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Organizando Idéias: Como Estruturar um Texto Apostila elaborada por:

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Organizando Idéias:

Como Estruturar um Texto

Apostila elaborada por:

Organizando idéias: como estruturar um texto Prof. Elir Ferrari

Língua Portuguesa 1

Sumário Apresentação..............................................................................................................................2 1. O texto.....................................................................................................................................3

1.1. A coerência textual............................................................................................................. 4 1.1.1. Os tipos de coerência........................................................................................................................... 5 1.1.2. Os níveis de coerência ......................................................................................................................... 8

1.2. A coesão textual.......................................................................................................................... 8 1.2.1. As marcas coesivas e a embreagem textual ......................................................................................... 8 1.2.2. As conjunções e outras referências textuais como recurso argumentativo .......................................... 9

1.3. A Pontuação.............................................................................................................................. 10 1.3.1. Regras, usos e curiosidades ............................................................................................................... 11 1.3.1.1. A vírgula......................................................................................................................................... 11 1.3.1.2. Os demais sinais de pontuação ....................................................................................................... 11 1.3.2. A pontuação e a coesão/coerência do texto ....................................................................................... 13

1.4. Verbos ....................................................................................................................................... 14 1.4.1. O modo indicativo ............................................................................................................................. 14 1.4.2. O modo subjuntivo ............................................................................................................................ 15 1.4.3. O aspecto verbal na elaboração do sentido........................................................................................ 15

2. Da palavra ao texto..............................................................................................................19 2.1. As relações da palavra ............................................................................................................. 16 2.2. A estrutura do parágrafo ........................................................................................................ 18 2.3. A estrutura da redação/composição ....................................................................................... 20

3. Desconstruindo mitos...........................................................................................................24 3.1. Pontos de gramática................................................................................................................. 22

3.1.1. Os porquês ......................................................................................................................................... 22 3.1.2. Esse(a) ≠ este(a)................................................................................................................................. 23 3.1.3. A crase e as regências verbal e nominal ............................................................................................ 24

4. Noções de Teoria da Comunicação.....................................................................................31 4.1. As funções da linguagem ......................................................................................................... 28

5. Tipologia do texto.................................................................................................................32 5.1. Os tipos de texto ....................................................................................................................... 29 5.2. Os gêneros discursivos ............................................................................................................. 30 5.3. A linguagem figurada .............................................................................................................. 30

5.3.1. Algumas figuras de linguagem .......................................................................................................... 31

6. A argumentação...................................................................................................................32 6.1. A estrutura dos textos dissertativos-argumentativos............................................................ 33

Referências bibliográficas.......................................................................................................34 Anexos......................................................................................................................................35

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Língua Portuguesa 2

Apresentação

Este curso foi elaborado de forma objetiva e direcionada. Não estão previstos os

exaustivos esclarecimentos gramaticais, que há décadas vêm ocupando as salas de aula no

lugar do ensino da leitura e produção textual.

A questão da organização das idéias para escritura do texto é algo que há algum

tempo, de forma gradativa, vem sendo abordado nas esferas acadêmicas. O curso de Língua

Portuguesa com concentração na produção textual – ao qual chamamos, por simplificação, de

“a produção de textos acadêmicos” – pretende ampliar os horizontes lingüísticos na direção

de uma redação enxuta, clara, adequada ao tipo de texto que se quer apresentar. Para tanto, os

conteúdos foram divididos em duas grandes unidades a as aulas funcionarão como unidades

menores, permitindo, assim, maior flexibilidade e adequação dos conteúdos.

A Unidade 1 parte das noções do que é um texto para uma abordagem da sua estrutura

profunda, ou seja, trata dos detalhes internos que constituem o texto e que permitem a

compreensão da mensagem nele contida, como os elementos de coesão (as marcas que ligam

uma idéia a outra) e a coerência (o que faz com que uma seqüência de “microidéias” faça

parte de uma “macroidéia” sem que seu sentido seja comprometido). Aborda outros aspectos

textuais, como as várias possibilidades de estruturação do parágrafo e da sua relação com o

todo da redação.

Fazem parte da estrutura profunda do texto alguns elementos gramaticais, que serão

tematizados através de uma dinâmica em sala de aula, onde os fantasmas impostos pela mídia

e os equívocos mais comuns serão desmistificados com uma abordagem lúdica. As questões

gramaticais tratadas são elementares, relevantes para a elaboração de quaisquer tipos de

redação.

A Unidade 2 indica os procedimentos para o planejamento do texto, que depende do

contexto em que será produzido. Embora alguns tipos diversos sejam apresentados para uma

noção das diferenças entre eles, o foco está direcionado à dissertação argumentativa, que é a

estrutura dos textos acadêmicos, como artigos, monografias, teses, redações de tema (como as

do vestibular).

Os exercícios e textos apresentados são uma compilação de vários trechos, extraídos

de várias fontes, que estão listadas nas referências bibliográficas, ao final desta apostila.

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UNIDADE 1

Os elementos constitutivos do texto

1. O texto

Um texto não é um aglomerado de frases. Todo texto contém uma declaração ou

pronunciamento que faz parte de um contexto maior, mais amplo. O texto é um tecido, uma

estrutura constituída de tal modo que as frases não têm significado autônomo: num texto, o

sentido de uma frase é dado pela correlação que mantém com as demais. Nesse aspecto, um

texto é um fato de contexto (exemplo 1).

Além disso, por trás de cada texto existe o pronunciamento de quem o produz. O autor

de um texto não consegue emiti-lo imparcialmente, pois carrega consigo um conhecimento de

mundo, um ponto de vista construído ao longo de sua vida. Nesse aspecto, um texto é um fato

social (exemplo 2).

Nas relações sociais, o contexto é marcado pelo momento presente em que o texto é

proferido. Esse momento transforma-se em passado, ou projeta-se para o futuro. O que

escrevemos/falamos hoje provavelmente não seria compreendido na época do descobrimento

do Brasil e provavelmente não será compreendido no ano 2.500. Para compreendermos textos

de 1.500, precisamos estudá-lo. Nesse aspecto, um texto é um fato histórico (exemplo 3).

Exemplo 1: EMENTA – Os tipos de texto. Os gêneros textuais. Os modos de organização do discurso.

Texto como processo de apreensão da realidade. Texto e discurso. O ato discursivo: processos

de discursivização. Operações lingüísticas. Textualidade. Análise de diferentes tipos de texto e

gêneros textuais. Aplicação no ensino de língua materna.

Exemplo 2: “A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem, é escrever claro, não

necessariamente correto. Por exemplo: dizer ‘escrever claro’ não é certo, mas é claro.” (O

Gigolô das palavras, de Luís Fernando Veríssimo).

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Língua Portuguesa 4

Exemplo 3: “Governo Lula criou 34 estatais em 33 meses” (O Globo, 25/09/05).

“Muy manifico senhor.

Contendião em mi dous pareceres diuersos. Hum me dezia não acupasse a grãdeza de seu

enteder co esta minha peqna obra.” (em: Grammatica, de Fernão D’Oliveyra, 1536)

Um texto se constitui através de elementos textualizadores, formando

estratégias:

• estratégia de referenciação – elementos que apontam para referências/objetos

dentro e fora do texto, são os que estabelecem a coesão textual;

• estratégia de formulação e reformulação – escolha de estruturas e seleção de

vocabulários, a maneira de dizer (formulação), a retomada, a repetição, para

fixação das informações (reformulação). Esta estratégia também colabora na

coesão textual;

• estratégia de organização da informação – uso de elementos como o dado

(informação já conhecida), que visam à sensibilização do receptor, e o novo

(informação nova apresentada no texto), que tornam o texto instigante. Desta

forma, o texto não será óbvio e chato, nem totalmente incompreendido;

• estratégia de “balanceamento” (“embreagem”) – estabelecem as relações entre as

partes envolvidas no texto; o que está expresso é tido como conhecimento prévio

que, pressupõe-se, são compartilhados tanto pelo emissor, quanto pelo receptor.

Esta estratégia colabora para a coerência textual.

1.1. A coerência textual

As relações sociais, a história e o contexto colaboram na formação do texto, mas não

são os únicos elementos que determinam o seu entendimento. O conhecimento de mundo, por

exemplo, é um dos principais elementos que fará com que o texto assuma um sentido, ou

outro. Observe a frase:

(1) chocolate meio amargo.

Nela, percebemos que meio tem um sentido de “não totalmente, um tanto, um pouco”. Já em

(2) arranjou um meio de dizer não.

(3) Freqüentava o meio literário, mas não saía do meio familiar.

q ~

~ ~

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sabemos que , no caso (2), o sentido de meio é “modo/maneira” e que em (3) o significado é

de “grupo social”. Se por acaso atribuirmos o sentido (3) – grupo social – na declaração (1),

estaremos provocando um ruído na comunicação e a expressão “chocolate meio amargo” não

fará o menor sentido. Por isso, diz-se que o sentido não está no texto, mas se constrói a partir

dele.

Um texto ambíguo (quando a ambigüidade não é intencional), ou quando fora de

contexto, poderá causar ruído na comunicação e o texto não terá um sentido lógico, ou seja,

não será coerente.

1.1.1. Os tipos de coerência

A coerência, ou a falta dela, pode se dar em dois níveis básicos: o interno e o externo.

