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- 30- ção importa em recusa a duas contribuições, dois encargos. A contribuição para mais de um é pois facultativa, sempre faculta- tiva. Voto o Sr. Min. Oscar Saraiva: Sr. Presidente, acompanho o Sr. Min. Relator porque a matéria é anterior à nova legislação de de previdência ou seja a Lei Or- gânica da Previdência Social. Voto O Sr. Min. Armando Rollem- berg: - Acompanho o Sr. Min. Relator e, tal qual o Min. Os- car Saraiva, o faço tendo em con- ta a natureza do débito, pois quan- do o segurado exerce mais de uma atividade ligada a institutos dife- rentes, mesmo que uma destas ati- vidades seja serviço público, está obrigado a contribuir para am- bos. Decisão Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por unanimidade de votos, deu-se provimento. Os Srs. Mins. Oscar Saraiva e Ar- mando Rollemberg votaram de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Cunha Va-sconcellos. APELAÇÃO CíVEL N.O 350 - DF. Relator - O Ex. mo Sr. Min. Abner de Vasconcellos Recorrente - O Juízo da l.a Vara da Fazenda Pública, ex oflicio. Apelante - União Federal Apelados - Albino dos Santos Lopes e outros. Acórdão Os funcionários públicos, de determinada secretaria, aos quais outros lhes foram por lei assemelhados, quanto à percepção de vencimentos, fazem jus, por sua vez, a aumento, quando os referidos assemelhados passarem a ter maior remuneração. Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível do Distrito Federal, em que é recor- rente, ex oflicio, o Juízo da Pri- meira Vara da Fazenda Pública, apelante a União, e apelados Albino dos Santos Lopes e ou- tros, etc.: Acorda a Segunda Turma do Tribunal Federal de Recursos, por maioria e contra o voto do Sr. Min. Artur Marinho, em negar provimento aos recursos para con- firmar a decisão recorrida, nos têrmos do relatório e das notas ta- quigráficas anexas. Tribunal Federal de Recursos, Rio de Janeiro, 30 de abril de 1948. - Abner de Vasconcel1os, presidente e Relator.

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ção importa em recusa a duas contribuições, dois encargos. A contribuição para mais de um é pois facultativa, sempre faculta­tiva.

Voto

o Sr. Min. Oscar Saraiva: Sr. Presidente, acompanho o Sr. Min. Relator porque a matéria é anterior à nova legislação de de previdência ou seja a Lei Or­gânica da Previdência Social.

Voto

O Sr. Min. Armando Rollem­berg: - Acompanho o Sr. Min. Relator e, tal qual o Min. Os-

car Saraiva, o faço tendo em con­ta a natureza do débito, pois quan­do o segurado exerce mais de uma atividade ligada a institutos dife­rentes, mesmo que uma destas ati­vidades seja serviço público, está obrigado a contribuir para am­bos.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por unanimidade de votos, deu-se provimento. Os Srs. Mins. Oscar Saraiva e Ar­mando Rollemberg votaram de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Cunha Va-sconcellos.

APELAÇÃO CíVEL N.O 350 - DF.

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Abner de Vasconcellos Recorrente - O Juízo da l.a Vara da Fazenda Pública,

ex oflicio. Apelante - União Federal Apelados - Albino dos Santos Lopes e outros.

Acórdão

Os funcionários públicos, de determinada secretaria, aos quais outros lhes foram por lei assemelhados, quanto à percepção de vencimentos, fazem jus, por sua vez, a aumento, quando os referidos assemelhados passarem a ter maior remuneração.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível do Distrito Federal, em que é recor­rente, ex oflicio, o Juízo da Pri­meira Vara da Fazenda Pública, apelante a União, e apelados Albino dos Santos Lopes e ou­tros, etc.:

Acorda a Segunda Turma do Tribunal Federal de Recursos, por

maioria e contra o voto do Sr. Min. Artur Marinho, em negar provimento aos recursos para con­firmar a decisão recorrida, nos têrmos do relatório e das notas ta­quigráficas anexas.

Tribunal Federal de Recursos, Rio de Janeiro, 30 de abril de 1948. - Abner de Vasconcel1os, presidente e Relator.

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Relatório

O Sr. Min. Abner de Vascon­cellos: - Os autores apelados, contínuos da Secretaria do Sena­do, classe "F", com mais de dez anos de serviço, moveram a pre­sente ação para haver da União a importância mensal de ....... . Cr$ 400,0.0 relativa aos últimos cinco anos, anteriores à sua propositura, e correspondente à diferença entre os padrões "F" e "H" que lhes compete, e ainda à gratificação abonada pelo Decreto 5.976, dê 1943, e quaisquer outras vantagens, com juros de mora e custas.

O fundamento do pedido está em que, tendo alguns funcionários da Secretaria do Supremo Tribu­nal Federal proposto ação obtive­ram, por Acórdão unânime de 16 de maio de 1938, a assemelhação, por identidade de atribuições, aos cargos da Secretaria da Câmara e do Senado.

Como conseqüência dêsse jul­gamento, os mesmos funcionários do Supremo obtiveram ainda, por Acórdão de 7 de dezembro de 1942, a diferença de vencimentos entre os seus cargos e os de iguais atribuições das duas casas do Con­gresso, e que por leis posteriores, tiveram os vencimentos aumenta­dos.

A assemelhação fôra-lhes asse­gurada pela lei n.o 5.622, de 1928.

Dizem ainda os autores, que ou­tros funcionários da Secretaria do Supremo Tribunal, antigos ser­ventes que passaram a contínuos, classe "F", de acôrdo com as ta­belas do Decreto-lei n.o 3.800, de 1941, pediram e obtiveram, por Acórdão de 13 de setembro de

1945, as mesmas vantagens que haviam obtido os antigos contí­nuos da mesma Secretaria.

Alegam também que todos êsses funcionários do Supremo, que passaram a contínuos, classe "F", ficaram com a denominação de Auxiliares de Portaria e ven­cimentos superiores aos dos auto­res que, na Secretaria do Senado, exercem os mesmos cargos, pois são antigos serventes que passa­ram a contínuos, classe "F", de acôrdo com as tabelas do Decre­to 3.800.

Portanto, se o fundamento do julgado de 1945, que atribuiu aos funcionários do Supremo nova de­nominação e novos vencimentos, foi o da assemelhação aos cargos idênticos da Secretaria do Con­gresso Nacional, não é justo que os autores, que exercem cargos as­semelháveis, permaneçam com a mesma denominação e vencimen­tos inferiores. E invocam como razão de decidir, o princípio de doutrina segundo o qual a coisa julgada entre as partes produz também efeito com referência a terceiros, desde que sejam idênti­cas as relações de direito.

Contestando, a União diz que, a prevalecer a equiparação, os vencimentos só lhes poderão ser reconhecidos a partir da data do reconhecimento em diante, tanto mais quanto os anteriores já estão prescritos, ex vi do Dec. 20.910, de 1932.

A União alega que a partir de 1.0 de janeiro de 1937, o art. 48 da lei 284, de 28 de outubro de 1936, revogou a citada equipara­ção de vencimentos (ver o artigo 13, das Disp. Trans. da Cons. de 1937), segundo a qual os Tribu-

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nais não têm competência para fixar vencimentos dos seus funcio­nários, mas apenas propor ao Le­gislativo a sua fixação.

A ré junta a defesa que, nou­tra ação da mesma natureza, foi apresentada em juízo, mostrando a precariedade do pedido, a tran­sitoriedade dos efeitos dos julga­dos sôbre a classe dos funcionários ora autores; o triunfo da ação res­cisória proposta, etc.

Os autores replicaram dizendo que o fundamento expresso do di­reito pleiteado é o Acórdão do Supremo Tribunal de 13 de se­tembro de 1945, e não o do Acór­dão de 7 de dezembro de 1942, re­ferente à ação rescisória atrás re­ferida ao qual só subsidiàriamen­te assentaram seu direito, muito embora a rescisória tenha sido jul­gada: improcedente por Acórdão de 12 de julho de 1944, como prova a certidão de fls. 67.

Na audiência de instrução e julgamento, os autores juntaram longo memorial, depois do que se seguiu a juntada aos autos da de­cisão do Juiz Dr. Elmano Cruz julgando procedente a ação, para reconhecer aos autores o direito à elevação ao padrão H e a receber a diferença de vencimentos, exce­to os prescritos no período de cinco anos anteriores à propositu­ra da ação. Com o recurso ex oflicio, houve também apelação da ré. Subindo os autos arrazoa­dos pelas partes, nesta Instância falou, por designação legal, no im­pedimento do Dr. Subprocurador­Geral o Dr. 4.° Procurador da República que apresentou longas razões que procuram provar co-

mo carecedora de reforma a sen­tença apelada.

É o relatório.

Voto

O Sr. Min. Abner de Vascon­cellos:' - Para o caso vertente, de simples solução, basta o enun­ciado do Decreto número 5.622, de 28 de dezembro de 1928, com a interpretação que lhe deu o Egrégio Supremo Tribunal com reiteração de Acórdãos, de 16 de maio de 1938, 7 de dezembro de 1942 e 13 de setembro de 1945.

Desde que aquela lei, de au­mento de vencimentos dos funcio­nários públicos civis da União, no art. 1.0, § 3.°, assemelhou quanto aos proventos os cargos de iguais atribuições nas diversas reparti­ções federais, na conformidade do parágrafo anterior, que se refere aos casos de nomeações posterio­res ao ano de 1914, - não há dúvida quanto à justiça pleiteada pelos autores.

Assim como, aplicando a refe­rida lei, o preclaro Pretório asse­melhou outros funcionários da sua Secretaria aos de igual categoria da Secretaria do Senado Federal, para lhes equiparar os vencimen­tos; da mesma forma os antigos contínuos do Senado, já depois com vencimentos inferiores aos seus congêneres da Secretaria do Supremo Tribunal, invocado o mesmo princípio legal, devem ter equiparação atual, excetuados os que incorreram em prescrição. Não há como fugir a êsse resul­tado.

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Nego,assim, provimento à ape­lação, para reconhecer aos auto­res e aos assistentes a equipara­ção de vencimentos aos contínuos de igual classe da Secretaria do Supremo Tribunal.

Voto

O Sr. Ministro Macedo LudoIf - Afigura-se-me indubitável a argumentação desenvolvida na sentença apelada em que se reconheceu a legitimidade do direito pleiteado pelos autores.

Foram todos êles nomeados an­teriormente à Lei 284, de 1936, que reajustou os quadros do fun­cionalismo público.

Uns serventes e outros contí­nuos da Secretaria do Senado Fe­deral, ficaram reunidos na classe "F", em virtude do Dec.-Iei 3.800, de 1941, que os unificou sob a mesma denominação de "contí­nuos".

Todavia, ocorreu, como está am­plamente demonstrado, que anti­gos servidores da Secretaria do Supremo Tribunal, com a mesma categoria de função e idêntico pa­drão, pleitearam judicialmente a equiparação de seus vencimentos aos dos funcionários do Congres­so Nacional (Câmara e Senado); invocaram, para isso, a Lei 5.622, de 1928, por fôrça da qual enten­diam que deveria ser equiparada a remuneração entre cargos se­melhantes. conforme a espécie descrita.

Venceram a questão pelo crité­rio da assemelhação. E o funda­mento do respeitável Acórdão pro­ferido pelo nosso Pretório Excel­so, logicamente conseqüente da-

quele critério, residiu na circuns­tância capital de que a precitada Lei n.O 284, em seu art. 20, pa­rágrafo único, excetuara do rea­justamento, então efetivado, os funcionários da Câmara dos Depu­tados, que vieram a ser reajusta­dos por leis posteriores, devendo­se equiparar à situação dêsses fun­cionários, como se determinou no julgado, a situação de inferiorida­de em que se encontravam os mencionados contínuos do Supre­mo Tribunal, classe "F" na oca" sião, e contra a qual reclamaram.

Com tal decisão, foram os re­clamantes elevados à classe "H", até porque o pronunciamento da Justiça in concreto tornou-se 0lJ.. jeto de lei, onde o assunto defini­tivamente se regulou (Dec. 8.626, de 1946).

De tudo, resultou que os atuais autores, ocupando cargos que, em princípio, foram tomados como paradigma (Senado e Câmara), para o efeito da assemelhação que se consumou pela maneira há pou­co exposta, continuaram afinal na classe "F", ou seja em nível abai­xo do assegurado aos assemelha­dos.

A extravagância dessa desigual­dade é manifesta, pois o que fi­cara assente foi justamente o pon­to de vista de estabelecer-se o mesmo padrão de remuneração, entre iguais funções nas Secreta­rias do Senado, Câmara e Supre­mo Tribunal, disso surgindo a so­lução em que os funcionários dês­se último obtiveram a melhoria de estipêndios.

Não se cogita de coisa julgada, no rigor da sua conceituação jurí-

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dica. O que se propugna na hipó­tese é que,_ à luz do ensinamento que exsurge de venerandos acór­dãos trazidos à baila, se reconhe­ça e proclame a legitimidade da pretenção em causa, dada a sua perfeita identidade com a maté­ria abordada naqueles acórdãos.

Tenho, para mim, que é incon­testável, em vista do deduzido, o direito dos autores à classe "H", em que devem ser incluídos, ca­bendo-lhes a diferença de venci­mentos nos têrmos situados pelo Dr. Juiz.

Igual direito não pode deixar de ser assegurado aos peticioná­rios de fls. 104, ingressantes na causa como assistentes, equipara­dos a litisconsortes, pois êles com­provaram que, como funcionários do Senado nas mesmas condições dos autores, ocupando o cargo de contínuo, classe "C", são merece­dores do acolhimento ora dispen­sado aos últimos, sem que o o digno e zeloso representante da ré opusesse qualquer contestação, neste tocante, como se vê de seu parecer a fls. 117. A diferença de vencimentos, porém, é devida dentro dos últimos cinco anos, fin­dos a 9 de outubro de 1946, data do pedido entrado em juízo (fô­lhas 104), recontinuando daí em diante.

Seja assinalado, afinal, que êsse modo de encarar a controvérsia, quanto ao princípio da aSsem e­lhação, deve todavia ficar entenA

dido dentro dos têrmos restritos do que se decidiu na esfera judi­ciária, em face da situação legal então considerada; não se pode ter como absoluto aquêle princí-

pio, aliás já postergado pela pre­dita Lei 284, de 1936, cujo man­damento veio a sofrer a exceção focalizada no caso presente.

Ante o exposto, nego provimen­to às apelações, para confirmar a decisão, que torno extensiva, nos seus efeitos, aos assistentes, me­nos quanto ao período prescrito.

Voto

o Sr. Min. Arthur Marinho: - Abstraio da questão da justiça ou injustiça, oportunidade ou ino­portunidade do que pleiteiam os apelados na causa, porque se tivesse que decidir sem olhar preceituação legislativa adequada imediatamente daria pelo postu­lado pelos recorridos. Mas não vejo em que êsses apelados assen­tem seu alegado direito em textos legais autorizados pela Constitui­ção. Não me parece que a Lei n.o 5.622, de 1938, deva orientar a matéria, nem também a 284, de 1936.

No terreno dos princípios, data venia dos argumentos em contrá­rio, destaco o seguinte como con­densação destinável a dominar a matéria: Para assegurar autono­mia orgânica de Podêres Sobera­nos independentes e mesmo para sufrágio do princípio da harmo­nia entre êles, a Constituição ga­rantiu a cada um dos dois de que se cogita mais de perto, isto é, (l

Legislativo e o Judiciário, a orga­nização de seus serviços próprios: aquêle cria cargos e os provê co­mo necessário, além de fixar ven­cimentos respectivos; o último propõe ao primeiro a criação dos cargos necessários a seus serviços

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auxiliares e a fixação dos respec­tivos vencimentos, após o que lhe cabem as nomeações.

Em face disso, tudo se apresen­tando fàcilmente perceptível, in­clusive seus porquês fundamen. tais, tem-se o seguinte: Se cada vez que um daqueles Podêres So­berqnos resolvesse modificar o sta­tu quo a respeito tal importasse em alterar o regime do estabele­cido para o outro Poder, ter­-se-ia interferência indevida nos negócios particulares da organiza­ção de serviço ou de pessoal ou do funcionalismo do outro Poder.

Realmente, se o Senado ou a Câmara modificando vencimentos de funcionários seus modificasse ipso facto os dos funcionários dos Tribunais, por equiparações for­çadas, cessaria em verdade o po­der de iniciativa dos últimos sôbre a matéria, isto é, o de propor ao Legislativo as modificações cabí­veis. O Legislativo alteraria sem proposta do Judiciário. A recí­proca é si et in quantum verda­deira.

A Constituição atual e a de '1934 não comportam interferên­cias oblíquas como as que acabo de acentuar. A de 1891 também não o autorizaria escorreitamente quando bem interpretado o regi­me respectivo, embora explicita­mente não o dissesse. A Carta de 1937 não conta.

É como coloco a questão. Sal­vo engano por má interpretação do que acaba de ser relatado -só sei do caso pelo Relatório que ouvi, porquanto julgo de plano:

não sou Relator nem Revisor nes­te caso e, creio que estou certo. Pelo menos me acho sinceramen­te convencido disso.

Percebi ainda que os autores tomaram por fundamento jurídico de seu direito acórdãos do Egrégio Supremo Tribunal Federal, pre­tendendo que êles se estendessem a seu caso como se fôssem leis. Usaram, parece-me, de um recur­so de defesa ou artifício, artifício êsse consistente em afirmar que o trânsito em julgado, 1"elativamen­te às partes naquelas decisões, também se lhes estendia. Casos julgados em situações como a fo­calizada s6 têm eficácia no limite da questão decidida entre partes. Nem é caso de julgamento pelo princípio da eqüidade, visto como há direito de fundo disciplinando a matéria. Não posso dar pelo pretendido, sendo fácil compre­ender porque assim.

A esta altura já sou voto ven­cido. Mas, ainda assim, ressalvo meu modo de encarar a questão.

Afasto-me, pesaroso, dos bri­lhantes votos dos Srs. Mins. Re­lator e Revisor e também da dou­trina desposada pelo eminente Dr. Juiz a quo. E, por isso, dou pro­vimento ao recurso ex officio e ao voluntário da ré.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Negou-se provi­mento à apelação para se confir­mar a sentença apelada, contra o voto do Sr. Min. Artur Mari­nho. Presidiu o julgamento o Se­nhor Min. Abner de Vasconcellos.

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APELAÇÃO CÍVEL N.o 9.925 - RS.~ (Embargos)

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Ávila Embargante - União Federal Embargados - Trajano Pinho e Outros

Acórdão

Revisão de Proventos. Aplicação do art. 193 da Constituição Federa1.

A revisão dos proventos dos servidores aposen­tados somente é possível a partir da Lei n.o 2.622/55, por não ser auto-executável o preceito constitucional que consagra essa prerrogativa.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível nú­mero 9.925, do Rio Grande do Sul, em grau de embargos, em que são partes as acima indicadas:

Acordam os membros do Tri­bunal Federal de Recursos, em sessão plena, por maioria de vo­tos, em receber os embargos, tudo conforme consta do relatório, vo­tos e resultado do julgamento de fls. retro, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.

Brasília, 11 de junho de 1965. - Cunha Vascon,cellos, Presiden­te; Henrique d'Avila, Relator.

. Relatório

o Sr. Min. Armando Rollem­berg: - Funcionários aposenta­dos propuseram, em 1953, ação ordinária contra a União para compelir esta a pagar-lhes proven­tos com acréscimo concedido aos funcionários em atividade por lei

* Nota da Redação: Interposto Recurso Extraordinário pela União em 8-11-65.

que, descumprindo o art. 193 da Constituição, silenciara sôbre os inativos.

A ação foi julgada improceden­te na Primeira Instância e, neste Tribunal, a Egrégia Primeira Tur­ma, pelos votos dos Mins. Márcio Ribeiro e Amarílio Benjamin, aco­lheu a apelação dos autores para, reformando a sentença, julgar as­sistir-lhes direito à percepção de aumento em bases idênticas à con­cedida aos funcionários em ativi­dade.

Ficou vencido, no julgamento, o Sr. Min. Aguiar Dias com o se­guinte voto: "Sr. Presidente, ês­te é um dos casos clamorosos da Administração Pública Brasileira . Estabelecendo a Constituição, no art. 193, o reajustamento dos pro­ventos dos aposentados sempre que, por motivo de desvalorização da moeda, fôsse aumentado o sa­lário dos funcionários em ativida­de, não se cogitou de uma lei que estabelecesse o quantum dêsse rea­justamento. Em virtude dessa omissão, ficou o Judiciário sem saber o que fazer para estabelecer

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qual a porcentagem, qual o índi­ce de reajustamento. Afinal, veio lei que estabeleceu que os proven­tos seriam iguais.

É uma situação de injustiça, di. ante da qual nada podemos fazer. Nego provimento, Sr. Presidente."

Opôs a União os presentes em­bargos de nulidade e infringentes do julgado, que não foram impug­nados.

É o relatório.

Voto

O Sr. Min. Armando Rollem­berg: - O art. 193 da Constitui­ção dispõe que "os proventos da inatividade serão revistos sempre que, por motivo de alteração do poder aquisitivo da moeda, se mo­dificarem os vencimentos dos fun­cionários em atividade".

Trata-se, em conseqüência, de regra dirigida ao legislativo e, por­tanto se êste a descumpre, é a lei inconstitucional nesta parte. In­constitucional, a sanção a que está sujeita é o não cumprimento.

Ora, se o vício de que padece a lei é o da omissão, aceitando-se a tese do voto vencido, ficaria à vontade do legislador cumprir ou não a Constituição.

De outro lado, tratando-se de regra imperativa, pela qual se de­termina ao legislador que proceda de certa forma, a sua aplicação in­depende, a nosso ver, de regula­mentação. O legislador pode fixar para o inativo menor aumento que para o funcionário em atividade. Não pode porém, deixar de con­ceder o aumento. Se não o faz, temos por correta a orientação do acórdão embargado, quando en-

tendeu que se deveria suprir a omissão atribuindo aos inativos o aumento nas mesmas bases em que fôra concedido aos funcioná­rios em geral.

Rejeito os embargos.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Após os votos dos Srs. Mins. Relator, Revisor e Go­doy Ilha rejeitando os embargos, pediu vista o Sr. Min. Oscar Sa­raiva, aguardando os Srs. Mins. Amarílio Benjamin, Antônio Ne­der e Hugo Auler. O Sr. Min. Hugo Auler encontra-se preen­chendo vaga decorrente da apo­sentadoria do Sr. Min. Cândido Lôbo. Não compareceu por moti­vo justificado o Sr. Min. Djalma da Cunha Mello. Presidiu o jul­gamento o Sr. Min. Cunha Vas­concellos.

Voto

O Sr. Min. Oscar Saraiva: Tanto quanto minha memória me socorre discutia-se, neste proces­so, situação peculiar a proventos de aposentadoria, e a discussão que se trava diz respeito ao ar­tigo 193 da Constituição.

Vou ler, para maior clareza, o relatório do Sr. Min. Armando Rollemberg, que é o seguinte: (lê ).

Os Srs. Mins. Armando Rol­lemberg e Henrique d'Ãvila, Revi­sor, ao que me parece despreza­vam os embargos. Verifico que a demanda foi ajuizada anterior­mente à Lei n.o 2.622, de 18 de outubro de 1955, e esta Lei, em sua ementa, diz: (lê).

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Veio, portanto, o legislador or­dinário a -dar forma exeqüível, aos têrmos do art. 193 da Constitui­ção. Mas o que entendo é que, an­teriormente a essa Lei, não havia a pretendida equiparação dos apo­Gentados, porque êstes não são mais servidores públicos. De sor­te que somente nos casos de majo­ração, para reajustamento de va­lôres monetários, é que a Consti­tuição manda que os aposentados sejam beneficiados, mas assim não o determina em preceito auto­-executável.

Não vejo pois que, nessa épo­ca, os autores tivessem direito ao pretendido. Somente lei posterior é que lhes veio dar êsse direito. O aposentado não é mais funcio­nário. Anotei, na ocasião que fiz essa revisão, Acórdão, unânime, do Supremo Tribunal Federal, sendo Relator o Sr. Min. Ribeiro da Costa, não conhecendo do julgado da Segunda Turma do Tribunal Federal de Recursos. Diz a emen­ta: (lê).

Tratava-se de julgado dêste Tri­bunal, de autoria do Sr. Min . Henrique d'Ãvila, que Ç> Supremo Tribunal Federal, por unanimida­de manteve, não conhecendo do recu.rso extraordinário.

Estou coerente com o entendi­n1ento que sustento, conforme a tese do tratadista português Mar­celo Caetano, exímio mestre de Direito Administrativo, qu.e com a aposentadoria cessa o exercício da função pública, e então mani­festa-se uma situação diversa que é a de um pensionato. O funcio­nário aposentado é um mero pen­sionista do Estado. Mas incutiu­-se no Brasil a idéia de que o apo-

sentado é ainda funcionário, com todos os direitos do funcionalismo público, e mais aquêles de não ser­vir e de não ter impedimentos. Estou assim, procurando restabe­lecer, dentro da jurisprudência do Tribunal, a boa doutrina e a boa técnica. Os embargos mereceram acolhida apenas em parte, para se reconhecer que somente a partir da Lei n.O 2.622, de 18 de outu­bro de 1955, é que os autores fa­zem jus ao pretendido.

O Sr. Min. Antônio Neder: -Mas a decisão recorrida o que diz?

O Sr. Min. Oscar Saraiva: -A decisão recorrida julgou impro­cedente a ação, e o Tribunal, ven­cido o Sr. Min. Relator, que foi o Sr. Min. Aguiar Dias, deu pro­vimento para julgar procedente a ação e conceder aos autores a equiparação pretendida.

Portanto, meu voto, é para re­ceber em parte os embargos a fim de entender que êstes autores te­rão direito à equiparação, apenas após a superveniência da Lei nú­mero 2.622.

Voto

O Sr. Min. Armando Rollem­berg: - Sr. Presidente, pela or­dem.

Eu desejo esclarecer, Ja que não foi possível fazê-lo no apar­te ao Min. Hugo Auler, que quan­do S. Ex.a aceita que o art. 193 é um comando ao legislador há de tirar a conseqüência de que 30

legislador não será permitido in­fringir a Carta Magna e fixar au­mento de vencimentos dos fW1cio­nários em atividade sem estabele­cer qual o aumento que deveriam

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ter os inativos. Se o legislador não o faz, há de se considerar que os funcionários aposentados fazem jus' a aumento idêntico ao conce­dido aos funcionários em ati­vidade.

O $r. Min. Hugo Auler: - Eu cheguei à conclusão de V. Ex.a

por outro caminho, como seja, re­conhecendo que a lei não impor­tou apenas na regularização do art. 193 da Constituição Federal, mas também foi uma lei interpre­tativa dessa norma constitucional e, como tôda lei interpretativa, ela goza de retroatividade.

Voto (Vencido)

O $r. Min. Amarílio Benja­min: - Tenho como ponderáveis as observações do Sr. Min. Os­car Saraiva. Entretanto, como fiz parte da Turma de Apelação e acompanhei o voto do Sr. Min. Márcio Ribeiro, que, de algum modo se inspirou na Constituição Federal, art. 193, e considerando que, na realidade dos fatos, todo aumento salarial de certos anos a esta parte tem como principal fun­damento a desvalorização da moe­da, prefiro, embora prometendo reexaminar o assunto, acompanhar o voto do Sr. Min. Relator. Pelo que, data veia do eminente Colega, também desprezo os em­bargos.

Voto (Vencido)

O Sr. Min. Hugo Auler: Sr. Presidente. Não ignoramos nenhum de nós que o legislador houve por bem dispor que os pro­vent03 da inatividade serão revis­tos sempre que, por motivo de al-

teração do poder aquisitivo da moeda, se modificarem os venci­mentos dos funcionários em ativi­dade, conforme se verifica do ar­tigo 193 da Constituição Federal. Essa norma constitucional envolve um princípio fundamental, um co­mando dirigido ao legislador or­dinário para que determine o mo­do de ser feita a revisão de tais proventos, razão por que se lhe não pode emprestar o caráter de auto-aplicabilidade.

Se, porventura, o legislador or­dinário não respeitar o manda­mento constitucional, caberá aos titulares do direito subjetivo ou­torgado pelo art. 193 da Consti­tuição Federal, a faculdade de exercerem o direito de que trata o § 37 do art. 141 de nossa Lei Maior.

E tanto se trata de um coman~ do dirigido ao legislador ordinário que surgiu, finalmente, a Lei n.o 2.622, de 18 de outubro de 1955. determinando o modo pelo qual deveria ser feita tal revisão.

Todavia, tenho para mim que a Lei n.o 2.622, de 18 de outubro de 1955, não envolve apenas uma regulamentação porque, em sua es­sência e finalidade, constitui uma interpretação do art. 193 da Cons­tituição Federal. Trata-se de uma lei interpretativa da norma cons­titucional, motivo por que se há de reconhecer a sua retro tração à data da vigência de nossa Lei Maior.

Domina a matéria o princípio de que a lei interpretativa atinge os facta praeterita, eis que gozam de retroatividade, não obstante o disposto no § 3.° do art. 141 da

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Constituição Federal. Essa con­clusão tanto mais se impõe quanto menos se ignora que, ao emanar uma lei interpretativa, o legisla­dor, considerando-se simplesmen­te como intérprete do direito, se coloca no mesmo terreno do Juiz; êle não proclama novas regras de direito; não organiza novas insti­tuições pois que se apresenta, de­cLarando simplesmente o di;reito preexistente.

Por êsses fundamentos acom­panho o voto do Sr. Min. Rela­tor, reconhecendo o direito dos postulantes, tanto mais quanto ao ser proferida a sentença na ação, ou seja, a 17 de julho de 1957, como ora verifico dos autos que tenho em mãos, já estava em vi­gor a Lei n.o 2.622, de 18 de ou­tubro de 1955.

Declaração de Voto

O Sr. Min. Armando Rollem­berg: - Realmente o ponto de vista que esposei diverge do Sr. Min. Oscar Saraiva. Entendo, e isso sustentei no meu voto que, se a regra constitucional impera­tiva, não foi regulamentada em tempo, nem por isso ficaram os aposentados sem direito à percep­ção de aumento quando os funcio­nários em atividade o tivessem. Ainda entendo que se a lei não determinou o quantum ao aumen­to a ser percebido pelos aposen­tados, fazem êles jus aos mesmos índices adotados para os funcio­nários em atividade.

Retificação de Voto

O Sr. Mitlj. Godoy Ilha: Sr. Presidente, nesta oportunida-

de e esclarecido pelo debate, per­mito-me reformar o voto que pro­feri no julgamento anterior.

O Juiz da 3.a Vara da Capital do Rio Grande do Sul, um dos be­los ornamentos da Magistratura rio-grandense, hoje com assento no Tribunal de Justiça daquele Estado, apreciou a questão, incen­suràvelmente, no julgado de Pri­meira Instância, mostrando que o dispositivo não era auto-executá­vel e que a reivindicação dos au­tores - fiscais do impôsto de con­sumo - em ação proposta em 1953, da pretendida equiparação de vencimentos, não tem apoio em lei, pôsto que não há na legisla­ção vigente nenhum dispositivo expresso que autorize essa equipa­ração.

