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Ministros do Superior Tribunal de Justiça no Tribunal Superior Eleitoral Julgados da Ministra Maria Thereza de Assis Moura

Ministros do Superior Tribunal de ... - ww2.stj.jus.br · STJ 2017. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Ministro Luis Felipe Salomão ... Ruthe Wanessa Cardoso de Souza Cristiano Augusto

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  • Ministros do Superior Tribunal de Justia

    no Tribunal Superior Eleitoral

    Julgados daMinistra Maria Thereza de Assis Moura

  • Superior Tribunal de Justia

    MINISTROS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    NO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

    Volume 14

    JULGADOS DA MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA

    1 edio

    BrasliaSTJ

    2017

  • SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    Ministro Luis Felipe Salomo

    Marluce Sampaio DuarteGerson Prado da Silva

    Hekelson Bitencourt Viana da CostaMaria Anglica Neves SantAna

    Marilisa Gomes do AmaralRuthe Wanessa Cardoso de Souza

    Cristiano Augusto Rodrigues Santos

    Diretor

    Chefe de GabineteServidores

    Tcnica em SecretariadoMensageiro

    GABINETE DO MINISTRO DIRETOR DA REVISTA

    Gabinete do Ministro Diretor da RevistaSetor de Administrao Federal Sul (SAFS)

    Q. 6 - Lote 1 - Bloco C - 2 andar - sala C-240CEP 70095-900 - Braslia-DF

    Telefone (61) 3319-8003 - Fax (61) 3319-8992 www.stj.jus.br, [email protected]

    B823j Brasil. Superior Tribunal de Justia (STJ).

    Julgados da Ministra Maria Th ereza de Assis Moura. Braslia, DF : STJ, 2017.

    700 p. (Ministros do Superior Tribunal de Justia no Tribunal Superior Eleitoral ; v. 14)

    ISBN 978-85-7248-188-5.

    1. Julgamento, coletnea, Brasil. 2. Tribunal superior, jurisprudncia, Brasil. 3. Deciso judicial, Brasil. 4. Brasil. Superior Tribunal de Justia. 5. Brasil. Tribunal Superior Eleitoral. I. Ttulo. II. Srie.

    CDU 347.992(81)

  • Ministros do Superior Tribunal de Justia no Tribunal Superior Eleitoral

    Ministro Luis Felipe SalomoDiretor da Revista

  • SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAPLENRIO

    Ministra Laurita VazMinistro Humberto Martins

    Ministro Felix FischerMinistro Francisco FalcoMinistra Nancy Andrighi

    Ministro Joo Otvio de NoronhaMinistra Maria Th ereza de Assis Moura

    Ministro Herman BenjaminMinistro Napoleo Nunes Maia Filho

    Ministro Jorge MussiMinistro Og Fernandes

    Ministro Luis Felipe SalomoMinistro Mauro Campbell Marques

    Ministro Benedito GonalvesMinistro Raul Arajo

    Ministro Paulo de Tarso SanseverinoMinistra Isabel Gallotti

    Ministro Antonio Carlos FerreiraMinistro Villas Bas Cueva

    Ministro Sebastio Reis JniorMinistro Marco Buzzi

    Ministro Marco Aurlio Bellizze Ministra Assusete Magalhes

    Ministro Srgio KukinaMinistro Moura Ribeiro

    Ministra Regina Helena CostaMinistro Rogerio Schietti Cruz

    Ministro Nefi CordeiroMinistro Gurgel de Faria

    Ministro Reynaldo Soares da FonsecaMinistro Ribeiro Dantas

    Ministro Antonio Saldanha PalheiroMinistro Joel Ilan Paciornik

    PresidenteVice-Presidente

    Corregedor Nacional de JustiaDiretora-Geral da ENFAM

    Diretor da RevistaCorregedor-Geral da Justia Federal

    Ouvidor

    Resoluo n. 19/1995-STJ, art. 3. RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, 1, e 23.

  • SUMRIO

    I - Ministra Maria Thereza de Assis Moura - Perfil 11

    II - Jurisprudncia

    Abuso do Poder Econmico ou Poltico 13Administrativo 139Captao de Sufrgio 153Condutas Vedadas aos Agentes Pblicos 169Crimes Eleitorais 267Inelegibilidade 287Partido Poltico 375Prestao de Contas 397Processual 487Propaganda Eleitoral 615Registro de Candidatura 649

    III - ndice Analtico 679

    IV - ndice Sistemtico 691

    V - Siglas e Abreviaturas 695

  • MINISTRA MARIA THEREZA

    com grande satisfao que esta edio da coletnea Ministros do Superior Tribunal de Justia no Tribunal Superior Eleitoral contemple os julgados da Ministra Maria Th ereza.

    A ilustre magistrada, que possui vastssimo conhecimento jurdico e enobrece a Corte com seus julgados de escol, mestre e doutora em Direito Processual pela Universidade do Estado de So Paulo, na qual fi gura como professora doutora nos cursos de graduao e ps-graduao, alm de participar das bancas de mestrado e doutorado. Com ampla experincia acadmica, atualmente Diretora-Geral da Escola Nacional de Formao e Aperfeioamento de Magistrados Enfam.

    Maria Th ereza um dos maiores exemplos nacionais a revelar a enorme importncia da mulher no Judicirio, tendo sido a quinta mulher a ocupar a cadeira de Ministra do Superior Tribunal de Justia, em 9 de agosto de 2006, o que indubitavelmente foi motivo de grande prestgio para a Corte.

    A eminente colega honra a toga e extremamente competente, discreta e de uma simplicidade que cativa todos que tm o privilgio de conviver com ela.

    Certamente uma das maiores conhecedoras em Direito Penal e Processual Penal do Pas, ela integra a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justia desde que tomou posse na Corte. Especialista em Direito Processual Penal pela Faculdade de Direito da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, bem como em Direito Penal Econmico e Europeu pela Faculdade de Coimbra, Instituto de Direito Penal Econmico Europeu e IBCCrim, participou de inmeras palestras no Brasil e no exterior e autora de diversas publicaes, ministrando seus valiosos conhecimentos jurdicos, principalmente nesse importante ramo do Direito.

    No mbito do Superior Tribunal de Justia, pontifi ca com julgados da maior relevncia.

    O mesmo se verifi ca no Tribunal Superior Eleitoral. guisa de exemplo, vale mencionar o precedente do qual se extrai que, para fi ns que

  • no sejam os estritamente penais, a garantia constitucional de presuno de inocncia satisfaz-se com o julgamento realizado por rgo colegiado. Em seguida, so tecidas consideraes acerca das diferenas entre os conceitos de inelegibilidade e de condio de elegibilidade. As inelegibilidades so as situaes concretas defi nidas na Constituio e em Lei Complementar que impedem a candidatura, enquanto as condies de elegibilidade so os requisitos gerais que os interessados precisam preencher para se tornarem candidatos. Assim sendo, a suspenso dos direitos polticos a plenitude constitui condio de elegibilidade impede a capacidade eleitoral passiva e ativa do indivduo, ou seja, no pode ser votado e no pode votar em ningum. Por outro lado, na inelegibilidade, o cidado fi ca impedido de ser candidato, de receber votos, mas continua podendo votar em algum (Recurso Ordinrio 903-46.2014.6.07.0000).

    Outro exemplo, ao analisar crimes eleitorais, a magistrada faz distines entre o delito de inscrio fraudulenta de eleitor, previsto no art. 289 do Cdigo Eleitoral qualifi cado como de mo prpria, pois s pode ser praticado pelo autor, razo pela qual no admite coautoria, mas permite participao , e o de induo prtica da inscrio fraudulenta de que trata o artigo seguinte. Nesse ltimo, h um estmulo meramente psicolgico, diferentemente da cumplicidade, que exige auxlio material prtica do delito.

    Tambm deixa assinalado, em novo precedente, a tese no sentido de que comete o tipo penal da falsidade ideolgica eleitoral, constante do art. 350 do Cdigo Eleitoral, quem atua de forma a determinar outrem a inserir declarao falsa em documento para fi ns eleitorais (Recursos Especiais Eleitorais 5719-91.2010.6.20.0051 e 40-89.2011.6.27.0016, respectivamente).

    Este volume da Revista brinda-nos agora com diversos precedentes valiosos da Ministra Maria Th ereza na esfera eleitoral.

    Luis Felipe Salomo

    Ministro Diretor da Revista

  • Abuso do Poder Econmico ou Poltico

  • RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N. 941-81 CLASSE 32 TOCANTINS (Palmas)

    Relatora: Ministra Maria Th ereza de Assis MouraRecorrentes: Marcello de Lima Lelis e outraAdvogados: Jos Eduardo Rangel de Alckmin e outrosRecorridos: Carlos Enrique Franco Amastha e outroAdvogado: Leandro Manzano SorrocheRecorrido: Ministrio Pblico Eleitoral

    EMENTA

    Recurso especial. AIME. Abuso de poder econmico.1. Segundo a compreenso fi rmada por este Tribunal, a

    utilizao de recursos patrimoniais em excesso, sejam eles pblicos ou privados, sob poder ou gesto do candidato, em seu benefcio eleitoral, confi gura abuso do poder econmico. Precedente.

    2. Hiptese em que o Tribunal entendeu que houve abuso do poder econmico consistente em vultoso gasto com contratao de cabos eleitorais, que fi cou em torno de R$ 3.803.626,09 (trs milhes, oitocentos e trs mil, seiscentos e vinte seis reais e nove centavos) e gasto com combustvel, que envolveu o montante de R$ 399.699,70 (trezentos e noventa e nove mil, seiscentos e noventa e nove reais e setenta centavos), avaliando a gravidade das circunstncias que o caracterizaram.

    3. O conhecimento da alegao do recurso especial de que no fi cou demonstrado que o abuso no ostentou gravidade sufi ciente para vulnerar o equilbrio na disputa eleitoral, mostra-se invivel nesta instncia extraordinria, a teor dos Enunciados Sumulares 7 do Superior Tribunal de Justia e 279 do Supremo Tribunal Federal.

    4. Recurso especial no conhecido.

    ACRDO

    Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por maioria, em no conhecer do recurso, nos termos do voto da relatora.

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

    MSTJTSE, a. 9, (14): 13-138, maio 2017

    Braslia, 15 de dezembro de 2015.Ministra Maria Th ereza de Assis Moura, Relatora

    DJe 7.3.2016

    RELATRIO

    A Sra. Ministra Maria Th ereza de Assis Moura: Senhor Presidente, o Juzo Eleitoral da 29 Zona Eleitoral Palmas julgou parcialmente procedentes as Aes de Investigao Judicial Eleitoral n. 941-81 e 953-51 ajuizadas, respectivamente, pelo Ministrio Pblico Eleitoral e por Carlos Enrique Franco Amastha e Manoel Arago da Silva, para decretar a inelegibilidade de Marcello de Lima Lelis e Cirlene Azevedo Honorato Pugliesi Tavares pelo perodo de oito anos, a contar das eleies de 2012, por abuso do poder econmico.

    Insatisfeitos, os ora recorrentes interpuseram recurso eleitoral, o qual foi desprovido.

    Na sequncia, foram opostos embargos de declarao, os quais foram acolhidos para anular a proclamao do resultado do julgamento do Recurso n. 941-81 apenas na parte pertinente ao abuso do poder econmico decorrente da contratao de cabos eleitorais, em razo da ausncia do julgamento pelo Tribunal acerca da referida contratao (fl . 540), tendo sido deliberado que, aps o trnsito em julgado, os autos seriam encaminhados Presidncia do Tribunal Regional Eleitoral para se colher o voto de desempate.