Observe:

(4) texto Observando uma marcha de protesto do 10º andar.

“O espetáculo era empolgante. Da janela se podia ver a multidão embaixo. Tudo

parecia extremamente pequeno, mas dava para ver as roupas coloridas. Todos pareciam estar

indo na mesma direção, com muita ordem, e parecia haver tanto crianças como adultos. A

aterrissagem foi suave e afortunadamente a atmosfera era tal que não havia necessidade de

utilizar os trajes espaciais. No início, havia muita atividade. Mais tarde, quando os discursos

começaram, a multidão foi se aquietando. O homem com a câmara de televisão filmou muitas

cenas do lugar e da multidão. Todos estavam muito tranqüilos e pareciam contentes quando a

música começou.” (em KLEIMAN, A. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura)

Com base no título, um período no parágrafo causa estranhamento. Pois se o texto trata de

uma marcha, o trecho A aterrissagem foi suave e afortunadamente a atmosfera era tal que não havia

necessidade de utilizar os trajes espaciais não cabe no contexto, provocando um problema de

coerência. Porém, é uma incoerência interna ao texto, pois a seqüência de frases está em

harmonia e somente o trecho destacado é que fugiu da seqüência lógica. A incoerência seria

desfeita se o título fosse, por exemplo, “Viagem espacial a um planeta habitado”.

Esse tipo de incoerência acontece muito freqüentemente na relação causa-

conseqüência, quando a estrutura lógica não se confirma. Quando dizemos “todo pássaro tem

asas e voa. O avião tem asas e voa. Logo, o avião é um pássaro”, sabemos que está incoerente

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porque há outros motivos que fazem o avião voar que não apenas as asas. Trata-se de um

problema de coerência interna, porque o argumento lógico é falso, e externa, porque o

conhecimento de mundo do leitor permite que ele detecte a incoerência. Observemos agora o

texto (5), que demonstra outro tipo de incoerência:

(5) Texto “A vaguidão específica” (Millôr Fernandes)

“— Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.

— Junto com as outras?

— Não ponha junto com as outras, não. Senão poder vir alguém e querer fazer qualquer coisa

com elas. Ponha no lugar do outro dia.

— Sim senhora. Olha, o homem está aí.

— Aquele de quando choveu?

— Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.

— Que é que você disse a ela?

— Eu disse para ele continuar.

— Ele já começou?

— Acho que já. Eu disse que podia principar por onde quisesse.

— É bom?

— Mais ou menos. O outro parece mais capaz.

— Você trouxe tudo pra cima?

— Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para

deixar lá até a véspera.

— Mas traga. Na ocasião, nós descemos tudo de novo. É melhor senão atravanca a entrada e

ele reclama como na outra noite.

— Está bem, vou ver como.”

Temos aí um caso de incoerência externa, ou seja, ao lermos (ou ouvirmos) o diálogo acima

não conseguimos entender o que se quer dizer. Porém, internamente, o texto está

perfeitamente coerente, pois os dois interlocutores compartilham de uma linguagem familiar e

os objetos referidos no texto fazem parte do universo das duas pessoas envolvidas no diálogo.

O contexto, então, determina os níveis de coerência.

Embora estruturas inteiras pareçam coerentes, muitas vezes não são, pois faltam

elementos que as estabeleçam. Observemos a redação em (6):

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(6) uma redação de vestibular sobre o tema “A adolescência e seus percalços”.

“O adolescente sofre muito quando mora com os pais, pois são obrigados a obedecer

a regras com as quais nem sempre concorda. Sua liberdade é cerceada e sua voz não é ouvida.

O adolescente deve procurar trabalho cedo, para se libertar da dominação dos pais.

É muito difícil para o adolescente encontrar um emprego. Como não tem experiência,

os empregadores não o aceitam e, sendo assim, ele continua sem experiência, formando uma

bola de neve que parece não ter fim. Com a crise no país, os empregadores também não

querem arriscar suas empresas na mão de adolescentes, visto que há um grande número de

profissionais experientes e desempregados.

Quando o adolescente sai de casa em busca de sua independência e encontra

dificuldades para arranjar emprego, acaba voltando para casa de seus pais, passando pela

humilhação de ter fracassado. A sensação de incompetência é o maior motivo do sofrimento

dos adolescentes.”

Notamos que a estrutura do texto é boa, pois o tema parece compatível com a redação como

um todo. A repetição (reformulação) da palavra “adolescente” faz o texto parecer coerente.

Porém, se observarmos mais atentamente, perceberemos que a redação já começa com um

ruído, o desvio do tema. Embora possamos utilizar o termo adolescente para falar de

adolescência, falar dos problemas do adolescente é diferente de falar dos problemas da

adolescência e, então, o conteúdo ficou vago. Outro problema no texto (6) é que cada

parágrafo fala de um tema diferente: o primeiro, sobre a falta de liberdade do adolescente; o

segundo, da crise e da falta de oportunidade para os adolescentes; o terceiro, dos transtornos

psicológicos relacionados à volta do adolescente à casa dos pais.

O problema da fuga do tema exige uma remodelação do texto, mas o da coerência

poderia ser solucionado se o emissor lançasse mão de elementos coesivos, ou seja, de

elementos que ligassem os parágrafos, dando-lhes sentido. Bastava iniciar o segundo

parágrafo com “Na tentativa de se libertar da dominação familiar, o adolescente sai de casa

em busca de trabalho.” e a coerência estaria estabelecida, pois a frase no início reformula a

necessidade de liberdade e de dominação, além de já apontar para o último parágrafo, que

poderia ter seu trecho inicial alterado para: “Por essas razões, o adolescente acaba

voltando...”. Aqui, a expressão “por essas razões” nos diz que os motivos do retorno do

adolescente ao lar foram os fatos expostos no parágrafo anterior. “Por essas razões” é uma das

marcas coesivas que amarrará a coerência no texto.

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1.1.2. Os níveis de coerência

Existem dois níveis elementares de coerência: (a) a coerência local, interna, no nível

da frase, do parágrafo, geralmente gerado pela regência (verbal ou nominal), concordância

sintática (na combinação das palavras na frase, das frases no parágrafo), ou na concordância

semântica (sentido); e (b) a coerência global, ou seja, o texto como um todo (a combinação

dos parágrafos no texto, do texto com outros textos, com aquilo que é esperado que ele

transmita).

O desvio do tema no texto (6) é um problema de coerência global. A incoerência na

estrutura dos parágrafos é um problema de coerência local. O conjunto de incoerência local

forma uma incoerência global.

1.2. A coesão textual

A coesão textual é o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos

lingüísticos presentes no texto se interligam, formando seqüências transportadoras de

sentidos. A coesão se refere aos elementos que estão no interior do texto e que o definem

como um texto.

1.2.1. As marcas coesivas e a embreagem textual

Um texto é, o tempo todo, composto de palavras e expressões que substituem os

elementos anteriores, de forma a tornar a sua compreensão mais dinâmica. Para tanto,

operamos associações de sentido com uma rapidez que sequer percebemos. Ao iniciarmos

uma estória de contos de fada, observamos:

(7) “era uma vez uma princesa que sofria muito na mão de sua madrasta má. Um dia, porque

sua madrasta tinha medo de não ser a mais bela mulher do reino, a princesa foi levada pelo

carrasco, incumbido de matá-la.”

Nesse trecho, percebemos uma estrutura coesiva bem elaborada: primeiro, quando ainda não

sabíamos de que se tratava da estória de uma princesa, a princesa foi apresentada com o

pronome indefinido (uma princesa). Na segunda vez que foi citada, a princesa já era

conhecida, sabíamos de qual princesa se falava, por isso usou-se o pronome definido (a

princesa) para se referir a ela. Na terceira vez, a própria palavra princesa foi substituída por

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um pronome átono (matá-la). Aqui, o pronome átono faz uma remissão, ou seja, remete a um

termo já citado (a princesa).

Os pronomes pessoais sempre formam uma cadeia coesiva, pois sempre entram no

texto em substituição a um nome. Os pronomes pessoais fazem referência a um termo já

citado (anáfora), mas existem pronomes, como os demonstrativos, que podem se referir a algo

que será ainda citado (catáfora). Observe:

(8) O professor começou a aula no horário. Ele é rigoroso com horário.

(9) Estes são os principais elementos: a anáfora e a catáfora.

em (8), o pronome pessoal ele substitui o termo já citado: o professor. Em (9), o pronome

demonstrativo estes nos remete aos termos que serão citados: a anáfora e a catáfora. Um

texto é, pois, composto dessas marcas que substituem e apontam para outros termos, lugares,

sentidos. Essas marcas coesivas, quando bem estruturadas, são um rico recurso

argumentativo. O seu mau uso, no entanto, pode provocar incoerência tanto no nível local,

quanto global.

1.2.2. As conjunções e outras referências textuais como recurso argumentativo

Os pronomes são fortes marcas coesivas. As conjunções são outra fonte de

estruturação coesiva. Pronomes e conjunções são recursos argumentativos decisivos na

formação dos sentidos. Vejamos:

(10) Choveu, e não saí.

(11) Choveu, mas não saí.

A princípio, parece que as duas declarações (10 e 11) querem dizer o mesmo, quando na

verdade dizem coisas bem diferentes. Em ambas havia um acordo de que se deveria sair.