A Turma reformou essa decisão contra o voto do Sr. Min. Aguiar Dias, sabidamente liberal no to­cante a essas reivindicações.

Sr. Presidente, em conformida­de com o voto vencido, que a meu ver coloca a questão nos seus de­vidos têrmos, data venia dos emi­nentes Colegas que divergiram dêsse entendimento, retifico meu pronunciamento, para acompanhar o voto do Sr. Min. Oscar Saraiva.

Recebo os embargos da União, para restabelecer a decisão de Pri­meira Instância.

Retificação de Voto

O Sr. Min. Henrique d'Avila: - Quando do início do julgamen­to não me detive demoradamente sôbre o assunto . Já agora, escla­recido pelo debate e tendo em vis­ta a circunstância de haver sido lembrado voto meu, proferido no

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Egrégio Supremo Tribunal Fe­deral, que mandava excluir o au­mento antes do advento da Lei fi. o 2.622, porque a mesma Lei não havia fixado a proporção de que os aposentados se deveriam beneficiar, retifico-me, para rece­ber os embargos, nos têrmos do voto do Sr. Min. Oscar Saraiva.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Prosseguindo-se no julgamento, foram recebidos os

embargos, após terem retificado seus votos os Srs. Mins. Revisor e Godoy Ilha, ficando vencidos os Srs. Mins. Relator, Amarílio Ben­jamin e Hugo Auler. Designado Relator para Acórdão o Sr. Min. Revisor. Os Srs. Mins . Godoy Ilha, Oscar Saraiva e Antônio Ne­der votaram com o Sr. Min. Hen­rique d'Ávila. O Sr. Min. Hugo Auler encontra-se preenchendo va­ga decorrente da aposentadoria do Sr. Min. Cândido Lôbo. Presi­diu o julgamento o Sr. Min . Cunha Vasconcellos.

APELAÇÃO CÍVEL N.O 11.266 - DF. ~

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello Apelante - Jayr Nabuco Carneiro Pereira da Silva Pôrto Apelada - União Federal

Acórdão

Aproveitamento industrial das minas e jazidas minerais. O registro de jazida, feito em 1935, não pode ser alterado para o de mina, após o transcurso do prazo fixado no art. 10, do Código de Minas, prorrogado pela Lei n.o 94, de 1935. Incorporação ao patrimônio da União, de acôrdo com o art. 7.°, § 2.°, do Decreto-lei '11.0 1.985, de 1940, por omissão do exercício do direito de preferência, ao prazo de cinco anos.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.O

11.266, do Distrito Federal, ape­lante Jayr Nabuco Carneiro Pe-

* Nota doa Redação: Interpostos Embargos de Nulidade por Carneiro Pereira da Silva Pôrto em 1-9-66.

reira da Silva Pôrto e apelada União Federal:

Acorda, por maioria, a Segunda Turma julgadora do Tribunal Fe­deral de Recursos, em negar pro­vimento, vencido em parte o Sr. Min. Revisor, conforme consta das notas taquigráficas anexas, as

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quais, com o relatório, ficam fa­zendo parte integrante dêste jul­gado, apurado nos têrmos de fls. 189. Custas de lei.

Brasília, 10 de dezembro de 1965. - Djalma da Cunha Mel­lo, Presidente; Armando Rollem­berg, Relator.

Relatório

o Sr. Min. Armando Rollem­berg: - Jayr Nabuco Carneiro Pereira da Silva Pôrto propôs ação ordinária contra a União para compelir esta a: "I) promover e efetivar no Registro de Jazidas e Minas Conhecidas, na competente Repartição, a inscrição, em nome do autor, da Mina de Ferro do Ca­raça, situada nos distritos de Ca­tas Altas e Santa Rita Durão, componentes, respectivamente, dos municípios de Santa Bárbara e Mariana, no Estado de Minas Ge­rais; II) pagar ao autor as per­das emergentes decorrentes dos prejuízos efetivos que lhe foram causados pelos atos ilegais prati­cados pelas autoridades federais; lII) ressarcir os lucros cessantes desde 1951, com cessação do que deixou de ganhar, tendo-se em vis­ta a importância da sua indústria mineralífera; IV) responder pelos juros moratórios calculados pela taxa legal sôbre a quantia da in­denização realmente devida; V) indenizar os honorários de advo­gado do autor, na base de 20% da importância da indenização to­tal que venha a ser fixada, a fim de que os mesmos se incluam e se equiparem a custas e despesas ju­diciais, conforme o art. 64 do Có­digo de Processo Civil; VI) efe-

tivar o pagamento das custas e despesas que sejam comprovadas".

Alegou em favor de sua preten­são ser cessionário de todos os. di­reitos de propriedade mineral de Otto Hartenbach, que, em 1935, por engano, manifestara como ja­zida o que na verdade era mina, tendo, em 1942, requerido retifica­ção do equívoco, com substituição do registro da jazida pelo de mi­na, o que lhe fôra negado.

Acrescentou que, em 1950, após ter adquirido os direitos relativos à propriedade minerária do mes­mo Otto Hartenbach, requereu igual providência, também indefe­rida pela autoridade administrati­va, o que o levou a impetrar man­dado de segurança a êste Tribu­nal, sem lograr êxito, por ter a de­cisão entendido não lhe assistir di­reito líquido e certo.

Arrimou a sua pretensão na as­sertiva de que, uma vez que a Constituição de 1934 dispensava de autorização ou concessão a ex­ploração de minas em lavra, na data de sua promulgação, ainda que transitoriamente suspensa, não estava o respectivo registro sujei­to a prazo, bastando que, em qual­quer tempo, fôsse feita a prova da condição exigida, o que fôra feito através de vistoria ad perpetuam rei memoriam. Na contestação, sustentou a União: "que os auto­res não têm o menor direito à pre­tensão, como bem demonstram as informações do Ministério da Agri­cultura, e que ficam integrante da presente contestação; que, real­mente, os autores pretendem, como concessionários de um direito, ob­ter direito diverso daqueles que lhes concedeu o primeiro titular,

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pois receberam uma concessão de registro da jazida e querem trans­formá-la em registro de mina; que o primeiro titular do direito trans­ferido, Qtto Hartenbach, obteve em 1935 registro de jazida. Pos­teriormente, em 1941, procurou ampliar a concessão para registro de concessão de lavra e de pesqui­sa. Houve indeferimento a essas últimas pretenções, e com o inde­ferimento concordou o primeiro concessionário, não só tàcitamen­te, porque não recorreu do mesmo despacho, como até expressamen­te, porque desistiu, por escrito, da pretensão; pois que o primeiro concessionário, Qtto Hartenbach, ficando somente com o manifesto de jazidas, e concordando com isto expressamente, não poderia trans­ferir aos autores concessão de la­vra e mina, que nunca obteve; des­sarte, que os autores não têm ar­rimo na outorga do art. 21 do Ato das Disposições Constitucio­nais Transitórias, porque êste se refere exclusivamente a explora­ções das minas em lavras, e o an­tecessor dos autores jamais explo­rou minas em lavra, mas apenas obteve registro de jazida; que não se confunde exploração de mina com registro de jazida, e por se tratar de uma jazida, e não de uma mina em exploração, a jazida em aprêço foi incorporada ao Pa­trimônio da União, nos precisos têrmos do art. 7.°, § 2.°, do De­creto-lei 1.985, de 29-1-40; que, dessarte, quando foi promulgada a Constituição vigente, o primeiro concessionário não tinha sequer jazida, quanto mais direito à mi­na; que é inaceitável transformar o registro de uma jazida em mina,

já decorridos mais de 15 anos do registro único da jazida, esta as­sim registrada há mais de 15 anos, para todos os efeitos, inclusive o da caducidade de exploração, ocorrida em 30-1-945; assim, que o direito à presente ação está pres­crito pelo decurso de mais de três lustros de anuência expressa ao re­gistro da jazida e da sua caduci­dade, mas se acaso se pudesse co­nhecer do mérito do pedido, a ação deveria ser julgada improce­dente, pela absoluta falta de di­reito ao absurdo pretendimento".

Após réplica e saneador irrecor­rido, o MM. Juiz julgou a ação improcedente, em sentença cuja parte decisória é a seguinte: "Não há prescrição. Q autor se mante­ve na via administrativa sempre vigilante.

Deve-se presumir, já que não consta documentação a respeito, que o mandado de segurança im­petrado pelo autor, ao Tribunal Federal de Recursos, limitou-se a rejeitar o pedido por iliquidez da prova produzida. Se tivesse en­trado no mérito, naturalmente, a ré teria argüido a prejudicial da coisa julgada.

No mérito, o que .ocorre está bem elucidado no parecer do Sr. Consultor-Geral da República. Dêle consta: "Não cabe, a meu parecer, transformar o registro, como se pretende. A vistoria, co­mo feita, não tem valor para obri­gar a administração pública: é simples medida preparatória, há­bil, para instruir processo conten­cioso, no qual a autoridade judici­al dar-lhe-á o valor que merecer.

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No caso, o roteiro a seguir pelo cessionário é o indicado pelo Di­retor-Geral do Departamento Na­cional da Produção Mineral: o re­querente, como proprietário do so­lo, tem a preferência na explora­ção dos recursos minerais (Const. Federal, art. 153, § 1.0). Deverá, assim, requerer a autorização de pesquisa (Código de Minas, artigo 14) e, em seguida, o direito para explorar a reserva mineral encon­trada (Código de Minas, art. 20)."

É o que cabe. Mais de que isto é desvio da normalidade fixada na lei.

Isto pôs to, julgo improcedente a ação, e condeno o autor nas custas."

Inconformado, apelou o autor, reiterando os argumentos da ini­cial; o recurso foi contra-arrazoa­do pela União, e nesta Instância opinou a Subprocuradoria-Geral da República pela confirmação da sentença.

É o relatório.

Voto

O Sr. Min. Armando Rollem­berg: - 1. A Constituição de 1934, no seu art. 199, estatuiu que o aproveitamento industrial das minas e jazídas minerais, bem co­mo das águas e da energia hidráu­lica, ainda que de propriedade pri­vada, dependeria de autorização ou concessão federal, na forma da lei.

No § 6.° do mesmo artigo, po­rém, estabeleceu exceção à regra citada, fixando que não depende­riam de concessão ou autorização o aproveitamento das quedas

d'água já utilizadas industrialmen­te na data de sua promulgação, e, sob a mesma ressalva, a explo­ração das minas em lavra, ainda que transitoriamente suspensa.

Antes da data da Constituição fôra promulgado o Cód. de Mi­nas (Decreto 24.642, de 10 de julho de 1934), que somente veio a ser publicado após a vigência da mesma.

Em conseqüência, há de se en­tender que tal diploma legal tor­nou-se aplicável em tudo aquilo em que não contrariasse a Carta Constitucional.

Ora, no seu art. 3.°, assim dis­punha: "O aproveitamento das ja­zídas, quer de domínio público, quer do domínio particular, far-se­-á pelo regime de autorizações e concessões instituído neste Código.

§ 1.0 - Independem de auto­rização ou concessão do poder pú­blico, sem prejuízo do disposto no art. 89, as minas que estejam sen­do lavradas na data da publica­ção dêste Código, desde que se­jam manifestadas na forma e pra­zo prescritos no art. 10, e enquan­to não cessa a lavra; cessada a lavra, cairão no regime dêste Có­digo;"

Tal disposição não colide com a regra do § 6.° do art. 119 antes enunciada, pois isenta de conces­são e autorização as minas em la­vra, devendo apenas ser interpre­tada com a extensão atribuída pe­la norma constitucional, isto é, dando como incluídas no favor as minas cuja exploração estava, en­tão, transitoriamente suspensa.

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De pé ficou, portanto, a exigên­cia de manifestação da mina, na forma do art. 10, isto é, dentro de um ano da publicação do Có­digo, prazo prorrogado mais tarde pela Lei n.o 94, de 10-9-35, mani­festação esta da qual decorria o direito de exploração da mina in­dependente de autorização ou con­cessão.

Ora, no caso dos autos, Otto Hartenbach, no prazo do art. 10 do Código de Minas de 1934, ma­nifestou jazidas e não minas, e, portanto, decorrido o prazo ali fi­xado, com a prorrogação da Lei n.o 94, não mais lhe seria possível alterar o registro respectivo.

Cabe acentuar que o direito ao registro apontado não foi renova­do pelas Constituições de 1937 e 1946, pois em ambas (arts. 143, § 4.°, e 21 das Disposições Consti­tucionais Transitórias) foi dispen­sada a autorização ou concessão para exploração das minas em la­vra, ainda que transitoriamente suspensa, sem, entretanto, afastar a sujeição da exploração às nor­mas regulamentadoras.

2. Mesmo que se pretendesse fugir à conclusão antes apontada, ainda teria Otto Hartenbach per­dido o direito que o autor invoca, pelo fato do ter manifestado ja­zidas ao invés de minas, no prazo legal, reconhecendo, assim, que o seu direito seria às primeiras e não às últimas.

3. Ainda seria de considerar que, quer tratando-se de jazidas, quer de minas, o proprietário ou

interessado está obrigado a pes­quisá-las ou explorá-las dentro dos prazos legais, o que não foi feito pelo autor.

Daí por que, tendo Otto Harten­bach obtido o registro das jazidas em 14-7-35, e não tendo exercido o direito de preferência no prazo de cinco anos, o Ministro da Agri­cultura indeferiu requerimento de prorrogação apresentado em 24 de julho de 1945, pois, então, de acôr­do com o art. 7.°, § 2.°, do Decre­to-lei 1.985, de 29-1-40, a jazida já se encontrava incorporada ao patrimônio da União.

Ora, se Otto Hartenbach somen­te cedeu ao autor os seus direitos em 1947, tal cessão não poderia alcançar a preferência para a ex­ploração das jazidas, pois não mais a detinha, e muito menos poderia abranger o direito à exploração das minas, pois êste jamais lhe coubera, uma vez que não as ha­via manifestado oportunamente.

Falece assim, ao autor, qualquer direito ao que pleiteia.

4. Finalmente, cabe acrescen­tar que, se em 1942 foi indeferido, pelo Ministro da Agricultura, apoiado em parecer do Consultor­Jurídico do Ministério, requeri­mento em que Otto Hartenbach pleiteava a averbação como mi­na da jazida por êle manifestada, de tal data começou a correr o lapso prescricional da ação res­pectiva, que se completou em 1947.

Portanto, mesmo que assistisse direito ao autor, a ação corres­pondente estaria prescrita.

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5. Por tôdas essas razões, o meu voto é para negar provimento à apelação e confirmar a sentença recorrida.

Voto (Vencido, em parte)

O Sr. Min. Djalma da Cun!18 Mello: - O douto Carlos Medei­ros Silva lembra no parecer data­do de 28-3-1952, que o art. 21 das disposições transitórias da Lei Fundamental fala em "exploração das minas em lavra, ainda que transitàriamente suspensa", não em "jazida".

Concluiu, por isso, que nenhum era o direito do ora apelante. Es­tava certo.

Agora, porém, produziu-se com­provação de que se tratava de aproveitamento de mina transità­riam ente suspensa, com "quatro grandes depósitos de hematita co­mo que à espera de transporte" ..

Não importa o êrro de mani­festo, a referência a uma "jazida", e sim o fato objeto de ressalva constitucional.

O Constituinte, no texto transi­tório, não cogitou do formalismo, teve em aprêço uma situação de fato, tanto que só jungiu casos dês­se jaez a normas de regulamenta­ção que sobreviessem.

O registro deve ser retificado. Jazida não, mina. E para que possa o postulante retomar a la­vra, satisfeito o direito positivo sobrevindo.

A indenização e outras reques­tas, faladas na petição inicial, não

lhe reconheço qualquer direito, pois que só agora, com a perícia judiciária, elucidou-se quantum satis o essencial ao desideratum que o moveu a lutar na via ad­ministrativa e ao aforamento de uma demanda.

Dou provimento em parte ao recurso.

Voto

O Sr. Min. Oscar Saraiva: Sr. Presidente, pelo que ouvi dos debates dos votos já emitidos, e es­pecialmente da leitura da senten­ça, não vejo que esteja trancada

. a via administrativa ao autor. O Dr. Juiz a quo consignou, na sua sentença, que cumpria ao autor se­guir o roteiro que lhe foi indica­do, para que, dentro das exigên­cias legais, obtivesse a operação que pretende, porque a simples circunstância de ser proprietário não lhe asseguraria êsse direito.

Meu voto, portanto, é para manter a sentença por seus pró­prios fundamentos, razão por que nego provimento ao recurso.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Negou-se provi­mento, vencido, em parte, o Sr. Min. Revisor. O Sr. Min. Os­car Saraiva votou de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Não compa­receu, por motivo justificado, o Sr. Min. Cunha Vasconcellos. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Djalma da Cunha Mello.

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APELAÇÃO CíVEL N.o 15.962 - GB.~

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Oscar Saraiva Recorrente - Juízo da Fazenda Pública, ex oflieio Apelante - IAPB Apelado - Plotino Campello Duarte

Acórdão

Médico de autarquia. Efetivado por fôrça da Lei n.o 2.284/54, não se lhe reconhece cabível, por fôrça dessa mesma lei, a equiparação dos seus vencimentos aos dos funcionários efetivos titulados.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.o 15.962, da Guanabara, em que são partes as acima indicadas:

Acordam os Ministros que com­põem a Segunda Turma do Tri­bunal Federal de Recursos, por unanimidade, em dar provimento, em parte, aos recursos, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls. retro, que ficam fazendo parte integrante do presente jul­gado. Custas de lei.

Brasília, 10 de novembro de 1965. - Godoy Ilha, Presidente e Relator.

Relatório

o Sr. Min. Godoy Ilha: -Sr. Presidente, o autor é médico contratado do Instituto de Apo­sentadoria e Pensões dos Bancá­rios e, nessa qualidade, moveu a presente ação ordinária, visando compelir essa entidade autárqui­ca a considerá-lo extranumerário­-mensalista a partir da vigência da

* Nota da Redação: Interposto Recurso Extraordinário pelo IAPB em 25-8-66.

Lei n.o 1.765, de 18 de dezembro de 1952, equiparando-o, a contar da Lei n.O 2.284/54, aos funcio­nários efetivos, para todos os efei­tos, inclusive percepção çle iguais vencimentos, com o pagamento das diferenças que fôssem apura­das.

Processada a causa, com obser­vância das formalidades legais, foi afinal proferida a ilustrada senten­ça, dando pela procedência da ação nos têrmos do pedido, salvo quanto a honorários advocatícios, excluídas, porém, quaisquer van­tagens pecuniárias anteriores ao qüinqüênio que precedeu à pro­positura ou posteriores ao enqua­dramento resultante da Lei n.o

3.780, de 12 de julho de 1960. Inconformada, a autarquia ape­

lou, arrazoando.

O autor contra-arrrazoou. A Subprocuradoria-Geral da

República pede a reforma da sen­tença.

É o relatório.

Voto

o Sr. Min. Godoy Ilha: - A hipótese é rigorosamente idêntica

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à de que foi objeto a Apelação Cí­vel n.O 15. 122, em que foi apela­do o Dr. Carlos Frederico Enge­lhardt, precedente invocado na sentença e que não logrou confir­mação desta Turma, nos têrmos do voto que então proferi: "O man­dado de segurança obtido pelo au­tor foi apenas para considerá-lo efetivado nas funções de extranu­merário-contratado, nos têrmos do art. 26 da Lei 1.765/52 e da Lei 2.284/54, como se vê da certidão de fls. 55, e o Acórdão dêste Tri­bunal assentou que o autor "extra­numerário-contratado, médico do Instituto de Aposentadoria e Pen­sões dos Bancários, passa à condi­ção de extranumerário-mensalista e, após cinco anos de serviço pú­blico ininterruptos, fica efetivado na dita função de extninumerário". O Acórdão datado de 20-7-1959, só transitou em julgado em 17 de outubro de 1960.

Descabida a pretensão do 1.0 apelante de que lhe fôssem atri­buídos os vencimentos da Lei 488 de 1948, inextensíveis aos servido­res autárquicos, ex vi do seu art. 33, pelo qual "os vencimentos dos dirigentes e dos empregados das autarquias federais serão fixados pelo Presidente da República". Nem a decisão concessiva da se· gurança, tanto na Primeira como na Segunda Instância, cogitaram de remuneração, senão o de tornar efetivo o impetrante. Nem a Lei n.O 2.284 tem os efeitos que se lhe pretenderam atribuir.

Não houve qualquer desrespei. to ao mandado de segurança, eis que o réu sempre conferiu ao au­tor a remuneração a que tinha di­reito, conforme os níveis e padrões

de vencimentos fixados pelo Che. fe do Govêrno para os servidores do IAPB pelo Decreto n.o 38.639, de 24-1-1956, em cujas tabelas foi enquadrado o autor, pois só com o advento dêsse diploma regula. mentar foi instituída a carreira, e até então era o autor simples con. tratado, e equipa-rado aos extranu­merários-mensalistas, a partir de sua vigência.

O autor pretende retroagir os efeitos de sua efetividade à data da Lei 2.284, de 9-8-1954, quan. do é certo que só a 13 de outubro daquele ano completou o qüin­qüênio e a sentença de Primeira Instância que lhe reconheceu o direito à efetividade data de 18 de julho de 1958. Além dessa pre­tendida retroação, vindica ainda o apelante que sejam também con­feridas as diferenças de vencimen­tos da função com os padrões fi­xados pela referida Lei 488 para os cargos da carreira de médico do serviço público centralizado.

Não têm qualquer procedência as increpações que fazem ambos os apelantes à jurídica decisão ape­lada que concluiu para "julgar pro­cedente em parte a ação, para de­terminar a inclusão do autor na série funcional de médico da ta­bela de extranumerário-mensalista, a partir da vigência do supracita­do Decreto 38.639, respeitada a ordem de antigüidade decorrente do tempo de serviço prestado an­teriormente ao Instituto, com as melhorias salariais previstas nos decretos posteriores que alteraram a tabela inicial e a pagar-lhe as possíveis diferenças salariais atra­sadas desde a data em que deve-

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ria ter figurado na primeira tabe­la, inclusive as referentes aos abo­nos.

Aliás, o próprio réu apelante de­clara já haver satisfeito espontâ­neamente, ao autor, após a segu­rança que lhe foi concedida, tôdas as vantagens decorrentes daquele enquadramento, e a apelação por aquêle interposta só pode decorrer de uma errônea interpretação do decisório.

Nego provimento a todos os re­cursos."

Em tais condições dou provi­mento em parte aos recursos, nos

têrmos daquele voto e para excluir as vantagens pretendidas por efei­to da Lei n.O 2.284/1954.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por unanimidade de votos, deu-se provimento, em parte, aos recursos. Os Srs. Mins. Oscar Saraiva e Armando Rollem­berg votaram de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Não compareceu, por motivo justificado, o Sr. Min. Cunha Vasconcellos. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CÍVEL N.O 16.684 - DF. <:t

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Cunha Vasconcellos Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello Apelante - Estácio Corrêa da Trindade Apelados - IAPI e Rêde Ferroviária Federal S.A. (EFSJ)

Acórdão

Funcionário público. Vantagem constante do art. 1.0 da Lei n.o 1.741, de 1952. Indispensável exercício ininterrupto de cargo de caráter perma­nente.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.O 16.684, do Distrito Federal, em que são partes as acima indi­cadas:

Acordam os Ministros que com­põem a Segunda Turma do Tri­bunal Federal de Recursos, por unanimidade, em negar provimen­to, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls. 136/144, que

* Nota da Redação: Interposto Recurso Extraordinário por Estácio Corrêa da Trindade em 1-9-66.

ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei

Brasília, 18 de março de 1966. - Cunha Vasconcellos, Presiden­te; Djalma da Cunha Mello, Relator (Art. 81 do RI).

Relatório

O Sr. Min. Cunha Vasconcel­los: - A matéria vertente dos presentes autos foi assim exposta e decidida pelo MM. Julgador a quo: "Estácio Corrêa da Trinda-

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de, propondo esta ação ordinária contra o Instituto de Aposentado­ria e Pensões dos Industriários, a Rêde Ferroviária Federal S. A. e a União teve por objetivo obter que os proventos de sua aposen­tadoria no cargo em comissão de Agente, padrão CC-6, sejam rea­justados ao padrão CC-I, com tô­das as vantagens daí decorrentes e a partir da data de sua aposen­tadoria.

Chamando a Juízo os três réus, o fêz sob a alegação de que tinha necessidade de que se fixasse ju­dicialmente qual dêles deveria res. ponder pelos ônus da revisão pre­tendida.

Em abono de sua pretensão, alegou, em síntese: Ingressando no quadro dos servidores do IAPI em 1.° de janeiro de 1938, a par­tir de 15 de março dêsse mesmo ano, passou a exercer o cargo em comissão de Agente, primeiro em Taubaté, depois em Jundiaí e, fi­nalmente em São Caetano, nos se­guintes períodos: 15-3-38 a 21 de março de 1941; 22 de março de 1941 a 18 de fevereiro de 1949; 19 de fevereiro de 1949 a 1.° de dezembro de 1950, totalizando 12 anos, 7 meses e 15 dias.

O exercício dessas funções em comissão no IAPI foi interrompi­do porque, em 1-12-50, o mesmo Instituto o pusera à disposição da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, então integrada no Ministério da Viação e Obras Públicas. Aí pas­sou a ocupar o cargo em comis­são, padrão CC-I, de Chefe do Serviço Administrativo da Comis­são do Oleoduto da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, situação em que se manteve até 1-7-1953, to-

talizando, assim, no exerClClO de cargos em comissão do serviço público federal 15 anos, 3 meses e 15 dias.

A Portaria com que o IAPI o pôs à disposição da citada Estra­da de Ferro declarou que o fazia "sem perda de vencimentos e de­mais vantagens".

Em 22 de novembro de 1952 foi baixada a Lei n.o 1.741, assim dispondo em seu art. 1.0: "Ao ocupante de cargo de caráter per­manente e de provimento em co­missão, quando afastado dêle, de­pois de mais de dez anos de exer­cício ininterrupto, é assegurado o direito de continuar a perceber o vencimento do mesmo cargo, até ser aproveitado em outro equíva­lente."

O Supremo Tribunal Federal, através de mandado de seguran­ça que impetrou, reconheceu-lhe o direito de aposentar-se no cargo em comissão de Agente, padrão CC-6 que no IAPI, havia exerci­do ininterruptamente por mais de dez anos consecutivos.

Entende o requerente que a de­cisão do Pretório Excelso, na via sumária do writ contra o IAPI não lhe cerceia a liberdade de discutir em via ordinária a matéria com novos elementos e provas, nem o de excluir totalmente a responsa­bilidade da Estrada de Ferro San­tos-Jundiaí e da União, mesmo porque estas duas entidades não foram partes naquele remédio cé­lere.

Quando exercia o cargo em co­missão, padrão CC-1 de Chefe de Serviço Administrativo da Comis­são de Oleoduto da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, percebia os

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vencimentos do cargo que ocupa. va no IAPI e a referida Estrada de Ferro lhe pagava a diferença decorrente do padrão em que es­tava comissionado.

Assim, sendo pacífico que exer. ceu por mais de 15 anos contínua e ininterruptamente, cargo em co­missão; sendo certo que a Lei nú­mero 1.741/52' não distingue en­tre êste ou aquêle cargo em co, missão, como não discrimina esta ou aquela repartição pública es­tando assentado definitivamente que dita lei se estende às autar­quias, entende que sua aposenta­doria haveria de ocorrer com oS proventos do cargo em comissão de melhor padrão de vencimentos, no caso, os correspondentes ao pa. drão CC-I, da última comissão exercida.

Citados os réus, apenas o Ins­tituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários e a Rêde Ferro. viária Federal S _ A. vieram ao processo. A União deixou que de­corresse o prazo que lhe fôra as­sinado sem nada alegar.

Disse o IAPI, em resumo: Pre­liminarmente, tendo colocado o autor à disposição da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí sem prejuí­zos e vantagens, só poderia ser responsabilizado pelas vantagens que como funcionário seu tivesse êle direito. Assim, era parte ilegí­tima para responder à atual pre­tensão do requerente.

Quanto ao m~rito, não procedia o pedido porque, na aplicação da Lei n.o 1.741, de 1952, o que o Su­premo Tribunal já assentou, in­clusive no mandado de segurança de que foi beneficiário o autor, é que os dez anos de exercício de-

vem ser apurados em um cargo único. Isso, aliás, é o que consta da regulamentação da citada Lei, feita pelo Decreto n.o 40.746, de 1957, assim dispondo no inciso I, de seu art. 2.°: "Exercício inin­terrupto de um único cargo em comissão durante período superior a 10 anos". E naquele em cujo padrão pretende o autor sejam os seus proventos da aposentadoria fixados, estêve apenas por pouco mais de três anos.

Disse a Rêde Ferroviária Fe­deral S. A. em síntese: Prelimi­narmente, era a contestante par­te ilegítima para responder à 'pre­tensão do autor porque, mesmo tivesse sido êle funcionário da Es­trada de Ferro Santos-Jundiaí, o que não aconteceu, tôdas e quais­quer responsabilidades anteriores à sua criação, que data de 30 de se­tembro de 1957, ficaram expressa­mente a cargo da União como consta de seus Estatutos, aprova­dos pelo Decreto Federal núme­ro 42.381, de 1957.

Quanto ao mérito, o autor quan­do foi pôsto à disposição da ex­tinta Comissão de Oleoduto não poderia ter assegurado direitos ou­tros que não aquêles de que já era titular no IAPI, porque a Co­missão era órgão precário, tanto que foi extinta quando finda a construção e, mais, todo o seu pes­soal foi apenas titulado como de obras.

O autor foi chamado a se pro­nunciar sôbre as contestações, ofe­recendo a réplica de fls. 79.

Despacho de fls. 84 determinou a conferência das fotocópias apre­sentadas e isso foi dispensado pelo despacho de fls. 85.

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o saneador foi proferido a fls. 86 e devidamente esclarecido a fls. 89, através de solicitação fei­ta pelo IAPI.

N a data marcada realizou-se a audiência de instrução e julga­mento, a: ela comparecendo ape­nas os advogados do autor, do IAPI e da Rêde Ferroviária Fe­deral S. A. que se reportaram a quanto já haviam alegado nos au­tos.

Não há nulidades a pronunciar, nem irregularidades a corrigir.

Isto pôsto: Os réus Instituto de Aposentadoria e Pensões dos In­dustriários e Rêde Ferroviária Fe­deral S. A. alegaram ambos se­rem partes ilegítimas para respon­derem aos têrmos da presente ação.

O primeiro, sob o fundamento de que embora tivesse colocado o autor à disposição da Estrada de Ferro Santos-J undiaí, sem prejuí­zo de vencimentos e demais van­tagens, só poderia ser responsabi­lizado por aquêles e aquelas a que o requerente tivesse feito jus nêle contestante.

