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Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Código de Verificação: Órgão 4ª Turma Cível Processo N. Apelação Cível 20080111297683APC Apelante(s) MARIA NILZA DE ALBUQUERQUE RODRIGUES E OUTROS Apelado(s) OS MESMOS E OUTROS Relator Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS Revisor Desembargador ANTONINHO LOPES Acórdão Nº 576.622 E M E N T A APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. INFILTRAÇÃO QUE ATINGE O APARTAMENTO VIZINHO.CONHECIMENTO DO RECURSO. ART. 514, II, DO CPC. PARTE LEGÍTIMA. CIENTIFICAÇÃO DOS ASSISTENTES TÉCNICOS. AUXILIARES DAS PARTES. VAZAMENTO DE TUBO DE ENCANAÇÃO DE IMÓVEL VIZINHO. RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO. DANO MORAL. QUANTUM. RAZOÁVEL. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO INICIAL. SUCUMBÊNCIA MÍNIMA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 1. O recurso deve ser conhecido, quando verificado que as razões do apelo se encontram associadas com a fundamentação da sentença, caracterizando o cumprimento do requisito do art. 514, II, do CPC. 2. Quando o magistrado julga improcedente o pedido inicial com relação a uma parte, por óbvio, não considerou essa parte como ilegítima para figurar no polo passivo da demanda. 3. Os assistentes técnicos são auxiliares das partes, e não do juízo, consoante o art. 422, do CPC. Por isso, compete às partes interessadas cientificá-los das realizações dos atos processuais aprazados. 4. Se as provas dos autos demonstram que o vazamento adveio de tubo de encanação do imóvel vizinho, o proprietário desse imóvel deve responder pelo prejuízo causado.

Apelação cível. ação de obrigação de fazer cc indenização por danos morais e materiais. infiltração

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APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. INFILTRAÇÃO QUE ATINGE O APARTAMENTO VIZINHO.CONHECIMENTO DO RECURSO. ART. 514, II, DO CPC. PARTE LEGÍTIMA. CIENTIFICAÇÃO DOS ASSISTENTES TÉCNICOS. AUXILIARES DAS PARTES. VAZAMENTO DE TUBO DE ENCANAÇÃO DE IMÓVEL VIZINHO. RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO. DANO MORAL. QUANTUM. RAZOÁVEL. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO INICIAL. SUCUMBÊNCIA MÍNIMA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

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Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Código de Verificação:

Órgão 4ª Turma Cível Processo N. Apelação Cível 20080111297683APC Apelante(s) MARIA NILZA DE ALBUQUERQUE RODRIGUES E

OUTROS Apelado(s) OS MESMOS E OUTROS Relator Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS Revisor Desembargador ANTONINHO LOPES Acórdão Nº 576.622

E M E N T A

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO

POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. INFILTRAÇÃO QUE ATINGE O

APARTAMENTO VIZINHO.CONHECIMENTO DO RECURSO. ART. 514, II,

DO CPC. PARTE LEGÍTIMA. CIENTIFICAÇÃO DOS ASSISTENTES

TÉCNICOS. AUXILIARES DAS PARTES. VAZAMENTO DE TUBO DE

ENCANAÇÃO DE IMÓVEL VIZINHO. RESPONSABILIDADE DO

PROPRIETÁRIO. DANO MORAL. QUANTUM. RAZOÁVEL. LIQUIDAÇÃO DE

SENTENÇA. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO

INICIAL. SUCUMBÊNCIA MÍNIMA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

1. O recurso deve ser conhecido, quando verificado que as razões do apelo

se encontram associadas com a fundamentação da sentença, caracterizando

o cumprimento do requisito do art. 514, II, do CPC.

2. Quando o magistrado julga improcedente o pedido inicial com relação a

uma parte, por óbvio, não considerou essa parte como ilegítima para figurar no

polo passivo da demanda.

3. Os assistentes técnicos são auxiliares das partes, e não do juízo,

consoante o art. 422, do CPC. Por isso, compete às partes interessadas

cientificá-los das realizações dos atos processuais aprazados.

4. Se as provas dos autos demonstram que o vazamento adveio de tubo de

encanação do imóvel vizinho, o proprietário desse imóvel deve responder pelo

prejuízo causado.

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5. Demonstrado que o locatário comunicou ao proprietário sobre o problema

de infiltração no imóvel, não pode ser responsabilizado pelo prejuízo causado

no imóvel do vizinho.

6. Ocorre dano moral quando a parte passa meses tentando solucionar

problema de infiltração causado pelo apartamento vizinho, tendo, inclusive,

que deixar seu imóvel, o que ultrapassa o mero dissabor e aborrecimento

comum à vida em sociedade.

7. A indenização fixada a título de danos morais deve atender aos princípios

da razoabilidade e proporcionalidade, considerando a extensão e a gravidade

do dano, a capacidade econômica do ofensor, além do caráter punitivo-

pedagógico da medida.

8. Há necessidade de liquidação de sentença quando não há nos autos

provas contundentes a indicar a extensão real do dano.

9. Para o dano moral, o termo inicial de incidência dos juros de mora e da

correção monetária é a data de sua fixação. Para o dano material, tanto a

correção quanto os juros devem incidir desde o evento danoso, a teor dos

Enunciados n.º 43 e 54, da Súmula do STJ.