Porém, em (10), a chuva foi o motivo do não cumprimento do acordo, porque a chuva não

estava prevista; em (11), a chuva já era prevista, e esta previsão está explícita no argumento

“mas”, que afirma o não cumprimento do acordo como uma infração.

As preposições e locuções prepositivas são também fortes marcas coesivas. Na

verdade, pode-se lançar mão de marcadores coesivos, em muitos elementos sintáticos, para a

estruturação do argumento. Faremos o levantamento dos elementos coesivos no texto abaixo:

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(12) Os urubus (trecho do texto “Os urubus e sabiás”, de Rubem Alves, apud A coesão

textual, de Ingedore Koch)

“Tudo1 aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os

urubus, aves por natureza becadas, mas2 sem grandes dotes para o canto, decidiram que,

mesmo2 contra a natureza, eles3 haveriam de se tornar grandes cantores. E para4 isto5 fundaram

escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e

fizeram competições entre si, para4 ver quais deles3 seriam os mais importantes e teriam a

permissão de mandar nos outros3. Foi assim que6 eles3 organizaram concursos e se deram

nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar

um respeitável urubu titular, a quem todos chamavam por Vossa Excelência. (...)”

1 Tudo – refere-se ao relato que se inicia (referência catafórica); como ainda não sabemos o

que virá, o pronome, indefinido, aponta para o que virá, estimulando a leitura do restante do

texto. 2 mas, mesmo – introduzem oposição/contraste. O mas faz opor a falta de dote em catar ao

fato de serem aves becadas; mesmo estabelece a contradição às leis da natureza. 3 eles, quais deles, outros e eles – referem-se a urubus (referências anafóricas); 4 para – indica finalidade, a meta que pretendiam alcançar. 5 isto – refere-se à declaração anterior, ou seja, substitui “a decisão de tornarem-se grandes

cantores” (referência anafórica); 6 foi assim que – indica a conseqüência, o resultado do esforço dos urubus.

Os elementos enumerados acima, apesar de imbricados, passam pela mente e

raciocínio do receptor, sem que se dê conta de sua complexidade. A boa elaboração do texto

envolve suas marcas coesivas, que permitem uma maciez na interação emissor-receptor. Por

isso, essa preocupação com o tecido textual é chamada, analogicamente, de embreagem (ou

calibragem). A concisão, a pontuação, o aspecto verbal são marcadores coesivos da

embreagem textual que determinarão as limitações ou ampliações de sentido.

1.3. A Pontuação

A pontuação é um dos mais sofisticados marcadores de coesão, que serve de forte

instrumento numa estrutura argumentativa, pois permite inúmeras opções na embreagem

textual. Com a pontuação, podemos tornar o texto mais conciso, ou mais prolixo; podemos

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mudar o sentido de um termo com uma simples vírgula. Veremos a seguir o uso padrão da

pontuação.

1.3.1. Regras, usos e curiosidades

1.3.1.1. A vírgula A vírgula é utilizada para:

APLICAÇÃO EXEMPLO

Separar enumerações e termos O pai, a mãe e o filho saíram. Separar orações independentes entre si Vim do sul, trabalhei anos, voltei para casa.Separar orações subordinadas deslocadas (inversões) Se tiver dinheiro, irei ao cinema.

Separar orações reduzidas Terminada a aula, os alunos saíram. Separar orações intercaladas O jogo, disse o técnico, é difícil.

Separar orações explicativas O homem, que é um ser mortal, tem a alma imortal.

Separar vocativos e apostos explicativos 1) Paulo, um amigo meu, viajou ontem para a Europa. 2) Paulo, venha cá!

Separar adjuntos adverbiais deslocados 1) Durante o recreio, ele saiu. 2) Ele, durante o recreio, saiu.

Separar conjunções deslocadas ou depois de ponto-e-vírgula (;)

1) Estudou muito; não foi, entretanto, aprovado. 2) Estudou muito; logo, será aprovado..

Marcar elipse do verbo Gostas de cinema e eu, de teatro (gosto)

Marcar a conjunção “e” quando não é aditiva

1) Estudou bastante, e não foi aprovado (= mas – adversativo). 2) Andou, correu, e alcançou o seu objetivo (= logo – conseqüência) 3) Chegou, e viu, e lutou, e venceu (repetição enfática)

Separar partículas de realce Dinheiro, todos precisam dele. Separar topônimos nas datas Rio de Janeiro, 25/03/02.

1.3.1.2. Os demais sinais de pontuação

Ponto-final (.) – utilizado em abreviaturas e para encerrar um período. Num parágrafo, pode haver mais de um ponto-final. Já vimos um. Agora dois.

Ponto-parágrafo (.) – encerra parágrafo. Não é fácil, na verdade, utilizar bem os sinais de pontuação. Na verdade, são muitas

regras. Decorá-las parece complicado e entendê-las, mais difícil ainda.

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No entanto, vale o esforço. Se soubermos pontuar corretamente, facilitamos a leitura, levamos o leitor a ler conforme imaginamos o texto.

Ponto-e-vírgula (;) – é uma pausa maior do que a vírgula e menor do que o ponto-final, uma

vez que não encerra período. Emprega-se geralmente em orações coordenadas que, por

apresentarem unidade de sentido ou aspectos em comum, convém deixar no mesmo período. Na língua escrita, é o leitor; na linguagem falada, o ouvinte.

Dois-pontos (:) – usados nos seguintes casos:

a) antes de uma citação Estava escrito: “girar o botão para a direita”.

b) para indicar uma enumeração Vários são os autores estudados: Machado, Alencar, Drummond e

tantos outros.

c) antes de esclarecimento/explicação Fez tudo conforme o combinado: saiu às sete horas, comprou o

necessário e, às dez, chegava à casa.

d) para introduzir uma pergunta ou resposta Perguntei-lhe: “— Sabes andar?”. O moço respondeu:

“Nunca pude fazê-lo”.

Ponto-de-interrogação (?) – é empregado no fim de interrogativas diretas (cuidado: não há

ponto-de-interrogação em interrogativas indiretas) Quem fez a redação? (mas: ele perguntou quem tinha feito a redação.)

Eram os deuses astronautas?

Ponto-de-exclamação (!) – emprega-se depois de interjeições ou de frases que exprimem

espanto, admiração, entusiasmo, ironia, ordem, chamamento, dor, alegria... Você chegou! Que surpresa!

Manuel! Vem cá!

Reticências (...) – emprega-se quando queremos demonstrar que o pensamento foi

interrompido, que houve uma suspensão de sentido, deixando o final em aberto para que o

receptor conclua por si. Ah, se essas paredes falassem...

Travessão (—) – num diálogo, indica a introdução da fala de cada personagem, alternando os

turnos. Num texto em prosa, serve para enfatizar uma palavra, frase ou expressão, para fazer

uma descrição, substituindo a vírgula ou um parêntese numa escala hierárquica. — E aí, casou?

— Ainda não. Talvez pro final do ano.

“Uma palavra — liberdade — escraviza muita gente”. (Machado de Assis)

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Parênteses (()) – emprega-se para destaque de palavra, frase, oração ou período que têm

caráter explicativo-intercalativo e que é geralmente pronunciada em tom mais baixo e mais

rápido, em situação de aparte. “Um dia (que linda manhã fazia!) ela saiu a passear”. (Joaquim Antônio de Macedo)

Aspas (“ ”) – emprega-se nos seguintes casos:

a) para destacar uma citação textual (intertextualidade direta) Um dia eu soube que “tinha uma

pedra no meio do caminho”, mas descobri tarde demais.

b) para realçar uma palavra ou expressão “Querer é poder” deve ser o nosso lema.

c) para indicar ironia, destacar expressões estrangeiras, arcaicas ou gíria O “humor” de

Machado de Assis. / O professor elogiou a “sapientia” do aluno. / Foi uma verdadeira “curtição”.

1.3.2. A pontuação e a coesão/coerência do texto

A pontuação pode estabelecer a coerência, ou incoerência, textual. O uso de uma

vírgula em lugar errado pode alterar completamente o sentido daquilo que se está tentando

transmitir. Observe:

(13) Este presente é para meu neto, não para minha neta.

(14) Este presente é para meu neto não, para minha neta.

A mudança de posição da vírgula fez com que o presente, na declaração (13), fosse para o

neto e, na declaração (14), para a neta. Em ambos os casos, porém, não ocorreu a falta de

coerência, apenas o sentido foi modificado. Há casos em que o uso da vírgula prejudica

completamente o sentido, como em

(15) Este presente é para, meu neto não, para, minha neta.

onde não conseguimos saber exatamente para quem é o presente. A pontuação é capaz de

sutilezas imperceptíveis à primeira vista, mas fundamental na análise dos sentidos:

(16) As cadeiras que têm braços são mais confortáveis.

(17) As cadeiras, que têm braço, são mais confortáveis.

Em (16), fica claro que há cadeiras com e sem braço, e que as cadeiras com braço são mais

confortáveis (o que nos leva a pensar que as sem braço não são tão confortáveis). Já em (17),

há cadeiras e outros assentos (por exemplo, bancos), e que as cadeiras, todas, têm braços e são

mais confortáveis que os demais assentos. O que marca a diferença dos sentidos entre (16) e

(17) é a vírgula.