O segundo, sob a alegação de que na forma dos seus Estatutos tôdas e quaisquer -responsabilida­des anteriores à sua constituição de quaisquer das ferrovias que a ela foram incorporadas ficaram por conta da União.

Dou pela procedência de am­bas as preliminares.

No caso do Instituto, o que êle assegurou ao autor foram venci­mentos e vantagens pertinentes aos seus próprios servidores. Além disso, em mandado de segu-

rança que o autor impetrou con­tra o IAPI, pleiteando o reconhe­cimento de seu direito aos venci­mentos e vantagens decorrentes do padrão CC-I, último cargo em comissão que exercera, nesse par­ticular lhe foi êle denegado, tal como se vê da certidão de fls. 26, com o seguinte voto do Sr. Min. Ari Franco, acompanhado de seus demais Pares: "Assim sendo, O' re­corrente tem direito aos proventos do cargo em comissão qu~ exer­ceu por mais de dez anos, como Agente do Instituto nas cidades de Jundiaí, Taubaté e São Caeta­no, sem qualquer direito a outro cargo porque não estêve no seu exercício por dez anos."

Impõe-se, no caso, o reconheci­mento da coisa julgada.

No caso da Rêde Ferroviária Federal S. A., criada em 30 de setembro de 1957, consta dos seus Estatutos, aprovados pelo Decre­to n.o 42.381, que a União fica­ria expressamente responsável pe­las obrigações com o pessoal das autarquias, estradas incorporadas, ou da própria União, referentes às estradas ora incorporadas, seja qual fôr o seu regime jurídico.

Dessa forma, quer se considere o autor como tendo prestado ser­viços à Estrada de Ferro Santos­Jundiaí, quer à Comissão de Oleo­duto da mesma Estrada de Ferro, criada pelo Govêrno Federal, pela sua pretensão, nesta ação, só po­deria responder a União.

No mérito. Pôsto à disposição da Estrada

de Ferro Santos-Jundiaí pelo IAPI foi o autor desde logo encaminha­do para o cargo isolado, em co-

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mlssao, de Chefe do Serviço Ad­ministrativo da Comissão do Oleo­duto referida.

Essa Comissão foi criada para os fins especificados no documen­to de fls. 12, por onde se vê o seu caráter temporário, notadamente em seu inciso 8.0

1 quando diz: "Operar o oleoduto nos quatro pri­meiros meses considerados corno período de experiência."

Em nenhum dos atos citados se declarou que o cargo ocupado pe­lo autor na Comissão mencionado fôsse de caráter permanente.

E nem isso se poderia fazer pois se tratava de serviço de natureza transitória, destinado a cumprir tarefa certa e determinada - a construção de oleoduto e sua ope­ração nos quatro primeiros meses - que por modo algum ensejaria a criação de cargos de natureza permanente.

A regra do art. 1.0 da Lei n.o

1.741, de 22-11-52, em que o autor assenta seu direito, é taxativa: "Ao ocupante do cargo de caráter permanente e de provimento em comissão, quando afastado dêle, depois de mais de dez anos de exercício ininterrupto, é assegura­do o direito de continuar a per­ceber o vencimento do mesmo cargo, até ser aproveitado em ou­tro equivalente."

Não basta, pois, que o cargo seja de provimento em comissão; necessário se faz seja também êle de natureza permanente. E o que ocupou o autor, no padrão CC-I, não tinha essa última caracterís­tica.

Assim, julgo improcedente a ação, condenando o autor ao pa­gamento das custas."

Apelou, então, o autor, com as razões de fls. 98/106, cujo recur­so foi contra-arrazoado pelos réus.

Subindo os autos a esta Supe­rior Instância, oficiou a Subpro­curadoria-Geral da República no sentido da manutenção da sen­tença.

A seguir, o apelante requereu, em seu prol, a juntada de fotocó­pia do Diário Oficial em que foi publicado no Decreto 990/62 dan­do nova regulamentação à Lei n.o 1.741/65, bem como da Reso­lução do Conselho Administrativo n.o 50/62, estabelecendo normas para o cumprimento do menciona­do Decreto.

Manifestaram-se, então, o IAPI, a Rêde Ferroviária Federal S. A . (Estrada de Ferro Santos-]un, diaí) e a União contrariando as alegações do requerente.

É o relatório.

Voto

o Sr. Min. Cunha Vasconcel­los: - O apelante pretende so­mar os tempos de exercício em vá­rios cargos em comissão para au­ferir as vantagens do art. 1.0 da Lei 1.741, de 1952. Tenho para mim, que isto é impraticável pois que o Dec. n.o 990, de 14-5-62, exorbitou da Lei 1.741. Demais, como acentuou a sentença, é ne­cessário que o cargo seja de ca­ráter permanente, o que não ocor­ria no caso do apelante.

Nego provimento.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Negou-se provi-

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mento. Decisão unânime. Os Srs. Mins. Djalma da Cunha Mello e Oscar Saraiva votaram de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Não

compareceu, por motivo justifica­do, o Sr. Min. Armando Rollem­berg. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Cunha Vaseoneellos.

APELAÇÃO CíVEL N.O 16.933 - RJ. ~

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Antônio Neder Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro Recorrente - Juiz da Fazenda Pública, ex oflieio Apelante - União Apelados - José Gonzaga de Oliveira e Outros

Acórdão

Decreto-lei n.o 3.858, de 1941. Lei n.o 1.812, de 1953. Lei n.O 2.752, de 1956. Direito a duas aposentadorias. Servidor da Rêde Mineira de Viação que não optou pelo serviço federal. Não se aplica essa Lei n.o 2.752 aO caso em que êsse referido servidor deixou de fazer a opção que expressa o Decreto-lei n.o 3.858. Sem essa opção, não se pode defini-lo como servidor da União, mas de autarquia federal. E funcionário dessa espécie não tem o direito de ser aposentado pelo Tesouro Nacional. Recurso de apelação a que se dá provimento.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.o 16.933, do Estado do Rio de J a­neiro, em que são partes as acima indicadas:

Acordam os Ministros que com­põem a Primeira Turma do Tri­bunal Federal de Recursos, por maioria, em dar provimento, na forma do relatório e notas taqui­gráficas de fls. retro, que ficam fazendo parte integrante do pre­sente julgado. Custas de lei.

Brasília, 13 de abril de 1966. - Henrique d' Ávila, Presidente; Antônio Neder, Relator.

* Nota da Redação: Interpostos Embargos de Nulidade por José Gon­zaga de Oliveira e outros em 29-8-66.

Relatório

o Sr. Min. Antônio Neder: -José Gonzaga de Oliveira e ou­tros, servidores do Ministério da Viação e Obras Públicas, lotados na Rêde Mineira de Viação, em Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro, ajuizaram contra a União ação ordinária, com o fim de obter aposentadoria pelo Te­souro Nacional.

Alegaram, em suma: que, ten­do servido à ré por mais de 35 anos, requereram sua aposentado­ria. pelo Tesouro Nacional, com fulcro na Lei n.o 1.711, de 28 de outubro de 1952; que a autorida­de administrativa indeferiu o pedido, sob a alegação de não terem os demandantes a qualida-

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de de funcionários públicos fe­derais, aduzindo ser ilícita e inad­missível a cumulação da aposen. tadoria pelo Tesouro com a da Caixa de Aposentadoria e Peno sões; que os suplicantes ingressa­ram no serviço público federal, respectivamente, em 25 de abril de 1924, 17 de julho de 1916, 1.0 de janeiro de 1928 e 3 de novem­bro de 1922, com exercício na Es. trada de Ferro Oeste de Minas; que, através do Decreto n.o 19.602, de 19 de janeiro de 1931, foi aquela ferrovia arrendada pela União, a quem ela pertencia, ao Estado de Minas Gerais, consti­tuindo, com outras estradas de ferro, a Rêde Mineira de Viação, a cujo serviço passaram os auto. res, sem, contudo, perderem as prerrogativas inerentes à sua con­dição de funcionários públicos fe­derais; que a Lei n.o 1.812, de 1953, rescindiu êsse contrato de arrendamento, voltando a Rêde Mineira a ser administrada pelo Govêrno Federal, já, então, como entidade autárquica; que, poste­riormente, pela Lei n.O 3.115, de 16 de março de 1957, foi consti. tuída a Rêde Ferroviária Federal S . A., que colocou sob sua direta administração a aludida ferrovia, Rêde Mineira de Viação; que, não obstante as diversas formas de administração da primitiva Estra­da de Ferro Oeste de Minas, con­tinuaram os suplicantes, como continuam até agora, a prestar serviços à mencionada ferrovia, na mesma condição jurídica adquiri. da à época em que ingressaram no serviço da União, por isso que ne­nhuma lei ou ato administrativo os privou da qualidade de funcio­nários públicos federais; que, pôs-

to se admita não ser essa a situa. ção jurídica dos requerentes, nem assim deixariam êles de fazer jus à aposentadoria pelo Tesouro, vis­to que a Lei n.o 1.812, art. 13, equiparou os servidores da Rêde Mineira de Viação aos da Estrada de Ferro Central do Brasil, asse­gurando-lhes todos os direitos e vantagens da Lei n.o 1.163, de 22 de julho de 1950, e do art. 23 do Ato das Disposições Constitucio­nais Transitórias da Carta Magna vigente; que essa circunstância vem claramente definida no aft 33, do Decreto n.o 36.385, de 25 de outubro de 1954, que regula­mentou a citada Lei n.o 1.812, de 1953; que a jurisprudência, não só dos Juízos de Primeira Instância, mas também dêste e do Egrégio Supremo Tribunal, tem reconheci­do o direito à aposentadoria pelo Tesouro Nacional a servidores na mesma situação dos suplicantes; que, por fim, nada impede a cumu­lação da aposentadoria pelo Te­souro com a da Caixa, estando tal possibilidade expressamente prevista no art. 1.0, da Lei n.o 2.752, de 10 de abril de 1956.

Em sua defesa, argüiu, prelimi­narmente, a ré, que, já tendo o Ju­diciário repelido a pretensão dos autores em pedidos de segurança, não podem êles agora usar da ação ordinária com o objetivo de rescindir os Acórdãos proferidos na via mandamental. No mérito, asseverou não terem os autores di­reito ao que pretendem, pois, na condição de servidores autárqui­cos, foram expressamente excluí. dos do benefício da dupla apo­sentadoria, ex vi da Lei n.o 2.752, art. 1.0, parágrafo único.

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Aduziu que a situação funcional dos autores foi definida pelo art. 5.°, do Decreto-lei n.o 3.858, de 1941, que criou nos Quadros do funcionalismo federal cargos para os que optassem por essa quali­dade, o que não fizeram os de­mandantes, tanto que permanece­ram em exercício na Rêde Minei­ra de Viação.

Disse, mais, que, segundo en­tendimento do DASP, não haVIa mais servidores federais nos qua­dros da Rêde Mineira de Via­ção, desde o advento do citado Decreto-lei n.O 3.858, e que eram os autores funcionários do Estado de Minas quando ingressaram no Quadro da Autarquia, situação em que os veio encontrar a Lei n.o 3.115, de 1957, que criou a R.F.F.S.A. e lhes garantiu os direitos, entre os quais não estava aposentadoria pelo Tesouro, dada a sua condição de autárquicos.

Concluiu afirmando não terem os autores amparo legal, pois, co­mo servidores autárquicos, sua aposentadoria é concedida pelo IAPFESP.

Replicaram os autores susten­tando a vacuidade jurídica da pre­liminar suscitada pela ré, por­quanto é a própria Lei do Man­dado de Segurança que autoriza a propositura de ação adequada, in­dependentemente da decisão pro­ferida no writ.

No mérito, disse que a própria esfera administrativa, em obedi­ência à orientação iterativa dos Tribunais, tem reconhecido o di­reito dos servidores da Rêde Mi­neira de Viação à dupla aposen­tadoria, não havendo mais dúvida quanto a se lhes aplicar a Lei n.O 2.752, de 1956.

Invocaram, finalmente, pronun­ciamentos de ilustres Juízes desta Casa, favoráveis ao as ser to dos su­plicante de que são funcionários públicos federais.

Alegando estar nas mesmas condições dos requerentes, pediu e obteve sua admissão como litis­consorte Waldemar Epifânio da Costa.

Ao sentenciar no feito, repeliu o MM. Dr. Juiz a preliminar le­vantada pela ré, não só porque deixou ela de provar que o remé­dio heróico tivesse sido denegado a todos os autores, uma vez que trouxe aos autos, apenas, decisão contrária a um dêles mas, tam­bém, porque admite a lei regula­dora do mandado de segurança que o impetrante, por ação pró­pria, demonstre e comprove o seu direito.

De meritis, julgou procedente a ação; argumentando não ter comprovado a ré os motivos por que se negou a reconhecer na via administrativa o direito dos auto­res; assim é que não corroborou ela a afirmação de que houvessem os demandantes optado pela con­dição de funcionários do Estado de Minas Gerais, nem tampouco demonstrou a existência de qual­quer ato que os tenha dispensa­do ou transferido da órbita do Govêrno Federal.

Afirmou que está superada, não sofrendo hoje nenhuma contesta­ção nos Tribunais, a tese de que não há possibilidade de se acumu­larem os proventos da aposenta­doria pelo Tesouro com os da Caixa.

Aduziu que os requerentes, co­mo integrantes de Quadros regu-

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lares do Ministério da Viação e Obras Públicas, não podem ser considerados servidores autárqui­cos, já tendo êste Tribunal reco­nhecido, no julgamento do Man­dado de Segurança n.o 16.044, que "os servidores da Rêde Mi. neira de Viação, ao retornar esta ao Govêrno Federal, readquiriram a sua condição de servidores fe­derais e têm direito à aposentado­ria nessa qualidade".

Asseverou, mais, que a trans­mutação do órgão em que esta­vam lotados os autores, de uma para outra administração do }=>o. der Público, não poderia fazer. -lhes perder a condição de funcio. nários federais, pois a ela tinham àireito adquirido.

Sustentou ainda, que os servi­dores do Ministério da Viação e Obras Públicas, desde que não te. nham optado por outra qualidade, continuaram como funcionários federais.

Concluiu invocando conceito emitido pelo eminente Min. EI­mano Cruz, no Mandado de Se­gurança n.o 9.954, de que "o ar· rendamento da Oeste de Minas ao Estado, o retôrno da Rêde Minei­ra de Viação à Administração Fe­deral e a posterior constituição da Rêde ,Ferroviária Federal S. A . não desnaturam a condição de servidor público federal do impe­trante."

Houve recurso necessário e a União, inconformada com a V. sentença, dela apelou, reiterando os fundamentos da contestação.

Contra-arrazoado o apêlo, subi­ram os autos a êste Tribunal, onde a Egrégia Subprocuradoria-

Geral da República opinou pelo provimento dos recursos, susten­tando que os apelados carecem da qualidade de servidores federais, uma vez que por ela não opta­ram nos têrmos do Decreto-lei n.o 3.858, de 1941.

É o relatório.

Voto

o Sr. Min. Antônio Neder:­Subscrevo os fundamentos do res­peitável parecer da Subprocura. doria-Geral da República, que bem apreciou a controvérsia.

Êsse parecer tem a seguinte re­dação: "Ação ordinária, ora em grau de apelação, em que os autores, servindo à Rêde de Viação, postulam o direito de aposentarem-se pelo Tesouro Na­cional, cumulativamente com a que é concedida pelo IAPFESP. Não merece acolhida a pretensão manifestada, eis que não provaram ter atendido ao regime de opção instituída pelo Decreto-lei nú­mero 3.858, de 21-11-1941. Após tal diploma legal, ou os ser­vidores da Rêde Mineira ha­viam optado pelo regime fe­deral e foram deslocados para funções na esfera da União, ou não optaram, e, nos têrmos da Lei, foram considerados funcionários estaduais. Com o advento da Lei 1. 812, de 1953, a Rêde Mineira de Viação não voltou à adminis­tração direta do Govêrno Federal, mas se erigiu em autarquia fede­ral, com personalidade jurídica própria, e em regime especial de aposentadoria para seus servido­res, a cargo do IAPFESP, res­salvados os direitos adquiridos. Então, quer como servidores esta-

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duais, quer como servidores au­tárquicos federais, o certo é que não fazem jus os apela­dos a qualquer aposentadoria pelos cofres da União, eis que não atenderam aos têrmos do Decreto-lei n.o 3.858, já cita­do, optando pelo serviço público federal. É decisão do Supremo Tribunal Federal: "Aposentadoria dupla. Servidores da Rêde Mi­neira de Viação e Estrada de Fer­ro Oeste de Minas. Inaplicabili­dade da Lei n.O 2.752, de 1956, em caso de não opção ou nomea­ção após o regime autárquico. Servidores da Rêde Mineira de Viação e Estrada de Ferro Oeste de Minas. Falta característica para classificá-los como funcioná­rios federais. Pedido de dupla aposentadoria. Não se realizando a opção, aquêles não se tornaram funcionários federais, pela falta de manifestação oportuna dessa von­tade, condição expressa na lei. Os autárquicos não têm direito a apo­sentadoria pelos cofres da União Federal" (Rec. Mandado de Se­gurança n.O 6.780 - Julg. 12-6-59 - Ac. publ. em 5-8-59). É

o parecer, assim, pelo provimento do apêlo da União." (sic).

Diante dêsses fundamentos, dou provimento aos recursos para julgar a ação improcedente.

Voto

o Sr. Min. Márcio Ribeiro: - Rigorosamente a questão de­veria ter sido resolvida pela op­ção, estabelecendo a lei prazo den­tro do qual ela seria exercida.

Não tendo esta sido a orienta­ção legal, os impetrantes, a meu ver, conservaram a sua qualidade primitiva de funcionários do Mi­nistério da Viação.

Nego, pois, provimento aos re­cursos.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Contra o voto do Sr. Min. Revisor, deu-se provi­mento aos recursos para julgar improcedente a ação. O Sr. Min. Esdras Gueiros votou de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Presi­diu o julgametno o Sr. Min. Henrique d'Avila.

APELAÇÃO CÍVEL N.O 18.098 - SP.*

Relato1' - O Ex.mo Sr. Min. Antônio Neder Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro Apelante - Drogaria São Paulo Ltda. e outros Apelado - IAPI

Acórdão

Locação. Lei n.'" 1.300/50. Retomada para uso pr6prio. Em sendo a Administração Pública a locadora e retomante, e em sendo o im6vel destina­do à instalação de serviço seu, não tem ela que.

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provar a necessidade do imóvel, mas declarar apenas essa necessidade para efeito de tomá-lo ao locatário. É que a Administração Pública expansionista, e a necessidade de prédio para nêle instalar seu serviço é inerente à sua estrutura, tanto mais justa esta conclusão quanto é certo que se trata de prédio de uso especial da Administração, isto é, do seu patri­mônio administrativo, por natureza ind'isponível. Recurso de apelação desprovido.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.O 18.098, de São Paulo, em que são partes as acima indicadas:

Acordam os Ministros que com­põem a Primeira Turma do Tri­bunal Federal de Recursos, por unanimidade, em negar provimen­to, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls. retro, que fi­cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.

Brasília, 2 de março de 1966. - Henrique d' Ávila, Presidente; Antônio Neder, Relator.

Relatório

o Sr. Min. Antônio Neder: -Perante o Juízo dos Feitos da Fa­zenda Pública, em São Paulo, o Instituto de Aposentadoria e Pen­sões dos Industriários propôs ação de despejo contra a Drogaria São Paulo Ltda. e outros, objetivan­do a retomada, para uso próprio, de imóvel de sua propriedade, com fundamento no art. 15, V, da Lei n.o 1.300.

Alegou, em síntese, que até ai. guns anos atrás tinha seus princi. pais serviços instalados em prédio próprio, situado na rua José Bo­nifácio n.O 237, e, em face da am-

* Nota da Redação: Interposto Recurso Extraordinário por Drogaria São Paulo Ltda. em 2-9-66.

pliação dêsses mesmos serviços, distribuiu vários dêles por outros prédios de aluguel, uma vez que o edifício da rua José Bonifácio não mais os comportava. E, as­sim, viu-se na contingência de to­mar andares inteiros, em locação, em diversos prédios na zona cen­tral da cidade.

Alegou, outrossim, que êsse pro­cedimento teria razão de ser, se não tivesse um imóvel próprio que se prestasse à instalação e funcionamento de seus serviços, o que, entretanto, não acontece. Que êsse imóvel, "Palacete Santa Helena", êle, autor, o possui na Praça da Sé 247-297, São Paulo, estando totalmente alugado a par­ticulares. Disse, por fim, que ve­rificada administrativamente a ne­cessidade da retomada do referido prédio, e decidida a desocupação do mesmo para aquêle fim, cuidou o autor da notificação prévia dos seus inquilinos. E, assim, além dos 70 locatários já regularmente notificados, processaram-se outra~ notificações por mandado, editais e cartas precatórias, o que não im­pediu o início da ação, com refe. rência aos notificados que não de. socuparam as salas ou lojas den. tro do prazo legal.

Contestaram a ação alguns dos réus, tendo outros deixado de fa­zê-Io. Alegaram preliminarmen­te: que não decorreu o prazo de

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90 dias exigido por lei para a va· lidade da notificação premonitó­ria; que é patente a "ilegitimida­de ad causam" do autor para pro­mover a presente ação de despe­jo; que a ação só poderia ser pro­posta contra todos os locatários; que é nula a notificação judicial; que não foram notificados, nem constaram da notificação, diversos locatários do imóvel retomando, o que prova não precisar do prédio para o fim a que alude; que a notificação feita perdeu sua eficá­\cia jurídiaa, por decorrência de prazo superior a três anos; que, sendo inequívoca a comunhão de interêsses entre todos os locatá­rios, é indispensável a citação de todos, via de litisconsórcio neces­sário.

E, no mérito, alegaram a insin­ceridade do pedido de retomada, sustentando que o Palacete "San­ta Helena" não possui instalações adequadas às diversas repartições do IAPI, por tratar-se de prédio de construção antiga, com salas de exíguas dimensões, que jamais serviriam para o fim indicado pelo autor, já não se falando nos dois cinemas que nêle existem com ins. talações apropriadas à sua finali­dade. Sustentaram, ainda, que a intenção do autor é conseguir a desocupação do imóvel para ven· dê-lo com lucros fabulosos. Aliás, tão insincero é o pedido que o au­tor pretende construir sua sede própria em terreno que possui na zona central da cidade.

Réplica nas fls. 305/309. O processo foi saneado, tendo

sido repelidas as preliminares ar· güidas pelos réus.

O MM. Dr. Juiz julgou pro­cedente a ação, sustentando: "Tratando-se de locação contrata­da com a Administração Pública, e sendo esta a locadora do imó­vel, não está a mesma sujeita à prova de necessidade da retomada para uso próprio, porque a since­ridade do pedido sempre se pre. sume, máxime em favor da' Ad­ministração Pública, por não se lhe poder atribuir intuitos subal­ternos e menos lícitos. Se ela afirma que precisa do imóvel lo­cado para dêle se utilizar, de qualquer modo a sua assertiva deve merecer acolhida, dada a presunção de necessidade que mi­lita em seu iavor."

Inconformados, apelaram os réus, reiterando as razões da con­testação.

N esta Superior Instância, a Egrégia Subprocuradoria-Geral da República emitiu parecer pedindo a confirmação da sentença.

É o relatório.

Voto

o Sr. Min. Antônio Neder: -Voto no sentido de confirmar a decisão recorrida, pelos seus pró­prios fundamentos.

J á decidimos caso semelhante aqui, no Tribunal Pleno, em grau de embargos, do qual fui Relator.

Entendo que a Administração Pública é progressista e, por isso, tem o direito de expandir-se.

Assim, ela não é obrigada a comprovar a necessidade de um prédio para instalar nêle seus ser· viços. Basta alegar. Alegando a

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necessidade, presume-se a tência dessa necessidade.

exis­Não'

está sujeita, como ocorre a pessoa ou entidade privada, a comprovar a necessidade, porque esta neces­sidade decorre da própria nature­za da entidade pública.

N ego provimento.

Voto

o Sr. Min. Márcio Ribeiro:­O que poderia ilidir o direito do autor seriá, realmente, a conclu­são de sua sede própria, com de­monstração de que é suficiente a todos os seus serviços.

Entretanto, a alegação nesse sentido não foi feita com preci­sãon.os vários passos do processo

e, em decorrência, a prova não se faz sôbre o ponto.

As preliminares de nulidade improcedem, como demonstrou a sentença.

Nego, pois, provimento aos re­cursos, para manter a decisão re­corrida, pelos seus próprios fun­damentos.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Negou-se provi­mento, unânimemente. Os Srs. Mins. Márcio Ribeiro e Esdras Gueiros votaram de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Henrique d'Ávila.

APELAÇÃO CÍVEL N.O 18.213 - GB.{;

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha

Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Oscar Saraiva

Recorrente - Juiz da Fazenda Pública, ex oflicio

Apelante - Lloyd Brasileiro - P.N.

Apelada - União Brasileira Cia. de Seguros Gerais

Acórdão

Ação de reembôlso. Aplicação legítima do art. 728 do Código Comercial. Honorários advoca­tícios devidos.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.o 18.213, do Estado da Guana-

;' Nota da Redação: Interposto Recurso Extraordinário pelo Lloyd Brasileiro - P.N. em 2-5-66.

bara, apelante Lloyd Brasileiro -P.N. e apelada União Brasileira Cia. de Seguros Gerais, assinalan­do-se também recurso ex oflieio:

Acorda, por unanimidade, a Segunda Turma julgadora do Tri-

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bunal Federal de Recursos em negar provimento, conforme cons­ta das notas taquigráficas anexas, as quais, com o relatório de fls., ficam fazendo parte integrante dêste julgado, apurado nos têrmos do resumo de fôlhas 49. Custas ex Iege.

Brasília, 29 de setembro de 1965. - Godoy I1ha, Presidente e Relator.

Relatório

o Sr. Min. Godoy I1ha: Sr. Presidente, trata-se de ação proposta por seguradora sub-roga~ da, na forma do art. 728 do Có­digo Comercial, contra o trans~

portador, objetivando indenização por mercadoria extraviada duran~ te a execução do contrato de transporte.

Contestação onde se argúi inép­cia do pedido, insuficiência de embalagem e exclusão de honorá­rios advocatícios.

Finalmente, o Dr. Juiz a quo decidiu pela procedência da ação, pelas razões de fls. 29/31.

Dessa sentença apelou o Lloyd Brasileiro - PN.

Houve contra-razões a fls. 38/39.

Perante êste Tribunal, manifes­tou-se a douta Subprocuradoria­Geral da República.

É o relatório.

Voto

O Sr. Min. Godoy I1ha: -Nada a censurar na decisão recor­rida.

As preliminares relativas à fal­ta de qualidade da autora ad cau­sam foram repelidas no despacho saneador, irrecorrido. As demais não tinham qualquer fundamento legal, como se demonstrou ·na ré. plica de fls. 24.

O alegado defeito de embala ... gem não tem qualquer procedên­cia, porque, além de não ressal­vado no conhecimento de embar~ que, os têrmos de vistoria de fls. 4 e 5 constataram que os volu­mes foram violados, a bordo, pos­sibilitando o roubo de 18 peças de tecido de brim.

Os honorários advocatícios são devidos, conforme jurisprudência remansos a da Suprema Instância (Súmula 257).

Nego provimento aos recursos.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Negou-se provi­mento. Decisão unânime. Os Srs. Mins. Oscar Saraiva e Márcio Ri­beiro votaram de acôrdo com o Sr. Min. Relator. O Sr. Min. Márcio Ribeiro foi convocado para completar quorum regimen­tal. Não compareceram por mo­tivo justificado os Srs. Mins. Cunha Vasconcellos e Armando Rollemberg. Presidiu o julga­mento o Sr. Min. Godoy I1ha.

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APELAÇÃO CÍVEL N.o 18.290 - GB. oi)

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Cândido Lôbo Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin Recorrente - Juiz da Fazenda Pública, ex officio Apelante - União Federal Apelado - Syl1as Pereira de Andrade

Acórdão

Epilepsia. Reforma. Vencimentos integrais. A Epilepsia, sendo distúrbio mental, dá direito à reforma ou aposentadoria com vencimentos integrais.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.o 18.290, do Estado da Guana­bara, apelante União Federal e apelado Syllas Pereira de Andra­de, assinalando-se também recur­so ex officio:

Acorda, por unanimidade, a Pri­meira Turma julgadora do Tribu­nal Federal de Recursos em ne­gar provimento, conforme consta das notas taquigráficas anexas, as quais, com o Relatório, ficam fa­zendo parte integrante dêste jul­gado, apurado nos têrmos do re­sumo de fls. 146. Custas ex lege.

Brasília, 21 de maio de 1964. Cândido Lôbo, Presidente e

Relator.

Relatório

O Sr. Min. Cândido Lôho: -Disse o Dr. Juiz, na sentença de fls. 114, que o autor propôs a pre­sente ação, contra a União, para

* Nota da Redação: Interposto Recurso Extraordinário pela União em 13-6-66, tendo o Ex.mo Sr. Ministro Presidente por despacho publicado no Diário da Justi~ do dia 13-6-66, denegado a subida do recurso, despacho que transitou em julgado.

obter que seja convertido em "re­forma" a sua exclusão do serviço da Marinha de Guerra, porque a razão que dera a Administração para a sua exclusão, doença men­tal, não tinha razão de ser.

O Dr . Juiz apreciando a hipó­tese, deu pela procedência da ação, visto que depois de ter sido dado como "são" no exame de sanida. de mental feito pela Junta Médi­ca da Escola Naval, o chefe da Clínica Psiquiátrica do Hospital da Marinha apresentou diagnósti­co diferente, admitindo que o au­tor era portador de "estrutura epi­leptiforme" e acrescenta que a Junta Médica da Escola Naval, que deu pela sanidade mental do autor, foi considerada negligente no cumprimento de suas obriga­ções.

Dada essa divergência, foi o au­tor submetido a perícia médica e o laudo, fls. 105 a fls. 108, como conclui a sentença, dissipa tôdas as dúvidas com a apresentação de um diagnóstico conclusivo, adota­do pela sentença, que reconheceu no autor um estado físico epilép-

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tico, o que deu lugar a que a sua conduta fôsse assentada por fôrça dessa anomalia.

Estabelecidas essas premissas, pergunta a sentença: a epilepsia é uma doença mental?

Respondeu o Dr. Juiz a quo que sim, e por isso julgou proce­dente a ação.

A União apelou a fls. 122, pe­dindo a improcedên,cia da ação e se procedente, a exclusão da con­denação em honorários advocatí~ ClúS.

A Subprocuradoria-Geral da República, no Parecer de fls. 133, pediu o atendimento do recurso.

É o Relatório. Ao Min. Revisor.

Voto

O Sr. Min. Cândido Lôbo: -- Sr. Presidente. Quer o autor que seja convertida em' reforma a sua exclusão da Marinha, face ao seu inequívoco estado de enfêrmo mental.

Os laudos divergiram na con­clusão a tal respeito e a sentença afinal seguiu a opinião constante do laudo pericial mandado fazer na fase judiciária, abandonando os feitos pelos médicos militares que, como acentuamos, não eram acor­des na conclusão.