10. A parte que foi vencida no pedido de condenação de uma das rés deve

responder pelas custas e pelos honorários advocatícios de forma proporcional.

11. A fixação dos honorários advocatícios encontra-se correta quando o valor

arbitrado é razoável e proporcional à atividade do causídico, estando em

consonância com os critérios elencados no art. 20, § § 3°, 4º, do CPC.

12. Recurso da ré parcialmente provido. Recurso das autoras improvido.

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A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores da 4ª Turma Cível do Tribunal de

Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS - Relator, ANTONINHO LOPES - Revisor, CRUZ MACEDO - Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ANTONINHO LOPES, em proferir a seguinte decisão: DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DA RÉ E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DAS AUTORAS, UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 28 de março de 2012

Certificado nº: 63 3A 02 5E 00 04 00 00 0C DF

30/03/2012 - 15:36 Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS

Relator

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R E L A T Ó R I O

O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS –

Relator

Cuida-se de apelações cíveis interpostas por Maria Nilza de

Albuquerque Rodrigues e Lilian Rodrigues da Rocha e por Ellen Fensterseifer

Woortamnn contra sentença proferida pelo Juízo da 20ª Vara Cível, que julgou

parcialmente procedente o pedido inicial. Condenou Ellen Fensterseifer

Woortamnn a realizar reparos no apartamento 201, pertencente às autoras, em

decorrência de vazamentos, no prazo de 15 dias, a contar da intimação da

sentença, sob pena de pagamento de multa diária, no valor de R$ 1.000,00 (mil

reais), limitada a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

Condenou-a, ainda, ao pagamento de R$ 10.700,00 (dez mil e

setecentos reais) a título de reparação por danos materiais, acrescidos de

correção monetária e de juros de mora, desde o ajuizamento da ação. Condenou-

a, também, ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título de

indenização por danos morais, em favor de Maria Nilza de Albuquerque

Rodrigues, e R$ 7.000,00 (sete mil reais), sob o mesmo título, em favor de Lilian

Rodrigues da Rocha, corrigidos monetariamente desde a data do ajuizamento da

ação, acrescidos de juros de mora, a partir da data da sentença. Condenou-a, por

fim, a ressarcir os prejuízos suportados pelas autoras com a realização do

conserto da infiltração no apartamento 101, em valor a ser apurado em posterior

liquidação de sentença. Julgou improcedente o pedido em relação à Elisete

Rodrigues Pereira. Considerando a sucumbência recíproca, não proporcional,

condenou as autoras, Maria Nilza de Albuquerque Rodrigues e Lilian Rodrigues

da Rocha, ao pagamento de 1/3 das custas processuais e dos honorários

advocatícios, fixados em 10% do valor da condenação, arcando a primeira autora

com 2/3 das custas processuais e 2/3 dos honorários advocatícios. Condenou as

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autoras, ainda, ao pagamento de honorários em favor do advogado da segunda

requerida, fixados em R$ 1.200,00, cuja exigibilidade ficou suspensa, na forma do

art. 12, da Lei nº 1.060/50.

Maria Nilza de Albuquerque Rodrigues e Lilian Rodrigues da

Rocha alegam que Elisete Rodrigues Pereira é parte legítima para figurar no polo

passivo da demanda. No mérito, sustentam que o valor da condenação é mínimo

frente aos prejuízos sofridos e ao que irão despender para reformar o

apartamento. Aduzem que o dano material, referente ao apartamento 101, deve

ser arbitrado nessa fase do processo. Insurgem-se contra o valor da condenação

por danos morais, argumentando ser mínimo, e, ainda, contra a distribuição dos

ônus de sucumbência, alegando que as apeladas devem responder pela

totalidade das verbas e que o valor fixado a título de honorários deve ser

minorado. Requerem o provimento do apelo, para que a segunda ré seja mantida

no polo passivo, os pedidos da inicial sejam julgados totalmente procedentes, ou,

os danos morais sejam majorados.

Ellen Fensterseifer Woortamnn argúi, preliminarmente, a nulidade

do processo, porque não foi intimada para a realização da perícia, na forma do

art. 431-A, do CPC. Diz que não tem responsabilidade pela infiltração dos

apartamentos das autoras, pois o dano ocorreu devido a um vazamento no tubo

de encanação do condomínio e, não, do seu apartamento. Acrescenta que a

indenização por danos morais não é devida, por se tratar de mero aborrecimento.

Argumenta que a fixação da correção monetária está em dissonância com o

Enunciado nº 362 da Súmula do STJ. Requer o provimento do apelo, para que os

pedidos sejam julgados improcedentes.

Elisete Rodrigues Pereira apresenta contrarrazões em que argúi,

preliminarmente, que o recurso das autoras não condiz com a fundamentação da

sentença e, no mérito, pelo improvimento do apelo. As demais partes

apresentaram contrarrazões pugnando pelo improvimento do apelo da

adversária.

É o relatório.