    Foram, ento, opostos os segundos embargos pelos ora recorrentes, os quais no foram conhecidos, consignando o Tribunal que a anulao da proclamao do resultado do julgamento, por acolhimento dos primeiros embargos declaratrios, implica em sua reabertura, de modo que somente aps a prolao do voto da presidente da Corte quanto contratao excessiva de cabos eleitorais, cuja votao fi cou empatada, com nova proclamao do resultado fi nal e publicao do acrdo respectivo, que ser possvel a oposio de eventuais embargos declaratrios.

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    Ministros do STJ no TSE - Ministra Maria Thereza de Assis Moura

    O Tribunal, prosseguindo no julgamento, por maioria, negou provimento ao recurso eleitoral para manter, na ntegra, a sentena do Juzo da 29 ZE Palmas, em acrdo assim ementado (fl . 648):

    Recurso eleitoral. Ao de investigao judicial. Eleies 2012. Abuso do poder econmico. Gastos de campanha vultosos. Gasto excessivo com combustvel e com contratao excessiva de cabos eleitorais. Improvimento.

    1 - O total de gastos de campanha no valor de R$ 8.299.917,43 (oito milhes, duzentos e noventa e nove mil reais, novecentos e dezessete reais e quarenta e trs centavos) somado ao gasto com contratao de cabos eleitorais no valor de R$ 3.803.626,09 (trs milhes, oitocentos e trs mil, seiscentos e vinte seis reais e nove centavos) e ao gasto com combustvel no valor de R$ 399.699,70 (trezentos e noventa e nove mil, seiscentos e noventa e nove reais e setenta centavos), para o municpio com as dimenses de Palmas abusivo.

    2 - O quantitativo de cabos eleitorais contratados, algo um pouco acima de 5.000 (cinco mil) pessoas, representa 3,5% do eleitorado e superior ao nmero de eleitores da maioria dos municpios do Estado do Tocantins e tambm superior ao quantitativo de policiais e bombeiros militares na ativa do Estado e considerado excessivo.

    3 - A condenao por propaganda eleitoral antecipada indica incio de desequilbrio no pleito eleitoral.

    4 - A eventual licitude da arrecadao e gastos efetuados em campanha ou mesmo a aprovao das contas no afastam, por si, o abuso do poder econmico, porquanto o que se veda o uso excessivo desses recursos, de modo a infl uenciar o eleitorado e afetar a normalidade e legitimidade do pleito (Precedente: TSE - REspe 8.139. Rel. Arnaldo Versiani Leite Soares. DJE - Dirio de Justia Eletrnico, Tomo 194, Data 8.10.2012, Pgina 17).

    5 - A sano de inelegibilidade proporcional e razovel, pois prevista pela prpria legislao, no pode o juiz usurpar-se na funo de legislador, pois foi este que estabeleceu que, em caso de abuso do poder econmico, a sano adequada a inelegibilidade pelo perodo de oito anos.

    6 - A candidata vice-prefeita tambm incorre em sano, pois participou dos atos de campanha, no se cogita de que no tinha

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

    MSTJTSE, a. 9, (14): 13-138, maio 2017

    conhecimento dos gastos realizados, inclusive consta sua assinatura nas peas do processo de prestao de contas, alm de ter sido benefi ciada pela conduta abusiva.

    7 - Recurso improvido.

    A essa deciso foram opostos embargos de declarao, os quais foram rejeitados (fl . 711).

    Sobreveio a interposio de recurso especial, com fundamento no art. 121, 4, inciso I, da Constituio Federal, c.c. o art. 276, inciso I, alnea a, do Cdigo Eleitoral, por meio do qual os recorrentes alegam que o Tribunal a quo violou o art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990. Argumentam que o abuso de poder, para ensejar a sano de inelegibilidade, deve ostentar gravidade sufi ciente para vulnerar o equilbrio na disputa eleitoral, circunstncia que no fi cou demonstrada nos autos.

    Para os recorrentes, o Tribunal a quo errou ao entender estar caracterizado o abuso do poder econmico consubstanciado na existncia de gasto excessivo no decorrer da campanha, notadamente na contratao de cabos eleitorais, mormente porque os precedentes invocados se referem a municpios de pequeno porte, enquanto, no caso dos autos, os fatos ocorreram na capital do Estado.

    Asseveram, nesse ponto, que o Tribunal se limitou a dizer que

    [...] no se pode aceitar como regular a sua conduta, a qual se reveste da necessria gravidade apta a ensejar o abuso do poder econmico, nada dizendo sobre a sua eventual gravidade sob o prisma da legitimidade e normalidade do pleito. A meno nova redao do inciso XVI da LC n. 64/1990 somente foi feita para se sustentar a tese de que a aplicao da sano ao abuso de poder para os candidatos que no tenham sido eleitos, como no caso em anlise.

    (fl . 734)

    Sustentam que no se sagraram vencedores, o que autoriza, no seu entender, reconhecer que os fatos no lhes proporcionaram qualquer benefcio, no havendo falar em comprometimento da lisura do pleito em detrimento de seus adversrios, os quais foram eleitos com diferena de 7.700 (sete mil e setecentos) votos.

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    Ministros do STJ no TSE - Ministra Maria Thereza de Assis Moura

    Aduzem que a contratao de 3,5% do eleitorado, como se deu, na espcie, para trabalhar como cabo eleitoral, no possui qualquer relevncia, pois no tem o condo de demonstrar coletividade a fora econmica de determinado grupo (fl . 737). A propsito, para corroborar sua tese, destaca trecho do que foi decidido por este Tribunal ao julgar o REspe n. 8.139/PR, que tambm foi utilizado pela maioria que se formou no Tribunal a quo como fundamento para a manuteno da condenao.

    O apelo foi admitido na origem (fl s. 741-745).

    Foram apresentadas contrarrazes (fl s. 749-771 e 775-779v.).

    Instado a se manifestar, o Ministrio Pblico Eleitoral apresentou parecer (fl s. 783-789), da lavra do Vice-Procurador-Geral Eleitoral, Eugnio Jos Guilherme de Arago, opinando pelo no conhecimento do recurso especial, e, caso conhecido, pelo seu desprovimento.

    o relatrio.

    VOTO

    A Sra. Ministra Maria Th ereza de Assis Moura (Relatora): Senhor Presidente, verifi ca-se a tempestividade do recurso, a subscrio por advogados habilitados nos autos, o interesse e a legitimidade.

    O Tribunal a quo entendeu pela confi gurao do abuso do poder econmico consistente no gasto com combustvel e na contratao desarrazoada de cabos eleitorais para atuarem nas eleies de 2012 em Palmas/TO.

    Os recorrentes afi rmaram que no foi observado o disposto no art. 22, XVI, da LC n. 64/1990, haja vista que no foi aferida a gravidade da conduta. No entender deles, o raciocnio desenvolvido pela corrente que se formou no Tribunal a quo levou em considerao apenas o montante do gasto na campanha, presumindo-se, a partir da, que houve distribuio de benesses ao arrepio da lei. Alm disso, afi rmam que o suposto abuso no lhes trouxe qualquer benefcio, pois os adversrios na disputa foram eleitos com diferena de 7.700 votos.

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

    MSTJTSE, a. 9, (14): 13-138, maio 2017

    Faz-se importante anotar que, segundo a compreenso fi rmada por este Tribunal, a utilizao de recursos patrimoniais em excesso, sejam eles pblicos ou privados, sob poder ou gesto do candidato, em seu benefcio eleitoral, confi gura abuso do poder econmico.

    Esse entendimento est expresso no acrdo no REspe n. 28.581/MG1, da relatoria do Ministro Felix Fischer, o qual entendeu que

    [...] abusa do poder econmico o candidato que despende recursos patrimoniais, pblicos ou privados, dos quais detm o controle ou a gesto em contexto revelador de desbordamento ou excesso no emprego desses recursos em seu favorecimento eleitoral.

    Alis, no foi diferente o que concluiu este Tribunal no julgamento do AgRgREspe n. 25.906/SP, de relatoria do Ministro Gerardo Grossi, e do AgRgREspe n. 25.652/SP, de relatoria do Ministro Caputo Bastos, para os quais tambm confi gura abuso do poder econmico a utilizao excessiva, antes ou durante a campanha eleitoral, de recursos materiais ou humanos que representem valor econmico, buscando benefi ciar candidato, partido ou coligao, afetando, assim, a normalidade e a legitimidade das eleies.

    relevante assinalar que, ainda que no tenham sido eleitos os recorrentes, tal fato no impede seja eventualmente julgada procedente a ao para se aplicar as sanes legais, uma vez que o objetivo da representao impedir e apurar a prtica de atos que possam afetar a lisura do pleito nos casos de abuso do poder econmico, abuso do poder poltico ou de autoridade e utilizao indevida dos meios de comunio social.

    Para fi ns de reconhecimento do abuso de poder, o Tribunal deve aferir a gravidade das circunstncias que o caracterizaram. Para tanto, pode formar sua convico pela livre apreciao dos fatos pblicos e notrios, dos indcios, presunes e provas produzidas, de forma a preservar a lisura eleitoral.

    No caso, no voto condutor do julgamento, da lavra do Juiz Jos Ribamar Mendes Jnior, que abriu a divergncia, foi reconhecida a prtica de abuso de poder com base nas provas produzidas, em fatos pblicos e

    1 DJe de 23.9.2008.

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    Ministros do STJ no TSE - Ministra Maria Thereza de Assis Moura

    notrios, considerado o exorbitante valor de R$ 8.299.917,43 (oito milhes, duzentos e noventa e nove mil, novecentos e dezessete reais e quarenta e trs centavos) na campanha eleitoral de 2012.

    Em relao ao gasto com combustvel, que envolveu o montante de R$ 399.699,70 (trezentos e noventa e nove mil, seiscentos e noventa e nove reais e setenta centavos), entendeu aquele magistrado que fi cou confi gurado o abuso de poder na distribuio de combustvel nos dias 6 e 7 de outubro de 2012. Teve por relevante o fato de que o abastecimento no dia da eleio, quando j encerrado o perodo de campanha, demonstrou que o objetivo j no era mais o de realizar campanha eleitoral, mas o de distribuir combustvel de forma indiscriminada, o que caracterizou o abuso do poder econmico. Para conferir, destaco do voto condutor do julgado (fl s. 452-453):

    Foram apreendidas pela Polcia Federal, nos dias 6 e 7 de outubro de 2012, no Posto de Gasolina Star, 5.571 (cinco mil, quinhentos e setenta e uma) requisies de abastecimento, que na maioria esto datadas de 06 e 07 de outubro de 2012, sem qualquer identifi cao quanto ao nome do benefi cirio, a marca e placa do veculo, ou mesmo data para o abastecimento, o que comprova que o abastecimento no se limitava aos 118 (cento e dezoito) veculos informados na prestao de contas, mas de um abastecimento indiscriminado sem qualquer controle do veculo ou da pessoa que iria abastec-lo.

    Tambm no se trata de abastecimento para realizao de carreata, pois o ltimo evento dessa natureza na campanha de Marcelo Lelis foi realizado no dia 06 de outubro pela manh e os mandados de busca e apreenso foram cumpridos no dia 06 no perodo noturno e no dia 07 de outubro durante o perodo matutino e pasmem, no dia da eleio, sem qualquer medo de sano, na certeza da impunidade.