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O mau uso da pontuação tem sido um problema na maioria dos textos dissertativos-

argumentativos.

1.4. Verbos Assim como acontece com a pontuação, o bom uso do verbo também serve de argumento e marcador coesivo.

1.4.1. O modo indicativo

Presente acontece

descreve o que acontece, ou mantém constância, no momento atual.

Pretérito perfeito Aconteceu descreve um evento acabado.

Pretérito imperfeito Acontecia

descreve um momento em que se manteve simultaneidade com um evento acabado.

Pretérito mais-que-perfeito Acontecera

descreve um evento anterior ao já acabado (ou ao que teve simultaneidade com evento acabado).

Futuro do presente Acontecerá

descreve um evento num momento futuro, o qual se pretende realizar.

Futuro do pretérito Aconteceria

Descreve um evento previsto para o futuro, mas que não se concretizou/concretizará; descreve um passado visto como futuro.

HOJE

AG

OR

A

PRETÉRITO FUTURO

aconteceu

acontecera = tinha acontecido

PRESENTE

estava acontecendo

acontecia

linha do tempo

acontecerá

aconteceria

aconteceria

está acontecendo

acontece

tem acontecido = vem acontecendo

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Língua Portuguesa 15

1.4.2. O modo subjuntivo

O modo subjuntivo exprime o evento não realizado (pretérito: se chovesse), ou o ainda não realizado (presente: para que chova / futuro: quando chover). Por sua característica de “dependência”, é geralmente utilizado em orações subordinadas.

1.4.3. O aspecto verbal na elaboração do sentido

Analisamos o aspecto do verbo para entender o sentido pretendido quando o uso foi

deslocado do tempo verbal adequado. Observemos o final da última estrofe de um soneto de

Camões:

(18) “(...) – Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida”

Se fôssemos respeitar os tempos verbais, o texto acima ficaria:

condição

aconteceria se não chovesse

proposição

condição

acontecerá quando chover

proposição

condição

acontecerá para que chova

proposição

futuro do pretérito do indicativo pretérito imperfeito do subjuntivo

futuro do presente do indicativo futuro do subjuntivo

futuro do presente do indicativo presente do subjuntivo

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Língua Portuguesa 16

(19) “(...) – Mais serviria, se não fosse para tão longo amor tão curta a vida”

O uso do pretérito-mais-que-perfeito (servira/fora) no lugar do futuro do pretérito e pretérito

imperfeito do subjuntivo se deu em função da estética poética. Diariamente utilizamos o

desvio para fins estéticos, embora muitas vezes nem percebamos:

(20) Aquele casaco velho servia para um pobre.

(21) Você não ia para a França?

O uso de servia no lugar de serviria tem um valor estético. É muito comum o uso do pretérito

imperfeito (ia, servia) no lugar do futuro do pretérito (iria, serviria), porque o pretérito

imperfeito tem a característica de descrever um fato que se iniciou no passado e ainda não foi

concluído, enquanto o futuro do pretérito descreve um planejamento que foi cancelado.

2. Da palavra ao texto

Uma palavra possui praticamente as mesmas características descritas para o texto. É

dependente de um contexto, faz parte de uma interação social e é marcada pelo fato histórico.

A lingüística chama a palavra de “signo lingüístico”, que é composto de três partes básicas:

uma parte é a imagem que o som transmite (imagem acústica), que surge da relação dos sons

com as suas representações (as letras e os fonemas); outra parte é o significado, que está

associado ao som da palavra e que reporta a um sentido, que deve ser conhecido por todos

que compartilham o mesmo meio social; a terceira parte é a da interpretação/representação,

pois o uso de determinada palavra dependerá da interpretação que dela se faz.

Deslocada de contexto, ou isolada da história, ou, ainda, isolada socialmente, a palavra

não faz qualquer sentido, está apenas marcada por um significado dicionarizado. Quando

dissemos que “o signo lingüístico é composto por três partes básicas”, queremos dizer que

são três partes mínimas que dão base a muitas outras, não queremos dizer que são simples

(outro sentido para básico), como em “uma roupa básica”.

2.1. As relações da palavra

O uso das palavras é automatizado, mas devemos tomar muito cuidado com elas, pois

o significado pode trair o sentido, ou vice-versa. Por exemplo, um sujeito excêntrico

normalmente é tido como “esquisito, estranho, incomum”, mas, na verdade, um dos sentidos

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Língua Portuguesa 17

diz respeito ao “indivíduo que age ou pensa de maneira original, extravagante, fora dos

padrões considerados normais ou comuns”, pois o sentido primário de excêntrico é “que se

desvia, ou se afasta do centro”. Daí, os muitos ruídos com relação a sentidos ambíguos.

Observe:

(22) Era excêntrico.

(23) Morava no campo. Ele era excêntrico.

(24) Os demais elementos viviam no centro do núcleo da célula, com exceção de um tipo de

bacilo, que era excêntrico.

(25) Ele vivia o máximo que podia todos os dias, com extravagância. Ele era excêntrico ao

extremo.

Em (22) e (23), não podemos saber qual o sentido exato do que se quer dizer, embora em (23)

possamos pensar em “extravagante”. Já em (24), o que se pretende dizer é “fora do centro” e

em (25), “extravagante”. Observamos, então, que as palavras podem se comportar

diferentemente dentro de um contexto.

Além do comportamento das palavras, há também considerações sintáticas nas quais

devemos estar sempre atentos: a concordância e a flexão são as mais comuns, pois estão

relacionados aos outros elementos no texto. Observemos o comportamento da palavra

“mesmo”:

(26) Elas mesmas fizeram o trabalho.

(27) Mesmo a marinha não conseguiu combatê-lo.

Em (26), mesmo é flexionado em gênero e número para concordar com elas. Neste caso, elas

mesmas significa “elas próprias, não outras”, é adjetivo (determinante) e, na língua

portuguesa, os determinantes são flexionáveis e devem concordar com o termo que

determinam. Em (27), mesmo não é determinante, mas sim, denota um limite, dá intensidade,

reforça o fato de a marinha não ter conseguido combater, ou seja, mesmo é advérbio e os

advérbios, em língua portuguesa, não são flexionáveis. Para resolver problemas com as

palavras, não o cão, mas o dicionário é o melhor amigo do homem. É impressionante como

um dicionário pode nos ajudar a resolver dúvidas de conjugação verbal, concordância e

flexão.

A posição das palavras na frase também é um fator determinante na construção dos

sentidos. O determinante em língua portuguesa deve vir depois do determinado. Em casa

portuguesa, o determinante portuguesa (no estilo de Portugal, ou de família portuguesa) vem

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Língua Portuguesa 18

depois do determinado casa. Podemos, no entanto, manipular essas posições com diferentes

objetivos:

• para efeitos enfáticos ou poéticos Vi os campos verdes (padrão)

Vi os verdes campos (inversão – ênfase em verdes)

• para mudar o sentido Ele era um homem grande (padrão – refere-se à altura)

Ele era um grande homem (inversão – refere-se ao caráter)

• para mudar o enfoque Conheço uma cozinheira baiana (cozinheira que nasceu na Bahia, não no Rio ou em São Paulo)

Conheço uma baiana cozinheira (baiana cuja profissão é cozinheira, não vendedora, nem advogada)

Uma vez na frase, a frase também ocupa lugares bastante determinados. As frases estão

associadas umas às outras, formando uma cadeia de significados. Em um texto escrito, a

cadeia de significados é agrupada em parágrafos.

2.2. A estrutura do parágrafo

O parágrafo é uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período,

em que se desenvolve determinada idéia central, a que se agregam outras, secundárias,

intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrente dela. O parágrafo facilita ao

emissor a tarefa de isolar e depois ajustar convenientemente as idéias principais da sua

composição.

O tamanho do parágrafo é variado, não há um tamanho específico, mas cada parágrafo

– ao menos teoricamente – deve corresponder a cada uma das idéias do texto. A extensão do

parágrafo depende, praticamente, da divisão do assunto que está sendo tratado.

O parágrafo padrão consta de três partes (que são similares à estrutura da composição

como um todo): a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. A idéia principal de um

parágrafo padrão é chamada de tópico frasal. Constituído de um ou dois períodos curtos, o

tópico frasal encerra de modo geral e conciso a idéia-núcleo do parágrafo. Pode ser uma

generalização que expresse a opinião pessoal do emissor, um juízo, ou se declara alguma

coisa. O desenvolvimento do parágrafo com tópico frasal pode se dar por três métodos:

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Língua Portuguesa 19

• indutivo – tópico frasal no final, donde se parte de particularizações para a

generalização, ficando o tópico com o aspecto de uma conclusão. Um texto não é um aglomerado de frases. Todo texto contém uma declaração ou

pronunciamento que faz parte de um contexto maior, mais amplo. O texto é um tecido, uma

estrutura constituída de tal modo que as frases não têm significado autônomo: num texto, o

sentido de uma frase é dado pela correlação que mantém com as demais. Nesse aspecto, um

texto é um fato de contexto.