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V O T O S

O Senhor Desembargador ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS - Relator

A preliminar arguida por Elisete Rodrigues Pereira não merece

prosperar. Como se verifica do apelo das autoras/apelantes, suas razões se

encontram associadas com a fundamentação da sentença. Assim, o recurso deve

ser conhecido, pois cumprido o requisito do art. 514, II, do CPC. A respeito,

confira-se o seguinte julgado desta Turma:

“ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. EXCLUSÃO DE

POLICIAL MILITAR DAS FILEIRAS DA CORPORAÇÃO. PRELIMINAR DE

FALTA DE REGULARIDADE FORMAL. DISSOCIAÇÃO ENTRE OS

FUNDAMENTOS DA SENTENÇA E OS DO APELO. REJEIÇÃO. NULIDADE DO

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR E DESPROPORCIONALIDADE

DA PENALIDADE IMPOSTA. INOCORRÊNCIA.

1. Se o apelante apresentou argumentação que se contrapõe às

razões apresentadas na sentença, ainda que não tenha rebatido um a um dos

fundamentos do decisum, resta caracterizado o cumprimento do requisito do art.

514, II, do CPC.

[....]

3. Apelo improvido” (20090110836888APC, Relator ARNOLDO

CAMANHO DE ASSIS, 4ª Turma Cível, julgado em 29/06/2011, DJ 05/07/2011 p.

98).

Portanto, conheço dos apelos das autoras e da ré, que serão

analisados conjuntamente.

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As primeiras apelantes pedem, preliminarmente, que seja

reconhecida a legitimidade passiva de Elisete Rodrigues, a fim de que os pedidos

formulados em seu desfavor possam ser julgados procedentes. Entretanto,

analisando detidamente a sentença recorrida, percebe-se que a juíza a quo não

reconheceu a ilegitimidade passiva de Elisete. Tanto é assim, que não acolheu a

preliminar, deixando para analisar tal questão por ocasião da análise do mérito,

julgando improcedente o pedido formulado em seu desfavor. Portanto, falta

interesse recursal das apelantes, quanto a este ponto.

Por sua vez, Ellen Fensterseifer Woortamnn argúi,

preliminarmente, a nulidade do processo, porque não foi intimada para a

realização da prova pericial, na forma do art. 431-A, do CPC. Contudo, verifica-se

dos autos que as partes foram devidamente intimadas (fls. 441). Tanto é assim,

que compareceram ao primeiro dia agendado para a perícia, que ocorreu no dia

16/04/2010. Neste dia, o perito judicial comunicou às partes que seria necessário

o retorno ao local no dia 17/04/2010. A continuação agendada na referida data,

entretanto, não foi realizada, porque a segunda ré não poderia comparecer, razão

pela qual foi remarcada para o dia 19/04/2010, tendo sido comunicado desta

data.

Ademais, mesmo que a apelante não tivesse participado da

segunda perícia, tal fato não é suficiente para gerar nulidade do processo. O

perito é auxiliar da justiça e, durante seus trabalhos, encontra-se à disposição do

juízo e das partes para qualquer esclarecimento. Ademais, enquanto auxiliar do

juiz, tem fé-pública, sendo dispensada a presença de assistentes técnicos

indicados pelas partes para a validade do trabalho do expert. Cabe frisar,

também, que os assistentes técnicos são auxiliares das partes, e não do juízo,

consoante o art. 422, do CPC. Por isso, compete às partes interessadas

cientificá-los das realizações dos atos processuais aprazados.

A respeito, confiram-se os seguintes julgados:

“PROCESSO CIVIL E COMERCIAL. EMBARGOS À

EXECUÇÃO. FOMENTO MERCANTIL. DUPLICATAS E CHEQUE. PROVA

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PERICIAL. ASSISTENTE TÉCNICO. CERCEAMENTO DE DEFESA.

INOCORRÊNCIA. EXCESSO DE EXECUÇÃO. EXISTÊNCIA.

I. De acordo a interpretação conferida pela doutrina e

jurisprudência pátrias ao artigo 431 do CPC, é dever da parte interessada fazer

com que o assistente técnico compareça e acompanhe os trabalhos do perito

nomeado pelo juiz, já que a lei exige apenas a intimação da parte e não a de seu

auxiliar.

II. Não há que se falar em cerceamento de defesa, se foi

assegurada à parte a indicação de assistente técnico para apresentação de

quesitos, sendo que apesar de convocado para participar dos trabalhos, o auxiliar

técnico nomeado não compareceu para acompanhar a pericia.

III. Constatada no laudo pericial a existência de excesso de

execução, este deverá ser decotado, devendo a execução prosseguir pelo valor

atualizado do débito apurado, abatendo-se a quantia incontroversa porventura já

paga ou objeto de penhora.

IV. Negou-se provimento ao recurso” (20060710013338APC,

Relator JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA, 6ª Turma Cível, julgado em 28/09/2011, DJ

06/10/2011 p. 177).

“DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL.

PRELIMINAR. CERCEAMENTO DE DEFESA. PROVA PERICIAL. INTIMAÇÃO.

ART. 421, DO CPC. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. DOENÇA NÃO

INCLUÍDA NO ROL DAQUELAS QUE ENSEJAM APOSENTADORIA COM

PROVENTOS INTEGRAIS. PROVENTOS PROPORCIONAIS.

Da intimação do despacho de nomeação do perito corre o prazo

legal de cinco dias para indicação de assistente técnico e apresentação de

quesitos pelas partes. A norma não exige que, na intimação, conste

expressamente que está sendo facultada a parte essa oportunidade, mas tão

somente a informação de nomeação do expert.

