essenciais da sociedade democrática.

Segundo os dados do Censo de 2011, que foram apresentados em outubro de 2012

pelo ministro da Educação Aloizio Mercadante, apontam o crescimento das matrículas e

o aumento da participação das vagas das instituições federais no conjunto das

universidades públicas. O Censo de 2011 registra pouco mais de 6,7 milhões de

matrículas, com a preponderância do bacharelado (66,9%) sobre a licenciatura (20,2%)

e o ensino tecnológico (12,9%). A taxa de escolarização líquida chega a 14,6% e a bruta

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a 27,8 %. O total de matrículas na educação superior de graduação no Brasil cresceu

5,7% no período de um ano (2010-2011). O ministro Aloizio atribuiu este crescimento

significativo a programas tais como o Programa Universidade Para Todos (ProUni) e o

Programa de Financiamento Estudantil (Fies). Já nas Universidades federais, foi

superada a marca de um milhão de matrículas de graduação, registrando um

crescimento de 10% das vagas no intervalo de um ano, enquanto a rede privada cresceu

4,8% no mesmo período (Cadernos da GEA, 2012).

Outro tema em debate é a redução das desigualdades, de 1997 a 2011, a parcela

dos jovens de 18-24 anos que frequentavam ou haviam concluído o ensino superior de

graduação aumentou expressivamente, a taxa passa de 7,1% em 1997 para 17,6% em

2011. A participação dos jovens de 18-24 anos que integram o grupo dos 20% com

menor rendimento da população teve um aumento na porcentagem de matrículas no

ensino superior. Em 1997, apenas 0,5% de jovens desta faixa de renda frequentavam

cursos de graduação. Em 2004, essa proporção ainda era de 0.6% e em 2011, este

número teve um aumento relevante para 4,2%. A celeridade do crescimento é

significativo, porém a desigualdade persiste: a proporção dos jovens de 18-24 anos do

grupo dos 20% com maior renda da população passa de 22,9% para 47,1%, no período

entre o final do século passado e a data do último Censo. Sendo assim, o desafio é

aumentar a velocidade do crescimento dessa participação e garantir políticas de

permanência que levem esses jovens à conclusão dos cursos que escolheram, dentro dos

prazos acadêmicos. É constatado que cerca de 80% dos jovens negros ainda não têm

acesso ao ensino superior, mas a boa notícia é que houve um aumento de estudantes

negros nas universidades. Entre 1997 e 2011 o número quadruplicou, se considerarmos

a população com idade entre 18-24 anos, a proporção de jovens negros passa de 4% em

1997 para 19,8% em 2011. Já considerando estes jovens dessa mesma faixa etária, ainda

persiste uma profunda desigualdade regional, como citado anteriormente a partir da

análise da Síntese dos Indicadores Sociais de 2014. Nas regiões Norte e Nordeste

apenas 11,9% dos jovens alcançaram o nível superior. Contudo, os números apresentam

um bom crescimento, pois em 1997 essas proporções eram de somente 3,5% para

jovens da região Norte e 3,4% para o Nordeste. Nas demais regiões do país,

considerando a faixa etária de 18-24 anos, houve uma inversão de posições. Em 1997, a

região Sudeste detinha a maior proporção de jovens universitários: 9,3% seguida de

perto pela região Sul, com 9,1%. Já em 2004, a região Sul passa a liderança, registrando

17,3% dos jovens no ensino superior, enquanto a região Sudeste alcança 15,4%, seguida

perto pela região Centro-Oeste com 14%. Em 2011, impulsionada pelos números do

Distrito Federal, a região Centro-Oeste apresentava o melhor resultado: 23,9% dos

jovens entre18-24 anos frequentavam ou concluíram o nível superior. No ano de 2011, a

região Sul alcançava 22,1% e o Sudeste tinha 20.1% de seus jovens no nível superior.

O Brasil tem sido indicado como o país campeão mundial da distorção idade/série,

tal como apresentado anteriormente nos dados. É um atraso resultante também da

cultura de reprovação que ainda domina muitos sistemas de ensino. Essa distorção se

agrava quando se leva em conta as variáveis de renda, região e cor principalmente.

