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1 UNIVERSIDADE DE FRANCA PROGRAMA DE MESTRADO E DOUTORADO EM PROMOÇÃO DE SAÚDE Instrumentos de Avaliação: Qualidades Psicométricas e Aplicabilidade Disciplina: Tópicos avançados em Promoção de Saúde Profa. Carolina de Meneses Gaya FRANCA 2014

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    UNIVERSIDADE DE FRANCA

    PROGRAMA DE MESTRADO E DOUTORADO EM PROMOO DE SADE

    Instrumentos de Avaliao:

    Qualidades Psicomtricas e Aplicabilidade

    Disciplina: Tpicos avanados em Promoo de Sade

    Profa. Carolina de Meneses Gaya

    FRANCA

    2014

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

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    ORIGEM E HISTRIA DA PSICOMETRIA E SEUS CONCEITOS BSICOS

    O QUE A PSICOMETRIA?

    Segundo Pasquali (2004), a Psicometria um ramo da Psicologia que se caracteriza por

    expressar o fenmeno psicolgico atravs do nmero ao invs da pura descrio verbal.

    Fundamenta-se na teoria da medida em cincias pelo fato de abordar a interface entre

    smbolos numricos e constructos psicolgicos.

    Essa interface viabiliza a criao de instrumentos para investigar os processos psicolgicos e

    tambm analisa-los.

    A ORIGEM E HISTRIA DA PSICOMETRIA

    NO FINAL DO SCULO XIX E INCIO DO SCULO XX: psiclogos queriam investigar de forma

    mais objetiva as aptides humanas (inteligncia) - tentaram medi-la atravs de diferentes

    testes e instrumentos. E, para medir, tiveram que atribuir nmeros aos desempenhos dos

    indivduos.

    Psicologia alem era uma psicologia mais mentalista, introspectiva, e buscava investigar a

    experincia subjetiva das aptides humanas;

    Psicologia inglesa e norte-americana era uma psicologia empirista com foco no estudo do

    comportamento das aptides humanas (quantificao do comportamento humano). Dessa

    maneira os processos comportamentais poderiam ser classificados em termos de acerto ou

    erro, sendo passveis de anlise estatstica.

    Histria da Psicometria foi marcada por psiclogos que se destacaram em suas pocas:

  • 3

    3. ALFRED BINET (1900)

    Juntamente com Henri (1896), criticou os testes at ento utilizados alegando que:

    1) ou eram puramente medidas sensoriais que no tinham relao importante com as funes

    intelectuais;

    2) ou se eram testes de contedo intelectual, estes mediam habilidades extremamente

    especficas (como o puro memorizar, calcular, etc.) e no mediam funes mais amplas como a

    memria, imaginao, ateno, entre outros.

    Estudou meios de avaliar aptides humanas visando predio de tais na rea acadmica e na

    rea da sade: criou o teste de 30 itens que avaliava diversas funes (julgamento,

    compreenso e raciocnio, etc.) a fim de estimar o nvel de inteligncia de crianas e adultos (e

    assim detectar, especialmente, o retardo mental).

    1. FRANCIS GALTON (1880)

    Estudo das aptides por meio das medidas sensoriais: preconizava que toda a informao

    chegaria pelos sentidos e, quanto melhor o estado destes, melhores seriam as operaes

    intelectuais;

    CONTRIBUIES PARA A PSICOMETRIA:

    1) estabeleceu medidas de discriminao sensorial (utilizadas at hoje);

    2) desenvolvimento e simplificao de mtodos estatsticos para analisar quantitativamente os

    dados coletados;

    3) apesar de relatos do uso de testes na China por volta de 3.000 a.C., as origens efetivas dos

    instrumentos psicolgicos podem ser atribudas a Galton.

    2. JAMES CATTELL (1890)

    Sob influncia de Galton, desenvolveu estudo sobre as diferenas individuais das aptides por

    meio das medidas sensoriais;

    Percebeu que medidas objetivas para funes mais complexas (testes de clculo, testes de

    memria e resistncia fadiga, por exemplo) no produziram resultados condizentes com o

    desempenho acadmico dos alunos avaliados.

    CONTRIBUIES PARA A PSICOMETRIA:

    1) introduziu a terminologia de teste mental (mental test).

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

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    CONTRIBUIES PARA A PSICOMETRIA:

    1) elaborou testes de contedo mais cognitivo (e no sensorial) que avaliavam funes mais

    amplas grande sucesso nos anos subsequentes;

    2) introduziu o conceito matemtico de QI representado pela frmula QI = 100 (IM / IC), onde

    QI o quociente intelectual, IM a idade mental e IC a idade cronolgica.

    4. SPEARMAN (1900)

    Desenvolveu uma teoria da inteligncia que defendia a existncia de um fator nico (fator

    g) e comum a todas as habilidades humanas (alguns poderiam apresenta-lo em muita ou

    pouca quantidade) e fatores especficos (fatores s) relacionados s capacidades especiais de

    cada indivduo. Diversos testes foram desenvolvidos para medir este fator g.

    A teoria psicomtrica, 1900 deve ser considerada como a ERA DO SPEARMAN:

    - Fundamentos da teoria da Psicometria clssica em suas obras (1904, 1907 e 1913).

    5. TESTES DE INTELIGNCIA (1910 - 1930)

    - Teste de inteligncia de Binet-Simon (1905);

    - Reviso deste teste para os Estados Unidos (Terman, 1916);

    - Estudo de Spearman sobre o fator g da Inteligncia (existncia de um fator nico e

    comum a todas as habilidades humanas);

    - Impacto da Primeira Guerra Mundial: popularizao dos testes, inclusive os de aplicao

    coletiva, para seleo rpida de recrutas pelo exrcito americano (baterias Army Alpha e

    Army Beta).

    CONTRIBUIES PARA A PSICOMETRIA:

    1) Com o fim da guerra, a indstria e as instituies iniciaram o uso macio dos testes:

    desenvolvimento de baterias (WAIS, WISC), testes e inventrios de personalidade (MMPI) e

    projetivos (TAT, Rorschach).

