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APLICAÇÃO DA HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE PÚBLICA COMO ASPECTO DE PONDERAÇÃO PARA DECISÕES DO JUDICIÁRIO COMO EXECUTOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS Rayne Araújo Silva 1 01. Introdução Conforme já previsto, na atual Carta Magna, a saúde é direito de todos e dever do cidadão, por tal motivo, o texto Constitucional criou políticas públicas objetivando a efetivação deste direito. Ocorre que, a humanização vem, cada vez mais, servindo de parâmetro para analisar o que seria efetivamente, no caso concreto, este dever estatal. Sendo assim, a temática a ser desenvolvida se refere ao direito à saúde a luz do Princípio da Dignidade Humana e da Política Pública de Humanização e sua efetividade pelo Poder Judiciário. Não obstante as políticas públicas já criadas o direito à saúde não está sendo efetivada, visto que, conforme dado do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), as demandas judiciais sobre a saúde cresceram 130% (cento e trinta por cento) entre um lapso temporal de 10 (dez) anos. Posto isso, a materialização do estudo proposto é de suma relevância, pois o número de aumento de ação judiciais demonstra que se deve mudar o rumo que o Administrador vem (des)cumprindo o direito fundamental à saúde e o princípio da dignidade humana. Os objetivos específicos são três – Estudar sobre os direitos fundamentais e sociais com ênfase no direito à saúde como mínimo existencial; analisar o princípio da dignidade humana e humanização na saúde; investigar decisões judiciais sobre (in)efetividade do direito à saúde. 1 Advogada. Bacharel em Direito pela UNICERADO/GO. E-mail: [email protected].

APLICAÇÃO DA HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE PÚBLICA COMO … · 2020. 4. 28. · No dizer de Silva (2008) o medo da morte e da dor é um dos motivos que trazem mais sofrimento humano

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APLICAÇÃO DA HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE PÚBLICA COMO ASPECTO

DE PONDERAÇÃO PARA DECISÕES DO JUDICIÁRIO COMO EXECUTOR

DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Rayne Araújo Silva1

01. Introdução

Conforme já previsto, na atual Carta Magna, a saúde é direito de todos

e dever do cidadão, por tal motivo, o texto Constitucional criou políticas públicas

objetivando a efetivação deste direito. Ocorre que, a humanização vem, cada vez

mais, servindo de parâmetro para analisar o que seria efetivamente, no caso concreto,

este dever estatal. Sendo assim, a temática a ser desenvolvida se refere ao direito à

saúde a luz do Princípio da Dignidade Humana e da Política Pública de Humanização

e sua efetividade pelo Poder Judiciário.

Não obstante as políticas públicas já criadas o direito à saúde não está

sendo efetivada, visto que, conforme dado do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), as

demandas judiciais sobre a saúde cresceram 130% (cento e trinta por cento) entre um

lapso temporal de 10 (dez) anos. Posto isso, a materialização do estudo proposto é de

suma relevância, pois o número de aumento de ação judiciais demonstra que se deve

mudar o rumo que o Administrador vem (des)cumprindo o direito fundamental à

saúde e o princípio da dignidade humana.

Os objetivos específicos são três – Estudar sobre os direitos

fundamentais e sociais com ênfase no direito à saúde como mínimo existencial;

analisar o princípio da dignidade humana e humanização na saúde; investigar decisões

judiciais sobre (in)efetividade do direito à saúde.

1 Advogada. Bacharel em Direito pela UNICERADO/GO. E-mail: [email protected].

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Frente ao exposto, fica-se evidenciado a necessidade da atuação do

Estado para a proteção dos princípios da dignidade das pessoas humanas e da saúde,

nestes termos, a presente pesquisa visa responder seguinte indagação – Como vem se

posicionando o poder judiciário enquanto a (in)efetividade do direito à saúde a luz do

princípio da dignidade da pessoa humana e da teoria da humanização?

Acredita-se que as políticas públicas criadas referentes à saúde estão

desconsiderando a dignidade e humanização, motivando a inefetividade da saúde

pública e a insatisfação da população com o Estado, com isso, acabando por gerar

inúmeros processos de mesma natureza e superlotando o acervo judicial.

