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neuza-teixeira
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poema
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Ao véu de neve prendia.
Depois, ligeira, impaciente,
Chegava-se à gelosia
A ver se o sol já dourava
Os cimos da serrania,
E a alva flor da laranjeira
Ao véu de neve prendia.
De vez em quando chorava...
E o que chorar a fazia?
Saudades do que passara?
Terrores do que viria?
E a alva flor da laranjeira
Ao véu de neve prendia.
Mas são lágrimas de noiva,
Um só beijo as secaria,
São como gotas de orvalho
Quando o Sol as alumia;
E a alva flor da laranjeira
Ao véu de neve prendia.
Que longo porvir d'amores,
Que futuro de poesia,
Que palácios encantados
Lhe pintava a fantasia,
Quando a flor da laranjeira
Ao véu de neve prendia!
E ao casto leito de virgem
Dentro da alcova sombria,
A noiva, de vez em quando,
Inquieta os olhos volvia;
E a alva flor da laranjeira
Ao véu de neve prendia.
Por entre o rosai florido,
Que o balcão lhe entretecia
As avezinhas cantavam
Com festiva melodia.
E ela a flor da laranjeira
Ao véu de neve prendia.
Alto ia o Sol, resplendente
Na manhã daquele dia,
Cuja noite... Esta lembrança
Da noiva as faces tingia;
E a alva flor da laranjeira
Ao véu de neve prendia.
A mãe, vendo-a tão formosa,
Julgava um sonho o que via,
Que o vestido de noivado
As graças lhe encarecia,
E a alva flor da laranjeira
Do véu de neve pendia.
Vêm as irmãs, que a contemplam
Com inveja, eu juraria:
Ela baixa os olhos, cora,
O que mais bela a fazia,
E a alva flor da laranjeira
Do véu de neve pendia.
Junto delas, perturbada,
Quase nem falar podia;
Só as mães bem compreendem
O que a noiva então sentia,
Quando a flor da laranjeira
Do véu de neve pendia.
As horas passam tão lentas!
E o coração lhe batia,
A mãe chorava, coitada,
Com saudades o fazia;
E a alva flor da laranjeira
Do véu de neve pendia.
A sala já estava cheia;
A noiva achava-a vazia,
Que entre tantos convidados
Ainda o noivo se não via;
E a alva flor da laranjeira
Há muito do véu pendia!
Passa a manhã, e não chega!
Não chega, e é já meio-dia!
Nas varandas, nos eirados,
Se dispersa a companhia;
E a alva flor da laranjeira
Há tanto do véu pendia!
O rosto da bela noiva
Cada vez mais se anuvia,
Não sei que voz misteriosa
Desgraças lhe pressagia;
E a alva flor da laranjeira
Inda do véu pendia.
Fenece a tarde. Eis a noite,
Hora de melancolia.
No rosto dos convidados
Desassossego se lia,
E a alva flor da laranjeira
No véu da noiva tremia.