Upload
grupo-marista
View
221
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
A importância da espiritualidade na saúde é inegável. A pessoa humana, ao buscar a saúde física, deve ser considerada integralmente. Os profissionais da saúde são chamados hoje a fazer da espiritualidade uma aliada; para isto, é necessário dar atenção ao pluralismo religioso em nossa sociedade. A Igreja Católica e o Instituto Marista, como aliados da saúde, querem contribuir nesta missão.
Citation preview
A importância da espiritualidade
na saúde é inegável. A pessoa
humana, ao buscar a saúde
física, deve ser considerada
integralmente. Os profissionais
da saúde são chamados hoje a
fazer da espiritualidade uma
aliada; para isto, é necessário
dar atenção ao pluralismo
religioso em nossa sociedade. A
Igreja Católica e o Instituto
Marista, como aliados da saúde,
querem contribuir nesta missão.
1º Congresso de Humanização – Aliança Saúde
A espiritualidade na saúde tornou-se, atualmente, um tema
indispensável ao se pensar em evolução na qualidade de vida
das pessoas. Não deixa de ser um assunto polêmico, sobretu-
do por ser, ainda, pouco explorado por parte de quem não está
diretamente ligado ao âmbito das religiões. Muito facilmente
se relaciona a espiritualidade com atitudes devocionais um
tanto fundamentalistas. Na história não nos faltam exemplos
que ilustram e apóiam essa forma de pensar. Talvez por isso o
tema da espiritualidade tenha sido às vezes rejeitado por
muitos profissionais da saúde, ou por pessoas ligadas às
ciências em geral.
A pós-modernidade, no entanto,
relativizou tanto o cientificismo
como a religiosidade tradiciona-
lista. A confiança na ciência
ganha um lugar mais modesto
ao se perceber as grandes ques-
tões humanas que precisam ser
resolvidas e que, para além das
ciências, dependem muito mais
de convicções, atitudes éticas,
morais, crenças e ideais: como
sustentabilidade, ecologia,
integralidade do ser humano,
felicidade, dignidade, igualdade,
paz etc. As grandes religiões
tradicionais também sofreram
um descrédito, não em relação a
suas propostas religiosas, mas à forma como muitos dos seus
“líderes” religiosos administram seus “bens espirituais” e
normatizam o sagrado. Parece que a institucionalização do
sagrado é que acaba sendo rejeitada em grande parte na
atualidade. Há, fora da formalidade, uma verdadeira explosão
por buscas de respostas no transcendente.
Nesse contexto, a espiritualidade, independentemente das
nuances atuais que vem ganhando, emerge como algo inevi-
tável. Não há como rejeitá-la. Trata-se da questão do sentido
de vida, da liberdade, da consciência, das razões profundas
da existência, da fé, da esperança e do amor. Todos, ateus ou
religiosos, somos espirituais, queiramos ou não. Lidamos
com os limites inevitáveis como o sofrimento e a morte. Não
temos as respostas, resta-nos a angústia ou a busca de senti-
do. Mesmo que para alguns o “nada” parece ser o que há de
mais coerente, ainda assim a afirmação dele não deixa de ser
uma crença.
Parece-nos que temos um problema para se resolver. Temos a
necessidade de espiritualidade e não temos mais grandes
instâncias normatizadoras do espírito humano. Como pode-
remos desenvolver uma espiritualidade sadia? A essa per-
gunta muitas respostas se apresentam. De modo geral, bus-
ca-se redescobrir grandes princípios religiosos, até mesmo
nas próprias religiões (fala-se
em refundação); fala-se em
espiritualidade entre os execu-
tivos; funda-se, cotidianamen-
te, novas formas de crenças e
vidas religiosas etc. O tempo
(ou o juízo humano amadureci-
do no tempo), acreditamos, irá
se encarregaram de selecionar,
diante das transitórias configu-
rações culturais, as proposições
mais sólidas e plausíveis.
A presente reflexão pretende
ser uma proposição a mais. No
entanto, colocando-se como
uma proposta focada na identi-
dade cristã e marista, funda-
mentada em princípios já comprovados na história, que são
ao mesmo tempo convergentes aos ensinamentos das gran-
des religiões e às exigências éticas de nosso tempo.
Buscamos “beber” na fonte da tradição, com fidelidade, e
buscar, no hoje, novas formas de ler e transformar a realidade.
Nessa proposição, queremos fazer o recorte de temas que
sejam pertinentes à nossas práticas de promoção da saúde.
Para tanto, as páginas que seguem buscarão fazer uma leitura
do tema da espiritualidade nas grandes religiões, identifican-
do a mística que as envolvem; fazer igualmente um recorte da
religião cristã, católica, identificando alguns de seus grandes
princípios; e, por fim, a abordagem da especificidade do
carisma marista, dando ênfase a questões espirituais que
julgamos pertinentes à nossa atuação na área da saúde.
A espiritualidade é própria do espírito que é parte
integrante de todo o ser humano que é formado de
corpo, alma e espírito. Todos a têm pelo simples fato
de existirem. A questão está em querer ou se dispor
a desenvolver esta dimensão intrínseca ao próprio
ser. Assim como se busca desenvolver o intelecto
ou o próprio corpo físico cujas finalidades e benefí-
cios são óbvios. O motivo, a razão de se desenvolver
a dimensão espiritual, pode se resumir assim: a espi-
ritualidade leva a pessoa a transcender além da limi-
tada capacidade perceptiva da razão - psique - e
além da massa bruta material a ponto de perceber
valores que dêem sentido à vida. (Roberto Kerber)
ESPIRITUALIDADE NA SAÚDE, Sob o olhar MARISTA
3
Cada religião apresenta um sistema de pensamento próprio,
no entanto, todas caminham muito próximas e acabam se
desdobrando para promover a mesma finalidade: a promoção
da vida, a harmonia, a paz, a salvação, a justiça e a felicidade
do ser humano. O cultivo, a origem e o sentido da espirituali-
dade nesse âmbito igualmente ganham muitas conotações,
ao mesmo tempo em que se convergem num mesmo fim.
Para os índios nativos estadunidenses, por exemplo, quando
nascemos temos a primeira inspiração. O “in” significa dentro
e “pirar” vem de espírito. Ao nascer, para essas civilizações
tradicionais, colocamos o espírito para dentro e dali pra frente
ficamos com ele durante toda a existência. Este espírito só
passará quando dermos o último expiro, ou seja, quando colo-
carmos o espírito para fora.
Outras tradições religiosas buscam mais sua fonte de inspira-
ção para a significação da espiritualidade ao aprender a ler as
palavras de Deus no grande livro da Natureza, que está ao
nosso redor, e em nós mesmos. Buscam decifrar as mensagens
de Deus impressas nos astros, nas linhas das mãos, na íris dos
olhos, no fundo do inconsciente, nos sonhos e daí por diante.
Mística e Espiritualidade
A mística nas grandes tradições religiosas
Algumas tradições religiosas, ainda, preferem acentuar a
leitura da espiritualidade no cotidiano da vida. Promovem
a busca de Deus, a qualquer hora, e acreditam ser possível
encontrá-lo em qualquer lugar. Outras a consideram possível
ao se traçar um caminho solitário, no qual nos vemos fracos e
frágeis; incapazes de encontrarmos conforto e proteção em
outro lugar que não seja em nossos corações, e luz nas
nossas próprias consciências.
Independentemente das variáveis que as compreensões
possíveis sobre espiritualidade permitem, para entender o que
de comum há sobre espiritualidade entre as diversas crenças é
necessário compreender um outro conceito: a mística. Pois é
justamente enquanto mística que as religiões farão da espiri-
tualidade que adotam uma postura concreta e comum de
vivência de fé.
Esta abordagem merece um estudo mais aprofundado; no
entanto, para nossa finalidade, é suficiente abordarmos de
forma sintética palavras que nos ajudarão a compor sobre essa
temática uma visão geral.
ESPIRITUALIDADE NO PENSAMENTO
DAS DIVERSAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS
4
Ter Espiritualidade significa buscar o
sentido da vida para além da vida; é abrir-se
para a transcendência; é dar um passo para
além do racionalismo filosófico e cientificista
que predominou no mundo moderno.
Ter mística consiste em fazer uma
experiência concreta de fé, em comunidade.