A metodologia utilizada neste artigo perpassa por pesquisas

bibliográficas exploratórias e descritivas utilizando-se do método dedutivo para a

análise interpretativa, buscando assim, o devido respaldo teórico científico. A

pesquisa gira em torno de fontes primárias e segundarias publicadas eletronicamente,

e livros existentes nas bibliotecas eletrônica e física.

02. Direitos fundamentais e proteção social à saúde como mínimo existencial

Entende-se por direitos fundamentais o conjunto de direitos e garantias

do cidadão cujo o principal objetivo é fornecer o básico para sua dignidade. Nestes

termos, o Estado é o responsável/obrigado a proporcionar e garantir ao indivíduo o

necessário para suas condições mínimas de vida e de desenvolvimento humano.

O Estado Democrático de Direito só é caracterizado se guardar os

direitos humanos, porém, frente a realidade, apesar de assim ser, e de assegurados

pela Magna-Carta são direitos desrespeitados, o que resta ao cidadão é a busca da

tutela jurisdicional para resguardar e efetiva-los (MORAES, 2013).

Sendo assim, os direitos fundamentais possuem dois lados um aplica-se

ao plano jurídico-objetivo, ou seja, aqueles impostos aos poderes públicos, sendo

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vedado sua aplicação sobre a esfera individual. Em outro prisma os direitos

fundamentais implicam sobre um plano subjetivo, no qual o próprio cidadão é o

destinatário, em que o Estado não pode lesar tais direitos.

Dentre os direitos fundamentais destaca-se o de saúde, sendo este

imprescindível ao homem que convive com a coletividade. A Constituição Cidadã,

diferente das demais Constituições, tratou da saúde como um direito de todos e dever

do Estado, elevando a tal direito ao patamar de Direito Social, no qual a garantia de

recuperação e de prevenção passaram a se considerados essências à dignidade

humana.

Para Carvalho e Santos (2001) o direito à saúde não pode ser

considerado como meras promessas constitucionais, devem ser garantidas por ações

governamentais, foi o que fez o Estado ao obedecer a previsão constitucional criando

o SUS – Sistema Único de Saúde.

Sendo o direito social um mínimo da existência humana tem-se um

princípio o contrapondo que é o da reserva do possível, neste contexto, se o poder

judiciário condena o Estado a efetivar o direito à saúde por ser um mínimo existência,

esse direito só existirá de fato se os cofres estatais e os orçamentos públicos puderem

exerce-los, caso contrário, ficará tal direito apenas em seu âmbito abstrato.

A definição de Reserva do possível é, de forma ampla, a ponderação do

fenômeno econômico em face das limitações dos recursos. Sendo assim, deve-se levar

em consideração os limites estatais de possibilidade materiais dos direitos garantidos.

(BARCELLOS, 2002). O Estado invoca esse princípio fundamentando nos termos de

que “há recurso, há direito, não há recurso, não há direito” (FIGUEIREDO, 2007,

p.44).

Nos ensinamentos de Novelino (2019) a reserva do possível é uma

limitação, de forma relativa, à concretização dos direitos fundamentais. Essa teoria

não pode ser levada em consideração de forma absoluta, tendo em vista os limites

constitucionais que estabelecem a obrigação estatal de assegurar um mínimo para que

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o cidadão viva dignamente, sendo este o núcleo essencial, que está inteiramente

ligado com um direito vital (mínimo para sobrevivência).

Posto isto, a reserva do possível, para Novelino (2019) deve ser

aplicada em observância a três aspectos relevantes: “I) a disponibilidade fática; II) a

disponibilidade jurídica; e, III) a razoabilidade e proporcionalidade da prestação”

(NOVELINO, p. 521, 2019).

03. Humanização na saúde

A humanização na saúde serve como parâmetro para criação de

políticas públicas, e, além disso, visa efetivar o direito a saúde (AYRES, 2004).