Andou com acêrto o Dr. Juiz a quo, porque a perícia judicial verificou que em verdade, o autor era portador de um estado físico epiléptico com apresentação de um diagnóstico conclusivo, dando lugar a que o autor tivesse uma anômala conduta.

A junta médica que opmou em sentido contrário, na esfera admi-

nistrativa, tem em suspenso o seu conceito profissional, eis que foi considerada negligente e punida pela própria autoridade competen­te, conforme salienta a sentença a fls. 114.

O próprio périto da ré, admitiu no laudo de fls. 87 que b autor não tinha capacidade para deter­minar-se de acôrdo com aquêle en­tendimento. A própria sentença sintetizou a dúvida, dizendo que repousa ela exclusivamente em sa­ber se a epilepsia é ou não uma doença mental, mas, respondendo pela afirmativa traz em seu auxí­lio a opinião dos especialistas e a prova colhida nos autos com re­ferência aos atos e atitudes do au­tor que verbis: "Não tinha capaci­dade para determinar-se". Acom­panho a sentença.

Nego provimento.

Voto

O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Srs. Ministros, na hipótese, o meu voto é também no sentido de confirmra a decisão apelada. E' verdade que reconheço que o caso não é assim extreme de dúvida. Mas nas hesitações que possa defrontar, prefiro, para tranqüilizar a minha sensibilidade de justiça, decidir em favor do autor apelado. Se está provado que o autor apelado sofre de epi­lepsia, não é demais dar-se a epi­lepsia como causa da anormalida­de de conduta, que foi o motivo de sua exclusão, uma vez que, a epilepsia, moléstia nervosa, caIr. repercussão na esfera mental, em verdade, pode produzir tais efei­tos. Dir-se-á, ao entrar na Mari­nha o autor não era epiléptico, a

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epilepsia só se manifestou depois. Tudo isto é hipotético. Primeiro, podia entrar realmente são, e a moléstia ser -revelada depois. A epilepsia é uma moléstia antiga, como todos nós sabemos; muito antes da medicina ter adquirido fôro de ciência já os livros velhos, os alfarrábios davam notícia de uma espécie de cólera sagrada que distinguia os pobres mortais. Ora, apesar de tudo isso, de moléstia velha, não está perfeitamente es­tudada e esclarecida. Há bem pouco li um trabalho que dá in­terpretação interessante à epilep­sia, embora não atribuindo ao fa­to a causa única da atividade. Afirma o autor que a epilepsia po­de resultar de traumatismos cra­nianos durante o parto e estabe­lecer uma falta de conformida­de na massa encefálica, para mais tarde, em determinadas pessoas, êsse desajustamento morfológico da massa cerebral resultar nesta angústia de todo o sistema ner­voso, que é a doença. Em -resu­mo: é moléstia a ser estudada.

Ora, que condições tinha eu, co­mo Juiz, em exame tão discutido, como êste dos autos, tendo como certo que o autor é epiléptico, di­zer que a epilepsia só foi surgir depois que foi expulso? Não! Na dúvida, tudo me leva a admitir que aquela conduta anormal fôs­se conseqüência da doença. Aten­do, porém, a uma preocupação do nobre advogado, quando deixou a tribuna. Não há apelação do au­tor, decerto. Entretanto, o seu pe­dido o Juiz atendeu. A inicial pe­de realmente honorários de advo­gado. Como, no caso, os honorá-

rios são uma decorrência obriga­tória, por se tratar de parte assis­tida por justiça gratuita, a conde­nação imposta pela sentença, nos têrmos da inicial, envolve honorá­rios de advogado e nos dispensa de qualquer manifestação. Meu voto, portanto, é no sentido de ne­gar provimento, com êsses esclare­cimentos.

Voto

O Sr. Min. Hugo Auler: -Meu voto é no sentido de negar provimento à apelação, para o efeito de confirmar a sentença re­corrida, por isso que os exames a que foi submetido o apelado vie­ram revelar à unanimidade, pôsto que usadas diversas expressões, o fato de ser êle portador de epi­lepsia típica. Ora, como não se ig­nora, é por demais longo o espec­tro da epilepsia, nêle estando in­cluídas, em último lugar, as deno­minadas enxaquecas. Entretanto, na espécie ,a prova de que o ape­lado é portador de uma epilepsia típica está a conduzir à conclusão de que se impunha a sua reforma dos serviços da Armada.

Por estas razões, Sr. Presiden­te. nego provimento à apelação.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Negou-se provi­mento, unânimemente. Os Srs. Mins. Amarílio Benjamin e Hugo Auler (Aguiar Dias) votaram com o Sr. Min. Relator. Não compa­receu por motivo justificado, o Sr. Min. Henrique d'Ávila. Pre­sidiu o julgamento o Sr. Min. Cândido Lôbo.

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APELAÇÃO CíVEL N.o 18.536 - DF.

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Oscar Saraiva Recorrente - Juiz da Fazenda Pública, ex officio Apelante - União Apelado - Dante Nardelli

Acórdão

Reintegratória de apartamento de Brasília. Reconvenção. Procedência daquela ação diante da prova do caráter precário da ocupação e improce­dência da reconvenção porque atentatória ao que preceitua o art. 192, inciso V, do Cód. de Processo Civil.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.O 18.536 do Distrito Federal, em que são partes as acima indi­cadas:

Acordam os Ministros que com­põem a Segunda Turma do Tri­bunal Federal de Recursos, por maioria, em dar provimento aos recursos, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls. retro, que ficam fazendo parte integran­te do presente julgado. Custas de lei.

Brasília, 29 de março de 1966. Godoy Ilha, Presidente e Relator.

Relatório

o Sr. Min. Godoy Ilha: - A União, via do Decreto n.O 44.767, moveu ação de reintegração de posse, com pedido de medida li­minar, em 17-4-62, contra o então ocupante do apartamento 403, blo­co 11, da Superquadra 208 -IPASE - que o ocupava sem contrato firmado com o GTB.

Ao despachar a inicial, o Juiz concedeu a liminar e determinou

expedição do mandado de citação cumprido, afinal, em 13-6-62.

O réu da ação contestou-a, ofe­rec7.t:l-dQ reconvenção para obter a reJ.:-'os~o de gastos que fêz con­forme comprovantes anexos; jun­tou, também, uma declaração, da­tada de 27-4-62, de um funcioná­rio do Ministério da Justiça, jus­tificando a sua permanência no apartamento retomado. Voltando os autos à autora para falar sôbre os documentos acostados na con­testação, ofereceu tréplica, juntan­do contrato de ocupação de dito imóvel datado de 16-4-62, cele­brado com outro funcionário e ou­tros documentos entre os quais ofí­cio do Ministério da Justiça e do Diretor Executivo do GTB, aquê­le acompanhado de uma cópia au­tenticada da informação prestada pelo mesmo funcionário que for­neceu a declaração e na qual afir­ma que a sua autorização de per­manecer o réu no apartamento 403 fôra feita a título precário, e que o mesmo não tinha competência legal para atribuir apartamento para qualquer funcionário; e do

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GTB ofício onde se afirma que nquêle órgão não deu, nem pode. ria dar, autorização de entrada do réu no mencionado apartamento, pois, o imóvel, por fôrça de con­trato anterior, pertencia ao seu primeiro ocupante; informou, ain­da, o GTB, que, ao réu, aquêle ór­gão distribuiu duas unidades resi­denciais, a primeira em 8-6-61 e a segunda em 8-6-62.

Veio afinal a sentença com a se­guinte conclusão: "Julgo improce­dente a ação de reintegração de posse, procedente a reconvenção para condenar a União a pagar ao réu as perdas e danos que se apu­rarem na execução, condenando-a ainda ao pagamento das custas do processo e declarando já agora de nenhum efeito a reintegração li­minarmente concedida. "

Recurso de ofício e voluntário da União. Êste recebido nos dois efeitos.

Contra-arrazoando o recurso, o réu apelado argúi intempestivida. de da apelação voluntária.

Nesta Instância, a douta Sub­procuradoria-Geral da República refuta a preliminar de intempesti­vidade, juntando fôlha do Diário da Justiça 5-4-63 (sexta-feira), em que foi publicada a sentença de Primeira Instância e demons­trando ter sido apresentado den­tro dos 30 dias regulamentares, eis que despachada a petição em 6 de maio de 1963; nas suas razões de fls. 160/163, pede a reforma da sentença de Primeira Instância.

É o relatório.

Voto

O Sr. Min. Godoy Ilha: Preliminarmente, tenho como in-

terposta tempestivamente a ape­lação da autora, pôsto que, publi. cada a sentença a 5 de abril de 1963, o prazo em dôbro da União, mesmo contado de dia a dia, te­ria expirado a 5 do mês seguinte, que seria num domingo, e o re­curso deu entrada a 6, segunda. -feirá, dentro, portanto, do prazo de 30 dias de que dispunha a ape­lante. Considere-se, ademais, que, publicada a sentença em 5 de abril, sexta-feira, o prazo que de­via correr no sábado imediato fi· cara dilatado de mais um dia, nos têrmos do art. 3.° da Lei 1.408 de 1951.

De meritis, sem embargo da extensa fundamentação da senten­ça, que reflete o convencimento pessoal do seu digno e ilustrado prolator, não posso deixar de aco­lher os recursos, em que pesem razões de ordem pessoal para não fazê-lo.

Sumariada a prova colhida na instrução, verifica-se que o apar­tamento n.o 403 do bloco 11 da Superquadra 208 (IPASE) inte­grava a quota da Consultoria-Ge­ral da República e, por isso, pas· sou a ocupá-lo, em virtude do têr­mo de ocupação firmado com o Grupo de Trabalho de Brasília (GTB), o Dr. Caio Mário da Sil­va Pereira, então nomeado Con· sultor-Geral da República no go. vêrno Jânio Quadros, cargo que veio a deixar com a renúncia dês­se Presidente em 25-8-1961, per­manecendo, todavia, no imóvel, apesar de exonerado, durante al­guns meses, em que se demorou nessa capital, à instância do Dr. Darcy Ribeiro, Chefe da Casa Ci-

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vil do nôvo Govêrno, que deseja­va a sua colaboração na organi­zação da Universidade de Brasí­lia.

Por essa circunstância, o seu su­cessor, Dr. Antônio Balbino, foi ocupar, por gentileza do Ministro da Justiça de então, Dr. Tancre­do Neves, o apartamento 501, do bloco 10, da Superquadra 206, re­servado a êsse titular, e ainda ino­cupado.

Não tendo havido permuta de um pelo outro apartamento, foi o objeto do litígio transferido para a quota da Procuradoria-Geral, por determinação do Professor Hermes Lima, por ofício de 13 de setembro de 1961 dirigido ao GTB, já quando se ausentava des­ta capital, retornando ao seu do­micílio em Belo Horizonte, o Dr. Caio Mário, ficando todavia re­sidindo no imóvel o seu concunha­do, o apelado.

Diante dessa ocupação viciosa e clandestina, a União possuidora do imóvel por convênio com o IP ASE, nos têrmos do Decreto n.o 44.767, de 30-10-1958, veio a propor, em 23-4-62, a ação reinte­gratória contra o réu, Dr. Dante N ardelli, Diretor do Instituto Fe­deral de Identificação do Depar­tamento Federal de Segurança Pú­blica, visto que o questionado apartamento havia sido cedido a um dos Procuradores da Procura­doria-Geral da República, que fir­mou com o GTB o competente têrmo de ocupação.

:Êsses os fatos que legitimam o uso, pela União, do interdito re­cuperatório, já que se não lhe po­de negar a posse jurídica do imó-

vel e contestar a condição do réu de mero detentor, e a título pre­cário, comprovada pela farta do­cumentação existente no ventre dos autos.

O próprio Dr. Humberto Gio­vane Pichler, representante do Mi­nistério da Justiça junto ao GTB, de quem o apelado se disse auto­rizado a permanecer no aparta­mento, esclarece no documento de fls. 70 que o fêz a título precário e por ato de mera tolerância, adi­antando que o apartamento não pertence à quota daquele Ministé­rio, não tendo, ademais, competên. cia legal para atribuir apartamen­to a qualquer funcionário, sendo o seu ato de simples cortesia e des­tituído de qualquer significação jurídica. Conclui afirmando que nenhum expediente fôra feito, na­quele sentido, ao GTB.

Por sua vez, o Diretor Executi­vo do Grupo de Trabalho de Bra­sília infirma a declaração da con­testação de que o contestante ti­vesse entrado para o apartamento com sua ordem, esclarecendo, ain­da, que ao Dr. Dante N ardelli fôra atribuída, pelo Ofício n.o 195 de 8-6-61, da Consultoria-Geral da República, a casa 41, grupo 11, Quadra 3 da Avenida W-3, e que, em 8-6-1962 fôra-lhe reservado perante o Delegado do IAPC, pe­lo Ofício n,o 1.336, o apartamen­to n.o 103, do bloco 9 da Super­quadra 306, de três quartos, cozi­nha, área e dependências de em­pregada, para cuja ocupação, na­quela oportunidade, recebera do­cumentação do Grupo de Traba­lho. Conclui esclarecendo que "êste imóvel foi incluído pelo GTB, espontâneamente, na quota

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do Departamento Federal de Se­gurança Pública para atender o Sr. Dante N ardelli, tendo em vis­ta a situação com o pedido de re­interação do apartamento 403, do bloco 11, da Superquadra 208" pa­ra onde realmente se transferiu o apelado, já que não quisera rece­ber a casa que lhe fôra destinada pela Consultoria-Geral da Repú­blica.

Em tais condições, não se pode afirmar, como o fêz a sentença de Primeira Instância, que o dispu­tado apartamento não integrava mais a quota da Consultoria, pôsto que passara a pertencer à do Mi­nistério da Justiça, o que, data venia, é menos exato, como deflui de todos os elementos probatórios da causa.

Releva salientar, como o fêz a apelante, que se trata de discus­são ociosa, meramente acadêmica, eis que sem qualquer relêvo para o desate da· relação possessória. Integrando a quota de um ou ou· tro órgão da administração, nem por isso ilide a posse jurídica da autora e nem aproveita ao réu, sem título legítimo para justificar a ocupação.

Mesmo que se queira submeter a espécie, de caráter eminente­mente administrativo, à disciplina do Código Civil, não melhora a situação do apelado, que não tinha posse jurídica suscetível da prote­ção da lei civil. Nos têrmos do art. 485 do referido Código, tem posse jurídica todo aquêle que tem de fato o exercício pleno, ou não, de alguns dos podêres inerentes ao domínio ou propriedade, e não in­duzam posse ou atos de mera per­missão ou tolerância (art. 497).

Julgou-se, ainda, procedente a reconvenção do réu, contrariando­-se o preceito do art. 192, inciso V, do Código de Processo Civil, que impedia a ação recon,vencio­nal nas ações que versassem sô­bre imóveis ou direitos a êles re­lativos. Desde o direito antigo, não se a admitia nas ações de es­bulho (Ribas, Consolidação das Leis do Processo Civil, art. 649, § 1.0), preceito repetido na legis­lação processual que se lhe se­guiu.

Isto pôsto, dou provimento aos recursos, para julgar procedente a ação e improcedente a reconven­ção.

Determino que se extraiam có­pias dos tópicos das razões de fls. 101/140 (assinalado a lápis ver­melho), em que o representante da União, pessoalmente interessa­do na causa, usa de linguagem des­respeitosa à pessoa do digno e honrado prolator da sentença, Dr. Mário Brasil de Araújo, com insi­nuações maldosas à probidade fun­cional do ilustre Magistrado, e se­jam remetidas ao Sr. Procurador. Geral da República, para os fins de direito. Extraiam-se, também, cópias do despacho de fôlhas 155/156, juntando-se àquelas pe­ças. Intolerável é que o próprio órgão do Ministério Público da União, a quem incumbe a fiscalização da boa observa. ção da lei, seja, o primeiro a transgredir preceitos basilares da disciplina judicial e dos prin­cípios da. ética forense, sobre­tudo quando um escrúpulo na­tural de ordem moral o teria impedido de funcionar na li­de, em que tem interêsse imediato.

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Voto

o Sr. Min. Oscar Saraiva: Sr. Presidente, quando V. Ex.a

pôs em votação a questão da tem­pestividade sublinhei que estava de acôrdo, quanto a êsse aspecto. Mas encontro no recurso vício in­sanável, mas que não prejudica a defesa da União porque suprido está pelo recurso de ofício. Assim é que o próprio Dr. Procurador, que nesse recurso representou a União, é litigante nos autos, em tôrno do apartamento em questão, e do qual se apresenta como ocu­pante, conforme instrumento de contrato a fôlhas 49. Não é pos­sível que no mesmo indivíduo se reúnam condições de interessado direto no litígio, como provado nos autos, e Procurador da República falando em nome da União nesses autos. Ocorre inequivocamente o impedimento do art. 21 da Lei Orgânica do Ministério Público. Assim, o recurso não merece ser conhecido porque assinado por quem estava impedido de o fazer. Mas, como se trata de causa da União, conheço do recurso de ofí· cio, e dêle conhecendo, data venia, nego-lhe provimento na parte que se refere à posse do apartamento, porque não encontro na situação que se delineia nos autos, qual­quer elemento que justifique a propositura de uma ação posses­sória contra intruso.

No caso, vemos que se trata de apartamento que variou de dispo­sição entre altas repartições da República: Consultoria-Geral, Mi­nistério da Justiça e Procuradoria· Geral da República, e as dúvidas que se estabeleceram deveriam ser

resolvidas na própria via adminis­trativa, para que se declarasse em definitivo qual a repartição em cuja quota de habitações se com­preendia o apartamento mencio­nado. Mas o réu recebeu sua pos­se de quem a detinha legitima­mente, e cuidava de regularizar a situação contratual, pois que é também funcionário público fe­deral, exercendo, na Administra­ção Pública, cargo de direção. Não houve, pois, de sua parte, vio­lência, clandestinidade ou preca­riedade que autorizassem a medi· da possessória precedida pela li­minar da reintegração. Nessa par­te, pois, mantenho a R. sentença recorrida, a cujos jurídicos funda­mentos me reporto para confirmá­la. Reformo-a apenas na parte que deu pela procedência da re­convenção, pois alinho-me entre"" os que entendem não caber tal procedimento em matéria de in­terditos, embora ressalve ao ape­lado o uso das vias ordinárias pa­ra os ressarcimentos que coube­rem.

Quanto às providências corre­geradoras, estou com V. Ex.a, Sr. Presidente.

Explicação de Voto

O Sr. Min. Godoy Ilha: Não considerei o impedimento do signatário das razões de recurso da União, porquanto, sem embar­go de haver acentuado no meu voto o impedimento de ordem mo­ral, que o deveria ter feito abster­se da participação na lide, não estava, todavia, previsto na lei, o impedimento de ordem legal, sa­lientando-se que a petição inicial

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foi subscrita pelo Dr. Otávio Mel­lo, Procurador da República, en­tão com exercício na Primeira Instância, e que a referido signa­tário das razões de recurso passou a intervir na causa, quando de­signado para exercer o seu Minis­tério na inferior instância.

Também não considerei, porque não alegado, o impedimento notó­rio do réu para, mesmo em causa própria, postular em Juízo, dada a sua condição de funcionário po­licial, como dispõe a legislação re­ferente ao exercício da advoca­cia.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por unanimidade de votos, rejeitou-se a preliminar por tempestividade do recurso. No mérito, após o voto do Sr. Min. Relator, dando provimento e do Sr. Min. Revisor, provendo parcialmente, adiou-se o julga­mento por ter pedido vista dos au­tos o Sr. Min. Armando Rollem­berg. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Godoy Ilha.

Voto

o Sr. Min. Armando Rollem­berg: - Com vista do presente processo, fizemos atento exame dos documentos constantes dos au­tos, tendo-nos ficado, afinal, a con­vicção de que a sentença deve ser reformada.

O apelado, levado pelo desejo de ocupar em Brasília um aparta­mento que desse a sua família maior confôrto que o imóvel até então a êle destinado (casa na Avenida W-3), envidou esforços

no sentido de lhe ser reconhecido o direito a permanecer no imóvel sôbre o qual versa a ação, até en­tão ocupado pelo seu concunha­do, o Prof. Caio Mário da Silva Pereira.

Obteve, por isso, do represen­tante do Ministério da Justiça jun­to ao GTB, Sr. Humberto Giovane Pichler, autorização para perma­necer no referido apartamento até que a questão de distribuição res­pectiva ao aludido Ministério fôs­se solucionada.

Em conseqüência, a permanên­cia consentida estava subordinada bàsicamente à condição de vir o apartamento a ser incluído na quota do Ministério da Justiça e, assim, a posse do imóvel lhe foi concedida em caráter precário.

Não tendo sido preenchida a aludida condição, por ter o apar­tamento continuado na quota da Consultoria-Geral da República que, mais tarde, o transferiu à Procuradoria-Geral, não assistia ao apelado direito a manter-se na posse do imóvel, quando pedido pelo possuidor indireto, a União, salvo com abuso de confiança, hi­pótese em que teria cabimento a ação reintegratória proposta.

Acompanho, assim, o Sr. Min. Relator, quando deu provimento aos recursos para reformar a sen­tença e julgar procedente a ação.

Também acompanho S. Ex.a

na parte em que julgou improce­dente a reconvenção e o faço de acôrdo com os fundamentos jurí­dicos expostos no voto que profe­riu.

Não me posso furtar, finalmen­te, ao dever de consignar inteira

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desaprovação às acusações feitas pelo apelante ao ilustre Juiz Má­rio Brasil, cuja integridade é co­nhecida de todos quantos militam no fôro desta Capital.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Prosseguindo-se no

julgamento, deu-se provimento aos recursos, vencido o Sr. Min. Re­visor. O Sr. Min. Armando Rol­lemberg votou de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Não compa­receu por motivo justificado o Sr. Min. J. J. Moreira Rabello. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CíVEL N. O 18.936 - SP. (Embargos)

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg Embargante - IAPI Embargado - Edgard da Silva Marques

Acórdão

Despejo. Não comete infração o inquilino que, por motivo de transferência temporária, deixa per­manecer no prédio seu filho, que com êle residia desde o início da locação.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.O

18.936 do Estado de São Paulo, ora em grau de embargos, em que são partes as acima indicadas:

Acorda o Tribunal Federal de Recursos, em sessão plena, por maioria, em rejeitar os embargos, tudo conforme consta das notas taquigráficas precedentes, que fi­cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.

Brasília, 3 de fevereiro de 1966. - Godoy Ilha, Presidente; Ama­rílio Benjamin, Relator.

Relatório

O Sr. Min. Amarílio Benja­min: - O Instituto de Aposenta-

doria e Pensões dos Industriários ajuizou contra o Sr. Edgard da Silva Marques, ação de despejo por infração contratual, com fun­damento no art. 15, inciso X, da Lei n.o 1.300/1950.

Esclareceu haver locado ao réu o apartamento n.O 402, do Edifí­cio "E-7", na rua Catarina Braida n.o 479, em São Paulo, com a ex­pressa obrigação do inquilino de não transferir ou ceder o contra­to, nem sublocar, emprestar oU ceder, no todo ou em parte, o apartamento locado, sem o prévio consentimento escrito do Insti­tuto.

Acentuou não haver o réu ob­servado a referida cláusula, mu~

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dando-se para a cidade de São Vicente e ali deixando parentes seus.

Em Primeira Instância, a ação foi julgada improcedente.

Julgando o recurso do Institu­to, a Segunda Turma negou-lhe provimento, vencido o Relator, Sr. Min. Oscar Saraiva.

Inconformado, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos In­dustriários embarga o acórdão.

Falou a Subprocuradoria-Geral da República a fls. 81.

É o relatório.

Voto

O Sr. Min. Amarílio Benja­min: - Desprezo os embargos.

De acôrdo com o voto vence­dor e a contestação, entendo que, na verdade, não houve transfe­rência proibida do imóvel. O lo­cador transferiu-se, é verdade, mas a tempo certo, pressupondo­-se que deva retornar ao término da Comissão.

Por fim cabe ressaltar que o ocupante do imóvel, a quem o IAPI atribui usurpação, é o filho do inquilino, que com êle já re­sidia.

Voto

O. Sr. Min. Armando RolIem­berg: - Rejeito os embargos pe­los fundamentos do voto que pro­feri no julgamento da apelação e que se encontra a fls. 69.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Depois dos votos

dos Srs. Mins. Relator, Revisor, Márcio Ribeiro e Djalma da Cunha Mello rejeitando os em­bargos, pediu vista o Sr. Min . Antônio N eder, aguardando o Sr. Min. Hugo Auler (em substitui­ção ao Sr. Min. Henrique d'Ãvi­la). Não compareceram os Srs. Mins. Godoy Ilha (por motivo justificado) e Cunha Vasconcellos (por achar-se licenciado). Presi­diu o julgamento o Sr. Min. Os­car Saraiva.

Voto

O Sr. Min. Antônio Neder:­Sr. Presidente, pedi vista dêste processo, examinei-o detidamente e estudei a matéria controvertida que nêle se contém.

Data venia dos Srs. Ministros que já votaram no sentido de re­jeitar os embargos, eu os recebo, de acôrdo, aliás, com o voto ven­cido do Sr. Min. Oscar Saraiva no julgamento da apelação.

É que o embargado se fêz lo­catário de um prédio do IAPI em São Paulo (Capital).

Tinha em sua companhia um filho a compor sua família.

Êsse seu filho veio a casar-se, isto é, a constituir sua própria fa­mília.

O embargado, sem consenti­mento do IAPI (locador), passou ao filho já casado, com família própria, o uso e gôzo do imóvel, e se foi para o interior do Esta­do, transferindo seu domicílio e sua residência.

Conseqüentemente, o que se deu foi cessão da locação, proibi­da pela Lei n.o 1.300, de 1950,

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salvo no caso de autorização es­crita do locador, que no caso não existe.

Eis o teor do voto do Sr. Min. Oscar Saraiva na Apelação: "O Sr. Min. Oscar Saraiva: - Te­nho sempre acentuado que as lo­cações efetuadas pelas instituições de previdência social a segurados seus, constituem parte integrante do programa assistencial a que se dedicam, no cumprimento da fi­nalidade que a legislação específi­ca dispõe. No caso, o art. 127, do Regulamento-Geral da Previ­dência Social (Dec. 48. 959-A, de 19-9-60), prescreve: "A assistên­cia habitacional visa a proporcio­nar aos segurados da previdência social e, por intermédio dêstes, aos respectivos dependentes, a lo­cação ou o financiamento para aquisição, construção, conserva­ção, reforma ou ampliação de sua casa de moradia, na medida das possibilidades administrativas e das disponibilidades financeiras nas instituições a que forem filia­dos". Como se vê, trata-se de be­nefício a ser outorgado a segura­do da instituição, e não locação civil comum sujeita em tudo à legislação ordinária. No caso, po­rém, a lei especial e a lei geral coincidem, pois ambas vedam a transferência não autorizada da ocupação do imóvel a terceiro. Verifica-se, ainda, que o réu per­deu a condição de segurado do IAPI ao passar a exercer cargo público estadual, e ausentando-se da cidade de São Paulo, por fôr­ça dêsse cargo, transferiu a loca­ção a filho seu, que antes era seu dependente, mas que em razão da maioridade e do casamento, per-

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deu essa condição. A única con­sideração que serviria para justi­ficar a ocupação do imóvel, por parte dêste, seria a de possuir, também, a condição de segurado do IAPI, o que não ocorre, pois que nem sequer alegada foi. N es­sas condições, entendo procedente o pedido e fundada em lei e em cláusula contratual a ação, pelo que acolho os recursos para provê­-los para êsse fim." (sic).

Adotando a fundamentação transcrita, adoto a conclusão de que os embargos merecem ser re­cebidos, para conceder o despejo.

É o meu voto.

Voto

O Sr. Min. Hugo Auler: -Sr. Presidente, o meu voto é no sentido de receber os embargos, reconhecendo dessarte, a preva­lência do voto do eminente Sr. Min. Oscar Saraiva, constante de fls. 67/68 dêstes autos, para o efeito de julgar procedente a ação de despejo proposta pelo Institu­to de Aposentadoria e Pensões dos Industriários contra Edgard da Silva Marques, proposta com fun­damento na infração de cláusula do respectivo contrato de loca­ção.

Em verdade, com pulsando os autos na assentada dêste julga­mento, tive oportunidade de veri­ficar que o embargado deixou de ser contribuinte daquela institui­ção de previdência social ao as­sumir o cargo de Assistente do Departamento de Administração da Secretaria de Estado e N egó­cios da Segurança Pública, do Es':' tado de São Paulo, quando então foi removido para outra cidade

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em virtude de Portaria de 20 de fevereiro de 1957. E desde então o imóvel, que por êle fôra de­socupado, passou a ser utilizado totalmente por terceiro, estranho à relação ex loca to, a título de sublocação, de empréstimo ou de cessão.

Ora, em virtude da cláusula "D" do malsinado contrato de lo­cação, o embargado não podia sublocar, transferir ou ceder, no todo ou em parte, a posse direta do imóvel objeto do contrato, e se o fêz, ao arrepio daquela cláu­sula contratual, é óbvio que deu causa à rescisão pleno iure da convenção, o que é suficiente para que se reconheça e declare a rup­tura da relação ex lacata por ato unilateral. Ademais, a corroborar esta conclusão há a norma segun­do a qual a assistência habitacio­nal é restrita aos contribuintes das instituições de previdência social, consagrada no art. 127 do Regu­lamento-Geral da Lei Orgânica de Previdência Social (Dec. n.o 48.959-A, de 19 de setembro de 1960). Portanto, desde que o em­bargado perdeu a condição de se­gurado do embargante e abando­nou a ocupação do imóvel em co­mento, deferindo-a a terceiro, com ou sem aquela condição, é óbvio que se operou a rescisão do con­trato de locação.

Por todos êsses fundamentos hei por bem receber, como rece­bo os presentes embargos para o efeito de cassar o acórdão embar­gado e julgar procedente a ação.

Decisão

Como consta da ata, prosse­guindo-se no julgamento, a deci-

são foi a seguinte: depois de te­rem votado os Srs. Mins. Antô­nio Neder e Hugo Auler (em substituição ao Sr. Min. Henri­que d' Ávila) recebendo os em­bargos, adiou-se o julgamento, em face de ter pedido vista o Sr. Min. Djalma da Cunha Mello, para examinar as razões aduzidas nos votos proferidos nesta assen­tada de julgamento. Não compa­receram, por motivo justificado, os Srs. Mins. Godoy Ilha e Ar­mando Rollemberg e, por achar-se licenciado, o Sr. Min . Cunha Vasconcellos. Presidiu o julga­mento o Sr. Min. Oscar Saraiva.

