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INFLUÊNCIA DA ÁREA EFETIVA NO CISALHAMENTO E MASSA ADICIONAL DE MODELO UNIDIMENSIONAL NA PREDIÇÃO DA VIBRAÇÃO HORIZONTAL ACOPLADA À TORÇÃO EM NAVIO PORTA CONTENTOR Marcus Vinicius Schirmer Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Naval. Orientador: Severino Fonseca da Silva Neto, D.Sc. Rio de Janeiro Fevereiro de 2014

“Influência da Área Efetiva no Cisalhamento e Massa Adicional de … · 2014. 3. 11. · Este tipo de vibração é crítico neste tipo de embarcação, pois tem grandes aberturas

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INFLUÊNCIA DA ÁREA EFETIVA NO CISALHAMENTO E MASSA ADICIONAL

DE MODELO UNIDIMENSIONAL NA PREDIÇÃO DA VIBRAÇÃO

HORIZONTAL ACOPLADA À TORÇÃO EM NAVIO PORTA CONTENTOR

Marcus Vinicius Schirmer

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Naval e Oceânica da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Engenheiro Naval.

Orientador: Severino Fonseca da Silva Neto, D.Sc.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2014

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“Influência da Área Efetiva no Cisalhamento e Massa Adicional de Modelo

Unidimensional na Predição da Vibração Horizontal Acoplada à Torção em

Navio Porta Contentor”

Aluno: Marcus Vinicius Schirmer

PROJETO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA

NAVAL E OCEÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO NAVAL.

Examinado por:

__________________________________________

Prof. Severino Fonseca da Silva Neto, D.Sc.

__________________________________________

Prof. Carl Horst Albrecht, D.Sc.

__________________________________________

OSM Osvaldo Pinheiro de Souza e Silva, M.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

FEVEREIRO DE 2014

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Schirmer, Marcus Vinicius.

Influência da Área Efetiva no Cisalhamento e

Massa Adicional de Modelo Unidimensional na Predição

da Vibração Horizontal acoplada à Torção em Navio

Porta Contentor/ Marcus Vinicius Schirmer. – Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2014.

IX, 36 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Severino Fonseca da Silva Neto

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Naval e Oceânica, 2014.

Referências Bibliográficas: p. 36.

1. Vibração. 2. Área Efetiva. 3. Massa Adicional. I.

Silva Neto, Severino Fonseca. II. Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia Naval e Oceânica. III. Título.

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“Amigos meus, está chegando a hora

Em que a tristeza aproveita pra entrar

E todos nós vamos ter que ir embora

Pra vida lá fora continuar

Tem sempre aquele

Que toma mais uma no bar

Tem sempre um outro

Que vai direitinho pro lar

Mas tem também

Uma sala que está vazia

Sem luz, sem amor, sombria

Prontinha pro show voltar

E em novo dia

A gente ver novamente

A sala se encher de gente

Pra gente comemorar”

- Vinícius de Moraes

Dedico este trabalho para todas as amizades que fiz.

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v

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, quero agradecer aos meus pais, Elinete e Wolfgang, pelo

amor e carinho que sempre tiveram, mesmo em momentos difíceis, pela educação e

formação que puderam me fornecer, além de todas as oportunidades que tive. Sem eles

não teria chegado a esse momento, pois sempre apoiaram minhas decisões e muitas

vezes mostraram o melhor caminho a ser seguido.

Quero agradecer a minha namorada Daniela, pelos anos de apoio, carinho e

longas viagens, pelo apoio quando não aguentava mais e pelas alegrias que traz à minha

vida.

Também quero agradecer todos meus amigos, os de infância, da escola, e

especialmente aos da naval, que fiz nesses cinco anos e onde a amizade sempre continua

crescendo. Sem a ajuda de vocês não teria chegado nesse momento.

Ao grande mestre Severino, que sempre me apoiou com sua alegria, sua

dedicação e ensinamentos. Suas aulas eram sempre o ponto alto da semana e agradeço

por tê-lo conhecido, pois é um exemplo além de profissional, de pessoa e de vida.

Além disso, quero agradecer a todas as pessoas que precederam esse trabalho, e

que possibilitaram através de seus trabalhos o desenvolvimento deste.

Muito Obrigado.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Naval.

Influência da Área Efetiva no Cisalhamento e Massa Adicional de Modelo

Unidimensional na Predição da Vibração Horizontal Acoplada à Torção em Navio Porta

Contentor

Marcus Vinicius Schirmer

Fevereiro / 2014

Orientador: Severino Fonseca da Silva Neto

Curso: Engenharia Naval e Oceânica

Este trabalho tem como objetivo identificar a influência da área efetiva no

cisalhamento e da massa adicional no modelo unidimensional de um casco de um navio

porta contentor para a predição da vibração horizontal acoplada à torção. Este tipo de

vibração é crítico neste tipo de embarcação, pois tem grandes aberturas no convés,

diminuindo a resistência para movimentos laterais.