A mística não é somente uma idéia ou uma
concepção de mundo. Ela é uma experiência
pessoal, uma experiência religiosa, uma
experiência de Deus na vida cotidiana.
Cada Tradição Religiosa possui uma mística,
um objetivo a ser atingido e que pretende
ajudar as pessoas a serem mais perfeitas,
mais humanas, mais idênticas àquilo que
é a plenitude da vida, a vida para além da
vida mortal.
A idéia de mística, que pode ser entendida
como a idéia de perfeição, tem sua origem
no vocabulário chinês: Tão, que remete ao
jeito de entender a vida, o mundo, o
sofrimento, a morte; enfim, a existência.
No Judaísmo
No cristianismo
No Islamismo
No Hinduísmo
No Budismo
A vida segundo o Espírito compreende a vida no mundo, mas
confirmada pelas coisas do alto. Sobre isso, é oportuno compre-
ender a distinção feita na Bíblia entre o homem natural e o
homem espiritual. Paulo, em I Cor. 2,14, diz que o homem natu-
ral não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe
parece loucura; e não pode entendê-las porque elas se discer-
nem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo,
e ele de ninguém é discernido. Quando a Bíblia fala em homem
espiritual ela está fazendo menção ao homem que é guiado pelo
Espírito Santo de Deus, e não pela carne. Paulo, ainda, em
Romanos 8,14, diz “Porque todos os que são guiados pelo
Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”.
a) A vida segundo o Espírito
• Foi crucificado em Cristo, e vive não mais ele, mas Cristo é
quem vive na vida dele (Gl 2,20).
• Têm compromisso e é fiel a Deus (2Tm 2, 13).
• Não se conforma com este mundo (Rm 12, 2).
• Sua fé é eminentemente baseada em Cristo (Rm 3,26 e Ap14, 12).
• Tem coragem de ser pesado na balança de Deus (Jo 31, 6).
• Tem coragem de ser sondado por Deus (Sl 139, 23).
ESPIRITUALIDADE NO PENSAMENTO DO CRISTIANISMO CATÓLICO
No seguimento de Cristo, duas questões tornam-se primordiais
para que uma autêntica espiritualidade cristã se desenvolva de
forma sadia: a vida segundo o Espírito e o consentimento das
coisas de Deus na liberdade.
A liberdade e a vida segundo o Espírito
1
Em síntese, o homem espiritual segundo a Bíblia :3
6
A espiritualidade no cristianismo está relacionada à concre-
tização do amor a Deus e ao próximo em atitudes de perdão,
acolhida, fraternidade, solidariedade, caridade, e outras
tantas necessárias para se promover a vida. No entanto, isso
só é possível pela graça de Deus, aliada ao empenho huma-
no. O cristão, portanto, necessariamente é um seguidor de
Cristo. Vive um discipulado. Dele aprende o que deve ser
feito e recebe as graças para bem realizá-lo. Segundo José
Nivaldo, “o cerne da espiritualidade cristã está em seguir a
Jesus. Quando decidimos conscientemente seguir o seu
caminho, então a espiritualidade cristã começa a fluir em
nós. O Pai, pelo seu Espírito, vai-nos transformando na ima-
gem de seu Filho à medida que damos os passos no cami-
nho. Fora do discipulado, não há espiritualidade cristã” .2
7
deriva da palavra espírito, do latim espiritus:
sopro, vento; do grego pneuma: vento, força,
mediador, pessoa, e do hebraico ruah, (palavra
feminina): movimento; sem movimento não há
vida. É o ar que se respira, é mais que o ar na sua
composição química é a essência do ar, é a
essência da vida que se move nas pessoas.
A Bíblia, em seu primeiro capítulo, refere-se ao
espírito como organizador do universo; o caos
se transforma em cosmos. No livro do Gênesis
encontramos a seguinte passagem: “A terra
estava informe e vazia; as trevas cobriam o
abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as
águas” (Gn 1, 2).
Compreender a espiritualidade significa ques-
tionar paradigmas usuais, ver uma realidade
diferente daquela de costume, encontrar for-
mas menos sofridas de convivência, entender
nossa interdependência e necessidade de
ajuda mútua, ver o outro como uma totalidade
incompleta.
A espiritualidade faz a pessoa dar um mergulho
dentro de si mesma gerando transformação.
Aproxima-a cada vez mais de si mesma, fazendo
com que conheça cada vez melhor suas forças e
Como abordado anteriormente, a mística está relacionada ao dom e fogo que faz sair de si para sonhar, crer, lutar, caminhar e trabalhar. É a força que converte e convence o coração do sujeito. A espiritualidade é o sopro que movimenta, que faz questionar, que produz a mudança e faz compreender que os valores do espírito humano aproximam o sujeito do seu próximo, da natureza e de Deus.
Mística x Espiritualidade Na tradição cristã
é uma palavra que deriva de mistério, que vem do grego Mysterion
que é igual a Múein, e quer dizer iniciar, instruir alguém nos mistérios.
Mistério significa perceber o caráter escondido, não comunicado de
uma realidade ou de uma intenção. Em seu sentido pessoal significa
o ilimitado de todo o conhecimento.
Na tradição bíblico-cristã a mística é entendida como iniciativa
gratuita de Deus. É Ele quem atrai para si as criaturas, que num
segundo momento se deixam cativar ou seduzir. O profeta Jeremias
traduz tal experiência nos termos: “Seduziste-me Senhor e eu me
deixei seduzir” (Jr 20,7).
Mística, então, é um dom que leva a sair da acomodação, do pessi-
mismo, para viver a esperança, a liberdade, o serviço. É o fogo que
impulsiona a sonhar, a crer, a lutar, a caminhar, a trabalhar. Aquela
dimensão que alimenta as energias vitais da pessoa e que vai além
do princípio do interesse, dos fracassos e sucessos. O entusiasmo em
favor da vida, da paixão pela missão, de ser um profissional eficiente
de formar a nova geração na crença e nos valores, de passar para os
outros a riqueza de vida e da experiência já adquirida.
A mística tem a força de unir duas realidades que a sociedade
moderna vem separando cada vez mais pelo seu acentuado indivi-
dualismo: Serviço e prazer. O serviço se refere ao outro. O prazer a
si mesmo. Na atualidade valoriza-se muito o prazer percebido
como satisfação das próprias necessidades. A mística cristã conse-
gue também combinar a dor com o prazer, o sofrimento com a
alegria, a labuta com o gozo. Ela nos revela o prazer do serviço ao
irmão nas pegadas do Mestre. É o que São Francisco de Assis
resumiu bem na oração: “Ó mestre, fazei que eu procure mais:
consolar que ser consolado, compreender que ser compreendido,
amar que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que
se é perdoado; e é morrendo que se vive para a vida eterna”.
A mística nos remete para a missão. A experiência mística cristã
termina, necessariamente, na missão. O apóstolo São João nos
escreve na primeira epístola de modo direto e simples: “Se alguém
disser que ama a Deus, e odeia seu irmão, é um mentiroso. Com
efeito, quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a
Deus, a quem não vê” (Jo 4, 20). Por isso, a experiência mística de
Deus acontece quando a pessoa dá atenção ao que sucede ao seu
redor e consigo mesmo. A mística não é, pois, privilégio de alguns,
mas é uma dimensão da vida humana a qual todos têm acesso
quando descem ao nível mais profundo de si mesmos e dão aten-
ção aos acontecimentos, identificando as manifestações de Deus.
seus limites. Como diz Leonardo Boff, “a
Espiritualidade é aquilo que produz a mudan-
ça dentro da pessoa. O ser humano é um ser
de mudanças, pois nunca está pronto, está
sempre se construindo: física, psíquica, social
e culturalmente”.
Como acho que nossa experiên-cia fala mais do que palavras bonitas, gostaria de deixar aqui o que sinto na espiritualidade:
Espiritualidade é desde a alegria de ter nascido até a respiração que faço agora.
É descobrir a providência divina nas dificuldades diárias.
É reconhecer a presença de Deus, quando o mundo a sua volta te apedreja.
É ir dormir morrendo de cansaço, mas feliz por ter sentido Deus no serviço ao outro.
É ter o privilégio de conseguir esquecer mágoas e transformá-las em aprendizado para nós mesmos.É afirmar: "Deus é Pai" em agra-decimento e pedir quando em dúvida: "Seja feita a vontade de Deus".