Conceituar a humanização é uma atividade complicada por não haver consenso, isto

pela sua característica de subjetividade, complexidade e multidimensionalidade. Por

isso passa-se a análise de alguns dos conceitos mais relevantes a este estudo.

Em suma, entende-se que a humanização é a cumplicidade,

universalidade e solidariedade que o ser humano possui com os que o envolvem,

sendo assim, a humanização na saúde refere-se ao profissional da saúde, aos seus

pacientes, a sociedade, os profissionais entre si, cooperando e buscando, sempre, a

dignidade humana na área da saúde (MORAIS, 2016).

Humanizar a saúde é tratar as pessoas com suas individualidades, no

qual se deve afastar quaisquer resquícios de discriminação (pois essa é incompatível

com o humanismo), preservar, sempre, a autonomia de cada um, ou seja, preservar e

defender a dignidade do homem (RECH, 2003).

As condições sociais, éticas, educacionais e psíquicas, para Paulo

(2004) são aspectos que devem ser levados em consideração no ambiente hospitalar,

e, não somente os biológicos, a saúde/doença das pessoas são vivenciadas de forma

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única por cada pessoa, e não um protocolo, então a percepção de todos esses âmbitos

pelos profissionais da saúde é de extrema relevância.

Para Novelino (2019) a real intenção de consagrar todo um conjunto de

direitos fundamentais está em aplicar a ideia de ser humano, o que se expressa no

princípio da dignidade humana. A humanização na saúde vem para estabelecer relação

com todos esses aspectos, pois visa trazer à saúde uma humanização que está coerente

com o princípio da dignidade da pessoa humana e com o direito o direito

fundamental.

O Programa Nacional de Humanização na Assistência Hospitalar

exemplifica o que no ano de 2008 se transformou na Política Nacional de

Humanização (PNH) dada a eficiência que o Programa trouxe para a saúde, será

melhor estudado sobre o programa por ter sido ele a base desta Política.

O Programa Nacional de Humanização na Assistência Hospitalar tem

por principal objetivo aprimorar a relação não somente ente profissionais e usuários,

mas dos profissionais um com os outros e do hospital com a comunidade. “Trata-se

de um ser e fazer que se inspira numa disposição de abertura e de respeito ao outro

como um ser autônomo e digno.” (PNHAH, 2001, p. 11).

Também visa o programa a valorização do homem que deve ser

observada em todos atos presentes na assistência da saúde com a requalificação dos

profissionais e hospitais, a fim de tornarem uma organização de tecnologias

modernas, dinâmica e solidárias.

Sobre a saúde e a humanização, entende:

Dessa forma, partindo da perspectiva de que o conceito de saúde vê o

usuário em um aspecto geral, levando em consideração o respeito à

situação de doença em que se encontra esse usuário, bem como as

fragilidades emocionais que o envolvem. Assim sendo, o atendimento

voltado ao cidadão de direito, as ações direcionadas, a humanização do

atendimento no ‘acolhimento’ devem ser repensadas (MORAIS, 2013,

p. 68)

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A humanização na saúde busca maior efetividade, integridade e acesso

aos usuários, no âmbito hospitalar é imprescindível, para Morais (2016): “o

atendimento profissional de qualidade que compreenda o sofrimento provocado pelo

processo de saúde-doença (...)”.

O Comitê Técnico de Humanização da Assistência Hospitalar (2004)

afirma a importância de se considerar a singularidade de cada usuário e profissional,

logo, não há que se falar em uma receita de humanização a ser aplicada em todos os

hospitais, mas, deve-se começar pela conscientização.

O Brasil adota a política pública do SUS (Sistema Único de Saúde),

que, infelizmente traz um sistema caótico, que dificulta a devida comunicação entre

profissionais e usuários, o que ocasiona na dificuldade de um atendimento

humanizado, o Comitê Técnico de Humanização da Assistência Hospitalar sugere

solução para esse problema com as seguintes dicas – para o usuário deve-se dar

tratamento de forma que se sinta digno, solidário e acolhido; em relação ao

profissional da saúde, deve-se trabalhar no resgate do sentido de sua prática (de valor

da humanização numa organização da saúde).