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A indicação de assistente técnico e apresentação de quesitos é

uma faculdade, cujo exercício se sujeita a limitação estabelecida pelo §1º do art.

421 do CPC. Todavia, a jurisprudência tem flexibilizado a interpretação da norma,

entendendo que esse prazo legal não seria preclusivo, permitindo a parte praticar

esses atos desde que ainda não iniciada a perícia. O entendimento é louvável,

pois confere concretude ao contraditório na formação da prova pericial.

A norma definidora das moléstias que ensejam a aposentadoria

com proventos integrais não pode receber interpretação extensiva, para que se

inclua outras, visto que a atividade hermenêutica não pode trazer perturbação ao

esquema organizatório-funcional do Estado.

Se a doença que acometeu o servidor não consta do elenco legal

(art. 186, § 1ª, da Lei nº 8.112/90), mesmo que comprovada sua natureza

incapacitante, não lhe pode ser concedida senão a aposentadoria com os

proventos previstos em lei, que são os proporcionais ao tempo de serviço.

Precedentes do C. STF.

Apelação conhecida e não provida” (20070110100813APC,

Relator ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO, 6ª Turma Cível, julgado em

22/06/2011, DJ 30/06/2011 p. 168).

Assim, rejeito as preliminares.

No mérito, a douta juíza a quo analisou o feito de forma

percuciente e irretocável, proferindo sentença nos seguintes termos, in verbis:

“[...].

Sem outras questões processuais, passo a examinar o mérito.

As autoras imputam às requeridas a responsabilidade pelos

danos materiais e morais decorrentes de vazamento no imóvel em que ambas

residiam, de propriedade da primeira requerida.

Para o deslinde da causa, imprescindível a análise do laudo

pericial realizado na instrução processual.

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Conforme se vê do laudo de fls. 449/475 e esclarecimentos de fls.

519/527, o ponto de vazamento que ocasiona a infiltração no apartamento 101

está localizado depois da coluna de distribuição de água condominial, já nas

instalações privativas da unidade 201, em uma conexão defeituosa, depois da

derivação, na conexão do „T‟ com o adaptador do joelho (fotografia 8 do laudo

pericial - fls. 461).

Constatou o nobre perito que a infiltração existente na unidade

201 manifesta-se a meia parede, ou seja, a uma altura de 66 centímetros da laje

do piso, e na unidade 101 a infiltração existe em toda a altura da parede, desde a

parte de cima até a parte de baixo, por se localizar imediatamente abaixo do

ponto de vazamento da unidade 201.

Verificou também o senhor perito que na unidade 301 não há

nenhuma infiltração na parede do corredor onde se constata as infiltrações nas

unidades 201 e 101.

No curso da perícia foram realizados testes de carga de água de

grande intensidade na cobertura, especificamente na região de descida de águas

pluviais que passa pela coluna das unidades de terminação 1, quais sejam, da

601 até a 101, descartando a possibilidade de que as infiltrações pudessem ter

sua origem associada a defeito nas instalações condominiais de águas pluviais.

Na perícia foi afastada também a possibilidade de que o

vazamento reclamado pelas autoras tenha relação com as instalações de esgoto

do apartamento.

Ora, sendo o vazamento acima descrito nas instalações internas

e privativas do apartamento 201 a causa das infiltrações no apartamento abaixo,

qual seja a unidade 101, forçoso reconhecer-se a responsabilidade do dono do

imóvel causador do vazamento pelos prejuízos advindos aos ocupantes do

imóvel prejudicado.

Nesse sentido, o aresto a seguir colacionado:

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GABINETE DO DESEMBARGADOR ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS 11

„INDENIZAÇÃO - DANOS PROVOCADOS POR INFILTRAÇÃO.

TEM DIREITO A RECEBER INDENIZAÇÃO A PROPRIETÁRIA DO

APARTAMENTO DANIFICADO EM RAZÃO DE INFILTRAÇÃO NO PISO

SUPERIOR. COMPETE À RÉ, PARA SE ESCUSAR DA RESPONSABILIDADE,

DE MANEIRA CABAL, DEMONSTRAR QUE O VAZAMENTO FOI

PROVENIENTE DO TUBO DE QUEDA DO ESGOTO PRIMÁRIO DA PRUMADA‟

(APC3274994, Relator HAYDEVALDA SAMPAIO, 5ª Turma Cível, julgado em

05/09/1994, DJ 09/11/1994 p. 13.934)

Com relação à responsabilidade da segunda requerida, na

condição de locatária deve responder luz da responsabilidade subjetiva, ou seja,

necessária a demonstração da existência de culpa da ré, nos termos do art. 186

do Código Civil, que dispõe: 'Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão

voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,

ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.'

Não há nos autos nenhuma prova no sentido de que a locatária

contribuiu de qualquer forma para o surgimento do vazamento, tampouco que foi

negligente em levar o problema ao conhecimento da proprietária e da

administradora do imóvel, de forma que não há como ser responsabilizada pelos

danos advindos de tal vazamento.

Assim, afasta-se a responsabilidade da segunda requerida,

locatária do imóvel e reconhece-se a responsabilidade da primeira requerida

pelos danos experimentados pelas autoras.