Para o modelo unidimensional são necessárias as propriedades das seções do

navio, que são calculadas no programa PROSEC, que utiliza a Teoria do Fluxo

Cisalhante em Paredes Finas, e a massa adicional é calculada pelo método de

Landweber e Macagno. Com estas propriedades, a viga-navio é modelada como uma

viga de Timoshenko em programa de Elementos Finitos.

Os resultados obtidos são comparados com as medições realizadas em um navio

porta contentor durante a prova de mar pelo laboratório da UFRJ.

Palavras-chave: Vibração, Área Efetiva no Cisalhamento, Massa Adicional.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

INFLUENCE OF EFFECTIVE SHEAR AREA AND ADDED MASS ON

UNIDIMENSIONAL MODEL TO PREDICT HORIZONTAL/ TORSIONAL

VIBRATION AT CONTAINER SHIP HULLS

Marcus Vinicius Schirmer

February/2014

Advisor: Severino da Silva Fonseca Neto

Course: Naval Engineering

This study aims to identify the influence of the effective shear area and

additional mass on unidimensional model of a container ship hull for the prediction of

horizontal/torsional vibration. This type of vibration is critical on container ships due to

its openings on the main deck, that decreases its resistance to this kind of movement.

For the modeling, the necessary properties of the ships sections are calculated by

the program PROSEC, based on the Theory of Thin-Walled Shear Flow, and the

additional mass is calculated by Landwebers and Macagnos method. With this

properties a model is build as a Timoshenko beam in a Finite Element program.

The obtained results from the model are compared to measurements made by a

laboratory of UFRJ at sea trials of a container ship.

Keywords: Vibration, Effective Shear Area, Additional Mass.

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Sumário

1 Introdução ................................................................................................................. 1

1.1 Importância e Motivação ................................................................................... 1

1.2 Objetivo ............................................................................................................. 2

2 Revisão Bibliográfica ............................................................................................... 2

3 Conceitos Teóricos ................................................................................................... 3

3.1 Vibração de Navios ............................................................................................ 3

3.2 Vibração de Vigas .............................................................................................. 3

3.2.1 Massa Adicional ......................................................................................... 4

3.2.2 Área Efetiva no Cisalhamento .................................................................... 7

4 Estudo de Caso ......................................................................................................... 9

4.1 Características da Embarcação .......................................................................... 9

4.2 Medição ........................................................................................................... 13

4.2.1 Método Utilizado ...................................................................................... 13

4.2.2 Locais Medidos ........................................................................................ 13

4.2.3 Aquisição de Dados .................................................................................. 15

4.2.4 Equipamentos Utilizados .......................................................................... 15

4.2.5 Processamento de Sinais ........................................................................... 16

4.2.6 Programas Utilizados na Medição ............................................................ 17

4.2.7 Resultados da Medição ............................................................................. 17

4.2.8 Análise da Medição .................................................................................. 25

5 Modelo Numérico ................................................................................................... 25

5.1 Rigidez ............................................................................................................. 25

5.2 Modelação Unidimensional da Viga-Navio .................................................... 27

5.3 Massa Adicional .............................................................................................. 29

6 Resultados da Simulação Numérica ....................................................................... 30

7 Análise dos Resultados ........................................................................................... 33

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8 Conclusão ............................................................................................................... 34

9 Referências Bibliográficas ...................................................................................... 36

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1 Introdução

1.1 Importância e Motivação

A análise da vibração é fundamental em sistemas oceânicos, sendo um dos

assuntos mais estudados na engenharia naval, pois vibrações excessivas podem acarretar

em falhas estruturais e de equipamentos, além de gerar problemas de qualidade de vida

da tripulação, através de sensações fisiológicas. Quando a frequência natural do sistema

coincide com a frequência de excitação de uma força externa, ocorre um fenômeno

conhecido como ressonância, capaz de magnificar o movimento e ocasionar grandes

deformações.

Devido aos efeitos devastadores que vibrações podem causar, testes vibratórios

são aplicados aos sistemas, também na fase de projeto. O estudo é bastante sofisticado,

devido à complexidade geométrica de embarcações e suas topologias estruturais. Para

fazer a predição das vibrações que podem ocorrer no sistema, é preciso um modelo

confiável. Para tal, podem ser desenvolvidos modelos tridimensionais, com resultados

bastante confiáveis, quando a simulação estiver refletindo a condição real do objeto de

estudo. Modelos tridimensionais, porém, exigem muito tempo para serem elaborados

por conta da complexidade do objeto, bem como do trabalho de modelação. Para

simplificar o modelo, diminuindo, consequentemente o esforço para obtenção de

resultados confiáveis, pode se representar a embarcação como uma viga, a partir das

propriedades mecânicas de suas seções, em um modelo unidimensional.

Para se representar o sistema como uma viga, há duas propriedades de difícil

obtenção que influenciam sensivelmente o resultado das frequências naturais de

vibração: a massa adicional do fluido adjacente ao casco, parte do componente de

massa, e a área efetiva no cisalhamento das seções, componente de rigidez, que definem

um sistema vibratório, além do amortecimento. Porém, este último componente pode

ser desprezado, já que tem pouca influência no resultado da frequência natural.