    6. ANLISE FATORIAL (1930)

    SITUAO POR VOLTA DE 1920: entusiasmo com os testes de inteligncia declinou

    consideravelmente:

    Testes se mostraram muito dependentes da cultura onde foram criados (no sustentando a

    ideia de um fator geral universal);

  • 5

    - estudiosos comearam a repensar as ideias de Spearman, sendo a tradio quebrada por

    Kelley em 1928;

    - movimento se espalhou pelo mundo: Inglaterra (Thomson, 1939; Burt 1941) e Estados

    Unidos (Thurstone, 1935, 1947);

    ANLISE FATORIAL

    Tcnica estatstica que objetiva identificar as principais variveis que conseguem descrever o conjunto de

    variveis originais

    CONTRIBUIES PARA A PSICOMETRIA:

    1) Fundou a Sociedade Psicomtrica

    Americana (1936);

    2) Desenvolveu a anlise fatorial mltipla e a escalonagem psicolgica

    Em outras palavras...

    1) Todas as variveis do teste so consideradas simultaneamente;

    2) Cada varivel relacionada com as demais para estudar a inter-relao existente entre elas;

    3) Reduo do nmero de variveis, restando apenas aquelas que conseguem sumarizar o

    conceito que est sendo avaliado;

    SUCESSO DA ANLISE FATORIAL: obteno de um nmero pequeno de variveis com alto

    grau de explicao do conceito original e que podem ser interpretveis.

    7. SISTEMATIZAO (1940 - 1980)

    Marcada por duas tendncias:

    TRABALHOS DE SNTESE TRABALHOS DE CRTICA

    Tentativa de resgatar a credibilidade

    dos testes psicolgicos;

    Sistematizao dos avanos da

    Psicometria, com destaque para:

    Questionamento do uso das escalas

    de medida;

    Primeira grande crtica Teoria

    Clssica dos Testes com o

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

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    1. Teoria Clssica dos Testes (interesse

    centrado principalmente no escore total

    do examinando no teste) por Gulliksen

    (1950);

    2. Teoria sobre a medida escalar por

    Torgerson (1958);

    3. Avano na rea da anlise fatorial

    (Thurstone, 1947; Harman, 1967);

    desenvolvimento da Teoria do Trao

    Latente (Lord & Novick, 1968);

    Tal teoria dar origem teoria moderna

    da Psicometria: a Teoria de Resposta ao

    Item (TRI)

    4. Tentativa de sintetizar os dados da

    medida em personalidade (Cattell, 1965;

    Cattell & Warburton, 1967);

    5. Tentativa de sintetizar uma teoria

    sobre a inteligncia (Guilford, 1967).

    Coletnea de todos os testes

    existentes no mercado (Buros, 1938).

    Normas de elaborao e uso dos testes

    introduzidas - American Psychological

    Association (APA, 1954, 1974 e 1985)

    Desenvolvimento da Psicologia

    Cognitiva (Sternberg, 1977) como

    tentativa de superar as dificuldades da

    Psicometria clssica (pesquisa sobre os

    componentes cognitivos na rea da

    Inteligncia).

    8. PSICOMETRIA MODERNA (1980)

    Representada pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), desenvolvida para responder alguns

    problemas e superar algumas limitaes da Teoria Clssica dos Testes (TCT).

    Desde ento...

    Principais pesquisas desenvolvidas pelos psicometristas:

    1) sistematizao da Psicometria Clssica;

    2) na TRI (desenvolvimento de modelos matemticos);

    3) em reas paralelas da Psicometria (validade dos testes, vieses dos testes, construo de

    itens, entre outros);

  • 7

    Atualmente:

    NO CONTEXTO MUNDIAL:

    - reflexo e ponderao quanto ao uso dos instrumentos;

    - de responsabilidade do profissional:

    escolha adequada dos instrumentos a serem utilizados

    preocupao acerca da qualidade e atualizao dos instrumentos

    zelo quanto aos princpios ticos

    NO CONTEXTO NACIONAL:

    - discusso centrada na qualidade e na elaborao de instrumentos nacionais para avaliao

    psicolgica;

    criao pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) da Comisso Nacional sobre Testes

    Psicolgicos (primeira edio em 1980, e a segunda em 1986);

    criao pelo CFP de resolues regulamentando a ao do psiclogo quanto aos laudos e

    aos instrumentos;

    RESOLUO CFP 02/2003

    Testes psicolgicos constituem um mtodo ou uma tcnica de uso

    privativo do psiclogo;

    Instrumentos de avaliao psicolgica devem atender a um conjunto

    de requisitos mnimos estabelecidos pela Psicometria:

    1) Fundamentao terica;

    2) Evidncias empricas de validade e preciso dos testes;

    3) Sistema de correo e interpretao dos escores;

    4) Descrio clara dos procedimentos de aplicao e correo;

    5) Manual contendo todas essas informaes.

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

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    MODELOS DA PSICOMETRIA

    Existem dois modelos da Psicometria que buscam estudar a qualidade dos testes, porm com

    diferentes abordagens:

    1) Teoria Clssica dos Testes (TCT) (Psicometria Clssica)

    2) Teoria de Resposta ao Item (TRI) (Psicometria Moderna)

    TRI, inicialmente conhecida como Teoria do Trao Latente ou Teoria da Curva Caracterstica,

    foi desenvolvida para responder algumas limitaes da TCT, contudo, uma no substituiu a

    outra.

    TEORIA CLSSICA DOS TESTES (TCT)

    - Procura conhecer as habilidades do indivduo por meio do seu resultado final no teste (escore

    total); soma dos itens corretos tem um significado muito importante na TCT;

    - Esse escore total depende do conjunto de itens que compe um determinado instrumento; e,

    PORTANTO, as interpretaes dos resultados esto sempre associadas prova como um todo.

    EXEMPLO: em vestibulares, ocorre a comparao dos escores totais dos indivduos para ento

    as faculdades selecionarem os considerados mais capazes.

    MODELOS MATEMTICOS EMPREGADOS NA TCT

    - So modelos matemticos lineares e, no escore bruto do indivduo, so considerados o escore

    verdadeiro que se quer medir e o erro de medida associado uma das preocupaes da TCT a

    estimativa do impacto do erro na real pontuao obtida por um sujeito.

    TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM (TRI)

    - Procura avaliar as habilidades (traos latentes) do indivduo atravs de modelos matemticos;

    tais modelos estudam a relao entre os traos latentes e a probabilidade do indivduo em

    acertar a resposta do item.

