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Pós-graduação em Gestão Ambiental
Economia AmbientalProfa Ms. Thelma Valentina
Paraíso, fev de 2013
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Sumário:
1. Revendo alguns conceitos _________________________________________________3
1.1. Meio Ambiente ___________________________________________________3
1.2. Economia ________________________________________________________3
2. Introdução a Economia do meio ambiente. ___________________________________14
3. Instrumentos de controle ambiental. ________________________________________29
4. Instrumentos reguladores. ________________________________________________33
5. Instrumentos econômicos. ________________________________________________33
6. Instrumentos de padronização internacional. __________________________________33
7. Avaliação monetária do meio ambiente. _____________________________________36
8. Valor econômico total. __________________________________________________38
9. Análise de custo-benefício. _______________________________________________43
10. Taxa de desconto. ______________________________________________________48
11. Risco e incerteza. ______________________________________________________49
12. Taxas de poluição e subsídios. ____________________________________________53
13. Poluidor pagador. ______________________________________________________54
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1.Revendo alguns Conceitos:
1.1. Meio Ambiente
É tudo o que envolve ou cerca os seres vivos. A palavra ambiente vem do lati, e o prefixo ambi dá a
ideia “ao redor de algo” ou de “ambos os lados”. O verbo latino ambio, ambire significa “andar em volta ou
em torno de alguma coisa”. As palavras meio e ambiente trazem em si o sentido de envolta ou envoltório, de
modo que a expressão meio ambiente é uma redundância.
Esta expressão é usada no Brasil, Espanha e demais países de língua castelhana, em Portugal e Itália
utiliza-se a palavra ambiente. No francês e inglês utilizam-se as palavras environnement e environment ,
ambas originárias do francês que significa circunscrever, cercar, rodear.
Meio Ambiente é aquilo que envolve todos os seres vivos e as coisas ou as coisas que estão ao seu
redor. É o Planeta Terra com todos os seus elementos, tanto os naturais, quanto os alterados ou construídos
pelos humanos. Desta forma, por meio ambiente se entende o ambiente natural e o artificial, ambiente físico e
biológico originais e o que foi alterado, destruído e construído pelos humanos, como as áreas urbanas,
industriais e rurais. Esses elementos condicionam a vida na Terra, podendo-se dizer que meio ambiente é a
própria condição de existência da vida no planeta.
Três Tipos de Ambiente:
a. O fabricado ou desenvolvido pelos humanos: cidades, parques industriais, corredores de transportes como ferrovias, rodovias e portos;
b.Ambiente domesticado que envolve áreas agrícolas, florestas plantadas, açudes, lagos artificiais etc.
c. O ambiente natural, por exemplo, as matas virgens e outras regiões autossustentadas, pois são acionadas apenas pela luz solar e outras forças da natureza, como precipitações, ventos fluxos de água etc. e não dependem de qualquer fluxo de energia controlado diretamente pelos humanos, como ocorre nos dois outros ambientes.
1.2. Economia:
A razão essencial da existência da Teoria Econômica (ou Ciência Econômica) é a escassez. Este
conceito refere-se à falta ou insuficiência de alguma coisa. No caso das sociedades humanas, observamos que
há um conflito constante entre necessidades e recursos, pois as nossas necessidades são ilimitadas, enquanto
os recursos são escassos.
Ao falarmos das necessidades, estamos nos referindo aos principais elementos que garantem a
sobrevivência material da espécie humana (todos e cada um de nós). No que você pensa quando se fala de
necessidades com esse significado?
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Enumerei abaixo as necessidades básicas do homem atual. É bastante provável que esta lista contenha
muitos, ou quase todos, os itens da sua própria lista:
• alimentos (sólidos e líquidos)
• vestuário e calçados
• moradia, mobília
• água corrente e eletricidade
• utensílios domésticos e eletrodomésticos
• meios de transporte
Esta lista é muito limitada. Observe, por exemplo, que excluímos tudo o que representa lazer e
recreação no lar (aparelhos eletrônicos, livros e revistas etc.). Observe, ainda, que os meios de transporte
podem variar de uma simples bicicleta a uma moto, um automóvel ou ao transporte público (ônibus, trem,
metrô). Atividades fora do lar nem foram arranhadas (cinema, bares e restaurantes, viagens etc.). Além disso,
se pensarmos que a vida em sociedade requer também que cada um possa contribuir para a melhora coletiva,
através da participação enquanto cidadão livre e ativo, então o rol das necessidades aumenta bastante. Não
acha? Pois estaríamos falando também em educação e saúde generalizados, imprensa livre e variada, governos
democráticos com eleições regulares, justiça organizada e eficiente, etc.
Existe um número significativo de seres humanos que conseguem, ao menos, usufruir a lista de
necessidades básicas e muitos destes também se beneficiam dos itens citados abaixo da lista, tais como lazer,
educação, saúde, etc. No entanto, os itens enumerados como de necessidades básicas do homem está fora do
alcance de parcelas significativas da humanidade atual. Milhões de pessoas, no Brasil e no mundo, não tem
acesso a essa lista como um todo. No máximo, elas conseguem obter dois ou três daqueles itens em
quantidades insuficientes. Você já viu quantas pessoas passam fome no Brasil e no mundo? Quantos
desabrigados existem pelas ruas a fora? A este fato denominamos de exclusão social, ou seja, a exclusão do
acesso aos bens materiais mais elementares e à própria participação nas decisões da sociedade.
O registro desse fato comum é importante para assinalar duas importantes características da vida
social: as desigualdades sociais e a atualidade da luta pela sobrevivência de todos e de cada um. Os
“incluídos” – isto é, aqueles que têm pelo menos acesso à lista mínima e à participação na cidadania – são, na
imensa maioria, pessoas sem qualquer segurança de que manterão esse acesso por toda a sua vida.
O que a economia tem a ver com isso tudo?
Veja, você acabou de ter o seu primeiro contato com a escassez, no sentido econômico da palavra. Se
você for analisar, perceberá que os próprios itens da nossa lista, considerados necessários a um mínimo de
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qualidade de vida humana, não estão acessíveis a todos. Entre os que conseguem esse acesso, a maioria o faz à
custa de muita luta, por todos os dias e anos de suas vidas. Mas o principal aspecto da escassez ainda não foi
mencionado: a escassez de recursos.
E o que são recursos? A palavra recursos não se refere apenas a “dinheiro”. Olhe novamente aquela
lista de itens básicos e reflita: o que é preciso para que cada um deles esteja disponível para o nosso consumo?
Aparecerá uma outra lista de elementos necessários para torná-los disponíveis: terra, ou área (espaço);
materiais que se transformarão naqueles itens (sementes, matérias-primas e componentes); ferramentas,
máquinas, instalações para possibilitar o processamento desses materiais; mão-de-obra humana, tanto direta
(com a “mão na massa”), como indireta (técnicos, administradores, pessoal de apoio administrativo). Essa lista
de elementos necessários acabará se tornando maior do que a primeira.
Podemos dizer, então, que são necessários recursos materiais, técnicos, humanos e financeiros para
os itens de necessidade básica do ser humano estejam disponíveis às pessoas que deles necessitam.
Assim, os recursos financeiros – que correspondem ao dinheiro ou a algo equivalente a ele (conta
bancária, cartões de crédito ou linhas de financiamento, títulos e ações etc.) - são importantes, mas não
exclusivos. Sua importância é que eles possibilitam comprar ou pagar pelos demais recursos – mas não os
substituem. Não se faz comida, roupa ou moradia com dinheiro.
Infelizmente, os recursos mencionados são escassos. Em parte, porque a natureza não os oferece em
todos os lugares de forma abundante. Os materiais básicos, por exemplo, não estão disponíveis
generalizadamente. Sementes requerem, muitas vezes, solos específicos e tratamento das plantas (além disso,
as plantas pertencem aos proprietários das terras em que estão enraizadas). Os minérios estão mal distribuídos.
A mão-de-obra necessária para produzir certos bens e serviços pode não ser aquela que se encontra numa
região ou país: os conhecimentos e habilidades variam muito.
Outra parte do problema refere-se ao uso que os homens fazem desses recursos. A terra, por exemplo,
já foi no passado e continua a ser hoje motivo de disputa pela sua posse – alguns a têm e outros querem tê-la,
mas não dispõem de meios para isso. Essa disputa foi importante em diversos países e continua a ser assunto
diário no Brasil.
Além disso, nós, humanos, acabamos utilizando, muitas vezes de forma irresponsável, alguns recursos
da natureza que não eram, mas passaram a ser (por nossa culpa) escassos. A água é o maior exemplo da
atualidade. O “planeta água” – como se refere a canção – está cada vez mais ameaçado pela poluição e pelo
desperdício desse líquido precioso. Alguns estudiosos (inclusive economistas) consideram que, já neste
século, a água pode vir a ser mais valorizada do que o petróleo é hoje.
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E o que os seres humanos produzem?
Essencialmente, dois tipos de produtos: BENS e SERVIÇOS.
A produção de bens e serviços: nossa resposta à escassez
O que são bens e serviços? De forma geral, bens e serviços são produtos do trabalho humano que
atendem a necessidades humanas. Porém, o primeiro trata de produtos materiais (físicos) e o segundo de
produtos abstratos que envolvem a oferta de ações especificas realizadas geralmente por outros seres humanos
que dominam a técnica para realiza-las.
Os bens são produtos com existência física, portanto são tangíveis (podemos vê-los, senti-los ou tocá-
los). Eles têm forma, cor, textura - enfim, características físicas - e subdividem-se em quatro grupos:
- bens de consumo não duráveis: devem ser renovados freqüentemente, esgotam-se ou desgastam-se rapidamente. Isso inclui alimentos e bebidas, materiais de higiene e limpeza, vestuário e calçados;
-bens de consumo duráveis: podem ser consumidos durante um tempo maior e não precisam ser renovados com freqüência. Automóveis (veículos em geral), eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos são típicos deste grupo;
- bens intermediários: resultam de um primeiro processamento industrial, mas não servem para o consumo. Voltam ao processo produtivo para dar origem a bens finais. Exemplos: aço, celulose, metais processados, petróleo, produtos químicos;
-bens de capital: são bens finais, mas não se destinam ao consumo das famílias e sim das empresas. São “bens que produzem outros bens”. Máquinas e equipamentos, em geral, representam este grupo.
Serviços não têm existência física: um ônibus é físico (portanto, é um bem), mas o transporte que ele
realiza (deslocamento de pessoas entre locais distintos) não é algo físico, não pode ser tocado, sentido ou visto
em termos de forma ou cor. Um corte de cabelo utiliza bens físicos – tesoura, aparelho elétrico – mas não é,
em si mesmo, físico. Vemos seu resultado na pessoa, o barbeiro/cabeleireiro, agindo, mas o corte em si
mesmo não existe fisicamente. Esta aula utiliza elementos físicos – e você a está lendo em papel ou no
computador – mas a aula em si, a transmissão do conhecimento, não é física. E um dos elementos desta aula é
a energia elétrica transmitida desde uma usina a centenas ou milhares de km de distância: você a usa (como
iluminação para sua leitura em papel, ou como fonte de energia para seu computador), mas não a vê.
A produção de bens e serviços é uma atividade central na vida social, desde o final da pré-história até a
nossa era de economia globalizada. Ela baseia-se em dois princípios fundamentais:
• É realizada através do trabalho humano. Por mais automatizada que seja a produção, ainda não se
conseguiu tornar nenhum bem ou serviço totalmente independente do trabalho humano. E inúmeros produtos
mantêm um nível muito limitado de automatização.
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• Sua produção requer aqueles recursos mencionados anteriormente (materiais, técnicos, financeiros e
humanos) que são chamados de recursos produtivos, ou ainda, fatores de produção.
Os fatores de produção agrupam-se em três tipos fundamentais:
- terra, ou recursos naturais (inclui a vegetação, o subsolo etc.).
- trabalho (a expressão “mão-de-obra” é limitada, porque o fator trabalho inclui também o trabalho técnico, administrativo e intelectual)
- capital: este termo refere-se aos equipamentos físicos usados no processo de trabalho, como máquinas, ferramentas, instalações físicas (fábricas, galpões, currais, escritórios etc.).
Uma vez que a Economia estuda como se combinam recursos escassos para produzir bens e serviços
que satisfaçam as necessidades humanas e como estes serão distribuídos, surgem imediatamente três perguntas
que qualquer organização social tem que responder, desde uma tribo indígena, uma sociedade escravocrata
(como o Brasil no séc. XIX) a uma economia capitalista ou socialista. São elas:
- O que produzir? Ou seja, quais bens e serviços serão priorizados, dado que a escassez de recursos impossibilita produzir tudo o que a sociedade deseja;
- Como produzir? Isto é, quais técnicas serão utilizadas, que proporção de cada fator de produção será adotada na produção de cada bem e serviço;
- Para quem produzir? Quer dizer, ao final de tudo, quem irá adquirir e consumir os bens e serviços produzidos – esta questão relaciona-se com a distribuição de renda na sociedade.
Historicamente, houve diversas respostas a essas questões. Cada resposta (ou melhor, cada conjunto de
respostas) implica num determinado sistema econômico: um conjunto de leis, instituições, regras e atitudes
sociais que envolvem toda a atividade produtiva.
Atualmente, a maioria dos países adota a economia de mercado (também denominada sistema
capitalista) como forma de responder a essas questões. As economias socialistas já foram uma resposta
alternativa, mas hoje poucos países adotam esse sistema.
Podemos observar essa discordância em dois grupos de lideranças que se reúnem periodicamente. O
primeiro é o Fórum de Davos (cidade suíça onde costumam ocorrer suas reuniões), dos defensores da
economia de mercado, que buscam aperfeiçoá-la. O segundo é o Fórum de Porto Alegre (assim chamado
porque sua principal reunião mundial ocorreu na capital gaúcha), que discute formas alternativas de
organização social e econômica.
A economia de mercado funciona baseada em decisões descentralizadas. Empresários decidem
individualmente sobre os processos produtivos e as famílias (consumidores) decidem individualmente sobre
seu consumo. Os empresários baseiam-se em seus recursos disponíveis e nas indicações do mercado: preços
em alta significam interesse dos consumidores; preços em baixa mostram desinteresse destes. Observando os
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preços dos bens e serviços e também dos fatores de produção (salários etc.), os empresários escolhem o que
irão oferecer ao mercado. Os consumidores (as famílias) baseiam-se na sua renda e nos preços do mercado
para decidir o que consumirão. O papel do governo é manter as regras gerais e evitar abusos, interferindo
pouco nessas decisões.
Primeiro Modelo: o diagrama do fluxo curricular da renda
A economia é constituída de milhões de pessoas envolvidas em muitas atividades – compra, venda,
trabalho, locação, produção e assim por diante. Para entender como funciona a economia precisamos encontrar
alguma forma de simplificar o quadro de tais atividades. Em outras palavras,
precisamos d e um modelo que explique, em termos gerais, como se organiza a
economia.
A figura acima apresenta um modelo visual da economia chamado diagrama do fluxo circular da
renda. Neste modelo, a economia compreende dois tipos de tomadores de decisões – famílias e empresas. As
empresas produzem bens e serviços usando vários insumos, tais como trabalho, terra e capital (prédios e
máquinas). Esses insumos são chamados fatores de produção. As famílias são as proprietárias dos fatores de
produção e consomem todos os bens de serviços produzidos pela empresa.
Famílias e empresas interagem em dois tipos de mercados. Nos mercados de bens e serviços as
famílias são compradoras e as empresas, vendedoras. Em outras palavras, as famílias compram os bens e
serviços produzidos pelas empresas. Nos mercados de fatores de produção, as famílias são vendedoras e as
empresas, compradoras. Nestes mercados, as famílias oferecem às empresas os insumos necessários à
produção de bens e serviços. O diagrama do fluxo circular da renda oferece uma forma simples de organizar
todas as transações econômicas que ocorrem e torno das famílias e das empresas na economia.
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Subdivisões da teoria econômica: micro e macroeconomia
Muitos ramos do conhecimento são subdivididos para possibilitar um desenvolvimento mais
aprofundado de seu estudo. A Economia costuma ser subdividida em dois campos principais: micro e
macroeconomia.
A Microeconomia estuda as unidades de produção (empresas) e as unidades de consumo (famílias),
individualmente ou em grupos. Por exemplo, buscar entender a relação da indústria automobilística com seus
fornecedores ou com as concessionárias de veículos é um problema típico de seu estudo; ou tentar
compreender como as grandes empresas negociam crédito com os bancos e as dificuldades das pequenas
empresas para ter acesso ao mesmo crédito.
Já a Macroeconomia estuda os grandes números da economia, sem decompô-los. Questões tais como
a taxa de crescimento do produto e da renda nacional, o nível de emprego e o desemprego, a inflação, as taxas
de juros, a receita e a despesa do governo ou o comércio exterior são algumas das principais abordadas pelos
macroeconomistas. Como eles não são decompostos, mas vistos de forma total (ou agregada), costuma-se falar
de “agregados macroeconômicos”.