Em navios porta contentores, que tem grandes aberturas no convés, sendo por

este motivo suscetível às vibrações horizontais acopladas à torção, o estudo da

frequência natural destes modos é de suma importância, pois o funcionamento de outros

equipamentos nestas frequências deve ser evitado para que o sistema não entre em

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ressonância, resultando em modos perigosos de vibração para a operação da

embarcação.

1.2 Objetivo

O objetivo deste trabalho é estudar a vibração horizontal acoplada à torção em

porta contentores, através de um modelo unidimensional, e verificar a influência da

massa adicional horizontal e da área efetiva no cisalhamento horizontal nos resultados

obtidos, para a criação de um método confiável de predição da frequência natural nestes

modos de vibração ainda na fase de projeto da embarcação, comparando os com

resultados de escala real obtidos em prova de mar.

2 Revisão Bibliográfica

Para o desenvolvimento deste estudo, trabalhos precedentes de alunos e

pesquisadores da UFRJ foram fundamentais, das quais as mais relevantes, para este

trabalho, serão citadas a seguir:

Ortiz et.al [1] – Demonstra um procedimento para a obtenção da massa adicional

através de um modelo numérico, calibrado por um experimento em escala real para

fazer a predição das frequências naturais de um segundo navio do mesmo tipo.

Souza e Silva [2] – Demonstra a simplificação de um modelo unidimensional,

usando as propriedades das seções para obter as frequências naturais verticais da

embarcação e compara os resultados aos obtidos em medição de vibração em escala

real.

Nipper [3] – Estuda a influência da área efetiva no cisalhamento e da inércia da

seção, além da aproximação feita quando se considera a seção da seção mestra como

constante ao longo do comprimento do navio, no resultado do modelo numérico para a

frequência natural.

Silva [4] – Faz o estudo das propriedades das seções, elaborando um modelo

numérico unidimensional da embarcação, para obter a frequência natural horizontal

acoplada à torção, verificando os resultados com os da medição em escala real.

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3 Conceitos Teóricos

A seguir serão apresentados de forma breve os conceitos teóricos utilizados para

a elaboração deste trabalho.

3.1 Vibração de Navios

Segundo Souza e Silva [2], a vibração de navios consiste na vibração elástica do

casco e de suas partes, o que pode acarretar em deformações do mesmo, danificar a

carga e prejudicar a saúde e o bem-estar da tripulação, caso essas vibrações tenham

níveis excessivos.

Um navio pode sofrer vibrações classificadas como longitudinais, laterais -

horizontais e verticais - e torcionais causadas por forças excitadoras que variam ao

longo do tempo. A resposta do navio a essas forças depende das propriedades de suas

seções, como a rigidez da estrutura do casco e a distribuição de massa. Como ambas as

propriedades são distribuídas continuamente o sistema de vibração do navio pode ser

chamado de contínuo e representado pela vibração de uma viga.

3.2 Vibração de Vigas

Silva [4] descreve a vibração de uma viga como sendo definida por suas

propriedades de rigidez, meio de armazenar energia potencial; através de mola ou de sua

elasticidade, massa ou inércia, meio de armazenar energia cinética; e o amortecimento,

meio de dissipar energia, e ocorre quando excitada por forças dinâmicas que podem

variar ao longo do tempo e são originados por equipamentos operando no navio ou do

meio externo.

As vigas podem ser consideradas de dois tipos, a de Euler-Bernoulli, onde a seção

transversal é considerada pequena em relação ao seu comprimento e considera apenas o

momento fletor na deformação, ou a de Timoshenko, onde a dimensão transversal não

pode ser inferior a 10% em relação ao comprimento e também são considerados os

efeitos do cisalhamento e inércia de rotação das seções, permitindo que a seção se

deforme. Portanto o navio é representado por uma viga de Timoshenko, já que as

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dimensões da seção mestra não são pequenas em relação ao comprimento do navio e as

seções podem sofrer deformações.

A vibração da viga, por ter distribuição contínua de massa e rigidez, pode ser

descrita pela chamada “Equação do Movimento”, mostrada a seguir:

[ ]{ ̈} [ ]{ ̇} [ ]{ } [ ] (3.1)

Onde,

{ ̈}: aceleração do sistema;

{ ̇}: velocidade do sistema;

{ }: deslocamento do sistema;

[M]: matriz de massa;

[c]: matriz de amortecimento;

[k]: matriz de rigidez;

[f]: força de excitação.