    Alm disso, o abastecimento no dia da eleio, quando o perodo de campanha j havia sido encerrado, demonstra que o objetivo j no era mais o de realizar campanha, mas sim de distribuir combustvel de forma indiscriminada, caracterizando o abuso do poder econmico.

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

    MSTJTSE, a. 9, (14): 13-138, maio 2017

    Da anlise dos vdeos juntados quando da realizao de busca e apreenso, chama ateno a presena de pessoas com gales, o que corrobora a tese de que ao contrrio do que foi alegado pela defesa, no se tratava de abastecimento de veculos para campanha, mas de um gasto desmedido e entrega de benesses a eleitores.

    Embora a defesa alegue que o combustvel tenha sido adquirido para todos os candidatos lanados pela sigla e no apenas para a chapa majoritria, verifi ca-se pelas notas fi scais juntadas na prestao de contas, que tais foram emitidas em favor da eleio majoritria, contabilizadas como doao estimvel em dinheiro em prol dos recorrentes.

    Em relao contratao de cabos eleitorais, que fi cou em torno de R$ 3.803.626,09 (trs milhes, oitocentos e trs mil, seiscentos e vinte seis reais e nove centavos), o Tribunal entendeu caracterizado o abuso de poder, na avaliao da conduta, considerando o conjunto de fatores evidenciados, tais como: nmero de cabos eleitorais, de 5.000 contratados, em face do eleitorado da localidade um universo de 150.526 (cento e cinquenta mil, quinhentos e vinte e seis) eleitores; diferena de votos entre o primeiro e o segundo colocados; alm do gasto despendido pelos investigados em campanha na referida contratao que, na realidade daquele Estado, mas, considerado o contexto de eleio municipal, nmero bastante elevado, somado ao valor exorbitante de quase quatro milhes de reais.

    Calcado nessas razes, o Tribunal entendeu que houve abuso do poder econmico, avaliando a gravidade das circunstncias que o caracterizaram. Nessas condies, a inverso do julgado, quanto a esses pontos, implicaria, necessariamente, no reexame das provas carreadas aos autos, o que no se coaduna com a via eleita, consoante o enunciado das Smulas 279 do Supremo Tribunal Federal e 7 do Superior Tribunal de Justia.

    A propsito:

    Eleies 2012. Prefeito. Agravo regimental. Agravo. AIJE. Entrevistas em rdio. Abuso de poder econmico. Uso indevido dos meios de comunicao social. Gravidade. Reexame de fatos e provas. Smulas n. 7/STJ e 279/STF. Impossibilidade. Desprovimento.

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    Ministros do STJ no TSE - Ministra Maria Thereza de Assis Moura

    1. A Corte Regional assentou que os fatos narrados na Ao de Investigao Judicial Eleitoral (AIJE) no possuam gravidade ou potencialidade sufi ciente para macular o pleito e que no teria havido exposio massiva dos agravados sem igual oportunidade aos adversrios polticos.

    2. Rever as concluses do Tribunal a quo, no sentido de que a conduta praticada confi gurou abuso de poder econmico e uso indevido dos meios de comunicao social, possuindo gravidade sufi ciente para afetar a lisura do pleito, exigiria o reexame de matria ftico-probatria, o que inadmissvel na instncia especial, a teor das Smulas nos 279/STF e 7/STJ.

    3. Agravo regimental desprovido.

    (AgR-AI n. 301-55/PR, rel. Min. Luciana Lssio, DJe de 14.5.2014; sem grifos no original)

    Eleies 2012. Agravo regimental em recurso especial. Captao ilcita de sufrgio. Abuso de poder econmico. Fragilidade do conjunto probatrio. Reexame de fatos e provas. Impossibilidade. Fundamentos no afastados. Smula 182 do Superior Tribunal de Justia. Incidncia. Desprovimento.

    [...]

    2. Concluso diversa da que chegou a Corte a quo a respeito da ausncia de confi gurao das prticas de captao ilcita de sufrgio e abuso de poder econmico demandaria o reexame de fatos e provas, tarefa impossvel nesta instncia recursal, de acordo com os Enunciados 7 do STJ e 279 do STF.

    3. No logrando xito os agravantes em trazer argumentos hbeis a ensejar a alterao da deciso agravada, fi ca ela mantida por seus prprios fundamentos. Incidncia a Smula 182 do STJ.

    4. Agravo regimental desprovido.

    (AgR-REspe n. 387-07/RN, rel. Min. Maria Th ereza de Assis Moura, DJe de 24.11.2014; sem grifos no original)

    Agravo regimental. Recurso especial eleitoral. Ao de Impugnao de Mandato Eletivo. Captao ilcita de sufrgio. Abuso de poder econmico. Ausncia de prova. No confi gurao. Desprovimento.

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

    MSTJTSE, a. 9, (14): 13-138, maio 2017

    1. Consoante jurisprudncia do Tribunal Superior Eleitoral, a condenao por captao ilcita de sufrgio exige prova robusta e no pode ser baseada em mera presuno. Precedentes.

    2. Na espcie, a Corte Regional assentou, mediante a anlise das provas colhidas, a inexistncia de captao ilcita e de abuso de poder econmico. Desse modo, a reforma do julgado demandaria reexame do conjunto probatrio dos autos, o que no se coaduna com a via do recurso especial, a teor da Smula 7/STJ.

    3. Invivel o exame de divergncia jurisprudencial quando respaldada na mesma tese que ensejou o bice do enunciado da Smula 7/STJ. Precedentes.

    4. Agravo regimental no provido.

    (AgR-REspe n. 2-05/PI, rel. Min. Joo Otvio de Noronha, DJe de 13.11.2014; sem grifos no original)

    Ao de Investigao Judicial Eleitoral. Decises. Instncias ordinrias. Improcedncia. Reexame.

    [...]

    2. Para afastar a concluso do Tribunal Regional Eleitoral que manteve a sentena de improcedncia de representao eleitoral, por entender que no h nos autos prova robusta e inequvoca da captao ilcita de sufrgio nem comprovao da doao irregular de bens pertencentes ao municpio, bem como que no fi cou demonstrado o alegado abuso do poder poltico ou o uso indevido dos meios de comunicao na distribuio de matrias jornalsticas, seria necessrio o reexame de fatos e provas, vedado nesta instncia especial, a teor das Smulas 7/STF e 279/STF.

    Agravo regimental a que se nega provimento.

    (AgR-AI n. 505-84/PR, rel. Min. Henrique Neves da Silva, DJe de 22.9.2014; sem grifos no original)

    Ao de Investigao Judicial Eleitoral. Abuso de poder poltico/autoridade. Conduta vedada. Prefeito. Alegada ofensa ao art. 275 do Cdigo Eleitoral. No confi gurada. Inverso do julgado. Reexame do conjunto ftico-probatrio. Impossibilidade. Smulas 279/STF e 7/STJ. Dissdio jurisprudencial. Impossibilidade de apreciao da divergncia. Agravo regimental desprovido.

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    Ministros do STJ no TSE - Ministra Maria Thereza de Assis Moura

    [...]

    3. O Tribunal de origem, soberano na anlise das circunstncias fticas da causa, concluiu que no houve abuso de poder poltico ou conduta vedada. A inverso do julgado encontra bice nas Smulas 279/STF e 7/STJ.

    4. No cabe o recurso especial eleitoral, mesmo com base na alegao de dissdio pretoriano, quando a deciso objurgada estiver calcada no revolvimento do conjunto ftico-probatrio constante dos autos.

    5. Agravo regimental desprovido.

    (AgR-AI n. 13-44/PE, rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 21.8.2014; sem grifos no original)

    Ao de Impugnao de Mandato Eletivo. Abuso de poder. Conduta vedada. Captao ilcita de sufrgio.

    1. Para modifi car o entendimento do Tribunal Regional Eleitoral de que no fi caram comprovadas nenhuma das condutas imputadas aos agravados na ao de impugnao de mandato eletivo - prtica de captao ilcita de sufrgio, abuso de poder poltico, econmico e de autoridade, propaganda eleitoral irregular e conduta vedada, todas relacionadas realizao de festa supostamente patrocinada pela Prefeitura, bem como de eventual distribuio de benesses-, seria necessrio reexaminar o conjunto ftico-probatrio constante dos autos, o que vedado em sede de recurso especial, a teor do Enunciado n. 279 do Supremo Tribunal Federal.

    [...]

    Agravo regimental no provido.

    (AgR-AI n. 17.064-91/BA, rel. Min. Arnaldo Versiani, DJe de 5.8.2014; sem grifos no original)

    Agravo regimental. Recurso especial. Abuso do poder econmico. Uso indevido dos meios de comunicao. No confi gurados. Reexame. Impossibilidade. No provimento.

    1. O Tribunal de origem consignou que as provas dos autos no evidenciam abuso do poder econmico decorrente do uso indevido de meio de comunicao e no demonstram a capacidade de a conduta praticada infl uenciar no resultado do pleito. Logo, para modifi car essas

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

    MSTJTSE, a. 9, (14): 13-138, maio 2017

    concluses, a fi m de constatar a ocorrncia do abuso do poder econmico decorrente do uso indevido dos meios de comunicao, notadamente para verifi car que a conduta praticada possui a gravidade capaz de ensejar prejuzos lisura do pleito eleitoral, seria necessrio reincursionar no acervo ftico-probatrio dos autos, providncia que no se coaduna com a via estreita do recurso especial (Smulas n. 279/STF e 7/STJ).

    2. Agravo regimental desprovido.

    (AgR-REspe n. 21-48/CE, rel. Min. Dias Toff oli, DJe de 8.4.2014; sem grifos no original)

    Pelo exposto, no conheo do recurso especial.

    RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N. 1.310-64 CLASSE 32 MINAS GERAIS (Ibia)

    Relatora: Ministra Maria Th ereza de Assis MouraRecorrente: Sandra Maria Fonseca CardosoAdvogados: Mrcio Luiz Silva e outrosRecorrente: Kleber Henrique de Freitas MartinsAdvogados: Edilene Lbo e outrosRecorridos: Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)

    Municipal e outroAdvogados: Joo Batista de Oliveira Filho e outros

    EMENTA

    Eleies 2012. Recurso especial. Captao ou gasto ilcito de recursos fi nanceiros na campanha. Abuso do poder econmico. Confi gurao. Cerceamento de defesa. Inexistncia. Reexame de fatos e provas. Impossibilidade. Princpio da proporcionalidade. Inaplicabilidade ao caso concreto. Desprovimento.

    1. Devem ser afastadas as alegaes relacionadas a pretenso cerceamento de defesa e desrespeito ao devido processo legal, no havendo falar em violao legal ou constitucional pelo indeferimento

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    Ministros do STJ no TSE - Ministra Maria Thereza de Assis Moura

    da substituio de testemunhas, pela no observncia de prerrogativas processuais deferidas aos parlamentares ou pelo indeferimento de percias solicitadas pelas partes.

    2. Cabe ao magistrado a direo do processo, devendo apreciar as necessidades reais da produo de provas para o deslinde da questo, podendo inclusive indeferir as provas que entender desnecessrias ou procrastinatrias, conforme preceitua o art. 130 do Cdigo de Processo Civil.

    3. Ao sopesar os elementos probatrios produzidos nos autos, o acrdo recorrido observou estritamente o princpio da persuaso racional ou do livre convencimento motivado, segundo o qual o julgador no est vinculado a todas as provas produzidas, podendo escolher de acordo com seu convencimento uma prova em detrimento da outra, desde que motive sua deciso. Precedentes.