Decisões do consumidor e a curva de demanda
O objetivo do consumidor é maximizar o seu nível de satisfação, ou seu prazer. Para isso, ele precisa
escolher que conjunto de bens e serviços comprar dentre as diversas opções disponíveis no mercado.
O consumidor tem o poder da escolha, que é livre e que se limita a sua restrição orçamentária.
Restrição orçamentária
A restrição orçamentária significa que o consumidor pode gastar um total igual ou menor que sua
renda – o salário, por exemplo. Se for menor, nem toda a renda que ele ganha é consumida e será destinada a
uma poupança – renda não-consumida chama-se poupança, na economia, para ser utilizada em consumo
futuro.
Se o total gasto é maior do que a renda adquirida, ou ele utiliza poupanças passadas para complementar
a renda que lhe falta, ou utiliza empréstimos, contraindo dívidas. Nesse caso específico, a necessidade de
pagar as dívidas restringirá a capacidade de consumo no futuro.
Assim, a restrição orçamentária limita o conjunto de bens e serviços que o indivíduo pode adquirir.
Por exemplo, uma família que tem renda de três salários mínimos não conseguirá ter acesso à compra
de um carro novo, cujo valor é muito alto para a renda dessa família. Nem com financiamento isso seria
possível, porque a prestação comprometeria toda a renda da família e não sobraria para as demais
necessidades a serem satisfeitas.
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O consumo dos diversos produtos resulta em benefícios e custos. Os benefícios advêm da satisfação
gerada pelo consumo. Qual seria a satisfação de se beber um copo de água no deserto depois de um dia inteiro
de caminhada? Os custos correspondem ao preço pago pelo produto e ao seu custo de oportunidade (o que o
consumidor deixa de adquirir por escolher determinado produto).
O objetivo do consumidor é maximizar a diferença entre benefícios e custos, ao escolher o conjunto de
produtos que a sua renda lhe permite comprar.
Preço do produto (gráfico de demanda)
Quantas vezes os torcedores iriam ao campo de futebol assistir a uma partida de seu time se o ingresso
passasse de R$10,00 para R$50,00?
Quanto maior for o preço do produto, menos unidades serão compradas. Por duas razões importantes:
porque isso aumenta o custo do consumo e seu custo de oportunidade, ou seja, aquilo que o indivíduo deixa de
comprar para poder pagar esse aumento pode levá-lo a não ter renda suficiente para comprar o produto mais
caro, levando-o até a compra de bens substitutos.
Tem-se aí a lei da demanda – quando o preço de um produto sobe e tudo se mantém constante, cai à
quantidade demandada, ou o número de unidades compradas do produto. Quando o preço do ingresso sobe de
R$10,00 para R$50,00, poucas pessoas estão dispostas ou podem pagar por esse aumento; consequentemente,
cai a demanda por ingressos e o clube pode ter uma perda na receita total se a queda for muito grande.
O gráfico 1 mostra a relação existente entre o preço do produto e a quantidade demandada.
Por causa da lei da demanda, a curva tem inclinação positiva, ou seja, um preço maior (ou menor)
corresponde a uma quantidade demandada menor (ou maior).
Gráfico 1 – Curva de demanda.
Gostos e preferências
Os gostos podem mudar. A moda é o maior exemplo dessa mudança. Cada estação tem cores, estilos e
acessórios diferentes. Quando as pessoas passam a gostar mais de determinado bem, aumentam os benefícios
com o consumo deste. O consumidor tende a comprá-lo mais, mesmo que não haja alteração de preço. A curva
Um aumento no preço reduz a quantidade demandada
Um aumento no preço aumenta a quantidade demandada
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de demanda se desloca para a direita, de DoDo para D1D1 (gráfico 2). Aumenta a quantidade demandada do
bem porque ele está na moda.
E, em caso contrário, quando as pessoas deixam de gostar de determinado produto, a curva da demanda
se desloca para a esquerda de DoDo para D2D2. Cai a venda do produto porque já passou a moda e as pessoas
não estão mais interessadas em comprar aquele produto. As patinetes são exemplos disso, já que não estão
mais na moda.
v
Gráfico 2 – Curva de demanda.
A curva da demanda
(ANDRADE; MADALOZZO, 2003. Adaptado.):
A renda aumenta. A renda diminui.
O preço do bem substituto aumenta. O preço do bem substituto cai.
O preço do bem complementar cai. O preço do bem complementar aumenta.
Os gostos deslocam-se a favor do produto. Caem as preferências pelo bem.
Bens normais, inferiores, complementares e substitutos:
::: Bens normais: são aqueles cuja demanda aumenta quando a renda dos indivíduos se eleva. Por exemplo, as pessoas deixam de comer em casa e passam a frequentar restaurantes sofisticados.
::: Bens inferiores: são aqueles cuja demanda se reduz quando a renda dos indivíduos cresce. Por exemplo, as pessoas deixam de andar de ônibus e passam a andar de carro.
::: Bens complementares: são aqueles que são consumidos em conjunto. A característica desses produtos é que, quando o preço de um deles sobe, a demanda do outro cai. Quando aumentam os preços dos artigos de tênis, automaticamente cai a procura por aulas ou locação de quadras de tênis.
::: Bens substitutos: são aqueles que, quando o preço de um bem sobe, as pessoas substituem por outro, aumentando a demanda deste. Quando sobe o preço do café, as pessoas passam a tomar chá, por exemplo, aumentando as vendas deste produto.
A curva de demanda desloca-se para cima quando:
– a renda aumenta;
– o preço do bem substituto aumenta;
– o preço do bem complementar cai;
13
Decisões do produtor e curva de oferta
O objetivo de toda empresa é maximizar o seu lucro resultante da diferença entre a receita total e os
custos totais.
Lucro = receita total – custo total
A receita total advém do número de unidades vendidas do produto multiplicado pelo seu preço; é
também chamado de faturamento de uma empresa. Os custos totais são os gastos totais despendidos no
processo produtivo, como pagamentos da folha de salários, aluguéis do imóvel, depreciação, entre outros.
Existem empresas cujo objetivo principal não é o lucro, são as chamadas empresas sem fins lucrativos,
como as ONGs (organizações não governamentais), empresas do governo e instituições filantrópicas (como
algumas creches, asilos etc.).
Em muitos mercados, o número de produtores é muito grande, e nenhum deles pode influir
significativamente no preço do bem que deseja vender no mercado. É a chamada concorrência perfeita.
É o caso da indústria têxtil, calçadista, moveleira, de laticínios, entre outras.
Como não pode estabelecer o preço do produto, o empresário determina o preço de seus produtos a
partir do preço praticado no mercado.
Quando o preço do produto sobe no mercado, os lucros aumentam e os produtores são incentivados a
produzir e a vender mais. A relação entre o preço e a quantidade ofertada é dada pela lei de oferta: quando o
preço de um bem se eleva, com tudo mais permanecendo constante, a quantidade ofertada do bem também
aumenta. No gráfico 3, vemos a inclinação positiva, ou seja, um preço maior (ou menor) leva a uma
quantidade ofertada maior (ou menor).
Gráfico 3 – Curva de oferta.
Muitos fatores podem alterar a quantidade a ser produzida pelos empresários. O aumento do preço dos
insumos pode inviabilizar o lucro do processo produtivo. A redução da quantidade produzida desloca a curva
da oferta de SoSo para S1S1 (gráfico 4). Outro fator muito importante diz respeito à mudança tecnológica que
pode aumentar a produtividade e reduzir os custos de produção, incentivando o empresário a aumentar as
Um aumento no preço
aumenta a quantidade
ofertada.Uma redução no preço
diminui a quantidade
ofertada.
14
quantidades ofertadas, deslocando a curva da oferta de SoSo para S2S2 (gráfico 4). O empresário, quando
compra uma máquina que produz mais, poderá aumentar a quantidade ofertada, afetando o preço no mercado
(os preços caem porque aumenta a oferta do produto).
Gráfico 4 – Deslocamento da oferta.
Preço e quantidade de equilíbrio
Quando juntamos a curva da oferta com a curva da demanda (gráfico 5), temos a quantidade de
equilíbrio. Quando as duas curvas se encontram, a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada (Qo).
Quando isso ocorre, diz-se que o mercado está em equilíbrio – e a quantidade Qo é a quantidade de equilíbrio.
E, somente em Po, o número de unidades que os consumidores querem comprar é igual ao número de
unidades que os produtores desejam vender. Este é exatamente o preço de equilíbrio. O preço de equilíbrio é a
representação do livre mercado, ou seja, no qual se faz uma negociação de preços.
O comprador diz quanto quer pagar e o vendedor diz por quanto vale a pena vender.
Gráfico 5 – Preço e quantidade de equilíbrio – excesso de oferta.
Se o preço do produto (P1) for superior ao preço de equilíbrio (Po), tem-se um excesso de oferta, pois,
pelo preço (P1), a quantidade ofertada (Qs1) é maior do que a quantidade demandada (Qd1).
Quando isso acontece, os produtores preferem fazer liquidações para não ter seu capital parado em
estoques, correndo até o risco da obsolescência (depreciação tecnológica – imagine se uma loja comprasse
uma quantidade enorme de computadores para um ano de vendas; com certeza, teria prejuízo, porque, a cada
15
mês, os fabricantes lançam computadores mais modernos e mais velozes, por isso, o comerciante jamais
poderá fazer estoque).
No caso oposto, o preço inicial P2 (gráfico 6) é menor do que o preço de equilíbrio (Po). Nesse caso,
existe um excesso de demanda, ou seja, a quantidade demandada (Qd2) é maior do que a quantidade ofertada
(Qs2) pelo preço P2. Quando muitas pessoas desejam o mesmo produto, ele pode se tornar escasso no
mercado e a tendência é o preço subir. Quando o dono de um apartamento coloca-o à venda por um preço
inferior ao de mercado, muitos compradores disputarão a compra do imóvel. Quando o preço de um produto
está abaixo do preço de equilíbrio, as forças de mercado tendem a levá-lo de volta ao equilíbrio.
Gráfico 6 – Preço e quantidade de equilíbrio – excesso de demanda.
2. Introdução à Economia do Meio Ambiente
“É visto como um problema de alocação intertemporal de recursos entre consumo e investimento por
agentes econômicos racionais, cujas motivações são fundamentalmente maximizadoras de utilidade”
(ROMEIRO, 2003, p. 1).
O problema da economia é que os recursos são finitos para demandas crescentes, no limite, infinitas.
O campo da economia que aplica a teoria econômica a questões ligadas ao manejo e à preservação do
meio ambiente é chamado de Economia Ambiental ou Economia do Meio Ambiente. Nos últimos anos do
século XX, pudemos observar um claro crescimento da preocupação e do interesse das empresas com os
assuntos relacionados ao meio ambiente. Alguns livros chamam esse movimento de “A Revolução Eco-
Industrial” (Kiernan, 1988, p. 172), sendo que, na verdade, as ações relacionadas à preservação do meio
ambiente têm mudado não apenas a imagem das empresas diante de seus consumidores, mas também a sua
forma de produção e eliminação de resíduos, muitas vezes influenciando diretamente as suas margens de
lucro.
Entre as razões apresentadas para esse crescente interesse corporativo pelo meio ambiente, podemos
citar:
16
a) Sobrevivência corporativa a longo prazo: está relacionada à necessidade de tecnologias que possibilitem a geração sustentável de recursos básicos para a manutenção de alguns importantes setores da economia, como, por exemplo, energia e celulose.
b) Oportunidades de mercado: um exemplo de mercado gerado a partir de ações de preservação do meio ambiente é a venda de quotas de absorção de CO2.
c) Competitividade: os consumidores começam a preferir produtos ecologicamente corretos, especialmente no mercado internacional. A própria ISO 14.000 já reflete essa exigência.
d) Permanência no mercado: os padrões ambientais cada vez mais rigorosos têm sido responsáveis por expulsar empresas menos preparadas do mercado.
e) Mercado financeiro: devido a novas regulamentações e a um agressivo clima de litígio, um atestado de saúde ambiental está tornando-se cada vez mais vital para assegurar investimentos e financiamentos a novos projetos nos mais diversos setores produtivos.
f) Responsabilidade criminal e legal: as novas leis de proteção ao meio ambiente têm sido responsáveis pela adequação tecnológica de várias empresas, sob pena de inviabilizar a implantação ou a ampliação das mesmas.
g) Informação globalizada: a globalização traz consigo a distribuição praticamente uniforme da informação, o que está derrubando uma prática comum às grandes empresas: manter indústrias com tecnologia mais atrasada e mais poluidoras em países, em geral, menos desenvolvidos e com uma legislação ambiental menos rígida ou até mesmo inexistente.
Dessa forma, podemos depreender que a Economia Ambiental, ou Economia do Meio Ambiente, deve
ser encarada como uma arma competitiva, como parte da estratégia de desenvolvimento adotada pelas
empresas que pretendem lançar-se ou mesmo permanecer atuantes no mercado.
Outro aspecto importante que devemos observar é que a preocupação das indústrias com o meio
ambiente raramente é suscitada apenas pela consciência da escassez de recursos naturais, em geral, surge
frente a exigências de mercado. Ou seja, raramente a oferta determina a mudança de atitude ou de tecnologia,
pois isso só ocorreria em um caso extremo, como por exemplo: a extinção definitiva de um determinado
insumo extraído diretamente da natureza. Por outro lado, a demanda formada por um universo cada vez mais
diversificado, em função da globalização dos mercados, sofre constantes modificações à medida em que a
consciência ecológica vem sendo discutida diariamente nos meios de comunicação, congressos e seminários
promovidos pelo mundo todo.
Conceitos básicos da Economia do Meio Ambiente
A Figura 1 ilustra as relações entre as atividades econômicas de consumo e de produção em relação ao
meio ambiente.
17
Figura 1 – Atividades econômicas de consumo e de produção em relação ao meio ambiente.
Nessa figura, pode-se observar três funções básicas: a prestação de serviços diretos ao consumo (ar e
água), o fornecimento de insumos para a produção (combustíveis, matérias-primas, etc.) e a recepção de
resíduos provenientes tanto do consumo das famílias, quanto da produção.
É importante lembrar que não podemos dissociar essas funções e que as mesmas podem entrar em
conflito entre si.
Por exemplo, quando a água de um rio é receptora de resíduos provenientes de uma indústria, torna-se
pouco adequada ao consumo. Por isso, podemos dizer que os recursos naturais são, em sua maioria, escassos e
apresentam possibilidades de usos alternativos. Como alocar eficientemente esses recursos é, portanto, um
problema tipicamente econômico.
A seguir trataremos de conceitos que fundamentais para a economia do meio ambiente como premissas
e importantes instrumentos de análise, constituindo-se em conceitos-chave para o desenvolvimento de nosso
estudo, são eles:
a) Critério de Pareto: é o critério mais utilizado para julgar se a alocação do recurso é ou não o mais eficiente, que nos servirá para estabelecer um ponto de ótimo para a sociedade nas negociações entre governo e mercado para a preservação do meio ambiente.
b) Externalidade: a compreensão desse conceito demonstra a ideia que a sociedade faz dos recursos naturais, muitas vezes não atribuindo o devido valor a esses bens por usufruir deles gratuitamente.
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c) Taxa pigouviana: constitui-se no estabelecimento de uma taxa sobre a emissão de poluentes. É uma importante política de cunho econômico de controle dos níveis de poluição.
d) Teorema de Coase: também representa condição sine qua non para nossa discussão, visto que, a partir das críticas a Pigou, propõe a negociação entre a sociedade e as indústrias poluidoras a fim de chegar a um ponto de ótimo ou de equilíbrio pelo critério de Pareto.
2.1. Ótimo de Pareto
O economista Vilfredo Pareto especificou como condição para a alocação ótima de recursos a situação
segundo a qual é impossível que todos os indivíduos ganhem como consequência de uma troca posterior, que
é conhecida como condição de eficiência de Pareto. Assim, um estado da economia é eficiente no sentido de
Pareto quando não há nenhuma possibilidade de se melhorar a posição de pelo menos um dos agentes dessa
economia sem que com isso a posição de um outro agente seja piorada. Também é chamada de alocação ótima
dos recursos de Pareto, otimização de Pareto, máximo de Pareto e critério de Pareto.
Esse critério tem extrema importância quando buscamos estabelecer um ponto de equilíbrio entre
produção e poluição.
O ponto de ótimo se dará quando a sociedade definir o nível de poluição aceitável e as indústrias
limitarem sua produção a um nível economicamente viável e satisfatório às condições estabelecidas pela
sociedade.
Recentemente, Kahn (1998) chama a atenção para o fato de que as externalidades são provavelmente
uma das maiores e mais importantes falhas de mercado. Na esfera ambiental, sem dúvida, a poluição pode ser
considerada como a mais importante falha de mercado.