Segundo Bilmer II [5], para encontrar as frequências naturais e os respectivos

modos de vibração do sistema, a condição é que não deve haver força de excitação e o

amortecimento pode ser desprezado. Assim a equação acima se reduz a:

[ ]{ ̈} [ ]{ } (3.2)

3.2.1 Massa Adicional

Como a embarcação está parcialmente submersa, a massa do sistema inclui, além

da massa da embarcação, a massa adicional. Esta é uma consideração feita para incluir a

interação do fluido com a estrutura e a influência que isto tem sobre a vibração. Essa

massa adicional depende principalmente do calado da embarcação e deve ser somada à

massa do navio, resultando na massa total. Existem diferentes métodos para o cálculo da

massa adicional, e o adotado neste trabalho é a de Landweber e Macagno, que

construíram curvas com os coeficientes de massa adicional bidimensional vertical, , e

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5

coeficientes de massa adicional bidimensional horizontal, , calulados como explicado

por Bilmer II [5] e mostrado a seguir:

(3.4)

(3.5)

Onde,

S(x): área imersa da seção na posição x, em m2;

b(x): meia boca da seção na posição x, em m;

d(x): calado da seção na posição x, em m.

Em função dos parâmetros λ e σ é possível determinar os valores dos

coeficientes e das curvas mostradas nas figuras abaixo:

Figura 1 - Coeficiente de massa virtual bidimensional para movimento vertical

(Fonte: Apostila Lopes e Troyman)

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Figura 2 - Coeficiente de massa virtual bidimensional para movimento horizontal

(Fonte: Apostila Lopes e Troyman)

Com isso, os valores das massas adicionais por unidade de comprimento podem

ser calculados através das seguintes expressões:

(3.6)

(3.7)

Onde,

: a massa adicional vertical;

: a massa adicional horizontal;

: a densidade do fluido;

b: a meia boca da seção;

d: o calado da seção.

Neste trabalho será estudada a vibração horizontal acoplada à torção do casco,

sendo necessária apenas a massa adicional horizontal, que diferentemente da massa

adicional vertical, se desloca horizontalmente e não retorna ao estado inicial.

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3.2.2 Área Efetiva no Cisalhamento

A área efetiva no cisalhamento da seção é uma propriedade, que está baseada na

Teoria do Fluxo de Tensões Cisalhantes em Paredes Finas, como encontrados em

Megson [6], e apresentado de forma resumida, conforme Souza e Silva [2], abaixo:

São consideradas as seguintes hipóteses:

1. A espessura do material é considerada pequena se comparada com as demais

dimensões da seção;

2. As tensões cisalhantes distribuem-se uniformemente pela espessura da parede;

3. O material é linear e isotrópico e;

4. Considera-se o coeficiente de Poisson nulo, uma vez que, segundo Chalmers [7], sua

inclusão na análise não se justifica.

Para uma seção plana qualquer, como apresentada acima, o fluxo cisalhante em

um ponto s da seção é determinado por:

000 ))(())(( qybdsytI

Szbdszt

I

Sq S

zz

yS

yy

zs

(3.8)

Sendo,

zzyy

yz

yy

yz

zy

y

II

I

I

ISS

S2

1

)(

(3.9)

Onde,

yS : Força cortante aplicada na direção y;

zS : Força cortante aplicada na direção y;

zy, : Coordenadas relativas ao centróide da área da seção;

zzyy II , : Momentos de Inércia de área centroidal;

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yzI : Momento de Inércia de área centroidal;

t : Espessura das paredes;

b : Área de reforço que absorve tensões normais, mas não tensões cisalhantes;

oq : Fluxo de tensão cisalhante no ponto inicial 0.

Com sq definido, torna-se necessário escrever uma equação para ak ' em função

do fluxo cisalhante. De acordo com a teoria elementar de flexão de vigas, assume-se que

a inclinação da elástica devido a uma forca cortante V seja dada por:

aGk

V

dx

dw

'

(3.10)

Onde,

G : Módulo de elasticidade transversal do material;

aGk ' : é o termo conhecido como “rigidez ao cisalhamento”.

A partir do Principio do Valor Estacionário da Energia Complementar Total do

Sistema Elástico, Megson [8], pode-se escrever que:

tdsdx

dwS *

(3.11)

Onde,

* : Tensão cisalhante por unidade de força cortante num ponto arbitrário da seção;

: Deformação de cisalhamento causada pela força cortante V .

Definindo tq ** e

, e se o sistema elástico é linear, *Vqq , logo:

s

dst

q

G

V

dx

dw 2*

(3.12)

Por fim, igualando equações acima:

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9

12

))*

(('

dst

qak S

(3.13)

A determinação de *q deve ser feita para a força cortante unitária na direção

relevante em questão.

No método proposto as paredes da seção são compostas por elementos retilíneos,

o que segundo Chalmers [7], subestima a área efetiva no cisalhamento em

aproximadamente 1%. O uso destes elementos retilíneos justifica-se pela maior

facilidade na solução das integrais.

4 Estudo de Caso

O presente trabalho foi desenvolvido, usando como base as medições de

vibração, em escala real, feitas e cedidas pelo LEME – UFRJ em uma embarcação do

tipo porta contentor. A seguir serão apresentadas a embarcação e as medições feitas a

bordo, como descritas por Silva [4].