    4. O indeferimento de contradita de uma das testemunhas, assim como a negativa de oitiva das testemunhas contraditadas na condio de informantes no resulta na afronta ao art. 405 do CPC, a uma, em razo da ausncia das causas de impedimento e suspeio; a duas, por no se verifi car alterao dos fatos trazidos na inicial, tendo em vista que a presente ao visa apurao de irregularidades na arrecadao e nos gastos de campanha.

    5. No h falar em nulidade do processo, por se basear o decisum em prova pretensamente ilcita, consubstanciada na quebra de sigilo bancrio de terceiros, visto que tal determinao, alm de ser amparada por outras provas constantes nos autos, decorreu de deciso judicial, devidamente fundamentada. Precedentes.

    6. Este Tribunal j entendeu pela improcedncia da alegao de violao ao art. 333, I, do CPC, quando, segundo o acrdo recorrido, forem apresentadas provas sufi cientes nos autos para demonstrar a veracidade das informaes apontadas na petio inicial (REspe n. 630-70/RJ, rel. Min. Joo Otvio de Noronha, DJE de 11.2.2015).

    7. Tendo a Corte Regional examinado e decidido a respeito de todas as questes essenciais ao deslinde da controvrsia levadas a sua apreciao, no h falar em violao ao artigo 275 do CE.

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

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    8. Segundo o acrdo recorrido, estaria sobejamente demonstrada a prtica de captao e gasto ilcito de recursos, apto a confi gurar abuso do poder econmico, tendo sido ressaltada a existncia de caixa dois, em razo da movimentao de todos os gastos eleitorais sem transitar pela conta bancria de campanha, aberta tardiamente, alm de terem sido apresentadas contas retifi cadoras com alterao substancial dos valores sem justifi cativa para tal, prtica punvel na forma do disposto nos arts. 30-A da Lei das Eleies e 14, 10, da CF/1988.

    9. Irregularidades graves como omisses de despesas, ausncia de identifi cao de doadores, falta de emisso de notas fi scais e gastos superiores ao limite estabelecido para a campanha confi guram a prtica vedada que, por sua gravidade, leva cassao do diploma. Precedentes.

    10. Princpios da proporcionalidade e da razoabilidade. No aplicao hiptese.

    11. Incidncia do Enunciado Sumular 83 do Superior Tribunal de Justia.

    12. Para afastar a concluso da Corte Regional pela ocorrncia de abuso, analisando-se os argumentos relacionados alegao de que os gastos estariam comprovados por meio de notas fi scais ou de que os depoimentos das testemunhas ouvidas em juzo seriam frgeis e contraditrios, seria necessria a incurso no conjunto ftico-probatrio, tarefa que sabidamente vedada nesta instncia (Smulas 7 do STJ e 279 do STF).

    13. Segundo a jurisprudncia desta Corte, A procedncia da Ao de Investigao Judicial Eleitoral, com lastro no art. 30-A da Lei das Eleies, adstringe-se perda do registro ou do diploma e sano pecuniria, no abarcando a declarao de inelegibilidade, que ser aferida no momento da formalizao do registro de candidatura, nos termos da alnea j do inciso I do art. 1 da LC n. 64/1990 (AgR-AI n. 502-02/RO, rel. Min. Luiz Fux, DJE de 6.5.2015).

    14. Recurso especial parcialmente provido, apenas para excluir a pena de inelegibilidade imposta aos recorrentes, mantendo o acrdo regional quanto cassao de seus mandatos.

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    ACRDO

    Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em prover parcialmente o recurso apenas para excluir a pena de inelegibilidade imposta aos recorrentes, mantendo a cassao de seus mandatos, nos termos do voto da relatora.

    Braslia, 17 de novembro de 2015.Ministra Maria Th ereza de Assis Moura, Relatora

    DJe 14.12.2015

    RELATRIO

    A Sra. Ministra Maria Th ereza de Assis Moura: Senhor Presidente, trata-se de recurso especial interposto por Sandra Maria Fonseca Cardoso e Kleber Henrique de Freitas Martins, respectivamente, prefeita e vice-prefeito, eleitos nas eleies de 2012 no Municpio de Ibia/MG, com fundamento no artigo 276, I, a e b, do Cdigo Eleitoral, contra o acrdo do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais que, negando provimento aos recursos que, em mbito de aes de investigao judicial eleitoral e de impugnao de mandato eletivo, julgadas em conexo, mantiveram a sentena que entenderam pela prtica de atos de abuso do poder econmico, em razo da movimentao irregular de recursos de campanha por parte dos recorrentes.

    O acrdo impugnado est assim ementado (fl s. 1.293-1.296):

    Recurso eleitoral. Ao de Impugnao de Mandato Eletivo e Ao de Investigao Judicial Eleitoral. Abuso de poder econmico. Captao ou gasto ilcito de recursos fi nanceiros na campanha. Aes julgadas procedentes. Cassao de mandatos e declarao de inelegibilidade.

    1 e 2 Recursos. (julgamento conjunto)Preliminar de cerceamento de defesa - alegada pelos recorrentes.

    Rejeitada. Alegao de cerceamento de defesa pelo indeferimento de substituio de uma testemunha e pela inobservncia da prerrogativa prevista no art. 411 do Cdigo de Processo Civil.

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    Os feitos eleitorais pautam-se pela celeridade. Expressa previso de que a audincia ocorrer em nica assentada e que as testemunhas devem comparecer independentemente de intimao. Inaplicabilidade da prerrogativa prevista no art. 411, VIII, do Cdigo de Processo Civil em feitos eleitorais. Precedentes. Requerimentos protelatrios.

    Cabe ao magistrado a direo do processo, devendo apreciar as necessidades reais da produo de provas para o deslinde da questo, podendo inclusive indeferir as provas que entender desnecessrias, conforme preceitua o Cdigo de Processo Civil em seu art. 130.

    1 Agravo retido - interposto pelos recorrentes. A reduo do nmero de testemunhas esvaziou o requerimento para redesignao de audincia, no havendo falar, portanto, em cerceamento de defesa e em desrespeito ao devido processo legal, inexistindo violao ao art. 5 da Constituio da Repblica. Agravo a que se nega provimento.

    2 Agravo retido - interposto pelos recorrentes. Deciso que indeferiu a contradita de testemunha, ao argumento de que tem interesse na causa, ante o parentesco com a candidata dos partidos impugnantes. Ausncia de prova das alegaes. Agravo a que se nega provimento.

    3 e 4 Agravos retidos - interpostos pelos recorrentes. Os recorrentes agravaram da deciso da MM. Juza Eleitoral pelo deferimento de perguntas a uma testemunha, pela ausncia de fi xao de pontos controvertidos e pela limitao do tempo para apresentao do agravo. As perguntas direcionadas testemunha tinham pertinncia com os gastos na campanha dos recorrentes, portanto, com a causa em julgamento. Cabe ao magistrado manter a ordem na audincia, isso deve incluir o dever de conduo da forma clere. Agravos a que se nega provimento.

    5 e 6 Agravos retidos - interpostos pelos recorrentes. Alegao de cerceamento de defesa ante o indeferimento do pedido de substituio da testemunha e inobservncia da prerrogativa contida no art. 411, inciso VIII, do Cdigo de Processo Civil. Os feitos eleitorais pautam-se pela celeridade. Expressa previso no sentido de que a audincia dever ser realizada em nica assentada, devendo as testemunhas comparecerem independentemente de intimao. Inaplicabilidade da prerrogativa prevista no art. 411, VIII do Cdigo de Processo Civil em feitos eleitorais. Agravos a que se nega provimento.

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    7 Agravo retido - interposto pelos recorrentes. Deciso que deferiu as diligncias requeridas pelo impugnante referentes quebra do sigilo fi scal e bancrio e indeferiu pedido de percia. A quebra de sigilo imprescindvel para apurao dos fatos. Por outro lado, quanto aos pedidos de percia no se vislumbra justifi cativa para sua realizao. Agravo a que se nega provimento.

    8 Agravo retido - apresentado pelos recorridos. Indeferimento de contraditas de testemunhas. Ausncia de requerimento, em sede de recurso, da sua apreciao pelo Tribunal. No observncia do disposto no art. 523, 1, do CPC. Agravo no conhecido.

    9 e 10 Agravos retidos - interpostos pelos recorrentes. Contradita de testemunhas deferidas pela MM. Juza Eleitoral. Prova de que as testemunhas contraditadas doaram aos impugnados. Demonstrao do envolvimento das testemunhas com a campanha eleitoral dos impugnados. Agravos a que se nega provimento.

    Mrito.

    O dever de prestao de contas decorre da Constituio Federal, e da Lei n. 9.504/1997. Comprovao de condutas que violam as disposies da Lei das Eleies referentes arrecadao, utilizao, ao controle e prestao de contas.

    Conta bancria de campanha sem movimentao. Recebimento de doaes e realizao de despesas de campanha sem trmite pela conta bancria, sem registro na prestao de contas e sem a identifi cao dos doadores e da origem dos recursos utilizados na campanha. Vultosos gastos na campanha eleitoral no declarados Justia Eleitoral, no transitados em conta bancria especfi ca e, ainda, desprovidos dos respectivos recibos eleitorais. Alterao substancial dos dados em sede de contas retifi cadoras, sem a devida comprovao das razes que levaram s alteraes. Condutas irregulares que demonstram claramente a existncia do chamado caixa 2, confi gurando abuso de poder econmico e captao e gasto ilcito de recursos, punvel na forma do disposto no art. 30-A da Lei das Eleies. Farto acervo probatrio. Necessidade de manuteno da sentena que cassou os mandatos.

    Em virtude do disposto no art. 1, inciso I, alnea j, da Lei Complementar n. 64/1990, os recorrentes encontram-se inelegveis por 8 (oito) anos, sendo tal inelegibilidade consequncia das

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

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    condenaes impostas no bojo do presente processo. Necessidade de realizao de nova eleio, nos termos do art. 224 do Cdigo Eleitoral. A execuo do presente acrdo deve ser imediata. Recursos a que se nega provimento.

    Opostos embargos de declarao, foram eles rejeitados (fl s. 1.379-1.401).

    Em extenso arrazoado (fl s. 1.409-1.454), os recorrentes aduzem, em suma, terem sido afrontados pela Corte Regional os seguintes preceitos:

    a) art. 408, II, do CPC, alegando cerceamento de defesa pelo indeferimento da substituio de testemunha que, em razo de enfermidade, estaria impossibilitada de comparecer audincia de instruo. Ainda quanto ao ponto, suscitam dissdio jurisprudencial, alm de afi rmar que o acrdo recorrido no teria se pronunciado a respeito de tal matria, resultando na afronta ao art. 275 do CE;

    b) art. 411 do CPC, alegando cerceamento de defesa pela no observncia de prerrogativas processuais deferidas aos parlamentares, haja vista no ter sido intimado o deputado estadual Gilberto Wagner Martins para a referida audincia. Tambm alegam dissdio quanto ao ponto;

    c) art. 5, X, LIV e LVI, da CF/1988, alegando que a condenao teria sido lastreada em prova ilcita, qual seja, a quebra do sigilo bancrio das fi lhas da recorrente Sandra Maria Fonseca, cujo deferimento teria se dado por ato destitudo de fundamentao vlida;

    d) art. 420 do CPC e art. 5, XXXV, da CF/1988, considerao de que o indeferimento de prova pericial requerida por ambas as partes na origem teria resultado em cerceamento de defesa;

    e) art. 333 do CPC, por inobservncia da regra da distribuio do nus da prova;

    f) art. 405, 3 e 4, do CPC, em razo do indeferimento de contradita de uma das testemunhas, apesar de ter ela declarado o parentesco de sua esposa com candidata dos partidos recorridos, e tambm pela negativa de oitiva de testemunhas contraditadas pela parte contrria, na condio de informantes;

    g) art. 14, 10, da CF/1988 e art. 22 da LC n. 64/1990, considerando que a moldura ftica constante do acrdo no permitiria

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    a concluso pelo reconhecimento de abuso de poder, pelo fato de que as irregularidades encontradas nas contas, apesar de terem a aptido de gerar a sua desaprovao, seriam meramente formais e no teriam infl uncia no resultado do pleito;

    h) art. 26 da Lei n. 9.504/1997, art. 275 do CE e art. 93, IX, da CF/1988, alegando que as despesas tidas por irregulares seriam, na verdade, clssicos gastos de campanha, que foram registrados na prestao de contas retifi cadora, da porque no passveis de caracterizao de abuso de poder econmico (fl . 1.443). Afi rmam, por consequncia, que teria havido m-valorao da prova, em confronto com o que dispe o art. 131 do CPC, que consubstancia o princpio da persuaso racional, principalmente em razo de serem frgeis e contraditrios (fl . 1.447) os depoimentos das testemunhas ouvidas em juzo.