  • 9

    - Pelo fato do foco da TRI ser o estudo dos itens, criou-se o chamado banco de itens

    (composto por itens com boa discriminao e com diferentes valores do parmetro de

    dificuldade que avaliam uma mesma habilidade)

    - A TRI considera dois axiomas fundamentais:

    1) O desempenho do indivduo num item do teste se explica em funo dos traos latentes

    (habilidades, aptides, etc.); os traos latentes so a causa e o desempenho o efeito;

    2) A relao entre o desempenho num item e os traos latentes pode ser descrita pela equao

    chamada de CCI (Curva Caracterstica do Item ou Funo Caracterstica do Item) indivduos com

    maior aptido () tero maior probabilidade (P()) de responder corretamente ao item.

    Extrado de Pasquali (2003)

    PRESSUPOSTOS DA TRI

    - Entre todos os pressupostos da TRI, dois merecem destaque: a unidimensionalidade e a

    independncia local;

    a) Unidimensionalidade: existe apenas uma aptido dominante responsvel pela realizao de

    um conjunto de itens e ela que ser medida;

    b) Independncia local: as respostas do indivduo a qualquer item de um teste so

    estatisticamente independentes (isto , os itens so respondidos em funo do trao latente

    dominante e no em funo da memria ou outros traos);

    PRINCIPAIS MODELOS MATEMTICOS EMPREGADOS NA TRI

    - Existem diversos modelos matemticos que expressam a relao entre a probabilidade de

    resposta certa em um item e a aptido medida por ele (isto , a CCI);

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

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    - Os modelos matemticos da TRI so no-lineares; a manipulao dos modelos matemticos

    da TRI invivel sem softwares especficos;

    - So usados com mais frequncia trs modelos:

    1) Modelo logstico de 1 parmetro: avaliam somente a dificuldade do item; em outras

    palavras: a probabilidade do indivduo responder corretamente dependeria somente de sua

    habilidade e do grau de dificuldade do item.

    2) Modelo logstico de 2 parmetros: avaliam a dificuldade do item e a discriminao, assim a

    probabilidade de acerto dependeria da habilidade do indivduo e desses dois parmetros;

    3) Modelo logstico de 3 parmetros: avaliam a dificuldade do item, a discriminao e o acerto

    ao acaso (chute); probabilidade de acerto dependeria da habilidade do indivduo, desses dois

    parmetros e do acerto ao acaso;

    PRINCIPAIS LIMITAES DA TCT E SOLUES DADAS PELA TRI

    TCT: Testes diferentes que medem a mesma aptido iro produzir escores diferentes da mesma

    aptido para sujeitos idnticos (Pasquali, 2003), fenmeno conhecido por test-dependent.

    TRI: oferece modelos matemticos que estimam as aptides dos indivduos atravs da

    probabilidade de resposta dos mesmos independentemente do teste aplicado;

    TCT: Dificuldade e discriminao dos itens (parmetros dos itens) dependem diretamente da

    amostra de sujeitos utilizada para a sua determinao (group-dependent).

    TRI: Dificuldade e discriminao so estimados por meio de modelos matemticos da TRI e so

    independentes da amostra de sujeitos;

    TCT: Pelo fato da anlise da TCT focar no teste, no h possibilidade de estimar a probabilidade

    acerca da performance de um indivduo frente a um determinado item;

    TRI: Pelo fato da TRI focar na anlise dos itens, pode-se determinar a probabilidade que um

    indivduo teria de responder corretamente a um item do teste.

  • 11

    EXEMPLO DA APLICAO DA TRI

    - TRI na prova de vestibular;

    - Vestibular adota um critrio classificatrio para selecionar os mais aptos realizao dos seus

    cursos (requisitos para um rendimento mnimo);

    Passo 1: Preparao dos itens da prova do vestibular

    Professores capacitados so convocados para preparar questes conforme solicitado pelo

    instituto nacional responsvel pelo estudo e pesquisa no ensino superior;

    Passo 2: Amostragem

    Uma amostra representativa dos recm-universitrios responde s questes na fase

    chamada pr-teste;

    Passo 3: Anlise das respostas

    As respostas da amostra representativa so analisadas e so estabelecidos os graus de

    dificuldade e de discriminao; questes que foram respondidas corretamente em 100%

    dos casos, ou o contrrio, por exemplo, so excludas;

    Passo 4: Banco de itens

    As questes com boa discriminao e com diferentes dificuldades so armazenadas em

    um banco de itens de onde sero selecionadas no momento da confeco da prova do

    vestibular;

    Passo 5: Confeco da prova do vestibular

    Passo 6: Aplicao da prova

    Candidatos respondem s questes sem saber o grau de dificuldade delas;

    Passo 7: Anlise do padro de respostas do candidato

    Respostas fora do padro do candidato (isto , acerto em itens muito difceis e erro em

    itens muito fceis) so consideradas como acerto ao acaso ou descuido e ganham menos

    peso na nota final do candidato;

    Passo 8: Nota final do candidato

    As respostas so analisadas para averiguar em qual etapa o candidato consegue

    responder s questes corretamente; esta ser a estimativa da sua nota final.

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

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    MEDIDAS EM CINCIA

    A mensurao em Psicometria tem por objetivo atribuir nmeros aos atributos dos constructos

    psicolgicos - medi-los indiretamente. Para isso, foram desenvolvidos instrumentos para avaliar

    tais atributos.

    CONSTRUCTO: so construes tericas (abstraes) utilizadas para organizar, estruturar ou

    atribuir significados s manifestaes da realidade humana. No podem ser diretamente

    observados, mas podem ser mensurados pelos atributos (propriedades, caractersticas,

    comportamentos) que os definem.

    CONSTRUCTO PSICOLGICO: processo psicolgico latente no observado diretamente, mas

    que explica comportamentos observveis (atributos) e se expressa por meio deles. EXEMPLOS:

    inteligncia (resolver problemas com nmeros, problemas com palavras, problemas

    complexos).

    - A utilizao de nmeros para a descrio de fenmenos psicolgicos; suscitou alguns

    problemas relacionados natureza da medida:

    1) O PROBLEMA DA REPRESENTAO (OU ISOMORFISMO): justificvel o uso de nmeros

    para representar os fenmenos (no caso da Psicometria, os constructos psicolgicos)?