Outro fator importante de se ressaltar é a desigualdade de gênero. No Censo de 2011, na

faixa etária entre 18-24 anos, foi registrado um percentual de 20,5% de mulheres contra

14,6% de homens. No caso dos jovens do sexo masculino, as causas dessa distorção

talvez estejam associadas ao crescimento da mortalidade de jovens por causas externas.

Se observarmos a situação regionalmente, na região Centro-Oeste com a militarização

das favelas é visível constatar a mortalidade de jovens a partir do genocídio dos jovens

negros ocasionado pela violência urbana, criminalização das drogas e a falta de

oportunidade para um futuro melhor. A maioria dos jovens assassinados é do sexo

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masculino (92%) e, dentro desse universo, os negros são os mais atingidos, numa

proporção de 103%, ou seja, para cada jovem branco assassinado, morre mais do que o

dobro de negros.

A lei de cotas, 12.711/12, ao definir a reserva no ensino superior para escolas

públicas, sem restrições, estabelece, a princípio, uma competição desigual: estudantes

das escolas técnicas federais de nível médio, dos colégios militares e dos colégios de

aplicação das universidades públicas têm, em geral, melhores condições para disputar as

vagas reservadas do que os demais estudantes de escolas públicas dos sistemas de

ensino. No ano de 2010 haviam 274 IES (Instituições de Educação Superior) públicas

no país segundo o Censo Nacional de Educação Superior, divulgado pelo INEP

(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Dessas IES, 81 (29,6%)

possuíam algum tipo de reserva de vaga. Ou cotas de acesso, para alunos ingressantes.

Dentre os 408.562 alunos ingressantes de todas as IES públicas, somente 44.398

(10,9%) haviam entrado no ensino superior por meio de algum tipo de reserva de vaga

no ano de 2010. Desses 44.398 alunos, 13.842 ingressaram em vagas destinadas a ações

afirmativas de ordem étnicas, isto é, voltadas para pretos, pardos, índios e

remanescentes de quilombos. Já o restante de alunos (32.851) ingressaram em uma

Instituição de Ensino Superior (IES) pública em 2010, por cotas de acesso a estudantes

oriundas de escolas públicas. Dos 7.305 cursos oferecidos por todas as IES públicas do

Brasil em 2010, 2.389 (32,7%) adotavam o sistema de cotas em seu processo seletivo,

os cursos com maior proporção de cotas em relação ao total eram as Áreas de Humanas

e Letras (42,6%), Odontologia (42,1%), Veterinária (41,1%), Serviço Social (40,%) e

Medicina (39,7). Em carreiras reconhecidamente prestigiadas, como Medicina e Direito,

por exemplo, a presença relativa de ingressantes por meio de cotas étnicas foi apenas de

4,1% do total de alunos para ambos os cursos. Do total de cotistas que ingressaram em

algum IES pública em 2010, somente 18,3% (8.134) recebiam algum tipo de assistência

estudantil. Os alunos cotistas recebiam respectivamente 10,2% para alimentação, 6,1%

bolsa permanência e 3,4% auxílio moradia. Já entre os não cotistas, 6,9% recebiam

alimentação, 1% bolsa permanência e 1% auxílio moradia. No mesmo ano, em 2010

haviam 1.461.691 alunos matriculados nas IES, apenas 7,2% (105.855) haviam entrado

no ensino superior por meio de algum tipo de reserva de vaga, e somente 12% do total

de alunos (175.692) eram beneficiários de apoio social, fossem cotistas ou não. Do total

de estudantes que ingressaram por meio de reserva de vagas, 22,5% (23.824)

acessavam algum tipo de benefício social. O auxílio mais frequente é a alimentação

entre os cotistas, 102% dos casos (10.808), enquanto o apoio por meio de material

didático continua inexpressivo: somente 0,1% (98) dos cotistas recebiam no ano de

2012.

Chegamos ao resultado que atualmente continua sendo um desafio a

implementação de políticas de ação afirmativa e principalmente a expansão do número

de ingressos por reserva de vagas (no que diz respeito também a questão étnico-racial )

e a adoção de políticas de apoio e permanência estudantil. Sem o incentivo de

mecanismos voltados para a permanência estudantil de alunos cotistas ou do ProUni em

IES particulares, corre-se o risco de ver inviabilizada a aplicação da Lei de Cotas e os

esforços em prol de uma equidade do sistema de ensino superior brasileiro.