Voto

O Sr. Min. Djalma da Cunha Mello: - Está na petição inicial, servindo de finca à ação de des­pejo: 1 - O suplicante alugou ao suplicado, em 12-9-1960, o apar­tamento n.O 402 do Edifício "E-7", no conjunto residencial de sua propriedade na Moóca, à Rua Ca­tarina Braida, 479, pelo aluguel de Cr$ 1.920 mensais, acrescido de taxa de água, como se prova com o contrato junto. 2 - Como condição para a locação do referi­do apartamento ficou estipulado o que consta da cláusula 5, item d, do mencionado contrato, a dizer: 5 - Obrigações em geral - O locatário obriga-se: .......... . d) a não transferir ou ceder o presente contrato, nem sublocar, emprestar ou ceder, no todo ou em parte, o apartamento locado a quem quer que seja, sem prévio consentimento escrito do Institu­to, visto referido apartamento des­tinar-se à moradia exclusiva do

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locatário e respectiva família. 3 - Ora, acontece que o suplicado, contrarian,do essa cláusula con­tratual, mudou-se do referido apartamento para a cidade de São Vicente, neste Estado, ali deixan­do parentes seus. 4 - Tal atitu­de justifica a propositura da pre­sente ação de despejo, com base no art. 15, X, da Lei n.o 1. 300, de 28 de dezembro de 1950."

No entanto sabe o Instituto-se­nhorio que isso não é verdade, que não houve sublocação, de vez que o indigitado sublocatário figu­rava na relação de dependentes do inquilino, entregue, com a pro­posta de aluguel, vide fls. 37/8, tendo acontecido que o filho pros­seguiu na casa paterna mesmo de­pois de constituir família, ali fi­cando, com espôsa e filhos, quan­do seu pai, policial, foi servir, por uns tempos (vide docs. de fls. 26/8 e Dec. n.o 26.544, de 1956, art. 218, parte geral e § 1.0), noutra cidade.

O imóvel não saiu, por um mo­mento que fôsse, das mãos da mesmíssima e numerosa família a que servia de habitação em têr­mos contratuais.

De assinalar que seu alugue] não era de Cr$ 1.920 mensais co­mo se especifica na aludida ini­cial, fls. 2, mas de Cr$ 3.041, como nô-Io evidencia o recibo do próprio senhorio, constante de fls. 29.

Juntou o Instituto a fls. 39/40 uma carta do inquilino, que longe de prejudicá-lo, mostra sua odis,

séia de funcionário sem estabili­dade, removido, dispensado e re­admitido, por isso em dificuldades para sustentar sua família e ainda sob as ameaças de despejo do Instituto de Previdência.

A cláusula 5.a do contrato não foi violada. O senhorio conhecia, há mais de ano, o que se passava. Contam as testemunhas de fls. 35/6. A isso respondem e de ma­neira fulminante os precitados documentos de fls. 26/8.

Nenhum motivo para que essa demanda vingasse. No julgamen­to de fls. 67/71 confirmei a sen­tença de fls. 43/5. Torno a con­firmá-la, já agora baseado tam­bém no voto exaustivo do emi­nente Sr. Min. Amarílio Ben­jamin.

Rejeito os embargos.

Decisão

Como consta da ata, prosse­guindo-se no julgamento, a deci­são foi a seguinte: por maioria, foram rejeitados os embargos, vencidos os Srs. Mins. Antônio Neder e Hugo Auler (Henrique d' Ávila). Os Srs. Mins. Arman­do Rollemberg, Márcio Ribeiro e Djalma da Cunha Mello votaram com o Relator. Não comparece­ram os Srs. Mins . Cunha Vas­concellos e Henrique d' Ávila por motivo justificado. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Godoy Ilha.

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APELAÇÃO CÍVEL N.o 19.315 - PA.~

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Godoy Ilha Recorrente - Juiz da Fazenda Pública, ex oflieio Apelante - Caixa Econômica Federal do Pará Apelado - Caetano Francisco Durães Neto

Acórdão

Empreitada de construção de edifício para uma autarquia, obtida em concorrência pública. Anu­lação de alterações e reajustamentos obtidos poste­riormente pela construtora, porque contrários ao que avençado e porque conseguidos sem audiência dos conselhos e do departamento jurídico da entidade paraestatal.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.o 19.315, do Pará, em que é apelante a Caixa Econômica Fe­deral do Pará e apelado Caetano Francisco Durães Neto:

Acorda, por unanimidade de votos, a Segunda Turma do Tri­bunal Federal de Recursos, em dar provimento para julgar pro­cedente a ação e improcedente a reconvenção, conforme consta das notas taquigráficas anexas, aS quais, com o relatório de fls., fi­cam fazendo parte integrante dês­te julgado, apurado nos têrmos do resumo de fôlhas retro. Custas ex lege.

Brasília, 1 de outubro de 1965. -Godoy Ilha, Presidente; Djalma da Cunha Mello, Relator.

Relatório

o Sr. Min. Djalma da Cunha Mello: - Trata-se de ação pro-

* Nota da Redação: Interpostos Embargos de Nulidade por Manoel de Barros Campos em 5-8-66.

posta pela Caixa Econômica do Pará contra Caetano Francisco Durães Neto, objetivando anula­ção de contrato de empreitada com a mesma celebrado.

A ação foi julgada improceden­te e procedente a reconvenção formulada pelo réu, tudo nos têr­mos da sentença de fls. 281/3, cuja parte precípua está assim re­digida: O volume dos autos dá uma noção bastante disforme da natureza do problema em debate. Tôda a volumosa prova pericial produzida e os exaustivos elemen­tos que a constituem poderiam es­tar ausentes dêstes autos, sem que a omissão justificasse qualquer prejuízo ou dificuldade para o exame da matéria. Nem mesmo teria sido necessário o depoimen­to das partes e das testemunhas arroladas. E tudo isso porque a questão jurídica a resolver é de natureza elementaríssima, custan­do crer que uma instituição pú­blica que se presume tão bem as­sessorada se tenha exposto a de­manda em que, no simples ato de formulá-la, se deveria dar conta

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da insustentabilidade da sua ati­tude. Com efeito, o problema dos autos é simples e juridicamente primário. É certo que a A. e a R. firmaram, por escritura públi­ca, um contrato de empreitada, no qual se diz que o preço é dado sem reajustamento, redação im­precisa que até mesmo não impor­ta formal e categórica proibição de reajustamento (sic). E é cer­to, também, que meses depois de assinada a escritura, a A., repre­sentada por quem legalmente de­via representar, pouco importan­do a conduta pública que tivesse tido e os desatinos administrati­vos que houvesse cometido, con­cordou em alterar justamente a cláusula que aludiu a preço sem reajustamento, para conceder o reajustamento pleiteado, e isso na base dos cálculos feitos pelo pró­prio encàrregado da fiscalização da obra. Ora, diante de tal fato não há como falar em proibição de reajustamento. Se proibição houve, proibição deixou de haver desde que a Caixa, pelo seu Presidente, e ninguém senão êste poderia representá-la, concordou em conceder o reajustamento e modificar a redação da cláusula restritiva sôbre a matéria. Todo o restante do debate travado nos autos é abundante e imperti­nente. Não há sequer o que apreciar quanto à aplicabilidade da cláusula rebus sic stantibus. Não há que discutir quanto sôbre se tal cláusula pode ou não ser invocada em emprei­tadas concedidas mediante con­corrências no silêncio do contrato, ou não vedação do contrato. Tô­da essa polêmica é rigorosamente

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impertinente, porque entre a A. e a R. foi revogada justamente a cláusula do contrato primitivo proibitiva do reajustamento. Ora, se a cláusula foi revogada, se o reajustamento foi concedido, se o contrato primitivo foi aditado, en­tão o que passou a ser lei entre as partes foi exatamente o aditivo, não o contrato anterior. Assim, as obrigações e os direitos das partes, reciprocamente passaram a se regular pelo instrumento origi­nal parcialmente revogado. É certo que a A. alega a existência de irregularidade de procedimen­to na tramitação do pedido de re­visão e sua formalização defini­tiva. Mas se irregularidades hou­ve, essas irregularidades foram praticadas pela própria A., foram irregularidades internas, e a A. não se pode beneficiar de seus próprios erros, ou dos erros de seus servidores, para lesar direitos de terceiros, tanto mais quanto isso é afirmativa que não encon­tra exceção nem oposição, a nin­guém é obrigatório o conhecimen­to das normas internas dos órgãos administrativos. Seria inconcebí­vel que num país cujo direito constitucional problema a respon­sabilidade do poder público até mesmo pelos atos ilícitos de seus funcionários (Constituição, art. 194), se admite pudesse uma pes­soa jurídica, que tal é a Caixa Econômica, rescindir unilateral­mente suas convenções, alegando irregularidades de sua própria ad­ministração e de seus servidores. Vale notar, aliás, que tôda a posi­ção da A., no caso dos autos, fi­cou definitivamente comprometi­da desde a publicação do Dec.

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309, de 6 de dezembro de 1961, que veio precisamente estabelecer normas para a revisão de preços dos contratos de obras ou servi­ços a cargo do Govêrno Federal, o qual decreto proclama, sem re­servas, o princípio da revisibilida­de de tôdas as empreitadas, ainda quando omissos os contratos fir­mados. Não poderia, aliás, o Go­vêrno Federal proceder de manei­ra diversa, dado que é notória a impossibilidade de qualquer esti­mativa de preços, senão para as trocas de valôres à vista, num país sujeito a uma pressão infla­cionária não sàmente poderosa, mas também imprevisível nas suas tendências e cotas de acen­tuação. E a própl"ia A., final­mente, não pa'fece alheia a essa verdade, tanto assim que, segundo informações prestadas a êste juízo pelo seu atual presidente, no de­poimento que prestou nesta cau­sa, o prosseguimento, note-se, o si~ples prosseguimento das obras vem de ser deferido a outra firma por preço duas vêzes superior ao da 'fevisão pedida pela ré, em ato de que consta, inclusive, a possi­bilidade de revisão, desde que haja alteração na estrutura dos preços. Significativo, aliás, a res­peito, é também o fato de haver a mesma autoridade esclarecido, no já citado depoimento, que tam­bém com os promitentes compra­dores de unidades residenciais do edifício sede da instituição, entrou a A. em entendimentos, visando recompor o preço primitivo, e isso quando, nos têrmos dos mesmos esclarecimentos, tal preço fôra igualmente acordado com a con­dição "sem reajustamento". Ora,

o fato prova à saciedade aquilo que é do conhecimento de todo mundo, nem mesmo apenas do conhecimento dos juristas, isto é, que um contrato pode ser livre­mente alterado, a qualquer mo­mento, pelo acôrdo dos interessa­dos. A mesma eficácia do acôrdo primitivo é também a eficácia do acôrdo de alteração. Poderiam, portanto, perfeitamente, a R. e a A. ter alterado o contrato origi­nal da empreitada, como o fize­ram, sem que qualquer das partes pudesse, mais tarde, alegar nuli­dade da alteração invocando texto do instrumento alterado. Pelo exposto, é evidente a improcedên­cia da ação, como evidente é a procedência da reconvenção. O procedimento da A. privou a R. de lucros legítimos e causou-lhe danos que demandam ressarci­mento pleno. Faz jus a R., sem sombra de dúvida e até mesmo pelo fato de se encontrar em de­pósito essa quantia, à importância das fatmas cujo pagamento a A. se recusou a lhe fazer diretamen­te no montante de Cr$ 2.970.000, valor que deve ser acrescido, no mllllmo, apesar de irrisório o acréscimo diante da inflação, dos juros bancários correntes de 1 0/0 ao mês, no montante de Cr$ 1 .068 . 900, totalizando, assim, es­sa parcela a quantia de Cr$ 4.038.900. No contrato reajus­tado, o preço da empreitada foi estipulado em Cr$ 111.600.000. Como a obra, quando suspensa, estava com a sua estrutura em via de conclusão, atribuindo a es­sa parcela a significação de um quinto do orçamento, restaria a R. a realização de obras e servi-

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ços no valor de Cr$ 89.280.000 - valor sôbre o qual teria, segun­do a praxe, o lucro médio de vin­te por cento, o que traduz o seu prejuízo pelo inadimplemento em Cr$ 11.856.000. Há que consi­derar, ainda, as perdas e danos por instalações danificadas, mate­riais irrecuperáveis, encomenda­dos e contratos de forneci­mento rescindidos pela R. em con­seqüência da resolução da A., da­nos todos êsses que parece razoá­vel estimar em dez por cento sô­bre o valor do contrato, ou seja, no total de Cr$ 11.150.000 de tudo o que resulta a condenação, que por esta sentença se impõe a Caixa, da quantia líquida e certa de Cr$ 33.084.900, honorários de advogado, devidos no caso se­gundo a letra do Código de Pro­cesso Civil, art. 64, que arbitro em vinte por cento sôbre o valor total da condenação, custas, despesas judiciais e juros moratórios, con­denando, ainda, a A. a indenizar cabalmente a R. das perdas e da­nos decorrentes do abalo de cré­dito a que ficou exposta, cujo va­lor se liquidará na execução. Re­corro ex olHeio para o Egrégio Tribunal Federal de Recursos."

Apelou a Caixa, com as razões de fls. 277/285.

O réu contra-arrazoou a fls. 287/9.

Subindo os autos, dêles se deu vista à Subprocuradoria da Re­pública, que falou pelo provimen­to das apelações. Assinale-se que, depois das censuras que temos fei­to, as demoras enormes, insólitas, da Subprocuradoria, no despacho dos processos que recebe para dar parecer, mostra-se enfim a mesma

disposta a retardos menores. Neste caso ,por exemplo, passou três meses e dezoito dias para soltar os autos. É diferente dos dois, três, quatro anos que vinha levando.

É o relatório.

Voto

o Sr. Min. Dja.Jma da Cunha Mello: - Ao edital de concorrên­cia pública de fls. 32, acudiram três firmas construtoras, com as propostas resumidas a fls. 34: "A firma Construtora Gualo Ltda. fêz três propostas: - a l,a, de empreitada com reajustamento num valor de Cr$ 119.100.000; a 2.n, de administração mediante o pagamento da percentagem de 8,5 % sôbre o total acima da l,a

proposta e a 3.a empreitada sem reajustamento - no valor de Cr$ 142.920.000; a firma indi­vidual Judah Eliezer Levy pro­pôs fazer a obra por administra­ção mediante o pagamento de Cr$ 95.000.000 e a firma indi­vidual Caetano Francisco Durães Neto apresentou uma proposta para fazer a referida construção por empreitada, sem reajustamen­to, no valor de Cr$ 74.673.000 ou por administração mediante o pagamento da percentagem de 6,84 %."

Depreende-se daí, com segu­rança, que venceu a ré por pedir preço muito menor e sem reajus­tamento.

E se lê, no contrato lavrado em conseqüência, por certidão a fls. 22 e verso, isto: "Cláusula décima nona: Do reajustamento: O preço para construção do edifício sede da Caixa Econômica Federal do

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Pará foi dado sem reajustamento e nos têrmos do presente contra­to. Subcláusula primeira: So­mente o reajustamento previsto em lei será objeto de estudo e isso mesmo numa base máxima de 20% sôbre os detalhes a serem construídos e depois de decorrido um ano do início das obras. Subcláusula segunda: O reajus­tamento da sub cláusula anterior, só poderá ser feito uma única vez durante tôda a construção."

Não obstante, menos de ano decorrido, a ré pedia e obtinha reajustamento e, note-se, de mais de vinte por cento, vide fls. 26!?

E lograva, nesse passo, as ou­tras vantagens, substanciais, rela­tivas a elevadores, multas e for­ma de pagamento, visíveis a fls. 27/9!?

Dir-se-á que contrato é lei en­tre as partes e que isso se entende com a revisão ...

Não há dúvida, tratando-se de contrato regular, fiel às regras ju­rídicas de produção respectivas, o que não sucedeu ao de fls. 26/9.

E assim me expresso porque a alteração contratual se fêz sem audiência do departamento jurídi­co e dos conselhos, como indecli­nável.

Disse a autora a propósito a fls. 129/130:

"Pretende Durães que contra­to de reajustamento não estaria sujeito à homologação do Conse­lho Superior das Caixas Econômi· cas Federais, e que o Presidente da Caixa não era incapaz para deliberar soberanamente sôbre o clamoroso aditivo. Ora, já se de­monstrou-ampla e exaustivamen-

te na inicial que o Contrato de Alteração não observou a Lei Or­gânica das Caixas Econômicas Fe­derais, que foi desrespeitada e violada grosseiramente. Bem ao que foi celebrado, mediante escri­tura pública, "com perfeita obser­vância da letra a do art. 767 e da segunda parte do art. 781 do Código de Contabilidade Pública e devidamente aprovado pelo Conselho Administrativo da Caixa na forma regulamentar, depois de ter sido devidamente examinado e aprovado pelos órgãos competen­tes, inclusive pelo Conselho Supe­rior das Caixas Econômicas Fe­derais" (Ver fls. l/v da Escritu­ra pública do contrato de 21 de agôsto de 1958 e fls. 18/v. dos autos) . O engenheiro Durães, que firmou êsse contrato, não po­dia ignorar que havia formalida­des legais a serem observadas, es­pecificadamente enumeradas no intróito do contrato e na cláusula primeira. Sabia que êsse contra­to solene não poderia ser altera­do senão depois de minuciosamen­te examinados os seus têrmos pe­los órgãos competentes da Caixa. Mas o que se viu foi o engenheiro Durães mancomunar-se com o ex-Presidente Ferro e Silva para lograr, por um passe de mágica, um substancial aumento no preço da construção, desfigurando com­pletamente o contrato inicial. A matéria objeto do caviloso ins­trumento assinado por Durães e Ferro e Silva não foi estudada, apreciada e julgada pelo Conselho Administrativo da Caixa, em con· seqüência do que foram desres­peitados os seguintes dispositivos de uma lei federal (Regulamento

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baixado com o Decreto número 24.427, de 19 de junho de 1934) lei que se acha em pleno vigor, e de cujos têrmos não pode a ré alegar ignorância: 1. Art. 24, que declara que os Conselhos Ad­ministrativos são os órgãos dire­tivos das Caixas Econômicas; 2. Art. 25, que estabelece que as de­cisões dos Conselhos Administra­tivos são tomadas por maioria de votos, tendo o Presidente o voto de qualidade; 3. Art. 25, ainda, porque a deliberação, se tivesse sido tomada, teria de constar da ata de sessões, e nada consta; 4. Art. 26, "letra a, que dispõe que cabe ao Conselho Administrativo resolver sôbre a formação e apli­cação dos fundos de reserva, patri­mônio das Caixas Econômicas e os negócios autorizados pelo regu­lamento; 5. Art. 14, que estabele­ce que o Conselho Superior deve intervir, juntamente com o Con­selho Administrativo para resol­ver sôbre os negócios das Caixas Econômicas Federais."

O departamento jurídico das Caixas qualificou bem essa alte­ração de contrato, como se nota a fls. 252: "a revisão mais imoral de que já se teve notícia no campo dos contratos públicos".

Por práticas ilícitas na presi­dência da Caixa Econômica Fe­deral do Pará e especialmente por ter permitido e assinado essa al­teração de contrato "a mais imo­ral", o Sr. R. Ferro e Silva foi destituído, "a bem do serviço pú­blico", pelo Govêrno Juscelino Kubitschek e responsabilizado, ve­ja-se o que escrito a fls. 253.

A revisão de contratos, sob pá­lio da conhecida cláusula rebus sic stantibus, pressupõe aconteci­mento extraordinário, fora da previsão humana, tornando a exe­cução altamente onerosa, lesiva, para uma das partes.

O jurisconsulto Francisco Cam­pos, no seu Direito Civil, ed. Freitas Bastos, 1956, págs. 9/10, pondera com o saber e a sagaci­dade incomum que todos lhe re­conhecemos:

"1.0) O acontecimento que de­termina a mudança das circuns­tâncias deve ser imprevisto e im­previsível pelas partes; 2.°) O acontecimento que produz a mu­dança deve ser anormal, extraor­dinário, da ordem daqueles que entram na definição de fôrça maior; 3.°) Não basta qualquer mudança, ainda que imprevista; é necessário que a mudança deter­mine uma tal agravação da pres­tação, que se prevista, teria leva­do os contratantes a não concluí­rem o contrato; 4.°) É necessário, enfim, q~e o acontecimento que torne a execução difícil ou one­rosa seja estranho à vontade do devedor.

Quero lembrar que o juriscon­sulto citado faz remissão aí a uma obra de Serbesco, sôbre effets de la guerre sur l' execution dans con­trats . .. " Havia o acontecimento extraordinário guerra, e guerra mundial ...

Na situação-tipo dos autos isso não se deu.

Não houve, não se alegou acon­tecimento extraordinário, fora da previsão mesmo elementar.

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Engenheiros C1V1S, profissionais da construção no próprio Muni­cípio em que tratada, não podiam ignorar a marcha inflacionária, com reflexo no preço dos mate­riais e nos salários.

A "imprevisão", in casu, não se justificaria num quitandeiro.

Quatro meses depois ido con­trato, os construtores já peleja­vam por uma revisão frontal, êles que haviam obtido o negócio por­que entendiam possível realizá-lo "sem reajustamento"

Ou teriam pedido preço aquém para burlar a concorrência e o Código de Con:tabilidade Públi­ca, para desmontar os competido­res, contando com a "prodigalida­de" do servidor demitido?

Sine virtute operandi todavia e inconcuttvelmente, semelhante re­visão de contrato.

Nula, porque feita sem o pro­cesso administrativo e formalida­des próprias substanciais, pela falta de poder, de atribuições, para deferi-la, aquêle servidor.

Não basta a assinatura de um preposto no instrumento público de alteração contratual, mas a as­sinatura de preposto ou de pre­postos credenciados segundo a lei.

Procedente a ação e improce­dente a reconvenção.

Dou provimento, in totum, às apelações.

Voto

O Sr. Min. Godoy Ilha: - Es­tabelece o art. 1.246 do Código Civil que "o arquiteto, ou cons­trutor, que, por empreitada, se in­cumbe de executar uma obra se-

gundo plano certo por quem a en­comenda, não terá direito a exigir acréscimo no preço, ainda que o dos salários, ou o do material, en­careça ... "

Tem, todavia, a jurisprudência dos tribunais admitido, sobretudo nos contratos com a administra­ção pública, a aplicação da cláu­sula rebus sic stantibus, que se considera ali resumida em todos os contratos e em oposição ao ve­lho e inflexível princípio de que pacta sunt servanda.

Repousa a cláusula na chama­da teoria da imprevisão, ou da superveniência, imprevista e imo previsível, de circunstâncias que acarretem para o devedor um gravame exagerado e insuportá­vel, com enriquecimento injusto do credor.

Não se confunde com o caso fortuito ou fôrça maior que, se· gundo o parágrafo único do art. 1 .058 do Código Civil, consiste no fato necessário que torne ab­solutamente impossível a exe­cução da obrigação.

Entretanto, na conformidade do edital de concorrência, a apelada, que nela se sagrava vencedora por ter oferecido o menor preço para a construção do edifício e sede da Caixa Econômica Federal do Pa­rá, não podia ignorar a possibili. dade da elevação do custo de ma­tii:riais e dos salários, em alta constante no processo inflacioná­rio já em curso e, por isso, a sua proposta foi formulada com a condição "sem reajustamento".

Aprovada a proposta pelo Con­selho Administrativo da Caixa,

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COm observância dos arts. 767 e 781 do Regulamento do Código de Contabilidade Pública, lavrara­-se, em 21 de agôsto de 1958, a escritura de fls. 18, estabelecen­do a cláusula XIX que o preço para a construção fôra estipulado sem reajustamento, admitindo, to­davia, que nos casos previstos em lei, o reajustamento de preço seria objeto de estudo numa base má­xima de 20 % e isso só depois de decorrido um ano do início das obras.

Não obstante esta cláusula ex­pressa, a apelada, alguns meses depois, mostrando-se desidiosa no cumprimento do contrato relati­vamente ao andamento das obras, já reivindicava um reajustamento no preço, conforme comunicação feita pelo fiscal das obras em 12-3-1959 e o obtinha, afinal, com o aditivo de fls. 26 a 29, com a elevação do preço inicial ,de Cr$ 74.673.000 para ........ . Cr$ 113.300.000, transferindo, ainda, para a responsabilidade da Caixa a aquisição dos elevadores e o fornecimento de 75 toneladas de ferro redondo, 23 de ferro de 3/8 e 52 ditas de 1/2 polegadas, o que eleva, de muito, a quantia do reajustamento.

Alega-se que êsse reajustamen­to foi livremente consentido por via do instrumento particular de fls. 27, firmado em 1.0 de junho de 1959, cuja validade é, todavia, impugnada pela apelante, não só por frontalmente contrário às es­tipulações do contrato primitivo, como, além de não atender às

prescnçoes regulamentares, teria resultado de conluio fraudulento com o ex-Presidente da Caixa Econômica Federal do Pará, de­mitido a bem do serviço público

Contràriamente ao contrato an­terior, celebrado por escritura pú­blica e com observância das exi­gências legais e regulamentares, com a prévia aprovação do Con­selho Administrativo da Caixa e homologação do Conselho Supe­rior das Caixas Econômicas, a convenção que o alterou substan­cialmente fêz-se através de instru­mento particular, cujo caráter clandestino decorre da circunstân­cia de que o ato aditivo foi con­sumado sem que sôbre êle se pro­nunciassem os órgãos técnicos da Caixa, como a Procuradoria Ju­rídica, Consultoria Técnica e Che­fia do Serviço de Engenharia, e sem a manifestação do seu Con­selho Administrativo, único órgão com competência legal para deci­dir a respeito, como esclarece o ofício de fls. 255, dirigido ao Juiz da causa, e contra o qual se ma­nifestara o fiscal das obras.

Meses após a vigência do con­trato de empreitada, o patrono do apelado pedia, em carta ao ex­Presidente da Caixa, a realização de uma "palestra sigilosa", na resi­dência dêste, no que foi acolhido, como se vê da anotação ao pé da­quela missiva e, a 8 de maio se­guinte, o apelado passava às mãos do Presidente da Caixa a minuta da alteração do contrato e que veio a se converter no aditivo de fls. 26, sem audiência de qualquer dos órgãos da Caixa.

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Entretanto, não tinha o ex-diri­gente desta, como o demonstrou a apelante, competência legal para obrigar-se em nome do estabeleci­mento, como decorre de disposi­ção expressa da sua lei institucio­nal, o Decreto n.o 24.427, de 14 de junho de 1934, que em seu art. 14, confere ao Conselho Su­perior e aos Conselhos Adminis­trativos, como órgãos autônomos da administração, das Caixas Eco. nômicas Federais, autoridade e competência para "resolverem sô­bre o seu patrimônio, a formação e a aplicação dos fundos de reser­va a adotarem tôdas as providên­cias em defesa dos interêsses des­sas Caixas". Ainda pelo art. 2.° do seu Regimento Interno, só ao Conselho Administrativo cabe "au­torizar aquisição e alienação de bens, renunciar a quaisquer direi­tos da Caixa Econômica ou tran­sigir sôbre êles, cabendo, ao Pre­sidente, executar ou fazer executar as resoluções do Conselho Admi­nistrativo, quando êste não atri­buir tal encargo a outro Diretor" (art. 11). O Conselho é um co­legiado, de que participam todos os Diretores e ao Presidente, que é também um Diretor, compete executar as deliberações do órgão dirigente. Não tem, a tôda a evi­dência, competência legal para transigir e obrigar-se em nome do estabelecimento.

As Caixas Econômicas, segundo os mais autorizados escritores, constituem órgãqs da administra­ção pública e estão diretamente subordinadas ao contrôle do Mi­nistério da Fazenda. Os contra­tos com ela celebrados revestem­-se do caráter de atos administra­tivos e a validade dêstes pressu-

põe duas condições essenciais, a saber: a sua conformidade com a lei, e sua legalidade, e a compe­tência da autoridade que o pra­ticou.

Assinala Themístocles Caval­canti (Instituições de Direito Ad­ministrativjo 11, pág. 104) que;! "dentro do nosso regime adminis­trativo e judiciário, a incompetên­cia da autoridade constitui a razão máxima da invalidade dos atos administrativos, porque compre­ende ainda aquêles praticados em virtude de uma faculdade do po­der discricionário. Nesses casos a lei permite que se os tenham co­mo ilegais em razão da incompe­tência da autoridade respectiva ou do excesso do poder", o que pode decorrer da inobservância da lei, ou do exercício de uma fa­culdade que não lhe tenha sido outorgada implícita ou expBcita­mente.

Celebrado o contrato de em­preitada em 21-8-58 já no pri­meiro trimestre de 59, a apelada fazia sentir à direção da Caixa a impossibilidade de executar a construção contratada, propondo a rescisão do contrato, com quita­ção recíproca dos respectivos en­cargos, sem o reajustamento do preço, como o confessa na recon­venção, quando é certo que não poderia pleitear o reajustamen­to senão dentro dos têrmos expressos do contrato. De resto, sequer a poderia favorecer a cláu­sula rebus sic stantibus, pôsto que a simples imprecisão, como obser­va Themístocles Cavalcanti não basta para servir de aplicação 'na doutrina da revisão dos contra­tos, sendo indispensáveis a boa-fé

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e a superveniência de aconteci­mentos tão graves que hajam in­fluído na estruturação econômica do contrato, excluída a culpa do empreitetro pela sua inércia ou incompetência. Propondo a con­dição do não reajustamento do preço, para vindicá-lo meses de­pois, agiu o empreiteiro com evi­dente má-fé, senão com o propó­sito mal velado de afastar os de­mais concorrentes. A alta do custo dos materiais e dos salários era fe­nômeno de ocorrência diária e de­via ter sido prevista na fixação do preço da construção que a em­preiteira contava enfrentar com os recursos excepcionais de que dispunha, como esclareceu o fis­cal das obras na sua informação de fls. 257/260. Já antes, havia observado o descaso e o atraso com que agia o empreiteiro, quan­to à ex~cução das obras. E a perí­cia mesmo depois' dó reajustamen­to constatou o estado de abandono das obras.

O perito da autora, o engenhei­ro José Rui Pantoja, em laudo que leva sôbre os demais a van­tágem da sua fundamentação ri­gorosamente técnica, não contes­tada pelos outros peritos, mostra que o reajustamento desatendeu às prescrições da cláusula 75 da Associação Brasileira de Normas Técnicas, além da manifesta im­possibilidade do pleiteado rejusta­mento (laudo de fls. 204/223) .

. Nem o invocado Decreto 309, de 6-12-1961, de resto baixado após a vigência do contrato, favo­rece a pretensão da apelada, pois, ao estabelecer êsse diploma regu-

lamentar normas para revisão nos preços de contratos de obras ou serviços a cargo do Govêrno Fe­deral, dispõe que os contratos de obras ou serviços por empreitada só poderão conter cláusulas de re­ajustamento de preços desde que estipulada previamente nos edi­tais, cartas-convites ou respectivas especificações das concorrências públicas ou administrativas (art. 1.0) e que a simples discrimina­ção de lucro ou ocorrência de prejuízo, conexos ao risco comer­cial comum não será objeto de reajustamento.

Os documentos de fls. 243 a 254 refletem os incisivos pronun­ciamentos do Conselho Superior das Caixas Econômicas e do Mi­nistério da Fazenda, ao qual foi o assunto submetido, de onde re­sultaram a demissão do Presiden­te da Caixa a bem do serviço pú­blico, e a adoção das providências judiciais para a anulação do adi­tivo ao contrato de empreitada, reputada como "a revisão mais imoral de que já se teve conheci­mento no campo dos contratos públicos".