2.2 Externalidades
Mas o que exatamente a economia classifica como uma externalidade negativa? Segundo Oliveira
(1999, p. 569):
Como uma primeira aproximação, podemos dizer que há uma externalidade negativa quando a
atividade de um agente econômico afeta negativamente o bem-estar ou o lucro de outro agente e não há
nenhum mecanismo de mercado que faça com que este último seja compensado por isso.
De fato, a poluição é provavelmente o exemplo mais utilizado de externalidades negativas nos livros
de microeconomia, e não o é sem motivo. A economia mundial tem sofrido modificações em sua estrutura em
função das necessidades geradas pela poluição ou pelo seu controle (Kahn, 1998).
Esse problema vem ganhando dimensões globais, na medida em que associa o aquecimento global ao
aumento da concentração de CO2 na atmosfera ou à destruição da camada de ozônio.
Os problemas do cotidiano ligados à poluição também são extremamente sérios. A contaminação dos
recursos hídricos tem comprometido a pesca e a agricultura e aumentado o custo do tratamento da água para
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consumo humano. A poluição das grandes cidades pode responder por uma série da danos à saúde,
significativos aumentos na incidência de doenças respiratórias, além de uma série de desconfortos, como
irritação dos olhos e da garganta.
Portanto, não há como negar que a poluição é uma externalidade negativa e muito presente no nosso
dia-a-dia.
Talvez não tenhamos nos dado conta do dia em que passamos a beber somente água mineral, mas com
certeza essa é apenas uma das mudanças que já vivemos no cotidiano.
Sendo assim, quando passamos a não poder consumir água da torneira porque o tratamento aplicado
não é eficaz sobre o nível de poluentes que ela possui, estamos sendo agentes passivos de uma externalidade
negativa pela qual não somos compensados. Pelo contrário, além do mal-estar que pode ser causado pelo
consumo dessa água, somos onerados pela necessidade de consumir água mineral industrializada e
engarrafada.
Analisando sob o ponto de vista da empresa poluidora, esta gera a poluição necessária para alcançar a
sua meta, produção e lucro, e não necessita pagar nada por isso, a menos que haja um dispositivo legal que a
obrigue. E, mesmo havendo esse dispositivo, na maioria dos casos não podemos contar com uma fiscalização
ou com sanções eficientes a ponto de que a opção da empresa seja poluir menos. Muitas vezes, o custo gerado
pela redução da produção ou pela aquisição de equipamento de tratamento de resíduos faz com que o
empresário decida por pagar multas, quando e se houver fiscalização A externalidade é um fenômeno que
pode acontecer entre consumidores, entre firmas ou entre combinações de ambos.
Quando as externalidades são positivas, os recursos são sublocados à fonte da externalidade, ou seja,
os agentes passivos nunca ficam satisfeitos, preferindo sempre mais a menos externalidade. Já quando são
negativas, os recursos são sobrealocados à fonte, ou seja, o agente que sofre a externalidade prefere sempre
menos a mais.
Quanto à classificação das externalidades, utilizaremos uma classificação quanto à natureza dos
agentes envolvidos:
a) Externalidades consumo-consumo: caracteriza-se por um tipo de impacto direto que ocorre quando os consumidores são tanto a fonte quanto os receptores da externalidade.
b) Externalidades produção-produção: corresponde a outro tipo de impacto, que acontece quando os produtores são tanto a fonte quanto os receptores da externalidade.
c) Externalidades consumo-produção: ocorre quando um ou mais consumidores são fonte e um ou mais produtores são receptores da externalidade.
d) Externalidades produção-consumo: surge quando um ou mais produtores são as fontes e um ou mais consumidores são os receptores de externalidades.
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A eficiência econômica pode ser obtida sem intervenção governamental quando a externalidade
envolve relativamente poucas pessoas e quando o direito de propriedade é bem especificado. “Quando as
partes podem negociar sem custo e com possibilidade de obter benefícios mútuos, o resultado das transações
será eficiente, independentemente de como estejam especificados os direitos de propriedade” (Coase, 1960).
No entanto, essas negociações tendem a ser dispendiosas e demoradas, principalmente se o direito de
propriedade não estiver especificado de modo claro. Nesse caso, nenhum dos envolvidos saberá quão difícil
será a transação até que finalmente possa chegar a um acordo com a outra parte.
Em muitos casos envolvendo externalidades negativas, a parte prejudicada tem o direito de acionar
judicialmente a outra parte. Se for bem-sucedida, a parte prejudicada pode recuperar totalmente os prejuízos
sofridos.
Um processo por perdas e danos difere dos impostos sobre emissões de poluentes ou despejo de
efluentes, porque é a parte prejudicada que recebe o pagamento, e não o governo.
Um processo desse tipo pode eliminar a necessidade de negociação, pois especifica as consequências
das escolhas que as partes encontram diante de si. O direito que a parte prejudicada tem de receber uma
compensação da parte responsável pelos danos assegura um resultado eficiente.
Essa análise é válida considerando-se que as partes disponham de informações perfeitas.
Quando as informações são imperfeitas, o que ocorre na maioria das vezes, os processos judiciais por
perdas e danos podem resultar em desfechos ineficientes.
2.3 Taxas pigouvianas
A taxa pigouviana, assim chamada em homenagem ao economista inglês Arthur Cecil Pigou, quem
primeiro sugeriu essa taxa, conceitualmente, trata de um imposto sobre unidade de poluição emitida que deve
ser igual ao custo marginal social dessa poluição no nível ótimo da emissão.
Podemos dizer que pelo menos desde de Pigou, em 1918, os economistas passaram a reconhecer a
possibilidade de haver diferenças entre o custo privado e o custo total. O exemplo a seguir nos permitirá fazer
essa observação de forma mais clara.
EXEMPLO I – Uma fábrica de confeitos de chocolate, chamada Bridgman’s, gera com suas máquinas
ruídos e vibrações que atrapalham o Dr. Sturgers, um clínico geral que atende no consultório instalado ao lado
da fábrica. Essa poluição sonora constitui uma externalidade negativa imposta pelo fabricante de confeitos ao
médico, que é impossibilitado de atender seus pacientes enquanto as máquinas estivem em funcionamento.
Podemos ver as relações econômicas envolvidas nesse conflito, através sequencia de gráficos a seguir.
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A Curva CMp reflete o Custo Marginal do fabricante de confeitos (custo de chocolate, outros
ingredientes, uso do equipamento, mão-de-obra, instalações, etc.). Como esses custos são pagos pelo próprio
fabricante, podemos chamá-los de Custos Marginais Privados.
As curvas dos custos marginais sociais (CMS) mostradas nos gráficos (Figura 2) incluem, além dos
custos marginais privados, os custos externos ou impostos ao Dr. Sturges. Portanto, chamaremos essa curva de
custo marginal social (CMS), pois inclui todos os custos marginais pagos pelos membros da sociedade. O
CMe – custo marginal externo pode ser mensurado pela distância vertical entre as curvas dos dois custos
marginais (C+D+B).
FONTE: Landsburg, 1989, p. 371.
Figura 2 – Curvas dos custos marginais sociais (CMs)
Se o fabricante de confeitos arcasse com o total dos custos, ele produziria a quantidade Q0. No entanto,
como externaliza parte desses custos, que passam a ser pagos pela sociedade, pode chegar a produzir QE
mantendo o mesmo preço.
A alternativa proposta por Pigou seria a aplicação de uma taxa que igualaria o montante total do custo
marginal imposto à sociedade. Dessa forma, o fabricante passaria a assumir o total dos custos de sua
produção. Ceteris paribus, passaria a produzir Q0. Nesse caso, seria absorvido proporcionalmente o custo
imposto ao Dr. Sturges, pois a redução na produção conseqüentemente geraria uma redução na poluição
sonora que tem afastado os pacientes do Dr. Sturgers. Sendo assim, chamamos de taxa pigouviana o imposto
sobre a unidade de poluição emitida que deve igualar-se ao custo marginal externo dessa poluição no nível
ótimo de emissão. A taxa pigouviana pode ser recomendada como a mais adequada quando houver mais de
um poluidor e a preocupação de que a redução do nível de poluição seja realizada a um custo mínimo.
Analisemos mais um exemplo, o caso de dois poluidores: um deles pode reduzir sua poluição a um
custo relativamente pequeno, enquanto o outro tem de arcar com pesadas reduções em seus lucros para cada
unidade produzida a menos.
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Nesse caso, seria mais coerente impor uma redução maior àquele poluidor que pode fazê-lo a baixo
custo. Esse objetivo seria automaticamente alcançado com o mecanismo da taxa pigouviana.
Desse modo, a firma que tiver alto custo para reduzir sua emissão de poluentes preferirá reduzir pouco
essa emissão e arcar com o pagamento da taxa pigouviana para a quase totalidade de sua poluição original. Por
outro lado, a firma que pode reduzir a poluição a um custo baixo, preferirá realizar reduções em seus volumes
de emissão.
Assim, a taxa pigouviana alcança seu objetivo de reduzir os níveis de poluição, minimizando o custo
dessa redução para a sociedade. Outro ponto apresentado a favor da taxa pigouviana é o estímulo gerado para
que as firmas busquem desenvolver tecnologias menos poluidoras. Isso ocorre porque, com a taxa pigouviana,
a emissão de poluição passa a ter um custo e, evidentemente, toda firma busca possuir tecnologias que
reduzam seus custos.
2.4 Coase x Pigou
Tanto Pigou quanto Coase são extremamente importantes para o desenvolvimento do estudo da
economia do meio ambiente, pois ambos buscaram mensurar e valorar os custos impostos à sociedade. No
entanto, Coase criticou a teoria de Pigou em um importante ponto: a ausência da consideração de custos de
transação. Para compreendermos melhor essa crítica, voltemos ao EXEMPLO I.
Considerando a disputa inicial entre Dr. Sturges e a Fábrica Bridgman’s e revendo os gráficos
apresentados naquele exemplo, identificamos que o ponto de equilibro está em QE e o ponto de ótimo em Q0.
Isso significa que em Q0 o Custo Marginal Social é representado por uma fatia maior do que em QE (ou seja,
a área A é maior que a B).
Considerando a ausência de custos de transação, ambos seriam levados a uma negociação, já que tanto
o Dr. Sturges, quanto a Fábrica Bridgman’s tem um incentivo para acordarem em uma produção Q0.
Suponhamos que o Dr. Sturgers ofereça a Bridgman’s um pagamento igual à área (D + 1/2 B) para que a
produção seja levada de QE para Q0 ambos sairiam ganhando.
Nesse caso, Sturges beneficiou-se da redução da poluição sonora, que lhe gerava um prejuízo de D +
B, em troca de apenas (D + 1/2 B), mas também houve benefício para a Bridgman’s, em receber (D + 1/2 B)
em troca do sacrifício apenas da produção excedente (onde: D = Superávit)
Porém, quando no Ponto de Ótimo (Q0) o Custo Marginal Social é representado por uma fatia maior
do que em QE, o Ponto de Equilíbrio, o preço de equilíbrio também deve ser maior. Digamos que para cada
quilo de bala produzido, com preço de venda de $ 5,00, o Dr. Sturges esteja arcando com um custo de $ 2,00.
Na ausência de custos de transação, ele se proporia a pagar $ 2,00 para cada quilo de bala que a Fábrica
Bridgman’s não produzisse.
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Podemos explicar o Teorema de Coase de duas formas:
a) “Na ausência de custos de transação, os custos privados e os custos sociais serão equivalentes”; isso por que todas as externalidades são automaticamente internalizadas, devido ao pagamento de uma espécie de compensação, semelhante ao exemplo do Dr. Sturges;
b) “Na ausência dos custos de transação, a definição do direito de propriedade não tem consequências para o bem estar social”, pois o resultado socialmente eficiente será alcançado quando os direitos de propriedade são definidos.
2.5 Teorema de Coase
O mecanismo que parece ser o mais adequado à nossa análise é o Teorema de Coase, que é
apresentado por Oliveira (1999, p. 572), no seguinte parágrafo: “Desde que os direitos de emissão de
externalidades sejam adequadamente definidos e que não haja custos de transação entre as partes, a livre
negociação entre as mesmas deve levar ao nível ótimo de emissão destas externalidades”. Para
compreendermos melhor sua análise, a seguir utilizaremos um exemplo semelhante ao apresentado por Coase
(1960).
EXEMPLO II – Buscando identificar melhor como a poluição pode gerar um problema econômico
entre indústrias, vamos imaginar o exemplo de uma empresa de celulose que se instalou em uma sociedade
cuja base econômica são cooperativas agropastoris. Na localidade onde as duas indústrias estão instaladas há
um importante rio que em um primeiro momento atendia a irrigação da lavoura e o consumo da criação de
gado da cooperativa e da região. A nova indústria foi implantada e em pouco tempo foram sentidos danos,
principalmente em relação à água. Os níveis de poluentes emitidos na água geraram a necessidade por parte
das cooperativas de tratarem a água antes de consumi-la para sua produção, uma vez que, o consumo direto
gerou doenças no rebanho e perdas nas plantações.
Nessa situação, ocorre que quanto mais resíduos lançar no rio a empresa de celulose, que utiliza grande
quantidade de água em seu processo produtivo, maior será o custo das cooperativas da região com instalações
de tratamento para a água, o que resulta em um lucro menor.
A sociedade local encontra-se em um dilema: as cooperativas da região gostariam que a empresa de
celulose reduzisse a emissão de poluentes, o que reduziria seus custos e aumentaria seus lucros. Por outro
lado, a indústria de celulose não tem interesse em reduzir a poluição que gera, pois isso só seria possível de
duas formas: ou reduzindo a produção, ou desenvolvendo tecnologias de tratamento para água antes de lançá-
la ao rio. Qualquer uma dessas opções geraria uma redução no seu lucro.
A Tabela 1, apresenta de forma numérica a influência gerada pela indústria de celulose “Papel Branco
S/A” sobre a indústria de cooperativas agropastoris “Cooperativas Boi Bumbá”. Podemos observar que, para
cada nível de emissão de poluição por parte da indústria de celulose, variam os lucros das duas empresas.
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A poluição traz custos e benefícios sob o ponto de vista social (no exemplo, a sociedade é composta
apenas por duas indústrias). O custo associado à poluição é a redução no lucro das cooperativas e o benefício é
o aumento no lucro da empresa de celulose. O nível eficiente de emissão seria atingido quando a diferença
entre o benefício total e o custo total fosse máxima.
O benefício de uma unidade adicional de poluição, isto é, o aumento do lucro da empresa de celulose
decorrente da marginal. O custo associado à emissão dessa unidade adicional, ou seja, a redução no lucro das
cooperativas associada à emissão dessa unidade adicional, será chamado de custo marginal da poluição. As
colunas 4 e 5 da Tabela 1 mostram como se comportam o custo e o benefício marginais da poluição no nosso
exemplo.
Enquanto o benefício marginal da poluição for superior ao seu custo marginal, a emissão de uma
unidade adicional estará aumentando a diferença entre o benefício e o custo total da poluição. Desse modo, a
emissão de poluição atingirá seu nível eficiente quando o benefício marginal igualar-se ao custo marginal.
Até aqui pudemos estimar o nível de eficiência da sociedade apenas utilizando o critério de Pareto.
Porém, é necessário que haja algum mecanismo capaz de fazer com que a empresa de celulose aceite reduzir
seus lucros para beneficiar as cooperativas.
Como em nosso exemplo não há nenhum estímulo para que a empresa de celulose considere a redução
no lucro da cooperativa, emitirá poluição até que um aumento não gere redução nos seus lucros, o que
ocorrerá entre 7 e 8. No entanto, sob o ponto de vista das cooperativas, com essa emissão de poluentes há uma
importante perda nos lucros.
A proposição da existência de um equilíbrio entre os níveis de produção da iniciativa privada e a
poluição ou a exploração de bens comuns, como ar, rios, florestas, pressupõe que esses bens comuns, em sua
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maioria tratados como bens públicos, tenham sua propriedade de certa forma bem definida mesmo que nem
sempre apresentem as características necessárias para receber tal classificação. Diversos métodos analíticos
têm sido usados para estimar o valor econômico das externalidades do meio ambiente. Jannuzzi e Swisher
(1998) apresentam alguns dos métodos mais utilizados para estimar custos, demanda e benefícios gerados por
externalidades.
Por ora, nossa discussão será sobre a aplicabilidade real do Teorema de Coase. Voltando ao nosso
exemplo da indústria de celulose e das cooperativas, veremos que a primeira, por não estar diretamente
preocupada com as questões de eficiência, mas sim com o lucro máximo, emitirá sempre próximo ao nível 8.
O que poderia fazer com que essa indústria reduzisse sua emissão, por exemplo, para um nível ótimo de 4.