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Pesquisa /Procedimentos Metodológicos

A pesquisa proposta é do tipo qualitativa, que segundo Minayo, é a metodologia

que “trabalha com o universo de significados, aspirações, crenças, valores e atitudes, o

que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos

fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (2001, p.

22). As abordagens técnicas a serem utilizadas para coleta de dados são: o levantamento

e organização dos dados dos estudantes Prounistas que se matricularam nos anos de

2005 e 2006, por meio do banco de dados existente na universidade, elaboração do

perfil destes estudantes e a realização de entrevistas. No atual momento a Pesquisa já

realizou o levantamento, a organização e sistematização referentes aos dados dos

estudantes do Prouni matriculados nos anos de 2005 e 2006.

Atividades Desenvolvidas na pesquisa

Além disso, do período de agosto de 2014 até o presente momento, desenvolvi e

participei das seguintes atividades:

1. Reuniões supervisionadas.

2. Leitura e discussão de textos com a minha orientadora, para a melhor compreensão

do tema, como: ações afirmativas, questão racial no Brasil, inclusão no Ensino Superior

Brasileiro e políticas de apoio estudantil.1

3. Levantamentos e análises bibliográficas em base de dados, periódicos científicos,

dissertações, teses e leitura de bibliografia específica.

4. Participação no grupo de pesquisa “ Políticas de reconhecimento e ações afirmativas”

no Departamento de Serviço Social.

5. Elaboração de resenhas a partir do levantamento bibliográfico estudado

6. Participação em Eventos com as temáticas: Ações Afirmativas; Políticas Públicas no

Brasil; Relações étnico-raciais e, além disso, minha militância pessoal como aluna e

representante do Centro Acadêmico de Serviço Social da Puc-Rio dentro do Movimento

dos Estudantes de Serviço Social (MESS), sendo a temática permanência estudantil um

1 Em Anexo no final do Relatório

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dos temas mais abordados durante os Encontros, Congressos e discussões entre os

universitários militantes de todo o país.

Resultados da Pesquisa

A partir do levantamento dos dados referentes aos estudantes do PROUNI ingressantes

nos anos de 2005 e 2006, alguns dados foram sistematizados e transformados em

gráficos. Nesta fase inicial da pesquisa organizou-se os dados referentes ao quantitativo

de alunos PROUNI inseridos por departamento do Centro de Ciências Sociais em 2005,

que foi o primeiro ano de implementação desta política na universidade. A seguir,

sistematizou-se os dados referentes ao segundo ano, 2006, para posteriormente fazer

uma análise quantitativa como será visto a seguir. Apresentaremos os resultados da

pesquisa que engloba os Departamentos de: Administração, Ciências Sociais,

Comunicação Social, Direito, Economia, Geografia, História, Serviço Social e Relações

internacionais.

Análise do banco de dados da Puc-Rio

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Observação: Outros (Matriculado, Falecido, Transferido para uma outra IES,

Habilitado para a formatura)

Algumas considerações sobre a Pesquisa

Com base na documentação analisada durante a Pesquisa em relação ao Centro de

Ciências Sociais, podemos corroborar que a partir da implementação do Prouni na Puc-

rio em 2005 até o segundo ano do programa no ano de 2006, há um crescente aumento

no número de vagas oferecidas dentro desta Instituição de Ensino Superior em todos os

Cursos do CCS. É de grande importância salientar que diversos alunos das áreas de

Licenciaturas e Bacharelado, como: História, Serviço Social, Ciências Sociais e

Geografia vêm sendo contemplados com Bolsas (Filantrópica ou PUC-Rio) integrais ou

parciais desde a década de 1990 até os dias de hoje. E a partir da experiência adquirida

no PVNC( Pré- Vestibular para Negros e Carentes), e pelas Bolsas Filantrópicas

oferecidas principalmente nos Cursos de Serviço Social e Licenciaturas e Bacharelado

(História, Geografia e Ciências Sociais), a Puc-Rio foi pioneira como Instituição de

Ensino Superior a implementar Ações Afirmativas, e deu como base uma experiência

orgânica no que anos depois iria se consolidar como um Programa Federal em todo o

Brasil chamado PROUNI.