    SIM, se for mantida a relao de uma nica medida numrica para um nico atributo deste

    fenmeno.

    2) O PROBLEMA DA UNICIDADE DA REPRESENTAO: ser que o nmero a nica ou melhor

    forma de representar as propriedades de um fenmeno (no caso da Psicometria, os atributos

    de um constructo)?

    SIM, porque o nmero possui trs axiomas que garantem identidade, ordem e aditividade, e

    quanto mais axiomas do nmero a medida garantir, maior ser seu nvel de medida (escala de

    medida).

  • 13

    3) O PROBLEMA DO ERRO: a aplicao de nmeros a fenmenos naturais SEMPRE est sujeita

    a uma margem de erro (seja pelo instrumento utilizado, pelas diferenas individuais do

    pesquisador, erros sem causas identificveis).

    Pelo fato de toda e qualquer medida estar acompanhada de erros, o nmero que representa

    um determinado fenmeno precisa necessariamente vir acompanhado com um indicador de

    erro provvel (calculado pelas teorias estatsticas).

    A BASE AXIOMTICA DA MEDIDA

    A medida s possvel se os atributos de um fenmeno forem idnticos apenas a eles mesmos

    e se forem mantidas a relao de uma nica medida numrica para um nico atributo deste

    fenmeno isomorfismo.

    Axioma: princpio evidente por si mesmo; premissa evidente que se admite como

    universalmente verdadeira sem exigncia de demonstrao.

    AXIOMAS DO SISTEMA NUMRICO

    1) IDENTIDADE: conceito de igualdade, isto , um nmero idntico a si mesmo e somente a si

    mesmo. Trs axiomas que expressam a relao de IGUAL A (=):

    a) Reflexividade: a = a ou a b;

    b) Simetria: a = b, ento b = a;

    c) Transitividade: se a = b e b = c, ento a = c.

    2) ORDEM: com exceo do caso de igualdade, todo nmero diferente de outro e, por isso,

    podem ser colocados numa sequncia ao longo de uma escala linear. Os trs axiomas que

    expressam NO IGUAL A (>):

    a) Assimetria: se a > b, ento b < a;

    b) Transitividade: a > b e b > c, ento a > c;

    c) Conectividade: ou a > b ou b > a.

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

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    3) ADITIVIDADE: os nmeros podem ser somados; isto , a soma de dois nmeros, com

    exceo do zero, produz um outro nmero diferente deles prprios. Neste sentido, as quatro

    operaes matemticas podem ser aplicadas. Dois axiomas:

    a) Comutatividade: a + b = b + a;

    b) Associatividade: (a + b) + c igual a a + (b + c);

    Quanto mais axiomas do sistema numrico (identidade, ordem e aditividade) a medida

    garantir, maior ser seu nvel de sofisticao.

    EXEMPLO: da flor, podemos falar das diferentes qualidades dela (aroma, tamanho, peso) em

    termos de magnitude (aroma mais intenso, tamanho maior); assim, todas as flores tero as

    mesmas qualidades (aroma, tamanho, cor), mas sero diferentes nas magnitudes (uma ser

    mais aromtica que outra; uma ser maior que a outra).

    Uso somente dos axiomas de identidade (igual ou diferente a), a operao propriamente no

    chega ser considerada medida: trata-se apenas de uma classificao (o nmero, neste caso,

    serve apenas de etiqueta para uma classe de coisas);

    A medida acontece quando so empregados, pelo menos, os axiomas de ordem (maior que,

    mais do que); demonstrando, assim, a ordem de magnitude dos atributos de um constructo

    (escala ordinal);

    ESCALAS DE MEDIDAS

    Stevens (1946) criou um sistema para classificar os diferentes nveis de medida (escalas de

    medida). Estes nveis dependem de quantos axiomas do nmero a medida consegue garantir.

    1) ESCALA NOMINAL: o nmero considerado apenas como smbolo (axioma de identidade) e

    utilizado para identificar e classificar um objeto de outro ou uma classe de objetos de outra

    classe. a escala mais pobre.

  • 15

    2) ESCALA ORDINAL: alm do axioma de identidade, considerado o de ordem do nmero.

    Portanto, existe a propriedade da ordem de classificao, o que significa que os elementos de

    um conjunto podem ser organizados em uma srie a partir de uma caracterstica. O zero um

    valor arbitrrio e a distncia entre os nmeros pode ou no ser igual (inclusive, o zero pode ser

    includo na escala, mas no representa o ponto de referncia).

    3 4 5 6 7

    3 5 6 10 100

    -3 0 15 30 31

    RANKING

    1 2 3 4

    GRUPO So Paulo Palmeiras Corinthians Cruzeiro

    OBJETO Joo Maria Jos Ana

    3) ESCALA INTERVALAR: conhecida tambm como escala de unidades iguais, o zero tambm

    um valor arbitrrio porm a distncia entre os nmeros constante (isto , significativa). Os

    axiomas do nmero que esta medida garante so os de identidade e de ordem.

    2 4 6 8 10 0 1 2 3 4 -5 0 5 10 15

    4) ESCALA DE RAZO: o zero absoluto (zero como ponto de referncia de medida; nenhuma

    quantidade) e a distncia entre os nmeros constante. Todos os axiomas do nmero so

    garantidos nesta escala.

    0 2 4 6 8 0 1 2 3 4 0 5 10 15 20

    Em Psicometria, no tem como aplicar a escala de razo porque os constructos psicolgicos

    no tem zero absoluto.

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

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    FORMAS DE MEDIDAS

    Como atribuir um nmero ao objeto (e no caso da Psicologia, ao atributo de um constructo)?

    E por que este nmero e no qualquer outro?

    Existem trs diferentes maneiras (formas de medida) de se fazer isso:

    1) MEDIDA FUNDAMENTAL: uma medida de atributos mensurveis (massa, comprimento e

    durao temporal) por uma unidade-base especfica (quilograma, metro, segundo) e tem

    dimenso extensiva; so objetos que podem ser encadeados. So atributos passveis de uma

    medida direta por um instrumento que tenha a mesma qualidade que se quer medir.

    EXEMPLO: No caso do comprimento, unidade marcada na rgua (instrumento) o centmetro.

    2) MEDIDA DERIVADA: so atributos indiretamente medidos atravs do estabelecimento de

    uma relao com representaes extensivas, sendo essa relao um dado emprico.