Enfim, ser espiritual é ser louco para o mundo e viver degustando pedacinhos do céu na realidade humana e acreditar. Perguntar no final do dia: Como senti Deus hoje?
Ainda mais ter a resposta para tal pergunta...”
(Maria de Lourdes Machado)
Psíquica
Social Cultural
Física
ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
“
b) A liberdade dos filhos de Deus
Sobre a liberdade que o cristão deve ter para que sua opção por
Deus seja autêntica, é oportuno compreender um dos textos da
Bíblia, a carta de São Paulo aos Gálatas, que afirma que
somente quem opta pela autêntica liberdade se aventura no
caminho espiritual: “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade.
Não abuseis, porém, da liberdade... Pelo contrário, fazei-vos
servos uns dos outros pela caridade” (Gl 5, 13).
Os frutos do espírito, que são o sinal do autocontrole e fazem
entrar na verdadeira liberdade são os seguintes: caridade,
alegria, paz, longanimidade, afabilidade, bondade, fidelidade,
mansidão e continência. Contra estes não há lei (Gl 5, 22 - 23).
Aqueles que vivem estes frutos do espírito não têm mais lei
porque são orientados pelo amor e quem ama jamais poderá
fazer o mal, nem a si mesmo e nem ao próximo. São João da
Cruz, na sua visão de liberdade e de plenitude da vida, ensina
que quem chega ao cimo do monte encontra somente a honra
e a glória de Deus, e que para o justo não há lei, a não ser a lei
Discipulado: A palavra discípulo e a palavra disciplina vêm da mesma raiz latina — discipulus, que significa aluno.
Salienta a prática e o exercício. No caso do cristianismo, o discípulo é aquele que esforça-se por seguir os ensinamentos
do Mestre, Jesus. É aquele que o segue por reconhecer nele a sua liderança, a coerência de suas palavras e ações.
Espiritualidade Depoimento
do verdadeiro o amor, que se faz doação. Este não lhe permi-
te mais ser escravo de nada e de ninguém. Então, podemos
dizer que são espirituais aqueles que podem dizer com since-
ridade como Paulo apóstolo: "Não sou mais eu quem vivo,
mas é Cristo quem vive em mim" . A Lei do amor é o próprio
Cristo. Portanto, fica claro que a vida exige crescimento e
aperfeiçoamento. Todos são chamados à perfeição, ou seja,
qualquer cristão é chamado a plenitude da vida cristã e à
perfeição da caridade que promoverá um teor de vida mais
humano (LG 40).
Deixando por hora de lado outras possíveis abordagens do
termo, segundo Flávio de Castro, é possível considerar que a
Espiritualidade Cristã Geral consiste na procura sistemática e
livre do crescimento da caridade com Deus e da caridade
fraterna. Crescer na vida sobrenatural é ser elevado por Deus
a uma participação maior na vida divina, e ao mesmo tempo
crescer na abertura e no cultivo do amor .
4
5
9
Mística
Para Marcelino Champagnat, Maria é um modelo de confi-
ança e de abandono nas mãos de Deus. Dela aprendeu o
exemplo de acolhida, presença, humildade, perseverança e
atitude de serviço ao próximo. Insistiu junto aos Irmãos
Maristas a que a tivessem
como exemplo e que testemu-
nhassem essa devoção por
meio de obras concretas e
fecundas.
Portanto, hoje, a adesão à espi-
ritualidade marial, nesse con-
texto marista, não se trata de
adesão a uma simples idéia ou
devoção. Contemplar e imitar
Maria deve traduzir-se no ofe-
recimento do trabalho do dia-
a-dia, no serviço fraterno, na
acolhida e na ajuda às pessoas
com as quais se convive. No
atendimento ao próximo deve-
se procurar fazer com que se
sinta feliz através de pequenos
gestos e detalhes, e isso implica
em estar atento às necessida-
des e descobrir algo de Deus no
cotidiano.
Não se pode ser Marista (Irmão
ou Leigo) apenas de nome. Sê-lo
em verdade significa que a espi-
ritualidade vivida por Marcelino
modelou o coração daquele que
quer ser “marista” de tal manei-
ra que já não pode viver sem ela;
de tal maneira que ela reforma,
forma e transforma tornando-o um “ser marista” renovado
tal como Marcelino . O Espírito transforma o coração e impele
para a missão. Foi assim que aconteceu com Maria, e é assim
que deve acontecer com cada um de nós.
O carisma marista consiste no dom que Deus concedeu a Marcelino Champagnat e seus Irmãos de Maria de colocar as suas próprias vidas a serviço da educação das pessoas de sua época, sobretudo das crianças e dos jovens. Essa iniciativa frutificou e se perpetuou na história por meio das pessoas que
Um acontecimento foi providen-cial para que Marcelino Champagnat fundasse o Instituto dos Irmãos de Maria. Chamado a confessar um jovem doente num povoado, pôs-se imediatamente a caminho, conforme seu costu-me. Antes de ouvi-lo em confis-são, fez-lhe uma série de pergun-tas (...) estremeceu-se ao verifi-car que ele ignorava os principais mistérios, não sabendo nem
A intuição do carisma não é algo linear,
diversos fatores e situações da comunida-
de influem no discernimento. Ser seguidor
de Cristo, hoje, ao estilo de Champagnat,
significa comprometer-se com a missão de
tornar Jesus Cristo conhecido e amado,
A ESPIRITUALIDADE E O CARISMA
NO INSTITUTO MARISTA
Marcelino Champagnat nasce a 20 de maio de 1789, em Marlhes,
aldeia montanhosa no centro-leste da França. A Revolução
Francesa acaba de estourar. Ele é o nono filho de uma família
cristã. Sua educação é essencialmente familiar. Sua mãe e sua tia
– que é irmã religiosa e se abriga na casa dos Champagnat para
fugir dos revolucionários – despertam nele fé sólida e profunda
devoção a Maria. Seu pai, agricultor e comerciante, possui instru-
ção acima da média; desempenha um papel político na aldeia e
na região, transmite a Marcelino a habilidade para os trabalhos
manuais, o gosto pelo trabalho, o senso das responsabilidades e
a abertura às idéias novas.
Quando Marcelino está com 14 anos, um padre o visita e o convi-
da para a vida sacerdotal. Marcelino, de quase nenhuma escolari-
dade, vai se mover a estudar; muitos o desaconselham e procu-
ram dissuadi-lo desta iniciativa, porém ele decide ir ao seminário.
Os anos difíceis do Seminário Menor de Verrières (1805-1813)
são para ele uma etapa de verdadeiro crescimento humano e
espiritual.
Impressionado pelo abandono cultural e espiritual das crianças da
campanha, Marcelino sente a urgência de fundar uma Instituição
para a educação cristã da juventude. Após sua ordenação sacerdo-
tal, é enviado como ajudante na paróquia de La Valla. A visita a
um adolescente de 17 anos, às portas da morte e sem
conhecer Deus, o perturba profundamente, impelindo-o a
empreender e a gestar um projeto majestoso.
A 2 de janeiro de 1817, apenas a 6 meses de sua chegada à cidade
de La Valla, Marcelino reúne seus dois primeiros discípulos: a
Instituição Marista nasce na pobreza e humildade, na total confian-
ça em Deus, sob a proteção de Maria. Além de garantir seu ministé-
rio paroquial, Marcelino se dedica a formação de seus discípulos, e
os transforma em educadores – “formava-os nas ciências e lhes
dava a conhecer os melhores métodos de ensino”. Sem tardar, abre
escolas. As vocações vêm, e a primeira casa, apesar de aumentada
pelo próprio Marcelino, torna-se logo pequena demais. As dificul-
dades são numerosas, mas ele é persistente e não desanima.
Marcelino, homem de fé profunda, vê em Maria, a "Boa Mãe", o
"Recurso Habitual", a "Primeira Superiora". Sua grande humilda-
de, seu senso profundo da presença de Deus, fazem-lhe superar,
com muita paz interior, as numerosas provações.
"Tornar Jesus Cristo conhecido e amado" é a missão Marista. A
educação é o meio privilegiado para essa missão de evangelização.