Quanto aos danos materiais, pretendem as autoras a

condenação das requeridas ao pagamento de R$ 75.254,17 (setenta e cinco mil,

duzentos e cinqüenta e quatro reais e dezessete centavos), sendo R$ 10.000,00

(dez mil reais) correspondentes há 04 (quatro) meses de aluguel do imóvel da

primeira autora que se encontra fechado; R$ 55.733,23 (cinqüenta e cinco mil,

setecentos e trinta e três reais e vinte e três centavos) referente à reforma do

apartamento 101; R$ 700,00 (setecentos reais) referente à despesa com

mudança; R$ 129,37 (cento e vinte e nove reais e trinta e sete centavos),

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GABINETE DO DESEMBARGADOR ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS 12

correspondente à compra de mangueira e acessórios; R$ 6.216,00 (seis mil,

duzentos e dezesseis reais) referentes à compra de armários para a nova

residência; R$ 1.660,00 (mil, seiscentos e sessenta reais) de despesas com

combustível e R$ 815,57 (oitocentos e quinze reais e cinqüenta e sete centavos)

de despesas com alimentação.

Há provas documentais nos autos que revelam que a primeira

requerente é pessoa idosa e realiza tratamento médico para problemas

respiratórios (fls. 38/41; 47/48; 100/119), sendo portadora de asma. Por outro

lado, é incontroverso nos autos, por falta de impugnação específica nas

contestações, que as autoras mudaram-se do apartamento em que residiam em

razão das infiltrações no imóvel.

Não havendo impugnação especificada quanto à alegação das

autoras de que mudaram do imóvel em razão das infiltrações, deve a primeira

requerida ressarci-las do valor pago com o transporte da mudança, qual seja, R$

700,00 (setecentos reais), conforme documento de fls. 86/87.

Dessa forma, é cabível o pedido de condenação da primeira

requerida ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais), correspondente ao

valor atribuído à quatro meses de aluguel do apartamento da primeira autora que

ficou impossibilitado de uso pelas autoras, valor esse também não impugnado

nas contestações.

Quanto ao valor pretendido para a reforma do apartamento da

primeira autora, tal não tem condições de acolhimento. Os orçamentos juntados

aos autos (fls. 77/84) claramente referem-se à reforma total do imóvel, não

havendo responsabilidade da primeira requerida nesse sentido.

Basta analisar as medições constantes dos orçamentos e as

especificações de materiais necessários à obra para constatar-se que os

orçamentos compreendem uma reforma completa do imóvel, havendo, inclusive,

a previsão de: demolição de 88,05 m² de piso cerâmico, demolição de 328,03 m²

de revestimento de parede, retirada de 90,90 m² de azulejo; aquisição de 04

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bancadas de granito; a aquisição de 07 portas de ipê com fechaduras e

dobradiças; regularização de piso com argamassa, em área de 88,05 m²;

regularização de parede com argamassa, em área de 328,03 m²; 90,90 m² de

revestimento cerâmico; 88,05 m² de piso cerâmico; 04 bacias com caixa

acopladas; 02 torneiras para pia e lavatório; 02 duchas higiênicas; 88,05 m² de

pintura em teto; 271,02 m² de pintura em parede; 30 pontos elétricos de tomada

comum; 30 pontos elétricos de interruptor; 30 pontos telefônicos; revisão e

adequação de toda a rede telefônica, além de previsão de limpeza periódica e ao

final da obra, com acompanhamento de engenheiro em tempo parcial.

Por outro lado, decorre do dever da primeira requerida reparar

integralmente os danos sofridos pelas autoras o dever de arcar com os prejuízos

suportados pelas autoras na realização do conserto da infiltração no apartamento

101. No entanto, tal valor deverá ser apurado em posterior liquidação de

sentença.

Em relação às despesas referentes à aquisição de mangueira e

acessórios, compra de armários, despesas com combustível e despesa com

alimentação, não há responsabilidade da primeira requerida. Ora, os gastos para

instalação das autoras em nova residência de sua livre escolha - em local

distante do qual moravam anteriormente e com a aquisição de armários novos

para cozinha, bem como combustível e refeição da segunda autora não decorrem

das infiltrações havidas no apartamento, não tendo a responsabilidade do dono

do imóvel causador dos vazamentos a dimensão pretendida pelas autoras.

Quanto ao dano moral, pretendem as autoras serem indenizadas

em valores de R$ 100.000,00 (cem mil reais), a primeira autora e R$ 80.000,00

(oitenta mil reais) a segunda.

O dano moral é a violação do patrimônio moral da pessoa,

patrimônio este consistente no conjunto das atribuições da personalidade. É a

„lesão de bem integrante da personalidade, tal como a honra, a liberdade, a

saúde, a integridade psicológica, causando dor, sofrimento, tristeza, vexame e

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humilhação à vítima‟ (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade

Civil. São Paulo. Editora Malheiros, 2000, pág. 74).

No caso dos autos, ambas as autoras sofreram as angústias de

verem o imóvel no qual residiam, sendo a primeira autora a proprietária,

permanecer com infiltrações provocadas pelo apartamento do piso superior, sem

solução pela primeira requerida desde o final do ano de 2007, culminando com a

mudança de ambas do imóvel e a consequente busca ao Judiciário, estendendo-

se o problema até os dias atuais.