Sendo assim, o programa afirmativo da PUC-Rio se desenvolveu em duas etapas: a

primeira na década de 1990, os alunos, especialmente oriundos do PVNC, após serem

aprovados pelo vestibular tradicional, recebiam uma bolsa de isenção de pagamento das

mensalidades durante o período cursado na universidade, conhecidas como bolsa de

ação social. Durante os primeiros anos do programa, o grupo de beneficiários do PVNC

se ampliou e abrangeu também estudantes de pré-vestibulares comunitários, militantes

dos mais diversos movimentos sociais-religiosos-políticos e moradores-liderança das

favelas e periferias do Rio de Janeiro. Esta bolsa tinha a seguinte peculiaridade: ao

mesmo tempo que possibilitaria ao aluno cursar a PUC-Rio com bolsa de estudo

integral, o estudante deveria continuar desenvolvendo sua atividade comunitária através

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de ações voluntárias nos próprios cursos ou em instituições sociais. Já em um segundo

momento, o programa de bolsas da Puc-Rio é ampliado e passa a abarcar o PROUNI,

uma política pública do Governo Federal. Estes dois momentos de ação inclusiva na

Puc-Rio são voltadas para inserção de grupos historicamente discriminados é um

cenário que retrata os caminhos percorridos por múltiplos atores e por diferentes

instituições. A PUC-Rio continua implementando as duas modalidades de ações

afirmativas, o programa social originário da instituição, em consonância com o

programa de política pública federal, o PROUNI. Uma proposta que se alargou e que

durante a sua constituição foi se reestruturando, partindo de um programa institucional

para uma política pública federal. No que alude a PUC-Rio, os programas afirmativos

vêm ao longo de praticamente duas décadas, incluindo alunos de diversos segmentos

socioculturais em uma universidade reconhecida como centro de formação acadêmica

da elite brasileira. Esta experiência vem trazendo resultados efetivos. Hoje, há um

número bastante representativo de alunos bolsistas nos diversos cursos de graduação da

Universidade. A PUC-Rio tinha no primeiro semestre de 2010, um total de 12.912

alunos de graduação, sendo que 42% possuíam algum tipo de bolsa ou financiamento.

Referente às bolsas de 100%, 1.003 estudantes eram beneficiados com bolsas integrais

pelo PROUNI e 145 recebiam bolsa Ação Social, o que se refere a praticamente a 10%

do alunado ( Santos, 2011), dados que são bastante significativos.

Ademais, é fundamental ressaltar a relevância do PVNC, durante todo esse

processo de consolidação das Ações Afirmativas na Puc- Rio, tanto na fase inicial

quanto na segunda fase. A partir da parceria PUC-Rio e PVNC foi firmado um acordo

com a concessão de bolsas para estudantes oriundos do pré-vestibular, na grande

maioria sujeitos negros e oriundos da classe trabalhadora. Segundo Nascimento (2002),

no contexto histórico dos cursos pré-vestibulares populares, o Movimento Pré-

Vestibular para Negros e Carentes (PVNC) tem um papel fundamental, foi o primeiro a

organizar-se como uma rede, a buscar parcerias, a negociar isenções de taxas de

inscrição e bolsas de estudos com universidades públicas e privadas, a mover ações

judiciais contra universidades para garantir o direito de fazer a prova do vestibular para

os estudantes mais pobres, a utilizar a mídia para divulgar amplamente o seu projeto, a

divulgar sua experiência em eventos políticos e acadêmicos, a aparecer em documentos

governamentais.

“O PVNC é uma importante representação dos novos movimentos sociais,

porque traz na sua constituição a originalidade dessas organizações que

privilegiam, nas ações, dois aspectos: a consolidação dos cidadãos, pobres e

negros, do direito a ter direito, e uma busca pela efetivação dos direitos, neste

caso, a inclusão universitária”. (Clapp, 2009).