Coase (1960) sugeriu, em um exemplo semelhante ao apresentado anteriormente, que a indústria
poluente seria levada a emitir o nível ótimo de poluição desde que fosse determinado se é ela que tem o direito
de poluir o quanto quiser, ou se é o outro agente que tem o direito à água limpa.
Aqui entramos em uma questão que traz uma função essencial do Estado: a definição e a preservação
dos direitos de propriedade. Ou seja, se houver uma determinação legal proibindo que qualquer indústria polua
a água sem prévia autorização da cooperativa já existente no local, a cooperativa autorizará a produção até o
nível em que será compensada por seus lucros.
Aplicando-se à realidade, quando uma indústria pretende implantar uma nova sede ou ampliar sua
planta, ela deverá pedir autorização à sociedade, que aceitará ou não conforme seus critérios. Teoricamente, o
representante da sociedade é o Estado, que através dos órgãos especializados aprova ou não a implantação ou
a ampliação de determinada indústria.
Os altos custos relacionados às negociações privadas acontecem quando o número de fontes e
receptores é relativamente grande, ou quando o contato direto entre eles não é frequente. Por exemplo, fumar
em um lugar público é um problema de externalidade sempre variável que mudará conforme o número de
fumantes e não-fumantes a um dado momento.
Não seria viável que a cada momento os indivíduos fumantes e não-fumantes que estivessem em um
local público negociassem entre si uma solução entre o direito de propriedade do ar naquele momento, pois os
custos de negociação são muito maiores do que os benefícios potenciais. “Quando os custos de negociar uma
solução privada para um problema de externalidade são proibitivos, a regulamentação pública é o único
remédio efetivo” (Eaton, 1999, p. 558).
Até aqui a teoria funciona perfeitamente; no entanto, a forma como esse controle é feito é que, na
realidade, muitas vezes pode gerar falha. O poder de emitir ou não licenças ambientais pode ser utilizado
como uma grande arma política, favorecendo ou prejudicando um ou outro grupo de poder.
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Uma maneira de evitar o protecionismo a alguns grupos em detrimento de outros seria estipular o nível
máximo de poluição aceito pela sociedade em determinada região e, a partir daí, o mercado fixar quotas de
poluição para as indústrias de uma localidade. Nesse caso o Estado define a propriedade e permite que haja
um livre mercado de quotas de poluição, garantindo à sociedade que seu limite de aceitação de poluição não
será ultrapassado, já que as próprias indústrias envolvidas auxiliarão os órgãos públicos, através de comissões
ou comitês, a fiscalizar e a criar mecanismos de controle.
Uma alternativa bastante discutida associa poder público e iniciativa privada no estabelecimento de
quotas de poluição, são as chamadas “permissões negociáveis para poluir” (Oliveira, 1999, p. 576). A ideia é
que as indústrias poluidoras obtenham quotas de poluição que somadas atinjam o limite máximo de poluição
aceitável em uma sociedade. Essas quotas seriam emitidas e reguladas pelo Poder Público ou por grupos
mistos podendo ser negociadas em um mercado secundário.
Desde que os níveis de poluição no cômputo geral não ultrapassem o total estipulado originalmente,
essa medida possibilitaria que as empresas pudessem negociar suas quotas entre si, incentivando o
investimento em tecnologias de tratamento de seus resíduos, o que ampliaria a quantidade disponível de
quotas a serem negociadas.
Consideremos o seguinte exemplo: uma empresa possui autorização para emitir uma quantidade “x” de
poluição. Digamos que haja um mercado regulamentado de compra e venda de quotas de poluição com o seu
preço definido pela demanda dado que a oferta é fixa, as indústrias deverão rever as suas estratégias de
produção.
Quando o preço da quota for superior ao custo que essa empresa terá em filtros e equipamentos de
redução de resíduos, proporcionalmente, ela implementará essas alterações e venderá suas quotas no mercado
às outras indústrias interessadas em ampliar ou implantar novas plantas industriais.
Dessa forma, a redução do lucro, gerada pela limitação em ampliar a produção e pelos custos com
tratamento dos resíduos, será suprida pelos ganhos no mercado com a venda das quotas excedentes.
Um dos maiores obstáculos para que mercados novos, como o de quotas de poluição, sejam
implementados é que as pessoas consideram os recursos naturais como bens públicos e, por isso, de
responsabilidade do Poder Público e de direito de todos. Ainda neste capítulo, trataremos da dificuldade de
classificação do que é um bem público e da má utilização desses bens em função do baixo valor que as
pessoas atribuem a eles.
Essa percepção errônea de que os recursos naturais são gratuitos e infindáveis gera sérios problemas à
implantação das alternativas levantadas pela Economia Ambiental. Esses problemas serão discutidos a seguir
também nos tópicos “comportamento free rider” e “a tragédia dos comuns”. A compreensão desses conceitos,
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assim como a classificação de bem público, é essencial para entendermos o comportamento da iniciativa
privada e suas estratégias de negociação envolvendo o meio ambiente.
Classificação de bem público
Muitas questões podem dificultar a definição do que é um bem público. Se considerarmos a afirmativa
que bens públicos são os bens que o Estado deve produzir para consumo da população, como classificaremos
quais e que quantidade estes bens serão produzidos ou fornecidos à população?
Há ainda alguns bens que não produzidos pelo Estado, mas por ele gerenciados e controlados, a fim de
organizar o consumo da população, bem como promover a sua preservação.
Aí encontramos, por exemplo, os Recursos Hídricos. Nesse contexto, a Constituição Federal Brasileira,
de outubro de 1988, estabeleceu que os recursos hídricos são de domínio da União e dos Estados. No âmbito
federal, através da Lei nº9.433, de 8 de janeiro de 1997, o Governo Federal instituiu a Política Nacional de
Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil.
A partir das definições de alguns autores (Pindick, 1999, p.729; Oliveira, 1999, p. 578) temos:
a) O bem público puro é não rival em consumo, portanto o custo adicional de mais um consumidor é
zero. Exemplo: iluminação pública, sinalização de estradas e rodovias.
b) O consumo do bem público, embora na mesma quantidade, pode ser valorizado de forma diferente
entre os indivíduos. Exemplo: um navio de carga e uma jangada em relação à iluminação de um farol. Ambos
o utilizam para aportar, mas o valor atribuído por um e por outro será diferente.
c) O bem público é não exclusivo. É impossível ou muito caro impedir alguém de consumir um bem
público, mesmo que esse indivíduo não desejasse pagar por tal bem caso lhe fosse cobrado.
Podemos dizer ainda que:
a) A classificação de um bem como bem público não é absoluta, pois vai ser determinada pelo
mercado e pela tecnologia de acesso.
b) Alguns bens que não são mercadorias podem ter características de bem público. Exemplo:
honestidade – não rival em consumo, não exclusivo e com valorização diferente entre cada indivíduo
beneficiado.
c) Os bens públicos não precisam ser necessariamente produzidos pelo setor público, mas devem ser
regulamentados e fiscalizados pelo Estado para que não haja discrepância quanto à manutenção de suas
características essenciais.
É possível produzir bens públicos de forma eficiente. Porém, como os indivíduos estão consumindo a
mesma quantidade e podem não revelar suas verdadeiras preferências, isso implica em uma produção
ineficiente desses bens. Na verdade, o fato de o indivíduo desconhecer o custo de produção de um bem que
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não lhe é cobrado diretamente é um incentivo para que ele subestime o valor do bem e procure utilizá-lo além
da sua necessidade ou sem qualquer preocupação em limitar seu consumo.
No artigo 225 da Constituição Federal de 1988, o meio ambiente é referenciado da seguinte forma:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações”.
Através dessa determinação, verifica-se que o meio ambiente é um bem de uso comum do povo. No
entanto, pelo conceito técnico previsto no artigo 66 do Código Civil, seria um bem público. Alguns autores
utilizam ainda a definição de “bem de interesse público” (Fontenelle, 1999, p. 101), ou seja, não é um bem
público, nem privado. Sendo assim, como “bem de interesse público” deve ser utilizado, além de preservado,
por toda a sociedade. O uso e a preservação do meio ambiente são regidos por um sistema jurídico específico,
que é o direito ambiental.
A tragédia dos comuns
A exploração excessiva de recursos de propriedade comum é denominada por alguns economistas de
“a tragédia dos comuns”, fazendo referência a um artigo de mesmo nome escrito pelo biólogo Garret Hardin
em 1968. Nesse artigo, Hardin afirma que a maioria dos problemas ambientais provém de uma causa única: a
utilização inadequada de recursos que são de propriedade comum. Como o ar, a água, a maioria das espécies
animais e as áreas verdes não têm um proprietário definido, as pessoas tendem a se comportar como se todos
tivessem direitos sobre esses bens; no entanto, ninguém se responsabiliza pelas obrigações de preservação
desses recursos.
Quando algo não tem dono, ou seja, não tem propriedade definida, como, por exemplo, a camada de
ozônio, não costumamos atribuir valor a esse bem e, em consequência, não nos preocupamos em mantê-lo.
Como resultado disso, quem se utiliza desses recursos “comuns” é onerado apenas por uma pequena parcela
dos custos sociais de seus próprios atos.
Seguindo ainda o exemplo da camada de ozônio, como esse bem não tem um dono que cobre por seu
uso, não nos preocupamos em não desperdiçá-lo, tendendo a usar até o limite da escassez. Além disso, os
indivíduos utilizam sem cuidado sprays, geladeiras, isopor, etc., porque não é possível verificar os estragos
gerados imediatamente.
Esse problema não é novo. Ele existe desde que os seres humanos começaram a ocupar o planeta.
Tomemos, por exemplo, o caso das pastagens de uso comum. Se somente um criador preocupa-se em
preservar o pasto para o ano seguinte, haverá poucas chances de se beneficiar desse seu ato já que este pasto
está à disposição dos demais donos do rebanho.
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Com o sistema de pastagens comunitárias, nenhum criador específico poderá beneficiar-se plenamente
dos resultados de seu “bom comportamento”. Da mesma forma, nenhum deles arcará sozinho com o custo de
seu “mau” comportamento. Assim, o interesse pessoal de todos os donos de rebanho é utilizar ao máximo
essas pastagens, mesmo que, a longo prazo, todos venham a sofrer com o resultado de tal processo.
Essa análise pode ser verificada através de diversas situações do dia-a-dia. Imaginamos que jogar lixo
no quintal do vizinho seja uma atitude fora de cogitação; porém, como o ar e a água são recursos
compartilhados e aos quais a maioria de nós de tem livre acesso, nós os utilizamos como depósitos de
qualquer espécie de lixo, sem considerar que estamos prejudicando a nós mesmos.
Há solução para a “a tragédia dos comuns”? Para muitos ambientalistas, a solução seria mudar a
natureza humana, através da conscientização, da informação e, principalmente, através de penalidades na
forma de taxas e multas. Para os defensores da atuação direta da iniciativa privada, podem existir ainda alguns
incentivos que façam com que as curvas de demanda e de oferta desses produtos sejam controladas e
aproximem-se de um ponto de equilíbrio.
Podemos entender que o maior problema dos bens públicos é como cada um lhes atribui valores
diferentes. Isso gerará uma produção ineficiente desses bens, pois sempre será escassa para os indivíduos que
lhes atribuem maior valor, e excedente para os que lhes atribuem menor valor; exatamente por isso,
consomem além da necessidade. Sendo assim, podemos dizer que bens públicos serão produzidos sempre de
forma ineficiente, por causa do comportamento free rider ou “carona”.
Cooperação e comportamento free rider
O comportamento free rider, traduzido por alguns autores como “o carona” (Hillbrecht, 1999, p. 90;
Oliveira, 1999, p. 574; Eaton, 1999, p. 558), representa o comportamento dos agentes econômicos, indivíduos
ou empresas, que se beneficiam de determinado bem ou benefício enquanto esse lhes é gratuito. Caso a
manutenção dessa utilidade passe a lhes oferecer algum ônus, preferirão abrir mão a pagar por esse benefício,
ou pelo menos limitarão seu uso.
Comumente, encontraremos exemplos de free rider entre agentes que se beneficiam de recursos
naturais como se estes não tivessem dono. Um exemplo relacionado ao meio ambiente seria o de uma
indústria que lança livremente de forma clandestina seus resíduos em um rio. Durante anos ela não se
preocupa em instalar filtros ou reduzir a poluição emitida porque não tem custos com isso. Seu
comportamento toma “carona” em custos e projetos desenvolvidos pelos órgãos públicos da região que lutam
para despoluir o rio.
Entretanto, quando detectado que a emissão dos resíduos industriais é danosa ao rio, os orgãos
responsáveis propõem alguma alternativa de controle de poluição. Seja qual for a alternativa (taxas, quotas,
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etc.), a indústria poluidora passará a ter que considerar um custo que até então alocava para a sociedade. E isso
gera uma redução no lucro que não lhe interessa. Sendo assim, a indústria permanece com seu comportamento
free rider, de manter sua poluição na clandestinidade, durante o tempo em que isso seja possível.
Se cada empresa estiver preocupada exclusivamente com o seu lucro, poderá nunca haver cooperação
ou essa nunca será suficientemente forte para eliminar ineficiências geradas pela poluição. O comportamento
free rider de algumas empresas pode levar à inviabilidade da cooperação, ou inviabilizar que essa cooperação
leve a empresa poluidora a emitir apenas a quantidade ótima de poluentes.
A questão principal é que, como os indivíduos estão consumindo a mesma quantidade de recursos
naturais, eles podem não revelar suas verdadeiras preferências, o que implica uma distribuição ineficiente
desses recursos. Portanto, o mais racional para cada indivíduo é deixar que os outros paguem a mais, ou seja, o
racional é o comportamento free rider.
Nem sempre o meio ambiente foi tratado como um bem de interesse público. Todavia, ao longo do
tempo, vem sofrendo um processo de reconhecimento por meio do qual se verificou que deve ser usufruído
por todos da sociedade, exigindo-se em troca o compromisso de objetivar a manutenção de um meio ambiente
ecológica e economicamente equilibrado.
3. Instrumentos de Controle Ambiental
Segundo Gartner (2001), Os instrumentos de controle ambiental são aplicados pelos governos e
agentes econômicos e objetivam, principalmente, a prevenção e correção de problemas ambientais. As
empresas, notadamente as indústrias, geralmente são causadoras de problemas ambientais, e suas atividades
são, em grande parte, financiadas pelos bancos. Os bancos não somente fornecem capital para investimentos e
giro de suas operações como, muitas vezes, participam até mesmo de seu quadro acionário.
Isso mostra que, uma vez, que os instrumentos de controle ambiental podem interferir nas atividades
industriais, os mesmos podem atingir os bancos, gerando obstáculos ou oportunidade em seus negócios. Isso
depende, não somente das características dos instrumentos locais de controle ambiental como, também, dos
instrumentos aplicados nos mercados estrangeiros com os quais são mantidos intercâmbios comerciais pela
indústria.
Margulis (apud Gartner, 2001), cita como principais tipos de instrumentos de controle da poluição
industrial os instrumentos reguladores e os instrumentos econômicos.
Atividades econômicas podem gerar externalidades ambientais negativas que causam perdas de bem-
estar para os indivíduos afetados.
Uma das formas de corrigir estas perdas de bem-estar causadas pela degradação ambiental seria a
internalização destes custos externos nas estruturas de produção e consumo.
31
Box 1 - Aplicação de Instrumentos Econômicos no Brasil
Instrumentos Situação Atual Objetivos
Cobrança pelo uso da água em bacias hidrográficas por volume e conteúdo poluente:NacionalEstado de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Ceará e Rio de Janeiro.
promulgada na Lei nº 433 de janeiro de 1997.em discussão ou implementada.
para financiamento de entidades de bacias hidrográficas e indução do uso racional de recursos hídricos.
Tarifa de esgoto industrial baseada no conteúdo de poluentes:Estado de São PauloEstado do Rio de Janeiro
parcialmente implementada desde 1981.implementada desde 1986 e terminada em 1994.
para recuperação de custos de estações de tratamento de esgoto.
Compensação financeira devido à exploração dos recursos naturais:geração hidroelétricaprodução de petróleomineral (exceto petróleo)
totalmente implementada desde1991.
para compensar municípios e estados onde se realiza a produção e também as agências de regulação.
Compensação fiscal por áreas de preservação:Estado de São PauloEstado do ParanáEstado de Minas Gerais
implementada em 1994.implementada desde 1992.implementada desde 1996.
para compensar municípios para restrições de uso do solo em áreas de mananciais e de preservação florestal.
Taxas florestais:Fundo Federal de Reposição Florestal pago por usuários sem atividades de reflorestamento.Taxa de Serviço Florestal em Minas Gerais paga por usuários de produtos florestais.
implementada desde 1973.parcialmente implementada desde 1968 e totalmente revisada e implementada em 1994.
para financiar projetos de reflorestamento público.para financiar atividades do serviço florestal do estado.