• dedutivo – tópico frasal inicial, donde se parte de uma generalização para a

particularização, esmiuçando o que a declaração inicial suscitou. Um texto é um fato de contexto. O sentido de uma frase é dado pela correlação que

mantém com as demais frases. Um texto não é um aglomerado de frases e contém uma

declaração ou pronunciamento que faz parte de um contexto maior, mais amplo. O texto é um

tecido, uma estrutura constituída de tal modo que as frases não têm significado autônomo.

• misto – tópico frasal aparece diluído, havendo, antes dele, uma indução e, após

ele, a dedução. Um texto não é um aglomerado de frases. Todos contêm uma declaração ou

pronunciamento que faz parte de um contexto maior, mais amplo, dependente do meio em que

se está inserido. Um texto é um fato de contexto. Ou seja, é um tecido, uma estrutura

constituída de tal modo que as frases não têm significado autônomo: o sentido dependerá do

meio e da correlação que uma frase mantém com as demais.

O início do parágrafo pode ser, entre outras sugestões:

• uma declaração inicial – o emissor afirma ou nega alguma coisa logo de saída

para, em seguida, justificá-la ou fundamentá-la. Abre-se o parágrafo com um tópico frasal,

uma generalização. Vivemos em uma época de ímpetos. A vontade, divinizada, afirma sua preponderância...

• uma definição – o tópico frasal toma a forma de uma definição. É um método

preferencialmente didático. Estilo é a expressão literária de idéias ou sentimentos. Resulta de um conjunto dotes externos...

• uma divisão de idéias – o tópico é apresentado sob a forma de divisão ou

discriminação das idéias a serem desenvolvidas. O silogismo divide-se em silogismo simples e silogismo composto, isto é, são feitos

vários silogismos explícita ou implicitamente formulados...

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Língua Portuguesa 20

• alusão histórica – começa-se o parágrafo fazendo alusão a fatos históricos,

lendas, tradições, anedotas ou acontecimentos. Conta uma tradição cara ao povo americano que o Sino da Liberdade, cujos sons

anunciaram, em Filadélfia, o nascimento dos Estados Unidos...

• omissão de dados identificadores – começa-se o parágrafo descrevendo detalhes,

sem revelar o acontecimento principal, que só aparecerá no final (método indutivo). Será revelado dentro de alguns dias. A população brasileira receberá uma notícia pela

falta de sua atenção e mobilização social. Ninguém terá qualquer motivação para se orgulhar

da “alegria” com a qual o brasileiro é conhecido. (...)

• interrogação – começa-se o parágrafo com uma pergunta de retórica, seguindo-se

o desenvolvimento sob a forma de resposta ou desenvolvimento. É possível que a história nada tenha ensinado? Sim, no caso em questão comprova-se

que em nada serviu...

2.3. A estrutura da redação/composição

Redação é qualquer espécie de linguagem escrita que trate de fatos ou de um tema,

destinada à comunicação (transmissão da informação) e deve ter como princípio básico a

clareza, correção, objetividade e uma ordenação lógica. Uma redação/composição deve ter

uma tese (idéia central) que deverá ser defendida, ou criticada. Essa tese é construída através

de núcleos de idéias distribuídas em parágrafos. Uma redação é estruturada da seguinte

forma:

• declaração inicial (ou introdução) – uma opinião ou exposição de um fato. O

emissor se preocupa em apresentar o assunto a ser tratado ao longo da redação (apresentação

da tese). Ocupa geralmente um parágrafo. A adolescência é um período delicado na vida de qualquer pessoa. É nela que se

descobre o poder da liberdade e o desprazer da limitação. Embora muitos adolescentes passem

com tranqüilidade por esse período conturbado, os relatos confirmam que a grande maioria

tem dificuldades tanto psicológicas quanto sociais, principalmente nas relações com os pais.

• argumentação (ou desenvolvimento) – defesa da idéia/tema a favor ou contra.

Faz-se a concordância parcial com apresentação de evidências (fatos, exemplos, ilustrações,

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Língua Portuguesa 21

dados estatísticos, testemunhos) para depois confirmar ou refutar (defesa ou refutação da

tese). Pode ocupar um ou muitos parágrafos. Estudos recentes revelam que 60% dos usuários de drogas têm seus ritos de iniciação

na adolescência, em decorrência do péssimo relacionamento que estes mantêm com seus pais.

Não podemos nos deixar levar por dados estatísticos que se preocuparam com questões

familiares, mais do que com as questões do próprio adolescente, da sua necessidade de se

sentir integrado a um meio, de fazer parte de uma identidade especial formada pelo grupo que

pretende freqüentar.

• declaração final (ou conclusão) – finalização da redação, tem por finalidade

retomar o assunto iniciado na declaração final, reiterado segundo a tomada de posição na

argumentação. Percebemos, assim, que todas as perturbações pelas quais passa o jovem no auge de

sua adolescência, quer por motivos socioculturais, quer por motivos psicológicos ou

biológicos, não podem ser atribuídas apenas à sua relação familiar, ou ao meio que freqüenta.

Trata-se de uma conjuntura de fatores que fazem dessa fase da vida uma das mais instigantes e

importantes lembranças que carregaremos para o resto de nossa idade adulta.

Uma redação deve ter, portanto, um mínimo de três parágrafos. Para a defesa da tese,

podemos lançar mão de recursos argumentativos, a que chamamos mais abaixo de “estrutura

da argumentação”.

3. Desconstruindo mitos

A mídia e muitos tradicionalistas costumam ensinar língua portuguesa com regras

absolutas. Nem sempre o uso segue a regra gramatical, o que não quer dizer que esteja

incorrendo em erros. Como vimos em “aspecto verbal”, o deslocamento do verbo de seu

tempo verbal “tradicional” se dá em nome de um sentido que o “tradicional” não permitiria.

Outros usos que também fogem à regra tradicionalista servem como marcadores

textuais, como a variação regional e as variações entre as classes e grupos sociais, as

variações de época (gírias) e de idade, que são chamadas de variações dialetais. O português

brasileiro é uma variação dialetal (regional) do português europeu.

Muitas proibições impostas pelos tradicionalistas são amplamente estudadas e mais

cedo ou mais tarde acabarão entrando para a norma, como o “a gente vai” que entrou para a

norma como uso informal.

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Língua Portuguesa 22

É preciso distinguirmos norma culta padrão de uso. A norma culta é o espelho da

língua falada em Portugal e está registrada nas melhores gramáticas. O uso é o dia-a-dia, o

cotidiano da comunicação. Por exemplo, o uso dos pronomes demonstrativos esse(a) e este(a)

apontam para uma referência no texto, ou fora dele. O contexto dirá quando devemos usar um

ou o outro. Porém, a distinção entre esse(a) e este(a), nesse(a) e neste(a), isso e isto, nisso e

nisto está cada vez mais confusa (veja a Nova Gramática do português contemporâneo, de

Celso Cunha e Lindley Cintra, 2a. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985; p. 322). Há

argumentos de que essa distinção está se extinguindo, outros estudos destacam que há a

questão da preferência pessoal, ou seja, há uma tendência/predileção pessoal pelo uso de um

ou outro demonstrativo. Portanto, não podemos nos culpar, nem nos angustiar, por eventuais

inadequações ditadas pelos tradicionalistas, deixando a cobrança pelas adequações para as

ocasiões mais formais, onde a norma culta padrão é exigida.

3.1. Pontos de gramática

3.1.1. Os porquês POR QUE

• Quando pergunta Por que ela não veio? • Quando = pelo qual, por qual, por que motivo o caminho por que tive de seguir /

Soubemos por que ela não foi. PORQUE • Quando ≠ pelo qual, por qual, por que motivo (= conectivo) ficou doente porque não comia

(= visto que, idéia de causa) / voa porque tem asas (uma explicação). POR QUÊ • Deve-se acentuar SOMENTE quando for seguido de sinal de pontuação Ele não veio e ela

não quis saber por quê. / Você está assim preocupado, por quê? PORQUÊ • Quando precedido de artigo (= substantivo, pode ser flexionado) todos sabemos o porquê

das demissões (= o motivo) / Nunca nos explicaram os porquês das coisas (= as razões para a existência) • Quando for seguido de sinal de pontuação o pássaro voou e eu não sei porquê.

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Língua Portuguesa 23

3.1.2. Esse(a) ≠ este(a) a) Em uma conversa • POSIÇÃO esse(a) está longe de quem fala e próximo daquele com quem se fala. Este(a)

está perto de quem fala. (Atenção: aquele/aquela está longe tanto de quem fala quanto daquele com quem se fala)

— Por favor, coloque essa bola lá dentro. Eu vou colocar este quadrado lá dentro também. b) Em uma redação dissertativa a referência • REFERÊNCIA esse(a) refere-se a fato já citado. Este(a) refere-se ao que seguirá.

O pequeno poder pode servir como um mecanismo de compensação. Esses mecanismos são a válvula de escape para um enorme complexo de inferioridade. No âmbito do poder, estes fatos devem ser considerados: o sujeito se sente inferior e essa inferioridade o incomoda, o que o leva a abusar até mesmo da menor autoridade quando lhe delegam um poder mínimo, como aplicar uma multa no trânsito.

c) Em uma carta • A QUEM E DE QUEM esse(a) aponta para quem se está escrevendo. Este(a) indica quem

está escrevendo.