O Comitê ainda afirma que se deve cuidar do usuário – humanização

no atendimento público – e cuidar de quem cuida – é humanizar as condições de

trabalho dos profissionais da saúde.

O objetivo primordial do Programa de Humanização da saúde é trazer

ao paciente e seus familiares um atendimento humano e com qualidade, o que poderá

influenciar- lós a buscar cuidados com a saúde, é, também, trazer mais força aos

profissionais pelos merecidos cuidados a eles garantidos (DELABARY, 2006).

Destaca Sagatio (2004) que é de se observar a relevância dos estados

psicológicos dos pacientes e seus familiares, retirando deles o medo de morrer,

ansiedade e quadros depressivos, tendo papel primordial as equipes interdisciplinares.

A hospitalização é um processo que traz sentimentos de mal-estar e

sofrimento tanto ao paciente quanto aos seus familiares, sendo assim, se faz de

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relevância a atuação da equipe de profissionais capacitados a acolher essas pessoas de

forma humana.

Neste sentido, relata Seitz (2005, p. 74), sobre a hospitalização para os

pacientes: “é agressivo e doloroso, além de inevitável e inadiável. Os pacientes, de um

modo geral, são surpreendidos pela doença e pela hospitalização, tendo que deixar

seus compromissos para serem resolvidos, sua família sem assistência (...)”

No dizer de Silva (2008) o medo da morte e da dor é um dos motivos

que trazem mais sofrimento humano o que vem a atingir tanto o estado físico quanto o

psicossocial do indivíduo, o que acaba por comprometer sua qualidade de vida.

Segundo o referido autor (SILVA, 2008, p. 32/33).

Diz OMS – Organização Mundial da Saúde (2002) sobre os

tratamentos paliativos: “(...) consiste na assistência promovida por uma equipe

multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e de seus

familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da intervenção e alivio

(...)” (BRASIL, 2002).

O hospital é local de tratamento e prevenção, mas, infelizmente o fator

morte é indispensável, e impossível de se evitar em todos os casos, por esse motivo a

morte e últimos momentos ou dias do indivíduo que passa no ambiente hospitalar

devem ser humanizados. Para Guarros (2003) a morte é uma aliada antiga e cotidiana

e que se faz necessária a convivência com ela.

A OMS (2002) dita alguns princípios no sentido filosófico que devem

ser observados nos tratamentos paliativos que são: aliviar a dor e angustia; considerar

a vida/morte como processos naturais; a morte não deve ser apressada nem adiada;

cuidar dos conceitos espirituais e aspectos psicológicos ao cuidar do paciente;

possibilitar que o paciente viva o mais ativamente possível até a sua morte; observar e

atender as necessidades dos familiares e pacientes, incluindo, ainda, o

aconselhamento sobre o luto; melhora na qualidade de vida o que deve ser aplicado

desde o início em conjunto com outros tratamentos que prolongam a vida; fazer

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investigações para entender e gerir as angústias e complicação ocorridas no decorrer

do tratamento.

O objetivo de ditar esses princípios foi fazer com que todos que lidam

com a morte, ou seja, profissionais da saúde, paciente e família possam encarar a

realidade de morte de forma a proporcionar o menor potencial ofensivo possível, já

que esta é uma realidade já tão dura e sofrida para todos.

Em um momento delicado onde não há mais o que se fazer para curar o

paciente o profissional da saúde continua obrigado a ajuda-lo e auxiliar seus

familiares, proporcionando uma morte humana para todos, pois, mesmo que os

tratamentos medicinais estejam esgotados, ainda assim, o paciente e seus familiares

devem ser ajudados de forma humanizada (DA SILVA, 2010).

A garantia de humanidade deve ser dada ao indivíduo no momento da

vida e da morte. A morte digna é aquela que obedece a “Boa morte” que é, para

Menezes (2004), aquela que cada indivíduo escolhe para morrer, o auxiliando para

pacificar seus medos e ansiedades tanto dos que estão morrendo quanto para os que

cuidam deles.