Marcelino inculca em seus seguidores o respeito, o amor às crian-
ças e jovens, a atenção aos mais pobres. Aconselha a vivência da
presença prolongada entre as crianças e jovens. A simplicidade, o
espírito de família, o amor ao trabalho, o agir em tudo do jeito de
Maria, são os pontos essenciais de seu empreendimento.
Morre aos 51 anos de idade, a 6 de junho de 1840. Seu empreendi-
mento contava com “280 irmãos e 48 estabelecimentos que atendiam
cerca de 7000 alunos”. Hoje sua obra está presente em 79 países e
atende aproximadamente 500 mil crianças e jovens.
A Intuição de Champagnat
b) Visão integral da pessoa
O Carisma do Instituto MARISTA
mesmo se Deus existia. Aflito (...) começou a ensinar-lhe os principais mistérios e as verda-des essenciais da salvação.
Depois de o ter confessado (...) deixou-o para atender a outro doente, na casa vizinha.Ao voltar, perguntou como estava o rapaz: “Morreu instan-te após sua saída”, responde-ram os pais em lágrimas.
(Champagnat) Voltou todo
O evento MONTAGNE
(Jean Baptiste Furet)
compenetrado destes sentimen-tos, cismando: “quantos outros meninos se encontram, todos os dias, na mesma situação, corren-do o mesmo risco, por não haver ninguém que os instrua nas verdades da fé”. E, então, o pensamento de fundar uma sociedade de Irmãos, destinados à instrução cristã, perseguiu-o com tamanha insistência (...)
se identificam, movidas pelo Espírito, com essa mesma propos-ta, adaptando-a às necessidades dos dias de hoje. Durante sua vida, o fundador deixou seu legado por meio de uma vida intei-ra de doação ao próximo. O dom recebido por Champagnat foi interpretado por ele próprio e os primeiros Irmãos. a) Do Jeito de Maria
Duas grandes frentes, dentre outras
possíveis, caracterizam o carisma
marista:
a) a dedicação à obra da educação do
jeito de Maria; e b) a busca pela for-
mação integral do ser humano.
partilhando a vida no dia a dia e fazendo
da espiritualidade marista uma fonte de
vitalidade. A espiritualidade é vivida na e
para a missão; a missão cria e anima a vida
partilhada; a vida partilhada é, por sua vez,
fonte de espiritualidade e de missão .6
Champagnat, com toda sua herança familiar e sua formação
sacerdotal da época, servindo a uma comunidade que sofria os
efeitos da revolução francesa, da desorganização das instituições
públicas e da assistência deficiente do estado, percebeu que era
preciso desenvolver uma ação
que de forma sólida pudesse
desenvolver o cidadão na dimen-
são humana e espiritual; em sín-
tese, desenvolver a personalida-
de integralmente. O aspecto inte-
gral ainda quer dizer adaptado
ao sujeito em suas mentalidades
diversas, que a busca da verdade
seja facilitada de todos os
modos, particularmente pelo
amor, pelo entusiasmo e com
métodos apropriados .
O ser humano se constitui em
uma unidade que abrange o
físico, o saber, os valores da
vida, a consciência e a fé. Ele é
chamado a se desenvolver em
todos estes aspectos. Em todas
estas situações a missão maris-
ta procura servir e desenvolver o
ser humano. É o que se chama
de formação ou desenvolvimen-
to integral da pessoa huma-
na. O programa para o cultivo
da pessoa humana na sua inte-
gralidade parte sempre da con-
cepção do humanismo cristão.
Para que o um marista seja
capaz de dar atenção a todas as
áreas da personalidade é neces-
sário viver o tanto quanto possível tais realidades para dar tes-
temunho de vida; para isto, todos os valores precisam ser trata-
dos a partir de um senso crítico sério: valores sociais, culturais,
psicológicos e transcendentais .
7
8
9
11
Carisma, o que é?
No dicionário grego clássico, chárisma, charísmatos,
recebe as seguintes versões: obséquio, benevolência,
dom. A base do termo cháris, cháritos, versa os seguintes
significados: prazer, alegria, encanto exterior, beleza,
respeito, benevolência, favor, desejo de agradar, condes-
cendência, reconhecimento, agradecimento, recompen-
sa e até mesmo salário. Colocamos isto em atenção à
palavra de Platão, que se antecipou aos nossos tempos
modernos que, pensando ser original, fala em “poder da
palavra” ou word power.
Quando se fala em carisma se entende a ação esplen-
dente, superior, miraculosa ou misteriosa. Para compre-
ender melhor o que se entende por carisma na mística
cristã é importante ler um trecho precioso de São Paulo
no que se refere a este tema:
“Acerca dos dons espirituais, não quero que sejais ignoran-
tes. Vós bem sabeis que, como pagãos, éreis levados aos
ídolos mudos, segundo éreis guiados. Eis por que vos quero
fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito diz:
Jesus é anátema. Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor
senão pelo Espírito Santo. Ora há diversidade de dons, mas
o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o
Senhor é o mesmo. Há diversidade de operações, mas é o
mesmo Deus que opera tudo em todos” (1 Cor 12, 1-6).
Portanto, Paulo lançou os primeiros fundamentos na com-
preensão teológica do termo carisma que nada mais é que
um dom do Espírito Santo que nasce no meio da comunida-
de cristã por inspiração do Espírito Santo, para responder às
necessidades espirituais e sociais de cada época.
Cada carisma tem seu distintivo, suas características e os
acentos especiais na vivência da mística e da espiritualidade.
Os principais aspectos do carisma marista estão centrados na
visão integral da pessoa humana e na pedagogia que tem
como modelo Maria, Mãe de Jesus. Desta visão e ambiente
educativo decorrem os valores norteadores, que são: a pre-
sença, a simplicidade, o espírito de família e o amor ao traba-
lho. Eles emergem da vivência do carisma por parte do próprio
fundador e se perpetuam na história, orientando as gerações.
A presença e o testemunho
A presença junto às pessoas é uma demonstração de amizade
e estima. Ao destinar tempo aos outros além das relações
Os valores e a mística
da missão Maristameramente formais, cria-se a oportunidade do conhecimento
mútuo em nível pessoal. Para Champagnat, a presença deve-
ria ser significativa e se constituía num espaço para o teste-
munho de vida, o principal e mais eficaz meio para se educar.
A simplicidade como estilo de vida
A simplicidade deve expressar-se no trato com as pessoas,
sobretudo por meio de uma relação autêntica e sincera,
tomada despretensiosamente e sem duplicidade. A simplici-
dade é fruto da unidade entre espírito e coração, ser e agir,
revelando sinceridade em relação a si mesmo e a Deus .
À simplicidade se acrescenta a humildade e a modéstia, que
constituem as “três violetas” da tradição marista, permitindo
10
12 13
necessidades espirituais e sociais da comunidade
local, estendido a toda a Igreja, a serviço da humanida-
de. Seu núcleo consiste em realizar a missão de tornar
Jesus Cristo conhecido e amado entre as crianças,
os jovens e os adultos.
• O carisma marista envolve uma espiritualidade cen-
trada em Cristo e ao mesmo tempo marial. Eis um
lema marista: “Tudo a Jesus por Maria, tudo a Maria para
Jesus”.
• Marcelino Champagnat era um homem de coração
grande. Seu empenho se abria ao mundo em forma de
serviço à vida: Para ele, tornar Jesus Cristo conhecido e
amado significa também ajudar ao próximo a se tornar
um "bom cristão e virtuoso cidadão".
• Para Champagnat, a espiritualidade marista implica
em formar comunidade e partilhar a vida. O teste-
munho de vida, para ele, era o principal meio para edu-
car. O ambiente em que Champagnat quis trabalhar se
espelha no lar de Nazaré (ambiente de família), onde se
dialoga e cada um procura fazer o melhor de si para que
seja de entendimento e sabedoria (simplicidade), onde
todos se esforçam para bem cumprir suas tarefas (espíri-
to de trabalho), na seriedade dos compromissos, na
constante atualização e no planejamento consciente das
atividades.
• Na pedagogia proposta por Champagnat, para bem
educar é preciso antes de tudo amar, e amar a todos
igualmente.