    EXEMPLO: Sabe-se que a massa varia em funo de volume e de densidade: massa = volume x

    densidade. Massa e volume permitem uma medida fundamental (quilos e m3,

    respectivamente), mas a densidade, no. Portanto, a densidade pode ser medida indiretamente

    em funo de massa e volume (kg/ m3).

    3) MEDIDA POR TEORIA: os atributos que no so passveis de medida fundamental (por no

    ter dimenso extensiva ou unidade-base) ou de medida derivada (por no ter componentes de

    dimenso extensiva que permitiram o estabelecimento de uma relao) e so apenas

    mensurveis com base em leis e em teorias cientficas.

    MEDIDAS POR LEI: medida baseada na relao entre a resposta e o estmulo, isto ,

    quando uma lei foi empiricamente estabelecida entre duas ou mais variveis e pode-se medir

    indiretamente atravs dessa relao estabelecida. EXEMPLO: lei do reforo em Psicologia -

    associao de uma situao com outras semelhantes, generalizando essa aprendizagem para

    um contexto mais amplo;

    MEDIDAS POR TEORIA: uma medida que no pautada em fatos empricos (leis); isto

    , no h leis relacionando variveis e somente hipteses (teorias) podem ser levantadas sobre

    a relao entre os atributos e o constructo. Desta forma, a medida de um constructo feita

  • 17

    indiretamente atravs dos atributos a ele relacionados via teoria. Na Psicologia, a medida por

    teoria pode ter vrios enfoques, tais como a teoria dos jogos, a teoria psicofsica e teoria

    psicomtrica (ou teoria dos testes psicolgicos medida por teoria entre comportamentos e

    constructos).

    Constructo psicolgico Inteligncia medido por TEORIA medida por atributos

    (comportamentos tpicos que o expressam)

    resolver problemas com nmeros, problemas

    espaciais, problemas com palavras

    O PROBLEMA DO ERRO

    A aplicao de nmeros a fenmenos naturais SEMPRE est sujeita a erro porque o nmero

    no um ponto definido como na matemtica, e sim, um intervalo (Popper, 1972).

    Os erros de medida podem ser:

    1) de observao:

    a. Instrumental

    CAUSA: instrumentos inadequados ou descalibrados

    CORREO: calibrao dos instrumentos

    b. Pessoal

    CAUSA: diferenas individuais durante a medio

    CORREO: treinamento dos indivduos

    c. Sistemtico

    CAUSA: algum fator que no controlado

    CORREO: controle experimental

    d. Aleatrio

    CAUSA: erros sem causa conhecida

    CORREO: teoria do erro (probabilidade)

    2) de amostragem:

    CAUSA: seleo de uma amostra enviesada da populao

    CORREO: representatividade

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

    18

    ETAPAS DE CONSTRUO DE UM INSTRUMENTO DE AVALIAO

    - Instrumentos de avaliao: ferramentas importantes no contexto da sade, educao,

    assistncia social e pesquisa, pois fornecem medidas acuradas, reprodutveis e relevantes que

    propiciam a identificao de indivduos com maior chance de preencher critrios para uma

    determinada condio;

    - Para construo de um instrumento:

    - Etapas bem definidas realizadas em uma sequncia determinada

    - Procedimentos rigorosos:

    1) Procedimentos tericos: enfoque na teoria sobre o constructo para o qual se quer

    desenvolver um instrumento e tambm a operacionalizao do constructo em itens.

    2) Procedimentos empricos (experimentais): planejamento da aplicao, aplicao do

    instrumento piloto e coleta das respostas dos itens.

    3) Procedimentos analticos (estatsticos): anlise estatstica das respostas dos itens para

    obteno de ndices (de dificuldade, de discriminao, de coeficiente de fidedignidade) e

    tambm normatizao dos resultados.

    PROCEDIMENTOS TERICOS

    PASSO 01. Escolha do constructo (objeto, trao latente) a ser estudado

    - escolha baseadas em interesses, reflexo e literatura.

    EXEMPLO: Funes cognitivas

    PASSO 02. Definio das propriedades (atributos) do constructo

    - levantamento da teoria que explica o constructo e os atributos que constituem uma

    representao adequada do mesmo.

    EXEMPLO: Inteligncia verbal

    PASSO 03. Estabelecimento da dimensionalidade dos atributos

    - levantamento de teoria e dados empricos que se tem sobre os atributos para definir sua

    estrutura interna (so uni ou multifatoriais); teorias inconsistentes levam construo de

    instrumentos ruins;

  • 19

    EXEMPLO: Inteligncia verbal composta por, pelo menos, dois fatores distintos, a

    compreenso verbal e a fluncia verbal necessidade de instrumentos diferentes para avaliar a

    inteligncia verbal ou de um instrumento que avalie separadamente os dois fatores.

    PASSO 04. Definies constitutiva e operacional do constructo

    - Conceituao clara e precisa dos fatores para os quais se quer construir o instrumento de

    medida; a definio constitutiva e a definio operacional devem apresentar coerncia entre si;

    Definio constitutiva: definio conceitual que delimita o que est ou no relacionado ao

    constructo;

    EXEMPLO: Inteligncia verbal definida como a capacidade de compreender a linguagem;

    Definio operacional: define as operaes concretas (comportamentos, sintomas) que esto

    relacionadas e que representam o constructo;

    EXEMPLO: Inteligncia verbal definida como a capacidade de compreender a linguagem

    (definio constitutiva) que pode ser traduzida no comportamento de reproduzir uma frase com

    outras palavras e dar sinnimos e antnimos (definio operacional), por exemplo.