    Refutam a existncia de caixa dois de campanha, nos termos do assentado pelo voto condutor do acrdo, aduzindo que (fl . 1.439):

    [...] os recursos a que se alude sob esse ttulo esto declarados na prestao de contas retifi cadora, reforados por diversos documentos principalmente notas fi scais em nome da ento candidata, de seu partido ou da prpria campanha comprovando cabalmente o destino lcito em propaganda eleitoral.

    Ainda no que se refere ao enquadramento dos fatos norma que veda o abuso do poder econmico, os recorrentes alegam afronta aos arts. 30-A da Lei n. 9.504/1997 e 14, 10, da CF/1988.

    Asseveram que teriam sido violados os princpios da proporcionalidade, da razoabilidade e da dosimetria da pena, devendo ser afastada a cassao do mandato, que no corresponde, em absoluto, ao frgil acervo probatrio (fl . 1.449), citando precedentes jurisprudenciais que entendem divergir do acrdo, tambm quanto ao ponto.

    Por fi m, assinalam a impossibilidade de se declarar a inelegibilidade no mbito da representao prevista no art. 30-A da Lei das Eleies, o que implicaria violao ao princpio da legalidade.

    Requerem, a princpio, a nulidade dos arestos regionais, devido s vrias violaes ampla defesa (fl . 1.454), pugnando, caso superada a

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

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    referida alegao, pelo reenquadramento jurdico dos fatos constantes do acrdo e pelo provimento do recurso especial, para que seja afastada a cassao dos mandatos.

    Foram apresentadas contrarrazes ao recurso pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB) (fl s. 1.591-1.594).

    A d. Procuradoria-Geral Eleitoral manifesta-se pelo desprovimento do recurso (fl s. 1.603-1.619).

    Em tempo, registre-se que foi ajuizado o MS n. 506-79/MG pela recorrente Sandra Maria Fonseca Cardoso, ao qual, em 9.6.2014, foi deferido o pedido liminar pela Ministra Laurita Vaz, ento relatora, suspendendo os efeitos do acrdo proferido pelo Tribunal a quo at o julgamento dos embargos de declarao opostos na origem. Tendo sido julgados e publicados os embargos, em 2.7.2014 e 16.7.2014, respectivamente, foi negado seguimento ao mandado de segurana, em razo da perda de seu objeto, na data de 13.8.2014.

    Entretanto, em mbito de ao cautelar (AC n. 820-25/MG) ajuizada por Kleber Henrique de Freitas Martins, o Ministro Gilmar Mendes, em 22.7.2014, no exerccio da Presidncia desta Corte, deferiu a medida liminar requerida para suspender a efi ccia dos acrdos regionais at o julgamento do presente recurso especial.

    o relatrio.

    VOTO

    A Sra. Ministra Maria Th ereza de Assis Moura (Relatora): Senhor Presidente, verifi co a tempestividade do recurso, a legitimidade e a subscrio da pea por advogados constitudos nos autos.

    Como dito, trata-se de recurso especial interposto por Sandra Maria Fonseca Cardoso e Kleber Henrique de Freitas Martins, respectivamente, prefeita e vice-prefeito, eleitos nas eleies de 2012 no Municpio de Ibia/MG, contra o acrdo do TRE mineiro que, negando provimento ao recurso, manteve a sentena que entendeu pela prtica de captao ilcita de

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    recursos e de atos que confi gurariam abuso do poder econmico por parte dos recorrentes, mantendo a Corte a quo a desconstituio dos mandatos e a declarao de inelegibilidade pelo prazo de oito anos.

    Passo a analisar as alegaes constantes do especial:

    Do Cerceamento de Defesa e Desrespeito ao Devido Processo Legal (arts. 408, II, 411, VIII, e 420 do CPC; e art. 5 da CF/1988)

    De incio, entendo que no procedem as alegaes relacionadas a pretenso cerceamento de defesa dos recorrentes, seja pelo indeferimento da substituio de testemunhas, pela no observncia de prerrogativas processuais deferidas aos parlamentares ou pelo indeferimento de percias solicitadas por ambas as partes.

    Tais alegaes foram exaustivamente analisadas e afastadas pela Corte a quo no momento da anlise dos agravos retidos que foram apresentados no momento da realizao das audincias, como se verifi ca dos seguintes excertos do acrdo recorrido (fl s. 1.309-1.315, sem grifos no original):

    Os recorrentes alegam cerceamento de defesa, pugnando pela decretao de nulidade do processo a partir da audincia realizada no dia 26.2.2013, em razo do indeferimento da substituio das testemunhas Rafael Silva David Miranda e Gilberto Wagner Martins Pereira, bem como pelo fato de no ter sido observada a prerrogativa prevista no art. 411, inciso VIII, do Cdigo de Processo Civil, em relao a um deputado arrolado como testemunha.

    Contudo, razo no lhes assiste.

    Primeiramente, com relao prerrogativa contida no art. 411, inciso VIII, do Cdigo de Processo Civil, imperioso ressaltar que a sua aplicao fi ca mitigada nos feitos eleitorais, em face da celeridade a ser observada nos procedimentos dessa natureza. Verifi ca-se que, nas aes cujos ritos esto previstos na Lei Complementar n. 64/1990, h expressa previso de que as testemunhas sero ouvidas em uma s assentada e devem comparecer, independentemente de intimao, cabendo parte que as arrolou apresent-las, conforme preceitua o art. 5, 1 e o art. 22, inciso V, in verbis:

    Art. 5 (...)

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

    MSTJTSE, a. 9, (14): 13-138, maio 2017

    1 As testemunhas do impugnante e do impugnado sero ouvidas em uma s assentada..

    Art. 22. (...)

    V - fi ndo o prazo da notifi cao, com ou sem defesa, abrir-se- prazo de 5 (cinco) dias para inquirio, em uma s assentada, de testemunhas arroladas pelo representante e pelo representado, at o mximo de 6 (seis) para cada um, as quais comparecero independentemente de intimao.

    [...]

    Demais disso, cabe ao magistrado a direo do processo, devendo apreciar as necessidades reais da produo de provas para o deslinde da questo, podendo inclusive indeferir as provas que entender desnecessrias, conforme preceitua o Cdigo de Processo Civil em seu art. 130:

    Art. 130. Caber ao juiz, de ofcio ou a requerimento da parte, determinar as provas necessrias instruo do processo, indeferindo as diligncias inteis ou meramente protelatrias.

    Art. 131. O juiz apreciar livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstncias constantes dos autos, ainda que no alegados pelas partes; mas dever indicar, na sentena, os motivos que lhe formaram o convencimento. (Redao dada pela Lei n. 5.925, de 1.10.1973)

    [...]

    Assim sendo, no h falar em cerceamento de defesa e em desrespeito ao devido processo legal, inexistindo, portanto, violao ao art. 5 da Constituio da Repblica.

    [...]

    Os recorrentes pugnaram pela decretao de nulidade do processo a partir da realizao da primeira audincia, ao argumento de que houve cerceamento de defesa ante o indeferimento do pedido de substituio da testemunha Rafael Silva David Miranda, que no pode comparecer ao ato, em razo de problemas de sade, conforme atestado mdico apresentado (fl . 803 da AIME 1.310-64 e fl . 709

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    da AIJE 1.305-42), bem como da testemunha Jairo Atade, que Deputado Federal e reside em outro Estado da Federao (fl . 709 da AIJE 1.305-42).

    Entenderam da mesma forma com relao inobservncia da prerrogativa prevista no art. 411, inciso VIII, do Cdigo de Processo Civil, em relao testemunha Gilberto Vagner Martins Pereira Antunes, que ocupa o cargo de Deputado (fl . 804 da AIME 1.310-64 e fl . 709-710 da AIJE 1.305-42).

    A MM. Juza Eleitoral indeferiu o pedido de substituio da testemunha Rafael Silva David Miranda ao fundamento de que:

    (...) A substituio deve ser indeferida, por ser manifestamente impertinente e constituir na verdade mais um expediente protelatrio da defesa. Como se v o atestado datado do dia 24.2.2013, domingo, j sendo de conhecimento dos advogados de defesa, portanto, na data de ontem, dia 25, data inicialmente fi xada para a realizao da audincia. Portanto, deveria o pedido de substituio ter sido feito naquela ocasio e como no o foi, houve a precluso. (...)

    Com relao ao pedido de expedio de Carta Precatria para oitiva do Deputado Gilberto Vagner Martins Pereira Antunes, arrolado como testemunha pelos agravantes, assim decidiu a magistrada:

    (...) De acordo com o artigo 407 do CPC incumbe s partes depositar o rol de testemunhas precisando-lhes o nome, profi sso, residncia e local de trabalho. No presente caso os impugnados no especifi caram na contestao e nem no rol de f. 731 a qualifi cao da testemunha descrita no inciso IV, requerendo a aplicao do procedimento previsto no art. 411, inciso VIII, na presente assentada. Verifi co que o procurador dos impugnados, no obstante previso expressa na Lei Complementar n. 64/1990 e na Resoluo n. 23.367/2011, artigo 26, 2, foi intimado f. 760, 768, 776 e 784, quatro vezes portanto, de que as testemunhas arroladas seriam ouvidas independentemente de intimao. Posto isso, o requerimento reveste-se de carter protelatrio, por surpreender as partes e inviabilizar a administrao da justia, que poderia ter providenciado a oitiva da testemunha nos

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    moldes do artigo 411 do CPC, caso tivesse sido feito poca da contestao. (...)

    Destarte, conforme se verifi ca, em ambos os casos os agravantes omitiram-se no momento necessrio, sem justifi cativa, deixando para se manifestarem apenas quando do incio da audincia, havendo claro intuito protelatrio.

    Demais disso, conforme j mencionado na anlise da preliminar, os feitos eleitorais devem pautar-se pela celeridade, motivo pelo qual h expressa previso de que a audincia ocorrer em nica assentada e as testemunhas devem comparecer independentemente de intimao.

    Dessa forma, decidiu bem a MM. Juza Eleitoral ao indeferir os mencionados pedidos, no havendo falar, portanto, em cerceamento de defesa e em desrespeito ao devido processo legal, inexistindo violao ao art. 5 da Constituio da Repblica.