Vimos por meio desta solicitar uma definição da compra o mais breve possível, uma vez que até o momento não obtivemos uma posição dessa empresa. (...) Não considere o pedido de urgência uma pressão, pois a intenção desta empresa é sempre atender no que for possível.

d) Outros usos • Este dia = hoje ≠ esse dia = dia citado • Esta hora = de agora até daqui a 60 minutos ≠ essa hora = hora citada

Quem telefonar neste dia, concorrerá a um ingresso para o Palco MPB. Quem ligar nesta hora concorrerá, também, a um CD do Jorge Vercilo.

O aniversário da MPB FM será comemorado no dia 14 de setembro, a partir das 19h. Nesse dia, haverá a apresentação de muitos cantores famosos. Às 20h haverá um sorteio. Nessa hora, um cantor convidado entregará o convite para o seu show no Canecão, na semana seguinte.

Quem fala

Quem ouve

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Língua Portuguesa 24

3.1.3. A crase e as regências verbal e nominal

A CRASE é um fenômeno lingüístico caracterizado pela fusão de duas vogais em uma

só. É um fenômeno largamente empregado em textos literários, principalmente em poemas.

Com exceção do acento grave (a seguir), a crase não é acentuada, pois se dá somente na fala.

O ACENTO GRAVE (`) atualmente é utilizado somente para marcar a união da

preposição a com outro a (feminino), ou seja, a crase do a preposição com o outro a . No

caso, o primeiro a é sempre a preposição, que geralmente vem regendo um verbo ou nome

(referir-se a, ir a, atender a, obedecer a, referente a etc.). O segundo a pode ser:

Artigo definido feminino: a(s). Ex.1: Eu me refiro à empresa (eu me refiro a + a empresa).

Dica: para certificar-se da crase, substitua a palavra empresa, que é feminina, por uma masculina (p. ex. clube). Assim obteremos: eu me refiro ao clube (ao = prep. a + artigo o), logo, em a empresa tratava-se de a prep. + a artigo.

Ex.2: Eu obedeço às leis . (eu obedeço a + as leis) eu obedeço aos regulamentos.

Ex.3: Eu conheço a empresa. (conhecer é transitivo direto, não há preposição)

eu conheço os clubes. Ex.4: Eu li as leis. (ler é transitivo direto, não há preposição)

eu li os regulamentos. Ex.5: Não há oposição à realização do curso.

não há oposição ao andamento do curso. Ex.:6: Não há oposição a esta diretoria.

não há oposição a este diretor. (não há artigo: ao este diretor) Ex.7: Ficou indiferente às reclamações.

ficou indiferente aos apelos. Pronome demonstrativo feminino – a(s) Ex.1: Sua reivindicação é igual à dos funcionários. (igual a + a reivindicação dos funcionários = igual àquela dos funcionários)

seu pedido é igual ao dos funcionários. Ex.2: Faça uma linha paralela à do centro. (paralela a + a linha do centro = paralela àquela linha do centro)

faça um traço paralelo ao do centro.

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Língua Portuguesa 25

Ex.3: Referiu-se às que saíram. (referiu-se a + as [aquelas] que saíram) referiu-se aos (àqueles) que saíram.

Ex.4: Não reconheci as que saíram. (reconhecer é transitivo direto, não há preposição)

não reconheci os que saíram. Vogal a inicial dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo. Ex.1: Entregou o livro àquele aluno. (entregou a + aquele) Ex.2: Encontrou aquele aluno. (encontrar é transitivo direto, não há preposição) Artigo a antes do pronome qual (quais) Ex.1: Esta é a revista à qual se referiu. (a qual + referiu-se a) Ex.2: Esta é a revista a qual ele leu. (ler é transitivo direto, não há preposição) Casos especiais do acento grave: • O verbo IR • As expressões: à moda de, à maneira de (ao estilo de)

Ex.1: Escrevi a Jorge Amado. (= “escrevi para Jorge Amado”, poderia ser “escrevi ao Jorge Amado” = para o Jorge Amado) Ex.2: Escrevi à Jorge Amado. (= escrevi à moda de Jorge Amado) Ex.3: Filé à francesa. • Verbos ambíguos: bater, sair, vender etc. Ex.1: Ele bateu a porta. (= ele fechou a porta) Ele bateu à porta. (= queria entrar e a porta estava fechada)

Vou a Volto de Portugal Portugal Paris Paris Curitiba Curitiba Nova Iguaçu Nova Iguaçu casa (minha casa) casa (minha casa) Vou à Volto da França França Bahia Bahia Barra da Tijuca Barra da Tijuca praia praia casa dos meus pais casa dos meus pais

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Língua Portuguesa 26

Ex.2: Saía a noite em pleno inverno. (= a noite saía) Saía à noite em pleno inverno. (= alguém saía à noite) Ex.3: Ela vendeu a vista. (= vendeu os olhos) Ela vendeu à vista. (= não foi a prazo) • Locuções, (à medida que, à procura de, à moda de, à maneira de, à proporção que, às

custas de etc.), para distinguir do sujeito ou do objeto direto: Ex.1: A procura dos criminosos durou três dias. (“a procura dos criminosos” = sujeito) A polícia estava à procura dos criminosos. (à procura de = locução) Ex.2.: A medida que você me forneceu estava errada. (= a medida estava errada) À medida que os empregados chegavam, o salão ficava repleto. (= locução) • Numeral Ex.1: A reunião será das duas às quatro horas. (= começará às 2h e terminará às 4h) A reunião será de duas a quatro horas. (= terá duração de) Ex.2: Era uma escola de 5ª a 8ª série. (note: de 5ª até 8ª) Era uma escola da 5ª à 8ª série. (note: de+a 5ª até a 8ª)

Das 5as às 7as séries ficam no prédio 1. Das 8as em diante, no prédio 2. (das 5as até as 7as séries) Ex.3: Eu volto daqui a quatro luas. (= depois de quatro luas duração de tempo) Eu volto às quatro. (= quatro horas) Ex.4: Todos responderam à uma só voz. (= uma única voz, não se ouviu duas vozes) Todos responderam a uma voz que vinha do fundo da sala. (= alguma voz)

Nota: Viajarei daqui a dois dias. (evento a acontecer) Há dois dias não a vejo. (há = faz / a vejo = vejo ela) • Casos facultativos: diante de nomes próprios de mulher ou de pronomes possessivos

femininos no singular. Ex.: Entregou os documentos à minha mãe. (= a minha mãe recebeu os documentos) Entregou os documentos ao meu pai.

Entregou os documentos a minha mãe. (= minha mãe recebeu os documentos) Entregou os documentos a meu pai. Casos proibidos: nunca haverá crase (e acento grave) antes de:

• Palavras masculinas viajou a cavalo / andou a pé / falou a respeito da venda.

• Verbos começou a redigir uma carta / entra em vigor a partir de hoje.

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Língua Portuguesa 27

• Artigos e pronomes indefinidos referiu-se a uma antiga lei / referiu-se a alguém.

• Pronomes pessoais entregou a mim / entregou a ela.

• Pronomes demonstrativos que não comecem com a ofereceu a esta pessoa / referiu-se a esse rapaz.

• Palavras no plural e o a no singular não obedecia a leis pouco conhecidas / Acabou levando a situações constrangedoras.

• No a depois de outra preposição foi para a Itália / está aqui desde as sete horas / compareceu perante a justiça.

• Expressões de tratamento falou a vossa senhoria (cuidado: falou à senhora) / falou a Vossa Excelência. / disse a você.

• Expressões formadas por repetições de palavras cara a cara, dia a dia etc.

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Língua Portuguesa 28

UNIDADE 2

O Planejamento do texto

4. Noções da Teoria da Comunicação

A teoria da comunicação estabelece funções para a linguagem, pois acredita que todo

texto é uma mensagem que se pretende comunicar. Por isso, todo texto é uma mensagem que

parte de um emissor (ou destinador) em direção a um receptor (ou destinatário). A

transmissão é feita através de um canal (auditivo, visual etc.) e por meio de um código

(linguagem) que seja compreendido pelo receptor (destinatário). A mensagem não é vazia,

sempre falará um assunto/tema/referência (o referente). Para melhor visualização, observe o

esquema:

4.1. As funções da linguagem

Partindo do esquema da Teoria da Comunicação, cada texto tem sua função. Embora

as funções se sobreponham, existe sempre uma que predomina, com base nos elementos

envolvidos:

Função poética textos focados na MENSAGEM, valorizam a informação pela forma da mensagem. A forma e a beleza têm tanta ou mais importância que a informação transmitida. Poemas e dramatizações têm função poética.

Função metalingüística textos focados no CÓDIGO, são explicativos em que a linguagem descreve a linguagem. Dicionários, gramáticas, definições têm função metalingüística. O “metacinema” (making of de filmes) utiliza a metalinguagem.

emissor ou destinador

receptor ou destinatário

canal

mensagem

referente

código

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Língua Portuguesa 29

Função fática textos focados no CANAL, visam à instauração e facilitação da comunicação, preocupam-se em manter o canal ligado. Um texto objetivo e claro tem função fática. Expressões como “entendeu?” (num discurso), “alô?” e “você está aí?” (num telefonema) também têm função fática.

Função conativa (ou apelativa) textos focados no RECEPTOR. Aqui, o receptor é o alvo e deve ser sensibilizado. São textos “impressivos”, sedutores, persuasivos. Anúncios, propagandas e cartas aos leitores têm função apelativa.