• Champagnat deseja que seus companheiros estejam
próximos das pessoas (presença), isto implica em grande
possibilidade de animar e capacitar aspectos positivos,
desenvolvendo a maturidade afetiva em clima de confi-
ança e amizade, e desfazer tensões e desavenças. Enfim,
estar presente como exemplo voluntário e gratuito
de integração, desenvolvendo e realizando a dimensão
da paternidade ou da maternidade junto às pessoas.
• A Igreja reconhece que a intuição de São Marcelino
continua viva hoje e é um presente de Deus para o
mundo . A missão marista é chamada a multiplicar-se,
até abranger todas as dioceses do mundo . O leigo maris-
ta acredita que Deus o convoca a prolongar essa
intuição na história, como seguidor de Cristo .
16
17
que Deus aja por meio dos seguidores do carisma maris-
ta, buscando “fazer o bem sem barulho”. Sendo consci-
ente das limitações e potencialidades, se está mais apto a
compreender o outro, respeitando-o na sua dignidade e
liberdade .
O espírito de família como ambiente de trabalho
O espírito de família espelha-se no lar de Nazaré. É feito
de amor e perdão, entreajuda e apoio, esquecimento de
si, de abertura aos outros e de alegria (Cl 3,12-15). Esse
espírito haure força e fervor no amor de Cristo. Impregna
as atitudes e o proceder da família marista, de modo que
irradia aos que a encontram .
O grande desejo de Champagnat é que a relação entre
Irmãos, leigos e pessoas que freqüentam as obras
Maristas seja como entre membros de uma família que se
ama . Todos são desafiados a colocar em prática este
desejo do fundador, mesmo nas obras mais complexas.
O amor ao trabalho e constância como dedicação
ao Reino de Deus
Marcelino Champagnat era homem de trabalho, enérgi-
co, inimigo da preguiça. Ele próprio formou-se com esfor-
ço tenaz e total confiança em Deus, e com essas caracte-
rísticas impregnou o seu ministério paroquial, fundou a
sua família religiosa e empreendeu todos os seus proje- tos . Marcelino Champagnat, como construtor, mostra a
importância de estar disposto a “arregaçar as mangas”,
preparado para fazer o que for necessário à realização da
Missão. Quem quiser ser seu discípulo deve seguir o seu
exemplo, sendo generoso de coração, constante e perse-
verante no trabalho cotidiano, bem como nos esforços
empreendidos na própria formação permanente.
O amor ao trabalho deve ser desenvolvido nos diversos
ambientes das obras por meio de uma cuidadosa prepa-
ração dos projetos, planejamento e avaliação das ativida-
des, programas e acompanhamentos . Para dar conta
desta exigência é preciso ser prospectivo e decidido a
desenvolver respostas criativas às necessidades das
pessoas.
• O carisma (dom do espírito) de Champagnat é um novo
modo de viver o Evangelho, uma resposta concreta às
11
12
13
14
15
Sintetizando alguns aspectos relevantes do carisma marista
A questão da espiritualidade vem ganhado espaço no
âmbito da saúde. Há basicamente duas grandes tendên-
cias em andamento que justificam esse avanço:
Uma é já bastante difundida e está relacionada à necessidade que
as pessoas têm, sobretudo em estado de saúde debilitada, de
encontrar sentido para os fatos que predominam e ocorrem em
sua própria vida. Neste âmbito, há, por um lado, as diversas pers-
pectivas teóricas e práticas oferecidas pelas religiões ou mesmo
por formas de crenças latentes; e, por outro lado, há também a
subjetividade do indivíduo que busca as suas próprias razões para
suas crenças e experiências (que envolve a
dimensão afetiva, inclusive) religiosas que
acaba por desenvolver.
Neste contexto, o respeito às propostas
objetivas das religiões bem como às livres
adesões pessoais torna-se algo sagrado. No
entanto, não absoluto. Se o que as religiões
têm em comum é a mística de envolver o ser
humano em ações que promovam a vida,
jamais qualquer crença deverá se justificar
se não promover de fato a vida. Neste
ponto, a ética acaba por ser a grande guar-
diã da relação espiritualidade e saúde. Ao mesmo tempo em que o
campo das crenças é sublime, a ética torna-se a ferramenta indis-
pensável para que ela de fato seja coerente e sadia.
Outra tendência que promove o avanço da relação espirituali-
dade x saúde está mais relacionada ao campo científico.
Independentemente da questão do respeito às crenças e à
normalização ética para que esse procedimento – espiritualida-
de x saúde – seja sadio, há o dado científico que abrange tanto a
área da saúde como das ciências teológicas/filosóficas.
Risco – O médico toca em um ponto
importantíssimo. Quando a religiosidade
toma o lugar da medicina, as coisas se
complicam. Quem leva a fé a ferro e fogo e
decide depositar tudo nas mãos de Deus
corre o sério risco de perder a vida. Um
estudo feito pelo médico Riad Yunes com
Diferentemente do QI, encontrado nos
computadores, e do QE, que existe nos
mamíferos superiores, o QS (inteligên-
cia espiritual) é exclusivamente humano
e o mais fundamental das três inteligên-
cias. Ele se relaciona com a necessida-
Já são muitos os médicos que fazem essa constatação no dia
a dia. O oncologista Riad Yunes, do Hospital do Câncer de
São Paulo, é um deles. “Os pacientes que têm religiosidade
parecem suportar mais as dores e o tratamento. Também
lidam melhor com a idéia da morte”, observa.
Esse tipo de informação já aparece em diversas pesquisas.
Muitas estão sendo feitas sob a batuta do médico Harold
Koenig, da Universidade de Duke (EUA). Entre seus achados
estão resultados interessantes. Pessoas que adotam práti-
cas religiosas ou mantêm alguma espiritualidade apresen-
tam 40% menos chance de sofrer de hipertensão, têm um
sistema de defesa mais forte, são menos hospitalizadas, se
recuperam mais rápido e tendem a sofrer menos de depres-
são quando se encontram debilitadas por enfermidades.
“Hoje há muitas evidências científicas de que a fé e métodos
como a oração e meditação ajudam os indivíduos”, afirma
Thomas McCormick, do Departamento de História e Ética
Médica da Universidade de Washington (EUA).
Estimulados por essa realidade, os cientistas procuram res-
postas que elucidem de que modo esse sentimento interfere
na manutenção ou recuperação da saúde. Há algumas expli-
cações. Uma delas se baseia numa verdade óbvia: a de que
quem cultiva a espiritualidade tende a ter uma vida mais sau-
dável. “Os estudos comprovam que a religiosidade proporcio-
na menos comportamentos auto-destrutivos como suicídio,
ESPIRITUALIDADE, SAÚDE E O CARISMA MARISTA
abuso de drogas e álcool, menos stress e mais satisfação. A
sensação de pertencer a um grupo social e compartilhar as
dificuldades também contribuiria para manter o paciente
amparado, com melhor qualidade de vida”, explica o psiquia-
tra Alexander Almeida, do Núcleo de Estudos de Problemas
Espirituais e Religiosos do Instituto de Psiquiatria da Univer-
sidade de São Paulo (USP).
Para os cientistas, essa explicação é só o começo. O que se
quer saber é o que se passa na intimidade do organismo
quando as pessoas oram, lêem textos sagrados e qual o
impacto disso na capacidade de se defender das doenças.
Embora não existam estudos conclusivos, acredita-se que
esse plus esteja relacionado a mudanças produzidas pela fé
na bioquímica do cérebro. “Setores do sistema nervoso
relacionados à percepção, à imunidade e às emoções são
alteráveis por meio das crenças e significados atribuídos
aos fatos, entre outros fatores. Assim, um indivíduo religio-
so tem condições de atribuir significados elevados ao seu
sofrimento físico e padecer menos do que um ateu ou
agnóstico”, explica o psicólogo e clínico João Figueiró, do
Centro Multidisciplinar da Dor do Hospital das Clínicas
(HC/SP).
Para aprofundar as investigações, está surgindo até um
novo campo de conhecimento, chamado de Neuroteologia.