    PASSO 05. Operacionalizao do constructo

    - Construo dos itens que iro compor o instrumento (exemplo: tarefas ou comportamentos

    que os indivduos devero executar para que se possa avaliar a magnitude do constructo em

    questo); alguns critrios devero ser respeitados para a construo dos itens:

    1. Critrio comportamental: o item deve representar um comportamento ou uma habilidade

    ou sintoma claro e preciso;

    2. Critrio de objetividade ou de desejabilidade: o item deve ser apresentado de uma forma

    que seja possvel resposta certa ou errada (ou, no caso de atitude ou de caractersticas de

    personalidade, se ou no desejvel);

    3. Critrio de simplicidade: o item deve expressar uma ideia nica;

    4. Critrio de clareza: o item deve ser escrito de forma inteligvel para o pblico-alvo;

    5. Critrio de relevncia: a frase do item deve estar coerente com o atributo em questo (no

    pode insinuar outro atributo);

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

    20

    6. Critrio de variedade: uso de uma linguagem que no seja repetitiva ou montona; e em

    escalas de preferncias, metade dos itens em termos favorveis e outra, em desfavorveis;

    7. Critrio de modalidade: formular frases que no utilizem expresses extremadas (meus pais

    so a melhor coisa do mundo);

    8. Critrio de tipicidade: formar frases com expresses condizentes com o atributo (conscincia

    pesada x conscincia bonita);

    9. Critrio de credibilidade: o item deve ser formulado de modo que no parea ridculo,

    despropositado ou infantil.

    PASSO 06. Anlise terica dos itens

    - Os itens so submetidos anlise de constructo (conhecida tambm por anlise de juzes;

    peritos no assunto avaliam a pertinncia dos itens ao constructo que representam); e tambm

    anlise semntica (compreenso dos itens por todos os membros do pblico-alvo);

    desenvolve-se o instrumento piloto para aplicao.

    PROCEDIMENTOS EMPRICOS (EXPERIMENTAIS)

    PASSO 07. Planejamento da aplicao do instrumento

    - Constituio de uma amostra que represente o pblico-alvo para que o instrumento piloto

    seja administrado, criao de instrues claras e precisas de como responder ao instrumento,

    definio quanto sistemtica do instrumento (aplicao individual, coletiva, auto-relato, entre

    outros) e do formato (mltipla escolha, escala Likert, entre outros).

    Escala Likert: uma das mais populares (e confiveis) maneiras de medir as atitudes ou

    comportamentos. A Escala Likert mede atitudes e comportamentos utilizando opes de

    resposta que variam de um extremo a outro (por exemplo, de nada provvel para

    extremamente provvel). Ao contrrio de uma simples questo de resposta "sim ou no", uma

    Escala Likert permite descobrir nveis de opinio.

    PASSO 08. Aplicao do instrumento e coleta dos resultados

    - Administrao do instrumento piloto e coleta dos resultados.

    PROCEDIMENTOS ANALTICOS (ESTATSTICOS)

  • 21

    PASSO 09. Anlise da dimensionalidade

    PASSO 10. Anlise dos itens

    - Clculo dos ndices de dificuldade e de discriminao dos itens (Curva Caracterstica do Item)

    PASSO 11. Anlise da fidedignidade (preciso) dos resultados

    - Clculo dos coeficientes de fidedignidade

    PASSO 12. Estabelecimento de normas

    - Normatizao dos dados

    ESCOLHA DE UM BOM INSTRUMENTO: deve-se basear em suas qualidades psicomtricas

    (validade, fidedignidade e normatizao) e tambm aspectos prticos (de aplicao) do

    instrumento.

    - as qualidades psicomtricas do instrumento so obtidas atravs dos procedimentos analticos

    (estatsticos) durante o seu desenvolvimento.

    Validade: capacidade de o instrumento medir aquilo que se prope a medir.

    Fidedignidade: preciso do resultado obtido no instrumento, isto , um resultado preciso e com

    relativa estabilidade.

    OBSERVAO: a qualidade da fidedignidade no pertence aos instrumentos, mas aos resultados

    obtidos nos mesmos.

    Normatizao: obteno de normas para interpretao do resultado obtido no instrumento

    (normas desenvolvimentais, normas intragrupo ou normas referenciadas em critrios).

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

    22

    VALIDADE

    VALIDADE diz respeito propriedade de um teste de medir aquilo que se pretende medir

    (Kelly, 1927, citado por Pasquali, 2007).

    - Pode-se dizer que: se o instrumento for vlido, ele ser relevante/pertinente (com o que se

    quer medir), e se ele for preciso, ele ir medir sem erros.

    EXEMPLO: Constri-se uma barra de ferro de um metro para medir o comprimento das coisas.

    Mede-se, ento, um pedao de madeira com a barra de ferro e obtm-se uma medida do

    mesmo. Posteriormente, aquece-se a barra de ferro e repete-se a medio da madeira ela

    certamente estar diferente da primeira medida.

    - Pergunta: o metro deixou de medir comprimento? No, pois o metro ainda est medindo

    comprimento, porm est medindo errado. Pois ento: o metro continua medindo aquilo que

    ele se pretende medir (VALIDADE), mas est medindo errado (FIDEDIGNIDADE).

    - um teste vlido para um determinado uso dentro de um determinado contexto

    - a capacidade do teste de medir o comportamento pretendido est relacionada com a

    qualidade da manifestao do comportamento. Para isso: necessidade de conhecer o

    constructo e os comportamentos, sintomas, habilidades a ele relacionados.

    Vrios testes com diferentes objetivos

    Vrios tipos de validade

    Vrias formas de se obter evidncias de validade

    dos testes

    Modelo proposto por Cronbach e Meehl (1955): modelo trinitrio da validade

    1) Validade de contedo

    2) Validade de critrio

    3) Validade de constructo

    - Essas validades no so excludentes e podem estar presentes em um mesmo instrumento.

  • 23

    VALIDADE DE CONTEDO

    Um teste tem validade de contedo se ele constitui uma amostra representativa de um

    universo finito de comportamentos; isto , o teste tem validade de contedo se ele realmente

    abranger os diferentes aspectos representativos do objeto a ser avaliado.

    EXEMPLO: teste para avaliar transtorno depressivo tem que abranger todos os critrios

    estabelecidos pelo CID-10 ou DSM-IV.

    - Obtm-se evidncias de validade de contedo de um teste atravs de um processo de

    julgamento composto por duas partes distintas: o desenvolvimento do teste e a avaliao deste

    por especialistas na rea;

    - Para que um teste tenha validade de contedo, preciso se ater ao processo de

    desenvolvimento do mesmo:

    a) definir claramente o constructo a ser medido e conhecer toda a sua extenso (teoria e

    definies constitutivas do constructo);

    b) traduzi-lo em comportamentos representativos e ento selecionar comportamentos que

    consigam englobar todos os aspectos do constructo (definies operacionais do constructo)

    c) eliminar os contedos estranhos que estejam interferindo no resultado do teste.