A obtenção das frequências naturais do navio porta contentor foi realizada em

prova de mar e será comparado aos resultados obtidos em simulação numérica da viga-

navio, modelada em programa de Elementos Finitos, contendo as propriedades das

seções, calculadas por um programa baseado na Teoria do Fluxo Cisalhante em Seções

de Paredes Finas.

4.1 Características da Embarcação

Abaixo são mostradas as dimensões principais do navio porta contentor, além da

vista lateral e algumas seções:

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Tabela 1 - Dimensões Principais

Navio Porta Contentor

Comprimento Total 126,08 m

Boca 20,00 m

Pontal 10,40 m

Calado 8,08 m

Coeficiente de Bloco 0,73

Figura 3 - Perfil Longitudinal

A viga navio, com um total de 126,08 m, é dividida em 180 cavernas não equi-

espaçadas. A potência instalada total do sistema propulsivo é de 6080 HP a 200 rpm.

A seguir é mostrada a seção mestra, localizada na caverna 72, da embarcação

utilizada como base para os cálculos das propriedades de rigidez e massa ao longo do

comprimento do navio.

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Figura 4 - Seção Mestra (Caverna 72)

Como há mudança de geometria da embarcação ao longo do comprimento, a

seção mestra se mantém constante na parte de corpo paralelo, são usadas cavernas a ré e

à vante, onde há variação de forma, fazendo o cálculo das propriedades das seções

mostradas abaixo, sendo as cavernas 27 e 36 a ré, e as cavernas 136 e 141 à vante da

seção mestra:

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Figura 5 - Seções nas Cavernas 36 e 27

Figura 6 - Seções nas Cavernas 136 e 141

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4.2 Medição

Os resultados abaixo mostrados foram retirados do relatório das medições

realizadas a bordo do navio, cedidos pelo LEME – UFRJ. As medições de vibração

global no navio foram realizadas durante as viagens de partida de São Francisco do Sul

(SC) com destino a Vitória (ES) e com partida de Vitória (ES) com destino a São

Francisco do Sul (SC), nas condições de lastro e carregado, respectivamente.

4.2.1 Método Utilizado

O método consiste na instalação de transdutores de aceleração (acelerômetros),

em pontos estratégicos do casco, superestrutura e praça de máquinas do navio, para

aquisição simultânea das vibrações correspondentes aos graus de liberdade

selecionados, permitindo futura identificação do modo de vibração. Tendo em vista que

as frequências de interesse são baixas (menores que 30Hz), a variação de rotação do

motor e propulsor, responsáveis pelas forças e momentos de excitação mais relevantes,

foi realizada de forma refinada, com registros de alta duração em cada rotação, até

atingir a rotação máxima contínua. O processamento de sinais consiste no cálculo dos

espectros de vibração de cada grau de liberdade medido, em cada rotação, cuja evolução

das componentes harmônicas é obtida através de um programa gerenciador de

amplitudes.

4.2.2 Locais Medidos

Oito pontos da estrutura foram medidos, em diferentes rotações do motor

propulsor. Abaixo seguem os locais medidos e suas identificações.

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Figura 7 - Locais de Medição de Vibração Global

Onde,

(1V) – convés principal – popa (vertical);

(2L) – topo da superestrutura – vante (longitudinal);

(3T) – topo da superestrutura – vante (transversal);

(4V) – topo da superestrutura – vante (vertical);

(5V) – convés principal – vante da superestrutura (vertical);

(6L) – mancal de escora MCP (longitudinal);

(7T) – topo do MCP – vante (transversal);

(8V) – topo do MCP – vante (vertical).

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Neste trabalho utilizaremos os pontos 2L, 3T, 6L e 7T, pois são estes os pontos

onde são medidas as vibrações longitudinais e transversais.

4.2.3 Aquisição de Dados

Os equipamentos de aquisição de dados são compostos por módulos de

condicionamento de sinais, um por acelerômetro instalado, cuja função é alimentar a

ponte de Wheatstone do acelerômetro resistivo, receber, amplificar e filtrar o sinal de

aceleração, e enviar para uma placa analógica-digital diretamente ligada a um

computador. Um programa foi elaborado com instrumentos virtuais (“Virtual

Instruments”, VI), em ambiente “LabView”, para armazenamento dos dados.

4.2.4 Equipamentos Utilizados

As medições foram realizadas com os seguintes equipamentos para aquisição,

monitoração e registro dos sinais de vibração:

8 acelerômetros resistivos KYOWA de 2g;

1 controladora COMPACTDAQ com 2 módulosNI-9237 (4 canais cada módulo) da NATIONAL INSTRUMENTS;

1 notebook TOSHIBA SATELLITE U305 equipado com software especialmente desenvolvido em LABVIEW para 5a aquisição dos sinais.