Espiritualidade na saúde Espiritualidade e saúde, um encontro inevitável
(Celina Côrtes, Cilene Pereira e
Mônica Tarantino, Revista IstoÉ 01/06/2005)
três mil pacientes de câncer de mama no
Hospital do Câncer de São Paulo mostra o
quanto essa possibilidade é real. Segundo o
trabalho, 20% das mulheres preferiram
fazer tratamentos espirituais antes de se
submeter à cirurgia e tomar os medicamen-
tos indicados pelos médicos. “Quando (Celina Côrtes, Cilene Pereira e
Mônica Tarantino, Revista IstoÉ 01/06/2005)
voltaram ao hospital, três ou quatro meses
depois, os tumores tinham dobrado de
tamanho”, diz Yunes. Como se vê, o equilí-
brio entre as necessidades da alma e as do
corpo é um dos segredos de uma boa saúde.
de humana de significado, uma
questão muito presente na mente dos
homens... O QS é que utilizamos para
desenvolver nosso anseio e capaci-
dade de sentido, visão e valor.
Permite-nos sonhar e progredir. Ele está
nas coisas em que acreditamos e no
papel que nossas crenças e valores
desempenham nas ações que empre-
endemos. É, essencialmente, o que nos
torna humanos.
(Danah Zohar)
1514
Nunca se buscou tanto como agora no campo científico a compre-
ensão do processo de cura desencadeado ou fortalecido pela fé,
pelo cultivo da espiritualidade. A Neuroteologia, por exemplo,
aponta resultados de pesquisas que impressionam quando o
assunto é a influência da espiritualidade na longevidade, no
sistema imunológico, no processo de psicossomatização, de
prevenção, entre outros. Sobre esse assunto, é oportuno ouvir os
Doutores Andrew Newberg e Harold Koening, conforme indicação
do vídeo anexado .
Já no campo das ciências teológicas e filosóficas (e afins) vem se
desenvolvendo uma abordagem
mais elaborada em linguagem atual
sobre a compreensão do ser humano
em sua integralidade, concebendo-o
como um ser de mente (inteligên-
cia), corpo (física), emoções (cora-
ção) e, sobretudo, de consciência
(espírito). Autores clássicos, como
Agostinho de Hipona, por exemplo,
desenvolveram essa forma de com-
preender o ser humano há séculos;
no entanto, percebe-se uma redes-
coberta dessa compreensão a partir de autores atuais, que
buscam estabelecer pontes entre suas especialidades e as
diversas formas de pensar e crer. Para muitos desses autores, a
espiritualidade é o centro referencial e responsável por harmo-
nizar e potencializar todas as dimensões do ser humano. Para a
saúde, que busca tratar o ser humano como um ser integral – e
isso é ponto pacífico – ignorar a espiritualidade seria um erro.
Ao mesmo tempo, terceirizar esse assunto somente para as
religiões seria comodidade ou talvez ignorância. É chegado o
tempo de redescobrir caminhos entre espiritualidade e saúde.
18
Por ser a sadia vivência da espiritualidade algo tão relevante
no âmbito da saúde, o Instituto marista se vê desafiado a
buscar integrar em suas ações formais nos hospitais um
processo dinâmico que dê espaço e potencialize a vivência
saudável da espiritualidade. Neste contexto busca-se
potencializar somente iniciativas que estejam plenamente
harmonizadas com a ética e seus princípios, bem como com
as ciências (Humanização).
A missão marista de Tornar Jesus Cristo conhecido e ama-
do, herdada do fundador, pode ser compreendida hoje
como uma oportunidade de tornar reais as atitudes própri-
as de Jesus no cotidiano hospitalar: acolhida, atenção,
cuidado, serviço, o viver em comunidade, o perdão, a cura, a
solidariedade, a fraternidade, dentre outras. Tudo isso,
tendo em mente seus anseios mais profundos: a dignidade
dos seres humanos, por serem filhos de Deus; a visão inte-
gral do ser humano; a busca da verdade e construção de um
mundo mais justo e fraterno.
A partir desses imperativos evangélicos e de missão, algu-
mas grandes linhas devem nortear o trabalho marista na
área da saúde:
a) Atendimento integral, qualificado e humani-
zado ao paciente
O atendimento qualificado ao paciente é a razão maior de
todos os nossos esforços na área da saúde, e busca harmoni-
zar as dimensões física, psíquica, social e espiritual.
Realizado com a preocupação de considerar o ser humano
em sua integralidade, é também um ação educativo-pastoral
e está focada na dignidade humana: autonomia, liberdade e
consciência. Assim, esse deve ajudar o indivíduo a ampliar a
compreensão sobre si mesmo e conduzi-lo à responsabilida-
de e ao cuidado sobre sua própria vida e a dos demais.
b) Constituição de comunidade hospitalar basea-
da nos valores humanos, cristãos e maristas
Condição indispensável para o atendimento qualificado e
integral ao paciente é a constituição de uma comunidade
hospitalar na qual predomine a humanização nas relações, nos
processos e procedimentos. É importante o cultivo das relações
humanas no cotidiano e ao mesmo tempo a atenção especial
desta temática no treinamento e desenvolvimento do pessoal.
Nesse sentido, os valores humanos, cristãos e maristas são
permanentemente traduzidos em comportamentos, constituin-
do-se em diferenciais em nosso jeito de cuidar, gerir e educar.
c) Constituir-se num espaço de pesquisa, educa-
ção e debate sobre Bioética e Humanização
O serviço da saúde unido ao da educação, em nossa Instituição,
carrega em si mesmo uma responsabilidade: ao lado dos
conhecimentos consolidados na formação e nas ações de
nossos profissionais, são promovidas permanentes pesquisas,
debates e ocasiões sistemáticas de ensino sobre questões
relacionadas à bioética nas quais os elementos do cristianismo
sejam considerados como meios de promoção da vida. Como
hospitais escola, a atenção aos acadêmicos e à formação dos
profissionais da saúde deve fazer parte de nosso cotidiano.
Essas atividades e conteúdos devem fazer parte de nossa cultu-
ra interna e são estendidos à sociedade e à Igreja.
d) Dedicar-se ao serviço da educação em preven-
ção e promoção da saúde
O carisma marista nos impele a desempenhar um serviço de
prevenção em saúde junto à sociedade, com caráter educati-
vo. Quando os conhecimentos construídos por nossos profis-
sionais da saúde são partilhados com a população, sobretudo
às pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade,
além de ser um serviço de prevenção em saúde é também
promoção da cidadania.
Algumas posturas que cada profissional pode cultivar no dia a dia do ambiente de trabalho:
Mostrar-se sociável no relacionamento com os colegas de tra-
balho. Reconhecer seus potenciais e suas limitações propon-
do-se a ajudar e a aprender com a ajuda das outras pessoas.
Tornar-se descomplicado com as pessoas, fazer-se próximo.
Realizar suas atividades sem ostentação. Buscar adequar a
linguagem às pessoas com quem se relaciona.
SIMPLICIDADE
a) Algumas pessoas vivem identidades
diferentes da marista, porque fizeram
opções de vida distintas da cristã; outras,
por já terem encontrado seu próprio lugar
na Igreja. A Instituição acolhe e respeita
as diferentes opções e caminhos.
b) Outras pessoas são atraídas pelo teste-
munho dos Irmãos. Admiram o seu modo
Garantir seu desenvolvimento profissional por méritos pró-
prios sem sobrepor-se aos outros. Compartilhar seus conhe-
cimentos e talentos.
Esforçar-se para reconhecer e corrigir as suas próprias limi-
tações, estando aberto a opiniões e sugestões. Procurar ser
transparente nas relações humanas e na realização do tra-
balho, para que suas qualidades sejam repartidas e suas fra-
quezas sanadas.
Empenhar-se em se fazer próximo e acessível aos pacientes /
clientes, atendendo-os com alegria, respeito e eficiência.
HORIZONTES MARISTAS NA SAÚDE
Níveis de adesão e compromisso dos leigos Maristasde vida e desejam vincular-se à sua espiri-
tualidade e à sua missão, sem entender
isso como vocação partilhada.
c) Há um terceiro grupo que, a partir de
um processo pessoal de discernimento,
decide viver sua espiritualidade e sua
missão cristãs do jeito de Maria, seguindo
a intuição de São Marcelino Champagnat.
Esforçamo-nos por ser íntegros, autênticos e
transparentes. Assim, nossa simplicidade é fruto
da unidade entre ser e agir e se expressa no
trato com as pessoas. Está ligada à humildade
e à modéstia que nos ajudam a compreender
melhor nossas potencialidades e limitações, e
nos fazem aptos a aceitar os outros,
respeitando-os em sua dignidade e liberdade.