    - A avaliao qualitativa do teste (item a item e o teste em geral) feita pelos especialistas na

    rea (juzes) e mede-se ento a proporo ou porcentagem de juzes que esto em

    concordncia sobre determinados aspectos do teste.

    VALIDADE DE CRITRIO

    Um teste tem validade de critrio quando este discrimina indivduos que diferem em

    determinadas caractersticas. a capacidade de um teste de se corresponder com outras

    medidas ou de predizer algo que se prope.

    - Obtm-se evidncias de validade de critrio de um teste atravs de um critrio-padro

    (necessariamente, parte-se do pressuposto que j existam testes com validades comprovadas e

    possam ser consideradas padro-ouro);

    quando o teste a ser validado e o critrio-padro so aplicados simultaneamente, avalia-se a

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

    24

    VALIDADE CONCORRENTE;

    EXEMPLO: Avaliar leses cerebrais em vtimas de acidente de carro; aplica-se o novo teste que

    avalia leses cerebrais (critrio) nos pacientes e estes so submetidos a uma tomografia

    (padro-ouro que fornecer o critrio-padro) obtm-se, portanto, duas medidas. Calcula-se

    ento o coeficiente de validade entre essas duas medidas (resultado do novo teste e dados

    obtidos da tomografia).

    - testes com validade concorrente se mostram pertinentes caso apresentem vantagens em

    relao aos testes j validados (por exemplo, economia de tempo).

    quando o teste a ser validado e o critrio-padro so aplicados em um intervalo de tempo,

    avalia-se a VALIDADE PREDITIVA.

    EXEMPLO: Avaliar transtorno depressivo em uma amostra de pacientes com cncer usando o

    teste desenvolvido e depois realizar uma entrevista diagnstica (SCID) com um especialista

    obtm-se, portanto, duas medidas. Calcula-se ento o coeficiente de validade entre essas duas

    medidas.

    RETOMANDO OS EXEMPLOS...

    OBJETIVO DO TESTE CARACTERSTICAS TIPO DE VALIDADE

    Avaliar o domnio do idioma portugus de um aluno.

    Desenvolvimento adequando do teste e avaliao por juzes Contedo

    Avaliar leses cerebrais em vtimas de acidente de carro.

    Teste x Padro-ouro com aplicaes simultneas

    Critrio concorrente

    Avaliar transtorno depressivo em pacientes com cncer.

    Teste x Padro-ouro com aplicaes separadas por um

    intervalo de tempo

    Critrio preditivo

    VALIDADE DE CONSTRUCTO

    Validade de constructo considerada a forma mais fundamental de validade dos testes

    psicolgicos, dado que esta validade verifica se a amostra de comportamentos (traduzidos

  • 25

    operacionalmente) representativa do constructo (traos latentes) e se o teste tem a

    capacidade de confirmar hipteses esperadas (discriminar ou predizer).

    - Pode-se considerar que a validade de contedo e de critrio so aspectos da validade de

    constructo.

    - Duas tcnicas para avaliar a adequao da representao do constructo pelo teste: anlise da

    consistncia interna e anlise fatorial.

    - Correlao com outros testes que meam o mesmo trao latente tambm utilizada como

    demonstrao de validade de constructo (se um teste X mede validamente o trao Z e o novo

    teste N se correlaciona altamente com X, ento o novo teste mede o mesmo trao Z).

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

    26

    FIDEDIGNIDADE (PRECISO, CONFIABILIDADE)

    - Quando decises precisam ser tomadas com base nos resultados de instrumentos,

    necessrio ter certeza de que estes resultados so confiveis.

    EXEMPLO 01: Dois instrumentos equivalentes que avaliam traos de personalidade foram

    aplicados no mesmo indivduo em um nico momento. Espera-se que os resultados dos dois

    instrumentos sejam muito prximos.

    EXEMPLO 02: Hipoteticamente, tem-se a seguinte situao: trs novos testes foram lanados

    no mercado para medir a memria e estes variam de 0 a 100, sendo 0 indicativo de uma

    memria muito comprometida e 100, uma memria completamente preservada. Os trs testes

    foram aplicados em trs indivduos sadios que, durante o perodo de avaliao, no foram

    sujeitos a nenhum evento catastrfico. Qual desses trs testes parece a princpio produzir um

    resultado mais confivel?

    APLICAES DOS TESTES JANEIRO FEVEREIRO MARO

    Pontuao do Teste A 98 10 55 Pontuao do Teste B 78 30 81 Pontuao do Teste C 85 84 86

    - no caso dos trs testes hipotticos, nenhum evento catastrfico aconteceu para que pudesse

    impactar no desempenho da memria dos trs indivduos, contudo, os resultados dos testes

    oscilaram muito nas trs aplicaes. Provavelmente, essas oscilaes estejam relacionadas

    prpria qualidade dos testes e no porque o desempenho da memria esteja oscilante.

    ESPERA-SE que resultados diferentes em um teste indiquem comportamentos alterados;

    - Quanto mais preciso for considerado o resultado, mais livre de erros ele se encontra; e

    importante considerar tambm o constructo que est sendo avaliado, pois fenmenos

    psicolgicos diferentes possuem caractersticas distintas e sofrem influncia de diferentes

    fatores.

    - Contudo, toda e qualquer medida est sujeita a erro.

  • 27

    Resultado obtido = Resultado verdadeiro + erro

    X = T + e

    X: escore observado do indivduo

    T (true score): nvel verdadeiro de um

    constructo no indivduo

    e: erro

    - Busca-se sempre identificar as fontes de erro para minimiz-las e estimar a extenso da

    influncia do erro no resultado (porque quando o erro muito grande, o resultado no

    confivel e o instrumento perde sua utilidade);

    ESTIMAO DA FIDEDIGNIDADE

    - Existem basicamente duas tcnicas estatsticas para estimar a preciso do resultado: a

    correlao e as tcnicas alfa (anlise de consistncia interna).

    TCNICA SITUAO MTODO

    CORRELAO SIMPLES

    Mesmo indivduo (ou grupo) submetido ao mesmo instrumento em duas ocasies diferentes.

    Mtodo do teste-reteste

    Mesmo indivduo (ou grupo) submetido a duas formas paralelas (equivalentes) do mesmo instrumento em uma nica ocasio.