    Como se depreende dos trechos supracitados, constantes do acrdo, no procedem as alegaes de ofensa ao art. 408, II, do CPC, relacionada a indeferimento de substituio de testemunha, visto que o referido pedido se deu na prpria audincia, constituindo, de fato, expediente procrastinatrio da defesa. No se verifi ca, igualmente, a pretensa inobservncia de prerrogativas processuais deferidas aos parlamentares, pois no foi observada pela parte a disposio constante do art. 407 do CPC, ao se deixar de mencionar a qualifi cao da testemunha.

    Tem-se que agiu com acerto a magistrada de piso, tambm, quanto negativa de produo de prova pericial. Destaco do acrdo (fl . 1.316):

    No tocante aos pedidos de percia, tambm no se vislumbra justifi cativa para sua realizao. Com relao camiseta, nem sequer foi especifi cada a sua necessidade. E, com referncia ao pedido de percia contbil, h de se ressaltar que no h previso para sua realizao, posto que as contas so analisadas pelos servidores da Justia Eleitoral que detm conhecimento especfi co para a anlise das contas de campanha, conforme j decidido por esta Corte:

    [...]

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    Ou seja, no que se refere suposta violao ao art. 4202 do CPC e ao art. 5, XXXV, da Constituio da Repblica, em funo da negativa de prova pericial, consta do acrdo recorrido que tais requerimentos foram indeferidos porque, em primeiro lugar, a parte no apresentou especifi cao justifi cada para a produo de percia nas camisetas e, em segundo lugar, no foi demonstrada a necessidade de certifi car a regularidade de ato realizado pela prpria parte em virtude da apresentao de prestao de contas de campanha, contas estas que posteriormente foram apreciadas pelo setor tcnico da prpria Justia Eleitoral.

    Entendo, assim, que foram corretamente afastadas as alegaes relacionadas a pretenso cerceamento de defesa e desrespeito ao devido processo legal, no havendo falar em violao legal ou constitucional tambm quanto ao ponto.

    Por outro lado, ao sopesar os elementos probatrios produzidos nos autos, o acrdo recorrido observou estritamente o princpio da persuaso racional ou do livre convencimento motivado, segundo o qual o julgador no est vinculado a todas as provas produzidas, podendo escolher de acordo com seu convencimento uma prova em detrimento da outra, desde que motive sua deciso.

    Sobre a aplicao do princpio do livre convencimento motivado aos processos eleitorais, este Tribunal Superior assim se manifestou:

    Embargos de declarao. Representao. Investigao judicial eleitoral. Omisso. Deciso monocrtica. Indeferimento da inicial. Ilegitimidade ativa. Eleitor. Recebimento. Agravo regimental. Obrigao. Magistrado. Motivao. Argumentos. Negado provimento.

    1. Embargos de declarao interpostos contra deciso monocrtica devem ser recebidos como agravo regimental, de acordo com a jurisprudncia deste Tribunal Superior.

    2 Art. 420. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliao.

    Pargrafo nico. O juiz indeferir a percia quando:

    I - a prova do fato no depender do conhecimento especial de tcnico;

    II - for desnecessria em vista de outras provas produzidas;

    III - a verifi cao for impraticvel.

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    2. O magistrado livre para motivar sua deciso to somente com os argumentos que servirem ao seu convencimento, sem necessidade de analisar todas as alegaes das partes. Precedentes.

    3. O interessado pode renovar a ao de investigao judicial eleitoral perante o Tribunal, desde que apresente fatos, indcios, circunstncias e fundamentos novos em relao aos que j foram analisados anteriormente. Precedentes.

    4. O mero eleitor no parte legtima para ajuizar pedido de abertura de investigao judicial, considerados os limites impostos pela Lei das Inelegibilidades, de natureza complementar, que estabelecem, quanto ao tema, nova disciplina, sem prejuzo da notcia de alegados abusos ao rgo do Ministrio Pblico.

    5. Agravo regimental a que se nega provimento.

    (ED-Rep n. 3.176-32/DF, rel. Min. Nancy Andrighi, DJE de 24.8.2011; sem grifos no original)

    Consigno, por fi m, que decidir diferentemente do acrdo regional quanto ao ponto implicaria o reexame de fatos e provas constante dos autos, o que vedado nesta instncia, a teor das Smulas 7/STJ e 279/STF.

    No mais, sabido que a revalorao de provas, na instncia especial, somente admitida em casos excepcionais, quando h contrariedade a uma regra jurdica ou princpio no campo probatrio, o que no ocorreu no presente caso.

    Contradita de Testemunhas (art. 405 CPC)

    A pretensa ofensa ao art. 4053, 3 e 4, do CPC, em razo do indeferimento de contradita de uma das testemunhas, foi afastada

    3 Art. 405. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. (Redao dada pela Lei n. 5.925, de 1.10.1973)

    [...]

    3 So suspeitos: (Redao dada pela Lei n. 5.925, de 1.10.1973)

    I - o condenado por crime de falso testemunho, havendo transitado em julgado a sentena; (Redao dada pela Lei n. 5.925, de 1.10.1973)

    II - o que, por seus costumes, no for digno de f; (Redao dada pela Lei n. 5.925, de 1.10.1973)

    III - o inimigo capital da parte, ou o seu amigo ntimo; (Redao dada pela Lei n. 5.925, de 1.10.1973)

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    por entender a juza eleitoral que no estariam presentes as causas de impedimento e suspeio.

    O voto condutor do acrdo, na anlise dos 2, 3, 4 e 9 e 10 agravos retidos, ressaltou tambm a aplicao do princpio da razoabilidade quanto ao indeferimento de contradita e negativa de oitiva das testemunhas contraditadas na condio de informantes, afi rmando que tal deciso visava impedir que as partes perpetuassem o feito com seus pedidos por tempo indefi nido (fl . 1.313).

    Destaco do acrdo, in verbis: (fl . 1.313-1.318):

    Os recorrentes agravaram da deciso da MM. Juza Eleitoral que indeferiu a contradita da testemunha Emdio Neto de Castro, ao argumento de que a citada testemunha tem interesse na causa, fl . 788, posto que sua esposa tem parentesco com a candidata dos partidos impugnantes.

    A MM. Juza Eleitoral entendeu que no estavam presentes as causas de impedimento ou suspeio, previstas no art. 405 do Cdigo de Processo Civil.

    Verifi ca-se que no foram apresentadas provas das alegaes dos agravantes, razo pela qual nego provimento ao agravo.

    [...]

    Os recorrentes agravaram da deciso da MM. Juza Eleitoral pelo deferimento de perguntas realizadas testemunha Emdio Neto de Castro, pela no fi xao de pontos controvertidos antes do incio das oitivas e pela limitao do tempo para apresentao do agravo, s fl s. 790-791.

    Na sua deciso, a MM. Juza Eleitoral entendeu que as perguntas tinham pertinncia com a causa em julgamento. No tocante limitao do tempo para apresentao dos agravos, a deciso fundamentou-se no princpio da razoabilidade, no intuito de impedir que os agravantes perpetuassem com seus pedidos por tempo indefi nido.

    IV - o que tiver interesse no litgio. (Redao dada pela Lei n. 5.925, de 1.10.1973)

    4 Sendo estritamente necessrio, o juiz ouvir testemunhas impedidas ou suspeitas; mas os seus depoimentos sero prestados independentemente de compromisso (art. 415) e o juiz lhes atribuir o valor que possam merecer. (Redao dada pela Lei n. 5.925, de 1.10.1973)

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    Verifi ca-se que, realmente, as perguntas direcionadas testemunha tinham pertinncia com os gastos na campanha dos recorrentes, portanto, com a causa em julgamento. Ademais, no se verifi ca alterao dos fatos trazidos na inicial, pois, a presente ao visa apurao de irregularidades na arrecadao e nos gastos de campanha.

    Quanto limitao do tempo, conforme j mencionado, insta ressaltar que cabe ao magistrado manter a ordem na audincia, isso deve incluir o dever de conduo de forma clere, portanto, pertinente a deciso, mormente pela quantidade de agravos apresentados e pelo fato de a audincia ter sido adiada por trs vezes [...]

    [...]

    Os recorridos contraditaram as testemunhas Eduardo Augusto Magalhes e Jos Maria Magalhes Rabelo, o que foi deferido pela MM. Juza Eleitoral, razo pela qual os recorrentes agravaram da deciso, ao argumento de que as testemunhas so de vital importncia para elucidao da lide e o indeferimento de suas oitivas acarretaria cerceamento de defesa, conforme se verifi ca s fl s. 814 e 817.

    Com relao testemunha Eduardo Augusto Magalhes, verifi ca-se que este doou R$10.000,00 (dez mil reais) em espcie para o PPS, partido da impugnada Sandra Maria Fonseca Cardoso, conforme documento de fl s. 821.

    Consta nos autos que a testemunha Jos Maria Magalhes Rabelo doou dinheiro em espcie ao partido da impugnada Sandra Maria Fonseca Cardoso, conforme documento de fl s. 821, e est fi liado ao Partido PPS, conforme documento de fl s. 820.

    Acertada, portanto, a deciso da MM. Juza, uma vez que foi claramente demonstrado o envolvimento das testemunhas com a campanha eleitoral dos impugnados, razo pela qual nego provimento aos agravos.

    Verifi ca-se dos trechos do acrdo anteriormente transcritos que no h aqui, tambm, nenhuma afronta legislao processual ou a princpio constitucional. importante notar que o relator do decisum fez expressa meno a que o indeferimento dos pedidos no alteraria os fatos trazidos na inicial, tendo em vista tratarem as aes de apurao de irregularidades na arrecadao e nos gastos de campanha, que teriam sido sobejamente comprovadas pelo arsenal probatrio constante dos autos, cabendo ao

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    magistrado a direo do processo e a apreciao da real necessidade da produo de provas para o deslinde da questo.

    Condenao por Prova Ilcita (Art. 5, X, LIV e LVI, da CF/1988)

    No prospera, igualmente, a alegao relacionada ao fato de que a condenao teria sido lastreada em prova ilcita, por ter havido a quebra do sigilo bancrio das fi lhas da recorrente Sandra Maria Fonseca Cardoso.

    Assim se manifestou o decisum quanto ao ponto, ao analisar o 7 agravo retido apresentado pelas partes (fl . 1.316):

    Inicialmente, em relao quebra do sigilo, conforme bemmencionado pela MM. Juza Eleitoral em sua deciso, os prprios impugnados reconheceram que uma despesa de campanha relativa a uma pesquisa eleitoral foi paga pela fi lha de Sandra Maria Fonseca Cardoso, conforme contestao, fl . 715, e alegaes fi nais, fl . 1.055.

    E, em outra passagem do acrdo (fl . 1.330):

    Novamente no assiste razo aos recorrentes, quando afi rmam que a MM. Juza Eleitoral se baseou em presunes e ilaes, ao afi rmar na sentena que as fi lhas da recorrente Sandra Maria Fonseca Cardoso fi zeram grande movimentao fi nanceira no perodo da campanha, j que, analisando-se as provas constantes nos autos, mormente os informativos de fl s. 920-925; fl s.926-928; fl s. 944-955 e fl s. 964-974, verifi ca-se claramente um elevado movimento fi nanceiro nas citadas contas, dados que, aliados ao fato de os prprios recorrentes admitirem que uma pesquisa eleitoral foi paga por uma das fi lhas da recorrente, conforme afi rmado na contestao, fl . 715, e nas alegaes fi nais, fl . 1.055, ensejam demonstrao de que despesas de campanhas foram pagas sem trmite pela conta bancria de campanha.