No Instituto Marista, todos os
colaboradores são convidados a
harmonizar-se com os princípios
herdados do fundador, Marcelino
Champagnat. No entanto, há três
níveis de engajamento e todos
eles são respeitados e valoriza-
dos na Instituição :19
17
A partir da Identidade e missão maristas, propomos uma
tradução dos valores referenciais numa linguagem
adequada a nossa realidade corporativa. Ao mesmo tempo,
colocamos algumas sugestões de comportamentos
possíveis relacionados aos referidos valores. A finalidade
destes é de orientar a nossa caminhada.
Competências e valores Maristas
Algumas posturas que cada profissional
pode cultivar no dia a dia do ambiente de
trabalho:
Realizar seu trabalho de forma que contagie o ambiente hospita-
lar, tornando-o um lugar agradável.
Apesar dos obstáculos ou desafios diários, concentrar-se na sua
vocação de promover a saúde. Nada ou ninguém prejudica esse
ideal pessoal.
Buscar melhoria continua na realização do seu trabalho. Buscar
formação própria, atualização constante.
Envolver-se com o trabalho por mais simples que possa parecer a
atividade, independentemente de seu cargo. Ser proativo, não
ficar preso a status ou cargo. Envolver-se com todos e se colocar
em espírito de aprendizagem e serviço.
Algumas posturas
que cada profissio-
nal pode cultivar no
dia a dia do ambien-
te de trabalho:
Ser verdadeiro em suas atitudes e
palavras estabelecendo uma
relação de confiança e transpa-
rência.
Ter postura educadora (exemplo,
coerência de atitudes), auxiliando
as pessoas em seu desenvolvi-
mento pessoal e profissional.
Acolher as pessoas no ambiente de trabalho fazendo com que
se sintam estimados e valorizados. Orientar as pessoas de
maneira discreta e no momento oportuno. Praticar a escuta
ativa, estabelecendo o diálogo harmonioso.
Auxiliar as pessoas a encontrar soluções para seus problemas
cotidianos. Encorajá-las a expressarem suas idéias.
Cultivar o desenvolvimento da competência, da transparência e
da credibilidade, buscando criar um clima de confiança no
ambiente de trabalho / hospital.
Reconhecer que, pela presença significativa no ambiente
hospitalar, torna-se estímulo / motivação para que os pacientes
encarem seu processo com otimismo e esperança.
Compreender que presença significativa envolve, além da
escuta e da orientação, cuidar das pessoas para que não sofram
danos materiais, físicos e morais.
Utilizar adequadamente os recursos (materiais, humanos, financei-
ros) que estão a sua disposição com a finalidade de cumprir o
trabalho que lhe foi solicitado. Adotar uma postura em evitar des-
perdícios e gastos supérfluos.
Basear suas decisões com imparcialidade, sem se valer de simpati-
as ou antipatias. Ser ético na condução das suas atividades. Pautar
suas ações no principio da equidade.
Ter consciência de que, nas relações de trabalho e na vida em
sociedade, os deveres e obrigações caminham sempre juntos.
Procurar conciliar um caráter íntegro com as devidas competências.
Criar clima de entusiasmo e envolvimento no ambiente de traba-
lho, exercendo efeito energizador sobre os demais. Ser otimista,
buscar potencializar os pontos positivos. Quanto à necessidade de
crítica, saber ser firme nos princípios e suave com as pessoas.
PRESENÇA SIGNIFICATIVAAcreditamos que o exemplo de vida é o meio mais eficaz na construção de um ser humano pleno. Por
isso, buscamos estar próximos das pessoas, inculturando-nos em suas realidades, valorizando e
cultivando os laços de cuidado e ternura, solicitude e afabilidade, e construindo uma sólida relação de
confiança marcada por uma presença atenta e acolhedora.
Um dia chamaram-no para um doente. Apressa-se em
visitá-lo e encontra um homem coberto de chagas, na
maior miséria, tendo apenas alguns trapos a cobrir-lhes
a nudez e as úlceras. Profundamente movido de compa-
ixão à vista de tantas dores e tanta miséria, dirige-lhe,
primeiramente, palavras de conforto. Depois, corre para
casa, chama o Irmão ecônomo e ordena-lhe que leve
imediatamente colchão, lençóis e cobertores ao infeliz
que aqui acabava de visitar.
-Mas, Padre, não temos nenhum colchão sobrando.
-Como! Não encontra nenhum colchão na casa?
-Não, nenhum. Deve lembrar-se que dei o último faz
alguns dias.
-Pois bem! Retire o colchão da minha cama e leve-o
agora mesmo ao pobre do homem.
(Jean Baptiste Furet)
A exemplo de Marcelino Champagnat, somos constantes e perseverantes no trabalho cotidiano.
Realizamos as tarefas que nos cabem com disposição, generosidade e espírito cooperativo.
Esforçamo-nos para promover a nossa própria formação permanente e para fornecer respostas
criativas aos desafios da realidade. Pelo exemplo, ensinamos que o trabalho é meio de realização
pessoal e contribuição para o bem-estar da sociedade.
AMOR AO TRABALHO
Uma experiência de Champagnat
1918
Se os médicos estão se valendo de práticas religiosas
talvez isso seja um indicativo de que afinal existe algo
acima do conhecimento humano que o cientificismo puro
não consegue explicar. Talvez seja também um dos nós de
encontro entre ciência e religião. A ciência não pode mais
se arvorar direito de ser expressão máxima dos fatos, nem
a religião pode se escorar em dogmas, creditando todos
os fenômenos ao sobrenatural. Há um ponto em comum
entre essas duas vertentes, resgatadas, por exemplo, por
expoentes da ciência como Albert Einstein, Niels Bohr e
Construímos entre as pessoas uma relação de parceria ativa, acolhendo-as e compreendendo-nos
como diferentes e complementares. Valorizamos a construção coletiva, a autonomia responsável,
a flexibilidade, a ajuda mútua e o perdão. Ousamos construir comunidade, com alegria, e fazer
dela fonte de vida.
Algumas posturas que cada profissional
pode cultivar no dia a dia do ambiente de
trabalho:
Tratar as demais pessoas de maneira cordial, independente de
classe social, raça, religião, gênero, função e/ou cargo ocupado.
Inquietar-se com a aflição ou a tristeza alheia e oferecer a ele
seu acolhimento e compreensão. Ao mesmo tempo, saber
manter o equilíbrio entre o profissional e o pessoal nas rela-
ções com os pacientes e colegas de trabalho.
Utilizar palavras e adotar atitudes educadas nos relaciona-
mentos, buscando o diálogo como forma de proporcionar o
crescimento das pessoas.
ESPÍRITO DE FAMÍLIA SENSIBILIDADE COMUNITÁRIA
Privilegiar o trabalho em equipe na realização das suas ativida-
des e partilhar seus conhecimentos em benefício do bem comum.
Empenhar-se em promover a harmonia no ambiente de trabalho.
Respeitar as diferenças pessoais. Acolher a diversidade. Empenhar-
se em promover o bom êxito em benefício de todos.
Promover a sinergia entre os membros de sua área de atuação e
de todos na organização. Celebrar as conquistas das pessoas e da
Instituição.
Saber dar e receber feedback, acolher os apontamentos que lhe
são feitos em vista de seu crescimento e desenvolvimento pessoal
e profissional.
Praticar e promover a comunicação pessoal que é transparente,
verdadeira, assertiva e afetiva.
Religião x Ciência
ALGUNS RELATOS QUE MERECEM DESTAQUE:
(José Antônio Mariano)
Wolfgang Pauli que perceberam que a ciência chegara a
um ponto em que lhe era impossível abordar toda a
complexidade de fenômenos que assolam o ser humano.
Tanto que, em 1986, uma declaração conjunta assinada
por alguns intelectuais de peso como o paquistanês
Abdus Salam (Prêmio Nobel de Física) e o francês Jean
Dausset (Prêmio Nobel de Medicina) afirmava que a
ciência e as tradições espirituais são complementares e
não contraditórias e que o intercâmbio entre elas "abre
as portas para uma nova visão da humanidade" .20
2120
O diagnóstico do câncer pode afetar a espiritualidade do pacien-
te tanto de forma positiva quanto negativa. Por exemplo, uma
pessoa ao receber o diagnóstico pode aproximar-se mais de Deus,
apoiar-se em pessoas religiosas e buscar coragem e otimismo
para enfrentar a doença e tratamentos. Outras podem questionar
e se revoltarem contra tudo em que ou quem acredita. Surgindo
então perguntas como: Por que isso está acontecendo comigo? O
que eu fiz ou deixei de fazer para merecer passar por tudo isso?