Fonte: Seroa da Motta e Reis (1994).
A internalização do custo externo ambiental pode ser implementada com a adoção de mecanismos de
comando-e-controle (padrões ambientais, licenciamento e sanções legais) e de mecanismos de mercado.
Conforme será discutido, estes mecanismos são complementares e não-excludentes.
Dois tipos de instrumentos econômicos podem ser considerados:
a) incentivos que atuam na forma de prêmios e
b) incentivos que atuam na forma de preços.
Os primeiros requerem um comprometimento de recursos do Tesouro, enquanto os segundos geram
fundos fiscais. Ambos podem e devem ser combinados, conforme será analisado a seguir.
Os incentivos que atuam na forma de prêmios são basicamente o crédito subsidiado, as isenções de
imposto e outras facilidades contábeis para efeito de redução da carga fiscal (como, por exemplo, a
depreciação acumulada). Estes incentivos requerem prazos e taxas mais adequadas à maturação dos
investimentos ambientais e sua aplicação é adequada em casos específicos de setores com impacto econômico
significativo e que tenham necessidade de ajustes emergenciais.
32
Os incentivos econômicos via preços são todos os mecanismos de mercado que orientam os agentes
econômicos a valorizarem os bens e serviços ambientais de acordo com sua escassez e seu custo de
oportunidade social. Para tal, atua-se na formação dos preços privados destes bens ou, no caso de ausência de
mercados, criam-se mecanismos que acabam por estabelecer um valor social. Em suma, adota-se o "princípio
do poluidor/usuário pagador". O objetivo da atuação direta sobre os preços é a internalização dos custos
ambientais nos custos privados que os agentes econômicos incorrem no mercado em atividades de produção e
consumo.
Estes incentivos podem atuar diretamente sobre os preços — tributos — ou indiretamente, com
certificados ou direitos de propriedade.
Os tributos consistem em mecanismos de cobrança direta pelo nível de poluição ou uso de um recurso
natural através de um imposto ou de uma simples cobrança proporcional ao uso do recurso em termos de
quantidade e qualidade.
Esta cobrança, na sua forma mais simples, pode ser realizada por um tipo de multa aplicada sobre o
excesso de poluição ou uso acima do padrão ambiental estipulado por lei. O valor desta multa por não
atendimento a padrões ambientais tem seu valor determinado proporcionalmente a este excesso através de
uma fórmula na qual cada unidade de poluição ou uso tem um preço estipulado.
Uma sofisticação deste sistema seria a aplicação de uma cobrança sobre o nível permitido por lei, com
valores inferiores, no objetivo de incentivar menores níveis de poluição e uso. Entretanto, neste caso de níveis
legalmente aceitos, a cobrança assemelha-se a um imposto e não a uma multa por não atendimento a um
requisito legal.
Já os instrumentos que atuam indiretamente sobre os preços procuram estabelecer níveis desejados de
uso do bem ou serviço ambiental como, por exemplo, a quantidade total de poluição ou de uso permitida,
através da distribuição de certificados ou direitos de propriedade que são distribuídos entre os usuários ou
produtores. Estes certificados podem ser transacionados em mercados específicos, com controle da autoridade
ambiental através de operações de emissão e resgate destes títulos. As firmas comprariam e venderiam estes
títulos de acordo com seus custos individuais de controle de poluição.
Outros mecanismos via criação de mercado, muito utilizados, são os sistemas depósito-retorno, nos
quais o retorno de certas embalagens, vasilhames ou produtos é remunerado.
As principais vantagens dos incentivos econômicos via preços são as seguintes:
a) permitem a geração de receitas fiscais e tarifárias, através da cobrança de taxas, tarifas ou emissão
de certificados, para lastrear os incentivos-prêmio ou capacitar os orgãos ambientais. Dependendo da sua
33
magnitude podem também servir para reduzir a carga fiscal sobre outros bens e serviços da economia que são
mais desejáveis que a degradação, como são os casos de investimentos e geração de emprego;
b) consideram as diferenças de custo de controle entre os agentes e, portanto, alocam de forma mais
eficiente os recursos econômicos à disposição da sociedade, ao permitirem que aqueles com custos menores
tenham incentivos para expandir as ações de controle. Portanto, com IE a sociedade incorre em custos de
controle inferiores àqueles que seriam incorridos se todos os poluidores ou usuários fossem obrigados a atingir
os mesmos padrões individuais;
c) possibilitam que tecnologias menos intensivas em bens e serviços ambientais sejam estimuladas pela
redução da despesa fiscal que será obtida em virtude da redução da carga poluente ou da taxa de extração;
d) atuando no início do processo de uso dos bens e serviços ambientais, o uso de IE pode anular ou
minimizar os efeitos das políticas setoriais que, com base em outros incentivos, atuam negativamente na base
ambiental;
e) evitam os dispêndios em pendências judiciais para aplicação de penalidades; e
f) um sistema de taxação progressiva ou de alocação inicial de certificados pode ser efetivado segundo
critérios distributivos em que a capacidade de pagamento de cada agente econômico seja considerada.
Resumindo, o uso de incentivos econômicos promoveria não só a melhoria ambiental como também a
melhoria econômica, através da maior eficiência produtiva e eqüidade.
Teoricamente, a eficiência dos IEs seria máxima quando os custos marginais incorridos pelos agentes,
em decorrência do uso de uma unidade de um bem ou serviço ambiental, fossem equivalentes ao custo
ambiental (externo) imposto à sociedade por este uso incremental.
Entretanto, a definição das taxas ou valores dos certificados segundo este princípio geralmente não é
possível, pois requer um esforço de coleta e análise de informações nem sempre disponível a custos
compensadores.
Na prática observa-se que na maioria dos casos em que tais mecanismos foram adotados para geração
de receita a sua utilização complementa outros instrumentos de regulamentação.
Esta é a razão de se propor a definição dos níveis destes instrumentos (taxas ou valores de certificados)
com base nos níveis de poluição ou exploração definidos por lei.
Assim, decorre que os mecanismos serão estabelecidos para que o mercado funcione de forma a não
ultrapassar estes limites, ao invés de, através da equivalência de custos marginais, estabelecer o ponto ótimo
destes níveis.
34
4. Instrumentos Reguladores
De acordo com Margulis (apud Gartner, 2001), os instrumentos reguladores, também conhecidos como
instrumentos de comando e controle, são:
“... Um conjunto de normas, regras, procedimentos e padrões a serem obedecidos pelos agentes
econômicos, de modo a adequar-se a certas metas ambientais, acompanhado de um conjunto de penalidades
previstas para os recalcitrantes”.
Os instrumentos reguladores impõem desempenhos ambientais às empresas através de: licenças,
zoneamento e padrões (padrões de qualidade ambiental, padrões de emissão, padrões tecnológicos, padrões de
desempenho e padrões de produto e processo), que pode , em curto prazo, representar elevações nos custos de
produção e, consequentemente, ocasionar perdas de competitividade. Por outro lado, caso as empresas não
estejam adequadas ao cumprimento das normas e padrões ambientais estabelecidos, podem receber multas
capazes de atingir sua estrutura financeira, prejudicando sua capacidade de pagamento.
5. Instrumentos Econômicos
Os instrumentos econômicos usam do potencial do mercado para que os poluidores se abequem aos
objetivos de qualidade ambiental e, por isso, são também conhecidos como instrumentos econômicos ou de
mercado.
Segundo Margulis (apud Gartner, 2001), os instrumentos econômicos possuem uma estrutura flexível
em comparação com os mecanismos reguladores e estão, em grande parte, fundamentados no Princípio
Poluidor Pagador (PPP). Os tipos de instrumentos econômicos são taxas de poluição, subsídios, criação de
mercados e outros esquemas como o sistema de devolução de depósitos, pelo qual o consumidor paga um
depósito sempre que comprar um produto potencialmente poluente.
A Questão Ambiental sob o Enfoque Econômico
Os conceitos de segurança ambiental global e de desenvolvimento sustentável são centrais para o
estabelecimento da ordem ambiental internacional. O primeiro deles, nos faz refletir sobre a necessidade de
manter as condições da reprodução da vida humana na Terra, posto que ainda não se tem notícia da existência
de outro planeta com condições naturais semelhantes ao que habitamos, o que não deixa outra alternativa
senão vivermos aqui. Em
6. Instrumentos de padronização internacional.
Das Normas de Padronização Ambiental
As normas de padronização ambiental são modelos de gestão entendidos como construções conceituais
que orientam as atividades administrativas e operacionais para alcançar objetivos definidos. (Barbieri, 2007)
35
Estas atividades são desenvolvidas de forma sistêmica de modo a abordar questões ambientais seja no
que concerne à solução de problemas existentes, seja na prevenção de eventos danosos, mas sempre tendo em
vista a melhoria do padrão ambiental.
A ideia de um sistema de gestão ambiental para atender a estas necessidades congrega ainda a intenção
de proporcionar à organização a garantia de que seu desempenho não apenas atenda as exigências legais e
políticas, mas que permaneça atendendo a estas especificações futuramente. (Barbieri, 2007)
Conforme Araújo e Machado (2007), a intensificação do processo de globalização financeira e
produtiva da economia mundial, a partir da década de 1980, trouxe alterações nos mercados internacionais,
aguçando a concorrência mundial e alterando os padrões de concorrência industrial. Surgiram,
consequentemente, normas gerais de padronização, de processo, de qualidade e de gestão ambiental.
Paralelamente, as instituições governamentais e não-governamentais, a mídia, a sociedade civil e as
instituições financeiras têm exposto os problemas ambientais da atividade produtiva e forçado as organizações
a adotarem sistemas de gestão e controle da variável ambiental. Esses investimentos na área ambiental, antes
simplesmente considerados como necessários, hoje devem ser vistos como estratégicos à atuação das
empresas, gerando benefícios sociais, ecológicos e econômicos. (Abreu et.al., 2004)
As novas regras ambientais que tem imperado no mercado internacional, alteram a conquistada
competitividade de alguns setores exportadores e pressionam para uma mudança no respectivo
comportamento ambiental. (Maimon, 1996)
A necessidade de parâmetros, que regulam os diversos fatores, desde a qualidade à responsabilidade
social, para o desenvolvimento das atividades econômicas tornou-se imprescindível para atender ao mercado
do mundo globalizado como meio de viabilizar minimamente as transações comerciais internacionais e
remediar diferenças sócio-ético-culturais.
Para Barbieri (2007), a adoção de um modelo é fundamental, porquanto as atividades serão
desenvolvidas por diferentes pessoas, em diversos momentos e locais e sob diferentes modos de ver as
mesmas questões. Esses modelos, embora representem de modo simplificado a realidade empresarial,
permitem orientar as decisões sobre como, quando, onde e com quem abordar os problemas ambientais e
como eles se relacionam com as demais questões empresariais.
O surgimento dessas normas se deve aos seguintes fatores: crescimento da influência das ONGs que
atuam nas áreas do meio ambiente e correlatas, aumento do contingente de consumidores responsáveis, ou
consumidores verdes, que procuram cada vez mais utilizar produtos ambientalmente saudáveis; intensificação
dos processos de abertura comercial, expondo produtores com diferenças pronunciadas de custos ambientais e
36
sociais a uma competição mais acirrada e internacional; e restrições à criação de barreiras técnicas para
proteger mercado dentro da lógica da globalização.(La Rovere, 2001; Barbieri, 2007)
Vale esclarecer, ainda, que a exposição na mídia de tragédias ambientais provocadas por grandes
empresas colocava o setor industrial como alvo prioritário dos protestos de grupos ambientalistas
(Demajorovic, 2003), sendo isto, por óbvio oneroso aos negócios e estimulando a busca de padronização
mínima para se evitar prejuízos econômicos e morais ao empreendimento, tornando os selos ambientais
marketing ecológico, nem sempre bem utilizado.
As normas de sistemas de gestão ambiental podem ser aplicadas a qualquer atividade econômica, fabril
ou prestadora de serviços, e, em especial, àquelas cujo funcionamento ofereça risco ou gere efeitos danosos ao
meio ambiente. (Maimon, 1996)
Entretanto vale a observação de Abreu et.al. (2004), de que os modelos ambientais não permitem um
ordenamento contínuo da performance ambiental entre diferentes empresas dentro da mesma estrutura da
indústria. Portanto, não possibilitam inferir, sistematicamente, comportamentos ou condutas ambientais mais
efetivas em relação a outras empresas.
Existem modelos propostos de cunho geral, onde se estabelecem princípios a serem alcançados pelas
entidades privadas subscritoras e, com este perfil, temos: Responsable Care (Atuação Responsável), criado
pela Canadian Chemical Producers Association; Total Quality Environmental Management (Administração da
Qualidade Ambiental Total), criado pela Global Environental Management; Cleaner Production (Produção
Mais Limpa), desenvolvido pelo PNUMA; Ecoeficiência, introduzido pelo World Business Council for
Sustainable, Eco-label, desenvolvido pela Comunidade Européia, entre outros.
E existem modelos propostos com diretrizes mais específicas e operacionalização sistematizada, tais
como, modelo da International Chamber of Commerce (ICC), modelo Comunitário de Ecogestão e Auditoria
(EMAS) e o modelo da série ISO 14.000, objeto deste trabalho.
Importante consignar que os modelos de padronização ambiental geram, em sua maioria, os chamados
“selos verdes”, decorrentes dos processos de certificação, para o reconhecimento público da existência de um
sistema que compatibilize as atividades da empresa com a matriz ambiental.
37
Tabela 1: Dos Selos Ecológicos no Mundo
7. Avaliação monetária do meio ambiente
Postulados Teóricos de base da Valorização Monetária do Meio Ambiente pelos Métodos neoclássicos.
Ponto de Partida: Racionalidade do Consumidor
A extensão da teoria microeconômica neoclássica no campo do meio ambiente se baseia em duas
hipóteses centrais, a saber:
. os indivíduos são os melhores juízes de suas preferências;
. as preferências individuais são o fundamento da avaliação dos bens mercantis e não-mercantis.
Em sua acepção teórica, a expressão racionalidade do consumidor significa uma decisão racional do
agente de decisão (o consumidor), objetivando maximizar sua utilidade e, portanto, o bem-estar do indivíduo,
tendo como restrição seu orçamento. Trata-se de uma primeira aproximação do valor dado pelos indivíduos
aos bens ambientais (fauna e flora, água, ar, ecossistemas...) que não têm preço, mas que são consumidos de
maneira gratuita pelos indivíduos, consumidores ou produtores. Na medida em que o consumo desses bens é
representado por um uso, eles fazem parte da função de utilidade dos indivíduos (Winpenny, 1995, p. 23).
Como para o consumidor são as preferências que determinam o uso de sua renda da maneira mais
satisfatória possível, a utilidade marginal de um bem escalonada pela utilidade marginal da renda equivale à
soma que o consumidor está disposto a pagar em troca de uma unidade adicional do bem em apreço. Assim, o
consumidor deverá desembolsar certa quantia de dinheiro, se ele quer ter acesso a uma utilidade mais elevada
e renunciar à compra de outros bens menos úteis para ele. Nessa regra, quando o indivíduo possui unidades
adicionais do bem, a utilidade que o indivíduo atribui ao bem tende a diminuir.
Essa concepção da escola clássica implica que cada indivíduo é mais apto que o Estado em criar
riquezas e realizar o bem-estar de todos, procurando de maneira egoísta seu próprio interesse. Os princípios
comuns das escolhas individuais, fundamentados nesses postulados básicos, serão formalizados
38
posteriormente pelos teóricos da economia do bem-estar, pelos partidários dos métodos preços-sombra(1) e
terão espaço dominante nos modelos neoclássicos da economia do meio ambiente.
No campo do meio ambiente, a hipótese de racionalidade individual permite, com base no conceito de
Disposição a Pagar, medir o valor de não-uso de um bem ou serviço ambiental. Entretanto, considerando o
conceito do Desenvolvimento Sustentável, se o uso desse critério na análise custo/benefício amplia o seu
campo de aplicação, os resultados práticos apresentam algumas contradições e/ou paradoxos.
Os problemas aparecem, quando se trata de medir as variações do bem-estar de um indivíduo na
hipótese de que suas próprias preferências estão na direção contrária ao interesse dos outros indivíduos.
Assim, o princípio da racionalidade do consumidor apresenta uma limitação, na medida em que não se pode
aplicá-lo no sentido do desenvolvimento sustentável(2). Utilizando o fundamento utilitarista das preferências
individuais, este princípio ignora o significado da distribuição temporal das perdas e dos ganhos, isto é, é
impossível conhecer as preferências dos indivíduos que pertencem às gerações futuras. De fato, a preocupação
de igualdade intertemporal, o elemento implícito na definição corrente do desenvolvimento sustentável, é
ausente do quadro teórico.