    O afastamento da referida alegao de nulidade do processo foi mantido no julgamento dos embargos de declarao, tendo ressaltado o relator que a quebra de sigilo bancrio decorreu de deciso judicial, devidamente fundamentada, conforme se verifi ca fl . 807 (fl s. 1.389-1.390, sem grifos no original).

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    Na mesma linha mutatis mutandis posiciona-se o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, ao assentar que constitui prova ilcita aquela colhida mediante a quebra do sigilo fi scal sem a prvia autorizao judicial (AgR-REspe n. 828-55/GO, rel. Ministro Dias Toff oli, DJE de 31.3.2014).

    O Ministrio Pblico, instado a se manifestar, da mesma forma entendeu pelo afastamento da pretensa afronta constitucional (fl . 1.611):

    No que concerne tese de afronta ao art. 5, X, LIV e LVI, da Constituio Federal, sob o argumento de que a quebra de sigilo fi scal das fi lhas da recorrente Sandra Maria Fonseca deu-se por ato destitudo de fundamentao vlida, deve ser rechaada. Nota-se que, ao contrrio do defendido pela parte recorrente, a prova obtida advinda de quebra de sigilo fi scal mediante deciso devidamente fundamentada, com base no reconhecimento de realizao de despesa relativa pesquisa eleitoral, cujo pagamento efetuou-se por intermdio de uma das fi lhas da referida recorrente.

    Alm disso, verifi ca-se que a concluso da Corte a quo pela condenao se deu com base em diversas outras provas constantes nos autos, no havendo falar, por esse motivo, em que estaria enfraquecido o valor do conjunto probatrio produzido.

    Inverso do nus Probatrio e M-valorao da Prova (art. 5, LV, CF/1988; arts. 131 e 333 do CPC)

    Contrariamente ao sustentado pelos recorrentes, tem-se que, de acordo com o que consta dos julgados, a Corte Regional no teria exigido dos ento impugnados/investigados a produo de provas, e sim concludo pela prtica dos ilcitos com base na existncia de provas robustas (documentais e testemunhais), que no teriam sido devidamente desconstitudas pelos ora recorrentes.

    Nesse sentido, ressalto que o TSE j entendeu pela improcedncia da alegao de violao ao art. 333, I, do CPC, quando forem apresentadas provas sufi cientes nos autos para demonstrar a veracidade das informaes apontadas na petio inicial (REspe n. 630-70/RJ, rel. Min. Joo Otvio de Noronha, DJE de 11.2.2015).

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    Omisses e Contradies nos Acrdos Regionais (art. 275 do CE)

    Diante da fundamentao dos acrdos proferidos pela Corte a quo, deve ser tambm afastado o pedido relacionado nulidade do feito pela ocorrncia de pretensas omisses ou contradies, no se vislumbrando a alegada afronta ao artigo 275 do Cdigo Eleitoral ou de eventual defi cincia na fundamentao.

    Ao contrrio, verifi ca-se da leitura dos acrdos regionais que, aps anlise detalhada dos fatos e provas dos autos, foi expressamente afastada a existncia de qualquer omisso ou contradio no decisum, mormente quanto s alegaes relacionadas ocorrncia de cerceamento de defesa.

    Como afi rmado no acrdo proferido em embargos de declarao, o inconformismo dos embargantes quanto a tais questes, assim como quanto ao mrito propriamente dito, limitou-se orientao jurdica adotada e ao intuito de obter novo julgamento da causa, no padecendo o decisum de omisso ou contradio.

    Constata-se que o TRE/MG examinou e decidiu a respeito de todas as questes essenciais ao deslinde da controvrsia levadas a sua apreciao, registrando que o magistrado no est obrigado a responder todas as alegaes das partes, tampouco a rebater um a um todos os argumentos, desde que os fundamentos adotados tenham sido sufi cientes para embasar a deciso, tal como ocorre na espcie.

    Assim, diante da sufi ciente manifestao do Tribunal Regional a respeito das questes apontadas como no enfrentadas embora de forma contrria aos interesses dos recorrentes , no h falar em violao ao artigo 275 do CE.

    Caracterizao do Ilcito (art. 30-A da Lei n. 9.504/1997 e 14, 10, da CF/1988)

    Quanto matria de fundo, melhor sorte no socorre os recorrentes.De acordo com a deciso da Corte Eleitoral mineira, a procedncia

    das aes de impugnao de mandato eletivo e de investigao judicial eleitoral se deu em razo da comprovao da prtica de abuso do poder econmico, nos termos dos arts. 14, 10, da CF/1988 e do art. 30-A da

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    Lei n. 9.504/1997, com aptido para desequilibrar o pleito ao levar-se em conta a gravidade concreta dos fatos comprovados nos autos, com visvel comprometimento da normalidade e legitimidade da eleio, visto que vultosos recursos de origem estranha conta especfi ca foram utilizados na campanha dos impugnados (fl . 1.318, sem grifos no original).

    Por pertinente, transcrevo do acrdo regional (fl . 1.321-1.326):

    In casu, segundo narrado na sentena, os recorrentes apresentaram contas irregulares, com claro uso indiscriminado de caixa dois, em razo da movimentao de todos os gastos eleitorais sem transitar pela conta bancria de campanha, alm de apresentar contas retifi cadoras, com alterao substancial dos valores, sem justifi car essas alteraes realizadas, o que ensejou a desaprovao das contas. E, ainda, teriam omitido na prestao de contas apresentada Justia Eleitoral gastos vultosos, resultando em clara incoerncia entre os valores declarados e a magnitude da campanha realizada.

    Na sentena que julgou procedentes as aes, foram apontadas as seguintes irregularidades:

    1) pagamento de material grfi co sem trmite pela conta bancria;

    2) produo de jingles e vdeos sem comprovao do pagamento na prestao de contas;

    3) no contabilizao de despesas relativas a carros de som, palco, iluminao e pela confeco de 3.000 (trs mil) bandeiras;

    4) pagamento de pesquisa eleitoral pela fi lha da primeira recorrente, sem constar na prestao de contas;

    5) pagamento para publicao do resultado da pesquisa sem trnsito pela conta bancria;

    6) ausncia de despesas com combustvel nos dois primeiros meses da campanha eleitoral:

    7) ausncia de nota fi scal relativa doao de 300 (trezentas) camisetas;

    8) gastos eleitorais superiores ao limite estabelecido para a campanha;

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    9) subfaturamento no pagamento de servios de contabilidade e advocacia.

    As condutas narradas, em sntese, retratam omisso de despesas realizadas durante a campanha, as quais foram pagas sem trmite pela conta bancria e sem identifi cao dos doadores.

    Analisando as provas carreadas aos autos, consta que os recorrentes inicialmente apresentaram uma prestao de contas relatando uma arrecadao de R$ 22.645,00 (vinte e dois mil e seiscentos e quarenta e cinco reais), dos quais R$ 2.100 (dois mil e cem reais) foram oriundos de recursos em espcie doados pela prpria candidata; R$ 2.950,00 (dois mil novecentos e cinquenta reais) foram oriundos de doaes em espcie de pessoas fsicas e o restante proveniente de doaes estimveis de diversas origens (fl s. 43-45).

    Aps a emisso do relatrio preliminar de exame, s fl s. 116-122, apontando diversas irregularidades, foi apresentada a 1 retifi cadora, cujos dados foram substancialmente alterados, passando-se a declarar que a arrecadao foi apenas de recursos estimveis, perfazendo-se um total de R$ 41.968,80 (quarenta e um mil novecentos e sessenta e oito reais e oitenta centavos), deixando de haver registro de recebimento de doaes em espcie, bem como o pagamento de despesas, s fl s. 132-135.

    Na segunda retifi cadora, s fl s. 270-273, o valor da arrecadao foi novamente alterado, passando-se a declarar receitas no total de R$ 42.665,62 (quarenta e dois mil seiscentos e sessenta e cinco reais e sessenta e dois centavos).

    Depois das retifi caes realizadas, diversamente do afi rmado pelos recorrentes, no exame fi nal das contas foi constatado que remanesceram vrias irregularidades graves, dentre elas: 1) realizao de grandes alteraes nas contas, sem apresentao de justifi cativas adequadas, estando ausentes documentos que pudessem comprovar as alteraes; 2) expedio de recibos eleitorais, aps a entrega das contas; 3) ausncia de canhotos de recibos eleitorais; 4) recebimento de doaes estimveis em dinheiro, com burla s regras de doao, posto no constituir produto do servio ou da atividade econmica dos doadores; 5) apresentao de extrato bancrio que no contm nenhuma movimentao fi nanceira; 6) na primeira prestao de contas constavam diversas despesas pagas em espcie, no total de R$ 12,075,00 (doze

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    mil e setenta e cinco reais), entretanto, nas retifi cadoras essas despesas simplesmente no foram mencionadas e passaram a constar como receitas estimadas; 7) nas retifi cadoras constam despesas com combustvel, mas no foram mencionadas cesses ou locaes de veculos; 8) existncia de notas fi scais emitidas em nome da recorrente Sandra Maria Fonseca Cardoso, demonstrando que a prpria candidata pagou as despesas, contudo, os valores foram registrados como receitas estimadas provenientes de terceiros; 9) contratao de servios, aps a eleio; 10) pagamento em espcie, sem trmite pela conta bancria e sem registro na prestao de contas, conforme parecer de fl s. 257-263.

    Verifi ca-se que os recorrentes, nas razes recursais, limitam-se a afi rmar que a sentena se fundamentou em meras ilaes e divagaes, pois o relatrio de anlise das contas no retrata nenhum ato de abuso de poder econmico. Mencionam que no h prova nos autos de que os recursos estimados em dinheiro recebidos em doao foram provenientes da prpria candidata impugnada, como sups a prolatora da sentena. Declaram que toda a campanha foi realizada com base em doaes estimveis em dinheiro recebidas de outros candidatos, partidos polticos e eleitores.

    Primeiramente, consta, nos autos, que a conta bancria de campanha da recorrente Sandra Maria Fonseca Cardoso somente foi aberta em 27.11.2012 (fl . 1.016), portanto, depois da eleio e depois que foi notifi cada pela Justia Eleitoral para manifestar-se acerca do parecer preliminar, demonstrando clara desobedincia legislao aplicvel espcie, expressamente o art. 12 da Resoluo n. 23.376/2012/TSE, que assim preceitua:

    Art. 12. obrigatria para os candidatos, comits fi nanceiros e partidos polticos, em todos os nveis de direo, a abertura de conta bancria especfi ca, na Caixa Econmica Federal, no Banco do Brasil ou em outra instituio fi nanceira com carteira comercial reconhecida pelo Banco Central do Brasil, para registrar o movimento fi nanceiro de campanha eleitoral, vedado o uso de conta bancria preexistente (Lei n. 9.504/1997, art. 22, caput). 1 A conta bancria especfi ca de que trata o caput dever ser aberta:

    a) pelo candidato e pelo comit fi nanceiro no prazo de 10 dias a contar da concesso do CNPJ pela Secretaria da Receita Federal do Brasil; e (...)