Nessa situação, forçoso reconhecer a ocorrência do dano moral,

eis que o fato das autoras terem deixado o imóvel em que moravam em razão

das referidas infiltrações supera os aborrecimentos corriqueiros do dia a dia,

configurando verdadeira ofensa aos seus direitos da personalidade.

Assim é o entendimento jurisprudencial, consoante se vê dos

arestos abaixo colacionados:

„JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. DIREITO DE VIZINHANÇA.

VAZAMENTO DE ESGOTO; PROVA; DANO MORAL CONFIGURADO; VALOR

MANTIDO (R$ 4.000,00).

1 - A prova testemunhal e documental (especialmente os

documentos emitidos pela Agência de Fiscalização do Distrito Federal)

comprova, como bem analisado na r. sentença, que „o vazamento de esgoto que

invadiu a residência do autor ocorreu em virtude de entupimento da rede de

coleta do prédio do requerido‟.

2 - A falta de manutenção na rede de esgoto, que vem a

ocasionar entupimento do sistema de coleta e, em consequência, a inundação de

água suja e dejetos em residência, obrigando toda a família a dormir no carro em

razão do mau cheiro, aliada aos insistentes apelos para que o defeito fosse

sanado, sem que nada fosse feito de efetivo, consubstancia dano moral,

porquanto retira da pessoa sua dignidade e seu direito de habitar decentemente

sua residência, causando-lhe transtornos que excedem os meros aborrecimentos

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do cotidiano; o valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), fixado a título de

indenização por danos morais, atende aos princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade, devendo ser mantido.

3 - Recorrente condenado ao pagamento de custas processuais

e honorários advocatícios, fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da

condenação.

Recurso conhecido e improvido. Sentença mantida por seus

próprios fundamentos‟ (20100610027484ACJ, Relator RITA DE CÁSSIA DE

CERQUEIRA LIMA ROCHA, PRIMEIRA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS

ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DO DF, julgado em 01/02/2011, DJ

03/02/2011 p. 265).

„CIVIL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - ILEGITIMIDADE ATIVA -

PRELIMINAR REJEITADA - INFILTRAÇÃO E VAZAMENTO DE ÁGUA EM

APARTAMENTO - RESPONSABILIDADE DOS PROPRIETÁRIOS DO IMÓVEL

VIZINHO SUPERIOR - INOBSERVÂNCIA DO CUIDADO NECESSÁRIO

DURANTE A REALIZAÇÃO DE OBRA - DANO MORAL CARACTERIZADO -

QUANTUM INDENIZATÓRIO - MAJORAÇÃO AFASTADA - SUCUMBÊNCIA

RECÍPROCA RECONHECIDA - SENTENÇA MANTIDA.

1. Restando comprovado que a autora detinha a posse mansa e

pacífica do imóvel à época dos fatos narrados na exordial e que suportou os

prejuízos alegados, patente a sua legitimidade ativa.

2. O dano moral está ínsito na ilicitude do ato praticado, decorre

da gravidade do ilícito em si, sendo desnecessária sua efetiva demonstração. „In

casu‟, o dano moral existe „in re ipsa‟.

3. O dano moral, na hipótese, encontra-se consubstanciado nas

agruras enfrentadas pela autora durante a obra realizada pelos réus no

apartamento imediatamente superior ao seu, as quais fugiram da normalidade,

causando danos graves ao respectivo imóvel, o que, indiscutivelmente, excede o

mero dissabor.

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4. A doutrina tem consagrado a dupla função na indenização do

dano moral: compensatória e penalizante, valendo ressaltar que o valor arbitrado

deve guardar pertinência com a força econômico-financeira das partes, razão

pela qual, considerando-se os aspectos citados, afigura-se razoável a

manutenção do quantum fixado no decisum.

5. Uma vez caracterizada a sucumbência recíproca e equivalente,

deve ser aplicado o disposto no 'caput' do artigo 21 do CPC, justificando, assim, o

rateio das despesas processuais e o pagamento da verba honorária por cada

uma das partes aos respectivos patronos, ressarcindo os réus à autora metade

do valor adiantado a título de honorários periciais.

6. Recursos conhecidos e improvidos‟ (20050110649832APC,

Relator HUMBERTO ADJUTO ULHÔA, 3ª Turma Cível, julgado em 09/12/2010,

DJ 15/12/2010 p. 78).

„JUIZADOS ESPECIAIS - CIVIL - INFILTRAÇÃO NO TETO DA

RESIDÊNCIA - VAZAMENTO DE ÁGUA PROVENIENTE DO ENCANAMENTO

DA LOJA APELANTE - DANOS MORAIS E MATERIAIS COMPROVADOS -

QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM OBSERVÂNCIA AOS CRITÉRIOS DE

RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE - SENTENÇA MANTIDA -

RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

1. Na hipótese, restaram demonstrados os danos materiais e

morais sofridos pelos autores, evidenciados pela infiltração e desabamento do

forro causados por vazamento.

2. Evidente os danos daquele que tem a própria residência

invadida por detritos provenientes de esgoto de casa vizinha. Tal fato foge da

esfera dos meros aborrecimentos configurando uma nítida lesão à dignidade da

pessoa humana.