Em tais condições, não pode subsistir a sentença de Primeira Instância, ao julgar procedente a reconvenção, deu pela improce­dência da ação, condenando a au­tora a pagar à desidiosa emprei­teira a quantia de Cr$ 33.084.900, fixada arbitrària~ente sem base em qualquer laudo pericial .

Dou, pois, provimento ao recur­so de ofício e ao apêlo da Caixa para julgar procedente a ação e improcedente a reconvenção.

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Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte:

Deu-se provimento ao recurso para julgar procedente a ação e improcedente a reconvenção. De­Clsao unamme. Os Srs. Mins. Godoy Ilha e Márcio Ribeiro vo­taram de acôrdo com o Sr. Min.

Relator. Não compareceram os Srs . Mins. Cunha Vasconcellos por achar-se licenciado e Arman­do Rollemberg, por motivo justi­ficado. O Sr. Min. Márcio Ri­beiro foi convocado para comple­tar quorum regimental. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Godoy Ilha.

APELAÇÃO CíVEL N.O 19.766 - RJ.4

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Ávila

Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin

Apelante - Manuel de Barros Campos

Apelados - Nestor Pereira de Almeida e União

Acórdão

Propriedade industrial. Direito de ação. Apre­ciação da legitimidade ad cauSam. Mérito: "falta de novidade".

O interessado com direito a propor nulidade de patente de invenção é o titular de concessão semelhante. Quem não possui título, ou, pelo menos, não alega situação equivalente, não é parte legítima. A ilegitimidade ad causam pode ser apreciada na sentença, salvo se o despacho saneador decidiu expressamente a matéria.

Não obstante a inocorrência da falta de novi­dade, que consubstancia verdadeiramente o mérito da ação, desqualifica, por completo, o autor.

Vistos relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.O 19.766 do Estado do Rio de Janeiro, em que são partes as acima indicadas:

Acordam os Ministros que com­põem a Primeira Turma do Tri-

* Nota da Redação: Interpostos Embargos de Nulidade pela União em 9-9-66.

bunal Federal de Recursos, por maioria, em negar provimento, na forma do relatório e notas taqui­gráficas de fls. retro, que ficam fazendo parte integrante do pre­sente julgado. Custas de lei.

Brasília, 27 de abril de 1966. - Henrique d'Ávila, Presidente; Amarílio Benjamin, Relator artigo 77 do RJ).

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Relatório O Sr. Min. Henrique d'Ávila:

- Manuel de Barros Campos propôs contra Nestor Pereira de Almeida ação ordinária de nuli­dade de patente de invenção, re­lativa a "nôvo modêlo de mesa para jôgo de bilhar", expedida em 1960 ao réu pelo Departamento Nacional de Propriedade Indus­trial.

Argúi que a referida patente não continha a característica de novidade, eis que o pedido res­pectivo reproduz outro indeferido em 1956.

O réu contestou a ação alegan­do que seu primeiro pedido mere­ceu indeferimento por êrro de re­dação de seu relatório. Em lugar de "bilhar miniatura" deveria ser escrito "nôvo modêlo de mesa pa­ra bilhar".

O Procurador da República manifesta-se pela improcedência da ação. Houve perícia, e foram apresentados três laudos: o do au­tor, o do réu e o do desempata­dor.

O Dr. Juiz, depois de prolatar o despacho saneador, do qual não houve recurso, designou a audiên­cia de instrução e julgamento, e proferiu depois sentença julgando improcedente a ação.

Houve apêlo do autor. Rece­bido o recurso em seus efeitos re­gulares, falou o apelado.

A União, assistente no feito, adotou as razões do apêlo, repe­lindo o recurso.

Os autos subiram a esta Supe­rior Instância, tendo a Subprocu­radoria-Geral da República emi­tido parecer opinando pelo des­provimento do apêlo.

É o relatório.

Voto (Vencido)

O Sr. Min. Henrique d'Ávila: - Como acabou de ouvir a Tur­ma do relatório, o autor, Manuel de Barros Campos, move~, com fundamento no art. 83, inciso 1.0, do Código de Propriedade Indus­trial, ação de nulidade de paten­te e registro de uma mesa para b~har, sob o fundamento de que nao ostentava o modêlo oJerecido qualquer novidade, e que já exis­tia anterioridade no tocante ao pretendido invento. É preciso que se diga de início que o interêsse do autor no pleito é manifesto, dado que êle se dedica ao fabrico de mesas para bilhar, e sofreu até , , de parte do réu, processo crimi. nal por contrafação, que veio afi­nal a ser havido como improce­dente.

O Dr. Juiz a quo, preambular­mente, ao examinar o processo, re­putou legítimas as partes, e dêsse seu despacho não foi interposto agravo no auto do processo.

Embora não haja uniformida­de de pensamento entre os enten. de dores, sempre sustentei que no despacho saneador o Juiz pode e deve apreciar não só a legitima tio ad processum como a legitima tio ad causam, sendo que esta última é relegável para sentença final. Na ausência de ressalva é de ad­mitir-se que uma e outra foram havidas como escorreitas e insus­cetíveis de dúvidas pelo despacho destinado ao expurgo inicial do processo. Afigura-se-me" portan­to, impertinente insistir, como o fêz o Dr. Juiz a quo, afinal, sôbre a ilegitimidade do autor para a propositura da ação, com assento

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no art. 83, inciso 1.0, do Código de Propriedade Industrial.

Quanto ao mérito, incorrendo em verdadeira petição de princí­pios, o Dr. Juiz a quo, não haven. do encontrado fundamentos sóli. dos na prova que legitimasse a pa­tente acoimada de nula e insub. sistente, a una voce, pelos laudos periciais que negam-lhe os requi­sitos de novidade, até mesmo de anterioridade, volta a bater a te· cla superada da ausência de inte­rêsse do autor para propositura da ação para, destarte, concluir pela improcedência da mesma.

A decisão recorrida, por isso, não deve prosperar. Não se ba, seia, nem se alicerça na prova dos autos, que é concludente no sen· tido da ilegitimidade da patente do registro obtida pelo réu. Os laudos técnicos, sem discrepância, assim o demonstram. Por êstes fundamentos dou provimento ao recurso, para haver como proce. dente a ação, nos têrmos da ini. cial.

Voto

o Sr. Min. Amarílio Benja, min: - Srs. Ministros, examinei, devidamente, a matéria constante dos autos, como sempre o faço. Em primeiro lugar, uma vez que êsse aspecto foi considerado pelo eminente advogado do autor, e também pelo Sr. Min. Relator, examinarei as conseqüências do despacho saneador. Apreciado o despacho saneador no seu aspecto literal, em verdade o Dr. Juiz, ao considerar as partes legítimas, o teria feito nos dois aspectos fun· damentais do processo. No en·

tanto, tenho orientação dife­rente. Considero que a legitima­tio ad causam é uma particulari­dade ligada ao mérito; normal­mente, portanto, há de ser consi­derada na decisão final ou na sen­tença. Não obstante, desde que a discussão seja posta, o Dr. Juiz poderá apreciá-la no despacho sa­neador. Ao fazê-lo, porém, deve­rá fazê-lo direta e expressamente, sobretudo para obviar as dúvidas que comumente ocorrem a respei­to de tais considerações. Na hi. pótese sub judice, a meu ver, o Dr. Juiz não apreciou a legitima­tio ad causam, porque, realmente, isto não constituiu ponto decisivo da discussão que se estabeleceu inicialmente. Assim, o despacho saneador, na verdade, analisado nessas suas particularidades, há de ser tido como havendo apreciado tão-somente a legitima tio ad pro­cessum. Em tais condições, admi­to, pois, que na sentença final o Dr. Juiz pudesse examinar, ain. da, a legitima tio ad causam, isto é, o interêsse legítimo do autor pa­ra a propositura da ação, ou seja, se o autor é, realmente, o titular certo do direito que invoca. Adu. zo a essas considerações, como re. mate final, uma observação que não deixa de ser relevante. Li, certa feita, decisão do próprio Su. premo Tribunal Federal, admitin­do que a legitima tio ad causam pudesse ser examinada até de ofí­cio, pela sentença, mesmo na Se­gunda Instância. Feitas essas ob­servações, cabe agora examinar, propriamente, a posição do réu dentro do ângulo em que o Juiz o examinou, e também o próprio mérito da causa.

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Considero que o Juiz decidiu acertadamente, data venia de S. Ex.a o Sr. Min. Relator, consi­derando ou admitindo que o autor não tivesse interêsse legítimo. O interêsse legítimo não há de re­sultar de situação de fato, princi­palmente em se tratando de pro­priedade industrial ou patente ou marca de fábrica ou de comércio. O interêsse legítimo há de resul­tar de uma situação de direito. O autor pode ser fabricante. Mas a única posição que justificaria a sua ida a Juízo para propor ação contra fulano ou beltrano, por uti­lizar-se dos bilhares ou do proces­so especial de uso de bilhar, a úni­ca posição que justificaria sua pre­sença em Juízo, repito, seria a ti­tularidade de patente semelhante. No caso presente, o autor haven­do requerido patente, também vi­sando o mesmo objeto, teve a sua patente indeferida.

Ora, se teve sua patente inde­ferida, mesmo que tenha interpos­to recurso, o que prevalece é, real­mente, pelo menos para êsse efei­to, a decisão que lhe negou o tí­tulo.

Por outro lado, mesmo que o autor houvesse interposto o devi­do recurso, a sua ida a Juízo é precipitada, contra terceiro. Indo a Juízo, deveria ir para obter pri­meiro o título a seu favor, por­que, com a posse do título, ficava legitimado a propor as ações que lhe dessem, na prática, as garan­tias que a lei assegura de modo geral.

Resta examinar o próprio mé­rito da ação. Esta foi proposta sob o ponto de vista de inexistên­cia de novidade.

Li os autos e não tenho dúvida também em proclamar que, no seu conjunto, os laudos depõem no sentido de que o têrmo, que o réu obteve, padece da falta de "novi­dade", que é um dos requisitos fundamentais para obtenção da patente. Contudo, há um detalhe de relêvo e de importância. O au­tor não possui têrmo em seu no­me. Se possuísse têrmo em seu nome, admitiria que, na apuração do requisito de "novidade", se con­frontasse o têrmo do autor e o do réu. Mas já vimos que o autor não possui têrmo em seu nome, porque o seu requerimento, a êsse respeito, foi indeferido. O recur­so existente não ll?-e dá a posse do título de qualquer patente; o re­curso apenas dá nova fase à apre­ciação da matéria.

Pergunta-se: e o que serviu de confrontação para increpar-se a falta de "novidade"? Serviu de confrontação o requerimento ou projetos ou discrições que o pró­prio réu havia levado, anterior­mente, à. consideração do Depar­tamento de Propriedade Indus­trial.

Então, concluo que não é con­frontando com o que o próprio réu fêz, que se há de concluir que falta à patente o requisito da "no­vidade". Na realidade, o que o réu fêz foi obter êsse segundo têr­mo, ajustando-se às exigências do Departamento, retificando assim e ratificando o primeiro requeri­mento.

Em tais condições, a meu ver a ação é duplamente improce­dente: primeiro porque o autor não tem interêsse legítimo para a propositura da ação, não é titular

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de nenhum direito para impugnar a patente do réu; segundo, o re­quisito da "novidade" não pode ser apurado no confronto com o requerimento anterior que tenha servido de base ao próprio réu.

Confirmo a decisão recorrida. Nego provimento.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Após o voto do Sr. Min. Relator dando provimento à ação, e o do Sr. Min. Revisor negando-lhe provimento, pediu vista o Sr. Min. Antônio Neder. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Henrique d' Ávila.

Voto

o Sr" Min. Antônio Neder: Estou em que, neste processo, o despacho saneador, ao declarar legítimas as partes, decidiu sôbre legitimidade ad processum, e não sôbre legitimidade ad causam; porque nesse mesmo despacho o seu autor deferiu a produção de prova, inclusive pericial, que na verdade foi produzida.

Vê-se que não lhe era dado jul­gar da legitimidade para a causa antes dessa prova, porque nela é que se demonstraria o direito do apelante, e, conseqüentemente, sua legitimação ad causam.

Portanto, só mesmo na senten­ça final, isto é, depois de produzi­da e apreciada a prova pericial, teria o Juiz como apreciar essa matéria, qual o fêz.

Nessa parte, está certa a sen­tença, a despeito das reservas que lhe opôs o ilustre Dr. Advogado do apelante, na tribuna, e o emi-

nente Sr. Min. Relator, no seu voto, data venia: de S. Ex.as •

Sabe-se que a legitimação para a causa pode ser objeto de apre­ciação no saneador, quando cabal­mente demonstrada nas peças pro­cessuais que o antecedem, isto é, petição inicial e documentos, con­testação e documentos, réplica e documentos.

Quando, porém, essa legitima­ção haja de ser demonstrada em prova a ser produzida depois do saneador. como neste caso se deu. justo é que o Juiz a aprecie ao en­sejo da sentença final, porque só então dispõe êle de elementos in­formativos e probatórios para jul­gá-Ia.

Assim, nessa parte, estou de acôrdo com o eminente Sr. Min. Revisor, e em desacôrdo com as razões invocadas da tribuna pelo nobre Dl'. Advogado do apelante.

Quanto ao mérito, estou em que o apelante não demonstrou o seu pretendido direito.

É de se dizer que a patente ou­torgada ao apelado, se consubstan­ciado o fundamento central desta causa, talvez pudesse vir a ser ob­jeto da anulação, como pretende o apelante nesta causa; mas o cer­to é que o vício que poderia ensejar essa anulação não se acha convincentemente demons­trado nos autos.

Êsse vício, segundo o apelante, é a ausência da característica de novidade na Patente n.o 3.690, ou melhor, ausência de originalidade do modêlo que constitui a substân­cia do direito conferido nessa pa­tente.

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Dá-se, contudo, que essa ausên~ cia de originalidade é apreciada ou verificada num confronto com o outro modêlo, anteriormente ofe. recido pelo próprio apelado, e que foi objeto de indeferimento na ins~ tância administrativa.

Cabe, pois, neste ensejo, inda­gar: será que o modêlo anterior, que foi objeto de indeferimento na instância própria, tem idoneidade para servir de padrão, e produzir o efeito de quebrar ou comprome~ ter a originalidade que por lei é exigida para o registro do outro modêlo anterior, ou outorga da Patente n.o 3.690, quando é certo que êsse modêlo anterior consta de pedido de registro feito pelo apelado mesmo?

A tese defendida pelo apelante em suas razões não se harmoniza, data venia, com a proteção objeti~ vada na norma que trata da maté­ria, faltando-lhe, por isso, enver­gadura para desfazer o ato admi­nistrativo de outorga da Patente n.o 3.690.

Voto, pois, com o eminente Sr. Min. Revisor, e nego provimento à apelação.

Decisão

Prosseguindo-se no julgamento a decisão foi a seguinte: Negou-se provimento ao recurso, vencido o Sr. Min. Relator. O Sr. Min. Antônio Neder votou de acôrdo com o Sr. Min. Revisor. Presi­diu o julgamento o Sr. Min. H en­rique d' Ávila.

APELAÇÃO CÍVEL N.O 19.838 - MG. ~

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Oscar Saraiva Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg Recorrente - Juízo de Direito da 1.a Vara da Fazenda Pública,

ex officio

Apelante - Francisca Soares de Rezende Apeladas - Central Elétrica de Furnas S.A. e Francisca

Soares de Rezende

Acórdão

Apelação cível; não cabe de sentença proferi­da em ação de valor inferior a dois salários-mínimos.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.o 19.838, de Minas Gerais, em

* Nota da Redação - Interpostos Embargos de Nulidade pe1a União em 12-9-66.

que são partes as acima indica~

das: Acordam os Ministros que com­

põem a Segunda Turma do Tribu­nal Federal de Recursos, em não conhecer da apelação, por maioria

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de votos, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls. 176, que ficam fazendo parte integran­te do presente julgado. Custas de lei.

Brasília, 22 de abril de 1966. - Dialma da Cunha Mello, Pre­sidente; Armando Rollemberg, Relator designado p/ o Acórdão.

Relatório

O Sr. Min. Oscar Saraiva: Trata-se de ação de desapropria­ção proposta pela Central Elétrica de Furnas S. A., visando a servi­dão necessária sôbre as faixas de terreno descritas no item 7 da ini­cial e configuradas nas plantas à mesma anexadas, destinadas à construção da linha de transmis­são de energia elétrica de Furnas a Belo Horizonte, compreendendo o direito de praticar todos os atos de construção, manutenção e con­servação da referida linha contra vários proprietários, correndo, po­rém, a ação, nesta altura, apenas contra D. Francisca Soares de Re­zende, viúva de Almir Paiva Re­zende.

Sentenciou o Dr. Juiz a quo, assim concluindo: "À vista do ex­posto, julgo procedente a ação e fixo em Cr$ 7.452,50 a indeniza­ção que a Central Elétrica de Fur­nas S. A. pagará a D. Francisca Soares Rezende, na qualidade de viúva e sucessora de Almir Paiva Rezende. Pagará mais a expro­priante os juros de mora a partir da imissão provisória de posse e honorários de advogado, na base de 20% sôbre a diferença entre a oferta inicial e o preço fixado nesta sentença.

Arbitro em Cr$ 5.000 os emo­lumentos do perito, atendendo ao trabalho feito."

Houve recurso de ofício.

Apelou a expropriada. Contra-razões em que argúi a

autora o descabimento do recurso voluntário da ré para êste Tribu­nal, com invocação ao art. 839 do Código de Processo Civil, alterado pela Lei 4.290/1963.

A Subprocuradoria-Geral da República opinou secundando a apelada na preliminar e de meri­tis.

É o relatório.

Voto (Vencido)

O Sr. Min. Oscar Saraiva: Não acolho a preliminar relativa ao descabimento do recurso volun­tário para êste Tribunal. Já tenho, por vêzes reiteradas, manifestado o entendimento sôbre a inaplica­bilidade do art. 839 do Código do Processo Civil aos feitos em que a União ou suas Autarquias são partes, eis que, quanto a estas, a competência recursal dêste Tribu­nal se acha fixada em norma da Constituição, em seu art. 104, lI, e que não poderia sofrer restrições por parte de dispositivo proces­sual de lei ordinária.

Conheço, pois, do recurso. E conhecendo-o dou-lhe provimen­to. Na fixação da indenização o Dr. Juiz deixou inteiramente de parte o laudo do perito oficial, e ateve-se, in totum, ao do Dr. As­sistente-Técnico da expropriante, sem atender a que a servidão ob­jeto da desapropriação diz respei­to a uma área de 107.750 ha

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com o valor indicado pelo perito oficial em Cr$ 7. 000 por ha, ao passo que o Assistente-Técnico, cuja opinião prevaleceu, dá o va­lor de Cr$ 7.452,50 para o total. Ora, é tão exígua e inexpressiva econômicamente essa última so­ma que, a prevalecer no caso, a servidão se constituiria, a bem di­zer, a título gratuito. Daí meu voto para acolher, in totum, o apê. 10 da expropriada.

Voto

O Sr. Min. Armando Rollem­berg. - Data venia de V. Ex.a

não conheço do recurso, por tra­tar-se de causa de valor inferior a

dois salários-mínimos, hipótese em que não cabe apelação.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Por maioria de vo­tos, não se conheceu da Apelação, vencido o Sr. Min. Relator, que dela conhecia; o Sr. Min. Arman­do Rollemberg lavrará o Acór­dão. O Sr. Min. J. J. Moreira Rabello votou de acôrdo com o Sr. Min. Armando Rollemberg. Não compareceu, por motivo jus­tificado, o Sr. Min. Cunha Vas­concellos. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Djalma da Cunha Mello.

APELAÇÃO CÍVEL N.O 20.528 - GB.~

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Antônio N eder Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro Apelante - Edgard de Mello Apelada - União

Acórdão

Vencimentos e vantagens de funcionário diplo­mata no Exterior. Decretos n.o s 33.642, de 1953; 38.933, de 1956; e 50.312, de 1961. Se o funcionário é irregularmente aposentado, e é desfeita a sua ·aposentadoria, e lhe é reconhecido o direito de receber os seus vencimentos e vantagens como se estivesse em exercício, evidente é a conclusão de que a taxa de conversão do cruzeiro em moeda americana, para o cálculo da importância a lhe ser paga, é aquela que vigorava ao tempo em que os vencimentos e vantagens lhe eram devidos, e não a que, mais elevada, passou fi vigorar posteriormente. Apelação a que se dá provimento por maioria de votos.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos. da Apelação Cível

* Nota da Redação: Interposto Recurso Extraordinário pela União em 17-10-66.

n.o 20.528, da Guanabara, em que são partes as a.cima indicadas:

Acordam os Ministros da Pri­meira Turma do Tribunal Federal de Recursos, por maioria, prelimi-

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narmente, em rejeitar a prejudi­cial de impropriedade do apêlo interposto e, no mérito, também por maioria, em negar provimento. ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes, que ficam integrando o presente. Custas de lei.

Brasília, 25 de maio de 1966. ~ Henrique d'Avila, Presidente; Antônio Neder, Relator.

Relatório

o Sr. Min. Antônio Neder: -Edgard de Mello era Ministro para Assuntos Econômicos.

Por Decreto de 9-4-54, retifica­do pelo de 20-11-54, foi aposen­tado nesse cargo.

Ingressou na Justiça com ação ordinária contra a União. visando a anular êsse ato da aposenta­doria.

A ação .correu seus têrmos re­gulares e êle obteve sentença favo­rável.

Essa sentença anulou o ato da aposentadoria e condenou a União. ao ressarcimento dos prejuízos.

Transitada em julgado a sen­tença, passou êle à execução.

Ao executá-la, foi feito o cálculo dos vencimentos e vantagens de­vidos, nos têrmos do julgado.

É de se esclarecer que, Ministro para Assuntos Econômicos, o exe­qüente percebia seus vencimentos e vantagens em dólar americano.

Ouvida a União sôbre o cálculo, ela o impugnou, invocando o. De­creto n.o 33.642, de 24-8-53, e o De.creto n.o 38.933, de 26-3-56, que fixaram os divisores de con­versão para o efeito de pagamento dos vencimentos e vantagens do

pessoal no Exterio.r em Cr$ 18,82 e Cr$ 31,82, respectivamente, por dólar americano.

E mais: pleiteou a União que o dólar fôsse calculado à base do seu valor ao tempo em que o exeqüente deveria receber os ven­cimentos e vantagens.

O MM. Df. Juiz da 4.a Vara da Fazenda Pública da Justiça da Guanabara, atendendo ao que pleiteo.u a União, ordenou fôsse feito nôvo cálculo nos têrmos por ela propostos.

ftsse nôvo cálculo foi feito na fI. 313 dêste processo.

Ouvido o exeqüente, manifes­tou-se êle nestes têrmos: "Confor­me o suplicante esclareceu na petição de fls. 287, a .controvérsia gira apenas em tôrno da taxa que deverá ser fixada para a conver­são da moeda estrangeira (dólar americano) em nacional (cruzei­ro). Na dita petição, o suplicante demonstrou que a taxa correta será de Cr$ 200 por dólar, de conformidade com a legislação específica e a jurisprudência dos tribunais, tendo em outra petição reproduzido os fundamentos de um acórdão do Egrégio Supremo Tribunal Federal". (sic).

A União, por sua vez, assim se pronunciou: "O cálculo de fls. 313 está de acôrdo com o. que o autor deixou de receber, ,conforme ficou esclarecido a fls. 282/285. A taxa especial de conversão de cruzeiros em dólares, constante de conta em aprêço, é a utilizada para os paga­mentos dos vencimentos e vanta­gens do pessoal diplomático com exercício no exterior como se ve­rifica pelo ofício do Ministério das Relações Exteriores junto por

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cópia. Nada a opor, portanto ao cálculo de fls. 313, no total de Cr$ 1.437.750,30." (sic).

O MM. Dr. Juiz homologou êsse cálculo na sentença da f1. 318, assim redigida: "Vistos etc. En­tendemos que os §§ 2.° e 3.° do art. 947 do Código Civil não se aplicam à hipótese. Os dispositi­vos se referem ao pagamento em dinheiro, quando as partes estipu­larem que se deva fazer em certa e determinada espécie de moeda, nacional ou estrangeira (§ 1.0 do mesmo artigo). Aqui não houve estipulação prévia, mas decisão judicial condenatória versando sôbre a função pública, cujo regi­me é estatutário, e não contratua1. Portanto, a taxa, ou melhor, o divisor de conversão, há de ser o coetâneo da remuneração devi­da. Isto pôsto, homologo o cálculo de fls. 313, para que produza seus jurídicos e regulares efeitos. Custas ex lege." (sic).

Dessa sentença apelou o exe­qüente.

Na apelação pretende que o dólar seja calculado pelo divisor de conversão fixado no Decreto n.o 50.312, de 3-3-61, isto é, na base de Cr$ 200.

Escreveu nas fls. 323 e 324 o seguinte: "Realmente existe câmbio especial para o cálculo da remuneração do servidor civil ou militar em exercício no exterior. A princípio, o pagamento se efe­tuava na base de Cr$ 60 por libra inglêsa, nos têrmos do Dec. 23.801, de 25-1-1934, mas o De.c. 33.642, de 24-8-1953, alterou o divisor de conversão, mandando que se fizes­se pela taxa oficial de venda do dólar americano, cotado na época à razão de Cr$ 18,82. Depois, o

Dec. 38.933, de 26-3-1956, elevou a taxa para Cr$ 31,82 por dólar, o Dec. 45.400, de 6-2-1959, alte­rou-a para Cr$ 100 e, finalmente, o Dec. n.o 50.312, de 3-3-1961, fixou-a em Cr$ 200, atualmente em vigor, nos seguintes têrmos: "Para efeito do pagamento de vencimento, salário, remuneração, gratificação de representação e outras vantagens previstas em lei, devidas a servidores civis e mili­tares em exercício no exterior, passa a ser de Cr$ 200 o divisor a que se refere o art. 3.°, pará­grafo único, do Dec. 23.801 de 25-1-1934, modificado pelo Dec. 38.933, de 26-3-56, e 45.400, de 6-2-1959.

Parágrafo único - "O divisor de conversão de que trata ê,ste artigo será aplicado aos níveis de vencimento, salário e remuneração em vigor, bem como às vantagens de qualquer espécie dêles decor­rentes". Ao fixar assim em .... Cr$ 200 a taxa do câmbio, o Govêrno reconheceu oficialmente que na época atual não é mais possível calcular o dólar na primi­tiva base de Cr$ 18,82, porque houve notória desvalorização do cruzeiro; não é nenhum absurdo, porquanto durante a recente crise política a moeda americana chegou a atingir a Cr$ 2.000 e atualmente se estabilizou em cêrca de Cr$ 1.200." (Sic).

As demais razões do recurso estão escritas nas fls. 320 a 334:

As contra-razões da União en­contram-se nas fls. 337 a 338:

A Egrégia Subprocuradoria­Geral da República opinou pela manutenção da sentença, salien-

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tando o seguinte: "A relação entre o funcionário e o Estado é de direito público, o regime é estatu­tário. Não há, portanto, como invocar para reger a espécie regras do Código Civil, cujo art. 1.0 é taxativo: "Êste Código regula os direitos e obrigações de ordem privada, concernente às pessoas, aos bens e às suas relações." (sic).

É o relatório.

Voto-preliminar (Vencido)

O Sr. Min. Antônio Neder: Trata-se de apelação de sentença que, em processo de execução, homologou o cálculo do quantum a ser pago ao exeqüente pela executada.

Nesse cálculo, foi o divisor de conversão fixado em Cr$ 18,82 por dólar, quando é certo que o exeqüente pleiteava fôsse êsse divisor fixado em Cr$ 200 por dólar.

Êsse cálculo foi homologado pelo Juiz.

Pergunta-se: deu-se êrro no cálculo?

Pergunta-se ainda: a sentença homologatória decidiu a respeito de êrro de cálculo?

Estou em que a controvérsia diz respeito com êrro de cálculo.

O exeqüente pretende que, no cálculo, se considere um divisor de conversão.

A executada pretende se consi­dere outro divisor de conversão.

Homologando o cálculo feito na base de um divisor de conversão, na verdade o MM. Dr. Juiz deci­diu a respeito do conteúdo do cálculo.

Assim sendo, a sentença, que tem o nome de homologatória, na

verdade decidiu controvérsia sôbre o quantum calculado.

Substancialmente não é homo­logatória.

Então, decidindo sôbre êrro do cálculo, essa sentença se inclui na norma do art. 842, X, do C.P.C.

O recurso indicado é o de agravo de instrumento.

O exeqüente, contudo, apelou. Não podendo, no caso, aplicar

a norma do art. 810 do C.P.C., resta ao Tribunal não tomar conhecimento do recurso.

Assim, nego-me a conhecer do recurso.

É o meu voto.

Voto-preliminar

O Sr. Min. Márcio Ribeiro: Data venia, divirjo.

Creio que o recurso cabível era mesmo o de apelação, porque a divergência sôbre a atualidade dos valôres básicos para a indeniza­ção, a discussão sôbre a aplicação, ou não, do Decreto que fixa o va­lor do dólar em Cr$ 200, tudo isto não pode ser tido como simples êrro de cálculo.

O Juiz decidiu sôbre a execução por cálculo do contador, interpre­tando a seu modo a legislação. De acôrdo com as bases que lançou, o cálculo está certo. Não houve, pois, êrro de cálculo; o que poderá ter havido é uma errada aplicação da lei.

Conheço, pois, preliminarmente, do apêlo.

Voto-preliminar

O Sr. Min. Moacir Catunda: -Sr. Presidente. Com a devida li­cença do Min. Antônio Neder, por

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quem tenho o máximo aprêço, fico de acôrdo com o Sr. Min. Revisor, Márcio Ribeiro.

Voto-mérito

o Sr. Min. Antônio Neder: Quanto ao mérito, subscrevo as razões da União, escritas na fi. 337.

Ei-Ias: "A douta decisão de fls. 318/319 homologando o cálculo de fls. 313 não sofreu qualquer contestação por parte do apelante, que, apenas, pretende que a conversão das importâncias que seriam devidas ao autor, ora ape­lante, deveriam ser calculadas à taxa de Cr$ 200, prevista no Decreto n.o 50.312, de 3-3-1961. Ora, a conta de fls. 313 obedeceu às taxas de conversão vigentes à época em que a prestação era devida e que foram estabelecidas pelos Decretos n.OS 33.642, de 24-8-53 e 38.933, de 26-3-1956, para efeito de pagamento de ven­cimentos e vantagens do pessoal no Exterior e fixadas em 18,82 e 31,82, respectivamente, por dólar americano. A taxa pretendida pelo apelante de Cr$ 200, prevista no Decreto n.o 50.312, de 3-3-61, de maneira alguma poderia ser apli­cada ao caso dos autos, uma vez que o autor foi aposentado em 28 de março de 1958 por ter atingido a idade limite." (sic).

O exeqüente tem o direito de receber da executada o que dela receberia se não fôsse aposentado.