A figura abaixo mostra o sistema de aquisição em funcionamento:

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Figura 8 - Sistema de Aquisição dos Dados

4.2.5 Processamento de Sinais

De cada registro temporal armazenado, para cada ponto medido em cada

rotação, foi calculado o correspondente espectro de vibração, obtido por transformada

rápida de Fourier (“Fast Fourier Transform”, FFT), em módulo do mesmo programa de

computador utilizado para a aquisição de dados. O conjunto de espectros foi gerenciado

por outro módulo do programa, que captura as amplitudes das componentes harmônicas

relevantes e apresenta graficamente sua evolução, em unidades de aceleração,

velocidade ou deslocamento, possibilitando identificar possíveis frequências naturais à

medida que haja uma passagem por condição de ressonância durante a variação de

rotação do motor.

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4.2.6 Programas Utilizados na Medição

Os sinais de vibração foram adquiridos e armazenados simultaneamente por um

sistema de aquisição Analógica/Digital.Esses sinais foram processados em laboratório

com a utilização da técnica de Transformada Rápida de Fourier (FFT) quando foi

possível realizar a análise espectral de todos os sinais.

Figura 9 - Programa de Aquisição dos Sinais de Vibração Global

4.2.7 Resultados da Medição

Foram realizadas medições de vibração global, nas rotações do MCP de 70, 80,

90, 100, 110, 120, 130, 149, 150, 155, 160, 165, 170, 175, 180, 190 e 195 rpm, em duas

condições de carregamento (lastro e carregado), simultaneamente em cada ponto acima

mostrado.

Os gráficos das evoluções dos principais harmônicos (1° devido ao eixo, 5°

devido à hélice com cinco pás e 8° devido ao MCP com oito cilindros), em função da

rotação do MCP, foram plotados a partir dos espectros obtidos nas medições, sendo

apresentados nas figuras a seguir. As medições no ponto (5V) apresentaram defeitos na

aquisição.

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Figura 10 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (1V) – Lastro

Figura 11 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (2L) – Lastro

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Figura 12 - Gráfico da Evolução das Ordens no Ponto (3T) – Lastro

Figura 13 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (4V) – Lastro

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Figura 14 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (6L) – Lastro

Figura 15 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (7T) – Lastro

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Figura 16 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (8V) – Lastro

Figura 17 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (1V) – Carregado

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Figura 18 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (2L) – Carregado

Figura 19 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (3T) – Carregado

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Figura 20 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (4V) – Carregado

Figura 21 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (6L) – Carregado

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Figura 22 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (7T) – Carregado

Figura 23 - Gráfico da Evolução das Ordens do Ponto (7T) – Carregado

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4.2.8 Análise da Medição

Dos gráficos mostrados acima, serão utilizados apenas os quatro pontos (2L, 3T,

6L e 7T) que medem as vibrações na direção longitudinal e transversal, interessantes

para o estudo da vibração horizontal e torcional da embarcação.

Deste conjunto de gráficos nota-se que na condição de lastro há uma frequência

natural de vibração lateral acoplada à torção no valor de 2,2 Hz, quando o motor está em

uma rotação próxima de 132 rpm, com velocidades de até 2,6 mm/s, no gráfico relativo

à posição (7T) e até 1,75 mm/s na posição (3T).

Embora não faça parte do objetivo deste trabalho, na condição de lastro há picos

nos gráficos relativos às posições verticais e longitudinais em uma rotação do motor de

180 rpm, ultrapassando uma velocidade de 6 mm/s no topo da superestrutura, na

frequência de 3,0 Hz e 1,5 Hz, na rotação de 90 rpm com velocidade de até 2,0 mm/s.

Disto é possível identificar os primeiros dois modos de vibração vertical do casco e suas

respectivas frequências naturais.

5 Modelo Numérico

A primeira etapa no desenvolvimento do modelo numérico do casco da embarcação

é fazer o cálculo das propriedades das seções, que serão aplicadas à viga

unidimensional, que em modelo de elementos finitos, deve representar a viga-navio

como uma viga de Timoshenko, de maneira simplificada em relação à modelação

tridimensional do mesmo. A partir do modelo de elementos finitos é feita a análise

dinâmica das frequências e dos modos de vibração, no caso horizontal acoplado à

torção.

5.1 Rigidez

Para fazer o cálculo da área efetiva no cisalhamento das seções foi utilizado um

método computacional desenvolvido pelo engenheiro pesquisador Troyman, chamado

PROSEC, que é baseado na Teoria do Fluxo de Tensões Cisalhantes em Paredes Finas.

Este programa também calcula a posição do centro da área de cisalhamento e os

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momentos de inércia, propriedades necessárias para verificar a rigidez da seção e

característica fundamental no estudo da vibração.

Abaixo será descrito brevemente, como em Silva [4] o funcionamento e estrutura

do programa PROSEC:

Strings definem a geometria da seção. Por definição, cada string é uma

sequência de elementos retilíneos, cuja posição no plano YZ é determinada por nós.