3. Observados os princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade, sentença que fixa valor de R$ 2.500,00 (três mil e quinhentos

reais) à título de reparação por dano moral e, ainda, que considera a gravidade

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do dano, os incômodos e constrangimentos experimentados pelas partes, deve

ser confirmada.

4. Sentença mantida pelos próprios fundamentos, com Súmula de

julgamento servindo de acórdão, na forma do artigo 46 da Lei 9.099/95. Recurso

conhecido e não provido. Condenado o recorrente vencido ao pagamento das

custas e honorários advocatícios que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor

da condenação‟ (20080110933165ACJ, Relator GISELLE ROCHA RAPOSO,

PRIMEIRA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E

CRIMINAIS DO DF, julgado em 24/08/2010, DJ 31/08/2010 p. 185).

Configurada a ocorrência do dano moral, deve a primeira

requerida responder por tais danos.

Não há critérios legais para a fixação da indenização, razão pela

qual, com esteio na doutrina, deve-se considerar vários fatores, que se

expressam em cláusulas abertas como a reprovabilidade do fato, a intensidade e

duração do sofrimento, a capacidade econômica de ambas as partes

(CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo.

Editora Malheiros, 2000, pág. 81).

No caso, reprovável a conduta da primeira requerida em opor-se

à resolução do problema de vazamento e infiltração que aflige suas vizinhas do

apartamento debaixo, provocando transtornos às autoras que se estendem desde

o aparecimento do problema até a presente data.

Quanto à capacidade econômica das partes, vê-se que de um

lado figuram pessoas de relativo poder aquisitivo (autoras) e de outro, pessoa

presumidamente com maior condição financeira, eis que reside em endereço

nobre desta Capital (Lago Norte) e possui imóvel também em área nobre (Asa

Sul), destinado à locação.

Neste sentido, considerando as circunstâncias do caso, entendo

que uma indenização de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para a primeira autora e R$

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7.000,00 (sete mil reais) para a segunda, é suficiente como resposta para o fato

da violação do direito.

Por fim, faz-se necessária a análise da situação do imóvel das

autoras, o qual continua acometido de infiltrações decorrentes do apartamento da

primeira requerida.

É preciso deixar registrado que atualmente a jurisprudência do

Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que o pedido deve ser extraído de

uma interpretação sistemática da petição e não exclusivamente do tópico „do

pedido‟.

Nesse sentido, a ementa de acórdão abaixo transcrita:

„PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO EXTRA PETITA.

INEXISTÊNCIA. INTERPRETAÇÃO LÓGICO-SISTEMÁTICA DOS PEDIDOS.

1. O Acórdão recorrido encontra-se em consonância com o

entendimento desta Corte, segundo o qual o pedido deve ser extraído a partir de

uma interpretação lógico-sistemática de toda a petição inicial.

2. „O pedido feito com a instauração da demanda emana de

interpretação lógico-sistemática da petição inicial, não podendo ser restringido

somente ao capítulo especial que contenha a denominação 'dos pedidos',

devendo ser levados em consideração, portanto, todos os requerimentos feitos

ao longo da peça inaugural, ainda que implícitos. Assim, se o julgador se ateve

aos limites da causa, delineados pelo autor no corpo da inicial, não há falar em

decisão citra, ultra ou extra petita‟ (AgRg no REsp 243.718/RS, Rel. Rel. Vasco

Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Terceira Turma, julgado

em 28.9.2010, DJe 13.10.2010.) Agravo regimental improvido.‟ (AgRg no REsp

1198808/ES, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado

em 24/05/2011, DJe 01/06/2011)

No caso dos autos, a petição inicial relata como causa de pedir

as infiltrações existentes no apartamento 101, mas não foi formulado pedido

expresso de condenação da primeira requerida na obrigação de reparar/consertar

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as infiltrações do apartamento 201, sendo feito apenas pedido de antecipação da

tutela para determinar às requeridas que autorizassem a entrada de profissional

para tentar descobrir a origem do vazamento, sendo a petição inicial sujeita à

determinação de emenda à inicial para esclarecimento do pedido e formulação do

pedido de mérito correspondente, que não ocorreu no caso.

Mas da leitura da inicial conclui-se que a maior pretensão das

autoras é solucionar o problema das infiltrações do apartamento 101, as quais,

comprovadamente são ocasionadas por vazamento existente no apartamento

201, devendo a primeira requerida efetuar o reparo de seu imóvel para que sejam

sanadas as infiltrações existentes no apartamento 101”.

Com efeito, se as provas dos autos demonstram que o

vazamento adveio de tubo de encanação do imóvel vizinho, o proprietário desse

imóvel deve responder pelo prejuízo causado.

Ademais, o locatário somente tem responsabilidade pelo prejuízo

causado pelo vazamento ao imóvel do vizinho, caso não tivesse informado ao

proprietário o problema, o que não é o caso.

Quanto ao dano moral, não há que negar sua ocorrência. O

problema que as autoras passou, durante o empenho em resolver o problema,

inclusive, tendo que sair de sua residência e passando por problema de saúde,

ultrapassa o mero dissabor e aborrecimento comum à vida em sociedade,

resultando o abalo moral.