Espiritualidade refere-se a crença em algo superior, uma força,
uma energia, comumente chamada de Deus. E a crença nessa
força superior daria sentido à vida e à morte. A conexão com Deus,
ou como queira chamar, proporciona esperança, confiança e fé
para o enfrentamento de acontecimentos estressantes e doloro-
sos. Uma pessoa que compartilhe desse conceito não precisa
participar de nenhuma religião organizada ou institucionalizada.
Impacto da Espiritualidade na Qualidade de Vida de Pacientes Oncológicos
NOTASNão existe pesquisa a respeito, mas pode-se avaliar a impor-
tância do vínculo espiritual para o dependente, a partir dos
seus testemunhos de vida sobre como deixaram a droga. De
cada dez, pelo menos nove falam em Deus - como O enten-
dem - como fundamental no seu processo de recuperação.
Em seguida, vem o cônjuge, a família, os amigos. Disso se
infere que, seja qual for à estratégia terapêutica adotada, se
Deus não estiver presente, o dependente pode até abandonar
A importância de Deus notratamento dos dependentes
(José Antônio Mariano)
a droga, mas isso não quer dizer que esteja recuperado. Deus
é importante tanto no processo de recuperação em si, como
no pós-tratamento, essa sim a fase mais difícil. Os grupos de
mútua-ajuda não abrem mão de Deus, nomeando-o demo-
craticamente como Poder Superior, desvinculando-O de
rótulos e emblemas. A espiritualidade é importante. E“a
religião não precisa da ciência para justificar sua existência
ou seu encanto" .21
22
CONSIDERAÇÕES FINAIS
· A espiritualidade não pode e não deve ser utilizada de forma mercantilista.
· Vivemos em um mundo pluralista (esta mudança é recente) e muitos de nós
nos formamos em um mundo “uniforme cristão”; portanto, precisamos
nos informar para poder ajudar aos pacientes a viver em plenitude.
· Ano decorrer do nosso texto, mas cultivamos o ecumenismo
e respeitamos as outras denominações religiosas.
s nossas instituições têm uma orientação cristã e marista, como vimos
A espiritualidade pode ajudar proporcionando sentimentos de
confiança, esperança e proteção. Crendo que existe uma força
superior, Deus que está acima de tudo, de todos e que tudo
pode, tudo provê. Por pior que seja o prognóstico, Seu poder,
Seu amor podem curar.
Para ajudar um paciente oncológico é importante refletir qual
foi a importância da crença em Deus ao longo da vida. Essa cren-
ça trouxe esperança, vontade de lutar diante das dificuldades?
Tornou a pessoa mais forte? Caso sim, a melhor dica talvez seja
ela ter a coragem de falar para Deus toda sua revolta. Todas as
suas dúvidas e medos. Afinal, a gente só briga com quem a gen-
te se importa e acredita que vale a pena resgatar a amizade e
confiança. E, finalmente, dizer como é importante a presença
Dele durante todos os tratamentos .22
1 - Cf. Moggi, Jair. A Espiritualidade é o Grande Capital desta Era. Site:
(Acesso em: 12-03-2010 – 18h).
2 - Cf. Nivaldo, Pr. José. A Espiritualidade do discipulado - Outros destaques. Site:
(Acesso: 28-02-2010 -16h).
3 - Cf. Milomem, Valmir Nascimento. Por dentro da espiritualidade moderna. Site:
(Acesso: 28-02-2010 -17h).
4 - Gálatas 2, 20. E Cf. Movimento cristão do COLTEC (RCC). Espiritualidade. Site:
(Acesso: 28-02-2010 - 11h25).
5 - Cf. De Castro, Pe. Flávio Cavalca. A Espiritualidade Conjugal e os Compromissos na ENS. Site:
; (Acesso: 28-02-
2010 - 16h).
6 - Cf. Instituto dos Irmãos Marista. Em torno da mesma mesa. A vocação dos leigos maristas de Champagnat. Roma. Ed.: C.S.C.
GRÁFICA. 2009. pág. 34, nº 34.
7 - Cf. Minga, Ir. Teófilo. O que é o ano da Espiritualidade. Site:
(Acesso: 28-02-2010 - 18h45).
8 - Cf. Escorihuela Pujol, Josep Maria; Moral Barrio, Juan e Serra Llansana, Lluís. O Educador Marista. Sua Identidade seu Estilo
Educativo; EDELVIVES (Editorial Luís Vives), Zaragoza, Espanha, 1985, pág. 83.
9 - Cf. . Escorihuela Pujol, Josep Maria; Moral Barrio, Juan e Serra Llansana, Lluís. O Educador Marista. Sua Identidade seu Estilo
Educativo; EDELVIVES (Editorial Luís Vives), Zaragoza, Espanha, 1985, pág. 80.
10 - FURET, Jean-Baptiste. Avis, Leçons, sentences et instructions de Vénérable Père Champagnat. Paris/Lyon, Librairie
Catholique Emmanuel Vitte, 1927. Pág. 425.
11 - Ir. Charles HOWARD. Espiritualidade Apostólica Marista, Circulares, v. XXIX, p. 459.
12 - Regles Comunes, 1852, 2.ª p. XI,2; V 464ss.
13 - FURET, Jean Baptiste. Vida de São Marcelino José Bento Champagnat. São Paulo: Loyola; SIMAR. 1999. Pág. 223.
14 - FURET, Jean Baptiste. Vida de São Marcelino José Bento Champagnat. São Paulo: Loyola; SIMAR. 1999. Pág. 193.
15 - SILVEIRA. Irmão Luiz, FMS. II Capítulo Geral do Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria: 1852 – 1853 – 1854. Anexo 2: Guia das
Escolas, p. 204.
16 - Cf. Caderno 4 do Pe. Champagnat. AFM 132.4, p. 33, nº 6.
17 - Cf. Instituto dos Irmãos Marista. Em torno da mesma mesa. A vocação dos leigos maristas de Champagnat. Roma. Ed.: C.S.C.
GRÁFICA. 2009. Pág. 33, nº 33.
18 - Programa Globo Repórter – Ciência e Fé. Direção: Denise Cunha. Exibido em 09 de abril de 2004.
19 - Cf. Instituto dos Irmãos Marista. Em torno da mesma mesa. A vocação dos leigos maristas de Champagnat. Roma. Ed.: C.S.C.
GRÁFICA. 2009. Pág. 26, nº 8, 9 e 10.
20 - Cf. Mariano, José Antônio; Espiritualidade em alta, Site: .
(Acesso: 28-02-2010 - 11h35).
21 - Cf. Mariano, José Antônio; Espiritualidade em alta, Site: .
(Acesso: 28-02-2010 - 11h35).
22 - Cf. Gonçalvez Gimenes, Maria da Gloria Impacto da Espiritualidade na Qualidade de Vida de Pacientes Oncológicos, Site:
. (Acesso: 28-02-2010 - 16h45).
http://br.hsmglobal.com/notas/41773-a-espiritualidade-e-o-
grande-capital-desta-era
http://www.betesdaanapolis.com.br/a-
espiritualidade-do-discipulado/
http://comoviveremos.com/2007/08/02/por-dentro-
da-espiritualidade-moderna/
http://www.coltec.ufmg.br/~mcc/index.htm
http://www.magnificat.srv.br/adm/upload/Espiritualidade%20Conjugal%20e%20ENS%20-%20Pe.%20Cavalca.pdf
http://www.google.com.br/search?hl=pt-
BR&q=Espiritualidade+Marista,+afinal+o+que+%C3%A9%3F&start=20&sa=N
http://adroga.casadia.org/tratamento/espiritualidade_em_alta.htm
http://adroga.casadia.org/tratamento/espiritualidade_em_alta.htm
http://www.oncoguia.com.br/site/interna.php?cat=129&id=2228&menu=54
;