Cada nó deverá ser alimentado com seu valor correspondente à espessura de chapa que

sai do nó (t) e, caso este seja a representação de um reforço, deverá conter a área

transversal (b) do mesmo. Se o nó for o último de um string, por razões programáticas,

sua configuração deverá ser, além dos valores de Y e Z, t =1 e b = 0. O valor de b = 0

também deve ser utilizado quando o nó representar apenas a forma da seção. Um nó

deverá existir sempre que houver um elemento estrutural longitudinal, mudança de

espessura ou junção de chapas.

Células são os espaços fechados da seção. As células são definidas por strings,

cujos índices serão positivos se o sentido de formação (na definição dos ramais) estiver

no sentido anti-horário, e negativos se estiverem no sentido horário.

Ramais definem a sequência de determinação dos fluxos de tensão cisalhante

para a seção aberta. Como na formação de um rio e seus afluentes, os ramais

secundários devem ser definidos antes dos ramais primários, de forma que o ramal

principal deve ser sempre o último a ser definido. Os strings que formam um ramal têm

seus sentidos definidos na ordem em que são apresentados. Ramais secundários devem

sempre começar com um string em aberto e terminar com um string chamado de

conexão. O ramal principal é o único que deve terminar também em aberto, por isso, por

questões programáticas, o string de conexão deve ser o número total de strings mais um.

Estes últimos são responsáveis pelos sentidos dos strings e com as conectividades que

permitirão a determinação do panorama geral dos fluxos. Os reforços longitudinais das

seções podem ser aproximados por áreas localizadas nos nós.

Abaixo pode ser vista a saída gráfica do programa PROSEC da seção modelada

por Borges [3], da mesma embarcação, e as propriedades calculadas, que serão usadas

na próxima etapa de modelação:

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Figura 24 - Seção Mestra e suas propriedades no programa PROSEC

Com as propriedades mecânicas da seção é possível construir o modelo

unidimensional da embarcação.

5.2 Modelação Unidimensional da Viga-Navio

Para construir o modelo unidimensional da viga navio e analisar os modos

vibração dos mesmos foi utilizado o programa FEMAP V.10, utilizando as propriedades

mecânicas calculadas pelo programa PROSEC.

O modelo unidimensional é representado por nós, que estão na posição de cada

caverna da embarcação, ou seja, com espaçamentos diferentes, dependendo do

espaçamento de caverna do navio. Os elementos de viga que conectam cada nó

carregam as propriedades de rigidez e massa da seção, utilizando a seção mestra como

base. Os pesos de maquinaria e massa adicional são posteriormente acrescentados ao

modelo como elementos de massa.

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Abaixo pode ser visto como as características do material são inseridos no

programa de elementos finitos:

Figura 25 - Características do Material

Então são inseridas as propriedades da seção para os elementos de liga de acordo

com os valores calculados para tal com o programa PROSEC:

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Figura 26 - Dados das Propriedades da Seção

5.3 Massa Adicional

A massa adicional é necessária para fazer as considerações corretas da embarcação no

meio fluido. Então é calculada a massa adicional horizontal e inserida no programa

FEMAP V.10 como elemento de massa, como pode ser visto a seguir:

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Figura 27 – Dados da Massa Adicional Horizontal

6 Resultados da Simulação Numérica

A seguir serão mostrados os resultados obtidos pela simulação numérica do

modelo unidimensional construído:

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Figura 28 - Primeiro Modo de Vibração Vertical (Translação)

Figura 29 - Primeiro Modo de Vibração Vertical (Rotação)

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Figura 30 - Vibração Lateral de Corpo Rígido acoplado com Torção (Translação)

Figura 31 - Vibração Lateral de Corpo Rígido acoplado com Torção (Rotação)

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Figura 32 - Segundo Modo de Vibração Vertical (Translação)

Figura 33 - Segundo Modo de Vibração Vertical (Rotação)

7 Análise dos Resultados

As frequências naturais obtidas da simulação numérica são comparadas às

obtidas na medição em escala real realizadas em prova de mar da embarcação em

questão:

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Tabela 2 - Resultado das Frequências Naturais (Comparação)

Modo Frequência Natural (obtida

numericamente) [Hz]

Frequência Natural (obtida

experimentalmente) [Hz]

Primeiro Modo de Vibração

Vertical 1,29 1,5

Primeiro Modo de Vibração

Lateral acoplado com Torção 2,16 2,2

Segundo Modo de Vibração

Vertical 2,82 3,0

Do resultado da simulação numérica é possível observar que as frequências

naturais do modo lateral e do modo de torção ocorrem no mesmo valor de 2,16 Hz,

demonstrando o acoplamento dos dois modos, como ocorreu na medição em escala real

em prova de mar do navio, onde o mesmo ocorreu em uma frequência de 2,2 Hz. Isso

demonstra também que o valor está bem próximo do real.

Além disso, embora não faça parte do escopo deste trabalho, os valores das

frequências naturais dos dois primeiros modos de flexão vertical obtidos

experimentalmente, sendo 1,5 Hz e 3,0 Hz, respectivamente, também foram observados

na simulação numérica, porém com valores inferiores, de 1,29 Hz e 2,82 Hz. Isso sugere

que para a direção vertical a área efetiva no cisalhamento pode ter sido subestimada, ou

a massa adicional da mesma direção foi superestimada.