Com relação ao quantum indenizatório fixado a título de danos

morais, verifica-se que atendeu aos princípios da razoabilidade e

proporcionalidade. No caso, é adequado o valor arbitrado, considerando a

extensão e a gravidade do dano, a capacidade econômica do ofensor, além do

caráter punitivo-pedagógico da medida.

As autoras alegam que o dano material, referente ao

apartamento 101, deve ser arbitrado nesta fase do processo. Entretanto, não

ficou definido se os valores apontados no orçamento de fls. 78/85 estão em

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acordo com a necessidade da obra. Ao contrário, o orçamento inclui toda a

reforma do apartamento 101, mas, conforme perícia (fls. 455), a unidade 101 teve

vazamento apenas na parede do corredor, próximo ao banheiro. Portanto, há

necessidade de liquidação de sentença quando não há nos autos provas

contundentes a indicar a extensão real do dano.

Para a responsabilidade civil extracontratual, no que se refere ao

dano moral, o termo inicial de incidência dos juros de mora e da correção

monetária deve ser a data da fixação do seu valor, consoante Enunciado nº 362,

da Súmula do STJ. Para os danos materiais, tanto a correção quanto os juros,

devem incidir desde o evento danoso, a teor dos Enunciados n.º 43 e 54, da

Súmula do STJ. Nesse sentido, confiram-se os seguintes arestos:

“CONSUMIDOR, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.

RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL. ACIDENTE

AUTOMOBILÍSTICO COM MORTE. EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE

SERVIÇO PÚBLICO DE TRANSPORTE TERRESTRE INTERESTADUAL.

TRANSPORTE GRATUITO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PROVA DO

NEXO CAUSAL E DOS DANOS MATERIAIS E MORAIS PROVOCADOS AOS

SUCESSORES DA VÍTIMA. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR OS DANOS MORAIS

E MATERIAIS. VALOR DOS DANOS MATERIAIS. CRITÉRIO DE FIXAÇÃO.

DOIS TERÇOS DO VALOR RESULTANTE DA DIMINUIÇÃO DA

REMUNERAÇÃO BRUTA PELOS DESCONTOS COMPULSÓRIOS DA VÍTIMA

MULTIPLICADO PELOS MESES RESTANTES ATÉ O ALCANCE DA IDADE DE

65 ANOS. VALOR DOS DANOS MORAIS. MAJORAÇÃO. ABATIMENTO DO

VALOR DO SEGURO OBRIGATÓRIO DO MONTANTE A SER INDENIZADO.

AUSÊNCIA DE PROVA DO RECEBIMENTO DO BENEFÍCIO.

IMPOSSIBILIDADE. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO INICIAL.

DISTRIBUIÇÃO EQUITATIVA DOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA.

IMPOSSIBILIDADE.

[...]

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7. No caso de responsabilidade civil extracontratual, em relação

aos danos materiais, o termo inicial para a incidência dos juros e da correção

monetária é a data do evento danoso, a teor dos Enunciado n.º 43 e 54, da

Súmula do STJ. Por outro lado, nos danos morais, a correção monetária incide a

partir da data do seu arbitramento, consoante o Enunciado n.º 362, da Súmula do

STJ, devendo ser contados do acórdão se houve modificação do valor arbitrado

na sentença.

[...]

9. Apelos parcialmente providos” (20060110751817APC, Relator

ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS, 4ª Turma Cível, julgado em 22/06/2011, DJ

05/07/2011 p. 83).

“APELAÇÃO. REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS.

ACIDENTE DE VEÍCULO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. COMPROVAÇÃO

DO NEXO CAUSAL.

[...]

Os juros de mora e a correção monetária em responsabilidade

civil aquiliana são contados desde a data do evento lesivo (enunciados 43 e 54

da Súmula do STJ).

Recurso conhecido e improvido” (20080110007936APC, Relator

SOUZA E ÁVILA, 5ª Turma Cível, julgado em 15/09/2010, DJ 23/09/2010 p. 120).

Por fim, as autoras/apelantes pugnam pela alteração da

distribuição dos ônus de sucumbência e pela minoração dos honorários

advocatícios. Entretanto, não lhes assiste razão. Primeiro, porque teve seu

pedido inicial julgado totalmente improcedente com relação à Elisete Rodrigues

Pereira. Portanto, não foi vencida em parte mínima. Segundo, o valor fixado para

os honorários advocatícios foi de 10% da condenação, no mínimo legal, e, por

equidade, em R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais), para o patrono de Elisete

Rodrigues Pereira. Tais valores mostram-se razoáveis e proporcionais à atividade

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do causídico, estando em consonância com os critérios elencados no art. 20, § §

3°e 4º, do CPC, motivos pelos quais devem ser mantidos.

Ante o exposto, dou parcial provimento ao recurso da ré para

fixar o termo inicial da correção monetária e dos juros de mora, no que diz

respeito ao dano material, a data do evento danoso, e, para o dano moral, a partir

da data da publicação da sentença. Nego provimento ao recurso das autoras.

É como voto.

O Senhor Desembargador ANTONINHO LOPES - Revisor

Com o Relator

O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - Vogal

Com o Relator.

D E C I S Ã O

DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DA RÉ E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DAS AUTORAS, UNÂNIME.