Função expressiva (ou emotiva) textos focados no EMISSOR. São textos nos quais se percebe a presença do emissor, seus juízos de valor (opinião), seus sentimentos. Textos “impressionistas”, críticos, subjetivos têm função expressiva. Os romances e contos, em sua maioria, mesclam as funções expressiva e poética.

Função referencial textos focados no REFERENTE. A informação é transmitida de forma bruta, objetiva, enxuta, sem juízo de valores. Descrições simples e relatórios têm função referencial.

O bom texto acadêmico, com base nas funções descritas acima, deve mesclar alguns

elementos: preocupação referencial, para não fugir do assunto, já que descreverá um tema.

Deve-se emitir o juízo de valor ao estruturar a argumentação em defesa de sua tese, ou

estabelecer uma crítica. A objetividade, clareza nas idéias (função fática) deve permear todo o

texto, para facilitar o seu entendimento pelo receptor (preocupação apelativa), afinal, todo

texto é elaborado para ser lido.

5. Tipologia de texto

Tipologia textual é o nome que se dá à tentativa de se estabelecer os tipos distintos de

textos. É óbvio que não existe uma tipologia única, sistemática e explícita, pois devemos

considerar a diversidade de classificações que levam em conta as funções da linguagem, a

intencionalidade do emissor, prosa de base, traços lingüísticos ou estruturais, efeitos

pragmáticos, variedades da linguagem e recursos estilísticos. Listamos abaixo, para facilitar o

entendimento dessa complexidade, alguns tipos de texto e os gêneros em que são aplicados.

5.1. Os tipos de texto

São observados quatro tipos básicos, donde se pode partir para a elaboração de

qualquer texto:

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Língua Portuguesa 30

Narrativo muito utilizado nos textos literários, pois narrar é contar uma história/estória. Geralmente, a narrativa se estrutura em torno de um acontecimento, com elaboração de cenários e personagens.

Descritivo texto que descreve um objeto ou ser, exibindo seus detalhes. Um relatório de uma pesquisa lança mão de recursos descritivos.

Dissertativo-argumentativo aquele que estabelece a defesa de uma opinião e os recursos utilizados para o convencimento do receptor. É preciso captar o leitor, se não para concordar, pelo menos para aceitar a opinião exposta (tese). É o texto ideal para as redações de tema, monografias, dissertações e teses.

Conversacional antigamente conhecido como “diálogo”, é o tipo de texto em que se estabelece uma conversa, podendo ser em forma de diálogo, ou na própria estrutura do texto como, por exemplo, quando o texto está estruturado em perguntas e suposições de respostas.

O estabelecimento de um tipo de texto não anula outro. Há na narrativa bons

momentos de descrição. A argumentação perpassa todos os tipos, sem exceção. Numa

dissertação, a descrição ou a narração de um fato acontecido podem ser utilizadas como

persuasão na estrutura argumentativa.

5.2. Os gêneros discursivos

Os gêneros discursivos são mais variados e não podemos restringi-los. A relação

abaixo retrata apenas um agrupamento possível:

GÊNERO APLICAÇÃO Literários Conto, novela; teatro, poema; certas crônicas Jornalísticos Notícia; artigo de opinião; reportagem; entrevista de Informação Científica Definição; nota de enciclopédia; relato de experimento

científico; monografias, dissertações e teses; biografias; relato histórico

Instrucionais Manual; receita; instrutivo; passo-a-passo Epistolares Carta; ofício; circular; memorando Humorísticos Certas histórias em quadrinhos; certas crônicas; piadas Publicitário Aviso; folheto (folder, flyer); cartaz; outdoor

5.3. A linguagem figurada

A linguagem figurada é um forte recurso lingüístico utilizado especialmente a serviço

da argumentação. Estabelecem-se figuras de linguagem a partir do meio real, chamado

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denotativo (denotação), para operarem em um meio não-real, chamado conotativo

(conotação). As figuras de linguagem se dividem em:

• figuras de pensamento a estrutura existe apenas no pensamento, no nível das idéias. A gradação, por exemplo, que estabelece uma enumeração que, ao final, culminará com um clímax.

• figuras de palavras estabelecem-se no nível da palavra. Uma palavra substituindo a outra, como na metonímia, que substitui o produtor pelo produto, ou vice-versa.

• figuras de sintaxe concessões feitas no nível da construção da frase, como a omissão do verbo, a repetição de um termo.

Como a exaustão da linguagem figurada não é o escopo do curso, faremos apenas uma

lista das que mais servem à argumentação.

5.3.1. Algumas figuras de linguagem Paronomásia: figura de som que consiste no uso de som parecido, mas de sentido diferente. Serve para dar um ar bem humorado ao texto.

Devemos fazer isso depressa, mas não às pressas.

Metonímia: figura de palavra que consiste na substituição de um nome por outro. Recurso muito utilizado em sínteses, para tornar o texto mais conciso, com sofisticação.

Li Saramago (na verdade, li um livro cujo autor é Saramago) Tirei uma xérox (na verdade, tirei uma fotocópia numa copiadora do fabricante Xerox)

Comparação ou símile: figura de palavra que consiste na comparação direta. Sempre há uma conexão entre os dois elementos comparados. Serve de argumento incontestável, pois ao comparar, o receptor perceberá a semelhança.

Ela era linda como uma deusa. Todos fazemos besteiras iguais a adolescentes inveterados.

Metáfora: figura de palavra que consiste na comparação indireta. Não conexão entre os dois elementos comparados. Manipula-se a comparação com uma afirmação direta.

Ela era uma linda deusa. Todos somos adolescentes inveterados. O remédio para reduzir os gastos públicos não parece saudável nem inteligente.

Pleonasmo: figura de sintaxe que consiste na repetição daquilo que ficou óbvio. Tem a função de enfatizar um termo. O Pleonasmo Vicioso é considerado erro, pois a repetição não tem valor estilístico (como “entrar pra dentro” e “subir pra cima”).

“Era como se todo mundo que ele pisara com os pés, que vira com os olhos, que pegara com as mãos, se perdesse num instante.”

Os governantes, todos pensam que o povo não tem memória.

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Prosopopéia, personificação ou hipálage: figura de sintaxe que consiste na transferência de atribuições humanas a não-humanos.

A estrada Rio-Petrópolis é uma estrada genocida. O bolso falou mais alto.

Repetição ou anáfora: figura de sintaxe que consiste na repetição de um termo, para fixar uma idéia.

“Parece que eles vieram ao mundo para ser ladrões; nascem de pais ladrões, criam-se em meio a ladrões, morrem como ladrões.”

Concatenação: figura de sintaxe que consiste na repetição de um termo final no início da próxima frase. Funciona como uma recapitulação que destaca o que se quer.

Os textos podem ser embelezados em sua argumentação através das figuras de linguagem. As figuras de linguagem captam a simpatia do receptor...

Antítese: figura de pensamento que consiste em associar elementos que parecem opostos, mas que servem para ilustrar e dar força ao que se expõe.

Antigamente convertia-se o mundo, hoje não se converte ninguém. (antigamente x hoje juntos potencializam a idéia da dificuldade na conversão de hoje)

O dia e a noite conspiram a seu favor.

Alusão, polifonia ou intertextualidade: figura de pensamento que consiste em citar indiretamente outros textos para reforçar e dar autoridade ao que se está dizendo.

Se entre o céu e a terra existe uma filosofia que é vã, não devemos nos ater nos fins em si. (alusão ao texto de Shakespeare: “há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe vossa vã filosofia”).

Apesar de nem todas as figuras estarem listadas, todas, sem exceção, podem ser utilizadas como argumentos, desde que usadas com parcimônia. O excesso de linguagem figurada pode tornar o texto fútil, ou mesmo incompreensível.

6. A argumentação

Um texto argumentativo demanda um tempo de trabalho mental, na compreensão do

tema a ser tratado, no posicionamento crítico. Antes de se iniciar a escritura, deve-se pensar

na estrutura lógica, ou seja, na seleção e ordenação das idéias, na definição dos objetos que

serão abordados. Só então deve-se iniciar a escrever as idéias, listando os argumentos. Ao

término, deve-se afastar o texto por algum tempo para depois voltar a ele, numa releitura

crítica, análise do próprio texto, para o aperfeiçoamento de sua forma.

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6.1. A estrutura dos textos dissertativos-argumentativos Abaixo relacionamos os elementos básicos que devem ser levados em consideração na

estrutura da argumentação. Como muitos dos elementos já foram apresentados ao longo desta

apostila, a apresentação será feita de forma sumária.