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    Ao que se verifi ca nos autos, especialmente considerando os dados apresentados nas contas retifi cadoras, que declaram que somente houve recebimento de doaes estimveis, que vrias despesas de campanha foram pagas diretamente pelos doadores ou pelos recorrentes e, assim sendo, vrios dispositivos legais foram violados, visto que o correto seria o doador depositar o dinheiro na conta de campanha dos recorrentes, os quais deveriam expedir os respectivos recibos eleitorais, em seguida contratar e pagar pelo servio/produto adquirido, mediante cheque ou transferncia bancria, juntando-se as notas fi scais em nome dos candidatos. Porm, da forma como ocorreu, fi cou claro que houve o recebimento e a utilizao de recursos fi nanceiros de origem no declarada e que no transitaram pela conta bancria de campanha, em clara afronta ao disposto no art. 17 da Resoluo n. 23.376/2012/TSE, que assim preceitua:

    Art. 17. A movimentao de recursos fi nanceiros fora da conta especfi ca de que trata o art. 12 desta resoluo, a exceo dos recursos do Fundo Partidrio, implica a desaprovao das contas de campanha e o posterior envio dos autos ao Ministrio Pblico Eleitoral para a propositura da ao cabvel.

    Depreende-se tambm que no houve comprovao da origem dos recursos fi nanceiros utilizados para pagamento de despesas, tratando-se de vcio grave e que compromete sobremaneira a confi abilidade das contas. Sendo certo que, para demonstrao da origem dos recursos, as doaes devem ser efetivadas diretamente na conta de campanha, a teor do disposto no art. 22 da Resoluo n. 23.376/2012/TSE:

    Art. 22. As doaes, inclusive pela internet, feitas por pessoas fsicas e jurdicas em favor de candidato, comit fi nanceiro e/ou partido poltico sero realizadas mediante:

    I - cheques cruzados e nominais, transferncia bancria, boleto de cobrana com registro, carto de crdito ou carto de dbito;

    II - depsitos em espcie, devidamente identifi cados com o CPF/CNPJ do doador;

    III - doao ou cesso temporria de bens e/ou servios estimveis em dinheiro.

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    Da mesma forma, as despesas de campanha devem ser pagas mediante cheque ou transferncia bancria, de modo a haver transparncia durante a campanha eleitoral:

    Art. 30 (...)

    1 Os gastos eleitorais de natureza fi nanceira s podero ser efetuados por meio de cheque nominal ou transferncia bancria, ressalvadas as despesas de pequeno valor previstas nos 2 e 3.

    Por conseqncia, a conduta dos recorrentes demonstra que houve o recebimento de doaes sem a emisso dos respectivos recibos eleitorais, e, ainda, a emisso de recibos eleitorais quando da apresentao das contas retifi cadoras. Destaco que os recibos eleitorais so documentos de emisso obrigatria e essenciais comprovao da origem dos recursos arrecadados durante a campanha e devem ser emitidos no exato momento do recebimento da doao. O art. 4 da Resoluo n. 23.376/2012/TSE preconiza que:

    Art. 4. Toda e qualquer arrecadao de recursos para a campanha eleitoral, fi nanceiros ou estimveis em dinheiro, s poder ser efetivada mediante a emisso do recibo eleitoral.

    Demais disso, em se tratando de doaes estimveis, imprescindvel a observncia da determinao contida no art. 23 da citada resoluo, o que no ocorreu no caso dos autos, pois consta o recebimento de doaes estimveis em dinheiro relativas a servio de telefone, publicidade por jornais e revistas, despesas com pessoal, oriundas de pessoas fsicas, s fl s. 258-263. O artigo 23 da Resoluo n. 23.376/2012/TSE assim prescreve:

    Art. 23. So considerados bens estimveis em dinheiro fornecidos pelo prprio candidato apenas aqueles integrantes do seu patrimnio em perodo anterior ao pedido de registro da candidatura. Pargrafo nico. Os bens e/ou servios estimveis em dinheiro doados por pessoas fsicas e jurdicas, com exceo de partidos polticos, comits fi nanceiros e candidatos, devem constituir produto de seu prprio servio, de suas atividades econmicas e, no caso dos bens permanentes, devero integrar o patrimnio do doador.

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    Ministros do STJ no TSE - Ministra Maria Thereza de Assis Moura

    Destaco, ainda, que, no caso de apresentao de contas retifi cadoras, obrigatria a apresentao de documentos que comprovem a alterao realizada, o que tambm no foi observado no caso em apreo, havendo desobedincia ao disposto no art. 47, 1, da Resoluo n. 23.376/2012/TSE, in verbis:

    Art. 47. Havendo indcio de irregularidade na prestao de contas, o Juzo Eleitoral poder requisitar diretamente, ou por delegao, informaes adicionais do candidato, do comit fi nanceiro ou do partido poltico, bem como determinar diligncias para a complementao dos dados ou para o saneamento das falhas (Lei n. 9.504/1997, art. 30, 4). 1 Sempre que o cumprimento de diligncias implicar a alterao das peas, ser obrigatria a apresentao da prestao de contas retifi cadora, impressa e em nova mdia gerada pelo SPCE, acompanhada dos documentos que comprovem a alterao realizada (grifo nosso)

    Aps a anlise das irregularidades encontradas, concluiu o relator do acrdo que a prestao de contas no teria se dado nos moldes em que determina a legislao pertinente, manifestando-se nos seguintes termos (fl s. 1.326-1.327):

    No caso dos autos, os recorrentes inicialmente apresentaram uma prestao de contas relatando uma arrecadao de R$ 22.645,00 (vinte dois mil e seiscentos e quarenta e cinco reais), dos quais R$5.050,00 (cinco mil e cinquenta reais) eram oriundos de doaes em espcie, s fl s. 43-45, em seguida, aps a emisso do relatrio preliminar de exame, foi apresentada a 1 retifi cadora, passando-se a declarar que a arrecadao foi apenas de recursos estimveis, perfazendo-se um total de R$ 41.968,80 (quarenta e um mil novecentos e sessenta e oito reais e oitenta centavos), s fl s. 132-135, e, por fi m, foi apresentada uma 2 retifi cadora, s fl s. 270-273, na qual o valor da arrecadao foi novamente alterado, passando-se a declarar receitas no total de R$ 42.665,62 (quarenta e dois mil seiscentos e sessenta e cinco reais e sessenta e dois centavos).

    Contudo, conforme narrado no relatrio fi nal de exame de fl s. 257-263, os recorrentes no comprovaram documentalmente as alteraes realizadas.

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

    MSTJTSE, a. 9, (14): 13-138, maio 2017

    Diversamente do afi rmado pelos recorrentes, h provas nos autos de que houve pagamento de despesas pelos prprios recorrentes, tais como a nota fi scal no valor de R$ 4.725,00 (quatro mil setecentos e vinte e cinco reais), fl . 841; a nota fi scal no valor de R$ 5.300,00 (cinco mil e trezentos reais), fl . 264; a nota fi scal no valor de R$ 930,00 (novecentos e trinta reais), fl . 254, todas expedidas em nome da recorrente Sandra Maria Fonseca Cardoso.

    Demais disso, consta nos autos prova documental e testemunhal demonstrando a realizao de vultosos gastos na campanha dos recorrentes, cujas despesas no foram devidamente contabilizadas, como as fotografi as acostadas s fl s. 365-373, s fl s. 601-617, s fl s. 644-678 destes autos e s fl s. 75-111 da AIJE n. 1.305-42.

    Dando seguimento a seu voto, aps fazer meno a diversos depoimentos testemunhais e provas documentais que confi rmariam que a campanha teria sido levada a termo com altos investimentos em propaganda eleitoral (carros de som, shows pirotcnicos, outdoors, bandeiras, adesivos, camisetas, por exemplo), o relator continua elencando as irregularidades apontadas nas contas, como se depreende do seguinte excerto (fl s. 1.328-1.329):

    Conforme consta no relatrio fi nal de anlise, s fl s. 257-263, os recorrentes informaram despesas com combustvel, entretanto, no foram mencionadas cesses ou locaes de veculos. Verifi ca-se, assim, que essa conduta constitui, na realidade, omisso de recursos arrecadados que macula as contas. O art. 19 da Resoluo n. 23.376/2012/TSE assim determina:

    Art. 19. Os partidos polticos podero aplicar ou distribuir pelas diversas eleies os recursos fi nanceiros recebidos de pessoas fsicas e jurdicas, devendo, obrigatoriamente:

    I - discriminar a origem e a destinao dos recursos repassados a candidatos e a comits fi nanceiros;

    E conclui, assim, a Corte a quo pela prtica de captao ilcita de recursos pelos recorrentes, in verbis (fl s. 1.330-1.335):

    Em face de todo o exposto, verifi cam-se grandes inconsistncias nos dados apresentados na prestao de contas, tornando-a totalmente

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    Ministros do STJ no TSE - Ministra Maria Thereza de Assis Moura

    desprovida de confi abilidade, mormente pelo fato da conta bancria de campanha encontrar- se totalmente sem movimentao fi nanceira e nem sequer ter sido aberta no perodo determinado pela legislao, ao passo que foi constatado o pagamento de despesas de campanha pelos recorrentes e seus familiares. Trata-se, assim, de situao conhecida como caixa dois, em que as receitas e despesas tramitam fora da conta bancria de campanha, que fi scalizada pela Justia Eleitoral, impedindo a efetiva fi scalizao e a transparncia dos gastos. Ademais, pelas provas constantes nos autos, os valores declarados como movimentados durante a campanha no retratam a realidade.

    [...]

    Assim sendo, verifi ca-se que incontestvel a gravidade da conduta dos recorrentes, considerando-se a vultosa campanha realizada, em total Inobservncia das normas legais pertinentes, em um municpio de pequena dimenso e com eleitorado de apenas 6.281 (seis mil duzentos e oitenta e um) eleitores.

    Conquanto a nova redao do art. 22 da Lei Complementar n. 64/905 afaste a potencialidade lesiva da conduta para infl uir no resultado do pleito como requisito para confi gurao do abuso, a sua ocorrncia, patente no caso concreto, torna mais evidente a seriedade dos fatos.

    Tem-se, assim, que as irregularidades ora apontadas so proporcionalmente expressivas, o que confi gura a captao ilcita de recursos e enseja a procedncia dos pedidos, conforme entendimento do Tribunal Superior Eleitoral:

    [...]

    Ante o exposto, acolhendo a manifestao da d. Procuradoria Regional Eleitoral, nego provimento aos recursos e mantenho a sentena que, julgando procedentes a ao de investigao judicial eleitoral e a ao de impugnao de mandato eletivo, cassou os diplomas/mandatos dos recorrentes e declarou-os inelegveis pelo prazo de oito anos.

    Consigno que, em virtude do disposto no art. 1, inciso I, alnea j, da Lei Complementar n. 64/19905, os recorrentes encontram-se inelegveis por oito anos, sendo tal inelegibilidade conseqncia das condenaes impostas no bojo do presente processo, conforme recentemente afi rmou o Tribunal Superior Eleitoral:Registro.

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    Abuso do Poder Econmico ou Poltico

    MSTJTSE, a. 9, (14): 13-138, maio 2017

    Quitao eleitoral. Desaprovao das contas de campanha.

    1. (...)

    2. Se as contas forem desaprovadas, por existncia de eventuais irregularidades, estas podero eventualmente fundamentar a representao de que cuida o art. 30-A da Lei n. 9.504/1997, cuja procedncia poder ensejar, alm da cassao do diploma, a inelegibilidade por oito anos, conforme prev a alnea j do inciso I do art. 1 da Lei Complementar n. 64/1990, dando efi ccia, no plano da apurao de ilcitos, deciso que desaprovar tais contas.

    Agravo regimental no provido.

    (Agravo Regimental em Rec