Nestes termos, para o autor, a morte é tratada hoje de forma mecânica e

medicinal, no qual o que se procura é adiar ao máximo a morte, mesmo que isso

aumente o sofrimento, e muitas vezes o paciente nem é ouvido de como deseja

morrer, pois já, na maioria das vezes, encontra-se inconsciente. A medicina evolui em

seus aspectos científicos para evitar a morte, o que falta é evoluir para a morte digna e

humana do paciente e luto de seus familiares. Sendo necessário medidas que ajudam a

enfrentar e aceitar a morte como sendo parte do ciclo vital (SILVA, 2010).

04. Judicialização do direito à saúde

Ao falar de judicialização deve-se traçar um conceito distinto desta

para ativismo judicial, uma vez que são conceitos próximos e de fácil confusão. Por

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sua vez a judicialização está relacionada com questão de muita repercussão, seja ela

política ou social, que estão sendo levadas à decisão do Poder Judiciário, e deixando

de serem resolvidas pelas políticas tradicionais, quais sejam, o Congresso Nacional e

o Poder Executivo (incluindo os Ministérios).

Já o ativismo judicial é exercido através de uma escolha que o poder

judiciário faz de um modo específico para interpretar a Constituição, mesmo que para

tanto precise expandir seu sentido de alcance. Sendo assim, no ativismo judicial o

poder judiciário atua de forma a interferir no espação dos outros poderes,

participando, assim, de forma mais ampla e intensa, com o objetivo de concretizar os

valores e fins contidos na Constituição Federal. Com a distinção traçada, passa-se ao

estudo da judicialização na saúde.

Conforme já mencionado, o texto constitucional, especificamente no

artigo 196, assegura o direito à saúde como direito de todo cidadão e dever do Estado,

porém, tal previsão não vem sendo respeitado na prática, por esta razão, esse direito,

até então abstrato, é objeto de demandas judiciais a fim de materializá-lo

(MACHADO, 2008).

A humanização nas políticas públicas referentes à saúde são

instrumentos que podem diminuir os conflitos a serem dirimidos pelo judiciário,

tornando atendimento hospitalar mais humano e efetivo e consequentemente

diminuição do acervo no Poder Judiciário sobre ações da mencionada matéria

(MACHADO, 2008).

Em relação aos dados obtidos nos gráficos pelo CNJ, verifica-se que há

um grande aumento nos números de processos que versem sobre o direito de saúde, o

que significa que a população está inconformada com a realidade das entidades

públicas de saúde, a insatisfação é o que torna a judicialização cada vez mais atuante

na área da saúde, e a humanização, por sua vez, tem papel de atuar para reverter esta

realidade caso seja utilizada adequadamente CNJ, 2019, site:

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https://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/88612-demandas-judiciais-relativas-a-saude-

crescem-130-em-dez-anos. Acesso: 20/09/2019).

Considerando que são inúmeras as demandas judiciais sobre a matéria

da saúde, há sério risco na organização geral do Sistema Único de Saúde, o que

acontece que pedidos dos mais variados acabam por gerar um efeito multiplicador

onde o risco está na invalidação das políticas públicas já implementadas.

Levando em consideração a atuação ativa do judiciário para a

efetivação das políticas públicas controvérsias surgem sobre a constitucionalidade

desta possibilidade frente ao princípio da separação dos poderes, não obstante o STJ

manifestou sobre o tema nos seguintes termos:

[...] Não podem os direitos sociais ficar condicionados à boa vontade do

Administrador, sendo de suma importância que o Judiciário atue como

órgão controlador da atividade administrativa. Seria distorção pensar que o

princípio da separação dos poderes, originalmente concebido com o escopo

de garantia dos direitos fundamentais, pudesse ser utilizado justamente

como óbice à realização dos direitos sociais, igualmente relevantes.

GRIFEI (STJ - REsp 1488639 / SE. Relator: Min. Herman Benjamin.