    Mtodo das formas paralelas

    TCNICAS ALFA

    Aplicao de um instrumento em um indivduo (ou grupo) em uma nica ocasio para avaliar sua consistncia interna (relao entre respostas individuais nos itens e escore total do teste). Diviso dos itens do instrumento em duas metades para avaliar sua consistncia interna (coeficiente alfa de Cronbach).

    Mtodo das duas metades

    Coeficiente de fidedignidade: expressa o nvel de relao ou correspondncia que existe entre

    os resultados de duas medidas.

    - quanto mais semelhantes/precisos esses resultados, mais prximo de 1 o valor do coeficiente

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

    28

    EXEMPLO: Aplica-se um teste em um grupo de indivduos num dia e, depois de um ms, aplica-

    se novamente o teste. Se o resultado dos indivduos for idntico nas duas ocasies, existe uma

    correspondncia de 100% entre os dois resultados e o coeficiente de fidedignidade ser de 1.

    - coeficiente positivo mais prximo de 1: mais prxima ser a correspondncia direta entre as

    duas classificaes;

    - coeficiente negativo mais prximo de 1: correspondncia inversa (primeiros classificados na

    primeira aplicao sero os ltimos na segunda aplicao e vice-versa);

    - coeficiente 0: no h nenhuma relao entre a classificao na primeira e na segunda

    aplicao do teste; isto , a partir da classificao dos sujeitos na primeira aplicao, no d

    para predizer nada sobre como ser esta classificao na segunda aplicao.

    ESTIMAO DO COEFICIENTE DE FIDEDIGNIDADE

    1) Mtodo do teste-reteste: investigar a consistncia da medida do instrumento em momentos

    distintos (o quo estveis so os resultados obtidos em um teste aplicado mais de uma vez em

    uma mesma pessoa ou grupo de pessoas); parte-se do pressuposto que o constructo que est

    sendo medido se apresenta relativamente estvel ao longo de um determinado tempo.

    Procedimento: aplica-se o mesmo teste nos mesmos indivduos em dois momentos distintos e

    calcula-se a correlao entre os resultados (coeficiente de estabilidade); quanto maior a

    correlao (mais prximo de 1), mais fidedigno (preciso) o resultado do teste.

    Limitaes: dificuldade em encontrar um intervalo ideal de tempo entre as duas avaliaes para

    reduzir o impacto da memria e no h controle dos eventos que podem ocorrer neste perodo e

    que podem influenciar no desempenho do indivduo.

    2) Mtodo por avaliadores: verificar a concordncia entre dois ou mais avaliadores que

    corrigem ou atribuem pontuao ao desempenho do indivduo em um determinado

    instrumento; espera-se controlar a subjetividade dos avaliadores;

    Procedimento: aplica-se um teste em um indivduo e dois ou mais avaliadores corrigem seu

    desempenho separadamente, e ento verifica a correlao dos resultados.

    Limitaes: dificuldade em encontrar uma forma de aplicao que o avaliador no sofra a

    influncia do outro.

  • 29

    3) Mtodo das formas paralelas: investigar a consistncia da medida entre duas formas

    paralelas de um instrumento (isto , verses que medem o mesmo constructo com itens

    diferentes)

    Procedimento: aplicam-se duas formas paralelas de um instrumento em um indivduo (ou

    grupo) em uma nica ocasio e calcula-se a correlao.

    Limitaes: dificuldade em se obter duas formas perfeitamente paralelas de um instrumento (isto

    , verses que medem o mesmo constructo com itens diferentes); possvel treinamento obtido

    na primeira forma aplicada do instrumento (dessensibilizao ao contedo) e efeitos

    motivacionais negativos.

    3) Mtodo das duas metades: trata da verificao da consistncia interna de um instrumento

    atravs da diviso do contedo em duas metades equivalentes.

    Procedimento: aplica-se um instrumento em uma amostra em um nico momento.

    Posteriormente, divide-se o instrumento em duas partes equivalentes (itens pares e itens

    mpares, primeira metade e segunda metade, ou qualquer outra diviso); calcula-se a

    correlao entre as duas metades.

    Limitaes: dificuldade em se obter duas metades equivalentes (nmero de itens igual nas duas

    metades, bem como o mesmo nvel de dificuldade, de discriminao e ter os mesmos ndices de

    consistncia interna).

    CONSISTNCIA INTERNA: homogeneidade dos itens do teste em relao ao constructo isto ,

    itens homogneos so aqueles que avaliam o mesmo constructo e, por tanto, produziro

    resultados semelhantes;

    EXEMPLO: se um indivduo responder positivamente para eu gosto de chocolate, espera-se

    tambm que ele responda negativamente para eu detesto chocolate.

    - clculo do coeficiente alfa de Cronbach: anlise mais comum - o coeficiente alfa vai de 0 a 1,

    sendo 0 indicativo de ausncia total de consistncia interna dos itens e 1, a presena de

    consistncia interna de 100% dos itens.

  • TPICOS AVANADOS EM PROMOO DE SADE

    30

    REFERNCIAS

    Andreoli, SB; Blay, L. e Mari, JJ. Escalas de rastreamento aplicadas na populao geral. In:

    Gorenstein, C; Andrade, HSG e Zuardi, AW (Ed.) Escalas de Avaliao Clnica em Psiquiatria e

    Psicofarmacologia. So Paulo: Lemos Editorial. cap. 5, p. 45-52. 2000.

    Fachel JMG, Camey S. Avaliao psicomtrica: a qualidade das medidas e o entendimento dos

    dados. In: Cunha JA, org. Psicodiagnstico, p. 158-70, 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

    Gunther, H. Como elaborar um questionrio. In: Instrumentos psicolgicos: Manual Prtico de

    Elaborao. Pasquali, L. (org). Braslia: LabPAM. Cap. 10. 1999.

    Pasquali, L. Psicometria: Teoria e Aplicao. A Teoria clssica dos testes psicolgicos. Editora

    Universidade de Braslia, Braslia, 1997.

    Pasquali L. Instrumentos Psicolgicos: Manual prtico de elaborao. Braslia: LabPAM. 1999.

    Pasquali, L. Psicometria: Teoria dos Testes na Psicologia e na educao. Petrpolis: Vozes. 2004.