É o que está escrito na senten­ça exeqüenda, embora com outras palavras.

Ora, se o exeqüente não fôsse aposentado, isto é, se permaneces­se no seu cargo, no Exterior, seus vencimentos ser-lhe-iam pagos em dólar americano, feita a conversão na base do divisor que então se achava fixado, isto é, 18,82 e 31,82 por dólar.

Pretender o apelante que o divi­sor seja outro, mais elevado, que não o que vigorava ao tempo em que se achava no seu cargo, é pretender, data venia, enriqueci­mento, é pretender o que a sen­tença exeqüenda não lhe deu.

Assim, nego provimento ao recurso, porque a sentença está certa.

Voto

o Sr. Min. Márcio Ribeiro: -Penso que o pedido de cálculo, tomando-se por base o Decreto n.o 50.312 de 3-3-61 representava transigência do autor quanto aos efeitos do julgado. A ação foi de perdas e danos e como tal julgada. A relação de direito estava, por­tanto, sujeita aos preceitos da lei cível, quanto à atualidade da inde­nização.

Aliás, receber, em 1966, ou talvez depois, pelo dólar de .... Cr$ 18,82 ou Cr$ 31,82, repre­senta indisfarçável lesão.

Na execução, o exeqüente não tem o direito de receber mais, mas também não deve receber menos do que o determinado pela sen­tença (refiro-me à sentença de fls. 62, restaurada no recurso extraordinário) .

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- 99-

Acolho, pois, as alegações do autor de fls. 320/334, para prover, como realmente provejo o seu apêlo.

Voto-mérito

o Sr. Min. Moacir Caiunda: -Sr. Presidente. No mérito acom­panho o Sr. Min. Antônio Neder, não porque entenda seja a inde­nização, na base do decreto pos­terior, excessivamente elevada, mas sim porque correta e jurídica será a aplicação do decreto vigo­rante na época do fato.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Preliminarmente, rejeitou-se a prejudicial de impro­priedade do apêlo interposto ven­cido o Sr. Min. Relator; e de meritis, negou-se provimento ao recurso contra o voto do Sr. Min. Revisor. Na preliminar o Sr. Min. Moacir Catunda votou com o Sr. Min. Márcio Ribeiro. No mérito o Sr. Min. Moacir Catunda votou com o Sr. Min. Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Henrique d'Avila.

APELAÇÃO CÍVEL N.O 21.088 - GB. ~

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Oscar Saraiva Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Armando Rollemberg Recorrente - Juízo de Direito da 3.a Vara da F. Pública,

ex offieio Apelada - Alcida Rezende

Acórdão

Funcionário interino. Inadmissível a exoneração não justificada.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.O 21.088, da Guanabara, em que são partes as acima indicadas:

Acordam os Ministros que compõem a Segunda Turma do Tribunal Federal de Recursos, preliminarmente, em conhecer do recurso de ofício, decisão unânime. No mérito, por maioria de votos, em negar provimento na forma do relatório e notas ta qui gráficas de

* Nota da Redação: Interposto Recurso Extraordinário pela União em 7-5-66.

fls. 79, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.

Brasília, 11 de março de 1966. - Cunha Vasconcellos, Presiden­te; Armando Rollemberg, Relator designado para o Acórdão.

Relatório

o Sr. Min. Oscar Saraiva: Trata-se de ação ordinária movi­da por Alcida Rezende, contra a União, para ser reintegrada no cargo de Auxiliar-Judiciário, Clas­se PJ-9, do Tribunal Regional

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Eleitoral do Estado da Guanaba­ra, para o qual fôra nomeada a título interino, em 28 de março de 1962, empossada em 9 de abril dêsse ano e exonerada por ato de 27 de julho,também de 1962, com fundamento no art. 75, 11, da Lei n.o 1.711/52. Invoca a autora, para apoio de seu pedido, os fa­vores das Leis n.OS 4.054, de 2 de abril de 1962 e 4.069, de 11 de \unho dêsse ano, argüindo sua con­dição de funcionária efetiva em curso de estágio probatório e quv não poderia ser dispensada sem inquérito vocacional.

A União contestou o pedido, apoiada nas informações forneci­das pelo Desembargador Presi­dente do Tribunal Regional Elei­toral do Estado da Guanabara.

Processado regularmente o fei­to, sentenciou o Dr. Juiz, pela pro­cedência da ação, considerando, apenas, incabíveis honorários de advogado.

Houve recurso de ofício.

A autora entrou com os embar­gos infringentes com apoio no art. 2.° da Lei n.o 4.290, de 1963, vin­dicando o pagamento de honorá­rios.

Também a União ofereceu em­bargos infringentes.

As partes ofereceram contrarie­dade.

E o Dr. Juiz, sem maiores apre­ciações, então despachou remeten­do os autos a êste Tribunal, verbis:

"Embargos de fls. 36 e 41. Mantenho a decisão de fls. 31/34, por seus jurídicos fundamentos. Subam os autos. (19-10-64)."

Neste Tribunal, o Sr. Diretor­Geral da Secretaria suscitou dú­vidas sôbre a autuação, nos tê r­mos seguintes: "No presente pro­cesso em que é autora Alcida Re­zende e ré a União, o Dr. Juiz, por sentença de fls. 31/34, julgou procedente a ação, em parte, e re­correu de ofício. Inconformadas, embargaram ambas as partes, nos têrmos da Lei n.o 4.290, de 5-12--63, quê modificou o art. 839, do Código de Processo Civil. Devida­mente impugnados os Embargos, o Dr. Juiz por despacho de fls. 54, manteve a decisão e mandou subir os autos, a êste Egrégio Tri­bunal, onde foram recebidos em 22 de outubro de 1964.

À vista do exposto, tendo esta Secretaria dúvidas quanto à au­tuação do presente processo, sub­meto-me à alta apreciação de V. Ex.a para determinar o que julgar de direito."

E, no exercício da presidência, assim a decidi: "Faça-se a autua­ção do recurso de ofício (apela­ção) e seu processamento, com­petindo à Egrégia Turma a que fôr distribuído, decidir de seu ca­bimento."

A Subprocuradoria-Geral da República pronunciou-se a seguir, quer na preliminar pertinente aos recursos, quer no mérito.

É o relatório.

Voto-preliminar

O Sr. Min. Oscar Saraiva: Sôbre o cabimento dos recursos, se de embargos ou o de apelação, vale transcrever, pelo seu acêrto e segurança, o parecer da Subpro­curadoria-Geral da República, no caso da lavra do ilustrado Assis-

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tente-Jurídico do DASP, Dr. Cí­cero Fernandes: "Isto pôsto, quer­-nos parecer que não só o recurso de ofício mas também os das par­tes devem ser recebidos como apelação, nos têrmos do art. 810 do C. P . C ., apresentados que fo­ram dentro do respectivo prazo.

É que, segundo cremos, o art. 104, 11, a, da Constituição Fe­deral, ao fixar a competência re­cursal dêsse Egrégio Tribunal Fe­deral de Recursos, nas " ... causas decididas em Primeira Instância, quando a União fôr interessada como autora, ré, assistente ou opoente, exceto as de falência", derrogou o art. 839 do C. P . C . , climando, nestes casos, a chamada causa de alçada.

De efeito, estabelecendo a Constituição que compete a êsse Tribunal julgar, em grau de re­curso, aquelas causas, com ela não se poderá harmonizar o citado art. 839 e §§, do C.P.C., que só admitem embargos, perante o mesmo Juízo. Isto, aceita a tese tranqüila na doutrina, e indiscutí­vel em nosso direito positivo, de que os embargos são recursos.

Dessa antinomia entre a Carta Magna e o Código resulta, neces­sàriamente, o repúdio a êste. A menos que se admitisse, após a decisão dos embargos, a possibi­lidade de apelação. Mas isto, além de já superar o Código, que só admite os embargos, redunda­ria num absurdo, pois colaria a êste recurso efeito contrário a sua finalidade, isto é, retardaria, ao invés de apressar, a decisão das causas de pequeno valor.

Além do mais, cremos que a Constituição, ao criar o Tribunal

Federal de Recursos e conferir­lhe competência recursal nas cau­sas de interêsse da União, teve em mira valor mais alto que a sim­ples rapidez de julgamento pre­tendida pelo Código.

Aliás, dessa opinião não discre­pa o insigne Pontes de Miranda, ao considerar inelidível, em tais hipóteses, a competência de recur­so (Comentários à Constituição de 1946, 3.a Ed., Tomo 111, pág. 383) .

Assim, não se trata de absor­ção dos recursos das partes pelo de ofício, entrevista pela autora, porque êste, em seu alcance me­ramente formal, não pode supri­mir o recurso voluntário que a lei faculta e que materializa a vontade das partes com as suas razões. Trata-se de hipótese em que o cabimento da apelação, e não dos embargos, é imperativo constitucional, retirada do Juiz de Primeira Instância a competên­cia para rever sua própria de­cisão."

ltsse também é o meu enten­dimento. A competência do Tri­bunal Federal de Recursos é de ordem constitucional, e somente pode ser restringida por via cons­titucional, e não por lei ordinária, como pretendido. A fixação da alçada, como estatuída na Lei 4.290, de 5 de dezembro de 1963, que veio alterar o art. 839, do Código de Processo Civil, refere­-se às causas de que não partici. pou a União ou suas autarquias, cuja via recursal única é aquela prevista no art. 104, 11, a, da Constituição, ou seja, o Tribunal Federal de Recursos. Note-se, aliás, que já antes da Lei 4.290,

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o art. 839,do Código de Processo Civil cogitava do mesmo recurso de embargos, nos casos de valor igualou inferior a Cr$ 2.000, e o que a nova lei veio fazer, foi apenas elevar êsse valor, para o de duas vêzes o salário-mínimo. Não entendemos, por isso, que cai­bam embargos, e meu voto preli­minar é para conhecer, não só do recurso de ofício, como dos que foram oferecidos com embargos, o que faço com apoio no art. 810 do Código de Processo Civil.

Voto-mérito (Vencido)

O Sr. Min. Oscar Saraiva: Em seu art. 188, declarou a Cons­tituição da República: "São es­táveis:

I - depois de dois anos de exercício, os funcionários efetivos nomeados por concurso.

11 - depois de cinco anos de exercício, os funcionários efetivos nomeados sem concurso.

Parágrafo único - O disposto neste artigo não se aplica aos car­gos de confiança nem aos que a lei declare de livre nomeação e demissão."

Entretanto, a Lei n.o 4.069, de 11 de junho de 1962, em seu art. 37, estatuiu:

"Art. 37 - Aplica-se a Lei n.O 4.054, de 2 de abril de 1962, aos funcionários interinos nomeados ou admitidos até a data de sua publicação. "

A Lei referida dêsse diploma, a de n.o 4.054, de 2 de abril de 1962, em seus arts. 1.0, 4.° e 6.° pertinentes à espécie, assim dis­pôs:

"Art. 1.0 - Serão efetivados, nos cargos iniciais de carreira pa-

ra os quais foram nomeados, os atuais servidores interinos das au­tarquias federais, cujo ato de no­meação ou admissão tenha sido publicado até 1.0 de dezembro de 1961, desde que contem ou ve­nham a contar cinco (5) anos de serviço. "

Art. 4.° - Nas mesmas condi­ções dos artigos anteriores serão, também efetivados os servidores interinos dos cargos de carreira e isolados da União e dos Terri­tórios.

Art. 6.° - O funcionário inte­rino, admitido ou nomeado após a data fixada no art. 1.0 será ime­diatamente inscrito ex 'officio e submetido a concurso público de provas, completado o prazo de doze meses de exercício no respec­tivo cargo."

A autora foi nomeada, sem con­curso, e a título interino, em 28 de março de 1962, para o cargo de Auxiliar-Judiciário, PJ-9, do Quadro da Secretaria do Tribunal Regional Eleitoral do Estado da Guanabara, e tomou posse no dia 9 de abril seguinte: Ora, para que pudesse ser efetivada, nos têrmos da lei que invoca, seria mister que contasse ou viesse a contar cinco anos de serviço, o que não atingiu, vindo a ser exonerada por ato do Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, com fundamento no art. 75, 11, da Lei n.o 1. 711/52 (Es­tatuto dos Funcionários Públiccs Civis da União) em data de 27 de julho de 1962, quando contava apenas três meses e 17 dias de exercício. Não adquiriu, assim, a pretendida efetividade, nos pró­prios têrmos da Lei invocada, e sua condição de interina que sub·

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sístir, e sujeita à prestação do 1.0 concurso que sobreviesse, nos têr­mos do artigo 6.°, da Lei n.o 4.054/62, transcrito, criava impe­dimento a êsse ato de exoneração, dada a precariedade da investidu­ra, que ainda subsistia.

Por outro lado, o art. 83 do Estatuto dos Funcionários Públi­cos cogita é da demissão do fun­cionário em estágio probatório, o que é imposição de pena, não im­pedindo porém a exoneração ex offieio, desde que não satisfeitos os requisitos mínimos de capaci­dade exigida para o exercício do 'Cargo como esclareceu o ilustre Presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Estadp da Guana­bara.

E a essa conclusão é a que se conforma com o texto expresso do art. 188, lI, da Constituição, de início invocado, sem o que, a pre­texto do estágio probatório, ter­-se-ia restringido ao arrepio dêsse texto, o período necessário à es­tabilidade, que é de cinco anos, e antes do qual pode o funcioná­rio ser exonerado, sem impedi­mento embora não possa ser de­mitido sem a formalidade do in­quérito por se tratar, no último caso, de penalidade que não com· porta exercício de poder discricio­nário.

Pelo exposto, meu voto é para prover o recurso e julgar impro. cedente a ação.

Voto-preliminar

o Sr. Min. Armando Rollem· berg: - Tenho que na hipótese o recurso de ofício é cabível pois, embora haja sido indicado na Inl­

cial, como valor da causa, a im-

portância de Cr$ 60.000, o pedi­do de reintegração em cargo pú­blico envolve prestações vencidas e vincendas, representados pelos vencimentos, cujo valor é superior de muito ao limite estabelecido para a alçada pela Lei 4.290, de 5-12-63.

Assim, conheço do recurso.

Voto-mérito

o Sr. Min. Armando Rollem· berg: - A apelada foi nomeada funcionária interina em 28 de março de 1962 e portanto, ao ser exonerada em 27 de julho do mesmo ano, não se tornara efe­tiva, vez que a Lei 4.054, de 2 de abril de 1962, tornada aplicá· vel aos funcionários admitidos até a data de sua publicação pela Lei 4.069, de 11 de junho do mesmo ano, somente atribuía a condição de funcionário efetivo aos interi­nos que completassem cinco anos de serviço público.

Portanto, à data de sua exone­ração, a apelada continuava como funcionária interina, condição com a qual não se ajusta o estágio pro­batório.

Mesmo nesta condição, entre. tanto, não era demissível ad t1utum.

De acôrdo com a Lei 1. 711, de 1952, os interinos serão exonera· dos se, aberto concurso, não se inscreverem ou tendo-se inscrito, não lograrem habilitação.

Fora dessas hipóteses somente poderá ser demitido quando pra­ticada falta prevista no Estatuto dos Funcionários Públicos, devi. damente apurada.

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No caso dos autos verifica-se que a exoneração se deu sem qual­quer justificação e, em conseqüên­cia, sem apoio em lei.

Nego provimento ao recurso.

Voto-mérito

O Sr. Min. Cunha Vasconcellos: - Estou de acôrdo com o emi_ nente Min. Revisor, e vou dizer em poucas palavras por que.

Antes do Estatuto dos Funcio­nários Públicos Civis da União, o interino era um funcionário sem quaisquer regalias, sem quaisquer seguranças, sem quaisquer outros motivos de estabilidade. Não ti, nha direito a licenças; era um fun­cionário, e pelas suas próprias condições, pela sua própria situa­ção, pela própria razão de sua convocação ao serviço público, de­veria ser dispensado se não pre, enchesse a finalidade para que fôra requisitado. Êle viera preen. cher um claro no serviço público. E por que era assim? Porque os quadros - isso em doutrina, veja, -se - os quadros do pessoal do serviço público devem ser organi. zados, ou serão organizados ou são organizados estritamente na conformidade das exigências do serviço. Conseqüentemente, des­de que há um claro, há deficiên­cia de pessoal, e êsse claro deve ser preenchido.

Se o interino não podia ou não se apresentava em condições de preencher tal finalidade, era afas. tado e outro substituía.

Vieram, porém, as manifesta­ções humanas, ou de calor huma­no, ou generosidade do Poder Le­gislativo, e passaram a atribuir ao interino direitos, a meu ver, in­compatíveis com a sua condição

no serviço público. Assim o inte. rino que, como disse, por suas pró, prias funções, pelos próprios mo. tivos de sua admissão, está pre­enchendo um claro no serviço pú, blico - claro que não devia con, tinuar em aberto - o interino passou a ter direitos definidos.

Assim, tem licença para trata­mento de saúde, tem aposentado­ria, caso essa licença perdure por tempo previsto em lei, como ago­ra mesmo aconteceu com uma funcionária do Tribunal: tem fé­rias e tôdas as prerrogativas dó funcionário estável. Ora, isso nos leva à conclusão de que o interi­no passou, realmente, a ter outro tratamento, em face da legislação superveniente.

No caso presente, a meu ver, não se trata, nem tem que ver com o assunto, a situação do funcionário em estágio probató­rio, porque êste é o que prestou concurso e que, durante os dois primeiros anos, ficou em obser­vação, mas não pode ser demitido discricionàriamente.

Há uma verificação, um pro­cesso em que se demonstrará que o funcionário não serve, não pode continuar no serviço, não tem con­dições adequadas, ou de natureza intelectual, ou pessoal.

No caso, é aquilo que focalizou o voto do Min. Relator: é que a legislação, hoje em dia, diz quais os casos em que o funcionário in­terino pode ser dispensado. Não é de se excluir, numa exegese mais rigorosa, o ponto de vista do Sr _ Min. Relator, de que, além daquele caso, quando a dis­pensa é motivada, além da verifi" cação da motivação, com disfarce

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à realidade, para que o interino seja dispensado ad libitum da au­toridade administrativa. Mas, ve­Ja o eminente Min. Relator, que, evidentemente, se dá um conflito entre a afirmação da lei, quando diz ou menciona os casos ou as condições em que o interino deva e pode ser dispensado. Se assim fôsse, aquela letra da lei invocada pelo Revisor, ficaria sem finali­dade.

Aliás, isso tudo que dissemos hoje aqui está coincidindo com o parecer por mim lido, do Min. Francisco Campo.s, que diz tex­tualmente que: "diante dos direi­tos relativos às garantias dos fun­cionários, as condições de estabi­lidade, dentro do direito atual, não haveria mais funcionários de­missíveis ad nutum, salvo o fun­cionário nomeado em comissão". Ê textual a frase.

105 -

De forma que, diante das duas orientações, ambas respeitáveis e dignas da melhor ponderação, me limito a acompanhar o Min. Re­visor, data venia do Relator.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Preliminarmente: conheceu-se de recurso de ofício. Decisão unânime. No mérito: Por maioria de votos, negou-se provi­mento, vencido o Sr. Min. Rela­tor, designado para lavrar o Acór­dão o Sr. Min. Armando Rol­lemberg. Na preliminar os Srs. Mins. Armando Rollemberg e Cunha Vasconcellos votaram de acôrdo com o Sr. Min. Relator, e no mérito o Sr. Min. Cunha Vasconcellos votou de acôrdo com o Sr. Min. Armando Rollem­berg. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Cunha Vasconcellos.

APELAÇÃO CíVEL N,O 21.096 GB,

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Ávila Apelantes - Lowell Hill MacMaster e outros Apelada - Compãnia Comercial e Industrial Nicolas Merino Sociedad Anônima

Acórdão

Marca de fábrica. Sôbre registro, mesmo poste­rior, não pode prevalecer o que foi legitimamente declarado nulo na instância administrativa. Ação de nulidade julgada procedente.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.O

21.096, da Guanabara, em que são partes as acima indicadas:

Acorda a Primeira Turma do Tribunal Federal de Recursos,

por unanimidade, em deferir a juntada do documento oferecido da Tribuna pelo patrono dos ape­lantes e, a seguir, em repelir a preliminar de litispendência ou in­competência de Juízo e, ainda

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preliminarmente, em negar provi~ mento ao agravo no auto do pro~ cesso; no mérito, em negar provi~ mento à apelação, também por unanimidade, tudo na forma e pelos motivos constantes do rela~ tório e notas taquigráficas prece­dentes, que ficam integrando o presente. Custas de lei.

Brasília, 18 de abril de 1966. - Henrique d' Avi1a, Presidente; Márcio Ribeiro, Relator.

Relatório

O Sr. M in . Márcio Ribeiro: - Adoto o relatório de fls . 588/590 da sentença que, afinal, julgou procedente a ação e im­procedentes os artigos de aten­tado.

Houve oportuno apêlo dos réus, do qual constitui preliminar o agravo de fls. 380. Às razões dos apelantes, de fls. 602/610, res­ponde a apelada com as de fls. 615/619.

A Procuradoria e, nesta Instân­cia, a douta Subprocuradoria-Ge­ral, opinam pela confirmação da sentença.

É o relatório.

Voto-preliminar e mérito

O Sr. M in . Márcio Ribeiro: - O pedido de juntada de do­cumento, feita nesta Sessão, não tem qualquer apoio em lei.

Entretanto, como a parte con­trária manifestou-se sôbre o do­cumento e concordou com a jun­tada, defiro o pedido.

106 ~

Não acolho, porém, a prelimi­nar, porque o documento apre­sentado não demonstrou sequer data de propositura da outra ação.

Acredito que a ação em julga­mento tenha antecedido, de muito, essa outra ação, e devido a isso não foi levantada a preliminar, ou melhor, não foi argüida a incom­petência de Juiz ou levantada a exceção de litispendência.

Não acolho, pois, a preliminar. Por ocasião do julgamento só ha­via uma causa e um Juiz compe­tente, que proferiu a sentença re­corrida.

Passo ao mérito, sôbre o qual trouxe voto escrito.

Preliminarmente, também, nego provimento ao agravo do autor no processo, porque a simples ilação sôbre as conseqüências da revolu­ção cubana não poderia ter o efei­to de impedir que a autora defen­desse os seus interêsses no Brasil, com base em representação legíti­ma, outorgada a Venâncio Merino y Martin.

O agravante, em apoio da pre­liminar, juntou aos autos o do­cumento de fls. 310/311 que é também genérico. Mas a autora agravada fêz prova em contrário, demonstrando que jamais fôra cancelada a inscrição da socieda­de cubana "Compãnia Comercial e Industrial Nicolas Merino So­ciedad Anônima" por ato do nôvo govêrno.

A nacionalização a que se re­fere aquêle documento, aliás, não deve significar estatização com-

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pleta da indústria de álcool, atin­.gindo tanto estrangeiros como na­cionais.

No mérito, a ação visava anu­lar o Registro 261.573, por ter sido irregular e fraudulentamente obtido.

O fundamento da ação ficou claramente demonstrado.

Os réus se limitaram à prova documental, mas as peças do pro­cesso administrativo, que se jun­taram aos autos, demonstram, ca­balmente, que o registro anulado fôra feito em virtude de uma falsa informação prestada, naquele pro­cesso, quanto à propriedade de marca anterior idêntica.

Afirmou o funcionário que essa marca, n.O 167.595 de 23 de ou­tubro de 1954, pertencia aos re­querentes, isto é, aos réus Lowell Hill MacMaster e Roberto Tallia­ferro Watox.

Dessa informação, inverídica, resultou a expedição do certifica­do de registro 261.573, em 1961.

Os réus haviam efetivamente requerido a transferência para seu nome do registro 167.595 dado à Destiladora Cubano Americana S . A ., mas a transferência foi can­celada por ato que veio a ser con­firmado pelo Ministro da Indús­tria e do Comércio.

Assim, por fôrça do disposto no art. 95, n.O 17, do Código de Pro­priedade Industrial, o registro 261.573 não poderia permane­cer.

No decorrer da ação os réus, que se limitaram como já disse à prova documental, quase tôda ti-

rada dos processos administrati­vos, não conseguiram demonstrar que a transferência, que se lhes fêz, do registro 167.595, era vá­lida, e que, em conseqüência, fôra bem concedido o registro 261.573.

É verdade que êles sustentaram também que tendo-se extinguido a Destiladora Cubano Americana S . A ., era impossível que a ela revertesse o registro 167.595 e, portanto, de qualquer forma, o se­gundo registro não poderia ter sido obstado.

A própria inicial afirma que a Destiladora era sociedade extinta desde 1953.

1tsse fato, porém, não prejudi­ca a apreciação dos motivos pelos quais se deu a anulação da trans­ferência da marca Merino aos réus, por decisão administrativa de última instância; nem, sobre. tudo, influi no direito daqueles a quem a mesma marca possa caber na atualidade.

A Destiladora Cubano Ameri­cana S. A ., da qual, aliás, faziam parte os réus, foi simples episódio no uso de um nome comercial, mundialmente famoso e resguar­dado pela Convenção da União de Paris.

Fazendo meus os demais argu­mentos da sentença, inclusive os relativos ao atentado, nego provi­mento à apelação.

Voto-mérito

o Sr. Min. Henrique d'Avila: - Subscrevo por inteiro o voto do eminente Sr. Min. Relator, e acentuo que, em verdade, o argu-

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menta central e primordial de que se valeu a sentença apelada é ir­respondível. Enquanto estiver em vigor a anulação da transferência da marca decretada pelo Minis­tro de Estado, é evidente que não podem os apelantes usufruir as vantagens do registro impugnado, no ramo de bebidas alcoólicas.

Não era lícito garantir a ativi­dade dos apelantes, como preten­dem, mediante o registro impug­nado, e afinal anulado pelo Dl'. Juiz a quo. Nada tenho a acres­centar ao brilhante voto do Sr. Min. Relator.

Voto

O S,. Min. Amarílio Benja­min: - Em verdade, não vi os autos. Todavia, informei-me das peculiaridades do caso, através dos memoriais que recebi, das orações dos eminentes advogados e dos votos que os meus eminen­tes Colegas acabam de proferir.

Concordo, inteiramente, com o julgamento que acaba de ser ex­posto, através das manifestações de V. Ex. ns, confirmando a sen­tença de Primeira Instância. De fato, se existe uma decisão ante­rior sóbre o ponto fundamental da causa, qualquer detalhe a ela ligado não pode prevalecer. Não deixo, entretanto, de registrar a minha estranheza quanto ao fato de duas ações, evidentemente co­nexas, terem sido postas em Juí­zos diferentes, e julgadas fora da conjunção que a lei recomenda. Isso, porém, não me impede de acompanhar, como disse, os ilus-

tres Colegas, uma vez que a cau­sa chega a esta altura nas condi­ções em que se apresentam.

Não deixo, igualmente, de res­salvar uma situação que decorre, implicitamente, da ação que está proposta em Niterói: se esta ação fór julgada procedente, o julga­mento que estamos proferindo, acredito, ficará sem efeito, ou pre­judicado, pelo menos. Isto mos­tra como existe uma intimidade, uma relação muito grande entre as duas questões. As partes, no momento oportuno, porém, hão de saber fazer valer o seu direito· muito melhor, quanto aos seus as­pectos principais, do que as ob­servações que estou desenvolven­do de improviso, na base do que depreendi. Nego provimento, com a Turma.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: À unanimidade, deferiu-se a juntada do documen­to oferecido da Tribuna pelo pa­trono dos apelantes, e a seguir repeliu-se a preliminar de litis­pendência ou incompetência de Juízo, pela mesma votação. N e­gou-se, ainda, preliminarmente, provimento ao agravo no auto do processo, sem discrepância de vo­tos, e, de meritis, negou-se por igual provimento a apelação, à unanimidade. Os Srs. Mins. Hen­rique d'Ávila e Amarílio Benja­min votaram de acórdo com o Sr. Min. Relator. Presidiu o julga­mento o SI' . Min. Henrique d'Ávila.

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APELAÇÃO CíVEL N.o 21.798 - MG.

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Henrique d'Ávila Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello Recorrente - Juízo de Direito da 1.a Vara da Fazenda

Pública, ex offieio Apelantes - Central Elétrica de Furnas S. A, Sinval Alves

de Melo e outros Apelados - Os mesmos

Acórdão

Ação expropriativa. Sua procedência com a fixação do justo valor dos bens expropriados.

Juros compensatórios; pagamento a partir da imissão de posse.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Cível n.O

21 . 798, de Minas Gerais, em que são partes as acima indicadas:

Acordam os Ministros que cam­põem a Primeira Turma do Tri­bunal Federal de Recursos, preli­minarmente, em negar provimen­to ao agravo no auto do processo; no mérito, em dar provimento ao recurso da expropriante e negar ao apêlo dos expropriados, por maioria, na forma do relatório e notas taquigráficas de fls . 253/263, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas de lei.

Brasília, 18 de abril de 1966. - Henrique d' Ávila, Presidente e Relator.

Relatório

O Sr. Min. Henrique d'Ávila: - Ação de desapropriação movi­da pela Central Elétrica de Fur­nas S. A. contra Sinval Alves de Melo e seus filhos menores, pela área de 40 hectares e 58 ares, sita no Município de Capitólio, oferecendo a autora a importân-

cia total de Cr$ 245.000, incluin­do. cêrcas, culturas e construções. Pedem desde logo a imissão de posse, alegando urgência.

Juntou a autora vários do­cumentos, tendo o Juiz deferido a imissão; uma vez depositada a importância na Caixa Econômica, nomeou, ainda o Juiz, o Dr. An­tônio Rui de Almada para seu perito oficial.

A ação foi contestada. Preliminarmente pediram os

réus a absolvição de instância, alegando que a inicial não deli­mitara a área inundável, tornan­do-a perfeitamente caracterizada e individuada por elementos ob­jetivos.

No mérito, sustentaram a insig­nificância do preço oferecido, pe­clindo fôsse estabelecida justa in­denização para os bens expropria­dos. Juntaram documentos.

A autora, a mando do Juiz, pro­nunciou-se sôbre a preliminar, re­pelindo-a por improcedente.

Foram indicados e nomeados os peritos do Juízo, dos expropria­dos e da expropriante, que o subs­titui por outro.

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o Juiz desacolheu a preliminar invocada pelos réus, julgando sa­nado o processo. Os réus agrava­ram dêste despacho.

O perito oficial apresentou seu laudo.

A União pediu sua admissão como assistente, sendo-lhe dene­gada. Houve agravo instruído por parte do Procurador da Repú­blica.

O Juiz, atendendo a que o TFR havia decidido que o Fôro com­petente era o da Comarca de Belo Horizonte, mandou que o proces­so fôsse remetido àquele Juízo de­pois do preparo devido.

O Dr. Juiz da 1.a Vara da Fa­zenda Pública de Belo Horizonte proferiu despacho saneador, reco­nhecendo legítimas as partes e não haver nulidade a sanar, de­terminando que as partes produ­zissem as provas que desejassem.

Os expropriados constituíram nôvo advogado em Belo Horizon­te, pedindo que o Juiz ordenasse outra perícia com a nomeação de nôvo perito oficial, como assim Carta Precatória para a Comarca de Piumhi, a fim de serem ali ou­vidas testemunhas.