Nesse contexto, sugere-se que uma série de ações públicas não pode ser decidida com base no
princípio de decisão individual, mas em torno de uma abertura do debate junto da população beneficiada. De
fato, as dificuldades e os problemas surgem, quando se pretende agregar os valores individuais.
Evidentemente, é o que os métodos preços-sombra tentam fazer. Analisa-se, a seguir, a idéia de base desses
métodos, ou seja, a função de bem-estar social.
Ampliação do Princípio da Racionalidade do Consumidor: a Função de Bem-estar Social
Os métodos preços-sombra objetivam valorar monetariamente todos os custos e benefícios, tangíveis
e intangíveis, de um projeto. Teoricamente, é possível obter a medida monetária dos custos e dos benefícios de
uma função de bem-estar social, que consiste em adicionar as somas correspondentes desses valores
estabelecidos pelos indivíduos da sociedade.
Bergson, em 1938, tinha simbolizado matematicamente alguns aspectos dessa função. Depois,
Samuelson, em 1947, destacou em sua obra Foundations of Economic Analysis a natureza da função e as
condições de sua maximização.
A função de bem-estar social, que tem papel fundamental nos métodos preços-sombra e sua extensão
no campo do meio ambiente, possui três axiomas importantes:
. A exclusão dos efeitos induzidos no consumo, isto é, a satisfação obtida por um indivíduo depende
apenas de seu próprio consumo.
39
. A função de bem-estar social é válida para todos os indivíduos da sociedade e ela apresenta uma
função de utilidade marginal decrescente em relação ao consumo.
. As funções de bem-estar dos indivíduos são aditivas. A função de bem-estar social resulta da soma
dos níveis de utilidade individual.
No próximo item, é descrito o desenvolvimento da função de bem-estar social dentro de uma
perspectiva de desenvolvimento sustentável e sua relação com os métodos neoclássicos de análise custo-
benefício.
8. Valor econômico total.
8.1 Por que Valorar?
Uma discussão importante surge quando é colocada a intenção de se realizar uma avaliação econômica
de ações que envolvem o meio ambiente. A necessidade de se realizar esta tarefa: valoração do meio
ambiente, já ficou clara. Barde e Pearce (1995), afirmam que como as políticas ambientais estão ganhando
mais importância e sofisticação, dia a dia, há uma necessidade de maior desenvolvimento das bases
econômicas para estas políticas. Em particular, para a valoração monetária do meio ambiente. Afirmam
também que progressos têm sido feito no desenvolvimento de metodologias para valoração econômica de
custos e benefícios ambientais.
A questão da valoração do meio ambiente e sua contabilização são um desafio que passa pela polêmica
de responder a três perguntas iniciais: Que valor assume o meio ambiente para a sociedade atual? É possível
valorar ou cifrar os recursos naturais? Como podemos fazê-lo?
A primeira pergunta é respondida na medida em que a sociedade exige maior responsabilidade de
empresas, governantes, enfim, de si mesma, em favor da proteção ambiental. Ou seja, o valor que o meio
ambiente assume para a sociedade atual é crescente, exigindo cuidados e responsabilidades. As respostas para
as duas últimas perguntas não estão prontas e pesquisas são realizadas no sentido de se avançar neste campo
de conhecimento.
Quando se sabe que os recursos naturais podem ficar escassos ou mesmo acabar para gerações futuras
não muito distantes, não se pode afirmar que o crescimento econômico se dá sem a necessidade de se avaliar
os danos e benefícios ambientais. Ou seja, não se pode mais atribuir um valor zero ou infinito aos recursos
naturais.
Então, que valor atribuir aos recursos naturais? O meio ambiente ao desempenhar funções
imprescindíveis à vida humana apresenta, valor econômico positivo mesmo que não refletido diretamente pelo
funcionamento do mercado, não sendo, portanto correto tratá-lo como se tivesse valor zero. Assumindo um
40
valor zero para o meio ambiente corre-se o risco de uso excessivo ou até mesmo de sua completa degradação
(Marques e Comune, 1999).
Para dar início ao esclarecimento destas questões, deve-se observar um dos pontos mais polêmicos que
envolvem conceitos contábeis e metodológicos. Pode-se começar pela questão da natureza dos bens ou recursos
naturais. Os recursos naturais são bens pertencentes a toda comunidade, mas são também utilizados por
organizações privadas, e assim passam a fazer parte do processo produtivo e contribuir para seu funcionamento.
Por exemplo, a água utilizada para a produção de uma determinada indústria é um recurso natural, portanto um
bem público, porém também é um insumo de produção portanto um bem privado, enquanto passa pelo processo
produtivo e quando se transforma em um produto comercial. A utilização da água enquanto produto não é cobrada,
paga-se apenas pelo serviço de abastecimento para que este recurso natural esteja disponível de forma mais
confortável possível. Esta afirmação é verdadeira considerando que, os recursos naturais são considerados bens
difusos pertencentes à coletividade, entretanto estes bens também podem fazer parte de uma propriedade particular.
Portanto a valoração ambiental não é uma questão fechada, e também não pode ser considerada a única
maneira de se fazer à sociedade se responsabilizar pelos danos ambientais. Existem responsabilidades que já nos
são impostas por leis. A valoração ambiental é um subsídio para uma proposta de se repassar para as organizações
responsabilidades pelo futuro do meio ambiente global, introduzindo esta responsabilidade em mecanismos
políticos e de mercado. Os métodos de avaliação econômica do meio ambiente são ainda pouco aplicados, mas isto
não significa que sua aplicação não seja necessária, pelo contrário, ela responde por uma emergência social, ao se
tratar com responsabilidade os recursos naturais.
Existem diferentes correntes de pensamento e conceitos que procuram esclarecer a questão de estabelecer
critérios para se valorar os recursos naturais e ainda que existam pontos polêmicos e algumas questões onde mais
estudos são necessários algumas teorias já foram formuladas a este respeito. Também é necessário lembrar que a
maior parte destas teorias convergem no sentido de encontrar o Valor Econômico do Recurso ambiental (VERA).
8.2.Valorando bens e serviços ambientais
O valor econômico ou o custo de oportunidade dos recursos ambientais normalmente não é observado
no mercado por intermédio do sistema de preços.
No entanto, como os demais bens e serviços presentes no mercado, seu valor econômico deriva de seus
atributos, com a peculiaridade de que esses atributos podem ou não estar associados a um uso.
O valor econômico dos recursos ambientais (VERA) pode ser decomposto em valor de uso (VU) e
valor de não uso (VNU) e se expressa da seguinte forma:
VERA = (VUD + VUI + VO) + VE
onde:
41
Valor de Uso Direto (VUD): valor que os indivíduos atribuem a um recurso ambiental pelo fato de que
dele se utilizam diretamente, por exemplo, na forma de extração, de visitação ou outra atividade de produção
ou consumo direto. Por exemplo, extrativismo, turismo, recreação e atividades de pesquisa científica;
Valor de Uso Indireto (VUI): valor que os indivíduos atribuem a um recurso ambiental quando o
benefício do seu uso deriva de funções ecossistêmicas, como, por exemplo, a contenção de erosão, controle
climático e proteção de mananciais;
Valor de Opção (VO): valor que o indivíduo atribui à conservação de recursos, que podem estar
ameaçados, para usos direto e indireto no futuro próximo. Por exemplo, o benefício advindo de terapias
genéticas com base em propriedades de genes ainda não descobertos de plantas em florestas tropicais.
Valor de Não-Uso, Passivo ou Valor de Existência (VE): valor que está dissociado do uso (embora
represente consumo ambiental) e deriva de uma posição moral, cultural, ética ou altruística em relação aos
direitos de existência de outras espécies que não a humana ou de outras riquezas naturais, mesmo que essas
não representem uso atual ou futuro para ninguém. Um exemplo claro deste valor é a grande mobilização da
opinião pública para salvamento dos ursos panda ou das baleias mesmo em regiões em que a maioria das
pessoas nunca poderá estar ou fazer qualquer uso de sua existência.
Há também outra forma de classificar o valor econômico do recurso ambiental pela sua capacidade de
gerar fluxos de serviços ecossistêmicos, tal como se estabeleceu no “Millenium ecosystem assessment report”
(MEA, 2005), que categoriza ou tipifica os serviços ambientais em serviços de provisão, regulação, suporte e
culturais da seguinte forma:
Serviços de provisão: que geram consumo material direto como, por exemplo, alimentos, água,
fármacos e energia.
Serviços de regulação: que regulam as funções ecossistêmicas como, por exemplo, sequestro de
carbono, decomposição dos resíduos sólidos, purificação da água e do ar e controle de pestes.
Serviços de suporte: que dão suporte às funções ecossistêmicas como, por exemplo, formação de solo,
fotossíntese e dispersão de nutrientes e sementes.
Serviços culturais: que geram consumo não material nas formas cultural, Há, ainda, na literatura, certa
controvérsia com relação ao valor de existência representar o desejo do indivíduo de manter certos recursos
ambientais para que seus herdeiros (gerações futuras) possam usufruir de seus usos diretos e indiretos (bequest
value ou valor de legado). Essa é uma questão conceitual que de certa forma é irrelevante na medida em que,
para a valoração ambiental, o desafio consiste em admitir que os indivíduos atribuam valor a recursos, mesmo
que dele não façam qualquer uso.
42
Os usos e não-usos dos recursos ambientais encerram valores, os quais precisam ser mensurados para
se tomarem decisões informadas quanto aos usos e não-usos diversos e até mesmo quando são conflitantes, ou
seja, quando um tipo de uso ou de não-uso exclui, necessariamente, outro tipo de uso ou não-uso. Por
exemplo, o uso de uma praia para diluição de esgoto exclui (ou pelo menos limita) seu uso para recreação.
Verificados esses usos e não-usos e os seus respectivos serviços ambientais, pode-se então proceder à
sua valoração, cuja metodologia será apresentada a seguir.
Os métodos de valoração econômica do meio ambiente são parte do arcabouço teórico da
microeconomia do bem-estar e são necessários na avaliação dos custos e benefícios sociais quando as decisões
de investimentos públicos afetam o consumo da população e, portanto, seu nível de bem-estar.
O leitor poderá agora avaliar, com mais clareza, o grau de dificuldade para encontrar preços de
mercado (adequados ou não) que reflitam os valores atribuídos aos recursos ambientais. Essa dificuldade é
maior à medida que passamos dos valores de uso para os valores de não-uso. Nos valores de uso, os usos
indiretos e de opção apresentam, por sua vez, maior dificuldade que os usos diretos.
Conforme procuramos demonstrar até agora, a tarefa de valorar economicamente um recurso ambiental
consiste em determinar quanto melhor ou pior estará o bem-estar das pessoas devido a mudanças na
quantidade de bens e serviços ambientais, seja na apropriação por uso ou não.
Dessa forma, os métodos de valoração ambiental corresponderão a este objetivo à medida que forem
capazes de captar essas distintas parcelas de valor econômico do recurso ambiental. Todavia, conforme será
discutido a seguir, cada método apresentará limitações nesta cobertura de valores, a qual estará quase sempre
associada ao grau de sofisticação (metodológica e de base de dados) exigido, às hipóteses sobre
comportamento do indivíduo consumidor e aos efeitos do consumo ambiental em outros setores da economia.
Tendo em vista que tal balanço será quase sempre pragmático e decidido de forma restrita, cabe ao
analista que valora explicitar, com exatidão, os limites dos valores estimados e o grau de validade de suas
mensurações para o fim desejado. Conforme será discutido a seguir, a adoção de cada método dependerá do
objetivo da valoração, das hipóteses assumidas, da disponibilidade de dados e do conhecimento da dinâmica
ecológica do objeto que está sendo valorado.
Os métodos de valoração aqui analisados são assim classificados: métodos da função de produção e
métodos da função de demanda.
Métodos da função de produção: métodos da produtividade marginal e de mercados de bens
substitutos (reposição, gastos defensivos ou custos evitados e custos de controle).
Se o recurso ambiental é um insumo ou um substituto de um bem ou serviço privado, esses métodos
utilizam-se de preços de mercado deste bem ou serviço privado para estimar o valor econômico do recurso
43
ambiental. Assim, os benefícios ou custos ambientais das variações de disponibilidade desses recursos
ambientais para a sociedade podem ser estimados.
Com base nos preços desses recursos privados, geralmente admitindo que não se alteram frente a essas
variações, estimam-se indiretamente os valores econômicos (preços-sombra) dos recursos ambientais cuja
variação de disponibilidade está sendo analisada. O benefício (ou custo) da variação da disponibilidade do
recurso ambiental é dado pelo produto da quantidade variada do recurso vezes o seu valor econômico
estimado. Por exemplo, a produtividade agrícola. Ou a redução do nível de sedimentação numa bacia, por
conta de um projeto de revegetação, pode aumentar a vida útil de uma usina hidrelétrica e sua produtividade.
Métodos da função de demanda: métodos de mercado de bens complementares (preços hedônicos e do
custo de viagem) e método da valoração contingente.
Esses métodos assumem que a variação da disponibilidade do recurso ambiental altera a disposição a
pagar ou aceitar dos agentes econômicos em relação àquele recurso ou seu bem privado complementar. Assim,
esses métodos estimam diretamente os valores econômicos (preços-sombra) com base em funções de demanda
para esses recursos derivadas de (i) mercados de bens ou serviços privados complementares ao recurso
ambiental ou (ii) mercados hipotéticos construídos especificamente para o recurso ambiental em análise.
Utilizando-se de funções de demanda, esses métodos permitem captar as medidas de disposição a
pagar (ou aceitar) dos indivíduos relativas às variações de disponibilidade do recurso ambiental. Com base
nessas medidas, estimam-se as variações do nível de bem-estar pelo excesso de satisfação que o consumidor
obtém quando paga um preço (ou nada paga) pelo recurso abaixo do que estaria disposto a pagar. O excedente
do consumidor é, então, medido pela área abaixo da curva de demanda e acima da linha de preço.
Assim, haverá variações do excedente do consumidor frente às variações de disponibilidade do recurso
ambiental. Assim, o benefício (ou custo) da variação de disponibilidade do recurso ambiental será dado pela
variação do excedente do consumidor medida pela função de demanda estimada para esse recurso.
Por exemplo, os custos de viagem que as pessoas incorrem para visitar um parque nacional podem
determinar uma aproximação da disposição a pagar destes em relação aos benefícios recreacionais do parque.
Essas medidas de disposição a pagar podem também ser identificadas em uma pesquisa que questiona,
junto a uma amostra da população, valores de pagamento de um imposto para investimentos ambientais na
proteção da biodiversidade. Identificando essas medidas de disposição a pagar, podemos construir as
respectivas funções de demanda.
Note que esses dois métodos gerais podem, de acordo com suas hipóteses, estimar valores ambientais
derivados de funções de produção ou de demanda com base na realidade econômica atual. Na medida em que
esses valores (custos ou benefícios) possam ocorrer ao longo de um período, então, será necessário identificar
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esses valores no tempo. Ou seja, identificar valores resultantes não somente das condições atuais, mas também
das condições futuras. A prospecção das condições futuras poderá ser feita com cenários alternativos para
minimizar o seu alto grau de incerteza. De qualquer forma, os valores futuros terão que ser descontados no
tempo, isto é, calculados seus valores presentes e, para tanto, há que se utilizar uma taxa de desconto social.
Essa taxa difere daquela observada no mercado devido às imperfeições no mercado de capitais e sua
determinação não é trivial, embora possa afetar significativamente os resultados de uma análise de custo-
benefício.
No contexto ambiental a complexidade é ainda maior. Por exemplo, devido a sua possibilidade de
esgotamento, o valor dos recursos ambientais tende a crescer no tempo, se admitimos que seu uso aumente
com o crescimento econômico. Como estimar essa escassez futura e traduzi-la em valor monetário é uma
questão complexa, que exige um certo exercício de futurologia.
Assim sendo, alguns especialistas sugerem o uso de taxas de desconto menores para os projetos onde
se verificam benefícios ou custos ambientais significativos ou adicionar os investimentos necessários para
eliminar o risco ambiental. Considera-se assim que os custos e benefícios ambientais serão adequadamente
valorados e que cenários com valores distintos para a taxa de desconto devem ser utilizados para avaliar sua
indeterminação.
Essa complexidade também irá se refletir quando se montar um Sistema Nacional de Contas
Ambientais para medir a renda nacional (PIB) deduzida de quanto a economia “consumiu” (depreciação) ou
“investiu” (apreciação) em capital natural. Em níveis desagregados, as Contas Ambientais se aproximam de
uma análise de custo-benefício, onde o PIB reflete uma medida do benefício e o consumo de capital natural
representa o custo. Logo, os conceitos e técnicas de valoração serão os mesmos que aqui foram discutidos.
Em suma, a escolha de um ou outro método de valoração econômica do meio ambiente depende do
objetivo da valoração, das hipóteses consideradas, da disponibilidade de dados e do conhecimento científico a
respeito da dinâmica ecológica do objeto em questão.