Preocupação com a função fática (veja: As funções da linguagem):

• objetividade texto conciso, direto, sem muitas voltas; • clareza comunicar sem complicar; • harmonia os sons das frases sem ser ambíguos, nem desagradáveis; • elegância uso de vocabulário amplo; • correção padrão culto da língua. Tipos de organização das idéias:

• racional ordenação das idéias, suas justificativas e a relação com outras; • passional persuasão, captura e sedução — convencimento em defesa da tese. Métodos possíveis (veja: A estrutura do parágrafo):

• indutivo a informação principal deve vir como declaração ao FINAL dos argumentos; • dedutivo a informação principal deve vir como declaração no INÍCIO, seguido das

deduções e explicações. Principais recursos persuasivos:

• generalização suposições aplicáveis de forma geral; • relação causa-efeito apresentação de um fato como causa ou efeito de outro; • analogia comparação com outros fatos conhecidos. Estrutura interna:

• tese apresentação formal da opinião a ser defendida pelo autor; • antítese oposição de idéias para destacar a defendida pelo autor; • síntese declaração sintética que defende a opinião do autor. Falhas mais comuns:

• círculo vicioso argumento que é mera repetição de outro, o texto não segue adiante; • desvio do assunto quando o argumento não tem nada a ver com a tese; • confusão causa-efeito quando o argumento apresentado como causa ou efeito não é

verdadeiro.

Observados os elementos básicos relacionados acima, parte-se para a elaboração da

estrutura da redação/composição (veja título 2.3).

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Embora não sejam os únicos elementos que participam na complexidade do texto, será

possível, utilizando-se com sensibilidade as sugestões e os recursos contidos nesta apostila,

construir um bom texto argumentativo, coerente, num corpo coesivo, eficaz na sua

comunicação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Antônio Suarez. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 6 ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2003.

FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 16 ed. São Paulo: Ática, 2001.

GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 19 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000.

GUIMARÃES, Eduardo. Texto e argumentação: um estudo de conjunções do português. 3 ed. Campinas: Pontes, 2002.

KAUFMAN, Ana Maria e RODRÍGUEZ, Maria Elena (org.). Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2000.

KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 15 ed. São Paulo: Contexto, 2001

VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 9 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

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Anexos

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Características do modo de produção da fala e

da escrita

FALA ☺ ESCRITA Conversa espontânea. 1 Discurso planejado.

É parte de um encontro com interlocutor. 2

Não há encontro com o interlocutor. O leitor encontra-se

distante. O que se diz é uma criação

conjunta. 3 O interlocutor não interfere na criação.

As mensagens se adaptam a um interlocutor conhecido. 4

A audiência é anônima. O texto deve ser entendido por qualquer

pessoa.

As mensagens são limitadas pelo tempo, pelas restrições do encontro

e pelas limitações da memória. 5

A composição e a leitura não sofrem restrições de tempo. O

escritor pode corrigir o que escreve. O leitor pode reler.

A comunicação tem canais múltiplos: gestos, entoação,

expressões faciais, etc. 6 A comunicação se faz apenas

pela utilização de palavras.

O ambiente ao redor pode ser usado para indicar o sentido do que é dito, bem como para interpretar os sinais.

7

Tudo deve estar totalmente contido no texto, pela sintaxe.

Quem interpreta o sentido do que está sendo escrito está distante do

escritor. Os sinais da fala não servem

apenas para informar, mas também para manipular o ouvinte. A fala é

usada para manter a interação pessoal.

8 As mensagens são impessoais e informacionais. A persuasão se

faz unicamente através de recursos lingüísticos.

O discurso é dinâmico, tem vida curta, transmite alguma coisa e

desaparece. 9 O texto é estático.

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Diferenças estruturais nas condições em que se produzem a fala e a escrita

FALA ☺ ESCRITA Frases mais curtas, pausas entre

orações. Mais coordenação do que subordinação. Maior freqüência dos

conectivos e, aí e então ou de conexão assindética de orações

(isto é, conexão sem conjunções).

1 Frases mais longas. Orações mais

integradas. Mais subordinação. Maior freqüência dos demais

conectivos.

Repetições, reparos (especialmente quando o falante inicia um período complexo e cai

num “limbo sintático” por problemas de memória).

2 As repetições são evitadas. Os

reparos não existem, pois o texto pode ser corrigido e “limpo”, em

revisões sucessivas.

Preferência por verbos: A menina é bonita. 3 Preferência por nominalizações:

A beleza da menina.

Preferência por predicativos: A menina é bonita. 4

Preferência por orações adjetivas, ou por adjetivos ligados diretamente ao nome:

A menina bonita... A menina, que é bonita, ...

Sujeitos preferencialmente animados, principalmente humanos:

O homem bateu com o carro. 5

Uso de impessoalizações, voz passiva, ou ausência de sujeitos:

Há muitos acidentes diariamente. Foram feitas mudanças na escola.

Uso de demonstrativos, pronomes, indicadores de lugar (dêiticos),

ligando-se às orações pelo contexto:Aquele ali é o carro dele.

6

Explicitação do lugar, tempo e pessoa, de modo a que o texto

possa ser autônomo: O carro do ator se encontrava na terceira vaga da ala leste do Rio

Centro. Dependência maior do contexto, do

cenário onde se dá a fala. 7 Depende unicamente da sintaxe.

Uso freqüente do discurso direto, com entonação, mudança de voz

etc., indicando troca de personagens:

Aí ele disse: — Isso é um assalto!

8

Uso freqüente do discurso indireto, com alterações que

precisam ser feitas nos tempos e modos verbais:

Ele disse que era um assalto.

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FALA ☺ ESCRITA Impessoalização com o emprego de

você, o cara, nego, tu, etc. 9 Impessoalização com voz passiva, uso de se, as pessoas, etc.

Topicalização à esquerda (deslocamentos à esquerda, com repetição do item deslocado na

sentença): Minha mãe, ela vai chegar logo.

10Raro o uso de deslocamentos à

esquerda: Minha mãe chegará logo.

Topicalização à direita para acréscimo de informação:

Hoje eu vi a minha vizinha no ônibus, a loura e alta.

11Menor freqüência dessa

construção: Hoje eu vi a minha vizinha loura e

alta no ônibus.

Emprego de rodeios e hesitações. 12 Uso pouco freqüente dessas marcas.

Uso de bengalas (muletas) lingüísticas, típicas da fala:

“bulhufas”, “chinfrim”, “fulano e cicrano”, “pegou e falou”, “virou e

disse”.

13

Uso de estruturas típicas da escrita: “coisa nenhuma”,

“insignificante”, uso de nomes próprios, flexão e concordância

verbais.

Elipses, supressão de verbos: Eu passei, meu irmão não. 14

Maior explicitação: Embora eu tenha passado, meu irmão

ficou reprovado. Preferência pela forma canônica das

orações (sujeito + verbo + objeto): Ana encontrou o marido à tarde.

15Maior inversão das formas

canônicas: À tarde, Ana encontrou o marido.

A ordem das sentenças reflete a ordem de ocorrência dos fatos:

Ela sentiu as primeiras contrações e foi levada às pressas para o hospital.

16

Uso de conjunções que alteram a ordem real de ocorrência dos

fatos: Ela foi levada às pressas para o

hospital logo após sentir as primeiras contrações.

Acentuação Gráfica Os acentos gráficos são: agudo (´), circunflexo (^) ou grave (`). Atenção: o til (~), que marca de nasalação (nasalização) e o trema (¨), que marca o som do u, não são acentos gráficos, são apenas sinais diacríticos.

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Formas de tratamento

TRATAMENTO ABREV. ABREV. PLURAL APLICAÇÃO

Vossa Exelência V. Exa. V.Exas.

Presidente e vice-Presidente da República Presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional, do Senado Federal e da Câmara Federal Membros das Casas Legislativas Federais e Estaduais e do Poder Judiciário Ministros Governadores Prefeitos Diplomatas Oficiais Generais das Forças Armadas Chefe de Polícia do Depatº Federal de Segurança Pública Procuradores Gerais Secretários de Estado

Vossa Santidade V. S. -x- Papa

Vossa Eminência (*) V. Ema. V. Emas. Cardeais

Vossa Excelência Reverendíssima V. Exa. Rvma. V. Exas. Rvmas. Núncios, arcebispos e

bispos Vossa Reverendíssima V. Rvma. V. Rvmas. Padres, pastores etc.

Vossa Meritíssima -x- -x- Juízes

Vossa Magnificência (*) V. Ma. V. Mas. Reitores

Vossa Senhoria V. As. V. Sas. Demais casos

(*) As abreviações são desaconselháveis. Observações: 1) O quadro acima descreve o tratamento direto (quando se dirige diretamente à

pessoa). Para usar o tratamento indireto (quando se dirige a outra pesoa), bastar transformar o VOSSA por SUA: — Esperamos que V. Exa. examine a proposta mais atentamente. Ele disse que esperava de Sua Excelência, o presidente da república, um exame mais atento.

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Língua Portuguesa 46

2) O verbo e os pronomes que acompanham o tratamento devem estar na 3ª pessoa: — Esperamos que Vossa Excelência examine a proposta que lhe encaminho e que de

seu parecer favorável. 3) Nas invocações, alguns tratamentos sofrem modificação:

TRATAMENTO INVOCAÇÃO ABREV. Vossa Exelência Excelentíssimo Sr. Exmo. Sr. Vossa Santidade Santíssimo Padre -x- Vossa Eminência (*) Eminentíssimo Cardeal -x- Vossa Excelência Reverendíssima Excelentíssimo e Reverendíssimo Exmo. e Revmo. Vossa Reverendíssima Reverendíssimo Revmo. Vossa Meritíssima Meritíssimo Juiz MM. Juiz Vossa Magnificência (*) Magnífico Reitor -x- Vossa Senhoria Ilustríssimo Senhor Ilmo. Sr.