A expropriante designou nôvo perito.

Após ouvido o Ministério PÚ­blico foi realizada audiência de instrução e julgamento.

A sentença apelada julgou pro­cedente a ação para condenar a expropriante a pagar aos expro-priados a importância de ..... . Cr$ 2 . 563 . 600 pelas terras; .. Cr$ 235.100 pelas benfeitorias e Cr$ 14.050 pelas culturas per­manentes. Condenou ainda a ex­propriante ao pagamento das

custas e dos honorários advocatí­cios na base de 5% sôbre o valor da diferença, e dos honorários do perito oficial, também na base de 5%, mas calculado sôbre o total da indenização.

A expropriante apelou. Os ex­propriados também apelaram na parte que lhes foi desfavorável.

Nesta Superior Instância a Sub­procuradoria-Geral emitiu pare­cer. Pede o provimento do recur­so para o fim de ser ajustada a indenização aos valôres contidos no laudo de fls. 128/194, deter­minando-se o pagamento das custas proporcionalmente. Pede ainda a redução de honorários de advogado, sustentando que a Lei n.o 4.686/65 só deve ser aplica­da quando requerida, e na hipó­tese dos autos deve ser aplicada tendo em vista o corrente exer­cício (ano base) sôbre o valor apurado no laudo do assistente técnico da expropriante escoima­do dos acréscimos ilegais sôbre os índices da época da liquidação.

Ê o relatório.

Voto

O Sr. Min. Henrique d'Avila: - O MM. Juiz condena a expro­priante a pagar aos expropriados a importância de Cr$ 2.563.600 pelas terras desapropriadas; .... Cr$ 235.100 pelas benfeitorias e Cr$ 14.050 pelas culturas per­manentes.

Entendeu assim que seria justo elevar ao quádruplo o preço da área expropriada oferecido pela expropriante, adotando o laudo do perito oficial tão-só quanto às benfeitorias e culturas permanen­tes.

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Não nos parece justa a indeni­zação feita nesses têrmos de rela­ção aos terrenos expropriados. Examinando-se os documentos constantes dos autos, e confron­tando-os meticulosamente com os laudos periciais, verifica-se que tais terrenos não podem ter o va­lor atribuído no julgado, nem tão pouco no laudo oferecido pelo pe­rito dos expropriados. Falta às respectivas peças a justa e real medida, não encontrando apoio nas provas constantes do proces­so. O laudo que mais se aproxi­ma do justo preço é o do perito do expropriante.

No caso, não há que falar em ressarcimento pelo prejuízo da área remanescente, eis que as obras realizadas, pelo vulto e uti­lidade que têm, ao invés de pre­judicarem dita área a valorizaram sobremodo.

O laudo do perito da expro­priante considerou a localização, planta e confrontações dos terre­nos, sua natureza, como assim do­cumentos existentes de vendas de terras na mesma zona, de 1958 a 1962, a cêrca de 4.900 proprie­tários.

Preliminarmente, nego provi­mento ao agravo no auto do pro­cesso. Contudo, tendo em vista a desvalorização da moeda, reformo, em parte, a sentença, para fixar a indenização dos terrenos em .... Cr$ 850.000, mantendo, no de­mais, a sentença apelada, negan­do provimento à apelação dos réus, e mandando que as custas sejam pagas em proporção.

Voto (Vencido)

O Sr. Min. Amarílio Benjamin: - Já é conhecida de todos a

poslçao que adotei relativamente às ações desapropriatórias.

Entendo que o Juiz de Primei­ra Instância está mais autorizado, pela sua situação no local, a dar o preço justo a que se refere a Carta Magna, do que nós pró­prios. No entanto, cumprindo meu dever de Juiz, muitas vêzes, mal­grado o movimento inicial seja manter a orientação do Dr. Juiz a quo, muitas vêzes, repito, sou levado, por certas ponderações das partes, a proceder correções. No caso dos autos vou seguir essa orientação. É verdade que tam­bém alcanço, com o provimento que vou dar, parcelas que podem ser apontadas, de modo geral, co­mo os emolumentos dos peritos, honorários de advogado ou juros da mora, e se impõem indepen­dentemente de maior conhecimen­to da situação da coisa.

Ditas essas palavras, o meu voto é o que passo a dar: nego provimento, inicialmente, ao agra· vo no auto do processo. Quanto às apelações, dou provimento, em parte, à da Central Elétrica de Furnas, para reduzir os emolu-mentos do perito oficial a ..... . Cr$ 50.000, por entender que ho­norários acima dessa quantia são exagêro, tendo em vista o trabalho realizado. De referência à apela. ção dos réus, mantenho o valor da sentença, atribuído às proprieda­des, mas dou provimento ao re-curso para arbitrar em ....... . Cr$ 400.000 as benfeitorias; as culturas, em Cr$ 50.000; os ho­norários de advogado em 10 %; e indenização pelos remanescentes, de 40%.

Concedo, além disso, juros a

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partir da imissão, uma vez que a jurisprudência se orienta nesse sentido: de compensar com os ju­rOS a ocupação antecipada à sen­tença.

Êste é o meu voto.

Voto

O Sr. Min. Antônio Neder: -Estou de acôrdo com o eminente Sr. Min. Relator, ressalvando, en­tretanto, que os juros são devidos a partir da posse, como salientou o eminente Sr. Min . Amarílio Benjamin.

Aditamento ao Voto

O Sr. Min. Henrique d'Ávila:

- Concordo em que se pague os juros compensatórios a partir da

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imlssao de posse que, aliás, é de considerar como implícitos no pe­dido e, por isso, incluídos na con­denação.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Preliminarmente negou-se provimento ao agravo no a:uto do proce,sso; deu-se provi­mento ao recurso da expropriante nos têrmos do voto do Sr. Min. Relator, vencido o Sr. Min. Ama­rílio Benjamin, e negou-se provi­mento ao apêlo dos expropriados, vencido o Sr. Min. Revisor. O Sr. Min. Antônio Neder votou de acôrdo com o Sr. Min. Rela· tor. Presidiu o julgamento o Sr. Min.Henrique d'Ávila.

APELAÇÃO CRIMINAL N.O 1.106 - SP.

Relator - O Ex.mo Sr. Min. Antônio Neder Revisor - O Ex.mo Sr. Min. Márcio Ribeiro Apelante - Sílvio Alves Viana Apelada - Justiça Pública

Acórdão

Código Penal, art. 151, § 3.0, e art. 312, § 1.0. Violação de correspond&ncia. Peculato. Em se tratando de ação mediante a qual o funcionário do Correio, violando mala de correspond&ncia de que tem a posse, o faz para subtrair dinheiro que nela se contém, e que é objeto de remessa por via postal, essa referida ação consubstancia tão-somente o crime de peculato, e não o de peculato juntamente com o de violação de correspond&ncia. Apelação a que se dá provimento parcial.

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Apelação Criminal n.o 1.106, de São Paulo, em que são partes as acima indicadas:

Acorda a Primeira Turma do Tribunal Federal de Recursos, por unanimidade, em dar provimento,

em parte, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes, que ficam integrando o presente julgado. Custas de lei.

Brasília, 25 de abril de 1966.­Henrique d' Ávila, Presidente; An­tônio Neder, Relator.

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Relatório

O Sr. Min. Antônio Neder: -A sentença de Primeira Instância, que expõe tôda a matéria dêste processo, tem a seguinte redação: "Vistos etc. Processo crime n.O 574/64. Autora: A Justiça Públi­ca; réu: Sílvio Alves Viana. O Dr. Promotor de Justiça da Vara de­nunciou a Sílvio Alves Viana como incurso nas sanções dos arts. 151, § 3.°, e 312, § 1.0, ambos do Código Penal, pelos seguintes fatos delituosos: durante o mês de março de 1961, o denunciado que é carteiro (B.12), do Depar­tamento dos Correios e Telégra­fos da Diretoria de São Paulo, , . lotado na agência de Bom Rehro, nesta Capital e Comarca, era en­carregado da distribuição da cor­respondência domiciliar, do Distri­to n.o 101, daquela Zona, não exercendo quaisquer outras fun­cões na referida agência. Possuía, ~o entanto, a chave da agência, da porta principal, que lhe foi fornecida por Sofia Maluf, quando era chefe da agência, o Sr. Bran­dão. Destarte, facilitava a entrada dos outros funcionários carteiros, etc., que chegavam antes das sete horas, para adiantarem seus servi­ços. Refere a denúncia, que em dia não especificado do mês supra­-aludido, abriu os sacos de corres­pondência n.OS 153.045 e 251.000, com alicate próprio, ali existente, e furtou os registrados n.OS 1.715, 1.717, 1.716, e 1.718, que con­tinham Cr$ 1.000, cada um, tota­lizando Cr$ 4.000, embolsando-os. Tornou a fechar os sacos, sinetan­do-os, com o instrumento próprio, recolocando-os no local de onde os tinha tirado. Não havia nin-

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guém na agência, pois eram cinco horas da manhã. Após o furto, continuou trabalhando novamente. A subtração dos valôres referidos só foi notada quando da entrega dos registrados com valor aos seus destinatários na Emprêsa Espellet (Cine Capitólio), Rua Vaz Ferrei­ra, Tupanciretã, Estado do Rio Grande do Sul (saco n.o 153.045). A fôlhas diz a proposta acusató­ria encontra-se o Auto n.o 8 para ce:tificar falta de lista e fatura, da mala n.o 153.045 e a fls. o têrmo de perícia na referida mala. A fls. 49 o auto de exame na mala n.o 251.000. Em ambas os peritos notaram que não apresentavam vestígios de violação mas em seu interior faltavam os registrados já mencionados. Assim, conclui o re­querimento oficial, o denunciado Sílvio Alves Viana, abusando da função em serviço postal, devas­sou indevidamente o conteúdo da correspondência acima referida, dirigida a outrem, furtando o dinheiro que os registrados con­tinham, cometendo o delito de peculato, pois os valôres referidos estavam sob a responsabilidade da União. Correu o processo seus trâmites legais. Oferecida a de­núncia, foi esta recebida, ocasião em que se decretou a prisão pre­ventiva do acusado, cujo mandado foi cumprido. Foi o réu interroga­do arrolando testemunhas seu de-, , fensor, em o prazo da defesa-pre-via. No sumário de culpa foram inquiridas três testemunhas de acusação e duas de defesa. Em a fase do art. 499 do C. P. Penal nada foi requerido pelas partes, que a seguir ofereceram suas ale­gações finais. O Dr. representante do Ministério Público pronunciou-

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-se pela procedência da peça ves­tibular, dando-a por provada, ao passo que a defensoria alegou preambularmente vícios do inqué­rito administrativo, pedindo no mérito a improcedência da denún­cia. O julgamento foi convertido em diligência, para os fins ali declarados. Cumprida a diligência, as partes se manifestaram sôbre a prova acrescida vindo-me os autos conclusos. Êste o relatório.

Decisão. Ao cabo da instrução criminal o delito de peculato atri­buído ao réu Sílvio Alves Viana restou devidamente caracterizado. Sem embargo da defesa oferecida não ocorreu simples crime de furto, mas sim a figura criminosa de que trata o § 1.0 do art. 312 do Código Penal. É certo que há certa diferenciação entre o pecula­to-apropriação e aquêle definido pelo citado § 1.0, já que o pri­meiro, atende, em regra, aos prin­cípios relativos ao delito de art. 168, o peculato-furto se sujeita aos do crime do art. 155, dando­-se, nas mesmas circunstâncias dês te, a consumação e a tentativa. Consuma-se o crime quando o dinheiro em bem móvel sai da posse do ofendido - a adminis­tração pública - para entrar na do agente. Esta substitui, então, aquela. Há inversão de posse. A propósito veja-se E. Magalhães Noronha, in Direito Penal, voI. 4.0

,

pág. 305. Assim é que Sílvio Alves Viana, carteiro (B.12) destacado na agência postal do Bom Retiro, possuidor da chave da porta prin­cipal, em dia do mês de março, ao que parece dia 14, ano de 1961, antes das sete horas da manhã, abriu duas malas de registrados postais com valor (malas de n.OS

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153.045 e 251.000), subtraindo do interior das mesmas os registrados n.OS 1.715, 1.716, 1.717 e 1.718, que continham Cr$ 1.000 cada um, embolsando-os. Para perfeita consumação do seu gesto crimino­so, depois de destruir os lacres das malas postais, sinetou-os nova­mente, com o alicate sinete que era colocado num armário, sem chave, ao alcance de todos os fun­cionários da agência. Tanto a ma­terialidade, como a autoria, acham·· -se perfeitamente delineadas nos autos, a primeira através do inqué­rito administrativo, auto e têrmo de perícia de fls. e fls. e a segunda mediante as consecutivas confis­sões do denunciado, fls. e fls., no­tadamente aquela feita em Juízo. Como excusa, afirmou o acusado que nessa ocasião estava embria­gado; ora, tal assertiva além do irrelevante, art. 24 do Código Penal, não me parece verdadeira, desde que os colegas do réu, jamais o viram bêbedo, quando em serviço. É lamentável que o funcionário com 15 anos de ser­viço, casado, pai de vários filhos, primário perante a lei, se envolva em caso como o dos presentes autos, mas nem por isso, deve-se inocentá-lo, como pretendeu a ilustrada defensoria, cujas alega­ções apresentadas não colhem. Como ensina Nélson Hungria, "convergem no peculato menos porque seja patrimonialmente le­sivo do que pela quebra de fideli­dade ou pela inexação no desem­penho do cargo público". Diz ainda a douta defensoria que o acusado não teve defensor no inquérito administrativo contra êle movido pelo D.C.T .. Ora, data

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venia, tal não me parece correto, pois como se percebe mediante o compulsamento dos autos, não foi enviado a juízo o referido inqué­rito, senão cópia de algumas das principais peças. Ademais, se ver­dadeira a argüição, por certo a defesa já teria tomado as provi­dências cabíveis, inclusive com a pleiteação de nulidade do precita­do inquérito, do que não se tem notícia no processado. Outrossim, não colhe a defesa, quando pro­cura esta incriminar D. Sofia Maluf, chefe da agência postal à época do delito, pois que o que deve ter em mira a nobre defen­soria é livrar seu defendente, sem procurar arrastar terceiros, cuja culpa já foi examinada no inqué­rito administrativo, tendo, no caso, D. Sofia, sofrido a pena prevista no art. 201, item I, do Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União.

A verdade é que a prova exis­tente nestes autos contra o réu é tão maciça, que não permite mínima tergiversação. Insiste a a defesa sempre na mesma tecla, de que ocorreu unicamente furto simples, o que não é verdadeiro, como já demonstrei no IniCIO

dêste decisório. Houve furto, real­mente, mas furto praticado por funcionário público, ocorrendo o mesmo, dada a qualidade de fun­cionário, que facilitou a prática criminosa. É elemento do tipo que o agente se valha da facilidade que sua qualidade de funcionário lhe proporciona. Diga-se por fim, que não será o fato de possuir êle a chave da agência, que desfiguraria o delito em tela, já que Sílvio Al­ves Viana não havia subtraído a chave, nem arrombado a porta

de sua repartição altas horas da noite. Não, foi sua qualidade de bom funcionário de então, que lhe permitiu receber a chave, do que se aproveitou certo dia, para o cometimento do crime. Vem à talhe de foice para o caso, citação feita pelo insigne Hungria, sôbre o peculato-furto: "O § 1.0 do art. 312, compreendido na órbita do peculato, manda aplicar a mesma pena a êste cominada ao funcio­nário público que, embora não tendo a posse do dinheiro, valor, ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em pro­veito próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário". Apre­senta-se, aqui, o peculato, já não mais sob a forma de apropriação indébita, mas sob a forma de furto; o agente não tem a posse da res mobilia (pública ou particular) em razão do cargo, mas a sua condição de funcionário público lhe enseja situação favorável para a subtração dela. A facilidade, a que se refere o texto legal, é qual­quer circunstância de fato propícia .à prática do crime, notadamente o fácil ingresso ou acesso à reparti­ção ou local onde se achava a coisa subtraída. A condição de funcionário, na espécie, não é causa, mas ocasião para o crime. (Ex.: um funcionário postal subtrai os valôres registrados que, embora não confiados à sua guar­da, estavam sôbre a mesa de um seu colega de secção). Duas são as hipóteses previstas na lei: na primeira, o funcionário é o exe­cutor direto da subtração; na se­gunda, concorre conscientemente para a subtração por outrem ... " O

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fato de possuir a chave da agência postal de Bom Retiro e ser Sílvio Alves Viana carteiro, por certo lhe propiciou a ocasião para o crime, que está, como se demonstrou, provadíssimo. In casu, o delito de peculato concorre com o de viola­ção de correspondência, art. 151, § 3.°, do estatuto repressivo, pois, que, em abrindo os registrados ( correspondência com valor), o acusado enquadrou-se nas lindes do citado dispositivo penal. Está, como se vê, intimamente ligado ao crime maior, sem ser por êle absorvido. No tocante à aplicação da pena, deve-se levar em consi­deração a primariedade do impu­tado e seus bons antecedentes, que não o livram, porém, da aplicação da pena prevista em lei, art. 68, item I, do Código Penal. Ficam pois as sanções fixadas em o mí­nimo legal, ou seja, dois anos de reclusão para o crime de peculato, e de um ano de detenção para o de violação de correspondência. Ex positis, julgo procedente a de­núncia, a fim de condenar o réu Sílvio Alves Viana a cumprir as seguintes penas: a) dois anos de reclusão e multa de Cr$ 5.00.0, como incurso nas sanções do art. 312, § 1.0 do C. Penal; b) um ano de detenção, como incurso na previsão do art. 151, § 3.° do diploma legal acima mencionado. Outrossim, fica êle condenado ao pagamento das custas do procedi­mento e sêlo penitenciário de .. Cr$ 100. Nos têrmos do art. 68, item I do Código Penal, aplico ao réu Sílvio Alves Viana, pena aces­sória, consistente na perda do cargo que ocupa junto ao D.C.T., para que o Cartório deverá oficiar

à Repartição, uma vez transitada em julgado esta decisão, lance-se o nome do réu no rol dos culpa­dos, recomendando-se-o na prisão em que se encontra. P.R.I. e co­munique-se.

São Paulo, 24 de agôsto de 1964. - Joaquim Rebouças de Carva,lho Sobrinho, Juiz de Di­reito."

Dessa sentença apelou o réu com estas razões: "Eméritos jul­gadores: Preliminarmente o ape­lante pede vênia para apontar um verdadeiro rosário de nulidades existentes nestes autos, as quais, por si sós, fulminam a respeitável sentença apelada, pleiteando-se in limine a anulação do processado e a conseqüente absolvição do ape­lante. Com efeito: 1.0 - O ilus­tre Magistrado não decidiu (ape­sar da promessa) pedido de revo­gação de prisão preventiva; 2.° -Não deu decisão, também, à nova solicitação de relaxamento de custódia preventiva; 3.° - Prestou informações imprecisas na Ordem de Habeas Corpus impetrada, omi. tindo o fato de inquirir testemunha de acusação 36 dias após à defesa prévia; 4.° - Não incluiu na de­núncia a co-autora do dito, apesar de ela haver sido dada como culpada, também, no processo administrativo; 5.° - Desistiu, apesar do clamor da defesa, do depoimento da testemunha de acusação, Sofia Maluf, depois de haver insistido nesse depoimento; nem a ouviu na fase de, art. 499 do O.P.P., ins1!rução, apesar da promessa; 6.° - Ouviu em dili­gências o depoimento dessa teste­munha de acusação 36 dias após

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a defesa prévia, contrariando o disposto no art. 401 do C.P.P.; 7.° - Inquiriu tal testemunha de acusação, após as alegações finais; 8.° - Não rubricou as fôlhas dati­lografadas da respeitável sentença recorrida, contrariando o art. 388 do Código de Processo Penal Bra­sileiro. Assim, eméritos Julgadores, ficaram flagrantemente e; eviden­temente demonstrados: a) cons­trangimento ilegal; b) duplo cer­ceamento de defesa, considerando­-se que o insigne prolator do deci­sório tornou a defesa inútil e abso­lutamente ineficaz, ouvindo teste­munha de acusação após as alega­ções finais, quando o apelante não tinha mais a oportunidade de pro­duzir sua defesa baseado nas declarações dessa testemunha chave de acusação!!! Sem embargo de que: "A prisão preventiva, que se impõe por motivos de interêsse geral, é considerada uma medida coercitiva extrema, só aplicável em casos excepcionais." - Habeas Corpus 46.955, sendo Relator o eminente Ferreira Leite. Sua Ex.a

não decidiu sôbre dois pedidos da pnsao preventiva do apelante, apesar do fundamento invocado (descumprimento do disposto no art. 401 do C.P.P.), em eviden­tes cerceamentos de defesa; é inte­ressante observar-se, que até o homicida Hélio Calvi teve sua prisão em flagrante relaxada pelo ilustre Juiz de Direito da Vara Auxiliar do Júri, em dias recentís­simos - 27 de agôsto último, por excesso de prazo na Instrução. Ora, se o assassino prêso em fla­grante é beneficiado quando ocor­re desrespeito a dispositivo do estatuto judiciário penal, por que

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um pobre diabo, que nunca matou ninguém, nem jamais foi proces­sado, pai de quatro filhos, há de eternizar-se na prisão, apenas pela autoria de um furto famélico?

De meritis. a) - Furto Famé­lico; b) - Furto Mínimo - Pe­queno valor da coisa furtada -Cr$ 4.000; c) - Art. 155, § 2.° do Código Penal Brasileiro.

Egrégios Desembargadores: O apelante praticou um autêntico furto famélico, premido pela ne­cessidade de subsistência própria e da família. O próprio e festejado Magalhães Noronha, na mesma obra citada pelo ilustre prolator da sentença recorrida, o qual ape­nas se preocupou com a definição de peculato, afirma: "Ninguém furta cousas insignificantes, senão movido pela necessidade" - Códi­go Penal Comentado - Ed. Sarai­va, 1958, 5.° vol., 1.a parte, pág. 109 - in fine: Com efeito ilustres Julgadores, o apelante, como car­teiro do D.C.T., com 15 anos de bons serviços, ganha Cr$ 77.000 por mês para sustentar-se, e à mulher e aos filhos (quatro) me­nores. Basta atentar-se a essas cir­cunstâncias, constantes dos autos, para aperceber-se que agiu por absoluta necessidade. Furtou para não morrer de fome juntamente com a família. Se assim não fôsse, se realmente o apelante fôsse um peculatário como quer o insigne Magistrado, êle não teria furtado Cr$ 4.000, mas 4 milhões, mas 4 bilhões. "Ninguém furta cousas insignificantes senão movido pela necessidade" - Magalhães No­ronha. A confissão do apelante, que nunca poderia ser considerada isoladamente, à margem do con-

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junto probatório como fêz o ilustre e digno prolator da sentença recor­rida, é prova da coragem de um homem de bem; é atitude (confis­são) que jamais seria tomada por um peculatário autêntico. Além do mais, o próprio Código Penal exclui de pena o autor de furto de pequeno valor, sendo primarís­Slmo como é o apelante, art. 155, § 2.0 do Código Penal Brasileiro; não caracterização do crime -art. 12 do Código Penal. Na res­peitável sentença recorrida, o digno Magistrado substituto se preocupou tão-somente com defi­nir o crime de peculato, citando renomados autores. Condenou o apelante ao delito de peculato, por extensão, porque êle usou de faci­lidades propiciadas pelo cargo para, em suas próprias palavras, furtar Cr$ 4.000. Os mesmos reno­mados autores ensinam também o que vem a ser iter criminis, ca­minho do crime, isto é, as etapas percorridas pelo agente para atin­gir seu intento. Não verificadas uma delas sequer, o crime não se consuma, nos têrmos do art. 12 do Código Penal Brasileiro. Assim, teremos (no delito de peculato):

Iter criminis: a) - Funcionário Público. b) - Facilidades. c) - Furto. É preciso que o funcio­nário público (a), se valha de fa­cilidades do cargo (b ) para se apropriar de bens (c). Não há dúvida de que o apelante é fun­cionário público (a), nem de que furtou Cr$ 4.00.0 (c). Mas valeu­-se de facilidades propiciadas pelo cargo? Completou o iter criminis para a consumação do delito? A resposta, eméritos Julgadores, está no depoimento de tôdas as teste-

munhas de acusação e principal­mente de Sofia Maluf, a chefe de seção: "As facilidades foram pro­piciadas pela pessoa física do chefe de seção Brandão". Se o chefe de seção Brandão não lhe houvesse dado a chave da seção, como en­tregou outra chave ao funcionário Francisco Ferreira Lima, teria havido delito? Assim, não se reu­nindo no fato todos os elementos de sua definição legal, não há falar-se em crime consumado (art. 12 do Código Penal Brasileiro). O resultado, pois, somente é imputá­vel a quem lhe deu causa (art. 11 do Código Penal).

Autoria não configurada. Ade­mais, se o funcionário Francisco Ferreira Lima também tinha a chave do local onde estavam as malas com dinheiro, pois "a agên­cia nunca pode ser aberta por uma pessoa e sim por duas", poder-se-á, em sã consciência, atribuir a auto­ria ao apelante? In dubio pro reo. Eméritos Julgadores: Feitas essas considerações, é fácil concluir-se que o ilustrado prolator da sen­tença recorrida julgou a priori; por causa de Cr$ 4.000, decretou a prisão preventiva de um miserável carteiro e o manteve prêso contra dispositivo legal (art. 401 do C.P.P.); cerceou duas vêzes a defesa do apelante e só ouviu o depoimento indispensável da tes­temunha de acusação, em razão do clamor da defesa; não quis ouvir o funcionário Francisco Fer­reira Lima, colega do apelante, que também possuía a chave da repartição. E assim, sem atentar ao conjunto probatório e princi­palmente para a condição humana de um carteiro humilde, com

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mulher e quatro filhos a criar e educar, o condenou também à pena acessória de perda do cargo público, como se não existisse no Código Penal o art. 19, I, que êle invoca a V. Ex."S do fundo do cár­cere. Todavia, se no elevado saber dêsse E. Tribunal, V. Ex."S julga­rem que uma sentença eivada de nulidades em processo absoluta­mente nulo por infrações calami­tosas ao Código de Processo Pe­nal, possa subsistir, se entenderem que o furto famélico constitui cri­me, mantenham a sentença recor­rida."

As contra-razões do Ministério Público estão escritas na fI. 248.

A Egrégia Subprocuradoria­Geral da República opinou pelo não provimento do recurso.

Seu parecer está escrito nas fls. 252 a 253.

É o relatório.

Voto

O Sr. Min. Antônio Neder: -Em suas razões o apelante aponta o que chama de nulidades proces­suais e pretende sejam elas reco­nhecidas pela Justiça.

A primeira é a que diz respeito com o fato de o MM. Dr. Juiz a quo não haver decidido sôbre re­querimento de revogação da prisão preventiva do apelado.

Dá-se, contudo, que êsse reque­rimento foi formulado nas fls. 173 e segs., e que na fls. 176 está es­crito o despacho que o indeferiu.

Como quer que seja, ainda que não apreciado o requerimento, isso não constituiria nulidade, tanto

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mais que, no caso, se trata de prisão preventiva obrigatória, pnsao essa que só nos casos do art. 314 do C.P.P. poderia ser objeto de revogação; e nenhum dêsses casos ocorre neste processo.

A segunda é do mesmo teor da primeira, e como essa não tem procedência pela mesma razão acima invocada.

A terceira é a que diz respeito com o fato de o MM. Dr. Juiz haver sido impreciso no prestar informações em processo de habeas corpus impetrado pelo ape­lante ao Tribunal de Justiça de São Paulo.

Isso não tem procedência, porque essa imprecisão nada tem a ver com êste processo, mas com o outro, o de habeas corpus, que nada influiu no julgamento dêste.

A quarta é a que decorreria do fato de não constar na denúncia o nome de Sofia Maluf, que o apelante tem como co-autora do crime.

Trata-se de argumento êsse que não encontra apoio na prova que se produziu.

Mas, ainda que se apoiasse em prova, isso não constituiria nuli­dade, nem o apelante obteria be­nefício ou proveito dessa alegada omissão, que seria do Ministério Público, e não do Juiz pro­cessante.

Improcedente é o que diz res­peito com a inquirição dessa Sofia Maluf.

Essa inquirição foi feita de acôrdo com o que ordena a lei, sem qualquer prejuízo para a de­fesa.

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Trata-se de inqumçao feita depois das alegações finais, nos têrmos do que expressa o art. 502, 2.a parte, do C.P.P., mas sem pre­juízo delas, porque, em seguida ao auto de inquirir essa testemunha, o Dr. Defensor teve ensejo de se pronunciar sôbre êle, e de verdade se pronunciou, aduzindo, às suas alegações, as da fI. 223.

Quanto ao não rubricar o MM. Dr. Juiz as fôlhas da sentença, é isso irregularidade, e não uma nulidade.

Vê-se, pois, que não se verifi­cam as chamadas nulidades.

Quanto ao mérito, o apelante pretende que o fato por êle prati­cado constitui furto famélico.

Dá-se que os autos nada infor­mam sôbre os requisitos legais dessa figura.

Nenhuma notícia se vislumbra na prova.

Também não procede a restan­te argumentação do apelante, tôda ela divorciada do que se apurou no processo.

É de se reconhecer, contudo, que a apelação merece provida em parte, para o efeito de excluir da sentença a condenação pelo crime do art. 151 do C.P.

Porque, no caso, o apelante, que era carteiro, abriu os sacos de correspondência n.OS 153.045 e 251.000, que se achavam na sua posse, e se apropriou dos registra­dos n.OS 1.715, 1.716, 1.717 e 1.718, nêles contidos, cada um dos quais com uma cédula de ..... . Cr$ 1.000, que deveriam ser entre­gues a seus destinatários.

Violou os sacos e se apropriou dês se dinheiro particular de que tinha a posse em razão do cargo de carteiro.

A ação foi praticada para o fim de apropriar-se o apelante do dinheiro que se continha nos sacos.

Essa conduta, por si só, cons­titui o crime de peculato, definido no art. 312 do C.P. (apropriar-se o funcionário de dinheiro parti­cular de que tem a posse em razão do cargo).

Não se tem como cogitar de dois crimes na conduta do ape­lante, mas de crime único, o de peculato, pelo qual, aliás, foi con­denado.

Assim, é justo se dê provimento em parte, à apelação, para o efei­to de haver o apelante como condenado tão-somente pelo cri­me definido no art. 312 do C.P., devendo êle cumprir a pena de dois anos de reclusão, a pagar a multa de Cr$ 5.000, a taxa peni­tenciária de Cr$ 100 e as custas processuais, mantida a pena aces­sória de perda do cargo, como expressa o art. 68, I, do C.P.

É o meu voto.

Decisão

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: À unanimidade, deu-se provimento em parte ao recurso, nos têrmos do voto do Sr. Min. Relator. Os Srs. Mins. Márcio Ribeiro e Esdras Gueiros votaram de acôrdo com o Sr. Min. Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Henrique d'Avila.