O programa afirmativo era voltado para o “aluno-militante”, um sujeito

comprometido com a questão social. Este modelo de Ação Afirmativa é ainda

implementado pela Vice-Reitoria Comunitária da PUC-RIO e vem se diversificando ao

longo dos anos, com outros tipos de bolsa e público-beneficiário.

No que se refere ao PROUNI e seus desdobramentos na Puc-Rio é possível

constatar que no Departamento de Administração dos 11 alunos Prounistas no primeiro

ano de implementação do Prouni (2005), há um aumento o ano seguinte para 20 vagas,

somando 31 alunos Prounistas no ano de 2006. No Departamento de Direito o aumento

é de 8 vagas em 2005 para 28 no ano seguinte, no Departamento de Economia há um

aumento de 7 vagas em 2005 para 17 vagas em 2006. Vale ressaltar que o Departamento

de Comunicação Social sobe de 13 vagas em 2005 para o número expressivo de 69

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vagas no ano de 2006, e no Departamento de Relações há um aumento de 5 vagas para 7

vagas em 2006. Nos Cursos de Licenciatura e Bachalerado o aumento foi menos

expressivo, tal como no Departamento de Geografia que subiu de 4 vagas para 6 no ano

de 2006, História não houve aumento nas vagas e Ciências Sociais de 1 vaga para sobe

2 vagas no ano seguinte.

A partir da documentação analisada é possível chegarmos a conclusão que houve

um aumento significativo de bolsas oferecidas pelo Prouni dentro da Instituição de

Ensino Superior Puc-Rio, triplicando de 50 prounistas para 161 entre os anos de 2005 e

2006, o que significa um avanço real em relação a democratização desta IES. Entretanto

é preciso investir na permanência estudantil, com base no banco de dados ainda é

relevante o número de alunos e alunas que são jubilados ou abandonaram o curso nos

anos de 2005-2006. Embora não haja um estudo referente a evasão destes estudantes,

pode-se trazer como hipótese a ausência de políticas voltadas para a permanência

estudantil.

Considerações finais

O mito da “Democracia Racial” no Brasil acaba por ser um processo de

Hierarquização das pessoas na sociedade (Paixão, 2015). A ideia de República é o povo

estar no poder, entretanto nos fica a provocação sobre: quem são as pessoas que estão

realmente no poder em nosso país. Boaventura (2003:56) afirma “Que temos o direito a

ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes

quando a nossa igualdade nos descaracteriza”. Políticas públicas, como as Ações

Afirmativas atualmente, representam um processo de resiliência no que tange a

historicidade do povo de descendência africana, e essa luta não consiste em, apagar a

página, mas em virá-lá. É um processo ativo de resistência, reestruturação e crescimento

em resposta à crise, aos desafios e a falsa ideia de Democracia Racial no Brasil.

Parafraseando Paixão (2015): o que se diz invisível, como os sujeitos que não possuem

acesso à Educação básica na verdade é visível diariamente aos nossos olhos.

Neste cenário social, político e educacional estão sendo desenvolvidas essas

políticas de expansão e democratização do ensino superior no Brasil, especialmente as

que tratam da inclusão dos estudantes egressos de escolas públicas, pelo Prouni via

Ação afirmativa. Essas políticas públicas deverão sempre buscar a implementação dos

direitos sociais, asseguradas Constitucionalmente. Ações afirmativas vêm como um

desafio para começarmos a descolonizarmos nossos pensamentos e des-

ocidentalizarmos nossa razão européia, descontruirmos o racismo que está enraizado na

sociedade brasileira (Cruz, 2014), com o objetivo de inclusão das pessoas antes

excluídas dos setores mais elitizados da nossa sociedade, como por exemplo, o direito à

formação acadêmica.

A pesquisa está em andamento, com a aplicação de entrevistas semiesturadas para

elaboração do perfil dos estudantes Prounistas oriundos do Centro de Ciências Sociais

(CCS) entre os anos de 2005 e 2006. Estas questões nos ajudarão a compreender mais o

significado de uma política afirmativa na vida de estudantes oriundos de classes

populares e como se dá esta trajetória em uma Instituição de Educação Superior

reconhecida como formadora da elite Brasileira.

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