8 Conclusão

Para navios como porta contentores, com suas grandes aberturas de convés, que

diminuem sua área horizontal, se comparados a outros tipos de embarcação, este estudo

de vibração pode ser fundamental para evitar alguns problemas que a vibração em

excesso pode causar. Então foi construído um modelo unidimensional em Elementos

Finitos, cuja maior vantagem é a facilidade e rapidez de modelação, para verificar a

vibração lateral acoplada à torção, pois esta é o modo de vibração crítico para o porta

contentor.

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Como pôde ser visto, os resultados para o modo de vibração estudado foram

satisfatórios, e a simplicidade de modelação da viga-navio em um modelo

unidimensional, principalmente se comparado à modelação tridimensional do mesmo

tipo seria, mostram que isto é uma ferramenta muito boa para fazer a predição deste

modo de vibração. Porém o modelo unidimensional também depende de cálculos

confiáveis da área efetiva no cisalhamento e massa adicional em ambas as direções,

vertical e horizontal, pois essas propriedades são fundamentais para a construção do

modelo da viga-navio.

Neste trabalho as propriedades de rigidez, a área efetiva no cisalhamento, área

total, momentos de inércia e constante de torção foram calculadas pelo programa

PROSEC, que se utiliza da Teoria do Fluxo de Tensões Cisalhantes em Seções de

Paredes Finas. A massa adicional foi calculada pelo método de Landweber e Macagno.

Como estes métodos são os mais confiáveis, porém não são exatos, os resultados ainda

contém incertezas, porém no caso da vibração horizontal acoplada à torção, são muito

próximos aos valores medidos em escala real.

Desta maneira, utilizando o programa de Elementos Finitos FEMAP V.10, foi

possível modelar uma viga, cujas propriedades foram representadas pelas propriedades

das seções do navio, que apresentou frequência do modo de vibração lateral horizontal

no mesmo valor do modo de vibração torcional, como era esperado do resultado

experimental. Mesmo as frequências destes dois modos dependendo de propriedades

diferentes, já que as frequências do modo lateral dependem da área efetiva no

cisalhamento horizonta, momento de inércia da área da seção em torno de um eixo

vertical e da massa do navio adicionada pela massa adicional horizontal, já a frequência

do modo torcional depende da constante de torção e da massa do navio adicionada da

massa adicional vertical.

Então comparando a frequência da vibração obtida experimentalmente em prova

de mar em condição de lastro, que ocorreu com 132 rpm, a 2,2 Hz, medida em dois

pontos na direção transversal, com o resultado numérico de 2,16 Hz, pode-se dizer que a

aproximação dos resultados é bastante satisfatória, o que reflete também nos resultados

da massa adicional e área efetiva no cisalhamento, além dos momentos de inércia, área

total e constante de torção calculados através do programa PROSEC.

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Como sugestão para continuidade do estudo, pode-se recomendar a verificação

dos dois modos de vibração verticais encontrados também, que deram valores próximos

porém menores que os da medição em escala real, e verificar qual propriedade, massa

adicional ou área efetiva no cisalhamento, influenciam mais no resultado e obter uma

aproximação melhor para estes valores.

9 Referências Bibliográficas

[1] Ortiz, Luiza de Mesquita, et. al – “Procedure to Obtain Added Mass in Ships from

Natural Frequencies Measured in Hull Vertical Vibration Full Scale Tests”, Proceedings

of the 32nd International Conference on Ocean, Offshore and Arctic Engineering

OMAE 32, France, June 2013;

[2] Souza e Silva, O. P., Modelo Numérico Simplificado para Análise da Vibração

Excessiva no Casco, Superestrutura e Praça de Máquinas de Navio, M.Sc,

COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2011;

[3] Borges, R. N., Verificação das Frequências Naturais de Vibração do Casco de

Navio através do Cálculo da Área Efetiva no Cisalhamento de sua Seção, Projeto de

Graduação, UFRJ, Rio de Janeiro, 2010;

[4] Silva, F., Modelo Numérico Simplificado para Análise de Vibração

Horizontal/Torcional de Cascos de Navios Porta-Contentores, M.Sc., COPPE/UFRJ,

Rio de Janeiro, 2014;

[5] Bilmer II, G. H., Influência da Massa Adicional Hidrodinâmica da Análise

Vibracional Global Vertical de um Navio Graneleiro, M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de

Janeiro, 2012;

[6] Megson, T. H. G., “Aircraft Structures for Engineering Students”, Edward Arnold,

London, 1972;

[7] Chalmers, D.W., Price, W. G., “On the Effective Shear Areas of Ship Sections”,

RINA, Supplementary Papers, Volume 122, pages 245-252;

[8] Megson, T. H. G., “Linear Analysis of Thin Walled Elastic Structures”, Surrey

University Press, 1974.