Segunda Turma. Data do julgamento: 20/11/2014)

A jurisprudência supramenciona responde ao questionamento sobre a

constitucionalidade da judicialização, pois, tendo em vista o atual cenário brasileiro,

no qual há nítido desrespeito aos direitos sociais, deixar a efetivação desses direitos a

distrito da boa vontade dos demais poderes acabaria por trazer uma distorção a

separação dos poderes, utilizando este princípio como óbice para efetivação dos

direitos sociais, sendo assim, incabível a tese de que o Poder Judiciário estaria

violando a tripartição dos poderes, quando na verdade ele está executando as políticas

públicas que já deveriam estar sendo efetivadas.

Em outro julgado o STJ foi além, firmando entendimento que para a

efetivação do fornecimento de medicamentos, caso seja necessário, poderá bloquear

valores de verbas públicas, sendo assim, além de determinar a execução da politica

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pública de direito à saúde, pode, o poder judiciário, adotar medidas para efetivação de

sua decisão, nestes termos dispõe sobre fornecimento de medicamentos: “(...)cabe ao

Juiz adotar medidas eficazes à efetivação de suas decisões, podendo, se necessário,

determinar até mesmo, o sequestro de valores do devedor (bloqueio) (...)”(STJ. 1ª

Seção. REsp 1.069.810/RS. Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho. Data do

julgamento: 06/11/2013).

A tese fundamentada para tal decisão foi sobre a competência do

magistrado para, no caso concreto, fazer valer de seu juízo de convencimento,

pertinência e necessidade para adotar medidas que julgue necessárias, mesmo que

de forma coercitiva, objetivando, assim, reprimir a delonga indevida em dar

cumprimento nas decisões pelo poder jurisdicional imposta.

É entendimento do STJ de que o administrador não se pode valer da

reserva do possível, alegando insuficiência nos recursos orçamentários para deixar de

efetivar direitos do cidadão, denominado para o Tribunal tal alegação de “carta de

alforria” a qual não pode ser admitida.

O Tribunal ainda mencionou que a frequente alegação sobre a reserva

do possível serve simplesmente de biombo para mascarar a opção que administrador

quer tomar, no qual acaba que questões particulares sobrepõem ao determinado como

prioridade na Constituição Federal e em leis, no qual é deixado de lado as

necessidades urgentes da sociedade.

Sobre a discricionariedade do administrador o STJ se manifestou no

sentido de que a referida decisão não estaria o violando, tendo em vista que não é

opção do legislador em efetivar direitos fundamentais, sendo tal um dever do

Administrador, logo, ao tratar da matéria o judiciário não está por violar o princípio

da tripartição dos poderes, nem, tão pouco, ao poder discricionário, uma vez que este

poder só é exercido quando a lei assim o determinar, diferente do que ocorre sobre os

direitos fundamentais.

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Sendo assim, a seguir um trecho do julgamento sobre a reserva do

possível:

(...) não configura carta de alforria para o administrador incompetente,

relapso ou insensível à degradação da dignidade da pessoa humana, já que

é impensável que possa legitimar ou justificar a omissão estatal capaz de

matar o cidadão de fome ou por negação de apoio médico-hospitalar. (...)”

(REsp n. 1.185.474-SC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,

DJe 29.4.2010). (STJ – Resp: 1366337 RS 2012/0132465-9, Relator:

Ministro Humberto Martins, Data de Publicação: DJ 30/04/2015). GRIFEI.

Em suma o poder judiciário pode atuar no sentido de efetivar as

políticas públicas, inclusive adotando medidas para tal, como exemplo bloqueio

de verbas públicas, sendo que tal medida não viola a separação dos poderes, pois,

o Administrador não possui o poder de discricionariedade para efetivar políticas

públicas referente ao direitos fundamentais, mas, sim, o dever para tal, cabendo ao

poder judiciário adotar medidas para executar tais políticas quando o

Administrador se mostrar incompetente para tanto, sem que isso viole a atuação

dos demais poderes.

Ainda sobre o Resp: 1366337, em seu voto, o Relator Ministro Humberto

Martins, enfatizou o princípio da dignidade humana, para ele destratar a vida é uma

ofensa exata a este princípio, e ainda fundamenta sua tese sobre o art 1°, III da

Constituição Federal. In verbis: “Não priorizar os direitos essenciais implica o

destrato da vida humana como um fim em si mesmo; ofende, às claras, o princípio da

dignidade da pessoa humana. (...)” (STJ – Resp: 1366337 RS 2012/0132465-9,

Trecho do voto do Relator: Ministro Humberto Martins, Data de Publicação: DJ

30/04/2015).