9. Análise de custo-benefício aplicável ao Meio Ambiente
Um dos maiores problemas econômicos e da gestão pública reside em alocar limitados recursos para
atender às ilimitadas necessidades. Quando alguém decide investir R$ 1,00 na preservação do Meio Ambiente
está dizendo que esta destinação é mais prioritária do que investir este mesmo recurso em educação, saúde,
habitação. Caso contrário, investiria este R$ 1,00 nestes últimos.
“Qualquer que seja a forma de gestão a ser desenvolvida por governos, organizações não-
governamentais, empresas ou mesmo famílias, o gestor terá que equacionar o problema de alocar um
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orçamento financeiro limitado perante numerosas opções de gastos que visam diferentes opções de
investimentos ou de consumo”. diz o Ministério do Meio Ambiente.
Tenho visto ambientalistas criticando os prejuízos de uma obra ou atividade, de forma qualitativa e
subjetiva, sem quantificá-los, outros, sem mesmo quantificar os benefícios, de forma a comparar a quantidade
final de custo e de benefício, para então emitir uma opinião equilibrada e justa. Aliás, nem há como avaliar,
pois avaliar implica em comparar. Qualquer juízo de valor sem a quantificação destes dois elementos é
subjetiva, vaga, opinativa, parcial. Reflete tão somente a preferência e benefício pessoal ou do grupo. Não
existe decisão sábia quando não examinamos as alternativas ou os seus custos. E não existe benefício sem
custo, também sempre haverá benefício e sempre haverá custo.
Assim, por exemplo, quando alguém propõe um gasto num projeto para salvar uma espécie da fauna
sempre deverá ter presente que poderia gastar o mesmo valor para salvar uma vida humana e assumir
publicamente o custo desta decisão, por afirmar e quantificar mais benefícios do que custos, otimizando a
decisão.
A Economia nos fornece um instrumento valioso, indispensável para esta tomada de decisão, que
consiste em quantificar todos os benefícios e os custos (aqui incluídos os custos de não aplicar nos demais
projetos): a ANÁLISE CUSTO BENEFÍCIO.
Uma análise de custo-benefício será sempre o expediente mais óbvio a ser adotado. Assim, o gestor
procurará comparar, em cada opção, o custo de realizá-la versus o resultante benefício e decidir por aquela que
acredita ter a relação custo-benefício menor.
A estimação destes custos e benefícios nem sempre é trivial, pois requer primeiro, a capacidade de
identificá-los e, segundo, a definição, a priori, de critérios que tornem as estimativas destes comparáveis entre
si e no tempo.
Custo e benefício serão, respectivamente, o somatório dos valores monetários dos gastos e receitas. De
forma simplificada, este é o processo que norteia a tomada de decisão das empresas que procuram maximizar
o seu lucro para continuarem a expandir seus negócios.
Abstraindo, a princípio, as condições de pobreza absoluta, no caso das famílias (isto é, dos
consumidores) os gastos expressos em valores monetários estão associados aos benefícios esperados deste
consumo, dado o nível de renda disponível. A satisfação dos consumidores, entretanto, deriva-se de todas as
formas de consumo. Isto é, o bem-estar das pessoas é medido tanto pelo consumo de bens e serviços, como
pelo consumo de amenidades de origem recreacional, política, cultural e ambiental.
Esta interação, entre a disposição a pagar dos consumidores pelos benefícios do consumo e a
disposição a ofertar das empresas, é que define os preços e as quantidades transacionados no mercado.
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Tendo em vista que o objetivo principal dos investimentos públicos é a provisão de bens e serviços que
aumentem o bem-estar das pessoas, as decisões governamentais, de alocação de um orçamento limitado e
insuficiente para atender esta provisão, podem ser auxiliadas por uma análise social de custo-benefício.
A análise social de custo-benefício visa atribuir um valor social a todos os efeitos de um determinado
projeto, investimento ou política. Os efeitos negativos são encarados como custos e os positivos são tratados
como benefícios. Como se pretende comparar custos e benefícios, surge a necessidade de expressá-los em uma
medida comum, ou seja, em um mesmo numerário ou unidade de conta. Por isso, estes custos e benefícios são
expressos em termos monetários.
Todavia, existem algumas dificuldades neste processo de agregação de todos os efeitos em um único
indicador.
Deve-se destacar que alguns bens e serviços públicos não são transacionados em mercado e, portanto,
não têm preços definidos. Muitos dos recursos ambientais são exemplos clássicos.
Além disto, o consumo de gerações futuras também deve ser considerado e, assim, há que se
incorporar questões distributivas intertemporais.
É importante evidenciar que as variações de bem-estar das famílias, quando o consumo destas é
afetado por decisões dos investimentos públicos, devem ser parte da análise social de custo/benefício.
Neste sentido, a determinação dos custos e benefícios sociais, pela sua contribuição ao bem-estar das
pessoas, é a base da teoria microeconômica do bem-estar e dela derivam os métodos de valoração monetária
dos recursos ambientais. Estes métodos propõem justamente essa forma de análise de custo-benefício, em que
os valores sociais dos bens e serviços são considerados de forma a refletir variações de bem-estar e não
somente seus respectivos valores de mercado.
Embora estes métodos derivem do mesmo arcabouço teórico, estaremos concentrados nos métodos de
análise social de custo-benefício que permitem a valoração econômica dos recursos ambientais, com maior
ênfase naqueles associados à diversidade biológica.
Entretanto, existem limitações teóricas e barreiras metodológicas quando da adoção de tais métodos.
Reconhecer estas restrições é aumentar a contribuição para a tomada de decisão dos gastos e investimentos
públicos. Portanto, cabe aqui uma mensagem de alerta: a análise de custo-benefício é apenas um indicador
adicional para a tomada de decisão.
O gestor público não deve e não é capaz de atuar indiferentemente nas preferências políticas.
9.1. Análise Custo-Benefício (ACB)
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A ACB é a técnica econômica mais utilizada para a determinação de prioridades na avaliação de
políticas. Seu objetivo é comparar custos e benefícios associados aos impactos das estratégias alternativas de
políticas em termos de seus valores monetários.
Note que benefícios são aqueles bens e serviços ecológicos, cuja conservação acarretará na
recuperação ou manutenção destes para a sociedade, impactando positivamente o bem-estar das pessoas. Por
outro lado, os custos representam o bem-estar que se deixou de ter em função do desvio dos recursos da
economia para políticas ambientais em detrimento de outras atividades econômicas. Os benefícios, assim
como os custos, devem ser também definidos segundo quem se apropria ou sofre as consequências destes, isto
é, identificar beneficiários e perdedores para apontar as questões equitativas resultantes.
A estimação dos valores monetários, reflete valores econômicos baseados nas preferências dos
consumidores. Conforme veremos com detalhes a seguir, utilizando mercados de bens privados
complementares e substitutos para serviços ambientais, ou mesmo mercados hipotéticos para esses serviços, é
possível capturar a disposição a pagar das pessoas por mudanças na provisão ambiental.
Com os procedimentos da ACB é possível, então, identificar as estratégias cujas prioridades
aproveitam, da melhor maneira possível, os recursos. Isto é, estratégias cujos benefícios excedem os custos.
Desta maneira, os tomadores de decisão estão maximizando os recursos disponíveis da sociedade e,
consequentemente, otimizando o bem-estar social.
Dentro da ACB as estratégias são ordenadas de acordo com o valor presente dos benefícios líquidos de
cada uma destas (benefícios menos custos descontados no tempo). Essa ordenação permite que os tomadores
de decisão definam prioridades, adotando primeiro as estratégias cujos benefícios líquidos são mais elevados.
A mensuração dos valores monetários associados a benefícios ambientais pode ser, contudo, muito
difícil e, em se tratando de benefícios da biodiversidade, a mensuração é ainda mais problemática.
Independentemente de nosso reduzido conhecimento quanto aos elos ecológicos associados às atividades
econômicas, que também enfraquece as abordagens puramente ecológicas, existem limitações metodológicas
nas avaliações econômicas. Tais limitações estão relacionadas às taxas de desconto no tempo, à agregação dos
valores individuais, à internalização de incertezas e à amplitude das mudanças de equilíbrio geral. Estas
questões tendem a enviesar as medidas dos benefícios ambientais e, dessa maneira, desviam a sociedade de
opções sustentáveis.
Entretanto, a questão principal está relacionada com a limitada capacidade destes métodos de capturar
os valores das funções ecossistêmicas. Eles são instrumentos poderosos para apontar valores de certos serviços
ambientais quando percebidos de uma maneira isolada. O conhecimento e a percepção das pessoas sobre as
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funções ecossistêmicas é bastante limitado e, assim, as preferências individuais podem subvalorizar os
serviços biológicos.
Apesar destes problemas, que sempre aparecerão na mensuração de benefícios, o processo de atribuir
valores econômicos aos recursos ambientais trará à tona questões sócio-econômicas que o critério ecológico
ou ambiental isoladamente não é capaz. Ao mesmo tempo, uma análise custo-benefício de uma política,
programa ou projeto ecológico não é o único indicador para a tomada de decisão como uma maneira de
ordenar opções.
Mesmo assim, a ACB é um importante método para orientar decisões de investimentos. É válido
mencionar que a valoração de alguns benefícios de um dado investimento em biodiversidade pode ser
suficiente para demonstrar que estes benefícios, mesmo subvalorizados, já estão excedendo os custos.
Apesar disto não ser suficiente para assegurar que a sociedade está adotando a melhor alternativa de
uso de seus recursos econômicos, os tomadores de decisão podem, pelo menos, garantir que a eficiência
econômica não decrescerá em função desse investimento ambiental.
Identificando de que forma os custos e os benefícios são distribuídos no interior da sociedade (quem
está arcando com os custos e quem está recebendo os benefícios), os tomadores de decisão podem encontrar
também maneiras de conciliar outras alternativas e construir consensos que facilitem a implementação
política. Esta característica da ACB, muitas vezes colocada de lado nos exercícios de valoração, é vital nos
países em desenvolvimento, onde as questões equitativas frequentemente restringem a implementação política
em função dos baixos níveis de renda e da sua distribuição desigual. O uso da ACB nestas bases é um
movimento precursor muito importante para que a sociedade possa implementar um critério de abordagem
ecológico-econômica mais sofisticado.
A ACB pode também ser empreendida passo a passo, agregando benefícios e custos, de acordo com os
níveis de decisão e os agentes econômicos em questão, conforme apresentado:
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ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO E OBJETIVOS DE POLÍTICA O uso da ACB pode ser mais útil quando apresentada em distintas perspectivas, no sentido de relevar todos os perdedores e beneficiários e as preferências dos tomadores de decisão. Esta desagregação não demanda esforços adicionais de análise, mas, apenas formatos distintos de apresentação dos parâmetros requeridos para uma ACB completa. São descritas aqui algumas sugestões.ANÁLISE PRIVADA (PERSPECTIVA DO USUÁRIO) - Maximiza receita, minimiza custos - ACB utilizando preços de mercado sem considerar externalidades.ANÁLISE FISCAL (PERSPECTIVA DO TESOURO) - Maximiza receita fiscal, minimiza custos de administração - ACB mensurando apenas os ganhos e perdas de receita fiscal e seus respectivos custos de administração.ANÁLISE ECONÔMICA (PERSPECTIVA DA EFICIÊNCIA) - Maximiza o bem-estar total, minimiza os custos de oportunidade - ACB utilizando preços de mercado sem subsídios e outras distorções de mercado.ANÁLISE SOCIAL (PERSPECTIVA DISTRIBUTIVA) - Maximiza o bem-estar total, minimiza custos de oportunidade e distributivos - ACB utilizando preços de mercado sem subsídios e outras distorções de mercado, ajustando estes com pesos distributivos para incorporar questões de equidade (excluindo a valoração monetária de externalidades ambientais).ANÁLISE DE SUSTENTABILIDADE (PERSPECTIVA ECOLÓGICA) - Maximiza o bem-estar total, minimiza custos de oportunidade, distributivos e ambientais - ACB utilizando preços de mercado sem subsídios e outras distorções de mercado, ajustando estes com pesos distributivos e incluindo a valoração monetária de externalidades ambientais
10. Taxa de desconto.
A taxa de desconto pode ser uma decomposta em um de dois conjuntos de considerações, ou de ambos,
simultaneamente:
•1. Taxa social de preferência no tempo ou taxa de desconto de consumo – seria uma taxa pela qual os
indivíduos mostrar-se-iam dispostos a postergar consumo (s)
•2. Custo de oportunidade do capital ou taxa de retorno do capital – seria uma taxa que indicasse
quanto tomadores de recursos estariam dispostos a pagar pelo recursos (r)
10.1. Interpretando a taxa de desconto
•s depende do valor que a sociedade dá ao consumo presente, associando-se à taxa esperada de
crescimento do consumo per capita,
•r depende do risco e do crescimento, associando-se à rentabilidade média do conjunto de projetos da
economia,
•QUAL DELAS? Depende da fonte de financiamento do projeto o do destino dos benefícios
Problemas relacionados à “d”
•A taxa varia ao longo do tempo, à medida que variam as expectativas
•Uma taxa baixa pode levar à uma decisão econômica ótima, mas ambientalmente não sustentável
porque o valor presente passaria a ser bem maior que o valor futuro, antecipando a exaustão.
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11. Risco e incerteza.
Dinâmica da tomada de decisões sob incerteza.
Como mostra Ewald (1997), as circunstâncias históricas que explicam a emergência do Princípio da
Precaução começam com a mudança da percepção de risco da população decorrente da crescente
complexidade da civilização industrial.
Durante o século XIX a obrigação moral de cada cidadão em relação a si próprio e aos demais
concidadãos era vista como mais importante do que as obrigações jurídicas. O cidadão virtuoso era
responsável e prudente no uso de sua liberdade o que implicava, para começar, tomar as necessárias
providências para proteger a ele e a sua família. Em relação aos demais concidadãos ele devia o respeito e o
sentimento de responsabilidade moral de ajudar em caso de necessidade. Estava claro, de qualquer modo, que
se uma pessoa de desse mal na vida ela não poderia culpar ninguém nem a sociedade por sua desgraça. As
vítimas de infortúnios, independentemente dos sentimentos de compaixão que pudessem despertar, eram
sempre supostas serem os únicos atores de seu destino, devendo agir em consequência sendo prudentes.
Durante o século XX, com o sistema de seguridade social, as obrigações legais tenderam a se tornar
mais importantes que as obrigações morais. Um conjunto de novos direitos sociais emergiu do sentimento
crescente de que cada cidadão possuía uma espécie de direito geral de ser compensado pelos danos resultantes
de quase todo tipo de eventos em sua vida. Esta nova maneira de pensar resultou em grande medida de um
sentimento utópico em relação à capacidade da ciência e da tecnologia de prever e controlar todos os riscos.
Foi o que permitiu a estruturação de sistemas de proteção social, que se baseiam na presunção de que todos os
riscos são mensuráveis. Desse modo, um sentimento de solidariedade social baseado em riscos mensuráveis
substituiu o sentimento individual de obrigação moral.
Os acidentes de trabalho, por exemplo, passaram a ser considerados como fatores de risco
mensuráveis, e não eventos singulares que resultam de erros individuais. Foi esta noção que induziu a uma
nova visão jurídica que estabeleceu o direito de ser indenização pelo fato em si mesmo, independentemente de
suas causas; ou seja, a responsabilidade pessoal do indivíduo não é questionada. Nesse sentido, o problema da
igualdade foi reformulado em termos econômicos e não mais morais.
No ultimo quartel do século XX, entretanto, esta estrutura institucional se tornou progressivamente
inadequada em face dos novos riscos decorrentes do funcionamento das sociedades industriais complexas os
quais, especialmente os relacionados ao meio ambiente, são impossíveis de serem mensurados pela ciência.
A noção de incerteza substituiu a noção de probabilidade, o que significa uma admissão da
incapacidade da sociedade em prever perdas catastróficas irreversíveis.
51
A ciência se tornou crescentemente questionada pelo fato de levantar, nesses casos, mais dúvidas do
que propor soluções. Foi isto que levou a sociedade a buscar segurança em meio à incerteza através do
Princípio da Precaução.
A aplicação desse princípio tem por objetivo precisamente tratar de situações onde é necessário
considerar legítima a adoção por antecipação de medidas relativas a uma fonte potencial de danos sem esperar
que se disponha de certezas científicas quanto às relações de causalidade entre a atividade em questão e o
dano temido. 11 Esta postura representa efetivamente uma ruptura com as práticas anteriores de prevenção
que tinham o conhecimento racional por fundamento (o arsenal científico e tecnológico da ciência normal). A
Precaução, ao contrário, implica tomar uma certa distância em relação à ciência e a tecnologia. Reflete
efetivamente a constatação de que não se pode ter o controle total (ou quase) de acidentes e problemas que não
são decorrências estatísticas regulares do próprio funcionamento do sistema, tratáveis via sistemas de seguros,
mas representam situações e problemas onde predomina o sentimento da singularidade e irreparabilidade.