Levando em consideração a importância dos direitos relacionados com

a dignidade da pessoa humana, para o Relator, não pode haver limitações com a

justificativa de escassez e ficar ligado a escolha do administrador.

O Tribunal do Rio de Janeiro em Agravo de Instrumento entendeu por

deferir, em sede de tutela, um tratamento paliativo a uma criança de oito anos,

visando a melhora na qualidade de vida, além disso, o referido tratamento demostra

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humanização (TJ-RJ- AI 0048566-48.2018.8.19.0000, Relatora: Des. MARIA AGLAR

TEDESCO VILARDO. Julgamento: 21/03/2019). No mesmo sentido, sob a teoria da

humanização, o STJ se posicionou sobre o atendimento domiciliar, no qual afirmou

ser uma alternativa a evitar que o paciente permaneça no hospital por muito tempo à

luz da humanização (STJ- AREsp: 1273917 PB 2018/007705-6).

04. Considerações finais

Para finalizar, a partir dos conteúdos já desenvolvido no presente

trabalho, verifica-se a relevância social, jurídica da temática. A primeira refere-se ao

impacto positivo que a melhora no atendimento hospitalar vem a trazer para a

sociedade, no qual, o profissional da saúde passe a ver o paciente como pessoa

humana. Já o segundo está na influência que a humanização e o princípio da

dignidade humana vêm sendo utilizada como parâmetro para formar convencimento

dos magistrados quanto ao direito à saúde.

Considerar a pessoa como humana é reconhecer a sua individualidade,

suprindo todas as suas necessidades. Quando um paciente está hospitalizando,

principalmente aqueles que estão em processo de morte, ou, em estado crônico, é

preciso que tenham uma estrutura emocional forte, aspecto em que deve atuar a

equipe multidisciplinar nos hospitais, com acompanhamento psicológico, do paciente

e seus familiares, pois, o processo de hospitalização e o medo da morte é o que mais

abala o ser humano, inclusive podendo agravar seu estado de saúde/doença, que já

está fragilizada.

Sendo assim, a humanização está diretamente relacionada com a saúde

mental do paciente, e, inclusive, com sua saúde física, já que, o abalo emocional pode

acabar por agravar seu estado de saúde.

O ex Ministro da Saúde, José Serra, no ano de 2000 desenvolveu o

Programa de Humanização na Saúde, e se baseou na insatisfação que os pacientes

vinham demonstrando, a tentativa era de resgatar a confiança da população de que o

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poder público seria competente para proporcionar a saúde de forma eficiente. O

exercício deste programa em algumas regiões acabou por trazer resultados positivos,

por tais motivos, no ano de 2008, foi criado a Política Nacional de Humanização, que

tem por parâmetro as diretrizes do PNHAH.

O que se pode concluir é que, com a insatisfação, as demandas

judiciais aumentaram, mesmo após este programa, pois, apesar de criado, não foi

efetivado, o que abriu ao poder judiciário, mais uma vez, a possibilidade de ser

executor, mesmo que indiretamente, deste programa, traçando as de decisões

Magistrados, Desembargadores e Ministros, mesmo que ainda mencionados de forma

tímida, tanto na dignidade da pessoa humana quanto a humanização.

Dada a relevância da saúde pública o STF entendeu que, o direito à

saúde não é um direito que deve ser fornecido de forma discricionário, onde o

administrador, incompetente, pode escolher em fornecer ou não a saúde à população.

O Estado, tem o dever de fornecer a saúde de forma digna e eficiente, e não há

nenhuma margem de liberdade dada ao ente estatal para utilizar da oportunidade e

convencimento. Com este entendimento, os magistrados passaram a poder usar de

seu livre convencimento motivado, para, caso seja necessário, determinar o bloqueio

de contas públicas para realmente efetivar sua decisão.

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