Para um melhor entendimento das dificuldades e hesitações sobre como interpretar o Princípio de
Precaução, Godard (1997) assinala que é preciso considerar que a mutação, ainda não plenamente assumida,
da compreensão do status dos conhecimentos científicos (mutação essa da qual esse Princípio é uma das
causas), implica o abandono da crença positivista em uma ciência que reflete o mundo objetivo e sua
substituição por concepções que fazem da ciência , antes de mais nada, uma componente da cultura humana,
marcada de escolhas e compromissos de natureza ético-social no próprio cerne da constituição dos
conhecimentos. Nesse sentido, uma concepção positivista da Precaução conduziria a um impasse prático. Mas
ao mesmo tempo ficam claros os erros que são cometidos quando o projeto da racionalidade positiva é
totalmente afastado.
Portanto esse Princípio se situa na articulação de duas lógicas opostas: de um lado, se encontra
reafirmada a busca do enraizamento da inovação tecnológica e da ação econômica no conhecimento científico
dos riscos de modo a que as decisões públicas sejam tomadas em todo conhecimento de causa; por outro lado,
se reconhece a incapacidade frequente do conhecimento científico em fornecer em tempo hábil as bases
adequadas para uma decisão pública positivamente ou substantivamente racional, fundada sobre provas
científicas. Por esta razão a Precaução é frequentemente interpretada como um meio de restaurar a primazia do
político na definição dos problemas e na oportunidade de engajar uma ação pública.
A primeira das duas lógicas leva ao aumento da necessidade de informações científicas para as
decisões coletivas e, por conseguinte, a uma maior responsabilidade e capacidade de influência dos cientistas.
A segunda à necessidade de maior ingerência da sociedade nos assuntos científicos (a intrusão do judiciário
nos assuntos científicos, uma maior importância dos trabalhos de sociologia da ciência, etc.), tornando a
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ciência submetida de modo mais in tenso às estratégias de influência ou de cooptação. A única maneira de
evitar um impasse entre essas duas lógicas opostas é, portanto, buscar soluções de compromisso que envolvam
todas a partes interessadas.
As circunstâncias que justificam a adoção do princípio da precaução podem ser melhor compreendidas
através de uma analogia, proposta por J. C. Hourcade (1997), que compara o comportamento de dois
motoristas em situações distintas: aquele do piloto de fórmula 1 diante de uma série de curvas na pista de
corrida com aquele do motorista numa estrada de montanha no inverno. A “função objetiva” do piloto de
fórmula 1é maximizar a velocidade num contexto de incertezas não desprezíveis em relação, por exemplo, à
presença ou não de óleo ou areia na curva, à aderência dos pneus ou ao comportamento do piloto da frente.
Mas sua decisão depende de sua experiência acumulada, a qual lhe confere um tipo de conhecimento
estatístico e, nesse sentido, seu comportamento seria similar a um cálculo de otimização: ele opta desde logo
por uma dada trajetória que ele considera ótima tendo em conta, implicitamente, a distribuição de
probabilidades sobre parâmetros incertos, confiando na própria experiência para permanecer no limite das
possibilidades de adaptação permitidas por seus reflexos. Este comportamento equivale à aplicação de uma
análise custo-benefício para decidir por uma dada política ambiental.
No caso do motorista diante de curvas numa estrada de montanha no inverno, seu comportamento de
maximização será completamente diferente em relação ao que teria numa pista de corrida. Ele não irá escolher
desde logo uma dada trajetória que ele considere ótima e ir em frente: os riscos são muito grandes, pois ele
não sabe se o que vai limitar suas possibilidades de adaptação numa curva sobre um precipício será uma pista
escorregadia ou a vinda de outro carro no sentido contrário; a distribuição de probabilidades é desconhecida e
a informação útil (existência ou não de problemas na pista ou vinda de veículo em sentido contrário) pode
chegar tarde demais devido a inércia do veículo. Sua opção, portanto, será um processo sequencial no qual as
primeiras decisões visam a aumentar o tempo disponível para adquirir mais informações e ter tempo para
adaptar seu comportamento em função da informação obtida: tirar o pé do acelerador, frear ligeiramente e
ficar preparado para frear mais fortemente em caso de necessidade ou acelerar no caso contrário. Ou seja, ele
age de modo a harmonizar a velocidade do carro com a melhoria da informação numa perspectiva de
aprendizagem. Esta é a analogia correta para definir um comportamento precavido em face de problemas
ambientais como aquele do “efeito estufa”, cuja evolução a ciência deixa os tomadores de decisão numa
nuvem de incertezas, não tendo respostas para a questão central: se é verdade que o aquecimento global tem
origem antropogênica e que este aquecimento não pode ser naturalmente revertido (a controvérsia sobre estes
dois pontos está longe de acabar), qual o ritmo de redução das emissões de carbono necessário para evitar uma
catástrofe?
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Do ponto de vista da redução do risco, o ideal seria mudar imediatamente a matriz energética, de modo
a eliminar rapidamente a emissão de gases geradores do efeito estufa. Do ponto de vista político/econômico,
entretanto, esta opção teria um custo insuperável. A atitude Precavida é, portanto, aquela de reduzir o máximo
possível as emissões, enquanto se aceleram as pesquisas científicas destinadas a avaliar melhor os riscos
envolvidos e encontrar alternativas de energia limpa.
Entretanto, a definição do qual seria este máximo possível é controvertida, opondo considerações de
ordem político/econômica a considerações de ordem técno/científica, em meio a conflitos de interesses entre
grupos e países.
Em última instância, a decisão sobre o quanto se irá pagar pela redução das emissões dependerá da
solidariedade das gerações presentes, concentradas nos países afluentes, em relação às gerações futuras e às
populações dos países pobres.
A relutância dos governos americanos em relação ao Protocolo de Kyoto, por exemplo, reflete em
ultima análise o sentimento de que a opinião pública americana não aceitaria pagar este preço – que
implicaria, entre outras coisas, o aumento no preço da gasolina!
Portanto, o processo de tomada de decisões sobre a aplicação do Princípio de Precaução não é simples,
mas exige certos tipos de procedimentos. Funtowicz & Ravetz (1991) propõem uma classificação e
hierarquização destes procedimentos de acordo com a importância do que está em jogo e com o nível de
incerteza sistêmica.
O caso do “efeito estufa”, apresenta níveis “epistemológicos” de incerteza (algo próximo da
ignorância), no sentido de que esta incerteza decorre da incapacidade ciência de eliminá-la ou reduzi-la a
níveis razoáveis. Além disso, o que está em jogo é algo muito importante, que representa perdas catastróficas.
Neste caso, o procedimento de tomada de decisão adequado deve ser baseado no que eles chamam de
ciência “pós-normal”.
O “pós-normal” quer dizer além do normal no sentido de que os procedimentos usuais baseados na
ciência (“normal”) não são suficientes, embora continuem necessários, para orientar o processo de tomada de
decisão. Funtowicz e Ravetz propõem ampliar a “comunidade de pares” para incluir, além de cientistas e
especialistas, outras partes interessadas (stakeholders) que podem incluir desde representantes de regiões e/ou
países que serão mais gravemente afetados pelos impactos ambientais previstos de um determinado problema
(no caso, as consequências do aquecimento da terra), passando por jornalistas e outros agentes que, embora
não sejam cientistas, podem ter informações relevantes (inclusive cientificamente) para a tomada de decisão.
A consideração destas informações representa a inclusão de “fatos estendidos” (extended facts) que em
circunstâncias usuais ficariam de fora.
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Uma vez que se chega a um consenso sobre os limites para determinado tipo de impacto, que neste
caso trata -se da definição das taxas de redução das emissões, novas decisões se impõem embora com níveis
menores de incerteza: metodológica e técnica. A incerteza metodológica, neste caso, ocorre por exemplo
quando se vai decidir entre as opções de política energética de um país para atender aos limites negociados.
Ainda não é uma decisão que se possa tomar como um resultado incontestável de uma análise científica, pois
entram em jogo valores e confiabilidade. É necessário chegar a um compromisso de equilíbrio entre opções
tecno/científicas e os interesses em jogo. Trata-se, portanto, de um processo que exige “arte” além de ciência,
um tipo de “arte aprendida” como a medicina ou a engenharia, a ser levado à cabo por grupos de especialistas.
Finalmente, a incerteza técnica aparece em situações que podem ser enfrentadas com o recurso a rotinas
padrão derivadas de estatísticas e suplementadas por técnicas e convenções desenvolvidas para cada campo
em particular como, por exemplo, no processo de otimização de uma dada opção energética.
12. Taxas de poluição e subsídios Políticas Reguladoras, Padrões, Taxas e Subsídios.
Regulamentos ambientais duros, rigorosamente aplicados, são há bastante tempo uma característica da
Produção Animal e da transformação de produtos animais em muitos países desenvolvidos. Cada vez mais
países em desenvolvimento, estão ficando mais rigorosos na implementação e aplicação de regulamentos
ambientais e a pressão contínua para um ambiente mais limpo é tal, que os regulamentos só podem tornar-se
ainda mais rigorosos.
Os mecanismos reguladores para controlar a poluição podem ter várias formas. Certos tipos de
equipamentos para tratamento de efluentes podem ser especificados; uma licença pode ser emitida para
permitir a descarga de certos volumes e concentrações de efluentes por um determinado período de
tempo; padrões mínimos de qualidade da água e do ar podem estar especificados; podem ser impostas taxas
sobre efluentes, com base nas quantidades de poluentes descarregados; podem ser impostos limites ao número
de animais por hectare. Onde são impostos padrões, estes podem ser uniformes para uma região ou país, ou
alternativamente podem aplicar-se a uma empresa ou setores específicos, ou uma combinação dos dois. Em
termos de aplicação e de facilidade administrativa um regulamento que seja aplicado uniformemente é
geralmente preferível. Contudo, em termos de eficiência econômica e ambiental poderá não ser assim, visto
que não só as capacidades locais de absorção e de regeneração variam (e acentuam o seu efeito poluidor), mas
também os custos marginais de ajustamento podem variar substancialmente entre empresas. As respostas das
empresas a estes diferentes mecanismos para minimizar a poluição variam de acordo com as circunstâncias
específicas, incluindo as características dos custos de operação.
55
Em geral, o princípio do "poluidor pagador" está a ser cada vez mais adaptado (i.e. os responsáveis por
estragos ambientais e que por isso impõem custos aos outros, são obrigados apagar os custos dos programas
para evitar e controlar a poluição). Contudo, a adoção deste princípio está longe de ser generalizada e muitas
empresas poluidoras não só não pagam os custos dos estragos ambientais que provocam mas ainda
recebem subsídios para lhes permitir adaptar as suas operações de produção ou processamento para
cumprirem os novos regulamentos ambientais. Tais subsídios são vulgares e são muitas vezes encarados como
necessários para assegurar que os regulamentos ambientais serão cumpridos. Contudo, podem provocar
distorções, encorajar decisões de investimento ineficientes, e traduzir-se em impactos ambientais negativos.
Assim, os subsídios sobre fertilizantes inorgânicos desencorajam a utilização de estrume do gado com o
consequente impacto negativo na fertilidade do solo.
A conscientização dos consumidores combinada com a pressão governamental, está a resultar em
métodos de produção e produtos mais corretos do ponto de vista ambiental. Associado com isto tem estado o
desenvolvimento de rotulagem ecológica e reciclagem e uma ênfase crescente nos aspectos amigos do
ambiente dos sistemas de produção e processamento dos produtos de origem animal. Também a adoção e
aplicação de regulamentação ambiental, particularmente em relação a atividades de transformação de produtos
animais como curtumes, está conduzindo à racionalização de empresas em certas áreas, tais como
branqueamento. Empresas menores são incapazes de assumir os custos das exigências regulamentares e/ou
tratamento de resíduos e custos de reimplantação noutros locais.
13. Poluidor pagador.
O princípio "poluidor-pagador" é uma norma de direito ambiental que consiste em obrigar o poluidor a
arcar com os custos da reparação do dano por ele causado ao meio ambiente.
Este princípio está inserido em um contexto de preocupação com o meio ambiente, que ganha espaço
cada vez maior nos meios de comunicação e entre as autoridades. E a vida agradece!
No Brasil, principalmente a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, que aconteceu no Rio de Janeiro, em junho de 1992, e ficou conhecida por ECO-92, o meio
ambiente faz parte de uma rotina de estudos e discussões que culmina com a consagração de um ramo jurídico
- o direito ambiental.
Não obstante, o cuidado com o tema já se faz notar deste a década de 70, sendo destaque a Declaração
de Estocolmo (1972). Na ocasião, aconteceu a reunião de ambientalistas e autoridades do mundo inteiro, para
identificar preceitos de proteção ao meio ambiente. Inclusive, elevando o tema ao status de direito
fundamental do ser humano, conforme ficou estabelecido no seu Princípio n.º 1, a saber:
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"O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida
adequada em um meio, cuja qualidade lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, e tem a solene
obrigação de proteger e melhorar esse meio para as gerações presentes e futuras".
A Constituição Federal Brasileira consagrou o direito ao meio ambiente como norma constitucional,
sobrelevando, por outro lado, o dever do poder público e da coletividade de preservá-lo, conforme preceitua o
artigo 225:
"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações".
Com efeito, sendo considerado um direito constitucional o meio ambiente ecologicamente equilibrado,
princípios norteadores sobre o tema passam a fazer parte deste universo, de modo a normatizar, informar e
interpretar melhor o tema.
Entre os inúmeros princípios que, hoje, cuidam do direito ambiental, destaca-se o da prevenção como
núcleo desta disciplina, sendo analisado no plano das medidas que são utilizadas para evitar o dano.
Ou seja, a prevenção deve ser trabalhada muito mais que a repressão, haja vista que os custos de uma
ação reparadora sempre serão maiores e menos eficazes que a ação preventiva.
Assim, por exemplo,
preservar uma mata nativa apresenta
um resultado muito mais eficaz que
restaurá-la ao seu estado natural
após um desmatamento!
O meio ambiente deve ser
protegido e preservado, esta é a primeira preocupação, que deve ser trabalhada, inclusive, através de um
processo cultural de educação e conscientização.
Entretanto, justamente por se tratar de um processo, muitas vezes, de médio e longo prazo, a prevenção
não pode, e não deve andar sozinha.
Deve vir aliada a outros princípios que combatam ostensivamente a degradação ambiental, como o da
participação, da compensação, da responsabilidade ambiental, da repressão civil, penal e administrativa, da
cooperação, da reparabilidade, entre outros.
O princípio "poluidor-pagador" é uma destas ferramentas de preservação ambiental a partir da
internalização dos custos pelo próprio poluidor.
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Com ele, o agressor passa a se responsabilizar pela eliminação ou redução da poluição causada. Este
princípio foi consagrado no ECO-92, através da norma Princípio 16, desta forma:
"As autoridades nacionais devem esforçar-se para promover a internalização dos custos de proteção
do meio ambiente e o uso dos instrumentos econômicos, levando-se em conta o conceito de que o poluidor
deve, em princípio, assumir o custo da poluição, tendo em vista o interesse público, sem desvirtuar o
comércio e os investimentos internacionais".
Na Constituição Brasileira, o princípio do poluidor-pagador encontra guarida no §2º do artigo 225, nos
seguintes termos:
"Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei"..
O princípio do poluidor-pagador também está consagrado nas legislações brasileiras que versam sobre
meio ambiente, como a que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n.º 6.938/91) que assim o
prevê no seu 4º, VII:
"A imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos
causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos".
Tal norma visa a garantir a manutenção da qualidade de vida com a
preservação e o equilíbrio do meio ambiente, a partir de um instrumento
econômico que define valor pecuniário ao bem ecológico, revelando-se um
instrumento eficaz de racionalização no uso desse bem e no combate à
poluição.
Como se extrai da redação deste artigo acima citado, ao lado do
princípio do poluidor-pagador, há o princípio similar - do "usuário-pagador", diferenciando-se daquele no
sentido de que será exigido do usuário de recursos naturais o pagamento de um custo tão somente pela
utilização dos bens naturais, independentemente de poluição.
Por fim, importante não confundir a norma o poluidor-pagador com "permissão para poluir". Poderia
se pensar que ao estabelecer o pagamento de custos para compensar a poluição estaria se tratando de algum
tipo de licença ou passe para poluir, como se tratasse de uma condescendência ao ilícito ambiental.
Seguindo esta linha de pensamento, seria natural, por exemplo, um incêndio criminoso, desde que
houvesse esta compensação pecuniária! De forma alguma!
O princípio cuida justamente da proteção ao ambiente em si. A imposição de recuperar e/ou indenizar é
uma consequência de um ato danoso ao meio ambiente, e jamais uma autorização para poluir!
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